introdução ao treino de cães com o clicker

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Descubra porque cada interação é uma oportunidade de treino, porque é melhor ignorar os erros, porque o castigo não funciona, e porque o seu cão compreenderá a linguagem do "click" melhor do que qualquer outra coisa. Nesta nova e ampliada edição, a pioneira do treino com o clicker, Kare Pryor, mostra-lhe os meandros do treino com o clicker, desde cronometrar o seus clicks até ensinar truques amorosos. Quer você tenha um jovem cachorro, quer tenha um cão adulto, você pode ensinar habilidades para toda a vida incluindo: Boas maneiras, Comportamentos de segurança, jogos de diversão e truques novos.

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Introdução ao TreIno de cães com o clIcker

karen Pryor

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Introdução ao TreIno de cães com o clIcker

karen Pryor

Tradução: Ana Isabel de Jesus Fernandes

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Este livro é a tradução da obra com o título original: Getting Started: Clicker Training for Dogs, New Expanded Edition

© Karen Pryor, 2005© 2005 Publicado por: Sunshine Books, Inc. Waltham, EUA

Este livro é publicado com a autorização de Karen Pryor

© Karen Pryor, 2005 (versão inglesa)© Kns ediciones SC, 2013 (versão portuguesa)

Primeira edição: 2013

Tradução: Ana Isabel de Jesus Fernandes

Desenho capa: Alberto Mosquera Lorenzo

Composição gráfica: Ana Loureiro

Correção de estilo: Amália Coelho

Ilustração e fotografias interiores cedidas por Karen Pryor

Fotografia da capa: Alberto Mosquera Lorenzo

ISBN 978-84-940650-7-1 Depósito Legal C 1041-2013Impressão: TÓRCULO. Impresso em Espanha.

Para obter este livro ou outros desta editora, contacte:www.knsediciones.com [email protected]

Todos os direitos reservados. Esta publicação não poderá ser reproduzida nem transmitida por qualquer meio ou procedimento, eletrónico ou mecânico, in-cluindo fotocópias, gravações e sistema de armazenamento e recuperação de dados, sem prévia autorização escrita do editor.

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Índice

Introdução(comentários da autora) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Capítulo 1Um cão e um golfinho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Capítulo 2 Alguns comportamentos simples para treinar com o clicker . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Capítulo 3Dicas para o treino com o clicker . . . . . . . . . . . . . . . . 73

Capítulo 4As perguntas mais frequentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

Capítulo 5A Revolução Clicker . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

Capítulo 6Mais informações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

Sobre a autoraKaren Pryor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

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Introdução

Caro(a) treinador(a) de cães,

Bem-vindo(a) ao treino com o clicker(1). O treino com o cli-cker não é nenhum truque, estratagema ou método especial. O treino com o clicker é um termo que entrou na gíria dos treina-dores de cães para designar um sistema de treino com reforço positivo(2), baseado no condicionamento operante, um conjunto de princípios científicos que descrevem o desenvolvimento do comportamento, no qual o animal “opera” no ambiente, em vez de ocorrer o contrário.

O condicionamento operante vai até à raiz de como os ani-mais aprendem no mundo natural; portanto os princípios podem aplicar-se em qualquer circunstância. As possibilidades no treino de cães são enormes. Os treinadores que utilizam o treino com o clicker estão a desenvolver outras formas de utilização das novas tecnologias no treino de cães polícia, de cães de assistência, de cães para surdos, de cachorros mesmo antes do desmame, em pro-vas de obediência e agility, em cães de caça, em provas de campo e rastro, nas exposições e nos concursos de beleza no ringue, em aulas de treino de obediência com os donos de cães e em casa.

n Sobre o treino com o clicker

O treino com o clicker não depende, realmente, do som que o clicker emite ou da comida. O treino com o clicker depende do reforço positivo que pode ser qualquer coisa de que o cão

(1) Clicker é uma caixinha plástica que contém uma lâmina de metal que pro-duz um estalido, um clique, quando apertada. É um instrumento desenvolvido para o treino de animais que associam o clique a um prémio.

(2) Reforço positivo é o estímulo que tem a capacidade de aumentar a probabi-lidade de um comportamento.

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goste (brinquedos, festinhas, etc.) e que deve ser acompanhado no momento certo ou timing(3) por um sinal, de forma a que a informação que o treinador deseja transmitir seja recebida pelo cão. Começamos pela comida que consiste no reforço positivo e o clicker como o sinal, porque são excelentes ferramentas de en-sino/aprendizagem para si e para o seu cão. Juntos irão aprender uma nova forma de interagir.

Tudo o que precisar de ensinar ao seu cão poderá fazê-lo através do treino com reforço positivo. Depois de o cão ter com-preendido que comportamento se espera dele, como o fazer e quando o fazer, você poderá substituir o clique por uma palavra e a comida por uma festinha. Uma palavra e uma festinha estão sempre “à mão”.

Logo que o seu cão tiver adquirido um comportamento de treino com o clicker, e a não ser que você introduza novas regras, o cão manterá este comportamento para toda a vida. Quando o cão tiver aprendido vários comportamentos, já não precisará de clicar ou elogiar cada um deles. Pode reforçar um de entre todo o repertório. Com o tempo, notará que só fará uso do seu clicker para limar, aperfeiçoar uma resposta ou para ensinar ao seu cão algo de novo – ou então, simplesmente, só para se divertir com ele. Verá que o treino com o clicker é divertido para ambos.

Mas, por onde começar? Um treinador experiente no treino com o clicker poderia ensinar-lhe os princípios básicos em pou-cos minutos, no entanto escasseiam treinadores e por isso muitos de nós teremos de ser autodidatas. Este pequeno livro pretende ser uma primeira ajuda: fornecer-lhe conhecimentos de forma a adquirir competências que lhe permitam desenvolver os seus primeiros comportamentos de treino com o clicker. Depois de realizar, nem que seja, só um pouco de treino com o clicker, verá que outros livros e vídeos sobre o treino com o clicker farão cada

(3) Timing é o instante exato em que se marca o comportamento desejado com a apresentação do reforço.

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Introdução

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vez mais sentido para si. Milhares de treinadores, bem sucedidos, deram os seus primeiros passos no treino com o clicker com a ajuda deste livro.

No capítulo 6, Mais Informações, saberá onde obter informa-ção adicional. Faça uso destes recursos, alguns deles, como The Clicker List na Internet, são gratuitos. Além disso, como novo trei-nador com o clicker que agora é, poderá notar que também se está a tornar num recurso, numa fonte de informação para outros donos de cães e treinadores de cães à sua volta. Desfrute desta experiência! Este é um campo criativo e todos nós podemos dar a nossa contribuição.

Karen Pryor

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1. Um cão e um golfinho

n Cães, golfinhos e treino

Se alguma vez tiver visto um espetáculo de golfinhos treina-dos, em oceanários, no jardim zoológico ou na televisão, saberá do que estou a falar, quando digo que os golfinhos aparentam ser muito fáceis de treinar. Sob comando, realizam todo o tipo de comportamentos com precisão, incluindo acrobacias e com-portamentos interativos com outros golfinhos e nadadores. A au-diência maravilha-se com a rapidez com que respondem e com a inteligência que parecem ter. Não seria maravilhoso se os cães respondessem deste modo?

Nós, os treinadores de golfinhos sabemos bem que, na ver-dade, nem os golfinhos nem os seus treinadores são génios. A velocidade dos golfinhos, a precisão e o grande prazer com que realizam o seu trabalho, devem-se inteiramente aos princípios que os treinadores utilizam no seu treino. E as mesmas técnicas podem ser utilizadas no treino de cães.

n Suprimir o castigo desde o começo

A primeira coisa que temos de compreender sobre o treino de golfinhos é que trabalhamos com animais que não podemos castigar. Não importa quão zangado está – mesmo que ele o irrite de propósito, molhando-o da cabeça aos pés – não pode retaliar. Não pode usar a trela ou o chicote ou mesmo dar um soco a um animal que simplesmente se afasta, nadando para longe de si. Não pode deixar um golfinho sem comer até que ele decida cooperar. Os golfinhos obtêm a água necessária à sua sobrevivência dos peixes que comem. Se lhe retirar os peixes, ra-

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pidamente, desidratam. Perdem totalmente o apetite e morrem. Por fim, também não poderá gritar com eles porque eles não se importam.

Talvez esteja a pensar “Aposto que seria capaz de arranjar uma maneira de castigar um golfinho…” e acredito que conse-guiria; mas isso não importa, porque os treinadores de golfinhos não precisam disso. Os treinadores conseguem tudo o que que-rem de um golfinho, usando apenas o reforço positivo: na maior parte das vezes, basta apenas um ou dois assobios de um apito de treino e um balde de peixe. Nós moldeamos todo o compor-tamento através do reforço positivo. Usamos o reforço positivo para obter uma resposta rápida e correta a uma ordem – con-seguir que obedeça. Podemos usar o reforço positivo para disci-plinar um animal – controlar um comportamento não desejado, como o ataque a um companheiro de piscina ou a recusa em passar para outra piscina através de uma comporta. Este uso so-fisticado do reforço positivo tem como resultado um animal que adora trabalhar e que o faz de forma brilhante.

Os métodos usados para treinar cães incluem muitas vezes o uso da força, tanto para obrigar o cão a realizar os movimentos exigidos, como para o corrigir quando comete algum erro. E é claro que o cão acabará por cometer erros. Embora também se recorra ao elogio e se façam festas ao cão, no processo de trei-no ele irá, inevitavelmente, experienciar alguma confusão, medo e talvez até alguma dor física. Alguns cães toleram bem estas experiências negativas, mas os golfinhos, sendo animais selva-gens não as aguentariam. Se treinasse um golfinho seguindo estas técnicas, possivelmente, ele aprenderia, mas o seu desempenho seria lento, ele ficaria mal-humorado e instável, podendo mesmo mostrar-se agressivo com as pessoas. (Isto faz-lhe lembrar algum animal que conhece?)

Por outro lado, se treinar um cão da mesma maneira que nós treinamos um golfinho, ou seja, com reforço positivo, o cão irá comportar-se exatamente como um golfinho, atuando com

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1. Um cão e um golfinho

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entusiasmo, atenção e precisão, sendo cooperante e capaz de desempenhos fantásticos. Aqui mostramos-lhe como o fazer!

n O sinal mágico: o reforço condicionado

Quando falo com treinadores de cães, deparo-me com um grande equívoco que é considerarem que o reforço positivo sig-nifica tão e somente “comida”. Falso. O elemento crucial para obter um comportamento maravilhoso de um golfinho não é o prémio com comida. O golfinho não está a trabalhar pelo peixe; o golfinho está a trabalhar pelo apito. O som emitido pelo apito é o sinal mágico que desencadeia esse maravilhoso desempenho.

O primeiro passo no treino de um golfinho consiste em en-siná-lo que cada vez que ouvir um apito, irá receber um peixe. Uma vez que o animal sabe que o apito significa “vem aí um peixe”, o treinador pode usar o apito para marcar ou sinalizar o comportamento que ele quiser, e depois gradualmente, moldar ou desenvolver algo mais complexo, tal como a resposta a um sinal.

Exemplo: vamos supor que em diversas ocasiões, quando o golfinho estava a dar um salto no ar, ouvia um apito, recebendo de seguida o peixe. Rapidamente, iria começar a saltar sempre que o treinador se aproximasse. Depois, iria descobrir que “só é permitido” saltar quando o treinador levantar o braço. Então, o braço levantado do treinador torna-se na luz verde que lhe dá permissão para saltar.

O treinador poderá gradualmente impor outras condições – “só é permitido” saltar, se o golfinho saltar na direção do pú-blico, afastando-se do treinador; se o salto tiver mais de dois metros; se o salto ocorrer três segundos depois de o treinador levantar o braço. Ao fim de algumas sessões de treino, o golfi-nho está treinado para fazer uma vénia e receber os aplausos

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sob comando e com precisão. E o golfinho também treinou o treinador: “Tudo o que eu tenho de fazer é executar um certo tipo de salto, quando ele levantar o braço e ele, imediatamente, depois de cada salto dar-me-á um apito e um peixe”.

Note bem que o apito não é usado para dar uma ordem. Ele não diz ao golfinho para fazer algo – é o braço levantado que o faz. O apito informa o golfinho, durante ou no fim de um deter-minado comportamento, de que o treinador gosta desse compor-tamento e que por isso ele merece um peixe. (Não é necessário usar sempre comida, pode associar um reforço condicionado a um afago, a um brinquedo ou talvez apenas a uma outra oportu-nidade de trabalhar.)

O apito tornou-se agora um reforço condicionado. Na ter-minologia da psicologia, a comida, as carícias ou qualquer outro “prazer” são reforços não condicionados – alguma coisa que a animal iria querer, mesmo sem treino; o apito, um reforço condi-cionado é algo que o animal aprendeu a querer. (Algumas pes-soas usam o termo “reforço primário” para a comida e “reforço secundário” para o sinal. Eu evito estes termos, uma vez que le-vam as pessoas a pensarem que se o apito é “secundário” deve ocorrer depois da comida, o que por um lado não faz nenhum sentido para o animal e retira ao apito toda a utilidade como ferramenta de treino.)

n Porque é que o reforço condicionado é crucial

O que é que aconteceria, se tentasse treinar um golfinho, que se encontra afastado de si, a dar um simples salto, fazendo--lhe apenas um sinal – sem apito? Para começar, não seria capaz de lhe fazer chegar o peixe, quando ele estivesse a meio do salto. Independentemente do tipo de salto que desse, receberia o peixe mais tarde, ou se calhar nunca. O golfinho não teria a

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1. Um cão e um golfinho

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possibilidade de saber por que razão era premiado por um salto em detrimento de outro, ou o que tinha agradado ao seu treina-dor no salto realizado. Teria sido a altura do salto? Ou se calhar o modo como o iniciou ou finalizou? Para desenvolver um salto com uma determinada altura, no momento certo e na direção desejada, você teria de eliminar os erros treinando e errando em inúmeras repetições, e muita sorte teria, se o animal não se aborrecesse (e o treinador também) antes de conseguir um de-sempenho correto e fiável.

Devido à falta de informação, o treinador que usa a comida como prémio sem primeiro usar um reforço condicionado, pro-duz tipicamente um animal que trabalha avidamente (enquan-to tiver fome), mas que aprende devagar. Podemos ver isto em cães que foram premiados com grandes quantidades de comida sem que um sinal associado lhes indicasse a que comportamen-to específico se devia o prémio. Estes animais aparentam estar entusiasmados e ser afáveis, mas na realidade não aprenderam nada.

De igual forma, quando um treinador usa a comida sem um sinal ou reforço condicionado, o animal olha na direção do treinador, estando sempre à espera da comida. Os cavalos me-tem os “narizes” nos bolsos dos treinadores e os cães lambem as suas mãos. Os golfinhos andam às voltas perto do treinador e cobiçam o balde do peixe. E, com o animal a olhar, perma-nentemente, para o treinador, será muito difícil ensiná-lo a sal-tar na direção contrária à do treinador, ou seja, na direção do público.

Uma vez estabelecido o sinal marcador ou reforço condicio-nado, poderá usar, sem qualquer problema, o apito para iden-tificar comportamentos que ocorrem a uma certa distância ou quando o animal não está virado para si. Os animais bem condi-cionados, em vez de meterem o nariz em todo o lado à procura de comida, fazem o seu trabalho e, seja ele qual for, estarão com os ouvidos muito atentos na expetativa de ouvirem o som mági-

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co. Nos cavalos e nos cães também, esta atenção por si só é um contributo valioso para o treino.

Como o reforço condicionado possibilita sinalizar à fração de segundo, o apito indica exatamente que comportamento o trei-nador tem em mente. Isto permite-lhe ensinar ao animal o que realmente quer, de uma forma muito clara e especificando um detalhe de cada vez. Por exemplo, suponhamos que o golfinho assimilou uma regra (“saltar olhando nesta direção”) e você sabe isso, porque o animal quase sempre salta na direção adequada, quando recebe o sinal para saltar. Agora, poderá acrescentar um novo detalhe ou regra. Você é quem decide: “Eu irei reforçar apenas os saltos mais altos”. Muito em breve o golfinho terá aprendido mais um detalhe (“Eu tenho de saltar olhando nesta direção e saltar a esta altura”).

Este processo passo a passo pode parecer muito elaborado, mas na prática é um atalho fantástico para chegar a comporta-mentos complexos aprendidos. Mesmo com um golfinho mais lento – em dois ou três dias – um treinador poderá desenvolver, em resposta a uma ordem, comportamentos espetaculares e mui-to específicos, como os que descrevi anteriormente. Às vezes, se as coisas correm bem, isto até pode acontecer numa única sessão de treino de dez minutos. Muitas vezes ao longo da minha ex-periência no treino de golfinhos, “capturei” um comportamento, moldeei-o em algo especial e associei-o a uma ordem numa úni-ca sessão de treino. E o mesmo aconteceu a outros profissionais que trabalham com golfinhos.

n O que acontece com os cães?

Pode facilmente experimentar o método de treino dos golfi-nhos com o seu cão, usando um reforço condicionado numa ses-são rápida de dez minutos. Alguns cães têm medo do apito. Um reforço condicionado muito adequado para cães é um clicker, um

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1. Um cão e um golfinho

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brinquedo para crianças que quando apertado faz clique-clique. Pode encontrá-los nos bazares e lojas de brinquedos, nas lojas com artigos para festas de crianças e em muitos sites na internet. Pode substituir a tampa de um frasco, um agrafador pequeno ou uma caneta retrátil pelo seu sinal.

Arranje um clicker e comida para o premiar. Corte a comida em pedaços suficientemente pequenos para que possa dar ao cão quinze ou vinte sem que ele fique cheio. Alguns cães traba-lharão só pelas migalhas da ração, sobretudo se for exatamente antes da hora do jantar, mas não será má ideia ter algo mais apetecível à mão. Quando demonstro esta técnica com cães que não conheço, uso geralmente pedacinhos de frango. Ensine ao cão o significado do clicker, clicando e dando-lhe um pedacinho de comida, quatro ou cinco vezes, em diferentes partes da casa ou jardim (para que o cão não fique com a ideia de que isto só funciona num determinado lugar).

Depois aperte o clicker e aguarde uns segundos antes de lhe dar o prémio; se o cão reagir ao som e procurar ativamente a co-mida, saberá que o sinal sonoro se converteu num reforço condi-cionado. Agora pode estabelecer um comportamento – nós cha-mamos a isto “moldar através de aproximações sucessivas”(4). Um comportamento fácil de moldar é “perseguir a cauda”. Claro que há tantas maneiras de se conseguir este comportamento como de treinadores para as arquitetarem: com a trela, você poderia pôr o cão a andar às voltas. Poderia colocar um pedaço de toucinho na ponta da cauda, o que faria o cão andar em círculos para o lamber. Aqui temos uma forma de moldar o comportamento, desde o primeiro momento, sem haver necessidade de se recorrer a qualquer incitamento.

Deixe de clicar e espere. Neste momento, o seu cão poderá estar intrigado e excitado. Se não fizer nada, provavelmente o cão

(4) Moldar através de aproximações sucessivas consiste em alcançar o comporta-mento desejado, premiando o animal pelas aproximações prévias.

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vai andar às voltas e talvez ladre e choramingue. No momento em que ele se mover ou virar à direita, aperte o clicker. Dê-lhe um pedacinho de comida. O clique também é muito útil para si, pois ensina-o a adquirir um bom timing, pois poderá avaliar se clicou cedo ou tarde de mais, distinção esta que é muito mais difícil de fazer se usar uma palavra. Volte a esperar. Ignore tudo o que o cão fizer, exceto mover-se para a direita (não espere milagres, o virar um pouco da cabeça, ou um passo para o lado com a pata da frente é tudo o que precisa). Se conseguir “capturar” o comporta-mento – se o seu timing for o adequado – em três ou quatro repe-tições verá o seu cão a virar à direita e com maior frequência.

Agora descobrirá que não necessita de reforçar apenas um passo à direita, mas poderá reforçar movimentos à direita que exijam vários passos, talvez até chegar a um quarto de um cír-culo. A passagem de um quarto de um círculo para um círculo completo pode ser muito rápida.

Este é um bom momento para concluir a primeira sessão: ter-minar o exercício depois de ter sido bem executado e a resposta tiver sido a desejada pelo treinador, é a regra de ouro. Arrume o clicker e premie o seu cão com muitos abraços e elogios. Tente de novo no dia seguinte, comece por um simples passo, depois um quarto de um círculo e cada vez mais. O processo será muito mais rápido da segunda vez.

Uma vez conseguido um círculo, o passo seguinte é conseguir dois círculos e o passo que se segue – um muito importante – é variar, é realizar um reforço intermitente: premiar uma vez meio círculo, depois dois círculos, um ou três círculos completos, ou simplesmente um e um quarto. Isto manterá o cão ocupado, ten-tando executar e acertar no exercício. O clique poderá surgir de-pois de dar uma ou duas voltas, o cão não sabe, por isso conti-nuará a girar, cada vez mais depressa, perseguindo a sua cauda e parecendo um turbilhão.

Este é um exercício tonto e não muito dignificante. Há ou-tros comportamentos que se podem usar para praticar, como por

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1. Um cão e um golfinho

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exemplo o targeting(5), no qual o cão é levado a tocar determina-do objeto com o nariz. (Os treinadores de leões marinhos ensi-nam os seus animais a tocarem no punho fechado do treinador. Deste modo, movendo o punho na direção que quiserem, po-derão levar os leões marinhos para onde quiserem, sem fazerem uso da força.) O objetivo desta experiência não é ensinar o cão a executar este exercício específico, mas sim mostrar-lhe a si como usar um reforço condicionado para moldar um comportamento e quão eficaz este tipo de reforço pode ser.

Porque necessita de usar um clicker? Porque não pode, sim-plesmente, usar a sua voz e as palavras “lindo menino” como um reforço condicionado? A razão é que você não consegue dizer uma palavra, nem mesmo “lindo menino”, na exata fração de segundo e com a mesma precisão do clicker no momento em que o cão executa o comportamento desejado. Com o clicker e um pouco de prática, você pode reforçar movimentos muito pequenos – como um leve movimento de uma das patas para a direita – no momento exato em que ocorrem. Um elogio com palavras demora mais, daí tornar-se mais confuso e difícil para o animal fazer a associação.

A segunda dificuldade que o uso de palavras apresenta, é que também falamos perto dos nossos cães e com os nossos cães, quando não estamos a reforçar o seu comportamento. Numa se-quência de tantos sons, é difícil para o cão identificar as palavras que realmente têm um significado. Mas o clicker tem um som específico, completamente diferente de qualquer outro som da casa e com um significado muito claro. De facto, você terá a oportunidade de ver, muito claramente, a diferença entre a forma como o cão condicionado responde ao clicker (atenção elétrica, animado, entusiasmado) e a maneira como responde a um “lindo menino”! (Hum, oh, com um sorriso, abana a cauda).

(5) Targeting/Target consiste na utilização de um “alvo”/objeto que o animal toca.

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moldar um comportamento

Griff, o Border Collie, está a aprender a executar um círculo e por cada movimento correto recebe um clique.

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1. Um cão e um golfinho

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n O uso do reforço condicionado na vida real

Tenho ouvido treinadores de cães a afirmarem que o clicker é bom para ensinar habilidades ao cão e para nada mais, pois não é possível usá-lo no ringue de obediência. Claro que não, mas também não é preciso. O clicker é adequado para moldar comportamentos novos ou para limar detalhes. Não é necessá-rio para comportamentos que já estão estabelecidos no animal. Mas mesmo para conseguir que um cão de trabalho se faça cam-peão, o reforço condicionado pode ser de grande utilidade. Uma participante neste tipo de provas contou-me ter ensinado a sua Doberman a compreender o clicker e que o usou para reforçar a cadela a olhar para ela, em vez de olhar para o outro lado, enquanto estava a trabalhar. “É como se a cadela estivesse, real-mente, grata pela informação, pois esclareceu as suas dúvidas”, disse-me ela. Depois de a cadela compreender o que se preten-dia dela, fez o exercício corretamente no ringue, sem necessidade de se utilizar o clicker.

Não pense, contudo, que as pessoas nunca usam um refor-ço condicionado no ringue; os treinadores têm de definir um sinal que o cão compreenda e o deixe em alerta, e de que mais ninguém se aperceba. Eu conheço um treinador de obediência, muito perspicaz, que usa como reforço condicionado um som que emite quando inspira e que é praticamente inaudível. Numa ocasião ouvi um participante a dizer “bom trabalho” (eviden-ciado no cão por uma expressão de absoluta felicidade), apenas tocando com um dedo a cabeça do seu cão. Uma outra par-ticipante que conheço ensinou ao seu cão, Rex, que todos os prémios se chamavam “Billy”. Assim, à medida que o cão vai realizando os exercícios de obediência no ringue, ela pode re-forçar um comportamento excecional – uma boa resposta a uma chamada – com o que aparenta ser uma ordem: “Billy, junto!”.

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