jornal do cariri - especial artesania

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1 REGIÃO DO CARIRI NOVEMBRO DE 2011 Realização promoção apoio NOVEMBRO - 2011

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Artesania Cariri

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Page 1: Jornal do Cariri - Especial Artesania

1REGIÃO DO CARIRINOVEMBRO DE 2011

Realização promoção apoio

N O V E M B R O - 2 0 1 1

Page 2: Jornal do Cariri - Especial Artesania

2 REGIÃO DO CARIRI NOVEMBRO DE 2011

Diretor-presidente: Luzenor de Oliveira - Diretor de Conteúdo: Donizete ArrudaDiretora de Jornalismo: Jaqueline Freitas - Editor Caderno Especial: Wilton Bezerra JrEditor - chefe e Fotografias: Márcio DornellesProjeto Gráfico e diagramação: Flávio Marques e Evando Ferreira Matias

Redação: [email protected] | [email protected]@jornaldocariri.com.brDepartamento Comercial: [email protected] Geral: [email protected]

Contatos:

Administração e Redação: Rua Pio X, 448 - Salesianos Cep: 63050-020 - Fone: (88) 3511.2457

EDITORIALMissão de redescobertas

O Jornal do Cariri, em parceria com o Insti-tuto de Estudos Pesquisas e Projetos da Uece (Iepro), Banco do Nordeste e Prefeitura Munici-pal de Juazeiro do Norte, lançou o projeto “Ar-tesania Cariri – A Riqueza do Artesanato”, no último dia 10 de novembro, no Hotel Verdes Vales, em Juazeiro do Norte.

A iniciativa busca o resgate das tipologias em torno das práticas artesanais da região. Dos produtos característicos de cada cidade, seus ícones populares de autoria e a importância cultural das manifestações artísticas referen-ciais nesse setor de atividades.

Três cadernos editoriais de oito páginas (ta-manho Tablóide) vão trazer, entre os meses de novembro e dezembro deste ano, o resultado de um passeio da equipe de reportagem do Jornal do Cariri por um painel de amostras so-bre práticas artesanais que ajudam a compor relevâncias de identidade regional.

Para a divulgação dos trabalhos, a idéia do projeto “Artesania Cariri” é utilizar a veicula-ção de material editorial por intermédio de um dos meios de comunicação mais represen-tativos do povo e do pensamento da região. Isso ocorrerá durantes os meses de novembro

e dezembro deste ano, em forma de matérias jornalísticas editadas quinzenalmente para o Jornal do Cariri, com adaptações posteriores às linguagens de rádio, TV e internet.

RESGATAR E VALORIZAR SABERES E FAZERES

No Cariri, cada cidade ostenta sua identida-de cultural de maneira expressivamente pecu-liar, onde seus artesãos traduzem em madeira, palha, barro, papel e diversas outras matérias--primas, a força da sua tradição e da sua cultura.

Promover a difusão dessa diversidade, garim-pando histórias e buscando justificativas para o crescimento e expansão de cada tipologia, é o objetivo do projeto “Artesania Cariri - A Riqueza do Artesanato”.

Mesmo em regiões fortemente ligadas ao ar-tesanato como a do Cariri, significados relevan-tes desse universo criativo estão cada vez mais fora do alcance de decodificação simbólica das diversas comunidades.

A dinâmica da vida cotidiana moderna, a pou-ca valorização das peças, a falta de incentivo à formação de novas gerações de artistas popula-

res e a ausência de uma política pública perma-nente de resgate de histórias, saberes e fazeres populares, são fatores a preocupar e ameaçar a sobrevivência dessas manifestações.

MOSTRA FOTOGRÁFICA E LIVRETO

Encerrada a apresentação de textos, ima-gens, fotografias, entrevistas e edições, será realizada em janeiro de 2012 a mostra fotográ-fica intitulada “Artesania Cariri, a Riqueza do Artesanato”.

A exposição irá percorrer vários pontos da conurbação composta pelos municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, o famoso Triângulo Crajubar, região de maior adensa-mento populacional. Entre as localidades pre-ferenciais, estão escolas, museus, centros de religiosidade e memória.

O Jornal do Cariri também irá publicar como encarte um livreto com poesias, crônicas e textos variados sobre o artesanato caririense, a serem ilustrados por trabalhos fotográficos produzidos durante as etapas de composição das matérias jornalísticas do projeto.

Volume LL - Dia 06 de dezembro de 2011 - O Artesanato das Microrregiões de Caririaçu e Chapada do Araripe

ARTESANIA EM TRÊS EDIÇÕES - quatro MICRORREGIÕES

VISITADAS

SERTÃO DO CARIRI - Abaiara, Aurora, Barro, Brejo Santo, Jati, Mauriti, Milagres, Penaforte e Porteiras;

CHAPADA DO ARARIPE Araripe, Campos Sales, Potengi, Salitre, Antonia do Norte, Assaré, Tarrafas, Potengi e Várzea Alegre;

SERRA DE CARIRIAÇU - Altaneira, Caririaçu, Farias Brito e Granjeiro

REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI: Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Santana do Cariri, Nova Olinda, Missão Velha e Jardim

Page 3: Jornal do Cariri - Especial Artesania

3REGIÃO DO CARIRINOVEMBRO DE 2011

Nordeste brasileiro

Criação espontânea e habilidade para viver

Artesanato. A palavra vem do Latim ars, que significava “capa-cidade de fazer alguma coisa”. Ars passou, mais tarde, a “arte”. Através do Italiano artigiano, temos “artesão”, aquele que exerce atividades mecânicas ou decorativas.

Depois, o sentido foi-se modi-ficando e passou a estar relacio-nado a “aquele que faz manu-

almente, por sua conta, objetos para uso doméstico”.

Hoje, artesanato adquiriu uma definição bem mais abran-gente e aceita-se como sendo o “resultado de uma habilidade bem treinada e de uma sabedo-ria própria do metier. Constitui--se em expressão espontânea de criatividade de um povo”.

E essa “habilidade espontâ-

nea”, segundo o “Estudo Setorial do Artesanato”, realizado pelo Sebrae Ceará, pode ser aplicada a quase tudo.

Contempla produtos como imagens sacras, esculturas, jar-ros, mobiliário, tapetes, aces-sórios do vestuário, calçados, brinquedos, instrumentos mu-sicais, utilitários para o lar, trajes típicos, redes, mantas, artigos

de cama, mesa e banho, minia-turas, doces de frutas regionais e bebidas de frutas típicas, tes-temunhos do talento inato de uma gente que usa as mãos para transformar em arte todo o seu potencial criativo.

Ao todo, no Nordeste foram mapeadas e reconhecidas 11 tipologias e 57 segmentações, conforme quadro abaixo:

AlimentosCerâmicaCestaria e Trançado

CouroMadeira

MetalPedras

RecicladosRendas e Bordados

TecelagemTecidos

CearáProdução artesanal em 76,1% dos municípios, ou seja, em 140 dos 184 municípios do Estado;

Maior relevância em pólos como o de Fortaleza, Serras de Aratanha e Baturité, Ibiapaba, Canoa Quebrada, Jericoacoara e Cariri.

TipologiasTipologias

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4 REGIÃO DO CARIRI NOVEMBRO DE 2011

SEMPRE UM DESTAQUE especial quando o assunto é artesanato, a região concentra grande diversidade em tipos de arte. Isso transforma esse “oásis” de grande área verde mais ao Sul do Ceará reconhecido também como celeiro cultural.

E, dizem os historiadores, tanta variedade e riqueza teve a providencial ajuda do Padre Cícero, cratense de nascimento e responsável pela fundação de Juazeiro do Norte. Um “patriarca do sertão” que ganhou fama e legitimidade de santo popular em todo país.

Reza a história, recontada no site www.planetasustentavel.abril.com.br e na Revista “Bravo” (Especial Ceará-2009) que, quando um romeiro chegava à Região e se apresentava ao padre, este lhe perguntava o que sabia, o que podia ou o que queria fazer. No fim da conversa, recebia o viajante uma missão que, mais tarde, deveria ser estendida aos herdeiros.

Assim, cada domicílio passou a abrigar um altar (oratório) e uma oficina. Em Juazeiro do Norte, os ofícios eram levados tão a sério e de maneira profícua, que começaram a surgir ruas específicas para cada tipologia.

É justamente toda essa rica pluralidade que pretendemos começar a mostrar no primeiro número da série de três publicações do projeto “Artesania Cariri, A Riqueza do Artesanato”.

NESTA EDIÇÃO, VAMOS ABORDAR O TRABALHO DOS ARTESÃOS DA

MICRORREGIÃO SERTÃO DO CAIRRI, QUE REÚNE OS MUNICÍPIOS DE AURORA, BARRO,

MAURITI, ABAIARA, BREJO SANTO, JATI, MILAGRES, PENAFORTE E PORTEIRAS.

1. A

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2

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A

3. C

ESTA

RIA E

TRANÇADO 4. COURO 5. MADEIRA 6. METAL 7. PEDRAS 8. R

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9. RE

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AS

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OR

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DO

S 10. TECELAGEM 11. TECIDOS

FONTES: Ações para o Desenvolvimento do Artesanato do Nordeste - Banco do Nordeste-BNB

O CARIRI FEITO À MÃO

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5REGIÃO DO CARIRINOVEMBRO DE 2011

Área - 4.598.852 km²08 municípios187.259 habitantes, segundo o Censo de 2005 do IBGE.Ocorrência registrada de 08 das 11 tipologias nordestinas reconhecidas

Penaforte: cestarias e trançados / rendas e bordados

Abaiara: rendas e bordados

Brejo Santo: madeira / rendas e bordados / tecelagem / alimentos

Jati: couro / rendas e bordados / cerâmica / tecelagem

Aurora: rendas e bordados;

Barro: couro / madeira/ rendas e bordados

Mauriti: couro / cerâmica / rendas / cestarias e trançados / metal

Milagres: couroO Sertão do “OÁSIS”

A tipologia de maior abrangência no Sertão do Cariri é a de rendas e bordados, registrada em sete municípios, seguindo-se os artefatos de couro, com quatro ocorrências. As demais (ma-deira, tecelagem, cerâmica, cestarias e trança-dos) apresentam dois registros por município. Alimentos e metal têm uma ocorrência cada.

Rico artesanalmente como é o Cariri, se torna fácil perceber que algumas tipologias apareçam com mais força em determinados municípios. Ten-do como base o “Estudo Setorial de Artesanato” do Sebrae Ceará, mape-amos e levantamos as tipologias de maior relevância em cada uma das cidades da microrregião Sertão do Cariri, conforme o quadro:

Como tipologia, a renda e o bordado são usados em produtos de cama, mesa e banho, enxovais, artigos para copa e cozinha, trajes típicos, roupas, decoração e bone-cas.

No Cariri, há uma predominância do ponto cheio, do crochê e do ponto-de-cruz. Isso se repete nas regiões do

Sertão às quais nos atemos nesta edição, e com mais for-ça nas cidades de Aurora, Abaiara, Barro, Brejo Santo, Jati e Penaforte.

As peças mais comuns são toalhas, caminhos de mesa, toalhinhas, lenços, enfeites para toalha de banho, panos de prato, toalhas de lavabo.

Rendas e bordados - Aurora, Abaiara, Barro, Brejo Santo, Jati e Penaforte.

11 segmentações:• Labirinto • Vagonite • Frivolite • Richilieu • Rendende • Ponto-de-cruz • Ponto-cheio • Bilro • Crochê • Irlandesa • Renascença • Filé

Segundo o Estudo de Mercado realizado pelo Sebrae e publicado em 2008, com o título “Bordados e Rendas”, foi apenas entre os séculos XV e XVI que a história começa a apontar indícios de sua origem, com Flandres e Itália reivin-dicando sua paternidade.

Flandres, intitulando-se inventora da renda de bilros. A Itália pedindo a patente da renda de agu-lhas, da qual nasce a renda renascença. Mesmo antes do século XV, em meados dos séculos XII e XIII, a história explora a possibilidade de a renda ter

aparecido na Espanha e em Portugal, para onde os mouros a teriam levado.

Assim, a renda teria chegado ao Brasil junto com os colonizadores. Em Portugal, já existia desde o século XV, embora só fosse acessível a pessoas de alto poder aquisitivo. No Ceará, sofreu a influência indígena e o resultado desse casamento tem en-cantado pessoas ao longo de quase três séculos. Tanto que, em1748, quando a Europa recebeu as primeiras rendas do Ceará, classificou-as como de excepcional qualidade artística.

Há séculos, portanto, foi detectado o "natural

engenho" de nossas rendeiras para o ofício. Vale acrescentar que a renda difere do bordado por ter acabamento dos dois lados e não apresentar um fundo de tecido preparado, como o bordado, que é ornamentado com fios.

Através dos tipos de bordados denotam-se traços característicos regionais, aspectos inerentes à cul-tura e história de cada lugar. Nos tempos de hoje, as rendeiras marcam a resistência por assegurar a continuidade de um saber cultural. Por meio da or-ganização em escolas, associações e cooperativas, a renda e as rendeiras continuam a fazer história.

Encanto europeu COM influência indígena

Onde e o quê tem de melhor

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6 REGIÃO DO CARIRI NOVEMBRO DE 2011

A tipologia com segundo maior número de regis-

tros nos oito municípios das duas microrregiões é

o couro, aparecendo com destaque nas cidades de

Barro, Jati, Milagres e Mauriti.

O couro é uma matéria-prima que, no arte-

sanato cearense, ganha variadas dimensões. A

peça mais característica é o chapéu de couro,

que o vaqueiro usa e o visitante sempre gosta

de comprar. A roupa do vaqueiro também é peça

muito disputadas pelos compradores.

O mesmo acontece com as celas, arreios, bai-

nhas de faca, porta revistas, esculturas e cadeiras.

Afora as sandálias, as alpercatas e os sapatos de

couro cru.Na verdade, o Ceará possui uma antiga tradição

de artigos artesanais feitos em couro. De acordo

com o site http://no.comunidades.net/sites/jua/

juaculturanorte/index.php?pagina=1389830182, a

significativa participação da pecuária e da exporta-

ção de couros da economia cearense explica a rica

variedade de peças produzidas com este material.

É uma tradição que

sobrevive pelo amor

ao ofício, alimenta-

do, muitas vezes pelo

apego à Região. Em

Jati, encontramos um

exemplo desses. A lojinha

recém-inaugurada na rua Manuel Luis, em

pleno Centro da cidade, é pequena para comportar

toda a felicidade que o artesão João Bôsco (foto)

está sentindo por ter conseguido voltar para a

terra natal. Depois de 15 anos trabalhando em São

Paulo, ele reuniu o material de trabalho e as eco-

nomias e voltou. Ele volta numa condição muito

especial: para substituir o seu mestre, que lhe ensi-

nou o ofício quando tinha 14 anos de idade, e que

morreu, há um ano. “Mesmo reconhecendo que, no

Cariri, precisa trabalhar 30 dias para faturar o que

na capital paulista conseguia em quatro dias, ele é

enfático: “Não troco isso aqui por nada. Aqui, está

a minha felicidade.”

O artesanato em madeira aparece com força e mais desta-

cado registro nas cidades de Barro e Brejo Santo. As peças

tanto podem ser de pequenas indústrias de mobiliário rústico

como à maquinaria de engenhos de cana, além do trabalho

de escultores e talhadores na fabricação de Imagens sacras e

populares, molduras, produtos para copa e cozinha e brin-

quedos populares.No difiícil ofício da movelaria sacra do Cariri, vive em Brejo

Santo um personagem pontual, que se divide entre a tradição,

o moderno e o revolucionário. Por isso, da marcenaria cheia

de toras de madeira, poeira e móveis acabados ou não, vão

surgindo peças e mais peças do que o artesão Raimundo Ca-

bral (foto) considera um hobby. Além de bonito, o artesanato

feito pelo seu “Raimundinho”, como é conhecido, tem nome

compli- cado: geometria segmentada.

São peças feitas pedaço a pe-

daço, num jogo de paciência

e simetria que exige cuida-do”. Ele confessa que viu a técnica pela primeira vez na internet, feita por america-nos ou japoneses idosos, e adaptou ao seu estilo. Orgu-lhoso do grau de dificuldade

que envolve a confecção de cada peça, ele mostra o

resultado enquanto explica que, embora artista

reconheci do pelos trabalhos feitos em igrejas, em

ostensórios, Na decoração de altares e até na con-

fecção de troféus religiosos, não se imagina vivendo

desse talento. Mesmo o trabalho de marcheteria, que

sempre lhe rendeu elogio e fama, tem um bom preço

no mercado. E a madeira começa a ser referência, também, em

Mauriti a partir do trabalho de Damião Pereira Dias.

. Nas esculturas, notabilizou-se por imprimir feições

bem nordestinas às figuras retratadas e nos móveis.

Optou por desenvolver uma linha que privilegia as for-

mas naturais de troncos em mesas, cadeiras e bancos

cheios da mais genuína rusticidade. Inovação que dá lucro.

Esta tipologia tem boa evidência nas cidades de Brejo Santo e Jati, com a produção de redes, mantas, tapetes, almofadas e artigos para copa e cozinha, com fios de algodão cru e linha.

Couro - Barro, Jati, Milagres e Mauriti.

Madeira - Barro e Brejo Santo

Tecelagem- Brejo Santo e Jati

.Onde e o quê tem de melhor.Onde e o quê tem de melhor

Page 7: Jornal do Cariri - Especial Artesania

7REGIÃO DO CARIRINOVEMBRO DE 2011

Doces e bebidas aparecem como tipologia forte apenas em Brejo Santo, com a produção de doces de frutas regionais típicas.

Mauriti é a única cidade das

duas microrregiões onde o arte-

sanato em metal tem relevância.

Abrange diferentes ramos, tais

como: latoaria, ferraria, serra-

lharia e cutelaria. Com latas

usadas, os artesãos fabricam

bacias, canecas, lamparinas,

funis, caçarolas, formas

de bolo, etc. Com forja e

bigorna, além de outros

rudimentares instru-

mentos de ferreiros,

são confeccionadas

foices, armadores

de redes, choca-

lhos, estribos, argo-

las, fechaduras, peças

sacras, utilitários para o

lar, artigos para copa e

cozinha.

A TRADIÇÃO de alguns municípios em focarem numa tipologia específica pode mudar e se enriquecer a partir do investimento em cursos, treinamentos e capacitações. É o que acontece em Aurora. O município de 25 mil habitantes já recebeu, por exemplo, curso de artesanato em cerâmica – ‘Louceiras do barro cru’, promovido pela Secretaria de Cultura de Aurora em parceria com o Centro de Artesanato do Ceará (CEART).

Tipologias dominadas pelo emprego da palha de

carnaúba, do bambu e do cipó para a confecção

dos mais diversos objetos, como chapéus, bolsas,

cestas, mobiliário, tapetes, acessórios de vestuá-

rio, sacolas diversas, painéis e artigos para copa e

cozinha.

Trançados e Cestarias - Mauriti e Jati

Metal - Mauriti Alimentos (doces e bebidas) - Brejo Santo

Esta tipologia marca as cidades de Mauriti e Jati. A mulher indígena já fazia panelas e pratos de barro dos massapês próximos. Ainda hoje, a cerâmica é usada para os mais variados artefatos caseiros como jarras, quartinhas (moringas), gamelas, pratos, mealheiros, alguidares, vasos, panelas e simila-res, miniaturas diversas, luminárias, arandelas e utilitários para o lar. Além do barro, também são usados como matéria prima o gesso e a argila, principalmente na confecção de figuras sacras,

brinquedos, representação de animais, pessoas, flagrantes do dia a dia e do trabalho rural.

Poderiam ser nove as tipologias, se levarmos em conta uma que vem tomando força a medida em que cresce a consciência ambiental no Cariri cearense. A reciclagem. E fomos encontrar em Penaforte uma família dedicada a esse novíssimo artesanato.

A criativa pintura da casa, feita com um es-panador molhado em tinta e que dá um visual diferenciado em relação às outras construções de Penaforte, não deixa dúvida de que ali mora uma família diferente. O pai, Luís Mauro de Sousa, pedreiro e estudante, é um artista reciclador nato que contagiou toda a família com uma nova visão do que pode ser aproveitado artisticamente. Assim, da mulher, Maria Lúcia, professora que faz guirlandas de Natal com garrafas pet às filhas gême-as, Mayara e Maysa, que se dedicam a criar árvores natalinas do mesmo material, tudo é motivo para reinventar utilidades e fazer arte. De todos os cantos da casa modesta, vão apa-recendo caixas de restos de madeira, enfeites de parede em jornal reciclado, vasos de papel marchê e até um abajour de casca de árvore.

Cerâmica - Mauriti e Jati

rECICLAGEM - Penaforte

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8 REGIÃO DO CARIRI NOVEMBRO DE 2011

Mauriti- Um mundode criatividade

Milagres - folcloree preservação

Dos nove municípios que inte-gram as microrregiões de Barro e Brejo Santo, o município de Mauriti é o que apresenta a maior diversida-de de tipologias com cinco registros, seguido por Brejo Santo, com quatro ocorrências.

Com um nome originário do tupi, que denominava uma palmeira (humburity, árvore que dá sumo, classificada como Maurititia Vinífe-ra), a cidade de Mauriti é famosa por sua extensa área geográfica e muitos distritos como Anauá, Buritizinho, Coité, Nova Santa Cruz, Olho dágua, Palestina, São Félix, São Miguel, Um-buranas. A maior parte concentran-do artesanato de qualidade.

E a madeira começa a ser referên-cia, também, em Mauriti a partir do trabalho de Damião Pereira Dias. É verdade que é difícil reconhecer no artesão que fez sucesso na Expocra-to, na Expoece, na Feirart da Ceart e na Casa Cor Ceará 2011, o pequeno agricultor que aos 15 anos capinava lavoura e brocava na zona rural de

Mauriti. Filho de marceneiro espe-cializado em fazer engenho puxado a boi, ele nem pensava em trabalhar com madeira quando foi convidado a aprender a profissão. Recebeu, en-tão, do seu mentor, Raimundo Élcio, uma escultura e o desafio de fazer algo igual. Não só copiou a peça, como descobriu, ali, a sua vocação. Mas, demorou a encará-la com se-riedade. Antes, chegou a montar três bandas de forró. Desistindo da mú-sica, voltou-se, definitivamente para o artesanato, preocupando-se, no entanto, em inovar. Nas esculturas, notabilizou-se por imprimir feições bem nordestinas às figuras retra-tadas e nos móveis, optou por de-senvolver uma linha que privilegia as formas naturais de troncos em mesas, cadeiras e bancos cheios da mais genuína rusticidade. Inovação que dá lucro. Um retorno financeiro maior e imediato que vem assegu-rando uma vida melhor para ele e para a nova geração de artesãos que ele ajuda a formar.

No município de Milagres, uma outra manifestação de apoio aos artesãos fica na rua Presidente Vargas, um ponto de convergência do artesanato da cidade. Num casarão bem instalado, de-corado com peças históricas e mantido pela iniciativa privada, a Casa de Cultura Guiomar Gomes tem o apoio do Governo do Estado e da Prefeitura, para manter viva a arte popular. Peças em cro-chê, em cabaças e reciclados,

representando o folclore da Região e o cotidiano simples e encantador dessa parte do Cariri, dão vida e testemu-nham o respeito pela arte manual da cidade. Uma arte que tem um guardião atento na figura de André Azeve-do que, além de artesão,a é um conhecedor e um disse-minador da Cultura local. O espaço serve, também, para a realização de cursos e ofi-cinas e um endereço do rico artesanato de Milagres.

Aurora - Terra de famosos e premiados

A tradição de alguns muni-cípios em focarem tipologia específica tende a mudar e se enriquecer a partir do investi-mento em cursos, treinamen-tos e capacitações. É o que acontece em Aurora.

O município de 25 mil ha-bitantes já recebeu, por exem-plo, curso de artesanato em cerâmica – ‘Louceiras do barro cru’, promovido pela Secreta-ria de Cultura de Aurora, em parceria com o Centro de Arte-sanato do Ceará (CEART).

A capacitação veio ajudar a resgatar o artesanato em barro que é uma tradição regional. Ajudou a revelar artistas como Francisco Oliveira, o Franzé D´Aurora (foto). Influencia-do pela avó, uma conhecida artesã popular nesta tipologia, ele começou moldando em barro e não demorou a ir des-cobrindo a madeira e outras técnicas.

O talento iniciado no arte-sanato ganhou outras expres-sões e levou Franzé para fora do Cariri. A primeira exposição

foi em 1969, integrando coletiva que marcou a pro-

gramação de aniversário do Ideal Clube de Fortaleza. Em 1972, participou do Salão dos Novos, obtendo o primeiro lu-gar, feito que repetiu no con-curso de artesanato do Ban-co do Estado do Ceará (BEC), em 1976, para representar o Ceará na inauguração das agências de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. A partir daí, tornou-se pioneiro na técnica ferro-cimento e, na década de 80, realizou importantes trabalhos como o painel de cimento armado em Aurora e uma turnê pela Região Sudes-te, apresentada no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

Aurora, também berço do celebrado artista plástico Al-demir Martins, tem iniciativas interessantes como o com-promisso dos artesãos locais em prol da sobrevivência do ofício junto às novas gerações.