introdução a carta aos hebreus

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ROBERTO ROHREGGER BREVE INTRODUÇÃO À CARTA AOS HEBREUS

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Trabalho de pesquisa sobre o livro de Hebreus, Este é uma breve introdução a carta aos Hebreus, neste trabalho realizei uma síntese de várias introduções à esta epístola, proporcionando um amplo panorama sobre a mesma.

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Page 1: Introdução a Carta aos Hebreus

ROBERTO ROHREGGER

BREVE INTRODUÇÃO À CARTA AOS HEBREUS

Page 2: Introdução a Carta aos Hebreus

ÍNDICE REMISSIVO

1.    INTRODUÇÃO. 3

2.    AUTORIA. 3

3.    OS DESTINATÁRIOS. 6

4.    DATA E LOCAL DA REDAÇÃO. 8

5.    CANONICIDADE 10

6.    MOTIVO E PROPÓSITO 11

7.    TEOLOGIA 13

8.    CONCLUSÃO15

9.    BIBLIOGRAFIA 16

10.    NOTAS 17

 

  

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Page 3: Introdução a Carta aos Hebreus

1.    Introdução.

Da mesma forma com que Donald Guthrie iniciou a sua introdução e comentário à

Carta aos Hebreus[1], começaremos o nosso estudo, constatando que há uma

série de perguntas que não são totalmente respondidas, havendo uma variação de

respostas muito grande e não raras vezes conflitantes sobre está carta. A sua

canocidade hoje é algo inquestionável, salta-nos aos olhos o Espírito Santo nos

ensinando e exortando, quanto a isto nada há de se duvidar. Nosso objetivo neste

trabalho de introdução á Carta aos Hebreus é exatamente examinarmos mais

detalhadamente as questões inerentes ao redor da carta, sua autoria, local onde

foi escrita, motivo pelo qual o autor despendeu-se a escreve-la, seus destinatários,

etc... , para tanto efetuei uma pesquisa entre vários autores visando apresentar

uma síntese analítica do que se tem pesquisado e concluído sobre essa

maravilhosa epístola, isto posto iniciemos o trabalho.

 

2.    Autoria.

 Contrariando o que seria o usual de qualquer escritor, o autor de hebreus não se

identifica, em nenhum momento do decorrer da carta. A saudação inicial que se

fazia normalmente nas cartas da época onde ficava claro quem era o autor não se

faz presente nesta.

Fritz Laubach salienta ainda que, “Em Hebreus faltam todas as indicações mais

diretas sobre o autor e os destinatários....” [2]

Devemos salientar que até a igreja primitiva tinha dificuldades com ela, Conforme

Guthrie afirma, porém não deixando de notar os paralelos entre o escrito de 1

Clemente, com Hebreus[3], o que no mínimo pode atestar o conteúdo da carta,

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Page 4: Introdução a Carta aos Hebreus

mas não o autor.Dattler, em sua obra “A Carta aos Hebreus”[4] faz algumas

considerações com relação ao autor:

   Apesar de se manter estritamente anônimo, o autor está presente em

cada página de sua missiva. Logo no primeiro versículo ele se revela

como judeu ao se identificar como descendente dos “ nossos pais”. A

maneira de falar é tipicamente judaica e semítica. Igualmente a

menção respeitosa dos profetas faz sentido somente para um judeu.

Mas isso não é tudo que sabemos o escritor da carta.

A partir de 2.1 ele emprega constantemente a primeira pessoa do plural

como alguém que participa intimamente da situação comum de todos

os cristãos, mormente dos seus leitores com os quais ele forma uma

comunidade de interesses e de sofrimentos. (...)

O autor revela-se ainda como teólogo exímio, conhecedor abalizado da

Bíblia e mestre no manejo do idioma grego, possuindo um estilo e um

vocabulário pessoais ; não imita a ninguém, contrariamente àqueles

hagiógrafos do NT que se ocultam atrás de nomes famosos (...).

Contanto, no decorrer do comentário deverão ser assinaladas as suas

analogias e talvez até dependências das teologias de Paulo e de João.

(...) O que ele nos diz sobre a vida terrestre de Jesus de Nazaré é muito

vago e tão voluntarioso que somos obrigados a concluir que ele, ou

não tomava conhecimento dos Evangelhos, ou então que ele escreveu

antes da redação final dos mesmos.

 

Culto, pensador profundo, familiarizado com o  AT, hebreu, conhecedor de

elementos da teologia paulina, porém não um dos que estavam com Cristo, e

também não Paulo. Parece ser este o perfil do autor que surge da análise de

Dattler.

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Page 5: Introdução a Carta aos Hebreus

  Já Laubach o coloca próximo aos apóstolos, concorda em dizer que o autor não

reclama a posição de apóstolo, mas, afirma : “... temos de localiza-lo, não obstante,

na proximidade imediata dos apóstolos...”[5]  , o que conflita com a afirmação de

Dattler de que o autor não tomava conhecimento dos Evangelhos, porém Laubach

afirma inicialmente que o autor não faz parte dos primeiros apóstolos, mas alinha-

se na segunda ou terceira geração.

 

Champlin faz uma análise do estilo e característica do texto de hebreus

comparando-o com os textos universalmente aceitos como de autoria paulina, e

desta análise salienta-se o que segue:

 

(...)O estilo de Paulo é caracterizado por freqüente irregularidades,

anacolutos, parênteses extensos, alguns dos quais nunca retornam ao

tema original, metáforas misturadas, explosões súbitas de eloqüência,

com base em sentenças que expressam algo de maneira bastante

prosaica. A epístola de Hebreus, em contraste com isso, foi escrita em

estilo fluente e simétrico, e até mesmo artístico, evidenciando

considerável habilidade literária  e bom senso estético.

O grego usado é melhor e mais clássico que o bom grego de Paulo

mas que geralmente  é o comum grego “Koiné”.(...) [6]

 

Fecharemos nossas considerações com relação a autoria da carta aos hebreus

com a opinião de Guthrie , que também afirma que a carta não foi escrita por

Paulo, concluindo que o apóstolo jamais admitiria que recebeu o núcleo do seu

evangelho em segunda mão, como o autor parece fazer.[7]

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Page 6: Introdução a Carta aos Hebreus

Afirma ainda que restam poucas outras possibilidades, Lucas, Clemente e

Barnabé. Porém nenhuma destas alternativas tem indícios suficientes para se

sustentarem.

Um outro nome surge nas conjecturas mais modernas : Apolo, baseado na

suposição  de que, como alexandrino teria familiaridade com os modos de pensar

do seu concidadão  alexandrino Filo, que supostamente estão refletidos na

Epístolas.

Por todos os motivos expostos acima, apoiado nas considerações dos escritores

citados, em que fica constatado tanto a diferença de estilo literário, a ausência de

temas caros e comuns nas epístolas paulinas, e na falta de uma indicação de

autoria no corpo da carta, podemos afirmar com uma margem muito grande de

segurança de que o autor da carta aos hebreus não foi Paulo. Isso de maneira

alguma a desautoriza como documento inspirado e de canocidade comprovada.

Porém o nome verdadeiro do autor continua um mistério, e como disse Orígenes :

“Mas só Deus sabe quem realmente escreveu a epístola.”[8],  e tudo leva a crer

que é assim que ficará.

 

3.    Os Destinatários.

  Aparentemente este é mais um mistério da carta, pois tudo o que sabemos para

identificar os destinatários é o título que possivelmente deu-se pelo teor da carta.

O título ligado a está carta no manuscrito mais antigo que existente é “ Aos

Hebreus”, e pelo que nos relata Guthrie, não há manuscrito da carta que não

tenha esse título. O próprio Guthrie afirma na sua introdução que nos tempos de

Clemente de Alexandria e de Tertuliano a epístola era conhecida por esse nome.

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Page 7: Introdução a Carta aos Hebreus

Algumas hipóteses interessantes com relação aos destinatários originais da carta

foram levantadas, baseados no teor da carta,  Guthrie[9] por exemplo expõe

alguns indícios para a identificação dos mesmos :

 

(...)Certamente o autor sabe algo a cerca da historia e situação.(dos

destinatários específicos.). Sabe que foram abusados pela sua fé e que

reagiram bem ao despojamento das suas propriedades (10.33, 34).

Tem consciência da generosidade dos seus leitores (6.10) e conhece o

estado de mente atual deles (5.11ss.; 6.9ss). Certos problemas práticos

tais como sua atitude para com seus líderes (13.17) e questões de

dinheiro e de casamento(13.4,5) são mencionados. Se este for a

verdade o título é claramente enganoso. (O título como endereçado a

toda a comunidade hebraica, mas deporia a favor de um grupo mais

específico, de conhecimento intimo do autor.) (...) Outra indicação da

natureza do grupo pode ser deduzida de referencias tais como 5.12 e

10.25. A primeira é dirigida àqueles que nesta altura já deviam ser

mestres, e isto deu origem à sugestão de que os leitores eram uma

parte pequena de um grupo maior de cristãos. A sugestão mais

favorável pe que formavam um grupo numa casa que se separara da

igreja principal. A exortação em 10.25 apoiaria esta opinião. Ali, o

escritor conclama os leitores a não deixarem de congregar-se juntos.

Parece razoavelmente conclusivo que a totalidade de um igreja não

teria sido considerada mestres em potencial, e é altamente provável

que um grupo separatista pudesse ter se considerado superior aos

demais, especialmente se foram dotados com dons maiores. O tema

que nesta Epístola é argumentado de modo compacto está de acordo

com a sugestão de que um grupo de pessoas com um maior calibre

intelectual está em mente. (...)

7

Page 8: Introdução a Carta aos Hebreus

  Laubach, também afirma que a exortação constante em Hb 5.11 – 14 sugira a

suposição de que a carta talvez seja dirigida apenas a um determinado grupo de

fiéis específicos de uma comunidade, do qual estariam excluídos os irmãos

dirigentes, os líderes da comunidade[10].

 Porém a opinião mais comum, principalmente entre os comentaristas mais

antigos é de que a localização dos destinatários estaria entre os judaico-cristãos

da Palestina ou de Roma, ou outras cidades em que houvesse judeus-cristãos de

formação helenista, p. ex. , em Éfeso, Tessalônica, Alexandria.  Também é

levantada a hipótese de que os receptores da carta seriam judeus – cristãos de

origem sacerdotal.

Por ultimo podemos citar a hipótese de que os destinatários seriam  membros

antigos da comunidade dos essênios em Cunrã que se converteram ao

cristianismo, este ponto é citado tanto por Guthrie[11] como de passagem por

Dattler[12] , mas como esta hipótese não é melhor desenvolvida por nenhum dos

autores concluímos que é pouco sustentável.

Constatamos então que assim como a autoria é desconhecida, o destinatário

também não é por completo de identificação clara. Apesar das conjecturas não

terminarem aqui,  Guthrie mesmo levanta a questão da possibilidade dos leitores

originais serem gentios[13],  cremos que há uma sustentação um pouco maior por

serem judeus-cristãos de uma comunidade específica, porém de localização vaga.

 

4.    Data e Local da Redação.

  Se não conseguimos identificar o autor, verificar com clareza os destinatários,

seria uma surpresa se conseguíssemos a data em que foi escrita com uma certa

exatidão.

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Page 9: Introdução a Carta aos Hebreus

O que tentaremos será identificar o período em que ela pode ter sido

escrita.Guthrie[14] afirma que podemos pelo menos concluir que foi escrita antes

da carta de Clemente de Roma ( 95 d. C.), a não ser, naturalmente que

aleguemos que Hebreus usou Clemente. No nosso entender isso é pouco

provável, o que mais parece é o contrario, conforme podemos ver no item Autoria,

na citação de rodapé 3.

A Bíblia de Jerusalém afirma que baseado no Cap. 13, 24, pode-se supor que foi

enviada da Itália, e que tenha sido escrita antes da queda de Jerusalém.

Fato este também mencionado por Guthrie, pois o autor não cita o templo

destruído por Tito em 70 d. C., porém levanta-se a hipótese do autor não fazer

referências mais ao tabernáculo que ao Templo justamente porque este não mais

existia. Contudo o próprio Guthrie argumente que os tempos usados no presente,

como por exemplo em 9.6-9 indicam que o ritual do Templo ainda estivesse sendo

observado, pelo menos evidenciam isso.

O Novo Comentário da Bíblia (NCB)[15] afirma  que é não é possível fixar uma

data para Hebreus :

  (..) impossível fixar a data da epístola com certeza absoluta, ainda

que se possa dizer com considerável confiança que, muito

provavelmente, ela foi escrita entre 60 e 70 D. C. Seus leitores já eram

crentes há muitos anos (Hb 5.12; Hb 10.32). Alguns de seus líderes

originais já haviam falecido (Hb 13.7). Por outro lado, Timóteo ainda

estava vivo (Hb 13.23). Parece possível argumentar que, se a

destruição de Jerusalém tivesse tido lugar, o escritor não deixaria de

referir-se ao fato, particularmente em vista de que isso foi um

significativo julgamento de Deus contra a antiga ordem de adoração

judaica.(...)

Somos obrigados a concordar com os autores de que, se a destruição do

templo houvesse ocorrido ou estivesse na eminência de ocorrer, este fato de

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Page 10: Introdução a Carta aos Hebreus

uma forma ou outra ( como um evento escatológico, p. ex.) apareceria na

carta.

A maioria dos escritores coloca a data em que a epistola foi escrita em torno do

ano 70 d. C.

5.    Canonicidade

Pelo que vimos até agora não é de se estranhar que está carta estivesse entre

os que alguns pais da igreja questionavam, e por isso ainda no séc. IV ainda

não haviam obtido o reconhecimento universal.

Foi basicamente a anonimidade do autor que suscitou dúvidas sobre

Hebreus.Face o autor não se identificar e não afirmar ter sido um dos

apóstolos ( Hb 2.3), o livro permaneceu sob suspeita entre os cristão do

Oriente, que não tinham ciência que os crentes do Ocidente o haviam aceito

como autorizado e dotado de inspiração. O fato do montanistas heréticos terem

recorrido a Hebreus para apoiar alguma de suas concepções errôneas fez

demorar ainda mais sua aceitação nos círculos ortodoxos.  Apenas ao redor do

séc. IV, sob influência de Jerônimo e de Agostinho, a carta aos Hebreus

encontrou seu lugar permanente no cânon.

Com o passar do tempo , a igreja evidentemente resolveu a questão do 

anonimato da carta atribuindo a autoria a Paulo, o que resolveria a questão.

Uma vez que o Ocidente estava convencido do cunho apostólico desse livro,

nenhum, obstáculo permaneceu no caminho de sua aceitação plena e

irrevogável no cânon. O teor do livro é claramente confiável, tanto quanto sua

reivindicação de deter autoridade divina ( cf. 1.1; 2.3,4; 13.22).[16]

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Page 11: Introdução a Carta aos Hebreus

6.    Motivo e Propósito

A condição  espiritual se reveste dos receptores da epistola tem muito maior

significação que sua localização geográfica. O escritor claramente contrasta o

estado em que seus leitores se encontram com o estado em que estavam

anteriormente, com o em que deveriam estar, e com o estado em que pareciam

estar no perigo de cair. Ainda que crentes eram indolentes (Hb 5.11-6.12) e

desanimados (Hb 12.3-12). Haviam perdido seu entusiasmo inicial pela fé (Hb

3.6,14; Hb 4.14; Hb 10.23,35). Haviam deixado de crescer, ou melhor, de

progredir, e sofriam de séria deficiência no que tange à compreensão e ao

discernimento espirituais (Hb 5.12-14). Estavam deixando de freqüentar as

reuniões cristãs (Hb 10.25) e de ser ativamente leais a seus líderes cristãos (Hb

13.17). Necessitavam ser novamente exortados a imitar a fé daqueles que os

tinham precedido na viagem para a glória (Hb 13.7). Tendiam para ser facilmente

levados ao redor por ensinos novos e estranhos (Hb 13.9). Corriam o perigo de

não estarem à altura das promessas de Deus (Hb 4.1), desviando-se daquilo que

tinham ouvido (Hb 2.1). Estavam mesmo no perigo de abandonar completamente

a fé, numa deliberada e persistente apostasia (Hb 3.12; Hb 10.26); e esse perigo

tornar-se-ia mais grave se deixassem de freiar qualquer dentre seu número que

estivesse se movendo nessa direção (Hb 3.13; Hb 12.15). Caso cederem a tal

tentação e vierem a rejeitar realmente o Evangelho de Cristo, não poderão esperar

senão o julgamento (Hb 10.26-31).

 Particularmente na qualidade de quem anteriormente haviam sido zelosos

aderentes do judaísmo, parece muito provável que os leitores originais da epístola

tinham ficado pessoalmente desapontados com o Cristianismo porque, por um

lado, ele não lhes tinha proporcionado qualquer reino visível terreno e, por outro

lado, o Cristianismo havia sido decisivamente rejeitado pela grande maioria dos

seus irmãos de raça, os judeus. Além disso o continuo apego ao Evangelho

parecia apenas envolvê-los na participação das repreensões injuriosas de um

Messias sofredor e crucificado, e no ter de enfrentar a possibilidade de violenta

11

Page 12: Introdução a Carta aos Hebreus

perseguição anti-cristã. É bem possível, portanto que se sentissem seriamente

tentados a renegar a Jesus como o Messias e tornar a abraçar os bens visíveis e

preferíveis, que o judaísmo parecia continuar a oferecer-lhes.

Guthrie[17] acrescenta que o cristianismo não poderia oferecer paralelo com

relação à pompa ritual que eles haviam conhecido como costume.Ao contrário do

Templo, que todos os judeus respeitavam como o centro do culto, os cristão

reuniam-se em lares diferentes sem sequer terem um lugar central para suas

reuniões. Não tinham nem altar, nem sacerdotes, nem sacrifícios. O judaísmo

dispunha de um reconhecimento não só das autoridades como do povo em geral.

Todas estas questões poderiam levar o convertido a querer rever suas posições.

Que era o judaísmo que assim os atraía, em detrimento do Cristianismo, parece

confirmado pelo modo óbvio com que o escritor resolve, desde o início da epístola,

demonstrar a superioridade do novo pacto sobre o antigo, exibindo

particularmente a proeminente excelência de Jesus, o Filho de Deus, em

comparação com os profetas e os anjos, os líderes e os sumos sacerdotes que

operavam na antiga dispensação. Portanto, o escritor mostra que se a antiga

ordem era imperfeita e provisória, o Cristianismo trouxe perfeição (Hb 7.19), e

perfeição que é eterna (Hb 5.9; Hb 9.12,15; Hb 13.20). Tanto o autor como seus

leitores originais aparentemente eram judeus helenistas que tinham alguma

familiaridade com o pensamento filosófico dos gregos, e parece que o autor lança

mão de idéias baseadas em tais origens ao declarar que a antiga ordem continha

meramente "figura do verdadeiro" (Hb 9.24) ou então apenas a "sombra dos bens

vindouros, não a imagem real das cousas" (Hb 10.1). Por outro lado, o

Cristianismo é a própria verdade, a celestial e ideal realidade, que possui real e

absolutamente todos aqueles valores inerentes que naquela ordem antiga, quando

muito, podem apenas ser refletidos ou prefigurados. Não obstante, visto que seus

leitores reconheciam a autoridade divina das Escrituras do Antigo Testamento, seu

argumento final em favor do reconhecimento da superioridade de Cristo sobre os

anjos e sobre o sacerdócio levítico, e a favor da superioridade de Seu sacrifício de

12

Page 13: Introdução a Carta aos Hebreus

Si mesmo-sobre os sacrifícios de touros e bodes, é o testemunho profético do

próprio Antigo Testamento. Ver Hb 1.5-13; Hb 7.15-22; Hb 10.5-10.

 O propósito do escritor, por conseguinte, era tornar seus leitores plenamente

cônscios, primeiramente, da admirável revelação e salvação dada por Deus aos

homens, na pessoa de Cristo; em segundo lugar, deixá-los plenamente cônscios

do verdadeiro caráter celestial e eterno das bênçãos assim livremente oferecidas e

apropriadas pela fé; e em terceiro lugar, para dar-lhes plena consciência do lugar

de sofrimento e paciente persistência (mediante a fé) no presente caminho terreno

até o alvo do propósito de Deus, conforme demonstrado na experiência e na obra

do Capitão de nossa salvação e na disciplina de Deus aplicada a todos os Seus

filhos. Em quarto lugar, ainda, para proporcionar-lhes consciência do terrível

julgamento que certamente sobrevirá a qualquer que, conhecendo tudo isso,

rejeitar tal revelação em Cristo. Tendo-se esforçado para torná-los cônscios de

tudo isso, o propósito complementar do escritor é impeli-los a agir de

conformidade com esse conhecimento. Tais propósitos são apresentados através

da epístola inteira mediante o emprego de exposição racional, exortação

desafiadora e solene advertência. [18]

O texto da carta conforme vimos anteriormente tinha a clara intenção de

demonstrar que apesar de tudo que o culto judaico poderia oferecer, o cristianismo

era de sobremaneira melhor, e caberia aos irmãos caminharem na fé.

7.    Teologia

Notamos no decorrer da carta um encadeamento de idéias e uma crescente

revelação dos objetivos do autor, a forma como o autor inicia a carta apresentando

a singularidade de Cristo, parece deixar claro que a mesma versará sobre esse

tópico.

Guthrie divide o texto de Hebreus em alguns tópicos teológicos, quais sejam:

13

Page 14: Introdução a Carta aos Hebreus

O caráter do Filho, onde a apresentação de Cristo é indubitavelmente exaltada,

onde fica claro a divisão da cristologia em três aspectos: a pré-existencia, a

humanidade, e a exaltação do Filho.

Outro ponto de vital importância é a afirmação da superioridade do Filho sobre

outros, sejam homens, sejam anjos. Acrescenta ainda o autor afirmando a

superioridade de Cristo a Moisés (3.1-6), está é uma afirmação

importantíssima se considerarmos o que foi descrito com relação aos

receptores da carta.

A apresentação de Cristo como sumo sacerdote comparativamente com

Melquisedeque é um dos pontos focais da epístola, uma vez que o sacerdócio

de Melquisedeque é real  e para sempre, assim é com Cristo e ainda mais,

uma vez que é infinitamente superior. O autor desenvolve ainda a questão da

obra do Filho como Sumo Sacerdote, diz Guthrie:

O fato de que o escritor entre em pormenores ao descrever o Santo dos

Santos ( 9.1ss) demonstra que para ele, havia uma estreita conexão entre o

ritual arônico e o sacrifício que Cristo fez de Si mesmo. O ritual levitico era

considerado uma “figura e sombra” (8.5) do santuário celestial. O

pensamento passa do tabernáculo terrestre para o celestial.

Na continuação o autor desenvolve o tema da Nova Aliança feita pelo Filho,

onde fica claro a substituição da antiga pela nova aliança, porem tem o cuidado

de deixar claro que apesar da antiga aliança estar obsoleta, há alguma

continuidade da antiga para a nova, tanto uma como a outra foram ordenadas

por Deus e foram provisão para seu povo.

 

14

Page 15: Introdução a Carta aos Hebreus

8.    Conclusão

Como afirmamos na apresentação, apesar de todos os mistérios que rodeiam

a carta aos Hebreus, podemos constatar que o autor independente de quem

seja foi inspirado, todo o texto de Hebreus nos mostra e afirma a superioridade

de Cristo a qualquer outra forma de buscarmos a Deus. O texto flui e somos

arrastados pela coerência do autor aos pés de Jesus, onde pela perspectiva da

carta podemos vislumbrar a grandiosidade de Cristo e de seu sacrifício na

cruz.

Indubitavelmente a falta de certezas com relação ao autor, destinatários,

locais, caem por terra após uma análise mais detalhada, pois fica claro que o

autor é o Espírito Santo, os destinatários são todos os cristãos que possam

estar abatidos ou desanimados, a época em que foi escrita é todo o momento

em que é lida e inflama nosso coração coma a alegria da promessa de

estarmos nos braços do Pai.

 

15

Page 16: Introdução a Carta aos Hebreus

9.    Bibliografia

 GUTHRIE, Donald – A Carta aos Hebreus Introdução e Comentário; São

Paulo; 1999; Ed. Vida Nova

 DATTLER,  Frederic - A Carta aos Hebreus – São Paulo; SP; 1980, 1ª Edição;

Editora Paulina

 LAUBACH, Fritz – Carta Aos Hebreus  - Curitiba; Pr; 1ª Edição; Editora

Evangélica Esperança

 GEISLER, Norman ; NIX,  William – Introdução Bíblica – São Paulo SP; 1997, 1

ª Edição;  Editora Vida.

 DAVIDSON, Francis (ed.), STIBBS, A. M. (colab.), KEVAN, E. F. (colab.),

SHEDD, Russell P. (ed. em português).  - O Novo Comentário da Bíblia. 3ed.

São Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1995

 CHAMPLIN, Russel Norman Ph.D. – Enciclopédia de Bíblia Teologia e

Filosofia; São Paulo; 2001, 5 ed.; vl. 3; Ed. Hagnos

  EUSÉBIO DE CESÁREA - História Eclesiástica   – Editora CPAD – São Paulo;

SP -1999

 ---------- - Bíblia de Jerusalém – São Paulo; SP; 2002 – Editora Paulus

16

Page 17: Introdução a Carta aos Hebreus

10.    Notas

[1] Hebreus – introdução e comentários. – Donald Guthrie –Editora Vida Nova –1ª

edição 1984- pg 13

[2] Cartas aos Hebreus – Comentários Esperança – Fritz Laubach – Editora

Evangélica Esperança – 1ª  edição

[3] Gunthrie cita a seleção de 1 Clemente 36,: acerca de Cristo : “Ele que é o

resplendor da sua majestade, é tão superior aos anjos, quanto  herdou mais

excelente nome[ conf.  Hb. 1.3-4]. Porque está escrito assim; “Aquele que a seus

anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo”[ conf. Hb 1.7].Mas acerca

do Filho o Senhor disse assim: “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”[conf. Hb

1.5] ...”  (Hebreus – introdução e comentários. – Donald Guthrie –Editora Vida

Nova –1ª edição 1984- pg 14)

[4] A Carta aos Hebreus – Frederico Dattler – 1ª Edição – Editora Paulina – São

Paulo. SP.

[5] Carta aos Hebreus – Comentário Esperança – Fritz Laubach – Editora

Evangélica Esperança – 1ª Ed.

[6] Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia – R. N. Champlin – Editora Hagnos

– 5ª Edição – Volume 3 – pg. 45

[7] Hebreus – introdução e comentários. – Donald Guthrie –Editora Vida Nova –1ª

edição 1984- pg 18

[8] História Eclesiástica -  Eusébio de Cesárea – Editora CPAD – 1999. pg 227.

[9] Hebreus – introdução e comentários. – Donald Guthrie –Editora Vida Nova –1ª

edição 1984- pg 18

 

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Page 18: Introdução a Carta aos Hebreus

[10] Carta aos Hebreus – Comentário Esperança – Fritz Laubach – Editora

Evangélica Esperança – 1ª Ed.

 

[11] Hebreus – introdução e comentários. – Donald Guthrie –Editora Vida Nova –

1ª edição 1984- pg 21

  [12] A Carta aos Hebreus – Frederico Dattler – 1ª Edição – Editora Paulina  - pg

61

[13] ver Hebreus pg 22

[14] Hebreus – introdução e comentários, pg 25

[15] DAVIDSON, Francis (ed.), STIBBS, A. M. (colab.), KEVAN, E. F. (colab.),

SHEDD, Russell P. (ed. em português).  - O Novo Comentário da Bíblia. 3ed. São

Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1995.

[16] Introdução Bíblica – Norman Geisler, William Nix – pg 115.

[17] Hebreus – introdução e comentários, pg 29

[18] DAVIDSON, Francis (ed.), STIBBS, A. M. (colab.), KEVAN, E. F. (colab.),

SHEDD, Russell P. (ed. em português).  - O Novo Comentário da Bíblia. 3ed. São

Paulo, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 1995

 

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