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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO PAULO
CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO DE TURISMO
SOCIOLOGIA DO LAZER E DO TURISMO (SOTX2) / PROF. RAFAEL CHEQUER BAUER
AULA 1: IMPORTÂNCIA DA SOCIOLOGIA GERAL E SUA RELAÇÃO COM O LAZER E O TURISMO
Quando ingressamos em um curso superior de Tecnologia em Gestão de Turismo logo
aprendemos sobre a importância econômica da atividade turística. Também é discutido seu papel
na transformação espacial/ambiental onde é desenvolvido.
Contudo, sua relevância cultural e social é também fundamental à compreensão da dimensão e
dinâmica do universo das viagens e do lazer.
Neste sentido, a disciplina pretende:
Apresentar os principais conceitos acerca da Sociologia;
Aprimorar a visão humanística e holística dos alunos;
Desenvolver o espírito crítico acerca dos impactos sociais e culturais do turismo e do lazer
na atualidade.
Começamos falando sobre o sentido da sociologia. O QUE É? PARA QUE SERVE? QUAL A SUA
RELAÇÃO COM O FENÔMENO DAS VIAGENS E DO ENTRETENIMENTO? Esta primeira parte da
disciplina, que representa as primeiras aulas teóricas, discute tais aspectos.
A primeira ideia relevante sobre a Sociologia é que a mesma não pretende explicar tudo o que
ocorre na sociedade, apesar de estar relacionada a todos os aspectos da existência humana em
sociedade. Sua função primordial é servir como instrumento de compreensão das situações
presentes na vida cotidiana e às múltiplas relações societárias inseridas no dia a dia.
Em outras palavras, a Sociologia auxilia o entendimento em relação a uma série de formas de
organização e desenvolvimento social presentes na humanidade: Relações Familiares e Sociais;
Organização das Empresas e do Universo do Trabalho; Métodos Educacionais Formais e Informais;
Modelos Políticos e Governamentais; Comportamento Religioso; Preferências e transformações de
Lazer de uma Comunidade e Possibilidades e peculiaridades de interação social no universo das
viagens.
A relação entre o desenvolvimento do lazer e do turismo e das relações sociais é recente, do
ponto de vista histórico. No Ocidente, consolida-se a partir do século XVIII (Revolução
Industrial), período em que fica mais clara a dissociação entre tempo das obrigações (família,
religião e principalmente o trabalho), do tempo livre.
TEMPO TOTAL = TEMPO DAS OBRIGAÇÕES + TEMPO LIVRE
O Lazer Moderno surge essencialmente como fator de compensação individual e social, em
relação às obrigações cotidianas. Neste sentido, as possibilidades de descanso, diversão e
desenvolvimento pessoal e social adquirem uma conotação sistemática (ao menos do ponto de
vista da delimitação temporal). Surge com isso a possibilidade de refletir sobre a SOCIOLOGIA DO
LAZER E DO TURISMO.
Desde o século XIX autores como Lafargue discutem com mais profundidade a relação do homem
com o trabalho e o não-trabalho. O controle do tempo passa a ser um dos fatores primordiais para
a determinação do comportamento humano. Ele está intimamente atrelado à expansão do
sistema capitalista, que se baseia na produção, consumo e transferência de bens e mercadorias. O
tempo vira uma mercadoria. O que se faz nele (lazer e turismo), também.
Munné (1980) é um dos autores mais importantes sobre o assunto TEMPO SOCIAL. Ele define
quatro tipos fundamentais:
1. Tempo Psicobiológico: é ocupado e conduzido pelas necessidades psíquicas e biológicas
elementares, o que engloba o tempo de sono, nutrição, atividade sexual etc. Esse tempo se
condiciona endogenamente, é um tempo individual.
2. Tempo Socioeconômico: diz respeito ao tempo empregado para suprir as necessidades
econômicas fundamentais, constituídas pelas atividades laborais, atividades domésticas,
pelos estudos, enfim, pelas demandas pessoais e coletivas, sendo que esse tipo de tempo
está quase que inteiramente heterocondicionado, somente sendo autocondicionado nas
circunstâncias que visam à realização pessoal.
3. Tempo Sociocultural: dedicado às ações de demandas referentes à sociabilidade dos
indivíduos que se refere aos compromissos resultantes dos sistemas de valores e pautas
estabelecidos pela sociedade e objeto maior de sanção social. Esta categoria de tempo
tanto pode ser heterocondicionado como autocondicionado, podendo existir um equilíbrio
entre os dois pólos.
4. Tempo Livre: se refere às ações humanas, realizadas sem que ocorra uma necessidade
externa. Neste caso, o sujeito atua com percepção de fazer uso desse tempo com total
liberdade e de maneira criativa, dependendo de sua consciência de valor sobre seu tempo.
O tempo livre deveria ser um tempo máximo de autocondicionamento e mínimo de
heterocondicionamento, isto é, ser constituído por aquele aspecto do tempo social, em que o
homem conduz com menor ou maior grau de nitidez a sua vida pessoal e social.
No entanto, neste tempo que poderia ser um tempo voltado para o ócio mais verdadeiro, o
consumismo termina por deteriorá-lo, mercantilizá-lo, coisificando-o e empobrecendo-o de
significados.
Tal assunto será retomado com mais profundidade adiante.
PARA IR + LONGE: http://www.ufsj.edu.br/portal-
repositorio/File/dcefs/Prof._Adalberto_Santos/4-
ocio_lazer_e_tempo_livre_na_sociedade_do_consumo_e_do_trabalho_22.pdf
CARACTERIZAÇÃO DA SOCIOLOGIA GERAL
A sociologia se caracteriza por 03 elementos principais:
1) Percepção Objetiva: orientada pela ciência (busca explicar a realidade com base na
observação sistemática dos fatos). Em outras palavras, não se baseia na percepção
individual, subjetiva e fortuita de algo.
2) Análise Indutiva: baseia-se em resultados obtidos a partir de uma amostra de determinada
população, procurando estimar padrões de comportamento (ex. A partir da entrevista e
observação sistemática do comportamento de 100 jovens residentes no Capão Redondo,
nota-se que os mesmos tendem a vincular seu tempo de lazer a prática de esportes como o
futebol e o basquete, vivenciado principalmente nas ruas e praças públicas do bairro).
3) Neutralidade Valorativa: isenção na atribuição de regras ou valores para as informações
coletadas. Ao Direito e à Ética, por exemplo, cumpre definir o que é certo e o que é errado
nas relações sociais. Já a Sociologia não atribui valores, não busca julgar o que é bom ou
mau na sociedade. Tampouco é normativa, isto é, não dita normas para as relações sociais.
IMPORTANTE: A ciência precisa do senso comum e vice-versa. Ambas se completam.
PARA IR + LONGE (CONCEITOS E REFERÊNCIAS GERAIS SOBRE SOCIOLOGIA E SEUS
PENSADORES) : http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAPT4AH/sociologia
SOCIOLOGIA COMO PARTE DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
“As Ciências Sociais são o estudo das características sociais dos seres humanos e das maneiras
pelas quais eles interagem e se transformam” (VILLA NOVA, 2004).
As Ciências Sociais incluem diversas áreas de conhecimento, entre as quais se destacam:
Sociologia, Antropologia, Economia, História, Psicologia, Ciências Políticas.
As disciplinas das Ciências Sociais têm um foco comum no comportamento social das pessoas,
mesmo que cada uma delas tenha uma abordagem particular.
Os antropólogos geralmente estudam culturas passadas e sociedades pré-industriais que ainda
existem, bem como as origens dos seres humanos. Os economistas exploram as maneiras pelas
quais as pessoas produzem e trocam mercadorias e serviços, bem como o dinheiro e outros
recursos. Os historiadores estão preocupados com as pessoas e os eventos do passado, e seu
significado para nós hoje. Os cientistas políticos estudam as relações internacionais, os atos do
governo e o exercício do poder e da autoridade. Os psicólogos investigam a personalidade e o
comportamento individual.
EXEMPLO: Abordagem de cada ciência social para o tema “Pena de Morte”
Os historiadores estariam interessados no desenvolvimento [nos EUA] da pena capital do período
colonial até ao presente. Os economistas poderiam fazer uma pesquisa para comparar os custos
das pessoas encarceradas durante toda a vida com as despesas dos recursos que ocorrem nos
casos de pena de morte. Os psicólogos observariam os casos individuais e avaliariam o impacto da
pena de morte na família da vítima e na do preso executado. Os cientistas políticos estudariam as
diferentes posições assumidas pelos políticos eleitos e as implicações dessas posições nas suas
campanhas para a reeleição. Por seu turno, os filósofos discutiriam se a pena de morte é certa ou
errada em termos morais.
E qual seria a abordagem dos sociólogos? Eles poderiam verificar (entre outros aspectos) como a
raça e a etnia afetam o resultado dos casos de pena de morte.
PROPOSTA DE EXERCÍCIO: Como seria a abordagem de cada ciência social citada acima em relação
ao comportamento dos turistas do Carnaval de Salvador?
O QUE ABRANGE A SOCIOLOGIA?
PROPOSTA DE EXERCÍCIO: Aponte oralmente quais são os tópicos discutidos dentro da sociologia.
Em seguida, toda a turma deve discutir seus significados.
(Sugestão de itens: Cultura, Sociedade, Crenças, Valores, Normas, Padrões de Comportamento,
Expectativas de Comportamento, Preconceitos, Estereótipos, Status Social, Papel Social,
Estratificação Social).
SOCIOLOGIA, CULTURA E SOCIEDADE
Todos nós sabemos da existência de certo tipo de “organização social” entre animais não
humanos (ex. divisão de trabalho das formigas). Todas as espécies animais, incluindo o ser
humano, apresentam padrões de comportamento: formas regulares de ação relacionadas a
determinadas situações. Pode-se dizer que existem formas comportamentais semelhantes entre
humanos e animais em situações familiares, de trabalho e até de lazer.
Isto posto, vale refletir sobre O QUE É E COMO OCORRE A SOCIALIZAÇÃO?
Socializar-se é transmitir e/ou assimilar crenças, que geram, valores, que geram normas, que
geram padrões de comportamento.
A Socialização é um processo permanente, embora seja mais intenso durante a infância e
adolescência. Nas sociedades capitalistas urbanas, as transformações da sociedade são mais
rápidas e complexas. Com isso, demandam uma socialização forçada ( orientada principalmente
pela escola e trabalho) para a continuidade dos sistemas sociais.
A Socialização Primária dá aos indivíduos os padrões de comportamento básicos necessários a
uma vida “normal” na sua sociedade. Já a socialização secundária é a que se refere à
aprendizagem de padrões especiais de comportamento, vinculados a determinadas posições e
situações sociais.
As formas de organização das relações sociais humanas se baseiam, em boa medida, em padrões
artificiais. Ou seja, não se baseiam apenas em características orgânicas específicas de nossa
espécie. Trata-se de um Sistema Bio-sócio-cultural.
PARA IR + LONGE (AMBIENTE E COMPORTAMENTO HUMANO):
http://www.youtube.com/watch?v=Q1QJpBE4020
http://www.youtube.com/watch?v=pZOLwaFeUiY
http://www.youtube.com/watch?v=dUFxAMrXPd8
Além disso, a Socialização auxilia o desenvolvimento de atitudes e sentimentos coletivos através
da comunicação simbólica. Todos os animais se utilizam de padrões de linguagem. Porém, só o
homem comunica-se através de símbolos. Símbolo é alguma coisa cujo valor ou significado é
atribuído pelas pessoas que o usam. Está presente em todos os momentos da vida social. Não só
pela comunicação verbal (palavra), mas enriquecida por símbolos de outra ordem.
Max Weber afirma: “Todas as ações sociais são ações com significado.” Por esta razão, todas as
relações sociais possuem necessariamente uma dimensão simbólica. Gestos, cores, objetos,
vestuário são exemplos de símbolos presentes em nossa sociedade.
PARA REFLETIR: As viagens e entretenimentos possuem dimensão simbólica?
Sim, a concepção, realização e impactos posteriores de uma viagem ou diversão cotidiana são
repletas de símbolos. Alguns são mais óbvios que outros. No turismo, os mais comuns são:
REALIZAÇÃO DE SONHO DE CONSUMO OU DESEJO COMPORTAMENTAL (IR ONDE QUISER,
QUANDO QUISER, POR QUANTO TEMPO QUISER E FAZER O QUE QUISER), LIBERDADE, STATUS /
PODER, AUTOESTIMA / AUTO REALIZAÇÃO, RECOMPENSA, RENOVAÇÃO (FÍSICA, MENTAL E
ESPIRITUAL), VIVENCIAR UM PAPEL SOCIAL DISTINTO, CONHECER CULTURAS E PAISAGENS,
RELAXAMENTO, APRENDIZADO.
Vale lembrar que coisas iguais podem ter significados diferentes entre as pessoas (ex. Assistir a
final da Copa do Mundo de Futebol). Ou coisas diferentes podem ter o mesmo significado (ex.
Para Maria casar é o ápice da realização pessoal. Já para José seria viajar a Paris).
O maior símbolo da expressão humana é a PALAVRA. Porém, não é a única.
A IMPORTÂNCIA DA CULTURA
O sentido sociológico da palavra CULTURA não é o mesmo da linguagem do senso comum.
No cotidiano, ora significa erudição/grande soma de conhecimentos (Ex. “Fulano é culto”); ora se
refere a determinado tipo de realização humana (Ex. Arte, Filosofia); isto sem falar no sentido
agrícola original do termo, que se aproxima de cultivo (Ex. Cultura da soja se expande na
Amazônia).
No sentido sociológico, CULTURA é todo o resultado da criação humana. Edward Taylor: “Um todo
complexo que abarca conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e outras capacidades
adquiridas pelo homem como integrante da sociedade.” É necessário, portanto, compreender
desde IDEIAS (IMATERIAL) até ARTEFATOS (MATERIAL).
CULTURA MATERIAL: artefatos e objetos em geral
CULTURA IMATERIAL (denota o domínio de ideias): ética, crenças, conhecimentos,
técnicas, tradições, valores, normas.
Dentro do Turismo, pode-se fazer a seguinte classificação:
BENS CULTURAIS MATERIAIS (Templos Religiosos, Castelos, Conjuntos Urbanos,
Artesanato, Pinturas Rupestres, Festas Folclóricas, Vestimentas Típicas, Esculturas, Pratos
Típicos).
BENS CULTURAIS IMATERIAIS (Conhecimento Gastronômico, Literatura, Música, Folclore,
Linguagem, Costumes, Tradições, Símbolos).
Ainda do ponto de vista sociológico possui 03 características fundamentais:
Decorre essencialmente das capacidades desenvolvidas através do convívio social e não
de sua herança biológica.
Só o ser humano possui cultura.
A cultura não é exclusiva das pessoas letradas.
EXISTEM CULTURAS SUPERIORES?
À Ciência não compete julgar. Cada cultura possui uma realidade autônoma. Só pode ser
adequadamente compreendida a partir de si mesma.
O QUE PARA UM É NECESSÁRIO PARA O OUTRO PODE NÃO SER (inclusive em relação ao uso do
tempo livre).
A partir disso nasce o conceito de ETNOCENTRISMO: adotar ponto de vista e valores de uma
cultura particular, para julgar outra(s). Trata-se de uma tendência humana universal.
PARA IR + LONGE: Obra clássica sobre o tema: “Orientalismo”, de Edward Said.
A cultura nem sempre é harmonizada com as condições orgânicas da espécie humana para a
satisfação de suas necessidades. Um exemplo de conflito entre Instinto e Razão é a Vida Sexual.
A Cultura nasce do trabalho do homem em sociedade transformando a natureza para satisfazer
suas necessidades. Contudo, existem necessidades individuais e coletivas. E graus diferentes de
necessidades (ex. Pirâmide de Maslow):
O processo de fusão de culturas em contato através de troca de seus padrões e da influência
mútua é chamado HIBRIDAÇÃO.
Quando esta troca simboliza a dominação ou sobreposição de comportamentos, crenças e valores
trata-se de ACULTURAÇÃO OU TRANSCULTURAÇÃO.
SUBCULTURAS
Sebastião Vila Nova aponta que: “… A cultura das sociedades mais simples, como notadamente as
das sociedades tribais, tende a possuir um grau mais elevado de homogeneidade e de integração.
Seu ritmo de transformação costuma ser mais lento…”.
isto não ocorreria nas sociedades ditas complexas, predominantemente organizadas com base na
industrialização e urbanização. Nelas, a participação cultural dos indivíduos é fragmentada e
diversificada, tornando-a mais heterogênea, enquanto grupo social. Por esta razão, para
compreender as culturas das sociedades complexas é necessário identificar as subculturas que as
compõem.
SUBCULTURA significa parte da cultura. As subculturas, sendo diferentes do todo, não são
independentes da cultural total. Além disso, as pessoas participam de subculturas, mas não são
subculturas.
Nas sociedades complexas, as pessoas tendem a participar simultaneamente de várias subculturas
(Ex. Universitário, Paulistano, Rockeiro, com menos de 20 anos). Portanto, as subculturas ter
várias dimensões: espaciais, etárias, profissionais, religiosas, etc.
PROPOSTA DE EXERCÍCIO: DÊ EXEMPLOS DE SUBCULTURAS ASSOCIADAS AO LAZER E AO
TURISMO.
O que torna possível sua integração em uma sociedade complexa são os chamados ELEMENTOS
CULTURAIS COMUNS (algo como um Código de Conduta Sociocultural Geral). Ralph Linton:
“Compartilhados por todos os adultos socializados, independente de sua participação nas
subculturas existentes.”.
Exemplos: idioma, princípios éticos, tradição histórica compartilhada, sentimento de
pertencimento a essa tradição, etc. Trata-se, em suma, de um núcleo de integração cultural ou
ELEMENTOS DA CULTURA DOMINANTE.
ORGANIZAÇÃO E CONTROLE SOCIAL
A categorização de comportamentos permite a organização e controle social, com consequências
positivas e negativas. A seguir discutiremos alguns aspectos relacionados.
EXERCÍCIO PROPOSTO: Discutir com a turma as seguintes questões: O que são estereótipos? Como
surgiram? Para que servem?
ESTEREÓTIPOS
Os participantes de subculturas mais evidentes tendem a serem vítimas de rotulações sociais, ou
seja, ESTEREÓTIPOS.
Exemplos de Destinações, Produtos e Serviços estereotipados em Lazer e Turismo:
CINEMARK, DISNEY WORLD, AEROMOÇA, CARNAVAL DE SALVADOR, CAMPOS DO JORDÃO,
ESTÁDIOS DE FUTEBOL NO BRASIL, CVC, GUIA DE TURISMO ECOLÓGICO, COMUNIDADES
INDÍGENAS EM UMA DESTINAÇÃO.
Em Sociologia representam imagens preestabelecidas para todos os indivíduos pertencentes a
alguma categoria social, mediante a atribuição generalizada de qualidades de caráter positivo ou
negativo (ex. Corintiano maloqueiro). O estereótipo, porém, sendo uma visão preconceituosa e,
por vezes, discriminatória, indica uma representação falsa das pessoas rotuladas através dele.
Assim, trata-se de uma simplificação exagerada do processo de identificação sociológica.
Seu aspecto positivo ou negativo é relativo (ex. “Malandragem Carioca” pode ser encarada tanto
como qualidade como defeito). A persistência, proliferação e agravamento de estereótipos são
disseminados pelos veículos de comunicação, especialmente os de massa (Ex. TV, Agência de
Viagens, Guia de Turismo).
CONTROLE SOCIAL é qualquer meio de levar as pessoas a se comportarem de forma socialmente
aprovada. A socialização, através da assimilação de crenças, valores e normas é o meio básico
para a busca do controle social. Outro instrumento universal são as recompensas e punições. Estas
podem ser formais/ritualizadas (ex. código penal), como informais (ex. ostracismo, “gelo”).
Como visto, todo sistema social compreende necessariamente um compêndio de símbolos,
valores e normas que dão sentido e orientam as ações dos indivíduos à satisfação de suas
necessidades. Algumas normas se aplicam a todos os indivíduos, indiscriminadamente.
Grande parte, porém, vale apenas para alguns, de acordo com sua posição no sistema social total.
As pessoas possuem obrigações (deveres) e usufruem de benesses (direitos) de acordo com sua
posição ou papel social.
NORMAS IMPLÍCITAS E EXPLÍCITAS
Alguns princípios de obrigatoriedade são formulados através de normas explícitas, ou seja,
expressadas verbalmente e/ou por escrito. Já as normas implícitas são consagradas pelo costume
(consuetudinárias). O poder de coerção (convencimento) de uma regra não depende do fato de
ser explícita ou não.
Algumas leis “não pegam”, apesar de claras e detalhadas. Já outras regras sociais, desenvolvidas
na ação cotidiana, trazem um sentimento de culpa para quem as transgride maior que muitas leis.
NORMAS: SAGRADAS E SECULARES
SAGRADAS: vinculadas às regras as quais são reservadas punições, formais ou informais, mais
severas, e que podem desestabilizar a ordem social de determinado grupo (ex. Judeu comer carne
de porco);
SECULARES: normas tidas como de menor importância pelos indivíduos (ex. adotar a dieta da sopa
para emagrecer, quebrando o padrão convencional de alimentação de determinada sociedade
e/ou grupo familiar).
Cabe destacar que nas sociedades contemporâneas, há uma tendência de tolerância em relação a
uma série de regras tradicionais, além do surgimento de outros padrões de comportamento.
EXPECTATIVAS DE COMPORTAMENTO
São fundamentais para a fluência do convívio social. Muitas vezes, nos percebemos agindo
“automaticamente”. A definição da forma de agir está muito atrelada a percepção da posição
social do outro. Ao identificarmos é possível fazer previsões a respeito de suas prováveis ações,
além de presumir o que ele espera de nós.
STATUS E PAPEL SOCIAL
STATUS é o mesmo que POSIÇÃO SOCIAL.
Em outras palavras, é a localização do indivíduo em uma hierarquia social, de acordo com sua
participação na distribuição desigual de riqueza, prestígio e poder.
A RIQUEZA representa o STATUS ECONÔMICO; o PRESTÍGIO e STATUS SOCIAL e o PODER o STATUS
POLÍTICO.
Vale lembrar que é próprio da condição social do ser humano ocupar posições com direitos e
deveres preestabelecidos, independente do indivíduo que o ocupa (ex. comportamento pré-
definido do Presidente da República).
Todo indivíduo ocupa várias posições sociais.
Algumas posições são ocupadas por escolha pessoal (status adquirido);
Outras por pressão social e/ou, involuntariamente (status atribuído)
Já o PAPEL SOCIAL é o comportamento esperado dos indivíduos para determinados status.
Também pode ser atribuído por terceiros ou adquirido pessoalmente. Um elemento subjetivo
imprescindível para o desempenho de papéis é a percepção de si próprio através dos olhos
alheios. Esta capacidade é aprendida através da socialização. Nenhum papel social existe
isoladamente (ex. só existe fiel porque tem sacerdote).
ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
A Sociedade Capitalista é baseada na Estratificação Social (DIVISÃO DE CLASSES). Algumas
sociedades apresentam MAIOR MOBILIZAÇÃO SOCIAL do que outras. A divisão de classes não
ocorre apenas na esfera econômica. A definição do PAPEL SOCIAL e da condição atribuída e
adquirida de POSIÇÃO SOCIAL (STATUS) está intimamente ligada ao modelo social de divisão de
classes.
Os grupos sociais que fogem dos padrões de comportamento são marginalizados. O rico
marginalizado se intitula excêntrico. O importante é lembrar que tanto o rico como o pobre são
marginais, no sentido de estarem fora do padrão convencional.
Há outras formas de marginalização além da questão econômica (religiosa, time de futebol, idade,
etc). Grupos Marginais (Ou Não-Convencionais) são mais fáceis de serem estereotipados
(categorizados socialmente por uma visão parcial e limitada presente no senso comum). O Senso
Comum pode ser bom (Referência Social – Expectativa) ou ruim (Discriminação).
O termo LAZER vem do latim licere (ser lícito, ser permitido), é normalmente definido como uma
série de atividades que o ser pode usufruir em seu tempo livre, ou seja, naquele momento em que
não está trabalhando, em tarefas familiares, religiosas ou sociais, e que lhe proporcionam prazer.
Neste contexto ele tem a oportunidade de relaxar, descansar, se distrair, exercer alguma forma de
recreação.
É preciso não esquecer, porém, que o Lazer não é apenas um grupo qualquer de ocupações sem
propósito, ou usado para preencher a esmo o tempo livre do sujeito. Ele pode, através da vivência
plena da ANIMAÇÃO CULTURAL, ter uma conotação crítica e até mesmo transformadora da ordem
instituída, mesmo que isso implique em desconstruir antigos mitos e convenções.
Neste sentido, pode ser considerado como uma poderosa ferramenta no sentido de despertar o
potencial criativo das pessoas e incluí-las culturalmente. Também pode colaborar na busca do
bem estar físico, psíquico e espiritual, essenciais para a tão almejada QUALIDADE DE VIDA.
Sem falar que o Lazer também está ligado ao âmbito pedagógico. Neste sentido, se ele é
exercitado corretamente, pode colocar em prática os ‘Quatro Pilares da Educação’ de Delors:
1) Aprender a conhecer e a pensar; 2) a fazer; 3) a viver juntos, ou com os outros; 4) a ser.
Portanto, o papel do Lazer não é somente divertir alguém, apesar da inegável importância da
recreação descompromissada.
O Lazer também é comumente classificado como Passivo ou Ativo.
O Passivo é aquele que aliena o ser, e o envolve na teia consumista gerada pela Indústria
Cultural, na qual o consumidor não passa de mais uma peça da engrenagem. Ele é inserido no
mercado, hipnotizado pelo universo da publicidade, que incentiva e até convence para a vivência
de certos hábitos recreativos. Neste sentido o Lazer também se transforma em um produto,
acessível não mais apenas pelo tempo de que a pessoa dispõe e a atitude que coloca em prática,
mas também pelo capital, aspecto cada vez mais relevante no âmbito do entretenimento
contemporâneo.
A partir deste contexto o ser humano fica a mercê da mídia, aliada fiel da cultura de massa
mercantilizada. Isto o torna impotente e incapaz de optar ou de filtrar as inúmeras atividades a ele
oferecidas. Como consequência deste processo, o indivíduo passa a agir como um autômato,
segue consumindo o produto Lazer sem ter o poder de processar seu conteúdo e de transformá-lo
em aprendizado ou bem-estar.
Já o Lazer ativo possibilita uma nova enunciação das múltiplas vivências, uma conversão das
atividades em conhecimento, em expressão criadora e em novos olhares e potencialidades.
Neste campo é permitida uma maior convivência social e uma melhor qualidade de vida.
Simultaneamente o ser encontra o desejado deleite e o imprescindível repouso.
O mais renomado autor sobre o assunto é Jost Krippendorf, que escreveu “Sociologia do Lazer e do
Turismo”. Recomenda-se a leitura, ao menos, do capítulo introdutório e do capítulo 2. Aos mais
apressados, segue um pequeno resumo de alguns dos principais assuntos discutidos na obra:
Um especialista em comportamento poderia considerar que se as condições de viagens
massificadas em alta temporada fossem impostas aos trabalhadores durante as horas de
obrigação profissional, os sindicatos interviriam, e com razão. A mobilidade, as férias, as viagens
são conquistas sociais. Contudo, a alegria que deveriam proporcionar não chega. Isto porque a
medalha tem um reverso. Por aquilo que conquistamos, somos obrigados a pagar, a dar algo em
troca. Assim, as consequências dessa nova liberdade de ir e vir, tão duramente conquistada,
ameaçam sufocar-nos. Afinal, este fenômeno contemporâneo traz ganhos ou prejuízos?
O ser humano não nasceu turista, mas com a curiosidade e um sentimento um tanto nostálgico
quanto aos destinos longínquos que gostaria de conhecer. A dinâmica de tais atributos determinou
refinadas viagens da aristocracia até o fim do século XIX. Porém, o que impulsiona milhões de
pessoas hoje em dia para longe de suas casas não é mais o desejo inato de viajar. Viajar deixou de
ser nos últimos 100 anos, em muitos casos, o desejo de fazer descobertas e realmente aprender
alguma coisa.
As pessoas viajam porque não se sentem mais à vontade onde se encontram no cotidiano, seja no
local de trabalho, seja onde moram. Sentem a necessidade urgente de se desfazer
temporariamente da rotina trabalho-moradia-lazer, a fim de estar em condições de retomá-la
quando regressarem. Vale lembrar que o trabalho é cada vez mais mecanizado,
compartimentalizado e determinado fora da esfera de sua vontade.
A fria racionalidade das obrigações sociais leva ao empobrecimento das relações humanas, a
repressão de sentimentos, a degradação do ambiente com a literal perda da “naturalidade”. Tais
condições geram o estresse, o esgotamento físico e psíquico, o vazio interior e o tédio. Para
encontrarmos uma compensação para tudo o que nos falta no cotidiano, viajamos. Desejamos
liberar-nos da dependência social, desligar-nos e refazer as energias, desfrutar da independência e
da livre disposição do próprio ser. Viajamos para viver, para sobreviver.
Além de tais motivações (fins), os meios para alcançar a condição de viajante são fornecidos pelo
próprio sistema: Dinheiro, Tempo, Mecanismos físicos de acesso (infraestrutura e equipamentos de
transporte), Mecanismos psíquicos de acesso (informação – através de agências, contatos sociais,
propagandas dos empreendimentos e destinações), Indústria do Lazer: sistema que se apoderou de
nosso tempo livre e oferece-nos não apenas satisfações, como também cria, se necessário, as
expectativas e desejos correspondentes.
Todo esse sistema em modelo industrial de contraponto ao trabalho e as obrigações se organiza
em uma espécie de CICLO DE RECONSTITUIÇÃO. Durante a escapada, consumimos o clima, a
natureza e a paisagem, a cultura e os seres humanos das regiões visitadas, que transmutamos em
“espaços terapêuticos”. A seguir, voltamos para casa, mais ou menos em forma, para suportar o
cotidiano durante certo tempo – até a próxima viagem.
O desejo de viajar novamente vai voltar logo, pois alguns dias não são suficientes. O corpo
transborda de anseios e desejos. É dessa repetição permanente de necessidades insaciadas e
insaciáveis que o ciclo tira sua dinâmica própria. Trabalhamos, sobretudo, para poder sair de férias
e temos necessidade de férias para poder retomar o trabalho.
Se não existisse o turismo, seria necessário construir clínicas e sanatórios, para que o corpo
humano se recuperasse do desgaste gerado pelo cotidiano enfadonho. O turismo funciona, assim,
como terapia da sociedade, como válvula que faz manter o funcionamento do mundo todos os
dias. É um remédio, uma droga, que vicia, gera efeitos colaterais, ajuda a manter o corpo e a
mente, alucina e até mata.
O turismo gera, portanto, um efeito estabilizador para: Indivíduo, Sociedade, Sistema (estrutura
política, econômica e sociocultural vigente).
É interessante notar que quando o ser humano consegue mudar de ambiente e desligar-se do
anterior, desenvolve, após experimentar a fugacidade do turismo, a necessidade de voltar á
estabilidade benéfica do seu dia-a-dia. Ele viaja para perceber que as coisas não são tão ruins
assim em casa, e que talvez sejam até melhores do que qualquer outro lugar. Ele viaja para voltar,
com saudades do lar e do cotidiano enfadonho. Só aventuras, novidades, sonhos e “felicidade”,
cansam.
Contudo, um número crescente de pessoas começa a se dar conta de que o sistema atual é
inadequado. Isto se reproduz na esfera do lazer e do turismo, mercantilizados e descaracterizados,
trazendo mais prejuízos que benefícios. A preocupação com o meio ambiente, por exemplo, é
crescente. Não se restringe somente a ambientalistas. Hoje muitos são contrários a intervenções
paisagísticas drásticas, como grandes hotéis em uma praia deserta ou ao incremento rodoviário,
que pode descaracterizar uma localidade, aumentando exponencialmente seu fluxo.
Os habitantes das regiões visitadas começam a sentir, também, certo rancor em relação aos
efeitos negativos do êxodo das massas turísticas. Elas se sentem muitas vezes invadidas e, ao
mesmo tempo, excluídas. Desejam não depender somente do turismo, ou, ao menos, participar da
gestão de seu desenvolvimento. Divulgam e tratam bem o turista por necessidade (dependência)
financeira. Mas, no fundo, gostaria de se livrar deles.
O sistema econômico, que se baseia na rotação entre produção/consumo desenvolveu, há algum
tempo, uma dinâmica muito perigosa. Não se trata de cobrir as necessidades humanas que
realmente se fazem sentir. Elas já estão satisfeitas em sua maior parte.
Também não se trata de criar novos valores. A economia distanciou-se do ser humano, colocou-se
acima deste e, de certa forma, apoderou-se de sua liberdade.
Economia simboliza administração de recursos escassos. Em uma sociedade pautada no consumo
crescente de novas necessidades, as distorções são inevitáveis. Tais assimetrias se expressam no
universo do lazer e das viagens. Como exemplo, pode-se considerar que na maioria das destinações
turísticas existe um mercado de construção civil que obedece leis próprias e que se dissocia, muitas
vezes, do próprio turismo.
O turismo de lazer constitui uma das formas de ocupação do tempo e do espaço mais marcantes e
de impactos menos controláveis. Para descobrir a natureza do turista, por exemplo, é necessário
tentar compreender como se conectam os elementos do fenômeno turístico (ambientais,
temporais, econômicos, legais, estruturais, socioculturais, mercadológicos, humanos). Precisamos
saber quais são suas causas e efeitos, os desejos e as realidades. É necessário compreender, antes
de mais nada, o mecanismo de seu funcionamento, antes de determinar os meios de controlá-lo,
modificá-lo e aperfeiçoá-lo.
O HOMEM À PROCURA DO EQUILÍBRIO
Encontrar o próprio equilíbrio entre as necessidades é dominar a vida, viver liberado das tensões e
das inquietações – um estado que poderíamos chamar de felicidade. Todavia, se um dos polos é
mais forte que o outro, surge um sentimento de insatisfação, de carência ou saturação, seguido do
imperioso desejo de reagir, ainda que, muitas vezes, sem se saber como. Neste caso, a saída mais
adequada é buscar um equilíbrio de atividades, em que o corpo e a alma buscam a harmonia entre
estímulo e repouso.
Naturalmente, este ponto varia de um indivíduo para o outro, sendo alguns mais calmos e passivos
e outros mais afeitos a ação e ao estímulo. De um lado, o homem está sujeito aos estímulos sob a
forma da “corrida contra o relógio”, do barulho e do estresse. Por outro, tantas coisas são
monótonas, sem atrativos e iguais: a moradia, os arredores, o trajeto para o local de trabalho, o
trabalho em si e até mesmo o lazer diário.
O PROFISSIONAL DE LAZER E TURISMO QUE SOUBER COLABORAR COM A DOSAGEM ESTÍMULO-
REPOUSO DE MODO CRIATIVO E MOTIVADORA TERÁ SUCESSO.
O recuo para dentro de si (egoísmo), o empobrecimento dos contatos humanos e o sedentarismo
(mental e físico) são outras questões-chave. Não é surpreendente que, na linguagem comum, a
noção de cotidiano só tenha conotações negativas. Contudo, algo gera mais incômodo: existem em
nossas vidas dias mais comuns do que domingos e feriados?
A possibilidade de sair, e principalmente, de viajar, reveste-se de importância. Afinal, o cotidiano
só será suportável se pudermos escapar do mesmo. Quando chega o final de semana ou as férias,
alegramo-nos de antemão, traçamos planos e fazemos preparativos. Desejamos aproveitar o
precioso tempo livre para satisfazer nossos desejos que foram reprimidos no cotidiano.
A grande questão é: essas necessidades, via de regra, só podem ser satisfeitas “fora” e não
“dentro”. A exceção seria dos privilegiados que exercem uma atividade genuinamente agradável,
criativa e variada. Além disso, aqueles que determinam eles próprios as tarefas do dia e o ritmo de
trabalho, que são livres, a quem nada falta e cuja moradia é tão agradável que poderiam passar as
férias no jardim. Para estes raros sortudos, todos os dias são, de certa forma, férias.
Este benefício, porém, são reservados ao pequeno número de aristocratas do trabalho: escritores,
pintores, músicos, professores e poucos outros que souberam se organizar. Em compensação,
todos aqueles que são escravos do trabalho e que fazem parte da sociedade industrial necessitam
de consolo “externo”. Para eles, o repouso e as férias são sinônimos de sair, viajar. Nossa
sociedade projeta para fora as necessidades de repouso. Por isso, torna evidente a polarização
“trabalhar e morar aqui X descansar além”.
As cidades não se preocupam de fato com o lazer, tampouco com as necessidades de relaxamento
de seus habitantes. Quando o fazem, manifestam-se de modo estéril, adequando-se a aspectos
consumistas, de ritmo controlado e frenético de vida e a perspectiva ilusória de “salvação da
lavoura”, alimentada pelas mídias e pelas empresas do setor.
Veja a cruel lógica urbano-espacial: há uma pressão crescente para implantação de lugares de
trabalho – mais valorizados, nos centros. Os preços dos terrenos aumentam. O espaço habitável se
reduz. As cidades transbordam e invadem o campo. As vias de comunicação entre cidade e campo
se desenvolvem.
Os esforços desesperados para salvar alguns espaços verdes e implantar algumas instalações de
lazer não alteram a situação: as condições de moradia e a qualidade de vida nos conglomerados
urbanos se degradam a olhos vistos, com o agravante que a prioridade, quase sempre, é das zonas
centrais.
O que impele um indivíduo a viajar, a procurar lá fora (da casa, no espaço periférico e carente
urbano; e do trabalho, no espaço central e caótico urbano) o que obviamente não encontra dentro
(equilíbrio, paz de espírito, felicidade, prazer, liberdade) não é tanto um resultado de um impulso
pessoal. Trata-se mais da influência do meio social, que fornece a cada um suas normais
existenciais, como o princípio dos deslocamentos e processos temporais da urbanidade (pós)
industrial.
Em outras palavras, a decisão pessoal é, de certa forma, condicionada pela sociedade. Para o
homem em constante estado de carência, a nossa sociedade oferece o turismo, como “antídoto à
infelicidade”. A necessidade de relaxamento é reconhecida e orientada para o turismo e
transformada em viagem. No entanto, esta necessidade poderia, se fossem criadas melhores
condições, ser muitas vezes saciadas em casa.
Como a prioridade política, econômica e social não é oferecer às massas condições de moradia e
trabalho prazerosas, explica-se como o turismo tornou-se uma norma social, consolidando-se
como um dos fenômenos comportamentais mais relevantes da sociedade contemporânea.
Não se diz: “O que você faz nas férias?”, mas “Aonde você vai nas férias?”. Ficar em casa durante
todo o tempo liberado das obrigações pode parecer algo de difícil justificativa, sem que haja perda
do prestígio social. O choque do lazer extra-doméstico anestesia e paralisa a intensa animação
das cidades. Não haveria, portanto, uma coerção social de fazer o que todos fazem? E o que será
daqueles que são obrigados a ficar, “de castigo”, em casa?
A situação não poderia ser mais favorável aos vendedores de férias e aos promotores de turismo:
os fatores sociais já evocados criaram, de antemão, um clima propício às viagens. A necessidade
de relaxamento é comercializada e transformada em viagens de todas as espécies, de acordo com
as regras de arte do marketing.
Em muitos aspectos, as técnicas de venda de viagens são as mesmas que para um aspirador de pó,
automóveis ou outros bens de consumo. No entanto, dado o fato de que as operadoras e agências
de viagens tiram partido do sentimento nostálgico e do sonhos das pessoas, tratam de
comercializar paisagens, os seres, as experiências e as culturas. Com isso, percebe-se o tamanho da
responsabilidade deste profissional.
Esta consciência, contudo, praticamente inexiste, até porque os profissionais visam atender os
interesses comerciais da empresa na qual estão vinculadas. Isto significa que não interessa o real
motivo da viagem, mas que a mesma seja simplesmente realizada e, para tal, é necessário
descobrir como “fisgar o peixe turista”. Segue no próximo parágrafo recomendações psicológicas
de promoção em cartazes turísticos:
• O importante é dar a impressão de um ambiente de férias, isto é, de um antípoda do
cotidiano que reflita, de um lado, descontração, bem-estar, alegria, liberdade, prazer e, de
outro, repouso, espaço.
• Deve-se dar a impressão de imobilidade do tempo, relaxamento, assim como um certo
romantismo, uma experiência especial.
• Algo que não pode se ter na vida todos os dias e que não lembre a vida cotidiana (ex.
aparência diferenciada – estética, vestuário – dos que usufruirão do local).
• As pessoas locais devem obedecer os padrões de beleza convencionais da comunidade
emissora, tomando o cuidado para serem um pouco diferentes, especiais e, ao mesmo
tempo, sem causar muita estranheza, a ponto de serem alvos de preconceitos ou
inseguranças no contato com os turistas.
Os clichês são os mesmos, como há várias décadas:
• Oceano de um azul profundo; Areia branca; Pôr-do-sol;Palmeiras e Coqueiros; Belos
turistas bronzeados e felizes; Aldeias pitorescas nas montanhas; Piscina reluzente;
Neves eternas; Paisagens intactas; Pistas de esqui; Buffets ricamente guarnecidos;
Famílias unidades e radiantes; Vida noturna com luzes, cores e diversão.
Ao se perguntar às pessoas a razão da realização de uma viagem, é traçado um perfil
psicológico do turista. Não há nada surpreendente na constatação de que as razões
predominantes são aquelas que a publicidade geral e turística enseja. Entretanto, diferentes
motivações permanecem no domínio do inconsciente e do subconsciente e não podem vir à tona
por perguntas assim tão simples.
Em uma pesquisa feita na Alemanha no ano de 1985 se questionou o motivo da pessoa ter
realizado uma viagem durante o período de férias. Os principais resultados são:
Desligar, relaxar; Para fugir da vida diária, mudar de ambiente; Recuperar as forças Estar em
contato com a natureza; Ter tempo para o outro; Comer bem; Em seguida, com menos citações
vieram: Descansar, não fazer nada, não fazer esforços; Ir de encontro ao sol e fugir do mau tempo;
Estar com outras pessoas, ter companhia; Fazer o que quiser, ser livre; Ar puro, água limpa, sair da
poluição; Distrair-me, brincar, me divertir; Conhecer novos lugares e obter novas impressões; Ver
outros países, ver o mundo.
Outros itens citados em menor proporção foram: Para ter a chance de me mexer através de
atividades físicas fáceis e divertidas; Para ser tratado com deferência, para me dar prazer; Para
cuidar da saúde, prevenir doenças; Para cuidar da beleza, bronzear-me; Para alargar os horizontes,
cultivar a própria educação e o saber; Rever parentes, conhecidos, amigos.
Por fim, foram lembradas ainda as seguintes experiências: Reavivar as lembranças; Dedicar-me
aos meus interesses; Pegar a estrada; Fazer uma introspecção, ter tempo para refletir; Para partir
em busca de aventuras, assumir riscos, fazer face ao insólito.
A interpretação de Krippendorf indica como principais motivações sociológicas às viagens:
– Viajar é descansar, refazer-se; Viajar é compensar privações a integrar-se
socialmente; Viajar é fugir; Viajar é comunicar-se; Viajar é alargar o próprio
horizonte; Viajar é ser livre e independente; Viajar é partir para a descoberta de si
mesmo; Viajar é ser feliz; Viajar é…(algo imensurável!).
Para se sentir em férias, basta, à maioria das pessoas, não precisar trabalhar nem estar em casa. O
ambiente estranho tem a função de uma decoração exótica. No entanto, parece por demais
“estrangeiro”, diferente do comum, e acaba se tornando desconfortável e talvez até ameaçador.
De certa forma, não desejamos abandonar nossos queridos hábitos, pois eles nos confortam.
Muitos turistas querem a mesma alimentação, bebidas, idioma, jogos e conforto de casa.
• As Agências de Viagens propagandeiam:
– Desfrute das satisfações do padrão internacional de nossos serviços
– Nós lhe damos o sentimento de estar em casa.
EM SUMA, FUGINDO-SE DO COTIDIANO PELO ANTICOTIDIANO, A PESSOA, FATALMENTE, SE
DESCOBRE NO COTIDIANO.
Além disso, a motivação egocêntrica do turista determina outro aspecto característico de seu
comportamento. Neste, a viagem tende a se tornar um fenômeno agressivo, abusivo e colonialista.
Longe de casa, o turista se despe de certas normas. Pouco importa o que os outros vão pensar. Ele
pagou, não é verdade?
Longe de casa, alguns viajantes se julgam como pessoas especiais e agem assim. É o reino do
“Vamos aproveitar pois amanhã iremos embora.” Pensando em uma escala de massa, a
consequência deste comportamento inconsequente e egoísta pode ser catastrófico à destinação,
seus habitantes e a própria dinâmica da viagem.
Outra característica típica de seu comportamento é a procura da confirmação da ideia que ele
formou sobre as férias. Trata-se, antes de mais nada, de imagens e sonhos pré-fabricados pela
publicidade, geral e turística. Eles estão presentes em nossas mentes durante a viagem e
desejamos que tais promessas sejam cumpridas, mesmo que, em geral, representam meramente
clichês e não reflitam nem parte, ou nada, da realidade.
A indústria do turismo cria e satisfaz, simultaneamente, a necessidade de viver experiências
familiares inofensivas e agradáveis em um ambiente estranho. A localidade diferenciada reduz-se
ao pitoresco (do inglês “picture”). Literalmente torna-se uma fatia “fotografável” da destinação,
não necessariamente a mais autêntica.
Neste sentido, o turismo em guetos formam reservas artificiais, construídas sob medida. Esta
categoria compreende os novos complexos hoteleiros, parques e loteamentos de férias. Estes, em
geral, estão alheios ao nível de desenvolvimento estrutural, econômico e sociocultural da
localidade, constituindo-se, como dizem alguns geógrafos, em um “não-lugar”.
Tais empreendimentos bastam a si mesmos, sendo, inclusive, mais famosos que as localidades em
que estão inseridos (ex. Em qual município fica a Complexo Sauípe de Hotéis e Entretenimento?).
Não há necessidade de sair, pois lá dentro existe tudo o que o turista é incentivado a
vivenciar/consumir.
Por outro lado, pode-se pensar que se constitui na fórmula mais honesta porque leva em
consideração a formatação de sonhos em um contexto espacial e temporal moldado para tal.
Além disso, talvez seja a forma de turismo que produza menos efeitos negativos na localidade
visita e sobre a população autóctone. Simplesmente porque a interação é mínima ou nula, em
alguns casos.
Em comum, tais empreendimentos possuem a exclusividade, a diversidade de serviços,
equipamentos e experiências ligadas às expectativas dos visitantes, a segurança e uma paisagem
“emprestada” e paradisíaca. Eis por que, em diversos locais, instalou-se uma atitude de rejeição
por parte da população em relação a este tipo de turismo.
O desperdício de recursos, nesses lugares, é assustador, até mesmo para os mais alienados dos
turistas. Uma dose de uísque pode custar mais que o salário de mais da metade da população da
comunidade ribeirinha ao redor do resort. Mais do que isso, a mão-de-obra é contratada das
capitais e do exterior, por já terem a “capacitação” e compreenderem o “padrão internacional”. Os
piores cargos vão para os autóctones, que invariavelmente são discriminados e menosprezados.
Hoje, muitos gestores públicos das destinações nos quais tais empreendimentos estão inseridos
falam de gestão participativa.
Porém, as lideranças comunitárias são usadas como massa de manobra política. O dinheiro até
vem para o município, estado ou país, através de impostos, mas a contrapartida, em geral, é ruim.
Inflação, drogas, prostituição são consequências comuns de uma invasão sem planejamento e com
interesses elitistas, privados e exploratórios, no pior sentido do termo.
EXERCÍCIO PROPOSTO: Leitura conjunta, com debates sobre os principais assuntos.
A segunda parte deste tópico baseia-se na análise dos principais conteúdos da obra: “Turismo e
Identidade Local – uma visão antropológica”.
A primeira discussão relevante diz respeito à importância do turismo aos estudos da antropologia.
O primeiro aspecto considerado pelos antropólogos é que só é um fenômeno social porque faz
parte das necessidades criadas pelo mundo moderno. Além disso, pode assumir papel relevante
na transformação do espaço. Também afere impactos, positivos e negativos, a turistas,
empresários de turismo e intermediários, papeis sociais cada vez mais comuns. Por fim, tem o
poder de ensejar nas populações o imaginário da prosperidade econômica e sociocultural, a
partir da inserção no mercado de consumo de viagens e no estabelecimento de comportamento
turísticos, respectivamente.
Na antropologia do turismo destacam-se os seguintes estudos:
o impacto da cultura local ocasionado pelos contingentes de pessoas portadoras de
outros padrões culturais;
as mudanças nas relações de gênero nas famílias tradicionais, a partir do contato
com turistas;
as mudanças de hábitos por aculturação ou endoculturação;
a geração de novas necessidades socioculturais.
Uma antropologia aplicada ao turismo pode redundar em benefícios para os turistas e para as
populações receptoras se os atores envolvidos refletirem sobre eles, buscando alternativas de
desenvolvimento harmônico que permitam atingir o paradigma da sustentabilidade plena, que
reúna aspectos econômicos, sociais e ambientais.
FORMAS DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO SEGUNDO A ANTROPOLOGIA:
construtor de tradições inventadas e não como um fenômeno isolado;
meio de sobrevivência e de valorização da cultura local, da identidade, resgate e
(re) significação;
desencadeia uma aproximação entre passado e presente;
Em suma, o turismo pode ser visto como: Cultura encenada, tradição inventada, porém, acaba
penetrando os interstícios do tecido social e se transforma em movimento cultural, com
valorização e conhecimento do próprio passado (Banducci Jr, 2004).
Ademais, quando o turismo envolve religião, este seculariza os rituais, reforça a identidade do
povo aos que assistem. Isso de certa forma contribui para a identidade turística dos lugares, vista
como uma construção social. Esta é feita de tradições inventadas e de manifestações culturais
capazes de atender interesses diversos (econômicos, ambientais, socioculturais).
Aula 9: Autenticidade X Artificialidade do Turismo
PARADIGMA TURÍSTICO NA ANTROPOLOGIA: controvérsia sobre a natureza do turismo como
“pseudo-acontecimento” ou como “evento autêntico”.
O autor recorre a vários teóricos que congratulam essa discussão tais como: MacCannel (1999),
Urry (1996), Mckean (1995). O primeiro defende que o turismo aparece como uma busca pela
autenticidade, a ser encontrada em outras culturas. Urry recorre a MacCannel afirmando que o
turista ‘é uma espécie de peregrino contemporâneo, procurando autenticidades em outras épocas
e em outros lugares distanciados de sua vida cotidiana’ (p.22). Já Mckean vê o turismo não como
uma busca de prazer banal ou escapismo, mas como uma possibilidade de se conhecer o outro e
nós mesmos de forma recíproca.
Banducci Jr. discute quatro abordagens distintas para o turismo enquanto fenômeno
sociocultural: PLATAFORMA DE DEFESA, PLATAFORMA DE ADVERTÊNCIA, PLATAFORMA DE
ADAPTAÇÃO, PLATAFORMA DE CONHECIMENTO.
A PLATAFORMA DE DEFESA enquadra trabalhos de planejadores e especialistas envolvidos com o
turismo. A perspectiva essencialmente de mercado propicia uma visão otimista, tais como encarar
o turismo como: fonte de riqueza, trabalho e renda.
PLATAFORMA DE ADVERTÊNCIA: é definida por uma postura crítica, por apontar graves problemas
sociais surgidos a partir do empreendimento turístico, tais como: prostituição, dependência
econômica, desestruturação de valores e práticas culturais, além da degradação ambiental e
natural. Enquadra principalmente trabalhos das ciências sociais, movimentos religiosos,
organismos públicos e da mídia. Destaca-se nesta perspectivas os trabalhos de Jordan (1980),
Glenn (1989), Nash (1996) e Greenwood (1995).
PLATAFORMA DE ADAPTAÇÃO: surge num contexto de debate para questionar sobre se todo tipo
de turismo apresenta o mesmo efeito/causa sobre as comunidades. Destaca-se por apontar
formas alternativas de turismo, com o objetivo de se ter a menor quantidade de impactos. Nessa
linha de adaptação os trabalhos de Smith (1995), Ceballos-Laucuráin (1996), Hill (1990),
contribuem bastante para uma nova proposta e desdobramento do pensar turismo nas sociedades
atuais.
PLATAFORMA DE CONHECIMENTO: é a ‘formação de um corpo científico do conhecimento sobre o
turismo’ (p.30). Propõe-se nesta categoria superar a perspectiva maniqueísta. Destacam-se nesta
linha os trabalhos de MacCannell (1999), Jafari (1987), Nash (1981;1996), Crick (1989), Nuñez
(1995), Graburn (1995) e Urry (1996). Nesta mesma perspectiva contribuem outros autores que
estejam preocupados em desenvolver uma análise mais ampla do turismo, revelar sua natureza e
o significado do turismo na sociedade. Propõe ultrapassar a análise dos efeitos da atividade
turística como fenômeno social, para a compreensão do lugar, o papel dessa atividade no contexto
das relações sociais e culturais numa sociedade que é marcada pela globalização, deslocamento e
interação cultural entre povos distintos.
TURISTA X VIAJANTE
Araujo (2003) busca estabelecer um espaço analítico de reflexão antropológica sobre o turismo
baseando-se em na categorização de 02 tipos de visitantes: turista e viajante. Tece sua discussão
baseada nos estudos de Daniel Boorstin e Dean MacChannell.
A discussão percorre um espaço de compreensão entre o viajante e o turista. A princípio o turista
era visto como alguém que não viajava a sério, compreendido também como ocupação frívola. Era
dissociado geralmente a um tipo genuíno de viajante, que busca conhecimento e interação com a
comunidade receptora.
A forma de como se processou a ideia do turismo americano, voltado para saciar uma experiência
de pseudo-evento, pautado por excessivas e exageradas expectativas que contribuem para essa
‘artificialidade’. Isto se contrapõe ao paradigma da viagem plena, referenciada pelo modelo
europeu iniciado com o “Grand Tour”. Ao longo dos séculos XVII, XVIII e até no século XIX,
somente os ricos poderiam viajar, via de regra, uma viagem associada ao conhecimento e
formação particularizada. Sendo que o paradigma da viagem europeizada possuía uma natureza
de empreendedor individualizado, que requeria planejamento, disponibilidade e risco de vida.
Somente a partir do século XIX, que se começa a desenhar uma figura do turista. Definido como
sendo aquele que procura prazer (pleasure seeker), que vai produzir a figura do ‘espectador’.
Pode se dizer que a passagem da viagem para o turismo se amplia, buscando transformar-se em
realidade mítica, por meio de um novo processo de organização de viagens destinadas a um
número maior de pessoas (INDUSTRIALIZAÇÃO DO UNIVERSO DAS VIAGENS).
A concepção de viajar se amplia à medida que vai se modificando, quando vai se dando a transição
da viagem individualizada para a viagem ampliada e experimentada por grupos. A ideia de viagem
passa agregar diversos serviços, planejamento, o risco diminuído e os esforços agregados e as
pessoas para atender o viajante-turista. Esses aspectos são identificados por Boorstin como
responsáveis para a transformação da viagem em turismo.
Araujo (2003) destaca que a alteridade* é um elemento importante para o contraste entre os dois
paradigmas: o da viagem – trata-se de ‘ir ao encontro dos nativos’ – e o do viajante-turista –
poupado de entrar em contato com os ‘locais’ de forma autêntica e real.
* Alteridade – Todo homem social interage e depende do outro.
A autora diz que quanto à dimensão do deslocamento, destacam-se as diferenças de significados
associados aos dois paradigmas de que trata:
o da viagem, vivido pela égide da liberdade, pautado na possibilidade de vivenciar;
e o turismo, onde destaca que mesmo os movimentos possam ser virtuais e
rápidos, a busca pela novidade parece não levar pra qualquer lugar.
Por fim, conclui enfatizando que o turismo pode ser analiticamente redimensionado se apreciado
como parte de um sistema de relações sociais.
TERMINOLOGIAS, NO FUNDO, ESTÃO ATRELADAS A MODISMOS E/OU ESTEREÓTIPOS. “TURISTA”
OU “VIAJANTE”, TODOS SÃO VISITANTES QUE REALIZAM ALGUM PROCESSO DE INTERAÇÃO
SOCIOCULTURAL. AVALIAR TAL TROCA COM O MEIO NÃO HABITUAL VISITADO NÃO É FÁCIL, MAS
AJUDA A DEFINIR PADRÕES DE COMPORTAMENTO IMPORTANTES PARA REFLEXÕES DE CARÁTER
SOCIOLÓGICO.
PARA IR MAIS LONGE: TEXTO COMPLEMENTAR: “Estereótipos de Turistas e Viajantes”
Disponível em: http://www.overmundo.com.br/overblog/nao-sou-turista-sou-viajante
(Mastercard) http://www.youtube.com/watch?v=AwgXV9n7z7s&feature=related
Aula 10: Turismo de Base Comunitária
Este é um dos temas mais atuais em termos de turismo, uma vez que tem relação com um modo
mais criativo, calmo e profundo de se desenvolver a atividade turística, pelo menos em tese.
Assim, apresenta-se a seguir o texto de referência do Ministério do Turismo sobre o assunto, de
forma a introduzi-los sobre tal temática:
Alternativa ao turismo convencional, o Turismo de Base Comunitária é uma opção para o turista
que deseja entender como funciona a preservação do patrimônio natural, particularmente em
áreas protegidas e em propriedades rurais, podendo observar os costumes de comunidades
quilombolas, indígenas, caiçaras e ribeirinhas, existentes por todo o País.
O grande diferencial desse tipo de turismo está no fato de a comunidade possuir o controle
produtivo da atividade turística, desde o planejamento até o desenvolvimento e gestão. Nesse
cenário, tanto os turistas quanto a comunidade saem ganhando ao desfrutar de encontros
interculturais, privilegiando a troca, o conhecimento e o aprendizado dos diferentes modos de vida.
Embora, para alguns turistas o tema seja relativamente recente, não são poucas as comunidades
que já possuem organização e reconhecimento internacional, como é o caso da Prainha do Canto
Verde – localizada no distrito de Beberibe a 120 quilômetros de Fortaleza (CE) – que, além de
pioneira, já recebeu inúmeros prêmios e é referência no País.
Atualmente, existem 50 projetos apoiados pelo Ministério do Turismo
(http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_pu
blicacoes/Caderno_MTur_alta_res.pdf) espalhados por todo o País. Ainda assim, em determinadas
regiões, é possível encontrar comunidades distintas, com diferentes paisagens e modo de vida
peculiar, como é o caso da Costa Verde – formada pelas cidades de Paraty (RJ), Angra dos Reis (RJ)
e Ubatuba (SP) –, que agrupa 12 comunidades tradicionais: cinco quilombolas, duas indígenas e
sete caiçaras. Todas sob a mesma premissa: a comunidade é protagonista e não mera coadjuvante
do desenvolvimento turístico.
Para quem valoriza a diversidade e procura um turismo de pequena escala, que se distingue pela
simplicidade e sabedoria construída no lugar, suas crenças, valores e técnicas, o Turismo de Base
Comunitária é a melhor pedida!
Um artigo interessante relacionada a esse assunto vem da Universidade de Algarve, Portugal:
http://ceaa.ufp.pt/turismo4.htm. Seu resumo está disponível a seguir:
A forma como os residentes percepcionam os turistas é altamente influenciada pela sua formação
sociocultural, assim como, pelo nível de mudança provocado pelo turismo.
Este aspecto é crucial para o desenvolvimento e planejamento do turismo, uma vez que as
percepções dos residentes, relativamente ao turismo, podem ter um impacto positivo ou negativo
nos novos projetos.
Contudo, conforme demonstrado pela pesquisa, as consequências de viver diariamente com o
turismo leva os residentes a estar mais conscientes para os aspectos negativos.
A ESCOLHA DO DESTINO POR PARTE DO TURISTA:
Escolher o destino de viagem é uma decisão importante para o turista e o conhecimento do
processo envolvido é uma preocupação fundamental para o setor do turismo. De forma a
manterem-se competitivos, no setor do turismo, caracterizado por um rápido crescimento, as
organizações têm de compreender melhor os mecanismos por detrás do processo de escolha dos
destinos.
FATORES SOCIOCULTURAIS SÃO TÃO RELEVANTES QUANTO FATORES ECONÔMICOS, ESPACIAIS E
TEMPORAIS.
ENTRE ESTES SE DESTACA: CRENÇAS, VALORES E NORMAS COMUNITÁRIAS, INFLUÊNCIA DE
OUTRAS CULTURAS, ASPECTOS PSICOLÓGICOS (INTERMENTAIS), ASPECTOS SOCIOLÓGICOS
(PADRÕES DE COMPORTAMENTO, ATRIBUIÇÃO DE EXPECTATIVAS E NECESSIDADES COLETIVAS)
Os autores fazem uma interessante análise sobre o papel dos souvenires, os quais podem ser
usados como: a) lembranças de determinados lugares, b) símbolos de certas culturas e/ou
religiões, c) reflexo dos processos sociais, interesses e relações de poder.
Em certas sociedades, a recordação é importante não só como um artefato cultural, mas também
como uma ferramenta analítica para compreender os complexos processos sociais. O artesanato
pode, também, desempenhar um importante papel no desenvolvimento do turismo, através da
criação de novos mercados.
Apesar da possível degradação ambiental em longo prazo, o turismo é considerado um importante
meio de desenvolvimento regional. Para um desenvolvimento equilibrado, o turismo tem de ser
adequadamente planejado, tendo em conta os recursos existentes.
Alguns países já planejam o turismo de uma forma sustentada, enquanto que outros, como
resultado de antigos regimes políticos, ou falta de recursos, estão agora a tentar redirecionar os
seus esforços, no sentido da elaboração de projetos mais conscientes para as questões ambientais.
A capacidade turística de um determinado lugar ou estância, pode ser, acima de tudo, um conceito
de gestão e não um limite absoluto. (O DESTINO TURÍSTICO POSSUI UM CICLO DE VIDA, EM QUE
AS ETAPAS DEVEM SER RESPEITADAS).
CICLO DE VIDA DA DESTINAÇÃO TURÍSTICA
Neste caso, rejuvenescimento, baseado em transformações comportamentais, pode ser uma
iniciativa de planejamento. Isto mostra a importância da EDUCAÇÃO PELO E PARA O TURISMO.
Uma variável importante no planejamento do turismo são as percepções dos residentes sobre os
novos projetos e seu desenvolvimento. De modo a que o planejamento do turismo possa ser bem
sucedido, é necessário garantir o envolvimento e participação dos residentes dos destinos
turísticos. Desta forma, os responsáveis pelo planejamento terão maiores probabilidades de obter
o apoio das comunidades locais, sendo este um elemento chave de qualquer novo projeto.
Para compreender as relações sociais atuais e projetar o comportamento humano no futuro é
preciso relacionar a questão comportamental ao consumo. Afinal, vivemos na Era do
Hipercapitalismo, em que tudo pode se transformar em uma experiência paga ou em uma
mercadoria.
Para tal, analisaremos alguns fenômenos recentes como a ascensão da nova classe média no
Brasil, o comportamento excêntrico dos milionários, o culto à velocidade e suas consequências e a
valorização do ócio (ou seria economia?) criativa.
Um conceito inicial importante de ser observado é que nem todo fenômeno social é econômico,
mas todo fenômeno econômico é social. Isto posto, é preciso definir que Economia é a Ciência
especializada no estudo dos fenômenos de produção, distribuição, circulação e consumo de bens,
geralmente limitados.
O QUE É UM BEM? Aquilo que te agrega valor
(LEMBRE-SE QUE OS VALORES SÃO DISTINTOS ENTRE INDIVÍDUOS E GRUPOS SOCIAIS)
TODOS OS BENS SÃO TANGÍVEIS?
Não! Alguns são difíceis ou impossíveis de serem medidos.
Um dos maiores problemas/dificuldades da sociedade atual é a “coisificação” e “precificação” das
experiências.
SERVIÇOS E EXPERIÊNCIAS ESTÃO ATRELADOS A QUESTÕES SOCIAIS, pois são oferecidos a partir
de padrões e expectativas de comportamento. Ex: Mensageiro levar bagagens até o quarto do
hotel e aguardar gorjetas.
Cada indivíduo e grupo social possuem necessidades e expectativas distintas, o que exige que o
mercado se adeque. COMO? Customizando serviços e divulgando produtos e experiências de alto
valor agregado (não necessariamente econômico). O valor pode ser medido também pela
duração, sensação, motivação, etc.
Em termos mercadológicos, TODO PRODUTO PRECISA TER PREÇO (CUSTO-BENEFÍCIO), FOCO
(DEMANDA) E/OU DIFERENCIAÇÃO (OFERTA) como fatores de atratividade e por conseguinte
viabilidade econômica.
A história do comportamento humano está intimamente ligada ao desenvolvimento dos mercados
e ao valor econômico estabelecido aos bens, serviços e experiências oferecidas. Nas sociedades
complexas (urbanas pós-industriais), a divisão de classes tem uma grande influência no
comportamento e interação entre as pessoas e grupos sociais. Pertencer a uma classe social, não
significa apenas ter uma determinada renda familiar, exercer algum tipo de profissão e/ou ter
certo grau de escolaridade. Significa também participar de crenças, possuir determinados valores
morais e estéticos, ter determinadas aspirações, perceber a existência de uma maneira específica.
Em outras palavras, cada classe social tende a possuir modos próprios de vida, isto é,
identificando-se às subculturas correspondentes.
Ex. Torcedor rico se comporta, em muitos aspectos, como o frequentador do teatro rico
(SIMILARIDADE ECONÔMICA). OU Torcedor rico se comporta, em muitos aspectos, como o
torcedor pobre (SIMILARIDADE DE PADRÃO DE CONSUMO DE EXPERIÊNCIAS DE LAZER).
Isto significa que o PADRÃO DE ESCOLHA DE CONSUMO é semelhante pelo grau de similaridade
social (que pode ser estratificada de diferentes formas). Isto se repete, inclusive ,no universo das
viagens, com a escolha de destinos e passeios parecidos.
PARA IR + LONGE (A NOVA CLASSE MÉDIA BRASILEIRA):
http://www.youtube.com/watch?v=h29buq2ljsM
http://www.youtube.com/watch?v=9TSU2sYz9gs&feature=relmfu
http://www.youtube.com/watch?v=DvFkunr27jk&feature=relmfu
http://www.youtube.com/watch?v=h0FuL4rbUdI&feature=relmfu
http://www.youtube.com/watch?v=mjcoLWDkc3k&feature=relmfu
http://www.youtube.com/watch?v=1eFNYdN2Lp4&feature=relmfu
(MILIONÁRIOS EXCÊNTRICOS)
http://www.youtube.com/watch?v=8cffWMfdPMU
O CULTO À VELOCIDADE
A sociedade pós-moderna tem como uma das suas principais características a pressa generalizada,
esteja ela presente nas respostas eletrônicas, na expectativa das respostas sociais ou na
velocidade do crescimento humano. Atualmente, exige-se pressa em tudo o que se vivencia. O
resultado é a ativação de um estado interno de tensão, quando o stress emocional pode se
instalar.
Espera-se do homem a mesma rapidez que se espera de uma máquina. E, como todos sabem,
achamos sempre que o computador de ontem já não mais atende à nossa necessidade de rapidez
atual: quanto mais rápida a máquina, mais queremos que ela acelere a sua resposta.
O mesmo está acontecendo com o homem: queremos que ele responda, cresça, viva e se
relacione com uma rapidez cada vez mais pronunciada, custe o que custar.
Isto gera uma série de distorções sociológicas. Entre elas se destacam os conflitos etários:
ADULTIZAÇÃO PRECOCE, INFANTILIZAÇÃO ADULTA, CULTO À JUVENTUDE.
ADULTIZAÇÃO PRECOCE: Crianças querem consumir, decidir e se erotizar como adultos. Queimam
etapas do desenvolvimento. Tornam-se emocionalmente frágeis. Vivenciam uma vida noturna
antecipada (com comportamento inadequado e riscos). Apresentam Hiperconsumismo em
Shoppings e sentem monotonia em viagens com a família (querem independência).
INFANTILIZAÇÃO ADULTA: Por não ter vivido as etapas anteriores da vida com a densidade e
duração adequadas, ficam lacunas de comportamento: Baladas extravagantes entre adultos
maduros; “Brinquedos” caros: carros possantes, roupas de grife, etc; Resgate da sexualidade
juvenil baseado na libertação plena (inclusive em viagens); Memória afetiva da infância e
adolescência: video-game, seriados, etc.
CULTO À JUVENTUDE: A velhice e a morte são coisas a se evitar. Ocorre uma espécie de Ditadura
estética, com o uso indiscriminado de “Drogas do Rejuvenescimento”. Passa-se a observar uma
imitação forçosa ao modo de vida dos jovens (ex. prática de esportes de aventura). É inegável,
portanto, uma perspectiva crescente de idosos ativos.
Outra razão que tem sido observada para o desenvolvimento e a manutenção da pressa na
sociedade atual, é o reforço que ela recebe dos chefes e supervisores nas empresas, de
professores nas escolas e dos pais, na família. O sistema e suas instituições estruturantes
encorajam todos a serem apressados, a concluírem suas tarefas em menos tempo.
O funcionário que recebe a melhor avaliação é justamente aquele que se mostra rápido, enquanto
que o trabalhador mais reflexivo, que pensa em todos os detalhes antes de agir e,
conseqüentemente, demora mais para a tomada de decisões é, muitas vezes, criticado pelo seu
modo mais calmo de ser, mesmo que seus projetos demandem mais profundidade.
As pessoas se comprometem, então, a um viver frenético, onde as realizações práticas assumem
papel prioritário (MENTALIDADE UTILITARISTA), mesmo que o sucesso tenha custos. E os custos
podem ser altos, para a saúde, para a qualidade de vida, para a sensação interior de paz e, além de
tudo, para o enfraquecimento das relações interpessoais.
Pode-se dizer com tudo isso QUE A PRESSA É INIMIGA DA PERFEIÇÃO, ASSIM COMO É AMIGA DA
ALIENAÇÃO.
A pressa do mundo moderno não permite que o ser humano se detenha nas interações, exceto
aquelas que sejam diretamente necessárias para o trabalho em dado momento. Isto contribui
para que ele não se aprofunde nos sentimentos e relacionamentos. Em outras palavras, Não há
tempo para conhecer, ouvir e ser ouvido pelo outro (O QUE TRAZ IMPLICAÇÕES DIRETAS NO
UNIVERSO DAS VIAGENS).
O resultado é a sensação de solidão, de desapego, de menos valia dos outros e,
conseqüentemente, de si mesmo. Relacionamentos efêmeros, superficiais, facilmente substituídos
por outros igualmente transitórios e de igual insignificância, ocorrem com a rapidez típica da nossa
época.
Doenças graves que parecem surgir repentinamente, deram seus avisos por meses, pois
dificilmente a doença surge de imediato; antes de ser diagnosticada, em geral, ela dá sinais. Entre
elas estão a ansiedade, a depressão, a obesidade, a esquizofrenia, o pânico, todas oriundas do
estilo de vida atual. Sim, o corpo reclama através de sintomas e mal-estares, porém o homem pós-
moderno, em geral, escolhe ignorá-los, pois não tem "tempo para perder" se auto observando
(introspecção) e se auto respeitando (colocar o desejo acima da razão). Assim, muitas vezes,
viajamos para nos reencontrarmos com nossa essência.
Aparece a ansiedade de viver mais plenamente, o desejo de se conectar, de usufruir de momentos
de qualidade, pois é da essência humana se socializar, amar e estabelecer raízes. Justamente este
desejo é o que tem levado centenas de pessoas à aderir ao "SLOW MOVEMENT", ou seja, ao
movimento de desaceleração que se originou na Espanha no final da década de 1980.
O seu nascimento representa uma ação contestatória à americanização da Europa. No primeiro
momento, a ideia era se insurgir contra a instalação de restaurantes de "fast-food".
Após algum tempo, outras facetas do movimento surgiram, como:
• Slow-cities (cidades menores, onde a pressa não é valorizada e se dá valor maior
aos contatos interpessoais),
• Slow-education (que se refere a ajudar as crianças a desenvolverem valores que
possibilitem viver uma vida mais desacelerada, mais cheia de sentido e mais
tranqüila),
• Slow-books (livros mais reflexivos a serem lidos com calma pelas crianças e seus
pais).
• Slow-travel (viagens onde a pessoa não simplesmente visita rapidamente, mas que
passa vários dias em um lugar só, participando das atividades da comunidade com
profundidade, consciência sócio-ambiental).
A obra que sintetiza o espírito do “Slow Movement” se chama “DEVAGAR” e foi escrita por Carl
Honoré, traduzida para o português em 2010.
PARA IR + LONGE: Leitura do Resumo do livro “Devagar”
PARA IR + LONGE (Cidades do Bem Viver)
http://www.youtube.com/watch?v=izbYgE7FVe8
http://www.youtube.com/watch?v=JIaT8g2dmSQ
http://www.youtube.com/watch?v=I6_MA8LGPAw
A SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL E O CONCEITO DE ÓCIO CRIATIVO
Sociedade Pós-Industrial, no contexto da evolução sociocultural, é o nome proposto para uma
economia que passou por uma série de mudanças específicas, após o processo de industrialização.
O conceito foi introduzido pelo sociólogo e professor emérito da Universidade de Harvard Daniel
Bell na sua obra The Coming of Post Industrial Society: A Venture in Social Forecasting de 1973.[1]
Tais sociedades são frequentemente marcadas por:
Um rápido crescimento do setor de serviços, em oposição ao manufaturado
Um rápido aumento da tecnologia de informação, frequentemente levando ao termo Era
da Informação.
Conhecimento e criatividade tornam-se as matérias cruciais de tais economias.
Abaixo apresentam-se 02 tabelas com informações relevantes sobre este novo modelo de
sociedade e sua comparação com o formato antigo, baseado no modelo industrial:
Um dos autores contemporâneos mais ousados e marcantes da sociologia do lazer e do trabalho é
o sociólogo italiano Domenico de Masi. Autor de consagradas obras como “O Futuro do Trabalho”
e “O Ócio Criativo”, o autor expõe uma polêmica teoria sobre a flexibilização das relações de
trabalho e, consequentemente, dos grupos sociais, pautando-se na suposta tendência de
aproximação entre diversão, conhecimento e atuação profissional.
Neste ponto da disciplina percebe-se a aproximação de alguns conceitos: SLOW MOVEMENT,
SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL E ÓCIO CRIATIVO.
A seguir apresenta-se um resumo da obra “O Ócio Criativo”:
O Ócio Criativo é título de um livro do sociólogo do trabalho italiano Domenico De Masi e é
também um revolucionário conceito de trabalho que o autor define através da intersecção entre
três elementos: trabalho, estudo e jogo.
Trabalho (economia): é o trabalho em si, as funções necessárias ao cumprimento de uma tarefa.
Estudo: é a possibilidade se obter conhecimento através do estudo constante, utilizando os
recursos que a sociedade digital proporciona, como o uso da internet, por exemplo.
Jogo: é o espaço lúdico de lazer, brincadeira e convivência que deve estar presente em qualquer
atividade que se faça. É a forma de evitar a mecanização do trabalho, dando-lhe "alma".
Quando o indivíduo consegue unir estes três pontos, ele está praticando o ócio criativo, que é uma
experiência única e que proporciona uma melhor adaptação para as necessidades da sociedade
pós-industrial, respeitando a individualidade do sujeito e proporcionando mais alegria e
produtividade ao próprio trabalho.
No livro, o autor explora temas relativos ao que denominou Sociedade Pós-Industrial
considerando, dentre outros, os seguintes aspectos do mundo atual:
Globalização Financeira utilizando as facilidades das telecomunicações modernas e criando
desafios para a estabilidade sócio econômica das sociedades nas várias nações, sujeitas a fluxos
volumosos e rápidos de capitais financeiros.
Desenvolvimento com baixa geração de emprego e renda, tratado em outro livro do
autor Desenvolvimento sem trabalho, o que provoca desafios ao próprio Capitalismo por
dificuldades de criação de demanda para o aumento do volume de produção de bens e serviços,
sem uma correspondente distribuição de renda para criar os consumidores destes bens e serviços
e sem o tratamento dos gargalos ecológicos que podem inviabilizar a própria existência da espécie
humana.
Feminilização do mundo profissional gerando tensões nas relações entre os gêneros, educados
para exercer determinados papéis que sofrem alterações mais rápidas do que as necessárias
alterações de mentalidades para acomodar estas novas expectativas e frustrações de ambos os
sexos.
Perda de utilidade das ideologias e crenças tradicionais como reguladoras das relações sociais,
sem a substituição por novas construções mentais, emocionais e espirituais que apoiem as
decisões e atos entre os indivíduos, que perdem referenciais tradicionais de comportamento e não
encontram substitutos para estes referenciais não mais aplicáveis.
Dificuldades em integrar os sujeitos sociais emergentes nas relações estabelecidas entre os
atores sociais tradicionais.
As mudanças acima geram uma profunda insatisfação, segundo o autor, derivada do modelo
Ocidental muito focado na idolatria do trabalho, do mercado e da competitividade. Como
alternativa propõe um modelo centrado em outras premissas, tais como:
Estruturação das atividades humanas em uma combinação equilibrada de trabalho, estudo
e lazer.
Valorização e enriquecimento do tempo livre, decorrente de alta disponibilidade financeira
para alguns e redução do tempo demandado de trabalho para muitos.
Aperfeiçoar o processo de produção e distribuição da riqueza decorrente dos grandes
aumentos de produtividade derivados dos rápidos, e em aceleração, avanços do
conhecimento e criatividade humana.
Distribuição de forma consciente do tempo, do trabalho, da riqueza, do saber e do poder,
minimizando as fontes de conflitos entre pessoas e grupos.
Valorização das necessidades reais das pessoas educando os indivíduos e as sociedades
para a importância das necessidades básicas, tais como a introspecção, o convívio, a
amizade, o amor e as atividades lúdicas. Com isto ficariam em segundo plano as
necessidades criadas pela propaganda e pela busca de status.
Bibliografia: Masi, Domenico de - O Ócio Criativo - Rio de Janeiro - Sextante - 2000 - 328 páginas
PARA IR + LONGE (ÓCIO CRIATIVO)
http://www.youtube.com/watch?v=dQVVgqiV-lc
Tendências de Comportamento do Turista no Século XXI
Neste tópico, apresenta-se um artigo bastante relevante no âmbito das tendências de
comportamento dos viajantes na virada do século. : “O Turismo no final do século XX – um
contexto paradoxal”. (SPINOLA, Carolina de Andrade).
Disponível em: www.revistas.unifacs.br/index.php/rgb/article/download/148/151
Pode-se afirmar que o cenário atual do turismo no mundo, se assemelha ao que Harvey (1989)
denomina de “indeterminação do pós-modernismo”. Aparentemente não existem certezas
absolutas.
Por natureza o turismo é um fenômeno diverso e de estrutura complexa (Palomeque, 1999).
Quando o analisamos partindo de uma escala global, considerando as diferenças existentes entre
as regiões do planeta, então estas características se tornam mais evidentes, exigindo dos
pesquisadores múltiplas aproximações à questão, partindo de referenciais diferentes.
Até que ponto o cenário atual do turismo em destinos mais novos é semelhante ao de destinos
consolidados?
Como se apresentam estes novos produtos turísticos no século XXI?
O autor destaca 07 grandes tendências:
1. Crescimento e expansão da atividade no nível global
2. Predomínio do turismo de sol e praia
3. Movimento de “internacionalização” e “interiorização” do turismo
4. A aparente crise da massificação
5. Necessidade de regulação por parte do estado x diminuição do Estado
6. Organização Empresarial Pós-fordista
7. Perda da autenticidade do turismo*
PERDA DA AUTENTICIDADE NO TURISMO
Gerada pelo processo de globalização e massificação da atividade que termina por tornar iguais
lugares diferentes e eliminar as peculiaridades locais em prol de um todo comercializável. A
despeito do que se imagina, esta não é uma característica que passa desapercebida aos turistas
modernos, a quem Feifer (1985) denomina de pós-turistas.
De fato, o turista sabe que, em muitas ocasiões, não está vivendo uma experiência singular,
original, mas isso não tira em nada o encanto desta experiência, frente ao cotidiano e à rotina de
sua vida em casa. Face a essa certeza, se distingue dois tipos de turista: aquele que busca o
contexto espacial e o que busca o contexto a-espacial. (Donaire, 1995).
No primeiro caso, encontram-se aqueles que estão no centro da suposta crise do turismo de
massa.
Pessoas que não se conformam em consumir experiências padronizadas em lugares distintos e que
valorizam o diferente, o original, o exótico, incluindo neste grupo aqueles para os quais o turismo
também é uma forma de intercâmbio entre culturas, de aprendizado.
O segundo grupo é mais numeroso e, viajando individualmente ou através de pacotes, estas
pessoas procuram diversão e segurança. Conscientes de que não vivem uma experiência única,
fazem de conta que sim. Muitas destas pessoas podem nem querer viver situações muito
diferentes das cotidianas e por isso buscam referenciais conhecidos em produtos padronizados.
O fato é que o mercado turístico hoje conta com estes dois tipos de demanda, absolutamente
opostas em suas expectativas e que exigem muita flexibilidade por parte da oferta. A conjugação
do turismo de massa como ele existe, com modalidades de turismo alternativo a exemplo do
ecoturismo e do turismo rural, principalmente nas ações de marketing das empresas, é uma das
estratégias escolhidas para enfrentar o momento atual. Também no Brasil se procura estabelecer a
mesma estratégia dual, conjugando o singular com o padronizado.
Na mesma linha de pensamento apresenta-se a Professora Dóris Ruschann, da UNIVALI (SC). Ela
aponta tendências de comportamento da sociedade do século XXI:
Sociedade Multicultural
Empreendedorismo do tempo (ex. O que vou fazer neste final de semana?)
Equilíbrio entre trabalho e lazer
Tempo livre como valor em si mesmo (ex. Viajar e desligar o celular – recuperação psico-
física)
Consumo massificado do Lazer (trabalha-se mais para melhor poder descansar – CONCEITO
OPOSTO AO DE TEMPOS ATRÁS)
Mobilidade seletiva (ligada ao fator anterior)
Informática e comunicação (virtualização da experiência de lazer)
Qualidade ecológica em todos os locais
Natureza como espaço de conhecimento
Nova valorização da ética da vida (consumir menos, melhor e de forma mais demorada).