jornal notícias do vale. arquivo de memória do vale do coa

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(pág. 2) NOTÍCIAS DO VALE Arquivo de Memória do Vale do Coa Nº 1 . MAI 2013 . Promotor: ACOA. Associação dos Amigos do Parque e Museu do Coa através do Clube UNESCO Entre Gerações . Gestão edi- torial: Setepés . Design: GSA Design . Este jornal é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico . Recolher as tradições orais, modos de falar, cantigas e contos, fábulas e lendas, digitalizar fotografias, postais, cartas e outras memórias das gentes do Vale do Coa é o propósito dos eventos Memória em Festa que vai percorrer, entre junho e setembro deste ano, seis localidades da- quela região do Vale do Coa: Cidadelhe, Quintã de Pêro Martins, Muxagata, Car- danha, Mazouco e S. Pedro de Rio Seco (ver programa e calendário na página 4). Memória em Festa é uma atividade do “Clube UNESCO Entre Gerações”, di- namizado pela ACOA – Associação de Amigos do Parque e Museu do Coa com o propósito de diminuir o isolamento dos idosos, através do estreitamento das relações entre os diferentes grupos etá- rios, tendo como principal meio de ação o projeto projecto Arquivo de Memória. Dando continuidade ao trabalho de re- colha de memórias iniciado em 2011 em Vila Nova de Foz Côa, num projecto-pi- loto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, o “Arquivo de Memória do Vale do Coa” prosseguirá o seu trabalho Goste de nós no facebook www.facebook.com/arquivodememoria COSCORAIS, FILÕES E UM ABADE SEM CABEÇA, Assim se faz um arquivo de memórias p. 3 e 4 GRANDE ENTREVISTA p. 2 Arquivo de Memória do Vale do Côa de registo da História e conservação de documentos nos eventos “Memória em Festa” a realizar entre junho e setembro deste ano. Aos sábados e domingos os eventos “Memória em Festa” vão estar naquelas aldeias para entrevistar pes- soas e digitalizar arquivos pessoais (fo- tografias, postais, cartas, etc.) para que as memórias das comunidades do Vale do Coa não se percam na erosão do tem- po. As gerações atuais e vindouras agra- decem a participação de todos. Sem a sua participação as memórias do Vale do Coa podem ficar perdidas para sempre. Contribua com as suas memó- rias e nos eventos Memória em Festa e permita que ajudemos a conservar de forma mais adequada as suas antigas fotografias, cartas, postais, para que se mantenham por muitos anos! Créditos: Foto gentilmente cedida pelo Arquivo familiar de Maria Helena Correia, primeira década do séc. XX, Pocinho. MEMÓRIA EM FESTA A memória é um património valioso

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Edição de divulgação do projeto Arquivo de Memória do Vale do Coa. Eventos: Memória em Festa e Seminários Imaterialidades.

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Page 1: Jornal Notícias do Vale. Arquivo de Memória do Vale do Coa

(pág. 2)

NOTÍCIAS DO VALE

Arquivo de Memória do Vale do Coa

Nº 1 . MAI 2013 . Promotor: ACOA. Associação dos Amigos do Parque e Museu do Coa através do Clube UNESCO Entre Gerações . Gestão edi-torial: Setepés . Design: GSA Design . Este jornal é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico .

Recolher as tradições orais, modos de falar, cantigas e contos, fábulas e lendas, digitalizar fotografias, postais, cartas e outras memórias das gentes do Vale do Coa é o propósito dos eventos Memória em Festa que vai percorrer, entre junho e setembro deste ano, seis localidades da-quela região do Vale do Coa: Cidadelhe, Quintã de Pêro Martins, Muxagata, Car-danha, Mazouco e S. Pedro de Rio Seco (ver programa e calendário na página 4).

Memória em Festa é uma atividade do “Clube UNESCO Entre Gerações”, di-

namizado pela ACOA – Associação de Amigos do Parque e Museu do Coa com o propósito de diminuir o isolamento dos idosos, através do estreitamento das relações entre os diferentes grupos etá-rios, tendo como principal meio de ação o projeto projecto Arquivo de Memória.

Dando continuidade ao trabalho de re-colha de memórias iniciado em 2011 em Vila Nova de Foz Côa, num projecto-pi-loto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, o “Arquivo de Memória do Vale do Coa” prosseguirá o seu trabalho

Goste de nós no facebookwww.facebook.com/arquivodememoria

COSCORAIS, FILÕES E UM ABADE SEM CABEÇA, Assim se faz um arquivo de memórias

p. 3 e 4

GRANDE ENTREVISTA p. 2

Arquivo de Memória do Vale do Côa

de registo da História e conservação de documentos nos eventos “Memória em Festa” a realizar entre junho e setembro deste ano. Aos sábados e domingos os eventos “Memória em Festa” vão estar naquelas aldeias para entrevistar pes-soas e digitalizar arquivos pessoais (fo-tografias, postais, cartas, etc.) para que as memórias das comunidades do Vale do Coa não se percam na erosão do tem-po. As gerações atuais e vindouras agra-decem a participação de todos.

Sem a sua participação as memórias do Vale do Coa podem ficar perdidas para sempre. Contribua com as suas memó-rias e nos eventos Memória em Festa e permita que ajudemos a conservar de forma mais adequada as suas antigas fotografias, cartas, postais, para que se mantenham por muitos anos!

Créditos: Foto gentilmente cedida pelo Arquivo familiar de Maria Helena Correia, primeira década do séc. XX, Pocinho.

MEMÓRIA EM FESTAA memória é um património valioso

Page 2: Jornal Notícias do Vale. Arquivo de Memória do Vale do Coa

2 NOTÍCIAS DO VALE

Arranca no próximo dia 1 de Junho em Cidadelhe, Pinhel, mais uma ativi-dade do “Arquivo de Memória do Vale do Coa” com o nome sugestivo de “Memória em Festa”. São seis eventos, a decorrer entre junho e setembro, em Cidadelhe (Pinhel), Quintã de Pêro Martins (Figueira de Castelo Rodri-go), Muxagata (Vila Nova de Foz Coa), Rio Seco (Almeida), Mazouco (Freixo de Espada à Cinta) e Cardanha (Torre de Moncorvo) e, como o nome indica, são eventos de recolha de memórias das gentes daquelas localidades.

NOTÍCIAS DO VALE foi ouvir a equipa que dinamizou o “Arquivo de Memória do Vale do Coa” no seu ano de arranque, 2010/11: Alexandra Cerveira Lima (ACL), Bárbara Carvalho (BC), Inês Melhorado (IM), Ma-falda Nicolau de Almeida (MNA), Maria Sottomayor (MS) e Ondina Monteiro (OM).

NV. Vamos começar por si, Alexandra, até porque a ideia deste projeto é da sua autoria: o que é um Arquivo de Memória e qual a sua importância? ACL. É a principal atividade do “Clube UNESCO Entre Gerações”, projeto promo-vido pela ACOA — Associação de Amigos do Parque e Museu do Coa. A ideia nasceu com um propósito: contribuir, de alguma forma, para que o isolamento dos utentes dos lares fosse amenizado. Pensámos que o ideal seria levar as crianças, os adoles-centes e os jovens adultos até aos lares. E nasceu a ideia de se criar um arquivo conjunto. Um grande arquivo de memória que ajudasse a construir conhecimento. No fundo, fazermos em conjunto a Histó-ria recente da região. Devo dizer que para o afinar desta ideia contribuiu em muito um conjunto de conversas com o diretor do Arquivo Nacional, Silvestre Lacerda, que nos alertou para a relevância de se conservar e digitalizar os pequenos arqui-vos familiares desta região raiana.

NV. E o que há para arquivar no Vale do Coa, Bárbara?BC. Acima de tudo, queremos arquivar memórias, as memórias de pessoas que

ABRIR A CAIXA DE RECORDAÇÕES PARA AJUDAR A FAZER A HISTÓRIA DO VALE DO COA

têm uma história de vida ligada a um território que é o Vale do Coa, dos que o vivem e o viram transformar ao longo do tempo. Queremos que as pessoas recor-dem e partilhem connosco as suas vivên-cias. Como era no passado o seu dia-a-dia; como trabalhavam; o que comiam; como passavam os serões; como eram vividos os momentos de brincadeira e de cele-bração. Paralelamente e associado a este trabalho de recolha de memórias, existe um manancial de material documental também ele portador de memórias e de

histórias que podemos arquivar. Estamos sobretudo a falar dos arquivos familiares, contendo fotografias e documentos as-sociados à vida de uma pessoa ou ao seu ofício, que são essenciais no processo de consolidação das informações recolhidas. Muitas das vezes, o facto de abrirmos a ga-veta ou a “caixinha das recordações” per-mite materializar lembranças, trazendo o passado ao presente.

NV. Voltando à sua resposta, Alexandra, e para compreendermos melhor todo o projeto diga-nos porque surgiu o Clube UNESCO Entre Gerações?ACL. Ao definirmos, em conjunto, os principais propósitos da ACOA, ficou claro que um deles seria contribuir para aproximar a Cultura das pessoas, o que significa também aproximar as pessoas do seu património. Ora a arte rupestre do Vale do Coa foi inscrita pela UNES-CO na lista do Património Mundial e pensámos que seria muito interessante para este propósito alicercar na região o espírito UNESCO, na sua vertente mais humanista e social. A criação de um Clube UNESCO, em torno do qual a ACOA possa estabelecer parcerias e pro-tocolos com diversas entidades para o desenvolvimento do projeto Arquivo de Memória, e talvez outros projetos futu-ros, pareceu-nos um caminho a trilhar. Em contacto com a Comissão Nacional da UNESCO verificámos que também seria interessante para a Comissão a fundação deste Clube. E assim nasceu o protocolo entre a ACOA e a Comissão Nacional da UNESCO, o Clube UNESCO Entre Gerações, que tomou o nome do Programa da Fundação Calouste Gul-

benkian que nos apoiou na criação do projeto-piloto do Arquivo de Memória em Vila Nova de Foz Coa.

NV. A Mafalda Nicolau de Almeida in-tegrou a direção da ACOA – Associação de Amigos do Parque e Museu do Coa, promotora deste projeto. Como é que este projeto em concreto contribuiu para a concretização dos objetivos da ACOA?MNA. A ACOA tem como missão, e cito, proteger e valorizar o património do Vale do Coa nas suas diferentes dimensões culturais e na-turais; dinamizar e promover o Museu do Coa enquanto plataforma cultural; incrementar o conhecimento, a investigação e a criativida-de, estimulando a colaboração com parceiros nacionais e internacionais; fomentar a preser-vação e o ordenamento do território do Parque Arqueológico do Vale do Coa, desenvolvendo e promovendo a região do Coa e a qualidade de vida das suas populações. O projeto Arquivo de Memória do Vale do Coa é de tal forma abrangente que abarca a missão da ACOA quase na sua totalidade.

NV. A Maria colaborou na organização destas atividades, desde a fase de reco-lha até à fase da criação do arquivo. Para já fale-nos como foi o seu trabalho em Foz Coa de organização da recolha.

MS. Há uma série de coisas a “organizar” antes e depois de qualquer recolha. An-tes do mais, há que decidir quem se vai entrevistar, onde, como e porquê. Esse processo foi conduzido maioritariamen-te pela Inês Melhorado. Eu acompanhei--a em grande parte das entrevistas para dar apoio na recolha de imagem. Depois há a fase de organização pós-recolha que tem como objetivo final a inserção na base de dados de tudo aquilo que foi recolhido, processo que está a ser reali-zado pela Bárbara Carvalho. Entretanto pelo meio surgem infinitas possibili-dades de trabalho e questões. O que fa-zer com todos estes conteúdos? Como recriá-los e torná-los parte do presente? Foi isto que tentei trabalhar com os alu-nos no 3º período, a noção de que as me-mórias representam muito mais do que uma evocação nostálgica do passado.

NV. Bárbara, ao longo deste dois anos têm colaborado no projeto Arquivo da

Memória muitas entidades, desde Esco-las a Centros de Dia. Quer falar-nos des-ta colaboração? BC. Quando iniciámos o projeto em 2010, um dos principais vetores de desenvolvi-mento do mesmo focou-se na aproxima-ção e contacto de várias gerações, sobretu-do entre as mais novas, de idade escolar, e as mais velhas que se encontram inseri-das em instituições de solidariedade so-cial. Para atingirmos este objetivo foi ne-cessário criar uma rede de parcerias local essencial para a concretização das ações previstas no projeto. Desde a autarquia lo-cal, à Santa Casa da Misericórdia, à Escola Secundária de V. N. de Foz Coa, à Fundação Coa Parque, ao Arquivo Nacional Torre do Tombo até à Comissão Nacional da UNES-CO, quer através de um apoio mais institu-cional, quer através de um apoio logístico e humano, foi o envolvimento empenha-do destas entidades que permitiu levar a bom porto o projeto-piloto. Após a sua conclusão, o projeto disseminou-se em Figueira de Castelo Rodrigo possibilitan-do, durante 3 meses de forma sistemática, o alargamento desta rede às instituições aí sediadas e a alguns centros de dia das freguesias deste concelho. Presentemen-te, ao ambicionarmos chegar a todos os concelhos do Vale do Coa, e tendo como ação de fundo a construção de um banco de dados de memórias da região, esta rede terá que, obrigatoriamente, ser ampliada a vários outros parceiros regionais, nacio-nais e internacionais.

NV. O Arquivo de Memória do Vale do Coa vai iniciar uma nova etapa com ati-vidades de recolha em várias localidades a partir de junho. Fale-nos, Alexandra, dessas atividades que estão previstas e onde se vão realizar.ACL. Candidatámos o alargamento do projeto Arquivo de Memória ao conjun-to do Vale do Coa ao PROVERE do Coa. É nosso propósito criar uma dinâmica ex-pressiva no território, redes, atuações, recolhas de testemunhos, atividades in-tergeracionais, e poder comunicar para o exterior este projeto. Pensamos que vive-rá sobretudo desta estreita relação, mes-mo interdependência, entre residentes e visitantes, entre moradores e turistas, en-tre pessoas que procuram o território cá e quem o vive à distância.

NV. Já agora, como é que as pessoas des-sas localidades falou podem participar? Vai haver inscrições?ACL. De várias formas. Mas de momen-to interessa dar conta que iremos estar nestas aldeias sobretudo para mostrar o projeto, para ajudar a acondicionar pequenos espólios pessoais (quem não tem uma fotografia antiga que gosta-ria de ver melhor acondicionada para poder durar mais tempo?...) e para re-colhermos alguns dos testemunhos ri-quíssimos que as pessoas guardam so-bre as suas aldeias, as suas casas, a vida das últimas décadas, mudanças muito significativas, aspetos que permane-cem. Para cada aldeia foi definido um fim-de-semana e um local (ver progra-ma na página 4). Durante todo esse fim de semana as pessoas podem aparecer para conversar connosco e aí faremos as recolhas por meio de vídeo e da digi-talização de documentos.

Page 3: Jornal Notícias do Vale. Arquivo de Memória do Vale do Coa

3NOTÍCIAS DO VALE

Figueira de Castelo Rodrigo. Conhecer as próprias freguesias onde os lares es-tão inseridos, a sua cultura, as tradições, os usos e costumes de cada uma. Tam-bém tive a oportunidade de conhecer se-res humanos extraordinários que apesar

das peripécias da vida, com realidades muito diferentes da atualidade, conti-nuam a recordar a sua vida passada com um sorriso que enche a alma a qualquer pessoa que esteja com eles a fazer as entrevistas. É muito satisfatório saber que apesar de estar a fazer as entrevistas (que era o meu trabalho), também, esta-va a contribuir para um dia diferente de cada idoso e estava a criar laços de ami-zade duradouros.

NV. Para além das entrevistas de que nos falou, diga-nos, Inês, o que podem trazer as pessoas que quiserem partici-par nas iniciativas de recolha de memó-rias que vão ser retomadas em força nos próximos meses?IM. As pessoas podem trazer documentos escritos, desenhos, fotografias, diplomas, documentos que tiveram utilizações limi-tadas no tempo, cartas e até outros obje-tos que contem uma história. Acima de tudo que tragam boa disposição!

NV. A Bárbara tem neste momento a seu cargo a plataforma digital do arquivo. Para que serve a plataforma e para quan-do está previsto a consulta pelo público? BC. Não basta entrevistar e recolher in-

NV. Uma das técnicas usadas pela equipa na recolha das memórias é a entrevista. Conte-nos, Inês, qual é a sua abordagem nestas entrevistas? Qualquer pessoa pode ser entrevistada? IM. Neste projeto, privilegiamos o méto-do qualitativo, utilizando as histórias de vida como mecanismo de investigação e utilizando como técnica de recolha de informação a entrevista (semi-dirigida) com uso de guião. Foram realizadas en-trevistas a uma pessoa num dado mo-mento e outras efetuadas junto da mes-

ma pessoa em momentos diferentes. A recolha de informação pode estar relacio-nada com o presente ou realizando uma retrospetiva ao passado, falando sobre as suas experiências e memórias (conjunto de saberes, conhecimentos, aconteci-mentos concretos, as suas práticas e os seus sentidos, representações, tradições, expressões, aptidões, …) aquilo que no fundo constitui a sua identidade (local, individual e coletiva) e o seu património.

NV. Ondina, as suas entrevistas decor-reram de uma forma um pouco diferen-te em Figueira de Castelo Rodrigo, ao longo do seu estágio no Parque Natural do Douro Internacional. Quer-nos falar dessa experiência? OM. Foram feitas em lares da terceira idade. A experiência foi ótima, tanto a nível pessoal como profissional. Tive a oportunidade de conhecer a realidade local de cada freguesia do concelho de

COSCORAIS, FILÕES E UM ABADE SEM CABEÇAAssim se faz um arquivo de memórias

São já algumas dezenas de horas de entrevistas a par de algumas cente-nas de documentos digitalizados que o Arquivo de Memória do Vale do Coa tem em acervo para tratamento e pos-terior disponibilização na plataforma criada para o efeito. Antecipando esse momento disponibilizamos nes-ta edição alguns excertos de entrevis-tas conduzidas em 2011 nas localida-de de Orgal e Vila Nova de Foz Coa.

formação, é preciso organizá-la para que possa ser disponibilizada às pessoas e a futuros investigadores. Queremos que o Arquivo de Memória do Vale do Coa se torne num arquivo vivo. Para isso, esta-mos neste momento a sistematizar toda a informação numa base de dados rela-cional que permite trabalhar o conjunto de dados que resulta das entrevistas. Será sobre esta base que posteriormente se criará uma plataforma digital disponível na web, onde todos os interessados pode-rão consultar conteúdos desenvolvidos no âmbito do projeto. Esta plataforma servirá, por um lado, para disponibilizar a informação recolhida e tratada, por ou-tro, esperamos que se torne num canal de comunicação e sobretudo num meio de divulgação eficaz deste projeto, permitin-do levá-lo a todos aqueles que queiram contribuir com informações, documen-tos, publicações ou estudos e que chegue aqueles que, não estando hoje a viver no Vale do Coa, possam estar mais perto das suas origens e contribuírem para a construção deste arquivo. A plataforma encontra-se neste momento em constru-ção, ainda temos um longo trabalho pela frente mas queremos que esteja disponí-vel no final deste ano de 2013.

NV. Uma pergunta para si, Mafalda: fale--nos da sua visão do impacto do projeto no Vale do Coa daqui a cinco anos, em 2018. Não falta muito é pouco depois de amanhã.MNA. Um Vale do Coa com um patrimó-nio de valor indiscutível, a arte do Coa, que foi capaz de se renovar e perpetuar o espírito da criatividade humana. Um Vale do Coa capaz de gerar conteúdos passíveis de serem reinterpretados, reu-tilizados através de diferentes perspeti-vas. Um Vale do Coa que conserva e pro-tege o património mas sendo ao mesmo tempo capaz de inovar e utilizar o patri-mónio como uma forma de integração social. Um Vale do Coa mais humano, dinâmico e criativo.

NV. Estamos a chegar ao fim. Alexan-dra: qual o balanço que faz do Arquivo de Memória do Vale do Coa e o que es-pera para as novas atividades, nomea-damente os eventos Memória em Festa que se iniciam já no próximo dia 1 de Ju-nho em Cidadelhe?O projeto-piloto correu muito bem, nes-te momento estamos já numa nova fase e a planear os próximos anos. Queremos ter um website que possa mostrar com vigor os resultados do projeto. E que seja dinâmico. Ativo. E queremos mostrar à comunidade científica que há manancial de informação interessante para pode-rem tratar. Já, ou num futuro próximo. Quanto à Memória em Festa, será um momento em que o Arquivo se enrique-cerá com testemunhos, em que, todos juntos, poderemos contribuir para fazer a História da região. Mas também espero que as pessoas aproveitem para organi-zar os seus pequenos arquivos. Sabe que 2 ou 3 postais, meia dúzia de fotografias, umas faturas antigas, uma carta, já cons-tituem um manancial de informação his-tórica muito interessante?! Por isso nos dispomos a ajudar as pessoas a organizar e levar para casa mais organizados e mais conservados para o futuro os seus docu-mentos da História local. Mas também queremos que seja o que o nome expres-sa: um tempo festivo.

Esta foi a entrevista a quem pensou e está a executar o projeto Arquivo de Me-mória do Vale do Coa. No próximo nú-mero vamos conversar com os dirigen-tes da ACOA, o Presidente Pedro Bacelar de Vasconcelos e o Vice-Presidente João Muralha, a associação promotora deste projeto. Até lá, vá a uma das aldeias nas datas indicadas na última página do No-tícias do Vale. Há pessoas à sua espera para arquivar memórias locais.

O DIA DO CASAMENTO

D. Maria e Sr. Américo Em que dia foi? Foi no dia 5 de Maio…D. Maria Olhe, fui vestida com um vestidi-nho que comprámos o tecido e mandei fa-zer a uma costureira […] Era castanho, não era branco, ainda não se usava, pronto…também ia bonita [Sr. Américo – Ai, se ia!], mas não ia como agora as noivas, não é… mas não era só eu, eram todas. […] Nesse tempo não havia cerimónia, era um vesti-dinho limpinho, pois com certeza, e uns sapatinhos e pronto…, a roupinha toda nova, a estrear, mas pronto…, umas era em castanho, outras era em cinzento, ou-tras, olhe…, era como gostavam de ir […].Sr. Américo No dia do nosso casamento foram 81 pessoas…foi muita despesa!D. Maria Ai! Foi muita despesa, mas nós todos vaidosos! Só iam as famílias de um lado e do outro, a mocidade foi toda, que nessa altura havia muita e pronto, e a gente naquela altura, a despesa es-tava feita, os pais já estavam preveni-dos… fizeram aqui em casa a comida…era o que se podia arranjar, comprava-se uma ovelha, por exemplo, e se não fosse uma eram duas, conforme o pessoal e as pessoas cá cozinhavam, faziam a sopa,

faziam isto, faziam aquilo, e faziam-se bolas de azeite, coscorais, biscoitos…, pães-de-ló, ao fim do comer punha-se aquela rolada de tudo pelas mesas to-das. E era assim a vida…depois do comer havia baile até às tantas. Quem se enfa-dava, ia mais cedo, quem não se enfada-va, ficava até mais tarde.

Excerto da entrevista ao Sr. Américo Monteiro e Sra. Maria Monteiro . Créditos: Localidade – Orgal . Data da recolha – 12/07/2011 . Inês Melhorado e Maria Sottomayor . Edição – Maria Sottomayor . Transcri-ção – Bárbara Carvalho(continua página 4)

Page 4: Jornal Notícias do Vale. Arquivo de Memória do Vale do Coa

4 NOTÍCIAS DO VALE

Guardar para lembrarConte-nos as suas histórias e tradições por palavras, fotografias ou outros do-cumentos. Guardaremos tudo num ar-quivo para lembrar no futuro.

MEMÓRIA EM FESTAARQUIVO DE MEMÓRIA DO VALE DO COA

“NO TEMPO DO MINÉRIO”[…] Tinha 12 anos, já andava no minério-…o meu irmão andava com o meu pai e eu já andava também… ia para Santo Amaro a pé, íamos pela Costa, Srº dos Aflitos abaixo, direitos a Santo Amaro, e depois de Santo Amaro íamos direitos aos Sobradais…era muito longe! […] E ví-nhamos pelos caminhos, cantávamos e dançávamos e tudo, e chegávamos cá, de-pois de subir as ladeiras, frescas que nem uma alface e depois, às vezes, levava ovos fritos com acelga e metíamos num pão, ainda não havia as merendeiras como agora…metíamos no pão, aquele pão untado com o ovinho, chegava lá e, Oh! Antes de trabalhar já me vou a satisfazer, antes que me o roubem […] os rapazes deixavam descuidar a gente e iam-nos às sacas […]. Os homens andavam nos filões e depois… deitavam aquelas fragas abai-xo e o minério estava naquelas fendas…como é que aquilo se ia ali a juntar como que era ouro? Aquilo era, não sei, parece que era…maravilhas do Senhor, que fa-zia aquilo! Como é que, no meio das fra-gas, nas fendas, entre umas e as outras,

criavam aqueles bocados? Parecia queijo velho! Era dali que extraíam o volfrâmio e o estanho! Ainda andei ao estanho no Monte Meão, atrás da Srª da Veiga, e era então volfrâmio, entre os túneis, que era como que eram assim lasquinhas, que o volfrâmio luzia muito e era muito caro! Era mais caro que o “xalitre”, o “xalitre” era o branco e o estanho era o minério preto…pois…, eu andei lá até que vieram as concessões, sempre andava lá! […] Quem trabalha sempre recolhe qualquer coisa, do trabalho é que vem tudo!Excerto da entrevista à Sra. Elisa Pereira . Créditos: Localidade – Vila Nova de Foz Coa . Data da recolha – 12/06/2011 . Entrevista e Vídeo – Inês Melhorado . Edição – Maria Sottomayor . Transcrição – Bárbara Carvalho

“A PARTIDA DA AMÊNDOA”[…] Era um acontecimento social im-portantíssimo! Importante para mim e penso que para toda a gente da minha idade, pelas histórias contadas durante a partida da amêndoa que normalmente se fazia à noite […] à noite é que se jun-tava tudo …eram histórias giríssimas, de arrepiar, de meter medo de meia-noite mas que eu adorava…era a história das bruxas e das feiticeiras e do abade sem cabeça […] na fonte quando se vai para a Srª da Veiga, diziam que aparecia lá um abade montado num cavalo, sem cabeça, porque lhe tinha sido cortada, porque namorava com uma donzela e a família dela, como ele era clérigo, cortou-lhe a cabeça, pronto, como castigo, e então ele apareceria sempre no mesmo sítio de encontro que era na fonte do abade sem cabeça […], ninguém arredava pé, duran-te a noite toda, depois havia sempre a festa ao fim, quando acabava a partida, havia sempre comes e bebes… em todas as casas onde se estava a partir a amên-doa…é engraçado porque, há duas fases distintas na minha memória da partida

da amêndoa - é uma fase onde se faziam as coisas gratuitamente, os amigos e vizi-nhos juntavam-se e era recíproca, portan-to, todos partiam a amêndoa de todos e partir de uma certa altura não, começou a ser pago a peso, cada quilo de amên-doa que se partia pagava-se um tanto e aí acho que foi quando as coisas se começa-ram a esfriar.Excerto da entrevista à Sra. Márcia Pimenta . Crédi-tos: Localidade – Vila Nova de Foz Coa . Data da reco-lha – 31/05/2011 . Entrevista e vídeo – Inês Melhorado e Maria Sottomayor . Edição – Maria Sottomayor . Transcrição – Bárbara Carvalho

PROGRAMA

CIDADELHE, PINHEL31 Maio, 22h00. Apresentação do projeto1 e 2 de Junho, 10hoo - 17hoo. Recolhas. Local: Centro Difusor

QUINTÃ DE PERO MARTINS,FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO5 Julho, 22hoo. Apresentação do projeto6 e 7 de Julho, 10hoo - 17hoo. RecolhasLocal: Lagar de azeite da aldeia

PARCERIAS NO ÂMBITO DO ARQUIVO DE MEMÓRIA DO VALE DO COA – CLUBE UNESCO ENTRE GERAÇÕES: A.C.D.R. de Freixo de Numão / Agrupamento de Escolas de Figueira de Castelo Rodrigo / Arquivo Nacional Torre do Tombo / Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Coa / Comissão Nacional da UNESCO / Escola Secundária Tenente Coronel Adão Carrapatoso, Vila Nova de Foz Coa / Junta de Freguesia de Vila Nova de Foz Coa / Lares e Centros de Dia de Figueira de Castelo Rodrigo / Fundação Coa Parque / Santa Casa da Misericórdia – Lar Nª Sra. da Veiga / Sistemas de Futuro

PROMOTOR PRODUÇÃO

CARDANHA, TORRE DE MONCORVO19 Julho, 22h00. Apresentação do projeto20 e 21 Julho, 10h00 às 17h00. RecolhasLocal: a designar

MUXAGATA, VILA NOVA DE FOZ COA 26 de Julho, 22h00. Apresentação do projeto27 e 28 de Julho, 10h00 - 17h00. Recolhas. Local: Junta de Freguesia

MAZOUCO, FREIXO DE ESPADA À CINTA 3 e 4 de Agosto, 10h00 - 17h00. Recolhas. Local: Junta de Freguesia

S. PEDRO DE RIO SECO, ALMEIDA7 e 8 de Setembro, 10h00 - 17h00. Recolhas. Local: Associação Rio Vivo, Casa do Quartel

Todas as fotografias e outros documentos que nos trouxer serão devidamente acondicionados e devolvi-dos no próprio momento.

ESPERAMOS POR SI NESTAS DATAS E LOCAIS

FINANCIAMENTO