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Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores de Coimbra Institute of Systems Engineering and Computers INESC - Coimbra Ana Cristina R. Simão [email protected] João M. Coutinho Rodrigues [email protected] Depº Engª Civil, Fac. Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra Um Sistema de Apoio à Decisão Espacial para Avaliação Multicritério da Expansão de Redes Técnicas Urbanas Aplicação ao Estudo de um Caso em Coimbra No. 04 2004 ISSN: 1645-2631 Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores de Coimbra INESC - Coimbra Rua Antero de Quental, 199; 3000-033 Coimbra; Portugal www.inescc.pt

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Page 1: Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores de ... · Sistemas de apoio à decisão (SAD) são, no entender de Walsh (1993), sistemas computacionais concebidos para suportar,

Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores de Coimbra

Institute of Systems Engineering and Computers

INESC - Coimbra

Ana Cristina R. Simã[email protected]

João M. Coutinho [email protected]

Depº Engª Civil, Fac. Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra

Um Sistema de Apoio à Decisão Espacial para AvaliaçãoMulticritério da Expansão de Redes Técnicas Urbanas

Aplicação ao Estudo de um Caso em Coimbra

No. 04 2004

ISSN: 1645-2631

Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores de Coimbra

INESC - Coimbra

Rua Antero de Quental, 199; 3000-033 Coimbra; Portugal

www.inescc.pt

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Abstract

Infrastructures, or technical networks, are essential for communities’ sustainability. Therefore

they grow as cities and villages sprawl. The implementation of any expansion plan requires a

decision about how to do it. That decision must be informed and justifiable. Spatial Decision

Support Systems (SDSS) promote decisions with those characteristics as they integrate problem

structuring ability and rationality from Decision Support Systems with visualization and spatial

analysis capabilities herd form Geographical Information Systems. In this report we present a

prototype of a SDSS and demonstrate its potentialities in dealing with spatial decision problems

such as the expansion of urban technical networks. As a case study we use the problem of

Coimbra’s water supply system that needs extension and capacity enhancement to give

response to a shortly forthcoming urban development.

Resumo

As redes técnicas, ou infra-estruturas como lhe queiramos chamar, são fundamentais para a

sustentabilidade da vida em sociedade. Por esse motivo, acompanham de perto a expansão de

cidades, vilas e aldeias. A concretização dessa expansão depende, em geral, de uma decisão

que se pretende transparente, fundamentada e defensável. Sistemas de Apoio à Decisão

Espacial (SADE) são ferramentas que permitem tomadas de posição com essas características.

Aliam capacidades de visualização e análise espacial intrínsecas dos Sistemas de Informação

Geográfica a capacidades de estruturação e racionalização de problemas promovidas por

métodos formais de apoio à decisão. Neste relatório apresenta-se um SADE protótipo e

demonstram-se as suas capacidades na abordagem a problemas espaciais, nomeadamente

problemas de expansão de redes técnicas. Como caso de estudo é abordado o problema da

expansão da rede de abastecimento e água da cidade de Coimbra para satisfazer um aumento na

procura devido à criação de um empreendimento urbano com dimensões apreciáveis.

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Índice

Abstract ................................................................................................................................... 1

Resumo.................................................................................................................................... 1

Índice....................................................................................................................................... 2

1. Introdução............................................................................................................................ 3

2. O SADE protótipo................................................................................................................ 4

2.1. O que é um SADE? ....................................................................................................... 4

2.2 A arquitectura do SADE................................................................................................. 4

2.3 As capacidades do SADE ............................................................................................... 5

2.4. O interface do SADE e as funções disponibilizadas ....................................................... 6

3. O problema da expansão da rede de abastecimento de água.................................................. 9

3.1 Apresentação das alternativas ....................................................................................... 10

3.2 Identificação dos critérios de decisão............................................................................ 12

4. Aplicação do SADE ao problema de expansão do SAA...................................................... 13

4.1 Avaliação dos desempenhos das alternativas ................................................................ 13

4.2 A matriz de decisão ...................................................................................................... 16

4.3 O sistema de pesos dos critérios ................................................................................... 17

4.4 Avaliação das alternativas ............................................................................................ 17

4.5 Comparação de alternativas .......................................................................................... 22

5. Síntese e conclusões........................................................................................................... 24

Referências ............................................................................................................................ 26

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1. Introdução

Muitas das vezes o planeamento urbano obriga à identificação de áreas de expansão para

acolher novos residentes e novas actividades económicas. Essas áreas localizam-se geralmente

em zonas periféricas e, portanto, desprovidas de infra-estruturas. Face à actual dependência

das populações a redes de serviços (telefones, gás, água canalizada, electricidade, TV cabo,

etc.), a expansão dessas áreas faz-se necessariamente acompanhar por alargamento dessas

infra-estruturas. Identificar a melhor forma de concretizar esse alargamento é não só um

problema de natureza técnica mas também social e até político, já que, regra geral, elevados

montantes do erário públicos são envolvidos.

Cada vez mais a sociedade civil reclama aos políticos e agentes de decisão rigor e transparência

nas decisões. Estes últimos vão interiorizando a necessidade de fundamentar as suas decisões

em estudos técnico-científicos e procuram ferramentas (sistemas de informação) que lhes

facilitem o processo de justificação e defesa das suas tomadas de posição. É neste contexto que

se inscreve o recurso a sistema de apoio à decisão espacial (SADE).

Sistemas de apoio à decisão (SAD) são, no entender de Walsh (1993), sistemas computacionais

concebidos para suportar, de forma interactiva, o processo de tomada de decisão em problemas

relativamente mal estruturados. SADE são SAD equipados com uma componente espacial,

permitindo a visualização cartográfica do contexto da decisão, das alternativas em estudo e dos

desempenhos dessas mesmas alternativas.

Neste relatório faz-se referência ao protótipo de um SADE capaz de suportar tomadas de

decisão em problemas de natureza multidimensional com forte carácter espacial. Este sistema

integra outros desenvolvimentos descritos em publicações anteriores, nomeadamente relativos

a uma base de dados relacional e a algoritmos de IO para gestão de sistemas urbanos de

abastecimento de água (Simão e Coutinho-Rodrigues, 2003a e 2003b).

O texto apresenta a seguinte estrutura: a próxima secção descreve o SADE desenvolvido

(arquitectura, capacidades e interface com o utilizador); seguidamente apresenta-se um

problema de expansão de uma rede de serviços, mais concretamente, a necessidade da extensão

e reforço de capacidade do sistema de abastecimento de água (SAA) da cidade de Coimbra para

satisfazer futuras exigências já previsíveis; e na quarta secção descreve-se a abordagem ao

problema apresentado, efectuada com o SADE descrito. O relatório termina com uma síntese e

algumas conclusões, deixando algumas directrizes para desenvolvimentos futuros.

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2. O SADE protótipo

2.1. O que é um SADE?

Como se referiu, SAD são ferramentas especialmente concebidas para apoiar o agente de

decisão em processos decisórios. SADE são SAD beneficiados com capacidades de

visualização e análise espacial. Sendo os Sistemas de Informação Geográfica (SIG)

ferramentas privilegiadas para lidar com informação espacial (Burrough, 1986), um SAD

desenvolvido tendo por base um software dessa natureza poderá ser considerado um SADE,

pois permitirá aliar a racionalidade dos métodos de apoio à decisão existentes no SAD a

capacidades de visualização (essencialmente comunicação gráfica) e de realização de análises

espaciais intrínseca dos SIG. A Fig. 1 sintetiza o conceito de SADE.

Fig. 1 - Representação esquemática de um Sistema de Apoio à Decisão Espacial (Adaptado de Walsh, 1993).

2.2 A arquitectura do SADE

A Fig. 2 esquematiza a arquitectura do SADE desenvolvido. Fundamentalmente, o sistema

compreende dois módulos: um módulo de apoio à decisão que inclui uma base de métodos

formais de apoio à decisão e outro módulo que permite a visualização espacial protagonizado

por um SIG. O SIG seleccionado foi o ArcView®. A integração dos dois módulos é coesa

(Jankowski, 1995), uma vez que o módulo de apoio à decisão foi integralmente codificado

dentro do próprio SIG. Usou-se para tal a linguagem de programação intrínseca do ArcView®,

o AvenueTM. Essa integração coesa dos dois módulos permite evitar problemas que

frequentemente surgem na interligação de softwares distintos.

Fig. 2 - Arquitectura do Sistema de Apoio à Decisão Espacial desenvolvido.

SADE

Visualizaçãoespacial

(SIG)

Métodos deapoio àdecisão

Troca de

Informação

Sistema Espacial de Apoio à Decisão

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As funções do SAD foram posteriormente disponibilizadas ao utilizador através do interface do

ArcView®, por intermédio de dois novos menus, SAD e Alternativas, adicionados ao interface

original (Fig. 3).

Fig. 3 - Interface do SADE com as funções do SAD disponibilizadas ao utilizador através de menus.

2.3 As capacidades do SADE

Tendo em conta que o SADE foi desenvolvido tendo por base o SIG Arcview®, é natural que

muitas das capacidades do SADE sejam herdadas do SIG. As outras são um contributo directo

das funções do SAD codificadas em AvenueTM. A listagem que em seguida se apresenta não

esgota por completo as funcionalidades do SADE, mas possibilita a formulação de uma ideia

acerca das sua potencialidades. Entre as capacidades do SADE incluem-se:

• importação e exportação de informação espacial e alfanumérica;

• edição de temas de informação espacial com informação alfanumérica associada;

• visualização de informação em ambiente cartográfico;

• classificação, pesquisa e cruzamento de informação de vários tipos;

• manipulação de dados com vista à criação de mais informação;

• realização de análises especiais, ainda que limitadas;

• clarificação dos critérios de decisão e especificação do seu tipo (custo ou benefício);

• definição do sistema de pesos (importância relativa dos critérios) na tomada de decisão;

• ordenação/estabelecimento de relações de preferência entre as várias alternativas;

• realização de análises de sensibilidade;

• representação gráfica do desempenho das várias alternativas nos vários critérios de

decisão;

• realização de análises de trade-off.

As seis primeiras funcionalidades são herança imediata do SIG. As restantes são específicas do

SADE, pelo que merecem uma análise mais em detalhe (cf. 2.4. - O interface do SADE).

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2.4. O interface do SADE e as funções disponibilizadas

O interface do SADE corresponde ao interface do SIG ArcView® acrescido de dois novos

menus, SAD e Alternativas, Fig. 3.

O menu SAD permite aceder às funções edição dos critérios de decisão e respectivo tipo (i.e., se

correspondem a critérios do tipo custo (quanto maior o valor nesse critério, pior o desempenho)

ou do tipo benefício (quanto maior, melhor); edição do sistema de pesos/importância dos

critérios para a decisão final; execução de métodos de filtragem prévia; e execução de métodos

multicritério para avaliação de alternativas. Vamos descrever a seguir essas funções, em

detalhe, pela ordem em que aparecem no menu.

O Método Conjuntivo e Análise de Dominância, correspondentes às duas primeiras funções

disponíveis no menu SAD, são métodos de filtragem prévia. Alternativas que não cumpram a

totalidade dos pré-requisitos para poderem ser consideradas admissíveis são eliminadas pelo

Método Conjuntivo. Alternativas que não apresentem qualquer vantagem relativamente a uma

outra, i.e., têm pior desempenho em pelo menos um critério e nunca são melhores noutros, são

eliminadas por Análise de Dominância. Alternativas eliminadas nesta fase deixam de ser

consideradas como viáveis e, por isso, não serão consideradas em análises posteriores.

A terceira função do menu SAD disponibiliza o acesso a três métodos de avaliação

multicritério: Soma Pesada, TOPSIS e ELECTRE I (Coutinho-Rodrigues, 2003; Bouysson et

al, 2000; Yoon et al, 1995). O utilizador pode optar pelo método que preferir através da caixa

de diálogo que lhe é apresentada por activação da função Multi-critério (Fig. 4).

Fig. 4 - Caixa de diálogo através da qual o utilizador pode escolher o método de avaliação pretendido.

Os métodos Soma Pesada e TOPSIS (Technique for Order Preference by Similarity to Ideal

Solution) proporcionam uma ordenação completa transitiva de todas as alternativas em

avaliação. Essa ordenação é estabelecida com base em funções de agregação (ou de utilidade)

que combinam o desempenho de cada alternativa em cada critério com a importância desses

critérios para a decisão final. O valor final dessas funções de agregação pretendem

corresponder, portanto, a uma medida do desempenho global da alternativa.

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O método ELECTRE I (Elimination et Choix Traduisant la Realité) assenta sobre uma outra

filosofia, admite a existência de situações de incomparabilidade entre alternativas e

proporciona unicamente uma agregação parcial das mesmas (Maystre et al., 1994). A

descrição da aplicação destes três métodos está também disponível em Simão (2000).

Refira-se que a aplicação deste métodos multicritério requer a normalização das escalas em que

são avaliados os desempenhos das alternativas nos diversos critérios e para tal o SADE

disponibiliza dois métodos alternativos: Normalização Vectorial e Transformação Linear de

Escalas (Coutinho-Rodrigues, 2003). O utilizador pode optar por qualquer um deles através da

janela de diálogo que lhe é apresentada após a selecção do método multicritério a utilizar.

A quarta função do menu SAD, Editar Pesos, permite a definição da importância relativa com

que cada critério contribui para a decisão final. Existem diversas técnicas de pesagem de

critérios que incorporam diferentes estilos de expressar preferências. No entanto, o SADE

disponibiliza apenas uma: a atribuição explícita de um peso a cada critério (rating),

distribuindo os 100 pontos correspondentes à soma dos pesos de todos os critérios (Voogd,

1983; Coutinho-Rodrigues, 2003). Se o somatório dos pesos dos critérios exceder os 100

pontos, o SADE emite uma mensagem de alerta e pergunta ao utilizador se aceita um

re—escalonamento automático que preserva o peso relativo de cada critério. A Fig. 5 mostra a

janela através da qual é feita a introdução dos pesos dos critérios no sistema.

Fig. 5 - Janela que permite a definição dos pesos dos critérios para a decisão final.

Durante o estudo e avaliação das diversas alternativas, é muitas vezes interessante fazer variar

o sistema de pesos subjacente à determinação da solução base, nomeadamente para avaliar a

robustez dessa solução face à variação de preferências do agente de decisão, ou mesmo porque

existe sempre algum grau de incerteza associado à definição do peso/importância dos critérios.

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O SADE permite ao utilizador interagir com a caixa de diálogo de definição de pesos,

seleccionando para tal um dos botões de rádio debaixo da coluna intitulada Interagir, à esquerda

na caixa de diálogo apresentada na Fig. 5. Após essa selecção, a janela expande-se e mostra

um conjunto de barras deslizantes que permitem ao utilizador definir de uma outra forma o

peso de determinado critério, assistindo em tempo real à actualização dos pesos dos restantes

critérios para que o respectivo somatório seja constante e igual à unidade, Fig. 6. O ajuste de

pesos é feito proporcionalmente ao peso com que cada critério contribui para a decisão final.

Fig. 6 - Janela alargada que permite a redefinição do sistema de pesos dos critérios.

Para além da variação de pesos, a avaliação da robustez da ordenação/relacionamentos

estabelecidos entre as diversas alternativas pode ser estudada fazendo variar certos parâmetros

dos métodos multicritério. A forma como o método ELECTRE I foi implementado no SADE

permite, designadamente, a alteração dos parâmetros “limiar de concordância” e “limiar de

discordância” para estudar a robustez da solução base apresentada. Se pequenas variações

desses parâmetros não influenciarem a ordenação/relações de preferência entre as alternativas,

então a interpretação dos resultados do método pode ser efectuada com alguma confiança.

Finalmente a última função do menu SAD: Editar Matriz Decisão. Matriz de Decisão é, como o

próprio nome indica, uma matriz, ou tabela, onde é armazenada informação relevante para a

avaliação das alternativas. A Fig. 7 mostra a tabela de edição da matriz de decisão no SADE.

Em linha é reunida informação acerca dos critérios de decisão (designação, tipo e valor do

desempenho de cada alternativa nesse critério). Em cada coluna regista-se o desempenho das

alternativas no conjunto dos critérios. A especificação do tipo do critério é feita colocando um

“C” ou um “B” na coluna imediatamente à direita da reservada para a identificação do critério,

indicando respectivamente se o critério é do tipo custo ou benefício.

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Fig. 7 - Tabela de edição da matriz de decisão.

Veja-se agora o menu Alternativas. Este disponibiliza as funções Visualizar... e Comparar.... O

SADE possibilita a visualização do desempenho de cada alternativa em cada critério de decisão

sob três formatos distintos: gráfico de barras; diagrama radar e caminhos de valor (Coutinho-

Rodrigues, 1997 e 2003). O primeiro formato está disponível através da função Visualizar...; os

dois últimos estão-no através da função Comparar..., Fig. 3. A comparação directa do

desempenho de alternativas é sobretudo interessante para a realização de análises de trade-off.

Esta pode ser abrangente ou restrita a duas ou mais alternativas. Através da caixa de diálogo da

Fig. 8, o utilizador por transmitir ao sistema as suas intenções.

Fig. 8 - Caixa de diálogo que perscruta o utilizador sobre as alternativas a comparar.

3. O problema da expansão da rede de abastecimento de água

Os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Coimbra (SMASC) são a entidade

responsável pelo abastecimento de água e saneamento no município de Coimbra.

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Na sequência da aprovação do plano de loteamento para a Quinta da Portela, localizada a NE

da cidade de Coimbra, próximo do Pólo II da Universidade de Coimbra, os SMASC vêem-se a

braços com a necessidade de expandir o actual SAA para darem resposta satisfatória à nova

procura que se avizinha.

Fig. 9 - Localização do futuro loteamento da Quinta da Portela, na margem direita do rio Mondego.

O loteamento ocupará uma área aproximada de 77 ha, estendendo-se pela vertente de uma

colina sobranceira ao rio Mondego desde a cota 132 m até à curva de nível dos 20 m (Fig. 9).

A área de implantação prevista é de 7,4 ha; o número de fogos será da ordem dos 2 200 e estão

previstos cerca de 2,2 ha de área bruta para comércio e serviços, aproximadamente 2 500 m2

para actividades similares a hotelaria e cerca de 2 ha de área bruta para equipamentos (Health

Center, clube hípico, igreja, hotel de terceira idade, etc.).

Estimativas das necessidades de água apontam para um consumo diário de 2 650 m3,

assumindo a capitação de 300 l/(hab.dia) utilizada vulgarmente pelos SMASC em

dimensionamentos. Trata-se de um volume de água muito significativo, o qual, como foi

referido, obriga os SMASC a equacionarem a melhor forma de expansão do actual SAA.

3.1 Apresentação das alternativas

Os SMASC consideram quatro traçados alternativos de expansão da rede de abastecimento de

água, Fig. 10. Note-se que o loteamento atravessa três níveis de pressão da rede: zona inferior,

zona baixa e zona média.

Loteamento

Quinta da Portela

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Fig. 10 - Alternativas de expansão do actual SAA.

Fundamentalmente, as alternativas distinguem-se entre si pelas seguintes características gerais:

(1) o traçado da conduta que abastece a zona inferior: nas alternativas 1, 2 e 3 o

abastecimento é assegurado por uma conduta a instalar que ligará o reservatório da

Boavista ao loteamento; na alternativa 4 este será concretizado mediante uma

derivação da conduta instalada ao longo da Estrada da Beira;

(2) o traçado da conduta que abastece a zona baixa: as alternativas 1, 2 e 4 prevêem que

este abastecimento seja feito a partir de uma conduta já instalada ao longo da Estrada

da Beira; a alternativa 3 prevê a instalação de uma conduta ao longo de um

arruamento existente exterior ao loteamento;

(3) o traçado da conduta que abastece a zona média: as alternativas 1 e 3 prevêem a

criação de um novo arruamento onde será instalada a conduta que ligará o

reservatório da Boavista ao reservatório do Pinhal de Marrocos; as outras duas

alternativas admitem o reforço da conduta que segue ao longo da Av. Mendes Silva;

(4) a construção de um reservatório complementar próximo da Estação de Captação da

Boavista - as alternativas 1, 2 e 3 prevêem essa construção; a alternativa 4 não.

Alternativa 1

Alternativa 4

Alternativa 3

Alternativa 2

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3.2 Identificação dos critérios de decisão

A identificação dos critérios de decisão para avaliar as 4 alternativas resulta de um processo

iterativo de conversação com o agente de decisão, os SMASC. No termo desse processo estava

estabelecida a seguinte lista de critérios, agrupados em 4 famílias:

Família A: Custo de aquisição, instalação e construção da infra-estrutura

A.1. Custo das condutas

Este critério contempla o custo das tubagens e os acessórios necessários à sua correcta instalação.

A.2. Custo de implantação

Este critério considera os custos de levantamento do pavimento, abertura da vala e reposição do

pavimento.

A.3. Criação de novos arruamentos

De acordo com o Regulamento Geral (D.R. 23/95 de 23 de Agosto), as condutas devem desenvolver-seao longo de arruamentos. Este critério toma em consideração a necessidade de criar novos arruamentos

A.4. Custo de novos reservatórios e reforço das estações elevatórias

Este critério contempla os gastos a efectuar com a construção/ampliação de reservatórios e reforço deestações elevatórias (EE).

Família B: Custos de exploração, operação e manutenção

B.1. Custos de exploração

Este critério procura entrar em linha de conta com os custos de exploração previsíveis ao longo da vidaútil do investimento.

B.2. Custos de operação e manutenção

Este critério diz respeito às previsíveis despesas de operação e manutenção associadas ao investimento.

Família C: Rentabilidade do investimento

C.1. Acréscimo de robustez ao SAA

Este critério exprime o acréscimo de robustez (fiabilidade/flexibilidade) que o investimento conferirá aoSAA em termos globais.

C.2. Aumento da capacidade do SAA

Este critério visa considerar o aumento de capacidade de armazenamento e transporte que o investimentotrará ao SAA.

C.3. Abastecimento de percurso

Este critério é uma estimativa do número de habitantes que beneficia da instalação de uma conduta numarruamento onde anteriormente não existia nenhuma.

Família D: Impacte durante as obras de ampliação da infra-estrutura

D.1. Impacte sobre os utentes da estrada

Este critério contempla os custos sociais imputados aos utentes da estrada durante o período de instalaçãodas condutas na via pública.

D.2. Impacte sobre a zona envolvente

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Trata-se de um critério complementar do anterior que procura entrar em consideração com os custossociais imputados à generalidade dos cidadãos que convivem com os trabalhos de instalação de condutas.

D.3. Interferência com outras infra-estruturas

As condutas de abastecimento de água partilham o subsolo das vias públicas com outras redes urbanas(cabos telefónicos, condutas de gás, etc.). A abertura de valas tem, em consequência, um risco dedanificação das outras infra-estruturas associado.

4. Aplicação do SADE ao problema de expansão do SAA

O SADE foi desenvolvido para apoiar processos de tomadas de decisão em contextos

multicritério. Procurando dar resposta ao problema formulado, exploram-se e demonstram-se

nesta secção as potencialidades do SADE na abordagem a problemas dessa natureza.

4.1 Avaliação dos desempenhos das alternativas

As capacidades de manipulação de informação (extracção, sobreposição, etc.) e realização de

análises espaciais do SADE, herdadas do SIG, são absolutamente cruciais na avaliação do

desempenho das alternativas nos vários critérios de decisão. Para cada critério sistematizam-se

seguidamente os procedimentos efectuados no SADE com vista a essa avaliação. Faz-se

igualmente referência à informação que foi necessário preparar e introduzir no SADE para que

esses procedimentos fossem possíveis.

A.1. Custo das condutas - Após a representação e caracterização cuidadosa do traçado das 4

alternativas no SADE, o desempenho das alternativas neste critério foi obtido somando o custo

de cada entidade tubagem e cada entidade acessório que as compõem. Esses custos encontram-

se definidos na tabela de atributos associada ao tema da respectiva alternativa. Tema é a

entidade em Arcview® onde se representa e guarda informação acerca de um assunto. Neste

caso, informação respeitante a cada alternativa é guardada num tema distinto.

A.2. Custo de implementação - O custo de instalação das condutas depende do tipo de

pavimento a levantar e repor e do esforço de abertura da vala. O cálculo da superfície de

pavimento a levantar e repor foi efectuado usando a função buffer do SADE que cria

envolventes de entidades cartográficas, neste caso condutas a instalar. A largura da envolvente

é função do diâmetro da conduta e é calculada de acordo com o D.R. n.º 23/95. Posteriormente

calculou-se a área dessa envolvente que se multiplicou pelo preço unitário (m2) de

pavimentação, assumindo que o pavimento a colocar será igual ao actualmente existente. Um

levantamento do pavimento existente teve, portanto, de ser efectuado. O custo de abertura de

valas depende do volume de escavação e do tipo de subsolo a escavar. Com base no diâmetro

das condutas e profundidade a que estas devem ser colocadas definiu-se o perfil longitudinal da

vala em toda a sua extensão. Criou-se em seguida um modelo digital de elevação (MDE) onde

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as valas constam já abertas. A “subtracção” desse MDE ao MDE inicial (Fig. 9) e o

cruzamento desta informação com a carta geológica da região (Fig. 11) permitiu diferenciar os

volumes de escavação a realizar em solo, rocha branda e rocha dura, que depois se

multiplicaram pelo preço unitários de escavação (m3) em cada tipo de subsolo para se obter

uma estimativa do custo total de escavação. O impacte das alternativas neste critério

corresponde à soma dos dois custos calculados: o custo de escavação e de reposição do

pavimento.

A.3. Criação de novos arruamentos - O descritor deste critério corresponde à extensão de novos

arruamentos que tenham de ser criados para albergar novas condutas. Esta extensão é

calculada cruzando informação sobre a actual rede de arruamentos da cidade de Coimbra e

traçado de condutas previsto em cada alternativa.

A.4. Custo de novos reservatórios e reforço das EE - O custo dos novos reservatórios e reforço

das EE existentes é conhecido para cada alternativa. O impacte de cada alternativa neste

critério é, portanto, de quantificação imediata.

Fig. 11 - Classificação geológica da zona de estudo em três classes: solo, rocha branda e rocha dura.

B.1. Custos de exploração – Exceptuando-se os custos energéticos associados à bombagem em

EE, assume-se que os restantes custos de exploração são semelhantes para todas as alternativas.

Considera-se, portanto, os custos energéticos como descritor deste critério. O consumo

energético das bombas depende do rendimento da bomba, do caudal a elevar e da altura de

elevação. As despesas de energia são estimadas de acordo com a formulação tradicional

constante nos manuais de hidráulica. O SIG facilitou a contabilização dos caudais a elevar

através da identificação dos fogos localizados acima de determinada cota.

B.2. Custos de operação e manutenção - Estes custos foram considerados equivalentes em todas

as alternativas. Assim, este critério não é relevante para a diferenciação de alternativas.

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C.1. Acréscimo de robustez induzido no SAA - Este é um critério de difícil quantificação. Por

esse motivo optou-se por avaliar o impacte das alternativas neste critério através de uma escala

ordinal composta por quatro níveis: importante, expressivo, pouco expressivo e negligenciável.

C.2. Aumento da capacidade do SAA - Tal como o anterior este é também um critério de difícil

quantificação. Assim, optou-se igualmente por utilizar uma escala qualitativa para avaliar o

impacte de cada alternativa neste critério. A escala utilizada apresenta cinco classificações

possíveis: muito relevante, relevante, significativo, pouco significativo e imperceptível.

C.3. Abastecimento de percurso - O traçado das 4 alternativas permitiu verificar a inexistência

de arruamentos ladeados por habitações por onde actualmente não passam condutas mas por

onde passarão após a concretização da extensão do SAA. Considera-se, assim, idêntico o

desempenho de todas as alternativas neste critério.

D.1. Impacte sobre os utentes da estrada - Admite-se que este impacto seja razoavelmente bem

estimado pelo número de deslocamentos perturbados durante o período de execução das obras

de instalação de condutas. O cálculo desse número obrigou à estimativa do tráfego médio

diário (TMD) (velocípedes e veículos) que circula em cada troço onde será aberta uma vala

(efectuaram-se contagens de tráfego nas horas de ponta e assumiu-se, em conformidade com os

procedimentos habituais, que esse volume de tráfego correspondia a 10% do TMD), que depois

se multiplicou pelo período de duração dos trabalhos nesse troço. Este último foi estimado com

base no comprimento do troço e duração média desse tipo de trabalhos por metro linear.

Obviamente, os veículos que atravessam diversos troços na mesma viagem foram

contabilizados apenas uma vez.

D.2. Impacte sobre a zona envolvente - A perturbação imposta à sociedade e actividades

económicas que se desenrolam na envolvente das vias públicas sujeitas a trabalhos de

instalação de condutas depende, naturalmente, do período de duração dessas obras. Esta

duração é função da extensão dos trabalhos a realizar. Considerou-se para descritor deste

critério a extensão de trabalhos a realizar em cada zona de uso do solo, em conformidade com a

classificação estabelecida pelo Plano Director Municipal (PDM) em vigor, Fig. 12. A cada

classe do uso do solo (Verde, Equipamentos e Residencial) atribuiu-se um peso que visa

traduzir o custo social decorrente dos trabalhos de instalação das condutas. O desempenho das

alternativas resulta da ponderação da extensão dos trabalhos a realizar em cada zona de uso do

solo com o respectivo “custo social”.

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Fig. 12 - Classificação do uso do solo de acordo com PDM vigente da cidade de Coimbra.

D.3. Interferência com outras infra-estruturas - Este critério prende-se com eventuais

interferências com outras redes técnicas durante os trabalhos de colocação das condutas. Dada

a dificuldade de avaliar objectivamente este critério optou-se por construir uma escala ordinal

com três níveis de impacte: baixo, médio e elevado. A avaliação realizou-se com base no

pressuposto de que quanto mais central é a via pública, maior é o número de infra-estruturas

urbanas que coexistem no subsolo e, portanto, maior é o risco de interferência.

4.2 A matriz de decisão

A Fig. 13 mostra a matriz de decisão a que conduziu a avaliação realizada. O nível de impacte

N1 representa o melhor desempenho das escalas qualitativas.

Fig. 13 - Matriz de decisão do problema em estudo.

Matriz decisao do problema

Critérios Tipo do critério Alternativa 1 Alternativa 2 Alternativa 3 Alternativa 4 un.

A. 1 Custo 929 949 1 004 769 1 041 430 320 019 €

A. 2 Custo 56 143 80 094 65 275 50 172 €

A. 3 Custo 1 324 523 1 402 219 m

A. 4 Custo 2 294 470 2 294 470 2 294 470 773 137 €

B. 1 Custo 271 604 293 664 271 604 448 370 €

C. 1 Benefício N 2 N 2 N 1 N 3

C. 2 Benefício N 1 N 2 N 1 N 4

D. 1 Custo 5 303 1 666 487 15 073 1 666 487 viagens

D. 2 Custo 4 116 4 829 4 649 2 615 m

D. 3 Benefício N 1 N 3 N 1 N 3

xxxx - Melhor desempenhoxxxx - Pior desempenho

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4.3 O sistema de pesos dos critérios

A execução dos métodos multicritério disponíveis no SADE requer a definição prévia do

sistema de pesos dos critérios de decisão. Essa informação é introduzida no sistema através da

caixa de diálogo apresentada na Fig. 5 e pode ser revista posteriormente. A Fig. 14 apresenta o

sistema de pesos definido pelo agente de decisão que, posteriormente, será convertido para uma

escala unitária.

Fig. 14 - Sistema de pesos dos critérios de decisão definido pelo agente de decisão.

4.4 Avaliação das alternativas

Conforme referido, o SADE disponibiliza dois métodos de filtragem prévia de alternativas -

Método Conjuntivo e Análise de Dominância - e três métodos formais de avaliação

multicritério - Soma Pesada, TOPSIS e ELECTRE I (Coutinho-Rodrigues, 2003).

Depois de definidos os pré-requisitos que as alternativas devem verificar para que sejam

consideradas admissíveis, a execução do Método Conjuntivo conduziu ao seguinte resultado,

Fig. 15.

Fig. 15 - Resultado da execução do Método Conjuntivo.

pior

melhor

100

melhor

pior

90

melhor

pior

90

pior

melhor

70

pior

melhor

50

pior

melhor

50

pior

melhor

40

pior

melhor

30

pior

melhor

30

pior melhor

20 Aumento da capacidade

do SAA

Acréscimo de robustez induzido no

SAA

Custos de

exploração (energia)

Custo das

condutas

Criação de novos

arruamentos

Custo de novos reservatórios e reforço das EE

Custo de implantação

Impacte sobre os

utentes da estrada

Interferência com outras

infra- estruturas

Impacte sobre a zonaenvolvente

A.2 A.1 A.4 A.3 C.1 B.1 D.1 C.2 D.3 D.2

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Com efeito, os gastos energéticos (critério B.1) associados à alternativa 4 ultrapassam o limiar

considerado admissível, fixado em 375 000 € (cf. Fig. 13). Em face deste resultado, a análise

deveria prosseguir restrita às alternativas 1, 2 e 3. Todavia, pelo facto dos resultados da

aplicação das técnicas multicritério serem mais expressivos quando o número de alternativas é

elevado, continuaremos a considerar a alternativa 4 neste estudo.

A execução da análise de dominância conduziu ao resultado traduzido pela Fig. 16

(inexistência de alternativas dominadas).

Fig. 16 - Resultado da execução da Análise de Dominância.

A execução dos três métodos multicritério disponíveis no SADE requerem que os desempenhos

das alternativas nos diversos critérios sejam expressos de forma quantitativa. Foi, portanto,

necessário traduzir os níveis de impacte qualitativos para valores cardinais. A técnica utilizada

consiste na atribuição directa de uma pontuação a cada nível de impacte pelo agente de decisão,

de acordo com sua percepção (Coutinho-Rodrigues, 2003). A Fig. 17 mostra o resultado.

Fig. 17 - Matriz de decisão após a conversão dos níveis de impacte qualitativos em valores numéricos.

A normalização da matriz de decisão foi efectuada por Transformação Linear de Escalas

(Coutinho-Rodrigues, 2003). A Fig. 18 mostra o resultado da execução do método Soma

Pesada. O SADE disponibiliza os resultados sob três formas distintas: janela que se abre após a

execução do método para mostrar o desempenho global de cada alternativa e respectiva

ordenação em termos de preferência de acordo com o sistema de pesos definido pelo agente de

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decisão, gráfico de barras e tabela de atributos. A Fig. 18 mostra as duas primeiras formas de

visualização.

Fig. 18 - Resultado da execução do método Soma Pesada para o problema da selecção da melhor alternativa deabastecimento da futura urbanização Quinta da Portela.

A alternativa 3 é considerada preferível relativamente às restantes, seguida pela alternativa 1 e,

a alguma distância, pelas alternativas 2 e 4.

A Fig. 19 apresenta o resultado do método TOPSIS.

Fig. 19 - Resultado da execução do método TOPSIS para o problema em estudo.

Como seria de esperar, este método conduz a valores de desempenho global das alternativas

distinto dos anteriores (diferentes formas de cálculo), todavia note-se que a ordenação sugerida

por ambos os métodos é idêntica.

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A execução do método ELECTRE I conduz ao grafo representado na Fig. 20, onde as setas

indicam relações de subordinação entre as alternativas. As alternativas de onde partem as setas

são preferíveis relativamente aquelas onde chegam as setas.

Fig. 20 - Resultado do método ELECTRE I para o problema em estudo.

Pertencem, então, ao núcleo das alternativas não subordinadas as alternativas 3 e 4. A

alternativa 1 é subordinada pela 3 e a alternativa 2 pelas 1 e 3. A alternativa 4 é incomparável

relativamente a qualquer das outras alternativas, como atesta a ausência de relacionamentos

entre esta e as restantes.

Em síntese, e apesar das especificidades de cada método, verifica-se que todos eles apontam a

alternativa 3 como a mais favorável. Verdade é que o método ELECTRE I inclui a alternativa

4 no conjunto das soluções mais favoráveis, todavia isto deve-se ao facto de esta ser

incomparável e portanto não serem estabelecidas quaisquer relações de preferência ou

subordinação.

Esta consensualidade em torno da alternativa 3 revela alguma robustez da solução. Contudo, é

aconselhável proceder a um estudo mais aprofundado de análise de sensibilidade para avaliar

essa robustez. A Fig. 21 mostra como se altera a ordenação das alternativas proposta pelo

método Soma Pesada com a variação isolada do peso de cada critério dentro de limites

considerados plausíveis (eixo das abcissas dos gráficos). Verifica-se que a ordenação inicial

não é sensível à alteração do pesos dos critérios A.3 - Criação de novos arruamentos, D.1 -

Impacte sobre os utentes da estrada e D.3 - Interferência com outras infra-estruturas.

Para o sistema de pesos inicialmente definido, a Fig. 22 esquematiza a variação da solução

proposta pelo método ELECTRE I em função da variação dos parâmetros “limiar de

concordância” e “limiar de discordância”. Assume-se que limiares de concordância abaixo de

0,50 não têm significado.

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21

Fig. 21 - Estabilidade da solução do método Soma Pesada face à variação de peso de cada critério.

Fig. 22 –Validade das soluções do ELECTRE I face à variação de limiares de concordância e discordância.

Observa-se que a alternativa 3 é sempre não subordinada qualquer que seja o par “limiar de

concordância”, “limiar de discordância” eleito. Ao invés, a alternativa 1 é sempre preterida

face a qualquer outra.

Critério A.1 5060708090Critério A.2 2030405060Critério A.3 3040506070Critério A.4 3040506070607080901

� � �

� � � a2

d-

limia

r de

dis

cord

ânci

a

SB

S1

S3 S2

0,50 0,68 0,79 1,0 0

0,66

0,90

1,0

Em cada solução, o subconjunto das alternativas favoráveis é:

SB = {3, 4} S1 = {2, 3, 4} S2 = {2, 3} S3 = {3}

c- limiar de concordância

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4.5 Comparação de alternativas

Através do menu Alternativas (Fig. 3), o SADE disponibiliza três formas para visualizar o

desempenho das alternativas nos vários critérios de decisão (Coutinho-Rodrigues, 1997 e

2003). Esta informação é especialmente útil para efectuar análises de trade-off, i.e., análises do

tipo “será que o melhor desempenho desta alternativa neste critério compensa o seu fraco

desempenho noutro critério, e portanto a torna preferível face a outra alternativa com um pior

desempenho no primeiro critério mas com um desempenho superior no segundo critério?”. A

Fig. 23 mostra a visualização dessa informação sob a forma de gráfico de barras.

Fig. 23 - Representação sob a forma de barra do desempenho de cada alternativa em todos os critério.

A altura das colunas é proporcional ao impacte nesse critério. Os valores que figuram no topo

de cada coluna representam a percentagem em que esse impacte é superior (ou inferior, no caso

de valores negativos) ao impacte de referência assinalado com um zero. O impacte de

referência corresponde ao melhor desempenho nesse critério, i.e., ao valor mais baixo em

critérios do tipo custo e ao valor mais elevado em critérios do tipo benefício. Comprova-se que

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as alternativas 1 e 3 são bastante semelhantes e significativamente diferentes da alternativa 4. A

alternativa 2 é intermédia e destaca-se por nunca apresentar o melhor desempenho em qualquer

critério (o valor 0 nunca figura no topo das respectivas barras).

A mesma informação pode ser visualizada no domínio dos desempenhos, Fig. 24. Este

domínio é delimitado pelas soluções “ideal” e “anti-ideal”. A primeira (poligonal interna), é

construída com base no melhor desempenho em cada critério das alternativas em estudo; a

segunda (poligonal externa) é criada à custa dos piores desempenhos em todos os critérios.

Fig. 24 - Representação em diagrama de radar do desempenho de cada alternativa em todos os critérios.

Sobressai o facto das poligonais que representam as alternativas 2 e 4 serem quase sempre

exteriores às poligonais das alternativas 1 e 3 e também a proximidade destas duas últimas

alternativas.

À excepção do critério C.1 - Acréscimo de robustez ao SAA, a alternativa 1 é em todos os

critérios superior à alternativa 3. Este resultado é visível na Fig. 25, onde se comparam

unicamente estas duas alternativas sob a forma de caminhos de valor.

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Fig. 25 – Comparação gráfica das alternativas 1 e 3 sob a forma de caminhos de valor.

Com efeito, em todos os critérios do tipo custo a percentagem acima do desempenho ideal da

alternativa 3 é igual ou ligeiramente superior (pior desempenho); nos critérios do tipo

benefício, à excepção do critério C.1, os desempenhos são idênticos.

Uma análise de trade-off entre estas duas alternativas poderá passar por avaliar se o melhor

desempenho da alternativa 1 nos critérios do tipo custo A.1, A.2, A.3, D.1 e D.2 compensa o

pior desempenho dessa alternativa no critério C.1. De acordo com o sistema de pesos definido

pelo agente de decisão na análise multicritério a resposta é negativa e, por isso, a alternativa 3 é

sempre apontada como preferível à alternativa 1, com um desempenho global ligeiramente

superior (Soma Pesada e TOPSIS). Uma análise com outra ponderação pode, todavia, conduzir

à resposta contrária e daí o interesse da comparação detalhada dos desempenhos das

alternativas nos diversos critérios.

5. Síntese e conclusões

Foi referido neste relatório a maior pressão que os cidadãos exercem sobre os agentes de

decisão e a sua crescente necessidade de justificar de forma sustentada as suas tomadas de

decisão. Por definição, os SAD são ferramentas desenvolvidas para apoiar a tomada de

decisão, introduzindo racionalidade e objectividade na formulação e análise do problema.

Conduzem, portanto, a tomadas de decisão defensáveis, pelo menos segundo o ponto de vista

do agente de decisão e daqueles que concordem com o sistema de valores (ponderação da

importância dos critérios de decisão) subjacente à opção tomada.

Todavia, face à ausência de uma componente espacial, a utilização destes sistemas aparece

relegada para segundo plano. Com efeito, pelo facto de as análises terem de ser desenvolvidas

descoladas da realidade, técnicos menos experientes na utilização destas ferramentas têm

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dificuldades em compreender os resultados obtidos. Incorporando-lhes uma dimensão espacial,

os SAD ganham uma nova atractividade, designadamente na abordagem a problemas com forte

componente espacial como são os problemas de expansão de redes técnicas (infra-estruturas).

Essa componente espacial pode ser-lhes transmitida pela incorporação de um SIG. Estes são

sistemas privilegiados para o manuseamento de informação espacial e possibilitam a realização

de análises espaciais muito úteis na avaliação do desempenho das alternativas nos vários

critérios. Ao longo deste relatório apresentou-se um protótipo de um SADE que consiste

precisamente numa integração de um SIG e um SAD. Mostrou-se igualmente como as

capacidades dos SADE podem ser usadas para avaliação dos desempenhos das alternativas nos

critérios de decisão definidos (explorando capacidades herdadas dos SIG) e na avaliação das

próprias alternativas, não só por intermédio dos métodos formais de apoio à decisão

disponíveis, como também através da possibilidade de realização de análises de sensibilidade

aos resultados obtidos pela execução desses métodos, e ainda por visualização e comparação

pormenorizada dos desempenhos das alternativas no conjunto dos critérios de decisão sob

várias formas de representação.

De forma resumida, este trabalho permite-nos concluir que, tal como os SIG são ferramentas

privilegiadas para lidar com informação espacial, os SADE são ferramentas privilegiadas para

racionalizar tomadas de decisão em problemas relativamente mal estruturados e com uma forte

componente espacial.

No que respeita a desenvolvimentos futuros seria interessante melhorar o SADE protótipo nos

seguintes aspectos: (1) incorporar novos métodos formais de apoio à decisão, designadamente,

métodos que permitam incorporar a incerteza e imprecisão da informação que sempre existe na

especificação de preferências por parte do agente de decisão; (2) desenvolver o interface com o

utilizador ao nível da interactividade com o agente de decisão; (3) criar novas e mais efectivas

fórmulas de representação dos resultados dos métodos de decisão para facilitar a percepção dos

resultados, particularmente incorporando uma dimensão espacial/cartográfica na representação

desses resultados; (4) incorporar outras técnicas de pesagem de critérios e, por último mas não

menos importante, (5) estender o processo de tomada de decisão, aqui restrito a um agente de

decisão, a um conjunto mais vasto de intervenientes. Para isso é necessário incorporar no

SADE procedimentos que permitam a publicação das análises realizadas e dos resultados

obtidos por cada agente de decisão bem como procedimentos que estimulem a convergência de

pontos de vista (discussão, votação, negociação, etc.).

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