karl marx_ introdução à contribuição para a crítica da economia política

26
MIA > Biblioteca > Marx/Engels > Contribuição ... > Novidades Introdução à Contribuição para a Crítica da Economia Política Karl Marx 1859 Produção, Consumo, Distribuição, Troca (Circulação) 1. Produção a) O objeto a considerar em primeiro lugar é a produção material. Indivíduos que produzem em sociedade, ou seja a produção de indivíduos socialmente determinada: eis naturalmente o ponto de partida. O caçador e o pescador individuais e isolados, com que começam Smith e Ricardo , fazem parte das ficções pobremente imaginadas do século XVIII; são robinsonadas que, pese embora aos historiadores da civilização, não exprimem de modo nenhum uma simples reacção contra um refinamento excessivo e um regresso aquilo que muito erradamente se entende como vida natural. O"contrato social" de Rousseau , que estabelece ligações e laços entre sujeitos independentes por natureza, tampouco se baseia em tal naturalismo. Este naturalismo não é senão a aparência, e aparência puramente estética, das grandes e pequenas robinsonadas. Na realidade, tratase antes de uma antecipação da"sociedade civil", que se preparava desde o século XVI e que no século XVIII marchava a passos de gigante para a maturidade. Nesta sociedade de livre concorrência, cada indivíduo aparece desligado dos laços naturais, etc., que, em épocas históricas anteriores, faziam dele parte integrante de um conglomerado humano determinado e circunscrito. Este indivíduo do século XVIII é produto, por um lado, da decomposiçâo das formas de sociedade feudais, e por outro, das novas forças produtivas desenvolvidas a partir do século XVI. E, aos profetas do século XVIII, (sobre cujos ombros se apoiam ainda totalmente Smith e Ricardo ), este indivíduo aparece como um ideal cuja existência situavam no passado; não o vêem como um resultado histórico, mas sim como ponto de partida da história. E que, segundo a concepção que tinham da natureza humana, o indivíduo nao aparece como produto histórico, mas sim como um dado da natureza pois, assim, está de acordo com a sua

Upload: rafael-rodrigo-mueller

Post on 15-Sep-2015

223 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

livro

TRANSCRIPT

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 1/26

    MIA>Biblioteca>Marx/Engels>Contribuio...>Novidades

    IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    KarlMarx

    1859

    Produo,Consumo,Distribuio,Troca(Circulao)

    1.Produo

    a)Oobjetoaconsideraremprimeirolugaraproduomaterial.

    Indivduos que produzem em sociedade, ou seja a produo deindivduossocialmentedeterminada:eisnaturalmenteopontodepartida.Ocaador e o pescador individuais e isolados, com que comeam Smith eRicardo, fazempartedas ficespobremente imaginadasdosculoXVIIIso robinsonadas que, pese embora aos historiadores da civilizao, noexprimemdemodo nenhumuma simples reaco contra um refinamentoexcessivo e um regresso aquilo quemuito erradamente se entende comovida natural. O"contrato social" de Rousseau, que estabelece ligaes elaosentresujeitosindependentespornatureza,tampoucosebaseiaemtalnaturalismo. Este naturalismo no seno a aparncia, e aparnciapuramente esttica, das grandes e pequenas robinsonadas. Na realidade,tratase antes de uma antecipao da"sociedade civil", que se preparavadesde o sculo XVI e que no sculo XVIIImarchava a passos de gigantepara amaturidade. Nesta sociedade de livre concorrncia, cada indivduoaparece desligado dos laos naturais, etc., que, em pocas histricasanteriores, faziam dele parte integrante de um conglomerado humanodeterminado e circunscrito. Este indivduo do sculo XVIII produto, porum lado, dadecomposiodas formasde sociedade feudais, e por outro,das novas foras produtivas desenvolvidas a partir do sculo XVI. E, aosprofetasdosculoXVIII,(sobrecujosombrosseapoiamaindatotalmenteSmith e Ricardo), este indivduo aparece como um ideal cuja existnciasituavamnopassadonoo vemcomoum resultadohistrico,mas simcomopontodepartidadahistria.Eque,segundoaconcepoquetinhamdanaturezahumana,oindivduonaoaparececomoprodutohistrico,massim como um dado da natureza pois, assim, est de acordo com a sua

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 2/26

    concepodanaturezahumana.Athoje,estamistificaotemsidoprpriade todas as pocas novas. Stuart, que se ops em muitos aspectos aosculoXVIIIeque,dadaasuacondiodearistocrata, seatevemaisaoterrenohistrico,evitouestapuerilidade.

    Quanto mais recuamos na histria, mais o indivduo e portanto oprodutor individualnosaparececomoelementoquedependeefazpartedeumtodomaisvasto fazparte,emprimeiro lugar,edemaneiraaindainteiramentenatural,dafamliaedessafamliaampliadaqueatribomaistarde, faz parte das diferentes formas de comunidades provenientes doantagonismo entre as tribos e da fuso destas. S no sculo XVIII,na"sociedadecivil",asdiversasformasdeconexosocialaparecemfaceaoindivduo como simples meios para alcanar os seus fins privados, comoumanecessidadeexterioraele.Contudo,apocaquegeraestepontodevista, esta idia do indivduo isolado, exatamente a poca em que asrelaessociais(universais,segundoessepontodevista)alcanaramoseumaisaltograudedesenvolvimento.

    Ohomem,nosentidomaisliteral,umzoonpolitikon(animalpoltico)no simplesmente um animal social, tambm um animal que s nasociedade se pode individualizar. A produo realizada por um individuoisolado, fora do mbito da sociedade fato excepcional, mas que podeacontecer, por exemplo, quando um indivduo civilizado, quepotencialmentepossuijemsiasforasprpriasdasociedade,seextravianum lugar deserto um absurdo to grande como a idia de que alinguagem se pode desenvolver sem a presena de individuos que vivamjuntosefalemunscomosoutros.Novaleapenadetermonosmaisnesteponto.Nemseria sequerdeabordaraquesto, seesta tolice que tinhasentido e razo de ser para os homens do sculo XVIII no tivesse sidonovamente introduzida,comamaiordasseriedades,naeconomiapolticamodernaporBastiat,Carey,Proudhon,etc.claroque,paraProudhon,entreoutros, se torna bastante cmodo explicar a origem de uma relaoeconmica cuja gnese histrica desconhece em termos de filosofia dahistria e, assim, recorre aosmitos: essa relao foi uma idia sbita eacabada que ocorreu a Ado ou Prometeu, os quais, em seguida aintroduziram, etc. No h nada mais enfadonho e rido do que o locuscommunusemdeiirio.

    Por conseguinte, quando falamos de produo, tratase da produonumdeterminadonveldedesenvolvimentosocial,tratasedaproduodeindivduos que vivem em sociedade. Assim poderia parecer que, parafalarmos de produo, seria necessrio: ou descrever o processo dedesenvolvimentohistriconas suasdiferentes fasesouentodeclarardeinicioquenosreferimosaumadeterminadapocahistricabemdefinida,como por exemplo produo burguesa moderna, que na realidade o

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 3/26

    nosso tema especfico. No obstante, todas as pocas da produo tmcertostraosecertasdeterminaescomuns.Aproduoemgeralumaabstrao,masumaabstraoquepossuiumsentido,namedidaemquereala os elementos comuns, os fixa e assim nos poupa repeties.Contudo, esses caracteresgerais ouesses elementos comuns, destacadosporcomparao,articulamsedemaneiramuitodiversaedesdobramseemdeterminaes distintas. Alguns desses caracteres pertencem a todas aspocasoutros,apenasaalgumas.Certasdeterminaesserocomunsspocasmaisrecentesemaisantigas.Sodeterminaessemasquaisnosepoderiaconcebernenhumaespciedeproduo.Certasleisregemtantoas lnguasmaisdesenvolvidascomooutrasmaisatrasadasnoentanto,oqueconstitui a suaevoluosoprecisamenteoselementosnogeraiseno comuns que possuem. indispensvel fazer ressaltar claramente ascaractersticascomunsatodaaproduoemgeral,eistoporque,umavezquesosempreidnticososujeito(ahumanidade)eoobjeto(anatureza),correramos o risco de esquecer as diferenas essenciais. Nesteesquecimento reside, por exemplo, toda a"sapincia" dos economistas poiticos modernos, os quais tentam demonstrar que as relaes sociaisexistentes so harmoniosas e eternas. Um exemplo. No pode haverproduosemuminstrumentodeproduo,nemquesejasimplesmenteamo no pode haver produo sem haver um trabalho acumulado nopassado, mesmo que esse trabalho consista na habilidade que, peloexerccio repetido, se desenvolveu e concentrou namo do selvagem. Ocapital tambm um instrumento de produo o capital tambm umtrabalho passado, objetivado. Logo, o capital seria uma relao natural,universal e eterna mas s o seria se pusssemos de parte o elementoespecificoquetransforma"instrumentodeproduo"e"trabalhoacumulado"em capital. Assim, toda a histria das relaes de produo aparece, porexempoemCarey,comoumafalsificaomalevolamenteorganizadapelosgovernos.

    Senoexisteproduoemgeral,tambmnohumaproduogeral.A produo sempre um ramo particular da produo por exemplo, aagricultura,acriaodegado,amanufaturaouumatotalidade.Porm,aeconomia poltica no a tecnologia. Analisaremos mais tarde a relaoentreasdeterminaesgeraisdaproduo,numdadoestgiosocial,easformasparticularesdaproduo.

    Por fim, a produo no apenas uma produo particular: constituisempreumcorposocial,umsujeitosocial,queatuanumconjuntomaisoumenosvasto,maisoumenosricoderamosdeproduo.Noesteolugarmais adequado para estudar a relao entre o resultado da anlisecientfica e o movimento da realidade. LDevemos, por conseguinte,estabelecer uma distino entre]*a produo em geral, os ramosparticularesdaproduoeatotalidadedaproduo.

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 4/26

    Em Economia Poltica tornouse moda comear por uma introduogeral, intitulada"Produo" (Cf., p. ex., J. Stuart MilI em"Princpios deEconomiaPoltica".),introduoessaemquesetratadascondiesgeraisdetodaaproduo,eincluioudeveriaincluir:

    1) As condies sem as quais no possvel a produo. No passa,contudo,deumasimplesenumeraodosmomentosessenciaisdequalquerproduo e, com efeito, limitase, como veremos, ao enunciado dealgumas determinaes elementares que, fora de serem repisadas, seconvertememvulgarestautologias.

    2)Ascondiesque favorecememmaioroumenorgrauaproduoporexemplo:aanlisedeAdamSmithsobreoestadodeprogressooudeestagnaodassociedades.Paradarumcartercientficoaestaanlisedasua obra, que, nele, tem o valor de conspecto geral, seria necessrioinvestigar os diversos nveis de produtividade atingidos por cada um dospovos em diferentes perodos do seu desenvolvimento. Essa investigaoultrapassa os limites do nosso estudo, mas incluilaemos nas partesreferentes anlise da concorrncia, da acumulao, etc., namedida emque ela a se enquadrar. Em termos gerais, a resposta a seguinte: umpovoindustrialatingeoseuapogeuprodutivonomomentoemqueatingeoseu apogeu histrico geral. ln fact , umpovo encontrase no seu apogeuindustrialquando,paraele,oessencialnoolucro,massimabuscadolucro(essaasuperioridadedosamericanossobreosingleses).Arespostatambmpodeseraseguinte:certas raas,certasaptides,certosclimas,certascondiesnaturais(proximidadedomar,fertilidadedosolo,etc.)somaisfavorveisproduodoqueoutrasistoconduzmaisumavezaumatautologia:ariquezagerasecomtantomaisfacilidadequantomaiorforonmerodosseuselementossubjetivoseobjetivosdisponveis.

    Mas no apenas isto que os economistas visam nessa parteintrodutria geral. Pretendem prioritariamente (cf. MilI) apresentar aproduocontrariamentedistribuio,etc.comosujeitaa leiseternasda natureza, independentes da histria o que uma boa ocasio parainsinuar que as relaes burguesas so leis naturais e indestrutveis dasociedade in abstracto. esta a finalidade, mais ou menos consciente, detoda a manobra. J na distribuio, segundo eles, os homens se podempermitir toda a espcie de arbitrariedades. No falando j da separaobrutalentreaproduoeadistribuioqueistoconstituiepedeparteasualigaorealumacoisaimediatamenteevidente:pormaisdiferentequesejaadistribuionosdiversosestgiosdasociedade,possvelfazerressaltartalcomonocasodaproduoascaractersticascomuns,assimcomopossvelconfundiroudissolvertodasasdiferenashistricasemleisqueseapliquemaohomememgeral.Porexemplo:oescravo,oservoeotrabalhador assalariado recebem todos uma determinada quantidade de

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 5/26

    alimentos que lhes permite subsistir como escravo, como servo e comotrabalhador assalariado por seu lado, o conquistador vive dos tributos, ofuncionrio vive dos impostos, o proprietrio do rendimento das terras, omongedasesmolas,olevitadodzimoetodosestesrecebemumapartedaproduosocial,masestapartedeterminadaporleisdiferentesdasqueseaplicamaoescravo,etc.

    Osdoispontosquetodososeconomistasincluemnestarubrica,so:1)apropriedade2)aproteodapropriedadepelajustia,pelapolicia,etc.

    Aistoresponderemosemduaspalavras:

    1)Aproduosempreapropriaodanaturezapeloindivduonoseioepor intermdiodeuma formadesociedadedeterminada.Nestesentido,uma tautologia afirmar que a propriedade (apropriao) constitui umacondio da produo. Mas ridculo saltar daqui para uma formadeterminada de propriedade, para a propriedade privada, por exemplo(tantomaisqueestaimplica,comocondio,umaformasuaantagnicaanopropriedade). Bem pelo contrrio, a histria mostranos que apropriedade comum (por exemplo nos ndios, nos Eslavos, nos antigosCeltas,etc.) representaa formaprimitiva, formaessaque,durantemuitotempo, continuou a desempenhar um papel muito importante, comopropriedadecomunal.Noestemcausaporagoraosaberseseariquezasedesenvolvemelhorsobestaouaquelaformadepropriedade.Masumapura tautologia afirmar que no pode haver produo, nem to poucosociedade, quando no existe nenhuma forma de propriedade. Umaapropriao que no se apropria de nada uma contradictio in subjecto(contradionostermos).

    2) (Proteo da propriedade, etc.). Quando se reduzem estastrivialidadesaoseucontedoreal,elasexprimemmuitomaisdoqueaquiloquesabemosseuspregadoresasaber:cadaformadeproduogeraassuasprpriasrelaesjurdicas,asuaprpriaformadegoverno,etc.Muitaignorncia e muita incompreenso se revelam no fato de se relacionarapenas fortuitamente fenmenosqueconstituemum todoorgnico,deseapresentar as suas ligaes como nexos puramente reflexivos. Aoseconomistasburguesesparecelhesqueaproduofuncionamelhorcomapolciamodernadoque,porexemplo,comaaplicaodaleidomaisforte.Esquecemse apenas de que a"lei do mais forte" tambm constitui umdireitoequeessedireitoquesobrevive,comoutraforma,naquiloaquechamam"Estadodedireito".

    E claro que, quando as condies sociais correspondentes a umadeterminadaformadaproduoseencontramaindaemdesenvolvimentoouquandojentraramemdeclniosemanifestamcertasperturbaesna

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 6/26

    produo,emboraasuaintensidadeeosseusefeitossejamvariveis.

    Emresumo:todasaspocasdaproduotmdeterminadoselementoscomuns que o pensamento generaliza: porm, as chamadas condiesgerais de toda a produo so elementos abstratos que no permitemcompreendernenhumadasfaceshistricasreaisdaproduo.

    2.AsRelaesGeraisentreaProduoeaDistribuio,aTrocaeoConsumo

    Antesdeprosseguircomaanlisedaproduo,necessrioexaminarasdiversasrubricascomqueoseconomistasaassociam.

    A primeira idia que de imediato se apresenta, a seguinte: naproduo, os membros da sociedade fazem com que os produtos danaturezatomemformasadequadassnecessidadeshumanas.

    A distribuio determina a proporo (o quantum) de produtos quecabem ao indivduo a troca determina a produo, da qual o indivduoreclamaapartequelhefoiatribui'dapeladistribuio.

    Segundo os economistas, produo, distribuio, troca e consumoconstituemassimumsilogismocomtodasasregras:aproduootermouniversal, a distribuio e a troca so o termo particular, o consumo otermo singular como qual o todo se completa.H aqui, semdvida, umnexo,masbastantesuperficial.Aproduodeterminadaporleisgeraisdanatureza a distribuio resulta da contingncia social e, por isso, podeexercer urna aomais oumenos estimulante sobre a produo a trocasituaseentreambas,comoummovimentoformalmentesocialoatofinaldo consumo, que concebido no apenas como resultado, mas tambmcomo objetivo finai, situase, a bem dizer, fora da economia (a no serquando,porsuavez,reagesobreopontodepartidaparainiciarumnovoprocesso).

    Os adversrios dos economistas tanto os que provm da EconomiaPoltica como os que lhe so estranhos ) acusamnos de dissociaremgrosseiramentecoisasqueconstituemumtodo,mascolocamsenomesmoterreno,ouatmuitomaisabaixo.Comefeito,nohnadamaistrivialdoque acusar os economistas de considerarem a produo exclusivamentecomoum fimemsi, ealegarqueadistribuio igualmente importante.Esta acusao baseiase exatamente na concepo dos economistassegundoaqual adistribuioexistemargemdaproduo, comoesferaautnoma e independente. Acusamnos tambm de no considerarem osdiversosmomentosnasuaunidadecomoseestadissociaono tivessepassado da realidade para os livros, como se ela tivesse vindo dos livros

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 7/26

    para a realidade! Como se se tratasse de equilibrar dialeticamente osconceitos,enodeanalisarasreaesreais!

    a)ProduoeConsumo

    A produo tambm imediatamente consumo. Duplo consumo,subjetivo e objetivo: o indivduo que, ao produzir, est desenvolvendo assuascapacidades,esttambmdispendendoas,isto,consomeasnoatodaproduo,talcomonaprocriaonaturalseconsomemforasvitais.Emsegundo lugar: consumo dos meios de produo utilizados, os quais sedesgastamesedissolvememparte(comonacombusto,porexemplo)nosseus elementos naturais domesmomodo, asmatriasprimas utilizadasperdem a sua forma e a sua constituio naturais: so consumidas.Portanto,emtodososseusmomentos,oprprioatodaproduotambmumatodeconsumo.Alis,oseconomistasadmitemno.Chamamconsumoprodutivo produo que corresponde diretamente ao consumo e aoconsumoquecoincide imediatamentecomaproduo.Esta identidadedaproduoedoconsumoremeteparaaproposiodeEspinoza:determinatioestnegatio.

    No entanto, os economistas apenas estabelecem esta definio deconsumo produtivo para dissociarem o consumo correspondente produo,doconsumopropriamenteditooqual tomamcomoantteseedestruiodaproduo.

    Analisemos,pois,oconsumopropriamentedito.

    O consumo tambm imediatamenteproduodomesmomodoque,nanatureza,oconsumodoselementosesubstnciasqumicasaproduodas plantas. E claro que na nutrio, por exemplo que uma formaparticulardoconsumoohomemproduzoseuprpriocorpo.Istovlidopara toda a espcie de consumo que, por qualquer forma, produza ohomem. Produo consumidora. Porm objetam os economistas estaproduo equivalente ao consumo uma segunda produo, surgida dadestruiodoprodutodaprimeira.Naprimeira,oprodutoobjetivasenasegunda,oobjetocriadoporelequesepersonifica.Porisso,aproduoconsumidora embora constitua a unidade imediata da produo e doconsumoessencia/mentediferentedaproduopropriamentedita.Estaunidadeimediata,naqualaproduocoincidecomoconsumoeoconsumocoincidecomaproduo,deixasubsistiradualidadeintrnsecadecadaum.

    Portanto, a produo imediatamente consumo, e o consumo imediatamente produo cada termo imediatamente o seu contrrio.Mas, simultaneamente, h um movimento mediador entre ambos a

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 8/26

    produointermediriado consumo, cujamatria cria semesta, aqueleficaria privadodo seuobjeto por sua vez, o consumo intermedirio daproduo,poisproporcionaaosseusprodutososujeitoparaoqualelesoso(produtos).Oprodutosatingeoseufinishfinalnoconsumo.Umaviafrreaondeno circulam trens,quenousada,queno consum ida,pode dizerse que imaginria, que no existe. Sem produo no hconsumomassemconsumo,tambmnohproduo,pois,nessecaso,aproduoseriaintil.

    Oconsumoproduzaproduodeduasmaneiras:

    1)namedidaemquesnoconsumooprodutosetornaproduto.Porexemplo:umternossetornarealmenteumternoquandovestidoumacasa desabitada no realmente uma casa. Contrariamente ao simplesobjeto da natureza, o produto s se afirma como produto, s se tornaproduto, no consumo. Ao absorver o produto, o consumo dlhe o toquefinal [finish strok e, no ms. de Marx], pois o [resultado] da produo produto, no como atividade objetivada,mas s como um objeto para osujeitoatuante.

    2) na medida em que o consumo cria a necessidade de uma novaproduo e, por conseguinte, a condio subjetiva e o mbil interno daproduo,aqualoseupressuposto.Oconsumomotivaaproduoecriatambmoobjetoque,aoatuarsobreela,vaideterminarasuafinalidade.verdade que a produo fornece, no seu aspecto manifesto, o objeto doconsumomas tambmevidentequeo consumo fornece,na sua formaideal, o objeto da produo este surge na forma de imagem interior, denecessidade, de impulso e finalidade. O consumo cria os objetos daproduo,mas sob uma forma ainda subjetiva. Sem necessidade no hproduoora,oconsumoreproduzasnecessidades.

    Peloladodaproduo,oproblemacaracterizaseassim:

    1) A produo fornece ao consumo a sua matria, o seu objeto.Consumo sem objeto no consumo neste sentido, a produo cria,produzoconsumo.

    2)Porm,aproduonoforneceapenasumobjetodeconsumodlhetambmoseucarterespecficoedeterminado,dlheotoquefinaltalcomooconsumodaoprodutootoquefinalqueconverteumavezportodasemproduto.Emsuma,oobjetonoumobjetoemgeral,massim,umobjetobemdeterminadoequetemdeserconsumidodeumamaneiradeterminada, a qual, por sua vez, tem que ser mediada pela prpriaproduo.Afomeafome,masafomequesaciadacomcarnecozidaeconsumidacomfacaegarfodiferentedafomedoquedevoracarnecruaeacomecomamo,comunhasedentes.Porconseguinte,oqueaproduo

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 9/26

    produzobjetivaesubjetivamentenosoobjetodoconsumotambmomododeconsumo.Aproduocria,pois,oconsumidor.

    3) A produo proporciona no s um objetomaterial necessidade,mas tambm uma necessidade ao objeto material. Quando o consumoemergedoseuprimitivocarternatural,imediatoetoscoeopermanecernestaestgioresultariadofatodeaproduonotertambmultrapassadooseuestgionatural,primitivoetoscopassaasermediadocomoimpulsopeloobjeto:anecessidadequeoconsumosentedesteltimocriadapelapercepo do objeto. O objeto de arte e analogamente, qualquer outroprodutocriaumpblicosensvelarteecapazdefruioesttica.Destemodo,aproduonocria sumobjetoparao sujeito cria tambmumsujeitoparaoobjeto.

    a)fornecendolheasuamatriab)determinandoomododeconsumoc) provocando no consumidor a necessidade de produtos que ela criouoriginariamente como objetos. Por conseguinte, produz o objeto deconsumo,omododeconsumoeoimpulsoparaconsumir.Peloseulado,oconsumo [cria] a disposio do produtor, solicitandoo como necessidadeanimadadumafinalidade(aproduo).

    A identidade entre o consumo e a produo revestese pois, de umtriploaspecto:

    1)Identidadeimediata.Aproduoconsumo:

    oconsumoproduo.Produoconsumidora.Consumoprodutivo.Oseconomistas designam ambos por consumo produtivo estabelecem, noentanto, uma distino consideram a primeira como reproduo, e osegundocomoconsumoprodutivotodasasinvestigaessobreaprimeirareferemse ao trabalho produtivo e ao trabalho improdutivo asinvestigaes sobre o segundo tem como objeto o consumo produtivo ounoprodutivo.

    2)Cadaumdostermossurgecomomediaodooutroemediadopelooutro. Isto exprimese como uma dependncia recproca, como ummovimento atravs do que se relacionam entre si e se mostramreciprocamente indispensveis, embora permaneam exteriores um aooutro.Aproduocriaamatriaparaoconsumo,enquantoobjetoexteriora este o consumo cria a necessidade enquanto objeto interno, enquantofinalidadedaproduo.Semproduonohconsumosemconsumonohproduo.[Isto]repetidodeinmerasformasnaeconomiapotica.

    3)Aproduonoapenasimediatamenteconsumo,nemoconsumoapenasimediatamenteproduomais:aproduonosimplesmenteummeio para o consumo, nem o consumo, simplesmente um fim para a

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 10/26

    produo o mesmo dizer, to pouco suficiente o fato de cada umproporcionaraooutrooseuobjeto:aproduo,oobjetoexterior,material,doconsumooconsumo,oobjetoidealdaproduo.Cadaumdostermosnoselimitaaserimediatamenteooutro,nemomediadordooutro:maisdoqueisso,aorealizarse,criaooutro,realizasesobaformadooutro.Oconsumo consuma o ato de produo, dando ao produto o seu carteracabado de produto, dissolvendoo, absorvendo a sua forma autnoma ematerial,edesenvolvendoatravsdanecessidadedarepetioaaptidoparaproduzirsurgidanoprimeiroatodaproduo.Oconsumonopois,apenas, o ato final pelo qual o produto se torna realmente produto: tambm o ato pelo qual o produtor se torna realmente produtor. Aproduo,peloseulado,geraoconsumo,criandoummododeterminadodeconsumo, originando sob a forma de necessidade o desejo e acapacidadedeconsumo.

    Esta identidade mencionada no ponto 3) particularmente discutidapela economiapoltica, apropsitoda relaoentre aoferta e aprocura,entre os objetos e as necessidades, entre as necessidades criadas pelasociedadeeasnecessidadesnaturais.

    Paraumhegelianonoagoramaisfcildoqueidentificaraproduocomoconsumo.E isso foi feitonosporescritores socialistas,masatpor economistas vulgares (como,por exemplo,Say, quando pensamque,seconsiderarmosumpovoouahumanidadeinabstractoasuaproduoigualaoseuconsumo.StorchdenunciouoerrodeSay,notandoqueumpovo, por exemplo, no consome simplesmente a sua produo, quetambm cria meios de produo, etc., capital fixo, etc. Alm do mais,encarar a sociedade como um sujeito nico encarla de forma falsa,especulativa para um dado sujeito, produo e consumo surgem comomomentos de um mesmo ato. Importa realar sobretudo que, se seconsiderar a produo e o consumo como atividades quer dum indivduo,querdeumgrandenmerodeindivduos[isolados],tantoumacomooutroseguem, em qualquer caso, como elementos de um processo no qual aproduooverdadeiropontodepartida,sendo,porconseguinte,ofatorpreponderante. O consumo, enquanto necessidade, o prprio momentointerno da atividade produtivamas esta ltima o ponto de partida darealizao,eportanto tambmo seuelementopreponderante, isto:atpeloqual todooprocesso se renova.O indivduoproduzumobjetoe, aoconsumir o seu produto, regressa ao ponto de partida, procedendo comoindivduoqueproduzequesereproduz.Destemodo,oconsumorepresentaummomentodaproduo.

    Emcontrapartida,nasociedade,arelaoentreoprodutoreoproduto,umavezacabadoesteltimo,umarelaoexteriororegressodoobjetoaosujeitodependedacontingnciadasrelaesquemantmcomosoutros

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 11/26

    indivduos ele no se apropria diretamente do produto alm domais,quandoproduz emsociedade, a finalidadedo sujeito no a apropriaoimediata do produto. Entre o produtor e os produtos interpese adistribuio,aqual,medianteleissociais,determinaapartedomundodosprodutos que cabe aquele interpese, portanto, entre a produo e oconsumo.

    Ora bem: Constituir a distribuio uma esfera autnoma eindependente,exteriorproduo?

    b)DistribuioeProduo

    Humfatoquenopodedeixardenosimpressionaraoexaminarmosos tratados correntes de economia poltica: neles todas as categorias soapresentadas de duas maneiras por exemplo, na distribuio figuram arenda imobiliria, o salrio, o juro, o lucro, ao passado que a terra, otrabalho e o capital figuram como agentes da produo. No tocante aocapital,vemosevidnciaqueaparecesobduas formas:1)comoagenteda produo 2) como fonte de rendimento, isto : como elementodeterminantedecertasformasdedistribuio.porissoqueojuroeolucrofiguram tambm na produo, pois so formas de que se reveste ocrescimentodocapital,querdizer,somomentosdasuaprpriaproduo.Naqualidadede formasdadistribuio, juroe lucropressupemocapitalcomoagentedaproduo.

    Soigualmentemodosdereproduodocapital.

    Demodoanlogo,osalriootrabalhoassalariadoconsideradonoutrarubrica:ocarterdeterminadoqueotrabalhopossuiaquicomoagentedaproduosurgealmcomodeterminaodadistribuio.Senoestivessedeterminadocomotrabalhoassalariado,omodocomootrabalhoparticipanarepartiodosprodutosnoadquiririaaformadesalriovejaseocasodaescravatura.Finalmente,seconsiderarmosarendaimobiliriaquea formamaisdesenvolvidasobaqualapropriedadeda terraparticipanadistribuiodosprodutosvemosqueelapressupeagrandepropriedadeagrria(oumelhoragrandeagricultura)comoagentesdeproduoenoaterra pura e simples, tal como o salrio no pressupe o puro e simplestrabalho.

    Porconseguinte,asrelaeseosmodosdedistribuioaparecemmuitosimplesmentecomooreversodosagentesdeproduo:umindivduoquecontribuiparaaproduocomoseu trabalhoassalariadoparticipa, sobaforma de salrio, na repartio dos produtos criados pela produo. Aestrutura da distribuio completamente determinada pela estrutura da

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 12/26

    produo.Aprpriadistribuioumprodutodaproduo,tantonoqueserefereaoseuobjeto(poisssepodemdistribuirosresultadosdaproduo)como no que se refere sua forma (posto que o modo determinado departicipaonaproduodeterminaasformasparticularesdadistribuio,isto:aformasobaqualseparticipanadistribuio).Porconseguinte,umarematadaiIusocircunscreveraterraproduo,arendaimobiliriadistribuio,etc.

    EconomistascomoRicardo,aquemsereprovacomfrequnciaofatodeapenas terem em vista a produo definem a distribuio como o nicoobjetodaeconomia.Naverdade,consideravaminstintivamentequesoasformas de distribuio quemelhor exprimem as relaes dos agentes deproduonumadadasociedade.

    Paraoindivduoisolado,adistribuioaparecenaturaImentecomoumalei social que determina a sua posio no seio da produo, isto : noquadroemqueproduzeque,portanto,precedeaproduo.Aonascer,oindivduo no tem capital nem propriedade agrria logo que nasce condenado,peladistribuiosocial,aotrabalhoassalariado.Narealidade,oprprio fato de a tal ser condenado, resulta do fato de o capital e apropriedadeagrriaseremagentesautnomosdaproduo.

    Mesmo escala das sociedades na sua globalidade, a distribuiopareceprecederedeterminar,atcertoponto,aproduosurge,decertomodo,comoumfatopreconmico.Umpovoconquistadorreparteaterraentre os conquistadores deste modo impe uma certa repartio e umaforma dada de propriedade agrria: determina, dessemodo, a produo.Ouentoreduzosconquistadosescravatura,ebaseiaasuaproduonotrabalho escravo. Ou ento, um povo revolucionrio pode parcelarizar agrande propriedade territorial e,mediante esta nova distribuio, dar umcarter novo produo. Ou ento, a legislao pode perpetuar apropriedade agrria nas mos de certas famlias ou faz do trabalho umprivilgio hereditrio para fixar num regime de castas. Em todos estesexemplos,extradosdahistria,aestruturadadistribuionopareceserdeterminada pela produo pelo contrrio, a produo que parece serestruturadaedeterminadapeladistribuio.

    Segundoaconcepomaissimplista,adistribuioapresentasecomodistribuiodos produtos, como se estivesse afastadadaproduo e, porassimdizer,quase independentedela.Porm,antesdeserdistribuiodeprodutos, : 1) distribuio de instrumentos de produo 2) distribuiodosmembrosdasociedadepelosdiferentesramosdaproduoeestaumadefiniomaisampladarelaoanterior(consideraodosindivduosemdeterminadasrelaesdeproduo).Manifestamente,adistribuiodosprodutosnomaisdoqueresultadodestadistribuio,queestincluda

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 13/26

    noprprioprocessodeproduoedeterminaaestruturadaproduo.Seno se tiver em conta a ltimadistribuio, englobadana produo, estaaparece, evidentemente, como uma abstrao oca na verdade, adistribuio dos produtos determinada por esta distribuio, a qual, nasuaorigem,umfatordeproduo.Ricardo,queseesforouporanalizaraproduo moderna na sua estrutura social determinada e que oeconomista da produo por excelncia, declara, precisamente por ssarazo,queoverdadeirotemadaeconomiamodernanoaproduo,massimadistribuio.Eismaisumaevidnciadainpciadoseconomistasqueencaramaproduocomoumaverdadeeternaerelegamahistriaparaodomniodadistribuio.

    Sem dvida que a relao entre esta distribuio determinante daproduoeaprpriaproduoconstituiumproblemasituado tambmnoquadro da produo. Poderseia replicar: posto que a produo partenecessariamente de uma dada distribuio de meios de produo, pelomenosadistribuioassimentendidaprecedeaproduoeconstituiasuacondio prvia. Responderseia ento que a produo temefetivamenteas suas rprias condies e premissas que constituem os seus prpriosmomentos. primeira vista, pode parecer que estas condies so fatosnaturais,masoprprioprocessodaproduotransformaosdenaturaisemhistricos:e,paraumdadoperodo,aparecemcomocondiesnaturaisdaproduo, para outro perodo aparecem como o seu esultado histrico.Estes momentos so constantemente modificados no interior da prpriaproduo a introduo das mquinas, por exemplo, modificou tanto adistribuiodos instrumentosdeproduocomoadosprodutosagrandepropriedade latifundiria moderna o resultado, tanto do comrcio e daindstriamodernos,comodaaplicaodestaltimaagricultura.

    Emltimaanlise,asquestesformuladasreduzemseaumas:qualoefeitodascondieshistricassobreaproduo,equalarelaoentreestaeomovimentohistricoemgeral?Manifestamente, este problema depende da discusso e da anlisedesenvolvidadaprpriaproduo.Noobstante,dadaa forma trivial sobque acima foram postas as questes, podemos resolvlo expeditamente.Todas as conquistas supem trs possibilidades: ou o povo conqu istadorimpeaoconquistadooseuprpriomododeproduo(oqueosinglesesfazem atualmente na Irlanda e parcialmente na ndia) ou ento deixasubsistiroantigoecontentasecomumtributo(porexemplo,osTurcoseosRomanos) ou, por fim, produzse uma ao recproca, de que resultaumaformanova,umasntese(emparte,nasconquistasgermnicas).Emqualquerdoscasosomododeproduosejaeleodopovoconquistador,odopovoconquistadoouoresultadodafusodeambosdeterminanteparaanovadistribuioqueseestabelece.Mesmoqueestaseapresentecomocondioprviaparaonovoperododeproduo,elajdesium

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 14/26

    produtodaproduonosdaproduohistricaemgeral,masdeumaproduohistricadeterminada.Porexemplo,aodevastaremaRssia,osmongisagiramdeacordocomasuaproduoacriaodegadoqueapenas exigia grandes pastagens, para as quais os grandes espaosdesabitados so uma condio fundamental. Os brbaros germanos, queviviam isolados nos campos e cuja produo tradicional se baseava notrabalho agrcola realizado por servos, puderam submeter as provnciasromanasssuascondiestantomaisfacilmentequantoaconcentraodapropriedade da terra por que essas provncias tinhampassado alterara jcompletamenteasantigascondiesagrrias.

    Everdadequeemcertaspocasseviveuunicamentedapilhagemnoentanto, para haver pilhagem necessrio que haja qualquer coisa parapilhar, quer dizer, produo. E o modo de pilhagem , tambm eledeterminado pelo modo de produo no se pode pilhar uma nao deespeculadores de Bolsa da mesma maneira que se pilha uma nao decriadoresdegado.Quando se rouba um escravo, roubase diretamente um instrumento deproduoporm,necessrioqueaestruturaprodutivadopasaquesedestinaoescravo roubadoadmitao trabalhodosescravos, casocontrrio(comonaAmricadoSul,etc.)terquesecriarummododeproduoquecorrespondaescravatura.

    Asleispodemperpetuarnasmosdealgumasfamliasapropriedadedeuminstrumentodeproduo,porexemplo,aterra.Estasleissadquiremsignificadoeconmicoquandoagrandepropriedadeagrriaseencontraemharmonia com a produo social, como na Inglaterra, por exemplo. EmFranapraticavaseapequenaagriculturaapesardaexistnciadagrandepropriedade:porisso,estaltimafasefoidestrudapelaRevoluo.Maseaperpetuao,pormeiodeleis,doparcelamentodasterras,porexemplo?Apropriedadeconcentrasedenovo,apesardas leis.Determinarmaisemparticularainflunciadasleisnamanutenodasrelaesdedistribuio,easuainfluncia,porconseguinte,naproduo.

    c)TrocaeProduo

    A circulao propriamente dita ou no mais do que um momentodeterminadodatroca,ouatrocaconsideradanasuatotalidade.Namedidaemqueatrocanomaisdoqueummomentomediadorentre,porumlado,aproduoeadistribuioqueaqueladeterminae,poroutrolado,oconsumoedadoqueoprprioconsumoaparecetambmcomoummomentodaproduoevidentequeatrocase incluinaproduo,etambmumseumomento.

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 15/26

    Em primeiro lugar, evidente que a permuta de atividades ecapacidadesqueocorrenointeriordaproduofazdiretamentepartedestaltima at um dos seus elementos essenciais. Em segundo lugar, omesmo se aplica troca de produtos, pois esta ummeio que permitefornecer o produto acabado, destinado ao consumo imediato. No que atagoravimos,a trocaumato includonaproduo.Em terceiro lugar, achamada exchange entre dealers , dada a sua organizao,completamente determinada pela produo representa uma atividadeprodutiva.

    Somentenasualtimafasenomomentoemqueoprodutotrocadopara ser consumido imediatamente que a troca se apresentaindependenteeexteriorproduoe,porassimdizer, indiferenteaesta.Pormobservamosque:1)noexistetrocasemdivisodotrabalho,queresta seja natural, quer seja um resultado histrico 2) a troca privadapressupeaproduoprivada3)aintensidadedatroca,assimcomoasuaextensoeasuaestrutura,sodeterminadaspelodesenvolvimentoepelaestruturadaproduo.Porexemplo,a trocaentrea cidadeeo campo,atroca no campo, na cidade, etc. Portanto, a produo compreende edeterminadiretamenteatrocaemtodasassuasformas.

    Aconclusoaquechegamosnodequeaproduo,adistribuio,atrocaeoconsumosoidnticosconclumos,sim,quecadaumdelesumelementodeum todo, e representadiversidadeno seiodaunidade.Vistoque se determina contraditoriamente a si prpria, a produo predominano apenas sobre o setor produtivo, mas tambm sobre os demaiselementos a partir dela que o processo sempre se reinicia. E evidentequenematrocanemoconsumopodiamseroselementospredominantes.Omesmoseverificaemrelaodistribuiotomadacomodistribuiodosprodutosesea:omarmoscomodistribuiodosagentesdeproduo,ela um momento da produo. Por conseguinte, uma dada produodetermina um dado consumo, uma dada distribuio e uma dada trocadetermina ainda as relaes recprocas e bem determinadas entre essesdiversos elementos. Sem dvida que a produo em sentido estrito tambmdeterminadapelosoutroselementos.Assim,quandoomercadoesferada troca seexpande,aproduoaumentadevolumeedivideseainda nais. Quando o capital se concentra, ou quando se nodifica adistribuio dos habitantes entre a cidade e o ampo, etc., a produomodificase devido a essas nodificaes de distribuio. Por ltimo, asnecessidalesdeconsumoinfluemnaproduo.Existeumainteraodetodosesteselementos: istoprpriodeumtodoorgnico.

    3.OMtododaEconomiaPoltica

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 16/26

    Aoestudarmosumdeterminadopasdopontodevistadasuaeconomiapoltica, comeamos por analisar a sua populao, a diviso desta emclasses, a cidade, o campo, o mar, os diferentes ramos da produo, aexportaoeaimportao,aproduoeoconsumoanuais,ospreosdasmercadorias,etc.

    Parece correto comear pelo real e o concreto, pelo que se supeefetivo por exemplo, na economia, partir da populao, que constitui abaseeosujeitodoatosocialdaproduonoseuconjunto.Contudo,aumexame mais atento, tal revelase falso. A populao uma abstraoquando,porexemplo,deixamosdeladoasclassesdequesecompe.Porsuavez,estasclassesseroumapalavraocase ignorarmososelementosem que se baseiam, por exemplo, o trabalho assalariado, o capital, etc.Estes ltimos supem a troca, a divisao do trabalho, os preos, etc. Ocapital,porexemplo,nonadasemotrabalhoassalariado,semovalor,semodinheiro,semospreos,etc.

    Por conseguinte, se comessemos simplesmente pela populao,teramos uma viso catica do conjunto. Por uma anlise cada vez maisprecisachegaramosarepresentaescadavezmaissimplesdoconcretoinicialmenterepresentadopassaramosaabstraesprogressivamentemaissutis at alcanarmos as determinaes mais simples. Aqui chegados,teramosqueempreenderaviagemderegressoatencontrarmosdenovoapopulaodestaveznoteramosumaidiacaticadetodo,masumaricatotalidadecommltiplasdeterminaeserelaes.

    Talfoihistoricamente,aprimeiraviaadotadapelaeconomiapolticaaosurgir. Os economistas do sculo XVII, por exemplo, partem sempre dotodo vivo: a populao, a nao, o Estado, vrios Estados, etc., noentanto, acabam sempre por descobrir, mediante a anlise, um certonmeroderelaesgeraisabstratasdeterminantes,taiscomoadivisodotrabalho, o dinheiro, o valor, etc. Uma vez fixados e mais ou menoselaborados estes fatores comeam a surgir os sistemas econmicos que,partindo de noes simples trabalho, diviso do trabalho, necessidade,valordetrocaseelevamataoEstado,trocaentrenaes,aomercadouniversal.Eis,manifestamente,omtodocientficocorreto.

    Oconcretoconcretoporqueasntesedemltiplasdeterminaese,porisso,aunidadedodiverso.Aparecenopensamentocomoprocessodesntese, como resultado, e no como ponto de partida, embora seja overdadeiro ponto de partida, e, portanto, tambm, o ponto de partida daintuio e da representao. No primeiro caso, a representao plena volatilizada numa determinao abstrata no segundo caso, asdeterminaes abstratas conduzem reproduo do concreto pela via dopensamento. Eis por que Hegel caiu na iluso de conceber o real como

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 17/26

    resultado do pensamento que, partindo de si mesmo se concentra em simesmo, se aprofunda em si mesmo e se movimenta por si mesmo aopassoqueomtodoqueconsisteemelevarsedoabstratoaoconcreto,para o pensamento, apenas amaneira de se apropriar do concreto, de oreproduzir na forma de concreto pensado porm, no este de modonenhum o processo de gnese do concreto em si. Com efeito, a maissimplescategoriaeconmicaporexemplo,ovalordetrocasupeumapopulao,populaoessaqueproduzemcondiesdeterminadassupeaindaumcerto tipode famlia, oude comunidade,oudeEstado,etc.Talvalor no pode existir nunca seno sob a forma de relao unilateral eabstrata,noseiodeumtodoconcretoevivojdado.Pelocontrrio,comocategoria,ovalordetrocatemumaexistnciaantidiluviana.

    Assim,paraaconsistnciafilosficaqueconsideraqueopensamentoqueconcebeohomemreal,eque,portanto,omundosrealquandoconcebido para esta conscincia, o movimento das categorias que lheaparececomumverdadeiroatodeproduo(oqualrecebedoexteriorumpequenoimpulso,coisaqueestaconscinciasmuitoacontragostoadmitequeproduzomundo.Istoexato(emboraaquinosvamosencontrarcomuma nova tautologia, namedida em que a totalidade concreta, enquantototalidadedopensamento,enquantoconcretodopensamentoinfactumproduto do pensamento, do ato de conceber no de modo nenhum,porm,produtodoconceitoquepensaesegeraasiprprioequeatuaforae acimada intuio e da representao pelo contrrio, umproduto dotrabalho de elaborao, que transforma a intuio e a representao emconceitos.Otodo,talcomoaparecenamentecomoumtodopensamento,produtodamentequepensaeseapropriadomundodonicomodoquelhe possvel modo que difere completamente da apropriao dessemundonaarte,nareligio,noespritoprtico.Osujeitorealconservaasuaautonomiaforadamente,antesedepois,pelomenosduranteotempoemqueocrebrosecomportedemaneirapuramenteespeculativa,terica.Porconsequncia, tambm nomtodo terico necessrio que o sujeito asociedadeestejaconstantementepresentenarepresentaocomopontodepartida.

    Mas no tero tambm estas categorias simples uma existnciahistricaounaturalautnomaanteriorscategoriasconcretas?adpendHegel,porexemplo,temrazoemcomearasuaFilosofiadoDireitopelaposse,amaissimplesdasrelaesjurdicasentreindividuosoranoexisteposseantesda famliaoudas relaesdeservidoedominao,quesorelaesmuitomais concretas em contrapartida, seria correto dizer queexistem famlias e tribos que se limitam a possuir, mas que no tmpropriedade.A categoriamais simples relativa posse aparece, portanto,comouma relaode simples comunidades familiaresoude tribosnumasociedade mais avanada, aparece como a relao mais simples de uma

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 18/26

    organizao mais desenvolvida porm, est sempre implcito o sujeitoconcreto cuja relao a posse. Podemos imaginar um selvagem isoladoquesejapossuidor,mas,neste caso,apossenouma relao jurdica.No exato que, historicamente, a posse evolua at famlia pelocontrrio, a posse pressupe sempre a existncia dessa"categoria jurdicamaisconcreta".

    Sejacomofor,nodeixadeserverdadequeascategoriassimplessoexpresso de relaes nas quais o concretomenos desenvolvido pode jterse realizado sem estabelecer ainda a relao ou o vnculo maismultilateralexpressoteoricamentenacategoriamaiscorretaestacategoriasimples pode substituir como relao secundria quando a entidadeconcretaseencontramaisdesenvolvida.Odinheiropodeexistir,edefatoexistiu historicamente, antes do capital, dos bancos, do trabalhoassalariado,etc.destepontodevistapodeafirmarsequeacategoriamaissimplespodeexprimir relaesdominantesdeum todonodesenvolvido,ourelaessecundriasdeumtodomaisdesenvolvido,relaesessasquejexistiamhistoricamenteantesdeo todose terdesenvolvidonosentidoexpresso por uma categoria _mais concreta. S ento o percurso dopensamento abstrato, que se eleva do simples ao complexo, poderiacorresponderaoprocessohistricoreal.

    Por outro lado, podemos afirmar que existem formas de sociedademuito desenvolvidas, embora historicamente imaturas nelas encontramosas formas mais elevadas da economia, tais como a cooperao, umadesenvolvidadivisodotrabalho,etc.,semqueexistaqualquerespciededinheirotalocasodoPeru.Assimtambm,nascomunidadeseslavas,odinheiro e a troca que o condiciona no aparecem, ou aparecem muitoraramentenoseiodecadacomunidade,masjsurgemnosseusconfins,notrficocomoutrascomunidades.Deaquiquesejaemgeralerradosituaratroca interna comunidade como o elemento constitutivo originrio. Aprincpio, a troca surge de preferncia nas relaes entre comunidades,mais do que nas relaes entre indivduos no interior de uma nicacomunidade.

    Almdisso, sebemqueodinheiro tenhadesempenhadodesdemuitocedo um papel mltiplo, na Antiguidade s pertence, como elementodominante, a certas naes unilateralmente determinadas, a naescomerciais e at na prpria antiguidade mais evoluda, na Grcia e emRoma,odinheirosvemaalcanaroseuplenodesenvolvimentoumdospressupostosdasociedadeburguesamodernanoperododadissoluo.

    Por conseguinte, esta categoria inteiramente simples, s aparecehistoricamenteemtodaasuaintensidadenascondiesmaisdesenvolvidasda sociedade. Mas no impregna demaneira nenhuma todas as relaes

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 19/26

    econmicas no apogeu do Imprio Romano, por exempio, o tributo e asprestaes em gneros continuavam a ser fundamentais o dinheiropropriamente dito s estava completamente desenvolvido no exrcito.Nuncachegouadominarnatotalidadedaesferadotrabalho.

    Demodoqueemborahistoricamenteacategoriamaissimplespossater existido antes da categoriamais concreta ela s podepertencer, noseu pleno desenvolvimento intensivo e extensivo, a uma forma desociedadecomplexa,aopassoqueacategoriamaisconcretaseencontravamaisdesenvolvidanumaformadesociedademaisatrasada.

    O trabalho parece ser uma categoria muito simples e a idia detrabalho nesse sentido isto trabalho, semmais muito antiga. Noentanto, tomando esta sua simplicidade do ponto de vista econmico,o"trabalho" uma categoria tomoderna como as relaes que originamestamesma abstrao simples. Omonetarismo, por exemplo de formaperfeitamenteobjetivasituavaaindaariquezanodinheiro,considerandoacomo algo de exterior. Relativamente a isto, operouse um grandeprogressoquandoosistemamanufatureirooucomercialpassouasituarafonte de riqueza, nono objeto,masna atividade subjetiva o trabalho,manufatureirooucomercialemboracontinuasseaconceberestaatividadeapenascomoatividadelimitadaprodutoradedinheiro.Comrelaoaestesistema,odosfisiocratas[realizanovoprogressoe]situaafontederiquezanuma forma determinada de trabalho o trabalho agrcola alm disso,concebia o objeto no como a forma exterior do dinheiro, mas comoprodutoenquantotal,comoresultadogeraldotrabalho.Mesmoassim,dadoo carter limitado da atividade, este produto continua a ser um produtodeterminadodanatureza,querdizer,umprodutoagrcola,produtodaterrapar excellence, Progrediuse imenso quando Adam Smith rejeitou toda equalquerespecificaoacercadasformasparticularesdaatividadecriadorade riqueza, considerandoa como trabalho puro e simples, isto , nemtrabalho manufatureiro, nem trabalho comercial, nem trabalho agrcola,mas qualquer deles, indiferentemente a esta universalidade da atividadecriadora de riqueza corresponde a universalidade do objeto enquantoriqueza produto em geral, quer dizer trabalho em geral, embora [nestecaso] se trate de trabalho passado, objetivado. A dificuldade e aimportnciadestatransioparaanovaconcepo,estpatentenofatodeoprprioAdamSmith,aquieali,penderparaosistemafisiocrtico.

    Poderia agora parecer que se encontrou muito simplesmente aexpresso abstrata da mais antiga e mais simples relao que, na suaqualidade de produtores, os homens estabeleceram entre si e istoindependentementedaformadasociedade.Istoverdadeironumsentido,e falso noutro. Com efeito, a indiferena em relao a toda a formaparticulardetrabalhosupeaexistnciadeumconjuntomuitodiversificado

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 20/26

    degnerosreaisdetrabalho,nenhumdosquaispredominasobreosoutros.Assim as abstraes mais gerais apenas podem surgir quando surge odesenvolvimentomaisricodoconcreto,quandoumelementoaparececomoo que comum amuitos, como comum a todos. Ento, j no pode serpensadounicamentecomoformaparticular.Poroutrolado,estaabstraodo trabalho em geral no apenas o resultado intelectual de um todoconcretodetrabalhos:a indiferenaemrelaoaumaformadeterminadade trabalho correspondeauma formade sociedadenaqual os individuospodem passar facilmente de um trabalho para outro, sendo para elesfortuitoeportantoindiferenteognerodeterminadodotrabalho.Nestascondies, o trabalho transformouse no s como categoria, mas naprpria realidade num meio de produzir riqueza em geral e, comodeterminao j no est adstrito ao individuo como sua particularidade.Esteestadodecoisasatingiuoseumaiordesenvolvimentonaformamaismoderna das sociedades burguesas os Estados Unidosconsequentemente, s nos Estados Unidos a categoriaabstrata"trabalho","trabalho em geral", trabalho sans phrase ponto departida da economia moderna se tornou uma verdade prtica. Destemodo, a abstrao mais simples que a economia moderna pe emprimeiroplano,comoexpressodeumarelaoantiqussimaevlidaparatodasasformasdesociedadesvemaaparecercomoverdadeprticaecomestegraudeabstraoenquantocategoriadasociedademoderna.

    Poderseia dizer que a indiferena em relao a toda a formadeterminadade trabalho,quenosEstadosUnidosumprodutohistrico,semanifestaentreos russos,porexemplo, comoumadisposionatural.Contudo,humadiferenaconsidervelentrebrbarosaptosparaqualquertrabalho e civilizados que por si prprios se dedicam a tudo alm disso,esta indiferena em relao a qualquer forma determinada de trabalhocorresponde na prtica, entre os russos, sua sujeio tradicional a umtrabalho bem determinado, a que s podem arranclos influnciasexteriores.Este exemplo do trabalho mostra com clareza que as categorias maisabstratas, embora sejam vlidas para todas as pocas (devido suanatureza abstrata, precisamente), so tambm no que a sua abstraotem de determinado o produto de condies histricas e s soplenamentevlidasparaestascondiesedentrodosseuslimites.

    A sociedade burguesa amais complexa e desenvolvida organizaohistrica da produo. As categorias que exprimem as relaes destasociedade,equepermitemcompreenderasuaestrutura,permitemnosaomesmo tempo entender a estrutura e as relaes de produo dassociedades desaparecidas, sobre cujas runas e elementos ela se ergueu,cujosvestgiosaindanosuperadoscontinuaaarrastarconsigo,aomesmotempoquedesenvolveemsiasignificaoplenadealgunsindciosprvios,

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 21/26

    etc. A anatomia do homem dnos uma chave para compreender aanatomia do macaco. Por outro lado as virtualidades que anunciam umaformasuperiornasespciesanimais inferioresspodesercompreendidasquando a prpria forma superior j conhecida. Do mesmo modo, aeconomia burguesa dnos a chave da economia da Antiguidade, etc., embora nunca maneira dos economistas, que suprimem todas asdiferenas histricas e vm a forma burguesa em todas as formas desociedade. Podemos compreender o tributo, a dzima, etc., quandoconhecemosarendafundiriamasnohrazoparaidentificarunscomaoutra. Alm disso, como a sociedade burguesa no em simais do queuma forma antagnica do desenvolvimento histrico, certas relaespertencentes a sociedades anteriores s aparecem nesta sociedade demaneira atrofiada, ou mesmo disfarada. Por exemplo, a propriedadecomunal.Por conseguinte, sendo embora verdade que as categorias da economiaburguesa so at certo ponto vlidas para todas as outras formas desociedade, tal deve ser admitido cum grano salis podem conter essasformas de um modo desenvolvido, ou atrofiado, ou caricaturado, etc.porm,existir sempreumadiferenaessencial.A invocaoda chamadaevoluo histrica repousa geralmente no fato de que a ltima forma desociedadeconsideraasoutrascomosimplesetapasqueaelaconduzeme,dado que s em raras ocasies, s em condies bem determinadas, capaz de fazer a sua prpria crtica no falamos, claro, dos perodoshistricosqueseconsideramasiprprioscomoumapocadedecadnciaconcebe sempre essas etapas de ummodo unilateral. A religio crist spode contribuir para que se compreendessem de um modo objetivo asmitologiasanteriores,quandoseprontificouatcertoponto,porassimdizervirtualmente, a fazer a sua prpria autocrtica. Do msmo modo, aeconomia burguesa s ascendeu compreenso das sociedades feudal,clssicaeoriental,quandocomeouacriticarseasiprpria.Acrticaaqueaeconomiaburguesasubmeteuassociedadesanterioresespecialmenteofeudalismo, contra o qual a burguesia teve de lutar diretamente assemelhase critica do paganismo pelo cristianismo, ou at docatolicismo pelo protestantismo isto quando no se identificou pura esimplesmentecomopassado,fabricandoasuaprpriamitologia.

    Como, em geral, em toda a cincia histrica, social, ao observar odesenvolvimento das categorias econmicas h que ter sempre presenteque o sujeito neste caso a sociedade burguesamoderna algo dadotanto na realidade como na mente e que, por conseguinte, essascategorias exprimem formas e modos de existncia, amiudadamentesimplesaspectosdestasociedade,destesujeitoeque,portanto,mesmodoponto de vista cientfico, esta sociedadeno comea a existir demaneiranenhumaapenasapartirdomomentoemquesecomeaafalardelacomo

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 22/26

    tal.umaregraafixar,poisdnoselementosdecisivosparao[nosso]plano[deestudo].Porexemplo,parecianaturalssimocomear[anossaanlise]pelarendaimobiliria,pelapropriedadeagrria,poisestoligadasterra,fontedetodaaproduoedetodaaexistncia,etambmquelaquefoiaprimeira forma de produo de todas as sociedades mais ou menosestabilizadas aagriculturaora,nadaseriamaiserradodoque istoemtodas as formaes sociais, existe uma produo determinada queestabelece os limites e a importncia de todas as outras e cujas relaesdeterminam, portanto, os limites e importncia das outras todas. E ailuminaogeralquebanhatodasascoresemodificaassuas tonalidadesparticulares. como um ter particular que determina o peso especfico detodasasformasdeexistnciaquenelesesalientam.

    Consideremosporexemploospovosdepastores(ospovosdesimplescaadores e scadores no atingiram ainda o ponto em que comea overdadeiro desenvolvimento. Encontramos nestes povos uma formaespordicadeagricultura.Dessemodosedeterminaapropriedadeagrria.Esta propriedade comum e conserva mais ou menos esta forma,consoanteestespovosestomaisoumenosligadosssuastradies:ocasodapropriedadecomunalentreosEslavos.

    Nospovosquepraticamaagriculturasedentriaeasedentarizaojumprogressoimportanteeemquepredominaessaatividade,comonaAntiguidade e na sociedade feudal, a prpria indstria, bem como a suaorganizaoeasformasdepropriedadequelhecorrespondem,revesteseemmaioroumenorgraudocarterdapropriedadeagrriaaindstria,oudependecompletamentedaagricultura,comonaRomaAntigaoureproduz,nacidade,aorganizaoeasrelaesdocampo,comonaIdadeMdiaoprpriocapitalexceodopuroesimplescapitalmonetriorevestesena Idade Mdia, na forma de instrumentos de trabalho artesanal, etc.,desse carter de propriedade agrria. Na sociedade burguesa sucede ocontrrio: a agricultura transformase cada vez mais num simples ramoindustrial, e completamente dominada pelo capital. Omesmo se passacoma rendaagrria.Emtodasas formasdesociedadeemquedominaapropriedadeagrria,arelaocomanaturezaaindapreponderante.Emcontrapartida,naquelesemquedominaocapital,so[preponderantes]oselementossocialmente,historicamentecriados.Nosepodecompreenderarendaimobiliriasemocapital,maspodesecompreenderocapitalsemarendaimobiliria.Ocapitalapotnciaeconmicadasociedadeburguesa,potnciaquedominatudoconstituinecessariamenteopontodepartidaeoponto de chegada, e deve, portanto, ser analisado antes da propriedadeagrriaumavezanalisadocadaumemparticulardevemserestudadasassuasrelaesrecprocas.

    Porconseguinte,seriaimpraticveleerradoapresentarasucessodas

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 23/26

    categorias econmicas pela ordem que foram historicamentedeterminantesasuaordem,pelocontrrio,determinadapelas relaesquemantmentre si namoderna sociedadeburguesa, ordemessaqueexatamentea inversadaquepareceserasuaordemnaturalouadoseudesenvolvimento histrico. No est em causa a posio que as relaeseconmicas ocupamhistoricamente na sucesso das diferentes formas desociedadenemtampoucoasuaordemdesucesso"na idia"(Proudhon),(umarepresentaonebulosadomovimentohistrico).Oquenosinteressaasuaestruturaonointeriordamodernasociedadeburguesa.

    Os povos comerciantes Fencios, Cartagineses surgiram em toda asua pureza nomundo antigo esta pureza (carter determinado abstrato)devese precisamente prpria predominncia dos povos agricultores ocapital, comercial ou monetrio, aparece justamente sob esta formaabstrata sempre que o capital no ainda o elemento dominante dassociedades. Lombardos e Judeus ocupam uma posio semelhanterelativamentessociedadesmedievaisquepraticamaagricultura.

    Outro exemplo [ilustrativo] das posies diferentes que as mesmascategoriasocupamemdiferentesestgiosdasociedade:associedadesporaes (joint stock companies), uma dasmais recentes instituies dasociedadeburguesa,apareciamjnodealbardaeraburguesa,nasgrandescompanhiasmercantisquegozavamdeprivilgiosemonoplios.

    O prprio conceito da riqueza nacional insinuase nos economistas dosculoXVIIesubsisteempartenosdosculoXVIIIsobumaspectotalque a riqueza aparece como criada exclusivamente para o Estado, cujopoder proporcional a essa riqueza. Esta era uma forma, aindainconscientemente hipcrita, sob a qual se anunciava a riqueza e a suaproduocomooobjetivodosEstadosmodernos,consideradosunicamentecomomeiosdeproduzirriqueza.

    Estabelecer claramente a diviso [dosnossos estudos] demaneira talque[setratem]:

    1)Asdeterminaesabstratasgeraismaisoumenosvlidasparatodasasformasdesociedade,masnosentidoatrsexposto.

    2) As categorias que constituem a estrutura interna da sociedadeburguesa, sobre as quais repousamas classes fundamentais.O capital, otrabalhoassalariado,apropriedadeagrriaassuasrelaesrecprocas.Acidadeeo campo.As trsgrandes classes sociais a trocaentreestas.Acirculao.Ocrdito(privado).

    3)Sntesedasociedadeburguesa,sobaformadeEstado,consideradaemrelaoconsigoprpria.Asclasses"improdutivas".Osimpostos.Advida

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 24/26

    pblica.Ocrditopblico.Apopulao.Ascolnias.Aemigrao.

    4) As relaes internacionais da produo. A diviso internacional. Aexportaoeaimportao.Oscmbios.

    5)Omercadomundialeascrises.

    4.Produo.Meios(Foras)deProduoeRelaesdeProduo.RelaesdeProduoeRelaesdeCirculao.

    Nota bene: pontos que necessrio tratar aqui e no devem seresquecidos:

    1.AGuerraaorganizaodaguerraanteriordapazmostrarcomocertasrelaeseconmicas,taiscomootrabalhoassalariado,amaquinaria,etc.,sodesenvolvidaspelaguerraenointeriordosexrcitosantesdesedesenvolveremnoseiodasociedadeburguesa.Domesmomodo,oexrcitoilustraparticularmentebemarelaoentreasforasprodutivaseosmodosdetrocaededistribuio.

    2.Relaoentreahistriarealeaconcepoidealistadahistria.Emparticular as chamadas"Histrias da civilizao", que so as histrias dareligio e dos Estados. Em relao a isto, referir os diversos tipos dehistoriografia praticados at hoje: a citada objetiva, a subjetiva (moral,filosfica,etc.).

    3. Fenmenos secundrios e tercirios. Relaes de produo nooriginais, geralmente derivadas, transportes intervenes das relaesinternacionais.

    4. Objees ao materialismo desta concepo. Relao com omaterialismonaturalista.

    5.Dialticadosconceitosdeforaprodutiva(meiosdeproduo)ederelaesdeproduo,dialticacujoslimiteshaviaqueprecisar,equenodeveeliminarasdiferenasexistentesnarealidade.

    6.Arelaodesigualentreodesenvolvimentodaproduomaterialeaartstica,porexemplo.Deummodogeral,notomaraidiadoprogressona sua forma abstrata corrente. A arte moderna, etc. a desigualdademenos importante emais fcil de entender do que a que se produz nointeriordasrelaessociaisprticas,porexemploacultura.Relaoentreos Estados Unidos e a Europa. A dificuldade aqui reside em determinarcomoqueasrelaesdeproduoeasrelaesjurdicascorrespondentesseguem um desenvolvimento desigual um exemplo: a relao entre o

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 25/26

    direitoprivadoromano(nobemocasododireitocriminalnemdodireitopblico)eaproduomoderna.

    7. Esta concepo surge como um desenvolvimento necessrio. Masjustificaodoacaso.Dequemodo

    8. Os fatores naturais, que representam, evidentemente, o ponto departidasubjetivamenteeobjetivamente.Tribos,raas,etc.

    1. Com relao arte. Sabemos que certas pocas de florescimentoartsticonocorrespondemdemodoalgumevoluogeraldasociedadenem,porconseguinte,aodesenvolvimentodasuabasematerial,que,porassimdizer,asuaossatura.PorexemploosGregos,ouatShakespeare,comparadoscomosmodernos.Paracertasformasdearte,aepopia,porexemplo admitese mesmo que no poderiam ter sido produzidas naforma clssica com que fizeram escola, isto : no momento em que aproduoartsticaseexpressanaquela formaadmiteseportantoque,noprprio domnio da arte, certas obras importantes s so possveis numestgiopoucodesenvolvidodaevoluodaarte.Seistoverdadeiroparaarelaoentreosdiversosgnerosartsticosno interiordoprpriodomnioda arte, no surpreendente encontrar asmesmas desigualdades entre aevoluo da arte em geral e a evoluo geral da sociedade. A nicadificuldade consiste em dar uma formulao geral a estas contradiesporm,umavezespecificadas,estaroexplicadas.Tomemosporexemplo,primeiroaartegrega,edepoisShakespeare,nasuarelaocomapocacontempornea.

    Sabemos que amitologia grega foi no s o arsenal,mas tambm aterraquealimentouaartegrega.Aconcepodanaturezaedasrelaessociaisquea imaginao,eportantoa [mitologia]gregas inspiram,serocompatveiscomasmquinasautomticasdefiar,comaslocomotivas,como telgrafo eltrico? Que representam Vulcano ao p de Roberts & Ca.,Jpitercomparadocomopraraios,HermesfrenteaoCrditoMobilirio?na imaginaoeatravsda imaginaoqueamitologiasupera,dominaemodela as foras da natureza quando, na realidade, essas foras sodominadas,amitologiadesaparece.OqueseriadaFamaemconfrontocomaPrintingHouseSquare?

    A arte grega supe a mitologia grega, quer dizer, a natureza e asformasdasociedade,jelaboradaspelaimaginaopopular,aindaquedeumamaneira inconscientemente artstica. So estes os seusmateriais. Aartegrega,portanto,noseapoianumamitologiaqualquer, isto,numamaneiraqualquerdetransformar,aindaqueinconscientemente,anaturezaemarte(apalavranaturezadesignaaquitudooqueobjetivo,eportantotambm a sociedade). De modo nenhum a mitologia egpcia poderia ter

  • 17/06/2015 KarlMarx:IntroduoContribuioparaaCrticadaEconomiaPoltica

    https://www.marxists.org/portugues/marx/1859/contcriteconpoli/introducao.htm 26/26

    gerado a arte grega nem poderia ter gerado uma sociedade que tivessealcanado um nvel de desenvolvimento capaz de excluir as relaesmitolgicas com a natureza exigindo do artista uma imaginaoindependente damitologia. Tratase de umamitologia que proporciona oterrenofavorvelaoflorescimentodaartegrega.

    Por outro lado: ser Aquiles compatvel com a idade da plvora e dochumbo? Ou, em resumo, a Ilada com a imprensa, ou melhor, com amquina de imprimir? O canto, a lenda, as musas, no desapareceronecessariamente ante a barra do tipgrafo? No desapareceram j ascondiesfavorveispoesiapica?

    Noentanto,adificuldadenoestemcompreenderqueaartegregaeaepopiaestoligadasacertasformasdedesenvolvimentosocialestsimnofatodenosproporcionaremaindaumprazeresttico,edeseremparans,emcertosaspectos,umanormaeatummodeloinacessveis.Umhomemnopodevoltarasercriana,anoserquecaianapuerilidade.Porm,noverdadequesensvelinocnciadacriana,eque,aoutronvel,deveaspirarareproduzirasinceridadedacriana?Noverdadequeo carter de cada poca, a sua verdade natural, se reflete na naturezainfantil? Por que motivo ento a infncia histrica da humanidade, omomentodoseuplenoflorescimento,nohdeexerceroencantoeterno,prprio dos momentos que no voltam a acontecer? H crianasdeficientementeeducadas,ecrianasquecrescemdemasiadodepressa:amaior parte dos povos da antiguidade incluiamse nesta categoria. OsGregos eram as crianas normais. O encanto que encontramos nas suasobras de arte no contrariado pelo dbil desenvolvimento da sociedadeem que floresceram. Pelo contrrio, uma consequncia disso inseparveldascondiesdeimaturidadesocialemqueessaartenasceuemquespoderiaternascidoequenuncamaisserepetiro.

    Inciodapgina

    ltimaactualizao06.08.07