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INTRODUÇÃO
O mundo de hoje exige formação profissional bem diferente da que até
então era necessária. O profissional precisa ter visão globalizada dos problemas e
de suas soluções, iniciativa de pesquisa e procura de informações, análise crítica
do avanço tecnológico, criatividade nas decisões e relacionamento
multidisciplinar cooperativo no seu ambiente de trabalho (FRANÇA, 2001;
HÉRCULES, 1997a; KIELY, 2003; NORDBY, 2003).
A integração de seu conhecimento com outras áreas do saber é muito
importante. É preciso que o profissional seja capaz de encontrar soluções de
integração do técnico com o conjunto problemático (HAGLUND; SORG, 1997).
A Medicina Legal tem, necessariamente, de estar nesse contexto atual. É
uma ciência que nasceu das exigências da justiça, tendo de se adaptar aos avanços
científicos do momento histórico, como também às necessidades sociais e ao
ordenamento jurídico vigente (FRANÇA, 2001; KIELY, 2003). Ela está em
contínua adaptação e expansão. Seus conteúdos e sua metodologia se modificam,
não apenas pelos avanços tecnológicos e conhecimentos biomédicos, como
também pelas mudanças que acontecem no mundo do Direito (CAÑADAS, 2005;
FRANÇA, 2001). A Medicina Legal tem um leque de atividades que a envolve, o
que contribui, fundamentalmente, para o funcionamento da justiça e para resolver
inúmeras questões materiais e morais a ela relacionada (KNIGHT, 1997;
NORDBY, 2003).
Devido à contribuição multiprofissional, a Medicina Legal foi invadida por
uma enorme quantidade de informações e acontecimentos, principalmente, no que
diz respeito aos avanços das ciências biológicas (NORDBY, 2003; SORG, 2003).
Com o passar dos dias, mais se têm alargado os horizontes dessa curiosa e
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apaixonante matéria e sua contribuição para o meio jurídico tem sido de grande
valia. Onde houver a necessidade do saber técnico e científico, não pode ser
dispensada a contribuição dos peritos. Segundo França (2001):
Não há vocação maior que a inclinação às perícias médico-forenses, em que a rocha, muitas vezes, é cavada com as mãos e o seu trabalho se perde no anonimato e no silêncio, pois que dele tomam conhecimento apenas as autoridades policial-judiciárias.
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ESTIMATIVA DO TEMPO DE MORTE COMO UM DESAFIO MÉDICO – LEGAL
A determinação da data da morte é um dos problemas mais complicados e
difíceis que se pode apresentar ao médico legista (COE, 1989; GOFF; FLYNN,
1991; GRELLNER; GLENEWINKEL, 1997; HÉRCULES, 1997b). Os autores
clássicos como Orfila, Thoinot e Corin (apud CAÑADAS, 2005) acreditavam ver
na solução desse problema um propósito superior às forças do homem e são
muitos os trabalhos consagrados a esse tema (NOKES et al., 1992; QUERIDO,
1998; QUERIDO; PILLAY, 1988; SPARKS et al., 1989; STHEPHENS;
RICHARDS, 1987; WEHNER et al., 1999; WEHNER; WEHNER; SUBKE,
2001; WILLEY; HEILMAN, 1987).
O fator cronológico está tão intimamente ligado à Medicina Legal que é
uma de suas características mais peculiares (JAAFAR; NOKES, 1994; KNIGHT,
1991; LANGE; SWEARER; STURNER, 1994; MUÑOZ et al., 2001). A
determinação do tempo, às vezes, está acima de todas as atuações periciais e é
sempre uma questão médico-legal a resolver (DI MAIO; DI MAIO, 1993;
GRELLNER; GLENEWINKEL, 1997). Assim, desde a data da fecundação,
tempo de gestação, parto, tempo de sobrevivência do recém-nascido, idade do
sujeito vivo, cronologia das lesões até os problemas cronológicos que surgem
depois da morte, quando sobram restos mortais ou fragmentos de ossos, esse
problema está, continuamente, presente no trabalho médico-legal (BREITMEIER
et al., 2005; FRANÇA, 2001; GALLOWAY, 1997; HÉRCULES, 1997b;
YOSHINO; KIMIJIMA, 1991).
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França (2001) conceitua Tanatocronodiagnose ou Cronotanatognose ou
Diagnóstico Cronológico da Morte o espaço de tempo verificado entre diversas
fases do processo de decomposição do cadáver e o momento em que se verificou a
morte. Quanto maior é esse espaço, tanto mais difícil será a perícia.
Os fenômenos cadavéricos estudados ainda se apresentam insuficientes
para determinar o tempo da morte, pois, como se sabe, ela se constitui num
processo e não num momento exato (CAÑADAS, 2005; GILL-KING, 1997).
Quanto maior o intervalo postmortem, tanto mais difícil se torna determinar o
tempo de morte (KAHANA et al., 1999). Vários são os fatores internos e externos
que influenciam a evolução da morte (CAMPOBASSO; DI VELLA; INTRONA,
2001; RODRIGUEZ, 1997; ROTHSCHILD; SCHMIDT; SCHNEIDER, 1996) e
por isso sua cronologia varia de caso para caso (HENSSGE; MADEA;
GALLENKEMPER, 1988; SCHOENLY; GRIEST; RHINE, 1991; SMIALEK;
LEVINE, 1998). As exumações têm mostrado como são diversificados esses
resultados (GRELLNER; GLENEWINKEL, 1997).
Estabelecer com maior aproximação possível o momento da morte tem
grande importância. Isto pode interessar isoladamente, indicar com precisão
quando um determinado indivíduo morreu ou estabelecer a ocorrência da morte
em tempos muitos próximos (KNIGHT, 1991). No campo do Direito Penal,
afirmar o momento da morte pode representar o êxito ou o fracasso da
investigação policial no esclarecimento de um crime (KIELY, 2003). Começar
uma pesquisa com o erro de situar mal o momento de uma agressão mortal pode
presumir culpar um inocente ou inocentar o verdadeiro culpado (HÉRCULES,
1997b).
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Estabelecer o tempo de morte pode ser de extraordinária ajuda na
investigação criminal e o seu insucesso pode tornar impossível a reconstrução dos
fatos (HAGLUND; REAY, 1993).
O problema de se determinar o momento da morte é, essencialmente,
médico-legal e não apenas anatômico (CAÑADAS, 2005). Para o bom
desempenho da perícia é preciso recorrer a todas as evidências (HAGLUND;
REAY; SNOW, 1987), havendo ocasiões em que elementos estranhos ao processo
de decomposição do cadáver proporcionarão informações de grande valor na
cronotanatognose (SMITH, 1993).
Na realidade, não há lei que regule a evolução da putrefação, a qual pode
ser rápida em certas condições e de uma lentidão surpreendente em outras
(CAÑADAS, 2005; GONZALO, 2005). Além disso, as transformações
conservadoras dos cadáveres podem modificar seus prazos de destruição, embora
em alguns casos, sejam capazes de proporcionar, por si mesmas, indícios
cronológicos (COTTON; AUFDERHEIDE; GOLDSCHMIDT, 1987;
GALLOWAY, 1997; GALLOWAY et al., 1989; HAGLUND, 1993).
Nem sempre a putrefação destrói o cadáver num prazo relativamente curto
de tempo. Em determinadas circunstâncias, o processo putrefativo se detém uma
vez já iniciado e, outras vezes, atuam agentes físicos e biológicos que impedem o
progresso dos fenômenos destrutivos cadavéricos. Como conseqüência de ambas
as possibilidades, o cadáver pode permanecer conservado (CABIROL et al., 1998;
CLARK; WORREL; PLESS, 1997).
As circunstâncias que detêm a putrefação, uma vez iniciada, estão
representadas pelos processos naturais conservadores dos cadáveres, que são a
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mumificação, a saponificação ou adipocera, a calcificação e a corificação
(FRANÇA, 2001; GONZALO, 2005; HÉRCULES, 1997b). A investigação para
confirmar a formação de adipocera mereceu nosso interesse na presente
investigação dando continuidade a uma linha de pesquisa desenvolvida no Centro
de Medicina Legal (CEMEL) do Departamento de Patologia da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
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SAPONIFICAÇÃO E ADIPOCERA
A saponificação é um processo transformativo do cadáver, que consiste em
mudança química da gordura corporal convertida, por hidrólise, em composto
ceroso similar aos sabões (FORBES et al., 2004). Isso leva à formação de uma
armadura gordurosa, untosa, viscosa num estado úmido, mas que depois de seca
ao ar, adquire consistência dura, granulosa e de cor cinza-esbranquiçada. Ocorre
de fora para dentro, envolvendo o tronco e o esqueleto em suas extremidades.
Pode ocorrer de forma parcial ou geral (MELLEN; LOWRY; MICOZZI, 1993).
Fourcroy (1789 apud GONZALO, 2005) descreveu, pela primeira vez, o
processo de saponificação em alguns cadáveres exumados no Cemitério dos
Inocentes em Paris e, devido às características de uma substância que possuía
propriedades intermediárias entre a gordura e a cera, foi-lhe dada o nome
adipocera. Depois da Segunda Guerra Mundial, os estudos sobre o tema foram
intensificados (MAC LEOD, 1946; MANT, 1950; EVANS, 1963 apud
GONZALO, 2005), pois a inumação massiva de combatentes falecidos nas
grandes batalhas gerou facilidade na obtenção de grande quantidade de
exumações (MANT, 1987 apud VASS et al., 1992).
O processo de saponificação começa nas partes do corpo que contêm
maior quantidade de gordura, as primeiras a se transformarem em adipocera. Aos
poucos, vai-se estendendo pelo corpo, de modo que, em condições favoráveis,
toda gordura subcutânea pode ser envolvida no processo (MELLEN; LOWRY;
MICOZZI, 1993).
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Segundo Dix (1987), França (2001) e Gonzalo (2005), para que haja a
formação da adipocera se requer que ocorram certas condições ambientais e
individuais. Tal processo ocorre nas seguintes circunstâncias quando:
1. O cadáver está submergido em água parada ou de pouca corrente.
2. O cadáver está inumado em solo argiloso ou úmido.
3. Numerosos cadáveres estão enterrados uns em contato com os outros.
Determinadas condições individuais também desempenham um papel
importante na formação da adipocera. São elas:
1) Idade: a adipocera é freqüente nas crianças, pois a quantidade de
gordura subcutânea é proporcionalmente maior que nos adultos.
2) Sexo: o organismo feminino contém mais gordura do que o do homem.
3) Obesidade: ocorre muito raramente nos cadáveres de sujeitos magros e
caquéticos.
4) Condições patológicas: alcoolismo e outras intoxicações podem
originar uma alteração gordurosa.
Quando o processo de formação de adipocera abrange grandes partes do
corpo, o cadáver pode se conservar durante muito tempo e, aí surge um grande
interesse médico-legal pela possível comprovação, mesmo depois de um longo
tempo após a morte, de eventuais lesões nela presentes.
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HORMÔNIOS SEXUAIS
Os esteróides gonodais, em altas concentrações, são responsáveis pelo
desenvolvimento das características sexuais primárias e secundárias (OLSEN;
KOVACS, 1996).
Essas características sexuais secundárias, além dos próprios órgãos
sexuais, distinguem o sexo masculino do sexo feminino nos seguintes aspectos: 1)
distribuição dos pêlos corporais; 2) calvície; 3) voz; 4) pele e desenvolvimento de
acne; 5) desenvolvimento muscular; 6) crescimento; 7) metabolismo basal; 8)
equilíbrio hidroeletrolítico, entre outros (BYDLOWSKI, 2002a; GUYTON;
HALL, 2002).
Douglas (2002) afirma que antes da puberdade, tanto o esqueleto quanto a
massa corporal magra e o conteúdo de gordura são iguais nos dois sexos. Porém,
após a puberdade, a massa corporal magra e o esqueleto cresceram 1,5 vezes mais
no homem do que no sexo feminino, enquanto o conteúdo de gordura cresceu
duas vezes mais na mulher.
Os testículos secretam diversos hormônios sexuais masculinos, que são
coletivamente denominados androgênios. A testosterona, que é o mais abundante,
é considerado o hormônio testicular fundamental (GUYTON; HALL, 2002;
OLSEN; KOVACS, 1996).
A testosterona age desenvolvendo e logo mantendo uma função elevada de
tecidos e órgãos sexuais masculinos, como também de outros tecidos sensíveis,
que sob sua influência adquirem características masculinas (DOUGLAS, 2002).
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A partir do desenvolvimento testicular, o crescimento do esqueleto se
acelera, verificando-se aumento da espessura e densidade dos ossos, que se
tornam mais fortes e resistentes. Há maior desenvolvimento do tórax tornando-se
o diâmetro biacromial (entre os ombros) maior que o diâmetro bitrocantéreo
(pelve), ao contrário do que ocorre no sexo feminino sob a ação estrogênica
(HANDELSMAN, 2001).
Os músculos esqueléticos também aumentam de tamanho por hipertrofia,
manifestando-se mais salientes e fortes, assim, somaticamente o individuo do sexo
masculino torna-se mais resistente e apto para suportar melhor o trabalho físico e
a fadiga muscular (CATLIN, 2001). A testosterona aumenta a taxa metabólica
corporal, determinando maior consumo de oxigênio e tornando mais elevados os
requerimentos energéticos alimentares no sexo masculino, em relação ao sexo
feminino da mesma característica física (BAGATELL; BREMNER, 1996).
Os dois tipos de hormônios sexuais ovarianos são os estrogênios e as
progestinas. O mais importante dos estrogênios é o hormônio estradiol enquanto a
progestina mais importante é a progesterona (GUYTON; HALL, 2002)
Os estrógenos atuam como um hormônio estimulante nos tecidos dos
órgãos sexuais, e em outros ligados à reprodução. Causam deposição de gorduras
nas mamas, o desenvolvimento de seu estroma e o crescimento do sistema
canalicular. No tecido ósseo, os estrógenos estimulam a atividade osteoblástica,
provocando maior crescimento durante a fase puberal. Por outro lado, estimulam a
fusão das epífises ósseas por ossificação da cartilagem epifisária, cessando
precocemente o crescimento estatural (WEIGEL; ROWAN, 2001; BYDLOWSKI,
2002b).
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Os estrógenos acentuam o depósito de gordura no tecido subcutâneo e nas
mamas, além de fazê-lo também especialmente em outras partes específicas, como
nádegas e nas coxas por acentuação do número de células adiposas. O estradiol
tem ação mineralocorticóide, aumentando a reabsorção de sódio e água,
provocando retenção hidroeletrolítica (BYDLOWSKI, 2002b; GUYTON; HALL,
2002).
A ação da progesterona aumenta acentuadamente o conteúdo de glicogênio
das células. Nas mamas, a progesterona promove desenvolvimento dos lóbulos e
alvéolos mamários, que adquirem aspecto secretor. Pode também aumentar a
reabsorção renal de eletrólitos e de água (WEIGEL; ROWAN, 2001;
BYDLOWSKI, 2002b).
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HIPÓTESE DE TRABALHO
Estudos têm documentado como é variável a decomposição corporal, uma
vez que muitos fatores ambientais estão envolvidos. O processo pelo quais os
restos mortais se modificam depende da região, meio ambiente, das circunstâncias
em que eles são deixados, temperatura, umidade, condições aeróbicas e
anaeróbicas, além da presença de microrganismos e condições do solo (FORBES;
DENTB; STUART, 2005; SLEDZIK; MICOZZI, 1997; UBELAKER, 1997;
YAN et al., 2001). A transição entre a hora da morte de um corpo e a sua
esqueletização considerando as mudanças postmortem dos restos mortais onde são
encontrados é denominada Tafonomia (BEHRENSMEYER, 1984; HAGLUND,
2003; HAGLUND; SORG, 1997). Esses fatores são amplamente considerados
como interferentes na totalidade do processo que envolve a preservação ou não do
cadáver (BOYLE; GALLOWAY; MASON, 1997; HANZLICK, 1994; MICOZZI,
1986).
Devido às dificuldades de isolar fatores específicos que interferem na
decomposição do corpo humano ou de animais no meio ambiente, observações
experimentais têm contribuído para o entendimento dos mecanismos biológicos
envolvidos na tafonomia, principalmente aqueles relacionados a fenômenos de
preservação de tecidos (TAKATORI, 1996; TAKATORI, 2001).
Muito do que é cientificamente conhecido sobre a decomposição de corpos
foi e continua sendo pesquisado na “fazenda de corpos” da Universidade do
Tennessee – Knoxville (BASS, 1979; BASS; DRISCOLL, 1983; BASS;
BENNETT, 2000). Neste grande laboratório ao ar livre, cientistas forenses
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estudam o que acontece com os corpos humanos após a morte. Estes corpos, que
foram doados ou não reclamados, são colocados em ambientes que reproduzem as
condições da cena do crime como, por exemplo, corpos encontrados dentro de
carros, submersos em água, enterrados ou deixados expostos no meio ambiente.
Todas essas pesquisas têm auxiliado a esclarecer o processo de decomposição
cadavérica com o tempo de morte transcorrido (MANN; BASS; MEADOWS,
1990; VASS et al., 1992).
Contudo, a maioria dos estudos preocupa-se com fatores ambientais
relacionados ao processo de decomposição corporal (FORBES; DENTB;
STUART, 2005; O’BRIEN, 1997; RODRIGUEZ; BASS, 1985) enquanto pouco
se investigam os fatores relacionados às características biológicas do corpo, tais
como sexo, idade e proporção de gordura corporal. Porém, há pouca informação
na literatura sobre o papel específico do gênero na decomposição de corpos.
Em trabalho preliminar desenvolvido no CEMEL do Departamento de
Patologia da FMRP-USP, Rocha, Guimarães e Martin (2000) determinaram o
tempo de esqueletização completa de ratos Wistar (machos e fêmeas) em
diferentes tipos de sepulturas. Foi observado que o tempo de esqueletização de
ratos em sepultura de cimento é significativamente menor que o tempo de animais
sepultados diretamente na terra, o que orientou o uso do primeiro tipo de
sepultamento em estudos experimentais.
Outro dado observado, que chamou a atenção, foi a decomposição
cadavérica das fêmeas apresentar-se de modo diferente do observado nos machos.
Aparentemente, o processo de decomposição ocorreu de maneira mais lenta nas
fêmeas, uma vez que essas apresentavam resíduos de tecidos em decomposição
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em maior quantidade que os machos, que se encontravam totalmente
esqueletizados (ROCHA; GUIMARÃES; MARTIN, 2000).
Em estudo posterior Guimarães et al. (2004) descreveram o
desenvolvimento de um modelo experimental para verificar a relação entre
decomposição corpórea e sexo em ratos Wistar. Os dois grupos de animais
(machos e fêmeas) foram sepultados no mesmo local, sob as mesmas condições
ambientais, durante o mesmo intervalo de tempo. Os resultados confirmaram a
diferença da decomposição corporal entre machos e fêmeas observada,
inicialmente, no estudo de Rocha, Guimarães e Martin (2000, 2002).
Partindo do fato de que os hormônios sexuais são os responsáveis pela
diferenciação e manutenção das características sexuais (FODOR; VAN
LEEUWEN; SWAAB, 2002; SEALE et al., 2005; TRUDEAU et al., 2001), foi
decidido investigar a relação entre esses hormônios e a decomposição corpórea.
Para tal finalidade, esses dois grupos de animais foram divididos de acordo
com a fase hormonal predominante em que se encontravam até o momento da
morte, para investigar se os hormônios sexuais são um dos fatores responsáveis
pela diferença observada na decomposição corpórea.
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OBJETIVOS
Os objetivos propostos para o trabalho foram:
1) Registrar e comparar as variáveis ambientais temperatura, umidade
relativa do ar, chuvas e as variáveis corporais peso e teor de gordura
dos animais.
2) Descrever, macroscopicamente, a esqueletização comparando-se os
grupos segundo sexo e fase hormonal.
3) Identificar a composição da massa cadavérica proveniente dos restos
da decomposição corpórea através do método da cromatografia gasosa.
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MATERIAL e MÉTODOS
ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA
O protocolo de pesquisa com o número 05.1.441.53.4 foi submetido a
revisão ética e aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) do
Campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).
ANIMAIS
Foram utilizados ratos da linhagem Wistar, sendo 30 machos e 60 fêmeas
provenientes do Biotério Geral do Campus de Ribeirão Preto da Universidade de
São Paulo (USP), com idade aproximada de 20 dias e pesando entre 45 e 60g.
Esses foram alojados no Biotério do Departamento de Patologia da FMRP-USP e
mantidos em caixas de polipropileno forradas com maravalha, contendo cinco
animais em cada uma, tendo livre acesso à alimentação (ração comercial para
roedores) e água, sob estrito ciclo claro/escuro de 12/12h (luzes tubulares
fluorescentes acesas das 7h às 19h) mantidas por controlador digital e temperatura
de 23±2ºC.
FORMAÇÃO DOS GRUPOS
Machos: o grupo dos machos foi dividido em três subgrupos nomeados da
seguinte maneira:
10 Machos castrados sem reposição de testosterona (MCST)
10 Machos castrados com reposição de testosterona (MCCT)
10 Machos controles da testosterona (MCoT)
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Fêmeas: o grupo das fêmeas foi dividido em seis subgrupos nomeados da seguinte
maneira:
10 Fêmeas controles na fase diestro (FCoD)
10 Fêmeas controles na fase estro (FCoE)
10 Fêmeas controles na fase proestro (FCoP)
10 Fêmeas castradas sem reposição de hormônio (FCSH)
10 Fêmeas castradas com reposição de estrógeno (FCCE)
10 Fêmeas castradas com reposição de progesterona (FCCP)
GRUPO DOS MACHOS
O experimento foi iniciado por esse grupo e os animais foram pesados
semanalmente, por três meses, quando atingiram o peso corporal entre 350 e
450g.
Cirurgia
Dentre os 30 ratos utilizados, 10 deles foram submetidos a cirurgia de
castração entre o 21º e o 25º dia de vida.
Os mesmos foram anestesiados com tribromoetanol (Acros Oragnics, New
Jersey, USA) a 2,5% diluído em solução salina 0,9%, sendo 1mL de solução para
cada 100g de peso corpóreo e então submetidos a cirurgia para retirada dos
testículos por técnica padrão através de incisão na bolsa escrotal.
Reposição hormonal
A reposição hormonal foi feita utilizando DURATESTON® (Decanoato de
testosterona, Fenilpropianato de testosterona, Isocaproato de testosterona,
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Propionato de testosterona) com concentração de 0,6µg/mL de óleo para injeção
subcutânea, sendo 0,1mL de solução para cada 100g de peso corpóreo.
Duas semanas após a cirurgia, com aproximadamente trinta dias de vida, o
subgrupo MCCT recebeu a primeira dose de reposição hormonal e após 21 dias o
subgrupo recebeu a segunda e última dose de hormônio. A morte dos animais foi
feita com aproximadamente 80 dias de vida quando esses atingiram o peso
corporal entre 350 e 450g.
GRUPO DAS FÊMEAS
Após o término do experimento com o grupo dos machos foram iniciados
os trabalhos com esse grupo onde os animais foram pesados semanalmente, por
cinco meses, quando atingiram o peso corporal entre 350 e 450g.
Ciclo Estral
Diariamente, foi observado quando ocorreria a abertura do orifício vaginal.
Confirmada a abertura, foi realizada, sempre no período da manhã (7-9h), a coleta
de lavado de secreção vaginal com pipeta romba e solução salina 0,9%. O lavado
foi gotejado em lâminas de vidro para microscopia e analisado a fresco por
observação em microscópio óptico (Figura 1). Segundo Freeman (1994), as fases
do ciclo estral foram consideradas como:
− Proestro: caracterizada pela predominância de células epiteliais nucleadas.
Essas células são esféricas, visivelmente nucleadas e aparecem agrupadas
no pico dessa fase. O hormônio predominante é o estradiol.
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− Estro: predominância de células epiteliais escamosas cornificadas. Sua
forma é irregular, o citoplasma é granulado e não se observa o núcleo.
Essas células aparecem, também, em grande quantidade. Nessa fase estão
atuando os hormônios estradiol e progesterona.
− Diestro: a célula dominante nessa fase é o leucócito podendo estar
presentes células epiteliais cornificadas. O hormônio predominante é
estradiol.
O ciclo estral tem duração de 4-5 dias. O período de cada fase é variável,
sendo, a duração do proestro de 12-14h, do estro de 25-27h e diestro de 55-57h.
Os animais que apresentaram ciclo estral irregular foram selecionados para
ooforectomia bilateral. No momento da morte, foram formados os subgrupos de
acordo com a fase do ciclo em que se encontravam.
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Figura 1. Tipos celulares presentes no lavado de secreção vaginal das ratas durante as fases do ciclo estral (X 100). (A) Proestro caracterizada pela predominância de células epiteliais visivelmente nucleadas. (B) Estro distintamente caracterizada pela predominância de células epiteliais escamosas cornificadas com forma irregular, citoplasma granulado e ausência de núcleo. (C) Diestro é caracterizada pela predominância de leucócitos
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A
C
B
Cirurgia
Dentre as 60 fêmeas utilizadas, 30 foram selecionadas e submetidas a
ooforectomia bilateral com aproximadamente 50 dias de vida.
Os animais foram anestesiados com tribromoetanol (Acros Oragnics, New
Jersey, USA) à 2,5% diluído em solução salina 0,9%, sendo 1mL de solução para
cada 100g de peso corpóreo e então submetidos a cirurgia.
Reposição hormonal
Segundo Moorthy et al. (2004) a reposição hormonal deve ser feita por
quatro dias consecutivos. Essa reposição foi feita quatro dias antes da morte
desses animais, quando eles estavam com aproximadamente 150 dias de vida e
pesando entre 350-450g. Dos seis subgrupos, dois receberam reposição hormonal,
da seguinte maneira:
a) O subgrupo FCCE recebeu doses de cipionato de estradiol (17β-
cipionato de estradiol – Sigma, St. Louis, MO, USA) de 0,1μg/g p.c., ou seja, 10µ
g/100µl de veículo oleoso para cada 100g de peso corpóreo, por via subcutânea.
b) O subgrupo FCCP recebeu doses de progesterona (Sigma, St. Louis,
MO, USA) de 2,5μg/g p.c., ou seja, 250µg/100µl de veículo oleoso para cada
100g de peso corpóreo, por via subcutânea.
MORTE E SEPULTAMENTO
Machos e fêmeas foram observados até atingirem o peso entre 350 e 450g,
como realizado em Rocha, Guimarães e Martin (2000, 2002) e Guimarães et al.
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(2004), quando foram mortos em câmara de CO2 (ANDERSEN et al., 2004). A
morte dos animais foi feita em datas diferentes. Primeiramente, em fevereiro, foi
feita a morte apenas do grupo dos machos e em janeiro do ano seguinte a morte
das fêmeas.
Confirmada a morte dos animais, foram eles envolvidos individualmente
em gaze e algodão e colocados em caixas de madeira, representando uma urna,
medindo 47 x 23 x 9 cm, divididas em cinco compartimentos de 20,2 x 8 x 7,8
cm, para conter um animal em cada, sendo então fechadas com tampa de madeira.
O fundo de cada compartimento foi forrado com uma camada de folha de
alumínio e uma camada de papel filtro sobre essa (Figura 2A), para evitar o
contato direto dos corpos com a madeira, seguindo o procedimento de Guimarães
et al. (2004).
As urnas foram identificadas de acordo com o grupo e colocadas num
recipiente de cimento (caixa d’água) adquirido no comércio, medindo 65 x 49 x
44 cm, colocado em buraco cavado no solo para servir como sepultura (Figura
2B), nas dependências do Biotério Geral do Campus de Ribeirão Preto da USP.
Dentro dessa sepultura as urnas foram colocadas sobre tijolos mantendo uma
distância de 18 cm do fundo (Figura 2C), para evitar seu contato com líquidos que
pudessem se acumular no fundo, evitando exposição diferenciada à água.
Cada subgrupo foi dividido em duas urnas, sendo que uma foi colocada em
contato com tijolo e a outra sobre a primeira (Figura 2D). A sepultura foi tampada
para evitar o acesso de predadores. Desse modo, todos os animais foram mantidos
sob as mesmas condições ambientais (Figuras 2E e 2F). Após 120 dias de
sepultamento, com base em dados prévios descritos por Rocha, Guimarães e
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Martin (2000, 2002) e Guimarães et al. (2004), a exumação dos animais foi
realizada.
Os restos mortais foram levados ao Laboratório de Antropologia Forense
do Centro de Medicina Legal (CEMEL) da FMRP-USP para realização das
análises e registro fotográfico. Ao término das análises o descarte do material
restante foi eliminado como lixo hospitalar, segundo a normatização vigente
(ANDERSEN et al., 2004).
26
Figura 2. Etapas da morte e sepultamento dos animais. A) urna com divisórias forrada com papel alumínio e filtro contendo animais envolvidos em gaze e algodão; B) recipiente de cimento enterrado no solo representando a sepultura; C) sepultura com tijolos colocados no fundo da sepultura; D) urnas dentro da sepultura sobre os tijolos; E) sepultura utilizada para inumação dos machos e F) sepulturas utilizadas para inumação das fêmeas
27
3
A B
C D
E F
VARIÁVEIS
Temperatura
O experimento procedeu-se sob as condições ambientais do local. Em
intervalos de 24 horas, foram apenas registradas as temperaturas máxima e
mínima durante os dois diferentes períodos de inumação.
Umidade Relativa do Ar e Chuvas
O registro diário da umidade relativa do ar durante os períodos de
inumação foi obtido através do Centro de Cana-de-açúcar do Instituto
Agronômico de Campinas (IAC) – Unidade de Ribeirão Preto.
Em relação às chuvas foi observado se a água da chuva invadiu ou não a
sepultura deixando os corpos imersos em água e assim interferindo no
experimento.
Pesos
O peso dos animais foi registrado semanalmente. Entretanto, o peso foi
verificado em quatro momentos especiais:
1) inicial: quando os animais foram recebidos no biotério;
2) antemortem: foi o período antes e após a administração dos hormônios.
Foi observada a variação de peso principalmente para os subgrupos FCSH,
FCCE e FCCP porque esses dois últimos subgrupos receberam
doses de reposição hormonal por quatro dias consecutivos.
Não foi feito o acompanhamento diário da medida de peso do
28
subgrupo MCCT porque esse recebeu doses de reposição
hormonal a cada vinte e um dias.
3) no momento da morte;
4) no momento da exumação.
Gordura
No momento da morte dos animais foi feita a medida de gordura no dorso
de cada um utilizando-se um paquímetro.
ANÁLISES ESTATÍSTICAS
Os resultados foram organizados em uma base de dados
utilizando o software Statistical Package for Social Sciences (SPSS),
versão 10.1 para o Windows e os dados tratados, estatisticamente,
através da análise descritiva e inferencial. O nível de significância
utilizado foi α=0,05.
Foram feitas análises para as seguintes situações:
1) Temperatura e Umidade Relativa do Ar: foi verificado se houve
diferenças estatisticamente significativa entre as médias das
temperaturas e da umidade relativa do ar em que os grupos
ficaram expostos, sendo utilizado o Teste t de Student. Esse é
um teste paramétrico, por se tratar de uma amostragem
superior a 30 que compara duas amostras independentes.
29
2) Normalidade dos valores: por se tratar de subgrupos com uma
amostragem pequena (n=10), para verificar a Normalidade na
distribuição dos pesos (inicial, antemortem, no momento da
morte e na exumação) e na medida de gordura no dorso do
animal, inicialmente, foi utilizado o teste não-paramétrico de
Kolmogorov-Smirnov.
3) Pesos: para avaliar, entre os nove subgrupos, se houve diferenças
estatisticamente significativa na média dos pesos, foi realizado o teste da
Análise de Variância (ANOVA). Esse é um teste paramétrico, que
compara mais que duas amostras independentes. Quando
necessário, o teste Post Hoc de Tukey foi aplicado para
identificar os subgrupos diferentes.
4) Peso antemortem: essa análise foi realizada somente para os subgrupos FCSH,
FCCE e FCCP através do teste paramétrico t pareado que compara
duas amostras dependentes.
5) Gordura: para avaliar, entre os nove subgrupos, se houve diferenças
estatisticamente significativa na média da medida de gordura, foi realizado o
teste da Análise de Variância (ANOVA). Esse é um teste
paramétrico, que compara mais que duas amostras
independentes. Quando necessário, o teste Post Hoc de Tukey
foi utilizado para identificar os subgrupos diferentes.
Todas as médias foram apresentadas com seu desvio padrão.
30
ANÁLISE CROMATOGRÁFICA
Para a pesquisa de ácidos graxos foram colhidas amostras da massa
cadavérica proveniente dos restos da decomposição corpórea, que foram
encaminhadas ao Laboratório de Nutrição do Hospital das Clínicas da FMRP-
USP.
A extração dos ácidos graxos foi feita a 80ºC com clorofórmio-metanol,
segundo o método de Folch, Lees e Stanely (1956) modificado. Para a
identificação do composto, foi utilizado o cromatógrafo gás-líquido HP5890 Série
II utilizando a coluna Techonology IMC cat. 19091N-213 da Agilent.
A pressão de nitrogênio e hidrogênio foi mantida a 30mL/min e a pressão
do ar sintético a 300mL/min. Foi feita análise programada com temperatura inicial
da coluna a 180ºC e com temperatura final a 250ºC. A temperatura de injeção era
de 220ºC e a do detector era de 260ºC.
CRITÉRIOS PARA AVALIAR OS GRAUS DE ESQUELETIZAÇÃO
Foi criado um padrão para descrever a decomposição corpórea tendo como
referência o próprio esqueleto do animal, sendo chamado de grau de
esqueletização. Apenas três graus foram estabelecidos para a esqueletização: a
completa, a parcial e a mínima. Também foram descritas a presença de pele ou
pêlos.
31
A esqueletização foi considerada completa quando o esqueleto era visível,
com os ossos soltos, secos e sem resíduos, sem aderência de ligamentos, tendões e
restos musculares e completa ausência de tecidos moles.
A esqueletização foi considerada parcial quando partes do esqueleto eram
visíveis, apresentando restos musculares ou aderência de ligamentos, tendões e
massa cadavérica recobrindo algumas partes do esqueleto.
Já a esqueletização mínima foi quando os corpos estavam completamente
recobertos pela massa cadavérica ou até com presença de órgãos e vísceras,
apresentando muita umidade, onde não era possível visualizar o esqueleto.
32
33
RESULTADOS
TEMPERATURA
Externamente à sepultura, foram registradas as temperaturas máxima e
mínima para cada grupo em seu respectivo intervalo de 120 dias de inumação.
Para o grupo dos machos foi registrada a temperatura máxima de 42 ºC e a
temperatura mínima de 5ºC, obtendo-se uma média geral de 25,2±11,1 ºC
(Gráfico 1). A média da temperatura máxima foi de 35,3±4,9 ºC (Gráfico 2) e a
média da temperatura mínima foi de 15,1±4,3 ºC (Gráfico 3).
Para o grupo das fêmeas foi registrada a temperatura máxima de 46 ºC e a
temperatura mínima de 13ºC, obtendo-se uma média geral de 29,6±11,6 ºC
(Gráfico 1). A média da temperatura máxima foi de 40,7±3,5 ºC (Gráfico 2) e a
média da temperatura mínima foi de 18,5±2,4 ºC (Gráfico 3).
Na comparação entre as médias gerais das temperaturas dos dois grupos
foi observada diferença estatisticamente significativa (p=0,014).
34
Gráfico 1. Média geral(± DP) das temperaturas para cada grupo de animais em 120 dias de inumação
Gráfico 2. Média (± DP) das temperaturas máximas para cada grupo de animais em 120 dias de inumação
Gráfico 3. Média (± DP) das temperaturas mínimas para cada grupo de animais em 120 dias de inumação
35
GRUPOS
FêmeaMacho
95%
CI T
EMP
4442
40
38
36
3432
30
28
26
2422
20
18
16
1412
GRUPOS
FêmeaMacho
95%
CI T
EMP_
MAX
4442
40
38
36
3432
30
28
26
2422
20
18
16
1412
GRUPOS
FêmeaMacho
95%
CI T
EMP_
MIN
4442
40
38
36
3432
30
28
26
2422
20
18
16
1412
ºC
ºC
ºC
p=0,014
UMIDADE RELATIVA DO AR E CHUVAS
A umidade relativa do ar para o grupo dos machos variou entre 65 – 98%
obtendo-se uma média de 88,7±7,0 % (Gráfico 4).
Para o grupo das fêmeas a umidade relativa do ar variou entre 67 – 98%
obtendo-se uma média de 87,7±7,8 % (Gráfico 4).
Na comparação entre as médias não foi observada diferença
estatisticamente significativa (p=0,240).
Em relação às chuvas não foi observado o acúmulo de água da dentro da
sepultura.
Gráfico 4. Média (± DP) da umidade relativa do ar para cada grupo de animais em 120 dias de inumação
36
Umidade Relativa do Ar
75
80
85
90
95
100
Porc
enta
gen
Machos Fêmeas
p=0,240
NORMALIDADE DOS VALORES
O teste de Kolmogorov-Smirnov mostrou que houve
Normalidade na distribuição dos pesos inicial, antemortem, no
momento da morte e na exumação. A Tabela 1 mostra os valores
(em g) das médias dos pesos de acordo com cada fase do
experimento para seu respectivo subgrupo e o valor da
probabilidade (p) associada ao teste estatístico.
Tabela 1 – valores (em g) das médias (±DP) dos pesos de acordo com cada fase do experimento para seu respectivo subgrupo e o valor da probabilidade (p) associada ao teste estatístico.
Início Antemortem Morte ExumaçãoMédia±
DPp Média±
DPp Média±
DPp Média±
DPp
MCST 53,4±4,0 0,602
377,0±49,0 0,979
97,8±19,9 1,00
MCCT
52,9±3,4 0,800
370,0±38,3 0,804
98,6±27,4 0,349
MCoT 55,5±2,9 0,798
382,0±41,6 0,699
66,1±28,1 0,673
FCoD 53,5±5,3 0,582
347,0±33,0 0,834
60,1±20,5 0,705
FCoE 59,5±11,6 0,359
371,0±41,7 0,882
78,8±33,4 0,869
FCoP 61,5±7,5 0,904
370,0±45,0 0,451
79,5±25,2 0,990
FCSH 53,5±6,3 0,793
370,0±36,5 0,819
389,5±34,2 0,916
59,0±13,3 0,880
FCCE 54,5±8,3 0,431
373,0±32,7 0,592
380,0±33,7 0,752
57,0±9,8 0,999
FCCP 55,0±9,1 0,780
369,0±38,1 0,865
386,0±38,1 0,954
57,2±15,3 0,999
A Tabela 2 mostra os valores (em mm) das médias
encontradas na distribuição das medidas de gordura feitas no
dorso dos animais no momento da morte, para seu respectivo
subgrupo e o valor da probabilidade (p) associada ao teste
estatístico.
37
Tabela 2 – valores (em mm) das médias (±DP) encontradas na distribuição das medidas de gordura e o valor da probabilidade (p) associada ao teste estatístico.
Subgrupo Média±DP pMCST 4,3±0,7 0,452MCCT 3,8±0,8 0,587MCoT 3,7±0,7 0,452FCoD 3,9±0,7 0,539FCoE 3,6±0,5 0,110FCoP 3,9±0,6 0,130FCSH 3,8±0,8 0,587FCCE 4,6±0,7 0,312FCCP 4,4±0,7 0,062
PESOS
Peso Inicial
Analisando as médias dos pesos dos diferentes subgrupos
considerados (Gráfico 5), o teste ANOVA mostrou não haver
diferenças estatisticamente significativa (p=0,085).
Gráfico 5. Média (±DP) dos pesos dos subgrupos na fase inicial do experimento
38
GRUPOS
FCCPFCCEFCSHFCoPFCoEFCoDMCoTMCCTMCST
95%
CI I
NIC
IO
120
105
90
75
60
45
30
p=0,085
Peso
em
(g)
Subgrupos
Peso antemortem
Quando foram comparados os pesos antes e depois da
administração dos hormônios, o teste t pareado mostrou diferenças
estatisticamente significativa para os subgrupos FCCE (p=0,045) e
FCCP (p=0,0001). Também foi feito o mesmo teste para o subgrupo
FCSH, no mesmo intervalo de tempo, mostrando diferença estatisticamente
significativa (p=0,0004).
Peso no momento da morte
Analisando as médias dos pesos dos diferentes subgrupos
(Gráfico 6), o teste ANOVA mostrou não haver diferenças
estatisticamente significativa (p=0,445).
39
GRUPOS
FCCPFCCEFCSHFCoPFCoEFCoDMCoTMCCTMCST
95%
CI M
OR
TE
1200
1050
900
750
600
450
300
Peso
em
(g)
Gráfico 6. Média (±DP) dos pesos dos subgrupos no momento da morte dos animais
Peso no momento da exumação
Analisando as médias dos pesos dos diferentes subgrupos
(Gráfico 7), o teste ANOVA mostrou haver diferenças
estatisticamente significativa (p<0,0001).
Gráfico 7. Média (±DP) dos pesos dos subgrupos no momento da exumação dos animais
O teste de Tukey mostrou que alguns subgrupos diferiram
entre si e essas diferenças, em relação às médias dos pesos no
momento da exumação, se apresentaram da seguinte maneira:
MCCT ≥ [MCST ≥ (FCoP=FCoE) ≥ MCoT ≥
(FCoD=FCSH=FCCP=FCCE)]
40
GRUPOS
FCCPFCCEFCSHFCoPFCoEFCoDMCoTMCCTMCST
95%
CI E
XUM
A
120
105
90
75
60
45
30
p=0,445
Subgrupos
Subgrupos
Peso
em
(g)
p<0,0001
O Gráfico 8 apresenta todos os valores das médias dos pesos
(em g) para seu respectivo subgrupo para cada fase do
experimento.
Gráfico 8. Valores das médias dos pesos (em g) para seu respectivo subgrupo para cada fase do experimento.
41
p=0,085
p<0,0001
p=0,445
p=0,0001p=0,0004p=0,045
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
MCST MCCT MCoT FCoD FCoE FCoP FCSH FCCE FCCP
Subgrupos
Peso
(g)
Início Antemortem Morte Exumação
MEDIDA DE GORDURA
Analisando as médias das medidas de gordura nos diferentes
subgrupos (Gráfico 9), o teste ANOVA mostrou haver diferenças
estatisticamente significativa (p=0,016).
Gráfico 9. Média (±DP) das medidas de gordura nos diferentes subgrupos no momento da morte dos animais
O teste de Tukey mostrou que apenas dois grupos diferiram
entre si e esta diferença, em relação às médias das medidas de
gordura, se apresentou da seguinte maneira:
FCoE < FCCE
EXUMAÇÃO DOS ANIMAIS
Após 120 dias de inumação, as urnas foram retiradas da sepultura e todas
elas se apresentavam íntegras, com o mesmo aspecto externo (Figura 3A). No
42
GRUPOS
FCCPFCCEFCSHFCoPFCoEFCoDMCoTMCCTMCST
95%
CI G
OR
DU
RA
5,5
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
Subgrupos
Milí
met
ros
p=0,016
interior da sepultura não havia acúmulo de líquidos ou presença de fauna
cadavérica (Figura 3B).
No interior das caixas havia a presença de fauna cadavérica recobrindo o
algodão que envolvia os corpos (Figura 3C). Esse algodão foi cortado com tesoura
para evitar mudanças na posição dos restos dos corpos. Não foi observado o
contato dessa fauna com os corpos dos animais.
43
Figura 3. Aspecto interno da sepultura e urnas após a exumação dos animais. (A) Urnas íntegras na sepultura. (B) Sepultura após a remoção das urnas com ausência de líquidos e fauna. (C) Fauna encontrada no interior das urnas recobrindo o algodão e a gaze dos animais
44
A
B
C
GRAUS DE ESQUELETIZAÇÃO
Aplicando-se os critérios estabelecidos, o padrão definido para os
subgrupos de acordo com o grau de esqueletização apresentado, foi o seguinte:
− O subgrupo MCoT foi o único que apresentou um padrão de
esqueletização completa (Figuras 4A e 4B) mostrando 80% dos animais
nessa condição.
− Os subgrupos FCCP, FCoE, FCoD, FCoP, FCSH e FCCE apresentaram-se
com um padrão de esqueletização parcial (Figuras 5A e 5B). Cada grupo
apresentou, respectivamente, 70%, 70%, 80%, 80%, 90% e 100% dos
animais com massa cadavérica.
− Os subgrupos MCST e MCCT apresentaram um padrão de esqueletização
mínima (Figuras 6A e 6B). Nesses dois subgrupos 100% dos animais
continham massa cadavérica, sendo que ambos apresentaram 80% dos
animais totalmente recobertos por essa massa.
45
Figura 4. Animais após a exumação com grau de esqueletização completa. (A) e (B) animais com presença de pele, esqueleto visível, ossos soltos, secos e sem resíduos, sem aderência de ligamentos, tendões e restos musculares e completa ausência de tecidos moles
46
B
A
47
A
13
B
Figura 5. Animais após a exumação com grau de esqueletização parcial. (A) e (B) animais com partes do esqueleto visível, restos musculares, aderência de ligamentos, tendões e massa cadavérica recobrindo algumas partes do esqueleto
48
49
A
B
Figura 6. Animais após a exumação com grau de esqueletização mínima apresentando muita umidade e não visualização do esqueleto. (A) animal completamente recoberto pela massa cadavérica. (B) animal com presença de órgãos e vísceras
O gráfico 10 mostra a porcentagem dos graus de esqueletização entre as
diferentes fases hormonais em que os animais se encontravam.
Gráfico 10. Percentual dos graus de esqueletização entre os subgrupos.
A partir do subgrupo mais esqueletizado (MCoT) até o subgrupo menos
esqueletizado (MCCT) foi observado, aproximadamente, o seguinte:
MCoT > (FCCP=FCoE) ≥ (FCoD=FCoP) ≥ (FCSH=FCCE) > (MCST=MCCT)
MASSA CADAVÉRICA
Todas as massas cadavéricas analisadas, por cromatografia gasosa,
revelaram a presença dos ácidos palmítico, esteárico, oléico e linolêico com maior
percentual na mistura. A Tabela 3 mostra esses valores com apenas dois animais
50
Esqueletização
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
MCST MCCT MCoT FCoD FCoE FCoP FCSH FCCE FCCP
Subgrupos
Mínima Parcial Completa
representando o grupo. Esses resultados confirmaram que a massa cadavérica
tratava ser adipocera.
Tabela 3
51
A adipocera encontrada nos restos dos corpos de alguns animais se
apresentou em aspectos diferentes. Primeiro, em relação à quantidade, podendo
estar ausente ou até mesmo em grande abundância. Segundo, em relação ao seu
estado físico, sendo encontrada na forma pastosa, seca e em pó.
A forma pastosa apresentava coloração variada entre o marrom, amarelo,
verde e rosa. A adipocera tinha um aspecto gorduroso e viscoso e era fácil de
cortar e modelar (Figura 7A). O odor era forte e muito semelhante ao amoníaco.
Os pêlos estavam úmidos e a pele era, facilmente, aberta sem precisar de incisões.
A coloração da adipocera seca se apresentava em tons escuros entre o
preto e o marrom (Figura 7B). Embora o odor de amoníaco persistisse, era numa
intensidade bem menor. Os pêlos estavam secos e a pele parecia estar corificada e
era de difícil abertura sendo necessária a utilização de instrumento cortante para
rompê-la.
Somente alguns animais do grupo das fêmeas apresentaram a adipocera na
forma de pó semelhante a terra (Figura 8A). O odor era quase inexistente
comparativamente às outras formas apresentadas. Os pêlos se apresentavam secos
e a pele lembrava uma folha seca sendo, facilmente, rasgada com as mãos.
Também foi observada, em alguns animais que apresentaram adipocera
seca ou em pó, a presença de uma adipocera branca, com aspecto seroso e
quebradiço (Figura 8B).
52
Figura 7. Animais após a exumação com diferentes formas de adipocera. (A) Animal apresentando adipocera pastosa, com um aspecto gorduroso e viscoso, coloração entre o marrom, amarelo, verde e rosa. (B) Animal apresentando adipocera seca com tons escuros entre o preto e o marrom
53
B
A
Figura 8. Animais após a exumação com diferentes formas de adipocera. (A) Animal apresentando adipocera em pó, com um aspecto semelhante a terra (seta). (B) Animal apresentando adipocera branca, com aspecto seroso e quebradiço
54
A
B
55
DISCUSSÃO
Usando a metodologia proposta, uma das dificuldades encontradas
foi comparar a literatura com este trabalho. Rocha, Guimarães e Martin (2000,
2002) concluíram que a esqueletização acontecia mais rapidamente quando os
ratos eram colocados em caixas de madeira e sepultados em caixa de cimento.
Guimarães et al. (2004) observaram que havia diferenças na decomposição
corpórea apresentada entre os grupos de animais machos e fêmeas.
Sabendo-se que a variável sexo é apontada como fator de diferenciação na
decomposição corpórea (CAÑADAS, 2005; FRANÇA, 2001; GONZALO, 2005)
e que os hormônios sexuais são os responsáveis pela diferenciação e manutenção
das características sexuais (FODOR; SEALE et al., 2005; TRUDEAU et al., 2001;
VAN LEEUWEN; SWAAB, 2002), a relação entre esses hormônios e a
decomposição corpórea foi investigada.
Estimar o tempo de morte baseado em apenas uma única variável, seria
muito improvável (MANN; BASS; MEADOWS, 1990), o que leva à realização
de experimentos com informações controladas e conhecidas.
Na tentativa de apontar a variável hormônio como única diferença entre os
subgrupos foi feita a verificação das condições ambientais, como temperatura,
umidade, chuva e local de sepultamento. O local de sepultamento foi o mesmo
utilizado para todos os grupos. Mesmo a inumação sendo feita, aproximadamente,
com um ano de diferença, o experimento foi realizado na mesma estação, o verão.
A temperatura à qual os animais ficaram expostos, em datas diferentes, foi
apenas registrada e comparada posteriormente. Foi observado que houve diferença
significativa (p=0,014) entre a temperatura a que o grupo dos machos ficou
56
exposto (25,2±11,1ºC) e a temperatura do grupo das fêmeas (29,6±11,6ºC). A
temperatura média a que o grupo das fêmeas ficou exposto foi maior em 4,4ºC.
Mesmo assim, nenhum subgrupo apresentou o padrão de esqueletização completa
como aconteceu com o subgrupo MCoT que ficou exposto a temperatura menor.
Esse acontecimento difere das considerações feitas por Mann, Bass e Meadows
(1990), que observaram que no tempo frio a decomposição corpórea era mais
lenta ou até mesmo inibida e que a maior dificuldade em se estimar o tempo de
morte de um corpo era na época do ano em que a temperatura oscilava entre
morna e fria.
A temperatura do local onde está a sepultura pode ter exercido um efeito
significativo sobre a decomposição, pois a maioria das bactérias se proliferam em
uma temperatura ótima de aproximadamente 37ºC (MANHEIN, 1997; MURAD,
1997). A presença de água e bactérias nos tecidos tem-se mostrado necessária
para a formação da adipocera, pois que, experimentalmente, não se forma
adipocera em condições assépticas. Tais bactérias necessitam de um calor
moderado, pelo menos nas fases iniciais, para reprodução e metabolismo
(GOTOUDA et al., 1988; TAKATORI et al., 1986, 1987). Os ácidos graxos são
biosintetizados por enzimas de algumas variedades de bactérias aeróbicas e
anaeróbicas como, por exemplo, Bacilus subtilis, Micrococcus luteus,
Staphylococcus aureus e Clostridrium perfrigens que produzem ácido 10-
hidroxiesteárico e, somente M. luteus que produz oxiácidos graxos (GONZALO,
2005; GOTOUDA et al., 1988; PFEIFFER; MILNE; STEVENSON, 1998;
TAKATORI, 1996; TOMAS, 1972).
57
Fica uma lacuna a ser preenchida: saber se a diferença de 4,4ºC que
observamos pode ou não ter interferido no processo de decomposição dos corpos.
Como não foi observada diferença estatisticamente significativa (p=0,240)
com registro da umidade relativa do ar para os diferentes períodos de inumação, e
também não houve a interferência da água ambiental nas sepulturas, as condições
ambientais em relação à umidade em que os corpos ficaram expostos foram
consideradas iguais.
A decomposição corpórea e a formação da adipocera podem ocorrer em
alguns tipos de ambientes, mas isso depende muito das condições à sua volta
(BOYLE; GALLOWAY; MASON, 1997; COTTON; AUFDERHEIDE;
GOLDSCHMIDT, 1987; DIX, 1987; FORBES; DENT; STUART, 2005;
FORBES; STUART; DENT, 2005a, 2005b; GALLOWAY, 1997; GALLOWAY
et al., 1989). A terra usada na inumação, que fica em contato com o tecido, é um
tema bem explorado por Forbes, Dent e Stuart (2005), onde fatores relacionados
ao solo como pH, temperatura, umidade e oxigenação dentro da sepultura têm
papel importante no processo de formação da adipocera (FORBES et al., 2005;
FORBES; STUART; DENT, 2002, 2005a, 2005b). Os autores identificaram que a
temperatura do solo abaixo de 10ºC, a presença de cal na terra (pH 12,6), o solo
ácido (pH 2,4), a ausência de bactérias e as condições aeróbicas mostraram uma
redução ou inibição na formação da adipocera. Entretanto, com a temperatura
variando entre 22-40ºC, com o pH entre 5-9, com a presença de bactérias e
condições anaeróbicas, esses fatores promoveram a formação de adipocera
segundo os autores. A análise do pH do solo realizada por Mant (1957 apud
FORBES; STUART; DENT, 2005b) foi importante porque mostrou que a alta
58
acidez ou alcanilidade pode inibir o crescimento bacteriano e assim a
decomposição.
Não foram encontrados, na literatura, relatos sobre o controle dos pesos
dos animais. Foi confirmado pelo teste ANOVA que não houve diferenças
estatisticamente significativa entre os pesos iniciais (p=0,085) e os pesos no
momento da morte (p=0,445). Com esses dados podemos afirmar que todos os
animais foram inumados nas mesmas condições para a variável peso.
Comparando-se os pesos, antes e depois da administração dos hormônios,
o teste de t pareado mostrou diferenças estatisticamente significativa para os
subgrupos FCCE (p=0,045) e FCCP (p=0,0001) que receberam reposição
hormonal por quatro dias consecutivos antes de serem mortos. Para constatarmos
se essa diferença estava associada à administração do hormônio, o subgrupo
FCSH foi comparado durante o mesmo intervalo de tempo. Também foi
observada diferença estatisticamente significativa (p=0,0001), o que indica que a
variação de peso encontrada não foi devida à aplicação dos hormônios.
No momento da exumação, os pesos dos animais entre os subgrupos
apresentaram diferenças estatisticamente significativa (p<0,0001). O teste de
Tukey mostrou os subgrupos que diferiram e foi estabelecida uma relação
mostrando os subgrupos que estavam mais pesados, iguais e menos pesados.
Com o interesse de constatar se o teor de gordura subcutâneo interferiria
nas análises, no momento da morte, foi verificada a medida da espessura de
gordura no dorso dos animais. O teste ANOVA mostrou que havia diferença
estatisticamente significativa (p=0,016) na média das medidas de gordura e essa
59
diferença representava apenas qual foi a menor e a maior média encontrada entre
os subgrupos, mostrada pelo teste de Tukey.
Na exumação dos animais, tanto para o grupo dos machos quanto para o
grupo das fêmeas, não foi observado o acúmulo de líquidos no interior da
sepultura. A água ambiental que participa da formação da adipocera tem uma
grande importância, embora em sua ausência sua formação também seja possível.
Como demonstram as observações de Mant (1957 apud GONZALO,
2005), se houve formação de adipocera em tumbas não inundadas, ou seja, na
ausência de água exterior, a água necessária para a formação da adipocera, ao
menos em uma primeira fase, provém dos tecidos corporais, que se desidratam
sensivelmente após a morte.
A decomposição corpórea se apresentou de maneira variada. Graus de
esqueletização foram criados para estabelecer uma padronização da quantidade de
massa cadavérica presente nos corpos dos animais. Esses graus de esqueletização
também serviram para definir qual seria o padrão apresentado pelo grupo.
O grupo dos machos estava dividido em três fases hormonais. O padrão
estabelecido para o subgrupo MCoT foi a esqueletização completa. Foi o único
subgrupo entre machos e fêmeas que apresentou esse padrão. Os subgrupos
MCST e MCCT apresentaram entre si o mesmo padrão de esqueletização mínima.
As comparações feitas entre os subgrupos dos machos mostraram grande
diferença no processo de decomposição corpórea. Enquanto o subgrupo MCoT
apresentou a maioria dos animais com o esqueleto visível, com ossos soltos, secos
e sem resíduos (Figuras 4A e 4B), para as mesmas condições ambientais e o
60
mesmo intervalo de tempo os subgrupos MCST e MCCT apresentaram animais
que continham órgãos e vísceras, totalmente preservados (Figura 6B).
O grupo das fêmeas estava divido em seis fases hormonais. Comparando-
se o grupo dos machos com o grupo das fêmeas não houve semelhança entre os
padrões apresentados, pois todos os subgrupos das fêmeas se apresentaram com o
grau de esqueletização parcial (Figuras 5A e 5B). Quando os subgrupos das
fêmeas foram comparados entre si, foram apenas observadas diferenças, somente,
em relação aos subgrupos que apresentavam um número maior de animais com
esqueletização completa.
Uma observação intrigante surgiu quando foram comparados os graus de
esqueletização dos subgrupos com seus respectivos pesos no momento da
exumação. Não, necessariamente, o subgrupo MCoT, que foi o grupo mais
esqueletizado, era o subgrupo de menor peso na exumação assim como o
subgrupo FCCE que apresentou o menor peso na exumação foi um dos três menos
esqueletizados.
Em mamíferos, as fêmeas têm uma porcentagem mais alta de gordura
corporal em relação aos machos (TRUDEAU et al., 2001). Essa característica está
associada com o padrão hormonal feminino, ou seja, concentrações de estrógeno e
progesterona mais altas e concentrações de andrógenos mais baixas. Também é
conhecido que concentrações mais altas de andrógenos estão associadas com
porcentagem menor de gordura corporal (MUNZER et al., 2001; VERMEULEN;
GOEMAERE; KAUFMAN, 1999).
61
Na literatura considera-se que maiores porcentagens de gordura corporal
estão associadas com maior probabilidade de formação de adipocera durante o
processo de esqueletização (FRANÇA, 2001; KNIGHT, 1991).
O mecanismo de formação da adipocera tem sido extensamente estudado,
mas ainda não está totalmente claro (TAKATORI, 1996; TAKATORI, 2001).
Gonzalo (2005) descreve que um homem adulto de constituição normal contém
16% de gordura e a mulher entre 20-25%, mas nos indivíduos obesos a proporção
de gordura pode variar entre 8 e 50%. No momento da morte, a gordura do corpo
contém menos de 1% de ácidos graxos, mas na adipocera pode aumentar em 20%
em um mês e exceder em 70% em 3 meses (KNIGHT, 1991).
A adipocera é formada devido à conversão postmortem da gordura do
corpo em uma mistura lipídica (TAKATORI; YAMAOKA, 1977a, 1977b).
Enquanto a transformação completa da gordura do corpo pode levar anos
(TAKATORI, 2001), dependendo das condições locais, a transformação parcial
da gordura em adipocera pode ocorrer em um curto período de tempo. Há relatos
de casos onde a transformação parcial levou seis semanas (FORBES; STUART;
DENT, 2002) e até duas semanas após a morte sendo três meses o mais comum
(BARRAL apud GONZALO, 2005).
Após 120 dias de inumação, toda massa encontrada nos corpos dos
animais foi analisada por cromatografia gasosa e confirmado se tratar de
adipocera.
Os maiores constituintes da adipocera são os ácidos graxos saturados
oléico, mirístico, palmítico e esteárico (CABIROL et al., 1998; FORBES;
STUART; DENT, 2002; YAN et al., 2001; TAKATORI, 1996). Mais de 60% do
62
total de ácidos graxos do tecido adiposo consistem em ácidos graxos insaturados:
oléico, linoéico e palmitoléico. Dos ácidos graxos saturados, os formados em
maior proporção são o palmítico e o esteárico (TAKATORI et al., 1983, 1986,
1987; TOMAS, 1972). Esses dados confirmam nossos resultados.
Entretanto a natureza exata da adipocera ainda não foi determinada
(FORBES; STUART; DENT, 2002).
Quando formada na água a adipocera produz uma substância branca ou
ligeiramente amarela quando o processo se dá em terra úmida. Se estiver
manchada com sangue ou produtos da putrefação pode-se observar colorações
avermelhadas ou esverdeadas. O odor foi descrito por Evans (apud GONZALO,
2005) como “terroso, que cheira como queijo e amoníaco”. Com o tempo sofre
certa modificação, que permite distinguir uma adipocera recente de uma adipocera
antiga (FORBES et al., 2004, 2005; GONZALO, 2005).
A adipocera recente é untosa ou viscosa ao tato, se deixa modelar com os
dedos. Tem pouca homogeneidade estrutural e permite ver em sua espessura
porções de tecidos estranhos, como restos de músculos, tendões ou ligamentos,
que podem ser reconhecidos (FORBES et al., 2004, 2005; GONZALO, 2005).
A adipocera antiga é dura, seca e quebradiça e ao tentar parti-la se
desmancha como um queijo velho. Examinada ao microscópio mostra uma
estrutura muita mais homogênea, semelhante a um retículo fibroso no seio de uma
substância branca de aspecto gorduroso, sem traços de estrutura organizada
(FORBES et al., 2004, 2005; GONZALO, 2005).
63
A transformação de um tipo em outro é muito lenta e gradual sem que se
possam fixar limites cronológicos. Existem estudos experimentais que tratam de
datar a formação da adipocera mediante o estudo da formação e desintegração dos
ácidos graxos hidrolisados, hidroxiesteárico e oxiesteárico (FORBES et al., 2004,
2005).
A formação da adipocera inibe a putrefação devido à acidez crescente dos
tecidos e à desidratação causada pelo consumo de água na hidrólise, que retarda o
crescimento e a propagação das bactérias (PFEIFFER; MILNE; STEVENSON,
1998).
Segundo França (2001) e Gonzalo (2005), existe uma grande controvérsia
em assinalar quais tecidos se transformam em adipocera. Alguns autores admitem
que somente a gordura normal transforma-se e outros opinam que todos os demais
tecidos, mesmo os de natureza albuminóide, principalmente os músculos, podem
sofrer tal transformação. Os que defendem tal exclusividade das gorduras afirmam
que o desaparecimento dos músculos se deve aos fenômenos de putrefação e, se a
adipocera for um fenômeno posterior à putrefação, a musculatura já haveria
desaparecido pela decomposição, antes mesmo que surgisse a transformação
adipocerosa.
Todavia, há casos em que a adipocera compromete apenas a superfície do
cadáver, preservando integralmente os conjuntos musculares, permitindo assim
um estudo médico-legal mais consistente (FRANÇA, 2001).
Assim, segundo França (1995):
Uma ciência de vastas proporções e de extraordinária diversificação, a Medicina Legal não se preocupa apenas com o indivíduo enquanto
64
vivo, alcança-o ainda quando ovo e pode vasculhá-lo na escuridão da sepultura.
65
66
CONCLUSÕES
1) As variáveis ambientais temperatura, umidade relativa do ar, chuvas e as
variáveis corporais peso e teor de gordura dos animais foram observadas e foi
possível apontar os hormônios sexuais como variável a ser estudada. As
análises realizadas para verificar a variação de temperatura mostraram que
mesmo com a interferência da maior temperatura no grupo das fêmeas foi o
subgrupo MCoT que apresentou maior grau de esqueletização. Isso nos leva a
afirmar que a interferência hormonal foi fator determinante nas diferenças
encontradas no processo de esqueletização dos animais. Também podê-se
certificar o mesmo para as análises realizadas para as demais as variáveis.
Conclui-se, assim, que todos os animais foram submetidos às mesmas
condições ambientais e corporais.
2) Apresentou esqueletização completa apenas o grupo MCoT com o esqueleto
visível livre de quaisquer restos remanescentes. Os grupos MCST e MCCT
apresentaram esqueletização mínima com adipocera recobrindo todo o corpo e
alguns ainda apresentando órgãos e vísceras conservados. Todos os subgrupos
das fêmeas apresentaram esqueletização parcial diferindo apenas na forma
pastosa, seca e em pó, em que a adipocera se encontrava. Não houve relação
entre a forma encontrada e a fase hormonal em que o subgrupo se encontrava.
Foi observado que a testosterona teve papel de destaque em relação à
progesterona e ao estrógeno no processo de esqueletização e a ausência da
testosterona nos subgrupos MCSH e MCCT reteve mais água, por isso, os
67
corpos, em sua maioria, nesses subgrupos, foram encontrados tão pesados e
úmidos.
3) Toda a massa cadavérica analisada confirmou ser adipocera. O grupo dos
machos apresentou apenas adipocera recente e o grupo das fêmeas apresentou
tanto a adipocera com o aspecto recente quanto com o antigo.
Com os resultados obtidos foi possível concluir que os hormônios sexuais
influenciam na decomposição corporal.
68
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83
S U M Á R I O
Resumo
Abstract
Lista de Figuras
Lista de Gráficos
Lista de Tabelas
.............................................................................................................. 1
INTRODUÇÃO ................................................................................... 1
ESTIMATIVA DO TEMPO DE MORTE COMO UM DESAFIO MÉDICO –
LEGAL ................................................................................................................. 4
SAPONIFICAÇÃO E ADIPOCERA .................................................................. 8
HORMÔNIOS SEXUAIS .................................................................................. 10
HIPÓTESE DE TRABALHO ............................................................................ 13
............................................................................................................ 16
OBJETIVOS ...................................................................................... 16
MATERIAL E MÉTODOS .............................................................. 18
ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA .............................................................. 19
ANIMAIS ........................................................................................................... 19
FORMAÇÃO DOS GRUPOS ........................................................................... 19
GRUPO DOS MACHOS ................................................................................... 20
Cirurgia ......................................................................................................... 20 Reposição hormonal ...................................................................................... 20
GRUPO DAS FÊMEAS .................................................................................... 21
Ciclo Estral .................................................................................................... 21 Cirurgia ......................................................................................................... 24 Reposição hormonal ...................................................................................... 24
MORTE E SEPULTAMENTO ......................................................................... 24
VARIÁVEIS ...................................................................................................... 28
Temperatura ................................................................................................... 28 Umidade Relativa do Ar e Chuvas ................................................................. 28 Pesos .............................................................................................................. 28 Gordura ......................................................................................................... 29
ANÁLISES ESTATÍSTICAS ............................................................................ 29
84
ANÁLISE CROMATOGRÁFICA .................................................................... 31
CRITÉRIOS PARA AVALIAR OS GRAUS DE ESQUELETIZAÇÃO ......... 31
............................................................................................................ 33
RESULTADOS .................................................................................. 33
TEMPERATURA .............................................................................................. 34
UMIDADE RELATIVA DO AR E CHUVAS .................................................. 36
NORMALIDADE DOS VALORES ................................................................. 37
PESOS ................................................................................................................ 38
Peso Inicial .................................................................................................... 38 Peso antemortem ........................................................................................... 39 Peso no momento da morte ............................................................................ 39 Peso no momento da exumação ..................................................................... 40
MEDIDA DE GORDURA ................................................................................. 42
GRAUS DE ESQUELETIZAÇÃO ................................................................... 45
MASSA CADAVÉRICA ................................................................................... 50
........................................................................................................... 55
DISCUSSÃO ...................................................................................... 55
CONCLUSÕES ................................................................................. 66
............................................................................................................ 69
REFERÊNCIAS ................................................................................ 69
S U M Á R I O ................................................................................... 84
85