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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE SAUDE CURSO DE PSICOLOGIA IRENE DAMAZIO GARCIAS KELEN CRISTINA DE JESUS INTERFACES DA QUALIDADE DE VIDA EM PESSOAS ACOMETIDAS POR ESCLEROSE MÚLTIPLA SÃO BERNARDO DO CAMPO 2011

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Page 1: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE SAUDE

CURSO DE PSICOLOGIA

IRENE DAMAZIO GARCIAS

KELEN CRISTINA DE JESUS

INTERFACES DA QUALIDADE DE VIDA EM PESSOAS

ACOMETIDAS POR ESCLEROSE MÚLTIPLA

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2011

Page 2: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

IRENE DAMAZIO GARCIAS

KELEN CRISTINA DE JESUS

INTERFACES DA QUALIDADE DE VIDA EM PESSOAS

ACOMETIDAS POR ESCLEROSE MÚLTIPLA

Trabalho de conclusão de curso

apresentado no curso de graduação à

Universidade Metodista de São Paulo,

Faculdade da Saúde, curso de Psicologia,

para conclusão do curso de Psicologia.

Orientação: Maria Geralda Viana Heleno.

Co-orientação: Eda Marconi Custódio.

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2011

Page 3: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

FICHA CATALOGRÁFICA

G165i

Garcias, Irene Damazio

Interfaces da qualidade de vida em pessoas acometidas por

esclerose múltipla / Irene Damazio Garcias, Kelen Cristina de Jesus.

2011.

48 f.

Monografia (graduação em Psicologia) – Faculdade da Saúde da

Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2011.

Orientação de: Maria Geralda Viana Heleno.

Co-orientação: Eda Marconi Custódio.

1. Qualidade de vida 2. Esclerose múltipla 3. Doença crônica

I. Jesus, Kelen Cristina de II. Título

CDD 150

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais José (in memoriam) e Maria, a toda minha

família, aos meus afilhados José Danilo e Júlia.

Irene

Dedico este trabalho ao meu marido Sérgio, meu companheiro, amigo de todas as

horas, e a toda a minha família que através de uma história permeada de muita luta tem me

ensinado a buscar e batalhar pelos meus objetivos com muita perseverança, e acima de tudo

com dignidade! Amo muito a todos!

Kelen

Page 5: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

AGRADECIMENTOS

Agradeço

A Deus por ter me dado esta oportunidade, por ter colocado em minha vida pessoas

que ajudaram este sonho ser realizado.

A minha mãe pelo amor, paciência, carinho e compreensão e pela sabedoria , ao meu

pai por ter me ensinado que a educação é um dos maiores bens a ser conquistado na vida.

As minhas amigas Elizabeth , Lorraine, Elizangela e Valéria, por estarem presente na

minha vida, me acompanhando e apoiando a buscar os meus objetivos.

A Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM), na pessoa de Suely Berner,

que teve uma contribuição impar ao nos permitir acesso às informações de modo a viabilizar a

realização deste trabalho.

Irene

“Clamou este pobre, e o Senhor o ouviu, e o salvou de

todas as suas angústias.”

Sl. 34-6

“Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.”

Filipenses 4:13

Agradeço:

A Deus por colocar em meu caminho pessoas maravilhosas, que de alguma forma

torceram e, contribuíram para que este trabalho fosse realizado e concluído , meu marido,

familiares e amigos, todos muito queridos!

A Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM), na pessoa de Suely Berner,

que teve uma contribuição impar ao nos permitir acesso às informações de modo a viabilizar a

realização deste trabalho.

As orientadoras Maria Geralda e Eda Marconi, pelo apoio, carinho e paciência.

Kelen

“(...) Liberte o próprio coração, destruindo as barreiras de conhecimento e

fé, título e tradição, vestimenta e classe social, existentes entre você e as

criaturas, e a felicidade que você fizer para os outros será luz da felicidade

sempre maior brilhando em você. Andre Luiz

Page 6: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

RESUMO

O conceito de qualidade de vida (QV) tem suscitado pesquisas e cresce a sua

utilização nas práticas desenvolvidas nos serviços de saúde, por equipes profissionais que

atuam junto a usuários acometidos por enfermidades diversas. QV tem a ver com o grau de

satisfação das pessoas quanto aos aspectos emocionais, físicos, bem-estar social, estilo de

vida, moradia e situação econômica. Envolve sistemas de valores, expectativa e perspectiva

pessoais, as quais variam conforme a cultura e o grupo e podem ser definidos como sensação

de bem-estar. Diversos fatores podem interferir na QV da pessoa, entre eles uma doença

crônica que pode alterar severamente o modo de vida do doente e de seus familiares. Em

especial as doenças crônico-degenerativas que podem alterar as condições de vida e gerar

cuidados psicossociais e a deterioração orgânico-funcional. O presente estudo teve como

objetivo conhecer características psicossociais e a QV em pessoas acometidas por Esclerose

Multipla, Para a coleta de dados utilizou-se os prontuários dos pacientes atendidos na

Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM) durante 2009 e 2010. Trata-se de uma

pesquisa do tipo documental na qual foi utilizada uma abordagem quantitativa. A amostra,

delineada por meio de amostragem intencional, foi constituída por 55 participantes, 70,9% do

sexo feminino e 29,1% do sexo masculino. Quanto à escolaridade foi observado que 49,1%

dos participantes apresentaram grau de instrução de nível superior, e em relação ao estado

civil 49,1% apresentaram-se casados, totalizando a maioria, contudo foi observado que 21,8

% eram divorciados ou desquitados e 25,5 % solteiros, dados que juntos equivalem a 47,3 %

do total de participantes que vivem sem ter um relacionamento estável. Em relação QV,

avaliada a partir do DEFU, foi possível observar resultados que variaram de 54 a 164, com

média igual a 111,58. Tais escores podem ser considerados altos, evidenciando uma

percepção positiva da QV. Estes resultados sugerem que alguns fatores contribuíram para a

percepção positiva da QV, entre eles, aspectos subjetivos da vida dos participantes, bem como

suas expectativas, percepções e emoções. O estudo sugere novas pesquisas que envolvam a

relação entre QV e doenças com características crônicas visando o conhecimento de fatores

que podem interferir ou não na QV.

Palavras-Chave: Qualidade de Vida. Esclerose Múltipla. Doença crônica.

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ABSTRACT

The concept of quality of life (QOL) has aroused researches and grows its use in the practices

developed at health services, by professional teams working with the people affected by various

diseases. QOL has to do with the degree of satisfaction of the people as to the emotional aspects,

physical, and social welfare, life style, housing, and economic situation. Involving systems of

values, expectations and personal perspective, which vary according to the culture and the group

and may be defined as a feeling of well-being.

Several factors may interfere in the QOL of a person, among them a chronic disease that can

severely affect the way of life of the patient and their family members.

In particular, the chronic degenerative diseases that may alter the conditions of life and generate

psycho-social care and organic or functional deterioration.

The objective of the present study was to present some psychosocial characteristics and assess the

QOL of people affected by Multiple Sclerosis (MS). To the data collection, the authors used the

medical records of the patients treated at the Brazilian Association of Multiple Sclerosis (ABEM) in

the years of 2009 and 2010.

It is a survey of the documentary in which was used a quantitative approach. The sample was

drawn through intentional sampling. The sample was composed of 55 participants, 70.9 % of the

patients were female and 29.1 % were male.

As regards education, it was observed that 49.1 % of the participants had degree of instruction in

higher education, and in relation to civil status 49.1 % were married, totaling the majority.

However, it was observed that 21.8 % were divorced or separated and 25.5 % were single, data

which indicates the equivalent of 47.3 % of the total number of participants who live without

having a steady relationship. On QOL, it is possible to observe that results vary from 54 to 164

and it is considered as high scores show a positive perception of the QOL. In general the average

of results was 111.58.

The compliance of such results have suggested that some factors have contributed to the positive

perception of QOL, among them are : subjective aspects of the life of the participants, as well as

their expectations, perceptions and emotions. The study points to new research that involves the

relation between QOL and diseases with chronic characteristics to the knowledge of factors that

may interfere or not in QOL.

Key Words: Quality of Life, Multiple Sclerosis, Chronic Disease.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Caracterização da amostra quanto ao tempo de diagnóstico .................................. 34

Figura 2 - Caracterização da amostra quanto ao EDSS .......................................................... 35

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Distribuição dos participantes, quanto ao gênero, escolaridade e estado civil ...... 31

Tabela 2 - Distribuição quanto à idade ................................................................................... 33

Tabela 3 - Caracterização da amostra quanto à religiosidade ................................................. 33

Tabela 4 - Caracterização da amostra quanto ao tipo de Esclerose Múltipla .......................... 34

Tabela 5 - Caracterização da amostra quanto aos escores totais da DEFU ............................ 36

Tabela 6 - Caracterização da amostra quanto aos Domínios da DEFU................................... 37

Page 10: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................9

1.2 QUALIDADE DE VIDA: UM CONCEITO MULTIDIMENSIONAL................9

1.3 DOENÇA CRÔNICA E RESILIÊNCIA...............................................................12

1.4 ESCLEROSE MÚLTIPLA....................................................................................13

1.5 ESCLEROSE MULTIPLA E ALGUNS ASPECTOS PSICOLÓGICOS..............21

2. MÉTODO..................................................................................................................29

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..............................................................................31

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................38

REFERÊNCIAS ...........................................................................................................40

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1 INTRODUÇÃO

1.1 QUALIDADE DE VIDA: UM CONCEITO MULTIDIMENSIONAL

De acordo com Seidl e Zannon (2004), o conceito de qualidade de vida (QV) tem

suscitado pesquisas e cresce a sua utilização nas práticas desenvolvidas nos serviços de saúde,

por equipes profissionais que atuam junto a usuários acometidos por enfermidades diversas.

Segundo as autoras, o interesse pelo conceito de QV na área da saúde é recente e decorre, em

parte, dos novos paradigmas que têm influenciado as práticas do setor nas últimas décadas.

Lyndon Johnson, em 1964, declarou que "os objetivos não podem ser medidos através

do balanço dos bancos. Eles só podem ser medidos através da qualidade de vida que

proporcionam às pessoas”. Isto despertou nas pessoas o interesse pelos conceitos como padrão

de vida ou QV e, especialmente, por parte dos cientistas sociais, filósofos e políticos

(WHOQOL GROUP, 1998).

A Medicina e as ciências de modo geral vêm apresentando um crescente

desenvolvimento tecnológico, que traz algumas consequências nem sempre positivas,

ocasionando em algumas situações uma progressiva desumanização, fato este que veio a

corroborar com a presente preocupação com o conceito de QV, que se refere a um movimento

dentro das ciências humanas e biológicas no sentido de valorizar parâmetros mais amplos que

o controle de sintomas, a diminuição da mortalidade ou o aumento da expectativa de vida

(WHOQOL GROUP, 1998).

Para Souza (2007), QV na sua significação mais geral é a medida do grau de satisfação

das pessoas com aspectos emocionais, físicos, bem-estar social, estilo de vida, moradia e

situação econômica. Envolve sistemas de valores, expectativa e perspectiva pessoais, as quais

variam conforme a cultura e o grupo e podem ser definidos como sensação de bem-estar. Sob

o ponto de vista do senso comum, QV pode ser sinônimo de felicidade, bem-estar,

necessidades satisfeitas, equilíbrio, liberdade, sucesso, prosperidade, desenvolvimento e boa

visão. Quando pensamos sobre QV, imediatamente surgem em nossa imaginação idéias,

sonhos e objetivos, todos individuais, de acordo com a história de vida de cada um.

Conforme Ribeiro (2007), após a Segunda Guerra Mundial foi formalmente

institucionalizado, nomeadamente na definição de saúde que emergiu da constituição da

Organização Mundial de Saúde (OMS), que há fatores para além da doença que são

componentes da saúde. A primeira evidência do interesse pela avaliação dos resultados é

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normalmente atribuída à década de 1940 à escala de Karnofsky, sendo esta uma das primeiras

medidas de QV.

Conceitos de saúde, doença, cuidados médicos, cuidados de saúde, promoção de

saúde, refletem os valores, as crenças, os conhecimentos, as atividades. Em suma, são

conceitos compartilhados na cultura da sociedade por todos os seus membros, sejam eles

especialistas ou leigos, cultos ou incultos, analfabetos ou instruídos. Assim o conceito de

saúde varia conforme o contexto histórico e cultural, social e pessoal, científico e filosófico,

refletindo a variedade de contextos de experiência humana (RIBEIRO, 1998).

Após a Segunda Guerra Mundial a OMS definiu saúde como “estado de bem estar

físico, mental e social, total, e não apenas ausência de doença ou incapacidade” (WHOQOL

GROUP,1995).

A OMS define qualidade de vida como sendo “a percepção do indivíduo de sua

posição na vida, no contexto cultural e no sistema de valores em que ele vive e em relação a

seus objetivos, expectativas, preocupações e desejos” (WHOQOL GROUP, 1995). O conceito

de QV refere-se a indicadores objetivos e subjetivos de felicidade, satisfação e é

multidimensional à medida que incorpora a percepção do indivíduo sobre diversos aspectos

de sua vida (MORALES, MORALES, ROCHA, FENELON, PINTO E SILVA, 2007;

MENDES, BALSIMELLI, STANGEHAUS E TILBERY, 2004).

A OMS, reconhecendo a multidimensionalidade do construto, desenvolveu diversos

domínios na estrutura de seus instrumentos de avaliação da QV WHOQOL-100 e o

WHOQOL-bref: domínio físico, domínio psicológico, nível de independência, relações

sociais, meio-ambiente e espiritualidade / religião / crenças pessoais. (WHOQOL GROUP,

1998).

A OMS ao incluir o domínio denominado “religiosidade, espiritualidade e crenças

pessoais” considerou que a religiosidade / espiritualidade são consideradas importantes

aliadas das pessoas que sofrem e/ou estão doentes (FLECK et al., 2003).

Para Corsi (2009), a crença religiosa em si não parece influenciar a QV, mas o modo

como uma pessoa utiliza sua crença para lidar com o estresse, com a doença é que pode

influenciar a QV.

Deste modo a QV pode ser entendida como um conceito multidimensional relacionado

com as experiências do individuo, no modo como o mesmo entende e percebe a saúde e

qualquer sintoma que a altere (MORALES et al, 2007; CASTRO, 2008).

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11

Diversos fatores podem interferir na QV da pessoa. Uma alteração no seu estado de

saúde, por exemplo, uma doença crônica, pode alterar severamente o modo de vida do doente

e de seus familiares. Para Silva, Guedes, Moreira e Souza (2002), quando uma pessoa é

acometida por uma doença crônica ela enfrenta alterações no estilo de vida. Estas alterações

são decorrentes de certas restrições causadas pela presença da patologia, das necessidades

terapêuticas e de controle clínico, além da probabilidade de repetidas internações hospitalares.

Deve-se considerar, ainda, que o desenvolvimento da ciência e tecnologia leva a crer que a

esperança média de vida seja cada vez maior, resultando isto no aumento do número de

portadores de doenças crônicas (SANTOS, 2003).

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12

1.2 DOENÇA CRÔNICA E RESILIÊNCIA

Uma das definições de doença crônica mais amplamente aceita é aquela proposta em

1957 pela Comissão de Doenças Crônicas de Cambridge, na qual se incluíam todos os desvios

do normal que tinham uma ou mais das seguintes características: duração, apresentação de

incapacidade residual, alteração patológica não reversível no sistema corporal, necessidade de

treinamento especial do paciente para a reabilitação e previsão de um longo período de

supervisão, observação e cuidados. A doença crônica pode iniciar-se como uma condição

aguda, que se prolonga com episódios de exacerbação e remissão. Embora seja passível de

controle, o acúmulo de eventos e as restrições impostas pelo tratamento podem levar a uma

drástica alteração no estilo de vida das pessoas (MARTINS; FRANÇA; KIMURA, 1996).

As doenças crônicas na sua globalidade, apesar de muito variadas, apresentam

características comuns que se relacionam com uma longa duração, prejuízo profundo na vida

dos doentes, intervenção paliativa, implicando em uma grande aprendizagem por parte do

paciente para lidar com a sintomatologia (LOPES, 2007). Pinheiro (2004) coloca que na

sociedade moderna as mudanças estão cada vez mais rápidas e profundas, exigindo constantes

esforços de adaptação e, portanto, tornando a resiliência um desafio ao novo milênio.

Conforme Pinheiro (2004), resiliência habitualmente é definida como sendo a

capacidade de o indivíduo, ou a família, defrontar-se com as adversidades, ser transformado

por elas, mas conseguir superá-las. Apesar das adversidades que o ser humano enfrenta ao

longo de sua vida, este pode possuir a capacidade de responder a estas demandas de forma

positiva (OLTRAMARI, 2010).

Yunes (2003) descreve que apesar de existir há trinta anos, nos últimos cinco anos o

interesse pelo estudo do fenômeno da resiliência tem sido discutido nos encontros

internacionais, mostrando que o estudo sistematizado ocorre nos últimos dez anos. Para a

autora, sua definição não possui clareza, ou precisão como na Física ou na Engenharia, e nem

poderia sê-lo, haja vista a complexidade e multiplicidade de fatores e variáveis que devem ser

levados em conta no estudo dos fenômenos humanos. Apesar de a resiliência ser aspecto

importante nas doenças crônicas, no presente estudo será avaliado a QV em pacientes com

Esclerose Múltipla (EM).

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13

1.3 ESCLEROSE MULTIPLA

Conforme Morales et al. (2007), a EM, é uma doença crônica que pode levar seus

portadores a sofrerem forte impacto pela doença e/ou efeitos colaterais de medicamentos, com

interferência significativa na QV.

A EM, é uma doença neurológica crônica, desmielinizante de caráter inflamatório,

acomete preferencialmente adultos jovens, entre 20 e 50 anos, contudo poder ocorrer em

crianças ou em adultos com faixas etárias maiores, contudo não é uma doença fatal e grande

parte das pessoas com EM leva uma vida normal. Entretanto o caráter imprevisível e por

vezes incapacitante interfere em variados aspectos da vida da pessoa com EM (MENDES e

TILBERY, 2004). Para Lopes, Nogueira, Nóbrega, Alvarenga-Filho e Alvarenga (2010), a

EM afeta preferencialmente mulheres jovens e caucasianas, ocasionando manifestações

neurológicas variadas, sendo a disfunção motora, a mais freqüente seqüela. Smith e Schapiro

(2000) afirmam que é uma doença mais comum em mulheres do que em homens, em uma

proporção de 1,7 para 1, acometendo com maior frequência indivíduos de cor branca do que

em hispânicos ou negros e é relativamente rara entre asiáticos e alguns outros grupos.

O mais previsível da EM é sua imprevisibilidade, pois em cada pessoa com EM a

doença se desenvolve de uma forma. Cada indivíduo sofre variações ao longo do

desenvolvimento da patologia. A incerteza quanto ao curso da doença, os sintomas e sinais, a

adaptação à nova forma de viver, acrescido do fato que a enfermidade acomete

preferencialmente adultos jovens, ou seja, numa fase mais dinâmica da vida, são fatores que

tendem a gerar uma carga psicológica significativa aos problemas físicos causados pela EM

(MILLER, 2000).

Segundo Moreira (2004), a história oficial da EM iniciou-se na metade do século XIX,

quando os médicos Robert Carswell e Jean Curuveilhier começaram a escrever as suas

observações sobre uma nova doença. Em 1831 Robert Carswell encontrou a primeira

demonstração patológica pela presença de placas em algumas necropsias. Jean Cruveilhier,

professor na faculdade de Medicina da Universidade de Paris, observou durante algumas

necropsias de rotina algumas placas marrons no SNC e as descreveu para a comunidade

médica entre os anos de 1935 e 1842.

Ainda de acordo com Moreira (2004), as primeiras descrições clínicas e anatômicas

detalhadas da doença, e ainda hoje válidas, são atribuídas a Jean Martin Charcot e Edmé Félix

Alfred Vulpian, principais autoridades em paralisia na Europa naquela época. Charcot em 14

de março de 1869, fez sua célebre publicação identificando uma nova doença previamente

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14

confundida com paralisia, era a EM. Na América Latina o primeiro registro de um caso da

doença foi realizado no Brasil por Aluizio Marques em 1923. Moreira (2004) ainda salienta

que um pioneiro no estudo de EM foi Antonio Austregésilo, o qual publicou em 1926 o

primeiro estudo neuropatológico da América Latina.

Conforme Machado, Valente, Reis, Saraiva, Silva, Martins, Cruz e Rodrigues (2010),

a EM é uma doença que atinge pessoas em todo mundo embora haja evidências

epidemiológicas que apontam a existência de uma prevalência mais elevada com o aumento

da distância da linha do equador. A doença é mais comum em áreas de clima temperado,

sendo relativamente menor sua incidência nos trópicos. Aparece com mais frequência em

indivíduos da Grã-Bretanha, Escandinávia e norte da Alemanha, do que em áreas circundantes

do mar Mediterrâneo; canadenses e indivíduos do norte dos Estados Unidos parecem ser mais

suscetíveis do que os que vivem na parte sul do continente e a EM é desconhecida entre os

povos negros da África (SMITH; SCHAPIRO, 2000).

Machado et al (2010) descrevem que a EM é a causa de incapacidade mais habitual no

adulto jovem nos países ocidentais; em Portugal a prevalência aproxima-se de 50:100.000

habitantes.

Para Moreira (2004), a participação genética na causa da EM vem sendo discutida a

mais de um século. Em 1896 Eichhorst acreditava que a doença fosse hereditária e

transmissível, em 1972 estudos genéticos realizados na Dinamarca demonstraram a existência

de relação entre antígenos no sistema HLA e a EM; na década de 90, Sadovnick evidenciou a

susceptibilidade genética para a doença através da herança poligênica. Para Smith e Schapiro

(2000), embora a EM não seja herdada diretamente, a doença aparece em indivíduos

geneticamente predispostos, os quais são aparentemente mais susceptíveis a qualquer estimulo

ou agente que possa desencadear a doença. Segundo os autores a descendência de pessoas do

norte e centro da Europa, bem como aqueles cujos ancestrais se misturaram com esse grupo,

parecem ter pré-disposição genética para a doença, embora ainda não se saiba quais fatores

ambientais que poderiam causar o aparecimento da EM.

De acordo com Moreira et al. (2000), John Kurtzke em 1955 desenvolveu a primeira

escala para definir a incapacidade física em pessoas com EM, a DSS. Em 1973 Kurtzke

publicou uma versão ampliada de sua escala, denominando-a Expanded Disability Status

Scale ou Escala de Incapacidade Funcional Expandida (EDSS), que é utilizada até hoje. Smith

e Schapiro (2000), explicam que os neurologistas que atendem muitas pessoas com EM

necessitam de alguma base de comparação, podendo assim comunicar de maneira eficaz e

consistente as conclusões dos casos atendidos. Ainda que o exame neurológico forneça muitas

Page 18: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

15

informações extremamente úteis, gasta- se muito tempo para delinear as diferentes etapas do

exame neurológico clínico. A EDSS possibilita sinteticamente o exame neurológico e fornece

uma medida do grau de incapacidade geral, pelo menos no que se refere à capacidade de

andar. É uma escala de dez pontos, iniciando-se no zero (“exatamente normal”) e indo até o

dez (“morte devido à EM”).

A EDSS é usada por razões variadas, como para decidir sobre tratamento médicos

futuros, estabelecer metas de reabilitação e seleção de pacientes para ensaios clínicos. A

maior desvantagem da escala é que sua ênfase no comprometimento de marcha desconsidera

incapacidades resultantes de outros comprometimentos, como problemas em membros

superiores ou perda de memória, no entanto, nenhuma escala para EM é tão amplamente

utilizada (SMITH e SCHAPIRO, 2000).

A EM é uma enfermidade do Sistema Nervoso Central (SNC) na qual a mielina,

camada protetora das fibras nervosas do cérebro e da medula espinhal, é lesionada

prejudicando a transmissão dos impulsos nervosos, processo denominado desmielinização. A

desmielização pode afetar diversas áreas do SNC de forma aleatória, a depender da região

afetada, ocasionando grande variabilidade de sintomas. Ocorre inicialmente um processo

inflamatório, dificultando a transmissão do impulso nervoso, causa de sintomas variados;

estes sintomas podem desaparecer quando a inflamação é resolvida ou a bainha de mielina

poderá ser afetada de modo definitivo, ocorrendo à formação de um tecido cicatricial

enrijecido, por isso esclerose. As regiões destruídas são chamadas placas ou lesões, dando

origem ao nome da doença, Esclerose Múltipla ou Esclerose em Placas (MENDES e

TILBERY, 2004).

O Sistema Nervoso Central (SNC) reúne todas as estruturas neurais situadas dentro do

crânio e da coluna vertebral, onde se localiza a maior parte dos neurônios. De maneira geral

pode-se dividir o SNC em: Encéfalo, Medula espinhal e nervos cranianos, e o encéfalo divido

em: cérebro, cerebelo, tronco encefálico. O neurônio é a unidade sinalizadora do sistema

nervoso, cuja morfologia está adaptada para as funções de transmissão e processamento de

sinal. Tem muitos prolongamentos ao longo do corpo celular, os dendritos, que funcionam

como antenas para os sinais de outros neurônios, e um prolongamento longo que leva as

mensagens dos neurônios para sítios distantes, o axônio. Todo esse processo de comunicação

entre os neurônios é chamado de sinapse, o impulso nervoso é o principal sinal de

comunicação do neurônio (LENT, 2001).

Segundo Cosenza (1998), a extensão e diâmetro dos axônios podem variar e muitas

classificações dos axônios são baseadas por seu diâmetro, já que quanto maior o diâmetro

Page 19: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

16

axonal, mais rapidamente se faz a condução do impulso nervoso. Boa parte dos axônios

encontrados no sistema nervoso é envolvida pela bainha de mielina, constituída por várias

camadas de membrana celular de outras células, que se enrolam em torno do axônio.

Segundo Mendes e Tilbery (2004), a mielina, uma substância gordurosa e de aparência

esbranquiçada, forma uma bainha envolvendo e protegendo as fibras nervosas do SNC, o que

torna possível a rápida condução dos impulsos nervosos. Qualquer dano ou destruição a esta

bainha interfere na transmissão do impulso nervoso, conseqüentemente danificando ou

impedindo que as mensagens sejam enviadas adequadamente.

Algumas lesões (cicatrizes) causadas pela EM podem não causar sintomas visíveis e

outras podem interferir em qualquer sensação ou função controlada pela área afetada do

cérebro ou da medula espinhal (SMITH e SCHAPIRO, 2000).

Apesar de vários estudos e avanços na medicina, a EM ainda hoje é de causa

desconhecida. Segundo Mendes e Tilbery (2004), acredita-se que os danos à mielina podem

ser resultantes de uma resposta anormal do sistema imunológico do individuo o que

caracterizaria a EM como uma doença auto-imune. Em situação normal o sistema

imunológico é o responsável pela defesa do organismo contra vírus, bactéria e outras

substâncias agressoras externas. Fato que não ocorre no caso da EM, o sistema imunológico

não reconhece a mielina como sendo parte do corpo do indivíduo e ataca como se ela fosse

um agente agressor, sendo necessários estudos mais aprofundados para tal afirmação.

Há muito para se conhecer a cerca da EM, especula-se uma possível causa viral,

trauma, contaminação por metais pesados, alergias, vacinação, dieta, estresse e causas

genéticas, contudo não há ainda confirmação com bases científicas e os estudos na área

prosseguem (MENDES e TILBERY, 2004).

Segundo Smith e Schapiro (2000), a EM é uma patologia de difícil diagnóstico, uma

vez que não há exames de sangue específicos, técnicas de imagem como ressonância

magnética ou tomografia, testes de função imunológica, ou testes genéticos que possam, por

si, determinar se o indivíduo tem ou poderá vir a ter EM, assim o diagnóstico é clinico

baseado no histórico médico da pessoa, na avaliação dos sintomas percebidos e referidos pelo

individuo e na existência de sinais neurológicos detectados pelo médico, nem sempre

percebidos pelo paciente.

Entende-se quadro clínico como a variedade de manifestações que o paciente percebe,

bem como , as que o médico identifica, sendo composto de sintomas e sinais. Sintomas são as

queixas subjetivas do paciente e os sinais são objetivos e podem ser mensurados pelo médico

(FERREIRA, 2004).

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17

Bacellar (2004) coloca que estabelecer um diagnóstico definitivo de EM é uma tarefa

complexa que exige do neurologista atenção especial para outras doenças que simulam a EM,

cabendo ao profissional somente citar o nome de EM quando estiver diante de forte suspeita,

e ao fazê-lo esclarecer detalhes etiológicos e fisiopatológicos da EM para o paciente.

Ainda de acordo com autor citado acima, deve-se fazer um diagnóstico clínico

diferencial da EM com outras formas de agressão ao SNC tais como: trauma, tumores do SNC

(encéfalo, medula espinhal, incluindo as neoplasias primárias e secundárias), compressão da

medula espinhal por espondilartrose, infecções como sífilis do SNC, doença de Lyme,

mielites infecciosas incluindo infecção pelo Vírus linfotrópico humano – 1 (HTLV-1), Vírus

Herpes, Citomegalovirus e vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), vasculites, colagenoses,

Lúpus Eritematoso Sistêmico, doença de Behcet, sarcoidose, distúrbios metabólicos,

deficiência de vitamina B12, intoxicações crônicas por barbitúricos e outros agentes,

iatrogenias, doenças cerebrovasculares, doenças degenerativas do SNC, degenerações

espinocerebelares familiares, doenças congênitas, manifestações psíquicas e outras doenças

desmielinizantes.

Segundo Menezes Neto (1999), as doenças desmielinizantes destroem a mielina,

normalmente formada. Além da EM compreendem encefalomielite disseminada aguda,

leucoencefalomielite aguda hemorrágica, leucoencefalopatia multifocal progressiva,

polineurite idiopática, neuropatia diftérica, encefalomielite auto-imune experimental. Na EM

os sintomas e sinais dependem das regiões do SNC nas quais estejam localizadas as lesões, e

estão classificados em forma de surto e remissão, podendo haver remissão completa ou

persistirem perdas de função com intensidade variada.

Surto é o aparecimento de um novo sintoma e sinal, por um período superior a vinte e

quatro horas com ausência de febre e os sintomas e sinais já existentes, mas cuja intensidade

aumenta por um período superior a 30 dias e é denominado progressão (FERREIRA, 2004).

Ainda de acordo com a autora citada acima, há uma variação de severidade, que vai

desde o processo patológico assintomático (sem sintomas), descoberto após a morte e a

presença de sintomas leves até a severa incapacidade. Segundo a autora, do SNC são

comumente envolvidos na EM o quiasma e nervos óticos, o cérebro, o tronco encefálico, o

cerebelo e a medula espinhal.

Conforme Ferreira (2004), os sintomas paroxísticos (súbitos) são raros e devem ser

diferenciados de novos surtos. Estes incluem sinal de Lhermitte (sensação de descarga

elétrica, que percorre do pescoço para os membros, sendo mais freqüente quando o paciente

abaixa a cabeça), contrações musculares dolorosas (espasmos dolorosos), fraqueza súbita dos

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18

membros inferiores, espasmo hemifacial, visão dupla de curta duração e dificuldade súbita

para falar.

Ainda sobre os sintomas, Ferreira (2004) descreve que os sintomas e sinais são

explicados conforme a região em que são localizadas as lesões, que podem ser

exemplificados:

Quiasma e nervo ótico: redução da acuidade visual (visão borrada), déficit de

campos visuais de variados tipos e sensação de pontos luminosos;

Tronco cerebral: diplopia (visão de duas imagens), paralisia do movimento de

um olho para dentro e do outro para fora, vertigem, déficit na fala e deglutição;

Cérebro: quadro demencial, déficit cognitivo e déficit motor;

Cerebelo: Tremor no corpo ou nos membros, fala silabada, ataxia,

descoordenação de tronco e membros;

Medula espinhal: dificuldade de movimentação de um dos membros, dificuldade de

movimentação de membros inferiores e dificuldade de movimentação dos quatro membros.

De acordo com Smith e Schapiro (2000), os tipos de EM são:

Surto-Remissão ou Remitente-Recorrente (RR) que se caracteriza por surtos com

duração de dias ou semanas, mas em semanas desaparecem;

Progressiva-Primária (PP) caracterizada por apresentar progressão no

comprometimento desde seu aparecimento;

Progressiva-Secundária (PS) inicialmente se manifesta como surto-remissiva e

posteriormente se torna progressiva;

Progressiva-Recorrente (PR) onde há progressão clara da incapacidade desde a

manifestação da doença.

Para Lebre, Mendes, Tilbery, Almeida e Scatolini Neto (2007), a fadiga e a exaustão

são sintomas constantes, presente em várias doenças do sistema nervoso central (SNC).

Segundo Mendes (2010), na EM a fadiga é um sintoma frequente que acomete de 53 a

92% dos pacientes. Embora não exista correlação entre a forma de manifestação da EM e a

presença de fadiga, ela ocorre com maior intensidade nos pacientes com a forma progressiva

da doença.

Mendes (2007) afirma que a fadiga é um sintoma inespecífico, encontrado com

frequência na população, ela ocorre em diversas doenças e pode ocorrer também em

indivíduos sadios. A fadiga é um sintoma de grande intensidade associada a um grau de

incapacidade persistente, podendo inclusive agravar os demais sintomas da doença; ela pode

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ocorrer isoladamente, assim como os surtos da doença, ou estar associada a eles, podendo

estar presente mesmo com graus mínimos de incapacidade.

Ainda de acordo com autora acima citada, é conhecida a associação de fadiga com

fenômenos neoplásicos, auto-imunes, infamatórios e infecciosos, bem como a influência

causada por outros sintomas, tais como dor, alterações do humor, distúrbios cognitivos e

distúrbios do sono. Nos pacientes com doenças neurológicas, a fadiga difere das relatadas por

outros doentes, levando a um maior impacto na vida diária.

O termo fadiga é empregado para descrever qualquer fenômeno de déficit de função, e

os termos letargia, astenia, exaustão e falta de motivação ou energia são frequentemente

utilizados como sinônimos deste sintoma. (MENDES, 2010)

De acordo com Mendes (2007), há dificuldades em definir fadiga para os pacientes,

médicos, pesquisadores e cuidadores, sendo um conceito complexo e multidimensional, a qual

repercute fisicamente, emocionalmente, cognitivamente e socialmente. O termo é utilizado

para descrever qualquer fenômeno de declínio de função, medido por variáveis fisiológicas

como duração, frequência, intensidade, excitabilidade. Desta forma pode-se referir a fadiga

muscular, auditiva, visual, de receptor, não podendo comparar as informações obtidas.

Segundo Lopes et al (2010), dos sintomas experimentados pelos pacientes com EM, a

fadiga é considerada por muitos como seu maior sintoma de deficiência, causando efeitos

negativos na QV independente da disfunção motora.

Conforme Mendes (2010), a fadiga nos portadores de EM não é um sintoma

homogêneo, podendo o mesmo paciente experimentar simultaneamente diversas

manifestações de fadiga. Para Lebre et al (2007),os principais fatores desencadeadores da

fadiga na EM permanecem obscuros. Os mecanismos centrais parecem ter uma atribuição

importante na sua patogênese.

Conforme Mendes (2007), a fadiga pode ser entendida como um fenômeno subjetivo

ou um sintoma referido pelos pacientes ou como um sintoma objetivo, com sinais

mensuráveis. Outros compreendem dentro de um contexto psicológico, associando ao

estresse, depressão ou ansiedade, sendo secundária a uma menor motivação. Pode ser

considerado em qualquer situação como um fenômeno fisiológico.

Para Morales (2004), entre os sintomas mais desconfortáveis e incapacitantes que

podem acometer as pessoas com EM estão as disfunções urinárias, intestinais e sexuais. Para

o autor os sintomas descritos acima podem influenciar consideravelmente a QV dos pacientes.

São distúrbios muito frequentes, mas com melhores métodos terapêuticos e diagnósticos

adequados o tratamento vem sendo mais eficaz. Sobre a prevalência de disfunção sexual os

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20

dados são controversos, dependendo da fonte consultada, dos métodos de pesquisa e de

fatores culturais da região estudada. Morales (2004) mostra que algum tipo de disfunção

sexual ocorre em 20 a 51% dos homens e em 15 a 43% das mulheres na população geral.

Entre os portadores de EM a ocorrência é ainda maior, estando presente em 70 a 90% dos

homens e 55 a 75% das mulheres.

Em relação aos distúrbios urinários ocasionados pela EM, Morales (2004) descreve

que cerca de 70 a 80% dos pacientes apresentam ou apresentaram em algum momento.

Estudos mostram que após 10 anos de atividade da doença, pelo menos 96% dos pacientes já

sentiram algum sintoma relacionado ao controle de micção. A EM pode provocar alterações

tanto no armazenamento quanto na eliminação da urina, devido a problemas de contração

fraca ou excessiva da bexiga, ou coordenação entre bexiga e o esfíncter da uretra

(MORALES, 2004, p.71-72).

O autor acima citado descreve que os sintomas intestinais que podem acarretar os

portadores são constipação intestinal (50% dos pacientes) e a incontinência fecal (30%). Tais

distúrbios têm causas variadas podendo ser ocasionadas devido aos efeitos de medicamentos.

Vários fatores podem causar a constipação intestinal, como a diminuição dos reflexos

intestinais, algumas drogas como, por exemplo, os antidepressivos e anticolinérgicos. O autor

cita ainda o aumento do tônus da musculatura pélvica e fraqueza da musculatura abdominal

que podem dificultar a eliminação de fezes.

Para Santos (2003), a doença crônica acarreta perdas sucessivas de independência e

controle, gerando sentimentos como ansiedade, tristeza, irritação, medo e sensações de luto.

Saber viver com a doença crônica depende das características individuais, a maneira como ela

é aceita e do que é esperado da vida. As necessidades dos doentes, portadores deste tipo de

doença, também divergem, o que torna necessária a adaptação aos efeitos prolongados da

doença crônica.

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21

1.4 ESCLEROSE MULTIPLA E ALGUNS ASPECTOS PSICOLÓGICOS

A EM pode ser comparada a um visitante que chega de repente e nunca mais vai

embora, por seu curso incerto e sintomas diversos, afeta o estilo de vida de todos, da pessoa

com EM e de seus familiares sendo uma intrusão com a qual toda a família deve aprender a

lidar e se adaptar. O processo de adaptação é contínuo, à medida que os sintomas aparecem e

desaparecem (KALB; MILLER, 2000).

Para Martins, França e Kimura (1996), as doenças crônicas interferem na autoestima,

no estudo realizado por estes autores, com os objetivos de identificar o significado de QV

para pessoas com doença crônica e verificar a interferência da doença sobre a QV; dos 71

participantes, 53% mencionaram esta interferência e relacionaram-na à alteração do estado

emocional, caracterizado por tristeza, desânimo, falta de vontade, desmotivação, nervosismo,

aborrecimento, perda de prazer, insegurança, sensação de inutilidade e insatisfação com a

auto-imagem.

Ainda de acordo com as autoras acima citadas, a auto-imagem de um individuo é

construída ao longo de toda sua vida, de suas habilidades acumuladas e experiências de vida,

e a EM interfere na capacidade da pessoa de realizar atividades importantes e isso representa

uma perda significativa, uma alteração na percepção de si próprio. Estes fatores podem ainda

gerar sintomas ou quadros de depressão.

Quanto à avaliação da prevalência da depressão em pacientes com EM, Mendes,

Tilbery, Balsimelli, Moreira e Barão-Cruz (2003) mostraram que está presente em 17,9% e a

ansiedade em 35,7% dos pacientes com EM forma remitente recorrente. Sintomas depressivos

ou quadros de depressão são importantes, pois podem influir na QV.

De acordo com Branden (1995, apud VITORELI; PESSINI; SILVA, 2005), para uma

vida satisfatória, é indispensável a presença de uma auto-estima positiva, fato este que leva o

indivíduo a sentir-se confiante, adequado à vida, competente e merecedor, pois a auto-estima

é composta de sentimentos de competência e de valor pessoal, acrescida de auto-respeito e

auto-confiança.

Segundo Vieira, Ponce, Sampaio, Lima, Puppi, Kamio e Haddad (2004), a EM é uma

doença crônica e incapacitante exigindo sempre algum nível de adaptação por parte do

portador e daqueles com quem convive. Para se adaptar é necessário antes de tudo que haja

aceitação da doença pelo paciente, o que nem sempre é fácil, pois devido ao impacto

psicológico que a doença causa a partir do diagnóstico, devido ao curso clínico da doença ser,

na maioria das vezes variável e incerto, marcado por períodos de surtos e remissões, a

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aceitação torna-se difícil. Ribeiro e Braga (2011) concluem que devido à série de sintomas e

sinais provocados pela patologia é necessário um processo de reabilitação por um período

prolongado, e este processo pode se tornar cansativo e desestimulante. A reabilitação,

necessidade de tratamento constante, tem por objetivo reconduzir a pessoa com EM a viver de

maneira saudável , promovendo uma melhora na QV.

Desta forma o paciente pode conviver bem com a EM até que um surto mais forte

mude seu quadro sintomático e consequentemente exija um ajuste a sua nova condição física e

às perdas decorrentes: econômicas, familiares, profissionais, sociais e psicológicas (VIEIRA

et al 2004).

Para Matias (2011), os indivíduos com EM que tem dificuldade em aceitar o

diagnóstico podem algumas vezes assumir comportamentos de negligencia ao seu tratamento.

Ele pode recusar-se a ingerir a medicação prescrita, afastar-se do convívio social, adotar uma

postura de vitimização, apresentar negação dos seus aspectos emocionais entre outros. Estes

são fatores que podem exacerbar o impacto que a doença traz em si própria. O sentimento de

aceitação pode ser um importante gerador de boa autoestima, confiança e segurança em si próprio

e nos outros. Como a pessoa se vê e se descreve, bem como suas crenças de sobre como é visto

pelos outros, a similaridade entre o que é e o que acredita que pensam dele, e o grau que valoriza

suas competências em comparação com os outros são forças orientadoras para os esforços de

adaptação (SÂMIA, 2011).

Kübler-Ross (1981) explica que a pessoa acometida por uma doença incurável e frente

à possibilidade de morte iminente tem reações psíquicas e emocionais, de certo modo

previsíveis; são etapas ou estágios os quais indivíduos com doença crônica podem apresentar.

Trata-se de cinco estágios: 1º Negação e Isolamento; 2º Raiva; 3º Barganha; 4º

Depressão e 5º Aceitação.

O primeiro estágio ou fase, negação e isolamento, um período em que o indivíduo se

recusa a entrar em contato com a doença e tomar conhecimento de suas características e

tratamento e tende a buscar o isolamento e evitando assuntos pertinentes à doença e seu curso.

A negação funciona como um „pára-choque‟, um mecanismo de defesa frente a notícias

inesperadas e chocantes, e permite ao indivíduo que se recupere com o tempo, e mobiliza

outras medidas menos radicais. A negação ou pelo menos a negação parcial é usada por quase

todos os pacientes nos primeiros estágios da doença (KÜBLER-ROSS, 1981).

Quando não mais é possível sustentar o período de negação, ele é substituído por

sentimentos de raiva, revolta, amargura, inveja e ressentimento, que podem ser vivenciados

pelo paciente contra si próprio ou em relação às pessoas que estão ao seu redor. É um estágio

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23

marcado pela revolta do individuo contra as limitações impostas pela doença, principalmente

quando há aumento da cronicidade; o indivíduo reage por ter sido abruptamente interrompido

em suas atividades diárias e perspectivas futuras.

Nesse estágio da raiva ocorre uma dificuldade do ponto de vista da família, cuidadores

e pessoas próximas em lidar com o individuo, isso se deve ao fato de que a raiva pode se

propagar em todas as direções e se projetar em todo o ambiente, muitas vezes sem razão

plausível, gerando sentimento de culpa e humilhação tanto no doente, como nas pessoas mais

próximas. Seguido do estágio da raiva, ocorre à barganha, o terceiro estágio, menos

conhecido, mas igualmente útil ao paciente, a maioria dessas barganhas é feita com Deus e,

normalmente, mantidas em segredo. Como dificilmente a pessoa tem alguma coisa a oferecer

a Deus, além de sua vida, e como este parece estar tomando-a, quer a pessoa queira ou não, as

barganhas assumem mais as características de súplicas. A pessoa implora que Deus aceite sua

“oferta” em troca da vida, como por exemplo, sua promessa de uma vida dedicada à igreja,

aos pobres, à caridade. Na realidade, a barganha é uma tentativa de adiamento do

agravamento da doença ou da morte iminente. Nessa fase, o paciente tende a se manter

sereno, reflexivo e dócil (KÜBLER-ROSS, 1981).

O quarto estágio é o da depressão, período caracterizado pelo emaranhado de

emoções negativas que o indivíduo sente ante a doença, imerso em sentimentos de culpa,

medos e incertezas futuras. Para Kübler-Ross (1981), quando o paciente não pode mais negar

sua doença, ou quando começa a apresentar novos sintomas, não sendo mais possível

esconder a doença. Seu afastamento, sua raiva e revolta dão lugar a um sentimento de grande

perda e desesperança.

Uma pessoa com doença crônica que tiver tido o tempo necessário, apoio para

superar todos os estágios anteriores atingirá o quinto estágio a aceitação, da doença e sua

nova condição e possibilidades um período marcado pela maturidade e equilíbrio emocional

(KÜBLER-ROSS, 1981).

Segundo Vieira et al (2004), nota-se uma certa regularidade nas pessoas com EM, que

pode ser representada pelas seguintes fases: choque, ansiedade, negação, depressão, raiva,

hostilidade, aceitação e adaptação. Os estágios descritos pelos autores acima citados

apresentam algumas semelhanças com os descritos por Kübler-Ross, e são os seguintes:

Choque é uma reação inicial do indivíduo frente ao diagnóstico de uma doença

crônica;

Ansiedade entendida neste contexto como uma reação de pânico, em

decorrência ao reconhecimento da doença;

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24

Negação percebida como uma defesa, contra o sofrimento e incertezas;

Depressão por medo de tornar-se dependente, do futuro incerto e da morte.

Raiva internalizada, uma expressão de amargura e ressentimentos direcionados

a si mesmo, associado a sentimentos de culpa.

Hostilidade externalizada, sentimentos direcionados a outras pessoas, como

amigos, familiares, cuidadores ou outros aspectos do ambiente, marcados pela

revolta contra as limitações funcionais impostas pela doença.

Aceitação é um processo onde a instalação do equilíbrio em relação à sua nova

condição de vida.

Adaptação há modificação dos hábitos e comportamentos para alcançar

melhores condições de vida, melhora na QDV.

Para Kovács (1997), deve ser acrescentado às fases que Kubler-Ross descreve o medo

frente ao desconhecido, de como vai desenrolar a doença e os tratamentos às vezes dolorosos

e invasivos. A culpa é um elemento importante a ser considerado nestes casos, pois muitas

vezes a doença e sua sequela como uma deficiência física, por exemplo, são associadas a um

castigo, assim a pessoa com a doença e/ou deficiência pensa que tal fato é resultado de algo

errado que fez ou deixou de fazer na vida, ou ainda se sentir culpado por ter se tornado um

fardo para seus familiares.

Tanto as pessoas com EM, como seus familiares, passam pelo processo de adaptação à

doença e pelas fases descritas acima, e segundo Azevedo, Vaquero e Jesus (2010), não há um

tempo determinado e de duração das fases da doença e nem tão pouco uma ordem de

evolução, podendo ser alternadas entre o familiar e a pessoa com EM. Qualquer pessoa que

viva em família naturalmente é influenciada pelo comportamento dos outros, sendo este

conjunto de relações que define o comportamento familiar (SANTOS 2003).

Segundo Azevedo et al (2010), a insegurança frente ao diagnóstico é um fator que

causa angustia, dúvidas e ansiedade. Ao receber o diagnóstico a reação pode ir desde a

instalação de um estado de choque e raiva a um estado de alívio após ter percorrido longo

caminho sem saber diagnóstico definido. Assim a EM passa a ser mais um fator que interfere

na sua relação consigo próprio, sua família, seu trabalho e a sociedade de maneira geral.

Nesse período é recomendado orientação e apoio psicológico de modo a ser um agente

facilitador no que diz respeito à aceitação e adaptação à doença, auxiliando o indivíduo a

atingir um equilíbrio psíquico e melhor QV.

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25

O desenvolvimento de sentimentos de esperança, revalorização e reforço da auto-

imagem são importantes e permite ao portador da EM, bem como à sua família, uma nova

perspectiva e percepção do seu valor no presente e futuro, promovendo ao longo do tempo o

bem-estar e equilíbrio essenciais, não para a “cura” da situação, mas sim para a adaptação,

criando alicerces fortes para superar as crises mais ou menos frequentes que possam surgir

(SANTOS, 2003). Estes são aspectos ligados a QV.

Alguns autores têm estudado a EM e QV. Morales et al, (2007) avaliaram o impacto

da EM na QV relacionada à saúde com 23 pacientes, sendo 82,6% mulheres, com idade média

de 39,48 anos, por meio do instrumento Short Form Health Survey Questionnaire (SF-36),

traduzido para o português. Neste estudo foi observado como resultado um impacto negativo,

em todas as dimensões, com maior comprometimento nos domínios de função física. Puderam

verificar que a saúde e o bem estar das pessoas com EM podem sofrer forte impacto pela

doença e/ou efeitos colaterais de medicamentos, com interferência significativa na qualidade

de vida das pessoas. Os sintomas mais comuns da doença como fadiga, disfunções urinárias e

intestinais, problemas de visão, tremores, espasmos, alterações na fala, dificuldades para

engolir, disfunções sexuais, dificuldade no processamento da informação, memorização e

concentração e alterações motoras são aspectos da doença que interferem de forma impactante

na vida cotidiana das pessoas com EM. Há uma alteração nas atividades de vida diária das

pessoas com EM, como: alimentar-se, tomar banho, vestir-se e cuidar dos afazeres domésticos

(MORALES et al, 2007).

Em outro estudo, o objetivo foi avaliar a QDV em pessoas com EM, sendo utilizado

como instrumento o Functional Assessmentof Multiple Sclerosis (FAMS), traduzido para o

português, Escala de Determinação Funcional de Qualidade de Vida em pacientes com

Esclerose Múltipla (DEFU). Este estudo apresenta como conclusão que a EM está ligada à

QV devido a suas manifestações sintomatológicas, emocionais e sociais (QUINTANILHA;

LIMA, 2010)

Quanto à avaliação da QV de modo geral é realizada através da administração de

instrumentos ou questionários, na maioria das vezes formulada na língua inglesa e direcionada

para determinadas populações. Para que eles possam ser utilizados em outro idioma devem

seguir normas estabelecidas na literatura para sua tradução e posteriormente, suas

propriedades de medida devem ser demonstradas num contexto cultural específico

(CICONELLI et al., 2003).

O FAMS foi desenvolvido por Cella e col, (1996) trata-se de uma escala especifica

para quantificar o estado de saúde dos pacientes com EM. Esta escala foi adaptada para a

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língua portuguesa no Centro de Atendimento e Tratamento de Esclerose Múltipla (CATEM)

da Disciplina de Neurologia do Departamento de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas

da Santa Casa de São Paulo (MENDES et al, 2004).

Conforme Mendes et al (2004), a escala DEFU foi validada para uso no Brasil. O

formato final da escala foi conservado, 06 domínios com 44 questões válidas para obtenção

do escore. Foi utilizado como base um questionário genérico desenvolvido para pacientes com

câncer, adicionando questões sobre sintomas e problemas relacionados à EM. A versão

original, em inglês, é composta de 59 itens, sendo 44 deles utilizados para a obtenção do

escore. Os 15 itens restantes são apresentados por fornecer informações clínicas e sociais

relevantes, porém não devem ser utilizados para a obtenção do escore final. Em sua forma

final, a DEFU é composta por 06 domínios válidos para análise: mobilidade (7 itens),

sintomas (7 itens), estado emocional (7 itens), satisfação pessoal (7 itens), pensamento e

fadiga (9 itens) e situação social e familiar (7 itens). O formato das respostas permite escores

de 0 a 4 para cada item, no formato tipo Likert, sendo considerado o escore reverso para as

questões construídas de forma negativa. Desta forma, os escores maiores refletem melhor

qualidade de vida. Os cinco domínios com sete itens permitem escores de 0 a 28 e a um

domínio com 9 itens (pensamento e fadiga) tem seus escores variando de 0 a 36. O escore

total da FAMS varia de 0 a 176 [5(28)+1(36)].

A EM por suas características clinicas compreende um tratamento complexo e

continuo. Alves e Lima (S/D) descrevem que os aspectos clínicos da doença exigem cuidados

de uma equipe interdisciplinar de reabilitação: neurologista, fisioterapeuta, fisiatra, urologista

ou o ginecologista, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, psicólogo,

psiquiatra.

Russo (2011) afirma que o tratamento para EM necessita abordagem ampla e

multidisciplinar visando minimizar as seqüelas e incapacidades neurológicas, educar e prover

suporte psicológico deste modo ajudando no convívio com a doença e, acrescenta que das

abordagens não medicamentosas a neuro reabilitação é fundamental, envolvendo

fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, neuropsicólogos, fonoaudiólogos,

nutricionistas dentre outros profissionais da área da saúde. Ainda conforme autora citada, a

abordagem multidisciplinar visa tanto tratar como também prevenir sintomas e, concomitante

ao tratamento medicamentoso contribui para o equilíbrio e QV da pessoa com EM.

Sâmia (2011) propõe a psicologia como uma das terapias de suporte a pessoa com EM

e sua prática tem como propósito o bem estar emocional do individuo atuando junto ao

mesmo buscando a melhoria da QV.

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Para Araújo (1992), os profissionais que lidam com as pessoas acometidas por EM

devem procurar entender ajuda no sentido de favorecer o crescimento: questionando e

discutindo o que a patologia significa dentro do processo de vida paciente, o que ela lhe

trouxe ou tirou, o que ela lhe impedirá de continuar fazendo, aquilo que precisou desistir e o

que pode reivindicar da sociedade, e que a empatia é fundamental para entender as perdas e

ter paciência para esperar que o indivíduo esteja apto a fazer mudanças, ainda que nenhuma

mudança seja operada de imediato. Isto fará com o individuo sinta-se mais seguro para pensar

no que fará quando estiver pronto.

Existem várias abordagens e intervenções psicológicas que podem auxiliar no

processo de psico-educação e suporte quanto às adaptações e aceitação necessárias no

processo terapêutico para a EM (AZEVEDO et al, 2010).

Segundo Araújo (1992), participar de um grupo de ajuda com outras pessoas que tem

EM proporciona mais facilmente um clima de confiança, companheirismo e solidariedade,

assim com um agente facilitador para depoimentos, desnudamento dos sentimentos, situações

são percebidas, experenciadas e compartilhadas; busca-se nesses grupos criar um nível de

segurança que possibilite a pessoa com EM de participar de outros grupos fora das

instituições, propiciando a socialização.

Sâmia (2011) esclarece que o acompanhamento psicológico para pessoas com EM traz

melhorias continuas, tanto no estado geral de saúde como melhora na QV e melhor tolerância

a efeitos adversos da terapêutica, contribuindo para melhora na comunicação entre pacientes,

familiares e equipe multidisciplinar. As intervenções psicológicas deste modo podem ter

consequências positivas nos aspectos biopsicossociais do individuo.

Existem no Brasil várias instituições que oferecem serviços a pessoas acometidas por

EM, dentre elas a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM) fundada em 1984,

uma instituição filantrópica sem fins lucrativos que tem por missão, através dos serviços

oferecidos, promover melhor QV às pessoas acometidas pela EM. Com sede na cidade de São

Paulo, a ABEM é referência na América Latina no tratamento de Esclerose Múltipla, a

instituição atua junto aos seus associados por meio de uma equipe interdisciplinar que

compreende: psicologia, neurologia, fisioterapia, terapia ocupacional, serviço social e

orientação jurídica (ABEM, S/D).

O conhecimento do impacto da EM na QV relacionada à saúde das pessoas que são

acometidas pela doença poderá fornecer informações relevantes para pesquisas no intuito de

viabilizar estratégias de intervenção, deste modo o estudo vislumbra uma contribuição no

âmbito de reconhecer possíveis fatores que influenciem a QV.

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28

A partir das considerações até aqui explicitadas nota-se a necessidade de desenvolver

estudos pertinentes a QV em pessoas com EM, pela variabilidade de sintomas e sinais

ocasionados pela doença e pelo impacto na QV. Também, há a necessidade de se buscar

modos satisfatórios não só de atendimento dessas pessoas, mas também para seus familiares,

cuidadores e profissionais da área da saúde. Mas, sobretudo obter uma compreensão mais

ampla deste público considerando seus aspectos biopsicossociais. A partir da analise dos

resultados busca-se ampliar o conhecimento a respeito do público em questão e deste modo

apontar possíveis intervenções eficazes para pessoas acometidas por EM.

Diante disto, o objetivo do presente estudo é conhecer as características psicossociais e

a QV em pessoas acometidas por EM participantes da ABEM.

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29

2 MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa documental na qual foi utilizada uma abordagem

quantitativa. Numa pesquisa documental as fontes utilizadas como dados de amostragem são

de origem diversa, como documentos de arquivos de instituições privadas, governamentais,

associações cientificas entre outros (GIL, 1991).

Foi considerado para delineamento da amostra o método de amostragem intencional,

onde as pesquisadoras utilizaram critérios de inclusão pertinentes ao assunto estudado (REA;

PARKER, 2002).

2.1 SUJEITOS

A amostra foi selecionada a partir de prontuários de pacientes com Esclerose Múltipla, que

foram atendidos no setor acolhimento da ABEM nos anos de 2009 e 2010. Foram

considerados como critérios de inclusão, pessoas com EM com idade a partir de 18 anos, de

ambos os sexos, acometidos por todos os tipos de EM.

2.2 INSTRUMENTOS

Foram utilizados dos prontuários dados sócios demográficos: idade, gênero, escolaridade e

questões sócio-econômicas, dados da Escala de Determinação Funcional da Qualidade de

Vida na Esclerose Múltipla (DEFU) e dados da Escala de Incapacidade Funcional Expandida

(EDSS).

2.3 PROCEDIMENTO

Foi solicitado junto à instituição ABEM uma autorização por escrito para realização da

presente pesquisa, bem como, acesso aos prontuários. Seguida da autorização por escrito por

parte da instituição (ANEXO - A), a mesma solicitou ás pesquisadoras a realização de um

cadastro e o preenchimento do formulário denominado pela instituição, Termo de Direitos

Page 33: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

30

Autorais (ANEXO-B). A coleta de dados foi realizada pelas pesquisadoras responsáveis em

sala disponibilizada pela instituição em horários e dias pré-determinados pelo setor de

coordenação científica da mesma. Vem antes do tratamento dos dados

2.4 TRATAMENTO DOS DADOS

Os dados levantados a partir dos prontuários foram inseridos no programa SPSS 12.0,

utilizando ferramentas deste programa, foram utilizadas medidas descritivas, média, mínimo,

máximo, desvio padrão e medidas de correlação (Pearson), medidas de contingência e gráfico

sectograma.

Page 34: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

31

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise dos 55 prontuários mostrou que a amostra era constituída por 39 (70,9%)

mulheres e 16 (29,1%) homens (Tabela 1).

Nota-se no presente estudo maior incidência de participantes do gênero feminino.

Dados semelhantes foram verificados em estudos realizados em Minas Gerais e Goiás,

respectivamente no primeiro objetivou-se analisar a QDV relacionada à voz em pessoas com

EM sendo verificado que dos trinta e três participantes 72,7 % eram mulheres e 27,3 %

homens (CASTRO, 2008); e no segundo no qual tiveram por objetivo avaliar a QDV em

portadores de EM, da amostra composta por treze participantes a maior incidência observada

também se deu entre as mulheres 69,2 % e 30,8 em homens (QUINTANILHA e LIMA,

2010).

Os dados são corroborados pela literatura, a EM é mais comum em mulheres do que

em homens, em uma proporção de 1,7 para 1; no Brasil aproximadamente 35 mil pessoas são

acometidas por EM, sendo que 70% são mulheres (LOPES et al, 2010; SMITH; SCHAPIRO,

2000; QUINTANILHA; LIMA, 2010).

Tabela 1. Distribuição dos participantes, quanto ao gênero, escolaridade e estado civil.

Características

n %

Gênero

Feminino 39 70,9

Masculino 16 29,1

Escolaridade

Ens. Fund. Incompleto 2 3,6

Ens. Fundamental 4 7,3

Ens. Médio/ Técnico 15 27,3 Ens. Superior/cursando 27 49,1

Não declarado 7 12,7

Estado Civil Casado 27 49,1

Desquitado/ Divorciado 12 21,8

Solteiro 14 25,5

Viúvo 1 1,8 Não declarado 1 1,8

Situação de trabalho Aposentado/ Afastado 30 54,5

Em atividade laboral 9 16,4

Não declarado 16 29,1

Legenda: n = número

Atividade laboral = ação de

Page 35: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

32

trabalhar

Quanto à escolaridade foi observado que 49,1% dos participantes apresentaram grau

de instrução de nível superior e dados semelhantes foram encontrados no estudo de

Quintanilha e Lima (2010). Em relação ao estado civil 49,1% são casados, contudo foi

observado que 21,8 % eram divorciados ou desquitados e 25,5 % solteiros, dados que juntos

equivalem a 47,3 % do total de participantes que vivem sem ter um relacionamento afetivo

estável. Dados semelhantes foram encontrados no estudo realizado em Goiás, da amostra

composta por treze participantes 46,2% apresentaram instrução de nível superior completo,

em relação ao estado civil 84,6 % apresentaram-se casados (QUINTANILHA e LIMA, 2010).

A doença crônica provoca por vezes reações de isolamento que podem levar à solidão

e depressão, ocasionando por vezes à ruptura de relações prolongadas como o casamento,

sendo por isso necessário manter o apoio social e o apoio profissional de forma a prevenir

maior desgaste (BOLANDER 1998 apud SANTOS, 2003).

Em relação à caracterização dos participantes quanto à situação de trabalho nota-se

que 54,5 % dos participantes estavam aposentados ou afastados do trabalho. Dados

semelhantes foram encontrados no estudo de Morales et al. (2007).

Estes dados que podem ser atribuídos as características da doença, para Silva et al

(2002), quando uma pessoa é acometida por uma doença de características crônicas, ela

enfrenta alterações no estilo de vida. Estas alterações são decorrentes de certas restrições

causadas pela presença da patologia, das necessidades terapêuticas e de controle clínico, além

da probabilidade de repetidas internações hospitalares. Para Martins, França e Kimura (1996),

as doenças crônico-degenerativas podem relacionar-se às condições de vida, trabalho e

consumo da população, gerando cuidados psicossociais e, por conseqüência, o desgaste e a

deterioração orgânico-funcional, com especial sobrecarga dos sistemas nervoso, endócrino e

cardiovascular (Tabela 1).

Page 36: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

33

Tabela 2. Distribuição quanto à idade

Na Tabela 2 pode-se observar que 3,6% dos participantes apresentaram idade entre 18

e 24 anos; 23,6% idade entre 39 e 45 e 21,8% idade entre 25 e 31 anos, 45,4% dos

participantes apresentam idade variando entre 25 e 45 anos. Os valores postos em evidência

estão de acordo com a literatura, a qual refere que a EM é uma doença progressiva que

acomete na maioria das vezes adultos jovens, com idade inferior a 40 anos atingindo uma

faixa etária entre 20 e 50 anos (QUINTANILHA E LIMA 2010; MENDES E TILBERY

2004; MENDES et al, 2004).

Tabela 3. Caracterização da amostra quanto à religiosidade

Religião Freqüência Porcentagem Porcentagem

Cumulativa

Budista 1 1.8 1.8

Católico 21 38.2 40.0

Católico/ Evangélica 1 1.8 41.8

Cristão 1 1.8 43.6

Eclético 1 1.8 45.5

Espírita 8 14.5 60.0

Evangélica 5 9.1 69.1

Mistica 1 1.8 70.9

Não Declarado 15 27.3 98.2

Protestante 1 1.8 100.0

Total 55 100.0

Faixa etária Freqüência Porcentagem Porcentagem

Cumulativa

18 a 24 2 3.6 3.6

25 a 31 12 21.8 2.5

32 a 38 8 14.5 40.0

39 a 45 13 23.6 63.6

46 a 51 10 18.2 81.8

52 a 59 3 5.5 87.3

60 acima 7 12.7 100.0

Total 55 100.0

Page 37: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

34

Na tabela 3 nota-se que 75,7% dos participantes declaram ter algum tipo de crença

religiosa. A OMS em seu instrumento de avaliação da QDV WOQOL-100 apresenta um

domínio denominado “religiosidade, espiritualidade e crenças pessoais” levando em conta que

estas características são consideradas importantes aliadas das pessoas que sofrem e/ou estão

doentes (FLECK, BORGES, BOLOGNESI, ROCHA; 2003). Em um estudo realizado em São

Paulo por Corsi (2009), foi demonstrado que a crença religiosa em si não parece influenciar a

QV, mas o modo como uma pessoa utiliza sua crença para lidar com o estresse, com a doença

pode influenciar a QV. Contudo o presente estudo foi realizado a partir da análise de dados

coletados em prontuários e necessita de maiores investigações.

Figura 1. Caracterização da amostra quanto ao tempo de diagnóstico.

Na figura 1 observa-se que 34,6 % da amostra foram diagnosticadas entre os anos de

2002 a 2007, 32,7% foram diagnósticas entre os anos de 2008 a 2010, dados que juntos

equivalem a 67,3% do total de participantes que foram diagnosticados nos últimos 8 anos.

Em um estudo realizado em Goiás verificou-se que 84,7%dos pesquisados tiveram

diagnostico comprovado em período superior há 6 anos de comprovação da doença

(QUINTANILHA; LIMA, 2010).

Page 38: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

35

Figura 2. Caracterização da amostra quanto ao EDSS.

Nota-se na figura 2 que a maior porcentagem da amostra corresponde a 20%, possuem

escores de até 6,0, apresentando quadros mais graves, já caracterizados por alterações na

movimentação necessitando de assistência intermitente ou auxílio unilateral constate de

bengalas, muletas ou suporte. Dados semelhantes foram encontrados no estudo realizado no

Rio de Janeiro (LOPES et al., 2010). A EDSS fornece uma medida do grau de incapacidade

geral, pelo menos no que se refere à capacidade de andar. É uma escala de dez pontos,

iniciando-se no zero (“exatamente normal”) e indo até o dez (“morte devido à EM”).(SMITH

e SCHAPIRO, 2000). Embora no presente estudo tenha sido idenficado maior incidência de

escore 6,0 não houve correlação significativa entre o EDDS e a QV.

Page 39: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

36

Tabela 4. Caracterização da amostra quanto ao tipo de Esclerose Múltipla.

Tipo de EM Freqüência Porcentagem Porcentagem Cumulativa

Não Declarado

18 32,7 32,7

P P 10 18,2 50,9

R R 24 43,6 94,5

S P 3 5,5 100

Total 55 100

Legenda: P P: Primária Progressiva / R R: Remitente-Recorrente / S P: Secundária Progressiva

A tabela 4 mostra que 43,6% dos participantes apresentaram a forma clínica de EM

como remitente-recorrente (RR), dados semelhantes foram encontrados no estudo realizado

em São Paulo (MOREIRA, FELIPE, MENDES, TILBERY, 2000) e Minas Gerais (CASTRO

2008). No entanto na presente amostra em 32,7% dos participantes não foi possível identificar

o tipo de EM.

Conforme Smith e Schapiro (2000), os tipos de EM são: Surto-Remissão ou

Remitente-Recorrente (RR) que se caracteriza por surtos com duração de dias ou semanas,

mas em semanas desaparecem; Progressiva-Primária (PP) caracterizada por apresentar

progressão no comprometimento desde seu aparecimento; Progressiva-Secundária (PS)

inicialmente se manifesta como surto-remissiva e posteriormente se torna progressiva;

Progressiva-Recorrente (PR) onde há progressão da incapacidade desde a manifestação da

doença.

Tabela 5. Caracterização da amostra quanto aos escores totais da DEFU. (Categorizados).

Categorização Freqüência Percentual Validade

Percentual Acumulativo Percentual

54 a 80 1 3 5,5 5,50% 5,5

81 a 110 2 8 14,5 14,50% 20

111 a 130 3 17 30,9 30,90% 50,9

131 a 150 4 13 23,6 23,60% 74,5

150 a 164 5 14 25,5 25,50% 100

Total 55 100 100

Na Tabela 5 observa-se que 25,5% dos apresentaram resultados entre 150 e 164,

23,6% entre 131 e 150 e 30,9 entre 111 e 130. A média dos resultados obtidos em nosso

estudo foi de 111,58. O escore total da DEFU varia de 0 a 176, considerando que os maiores

escores refletem melhor QV. Somados os escores a partir de 131 observa-se que 49,1% dos

participantes apresentam índices de qualidade de vida tendendo a bom. Embora não se tenha

encontrado na literatura estudos apontando para pontos de corte de classificação qualitativa.

Page 40: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

37

Estes dados mostram que apesar da presença da doença crônica a maior prevalência de

indivíduos que se percebem como tendo uma boa QV pode ser atribuída ao modo como o

individuo lida com a doença. A capacidade de responder às demandas da vida cotidiana de forma

positiva, se recuperando psicologicamente apesar das adversidades pode ser compreendida por

meio da capacidade de adaptação e resiliência (OLTRAMARI, 2010; PINHEIRO, 2004).

É válido ressaltar que o sentimento de aceitação pode ser um importante gerador de boa

auto-estima, confiança e segurança em si próprio e nos outros; então como a pessoa se vê e se

descreve bem como suas crenças de sobre como é visto pelos outros, a similaridade entre o que é

e o que acredita que pensam dele, e o grau que valoriza suas competências em comparação com os

outros são forças orientadoras para os esforços de adaptação (SÂMIA, 2011).

Tabela 6. Caracterização da amostra quanto aos Domínios da DEFU.

N Min Max Média Desv. Padrão

Mobilidade 55 3 27 16,87 5,35

Sintomas 55 5 28 18,73 5,54

Estado Emocional 55 8 28 20,16 5,87

Satisfação Pessoal 55 1 28 19,05 6,06

Pensamento e Fadiga 55 0 33 18,65 7,14

Situação Soc. e Familiar 55 1 28 18,11 7

Na tabela 6, ao analisar as dimensões da DEFU a maior média se verifica no domínio

estado emocional. Quanto maior o escore melhor a qualidade de vida. Estes dados

corroboram a importância dos aspectos emocionais na determinação da QV na amostra

estudada.

Page 41: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

38

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo sobre as características psicossociais e a QV em pessoas acometidas

por EM partiu do levantamento de dados e avaliação da DEFU na amostra de prontuários de

pessoas atendidas na ABEM entre os anos de 2009 e 2010, foi observado que a doença

acomete preferencialmente adultos jovens com idade entre 20 e 40 anos, em sua maioria

mulheres, dados estes semelhantes aos descritos na literatura.

Outra característica observada a partir dos prontuários é que quase em totalidade a

amostra tem algum tipo de crença religiosa, podendo-se concluir que a fé é um fenômeno

importante, dado que é corroborado pela OMS ao inserir em seus instrumentos de QV,

WHQOL-100 e WHOQOL-bref um domínio que compreende a religiosidade/espiritualidade

como sendo importantes aliadas das pessoas que sofrem ou estão doentes. Contudo o presente

estudo foi realizado a partir da análise de dados coletados em prontuários e tal fenômeno,

necessita de maiores investigações. Considera-se relevante que pesquisas sejam realizadas

para uma melhor compreensão deste fenômeno.

Considerando que maiores escores na DEFU refletem melhor QV, no presente estudo

foi apurado que de modo geral os participantes tem percepção positiva de sua QV, apesar da

multiplicidade de sintomas os quais são ocasionados pela EM. Pela observância de tais

resultados pode-se sugerir que alguns fatores contribuíram para a percepção positiva da QV,

entre eles: aspectos subjetivos da vida dos participantes, bem como suas expectativas,

percepções e emoções. Poderíamos sugerir que apesar das adversidades que estes pacientes

enfrentaram ao longo de sua vida, possuem a capacidade de responder a estas demandas de

maneira positiva. Há ainda outro fator a ser considerado, pois segundo a literatura o modo

como o individuo lida com a doença e sua aceitação pode contribuir para sua QV.

Desta forma, o sentimento de aceitação pode contribuir de maneira relevante

propiciando uma boa auto-estima, confiança e segurança em si próprio. Partindo deste

pressuposto, como a pessoa se vê e se descreve e a similaridade entre o que ela é e o que

acredita que pensam dela, podem ser forças orientadoras para os esforços de adaptação e

aceitação da doença e conseqüentemente refletir na sua percepção da própria QV.

Frente ao contexto pesquisado, pode-se considerar que os objetivos inicialmente

traçados foram alcançados, pois através destes foi possível tomar conhecimento de algumas

características psicossociais, assim como analisar a QV das pessoas que constituíram a

presente amostra.

Page 42: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

39

Desta maneira, é válido ressaltar a necessidade de desenvolver estudos sobre

QV em pessoas com EM, pela variabilidade de sintomas e sinais ocasionados pela doença e

pelo impacto na QV dessas pessoas buscando uma compreensão mais ampla deste público

considerando seus aspectos biopsicossociais.

Page 43: Interfaces da Qualidade de Vida em Pessoas Acometidas por Eslerose Múltipla_TCC

40

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ANEXOS

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ANEXO A

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ANEXO B

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ANEXO C

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52

*Escala de Determinação Funcional de Qualidade de Vida em pacientes com Esclerose Múltipla (DEFU)

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ANEXO D

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54

*Escala de Incapacidade Funcional Expandida (EDSS).

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ANEXO E

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