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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DO INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE ÁGUA DOCE E PESCA INTERIOR BADPI PERFIL METABÓLICO E DESEMPENHO ZOOTÉCNICO DE FILHOTES DE PEIXE- BOI DA AMAZÔNIA (Trichechus inunguis) MANTIDOS EM CATIVEIRO, ALIMENTADOS COM DIFERENTES SUCEDÂNEOS DO LEITE MATERNO ALEN HENRIQUE PASSOS MADURO Manaus, Amazonas Agosto, 2014

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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DO INPA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE ÁGUA DOCE E PESCA

INTERIOR – BADPI

PERFIL METABÓLICO E DESEMPENHO ZOOTÉCNICO DE FILHOTES DE PEIXE-

BOI DA AMAZÔNIA (Trichechus inunguis) MANTIDOS EM CATIVEIRO,

ALIMENTADOS COM DIFERENTES SUCEDÂNEOS DO LEITE MATERNO

ALEN HENRIQUE PASSOS MADURO

Manaus, Amazonas

Agosto, 2014

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ALEN HENRIQUE PASSOS MADURO

PERFIL METABÓLICO E DESEMPENHO ZOOTÉCNICO DE FILHOTES DE PEIXE-

BOI DA AMAZÔNIA (Trichechus inunguis) MANTIDOS EM CATIVEIRO,

ALIMENTADOS COM DIFERENTES SUCEDÂNEOS DO LEITE MATERNO

Orientadora: Drª. Vera Maria Ferreira da Silva

Co-Orientadora: Drª. Roseane Pinto Martins de Oliveira

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação do INPA, como parte dos requisitos

para obtenção do título de mestre em Ciências

Biológicas, área de concentração em Biologia

de Água Doce e Pesca Interior.

Manaus, Amazonas

Agosto, 2014

Fontes financiadoras: FAPEAM (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas); Programa Petrobras

Ambiental

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M183 Maduro, Alen Henrique Passos

Perfil metabólico e desempenho zootécnico de filhotes de peixe-

boi da Amazônia (Trichechus inunguis) mantidos em cativeiro,

alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno / Alen

Henrique Passos Maduro. --- Manaus: [s.n.], 2014.

xx, 84 f. : il. color.

Dissertação (Mestrado) --- INPA, Manaus, 2014.

Orientador : Vera Maria Ferreira da Silva.

Coorientador : Roseane Pinto Martins de Oliveira.

Área de concentração : Biologia de Água Doce e Pesca Interior.

1. Peixe-boi da Amazônia. 2. Nutrição - Ganho de peso. 3.

Bioquímica sérica. I. Título.

CDD 599.55

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SINOPSE

Sinopse: Foi avaliado o perfil metabólico e o desempenho zootécnico de filhotes

de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis), mantidos em cativeiro,

alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno.

Palavras-chave: Peixe-boi da Amazônia, nutrição, bioquímica sérica,

hemograma, ganho de peso, espessura de gordura subcutânea, condição corporal

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Aos meus queridos pais, pela paciência, pelo

amor incondicional, pela confiança e por terem

cumprido seu papel brilhantemente em minha

vida: ser pai e mãe de toda forma, com tudo que

puderam e ainda podem ser.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por simplesmente nos ter dado o dom da vida e a oportunidade de

compartilhá-la com pessoas especiais.

Aos meus pais Alan Kardec e Maria Stella e aos meus irmãos André Luiz e Alan

Junior pela confiança, pelo apoio, e pelo amor.

A Eliade Nascimento pela paciência, carinho e por muitas vezes abrir mão da minha

companhia em prol das minhas atividades acadêmicas.

A Dra. Vera Maria Ferreira da Silva, pelas valiosas orientações recebidas, pelo apoio e

principalmente por ter confiado no nosso trabalho.

À minha co-orientadora e amiga Dra. Roseane Pinto Martins de Oliveira pelos anos de

confiança, pelos grandes ensinamentos, pela amizade e por ter feito parte de mais essa

conquista na minha vida acadêmica.

Ao médico veterinário responsável pelos animais do parque Robin Best do INPA José

Anselmo D’Affonseca, pela confiança, parceria e tranquilidade transmitida durante os

experimentos (especialmente durante a adaptação dos animais à nova dieta).

A minha grande amiga Alana Vinhote, que desde sempre esteve ao meu lado

incentivando, ajudando e por ser sempre fiel e companheira.

Ao amigo Fernando Atroch, pela parceria nas madrugadas dissertando no INPA.

Ao Diogo, Rodrigo Amaral e Isabel Reis (LMA) pelas informações, ajuda relacionada

ao manejo adequado dos animais e metodologias, ao Rodrigo Dias (LMA) pela fundamental

ajuda nas análises estatísticas e a Natsumi Fearnside pela valiosa contribuição no inglês dos

abstracts.

Aos amigos da PREVET, Nildon, Marcelo, Jeová, Nazaré, Raimundo, Daniel e Dila,

pela disponibilidade e ajuda de sempre, bem como toda contribuição para realização dos

trabalhos com os animais.

Aos meus filhotes peixes-bois pela cooperação, por terem me ajudado na realização

desse trabalho e também pelo banho que me deram. Obrigado por me fazerem respeitá-los

ainda mais.

Ao professor Paulo Andrade, professor Frank Cruz e Hálice Paulene, pela ajuda na

aquisição de alguns dos ingredientes.

A professora Rosany Carvalho e Rejane do Laboratório de Fisiologia/UFAM,

professor Emerson Lima do Laboratório de Atividade Biológica da Faculdade de

Farmácia/UFAM, Fernanda Dragan do Laboratório de Ecofisiologia e Evolução

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Molecular/INPA e professora Roseane Oliveira do Laboratório de Anatomia e Fisiologia

Animal/UFAM pela realização de algumas das análises sanguíneas dos peixes-bois.

A Dona Inês, Dra. Elizabeth Gusmão e Dra. Lígia Gonçalves do Laboratório de

Nutrição de Peixes/INPA, pela realização das análises bromatológicas durante os

experimentos.

A Marilza Oliveira por estar sempre disponível pra ajudar nas coletas de sangue dos

peixes-bois.

Ao Dr. Alexandre Honczaryk/INPA, por ceder o aparelho de ultrassonografia utilizado

nesse trabalho.

Aos amigos do Laboratório de Mamíferos Aquáticos – LMA/INPA e Associação

Amigos do Peixe-boi – AMPA/INPA, pela acolhida, pelas conversas e pela disponibilidade de

ajudar sempre.

À equipe de pós-graduação do BADPI, à Dra. Ângela Varella, ex-coordenadora do

curso, e os doutores Sidnéia Amádio e Jansen Zuanon, atuais coordenadores, bem como a

equipe da secretaria por todo auxílio acadêmico.

Aos amigos de turma do curso de mestrado BADPI, por dividirem as mesmas

angustias dos experimentos e prazos, disciplinas cursadas, pelos churrascos e por

compartilharem seus conhecimentos que contribuíram nessa jornada.

Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) pela oportunidade de

realização do projeto e apoio acadêmico.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) pela

concessão da bolsa de mestrado.

A Associação Amigos do Peixe-boi (AMPA) e Petrobrás Ambiental pelo apoio

financeiro parcial do projeto.

À Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Amazonas (HEMOAM),

pela parceria na realização das análises hematológicas.

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para o desenvolvimento desse

trabalho.

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x

“Um Deus infinito pode se dar inteiro a cada um

de seus filhos. Ele não se distribui de modo que

cada um tenha uma parte, mas a cada um ele se

dá inteiro, tão integralmente como se não

houvesse outros”.

A.W. Tozer

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RESUMO

Foram avaliados o perfil metabólico, o desempenho zootécnico e a correlação entre a

espessura da gordura subcutânea e medidas biométricas de filhotes de peixe-boi da Amazônia

(Trichechus inunguis), mantidos em cativeiro, alimentados com diferentes sucedâneos do leite

materno. Dez filhotes com peso médio de 65,75 kg e idade média de 15,3 meses foram

amamentados com dietas lácteas experimentais em duas etapas. Na primeira etapa foram

alimentados com sucedâneo 1 (S1), utilizado rotineiramente no Laboratório de Mamíferos

Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia LMA/INPA. Na segunda etapa

foram alimentados com sucedâneo 2 (S2), formulado com base na composição nutricional do

leite materno da espécie. Cada etapa experimental teve duração de 62 dias, realizando-se

coleta de sangue para análise bioquímica e hematológica, biometrias, controle de consumo de

leite e medição da espessura de gordura subcutânea (EGS). Para o perfil metabólico foram

avaliados valores de proteínas totais (PT), albumina (ALB), globulinas (GLO), glicose (GLI),

lipídeos totais (LT), colesterol (COL), triglicerídeos (TRI), cálcio (Ca), fósforo (P), magnésio

(Mg), sódio (Na), potássio (K), hematócrito (Ht) e hemoglobina (Hb), para o desempenho

zootécnico foram avaliados o ganho de peso (GP), ganho em crescimento linear (GCL),

consumo de leite líquido (CLL), ingestão de matéria seca (IMS) e conversão alimentar (CA).

A medida de EGS (cm) foi obtida utilizando aparelho de ultrassonografia portátil. As medidas

biométricas peso, comprimento linear (CL), circunferência máxima (CM) e circunferência da

base da cauda (CBC) foram realizadas utilizando balança analógica (kg) e fita métrica (cm)

respectivamente. Houve redução de PT, ALB, GLO, Ca, P e K após a alimentação dos

animais com S2 quando comparados aos valores obtidos com S1. Os valores de GLI, LT,

COL e TRI ao final da amamentação com S2 (36,70±12,90 mg/dL, 519,30±44,99 mg/dL,

180,10±35,57 mg/dL e 65,20±22,09 mg/dL respectivamente) foram bem inferiores aos

valores encontrados quando os animais foram alimentados com S1 (53,50±9,28 mg/dL,

733,70±128,07 mg/dL, 307,20±84,42 mg/dL e 153,70±59,38 mg/dL respectivamente). Os

níveis de Na foram maiores quando administrado o S2 (148,16±1,15 mmol/l) do que com S1

(143,47±0,99 mmol/l). Valores de Ht e Mg não diferiram entre os tratamentos. O perfil

metabólico esteve dentro dos níveis normais para a espécie com exceção da ALB e GLO que

estiveram abaixo e acima dos padrões respectivamente. Para o desempenho zootécnico houve

maior GP (p<0,0001) e maior GCL (p=0,0090) quando os animais foram alimentados com S2

(12,30 ± 4,64 kg e 7,85 ± 2,87 cm) do que quando alimentados com S1 (6,31 ± 3,70 kg e 5,37

± 3,47 cm). O CLL diminuiu (p=0,0038) e a IMS aumentou (p<0,0001) com a administração

do S2. Os animais tiveram melhor CA com S2 (15,01 kg de leite/kg) do que com S1. Não

houve correlação (p>0,05) entre as variáveis EGS e o peso (r=0,0084 e r=0,1650 para S1 e S2

respectivamente), EGS e CL (r=0,0565 para S1 e r=0,2127 para S2), EGS e CM (r=0,0105

para S1 e r=0,0906 para S2) e a EGS e CBC (r=0,0559 e r=0,2449 para S1 e S2

respectivamente). O S2 foi mais eficiente, favorecendo maior ganho de peso e crescimento

dos animais e o perfil metabólico realizado mostrou ser viável no auxílio da avaliação

nutricional para a espécie. A medida da EGS não pode predizer a condição corporal de

filhotes de peixe-boi da Amazônia, pois não foi observado efeito do crescimento e do peso na

variação da espessura de gordura subcutânea. O S2 apresentou resultados satisfatórios no

desempenho zootécnicos de filhotes de T. inunguis, podendo ser adotado como nova dieta

láctea artificial para manutenção dos animais em cativeiro.

Palavras-chave: Peixe-boi da Amazônia, nutrição, bioquímica sérica, hemograma, ganho de

peso, espessura de gordura subcutânea, condição corporal

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ABSTRACT

METABOLIC PROFILE AND ZOOTECHNICAL PERFORMANCE OF CAPTIVE

AMAZONIAN MANATEE CALVES (Trichechus inunguis) FED DIFFERENT

SUBSTITUTES FOR MATERNAL MILK

This study evaluates the metabolic profile, the zootechnical performance, and the correlation

between subcutaneous fat thickness and body measurements of captive Amazonian manatee

calves (Trichechus inunguis) fed different substitutes for maternal milk. Ten calves with

average weight of 65.75 kg and mean age of 15.3 months were fed different milk diets in two

phases. During the first phase, the calves were fed substitute 1 (S1), which is what was

routinely used by Laboratory of Aquatic Mammals of the National Institute of Amazonian

Research LMA/INPA. During the second phase they were fed substitute 2 (S2), which was

formulated based on the nutritional composition of T. inunguis maternal milk. Each phase

lasted 62 days, when blood samples were collected for biochemical and haematological

analysis. Body measurements, milk consumption and subcutaneous fat thickness (EGS)

measurements were also collected during this period. Values of total protein (PT), albumin

(ALB), globulin (GLO), glucose (GLI), total lipids (LT), cholesterol (COL), triglycerides

(TRI), calcium (Ca), phosphorus (P), magnesium (Mg), sodium (Na), potassium (K),

hematocrit (Ht) and hemoglobin (Hb) were evaluated to determine the metabolic profile.

Gained weight (GP), linear growth gain (GCL), liquid milk consumption (CLL), dry matter

intake (IMS), and feed conversion ratio (CA) were evaluated for analysis of zootechnical

performance. Measurements for EGS (cm) were obtained using a portable ultrasound

machine. The measurements of weight, linear length (CL), maximum circumference (CM)

and tail base circumference (CBC) were performed using an analog scale (kg) and a tape

measure (cm) respectively. There was a decrease of PT, ALB, GLO, Ca, P and K after feeding

the animals with S2 when compared to values obtained with S1. After the period of feeding

S2, the values of GLI, LT, COL, and TRI (36.70±12.90 mg/dL, 519.30±44.99 mg/dL,

180.10±35.57 mg/dL and 65.20±22.09 mg/dL respectively) were well below the values found

when the animals were fed with S1 (53.50±9.28 mg/dL, 733.70±128.07 mg/dL, 307.20±84.42

mg/dL and 153.70±59.38 mg/dL respectively). Sodium levels were higher when S2 was

administered (148.16±1.15 mmol/l) than when S1 was given (143.47±0.99 mmol/l). Values of

Ht and Mg did not differ between treatments. The metabolic profile was within normal levels

for the species, with the exception of ALB and GLO levels, which were below and above

standard respectively. When analyzing zootechnical performance there was a significantly

higher GP (p<0.0001) and GCL (p=0.0090) when the animals were fed S2 (12.30 ± 4.64 and

7.85 ± 2.87 respectively) than when fed S1 (6.31 ± 3.70 and 5.37 ± 3.47 respectively). CLL

decreased (p=0.0038) and IMS increased (p<0.0001) when S2 was administrated. Individuals

had a better CA when fed S2 (15.01 kg of milk/kg) than S1. There was no correlation

(p>0.05) between EGS and weight (r=0.0084 and r=0.1650 for S1 and S2 respectively), EGS

and CL (r=0.0565 for S1 and r=0.2127 for S2), EGS and CM (r=0.0105 for S1 and r=0.0906

for S2) and EGS and CBC (r=0.0559 and r=0.2449 for S1 and S2 respectively). S2 was more

efficient, resulting in increased weight gain and growth of the animals. Additionally, the

metabolic profile performed proved to be a viable method for the nutritional assessment of

this species. EGS was found to not be a good indicator of body condition for Amazonian

manatee calves, as despite variation in its levels, no effects on growth or weight were

observed. S2 showed satisfactory results in the zootechnical performance of T. inunguis and

may be used as a new artificial substitute in the diet of captive calves.

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Keywords: Amazonian manatee, nutrition, Serum biochemical, Hemogram, weight gain,

subcutaneous fat thickness, body condition

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xiv

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 21

1.1. Peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis)..................................................... 21

1.2. Características nutricionais dos sucedâneos do leite para os peixes-bois da

Amazônia...............................................................................................................

24

1.3. Perfil Metabólico................................................................................................... 26

2. OBJETIVOS............................................................................................................ 28

2.1. GERAL................................................................................................................. 28

2.2. ESPECÍFICOS...................................................................................................... 28

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 29

CAPÍTULO 1. Perfil metabólico de filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus

inunguis) em cativeiro, alimentados com diferentes sucedâneos do

leite materno.........................................................................................

34

RESUMO..................................................................................................................... 34

ABSTRACT................................................................................................................. 35

INTRODUÇÃO............................................................................................................ 36

MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................... 37

RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................. 41

CONCLUSÕES............................................................................................................ 48

AGRADECIMENTOS................................................................................................. 48

REFERÊNCIAS........................................................................................................... 48

CAPÍTULO 2. Desempenho zootécnico de filhotes de peixe-boi da Amazônia

(Trichechus inunguis) em cativeiro, alimentados com diferentes

sucedâneos do leite materno..............................................................

54

RESUMO..................................................................................................................... 54

ABSTRACT................................................................................................................. 55

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 55

MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................................ 57

RESULTADOS............................................................................................................ 62

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xv

DISCUSSÃO................................................................................................................ 67

CONCLUSÕES............................................................................................................ 70

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 71

CAPÍTULO 3. Relação entre medidas biométricas e espessura de gordura

subcutânea, realizada por ultrassonografia em filhotes de peixe-boi

da Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro.............................

75

ABSTRACT................................................................................................................. 80

AGRADECIMENTOS................................................................................................. 81

REFERÊNCIAS........................................................................................................... 81

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 84

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xvi

LISTA DE TABELAS

Capítulo 1

Tabela 1. Informações dos filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus

inunguis) alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno no

Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas....................

37

Tabela 2. Ingredientes utilizados na elaboração dos sucedâneos do leite materno

fornecidos durante os experimentos para os filhotes de peixe-boi da

Amazônia (Trichechus inunguis) mantidos em cativeiro no Parque

Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas...................................

39

Tabela 3. Parâmetros sanguíneos escolhidos para compor o perfil metabólico dos

filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) alimentados

com diferentes sucedâneos do leite materno no Parque Aquático Robin

C. Best/INPA, Manaus, Amazonas.............................................................

40

Tabela 4. Comparação dos valores médios (± DP) para os dados bioquímicos

sorológicos e hematológicos dos filhotes de peixe-boi da Amazônia

(Trichechus inunguis) em cativeiro (n=10) alimentados com diferentes

sucedâneos do leite materno no Parque Aquático Robin C. Best/INPA,

Manaus, Amazonas...................................................................................

42

Tabela 5. Ganho de peso e crescimento (± DP) de filhotes de peixe-boi da

Amazônia (Trichechus inunguis) (n=10) alimentados com diferentes

sucedâneos do leite materno no Parque Aquático Robin C. Best/INPA,

Manaus, Amazonas...................................................................................

44

Tabela 6. Composição química do leite materno de peixe-boi da Amazônia

(Trichechus inunguis), da área foliar do capim colônia (Brachiaria

mutica), do sucedâneo rotineiramente fornecido (S1) e do novo

sucedâneo formulado (S2) para os filhotes mantidos em cativeiro no

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xvii

Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas.................... 45

Capítulo 2

Tabela 1. Informações dos filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus

inunguis) que fizeram parte do grupo experimental no Parque Aquático

Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas................................................

57

Tabela 2. Ingredientes utilizados na elaboração dos sucedâneos do leite materno

fornecidos durante os experimentos para os filhotes de peixe-boi da

Amazônia (Trichechus inunguis) mantidos em cativeiro no Parque

Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas...................................

60

Tabela 3. Valores individuais de ganho de peso e ganho em crescimento linear de

filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro

alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno no Parque

Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas...................................

63

Tabela 4. Valores individuais de consumo de leite, ingestão de matéria seca e

conversão alimentar de filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus

inunguis) em cativeiro alimentados com diferentes sucedâneos do leite

materno no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas....

64

Tabela 5. Médias (± Desvio Padrão) de conversão alimentar de filhotes de peixe-

boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro (n = 10)

alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno no Parque

Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas...................................

65

Tabela 6. Médias de ganho de peso (GP), ganho em crescimento linear (GCL) e

consumo de leite líquido (CLL) durante o período total de cada etapa

experimental (62 dias), semanal e diário de filhotes de peixe-boi da

Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro (n = 10) alimentado com

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xviii

diferentes sucedâneos do leite materno no Parque Aquático Robin C.

Best/INPA, Manaus, Amazonas..................................................................

65

Tabela 7. Composição química (matéria integral) do leite materno de peixe-boi da

Amazônia (Trichechus inunguis), da área foliar do capim colônia

(Brachiaria mutica), do sucedâneo rotineiramente fornecido (S1) e do

novo sucedâneo formulado (S2) para os filhotes mantidos em cativeiro

no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas..................

66

Tabela 8. Valores individuais e médias (± Desvio Padrão) do peso de filhotes de

peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) alcançados ao final da

administração de diferentes sucedâneos do leite materno e peso esperado

(PE) obtidos a partir de equações que relacionam peso/comprimento

disponíveis na literatura...............................................................................

66

Capítulo 3

Tabela 1. Correlação de Pearson das medidas biométricas com a espessura de

gordura subcutânea de filhotes de peixe-boi da Amazônia em cativeiro

alimentados com dois tipos de sucedâneo do leite materno no Parque

Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas...................................

78

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xix

LISTA DE FIGURAS

Introdução

Figura 1. Anatomia do trato digestório do peixe-boi................................................... 22

Figura 2. Filhote de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em óbito, mas

resgatado ainda com vida, em avançado estado de desnutrição, no Parque

Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas (Foto: Arquivos

LMA/INPA)................................................................................................

23

Figura 3. Filhote de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) sendo

amamentado no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus,

Amazonas..................................................................................................

24

Capítulo 1

Figura 1. Representação da organização dos experimentos realizados com filhotes

de peixe-boi da Amazônia alimentados com diferentes sucedâneos do

leite materno no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus,

Amazonas ...................................................................................................

38

Capítulo 2

Figura 1. Representação da organização dos experimentos realizados com filhotes

de peixe-boi da Amazônia alimentados com diferentes sucedâneos do

leite materno no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus,

Amazonas....................................................................................................

59

Figura 2. Médias (± Desvio Padrão) de ganho de peso e ganho em crescimento

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xx

linear de filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em

cativeiro (n = 10) alimentados com diferentes sucedâneos do leite

materno no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus,

Amazonas....................................................................................................

62

Figura 3. Médias (± Desvio Padrão) de consumo de leite e ingestão de matéria seca

de filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro

(n = 10) alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno no

Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas.......................

63

Capítulo 3

Figura 1. Treinamento na mensuração das medidas ultrassônicas de gordura

subcutânea em exemplar de peixe-boi da Amazônia (Trichechus

inunguis) em óbito no Laboratório de Mamíferos Aquáticos/INPA...........

77

Figura 2. Relação peso corporal e espessura de gordura subcutânea de filhotes de

peixe-boi da Amazônia em cativeiro alimentados com dois tipos de

sucedâneo do leite materno no Parque Aquático Robin C. Best/INPA,

Manaus, Amazonas.....................................................................................

80

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21

1. INTRODUÇÃO

1.1. Peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis)

O peixe-boi da Amazônia Trichechus inunguis (Natterer, 1883) é o menor da ordem

dos sirênios, medindo na idade adulta aproximadamente três metros de comprimento e

pesando até 420 kg (Amaral et al., 2010; Rosas, 1994). Sua pele é lisa e grossa, com pêlos

esparsos por todo o corpo (Caldwell e Caldwell, 1985). Como principal característica a

espécie apresenta a ausência de unhas nas nadadeiras peitorais, o que gerou o nome específico

inunguis (do latim, sem unhas). Também apresenta uma mancha branca irregular na região

ventral, a qual pode estar ausente em alguns animais (Rosas, 1994). São animais

monogástricos, herbívoros e que realizam fermentação pós-gástrica; se alimentam de mais de

50 espécies de plantas na natureza, recebendo, em cativeiro, uma variedade de alimentos

maior, desde frutas até legumes e verduras (Best, 1981).

Os sirênios possuem adaptações marcantes no trato digestório como a presença de uma

projeção como um dedo, chamado de glândula cárdica, localizada na região cárdica do

estômago e a presença de um par de divertículos emparelhados, chamados divertículos cecais

que, juntamente com o ceco, configuram-se como possíveis locais de fermentação e

degradação de fibras estruturais das plantas (Lemire, 1968) (Figura 1).

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Figura 1. Anatomia do trato digestório do peixe-boi. Esôfago (E), glândula cárdica (GC), divertículos duodenais

(DD), duodeno (D), veia mesentérica (VM), divertículos cecais (DC), cólon (C) e reto (R), (Adaptado de Lemire,

1968)

O peixe-boi da Amazônia é o único, entre os sirênios, restrito a água doce e endêmico

da Bacia Amazônica, podendo ser encontrado desde a Ilha de Marajó até as cabeceiras dos

rios na Colômbia, Peru e Equador (Rosas, 1994). A espécie foi intensamente caçada e sua

carne exportada para a Europa desde o século XVI (Domning, 1982).

No Brasil, a espécie Trichechus inunguis é oficialmente protegido por lei desde 1967,

mas ainda continua sendo caçado para fins de subsistência e sua carne ainda é vendida

ilegalmente em feiras da região. O aumento da mortalidade acidental de filhotes, as alterações

climáticas, a perda de habitat e a degradação do ambiente são outras causas que também

colaboram para o declínio desta espécie na natureza, a qual é classificada como “Vulnerável”

pela Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da

Natureza – IUCN (IUCN, 2013).

No Amazonas os filhotes órfãos, provenientes da caça da mãe, não possuem condições

de sobreviver sozinho na natureza sendo resgatados e levados aos criadouros ou centros de

pesquisas autorizados como o Centro de Preservação e Pesquisa de Mamíferos Aquáticos

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(CPPMA) da Manaus Energia S.A., situado na Vila de Balbina, município de Presidente

Figueiredo e para o Parque Aquático Robin C. Best no Instituto Nacional de Pesquisas da

Amazônia (INPA), em Manaus-AM, onde recebem os cuidados necessários para sua

sobrevivência.

Segundo informações do Laboratório de Mamíferos Aquáticos – LMA/INPA, em

média 11 filhotes por ano deram entrada no plantel do INPA nos últimos cinco anos. No

LMA, geralmente os animais chegam estressados, com deficiências nutricionais severas e

problemas clínicos como septicemia e traumas (da Silva, 1999; D'Affonsêca Neto e Vergara-

Parente, 2006) (Figura 2). Os filhotes chegam com idades diferentes e a maioria ainda

lactente, o que torna a reabilitação mais complexa uma vez que nessa idade a nutrição

adequada é fundamental, pois todos os nutrientes de que o filhote precisa está contido em um

alimento essencial à sua vida que é o leite materno (Barbosa, 2011).

Figura 2. Filhote de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em óbito, mas resgatado ainda com vida, em

avançado estado de desnutrição, no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas (Foto: Arquivos

LMA/INPA)

Os sucedâneos do leite materno são comumente usados em fazendas especializadas na

produção de leite, para a alimentação de bezerros, como alternativa de redução do custo de

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produção sem prejudicar o desenvolvimento dos animais. Segundo a Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária – Embrapa (2004) são chamados de sucedâneos do leite as misturas

comerciais de produtos de origem vegetal e animal destinadas a substituir, total ou

parcialmente, os constituintes naturais do leite.

A formulação de um sucedâneo do leite materno para os filhotes de peixe-boi da

Amazônia mantidos em cativeiro é de grande importância para suprir as carências nutricionais

desses filhotes (Figura 3).

Figura 3. Filhote de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) sendo amamentado no Parque Aquático Robin

C. Best/INPA, Manaus, Amazonas

1.2. Características nutricionais dos sucedâneos do leite para peixes-bois da Amazônia

As exigências nutricionais dos filhotes de peixe-boi da Amazônia ainda são pouco

conhecidas, contudo alguns experimentos vêm sendo realizados para se determinar a

composição química do leite dessa espécie, visando obter uma referência ou um ponto de

partida para formular dietas adequadas para esses filhotes órfãos.

A composição centesimal do leite materno de Trichechus inunguis revelou valores que

variaram de 68,55 a 82,1% de umidade, 18,5 a 31,45% de matéria seca, 4,24 a 10,47% de

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proteína bruta, 8,76 a 19,73% de lipídeos, 0,83 a 1,36 de cinzas e 1207,2 a 2193,3 kcal/kg de

energia bruta (Barbosa, 2011).

O aporte nutricional que um alimento oferece, principalmente em termos de níveis

proteicos e energéticos, é de grande importância, visto que permite que os animais realizem

suas reações bioquímicas, formação de tecidos, manutenção do balanço osmótico,

movimentação das moléculas e outras reações fisiológicas, bem como para realização de

atividade muscular. Esta energia obtida pode ser proveniente da oxidação de componentes

orgânicos após ingestão e absorção do alimento ingerido, ou das reservas corporais de

proteínas, gorduras e glicogênio (Kaushik e Médale, 1994; Smith, 1989).

Vários fatores relacionados à nutrição podem afetar a taxa de crescimento dos animais

e entre esses fatores estão os níveis de energia, proteína e a proporção de energia em relação à

proteína na dieta. Esses níveis determinam como o organismo irá utilizar esses nutrientes para

realização de suas funções metabólicas. Para várias espécies, a alta relação energia/proteína

na dieta resulta na diminuição do consumo voluntário de alimento. Com isso, haverá menor

ingestão de proteína e de outros nutrientes essenciais, além de excessiva deposição de gordura

visceral. Por outro lado, animais alimentados com dietas com relação energia/proteína baixa,

têm um déficit de energia e tendem a mobilizar a proteína absorvida na digestão para

complementação da energia necessária para manutenção corporal. Nos dois casos ocorrem

alterações expressivas no desenvolvimento do animal (Hannas et al., 2000; Lovell, 1989;

Nascimento et al., 2004; Page e Andrews, 1973; Sá e Fracalossi, 2002).

Para filhotes de peixe-boi da Amazônia, sabe-se que a relação energia bruta/proteína

bruta do leite materno é de 22,69 kcal/g (Barbosa, 2011). Contudo, não se sabe se essa relação

seria a adequada na formulação de leite artificial para filhotes, tendo em vista que vários

fatores podem afetar a demanda energética desses animais em cativeiro como o sedentarismo,

o estresse e a temperatura da água.

Algumas formulações lácteas para filhotes de peixe-boi da Amazônia já foram

testadas. Best et al. (1982), avaliaram três tipos de sucedâneos de leite na alimentação de

filhotes de T. inunguis em cativeiro no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA: o

leite em pó integral, leite de soja e uma mistura de banana com leite em pó integral. Como

parte da dieta, foram adicionados manteiga e complexo vitamínico. Desses três substitutos, o

leite em pó integral revelou melhor resultado, obtendo-se incrementos de peso de 1 kg e taxa

de crescimento de 1,4 cm por semana.

Colares et al. (1987), também trabalharam com filhotes de T. inunguis em cativeiro no

INPA, testando três tipos de dietas por dois meses cada dieta. Foram utilizados leite em pó

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integral e óleo vegetal na preparação do sucedâneo, obtendo ganhos de peso médios muito

baixos variando de 22,25 e 37,94 gramas/semana.

Rodriguez-Chacón (2001), utilizou uma formulação produzida com leite bovino em pó

integral, manteiga sem sal, melão (Cucumis melo), adicionando, na primeira mamadeira do

dia, uma gema de ovo e suplemento vitamínico-mineral. A dieta foi testada em cinco filhotes

e quando os animais estavam entre 30 e 50 kg obtiveram um ganho de peso médio semanal de

1,2 kg.

Baseado em trabalhos anteriores, histórico de rancificação da manteiga utilizada nas

mamadas e a morte de dois animais possivelmente por salmonelose, devido à inclusão da

gema de ovo no preparo do sucedâneo, atualmente no LMA, os filhotes estão sendo

alimentados 6 vezes por dia com uma fórmula láctea contendo 120 g de leite bovino em pó

integral, 20 g de óleo de canola, água até 1000 ml e na primeira mamada do dia acrescenta-se

5 g de suplemento vitamínico, mineral e aminoacídico Aminomix® (Vetnil, Brasil) (da Silva e

D'Affonsêca Neto, comunicação pessoal).

Diante da falta de disponibilidade de informações a respeito da nutrição dos filhotes de

peixe-boi da Amazônia, faz-se necessário estudos que possibilitem formular uma dieta

adequada para esses filhotes órfãos mantidos em cativeiro, desenvolvendo os conhecimentos a

serem implementados no manejo nutricional, contribuindo dessa forma para a conservação da

espécie.

1.3. Perfil Metabólico

Os compostos bioquímicos do sangue são essenciais para a manutenção do arcabouço

do organismo e atividade de suas células. A interpretação da variação de suas concentrações é

comumente utilizada em análises clínicas para ajudar a detectar patologias ou anormalidades

em organismos (Keer, 2003).

Perfil metabólico foi o termo empregado por Payne (1970), se referindo ao estudo de

componentes hemato-bioquímicos específicos em vacas leiteiras, com o intuito de avaliar,

diagnosticar e prevenir transtornos metabólicos e servindo também como indicador do estado

nutricional. Esta metodologia se difundiu e outros autores passaram a utilizá-la inclusive para

outras espécies animais. No Brasil diversos autores já empregaram este método como

indicador do status nutricional, destacando-se Ferreira (1992), González (2000), Ribeiro

(2003), Oliveira et al. (2014).

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Segundo González et al. (2000), a composição bioquímica do sangue reflete de

maneira confiável o equilíbrio entre o ingresso, o egresso e a metabolização dos nutrientes nos

tecidos animais. Sendo assim, o perfil metabólico em ruminantes pode ser usado para

monitorar a adaptação metabólica, diagnosticar desequilíbrios da homeostase de nutrientes e

revelar as causas que estão por trás da manifestação de uma doença nutricional ou metabólica.

O perfil metabólico pode ser empregado para diagnosticar ou avaliar deficiências

minerais, controlar o balanço metabólico de energia-proteína, pesquisar problemas de

infertilidade, diagnosticar incidência de transtornos metabólicos e resolver problema de

volume ou qualidade da produção de leite (Wittwer, 2000).

É também um exame complementar empregado no estudo de desequilíbrios

nutricionais, entretanto, informações a respeito do uso do perfil metabólico para

monitoramento nutricional de peixes-bois da Amazônia são escassos (Carmo, 2009; Colares

et al., 1992; Rosas et al.,1999).

Os níveis séricos de alguns metabólitos variam de acordo com a dieta dos animais.

Maiores concentrações de lipídeos, proteínas, albumina e globulina em peixe-boi da

Amazônia foram observadas quando acrescentado mureru (Eichhornia crassipes) à dieta dos

animais que se alimentavam anteriormente apenas de capim colônia (Brachiaria mutica).

Estes parâmetros sanguíneos parecem ser bons indicadores do estado nutricional do peixe-boi

da Amazônia. Contudo, a uréia não aparenta ser um bom parâmetro para avaliação do estado

nutricional, porque sua concentração no sangue não sofre grandes variações com a dieta ou

estado fisiológico da espécie (Colares et al., 1992).

Rosas et al. (1999) analisaram o conteúdo sérico do sangue de nove peixes-bois da

Amazônia cativos e cinco selvagens. Os animais machos de cativeiro apresentaram valores

mais baixos do que aqueles de vida livre para os níveis séricos de zinco, magnésio, ferro,

potássio e cálcio, indicando uma carência nutricional para os animais cativos na ocasião do

estudo. Os níveis séricos de magnésio, ferro, potássio e cálcio foram menores em fêmeas

cativas quando comparados aos encontrados em machos, indicando diferença dos parâmetros

entre os sexos. Carmo (2009), avaliando a bioquímica sérica de filhotes machos de peixe-boi

da Amazônia em cativeiro e amamentados com leite artificial, associou os baixos níveis de

colesterol e triglicerídeos à quantidade e qualidade dos lipídeos oferecidos aos animais. Desse

modo, a análise do perfil metabólico pode ser utilizada como uma importante ferramenta para

a avaliação nutricional de filhotes de peixe-boi da Amazônia.

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2. OBJETIVOS

2.1. GERAL

Este estudo teve como objetivo avaliar o perfil metabólico e o desempenho zootécnico

de filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis), mantidos em cativeiro e

alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno.

2.2. ESPECÍFICOS

Avaliar o perfil metabólico proteico, energético e mineral de filhotes de peixe-boi da

Amazônia em cativeiro, alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno;

Avaliar o desempenho zootécnico de filhotes de peixe-boi da Amazônia em cativeiro,

alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno;

Obter por ultrassonografia, a espessura de gordura subcutânea dos filhotes alimentados

com diferentes sucedâneos do leite materno, e verificar a correlação entre o peso

corporal e a espessura da camada de gordura subcutânea.

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Capitulo 1

Maduro, A.H.P.; da Silva, V.M.F & Oliveira, R.P.M. Perfil metabólico de filhotes de peixe-

boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro, alimentados com diferentes sucedâneos

do leite materno. Formatado de acordo com as instruções da Revista Arquivo Brasileiro de

Medicina Veterinária e Zootecnia

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Perfil metabólico de filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em

cativeiro, alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno

Metabolic profile of captive Amazonian manatee calves (Trichechus inunguis), fed different

substitutes for maternal milk

*A.H.P. Maduro1, V.M.F. da Silva

1, R.P.M. Oliveira

2

1Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA - Laboratório de Mamíferos

Aquáticos/LMA – Manaus, AM

2Universidade Federal do Amazonas/UFAM - Laboratório de Anatomia e Fisiologia

Animal/LAFA – Manaus, AM

*e-mail: [email protected]

RESUMO

O objetivo desse estudo foi avaliar o perfil metabólico de filhotes de peixe-boi da Amazônia

(Trichechus inunguis), em cativeiro e alimentados com diferentes sucedâneos do leite

materno, para determinação da dieta mais adequada ao desenvolvimento dos animais. Dez

filhotes com peso médio de 65,75 kg e idade média de 15,3 meses foram amamentados com

dietas lácteas em duas etapas. Na primeira etapa com sucedâneo do leite materno 1 (S1),

utilizado rotineiramente no INPA e na segunda etapa com sucedâneo 2 (S2) feito com base na

composição nutricional do leite materno da espécie. Cada etapa durou 62 dias, realizando-se

coleta de sangue para análise bioquímica e hematológica ao final de cada período. Foram

avaliados valores de proteínas totais (PT), albumina (ALB), globulinas (GLO), glicose (GLI),

lipídeos totais (LT), colesterol (COL), triglicerídeos (TRI), cálcio (Ca), fósforo (P), magnésio

(Mg), sódio (Na), potássio (K), hematócrito (Ht) e hemoglobina (Hb). Houve redução de PT,

ALB, GLO, Ca, P e K após a alimentação dos animais com S2 quando comparados aos

valores obtidos com S1. Os valores de GLI, LT, COL e TRI ao final da amamentação com S2

(36,70±12,90 mg/dL, 519,30±44,99 mg/dL, 180,10±35,57 mg/dL e 65,20±22,09 mg/dL

respectivamente) foram bem inferiores aos valores encontrados quando os animais foram

alimentados com S1 (53,50±9,28 mg/dL, 733,70±128,07 mg/dL, 307,20±84,42 mg/dL e

153,70±59,38 mg/dL respectivamente). Os níveis de Na foram maiores quando administrado

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o S2 (148,16±1,15 mmol/l) do que com S1 (143,47±0,99 mmol/l). Valores de Ht e Mg não

diferiram entre os tratamentos. O perfil metabólico esteve dentro dos níveis normais para a

espécie com exceção da ALB e GLO que estiveram abaixo e acima dos padrões

respectivamente. O S2 foi mais eficiente, favorecendo maior ganho de peso e crescimento aos

animais e o perfil metabólico realizado com filhotes de peixes-bois da Amazônia, em

cativeiro, mostrou ser viável no auxílio da avaliação nutricional para a espécie.

Palavras-chave: peixe-boi da Amazônia, nutrição, bioquímica sérica, hemograma

ABSTRACT

The objective of this study was to evaluate the metabolic profile of captive Amazonian

manatee calves (Trichechus inunguis) fed different milk substitutes in order to determine the

most suitable diet for their development. Ten calves with average weight of 65.75 kg and a

mean age of 15.3 months were fed with two different milk diets in two stages. During the first

stage, calves were fed milk substitute 1 (S1), which is what was routinely used at INPA.

During the second stage the calves were fed substitute 2 (S2), which was formulated based on

the nutritional composition of maternal milk of the species. Each step lasted 62 days and

blood was collected for biochemical and haematological analysis at the end of each period.

Values of total protein (TP), albumin (ALB), globulin (GLO), glucose (GLU), total lipids

(TL), cholesterol (COL), triglycerides (TRI), calcium (Ca), phosphorus (P), magnesium (Mg),

sodium (Na), potassium (K), hematocrit (Ht) and hemoglobin (Hb) were evaluated. There was

a decrease in PT, ALB, GLO, Ca, P and K levels after feeding the animals S2 when compared

to values obtained with S1. After being fed S2, the values for GLI, LT, COL, and TRI

(36.70±12.90 mg/dL, 519.30±44.99 mg/dL, 180.10±35.57 mg/dL and 65.20±22.09 mg/dL

respectively) were well below the values found when the animals were fed S1 (53.50±9.28

mg/dL, 733.70±128.07 mg/dL, 307.20±84.42 mg/dL and 153.70±59.38 mg/dL respectively).

Sodium levels were higher when S2 was administered (148.16±1.15 mmol/l) than when S1

was used (143.47±0.99 mmol/l). Values of Ht and Mg did not differ between treatments. The

metabolic profile was within normal levels for this species with the exception of ALB and

GLO, which were below and above standard respectively. S2 was more efficient and resulted

in more weight gain and higher growth rate in the animals. The metabolic profile performed

with captive Amazonian manatee calves proved to be a viable nutritional assessment for this

species.

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Keywords: Amazonian manatee, nutrition, Serum biochemical, Hemogram

INTRODUÇÃO

O peixe-boi da Amazônia Trichechus inunguis é o menor dos sirênios e o único

restrito a água doce, com aproximadamente três metros de comprimento e pesando até 420 kg

na idade adulta (Amaral et al., 2010 e Rosas, 1994). São herbívoros monogástricos e na

natureza se alimentam de uma variedade de plantas (Best, 1981; Guterres-Pazin et al., 2014).

A caça ilegal ainda acontece no Amazonas e fêmeas com filhotes são mais

vulneráveis, pois o filhote necessita vir com maior frequência à superfície para respirar,

tornando-as presas mais fáceis para os caçadores. O filhote não tem condições de sobreviver

sozinho e os que chegam aos criadouros ou centros de pesquisas recebem os cuidados

necessários à sua sobrevivência (da Silva, 1999). Por ainda serem lactentes, a reabilitação

torna-se mais complexa necessitando de uma nutrição adequada para seu desenvolvimento

(Barbosa, 2011).

Técnicas que possibilitem avaliar a condição nutricional de filhotes de peixe-boi da

Amazônia, mantidos em cativeiro, são de extrema importância tendo em vista que os animais

recebidos nos criadouros conservacionistas chegam com graves deficiências nutricionais e

severos níveis de caquetismo, necessitando de medidas emergenciais quanto à nutrição para o

completo reestabelecimento do seu organismo (da Silva, 1999; D'Affonsêca Neto e Vergara-

Parente, 2006).

O termo perfil metabólico, utilizado por Payne (1970), se refere ao estudo de

componentes hematológicos e bioquímicos específicos, realizado em vacas leiteiras, com o

intuito de avaliar, diagnosticar e prevenir transtornos metabólicos e servindo também como

indicador do estado nutricional. Esta metodologia se difundiu e outros autores passaram a

utilizá-la inclusive para diferentes espécies de mamíferos. No Brasil, diversos autores já

empregaram este método como indicador do status nutricional (Ferreira, 1992; González,

2000; Ribeiro, 2003 e Oliveira et al., 2014).

A composição bioquímica do sangue reflete de maneira confiável o equilíbrio entre o

ingresso, o egresso e a metabolização dos nutrientes nos tecidos animal. Assim, o perfil

metabólico pode ser usado para monitorar a adaptação metabólica, diagnosticar desequilíbrios

da homeostase de nutrientes e revelar as causas de uma doença nutricional ou metabólica

(González, 2000).

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Trabalho com filhotes cativos de peixe-boi marinho no nordeste brasileiro, verificou

variações significativas dos parâmetros bioquímicos sorológicos entre animais amamentados

com fórmula láctea artificial a base de leite de soja e os amamentados pela mãe, destacando a

interferência da dieta no perfil metabólico dos animais (Silva, 2008).

Este estudo teve como objetivo avaliar o perfil metabólico de filhotes de peixe-boi da

Amazônia (Trichechus inunguis), mantidos em cativeiro e alimentados com diferentes

sucedâneos do leite materno, para determinação da dieta mais adequada ao desenvolvimento

dos animais.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado com peixes-bois lactentes mantidos em cativeiro no Parque

Aquático Robin C. Best do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA. Foram

utilizados 10 filhotes (3 machos e 7 fêmeas) (Tab. 1) com peso médio de 65,75 kg (17-120

kg) e idade média de 15,3 meses (2-25 meses).

Tabela 1. Informações dos filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) alimentados com diferentes

sucedâneos do leite materno no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas

Número de

Identificação

no INPA

Nome

Idade no Início dos

Experimentos*

(meses)

Peso no Início dos

Experimentos (kg) Sexo

174 Piranga 25 81,5 F

175 Barirí 24 95 M

177 Maná 23 120 F

180 Aiyra 23 93 F

182 Naiá 21 94 F

188 Terra Nova 14 66 M

193 Jaci 9 42 F

194 Miriti 9 26 M

200 Mutuca 3 23 F

204 Karan 2 17 F

*Idade estimada. Todos os animais órfãos do experimento foram resgatados da natureza e chegaram ao cativeiro

com aproximadamente um mês de vida.

Fonte: LMA/INPA, 2013.

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Os animais foram mantidos em piscinas de fibra de vidro com aproximadamente 7m2

de área e capacidade para cinco mil litros de água, com troca diária de água feita pela manhã

após a primeira mamada. Os filhotes foram amamentados seis vezes por dia em intervalos de

duas horas com picetas plásticas com capacidade de 1000 ml adaptadas com bico de borracha

semelhante ao usado para bezerros.

Os experimentos foram realizados em duas etapas como mostra a fig. 1.

Figura 1. Representação da organização dos experimentos realizados com filhotes de peixe-boi da Amazônia

alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus,

Amazonas (PB = Proteína Bruta e EB = Energia Bruta)

Na primeira etapa experimental, os filhotes foram amamentados com fórmula láctea

utilizada rotineiramente no Parque Aquático Robin C. Best do INPA (S1), formulada a partir

de leite bovino em pó integral, óleo de canola e suplemento de aminoácidos, vitaminas e

minerais (Aminomix®, Vetnil, Brasil), este último ingrediente adicionado apenas na primeira

mamada do dia (Tab. 2), por um período de 62 dias, quando foi coletada uma única

amostragem sanguínea, após o período experimental.

Antes da segunda etapa os animais passaram por um período de 38 dias de adaptação

aos novos ingredientes do novo sucedâneo, respeitando-se o tempo necessário para adaptação

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dos filhotes à dieta, incrementando-se os ingredientes aos poucos no preparo do leite até que

se pudesse utilizar os níveis de ingredientes totais da nova formulação.

Na segunda etapa experimental, os animais passaram a receber um novo sucedâneo

com ajuste dos níveis de proteína bruta (7,45%) e energia bruta (1723,50 kcal/kg), baseado na

composição centesimal do leite materno de T. inunguis (Barbosa, 2011) (S2), por um período

de 62 dias. Foi realizada uma única amostragem sanguínea após o período experimental. Os

ingredientes utilizados para a formulação do segundo sucedâneo foram leite bovino em pó

integral, óleo de canola, aveia em flocos, farelo de soja, farinha de milho e suplemento de

aminoácidos vitamina e minerais (Tab. 2). Durante a noite, quando os animais não eram

amamentados, foi fornecido entre 3% e 4% do peso corporal do animal de capim Colônia

(Brachiaria mutica).

A composição do suplemento de aminoácidos vitaminas e minerais (Aminomix,

Vetnil, Brasil), segundo o fabricante era: Proteína Bruta (mín) - 6,23%; Extrato Etéreo (mín) -

0,70%; Matéria Fibrosa (máx) - 8,56%; Matéria Mineral (máx) - 81,65%; Umidade (máx) -

3,54%; Vitamina A - 500.000 U.I.; Vitamina B1 - 180 mg; Vitamina B2 - 150 mg; Vitamina

B6 - 70 mg; Vitamina B12 - 800 mcg; Vitamina C - 150 mg; Vitamina D3 - 100.000 U.I.;

Vitamina E - 600 U.I. Biotina - 12 mg; Pantotenato de Cálcio - 400 mg; Ácido Fólico - 60

mg; Ácido Aspártico - 2.120 mg; Ácido Glutâmico - 3.512 mg; Nicotinamida - 600 mg; L-

Lisina - 20 g; Lisina - 1.880 mg; DL-Metionina - 10 g; Metionina - 284 mg; Colina - 5.000

mg; Arginina - 1.576 mg; Glicina - 8.840 mg; Triptofano - 182 mg; Histidina - 280 mg;

Treonina - 280 mg; Serina - 320 mg; Prolina - 5.560 mg; Hidroxiprolina - 3.304 mg; Alanina

- 3.516 mg; Cisteína - 144 mg; Valina - 876 mg; Isoleucina - 380 mg; Leucina - 876 mg;

Tirosina - 120 mg; Fenilalanina - 624 mg; Ferro - 1.300 mg; Cobalto - 120 mg; Cobre - 1.750

mg; Zinco - 2.450 mg; Manganês - 500 mg; Selênio - 6 mg; Magnésio - 8 g; Iodo - 30 mg;

Enxofre - 8 g; Flúor – 670 mg; Cálcio-267 g e Fósforo, 67 mg).

Tabela 2. Ingredientes utilizados na elaboração dos sucedâneos do leite materno fornecidos durante os

experimentos para os filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) mantidos em cativeiro no Parque

Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas

Ingredientes (g/kg de leite) S1 primeira

mamada do dia S1 S2

Água morna 860 855 663,6

Leite bovino em pó integral 120 120 120

Óleo de canola 20 20 69

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Aminomix®1

5 - 1.4

Farelo de soja - - 53

Aveia em flocos - - 53

Farinha de milho - - 40

1Suplemento de aminoácidos, vitaminas e minerais (Vetnil, Brasil)

S1 = Sucedâneo 1

S2 = Sucedâneo 2

Amostras dos sucedâneos experimentais e da forragem fornecida aos animais foram

coletadas para realização de análise bromatológica, seguindo os protocolos adotados no

Laboratório de Análises Bromatológicas do Setor de Aquicultura do INPA.

As coletas de amostras sanguíneas foram realizadas através de punção do plexo

venoso braquial situado na base ventral da nadadeira peitoral utilizando scalp 19G,

distribuindo a amostra em dois tubos identificados sendo: 1 tubo sem anticoagulante e 1 tubo

com EDTA para hemograma. As amostras foram encaminhadas à Fundação de Hematologia e

Hematoterapia do Estado do Amazonas (HEMOAM), imediatamente após as coletas, para

realização das análises.

As análises bioquímicas foram realizadas em aparelho automatizado (Architect C8000,

Abbott Laboratories, USA) utilizando kits comerciais de diagnóstico (Labtest®, Labtest

Diagnostica, Brasil), seguindo o protocolo do Abbott Laboratories e dos kits de diagnóstico.

As análises de hemograma foram realizadas em equipamento automatizado (Advia 2120I®

,

Siemens, Alemanha), seguindo seu respectivo protocolo.

Os parâmetros sanguíneos analisados no perfil metabólico estão descritos na Tab. 3.

Tabela 3. Parâmetros sanguíneos escolhidos para compor o perfil metabólico dos filhotes de peixe-boi da

Amazônia (Trichechus inunguis) alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno no Parque Aquático

Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas

Parâmetros do Perfil Metabólico

Bioquímica Sorológica Hemograma

Metabolismo Proteico Hematócrito (Ht)

Proteínas totais (PT) Hemoglobina (Hb)

Albumina (ALB)

Globulina (GLO)

Metabolismo Energético

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Glicose (GLI)

Lipídeos totais (LT)

Colesterol (COL)

Triglicerídeos (TRI)

Metabolismo Mineral

Calcio (Ca)

Fósforo (P)

Magnésio (Mg)

Sódio (Na)

Potássio (K)

Para avaliar a normalidade das variáveis, utilizou-se o teste de D’Agostinho. Foram

aplicados os testes t de Student pareado (p<0,05) para comparação entre variáveis normais e o

de Wilcoxon pareado (p<0,05) para dados não normais. Os dados foram submetidos à análise

estatística descritiva (média, desvio padrão, valores máximos e valores mínimos) para cada

um dos parâmetros hematológicos e bioquímicos séricos. As análises estatísticas foram

realizadas com o uso de software estatístico Bioestat 5.0 (Ayres et al., 2007).

Esta pesquisa foi realizada em parceria entre o Laboratório de Mamíferos Aquáticos

do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – LMA/INPA e o Laboratório de Anatomia e

Fisiologia Animal da Universidade Federal do Amazonas – LAFA/UFAM e foi aprovada pelo

Comitê de Ética em Pesquisas no Uso de Animais (CEUA) do Instituto Nacional de Pesquisas

da Amazônia – INPA, registrada sob o número de protocolo 005/2013.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores médios de PT, ALB e GLO apresentaram-se significativamente diminuídos

(p<0,0001, p=0,0038 e p<0,0001 respectivamente) após a alimentação dos animais com S2

quando comparados aos valores obtidos após a administração do S1 (Tab. 4). Valores das

proteínas do sangue quando diminuídos simultaneamente podem indicar uma maior

hidratação do organismo como descrito por Lassen (2006) e González e Scheffer (2002).

Considerando que os animais, com a administração dos dois sucedâneos, tinha o mesmo

tratamento e permaneceram com a mesma rotina, os dados sugerem que os filhotes quando

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alimentados com S2 mantiveram-se mais hidratados, favorecendo as reações orgânicas para

seu desenvolvimento pelo fato do S2 favorecer maior ganho de peso e crescimento (Tab. 5).

Tabela 4. Comparação dos valores médios (± DP) para os dados bioquímicos sorológicos e hematológicos dos

filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro (n=10) alimentados com diferentes

sucedâneos do leite materno no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas

1 Dados analisados pelo teste Wilcoxon pareado

* Diferença significativa

S1 = Sucedâneo 1, S2 = Sucedâneo 2

DP = Desvio Padrão

Parâmetros

Bioquímicos

Tipo de

Sucedâneo

Análise Geral Média ± DP da

diferença Média ± DP Min - Máx

Proteínas Totais

(g/dL)

S1 7,50 ± 0,62 6,20 - 8,30 0,81 ± 0,28

p<0,0001 S2 6,69 ± 0,53* 5,80 - 7,50

Albumina (g/dL)1

S1 2,91 ± 0,24 2,40 - 3,10 p=0,0038

S2 2,65 ± 0,15* 2,40 - 2,90

Globulina (g/dL) S1 4,59 ± 0,39 3,80 - 5,20 0,55 ± 0,23

p<0,0001 S2 4,04 ± 0,42* 3,40 - 4,80

Glicose (mg/dL) S1 53,50 ± 9,28 39,00 - 68,00 16,80 ± 14,72

p=0,0028 S2 36,70 ± 12,90* 10,00 - 53,00

Lipídeos Totais

(mg/dL)

S1 733,70 ± 128,07 509,00 - 1007,00 214,40 ± 134,10

p=0,0003 S2 519,30 ± 44,99* 440,00 - 587,00

Colesterol (mg/dL) S1 307,20 ± 84,42 157,00 - 458,00 127,10 ± 80,81

p=0,0004 S2 180,10 ± 35,57* 118,00 - 247,00

Triglicerídeos

(mg/dL)1

S1 153,70 ± 59,38 74,00 - 276,00 p=0,0025

S2 65,20 ± 22,09* 48,00 - 119,00

Cálcio (mg/dL) S1 11,30 ± 0,51 10,60 - 12,20 1,13 ± 0,51

p<0,0001 S2 10,17 ± 0,25* 9,60 - 10,50

Fósforo (mg/dL) S1 6,57 ± 0,84 5,60 - 8,00 0,62 ± 1,04

p=0,0461 S2 5,95 ± 0,74* 4,50 - 7,10

Magnésio (mg/dL) S1 3,12 ± 0,20 2,70 - 3,40 0,06 ± 0,23

p=0,2172 S2 3,06 ± 0,34 2,40 - 3,70

Sódio (mmol/l) S1 143,47 ± 0,99 142,00 - 145,00 -4,69 ± 1,20

p<0,0001 S2 148,16 ± 1,15* 146,70 - 149,80

Potássio (mmol/l)1

S1 4,15 ± 0,22 3,80 - 4,60 p=0,0025

S2 3,54 ± 0,19* 3,30 - 4,00

Parâmetros

Hematológicos

Hematócrito (%) S1 36,94±3,94 32,50 - 44,40 0,73 ± 2,74

p=0,2110 S2 36,21±1,92 33,90 - 40,00

Hemoglobina

(g/dL)1

S1 12,88±1,39 11,30 - 15,20 p=0,0104

S2 11,82±0,69* 10,80 - 12,80

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Os valores de proteínas totais desse estudo foram semelhantes aos já encontrados por

outros pesquisadores para T. inunguis, contudo os níveis de albumina e globulina

apresentaram-se abaixo e acima dos valores já encontrados respectivamente.

Carmo (2009), determinando valores de referência para T. inunguis, observou níveis

de proteínas totais de 6,2±1,4 g/dL para filhotes machos e 6,3±0,8 g/dL para filhotes fêmeas,

valores para albumina e globulina de 4,6±0,3 g/dL e 2,5±1,2 g/dL respectivamente para

machos e 4,2±1,1 g/dL e 2,2±0,7 g/dL respectivamente para fêmeas. A autora também destaca

concentrações de PT, ALB e GLO encontrados para filhotes machos amamentados pela mãe

(PT=6,6±0,4 g/dL, ALB=3,7±0,7 g/dL e GLO=2,7±0,5 g/dL) e para filhotes machos

alimentados com fórmula láctea artificial (PT=6,2±1,4 g/dL, ALB=4,6±0,3 g/dL e

GLO=2,5±1,2 g/dL).

Colares et al. (2011), realizando trabalhos com dez peixes-bois da Amazônia cativos

(cinco machos e cinco fêmeas), observou valores médios (±desvio padrão) de proteínas totais

de 6,3±0,4 g/dL, albumina 3,5±0,2 g/dL e globulina 2,8±0,4 g/dL.

Rodriguez-Chacon (2001), trabalhou com cinco filhotes de peixe-boi da Amazônia,

entre machos e fêmeas, amamentados com sucedâneo produzido a partir de leite bovino em pó

integral, manteiga sem sal, melão, gema de ovo cru e suplemento vitamínico-mineral, obtendo

valores de PT=6,3±1,2 g/dL durante o período de amamentação, 7,8±2,9 g/dL no período de

restrição láctea e 9,5±2,6 g/dL após o desmame. Os dados da autora indicaram aumento de PT

provavelmente pelo fato da menor ingestão de líquido durante a fase de restrição e desmame

ocasionando menor hidratação orgânica e concentração de metabólitos.

Mello et al. (2011) avaliaram os parâmetros bioquímicos de peixes-bois da Amazônia

cativos incluindo filhotes, subadultos e adultos e encontraram valores médios de 6,9±0,5 g/dL

para proteínas totais e 3,4±0,4 g/dL para albumina.

A albumina é a proteína mais abundante, representando de 35 a 50 % da proteína

plasmática total (Hendrix, 2006). A variação na concentração de albumina, quando

acompanhada de valores normais de globulina, pode ser um indicador útil de deficiência

dietética mais prolongada em proteínas, pois a síntese de albumina ocorre no fígado a partir

de aminoácidos essenciais (Lassen, 2006; Contreras, 2000). Os níveis mais baixos de

albumina observados nos animais desse estudo, quando alimentados com o S2, poderia

sugerir um aporte insuficiente de aminoácidos essenciais na dieta, independente do teor de

proteína bruta, ou ainda a ocorrência de parasitismo intestinal que dificulta a absorção de

aminoácidos e provoca perdas de sangue pela alimentação dos parasitas. Contudo, os dados

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desse estudo podem refletir uma condição normal do perfil metabólico proteico tendo em

vista que o S2 foi formulado com base nos níveis médios de nutrientes que compõe o leite

materno de T. inunguis e que os animais, quando amamentados com S2, obtiveram melhor

desempenho no ganho de peso e crescimento (Tab. 5).

Tabela 5. Ganho de peso e crescimento (± DP) de filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis)

(n=10) alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno no Parque Aquático Robin C. Best/INPA,

Manaus, Amazonas

Parâmetros

Biométricos

Tipo de

Sucedâneo Média ± DP Min - Máx

Ganho de peso (kg) S1 6,31 ± 3,71 0,10 - 12,00

S2 12,30 ± 4,65 8,50 - 21,00

Crescimento (cm) S1 5,37 ± 3,47 0,50 - 13,50

S2 7,85 ± 2,88 5,00 - 14,00

S1 = Sucedâneo 1

S2 = Sucedâneo 2

DP = Desvio Padrão

Valores de globulinas mais elevados que de albumina para potros em fase de

crescimento foram relacionados ao desenvolvimento imunológico do animal (Mundim, 2008).

Esse aumento na concentração de gamaglobulinas ocorre devido ao contato direto do animal

com diferentes agentes patógenos presentes no meio ambiente (Koterba et al., 1990). Os

níveis mais elevados de globulinas observados nos animais desse estudo também podem estar

relacionados ao seu desenvolvimento imunológico.

Na presente pesquisa, para as concentrações sorológicas de glicose, houve uma

redução significativa (p=0,0028) quando os animais foram alimentados com S2 (36,70±12,90

mg/dL) em relação a amamentação com S1 (53,50±9,28 mg/dL).

Colares et al. (2011), obtiveram valor médio de glicose de 43,3±7,50 mg/dL para T.

inunguis e observaram tendência a ser semelhante aos níveis glicêmicos de ruminantes

(bovinos e ovinos) e menor que de mamíferos herbívoros não ruminantes (cavalo). Para estes

autores, esses valores glicêmicos baixos estão relacionados ao baixo metabolismo que o

peixe-boi da Amazônia apresenta, necessitando de menos glicose circulante para suprir suas

necessidades metabólicas.

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Para elefantes asiáticos (Elephas maximus) os níveis glicêmicos também são baixos e

isso pode ser explicado pelo fato desse animal utilizar os ácidos graxos voláteis como fonte

energética primária ao invés de glicose, se assemelhando ao metabolismo dos ruminantes

(Nirmalan e Nair, 1969). Situação semelhante poderia acontecer com peixe-boi da Amazônia

uma vez que os sirênios produzem ácidos graxos voláteis no ceco a partir da degradação de

fibras e que esses compostos podem fazer parte da receita energética desses animais (Burn e

Odell, 1987).

Reece (2006) relatou valores pré-prandiais de glicose para bezerros lactentes que

variaram entre 80 a 120 mg/dL e para bovinos adultos de 40 a 80 mg/dL. A redução dos

valores médios de glicose em função da idade é um reflexo do desenvolvimento do rúmen e

da adaptação do metabolismo dos bezerros, que iniciam a utilização dos produtos

provenientes da fermentação ruminal, onde a glicose plasmática passa a ser proveniente

principalmente da gliconeogênse hepática (Costa et al., 2007; Nussio et al., 2003; Quigley et

al., 1991).

Os níveis de glicose sanguínea de T. inunguis possuem uma tendência a diminuir com

o avanço da idade mantendo-se baixo durante a idade adulta (Carmo, 2009; Colares et al.,

2011 e Mello et al., 2011). Os níveis de glicose no entanto, diminuíram com a amamentação

com o S2, que tinha em sua composição maior teor de fibra bruta (Tab. 6), quando comparado

com o S1 (que não apresentava fibra bruta em sua composição). Considerando que os peixes-

bois são exclusivamente herbívoros e monogástricos (Best, 1981) e que realizam digestão

fermentativa no intestino grosso, semelhante ao cavalo (Burn, 1985), sugere-se que o peixe-

boi da Amazônia direciona seu metabolismo energético para utilização primária de ácidos

graxos voláteis, à medida que sua dieta passa a ter composição maior em fibras,

consolidando-se na fase adulta, quando passa a se alimentar apenas de vegetais.

Tabela 6. Composição química do leite materno de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis), da área foliar

do capim colônia (Brachiaria mutica), do sucedâneo rotineiramente fornecido (S1) e do novo sucedâneo

formulado (S2) para os filhotes mantidos em cativeiro no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus,

Amazonas

Nutriente Leite

Materno1

Capim

Colônia

S1 com

Aminomix

S1 sem

Aminomix Sucedâneo 2

Umidade (%) 78,06 36,70 86,25 86,75 68,24

Sólidos Totais (%) 21,87 63,30 13,75 13,25 31,76

Proteína Bruta (%) 6,75 14,62 3,40 3,33 7,45

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Lipídeos (%) 14,02 0,82 2,05 2,11 10,11

Matéria Mineral (%) 1,10 8,16 1,08 0,77 1,31

Carboidratos (%) - 27,68 7,22 7,04 12,49

Fibra Bruta (%) - 12,02 - - 0,40

Energia Bruta

(kcal/kg) 1531,90 2246,60 609,30 604,70 1723,50

1Fonte: (Barbosa, 2011)

S1 = Sucedâneo 1

S2 = Sucedâneo 2

Os valores médios de LT, COL e TRI dos animais desse estudo ao final da

amamentação com S2 foram bem inferiores aos valores encontrados quando os animais foram

alimentados com S1. (Tab. 4). Como as coletas de sangue foram realizadas em torno de 14

horas após restrição láctea, supõe-se que a concentração mais elevada de lipídeos sanguíneos

observada nos animais amamentados com S1 não seja pós-prandial, mas que tenha ocorrido

devido ao balanço energético negativo e a maior mobilização de reservas energéticas, devido

o S1 ter um aporte bem menor em energia quando comparado com S2. Pode-se observar

também que o S2 possuía maior concentração de carboidratos (Tab. 6) o que poderia levar a

uma maior secreção e ação de insulina, reduzindo a lipólise e diminuindo os níveis de

triglicerídeos nos animais quando amamentados com S2 (Lansen e Fettman, 2006).

Comparando o perfil lipídico dos animais desse estudo com o obtido por Rodriguez-

Chacon (2001) as concentrações de colesterol e triglicerídeos, quando os animais foram

alimentados com S1, foram semelhantes ao encontrados para filhotes em amamentação com

fórmula láctea artificial produzida pela autora a partir de leite bovino em pó integral, manteiga

sem sal, melão, gema de ovo cru e suplemento vitamínico-mineral. Quando amamentados

com S2 obtiveram valores de colesterol semelhantes aos valores de filhotes em fase de

restrição e de triglicerídeos semelhantes aos animais desmamados.

Carmo (2009) obteve valores do perfil lipídico para filhotes de T. inunguis

amamentados com leite materno (LT=1161,0±373,0 mg/dL, COL=356,7±56,0 mg/dL e

TRI=171,0±29,4 mg/dL) e para filhotes amamentados com formulação láctea artificial

(LT=544,4±69,5 mg/dL, COL=208,0±36,6 mg/dL e TRI=93,1±28,4 mg/dL). Segundo a

autora, os baixos níveis de colesterol e triglicerídeos nos filhotes amamentados artificialmente

podem ter ocorrido devido à composição dos lipídeos utilizados nas formulações artificiais

(origem vegetal) serem diferente da composição dos lipídeos do leite materno. Assim, estas

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fontes lipídicas de origem vegetal não são absorvidas pelo organismo dos animais com a

mesma eficácia de absorção da gordura do leite materno (Nelson & Cox, 2005).

Nesse estudo, os valores de lipídeos totais, colesterol e triglicerídeos também foram

inferiores aos encontrados por Carmo (2009) para filhotes amamentados pela mãe. É possível

que, além da diferença de gordura da dieta láctea entre os peixes-bois que consomem fórmula

láctea artificial e os que mamam na mãe, o metabolismo energético possa ser influenciado

pelo nível de estresse do animal, horário de coleta sanguínea e jejum prolongado. Animais

alimentados artificialmente são mantidos em piscinas menores e com a companhia de no

máximo mais um animal da mesma faixa etária. Os filhotes mantidos com a mãe ficam em

tanques maiores, muitas vezes com outros animais adultos e realizam maior esforço físico

para natação, podendo mobilizar maior reserva energética.

Aumento na concentração de triglicerídeos pode ser esperado em condições de

estresse por esforço físico devido ao bloqueio na ação da insulina e do efeito hiperglicemiante

gerado pelas catecolaminas e cortisol circulantes. Com isso, ocorre um balanço energético

negativo, semelhante ao que ocorre quando um equino é submetido a jejum alimentar,

havendo lipólise e mobilização de outras fontes energéticas (DURHAM, 2006; DUGAT et al.,

2010).

Quanto ao metabolismo mineral, nesse experimento, os filhotes alimentados com S2

apresentaram valores médios de Ca (10,17±0,25), P (5,95±0,74) e K (3,54±0,19) diminuídos e

valores médios de Na (148,16±1,15) aumentados quando comparados com amostras coletadas

dos animais alimentados com S1 e os valores de Mg não diferiram entre os tratamentos

(p=0,2172). Contudo, os valores obtidos dos minerais séricos estiveram dentro dos padrões

normais estabelecidos por Carmo para T. inunguis (2009). A leve diminuição de Ca, P e K

pode estar relacionada a maior demanda desses minerais para o crescimento (McDOWELL,

1999), considerando que os animais quando amamentados com S2 cresceram e ganharam

peso mais rápido do que quando amamentados com S1.

Os níveis aumentados de Na nos animais amamentados com S2 podem estar refletindo

o incremento desse mineral na dieta, considerando que os ingredientes utilizados na

elaboração do sucedâneo 2 (farelo de soja, aveia em flocos, farinha de milho, leite bovino em

pó integral e suplemento de minerais) podem fornecer quantidades maiores que os

ingredientes do sucedâneo1 (leite bovino em pó integral e suplemento de minerais).

Com relação os parâmetros hematológicos não houve alterações significativas para Ht

entre as amostras coletadas dos animais amamentados com S1 e S2 (p=0,2110) e os animais

quando amamentados com S2 apresentaram diminuição nos valores de Hb em relação a

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quando foram amamentados com S1. Os valores de Ht e Hb observados foram semelhantes

aos obtidos por Rosas et al. (1999), Rodriguez-Chacon (2001) e Carmo (2009), considerados

normais para a espécie.

CONCLUSÕES

O perfil metabólico realizado com filhotes de peixes-bois da Amazônia, mantidos em

cativeiro, mostrou ser uma ferramenta viável e de grande importância no auxílio da avaliação

nutricional para a espécie.

Nenhuma das dietas lácteas oferecidas aos filhotes proporcionaram valores

hematológicos e bioquímicos séricos que sugerissem patologia, mantendo-se dentro dos

padrões já observados para espécie com exceção da albumina e da globulina mantendo-se

diminuída e aumentada dos valores já encontrados para a espécie respectivamente. O

sucedâneo 2, por ter sido formulado com base na composição do leite materno de T.inunguis,

mostrou-se mais eficiente, pois favoreceu maior ganho de peso e crescimento aos animais.

Os dados desse trabalho fornecem bases para novos estudos visando elucidar as

importantes vias metabólicas dos peixes-bois da Amazônia na utilização da proteína e energia

da dieta, bem como os mecanismos de regulação energética endógena.

AGRADECIMENTOS

Ao médico veterinário Anselmo D’Affonseca do INPA e a equipe PREVET, pelo

apoio nas coletas sanguíneas; à Fundação de Hematologia e Hematoterapia do Estado do

Amazonas (HEMOAM), pela realização das análises bioquímicas sorológicas e hemograma; à

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), pela bolsa de

mestrado; à Associação Amigos do Peixe-boi (AMPA) e Petrobrás Ambiental pelo apoio

financeiro parcial do estudo.

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Capitulo 2

Maduro, A.H.P.; da Silva, V.M.F & Oliveira, R.P.M. Desempenho zootécnico de filhotes de

peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro, alimentados com diferentes

sucedâneos do leite materno. Formatado de acordo com as instruções da Revista Ceres da

Universidade Federal de Viçosa

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Desempenho zootécnico de filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em

cativeiro, alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno1

Alen Henrique Passos Maduro2, Vera Maria Ferreira da Silva

3 e Roseane Pinto Martins de

Oliveira4

RESUMO

O objetivo desse trabalho foi avaliar o desempenho zootécnico de filhotes de peixe-boi da

Amazônia (Trichechus inunguis), em cativeiro e amamentados com diferentes sucedâneos do

leite materno, para determinação da dieta mais adequada ao desenvolvimento dos animais.

Dez filhotes com peso médio de 65,75 kg e idade média de 15,3 meses foram amamentados

com dietas lácteas em duas etapas. Na primeira com sucedâneo 1 (S1), utilizado

rotineiramente no INPA e na segunda com sucedâneo 2 (S2) elaborado com base na

composição nutricional do leite materno da espécie. Cada etapa teve duração de 62 dias,

realizando-se biometrias e controle de consumo de leite. Foram avaliados os índices

zootécnicos: ganho de peso (GP), ganho em crescimento linear (GCL), consumo de leite

líquido (CLL), ingestão de matéria seca (IMS) e conversão alimentar (CA). Houve maior GP

(p < 0,01) e maior GCL (p < 0,01) quando os animais foram alimentados com S2 (12,30 ±

4,64 e 7,85 ± 2,87 respectivamente) do que quando alimentados com S1 (6,31 ± 3,70 e 5,37 ±

3,47 respectivamente). O CLL diminuiu (p < 0,01) e a IMS aumentou (p < 0,01) com a

administração do S2. Os animais tiveram melhor CA com S2 do que com S1. O S2 apresentou

resultados satisfatórios no desempenho zootécnicos de filhotes de T. inunguis, podendo ser

adotado como nova dieta láctea artificial para manutenção dos animais em cativeiro.

Palavras-chave: peixe-boi da Amazônia, ganho de peso, crescimento, sucedâneo

1 Este trabalho é parte da dissertação de mestrado do primeiro autor. Fonte financiadora: Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado do Amazonas e Petrobras Ambiental 2 Zootecnista, Bacharel. Laboratório de Mamíferos Aquáticos, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Av.

André Araújo, 2936, Aleixo, 69060-001, Manaus, Amazonas, Brasil. (92) 9158-7189/(92) 8100-7810.

[email protected] (autor para correspondência) 3 Bióloga, Doutora. Laboratório de Mamíferos Aquáticos, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Av.

André Araújo, 2936, Aleixo, 69060-001, Manaus, Amazonas, Brasil. [email protected] 4 Médica Veterinária, Doutora. Laboratório de Anatomia e Fisiologia Animal, Universidade Federal do

Amazonas, Av. General Rodrigo Octávio, 6200, Coroado I, 69077-000, Manaus, Amazonas, Brasil.

[email protected]

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ABSTRACT

Zootechnical performance of captive Amazonian manatee calves (Trichechus inunguis),

fed different substitutes for maternal milk

This study aims to evaluate the zootechnical performance of captive Amazonian

manatee calves (Trichechus inunguis) that were fed different milk substitutes in order to

determine the most suitable diet for their development. Ten calves with average weight of

65.75 kg and a mean age of 15.3 months were fed with two different milk diets in two steps.

Substitute 1 (S1), which is the formula routinely used at INPA, was given in the first step.

During the second stage the calves were fed substitute 2 (S2), which was formulated based on

the nutritional composition of the species maternal milk. Each step lasted 62 days, after which

body measurements and milk consumption levels were recorded. The zootechnical indices:

weight gain (GP), linear growth gain (GCL), liquid milk consumption (CLL), dry matter

intake (IMS) and feed:gain ratio (CA) were evaluated. There was more GP (p < 0.01) and

GCL (p < 0.01) when animals were fed S2 (12.30 ± 4.64 and 7.85 ± 2.87 respectively) than

when they were fed S1 (6.31 ± 3.70 and 5.37 ± 3.47 respectively). CLL decreased (p < 0.01)

and IMS increased (p < 0.01) when S2 was administrated. Animals had a better CA when fed

S2 than when fed S1. S2 showed satisfactory results in the zootechnical performance of T.

Inunguis calves and may be used as a new artificial milk diet for keeping animals in captivity.

Keywords: Amazonian Manatee, weight gain, growth, substitute

INTRODUÇÃO

O peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) é um mamífero herbívoro

monogástrico e se alimenta de uma variedade de plantas na natureza (Best, 1981). É o único

entre os sirênios restrito a água doce, chegando a pesar até 420 kg e medir aproximadamente

três metros de comprimento na idade adulta (Amaral et al., 2010; Rosas, 1994).

Fêmeas com filhotes são alvos da caça ilegal, que ainda acontece no Amazonas, pois

são mais vulneráveis devido ao filhote ter que ir à superfície com maior frequência para

respirar (da Silva, 1999). O filhote não tem condições de sobreviver sozinho e os que chegam

aos criadouros ou centros de pesquisas recebem os cuidados necessários à sua sobrevivência.

Por ainda ser lactente, a sua reabilitação torna-se mais complexa necessitando de uma

nutrição adequada para seu desenvolvimento (Barbosa, 2011).

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Desde 1974, o Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de

Pesquisas da Amazônia – LMA/INPA em Manaus, Amazonas, Brasil, vem resgatando e

reabilitando filhotes de peixe-boi da Amazônia oriundos da caça ilegal, e utilizando os dados

biológicos coletados desses filhotes como ferramentas no monitoramento do processo de

reabilitação dos animais (Amaral et al., 2010).

A formulação láctea artificial é utilizada como substituto do leite materno para filhotes

de peixe-boi órfãos mantidos em cativeiro. Esse composto é a principal fonte de nutrientes,

como energia e proteína, durante o período de lactação e tem como objetivo suprir as

exigências nutricionais nessa fase de vida (da Silva e D'Affonsêca Neto, comunicação

pessoal). Desse modo, determinar os níveis adequados dos nutrientes contidos nessas

formulações artificiais é necessário para que se atendam as necessidades nutricionais dos

animais, proporcionando-lhes um máximo desempenho.

Para que os animais realizem suas reações bioquímicas, formação de novos tecidos,

manutenção do balanço osmótico, movimentação das moléculas, dentre outras reações, bem

como para realização de atividade muscular, é necessário que tenham um constante

suprimento de energia. Esta energia é gerada a partir da oxidação de componentes orgânicos

após ingestão do alimento e absorção dos nutrientes ingeridos, ou das reservas corporais de

proteínas, gorduras e glicogênio (Kaushik e Médale, 1994; Smith, 1989).

Vários fatores relacionados à nutrição podem afetar a taxa de crescimento dos animais

e entre esses fatores estão os níveis de energia, proteína e a proporção de energia em relação à

proteína na dieta. Esses níveis são importantes, pois determinam como o organismo irá

utilizar esses nutrientes para realização de suas funções metabólicas. Para várias espécies, a

alta relação energia/proteína na dieta resulta na diminuição do consumo voluntário de

alimento. Com isso, haverá menor ingestão de proteína e de outros nutrientes essenciais, além

de excessiva deposição de gordura visceral. Por outro lado, animais alimentados com dietas

com relação energia/proteína baixa, têm um déficit de energia e tendem a mobilizar a proteína

absorvida na digestão para complementação da energia necessária para manutenção corporal.

Nos dois casos ocorrem alterações expressivas no desenvolvimento do animal. (Hannas et al.,

2000; Lovell, 1989; Nascimento et al., 2004; Page e Andrews, 1973; Sá e Fracalossi, 2002).

Vergara et al. (2000) formularam uma dieta láctea para filhotes de peixe-boi marinho

utilizando na composição ovo de galinha cru com casca, coco e leite integral sem lactose, com

intuito de igualar os níveis energéticos e proteicos da dieta artificial aos encontrados no leite

materno da espécie.

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O desenvolvimento de um sucedâneo do leite materno adequado para os filhotes

órfãos é de extrema importância, tendo em vista que os animais recebidos nos criadouros

conservacionistas chegam com graves deficiências nutricionais, necessitando de medidas

emergências quanto à nutrição para o completo reestabelecimento do seu organismo

(D'Affonsêca Neto e Vergara-Parente, 2006).

Alguns estudos já foram ralizados, utilizando uma variedade de ingredientes para se

obter uma fórmulação láctea artificial adequada a demanda nutricional dos filhotes de T.

inunguis em cativeiro. (Best et al., 1982; Colares et al., 1987; Rodriguez-Chacón, 2001 e

Rosas, 1992). As formulações estudadas forneceram ganho de peso e crescimento variados

aos animais, contribuindo com informações importantes para os estudos na área de nutrição

da espécie. Contudo, ainda não foram realizados experimentos com sucedâneos do leite, para

espécie, com base nos níveis nutricionais do leite materno.

Esta pesquisa teve como objetivo avaliar o desempenho zootécnico de filhotes de

peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro, alimentados com diferentes

sucedâneos do leite materno, para determinação da dieta mais adequada ao desenvolvimento

dos animais.

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo é fruto da parceria estabelecida entre o Laboratório de Mamíferos

Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – LMA/INPA e o Laboratório de

Anatomia e Fisiologia Animal da Universidade Federal do Amazonas – LAFA/UFAM.

O estudo foi realizado com 10 filhotes de peixes-bois da Amazônia lactentes (3

machos e 7 fêmeas) (Tabela 1), mantidos em cativeiro no Parque Aquático Robin C. Best do

Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, com peso médio de 65,75 kg (17-

120kg) e idade média de 15,3 meses (2-25 meses). Foi aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisas no Uso de Animais do INPA, registrada sob o número de protocolo 005/2013.

Tabela 1. Informações dos filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) que fizeram parte do grupo

experimental no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas

Número de

Identificação Nome

Idade no Início dos

Experimentos*

(meses)

Peso no Início dos

Experimentos (kg) Sexo

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174 Piranga 25 81,5 F

175 Barirí 24 95 M

177 Maná 23 120 F

180 Aiyra 23 93 F

182 Naiá 21 94 F

188 Terra Nova 14 66 M

193 Jaci 9 42 F

194 Miriti 9 26 M

200 Mutuca 3 23 F

204 Karan 2 17 F

*Idade estimada (acrescentando 1 mês a data de chegada dos animais no cativeiro)

Fonte: LMA/INPA, 2013.

Os peixes-bois foram mantidos em piscinas de fibra com aproximadamente 7 m2 de

área e capacidade para cinco mil litros de água, com troca diária de água feita pela manhã

após a primeira mamada. Foram amamentados com picetas plásticas com capacidade de 1000

ml adaptadas com bico semelhante ao usado para bezerros, seis vezes por dia em intervalos de

duas horas.

Os experimentos foram realizados em duas etapas como mostra a fig. 1.

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Figura 1. Representação da organização dos experimentos realizados com filhotes de peixe-boi da Amazônia

alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus,

Amazonas (PB = Proteína Bruta e EB = Energia Bruta)

Na primeira etapa experimental, os filhotes foram amamentados com sucedâneo do

leite materno utilizado rotineiramente no Parque Aquático Robin C. Best do INPA (S1),

formulado a partir de leite bovino em pó integral, óleo de canola e suplemento de

aminoácidos, vitaminas e minerais (Aminomix®, Vetnil, Brasil), este último ingrediente

adicionado apenas na primeira mamada do dia, por um período de 62 dias.

Antes da segunda etapa os animais passaram por um período de 38 dias de adaptação

aos novos ingredientes do novo sucedâneo, respeitando-se o tempo necessário para adaptação

dos filhotes à dieta, incrementando-se os ingredientes aos poucos no preparo do leite até que

se pudesse utilizar os níveis de ingredientes totais da nova formulação.

No início da fase de adaptação do S2 observou-se que alguns animais expeliam a

mistura pelas narinas, pois a textura dos ingredientes não estava adequada. Optou-se por fazer

uma hidratação prévia da mistura em água morna (40º C) por 15 minutos antes do preparo da

mamada, solucionando o problema.

Na segunda etapa experimental, os animais passaram a receber um sucedâneo do leite

materno com ajuste dos níveis de proteína bruta (7,45%) e energia bruta (1723,50 kcal/kg),

baseado na composição centesimal do leite materno de T. inunguis descrita por Barbosa

(2011) (S2), também por um período de 62 dias. Os ingredientes utilizados para a formulação

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do segundo sucedâneo foram leite bovino em pó integral, óleo de canola, aveia em flocos,

farelo de soja, farinha de milho e suplemento de aminoácidos vitamina e minerais (Tabela 2).

Durante a noite, quando os animais não eram amamentados, foi fornecido entre 3% e 4% do

peso corporal do animal de capim colônia (Brachiaria mutica).

A composição do suplemento de aminoácidos vitaminas e minerais (Aminomix,

Vetnil, Brasil), segundo o fabricante era: Proteína Bruta (mín) - 6,23%; Extrato Etéreo (mín) -

0,70%; Matéria Fibrosa (máx) - 8,56%; Matéria Mineral (máx) - 81,65%; Umidade (máx) -

3,54%; Vitamina A - 500.000 U.I.; Vitamina B1 - 180 mg; Vitamina B2 - 150 mg; Vitamina

B6 - 70 mg; Vitamina B12 - 800 mcg; Vitamina C - 150 mg; Vitamina D3 - 100.000 U.I.;

Vitamina E - 600 U.I. Biotina - 12 mg; Pantotenato de Cálcio - 400 mg; Ácido Fólico - 60

mg; Ácido Aspártico - 2.120 mg; Ácido Glutâmico - 3.512 mg; Nicotinamida - 600 mg; L-

Lisina - 20 g; Lisina - 1.880 mg; DL-Metionina - 10 g; Metionina - 284 mg; Colina - 5.000

mg; Arginina - 1.576 mg; Glicina - 8.840 mg; Triptofano - 182 mg; Histidina - 280 mg;

Treonina - 280 mg; Serina - 320 mg; Prolina - 5.560 mg; Hidroxiprolina - 3.304 mg; Alanina

- 3.516 mg; Cisteína - 144 mg; Valina - 876 mg; Isoleucina - 380 mg; Leucina - 876 mg;

Tirosina - 120 mg; Fenilalanina - 624 mg; Ferro - 1.300 mg; Cobalto - 120 mg; Cobre - 1.750

mg; Zinco - 2.450 mg; Manganês - 500 mg; Selênio - 6 mg; Magnésio - 8 g; Iodo - 30 mg;

Enxofre - 8 g; Flúor – 670 mg; Cálcio-267 g e Fósforo, 67 mg).

Durante as duas etapas experimentais foram realizadas biometrias semanais, nos

animais de menor porte, e quinzenais, nos animais de maior porte, para monitorar

principalmente o peso dos animais quando receberam a nova formulação de sucedâneo.

Contudo, para fins de cálculos de ganho de peso e crescimento foram consideradas apenas as

biometrias no inicio e no fim de cada etapa experimental.

Tabela 2. Ingredientes utilizados na elaboração dos sucedâneos do leite materno fornecidos durante os

experimentos para os filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) mantidos em cativeiro no Parque

Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas

Ingredientes (g/kg de leite) S1 primeira

mamada do dia S1 S2

Água morna 860 855 663,6

Leite bovino em pó integral 120 120 120

Óleo de canola 20 20 69

Aminomix®1

5 - 1,4

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Farelo de soja - - 53

Aveia em flocos - - 53

Farinha de milho - - 40

1Suplemento de aminoácidos, vitaminas e minerais (Vetnil, Brasil)

Sucedâneo 1 (S1), Sucedâneo 2 (S2)

Amostras dos sucedâneos experimentais e da forragem fornecidas aos animais foram

coletadas para realização de análise bromatológica, seguindo os protocolos adotados no

Laboratório de Análises Bromatológicas do Setor de Aquicultura do INPA.

As medidas de comprimento linear (CL) foram realizadas utilizando fita métrica (cm),

medidas de peso utilizando balança analógica (kg) e os dados de consumo diário de leite

foram registrados em planilhas específicas de controle do INPA.

Para avaliação do desempenho zootécnico dos animas foram obtidos, com os dados

coletados, os seguintes índices zootécnicos:

1. Ganho de peso (GP): GP = Peso final (kg) – Peso inicial (kg).

2. Ganho Crescimento Linear (GCL): GCL = Comprimento linear final (cm) –

Comprimento linear inicial (cm).

3. Consumo de leite líquido: CLL = Quantidade de leite consumido (kg) durante o

período experimental.

4. Ingestão de Matéria Seca (IMS): IMS = Quantidade de leite consumido (kg)

durante o período experimental x % de matéria seca no leite.

5. Conversão alimentar (CA): CA = CLL / GP.

6. Conversão alimentar Matéria Seca (CAMS): CAMS = IMS / GP.

Foram gerados valores de pesos estimados para os filhotes de peixe-boi da Amazônia

do presente estudo com base em equações descritas na literatura que permitem predizer o peso

dos animais em função do seu comprimento linear (Rosas, 1992 e Amaral et al., 2010).

Para as variáveis referentes ao desempenho zootécnico dos animais foram aplicados os

testes de normalidade de D’Agostino. Quanto as variáveis ganho de peso, ganho em

crescimento linear e ingestão de matéria seca, que apresentaram normalidade (α = 0,05), foi

aplicado o teste t (α = 0,05) pareado para comparação entre os efeitos do S1 e o S2. Para as

variáveis referentes à conversão alimentar, que apresentaram não normalidade, usou-se o teste

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de Wilcoxon (α = 0,05) pareado, para comparação entre os efeitos do S1 e o S2. Todos os

testes estatísticos foram executados no software estatístico BioEstat 5.0 (Ayres et al., 2007).

RESULTADOS

A administração dos sucedâneos 1 e 2 não promoveram nenhum transtorno digestivo,

como diarréias e produção excessiva de gases nos peixes-bois, durante os experimentos.

Quando alimentados com S2, os animais apresentaram maior ganho de peso (p < 0,05) e

maior crescimento linear (p < 0,05) do que quando alimentados com S1, sendo observado

menor consumo de leite líquido e maior consumo de matéria seca com a administração do S2

(Figura 2 e 3).

Figura 2. Médias (± Desvio Padrão) de ganho de peso e ganho em crescimento linear de filhotes de peixe-boi da

Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro (n = 10) alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno

no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas (S1 = sucedâneo 1 e S2 = sucedâneo 2)

* Diferença significativa

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Figura 3. Médias (± Desvio Padrão) de consumo de leite e ingestão de matéria seca de filhotes de peixe-boi da

Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro (n = 10) alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno

no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas (S1 = sucedâneo 1 e S2 = sucedâneo 2)

* Diferença significativa

As tabelas 3 e 4 mostram os valores individuais de ganho de peso, crescimento linear,

consumo de leite, conversão alimentar e ingestão de matéria seca dos animais durante as duas

etapas experimentais.

Tabela 3. Valores individuais de ganho de peso e ganho em crescimento linear de filhotes de peixe-boi da

Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno no

Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas

Sucedâneo 1 (S1), sucedâneo 2 (S2)

Animais Ganho de Peso (kg) Ganho Crescimento Linear (cm)

S1 S2 S1 S2

(174) Piranga 4,50 8,00 3,50 5,00

(175) Barirí 7,50 13,50 2,70 5,00

(177) Maná 10,00 19,00 6,50 6,00

(180) Ayira 10,00 21,00 7,00 8,50

(182) Naiá 5,50 8,50 4,50 5,00

(188) Terra Nova 6,50 10,00 5,00 7,00

(193) Jaci 12,00 14,50 13,50 14,00

(194) Miriti 2,00 11,50 0,50 9,50

(200) Mutuca 0,10 8,50 4,00 8,50

(204) Karan 5,00 8,50 6,50 10,00

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Tabela 4. Valores individuais de consumo de leite, ingestão de matéria seca e conversão alimentar de filhotes de

peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro alimentados com diferentes sucedâneos do leite

materno no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas

Animais Consumo de Leite (Kg) CA (kg leite/kg) IMS (kg)

S1 S2 S1 S2 S1 S2

(174) Piranga 275,90 216,95 61,31 27,12 37,94 68,90

(175) Barirí 294,20 227,05 39,23 16,82 40,45 72,11

(177) Maná 345,10 290,45 34,51 15,29 47,45 92,25

(180) Ayira 297,60 261,70 29,76 12,46 40,92 83,12

(182) Naiá 279,65 196,25 50,85 23,09 38,45 62,33

(188) Terra Nova 233,95 162,90 35,99 16,29 32,17 51,74

(193) Jaci 187,25 169,25 15,60 11,67 25,75 53,75

(194) Miriti 105,84 120,20 52,92 10,45 14,55 38,18

(200) Mutuca 68,60 72,25 686,00 8,50 9,43 22,95

(204) Karan 78,20 74,40 15,64 8,75 10,75 23,63

Sucedâneo 1 (S1), sucedâneo 2 (S2), conversão alimentar (CA), ingestão de matéria seca (IMS)

Quanto à conversão alimentar observou-se, durante a alimentação dos animais com

S1, que o filhote Mutuca apresentou um alto consumo de leite e pouco ganho de peso,

resultando em uma pior conversão alimentar (Tabela 3 e 4). Como os dados desse animal

durante a primeira etapa dos experimentos foram muito fora do observado quando comparado

aos outros animais, caracterizando-se como outlier, optou-se também por realizar análise

estatística dos dados de conversão alimentar excluindo os valores encontrados para o filhote

Mutuca (Tabela 5). Nas duas situações, os animais quando amamentados com S2, obtiveram

melhor conversão alimentar quando comparadas aos animais sendo amamentados com S1,

consumindo menos leite para produzir mais peso.

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Tabela 5. Médias (± Desvio Padrão) de conversão alimentar de filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus

inunguis) em cativeiro (n = 10) alimentados com diferentes sucedâneos do leite materno no Parque Aquático

Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas

Parâmetro Média ± DP

Valor de p

S1 S2

Conversão Alimentar (kg de leite/kg) 102,18 ± 205,67 15,01 ± 6,14* 0,00251

Conversão Alimentar3 (kg de leite/kg) 37,31 ± 15,86 15,74 ± 6,05* 0,0004

2

1Teste de Wilcoxon pareado,

2Teste t pareado,

3Excluindo dados do animal Mutuca (considerando dado outlier)

Sucedâneo 1 (S1), Sucedâneo 2 (S2), Matéria Seca (MS)

* Diferença significativa

A tabela 6 destaca o ganho de peso, ganho em crescimento linear e consumo de leite

líquido total, semanal e diário dos animais nas duas etapas experimentais.

Tabela 6. Médias de ganho de peso (GP), ganho em crescimento linear (GCL) e consumo de leite líquido (CLL)

durante o período total de cada etapa experimental (62 dias), semanal e diário de filhotes de peixe-boi da

Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro (n = 10) alimentado com diferentes sucedâneos do leite materno

no Parque Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas

Parâmetro Sucedâneo 1 Sucedâneo 2

GP (kg) GCL(cm) CLL (L) GP (kg) GCL (cm) CLL (L)

Total 6,31 5,37 216,63 12,3 7,85 179,14

Semanal 0,78 0,67 27,07 1,53 0,98 22,39

Diário 0,10 0,08 3,49 0,19 0,12 2,88

A tabela 7 apresenta a composição química do leite materno de peixe-boi da

Amazônia (Barbosa, 2011), capim colônia (Brachiaria mutica), do sucedâneo 1 e do

sucedâneo 2.

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Tabela 7. Composição química (matéria integral) do leite materno de peixe-boi da Amazônia (Trichechus

inunguis), da área foliar do capim colônia (Brachiaria mutica), do sucedâneo rotineiramente fornecido (S1) e do

novo sucedâneo formulado (S2) para os filhotes mantidos em cativeiro no Parque Aquático Robin C. Best/INPA,

Manaus, Amazonas

Nutrientes Leite

Materno1

Capim

Colônia

S1 com

Aminomix

S1 sem

Aminomix Sucedâneo 2

Umidade (%) 78,06 36,70 86,25 86,75 68,24

Sólidos Totais (%) 21,87 63,30 13,75 13,25 31,76

Proteína Bruta (%) 6,75 14,62 3,40 3,33 7,45

Lipídeos (%) 14,02 0,82 2,05 2,11 10,11

Matéria Mineral (%) 1,10 8,16 1,08 0,77 1,31

Carboidratos (%) - 27,68 7,22 7,04 12,49

Fibra Bruta (%) - 12,02 - - 0,40

Energia Bruta

(kcal/kg) 1531,90 2246,60 609,30 604,70 1723,50

Relação E/P (kcal

EB/g PB) 22,69 15,36 17,92 18,15 23,13

1Fonte: (Barbosa, 2011)

Sucedâneo 1 (S1), sucedâneo 2 (S2), relação energia bruta:proteína bruta (EB/PB)

Foram gerados o peso esperado para cada animal do grupo experimental utilizando-se

equações existentes na literatura (Rosas, 1992 e Amaral et al., 2010) que permitem predizer o

peso dos animais a partir do seu comprimento linear (Tabela 8).

Tabela 8. Valores individuais e médias (± Desvio Padrão) do peso de filhotes de peixe-boi da Amazônia

(Trichechus inunguis) alcançados ao final da administração de diferentes sucedâneos do leite materno e peso

esperado (PE) obtidos a partir de equações que relacionam peso/comprimento disponíveis na literatura

Animais Sucedâneo 1 Sucedâneo 2

Peso (kg) PE(kg)1 PE(kg)

2 Peso(kg) PE(kg)

1 PE(kg)

2

(174) Piranga 86,0 107,2 86,3 98,0 125,7 100,2

(175) Barirí 102,5 119,7 95,7 117,5 140,9 111,6

(177) Maná 130,0 164,5 129,2 163,0 197,4 153,4

(180) Ayira 103,0 118,5 94,8 139,0 154,5 121,7

(182) Naiá 99,5 150,3 118,6 111,0 175,0 136,9

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(188) Terra Nova 72,5 88,9 72,2 88,0 111,7 89,6

(193) Jaci 54,0 52,7 44,1 79,5 88,9 72,2

(194) Miriti 28,0 27,5 23,9 43,5 40,0 34,0

(200) Mutuca 23,1 25,4 22,2 37,5 38,9 33,2

(204) Karan 22,0 24,2 21,2 36,5 38,9 33,2

Média±DP 72,0±38,53 87,9±52,6 70,8±40,6 91,35±43,29 111,2±58,2 88,6±44,3

1(Rosas, 1992),

2(Amaral et al., 2010)

DISCUSSÃO

Considerando que não foram encontradas presença de lactose no leite materno de T.

inunguis (Barbosa, 2011), e que Best et al. (1982) relataram a ocorrência ocasional de fezes

amolecidas e flatulência em filhotes de peixe-boi da Amazônia amamentados com leite

bovino, atribuindo esse fato às concentrações de lactose na mistura, poderia ser normal que

alguns filhotes do presente estudo apresentassem quadros de diarréias e flatulências. No

entanto, não foram obsevados tais problemas, pois os animais já estavam adaptados a

alimentação com leite bovino em pó.

O maior desempenho dos animais quando alimentados com S2 se deve ao ajuste dos

níveis de proteína bruta e energia bruta do S2 de acordo com a composição centesimal do leite

materno (Barbosa, 2011), melhorando seus níveis nutricionais em relação ao S1. Os animais

foram capazes de digerir os ingredientes utilizados na preparação do S2, convertendo os

nutrientes fornecidos em ganho de peso e crescimento.

O S2, por ser elaborado com maior quantidade e variedade de ingredientes, tinha em

sua composição maior teor de matéria seca por litro de leite fornecido (Tabela 7),

contribuindo para um ganho de peso e crescimento dos animais mais elevados devido ao

melhor aporte nutricional fornecido.

A relação energia bruta/proteína bruta do leite materno de peixe-boi da Amazônia é de

22,69 kcal/g, baseado nos experimentos de Barbosa (2011). A relação energia bruta/proteína

bruta apresentada pelo S2 (23,13 kcal/g), que foi formulado pra ser similar a do leite materno,

parece ser satisfatória tendo em vista que os animais obtiveram maior desempenho em ganho

de peso e crescimento quando comparado com a dieta do S1, rotineiramente utilizado no

INPA, mesmo levando em consideração as condições de cativeiro que podem afetar a

demanda energética desses animais como sedentarismo, o estresse e a temperatura da água.

Para equinos suplementados com gorduras ou óleos, que possuem uma elevação nos níveis

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energéticos da sua dieta, recomenda-se o ajuste de proteína bruta para que seja proporcional a

ingestão de energia, proporcionando o máximo desempenho do animal (Lawrence, 2008),

podendo ocorrer o mesmo para os filhotes de peixe-boi da Amazônia. Sugerem-se estudos que

variem os níveis energéticos em relação à quantidade de proteína na dieta de filhotes de T.

inunguis para que a influência da relação energia/proteína no desempenho dos animais possa

ser melhor analisada.

A proteína na dieta de qualquer animal monogástrico deve primariamente atender as

suas exigências em relação aos aminoácidos essenciais, pois, em linhas gerais, a qualidade da

proteína oferecida é tão importante quanto seus níveis na dieta (Andriguetto, 2002). Na

elaboração do S2 houve não somente a preocupação em igualar os níveis de proteína bruta

com os do leite materno, mas também a de aumentar esses níveis utilizando proteína de

qualidade como as do farelo de soja que é amplamente utilizado na nutrição animal. Segundo

Lovell (1989) e Andriguetto (2002), o farelo de soja possui um bom balanceamento de

aminoácidos essenciais e com alto teor de lisina entre os alimentos proteicos de origem

vegetal.

Para equinos, o aminoácido essencial mais limitante é a lisina que juntamente com

treonina contribui para o incremento no ganho muscular dos animais (Frape, 2007).

Considerando que os peixes-bois da Amazônia possuem similaridades digestivas com os

cavalos (Burn, 1985) e que o S2, que tinha adição de farelo de soja, gerando maior ganho de

peso e crescimento aos animais, o presente estudo sugere que um dos aminoácidos essenciais

limitantes para T. inunguis pode ser a lisina. Contudo, experimentos mais adequados e

aprofundados se fazem necessários para essa determinação, levando-se em consideração que

trata-se de espécies diferentes, vivendo em diferentes habitat e fisiologicamente distintos.

A utilização de um alimento rico em nutrientes e que favoreça maior crescimento e

ganho de peso aos filhotes de peixe-boi da Amazônia se faz importante não somente para o

desenvolvimento adequado do animal, mas também contribui para ajustes na rotina alimentar

desses filhotes em cativeiro. Com a administração de um alimento mais nutritivo, pode-se

reduzir a frequência de mamadas durante o dia, diminuindo o contato humano com os

animais, o que poderia ter grande influência em programas de reintrodução desses animais na

natureza.

Os animais alimentados com S2 apresentaram ganhos semanais de peso e crescimento

superior e inferior respectivamente (Tabela 6) aos relatados por Best et al. (1982), que

verificaram ganhos semanais de 1 kg de peso e crescimento de 1,4 cm em filhotes de T.

inunguis. Estes autores testaram três substitutos do leite materno sendo o primeiro elaborado

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com leite em pó integral e manteiga (testado em 10 filhotes), o segundo a base leite de soja

em pó e manteiga (testado em 2 filhotes) e o terceiro feito com mistura de leite em pó integral,

banana madura e manteiga (testado em 2 filhotes), adicionando-se suplemento polivitamínico

nos três substitutos pela manhã.

Colares et al. (1987), testaram três tipos de formulações lácteas produzidas com

diferentes proporções de leite em pó integral e óleo vegetal em dois filhotes fêmeas de T.

inunguis com 13,4 e 25,6 kg de peso corporal, por dois meses cada formulação. Os autores

verificaram ganho de peso (entre 22,25 e 37,94/semana) e consumo de leite (entre 0,48 e 1,79

litros/semana) bem abaixo do apresentado pelos animais alimentados com S1 e S2 neste

estudo.

Com intuito de elevar os níveis de energia e proteína na dieta de filhotes de peixe-boi

da Amazônia, Rodriguez-Chacón (2001) utilizou uma formulação produzida com leite bovino

em pó integral, manteiga sem sal, melão (Cucumis melo), adicionando, na primeira

mamadeira do dia, uma gema de ovo e suplemento vitamínico-mineral. A dieta foi testada em

cinco filhotes, entre machos e fêmeas com peso entre 10,7 e 23,9 kg. Os filhotes, em geral,

apresentaram um consumo médio diário de 1,43 litros/dia e quando estavam entre 30 e 50 kg

o consumo médio diário aumentou para 2,6 litros, estando abaixo do consumo médio diário

apresentado pelos animais desse estudo amamentados com S1 e S2 (Tabela 6). O maior

consumo apresentado pelos animais do presente trabalho se justifica pelo fato de os animais

serem maiores, estando entre 17 e 120 kg no início dos experimentos. Quanto ao ganho de

peso, os animais amamentados com S1 e S2, estiveram abaixo e acima respectivamente aos

valores encontrados pela autora, que foram de 1,2 kg /semana para animais entre 30 e 50 kg,

indicando o maior rendimento dos animais quando amamentados com S2.

Rosas (1992), trabalhando com 15 filhotes machos e fêmeas de T. inunguis,

amamentados com leite artificial a base de leite em pó integral e óleo de soja, e Amaral et al.

(2010), analisando o crescimento de 99 peixes-bois da Amazônia, entre machos e fêmeas e

com idades que variaram de menos de um ano e mais de 27 anos, elaboraram equações que

permitem estimar o peso a partir do comprimento dos animais (Tabela 8).

Quando observadas as médias, para o S1, a média de peso dos animais esteve abaixo

do peso esperado segundo Rosas (1992) e ligeiramente acima do peso esperado segundo

Amaral et al., (2010) e para o S2, a média do peso dos animais esteve abaixo do peso

esperado segundo Rosas (1992) e acima do peso esperado segundo a equação proposta por

Amaral et al. (2010). Contudo, os animais do grupo experimental de menor porte (Jaci, Miriti,

Mutuca e Karan) obtiveram peso, ao fim de cada etapa experimental, mais semelhante ao peso

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esperado segundo a equação proposta por Rosas (1992) que trabalhou apenas com filhotes de

menor porte. Já os animais de maior porte (Piranga, Bariri, Maná, Ayira, Naiá e Terra Nova)

obtiveram peso, ao fim de cada etapa experimental, mais semelhante ao peso esperado

segundo a equação proposta por Amaral et al. (2010) que propôs a equação geral para a

espécie, baseado nos dados biométricos de peixes-bois filhotes e adultos.

Silva et al. (2011) controlando a alimentação de um filhote de Trichechus manatus por

213 dias observou que o filhote, mamando uma mistura de 135 g de leite em pó integral para

um litro de água fervida e dosagem diária de 5ml de um complexo vitamínico, obteve ganho

de peso diário de 0,216 kg, crescimento diário de 0,15 cm e consumo médio de 3,61 litros de

leite por dia, totalizando ganho de peso de 46 kg, crescimento de 33 cm e consumo de 769,4

litros de leite durante o período de amamentação.

Mignucci (1992), oferecendo uma dieta láctea à base de leite de cabra e leite de soja a

um filhote de T. manatus de duas semanas de idade, observou um ganho de peso de 3,27

kg/semana com consumo diário de 3,6 litros de leite por dia. No início da administração da

mistura de leite o filhote pesava 27,2 kg e com 9 meses atingiu um peso de 145,1 kg.

A comparação dos dados obtidos no presente estudo com os dados encontrados em

estudos anteriores não permite predizer que o as formulações apresentadas foram melhores ou

piores para a manutenção dos animais, pois todos os estudos foram realizados em condições

diferentes e utilizando animais que variaram em idade, sexo, estado nutricional, entre outros

fatores relevantes ao desenvolvimento dos animais. Contudo, nesse trabalho, o S2 mostrou ser

superior ao S1, que é utilizado rotineiramente no INPA, o que justifica sua adoção como

fórmula láctea para nutrição dos filhotes lactentes.

CONCLUSÕES

O sucedâneo 2, formulado ajustando-se os níveis de proteína bruta e energia bruta com

base nos níveis encontrados no leite materno de T. inunguis e produzido com ingredientes

adequados, apresentou resultados satisfatórios no desempenho zootécnico de filhotes de

peixe-boi da Amazônia mantidos em cativeiro, podendo ser adotado como formulação láctea

artificial para manutenção desses animais órfãos.

Os dados desse estudo podem servir como base para novos trabalhos na busca da

determinação das exigências nutricionais para a espécie.

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Capitulo 3

Maduro, A.H.P.; da Silva, V.M.F.; Oliveira, R.P.M. Relação entre medidas biométricas e

espessura de gordura subcutânea, realizada por ultrassonografia, em filhotes de peixe-boi da

Amazônia (Trichechus inunguis) em cativeiro. Comunicação científica formatada de acordo

com as instruções da Revista Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia

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Relação entre medidas biométricas e espessura de gordura subcutânea, realizada por

ultrassonografia, em filhotes de peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em

cativeiro

Relationship between body measurements and subcutaneous fat thickness, performed by

ultrasound, in captive Amazonian manatee calves (Trichechus inunguis)

*A.H.P. Maduro1, V.M.F. da Silva

1, R.P.M. Oliveira

2

1Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA - Laboratório de Mamíferos

Aquáticos/LMA – Manaus, AM

2Universidade Federal do Amazonas/UFAM - Laboratório de Anatomia e Fisiologia

Animal/LAFA – Manaus, AM

*e-mail: [email protected]

Entre as várias funções da gordura corporal em mamíferos destacam-se as de reserva

energética, isolante térmico e indicativo de condição corporal. O conhecimento da condição

corporal dos animais, quanto a deposição de gordura subcutânea e desenvolvimento muscular,

é de extrema importância para avaliação de manejos nutricionais voltados para o crescimento

e a determinação das exigências nutricionais do animal (Luchiari Filho, 2000; Cruz et al.,

2001).

A utilização de técnicas de mensuração de composição corporal por meio de

ultrassonografia é bastante utilizada há algumas décadas na produção de animais domésticos

de alta qualidade para a indústria alimentar (SUGUISAWA et al., 2006; SANTANA et al.,

2012). Essa técnica visa quantificar in vivo a chamada área de “olho de lombo” e a gordura

subcutânea na região do músculo Longíssimus dorsi com o intuito de determinar a

composição ideal da carcaça para o abate.

A viabilidade da utilização da ultrassonografia para selecionar animais para abate

durante o período de confinamento foi considerada satisfatória por Brethour (2000). Segundo

seus resultados, foi possível estimar o número de dias que os animais deveriam ficar em

confinamento até chegar ao ponto de abate (10 mm de espessura de gordura subcutânea) com

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maior precisão em animais mais gordos, quando já tinham uma camada de gordura

subcutânea média de 3,35 mm.

São poucos os estudos que visam utilizar a técnica de ultrassonografia para avaliação

de condição corporal em mamíferos aquáticos. Worthy et al. (2008) compararam dois tipos de

equipamentos de ultrassom para medir a espessura da gordura subcutânea em amostras de

baleias e de peixes-bois marinhos (Trichechus manatus) e compararam também as medidas

geradas usando aparelhos com as medidas realizadas com réguas nas mesmas amostras. Os

autores verificaram que as medidas entre os aparelhos de ultrassom não diferiram uma da

outra, porém apresentaram diferença quando comparadas às medidas obtidas com a régua.

Essa diferença foi atribuída a alterações na qualidade da gordura (teor de gordura

especificamente), resultando em diferenças de densidade da gordura subcutânea.

A utilização de técnicas pouco invasivas, como a ultrassonografia, que podem predizer

de forma rápida e segura a condição corporal de peixes-bois da Amazônia (Trichechus

inunguis) é de grande valia visto que são resgatados um número significativo de filhotes no

Amazonas. Entre os centros de pesquisas e criadouros autorizados do Estado, só Laboratório

de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia recebeu em seu

plantel em média 11 filhotes por ano nos últimos cinco anos.

Os filhotes de peixe-boi chegam aos criadouros conservacionistas geralmente com

graves deficiências nutricionais, necessitando de ações emergenciais quanto à nutrição,

garantindo o sucesso da reabilitação e a futura reintrodução desses animais na natureza

(D'Affonsêca Neto e Vergara-Parente, 2006).

O objetivo desse estudo foi avaliar a existência de correlação entre a espessura da

gordura subcutânea (EGS), medida por ultrassonografia, e o peso corporal, comprimento

linear (CL), circunferência máxima (CM) e circunferência da base da cauda (CBC) de filhotes

peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) durante experimento nutricional testando dois

tipos de dietas lácteas.

As análises foram realizadas com peixes-bois lactentes mantidos em cativeiro no

Parque Aquático Robin C. Best do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA em

Manaus/AM. Foram avaliados 10 filhotes (3 machos e 7 fêmeas) com peso médio de 65,75 kg

(17-120kg) e idade média de 15,3 meses (2-25 meses).

Os filhotes foram amamentados seis vezes por dia com dois tipos de dietas lácteas, em

duas etapas. Na primeira etapa, continuaram sendo amamentados com sucedâneo do leite

materno utilizado rotineiramente no parque aquático Robin C. Best do INPA (sucedâneo 1),

formulado a partir de leite bovino em pó integral, óleo de canola e suplemento de

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aminoácidos vitaminas e minerais por um período de 62 dias. Os dados de biometria e da

espessura de gordura subcutânea foram coletados no final do período experimental. Na

segunda etapa, os animais passaram a receber o segundo sucedâneo do leite materno

(sucedâneo 2) preparado com leite bovino em pó integral, óleo de canola, aveia em flocos,

farelo de soja, farinha de milho e suplemento de aminoácidos, vitaminas e minerais por um

período de 62 dias. Os dados de biometria e espessura de gordura subcutânea foram coletados

no final desse período. Este segundo sucedâneo foi ajustado para fornecer níveis nutricionais

próximos aos do leite materno de Trichechus inunguis que possui em média 6,75% de

proteína bruta e 153,19 kcal EB/100gr de energia bruta (Barbosa, 2011). No período da noite,

quando os animais não eram amamentados, foi fornecido entre 3% e 4% do peso corporal dos

animais de capim colônia (Brachiaria mutica).

Antes das análises in vivo foi realizado treinamento no Laboratório de Mamíferos

Aquáticos do INPA para obtenção de imagens ultrassônicas em um animal morto e em boas

condições corporais (Fig. 1)

Figura 1. Treinamento na mensuração das medidas ultrassônicas de gordura subcutânea em exemplar de peixe-

boi da Amazônia (Trichechus inunguis) em óbito no Laboratório de Mamíferos Aquáticos/INPA. (A)

1

2

3

A B

C D

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Verificação da espessura de gordura subcutânea na região dorsal; (B) Verificação da espessura de gordura

subcutânea na região ventral próximo a cicatriz umbilical (região visivelmente com maior acúmulo de gordura);

(C) Medição da gordura subcutânea com régua milimetrada e (D) Imagem do aparelho de ultrassom mostrando a

perfeita delimitação da pele (1), gordura subcutânea (2) e camada muscular (3).

Foi observada durante o treinamento, tanto visualmente quanto nas imagens

ultrassônicas, que a região de maior acúmulo de gordura subcutânea era na região ventral,

próximo a cicatriz umbilical.

A medida de EGS (cm) foi obtida utilizando aparelho de ultrassonografia portátil

(Micro Maxx®

, SonoSite-Fugifilm, Estados Unidos) com transdutor reto (13-6 MHz) que

fornece imagens bidimensionais em tempo real. O transdutor foi posicionado no sentido

medial na região ventral, imediatamente acima da cicatriz umbilical, com o animal contido

fora da piscina e em decúbito lateral esquerdo. As medidas biométricas (peso, CL, CM e

CBC) foram realizadas utilizando balança analógica (kg) e fita métrica (cm). Os dados foram

analisados por meio de correlação linear de Pearson (α=0,05).

Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas no Uso de Animais

(CEUA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA e está registrado sob o

número de protocolo 005/2013.

As medidas de EGS in vivo foram obtidas com certa dificuldade devido o animal estar

constantemente em movimento e a dificuldade na contenção. Contudo, antes da tomada da

medida aguardava-se o animal ficar o mais relaxado possível, observando o posicionamento

do animal e do transdutor, bem como a pressão exercida com o transdutor no corpo do animal,

que foi a mínima possível, evitando-se assim a superestimação ou subestimação da medida de

EGS.

Em nenhum dos experimentos, com fornecimento do sucedâneo 1 e 2, houve

correlação entre as variáveis EGS e o peso, EGS e comprimento linear, EGS e circunferência

máxima do animal e a EGS e circunferência da base da cauda (Tab. 1).

Tabela 3. Correlação de Pearson das medidas biométricas com a espessura de gordura subcutânea de filhotes de

peixe-boi da Amazônia em cativeiro alimentados com dois tipos de sucedâneo do leite materno no Parque

Aquático Robin C. Best/INPA, Manaus, Amazonas

Correlação de Pearson*

Variável EGS Sucedâneo 1 EGS Sucedâneo 2

Peso 0,0084 0,1650

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Comprimento Linear (CL) 0,0565 0,2127

Circunferência Máxima (CM) 0,0105 0,0906

Circunferência da Base da Cauda (CBC) 0,0559 0,2449

*Todas as correlações não foram significativas (p>0,05)

EGS – Espessura da Gordura Subcutânea

Araújo (2005) analisando 114 exemplares de toninhas (Pontoporia blainvillei),

capturados acidentalmente pela frota pesqueira no litoral sul do Rio Grande do Sul, não

encontrou correlação entre EGS e o peso corporal e nem correlação entre EGS e o

comprimento total dos animais. A autora observou maior variação de EGS na região dorsal

dos animais do que nas regiões ventral e lateral do corpo, e através dessas medidas na região

dorsal pode distinguir fêmeas maduras e imaturas e ainda atribuir essa variação às diferentes

demandas energéticas para a atividade reprodutivas das fêmeas dessa espécie.

Silva (2002) verificou correlação linear entre EGS e o peso corporal de bovinos com

cerca de um ano de idade. Contudo, observou que poucos animais apresentaram gordura com

pesos inferiores a 280 kg e que somente a partir desse ponto (280 kg) a EGS se torna viável

como critério de avaliação da condição corporal.

Freitas et al. (2007) analisaram a espessura de gordura subcutânea de leitões abatidos

com 40, 70, 80, 90, 100 e 110 kg e observaram que a deposição de gordura subcutânea

aumenta significativamente conforme aumenta o peso do animal.

O crescimento das estruturas do corpo de um animal segue uma ordem de prioridade

crescendo primeiro os órgãos, seguido dos ossos, dos músculos e por ultimo do tecido

adiposo, levando a diferenças na sua composição corporal e na proporção dos tecidos do

corpo durante o desenvolvimento (Di Marco, 1993).

A não variação da EGS em função do peso e do crescimento dos filhotes de peixe-boi

no estudo em questão sugere que a utilização metabólica dos nutrientes obtidos nas dietas

pelos animais foi voltada para o crescimento de órgãos e dos tecidos ósseo e muscular e não

para incorporação de tecido adiposo, tendo em vista que os animais estavam em fase de

desenvolvimento.

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Figura 2. Relação peso corporal e espessura de gordura subcutânea de filhotes de peixe-boi da Amazônia em

cativeiro alimentados com dois tipos de sucedâneo do leite materno no Parque Aquático Robin C. Best/INPA,

Manaus, Amazonas

Nossos resultados evidenciaram que a medida da espessura da gordura subcutânea de

filhotes de peixe-boi da Amazônia mantidos em cativeiro não é adequado para predizer a

condição corporal nesses animais, pois não foi observado efeito do crescimento e do peso

corporal na variação da espessura de gordura subcutânea. Novos estudos que correlacionem

medidas de espessura de gordura subcutânea de outras regiões anatômicas com medidas

biométricas do animal, bem como análises feitas em outras categorias de idade e gênero, se

fazem necessários na tentativa de determinar a condição corporal de filhotes de peixe-boi por

meio da técnica de ultrassonografia.

Palavras-chave: peixe-boi da Amazônia, ultrassom, ganho de peso, condição corporal

ABSTRACT

The objective of this study was to investigate the relationship between subcutaneous

fat thickness (EGS) and body weight, linear length (CL), maximum circumference (CM) and

tail base circumference (CBC) of Amazonian manatee calves (Trichechus inunguis). Ten

calves with an average weight of 65.75 kg and a mean age of 15.3 months were fed two types

of milk diets in two steps. During the first stage the calves were fed substitute 1 (S1),

formulated from powdered bovine milk, canola oil and amino acid, vitamin and mineral

supplements. In the second stage, the calves received substitute 2 (S2), prepared with

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powdered bovine milk, canola oil, oatmeal, soybean meal, cornmeal and amino acid, vitamin

and mineral supplements. Each experimental phase lasted 62 days and data on body

measurements and subcutaneous fat thickness were collected at the end of each period. EGS

(cm) was measured using a portable ultrasound machine with a linear ray transducer (13-6

MHz) by positioning the transducer on the ventral medial region immediately above the

umbilicus, with the animals restrained in the left lateral decubitus. The body measurements

(weight, CL, CM and CBC) were obtained using an analog scale (kg) and a tape measure

(cm). Data was analyzed using a Pearson correlation. There was no correlation (p>0.05)

between EGS and weight (r=0.0084 and r=0.1650 for S1 and S2 respectively), EGS and CL

(r=0.0565 for S1 and r=0.2127 for S2), EGS and CM (r=0.0105 for S1 and r=0.0906 for S2)

and EGS and CBC (r=0.0559 and r=0.2449 for S1 and S2 respectively). This study shows

that EGS measurements are not good indicators of body condition for Amazonian manatee

calves, as despite variation in their levels, no effects on growth or weight were observed.

Keywords: Amazonian manatee, ultrasound, weight gain, body condition

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA); à Universidade Federal do

Amazonas (UFAM); ao médico veterinário Anselmo D’Affonseca do INPA, pelo apoio nas

coletas e leituras das imagens de ultrassonografia; ao Dr. Alexandre Honczaryk do INPA, por

ceder o aparelho de ultrassonografia utilizado nesse trabalho; à Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), pela bolsa de mestrado; à Associação Amigos

do Peixe-boi (AMPA) e Petrobrás Ambiental pelo apoio financeiro parcial do estudo.

REFERÊNCIAS

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O perfil metabólico realizado com filhotes de peixes-bois da Amazônia, mantidos em

cativeiro, mostrou ser viável no auxílio da avaliação nutricional para a espécie. Nenhuma das

dietas lácteas oferecidas aos filhotes resultou em valores hematológicos e bioquímicos séricos

que sugerissem patologia, mantendo-se dentro dos padrões já observados para espécie em

trabalhos realizados anteriormente. Com exceção da albumina que esteve diminuída e da

globulina que apresentou níveis aumentados com a administração dos dois sucedâneos.

O fornecimento do sucedâneo 2 (S2), formulado ajustando-se os níveis de proteína

bruta e energia bruta com base na composição do leite materno de Trichechus inunguis

(Barbosa, 2011) e produzido com ingredientes adequados, proporcionou um desempenho

zootécnico satisfatório aos animais, que apresentaram índices de crescimento e ganho de peso

superiores do que quando foram amamentados com sucedâneo 1 (S1).

Não foi observado efeito do crescimento e do peso corporal na variação da espessura

de gordura subcutânea nos animais, inviabilizando a utilização dessa técnica, nas condições

em que foi realizado este trabalho, para predizer a condição corporal de filhotes de peixe-boi

da Amazônia. Novos estudos que correlacionem medidas de espessura de gordura subcutânea

de outras regiões anatômicas com medidas biométricas do animal, bem como análises feitas

em outras categorias de idade e gênero, podem ser importantes na tentativa de se determinar a

condição corporal dos animais por meio da técnica de ultrassonografia.

Os dados desse trabalho fornecem bases para novos estudos com objetivo de elucidar

as importantes vias metabólicas dos peixes-bois da Amazônia na utilização da proteína e

energia da dieta e para estudos que visam determinar as exigências nutricionais da espécie.

O sucedâneo 2 pode ser adotado como formulação láctea artificial para manutenção de

filhotes de peixe-boi da Amazônia órfãos em cativeiro.