karen batschinski avaliação da eficácia da 5-azacitidina e
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Karen Batschinski
Avaliação da eficácia da 5-Azacitidina e SAHA nas linhagens de hemangiossarcoma canino
Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutora em Ciências Programa de Oncologia Orientadora: Profa. Dra. Maria Lúcia Zaidan Dagli
São Paulo 2017
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome: BATSCHINSKI, Karen Título: Avaliação da eficácia da 5-Azacitidina e SAHA nas linhagens de
hemangiossarcoma canino.
Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutora em Ciências Programa de Oncologia
Data: __/__/____
Banca Examinadora
Prof(a) Dr(a)_______________________________________________________ Instituição:____________________________ Julgamento:____________________________
Prof(a) Dr(a)_______________________________________________________
Instituição:____________________________ Julgamento:____________________________
Prof(a) Dr(a)_______________________________________________________
Instituição:____________________________ Julgamento:____________________________
Prof(a) Dr(a)_______________________________________________________
Instituição:____________________________ Julgamento:____________________________
Prof(a) Dr(a)_______________________________________________________
Instituição:____________________________ Julgamento:____________________________
AGRADECIMENTOS
A minha querida orientadora, Profa. Maria Lúcia Zaidan Dagli, por me incentivar e
ensinar conhecimentos na área de Oncologia Básica, contribuindo muito com o meu
crescimento profissional.
Aos meus amigos Daniel Sanches, Ivone da Fonseca e Márcia Nagamine por todo o
incentivo e ensinamentos que ajudaram na conquista dos meus resultados.
As queridas amigas, Tati, Nayra e Andréa, pelos muitos momentos de diversão no
Laboratório.
A Marília Takada, amiga que me ajuda desde a época da residência, que contribuiu com
o meu trabalho mesmo a distância fazendo várias sessões de Skype.
Aos amigos do Provet, Rodrigo, Juliana, Greice, Alessandra Rinah, Karine, e também à
Alessandra Nobre, pela ajuda com a coleta de dados para o estudo retrospectivo.
A Profa. Cristina Massoco por ter gentilmente me auxiliado com os experimentos que
utilizaram a citometria de fluxo.
A Marguite, por sua paciência em me ajudar com o passo a passo da imunoistoquímica.
A Fátima Cavalcante, por contribuir com a pesquisa do hemangiossarcoma permitindo o
uso de amostras da sua tão adorada cadela Liss para o desenvolvimento de uma cultura
primária de hemangiossarcoma canino.
Aos meus pais, Norma e Karl, que sempre vibraram com as minhas conquistas.
A minha nova família, Benjamin, Eva e Pum, por deixar a vida muito mais gostosa.
A FAPESP, pelo apoio financeiro para termos condições de desenvolver essa pesquisa.
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 1
Figura 1. Raças mais acometidas de cães diagnosticados com hemangiossarcoma visceral………………………………………………………………………….30
Figura 2. Curvas de sobrevida (Kaplan-Meier) de cães diagnosticados com hemangiossarcoma visceral em diferentes sítios primários. Fígado (3), rim (2), intestino (1), vesicula urinária (1) e linfonodo (1) foram os órgãos primários acometidos além do baço………………………………….…………………31
Figura 3. Curva Kaplan-Meier de sobrevida de cães tratados somente com cirurgia e cães tratados com cirurgia e Doxorrubicina adjuvante…………….………………………………………………………….34
Figura 4. Curva Kaplan-Meier de sobrevida global de cães diagnosticados com hemangiossarcoma visceral...…………………………………………………..35 CAPÍTULO 2
Figura 5. A- Aspecto macroscópico de hemangiossarcoma esplênico não rompido. B - Presença de sangramento intra-abdominal durante procedimento cirúrgico para retirada de hemangiossarcoma esplênico. C - Aspecto macroscópico de hemangiossarcoma esplênico.………………………………………………….52
Figura 6. A e B - Aspecto macroscópico de hemangiossarcoma cutâneo em cão, sem invasão para tecidos subcutâneo, localizado em região alopécica e com pouca pigmentação…………………………………………………...………...53
Figura 7. Amostras de hemangiossarcoma submetidas à marcação imunoistoquímica com anticorpo anti-5-metilcitidina. Marcações forte (A), fraca (B) e negativa (C) evidenciadas por setas em amostras de hemangiossarcoma canino esplênico. Marcações forte (D), fraca (E) e negativa (F) evidenciadas por setas em amostras de hemangiossarcoma canino de derme…………………………………………………………………………...60
Figura 8. Avaliação da metilação de DNA em hemangiossarcoma esplênico e cutâneo de cães. Marcações apresentadas através da avaliação de imunoistoquímica, sendo consideradas forte, fraca e negativa. Letras iguais indicam sem diferença estatística significativa (p≥0,05) e letras diferentes indicam diferença estatística significativa (p<0,0001)………………………61
Figura 9. Amostras de hemangiossarcoma submetidas à marcação imunoistoquímica com anticorpo anti-Ki-67. A- Marcações positivas evidenciadas por setas em amostras de hemangiossarcoma canino esplênico. B - Marcações positivas evidenciadas por setas em amostras de hemangiossarcoma canino de derme…………………………………………………………….…..62
Figura 10. Índice de proliferação celular (células positivas e negativas) para marcação com anticorpo anti-Ki-67 em hemangiossarcoma esplênico e cutâneo. Não foram observadas diferenças estatísticas significantes………..62
Figura 11. Correlação de Pearson para células com marcação positiva para os anticorpos anti-metilcitidina e anti-Ki67 em hemangiossarcoma esplênico. Não foram observadas diferenças estatísticas significantes (p = 0,611)……64
Figura 12. Correlação de Pearson para células com marcação positiva para os anticorpos anti-metilcitidina e anti-Ki67 em hemangiossarcoma cutâneo. Diferença estatística significante de p = 0,0008……………………………65 CAPÍTULO 3
Figura 13. Hemangiossarcoma. Hematoxilina e eosina. A- Aspecto arquitetônico microscópico da neoplasia apresentando áreas solidas e espaços vasculares. Objetiva de 10X. B – Maior aumento da figura 1A mostrando características celulares como pleomorfismo moderado com discreta anisocitose e discreta anisocariose. Objetiva de 20X………………………………………………96
Figura 14. Hemangiossarcoma. Maior aumento da figura 1 mostrando detalhes (indicados por setas) como figuras de mitose. Hematoxilina e eosina. Objetiva de 40X………………………………...……………………………………...96
Figura 15. A, B, C - Fotomicrografia das células provenientes de um hemangiossarcoma mesentérico nos primeiros 5 dias de cultivo apresentando um formato mais arredondado. A- Objetiva 10X. B - Objetiva 20X. C – Objetiva 40X. D, E, F - Fotomicrografia das células provenientes de um hemangiossarcoma mesentérico apresentando um formato mais alongado e fibroblastóide. D - Objetiva 10X. E - Objetiva 20X. F - Objetiva 40X……97
Figura 16. A - Fotomicrografia da linhagem primária proveniente de um hemangiossarcoma mesentérico imunomarcada com fator von Willebrand. B - Fotomicrografia da linhagem primária proveniente de um hemangiossarcoma mesentérico imunomarcada com CD31. C - Fotomicrografia da linhagem primária proveniente de um hemangiossarcoma mesentérico imunomarcada com CD117. D - Fotomicrografia da linhagem primária proveniente de um hemangiossarcoma mesentérico imunomarcada com vimentina……………99
Figura 17. Fotomicrografia do controle negativo da linhagem primária proveniente de um hemangiossarcoma mesentérico…………………………....………….100
Figura 18. A - Histograma de citometria de fluxo evidenciando quantificação de conteúdo de DNA de linfócitos de um cão saudável que foi utilizado como controle. Linfócitos encontram-se na fase G0/G1 do ciclo celular. B - Histograma de citometria de fluxo evidenciando quantificação de conteúdo de DNA de linhagem de hemangiossarcoma canino LISS-HSA. Células neoplásicas encontram-se na fase S (síntese do DNA) do ciclo cellular…101
Figura 19. Microscopia eletrônica de transmissão de células endoteliais HEK293 mostrando corpúsculos de von Willebrand…………………………………103
Figura 20. Microscopia eletrônica de transmissão de células endoteliais HUVEC………………………………………………………………...……..103
Figura 21. Fotomicrografia da linhagem LISS-HSA proveniente de um hemangiossarcoma canino fixada com glutaraldeído e corada com azul de toluidina. A - Objetiva 40X. B – Objetiva 100X…………………………104
Figura 22. Eletromicrografia das células LISS-HSA provenientes de um hemangiossarcoma canino fixadas em resina e analisadas pela microscopia eletrônica de transmissão. A – 2500X, B – 6000X, C – 10000X…………104
Figura 23. Morfologia ultraestrutural de corpúsculo de Weibel-Palade das células LISS-HSA. A – Setas pretas evidenciando diversos corpúsculos de Weibel-Palade dentro das células endoteliais LISS-HSA (15000X), B – Seta branca evidenciando formato alongado do corpúsculo de Weibel-Palade da célula endotelial LISS-HSA (60000X)……………………………………………105
Figura 24. Gráfico de crescimento celular na linhagem celular de hemangiossarcoma canino DD1 através da técnica de incorporação pelo cristal violeta. Aumento crescente na leitura da densidade óptica com o passar do tempo e com o maior número de células por poço…………………………106
Figura 25. Gráfico de crescimento celular na linhagem celular de hemangiossarcoma canino FROG através da técnica de incorporação pelo cristal violeta. Aumento crescente na leitura da densidade óptica com o passar do tempo e com o maior número de células por poço………………………106
Figura 26. Gráfico de crescimento celular na linhagem celular de hemangiossarcoma canino LISS-HSA através da técnica de incorporação pelo cristal violeta. Aumento discreto crescente na leitura da densidade óptica com o passar do tempo e com o maior número de células por poço……………107
Figura 27. Ensaio de viabilidade celular e citotoxicidade in vitro na linhagem celular de hemangiossarcoma canino DD1 tratada com (A) Doxorrubicina, (B) 5-Azacitidina e (C) SAHA…………………………………………………108
Figura 28. Ensaio de viabilidade celular e citotoxicidade in vitro na linhagem celular de hemangiossarcoma canino FROG tratada com (A) Doxorrubicina, (B) 5-Azacitidina e (C) SAHA……………………………………………109
Figura 29. Ensaio de viabilidade celular e citotoxicidade in vitro na linhagem celular de hemangiossarcoma canino EMMA tratada com (A) Doxorrubicina, (B) 5-Azacitidina e (C) SAHA……………………………………………110
Figura 30. Ensaio de viabilidade celular e citotoxicidade in vitro pelo teste de MTT nas linhagens celulares de hemangiossarcoma canino EMMA, DD1, LISS e
FROG tratadas com as Doxorrubicina e 5-Azacitidina utilizadas isoladamente ou em combinação…………………..………………………………..…………..112
Figura 31. Ensaio de viabilidade celular e citotoxicidade in vitro pelo teste de MTT nas linhagens celulares de hemangiossarcoma canino EMMA, DD1, LISS e FROG tratadas com as Doxorrubicina e SAHA utilizadas isoladamente ou em combinação…………………………………………………………………....113
Figura 32. Ensaio de viabilidade celular e citotoxicidade in vitro pelo teste do cristal violeta nas linhagens celulares de hemangiossarcoma canino EMMA, DD1, LISS e FROG tratadas com as Doxorrubicina e 5-Azacitidina utilizadas isoladamente ou em combinação……………………………………………115
Figura 33. Ensaio de viabilidade celular e citotoxicidade in vitro pelo teste do cristal violeta nas linhagens celulares de hemangiossarcoma canino EMMA, DD1, LISS e FROG tratadas com Doxorrubicina e 5-Azacitidina utilizadas isoladamente ou em combinação……………………………………………116
Figura 34. Gráficos da análise de viabilidade celular utilizados para calcular o IC50 nas linhagens celulares de hemangiossarcoma canino DD1, FROG e LISS-HSA após a exposição aos agentes Doxorrubicina, 5-Azacitidina e SAHA testados isoladamente………………………………………..………………………....118
Figura 35. Isobologramas criados com o software Compusyn® mostrando relação entre a combinação de Doxorrubicina com 5-Azacitidina ou SAHA nas linhagens de hemangiossarcoma canino LISS-HSA (A), FROG (B) e DD1 (C)……………………………………………………...……………………...121
LISTA DE QUADROS CAPÍTULO 1
Quadro 1. Sistema de estadiamento clinico de hemangiossarcoma canino de acordo com a Organização Mundial da Saúde.................................................33
Quadro 2. Protocolos quimioterápicos utilizados nos cães diagnosticados com hemangiossarcoma visceral......................................................................34 CAPÍTULO 2
Quadro 3. Tabela contendo as principais diferenças entre o o hemangiossarcoma esplênico e dérmico em cães............................................................................52
Quadro 4. Médias (em porcentagem %) ± desvio padrão das avaliações da metilação do DNA de hemangiossarcoma esplênico e cutâneo de cães..........61
Quadro 5. Médias (em porcentagem %) ± desvio padrão das avaliações da marcação anti-Ki-67 de hemangiossarcoma esplênico e cutâneo de cães.......63
Quadro 6. Tabela mostrando índice de correlação de Pearson. Coeficiente (r) de correlação mede o grau pelo qual duas variáveis tendem a mudar juntas. O coeficiente descreve a força e a direção da relação.............................................63 CAPÍTULO 3
Quadro 7. Tabela mostrando aspectos comparativos entre o hemangiossarcoma canino e humano..................................................................................................76
Quadro 8. Dosagens utilizadas para a combinação de Doxorrubicina com SAHA ou 5-Azacitidina nas linhagens LISS-HSA, FROG e DD1 para determinação de efeito antagonista, aditivo ou sinérgico...............................................................92
Quadro 9. Dados dos animais incluídos no projeto..................................................95
Quadro 10. Referência de valores estimados para análise de ploidia (BD Biosciences).......................................................................................................101
Quadro 11. Valores do IC50 da Doxorrubicina, SAHA e 5-Azacitidina nas linhagens celulares de hemangiossarcoma canino DD1, FROG e LISS-HSA...................................................................................................................117
Quadro 12. Valores dos índices de combinação (CI) obtidos após tratamento com Doxorrubicina e 5-Azacitidina e Doxorrubicina e SAHA nas linhagens de hemangiossarcoma LISS-HSA, FROG e DD1. Valores de CI menores que 1 indicam sinergismo............................................................................................120
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AH Histona acetiltransferase
AZA 5-Azacitidina
bFGF Fator de crescimento fibroblasto básico
Brdu Bromodeoxiuridina
C5 Quinta posição do carbono
CI Índice de combinação
CO2 Dióxido de carbono
COX-2 Ciclooxigenase
CpG Citosina-fosfatodiéster-guanina dinucleotídeo
DAB Diaminobenzidina
DMEM Dulbecco’s modified Eagle’s
DMSO Dimetilsulfóxido
DNA Ácido deoxinucleico
EDTA Ácido etinodiamino tetra acético
FBS Soro fetal bovino
FDA Food and Drug Administration
FITC Isotiocianato de fluoresceína
IV Intravenoso
Gy Gray
HD Histona desacetilase
HE Hematoxilina e Eosina
HOVET Hospital Veterinário
HPLC Cromatografia líquida de alta eficiência
HSA Hemangiossarcoma
kg Quilograma
L MTP-PE Muramil tripeptídeo fosfatidiletanolamina encapsulado
MBV Vacina bacteriana mista
5 –Metcit 5-Metilcitidina
5-Metil-dC 5-Metil-2’-desoxicitidina
m2 Metro quadrado
µg Micrograma
µL Microlitro
µm Micrometro
µM Micromolar
MFI Intensidade média da fluorescência
mg Miligrama
ml Mililitro
mm Milímetro
min Minutos
M Molar
MTP-PE Muramil tripeptídeo fosfatidiletanolamina
MTT Sal tetrazólico (3-) 4,5-dymethylthiazol-2-(yl)-2,5-(diphenyl tretrazolium
bromide)
ng Nanograma
nm Nanometro
nM Nanomolar
PBS Tampão fosfato-salino
pH Potencial de hidrogênio
PI Iodeto de propídeo
r Coeficiente de correlação de Pearson
RNA Ácido ribonucleico
Rpm Rotações por minuto
RPMI Roswell Park Memorial Institute
SAHA Ácido suberanilohidroxâmico
TBST Solução tris salina tamponada
TMS Tempo mediano de sobrevida
VEGF Fator de crescimento vascular endotelial
SUMÁRIO CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO GERAL....................................................................14 1 INTRODUÇÃO GERAL.............................................................................................15 2 OBJETIVOS GERAIS.................................................................................................16 3 REFERÊNCIAS...........................................................................................................17 CAPÍTULO 2: HEMANGIOSSARCOMA VISCERAL EM CÃES: ESTUDO RETROSPECTIVO DE 42 CASOS (2005-2014)........................................................19 1 INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA.....................................................22 2 MATERIAL E MÉTODO............................................................................................29 3 RESULTADOS............................................................................................................30 3.1 Pacientes....................................................................................................................30 3.2 Localização do tumor primário e estadiamento clínico no momento do diagnóstico.......................................................................................................................30 3.3 Terapia.......................................................................................................................32 3.4 Sobrevida global........................................................................................................35 4 DISCUSSÃO................................................................................................................36 5 CONCLUSÃO..............................................................................................................40 6 REFERÊNCIAS............................................ ...............................................................41 CAPÍTULO 3: AVALIAÇÃO DO PADRÃO DE METILAÇÃO GLOBAL DO DNA E TAXA DE PROLIFERAÇÃO CELULAR NO HEMANGIOSSARCOMA CANINO ESPLÊNICO E DE DERME.......................................................................48 1 INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA.....................................................51 2 MATERIAL E MÉTODO............................................................................................55 2.1 Amostras de tecido tumoral.......................................................................................55 2.2 Marcação imunoistoquímica......................................................................... ............55 2.3 Aquisição de imagem e contagem da marcação imunoistoquímica..........................57 2.4 Análise estatística......................................................................................................57 3 RESULTADOS............................................................................................................59 3.1 Avaliação da metilação global do DNA....................................................................59 3.2 Índice de proliferação celular....................................................................................61 3.3 Análise de correlação de Pearson..............................................................................63 4 DISCUSSÃO................................................................................................................66 5 CONCLUSÃO..............................................................................................................68 6 REFERÊNCIAS...................................................... .....................................................69 CAPÍTULO 4: AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DA 5-AZACITIDINA E SAHA NAS LINHAGENS DE HEMANGIOSSARCOMA CANINO.................................72 1 INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA.....................................................75 2 OBJETIVOS.................................................................................................................81 2.1 Objetivo geral............................................................................................................81 2.2 Objetivos específicos.................................................................................................81
3 MATERIAL E MÉTODO............................................................................................82 3.1 Desenvolvimento de cultura celular primária de hemangiossarcoma canino............82 3.1.1 Animais...................................................................................................................82 3.1.2 Coleta de neoplasias abdominais............................................................................82 3.1.3 Análise histopatológica..........................................................................................82 3.1.4 Cultura celular........................................................................................................83 3.1.5 Cultura celular primária de hemangiossarcoma canino..........................................83 3.1.6 Congelamento e descongelamento de células........................................................84 3.1.7 Colorações imunocitoquímicas de cultura primária de hemangiossarcoma...........85 3.1.8 Citometria de fluxo.................................................................................................85 3.1.9 Ploidia e ciclo celular.............................................................................................86 3.1.10 Microscopia eletrônica de transmissão.................................................................87 3.2 Ensaios para determinação de citotoxicidade............................................................88 3.2.1 Curva de crescimento de células de hemangiossarcoma canino............................88 3.2.2 Análise da viabilidade celular com ensaio de MTT após exposição inicial aos agentes antineoplásicos utilizados isoladamente.............................................................88 3.2.3 Análise da viabilidade celular com ensaio de MTT após exposição aos agentes antineoplásicos utilizados em combinação......................................................................89 3.2.4 Análise da viabilidade celular com o teste de cristal violeta após exposição aos agentes antineoplásicos utilizados em combinação.........................................................90 3.2.5 Cálculo do IC50......................................................................................................90 3.2.6 Avaliação de sinergismo.........................................................................................91 3.3 Quantificação da metilação global do DNA..............................................................92 4 RESULTADOS............................................................................................................95 4.1 Animais utilizados e coleta de neoplasias abdominais..............................................95 4.2 Cultura celular...........................................................................................................95 4.2.1 Cultura de tecido tumoral.......................................................................................95 4.2.2 Caracterização imunofenotípica da cultura celular primária de hemangiossarcoma..........................................................................................................98 4.3 Ploidia e ciclo celular..............................................................................................100 4.4 Microscopia eletrônica de transmissão....................................................................102 4.5 Ensaios para determinação de citotoxicidade..........................................................105 4.5.1 Curva de crescimento de células de hemangiossarcoma. canino.........................105 4.5.2 Análise da viabilidade celular com ensaio de MTT após exposição inicial aos agentes antineoplásicos utilizados isoladamente...........................................................107 4.5.3 Análise da viabilidade celular com ensaio de MTT após exposição aos agentes antineoplásicos utilizados em combinação....................................................................111 4.5.4 Análise da viabilidade celular com o teste de cristal violeta após exposição aos agentes antineoplásicos utilizados em combinação.......................................................114 4.5.5 Cálculos do IC50..................................................................................................117 4.5.6 Avaliação de sinergismo.......................................................................................118 4.5.7 Quantificação da metilação global do DNA.........................................................122 5 DISCUSSÃO..............................................................................................................123 6 CONCLUSÃO............................................................................................................128 7 REFERÊNCIAS..................................................... ....................................................129 8 CONCLUSÕES GERAIS.......................................................................................... 149
15
1 INTRODUÇÃO GERAL
O hemangiossarcoma, também conhecido como angiossarcoma, é uma neoplasia
que tem origem no endotélio vascular. Trabalhos mais recentes sugerem que a
ontogenia do hemangiossarcoma seja a partir de células-tronco hematopoiéticas
transformadas (FOSMIRE et al., 2004). O hemangiossarcoma é uma neoplasia
extremamente frequente em cães, representando 5%-7% de todos os tipos de câncer
nessa espécie (PRIESTER; MCKAY, 1980; SPANGLER; CULBERSTON, 1992;
HAMMER et al., 1991). Já em seres humanos, o diagnóstico de angiossarcoma é raro,
representando apenas 0,01%-0,1% das neoplasias nos homens (SPIRTAS et al., 1983;
FALK et al., 1981). Em ambas as espécies, o hemangiossarcoma apresenta um
comportamento bastante agressivo com o desenvolvimento de metástases ocorrendo no
início do curso da doença (KIM et al., 2015).
Inicialmente, o diagnóstico de angiossarcoma em seres humanos costumava
estar associado à exposição crônica, no ambiente de trabalho, principalmente ao dióxido
de tório e cloreto de vinilo (SPIRTAS et al., 1983; FALK et al., 1981). Os primeiros
relatos de hemangiossarcoma canino datam dos anos 50 e 60 e coincidem com o
período no qual a relação entre cães e humanos começou a mudar (LIEBERMAN,
1955; QUIGLEY et al., 1965; GEIB, 1967). Os cães deixaram de exercer funções como
cães de guarda, caça e pastoreio e passaram a ser considerados como membros da
família. Em meados da década de 1970, ficou aparente que a incidência do
hemangiossarcoma nos cães era 25 a 100 vezes maior do que a incidência de
angiossarcoma em humanos e uma predileção racial passou a ser notada (APPLEBY et
al., 1978; BROWN, et al., 1985; PRYMAK et al., 1988; SPANGLER; CULBERSTON,
1992). Nos últimos 40-50 anos, os fatores causais do angiossarcoma em humanos
também mudaram, com a maior parte dos pacientes não apresentando histórico de
exposição ocupacional às substâncias tóxicas (KOCH et al., 2008; COHEN et al., 2009)
Por estas razões, o hemangiossarcoma canino de ocorrência espontânea tem sido
considerado como modelo para o estudo do câncer de origem vascular na espécie
humana, em função de suas similaridades morfológicas, anatômicas e fisiológicas e
também em função dos cães dividirem o mesmo ambiente com seus tutores, expondo-
se, assim, aos mesmos fatores ambientais de risco.
16
2 OBJETIVOS GERAIS
• Realizar estudo retrospectivo de cães portadores de hemangiossarcoma
visceral na cidade de São Paulo.
• Avaliar a metilação global do DNA em hemangiossarcoma canino .
• Estabelecer e caracterizar linhagem de hemangiossarcoma canino para
realizar estudos in vitro de novas terapias.
• Analisar os efeitos in vitro dos agentes antineoplásicos 5-Azacitidina e
SAHA, utilizados isoladamente ou associados à Doxorrubicina, em cultura
celular de hemangiossarcoma canino.
17
3 REFERÊNCIAS
APPLEBY, E. C.; HAYWARD, A. H.; DOUCE, G. German shepherds and splenic
tumors. Veterinary Record, 1978.
BROWN, N. O.; PATNAIK, A. K.; MACEWEN, E. G. Canine hemangiosarcoma:
retrospective analysis of 104 cases. Journal of the American Veterinary Medical
Association, v. 186, p. 56-58, 1985.
COHEN, S. M.; STORER, R. D.; CRISWELL, K. A.; DOERRER, N. G.; DELLARCO,
V. L.; PEGG, D. G.; WOJCINSKI, Z. W.; MALARKEY, D. E.; JACOBS, A. C.;
KLAUNIG, J. E., et al. Hemangiosarcoma in rodents: mode-of-action evaluation and
human relevance. Toxicological Sciences, v. 111, p. 4-18, 2009.
FALK, H.; HERBERT, J.; CROWLEY, S.; ISHAK, K. G.; THOMAS, L. B.; POPPER,
H.; CALDWELL, G. G. Epidemiology of hepatic angiosarcoma in the United States.
Environmental Health Perspectives, v. 41, p. 107-113, 1981.
FOSMIRE, P.F.; DICKERSON, E.B.; SCOTT, A.M.; BIANCO, S.R.; PETTENGILL,
M.J.; MEYLEMANS, H.; PADILLA, M.P.; FRAZER-ABEL, A.A.; AKHTAR, N.;
GETZY, D.M.; WOJCIESZYN, J.; BREEN, M.; HELFAND, S.C.; MODIANO, J.F.
Canine malignant hemangiosarcoma as a model of primitive angiogenic endothelium.
Laboratory Investigation, v. 84, p. 562-572, 2004.
GEIB, L. W. Primary angiomatous tumors of the heart and great vessels. A reporto f
two cases in the dog. Cornell Vet, v. 57, p. 292-296, 1967.
HAMMER, A. S.; COUTO, C. G.; SWARDSON, C.; GETZY, D. Hemostatic
abnormalities in dogs with hemangiosarcoma. Journal of Veterinary Internal
Medicine, v. 5, n. 1, p. 11-14, 1991.
KIM, J. H.; GRAEF, A. J.; DICKERSON, E. B.; MODIANO, J. F. Pathobiology of
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hemangiosarcoma in dogs: research advances and future perspectives. Veterinary
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KOCH, M.; NIELSEN, G. P.; YOON, S. S. Malignant tumors of blood vessels:
angiosarcomas, hemangioendotheliomas, and hemangiopericytomas. Journal of
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LIEBERMAN, L. L. Malignant hemangioendothelioma of the canine heart. Journal of
the American Veterinary Medical Association, v. 126, p. 296, 1955.
PRIESTER, W.; MCKAY, F. The occurrence of tumors in domestic animals,
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PRYMAK, C.; MCKEE, L. J.; GOLDSCHMIDT, M. H.; GLICKMAN, L. T.
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hemangiosarcoma and splenic hematoma in dogs: 217 cases. Journal of the American
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QUIGLEY, P. J.; DE SARAM, W.; DAWSON, I. M.; PRYSE-DAVIES, J. Two cases
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SPANGLER, W.L; CULBERTSON, M.R. Prevalence, type, and importance of splenic
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SPIRTAS, R.; BEEBE, G.; BAXTER, P.; DACEY, E.; FABER, M.; FALK, H.; VAN
KAICK, G; STAFFORD, J. Angiosarcoma as a model for comparative carcinogenesis
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RESUMO
Batschinski K. Hemangiossarcoma visceral em cães: estudo retrospectivo de 42 casos (2005-2014) [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2017. O hemangiossarcoma é uma neoplasia maligna de origem endotelial vascular de ocorrência comum em cães. Nessa espécie, o órgão primário mais acometido é o baço. O hemangiossarcoma de partes moles em cães é caracterizado por ter um comportamento biológico muito agressivo e metástases, principalmente para o pulmão e fígado, são frequentes e ocorrem de maneira rápida no início do curso da doença. O óbito ocorre na maioria dos casos devido a hemorragia interna aguda secundária à ruptura do tumor e/ou devido ao processo metastástico. A cirurgia continua a ser o principal método de tratamento para quase todos os cães com hemangiossarcoma, mas a quimioterapia adjuvante é indicada em razão do alto índice metastático e do prognóstico ruim associado com o procedimento cirúrgico sozinho. Um estudo retrospectivo foi realizado para determinar o tempo de sobrevida e potenciais fatores de risco em cães diagnosticados com hemangiossarcoma visceral. Prontuários de 42 cães foram revisados. Dados como idade e peso no momento do diagnóstico, raça, sexo, localização do tumor, estágio clínico da doença, tipo de tratamento, e tempo mediano de sobrevida foram analisados. Vinte e três cães foram tratados apenas com cirurgia, enquanto que 19 cães foram tratados com cirurgia e quimioterapia adjuvante. Houve diferença estatística na sobrevida dos cães tratados com cirurgia e Doxorrubicina (274 dias) em comparação com cães tratados apenas com cirurgia (66 dias). Cães com hemangiossarcoma esplênico tiveram um tempo mediano de sobrevida mais longo do que os cães com hemangiossarcoma localizados em outros sítios primários e com metástase (274 versus 117 versus 38 dias, respectivamente, p = 0,013). O tempo mediano global de sobrevida para esses 42 cães foi de 237 dias, e a taxa de sobrevida de um ano foi estimada em 26,32%. Conclui-se que a localização primária do hemangiossarcoma teve associação com o prognóstico e que o uso da Doxorrubicina após o tratamento cirúrgico aumentou a sobrevida dos cães diagnosticados com essa doença. Neste estudo, o estadiamento clínico dos cães não influenciou o prognóstico. Descritores: hemangiossarcoma; cães; esplenectomia; doxorrubicina; baço
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ABSTRACT Batschinski K. Visceral hemangiosarcoma in dogs: a retrospective study of 42 cases (2005-2014) [thesis]. São Paulo: “Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo”; 2017. Hemangiosarcoma is a very common canine neoplasm of vascular endothelial origin. In the dog, the most frequent primary site for hemangiosarcoma is the spleen. Typically, canine hemangiosarcoma has a very aggressive biologic behavior with metastases, especially to lung and liver, occurring early in the course of the disease. In the majority of cases, death is related to acute hemoabdomen secondary to tumor rupture and/or metastases. Surgery remains the main method of treatment for most dogs with this type o cancer, but adjuvant chemotherapy is highly recommended due to the high risk of metastasis and the poor outcome associated with surgery alone. A retrospective study was performed to determine survival times and potential risk factors in dogs diagnosed with visceral hemangiosarcoma. Medical records of 42 dogs were reviewed. Age and baseline weight at the time of diagnosis, breed, sex, tumor location, clinical stage of the disease, treatment type and median survival time were evaluated. Twenty-three dogs were treated with surgery alone, while 19 dogs were treated with surgery and adjuvant chemotherapy. There was significant difference in survival between dogs treated with surgery alone (66 days) and with surgery followed by Doxorubicin (274 days). Dogs with splenic hemangiosarcoma had a longer median survival time than dogs with hemangiosarcoma of other sites, and with metastasis (274 versus 117 versus 38 days, respectively, p = 0,013). The overall median survival time for these 42 dogs was 237 days, and the one-year survival rate was estimated to be 26.32%. In conclusion, primary tumor location was associated with prognosis and the addition of doxorubicin after surgery did improve survival. In this study, clinical stage had no association with prognosis. Descriptors: hemangiosarcoma; dogs; splenectomy; doxorubicin; spleen
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1 INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA
O hemangiossarcoma (HSA), também conhecido como angiossarcoma, é uma
neoplasia agressiva que tem origem no endotélio vascular. Apesar desse tumor se
manifestar em qualquer espécie, os cães são os mais acometidos (PRIESTER; MCKAY,
1980; SPANGLER; CULBERSTON, 1992). O HSA representa aproximadamente 5 a
7% de todos os tumores primários malignos não cutâneos, de 12 a 21% de todas as
neoplasias mesenquimais e de 51 a 66% dos tumores esplênicos observados em cães
(PRIESTER; MCKAY, 1980; SPANGLER; CULBERSTON, 1992; HAMMER et al.,
1991).
Cães de meia idade a idosos são os mais descritos, porém há relatos em cães
com menos de 3 anos de idade. Labrador, Golden Retriever e Pastor Alemão são as
raças mais predispostas para o desenvolvimento do HSA. Alguns estudos mostram que
os machos são os mais afetados, porém essa predisposição sexual não é confirmada em
toda a literatura veterinária (KAHN et al., 2013; SZIVEK et al., 2013).
Embora a etiologia do HSA ainda não esteja completamente elucidada, existem
relatos em humanos que têm sido correlacionados com a exposição ao dióxido de tório,
arsênicos, cloreto de vinilo, e androgênios. Dois fatores de risco já são bem
estabelecidos na literatura oncológica médica: o linfedema crônico e o tratamento
prévio com radioterapia (WOODWARD et al., 1972; PENEL et al., 2008). Já em cães
de laboratório, o HSA cutâneo foi associado com a exposição à luz ultravioleta
(CLIFFORD et al., 2001; HARGIS et al., 1992).
Acredita-se que a inflamação, hipóxia e a angiogênese também contribuam para
a patogênese do HSA idiopático ou do HSA associado à exposição a agentes
genotóxicos (TAMBURINI et al., 2010). Sabe-se que a desregulação de vias
moleculares que controlam a angiogênese representa um fator importante na patogênese
do HSA. Por exemplo, estudos em humanos e cães demonstraram um aumento da
expressão do fator de crescimento vascular endotelial (VEGF), fator de crescimento de
fibroblasto básico e angiopoietina-1 em linhagens celulares e tecidos de HSA
(CLIFFORD et al., 2001; YAMAMOTO et al., 1999). Estudos em murinos, humanos e
cães revelaram que mutações em genes, tais como p53, PTEN, Ras, Tsc2 e Von Hippel-
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Lindau, estão implicadas na patogênese do HSA (THAMM et al., 2001; ONDA et al.,
1999).
Em cães, o sítio primário mais comum dessa neoplasia é o baço. O HSA ocorre
também em outras localizações como átrio direito, pele, subcutâneo e fígado. Pode
ainda ocorrer com menor frequência no pulmão, rim, cavidade oral, músculo, osso,
bexiga urinaria, ventrículo esquerdo, útero, língua, dígitos e retroperitônio (KAHN et
al., 2013).
Em geral o comportamento dessa neoplasia, principalmente quando encontrada
na forma visceral, é altamente agressivo, com rápido desenvolvimento de metástase. A
única exceção é o HSA de derme, sem qualquer evidência clinica ou histológica de
infiltração subdermal, no qual o potencial metastático é menor que 30% (SZIVEK et al.,
2013). Metástases ocorrem preferencialmente pela via hematógena ou por implantação
transabdominal (KAHN et al., 2013). Os órgãos mais atingidos pelo processo
metastático são o fígado, omento, mesentério e pulmões, no entanto metástases também
são vistas com menor frequência nos rins, miocárdio, peritônio, linfonodos, glândulas
adrenais, cérebro, intestinos e no diafragma (KAHN et al., 2013). O HSA é a neoplasia
com maiores chances de disseminação para o cérebro, principalmente quando os
pacientes apresentam metástases múltiplas ou pulmonares. Apesar da metástase cerebral
ocorrer preferivelmente pela via hematógena, também pode ocorrer pela via linfática
através da liberação de êmbolos tumorais (KAHN et al., 2013).
O HSA canino necessita de uma combinação de modalidades de tratamento que
inclui no mínimo uma terapia local seguida de terapia sistêmica devido ao alto potencial
metastático. O tratamento de eleição para o HSA primário é a ressecção cirúrgica
completa do tumor. No entanto, a cirurgia representa apenas um tratamento paliativo
(KAHN et al., 2013; TAMBURINI et al., 2010). Uma vez realizada a esplenectomia em
cães com diagnóstico de HSA esplênico, o tempo mediano de sobrevida (TMS) é baixo,
variando de 19 a 86 dias, sendo que menos de 16% dos cães sobrevivem 12 meses
(SPANGLER; CULBERSTON, 1992; SPANGLER; KASS, 1997; BROWN et al.,
1985; PRYMAK et al., 1988; WOOD et al., 1998; MOORE et al., 2017). Em um outro
estudo contendo 9 cães com o diagnóstico de HSA localizado em átrio direito tratados
com cirurgia como terapia única, o TMS foi de 4 meses (PLOYAR, 2013). Além da
cirurgia utilizada como modalidade para o tumor primário, a radioterapia está
começando a ser estudada para essa doença. Nolan et al., 2017, tratou 6 pacientes com
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radioterapia (dose única de 12 Gy) diagnosticados presuntivamente com HSA em átrio
direito com efusão pericárdica. O tratamento foi bem tolerado e a frequência de
pericardiocenteses diminuiu após o tratamento. O TMS foi 79 dias (NOLAN et al.,
2017). Além da excisão cirúrgica, deve-se associar algum tipo de terapia sistêmica,
como por exemplo a quimioterapia e/ou imunoterapia, com o intuito de aumentar a
sobrevida dos pacientes. Devido ao alto potencial metastático desse tipo de câncer, a
quimioterapia é indicada em todos os casos de HSA, com exceção do HSA de derme
que possui um baixo potencial metastático. Um estudo recente com 208 cães
diagnosticados com HSA esplênico mostrou que cães tratados com esplenectomia e
quimioterapia adjuvante apresentaram um TMS superior, porém modesto, em relação a
cães tratados somente com cirurgia (3.4 meses versus 1.6 meses) (WENDELBURG et
al., 2015).
A Doxorrubicina utilizada como agente único ou em combinação com outros
quimioterápicos é considerada a droga de eleição nesse tipo de câncer (HAMMER et
al., 1991; PAYNE et al, 2003). Apesar da combinação de quimioterápicos teoricamente
potencializar o efeito citotóxico das drogas de uma maneira aditiva ou mesmo
sinergística, diversos estudos com o HSA mostram que não existem grandes diferenças
estatísticas de sobrevida quando a Doxorrubicina é utilizada concomitantemente com
outras drogas ou de maneira isolada. Por exemplo, cães tratados com a Doxorrubicina
como agente único após a esplenectomia apresentaram um TMS de 123 dias, enquanto
que quando a Doxorrubicina foi combinada com outras drogas como no protocolo VAC
(Doxorrubicina + Ciclofosfamida + Vincristina) o TMS foi de 145 dias e com o
protocolo AC (Doxorrubicina + Ciclofosfamida) foi de 141 a 179 dias (VAIL et al.,
1995; HAMMER et al., 1991; SORENMO et al, 2004; PAYNE et al, 2003).
Outras combinações utilizadas como o protocolo VCM (Vincristina,
Ciclofosfamida e Metotrexato) também não melhoraram muito o prognóstico, tendo um
TMS de 164 dias (SORENMO et al, 2000). Finotello et al. (2015), de maneira
prospectiva comparou o uso de dois protocolos quimioterápicos adjuvantes em cães
com HSA: Doxorrubicina e Ciclofosfamida ou Doxorrubicina e Dacarbazina. Cães
tratados com a segunda combinação apresentaram taxas de sobrevida superiores aos
cães tratados com Doxorrubicina e Ciclofosfamida (>550 dias versus 142 dias),
representando até a atualidade o protocolo quimioterápico que atingiu uma taxa de
sobrevida mais longa.
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Na tentativa de melhorar o TMS, a administração da Doxorrubicina na forma
encapsulada em lipossomas foi investigada e infelizmente também não resultou em
nenhum benefício significativo na taxa de sobrevida, tendo um TMS igual a 132 dias
(SORENMO et al., 2007). Assim como a Doxorrubicina, o agente quimioterápico
Ifosfamida também mostrou uma modesta atividade antitumoral no HSA canino,
apresentando um TMS de 149 dias (PAYNE et al, 2003; RASSNICK et al., 2000).
A ciclooxigenase-2 (COX-2) desempenha um papel na formação, no
crescimento, e na metástase de tumores e o uso de inibidores de COX-2 têm
demonstrado um benefício terapêutico em certas neoplasias caninas, inclusive no
HSA. Um estudo prospectivo com 21 cães avaliou o efeito do tratamento combinado de
Doxorrubicina com o inibidor seletivo da Cox-2, Deracoxib, após a esplenectomia. Essa
combinação foi bem tolerada com apenas toxicidades gastrointestinais e hematológicas
discretas. Um TMS de 150 dias foi observado nessa população estudada (KAHN et al.,
2013). Embora o estadiamento clínico não tenha representado diferença significativa na
sobrevida, os cães com estágio III (cães com metástase) de HSA apresentaram uma
sobrevida mediana de 149 dias, o que parece ser superior quando comparado com
animais com o mesmo estágio de doença em outros estudos (KAHN et al., 2013). Mais
estudos são necessários para avaliar o real benefício de inibidores de Cox-2 no
tratamento da HSA canino.
A quimioterapia metronômica (baixas doses de quimioterápicos com curtos
intervalos entre as administrações) também pode ser usada como uma alternativa para o
tratamento quimioterápico convencional (altas doses com longos intervalos entre as
administrações), levando a uma sobrevida equivalente ao tratamento com
Doxorrubicina em cães com HSA esplênico com estagio II da doença (LANA et al.,
2007). Nessa população de cães, o uso de baixas doses de quimioterápicos utilizando
uma combinação de Ciclofosfamida ou Etoposida junto com Piroxicam mostrou um
TMS de 178 dias (LANA et al., 2007). Wendelburg et al. (2015), mostrou um potencial
benefício do uso da quimioterapia metronômica após terapia prévia com quimioterapia
adjuvante convencional. Nesse contexto, cães tratados com quimioterapia metronômica
e convencional tiveram um TMS de 4.3 meses, enquanto que cães tratados somente com
quimioterapia adjuvante ou metronômica obtiveram um TMS de 3 meses e 3.4 meses,
respectivamente (WENDELBURG et al., 2015).
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Em casos em que a cirurgia não é possível de ser realizada devido ao tamanho,
localização e/ou presença de metástases, a quimioterapia pode ser utilizada como
terapia única com a tentativa de promover uma regressão tumoral e aumentar a
sobrevida. Cães tratados com o protocolo quimioterápico DAV (Dacarbazina,
Doxorrubicina e Vincristina) tiveram uma taxa de resposta tumoral de 47.4% com uma
duração média de 101 dias e TMS de 125 dias (DERVISIS et al., 2011). Apesar de
quase metade dos cães nessa população ter tido uma resposta parcial ou completa,
infelizmente o tempo de resposta foi curto (DERVISIS et al., 2011).
Além da quimioterapia convencional, a imunoterapia também tem sido
explorada e estudada em cães com HSA. O muramil tripeptídeo fosfatidiletanolamina
(MTP-PE) é um imunomodulador capaz de estimular a habilidade de macrófagos e
monócitos e de reconhecer e destruir células neoplásicas humanas e caninas por uma
variedade de mecanismos. Seu encapsulamento em lipossomo (L MTP-PE) aumenta a
endocitose e a captação tecidual de MTP-PE por monócitos e macrófagos e prolonga
sua meia vida na circulação. Em humanos e cães, L MTP-PE estimula a ação anti-
tumoral dos monócitos, bem como gera um aumento na concentração plasmática do
fator de necrose tumoral e de outras citocinas, de modo a promover também uma
atividade anti-metástatica em tumores altamente malignos, como o HSA. A associação
de esplenectomia, Doxorrubicina e Ciclofosfamida com L MTP-PE conseguiu aumentar
significativamente a sobrevida de cães com HSA, apresentando um TMS de 273 dias,
enquanto que o tratamento com a esplenectomia seguida do uso de quimioterapia sem a
adição de L MTP-PE teve um TMS de de 141 a 179 dias (VAIL et al., 1995; KAHN et
al., 2013; HAMMER et al., 1991; OGILVIE et al., 1996; SORENMO et al., 2004;
SORENMO et al., 1993; PAYNE et al., 2003; KIM et al., 2007; SORENMO et al.,
2007).
Pesquisas de vacinas MBV (vacina bacteriana mista) em combinação com a
quimioterapia também foram testadas em cães com HSA. O TMS de cães submetidos a
esplenectomia seguida da quimioterapia e associada a vacina foi de 117 dias, enquanto
que cães tratados somente com esplenectomia e vacina foi de 91 dias. Mais estudos são
necessários para avaliar a potencial contribuição da imunoterapia no HSA (VAIL et al.,
1995; BROWN et al, 1985).
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De maneira geral o prognóstico para cães com HSA esplênico tratado apenas
com cirurgia é extremamente baixo, tendo um TMS que varia entre 19 a 86 dias
(SPANGLER; CULBERSTON, 1992; SPANGLER; KASS, 1997; BROWN et al.,
1985; PRYMAK et al., 1988; WOOD et al., 1998). Já cães tratados com cirurgia e
quimioterapia possuem um TMS maior, variando de 141 a 179 dias, porém ainda assim
a taxa de sobrevida de uma ano é menor que 10%. (KAHN et al., 2013; HAMMER et
al., 1991; OGILVIE et al., 1996; SORENMO et al., 2004; SORENMO et al., 1993;
PAYNE et al., 2003; KIM et al., 2007; SORENMO et al., 2007).
Até o presente momento, a terapia sistêmica que proporcionou o TMS mais
longo foi a utilização de esplenectomia seguida de quimioterapia convencional
adicionada a imunoterapia com L MTP-PE (VAIL et al., 1995) e o protocolo
quimioterápico utilizando a Doxorrubicina junto com Dacarbazina (FINOTELLO et al,
2015).
O HSA cardíaco, primário hepático e outros HSA viscerais possuem um
prognóstico desfavorável similar ao HSA esplênico (YAMAMOTO et al, 2013).
Apenas o HSA renal tem tido um resultado um pouco mais favorável em relação a
outros sítios primários de HSA, apresentando um TMS de 278 dias (LOCKE;
BARBER, 2006).
Um dos fatores prognósticos que tem sido mais correlacionado com a sobrevida
é o estágio clínico da doença – Quadro 1 (WOOD et al., 1998; HAMMER et al., 1991;
VAIL et al., 1995). Estudos mostram que cães com estágio I sobrevivem mais do que
cães com estágios II e III (WOOD et al., 1998; HAMMER et al., 1991; VAIL et al.,
1995). Outro fator prognóstico importante é a graduação histológica dos HSA viscerais.
Cães com HSA bem diferenciados aparentam ter sobrevidas mais longas quando
comparados com tumores pouco diferenciados ou de diferenciação intermediária
(OGILVIE et al., 1996). Além disso, um índice mitótico alto influenciou negativamente
o prognóstico (KIM et al., 2007; MOORE et al., 2017). Spangler et al. (1997), mostrou
que cães com massas solitárias no baço tem um prognóstico superior do que cães com
HSA múltiplas massas distribuídas por todo o parênquima do baço.
O objetivo deste estudo retrospectivo é expandir e atualizar as informações já
descritas na literatura, determinando a sobrevida dos pacientes e também os fatores
prognósticos de cães diagnosticados com HSA visceral tratados somente com cirurgia
28
ou com cirurgia e quimioterapia em dois grandes centros de oncologia veterinária de
São Paulo, o Provet e o Petcare.
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2 MATERIAL E MÉTODO
Cães foram incluídos no estudo se tivessem o diagnóstico histopatológico de HSA
visceral em qualquer localização. Critérios de exclusão do estudo incluem o diagnóstico
histopatológico de HSA cutâneo (derme, subcutâneo e intramuscular). Foram incluídos
no estudo casos de HSA visceral do acervo dos Serviços de Oncologia do Provet e do
Hospital Veterinário Petcare Unidade Ibirapuera.
Informações coletadas incluem: nome do animal, local de atendimento, idade e
peso no momento do diagnóstico (> ou < que 15 kg) (SHERWOOD et al., 2016), sexo,
localização do tumor primário, estágio clínico da doença, data da cirurgia, exames
diagnósticos, protocolo quimioterápico utilizado (nome da droga, dose e número de
ciclos), data de progressão da doença e TMS.
Exames de estadiamento clínico no momento do diagnóstico de HSA incluíam
hemograma completo, a análise bioquímica sérica, exame de urina, radiografias
torácicas e ultrassonografia abdominal. O diagnóstico histopatológico foi obtido a partir
de biópsia excisional.
O estadiamento clínico no momento do diagnóstico foi determinado baseado no
Sistema TNM de Classificação dos Tumores Malignos da Organização Mundial da
Saúde (adaptado para o uso em animais domésticos) – Quadro 1.
O TMS foi definido a partir da data de cirurgia e a documentação da data de morte.
Para efeitos de cálculos de sobrevida, cães que tiveram morte relacionada com a
neoplasia foram considerados eventos concluídos, e os cães sem notícias de seguimento
foram censurados. Os resultados foram determinados através da utilização do método de
Kaplan-Meier. Foram utilizados os testes de log rank para análise univariada e regressão
de Cox para análise multivariada de fatores de risco potenciais. Um valor de p <0,05 foi
considerado estatisticamente significante. O software STATA 13.1 comercialmente
disponível para Mac (Stata Corp., Texas, EUA) foi utilizado para todos os cálculos
estatísticos.
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3 RESULTADOS
3.1 Pacientes
Foram incluídos no estudo 42 casos de HSA visceral do acervo dos Serviços de
Oncologia do Provet e Hospital Veterinário Petcare Unidade Ibirapuera. As raças mais
acometidas nesse estudo foram: SRD (sem raça definida) (9), Labrador (6), Pit Bull (4),
Schnauzer (4), Golden Retriever (2), Pastor Alemão (2), Poodle (2), Rottweiler (2),
Beagle (2), Boxer (2), Lhasa Apso (1), Yorkshire (1), Bichon Frisé (1), West Highland
White Terrier (1), Fox Americano (1), Cocker Spaniel Inglês (1), Weimaraner (1) –
Figura 1. A idade mediana no momento do diagnóstico foi de 10,5 anos (3-15 anos) e o
peso mediano foi de 20 kg (6-43 kg). Catorze cães eram machos inteiros e 9 eram
machos castrados, enquanto que 2 eram fêmeas inteiras e 17 fêmeas castradas. Nem o
peso e nem o estado de castração tiveram influência estatística na sobrevida de cães
diagnosticados com HSA.
Figura 1. Raças mais acometidas de cães diagnosticados com hemangiossarcoma visceral.
3.2 Localização do tumor primário e estadiamento clínico no momento do
diagnóstico
O diagnóstico histopatológico de HSA foi obtido através de biópsia excisional
em todos os cães. Apesar do prognóstico desfavorável, os cães com metástase no
31
momento do diagnóstico também tiveram seus tumores primários cirurgicamente
removidos devido ruptura e hemorragia secundária.
Os órgãos primários mais acometidos nesse estudo foram: baço (34), fígado (3),
rim (2), intestino (1), bexiga (1) e linfonodo (1). O cão diagnosticado com HSA em
linfonodo foi classificado como tendo um tumor primário já que outras lesões não
foram detectadas por métodos de imagem, tais como exame abdominal
ultrassonográfico e radiografia torácica 3 projeções (CHAN et al., 2016). A localização
do tumor primário influenciou estatísticamente a sobrevida dos cães estudados. O HSA
esplênico (TMS = 274 dias, variação entre 160 a > 1075 dias) apresentou uma taxa de
sobrevida estatisticamente superior aos HSA localizados em outras regiões primárias
incluindo o fígado, rim, intestino, bexiga e linfonodo (TMS = 117 dias, variação entre 8
a > 622 dias) e também em relação a cães com metástase (TMS = 38 dias, variação 9 a
788 dias) (p = 0,013) – Figura 2.
Figura 2. Curvas de sobrevida (Kaplan-Meier) de cães diagnosticados com hemangiossarcoma visceral em diferentes sítios primários. Fígado (3), rim (2), intestino (1), vesicula urinária (1) e linfonodo (1) foram os órgãos primários acometidos além do baço.
A classificação do estadiamento de todos os cães foi feita de acordo com o
Sistema TNM de Classificação dos Tumores Malignos da Organização Mundial da
Saúde (adaptado para o uso em animais domésticos), mostrado no Quadro 1. Vinte e
32
nove cães foram classificados com estágio I (69%), 6 cães com estágio II (14,28%) e 7
com estágio III (16,6%). No momento do diagnóstico de HSA, 7 cães apresentavam
metástase para: pulmões (3), fígado (3), e mesentério (1). Um desses animais tinha mais
de um local metastático concomitante. Nesse estudo não houve diferença estatística na
sobrevida de cães com estágios menos avançados quando comparados com estádios
mais avançados (p = 0,506).
3.3 Terapia
Como parte da terapia, 23 cães foram tratados somente com cirurgia, enquanto
que 19 cães foram tratados com cirurgia e quimioterapia adjuvante. Catorze (73%) cães
foram tratados com Doxorrubicina como agente único e 2 (10,5%) cães foram tratados
com Ciclofosfamida como agente único. O protocolo quimioterápico dos 3 cães
restantes foi: Doxorrubicina e Cliclofosfamida (5,2%), Epirrubicina (5,2%) e
Carboplatina e Epirrubicina (5,2%). Os protocolos quimioterápicos utilizados estão
apresentados na Quadro 2.
Curvas de Kaplan-Meier foram criadas para os 23 cães tratados com cirurgia
como terapia única e cães tratados com cirurgia e Doxorrubicina adjuvante (14 cães de
um total de 19). Cães tratados com cirurgia e outros protocolos antineoplásicos foram
excluídos da análise (total de 5 cães). Houve diferença estatística na sobrevida de cães
tratados com Doxorrubicina em relação a cães que passaram somente pelo
procedimento cirúrgico (p = 0,042) – Figura 3. O TMS de cães tratados somente com
cirurgia foi de 66 dias (variação entre 7 a 1075 dias), enquanto que o TMS de cães
tratados com cirurgia e Doxorrubicina foi 274 dias (variação entre 202 a > 1944 dias).
33
Quadro 1. Sistema de estadiamento clinico de hemangiossarcoma canino de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
34
Quadro 2. Protocolos quimioterápicos utilizados nos cães diagnosticados com hemangiossarcoma visceral.
Figura 3. Curva Kaplan-Meier de sobrevida de cães tratados somente com cirurgia e cães tratados com cirurgia e Doxorrubicina adjuvante.
35
3.4 Sobrevida global
No momento da análise dos dados, 27 cães estavam mortos (14 foram eutanasiados
e 13 tiveram morte natural) e 15 estavam vivos. A necropsia não foi feita em nenhum
dos cães, porém o diagnóstico presuntivo de HSA levando a morte foi baseado em
achados clínicos, exames laboratoriais e de imagem.
De um total de 42 cães analisados, 17 foram censurados. Treze foram censurados,
pois ainda estavam vivos no momento da análise e 4 devido à informações insuficientes
sobre o seguimento. O tempo mediano global de sobrevida de cães diagnosticados com
HSA visceral foi de 237 dias (variação entre 1 a > 1944 dias) – Figura 4. A taxa de
sobrevida de um ano foi estimada em 26.32%.
Figura 4. Curva Kaplan-Meier de sobrevida global de cães diagnosticados com hemangiossarcoma visceral.
36
4 DISCUSSÃO
O tratamento do HSA visceral continua representando um grande desafio na
medicina veterinária. Apesar dos mais diversos esforços, os avanços terapêuticos não
evoluíram muito ao longo dos últimos 20 anos provavelmente devido ao conhecimento
escasso sobre o comportamento biológico desse tumor (GARDNER et al., 2015). No
presente estudo, encontramos resultados semelhantes à literatura já descrita sobre o
HSA, mas também fornecemos informações adicionais sobre fatores prognósticos de
cães acometidos por essa neoplasia.
Sabe-se que estágios clínicos menos avançados influenciam positivamente o
prognóstico do HSA (WOOD et al., 1998; HAMMER et al., 1991; VAIL et al., 1995).
Diferentemente de controles históricos, nesse estudo o estadiamento clínico não teve
associação com o prognóstico e não influenciou o tempo de sobrevida. Uma possível
explicação para essa falta de associação pode ter sido a distribuição heterogênea em
cada grupo de estágio clínico, podendo assim ter afetado o intervalo de confiança. A
maioria dos cães foi categorizada como estágio I (85,29%; 29/42), em contrapartida
somente 14,2% (6/42) dos cães foram classificados com HSA estágio II e 16,6% (7/42)
como estágio III. Portanto, é muito difícil estabelecer conclusões definitivas sobre a
importância do estágio clínico do HSA neste estudo retrospectivo.
Atualmente já existe um embasamento científico bastante sólido sobre a localização
do HSA determinando de maneira previsível o comportamento biológico da doença. Por
exemplo, o HSA puramente de derme sem qualquer evidência clínica ou histológica de
infiltração subdermal possui um potencial metastático bastante baixo em relação aos
HSA de vísceras (SZIVEK et al, 2011). Dentre os HSA viscerais, o HSA primário de
rim está associado a taxas de sobrevida superiores com uma menor incidência de
hemoperitôneo e de metástase a distância no momento do diagnóstico em relação a
outros sítios primários de HSA, tais como o baço e átrio direito (LOCKE; BARBER,
2006). Em contrapartida, cães com HSA retro-peritoneal em aproximadamente 90% dos
casos possuem metástase a distância no momento do diagnóstico (LIPTAK et al., 2004).
Assim como a maior parte dos estudos, o baço foi o local mais afetado pelo HSA,
representando 80,9% dos casos (KAHN et al., 2013). Em relação a outras localizações,
37
o HSA esplênico (TMS = 274 dias) apresentou uma taxa de sobrevida estatisticamente
superior aos HSA localizados em outras regiões primárias incluindo o fígado, rim,
intestino, bexiga e linfonodo (TMS = 117 dias). Os mecanismos determinantes da
diferença de prognóstico entre os diferentes locais de HSA primário ainda não estão
completamente elucidados, porém uma explicação plausível para um prognóstico
melhor em cães com HSA esplênico seria o fato de tumores primários de baço ainda não
rompidos poderem ser removidos cirurgicamente com uma certa facilidade através da
esplenectomia evitando uma possível ruptura do órgão afetado com secundária
implantação de células neoplásicas na cavidade abdominal, além de apresentarem uma
baixa mortalidade peri-operatória (WENDELBURG et al., 2015; THAMM, 2013).
Assim como esperado, cães com metástase no momento do diagnóstico tiveram um
TMS baixo e igual a 38 dias, o que representa um valor bem inferior ao TMS de cães
diagnosticados somente com HSA primário. Devido a impossibilidade de ressecção
cirúrgica em animais com HSA metastático, muitos animais acabam morrendo de
hemorragia descontrolada das lesões metastáticas e também de distúrbios de
coagulação.
Nossos resultados de sobrevida foram semelhantes aos resultados da literatura
disponível sobre cães com HSA visceral. De acordo com a maior parte das publicações,
protocolos quimioterápicos contendo a Doxorrubicina normalmente aumentam a
sobrevida de cães com HSA esplênico em uma média de 3 a 9 meses (KAHN et al.,
2013; HAMMER et al., 1991; OGILVIE et al., 1996; SORENMO et al., 2004;
SORENMO et al., 1993; PAYNE et al., 2003; KIM et al., 2007; SORENMO et al.,
2007). A sobrevida global encontrada nesse estudo foi de 237 dias (aproximadamente 8
meses) . O TMS de cães tratados somente com cirurgia foi de 2 meses e o TMS de cães
tratados com Doxorrubicina adjuvante foi de 9 meses. Já que a quimioterapia
convencional adjuvante demonstra apenas um benefício modesto de sobrevida, novas
modalidades terapêuticas são necessárias para o tratamento desta doença. Wendelburg
et al. reportou que o TMS de cães tratados com quimioterapia convencional e
metronômica foi subjetivamente maior que o TMS de cães que receberam apenas
quimioterapia convencional ou metronômica isoladamente (WENDELBURG et al.,
2015). Em um outro estudo, o uso de quimioterapia metronômica somada à
quimioterapia de dose máxima tolerada foi associada com maior sobrevida e intervalo
livre de doença (FINOTELLO et al., 2017). De acordo com esses resultados, é razoável
38
acreditar que o uso da terapia metronômica pode desempenhar um papel na
desaceleração da progressão do HSA possivelmente devido ao seu efeito anti-
angiogênico e imunomodulador. Mais estudos são necessários para confirmar o real
benefício de utilizar a quimioterapia metronômica como terapia de manutenção após o
tratamento prévio com Doxorrubicina em cães diagnosticados com HSA visceral.
Existem especulações que cães pequenos são menos propensos ao diagnóstico de
HSA quando apresentam formações esplênicas e que quando são diagnosticados com
essa neoplasia podem apresentar resultados mais favoráveis de sobrevida do que cães de
grande porte (SHERWOOD et al., 2016). Bryan et al. (2013), analisou 23 cães com
menos de 15 kg com HSA e não obteve nenhuma diferença estatística de sobrevida em
relação aos cães com peso maior que 15 kg. No presente estudo, 30.9% (13/42) dos cães
apresentavam peso inferior a 15 kg e assim como verificado por Bryan et al. (2013), o
prognóstico desses cães pequenos não foi diferente e nem superior ao de cães grandes.
Mais estudos contendo um número maior de cães pesando menos de 15 kg são
necessários para verificar se realmente não existe uma diferença na agressividade do
HSA nesses animais.
Alguns trabalhos atuais sugerem que a remoção de hormônios gonadais deixa
cães mais vulneráveis a ocorrência de alguns tipos de câncer, incluindo o HSA (HART
et al., 2014). Um estudo de HSA cardíaco mostrou que a incidência desse tipo de câncer
é 4 vezes maior em fêmeas castradas do que em fêmeas inteiras (WARE; HOPPER,
1999). Um outro estudo com HSA esplênico mostrou que fêmeas castradas tiveram 2
vezes mais chances de desenvolver o HSA do que fêmeas inteiras (PRYMAK et al.,
1985). Fizemos uma análise da correlação do estado de castração com a sobrevida para
determinar se cães inteiros tiveram um efeito protetor hormonal favorecendo
positivamente o prognóstico da doença. Apesar de 38% (16/42) dos cães estudados
serem inteiros, houve uma desigualdade na distribuição entre machos e fêmeas, já que
somente 2/19 fêmeas eram inteiras enquanto que 14/23 eram machos inteiros. Essa
distribuição desigual acabou prejudicando a análise estatística de maneira que não foi
possível encontrar uma associação entre sobrevida e o estado de castração nessa
população de cães.
O nosso estudo sofre de limitações inerentes a estudos retrospectivos, incluindo
o pequeno número de casos diagnosticados com estágios II e III de HSA em
39
comparação com o estágio I, o uso de terapias heterogêneas, além da falta de realização
de necropsia em todos os casos levando ao diagnóstico presuntivo de HSA e assumindo
que comorbidades não tenham tido relação com a causa de morte desses animais.
40
5 CONCLUSÃO
Os dados relatados neste trabalho demonstram que o prognóstico de cães com
HSA visceral tratados somente com cirurgia ou com terapia padrão ouro, incluindo
remoção cirúrgica agressiva do tumor primário e quimioterapia adjuvante, permanece
pobre com a maioria dos cães sucumbindo à doença dentro de um curto período de
tempo. A localização do tumor primário teve associação com prognóstico e cães com
HSA esplênico tiveram um desfecho discretamente melhor do que cães com HSA
localizados em outros sítios primários. Neste estudo retrospectivo, a adição de
Doxorrubicina após a cirurgia beneficiou de maneira modesta a sobrevida dos pacientes.
Desta maneira, novas abordagens terapêuticas, incluindo o uso de quimioterapia
metronômica como terapia de manutenção após o uso de quimioterapia convencional,
devem ser avaliadas. Uma melhor compreensão sobre a biologia do HSA canino
provavelmente ajudará no avanço e desenvolvimento de terapias.
Artigo submetido para o Canadian Veterinary Journal (número 2017 - 0196).
41
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Capítulo 3
AVALIAÇÃO DO PADRÃO DE METILAÇÃO GLOBAL DO DNA E TAXA DE PROLIFERAÇÃO CELULAR NO HEMANGIOSSARCOMA CANINO ESPLÊNICO E DE
DERME
49
RESUMO
Batschinski K. Avaliação do padrão de metilação global do DNA e taxa de proliferação celular no hemangiossarcoma canino esplênico e de derme [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2017.
O hemangiossarcoma é um tumor de origem endotelial que frequentemente é diagnosticado em cães. O baço é o órgão mais afetado por essa neoplasia, no entanto outras regiões como a pele também podem desenvolver a doença. O hemangiossarcoma esplênico está associado com um comportamento bastante agressivo, enquanto que o hemangiossarcoma de derme normalmente pode ser curado com cirurgia. As aberrações epigenéticas, incluindo a hipometliação e a hipermetilação do DNA, estão envolvidas com a iniciação e progressão do câncer. A avaliação do padrão de metilação global do DNA ainda não foi investigada no hemangiossarcoma canino. O objetivo desse estudo é determinar a metilação global do DNA através da detecção por imunoistoquímica de 5-metilcitidina e também avaliar a taxa de proliferação celular através da detecção por imunoistoquímica de Ki-67 em amostras de hemangiossarcomas esplênico e de derme. Um total de 8 amostras de hemangiossarcoma esplênico e 8 de hemangiossarcoma de derme, sem infiltração subcutânea, foram analisadas. Para a avaliação da metilação global de DNA e do índice de proliferação celular foi realizada a técnica de imunoistoquímica anti-5-metilcitidina e anti-Ki-67. As marcações nucleares obtidas pela imunoistoquímica anti-5-metilcitidina foram classificadas em forte, fraca e negativa, enquanto que as marcações obtidas pela imunoistoquímica anti-Ki-67 foram classificadas em positiva e negativa. Foi realizada uma contagem mínima de 1000 células por lâmina em no mínimo dez campos de aumento 200X. Foi encontrado um padrão de hipometilação global nos hemangiossarcomas de baço e derme. As células pouco ou não metiladas no hemangiossarcoma dérmico tiveram associação com um maior índice de proliferação. Essas alterações epigenéticas encontradas nas amostras de hemangiossarcoma necessitam de maiores investigações, podendo servir futuramente como novos alvos tumorais e contribuindo para o desenvolvimento de novas terapias.
Descritores: baço; pele; metilação; cães; hemangiossarcoma
50
ABSTRACT
Batschinski K. Evaluation of the global DNA methylation and cell proliferation index in splenic and dermal canine hemangiosarcoma [thesis]. São Paulo: “Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo”; 2017.
Hemangiosarcoma is a tumor of vascular endotelial origin that is frequently diagnosed in dogs. The most common site for this neoplasia is the spleen, however other sites including the skin may develop this disease. Splenic hemangiosarcoma has a very aggressive behavior, while dermal hemangiosarcoma may be cured with surgery. Epigenetic aberrations, including hypomethylation and hypermethylation of DNA, are involved in the initiation and progression of cancer. Evaluation of the global DNA methylation has not been investigated yet in canine hemangiosarcoma. The aim of this study is to determine the global DNA methylation using immunohistochemistry detection of 5-methylcytidine and also to evaluate tumor cell proliferation using immunohistochemistry detection of Ki-67 in splenic and dermal canine hemangiosarcoma samples. A total of 8 splenic and 8 dermal (without subdermal invasion) hemangiosarcoma samples were analyzed. For the evaluation of global DNA methylation and the cell proliferation index, the anti-5-methylcytidine and anti-Ki-67 immunohistochemistry technique was used. The anti-5-methylcytidine immunostained nuclei were classified as strong, weak and negative pattern, whereas markers obtained by immunohistochemistry were classified as strong, weak and negative, whereas the anti-Ki-67 immunostained nuclei were classified as positive and negative. A minimum count of a 1000 cells per slide was performed in at least ten 200X magnification fields. A global hypomethylation pattern was noted in spleen and dermal hemangiosarcoma. The hypomethylated cells or cells with no methylation in dermal hemangiosarcomas were correlated with a high proliferation index. These epigenetic alterations encountered in hemangiosarcoma samples require further investigation and may be used in the future as a new tumor target, therefore contributing for the development of new therapies.
Descriptors: spleen; skin; methylation; dogs; hemangiosarcoma
51
1 INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA
O HSA é um tumor de origem endotelial que pode ocorrer em diversas
localizações nos cães, como por exemplo no baço, fígado, coração, tecidos subcutâneos
e pele (PRIESTER; MCKAY, 1980; SPANGLER; CULBERSTON, 1992). O HSA
visceral exibe um comportamento bastante agressivo com metástases ocorrendo no
início do curso da doença (Quadro 3). Pulmões, órgãos abdominais e sistema nervoso
central representam os sítios mais frequentes para o desenvolvimento de metástases
(KAHN et al., 2013). Mesmo que os cães sejam tratados com cirurgia agressiva e
quimioterapia adjuvante, o prognóstico ainda assim é ruim com menos de 16% dos cães
sobrevivendo 1 ano após o diagnóstico – Figura 5 (SPANGLER; CULBERSTON,
1992; SPANGLER; KASS, 1997; BROWN et al., 1985; PRYMAK et al., 1988; WOOD
et al., 1998; MOORE et al., 2017). Os cães das raças Pastor Alemão, Golden Retriever e
Labrador Retriever são frequentemente acometidos (KAHN et al., 2013; SZIVEK et al.,
2013). A etiologia ainda é desconhecida, porém novos estudos evidenciam que fatores
de crescimento que favorecem a angiogênese, tais como o VEGF (fator de crescimento
vascular endotelial), as angiopoietinas 1 e 2, fator de crescimento de fibroblasto básico
(bFGF), e também mutações em genes supressores tumorais como o PTEN tenham
influência no desenvolvimento do HSA visceral (TAMBURINI et al., 2010;
CLIFFORD et al., 2001; YAMAMOTO et al., 1999; DICKERSON et al., 2005).
O HSA exclusivamente de derme, sem invasão para tecidos subcutâneos, possui
um comportamento biológico bem menos agressivo do que os HSAs de outras
localizações (SZIVEK et al., 2013). O índice metastático é baixo, aproximadamente
30%, sendo que a maior parte dos pacientes pode apresentar um tempo longo (> de 2
anos) de sobrevida após tratamento cirúrgico (SZIVEK et al., 2013; WARD et al.,
1994). Whippets e Pit Bulls são as raças mais acometidas pelo HSA de derme que afeta
regiões pouco pigmentadas e alopécicas normalmente expostas à radiação ultravioleta
(Figura 6) (SZIVEK et al., 2013). Apesar do HSA de derme estar associado com um
longo tempo de sobrevida nos cães, existem alguns fatores que influenciam
negativamente o prognóstico. Lesões localizadas no abdome ventral (TMS = 1085 dias)
estão associadas com maior tempo de sobrevida do que lesões presentes em regiões não
52
expostas à luz ultravioleta (TMS = 539 dias) (SZIVEK et al., 2013). Somando-se a isso,
cães com HSA de pele mostrando dermatite actínica em tecidos vizinhos, tiveram um
prognóstico mais favorável (TMS = 1549 dias) quando comparados com cães sem essas
alterações (TMS = 545 dias) (SZIVEK et al., 2013). Cães HSA de pele com invasão em
tecidos subcutâneos possuem um risco relativo duas vezes maior de desenvolver
metástases do que cães com lesões exclusivamente dérmicas (SZIVEK et al., 2013;
WARD et al., 1994).
Quadro 3. Tabela contendo as principais diferenças entre o hemangiossarcoma esplênico e dérmico em cães.
Figura 5. A- Aspecto macroscópico de hemangiossarcoma esplênico não rompido. B - Presença de sangramento intra-abdominal durante procedimento cirúrgico para retirada de hemangiossarcoma esplênico. C - Aspecto macroscópico de hemangiossarcoma esplênico rompido. Fonte: Imagens cedidas por Ms Rodrigo Ubukata.
53
Figura 6. A e B - Aspecto macroscópico de hemangiossarcoma cutâneo em cão, sem invasão para tecidos subcutâneo, localizado em região alopécica e com pouca pigmentação.
Existem diversos fatores prognósticos associados com o HSA: localização do
tumor primário, presença de formação solitária ou múltiplas formações no baço,
estadiamento clínico, graduação histológica e índice mitótico (WOOD et al., 1998;
HAMMER et al., 1991; VAIL et al., 1995; OGILVIE et al., 1996; KIM et al., 2007;
MOORE et al., 2017). Somente dois estudos mencionam o índice mitótico como tendo
uma correlação com o prognóstico (KIM et al., 2007; MOORE et al, 2017). Moore et al.
(2017) reportou que a sobrevida de cães com índice mitótico baixo (< 11 mitoses/ 10
campos de grande aumento) foi estatisticamente mais longa do que cães com índices
mitóticos mais altos (≥11 mitoses/ 10 campos de grande aumento). Cães com uma baixa
taxa de proliferação tiveram um TMS de 292 dias, sendo que a taxa de sobrevida de um
ano foi de 42% (MOORE et al, 2017). A expressão da proteína nuclear Ki-67 é um
indicador da porcentagem de células que está dentro do ciclo celular (ABADIE et al.,
1999). Em diversos tumores o estabelecimento da fração de crescimento celular através
da marcação por Ki-67 já foi correlacionado com o prognóstico, sendo que altas taxas
de proliferação costumam ter uma forte correlação com o alto grau de uma neoplasia e
menor tempo de sobrevida (MAGLENNON et al., 2008; FONSECA-ALVES et al.,
2015). Até o presente momento não existem estudos publicados na literatura veterinária
analisando o uso do Ki-67 para a determinação da taxa de proliferação celular em HSAs
viscerais e de pele.
Nos últimos anos, a epigenética tem ganhado ênfase nos estudos relacionados à
diversos tipos de cânceres humanos e também mais recentemente em animais
(MORIMOTO et al., 2016; SEIFERT et al., 2007; TANNAPFEL et al., 2001;
HERMAN et al., 1998). A epigenética pode ser descrita como o conjunto de
54
mecanismos moleculares herdáveis com capacidade de regular a expressão gênica na
ausência de qualquer alteração na sequência do DNA (YAN et al., 2010). Estes
mecanismos, tais como a metilação do DNA, modificações pós-traducionais de histonas
e ação de RNAs não-codificantes estão associados à regulação da expressão gênica
(YAN et al., 2010). Quando estes mecanismos encontram-se em seu estado aberrante,
pode ocorrer o desenvolvimento e a manutenção de um fenótipo neoplásico, já que
essas alterações estão envolvidas com a iniciação e progressão do câncer (KRITENSEN
et al., 2009). A metilação do DNA é o componente epigenético mais estudado até hoje
(KRITENSEN et al., 2009). Sabe-se que a hipermetilação das ilhas CpG pode silenciar
genes supressores tumorais, enquanto que a hipometilação global do DNA pode resultar
na superexpressão de fatores de crescimento ou oncogenes, alteração nos mecanismos
de reparo do DNA e perda da estabilidade genômica favorecendo as mutações
(HERNANDEZ-BLAZQUEZ et al., 2000; KRITENSEN et al., 2009).
O uso de anticorpos específicos para anti-5-metilcitidina (5-Metcit) permite a
avaliar o padrão de metilação global do DNA em tecidos tumorais como demonstrado
por Morimoto et al. (2016) em amostras de mastocitoma cutâneo em cães. Neste estudo,
verificou-se que mastocitomas de alto grau e com pior prognóstico apresentavam um
padrão de hipometilação global do DNA em comparação com mastocitomas mais
diferenciados (MORIMOTO et al., 2016). O padrão de metilação global do DNA em
tecidos de HSA canino ainda não foi investigado ou publicado na literatura veterinária.
O objetivo do presente estudo é determinar a metilação global do DNA através
da detecção por imunoistoquímica de 5-Metcit e também avaliar a taxa de proliferação
celular através da detecção por imunoistoquímica de Ki-67 em amostras de HSAs
esplênico e de derme.
55
2 MATERIAL E MÉTODO 2.1 Amostras de tecido tumoral
Um total de 16 amostras, fixadas em formalina a 10%, foram obtidas a partir do
Laboratório CVAP (Centro Veterinário de Anatomia Patológica) e analisadas por dois
patologistas. Oito amostras foram diagnosticadas como HSA esplênico e o restante
como HSA de derme, sem infiltração subcutânea.
Resumidamente, o material dos blocos histológicos foi cortado em cortes com 5
µm de espessura, montados em lâmina de vidro e submetidos à coloração de
hematoxilina e eosina (HE) para, então, serem avaliados.
Como os blocos histológicos foram enviados de diversas clínicas veterinárias
para o Laboratório CVAP, não foi possível obter o histórico clínico, incluindo o tempo
de sobrevida dos cães.
2.2 Marcação imunoistoquímica
As amostras conservadas em parafina foram cortadas com micrótomo em
fragmentos de espessura 5 µm e montadas em lâminas silanizadas para posteriormente
serem submetidas ao estudo de imunorreatividade por meio da técnica de
imunoistoquímica.
Para detecção do antígeno objeto deste estudo, foi utilizado como anticorpo
primário, o anticorpo monoclonal de camundongo anti-5metilcitidina – 5-Metcit (mouse
monoclonal [33D3] to-Methyl Cytidine – ChIP grade – abcam ab 10805) na diluição de
1:150. A citosina é uma nucleobase enaquanto a citidina é uma molécula formada
quando uma citosina se liga a um anel de ribose, tornando-se um nucleosídeo. O
anticorpo 5-Metcit é capaz de reconhecer as bases modificadas de citosina em 5-
metilcitidina, segundo o fabricante.
Lâminas com cortes das preparações com 5 µm de espessura foram
desparafinizadas em xilol, gradualmente hidratadas em etanos e imersas em tampão
fosfato 0.01 M, pH 7.4 com Tween 20 a 0.05% (PBST) para então, serem submetidas à
recuperação antigênica com tampão citrato 10 µM pH 6.0 em forno micro-ondas por 3
ciclos de 5 minutos à potência máxima. Após resfriadas a temperatura ambiente, as
56
amostras foram submetidas ao bloqueio de peroxidases endógenas com peróxido de
hidrogênio a 3% em água destilada por 60 minutos a temperatura ambiente e imersas
em PBST. Subsequentemente as lâminas foram incubadas com soro de bloqueio TNB®
(tampão de bloqueio Tris-NaCl CSH Protocols™) em câmara úmida por 60 minutos a
temperatura ambiente. Após o período de bloqueio as lâminas foram incubadas com o
anticorpo primário a temperatura de 4°C em câmara úmida por uma noite. Ao término
do período de incubação, as preparações forma imersas em PBST, submetidas ao
complexo polímero-anticorpo secundário utilizando-se o Kit LSAB+ System-HRP
(K0679 Universal DAKO LSAB®+ Kit, Peroxidase – DakoCytomation) utilizando-se
do reagente Biotynilated Link (imunoglobulinas anti-coelho, anti-camundongo e anti-
cabra) por 30 minutos e então, novamente imersas em PBST, submetido ao reagente
Streptavidin-HRP (estreptavidina conjugada com peroxidase). Após a ação do anticorpo
secundário por 30 minutos, as lâminas foram imersas em PBST e submetidas à
revelação com uso de diaminobenzidina (K3466 Liquid DAB Large Volume Substrate
Chromogen System 3’3 diaminobenzidine, DakoCytomation), contracoradas com
Hematoxilina de Mayer, desidratadas por sucessivas passagens em álcoois
progressivamente mais concentrados e xilol e finalmente montadas com Permount® e
lamínula. Como controle positivo foram utilizados cortes histológicos de baço e pele
sem neoplasias ou outras alterações que apresentaram marcação positiva durante a
padronização dos anticorpos em estudo e como controle negativo foram utilizados
fragmentos histológicos positivos para os quais foi omitido o anticorpo primário.
Para a detecção de Ki-67, inicialmente procedeu-se a desparafinização dos
cortes histológicos, realizando–se dois banhos de xilol, por 10 minutos cada e
reidratação com três banhos em álcool absoluto, por 3 minutos cada, seguidos de mais
dois banhos em álcool graduado (95% e 85%), por 3 minutos cada e dois banhos em
água deionizada. A recuperação antigênica foi realizada com citrato, pH 6,0, em panela
Pascal. Após o resfriamento em temperatura ambiente, as lâminas foram lavadas em
água deionizada. O bloqueio da peroxidase endógena foi realizado por 10 minutos em
solução de peróxido de hidrogênio 3%. As lâminas foram lavadas em água deionizada e
realizou-se dois banhos, de 5 minutos cada, em solução Tris tamponada com cloreto de
sódio e Tween (pH 7,5). Os cortes foram então incubados em câmara úmida, overnight,
a 4°C, com o anticorpo primário anti-Ki-67, clone MIB-1, M&240 (Dako, 1:50). Após
incubação, realizou-se mais dois banhos, de 5 minutos cada, em solução tamponada Tris
57
com cloreto de sódio e Tween (pH 7,5) e os cortes foram lavados em água deionizada e
posteriormente corados com Hematoxilina de Harris por 2 minutos, seguida de lavagem
em água corrente. Em seguida realizou-se a desidratação em banhos de álcool graduado
(70%, 95% e álcool absoluto duas vezes, com 5 minutos cada), seguida pela
diafanização com solução de álcool misturado ao xilol e dois banhos de xilol por 10
minutos, seguido de montagem com resina sintética e lamínula. Utilizou-se como
controle positivo para Ki-67 as células basais da epiderme e as células germinativas dos
folículos pilosos em divisão. Para o controle negativo do Ki-67, realizou-se a omissão
do anticorpo primário, usando o PBS ao invés do anticorpo de interesse durante o
processamento da imunoistoquímica.
2.3 Aquisição de imagem e contagem da marcação imunoistoquímica
Ao fim do estudo imunoistoquímico os cortes histológicos foram avaliados em
microscópio NIKON® em campos 100, 200 e 400 aumentos. Dez campos de aumento
200X de cada lâmina foram aleatoriamente selecionados e suas imagens registradas por
meio de software de aquisição de imagem Image-Pro Plus versão 4.5.0.29® (Media
Cybernectics™, Inc.). Na avaliação da expressão de 5-Metcit, as imagens obtidas
foram submetidas à contagem manual de células não marcadas, marcadas fracamente e
marcação forte, totalizando-se uma contagem mínima de 1000 células por lâmina. Já
para a avaliação dos índices de proliferação celular pelo Ki-67, as imagens foram
submetidas à contagem manual de células positivas ou negativas para a marcação,
totalizando-se uma contagem mínima de 1000 células por lâmina.
As células tumorais foram consideradas positivas para imunorreatividade de 5-
Metcit quando apresentaram marcação nuclear em tom marrom ou dourado, de
intensidade fraca a forte. Uma vez que não há padronização para a marcação de 5-
Metcit em HSAs caninos e tendo em vista a escassa literatura médica e veterinária a este
respeito, os percentuais de marcação negativa, fraca e forte de cada amostra forma
considerados para a análise estatística.
2.4 Análise estatística
Para a análise estatística entre os grupos foi feita avaliação dos dados quanto a
sua normalidade e variâncias para a escolha adequada do teste a ser realizado. Para
58
distribuição normal e variâncias iguais foi aplicado o teste paramétrico ANOVA (para
comparação entre 3 ou mais grupos – com pós-teste de Tukey-Kramer) ou t-Student
(para comparação entre 2 grupos), e quando não paramétrico o teste de Kruskal Wallis
ou U-MannWhitney. Para a correlação entre grupos, foi realizado o teste de Pearson. Os
dados foram analisados através do programa estatístico GraphPad Prism®, sendo
consideradas diferenças significativas quando p<0,05.
59
3 RESULTADOS
3.1 Avaliação da metilação global de DNA
Para a avaliação da metilação global de DNA foi realizada a técnica de
imunoistoquímica anti-5-metilcitidina em HSA esplênico e de derme de cães, onde
foram avaliadas 8 amostras de baço e 8 de derme. As marcações obtidas pela
imunoistoquímica foram classificadas em forte, fraca e negativa (Figura 7). Também foi
feita a avaliação de possível existência de diferença entre essa marcação para o HSA
esplênico e de pele, uma vez que o esplênico possui um comportamento muito mais
agressivo e metastático que o cutâneo.
Quando realizada a avaliação da metilação de DNA através de imunoistoquímica
foi possível observar diferença estatística significativa entre as marcações encontradas
no HSA esplênico (p<0,0001 para as comparações entre as marcações forte x fraca,
forte x negativa e fraca x negativa). O mesmo padrão foi observado para o HSA
cutâneo, porém não havendo diferença significativa entre a marcação fraca e negativa
(p≥0,05 para a comparação entre a marcação fraca x negativa; p<0,0001 para as
comparações entre as marcações forte x fraca e forte x negativa). Além disso, não se
observou diferença estatística significativa na comparação entre as mesmas marcações
no HSA esplênico e cutâneo (p≥0,05 para as marcações entre baço e pele para cada
intensidade de marcação – forte, fraca e negativa) (Figura 8 e Quadro 4). Assim, pode-
se inferir que a metilação do DNA de HSA esplênico e cutâneo é semelhante, tanto para
a marcação forte quanto fraca, existindo um predomínio de marcação fraca e negativa
nas amostras analisadas.
60
Figura 7: Amostras de hemangiossarcoma submetidas à marcação imunoistoquímica com anticorpo anti-5-metilcitidina. Marcações forte (A), fraca (B) e negativa (C) evidenciadas por setas em amostras de hemangiossarcoma canino esplênico. Marcações forte (D), fraca (E) e negativa (F) evidenciadas por setas em amostras de hemangiossarcoma canino de derme.
61
0
10
20
30
40
50
60
70
80
FORTE FRACO NEGATIVO
Núm
erodecélulas
MetilaçãodeDNAemHemangiossarcomaEsplênicoedeDermedeCães
Baço
Pele
aa
bb
c bc
Figura 8: Avaliação da metilação de DNA em hemangiossarcoma esplênico e cutâneo de cães. Marcações apresentadas através da avaliação de imunoistoquímica, sendo consideradas forte, fraca e negativa. Letras iguais indicam sem diferença estatística significativa (p≥0,05) e letras diferentes indicam diferença estatística significativa (p<0,0001).
Quadro 4: Médias (em porcentagem %) ± desvio padrão das avaliações da metilação do DNA de hemangiossarcoma esplênico e cutâneo de cães.
Tecido Marcação
Forte
Marcação
Fraca
Marcação
Negativa
Baço 34,74 ± 9,90 46,61 ± 10,27 59,11 ± 14,51
Pele 25,85 ± 11,31 53,25 ± 9,92 61,58 ± 10,19
3.2 Índice de proliferação celular
Para a avaliação do índice de proliferação celular foi realizada a técnica de
imunoistoquímica anti-Ki67 em HSA esplênico e cutâneo de cães, onde foram avaliadas
8 amostras de baço e 8 de pele. As marcações obtidas pela imunoistoquímica foram
classificadas em positiva e negativa (Figura 9).
62
Figura 9: Amostras de hemangiossarcoma submetidas à marcação imunoistoquímica com anticorpo anti-Ki-67. A- Marcações positivas evidenciadas por setas em amostras de hemangiossarcoma canino esplênico. B - Marcações positivas evidenciadas por setas em amostras de hemangiossarcoma canino de derme.
Em relação ao índice de proliferação do baço, não se observou diferença
estatística significativa quando comparadas as células positivas e as células negativas
para a marcação anti-Ki67 (p = 0,6426). O mesmo pôde ser observado em relação à
pele, onde a comparação entre os mesmos parâmetros também não apresentou diferença
significativa (p>0,10). Ao comparar os mesmos parâmetros (positiva no baço x positiva
na pele; negativa no baço x negativa na pele) entre as células do baço e as células da
pele, também não foi possível observar diferenças estatística significantes (p>0,10)
(Figura 10 e Quadro 5). Assim, pode-se inferir que a proliferação celular de células de
HSA esplênico e cutâneo é semelhante, não ocorrendo distinção entre as células
positivas e negativas para ambos os HSAs.
Figura 10: Índice de proliferação celular (células positivas e negativas) para marcação com anticorpo anti-Ki-67 em hemangiossarcoma esplênico e cutâneo. Não foram observadas diferenças estatísticas significantes.
0
10
20
30
40
50
60
70
POSITIVO NEGATIVO
%decélulas
ÍndicedeProliferaçãoCelular
BAÇO
PELE
63
Quadro 5: Médias (em porcentagem %) ± desvio padrão das avaliações da marcação anti-Ki-67 de hemangiossarcoma esplênico e cutâneo de cães.
Tecido Marcação
Positiva
Marcação
Negativa
Baço 47,69 ± 7,25 51,68 ± 7,25
Pele 51,68 ± 9,92 48,32 ± 9,92
3.3 Análise da correlação de Pearson
Para a avaliação do coeficiente de correlação (r) de Pearson entre as marcações
positivas do HSA no baço e também na pele foi feita a comparação entre a marcação
para anti-5-metilcitidina e a marcação para o Ki-67. A correlação de Pearson avalia a
relação linear entre duas variáveis contínuas (MUKAKA, 2012). Uma relação é linear
quando a mudança em uma variável é associada a uma mudança proporcional na outra
variável (MUKAKA, 2012). Expostos abaixo estão os dados de correlação de Pearson
(Quadro 6).
Quadro 6: Tabela mostrando índice de correlação de Pearson. Coeficiente (r) de correlação mede o grau pelo qual duas variáveis tendem a mudar juntas. O coeficiente descreve a força e a direção da relação.
64
Em relação às marcações encontradas no baço, o coeficiente de correlação de
Pearson foi r = -0,058. Isso indica que a relação das marcações para 5-Met e para Ki-67
é inversamente proporcional, isto é, quando as médias encontradas em uma marcação
aumentam, as médias encontradas na outra marcação diminuem proporcionalmente. No
entanto, por r estar muito próximo de 0 (zero), a relação entre essas marcações no baço
pode ser considerada aleatória ou quase inexistente (Figura 11). Desse modo, pode-se
inferir que não existe uma correlação consistente entre as marcações para 5-Met e Ki-67
no HSA esplênico.
Figura 11: Correlação de Pearson para células com marcação positiva para os anticorpos anti-metilcitidina e anti-Ki67 em hemangiossarcoma esplênico. Não foram observadas diferenças estatísticas significantes (p = 0,611).
A mesma relação foi encontrada quando feita a correlação de Pearson para as
mesmas marcações na pele, apresentando r = - 0,392. No entanto, a relação entre essas
marcações na pele é considerada mais consistente, uma vez que está entre 0 e -1, e não
se encontra tão próxima a zero (Figura 12). Dessa maneira, é possível inferir que
quando uma das marcações aumenta, como por exemplo, para Ki-67 (como observado
na figura 12) a outra marcação diminui proporcionalmente, como ocorre com a anti-5-
metilcitidina quando observada na figura 12.
65
Figura 12: Correlação de Pearson para células com marcação positiva para os anticorpos anti-metilcitidina e anti-Ki67 em hemangiossarcoma cutâneo. Diferença estatística significante de p = 0,0008.
66
4 DISCUSSÃO
A metilação do DNA é essencial para o desenvolvimento e manutenção da
homeostase dos seres vivos (YANG et al., 2013). Diversos estudos na oncologia
humana mostraram que tumores primários frequentemente apresentam-se hipometilados
(YANG et al., 2013). Um dos objetivos do nosso estudo foi determinar o padrão de
metilação global do DNA dos HSAs esplênicos e de derme em cães, já que isso nunca
foi investigado nesse tipo tumoral. Além disso, como Hernandez-Blazquez et al. (2000)
e Morimoto et al. (2016) mostraram que tumores mais agressivos possuem baixos níveis
de metilação global do DNA em relação a tumores mais diferenciados, também foi
investigada a possibilidade dos HSAs de baço e derme terem padrões de metilação
diferentes, já que possuem comportamentos bastante distintos.
A maior parte das amostras de HSA, independente da localização, apresentou
uma hipometilação global do DNA ou teve um padrão negativo para a marcação por 5-
Metcit. Apesar de não termos tido acesso aos prontuários clínicos dos cães envolvidos
no estudo, em nenhuma das amostras de pele analisadas foram encontradas dermatites
actinícas nos tecidos vizinhos, alteração que está associada com um prognóstico
favorável (SZIVEK et al., 2013). Desta maneira, pode ser que os tumores de pele
analisados tenham tido um comportamento biológico mais agressivo do que os típicos
HSAs dérmicos relatados na literatura e por esse motivo não apresentaram maior
metilação do que os HSAs esplênicos. São necessários mais estudos contendo um
número maior de animais, cujo histórico e prontuário sejam conhecidos, para determinar
realmente se existe ou não diferença no padrão de metilação global dos HSAs de derme
e de baço.
A média do desvio padrão da avaliação da metilação global do DNA nas
amostras de HSA esplênico e de derme classificadas como marcação negativa para 5-
Metcit foi de 59,11% (+/- 14,51) e 61,58% (+/- 10,19), respectivamente. Especula-se
que a marcação nuclear negativa para 5-Metcit nas células de HSA possa ter relação
com um padrão extremamente baixo de hipometilação e que as técnicas de
imunoistoquímica utilizadas não tenham sido capazes de detectar. Morimoto et al.
(2016) sugere que a hematoxilina usada para contracorar as amostras possa ter
mascarado a detecção da imunomarcação de 5-Metcit no núcleo. Outra teoria possível é
67
que a ausência de marcação nuclear em algumas células possa estar relacionada com
determinada fase do ciclo celular, no qual genes possam estar extremamente
hipometilados. A hipometilação e hipermetilação do DNA frequentemente coexistem no
mesmo tumor, mas a relação entre hipermetilação em algumas partes do genoma e
hipometilação em outras ainda está para ser elucidada (ERLICH et al., 2006).
Em alguns tipos tumorais, a determinação de altas taxas de proliferação celular
através da marcação imunoistoquímica por Ki-67 já foi correlacionada com
agressividade e pior prognóstico (MAGLENNON et al., 2008; FONSECA-ALVES et
al., 2015). As amostras de HSA esplênico e derme foram analisadas quanto ao índice de
proliferação celular, já que diferentes localizações do HSA possuem agressividades
diferentes e também porque essa informação ainda não está disponível na literatura
veterinária. A proliferação celular de células de HSA esplênico e cutâneo foi semelhante
(Baço = 47,69% e derme = 51,68%), não ocorrendo distinção entre as células positivas
e negativas para ambos os HSAs. A marcação por 5-Metcit foi inversamente
proporcional à marcação por Ki-67 na pele, sugerindo que células pouco ou não
metiladas possuem uma maior taxa de proliferação. Esse resultado está de acordo com
Compare et al. (2011), no qual foi notado uma queda gradual da metilação e aumento
proporcional na taxa de proliferação celular conforme lesões gástricas pré-neoplásicas
progrediam para lesões gástricas mais agressivas e invasivas (carcinoma gástrico). Nos
HSAs esplênicos a mesma relação entre 5-Metcit e Ki-67 foi encontrada, no entanto por
r estar muito próximo de 0, a relação entre essas marcações foi considerada quase
inexistente. O fato de termos utilizado poucas amostras para a avaliação de Correlação
de Pearson pode ter levado a ausência de uma relação linear entre as marcações nas
amostras de HSA esplênico, no entanto pode-se observar uma tendência a uma
correlação negativa entre os parâmetros analisados.
O nosso estudo sofre de algumas limitações, incluindo o pequeno número de
amostras analisadas nos grupos de HSA esplênico e dérmico e também pela
indisponibilidade do histórico clínico dos animais, dessa maneira dificultando a
associação dos resultados com o prognóstico.
68
5 CONCLUSÃO
Conclui-se que através da detecção por imunoistoquímica de 5-Metcit, os HSAs
de baço e pele de cães apresentam um padrão de hipometilação global, podendo ter uma
associação com o desenvolvimento e/ou progressão dessa neoplasia. Verificou-se que as
células pouco ou não metiladas no HSA dérmico estão associadas com um maior índice
de proliferação. Essas alterações epigenética detectadas no HSA canino necessitam de
maiores investigações, incluindo a detecção de alterações de metilação em genes
específicos, podendo assim futuramente servir como novos alvos tumorais e
consequentemente ajudando na criação de terapias mais eficazes contra esse câncer
fatal.
69
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73
RESUMO Batschinski K. Avaliação da eficácia da 5-Azacitidina e SAHA nas linhagens de hemangiossarcoma canino [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2017. O hemangiossarcoma é um câncer letal em humanos e cães. O hemangiossarcoma humano tem uma distribuição de lesão e comportamento semelhante ao hemangiossarcoma canino. Em ambas as espécies, metástases são frequentes e a quimioterapia adjuvante proporciona apenas um benefício mínimo. A investigação de novos alvos com potencial terapêutico e o estudo intenso da biologia do hemangiossarcoma canino são necessários para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes contra esse câncer devastador. Tem sido mostrado que a ação hipometilante da droga 5-Azacitidina e a ação de inibidores de histona desacetilase, tais como SAHA, tem o potencial de reverter o fenótipo relacionado com o desenvolvimento e progressão do câncer. O foco do corrente estudo é o de verificar o efeito da 5-Azacitidina e SAHA nas linhagens celulares já pré-estabelecidas de hemangiossarcoma canino FROG, DD1 e EMMA; e também em uma linhagem celular canina primária, LISS-HSA, com ênfase na indução de citotoxicidade, diminuição da viabilidade celular e nas alterações epigenéticas. Ensaios de combinação entre 5-Azacitidina e SAHA com a Doxorrubicina, quimioterápico de eleição no tratamento de hemangiossarcoma, para a verificação de potenciais efeitos de sinergismo, antagonismo ou ação aditiva também foram analisados. Verificou-se que: 1) As linhagens celulares de hemangiossarcoma canino possuem sensibilidades diferentes às terapias. A DD1 foi considerada a mais resistente e a LISS-HSA a mais sensível demonstrando a heterogeneidade presente nas linhagens celulares. 2) Houve uma diminuição da viabilidade celular quando os fármacos 5-Azacitidina, SAHA e Doxorrubicina foram utilizados isoladamente nas linhagens de hemangiossarcoma canino, comprovando a eficácia in vitro desses compostos. 3) Os ensaios de combinação entre a 5-Azacitidina e SAHA utilizadas com altas dosagens com a Doxorrubicina induziram um efeito sinérgico e consequentemente potencializaram a destruição de células de hemangiossarcoma. 4) Quando dosagens baixas de 5-Azacitidina e SAHA associadas à Doxorrubicina foram utilizadas ocorreu um efeito de antagonismo nas linhagens de hemangiossarcoma canino, mostrando a necessidade de maior investigação e descoberta dos mecanismos envolvidos com as interações medicamentosas entre terapias epigenéticas e quimioterápicos convencionais. Descritores: hemangiossarcoma; cães; epigenética; azacitidina; inibidores de histona desacetilases; metilação de DNA; acetilação
74
ABSTRACT Batschinski K. Evaluation of the efficacy of 5-Azacytidine and SAHA in canine hemangiosarcoma cell lines [thesis]. São Paulo: “Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo”; 2017.
Hemangiosarcoma is a fatal cancer in both humans and dogs. In humans, hemangiosarcoma behaves and has lesions with similar distributions to canine hemangiosarcoma. In both species, metastases are commonly seen and adjuvant chemotherapy provides only a modest benefit. Identification of new tumor-specific targets and the extensive study of canine hemangiosarcoma biology are critical for the development of more effective therapeutics against this devastating cancer. It has been shown that 5-Azacytidine, a drug found to have a hypomethylating effect, and SAHA, which promotes acetylation, have the potential to revert the phenotype associated with the development and progression of cancer. The purpose of the current study is to determine the efficacy of 5-Azacytidine and SAHA in previously established canine hemangiosarcoma cell lines (FROG, DD1, EMMA) and in one primary hemangiosarcoma cell line (LISS-HSA). Induction of cytotoxicity, changes in cell viability and epigenetic alterations were analysed. Combination drug assays of 5-Azacytidine and SAHA with Doxorubicin, chemotherapy of choice in the treatment of hemangiosarcoma, were used to explore potential synergistic, antagonistic and additive effects. It was demonstrated that: 1) Canine hemangiosarcoma cell lines have different sensitivities to the drugs tested. DD1 was considered the most resistant cell line and LISS-HSA was considered the most sensitive one, demonstrating the heterogeneity present in the cell lines analysed. 2) There was a decrease in cell viability when 5-Azacytidine, SAHA and Doxorubicin were used as single agents in canine hemangiosarcoma cell lines, confirming the in vitro efficacy of these compounds. 3) Combination drug assays of high dosages of 5-Azacytidine and SAHA with Doxorubicin induced a synergistic effect and consequently potentiated the destruction of hemangiosarcoma cells. 4) When low dosages of 5-Azacytidine and SAHA associated with Doxorubicin were used, an antagonistic effect occurred in the canine hemangiosarcoma cell lines, indicating the need for further investigation of the mechanisms involved in drug interactions between conventional chemotherapeutic drugs and epigenetic agents. Descriptors: hemangiosarcoma; dogs; epigenetic; azacytidine; histone deacetylase inhibitors; DNA methylation; acethylation
75
1 INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA
O câncer é a principal causa de morte em seres humanos e animais de estimação
idosos. A taxa de incidência anual de câncer é de 470 e 381 por 100.000 para os seres
humanos e cães, respectivamente (DORN et al., 1998; Cancer Health Disparities, 2017).
Os cães desenvolvem naturalmente cânceres que possuem os mesmos subtipos
histológicos que os cânceres em seres humanos, sendo assim podem responder de
maneira similar aos seres humanos à terapia antineoplásica (PALONI; KHANNA,
2008). Portanto, o cão representa um modelo importante para estudos translacionais que
visam o tratamento do câncer ou a compreensão da biologia do mesmo. Exemplos de
tumores espontâneos caninos que são atualmente aceitos como modelos comparativos
de cânceres humanos incluem o linfoma não-Hodgkin, carcinomas mamários, sarcomas
de partes moles, e osteossarcoma (National Cancer Institute, 2017).
Ao contrário dos cães, o HSA ou angiossarcoma nos seres humanos é raro,
representando apenas 0,01%-0,1% de todos os tipos de tumores (FALK et al., 1981;
SPIRTAS et al.; 1983; FATA et al., 1999). Apesar de sua raridade, o angiossarcoma
humano apresenta várias similaridades com o HSA diagnosticado na espécie canina
(Quadro 7). Possui heterogeneidade em termos de apresentação clínica e
comportamento, podendo ocorrer em qualquer local do corpo, mas os locais primários
mais frequentes são face e couro cabeludo, tecidos moles, tecido mamário, baço e
fígado (URY et al., 2005; FAYETTE et al., 2007; MEIS-KINDBLOM; KINDBLOM,
1998; ABRAHAM et al., 2007; PATEL et al., 2014). Em torno de 50% dos
angiossarcomas ocorrem em regiões de cabeça e pescoço (STURGIS; POTTER, 2003).
Assim como os HSAs viscerais nos cães, o angiossarcoma humano de origem em
mama, fígado, baço e couro cabeludo se comporta de forma extremamente agressiva
(PENEL et al., 2008). A cirurgia é considerada como o principal método de tratamento,
mas associações com radioterapia e quimioterapia são tipicamente utilizadas devido ao
alto índice de recidiva local e desenvolvimento de metástases (PATEL et al., 2014). Os
agentes quimioterápicos Doxorrubicina e Paclitaxel proporcionam um aumento no
tempo de sobrevida para pacientes com angiossarcoma localizado avançado e/ou
metastático (PENEL et al., 2011; PENEL et al., 2008). Apesar de todos os esforços
terapêuticos, o prognóstico para pacientes diagnosticados com angiossarcoma é pobre,
76
com uma taxa de sobrevida de 5 anos de 10% a 40% (FAYETTE et al., 2007;
MENDEHALL et al., 2006).
Quadro 7. Tabela mostrando aspectos comparativos entre o hemangiossarcoma canino e humano.
O câncer tradicionalmente foi categorizado como uma doença que resulta de
sucessivos acúmulos de alterações genéticas em oncogenes e genes supressores
tumorais levando ao crescimento celular descontrolado (VIRANI et al., 2012).
Atualmente, sabe-se que as alterações epigenéticas também contribuem para a
carcinogênese (VIRANI et al., 2012). A epigenética pode ser considerada como uma
interface entre o genótipo e fenótipo, já que modifica o resultado final do código
genético sem alterar a sequência de DNA (HERCEG; USHIJIMA, 2010) Desempenha
um papel crucial na regulação de células normais, sendo de extrema importância no
desenvolvimento embriogênico, processo de diferenciação celular, proteção contra vírus
e na integração de sinais endógenos e ambientais durante a vida de um organismo
(FEINBERG et al., 2006; HERCEG, 2007; YAN et al., 2010). A regulação epigenética
pode ser separada em três grupos inter-relacionados: o posicionamento de
77
nucleossomos, as modificações de histonas e a metilação do DNA (YAN et al., 2010).
Entre eles, a metilação do DNA é o componente epigenético mais estudado até hoje.
A metilação consiste na adição de grupamentos metila na quinta posição do
carbono (C5) da base citosina do DNA que fica situada contiguamente a uma guanina
(G) (HERCEG; USHIJIMA, 2010). Representa apenas uma pequena mudança química
no DNA sem alteração no código genético, no entanto quando está desregulada pode
trazer consequências graves, como por exemplo o desenvolvimento de neoplasias
(HERCEG; USHIJIMA, 2010; KRISTENSEN et al., 2009). Existem duas formas
aberrantes de metilação do DNA associadas ao câncer: a hipometilação global e a
hipermetilação de genes promotores ou das ilhas CpG (FEINBERG; TYCKO, 2004). A
hipermetilação das ilhas CpG pode levar ao silenciamento de genes supressores
tumorais, podendo ser um fator causal tanto nas fases iniciais quanto nas fases tardias
da tumorigênese (KRISTENSEN et al., 2009). No câncer, os genes que normalmente
são afetados pela hipermetilação estão envolvidos na apoptose, controle do ciclo celular,
reparo do DNA e no metabolismo de drogas (GLASSPOOL et al, 2006; MERLO et al.,
1995). Somando-se a isso, em tumores sólidos a hipermetilação tem sido associada a
indução de resistência quimioterápica e a um pior prognóstico (GLASSPOOL et al,
2006; LINNEKAMP et al., 2017; DE SOUZA et al., 2011). Em seres humanos, o gene
Rb em retinoblastoma, MLH1 no câncer do cólon, BRCA1 em câncer de mama,
MGMT em glioblastomas, RASSF1A em sarcoma de células sinoviais, e p16INK4A
em angiosarcoma primário hepático são exemplos de genes supressores tumorais
conhecidos por sofrerem silenciamento como um resultado de hipermetilação de genes
promotores (HERMAN et al., 1998; ESTELLER et al., 1999; GREGER et al., 1989;
NUMOKO et al., 2010; TANNAPFEL et al., 2001). Em cães diagnosticados com
linfoma não-Hodgkin, o gene canino DLCI mostrou-se anormalmente hipermetilado
(BRYAN et al., 2009). O gene supressor tumoral DAPK, responsável por sensibilizar
células aos sinais de apoptose, também encontrou-se hipermetilado em cães com
linfoma do tipo B (SATO et al., 2014). A hipometilação global do DNA pode resultar
na superexpressão de fatores de crescimento ou oncogenes, alteração nos mecanismos
de reparo do DNA e perda da estabilidade genômica favorecendo as mutações
(HERNANDEZ-BLAZQUEZ et al., 2000; KRITENSEN et al., 2009). Estudos na
oncologia humana mostraram que diversos tipos de tumores, tais como carcinomas
prostático e gástrico, câncer de colon e tumores ovarianos, frequentemente apresentam-
78
se hipometilados (ERLICH et al., 2006; YANG et al., 2013; COMPARE et al., 2011;
HERNANDEZ-BLAZQUEZ et al., 2000). Verificou-se que mastocitomas caninos de
alto grau apresentam um padrão de hipometilação global do DNA (MORIMOTO et al.,
2016). Além disso, como mostrado no capítulo 3, os HSAs esplênicos e de derme de
cães também apresentaram um padrão de hipometilação global do DNA.
O estado de modificação de histonas tem um papel importante na determinação
da acessibilidade ao DNA para a maquinaria de transcrição, já que modificações das
histonas regulam o grau de condensação da cromatina (BIANCOTTO et al., 2010). A
cauda N-terminal de histonas pode ser pós-traducionalmente modificada por
acetilações, metilações, fosforilações, ubiquitinizações e ribosilações (BIANCOTTO et
al., 2010). Dentre essas modificações das histonas, as alterações de acetilação estão
cada vez mais sendo associadas à malignidades (CHRUN et al, 2017). A acetilação de
histonas (AH) é regulada por um equilíbrio dinâmico entre histona acetiltransferase
(HA) e histona desacetilase (HD), que determina o nível de acetilação e o estado
transcricional da cromatina (LIN et al., 2006). Nucleossomos altamente acetilados são
geralmente associados com atividade transcricional ativa da cromatina, enquanto que
histonas hipoacetiladas são encontradas nas regiões em que a cromatina está inativa
(KISSEBERTH et al., 2008). A hipoacetilação de histonas pode levar a expressão
gênica inadequada, sendo este um evento chave na carcinogênese (LIN et al., 2006).
Três situações podem contribuir para a hipoacetilação de histonas: 1) a superexpressão
ou aumento da atividade de HDs, 2) a diminuição da expressão ou atividade das HAs e
3) as duas condições acontecerem concomitantemente (CHRUN et al, 2017; SUZUKI
et al, 2009). Há evidências crescentes de que a atividade aberrante da HD e HA estejam
fortemente associadas com o desenvolvimento tumoral e a progressão do câncer
(CHRUN et al, 2017). As HDs podem impedir a transcrição de fatores de
diferenciação, inibidores de quinases dependentes de ciclina e fatores pró-apoptóticos
favorecendo o crescimento celular descontrolado (GLOZAK; SETO, 2007). Estudos em
seres humanos revelaram que os níveis de proteína de HDs encontram-se aumentados
em uma variedade de cânceres, como por exemplo em carcinomas gástrico e de cólon,
em sarcomas do endométrio, linfoma e leucemia (SONG et al., 2005; HUANG et al.,
2005; HRZENJAK et al., 2006; LEE et al., 2014; MORENO et al., 2010).
A descoberta de que os estados aberrantes epigenéticos de células malignas
podem levar ao silenciamento de genes supressores tumorais e também o caráter
79
relativamente reversível dessas alterações (em contraste com alterações genéticas)
inspirou o desenvolvimento de estratégias terapêuticas que tem os componentes
epigenéticos como alvo (YAN et al., 2010).
A 5-Azacitidina (AZA) é um análogo de nucleosídeo classificado como um
inibidor de DNA metiltransferases. Quando essa droga é incorporada ao DNA de
células tumorais em replicação ativa durante a fase S do ciclo celular, ela exerce uma
atividade de hipometilação (BENDER et al., 1998). A desmetilação de genes
supressores tumorais ocorre somente quando a AZA é utilizada em concentrações mais
baixas e não citotóxicas (BENDER et al., 1998). Além de inibir a ação de DNA
metiltransferases, a AZA também é incorporada no RNA e desta maneira, interrompe os
processos celulares normais através da indução da desmontagem ribossomal e do
impedimento da tradução de proteínas oncogênicas (STRESEMANN; LYKO, 2008; LI
et al., 1970). A habilidade da AZA de agir tanto no DNA quanto no RNA aumenta o
efeitos colaterais in vivo e in vitro porque sua ação acontece tanto nas células em
repouso quanto em células em divisão (YAN et al., 2010). Em 2004, a AZA foi
aprovada pelo órgão regulador americano Food and Drug Administration (FDA) para o
tratamento da síndrome mielodisplásica com base nos resultados positivos observados
em pacientes com esta doença (SILVERMAN et al., 2002). Foi relatado que 60% dos
pacientes tratados com essa medicação exibiram vários níveis de resposta, enquanto que
apenas 5% dos pacientes que receberam somente tratamento de suporte mostrou
melhoria hematológica (KORNBLITH et al., 2002; SILVERMAN et al., 2006). Os
análogos de nucleosídeos também foram testados em muitos outros tipos de células
cancerosas, com resultados encorajadores. A AZA beneficiou pacientes diagnosticados
com leucemia mielóide aguda, atrasando o tempo de progressão da doença, e pacientes
com anemia refratária com excesso de blastos prolongando o tempo de sobrevida global
e melhorando a qualidade de vida (KORNBLITH et al., 2002; SILVERMAN et al.,
2006). Além de beneficiar pacientes com tumores hematológicos, a AZA também tem
mostrado um efeito promissor em tumores sólidos principalmente quando é utilizada em
associação com quimioterápicos convencionais (LINNEKAMP et al., 2017). Em um
estudo clínico de fase I, a AZA foi administrada 3 a 5 dias antes do protocolo
quimioterápico contendo Epirrubicina, Oxaliplatina e Capecitabina em pacientes
diagnosticados com carcinomas gástrico e esofágico, cuja resposta objetiva foi de 67%
(SCHNEIDER et al., 2016). O uso de drogas hipometilantes na Medicina Veterinária
80
ainda é infrequente. Fujita e Kaneda (2017) analisaram o efeito de AZA em linhagens
de linfoma felino. Nessas linhagens, AZA inibiu a proliferação celular (FUJITA;
KANEDA, 2017). Em um outro estudo, AZA mostrou atividade clínica promissora em
cães diagnosticados com carcinoma urotelial invasivo (HAHN et al., 2012). Uma
remissão parcial do tumor de 22,2% foi observada nestes pacientes (HAHN et al.,
2012).
Os inibidores de HD representam uma classe de antineoplásicos que modula a
transcrição de genes alvo regulando o acesso de fatores de transcrição e RNA
polimerases às regiões promotoras (MURAHARI et al, 2017). Dessa maneira, uma
inibição na atividade da HD pode resultar na re-expressão de genes supressores de
tumor e, consequentemente, na reversão da situação aberrante epigenética das células
tumorais (DUVIC, 2007). Em 2006, um inibidor de HD chamado de ácido
suberanilohidroxâmico (SAHA) foi aprovado pelo FDA para o tratamento de linfoma
cutâneo de células T com uma taxa de resposta global de 30% (DUVIC, 2007). SAHA
aumentou a acetilação de histonas, causou citotoxicidade e apoptose em uma variedade
de linhagens celulares de câncer canino, incluindo uma linhagem de células de HSA
(KISSEBERTH et al., 2008). Murahari et al. (2017) demonstrou que SAHA induziu a
apoptose e também sensibilizou linhagens celulares de osteossarcoma canino e humano
à Doxorrubicina. Um cão diagnosticado com HSA esplênico foi tratado com SAHA
após esplenectomia e nenhuma evidência de metástase foi notada dentro de um período
de mais de 1000 dias (COHEN et al., 2004).
O prognóstico ruim associado ao diagnóstico de câncer de células endoteliais em
seres humanos e em cães aliado a falta de tratamentos eficazes, faz com que a
investigação de novos medicamentos antineoplásicos, tais como a AZA e SAHA, e a
identificação de modificações epigenéticas de células endoteliais, sejam essenciais para
a descoberta de novos alvos tumorais e para o desenvolvimento de tratamentos mais
promissores contra o câncer devastador que é o HSA.
81
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Analisar os efeitos de AZA e SAHA utilizadas como agentes únicos, ou em combinação
com a Doxorrubicina, em cultura celular de HSA canino.
2.2 Objetivos específicos
• Estabelecimento e caracterização de cultura primária de HSA canino.
• Análise do efeito de AZA e SAHA utilizadas isoladamente e concomitantemente
à Doxorrubicina sobre as células de HSA canino (DD1, FROG, EMMA e LISS-
HSA) com o foco no processo de citotoxidade celular induzida.
• Verificação dos possíveis efeitos de sinergismo, antagonismo ou ação aditiva
após tratamento das células de HSA canino (DD1, FROG, EMMA e LISS-HSA)
com AZA ou SAHA associadas à Doxorrubicina.
• Análise do efeito de AZA e SAHA utilizadas isoladamente e
concomitantementeàDoxorrubicinasobreascélulasdeHSAcanino(DD1,
FROG, EMMA e LISS-HSA) com o foco nas alterações epigenéticas.
82
3 MATERIAL E MÉTODO
3.1 Desenvolvimento de cultura celular primária de hemangiossarcoma canino
3.1.1 Animais
Os cães cujos HSAs foram utilizados na obtenção das células neoplásicas
destinadas ao cultivo celular foram atendidos no Hospital Veterinário Petcare
Ibirapuera. Após a realização de exame físico e de exames de imagem que indicavam a
presença de uma massa em um ou mais órgãos viscerais, estes animais foram
encaminhados para a cirurgia como parte de um tratamento inicial e também para obter
o diagnóstico definitivo. Seguida a cirurgia, células neoplásicas foram isoladas e
devidamente preparadas para cultivo. Fragmentos representativos das neoplasias foram
obtidos e rotineiramente processados para inclusão em parafina. Cortes histológicos
(5µm) foram corados com hematoxilina e eosina para realização do exame
histopatológico.
3.1.2 Coleta de neoplasias abdominais
O tecido visceral alterado com suspeita de HSA foi colhido imediatamente após
a cirurgia de retirada (3 animais). Fragmentos representativos foram obtidos e
rotineiramente incluídos em parafina para exame histopatológico e imunofluorescência
ou outras eventuais colorações histoquímicas ou imunoistoquímicas. Outros fragmentos
viscerais das mesmas regiões foram imediatamente coletados assepticamente e
processados para o início do estabelecimento do cultivo celular de HSA canino.
3.1.3 Análise histopatológica
Os fragmentos de tecidos viscerais alterados com suspeita de neoplasia, após
confecção de lâminas e coloração de rotina através de hematoxilina e eosina, foram
observados ao microscópio óptico comum, possibilitando conjuntamente com dados
clínicos, um diagnóstico morfológico, e graduação através de critérios histopatológicos
padronizados (BERTAZZOLO et al., 2005).
83
3.1.4 Cultura celular
Os estudos foram conduzidos utilizando-se quatro linhagens distintas de HSA
canino: DD1, FROG, EMMA e LISS-HSA (FOSMIRE et al., 2004; LAMERATO-
KOZICKI et al., 2006; SCHAPPA et al., 2013). As três primeiras linhagens celulares de
HSA são linhagens previamente estabelecidas que foram gentilmente cedidas pelo Dr.
Jaime Modiano do Masonic Cancer Center da Universidade de Minnesota. A quarta
linhagem celular (LISS-HSA) foi desenvolvida e estabelecida em nosso laboratório,
Laboratório de Oncologia Experimental e Comparada da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.
3.1.5 Cultura celular primária de hemangiossarcoma canino
Foram coletados fragmentos de 3 formações viscerais de 3 diferentes cães
submetidos a cirurgia no Hospital Veterinário Petcare Ibirapuera, sendo duas com
origem em baço e uma em mesentério.
Os fragmentos foram mantidos em meio de cultivo RPMI contendo antibiótico e
antimicótico até no máximo 2 horas antes do início da preparação dos cultivos. No
laboratório, dentro do fluxo laminar em condições assépticas, os fragmentos das
formações viscerais caninas foram colocados em placas diferentes contendo meio de
cultura DMEM, RPMI ou AIM-V e mecanicamente separados em fragmentos menores
de aproximadamente 1-3 mm. Os fragmentos foram então lavados em PBS e então
colocados em garrafas de 50 ml contendo meio de cultura DMEM, RPMI ou AIM-V, os
quais foram suplementados com 10% de soro fetal bovino, penicilina (100 unidades/ml)
e estreptomicina (100µg/ml). Os cultivos celulares foram mantidos em estufa de CO2
com atmosfera umidificada e 5% de CO2 a 37ºC. O meio de cultura foi trocado a cada
dois a três dias. Chegada à confluência, as células foram tripsinizadas, e então
subdivididas para novas garrafas ou então criopreservadas em freezer – 80ºC. O
processo de tripsinização consistiu na lavagem da cultura com PBS, para remoção do
meio de cultura, incubação com 2 ml de tripsina-EDTA (0,25% em PBS), sendo a
liberação das células acompanhada em microscópio invertido de luz. Após o
desprendimento das células, a tripsina-EDTA foi inativada pela adição de DMEM,
RPMI ou AIM-V com 10% de soro fetal bovino. As células foram centrifugadas a 1500
rpm, por 5 minutos, ressuspendidas em meio de cultivo e contadas em câmara de
84
Neubauer e a viabilidade celular determinada pelo método de exclusão do corante azul
de tripan (0,01% em PBS). Este método auxilia na diferenciação entre as células vivas e
mortas, por utilizar a propriedade deste corante em penetrar apenas em células mortas,
as quais assumem coloração azul, possibilitando a determinação da concentração das
células vivas, conforme a seguinte fórmula: [nº de células/ml = (nº de células x diluição
x 104)/n° de quadrantes]. Foi considerada aceitável uma viabilidade celular superior a
85%.
3.1.6 Congelamento e descongelamento de células
As células a serem congeladas foram inicialmente lavadas com PBS, e então
tripsinizadas por 10 minutos em estufa de CO2, a 37°C. Depois de verificado o
destacamento celular ao microscópio, adicionou-se DMEM F12 com 10% de soro fetal
bovino para a inativação da tripsina e em seguida as células foram coletadas. A
suspensão de células foi centrifugada por 10 minutos a 1200 rpm. Terminada a
centrifugação, o sobrenadante foi descartado e as células foram ressuspendidas em meio
DMEM F12 com suplementação de fatores de crescimento para células endoteliais.
Uma alíquota foi coletada e contada automaticamente no contador automático de células
(CountessTM Life Technologies), e a concentração ajustada para 106 células/ml com a
mistura de congelamento (10% DMSO + 90% suspensão de células em soro fetal
bovino). A suspensão já com DMSO foi aliquotada em criotubos (Corning®)
devidamente identificados, e estes, foram acondicionados em reservatório próprio para
congelamento (Mr Frosty, Nalgene) e então colocados em freezer a - 80°C. Depois de
congelados os criotubos foram retirados rapidamente do freezer e colocados em tambor
contendo nitrogênio líquido até o momento de sua utilização.
O descongelamento foi realizado sempre que necessário, retirando-se o criotubo
do tambor de nitrogênio, e colocado em banho-maria a 37°C. Uma vez descongelada a
suspensão de células, foi adicionado meio DMEM F12 com soro fetal bovino sendo
então centrifugadas por 10 minutos a 1200 rpm. Após a centrifugação as células foram
então ressuspendidas em meio DMEM com 10% de soro fetal bovino e então colocadas
em garrafas de 75 cm2 (Corning®) para o início do crescimento celular prévio aos
experimentos.
85
3.1.7 Colorações imunocitoquímicas de cultura primária de hemangiossarcoma
As células foram cultivadas sobre uma lamínula em placas de 6 poços. Após 2
semanas de cultivo em meio de cultura RPMI este foi removido, e as células lavadas
com PBS e fixadas em etanol 70% por 20 minutos a -20ºC. As células foram
submetidas ao bloqueio da peroxidase em solução de H2O2 5%, diluído em metanol,
durante 15 minutos. Após lavagens, o bloqueio antigênico das lâminas foi realizado em
5% leite diluído em PBS contendo 0,1% Triton X-100, durante 30 minutos. Em seguida,
os cortes foram lavados e incubados em câmera úmida, overnight e a 4oC, com
anticorpos policlonais anti-fator 8 (Fator de von Willebrand) (Dako, Carpinteria, CA,
USA, 1:100) e anti-CD117 (c-Kit) (Dako, Carpinteria, CA, USA, 1:100); e os
anticorpos monoclonais anti-vimentina e anti-CD31 (PECAM-1) (Dako, Carpinteria,
CA, USA, 1:100). Posteriormente, as lâminas foram lavadas com PBS contendo 0,1%
Triton X-100 e incubadas com anticorpo secundário biotinilado (Dako, Carpinteria, CA,
USA, 1:500) durante 60 minutos, em câmera úmida. Posteriormente, as lâminas foram
lavadas com PBS contendo 0,1% Triton X-100 e montadas em Permount.
3.1.8 Citometria de fluxo
Foi utilizado um citômetro de fluxo (Becton Dickison [BD] Immunocytometry
System, San Jose, CA, USA) conectado a um computador (Machintosh Apple, CA,
USA), sendo os eventos adquiridos por meio de um programa denominado Cell Quest
Pro® (Becton Dickison [BD] Immunocytometry System, San Jose, CA, USA).
As subpopulações celulares foram reconhecidas por meio das propriedades de
FSC – Foward Scatter e SCC – Side Scatter que avaliam o tamanho e a complexidade
interna, respectivamente. As fluorescências do reagente Nucview 488 e do isotiocianato
de fluoresceína (FITC) foram detectadas pelo filtro FL-1 (530 nm) e do iodeto de
propídeo (PI) foi detectada através do programa FlowJo® (Tree Star Inc, Ashland,
USA), sendo as populações de interesse em cada experimento selecionadas por meio de
gates, excluindo assim outros tipos celulares das amostras. Além disto, quando
necessário o aparelho foi compensado com um tubo branco como controle de
fluorescência basal da célula a ser analisada.
86
3.1.9 Ploidia e ciclo celular
A análise de ploidia e ciclo celular foi realizada com a colaboração da Profa.
Dra. Cristina de Oliveira Massoco Salles Gomes no laboratório de Farmacologia e
Toxicologia do departamento de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da Universidade de São Paulo. Para avaliar a ploidia e ciclo celular por
citometria utilizou-se como padrão de células diplóides as células mononucleares
isoladas de sangue canino, as quais foram separadas por gradiente de densidade e
centrifugação utilizando Ficoll-Paque PLUS (GE Healthcare Life Sciences) segundo as
normas do fabricante. O sangue utilizado foi conseguido de cão saudável, tendo sido
coletado de forma asséptica no ambulatório médico do HOVET-USP. Resumidamente,
as células foram tripsinizadas e plaqueadas em placas de seis poços com fundo chato,
estéril Ultra low attachment (Corning®), em triplicatas 1 ml por poço, na concentração
de 1,5x106 células/ml. A definição desta concentração baseou-se no fato de 106 células
ser a concentração mínima exigida pela técnica. A cultura celular de interesse, LISS-
HSA, foi incubada por 3 dias, em estufa umidificada com 5% de CO2, a 37°C. Após
incubação, as células foram ajustadas para 1x106 células e fixadas em 1 ml de etanol
70% gelado, sendo mantidas a -20°C até o momento da análise por citometria de fluxo.
Para análise, as células foram lavadas três vezes com 1 ml de PBS (1800 rpm/10 min) e,
em seguida, incubadas em 200 uL solução de PI [20 ug/ml de iodeto de propídeo (Fluka
– Sigma Aldrich), 200 uL/mL RNAse A (Invitrogen™) e 0,1% triton X-100 (v/v) em
PBS] por 15 minutos a 37°C. Após esta etapa, foram adquiridas 10000 eventos das
células de interesse em cada amostra em um citômetro FACS Calibur equipado com o
programa Cell Quest Pro® (Becton Dickison [BD] Immunocytometry System, San
Jose, CA, USA). Todos os dados forma analisados pelo programa FlowJo, sendo que os
dados de ploidia forma determinados pelo DNA index, conforme as normas da BD, no
qual a intensidade média da fluorescência (MFI) das células na fase G0/G1 de cada
amostra dividida pela MFI das células padrão diploide da mesma espécie. Assim,
quando o DNA index = 1 as células avaliadas são consideradas diploides, porém quando
este resultado é diferente de um elas são classificadas como aneuploides, sendo
haploides (= 0,5), hipodiploides (<1), hiperdiploides (>1) e tetraploides (=2).
87
3.1.10 Microscopia eletrônica de transmissão
Os procedimentos para avaliação morfológica e ultraestrutural das células
neoplásicas LISS-HSA oriundas de um HSA canino foram realizados de acordo com a
metodologia utilizada pelo laboratório de microscopia eletrônica de transmissão do
Instituto Ciências Biomédicas I da Universidade de São Paulo.
Para a realização da análise ultraestrutural da linhagem LISS-HSA foram
mantidas em cultivo celular pelo período de 72 horas. Um total de 1,2 x 106 células por
ml, foram lavadas com PBS 1x e centrifugadas por 1200 RPM por 10 minutos. O pellet
da linhagem celular foi fixado em glutaraldeído 2,5% em 0,1 M de tampão cacodilato
de sódio (pH 7,2) por 10-12 horas a 4 ºC, e estocado em solução tampão cacodilato de
sódio 0,1 M/sucrose 0,2 M a 4 ºC até o processamento das amostras. Na sequência, a
amostra foi lavadas três vezes em solução salina 0,9% e pós-fixadas em tetróxido de
ósmio 1% em tampão cacodilato de sódio 0,1 M (pH 7,2) por 24 horas. Em seguida
foram novamente lavadas em solução salina 0,9%, impregnadas em acetato de uranila
0,5% overnight e incluídas em agar. O material foi armazenado a 4ºC até a formação do
“pellet”, o qual foi recortado e novamente colocado em acetato de uranila 0,5%
overnight. Ao término desta etapa as amostras foram desidratadas em uma série
graduada de acetona Merck® (30 - 100%) e incluídas em bloco de resina. Após a
inclusão, o material foi levado para a estufa a 60ºC, onde permaneceram por 72 horas
para polimerização da resina. Na seqüência, os blocos foram removidos da forma de
inclusão e trimados para retirada do excesso da resina. Em seguida foram feitos cortes
semifinos e ultrafinos no ultramicrótomo. Os cortes semifinos foram realizados com
navalha de vidro a uma espessura de 500 nm. A cada avanço de 5 µm realizava-se uma
lâmina, corada com azul de toluidina a 0,25% em solução aquosa de borato de sódio a
1%, para verificação da região do corte. Assim que a região contendo as células
neoplásicas endoteliais era ultrapassada, a espessura do corte foi reduzida para 200 nm e
a cada avanço de dois µm, os cortes foram colhidos e montados em lâminas de vidro,
corados e observados para verificação das ultraestruturas celulares.
Quando a lâmina revelava a proximidade de muitas células, a espessura do corte
foi novamente reduzida para 100 nm, trocava-se a navalha de vidro pela de diamante
para realização de cortes ultrafinos (50 - 70 nm), os quais foram montados em grades de
cobre oval de 300 mesh, revestidas com parlódio, impregnados em solução de metais
pesados, acetato de uranila (UO2(CH3COO) 2.2H2O a 2%, em etanol a 50%, contendo
88
1% de ácido acético glacial, durante 7 min. Três passagens por etanol a 50%. Lavagem
em água ultrapura. Solução de citrato de chumbo (CH6H5O7)2Pb3.3H2O, a 0,4%, com
1% de uma solução de hidróxido de sódio (NaOH) 5 M, durante 7 min. Lavagem com
água ultrapura. Secagem das grelhas à temperatura ambiente. Análise e documentação
será feita em microscópio eletrônico de transmissão JEOL.
3.2 Ensaios para determinação de citotoxicidade
3.2.1 Curva de crescimento de células de hemangiossarcoma canino
Utilizamos o método do cristal violeta (4 – [(4 dimetilaminofenila)-metil-fenil]-
N, N-dimetil anilina), a fim de uma análise inicial de proliferação das células de HSA
canino. Para avaliarmos o tempo de duplicação celular utilizamos as linhagens de HSA
canino DD1, FROG e LISS-HSA. Para obtenção da curva de crescimento, garrafas com
células em confluência foram tripsinizadas e plaqueadas em placas de 96 poços com
fundo chato, estéril (Corning®), em quadruplicatas, 100 µL por poço, na concentração
de 2x103/poço, 5x103/ poço, 1x104/ poço e 2x104/ poço, e depois foram colocadas em
estufa de CO2 com atmosfera umidificada e 5% de CO2 a 37°C pelo seguintes períodos
de tempo: 24, 48, 72 e 96 horas. Ao final de cada período as células foram coradas com
cristal violeta durante 10 minutos. Os núcleos de células viáveis incorporaram o
corante. As placas foram então lavadas em água corrente. Quando todas as placas foram
lavadas e secas, 100 µL de metanol foram adicionados ao cristal violeta incorporado às
células solubilizando-o e a densidade óptica pode ser lida em espectrofotômetro
Multiskanex © (Uniscience), software Ascent Software © (leitor de Elisa), com o
comprimento de onda de 570 nm. Para a realização dos cálculos estatísticos foi utilizado
o software Graphpad Prism 6® e o teste de uma via ANOVA.
3.2.2 Análise da viabilidade celular com ensaio de MTT após exposição inicial aos
agentes antineoplásicos utilizados isoladamente
Para determinar o efeito do tratamento utilizando os agentes antineoplásicos
isoladamente, a viabilidade celular das 4 linhagens celulares foi avaliada utilizando-se o
ensaio de MTT baseado na metabolização do sal tetrazólico (3-) 4,5-dymethylthiazol-2-
(yl)-2,5-(diphenyl tretrazolium bromide) pelas mitocôndrias de células metabolicamente
ativas, no tempo de 72 horas.
89
Para a obtenção da curva de sensibilidade celular aos diferentes agentes
escolhidos (SAHA, AZA e Doxorrubicina), garrafas com células em confluência foram
tripsinizadas e plaqueadas em placas de 96 poços com fundo chato, estéril (Corning®),
em quadruplicatas, 100 µL por poço, na concentração de 1x104 células/poço e então
colocadas em estufa com atmosfera umidificada e 5% de CO2 a 37°C por 24 horas.
Após esse período, diferentes concentrações de cada um dos agentes foram adicionadas.
Agentes anti-neoplásicos utilizados isoladamente: a) SAHA nas concentrações de 0,5
µM, 1 µM, 5 µM e 10 µM; b) AZA nas concentrações de 0,5 µM, 1 µM, 5 µM e 10
µM; c) Doxorrubicina nas concentrações de 20 ng/ml, 100 ng/ml, 200 ng/ml, 100 ng/ml
e 500 ng/ml. As placas foram incubadas durante 72 horas. Ao final de cada período de
tempo (24, 48 e 72 horas) de incubação com os princípios ativos, foi adicionado 10
µL/poço de MTT (5 mg/ml) para cada 100 µL de meio. A placa foi então incubada em
estufa com atmosfera umidificada contendo 5% de CO2 a 37°C, por 3 horas. Foi
adicionado então 100 µL de solução DMSO em cada poço. Quinze minutos depois do
procedimento, a densidade óptica pode ser lida em espectrofotômetro Multiskanex ©
(Uniscience), software Ascent Software © (leitor de Elisa), com o comprimento de onda
de 570 nm. Para a realização dos cálculos estatísticos foi utilizado o software Graphpad
Prism 6® e o teste de uma via ANOVA.
3.2.3 Análise da viabilidade celular com ensaio de MTT após exposição aos agentes
antineoplásicos utilizados em combinação
Para determinar o efeito do tratamento utilizando a combinação dos agentes anti-
neoplásicos, a viabilidade celular das 4 linhagens celulares foi avaliada utilizando-se o
ensaio de MTT baseado na metabolização do sal tetrazólico (3-) 4,5-dymethylthiazol-2-
(yl)-2,5-(diphenyl tretrazolium bromide) pelas mitocôndrias de células metabolicamente
ativas, no tempo de 72 horas. Diferentes concentrações de cada um dos agentes foram
adicionadas e combinadas. Agentes anti-neoplásicos utilizados isoladamente: a) SAHA
nas concentrações de 5 µM e 10 µM; b) 5-Azacitidina nas concentrações de 5 µM e 10
µM; c) Doxorrubicina nas concentrações de 1 ng/ml, 10 ng/ml, 50 ng/ml, 100 ng/ml e
500 ng/ml. Agentes anti-neoplásicos utilizados em combinação: a) 5 µM de SAHA +
Doxorrubicina em 5 diferentes concentrações (1 ng/ml, 10 ng/ml, 50 ng/ml, 100 ng/ml,
500 ng/ml); b) 10 µM de SAHA + Doxorrubicina em 5 diferentes concentrações (1
ng/ml, 10 ng/ml, 50 ng/ml, 100 ng/ml, 500 ng/ml); c) 5 µM de 5-Azacitidina +
90
Doxorrubicina em 5 diferentes concentrações (1 ng/ml, 10 ng/ml, 50 ng/ml, 100 ng/ml,
500 ng/ml); d) 10 µM de 5-Azacitidina + Doxorrubicina em 5 diferentes concentrações
(1 ng/ml, 10 ng/ml, 50 ng/ml, 100 ng/ml, 500 ng/ml). Após o tempo de incubação com
os princípios ativos, foi adicionado 10 µL/poço de MTT (5 mg/ml) para cada 100 µL de
meio. A placa foi então incubada em estufa com atmosfera umidificada contendo 5% de
CO2 a 37°C, por 3 horas. Foi adicionado então 100 µL de solução DMSO em cada poço.
Quinze minutos depois do procedimento, a densidade óptica pode ser lida em
espectrofotômetro Multiskanex © (Uniscience), software Ascent Software © (leitor de
Elisa), com o comprimento de onda de 570 nm. Para a realização dos cálculos
estatísticos foi utilizado o software Graphpad Prism 6® e o teste de uma via ANOVA.
3.2.4 Análise da viabilidade celular com o teste de cristal violeta após exposição aos
agentes antineoplásicos utilizados em combinação
O teste de cristal violeta é responsável por corar os ácidos nucléicos das células
(KUENG et al., 1989). Para a realização desse ensaio, garrafas com células em
confluência foram tripsinizadas e plaqueadas em placas de 96 poços com fundo chato,
estéril (Corning®), em quadruplicatas, 100 µL por poço, na concentração de 1x104/
poço e depois foram colocadas em estufa de CO2 com atmosfera umidificada e 5% de
CO2 a 37°C durante 72 horas. As mesmas concentrações dos agentes antineoplásicos
utilizadas para a realização do teste de MTT foram utilizadas para o teste de cristal
violeta. Ao final desse período as células foram coradas com cristal violeta durante 10
minutos. Os núcleos de células viáveis incorporaram o corante. As placas foram então
lavadas em água corrente. Quando todas as placas foram lavadas e secas, 100 µL de
metanol foram adicionados ao cristal violeta incorporado às células solubilizando-o e a
densidade óptica pode ser lida em espectrofotômetro Multiskanex © (Uniscience),
software Ascent Software © (leitor de Elisa), com o comprimento de onda de 570 nm.
Para a realização dos cálculos estatísticos foi utilizado o software Graphpad Prism 6® e
o teste de uma via ANOVA.
3.2.5 Cálculo do IC50
O valor encontrado após o cálculo do IC50 representa a média (50%) da
concentração máxima inibitória (IC) de uma substância em um particular processo
biológico. No caso do nosso estudo, o IC50 é uma medida de eficácia de uma droga que
91
mostra a quantidade necessária de um agente antineoplásico para inibir 50% da
proliferação celular (BRUCE et al., 2002). Calculamos o IC50 das drogas
Doxorrubicina, AZA e SAHA utilizando seis concentrações diferentes de cada droga de
acordo com a sensibilidade de cada linhagem celular. A Doxorrubicina foi utilizada nas
concentrações de 0,001 µg/ml, 0,005 µg/ml, 0,01 µg/ml, 0,1 µg/ml, 1 µg/ml e 10 µg/ml
nas linhagens mais sensíveis aos agentes antineoplásicos (FROG e LISS-HSA),
enquanto que na linhagem mais resistente (DD1) foram utilizadas as seguintes
dosagens: 0,01 µg/ml, 0,05 µg/ml, 0,1 µg/ml, 0,5 µg/ml, 1 µg/ml e 10 µg/ml. A AZA foi
utilizada nas concentrações de 0,1 µM, 1 µM, 5 µM, 10 µM, 20 µM e 50 µM nas
linhagens FROG, LISS-HSA e DD1. SAHA foi utilizada nas concentrações 0,1 µM, 1
µM, 3 µM, 5 µM, 10 µM e 20 µM nas linhagens FROG e LISS-HSA, enquanto que na
linhagem DD1 foram utilizadas dosagens mais altas: 1 µM, 5 µM, 10 µM, 25 µM, 50
µM e 100 µM. Para a realização dos cálculos foi utilizado o software Graphpad Prism
6®.
3.2.6 Avaliação de sinergismo
Os ensaios de combinação dos agentes antineoplásicos AZA e SAHA com a
Doxorrubicina foram realizados através do ensaio de MTT utilizando um aumento
crescente constante (0,25; 0,5; 1; 2; 4) nas dosagens tendo como base o valor de IC50
de cada fármaco para cada linhagem celular analisada (Quadro 8). A análise do efeito
antagonista, aditivo ou sinérgico entre as drogas combinadas foi determinada através do
software Compusyn®.
92
Quadro 8: Dosagens utilizadas para a combinação de Doxorrubicina com SAHA ou 5-Azacitidina nas linhagens LISS-HSA, FROG e DD1 para determinação de efeito antagonista, aditivo ou sinérgico.
3.3 Quantificação da metilação global do DNA
A quantificação da metilação global de DNA em linhagens celulares de HSA
canino após tratamento com Doxorrubicina associada à AZA, expressa como
porcentagem (%) 5-metil-2’-desoxicitidina (5-metil-dC) foi determinada pelo método
de cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC). Tal metodologia inclui a extração
de DNA das células endoteliais, seguida de hidrólise enzimática do DNA e passagem da
amostra pela coluna cromatográfica do sistema analítico de HPLC-DAD disponível no
laboratório da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo,
realizada com a colaboração da Profa. Dra. Ana Paula de Melo Loureiro.
Para extração e purificação do DNA das células endoteliais, utilizou-se o
protocolo do kit de extração Gentra Puregene® (QIAGEN Sciences, Mayland, USA).
Cerca de 6 mL de solução de lise das hemácias (RBC Lysis Solution, Gentra Puregene®
Kit) foi adicionada à amostra correspondente. Submeteu-se a agitação durante 10
minutos à temperatura ambiente. Em seguida, centrifugação por 5 minutos, 2000 x g a
4°C, e o sobrenadante foi cuidadosamente descartado. A amostra foi agitada na solução
residual remanescente (aproximadamente 500 µL) junto com o precipitado até formação
de uma solução homogênea. Posteriormente, adicionou-se 5 mL de solução de lise de
93
células (Cell Lysis Solution, Gentra Puregene® Kit), as amostras foram vigorosamente
agitadas por 20 segundos e foi adicionado 50 µL de uma solução contendo a enzima
RNAase (Ribonuclease) na concentração de 15 mg/mL. As amostras foram incubadas
por 60 minutos a 37oC. Após a incubação foi adicionado 5 mL da solução de
precipitação de proteínas (Protein Precipitation Solution, Gentra Puregene® Kit), as
amostras foram submetidas a uma vigorosa agitação e posterior centrifugação a 3000 x
g por 10 minutos, 4oC. O sobrenadante foi transferido para um tubo contendo 5 mL de
isopropanol gelado, precipitando o DNA. A solução seguiu sendo submetida a uma
nova centrifugação por 3 minutos, 2000 x g, 4°C. O DNA precipitado foi lavado com 3
mL de etanol 70%, centrifugado por 5 min, 2000 x g, 4°C. Depois de seco, o DNA foi
ressuspenso em 100 µL de uma solução de desferroxamina (0,1 mM) e transferido para
um eppendorf identificado. A concentração do DNA foi determinada pela leitura de
absorbância a 260 nm e sua pureza pela razão de absorbância a 260/280 nm.
Para a reação de hidrólise enzimática, alíquotas contendo 10 µg de DNA em
desferroxamina (0,1 mM) foram adicionadas a 2,5 µL de tampão Tris-HCl/MgCl2 200
mM (pH 7,4) e 1 µL de DNAse 1. As amostras foram incubadas a 37 °C por 1 hora.
Após a incubação, adicionou-se 1 µL de fosfodiesterase 1 (PDE1) e 1,2 unidade de
fosfatase alcalina. As amostras foram novamente incubadas a 37 °C por 1 hora com
agitação de 1000 rpm. Ao término da segunda hora o volume final da incubação (20 µL)
foi centrifugado por 10 min a 9.300 x g e o sobrenadante coletado. Alíquotas de 10 µL
(5 µg de DNA) foram analisadas em um sistema de HPLC-DAD.
As alíquotas de DNA foram injetadas no sistema analítico de HPLC da empresa
Shimadzu Corporation (Kyoto, Japão) equipado com duas bombas LC-20AT, um
detector de arranjo fotodiodos PDA-20AV, um auto injetor (Proeminence SIL-20AC) e
um forno para colunas (CTO-10AS/VP) controlado por um módulo de comunicação
CBM-20A. Os dados foram processados pelo software LC-Solution 1.21 (Shimadzu,
Japão). A seguinte condição cromatográfica foi utilizada para as análises:
- Coluna Luna C18 (2) 250 mm x 4,6 mm, ID, 5 µm, (Phenomenex, Torrance, CA) com
uma pré-coluna C18 4,0 x 3,0 mm (Phenomenex, Torrance, CA) foi eluída com um
gradiente de ácido fórmico (0,1% em água) e CH3OH (0-25 min, 0-18% de CH3OH; 25-
27 min, 18-0% de CH3OH; 27-37 min, 0% de CH3OH), com um fluxo de 1 mL/min,
94
30°C. O detector de DAD é fixado em 260 nm para a quantificação da desoxicitidina
(molécula formada pela ligação da citosina com a desoxirribose – dC) e 286 nm para a
quantificação da 5-metil-dC. As curvas de calibração foram feitas no intervalo de 0,05-6
nmol para dC e de 0,005-0,4 nmol para 5-metil-dC. A porcentagem da metilação global
do DNA é calculada usando a seguinte equação:
5-metil-dC % =5-metil-dC !"#$ ×100
5-metil-dC !"#$ + dC !"#$
95
4 RESULTADOS
4.1 Animais utilizados e coleta de neoplasias abdominais
Para o estabelecimento de uma cultura primária de HSA foram utilizados três cães
(Quadro 9) atendidos no Hospital Veterinário Petcare Ibirapuera.
Quadro 9: Dados dos animais incluídos no projeto.
4.2 Cultura celular
4.2.1 Cultura de tecido tumoral
Já que não tínhamos o diagnóstico de HSA antes do procedimento cirúrgico de
cada um dos três cães citados no Quadro 9, apenas uma suspeita de acometimento pela
doença, todo fragmento de tumor com suspeita de HSA foi preparado e colocado em
cultivo celular até que o resultado histopatológico ficasse pronto. Uma vez tendo sido
determinado o resultado histopatológico das formações, as culturas celulares de cães
com formações benignas foram descartadas. O tumor obtido a partir da cadela “Liss”
obteve um diagnóstico histopatológico consistente com HSA, nossa neoplasia de
interesse. Na análise microscópica da formação de mesentério da cadela “Liss”
observou-se um nódulo de moderada a elevada celularidade, mal delimitado e infiltrado
a tecidos vizinhos, constituído de proliferação neoplásica de células endoteliais
arranjadas de forma sólida e em múltiplos espaços vasculares irregulares, sustentadas
por moderado estroma colagenoso e preenchidos em seu lúmen por variável quantidade
96
de hemácias. O pleomorfismo era moderado com discreta anisocitose e discreta
anisocariose. Essas células exibiam citoplasma eosinofílico de contornos indistintos. Os
núcleos eram ovalados a alongados, de coloração basofílica, com aspecto finamente
vesiculado, com um nucléolo por vezes evidente. Figuras de mitose também foram
observadas em número variando de 1 a 3/ campo (Figuras 13 e 14).
Figura 13: Hemangiossarcoma. Hematoxilina e eosina. A- Aspecto arquitetônico microscópico da neoplasia apresentando áreas solidas e espaços vasculares. Objetiva de 10X. B – Maior aumento da figura 1A mostrando características celulares como pleomorfismo moderado com discreta anisocitose e discreta anisocariose. Objetiva de 20X.
Figura 14: Hemangiossarcoma. Maior aumento da figura 1 mostrando detalhes (indicados por setas) como figuras de mitose. Hematoxilina e eosina. Objetiva de 40X.
97
Foi estabelecida uma linhagem celular a partir de fragmentos do HSA
mesentérico da “Liss”. Nos primeiros 5 dias de cultivo, essas células apresentavam uma
forma mais arredonda (Figura 15 A, B e C), mas com o crescimento e a confluência elas
passaram a apresentar um formato mais alongado e fibroblastóide (Figura 15 D, E e F).
Notou-se também que as células endoteliais malignas em cultivo apresentavam um
crescimento mais rápido quando mantidas no meio de cultura DMEM F12 ao invés do
AIM-V ou RPMI. Devido a esse fato, passamos a utilizar somente o meio DMEM F12
com suplementação de fatores de crescimento para células endoteliais [heparina sódica
de mucosa intestinal de porco 0,01 mg/ml (Heparina Sigma número H3149-100KU) e
suplemento para crescimento de células endoteliais 0,05 mg/ml [(ECGS Corning®
Fisher Scientific número 356006), junto com 10% de soro fetal bovino (FBS - Gibco®),
Glutamina 0,1% (GlutaMAX Gibco®), penicilina (100 unid/ml) e estreptomicina (100
µg/ml) (Anti-anti - Gibco®]. Após 15 dias da coleta, realizamos a tripsinização para
soltar as células e obter mais garrafas da mesma cultura, como descrito anteriormente
em material e métodos. Nomeamos essa linhagem celular como LISS-HSA.
Figura 15: A, B, C - Fotomicrografia das células provenientes de um hemangiossarcoma mesentérico nos primeiros 5 dias de cultivo apresentando um formato mais arredondado. A- Objetiva 10X. B - Objetiva 20X. C - Objetiva 40X. D, E, F - Fotomicrografia das células provenientes de um hemangiossarcoma mesentérico apresentando um formato mais alongado e fibroblastóide. D - Objetiva 10X. E - Objetiva 20X. F - Objetiva 40X.
98
4.2.2 Caracterização imunofenotípica da cultura celular primária de
hemangiossarcoma
O HSA canino origina-se a partir de células endoteliais transformadas. Desta
maneira, a ontogenia do HSA pode ser confirmada pela expressão de marcadores
endoteliais específicos, tais como CD31 e o fator von Willebrand (Fator VIII) (VON
BEUST et al., 1988; FERRER et al., 1995). Para caracterizar as células malignas LISS-
HSA como endoteliais, utilizou-se então esses anticorpos citados acima. Ambos
anticorpos possuem imunorreatividade conhecida em células endoteliais malignas de
cães (VON BEUST et al., 1988; FERRER et al., 1995). As células LISS-HSA
demonstraram forte imunorreatividade citoplasmática para o fator von Willebrand
(Figura 16 A) e moderada marcação citoplasmática para CD31 (Figura 16 B),
confirmando a origem endotelial dessas células.
Outro anticorpo utilizado foi o c-Kit (CD117). CD117 é um receptor de fatores de
células tronco e é normalmente expresso por células tronco hematopoiéticas
(OKSANEN, 1978). Já foi mostrado na literatura que tanto o HSA canino quanto o
angiossarcoma humano são oriundos de células endoteliais indiferenciadas e primitivas,
podendo ser identificados pela expressão de CD117 (MIETTINEN et al., 2000;
FOSMIRE et al., 2004). Como hematomas e hemangiomas são provenientes de células
endoteliais maduras e diferenciadas, eles não expressam CD117 (MIETTINEN et al.,
2000; FOSMIRE et al., 2004). As células LISS-HSA apresentaram marcação
citoplasmática difusa para CD117 indicando uma origem de células endoteliais
primitivas (Figura 16 C).
O anticorpo vimentina não é específico para células endoteliais, já que marca outras
células mesenquimais, tais como fibroblastos, melanócitos e linfócitos (IVASKAA et
al., 2007). As células LISS-HSA apresentaram forte marcação citoplasmática para a
vimentina (Figura 16 D), assim como esperado, já que células endoteliais tem origem
mesenquimal.
99
Figura 16: A - Fotomicrografia da linhagem primária proveniente de um hemangiossarcoma mesentérico imunomarcada com fator von Willebrand. B - Fotomicrografia da linhagem primária proveniente de um hemangiossarcoma mesentérico imunomarcada com CD31. C - Fotomicrografia da linhagem primária proveniente de um hemangiossarcoma mesentérico imunomarcada com CD117. D - Fotomicrografia da linhagem primária proveniente de um hemangiossarcoma mesentérico imunomarcada com vimentina.
100
Figura 17: Fotomicrografia do controle negativo da linhagem primária proveniente de um hemangiossarcoma mesentérico.
Como controle positivo para fator von Willebrand, CD31, CD117 e vimentina foi
utilizada a linhagem celular de HSA canino FROG (estabelecida pelo grupo do
Professor Dr. Jaime Modiano da Universidade de Minnesota) (LAMERATO-KOZICKI
et al., 2006; FOSMIRE et al., 2004; SCHAPPA et al., 2013; GORDEN, et al., 2014).
Para o controle negativo de fator von Willebrand, CD31, CD117 e vimentina, realizou-
se a omissão do anticorpo primário como mostrado na Figura 17.
A partir das marcações imunoistoquímicas observadas nas células LISS-HSA
podemos concluir o estabelecimento de uma nova linhagem celular canina de HSA a
partir de uma massa em mesentério.
4.3 Ploidia e ciclo celular
Com o intuito de avaliar a ploidia celular da linhagem estabelecida LISS-HSA foi
realizado o exame através de citometria de fluxo. Foi encontrado um perfil
hiperdiploide na amostra avaliada (DNA index = 2,488). Expostos abaixo estão os
dados de referência fornecidos pela BD Biosciences para análise de ploidia celular
(Quadro 10).
Através da quantificação de conteúdo de DNA, podemos notar que a linhagem de
HSA canino LISS-HSA apresentou uma proliferação celular ativa já que a maior parte
das células estava na fase S (síntese) do ciclo celular como mostrado na figura 18 B.
Quando comparada com o controle utilizando linfócitos de um cão saudável, nota-se
que os linfócitos encontram-se na fase G0/G1 do ciclo celular (Figura 18 A).
101
Quadro 10: Referência de valores estimados para análise de ploidia (BD Biosciences).
Figura 18: A - Histograma de citometria de fluxo evidenciando quantificação de conteúdo de DNA de linfócitos de um cão saudável que foi utilizado como controle. Linfócitos encontram-se na fase G0/G1 do ciclo celular. B - Histograma de citometria de fluxo evidenciando quantificação de conteúdo de DNA de linhagem de hemangiossarcoma canino LISS-HSA. Células neoplásicas encontram-se na fase S (síntese do DNA) do ciclo celular.
102
4.4 Microscopia eletrônica de transmissão
Com o intuito de avaliar as principais estruturas das células endoteliais neoplásicas
oriundas de um HSA canino foram iniciados os estudos morfológicos de ultraestrutura
nessa linhagem celular. Sabe-se que células endoteliais podem apresentar corpúsculos
de inclusão eletrodensos e limitados por membrana única chamados de corpúsculos de
Weibel-Palade (VALENTIJN et al., 2017; GALLAGHER, 1997). Essas organelas
possuem estrias longitudinais características, um diâmetro de 0,1-0,3 µm e 1-5 µm de
comprimento. Esses corpúsculos são organelas secretoras que possuem um formato de
charuto, como mostrado nas figuras 19 e 20, controlados pelas células endoteliais
(MICHAUX; CUTLER, 2004; VALENTIJN et al, 2008). Funcionam como locais de
armazenamento de diversas proteínas, sendo que a proteína de von Willebrand é a que
mais se destaca já que é essencial na adesão e ativação de plaquetas após lesão
endotelial, inflamação e angiogênese (GALLAGHER, 1997). A proteína de von
Willebrand é um pré-requisito para a existência de corpúsculos de Weibel-Palade
(VALENTIJN et al., 2017). O fator de von Willebrand também é produzido por
megacariócitos e plaquetas além das células endoteliais, sendo que no caso das
plaquetas estruturas semelhantes aos corpúsculos de Weibel-Palade também podem ser
encontradas (SPOM et al., 1985). Animais com deficiência do fator von Willebrand não
possuem esses corpúsculos e acabam desenvolvendo doenças hematológicas e
cardiovasculares (VALENTIJN et al., 2017; MICHAUX; CUTLER, 2004).
103
Figura 19 – Microscopia eletrônica de transmissão de células endoteliais HEK293 mostrando corpúsculos de von Willebrand. Fonte: Adaptado de MICHAUX; CUTLER, 2004. Legenda: A-C Morfologia ultraestrutural de corpúsculo de Weibel-Palade após expressão temporária de fator von Willebrand em células humanas embrionárias de rim HEK293. B – Seta mostrando formato alongado do corpúsculo de Weibel-Palade.
Figura 20: Microscopia eletrônica de transmissão de células endoteliais HUVEC. Fonte: Adaptado de VALENTIJN et al, 2008. Legenda: Microscopia eletrônica de transmissão mostrando diversos corpúsculos de Weibel-Palade dentro de células endoteliais HUVEC provenientes de veias umbilicais humanas.
104
As células LISS-HSA provenientes de um HSA canino foram fixadas em
glutaraldeído 2,5%, e submetidas ao protocolo de microscopia eletrônica de
transmissão. Secção corte fino foi submetida à coloração com azul de toluidina para
monitorar a área de corte da amostra como mostrado na figura 21. Imagens das células
LISS-HSA fixadas em resina e analisadas pela microscopia eletrônica de transmissão
foram obtidas no microscópio eletrônico de transmissão JEOL do Instituto de Ciências
Biomédicas I da Universidade de São Paulo (Figura 22). Através da eletromicrografia
comprovamos que a maioria das células LISS-HSA contém corpúsculos de Weibel-
Palade como mostrado nas figura 23.
Figura 21: Fotomicrografia da linhagem LISS-HSA proveniente de um hemangiossarcoma canino fixada com glutaraldeído e corada com azul de toluidina. A - Objetiva 40X. B – Objetiva 100X.
Figura 22: Eletromicrografia das células LISS-HSA provenientes de um hemangiossarcoma canino fixadas em resina e analisadas pela microscopia eletrônica de transmissão. A – 2500X, B – 6000X, C – 10000X.
105
Figura 23: Morfologia ultraestrutural de corpúsculo de Weibel-Palade das células LISS-HSA. A – Setas pretas evidenciando diversos corpúsculos de Weibel-Palade dentro das células endoteliais LISS-HSA (15000X), B – Seta branca evidenciando formato alongado do corpúsculo de Weibel-Palade da célula endotelial LISS-HSA (60000X).
4.5 Ensaios para determinação de citotoxicidade
4.5.1 Curva de crescimento de células de hemangiossarcoma canino
Com o intuito de estudar a proliferação celular nas células oriundas de HSA para a
determinação da quantidade e tempo adequados do crescimento celular para futuros
experimentos, escolhemos a técnica de incorporação pelo cristal violeta. Como
mostrado nas figuras abaixo (Figuras 24 e 25), essa técnica mostrou um aumento
crescente na leitura da densidade óptica ao longo dos 4 tempos (24, 48, 72 e 96 horas)
analisados e também com o maior número de células plaqueadas por poço. Quando a
linhagem LISS-HSA é comparada com as linhagens FROG e DD1, também é notado
um aumento crescente na leitura da densidade óptica nos 4 tempos analisados e com o
maior número de células plaqueadas por poço, porém um efeito bem mais discreto
evidenciando um tempo maior para o crescimento desse tipo celular (Figura 26).
Optamos por utilizar a quantidade de 1x104 células por poço nos ensaios subsequentes
ao invés de 2x104 células por poço para evitar uma confluência muito rápida levando a
morte celular independente do tratamento administrado.
106
Figura 24: Gráfico de crescimento celular na linhagem celular de hemangiossarcoma canino DD1 através da técnica de incorporação pelo cristal violeta. Aumento crescente na leitura da densidade óptica com o passar do tempo e com o maior número de células por poço.
Figura 25: Gráfico de crescimento celular na linhagem celular de hemangiossarcoma canino FROG através da técnica de incorporação pelo cristal violeta. Aumento crescente na leitura da densidade óptica com o passar do tempo e com o maior número de células por poço.
107
CRESCIMENTO CELULAR LISS-HSA
24 H
48 H
72 H
96 H
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.52 x 103células/poço5 x 103células/poço1 x 104células/poço2 x 104células/poço
TEMPO
DEN
SID
AD
E Ó
PTIC
A
Figura 26: Gráfico de crescimento celular na linhagem celular de hemangiossarcoma canino LISS-HSA através da técnica de incorporação pelo cristal violeta. Aumento discreto crescente na leitura da densidade óptica com o passar do tempo e com o maior número de células por poço.
4.5.2 Análise da viabilidade celular com ensaio de MTT após exposição inicial aos
agentes antineoplásicos utilizados isoladamente
Com o intuito de identificarmos uma melhor dosagem de trabalho para a indução da
citotoxicidade nas linhagens de HSA canino, escolhemos verificar a viabilidade celular
após a exposição a cada um dos agentes escolhidos (SAHA, AZA, Doxorrubicina).
Optou-se então pelo ensaio com MTT.
As linhagens celulares DD1, FROG e EMMA foram tratadas com 4 dosagens
diferentes de Doxorrubicina, 4 dosagens de SAHA e 4 dosagens de AZA, durante três
períodos de tempo (24, 48 e 72 horas). No tempo de 72 horas as duas maiores dosagens
de cada composto inibiram o crescimento em cultura e diminuíram a viabilidade celular
de maneira estatisticamente significativa (p < 0.05) de todas as linhagens, com exceção
de SAHA na linhagem celular EMMA (Figuras 27, 28 e 29). Como as maiores doses de
SAHA e AZA apresentaram a maior citotoxicidade, optamos por utilizar as
concentrações de 5 µM e 10 µM de ambas as drogas em ensaios seguintes.
108
27(A)
27(B)
27(C)
Figura 27: Ensaio de viabilidade celular e citotoxicidade in vitro na linhagem celular de hemangiossarcoma canino DD1 tratada com (A) Doxorrubicina, (B) 5-Azacitidina e (C) SAHA.
*** = P ≤ 0,001 ** = P ≤ 0,01 * = P ≤ 0,05
109
28(A)
28(B)
28(C)
Figura 28: Ensaio de viabilidade celular e citotoxicidade in vitro na linhagem celular de hemangiossarcoma canino FROG tratada com (A) Doxorrubicina, (B) 5-Azacitidina e (C) SAHA.
*** = P ≤ 0,001 ** = P ≤ 0,01 * = P ≤ 0,05
110
29(A)
29(B)
29(C)
Figura 29: Ensaio de viabilidade celular e citotoxicidade in vitro na linhagem celular de hemangiossarcoma canino EMMA tratada com (A) Doxorrubicina, (B) 5-Azacitidina e (C) SAHA.
*** = P ≤ 0,001 ** = P ≤ 0,01 * = P ≤ 0,05
111
4.5.3 Análise da viabilidade celular com ensaio de MTT após exposição aos agentes
antineoplásicos utilizados em combinação
Após a determinação do efeito citotóxico dos agentes antineoplásicos utilizados
isoladamente nas linhagens celulares de HSA canino e também do estabelecimento das
melhores dosagens de SAHA e AZA, assim como o melhor tempo de trabalho para
ensaios subsequentes, realizamos o ensaio de MTT combinando o quimioterápico
convencional Doxorrubicina com 5 dosagens diferentes de AZA ou SAHA para avaliar
se ocorreria uma potencialização do efeito citotóxico com a combinação. Ocorreu um
efeito citotóxico e também uma diminuição da viabilidade celular em relação ao
controle em todas as linhagens celulares de maneira estatisticamente significativa (p <
0.05) quando as drogas AZA e SAHA foram combinadas com todas as doses de
Doxorrubicina e também quando as mesmas foram utilizadas isoladamente com doses
superiores ou iguais a 5 µM. Como as linhagens celulares FROG e LISS são muito
sensíveis aos agentes antineoplásicos estudados, a viabilidade celular após o tratamento
diminuiu bastante, chegando a zero em alguns casos, não permitindo que
conseguíssemos fazer uma comparação entre o resultado da viabilidade celular de
SAHA e AZA utilizadas como agentes únicos com as drogas utilizadas em combinação.
Já nas linhagens EMMA e DD1 houve uma grande diminuição dos valores da
viabilidade celular de SAHA e AZA combinadas com as duas maiores dosagens de
Doxorrubicina quando comparadas com SAHA e AZA utilizadas isoladamente (Figuras
30 e 31).
112
Figura 30: Ensaio de viabilidade celular e citotoxicidade in vitro pelo teste de MTT nas linhagens celulares de hemangiossarcoma canino EMMA, DD1, LISS e FROG tratadas com as Doxorrubicina e 5-Azacitidina utilizadas isoladamente ou em combinação.
*** = P ≤ 0,001 ** = P ≤ 0,01 * = P ≤ 0,05
113
Figura 31: Ensaio de viabilidade celular e citotoxicidade in vitro pelo teste de MTT nas linhagens celulares de hemangiossarcoma canino EMMA, DD1, LISS e FROG tratadas com as Doxorrubicina e SAHA utilizadas isoladamente ou em combinação.
*** = P ≤ 0,001 ** = P ≤ 0,01 * = P ≤ 0,05
114
4.5.4 Análise da viabilidade celular com o teste de cristal violeta após exposição aos
agentes antineoplásicos utilizados em combinação
Ao analisarmos a viabilidade celular pelo teste do cristal violeta quando as
drogas AZA e SAHA foram combinadas com todas as doses de Doxorrubicina e
também quando as mesmas foram utilizadas isoladamente com doses superiores ou
iguais a 5 µM foi notado que houve um efeito citotóxico com diminuição da viabilidade
celular de maneira estatisticamente significativa (p < 0.05) em relação ao controle
(Figuras 32 e 33). No entanto, em nenhum dos tipos celulares houve uma grande
diferença da viabilidade celular entre os agentes antineoplásicos SAHA e AZA
utilizados isoladamente ou em combinação. De todas as linhagens celulares analisadas,
a EMMA foi a menos sensível às medicações enquanto que a FROG foi a mais sensível.
O ensaio de MTT e o teste de cristal violeta são testes colorimétricos
quantitativos que analisam a densidade celular e consequentemente a viabilidade celular
de maneiras diferentes. O cristal violeta consiste em verificar a densidade celular pela
coloração do DNA obtendo informação quantitativa sobre a densidade relativa de
células vivas aderidas em placas de cultura e o método MTT, verifica a capacidade que
as células viáveis possuem de clivar, no interior da mitocôndria, o sal tetrazólico MTT
em cristais de formazan, sendo estes cristais relacionados quantitativamente com o
número de células metabolicamente ativas (KUENG et al., 1989; MOSMANN, 1983).
Optamos por também analisar a viabilidade celular através do teste de cristal violeta
para verificarmos se conseguiríamos o mesmo resultado obtido com o ensaio de MTT.
Quando comparamos os gráficos do ensaio de MTT com os gráficos do teste de cristal
violeta, verificamos um efeito citotóxico com uma diminuição da viabilidade celular em
ambos os testes. Desta maneira, podemos concluir que através de duas metodologias
diferentes o mesmo efeito foi encontrado.
115
Figura 32: Ensaio de viabilidade celular e citotoxicidade in vitro pelo teste do cristal violeta nas linhagens celulares de hemangiossarcoma canino EMMA, DD1, LISS e FROG tratadas com as Doxorrubicina e 5-Azacitidina utilizadas isoladamente ou em combinação.
*** = P ≤ 0,001 ** = P ≤ 0,01 * = P ≤ 0,05
116
Figura 33: Ensaio de viabilidade celular e citotoxicidade in vitro pelo teste do cristal violeta nas linhagens celulares de hemangiossarcoma canino EMMA, DD1, LISS e FROG tratadas com Doxorrubicina e 5-Azacitidina utilizadas isoladamente ou em combinação.
117
4.5.5 Cálculo do IC50
Analisamos e determinamos o IC50 dos agentes antineoplásicos AZA, SAHA
e Doxorrubicina nas linhagens de HSA canino DD1, FROG e LISS-HSA (Quadro 11
e Figura 34). O IC50 no tempo de 72 horas foi atingido nas três linhagens. Ao
analisar os resultados do IC50 verificamos que as linhagens celulares de HSA canino
possuem diferentes sensibilidades aos compostos testados. A linhagem LISS-HSA
apresentou os menores valores de IC50 para todas as drogas testadas, indicando ser a
mais sensível, enquanto que os maiores valores foram encontrados na linhagem DD1,
mostrando ser a mais resistente. A Doxorrubicina apresentou o menor IC50 em todas
as linhagens, sugerindo ser a droga mais potente, enquanto que o maior IC50 foi
encontrado na linhagem DD1 com o uso de SAHA.
Quadro 11: Valores do IC50 da Doxorrubicina, SAHA e 5-Azacitidina nas linhagens celulares de hemangiossarcoma canino DD1, FROG e LISS-HSA.
118
Figura 34: Gráficos da análise de viabilidade celular utilizados para calcular o IC50 nas linhagens celulares de hemangiossarcoma canino DD1, FROG e LISS-HSA após a exposição aos agentes Doxorrubicina, 5-Azacitidina e SAHA testados isoladamente.
4.5.6 Avaliação de sinergismo
Após a determinação do IC50 dos agentes antineoplásicos AZA, SAHA e
Doxorrubicina nas linhagens de HSA canino DD1, FROG e LISS-HSA, foram
realizados ensaios de combinação entre a AZA e SAHA com a Doxorrubicina para
explorar potenciais efeitos de sinergismo na viabilidade celular das linhagens
estudadas. Chou e Talalay em 1983 introduziram o termo índice de combinação
[combination index (CI)] para quantificar o sinergismo, antagonismo ou ação aditiva
entre dois fármacos (CHOU, 2006). Através de uma fórmula criada por eles, CI < 1
indica sinergismo, CI = 1 indica ação aditiva e CI > 1 indica antagonismo (CHOU,
2006). Curvas de resposta dose-dependentes são criadas para cada fármaco utilizado
isoladamente e depois utilizadas para gerar curvas iso-efeitos, também conhecidas
como isobologramas (CHOU, 2006). Os valores dos CI entre os fármacos nas três
119
linhagens analisadas e seus isobologramas podem ser visualizados no Quadro 12 e
Figura 35, respectivamente.
Na linhagem DD1, a AZA e SAHA combinadas com a Doxorrubicina
mostraram sinergismo quando as drogas foram utilizadas com doses que inibem 90%
(IC90) e 97% (IC97) da proliferação celular, enquanto que quando foram usadas
doses que inibem 50% (IC50) e 75% (IC75) um efeito antagônico foi notado. Na
linhagem LISS-HSA, a combinação de AZA com a Doxorrubicina mostrou
sinergismo quando as drogas foram utilizadas com doses que inibem 75% (IC75),
90% (IC90) e 97% (IC97) da proliferação celular. Já quando as doses combinadas
inibiram 50% (IC50) da proliferação da linhagem celular LISS-HSA foi notado um
efeito de antagonismo. A combinação entre SAHA e Doxorrubicina nessa mesma
linhagem não evidenciou sinergismo em nenhuma das doses testadas e mostrou um
efeito de antagonismo entre as combinações. Na linhagem FROG, a combinação de
AZA com a Doxorrubicina mostrou sinergismo quando as drogas foram utilizadas
com doses que inibem 75% (IC75) e 97% (IC97). Já para a combinação de SAHA
com Doxorrubicina o sinergismo foi notado com doses que inibem 90% (IC90) e 97%
(IC97) da proliferação celular. Doses de AZA com a Doxorrubicina que inibem 50%
(IC50) e 90% (IC90) da proliferação celular e de SAHA com Doxorrubicina que
inibem 50% (IC50) e 75% (IC75) mostraram um efeito antagônico.
120
Quadro 12: Valores dos índices de combinação (CI) obtidos após tratamento com Doxorrubicina e 5-Azacitidina e Doxorrubicina e SAHA nas linhagens de hemangiossarcoma LISS-HSA, FROG e DD1. Valores de CI menores que 1 indicam sinergismo.
121
Figura 35: Isobologramas criados com o software Compusyn® mostrando relação entre a combinação de Doxorrubicina com 5-Azacitidina ou SAHA nas linhagens de hemangiossarcoma canino LISS-HSA (A), FROG (B) e DD1 (C).
122
4.5.7 Quantificação da metilação global do DNA
A combinação entre as doses mais altas testadas de AZA com a Doxorrubicina
em linhagens de HSA canino teve uma ação sinérgica, potencializando a ação
citotóxica de ambos os fármacos e consequentemente levando a uma diminuição
importante da viabilidade celular. A nossa hipótese é que a combinação entre essas
drogas leve a uma alteração da metilação global aumentando a citotoxicidade nas
linhagens de HSA canino estudadas. Realizou-se a quantificação da metilação global
de DNA em células de HSA canino, expressa como porcentagem (%) de 5-metil-2’-
desoxicitidina (5-metil-dC), utilizando o método HPLC antes e após o tratamento com
Doxorrubicina e AZA. O sistema analítico do HPLC não conseguiu quantificar a
metilação global devido ausência de DNA suficiente nas amostras analisadas.
Possivelmente grande parte das células não estava viável após o tratamento não
existindo material suficiente para a extração do DNA.
123
5 DISCUSSÃO
Atualmente existe um número limitado de linhagens de HSA canino e
angiossarcoma humano disponíveis para estudos. Na medicina veterinária, as
linhagens DEN-HSA, DD1, Dal-4, CHAD-G4.1, CHAD-G6.4, CHAD-B7.4, CHAD-
G8.2, CHAD-P9.5, MOCHA-HSA, FROG-HSA, SB-HSA e EMMA estão descritas
na literatura (FOSMIRE et al., 2004; THAMM et al, 2006; LAMERATO-KOZICKI
et al, 2006; GORDEN et al, 2014; AKHTAR et al, 2004). Já na literatura humana,
apenas as linhagens AS-M, ISO-HAS, HAEND e HAMON são mencionadas
(MASUZAWA et al, 1999; HOOVER et al, 1993; HOSHINA et al, 2013; KRUMP-
KONVALINKOVA et al, 2003). No presente estudo, estabeleceu-se uma linhagem
celular derivada de um HSA canino metastático para mesentério que foi designada
como LISS-HSA. A partir da imunorreatividade positiva dessa linhagem para CD31 e
fator von Willebrand, marcadores endoteliais específicos, e também pela detecção dos
corpúsculos de Weidel-Palade através da microscopia eletrônica de transmissão, que
são estruturas que armazenam a proteína de von Willebrand, confirmou-se a origem
endotelial dessas células (GALLAGHER, 1997; VALENTIJN et al, 2008; VON
BEUST et al., 1988; FERRER et al., 1995). Acrescidos a esses marcadores
imunocitoquímicos mencionados anteriormente, também foi notada a
imunorreatividade por CD117. Isso comprova que a linhagem LISS-HSA é derivada
de células endoteliais primitivas e indiferenciadas, já que formações provenientes de
células endoteliais maduras e diferenciadas, tais como hematomas e hemangiomas,
não expressam CD117 (MIETTINEN et al., 2000; FOSMIRE et al., 2004). Como uma
segunda parte da caracterização celular, foi realizada através da citometria de fluxo, o
estudo de ploidia e ciclo celular pela incorporação do iodeto de propídeo. Verificou-se
que a linhagem estabelecida era constituída de células hiperdiploides, demonstrando
um desequilíbrio no conteúdo do DNA nuclear, alteração já descrita como essencial
para a transformação maligna em diversos tipos de câncer (CORNELISSE et al, 1994;
GIARETTI et al, 2012). O processo de divisão celular desregulado está associado
com a carcinogênese (MUSGROVE et al, 2011; MOLCHADSKY et al, 2009). Em
tecidos normais e em tumores de baixo grau, aproximadamente 85% das células
encontram-se nas fases G0/G1 do ciclo celular e somente 15% das células estão
124
distribuídas na fase S (síntese do DNA) (FLEISIG; WONG, 2012). Na linhagem
LISS-HSA, notou-se um predomínio da distribuição das células na fase S do ciclo
celular. O comportamento agressivo do HSA canino e também as similaridades que
possui com o angiossarcoma humano faz com que o desenvolvimento de linhagens
oriundas de HSAs caninos seja de extrema importância para uma maior compreensão
da biologia celular e também para o avanço das terapias que tenham as células
endoteliais como alvo.
Nos últimos 20 anos as terapias sistêmicas disponíveis para o HSA canino não
evoluíram muito (GARDNER et al., 2015), sendo que mesmo realizando uma terapia
local agressiva seguida de quimioterapia adjuvante menos de 16% dos cães
sobrevivem 1 ano após o diagnóstico (SPANGLER; CULBERSTON, 1992;
SPANGLER; KASS, 1997; BROWN et al., 1985; PRYMAK et al., 1988; WOOD et
al., 1998; MOORE et al., 2017). Desta maneira, faz-se necessária a investigação de
novos medicamentos antineoplásicos. A metilação do DNA e a acetilação de histonas
são mecanismos epigenéticos primordiais que regulam a transcrição gênica
(BIANCOTTO et al, 2010; BENDER et al, 1998). Os inibidores de HD modulam a
estrutura da cromatina através da hiperacetilação de histonas afetando a transcrição de
genes supressores tumorais, enquanto que os inibidores de metiltransferase exercem
uma atividade de hipometilação das ilhas CpG que consequentemente leva a
desmetilação de genes supressores tumorais (BIANCOTTO et al, 2010; BENDER et
al, 1998; DUVIC, 2007; STRESEMANN; LYKO, 2008).
No estudo aqui relatado, os efeitos in vitro do antineoplásico inibidor de
metiltransferase, AZA, e o inibidor de HD, SAHA foram analisados em quatro
linhagens de HSA canino. Além disso, também foram analisados os efeitos
citotóxicos dessas medicações quando associadas à Doxorrubicina, um dos
quimioterápicos de eleição para o tratamento de HSA canino e angiossarcoma
humano (PENEL et al., 2011; PENEL et al., 2008; HAMMER et al., 1991; PAYNE et
al, 2003).
As dosagens iniciais utilizadas de AZA, SAHA e Doxorrubicina foram
escolhidas baseado no fato de que concentrações teciduais maiores que 10 µM
normalmente não são atingidas in vivo e também a partir de publicações relatando a
atividade desses agentes em diversas linhagens celulares neoplásicas humanas e
caninas (GRABARSKA et al, 2017; KISSEBERTH et al, 2008; MURAHARI et al,
125
2017; SRIVASTAVA et al, 2014; JIANG et al, 2014; PUNTA et al, 2017; MOTEGI
et al, 2013). O efeito de AZA, SAHA e Doxorrubicina nas linhagens de HSA canino
foi semelhante aos efeitos encontrados em linhagens de células neoplásicas humanas e
algumas caninas, no qual baixos valores de IC50 (em micromolar) foram encontrados
(GRABARSKA et al, 2017; KISSEBERTH et al, 2008; MURAHARI et al, 2017;
SRIVASTAVA et al, 2014; JIANG et al, 2014; PUNTA et al, 2017; MOTEGI et al,
2013). A partir da determinação do IC50, verificamos que a linhagem LISS-HSA
apresentou os menores valores para todas as drogas testadas, indicando ser a mais
sensível, enquanto que os maiores valores foram encontrados na linhagem DD1,
mostrando ser a mais resistente. Esses dados evidenciam a necessidade da utilização
de mais de uma linhagem celular para a comprovação dos efeitos das medicações
testadas, assim demonstrando a heterogeneidade presente nas diversas linhagens
celulares analisadas.
Evidenciou-se uma inibição no crescimento e viabilidade celular de maneira
dose-dependente quando as linhagens FROG, LISS-HSA e DD1 foram tratadas com
AZA, SAHA e Doxorrubicina isoladamente, com exceção de SAHA na linhagem
celular EMMA, confirmando a eficácia in vitro desses compostos na maioria das
linhagens de HSA canino. Assim como notado na linhagem celular EMMA, o estudo
de Kisseberth et al. (2008), mostrou que uma outra linhagem celular canina de
hemangiossarcoma (SB-HSA) também não respondeu ao tratamento com SAHA em
relação ao tratamento controle, mostrando ser mais resistente à essa terapia quando
comparada às linhagens DD1, FROG e LISS-HSA. Um fato interessante é que baixas
doses de AZA (< 1 µM) nas 4 linhagens aqui analisadas aparentaram causar um
aumento da viabilidade celular em relação ao controle. Esse resultado pode ser
explicado pelo efeito hormese (CALABRESE, 2005). O efeito hormese é
caracterizado por uma estimulação da proliferação celular variando em torno de 30-
60% acima do controle (CALABRESE, 2008). Esse efeito já foi documentado em 138
linhagens celulares dos mais diversos tipos de câncer induzido por mais de 120
agentes antineoplásicos (CALABRESE, 2005). É de extrema importância conseguir
detectar esse efeito, já que doses baixas subletais poderiam potencializar o tumor em
pacientes.
A indução de quimiorresistência em um tumor representa umas das principais
causas de insucesso no tratamento contra o câncer. Sabe-se que alterações
126
epigenéticas que levam ao silenciamento de genes supressores tumorais, tais como a
metilacão do DNA e o remodelamento da cromatina, estão implicadas como um dos
fatores de indução de resistência à quimioterápicos convencionais em tumores sólidos
(PLUMB et al., 2000). Diversos estudos mostram que a associação entre um inibidor
de HD ou inibidor de metiltransferase com agentes que tem ação específica no DNA,
tais como inibidores de topoisomerases (Doxorrubicina), agentes alquilantes
(Cisplatina) e antimetabólitos (5-Fluoracil), pode levar a um efeito sinérgico através
da diminuição da quimiorresistência em diversos tipos de linhagens celulares
(STIBOROVA e al., 2012). Através da ação sinérgica entre fármacos muitas vezes
pode-se manter a mesma eficácia dos medicamentos, porém utilizando uma dose
reduzida e consequentemente diminuindo sua toxicidade no paciente (THAMM et al,
2012). Além disso, mesmo sem a diminuição das doses dos agentes antineoplásicos
pode ocorrer um aumento do efeito terapêutico devido a utilização de fármacos que
tenham diferentes mecanismos de ação e de resistência (THAMM et al, 2012; CHOU,
2006). Após a confirmação do efeito citotóxico dos agentes antineoplásicos utilizados
isoladamente nas linhagens celulares de HSA canino, foram realizados ensaios de
combinação entre a AZA e SAHA com a Doxorrubicina para explorar potenciais
efeitos de sinergismo na viabilidade celular das linhagens estudadas. A combinação
entre as doses (Quadro 8) mais altas testadas de AZA ou SAHA com a Doxorrubicina
em linhagens de HSA canino teve uma ação sinérgica, potencializando a ação
citotóxica de ambos os fármacos e consequentemente levando a uma diminuição
importante da viabilidade celular. Estudos mostram que o efeito sinérgico entre esses
antineoplásicos pode ocorrer devido alterações na estrutura da cromatina, ativação de
apoptose, desorganização da membrana mitocondrial e inibição de mecanismos de
reparo (VALDEZ et al, 2011; VALDEZ et al, 2016).
Em contrapartida, quando doses mais baixas (Quadro 8) de AZA e SAHA
associadas à Doxorrubicina foram utilizadas foi notada uma menor eficácia e até
presença de antagonismo. Demonstrou-se que inibidores de HD podem causar uma
super expressão de genes das superfamílias de transportadores, tais como o MDR1,
levando a expulsão de fármacos através de bombas de efluxo após penetração em
membrana plasmática (VALDEZ et al, 2016). Como o gene MDR1 é sabidamente
conhecido por catalisar a extrusão de antineoplásicos classificados como
antraciclinas, grupo no qual a Doxorrubicina pertence, especula-se que esse seja o
mecanismo relacionado com o antagonismo encontrado nas linhagens de HSA canino
127
tratadas com SAHA e Doxorrubicina (VALDEZ et al, 2016). Em um estudo mais
antigo utilizando uma linhagem celular humana de leucemia, averiguou-se que
dependendo do momento em que a combinação entre Doxorrubicina e AZA é
instituida tanto resultados positivos quanto negativos podem ser detectados
(PRESANT et al, 1981). Present et al. (1981) mostrou que quando a Doxorrubicina
foi administrada simultaneamente com a AZA houve um efeito antagônico, mas
quando a Doxorrubicina foi administrada separadamente com um intervalo de horas
com a AZA houve um efeito aditivo. O tratamento simultâneo com baixas doses de
AZA e Doxorrubicina nas linhagens de HSA canino pode ter influenciado e
prejudicado a absorção de um ou dos dois fármacos, podendo assim ter contribuído
com o antagonismo nessas células. Assim como mencionado anteriormente, o efeito
hormese também poder ter desempenhado um papel significativo no antagonismo
encontrado (CALABRESE, 2005). Os resultados acima mencionados revelam a
importância de uma melhor compreensão das interações medicamentosas entre
terapias epigenéticas e quimioterápicos convencionais.
Em síntese, a análise in vitro de AZA, SAHA e Doxorrubicina em linhagens
de HSA canino justifica que as terapias epigenéticas em conjunto com
quimioterápicos convencionais continuem sendo investigadas e podendo futuramente
ser consideradas em cães que desenvolvem naturalmente o HSA e consequentemente
contribuindo com informações fundamentais para estudos clínicos em humanos.
Perspectivas futuras desse estudo incluem uma melhor verificação dos possíveis
mecanismos pelos quais ocorre o sinergismo ou antagonismo com a combinação de
Doxorrubicina com SAHA ou AZA. Faz-se necessária a determinação da acetilação e
metilação global após exposição das linhagens de HSA canino aos fármacos
antineoplásicos de interesse.
128
6 CONCLUSÃO
A partir das informações discutidas acima, conclui-se que:
1) Estabeleceu-se uma linhagem primária de HSA canino a partir de uma metástase
para mesentério, contribuindo com estudos posteriores que desejem compreender
melhor a biologia desse tipo tumoral.
2) As linhagens celulares de HSA canino possuem sensibilidades diferentes às
terapias aplicadas in vitro. A DD1 foi considerada a mais resistente e a LISS-HSA a
mais sensível demonstrando a heterogeneidade presente nas linhagens celulares.
3) Houve uma diminuição da viabilidade celular quando os fármacos AZA, SAHA e
Doxorrubicina foram utilizados isoladamente nas linhagens de HSA canino,
comprovando a eficácia in vitro desses compostos.
4) Os ensaios de combinação entre a AZA e SAHA utilizadas com altas dosagens
com a Doxorrubicina induziram um efeito sinérgico e potencializaram a destruição de
células de HSA justificando mais estudos futuros para que novas terapias sejam
exploradas nesse tipo neoplásico.
5) O antagonismo foi verificado quando dosagens baixas de AZA e SAHA associadas
à Doxorrubicina foram utilizadas nas linhagens de HSA canino, mostrando a
necessidade de maior investigação e descoberta dos mecanismos envolvidos com as
interações medicamentosas entre terapias epigenéticas e quimioterápicos
convencionais.
129
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8 CONCLUSÕES GERAIS Diante dos resultados expostos nos capítulos anteriores podemos concluir que:
• Apesar dos demais esforços, o prognóstico de cães diagnosticados com HSA
visceral continua ruim. Cães diagnosticados com HSA esplênico apresentaram
prognóstico discretamente melhor do que cães com HSAs localizados em outros
sítios primários. O uso de Doxorrubicina aumentou a sobrevida dos pacientes
estudados.
• Os HSAs de baço e pele em cães apresentaram hipometilação global do DNA.
Nos HSAs de derme, esse padrão de hipometilação foi associado com um maior
índice de proliferação.
• Estabelecemos e caracterizamos com sucesso uma cultura primária de HSA
canino denominada de LISS-HSA. A partir da imunorreatividade positiva para
fator von Willebrand e CD31 somada à avaliação ultraestrutural com detecção
de corpúsculos de Weidel-Palade, comprovamos que as células em cultivo eram
de fato células endoteliais. A análise do ciclo e ploidia celular revelaram que as
células tumorais estavam na fase S do ciclo e que eram predominantemente
hiperdiploides. Comprovamos também, através de marcação imunoistoquímica
por CD117, que LISS-HSA é derivada de células endoteliais primitivas e
indiferenciadas.
• As linhagens de HSA canino estudadas: LISS-HSA, FROG, DD1 e EMMA
possuem sensibilidades diferentes às terapias aplicadas in vitro. A DD1 foi
considerada a mais resistente enquanto que a LISS-HSA foi a mais sensível.
Confirmou-se a eficácia in vitro dos compostos antineoplásicos AZA, SAHA e
Doxorrubicina em cultura celular de HSA canino. O uso de altas dosagens de
SAHA ou AZA concomitantemente com a Doxorrubicina induziu um efeito
sinérgico, enquanto que baixas doses promoveram um efeito antagônico nas
linhagens de HSA canino estudadas.