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INVENTÁRIO DA ARBORIZAÇÃO DE VIAS PÚBLICAS EM PONTA GROSSA-PARANÁ (BRASIL)
Silvia Méri Carvalho
(Professor Adjunto –Departamento de Geociências/Programa de Pós-Graduação em Geografia-
Universidade Estadual de Ponta Grossa-Pr (Brasil)
RESUMO
O inventário da arborização foi realizado em 428 vias públicas em seis bairros da cidade de Ponta Grossa, sul
do Brasil durante o período de 2005 a 2009. Foram identificadas 8771 árvores de 166 espécies, 102 gêneros
e 49 famílias. Houve o predomínio de espécies exóticas (61,69%) sobre as nativas (32,51%). Apresentaram
maior frequência as espécies Lagerstroemia indica e Ligustrum lucidum que juntos correspondem a quase
40% das árvores identificadas. Foram calculados os índices de Similaridade, Diversidade e Abundância,
sendo que o bairro Ronda apresentou o maior índice de diversidade (11,42) e abundância (50 árvores por Km
de via). Os principais problemas observados foram conflitos com a rede elétrica e calçadas.
Palavras-chaves: Arborização urbana, Inventário, Índices, Árvores
RESUMEN
El inventario de los árboles se llevó a cabo en 428 calles en seis distritos de la ciudad de Ponta Grossa, al sur
de Brasil durante el período 2005 a 2009. Se identificaron 8771 árboles de 166 especies, 102 géneros y 49
familias. Se observó un predominio de especies exóticas (61,69%) para la nativa (32,51%). Tuvieron una
mayor frecuencia las especies Lagerstroemia indica y Ligustrum lucidum que en conjunto representan casi el
40% de los árboles identificados. Se calcularan los índices de similitud, diversidad y abundancia, y el distrito
Ronda tuvo el mayor índice de diversidad (11.42) y abundancia (50 árboles por kilómetro de vía). Los
principales problemas encontrados fueron los conflictos con la red eléctrica y aceras.
Palavras-chave: Arbolado urbano, Inventario, Índices, Árboles.
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INTRODUÇÃO
Ao considerar a qualidade de vida nas cidades é indiscutível a importância da presença do verde
urbano, representado pelas árvores presentes nas vias públicas, em parques, praças e jardins tanto em
ambientes públicos ou privados. A arborização urbana viária, objeto de análise deste trabalho, está incluída
dentro do contexto da arborização urbana como sendo aquela que acompanha as vias públicas, estando em
calçadas, canteiros centrais, rotatórias e trevos de conversão (CAVALHEIRO, 1991).
O sucesso da arborização urbana requer um planejamento, não significa apenas plantar árvores,
infelizmente não ocorre de modo sistemático no Brasil sendo que essa tarefa é de responsabilidade dos
governos municipais. O planejamento da arborização urbana deve considerar as espécies adequadas,
sobretudo as espécies nativas, a disponibilidade de espaço, as condições climáticas e as condições de
manutenção.
O predomínio de espécies exóticas tem sido apontado com frequência em trabalhos como os
realizados na cidade do Recife (SILVA et. al, 2010) no nordeste do Brasil, Mariópolis, no sul (SILVA, et al,
2008), Quirinópolis (BATISTELL et. al, 2009) no centro-oeste e Registo no sudeste do país (FERRAZ e
NOGUEIRA, 2009).
O planejamento da arborização urbana passa inicialmente por um processo de avaliação geralmente
realizado por meio de inventários, que tem como objetivo conhecer o patrimônio arbustivo e arbóreo de uma
localidade. Resultados desses estudos podem subsidiar o planejamento e o manejo da arborização bem
como delinear prioridades de intervenções silviculturais. De acordo com Milano (1994) o inventário pode ser
feito por amostragem ou por censo total.
O objetivo desse trabalho foi realizar um diagnóstico da arborização de vias públicas em Ponta
Grossa (Paraná-Brasil) por meio de um inventário em seis bairros da cidade.
METODOLOGIA
Os inventários por censo total foram realizados entre 2005 e 2009 com participação de alunos de
graduação e pós-graduação (QUADROS, 2005; SILVA, 2006 e VILELA, 2007, MIRANDA, 2008, LUZ, 2009,
MEISTER, 2009), sobretudo do curso de geografia em cinco bairros (Olarias, Estrela, Ronda, Órfãs e Nova
Rússia) além da área central de Ponta Grossa (Figura 1). O município de Ponta Grossa está localizado na
porção Centro-Oriental do Paraná, estado da região Sul do Brasil, com uma população de 305.545
habitantes, com mais de 97% das pessoas residindo na área urbana (IBGE, 2010).
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Figura 1- Localização da área de pesquisa.
Foram identificadas árvores tomando como base indivíduos com DAP (Diâmetro na altura do peito)
acima de 20 cm, sendo que o material botânico coletado foi identificado no Herbário da Universidade Estadual
de Ponta Grossa.
As informações de cada árvore analisada foram inseridas em um formulário, contendo os seguintes
dados: localização (nome da rua, sentido bairro-centro ou centro-bairro), nome vulgar e nome científico,
família, origem (exótica ou nativa), largura da calçada, situações conflitantes e vias com potencial de
adensamento.
Foram realizadas comparações dos dados entre os cinco bairros e a área central por meio de três
índices: Similaridade, Diversidade e Abundância (ROSSATO, TSUBOY e FREI, 2008).
Índice de Similaridade: pode ser identificado por várias fórmulas, optou-se pela de Jaccard por ser
de fácil interpretação.
J= ___C____
A + B – C
Onde:
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- J: índice de Jaccard;
- A: número de espécies na comunidade a;
- B: número de espécies na comunidade b;
- C: número de espécies em comum entre as duas comunidades
Índice de Diversidade: proposto por Margalef em que:
Alfa = (S-1) / Ln N
Onde:
- Alfa = Índice de diversidade;
- S = número de espécies;
- N = número de indivíduos
Índice de Abundância: indica quantas árvores existem por Km de rua.
Utilizando a base cartográfica em escala 1: 50.000 foram verificados quantos quilômetros de rua
havia por bairro, em seguida, divididos o número de indivíduos arbóreos pela extensão total das vias de cada
bairro.
RESULTADOS
Foram analisadas 8.771 árvores presentes em 428 vias, representados por 166 espécies, 102
gêneros e 49 famílias. Dentre as árvores contabilizadas 61,69% são exóticas e 32,52% são nativas, sendo
que 5,79% (508 árvores) não puderam ser identificadas devido à poda radical ou à ausência de flores e/ou
frutos.
As espécies com maior frequência são Lagerstroemia indica L. da família Lythraceae (21,67%)
presente em quatro das seis áreas avaliadas, seguida por Ligustrum lucidum W. T. Aiton da família Oleaceae
(14,70%), principais espécies da arborização do sul do Brasil (Figuras 2 e 3).
Um fato comum a todos os bairros foi o predomínio de espécies exóticas sobre as nativas, sendo que
em cinco das seis áreas analisadas esta predominância esteve sempre acima dos 60%.
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Figura 2 - Lagerstroemia indica (Extremosa)
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Figura 3 - Ligustrum lucidum (Ligustro)
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Entre as dez espécies com maior frequência, que correspondem a mais de 60% do total de árvores
amostradas (Tabela 1), as duas acima citadas, consideradas exóticas, representam juntas quase 40% do total
de árvores. Ziller (2001) aponta a utilização de plantas exóticas (alienígenas) dentre as soluções mais
frequentes. Um fator a ser considerado é a maior facilidade para propagação de pragas nesses plantios mais
homogêneos.
Tabela 1 - As dez espécies de maior frequência na arborização de vias em Ponta Grossa-PR
Nome vulgar Nome científico Família Origem Total %
Estremosa Lagerstroemia indica Lyrthaceae Exótica 1901 21,67
Ligustro Ligustrum japonicum Oleaceae Exótica 1289 14,70
Coqueiro-jerivá Syagrus romanoffiana Arecaceae Nativa 445 5,07
Fícus Ficus benjamina Moraceae Exótica 415 4,73
Sibipiruna Caesalpinia Peltophoroides Benth.
Leguminosae Nativa 326
3,72
Aroeira Schinus terebinthifolia Anacardiaceae Nativa 296 3,37
Cinamomo ou Santa Bárbara
Melia azedarach Meliaceae Exótica 276
3,15
Ipê-amarelo Tabebuia alba Bignoniaceae Nativa 214 2,44
Goiabeira Psidium guajava Myrtaceae Nativa 155 1,77
Cássia Senna bicapsularis (L.) Roxb. Fabaceae Exótica 143 1,63
TOTAL 5162 62,25 Organização: Carvalho, 2012.
Com relação ao Índice de Similaridade a partir do bairro Centro foram identificadas 22 espécies em
comum com os bairros Estrela, Nova Rússia e Ronda, 17 espécies com o bairro Olarias e 24 espécies com o
bairro Órfãs. O índice é considerado alto, quando acima de 50%, no entanto os resultados ficaram bem
abaixo para Centro e Ronda (22%), Centro e Olarias (26,98%), Centro e Estrela (27,16%), Centro e Nova
Rússia (31,42%) e Centro e Órfãs (33,80%).
O Índice de Diversidade para toda a área foi 18,19 sendo que o bairro da Ronda apresentou o maior
valor 11,42 (Tabela 2). Os valores inferiores a 2,0 são considerados como denotando áreas de baixa
diversidade e valores superiores a 5,0 são considerados como indicador de grande biodiversidade. Apenas o
bairro centro apresentou valor considerado baixo.
O índice médio de Abundância foi de 30 árvores por km de rua, sendo que 3 bairros (Ronda, Estrela e
Órfãs) ultrapassaram esse valor. Considerando um potencial de ocupação em torno de 26.000 árvores para
uma área total dos bairros de 291,42 Km, o total de árvores amostras ocupa apenas 33% da área.
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Tabela 2 - Inventário de árvores de rua na cidade de Ponta Grossa-PR (Brasil)
Organização: Carvalho, 2012.
Foram identificadas 70 vias que oferecem potencial para arborização ou adensamento da mesma
(Figura 4).
As características viárias das ruas investigadas são em grande parte favoráveis à arborização,
contudo, o manejo não é adequado, resultando em diversos problemas como calçadas com levantamentos e
rachaduras (Figura 5) causadas principalmente por espécies de grande porte com pouca área livre (Figura 6),
conflito com a rede elétrica (Figura 7), ausência de espaço livre ao redor da árvore, poda drástica (Figura 8),
entre outros.
Bairro
N0 de
ruas
N0 de
árvores
N0 de
Espécie
s
N0 de árvores
Nativas
No de
árvores
Exóticas
No de
Famílias
Espécie com
maior frequência
Alfa
Arv/
Km
CENTRO 38 970 35 252
(25,98%)
631
(65,05%) 21
Lagerstroemia indica L.
(42,16%) 4,94 23
OLARIAS 69 831 45 344
(41,40%)
352
(42,36%) 22
Ligustrum lucidum W. T.
Aiton
(18,89%)
6,54 24
ESTRELA 58 1264 68 336
(26,58%)
790
(62,50%) 30
Lagerstroemia indica L.
(29,59%) 9,38 41
RONDA 85 1712 86 657
(38,38%)
1055
(61,62%) 32
Ligustrum lucidum W. T.
Aiton
(20,70% )
11,42 50
NOVA
RUSSIA 99 2160 57
691
(31,99%)
1469
(68%,0) 30
Lagerstroemia indica L.
(25,88%) 7,30 24
ÓRFÃS 79 1834 60 572
(31,19%)
1114
(60,74%) 31
Lagerstroemia indica L.
(21,91%) 7,85 32
TOTAL 428 8771 166 2852 5411 49 30
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Figura 4- Via com potencial para arborização
CONCLUSÕES
Apesar da diversidade ser considerada alta em cinco dos 6 bairros pesquisados, duas espécies
correspondem a quase 40% do total das árvores, indicando que as demais espécies possuem baixa
frequência de indivíduos. Observa-se a predominância de espécies exóticas em todos os bairros, ou seja,
sem identidade com o bioma local. Ocorrem vários problemas em função do manejo inadequado, sobretudo
com a rede elétrica e calçadas. Existem vias com potencial de arborização o que pode melhorar a abundância
de espécies por km de via.
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Fonte: Vilela (2007); Luz, (2009); Miranda (2008)
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REFERÊNCIAS
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da arborização urbana nos bairros Promissão e Pedro Cardoso, Quirinópolis, Goiás. Rev. SBAU, Piracicaba –
SP. 2009. v.4, n.3, p.110 – 129.
CAVALHEIRO, F.. Urbanização e alterações ambientais. In: TAUK, S. (org.) Análise Ambiental: uma visão
multidisciplinar. São Paulo: UNESP/FAPESP.1991. p. 114-124.
FERRAZ, M. V.; NOGUEIRA, D. M.. Arborização urbana para o município de Registro-SP. In: Ferraz M V;
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Botucatu, FEPAF. 2009. p. 68-81.
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http://www.censo2010.ibge.gov.br/dados_divulgados/index.php?uf=41.
LUZ, J. R.. Arborização urbana viária do bairro Órfãs em Ponta Grossa-PR. Ponta Grossa.88f. Trabalho
de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) - Universidade Estadual de Ponta Grossa. 2009.
MEISTER, I.. Levantamento da arborização das vias públicas do bairro de Nova Rússia em Ponta
Grossa – Paraná. 95f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Gestão Ambiental) -
Universidade Estadual de Ponta Grossa. 2009.
MILANO, M. S. Métodos de amostragem para avaliação de ruas. In: Congresso Brasileiro sobre Arborização
Urbana, 2, São Luiz. Anais. SBAU, 1994. p.163-168.
MIRANDA, T. Arborização urbana viária no bairro da Ronda, Ponta Grossa - PR: composição e avaliação.
100f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) - Universidade Estadual de Ponta Grossa.
2008.
QUADROS, G. P. Arborização Urbana na Área Central de Ponta Grossa: Implantação, Preservação e
Monitoramento. Ponta Grossa. 130f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) -
Universidade Estadual de Ponta Grossa. 2005.
ROSSATO, D, R, TSUBOY, M. S. F.; FREI, F. Arborização Urbana na cidade de Assis – SP: Uma abordagem
quantitativa. Rev. SBAU, Piracicaba, 2008. v. 3, n.3, p. 1-16, dez.
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SILVA, E. C. A.; CASTRO, R. C. C.; QUEIROZ FILHO, M. N.; SOUZA, W. 2010. Uso de espécies exóticas na
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Consultado em 16 de abril de 2012. Disponível em
http://www.sigeventos.com.br/jepex/inscricao/resumos/0001/R0896-1.PDF.
SILVA, L. M.; HASSE, I.; CADORIN, D. A.; OLIVEIRA, K. A.; OLIVEIRA, F. A. C.; BETT, C. F. Inventário da
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Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) – Universidade Estadual de Ponta Grossa.
2006.
VILELA, J. C. Levantamento Quantitativo e Qualitativo de indivíduos arbóreos presentes nas vias do
Bairro Estrela em Ponta Grossa/Pr. 95f. Ponta Grossa. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
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ZILLER, S. R.. Os processos de degradação ambiental originados por plantas invasoras. Revista Ciência
Hoje. 2001. n.178, dez.