infinitivo flexionado no livro das aves guilhermejoaocenci

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE LETRAS DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA, PORTUGUÊS E LÍNGUAS CLÁSSICAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA E RESPECTIVA LITERATURA GUILHERME JOÃO CENCI O INFINITIVO FLEXIONADO NO LIVRO DAS AVES BRASÍLIA 2013

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Ensaio sobre o infinitivo flexionado em português em obra literária do século XVII

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UNIVERSIDADE DE BRASLIA INSTITUTO DE LETRAS DEPARTAMENTO DE LINGUSTICA, PORTUGUS E LNGUAS CLSSICAS CURSO DE GRADUAO EM LNGUA PORTUGUESA E RESPECTIVA LITERATURA GUILHERME JOO CENCI O INFINITIVO FLEXIONADONO LI VRO DAS AVES BRASLIA 2013 2 GUILHERME JOO CENCI O INFINITIVO FLEXIONADONO LI VRO DAS AVES MonografiaapresentadaaoCursodeLngua PortuguesaeRespectivaLiteraturadaUniversidade de Braslia, como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Lngua Portuguesa. Orientadora: Prof. Dr. Helosa Maria Moreira Lima de Almeida Salles BRASLIA 2013 3 SUMRIO 1.INTRODUO ................................................................................................................................... 5 2. A ABORDAGEM DO INFINITIVO EM COMPNDIOS GRAMATICAIS ................................... 6 2.1. Sobre o infinitivo na Moderna Gramtica Portuguesa, de Evanildo Bechara ............................ 6 2.2.SobreoinfinitivonaNovaGramticadoPortugusContemporneo,deCelsoCunha& Lindley Cintra ..................................................................................................................................... 8 3. O INFINITIVO FLEXIONADO NO MBITO DA LINGUSTICA .............................................. 12 3.1 Definindo o infinitivo flexionado ................................................................................................ 12 3.2. Lnguas de ocorrncia do infinitivo flexionado ......................................................................... 14 3.3 Sobre a nomenclatura do infinitivo ............................................................................................. 15 3.4 Sobre os contextos de ocorrncia do infinitivo flexionado ......................................................... 19 4. SOBRE O LIVRO DAS AVES ........................................................................................................... 23 5.ANLISE DO CORPUS O INFINITIVO FLEXIONADO NO LIVRO DAS AVES .................... 24 5.1. As ocorrncias de infinitivo flexionado ..................................................................................... 24 5.1.1. Quanto ao contexto oracional .................................................................................................. 24 5.1.1.1. Adverbiais finais .............................................................................................................. 24 5.1.1.2. Orao subjetiva ............................................................................................................... 27 5.2. Quando a terceira pessoa do plural no dispara o infinitivo flexionado em adverbais finais .... 28 5.3. Os casos ambguos da terceira pessoa do singular em adverbiais finais .................................... 29 5.4. A correspondncia mrfica entre o infinitivo flexionado e o futuro do subjuntivo ................... 30 6. CONCLUSO .................................................................................................................................. 33 7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................................. 36 8. ANEXOS ........................................................................................................................................... 38 8.1. Fac-smile das colunas XXVII e XXVIII do Livro das Aves ..................................................... 38 8.2. Fac-smile das colunas XXXIII e XXXIV do Livro das Aves .................................................... 39 8.3. Ocorrncias de infinitivo flexionado em Os Dilogos de So Gregrio ................................... 40 4 InDominoconfidoquomodo dicitisanimemeetransmigra mte sicut passer. (Livro das Aves, XXII, 17-18) 5 1.INTRODUO Estetrabalhotemporobjetivoinvestigaraspropriedadesdoinfinitivoflexionadono portugus,tomando-seporbasesuamanifestaoemtextoproduzidoemperodohistrico remotodalngua,naprimeirafasedoportugusantigo/arcaico.Nossointeressepela abordagemdiacrnicanosentidodeverificarascaractersticasdoinfinitivoflexionadono perodo citado, tendo em vista sua ausncia no latim, e no latim tardio. Sabe-sequeoinfinitivoflexionadositua-seentreasidiossincrasiasdoportugus, assumindo,entreosgramticos,opostodepeculiaridadegramatical.Contudo,jso numerosososestudosqueevidenciamaocorrnciadessefenmenoemoutrossistemas lingusticos. Embora no seja exclusivo da lngua portuguesa, como se acreditava, inegvel sua produtividade e ampla distribuio em diferentes estruturas de nossa lngua, em oposio a outros sistemas com os quais possvel estabelecer uma comparao. Ainda assim, tomado isoladamente,oinfinitivoflexionadopropedebatesprofcuosnoquedizrespeitosua ocorrncia, sua morfologia e sua variao com o infinitivo no flexionado.Namedidaemquesoadotadasbasestericasdescritivasdoportugus contemporneoparaaanlisedoportugusarcaicodeprimeirafase,estetrabalhoadotaum enfoquediacrnicoemcadaumadesuasetapas.Nessesentido,oestudolingusticodo fenmenosersubsidiadoporumcorpusque,mesmofragmentrio,conservaaltovalor lingustico. Trata-se do Livro das Aves, cdice de autoria desconhecida enquadrado no sculo XIV.Comorefernciadeanlise,estapesquisasegueobrahomnima:LivrodasAves, volume organizado por A. G. Cunha. ParaatingiroobjetivoapregoadodescriodoinfinitivoflexionadonoLivrodas Aves este trabalho se divide em cinco partes principais. Na primeira delas, correspondente seo2,evidencia-seaabordagemdoinfinitivoflexionadoemcompndiosgramaticaisde base tradicional. Na seo 3, a abordagem do fenmeno tem enfoque lingustico, com autores debasegerativa.Naseo4,descreve-seocorpus.Naseo5,detalhem-seosdados,com observaesacercadofenmenoemestudo.Asequnciadotrabalhotraz,naconcluso,os destaques da anlise do cdice. 6 2. A ABORDAGEM DO INFINITIVO EM COMPNDIOS GRAMATICAIS Aabordagemdoinfinitivo,sobretudodesuaspeculiaridadesnomeadamenteo infinitivo flexionado um fenmeno recorrente nos compndios gramaticais do portugus. NaGrammaticaPhilosophicadeJernimoSoaresBarbosa,porexemplo,jhuma diferenciao entre oinfinito impessoal e o infinito pessoal. Essa caracterstica tratada pelo autor como um idiotismo, uma espcie de singularidade da lngua (BARBOSA, 1822, p. 283). Noentanto,paraquehajaumacompreensomaisampladaformanominalde infinitivo,especialmenteemrelaoaoseuusonormativo,deter-sesobregramticas contemporneasconstituienfoquemaisapropriado,mesmoqueestetrabalhotenhacomo corpus um texto do perodo arcaico. Isso se deve ao fato de gramticas antigas apresentarem abordagensporvezeslimitadasdealgunsfenmenos,apesardepossuremaprimaziado estudo da lngua. Por essa razo, quanto vertente normativa, expem-se abaixo os estudos do infinitivo realizados por Celso Cunha, Lindley Cintra e Evanildo Bechara 2.1. Sobre o infinitivo na Moderna Gramtica Portuguesa, de Evanildo Bechara Nestecompndio,oautoriniciasuateorizaodestacandoapossibilidadedeo infinitivodesempenharfunessubstantivas.Distinguetambmaformainfinitado infinitivo (ou sem flexo) da forma flexionada. A distino se d pela explicitao das pessoas dodiscurso,queocorrenaformaflexionada,masnonaformasemflexo(BECHARA, 2009, p. 224). Em um segundo momento, o autor explicita o uso do infinitivo, distinguindo contextos paraoempregodasformasflexionadas.Essesdadosestosistematizadosabaixo,indicando situao e prescrio de uso: 1.Infinitivo histrico (em narraes, para indicar ao passada): forma flexionada ou forma no flexionada. (1)E os passarinhos a cantarem sempre; elas a olhar. 7 2.Infinitivo em locues verbais: no se costuma flexionar o infinitivo (2). A flexo, noentanto,notadaquandooverboencontra-seafastadodoauxiliarequer-se indicarapessoadaao(3)equandooverboauxiliar,umavezmencionado, omitido posteriormente (4). (2) Ele sabia que havia de vencer. (3)Osnovosramosdarvorepodem,apscuidadosbsicosdepodae irrigao, crescerem dentro de um ano. (4) Queres ver o mundo, esqueceres de suas responsabilidades? 3.Infinitivos em verbos causativos e sensitivos: a.Emverboscausativos(mandar,fazer,deixareafins):prescreve-seo infinitivosemflexo(5),apesardeaformaflexionadatambmser empregada (6): (5) Mandei-o correr. (6) Deixou as crianas correrem livres. b.Emverbossensitivos(ver,ouvir,olhar,sentir):normaloempregodo infinitivo sem flexo (7). O autor afirma queesse critrio no to rgido comoaqueledosverboscausativos(BECHARA,2009,p.285).Pode ocorrer, portanto, a forma flexionada (8): (7) Viu o rio correr livre.(8) Sentiu os pelos do brao se eriarem. 4.Infinitivoforadelocuoverbal:nessecontexto,oinfinitivonoflexionado, segundooautor,objetivariadestacaraao(9).Oinfinitivoflexionado,porsua vez, objetivaria destacar a pessoa do sujeito (10): (9) Compramos uma nova casa para melhorar de vida. (10) Compramos uma nova casa para melhorarmos de vida. 8 5.Outros casos: Bechara ainda afirma ser o infinitivo flexionado visto em contextos: nosquaisoautordestacaapessoaverbal,nosquaishdestaquedoagentepara efeitos de clarificao e nos quais o infinitivo aparece com um nominativo sujeito, nomeoupronome(querigualaodeoutroverbo,querdiferente)(BECHARA, 2009, p. 286). Apesar de o autor esboar contextos prprios das formas flexionadas em determinadas situaes,comonasdeinfinitivoemlocuoverbal,emoutras,comonasdeestruturas causativas, o tom prescritivo elevado. Mesmo que a lngua possibilite o emprego da forma flexionada,tenta-sepostularumanorma:comoscausativosdeixar,mandar,fazer(e sinnimos),anormaapareceroinfinitivosemflexo,qualquerquesejaoseuagente (BECHARA, 2009, p. 284).Feita essa ressalva, os dados da Moderna Gramtica Portuguesa demonstram como o usodoinfinitivoflexionadoprofusonoportugus,poispodeserativadonascinco construes que o autor elenca: infinitivo histrico, infinitivo em locues verbais, infinitivo com verbos causativos, infinitivo com verbos sensitivos e infinitivos fora de locuo verbal. 2.2. Sobre o infinitivo na Nova Gramtica do Portugus Contemporneo, de Celso Cunha & Lindley Cintra Nestecompndio,oenfoquesobreoinfinitivomaisabrangentedoqueo anteriormenteretratadonaModernaGramticaPortuguesa.Cunha&Cintra(2007), inicialmente,dividemaformainfinitivaeminfinitivoimpessoaleinfinitivopessoal.Isso feitoindiretamentequandoabordamaformaodostemposverbais,jquedestacamsero infinitivo pessoal derivado do impessoal pelo acrscimo das desinncias-es, -mos, -des, -em (cantar, cantares, cantar, cantarmos, cantardes, cantarem) (CUNHA & CINTRA, 2007, pp. 407-408). Emumsegundomomento,quandotratamdasintaxedosmodosedostempos,os autores destacam a funo substantiva do infinitivo (processo verbal em potncia) e sua forma composta (ler x ter lido). Nesta sesso, o infinitivo impessoal definido como aquele que no apresentasujeito,quenoserefereaumapessoagramatical.Oinfinitivopessoaltemessa referncia e pode ou no flexionar-se (CUNHA & CINTRA, 2007, pp. 498-499). 9 Em(1)e(2),apresenta-seadiferenaentreaimpessoalidadeepessoalidadedos infinitivos,respectivamente.Ocontrasteentre(2)e(3)evidenciaapresenaouausnciade flexo nos infinitivos pessoais: (1) Orar a sabedoria dos fortes. (2) Quero cantar a cano do sculo! (3) Mandei os alunos entrarem. Alm de uma diviso mais sistemtica dos tipos de infinitivos, os autores preferem, na seo de emprego das formas, retratar tendncias e no regras de uso, diferentemente de como procedeBechara(2009).Atribuemoempregodeumaououtraformacomooresultadoda estilstica, ritmo da frase, nfase do enunciado, clareza da expresso (CUNHA & CINTRA, 2007, p. 499).Como feito na seo anterior, para este compndio esto sistematizadas as tendncias deusodosinfinitivos.Abaixodescreve-searecomendao(flexoouno),seguidados contextos de ocorrncia: A.Sem emprego de flexo: 1.Quando o infinitivo impessoal. (4) Correr viver! 2.Quando o infinitivo apresenta valor imperativo (5) Andar! 3.Quando for empregado o infinitivo de narrao: (6) Ele a olhar, dizer, gritar. 4.Quando o infinitivo precedido da preposio de, atuando como complemento nominal de certos adjetivos: (7) difcil de cuidar dos outros. 5.Quando equivaler ao gerndio, ao estar regido pela preposio a: 10 (8) Estou a coser os sonhos de ontem. B.Emprego da flexo: 1.Com sujeito claramente expresso: (9) O interessante eles almoarem to rpido. 2.Quando feito conhecer um agente no expresso: (10) No preciso olhares assim. 3.Quando indicar a indeterminao na terceira pessoa do plural: (11) Ouvi dizerem que iro asfaltar essa estrada. 4.Quando se quer dar frase maior nfase ou harmonia: (12)Tomarumtemaetrabalh-loemvariaesou,comonaforma sonata,tomardoistemaseop-los,faz-loslutarem,embolarem, ferirem-seeestraalharem-se[...](apudCUNHA&CINTRA,2007, p. 503). C. normal o emprego do infinitivo no flexionado: 1.Em locues em que o infinitivo no se distancia do auxiliar: (13) Os rapazes quiseram danar. 2.Comverboscausativosesensitivos,quandoosinfinitivosestocontguosaos auxiliares (14) ou apenas separados por um sujeito, pronome oblquo (15). Se o sujeito do infinitivo, expresso por substantivo ou equivalente, postar-se entre ele e o auxiliar, costuma haver flexo (16). Na mesma configurao de (16), se o sujeito for oblquo, a concordncia tida como mais rara (17). Construes como a de (18) so consideradas raras: (14) Ouviu bater as portas do armrio (15) Ouviu-os dizer adeus.11 (16) Mandei as crianas lavarem os pratos. (17) Mandei-os lavarem os pratos. (18) Senti aproximarem-se as raposas. Almdanomenclaturadiversa,Cunha&Cintra(2007)divergemdaabordagemde Bechara (2009) quanto ao uso do infinitivo em narrao e quanto descrio das ocorrncias deinfinitivoflexionadoemestruturascausativas;poisnohnaqueles,paraessecaso,a prescrio da forma sem flexo, como visto na seo 2.1. Contudo, os trs autores salientam a raridade de ocorrncia da forma flexionada em predicados causativos. Cabe destacar ainda a associao que fazem entre infinitivo flexionado e estilstica(itens 4 e 5da seo 2.1e item B4 da seo 2.2) e entre uso do infinitivo flexionado e distanciamento do verbo principal em relao ao auxiliar (item 2 da seo 2.1 e itens C1 e C2 da seo 2.2). 12 3. O INFINITIVO FLEXIONADO NO MBITO DA LINGUSTICA Nestaseo,otrabalhotentarestabelecer,porintermdiodepesquisaslingusticas, umaprofundamentodoestudodoinfinitivoflexionado.Paraisso,seroapresentadas caractersticasdessetempoverbal,umdebatesobreanomenclaturadostiposdeinfinitivo comparando-acomaquelaapresentadapelagramticanormativaalmdadescrio diferenciada de seus contextos de ocorrncia. 3.1 Definindo o infinitivo flexionado Nadefiniodoinfinitivoflexionado,mencionam-sereiteradamenteaspectos morfolgicos, j que este um de seus elementos diferenciadores em relao ao infinitivo no flexionado: (a)Em portugus, [...], os infinitivos podem concordar com seus sujeitos, tal como as formas finitas dos verbos (PERINI, 1977, p. 70). (b) One of the distinctive aspects of Portuguese is that an infinitive verb can be inflected, by adding to it a personal ending (MARTINS, 2011, p. 1). (c)Theinflectedinfinitive[...]differsfromitsnon-inflectedconterpartintworespects:it displaysagreementmorphologyanditmaytakealexicalsubjectwhichisassigned Nominative Case (MADEIRA, 1994, p.179). A referncia concordncia (ou agreement), e ainda ao personal ending, diz respeito aosmorfemasnmero-pessoaisdoinfinitivoflexionado,quetambmsoapresentadosem gramticas normativas: Infinitivo no flexionadoInfinitivo flexionado cantar para (eu) cantar para (tu) cantar-es para (ele/ela/voc) cantar para (ns) cantar-mos para (vs) cantar-des para (eles/elas/vocs) cantar-em 13 Pelacomparaoacima,percebemosqueadistinomrficaseestabelecedeforma plena para a 2 pessoa do singular (-es) e do plural (-des) e para a 1 e 3 pessoas do plural (-mose-em).Noentanto,issonoocorreparaa1e3pessoasdosingular.Muitasvezes,o morfemapodegerarambiguidadenadeterminaodeocorrnciadaformaflexionadaou no flexionada: (1) A multido se aproximou para ver de perto o beco lacrado. Essasentenadiferede(2),emqueapluralizaodosujeito,semamodificaodo restante da frase, indica que a forma verbal ver trata-se de um infinitivo no flexionado: (2) As pessoas se aproximaram para ver de perto o beco lacrado. Nesse caso, a terceira pessoa do plural no dispara a flexo do verbo no infinitivo. Sua contraparte flexionada corresponderia a: (3) As pessoas se aproximaram para verem de perto o beco lacrado. Voltando aos excertos apresentados acima (a, b e c), percebemos que, em (c), Madeira (1994) traz outro elemento definidor do infinitivo flexionado: a possibilidade de assumir um sujeitolexical,querecebercasonominativo.Essaobservaosecomplementacoma abordagemqueMateus(2003)fazdotema.Aoestudarcompletivasnofinitas,aautora afirmaqueapresenademarcasdeConcordncianasinfinitivascannicascominfinitivo flexionadotemcomoprincipalconsequnciaapossibilidadedeocorrnciadesujeitoscom realizao lexical (MATEUS, 2003, p. 624).Desse modo, alguns contrastes de gramaticalidade e agramaticalidade se estabelecem: (4) A sugesto de as obras serem submetidas a novos testes vlida. (5) *A sugesto de as obras ser submetidas a novos testes vlida. Adiferenaestnaaceitaodosujeitolexical.Enquantooinfinitivoflexionado licencia essa posio, o infinitivo sem flexo, segundo a autora, no o faz. Vale observar que se trata de uma possibilidade de uso do sujeito lexical e no de uma obrigatoriedade. 14 Sumariamente,considerandoasinformaesmorfolgicasesintticasapresentadas, pode-se afirmar, assim, que: o infinitivo flexionado difere do infinitivo no flexionado por apresentar trao positivo para a concordncia e por poder assumir um sujeito lexical de caso nominativo.De forma esquemtica, com base em Raposo (1992), os dois tipos de infinitivo podem ser representados desse modo: Infinitivo no flexionadoInfinitivo Flexionado Flex: [ T / Conc.]Flex: [ T / + Conc.] 3.2. Lnguas de ocorrncia do infinitivo flexionado Apesardeoinfinitivoflexionadoserconsideradoumasingularidadedalngua portuguesadesdehmuito,comoprovaarefernciaaJernimoSoaresBarbosanaseo2, ele no lhe pode ser considerado exclusivo.OstrabalhosdeAzevedo(2006),Teixeira(2009),Martins(2011)eFreitas(2012) observam que o infinitivo flexionado verificado ainda (a) no galego (cujos falantes habitam a Galiza, regio independente localizada a noroeste da Espanha); no (b) sardo-laudors (cujos falantes habitam a Sardenha, ilha italiana); no (c) hngaro; nas formas antigas do (d) mirands (lnguamaisdifundidanaMirandadoDouro)edo(e)espanhol,almdeocorrerno(f) napolitano do sculo XV; no (g) leons ducentista(hoje falado principalmente nas provncias de Leo e Zamorra e no Distrito de Bagrana) e em (h) alguns dialetos italianos meridionais. So exemplos de ocorrncia do infinitivo flexionado no galego: (1) Maesprotelogopara(ns)merendarmosnamiacasa(apudFREITAS, 2012, p. 23). (2) Non te d vregoa estudiares tan pouco? (apud FREITAS, 2012, p. 24). Constituiexemplodeocorrnciadeinfinitivoflexionadoemhngaro(Seria importante para John aprender a verdade): 15 (3) Fontos volna Janosnak megtudnia az igazat important would be John-DAT learn-INF-3SG the truth-ACCIt would be important for John to learn the truth (apud KISS, 2004, p. 213). Emboranodetenhaaexclusividadedeocorrnciadoinfinitivoflexionado,o portugus o que lhe d mais fora de uso, no s por uma questo quantitativa referente ao nmerodefalantes,mastambmpelosvrioscontextosemquepermiteoempregodessa forma.Algunsdialetosdoportuguschegaramadesenvolverflexo(+Concordncia)at mesmo em formas nominais de gerndio: (4) No sei como tanto devmos, ganhndomos tanto dinheiro! (apud LOBO, 2000, p. 4). (5) Em sendem crescidos, levo-os a Lisboa (apud LOBO, 2000, p. 4). 3.3 Sobre a nomenclatura do infinitivo Omodocomooinfinitivocommarcasdeconcordnciadiferenciadodoinfinitivo sem essas marcas varia de autor para autor.O mais comum encontrar a oposio infinitivo flexionado x infinitivo no flexionado. No entanto, h ainda a distino infinitivo pessoal x infinitivoimpessoal,sendopessoalsinnimodeflexionadoeimpessoalsinnimode no flexionado. Como visto na seo 2, Cunha & Cintra (2007) empregam a ltima diviso e a ampliam: o infinitivo pessoal podeabarcar infinitivos flexionados ou no flexionados. A formaimpessoal,somenteoinfinitivonoflexionado.Paraestesautores,portanto,as correspondncias pessoal flexionado e impessoal no flexionado no so exatas. A tabela a seguir resume essas posies: 1 Diviso2 Diviso3 Diviso: Cunha & Cintra (2007) Infinitivo flexionado Infinitivo pessoal (flexionado) Infinitivo pessoal Flexionado No flexionado Infinitivo no flexionado Infinitivo impessoal (no flexionado) Infinitivo impessoal 16 AdivisopropostaporCunha&Cintra(2007)nonospareceexata,porqueafirma queoinfinitivoimpessoalnoapresentasujeito.Antesdechegarmosaopontoemqueser permitidoesboaromotivodessadiscordncia,precisodeter-sesobreaspectosrelativos expresso do sujeito em construes sintticas. A Teoria Gerativa, e para essa abordagem utilizamos os trabalhos de Mateus (2003) e deCook&Newson(1996),observaquehlnguasquepermitemaocorrnciadesujeitos nulos.Quandonulo,osujeitoconsideradoumacategoriavaziaenoumaforma foneticamente expressa. Para a teoria em questo, esse sujeito foneticamente vazio nomeado comopro.Porissoadistinoentrelnguaspro-drop(queaceitamosujeitonulo)elnguas no pro-drop (que exigem a manifestao fontica do sujeito). Oportugus,oitaliano,orabeeochinssoexemplosdelnguaspro-drop;o francs,oinglseoalemoso,porsuavez,nopro-drop.Poressarazo,hdiferenade gramaticalidade nos exemplos abaixo: (1) pro Falo muito! (2) pro Parlo molto! (3) *pro Talk a lot! (4) *pro Parle beaucoup! A Teoria Gerativa ainda diferencia os sujeitos nulos em trs: (a) sujeito nulo padro, (b) sujeito nulo expletivo e (b) sujeito nulo indeterminado ou de referncia arbitrria. O sujeito nulo padro aquele que pode ser subentendido por morfemas flexionais e informaes adicionais do contexto lingustico ou situacional (MATEUS, 2003, p. 442). As sentenas abaixo ilustram essa ocorrncia: (5) (a) Eu dancei uma valsa vienense.(b) pro Dancei uma valsa vienense. (6) (a) Eu fui para casa cedo. Eu estava com muito sono. (b) pro1 Fui para casa cedo. pro1 Estava com muito sono. 17 Osujeitonuloexpletivocorrespondeaoprodeverbosquenoselecionamum argumentoexterno.Sooschamadosverbosimpessoais,entreosquaischover,haver, acontecer, parecer: (7) pro Chove desde manh. (8) pro H tantos carros e prdios aqui! Osujeitonuloindeterminadoocorreemverbosdaterceirapessoadopluralque possuem referncia arbitrria (algum). Neste caso, trata-se de PRO1: (9) PROarb Comentam que o vencedor voc. (10) PROarb Dizem que ele venceu. Em seu trabalho, Azevedo (2006) tambm considera haver arbitrariedade na categoria vazia dos infinitivos de oraes subjetivas. Neste contexto, trata-se novamente de PRO: (11)[PROarbViajarvelocidadedeluz]seramaiorconquistacientficajamais vista (AZEVEDO, 2006, p. 26). Segundooautor,apesardessaarbitrariedade,ocontextopragmticocapazde restringirainterpretaodessesujeitofoneticamentenoexpresso.Dessemodo,aparfrase queoautorselecionaparaoexemploacimaaseguinte:seramaiorconquistacientfica jamaisvistaumindivduoouobjetoarbitrrioXviajarvelocidadedaluz(AZEVEDO, 2006, p.25). EmCunha&Cintra(2007),soprecisamenteasoraessubjetivasreduzidasde infinitivoquerecebemadenominaodeimpessoaise,portanto,segundoosautores,as formas infinitas no possuem sujeito: (12) Viver exprimir-se (apud CUNHA, 2007, p. 499). (13) Jurar falso grande crime (apud CUNHA, 2007, p. 499). 1PROapresentaasseguintescaractersticas:[...]comporta-seoradeformaparecidacomasanforas(em contextos de controle obrigatrio, quando correferente com o sujeito da sentena mais alta na estrutura), ora de formaparecidacomospronomes(emcontextonocontrolado,quandoadquireainterpretaoarbitrria) (MIOTO, 2000, p. 172). 18 (14) Amar os homens sempre uma alegria dolorosa (apud CUNHA, 2007, p. 499). Considerandoaexposiocarreadaatomomento,aimpropriedadedessa nomenclaturaseperfazquando,porumaticalingustica,entendemosqueosverbosviver, jurar e amar das frases acima tm de fato um sujeito. Nesse caso, no expresso foneticamente e com referncia arbitrria: (15) PROarb Viver exprimir-se. (16) PROarb Jurar falso grande crime. (17) PROarb Amar os homens sempre uma alegria dolorosa. Essa arbitrariedade permite as seguintes parfrases: Quem vive se exprime; Quem jura emfalsocometegrandecrime;Quemamaoshomenssealegradolorosamente.Tantonas frases originais, como nas reescritas, observam-se ainda aspectos de indeterminao. Por isso oPROarbocorrertambmemsujeitosnulosindeterminadosdeverbosnaterceirapessoado plural,comovistoacima.Nessesentido,daspossibilidadesdedistinodaformaverbalem estudonestetrabalho,aterceira,presenteemCunha&Cintra(2007)eesboadanoquadro anterior, no ser adotada. preciso destacar, todavia, que os autores, em sua anlise, atentam paraofatodehaverumadiferenanavinculaodecategoriasvaziasdeverbosno infinitivo2.Oproblemaresidenotratamentoquefazemdosdados,queserefleteemsua nomenclatura.No que diz respeito segunda diviso, concernente distino entre infinitivo pessoal e infinitivo impessoal, mas no aos moldes de Cunha & Cintra (2007), h uma razo para no seracatadanestetrabalho.Apesardealgunsautoresautilizaremcomosinnimode flexionadoenoflexionado,aideiadeimpessoal,bemcomoanoode impessoalidade, pode ser empregada como sinnimo de indeterminao. Esta, por sua vez, no constitui fator distintivo das formas infinitivas, pois est presente tanto no infinitivo no flexionado(nasoraessubjetivascomPROarb)comonoinfinitivoflexionado(nocaso apresentadonaseo2.2,itemB3:Quandoindicaraindeterminaodaterceirapessoado plural: (11) Ouvi dizerem que iro asfaltar essa estrada). Dessemodo,preferimosdiscriminarosinfinitivosemflexionadoenoflexionado, pois a forma que melhor reflete a definio apresentada em 3.1. 2 O conceito de impessoalidade tratado por esses autores uma referncia arbitrariedade esboada por PRO. 19 3.4 Sobre os contextos de ocorrncia do infinitivo flexionado Nestetpico,odebatetercomoantecedenteocontedoexpostonaseo2,onde foramapresentadososcontextosdeocorrnciadoinfinitivoflexionadoemcompndios gramaticais.Diferentementedotomprescritivovistoanteriormente,ostrabalhosdeRaposo (1987) e Madeira (1994) detm um vis descritivo, o que permite, neste ponto, aprofundar o entendimento da ocorrncia sinttica do fenmeno em estudo. AsprimeirasconsideraesdeRaposo(1987)retratamqueassentenasdeinfinitivo flexionado se assemelham s sentenas com verbos finitos por permitirem a expresso de um sujeitolexical.Poroutrolado,diferenciam-sedassentenasdeverbosfinitospelofatode ocorreremapenascomooraessubordinadas:sooraesdependentes(embedded clauses). Segundo o autor, o infinitivo flexionado no se manifesta em sentenas matrizes ou sentenas independentes. Tambm no ocorre com o complementizador que. Os dados em (1) comprovam essas observaes: (1) a.*As crianas comerem a torta. b.* impossvel que eles vencerem a competio. Madeira(1994)tambmapresentaoscontextosemqueoinfinitivoflexionadono ocorre.Soeles:(a)quandoemcomplementosdepredicadosvolitivos3eoutrospredicados decontrolesujeito,(b)quandoemsentenasinterrogativase(c)quandoemsentenas relativas. Esses contextos esto representados de (2a) a (4a). De (2b) a (4b) apresentam-se as contrapartes gramaticais: (2) a.*Ele deseja os problemas serem resolvidos. b. Ele deseja resolver os problemas. (3) a.*Sabamos quem recebermos no festival. b. Sabamos quem receber no festival. (4) a.*As crianas no tm uma bola com que brincarem. b. As crianas no tm uma bola com que brincar. 3 Os verbos volitivos, como a nomenclatura permite inferir, so verbos que expressam vontade. Entre eles esto querer, exigir, desejar e pedir. 20 Assimcomoabuscadotemanoscompndiosgramaticaisrevelou,apesquisa lingustica evidencia que os contextos de ocorrncia do infinitivo flexionado so abundantes. Madeira(1994)listaoitoambientessintticospossveis,salientandoque,neles,ha alternncia entre forma flexionada e forma no flexionada. Eles esto esquematizados abaixo, com exemplos que se coadunam com aqueles apresentados pela autora: A.Em complementos de predicados declarativos/epistmicos4: i.Afirmam ter o gato comido o rato. B.Em complementos de predicados factivos5: i.Lamento vocs terem perdido o voo. C.Em oraes subjetivas: i.Surpreende-nos eles terem tomado o poder. D.Em oraes adverbiais introduzidas por uma preposio: i.Ela ficar em p at eles terminarem o bolo. E.Em complementos de verbos de percepo: i.Clara ouviu as cigarras cantarem. F.Em complementos de predicados causativos: i.A me mandou as filhas se pentearem. G.Em complementos de predicados de objeto controle: i.Miguel convenceu os pais a comprarem a bicicleta. H.Como complementos de predicados transitivos de controle sujeito: i.Prometemos aos garons darmos-lhes gorjetas.

4 So exemplos de verbos declarativos: afirmar, perguntar, falar. 5Ofenmenodafactividade,nombitodalingustica,emsentidoamplo,estrelacionadopropriedadeque certositenslexicaisouestruturasgramaticaisespecficaspossuemdepressuporumvalordeverdadeparaa proposioexpressapelaestruturaaquepertencem(DIAS,2011,p.216).Soexemplosdeverbosfactivos: saber, lamentar, adivinhar.21 Almdelistaroscontextosemqueoinfinitivoocorreouno,Madeira(1994) apresentadadospertinentessobreosquatroprimeirosambientessintticos(A-D).Os comentrios giram em torno de dois aspectos: (a) inverso entre sujeito e verbo auxiliar e (b) ocorrncia da forma lexical do verbo sem o auxiliar. Para os verbos declarativos/epistmicos a autora constata que a inverso entre o sujeito eoverboauxiliarobrigatriaparaqueafraseconservesuagramaticalidadeeque,semo auxiliar, a forma lexical do verbo no permitida: (5) a.*Afirmam o gato ter comido o rato. b. Afirmam ter o gato comido o rato. (6) a.*Afirmam o gato comer o rato. b. *Afirmam comer o gato o rato. Paraosverbosfactivos,ainversoentreosujeitoeoverboauxiliarfacultativa. Alm disso, sem o auxiliar, a forma lexical do verbo pode ocorrer, mas sem inverso: (7) a. Lamento terem vocs perdido o voo.b. Lamento vocs terem perdido o voo. (8) a. Lamento vocs perderem o voo. b. *Lamento perderem vocs o voo. Omesmocomportamentoseverificacomasoraessubjetivas.Ainversoj apontadafacultativae,semoauxiliar,aformalexicaldoverbopodeocorrer,massem inverso: (9) a. Surpreende-nos eles terem tomado o poder. b. Surpreende-nos terem eles tomado o poder. (10)a. Surpreende-nos eles tomarem o poder. b. *Surpreende-nos tomarem eles o poder.22 Por sua vez, em oraes adverbiais o que ocorre a agramaticalidade da inverso entre sujeito e auxiliar e entre sujeito e forma lexical do verbo: (11)a. Ela ficar em p at eles terem terminado o bolo. b. *Ela ficar em p at terem eles terminado o bolo. (12)a. Ela ficar em p at eles terminarem o bolo. b. *Ela ficar em p at terminarem eles o bolo. OestudodaautoraeasinformaescoletadasdotrabalhodeRaposo(1987) expandem a anlise contextual de ocorrncia do infinitivo flexionado. Madeira (1994) aborda nosaformasimplesdoinfinitivoflexionado(tomarem,porexemplo),mastambmsua forma composta (terem tomado), o que lhe permite destacar propriedadesreferentes ordem dostermosnaorao.Naseodeanlisededados,essasabordagenscontribuiroparao entendimento do infinitivo flexionado no portugus trecentista. 23 4. SOBRE O LIVRO DAS AVES O Livro das Aves um manuscrito que corresponde a uma traduo do 1 livro do De bestiisetallisrebus,cujaautoriaatribui-seaHugodeFolieto.Essatraduo,queno integralnemliteral,revelaoscaminhosdaprosamedievalportuguesa:osurgimentodos bestirios.Aoladodoslivrosdeplantasedoslapidrios,osbestiriosdescreviamomundo fsicodeformamstica.OLivrodasAvespossui,assim,umtommarcadamentereligiosoe preocupa-seemapresentarasvirtudeseosdefeitosdasaveseaplicarasponderaes suscitadas aos homens. Fisicamente, o cdice possui nove folhas soltas de pergaminho, escritas na frente e no verso. As folhas tm medidas de 32 x 22 cm. Uma delas est cortada verticalmente, tornando ascolunasXIVeXVinacessveis.Afragmentaodomanuscritoseampliapelafaltado incio e do fim do texto e pelo estado adiantado de deteriorao das folhas6.O cdice tambm passou por diferentes denominaes ao longo dos anos. Em 1925, a obrafoiintituladadeHistriaNaturaldasAves,quandoreveladapelopalegrafoPedrode Azevedo,queaenquadrounosculoXIVpelaobservaodasminsculasdooriginal. Quando estudada por Padre Mrio Martins, foi intitulada deTratado Sobrenatural das Aves. A denominao que vigora at hoje, Livro das Aves, foi definida posteriormente por Serafim da Silva Neto.LivrodasAves,obrahomnimaaocdice,foiarefernciaquenosdeuacessos informaestcnicasapontadaseaocorpusdestetrabalho.Aobrafoiorganizadaedirigida por A. G. Cunha, mas preparada por Jacira Andrade Mota, Rosa Virgnia Matos e Silva, Vera Lcia Sampaio e N. Rossi. O volume compe a coleo Dicionrio da Lngua Portuguesa Textos e Vocabulrios. Alm do texto crtico, a cuidadosa confeco dessa obra apresenta os comentrios dos autores, um glossrio e o fac-smile do original. 6 Em anexo, nos itens 8.1 e 8.2, h uma amostra do documento, cpias das colunas XXVII, XXVIII, XXXIII e XXXIV. 24 5.ANLISE DO CORPUS O INFINITIVO FLEXIONADO NO LIVRO DAS AVES Estaseoestdivididaemquatropartes,deacordocomanecessidadedeavaliao dosdadosencontrados.Naprimeiradelas,soabordadasasocorrnciasdeinfinitivo flexionado.Nasegunda,discutem-seoscasosemquea3pessoadopluralnodisparao infinitivoflexionado.Naterceira,ofocoresideemestruturasambguascomverbosna3 pessoadosingular.Naquarta,humaapreciaosobreacorrespondnciamrficaentreo infinitivoflexionadoeofuturodosubjuntivo,almdaexposiodoscasosemqueh indeterminao da forma verbal em razo dessa similaridade.No que diz respeito indicao dos dados retirados da obra de referncia, os nmeros romanosindicamascolunasdospergaminhos;osarbicos,aslinhascorrespondentes.Os colchetes,quandonoempregadosparaindicarsupressooutrecholacunar,representam acrscimos dos autores que prepararam a obra de referncia citada anteriormente. 5.1. As ocorrncias de infinitivo flexionado A anlise do corpus provou haver 11 ocorrncias de infinitivo flexionado. Para efeitos de sistematizao dos dados, este trabalho opta por duas separaes distintas. A primeira delas feitacombasenotipodeorao,atentandoparaoscontextosdeocorrnciadoinfinitivo flexionado discutidos no item 3.4. A segunda estabelecida de acordo com a forma verbal (se simples ou em perfrase) e ser abordada ao longo da anlise estabelecida na primeira diviso. 5.1.1. Quanto ao contexto oracional Das 11 ocorrncias de infinitivo flexionado, 10 ocorrem em oraes adverbiais finais e 1 em orao subjetiva. 5.1.1.1. Adverbiais finais (1), (2) e (3) L.A. VII, 14-19: E por esso se aparta nos logares desertos e soos per que entdemosaclaustraenqueseenserrosreligiosos(1)perafugiraosprazeresdo mdoe(2)podermelhorchorarosseuspecados(3)[ete]ersasalmasmais assessegadas e mais firmes [no amor] de deus. 25 Nestetrecho,extradodoTractadodaTrtor,astrsprimeirasocorrnciasdo infinitivoflexionadoemadverbiaisfinaisrevelamacoordenaodeoraessubordinadas, algocomumnaobra.Nesteencadeamento,nenhumadastrsadverbiaisapresentaosujeito foneticamenteexpresso:ostrssujeitosnulossocorreferentesaosintagmaosreligiosos, sujeito da forma verbal se enserr.Entreasocorrncias,(1)e(3)soformassimples.Aocorrncia(2)evidenciao infinitivoflexionadoemlocuoverbal,emverboauxiliar,especificamente.Quantoaesse aspecto,importanteobservaraintercalaodoadvrbiomelhornaperfrase.Otrecho ainda permite diferenciar oraes adverbiais finais desenvolvidas de reduzidas. As formas de infinitivo flexionado ocorrem em oraes reduzidas, j a orao per que entdemos a claustra en que se enserr os religiosos exemplo de orao desenvolvida, com verbo conjugado no presente do subjuntivo. H, portanto, quatro adverbiais finais no intervalo destacado. (4)L.A.,XIII,6-10:Disserayndaqueaquelagruaquehecabdeldasoutrasqudo alg perigoo vee b[ra]ada pera sse guardarem as outras daquel perig[o]o e quando enrouquece entra outra en seu logar. Neste trecho, extrado do Tractado da Ema, o infinitivo flexionado ocorre em forma verbal simples e reflexiva. Cabe aqui observar dois pontos. O mais importante diz respeito inversoentreverbo(seguardarem)esujeito(asoutras).Osujeitoest,portanto, posposto.Haindaquesenotaracolocaodopronomereflexivo,proclticoaoverbo guardarem da estrutura. (5)L.A.,XXVI,24-26:[...]quandoospecadoressevdesesojugamaodiaboo pera seerem atormentados no fogo do inferno perduravil [...]. Nestetrecho,extradodoTractadodaCegonha,constata-senovamenteumsujeito nulo para a forma verbal de infinitivo flexionado. Esse sujeito, no fragmento, correferente a os pecadores, sujeito dos verbos se vd e se sojugam. (6)L.A.,XXIX,12-20:Porendepelospaos7quetragideTarsisaJherusal entdemos os preegadores do avangelho de Jhesu Christo que preeg aos homs como 7 Na obra, paos corresponde forma antiga de paves.26 sse part dos gouvhos e dos prazeres do mdopera poder viir aa gloria do parayso enqueaverpazelediaeprazerperatodosempreesobretodotemposfinesen termho. Neste trecho, que pertence ao Tractado do Paaon, o infinitivo flexionado ocorre no verbo auxiliar de uma perfrase. Como visto tambm de (1) a (3) e em (5), neste fragmento o sujeito de infinitivo nulo. Sua correferncia se estabelece com o sintagma os pregadores do evangelho de Jhesu Chisto, cujo ncleo os pregadores. (7) L.A., XI, 15-20: A ema he ha ave que porque ha pena pouca e corpo grande n sepodepervoaralarmuytodeterra,assicomooaorouogirofalcoqueanos corpos pequenos e as penas muytas. E [por]tto o aar [aju]da[os] pera [voaren muyto [...] ca ha o corpo [...]. Nestetrecho,pertencenteaoTractadodaEma,aformaverbaldoinfinitivo flexionado,assimcomoasocorrnciasanalisadasatomomento,possuimorfologiada terceirapessoadoplural.Almdisso,seusujeitonuloecorreferenteaoclticoos, complemento do verbo ajudar.QuantostrsoutrasocorrnciasdeinfinitivoflexionadoencontradasnoLivrodas Aves, deve-se apontar que esto presentes em perodos bastante fragmentados. O que permite ainterpretaodeseuscontextosdeocorrnciacomooraesadverbiaisfinaisaestrutura para + infinitivo, prototpica desse tipo de subordinao8. (8)e(9)L.A.,XeXI,36,1-2:[...][aaaa]s(8)peraseeespertarperafazerbas obras (9) n pera fazerenas fazer aos outros [...]. Nestetrecho,retiradodoTractadodaTrtor,ossujeitosnulosdasduaspassagens nopodemtersuacorrefernciadeterminada.Em(8),valenotaraposioproclticado pronomesee,contguopreposio.Em(9),oadvrbiodenegaonindicaquea ltimaoraoadverbialestcoordenadaoutra.Essaoraonopodeseraimediatamente anterior(perafazerboasobras),porquenohacorrelaono...nem...esperadaem 8NoLivrodasAves,excetuando-seosdados(8),(9)e(10),h41casosemqueapreposioperaest expressafoneticamenteeacompanhadadeinfinitivo(flexionadoouno).Anoodefinalidadeestexpressa em todos eles. Por isso a interpretao dos perodos fragmentados em anlise ser feita como apresentado.27 construesdessetipo.Essacoordenaoprovavelmenteseestabelececomaprimeira sentena (pera see espertar), presumindo haver um advrbio de negao (no, nunca) onde o trecho lacunar. Aindaem(9),permitidoobservarqueoinfinitivoflexionadoocorreemverbo auxiliar de uma perfrase. Essa locuo causativa utiliza o verbo fazer duas vezes: fazerenas fazer.Nestecaso,hnclisedoclticoemrelaoaoauxiliar,oquenospareceuma estratgia eficiente para evitar a sequncia fazerem fazer (n pera as fazeren fazer). (10) L.A., XIII, 24: [...] [e pera] dormir mais [se] [...]. Neste trecho, pertencente ao Tractado da Ema, so poucas as constataes a realizar. Apesar de o sujeito nulo de infinitivo no ter sua correferncia determinada, assim como em (8)e(9),amorfologiadoverboindicatratar-sedaterceirapessoadoplural.Almdisso,a conjuno e indica haver coordenao no perodo, embora o estado fragmentrio do trecho no permita definir qual outra orao pera dormir liga-se. 5.1.1.2. Orao subjetiva O corpus revelou apenas uma ocorrncia de infinitivo flexionado em orao subjetiva. Como se pode constatar em (11), a estrutura da sentena, construda com o verbo ser (he), denunciaessecontexto.Emboraoperodoestejaincompleto,permite-nosentenderosujeito nulo de soffrer como correferente a ho[mens] sanctos. (11)L.A.,XXIeXXII,34-35,1:Que[pres]tariaaosho[mens]sanctos[...]e[ste mundo] (he) soffrer se n ouvess esperana de resurgir?. Para finalizar esta seo, a anlise de dados sistematizada na tabela abaixo: CONTEXTO DE OCORRNCIA Ocorrncias Nmero A Quanto forma verbal Em locuo verbal 3 [(2), (6), (9)] Forma simples 8 [(1), (3), (4), (5), (7), (8), (10), (11)] 28 B Quanto ao tipo de orao Orao subordinada adverbial final 10[(1) a (10)] Orao subordinada substantiva subjetiva 1 [(11)] 5.2. Quando a terceira pessoa do plural no dispara o infinitivo flexionado em adverbais finais O estudo das ocorrncias do infinitivo flexionado, apresentado na seo 3, demonstra que o emprego ou no da flexo alternante em muitos contextos. No corpus desta pesquisa, foramencontradas5passagensemqueaterceirapessoadopluralnodisparaoinfinitivo flexionadoemadverbiaisfinais.Nessescasos,osdadosrevelamaopopeloinfinitivono flexionado. (1) e (2) L.A., X, 24-26: [...] eles se espert e saviv (1) pera correger os seus erros e (2) pera fazer aquelas bas obras [...]. Neste trecho, retirado do Tractado da Trtor, os sujeitos nulos das formas infinitivas so correferentes ao pronome eles, que no contexto do tratado refere-se queles para quem o pregador transmite suas palavras. O trecho ainda ilustra mais um caso de coordenao entre adverbiais finais. As contrapartes flexionadas seriam construdas com as formas corregerem e fazerem. (3) L.A.,XIII,1-3:Disserayndaquett[o]voaltiperapodermelhorveeras terras a que quer yr. Nestetrecho,pertencenteaoTractadodaEma,osujeitonulodoverboauxiliarda perfrasecorreferenteaosujeito,tambmnuloedeterceirapessoalplural,doverbovoar (vo). Os pargrafos que antecedem esse perodo, pela fragmentao, no permitem definir aquaisavesessessujeitosaludem.Almdisso,estetrechoapresentaamesmaestruturado exemplo(2)daseo5.1.1.1,comadvrbiointercalado:poder+melhor+verbono infinitivo. Os casos diferem, todavia, quanto flexo do infinitivo (poder x poderem). 29 (4)L.A.,XVI,linhas2-7:[...]caaquelesquesonmolesefracosctraasttaes, assicomodesusodissemos,trabalhan-sedganarossimplizeseosbavecaspera [tr]aze-los daqueles maos custumes que eles [a]m. ExtradodoTractadodaEma,estetrechotrazuminfinitivocujosujeitonulose correfere ao pronome plural aqueles. A flexo no disparada. Se o fosse, teramos a forma trazerem-nos, mantendo a posio encltica do pronome tono. (5)L.A.,XXII,18-22:AquifalaoprophetaDaviddosheregesquedizques menbros da Eigreja. E sson menbros podres e trabalh pera tirar os bs fiees pera ssi dizendo que eles t o camho de Jhesu Christo e n os outros. Extrado do Tractado da Cegonha, a forma infinitiva deste trecho apresenta-se como asdemais:possuisujeitonulocorreferenteaumaformaplural(hereges),masnoest flexionada. Com concordncia, o verbo assumiria a seguinte configurao: tirarem. Peloexposto,umaprimeiraabordagempoderiarevelaralgumfenmenosinttico limitadordaconcordncia.Chamou-nosaateno,porexemplo,ofatodeem(1),(3)e(5) haverformasverbaispluralizadasprximaspreposiopera,introdutoradeoraes adverbiaisfinais.Essesverbosapresentamosmesmossujeitosdosverbosnoinfinitivo.No entanto,essaconstataonopodealimentarnenhumahiptese,porqueem(2)e(4)a situaodiversa:asformasverbaispluralizadasnoestoprximassadverbiaisfinaise, mesmo assim, o infinitivo no tem sua flexo disparada.Soma-seaissoofatodeoinfinitivopoderseflexionarquandohformasverbais plurais prximas orao subordinada: casos (1) e (5) da seo 5.1.1.1. 5.3. Os casos ambguos da terceira pessoa do singular em adverbiais finais Naseo3,apsalistagemdasmarcasmorfolgicasdoinfinitivoflexionado, discutiu-se o fato de a 1 e a 3 pessoas do singular serem caracterizadas por um morfema . Essa caracterstica no permite definir, em certos contextos, a forma flexionada da forma no flexionada.Nosdadosabaixoumapequenaamostradeumconjuntomaiordeocorrncias semelhantes essa ambiguidade se perfaz: 30 (1)L.A.,II,4-6:Caoquebhesempressepagadabacpanhaperaaprender sempre deles bs custumes e bas faanhas. (2)L.A., IX, 7-9: Ffaz a Escritura demanda [n] pera dar a entder que o galo aja entdimento [...]. (3) L.A., X, 10-12: [...] assi o b preegador anteque preegue primeiramte safaz pera viver b e sanctamte per bs custumes [...]. (4) L.A.,XXIV,28-30:EntomachaopassarologarperaficarnacasadeDeus [...]. (5) L.A., XXV, 1-4: [...] ca o dyaboo vosso enmiigo cerca-vos como o leon cerca a mata pera catar que comha, se poder comer as vossas almas. Seosinfinitivosacimaapresentassemumsujeitolexicaldecasonominativo,a ambiguidade seria desfeita, pois esta uma caracterstica do infinitivo flexionado9. 5.4. A correspondncia mrfica entre o infinitivo flexionado e o futuro do subjuntivo Uma das peculiaridadesdo infinitivo flexionado a imutabilidade de sua morfologia. Isto,asmarcas,-es,,-mos,-des,-emnosealteramquandoaplicadasadiferentes classesverbais(RAPOSO,1987,p.86).Noentanto,essesmorfemas,naconfigurao estruturaldoportugus,tambmpodemserempregadosnarepresentaodeoutrotempo verbal: o futuro do subjuntivo.Essasemelhanamorfolgicaocorrequandoosverbossoregulares.Quando irregulares,outrosmorfemaspodemserempregadosnaexpressodosubjuntivo.Noestudo dos dados, atentou-se para essa similaridade de formas verbais. Abaixo seguem alguns trechos doLivrodasAvesemqueoverbo,conjugadonosubjuntivo,assumeformaanlogade infinitivo flexionado: 9Definioestabelecidanaseo3:oinfinitivoflexionadodiferedoinfinitivonoflexionadoporapresentar trao positivo para a concordncia e por poder assumir um sujeito lexical de caso nominativo. 31 (1) L.A.,V,9-12:HapeyooheotemordoJuyzoqueaveraquandoaparecer todolos seus fectos publicos e ascondudos. (2) L.A.,X,13-14:Assiqudoelerepreenderosoutrosensapreegadobrasou de custumes [...]. (3) L.A., XVI, 22: [...] rua se a lanar f[or]a ou se a [...]. (4) L.A.,XXVIII,5-10:Aqueloquedizqueooutropassaroleyxirlivremte demonstraquedepoisquensvcermosascobiiasmaascarnaesentaalma nossa voar aos ceos c penas de ba ctemplaom. Asformasqueseguem,porsuavez,conjugadasnosubjuntivo,assumemmorfologia diversa daquela esboada pelo infinitivo flexionado, no que se refere estrutura morfolgica da base/raiz verbal: (5) L.A.,IV, 10-12: [...] quantos periigoose quantas mortes lhis pod endenacer se os quiser seguir. (6) L.A.,X,23-24:Assiquequandoelesvirqueopreegadormeteenobraoque preega [...]. Como esses ltimos verbos so irregulares, a morfologia do futuro do subjuntivo pode variar, no seguindo o emprego das marcas , -es, , -mos, -des, -em. Desse modo, em (5) e (6),attulodecomparao,asformasdeinfinitivoflexionadoapresentar-se-iamcomo quererem e verem. Analisemos agora outro dado: (7) L.A., XVI, 31-32: [...] [r]azom e entdimento [n se guardaren] [...] feytos viis. Neste trecho, a forma guardarem pode pertencer tanto ao futuro do subjuntivo como ao infinitivo flexionado, j que guardar verbo regular. Essa indeterminao ocorre porque a oraoencontra-sefragmentada.Nopossvelsaber,ento,seoverboantecedidopela 32 preposio pera (introdutora de orao adverbial final) ou pelas conjunes se10 e quando, por exemplo (introdutoras do futuro do subjuntivo). 10 No fragmento, se, em se guardaren no corresponde a uma conjuno.33 6. CONCLUSO Apesquisadestetrabalhotevecomoescopoavaliaroempregodoinfinitivo flexionadoemumdocumentoarcaicodosculoXIV,oLivrodasAves.Pelareuniode ponderaespertinentessobreocorpus,aseoanteriornospermiteesboarasseguintes concluses sobre o tema em discusso: (a) Por manifestar o infinitivo flexionado, o manuscrito revela que essa forma verbal no era um reduto do portugus erudito do sculo XIV. A linguagem do documento no formal. A prpria traduo do original latino revela no prlogo a preocupao do autor emprazeraossimplezeseaosrudescadedaredacrecentarsabenaaaquelesque letradosedoctoresson(L.A.,I,3-5).Almdisso,porsetratardeumbestirio, gneroconhecidocomoabbliadospobres,espera-seousodeumalinguagemmais acessvel, principalmente em tempos de escasso acesso educao; (b) Osdadosrevelampoucoscontextosdeocorrnciadoinfinitivoflexionado.Dasoito possibilidades listadas por Madeira (1994), e apresentadas na seo 3, apenas duas se observamnocdice.H1(uma)ocorrnciaemoraosubjetivae10emoraes adverbiais introduzidas por uma preposio (neste caso, adverbiais finais introduzidas pela preposio pera). Das 11 ocorrncias, 8 so formas simples e 3 (trs) ocorrem em perfrases,sendo1(uma)delascausativaeasdemaisconstruesrealizadascomo verbo poder; (c) Havia variao no emprego do infinitivo, embora no tenha sido possvel esboar uma hiptesequedeterminasseousooraflexionado,oranoflexionado.Oquedeveser salientado,noentanto,queapossibilidadedeusodeambasasformaspermitida pelacorrefernciaestabelecidaentreosujeitonulodaoraoadverbialeoelemento pluraldaoraoprincipal.Quandoseempregaoinfinitivonoflexionado,a correfernciapermiteoresgatedenmeroepessoa.Aexpressodesseselementos, porm,noimpedidacategoricamente,jquepodemserreiteradospeloinfinitivo flexionado. Em suma, portanto, a correferncia permite o uso da forma no flexionada semlimitaraformaflexionada.Essarelaofoidemonstradapeloestudodas 34 construesemqueosujeitopluraldaoraoprincipalnodisparavaaflexono infinitivo da orao subordinada (seo 5.2); (d) Aocorrnciamajoritriada3pessoadopluralnasformasflexionadasdoinfinitivo pode ser explicada pelo gnero do cdice. O emprego das outras pessoas raro porque olivrosepreocupaemponderaratitudesecondutasaseremdesempenhadaspor indivduos,almderecorrersavescomoelementoalegrico,oqueexplicaaalta incidncia da 3 pessoa do discurso. Assim, alm dos sintagmas referentes s aves, so abundantes outras expresses que revelam o enquadramento de 3 pessoa: aqueles que bs so, os religiosos, os pecadores, os preegadores, os pronomes demonstrativos o e a, etc.; (e) Aaltaocorrnciadesujeitosnulosrevelaapropriedadepro-dropdalngua.Das11 ocorrnciasdeinfinitivoflexionado,apenasumaapresentasujeitofoneticamente expresso.Trata-sedoseguintedado:Disserayndaqueaquelagruaquehecabdel dasoutrasqudoalgperigooveeb[ra]adaperasseguardaremasoutrasdaquel perig[o]oequandoenrouqueceentraoutraenseulogar(L.A.,XIII,6-10).Neste caso,osujeitoapresenta-sepospostoformalexicaldoverbo,usoconsiderado agramaticalparaoportuguscontemporneo,deacordocomosdadosdeMadeira (1994) discutidos na seo 3.411. Asconclusesacima,especialmentea(b),tambmpermitemtraarlinhas comparativas entre o Livro das Aves e Os Dilogos de So Gregrio, documento da segunda metadedosculoXIVeinciodosculoXV.Aoestudarasconstruesinfinitivasnos Dilogos,Azevedo(2006)demonstrouquedos37dadosdeinfinitivoflexionado,28 exemplificam oraes adverbiais finais (AZEVEDO, 2006, pp. 73-74)12. O autor no expe osoutroscontextosdeocorrnciadoinfinitivoflexionado,masainformaopertinente porquesecoadunacomapesquisadelineadanestetrabalhoemdoissentidos:primeiropor atestar a ocorrncia significativa do infinitivo flexionado em adverbiais finais e, segundo, por 11Withadjunctclauseswefindthereversesituationfromthatfoundincomplementstodeclarativeand epistemic verbs, i.e. subject-auxiliary inversion is disallowed (MADEIRA, 1994, p.183). 12Emanexo,noitem8.3,soapresentadososdadosdapesquisadeAzevedo(2006)relativosaoinfinitivo flexionado em adverbiais finais.35 garantirqueanicaocorrnciadessaformaemoraosubjetivanoconstituiumdado marginal.Areiteraodeaspectossintticosdoportugusarcaico,obtidagraasa procedimentos contrastivos, permite-nos afirmar, portanto, que o infinitivo flexionado detinha um locus de ocorrncia no portugus antigo, espao sinttico este ampliado significativamente se levarmos em conta as manifestaes do fenmeno no portugus atual. 36 7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS AZEVEDO, Andr Marclio Carvalho de. Estudo das Construes Infinitivas em Os Dilogos de So Gregrio. 2006. 163 p. BAGNO, Marcos. Gramtica Pedaggica do Portugus Brasileiro. So Paulo: Parbola, 2011. pp. 727-729. BARBOSA, Jernimo Soares. Grammatica Philosofica da Lingua Portugueza ou Principios de Grammatica Geral. 2. ed. Lisboa: Acad. Real, 1822. 458 p. BECHARA, Evanildo. Moderna Gramtica Portuguesa. 37 ed. rev., ampl. e atual. conforme o Novo Acordo Ortogrfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. 671 p. COOK, V. J.; NEWSON, Mark. Chomsky's Universal Grammar: an Introduction. 2nd ed. Oxford: Blackwell Publishers, 1996. vii, 369 p. CUNHA, A. G. (coord.). Livro das Aves. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1965. 119 p. (Dicionrio da Lngua Portuguesa. Textos e Vocabulrios).

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