interação e conflito na gestão de voluntários-o&s
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7/23/2019 Interao e Conflito Na Gesto de Voluntrios-O&S
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Filantropia empresarial e trabalho voluntrio: interao e conflito na gesto de
voluntariado
Leandro R. Pinheiro
Resumo: Desde meados dos anos 90, iniciativas de valorizao/promoo da ao voluntria
tm sido desencadeadas junto a prticas de filantropia empresarial no Brasil. este !nterim,
em "orto #le$re, empresas de porte nacional e entidades representativas fundaram a %&'
"arceiros (oluntrios em )99*, priorizando o desenvolvimento do +ue denominam cultura de
voluntariado organizado, com vistas a articular saeres administrativos'empresariais - prtica
voluntria. onsiderando, a+ui, as relaes entre voluntrios e $estores de voluntariado
organizado, procurou'se identificar como os capitaisem interao/conflito na ao voluntria,
oriundos de camposdistintos econ1mico e assistencial2, tm oportunizado rupturas - $esto
de voluntariado. #trav3s da anlise de documentos e de entrevistas com os a$entes sociais
alocados, foi poss!vel constatar relaes conflitivas entre os capitaiscolocados em jo$o por
$estores e voluntrios, de modo +ue as estrat3$ias de $esto implementadas no tm $arantido
a adeso - prtica voluntria.
Palavras-chave: filantropia empresarial, $esto de voluntariado, capital.
Abstract: 4ince t5e 906s, initiatives of valorizin$/promotin$ volunteer practices 5ave een
ta7in$ place alon$ 8it5 entrepreneurial p5ilant5ropic practices in Brazil. n t5is mean time, in
"orto #le$re, nation8ide companies and representative entities founded t5e &%'Parceiros
Voluntrios(olunteer "artners; in )99*, $ivin$ priorit< to t5e development of 85at 5as een
called t5e culture of organized volunteering, 8it5 t5e aim of articulatin$ administrative'
entrepreneurial 7no8led$e to volunteer practice. onsiderin$ 5ere t5e relations et8een
volunteers and mana$ers of organized volunteering, 8e 5ave tried to identif< 5o8 t5e capitalsin interaction/conflict in volunteerin$ practice, ori$inatin$ from distinct fieldseconomical
and 8elfare2, 5ave allo8ed ruptures to t5e volunteer mana$ement. =5rou$5 t5e anal
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!ntroduo
# %r$anizao das aes ?nidas %?2, ao declarar o ano de F00) H#no
nternacional do (oluntariadoI, atendeu a demandas sociais pela promoo da ao
voluntria, +ue se solidificam, j 5 al$uns anos, no Brasil, em reporta$ens na m!dia, em
cursos para a ao voluntria, na promul$ao da Hlei do voluntariadoI Jei @ederal 9G0K/9K2
e em atividades de filantropia empresarial. % eLerc!cio do voluntariado, inclusive, no 3 al$o
totalmente novo, se contempladas as aes desencadeadas a partir do capital reli$ioso, por
eLemplo).
a atualidade, o traal5o voluntrio tem sido valorizado junto -s estrat3$ias de
filantropia empresarial. M esta Nltima, 3 poss!vel afirmar, passou a atuar de forma maisintensa, no conteLto rasileiro, a partir da d3cada de K0, com estrat3$ias como o "rmio M%,
da Omara de om3rcio de 4o "aulo, e as atividades filantrPpicas +ue premiara. Q no
decorrer dos anos 90, o &rupo de nstitutos, @undaes e Mmpresas &@M2, o nstituto Mt5os,
a Ranits #ssociados, dentre outros, tem procurado representar e or$anizar o empresariado em
torno de prticas de ao social em n!vel nacional.
Mm "orto #le$re, mais especificamente, empresas de porte nacional e entidades
representativas fundaram a %&'"arceiros (oluntrios, em )99*, com o intuito de disseminaro traal5o voluntrio, como aporte ao desenvolvimento do princ!pio de susidiariedade junto
- comunidade $aNc5a. # atividade principal desta or$anizao 3 a intermediao entre a$entes
sociais interessados em voluntariar e %r$anizaes da 4ociedade ivil de nteresse "Nlico
%4" / nomenclatura le$al, Jei @ederal 9*90/992, priorizando o +ue denomina cultura de
voluntariado organizado.
#s atividades de encamin5amento e acompan5amento de a$entes em ao voluntria,
implementadas pela or$anizao supracitada, desenvolvem'se como prtica de $esto devoluntariado, instaurando um campo de relaes de traal5o a parte de contratos sociais
vinculados - remunerao em din5eiro2. este sentido, este traal5o apresenta uma
prolematizao acerca das relaes entre voluntrios e $estores, desencadeadas a partir de
ao empresarial, visando assinalar os resultados da $esto de voluntariado praticada na
%&'"arceiros (oluntrios, soretudo, no +ue concerne ao processo de instaurao de um
modus operandicultura de traal5o voluntrio2, se$uindo, a+ui, o referencial de Bourdieu
)9K9 )99G2.
"# $obre campos e capitais: o referencial de %ourdieu
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aracterizando'se, na atualidade, pela aproLimao entre saeres administrativos e
eLperincias de assistncia e/ou militOncia social, oriunda da prtica de entidades sem fins
lucrativos, o traal5o voluntrio tende a intensificar a interao entre a$entes e capitais de
campos sociais at3 ento HdistantesI. #l3m disso, por tratar'se de um tema relativamente novo
- pes+uisa acadmica so poucas as referncias acerca da $esto de voluntariado2, procura'se
utilizar um referencial +ue oferea cate$orias suficientemente amplas para o tratamento das
distintas representaes sociais em jo$o: Bourdieu )9K9 )99G2. Desta forma, ojetiva'se
compreender a $esto de voluntariado como um campo de disputa onde estaro presentes no
sP os saeres administrativos, mas tam3m os interesses de a$entes sociais +ue traal5am sem
a remunerao convencional e, neste !nterim, podem ser insti$ados ao voluntariado em nomede capital reli$ioso, pol!tico, ou outros.
4o o ol5ar de Bourdieu, +uando se pensa em realidade social, pensa'se em um
Hconjunto de posies distintas e coeListentes, eLteriores umas -s outras, definidas umas em
relao -s outras por sua eLterioridade mNtua e por relaes de proLimidade, de vizin5ana ou
de distanciamento e, tam3m, por relaes de ordem, como acima, aaiLo e entreI,
denominado espao social B%?ADM?, )99G, p. )K2. #s posies so ocupadas por a$entes
+ue se movimentam, jo$am, conforme so estimulados os seus interesses, +ue, por seu turno,so i$ualmente condicionados pela trajetPria de formao de cada a$ente social. M estes
a$entes sociais, ento, circulam intra e entre os vrios campos de ao do espao social
campos econ1mico, administrativo, social, educacional, pol!tico, etc.2, conforme as re$ras do
jo$o em cada locusde disputa ou campo2.
# cada campo poderia'se desi$nar capitais espec!ficos/caracter!sticos. M +uando se
fala em capital, para Bourdieu )9K92, no se trata de din5eiro ou ens materiais destinados a
investimentos empresariais. 4eriam atriutos do a$ente social +ue, dispostos nas relaessociais, atrav3s da le$itimao +ue possuem, acarretam mais ou menos poder a este a$ente e
consolidam'l5e, assim, uma posio no espao social, solidificando uma classificao, uma
5ierar+uizao social.
#s relaes sociais em Bourdieu constituem'se como relaes de disputa interativas
e/ou conflitivas, despertadas em torno de um elemento de interesse comum determinado
capital2, cujo controle ser uscado e con+uistado conforme o poder acumulado de cada
a$ente em relao ao alvo da disputa. # estruturao de relaes a partir de um ojeto de
interessecomum, desencadeando relaes de fora material ou simPlica2 3 definida por
Bourdieu como a identificao de um campo em particular no conjunto do espao social. #
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cate$oria campo, em articulao a capital, 3 uma construo tePrica +ue define um locusde
disputa espec!fico, em torno do +ual estruturam'se relaes espec!ficas e princ!pios de
conduta espec!ficos, em constante reviso pela interao e conflito dos a$entes em disputa.
as palavras do prPprio Bourdieu, todo campo lugar de uma luta mais ou menos
declarada pela definio dos princpios legtimos de diviso do campo)9K9, p. )E02.
Ho campo se particulariza, pois, como um espao onde se manifestam relaes de
poder, o +ue implica afirmar +ue ele se estrutura a partir da distriuio desi$ual de um
&uantumsocial +ue determina a posio +ue um a$ente espec!fico ocupa em seu seioI
%A=S, )9KT, p. F)2.
Mste !uantuma +ue se refere o autor 3 o +ue se define a+ui como capital: o saer
profissional +ue o voluntrio coloca em jo$o em suas prticas numa or$anizao sem fins
lucrativos a eLperincia de traal5o do $estor de %4" apresenta ao consultor empresarial
voluntrio +uando ne$ocia as poss!veis mudanas na administrao de sua or$anizao as
noes de pra$matismo e racionalismo, ou os recursos financeiros dos empresrios +ue tem
seu interesse insti$ado pela interveno em prticas de assistncia social tradicionais
reli$iosas por eLemplo2 enfim, neste caso, so os atriutos +ue cada a$ente social pessoa ou
instituio2 acumulou em suas vivncias e +ue coloca em jo$o na estruturao da $esto de
voluntariado.
omo coloca Bourdieu,
H...% capital U +ue pode eListir no estado ojetivado, em forma de propriedades
materiais, ou, no caso de capital cultural, no estado incorporado, e +ue pode ser
juridicamente $arantido U representa um poder sore um campo num dado momento2 e,
mais precisamente, sore o produto acumulado do traal5o passado em particular sore o
conjunto dos instrumentos de produo2, lo$o sore os mecanismos +ue contriuem para
asse$urar a produo de uma cate$oria de ens, deste modo, sore o conjunto de
rendimentos e de $an5os de um campo dado.I )9K9, p. )TV2
'# !nterao com o campo: m(todo e coleta de dados
# investi$ao a+ui proposta constitui um estudo de caso W, )99V2, estruturado a
partir de pes+uisa em sites da "nternete estudo dos documentos da unidade de pes+uisa, a
%&'"arceiros (oluntrios, compondo a anlise documental, e entrevistas com $estores e
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voluntrios roteiros semi'estruturados2. =ais t3cnicas destinaram'se - comparao entre os
capitaiscolocados em jo$o no locusde valorizao e eLerc!cio do traal5o voluntrio.
o concerne - anlise documental, em sites da "nternet levantou'se os principais
capitais disponiilizados em aes de filantropia empresarial e promoo do traal5o
voluntrio no Brasil e no Aio &rande do 4ul, no intuito de verificar como se caracterizam
essas prticas, e sua articulao com a dinOmica estrutural do campo econ1mico. Q a
oservao de documentos da unidade de pes+uisa aarcou re$istros de 5istPria, misso e
ojetivos or$anizacionais, visando os valores estruturantes na %&'"arceiros (oluntrios.
#s entrevistas com voluntrios foram realizadas com a$entes cuja prtica voluntria
desta+ue'se pelo n!vel de envolvimento com as atividades da %4". 4ero considerados os
depoimentos dos voluntrios +uanto - sua prtica, assinalando como perceem a aovoluntria e destacando os aspectos +ue contriuem ou no para sua permanncia na %4".
Xuanto aos $estores, foram i$ualmente inda$ados sore sua percepo do HserI / HfazerI
voluntrio e as poss!veis repercusses do voluntariado para o desenvolvimento comunitrio.
#s informaes otidas foram dispostas - anlise de conteNdo, e mais especificamente
ao +ue Bardin F0002 classifica como anlise estrutural, se$uindo a aorda$em pPs'
estruturalista de Bourdieu. %s resultados deste traal5o, a partir da acareao entre capitais
oriundos do campo econ1mico e do campo das %4"s assistencial2, uscam prolematizar odeate acerca da $esto de voluntariado e da permanncia/adeso de voluntrios.
)# Filantropia empresarial e *$+!Ps: uma relao entre campos
a atualidade, o acirramento da concorrncia tem conduzido o empresariado a
estrat3$ias +ue otimizem no somente seus processos produtivos, mas toda comunidade +ue o
circunda >#A=MJJ, )99* DA?RMA, )9992. %u seja, conforme a atual dinOmica docampo econ1mico, so promovidas as iniciativas +ue rompam as fronteiras entre as prticas
internas e eLternas das or$anizaes, criando condies do produto ser produzido e
consumido, despertando o interesse de investidores, colaoradores e consumidores
(#44#JJ%, )9992. Da! as prticas de interao com escolas, 5ospitais, ou %4"s,
dinamizando as relaes entre os campos social e econ1mico, so a denominao de
filantropia empresarialF: termo relacionado - estrat3$ia e ao uso estrat3$ico da filantropia,
defendido como uma vanta$em competitiva para as empresas 4%>>MA, F0002.
# filantropia empresarial, ao instaurar iniciativas voltadas ao desenvolvimento de
solidariedade social, tende a atriuir -s or$anizaes sem fins lucrativos espao estrat3$ico no
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sistema concorrencial capitalista, o +ue nas palavras de #nt1nio >artinelli "residente do
nstituto Y#2, si$nifica dizer +ue
H...a receita para a empresa se distin$uir na ren5ida atal5a do mercado $loalizado
continua a conter os in$redientes clssicos: +ualidade total, reen$en5aria, relao custo'
enef!cio, compromisso com o cliente, etc. Mntretanto, ser mais Zpalatvel[ a empresa
+ue incorporar uma oa dose de cumplicidade com seu entorno, evidenciada num
pro$rama de atuao comunitriaI )99*, p.K)2
o sentido de recon5ecer e disseminar esse tipo de atividade filantrPpica2, a$entes do
campo econ1mico instauraram al$umas prticas so a lP$ica concorrencial, to comum -s
relaes econ1micas. Mm )99*, por eLemplo, foi estaelecido pela Ranitz #ssociados o
"rmio Bem Mficiente, voltado a valorizao de fundaes empresariais ou entidades
eneficentes +ue traal5am pela assistncia social. % prmio pauta'se pelo Lito $erencial,
como assinala o criador da iniciativa, 4tep5en Ranitz.
H...; @altava um prmio para entidades sem fins lucrativos, um recon5ecimento social.
o consideramos re$io ou rea, mas sim o carter $erencial. , inclusive, um
certificado de 4% 9000. % ojetivo 3 motivar o empresrio a investir, por isso usamos a
lin$ua$em empresarial. # (#" #ssociao para (alorizao e "romoo de
MLcepcionais2, sur$ida da iniciativa dos funcionrios da (ol7s8a$en, receeu o
certificado de 4% 9000 foi a primeira no mundo. % prmio aumentou a auto estima do
setor, deiLando de ser uma +uesto de cidadania para ser motivo de or$ul5o. #l3m disso,
ampliou o espao na imprensa. ...;IT
M assim, poder'se'ia citar inNmeras outras iniciativas de interveno prota$onizadas por
a$entes do campo econ1micoV, a$re$adas, em $eral, em torno da interveno sore a $esto
de %4"s, da captao de recursos 5umanos e da usca por acirramento concorrencial entre
as or$anizaes sem fins lucrativos, procurando trazer'l5es maior produtividade e
notoriedade: capitaisvalorizados nas relaes econ1micas.
,# Parceiros oluntrios: origem e proposta
# %&'"arceiros (oluntrios foi criada recentemente, em janeiro de )99*, a partir da
#ssociao de idadania do Mmpresariado do Aio &rande do 4ul U H"arceiros (oluntrios do
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Desenvolvimento 4ocialI, fundada entre federaes empresariais $aNc5as e $randes empresas
nacionaisE. % +ue si$nificava na+uele momento, nas palavras do superintendente da entidade,
dar in!cio a
H...; um projeto de impacto social +ue no partisse da forma tradicional de participao
do empresariado. Mnto, da! saiu o projeto de est!mulo ao traal5o voluntrio ...;I
H...; desenvolver no estado do Aio &rande do 4ul uma cultura de disponiilidade das
pessoas para o pNlico pelo traal5o voluntrio ...; \ a id3ia +ue as pessoas comecem a
enLer$ar tam3m l fora, do porto de sua casa pr fora ...;IG
% estatuto e, principalmente, a ata da asseml3ia $eral do onsel5o Delierativo de
maro/9*2, prevem a valorizao e divul$ao das or$anizaes sem fins lucrativos, o
comprometimento dos empresrios com causas sociais, mas, soretudo, postulam o traal5o
voluntrio como alvo principal no projeto de dinamizao da sociedade civil. # valorizao
do traal5o voluntrio si$nificaria, se$undo os autores deste iniciativa, Ha reduo da
intermediao sempre dispendiosa do MstadoI*e uma alternativa de desenvolvimento social
para o Aio &rande do 4ul, visto +ue as metas da "arceiros (oluntrios contemplam a criao
de uma cultura de moilizao individual conduzida eLclusivamente por a$entes do campo
econ1mico2, numa proposta estrat3$ica de autonomizao da sociedade em +uestes de cun5o
social.
# "arceiros (oluntrios seria uma
H...; entidade +ue vem para promover a ao social no Mstado do Aio &rande do 4ul pelo
traal5o voluntrio, t], criando, +ualificando, ou seja, transformando ela mais
profissionalizada, mais eficiente ...;IK
Xuando o superintendente da "arceiros (oluntrios falava em profissionalismo, referia'se
ao voluntariado organizado. 4e a entidade contempla o voluntrio como um transformador
em potencial e deseja difundir esta prtica, de modo a moilizar parceiros no +ue jul$a ser o
desenvolvimento do estado A42, precisaria estaelecer meios para +ue o a$entes sociais
alocados estejam realmente preparados para tal feito. este sentido, o conceito de voluntrio
da unidade de pes+uisa oferece sus!dios - anlise das estrat3$ias instauradas.
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H(oluntrio 3 toda pessoa ou or$anizao +ue, motivada pelos valores de participao e
solidariedade, disponiiliza seu tempo, vontade e talento, de maneira espontOnea e no
remunerada, para causas de interesse social e comunitrio.I9
#o utilizar o termo HdisponiilizarI em seu conceito de voluntrio, a unidade de
pes+uisa demonstra ojetivar a con+uista do interesse de a$entes sociais no de forma
momentOnea, mas com re$ularidade, isto 3, no se doa tempo, disponiiliza'se a$enda'se
como um compromisso2. #lis, no se disponiiliza somente tempo, mas vontade eLi$ncia
de continuidade2 e talento, ind!cio de +ue se espera implementao de saeres e resultados,
to valorizados pela filantropia empresarial.
=raal5o voluntrio or$anizado prev o estaelecimento de um investimento duradouro,de lon$o prazo, pois Ha priori, as pessoas no so voluntrias profissionais2 em si. #
instituio +ue as acol5e tem +ue transform'las em voluntrios, aprimorando e
desenvolvendo seu impulso solidrio para transform'lo em compromissoI %A?JJ^,
)99G, p. ))2 =rata'se, se$undo esta perspectiva, de instaurar uma forma de viso de mundo, de
relao com o outro, trazendo - tona a autonomia das aes da sociedade civil em relao ao
Mstado, com a necessidade de comprometimento e preocupao com o futuro e
desenvolvimento da comunidade.
"assando de amador a memro no remunerado da e+uipe, o voluntrio, em lin5as
$erais, precisaria comprometer'se com a causa da entidade em +ue vai voluntariar, traal5ar
uscando evidenciar os resultados de seu traal5o, disponiilizar'se a um compromisso +ue
no faria +uando +uisesse e +ue realizaria com profissionalismo. M, desta forma, a ao
voluntria tende - prescrio de suas caracter!sticas: profissionalismo altru!smo
comprometimento destinao ao %utro articulao com uma or$anizao AMM4, )99V2.
#.$ Parceiros Voluntrios e gestores% concretizao de uma estratgia
_...o ojetivo da presente reunio 3 delierar sore a constituio de uma associao +ue
seja um centro referencial com o ojetivo de incentivar a participao solidria do
empresariado +ue atua no Mstado, para, juntamente com a comunidade, promover o
desenvolvimento social do Aio &rande do 4ul._)0
# %&'"arceiros (oluntrios foi fundada com propPsitos orientados para a moilizaode a$entes de campos diversos e soretudo do econ1mico, para uma forma de conduta, de
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interao com a realidade social entendida pelos prota$onistas deste projeto como pertinente
ou necessria, demarcando uma prtica prPLima a militOncia social por seu carter coletivista.
%u seja, o projeto impulsionado pelos a$entes do campo econ1mico tratados a+ui visa
resultados de alcance estadual ou nacional2 alizados por um ideal, por uma concepo
particular de mundo.))
Mm entrevista com o superintendente eLecutivo e a coordenadora de voluntrios da
%&'"arceiros (oluntrios foi poss!vel identificar +uais seriam as representaes +ue
orientam o desenvolvimento do voluntariado or$anizado e o cotidiano de traal5o da entidade
em "orto #le$re2, em como evidenciou'se a articulao entre ojetivos or$anizacionais e
interessesdos profissionais alocados. Mmora as tomadas de posio dessas administradoras
no representem a totalidade dos funcionrios e voluntrios da or$anizao, suas posies,estrat3$icas para o investimento em +uesto, influenciam consideravelmente na conduo do
_"rojeto "arceiros (oluntrios_. Xuestionado a respeito do traal5o voluntrio, o
superintendente menciona +ue
_...; j era uma prtica, sP +ue no era sistemtica. Mu fazia... eu era presidente de
comenda disso, eu era or$anizadora no sei do +ue, eu fazia parte da comisso de eventos
...; @azia com o corao ...;_
)F
# identificao com a prtica do traal5o voluntrio intensifica o en$ajamento -
proposta da or$anizao e o influencia no $rau de investimento dos capitais acumulados pelo
administrador na $esto dos voluntrios, se pensado, a+ui, o poder simPlico, _como poder de
constituir o dado pela enunciao, de fazer ver e fazer crer ...2 poder +uase m$ico +ue
permite oter o e+uivalente da+uilo +ue 3 otido pela fora ...2 se for recon5ecido, +uer dizer,
i$norado como aritrrio_ B%?ADM?, )9K9, p. )V2. # alocao de a$entes com uma
trajetPria pessoal de adeso ao voluntariado funciona como est!mulo ou presso sore os
demais em funo do eLemplo de moilizao ou _paiLo_ pelo traal5o, aliado, ainda, ao
poder consolidado na posio superintendente eLecutiva2 ocupada neste espao de disputa, a
%&'"arceiros (oluntrios. #demais, encontramos postura semel5ante no discurso na
coordenadora de voluntrios +uanto ao "ro$rama de Mst!mulo ao =raal5o (oluntrio.
_...; Mu ac5ei super interessante e eu j tin5a feito al$umas coisas em Belo orizonte eu
j tin5a traal5ado numa crec5e +uando eu estudava. 4empre, virava e meLia, eu estava
fazendo al$uma coisa assim....; Mu me apaiLonei pelo traal5o voluntrio ...;_)T
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4e o en$ajamento do superintendente 3 relevante pelos efeitos +ue pode $erar sore os
demais funcionrios, as repercusses da adeso da coordenadora tam3m devem ser
consideradas, pois 3 esta a principal responsvel pelo encamin5amento dos voluntrios. #
_paiLo_ pelo traal5o voluntrio faz com +ue um projeto, a princ!pio, criado a partir da
iniciativa de empresrios e vinculado aos seus ojetivos, torne'se preocupao tam3m desse
colaorador e, a partir da!, os resultados do traal5o so especialmente importantes por+ue
dizem respeito no ao cumprimento de al$umas metas, mas - concretizao de valores
comuns ou de um ideal de vida, li$ados a trajetPria pessoal dos administradores.
_...; eu me apaiLonei pelo traal5o voluntrio e a! eu estava fazendo tudo +ue eu $ostava,+ue era o treinamento e lidar com pessoas, e me encantei, assim, com a id3ia do traal5o
voluntrio. ...;_)V
#demais, a militOncia 3, em al$uns momentos, acompan5ada e endossada por
preocupaes nacionalistas uma filiao coletiva2, remetendo a necessidade de en$ajamento
dos a$entes na construo de um pa!s com mel5or +ualidade de vida, o +ue elevaria inclusive
sua auto'estima como cidado rasileiro.
_...; Mu sinto o cidado rasileiro lutando por uma cidadania +uase +ue com desalento.
Mu fico preocupada de ol5ar a populao tomando atitudes de desalento ...; Mu ac5o +ue
o voluntariado +ue realmente recupera al$uma coisa, mais do +ue +ual+uer enef!cio, ele
trs para si a sua auto'estima. ...;_)E
?ma proposta militantista, de ao coletiva, condizente a um iderio particular de
construo da realidade social, moiliza a$entes para sua eLecuo na medida em +ue ocorre
certa identificao com as prticas em jo$o, no caso, o traal5o voluntrio. # forma de
insero da coordenadora de voluntrios atrav3s do voluntariado or$anizado2 e a trajetPria de
servios voluntrios do superintendente atestam socialmente, cedem um certificado social de
aptido e en$ajamento ao "ro$rama de Mst!mulo ao =raal5o (oluntrio, conduzindo a mais
+ue uma li$ao profissional, uma vinculao pessoal, uma militOncia por uma causa, mesmo
por+ue, para estes profissionais
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_...; no eListe nin$u3m +ue no possa ser voluntrio. =alvez ele no ten5a sido picado
pela mosca ainda talvez seja um pou+uin5o mais para frente. ...;_)G
#.& Voluntrios em tra'alho voluntrio
#presentada a relao da "arceiros (oluntrios com a prtica de voluntariado, cae
salientar como se d a interao dos voluntrios com sua ao, para, em se$uida, eLplitar'se
os elementos +ue compem a relao entre a or$anizao e seus voluntrios.
#$entes com trajetPrias perpassadas pelo _!ue se chama caridade ...;_ +ue _ tu
a(udares com 'ens) no caso*)*, cujos interesses norteadores da prtica voluntria possuem
carter essencialmente 5edonista ou, em al$uns casos, apresentam inclusive um cun5outilitarista, relacionando assistncia social voluntria2 e satisfao pessoal ou realizao
profissional.
_...;M a coisa +ue eu mais $osto de ter 3 o contato com a crianas. \ uma receptividade
+ue faz mais em para mim do +ue para eles, com certeza ...;_)K
#l3m da caracterizao de uma prtica associativista orientada, antes de mais nada, por
motivaes individuais, os depoimentos otidos demonstram al$umas peculiaridades +ue
acompan5am o 5edonismo. Mm primeiro lu$ar, a satisfao dos voluntrios, muitas vezes, 3
con+uistada na relao, na afetividade estaelecida entre a$entes, em funo da
_...; felicidade deles assistidos2 e o envolvimento +ue criei com eles. % envolvimento
afetivo, inclusive, com muito deles ...;_)9
M essa realizao pessoal se d inserida em um jo$o de trocas mNtuas de 'enesses a
se$unda particularidade2. "or retriuio de ordem reli$iosa, ou uscando promoo
profissional, o traal5o voluntrio articula interesses entre eneficirios e voluntariado
conforme os capitaisem jo$o. %s a$entes alocados na posio de assistidos trazem em seus
capitais acumulados o recon5ecimento social em potencial2 capaz de moilizar a$entes
sociais de outras instOncias a eLecutarem atividades de assistncia em nome de representaes
sociais +ue carre$am: uma crena em retriuio espiritual, por eLemplo, 3 convertida em
assistncia a +uem 3 atendido por entidades constitu!das em torno do capital reli$ioso. Q deuma forma mais racional antes instrumental do +ue 5edonista2, o traal5o voluntrio pode
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tam3m con+uistar o interesse de determinados a$entes sociais pela $ama de relaes e
contatos +ue pode criar capital social acumulado pelas or$anizaes sem fins lucrativos2,
+ue, por projeo profissional, leva voluntrios a disponiilizarem seu capitalprofissional. %s
depoimentos aaiLo so ilustrativos:
_...; Mu recei tanto, eu ten5o +ue dar al$uma ...; se a $ente tem um tempin5o, tem +ue
fazer. M tam3m, por+ue eu acredito +ue eu estou fazendo no por eles, 3 por mim. \ uma
troca +ue a $ente est fazendo tem tudo a ver com essa coisa espiritual +ue eu acredito.
...;_F0
_...; % meu motivo era atuar, como eu sou rec3m formada tam3m fazer um traal5o,fazer para al$u3m um traal5o e tam3m at3 de mostrar o traal5o da fonoaudiolo$ia.
...;_F)
# militOncia 3 ineLpressiva entre os discursos o traal5o voluntrio 3 parte de projetos
de realizao individual. esta condio, os voluntrios c5e$am - %&'"arceiros
(oluntrios, aderindo a sua proposta sem, no entanto, compartil5ar de seus ideais. ae,a
$ora, visualizar como propPsitos distintos de ao voluntria convivem e intera$em.
.# /esto de trabalho voluntrio: uma estrat(gia de interveno
#tualmente, a "arceiros (oluntrios possui, em "orto #le$re, mais de *000 indiv!duos
cadastrados e, aproLimadamente, )K00 voluntrios em atividade, distriu!dos entre as suas
prPprias atividades 5oje, em torno de V0 voluntrios2 e as atividades das )T0 entidades
conveniadas.
% +uadro de funcionrios da unidade de pes+uisa 3 constitu!do de )T memros, al3m da
parceria do voluntariado, o +ue intensifica a utilizao de recursos 5umanos voluntrios j a
partir de sua prPpria iniciativa. =raal5ando diretamente na $esto de voluntrios, trs
funcionriasFFadministram os servios prestados pelo voluntariado.
>as como a %&'"arceiros (oluntrios tem procedido na sua relao com os
voluntrios +ue encamin5a] "ara dar in!cio ao +ue a or$anizao denomina "rocesso de
%rientao, 3 marcada uma reunio de sensiilizao, composta pela eLiio de um v!deo
institucional da "arceiros (oluntrios e projeo de lOminas com a proposta de traal5ovoluntrio or$anizado eLpondo conceito e etapas do encamin5amento2, se$uida de dinOmicas
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de $rupo +ue ensejam a resoluo de situaes'prolema e traal5o em e+uipe. # unidade de
pes+uisa demonstra +uem deseja como parceiro e, emora no se faa nen5uma eLi$ncia
eLpl!cita, o processo de orientao traa parOmetros de _contratao social_ do a$ente,
conforme os capitais de +ue dispe.
_...; % $rande ojetivo, para mim, do processo de orientao, 3 para isso: deiLar em
claro para voc o +ue a $ente +uer. `\ isso +ue voc +uer] 4eno me d escol5a` o
precisa de entrar, no precisa de ir na entrevista, de fazer encamin5amento se voc no
acredita nesses valores. "ara mim 3 isso. ...;_FT
Da reunio de sensiilizao passa'se ao preenc5imento do cadastro de identificao e,depois, efetua'se uma entrevista de encamin5amento, a +ual ojetiva compatiilizar
solicitaes das or$anizaes conveniadas com a formao e interesses do _candidato_. "ara
finalizar o processo de orientao, o voluntrio encamin5ado recee uma carteira de tra'alho
voluntrioe uma carta de apresentao +ue entre$ar ao coordenador de voluntrios da
or$anizao em +ue voluntariar, como se apresentasse ao empre$o. este !nterim,
coordenadores alocados nas or$anizaes conveniadas so responsveis pelo
acompan5amento dos servios prestados pelos voluntrios e concretizam o elo com a
"arceiros (oluntrios. Mm $eral, os coordenadores de voluntrios so a$entes oriundos do
campo das or$anizaes conveniadas, +ue se sumetem a cursos ministrados pela prPpria
"arceiros (oluntrios. Msses a$entes so orientados +uanto - forma de recepo,
recon5ecimento e motivao dos voluntrios e, conjuntamente, so sensiilizados +uanto -
modalidade de traal5o voluntrio priorizado pela %&'"arceiros (oluntrios e pelos a$entes
do campo econ1mico +ue esta representa.
Mm relao ao amiente de traal5o na %&'"arceiros (oluntrios, trata'se
praticamente da conformao de uma a$ncia, um escritPrio repleto de computadores
instalado, no por acaso, no "alcio do om3rcio FV: a concretizao, a princ!pio, da H%&
empresarialI, como definida no planejamento estrat3$ico or$anizacional.
% planejamento estrat3$ico apresenta valores articulados ao desenvolvimento da
sociedade civil e da interao entre os campos econ1mico e social, tratando prolemas sociais
a partir de uma ferramenta e perspectiva de atuao2 administrativo'empresarial, permeada
pelo pra$matismo visualizado tam3m no cotidiano da or$anizao. Mmora os a$entes
envolvidos apresentem em muito a disponiilidade em ajudar, em servir como caracter!stica
de um voluntrio2, a HpaiLo por uma causaI no se soressai +uando comparada a
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preocupao em atin$ir as metas estaelecidas para o ano e a necessidade de atender aos
clientes os mantenedores, soretudo2.
# principal meta nNmero de voluntrios ativo: )K00 para F000 por eLemplo2 3
monitorada a todo momento atrav3s do anco de dados da or$anizao. #lis, todos os
movimentos no interior da entidade esto vinculados ao anco de dados e, por conse$uinte, ao
computador. "or esta ferramenta so cadastrados voluntrios, so otidos dados e avaliados os
resultados sempre apresentados aos mantenedores2. #s metas traadas no planejamento so
conferidas atrav3s de indicadores voluntrios ativos, 5oras voluntariadas, entre outros
parOmetros eminentemente +uantitativos2 em reunies periPdicas do +uadro diretivo, +ue
oportunizam a avaliao e eLecuo de aes corretivas, as +uais so estipuladas com a
assessoria de especialistas do campo econ1mico profissionais alocados das empresasmantenedoras2.
=odo processo instaurado pela %&'"arceiros (oluntrios pauta'se asicamente em
instrumentais administrativo'operacionais, em ateno principalmente -s operaes de
encamin5amento e acompan5amento de voluntrios, sem considerar os efeitos da prtica
voluntria para instaurao ou no de um modus operandi voluntrio, isto 3, no privile$iando
avaliaes e prticas +ue considerem a transformao da viso de mundo dos voluntrios e
sua relao com a ordem pNlica, com a comunidade, a favor do projeto de dinamizao dasociedade civil oriundo de a$entes vinculados - filantropia empresarial. este sentido, os
processos de $esto e tomada de deciso implementados pela unidade de pes+uisa tem
dificultado a interao com seus parceiros e a disseminao de saeres diversos advindos de
outros campos2 junto as suas prticas, restrin$indo'se aos con5ecimentos do campo
econ1mico.
# parceria com or$anizaes conveniadas e voluntrios no c5e$a ao ponto de
partil5arem o planejamento, limitando a participao e a pluralidade nas tomadas de decises+ue afetam pessoas de instOncias diversas AM4, )9992. # "arceiros (oluntrios atua como
uma prestadora de servios, instaurando uma interveno alizada por capitais do campo
econ1mico, sendo +ue parece priorizar o predom!nio destes Nltimos na relao com os demais
a$entes sociais com +uem mant3m parceria.
"elo oservado at3 o momento, o H"rojeto "arceiros (oluntriosI, como estrat3$ia de
filantropia empresarial, tem sido conduzido em demasiado controle. o 5 uma preocupao
eLpl!cita em otimizar/adaptar os con5ecimentos j eListentes desde a interao com a$entes
do campo social, procura'se somente transferi'los, fra$ilizando a troca de saeres e a
articulao de interesses atrav3s da participao dos a$entes alocados como parceiros %4"
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ou voluntariado2. "rtica de interveno essa +ue vai de encontro a usca de
comprometimento com a proposta de voluntariado organizado, se consideradas as indicaes
de Druc7er para citar um autor recon5ecido pelos $estores da unidade de pes+uisa2: _as
or$anizaes sem fins lucrativos eficazes tam3m devem per$untar sempre: ossos
voluntrios crescem] Mles ad+uirem uma viso maior da sua misso e tam3m maior
aptido]_ )99*, p. )))2
0# Parceiros e voluntrios: posi1es interagentes e2ou conflitantes
"nteresses hedonistas do voluntrio e milit+ncia da or$anizao e a $esto do
voluntariado decorrente2 acaam intera$indo para a concretizao de um mesmo fim, a aovoluntria, +ue, por3m, no ocorre sem o emate pelo predom!nio dos interessesde cada uma
das partes, >as, tal fato no deilita a afinidade dos a$entes captados com a ao voluntria,
mesmo por+ue a identificao entre o voluntrio e sua prtica d'se nas relaes com o
eneficirio de sua ao, com a or$anizao onde atua. #penas demonstra'se +ue 5
diferentes interessese capitais em jo$o.
_...; #c5ei positivo. #t3 por+ue se tu pensar na instituio, o papel +ue eu fazia antes, oNnico +ue eu fiz de voluntria 3 uma visita, no 3 de oferecer o teu traal5o. ...;_FE
_...; Xuando eu tirei f3rias, a mesma coisa, eu avisei: `estou voltando tal dia`, por+ue as
pessoas esto contando conti$o nesse local +ue estou traal5ando. ...;_FG
#rticulando interesses individualmente moilizados voluntrios2 com as motivaes
militantistas do empresariado, a %&'"arceiros (oluntrios dissemina uma forma de
produo social na +ual o traal5o no est vinculado diretamente aos laos traal5istas do
empre$o formal. Mstrutura, al3m disso, um locusde ao, tendo em vista +ue os a$entes
sociais alocados voluntrios, eLecutivos e empresrios2 tm em comum sistemas simPlicos
+ue os dispem ao envolvimento com a prtica voluntria, o +ue, em outras palavras, _supe
a+uilo +ue Dur75eim c5ama o conformismo lP$ico, +uer dizer, uma concepo 5omo$nea do
tempo, do espao, do nNmero, da causa, +ue torna poss!vel a concordOncia entre as
inteli$ncias_ B%?ADM?, )9K9, p. 092.
4aeres acumulados pela "arceiros (oluntrios e voluntrios, usualmente
disponiilizados so os contratos de empre$o e pa$amento em esp3cie, so HofertadosI so
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novas moedas, solidificando laos sociais no em contrato e carteira de traal5o, mas num
termo de adeso e numa carteira de traal5o voluntrio.
_...; #s pessoas no tem con5ecimento, n3. #t3 mesmo 5i$iene 3 uma coisa +ue eu
traal5o astante com ela funcionria de or$anizao sem fins lucrativos2, por+ue ela
deiLa muito a+uelas olac5as +ue as crianas j morderam, ela deiLa atiradas no c5o
ento eu instruo: `elas vo ir ali e pe$ar de novo, +uem sae a $ente junta em se$uida, n3`.
Mnto, eu ac5o +ue nesse sentido, eu estou dando a min5a contriuio ...;_F*
% campo de disputa instaurado pelo interesse comum pela prtica voluntria poderia
insti$ar maior diversificao de saeres, $erando reestruturaes em amos os campos,
Zassistencial[ e econ1mico. % campo econ1mico oteria con5ecimentos, na converso de
capitais do campo Zassistencial[, para, por eLemplo, desencadear o comprometimento
funcionrios com os ojetivos da or$anizao por militOncia social2, em funo da associao
da empresa - assistncia social. % campo Zassistencial[ poderia ter no voluntariado
organizadodifuso de novos saeres de forma re$ular, em funo do pra$matismo de +ue est
imu!do. este sentido, por3m, a tomada de posio da %&'"arceiros (oluntrios at3 o
momento, priorizando a transferncia de con5ecimentos administrativos e profissionais de
forma unilateral, vem deilitando a troca e construo de con5ecimentos. onforme
depoimento a se$uir:
_...; #s dificuldades so, principalmente, centradas no fato de +ue elas or$anizaes sem
fins lucrativos2 no tm $esto profissional. ...; @oram criadas por pessoas com uma
viso social, um desprendimento social ...; # $ente +uer mudar esse ne$Pcio. % +ue a
$ente +uer fazer 3 o se$uinte: ver a+uilo +ue tem de om no setor empresarial e transferir
para a rea social. ...;_FK
# formao de a$entes sociais mais participativos e a dinamizao da sociedade civil
passa pela or$anizao de estrat3$ias de $esto como dinOmicas formativas, nas +uais
disseminao/troca de saeres, comunicao e oportunidades de tomada de deciso
participao2 tem papel fundamental para o eLerc!cio da autonomia dos a$entes alocados.
#demais, +uando se valoriza o %utro de acordo com seus saeres, permite'se sua
identificao e, ento, sua moilizao para com os ojetivos coletivos J\(W, )99V2, nestecaso, rompendo, de um lado, com as prticas eLclusivamente 5edonistas de voluntrios, e
relativizando, de outro, a unilateralidade do discurso empresarial acerca do voluntariado. Do
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contrrio, as contriuies do e para o voluntariado resumem'se a potencialidades, sem
efetiva realizao.
+onsidera1es finais
% traal5o voluntrio, se realmente disseminado, poderia construir uma teia de relaes
a partir de situaes/prolema em comunidades J\(W, )99V2. @ormar'se'iam, ento, redes
nos mais variados Omitos, com n,s+ue podem ser os voluntrios na comunidade, as %4"s
em parcerias com o Mstado, as empresas em prticas de filantropia empresarial, enfim, a$entes
sociais circulando seus capitaispor entre os campos @%=M4, F0002.
# converso de capitaisem torno do traal5o voluntrio or$anizado parece contriuirpara a formao de novos elos de inte$rao social no Omito da sociedade civil. Mstando os
contratos sociais estaelecidos no entorno do empre$o formal2 fra$ilizados em funo da
prPpria dinOmica de produo do sistema capitalista A@R, )99E2, a sociedade daria
ind!cios, ento, de reor$anizao e construo de novas formas de relaes e parcerias sociais.
# produo social, fundamentada, at3 o momento, nas relaes de empre$o, tem a sua
frente o eLerc!cio do traal5o tam3m como ao voluntria or$anizada, uma prtica +ue
intensifica as relaes entre os campos econ1mico e Zassistencial[, podendo $erar uma rederelacional uma comunidade de produtores voluntrios2 voltada ao atendimento das demandas
sociais. M parece evidenciar'se, neste !nterim, +ue a forma a ser assumida pelas relaes
desencadeadas em torno do traal5o voluntrio torna'se alvo de disputa entre os a$entes em
disputa no jo$o: empresrios e $estores vinculados insti$adores da prtica de voluntariado na
atualidade2 e voluntrios com ou sem trajetPria anterior em atividades voluntrias2..
3otas
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)Mscolas de of!cio catPlicas, em "orto #le$re, por eLemplo, constitu!ram'se no in!cio do s3culo com considervelcolaorao voluntria da comunidade local, insti$ada por capital reli$ioso.FMntre os a$entes sociais descritos so essa denominao 5 +uem defenda o uso da eLpresso _cidadania empresarial_,
jul$ada mais prop!cia para prticas no assistencialistas. "rocurou'se utilizar, no entanto, o termo _filantropiaempresarial_ no intuito de evitar discusso tePrica acerca do tema da cidadania, j +ue este fo$e aos propPsitos destetraal5o.T=rec5o de entrevista cedida por 4tep5en Ranitz ao pro$rama ZMspao #erto[, veiculado pela -lo'o e/scanal T)2,no ms de jun5o/)99*.V\ poss!vel re$istrar vrios outros eLemplos de interveno junto -s or$anizaes sem fins lucrativos: aes do &rupode nstitutos, @undaes e Mmpresas &@M2 Aevista do terceiro setor A=42, com arti$os sore $esto de %4" o&uia da @ilantropia, da Ranitz #ssociados, com pes+uisas e arti$os acerca da filantropia empresarial o "rmio@MM#D de administrao a homepage(oluntrios, +ue al3m de promover o traal5o voluntrio, a$encia via "nternetindiv!duos interessados em voluntariar ou, ainda, o "rmio AB4, para as entidades do Aio &rande do 4ul, veiculado
por sua rede impressa em )999.E #s fundadoras da "arceiros (oluntrios foram: @MDMA#4?J, @M%>\A%, @M=?A4>%, @M%&bMA%4,#@M>\A%, @MA&4, @#A4?J, &erdau, &rupo piran$a, opesul, #vipal, Bradesco.GDepoimento concedido pelo superintendente eLecutivo da "arceiros (oluntrios, em 0T/))/)999.*onforme #ta de onstituio da %&'"arceiros (oluntrios, de FF/0)/)99*.KDepoimento concedido pelo superintendente eLecutivo da "arceiros (oluntrios, em 0T/))/)999.9onforme material cedido em curso de coordenadores de voluntrios ministrado pela %&'"arceiros (oluntrios, no
ano de F000.)0onforme #ta de onstituio da %&'"arceiros (oluntrios, de FF/0)/)99*.))#firmando ser uma concepo particular de mundo no se pretende contempl'la de forma isolada. "rocura'se apenassalientar o +uo delimitada socialmente 3 a ori$em da proposta em +uesto, sem menosprezar a receptividade do"ro$rama de Mst!mulo ao =raal5o (oluntrio por encontrar entre os seus adeptos certo $rau de identificao, dado +ueo ideal de mundo atriu!do ao empresariado no 3 eLclusividade deste, possuindo elementos +ue perpassam os vriosa$entes, numa produo social relacional.)FDepoimento cedido em T0/0*/F000.)TDepoimento cedido em FV/0G/F000.)Vdem.)EDepoimento cedido pelo superintendente em T0/0*/F000.)Gdem.)*Depoimento cedido por voluntria em )K/0E/F000.)K
dem.)9Depoimento cedido por voluntria em )G/0G/F000.F0Depoimento cedido por voluntria em F9/0G/F000.F)Depoimento cedido por voluntria em )*/0G/F000.FFMstas trs funcionrias e os voluntrios atuantes na "arceiros (oluntrios compem a ?nidade "('"%#, parte daor$anizao destinada diretamente ao atendimento dos voluntrios cadastrados.FTDepoimento cedido pela coordenadora de voluntrios da %&'"arceiros (oluntrios em FV/0G/F000.FV"r3dio sede da @ederao das #ssociaes Mmpresariais do Aio &rande do 4ul @MDMA#4?J2.FEDepoimento cedido por voluntria em )*/0G/F000.FGDepoimento cedido por voluntria em )K/0E/F000.F*Depoimento cedido por voluntria em )K/0E/F000.FKDepoimento cedido pelo superintendente eLecutivo em 0T/0K/F000..
Refer4ncias %ibliogrficas
B#AD, Jaurence. Anlise de conte5do. Jisoa: Mdies *0, F000.B%?ADM?, "ierre. Mspao social e espao simPlico. n: . Ra61es prticas' sore a teoriada ao. ampinas: "apirus, )99G, p. )T'TT. . \ poss!vel um ato social desinteressado] n: . Ra61es prticas' sorea teoria da ao. ampinas: "apirus, )99G, p. )T*')G). . * Poder $imb7lico. Aio de Qaneiro: Bertrand, )9K9, p. 0*')G.#AD%4%, Aut5. @ortalecimento da 4ociedade ivil. n: %4"M, Mvel
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DA?RMA, "eter. %s novos paradi$mas da administrao, ;ame, 4o "aulo, FV de fevereiro de)999, p. TV'ET.DA?RMA, "eter. "essoas e relacionamentos: sua e+uipe, seu consel5o, seus voluntrios, suacomunidade. n: . Administrao de organi6a1es sem fins lucrativos. 4o "aulo:"ioneira, )99*, p. )0*')TG.M> DAM% a uma cidadania 5edonista, Revue $ciences rht;t'#html , 0K/0T/)999.AMM4, (!ctor. l voluntariado social: plan de formaciPn de animadores. >adrid: Mditorial 4,)99V, p. TF'V0.A@R, Qerem