inÁcio incremento da habilidade em conciliar rabaioli
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Universidade de Aveiro
2020
INÁCIO RABAIOLI
INCREMENTO DA HABILIDADE EM CONCILIAR MOVIMENTOS BIMANUAIS RÁPIDOS E PRECISOS NA PERFORMANCE DO VIOLÃO INCREASING THE ABILITY TO CONCILIATE FAST AND ACCURATE BIMANUAL MOVEMENTS IN THE GUITAR PERFORMANCE
Universidade de Aveiro
2020
INÁCIO RABAIOLI
INCREMENTO DA HABILIDADE EM CONCILIAR MOVIMENTOS BIMANUAIS RÁPIDOS E PRECISOS NA PERFORMANCE DO VIOLÃO
INCREASING THE ABILITY TO CONCILIATE FAST AND ACCURATE BIMANUAL MOVEMENTS IN THE GUITAR PERFORMANCE
Tese apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Música, realizada sob a orientação científica do Doutor José Paulo Torres Vaz de Carvalho, Professor Auxiliar do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro e a coorientação científica do Doutor António José Monteiro Amaro, Professor Coordenador da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro.
Suporte com licença laboral da Universidade Estadual de Londrina
Apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
Dedico este trabalho aos músicos instrumentistas.
o júri
presidente Doutor Armando Jorge Domingues Silvestre Representante do Magnífico Reitor, Professor Catedrático, Universidade de Aveiro
Doutor António Pedro Pinto Cantista Professor Auxiliar Convidado, Universidade do Porto
Doutor Marcos Kröning Correa Professor Associado, Departamento de Música, Universidade Federal de Santa Maria
Doutora Rita Luzes Torres Investigadora Integrada do CESEM - FCSH, Universidade Nova de Lisboa
Doutor David Wyn Lloyd Professor Auxiliar Convidado, DeCA, Universidade de Aveiro
Doutor José Paulo Torres Vaz de Carvalho Professor Auxiliar, DeCA, Universidade de Aveiro (orientador)
agradecimentos
Agradecimento especial ao professor Dr. José Paulo Torres Vaz de Carvalho pela valiosa orientação deste trabalho e ao professor Dr. António José Monteiro Amaro pela dedicada coorientação e pelos ensinamentos de biomecânica do movimento humano. Agradeço imensamente ao professor Dr. José Joaquim Marques Alvarelhão pelos ensinamentos sobre a análise dos dados e ao Dr. Mario Manuel Pinheiro Rodrigues pelo auxílio técnico junto ao Laboratório do Movimento Humano da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro. Agradeço ao Departamento de Música e Teatro da Universidade Estadual de Londrina pela concessão da licença laboral para capacitação. Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro recebido através da bolsa de estudos. Agradeço aos professores do Programa Doutoral em Música da Universidade de Aveiro pelos ensinamentos recebidos durante o curso do doutoramento. Agradeço aos violonistas participantes e à solidariedade de seus professores de violão que intermediaram nosso contato e os acompanharam durante a realização do experimento. Agradeço a todos que contribuíram na realização desta tese e que por comporem uma longa lista, aqui não é possível mencioná-los.
palavras-chave
relação inversa velocidade-precisão, guitarra clássica, violão, performance, restrições biomecânicas, coordenação bimanual, assimetria intermanual
resumo
O objetivo desta tese foi investigar o incremento da habilidade para conciliar a velocidade e precisão nos movimentos bimanuais demandados na ação de tocar o violão. Inicialmente, foram descritos os fundamentos biomecânicos que embasam a ação de tocar o violão, formando um corpo teórico para uma biomecânica da performance violonística. Utilizando uma abordagem metodológica experimental de sujeito único com replicações, foi realizado um experimento que investigou o efeito do treinamento com exercícios, contendo restrições biomecânicas, sobre a habilidade de conciliar movimentos bimanuais rápidos e precisos demandados no ataque dos sons do violão. Num período de cinco dias consecutivos, o violonista praticou os exercícios numa sessão diária na qual repetiu cada exercício em diferentes velocidades marcadas por metrônomo. Foram recolhidos dados em áudio contendo o instante de ataque de cada som do violão e das batidas do metrônomo, e dados em vídeo contendo imagem do movimento do toque dos dedos sobre as cordas do violão. Foram detectados os desvios temporais ocorridos no instante de ataque dos sons do violão em relação ao tempo marcado pelo metrônomo, e comparado o desempenho do violonista entre os diferentes tipos de restrições implícitas nos exercícios, entre as fases inicial e final do treinamento e entre diferentes velocidades de andamento musical. A despeito da influência da relação inversa velocidade-precisão, os resultados mostraram que o treinamento melhorou a precisão temporal no ataque dos sons, embora menos intensamente nas velocidades mais elevadas. Tais resultados evidenciaram que, a despeito do aumento da velocidade, músicos violonistas foram capazes de desenvolver na performance do seu instrumento a habilidade para conciliar movimentos bimanuais rápidos com a manutenção da sua precisão temporal. Na conclusão são sugeridas estratégias que podem auxiliar o violonista a incrementar sua habilidade para conciliar velocidade e precisão na ação de tocar o violão.
keywords
speed-accuracy trade-off, guitar performance, biomechanical constraints, intermanual synchrony, bimanual coordination, bimanual asymmetries
abstract
The goal of this thesis was to analyze the increase in the ability to conciliate speed and precision in the bimanual movements demanded in the action of playing the guitar. Initially, the biomechanical foundations that support the action of playing the guitar were described, forming a theoretical body for a biomechanics of guitar performance. Using an experimental methodological approach of single-subject with replications, an experiment was carried out to investigate the effect of training with exercises containing biomechanical restrictions, on the ability to conciliate fast and precise bimanual movements demanded in the attack of guitar sounds. During a period of five consecutive days, the guitarist practiced the exercises in a daily session in which he repeated each exercise at different speeds imposed by the metronome. Audio data were collected containing the moment of attack of each sound of the guitar and the beats of the metronome, and video data containing an image of the movement of the fingers’ touch on the guitar strings. The temporal deviations occurred at the time of attack of the guitar sounds in relation to the time marked by the metronome were detected, and the guitarist's performance was compared between the different types of restrictions implied in the exercises, between the initial and final phases of training and between different speeds of musical tempo. Despite the influence of speed-accuracy trade-off, the results showed that the training improved the temporal precision in the attack of sounds, although less intensely at higher speeds. Such results showed that the guitarists were able to develop in the performance of their instrument the ability to conciliate fast bimanual movements with the maintenance of their temporal precision, despite the increase in speed. In the conclusion, strategies are suggested that can help the guitarist to increase his ability to balance speed and precision in the action of playing the guitar.
I
NOTAS PRÉVIAS
1. Esta tese foi escrita conforme o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990.
2. A grafia das palavras, utilizada nesta tese, está de acordo com o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, [Bechara, Evanildo (coord.), (2017). Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 6.ª edição. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras], cuja versão encontra-se integrada ao Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa [Ferreira, José Pedro; Correia, Margarita; Almeida, Gladis de Barcellos (orgs.), (2017). Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa. Praia: Instituto Internacional da
Língua Portuguesa / Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]. Para
consulta em linha foi utilizada a busca por palavra, disponível na página web da Academia Brasileira de Letras, (http://www.academia.org.br/nossa-lingua/busca-no-vocabulario) e do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (https://voc.cplp.org/).
3. Todos os excertos de autores estrangeiros, citados no corpo do texto ou em notas de rodapé, foram traduzidos para o idioma português (nossa tradução).
II
III
SUMÁRIO
NOTAS PRÉVIAS ............................................................................................................................... I
ÍNDICE DE FIGURAS ....................................................................................................................... VI
ÍNDICE DE GRÁFICOS ................................................................................................................... VII
ÍNDICE DE TABELAS .................................................................................................................... VIII
1 - INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 1
1.1 PROBLEMA DA PESQUISA ............................................................................................................ 6
1.2 MOTIVAÇÃO E FINALIDADE DO ESTUDO ......................................................................................... 9
1.3 QUESTÕES DA PESQUISA .......................................................................................................... 11
1.4 OBJETIVOS ............................................................................................................................... 12
1.4.1 Objetivo geral .................................................................................................................. 12
1.4.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 13
1.4.3 Finalidade do estudo ...................................................................................................... 13
1.5 ESTRUTURA DA TESE ................................................................................................................ 14
2 - A RELAÇÃO INVERSA VELOCIDADE-PRECISÃO ................................................................. 15
2.1 A HABILIDADE EM CONCILIAR VELOCIDADE E PRECISÃO ............................................................... 19
2.2 CONCILIAÇÃO DA VELOCIDADE-PRECISÃO E LIMIAR DE VELOCIDADE DO INDIVÍDUO ........................ 20
2.3 LIMIAR DE VELOCIDADE E ERROS NA PERFORMANCE DO INSTRUMENTO MUSICAL .......................... 22
2.4 PERCEPÇÃO DA VELOCIDADE EM MÚSICA ................................................................................... 23
2.5 EFEITO DE FATORES FISIOLÓGICOS SOBRE A VELOCIDADE DOS MOVIMENTOS ............................... 25
3 - REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................................... 29
3.1 CONCILIAR VELOCIDADE E PRECISÃO EM AÇÃO BIMANUAL ........................................................... 31
3.2 INVESTIGAÇÕES SOBRE VELOCIDADE E PRECISÃO NA PERFORMANCE MUSICAL ............................. 33
4 - BIOMECÂNICA DA PERFORMANCE DO VIOLÃO ................................................................. 39
4.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O SISTEMA ESQUELÉTICO NO MOVIMENTO HUMANO ............................... 40
4.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O SISTEMA MUSCULAR NO MOVIMENTO HUMANO ................................... 44
4.2.1 A unidade motora ........................................................................................................... 46
4.2.2 As fibras musculares: consideração preliminar .............................................................. 47
4.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O SISTEMA NEUROLÓGICO PARA O MOVIMENTO HUMANO ....................... 48
4.3.1 Organização geral do Sistema Nervoso ......................................................................... 49
4.3.2 Estrutura do neurônio motor e da unidade motora ......................................................... 50
4.3.3 Tipos de unidades motoras ............................................................................................ 52
4.3.4 Tipos de fibra muscular .................................................................................................. 54
4.4 FATORES FISIOLÓGICOS E MOVIMENTOS CORPORAIS RÁPIDOS .................................................... 55
4.4.1 Tarefas especificas demandam treinamento com exercícios específicos ..................... 59
4.5 ESPECIFICIDADE DO TREINAMENTO COM EXERCÍCIOS DE VELOCIDADE ......................................... 61
4.5.1 O exercício pliométrico ................................................................................................... 62
4.5.2 Natureza dos exercícios de treinamento ........................................................................ 64
4.5.2.1 Especificidade da tarefa .......................................................................................... 64
4.5.2.2 Especificidade da tarefa na estruturação dos exercícios........................................ 66
4.5.2.3 “Explosividade” do movimento ................................................................................ 66
4.5.3 Adequação dos princípios pliométricos aos exercícios violonísticos ............................. 68
4.6 MÃO HUMANA E RESTRIÇÕES BIOMECÂNICAS.............................................................................. 70
4.6.1 Músculos extrínsecos da mão e restrições ao movimento dos dedos ........................... 72
IV
4.6.2 Independência de movimento entre os dedos da mão .................................................. 74
4.6.3 Restrições dos movimentos entre dedos adjacentes da mão ........................................ 75
4.7 PRINCÍPIOS BIOMECÂNICOS DA PERFORMANCE DO VIOLÃO .......................................................... 80
4.7.1 Importância do ataque do som na performance do violão ............................................. 81
4.7.2 Ação da mão direita e o “ataque” do som no violão ....................................................... 83
4.7.3 Ação da mão esquerda .................................................................................................. 88
4.7.4 A digitação no violão ...................................................................................................... 89
4.8 CONSIDERAÇÕES ERGONÔMICAS SOBRE A AÇÃO DE TOCAR O VIOLÃO ......................................... 95
4.9 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TERMO GESTO ................................................................................. 98
4.10 COORDENAÇÃO BIMANUAL NA PERFORMANCE DO VIOLÃO. ...................................................... 101
4.10.1 Assimetria bimanual na performance do violão ......................................................... 103
4.10.2 Natureza motora e temporal da coordenação bimanual no violão ............................. 104
5 - MÉTODO ................................................................................................................................... 107
5.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO .................................................................................................... 109
5.1.1 O desenho do método experimental de participante único .......................................... 109
5.1.2 Assimilação das tarefas antes do primeiro registro dos dados .................................... 112
5.1.3 Justificativa para escolha do momento do primeiro registro dos dados ...................... 114
5.1.4 Estrutura da intervenção ou treinamento ..................................................................... 116
5.1.5 Variáveis e fatores do estudo ....................................................................................... 118
5.1.6 Desenho do experimento ............................................................................................. 123
5.1.7 Plano da análise dos dados ......................................................................................... 126
5.1.7.1 Pressupostos analíticos e procedimentos preliminares ........................................ 126
5.1.7.2 Estrutura da análise .............................................................................................. 128
5.1.7.3 Estruturação dos dados ........................................................................................ 131
5.1.7.4 Análise estatística ................................................................................................. 137
5.1.7.5 Uso de valores absolutos ou relativos na análise estatística dos dados .............. 138
5.2 PARTICIPANTES ...................................................................................................................... 142
5.3 EQUIPAMENTOS E MATERIAIS UTILIZADOS ................................................................................. 145
5.3.1 Características e funcionalidades dos equipamentos utilizados .................................. 146
5.3.2 Equipamentos e softwares para a análise dos dados de áudio e vídeo ...................... 148
5.4 TAREFAS: EXERCÍCIOS ............................................................................................................ 150
5.4.1 Exercícios do treinamento: sequências de sons .......................................................... 154
5.4.2 Partituras musicais dos exercícios de treinamento ...................................................... 154
5.4.3 Nomenclatura para as partituras musicais dos exercícios ........................................... 156
5.4.4 Justificativa para a estrutura dos exercícios de treinamento ....................................... 158
5.4.5 Justificativa para mudança de velocidade na execução do exercício .......................... 160
5.5 PROCEDIMENTOS ................................................................................................................... 162
5.5.1 Instruções para o treinamento ...................................................................................... 164
5.5.2 Procedimentos do treinamento dos participantes ........................................................ 165
5.5.3 Preparação dos equipamentos para registro dos dados ............................................. 167
5.5.3.1 Preparação do violão ............................................................................................ 167
5.5.3.2 Preparação do transdutor de áudio ....................................................................... 169
5.5.3.3 Preparação das câmeras de vídeo para o registro dos dados ............................. 170
5.5.3.4 Preparação do metrônomo digital ......................................................................... 170
5.5.3.5 Configuração do software de registro dos dados de áudio .................................. 172
5.6 REGISTRO DOS DADOS ............................................................................................................ 174
5.6.1 Justificativa para escolha da modalidade de registro dos dados ................................. 175
5.6.2 Procedimentos para o registro dos dados em áudio digital ......................................... 177
5.6.3 Procedimentos para o registro dos dados em vídeo .................................................... 180
5.6.4 Pré-testes ..................................................................................................................... 182
V
5.6.5 Teste-piloto ................................................................................................................... 190
5.6.6 Experimento .................................................................................................................. 191
5.7 PREPARAÇÃO DOS DADOS ....................................................................................................... 193
5.7.1 Preparação dos dados para a análise .......................................................................... 194
5.7.1.1 Quantidade e conteúdo dos dados brutos de áudio ............................................. 194
5.7.1.2 Quantidade e conteúdo dos dados brutos de vídeo ............................................. 195
5.7.1.3 Detecção do tempo de movimento da mão esquerda através do vídeo .............. 197
5.7.1.4 Extração dos dados de vídeo ................................................................................ 198
5.7.1.5 Detecção do instante do começo do som do violão nos dados de áudio ............. 199
5.7.1.6 Limiar de tempo do “disparador” de detecção do começo do som ....................... 201
5.7.1.7 Preparação dos dados de áudio e sua inserção nas planilhas estatísticas ......... 202
5.7.1.8 Tratamento de dados ausentes ou omissos ......................................................... 204
5.7.1.9 Combinando dados de tempo dos sons com os de imagem do movimento ........ 205
6 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...................................................................... 207
6.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS DE PRECISÃO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS .............................. 207
6.1.1. Níveis de precisão temporal no toque dos dedos da mão direita ............................... 208
6.2 PRECISÃO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS: COMPARAÇÃO INTERPARTICIPANTES .................... 232
6.2.1 Considerações gerais a partir da comparação interparticipantes ................................ 251
6.3 ANÁLISE DA SINCRONIA BIMANUAL ........................................................................................... 254
6.3.1 Defasagem temporal intermanual e efeito do treinamento .......................................... 257
6.3.2 Defasagem temporal intermanual e mudança súbita de velocidade ........................... 273
7 - CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 277
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................. 295
GLOSSÁRIO .................................................................................................................................. 305
APÊNDICE A ................................................................................................................................. 307
APÊNDICE B ................................................................................................................................. 311
APÊNDICE C ................................................................................................................................. 319
APÊNDICE D ................................................................................................................................. 325
VI
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Estrutura óssea da mão em visão palmar esquerda. ....................................................... 42
Figura 2: Músculo flexor profundo dos dedos da mão originado no antebraço. .............................. 72
Figura 3: Representação em formato de onda do som do violão. ................................................... 82
Figura 4: Silêncios entre ataques de sons repetidos devido à preparação dos dedos. .................. 87
Figura 5: Direção do movimento dos dedos da mão direita ao atacar as cordas no violão. ........... 88
Figura 6: Interconexão dos equipamentos utilizados no registro dos dados de áudio e vídeo. .... 146
Figura 7: Exercício nº 1 .................................................................................................................. 154
Figura 8: Exercício nº 2 .................................................................................................................. 155
Figura 9: Exercício nº 3 .................................................................................................................. 155
Figura 10: Exercício nº 4 ................................................................................................................ 155
Figura 11: Exercício nº 5 ................................................................................................................ 155
Figura 12: Exercício nº 6 ................................................................................................................ 156
Figura 13: Preparação do violão para realização do registro dos dados. ..................................... 168
Figura 14: Posicionamento recomendado do transdutor de áudio sobre o tampo do violão. ....... 169
Figura 15: Processo de registro dos sons do metrônomo e do violão. .......................................... 180
Figura 16: Imagens sincronizadas do movimento dos dedos de ambas as mãos. ....................... 196
Figura 17: Inserção manual dos dados de movimento dos dedos da mão esquerda. .................. 197
VII
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1(a, b, c, d, e, f): Uso comparativo entre valores relativos e absolutos em médias. ......... 140
Gráfico 2 (a, b, c, d, e, f): Participante nº 1. Desvio temporal no ataque dos sons (mão direita). . 216
Gráfico 3(a, b, c, d, e, f): Participante nº 2. Desvio temporal no ataque dos sons (mão direita). .. 219
Gráfico 4(a, b, c, d, e, f): Participante nº 3. Desvio temporal no ataque dos sons (mão direita). .. 221
Gráfico 5(a, b, c, d, e, f): Participante nº 4. Desvio temporal no ataque dos sons (mão direita). .. 225
Gráfico 6(a, b, c, d, e, f): Participante nº 5. Desvio temporal no ataque dos sons (mão direita). .. 228
Gráfico 7: Exercício nº 1. Análise interparticipantes: desvio temporal no ataque dos sons. ......... 235
Gráfico 8: Exercício nº 2. Análise interparticipantes: desvio temporal no ataque dos sons. ......... 238
Gráfico 9: Exercício nº 3. Análise interparticipantes: desvio temporal no ataque dos sons. ......... 241
Gráfico 10: Exercício nº 4. Análise interparticipantes: desvio temporal no ataque dos sons. ....... 244
Gráfico 11: Exercício nº 5. Analise interparticipantes: desvio temporal no ataque dos sons. ....... 247
Gráfico 12: Exercício nº 6. Análise interparticipantes: desvio temporal no ataque dos sons. ....... 250
Gráfico 13 (a, b, c, d, e, f): Participante nº 1. Efeito do treino na defasagem intermanual. ........... 260
Gráfico 14 (a, b, c, d, e, f): Participante nº 2. Efeito do treino na defasagem intermanual. ........... 262
Gráfico 15 (a, b, c, d, e, f): Participante nº 3. Efeito do treino na defasagem intermanual. ........... 264
Gráfico 16 (a, b, c, d, e, f): Participante nº 4. Efeito do treino na defasagem intermanual. ........... 266
Gráfico 17 (a, b, c, d, e, f): Participante nº 5. Efeito do treino na defasagem intermanual. ........... 268
VIII
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Nomenclatura da digitação no violão. .............................................................................. 92
Tabela 2: Esquema da coordenação bimanual na ação de tocar o violão. ................................... 106
Tabela 3: Correlação entre duração das figuras rítmicas e velocidade do andamento musical. .. 128
Tabela 4: Estruturação dos dados para análise de desempenho de um participante. .................. 132
Tabela 5: Estruturação dos resultados por tarefa, velocidade e fase de treinamento................... 134
Tabela 6: Símbolos utilizados nas partituras para representar os exercícios para violão. ............ 157
Tabela 7: Breve perfil de formação e prática musical dos violonistas participantes. ..................... 213
Tabela 8: Participante nº 1 (GUIT04). Médias do desvio temporal nos toques da mão direita. .... 214
Tabela 9: Participante nº 2 (GUIT05). Médias do desvio temporal nos toques da mão direita. .... 217
Tabela 10: Participante nº 3 (GUIT06). Médias do desvio temporal nos toques da mão direita. .. 220
Tabela 11: Participante nº 4 (GUIT07). Médias do desvio temporal nos toques da mão direita. .. 223
Tabela 12: Participante nº 5 (GUIT08). Médias do desvio temporal nos toques da mão direita. .. 227
Tabela 13: Momentos da incidência de maior ou menor desvio temporal no ataque dos sons. ... 230
Tabela 14: Exercícios nos quais incidiram os maiores níveis de desvio no ataque dos sons. ..... 231
Tabela 15: Média geral interparticipantes – desvio dos sons do violão no Exercício nº 1. ........... 234
Tabela 16: Média geral interparticipantes – desvio no ataque dos sons do Exercício nº 2. .......... 237
Tabela 17: Média geral interparticipantes – desvio no ataque dos sons do Exercício nº 3. .......... 240
Tabela 18: Média geral interparticipantes – desvio no ataque dos sons do Exercício nº 4. .......... 242
Tabela 19: Média geral interparticipantes – desvio no ataque dos sons do Exercício nº 5. .......... 246
Tabela 20: Média geral interparticipantes – desvio no ataque dos sons do Exercício nº 6. .......... 249
Tabela 21: Média geral de desvio temporal no ataque dos sons de cada exercício. .................... 251
Tabela 22: Médias de defasagem intermanual: comparação entre exercícios e violonistas. ....... 273
Tabela 23: Participante nº 1. Defasagem intermanual por exercício e por fase de treino. ............ 319
Tabela 24: Participante nº 2. Defasagem intermanual por exercício e por fase de treino. ............ 320
Tabela 25: Participante nº 3. Defasagem intermanual por exercício e por fase de treino. ............ 321
Tabela 26: Participante nº 4. Defasagem intermanual por exercício e por fase de treino. ............ 322
Tabela 27: Participante nº 5. Defasagem intermanual por exercício e por fase de treino. ............ 323
Tabela 28: Exercício nº 1- 90bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. ....... 325
Tabela 29: Exercício nº 1- 105bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. ..... 326
Tabela 30: Exercício nº 1 - 120bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. .... 327
Tabela 31: Exercício nº 2 ff - 90bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. ... 328
Tabela 32: Exercício nº 2 ff - 105bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. . 329
Tabela 33: Exercício nº 2 ff - 120bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. . 330
Tabela 34: Exercício nº 3 - 90bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. ...... 331
Tabela 35: Exercício nº 3 - 105bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. .... 332
Tabela 36: Exercício nº 3 - 120bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. .... 333
Tabela 37: Exercício nº 4 - 90bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. ...... 334
Tabela 38: Exercício nº 4 - 105bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. .... 335
Tabela 39: Exercício nº 4 - 120bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. .... 336
Tabela 40: Exercício nº 5 - 90bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. ...... 337
Tabela 41: Exercício nº 5 - 105bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. .... 338
Tabela 42: Exercício nº 5 - 120bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. .... 339
Tabela 43: Exercício nº 6 - 90bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. ...... 340
Tabela 44: Exercício nº 6 - 105bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. .... 341
Tabela 45: Exercício nº 6 - 120bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. .... 342
1
1 - INTRODUÇÃO
Poucas atividades humanas implicam uma multiplicidade de habilidades
necessárias à sua realização como aquela demandada pela performance de
instrumentos musicais. A performance musical como ação de interpretar,
estruturar e realizar fisicamente uma peça musical é uma atividade humana
complexa e constituída de muitas facetas – físicas, fisiológicas, cognitivas,
psicológicas, sociais e estéticas (Widmer & Goebl, 2004). Por esse motivo,
pesquisadores de diversas áreas como psicologia, neurociência, desporto,
medicina e música, recentemente têm juntado esforços para a investigação das
diversas dimensões constitutivas da prática da performance de instrumentos
musicais, buscando investigá-la de maneira que suas diferentes dimensões
estejam interconectadas. Recentes estudos no âmbito das ciências da
performance1 têm evidenciado a importância de se considerar os diversos fatores
envolvidos na realização da performance de instrumentos musicais para
compreendê-la mais integralmente, com a particularidade de darem também aos
fatores físicos sua devida importância à luz de novos conhecimentos
disponibilizados por ciências como biomecânica, ergonomia e neurociência
(Altenmüller, Wiesendanger, & Kesselring, 2006; Altenmüller et al., 2012; Palmer,
1997; Parncutt, Sloboda, Clarke, Raekallio, & Desain, 1997; Williamon, 2004;
Zatorre, Chen, & Penhune, 2007). Na pesquisa sobre a interação músico-
instrumento, pouco se tem investigado em relação aos aspectos físicos da prática
da performance. No entanto, segundo Aaron Williamon (2004) há a necessidade
de considerar tais aspectos físicos envolvidos na expressão das ideias musicais,
pois apesar da performance musical envolver habilidades mentais, afetivas e
estéticas, é somente através da ação física (motora) que a expressão das ideias
musicais pode ser levada a cabo.
Uma das habilidades recorrentes demandada pela execução do repertório
de obras para instrumentos musicais e evidenciada na literatura didática dedicada
1 O campo de conhecimento referido como ciências da performance envolve o estudo de
atividades performáticas como dança, teatro e música. A atuação dos profissionais que desenvolvem estudos nesse campo multidisciplinar tem sido divulgada especialmente através da realização de um simpósio bianual na área (International Symposium on Performance Science) e de um sítio na internet (www.performancescience.org).
2
ao ensino de instrumentos é a velocidade, a qual se caracteriza pela realização
de movimentos corporais rápidos. Isto pode ser parcialmente explicado pelo fato
da velocidade estar estreitamente relacionada a um dos principais parâmetros da
música – a duração dos sons – pois quanto menor for a duração dos sons
ocorrendo em sequências, maior a sensação de velocidade (Elowsson & Friberg,
2013). Segundo Elowsson & Friberg (2013), por estarmos comumente embasados
na teoria musical nos condicionamos a conceber a velocidade associada ao
andamento da peça musical. Entretanto, de acordo com estes autores, há um
outro elemento determinante para a percepção da velocidade em música: a
densidade2 de ataques de sons ocorrendo num dado período de tempo. Tal
elemento pode ser definido como a quantidade de sons consecutivos presentes
ou produzidos num determinado período de tempo, cuja unidade de mensuração
pode ser o segundo ou a pulsação de metrônomo. A densidade de sons por
período de tempo confere à percepção do indivíduo a noção de que quanto maior
for a quantidade de sons consecutivos tocados dentro de um período de tempo,
maior será a sensação de velocidade da música3 durante sua execução (Bresin &
Friberg, 2011; Elowsson & Friberg, 2013).
Na ação de tocar instrumentos de cordas envolvendo ambas as mãos, uma
maior densidade de ataques de sons implica na necessidade de realização de
maior quantidade de movimentos de toques dos dedos num determinado período
de tempo. Tal aumento da densidade de ataques de sons exige movimentos mais
rápidos dos segmentos corporais envolvidos na produção destes sons –
segmentos corporais estes que, no caso do violão4, referem-se essencialmente
aos dedos de ambas as mãos. Assim, torna-se evidente a necessidade de
desenvolver a destreza manual do violonista num patamar elevado para viabilizar
a performance do violão em obras que demandem grande densidade de ataques
de sons. Para uma descrição mais detalhada do elemento velocidade, trataremos
deste assunto no capítulo 2 - A relação inversa velocidade-precisão, pois, à título
2 Quantidade de elementos ou eventos presentes num tempo ou espaço delimitados.
3 Para dar a impressão de maior velocidade e movimentação a uma peça musical, ou parte dela, é
comum compositores e intérpretes utilizarem a inserção de ornamentos (notas geralmente curtas e rápidas) nas obras musicais com propósito de “preencher” os intervalos de tempo entre notas longas. 4 O termo violão, referido no Brasil, equivale ao termo guitarra, em Portugal.
3
introdutório importa aqui salientar e caracterizar o fato da velocidade ser um
elemento recorrente na performance de instrumentos musicais e por isso a
necessidade de considerá-la no desenvolvimento de habilidades para tocá-los.
O pressuposto de que na realização performática musical da maioria dos
instrumentos – e mais acentuadamente em instrumentos de cordas e de teclado –
há uma demanda frequente por velocidade nos movimentos corporais, o que
implica a aquisição de habilidade motora fina e o aprimoramento da destreza
manual. Tal recorrência da necessidade de destreza manual na execução de
determinados instrumentos musicais implica, por sua vez, desenvolvermos a
rapidez dos movimentos das mãos para a realização de estruturas musicais que
envolvam maior velocidade, a exemplo de escalas, trêmolos e ornamentos tais
como trinado, grupeto e mordente. Estes exemplos de estruturas musicais rápidas
apresentam grande densidade de sons consecutivos dentro de determinado
período de tempo. No presente estudo, nos referimos a estas estruturas musicais
como sequências de sons, pois envolvem uma progressão de sons consecutivos
e encadeados no tempo dentro de uma velocidade regulada5.
Tais recorrências do uso da velocidade na expressão das ideias musicais
evidenciam, portanto, a necessidade de se tratar o tema do incremento da
habilidade em movimentos corporais rápidos na execução de instrumentos
musicais complexos. É muito provável que por considerarem o elemento
velocidade como relevante e necessário para a performance, livros de ensino de
instrumentos musicais dedicam pelo menos algumas de suas páginas para
abordar o desenvolvimento da habilidade de tocar com velocidade e alcançar um
domínio sobre ela em determinados tipos de estruturas musicais6.
A demanda por velocidade na performance de instrumentos musicais de
mecânica complexa exige do instrumentista um grande domínio motor para
controlar os movimentos rápidos – especialmente naqueles instrumentos que
envolvem ação bimanual assimétrica e assíncrona, como é o caso do violão. Na
performance destes instrumentos, a dificuldade demandada pela ação assimétrica
5 Qualquer sequência de sons musicais é regulada (regrada) no tempo através do ritmo dos seus
sons e pela velocidade de seu andamento musical. 6 Estruturas musicais em formato de sequências de sons tais como escalas, arpejos, trêmolos e
ornamentos, geralmente demandam elevada velocidade no ataque dos sons que as compõem.
4
e/ou assíncrona entre as mãos, se acentua quando surgem nas obras musicais,
situações que contenham passagens de sons rápidos7 e se intensificam ainda
mais em trechos que demandem a execução de estruturas polifônicas rápidas.
Por causa da frequente demanda de movimentos rápidos na execução de
sequências de sons rápidos em instrumentos musicais, esta situação também
implica em desenvolver a habilidade para controlar a precisão temporal dos
movimentos. É neste aspecto que temos a presença de um paradoxo, o qual na
execução de sequências de sons rápidos coloca o desafio de conciliar entre a
exigência de alta velocidade na realização dos movimentos e ao mesmo tempo
ter que manter a precisão temporal destes para expressar acuradamente as
estruturas musicais. Tal controle motor envolve a regulação simultânea da correta
proporção rítmica dos sons8 (precisão temporal), expressa numa velocidade
predeterminada do andamento musical, e a manutenção da precisão espacial dos
movimentos manuais quanto à sua direção e estabilidade.
Na performance do violão – assim como na performance de instrumentos
musicais em geral – a demanda pela habilidade em controlar a precisão temporal
na produção dos sons de uma obra musical se justifica pela necessidade de
minimizar as imprecisões rítmicas. Isto é necessário porque se um compositor
prescreve certo ritmo em sua obra para ser percebido corretamente pelo ouvinte,
o instrumentista não pode se desviar muito da proporção temporal dos elementos
que esse ritmo contém (Heijink & Meulenbroek, 2002, p. 341), sob o risco de
transfigurar a obra ou a ideia musical nela contida. Ademais, ao alterar a
velocidade do andamento musical, o músico corre o risco de alterar
inadequadamente o caráter da obra, o qual, dentre outros fatores, é determinado
também pela velocidade do seu andamento musical em conjunção com a
estrutura rítmica da mesma9.
A superação do problema de conciliar alta velocidade dos movimentos com
manutenção de sua precisão temporal na performance do violão é o ponto central
7 Trechos de sons rápidos podem ser partes de música contendo em torno de 8 ou mais sons por
segundo, o que equivaleria a tocar pelo menos um som a cada 125 milissegundos. 8 A precisão temporal na duração dos sons pode ser entendida como a correta proporção rítmica
no ataque dos sons. 9 Pelo menos em se tratando do âmbito temporal como fator influenciador do caráter (emocional
ou estético) da obra musical.
5
desta pesquisa, o qual se encontra detalhado no próximo item. Este ponto
pressupõe a consideração da relação inversa velocidade-precisão, sob a qual a
conciliação ou equilíbrio entre velocidade e precisão deve ser assegurado quando
se tem um tempo predeterminado para realizar uma tarefa tal como a execução
de uma obra musical rápida. Tal necessidade de regulação da relação velocidade-
precisão se manifesta, sobretudo, no controle temporal do ritmo e do andamento
musical demandados por uma peça musical quando tocada no instrumento.
O conceito de relação inversa velocidade-precisão10 refere-se ao fato de
que em muitas tarefas motoras, de discriminação perceptiva e de tomada de
decisão, existe uma relação de covariância ou de negociação, inversamente
proporcional entre a velocidade de execução da tarefa, de um lado, e a
manutenção da precisão com que a mesma é realizada, de outro. (Chittka,
Skorupski, & Raine, 2009; Heitz, 2014). Lidar com a natureza dessa relação
pressupõe considerar a existência de certo grau de “inconciliabilidade” entre
velocidade e precisão, que na realização da maioria das ações motoras
demandadas na performance de um instrumento musical exige habilidade singular
e energia adicional para sua conciliação (regulação). Tal conciliação entre
velocidade e precisão na ação de tocar um instrumento musical pode envolver,
por exemplo, a estratégia de co-contração11 dos músculos antagonistas, utilizada
para dar estabilidade ao movimento das mãos (Missenard & Fernandez, 2011;
Urshalmi, 2006), a antecipação do movimento do segmento corporal envolvido na
tarefa (Costalonga, 2009) e da superação ou controle das restrições
biomecânicas12 presentes na interação músico-instrumento (Leijnse et al., 1992).
Na performance de instrumentos musicais, os efeitos da presença da
relação inversa velocidade-precisão podem ser evidenciados quando se tem que
10 No idioma inglês este conceito é referido como speed-accuracy trade-off o qual literalmente
poderia ser traduzido como compensação (ou negociação) velocidade-acurácia. Por ser de uso já consagrado na língua portuguesa, adotamos a tradução relação inversa velocidade-precisão. 11
O conceito de co-contração (ou co-ativação) refere-se a uma pequena contração que ocorre nos músculos antagonistas, simultaneamente à contração dos agonistas, cuja função é a de estabilizar a articulação quando realizamos um movimento. (Fonte: https://pt.saluspot.com/p/5331/). 12
Limitações impostas ao movimento corporal, as quais interferem sobre a velocidade e precisão da ação motora humana. Estas podem ser motivadas por fatores como constituição do indivíduo (estrutura anatômica, força e energia corporal), pelo ambiente circundante (ergonomia dos instrumentos/objetos manipulados, temperatura ambiental) ou pela estrutura da tarefa (ordem das ações e modalidades de prática).
6
executar uma grande quantidade de movimentos rápidos necessários à produção
de sequências de sons, enquanto se tem uma quantidade limitada de tempo para
executar os movimentos demandados pela tarefa. No caso da tarefa musical, o
tempo é determinado pela duração dos sons e pela rapidez do andamento
musical da obra. Por exemplo, na ação de tocar um instrumento musical, o efeito
da relação inversa velocidade-precisão tende a ocorrer ao aumentarmos a
velocidade do andamento musical, o que geralmente resulta numa tendência a
cometer imprecisões na produção dos sons e na proporção rítmica (temporal)
destes. Ou então, ao priorizarmos a precisão temporal e espacial dos movimentos
corporais – para nos esmerarmos na qualidade dos sons a serem produzidos –
geralmente o que resulta é uma tendência a diminuir a velocidade do andamento
musical da obra em execução.
Nesta investigação, o conceito de habilidade em conciliar velocidade e
precisão é crucial, pois embasa o empreendimento investigativo de “resolver” o
problema aqui investigado. A habilidade para conciliar velocidade e precisão é
aqui concebida como a capacidade do indivíduo para realizar uma tarefa motora –
ação física voluntária – de maneira tão rápida e precisa o quanto possível. O
indivíduo dotado desta habilidade é capaz de equilibrar13 a relação inversamente
proporcional existente entre o aumento da velocidade e a manutenção da
precisão. Tal habilidade “conciliatória”, no contexto da performance de
instrumentos que envolvem uso das mãos, pode ser referida como a capacidade
do instrumentista em regular a velocidade e a precisão temporal/espacial dos
movimentos de seus dedos e mãos na realização esmerada de uma sequência de
sons num período de tempo restrito e com andamento musical predeterminado.
1.1 Problema da pesquisa
Na performance de instrumentos musicais, a coordenação motora fina –
necessária para tocar um instrumento com acurácia14 – é importante para a
realização das ações que exigem precisão temporal (relacionada ao ritmo e ao
13 Tal equilibrio ocorrerá sempre dentro de certo limite da capacidade individual do instrumentista.
14 O termo acurácia é aqui usado como sinônimo de precisão, esmero ou apuro na realização de
uma tarefa.
7
andamento musical) e precisão espacial (relacionada à direção dos movimentos
no espaço para determinar a frequência, timbre e intensidade do som). Por causa
da natureza onipresente da relação inversamente proporcional existente entre
velocidade e precisão15, quando tocamos um instrumento musical, o aumento na
exigência por velocidade dos movimentos corporais também implica em darmos
atenção à precisão de sua execução, a despeito da inconciliabilidade entre
velocidade e precisão. Ao tocar num instrumento um trecho de uma peça musical
que demande movimentos rápidos, a exigência por conciliar velocidade e precisão
temporal se torna maior do que numa peça que demande apenas movimentos
lentos. Por isso, na performance de instrumentos musicais há a necessidade de
“controlar” ou “regular” o efeito da relação de covariância existente entre
velocidade e precisão, a qual descrevemos em detalhe no capítulo 2 - A relação
inversa velocidade-precisão.
Sob uma abordagem focada sobre os aspectos físicos da performance do
violão, propiciada por áreas como comportamento motor e biomecânica, a ação
de tocar o violão não se encontra entre as atividades humanas mais estudadas.
Pelo contrário, raros são os estudos em comportamento motor ou em
biomecânica focando sobre aspectos físicos da performance violonística. Dentre
estes estão os estudos de Heijink & Meulenbroek (2002), Costalonga (2009). e
Lafasse (2010). Por isto, tendo em conta a importância dos aspectos físicos,
especialmente motores, para a performance do violão e considerada tal lacuna
nos seus estudos atuais, decidimos abordar o problema da conciliação entre
velocidade e precisão em sua performance, à luz de fundamentos biomecânicos.
Segundo Costalonga (2009, p. 25), alguns dos atributos que têm influência
direta na qualidade da performance do violão são a força, a velocidade e a
precisão da ação dos dedos da mão, os quais são essencialmente aspectos de
natureza física e insuficientemente fundamentados pelos atuais estudos sobre
sua performance. Pela importância que os elementos biomecânicos apresentam
para a performance do violão, pelas lacunas de conhecimento sobre o problema
da conciliação na relação velocidade-precisão em sua performance, somados ao
15 Tal efeito é também referido na literatura como “lei de Fitts” (Fitts, 1954).
8
fato do violão ser um dos instrumentos atualmente mais tocados no mundo,
decidimos abordar o problema da presente investigação neste instrumento.
O problema de conciliar velocidade e precisão na execução do repertório
para instrumentos musicais, geralmente é desafiador pela complexidade das
restrições físicas subjacentes à prática. No item 4.6 tratamos sobre algumas
destas restrições envolvidas na ação de tocar o violão.
No desenvolvimento da performance violonística de excelência, conseguida
através de longo tempo de treinamento com o instrumento, músicos
instrumentistas adquirem e aprimoram continuamente sua habilidade para
conciliar a oposicionalidade existente entre velocidade e precisão, mesmo que
não estejam conscientes desse fato. Através de treinamento de longa duração,
músicos alcançam um nível de perícia e elegância necessário à expressão na
performance musical, no qual atingem um nível de habilidade em que os efeitos
da relação inversa velocidade-precisão não estejam “comprometedoramente"
aparentes à percepção dos indivíduos da plateia. Apesar da manifestação
evidente da aquisição da habilidade em conciliar velocidade e precisão quando da
performance bem-sucedida de peças musicais rápidas, ainda assim permanece a
questão de que maneira e em quais condições é adquirida e desenvolvida essa
habilidade na performance de instrumentos musicais.
A despeito da utilização de estratégias mentais complementares para tocar
um instrumento – a exemplo da prática imaginária inerente ao processo de
memorização musical ou da discriminação auditiva, – no âmbito da aquisição das
habilidades físicas necessárias à performance musical no instrumento, é bastante
comum entre músicos a ideia de que não há meio mais eficiente para se chegar a
“tocar bem” do que a própria prática física no instrumento. Por isso, para alcançar
um incremento das habilidades motoras necessárias à performance de um
instrumento musical, a escolha de exercícios de treinamento toma importância
crucial na estruturação da prática, a qual envolve o princípio da especificidade da
tarefa.
Embora a literatura discuta o problema da quantidade de prática necessária
à aquisição e incremento de habilidades demandadas na performance de um
instrumento musical (Ericsson, Krampe, & Tesch-Römer, 1993) ou, ainda, se
9
discuta o modo de como se deve praticar para alcançar o aprimoramento da
performance de determinado instrumento musical, ainda assim a prática física
(efetiva) no instrumento continua sendo a principal via de acesso (possivelmente
a mais imprescindível) através da qual se pode adquirir ou melhorar as
habilidades necessárias ao ato de tocar o instrumento.
Em relação às implicações para o incremento das habilidades necessárias
à performance de um instrumento musical, carece ressaltar que as ações motoras
envolvidas na sua execução se deparam com vários tipos de restrições a serem
vencidas ou controladas. Para incrementar aspectos da habilidade de natureza
motora – paralelamente às de natureza estética, afetiva e perceptiva – músicos
instrumentistas passam a maior parte de suas vidas tentando, através da prática,
vencer restrições na performance do instrumento (Ericsson et al., 1993).
Conforme anteriormente referido, no contexto da experiência musical de tocar um
instrumento e na literatura sobre sua performance é de conhecimento geral que
as habilidades motoras para serem adquiridas e aprimoradas, dependem de muito
tempo de treinamento com tarefas específicas, as quais lidam com restrições do
movimento humano, para além dos fatores ergonômicos relacionados à
conformação do instrumento e dos elementos cognitivos demandados.
Por considerarmos a importância dos elementos físicos no
aperfeiçoamento da performance do instrumento, então decidimos investigar os
elementos demandados no incremento da habilidade em conciliar velocidade e
precisão através de um treinamento de violonistas envolvendo exercícios
contendo restrições biomecânicas peculiares à execução do violão.
1.2 Motivação e finalidade do estudo
Ao longo de vários anos em minha experiência profissional, pude observar
na performance de violonistas novatos16 e eventualmente também de nível
profissional, o uso de um artifício que consiste em atrasar o tempo dos sons e/ou
a velocidade do andamento musical nos trechos mais difíceis e complexos de
obras musicais que exigissem grande velocidade nos movimentos dos dedos para
16 O termo novato é aqui referido ao nível de proficiência entre elementar e intermediário.
10
produzir os sons no instrumento. Em tais situações observamos que,
especialmente os violonistas novatos, ou atrasavam o andamento musical, ou
cometiam frequentes imprecisões na proporcionalidade temporal do ritmo e/ou na
qualidade do som produzido no instrumento.
Estas situações observadas nos provocaram questionamentos sobre as
possíveis razões para necessidade do artifício de atrasar a velocidade dos sons
em trechos de difícil execução ou de incorrer em determinadas “imprecisões” e
baixa qualidade sonora quando mantivesse a todo custo a velocidade de
execução de uma obra musical envolvendo sequências rápidas de sons. Pareceu-
nos haver nestas situações da execução musical realizada por violonistas, aquilo
que em minhas primeiras observações identifiquei como uma tendência de
comportamento – mais ou menos generalizável – em cuja ação aparentava haver
certa interdependência entre a demanda por maior velocidade dos movimentos
corporais e a manutenção de sua precisão. Em suma, na ação de tocar o
instrumento musical frequentemente pareceu-nos haver uma interdependência
entre velocidade e precisão.
Após terem se passado vários anos da ocorrência destas observações
iniciais, decidi buscar um aclaramento teórico para compreender melhor este fato
ao qual inicialmente me referia (alheio ao jargão técnico) como uma condição de
interdependência entre velocidade e precisão. Assim, decidi procurar a opinião de
profissionais que estudassem o movimento humano. Em tal busca tive
oportunidade de contatar o Dr. Victor Hugo Alves Okazaki, professor no Centro de
Educação Física e Desporto da Universidade Estadual de Londrina, o qual me
esclareceu que este fenômeno (ou paradoxo) era conhecido como “lei de Fitts”.
Nessa oportunidade, o Dr. Okazaki esclareceu-me que já de muito tempo esse
fenômeno era estudado em áreas do saber como a psicologia comportamental,
ciências do esporte17 e comportamento motor, havendo extensa literatura sobre o
tema. O Dr. Okazaki gentilmente me sugeriu a leitura de alguns estudos sobre o
assunto na área do comportamento motor e desde então passei a observar mais
pormenorizadamente este comportamento no campo da performance de
17 Também referida como ciências do desporto.
11
instrumentos musicais. A partir de algumas leituras que me foram recomendadas
e observações preliminares, compreendi que quando da execução de trechos
rápidos e complexos de obras musicais, músicos violonistas geralmente têm
dificuldade em regular a relação inversamente proporcional existente entre
velocidade e precisão dos movimentos. Assim, minhas observações preliminares
acima descritas e necessidades profissionais na área da performance e do ensino
do violão serviram de ponto de partida e motivação para o tema/problema da
presente investigação.
1.3 Questões da pesquisa
Segundo Ericsson e colaboradores (1993), executantes de instrumentos
musicais exercitam-se com atividades físicas restritivas para desenvolverem e
manterem suas habilidades motoras necessárias à performance no instrumento.
Tal prática, por sua vez pressupõe que restrições físicas ao movimento das mãos
(restrições biomecânicas) impostas na execução de instrumentos musicais podem
ser “superadas”, mesmo que parcialmente, através de treinamento específico.
(Costalonga, 2009; Costalonga & Miranda, 2008; Leijnse et al., 1992). Embora
existam também fatores cognitivos – tais como memorização, atenção, percepção
aural – que possam atrasar a resposta motora18, estes não estão no escopo desta
investigação. No experimento da presente investigação a influência de fatores
cognitivos sobre a velocidade de execução das tarefas foi minimizada pela
adequação de seus elementos estruturais à simplicidade, brevidade e facilidade
de assimilação e memorização das mesmas (Costalonga, 2009; Heijink &
Meulenbroek, 2002).
Considerados estes pressupostos relacionados ao presente tema, a
questão central do presente estudo refere-se ao entendimento de como
violonistas19 “resolvem” a inconciliabilidade inerente entre velocidade e precisão
dos movimentos demandados na ação de tocar o violão, a despeito das restrições
biomecânicas inerentes a tal ação.
18 Segundo Wargo (1967), fatores cognitivos podem provocar nos movimentos corporais humanos
atrasos de 113 a 528 milissegundos. 19
Esta questão também pode ser estensiva à maioria dos músicos instrumentistas.
12
Ademais, outras questões vinculadas à conciliação entre velocidade e
precisão – inerentes à ação de tocar o violão – foram consideradas para o
presente estudo, e são apontadas a seguir.
O treinamento com exercícios envolvendo aumento súbito de velocidade e
de força aplicado pelos movimentos dos dedos da mão direita ao atacar os sons
no violão pode contribuir para desenvolver a habilidade em conciliar velocidade e
precisão na ação violonística?
O treinamento com tarefas demandando repetição de movimentos
alternados entre dedos adjacentes20, melhora a “independência” motora entre
estes dedos e consequentemente a habilidade para conciliar velocidade e
precisão quando envolvendo esse tipo de tarefa?
O treinamento com exercícios envolvendo ação bimanual assimétrica em
diferentes velocidades melhora a sincronia intermanual em tarefas bimanuais?
Através de registros de áudio e vídeo da execução de exercícios
bimanuais, é possível identificar o quão síncrono ou assíncrono é realizado o
início do “pouso” (preensão) do dedo da mão esquerda sobre a corda, em
comparação ao “ataque” do som realizado pelos dedos da mão direita?
Qual a diferença de efeito do treinamento, em termos de desempenho de
velocidade e precisão temporal, na execução de tarefas bimanuais simples em
comparação às tarefas bimanuais complexas?
Estas questões iniciais nos motivaram a empreender o presente
experimento com violonistas, com intuito de tentar respondê-las ou ao menos
trazer maior clareza sobre o problema aqui abordado.
1.4 Objetivos
1.4.1 Objetivo geral
Investigar o efeito do treinamento com exercícios contendo diferentes restrições
biomecânicas dos movimentos bimanuais, sobre a habilidade de conciliar velocidade e
precisão temporal na ação de tocar o violão.
20 Dedos vizinhos ou contíguos de uma mesma mão.
13
1.4.2 Objetivos específicos
Testar o efeito do aumento súbito de força aplicado no toque dos dedos da
mão direita sobre a precisão temporal na execução ao violão de uma sequência
de sons21 estruturada em diferentes níveis de intensidade sonora e em diferentes
velocidades.
Comparar o efeito da restrição biomecânica derivada do uso de toques
alternados de dedos adjacentes da mão esquerda22 com o de dedos não
adjacentes23, sobre a capacidade de conciliar velocidade e precisão temporal de
uma sequência de sons tocada ao violão.
Testar o efeito do treinamento com exercícios envolvendo uso de
movimentos individualizados de cada dedo em conjunção a movimentos
assimétricos intermanuais sobre a habilidade para conciliar velocidade e precisão
temporal na execução de sequências de sons ao violão24.
Detectar a quantidade de desvio temporal25 ocorrido na sincronia
intermanual quando da execução de sequências de sons ao violão sob imposição
de diferentes restrições biomecânicas e de diferentes velocidades de andamento
musical.
Comparar o desempenho do violonista entre as fases inicial e final do
treinamento quanto à precisão temporal do ataque dos sons em diferentes
velocidades de andamento e entre os segmentos lento (A = ) e rápido (B = )
dos exercícios.
1.4.3 Finalidade do estudo
Contribuir para maior clareza dos fundamentos teóricos e das estratégias
de aperfeiçoamento da habilidade em conciliar movimentos bimanuais rápidos e
precisos na ação de tocar o violão.
21 Exercício nº 2 do roteiro de treinamento.
22 Execício nº 4 do roteiro de treinamento.
23 Execício nº 3 do roteiro de treinamento.
24 Sua implementação refere-se aos Exercícios nº 5 e 6 do treinamento.
25 Desvio temporal é aqui considerado como a antecipação ou atraso do ataque do som em
relação ao tempo indicado pelo metrônomo.
14
1.5 Estrutura da tese
O corpo do texto da presente tese está dividido em seis capítulos, além da
conclusão, referências bibliográficas, glossário e apêndices, sendo que o capítulo
1 corresponde a esta introdução. O capítulo 2 conceitua e descreve o fenômeno
da relação inversa velocidade-precisão em sua manifestação cotidiana de
diversas atividades humanas, e em especial de suas peculiaridades no campo da
performance de instrumentos musicais. No capítulo 3 é apresentada uma revisão
da literatura sobre o fenômeno da relação inversa velocidade-precisão nos
principais campos em que tem sido estudado e apresenta os principais estudos
realizados sobre velocidade e precisão no campo da performance musical. O
capítulo 4 trata das bases biomecânicas da performance do violão e apresenta os
fundamentos teóricos para embasar a meta de incrementar a habilidade para
conciliar velocidade-precisão no violão. O capítulo 5 trata do método utilizado
nesta investigação. Nele são descritos os participantes do experimento, as tarefas
do treinamento, os equipamentos e recursos necessários, além dos
procedimentos para recolher os dados da pesquisa e o plano de análise dos
dados. No capítulo 6 são analisados e discutidos os resultados obtidos com o
experimento, através dos quais são relacionados os efeitos do treinamento com
exercícios envolvendo restrições biomecânicas sobre a habilidade de conciliar
velocidade e precisão na ação de tocar o violão. Por fim, na conclusão são
sumarizados os principais resultados do experimento, suas contribuições sobre o
problema investigado, as inovações quanto aos procedimentos metodológicos, as
dificuldades encontradas na realização do experimento, além das lacunas que
persistem ao problema. Adicionalmente, são sugeridas novas questões para
serem consideradas em futuras pesquisas sobre o problema.
15
2 - A RELAÇÃO INVERSA VELOCIDADE-PRECISÃO
Na maioria das atividades motoras humanas realizadas no dia a dia ocorre
uma negociação ou troca entre velocidade do movimento e sua precisão espacial
e temporal. Normalmente quando os indivíduos aumentam a velocidade de seus
movimentos corporais perdem em precisão na realização dos mesmos, ou ao
tentarem ganhar maior precisão nos movimentos, acabam perdendo velocidade
na sua realização. Às vezes pode ocorrer dos indivíduos favorecerem a precisão
sobre a velocidade quando estão, digamos, “pegando o jeito” de fazer uma tarefa
ou para se familiarizarem com a mesma; neste caso, como ainda não podem
completá-la de forma rápida, tendem a focalizar apenas em conseguir realizá-la
até o fim. Isso pode ser problemático se houver um tempo limitado para completar
a tarefa. Por exemplo, um estudante principiante de música pode tocar
“pausadamente” num instrumento cada uma das notas da melodia de uma canção
vivaz e realizar até o fim a sequência das mesmas apenas para se familiarizar
com ela, porém ao final irá deparar-se que, por causa do tempo (andamento)
lento-rubato, não resultou em uma melodia reconhecível, pois o ritmo e o
andamento restaram descaracterizados em consequência da alteração da
estrutura temporal da canção.
Tanto na esfera das atividades mentais, bem como na das ações físicas
realizadas pelos indivíduos em seu cotidiano, está presente a manifestação do
fenômeno de uma relação de troca entre velocidade e precisão. Em suas ações
voluntárias, geralmente os indivíduos são capazes de arbitrar se querem negociar
velocidade por precisão quando executando uma tarefa e, assim fazendo, podem
focar em realizá-la acuradamente ao custo de serem mais lentos, ou podem
enfatizar a velocidade ao custo de diminuírem a acuidade de sua ação (van Veen,
Krug, & Carter, 2008).
Numa noção à primeira vista, a relação de troca existente entre velocidade
e precisão pode parecer trivial e sem grandes atrativos, podendo parecer tão
senso comum quanto merecer pouco interesse do indivíduo – quase sempre
alheio às questões subjacentes ao comportamento humano. Contudo, essa
relação inversamente proporcional existente entre velocidade e precisão mais
parece um paradoxo, tal como um “ovo de Colombo”, em que a maioria das
16
pessoas não está consciente até que alguém lhes chame a atenção para a
obviedade da condição nela latente. Quem ainda não se deparou com uma
decisão, feita às pressas, a qual muitas vezes o levou a errar? Ou, quem não
sentiu os efeitos deletérios da pressão do tempo nos resultados finais de um
trabalho?
Um músico poderia despertar sua atenção para este tipo de covariância
existente entre velocidade e precisão, por exemplo, quando na execução de uma
peça rápida lhe é exigido que mantenha a velocidade dentro de um tempo
previamente determinado para completá-la; ou então, poderia despertar atenção
quando da repetição alternada de diferentes movimentos rápidos dos dedos em
que lhe seja exigida elevada velocidade e acurácia concomitantemente.
Na vida cotidiana a relação inversa velocidade-precisão pode parecer tão
somente um produto óbvio da operosidade dos sujeitos, nada mais além do que
uma faceta das “limitações humanas” ou de sua finitude existencial. No entanto,
ironicamente, ela é “tão somente” uma onipresença, a qual exige que em sua
relação a consideremos não apenas como um fenômeno isolado, mas também
como uma referência para os modelos de processos de decisão (Heitz, 2014), ou
como um parâmetro da natureza espaço-temporal do existir humano, a exemplo
do que subjaz na execução de uma obra musical através do instrumento ou nos
movimentos com bola de um atleta basquetebolista.
A negociação entre velocidade e precisão não se torna um problema
quando se trata da realização de atividades simples, nas quais o indivíduo pode
optar livremente por trocar velocidade por precisão ou vice-versa. Entretanto, a
relação inversa velocidade-precisão torna-se um problema crucial quando se tem
pouco tempo para realizar os movimentos ou quando não há liberdade para
negociar entre aumento de velocidade dos movimentos e a manutenção de sua
precisão. Como exemplo, podemos tomar a condição que ocorre na execução de
determinados trechos rápidos de música que, ao serem tocados num instrumento
com o ritmo e velocidade de andamento predeterminados, estes exigem
movimentos rápidos dos dedos do músico durante a execução, na qual ainda
deve ser mantida a precisão temporal no ataque dos sons. Esta condição exige
uma demanda de habilidade para “conciliar” velocidade com precisão, na qual o
17
músico deve sobrepujar a covariância existente na relação inversa velocidade-
precisão.
Segundo Fairbrother “muitas tarefas requerem que equilibremos velocidade
e precisão em nossos movimentos. Isso geralmente não representa um problema
até que nos defrontemos com uma tarefa que ofereça uma quantidade limitada de
tempo para ser realizada” (Fairbrother, 2012, p. 94). Tal requisito de equilíbrio
(conciliação), necessário no contexto da execução musical, obriga o músico
instrumentista a lidar com o fenômeno da relação inversamente proporcional
existente entre velocidade e precisão, tornando-se frequentemente um desafio (ou
problema) na performance de instrumentos musicais.
A investigação acerca do fenômeno da relação inversa velocidade-precisão
desenvolveu extensa literatura, tanto na manifestação de seus aspectos
cognitivos, a exemplo da tomada de decisão (Heitz, 2014), bem como de sua
manifestação biomecânica no contexto do comportamento motor humano
(Plamondon & Alimi, 1997).
Vários modelos teóricos de controle motor foram concebidos para explicar
a origem da relação de troca existente entre velocidade e precisão no movimento
humano. Segundo Mathias e colaboradores (2012), em tais modelos teóricos
foram utilizadas explicações fundamentadas no:
“uso de feedback [retroinformação] (Woodworth, 1899), geração de ruído [interferência no sinal de transmissão da informação neuromotora] (Meyer, Smith, & Wright, 1982; Schmidt et al., 1979), capacidade limitada do indivíduo para processar informações (Fitts, 1954), modulação das fases de aceleração-desaceleração do movimento (Teixeira, 2000), e organização das sinergias agonistas-antagonistas no movimento (Plamondon & Alimi, 1997)” (Mathias et al., 2012).
Entretanto, estes modelos teóricos de controle do movimento não
conseguiram explicar o fato de que em algumas situações um movimento pode
apresentar tanto grande velocidade como a manutenção de sua precisão espacial
e temporal (Okazaki, 2009).
Ademais, nos movimentos rápidos de dedos alternados, para que possa
haver o processamento de feedback26 devemos considerar a disponibilidade de
períodos de tempo de pelo menos em torno de 200 ms para a repetição rápida do
26 Uso de retroinformação para correção da trajetória e/ou velocidade do movimento.
18
movimento (Okazaki, 2009; Schmidt et al., 1979; Schmidt, Zelaznik, & Frank,
1978), caso contrário não poderá haver controle dos movimentos via feedback –
uma situação frequente ao tocar trechos muito rápidos de música num
instrumento (onde a repetição do ataque dos sons ocorre em tempos inferiores a
200 ms).
Em estudos anteriores que abordaram a relação inversa velocidade-
precisão no campo do comportamento motor tem sido investigada quase que
exclusivamente a precisão numa dimensão espacial do movimento. Entretanto, na
execução da música a dimensão temporal desempenha um papel fundamental,
pois a expressão e a percepção da velocidade na música se dão na dimensão da
temporalidade, a qual se constitui num elemento inextrincável da velocidade
musical e da natureza da própria música, como apontado no item 2.4.
Hancock & Newell (1985) têm reivindicado a necessidade de se considerar
o fenômeno da relação inversa velocidade-precisão a partir de uma perspectiva
que o considere numa dimensão espaço-temporal, pois, o controle do movimento
encontra-se limitado por requisitos tanto de tempo como de espaço (Newell, 1980,
p. 501). No caso da percepção e execução da obra musical o requisito temporal
tem primazia sobre o espacial.
Considerando-se o fato de que o instante do ataque do som é crucial para
a produção dos sons no violão, por conseguinte nosso estudo – ao considerar o
efeito da relação inversa velocidade-precisão no ataque dos sons – abordará
obrigatoriamente a precisão numa dimensão temporal. Assim, através dos dados
recolhidos no experimento sobre o desempenho do violonista em relação à
conciliação velocidade-precisão na execução de sequências de sons, foi
analisado essencialmente o elemento tempo, isto é, a precisão temporal do
instante do ataque dos sons (5.1.7.2 - Estrutura da análise). Desse modo, através
do registro dos dados de tempo verificamos o efeito do treinamento (envolvendo
aumento de velocidade e restrições da tarefa) sobre a conciliação entre toques
rápidos de dedos e a precisão temporal do ataque dos sons.
De modo resumido, quanto à abordagem do problema da relação inversa
velocidade-precisão nosso estudo se diferencia dos anteriores em dois aspectos
principais: 1) por tratar do efeito de estratégias de controle motor (envolvendo
19
imposição de diferentes restrições biomecânicas típicas da ação de tocar violão)
para regular a relação velocidade-precisão no ataque dos sons, e 2) por abordar a
precisão do movimento de toque dos dedos sob sua dimensão temporal.
2.1 A habilidade em conciliar velocidade e precisão
Tarefas de execução musical que exigem conciliação entre alta velocidade
dos movimentos corporais e elevados níveis de acurácia em sua realização –
como tocar um trecho musical rápido num instrumento – implicam movimentos
rápidos de mãos e dedos e simultaneamente exigem manutenção da precisão
temporal na realização do ritmo musical. Uma tarefa tal como a execução de um
trecho de notas rápidas de uma música instrumental, que imponha um tempo
predeterminado para ser realizada em simultâneo com uma marcação de
metrônomo ou com outros músicos numa orquestra, implica a necessidade de
“conciliação” entre velocidade e precisão.
A conciliação (ou regulação) da relação inversa velocidade-precisão
consiste numa habilidade de controle motor utilizada para equilibrar velocidade do
movimento com manutenção de sua precisão espacial e temporal. Okazaki (2009)
destaca que a despeito da exigência de maior geração de velocidade no
movimento, exigida pelas condições das tarefas motoras, frequentemente há
necessidade do sistema neuromotor ter que manter o movimento preciso.
Segundo Okazaki (2009) esta condição está em consonância com o trabalho de
Adam (1992) que demonstrou a ocorrência da manutenção da precisão “quando
almejando o desempenho de um movimento com velocidade e precisão
simultaneamente” (Okazaki, 2009, p. 90).
De acordo com Okazaki (2009, p. 64), diferentes estratégias de controle na
geração de velocidade com manutenção da precisão, podem auxiliar na
explicação de como ocorre a manutenção da precisão a despeito do aumento da
velocidade de movimento em tarefas motoras complexas.
Dentre as diferentes estratégias para conciliar (equilibrar) velocidade e
precisão, Missenard & Fernandes (2011) destacam a ocorrência da co-contração
muscular, a qual, apesar de despender maior gasto energético, é utilizada
eficazmente para dar estabilidade aos movimentos rápidos, o que contribui na
20
manutenção de sua precisão. Outra estratégia para tentar assegurar a precisão
dos movimentos é a antecipação do movimento (Costalonga, 2009), a qual é
particularmente utilizada no sincronismo bimanual demandado na ação de tocar
instrumentos musicais que envolvam coordenação intermanual, tal como ocorre
na execução do violão.
2.2 Conciliação da velocidade-precisão e limiar de velocidade do indivíduo
Os diversos exemplos referidos anteriormente sobre a ocorrência da
relação inversa velocidade-precisão, demonstram o fato de que muitas tarefas
corriqueiras de nosso cotidiano nos exigem negociação entre velocidade e
precisão em nossos movimentos corporais, mesmo que não estejamos tão
conscientes de que tal “negociação” esteja ocorrendo. No entanto, há tarefas não
tão triviais nas quais a conciliação entre velocidade e precisão torna-se crucial
para sua realização bem-sucedida – este é o caso quando se toca uma peça
musical rápida num instrumento. Tal conciliação entre velocidade e precisão é
alcançada pelo indivíduo em parte por capacidades herdadas ou inatas
(estruturas biomecânicas) e em parte pela habilidade adquirida através de prática
específica para desenvolver o controle de seus movimentos rápidos e precisos.
Ainda assim, apesar da confluência de capacidades inatas e habilidades
adquiridas, cada indivíduo possui um limiar próprio para lidar com as demandas
de velocidade e precisão. Acima desse limiar ocorrem erros ou inconsistências
nos movimentos corporais. Segundo Newell, “os aumentos no erro espacial do
movimento, no entanto, só ocorrem quando a exigência de velocidade do
movimento está acima de certo nível” (Newell, 1980, p. 501) da habilidade motora
individual. Tal limiar da habilidade para realizar movimentos rápidos conciliados
com precisão espacial/temporal é variável entre os indivíduos e situa-se num
patamar equivalente ao grau de habilidade neuromotora que o indivíduo
desenvolveu em si. A partir de tal condição, podemos inferir que a capacidade do
indivíduo para conciliar velocidade com precisão de seus movimentos está
atrelada ao seu limiar pessoal para realizar ações precisas em velocidade. Em
contrapartida, o desequilíbrio na conciliação entre velocidade e precisão começa
a ocorrer na realização de uma tarefa rápida, quando o indivíduo ultrapassa seu
21
limiar de velocidade condizente com sua habilidade para controlar seus
movimentos. Por isso, no experimento levado a cabo nesta investigação, optamos
em propor ao violonista participante que treinasse exercícios dentro de um limiar
de velocidade máxima de 4 toques de dedos a cada pulso de 120 bpm2728 e
simultaneamente mantivesse a precisão temporal com o mínimo de erros ou
deslizes.
Para o desenvolvimento da habilidade motora demandada na performance
de instrumentos musicais, pressupomos que o modo de praticar uma tarefa
apenas lentamente tende a não incrementar significativamente a habilidade de
conciliar o aumento da velocidade de execução dos sons sem perder sua
precisão. De acordo com os princípios da pliometria29, tocar sequências de sons
lentamente no instrumento é útil principalmente para aprimorar a precisão da
tarefa ou para memorizá-la e se familiarizar com a mesma, mas não para realizá-
la com rapidez e precisão. De acordo com os fundamentos da pliométricos, para
chegarmos a tocar um trecho rápido de música, é preciso treiná-lo contemplando
a especificidade da tarefa (item 4.5.2.1), que neste caso é a rapidez com que
devem ser produzidos os movimentos. Por mais óbvio ou paradoxal que isto
pareça, significa que para se chegar a realizar uma tarefa em alta velocidade é
necessário treiná-la em alta velocidade. Ademais, considerando o contexto do
repertório violonístico contemporâneo, o treinamento envolvendo velocidade se
justifica também pelo fato de que a partir meados do século XX, tal repertório tem
demandado maior exigência de velocidade na execução das obras compostas
para o violão erudito (Barros, 2008).
27 Quatro toques de dedos a cada pulso em 120 bpm correspondem a um toque a cada 125 ms
(ver Tabela 3). 28
BPM (ou bpm) é o acrônimo de batidas por minuto (em inglês, beats per minute), é utilizado aqui para referir-se à velocidade do andamento musical, o qual também é referido pela sigla MM (Metrônomo de Mälzel). A representação do andamento musical se utiliza de uma figura rítmica correspondente a uma pulsação do compasso, mais um valor numérico equivalente à quantidade de pulsações produzidas pelo metrônomo durante o tempo de um minuto. Por exemplo, o simbolo “= 100” (sem aspas) colocado no início da partitura musical significa que a figura rítmica de semínima () equivale a uma pulsação do compasso e deve ser executada à velocidade de 100 pulsações ou batidas por minuto. 29
Ver definição do termo pliometria apresentada no item 4.5.1 e no Glossário.
22
2.3 Limiar de velocidade e erros na performance do instrumento musical
Segundo Carlevaro "as imperfeições na técnica de tocar violão muitas
vezes dão origem a discrepâncias entre a música pretendida e o que realmente é
produzido” (Carlevaro, 1984, p. 92). Para enfrentar esta situação, é esperado que
músicos instrumentistas adquiram e mantenham um elevado nível de controle
motor e domínio técnico do instrumento para, através destes, poder realizar
adequadamente a tarefa da expressão das ideias musicais. Entretanto, quando o
indivíduo “ultrapassa” seu limiar pessoal de habilidade em controlar a velocidade
dos movimentos corporais, nessa condição geralmente ocorre um “desequilíbrio”
na relação velocidade-precisão dos movimentos demandados na tarefa.
Músicos, em sua prática de execução de instrumentos musicais envolven-
do destreza bimanual – tal como a demandada no violão – encontram-se amiúde
confrontados ao desafio de terem que conciliar aumento de velocidade com
manutenção da precisão nos movimentos dos dedos de ambas as mãos. Este
desafio de conciliação ocorre frequentemente quando na execução de sequências
de notas muito rápidas, enquanto estas têm de ser tocadas dentro de um limite de
tempo previamente imposto por um andamento musical rápido e/ou pela estrutura
rítmica que demande ataques de muitos sons em um período curto de tempo.
Na prática de execução musical de instrumentistas, mesmo de diferentes
níveis de proficiência, sempre há um limiar individual da habilidade motora para
tocar no instrumento trechos de música em alta velocidade, no qual o aumento da
velocidade começa a comprometer a precisão da execução musical, causando
erros de execução. Portanto, para não comprometerem a expressão das ideias
musicais em suas performances, músicos instrumentistas necessitam desenvolver
suas capacidades motoras para conciliar velocidade do toque dos sons com a
precisão de sua realização dentro de um limiar de habilidade bastante elevado
para a maioria dos humanos. Por isso a performance musical não pode dispensar
a aquisição de habilidades físicas para lidar de modo conciliatório com a demanda
de um limiar elevado de velocidade sem comprometer a expressão dos elementos
musicais.
No presente estudo pressupomos que para a execução de um instrumento
musical o limiar individual de habilidade em movimentos rápidos nela demandado
23
pode ser desenvolvido a níveis mais elevados com treinamento em a) tarefas
específicas, b) quantidade de prática adequada e c) conhecimento para lidar com
as restrições físicas implícitas na performance do instrumento. Assim, ao buscar
desenvolver uma habilidade para evitar erros devidos ao desequilibro entre
velocidade e precisão quando realizando os movimentos de ataque dos sons de
uma obra musical, é necessário que na estruturação dos exercícios de
treinamento dessa habilidade, seja considerado o limiar máximo de velocidade do
indivíduo. Assim, treinar exercícios num limiar máximo de velocidade pode tornar-
se um elemento decisivo para favorecer o incremento da habilidade de
conciliação velocidade-precisão (van Vugt et al., 2014). Por isso, no treinamento
levado a cabo em nosso experimento introduzimos a prática de repetir exercícios
em velocidades bastante elevadas, as quais foram controladas pela marcação
metronômica para indicar o nível de exigência em precisão temporal.
2.4 Percepção da velocidade em música
Geralmente nossa noção de velocidade – quando da execução de uma
obra musical – nos leva a associá-la com a rapidez do andamento musical.
Entretanto, há outro elemento que é determinante para a percepção da
velocidade em música, o qual pode ser referido como a densidade de ataques de
sons consecutivos – densidade de eventos – ocorridos dentro de um determinado
período de tempo (Bresin & Friberg, 2011; Elowsson & Friberg, 2013). Neste
caso, a unidade de tempo geralmente é referenciada em pulsações de
metrônomo ou em segundos.
No contexto da execução de uma obra musical, a percepção da densidade
de ataques de sons consecutivos implica o reconhecimento da duração existente
entre o instante do ataque de um som (o momento do começo do som) e o
momento do ataque de outro imediatamente seguinte na sequência dos sons da
obra. Por isso, a extensão do tempo decorrido ou existente entre os ataques dos
sons sucessivos é determinante para uma sequência de sons poder ser percebida
como mais rápida ou mais lenta. Por exemplo, num andamento convencio-
nalmente entendido como rápido – podendo ser um allegro (= 140 bpm) – se
cada ataque dos sons de uma determinada sequência de notas monofônicas for
24
realizado a cada batida de metrônomo, ao ouvinte parecerá menos veloz do que
se os ataques ocorressem numa proporção de 4 sons consecutivos para uma
única batida de metrônomo (desde que sempre na mesma velocidade de
andamento). Desse modo, podemos dizer que uma maior densidade de ataques
de sons numa determinada unidade de tempo, por exemplo, uma maior
quantidade de toques de sons consecutivos por pulsação de metrônomo, dá ao
ouvinte a impressão de maior velocidade desta sequência de sons, do que
quando houver a presença de menor densidade de ataques consecutivos
comparativamente ao mesmo período de tempo. Assim, na performance de uma
obra musical a percepção de maior velocidade associada a um andamento
musical mais rápido fica relativizada, pois a noção de velocidade depende muito
mais da percepção da densidade de ataques de sons sucessivos ocorridos
durante um tempo estabelecido, do que da velocidade do andamento musical
(Madison & Paulin, 2010).
Outro aspecto referente à percepção da velocidade em música diz respeito
a um ponto de vista psicoacústico, através do qual a velocidade (dos sons) em
música confere ao indivíduo a noção de imediatez (Tomlinson, 2007), enquanto
que a lentidão dos sons pode dar uma noção de distanciamento. Isto pode ser
observado em alguns casos de trechos de peças musicais em que o caráter é
descrito como “lontano” (distante). Nestes casos a estrutura rítmica das mesmas é
geralmente delineada pelo compositor contendo sons lentos e de intensidade
fraca – possivelmente para sugerir ao ouvinte a ideia de algo que soe distante,
pois, um som produzido num local distante chega ao ouvido com menor
intensidade do que quando produzido num lugar próximo. Em contrapartida, sons
rápidos (de curta duração) e de intensidade forte reportam o ouvinte à noção de
uma presença imediata do evento sonoro – em especial se forem sequências de
sons produzidos com força súbita (explosiva).
Independentemente de como o indivíduo perceba a velocidade na música,
não se pode negar o efeito de elementos físicos que existem a priori, isto é,
anteriores à consciência ou percepção do sujeito. Tais elementos referem-se às
categorias de tempo e espaço, as quais no campo da física do movimento
(mecânica) estão entrelaçadas de modo interdependente na relação de troca
25
velocidade-precisão (Hancock & Newell, 1985).
2.5 Efeito de fatores fisiológicos sobre a velocidade dos movimentos
Para o desenvolvimento das habilidades motoras humanas é necessário
considerar no treinamento a especificidade da tarefa, a qual é um importante
elemento do treinamento para alcançar níveis elevados de desempenho nos
movimentos. A própria natureza da “prática deliberada”, entendida como
“treinamento estruturado, atento, com o máximo esforço e sujeito a feedback
imediato de um treinador/preparador” (Lombardo & Deaner, 2014), também
pressupõe a especificidade da tarefa como elemento chave para o
desenvolvimento do nível de excelência da performance (Ericsson et al., 1993;
Ericsson, Nandagopal, & Roring, 2009; Ericsson, Prietula, & Cokely, 2007; Howe,
Davidson, & Sloboda, 1998).
Entretanto, a própria ideia de prática deliberada, apesar de bastante
discutida e amplamente aceita no contexto da performance musical, atualmente
está sendo reavaliada em função de sua aplicação no âmbito de movimentos
rápidos (Lombardo & Deaner, 2014). De acordo com Lombardo & Deaner (2014)
para além da prática, há mais fatores envolvidos no desenvolvimento da
habilidade em realizar tarefas com grande velocidade. Um dos fatores a
considerar no desenvolvimento de habilidades motoras é, por exemplo, as
alterações fisiológicas ocorridas nas fibras musculares de Tipo II decorrentes da
especificidade do treinamento do segmento corporal demandado pela tarefa.
Dependendo da natureza e especificidade dos exercícios treinados, a partir
de um médio prazo podem haver alterações fisiológicas nos tipos das fibras
musculares, as quais se adaptam (até certo ponto) ao tipo da tarefa exercitada
(Hamill & Knutzen, 2009; Heijink & Meulenbroek, 2002). O treinamento com
exercícios envolvendo força e velocidade “explosivas” podem provocar alterações
na estrutura das fibras musculares de tipo rápido (de Tipo IIa para Tipo IIb)
presentes nos músculos do segmento corporal demandado pela tarefa
(Costalonga, 2009; Freivalds, 2004; Hamill & Knutzen, 2009). Este aspecto
fisiológico e suas implicações para a ação de tocar instrumentos musicais
26
encontram-se abordados no item 4.4 - Fatores fisiológicos e movimentos
corporais rápidos.
A ação de tocar um instrumento musical, cujos movimentos manuais
exigem conciliação entre velocidade e precisão, é desafiadora para os limites da
capacidade motora humana, pois tem que sobrepujar restrições e ir além dos
níveis medianos de habilidade para controlar os movimentos corporais
demandados na execução do instrumento. Para que os elevados níveis de
habilidade necessários para tocar um instrumento musical possam ser
alcançados, os mesmos são obtidos essencialmente através de muito tempo de
prática – em torno de 10.000 horas – em atividades que envolvam adaptação às
restrições impostas pelas tarefas específicas realizadas (Ericsson et al., 1993;
Hambrick et al., 2014). Para sobrepujar (ou minimizar) diversos tipos de restrições
físicas, “executantes experientes dedicaram a maior parte de suas vidas para
alcançar os mais altos níveis de desempenho se exercitando em atividades
altamente restritivas” (Ericsson & Lehmann, 1996, p. 274). Por isso, a
estruturação de um treinamento com instrumento musical, necessita lidar com
restrições físicas (biomecânicas) impostas pela tarefa. Desse modo, além da
quantidade de tempo de estudo despendido por um instrumentista musical para
poder alcançar uma performance em nível de excelência, há fatores biomecânicos
envolvidos na aquisição da habilidade para conciliar velocidade e precisão –
necessária para alcançar um elevado nível em sua performance. Tocar
“lindamente” enquanto se realizam movimentos rápidos implica tanto “sobrepujar”
a imposição das diversas restrições biomecânicas implícitas nas tarefas motoras,
como lidar com os efeitos da Lei de Fitts (van Vugt et al., 2014).
Estudos recentes têm demonstrado que os fatores envolvidos na relação
de troca velocidade-precisão dos movimentos corporais parecem ser mais
complexos do que até então haviam sido pensados (Latash, 2018; Missenard &
Fernandez, 2011). “Quando uma velocidade fixa do movimento é imposta, a
precisão do movimento pode ser melhorada pelo uso de uma estratégia de co-
contração a qual consiste em aumentar a ativação simultânea de músculos
antagonistas, apesar de energeticamente mais dispendiosa” (Missenard &
Fernandez, 2011, p. 233). Através da co-contração muscular "os humanos são, de
27
fato, capazes de se moverem mais rapidamente enquanto podem, simulta-
neamente, preservar a acurácia do movimento ao usarem a estratégia na qual os
músculos são co-contraídos em torno das juntas" (Missenard & Fernandez, 2011,
p. 233). Segundo o violonista e pedagogo Joseph Urshalmi (2006), os músculos e
tendões extensores dos dedos da mão cumprem papel importante durante a
atividade dos flexores, “pois agem como fator estabilizador do movimento da mão
e seus dedos” (Urshalmi, 2006, p. 25). Tal estratégia da co-contração (ou co-
ativação) muscular é geralmente usada para dar estabilidade ao movimento de
determinado segmento corporal. De acordo com Abel Carlevaro (1979), no âmbito
da ação da mão direita no violão, a presença da co-contração é comum no toque
“apoiando” no qual, é utilizada a estratégia de “fixação” das juntas mais distais
dos dedos para ganhar em firmeza e estabilidade nos movimentos. Pelo que foi
aqui apontado, na ação de tocar o violão a co-contração muscular possibilita uma
maior acurácia também em movimentos mais rápidos e mesmo em toques que
exijam maior força no ataque das cordas do instrumento.
28
29
3 - REVISÃO DE LITERATURA
Segundo Henmon (1911), o fenômeno da relação inversa velocidade-
precisão teve seu primeiro aporte teórico na monografia “The accuracy of
voluntary movement” de Robert S. Woodworth (1899), e num experimento dos
pesquisadores L. G. Martin e G. E. Müller (1899) descrito em Zur Analyse der
Unterschiedsempfindlichkeit, (“Sobre a análise da percepção da diferença"). Com
seu estudo germinal no campo da psicologia experimental Woodworth
demonstrou que numa tarefa na qual se exigia que um lápis fosse movido entre
três pontos-alvo dispostos de forma triangular, acelerar o movimento resultava em
uma perda de precisão na realização da tarefa. No trabalho dos pesquisadores
Martin & Müller, foi realizado um experimento usando levantamento de pesos e
considerado o tempo de julgamento para iniciar a tarefa. No entanto, foi somente
quando Fitts (Fitts, 1954) refinou experimentos anteriores, que a relação de troca
velocidade-precisão no movimento corporal recebeu formulação precisa e
assumiu seu importante status atual no campo do controle motor. Em seu estudo,
ao invés de usar pontos-alvo como utilizados por Woodworth, Fitts exigiu que
seus sujeitos invertessem seu movimento dentro de duas áreas-alvo
determinadas. Ao variar a largura do alvo e a distância entre os alvos (amplitude),
Fitts demonstrou que existe uma relação obrigatória (de lei física) entre a
velocidade e a precisão do movimento. No estudo de Fitts “o tempo necessário
para completar o movimento mostrou ser uma função do índice de dificuldade
(ID), este último sendo o logaritmo do dobro da amplitude de movimento dividida
pela largura do alvo” (Bootsma, Marteniuk, MacKenzie, & Zaal, 1994). O mesmo
tipo de relação foi subsequentemente demonstrado para sustentar movimentos
discretos30 por Fitts e Peterson (1964).
Lei de Fitts
O psicólogo estado-unidense Paul Morris Fitts (1912-1965) propôs uma
“regra” em que os movimentos direcionados a um alvo, obedecem a uma
característica cinemática invariável (Fitts, 1954). Esta característica dos
30 Movimentos discretos referem-se àqueles em que seus momentos de início e final encontram-se
claramente definidos.
30
movimentos dirigidos a um alvo configura-se como uma relação onipresente entre
o tamanho ou largura do alvo ao longo do caminho do movimento, (W), a
distância ao alvo (D) e o tempo de movimento (MT), derivando a equação
MT=a+b.log2(2D/W) (V. Zatsiorsky & Prilutsky, 2012, p. 444) onde a e b são
constantes empíricas. A partir desta relação, pode ser visto que há uma troca ou
negociação entre o tempo de movimento (ou velocidade) e a dificuldade da tarefa
(ou requisitos de precisão). Ou seja, quanto mais difícil for a tarefa de apontar
(quanto menor e mais longe o alvo), mais tempo leva-se para alcançá-la. Esta
relação numa dimensão empírica – chamada lei de Fitts – é pensada para ter um
significado fundamental para nossa compreensão do controle motor humano.
Primeiro, porque é válida para um grande número de condições experimentais,
tais como apontar com diferentes efetores: braços, pernas, ponteiros, olhos. Além
do mais, funciona para mirar movimentos em diferentes ambientes físicos
(inclusive, debaixo d'água) e para tarefas tanto treinadas como não treinadas. A
segunda razão para o sucesso da lei de Fitts é que ela tem uma base teórica
sólida e pode ser derivada de princípios simples ou bem estabelecidos como o
princípio da isogonia31 (Zatsiorsky & Prilutsky, 2012) e a teoria da informação. Ao
longo dos anos desde sua formulação, a lei de Fitts recebeu relevantes
publicações que lhe deram sustentação e aprimoraram sua consistência teórica
(Buchanan, Park, & Shea, 2006; Duarte & Latash, 2007; Fitts & Peterson, 1964;
Gan & Hoffmann, 1988; Jax, Rosenbaum, & Vaughan, 2007).
Ao longo do último século decorrido desde os trabalhos de Woodworth e de
Martin & Müller, as pesquisas afins sobre este tema, têm sido realizadas
preponderantemente no campo da psicologia comportamental, comportamento
motor e em áreas das ciências do desporto. Comum em diferentes domínios de
tarefas e em diversas criaturas que vão desde formigas caçadoras domésticas
(Franks, Dornhaus, Fitzsimmons, & Stevens, 2003) e zangões (Chittka et al.,
2009; Marshall et al., 2009) até humanos (Wickelgren, 1977) e macacos (Heitz &
Schall, 2012, 2013), a relação de troca velocidade-precisão é, portanto, um tema
31 Na filosofia platônica, é o principio de que cada indivíduo nasce de modo igual e por isso deve
possuir os mesmos direitos. Em matemática, refere-se à propriedade de existirem ângulos ou proporções iguas entre diferentes elementos. (Fonte: https://www.wikiwand.com/it/Isogonia).
31
de grande concernência a vários campos do conhecimento. Recentemente, houve
um interesse renovado por ela, particularmente na comunidade de neurociências,
“a qual vem utilizando recursos de fMRI, EEG e registros de um único neurônio32,
para entender, como o cérebro recebe informações sensoriais e transforma-as em
uma variável de escolha orientadora da decisão” (Heitz, 2014, p. 13).
Apesar dos avanços das investigações sobre a relação de troca
velocidade-precisão nas áreas de conhecimento acima mencionadas, poucos
estudos a têm considerado no âmbito da performance musical ou da
aprendizagem de instrumentos musicais. Ainda assim, dentre os poucos estudos
envolvendo velocidade e/ou precisão na execução de instrumentos musicais,
alguns destes são descritos brevemente nos próximos itens devido à
concernência que apresentam para nossa investigação.
3.1 Conciliar velocidade e precisão em ação bimanual
Para incrementar a habilidade de conciliação da velocidade e precisão
temporal dos movimentos de toque dos dedos necessários para produzir os sons
no violão, os fatores envolvidos na ação bimanual violonística necessitam ser
melhor compreendidos para que estratégias de incremento desta habilidade
sejam produtivas.
A dificuldade para investigar a conciliação entre velocidade e precisão
numa performance real (ecológica) do violão, envolve considerar a ação de
ambas as mãos para produzir os sons no instrumento e sem que haja
procedimentos intrusivos ou limitadores para que desse modo a mesma possa
ocorrer tal qual em sua real condição artística. Entretanto, pelas dificuldades
técnicas inerentes a este tipo de abordagem, até o momento em que encetamos
este estudo a habilidade em conciliar velocidade e precisão envolvendo
coordenação bimanual numa condição real, ainda não havia sido
sistematicamente investigada no contexto da performance do violão. Os estudos
já realizados sobre velocidade na execução do violão geralmente trataram
isoladamente da ação da mão esquerda (Burns, 2007; Costalonga, 2009; Heijink
32 http://en.wikipedia.org/wiki/Single-unit_recording
32
& Meulenbroek, 2002; Lafasse, 2010; Radicioni & Lombardo, 2005), ou raramente
sobre da ação exclusiva da mão direita (Barros, 2008, 2012; Norton, 2008) e
quase nunca abordando a ação conjunta das duas mãos.
Uma exceção quanto à investigação sistematizada da ação concomitante
das duas mãos na performance do violão tem sido o estudo de Perez-Carrillo,
Arcos & Wanderley, (2015), cujo tema, no entanto, difere de nossa investigação
por não tratar do desenvolvimento de habilidades para conciliar velocidade-
precisão. Em seu estudo estes autores buscaram apenas caracterizar os
parâmetros de controle necessários à execução do violão, tais como o instante de
ataque do som, dedilhado da mão esquerda, seleção da corda atacada, dedo de
ataque, velocidade de ataque, posição de ataque sobre a corda e ângulos das
juntas dos dedos da mão direita no instante de liberação da corda.
Um primeiro estudo no campo da performance de instrumentos musicais
que levou a cabo uma investigação formal sobre a sincronia bimanual33 foi
realizado no campo da performance do violino por Baader, Kasennikov &
Wiesendanger (2005), no qual os violinistas participantes executaram
repetidamente uma sequência simples de sons usando o arco para atacar as
cordas do violino, enquanto a mão esquerda premia as cordas sobre o espelho
(escala das notas).
Embora não tenha abordado diretamente a ação intermanual no campo da
performance do violão, ainda assim merece destaque o importante estudo de
Heijink & Meulenbroek (2002), sobre velocidade e restrições biomecânicas das
tarefas demandadas na ação de tocar o violão. Estes autores sugerem que as
restrições implícitas numa tarefa determinam, em diferentes níveis, o efeito sobre
a relação velocidade-precisão. Tal condição é um indicativo de que as restrições
presentes numa tarefa motora demandada pela performance de um instrumento
musical conduzem à indissociabilidade entre precisão temporal e velocidade,
sendo estas influenciadas em diferentes graus por restrições biomecânicas.
33 A sincronia bimanual - algumas vezes também referida como sincronia intermanual - na
performance do violão envolve obrigatoriamente mudança no uso de dedos, casas e/ou cordas na mão esquerda em ação coordenada e concomitante com o ataque do som realizado pela mão direita.
33
3.2 Investigações sobre velocidade e precisão na performance musical
Embora sejam raras as investigações enfocando a relação inversa
velocidade-precisão no contexto da execução de instrumentos musicais, ainda
assim foram realizados alguns poucos estudos enfocando direta ou indiretamente
tal relação, os quais passamos a descrevê-los de imediato, com o propósito de
melhor situar na literatura o problema de nossa investigação.
Bernstein & Popova (1930) O artigo Studies on the biodynamics of the
piano strike de Bernstein & Popova (1930) é considerado pioneiro na abordagem
biomecânica sobre o ataque do som no piano. Nele os autores relatam sua
investigação sobre a biomecânica do ataque das teclas durante a execução
pianística utilizando sequências de oitavas repetidas em ritmo isócrono, tocadas
pela mão direita. Neste estudo as variáveis básicas foram a força de ataque dos
dedos aplicada às teclas e a velocidade do andamento musical. Com a
participação de experientes pianistas de concerto, neste primeiro artigo da
investigação levada a cabo por estes pesquisadores foram analisadas as duas
variáveis sobre o movimento do toque no piano: 1) a mudança gradativa de
intensidade dos sons de uma sequência em oitavas repetidas, iniciando em ppp
(sic), seguindo ao fff e retornando ao ppp em velocidade de andamento constante
(moderadamente rápido = 200 a 250 ataques de sons por minuto); 2) a mudança
gradual da velocidade de andamento lento para o prestíssimo (até 500 ataques
por minuto) e retornando ao lento com intensidade constante em mf. As imagens
dos movimentos dos dedos sobre as teclas foram registradas a 520 [sic] quadros
por segundo através do quimociclógrafo concebido por Bernstein em 1928.
Telford & Spangler (1935) No estudo Training effects in motor skills,
Telford & Spangler (1935) realizaram um estudo no qual foi comparado o
desempenho de velocidade e precisão entre pianistas e não pianistas na
execução de movimentos de toques alternados entre os dedos de cada mão
isoladamente. Neste estudo os autores não testaram a ação bimanual simultânea.
Pfordresher, Palmer & Junkers (2007). No estudo Speed, accuracy, and
serial order in sequence production, Pfordresher, Palmer & Junkers (2007)
realizaram um experimento sobre ordenamento serial na produção de sequências
executadas por pianistas e sua vinculação com velocidade motora e precisão
34
temporal. As hipóteses do estudo foram testadas com pianistas executando
sequências de música não familiar em oito andamentos diferentes, onde foi
utilizado um modelo de teste pressupondo que a recuperação da memória de
eventos atuais é influenciada por eventos circundantes. Foi utilizado um modelo
de teste “para dar conta tanto da precisão como dos padrões de erro de
ordenamento sequencial" (Pfordresher et al., 2007, p. 65). Devido ao fator tempo
ser fundamental à estrutura do modelo de teste, estes autores incorporaram
"restrições temporais para prever a acurácia geral no contexto da relação
velocidade-precisão" (Pfordresher et al., 2007, p. 65). As tarefas testadas foram
focadas sobre o quão rápido um indivíduo pode completar uma tarefa, enquanto
mantem um nível preestabelecido de precisão. Para estes autores, certos
paradigmas "concentram-se sobre como a precisão é influenciada pelas restrições
de tempo" (Pfordresher et al., 2007, p. 66). Os mesmos concluem que, embora as
relações de velocidade-precisão tenham sido examinadas em muitas tarefas de
resposta única, como a de atingir um alvo (Fitts, 1954), a de tempo da reação de
escolha (Ratcliff, 1978), e a de recordação da sequência (McElree, 2001), "poucos
estudos têm abordado as relações de velocidade-precisão em tarefas sequenciais
assim como [ocorrem] na fala ou na música" (Pfordresher et al., 2007, p. 66), o
que justificou a realização da investigação.
Furuya & Kinoshita (2008) No estudo Expertise-dependent modulation of
muscular and non-muscular torques in multi-joint arm movements during piano
keystroke, Furuya & Kinoshita (2008) realizaram sua investigação com pianistas
na qual foi testada a modulação do torque muscular dependente da expertise em
movimentos de múltiplas juntas do braço durante o toque pianístico. O estudo não
testou nenhuma ação bimanual simultânea.
Barros (2008). Em sua tese doutoral Tradição e inovação no estudo da
velocidade escalar ao violão; Barros (2008) elaborou a criação de um modelo
integrado de digitação de mão direita, com objetivo de possibilitar a aplicação
automatizada de digitações heterodoxas na resolução escalar ao violão, com
aplicações práticas de elementos escalares encontrados em obras violonísticas
conhecidas. Do mesmo modo que os estudos anteriores aqui referidos, este
estudo também não envolveu investigação da ação bimanual no violão.
35
Norton (2008). Em sua tese doutoral Motion capture to build a foundation
for a computer-controlled instrument by study of classical guitar performance,
Norton (2008) realizou importante investigação sobre a captura de imagem dos
movimentos de cada mão na ação de tocar o violão e apresentou uma extensa
revisão dos trabalhos anteriores sobre o tema. Em seu objetivo principal este
estudo focou apenas sobre as dificuldades existentes na captura (registro) dos
movimentos da mão direita.
Costalonga (2009) Em sua tese doutoral Biomechanical modeling of
musical performace: a case study of the guitar, Costalonga (2009) realizou
importante investigação sobre a modelagem biomecânica da performance musical
no violão e elaborou um importante conteúdo sobre a fisiologia dos movimentos
demandados na performance do violão. Sua investigação realizou um
experimento focado sobre a ação da mão esquerda envolvendo execução
simultânea das notas de acordes, não abordando, portanto, a ação bimanual na
performance do violão.
Lafasse (2010) O estudo Relação velocidade-precisão em sequências de
toques de dedos sobre intervalos e escalas musicais em violão de Lafasse (2010),
enquadrado na área de comportamento motor, analisou a relação de troca
velocidade-precisão em movimentos da mão esquerda demandados em escalas
musicais tocadas ao violão. A autora justifica sua escolha do tema na área da
execução de instrumentos musicais, pela necessidade de avaliar a questão da
relação velocidade-precisão num contexto que contemplasse "tarefas motoras
mais complexas, tais como utilizadas em música" (Lafasse, 2010, p. 173), pois,
segundo a autora, até a data de realização de sua pesquisa, raros eram os
estudos em comportamento motor que haviam sido focados sobre movimentos
complexos e nenhum estudo ainda havia sido realizado sobre o paradigma
velocidade-precisão na performance do violão. Segundo a autora, fazia-se
necessário testar a funcionalidade da "Lei de Fitts" também em movimentos
complexos, tais como aqueles utilizados "em circunstâncias pouco usuais, como
no desempenho de escalas musicais realizadas em violão" (Lafasse, 2010, p.
157). Em seu estudo com violonistas de nível avançado a autora analisou o "efeito
de diferentes restrições espaciais combinadas através de escalas musicais
36
desempenhadas em diferentes regiões do violão por meio de movimentos com
múltiplos dedos" da mão esquerda (Lafasse, 2010, p. 174). Através da análise
estatística dos dados, a autora considerou a média e o desvio padrão dos tempos
de movimento nas diferentes condições experimentais. A análise da relação de
troca entre velocidade e precisão do movimento foi realizada através da "Análise
de Regressão Linear Simples" (ARLS) entre as variáveis do tempo de movimento
(TM) e o índice de dificuldade (ID) da tarefa (Lafasse, 2010, p. 168). A autora
concluiu que nas escalas musicais realizadas ao violão "o uso de múltiplos dedos,
associado ao treinamento específico dos músicos demonstrou a violação na Lei
de Fitts" (Lafasse, 2010, p. 178). Esta pesquisadora sugere que sejam realizadas
novas investigações sobre o tema, considerando outros fatores, tais como
movimentos realizados pela mão direita, integração da ação entre as duas mãos
no controle do movimento, diferentes técnicas de postura da mão esquerda (a que
define a altura dos sons na execução de escalas), combinação de restrições
espaciais e/ou temporais, fadiga muscular e nível de experiência dos
instrumentistas. Não testou ação bimanual simultânea, mas recomendou futuras
pesquisas envolvendo esse tipo de ação. Através dos resultados apresentados
pelo estudo de Lafasse (2010) pode-se levantar a hipótese de que uma
investigação com amostras de violonistas de diferentes níveis de experiência
possibilitaria revelar uma maior consistência da Lei de Fitts entre os executantes
novatos34 e menor efeito da mesma entre amostras de violonistas de nível
avançado. É muito provável que em amostras com violonistas de nível avançado
não estariam envolvidos os efeitos de fatores advindos da prática de longa
duração inerentes à expertise, tais como controle motor apurado da força, melhor
equilíbrio da tonicidade muscular, adequação à tarefa e menor suscetibilidade à
fadiga muscular.
Goebl & Palmer (2013). Através do uso de um sistema tridimensional de
captura de movimento (VICON 460) com frequência de 250 fps, utilizado no
estudo Temporal control and hand movement efficiency in skilled music
performance, os pesquisadores Goebl & Palmer (2013) registraram os
34 Com nível de proficiência entre o de principiante e intermediário – não avançado.
37
movimentos das articulações dos dedos, da mão e do antebraço de doze
pianistas experientes que executaram num piano digital uma melodia isócrona
com os cinco dedos da mão direita em andamentos progressivamente mais
rápidos (7 a 16 sons/segundo) até que decidissem parar. O estudo focou “os
efeitos da velocidade do andamento sobre as propriedades particulares dos
movimentos dos dedos, do punho e do antebraço e sobre as diferenças
individuais entre pianistas" (Goebl & Palmer, 2013, p. 1). Além disso, o estudo
inseriu uma mensuração da eficácia do toque sobre a tecla, a qual foi comparada
com a mensuração dos resultados auditivos (acurácia temporal, precisão da
intensidade), "a fim de identificar as propriedades de movimento que poderiam dar
apoio à performance musical bem-sucedida" (Goebl & Palmer, 2013, p. 1).
Segundo seus autores, este estudo "é o primeiro a documentar toda a cadeia de
movimentação das juntas desde o antebraço até a ponta dos dedos de pianistas
experientes (incluindo todos os dedos e articulações da mão), e de como eles
realizam uma tarefa de cinco dedos em andamentos progressivamente mais
rápidos" (Goebl & Palmer, 2013, p. 9). Por considerarem que no campo do
aprimoramento da técnica pianística pouco se tentou incorporar do conhecimento
anatômico e fisiológico dos movimentos dos dedos com explicações mais bem
fundamentadas cientificamente, argumentam que são necessárias mais
pesquisas para determinar conclusivamente o uso dos músculos intrínsecos e
extrínsecos da mão na performance do piano. Neste estudo os autores também
corroboraram a pressuposição de Neuhaus (1973) de que na técnica pianística
uma das tarefas mais difíceis é a ação de tocar rápido e forte simultaneamente,
"devido ao incremento da produção de força em curtos períodos de tempo" (Goebl
& Palmer, 2013, p. 1). Outra contribuição importante do estudo foi a evidência de
que pianistas com movimentos mais eficientes no toque das teclas apresentam
medidas superiores na precisão do sincronismo temporal e na força aplicada para
controlar a intensidade do som. O estudo registrou o movimento de apenas uma
das mãos isoladamente e, por isso, também neste estudo não foi avaliada a
sincronia da ação bimanual simultânea.
Diante da escassez de estudos abordando direta ou indiretamente a
questão da conciliação velocidade-precisão em performance de instrumentos
38
musicais demandando sincronia bimanual – a despeito de sua importância –
consideramos necessário ampliar a compreensão desta questão. Seu efeito
onipresente na prática cotidiana dos processos motores envolvidos na
performance de instrumentos musicais justifica a sua investigação. Considerando
a lacuna nos trabalhos anteriores acerca da questão da conciliação entre
velocidade e precisão na performance do violão, torna-se premente a
necessidade da realização de estudos como o que aqui empreendemos.
39
4 - BIOMECÂNICA DA PERFORMANCE DO VIOLÃO
Biomecânica é ciência mecânica35 aplicada aos sistemas biológicos
(Freivalds, 2004, p. 1). É, portanto, um campo do conhecimento que aplica
princípios físico-mecânicos ao estudo do movimento nos organismos vivos.
Tal como ocorre na maioria das atividades voluntárias humanas, assim
também a atividade da performance de instrumentos musicais está sujeita a
princípios físicos e biológicos, os quais são demandados na expressão das ideias
musicais (Williamon, 2004), viabilizada através do movimento corporal humano.
A realização da expressão das ideias musicais através de um instrumento
envolve elementos biomecânicos, condição esta que permite referirmo-nos à
biomecânica específica de um determinado instrumento musical. Na execução de
uma obra musical concebida para ser tocada em determinado instrumento, é
importante considerar as demandas físicas e motoras específicas implicadas na
execução da música para tal instrumento. Tais aspectos físicos são por vezes
referidos como “técnica” ou “mecânica” do instrumento (Carlevaro, 1979), cujo
corpo de conhecimento dos fundamentos físicos é necessário, em especial de
modo mais exigente à performance musical de excelência para que esta seja
levada a cabo no instrumento de maneira consciente e não apenas intuitiva.
Pode-se, nesse sentido, falar em biomecânica de um instrumento musical e por
isso na presente investigação nos referimos a ela como biomecânica da
performance do violão36.
A maioria dos instrumentos musicais demanda a ação das mãos para a
realização da sua performance e nessa condição, a habilidade ou “destreza”
manual cumpre um papel crucial na performance instrumental realizada pelo
músico (Leijnse et al., 1993). Para alcançar a realização de uma performance
num instrumento musical há uma miríade de aspectos físicos envolvidos na ação
habilidosa das mãos. Dentre estes aspectos, estão os de natureza mecânica,
anatômica, ergonômica e fisiológica. Muitos dos aspectos físicos relacionados à
35 “A mecânica é o ramo da física que compreende o estudo e análise do movimento e repouso
dos corpos, e sua evolução no tempo, seus deslocamentos [no espaço], sob a ação de forças, e seus efeitos subsequentes sobre seu ambiente” (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mecânica). 36
Quando nos referimos ao termo performance do violão, temos em mente a maneira ou técnica mais usual de tocar o violão erudito atual.
40
performance do instrumento musical podem ser estudados de maneira conjugada
pelo campo da biomecânica, sendo por esse motivo, justificado o fato de
dedicarmos o presente capítulo ao entendimento dos aspectos físicos da
performance do violão sob uma perspectiva biomecânica.
O violão é um instrumento de grande complexidade em sua manipulação
(Heijink & Meulenbroek, 2002), uma condição que convém compreendê-la com
clareza para favorecer a sua performance. No entanto, antes de adentrarmos na
descrição dos elementos físicos exigidos do músico para tocá-lo, convém detalhar
os fundamentos sobre os quais estão baseados os sistemas que executam os
movimentos corporais humanos e seus mecanismos. Tal abordagem é justificável
porquanto o corpo (físico) é a dimensão de nosso ser, ou a “via” imprescindível,
pela qual as ideias musicais – imaginadas – podem ser manifestas e
concretizadas em sua expressão real. Sem corpo e sem movimento corporal, não
há expressão musical – pelo menos em se tratando de performance real
desempenhada por humanos (Williamon, 2004).
O corpo humano é dotado de estruturas que formam sistemas e estes
determinam em grande parte o desempenho de seu movimento. Estas estruturas
subjacentes ao movimento corporal humano referem-se aos sistemas esquelético,
muscular e neurológico.
O sistema musculoesquelético é um sistema complexo de músculos, ossos
e articulações, que produz movimentos no corpo humano. Os movimentos são
tridimensionais, centrados em torno das articulações, mas tipicamente são
descritos em duas dimensões ao longo de três grandes planos: o sagital,
observando o corpo pela sua lateral, o transversal, observando o corpo a partir de
cima da cabeça e o frontal, observando o corpo de frente ou face a face
(Freivalds, 2004, p. 33).
4.1 Considerações sobre o sistema esquelético no movimento humano
O propósito do sistema esquelético é tanto proporcionar uma estrutura
rígida de conexões, os ossos, para a fixação dos músculos e a base do
movimento, bem como proteger os órgãos internos. Existem mais de 200 ossos
no corpo humano, sendo eles de vários tamanhos, formas e junções mecânicas
41
adequadas ao movimento e sustentação do corpo na gravidade. Curiosamente,
essas características podem mudar dramaticamente em resposta a estressores
externos e, assim, os ossos vivos podem ser sistemas muito dinâmicos que com a
atividade podem mudar sua forma até certo grau (Freivalds, 2004, p. 35).
Para a realização da performance de cada instrumento musical, há uma
demanda motora específica que se enfatiza sobre determinadas estruturas
corporais especificamente necessárias à tarefa de tocar determinado instrumento.
Esta demanda motora específica acontece, por exemplo, no uso dos segmentos
corporais envolvidos no ato de soprar ao tocar instrumentos de sopro, ou no uso
das mãos e seus dedos para tocar instrumentos de cordas, teclado e percussão.
Para a performance de um instrumento de cordas dedilhadas como o violão, a
utilização dos dedos das mãos torna-se crucial. Nele, o músico “manipula” e por
vezes literalmente “agarra”, “preme” e “tange” as cordas do instrumento com os
dedos, numa ação sincronizada de ambas as mãos para assim poder produzir o
seu som.
A mão humana quando treinada é capaz de enorme destreza, tal como
aquela encontrada na ação de tocar um instrumento musical de teclado ou de
cordas. O conhecimento da estrutura física da mão tem particular interesse para a
performance musical no violão, pois o conhecimento de sua estrutura permite
sabermos do que ela é capaz, considerando os limites e capacidades de sua
exercitabilidade (Leijnse et al., 1993) no desenvolvimento e aperfeiçoamento da
performance violonística. Tal como na totalidade do corpo humano, o movimento
da mão também envolve um conjunto de sistemas físicos, onde se destacam o
esquelético, o muscular e o nervoso. Para os leitores interessados numa
caracterização e descrição aprofundada das funções motoras da mão pode ser
oportuno consultar o compêndio sobre biomecânica dos membros superiores,
elaborado por Adris Freivalds, (2004).
A estrutura óssea da mão humana
Segundo Cailliet (1976), a estrutura óssea da mão é composta por um
conjunto de 27 ossos subdivididos em subgrupos denominados de carpo,
metacarpo e falanges, conforme ilustrado na Figura 1.
42
Figura 1: Estrutura óssea da mão em visão palmar esquerda.
A) Ossos do carpo - 1) Escafoide, 2) Semilunar, 3) Piramidal, 4) Trapézio, 5) Trapezoide, 6)Capitato, 7) Hamato, 8) Pisiforme. B) Ossos metacárpicos - 9 a 13) respectivamente metacarpo do polegar, do indicador, do médio, do anular e do mínimo; C) Ossos falângicos - 14 a 18) respectivamente falanges proximais do polegar e dos dedos indicador, médio, anular e mínimo; 19 a 22) falanges médias respectivas do indicador, médio, anular e mínimo; 23 a 27) falanges distais respectivas do polegar, indicador, médio, anular e mínimo. O polegar não possui a falange média.
43
O carpo (subgrupo A da Figura 1), coloquialmente também denominado de
punho ou pulso, compõe-se de 8 ossos situados entre o antebraço e o metacarpo.
São eles: o escafoide, semilunar, piramidal e pisiforme, os quais se encontram
localizados numa fileira proximal, e o trapézio, trapezoide, capitato e hamato, que
se situam na fileira distal do carpo.
O segmento do metacarpo (subgrupo B da Figura 1) é composto por 5
ossos que em sua extremidade proximal se conectam ao carpo e na extremidade
distal ligam-se às falanges. São identificados respectivamente como metacarpo
do polegar, do indicador, do médio, do anular e do mínimo.
O grupo dos ossos falângicos (subgrupo C da Figura 1) é constituído pelas
falanges proximais, médias e distais dos dedos, exceto o polegar que não possui
a falange média. As articulações cárpicas (relativas ao punho), carpo-
metacárpicas, metacarpo-falângicas e inter-falângicas (entre as falanges),
juntamente com os músculos, tendões e nervos são responsáveis por dar
sustentação à complexidade da destreza motora da mão. Na performance do
violão, os movimentos de flexão e extensão dos dedos – especialmente os
demandados pela ação de preensão das cordas realizada pela mão esquerda e
pelos movimentos de tangê-las com a mão direita – dependem dos ossos
falângicos e das articulações acima referidas para a estabilidade e precisão
espacial de seus movimentos para tocar o instrumento.
44
4.2 Considerações sobre o sistema muscular no movimento humano
Nesta seção, abordamos o principal elemento que executa a tarefa motora,
isto é, o músculo com seus mecanismos. O primeiro aspecto a considerar é a
potência do músculo para realizar o movimento. Esta é definida como a força que
um músculo pode exercer em função de suas condições contráteis, as quais
dependem: a) do comprimento do músculo; b) da velocidade instantânea de seu
encurtamento; e c) da história da mudança de seu comprimento (Herzog, 2004, p.
45).
Os músculos exercem contração e são as estruturas que mais contribuem
para o movimento do corpo humano. Eles são usados para sustentar uma
posição, levantar ou abaixar uma parte do corpo, diminuir a velocidade de um
segmento em movimento rápido e gerar alta velocidade no corpo ou num objeto
impulsionado para o ar. Os músculos esqueléticos estão sob o controle voluntário
direto do sistema nervoso central, isto é, estão sob a determinação da
intencionalidade do indivíduo.
As três funções básicas dos músculos – relacionadas especificamente ao
movimento humano – são: 1) contribuir para a produção do movimento
esquelético, 2) auxiliar na estabilidade das articulações e 3) manter a postura
corporal. Os músculos raramente agem individualmente; ao contrário, interagem
muito mais uns com os outros em uma multiplicidade de funções.
Dentre os músculos que constituem os vários segmentos da estrutura do
corpo humano, os músculos da mão têm particular interesse para a performance
de muitos instrumentos musicais e em especial para o violão. Para que se possa
tocar um instrumento musical de cordas tal como o violão, os músculos das duas
mãos necessitam estar envolvidos nessa atividade para que a música possa
acontecer. Na verdade, tocar instrumentos musicais com a ação das mãos não é
uma habilidade inata do ser humano, o que significa dizer que a habilidade de
destreza manual necessita ser treinada e desenvolvida através de exercícios
específicos num nível suficientemente elevado para o indivíduo conseguir tocar o
instrumento de modo satisfatório.
Os músculos da mão, juntamente com tendões, ossos e nervos, formam a
base física para os movimentos de seus dedos. Os músculos que atuam para o
45
movimento da mão e seus dedos podem ser divididos em dois grupos: os
intrínsecos e os extrínsecos. De acordo com Moore e colaboradores (2019),
dentre os 35 músculos envolvidos nos movimentos manuais, 19 deles encontram-
se na mão e 16 se originam no antebraço.
Os músculos intrínsecos da mão estão localizados dentro da própria mão e
geralmente são responsáveis pelas funções motoras finas dos dedos. Estes
incluem o adutor curto do polegar, o palmar curto, 4 interósseos dorsais, 3
interósseos palmares, 4 lumbricais, 3 tenares e 3 hipotenares.
Os músculos extrínsecos da mão estão localizados nos compartimentos
anterior (palmar) e posterior (dorsal) do antebraço. Os músculos extrínsecos
pertencentes ao grupo palmar (localizados na porção anterior do antebraço) têm
função flexora, enquanto que os do grupo dorsal (localizados na porção posterior
do antebraço) têm função essencialmente extensora. Os músculos extrínsecos
controlam os movimentos grosseiros da mão e são capazes de produzir tensão
muito vigorosa. Segundo Moore e colaboradores (2019) os músculos flexores
pertencentes ao grupo palmar têm aproximadamente o dobro do volume e da
força dos músculos extensores pertencentes ao grupo dorsal (Moore et al., 2019,
p. 213).
O Tecido Muscular
Um elemento importante na estrutura muscular é a matéria ou o tecido que
o constitui. O tecido muscular é muito resistente e pode ser esticado ou encurtado
a velocidades bastante elevadas sem grandes danos ao mesmo. O desempenho
do tecido muscular em cargas e velocidades variáveis é determinado pelas suas
quatro propriedades:
1) excitabilidade - capacidade do músculo para responder à estimulação
provida por um neurônio motor liberando um neurotransmissor químico;
2) contractilidade - capacidade do músculo para gerar tensão e
encurtamento quando recebe suficiente estimulação;
3) extensibilidade - capacidade do músculo em alongar-se para além do
seu comprimento quando em repouso. É importante lembrar que o
músculo esquelético não pode alongar-se a si próprio, necessitando
para seu alongamento, a ajuda de outro músculo ou de uma força
46
externa;
4) elasticidade - capacidade da fibra muscular retornar ao seu
comprimento de repouso depois que o alongamento for removido
(Hamill & Knutzen, 2009, p. 64).
Outros aspectos sobre a fisiologia da performance no violão foram
apresentados no item 4.4 Fatores fisiológicos e desempenho dos movimentos
corporais rápidos, o qual trata especificamente dos fatores envolvidos na
velocidade dos movimentos corporais. Para os leitores interessados em
aprofundar o tema da fisiologia da performance do violão, em sua tese doutoral
Costalonga (2009, p. 95) elaborou um importante capítulo sobre este tema.
4.2.1 A unidade motora
O tecido do músculo esquelético é organizado em grupos funcionais
denominados unidades motoras. Uma unidade motora consiste em um grupo de
fibras musculares que são inervadas pelo mesmo neurônio motor. A proporção
típica entre um neurônio e as fibras musculares que ele inerva é variável para
cada músculo, por isso algumas unidades motoras podem consistir de apenas 5
ou 6 fibras musculares, como nos músculos orbiculares do olho, ou podem ter até
2000 fibras musculares, como ocorre no glúteo máximo (Asmussen & Bonde-
Petersen, 1974a; Hamill & Knutzen, 2009). Um músculo que tem unidades
motoras com relação muito baixa de neurônio para fibra – como é encontrada nos
músculos dos olhos e das mãos – permite um controle mais refinado das
características do movimento, condição que também o capacita para agir com
maior velocidade.
O sinal para contrair – que é transmitido do neurônio motor para o músculo
– é chamado de potencial de ação. Quando um neurônio motor é estimulado o
suficiente para causar uma contração muscular, todas as fibras musculares
inervadas por esse neurônio contraem-se e desse modo o tamanho do potencial
de ação e o movimento muscular resultante são proporcionais ao número de
fibras na unidade motora. Por esse motivo um aumento na produção de força do
músculo requer um aumento no número de unidades motoras ativadas (Hamill &
Knutzen, 2009, p. 70).
47
A descrição dos tipos de unidades motoras e sua correlação com os três
tipos de fibras musculares encontram-se apresentadas nos subitens 4.3.3 e 4.3.4,
os quais tratam em detalhe dos aspectos neurológicos relacionados ao
movimento humano.
4.2.2 As fibras musculares: consideração preliminar
Os tipos de fibras musculares constituem parte da matéria do músculo e
apresentam características distintas quanto ao seu comportamento relativo à
força e velocidade do movimento. Devido aos tipos de fibras presentes em maior
ou menor quantidade no músculo e seus diferentes efeitos sobre a velocidade,
esta característica muscular apresenta grande importância para a coordenação
motora fina demandada na ação de tocar um instrumento musical. Um
detalhamento das características e funções dos diferentes tipos de fibras
musculares é abordado mais detalhadamente no item 4.3.4, referente aos
fundamentos neurológicos para o movimento humano.
48
4.3 Considerações sobre o sistema neurológico para o movimento humano
O movimento humano é controlado e monitorado pelo sistema nervoso. A
natureza desse controle é tal que para realizar movimentos vigorosos como correr
a toda velocidade, muitos músculos precisam ser ativados, enquanto que para
apertar uma campainha ou fazer um telefonema é necessária a ativação de
apenas alguns poucos músculos. O sistema nervoso é responsável pela
identificação dos músculos que serão ativados para um movimento particular e,
em seguida, pela geração do estímulo para desenvolver o nível de força (e
consequentemente de velocidade) que será requerido daquele músculo.
Muitos movimentos humanos requerem estabilização de segmentos
corporais adjacentes durante a realização de uma tarefa de habilidade motora
fina. Isso requer uma grande coordenação por parte do sistema nervoso para
estabilizar segmentos como o braço e o antebraço ao mesmo tempo em que
movimentos pequenos e coordenados são realizados pelos dedos durante o ato
de escrever num teclado de computador ou no ato de dedilhar as cordas ou teclas
num instrumento musical.
A precisão do movimento é outro elemento com o qual o sistema nervoso é
confrontado na realização de uma tarefa. O sistema nervoso coordena os
músculos para realizar uma tarefa com apenas a quantidade certa de força
muscular para que a ação seja bem-sucedida. A detecção do grau de dificuldade
na coordenação precisa de um movimento físico é uma das tarefas do controle
neural e nos dá ideia da complexidade de funcionamento do sistema nervoso.
A rede neural é bastante extensa, já que cada fibra muscular é servida
individualmente por um ramo do sistema nervoso. Para que ocorra um movimento
voluntário, há informação saindo do músculo e provendo impulsos para o sistema
nervoso e há informação entrando no músculo, iniciando-se desse modo uma
atividade muscular de natureza e magnitude específicas. Através deste sistema
de entrelaçamento neuronal – que está interligado com muitos outros laços de
outros músculos e com o controle nervoso central – o sistema nervoso é capaz de
coordenar a atividade de muitos músculos ao mesmo tempo.
Por causa do entrelaçamento do sistema neuronal, níveis específicos de
força podem ser gerados em vários músculos simultaneamente, de modo que
49
habilidades tais como a de chutar uma bola ou de tocar um acorde pressionando
3 ou 4 dedos simultaneamente sobre as cordas de um instrumento musical,
podem ser realizadas com precisão e força. Ao agregar velocidade a um
movimento envolvendo precisão e força, teremos nessa conjunção a demanda de
uma habilidade das mais complexas e difíceis para o controle motor humano
(Missenard & Fernandez, 2011; Neuhaus, 1973).
O conhecimento do sistema nervoso pode ser uma informação útil no
planejamento de um treinamento de uma resposta muscular, no refinamento de
uma habilidade ou tarefa, na reabilitação de uma lesão ou no alongamento de um
grupo muscular (Hamill & Knutzen, 2009, p. 106). Para a performance de
instrumentos musicais, o conhecimento do sistema nervoso juntamente com o
conhecimento dos sistemas esquelético e muscular, pode contribuir, para planejar
um treinamento envolvendo controle da velocidade, força e precisão dos
movimentos, dando uma noção mais clara das condições de exercitabilidade
bimanual e do que pode ser esperado a partir de uma intervenção.
4.3.1 Organização geral do Sistema Nervoso
A estrutura do Sistema Nervoso (SN) é bastante sofisticada e, num nível
macroestrutural, consiste nos sistemas central e periférico. O Sistema Nervoso
Central (SNC) é constituído pelo encéfalo (cérebro, tronco cerebral e cerebelo)
mais a medula espinhal, e tem como função iniciar, controlar e monitorar o
movimento humano. O Sistema Nervoso Periférico (SNP) consiste numa divisão
aferente (sensorial) constituída por neurônios sensoriais – os quais possuem a
função de receber impulsos – e numa divisão eferente (motora) a qual se
subdivide em SN somático e SN autônomo. O SN somático transmite os
potenciais de ação do SN aos músculos esqueléticos (aqueles que têm atividade
e controle voluntários). O conhecimento do SN somático tem particular interesse
para a performance de instrumentos musicais pois esta atividade é dependente
da vontade do indivíduo, o que equivale dizer que tocar um instrumento musical é
uma atividade fundamentalmente intencional. Os neurônios do SN somático, onde
se geram os potenciais de ação, são chamados de neurônios motores ou
motoneurônios, cujos ramos terminais (axônios) transmitem os impulsos às
50
células (fibras) dos músculos esqueléticos.
No SNP existem 12 pares de nervos cranianos, que entram e saem do
encéfalo (10 deles do tronco cerebral) e 31 pares de nervos espinhais que entram
e saem da medula espinhal nos vários níveis vertebrais. Nestes nervos espinhais
a informação motora deixa a medula espinhal por meio da raiz ventral (anterior) e
a informação sensorial entra na medula espinhal pela raiz dorsal (posterior)
(Hamill & Knutzen, 1999, p. 112). Assim, os nervos que entram na medula
espinhal pela raiz posterior ou dorsal são chamados de neurônios sensoriais
porque transmitem informações para o SNC a partir das diferentes estruturas
corporais – esta trajetória é chamada de via aferente e traz todas as informações
recebidas. Os nervos que saem pela raiz anterior (ou ventral) da medula espinhal
são chamados de neurônios motores, porque eles levam os impulsos para o
músculo ou para outras estruturas corporais – este percurso é chamado de via
eferente e carrega todas as informações de saída. As raízes dorsal e ventral se
juntam quando saem da medula espinhal, fazendo com que os ramos terminais
(axônios) destes neurônios sensoriais e motores sigam o seu percurso em
conjunto formando um único nervo espinhal, o qual transporta as informações
para dentro e para fora da medula espinhal (Hamill & Knutzen, 2009, p. 107).
Num nível microestrutural, o neurônio é a unidade funcional do sistema
nervoso que leva informações para dentro e para fora dele. Pela sua conformação
física o neurônio não faz contato propriamente dito com a fibra muscular; em vez
disso, existe uma pequena fenda – denominada fenda sináptica ou sinapse –
entre o ramo terminal do neurônio (axônio) e a fibra muscular. Esta é a razão pela
qual a contração muscular envolve uma transmissão química, já que o único
modo do impulso nervoso alcançar a fibra muscular – para que ocorra um
movimento corporal – é por algum tipo de transmissão química pela fenda
sináptica (Hamill & Knutzen, 1999, p. 113).
4.3.2 Estrutura do neurônio motor e da unidade motora
O neurônio motor, também denominado de motoneurônio, consiste de um
corpo celular contendo o núcleo da célula nervosa. O corpo celular de um
motoneurônio, denominado soma, está localizado dentro da matéria cinzenta da
51
medula espinhal. Estes corpos celulares estão dispostos em entrelaçamentos que
abrangem um a três níveis da medula espinhal e inervam porções de um único
músculo ou de músculos sinergistas selecionados. (Hamill & Knutzen, 2009, p.
108). O prolongamento do corpo celular (axônio) de cada motoneurônio –
presente no corno anterior da substância cinzenta da medula espinhal – sai da
face anterior da medula espinhal pela raiz anterior de um nervo espinhal e se
ramifica ao chegar ao músculo, terminando em várias fibras musculares. Já a
unidade motora consiste em um neurônio motor (corpo celular, dendritos, axônio e
seus ramos) mais todas as fibras musculares (células musculares) que esse
neurônio inerva (Hamill & Knutzen, 2009, p. 113).
Os movimentos finos (sutis) – como os demandados na performance de
instrumentos musicais – ocorrem quando a unidade motora serve somente a um
pequeno número de fibras musculares, a exemplo do que ocorre nos músculos
oculares e nos músculos intrínsecos da mão37. Contrariamente, quando a unidade
motora termina em um grande número de fibras musculares, como nos músculos
gastrocnêmios, as capacidades para movimentos mais refinados são perdidas
com o ganho de maior atividade de força muscular geral.
O número de fibras musculares controlado por um neurônio é denominado
de taxa de inervação (proporção neurônio-fibra). Nos músculos do corpo humano,
a taxa de inervação pode variar desde um neurônio terminando em 5 ou 6 fibras
musculares (como no músculo orbicular do olho) até 2000 fibras (como no glúteo
máximo). Alguns exemplos da variabilidade da taxa de inervação – a razão típica
de um neurônio para as fibras musculares – podem ser a de 1:10 (um para dez)
nos músculos oculares, de 1:1600 nos gastrocnêmios, de 1:500 no tibial anterior,
de 1:1000 no bíceps braquial, de 1:300 nos interósseos dorsais da mão, e de 1:96
nos lumbricais da mão (Basmajian & De Luca, 1985; Hamill & Knutzen, 2009;
Moritani, 1979). Considerando que as fibras com uma pequena taxa de inervação
são capazes de exercer um controle motor fino38, em contrapartida aquelas com
37 Os músculos intrínsecos da mão referem-se àqueles que têm origem e inserção na própria mão
e constituem quatro grupos de pequenos músculos: grupo tenar, grupo hipotenar, interósseos e lumbricais. 38
Envolve pequenos músculos, como os da mão, para realizar tarefas delicadas e precisas.
52
uma grande proporção de inervação só são capazes de controle motor grosso39.
As fibras musculares inervadas por cada unidade motora não estão agrupadas
em feixes e não estão todas no mesmo fascículo40; em vez disso, elas estão
espalhadas por todo o músculo. Assim, quando uma unidade motora é ativada o
suficientemente, todas as fibras musculares que pertencem a ela contraem-se em
alguns milésimos de segundo. Tal comportamento é referido como o princípio
tudo-ou-nada (Hamill & Knutzen, 2009, p. 109). Músculos dotados de taxa de
inervação em proporção muito alta, só são capazes de controle motor grosso,
enquanto que músculos dotados de unidades motoras com taxas de inervação em
proporção muito baixa, – tal como encontrada nos músculos do olho e da mão –
permitem um controle mais refinado das características do movimento e de sua
velocidade (Hamill & Knutzen, 2009, p. 109).
Considerando que a atividade de tocar um instrumento musical exige um
controle refinado dos movimentos nela demandados, a capacidade de
coordenação motora fina passa a ser crucial neste tipo de tarefa. Assim, a
atividade de tocar instrumentos musicais depende da demanda por segmentos
corporais cujas estruturas musculares são dotadas de unidades motoras com
baixas taxas de proporção neurônio-fibra.
4.3.3 Tipos de unidades motoras
Conforme referido anteriormente, a unidade motora é constituída por um
neurônio motor (motoneurônio) mais as fibras musculares inervadas por ele. Os
músculos do corpo humano são dotados de diferentes tipos de unidades motoras.
Existem três diferentes tipos de unidades motoras, os quais correspondem aos
três tipos de fibras musculares que constituem o tecido muscular: a) tipo oxidativo
de contração lenta (Tipo I), b) tipo oxidativo de contração rápida (Tipo IIa) e c) tipo
glicolítico de contração rápida (Tipo IIb). Todos os três tipos de fibras musculares
são encontrados em todos os músculos, porém, o que varia é a proporção entre
os tipos de fibras dentro do músculo (Hamill & Knutzen, 1999, p. 110).
39 Envolve grupos de grandes músculos, como aqueles da coxa, para realizar tarefas menos
delicadas e que envolvem muita força. 40
Pequeno feixe de fibras musculares que funcionam associadas em maior ou menor escala.
53
Unidades motoras de fibras Tipo I
Segundo Burke (1981), as unidades motoras de fibras oxidativas de
contração lenta (Tipo I) transmitem os impulsos lentamente (aproximadamente 80
m/s), gerando tempos de contração lentos no músculo (70 ms) (Burke, 1981).
Este tipo de unidade motora é capaz de gerar pouca tensão, mas pode suportar
essa tensão durante um longo período de tempo. Unidades motoras constituídas
por fibras de Tipo I são mais eficientes na economia de tensão do que as dos
tipos IIa e IIb. Consequentemente, as unidades motoras de fibras de contração
lenta – o menor dos três tipos – são úteis na manutenção de posturas,
estabilização de articulações e atividades repetitivas, bem como em atividades
musculares grosseiras que podem ser de longa duração como no caso da marcha
ou da corrida do maratonista (Hamill & Knutzen, 2009).
Unidades motoras de fibras Tipo IIa
De acordo com Burke (1981), as unidades motoras de fibras oxidativas de
contração rápida (Tipo IIa) têm tempos de contração rápidos (aproximadamente
30 a 50 ms), com a vantagem sobre as unidades motoras glicolíticas de fibras de
contração rápida (Tipo IIb), porquanto são mais resistentes à fadiga. Essas
unidades motoras de tamanho moderado são capazes de gerar tensões
moderadas por longos períodos e são úteis na performance instrumental que
demande movimentos rápidos continuados por trechos musicais longos.
Unidades motoras de fibras Tipo IIb
As unidades motoras glicolíticas de fibras de contração rápida (Tipo IIb)
são inervadas por motoneurônios alfa, os quais são muito grandes e conduzem os
impulsos em velocidades muito rápidas, criando tempos de contração no músculo
de aproximadamente 30 a 40 milissegundos (Burke, 1981). Como resultado,
essas grandes unidades motoras geram atividade muscular de contração rápida,
desenvolvem altas tensões e fadigam-se rapidamente. Essas unidades motoras
geralmente possuem grandes proporções neurônio-fibra e são encontradas em
maior percentagem em alguns dos maiores músculos do corpo, como o grupo do
54
quadríceps femoral. Essas unidades motoras são úteis em atividades de alta
velocidade, e ações que exigem força súbita (Hamill & Knutzen, 2009).
4.3.4 Tipos de fibra muscular
Para lidar com os diferentes tipos de esforço, o corpo humano é dotado de
três diferentes tipos de fibras musculares, conforme já foram apontados em sua
relação com as unidades motoras no item 4.3.3 - Tipos de unidades motoras.
Conforme mencionado, cada músculo possui todos os três tipos de fibras, mas
em quantidades diferentes. No entanto, as características de alguns tipos de
fibras musculares podem ser modificadas em parte através de treinamento
específico, embora, em certa medida, a distribuição das fibras seja determinada
geneticamente (Freivalds, 2004, p. 69). A seguir, estão detalhadas as
características fisiológicas de cada tipo de fibra muscular.
1) - Fibra muscular Tipo I (oxidativa de contração lenta). Este tipo de fibra
produz baixa força, tem um metabolismo aeróbico (usa oxigênio para gerar
energia), resiste a esforço de longa duração e é encontrado em pequenas
unidades motoras dedicadas ao controle preciso do movimento. É muito eficiente,
pois não produz ácido lático e por isso é menos vulnerável à fadiga.
2) - Fibra muscular Tipo IIa (glicolítica-oxidativa de contração rápida). Este
tipo é conhecido como fibras de contração rápida intermediárias, as quais usam o
metabolismo aeróbico e anaeróbico quase igualmente para criar energia. A fibra
de Tipo IIa é uma fibra muscular vermelha e é conhecida como a fibra de
contração rápida intermediária porque tanto pode sustentar uma atividade por
longos períodos, como é capaz de contrair-se em rápidas explosões de força.
3) - Fibra muscular Tipo IIb (glicolítica de contração rápida). É um tipo de
fibra muscular branca (de menor irrigação sanguínea) e fornece uma produção de
força rápida. Este tipo de fibra é encontrado em unidades motoras maiores. Por
ela usar o metabolismo anaeróbico, é mais eficiente em gerar curtas e rápidas
explosões de força do que a fibra muscular Tipo I. Sua desvantagem é que ela é
mais vulnerável à fadiga.
55
4.4 Fatores fisiológicos e movimentos corporais rápidos
A habilidade de tocar um instrumento musical demanda um controle motor
fino (apurado) dos segmentos corporais envolvidos neste tipo de tarefa. No
entanto, diversos fatores influenciam diretamente o desempenho do movimento
corporal humano, estando entre os principais, a potência muscular (força), a
resistência, a fadiga, a velocidade e o tipo de fibra predominante no músculo.
Outros fatores influenciam indiretamente o movimento, tais como o nível de
condicionamento, a temperatura ambiente e a ansiedade da performance
(Costalonga, 2009, p. 95).
Um dos importantes elementos fisiológicos relacionado à velocidade dos
movimentos diz respeito ao tipo de fibra muscular preponderante nos músculos
dos segmentos corporais envolvidos na produção do movimento. O tipo de fibra é
um elemento relevante no metabolismo muscular e no consumo de energia,
sendo ele estudado de modo mais completo na fisiologia do exercício. Cada um
dos tipos de fibras musculares possui características e funções específicas, as
quais são determinadas geneticamente, e por isso não sendo possível a alteração
do Tipo I para o Tipo II. Entretanto, há evidências de que podem ocorrer
alterações nos subtipos IIa para IIb com o treinamento, ou de IIb para IIa com o
destreinamento (Freivalds, 2004). Esta mutabilidade fisiológica que influencia a
velocidade dos movimentos tem suas próprias regras ainda não suficientemente
esclarecidas.
Embora o exercício não possa alterar as fibras musculares do Tipo I para o
Tipo II, e vice-versa, há evidências demonstrando que exercícios específicos
envolvendo força e velocidade podem provocar mudanças entre os subtipos de
fibras musculares Tipo IIa para o Tipo IIb (Santos, 2005). O tipo mais frequente de
alteração das fibras musculares derivado de treinamento é o de conversão das
fibras de contração rápida facilmente fatigáveis (Tipo IIb), em fibras de contração
rápida mais resistentes à fadiga (Tipo IIa) e vice-versa (Hamill & Knutzen, 1999, p.
113).
É consensual que em cada segmento corporal predomina um ou outro tipo
de fibra muscular, conforme a natureza funcional do segmento. Assim, os
músculos orbiculares dos olhos são extremamente povoados por fibras
56
musculares do Tipo IIa, o que lhes confere a capacidade de realizar movimentos
dos mais rápidos que nosso corpo é capaz de produzir. É conhecido o fato de que
o olho humano é mais rápido do que a mão e, por sua vez, a mão é mais rápida
do que a musculatura do abdômen, sendo também possível essa diferenciação na
comparação entre outros grupos de músculos do nosso corpo.
A maioria dos músculos, se não todos, contém ambos os tipos de fibra
muscular. Um exemplo é o vastus lateralis (uma das 4 partes do músculo
quadríceps femoral da região anterior da coxa) que contém tipicamente metade
de fibras de contração rápida e metade de contração lenta (Komi, 1984).
Concentrações acima da média para determinado tipo de fibra, podem evidenciar
como o músculo foi treinado e desenvolvido e quais técnicas de treinamento
foram mais adequadas para indivíduos com concentrações maiores em
determinados tipos de fibras musculares. Por exemplo, corredores de alta
velocidade e saltadores geralmente têm grandes concentrações de fibras
musculares de contração rápida e estes tipos de fibras são encontrados em altas
concentrações nos músculos dos quais esses indivíduos dependem para se
exercitarem intensamente nas suas atividades (Hamill & Knutzen, 2009). Por isso,
podemos inferir que é possível haver mudanças na média de concentração dos
tipos de fibras no segmento antebraço-mão-dedos de um violonista avançado
(bastante treinado) em comparação a um violonista principiante que ainda treinou
pouco sua destreza manual.
Ademais, estas características das fibras musculares explicam, mesmo que
parcialmente, quando na performance de instrumentos musicais a execução
musical demanda a exigência constante de movimentos muito rápidos dos dedos
por longos trechos da música, estes fadigam mais intensamente na maioria dos
instrumentistas do que longos trechos de música envolvendo apenas movimentos
lentos dos dedos.
A força muscular
Uma das preocupações básicas na pesquisa ergonômica é se uma pessoa
pode realizar uma exigência de trabalho físico sem fadiga excessiva e sem correr
risco de lesão, nomeadamente por movimento repetitivo. Tem sido argumentado
57
que a relação entre a força muscular absoluta do indivíduo e a força necessária
para uma tarefa física é um forte preditor da possibilidade de lesão, o que significa
dizer que quanto mais forte for uma pessoa, ou quanto menor a força necessária
para realizar uma tarefa, maiores serão as chances de evitar lesões (Herzog,
2004, p. 46).
Os determinantes básicos da força muscular incluem considerações
estruturais tais como o comprimento do músculo e a velocidade de encurtamento
do mesmo. Do ponto de vista estrutural, é óbvio que um músculo “maior” também
é “mais forte”. Porém, músculos de igual tamanho (volume) podem ter
capacidades de força completamente diferentes, dependendo do arranjo dos tipos
de fibras musculares dentro do músculo. Além disso, o comprimento [máximo]
instantâneo de um músculo é um determinante crucial da força muscular, o que é
diretamente influenciado pela posição do corpo (ângulos articulares). Este
aspecto resulta que ao realizar uma tarefa física, a posição do corpo e a
orientação dos membros desempenham um papel importante na força muscular
disponível (Herzog, 2004, p. 46). Este fato aponta também para a importância da
apropriada postura corporal para tocar um instrumento musical, o que
consequentemente facilita a realização do movimento dos segmentos corporais
envolvidos na tarefa de tocar.
De modo simplificado podemos dizer que existem dois tipos de contração
muscular: 1) a contração dinâmica, que gera movimento durante a contração do
músculo, a exemplo do toque do dedo da mão direita ao tanger a corda no violão
e em seguida afastar-se da mesma; e 2) a contração estática, também chamada
isométrica, que gera tensão do músculo durante o processo de contração, mas
sem mudar o seu comprimento, isto é, sem provocar movimento (Grandjean,
1998). Um exemplo de contração estática pode ser observado na ação de
preensão sustentada do dedo da mão esquerda sobre a corda/casa ao tocar no
violão uma nota de longa duração ou ao tocar notas repetidas (numa única corda)
em que o dedo deve manter a preensão sobre a mesma posição na corda
enquanto a mão direita ataca repetidamente várias vezes a mesma nota. As
contrações dinâmicas podem ser concêntricas, quando a tensão do músculo é
maior que a resistência que lhe é oposta e resulta no encurtamento do mesmo, ou
58
excêntricas, quando a tensão produzida no músculo é inferior à resistência
externa que lhe é oposta, o que aumenta seu comprimento (Frontera, Dawson, &
Slovik, 2001).
Segundo Freivalds (2004), em uma ação de preensão tipo pinça
envolvendo o polegar e o indicador, as forças exigidas dos tendões flexores se
encontram entre 25 e 125 Newtons (2,549 kgf e 12,746 kgf) para o flexor profundo
dos dedos e de 10 a 75 Newtons (1,020 kgf e 7,648 kgf) para o flexor superficial
dos dedos (Freivalds, 2004, p. 222). Esta capacidade de produção de força é
mais que suficiente para produzir notas limpas (bem definidas) no violão, o qual,
demanda entre 0,204 e 0,897 kgf para a ação de preensão dos dedos.
(Costalonga, 2009, p. 99).
A velocidade da contração muscular
A contração muscular envolve uma relação peculiar entre força e
velocidade na realização dos movimentos corporais demandados na atividade de
tocar um instrumento musical. A velocidade da contração muscular é um
poderoso determinante da força muscular e, consequentemente, da própria
velocidade de realização da tarefa física, que por sua vez influencia criticamente a
força muscular disponível (Herzog, 2004, p. 46).
Nas contrações concêntricas a força gerada é tanto maior quanto menor a
velocidade de encurtamento do músculo, sendo máxima na velocidade “zero” –
quando já não temos uma contração dinâmica (concêntrica), mas sim uma
contração estática ou isométrica (Frontera et al., 2001). Nas contrações
excêntricas, a velocidade crescente pode gerar maior força do que a que é gerada
na contração estática, significando que a força mais elevada reflete não só o
mecanismo contrátil do músculo, mas também o componente elástico (passivo)
dos tecidos conjuntivos relacionados com o músculo.
Neuhaus (1973) afirma que tocar sons com intensidade forte e em alta
velocidade é uma tarefa das mais difíceis na performance do piano – condição
que se repete igualmente na performance de outros instrumentos musicais. Na
performance do violão, por causa da demanda intensa de força na preensão dos
dedos da mão esquerda contra as cordas do instrumento, normalmente ocorre
59
maior perda de velocidade nos movimentos desta mão frente à velocidade da
ação da mão direita. Para a realização de tarefas que necessitem conciliar
velocidade e força sem perder a precisão é necessário um tipo de treinamento
que contemple tal especificidade da tarefa, isto é, um treinamento que conjugue
força e velocidade nos movimentos praticados. A prática de exercícios
pliométricos, descritos no item 4.5.1, pode ser útil nesse propósito.
4.4.1 Tarefas especificas demandam treinamento com exercícios específicos
Além da predominância do tipo de fibra muscular rápida, o
condicionamento muscular obtido através de exercícios específicos é também um
fator importante para a velocidade do movimento corporal. Assim, num
treinamento para alcançar (e manter) a performance de excelência em um
instrumento musical é crucial a escolha de um tipo específico de exercício para
cada demanda motora e musical da ação de tocar o instrumento.
O corpo humano é dotado de amplas capacidades para diferentes tipos de
tarefas físicas. Essas capacidades podem ser em parte inatas e em parte
adquiridas através de treinamento. Muitas das capacidades humanas passíveis
de serem adquiridas demandam treinamento específico e por longo tempo como é
o caso da habilidade para tocar instrumento musical. No entanto, para atingir um
nível avançado ou de excelência na performance de um instrumento musical, tal
demanda requer treinamento com tarefas específicas, não sendo proveitosa a
simples prática aleatória de quaisquer exercícios sem especificidade e sem uma
meta intencionada. Por isso é importante a escolha de exercícios específicos para
desenvolvimento de capacidades específicas, o que em biomecânica e controle
motor é denominado de especificidade do treinamento.
A especificidade do treinamento cumpre um papel crucial no
aprimoramento da capacidade para realizar determinada atividade motora. Tal
especificidade está fortemente relacionada à predominância de determinado tipo
de fibra muscular presente nos segmentos corporais envolvidos na prática motora
e ao tipo de exercício selecionado para o treinamento do movimento. Num
empreendimento para desenvolver determinada capacidade motora é importante
conhecer a estrutura muscular dos segmentos corporais demandados nos
60
movimentos necessários à tarefa e desse modo saber o que é possível esperar
em termos de incremento desta habilidade motora (Leijnse et al., 1992; Leijnse,
Quesada, & Spoor, 2010).
No treinamento para tocar um instrumento musical é pertinente considerar
que determinados tipos de fibra muscular influenciam certos tipos de exercício
físico e vice-versa. Por exemplo, a prática de exercícios para movimentos de
velocidade demanda a ativação de fibras musculares capazes de resposta rápida
tais como as do Tipo IIa (glicolítico-oxidativas de contração rápida).
Contrariamente, tarefas envolvendo explosões de força demandam ativação das
fibras de Tipo IIb (glicolíticas de contração rápida) enquanto que tarefas que
exigem resistência muscular demandam tipos de fibras musculares Tipo I
(oxidativas de contração lenta).
O tipo de treinamento muscular é um dos fatores que influencia o
desempenho motor dos indivíduos o qual, em contrapartida, depende do tipo de
fibra predominante no músculo demandado na tarefa. De modo geral podemos
afirmar que dependendo do tipo de exercício praticado, as características das
fibras musculares se ajustam ao tipo de atividade quando praticada por longos
períodos. Por exemplo, o exercício de resistência prolongada (com pequenas
cargas e muitas repetições) provoca diferentes alterações metabólicas e
morfológicas, incluindo a biogênese mitocondrial, e desse modo transformam as
fibras musculares que se tornam mais lentas, mas simultaneamente mais
resistentes à fadiga. Em contrapartida, os exercícios com cargas pesadas
estimulam a síntese de proteínas responsáveis pela hipertrofia muscular e
estimulam a capacidade de contração máxima (força máxima) (Smrkolj & Škof,
2013, p. 1).
61
4.5 Especificidade do treinamento com exercícios de velocidade
A performance de instrumentos musicais demanda habilidade de controle
motor fino, a qual depende de modo crucial da prática para ser desenvolvida e
aperfeiçoada, pois a prática ainda é o principal e mais imprescindível meio através
do qual se adquire habilidade para tocar um instrumento musical.
Por causa do caráter imprescindível da prática para desenvolver e
aprimorar as habilidades motoras demandadas na ação de tocar um instrumento
musical, no presente estudo foi programado um treinamento envolvendo a prática
repetida de exercícios tocados ao violão. O treinamento foi proposto para
incrementar a habilidade em conciliar velocidade nos toques de dedos com sua
precisão temporal.
Desse modo, nosso objetivo geral da pesquisa consistiu em avaliar o efeito
de um período de treinamento sobre a habilidade para conciliar velocidade e
precisão na execução de sequências de sons tocadas ao violão. A escolha dos
exercícios destinados ao experimento tornou-se importante na medida em que
através da imposição das restrições biomecânicas comuns à ação de tocar o
violão, supúnhamos que após o treinamento os violonistas melhorariam a
habilidade de conciliar alta velocidade no ataque dos sons com a precisão
temporal dos mesmos.
Apoiados em nossa experiência pessoal no campo do ensino e
performance do violão, supúnhamos que a especificidade do treinamento seria
decisiva para aumentar o desempenho em termos de velocidade e precisão. No
delineamento dos exercícios de velocidade que propomos, partimos do
pressuposto de que não se alcança a realização de movimentos rápidos dos
dedos/mãos, se não tivermos levado a cabo uma prática extensiva contendo as
exigências e condições de tal rapidez aliada à precisão nos movimentos (Hamill &
Knutzen, 2009). Assim, em nossa investigação partimos da hipótese de que a
habilidade em conciliar velocidade dos movimentos com a manutenção de sua
precisão se desenvolve de modo mais consistente se estes elementos estiverem
contidos na estrutura dos exercícios elaborados especificamente para o
treinamento da habilidade em conciliar velocidade e precisão.
A aplicação do princípio da especificidade do treinamento na atividade
62
motora consiste na condição imposta à priori de que um músculo treinado em
altas velocidades desempenha a tarefa de modo mais preciso nas velocidades já
treinadas. Por isso, delineamos exercícios que demandassem também velocidade
elevadas para propô-los no treinamento conduzido no experimento da pesquisa.
Na estruturação dos exercícios praticados pelos participantes violonistas,
consideramos duas opções de especificidade de treinamento em velocidade, as
quais se complementavam e nos pareceram pertinentes: 1) os exercícios
contendo explosões de velocidade, propostos por Scott Tennant (1995)
destinados à técnica da mão direita de violonistas e 2) os exercícios pliométricos,
destinados a desenvolver força e velocidade, adaptados às tarefas de
coordenação motora fina tais como na condição exigida na ação de tocar o violão.
Tanto os exercícios de velocidade propostos por Scott Tennant, bem como os
exercícios pliométricos, estão fundamentados no princípio da especificidade do
treinamento. A especificidade em questão se refere à velocidade dos movimentos
dos dedos na ação de tocar o violão. No próximo item detalhamos os
fundamentos dos exercícios pliométricos adaptados à coordenação motora fina
demandada na performance do violão.
4.5.1 O exercício pliométrico
Existem diversos tipos de exercícios para diferentes modalidades de
treinamento. Dentre os tipos mais comuns, encontram-se os exercícios
isométricos, isotônicos, funcionais, pliométricos, etc. (Hamill & Knutzen, 2009, p.
93) Para a presente investigação tem particular interesse o treinamento com
exercícios pliométricos, os quais são explicados a seguir.
O propósito do treinamento pliométrico é melhorar a velocidade e a força
em uma performance. O treinamento pliométrico geralmente tem sido efetivo no
aumento da produção de força em atletas de esportes como voleibol, basquete,
salto em altura, salto em distância, arremesso e corrida. No entanto, no campo da
performance de instrumentos musicais há apenas aplicação dos seus princípios
sem fazer referência direta à pliometria, a exemplo dos exercícios de velocidade
propostos por Scott Tennant (1995).
A pliometria é uma forma de exercício que busca a máxima utilização dos
63
músculos em movimentos rápidos e de explosão. Seu conceito baseia-se na
exploração do músculo em sequências de contrações excêntricas e concêntricas,
buscando a otimização do mesmo, e na ideia de especificidade do treinamento,
pela qual um músculo treinado em alta velocidade funcionaria melhor nessa
velocidade (Hamill & Knutzen, 2009, p. 124). Um exercício pliométrico geralmente
consiste em alongar rapidamente um músculo e imediatamente prosseguir com
uma contração do mesmo, como se estivesse imitando o movimento de uma
mola. Os exercícios pliométricos melhoram a produção de potência no músculo
facilitando os impulsos neurológicos para ele e aumentando a tensão muscular
gerada nos componentes elásticos do músculo. Apresentamos a seguir uma
descrição detalhada dos principais fatores envolvidos na sua prática.
Influências neurológicas
Se um músculo pode ser rapidamente alongado e imediatamente contraído
sem pausa no final do alongamento, ocorre facilitação máxima pelo arco reflexo41
(Hamill, 1999, p.135). O favorecimento mioelétrico42 no músculo que está sendo
alongado representa aproximadamente 25 a 30% do aumento da produção de
força na sequência alongamento-contração do exercício pliométrico (Bedi,
Cresswell, Engel, & Nicol, 1987).
Influências Estruturais
O fator responsável pela maior parte no aumento da produção do
movimento (70 a 75%) como consequência do exercício pliométrico é a restituição
da energia elástica no músculo (Kottke, 1966). Por isso, quando um músculo é
alongado, a energia elástica potencial é armazenada no tecido conectivo do
músculo e do seu tendão, bem como nos miofilamentos de actina e miosina dos
sarcômeros e nas pontes que eles estabelecem na medida em que elas são
conduzidas de volta com o alongamento (Asmussen & Bonde-Petersen, 1974).
41 O “arco reflexo é conhecido como reflexo do estiramento e caracteriza-se por uma contração
muscular rápida após um alongamento rápido do mesmo grupo muscular” (Hamill & Knutzen, 1999, p. 127). 42
Relativo às propriedades elétricas do músculo.
64
Outro fator de incremento da velocidade dos movimentos é o de que
determinados tipos de fibras musculares podem ter sua quantidade aumentada
com o treinamento, apesar de que em sua origem os tipos de fibras sejam
determinados geneticamente (Hamill & Knutzen, 1999, pp. 113-114). Segundo
Howald (1982), através do treinamento específico envolvendo a prática de
exercícios enfatizando potência e velocidade, as fibras musculares do Tipo IIa
podem converter-se em fibras Tipo IIb (Malisoux, Francaux, & Theisen, 2007).
4.5.2 Natureza dos exercícios de treinamento
No presente estudo, os exercícios escolhidos para o treinamento se
destinavam ao desenvolvimento da habilidade de conciliar velocidade com
precisão na performance do violão. Neste item descrevemos os critérios que
fundamentaram a escolha dos mesmos e os princípios que embasaram sua
concepção e estruturação.
No experimento levado a cabo em nosso estudo, as tarefas propostas para
o treinamento consistiram de breves sequências de sons, cuja estruturação foi
delineada sob dois princípios fundamentais: a especificidade da tarefa e a
explosividade na realização do movimento – ver descrição no item 4.4 – Tarefas:
exercícios. Na presente investigação, o princípio da especificidade da tarefa
referiu-se à conciliação da velocidade dos movimentos com a precisão temporal
quando do aumento de velocidade da tarefa, enquanto o princípio da
explosividade desdobrou-se em dois elementos: 1) aumento súbito de velocidade
dos movimentos dos dedos (aplicado em todos os exercícios) e 2) aumento súbito
de força (aplicado no ataque dos sons especificamente do Exercício nº 2).
4.5.2.1 Especificidade da tarefa
Em termos de aprimoramento da habilidade de velocidade na realização de
uma tarefa motora, este princípio pode ser traduzido pela máxima de que para se
chegar a tocar rápido é necessário treinar tarefas motoras que incluam rapidez na
sua execução. No contexto da performance de instrumentos musicais podemos
dizer que para alcançar ou incrementar a habilidade de tocar em alta velocidade é
preciso treinar tocando nesse nível de velocidade.
65
No violão há especificidades mecânicas que são restritivas à sua
performance com velocidade, tais como a assimetria motora das ações que
envolvem coordenação bimanual. Além da assimetria motora presente na
coordenação bimanual da ação de tocar o violão, a interação músico-instrumento
apresenta restrições peculiares na ação dos dedos em uma única mão, tais como
as ocasionadas pela estrutura tendinosa existente entre os dedos, a qual tem
como consequência a falta de independência na alternância de movimento entre
dedos adjacentes, conhecida como efeito quadriga (Schreuders, 2012).
Outro aspecto da especificidade da tarefa contido nos exercícios que
propusemos para o experimento de nossa pesquisa é a velocidade com que a
tarefa deve ser realizada. No contexto da performance de instrumentos musicais é
comum somente se conseguir abordar a especificidade de uma ação, realizando-
a na velocidade que lhe é peculiar. Por exemplo, no caso do ato de tocar uma
valsa, cujo tipo de compasso é ternário em andamento musical rápido, sua
especificidade se manifesta através do compasso ternário com velocidade rápida
do andamento musical; sendo assim, o compasso ternário rápido é seu elemento
caracterizador especifico. No caso do ato de dançar uma valsa, há no gesto
(passo) do dançarino um movimento do corpo no tempo-espaço que detém uma
velocidade específica própria que o faz ser entendido como um passo de valsa e
não como, por exemplo, um passo de sarabanda.
No treinamento de músicos violonistas envolvendo exercícios para conciliar
velocidade com precisão, as especificidades motoras bimanuais precisam ser
consideradas, pois é necessário que o instrumentista seja capaz de realizar
movimentos rápidos frequentemente demandados pela execução musical, apesar
das restrições biomecânicas impostas pelo instrumento e anatomia das mãos.
No delineamento dos exercícios para os experimentos de nossa pesquisa,
contemplamos a presença de algumas das restrições motoras mais comuns na
performance do violão, conforme explicadas no item 5.4.1 Exercícios - sequências
de sons para treinamento e nas partituras musicais que representam as tarefas a
serem realizadas no experimento, apresentadas no item 5.4.2 Partituras musicais
dos exercícios de treinamento.
66
4.5.2.2 Especificidade da tarefa na estruturação dos exercícios
No delineamento dos exercícios que propomos para o treinamento, a
mudança de velocidade para níveis mais altos se destinou a colocar o violonista
participante em um limiar elevado de exigência da sua capacidade em controlar a
precisão temporal da tarefa (variável dependente), mesmo a despeito do aumento
da velocidade (variável independente). Com o aumento da exigência de
velocidade nos movimentos realizados pelos dedos foi pressuposto que a
exigência de praticar uma das especificidades da tarefa – a velocidade elevada –
favoreceria o praticante a incrementar também sua habilidade em realizar com
precisão a tarefa numa velocidade que tivesse sido praticada durante o
treinamento.
No experimento levado a cabo no presente estudo, foi proposto testar o
efeito do treinamento que incluísse a exigência de um limiar elevado da
capacidade do violonista para conciliar velocidade com precisão. Por causa da
necessidade de se levar em conta o efeito da especificidade da tarefa, a proposta
levada a cabo no treinamento foi levar o violonista a conciliar precisão temporal
num limiar elevado de velocidade, o qual correspondesse ao limite mais próximo
possível da sua capacidade máxima.
Pelos aspectos acima apontados, optamos por um treinamento incluindo
um limiar elevado de velocidade, pois num treinamento com exigência de um
limiar baixo de velocidade ou com tarefas excessivamente simples, seria mais
improvável de ocorrer um incremento significativo no desempenho de conciliar
velocidade-precisão. Atendendo ainda ao princípio da especificidade da tarefa,
nos exercícios propostos para o treinamento foram somadas restrições
biomecânicas típicas das ações demandadas na ação de tocar o violão. Tais
restrições encontram-se presentes na mecânica de execução do violão e na sua
técnica tradicional de tocá-lo, as quais necessitam ser dominadas na execução do
repertório violonístico, mesmo nas passagens de toques rápidos dos dedos
conciliados com a precisão temporal dos seus movimentos.
4.5.2.3 “Explosividade” do movimento
A explosividade do movimento refere-se a um impulso súbito ou maneira
67
repentina de aumentar a velocidade e/ou a força demandada na realização de
uma tarefa motora. Por exemplo, no violão o ataque do dedo da mão direita
contra a corda, é um movimento súbito de contração dos músculos e tendões
flexores do dedo que, após o toque na corda subitamente recupera a posição de
ataque com o auxílio dos músculos e tendões extensores. Este movimento de
toque do dedo da mão direita sobre a corda do violão, quando repetido várias
vezes de modo rápido, se assemelha ao movimento de vai-e-vem de uma mola. A
repetição deste movimento obedece aos princípios pliométricos.
Os princípios da “especificidade” da tarefa e da “explosividade” do
movimento acima referidos embasam a natureza dos exercícios pliométricos
utilizados geralmente em treinamentos para desenvolver velocidade e força em
atletas de alto desempenho. Em termos biomecânicos, o principal princípio da
pliometria, conforme descrito no item 4.5.1 O exercício pliométrico, consiste na
criação de uma reação oposta à ação prévia, como se fosse uma mola
impulsionada em que se aproveita a energia acumulada dando-lhe maior
velocidade. Por isso, a prática de exercícios pliométricos – que se apoia
geralmente em tarefas envolvendo velocidade, força e explosividade –
fundamenta-se na exploração do músculo agindo em sequências de contrações
excêntricas43 e concêntricas44 buscando a otimização das mesmas.
Apesar da eficácia dos exercícios pliométricos no desenvolvimento de força
e velocidade dos movimentos é preciso ser criterioso em sua prática, pois quando
não são realizados corretamente podem provocar sobrecarga ou ocasionar lesões
musculares. Por isso, o treinamento exige tanto um limite adequado à condição
de resistência física do indivíduo, bem como um sequenciamento progressivo
quanto à dificuldade das tarefas.
43 Contração concêntrica é o tipo de contração muscular no qual os músculos encurtam durante a geração de força. 44 Contração excêntrica é aquela que ocorre quando o músculo alonga enquanto está sob tensão devido a uma força externa maior que a força gerada por ele. Nesse tipo de contração, em vez de as juntas se moverem na direção da contração, o músculo age desacelerando o movimento de forma controlada.
68
4.5.3 Adequação dos princípios pliométricos aos exercícios violonísticos
Em geral, a maioria do repertório de obras para violão exige a execução de
trechos bastante curtos de música nos quais os sons precisam ser tocados com
rapidez. Este fato denota que no repertório musical para violão, raras vezes exige-
se longos trechos de execução muito rápida (Tennant, 1995). Por esse motivo,
em sua obra didática Pumping Nylon, Tennant implementou exercícios para
desenvolver a velocidade, nos quais alternou grupos breves de toques lentos com
curtas “explosões”45 de toques rápidos realizados pelos dedos da mão direita. Em
contrapartida, pode-se inferir que para ganhar resistência muscular, ao longo de
um treinamento para violonistas, a extensão do trecho musical contendo toques
rápidos deve ser progressivamente aumentada conforme a capacidade e
necessidade do instrumentista.
Em atenção à adequação do treinamento ao limite das condições físicas
dos violonistas participantes do presente estudo, estes foram informados por
escrito e oralmente que deveriam seguir rigorosamente as recomendações sobre
a quantidade de repetições diárias para cada exercício. Quanto à progressividade
do grau de dificuldade das tarefas foi exigido dos participantes que praticassem
os exercícios rigorosamente na progressão estabelecida do simples ao complexo
(do Exercício nº 1 ao nº 6) e na mudança gradual de velocidade do andamento
musical marcado por metrônomo (na ordem de 90, 105, 120 bpm). Todos os
violonistas participantes informaram que eram praticantes do violão há mais de
três anos, o que teoricamente daria certa garantia de possuírem a tonicidade e
resistência muscular o suficiente à realização dos exercícios durante o
treinamento (sem desconforto excessivo). O treinamento com os exercícios se
limitou a um período de apenas cinco dias consecutivos. A delimitação deste
período de treinamento serviu, de um lado, ao intuito de preservar os participantes
de possível sobrecarga muscular, ou tédio pela prolongação do período de
prática, e de outro lado, por ser possível esperar mudanças no desempenho dos
participantes ao final do período treinado. A duração da execução de cada
45 “Bursts” no original em inglês.
69
exercício proposto para o experimento desta investigação consistiu de 6
segundos, no caso da velocidade em 120 bpm.
Resumidamente, do ponto de vista dos fundamentos biomecânicos
envolvidos no movimento, os exercícios para o treinamento proposto no
experimento desta pesquisa foram concebidos a partir dos princípios da
especificidade da tarefa e da explosividade do movimento envolvendo velocidade,
força e precisão temporal. Por sua vez, os princípios derivados da pliometria – e
considerados pelo campo da fisiologia do exercício como recomendáveis para o
desenvolvimento da habilidade de realizar movimentos corporais com rapidez –
foram adaptados às restrições biomecânicas específicas (dos dedos de ambas as
mãos) presentes na ação de tocar o violão.
Nos exercícios de treinamento com violonistas propostos para a presente
investigação, o fator explosividade foi aplicado na mudança súbita de velocidade
do toque dos dedos da parte A do exercício (contendo sons longos que
corresponderam a toques lentos) para a sua parte B (contendo sons curtos que
corresponderam a toques rápidos). A proporção da mudança no aumento de
velocidade da parte A para a B do exercício foi delineada para mudar de 1x para
2x a velocidade de toque dos dedos, gerando assim uma mudança brusca
(explosiva) na velocidade quando da passagem do segmento A ao B da
sequência de sons que constituiu a tarefa treinada.
70
4.6 Mão humana e restrições biomecânicas
A mão humana é dotada de enorme capacidade motora, em especial,
quanto aos movimentos de coordenação fina. Ainda assim, a mão e seus dedos
possuem limitações relacionadas à direção, força e velocidade dos seus
movimentos, às quais nos referimos como restrições biomecânicas.
Na mão humana, os principais músculos produtores de força na flexão dos
dedos indicador, médio, anular e mínimo são o Flexor Digitorum Superficialis
(FDS) e o Flexor Digitorum Profundus (FDP). Conforme mencionado no item
4.6.2, o músculo FDP possui dois ventres localizados no antebraço. Um deles
controla de maneira simultânea os movimentos dos dedos médio, anular e mínimo
gerando assim um acoplamento ou interdependência entre estes dedos; o outro
ventre do FDP se destina exclusivamente ao controle dos movimentos do
indicador, dando a este dedo, boa independência de movimento. Esta condição46
do músculo FDP induz à falta de independência na movimentação individualizada
dos dedos médio, anular e mínimo da mão, apesar da liberdade de movimento
destes ser bastante necessária na performance do violão.
Em um cenário de preensão simultânea de vários dedos (como na
execução de acordes no violão), as forças exercidas são diferentes para cada
dedo. Por causa da existência de restrições anatômicas impostas pelas conexões
tendinosas entre os dedos da mão, não há isometria de força e velocidade na
ação simultânea dos dedos – apesar de livros didáticos para violão nem sempre
considerarem tal limitação para o estabelecimento de uma digitação apropriada e
para uma abordagem progressiva da dificuldade na realização de exercícios e
peças musicais.
Costalonga e Miranda (2008) referem-se ao termo “restrições
biomecânicas” em relação a certos “padrões” motores humanos limitadores da
ação de tocar um instrumental musical. Para estes autores, tais restrições limitam
as escolhas dos movimentos com propósito de evitar aqueles que são
impossíveis, tais como as articulações anatômicas irem além de sua extensão de
movimento, ou aqueles que demandem forças fisiologicamente impossíveis ou
46 Também referida como efeito quadriga.
71
muito desconfortáveis.
Burns reportou-se ao termo restrições biomecânicas ao tratar do problema
da digitação no violão, citando como exemplo, os limites de “extensão máxima
[sic] da mão esquerda” sobre a escala do violão (Burns, 2007), referindo-se a tais
restrições como as limitações ou regras inerentes ao contexto da interação
músico-instrumento.
Radicioni e Lombardo (2005) referem-se ao termo restrições biomecânicas
na execução do violão quando elaboraram um conjunto de combinações de
posições de dedos as quais podem ser efetivamente desempenhadas por um
violonista profissional (Radicioni & Lombardo, 2005, p. 33) – a despeito de terem
utilizado somente a relação de um dedo para cada casa, sem considerar a
possibilidade de alongamentos (separações) entre os pares de dedos adjacentes.
Na performance do violão não é incomum em sua digitação, o uso de
alongamentos entre os pares de dedos adjacentes da mão esquerda no
posicionamento sobre a escala do violão. Tal alongamento como procedimento de
digitação viabiliza abarcar também uma relação de duas casas para cada dedo
como alternativa viável de digitação no violão, em especial no uso do par de
dedos indicador e médio por ser de mais fácil realização. No entanto, tais
alongamentos (separação espacial) entre pares de dedos adjacentes, utilizados
na digitação da mão esquerda, são restritores da velocidade e força de preensão
dos dedos (Burns, 2007), especialmente entre os dedos 2 (médio) e 3 (anular) da
mão esquerda.
Considerando as enormes possibilidades motoras da mão humana, ainda
assim, quando se trata de tocar um instrumento complexo como o violão, se faz
necessário ter em conta os vários fatores restritores aqui apontados, para a partir
do conhecimento das reais possibilidades e restrições para tocar o violão, poder
então pensar na otimização da ação performativa, especialmente na digitação
violonística. Ademais, tal conhecimento também pode ser útil na prevenção de
lesões por sobrecarga do sistema motor e possibilitar a economia de tempo e
esforço no treinamento do instrumentista.
72
4.6.1 Músculos extrínsecos da mão e restrições ao movimento dos dedos
Os músculos da mão são classificados em intrínsecos (originados na
própria mão) e extrínsecos (originados no antebraço). Alguns músculos e tendões
extrínsecos da mão cumprem função crucial na ação de tocar instrumentos de
cordas como o violão, pois são melhor dotados de força e capacidades de flexão
e extensão do que os músculos intrínsecos à própria mão. A seguir descrevemos
sua função para os movimentos de flexão e extensão dos dedos da mão,
apontamos algumas restrições anatômicas e fazemos algumas sugestões para
lidar de modo otimizado com as mesmas na performance do violão.
Figura 2: Músculo flexor profundo dos dedos da mão originado no antebraço.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:FDP.png
Flexor Digitorum Profundus
Este músculo extrínseco da mão encontra-se localizado no setor mais
profundo do antebraço, originando-se da ulna e da membrana interóssea. Do
músculo FDP emergem quatro tendões que passam pelo túnel do carpo e se
inserem nas pontas dos dedos indicador, médio, anular e mínimo. Sua função
principal é flexionar esses dedos e, devido à sua inserção após a última
articulação dos dedos, é capaz de dobrar simultaneamente as três articulações
destes dedos. Ao contrário do Flexor Digitorum Superficialis, o músculo FDP
possui um ventre muscular comum para os dedos médio, anular e mínimo,
tipicamente impedindo-nos de fletir individualmente a ponta de um destes dedos
sem que os outros se curvem também. Em contrapartida, o FDP possui um ventre
muscular separado especificamente para o dedo indicador, o que contribui para a
independência deste.
73
Flexor Digitorum Superficialis
O músculo flexor superficial dos dedos (Flexor Digitorum Superficialis –
FDS) deriva do epicôndilo medial (osso do cotovelo) entre os músculos palmar
longo e flexor ulnar do carpo. No antebraço, esse músculo flexor tem quatro
ventres musculares independentes, dos quais surgem quatro tendões. Depois de
atravessarem o punho, passando pelo túnel do carpo, em seguida se espalham
para os dedos indicador, médio, anular e mínimo. A função principal do flexor
superficial dos dedos é dobrar a articulação interfalângica proximal de cada dedo
(exceto do polegar, o qual não possui articulação medial). A independência do
tendão flexor superficial para cada dedo contribui para o movimento
individualizado destes, fornecendo, assim, habilidade à mão para a execução de
tarefas complexas, tais como tocar instrumentos musicais.
Extensor Indicis Proprius
O músculo Extensor Indicis Proprius (EIP) está anexado à expansão
extensora na articulação metacarpofalângica do dedo indicador. Ele nos fornece a
capacidade de endireitar o dedo indicador de forma independente, já que não
possui junção conectando-o a outros tendões extensores.
Extensor Digitorum Communis
O músculo Extensor Digitorum Communis (EDC) provê a habilidade de
estender (endireitar) os dedos indicador, médio, anular e mínimo47. Ele se separa
em quatro tendões individuais e através da fixação de cada tendão, ele estende
principalmente as articulações metacarpofalângicas, mas também contribui para a
extensão das outras articulações dos dedos.
Extensor Digiti Minimi
Em aproximadamente metade das pessoas o dedo mínimo não recebe um
tendão do Extensor Digitorum Communis. No entanto, o Extensor do Dedo
47 Nem todos os indivíduos possuem no dedo mínimo o tendão extensor originado do EDC.
74
Mínimo (EDM) preenche essa lacuna, proporcionando dois tendões para a função
de estender o dedo mínimo em 84% das pessoas48. A ausência do tendão do
EDC para o dedo mínimo em alguns músicos que necessitam das mãos para
tocar seu instrumento pode trazer consequências inadequadas para escolha da
melhor digitação para um trecho de música que exigiria o uso deste dedo.
Especialmente as digitações prescritas em partituras musicais, envolvendo o uso
do dedo mínimo49 da mão esquerda, devem ser revisadas e adequadas às
condições anatômicas da mão de cada instrumentista. Infelizmente a maioria dos
músicos não tem como saber se possui essa falta do tendão no músculo EDC, o
que se torna uma lacuna potencial de problemas na digitação ou de possíveis
lesões por sobrecarga de esforço compensatório.
4.6.2 Independência de movimento entre os dedos da mão
O ensino de músicos instrumentistas e a prática instrumental envolvendo a
habilidade manual pressupõem no indivíduo a capacidade para realizar livremente
os movimentos dos dedos demandados na ação de tocar o instrumento (Leijnse
et al., 1992). No entanto, “na mão existem restrições anatômicas que limitam a
mobilidade dos dedos e por isso, restringem a possibilidade de determinar seus
movimentos voluntariamente” (Leijnse et al., 1992, p. 1253).
A maioria dos movimentos dos dedos realizados por primatas (incluindo
humanos) não são movimentos isolados de um único dedo (Maurer, Singer, &
Schieber, 1995). Os tendões dos dedos das mãos são muitas vezes pensados
como estruturas semelhantes a cordões independentes uns dos outros, porém, na
realidade existem conexões anatômicas entre os mesmos que limitam
consideravelmente os deslocamentos de um dedo em relação a outro (Leijnse et
al., 1992, p. 1253). “Tais interconexões aparecem quase sistematicamente entre
os tendões individuais dos respectivos grupos motores do dedo” (Leijnse et al.,
1992, p. 1253). Como exemplo de tais interconexões, temos no tendão extensor
dos dedos, conexões acoplando os tendões extensores proximais às juntas
48 Informação extraída em http://www.assh.org/handcare/Anatomy/Muscles#Hand
49 Na nomenclatura relativa à digitação no violão, o dedo mínimo da mão esquerda normalmente é
indicado pelo algarismo arábico 4.
75
metacarpofalângicas (Kaplan, 1965; von Schroeder, Botte, & Gellman, 1990).
Outro exemplo de interconexões entre os tendões individuais dos dedos aparece
no caso do músculo Flexor Digitorum Profundus, em que ocorre o efeito quadriga,
o qual leva à interdependência dos tendões dos dedos médio, anular e mínimo
(Fahrer, 1971; Schreuders, 2012; Verdan, 1960). Também no Flexor Digitorum
Superficialis aparecem acoplamentos frequentes dos dedos anular e mínimo
(Austin, Leslie, & Ruby, 1989; Baker, Gaul Jr, Williams, & Graves, 1981). Estes
são exemplos das restrições anatômicas impostas à liberdade para realizar
movimentos independentes dos dedos da mão humana e que têm fortes
implicações para o ato de tocar instrumentos musicais, em especial naqueles de
teclas e de cordas dedilhadas, entre os quais se inclui o violão. Por causa destas
restrições anatômicas entre os dedos acima referidas, temos nelas o principal
motivo para a falta de independência na movimentação individualizada entre os
dedos da mão, especialmente na alternância de movimentos entre dedos
adjacentes.
4.6.3 Restrições dos movimentos entre dedos adjacentes da mão
Um aspecto relevante que diz respeito à complexidade da coordenação
manual na performance do violão é a demanda por independência nos
movimentos que ocorrem entre os dedos adjacentes (contíguos ou vizinhos) da
mão. A maioria dos movimentos dos dedos realizados pelos primatas (incluindo
os seres humanos) não são movimentos isolados de um único dedo (Schieber,
1995). Parncutt e colaboradores (1997) em seus estudos ergonômicos com
pianistas, também haviam observado a necessidade de independência no
movimento entre os dedos.
De acordo com os fundamentos da biomecânica da mão humana, a razão
principal para o movimento involuntário e ausência de independência motora
entre dedos adjacentes é que o músculo Flexor Digitorum Profundus (FDP) –
considerado um músculo extrínseco da mão e uma das principais fontes de força
para a flexão dos dedos – é originado no meio do antebraço e divide-se em duas
partes ou vias: a radial e a ulnar. Por meio dos seus tendões, o FDP age na mão
mesmo o ventre do músculo estando localizado no antebraço. Sua parte radial
76
dirige-se para o dedo indicador, enquanto que a parte ulnar dirige-se para os
dedos médio, anular e mínimo. Consequentemente, estes últimos três dedos
tendem a se moverem juntos, caracterizando o efeito quadriga, enquanto o dedo
indicador pode funcionar independentemente dos outros dedos (Freivalds, 2004).
No ato de tocar o violão, os dedos da mão, em especial aqueles próximos
ao dedo que está pressionando uma corda, tendem a se moverem ou pararem
juntos. Essa “escravização” do movimento dos dedos é característica de ações
manipulativas típicas do ato de tocar a maioria dos instrumentos musicais que se
utilizam das mãos (Baader et al., 2005; Zatsiorsky, Li, & Latash, 2000).
Dentre as restrições ao movimento independente entre os dedos da mão, a
restrição que resulta da conformação do músculo Flexor Digitorum Profundus
(FDP), tem particular relevância para a ação de tocar instrumentos musicais,
especialmente para aqueles que envolvem os dedos da mão. Apesar dos tendões
do músculo Flexor Digitorum Superficialis possibilitarem a flexão de cada dedo
independentemente (Hamill & Knutzen, 2009, p. 169), os tendões que dele se
originam estão demasiadamente interconectados, o que torna os dedos menos
capazes de se moverem independentemente (Schreuders, 2012, p. 1). Por isso, a
principal razão para o movimento involuntário ocorrer na ação alternada entre
dedos adjacentes da mão – almejando o movimento voluntário de apenas um dos
dedos a cada vez – é aquela determinada pelo chamado efeito quadriga
provocado pela origem dos tendões flexores dos dedos ocorrer num mesmo
músculo, o Flexor Digitorum Profundus (Schreuders, 2012). O FDP – uma das
principais fontes de força para a flexão dos dedos – está localizado no meio do
antebraço e divide-se em duas partes: a radial e a ulnar. A parte radial se dirige
para o dedo indicador, enquanto a parte ulnar se dirige para os dedos médio,
anular e mínimo (Freivalds, 2004), os quais tendem a se moverem juntos, ao
passo que o dedo indicador pode funcionar independentemente deles.
(Costalonga, 2009, p. 211).
Restrições biomecânicas e otimização da performance do violão
Na performance do violão, bem como da maioria dos instrumentos
musicais que envolvem a ação dos dedos das mãos, é devido a restrições
77
biomecânicas que algumas situações da execução musical se configuram com
maior dificuldade motora enquanto que outras se apresentam mais fáceis, de
acordo com a escolha de dedos feita nos dedilhados utilizados.
Além dos fatores envolvidos na independência de movimento entre os
dedos da mão, na performance do violão, há outros fatores que ainda interferem
no desempenho motor dos dedos, tais como a velocidade exigida nos
movimentos, a força e energia por eles demandadas, além das especificidades de
cada tarefa a ser realizada (Grozman & Norman, 2013).
A seguir descrevemos diferentes restrições biomecânicas para a execução
do violão, as quais têm efeito restritivo sobre a velocidade e precisão dos
movimentos dos dedos de ambas as mãos. A lista de fatores descritos a seguir
está baseada parcialmente no estudo de Grozman & Norman (2013) sobre a
criação de um algoritmo de otimização da digitação no violão para o qual os
autores adaptaram os princípios de digitação do piano descritos num estudo de
Parncutt e colaboradores (Parncutt et al., 1997).pliometria
A lista a seguir incorpora diversos fatores biomecânicos que influenciam a
relação velocidade-precisão na performance do violão e acrescenta algumas
sugestões para sobrepujar ou contornar as restrições biomecânicas na ação de
tocar o violão.
1 - Alongamentos e contrações dos dedos da mão esquerda. Estes devem
ser evitados posicionando-se um dedo para cada casa dentro do espaço de
quatro trastes da escala do violão.
2 - Mudanças de posição ou deslocamentos da mão esquerda sobre a
escala do violão exigem um rápido reposicionamento da mesma, o que pode
atrasar a velocidade do movimento manual e dar margem a erros de movimento
dos dedos, além de provocar silêncio na parte final do som.
3 - Uso consecutivo de um mesmo dedo para toques sucessivos. Após
usar um dedo para um movimento de toque sobre uma corda ele necessita de um
tempo de “recuperação” para se reposicionar e voltar à posição inicial de
prontidão para realizar uma nova ação. Usar um mesmo dedo consecutivamente
atrasa a velocidade de realização do próximo movimento deste dedo. Para evitar
atrasos na velocidade do movimento deve-se, sempre que possível, usar a
78
alternância entre diferentes dedos, especialmente entre aqueles não adjacentes.
4 - Uso consecutivo de um mesmo dedo em duas diferentes cordas. Para
evitar essa dificuldade é melhor usar outro dedo para tocar a outra corda.
5 - Alternância de toques entre dedos adjacentes são mais difíceis do que
entre dedos não adjacentes. Esta menor independência entre dedos adjacentes,
especialmente na alternância de toques entre os dedos médio, anular e mínimo, é
ocasionada pelas interconexões entre os tendões do músculo flexor digitorum
profundus (Fahrer, 1971; Verdan, 1960). As alternâncias de toques que ocorrem
entre o indicador e médio ou o polegar e indicador são menos difíceis, pois, estes
dedos se encontram anatomicamente servidos por diferentes tendões. A
alternância de toques entre os dedos não adjacentes e servidos por grupos
musculares e tendinosos independentes, como no caso do par polegar-médio, é a
mais fácil e rápida de realizar.
As restrições anatômicas da mão, geralmente, ocorrem devido à presença
de fortes estruturas tendinosas ou tipo fáscia50, que não podem ser
significativamente esticadas ou alongadas por meio de exercício (Leijnse et
al.,1992); por isso, são mais ou menos funcionalmente limitantes em relação aos
movimentos dos dedos das mãos.
Se por um lado, uma das premissas fundamentais no ensino de um
instrumento musical é que o exercício aumenta a independência dos dedos, por
outro, “este axioma não se aplica completamente às mãos, nas quais as
interconexões anatômicas restritivas entre os tendões estão presentes. Surge
então, a questão de como essas mãos se comportam quando exercitadas”
(Leijnse et al., 1992 p 1253).
Apesar da questão do efeito que pode ser esperado da prática de
exercícios ainda estar insuficientemente investigada, suas respostas poderiam ser
úteis na compreensão de um conjunto de soluções factíveis que poderiam definir
a noção de exercitabilidade da mão do músico em sua ação de tocar o
instrumento (Leijnse et al., 1992). Uma noção clara das condições de
50 Lâmina de tecido fibroso ou “espécie de membrana (formada, sobretudo, por colágeno) que fica
logo abaixo da pele e abraça músculos, grupos de músculos, ossos, nervos, vasos sanguíneos e órgãos” (https://boaforma.abril.com.br/especiais/fascia-o-que-e-e-por-que-devemos-alonga-la-sempre/).
79
exequibilidade dos movimentos e em especial da exercitabilidade da mão
possibilitaria também entender como os movimentos dos dedos estão limitados
por restrições biomecânicas, as quais por vezes não podem satisfazer as
exigências do pedagogo musical ou da técnica instrumental do músico.
Na ação de tocar o violão, os atributos creditados com maior impacto sobre
seu desempenho são a velocidade, força, postura e precisão (Costalonga, 2009).
Em nosso estudo sobre o efeito do treinamento com restrições biomecânicas
impostas à habilidade de conciliar velocidade-precisão tocando sequências de
sons ao violão, isolamos quatro tipos de restrições, cada qual considerada uma
variável interferindo sobre a relação velocidade-precisão. Por isso, escolhemos
fatores biomecânicos restritivos considerados peculiares à execução do violão
(especificidade da tarefa), os quais foram presumidos com potencial de produzir
maior impacto no incremento da habilidade de conciliar velocidade com precisão:
1) aumento súbito de velocidade no toque de dedos ao realizar sequências de
sons, 2) aumento súbito da força aplicada no toque da mão direita para aumentar
o volume dos sons a serem tocados (Furuya et al., 2012), 3) alternância de
movimentos (toques) entre dedos adjacentes na mão esquerda, e 4) exercícios
envolvendo movimentos bimanuais assimétricos e assíncronos. Todas as tarefas
do treinamento e seus procedimentos estão descritos no capítulo 5 - Método.
80
4.7 Princípios biomecânicos da performance do violão
Para entender como um músico produz o som no violão, isto pode ser
explicado através da descrição da ação de ambas as mãos e de como se realiza
a sustentação do instrumento junto ao corpo do instrumentista (Norton, 2008;
Taylor, 1978).
A manipulação de um instrumento musical, nomeadamente a articulação
de seu som, é um princípio evidente da importância da ação física (motora) na
tarefa da expressão das ideias musicais (Williamon, 2004). Assim, podemos
considerar que as informações sobre as manipulações do som realizadas pelo
instrumentista estão presentes no som extraído do instrumento (Scherrer, 2013, p.
xxviii). De acordo com Scherrer (2013), cada som produzido no violão reflete a
manipulação realizada pelo seu executante.
“No violão, um intérprete pode transmitir qualidades muito distintas ao som, mudando a maneira como ele manipula o instrumento. Na realidade, violonistas podem inferir como o instrumento foi tocado ouvindo uma gravação, com base no conhecimento das técnicas de tocar, pois as informações sobre as manipulações do som realizadas pelo instrumentista estão presentes no som extraído do instrumento” (Scherrer, 2013, p. xxviii).
Scherrer (2013) exemplifica tal reflexo da manipulação do som (em seu
aspecto tímbrico) realizada pelo violonista, conforme o seguinte excerto extraído
de sua tese doutoral:
“...dependendo da posição do dedo de ataque ao longo da corda, o violonista pode produzir diferenças claramente audíveis no timbre das notas, de tal modo que para qualquer ouvinte, as notas tangidas mais perto do cavalete lhe parecerão mais “brilhantes” ou mais “nítidas" do que as que são tocadas ao meio do comprimento da corda, por sobre a boca do instrumento. Além disso, os violonistas que estão cientes desta conexão entre a posição de ataque e o timbre do som podem determinar, grosso modo, apenas de ouvir uma gravação, se a corda foi atacada
perto ou longe do cavalete” (Scherrer, 2013, p. 1).
Conforme referido por diversos autores, o momento do ataque da nota
musical no violão é a sua parte mais importante (Norton, 2008; Perez-Carrillo et
al., 2015; Radicioni & Lombardo, 2005; Scherrer, 2013; Schneider, 1985; Taylor,
1978). Na produção do som violonístico – pelo menos como ele é produzido em
sua maneira mais usual na performance do violão erudito – o momento do ataque
da nota musical é um instante decisivo no qual o instrumentista define a qualidade
do som. É no instante do começo do som que são definidas as propriedades
81
(parâmetros) do som, como intensidade (volume do som), timbre e altura
(frequência da nota musical). Após esse instante, o violonista não tem muito como
interferir no som já produzido, pois a propriedade sonora restante – a duração – é
determinada mais pelo tempo de reverberação do instrumento (ou pela
persistência da ação de preensão do dedo da mão esquerda sobre a corda) do
que pelo dedo da mão direita que realizou o ataque do som. Por causa de sua
importância inerente para a produção do som no violão, o ataque do som
necessita ser descrito em pormenor, o que faremos a seguir.
4.7.1 Importância do ataque do som na performance do violão
“Por causa do violão não ser capaz de produzir um som em estado
constante ou sustentado uniformemente, como em instrumentos de sopro ou de
cordas friccionadas, a parte mais importante da nota musical é o seu ataque”
(Schneider, 1985, p. 11). Conforme referido, esta condição implica que no
momento do ataque do som produzido no violão, o ouvinte recebe a maior parte
da informação sobre a nota musical tocada, a qual compreende altura,
intensidade, localização e timbre, – uma vez que o parâmetro da duração é
determinado essencialmente pelo tempo de reverberação do instrumento.
Ademais, o ataque do som no violão é também o momento mais importante para
o executante, pois neste momento ele possui o poder de definir as características
do som que produz.
Inicialmente é necessário esclarecer que o ataque do som produzido no
violão, na maior parte das vezes51, é realizado pela ação da mão direita, mais
especificamente pela ponta da face interna das unhas dos dedos desta mão. A
articulação do ataque do som violonístico ocorre exatamente no momento em que
a ponta da unha do dedo da mão direita, após pressionar perpendicularmente a
corda para fora do seu eixo longitudinal de repouso, abandona-a com um
movimento tangencial para deixá-la vibrar livremente.
O som do violão possui uma característica de declínio (decay) muito
acentuada. Esta característica pode ser melhor observada através da análise do
51 Na produção do som no violão, excetuam-se os ataques de sons ligados, os quais são articula-
dos pela mão esquerda.
82
instante do começo do som com auxílio de recurso computacional52 (Perez-
Carrillo et al., 2015, p. 2). Através da análise do som gravado do violão e usando
recursos de um editor de áudio digital pode-se observar que o violão tem um
ataque do som muito proeminente, impulsivo e um declínio rápido e acentuado da
sustentação da vibração sonora conforme ilustrado na Figura 3. Por causa destas
características, o começo do som no violão é mais facilmente detectado por
algoritmo computacional especializado, do que, por exemplo, nos instrumentos de
cordas tocados com arco (Reboursière et al., 2012).
Figura 3: Representação em formato de onda do som do violão.
Os picos da onda sonora representam a intensidade mais forte do som no instante do ataque de cada um dos sons tocados. Após cada instante de ataque há um declínio súbito da intensidade sonora.
Ademais, no instante de ataque do som tocado no violão, observa-se
também um aspecto de natureza biomecânica muito peculiar na performance de
instrumentos de cordas dedilhadas. Este aspecto refere-se à demanda
imprescindível de uma ação bimanual para poder produzir o som no instrumento.
Isto significa que no instante do ataque do som, o violonista toca a corda com
ambas as mãos; ou seja, no instante do ataque do som a propriedade de altura53
da nota musical é definida através da ação da mão esquerda, ao mesmo tempo
em que o volume e timbre do som são definidos pela ação da mão direita.
Na presente investigação o momento do ataque do som cumpriu um papel
crucial para informar o desempenho do violonista na execução das sequências de
sons contendo restrições biomecânicas. O efeito destas restrições sobre a
velocidade e a precisão temporal do ataque do som foi mensurado utilizando a
marcação de um metrônomo. Os recursos e procedimentos utilizados para a
52 Um exemplo desse tipo de recurso é o algoritmo de detecção do começo do som, OnsetDS
Onset Detector produzido por Dan Stowell (http://onsetsds.sourceforge.net/). 53
A altura do som refere-se à frequência de vibração do objeto que produz a nota musical. Por exemplo: a nota LÁ4 vibra numa frequência convencionada de 440 Hertz por segundo.
83
verificação do momento de ataque dos sons tocados pelos violonistas
participantes de nossa investigação estão descritos nos itens 5.3 e 5.5 do capítulo
referente ao método utilizado nesta pesquisa.
Para fins de análise da ação do violonista na produção do ataque do som
no violão, o momento exato do começo do som pode ser verificado de diversas
maneiras. A verificação mais elementar e imediata é realizada através do próprio
sentido da audição humana, no qual os indivíduos se apoiam para discernir as
características dos diferentes sons do ambiente circundante. Músicos
instrumentistas, que dedicam anos à sua educação aural e treinamento perceptivo
para aprimorar seu discernimento auditivo – o qual inclui percepção e expressão
do ataque dos sons – conseguem analisar as características dos sons com boa
desenvoltura. No entanto, desde algum tempo, as invenções de diferentes
maneiras de registrar o som em meios mecânicos, analógicos ou digitais,
permitem um auxilio poderoso na recuperação da informação sonora, a qual
consequentemente possibilita a verificação e análise do momento do ataque do
som. Atualmente, com o aparecimento de sofisticados recursos computacionais, a
verificação do momento de ataque do som é possível, ou através do registro e
representação visual da vibração acústica em forma de onda de áudio
apresentada num écran de computador (rodando um editor de áudio digital), ou
através de imagens sequenciais (vídeo) computadorizadas do movimento de
deslocamento da corda do instrumento musical e dos movimentos dos dedos da
mão. Para a detecção do instante de começo do som (momento de ataque do
som), em nosso estudo foram utilizados estes dois últimos recursos, para os quais
os dados foram registrados de modo sincronizado entre si usando um protocolo
de código de tempo (SMPTE), conforme descritos nos itens 5.5.3 e 5.7.2.
4.7.2 Ação da mão direita e o “ataque” do som no violão
Neste item descrevemos os princípios mecânicos que embasam os
movimentos do polegar e dedos indicador, médio e anular da mão direita para
produzir o som no violão.
Numa partitura musical para violão, o dedilhado que deve ser realizado
pelos dedos da mão direita – entendido como a sequência de “ataques” dos
84
dedos sobre as cordas – é usualmente representado pela primeira letra do nome
de cada dedo desta mão (p, i, m, a)54 conforme explicitado adiante na Tabela 1.
O toque dos dedos da mão direita sobre as cordas é o principal
responsável por produzir o som no violão. Sobre a importância da ação da mão
direita na performance do violão, Santi (2010) assim se refere:
“Se pode dizer que a mão direita é mais importante que a esquerda não só porque tem a função de produzir a dinâmica, os timbres, os acentos e a expressão, senão porque tem a seu encargo, fundamentalmente, o início do som” (Santi, 2010, p. 48).
No violão, o movimento de tanger o dedo da mão direita sobre a corda é
quem define o instante exato no qual o começo do som acontece. (Heijink &
Meulenbroek, 2002; Scherrer, 2013). Tal toque é realizado com a ponta do dedo
(ou mais precisamente, com a ponta da sua unha), o qual faz contato com a corda
através de um movimento tangencial55 sobre a mesma.
Para produzir o som no violão, o dedo da mão direita literalmente executa
um movimento de “cruzar” rapidamente por sobre a corda, fazendo contato com a
mesma e deslocando-a de seu eixo longitudinal em posição estável ou de sua
posição de repouso. Em seguida, a ponta do dedo afasta-se da corda o mais
rapidamente possível para que a mesma possa começar a produzir sua vibração.
Na ação da mão direita para tocar o violão, após o instante inicial do ataque do
som, o dedo deve abandonar o contato com a corda e afastar-se da mesma para
deixá-la vibrar livremente até o momento em que outro dedo (ou o mesmo dedo)
torne a tocá-la.
“Preparação” do movimento de ataque pelos dedos da mão direita
Um problema complexo na produção do som do violão é o momento de
silêncio que antecede o ataque de cada som, o qual está relacionado à
biomecânica da mão direita (Barros, 2012, p. 5). Tal fenômeno na ação de tocar o
54 De acordo com o modo mais usual de tocar o violão, o dedo mínimo da mão direita geralmente
não é utilizado para tanger as cordas. 55
O uso da palavra “tanger” para denominar a ação de atacar o som nos instrumentos musicais de cordas “tangidas” (plucked, no inglês), tem sua origem etimológica provavelmente derivada da natureza que caracteriza esse tipo de movimento para produzir o som nesta família de instrumentos musicais.
85
violão, também referido na literatura como preparação (Barros, 2012; Romero,
1982), significa que imediatamente antes de dar início ao ataque de um som,
observa-se a ocorrência de um brevíssimo instante de silêncio da corda sobre a
qual o dedo da mão direita irá produzir o som. Este silêncio ocorre porque no
momento imediato que antecede o começo do som no violão – enquanto há
pressão da ponta do dedo da mão direita sobre a corda – ainda não há qualquer
vibração enquanto perdurar tal pressão (abafamento), pois a ponta do dedo ainda
não “liberou-se” da corda para que ela possa vibrar livremente.
Segundo Barros (2012),
“a preparação pode ser descrita como a colocação antecipada, sem pronunciadas tensões flexoras, de um dedo da mão direita em determinada corda; é uma fase antecedente e claramente separada da flexão digital da qual resulta a produção sonora” (Barros, 2012, p. 1).
Tennant (1995) se refere ao procedimento da preparação56 realizado pela
mão direita, afirmando que a mesma provoca um momento de silêncio antes do
ataque do som:
“A preparação... também ajuda a interromper brevemente a vibração da corda entre as notas – apenas o suficiente para controlar o som. Bater o dedo sobre uma corda vibrando, causa um som de tapa [slapping], e muito frequentemente a unha sozinha fazendo o contato descuidado com as cordas cria um efeito de estalido. Pela preparação, nós controlamos onde pousamos [os dedos] e minimizamos quaisquer ruídos desagradáveis. Preparando os dedos também é a única maneira eficaz de controlar a articulação. Aqueles que afirmam nunca preparar os dedos e, de fato, ensinam seus alunos a não preparar, sustentam que preparar um dedo interrompe o som, o que é indesejável. Isto, obviamente, é verdade quando a preparação é exagerada, como fazemos quando estamos começando a aprender como ela é feita. Mas a preparação torna-se muito mais avançada que isto. Qualquer um que faz um bom som, que pode controlar seu som e articulação e tem algum tipo de consciência desenvolvida sobre o que seus dedos estão fazendo, está preparando-os até certo ponto”(Tennant, 1995, p. 35).
Carlevaro, no entanto, dá a entender que a preparação realizada no toque
dos dedos da mão direita deve ser evitada o mais que possível:
“A duração da fricção provocada pelo dedo no seu ataque à corda deve ser diminuída ao mínimo possível e isso se poderá conseguir com a minimização do tempo do ataque. Se a fricção, com uma ação lenta do dedo, for, por exemplo, de 1/3 de segundo, seguramente ouviremos o ruído como consequência do roçar que durou igualmente 1/3 de segundo. Se conseguirmos, por exemplo, reduzir este 1/3 a 1/10 de segundo, o efeito de ruído, embora exista, na prática não provocará uma sensação auditiva devido à sua duração mínima. Por esta razão devemos, então,
56 Planting no inglês, que pode ser traduzido como “afixar” ou “fincar” firmemente alguma coisa.
86
conseguir uma velocidade de ataque constante, tanto para o som piano [suave] como para o som forte” (Carlevaro, 1979, p. 63-64).
Em nosso experimento com violonistas novatos levado a cabo na presente
investigação, observamos que a ocorrência deste tipo de silêncio que antecede o
ataque do som violonístico pode ser mais claramente observada quando uma
única nota musical é repetida por várias vezes pelos dedos da mão direita – ou
seja, quando a mão esquerda não tenha que realizar mudança de dedo, corda ou
casa, tal como foi exigido no Exercício nº 1 (Figura 7).
Através de nossa observação pudemos inferir que pelo fato do dedo da
mão direita fazer contato sobre a corda antes do instante do começo do som que
ele irá atacar57, este dedo acaba abafando qualquer possível vibração prévia da
corda. Esta condição da ação da mão direita não deve ser confundida com o
tempo de antecipação demandado pela mão esquerda para “preparar” a nota
musical a ser tocada. Geralmente tal tempo de “preparação” na mão esquerda é
ainda maior do que a duração do silêncio provocado pelo contato antecipado do
dedo da mão direita para atacar a corda.
Através de uma comparação preliminar do desempenho de violonistas de
diferentes níveis observados nos pré-testes de nosso estudo, observamos que o
instante de silêncio que antecede o ataque do som tende a aumentar sua duração
em violonistas menos experientes ou cuja técnica da mão direita ainda é
incipiente. Sua ocorrência geralmente se traduz numa articulação mais staccato58,
(menos legato), na execução de sequências de sons, mesmo que não seja este o
tipo de articulação exigido. A observação deste breve silêncio que antecede o
ataque do som produzido pela mão direita – o qual ocorre também em violonistas
experientes, mesmo que em menor intensidade – pode ser facilmente viabilizada
através do auxílio de um editor de áudio digital em visualização maximizada da
forma de onda do som, conforme demonstrado na Figura 4. Na verdade, a
ocorrência deste fenômeno se deve pelo fato da vibração da nota anterior não
persistir até o momento do ataque de uma nova nota. Isto ocorre porque o dedo
que atacaria a próxima nota musical ainda não “liberou” a vibração da corda para
57 Scott Tennant (1995) refere-se a este fato como preparação do toque da mão direita.
58 Características de articulação do som musical que correspondem a maiores intervalos de
silencio entre os sons sequenciais quando em staccato e menores intervalos quando em legato.
87
que a próxima nota soe.
Figura 4: Silêncios entre ataques de sons repetidos devido à preparação dos dedos.
Neste exemplo aparece ilustrado o efeito da preparação antecipada dos dedos da mão direita ao pousarem sobre a corda quando realizam uma sequência de toques na repetição de uma nota musical. Antes do momento de ataque de cada som (pico de maior intensidade da onda sonora) pode-se observar um breve instante de silêncio – ou pelo menos uma diminuição brusca e significativa da intensidade sonora – devido ao contato do dedo da mão direita antes que o ataque do som fosse efetivamente realizado. As setas interligadas indicam o instante de início e final da duração de cada silêncio que antecede o ataque de cada som.
Assim, somente após a ponta do dedo da mão direita “abandonar”
tangencialmente a corda e se afastar da mesma, é que se inicia sua vibração (o
próprio começo do som), iniciando-se somente neste instante o período de
duração da nota musical. Na Figura 4 é apresentado um exemplo de silêncios
resultantes da “preparação” dos dedos da mão direita no ataque de uma
sequência de sons realizada por um violonista novato.
Direção do movimento dos dedos da mão direita no ataque dos sons
A direção do movimento da ponta dos dedos da mão direita é outra
ocorrência que apresenta uma peculiaridade motora que convém ser detalhada,
devido sua singularidade na biomecânica da produção do som violonístico.
Quando os dedos indicador, médio e anular da mão direita atacam um som no
violão, o movimento da falange distal segue no sentido das cordas agudas para
as graves, enquanto que a direção do toque do polegar se dá no sentido das
cordas graves para as agudas. Após o toque o movimento segue para longe das
cordas (para fora). Esta oposicionalidade na direção do movimento do polegar e
os outros dedos da mão humana segue um comportamento ancestral também
encontrado em alguns primatas59 com membros superiores dotados de mãos
(Freivalds, 2004), o que pode indicar a existência de um comportamento motor
59 O chimpanzé e o macaco-prego são exemplos de primatas dotados de mãos com boa destreza.
88
bastante natural para o ser humano.
Figura 5: Direção do movimento dos dedos da mão direita ao atacar as cordas no violão.
Numa condição real – pelo menos no modo mais usual de tocar o violão – o movimento do dedo da mão direita é simultaneamente também realizado afastando-se para longe da corda (ou para fora) para evitar “roçar” não intencionalmente em outra corda.
4.7.3 Ação da mão esquerda
Aqui descrevemos os princípios que orientam os movimentos da mão
esquerda e sua mecânica na digitação direcionada para a produção do som
violonístico. Segundo Winning e Williams (Wininger & Williams, 2014), a
biomecânica da mão esquerda de um violonista é bastante complexa. De acordo
com Heijink & Meulenbroek (2002), a complexidade dos movimentos dos dedos
da mão esquerda na execução do violão é determinada por três fatores gerais: 1)
o posicionamento da mão no braço do violão (onde se presume que posições no
extremo mais agudo do braço do violão sejam mais complexas); 2) a distância
requerida entre os dedos (onde se pressupõe que maiores distâncias entre os
dedos da mão esquerda sejam mais complexas); 3) o reposicionamento da mão
(deslocamento) dentro de uma sequência de notas (onde se supõe que quanto
mais haja reposicionamentos da mão, maior será a complexidade da execução
violonística) (Heijink & Meulenbroek, 2002, p. 341).
Na ação da mão esquerda para tocar o violão, o tipo de movimentação
predominante dos dedos indicador, médio, anular e mínimo é de preensão
sustentada (continuada) sobre as cordas e contra a madeira da escala, onde os
dedos ficam posicionados entre os trastes60.
60 Na nomenclatura da digitação violonistica os dedos indicador, médio, anular e mínimo da mão
esquerda são indicados respectivamente pelos números arábicos 1, 2, 3, 4.
89
O polegar da mão esquerda fica posicionado no lado oposto àquele em que
se situam as cordas e trastes do violão, isto é, situa-se contra a madeira da face
posterior da escala do violão. Desse modo, salvo raras situações, o polegar não
tem contato direto com as cordas durante a ação de tocar o violão. Para que a
ação de preensão das cordas ocorra, o polegar da mão esquerda deve exercer
pressão no sentido contrário ao movimento dos outros dedos da mão e sua ação
pode ser entendida como uma “contra força” a estes dedos, a qual intensifica seu
poder de preensão contra a madeira do braço do violão quando algum outro dedo
está pressionando uma corda e diminui quando não há ação de preensão de
qualquer outro dedo desta mão.
Em sua ação de preensão das cordas, “normalmente a mão esquerda
abrange um intervalo de quatro trastes (um dedo por traste) e pode estender-se
até seis trastes, se necessário” (Schneider, 1985, p. 105). Em tal ação de
preensão, implicada na digitação da mão esquerda, deve-se ter em mente que
maiores distâncias entre as pontas dos dedos, além de demandarem maior
esforço e elasticidade muscular também implicam maior demora em preparar o
posicionamento dos dedos ou para recuperar a posição normal da mão
(reposicionamento).
4.7.4 A digitação no violão
A escolha da digitação apropriada na performance de instrumentos
musicais que se utilizam da ação de ambas as mãos é determinada por muitos
fatores, o que inclui análise filológica (relativa ao fraseado musical), restrições
físicas devidas às características acústicas do instrumento para a produção do
seu som, restrições anatômicas dos movimentos do segmento braço-mão-dedos,
sincronismo e coordenação bimanual, além de restrições biomecânicas e
ergonômicas advindas da interação peculiar músico-instrumento (Radicioni,
Anselma, & Lombardo, 2004). Apesar da digitação no violão ser um assunto
bastante complexo e envolver uma enorme quantidade de fatores, não pertence
ao escopo deste estudo dar conta da amplitude deste assunto. Embora o objetivo
central de nosso estudo esteja direcionado ao incremento da habilidade em
conciliar velocidade e precisão nos movimentos demandados na ação violonística,
90
dedicamos estas breves considerações sobre digitação por causa de sua
influência na velocidade e precisão da ação de tocar o violão.
Dentre as várias maneiras possíveis de digitar uma peça musical para
violão, a escolha da melhor alternativa dentre elas deverá também levar em conta
a velocidade de execução da peça. Segundo Santi,
... “em andamentos rápidos não se digita do mesmo modo que em andamentos lentos. Quando se trata de uma passagem cômoda, pode-se dar a alguns luxos como cuidar [melhor] do timbre, conduzir uma melodia numa mesma corda e produzir deslocamentos pesados e lentos da mão. Em contrapartida, quando o andamento é rápido, faz-se necessário pensar em digitações cômodas, leves e fáceis para que as notas fluam sem travamentos” (Santi, 2010, p. 82).
Para Leijnse e colaboradores (1993), restrições biomecânicas limitam a
velocidade dos movimentos manuais na ação de tocar um instrumento musical, o
que ocorre sobremaneira na performance de instrumentos que demandam
coordenação bimanual usando todos os dedos. Quando se diz que certas opções
de digitação no violão influenciam a precisão rítmica e a fluência da execução da
obra musical (Santi, 2010), na verdade a causa desta condição é a presença de
maior ou menor severidade das restrições biomecânicas subjacentes aos
movimentos dos dedos/mão/braço. Assim, por causa da presença de diferentes
graus restritivos ao movimento dos dedos, impostos por elementos anatômicos,
fisiológicos e ergonômicos, é que algumas alternativas de digitação violonística
possibilitam aumentar a velocidade da execução da obra musical e sua precisão
rítmica, enquanto outras digitações podem diminuí-la. Considerando que o
fundamento principal de nosso estudo assenta na relação inversamente
proporcional existente entre velocidade e precisão, por esse motivo, ao
abordarmos aspectos da digitação violonística priorizamos sua vinculação com a
velocidade e precisão temporal dos movimentos demandados na ação bimanual
de tocar o violão.
No experimento levado a cabo na presente investigação, testamos o efeito
de diferentes tipos de restrições biomecânicas sobre a velocidade de toque dos
dedos em sequências de sons tocados ao violão. Uma das metas do experimento
foi detectar qual tipo de restrição biomecânica causaria maior defasagem
temporal na velocidade de ataque dos sons realizados no violão. Para aumentar
ou diminuir a severidade (grau de dificuldade) das restrições biomecânicas no
91
treinamento de violonistas, em nosso estudo escolhemos tarefas envolvendo
diferentes digitações para a mão esquerda, tais como ação alternada de toques
apenas entre dedos adjacentes, toques alternados somente entre dedos não-
adjacentes e toques de dedos envolvendo a fixação de um dedo eixo ou pivô61
numa casa da escala do violão (Koonce, 1997) alternado com toques de seus
dedos adjacentes (5.4 Tarefas: exercícios). Para testar o efeito de restrições
biomecânicas na mão direita, utilizamos em nosso estudo dois elementos de
dificuldade: 1) o aumento súbito de força nos toques dos dedos indicador e médio
para aumentar a intensidade do som e 2) o aumento súbito de velocidade no
toque dos dedos para atacar os sons com alternância entre indicador e médio. Em
suma, para testar o efeito de restrições biomecânicas sobre a velocidade e
precisão do ataque dos sons no violão, partimos do pressuposto de que a escolha
da digitação influencia a velocidade do movimento de toque dos dedos, bem
como sua precisão rítmica/temporal e a fluência na execução da peça musical.
Segundo Alipio (2014), há no senso comum da maioria dos violonistas o
argumento predominante de que a digitação é um procedimento pessoal e,
portanto, irredutível à sistematização ou teorização. No entanto, para escolher
“boas” digitações, consideramos importante conhecer os fundamentos
biomecânicos subjacentes às condições de exequibilidade dos movimentos
manuais do violonista, bem como das condições de exercitabilidade da mão
(Leijnse et al., 1993) para desenvolver a habilidade de destreza manual
demandada no violão. Sem estes fundamentos teóricos, a escolha da melhor
digitação violonística estaria apoiada no terreno das idiossincrasias de cada
intérprete e não na conjunção de parâmetros da expressão musical com o de
conforto na ação de tocar o instrumento. Considerando a digitação violonista sob
tal perspectiva é justificável tanto a necessidade do conhecimento da estrutura da
obra musical como das condições biomecânicas subjacentes à ação física de
tocar o violão para alcançar o fim último da expressão da obra musical.
Digitação da mão esquerda no violão
61 Também é referido como dedo eixo por Carlevaro (1979, p. 157), Barceló (1995, p. 27) e Alípio
(2014, p. 54).
92
No violão, a digitação da mão esquerda implica na ação realizada pelo
violonista para modificar o comprimento do segmento da corda que está em
vibração e assim determinar a altura (frequência) do som. O local que o dedo do
violonista pressiona a corda (entre dois trastes) contra a madeira da escala do
violão é chamado de casa ou local de digitação da mão esquerda.
Numa partitura musical contendo as informações de digitação, os dedos da
mão esquerda aparecem indicados pelos números arábicos 1, 2, 3, 4, conforme
demonstrado na Tabela 1.
DIGITAÇÃO NO VIOLÃO
MÃO DIREITA MÃO ESQUERDA
p = polegar 0 = corda solta
i = indicador 1 = indicador
m = médio 2 = médio
a = anular 3 = anular
c = mínimo 4 = mínimo
Tabela 1: Nomenclatura da digitação no violão.
A ação de tocar o violão apresenta uma singularidade em que diferentes
locais de digitação geralmente podem ser usados pela mão esquerda para
produzir um mesmo som. Salvo algumas exceções, como regra geral de digitação
da mão esquerda, há no violão a possibilidade de cada nota musical poder ser
tocada em até quatro diferentes locais de digitação, e teoricamente cada nota
musical pode ser tocada por qualquer um dos quatro dedos da mão esquerda
(excetuando-se o polegar). Consequentemente, para uma partitura contendo n
notas podem existir um máximo de 16 n combinações consideradas a partir dos
elementos corda-casa-dedo. Apesar dessas probabilidades de digitação no violão
um músico profissional geralmente só considerará algumas dessas
possibilidades. Embora a digitação apropriada possa ser óbvia e intuitiva para o
violonista experiente, os violonistas iniciantes muitas vezes precisam de
orientação externa porque as indicações de digitação nem sempre estão inclusas
nas partituras (Gilardino, 1975).
93
Do ponto de vista biomecânico uma boa digitação violonística demandada
pela mão esquerda deveria considerar os seguintes princípios:
1) Adequação da posição da mão esquerda sobre a escala do violão, a
qual pode ter uma apresentação longitudinal, transversal ou intermediária
(mista) (Carlevaro, 1979). Tais apresentações da mão esquerda são
determinadas pela quantidade de notas nas casas da escala do violão e
pela disposição e uso dos dedos nas diferentes cordas.
2) Atenção à economia de esforço, que pode ser traduzida pela
máxima: obter o melhor resultado possível com a aplicação do menor
esforço possível.
3) Otimização dos movimentos do segmento braço-mão-dedos na
preensão das notas musicais tocadas sobre a escala do violão,
especialmente na preparação e previsão da disponibilidade dos dedos para
as próximas notas a serem tocadas.
Digitação da mão direita no violão
Na produção dos sons do violão usualmente levada a cabo pela mão
direita, deve-se considerar alguns elementos de influência direta sobre a
velocidade de ataque dos sons como a alternância da ação dos dedos e o
cruzamento dos dedos na mudança de corda.
O uso da ação alternada entre os dedos da mão direita melhora a
velocidade dos seus toques para produzir sons consecutivos. Em contrapartida, a
repetição de toque com um mesmo dedo diminui a velocidade do ataque de sons
consecutivos, o que deve ser evitado.
Na mudança de corda reside outro elemento restritor da velocidade quando
em toques alternados dos dedos da mão direita ocorrer a inversão da posição
natural dos dedos. Tal situação é referida como cruzamento, no qual a posição
natural dos dedos se inverte, como no exemplo em que o indicador se situa numa
corda mais aguda do que aquela em que se situa o médio ou anular. Assim, em
sequências de sons consecutivos que envolvem mudança de corda, é preferível
evitar o cruzamento dos dedos indicador e médio, pois tal situação é
antiergonômica e diminui a velocidade dos movimentos dos dedos para atacar os
94
sons. Para evitar o cruzamento é recomendável o uso de dedilhados com uso de
três dedos da mão direita, como por exemplo, [p, m, i] ou [a, m, i].
Outras situações de digitação que interferem sobre a velocidade dos
toques dos dedos também devem ser consideradas. É o caso de quando houver
demanda pela execução de sons simultâneos como em acordes repetidos, para
os quais o ataque dos mesmos deve ser produzido por movimento de flexão
simultânea dos dedos da mão direita para atacar as cordas simultaneamente. No
caso em que o mesmo acorde deve ser repetido rapidamente, esta condição
provoca grande dificuldade em manter a velocidade, pois ocorre repetição
consecutiva do uso do mesmo dedo da mão direita. Em tal situação de repetição
do acorde em alta velocidade, é preferível o uso do movimento de rasgueado62,
especialmente aquele realizado com o dedo indicador da mão direita.
Pelo fato da mão direita ser a principal responsável pela produção dos sons
no violão, o violonista deve estar ciente da importância da otimização e
planejamento da digitação (dedilhado) desta mão e de sua vinculação com a
velocidade da execução musical, pois é muito comum a digitação da mão direita
ser negligenciada em detrimento da ênfase dada à digitação da mão esquerda
(Henao, 2013, p. 25).
62 Um dos tipos de rasgueado consite em atacar simultaneamente várias cordas num movimento
repetido de ir e vir de um mesmo dedo. Este modo de atacar as cordas é principalmete realizado pelo dedo indicador da mão direita por ser mais ágil e independente do que os outros.
95
4.8 Considerações ergonômicas sobre a ação de tocar o violão
Antes do surgimento de áreas do conhecimento como fatores humanos e
ergonomia, a concepção sobre a ação psicomotora humana enfatizava a ideia de
um ser humano ajustando-se à máquina (Wickens & Hollands, 2000). É somente
com o surgimento de estudos nas áreas dos fatores humanos e da ergonomia que
se consolidou a ideia de que os instrumentos, máquinas e ferramentas deveriam
se adaptar ao corpo e aos movimentos do ser humano, e não o contrário disto. No
entanto, mesmo com os avanços nestas áreas, ainda hoje não é incomum
encontrar artistas que se “contorcem” em torno de instrumentos musicais que
foram projetados nos séculos passados, quando ainda a ergonomia e os fatores
humanos não eram formalmente levados em consideração ao se construir um
instrumento musical (Costalonga, 2009, p. 53).
Considerando a enorme quantidade de prática dispendida na performance
de instrumentos musicais em condições pouco ergonômicas, o risco de traumas e
lesões é muito alto. Por isso, atualmente justifica-se a necessidade de considerar
a performance de instrumentos musicais numa concepção na qual a relação
“máquina x humano” (ou “instrumento x humano”) deva ajustar-se ao corpo da
pessoa que toca e não a uma condição contrária.
O violão, bem como outros instrumentos de cordas que antecederam sua
criação, foi concebido e projetado há alguns séculos e muito antes da ergonomia
e biomecânica tornarem-se disciplinas autônomas. Por isso, o desenho de sua
conformação física, em parte segue princípios para responder muito mais a
aspectos acústicos do que ao conforto em executar música nele. A própria
sustentação do instrumento (envolvendo postura corporal), não favorece o
conforto corporal e parece ser um tanto quanto antinatural segurar um violão para
tocar – por vezes dando a impressão de que a qualquer desatenção do tocador, o
instrumento pode “escapar-lhe” das mãos.
Ao longo da história, inventaram-se dispositivos ou “adendos” para auxiliar
na sustentação do violão, como o apoio para o pé para elevar a coxa esquerda e
tornar o trabalho da mão esquerda mais confortável e eficaz e melhorar a
estabilidade do instrumento junto ao corpo do músico. Atualmente há substitutos
desse tipo de dispositivo sustentador, a exemplo do Ergoplay, o qual possibilita
96
maior isometria na postura dos membros inferiores e uma postura mais ereta do
tronco, pois é posicionado sobre a coxa e acoplado à lateral inferior do violão (ver
item 2 na Figura 13). Apesar da invenção de diversos dispositivos e adendos para
melhorar a postura com o violão, ainda hoje em parte permanece a sensação de
que o instrumento irá “escorregar” para longe do corpo do executante quando
tocado. A forma do corpo do violão não se adequa confortavelmente ao corpo
humano e ao ser tocado não fica em uma posição estável em relação ao tocador,
o qual necessita dedicar atenção constante durante a ação de tocar o instrumento
para mantê-lo numa posição com mínimo de estabilidade para a performance
musical ocorrer sem muito desconforto. A título de comparação, podemos tomar o
exemplo da condição postural exigida na performance do violão frente à exigida
ao piano, na qual durante a ação usual de tocar as teclas o pianista não necessita
despender esforço constante para que o instrumento se “mantenha no lugar”
adequado à realização da sua performance.
Dentre os fatores antiergonômicos relacionados à performance do violão,
ressaltarmos que o contato do antebraço direito sobre a borda lateral do
instrumento também apresenta desconforto ao seu executante, pois esta parte do
antebraço jaz sobre um ângulo muito agudo, o qual “vinca” a superfície da pele e
a musculatura após algumas horas de prática. Em geral, esta condição interfere
no movimento dos músculos flexores dos dedos da mão que se originam no
antebraço. Atualmente há “próteses” acopláveis ao violão para amenizar esse
ângulo tão acentuado, as quais “arredondam” a superfície da borda lateral do
violão para que o contato do antebraço direito seja distribuído em uma superfície
mais ampla, tornando a ação de tocar o violão mais sustentável por mais tempo.
Outro aspecto bastante desconfortável na execução do violão, o qual
chama a atenção de quem se inicia no instrumento, refere-se à quantidade de
força necessária para realizar a preensão dos dedos da mão esquerda sobre as
cordas para uma produção do som com boa definição. Apesar da falta de
habilidade da maioria dos violonistas iniciantes em relação ao controle refinado da
força dos dedos e da ainda pouca tonicidade dos músculos extrínsecos da mão, a
ação de preensão necessária é tão intensa e desconfortável, a tal ponto de muitos
iniciantes não suportarem tal exigência de esforço e por isso desistirem de
97
continuar a tocar o instrumento. Nesta condição, para iniciar a tocar o violão há
que se ter enorme dose de persistência em praticar o instrumento até desenvolver
os habituais “calos” na ponta dos dedos da mão esquerda, para desse modo
(após o “calejamento” dos dedos) o praticante não sofra tanto desconforto ao
tocar.
Resumidamente, pode-se afirmar que há diversos aspectos da construção
do violão os quais não foram apropriadamente delineados para o instrumento se
adaptar ao formato do corpo humano e consequentemente à estabilidade do
instrumento frente à força da gravidade. De um ponto de vista ergonômico, o
desenho tradicional do violão é inapropriado (no mínimo desconfortável) para ser
tocado, condição que traz dificuldades em relação à postura corporal do violonista
durante a performance. Apesar de podermos considerar seu desenho em formato
de 8 (oito) inclinado, não totalmente desfavorável à sua estabilidade quando
posicionado sobre a coxa do tocador em posição sentada, ainda assim, seu
desenho obriga o uso de algum “apoio” sob o pé ou sobre a coxa (além de usar o
contato do antebraço sobre a lateral superior do violão) para que sua estabilidade
melhore. O uso de certos apoios ou adendos muitas vezes obriga o violonista a
uma postura assimétrica.
De acordo com o acima exposto, poderíamos aventar a hipótese de que o
conforto em tocar pode também ser um fator com possíveis efeitos sobre a
relação velocidade-precisão no ataque dos sons do violão. No entanto essa
questão ainda não foi investigada no campo musical e também não será o tema
central de nosso estudo, podendo ser uma sugestão para futuras investigações.
No estágio atual dos estudos ergonômicos e biomecânicos da performance
do violão, ainda não estão suficientemente claros os elementos constitutivos da
complexidade da performance do violão, mas é inegável a multiplicidade dos
fatores nela envolvidos (Heijink & Meulenbroek, 2002). Acreditamos que a
consideração de aspectos ergonômicos e biomecânicos aplicados à performance
do violão podem trazer contribuições para uma melhor compreensão das ações
nela demandadas, e a maneira como estas podem ser otimizadas em relação à
habilidade para conciliar velocidade-precisão na performance violonística.
98
4.9 Considerações sobre o termo gesto
O gesto é estudado em diversos campos de conhecimento, tais como na
comunicação interpessoal, na interação humano-computador e na música.
Atualmente, cada um destes campos – e até mesmo cada ramo de pesquisa –
atribui um significado diferente ao termo gesto e usa uma terminologia diferente
para descrevê-lo. No entanto, apesar da polissemia do termo predominar nos dias
atuais, existem alguns pontos comuns na sua significação.
Segundo Burns (Burns, 2007) o gesto está associado ao movimento do
corpo, ou de um de seus segmentos, e traz consigo um significado. No contexto
da comunicação interpessoal humana, seu significado é principalmente
comunicativo, no entanto, no contexto da interação humano-computador e da
música, esse significado também pode ser manipulativo. O contexto musical é
composto igualmente por gestos comunicativos (expressões, emoções, etc.), e
gestos manipulativos (tanger, dedilhar, friccionar com arco, soprar, etc.) (Cadoz &
Wanderley, 2000).
Hemery e colaboradores (2015) discutiram uma tipologia dos gestos
musicais, justificando a necessidade de um estudo preliminar sobre gestos
musicais para discernir quais partes do corpo são ativas e quais não o são no
processo de produção de sons de um instrumento musical. Para discernir as
ações ativas próprias da produção de sons num instrumento musical, Hemery e
colaboradores basearam-se na categorização de Delalande de gestos efetivos,
acompanhantes e simbólicos (Delalande, 1988).
Uma interessante discussão sobre o sentido do termo gesto foi realizada
extensamente por Visi (2017) na qual realiza uma distinção bastante clara entre
gesto e movimento e esclarece o uso dos dois termos. Visi utiliza a palavra gesto
quando há um envolvimento explícito de significado e intencionalidade. Em outros
casos, nos quais a ligação com significado e intenção não é imediatamente
evidente, ele opta pelos termos "movimento" (movement) ou “movimentação"
(motion), os quais considera como sinônimos (Visi, 2017, p. 25).
Outros estudos interessantes sobre o significado do termo gesto foram
realizados por Caramiaux, Donnarumma, & Tanaka (2015), Jensenius (2014) e
por Jensenius & Wanderley (2010). Um trabalho que discute o conceito de gesto,
99
com texto vertido para o idioma português, é o estudo de Wanderley. (2006)
intitulado Instrumentos Musicais Digitais - Gestos, Sensores e Interfaces, o qual
apareceu como capítulo do livro Em Busca da Mente Musical, publicado pela
Editora da Universidade Federal do Paraná.
Segundo a categorização de Delalande, os gestos efetivos – gestos
instrumentais, no léxico de Cadoz (Cadoz & Wanderley, 2000) – são necessários
para produzir fisicamente um som. Esta categoria também pode ser subdividida
em tipos de gesto de produção de som, tais como gestos de excitação e de
modificação. Um exemplo de gesto efetivo é o ato de pressionar uma tecla no
teclado de um piano, por vezes chamado de dedilhado. (Godøy & Leman, 2010).
Os gestos acompanhantes – aqueles que auxiliam e possibilitam a
produção do som – não estão envolvidos diretamente na produção do som, mas
são inseparáveis de sua produção e auxiliam na mesma. Eles podem ser
subdivididos em gestos de suporte, de fraseio e de condução. Este tipo de gesto
está tão relacionado à imaginação quanto à produção efetiva do som.
Os gestos figurativos, também referidos como gestos simbólicos, não estão
relacionados a qualquer mecânica para produção de som; eles apenas conduzem
uma mensagem simbólica. Eles também podem ser vistos como gestos
comunicativos num contexto de executante-para-executante (por exemplo, num
ensaio de banda) ou executante-para-ouvinte (por exemplo, num concerto)
(Hemery et al., 2015, p. 6330).
Curiosamente, tanto no universo da performance em instrumentos musicais
acústicos como em digitais, “com todas as diferentes possibilidades de resultados
sonoros, a entrada de informação no instrumento [o fator de produção do som]
continua a ser um gesto musical” (Hemery el al., 2015, p. 6329). Esta condição
implica a pressuposição de que apesar das múltiplas possibilidades de se
produzir o som, o efetor do mesmo continua a ser uma ação física, corpórea. Em
tal pressuposição fica evidente o fato de que a “expressão” das ideias musicais só
é possível através da ação física do músico intérprete, com a qual ele produz o
som no instrumento musical (Williamon, 2004).
Com o intuito de obter maior clareza, em nosso estudo optamos pelo uso
do termo movimento ao invés de gesto. A justificativa para tal escolha se
100
relaciona ao fato do termo movimento ter uma conotação claramente física, a qual
designa o deslocamento de um corpo (ou segmento desse corpo) na dimensão
espaço-temporal. Seu uso também se justifica por ser uma terminologia
consagrada nos estudos biomecânicos e de comportamento motor, sobre os
quais nos apoiamos para analisar os dados de desempenho na execução das
sequências de sons tocadas no violão e recolhidos durante o experimento da
pesquisa. A concepção do termo que adotamos com o uso da palavra movimento
(ao invés de gesto) implica que todo movimento corporal humano é deslocamento
no espaço circundante, no qual o corpo se insere e do qual faz parte. Tal
concepção implica que o deslocamento de um segmento sempre será relacional,
isto é, há uma posição de algo em relação a outro algo. Assim, a nossa opção
pelo uso do termo movimento também ocorreu pelo fato de que em nosso estudo
muitas vezes referimo-nos ao deslocamento (espacial) de um pequeníssimo
segmento corporal – como é comum na coordenação motora fina utilizada na
performance de instrumentos musicais – tal como referido no exemplo da
sentença “movimento de um segmento” ao invés de “gesto de um segmento”.
Acreditamos que poderia soar um pouco estranho – pelo menos no idioma
português – aplicar o termo gesto para descrever uma ação motora fina como
utilizado na frase, “o gesto da ponta da unha do dedo indicador da mão direita
tangenciando a corda em seu sentido transversal”. Pensamos que neste caso
poderia ficar mais clara a descrição de uma ação biomecânica de deslocamento
no espaço-tempo, ao nos referirmos como “o movimento da ponta da unha do
dedo indicador da mão direita, etc.” ao invés de “o gesto da ponta da unha do
dedo indicador, etc.”.
101
4.10 Coordenação bimanual na performance do violão.
Na vida cotidiana dos seres humanos, um modo autônomo de viver
depende muito da capacidade de manipular vários tipos de objetos e de realizar
tarefas utilizando as mãos. Para pessoas em condições físicas e mentais normais,
um objeto pode ser manipulado unimanualmente (usando uma única mão) ou
bimanualmente (usando as duas mãos simultaneamente) (Feeney, Jelaska,
Uygur, & Jaric, 2015). De acordo com o grau de equidade ou paridade no uso das
mãos demandado nas tarefas, os movimentos bimanuais podem ser
categorizados como bimanuais simétricos ou assimétricos (Blinch et al., 2014) e
quanto à temporalidade de sua ação podem ser classificados como bimanuais
síncronos ou assíncronos (Duque et al., 2010).
Em primatas, incluindo o homem, as habilidades ecologicamente mais
relevantes requerem ações coordenadas espacial e temporalmente de ambas as
mãos, as quais são envolvidas simultaneamente em ações assimétricas para a
realização de uma tarefa intencionada (Baader et al., 2005, p. 436).
Embora os seres humanos utilizem em seu cotidiano um notável repertório
de movimentos que podem requerer intricada e sutil coordenação bimanual, é no
ato de tocar instrumentos musicais que a destreza da ação conjugada de ambas
as mãos se faz presente de modo mais complexo e exigente. Conforme já referido
no início desta investigação, a performance musical como ação de interpretar,
estruturar e realizar fisicamente uma peça musical é uma atividade humana
complexa e constituída de muitas facetas – físicas, acústicas, fisiológicas,
psicológicas, sociais, artísticas (Widmer & Goebl, 2004). Para Zatorre e
colaboradores (Zatorre et al., 2007), em termos de demanda de capacidades
herdadas bem como de habilidades adquiridas, a atividade da performance de
instrumentos musicais é uma atividade humana das mais complexas e difíceis de
ser desenvolvida em nível de excelência. A complexa ação de tocar instrumentos
musicais de cordas ou de teclas, dentre as muitas habilidades demandadas,
geralmente envolve destreza e sincronização na ação de ambas as mãos.
Estudos recentes no campo das ciências da performance têm evidenciado
a importância de considerar as peculiaridades físicas (motoras) envolvidas na
habilidade manual da performance de instrumentos musicais (Metcalf et al.,
102
2014). Através da observação de músicos instrumentistas em sua ação de tocar
música, pode-se detectar que na performance de boa parte dos instrumentos de
cordas, a coordenação bimanual neles demandada é simultaneamente
assimétrica e assíncrona. Desse modo, podemos inferir que uma das habilidades
motoras centrais demandadas na performance de muitos instrumentos de cordas
é a coordenação bimanual na qual são envolvidos movimentos assimétricos e
assíncronos entre as mãos. Para Baader e colaboradores (2005), tocar
instrumentos de cordas (a exemplo do violino ou do violão) é necessário que a
pessoa tenha desenvolvido em si habilidades motoras que incluam ações tanto
assimétricas como assíncronas na coordenação bimanual (Baader et al., 2005, p.
436).
Apesar da relevância do tema da aquisição e desenvolvimento da
habilidade de coordenação bimanual em instrumentos de cordas, raros são os
estudos dedicados a essa questão. Baader e colaboradores (2005), à época de
publicação de seu estudo com músicos violinistas, afirmaram que “estudos em
controle motor na música são raros, e em instrumentos de cordas o problema da
sincronização bimanual ainda não havia sido abordado” (Baader et al., 2005, p.
437). Tal lacuna no estudo do tema da sincronização bimanual em instrumentos
musicais foi corroborada por Lafasse (2010) em sua investigação sobre controle
motor com violonistas de nível avançado.
Em momento recente Simões (2019) realizou estudo experimental com
violonistas envolvendo coordenação bimanual em que estes tocaram diferentes
combinações de digitação envolvendo ação de ambas as mãos. Outro estudo
recente envolvendo coordenação bimanual no violão é a dissertação de Centeio
(2019) sobre a coordenação bimanual no processo de ensino-aprendizagem da
guitarra clássica (violão) no qual investigou estratégias para resolver problemas
técnicos e musicais.
Apesar de mais de uma década transcorrida a partir do estudo de Baader e
colaboradores (2005), a constatação de que a pesquisa em controle motor sobre
execução musical é problemática por causa das restrições técnicas a ela
impostas (Baader et al., 2005, p. 437), continua válida para alguns instrumentos
musicais tecnicamente mais complexos, como é o caso do violão (Costalonga,
103
2009; Costalonga & Miranda, 2008; Heijink & Meulenbroek, 2002; Metcalf et al.,
2014; Norton, 2008; Perez-Carrillo et al., 2015; Scherrer, 2013).
O som produzido por um instrumento musical é influenciado tanto por suas
características físicas como também pela maneira que o músico interage com ele.
Num instrumento musical tal como o violão, para que ocorra a produção do som,
ambas as mãos realizam um conjunto de ações de naturezas distintas e
específicas para cada uma delas; no entanto, tais ações ocorrem de maneira
conjugada e são complementares entre si.
Na ação de tocar o violão, a expressão do elemento temporal no ataque do
som é controlada por ambas as mãos. Para o controle do tempo na produção dos
sons no violão, o dedo da mão esquerda deve ser posicionado e premido na
corda a partir de um breve momento antes que o dedo da mão direita a ataque e
assim produza o seu som.
A natureza da ação bimanual assíncrona e assimétrica envolvida na
geração do som no violão, manifesta-se fundamentalmente através de dois
fatores, cada um contendo duas variáveis para que o som seja produzido. O fator
tempo envolve duas variáveis temporais, enquanto o fator espaço envolve duas
variáveis espaciais. Quanto ao fator tempo as variáveis para a produção do som
referem-se: 1) ao começo e duração da preensão do dedo da mão esquerda
sobre a corda/casa, e 2) ao instante de ataque súbito da corda realizado pela
ação flexora do dedo da mão direita. Quanto ao fator espaço as variáveis dizem
respeito: 1) ao posicionamento do dedo da mão esquerda entre os trastes que
circunscrevem o espaço da “casa” (ou nota musical) na escala de sons do violão
(Heijink & Meulenbroek, 2002, p. 341), e 2) à posição da ponta do dedo da mão
direita sobre a corda que ele irá atacar tangencialmente para realizar o som.
4.10.1 Assimetria bimanual na performance do violão
O violão é um instrumento musical de cordas dedilhadas, e para ser tocado
necessita de uma complexa ação conjugada entre as duas mãos. Enquanto a
mão esquerda pressiona uma corda numa determinada casa para definir uma
nota musical, quase que simultaneamente a ponta da unha de um dos dedos da
mão direita “tangencia” aquela corda para fazê-la vibrar e assim soar a nota
104
definida pela mão esquerda. Este é um típico modelo de movimento envolvendo
coordenação bimanual assimétrica e deriva de ações motoras de naturezas
distintas para cada mão. Neste tipo de ação bimanual demandado na
performance do violão, o que efetivamente ocorre é que enquanto uma mão (a
esquerda) “pressiona” a ponta do dedo numa corda/casa e mantém essa pressão
pela duração requerida pelo ritmo e andamento da música, a outra mão (a direita)
simultaneamente “tangencia” a corda com a ponta da unha de um dedo para
atacar a nota que permanece pressionada pela mão esquerda; após a corda ser
tangida, o dedo da mão direita libera-se imediatamente do contato com a corda
para deixa-la vibrar. Tais ações físicas que constituem a performance do violão
envolvem movimentos coordenados assimetricamente entre ambas as mãos.
Neste tipo de coordenação, ora uma mão complementa a ação da outra, ora cada
mão realiza simultaneamente um movimento autônomo (independente da outra
mão).
4.10.2 Natureza motora e temporal da coordenação bimanual no violão
Conforme explicitado nos itens antecedentes, um elemento central que
caracteriza a ação bimanual típica63 da performance do violão é a diferença de
padrão de movimento existente na ação de cada mão. Esta condição ocasiona
uma complexidade para a ação motora, difícil de ser controlada durante o ato de
tocar o instrumento, e por isso o violonista necessita desenvolver uma sofisticada
habilidade de coordenação bimanual para dar conta de tocá-lo. Tal complexidade
observada na performance do violão é devida ao fato dos “movimentos das mãos
esquerda e direita atenderem a diferentes funções na performance do violão”
(Heijink & Meulenbroek, 2002, p. 339). Conforme indicamos na Tabela 2, para
tocar o violão, a demanda por tarefas de diferentes naturezas em cada mão se
embasa em padrões de resposta motora típicos para cada mão. Tais padrões de
reposta ocorrem conjugados num apurado controle temporal (sincrônico) dos
movimentos. Por isso, a demanda por apurado controle temporal é um importante
63 A ação bimanual típica do ato de tocar o violão,
envolve os dedos de ambas as mãos simultane-
amente em pelo menos uma mudança de nota, corda, casa e dedo para tocar uma sequência de sons.
105
determinante da coordenação bimanual presente na ação de tocar o violão e
refere-se à temporalidade própria da ação de cada mão, isto é, à assincronicidade
da ação bimanual violonística.
Conforme vimos acima, a coordenação bimanual assimétrica e assíncrona
demandada na performance do violão se caracteriza pela presença de diferentes
padrões de esforço exercidos pelos músculos e tendões dos dedos e pela
temporalidade própria da ação de cada mão. Assim, na ação de tocar o violão,
observa-se que na mão esquerda predomina um padrão de esforço estático –
compreendendo movimentos de preensão sustentada ou resistida – enquanto que
na mão direita o padrão de esforço predominante é dinâmico – compreendendo
movimentos de contração/extensão rápidos e explosivos para realizar o ataque do
som. Tal diferença de padrão de esforço entre as mãos se traduz em aumento da
complexidade para a atividade de tocar o violão, especialmente face à demanda
de elevada velocidade dos movimentos realizados pelos dedos e mãos. Dito de
outro modo, o que caracteriza a performance do violão em sua ação motora
assimétrica e assíncrona conjugada entre as mãos, é a produção de movimentos
dos dedos com padrões diferentes em cada mão. De um lado, a ação
predominante do dedo da mão esquerda durante a execução do violão é
caracterizada por um tipo de movimento de preensão persistida (sustentada)
contra a corda/casa em que será executada a nota musical64’65; de outro lado, o
dedo da mão direita realiza o movimento de toque rápido envolvendo força
“súbita” e curta duração ao tanger a corda e colocá-la em vibração para que
produza a nota preparada e sustentada pela ação do dedo da mão esquerda.
Apesar da condição de independência motora entre as mãos, fica
evidenciada na ação de tocar o violão que há uma estreita colaboração de uma
mão com a outra para produzir o som do instrumento. Em tal colaboração
coordenada, cada mão cumpre um papel peculiar, único e quase independente
para se somar à ação da outra.
64 A definição da nota musical, ou sua “preparação”, envolve um movimento de preensão por parte
da mão esquerda, o qual é realizado pelos músculos e tendões flexores do polegar em oposição aos dedos indicador, médio, anular e mínimo. 65
Lembramos novamente que na execução do violão, a nomenclatura dos dedos da mão esquerda utiliza os simbolos dos números arábicos 1, 2, 3, 4 para designar respectivamente os dedos indicador, médio, anular e mínimo.
106
Para caracterizar apropriadamente a natureza da coordenação bimanual
demandada no violão é necessário considerarmos os fatores envolvidos na
produção do seu som, conforme apontados no item 4.10. Considerando estes
fatores apontados, podemos inferir que a ponta do dedo da mão esquerda,
“empurra” ou pressiona a corda contra o traste e a madeira da escala do violão,
numa casa em que a nota musical demande. Desse modo o dedo da mão
esquerda mantém essa pressão sustentada durante o tempo correspondente à
duração da figura rítmica da nota musical em questão. Por seu turno, o dedo da
mão direita flexiona-se para que com a ponta da sua unha possa tocar a corda de
modo tangencial e em seguida liberar-se subitamente do contato com a corda,
abandonando-a para deixá-la vibrar – livre de contato – durante o tempo
requerido pelo ritmo musical do som.
De um ponto de vista biomecânico podemos considerar que na execução
do violão a ação mais usual da mão direita – a de “tanger” as cordas com a ponta
das unhas – envolve a utilização dos tendões flexores dos dedos, que conduzem
a ponta das unhas à apenas tangenciar a corda e em seguida, com a súbita
colaboração dos tendões extensores, afastar-se da corda, abandonando-a
subitamente à sua livre vibração. Em contrapartida, um pouco antecipadamente à
ação da mão direita, na mão esquerda os tendões flexores levam a ponta dos
dedos a pressionar a corda e “resistir” na manutenção dessa preensão sobre a
mesma durante o tempo musicalmente necessário. Na Tabela 2 está
representada de maneira simplificada a estrutura da coordenação bimanual
presente modo mais usual de tocar o violão erudito.
COORDENAÇÃO BIMANUAL NA PERFORMANCE DO VIOLÃO Mão Esquerda
- Produz preensão persistida (continuada) dos dedos contra a corda/casa.
Mão Direita
- Produz ataque com pressão súbita (efêmera) dos dedos sobre a corda.
Tabela 2: Esquema da coordenação bimanual na ação de tocar o violão.
Neste esquema é evidenciada a diferença de natureza dos movimentos de
cada mão (assimetria bimanual) na ação de tocar o violão, a qual está embasada
nas categorias da temporalidade e da mecânica das mãos e seus dedos.
107
5 - MÉTODO
Neste capítulo descrevemos, primeiramente, a natureza e a estrutura do
método utilizado neste estudo e os principais fatores ou variáveis nele
considerados. Em seguida realizamos a descrição do seu delineamento, dos
participantes, dos equipamentos utilizados, dos procedimentos para coleta dos
dados e do plano de análise.
A presente investigação é um estudo experimental de sujeito único66
(Lammers & Badia, 2004) – às vezes também referido como estudo quase
experimental de participante único (Shadish, Cook, & Campbell, 2002) – o qual foi
por nós replicado através de um experimento com cinco violonistas novatos.
Neste experimento foi registrado o desempenho individual do violonista
participante com o intuito de testar o efeito de um treinamento – baseado em
exercícios contendo restrições biomecânicas – sobre a habilidade de conciliar
movimentos bimanuais rápidos de toques de dedos sobre as cordas do violão e
detectar nível de precisão temporal no ataque dos sons do violão em comparação
ao tempo marcado por metronômico.
Cada exercício do treinamento foi estruturado em formato de sequência de
sons monofônicos67, de tal modo que sua execução estivesse sob a condição de
uma dificuldade imposta por restrição biomecânica típica da performance real do
violão. Cada exercício foi subdividido em dois segmentos (A / B), sendo que B
continha as mesmas notas de A, porém executadas no dobro da velocidade.
Cada restrição biomecânica intrínseca ao exercício foi considerada uma variável
independente, a qual foi manipulada pelo aumento súbito de velocidade na
passagem do segmento lento do exercício (parte A, em ) para o segmento
rápido (parte B, em ) e por mudanças de velocidade do andamento musical
controladas por metrônomo a 90, 105 e 120 bpm.
A estrutura da sequência de sons que constituiu cada um dos exercícios do
treinamento foi apresentada ao violonista através de uma partitura musical
66 Não confundir com estudo de caso, o qual se refere a um desenho metológico de tipo qualitativo
comum nas ciências socias. 67
Refere-se a sons consecutivos no tempo (não simultâneos) ou melodias (não acompanhadas).
108
impressa, a qual representava graficamente os exercícios, cujo teor encontra-se
descrito no item 5.4 Tarefas: exercícios.
O estabelecimento do nível de complexidade dos exercícios incorporou a
exigência de um limiar elevado de velocidade (compatível com violonistas
novatos) conjugado com a imposição de restrições biomecânicas típicas da ação
de tocar o violão. A exigência de um limiar elevado de velocidade foi proposta
para atender ao princípio da especificidade da tarefa, princípio este que em nosso
experimento se caracterizou pela demanda de movimentos rápidos e precisos dos
dedos de ambas as mãos. A natureza do princípio da especificidade da tarefa
encontra-se detalhada no item 4.5.2 Natureza dos exercícios de treinamento.
109
5.1 Delineamento do estudo
No delineamento do presente estudo, a precisão temporal do ataque dos
sons dos exercícios de treinamento foi considerada a variável dependente,68 a
qual foi medida pela variação de tempo dos toques de dedos da mão direita em
relação à marcação de tempo definida pelo metrônomo. O aumento súbito de
velocidade exigido na execução das sequências de sons e as diferentes
restrições biomecânicas conjugadas na sua execução foram considerados como
as variáveis independentes do estudo. A variável aumento de velocidade foi
desdobrada em dois níveis: 1) aumento súbito da velocidade a qual foi dobrada
(aumento de 100%) na passagem do segmento lento (A) do exercício para o
segmento rápido (B); 2) aumento da velocidade de andamento na fração de 1/6 e
1/369 correspondendo a mudanças na velocidade dos andamentos musicais
respectivamente de 90 para 105 e 120 bpm marcadas por metrônomo. O
detalhamento das variáveis consideradas no estudo é apresentado no item 5.1.5.
5.1.1 O desenho do método experimental de participante único
Como em qualquer desenho de experimento envolvendo verificação do
efeito de treinamento, também em nosso estudo a coleta de dados necessitou
partir de pelo menos um registro como ponto de referência estabelecido no início
da intervenção para ser comparado com o resultado de desempenho registrado
ao final do período de treinamento. Segundo Lammers & Badia (2004), nessa
condição, temos um tipo de desenho metodológico experimental conhecido
geralmente como AB. Nesse tipo de delineamento, o elemento A é a linha de
base ou referência, a qual é estabelecida no início do período de prática70, a partir
da qual é realizada a comparação de desempenho, e B passa a ser o ponto de
68 A variável dependente é usualmente identificada como o efeito causado por uma variável inde-
pendente. 69
O incremento de velocidade nas frações de 1/6 e 1/3 sobre o andamento musical de 90bpm equivale respectivamente às percentagens de 16,666% e 33,333% resultando em andamentos com 105 e 120bpm. 70
Nesse tipo de desenho metodológico a primeira medição ou linha de base, geralmente ocorre num momento imediatamente anterior ao início do período de prática ou intervenção experimental, o que em nosso estudo não foi possível, pois os participantes necessitavam assimilar a tarefa a priori.
110
desempenho alcançado ao final do período da intervenção ou treinamento.
No registro de dados de um experimento com o tipo de desenho
metodológico AB, a repetição do experimento com um mesmo sujeito é
denominada de replicação intraparticipante, enquanto que sua repetição entre
diferentes sujeitos “é chamada de replicação interparticipantes” (Lammers &
Badia, 2004, cap. 14 p. 18). Obviamente que no método experimental a replicação
de resultados obtidos com os mesmos procedimentos é um elemento importante
para a validade dos achados, e por isso, comumente se repete o procedimento, o
que pode gerar estruturas de método com desenhos de tipos como ABA ou
ABAB.
Entretanto, em algumas circunstâncias – como quando estão envolvidos
fatores de aprendizagem em treinamentos – essa replicação dos procedimentos
de um experimento não é possível com um mesmo sujeito participante, por não
ser possível obter uma condição “reversível” dos efeitos da intervenção ou
treinamento (Lammers & Badia, 2004, cap. 14 p. 18). Tal irreversibilidade dos
efeitos da intervenção levada a cabo através de treinamento ocorre muitas vezes
quando numa investigação se lida com a aquisição e desenvolvimento de
habilidades ou, como já referido anteriormente, em situações de aprendizado para
realizar uma tarefa.
A condição de irreversibilidade de uma habilidade ou comportamento71
pode manifestar-se como impossibilidade de “desaprender” algo que já se havia
aprendido (caso isso fosse possível), ou de vir a ser “incapaz de realizar” uma
tarefa quando já se é capaz de realizá-la – pelo menos em sujeitos saudáveis e
na ausência de processos deletérios72. A irreversibilidade de um comportamento
ou de uma habilidade para realizar algo, pode estar implícita em algumas
situações do cotidiano e às vezes são de senso comum, como por exemplo, o
caso de aprender a andar de bicicleta, no qual uma vez aprendido nunca mais se
esquece.
71 O termo comportamento é aqui usado na acepção de ação voluntária capaz de realizar algo
intencionado, tal como uma tarefa motora. 72
Refere-se a processos destrutivos, como, por exemplo, o uso de drogas potentes que alterem o estado de consciência do sujeito ou de sua capacidade de controle motor.
111
Segundo Lammers & Badia, o número de replicações intraparticipantes
necessário para caracterizar um estudo cujo desenho contempla muitas
replicações, como no tipo ABAB, depende de:
“1) tamanho ou intensidade do efeito de um tratamento ou treinamento, 2) estabilidade do comportamento ou do desempenho na realização de uma tarefa, 3) se a replicação interparticipantes pode ser obtida, 4) se a replicação interespécies existe, 5) se existem achados similares relacionados ao problema investigado, e 6) quão bem os achados do presente estudo enquadram-se com achados estabelecidos na literatura” (Lammers & Badia, 2004, cap.14 p. 16).
Apesar do fato de que em muitas situações a irreversibilidade na aquisição
de habilidades73 impede a replicação de um experimento com um mesmo sujeito
participante, ainda assim é possível replicá-lo com a participação de diferentes
sujeitos de perfil similar (Lammers & Badia, 2004). Esta foi a condição em que
nosso estudo se encontrou e por isso optamos pelo desenho de uma estrutura de
experimento do tipo AB com replicação apenas na dimensão interparticipantes, ou
seja, realizando a replicação do experimento com vários sujeitos.
A opção metodológica do presente estudo, – por um delineamento de
experimento do tipo AB e sua replicação interparticipantes – se justifica pelo
problema nele abordado envolver desenvolvimento de habilidade motora de
natureza cumulativa. Isto implica no fato de que os efeitos do treinamento de uma
tarefa envolvendo esse tipo de habilidade não podem ser “revertidos” após a
mesma ser adquirida, pelo menos no curto ou médio prazo.
Além disso, a replicação do treinamento com um mesmo sujeito apresenta
o problema da irreversibilidade na aquisição das habilidades abordadas no
treinamento que levamos a cabo em nosso experimento, o que foi evitado com
adoção de um desenho de tipo AB com replicação interparticipantes. Portanto, o
impasse aqui deparado relacionava-se à replicação do experimento com um
mesmo sujeito e referia-se ao efeito “residual” do período de treinamento anterior
que quando exercido pelo mesmo sujeito se acumula sobre o desempenho da
prática seguinte. Nessa condição, com um mesmo sujeito a comparação do
desempenho entre dois ou mais períodos de treinamento não pode ser realizada
de modo claro e inequívoco, pois no treinamento posterior temos acumulado o
73 Como é o caso de processos de aprendizagem de tarefas.
112
efeito residual do treinamento anterior. Conforme referido anteriormente, nesta
condição, a presença de efeito residual impede de obtermos a mesma linha de
base do desempenho inicial como referencial para a comparação com o resultado
derivado exclusivamente do treinamento ulterior.
Desse modo, na aquisição de uma habilidade motora fina, como a
demandada pela prática de tocar o violão, o efeito residual do treinamento
realizado pelo músico não pode ser “retirado” ou “anulado” em um prazo curto,
para que se consiga reverter ao nível de desempenho anterior ao que o
participante possuía quando começou o treinamento. Temos nesse caso, uma
condição duradoura de irreversibilidade do efeito da prática, o que equivale dizer
que, uma vez o participante tenha se submetido a um treinamento prático, uma
possível mudança de comportamento ou habilidade não pode ser revertida ou
“desaprendida”.
Outro princípio importante que determinou o desenho desta pesquisa foi a
abordagem de obter os dados empíricos a partir de uma condição a mais próxima
possível de uma situação real da performance do violão, pois desse modo os
resultados do caso aqui investigado podem ter relevância para outros casos
similares (que seguramente existem!), sem contudo pretender generalizações
destes resultados Tal condição, a mais realística possível da performance do
violão, implicou em não utilizarmos procedimentos invasivos, o que exigiu a
escolha de equipamentos de mensuração que não interferissem na liberdade de
movimento dos dedos quando da execução dos exercícios durante o treinamento,
ou durante as fases de registro dos dados da pesquisa. Os equipamentos
utilizados estão descritos no item 5.3 Equipamentos e materiais utilizados e os
procedimentos adotados na recolha dos dados encontram-se no item 5.5
Procedimentos.
5.1.2 Assimilação das tarefas antes do primeiro registro dos dados
Para que o treinamento pudesse favorecer o incremento da habilidade de
conciliar velocidade-precisão, onde a especificidade da prática seria a alta
velocidade, o violonista foi submetido à exigência de praticar a tarefa numa
velocidade supostamente próxima ao limiar superior de sua capacidade. No
113
entanto, nessa exigência havia a possibilidade, embora remota, de um risco
latente no qual os participantes do perfil selecionado não executassem
integralmente os exercícios nas velocidades mais altas e muito provavelmente
naqueles exercícios que envolvessem restrições biomecânicas mais severas. No
caso de algum participante não tocar integralmente algum exercício, teríamos
uma situação em que não seria possível realizar, sob um mesmo parâmetro, a
análise comparativa do desempenho entre tarefas “diferentes”, isto é, tarefas
conclusas versus inconclusas. Assim, neste caso, não seria possível comparar o
desempenho nas tarefas incompletas devido à ausência parcial de dados nas
mesmas. Supostamente esse risco tenderia a aumentar nas tarefas mais
complexas, como no caso dos Exercícios nº 4 e 6 quando tocados a 120 bpm.
Em contraposição ao impasse do risco de registro dos dados com tarefas
inconclusas, havia grande possibilidade de os participantes obterem êxito em
completá-las, se: 1) tivessem pelo menos três anos de experiência continuada em
tocar o violão, 2) pudessem assimilar as tarefas e se familiarizarem com as
mesmas, antes da realização de quaisquer registros para a coleta dos dados. Por
esse motivo foi estabelecido que os participantes se familiarizassem com as
tarefas através de uma quantidade padronizada de sua prática, o que deveria
ocorrer antes de serem realizados os primeiros registros dos dados.
Para que os participantes tivessem se familiarizado com os movimentos
necessários a cada exercício antes do registro inicial, eles praticaram as tarefas
do experimento numa quantidade equivalente às repetições de uma sessão de
treino (ver item 5.5.2 Procedimentos do treinamento). Após a familiarização com
as tarefas realizamos o primeiro registro do treinamento, o que ocorreu em até
duas horas subsequentes à mesma.
Com a satisfação das exigências de proficiência mínima em tocar o violão e
tendo os participantes se familiarizado previamente com as tarefas, desse modo
encontravam-se potencializadas as chances de obtenção integral dos dados, os
quais envolveram todos os sons dos seis exercícios executados nas diferentes
velocidades propostas e nas duas fases do treinamento.
A ocorrência do registro de dados da fase inicial do treinamento efetivada
imediatamente após a primeira sessão de prática de familiarização é justificada
114
pelo fato do objeto investigado se tratar de um comportamento
preponderantemente adquirido. Isto significa que uma habilidade conquistada
basicamente através de prática específica, não depende muito de elementos
inatos e por isso necessita de ser exercitada para poder ser observada.
Considerando que em nosso estudo o comportamento investigado – a
habilidade do violonista para conciliar velocidade com precisão – inicialmente
ainda não estaria “adquirido” antes de ser praticado, então, por isso, seria
necessário assimilá-lo antes do primeiro registro do mesmo para poder viabilizar
sua comparação com o outro registro posterior ao treinamento.
5.1.3 Justificativa para escolha do momento do primeiro registro dos dados
Na performance de instrumentos musicais há determinadas tarefas
complexas que envolvem atividade motora fina, as quais, para terem sua
realização bem-sucedida necessitam de prática preliminar para sua “assimilação
física” ou “familiarização” prévia. Tal necessidade ocorre com frequência antes
que a coleta dos dados da investigação em performance musical possa ser
efetivada para registrar o desempenho do instrumentista. Alguns estudos têm
somente registrado os dados de desempenho numa determinada tarefa após
algumas tentativas prévias de realização da mesma, pois sem essa “assimilação”
o indivíduo não consegue completá-la corretamente (Heijink & Meulenbroek,
2002; Okazaki, 2009; Telford & Spangler, 1935).
Telford & Spangler (1935), em seu estudo comparativo entre pianistas e
não pianistas, concederam aos participantes “um curto período de prática
preliminar de um ou dois segundos [sic] antes de iniciar cada exercício” (Telford &
Spangler, 1935, p. 142). No estudo de Heijink e Meulenbroeck (2002) com
guitarristas profissionais, “antes de tocar cada nova sequência de posições de
dedos, os participantes foram autorizados a praticar a sequência o quanto eles
desejassem (geralmente menos de um minuto)” (Heijink & Meulenbroek, 2002, p.
343).
Para o estabelecimento dos procedimentos de registro dos dados no
campo da execução musical de instrumentos, é oportuno observar que os dois
estudos acima citados, reportam a necessidade da familiarização dos
115
participantes com a especificidade da tarefa, indicando que estes a realizam antes
de serem iniciados os registros definitivos dos dados. O problema é que no
procedimento de familiarização com a tarefa, empreendido nestes estudos
citados, há certo grau de “aleatoriedade” no estabelecimento da quantidade
possível ou permitida de tentativas preliminares destinadas à familiarização do
indivíduo com a realização da tarefa. Nestes casos, com o estabelecimento de
apenas um tempo aproximado para repetirem a tarefa por um número indefinido
de vezes, pode ocorrer de alguns sujeitos realizarem mais tentativas do que
outros, ou alguns não tentarem a realização da tarefa em sua inteireza, enquanto
outros a completam.
Por outro lado, Okasaki (2009), em seu estudo no campo do controle
motor, define claramente para todos os participantes uma quantidade igual de
prática necessária para a familiarização com as tarefas específicas de atingir um
alvo com a maior velocidade e precisão possíveis. Em seu estudo “os sujeitos
participavam de uma sessão de adaptação74 e de aquecimento, praticando os
movimentos específicos da tarefa nas condições experimentais” (Okazaki, 2009,
p. 43), as quais envolviam “cinco tentativas de familiarização (que foram
descartadas) seguidas de 10 tentativas, cujos resultados eram registrados para
subsequente análise” (Okazaki, 2009, p. 44).
Considerando os exemplos da literatura acima citados e comparando-os
com as necessidades de nosso estudo, ao invés de deixarmos os participantes
livres para a escolha da quantidade de prática de familiarização com a tarefa,
optamos por delimitá-la. Tal delimitação exigiu um número de repetições igual
para todos os participantes, o que em nosso estudo equivaleu a uma sessão
diária de prática conforme especificada no item 5.5.1 Instruções para o
treinamento.
Em tarefas manuais altamente complexas, como as que envolvem
movimentos consecutivos dos dedos na execução de sequências de sons ao
violão, se torna imprescindível uma prática preliminar das tarefas para a sua
assimilação, pois estas requerem movimentos voluntários que precisam ser
74 Grifo meu.
116
aprendidos antes de poderem ser realizados num fluxo contínuo. Pelo motivo de
nossa investigação requerer um tipo de tarefa com fluxo sequencial na realização
dos seus elementos constitutivos (Pfordresher et al., 2007), propusemos uma
sessão de familiarização com os próprios exercícios, pois sem sua prática
preliminar corríamos o risco dos participantes não conseguirem executá-las
fluentemente em sua inteireza durante o primeiro registro de dados na fase inicial
do treinamento. Por conseguinte, sem os dados da tarefa registrada em sua
inteireza não teríamos a padronização geral (sequência de 32 sons) necessária
para a comparação do desempenho do participante nas diferentes tarefas e
interpaticipantes.
Para implementar a necessária familiarização com as tarefas propostas em
nosso estudo75 – conforme referido no item 5.4 Tarefas: exercícios – foi fornecida
aos participantes uma partitura musical dos exercícios (sequências de sons) um
dia antes do início do treinamento. Para facilitar a familiarização com as tarefas, a
partitura musical continha todas as indicações de dedilhado, intensidade do som,
velocidades marcadas por metrônomo e instruções detalhadas dos procedimentos
a serem seguidos no treinamento com os exercícios.
Desse modo, tendo cada participante recebido as partituras dos exercícios
com todas as instruções de execução e se familiarizado com as tarefas através de
uma sessão de prática, supúnhamos haverem as condições apropriadas para já
no primeiro registro dos dados, executarem-nas integralmente em fluxo contínuo e
de acordo com as velocidades exigidas.
5.1.4 Estrutura da intervenção ou treinamento
Para alcançar o objetivo de incrementar a habilidade bimanual de conciliar
velocidade com precisão na performance do violão, foi delineada uma intervenção
envolvendo treinamento com exercícios tocados ao violão, os quais continham
restrições específicas à velocidade e ao ato de tocar o instrumento com fluência e
precisão temporal.
Baseando-se na especificidade da tarefa (Hamill & Knutzen, 2009) e
75 As tarefas do presente estudo estão descritas no item 5.4 Tarefas: exercícios.
117
pressupondo que a realização física da performance musical é o caminho com
melhor chance de viabilizar o incremento de habilidades motoras necessárias
para tocar um instrumento musical, foi planejado um experimento com a
participação de violonistas num treinamento envolvendo a realização de
exercícios em formato de sequências de sons tocados ao violão. O treinamento
levado a cabo pelo nosso experimento envolveu a exposição dos participantes à
especificidade da tarefa de tocar sequências de sons em alta velocidade e
conciliando-as com precisão temporal indicada por metrônomo.
Estrutura do treinamento
Em nosso experimento, o treinamento ou intervenção consistiu na prática
de seis exercícios em forma de sequência de sons melódicos tocados ao violão,
os quais envolveram os seguintes fatores restritivos em sua execução: a)
restrição (redução) do tempo exigido na repetição da sequência de sons
ocasionando aumento súbito da velocidade e uso de três diferentes velocidades
de andamento musical (90, 105 e 120 bpm) na execução do exercício-tarefa; b)
aumento súbito de força aplicada ao toque dos dedos da mão direita para atacar
os sons com maior intensidade (implementado no ritornello do Exercício nº 2), c)
independência de movimento em toques alternados entre dedos adjacentes da
mão esquerda (implementado no Exercício nº 4), c) coordenação bimanual
assimétrica com uso de dedo pivô na mão esquerda, enquanto outros dedos de
ambas as mãos realizam movimentos alternados entre diferentes cordas e/ou
casas do violão (implementado no Exercício nº 6).
O treinamento foi levado a termo num período de cinco dias consecutivos,
com a realização de uma sessão de prática a cada dia do treinamento, cuja
duração era aproximadamente 20 minutos. A intensidade da prática envolveu a
execução de 18 repetições diárias para cada exercício, as quais foram
distribuídas em 6 repetições para cada uma das três diferentes velocidades de
andamento musical (90, 105, 120 bpm). Cada sessão diária de prática foi
estruturada em duas modalidades: no primeiro momento da sessão, as repetições
dos exercícios foram realizadas na modalidade de prática em bloco (Schmidt &
118
Wrisberg, 2001) e posteriormente na modalidade de prática sequencial76. Na
modalidade de prática em bloco um mesmo exercício foi repetido 5 vezes
consecutivas numa única velocidade de andamento, enquanto que na modalidade
de prática sequencial o exercício era tocado apenas uma vez e seguido
imediatamente pela realização dos outros exercícios obedecendo o ordenamento
(sequência) do nº 1 até o nº 6 todos tocados num mesmo andamento. A
realização das duas modalidades de prática deveria ser repetida nos três
andamentos musicais propostos, conforme o documento “Instruções de
Treinamento” anexo no Apêndice A.
Para a coleta dos dados de desempenho do violonista no treinamento
foram realizados dois registros com cada participante tocando os exercícios. O
primeiro ocorreu imediatamente após a sessão de prática de familiarização do
violonista com as tarefas, chamado de registro da fase inicial, e o segundo e
último ocorreu imediatamente após a última sessão de prática do treinamento,
chamado de registro da fase final. Os detalhes dos procedimentos do treinamento
estão descritos no item 5.5.2 Procedimentos do treinamento dos participantes.
5.1.5 Variáveis e fatores do estudo
Este experimento envolveu quatro variáveis independentes caracterizadas
por fatores restritivos do movimento dos dedos de ambas as mãos (restrições
biomecânicas) ao praticar os exercícios no violão. As variáveis independentes
foram implementadas de modo a avaliar o efeito do aumento da velocidade dos
exercícios e das restrições biomecânicas neles implicadas sobre a precisão
temporal no ataque dos sons.
A precisão temporal, considerada no estudo como a variável dependente,
consistiu na concomitância do instante do toque dos dedos de ambas as mãos
com o momento indicado pela marcação metronômica.
Os fatores restritivos aqui escolhidos para serem controlados no
experimento deste estudo encontram-se imbricados no desenvolvimento da
76 A modalidade de prática em bloco consiste em repetir várias vezes um mesmo exercício,
enquanto a modalidade de prática sequencial consiste na repetição alternada entre vários exercícios.
119
habilidade para regular a relação entre velocidade do movimento e a precisão
temporal demandada na performance do violão. Estes fatores restritivos
intrínsecos da ação (física) de tocar o violão consistem em limitações anatômicas
das mãos (item 4.6 Mão humana e restrições biomecânicas), características
ergonômicas do instrumento, sua mecânica e limitações acústicas para produção
do som no violão (a exemplo de sua limitação de intensidade sonora). Estas
restrições – também referidas como restrições biomecânicas – juntamente com o
aumento de velocidade constituem as variáveis independentes controladas no
experimento, conforme descrito a seguir.
Na realização das tarefas do treinamento – estruturadas como sequências
de sons monofônicos – foram manipuladas as seguintes variáveis independentes:
1) aumento súbito de velocidade da execução da sequência de sons, para
dar conta da mudança de duração rítmica e de andamento;
2) aumento súbito da força aplicada ao movimento de toque dos dedos da
mão direita, exigido para controlar a mudança de intensidade dos sons;
3) independência de movimento na alternância entre dedos adjacentes da
mão esquerda, cuja ação é mais fortemente limitada pelas estruturas anatômicas
do que na alternância realizada entre dedos não adjacentes;
4) assimetria bimanual nos movimentos de toques dos dedos da mão
esquerda com uso de posição “fixa” de um dedo pivô concomitantemente à
mudança de corda no toque de ambas as mãos.
O fator aumento súbito de velocidade no ataque de sons consecutivos e
monofônicos (a exemplo de melodias), é um fator demandado frequentemente na
execução do ritmo musical quando há aumento da densidade de ataques de sons.
Conforme referido anteriormente, este fator depende da duração do som ser
longa ou curta, de acordo com as figuras rítmicas correspondentes às notas da
peça musical, o que gera menor ou maior densidade de ataques de sons e
consequentemente diminuição ou aumento da quantidade de toques de dedos por
pulso de metrônomo. Conforme referido no item 2.4, uma maior densidade de
sons consecutivos por período de tempo, é percebida como aumento de
velocidade na performance musical.
120
O aumento súbito da força (ou sua diminuição) aplicada ao toque dos
dedos da mão direita (o qual constrói a intensidade sonora ou dinâmica do som) é
na performance do violão uma demanda que exige controle motor refinado para a
expressão das diferentes intensidades dos sons demandada pela estrutura da
obra musical e/ou intenção do intérprete. Entretanto, há um fenômeno bem
conhecido dos instrumentistas de que quanto maior a força aplicada no toque dos
dedos, maior será a tendência em diminuir a velocidade da execução de uma
sequência dos sons (Goebl & Palmer, 2013; Neuhaus, 1973). Instrumentistas
novatos em geral tendem a realizar a mudança de intensidade sonora de maneira
mais ou menos gradativa, mesmo sendo solicitados a mudarem “subitamente” a
intensidade. Tal controle da intensidade (volume) dos sons exige atenção e
treinamento motor específico para realizar a mudança de maneira súbita.
A independência de movimento entre os dedos da mão é importante à
performance do violão, que em geral demanda a ação sequencial de muitos
dedos na mecânica da produção dos sons. Por isso a necessidade de
desenvolver a habilidade em controlar movimentos individualizados se torna
crucial quando da alternância de toques entre dedos adjacentes – interconectados
por fortes estruturas anatômicas que restringem sua independência motora.
A assimetria da ação bimanual é uma característica peculiar da ação de
tocar o violão, ação esta que exige a realização de movimentos coordenados
entre os dedos e ambas as mãos. Conforme apontado no item 4.10.1 - Assimetria
bimanual na performance do violão, a natureza da ação motora de cada mão ao
tocar o violão se diferencia bastante uma da outra quanto à sua natureza
biomecânica.
A seguir, são descritas como foram manipuladas as variáveis
independentes para viabilizar a observação de seu efeito sobre a variável
dependente, isto é, sobre a precisão temporal na execução dos exercícios.
Velocidade
Com esta variável foi manipulado o aumento súbito da velocidade, o qual
ocorreu na proporção de 2x no lugar de 1x, isto é, aumentou em dobro a
velocidade. A manipulação do aumento súbito da velocidade da tarefa foi
121
implementada na transição do final do segmento A de cada exercício –
representado na partitura com figuras rítmicas de colcheia (), cuja duração
equivalia à 1/2 do pulso de metrônomo – para o início do segmento B –
representado na partitura em figuras de semicolcheia (), cuja duração equivalia à
1/4 do pulso de metrônomo.
Na variável velocidade, foi manipulado o aumento progressivo de
velocidade de toda sequência de sons através de três diferentes andamentos
musicais controlados por metrônomo. Estes aumentos de velocidade
corresponderam ao incremento da velocidade respectivamente nas frações de 1/6
e 1/3, isto é, de 90 para 105 e 120 batidas por minuto. A variável velocidade,
embora tenha sido implementada em todos os exercícios destinados ao
treinamento dos participantes, foi controlada de maneira isolada no Exercício nº 1,
isto é, sem outra restrição biomecânica adicional. Ademais, o aumento da
velocidade de andamento musical do exercício destinou-se a submeter o
violonista à exigência de um limiar elevado da sua capacidade em tocar em alta
velocidade para, de acordo com o princípio da especificidade da tarefa, impor a
realização de movimentos rápidos em tarefas de alta velocidade e desse modo
favorecer incremento da sua habilidade para conciliar velocidade.
Força
O fator aumento súbito da força do toque dos dedos da mão direita se
destinou a manipular o efeito do incremento da intensidade sonora sobre a
velocidade e precisão temporal. Nesta variável foi manipulada a intensidade dos
sons resultante da aplicação de maior esforço no toque dos dedos da mão direita
quando da repetição da sequência inteira de 32 sons do Exercício nº 2, ao qual
deveriam ser aplicados de súbito toques de dedos com intensidade fortíssima (ff)
na 2ª vez em que o exercício seria executado.
Este fator foi aplicado exclusivamente na repetição ou ritornello (2º vez) do
Exercício nº 2. Consistiu no aumento súbito de força aplicado ao toque dos dedos
da mão direita para produzir maior intensidade dos sons quando da repetição da
sequência dos sons do exercício. Este exercício utilizou somente uma nota
122
musical numa única corda, o que o tornou simples77 e por isso apropriado para
isolar a interferência de outros fatores sobre o efeito da força do toque dos dedos
da mão direita. Para fins de análise do efeito desse fator sobre a velocidade e
precisão temporal pode ser comparada a execução da 2ª vez do Exercício nº 2
(em volume fortíssimo = ff) com a execução da 1ª vez (em volume suave = p), ou
comparando-a com o efeito da execução do Exercício nº 1 cuja estrutura é similar
à execução da 1ª vez.
Independência de movimento
Com a variável independência de movimento foi manipulado o efeito da
ação alternada entre dedos adjacentes (Exercício nº 4) e dedos não adjacentes
(Exercício nº 3) da mão esquerda. Estes exercícios foram delineados para serem
executados numa única corda do violão. O desempenho do violonista no
Exercício nº 4 deve ser comparado àquele que obteve no Exercício nº 3, o qual
possui estrutura similar ao Exercício nº 4, porém, com a alternância entre os
dedos não adjacentes.
Assimetria bimanual dos movimentos.
Nesta variável foi manipulada a alternância de movimentos entre um dedo
“fixo” da mão esquerda – denominado dedo pivô – a pressionar uma única
corda/casa e a concomitante ação alternada dos dedos adjacentes ao pivô
mudando de corda/casa na mão esquerda e de corda nos toques dos dedos da
mão direita. No Exercício nº 5 foi implementado o uso de duas cordas e no
Exercício nº 6 o uso de três cordas. Este fator foi comparado entre o Exercício nº
5 que não utilizou mudança de corda na mão esquerda e o Exercício nº 6, no qual
foi utilizada mudança de corda nas duas mãos. A tarefa consiste na ação
sequencial de toques de dedos da mão esquerda envolvendo um dedo em
constante posição fixa (pivô) sobre uma única corda e a alternância de
movimentos de toques de seus dedos adjacentes em outra corda. O desempenho
do violonista obtido no Exercício nº 6 deve ser comparado àquele que obteve no
77 O Exercício nº 2 contém estrutura musical simples, entretanto, não menos difícil de realiza-la.
Neste caso, fazemos distinção entre dificuldade e complexidade.
123
Exercício nº 5, o qual possui estrutura similar, embora os dedos adjacentes ao
pivô permaneçam numa mesma corda.
O detalhamento da ação envolvida em cada exercício encontra-se nas
partituras musicais dos exercícios de treinamento, apresentadas no item 5.4.2.
5.1.6 Desenho do experimento
Para abordar o problema aqui investigado utilizamos um desenho
metodológico experimental78 de participante único (Shadish et al., 2002) – também
referido como estudo experimental de sujeito único (Lammers & Badia, 2004) – e
cuja replicação do mesmo foi realizada com cinco casos de violonistas novatos. O
experimento aqui levado a cabo envolveu um treinamento com exercícios
estruturados sob diferentes restrições biomecânicas, os quais deveriam ser
repetidos em três velocidades progressivamente mais rápidas marcadas por
metrônomo.
Natureza dos dados recolhidos para o experimento
Os dados recolhidos nesta investigação foram originados de fontes de
informação multimodais (Perez-Carrillo et al., 2015), cujos conteúdos são de
naturezas distintas. As informações advindas destas diferentes fontes são
interdependentes e se complementam na interpretação dos resultados. Os dados
registrados da ação da mão direita foram originados de fonte de informação de
natureza aural, através da qual, pelo material registrado em áudio digital, foram
detectados os instantes de ataque dos sons do exercício treinado no violão. Os
dados registrados da ação de preensão dos dedos da mão esquerda tiveram
origem em fonte de informação de natureza visual, recolhida através de vídeo
digital. Os dados acerca da estrutura de cada exercício (em formato de sequência
de sons) foram derivados de fonte de natureza representacional, fornecida
através dos símbolos da partitura musical. As diferenças de natureza das fontes
que originaram os dados da pesquisa influenciaram tanto os procedimentos de
registro dos dados, como o delineamento da análise.
78 Shadish, Cook, & Campbell (2002) referem-no como estudo quase experimental.
124
As restrições biomecânicas consideradas nos exercícios foram: a) aumento
súbito de velocidade no movimento de ataque do som produzido pelos dedos da
mão direita; b) aumento súbito de força aplicado ao toque dos dedos da mão
direita para incremento da intensidade sonora; c) movimentos alternados entre
dedos adjacentes da mão esquerda, d) assimetria bimanual no uso coordenado
de um dedo pivô79 da mão esquerda com ação alternada dos seus dedos
adjacentes, sincronizada com os toques dos dedos da mão direita.
A obtenção dos dados incluiu: a) valores de tempo (registrados em vídeo)
do instante de toque dos dedos de ambas as mãos para atacar cada som do
exercício no violão; b) valores de tempo (registrados em áudio) do instante de
“ataque” dos sons no violão realizados pelos dedos da mão direita, e c) valores de
tempo (registrados em áudio) dos sons das pulsações (batidas) do metrônomo
indicando a velocidade de andamento em que a sequência de sons do exercício
deveria ser tocada.
Os exercícios de treinamento levado a cabo no experimento estão
estruturados sob quatro fatores conforme descritos a seguir:
1 - Aumento súbito de velocidade do movimento de toque dos dedos. Este
fator lida apenas com o elemento velocidade do movimento e está contemplado
em todos os exercícios do treinamento. Propõe uma mudança súbita de
velocidade nos movimentos de toque dos dedos da mão direita a partir do
segmento lento do exercício (parte A, em colcheias) para o segmento rápido
(parte B, em semicolcheias).
2 - Aumento da velocidade do andamento musical. Este fator está embutido
na mudança de velocidade proposta em três andamentos musicais marcados por
metrônomo (90, 105 e 120 bpm) nos quais cada exercício deveria ser treinado. A
exigência de mudança de velocidade de andamento foi proposta para que o
violonista realize a tarefa também numa velocidade elevada, próxima ao seu
limiar individual de habilidade para realizar movimentos rápidos, ao mesmo tempo
em que os concilia com a manutenção da precisão temporal referenciada pelo
79 O uso de dedo pivô consiste na ação de múltiplos dedos da mão esquerda na qual um dedo
permanece premido sobre uma corda numa casa da escala do violão, enquanto outros agem em outras cordas e outras casas altenadamente ao dedo fixo ou pivô.
125
metrônomo.
2 - Aumento súbito de força aplicada ao toque dos dedos da mão direita.
Com este fator abordamos a força do toque dos dedos da mão direita exigida para
efetivar o aumento da intensidade sonora (volume do som tocado no instrumento).
Esta tarefa está proposta no Exercício nº 2, através do qual pretendemos testar o
efeito do aumento de força no toque dos dedos da mão direita sobre a velocidade
da tarefa e a correspondência com a precisão temporal na sua realização. A
análise do efeito do fator força sobre a velocidade dos movimentos e sua precisão
temporal é realizada comparando-se o desempenho da 1ª vez em que o exercício
é executado (tocado com intensidade sonora suave)80 com o desempenho da 2ª
vez (tocado com intensidade sonora muito forte).
3 - Movimento individuado entre dedos adjacentes da mão esquerda. Com
este fator restritivo da independência de movimento entre dedos adjacentes foi
proposto testar o efeito das restrições anatômicas entre dedos adjacentes da mão
humana, as quais limitam a liberdade do movimento individuado dos dedos. Para
a análise do efeito dessa restrição sobre a velocidade e precisão temporal da
tarefa, este fator é implementado no Exercício nº 4, cujo desempenho do
violonista neste exercício é comparado com aquele obtido no Exercício nº 3, o
qual envolve apenas ação alternada entre dedos não adjacentes desta mão.
4 - Coordenação de movimentos bimanuais assimétricos. Para abordar
este fator restritivo foi proposto treinar o Exercício nº 6, o qual exige controle
assimétrico dos movimentos dos dedos 1, 2, 3 e 481 da mão esquerda em relação
à ação alternada de toque dos dedos da mão direita. A implementação da
exigência de controle dos movimentos bimanuais assimétricos envolveu: a), ação
de dois dedos da mão esquerda mudando de corda, enquanto outro (dedo pivô)
permanece em esforço estático numa mesma corda e casa; b) simultaneamente,
os dedos indicador, médio e anular da mão direita agem alternadamente no
ataque das cordas para produção dos sons sendo “preparados” pela ação dos
dedos da mão esquerda. Para análise do efeito deste fator restritivo sobre a
80 Na partitura musical, a intensidade fraca é indicada pelo símbolo p e a muito forte por ff.
81 Na nomenclatura da performance do violão utilizam-se os números 1, 2, 3 e 4 para nominar os
dedos da mão esquerda, os quais correspondem respectivamente aos dedos indicador, médio, anular e mínimo.
126
velocidade e precisão temporal da tarefa, o desempenho obtido pelo violonista no
Exercício nº 6 é comparado com o do Exercício nº 5. Este, apesar de fazer uso da
ação assimétrica com um dedo fixo (pivô) na mão esquerda, na ação de seus
dedos não inclui mudança de corda nem a ação do dedo anular na mão direita, o
que torna sua realização menos complexa do que a do Exercício nº 6.
5.1.7 Plano da análise dos dados
A análise dos resultados interpreta o desempenho alcançado pelo
violonista participante ao tocar os diferentes exercícios do treinamento levado a
cabo neste experimento. A comparação do desempenho alcançado pelo violonista
nos exercícios de treinamento teve o propósito de investigar o efeito das
subjacentes restrições biomecânicas do exercício sobre o incremento da
habilidade em conciliar o aumento da velocidade do ataque dos sons com a
manutenção de sua precisão temporal. Para possibilitar a aferição do nível de
precisão temporal no ataque dos sons, a despeito do aumento da velocidade, a
execução dos exercícios foi regulada por batimentos de metrônomo em diferentes
velocidades de andamento musical delineadas para o treinamento.
A análise do desempenho alcançado pelo violonista participante comparou
os resultados sob o efeito das seguintes condições: 1) aumento súbito de
velocidade ocorrido na passagem do segmento lento (A) do exercício para o
segmento rápido (B) 82, 2) mudança de velocidade do exercício em três diferentes
andamentos musicais (90, 105 e 120 bpm), e 3) diferença de desempenho do
violonista comparado entre as fases inicial e final do treinamento.
5.1.7.1 Pressupostos analíticos e procedimentos preliminares
No experimento levado a cabo por esta investigação foi solicitado ao
violonista participante que, em relação à velocidade de execução dos sons dos
82 Conforme descrito nos itens 5.4.1 e 5.4.2, o segmento A do exercício está representado na
partitura musical em notas de colcheias [] - que no exercício equivalem a sons longos (lentos) - enquanto que o segmento B está representado em notas de semicolcheias [] - que equivalem a sons curtos (rápidos).
127
exercícios de treinamento, “seguisse” exatamente a mesma velocidade indicada
pelo metrônomo, tanto nas sessões diárias de treinamento como no momento do
registro dos dados. No registro dos dados de áudio, a referência temporal
indicada pelo metrônomo constitui um importante elemento para posteriormente
permitir analisar o desempenho de precisão temporal alcançado pelo violonista no
ataque de cada nota musical do exercício. Tal referência fornecida pelo
metrônomo serve para indicar dois elementos na análise dos dados de áudio: 1) o
instante em que o dedo da mão direita tangencia a corda para produzir o ataque
(começo) do som no violão, e 2) o instante em que o dedo da mão esquerda inicia
o contato/preensão sobre a corda/casa na escala do violão para “preparar” a
altura da nota musical. Na análise dos dados de áudio e vídeo, a ocorrência da
precisão temporal dos movimentos dos dedos da mão direita em relação ao
tempo do metrônomo foi interpretada como a coincidência do instante de ataque
do som no violão com o momento referido a partir da batida do metrônomo.
Nas planilhas de apresentação dos dados de desempenho do violonista –
referente à precisão temporal no ataque dos sons – aparecem valores tanto
negativos como positivos, os quais resultam da diferença de tempo entre o
instante do começo de cada som do violão e a marcação temporal do metrônomo.
Os valores negativos indicam que há atraso no movimento do dedo da mão direita
para produzir o ataque do som no violão, enquanto que os valores positivos
indicam que há antecipação no movimento do dedo para atacar o som.
Para viabilizar a análise do nível de precisão temporal que ocorre no
ataque dos sons do violão em relação ao tempo indicado pelo metrônomo, há que
se ter sempre em mente o fato de que a cada pulsação do metrônomo, ora devem
ser tocados dois sons no violão (no segmento A, em ), ora quatro sons (no
segmento B, em ). Por causa desta condição estrutural – presente na
elaboração da coluna de valores de tempo do metrônomo da planilha de dados –
entre os tempos das pulsações do metrônomo foram interpolados valores
temporais proporcionais à duração da figura rítmica equivalente a cada som do
exercício tocado no violão. Estes valores interpolados entre cada pulsação do
metrônomo corresponderam à fração de ½ do tempo da pulsação para o
segmento A (de sons em ), e à fração de ¼ para o segmento B (de sons em ).
128
Tal interpolação foi implementada nas planilhas de apresentação dos dados,
obedecendo à correlação de duração da figura rítmica do som com a velocidade
(em bpm) do andamento musical do exercício, conforme equivalência mostrada
na Tabela 3. Esta interpolação de valores foi necessária para tornar possível a
comparação do momento de ataque de cada som do violão com a correspondente
marcação de tempo indicada pelo metrônomo.
VELOCIDADE DO ANDAMENTO MUSICAL
COLCHEIA () (duração em milissegundos)
SEMICOLCHEIA () (duração em milissegundos)
= 090bpm [= 666,666 ms] [= 333,333 ms] [= 166,666 ms]
= 105bpm [= 571,428 ms] [= 285,714 ms] [= 142,857 ms]
= 120bpm [ = 500 ms] [= 250 ms] [= 125 ms]
Tabela 3: Correlação entre duração das figuras rítmicas e velocidade do andamento musical.
Um adicional esclarecimento preliminar diz respeito ao fato de que em
nossa análise dos dados, em algumas ocasiões recorremos ao recurso da escuta
(percepção aural) do material registrado em áudio para facilitar o discernimento
dos elementos que visualmente poderiam apresentar alguma dificuldade na sua
detecção e/ou análise. Em outras ocasiões, apesar dos recursos analíticos
propiciados pela escuta dos sons, observamos que certos desvios no tempo (sutis
antecipações ou atrasos dos sons) poderiam, por vezes, não ser claramente
percebidos através da escuta, e então recorremos à análise dos dados de áudio
auxiliada por recursos computacionais. Na análise dos sons executados no
instrumento musical, estes dois tipos de recursos não excluem um ao outro; ao
contrário, se complementam e ao fim do processo de análise enriquecem a
compreensão sobre a execução musical desempenhada pelos violonistas.
5.1.7.2 Estrutura da análise
O método experimental de participante único, mesmo quando replicado
com vários participantes, de maneira geral enfatiza a análise do desempenho
individual do participante testado. Embora não esteja descartada a replicação dos
testes com diferentes participantes, em nosso estudo a análise é enfatizada sobre
o desempenho de um participante, a qual compara o efeito da manipulação de
diferentes variáveis na tarefa testada, tais como mudança de velocidade e
129
imposição de diferentes restrições biomecânicas nos exercícios. Por conta deste
tipo de desenho metodológico utilizado em nosso estudo, a ênfase da análise de
desempenho em velocidade-precisão no ataque dos sons recai sobre a
comparação entre: 1) as diferentes restrições biomecânicas impostas em cada
tarefa-exercício, e 2) as diferentes fases (inicial e final) de registro de dados do
treinamento.
Esta análise tem em conta os dados de tempo do movimento ocorrido na
ação dos dedos de ambas as mãos executando os exercícios ao violão, e o
desdobramento destes dados obtidos nas fases inicial e final do período de
treinamento.
Em termos de dimensão macroestrutural o delineamento da análise dos
dados abrange os elementos que seguem.
1 - Análise do efeito do aumento de velocidade e imposição de restrições
biomecânicas83 dos exercícios (tarefas) sobre: a) a precisão temporal do ataque
dos sons tocados ao violão (entendida como ausência de desvio temporal
ocorrido no movimento de toque dos dedos da mão direita em relação ao tempo
indicado pelo metrônomo); b) a sincronia bimanual (entendida como ausência de
defasagem temporal intermanual84 na ação coordenada de uma mão em relação à
outra durante a produção dos sons no violão);
2 - Análise do efeito do treinamento sobre o desempenho do violonista para
conciliar velocidade e precisão temporal dos movimentos de toque dos dedos no
ataque dos sons do violão, obtido a partir da comparação dos resultados entre as
fases inicial e final do treinamento;
3 - Análise das possíveis diferenças de precisão temporal e sincronia
bimanual ocorridas na execução dos diferentes exercícios, obtidas através da
comparar ação do desempenho de cada participante e do desempenho
interparticipantes.
A análise dos dados de desempenho do violonista – quanto à precisão
temporal dos toques de dedos referenciada pelo metrônomo – foi realizada a
83 Fatores fisicos limitadores do movimento corporal que influenciam em sua velocidade e
consequentemente em sua precisão espacial e temporal. 84
Diferença de tempo ocorrida na ação de uma mão em relação à outra na realização de uma tarefa bimanual. Assincronia da ação ocorrida entre as mãos ao realizarem uma tarefa bimanual.
130
partir de um nível microestrutural para o macroestrutural, em que se considerou
cada segmento (A ou B) do exercício como a menor estrutura de análise, referida
como unidade de análise85. Seguindo este princípio estrutural, nossa análise se
iniciou com a comparação do desempenho do violonista entre os segmentos
lento/rápido (partes A/B) de cada exercício e posteriormente comparou o
desempenho por ele alcançado nos seis exercícios. Uma vez realizada a
comparação do desempenho de precisão temporal alcançado pelo violonista entre
os segmentos lento/rápido de cada exercício, cada um dos segmentos passou a
ser comparado também entre as três diferentes velocidades de andamento
musical (90, 105 e 120 bpm) em que os exercícios foram treinados. Por fim, o
desempenho obtido por cada violonista nos exercícios tocados, é comparado por
amostras pareadas (em pares) com os dados registrados nas duas fases (inicial e
final) do treinamento. Adicionalmente, o desempenho de cada violonista obtido
nos exercícios treinados, é comparado entre todos os violonistas participantes do
experimento no item 6.2, referido como análise interparticipantes.
Na interpretação dos dados de áudio foi tido em consideração que pela
exigência de máxima precisão temporal possível do instante de ataque (começo)
do som, teoricamente o violonista deveria fazer coincidir tal ataque do som com o
começo da duração da figura rítmica correspondente – deduzida a partir da
velocidade da pulsação do metrônomo. Quando isso não ocorre, dizemos que
houve um desvio temporal do som do violão (ou uma imprecisão no movimento de
tanger os dedos sobre as cordas) em relação ao tempo indicado pelo metrônomo.
Este elemento de interpretação dos dados deve ser tomado em consideração
para que se possa identificar o grau de precisão temporal desempenhado pelo
violonista no ataque dos sons do violão.
Outro aspecto a ser considerado na interpretação dos dados é a
correspondência de duração das figuras rítmicas com a velocidade das pulsações
do metrônomo (velocidade do andamento musical). A duração precisa de cada
som representado em figura de colcheia (), ao ser tocado no andamento de 90
bpm, deve equivaler a 333 milissegundos (parte A), enquanto que a duração de
85 Em métodos quantitativos de investigação, o termo unidade de análise refere-se à menor
estrutura considerada na interpretação dos dados.
131
cada som em semicolcheia no andamento de 90 bpm deve equivaler a 166
milissegundos86 (parte B). Para uma consulta detalhada sobre a correspondência
da duração entre as figuras rítmicas e a velocidade dos andamentos musicais
utilizados no treinamento de nosso experimento, foi elaborada a Tabela 3.
Num nível microestrutural o plano de análise dos dados, é apresentado a
seguir nos detalhes e procedimentos analíticos que foram adotados nesta
investigação.
5.1.7.3 Estruturação dos dados
Por conta do tipo de desenho metodológico utilizado em nosso estudo, cuja
ênfase da análise recai sobre o desempenho individual do participante, a análise
de seu desempenho referente à conciliação velocidade-precisão no ataque dos
sons encontra-se focada sobre a comparação de: 1) efeito de diferentes restrições
biomecânicas impostas em cada tarefa-exercício, e 2) desempenho nas diferentes
fases (inicial e final) do período de treinamento.
Para análise dos dados registrados em nosso experimento é utilizado o
cálculo de média simples do desvio temporal ocorrido no ataque de cada um dos
16 sons de cada segmento lento (A) e rápido (B) do exercício em comparação ao
tempo marcado por metrônomo. O cálculo da média de desvio temporal ocorrido
no ataque dos sons do violão também foi aplicado nas três diferentes velocidades
de andamento em que os seis exercícios foram treinados (90, 105 e 120 bpm) e
nas fases inicial e final de registro dos dados do experimento.
Conforme já indicado no item 5.4 Tarefas: exercícios, o motivo da estrutura
do exercício estar dividida em dois segmentos – um com sons lentos (A) e outro
com sons rápidos (B) – teve o propósito de implementar o princípio pliométrico de
“velocidade explosiva” através do aumento súbito de velocidade na execução da
tarefa. Por isso, o segmento B está estruturado de modo que sua execução deva
ocorrer exatamente no dobro da velocidade do segmento A, provocando um
aumento de 100% em sua velocidade de execução.
Numa configuração macroestrutural da apresentação dos dados, a Tabela
86 Em teoria musical é convencionado que a duração da semicolcheia equivale à metade da
colcheia.
132
4 ilustra como estão distribuídos os segmentos A e B de cada exercício do
treinamento no conjunto dos dados recolhidos. Nesta tabela os segmentos lentos
(A) aparecem nas colunas de cor cinza, enquanto que os rápidos (B) aparecem
nas colunas de cor laranja. Cada segmento do exercício representado nesta
tabela se constitui numa unidade de análise (Babbie, 1999). Conforme descrito no
item 5.4 Tarefas: exercícios, cada unidade de análise, ou segmento do exercício,
encontra-se constituída por 16 sons monofônicos e isócronos87, os quais
constituem a metade dos 32 sons do exercício.
DISTRIBUIÇÃO DAS UNIDADES DE ANÁLISE NO CONJUNTO DOS DADOS RECOLHIDOS PARA CADA VIOLONISTA PARTICIPANTE
Fase INICIAL
Exercícios 90 bpm inicial () 105 bpm inicial () 120 bpm inicial ()
Nº 1 Parte A Parte B Parte A Parte B Parte A Parte B
Nº 2 (1ªvez) Parte A p Parte B p Parte A p Parte B p Parte A p Parte B p
Nº 2 (2ªvez) Parte A ff Parte B ff Parte A ff Parte B ff Parte A ff Parte B ff
Nº 3 Parte A Parte B Parte A Parte B Parte A Parte B
Nº 4 Parte A Parte B Parte A Parte B Parte A Parte B
Nº 5 Parte A Parte B Parte A Parte B Parte A Parte B
Nº 6 Parte A Parte B Parte A Parte B Parte A Parte B
Fase FINAL
Exercícios 90 bpm final () 105 bpm final () 120 bpm final ()
Nº 1 Parte A Parte B Parte A Parte B Parte A Parte B
Nº 2 (1ªvez) Parte A p Parte B p Parte A p Parte B p Parte A Parte B p
Nº 2 (2ªvez) Parte A ff Parte B ff Parte A ff Parte B ff Parte A Parte B ff
Nº 3 Parte A Parte B Parte A Parte B Parte A Parte B
Nº 4 Parte A Parte B Parte A Parte B Parte A Parte B
Nº 5 Parte A Parte B Parte A Parte B Parte A Parte B
Nº 6 Parte A Parte B Parte A Parte B Parte A Parte B
Tabela 4: Estruturação dos dados para análise de desempenho de um participante. A apresentação dos resultados encontra-se organizada por: 1) segmento do exercício:
lento (A = sons em ) e rápido (B = sons em ); 2) exercícios (nº 1 a nº 6); 3) velocidades de andamento treinadas (90, 105 e 120 bpm); 4) fases do treinamento (inicial e final). Esta tabela ilustra a distribuição das 84 unidades de análise consideradas na análise dos dados de desempenho de cada violonista participante. Cada exercício contém 32 sons, que multiplicados pela quantidade de exercícios (inclusive a repetição do Exercício nº 2) e as três velocidades de andamento em que foram treinados, totalizam 672 sons registrados por participante em cada fase do treinamento. Do conjunto dos dados de áudio recolhidos ao longo do experimento entre todos participantes válidos foram analisados 1344 sons.
Considerada a quantidade de segmentos dos seis exercícios registrados
por participante, o procedimento de cálculo da média de desvio temporal dos sons
do violão, abrange a análise de 8488 segmentos de dados produzidos pelo
87 Natureza ou caráter de elementos “que têm duração igual” (Instituto Antonio Houaiss, 2009).
88 No Exercício nº 2 a quantidade de unidades de análise está duplicada por causa da repetição da
execução do mesmo sob o fator aumento súbito de força, exigido para realização dos sons em volume fortíssimo (ff).
133
violonista participante, conforme está representado na Tabela 4.
Aqui, devemos ter em conta que na análise do Exercício nº 2, são
considerados apenas os dados da sua repetição, cujos sons são tocados em
volume fortíssimo (ff) na 2ª vez em que é tocado. Este exercício é assim
considerado na análise, pois é apenas no momento da sua repetição que
efetivamente ocorre o efeito restritivo sobre a velocidade-precisão causado pela
implementação do fator aumento de força no toque dos dedos da mão direita.
Após detectar e ter inserido nas planilhas de cálculo os valores de tempo
correspondentes ao momento do começo de cada um dos 16 sons de cada uma
das duas partes do exercício (A e B), torna-se possível efetuar a análise
estatística do desempenho do violonista na tarefa.
Tendo em conta que o momento no qual ocorre o ataque do som no violão
é dependente da ação da mão direita e o momento de “preparação” da altura
deste som ser dependente da ação da mão esquerda, os dados de tempo do
movimento de cada mão são considerados separadamente na análise. Com isso,
iniciamos a análise dos dados de desvio temporal desempenhados pela ação da
mão que produz o ataque dos sons – neste caso a ação da mão direita – pois no
âmbito da produção do som no violão, o começo do som é o elemento mais
importante para nossa análise do efeito das restrições biomecânicas sobre a
relação velocidade-precisão.
Para analisar a precisão temporal do toque dos dedos da mão direita
envolvidos no ataque dos sons do violão, primeiramente teve que ser realizada a
detecção dos 16 valores de tempo correspondentes ao instante do começo de
cada som em cada uma das duas partes de cada um dos exercícios do
treinamento. A partir da detecção do momento de ataque dos 16 sons do violão
que constituem cada uma das duas partes do exercício, é calculada a diferença
temporal entre estes e o momento marcado pelo metrônomo – sobre o qual
hipoteticamente o violonista deveria fazer coincidir o toque do dedo da mão direita
para produzir cada som. Esta diferença de tempo entre sons do violão e sons do
metrônomo é utilizada para gerar a média de desvio temporal que ocorre no
ataque dos sons realizados no violão em relação ao tempo marcado pelo
metrônomo. Deste modo, a média dos desvios de tempo que ocorrem no ataque
134
dos sons, representa o nível de precisão temporal dos movimentos dos dedos da
mão direita que ocorre no ataque dos sons do segmento lento (A) bem como no
segmento rápido (B) do exercício.
Exemplo de apresentação dos dados de desempenho de um participante
Fase inicial
Exercícios 090 inicial () 105 inicial () 120 inicial ()
nº 1 0,029 0,032 0,003 -0,063 0,007 -0,101
nº 2 (1ªvez) -0,005 0,008 0,014 -0,015 0,02 -0,168
nº 2 (2ªvez) 0,038 0,027 -0,041 -0,038 -0,524 -0,671
nº 3 0,018 -0,039 -0,005 -0,086 0,023 -0,126
nº 4 0,029 -0,037 -0,003 -0,135 0,016 -0,336
nº 5 -0,003 -0,041 0,023 -0,188 0,011 -0,276
nº 6 0,024 -0,091 0,011 -0,353 -0,001 -0,295
Fase final
Exercícios 090 final () 105 final () 120 final ()
nº 1 0,023 -0,019 0,001 0,021 -0,012 -0,077
nº 2 (1ªvez) -0,009 0,003 -0,006 0,002 -0,008 -0,064
nº 2 (2ªvez) -0,018 0,045 -0,017 -0,016 -0,042 -0,111
nº 3 -0,015 -0,032 -0,016 -0,075 -0,015 -0,121
nº 4 0,004 0,007 -0,001 -0,082 0,004 -0,135
nº 5 -0,021 -0,024 -0,004 -0,039 -0,009 -0,061
nº 6 -0,028 -0,026 -0,017 -0,104 -0,013 -0,203
Tabela 5: Estruturação dos resultados por tarefa, velocidade e fase de treinamento. Neste exemplo, os valores (em milissegundos) representam as médias de desvio temporal
que ocorre no ataque dos 16 sons de cada segmento do exercício. Neste formato de tabela, a apresentação dos resultados é organizada por: 1) segmento lento (A, sons em ) e rápido (B, sons em ) de cada exercício, 2) exercícios (nº 1 a nº 6), 3) velocidade de andamento treinada (90, 105 e 120 bpm) e 4) fases (inicial e final) de registro de dados do treinamento.
A partir da obtenção das médias de desvio temporal do ataque dos sons
em cada uma das duas partes do exercício, estas são organizadas em tabelas,
como a exemplificada na Tabela 4. Nesta tabela, as médias estão ordenadas por
exercício (nº 1 a 6), velocidade de andamento musical (90, 105 e 120 bpm) e
fases de registro de dados do treinamento (inicial e final), e apresenta o
desempenho alcançado pelo violonista nos diferentes exercícios manipulados sob
a influência de diferentes restrições (variáveis independentes).
Estrutura dos dados da ação da mão direita
Em nosso estudo, a análise estatística aqui realizada sobre os dados da
ação da mão direita consiste em considerar basicamente os valores de desvio
135
temporal ocorrido no ataque dos sons do exercício (pela ação dos dedos) em
relação ao tempo referenciado pelo metrônomo. As médias destes valores de
desvio temporal são apresentadas para cada segmento (lento/rápido) do
exercício, para as três diferentes velocidades de andamento e para as amostras
emparelhadas (pares) do desempenho ocorrido nas fases inicial e final do
treinamento do violonista. A estrutura da análise dos dados da ação da mão
direita consiste em considerar o efeito de cada variável independente (fatores
restritivos biomecânicos e aumento de velocidade de execução da tarefa) sobre a
variável dependente (precisão temporal).
Estrutura dos dados da ação da mão esquerda
Na análise dos dados da ação da mão esquerda são considerados os
momentos em que o dedo pressiona a corda/casa para “preparar” o som, e/ou o
momento em que ele se afasta da mesma para dar lugar à outra nota mais grave
“preparada” por outro dedo desta mão. A detecção do instante da ação da mão
esquerda no conjunto dos dados também é mensurada tal qual na mão direita,
isto é, em referência ao tempo marcado pelo metrônomo, e por isso pode ser
comparado com o tempo da ação da outra mão.
No entanto, para os propósitos de nosso estudo, essa comparação só foi
intencionada para ocorrer nos exercícios que envolvem mudança de nota musical
na mão esquerda, o que foi programado apenas para os Exercícios nºs 3 a 6.
De acordo com as metas de nosso estudo, abordar a assimetria bimanual
na performance do violão – mesmo que de modo preliminar – torna-se necessário
considerar a ação das duas mãos para identificar o tempo de defasagem (seja por
antecipação ou atraso) da ação dos dedos da mão esquerda em relação ao
instante em que a nota for “atacada” pelo dedo da mão direita.
Normalmente, registros em áudio não possibilitam detectar o momento
exato em que um dedo da mão esquerda pousa sobre a corda/casa no violão89,
sendo necessários para isso, dados de imagem do movimento dessa mão. Por
isso, na detecção dos dados de tempo da ação dos dedos da mão esquerda
89 Uma das exceções a este modo de produzir o som é a produção dos sons em legato, na qual a
mão esquerda pode produzir uma sequência de sons sem auxílio da mão direita.
136
foram viabilizados por material registrado em imagem do movimento (vídeo),
através do qual foi detectado o instante inicial do movimento de preensão do dedo
sobre a corda/casa para preparar cada nota musical (ou seu afastamento quando
dá lugar à outra nota mais grave). Os procedimentos de detecção do tempo de
ação da mão esquerda estão descritos no item 5.7.1.3 Detecção do tempo de
movimento da mão esquerda através no vídeo. Depois de detectados os tempos
de movimento da mão esquerda através da imagem do movimento, estes valores
foram inseridos manualmente nota a nota numa planilha do software estatístico.
Para analisar a simetria da ação bimanual na performance do violão, é
crucial a análise dos dados de tempo da ação dos dedos de ambas as mãos.
Após apresentar a estrutura de análise dos dados da mão direita, passamos a
expor o desenho da análise dos dados da mão esquerda.
O procedimento de cálculo da média de defasagem temporal desta mão
em relação ao metrônomo abrange apenas a análise de 48 segmentos de dados
envolvidos nos Exercícios nºs 3 a 6 dentre o total dos 84 segmentos envolvidos na
análise da ação da mão direita, conforme exemplificado na Tabela 4. Pelo fato
dos Exercícios nºs 1 e 2 não envolverem mudança de nota/casa/corda na ação da
mão esquerda, por esse motivo estes não entram na análise da ação mão
esquerda, e consequentemente eles não estão inclusos na análise da sincronia
bimanual.
Estrutura dos dados da ação bimanual
Após serem analisados os dados de desempenho ocorrido na ação dos
dedos da mão direita, torna-se possível, então, compará-los com os dados da
ação dos dedos da mão esquerda.
Uma vez realizada a média de desvio temporal ocorrido na ação de cada
uma das mãos, é possível realizar a análise do elemento chave para detectar a
diferença de sincronia ocorrida na ação bimanual. Para detectar a possível
defasagem temporal da ação coordenada de ambas as mãos (demandada para a
produção de um som no violão), são usados os tempos de desvio do toque dos
dedos de cada uma das mãos em relação ao tempo do metrônomo. Para calcular
a média de defasagem temporal intermanual ocorrida na produção dos sons no
137
violão é tomado o valor da média de desvio temporal do toque dos dedos da mão
esquerda sobre a casa/corda e subtrai-se o valor da média de desvio temporal no
ataque dos sons realizados pela mão direita. Este procedimento é aplicado em
cada um dos segmentos (A e B) somente dos Exercícios nºs 3 a 6, pois, conforme
anteriormente referido, os Exercícios nºs 1 e 2 não envolvem ação típica de
sincronia bimanual Complementarmente, o cálculo da média de defasagem
temporal intermanual também é aplicado na comparação dos desempenhos
alcançados pelo violonista nas duas fases de registro de dados do treinamento
(inicial e final), e em cada uma das velocidades de andamento musical nas quais
os exercícios foram treinados (90, 105 e 120 bpm). Posteriormente, os resultados
dos níveis de defasagem temporal ocorridos na ação bimanual são apresentados
em gráficos contendo o desempenho do violonista participante em cada exercício
e nas diferentes velocidades de andamento treinadas.
Estrutura da análise interparticipantes
Embora não seja típica do desenho de estudo experimental de participante
único, a análise numa dimensão interparticipantes pode mostrar comparati-
vamente os resultados de desempenho entre vários participantes, conforme
descrito no item 5.1 - Delineamento do estudo. A denominação interparticipantes,
refere-se ao tipo de análise de dados na qual é realizada a comparação do
desempenho entre diferentes sujeitos que realizam uma mesma tarefa sob as
mesmas condições de realização.
5.1.7.4 Análise estatística
As médias simples de desempenho temporal no ataque dos sons devem ser
aplicadas para todas as sequências de sons dos exercícios treinados pelo
violonista. Considerando que cada segmento do exercício contém a mesma
tarefa, porém em velocidades diferentes, a obtenção da média de desvio no
ataque dos sons deverá ser aplicada separadamente para cada segmento, pois A
contém sons longos (que demandam movimentos lentos), enquanto B contém
sons curtos (que demandam movimentos rápidos).
A mensuração dos valores de desvio temporal no ataque dos sons, ao ser
138
realizada separadamente para cada segmento do exercício, possibilita comparar
a intensidade do efeito de manipulação da variável aumento súbito de velocidade
sobre a precisão temporal, ocorrido na passagem do segmento de sons lentos (A)
para o segmento de sons rápidos (B).
Assim, o procedimento de calcular a média separadamente para cada
segmento do exercício, é importante para a detecção do efeito da imposição de
restrição biomecânica (imposta pela estrutura interna do exercício) sobre a
relação velocidade-precisão.
Em nossa análise aqui empreendida, é primeiramente realizado o
procedimento de detecção do nível de desvio temporal ocorrido no instante de
ataque (começo) de cada um dos 16 sons de cada segmento (A ou B) do
exercício, em relação ao tempo referenciado pelo metrônomo. Após a detecção
da amplitude do desvio temporal ocorrido no ataque de cada um dos 16 sons do
segmento é calculada a média de desvio temporal ocorrida no ataque dos 16 sons
do segmento A (lento) e do segmento B (rápido) de cada um dos seis exercícios
de treinamento.
Após o cálculo da média de desvio temporal presente no ataque dos 16
sons de cada segmento de todos os exercícios, torna-se possível comparar o
desempenho de precisão temporal no ataque dos sons de cada violonista entre os
seguintes elementos: a) segmento lento (A) e rápido (B) de cada exercício, b)
todos os seis exercícios de treinamento, c) as três diferentes velocidades de
andamento (90, 105, 120 bpm) em que o exercício foi treinado, e d) as fases
(inicial e final) do treinamento.
Os resultados destas comparações estatísticas são apresentados em
tabelas e/ou gráficos elaborados para representar o desempenho de velocidade-
precisão alcançado pelo violonista participante em cada exercício e comparado
entre todos os casos (sujeitos participantes) do estudo.
5.1.7.5 Uso de valores absolutos ou relativos na análise estatística dos dados
O uso de diferentes procedimentos de análise dos dados pode conduzir a
diferentes interpretações de um resultado. Para esclarecer esse ponto, realizamos
139
aqui uma breve discussão sobre as consequências interpretativas do uso de
valores absolutos e de valores relativos na elaboração da análise estatística.
Inicialmente apresentamos um exemplo [Gráfico 1 (a, b, c, d, e, f)] para poder
ilustrar a diferença de efeito interpretativo que ocorre entre o uso de diferentes
tipos de valores (absolutos ou relativos) na interpretação de um resultado –
considerando que ambos os tipos de valores foram produzidos a partir de um
mesmo conjunto de dados.
Ao usarmos valores absolutos – tal como são utilizados nas médias de
desvio temporal no ataque dos sons – os resultados de atraso no ataque dos sons
que ocorrem em relação ao tempo do metrônomo, aparecem em valores
“invertidos” [Gráfico 1 (b, d, f)]; isto é, os valores negativos passam a ser
positivos, pois nunca há “diferenças negativas” em cálculos com valores
absolutos. Note-se que nos gráficos representando a curva dos valores absolutos
(à direita da página, letras b, d, f) foi mantido no eixo vertical (x) a gradação da
escala de tempo com números negativos. Embora os números negativos não
existam em escalas de valores absolutos, estes foram mantidos na escala apenas
para facilitar a ilustração da ocorrência de “inversão” em comparação à curva de
desempenho com uso de valores reais.
A título de exemplificação, no conjunto de gráficos abaixo [Gráfico 1(a, b, c,
d, e, f)], está ilustrada a média de desvio temporal no ataque dos sons dos seis
exercícios de treinamento que deveriam ser treinados pelo violonista e registrados
nas fases inicial e final do treinamento. Naqueles dados que aparecem à
esquerda da página [Gráfico 1 (a, c, e)], o resultado de desempenho está
representado em valores relativos, enquanto que à direita da página [Gráfico 1 (b,
d, f)] o mesmo resultado é representado a partir de valores absolutos.
Em nossa análise do nível de precisão temporal alcançado pelo violonista
no ataque dos sons dos exercícios, quando lidamos com valores relativos (reais),
os valores de desvio temporal que aparecem negativos indicam a ocorrência de
atraso no ataque dos sons, enquanto que os valores positivos indicam ocorrência
de antecipação do ataque. Entretanto, considerando-se que o cálculo de uma mé-
VALORES RELATIVOS de uma tarefa: VALORES ABSOLUTOS de uma tarefa:
140
Gráfico 1(a) Gráfico 1(b)
Gráfico 1(c) Gráfico 1(d)
Gráfico 1(e) Gráfico 1(f)
Gráfico 1(a, b, c, d, e, f): Uso comparativo entre valores relativos e absolutos em médias. O eixo vertical (x) refere-se ao tempo de desvio no ataque dos sons tocados ao violão,
enquanto o eixo horizontal (y) refere-se ao nº dos exercícios treinados (tarefas). Nos gráficos posicionados no lado esquerdo da página foram usados valores relativos (reais), enquanto que no lado direito foram utilizados valores absolutos. Esta comparação entre o uso de valores relativos e absolutos mostra como os dados aparecem visualmente invertidos ou espelhados.
dia simples envolvendo uso de valores relativos acaba “suavizando” a diferença
de amplitude temporal entre valores negativos e positivos (ocasionando o
achatamento dos valores extremos de desvio temporal), em contrapartida, a
utilização de valores absolutos acaba “preservando” de modo mais realístico a
amplitude do desvio temporal ocorrido no ataque dos sons em relação ao tempo
do metrônomo.
A desvantagem no uso de valores absolutos é que, em nosso caso, não
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_090bpm_B() (Valores relativos)
B-ini
B-fin
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_090bpm_B() (Valores absolutos)
B-ini
B-fin
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_105bpm_B() (Valores relativos)
B-ini
B-fin
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_105bpm_B() (Valores absolutos)
B-ini
B-fin
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_120bpm_B() (Valores relativos)
B-ini
B-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
0,600
0,800
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_120bpm_B() (Valores absolutos)
B-ini
B-fin
141
será possível identificar se a diferença temporal apresentada pela média ocorre
por atraso no ataque do som (causado pelo toque do dedo ser mais lento do que
deveria) ou por antecipação (causada pelo toque ser mais rápido) em relação ao
tempo metronômico. Por outro lado, uma das vantagens do uso de valores
relativos é que estes permitem considerar a característica do algarismo (de ser
positivo ou negativo) em relação ao tempo marcado pelo metrônomo. Em nosso
caso, o uso de valores relativos na análise dos dados de tempo permite detectar
se o desvio temporal do toque do dedo (em relação ao tempo do metrônomo)
ocorre por antecipação ou por atraso, refletindo uma representação mais
realística do instante em que ocorre o ataque do som e possivelmente mais
representativa da ação desempenhada pelo violonista. O que de fato ocorre
quando se trata de usar valores relativos no cálculo de médias simples, é que os
valores resultantes na média não aparecem com a amplitude de desvio
normalmente polarizada, ficando mais “centralizados” ou atenuados porque são
trazidos para o centro da base de tempo zero (tempo do metrônomo).
Por causa da frequente utilização de médias simples em nossa análise
estatística, nelas foram utilizados valores absolutos para computar o desempenho
alcançado no ataque dos sons do violão. Deste modo, o uso de valores absolutos
no cálculo das médias, permite representar melhor a amplitude média do desvio
temporal ocorrido no ataque dos sons em relação ao tempo metronômico.
142
5.2 Participantes
Para observar o efeito do treinamento com imposição de restrições
biomecânicas sobre a habilidade de conciliar movimentos rápidos e precisos na
produção dos sons do violão, decidimos não escolher violonistas experientes ou
profissionais para participarem do experimento, pois estes geralmente já têm
adquirida a habilidade de conciliar velocidade com precisão num nível bastante
avançado. Segundo Lafasse (2010), a verificação do efeito de treinamento com
exercícios de velocidade em violonistas experientes ou de nível profissional, em
geral demanda uma investigação cujo delineamento metodológico implique longo
período de prática para possibilitar alcançar um efeito perceptível do treinamento
sobre a habilidade de regular a relação velocidade-precisão.
Conforme mencionado anteriormente, em nosso caso, não dispúnhamos
de prazo longo o suficiente para empreender uma observação com violonistas de
nível avançado. Por isso, para viabilizar um experimento compreendendo um
curto período de treinamento, propomos a participação de violonistas novatos
(idade entre 12 e 18 anos), porém que tivessem pelo menos 3 anos de prática no
violão erudito para serem capazes de completar as tarefas sem interrupções, a
despeito da exigência de alta velocidade. Assim, conjugando a adoção de um
perfil de participantes novatos com um treinamento mesmo que limitado a 5 dias
consecutivos (item 5.1 - Delineamento do estudo), supúnhamos aumentar as
chances do treinamento vir a causar algum efeito sobre o incremento da
habilidade em conciliar velocidade-precisão.
Cada violonista participante do experimento recebeu o convite de
participação nesta pesquisa, através de professores que atuavam no ensino do
violão (guitarra clássica) na região de Aveiro (Portugal). Em reunião de trabalho
com estes professores, os mesmos tomaram conhecimento dos objetivos e
procedimentos de nossa pesquisa, além do parecer favorável acerca dos
aspectos éticos emitido pelo Conselho de Ética e Deontologia da Universidade de
Aveiro (Parecer nº. 09-CED/2017, anexado ao Apêndice B). Através destes
professores, cada violonista voluntário recebeu as informações necessárias
acerca: 1) do conteúdo do termo de consentimento livre e esclarecido de
participação, 2) do material instrucional para o treinamento e 3) do questionário
143
sobre o perfil de formação musical que deveria ser respondido quando
assinassem o termo de consentimento de participação. Todos os violonistas que
aceitaram o convite para participarem da pesquisa, assinaram o termo de
consentimento de participação juntamente com seus responsáveis conforme
cópia do documento apresentada no Apêndice B.
O violonista que se engajou na fase de pré-testes e outros dois que
participaram do teste-piloto, não participaram do experimento definitivo da
pesquisa, pelo motivo de que queríamos evitar a presença de possível “efeito
residual” resultante da prática realizada nos testes anteriores sobre o resultado do
experimento definitivo.
Inicialmente pretendíamos realizar o experimento com um número maior de
replicações de casos (sujeitos) participantes. Entretanto, seja pelo motivo da
delimitação da proficiência exigida dos participantes (ter ao menos 3 anos de
prática no violão), seja pela indisponibilidade de horário livre alegada por vários
violonistas contatados para participar do experimento, ou pela restrição da faixa
etária, foi possível contar com somente 7 voluntários que se dispuseram a
participar da investigação.
Ademais, apesar do número restrito de participantes disponíveis, ainda
assim os dados recolhidos de 2 deles não puderam ser aproveitados para as
análises, pois durante os registros de dados um deles não conseguiu executar
corretamente a proporção das figuras rítmicas dos sons dos exercícios e outro
executou os exercícios de maneira incompleta. O primeiro violonista com dados
descartados apresentou uma limitação perceptivo-musical caracterizada por
ausência de senso de proporção rítmica (confirmada posteriormente pelo
depoimento oral informal de seu professor de instrumento), a qual lhe impedia de
sustentar a correta proporção de duração rítmica dos sons durante a execução de
uma sequência de sons em sincronia com o metrônomo. O segundo violonista
com dados descartados, não conseguiu realizar algumas das sequências de sons
em sua inteireza e com fluxo contínuo – execução sem interrupção – condição
que ocorreu em ambas as fases (inicial e final) de registro dos dados. Com esta
situação, apenas os dados válidos de 5 participantes puderam ser aproveitados
para a nossa análise.
144
Os dados para traçar um breve perfil da formação e prática musical de
cada caso, foram obtidos através de um breve questionário com questões
fechadas (ver Apêndice B). Estas informações sobre a formação e prática musical
do violonista, encontram-se resumidas na Tabela 7. Para além do questionário
sobre o perfil de formação e prática musical do violonista, foram solicitadas
através de depoimento oral, informal e anônimo do professor de violão (guitarra)
do participante, se haviam características incomuns de desempenho musical que
lhes chamassem muito a atenção no perfil do participante. Estes traços de
comportamento musical mais ou menos incomum do participante, foram
solicitados para termos conhecimento dos mesmos, pois eventualmente poderiam
influenciar seu desempenho na realização das tarefas do experimento. Estas
informações adicionais sobre possíveis traços incomuns no perfil musical do
participante foram incorporadas na análise de desempenho do violonista,
apresentada no item 6.1.1. Ademais, foi confirmado pelos professores de violão
dos participantes que todos violonistas eram destros e haviam estudado o violão
por mais de 3 anos.
O breve questionário sobre prática e formação musical foi apresentado aos
participantes em formato impresso com questões fechadas e respondido por eles
na ocasião em que assinaram o termo de consentimento de participação. No
questionário os participantes também foram indagados acerca de seus hábitos
preferenciais quando se encontravam numa situação em que a execução de um
trecho musical contivesse uma sequência de sons rápidos. Este item indagou ao
participante se: 1) ele habitualmente priorizava apenas maior velocidade na
execução, 2) ou apenas maior precisão, 3) ou se buscava conciliar velocidade
com precisão. Dentre os participantes com dados válidos, dois deles responderam
que habitualmente tentavam conciliar velocidade com precisão na execução de
trechos musicais rápidos, um respondeu que priorizava a precisão da execução e
dois deixaram sem resposta a pergunta deste item. Nenhum participante indicou a
alternativa de que priorizava a execução com maior velocidade.
145
5.3 Equipamentos e materiais utilizados
A seguir estão listados os equipamentos, materiais e softwares utilizados
na investigação, os quais estão separados por categorias de utilização
(treinamento individual, registro dos dados, preparação e análise dos dados).
a) Utilizados pelo violonista em seu treinamento individual
1 violão90 tipo clássico 6 cordas.
1 cópia das partituras musicais impressa em papel contendo os exercícios.
1 cópia das Instruções de Treinamento impressa em papel.
1 metrônomo eletrônico.
1 suporte para o violão (tradicional ou Ergoplay).
1 estante para partitura musical.
b) Utilizados nos registros dos dados
1 violão91 tipo clássico 6 cordas (Ramires-Studio / fabricação, 1993)
1 transdutor de áudio para violão (SCHALLER-Oyster S/P 16050103)
1 metrônomo digital (gerado pelo programa Digital Performer, versão 9.13)
1 suporte ergonômico para violão (Ergoplay modelo Tröster)
1 estante para partitura musical
1 afinador eletrônico polifônico de alta precisão (TC Electronic “Polytune”)
1 interface digital de áudio (MOTU 828x)
1 computador portátil (Apple - MacBook Pro)
1 mini câmera de vídeo (GoPro - Hero 5 Black)
2 câmeras de vídeo profissionais (Sony PMW-EX1R)
1 software de gravação de áudio multipistas (Digital Performer, v. 9.13)
c) Utilizados na preparação e análise dos dados
Programa de edição e análise de áudio digital (Audacity, versão 2.1.3).
Plug-in de detecção do começo do som (OnsetsDS Onset Detector)
Plug-in de medição da diferença de volume do som (Contrast Analysis)
90 Instrumento de propriedade pessoal.
91 Violão de propriedade do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro.
146
Software de edição e análise de áudio digital (Sound Forge Pro, versão 11)
Software editor de vídeo digital (Sony Vegas Pro, versão 12)
Software de análise estatística (IBM SPSS Statistics versão 21)
Software de cálculo e análise estatística (MS Excel, versão 14).
5.3.1 Características e funcionalidades dos equipamentos utilizados
Aqui aparecem descritas as informações básicas sobre o uso e
funcionamento dos equipamentos utilizados no registro dos dados da pesquisa.
Figura 6: Interconexão dos equipamentos utilizados no registro dos dados de áudio e vídeo.
Computador. Para rodar o software de gravação de áudio multipistas,
gerar as batidas do metrônomo digital, sincronizar o registro dos dados de áudio
com outros equipamentos externos, além de realizar o armazenamento dos dados
em hard disk, foi utilizado um computador portátil Apple-MacBook Pro com
processador Intel i5 de 3GHz e disco SSD de 500GB. Neste computador foram
instalados os controladores (drivers) da interface de áudio MOTU 828x, os quais
permitiram controlar (via software) todas as funções da mesma. O computador se
147
encontrava conectado apenas à interface de áudio através de um cabo
Thunderbolt, cuja conexão permitiu a comunicação e sincronização do software
de gravação de áudio com os demais equipamentos de áudio e vídeo.
Interface de áudio. Para permitir a gravação dos sons recebidos do violão
via transdutor de áudio e do metrônomo sincronizados em tempo real com as
câmeras de vídeo e o computador, foi utilizada uma interface de áudio digital
MOTU 828x. Seus recursos foram cruciais para preservar a qualidade do sinal de
áudio analógico recebido via transdutor de áudio e para a sincronização em
tempo real com o sinal do metrônomo digital e as câmeras de vídeo durante todo
o processo de registro dos dados. Destacamos seu recurso de “retorno interno”
do sinal de áudio – nem sempre disponível nas interfaces de áudio digital – o qual
permitiu enviar simultaneamente o sinal do metrônomo aos alto-falantes e retorná-
lo ao computador para ser gravado numa pista individual pelo software de
gravação de áudio com latência menor do que 1 milissegundo.
Transdutor de áudio. Para a captura do sinal de áudio resultante da
execução dos sons no violão foi utilizado um transdutor de áudio do tipo
piezoeléctrico, modelo SCHALLER-Oyster S/P 16050103. O mesmo foi acoplado
sobre o tampo do instrumento (próximo à parte posterior do cavalete) e conectado
via cabo a uma entrada TRS pré-amplificada da interface de áudio MOTU 828x, a
qual transmitia o sinal para o computador via um cabo Thunderbolt. A Figura 6
traz um diagrama das conexões entre os equipamentos utilizados nos registros de
dados. Para visualizar a posição apropriada do transdutor de áudio sobre o tampo
do violão veja-se a Figura 14.
Violão. O violão utilizado para os registros dos dados foi um modelo
clássico de seis cordas do fabricante Ramirez (modelo Studio) fabricado em 1993.
O seu ajuste apropriado para os registros dos dados envolveu a colocação de um
abafador para as cordas não tocadas, acoplamento do Ergoplay, colocação do
transdutor de áudio e afinação, descritos no item 5.5.3.1 - Preparação do violão e
ilustrados na Figura 13.
Metrônomo digital. Foi utilizado um metrônomo digital integrado ao
programa de gravação de áudio multipistas para cumprir com dois propósitos. O
primeiro referiu-se à indicação da velocidade do andamento musical na qual o
148
violonista deveria executar ao violão as sequências de sons dos exercícios. O
segundo motivo de seu uso foi para que gerasse as pulsações do compasso
(batidas de metrônomo) a serem gravadas numa pista de áudio contendo
exclusivamente as batidas do metrônomo. Sua configuração está descrita no item
5.5.3 - Preparação dos equipamentos para o registro dos dados.
Afinador eletrônico. Para afinação do violão disponibilizado nos registros
dos dados foi utilizado um afinador eletrônico polifônico de alta precisão (TC
Electronic “Polytune”). Segundo informado pelo fabricante do mesmo, seu nível de
defasagem na precisão era estimado em 0,02 % e seu excelente desempenho de
precisão foi confirmado por alguns violonistas profissionais.
Câmeras de vídeo. Para a realização dos registros dos dados de imagem
do movimento para a presente pesquisa foram utilizadas três câmeras de vídeo,
sendo duas utilizadas para os movimentos dos dedos da mão direita e uma para a
mão esquerda. As câmeras de vídeo foram numeradas de modo que das duas do
tipo profissional, modelo Sony PMW-EX1R, uma geraria o sinal de sincronismo
como “mestre” (Câmera 1), e a outra receberia o sinal de sincronismo como
“escrava” (Câmera 2), estando ambas conectadas entre si via cabo tipo BNC.
Uma terceira câmera de tipo mini câmera de ação (Câmera 3), modelo GoPro
Hero 5 Black, a qual foi acoplada sobre o tampo do violão (item 4 da Figura 13,
recebeu o sinal de início da gravação via Wi-Fi.
5.3.2 Equipamentos e softwares para a análise dos dados de áudio e vídeo
O software utilizado para a sincronização e registro dos dados de áudio no
computador foi o Digital Performer (versão 9.13) o qual continha recursos de um
típico DAW (Digital Audio Workstation) utilizado na produção de áudio
profissional. Entretanto, para a realização da análise dos dados de áudio e vídeo
foram utilizados diversos outros softwares com características e recursos que
atendessem nossas demandas especificas da análise tanto de material de áudio
como de vídeo.
Para proceder à detecção do instante de ataque (começo) de cada som do
exercício executado pelos dedos da mão direita e a detecção do momento do
começo de cada batida do metrônomo (registrado em áudio digital pelo DAW
149
Digital Performer) utilizamos o editor de áudio Audacity (v. 2.1.3) com um plug-in
instalado especificamente para detecção automática do instante do começo do
som (OnsetsDS Onset Detector).
Após estes dados de tempo do instante do começo dos sons do violão e do
metrônomo serem detectados através do Audacity, estes foram exportados para o
programa editor de planilhas MS Excel (v. 14), os quais foram organizados em
colunas separadas para sons do violão e sons do metrônomo.
Para detecção do instante em que ocorreu o toque do dedo da mão
esquerda sobre a corda/casa ao preparar cada nota tocada no violão, foi utilizado
o programa editor de áudio Sound Forge Pro (v. 11) com recurso de importação
do arquivo (ficheiro) de vídeo exclusivo da ação da mão esquerda registrada pela
Câmera Nº 1, identificada na Figura 6. A interação deste programa com outros
aplicativos utilizados para a detecção do instante inicial do toque do dedo da mão
esquerda para cada som do violão foi ilustrado na Figura 17.
Para substituir e melhorar a banda de áudio do arquivo de vídeo pelo áudio
de melhor qualidade gravado pela interface de áudio foi utilizado o programa
editor de vídeo Sony Vegas Pro (v. 12). Nele também foram editadas as imagens
de vídeo sincronizadas entre as três câmeras com o écran visualmente dividido
em frações de ¼ para exibir continuamente o fluxo de vídeo de cada câmera
(Figura 16).
150
5.4 Tarefas: exercícios
Os exercícios de treinamento propostos para a realização do experimento
foram concebidos para incrementar a habilidade de conciliar movimentos rápidos
dos dedos de ambas as mãos com sua precisão temporal na execução do violão.
Os exercícios – tarefas do treinamento – consistiram de sequências de sons
executadas ao violão contendo restrições biomecânicas em diferentes níveis de
complexidade para a ação bimanual. Foi requisitado ao violonista que durante o
treinamento e registro dos dados a execução dos exercícios deveria ser
temporalmente a mais precisa possível em sincronia com as pulsações do
compasso marcadas pelo metrônomo.
Cada uma das restrições biomecânicas abordadas nos exercícios do
treinamento referiu-se a uma variável independente do estudo e consistiu de um
fator restritivo da velocidade e da precisão temporal dos movimentos dos dedos
conforme indicado no item 5.1.5 Variáveis e fatores do estudo.
Cada exercício destinado ao treinamento levado a cabo no experimento da
pesquisa foi concebido com uma estrutura contendo dois segmentos: o primeiro,
constituído de sons lentos, referido ao longo do texto da tese como segmento (ou
parte) A do exercício, e o segundo segmento constituído de sons rápidos, referido
como segmento (ou parte) B. O segmento A do exercício está representado na
partitura musical em notas de colcheia () e o segmento B aparece na partitura
em notas de semicolcheia ().
Os dois segmentos ou partes do exercício contém uma mesma estrutura de
proporção rítmica e melódica de 16 sons, no entanto, o segundo segmento foi
proposto para ser executado no dobro da velocidade do primeiro e com essa
proporção de velocidade deveria ser tocado pelo violonista num fluxo contínuo da
passagem de um segmento ao outro.
Tal aumento súbito de velocidade da execução dos sons na passagem do
primeiro segmento para o segundo se caracteriza como uma demanda de
“explosividade” na velocidade, a qual é referida na literatura da pliometria como
“velocidade explosiva”. A exigência de velocidade explosiva é um dos princípios
pliométricos que embasaram a concepção das tarefas (exercícios) do treinamento
levado a cabo no experimento desta pesquisa.
151
No caso do Exercício nº 2, foi adicionada a exigência de repeti-lo com
aumento súbito de intensidade (força) no toque dos sons. Na sua repetição –
indicada na partitura musical pelo sinal de ritornello (:||) e confirmado pelo termo
2ª vez – este exercício deveria ser repetido pelo violonista executando-o
subitamente com sons de intensidade fortíssima (ff subito), contrastando
bruscamente com a intensidade suave (p) em que o exercício tinha sido
executado na “1ª vez”. Houve neste caso um aumento súbito de força, o que se
caracteriza como “força explosiva” – outro princípio pliométrico implementado nos
exercícios de treinamento que propomos para o experimento desta investigação.
Embora ambos os segmentos (A e B) de cada exercício contenham a
mesma estrutura melódica e ritmo isócrono, o conjunto dos seis exercícios que
propomos detém diferentes graus de complexidade, os quais foram estruturados
sob três aspectos restritivos. O primeiro deles reside no aumento súbito para o
dobro da velocidade dos toques da mão direita durante a execução do segmento
B – representado em semicolcheias do 17º ao 32º som – em contraposição à
velocidade do segmento A – representado em colcheias do 1º ao 16º som. O
segundo aspecto restritivo encontra-se no aumento gradual da velocidade
produzido pela repetição da execução do exercício em três diferentes
andamentos musicais progressivamente mais rápidos (90, 105, 120 bpm), os
quais se destinaram a requisitar o violonista para agir num limiar mais exigente da
sua capacidade em realizar movimentos bimanuais rápidos. O terceiro aspecto de
complexidade dos exercícios reside no controle dos movimentos dos dedos
demandados na ação bimanual, o qual envolveu restrições biomecânicas
progressivamente mais severas demandadas do primeiro ao último exercício.
Com tal estruturação dos exercícios contendo diferentes graus de
complexidade, foi proposto analisar comparativamente o efeito de diferentes
restrições biomecânicas sobre o desempenho da habilidade de conciliar aumento
de velocidade com a manutenção da precisão temporal na execução de diferentes
tarefas (exercícios) ao violão.
Outro aspecto importante, considerado no delineamento dos exercícios, foi
sua estruturação, ora focada em ação tipicamente bimanual, ora centrada na
típica ação da mão direita para realizar apenas o ataque dos sons. A estruturação
152
dos Exercícios nºs 1 e 2 não envolveu sincronia bimanual em sentido estrito92. Por
isso, ao realizarmos a análise da sincronia bimanual (item 6.2), foram
considerados somente os dados obtidos a partir dos Exercícios nºs 3 a 6, pois
apenas nestes exercícios houve demanda de ação tipicamente bimanual ou de
coordenação intermanual. Conforme se observa nas partituras musicais (Figura 7
e Figura 8 no item 5.4.2), nos Exercícios nºs 1 e 2 a mão esquerda deve manter
um único dedo constantemente fixo numa única nota musical na escala do violão
(nota Dó na 5ª posição da 3ª corda).
Na estrutura do tipo de tarefa envolvida nos Exercícios nºs 1 e 2, a nota
musical “preparada” pela mão esquerda na 5ª posição, simplesmente poderia ser
substituída por outra nota localizada em corda solta (livre)93, sem que com isto se
alterasse a proposta motora destes dois exercícios em relação ao objetivo do
treinamento. Nestes exercícios não se encontra envolvida a alternância de ação
entre dedos da mão esquerda, pois somente na mão direita a alternância de
dedos é demandada, caracterizando-se como uma ação ou tarefa unimanual e
não mais uma ação tipicamente bimanual. Assim, por causa da estrutura dos
Exercícios nºs 1 e 2 não estar caracterizada por uma típica ação de sincronia
bimanual, estes dois primeiros exercícios do treinamento não foram abordados na
análise da ação bimanual no capítulo 6.2.
A seguir são descritas as restrições biomecânicas abordadas em cada um
dos exercícios representados nas partituras (Figuras 7 a 12). Cada restrição
aplicada se refere a uma variável independente testada no experimento.
Exercício nº 1 - A sua principal restrição está no aumento súbito da
velocidade durante a execução da sequência de sons, a qual é exigida na
passagem do segmento A (sons representados em colcheias, ) para o segmento
B (sons representados em semicolcheias, ).
Exercício nº 2 - Sua principal restrição está na exigência do aumento súbito
da força aplicada ao toque dos dedos da mão direita para tocar os sons
92 A sincronia bimanual - algumas vezes também referida como sincronia intermanual - na
performance do violão envolve obrigatoriamente mudança no uso de dedos, casas e/ou cordas na mão esquerda em ação coordenada e concomitante à mão direita ao produzir o ataque do som. 93
Foi utilizada uma digitação na 5ª posição para as notas de todos os exercícios para que a câmera de vídeo abarcasse um ùnico ponto de foco visual estável para todos os movimentos.
153
subitamente em volume fortíssimo (ff subito) a partir da 2ª vez que o exercício
fosse executado.
Exercício nº 3 - A proposição deste exercício se destina apenas a permitir a
comparação do efeito do uso de toques alternados de dedos não adjacentes
sobre a precisão temporal, em contraposição ao uso de toques alternados entre
dedos adjacentes, proposto no Exercício nº 4. Neste exercício não está inclusa a
restrição específica presente na ação alternada entre dedos adjacentes da mão
esquerda proposta no Exercício nº 4.
Exercício nº 4 - Sua restrição está contida no uso da alternância de ação
entre dedos adjacentes da mão esquerda, a qual restringe o controle individuado
do movimento de cada dedo e consequentemente afeta a velocidade dos
movimentos e a precisão da tarefa (Leijnse et al., 1993).
Exercício nº 5 - Foi proposto para realizar a comparação do efeito do uso
de dedo “fixo” ou pivô sobre a precisão temporal em contraposição com o
Exercício nº 6. Ao contrário do Exercício nº 6, este exercício não inclui o uso do
dedo anular da mão direita, nem a mudança de corda para os dedos da mão
esquerda. Outro elemento deste exercício está no uso da ação dos toques de
dedos de ambas as mãos ocorrendo em apenas duas cordas, enquanto que nos
Exercícios nº 1 ao nº 4 é utilizada a alternância de toques dos dedos médio e
indicador da mão direita em apenas uma corda.
Exercício nº 6 - Sua restrição está implementada no uso do sincronismo
bimanual com tarefas assimétricas94 e assíncronas95. Este exercício envolve na
ação da mão esquerda, o uso de um dedo pivô (dedo fixo numa corda/casa),
enquanto os dedos adjacentes a ele se movem simultaneamente em outras casas
e cordas. Em comparação aos outros exercícios, este é o mais complexo e o
único que utiliza três cordas, o que faz incluir a ação do dedo anular da mão
direita e a mudança de corda para os dedos “não fixos” da mão esquerda. A
complexidade de sua ação bimanual simultânea pressupõe dificuldade na
manutenção regular da velocidade e da precisão temporal (e espacial) na
94 Ação individualizada de cada mão, na qual ambas as mãos contribuem com movimentos
diferentes para a realização de uma tarefa motora complexa. 95
Que não ocorrem simultaneamente.
154
realização da tarefa (Parncutt et al., 1997).
5.4.1 Exercícios do treinamento: sequências de sons
Para o experimento envolvendo o treinamento dos violonistas participantes
foram utilizadas seis sequências de sons monofônicos, sendo que cada uma
demandava 32 toques de dedos da mão direita para a produção dos seus sons.
Estas sequências de sons foram nominadas de exercícios, os quais foram
numerados de 1 a 6 no texto das Instruções de Treinamento fornecido aos
participantes. Cada exercício foi estruturado em dois segmentos, sendo cada um
destes constituído por 16 sons monofônicos e isócronos. Ambos os segmentos de
cada exercício contêm a mesma estrutura melódica, com a diferença de que o
segmento A está representado na partitura com figuras rítmicas de colcheias () e
o segmento B em semicolcheias (), resultando numa execução em que a
segunda parte deveria ser tocada no dobro da velocidade da primeira.
No item seguinte estão representados em partitura musical os seis
exercícios em formato de sequência de sons, os quais deveriam ser tocados ao
violão. Estes exercícios destinados ao treinamento do violonista almejavam –
através de sua prática frequente – sobrepujar (ou ao menos minimizar) as
restrições biomecânicas envolvidas na ação de tocar o violão e melhorarem a
habilidade do violonista para conciliar velocidade dos movimentos no ataque dos
sons do violão com a precisão temporal em sua execução.
5.4.2 Partituras musicais dos exercícios de treinamento
Figura 7: Exercício nº 1
155
Figura 8: Exercício nº 2
Figura 9: Exercício nº 3
Figura 10: Exercício nº 4
Figura 11: Exercício nº 5
156
Figura 12: Exercício nº 6
5.4.3 Nomenclatura para as partituras musicais dos exercícios
Para o entendimento dos símbolos encontrados nas partituras musicais
usadas para representação das sequências de sons dos exercícios,
apresentamos algumas informações que podem ser necessárias aos leitores não
músicos ou mesmo músicos não violonistas, uma vez que o violão adota uma
nomenclatura própria para indicar alguns procedimentos de articulação na
produção das notas musicais.
Merecem atenção especial os símbolos de digitação – indicação dos dedos
que devem ser usados para executar os sons – uma vez que no violão a
nomenclatura dos dedos é diferente para cada uma das mãos, conforme indicado
na Tabela 6. Para indicar os dedos da mão esquerda na execução do violão são
usados os símbolos de números arábicos 1, 2, 3, 4, os quais correspondem
respectivamente aos dedos indicador, médio, anular e mínimo desta mão. Para
indicar os dedos utilizados na mão direita é usualmente adotada a primeira letra
do nome de cada dedo, isto é, p, i, m, a, as quais correspondem respectivamente
aos dedos polegar, indicador, médio e anular. Para especificar a corda no violão
sobre a qual um som deve ser tocado é utilizado o símbolo numérico dentro de
um pequeno círculo (em algumas partituras aparece entre parêntesis). Por
exemplo, o símbolo ③ colocado junto da nota musical serve para indicar que ela
deverá ser tocada na terceira corda. Nesse ponto convém esclarecer que as
cordas no violão são numeradas seguindo a ordem da corda mais aguda para
aquela mais grave, indo do número ① ao ⑥, no caso do violão de seis cordas.
Há também outro elemento da teoria musical que pode ser esclarecedor
para leitores não músicos, o qual se refere à regra da proporção de duração
157
existente entre os tipos de figuras rítmicas, isto é, os sinais usados para
representar o ritmo musical. Os tipos de figuras rítmicas96 têm denominação
específica e possuem entre si uma relação sequencial e proporcional da duração
que convencionalmente é indicada por um sinal de fração numérica, o qual foi
colocado ao lado do nome de cada tipo de figura rítmica no quadro explicativo
pertinente, indicado na Tabela 6. Para as sequências de sons dos exercícios de
treinamento representados em partitura, a questão da figura rítmica é importante
para se entender como o segmento B de cada exercício é representado para ser
tocado no dobro da velocidade do segmento A. Isto ocorre deste modo porque a
figura rítmica colocada na partitura que representa cada som do segmento B
(representado em figuras de semicolcheias, ) dura metade do tempo da figura
que representa cada som do segmento A (representado em figuras de colcheias,
).
SÍMBOLOS USADOS NAS PARTITURAS DOS EXERCÍCIOS
Cordas do violão Figuras rítmicas Intensidade do som ⓪ tocar em corda solta = semibreve (1/1) pp = muito suave
① 1ª corda (Mi=E) = mínima (1/2) p = suave
② 2ª corda (Si=B) = semínima (1/4) mp = meio suave
③ 3ª corda (Sol=G) = colcheia (1/8) mf = meio forte④ 4ª corda (Ré=D) = semicolcheia (1/16) f = forte⑤ 5ª corda (Lá=A) = fusa (1/32) ff = fortíssimo⑥ 6ª corda (Mi=E) = semifusa (1/64)
Dedos da mão direita Dedos da mão esquerda Outros símbolos musicais p = polegar 1 = indicador :|| = ritornello
i = indicador 2 = médio
m = médio 3 = anular
a = anular 4 = mínimo
Tabela 6: Símbolos utilizados nas partituras para representar os exercícios para violão.
Outro símbolo que pode ter interesse ao leigo em teoria musical é o que foi
utilizado nas partituras dos exercícios para indicar a velocidade do andamento
musical, o qual é indicado pelo símbolo de uma figura rítmica seguido do sinal de
igualdade, mais um valor numérico. Por exemplo: a indicação = 120
(apresentada logo no começo da partitura musical) significa que o símbolo
(figura rítmica de semínima) equivale à duração de uma batida do metrônomo, o
96 Na escrita musical, a figura rítmica está relacionada à proporção de duração entre os sons.
158
qual está configurado em 120 pulsações por minuto. Nessa condição, o símbolo
de colcheia () equivaleria à metade do tempo de , o símbolo equivaleria a ¼
de , o símbolo equivaleria a 1/8 de , e assim por diante, conforme a proporção
de tempo explicitada no quadro Figuras rítmicas, contido na Tabela 6.
Embora existam outros símbolos usados nas partituras que elaboramos
para representar os exercícios, nem todos poderão ser explicitados aqui, pois este
seria um empreendimento para fazer parte de um compêndio de regras de grafia
musical, o que já é suprido pelos manuais de teoria musical existentes.
5.4.4 Justificativa para a estrutura dos exercícios de treinamento
Os diferentes tipos de estruturação dos exercícios, se destinaram à neles
implementar diferentes restrições biomecânicas e consequentemente viabilizar a
obtenção de diferentes efeitos motivados por estas diferentes estruturas da tarefa
(variáveis independentes).
Segundo estudos anteriores sobre aspectos biomecânicos da performance
de instrumentos, as tarefas envolvidas em experimentos musicais sob uma
perspectiva biomecânica devem ser muito simples em termos cognitivos e
musicais (Costalonga, 2009; Heijink & Meulenbroek, 2002), para que os atrasos
decorrentes de dificuldades cognitivas sejam, se não excluídos, pelo menos
minimizados. Segundo Wargo (1967), estima-se que atrasos decorrentes da
complexidade cognitiva na realização de tarefas motoras podem variar de 113 a
528 milissegundos. Entretanto, de acordo com Costalonga (2009), estes atrasos
na realização dos movimentos corporais ainda “podem ser reduzidos com o
treinamento e a antecipação do movimento" (Costalonga, 2009, p. 111). Ademais,
além da possibilidade de redução do atraso do movimento através do treinamento
e da antecipação do movimento, a intensidade desse atraso ainda pode variar de
acordo com a complexidade da tarefa e das restrições biomecânicas nela
envolvidas. De acordo com Costalonga (2009),
“em termos biomecânicos, uma linha monofônica é mais simples do que uma linha polifônica porque não requer necessariamente a coordenação simultânea de múltiplos dedos como no caso da execução de acordes ou de vários sons simultâneos. Baseados nesta premissa, Heijink & Meulenbroek (2002) optaram por usar frases monofônicas em seu estudo biomecânico da performance do violão” (Costalonga, 2009:111).
159
Para que pudéssemos minimizar os atrasos decorrentes de dificuldades
cognitivas na realização da tarefa, em nosso experimento utilizamos apenas
exercícios em formato de sequências melódicas curtas, cuja duração de sua
execução variou de 6,25 a 8 segundos (conforme o andamento musical em que
foram tocadas).
Apesar de considerarmos a importância da questão da simplicidade para
minimizar atrasos nos movimentos decorrentes de dificuldades cognitivas, pelo
fato das tarefas do treinamento envolverem intrinsecamente diferentes restrições
biomecânicas, a estrutura de nossos exercícios foi desenhada para conter
alternância de movimentos dos dedos progressivamente mais complexas do
primeiro ao último exercício. Para isto, dividimos as tarefas em grupos de
exercícios segundo o critério do tipo de restrição neles envolvido e ordem de
complexidade. Desse modo, as tarefas do treinamento foram categorizadas por
grupos de acordo com o efeito das diferentes restrições: 1) aumento súbito de
velocidade na execução da sequência de sons, (testada no Exercício nº 1); 2)
aumento súbito de força no toque aplicado à corda pelos dedos da mão direita
(testada no Exercício nº 2); 3) individuação do movimento entre dedos adjacentes
(testada no Exercício nº 4) e não adjacentes (testada no Exercício nº 3); 4)
assimetria na ação bimanual usando dedo “fixo” (pivô) enquanto seus adjacentes
agem alternadamente em diferentes casas de duas cordas (Exercício nº 5) e de
três cordas (Exercício nº 6).
Com a estrutura acima indicada, os Exercícios n.º 1, 2, 3, 4 foram propostos
para serem executados em apenas uma única corda, enquanto que o Exercício nº
5 deveria ser executado em duas cordas e o Exercício nº 6, em três cordas.
Embora todos os exercícios envolvessem a ação de ambas as mãos, apenas os
Exercícios nº 3 a 6 se caracterizaram como tarefas de coordenação tipicamente
bimanual, conforme explicado no item 4.10.2.
Em termos rítmico-musicais todos os exercícios propostos para o
treinamento, continham uma única estrutura rítmica no formato de sequência de
16 sons monofônicos e isócronos similar em cada uma das suas duas partes (A e
B), de tal sorte que suas demandas cognitivas, em especial a de memorização,
fossem as menores possíveis. O segmento B de cada exercício contém os
160
mesmos sons do segmento A, porém com a diferença de que sua execução deva
ocorrer no dobro da velocidade deste.
Uma pequena alteração foi introduzida no Exercício nº 2, o qual apesar de
ter a mesma quantidade de sons proposta nos outros exercícios, a sua execução
deveria ser repetida de imediato e subitamente com intensidade mais forte dos
sons. Assim, para aumentar a intensidade dos sons deste exercício (de p para ff
subito), ao repeti-lo o violonista deveria incrementar subitamente a força aplicada
ao toque dos dedos da mão direita sobre a corda.
Outro elemento importante para a estrutura das tarefas refere-se à
justificativa para a brevidade da duração do exercício. Uma duração entre 6,25 a
8 segundos para completar a tarefa, também foi pensada para descartar a
interferência de outra variável motora – a fadiga muscular – e de uma variável
cognitiva – a perda de foco atencional. Em geral, a musculatura envolvida em
tarefas de coordenação motora fina, suporta bem tempos de esforço de alguns
segundos, mesmo em toques de dedos realizando sons em volume fortíssimo.
Quanto à manutenção do foco atencional, necessário para fluência na realização
de tarefas de execução musical, nossa experiência na orientação de músicos
intérpretes tem sugerido que as chances de o instrumentista perdê-lo são
mínimas. Embora existam diferentes fatores que influenciam a atenção humana
(sejam endógenos ou ambientais), quando a duração de uma tarefa é muito
extensa, as chances de perda do foco atencional sobre a realização da mesma
aumentam. Tal fator negativo sobre a atenção para a tarefa foi minimizado em
nosso experimento através da adoção de exercícios de curta duração.
5.4.5 Justificativa para mudança de velocidade na execução do exercício
A mudança súbita de velocidade na execução da sequência de sons do
exercício foi implementada em sua estrutura para que através de sua execução
repetida se pudesse demonstrar o efeito do aumento de velocidade dos
movimentos manuais sobre a manutenção da sua precisão temporal. Em nosso
experimento, o contraste lento-rápido da velocidade de realização de uma mesma
tarefa, foi implementado entre os dois segmentos (A / B) de cada exercício do
treinamento.
161
O aumento de velocidade no andamento musical da sequência de sons
que compõe o exercício foi implementado no treinamento para obrigar o violonista
a executar a tarefa-exercício numa velocidade a mais próxima possível de seu
limiar pessoal de habilidade em movimentos corporais rápidos. Ademais, a sua
adoção serviu também para o violonista desenvolver sua habilidade em realizar
movimentos manuais rápidos através do princípio pliométrico da prática da
“especificidade da tarefa”, neste caso, a prática de movimentos rápidos.
De acordo com os fundamentos da prática pliométrica, exercitar-se
repetidamente numa tarefa de maneira lenta é mais útil para melhorar a acurácia
na realização da tarefa, ou para auxiliar no processo de memorização da mesma.
Entretanto, tocar lentamente uma tarefa, tal como um trecho musical, auxilia
pouco a melhorar a habilidade em realizar esta tarefa com grande rapidez, pois
neste caso a especificidade da tarefa – a rapidez – não esteve concretamente
contemplada em sua prática.
O aumento súbito de velocidade incorporado nos exercícios de treinamento
põe em execução o princípio pliométrico da “explosividade” – na velocidade –
como elemento de “especificidade da tarefa”, o que implica que se deve treinar a
rapidez na realização da tarefa para incrementar a habilidade em fazê-la
rapidamente. Este princípio do movimento serviu para colocar o violonista em
situação de “velocidade explosiva” (Santos, 2009, p. 182).
162
5.5 Procedimentos
Um dos princípios norteadores do delineamento desta pesquisa, foi a
necessidade de se obter os dados empíricos a partir de uma condição a mais
próxima possível de uma situação real da performance do violão. Isso implicou
em não usar procedimentos invasivos, o que exigiu a escolha de dispositivos e
procedimentos que não interferissem na liberdade de movimento dos dedos
quando da execução dos exercícios durante o treinamento e por ocasião do
registro dos dados. Por esse motivo, para medir a velocidade dos movimentos
dos dedos das mãos, não foram utilizados equipamentos ou sistemas que
exigissem o uso de cabos ou fios acoplados aos membros superiores do corpo do
violonista, nem o uso de sensores cujo tamanho interferisse na liberdade dos
movimentos manuais.
Desse modo, para medir o efeito de um fator restritivo da velocidade dos
movimentos bimanuais – a exemplo da independência de movimento ocorrer em
menor grau entre dedos adjacentes – a opção menos invasiva disponível foi medir
o instante em que ocorresse o ataque dos sons do violão através de dados em
formato de vídeo e de áudio digital.
A mensuração do efeito da manipulação das variáveis independentes sobre
a precisão temporal no ataque dos sons do violão foi realizada através da
detecção da amplitude do desvio temporal ocorrido no ataque destes em relação
ao referencial de tempo indicado pelo metrônomo. Por esse motivo os sons dos
exercícios realizados no violão – produzidos pelos toques de dedos da mão direita
– foram registrados (em dados de áudio) sincronizadamente com os sons das
batidas do metrônomo.
Concomitantemente à realização dos registros de áudio, os movimentos de
preensão (e/ou afastamento) dos dedos da mão esquerda sobre a corda
juntamente com os movimentos de tangê-las, realizados pelos dedos da mão
direita, foram todos registrados em dados de vídeo. A sincronização entre os
dados de áudio e vídeo foi realizada em tempo real utilizando-se o protocolo
SMPTE de 25 quadros por segundo, viabilizado através do gerador de
sincronismo de uma das câmeras de vídeo e do sincronizador da interface de
áudio.
163
Para realizar a captura do som durante o processo de registro dos dados
foi utilizado um transdutor de áudio – acoplado ao tampo do violão – o qual era
suficientemente sensível para detectar pequenas nuances de duração e
intensidade dos sons do violão, as quais seriam transmitidas à interface de áudio
conectada ao computador. As vibrações sonoras produzidas a partir da aplicação
de maior ou menor força e da antecipação ou retardo do toque do dedo da mão
direita sobre as cordas do instrumento, por sua vez percorriam o caminho desde
as cordas para o corpo do violão e deste para o transdutor que por meio de um
cabo de áudio conduzia o sinal até a interface de áudio e finalmente ao
computador a ela conectado. Desse modo, os procedimentos adotados em nosso
experimento para a recolha dos dados empíricos viabilizaram um modo o mais
próximo possível de uma condição real da performance violonística.
Dentre os procedimentos, um particularmente importante foi a viabilidade
da recolha de dados (de tempo do movimento) os mais precisos possíveis. Para
mensurar a velocidade do movimento97 do dedo sobre a corda para atacar o som
no violão, foi tomada em consideração a quantidade de latência do sinal de áudio
do violão na comunicação percorrida através dos equipamentos de registro e
sincronização com o sinal do metrônomo digital produzido via software. Para
resolver a sincronização entre os equipamentos de áudio e vídeo foi utilizada uma
interface de áudio, cuja latência98 era praticamente zero. Com os recursos de
baixíssima latência e de “retorno interno” do sinal de áudio do metrônomo digital
gerado via software, propiciados pela interface de áudio, foi possível obter tempos
de defasagem no percurso do sinal (latência) menores do que 1 milissegundo.
Este baixo tempo de latência obtido em nosso experimento é considerado
insignificante para o contexto da atual indústria de áudio digital e para o contexto
de nosso experimento não causou nenhum comprometimento na mensuração do
desempenho de velocidade e precisão temporal.
97 A velocidade do movimento do dedo da mão direita no contexto da produção do som no violão
se traduz em termos acústicos como o instante do “começo” do som tocado. 98
Atraso ou defasagem entre a entrada e saída de um sinal de áudio num equipamento e/ou conjunto de equipamentos destinados à transmisão e/ou registro deste sinal.
164
5.5.1 Instruções para o treinamento
a) Instruções preliminares dadas aos violonistas participantes
Antes de iniciar a participação na pesquisa, todos os violonistas
participantes receberam através de material impresso, as informações
necessárias de como deveriam proceder nas atividades relacionadas ao
treinamento. O conteúdo do material instrucional para o treinamento pode ser
consultado no Apêndice A, nos itens “Instruções de Treinamento”, e
“Esclarecimentos para o dia anterior ao início do treinamento”. Ainda antes de
iniciar o treinamento, cada participante recebeu e assinou o “Termo de
Consentimento de Participação” e respondeu ao “Questionário” com as perguntas
sobre seu perfil de formação musical, constantes do Apêndice B.
Antes de iniciar a sessão diária de treino, cada participante foi orientado,
através do item “2 - Materiais necessários” constante das “Instruções de
Treinamento”, que deveria ter à mão todos os equipamentos e materiais
necessários para a prática dos exercícios. Estes materiais também estão
arrolados no subitem “a” do item 5.3 Equipamentos e materiais utilizados.
Foi recomendado ao participante para que escolhesse um horário e local
em que pudesse realizar a sessão diária de treino sem interrupções. Também foi
recomendado que estivesse atento aos cuidados adicionais durante o período de
participação da pesquisa, conforme indicado no item “6 - Recomendações
adicionais” contido no texto recebido em formato impresso “Instruções de
Treinamento”. Tais instruções foram consideradas úteis para evitar interferências
indesejáveis no desempenho dos participantes durante os registros dos dados.
b) Instruções adicionais para o treinamento
A linguagem adotada para informar as instruções de treinamento aos
violonistas participantes procurou estar livre de jargões técnicos e se aproximou
de um caráter coloquial, tentando ao mesmo tempo não perder a clareza ao
comunicar as informações necessárias. Tal como redigidas aos participantes,
estas informações encontram-se inclusas no Apêndice A, exceto as partituras que
constavam no texto original das instruções, uma vez que já haviam sido
165
apresentadas no item 5.4.2 Partituras musicais dos exercícios de treinamento.
Como não houve disponibilidade dos participantes para uma reunião de
trabalho com os mesmos, pretendida para o dia anterior ao início do treinamento,
foram então redigidos alguns esclarecimentos adicionais necessários para ampliar
as recomendações sobre a prática do treinamento. Estes esclarecimentos
disponibilizados em material impresso foram entregues para os participantes no
final do dia anterior ao início do treinamento e estão inseridos no Apêndice A sob
o título Esclarecimentos para o dia anterior ao início do treinamento.
5.5.2 Procedimentos do treinamento dos participantes
A ordem de execução dos exercícios durante a sessão diária de
treinamento foi informada através do material impresso recebido pelo participante,
através de seu professor de violão99. Conforme referido no item 5.1.4, o
treinamento envolveu a prática dos exercícios durante um período de cinco dias
consecutivos, devendo ocorrer uma sessão de prática por dia, na qual cada
exercício deveria ser repetido num esquema de prática combinando a ordem de
execução com as diferentes velocidades indicadas por metrônomo. Cada sessão
diária do treinamento foi estruturada em duas modalidades de prática, as quais
foram realizadas consecutivamente nas velocidades de 90, 105 e 120 bpm.
Durante a sessão diária de treinamento, em cada uma destas velocidades de
andamento musical os exercícios foram primeiramente repetidos na modalidade
de prática em bloco, e em seguida realizados na modalidade de prática
sequencial.
A sessão diária de treinamento deveria iniciar com a execução dos
exercícios na modalidade de prática em bloco – na qual cada exercício deveria
ser tocado num bloco de cinco repetições consecutivas do mesmo exercício no
andamento de 90 bpm marcado por metrônomo. Em seguida, ainda no mesmo
andamento de 90 bpm, era realizada a modalidade de prática sequencial, onde
cada exercício deveria ser tocado apenas uma vez seguindo a ordem sequencial
do nº 1 ao nº 6. Após a realização dessa estrutura de modalidade de prática no
99Em Portugal, o instrumento é referido como guitarra. O termo violão é normalmente usado
apenas no Brasil.
166
andamento de 90 bpm, o mesmo esquema de prática deveria ser replicado nas
velocidades de andamento de 105 e 120 bpm, conforme explicitado no item 3 -
Roteiro da prática diária constante do texto “Instruções de Treinamento” inserido
no Apêndice A.
A ordem de prática dos exercícios na modalidade sequencial adotada
durante o período de treinamento deveria ser a mesma adotada durante o registro
dos dados. Por ocasião dos registros dos dados, a ordem de execução dos
exercícios tocados na progressão do nº 1 ao nº 6, foi mantida primeiramente no
andamento de 90 bpm, e em seguida, com esta mesma progressão, foi mantida
nos andamentos de 105 e 120 bpm. O texto explicativo sobre os procedimentos
de treinamento que deveriam ser realizados pelo participante foi redigido numa
linguagem próxima da coloquial para facilitar a compreensão do participante, em
especial o item nº 3 - Roteiro da prática diária contido no texto das “Instruções de
Treinamento” (Apêndice A).
Quanto ao fluxo de prática recomendado para ser seguido durante o
treinamento individual, a sessão diária deveria ser realizada ininterruptamente,
sendo apenas permitido o tempo necessário ao ajuste manual da velocidade do
metrônomo nas mudanças de andamento musical. Entretanto, durante as fases
de registro dos dados os participantes não necessitaram proceder aos ajustes do
metrônomo quanto à mudança de velocidade do andamento, pois esta foi
realizada de modo automático pelo software de gravação de áudio programado
num template100 para ser rodado no computador durante a sessão de registro.
A principal justificativa para a extensão do treinamento ser de cinco dias,
(considerado de curta duração) foi para evitar incorrer em possíveis prejuízos aos
participantes, ocasionalmente advindos de treinamentos muito longos. O
planejamento da duração do treinamento também considerou não alterar
demasiadamente a agenda pessoal de atividades dos participantes, os quais,
segundo seus professores de instrumento, eram extremamente ocupados no dia a
dia.
Especial precaução foi tomada em relação à intensidade da prática, item
100 Template é um arquivo – ficheiro em português de Portugal – de computador contendo
parâmetros pré-formatados para servir de modelo na repetição de tarefas padronizadas.
167
em que os participantes foram alertados reiteradamente sobre a necessidade de
não alterarem a quantidade de repetições dos exercícios, devendo durante o
experimento excluir a prática de outros exercícios no instrumento para prevenir
sobrecarga de atividades e desconfortos físicos e mentais advindos com o
treinamento levado a cabo no nosso experimento.
5.5.3 Preparação dos equipamentos para registro dos dados
Neste item encontram-se descritos os procedimentos de preparação dos
equipamentos e softwares utilizados para a coleta dos dados realizada nas fases
inicial e final do treinamento com os exercícios de velocidade.
5.5.3.1 Preparação do violão
Considerando a necessidade de termos uma mesma capacidade de
resposta acústica do instrumento para os registros de dados de todos os casos
participantes da pesquisa, a solução viável foi utilizar apenas um único exemplar
do mesmo, no qual todos os participantes tocariam os exercícios durante a coleta
dos dados101. A preparação do violão de cada participante envolveria muito tempo
em pré-testes individuais com cada instrumento para o acoplamento apropriado
do transdutor, o que dificultaria ser repetido com a mesma configuração nas duas
fases de registro dos dados. Para realização dos registros, o exemplar do violão
utilizado – um Ramirez, modelo Studio, de 1993 – foi preparado para atender as
exigências do experimento. A preparação do violão envolveu os procedimentos de
abafamento das cordas não utilizadas na execução dos sons dos exercícios
treinados, colocação do Ergoplay para sustentação do violão, acoplamento do
transdutor de áudio sobre o corpo do violão e afinação de alta precisão, conforme
descrito a seguir.
1) Considerando-se que os sons dos exercícios seriam tocados apenas nas
três cordas mais agudas do violão, foi utilizada uma fita de material flexível (EVA)
nas dimensões de 1x10x150mm (espessura x largura x comprimento), para
abafar qualquer possível reverberação nas três cordas mais graves. A fita
101 Se o experimento fosse realizado com pianístas, estes normalmente se adaptariam a um único
instrumento, pois o piano não é “portátil”.
168
abafadora do som das cordas não tocadas foi entrecruzada através da 4ª, 5ª e 6ª
cordas – numa posição entre a 12ª e 19ª casas da escala (item nº 1 da Figura 13).
Este procedimento também evitou que estas cordas graves produzissem sons
harmônicos por “empatia” enquanto alguma das três primeiras cordas estivesse
sendo tocada. Esse procedimento foi importante para evitar a produção e registro
de quaisquer outros sons que não fossem estritamente os da execução da
sequência de sons do exercício, o que na posterior análise dos dados de áudio
também facilitou a detecção automatizada do instante de ataque de cada som
tocado pelo violonista sem interferência de outros sons do ambiente.
2) Diferentemente do procedimento utilizado no estudo de Norton (2008),
em nosso experimento foi utilizado o suporte Ergoplay (modelo Tröster) para
sustentar o violão sobre a coxa esquerda e assim evitar que o joelho esquerdo
ocluísse a visualização das mãos na tomada de imagem das câmeras de vídeo.
Para visualizar o posicionamento correto do Ergoplay, ver o item 2 da Figura 13.
Figura 13: Preparação do violão para realização do registro dos dados. 1) Posição da fita abafadora das cordas graves; 2) posicionamento do suporte Ergoplay; 3) posi-ção do transdutor de áudio sobre o tampo do violão; 4) posição da Câmera 3 (mini).
3) Para a captura dos sons executados no violão, foi utilizado um
transdutor de áudio de tipo piezoeléctrico (SCHALLER, Oyster S/P) acoplado
sobre o tampo do violão, o qual transmitiu a vibração do som do instrumento para
169
uma entrada de sinal na interface de áudio. Dentre as diversas tecnologias
atualmente disponíveis para capturar o som do violão, optamos pelo uso do
transdutor de áudio pela sua capacidade de isolar o som do instrumento de outras
eventuais fontes de interferências sonoras indesejáveis – a exemplo de
reverberações ou ruídos advindos do ambiente circundante – e porque tais
interferências sonoras não deveriam se constituir como parte dos dados de áudio
recolhidos, pois poderiam dificultar ou alterar sua análise (Norton, 2008).
5.5.3.2 Preparação do transdutor de áudio
A preparação do transdutor de áudio para capturar o som do violão, exigiu
seu acoplamento sobre o tampo do violão num posicionamento específico. Sua
fixação sobre a madeira do tampo foi realizada utilizando-se um material aderente
especial, similar à massa de modelagem, fornecido pelo fabricante junto ao kit
que acompanhou a compra do transdutor. Após testar várias alternativas de
posicionamento do transdutor, foi encontrada uma posição ideal para a captura
Figura 14: Posicionamento recomendado do transdutor de áudio sobre o tampo do violão.
dos sons, na qual o eixo do seu corpo situava-se aproximadamente a 15
milímetros de distância do cavalete e com alinhamento próximo a primeira corda
do violão (Figura 14).
O posicionamento do transdutor indicado na Figura 14 confirmou a
170
recomendação do fabricante quanto à utilização do produto. A massa de fixação
do transdutor apresentou características de boa aderência à superfície do violão e
foi de fácil colocação e remoção, sem danificar o revestimento da madeira do
instrumento. O transdutor captou bem todas as frequências sonoras do violão e
seu timbre e nuances de intensidade foram capturados com suficiente fidelidade.
5.5.3.3 Preparação das câmeras de vídeo para o registro dos dados
Foram utilizadas três câmeras de vídeo para obter as imagens do
movimento da ponta dos dedos de ambas as mãos. A câmera Nº 1 (Figura 6),
usada como “mestre” na sincronização entre os dispositivos, se destinou a
capturar os movimentos da ponta dos dedos da mão esquerda em sua
visualização dorsolateral. A câmera Nº 2 foi utilizada para capturar os movimentos
dos dedos da mão direita em sua visualização dorsal. A câmera Nº 3 (mini câmera
de ação) – acoplada sobre o tampo do violão atrás do cavalete (item 4 na Figura
13) – foi utilizada para capturar os movimentos da ponta dos dedos da mão direita
numa visualização látero-direita dos dedos quando tangessem as cordas do
violão. A sincronização entre as câmeras nº 1 e 2 foi estabelecida com uso de
comunicação via cabo enquanto que a sincronização da câmera Nº 3 foi realizada
via sinal de rádio (Wi-Fi) com a câmera Nº 1. Todas as três câmeras foram
configuradas à velocidade de 50 fps para os registros de vídeo e utilizaram o
protocolo de comunicação SMTPE de 25 fps para proceder à comunicação entre
elas e a interface de áudio. O disparo do sinal de início do registro dos dados foi
fornecido pela câmera nº 1 (mestre).
5.5.3.4 Preparação do metrônomo digital
O sinal estereofônico das batidas do metrônomo digital gerado pelo
programa Digital Performer foi direcionado simultaneamente para dois canais de
saída da interface de áudio. Um canal foi direcionado para os alto-falantes
amplificados – através dos quais o violonista escutaria as batidas que indicavam a
velocidade a ser seguida na execução da sequência de sons dos exercícios. O
outro canal foi redirecionado de volta ao computador através de um recurso
171
próprio da interface de áudio conhecido como “retorno interno”102, um tipo de
loopback103 sem o uso de cabos ou conectores físicos externos. O sinal do
metrônomo dirigido à saída analógica dos alto-falantes permitiu ao violonista
escutar as pulsações do compasso e através desta informação controlar a
velocidade de sua execução das sequências de sons no violão. Simultaneamente,
o sinal das “batidas” (pulsações) do metrônomo que “retornava” da interface ao
computador foi gravado em uma pista individual monofônica utilizando-se o
mesmo software que o gerou.
Ao violonista foi solicitado que começasse a execução do primeiro som de
cada exercício fazendo-o coincidir com o instante da primeira pulsação do
compasso binário104 marcado pelo metrônomo. Para isso, timbre e altura do som
das pulsações do compasso utilizado no metrônomo digital foram editados de tal
modo que, após a escuta de algumas pulsações (batidas) do metrônomo, o
violonista pudesse perceber de modo inequívoco qual era a ordem das diferentes
pulsações do compasso sendo indicadas pelo metrônomo.
Na modelagem dos sons do metrônomo digital foi selecionada uma
característica distinta para o som de cada pulsação do compasso. Para a primeira
pulsação foi escolhido um som mais claro, agudo e forte e para a segunda foi
selecionado um som mais opaco, grave e fraco. O timbre escolhido para a
primeira pulsação foi o som de bloco de madeira mais agudo (woodblock high) e
para a segunda foi escolhido o som de bloco de madeira mais grave (woodblock
low). Estes sons foram editados para terem uma articulação curta – em staccato –
e desse modo favorecessem a execução de um ataque temporalmente mais
preciso no violão. Neste aspecto, considerando que o violão possui um ataque do
102Recurso disponível em alguns modelos de interfaces digitais de áudio, o qual permite o sinal
“retornar” ao dispositivo que o gerou, por exemplo, um programa de computador, para nele ser ouvido e/ou gravado em uma pista independente de áudio. Este recurso diminui significativamente a latência (atraso no percurso) do sinal, deixando-a próxima do valor de zero milissegundo, devido a não acrescentar nenhum processamento ou modificação ao sinal original. 103
Loopback refere-se à condução de sinais eletrônicos, fluxos de dados digitais ou fluxos de itens que retornam para suas origens sem processamento ou modificação intencional. Num dispositivo como uma interface de áudio, o procedimento de loopback consiste em conduzir o sinal de áudio, tomado a partir de uma saída analógica, e retorná-lo virtualmente ou físicamente através de um cabo de áudio para uma entrada analógica deste mesmo dispositivo. 104
O compasso binário é constituído de duas pulsações, sendo em teoria musical convencionado que a intensidade sonora da primeira delas é mais intensa do que a da segunda.
172
som tipicamente incisivo (Bello et al., 2005; Perez-Carrillo et al., 2015), partimos
da pressuposição de que ao tocar “junto” com as batidas do metrônomo quando
estas detêm uma definição clara e incisiva no seu ataque, o violonista pode ser
induzido – por empatia – a melhorar a precisão temporal do ataque dos sons no
violão.
5.5.3.5 Configuração do software de registro dos dados de áudio
Para a configuração do programa de gravação de áudio utilizado na coleta
dos dados, foram necessários os procedimentos descritos a seguir, os quais
foram testados e aperfeiçoados durante a fase de pré-testes e confirmada sua
funcionalidade no teste-piloto.
O programa utilizado para a gravação do material de áudio foi configurado
para realizar o registro do som das batidas do metrônomo digital e dos sons do
violão em pistas de dados separadas (independentes). Cada pista continha
material de áudio monofônico com resolução de 24 bits e taxa de amostragem de
48 kHz.
Antes de descrever as configurações implementadas no software de
gravação dos dados de áudio, convém recordarmos o percurso do sinal de áudio
do violão e do metrônomo através dos diferentes equipamentos para auxiliar o
entendimento da configuração adotada no programa de registro dos dados de
áudio.
A recepção do sinal de áudio dos sons tocados no violão foi realizada
através de uma entrada analógica pré-amplificada da interface de áudio (MOTU
828x) cujo conversor analógico-digital recebia o sinal detectado pelo transdutor de
áudio acoplado ao tampo do violão e enviava os dados digitalizados para serem
gravados no disco rígido (HD) do computador.
O sinal das batidas do metrônomo digital (gerado pelo programa de
gravação de áudio) foi configurado de modo a ser simultaneamente enviado para
a sua gravação no disco rígido do computador e – através do canal de “retorno
interno” da interface de áudio – para os alto-falantes conectados a uma saída
173
analógica da interface, através dos quais seria ouvido pelo violonista105.
O registro da execução de todos os exercícios de treinamento que
deveriam ser repetidos pelo violonista nas três velocidades de andamento (90,
105, 120 bpm) foi padronizado através de um template.
Previamente à sessão inicial de coleta dos dados, o template foi elaborado
para que os procedimentos de registro dos dados de áudio seguissem um mesmo
padrão em todos os casos participantes. O template foi elaborado a partir do
programa de gravação de áudio Digital Performer v. 9.13106, no qual seriam
gravadas simultaneamente duas pistas de dados de áudio, uma contendo os sons
do violão e outra os sons das pulsações do metrônomo. A estrutura do template
permitiu que durante o registro dos dados fossem realizadas – sem interrupções –
as mudanças de velocidade do metrônomo ocorrendo automaticamente a cada
100 compassos binários (fórmula 2/4) para cada uma das três velocidades de
andamento nas quais os seis exercícios deveriam ser tocados. Para as mudanças
de velocidade do metrônomo foi implementada uma pista (Conductor) exclusiva
para controlar a informação de velocidade das batidas do metrônomo e a
quantidade de compassos repetidos em cada velocidade.
Neste template também foi considerado que a intensidade do sinal de
entrada para a interface de áudio deveria ser um pouco maior para os sons do
violão e um pouco menor para as batidas do metrônomo. Assim, na configuração
do template a intensidade do sinal de entrada para os sons do violão foi
padronizada em +12 dB enquanto que a intensidade do sinal para as batidas do
metrônomo foi padronizada em -9,0 dB.
A configuração do template também possibilitou definir os parâmetros da
sincronização em tempo real entre os equipamentos. Na comunicação entre os
dispositivos foi selecionado o protocolo SMPTE de 25 fps e a interface de áudio
105Algumas interfaces de áudio digital mais sofisticadas possuem recurso de “retorno interno” do
sinal, o qual é capaz de retornar um sinal gerado externamente (p. ex., por um software de computador) e enviá-lo de volta a fonte geradora do sinal. A interface MOTU 828x dispunha desse recurso e através dele transmitiu o sinal de áudio com quase nenhuma latência. 106
O software de gravação de áudio multipistas Digital Performer foi a opção que melhor se adaptou ao hardware da interface de áudio que utilizamos durante a tarefa da coleta dos dados de áudio levada a cabo em nosso experimento. A boa adaptação dos recursos entre hardware e software geralmente tem se confirmado quando ambos - hardware e software - são produzidos pelo mesmo fabricante, o que tem ocorrido no presente caso.
174
foi configurada como dispositivo “escravo” – tendo-se em conta que a câmera Nº
1 (Figura 6) encontrava-se definida como dispositivo “mestre”. A definição da
qualidade do material de áudio também pôde ser configurada no template, através
do qual foi estabelecida a resolução de 24 bits e a taxa de amostragem de 48
kHz.
A estrutura do template permitiu que o registro dos dados fosse realizado
numa única tomada de gravação (sem interrupções) e ao final da sessão de
registro de cada violonista fossem reunidos num único arquivo/ficheiro todos os
dados de áudio relativos ao desempenho do violonista participante.
Ademais, o uso deste template no programa de gravação de áudio, além
de uniformizar os procedimentos de registro dos dados entre todos os casos
participantes, abreviou o tempo de permanência necessária do participante no
laboratório onde foi realizado o registro.
5.6 Registro dos dados
Em nosso estudo o registro ou coleta107 dos dados da ação bimanual de
tocar os sons no violão envolveu diferentes tipos de fontes de informação, as
quais foram necessárias para testar o efeito da prática de exercícios sobre a
habilidade de conciliar velocidade dos movimentos e sua precisão temporal no
ataque dos sons. Estes dados são provenientes de fontes de informação de
naturezas diversas, as quais são referidas como fontes multimodais (Perez-
Carrillo et al., 2015, p. 2), e em nosso experimento contêm material de áudio
digital (sons do violão e do metrônomo), de vídeo (imagens do movimento de
toque dos dedos de ambas as mãos sobre as cordas do violão) e de caracteres
gráficos da partitura musical (informações de tempo/ritmo dos sons e da maneira
de tocá-los no instrumento).
Em sua maneira mais usual de produzir os sons no violão – o que exige
uma ação bimanual, exceto se a nota for tocada em corda solta 108 ou em legato109
107 Os substantivos coleta e recolha são por nós utilizados como sinônimos.
108 Também referida de nota musical em corda “livre”, que corresponde à situação em que nenhum
dedo da mão esquerda será usado para executá-la. 109
Também denominados de sons “ligados”, estes são executados com apenas a 1ª nota sendo atacada pelo dedo da mão direita e as seguintes articuladas pelos dedos da mão esquerda, cuja
175
– o registro dos dados em áudio é eficaz na detecção da informação do tempo em
que ocorre o ataque110 do som. Entretanto, ao produzir um som no violão, o tempo
da ação da mão esquerda não coincide com o tempo da ação da mão direita. Este
fato traz implicações para a obtenção da informação do exato instante em que a
ponta do dedo da mão esquerda inicia a ação de preensão da corda/casa para
“preparar” a nota musical. Para detectar a informação do instante em que a ponta
do dedo da mão esquerda realiza a preensão da corda o uso de dados de áudio
não tem utilidade, sendo necessário para recuperá-la o uso de dados de imagem
do movimento (dados em vídeo).
Considerando-se as demandas da nossa análise, é imprescindível o
registro de imagem do movimento na detecção da informação de tempo do
movimento dos dedos da mão esquerda, enquanto que o registro de áudio é
necessário na detecção da informação do momento do ataque111 do som realizado
pela mão direita.
5.6.1 Justificativa para escolha da modalidade de registro dos dados
Considerando-se que durante a produção de um som no violão o momento
em que ocorre a ação da mão esquerda não coincide com o da mão direita,
então, para detectar a informação de tempo da ação da mão esquerda são
necessários dados de imagem do seu movimento. Ao longo de nossa análise da
ação bimanual na performance do violonista, essa diferença de tempo ocorrendo
na ação coordenada de ambas as mãos será referida por defasagem temporal
intermanual ou apenas por assincronia bimanual.
Por causa da presença de assincronia na ação bimanual, para detectar o
instante do movimento da ponta das unhas da mão direita para atacar os sons no
violão optamos pelo uso de dados de áudio para registrar a ação desta mão, pois
os atuais recursos de registro de imagem do movimento não são suficientemente
extremidade dos mesmos é percutida sobre a corda/casa (ligados ascendentes) ou puxando a corda para longe do seu eixo e soltando-a em seguida (ligados descendentes). 110
O momento do ataque do som no violão é aqui entendido como o instante em que a ponta da unha do dedo da mão direita tange a corda. 111
O ataque do som é aqui considerado em seu modo mais usual de ser realizado no violão erudito.
176
eficazes na detecção do tempo do movimento de toque dos dedos da mão direita
(Norton, 2008; Perez-Carrillo et al., 2015).
Durante a fase dos pré-testes de nosso estudo, ao tentarmos registrar o
movimento da ponta das unhas dos dedos da mão direita utilizando um sistema
de captura de movimento VICON e finos sensores refletivos sobre as unhas,
estes frequentemente sofreram oclusões de sua visualização por causa da
posição acentuadamente curvada das articulações dos dedos desta mão. Esta
condição exigia um ângulo de posicionamento da câmera impossível de ser
implementado – pelo menos num violão com formato normal. Durante os pré-
testes, esta situação provocava frequente perda intermitente de informação no
registro do movimento dos dedos da mão direita conforme descrito no item 5.6.4 -
Pré-testes.
Ademais, há que se ter em conta que, para o registro dos movimentos da
ponta das unhas dos dedos da mão direita realizados no ataque dos sons, não é
recomendável o uso de luvas, sensores com fio, fita refletiva de espessura maior
do que 2 mm, dentre outros artefatos, pois interferem na liberdade dos
movimentos dos dedos e consequentemente causam alterações na produção do
som e no desempenho do violonista. O uso destes equipamentos ou dispositivos
interfere negativamente sobre o desempenho da ação do violonista – o que
caracteriza uma condição não ecológica no registro da performance do violão.
Pelos motivos acima apresentados e pela necessidade de nosso estudo
abordar o aspecto do sincronismo da ação bimanual sob uma condição a mais
ecológica possível da performance do violão, optamos pela coleta de dados com
informação de natureza multimodal.
Então, de um lado, para detectar o momento inicial da ação da mão
esquerda durante a produção do som no violão, adotamos o registro de dados de
imagem do movimento (vídeo). De outro lado, para o registro dos dados da ação
da mão direita, utilizamos o registro de dados de áudio para possibilitar de modo
mais fácil e preciso as informações de tempo do ataque do som no violão.
Em suma, a razão de optar pela utilização de registros de vídeo para
analisar os valores de tempo referentes ao instante do começo do movimento de
preensão do dedo da mão esquerda sobre a corda do violão, é a de que o uso de
177
apenas registros de áudio para tal ação, não possibilita a detecção precisa do
momento em que o dedo desta mão inicia a preensão sobre a corda/casa. Sem a
modalidade de registro por imagem do movimento na mão esquerda e dispondo
somente de registros em áudio, poderia não ser possível saber a partir de qual
das mãos a ação ocorrida sobre a corda proviesse.
Diferentemente da necessidade atrelada aos registros de movimento da
mão esquerda, na mão direita a justificativa pela opção preferencial por registros
de áudio para detectar o valor de tempo relacionado ao instante de ataque do
som, é devido tanto pela integridade e precisão dos dados de áudio obtidos nos
registros, quanto pela fácil detecção automática dos mesmos através de recursos
computacionais. Para obtenção desta informação no áudio é suficiente um
algoritmo de detecção do instante do começo do som com a realização de alguns
poucos comandos implementados através de um programa editor de áudio digital.
Estes foram os principais motivos que nos fizeram buscar alternativas para
o registro de dados da ação bimanual. Os recursos aqui escolhidos são ao
mesmo tempo de baixo custo e eficazes para a detecção das informações de
tempo do movimento coordenado de ambas as mãos na ação de tocar o violão.
5.6.2 Procedimentos para o registro dos dados em áudio digital
Os dados de áudio foram registrados no computador em duas faixas
monofônicas independentes: uma para registrar os sons do violão capturados
através do transdutor de áudio acoplado ao tampo do violão e outra para registrar
os sons das pulsações do metrônomo, geradas digitalmente pelo programa Digital
Performer. Simultaneamente ao momento em que os sons do metrônomo foram
gerados pelo software, estes eram transmitidos (via recurso de “retorno interno”
do sinal, fornecido pela interface de áudio) para os alto-falantes em que seriam
ouvidos pelo violonista como referencial de precisão temporal. A resolução
adotada para as faixas monofônicas de áudio foi de 24 bits e taxa de amostragem
de 48 kHz.
No registro dos sons do violão com o uso de microfones tradicionais
(dinâmicos ou à condensador) sempre há presença de reverberação e/ou ruídos
advindos do ambiente circundante no qual é realizado o registro. Em nosso
178
estudo, a solução encontrada para gravar o som do violão em uma pista sem
estar misturado com o som do metrônomo e sem a inclusão das reverberações e
ruídos advindos do ambiente circundante foi encontrada com a utilização de um
transdutor de áudio. Ademais, na captura do som do violão foi adotado o registro
em uma pista de áudio exclusiva. Para que na análise dos dados de áudio fosse
possível realizar a comparação temporal entre as pulsações do compasso
marcado pelo metrônomo e o instante do toque do dedo da mão direita tangendo
a corda, foi necessário gravar faixas de áudio exclusivas para cada dispositivo.
Outro aspecto importante para detecção dos dados de tempo se refere
detecção automática do instante do começo do som via software. Para isto é
necessária à chegada de um sinal mais “limpo” do som do violão à interface de
áudio, o que foi propiciado através do uso de um transdutor de áudio acoplado
diretamente sobre o corpo do violão. A mesma facilitação na detecção
(computadorizada) do instante do começo do som também ocorreu com o som do
metrônomo digital gerado por software, pois o mesmo foi gerado internamente no
computador sem haver interferência do ambiente externo.
O algoritmo que utilizamos na detecção automática do começo do som era
capaz de realizar apenas a detecção de sons monofônicos e por isso se mostrou
compatível com os dados de nossos registros de áudio, os quais foram gravados
em faixas monofônicas exclusivas para o som do metrônomo e do violão.
Embora os dados de áudio que utilizamos fossem registrados
simultaneamente, a independência dos dados gravados em pistas de áudio
individuais para o som de cada dispositivo possibilitou analisar o grau de
regularidade temporal na ação dos dedos da mão direita ao executar os
exercícios comparativamente ao tempo dos pulsos do metrônomo. Para os
registros dos dados de áudio foi utilizado o programa Digital Performer v. 9.13 do
fabricante Mark Of The Unicorn (MOTU).
Fluxograma do registro dos dados de áudio
A seguir estão descritas as etapas do processo de registro dos dados de
áudio com os sons do metrônomo e do violão em pistas individuais de áudio
digital. Na Figura 15 foi elaborada uma representação visual desse processo.
179
1) O começo da geração de sinal do metrônomo foi disparado ao iniciar a
função “gravação” na Câmera de vídeo Nº 1 (Figura 6), a qual estava configurada
como dispositivo “mestre” na sincronização. Esta câmera de vídeo estava
conectada à entrada específica de código de tempo da interface de áudio – que
funcionava como dispositivo “escravo” na sincronização – e enviava o sinal para
iniciar a gravação para o software gravador de áudio multipistas112 instalado no
computador. Considerando que o software de gravação de áudio rodando no
computador também estava com a função “gravação” ativada (engatilhada), tão
logo o mesmo recebia o sinal de sincronismo da câmera – através da interface de
áudio – ele disparava simultaneamente a emissão do som do metrônomo e
começava o processo de gravação (armazenamento) do áudio numa pista
exclusiva para o som do metrônomo e outra exclusiva para o som do violão.
Quando a câmera de vídeo “mestre” parava, ou pausava o sinal de sincronismo, o
processo de gravação no software também era simultaneamente interrompido.
Para que a comunicação na sincronização ocorresse em tempo real entre os
equipamentos de áudio e vídeo, foi adotado o protocolo SMPTE (25 fps) como
referencial de código de tempo.
2) Quando no computador, o sinal digital das pulsações do metrônomo era
gerado pelo software gravador de áudio, o mesmo era gravado no disco rígido do
computador e simultaneamente enviado (via cabo Thunderbolt) para a interface
de áudio que através de uma saída com conversor analógico o transmitia para os
alto-falantes para que os sons do metrônomo pudessem ser ouvidos pelo
violonista.
3) Quando os sons das pulsações do metrônomo eram escutados pelo
violonista através dos alto-falantes, estas pulsações lhe serviam como referencial
de precisão temporal para sincronização das sequências de sons a serem
tocadas no violão.
4) Quando os sons no violão eram tocados pelo violonista e a vibração
acústica do instrumento era transmitida através do transdutor à interface de áudio,
112 No experimento desta pesquisa foi utilizado o Digital Performer 9.13 (MOTU, Inc.). Esse tipo de
software para gravação multipistas de áudio é também conhecido como DAW (Digital Audio Workstation). Em geral conjuga diversos recursos, dentre eles o de geração e controle de sinal de metrônomo.
180
esta recebia o sinal através de uma entrada analógica pré-amplificada em +12 dB,
passando a transmiti-lo imediatamente para o computador cujo software de
gravação realizava o armazenamento do mesmo no disco rígido em formato de
áudio monofônico.
Figura 15: Processo de registro dos sons do metrônomo e do violão.
5.6.3 Procedimentos para o registro dos dados em vídeo
Para registrar com precisão a imagem do movimento da ponta das unhas
da mão direita na ação de tocar o violão, o posicionamento das câmeras de vídeo
é um fator decisivo. Em nosso experimento as imagens do movimento da ponta
dos dedos foram capturadas por três câmeras de vídeo. Uma das câmeras (Sony
PMW-EX1R) foi posicionada para obter a visualização da face dorsal da falange
distal dos dedos da mão direita e outra foi direcionada para buscar a visualização
da face dorsolateral direita da ponta dos dedos da mão esquerda113. Uma terceira
câmera (tipo mini, GoPro), além de visualizar a face látero-direita da ponta das
unhas da mão direita em contato com as cordas, também possibilitou visualizar
longitudinalmente as cordas a partir de trás do cavalete do violão.
113 Nos exercícios propostos em nosso experimento, a ponta dos dedos da mão esquerda deveria
pousar sobre as três cordas mais agudas, na altura da 5ª posição da escala do violão.
Câmera de video (SMPTE-mestre)
Interface de áudio (SMPTE-escravo)
(MTC)
Computador/DAW (SMPTE-escravo)
(sinal metrônomo )
Interface de áudio (sinal metrônomo)
Alto-falantes (som metrônomo)
Violão
(sequências de sons)
Transdutor
(sinal violão)
Interface de áudio
(sinal violão)
Computador/DAW (gravação multipistas) (violão - metrônomo)
181
Com o violonista em posição sentada numa cadeira com assento
tradicional (assento a 45 cm do chão) e sustentando o violão com o uso do
suporte ErgoPlay (modelo Tröster)114, as câmeras de vídeo foram posicionadas de
modo a permitir a melhor visualização possível da ponta dos dedos em contato
com as cordas. Para isso, a câmera focada para a ponta dos dedos da mão
esquerda foi posicionada à direita dianteira superior do violonista com a lente a
uma altura de 1,8m do nível do chão; enquanto que a câmera focada para
visualizar a ponta dorsal dos dedos da mão direita ficou posicionada à esquerda
dianteira inferior do violonista com a lente a uma altura aproximada de 50 cm do
nível do chão. A terceira câmera (tipo mini, GoPro) foi posicionada sobre o tampo
do violão, próxima à borda lateral e atrás do cavalete, a qual focou uma
visualização longitudinal superior das cordas juntamente com a face látero-direita
da falange distal dos dedos da mão direita, obtendo, assim, a visualização do
instante em que a ponta das unhas tangenciava a corda para atacar um som.
Outro fator importante no registro de imagem do movimento é o grau de
definição da mesma e sua frequência. Em nosso experimento as imagens do
movimento da ponta dos dedos foram capturadas em registros de vídeo com a
frequência de 50 quadros por segundo e resolução de 1920x1080 pixels.
Para a realização da sincronia em tempo real entre as câmeras, interface
de áudio e computador, foi adotado o protocolo de código de tempo (timecode)
SMPTE em 25 fps. A câmera de vídeo Nº 1 (Sony PMW-EX1R) foi estabelecida
como “mestre” e gerou o sincronismo a ser recebido por todos os outros
equipamentos configurados como “escravos”, os quais seguiram o sinal de código
de tempo recebido. Desse modo, uma vez disparado o início da gravação pela
câmera de vídeo “mestre”, todos os outros equipamentos “escravos” iniciaram
automaticamente o processo de gravação sincronizada, e disparando o som dos
pulsos do metrônomo como referência de precisão temporal para o violonista.
114 O modelo Tröster de suporte ErgoPlay para violão, utilizado durante os registros de nosso
experimento, permitia regulagem em todos os ângulos para ser ajustado ao tamanho do corpo e conforto do violonista.
182
5.6.4 Pré-testes
Para a concretização da presente investigação foi dedicado um longo
período de pré-testes nos quais foram realizadas diversas averiguações sobre a
pertinência e correção dos procedimentos a serem adotados nos registros de
dados, conforme relatadas a seguir.
A fim de obter informação sobre o tempo de movimento da ação de cada
dedo, na qual ambas as mãos estivessem agindo coordenadamente em uma
tarefa bimanual, era necessário registrar simultaneamente a ação individual de
cada mão. Em nosso experimento, o registro de dados da ação das duas mãos foi
importante tendo em conta a demanda da ação bimanual na execução do violão.
Os dados a serem recolhidos deveriam contemplar valores de tempo de
movimento dos dedos exclusivos para cada mão. Para que tal exigência pudesse
ser atendida, foram necessários equipamentos especializados para essa
finalidade, os quais aparecem listados no item 5.3 Equipamentos e materiais
utilizados.
Até o momento da realização dos pré-testes de nossa pesquisa, os estudos
que tivemos acesso sobre a relação velocidade-precisão na performance do
violão, focavam quase que exclusivamente a ação de apenas uma das mãos –
em geral a da mão esquerda (Costalonga, 2009; Perez-Carrillo et al., 2015). Na
literatura consultada é apontado que a realização satisfatória do registro de
imagem dos movimentos da ponta dos dedos da mão direita na performance do
violão é bastante difícil de ser obtido, pois a postura mais usual desta mão
adotada para tocar o violão, não favorece a visualização da ponta dos
dedos/unhas ao registrar em vídeo o momento em que os dedos tangem as
cordas (Costalonga, 2009; Costalonga & Miranda, 2008; Norton, 2008; Perez-
Carrillo et al., 2015).
Uma das vias para avançar na investigação da ação bimanual usualmente
adotada para tocar o violão, seria encontrar uma maneira de viabilizar o registro
de imagem do movimento na ação simultânea das duas mãos. Para esta solução
faz-se necessário aperfeiçoar os procedimentos ainda não suficientemente
eficazes para a captura de informação do movimento da ponta dos dedos da mão
direita durante a performance real do violão.
183
Considerando que alguns estudos já haviam testado com sucesso a
captura do movimento dos dedos na mão esquerda, inicialmente nos focamos em
testar apenas a viabilidade de obter informação de tempo do movimento da ação
dos dedos da mão direita. Para a realização de nosso estudo havia sido
disponibilizado um sistema de captura de movimento VICON no Laboratório do
Movimento Humano da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro
(ESSUA). O laboratório da ESSUA dispunha de 9 câmeras de alta velocidade (até
2000 fps), das quais foram inicialmente disponibilizadas três delas para que na
fase de pré-testes tentássemos viabilizar o registro da captura dos movimentos
dos dedos da mão direita tangendo as cordas do violão.
Na etapa de pré-testes contamos com a participação voluntária de um
habilidoso violonista disposto a colaborar com a realização de testagem dos
equipamentos de registro no laboratório, o que contribuiu para elucidar os
procedimentos necessários aos registros do experimento e identificar o foco das
dificuldades. Nas tentativas de registro dos movimentos da mão direita as
câmeras foram posicionadas em semicírculo diante do violonista, a um nível de
altura do chão que possibilitasse o melhor possível a visualização frontal da face
dorsal das unhas dos dedos indicador médio e anular da mão direita.
No início dos pré-testes, o violonista, em posição sentada, utilizou um apoio
tradicional sob o pé esquerdo para a adequada sustentação do violão. Sobre a
face dorsal das unhas dos dedos indicador, médio e anular de ambas as mãos
foram afixados marcadores refletivos do tipo fita autocolante115, com espessura de
1 mm e num formato de círculo com 5 mm de diâmetro. Os marcadores refletivos
utilizados apresentaram boa refletividade e foram bem detectados pelas câmeras
do sistema VICON à frequência de 250 fps.
A despeito da qualidade dos sensores refletivos, logo nas primeiras
tentativas de registro do movimento dos dedos da mão direita tangendo as cordas
do violão, nos deparamos com o problema de oclusão da visualização dos
marcadores, especialmente no instante em que dedo anular tangenciava a corda
para realizar o ataque da nota musical. Tal problema de oclusão na visualização
115 Como sensores refletivos, foi utilizada fita refletiva da marca TESA recortada com um
perfurador de papel cujo diâmetro do furo era de 5 mm.
184
dos marcadores refletivos nos fez tentar diferentes posicionamentos das câmeras,
porém não obtivemos sucesso. Adicionalmente, foram realizadas tentativas de
rebaixar ainda mais a posição das câmeras a um nível o mais próximo possível do
chão, mas nessa condição houve o problema da interposição da perna esquerda
no campo de visualização da câmera posicionada mais à esquerda do violonista.
Nas sessões dos testes seguintes, adotamos o uso de um tipo diferente de
apoio para sustentação do violão, conhecido como Ergoplay, para que a posição
da perna esquerda descesse um pouco mais em direção ao chão e assim
liberasse o campo de visualização para a câmera mais à esquerda do violonista.
Desde quando passamos a utilizar o apoio do tipo “Ergoplay”, este minimizou
bastante a interposição da perna esquerda sobre o campo de visualização dos
marcadores posicionados sobre as unhas da mão direita.
Mesmo com o reposicionamento das câmeras para níveis mais próximos
do chão e a adoção do “Ergoplay” para desimpedir a interposição da perna
esquerda no ângulo de visão das câmeras, ainda assim persistiu parte dos
problemas de oclusão da visualização do marcador do dedo anular da mão
direita. Embora tivéssemos conseguido diminuir a incidência do problema de
oclusão através do uso do Ergoplay, pela realização dos testes preliminares foi
confirmada a limitação desses sistemas de captura do movimento para a ação da
ponta dos dedos mão direita (Norton, 2008). Segundo Norton (2008), os
frequentes problemas de oclusão dos marcadores situados na ponta dos dedos
da mão direita também ocorreram ao usar um sistema de captura de movimento
da Motion Analysis Corporation. No estudo realizado por Norton (2008), o
problema de oclusão da visualização dos dedos da mão direita somente foi
parcialmente solvido com o uso do hardware da PhaseSpace Inc. e a elevação do
nível do chão sobre o qual o violonista se encontrava. Apesar dessas
providências, em seu estudo Norton relatou que, embora com menor intensidade,
ainda assim persistiram algumas ocorrências de oclusão na visualização da ponta
dos dedos da mão direita quando tocando o violão.
Propondo-nos a solver ou pelo menos minimizar o problema de oclusão da
visualização dos marcadores da ponta dos dedos indicador, médio e anular da
mão direita para obtenção da informação de tempo do movimento destes dedos,
185
decidimos pela testagem com outro equipamento de captura da imagem do
movimento.
Considerando que a captura dos dados de tempo de movimento dos dedos
de ambas as mãos devesse ocorrer sincronizadamente – apesar de ocorrer de
modo individualizado para cada mão – para os dados da mão direita em nosso
experimento optamos pela obtenção desta informação de tempo de movimento
através do registro em áudio. Em nosso experimento estes dados em áudio
(contendo o instante do ataque dos sons dos exercícios) foram sincronizados com
o registro em vídeo realizado por câmeras profissionais tradicionais – a despeito
destas realizarem o registro em velocidades mais baixas (50 ou 60 fps) do que
aquelas conseguidas por sistemas estroboscópicos.
Assim, através do registro em vídeo capturando a imagem da face dorsal
das unhas dos dedos da mão direita, foi possível obter a informação de qual dedo
da mão produziu o movimento de ataque da corda. Em contrapartida, o registro
de áudio do som do violão forneceu a informação do exato instante no qual
ocorreu o ataque do dedo sobre a corda – informação que foi obtida através de
algoritmo de detecção automática do instante do começo do som registrado
(Perez-Carrillo et al., 2015). Com esse procedimento a imagem do movimento
poderia nos fornece a informação de qual dedo da mão direita produziu a ação,
enquanto que o áudio nos fornecia a informação de tempo em que esse mesmo
dedo atacou a corda.
Adicionalmente, para facilitar a análise dos dados, nos reportamos à
informação da partitura musical para certificarmo-nos dos dados de tempo (ritmo)
e de notas que compunham as sequências de sons dos exercícios de
treinamento. Estes procedimentos definiram um delineamento de registro dos
dados cujas fontes de informação eram multimodais (imagem do movimento,
áudio digital e partitura musical).
Nessa condição, para detectar o grau de sincronismo da ação intermanual
na produção do som do violão utilizando fontes multimodais de dados,
dispúnhamos dos recursos apropriados para coletar os dados a partir de: 1) fluxo
de imagem para detectar o instante de início do movimento de
preensão/afastamento dos dedos da mão esquerda sobre a corda e 2) fluxo de
186
áudio para identificar o instante de ataque do som realizado pelo dedo da mão
direita que tangeu a corda. Com estas condições, pudemos partir para a testagem
da funcionalidade da captura das imagens do movimento em vídeo sincronizada
com a captura do som do violão e do metrônomo em áudio digital contendo os
dados da execução dos exercícios treinados pelo violonista.
No início da fase de pré-testes tentamos sincronizar em tempo real o
sistema de captura de movimento VICON com uma interface de áudio simples
(Roland DUO-CAPTURE EX), e constatamos que o hardware do sistema VICON
disponibilizado no laboratório da ESSUA não possuía recurso gerador de
sincronização para funcionar como “mestre em registros sincronizados com áudio.
O mesmo funcionava apenas como receptor, o que permitia apenas o
funcionamento como dispositivo “escravo”. Com a falta do recurso de gerador de
sincronização em tempo real disponibilizado por hardware dedicado, o qual nem
mesmo existia disponível em outros centros de estudos da universidade, então
tivemos que buscar tal hardware de outra forma. Devido à demora excessiva de
uma possível aquisição do hardware sincronizador pelo laboratório da ESSUA, e
pelo exíguo prazo disponível para viabilizarmos nosso experimento, aventamos a
possibilidade da aquisição de um dispositivo gerador de sincronismo através de
recurso financeiro próprio do pesquisador. Para este propósito foi adquirida uma
interface digital de áudio de nível profissional (MOTU 828x), a qual continha
gerador interno de sincronismo para atender as necessidades de sincronização
com o hardware do sistema VICON alocado no Laboratório do Movimento
Humano da ESSUA ou mesmo outros sistemas de captura de movimento.
Após dispormos do hardware mínimo para viabilizar a sincronização em
tempo real da captura de imagem do movimento com o áudio digital, foi possível
iniciar os pré-testes utilizando recurso do registro de vídeo sincronizado com o
áudio. Entretanto, por algum motivo que não pode ser diagnosticado, o
sincronismo entre o sistema VICON e a interface de áudio se perdia em frações
de segundo, logo que se iniciasse a gravação dos dados. Foram verificadas por
diversas vezes todos os componentes e procedimentos dos quais a sincronização
dependesse, como a compatibilidade dos tipos de cabos e conectores e sua
correta conexão entre dispositivos, adoção do mesmo protocolo de comunicação
187
(SMPTE 25 fps) entre os diferentes equipamentos, e, as configurações “mestre-
escravo” adequadas para disparar o gatilho de início da gravação. Ademais, foi
testada a utilização e configuração adequada de diferentes softwares de gravação
de áudio multipistas sem obter uma sincronização em tempo real que fosse
estável e confiável.
Após muitas tentativas de testes frustrados e dois meses de trabalho
desperdiçado, consideramos praticamente inviáveis as possibilidades de
sincronizar o sistema VICON com a interface de áudio que utilizamos. Mesmo
tendo recebido suporte ao usuário via correio eletrônico das empresas de
hardware, o problema da falha no sincronismo em tempo real não foi esclarecido
em sua causa e ficou sem solução. Foi então que, por sugestão do responsável
técnico pelo laboratório da ESSUA, Dr. Mario Rodrigues, partimos para testar a
possibilidade da interface de áudio funcionar sincronizadamente com câmeras de
vídeo comuns, desde que estas possuíssem recursos de sincronismo em tempo
real. Para esta alternativa foram então utilizadas duas câmeras profissionais de
vídeo (Sony PMW-EX1R) para obter as imagens do movimento separadamente
para cada uma das mãos, a despeito do recurso máximo de velocidade para
gravação ser de apenas 50 fps. Após a correta conexão do hardware e
configuração do software de áudio foi realizada nossa primeira bem-sucedida
tentativa de sincronismo em tempo real entre o áudio capturado pela interface de
áudio MOTU 828x e as câmeras Sony PMW-EX1R. O formato de áudio, como
nas tentativas anteriores, foi mantido sob a resolução de 24 bits e a taxa de
amostragem em 48 kHz utilizando duas pistas monofônicas gravadas em
simultâneo – uma para o registro exclusivo do som do violão e outra para o som
das pulsações do metrônomo.
Depois de confirmada a funcionalidade do sistema de sincronismo da
interface de áudio MOTU-828x com as câmeras de vídeo Sony PMW-EX1R,
aventamos a hipótese que os problemas de sincronismo encontrados nos testes
com o hardware do sistema VICON talvez tivessem sido causados por algum
defeito no próprio componente de sincronismo do hardware da VICON. O que nos
fez cogitar sobre o defeito do sincronismo encontrar-se no hardware da VICON,
foi o fato de que oito meses antes da realização do acima referido pré-teste bem-
188
sucedido, o laboratório da ESSUA havia sofrido uma inundação no pavimento do
edifício em que o mesmo estava sediado. Neste sinistro houve avaria de parte
dos dispositivos do laboratório e dentre estes o sistema VICON de captura de
movimento nele instalado, o qual foi parcialmente substituído depois de seis
meses da referida avaria. Considerando este fato, então levantamos a hipótese
de que os problemas ocorridos com o sincronismo em tempo real entre o sistema
VICON do laboratório da ESSUA e a interface de áudio MOTU 828x, poderiam ter
sido derivados de alguma avaria no próprio componente sincronizador do
hardware da VICON.
Após algumas tentativas de registros bem-sucedidos utilizando as câmeras
de vídeo Sony PMW-EX1R, sincronizadas em tempo real com a interface de
áudio MOTU 828x, decidimos utilizar este novo hardware e nos preparamos para
a realização do teste-piloto (item 5.6.5.).
Um dos objetivos dos pré-testes, bem como do teste-piloto, foi averiguar a
viabilidade de coletar os dados do treinamento com os participantes do
experimento. Para alcançar tal meta era necessário o registro dos dados de
tempo separados por ação de cada mão na execução das sequências de sons
dos exercícios de treinamento.
Através da realização dos pré-testes algumas contribuições foram
importantes e necessárias para aperfeiçoar o experimento, conforme segue:
1) Necessidade de registrar simultaneamente os dados das batidas do
metrônomo digital (gerado por software) e dos sons do violão em pistas
de áudio exclusivas. A viabilidade deste procedimento foi testada com
sucesso com a adoção de diferentes canais de entrada analógica da
interface de áudio e a realização da gravação do áudio no software
multipistas. Esta opção foi a melhor combinação de hardware e
software para atender as necessidades do registro de dados do
experimento.
2) A necessidade de ter imagens exclusivas para a ação de cada uma das
mãos foi viabilizada com a adoção de câmeras individuais para a ação
de cada uma das mãos e sincronizadas em tempo real entre as
imagens da ação dos dedos de cada mão, o som do violão e o som das
189
pulsações marcadas pelo metrônomo.
3) Necessidade de registrar numa única tomada (taque) de gravação (sem
interrupções) todos os seis exercícios executados nas três velocidades
de andamento. Tal procedimento foi incorporado através do uso de um
template (configuração padronizada) para uniformizar as ações de
registro para todos os participantes e de maneira que permitisse gravar
os dados de cada participante em um fluxo contínuo num único conjunto
de pistas de áudio. Para implementar a tomada única de gravação dos
dados do violonista, o template foi estruturado num fluxo contínuo de
100 compassos para cada uma das três velocidades em que as seis
sequências de sons (exercícios) seriam executadas, totalizando 300
compassos binários (fórmula de compasso 2/4) para cada tomada de
áudio. Com o uso do template, além de uniformizar os procedimentos
de registro dos dados, foi abreviado o tempo de permanência
necessária dos participantes no laboratório de registro dos dados.
4) A fase de pré-testes detectou a necessidade de o violonista realizar
uma sessão de “familiarização” com os exercícios antes de efetuar o
registro definitivo da fase inicial de coleta dos dados. De acordo com a
informação fornecida pelo violonista voluntário que colaborou durante
os pré-testes, a leitura visual à primeira vista da partitura musical não
seria suficiente para o participante se familiarizar e incorporar as tarefas
demandadas por alguns dos exercícios contendo restrições
biomecânicas mais severas, como no caso dos Exercícios nº 4 e 6. Sem
pelo menos algumas tentativas de execução no instrumento corria-se o
risco de o violonista participante do experimento não conseguir executar
algumas sequências de sons em sua inteireza ou sem interrupções.
Para solucionar esta questão adotamos nos procedimentos da fase do
teste-piloto a execução de uma sessão de treino-familiarização antes do
primeiro registro, a qual continha a mesma quantidade de repetições de
cada exercício conforme a que continha uma sessão padrão do
treinamento.
5) O violonista colaborador na fase de pré-testes contribuiu com sugestões
190
sobre a elaboração das instruções de treinamento e aprimoramento dos
procedimentos de registro destinados à realização do teste piloto e do
experimento definitivo.
5.6.5 Teste-piloto
Na fase de realização do Teste-piloto participaram como colaboradores
voluntários dois violonistas de nível avançado, os quais realizaram integralmente
as atividades do período de treinamento descritas no item 5.5.1 - Instruções para
o treinamento.
O período de treinamento seguiu o mesmo delineamento quanto à duração,
intensidade e frequência da prática conforme planejado para a fase do
experimento definitivo.
Após a fase de Pré-testes e antes da realização do Teste-piloto, cogitamos
aperfeiçoar o registro de imagem dos movimentos dos dedos da mão direita para
identificar mais precisamente o instante do ataque da corda e do som,
confirmando os dados de tempo através de duas fontes de dados (áudio e vídeo).
Para detectar de modo seguro o instante do ataque do som realizado pelo dedo
da mão direita sobre a corda em que a nota musical deveria ser tocada, foi
adicionada à fase de Teste-piloto uma terceira câmera de vídeo do tipo mini ou
portátil (GoPro-5), a qual foi acoplada sobre o tampo do violão na sua borda mais
distal atrás do cavalete (item 4 da Figura 13). O uso desta terceira câmera (mini
câmera 3, na Figura 6) nos permitiu uma visualização mais precisa para confirmar
o momento em que o dedo da mão direita tangesse a corda para atacar a nota
musical. Desse modo, através do uso desta terceira câmera, o movimento do
dedo da mão direita poderia ser visualizado em sua face lateral direita, permitindo
visualizá-lo durante toda sua trajetória transversal sobre a corda do violão, sem o
risco de oclusão de sua visualização116.
Com os dados de áudio fornecendo a informação de tempo do começo do
ataque do som, estes dados registrados também pela Mini Câmera 3 poderiam
confirmar a informação de tempo através da imagem do movimento de toque do
116 A oclusão da visualização dos sensores é um problema frequente no uso de sistemas de
captura de movimento tridimensional realizado por câmeras infravermelho de alta velocidade.
191
dedo. Uma vez que esta informação é fornecida simultaneamente por imagem e
som, teoricamente o tempo dos eventos registrados deve coincidir. Caso essa
coincidência temporal entre áudio e vídeo não ocorra, pode-se detectar por meio
do uso comparado desses dados, possíveis problemas de sincronismo entre os
tempos do áudio e vídeo, ou erro de análise na detecção do momento exato do
ataque do som – um recurso que pode servir como estratégia de aferição da
precisão temporal dos dados. Com o recurso dos dados em imagem dos
movimentos obtido com a mini câmera Nº 3, há a possibilidade de corrigir
possíveis diferenças no tempo do ataque ocasionadas por eventuais imperfeições
do algoritmo da análise do áudio.
Durante a fase de realização do Teste-piloto, os registros de dados
realizados nas fases inicial e final do treinamento correram sem maiores
problemas e conforme previsto. Assim, consideramos ter as condições
necessárias para a realização do registro de dados do experimento definitivo, da
qual tratamos a seguir.
5.6.6 Experimento
A realização dos registros de dados das fases inicial e final do treinamento
compreendeu o período do experimento. Em nossa pesquisa propusemos testar o
efeito do aumento de velocidade e de diferentes restrições biomecânicas
estruturadas em exercícios bimanuais tocados no violão, sobre a precisão
temporal dos movimentos dos dedos neles evolvidos. No treinamento com os
exercícios o violonista participante deveria conciliar a velocidade dos movimentos
com a manutenção da sua precisão temporal o mais que fosse possível.
Para conseguir um vislumbre do possível efeito do treinamento sobre a
habilidade do violonista em conciliar velocidade do movimento com sua precisão
temporal na execução do violão, os dados foram registrados em duas fases do
período de treinamento: 1) na inicial, realizada no primeiro dia imediatamente
após a primeira sessão diária de prática, e 2) na final, realizada no quinto dia do
treinamento, logo após sua quinta e última sessão.
A sessão de registro no laboratório
192
Os registros dos dados do experimento foram realizados no Laboratório do
Movimento Humano da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro
(ESSUA). Cada violonista participante do experimento chegou ao laboratório –
acompanhado de um adulto responsável – quinze minutos antes do horário de
sua sessão de registro dos dados. Tendo já assinado o termo de consentimento
de participação, tomado conhecimento das instruções de treinamento e tendo
recém praticado a primeira sessão diária de treinamento dos exercícios, o
participante se encontrava em condição permitida para a realização do registro
dos dados.
No horário estipulado para o registro, o laboratório encontrava-se com
todos os equipamentos necessários já preparados, testados e funcionais. O violão
encontrava-se afinado e pronto para a captura do som. Em frente à cadeira onde
o violonista deveria sentar-se foi posicionada uma estante de música com a
partitura impressa dos exercícios, para o caso do violonista necessitasse
relembrar visualmente a ordem de execução dos exercícios treinados e
memorizados.
Após o violonista sentar-se na cadeira e acomodar a posição do violão
junto ao seu corpo (Figura 13) lhe foi explicado que ouviria o som do metrônomo
pelos alto-falantes e após ouvi-lo por alguns compassos ele era perguntado
quanto ao conforto do nível de volume dos sons do metrônomo e se eram
claramente ouvidos enquanto tocaria o violão. Caso o nível de volume dos alto-
falantes não estivesse confortável e claramente audível, o mesmo era então
ajustado à necessidade do violonista.
Ao participante foi reiterado que seguisse até o fim a execução de todos os
exercícios nas três velocidades marcadas pelo metrônomo (90, 105, 120 bpm) e
que não interrompesse sua execução, nem alterasse sua ordem, conforme
indicado nas “Instruções de Treinamento” (Apêndice A).
Ao término da sessão de registro o participante recebia os agradecimentos
pela sua participação na pesquisa e se retirava do laboratório acompanhado pelo
seu responsável.
193
5.7 Preparação dos dados
Os dados brutos em áudio e vídeo recolhidos através dos registros
realizados durante o treinamento não são diretamente apresentáveis de modo
compreensível ao leitor. Eles podem ser interpretados de muitas formas e
perspectivas, dada sua riqueza de elementos e detalhes. Entretanto, para que
sejam compreendidos à luz da fundamentação teórica e direcionados aos
objetivos da nossa pesquisa eles necessitaram ser “preparados”. Tal preparação
dos dados brutos, em nosso estudo envolveu extenso trabalho de “garimpo” e
“lapidação” para que pudessem ser interpretados quantitativamente.
O material sonoro da música ao ser percebido por um ouvinte não
informado pode aparentar não ter uma estrutura física. O que se apresenta de
imediato a este ouvinte é possivelmente o aspecto afetivo e emocional da música
antes de qualquer outro aspecto. Entretanto, a despeito da natureza emocional e
afetiva da matéria musical, o seu conteúdo físico e audível envolve um formar ou
fazer. Segundo Pareyson (1989; 1966), a natureza da arte em geral, e igualmente
no caso musical, consiste, sobretudo, num operar e formar a obra, numa atividade
através da qual somente após a ação há o produto da arte, a obra propriamente
dita.
Sob a perspectiva de que a arte é um formar e fazer, no processo da
interpretação da música toma importância crucial o lugar do movimento corporal,
significando que não há expressão real de ideias musicais sem a ação (corpórea)
de um sujeito (Williamon, 2004). Assim, na análise de uma performance temos a
necessidade de avaliar também os movimentos corporais e sua relação com a
velocidade e a precisão dos mesmos ao tocar o instrumento musical, o que
demanda habilidade adquirida através de prática especializada.
Os procedimentos de preparação dos dados brutos contidos nos registros
de áudio e vídeo são apresentados a seguir com vistas a viabilizar a análise do
efeito do treinamento sobre a habilidade de conciliar velocidade dos movimentos
bimanuais e a manutenção da sua precisão temporal durante a execução de
exercícios para violão.
194
5.7.1 Preparação dos dados para a análise
Para analisar os dados de áudio, seria necessário que todos os registros
da execução das sequências de sons que constituíram os exercícios contivessem
um mesmo referencial de tempo, o qual permitisse compará-los entre si sob um
mesmo critério. Este elemento de referência é a pulsação marcada pelo
metrônomo, com a qual (teoricamente) deveria ocorrer sincronizadamente a
execução do ataque dos sons dos exercícios tocados no violão.
Em nosso experimento, os sons das pulsações do compasso marcadas
pelo metrônomo serviram como referencial para o violonista se orientar tanto na
velocidade do andamento musical, exigido para execução de cada exercício, bem
como na análise dos dados de áudio, para detectar a defasagem temporal no
ataque dos sons do violão. Este referencial de tempo (metronômico) possibilita
“interpretar” o grau de precisão temporal obtido pelo violonista na execução dos
exercícios ao violão.
Para que os dados brutos coletados pudessem ser utilizados na análise
estatística, necessitaram ser “preparados”, isto é, receberem um tratamento para
que cada um dos dois segmentos de 16 sons (unidade de análise) que
constituíram cada exercício de treinamento pudesse ser comparado sob um
mesmo parâmetro ou referência. A preparação dos dados coletados para um
formato que pudesse ser manejado por um programa de análise estatística
constitui-se num processo de várias etapas. Antes de explicar a “preparação” dos
dados brutos, descreveremos a quantidade de segmentos e conteúdos gerados
durante a fase de registro dos dados.
5.7.1.1 Quantidade e conteúdo dos dados brutos de áudio
Os procedimentos da coleta de dados incluíram o registro em áudio digital
do desempenho individual de cada um dos violonistas participantes realizados em
duas fases do treinamento denominadas de inicial e final. Em cada uma das fases
do treinamento foram registrados dois arquivos (ficheiros) contendo os dados
brutos de áudio para cada violonista: um contendo os sons tocados no violão e
outro contendo os sons das pulsações marcadas pelo metrônomo.
Cada um destes dois arquivos de áudio continha informações exclusivas a
195
cada fonte sonora. O arquivo contendo o registro do som do violão, continha
somente os dados de execução dos sons dos seis exercícios executados pelo
violonista ao violão. O outro arquivo continha exclusivamente os sons das
pulsações de 300 compassos binários realizados pelo metrônomo digital com
mudança automática de velocidade do andamento a cada 100 compassos. Estes
sons das pulsações do metrônomo gravados no computador se encontravam
sincronizados com o vídeo via protocolo SMPTE 25 fps. Durante o processo de
registro dos dados, os sons do metrônomo gerados pelo software cumpriram uma
função essencial na regulação da precisão temporal da execução dos exercícios.
Enquanto os sons das pulsações do metrônomo eram gravados no computador,
simultaneamente eram transmitidos para dois alto-falantes, através dos quais o
violonista podia ouvi-los como referencial da velocidade em que as sequências de
sons deveriam ser tocadas.
O registro dos 6 exercícios treinados pelo violonista, multiplicados pelo
número das 3 diferentes velocidades de andamento musical em que foram
tocados, resultou num total de 18 porções de áudio (6*3=18) executadas pelo
violonista em cada uma das duas fases do treinamento. Assim, ao calcular o
número de 18 porções registradas para cada violonista, ao multiplica-las pelas
duas fases de registros (inicial e final), resultaram num total de 36 porções de
áudio registradas por participante [(6*3=18) *2=36], onde cada porção do áudio
equivalia a um exercício tocado.
5.7.1.2 Quantidade e conteúdo dos dados brutos de vídeo
Os registros de vídeo obtidos pelas três câmeras – tomados em uma única
sessão de registro de dados do violonista – foram posteriormente editados de
modo a estarem conjugados num único fluxo de vídeo, no qual o écran foi dividido
de maneira que contivesse os dados das três câmeras, como representado na
Figura 16.
Na Figura 16, a fração superior esquerda do écran contém as imagens dos
movimentos da ponta dos dedos da mão direita capturadas a partir da Câmera 2,
a qual foi posicionada à direita da linha central da mão direita e num nível de
altura um pouco abaixo da mesma. A porção superior direita do écran contém as
196
imagens dos movimentos da ponta dos dedos da mão esquerda capturadas com
a Câmera 1 posicionada na diagonal mais à esquerda e acima da mão esquerda.
A porção esquerda inferior do écran contém as imagens do movimento tangencial
da ponta das unhas da mão direita vistas em sua face látero-direita sobre as
cordas do violão (estas sendo visualizadas numa perspectiva longitudinal). A
captura desta imagem foi realizada com uma mini câmera de ação (Câmera 3),
acoplada sobre a borda mais distal do tampo do violão, por detrás do cavalete.
A conjunção das imagens do movimento de cada mão capturadas em
vídeo pelas três câmeras, a exemplo da visualização apresentada na Figura 16,
facilita o trabalho de análise da ação simultânea e coordenada de ambas as
mãos.
Figura 16: Imagens sincronizadas do movimento dos dedos de ambas as mãos.
Na Figura 16, a visualização conjunta das duas porções superiores do
écran oferece uma visualização ligeiramente modificada de quando percebida por
um observador externo que estivesse numa condição real posicionado em frente
ao violonista, pois as imagens da ação de cada mão foram geradas por câmeras
em perspectivas diferentes, embora simultaneamente. A visualização real de um
expectador, somente é possível a partir de uma única perspectiva a cada vez.
197
5.7.1.3 Detecção do tempo de movimento da mão esquerda através do vídeo
Para viabilizar a tarefa de detecção manual do instante do começo do
movimento de preensão do dedo da mão esquerda sobre a corda/casa do violão,
foi editado um arquivo adicional de vídeo da mão esquerda conjugado com o
áudio do metrônomo e violão gravados pela interface digital de áudio. Esta edição
Figura 17: Inserção manual dos dados de movimento dos dedos da mão esquerda.
Nesta figura estão ilustrados os recursos que foram utilizados para a inserção manual dos dados de movimento dos dedos da mão esquerda numa planilha de cálculo: A) partitura musical da sequência de sons (exercício); B) vídeo exclusivo para os movimentos dos dedos da mão esquerda; C) mostrador da posição de tempo do cursor do player de vídeo/áudio; D) espectro de onda de áudio dos sons do violão; E) espectro de onda de áudio do som das pulsações do metrônomo; F) planilha estatística para inserção manual dos valores de tempo detectados a partir dos dados de vídeo.
adicional do vídeo da mão esquerda reuniu, numa única área de trabalho (Figura
17), a visualização do movimento de preensão dos dedos da mão esquerda sobre
a corda conjuntamente com as duas pistas de áudio: uma contendo os tempos em
que os sons do violão foram produzidos pelo ataque da ponta da unha do dedo da
mão direita e outra contendo os tempos dos sons das pulsações do metrônomo. A
produção desta apresentação alternativa dos dados de vídeo se destinou a
facilitar a visualização e detecção do movimento dos dedos da mão esquerda
enquanto na planilha de cálculo era realizada a inserção manual dos dados de
198
tempo da ação dos dedos desta mão. Acima, na legenda da Figura 17, estão
identificadas as ferramentas de trabalho necessárias à detecção manual dos
tempos de movimento de preensão dos dedos da mão esquerda sobre a
corda/casa na escala do violão.
5.7.1.4 Extração dos dados de vídeo
Considerando que a extração da informação de tempo do movimento dos
dedos registrado em câmeras de vídeo comuns não foi possível via software de
detecção automática de informação de movimento, esta teve que ser realizada
manualmente, pois os softwares existentes à época117 não permitiam extração
automática satisfatória do tempo de movimento nesse tipo de vídeo.
Como a realização de uma segmentação dos registros de vídeo
ocasionava dificuldades118 em adotar um mesmo padrão de tempo inicial para
preparar os dados de cada exercício para a análise, mantivemos os arquivos
(ficheiros) em sua inteireza tal como originalmente registrados. A extração dos
dados de tempo da ação da mão esquerda referentes a cada exercício foi
realizada diretamente no arquivo da tomada completa dos dados de vídeo, o qual
continha o registro do movimento dos dedos para todos os exercícios tocados
pelo violonista. Assim, a preparação dos arquivos de vídeo para extração dos
dados de tempo da ação da mão esquerda exigiu que utilizássemos um programa
editor de vido para a inserção das pistas de áudio dos sons do violão e do
metrônomo gravadas pela interface digital, no lugar da pista de áudio gravada
pela câmera
A detecção manual dos tempos de movimento de preensão da ponta dos
dedos da mão esquerda sobre a corda/casa na escala do violão foi realizada com
o auxílio do programa editor de áudio Sound Forge Pro v. 11 (Figura 17). Após
identificar o instante de pouso/afastamento do dedo da mão esquerda sobre a
corda/casa este valor foi inserido no programa editor de planilha MS Excel.
117 Um exemplo de programa de detecção automatica para dados de vídeo disponível à época da
recolha dos dados é o Tracker (https://physlets.org/tracker/), o qual não foi eficaz para a extração automatica dos nossos dados de tempo de movimento dos dedos da mão esquerda. 118
A realização da segmentação dos registros de vídeo para cada exercício demandaria muito tempo na edição sincronizada do áudio com o vídeo e por isso foi descartada.
199
5.7.1.5 Detecção do instante do começo do som do violão nos dados de áudio
Em nosso estudo, a detecção do instante do começo do som do violão
registrado em áudio digital, teve uma função importante na testagem do grau de
desempenho do violonista para conciliar velocidade dos movimentos de toque dos
dedos com sua precisão temporal em sequências de sons tocadas ao violão.
Diversos autores descrevem e comparam uma variedade de técnicas
comumente usadas e métodos emergentes para a detecção do instante do
começo do som musical contidos em dados de áudio digital (Bello et al., 2005).
Collins (2005) analisou diversos algoritmos computacionais destinados à detecção
do momento inicial do ataque do som nos dados de áudio digital. Bello e
colaboradores (2005) elaboraram um interessante tutorial sobre a detecção do
instante do começo do som em dados musicais registrados em áudio digital, o
qual tem auxiliado os investigadores musicais, sobretudo nas análises de
registros em áudio digital da performance de instrumentos musicais.
Na preparação dos dados para análise empreendida nesta tese, foi
necessária a utilização de algoritmo computacional para detecção automática do
instante do começo de cada som dos exercícios treinados pelo violonista. Esta
necessidade de detecção do instante do começo dos sons, foi implementada no
editor de áudio Audacity, ao utilizarmos o plug-in OnsetsDS Onset Detection de
Dan Stowell.
Através deste aplicativo percebemos que após testar diferentes limiares de
detecção em diferentes algoritmos, a opção que melhor se adequou à detecção
do começo dos sons do violão foi a do algoritmo Complex-domain deviation
configurado num limiar de tempo do disparador de detecção com valores em torno
de 200 milissegundos. Já para os sons percussivos do metrônomo – consistindo
numa amostra de som de woodblock, sem reverberação e quase isento de
frequências acompanhantes (harmônicos) – a melhor opção foi o mesmo
algoritmo com um limiar temporal de detecção mais baixo (entre 80 a 100
milissegundos).
Em um estudo, sobre a posição ideal da curva de detecção do algoritmo de
domínio complexo, Duxbury e colaboradores (2003) constataram que a detecção
efetivada pelo algoritmo de domínio complexo atinge uma média de 95% de boas
200
detecções. Considerando o alcance e complexidade dos dados musicais usados
nos testes realizados por estes autores, este é um resultado notavelmente bom
(Duxbury et al., 2003, p. 4). Em seu estudo, estes autores concluíram que:
“em geral, os esquemas de detecção do começo do som baseado em “energia” (amplitude) têm um bom desempenho para dados de áudio com significativo conteúdo percussivo ou começos “não suaves”. Por outro lado, abordagens de detecção de começo do som baseadas em “fase” fornecem uma boa solução para a detecção de sons “mais suaves”, como cordas friccionadas com arco. No algoritmo de domínio complexo, as informações de fase e amplitude funcionam juntas, oferecendo um esquema de detecção geralmente mais robusto do começo do som. Este algoritmo é simples de implementar e computacionalmente barato. Apesar disso, ele se mostra eficaz para uma grande variedade de sinais de áudio” (Duxbury et al., 2003, p. 4).
Há, contudo, condições favoráveis à detecção automática (realizada por
computador) do instante do começo do som no violão. O recurso computacional
de detecção do instante de começo do som funciona melhor em sequências
melódicas (sem acompanhamento), pois o mesmo não é muito eficaz para
analisar sons simultâneos, como os que acontecem em acordes ou polifonias.
O som do violão possui características de declínio (decay) muito
apropriadas para análise do começo do som (Perez-Carrillo et al., 2015, p. 2),
pois tem um ataque muito proeminente, impulsivo e um declínio rápido e
acentuado da sustentação da vibração sonora. Por essas características, o
começo do som no violão é mais facilmente detectado por qualquer tipo de
algoritmo computacional detector do instante de começo do som, do que em
instrumentos tocados com arco (Reboursière et al., 2012).
Entretanto, o processo de detecção do começo do som irá também
depender da “pureza” do som gravado, isto é, que não contenha frequências
derivadas do ambiente circundante ou frequências secundárias como harmônicos
produzidos por empatia em outras cordas. Conforme referido nos itens 5.5.3.1 e
5.5.3.2, para obter tal “pureza” de frequências no registro do som do violão,
recomenda-se usar um transdutor de áudio acoplado ao corpo do instrumento, ao
invés de microfones tradicionais (Norton, 2008). Ademais, se o intuito é realizar a
gravação de apenas alguns sons consecutivos tocados somente em poucas
cordas do violão – como ocorreu em nosso caso – é recomendável usar
“abafadores” nas cordas que não irão ser tocadas, em especial as mais graves
que produzem frequências harmônicas mais intensas. Procedendo-se assim,
201
chega-se a um registro o mais próximo possível apenas da vibração própria da
corda tocada e da ressonância do corpo do violão – evitando-se o excesso de
harmônicos e de ruídos provindos do ambiente circundante – o que favorece a
detecção automática do instante do começo do som tocado no violão.
5.7.1.6 Limiar de tempo do “disparador” de detecção do começo do som
Para aperfeiçoar o trabalho de detecção do momento do começo de cada
som do exercício executado pelo violonista foi utilizado um algoritmo
computacional especializado para essa finalidade. Para esse procedimento, foi
instalado no editor de áudio Audacity o plug-in denominado OnsetsDS Onset
Detector criado por Dan Stowell. Ao carregar a faixa de áudio no programa
Audacity, foi possível detectar satisfatoriamente o instante do começo de cada um
dos sons dos exercícios contidos no registro de áudio do violão e do metrônomo.
Para utilização mais satisfatória do algoritmo detector do instante do
começo do som foi necessário configurá-lo apropriadamente para que tal
detecção ocorresse de modo o mais preciso possível. Para isso foi escolhido um
parâmetro de detecção apropriado para cada tipo de som instrumental, numa
opção que funcionasse como “gatilho” de detecção do instante de começo do
som. Dentro de um espectro de valores ajustáveis (entre 1 a 500 milissegundos),
o “gatilho” (disparador) de detecção do instante de começo do som do plug-in
OnsetsDS Onset Detector é disparado quando sua função atinge o limiar de
detecção estipulado. Em nosso caso, envolvendo sons produzidos no violão e do
metrônomo, o valor estipulado como limiar para disparo da detecção mais precisa
do instante de ataque dos sons, foi a opção do algoritmo “Complex-domain
deviation” com um limiar de disparo da detecção de 50 a 100 milissegundos para
o áudio contendo os sons do metrônomo e de 200 milissegundos para o áudio
dos sons do violão. Configurado desse modo, o disparador de detecção do
começo do som é acionado quando em sua função de reconhecimento é atingido
o limiar deste valor escolhido.
Após a detecção de todos os instantes de começo dos sons contidos na
faixa de áudio analisada, o aplicativo gera uma imagem indicando numa linha de
tempo (com gradação em milissegundos) a presença de todos os instantes de
202
começo dos sons contidos na faixa de áudio analisada. Estes dados numéricos de
tempo podem ser salvos num formato de texto, que por sua vez pode ser
importado para o programa editor de planilha estatística.
5.7.1.7 Preparação dos dados de áudio e sua inserção nas planilhas estatísticas
Após detectar automaticamente os valores de tempo do instante em que
começa cada som tocado pelos dedos da mão direita utilizando o plug-in
OnsetsDS Onset Detector foi possível exportá-los para o programa editor de
planilhas com recursos de análise estatística. A inserção dos dados de tempo na
planilha teve que ser realizada de modo cuidadoso e organizada numa ordem
sequencial, pois a realização de determinada ação dependia de outra já estar
implementada. A inserção dos dados de tempo no programa editor de planilhas
permitiu a realização das operações estatísticas necessárias à análise
quantitativa do desempenho do violonista registrado no treinamento. A operação
básica inicialmente necessária para nossa análise foi calcular o desvio temporal
entre o instante do começo dos sons dos exercícios tocados no violão e o
momento correspondente na marcação realizada pelo metrônomo. Após termos
calculado o desvio temporal do começo de cada som do violão em relação ao
tempo determinado pelo metrônomo, foi realizado o cálculo das médias de desvio
temporal ocorridas em cada exercício, em cada velocidade de andamento musical
que o mesmo foi tocado e analisar o efeito do treinamento comparando os
resultados registrados nas fases inicial e final do treinamento.
A otimização das ações de inserção dos dados no programa editor de
planilhas ocorreu na seguinte ordem:
1 - Através do rastreamento da pista de áudio contendo os sons das
pulsações do metrônomo, com o uso do plug-in OnsetsDS Detector rodando no
editor de áudio Audacity foi detectado o instante do começo do som de cada
pulsação do metrônomo. Estes valores ou rótulos de tempo foram exportados em
formato de texto para uma planilha do MS Excel e dispostos em uma coluna
(Metron) exclusiva para os valores de tempo da marcação realizada pelo
metrônomo.
2- Na coluna Metron da planilha foram interpolados valores de tempo entre
203
os tempos das batidas do metrônomo. No segmento A de cada exercício
(representado em figuras rítmicas de colcheia) foram interpolados entre as batidas
de metrônomo os valores correspondentes ao tempo de colcheia proporcional a
velocidade do andamento musical em que o exercício foi tocado (ver Tabela 3,
sobre correlação entre a duração de cada figura rítmica e a velocidade de
andamento musical). No segmento B de cada exercício (representado em figuras
rítmicas de semicolcheia) foram interpolados entre as batidas de metrônomo os
valores correspondentes ao tempo de semicolcheia proporcional a velocidade do
andamento musical em que o exercício foi tocado.
3- A partir dos dados de tempo referentes ao instante das batidas do
metrônomo, importados para a coluna Metron, foram gerados valores de tempo
“interpolados” entre o intervalo temporal das pulsações do metrônomo. Estes
valores interpolados correspondiam aos momentos em que o começo dos sons do
violão teoricamente deveria precisamente coincidir. Cada valor de tempo
interpolado na coluna referente às batidas do metrônomo equivalia à duração (em
milissegundos) da figura rítmica correspondente a cada som tocado no violão de
acordo com a correlação existente entre a figura rítmica usada no exercício e a
velocidade de andamento musical em que o exercício foi tocado (ver Tabela 3).
Esta inserção de valores de tempo interpolados entre as batidas do metrônomo foi
necessária porque na estrutura do exercício a quantidade de sons tocados no
violão era maior do que a quantidade de batidas de metrônomo. Para o segmento
A do exercício (com figuras de colcheia), foi gerado um valor interpolado com
duração de ½ do tempo da batida do metrônomo e para o segmento B (com
figuras de semicolcheia) foram gerados valores interpolados tendo cada um a
duração de ¼ do tempo da batida do metrônomo. Para compreender a
correspondência de duração entre as figuras rítmicas dos sons do violão e os
tempos do metrônomo é preciso considerá-la no contexto da velocidade do
andamento musical. Na Tabela 3 foi apresentada a correlação entre as figuras
rítmicas e suas respectivas durações em cada andamento musical.
4 - Através do rastreamento da pista de áudio contendo os sons do violão
foi detectado automaticamente o instante do começo ou ataque de cada um dos
sons do exercício tocado no violão. Este procedimento de detecção foi realizado
204
através do plug-in OnsetsDS Detector rodando no editor de áudio Audacity e
gerou valores de tempo (em milissegundos) equivalentes ao instante do começo
de cada som tocado ao violão. Após a detecção dos valores, estes puderam ser
salvos em formato de texto, e posteriormente transferidos para a coluna Guitar da
planilha de estatística.
5 - Numa terceira coluna da planilha de estatística foi calculada a diferença
de tempo entre o instante do ataque dos sons do violão e o tempo marcado pelo
metrônomo. Esta operação foi realizada para se conhecer o grau de desvio
temporal ocorrido entre o instante do ataque dos sons de cada exercício tocado
ao violão pela mão direita e o tempo referenciado pelo metrônomo.
5.7.1.8 Tratamento de dados ausentes ou omissos
Em algumas sequências de sons dos exercícios ocorreu de faltar uma ou
outra nota musical que não foi executada pelo violonista durante os registros dos
dados. Para que não fosse inviabilizado o aproveitamento dos dados no registro
de algum exercício com dados omissos, cada um dos exercícios executados nos
registros deveria ter uma quantidade igual a 32 sons tocados, para que fosse
possível a comparação entre eles. Esta situação foi resolvida de acordo com
critérios especificados a seguir.
Quando as notas faltantes fossem poucas (uma ou duas em cada
sequência), foi utilizada a estratégia de gerar uma média (Pestana & Gageiro,
2014, p. 44) a partir de valores do instante do ataque do som (produzido pela mão
direita) de pelo menos dois dos sons vizinhos existentes imediatamente antes
e/ou depois da nota omissa. Este procedimento viabilizou a análise como se os
dados reais estivessem presentes sem interferir significativamente no valor dos
resultados.
Se o som omisso estivesse na posição limite entre os segmentos A e B do
exercício, um cuidadoso procedimento adicional foi tomado para que o valor
omisso se adequasse o mais próximo possível de uma condição real. Neste caso,
com a falta de um som de colcheia (pertencente ao segmento A do exercício)
foram utilizados valores de tempo de uma média extraída somente de sons em
colcheia desse segmento do exercício. No caso de faltarem sons em semicolcheia
205
(pertencentes ao segmento B) foram utilizados valores de tempo de uma média
extraída somente de sons em semicolcheia desse segmento do exercício.
5.7.1.9 Combinando dados de tempo dos sons com os de imagem do movimento
Neste item, descrevemos o procedimento de conjugar informação de tempo
do começo dos sons detectados a partir do áudio (para a mão direita), com a
informação de tempo do movimento dos dedos da mão esquerda, detectados a
partir da imagem correspondente no vídeo. A consideração conjunta destes dois
tipos de dados – áudio e vídeo – é necessária para abarcar as informações de
tempo da ação de ambas as mãos na análise da sincronia bimanual demandada
na execução dos sons dos Exercícios nº 3 a 6 do treinamento.
O fluxo das imagens em vídeo referente à mão esquerda contém a
informação do instante em que o dedo começa a pressionar a corda do violão, ou
então quando o dedo começa a levantar-se da mesma para dar lugar à outra nota
já pressionada por outro dedo num som mais grave na mesma corda. Pelo
registro dos dados de áudio digital é detectado o instante do movimento de
ataque da corda realizado pelo dedo da mão direita. Após serem detectados os
tempos de ação dos dedos de cada mão, temos os elementos necessários para
comparar a defasagem temporal entre as mãos.
Na análise comparativa do fluxo dos movimentos da mão esquerda
(registrado nos dados de imagem em vídeo) com o fluxo dos movimentos de
ataque dos sons realizados pela mão direita (registrado nos dados de áudio
digital), teoricamente deveria coincidir o momento de ação entre as mãos para
tocar cada som. No entanto, com a análise dos dados combinados de ambas as
mãos foi possível aferir se houve, ou não, defasagem temporal na ação
coordenada entre as mãos. A análise da defasagem temporal intermanual
ocorrida na ação bimanual de tocar os sons no violão é tratada no item 6.3.
206
207
6 - ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Nesta sessão iniciamos a apresentação e análise dos resultados, na qual é
considerado o desempenho alcançado pelo violonista participante quanto à
precisão ocorrida no ataque dos sons ao tocar os exercícios do treinamento
levado a cabo neste experimento. A comparação do desempenho do violonista
obtido nos diferentes exercícios de treinamento teve o propósito de investigar o
efeito das subjacentes restrições biomecânicas de cada exercício sobre o
incremento da habilidade em conciliar o aumento da velocidade do ataque dos
sons com a manutenção de sua precisão temporal. Para possibilitar a aferição do
nível de precisão temporal no ataque dos sons – a despeito do aumento da
velocidade – a execução dos exercícios foi regulada por pulsações de metrônomo
nas diferentes velocidades de andamento musical propostas para execução dos
exercícios de treinamento.
Em nossa análise do desempenho de cada violonista participante foram
comparados os resultados sob o efeito das seguintes condições: 1) aumento
súbito de velocidade ocorrido na passagem do segmento lento (A) do exercício
para o segmento rápido (B) 119, 2) mudança de velocidade em três diferentes
andamentos musicais (90, 105 e 120 bpm), e 3) diferença de desempenho por
efeito da prática quando comparados os dados referentes às fases inicial e final
do treinamento.
6.1 Análise dos resultados de precisão temporal no ataque dos sons
Um dos fundamentos teóricos tomados em consideração para nortear a
presente análise foi a onipresença da relação inversamente proporcional existente
entre velocidade dos movimentos e sua precisão temporal/espacial120. Na
performance de instrumentos musicais, tal presença da Lei de Fitts implica a
condição de que quanto maior for a velocidade exigida na execução de uma
119 Conforme descrito nos itens 5.4.1 e 5.4.2, o segmento A do exercício está representado na
partitura musical em notas de colcheias [] - que no exercício equivalem a sons lentos (longos) - enquanto que o segmento B está representado em notas de semicolcheias [] - que equivalem a sons rápidos (curtos), 120
Conforme referido anteriormente, a relação inversa velocidade-precisão é também denominada de Lei de Fitts.
208
tarefa – que em nosso estudo foi o exercício em formato de sequência de sons
tocada ao violão – maior será a tendência de ocorrer desvio temporal no ataque
dos sons considerados em relação ao referencial de tempo metronômico
previamente adotado121. Assim, em nossa investigação tal fundamento se traduziu
na pré-condição de que quanto maior a velocidade exigida na execução dos sons
do exercício, maior seria a tendência de desvio temporal dos mesmos em relação
ao tempo sinalizado pelo metrônomo, significando, por isso, menor precisão
temporal122 no ataque dos sons.
Considerando-se que, na tarefa de tocar o violão, o instante no qual deve
ocorrer o ataque do som é dependente da ação da mão direita e que o momento
de preparação da altura123 do som depende da atividade da mão esquerda, os
dados de tempo da ação de cada mão para produzir o som no violão foram
apresentados separadamente nesta sessão. Assim, iniciamos a apresentação dos
resultados decorrentes da ação de apenas uma das mãos, optando
primeiramente pela análise daquela que realiza o ataque do som, isto é, pela
análise da tarefa da mão direita.
6.1.1. Níveis de precisão temporal124 no toque dos dedos da mão direita
Conforme referido no início do item 5.1.7 Plano da análise dos dados, os
resultados aqui apresentados referem-se à quantidade de desvio temporal
ocorrido no ataque dos sons – produzidos pela ação dos dedos da mão direita –
em relação ao tempo marcado pelo metrônomo. Para facilitar a compreensão
destes resultados convém relembrarmos que a quantidade de desvio temporal
ocorrida no ataque dos sons encontra-se correlacionada ao nível de precisão
temporal dos sons, ou seja, quanto menor for a quantidade de desvio temporal no
ataque dos sons (sempre em relação ao tempo marcado pelo metrônomo), maior
121 Um referencial de tempo em música pode ser a marcação de metrônomo ou o segundo/minuto.
122 A análise da precisão temporal dos sons é realizada através de sua correlação com o nível de
desvio temporal ocorrido no ataque dos sons em relação ao tempo indicado pelo metrônomo 123
A propriedade de altura do som refere-se à frequência de vibração do som; a vibração de um corpo é medida em hertz por segundo (Hz). 124
Precisão temporal é aqui concebida como ausência de desvio (ou defasagem) temporal do começo do som tocado no instrumento em relação à marcação de tempo determinada pelo metrônomo.
209
será o nível de precisão temporal que ocorre no ataque destes mesmos sons.
Para melhor entendimento dos resultados, inicialmente nos reportamos a
alguns procedimentos metodológicos acerca da organização dos dados e cuja
apresentação dos mesmos se deu através dos passos descritos a seguir.
Para viabilizar a análise dos níveis de precisão temporal ocorridos no
ataque dos sons dos exercícios, primeiramente foi calculada a média de desvio
temporal ocorrido no ataque dos 16 sons que compõe cada um dos dois
segmentos (lento =A e rápido =B) de cada exercício do treinamento. Em seguida,
a média de desvio temporal dos sons de cada segmento do exercício foi
apresentada numa tabela estruturada por fases de treinamento (inicial e final) e
por velocidades de andamento musical nas quais o exercício foi treinado (90, 105
e 120 bpm). Finalmente, partindo das médias de desvio temporal dos sons de
cada segmento do exercício – apresentadas numa tabela de desempenho do
violonista – foi gerado um conjunto de gráficos que traduz de forma linear125 os
resultados de desempenho do violonista em cada segmento lento/rápido do
exercício. Nestes gráficos aparecem as médias de desvio temporal ocorrido no
ataque dos sons de cada exercício, contrastadas entre as fases inicial e final do
treinamento e entre as três velocidades de andamento musical em que os
exercícios foram treinados.
A organização dos dados em unidades de análise segue o mesmo formato
apresentado na Tabela 4 do item 5.1.7 Plano da análise dos dados. Cada unidade
de análise corresponde a um dos segmentos (lento/rápido) do exercício, o qual
contém 16 sons consecutivos e isócronos. Antes de apresentar os resultados do
treinamento envolvendo o nível de precisão temporal no ataque dos sons tocados
ao violão, explicitamos a nomenclatura utilizada nas tabelas e gráficos que
contêm os dados de desempenho de cada violonista participante.
Por ocasião da coleta (recolha) dos dados, para preservar a anonimidade
de cada participante lhe foi atribuído um número de identificação antecedido pela
abreviatura GUIT (relativa à guitarrista), o qual foi igualmente adotado na inserção
dos dados quantitativos nas planilhas de cálculo produzidas no software
125 O nível de desvio temporal ocorrido no ataque dos sons é representado nos gráficos através
de uma “linha de desempenho”.
210
estatístico. Para conciliar a manutenção da anonimidade do participante
(implementada no registro dos dados) com o propósito de clarificar a
compreensão da nomenclatura na apresentação dos resultados, a identificação
inicial do participante foi colocada entre parêntesis e precedida pela palavra
participante acrescida da numeração de 1 a 5, como no exemplo, Participante nº 1
(GUIT04). Considerando-se que dentre a totalidade dos violonistas testados na
pesquisa alguns deles não puderam ser aproveitados para a análise, conforme
explicitado no item 5.2 Participantes, com esta codificação foi preservada tanto a
anonimidade, bem como a identificação de maneira inequívoca do participante e o
correto pertencimento dos seus dados de desempenho.
Nas tabelas que se seguem encontram-se representadas as médias de
desvio temporal ocorrido no ataque dos sons do violão em relação ao tempo
marcado pelo metrônomo – cuja marcação o violonista deveria seguir o mais
precisamente possível a despeito da velocidade elevada. No campo da metade
superior de cada tabela aparecem as médias referentes ao desvio temporal no
ataque dos sons do violão ocorrido na fase inicial do treinamento, enquanto que
no campo da metade inferior estão as médias referentes ao desvio ocorrido na
fase final.
As médias de desvio temporal no ataque dos sons do violão foram
apresentadas numa tabela cujos valores especificam o nível de precisão temporal
no ataque dos sons alcançado pelo violonista: 1) nos segmentos lento e rápido (A
/B) de cada exercício, 2) nas velocidades de andamento musical (90, 105 e 120
bpm) e 3) nas fases inicial e final do treinamento. Em cada andamento musical, a
coluna em cor cinza representa as médias de desvio temporal, obtidas a partir do
segmento lento (A = ) de todos os exercícios, e a coluna em cor amarela refere-
se às médias de desvio ocorridas no segmento rápido (B = ).
Para uma interpretação e compreensão mais intuitiva do efeito do
treinamento sobre a precisão temporal no ataque dos sons do violão, foi também
elaborado um gráfico no qual aparece representado o mesmo desempenho do
participante representado na tabela, porém em formato gráfico-linear.
O conjunto de gráficos referente ao desempenho do violonista – por
exemplo, Gráfico 2(a, b, c, d, e, f) – reporta o nível de desvio temporal no ataque
211
dos sons desempenhado por ele, ora no segmento lento (A), ora no segmento
rápido (B) dos seis exercícios registrados nas fases inicial (ini) e final (fin) do
treinamento. Cada segmento (lento ou rápido) dos exercícios encontra-se também
graficamente representado nas três diferentes velocidades de andamento musical
em que os exercícios foram treinados (90, 105, 120 bpm). Neste mesmo conjunto
de gráficos, a unidade de análise – constituída pelos 16 sons de cada segmento
do exercício – fornece um desenho linear das médias de desvio temporal126
ocorridas no ataque dos sons dos seis exercícios de treinamento.
Desse modo, no gráfico de cada um dos segmentos do exercício aparece
reportada a diferença de precisão temporal127 (no ataque dos sons) ocorrida entre
as fases inicial e final do treinamento. Nos gráficos, a linha de desempenho em
cor amarela representa o resultado alcançado pelo violonista na fase inicial do
treinamento, enquanto que a linha na cor azul se refere ao resultado alcançado na
fase final do treinamento.
Os gráficos do lado esquerdo da página referem-se aos valores de desvio
temporal ocorrido no ataque dos sons do segmento de sons lentos (A =) do
exercício, enquanto que os gráficos do lado direito da página referem-se aos
valores de desvio ocorrido na execução do segmento de sons rápidos (B = ).
Os rótulos numéricos do eixo horizontal (y) de cada gráfico indicam os
números de identificação dos exercícios propostos para o treinamento, enquanto
que os rótulos do eixo vertical (x) indicam (em milissegundos) a intensidade do
desvio temporal no ataque do som do violão em relação ao tempo marcado pelo
metrônomo. Nos rótulos do eixo vertical (x) – referentes à escala de tempo – o
valor zero (0,000) representa o tempo marcado pelo metrônomo, com o qual
teoricamente deveria coincidir o instante do começo do som tocado no violão (o
que indica máxima precisão temporal no ataque do som do violão).
A título de ilustrar nosso procedimento de análise, utilizamos o exemplo do
conjunto de dados do Gráfico 2(a, b, c, d, e, f) apresentado logo adiante, no qual
estão representadas as médias de desvio temporal do ataque dos sons derivadas
126 O desvio temporal no ataque dos sons do violão é aqui reportado sempre em referência ao
tempo indicado pelo metrônomo. 127
A diferença de precisão temporal equivale aos diferentes níveis de desvio temporal ocorrido no ataque dos sons do exercício.
212
a partir da execução dos seis exercícios tocados pelo participante.
Para o cômputo dos resultados de desempenho no Exercício nº 2 foi
utilizado apenas os dados referentes à 2ª vez (ritornello) em que a sequência de
32 sons deste exercício foi executada128, pois foi neste trecho do exercício onde
efetivamente o fator força deveria ser aplicado pelo violonista, desconsiderando-
se o trecho da 1ª vez no qual o fator restritivo não foi aplicado.
Recordamos que pelo fato das médias terem sido geradas a partir de
valores absolutos, sua representação no gráfico aparece acima da linha do valor
de tempo zero (números positivos), pois a natureza dos valores absolutos não
comporta números negativos. Esta limitação no uso de valores numéricos
absolutos fornece como resposta apenas a quantificação do desvio temporal
ocorrido, sem permitir especificar se este foi ocasionado por antecipação ou por
atraso do ataque do som em relação ao tempo do metrônomo. A vantagem de
usar valores absolutos é que quando na performance há valores reais mistos
(positivos e negativos) a operação de média com valores absolutos não atenua
(“suaviza”) os valores do desvio temporal em relação à base zero (coincidente
com o tempo metronômico). Para uma explicação detalhada sobre as vantagens e
limitações do uso de valores relativos versus valores absolutos apresentamos
uma breve discussão realizada no item 5.7.5.
A seguir são apresentados os resultados do desempenho de cada
violonista participante em relação à precisão temporal no ataque dos sons dos
exercícios tocados ao violão, os quais foram registrados nas fases inicial e final do
treinamento levado a cabo no experimento desta pesquisa. Concomitantemente à
apresentação dos dados é realizada a análise e interpretação dos resultados de
cada participante.
A análise dos resultados do participante é precedida por um breve perfil
individual de sua formação e prática musical extraído do questionário e
representado na Tabela 7, a qual resume o perfil de formação musical de todos os
participantes com dados válidos.
Todos os sujeitos participantes com dados válidos para a análise eram
128 Foi no trecho da 2ª vez (ritornello ou repetição) do Exercício nº 2 que se aplicou o aumento
súbito de força nos movimentos dos dedos para a produção dos sons em volume fortíssimo (ff).
213
destros, sendo 3 masculinos e 2 femininos. A faixa etária a qual pertenciam,
variou de 12 a 17 anos e todos tinham praticado o violão há pelo menos 3 anos,
além de já terem estudado solfejo há pelo menos 4 anos. Conforme indicado na
Tabela 7, dentre os violonistas participantes com dados válidos, 2 deles também
praticavam instrumento de teclado, 1 também tocava instrumento de sopro e 2
deles nunca haviam tocado outro instrumento além do violão.
Perfil de formação e prática musical dos violonistas participantes
Perguntas realizadas
sobre:
Partic. nº 1
(GUIT04)
Partic. nº 2
(GUIT05)
Partic. nº 3
(GUIT06)
Partic. nº 4
(GUIT07)
Partic. nº 5
(GUIT08)
Idade 17 13 12 13 14
Sexo Feminino Feminino Masculino Masculino Masculino
Prática de violão +4 anos +4 anos +4 anos +4 anos +4 anos
Prática de solfejo +4 anos +4 anos +4 anos +4 anos +4 anos
Prática de outro instrumento
de teclado Não pratica de teclado Não pratica de sopro
1 a 2 anos Não toca + 4 anos Não toca 2 a 4 anos
Prática coletiva instrumental
Não pratica - 6 meses Não pratica 6-12 meses 2 a 4 anos
Prioriza velocidade ou precisão ou velocidade+precisão
Sem resposta
Sem resposta
Precisão Concilia velocidade + precisão
Concilia velocidade + precisão
Tabela 7: Breve perfil de formação e prática musical dos violonistas participantes.
Participante nº 1 (GUIT04)
No questionário com questões sobre seu perfil de prática e formação
musical, o Participante nº 1 (feminino, 17 anos) informou que já tocava o violão
por um período de mais de 4 anos e também praticou solfejo por essa mesma
quantidade de tempo. Declarou não tocar outro instrumento além do violão, não
ter exercido prática coletiva de música instrumental e não respondeu à questão
sobre sua preferência de como lidava com a conciliação da relação inversa
velocidade-precisão na performance do violão.
Análise do desempenho alcançado pelo Participante nº 1 (GUIT04)
Através da Tabela 8 e do Gráfico 2(a, b, c, d, e, f), referentes ao seu
desempenho no ataque dos sons realizados ao violão, podemos observar que na
performance deste violonista a média dos desvios temporais ocorridos no ataque
214
dos sons do segmento lento (A / ) dos exercícios, foi sempre menor quando
comparada ao desvio ocorrido no segmento rápido (B /) no mesmo andamento
musical. Ademais, podemos observar que no desempenho deste violonista a
média do desvio temporal no ataque dos sons, geralmente foi maior na fase inicial
do treinamento [Gráfico 2], em especial no segmento rápido (B) dos exercícios
[Gráfico 2 (b, d, f)].
Médias de desvio temporal da ação da mão direita: Participante nº 1
Fase inicial
Exercícios 090 ini (AB) 105 ini (AB) 120 ini (AB)
Nº 1 0,029 0,034 0,006 0,072 0,017 0,118
Nº 2 (1ªvez) 0,011 0,013 0,014 0,036 0,022 0,168
Nº 2 (2ªvez) 0,039 0,027 0,045 0,046 0,524 0,671
Nº 3 0,022 0,048 0,013 0,090 0,023 0,135
Nº 4 0,032 0,044 0,010 0,137 0,017 0,340
Nº 5 0,017 0,048 0,031 0,188 0,017 0,276
Nº 6 0,024 0,120 0,019 0,356 0,018 0,297
Fase final
Exercícios 090 fin (AB) 105 fin (AB) 120 fin (AB)
Nº 1 0,028 0,024 0,007 0,022 0,012 0,082
Nº 2 (1ªvez) 0,014 0,013 0,012 0,011 0,015 0,067
Nº 2 (2ªvez) 0,029 0,046 0,017 0,019 0,047 0,113
Nº 3 0,016 0,034 0,019 0,076 0,019 0,127
Nº 4 0,012 0,026 0,011 0,083 0,015 0,140
Nº 5 0,021 0,026 0,012 0,053 0,015 0,076
Nº 6 0,036 0,037 0,017 0,107 0,014 0,203
Tabela 8: Participante nº 1 (GUIT04). Médias do desvio temporal nos toques da mão direita. Nesta tabela são apresentadas as médias de desvio temporal ocorrido no ataque dos sons
do violão através da ação da mão direita. Na tabela, os valores médios de desvio para cada velocidade de andamento musical (90, 105, 120 bpm) em que o exercício foi tocado, estão subdivididos em duas colunas, as quais correspondem aos desvios ocorridos nos segmentos A (sons lentos) e B (sons rápidos) da sequência de sons que compõe a estrutura do exercício.
No desempenho deste participante, especialmente no segmento B do
Exercício nº 2, executado na velocidade de 120 bpm, ocorreu uma mudança
significativa no desvio temporal do ataque dos sons do violão, onde a média de
desvio temporal de 671 ms ocorrida durante a fase inicial do treinamento, passou
a ser de 113 ms na fase final [Gráfico 2 (f)]. Quanto ao desempenho no Exercício
nº 2, vale lembrar que a estrutura deste exercício envolveu restrição biomecânica
por demanda súbita de força no movimento de toque dos dedos da mão direita a
qual se destina a produzir aumento súbito da intensidade sonora.
215
Uma mudança similar na precisão temporal do ataque dos sons ocorreu
também no segmento A deste exercício quando tocado em 120 bpm, porém, com
valores de desvio um pouco menores do que no segmento B. Na fase inicial do
treinamento a média de desvio temporal no ataque dos sons do Exercício nº 2 foi
de 524 ms, enquanto que na fase final a média de desvio caiu para 47 ms [Gráfico
2 (e)].
Outra diminuição substancial do desvio temporal no ataque dos sons foi
alcançada por este violonista na execução do segmento B do Exercício nº 6
quando tocado em velocidade de 105 bpm: nesta situação a média de desvio
temporal no ataque dos sons que era de 356 ms na fase inicial do treinamento, foi
reduzida para 107 ms na fase final, conforme representada no Gráfico nº 2(d).
No desempenho deste violonista, se evidencia que também no Exercício nº
6 ele obteve incremento da precisão temporal no ataque dos sons em velocidade
de 90 bpm, na qual a média de desvio temporal no ataque dos sons chegou a 120
ms na fase inicial do treinamento e diminuiu para 37 ms na fase final, conforme
demostrado no Gráfico nº 2(b).
Conforme já referido, o conjunto dos gráficos utilizados neste item
representa o efeito resultante do treinamento em relação à precisão temporal
ocorrida no ataque dos sons do violão, apesar do aumento da velocidade. Assim,
ao compararmos as linhas de desempenho do Participante nº 1 [GUIT04] no
conjunto do Gráfico 2(a, b, c, d, e, f), pode-se observar uma tendência de maior
desvio temporal nos sons quando tocados nas velocidades de andamento mais
altas (105 e 120 bpm) e nos exercícios mais difíceis129 do treinamento (nºs2 e 6).
Ao comparamos os valores de desvio temporal do ataque dos sons
ocorridos durante as fases inicial e final do treinamento, mesmo nas velocidades
mais altas exigidas no treinamento, este violonista conseguiu diminuir
parcialmente o desvio temporal ao final do treinamento. Pelo desempenho deste
129 Fazemos uma distinção entre tarefa difícil e complexa. Uma tarefa menos complexa nem
sempre é a menos difícil para um indivíduo devido ao tipo de restrição subjacente a sua execução. Este é o caso do Exercício nº 2, o qual apresenta pouca complexidade musical, pois envolve apenas uma única nota repetida várias vezes. Entretanto, a demanda por aumento súbito de força para produzir o aumento da intensidade sonora sem diminuir a velocidade da tarefa, consiste num dos elementos mais difíceis de serem produzidos em certos instrumentos (Neuhaus, 1973).
216
Participante nº 1 [GUIT04] - Desvio temporal da ação da mão direita Segmento lento (A/) - Fases inicial / final Segmento rápido (B/) - Fases inicial / final
Gráfico 2(a) Gráfico 2(b)
Gráfico 2(c) Gráfico 2(d)
Gráfico 2(e) Gráfico 2(f)
Gráfico 2 (a, b, c, d, e, f): Participante nº 1. Desvio temporal no ataque dos sons (mão direita). Médias de desvio temporal no ataque dos sons no segmento lento (A) e rápido (B) dos
exercícios, comparadas entre fases inicial e final do treinamento e velocidades de 90, 105 e 120 bpm. Os números do eixo horizontal (y) indicam os exercícios, enquanto os valores do eixo vertical (x) representam o desvio temporal no ataque dos sons, indicado em milissegundos por três casas decimais (três dígitos após a vírgula).
violonista podemos afirmar que – a despeito do aumento da velocidade da tarefa
– seu treinamento resultou num incremento da habilidade em conciliar alta
velocidade no ataque dos sons com a manutenção da precisão temporal.
Participante nº 2 (GUIT05)
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_090bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_090bpm_B() B-ini
B-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_105bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_105bpm_B() B-ini
B-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
0,600
0,800
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_120bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
0,600
0,800
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_120bpm_B() B-ini
B-fin
217
No questionário sobre seu perfil de prática e formação musical, o
Participante nº 2 (feminino, 13 anos) informou que já tocava o violão por um
período de mais de 4 anos, além de ter praticado solfejo também por este mesmo
período. Declarou que exercia prática coletiva de música instrumental há menos
de seis meses e informou não tocar outro instrumento musical. Não respondeu à
questão sobre sua preferência relacionada à conciliação da relação velocidade-
precisão.
Análise do desempenho alcançado pelo Participante nº 2 (GUIT05)
Num primeiro vislumbre sobre o conjunto de resultados apresentados no
Gráfico 3 (a, b, c, d, e, f), referente ao desempenho do Participante nº 2 (GUIT05),
percebe-se que na fase final do treinamento o toque da mão direita do violonista
tornou-se significativamente mais preciso em relação ao ocorrido na fase inicial.
Na fase final do treinamento, a maior média de desvio temporal no ataque dos
sons alcançada por este violonista ocorreu no segmento rápido (B) do Exercício
Médias de desvio temporal da ação da mão direita: Participante nº 2
Fase inicial
Exercícios 090 ini (AB) 105 ini (AB) 120 ini (AB)
Nº 1 0,034 0,100 0,031 0,085 0,029 0,032
Nº 2 (1ªvez) 0,019 0,038 0,020 0,010 0,053 0,066
Nº 2 (2ªvez) 0,051 0,087 0,039 0,088 0,318 0,790
Nº 3 0,047 0,105 0,016 0,053 0,017 0,159
Nº 4 0,009 0,042 0,018 0,103 0,019 0,248
Nº 5 0,018 0,102 0,019 0,099 0,065 0,317
Nº 6 0,054 0,291 0,026 0,302 0,052 0,335
Fase final
Exercícios 090 fin (AB) 105 fin (AB) 120 fin (AB)
Nº 1 0,013 0,015 0,023 0,040 0,033 0,047
Nº 2 (1ªvez) 0,025 0,022 0,037 0,022 0,013 0,063
Nº 2 (2ªvez) 0,013 0,026 0,043 0,047 0,057 0,088
Nº 3 0,020 0,094 0,014 0,075 0,013 0,063
Nº 4 0,027 0,086 0,015 0,077 0,012 0,130
Nº 5 0,010 0,104 0,047 0,165 0,027 0,153
Nº 6 0,024 0,090 0,033 0,146 0,023 0,122
Tabela 9: Participante nº 2 (GUIT05). Médias do desvio temporal nos toques da mão direita.
218
nº 2 quando executado na velocidade de 120 bpm. No mesmo segmento deste
exercício, este violonista teve durante a fase inicial do treinamento uma média de
desvio temporal de 790 ms no ataque dos sons, enquanto que na fase final e no
mesmo andamento de 120 bpm, sua média de desvio temporal diminuiu para 88
ms [Gráfico 3(f)], resultado que denota melhora significativa da precisão temporal
no ataque dos sons após o treinamento.
Ao final do treinamento, este violonista também alcançou considerável
incremento na precisão temporal do ataque dos sons do segmento B do Exercício
nº 6. Neste exercício, durante a fase inicial do treinamento, ele apresentou uma
média de desvio temporal de 291 ms no andamento de 90 bpm, 302 ms em 105
bpm e 335 ms em 120 bpm [Gráfico 3 (a, c, e)], enquanto que na fase final do trei-
namento ele diminuiu sua média de desvio temporal no ataque dos sons
respectivamente para 90 ms, 146 ms e 122 ms [Gráfico 3 (b, d, f)]. Em resumo, o
desempenho obtido pelo Participante nº 2, mostra que na fase final do período de
treinamento houve uma sensível diminuição no desvio temporal do ataque dos
sons do segmento rápido (B) do Exercício nº 6, o mais complexo do treinamento.
Observando-se o Gráfico 3(f), salta à vista o fato de que a despeito da exigência
da velocidade mais elevada do andamento musical e das restrições biomecânicas
impostas pelas demandas dos exercícios, com o treinamento este participante
melhorou significativamente a precisão temporal no ataque dos sons do segmento
mais rápido (B = ) da maioria dos exercícios.
Tal como havia ocorrido na atuação do Participante nº 1 durante a fase
final do treinamento, também o Participante nº 2 ao final do treinamento obteve
um incremento acentuado da precisão temporal tanto no segmento lento (A) como
no rápido (B) do Exercício nº 2 ao executá-lo na velocidade de 120 bpm.
Conforme ficou evidenciado no segmento lento [Gráfico 3(e)] e no rápido [Gráfico
3(f)] – quando durante a fase final do treinamento os exercícios foram tocados na
velocidade de 120 bpm – este participante teve um incremento significativo da
precisão temporal no ataque dos sons em contraste a seu desempenho obtido na
fase inicial do treinamento.
219
Participante nº 2 [GUIT05] - Desvio temporal da ação da mão direita Segmento lento (A/) - Fases inicial / final Segmento rápido (B/) - Fases inicial / final
Gráfico 3(a) Gráfico 3(b)
Gráfico 3(c) Gráfico 3(d)
Gráfico 3(e) Gráfico 3(f)
Gráfico 3(a, b, c, d, e, f): Participante nº 2. Desvio temporal no ataque dos sons (mão direita). Médias de desvio temporal no ataque dos sons lentos (A) e rápidos (B) dos exercícios, comparadas entre fases inicial-final do treinamento e nas velocidades de 90, 105 e 120 bpm.
Finalmente, notamos que no desempenho deste violonista ocorrido durante
a fase final do treinamento, em todas as velocidades treinadas ele apresentou um
desvio temporal muito baixo no ataque dos sons do segmento lento (A) de todos
os exercícios, conforme linha em cor azul do Gráfico 3(a, c, e). Seu desempenho
apresentou um nível bastante elevado de precisão temporal no ataque dos sons,
cuja média de desvio temporal dos sons do violão em relação ao tempo do
metrônomo ficou muito próxima a zero no segmento lento dos exercícios.
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT05_090bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT05_090bpm_B() B-ini
B-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT05_105bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT05_105bpm_B() B-ini
B-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
0,600
0,800
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT05_120bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
0,600
0,800
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT05_120bpm_B() B-ini
B-fin
220
Participante nº 3 (GUIT06)
No questionário respondido sobre seu perfil de prática e formação musical,
o Participante nº 3 (masculino, 12 anos) informou que, além do violão, tocava
instrumento de teclado há mais de 4 anos e nunca exerceu prática coletiva de
música instrumental. Quanto à questão sobre sua preferência de como costumava
lidar com a relação inversa velocidade-precisão na performance do violão
respondeu que procura sempre priorizar a precisão. Segundo informação oral e
informal de seu professor de violão, este participante apresentava na sua prática
de performance do violão uma capacidade musical bastante superior à média dos
violonistas de sua idade e já havia conquistado prêmios de primeira colocação em
concursos de performance de violão destinados à sua faixa etária.
Análise do desempenho alcançado pelo Participante nº 3 (GUIT06)
Médias de desvio temporal da ação da mão direita: Participante nº 3
Fase inicial
Exercícios 090 ini (AB) 105 ini (AB) 120 ini (AB)
Nº 1 0,014 0,027 0,025 0,042 0,045 0,032
Nº 2 (1ªvez) 0,024 0,027 0,045 0,024 0,027 0,083
Nº 2 (2ªvez) 0,015 0,029 0,035 0,078 0,149 0,117
Nº 3 0,098 0,033 0,030 0,060 0,035 0,113
Nº 4 0,098 0,274 0,046 0,204 0,034 0,099
Nº 5 0,109 0,089 0,029 0,102 0,030 0,104
Nº 6 0,141 0,113 0,089 0,138 0,032 0,263
Fase final
Exercícios 090 fin (AB) 105 fin (AB) 120 fin (AB)
Nº 1 0,020 0,031 0,014 0,011 0,021 0,026
Nº 2 (1ªvez) 0,024 0,016 0,019 0,015 0,032 0,039
Nº 2 (2ªvez) 0,026 0,060 0,017 0,024 0,029 0,019
Nº 3 0,040 0,013 0,017 0,069 0,028 0,074
Nº 4 0,032 0,064 0,017 0,049 0,013 0,043
Nº 5 0,035 0,043 0,016 0,023 0,020 0,090
Nº 6 0,057 0,018 0,023 0,058 0,021 0,131
Tabela 10: Participante nº 3 (GUIT06). Médias do desvio temporal nos toques da mão direita.
Pelo desempenho do Participante nº 3 (GUIT06) representado de modo
linear no Gráfico 4(a, b, c, d, e, f), percebe-se que de modo geral na fase final do
treinamento a precisão temporal no ataque dos sons tornou-se mais estável em
relação ao seu desempenho alcançado na fase inicial. Tal estabilidade da
221
precisão temporal, manifestada no ataque dos sons, foi alcançada por este
violonista, sobretudo, no segmento lento (A) dos exercícios, embora no segmento
rápido (B) tenham ocorrido melhorias mais acentuadas da precisão em alguns
exercícios [conforme Gráfico 4(b, d, f)]. No desempenho deste violonista ficou
bastante evidente um incremento acentuado da precisão temporal no ataque dos
Participante nº 3 [GUIT06] - Desvio temporal da ação da mão direita Segmento lento (A/) - Fases inicial / final Segmento rápido (B/) - Fases inicial / final
Gráfico 4(a) Gráfico 4(b)
Gráfico 4(c) Gráfico 4(d)
Gráfico 4(e) Gráfico 4(f)
Gráfico 4(a, b, c, d, e, f): Participante nº 3. Desvio temporal no ataque dos sons (mão direita). Médias de desvio temporal no ataque dos sons lentos (A) e rápidos (B) dos exercícios,
comparadas entre fases inicial e final do treinamento nas velocidades de 90, 105 e 120 bpm.
sons que ocorreu no segmento rápido (B) do Exercício nº 4 tocado à velocidade
de 90 bpm, no qual a média de 274 ms desvio temporal no ataque dos sons
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT06_090bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT06_090bpm_B() B-ini
B-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT06_105bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT06_105bpm_B() B-ini
B-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT06_120bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT06_120bpm_B() B-ini
B-fin
222
ocorrida na fase inicial do treinamento foi diminuída para 64 ms na fase final
[Gráfico 4(b)]. Um efeito similar de incremento na precisão temporal do ataque
dos sons também ocorreu no segmento (B) do Exercício nº 6 quando tocado à
velocidade de 120 bpm, no qual a média de 263 ms de desvio temporal ocorrida
na fase inicial do treinamento baixou para 131 ms ao final do mesmo. Outra
situação semelhante de diminuição do desvio temporal no ataque dos sons,
desempenhada por este violonista, ocorreu no segmento rápido (B) do Exercício
nº 4 quando tocado à velocidade de 105 bpm, no qual a média de 204 ms de
desvio temporal ocorrida na fase inicial do treinamento diminuiu para 49 ms na
fase final [Gráfico 4(d)].
Considerando estes resultados, podemos inferir que especialmente na
execução do segmento rápido (B) dos Exercícios nº 4 e nº 6, durante a fase final
do treinamento este participante alcançou uma diminuição acentuada das médias
de desvio temporal no ataque dos sons destes exercícios. A partir destes
resultados alcançados por este violonista podemos concluir que houve um efeito
positivo do treinamento sobre o incremento da precisão temporal no ataque dos
sons do segmento rápido (B) dos exercícios, especialmente naqueles que
envolveram restrições mais severas, tais como o uso de alternância entre dedos
adjacentes da mão esquerda (Exercício nº 4) e a presença de assimetria e
assincronia na ação bimanual (Exercício nº 6).
Participante nº 4 (GUIT07)
No questionário sobre seu perfil de prática e formação musical o
Participante nº 4 (masculino, 13 anos) informou tocar o violão há mais de 4 anos e
que nunca tocou outro instrumento. Afirmou ter praticado o solfejo por mais de 4
anos e que exerceu prática coletiva de música instrumental por um período entre
6 e 12 meses. Quanto à questão sobre sua preferência de como costumava lidar
com a conciliação de velocidade-precisão na execução do violão, afirmou que
procurava sempre priorizar a conciliação entre velocidade e precisão. Segundo
depoimento oral e informal de seu professor de violão, este participante por
ocasião das aulas de solfejo apresentava grande dificuldade em emitir
corretamente a altura das notas e que nas aulas de violão tinha dificuldade em
223
manter constância no andamento musical simultaneamente em que aparentava
não se aperceber destas suas dificuldades. De acordo com seu professor de
violão, a limitação de percepção do tempo dos sons se tornava mais evidente na
sua prática de execução musical coletiva, quanto ao sincronismo rítmico e
aspectos relacionados a duração dos sons e/ou quantidade (sic) destes
Análise do desempenho alcançado pelo Participante nº 4 (GUIT07)
Pelo desempenho do Participante nº 4 apresentado no Gráfico 5(a, b, c, d,
e, f), percebe-se que na fase final do treinamento o desvio temporal no ataque
dos sons pouco mudou em relação ao desempenho apresentado na fase inicial do
treinamento – apesar de que nos Exercícios nº 5 e nº 6, à velocidade de 90 bpm,
se evidenciou uma melhora da precisão temporal no ataque dos sons durante a
fase final do treinamento. Este violonista apresentou valores médios bastante
elevados de desvio temporal no ataque dos sons.
Médias de desvio temporal da ação da mão direita: Participante nº 4
Fase inicial
Exercícios 090 ini (AB) 105 ini (AB) 120 ini (AB)
Nº 1 0,067 0,097 0,012 0,090 0,012 0,084
Nº 2 (1ªvez) 0,041 0,063 0,014 0,077 0,032 0,108
Nº 2 (2ªvez) 0,052 0,138 0,163 0,015 0,568 0,835
Nº 3 0,027 0,053 0,026 0,125 0,027 0,103
Nº 4 0,067 0,075 0,012 0,177 0,067 0,217
Nº 5 0,107 0,291 0,033 0,082 0,044 0,128
Nº 6 0,165 0,310 0,090 0,110 0,100 0,437
Fase final
Exercícios 090 fin (AB) 105 fin (AB) 120 fin (AB)
Nº 1 0,011 0,057 0,032 0,072 0,015 0,104
Nº 2 (1ªvez) 0,032 0,061 0,023 0,092 0,064 0,203
Nº 2 (2ªvez) 0,076 0,066 0,237 0,225 0,547 0,763
Nº 3 0,019 0,114 0,047 0,150 0,019 0,165
Nº 4 0,009 0,122 0,014 0,130 0,041 0,240
Nº 5 0,046 0,081 0,027 0,126 0,023 0,138
Nº 6 0,014 0,026 0,032 0,172 0,023 0,200
Tabela 11: Participante nº 4 (GUIT07). Médias do desvio temporal nos toques da mão direita.
A sua média mais elevada de desvio temporal no ataque dos sons ocorreu no
segmento rápido (B) do Exercício nº 2 tocado à velocidade de 120 bpm [Gráfico
5(f)], no qual, durante a fase inicial do treinamento ele atingiu o valor de 835 ms e
224
na fase final de 763 ms. Ainda no Exercício nº 2, quando tocado à mesma
velocidade de 120 bpm, ocorreram no segmento lento (A), elevadas médias de
desvio temporal no ataque dos sons cujos valores foram de 568 ms durante a
fase inicial do treinamento e de 547 ms durante a fase final [Gráfico 5(e)].
Apesar de que em algumas ocasiões a precisão temporal piorou ao final do
treinamento, ainda assim em algumas ocasiões este violonista teve uma melhora
significativa da precisão temporal no ataque dos sons: esta melhora da precisão
ocorreu no segmento rápido (B) dos Exercícios nº 5 e 6 quando tocados à
velocidade de 90 bpm durante a fase final do treinamento. No segmento rápido
(B) destes exercícios, quando tocados à velocidade de 90 bpm durante a fase
inicial do treinamento, as médias de desvio temporal no ataque dos sons foram de
291 ms no Exercício nº 5 e de 310 ms no Exercício nº 6, enquanto que na fase
final do treinamento as médias de desvio foram respectivamente de 81 ms e 26
ms [Gráfico 5(b)]. Embora com valores mais discretos, a melhora da precisão
temporal ocorrida no segmento rápido (B) dos Exercícios nº 5 e nº 6 à velocidade
de 90 bpm, ela também ocorreu no mesmo segmento destes exercícios quando
tocados nas velocidades de 105 bpm [Gráfico 5(d)] e de 120 bpm [Gráfico 5(f)].
Ao compararmos o conjunto de gráficos representando o desempenho deste
violonista entre as fases do treinamento, ainda se constatou que na execução em
ff subito do Exercício nº 2 em 120 bpm, [Gráfico 5(e, f)] após o período de
treinamento este violonista apresentou um incremento insignificante da precisão
temporal no ataque dos sons deste exercício. É possível que o desempenho
deste violonista ocorrido no Exercício nº 2 resulte do fato de que para este
violonista a tarefa tenha sido a mais difícil dentre as que propusemos para o
treinamento. Neste caso é preciso ter em conta que, por envolver a demanda de
força súbita na realização do toque dos dedos da mão direita, para alcançar
subitamente a intensidade fortíssima (ff subito) dos sons é dificultada sua
conciliação com altas velocidades (Neuhaus, 1973). Aqui fazemos distinção entre
dificuldade e complexidade, pois nem sempre o que é mais difícil é o mais
complexo e vice-versa.
Participante nº 4 [GUIT07] - Desvio temporal da ação da mão direita Segmento lento (A/) - Fases inicial / final Segmento rápido (B/) - Fases inicial / final
225
Gráfico 5(a) Gráfico 5(b)
Gráfico 5(c) Gráfico 5(d)
Gráfico 5(e) Gráfico 5(f)
Gráfico 5(a, b, c, d, e, f): Participante nº 4. Desvio temporal no ataque dos sons (mão direita). Médias de desvio temporal no ataque dos sons lentos (A) e rápidos (B) dos exercícios, comparadas entre fases inicial e final do treinamento nas velocidades de 90, 105 e 120 bpm.
No caso deste violonista, ao compararmos os resultados do Gráfico 5 (a, b,
c, d, e, f) percebe-se que houve uma enorme inconstância na precisão temporal
do ataque dos sons dos Exercícios nº 1 ao nº 5. Entretanto, ao compararmos o
desempenho alcançado por este violonista entre as fases inicial e final do
treinamento, no segmento rápido do Exercício nº 6 tocado à velocidade de 120
bpm, constata-se que ele alcançou um incremento considerável na precisão
temporal dos sons deste exercício; isto é, de uma média de 437 ms de desvio
temporal no ataque dos sons – atingida durante a fase inicial do treinamento – ele
diminuiu a mesma para 200 ms na fase final do treinamento [Gráfico 5(f)].
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT07_090bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT07_090bpm_B() B-ini
B-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT07_105bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT07_105bpm_B() B-ini
B-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
0,600
0,800
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT07_120bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
0,600
0,800
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT07_120bpm_B() B-ini
B-fin
226
Finalmente, quando comparados entre as fases inicial e final do
treinamento, os valores de desvio temporal no ataque dos sons registrados em
diversos pontos do desempenho deste violonista, aumentaram o tempo do desvio
na fase final do treinamento. Este resultado de aumento do desvio temporal
significa que o desempenho em termos de precisão temporal no ataque dos sons
piorou nestes pontos de seu desempenho. Estes pontos de piora da precisão
temporal no ataque dos sons ocorridos na fase final do treinamento apareceram
no segmento rápido (B) dos Exercícios nº 3 e nº 4, tocados à velocidade de 90
bpm [Gráfico 5(b)] e em ambos os segmentos (A e B) do Exercício nº 2, tocado a
120 bpm [Gráfico 5(c, d)].
Contrariando a expectativa do treinamento, no segmento rápido (B) do
Exercício nº 2, tocado a 105 bpm [Gráfico 5(d)], ao final do treinamento este
violonista teve uma significativa piora nos valores de precisão temporal no ataque
dos sons; de uma média de desvio de 15 ms alcançada na fase inicial do
treinamento, esta aumentou para 225 ms na fase final.
Como causa desta contradição, podemos aventar que no caso deste
participante as suas dificuldades perceptivas quanto ao controle do pulso musical
(tempos do compasso), apontadas informalmente pelo seu professor de violão,
podem justificar – pelo menos parcialmente – seu desempenho piorado da
precisão temporal no ataque dos sons após ter passado pelo treinamento com os
exercícios de controle de velocidade e precisão.
Participante nº 5 [GUIT08]:
No questionário sobre seu perfil de prática e formação musical o
Participante nº 5 (masculino, 14 anos) informou que tocava o violão há mais de 4
anos e também um instrumento de sopro por um período entre 2 e 4 anos.
Informou que praticou o solfejo por mais de 4 anos e exerce prática coletiva de
música instrumental há um período entre 2 e 4 anos. Em comparação às
informações fornecidas por todos os participantes, este violonista é o que possuía
mais tempo de prática coletiva de música instrumental. Respondeu à questão
sobre sua preferência de como lidava com a relação inversa velocidade-precisão
na performance do violão, afirmando que procurava sempre priorizar a conciliação
227
entre velocidade e precisão.
Análise do desempenho alcançado pelo Participante nº 5 (GUIT08)
Num vislumbre à primeira vista dos resultados obtidos por este violonista,
representados no Gráfico 6(a, b, c, d, e, f), podemos perceber uma grande
constância de seu desempenho quanto à precisão temporal no ataque dos sons
em todos os exercícios propostos. A precisão temporal alcançada por este
violonista quanto ao ataque dos sons tocados no violão foi bastante estável, em
especial no segmento lento (A) dos exercícios. Durante a fase final do
treinamento, no segmento A de todos os exercícios e nos três andamentos
treinados, ele alcançou valores bastante próximos de zero na média de desvio
temporal do ataque dos sons, conforme aparece no Gráfico 6(a, c, e).
Comparativamente ao desempenho dos outros violonistas participantes do
experimento, a precisão temporal no ataque dos sons alcançada por este
violonista foi superior a todos eles, especialmente nos resultados que apresentou
Médias de desvio temporal da ação da mão direita: Participante nº 5
Fase inicial
Exercícios 090 ini (AB) 105 ini (AB) 120 ini (AB)
Nº 1 0,018 0,020 0,013 0,011 0,021 0,059
Nº 2 (1ªvez) 0,018 0,047 0,025 0,035 0,032 0,052
Nº 2 (2ªvez) 0,014 0,060 0,021 0,030 0,035 0,066
Nº 3 0,023 0,016 0,023 0,037 0,016 0,098
Nº 4 0,019 0,025 0,031 0,067 0,013 0,150
Nº 5 0,020 0,019 0,025 0,046 0,023 0,126
Nº 6 0,020 0,076 0,036 0,048 0,017 0,131
Fase final
Exercícios 090 fin (AB) 105 fin (AB) 120 fin (AB)
Nº 1 0,014 0,012 0,018 0,034 0,026 0,018
Nº 2 (1ªvez) 0,014 0,018 0,013 0,070 0,020 0,047
Nº 2 (2ªvez) 0,011 0,014 0,061 0,018 0,046 0,043
Nº 3 0,017 0,031 0,012 0,016 0,013 0,052
Nº 4 0,009 0,013 0,022 0,035 0,037 0,049
Nº 5 0,014 0,063 0,014 0,078 0,026 0,095
Nº 6 0,022 0,035 0,034 0,084 0,031 0,176
Tabela 12: Participante nº 5 (GUIT08). Médias do desvio temporal nos toques da mão direita.
na fase final do treinamento. Suas médias mais elevadas de desvio temporal no
ataque dos sons ficaram abaixo das duas centenas de milissegundos, enquanto
228
os outros violonistas participantes incorreram em médias de desvio temporal dos
sons situadas entre 274 ms e 835 ms. Contrariando a expectativa, seu maior
desvio temporal no ataque dos sons (média de 176 ms) aconteceu justamente du-
Participante nº 5 [GUIT08] - Desvio temporal da ação da mão direita Segmento lento (A/) - Fases inicial / final Segmento rápido (B/) - Fases inicial / final
Gráfico 6(a) Gráfico 6(b)
Gráfico 6(c) Gráfico 6(d)
Gráfico 6(e) Gráfico 6(f)
Gráfico 6(a, b, c, d, e, f): Participante nº 5. Desvio temporal no ataque dos sons (mão direita). Médias de desvio temporal no ataque dos sons lentos (A) e rápidos (B) dos exercícios,
comparadas entre fases inicial e final do treinamento nas velocidades de 90, 105 e 120 bpm.
rante a fase final do treinamento quando então se esperava que ele o diminuísse
por conta do efeito da prática. Este seu maior desvio no ataque dos sons ocorrido
na fase final do treinamento apareceu no segmento rápido (B) do Exercício nº 6 (o
mais complexo) executado à velocidade de 120 bpm. Apesar do desempenho de
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT08_090bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT08_090bpm_B() B-ini
B-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT08_105bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT08_105bpm_B() B-ini
B-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT08_120bpm_A() A-ini
A-fin
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT08_120bpm_B() B-ini
B-fin
229
precisão temporal no ataque dos sons ocorrido no Exercício nº 6 ser desfavorável
à expectativa do treinamento, ainda assim, na velocidade mais alta (120 bpm) e
na fase final do treinamento, ele melhorou sua precisão temporal no ataque dos
sons do segmento rápido (B) de todos os outros exercícios, conforme
apresentado no Gráfico 6 (f).
Pelos resultados alcançados, este violonista manteve um excelente
desempenho da precisão temporal no ataque dos sons durante a fase inicial do
treinamento, mesmo no segmento rápido (B) de cada exercício e nas velocidades
mais altas. Ele foi o violonista participante desta investigação com melhor
desempenho em conciliar velocidade e precisão temporal.
Apesar de este participante já na fase inicial do treinamento ter alcançado
bom controle da precisão temporal dos sons (baixo desvio temporal no ataque
dos sons), mesmo assim, na fase final do treinamento ele conseguiu melhorar
ainda mais sua precisão temporal na maioria dos exercícios. As exceções no
incremento da habilidade de controlar a precisão temporal dos sons ocorreram no
segmento rápido dos exercícios mais complexos (Exercícios nº 5 e nº 6) quando
executados nas velocidades de andamento mais rápidas (105 e 120 bpm).
Resumo dos níveis de desvio temporal no ataque dos sons
A seguir fazemos um resumo dos resultados do treinamento quanto aos níveis de
desvio temporal ocorrido no ataque dos sons desempenhado por cada violonista
participante em cada exercício treinado durante as fases inicial e final do
treinamento. A Tabela 13 indica em qual segmento (lento/rápido) do exercício e
em qual fase (inicial/final) do treinamento incidiu maior ou menor nível de desvio
temporal no ataque dos sons. Pelos resultados apresentados na Tabela 13
podemos inferir que no segmento lento (A, ) dos exercícios, todos os violonistas
participantes apresentaram níveis menores (“-“) de desvio temporal no ataque dos
sons em comparação ao apresentado no segmento rápido (B, ), no qual os
níveis de desvio foram maiores (“+“). Em termos gerais, no desempenho
alcançado na fase final do treinamento, todos os violonistas apresentaram níveis
menores de desvio no ataque dos sons do que quando comparado ao desvio
ocorrido na fase inicial do treinamento.
230
Incidência dos maiores e menores níveis de desvio no ataque dos sons
VIOLONISTAS Segmentos A/B do exercício Fases do treinamento
A (lento = ) B (rápido = ) Inicial Final
Participante nº 1 - + + -
Participante nº 2 - + + -
Participante nº 3 - + + -
Participante nº 4 - + + -
Participante nº 5 - + + -
RESULTADOS: - (5x) + (5x) +(5x) - (5x)
Tabela 13: Momentos da incidência de maior ou menor desvio temporal no ataque dos sons. O sinal “+” indica onde incidiu o nível de maior desvio temporal no ataque dos sons,
enquanto que o sinal “-“ indica onde o nível de desvio temporal no ataque dos sons foi menor. Na linha “Resultados”, os números seguidos de “x” indicam a quantidade de participantes que incidiram numa mesma categoria de desvio (maior ou menor) no ataque dos sons.
A Tabela 14 mostra em quais exercícios incidiram os maiores níveis de
desvio temporal no ataque dos sons apresentados por cada participante e em
qual fase do treinamento tal incidência ocorreu. Para a maioria dos violonistas
participantes as médias de maior desvio no ataque dos sons incidiram nos
Exercícios nº 2 e 6. Em contrapartida, nenhum participante teve seu maior nível
de desvio no ataque dos sons incidindo nos Exercícios nº 1 e 3.
Estes resultados apontam para um efeito positivo do treinamento,
significando que ao final do período de prática houve uma melhora da capacidade
dos violonistas para conciliar aumento de velocidade nos toques de dedos com a
manutenção de sua precisão temporal. Ademais, os resultados demonstram que a
restrição de aplicação súbita de força no movimento de toque dos dedos
(implementada no Exercício nº 2) juntamente com a restrição imposta pelo uso de
dedo fixo (pivô) e mudança de corda (implementada no Exercício nº 6), resultou
nas estruturas das tarefas que produziram maior efeito de desvio temporal no
ataque dos sons.
231
Exercícios com incidência de maiores níveis de desvio no ataque dos sons
VIOLONISTAS Fase Exercício
nº 1 Exercício
nº 2 Exercício
nº 3 Exercício
nº 4 Exercício
nº 5 Exercício
nº 6
Participante nº 1
Inicial +
Final + +
Participante nº 2
Inicial +
Final + +
Participante nº 3
Inicial + +
Final +
Participante nº 4
Inicial + +
Final +
Participante nº 5
Inicial +
Final +
RESULTADOS Inicial 3x 2x 2x
Final 2x 1x 4x
Tabela 14: Exercícios nos quais incidiram os maiores níveis de desvio no ataque dos sons. Esta tabela apresenta em qual exercício houve a incidência da média com maior desvio no
ataque dos sons e indica também a fase do treinamento em que a média de maior desvio ocorreu.
Nesta sessão tratamos de um elemento crucial para a produção do som no
violão: o movimento de ataque da corda realizado pelos dedos da mão direita.
Com o término desta sessão de análise do desempenho individual de cada
participante quanto ao desvio temporal ocorrido no ataque dos sons do violão em
relação à marcação metronômica, concluímos a análise do nível de precisão
temporal desempenhado pelo violonista, a despeito do aumento de velocidade e
da imposição das restrições biomecânicas.
No próximo item, passamos a comparar o desempenho interparticipantes
onde analisamos os níveis de precisão temporal no ataque dos sons,
desempenhado por todos os participantes em cada exercício do treinamento.
232
6.2 Precisão temporal no ataque dos sons: comparação interparticipantes
Neste item são apresentados os resultados sobre a quantidade de desvio
temporal ocorrido no ataque dos sons do violão em relação ao tempo indicado
pelo metrônomo numa comparação do desempenho ocorrido entre todos os
participantes (análise interparticipantes). A amplitude do desvio temporal ocorrido
no ataque dos sons encontra-se correlacionada ao nível de precisão temporal do
toque dos dedos da mão direita do violonista. Este princípio significa que quanto
menor for o desvio temporal ocorrido no ataque dos sons em relação ao tempo
indicado pelo metrônomo, maior será a precisão temporal do movimento de toque
dos dedos.
Na análise interparticipantes aqui empreendida, o nível de desvio temporal
do ataque dos sons e consequentemente o nível de precisão temporal produzido
pelo violonista na execução de cada exercício, foi comparado entre os
participantes utilizando-se de gráficos estruturados por fases de treinamento
(inicial e final) e por velocidades de andamento nas quais o exercício foi tocado
(90, 105, 120 bpm). Nestes gráficos estão representados os desvios temporais
(sempre em comparação ao tempo indicado pelo metrônomo) ocorridos no ataque
de cada um dos 32 sons que constituem o exercício. Os gráficos localizados no
lado esquerdo da página apresentam o desempenho dos participantes obtido no
exercício durante a fase inicial do treinamento (tocado respectivamente nas
velocidades de 90, 105 e 120 bpm), enquanto que os gráficos localizados ao lado
direito da página apresentam o desempenho obtido no exercício durante a fase
final do treinamento. Neste tipo de análise interparticipantes, almejamos buscar
possíveis tendências de desempenho comuns entre os violonistas participantes
do experimento, cujos resultados são apresentamos a seguir.
Exercício nº 1
Os seis exercícios propostos para o treinamento levado a cabo no
experimento desta investigação foram estruturados com imposição de restrições
biomecânicas ao movimento dos dedos de ambas as mãos, cuja intensidade
restritiva aos movimentos foi introduzida de maneira “progressiva” do Exercício nº
1 ao nº 6. Consequentemente, na sua execução ao violão, o Exercício nº 1
233
contém menor complexidade em comparação aos demais exercícios do
treinamento.
Na análise da execução do Exercício nº 1, a comparação dos resultados
entre participantes demonstra que a intensidade de desvio temporal no ataque
dos sons ocorrida durante a fase final do treinamento (Gráfico 7, lado direito da
página) foi mais “homogênea” entre eles do que aquela ocorrida na fase inicial do
treinamento (Gráfico 7, lado esquerdo da página).
O valor máximo de desvio temporal no ataque dos sons deste exercício,
ocorrido na fase inicial do treinamento, foi de 269 ms de atraso em relação ao
metrônomo, o qual foi produzido pelo Participante nº 1 no segmento rápido (B) do
exercício tocado à velocidade de 120 bpm (Tabela 30, no Apêndice D).
Em contrapartida, na fase final do treinamento o valor máximo de desvio
ocorrido no ataque dos sons foi de 198 ms, o qual foi produzido pelo Participante
nº 5, no mesmo segmento e velocidade. Esta diferença de valores máximos de
desvio detectados entre as fases inicial e final do treinamento, embora discreta,
evidencia que com o treinamento houve diminuição do desvio temporal no ataque
dos sons em relação ao tempo metronômico, pois em todos os outros sons do
exercício os tempos de desvio obviamente foram menores do que os valores
máximos.
A média geral interparticipantes130 de desvio temporal ocorrido no Exercício
nº 1 foi de 43 ms na fase inicial do treinamento e de 29 ms na sua fase final
(Tabela 15). Os valores reais (números relativos das tabelas do Apêndice D) de
desvio ocorrido no ataque dos sons a partir dos quais as médias interparticipantes
foram geradas, foram previamente transformados em números absolutos para
evitar o achatamento da amplitude de desvio (ver justificativa no item 5.1.7.5).
Obviamente que os valores mínimos e máximos de desvio, sempre sofrem algum
grau de sublimação (achatamento) na geração de médias. Entretanto, tendo-se
em conta as condições resultantes, ainda assim podemos considerar que a
diminuição dos valores médios de desvio no ataque dos sons ocorrida na fase
final do treinamento indica que a precisão temporal no ataque dos sons melhorou
130 Considerada como a média extraída a partir de todos participantes do experimento.
234
após o período de prática realizada pelos violonistas.
Ao comparamos o desempenhado de desvio temporal no ataque dos sons
alcançado pelos participantes em relação a todos os exercícios, neste exercício
ocorreu o mais baixo índice de desvio dentre todos. Considerando-se que o
Exercício nº 1 possui uma complexidade menor do que os demais131, é plausível
considerar que a tendência generalizada dos participantes apresentarem menor
nível de desvio temporal neste exercício, tenha ocorrido principalmente pela sua
menor complexidade.
Através da comparação dos resultados entre os participantes (análise
interparticipantes), ficou evidente que no segmento lento (1º a 16º som, em )
deste exercício (Gráfico nº 7), para todos os violonistas a média de desvio no
ataque dos sons foi menor do que a ocorrida no segmento rápido (17º a 32º som,
em ). Este comportamento de aumento do desvio temporal no ataque dos sons
em reação ao aumento súbito da velocidade (na passagem do segmento lento
para o rápido do exercício) corrobora o princípio da lei de Fitts de que o aumento
na velocidade dos movimentos corporais tende a diminuir a precisão dos
mesmos. Na comparação frente aos demais exercícios (Gráficos 8 a 12), a
análise interparticipantes do nível de precisão temporal ocorrido no ataque dos
sons deste exercício (Gráfico 7) evidenciou principalmente que no Exercício nº 1
os violonistas tiveram um desempenho mais similar entre si – especialmente na
fase final do treinamento – do que aquele ocorrido nos demais exercícios.
EXERCÍCIO Nº 1 - Médias de desvio temporal no ataque dos sons (valores absolutos)
BPM Fase INICIAL do treinamento Fase FINAL do treinamento
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
090 0,031 0,067 0,021 0,082 0,019 0,026 0,014 0,026 0,034 0,013
105 0,039 0,058 0,034 0,051 0,012 0,015 0,031 0,012 0,052 0,026
120 0,068 0,031 0,038 0,048 0,040 0,047 0,040 0,023 0,060 0,022
Méd
ias
0,046 0,052 0,031 0,060 0,024 0,029 0,028 0,020 0,049 0,020
Média geral interparticipantes (INICIAL) 0,043
Média geral interparticipantes (FINAL) 0,029
Tabela 15: Média geral interparticipantes – desvio dos sons do violão no Exercício nº 1.
131 O Exercício nº 1, utilizado no experimento deste estudo, envolveu apenas a restrição de
aumento súbito de velocidade na passagem do segmento lento (A = ) para o rápido (B = ).
Gráfico 7: Exercício nº 1. Análise interparticipantes: desvio temporal no ataque dos sons. No eixo horizontal, os nº
s 1 a 16 referem-se aos sons do segmento lento (A = ) e os nº
s 17 a 32 referem-se aos sons do segmento rápido (B = ).
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 1_90bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 1_90bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 1_105bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 1_105bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 1_120bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 1_120bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
236
Exercício nº 2
A apresentação do desempenho dos participantes, quanto à precisão
temporal no ataque dos sons do Exercício nº 2, considerou apenas os dados dos
32 sons pertencentes à repetição (2ª vez) do exercício, na qual o mesmo foi
tocado subitamente em intensidade sonora fortíssima (ff subito). O Exercício nº 2
envolveu a restrição motora demandando aumento súbito de força aplicada ao
toque dos dedos da mão direita para aumentar a intensidade dos sons na
repetição do exercício (passagem da 1ª vez para 2ª vez). Para compreender a
estrutura deste exercício recomenda-se visualizar sua partitura musical
apresentada na Figura 8.
No Exercício nº 2, durante a fase final do treinamento, os violonistas
participantes obtiveram um desempenho da precisão temporal muito similar entre
si, exceto o obtido pelo Participante nº 4 (GUIT07) o qual, na velocidade de 120
bpm da fase final do treinamento, atingiu um desvio no ataque dos sons maior
que 600 ms. Ademais, o Participante nº 4: nesta mesma fase de treino e
velocidade de 120 bpm, teve seu desempenho da precisão temporal132 com uma
diferença insignificante de 17 ms entre o desvio de 964 ms, atingido na fase inicial
do treinamento, e o desvio de 947 ms, ocorrido na fase final (Gráfico 8 - Exercício
nº 2 ff_120bpm_inicial e Exercício nº 2 ff_120bpm_final). Durante a fase final do
treinamento, nas outras velocidades este participante piorou sua precisão
temporal no ataque dos sons em relação a seu desempenho da fase inicial.
Durante a fase inicial do treinamento neste exercício, especialmente na
velocidade de 120 bpm, pode-se observar também que os valores de desvio
temporal no ataque dos sons variaram bastante entre os participantes (Gráfico 8 -
Exercício nº 2 ff_120bpm_inicial). Durante a fase final do treinamento neste
exercício, mesmo na velocidade de execução mais alta (120 bpm), o desvio
temporal no ataque dos sons diminuiu para a maioria dos participantes, e o
desempenho se assemelhou bastante entre os eles, exceto no caso do
Participante nº 4 (GUIT07) que teve um desempenho muito discrepante em
relação aos demais (Gráfico 8 - Exercício nº 2 ff_120bpm_final).
132 Ausência de desvio temporal no ataque dos sons em relação ao tempo metronômico.
237
Pelos resultados ocorridos no Exercício nº 2, durante a fase final do
treinamento os violonistas participantes de um modo geral melhoraram sua
precisão temporal no ataque dos sons, exceto o Participante nº 4 que nesta fase
teve desempenho muito díspar dos demais (Gráfico 8- Exercício nº 2
ff_120bpm_final).
Considerando todas as velocidades e fases do treinamento, o Participante
nº 5 foi o que teve menor índice de desvio temporal no ataque dos sons. Mesmo
tendo na fase inicial do treinamento, um bom nível de precisão temporal no
ataque dos sons, ainda assim durante a fase final do treinamento ele ainda
conseguiu melhorar um pouco mais seu desempenho.
Dentre todos os exercícios do treinamento, no Exercício nº 2 ocorreram os
maiores valores de desvio temporal no ataque dos sons produzidos pela ação da
mão direita, os quais chegaram a diferenças de 967 ms de atraso (Gráfico 8 -
Exercício nº 2 ff_120bpm_inicial).
A média geral mais alta de desvio temporal no ataque dos sons calculada
entre todos participantes neste exercício foi de 172 ms (Tabela 16) ocorrida na
fase inicial do treinamento – também a maior média de desvio geral dentre todos
os exercícios do treinamento (Tabela 21), ao passo que na fase final a média
geral de desvio foi de 94 ms. Pela contraposição das diferenças de desvio no
ataque dos sons ocorrido entre as fases inicial e final do treinamento percebe-se
que de modo geral na fase final ocorreu melhora da precisão temporal no ataque
dos sons deste exercício (Tabela 16).
EXERCÍCIO Nº 2 - Médias de desvio temporal no ataque dos sons (valores absolutos)
BPM Fase INICIAL do treinamento Fase FINAL do treinamento
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
090 0,033 0,069 0,022 0,095 0,037 0,037 0,020 0,043 0,071 0,012
105 0,045 0,064 0,056 0,089 0,026 0,018 0,045 0,020 0,231 0,040
120 0,598 0,554 0,133 0,702 0,050 0,080 0,072 0,024 0,655 0,044
Méd
ias
0,225 0,229 0,071 0,295 0,038 0,045 0,046 0,029 0,319 0,032
Média geral interparticipantes (INICIAL) 0,172
Média geral interparticipantes (FINAL) 0,094
Tabela 16: Média geral interparticipantes – desvio no ataque dos sons do Exercício nº 2.
Gráfico 8: Exercício nº 2. Análise interparticipantes: desvio temporal no ataque dos sons. No eixo horizontal, os nº
s 1 a 16 referem-se aos sons do segmento lento (A = ) e os nº
s 17 a 32 referem-se aos sons do segmento rápido (B = ).
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 2 ff_90bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 2 ff_90bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 2 ff_105bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 2 ff_105bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 2 ff_120bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 2 ff_120bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
239
Exercício nº 3
Neste exercício, a alternância nos toques de dedos da mão esquerda para
“preparar” as notas musicais no violão, envolve independência de movimento
entre os dedos. Esta independência de movimento (ou a sua falta) tem influência
sobre a velocidade e precisão temporal em que o ataque dos sons é produzido no
violão. No treinamento que levamos a cabo, a estrutura do Exercício nº 3
conduziu o violonista ao uso de toques alternados entre dedos não adjacentes da
mão esquerda para “preparar” as notas musicais da sequência de sons da tarefa.
Toques alternados entre dedos não adjacentes pressupõe que naturalmente haja
mais independência de movimento do que entre dedos adjacentes, e por isso,
teoricamente o Exercício nº 3 demanda uma restrição motora menos severa do
que o Exercício nº 4 realizado com uso de dedos adjacentes. Seu propósito foi
comparar o efeito da alternância de toques de dedos não adjacentes da mão
esquerda sobre a velocidade e precisão temporal no ataque dos sons, e
consequentemente contrapor seu efeito ao ocorrido no uso alternado de dedos
adjacentes implementado no Exercício nº 4.
Excetuando-se o desempenho alcançado pelo Participante nº 4 (GUIT07),
neste exercício os violonistas melhoraram sua precisão temporal na fase final do
treinamento, especialmente no ataque dos sons do segmento rápido
(representado em ) do exercício.
No segmento rápido (do 17º ao 32º som) do Exercício nº 3, executado a
120 bpm, todos os participantes tenderam a aumentar o desvio temporal no
ataque dos sons em relação ao tempo delimitado pelo metrônomo (Gráfico 9). Isto
ocorreu tanto na fase inicial como final do treinamento, embora na fase final
alguns participantes obtivessem melhoras no desempenho da precisão temporal
do ataque dos sons, especialmente o Participante nº 5, e embora um pouco
menos precisos também os Participantes nº 2 e nº 3. Este resultado pode ser
observado na Tabela 33 (Apêndice D), e de modo mais intuitivo ao compararmos
os resultados das fases inicial e final de treinamento nas linhas de desempenho
referentes à velocidade de 120 bpm no Gráfico 9 (Exercício nº 3_120bpm_inicial e
Exercício nº 3_120bpm_final).
Analisando as linhas de desempenho quanto ao desvio no ataque dos
240
sons, observa-se que houve uma tendência generalizada dos participarem
manterem num nível constante – próximo do valor de tempo zero – o desvio
ocorrido do segmento lento (1º ao 16º som, em A) do exercício. A partir dos
primeiros sons do segmento rápido (17º ao 32º som, em B) quase todos os
violonistas começaram a perder velocidade no toque dos dedos ocasionando uma
linha progressivamente mais distante do valor de tempo zero até o último som do
exercício. Este fato indica que o desvio temporal no ataque dos sons vai se
acentuando progressivamente cada vez mais do 17º ao 32º som do exercício,
atingindo seu ápice de desvio nos sons finais do exercício.
No Exercício nº 3, a média geral interparticipantes de desvio no ataque dos
sons extraída a partir do desempenho de todos participantes durante a fase inicial
do treinamento foi de 56 ms, enquanto que na fase final a média geral foi de 49
ms (Tabela 17). Estas médias de desempenho geral dos participantes indicam
que o efeito do treinamento para a melhoria da precisão temporal no ataque dos
sons no violão, neste exercício foi discretamente positivo, embora concretamente
este resultado deva ser caracterizado como insignificante para percepção auditiva
humana.
EXERCÍCIO Nº 3 - Médias de desvio temporal no ataque dos sons (valores absolutos)
BPM Fase INICIAL do treinamento Fase FINAL do treinamento
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
090 0,035 0,076 0,065 0,040 0,020 0,025 0,057 0,026 0,067 0,024
105 0,052 0,035 0,045 0,075 0,030 0,047 0,045 0,043 0,098 0,014
120 0,079 0,088 0,074 0,065 0,057 0,073 0,038 0,051 0,092 0,033
Méd
ias
0,055 0,066 0,062 0,060 0,036 0,048 0,047 0,040 0,086 0,024
Média geral interparticipantes (INICIAL) 0,056
Média geral interparticipantes (FINAL) 0,049
Tabela 17: Média geral interparticipantes – desvio no ataque dos sons do Exercício nº 3.
Gráfico 9: Exercício nº 3. Análise interparticipantes: desvio temporal no ataque dos sons. No eixo horizontal, os nº
s 1 a 16 referem-se aos sons do segmento lento (A = ) e os nº
s 17 a 32 referem-se aos sons do segmento rápido (B = ).
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 3_90bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 3_90bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 3_105bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 3_105bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 3_120bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 3_120bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
242
Exercício nº 4
Conforme apontado no item 5.4 Tarefas: exercícios, a estrutura do
Exercício nº 4 envolveu o uso de toques alternados entre dedos adjacentes da
mão esquerda realizando uma sequência de sons em uma única corda. O ataque
dos sons realizado pela ação da mão direita envolveu o toque alternado entre
dedos indicador e médio. Destinou-se a testar o efeito da restrição ao movimento
independente entre dedos adjacentes da mão esquerda sobre a velocidade e
precisão temporal no ataque dos sons executados ao violão.
Tanto na fase inicial como na fase final do treinamento, todos os violonistas
participantes apresentaram menor desvio temporal no ataque dos sons quando o
exercício foi tocado na velocidade de andamento mais baixa proposta para o
treinamento (90 bpm). Em contrapartida, na velocidade mais alta proposta no
treinamento (120 bpm) ocorreu os maiores níveis de desvio temporal no ataque
dos sons deste exercício.
Para a comparação da diferença de desempenho ocorrida entre os
violonistas – em termos de precisão temporal no ataque dos sons do Exercício nº
4 tocado em diferentes velocidades – foi utilizado o Gráfico nº 10.
EXERCÍCIO Nº 4 - Médias de desvio temporal no ataque dos sons (valores absolutos)
BPM Fase INICIAL do treinamento Fase FINAL do treinamento
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
090 0,038 0,026 0,067 0,071 0,022 0,019 0,056 0,048 0,065 0,011
105 0,074 0,060 0,125 0,095 0,049 0,047 0,046 0,033 0,072 0,029
120 0,178 0,134 0,067 0,142 0,081 0,077 0,071 0,028 0,141 0,043
Méd
ias
0,097 0,073 0,086 0,103 0,051 0,048 0,058 0,036 0,093 0,028
Média geral interparticipantes (INICIAL) 0,082
Média geral interparticipantes (FINAL) 0,052
Tabela 18: Média geral interparticipantes - desvio no ataque dos sons do Exercício nº 4.
Pelos resultados apresentados neste gráfico e complementados pelos
dados constantes das Tabelas 37 a 39 inseridas no Apêndice D, observa-se que
na fase final do treinamento deste exercício, o violonista que apresentou melhor
desempenho em termos de precisão temporal no ataque dos sons, foi o
Participante nº 5 (GUIT08). Suas médias de desvio temporal no ataque dos sons
alcançaram 11 ms no andamento de 90 bpm, 29 ms em 105 bpm e 43 ms em 120
bpm. Em busca das causas de um desempenho tão excelso, nos reportamos às
243
informações acerca de seu perfil, obtidas através do questionário, pelo qual
informou possuir um tempo de prática de música coletiva instrumental o maior
dentre os participantes deste experimento. Pelo fato da prática coletiva de música
instrumental exigir elevado controle temporal e bom senso de sincronismo entre
os músicos quanto ao ataque dos sons, pode-se cogitar sua influência positiva no
desempenho de velocidade e precisão temporal deste violonista.
Comparando-se as linhas de desempenho de todos participantes,
representadas no Gráfico nº 10, pode-se observar que neste exercício o
Participante nº 4 teve um desempenho bastante discrepante daquele que
obtiveram os outros participantes, especialmente no segmento rápido (B) da fase
final do treinamento e nas velocidades de andamento mais altas [Gráfico 10 (e, f)].
Apesar do desempenho díspar obtido pelo Participante nº 4, na fase final do
treinamento do Exercício nº 4, a maioria dos participantes diminuiu a média de
desvio temporal ocorrido no ataque dos sons.
No Exercício nº 4, a média geral interparticipantes de desvio no ataque dos
sons do violão, extraída a partir do desempenho de todos participantes, durante a
fase inicial do treinamento foi de 82 ms, enquanto que na fase final a média geral
de desvio foi de 52 ms (Tabela 18). Estas médias de desempenho geral dos
violonistas participantes indicam que o efeito do treinamento foi significativo para
a melhoria da precisão temporal no ataque dos sons deste exercício, o qual
envolveu alternância de toques entre dedos adjacentes da mão esquerda em
apenas uma corda.
Gráfico 10: Exercício nº 4. Análise interparticipantes: desvio temporal no ataque dos sons. No eixo horizontal, os nº
s 1 a 16 referem-se aos sons do segmento lento (A = ) e os nº
s 17 a 32 referem-se aos sons do segmento rápido (B = ).
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 4_90bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 4_90bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 4_105bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 4_105bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 4_120bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 4_120bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
245
Exercício nº 5
O Exercício nº 5 envolveu o uso de dedo pivô133 na mão esquerda, o qual
permaneceu “fixo” numa corda enquanto seus adjacentes se alternavam em
toques numa mesma corda conforme partitura da Figura 11. Na mão direita os
dedos indicador (i,) e médio (m) atacaram os sons sobre duas cordas. Este
exercício foi concebido para comparar seu efeito sobre a velocidade-precisão no
ataque dos sons com aquele ocorrido no Exercício nº 6, no qual a ação do dedo
pivô na mão esquerda deveria ocorrer concomitantemente à mudança de corda
realizada pelos seus adjacentes134. Em termos de precisão temporal do ataque
dos sons realizados pela mão direita, a comparação de desempenho entre os
participantes foi apresentada no Gráfico 11.
Neste exercício, a comparação interparticipantes – em termos de precisão
temporal no ataque dos sons – mostrou que na fase inicial do treinamento houve
maior disparidade de desempenho entre os participantes do que houve na fase
final (Gráfico 11), cuja disparidade de resultados foi menor entre os participantes.
Pode-se também observar que a variabilidade de desempenho entre os
participantes, quanto à precisão no ataque dos sons, na fase final do treinamento
se acentuou no segmento rápido (do 17º ao 32º som, em ) deste exercício, em
contraposição ao segmento lento (do 1º ao 16º som, em ) e se acentuou ainda
mais a diferença de desempenho entre os participantes quando na fase inicial do
treinamento o exercício foi tocado na velocidade de 90 bpm (Gráfico 11, Exercício
nº 5_90bpm_inicial).
Estes resultados indicam que no desempenho de todos os participantes,
ocorrido em todas as velocidades na fase final do treinamento, houve uma
diminuição do desvio temporal no ataque dos sons ao violão em relação ao tempo
determinado pelo metrônomo. Ainda na fase final do treinamento, esta condição
ocorreu de maneira muito mais acentuada no segmento lento do exercício, do que
a ocorrida no segmento rápido do mesmo, conforme representado no Gráfico 11.
133 Dedo da mão esquerda em posição fixa numa determinada casa/corda do violão, ao qual se
alternam as ações de seus dedos adjacentes. 134
Pode-se obter uma explicação mais detalhada da estrutura dos exercícios de treinamento no item 5.4 Tarefas: exercícios.
246
EXERCÍCIO Nº 5 - Médias de desvio temporal no ataque dos sons (valores absolutos)
BPM Fase INICIAL do treinamento Fase FINAL do treinamento
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
090 0,097 0,060 0,099 0,199 0,019 0,036 0,057 0,038 0,020 0,028
105 0,110 0,059 0,066 0,058 0,036 0,062 0,090 0,041 0,102 0,059
120 0,147 0,191 0,067 0,086 0,075 0,109 0,073 0,076 0,111 0,103
Méd
ias
0,118 0,103 0,077 0,114 0,043 0,034 0,084 0,038 0,073 0,048
Média geral interparticipantes (INICIAL) 0,091
Média geral interparticipantes (FINAL) 0,056
Tabela 19: Média geral interparticipantes – desvio no ataque dos sons do Exercício nº 5.
No Exercício nº 5, a média geral interparticipantes de desvio no ataque dos
sons do violão, extraída a partir do desempenho de todos participantes, durante a
fase inicial do treinamento foi de 91 ms, enquanto que na fase final a média geral
de desvio foi de 56 ms (Tabela 19). Estas médias de desempenho geral,
calculadas pelo desempenho ocorrido entre todos os violonistas participantes,
indicam que o efeito do treinamento foi significativo para a melhoria da precisão
temporal no ataque dos sons deste exercício, o qual envolveu o uso de um dedo
fixo (pivô) da mão esquerda sobre uma nota, ao mesmo tempo em que seus
dedos adjacentes se alternavam em notas diferentes de outra corda.
Gráfico 11: Exercício nº 5. Analise interparticipantes: desvio temporal no ataque dos sons. No eixo horizontal, os nº
s 1 a 16 referem-se aos sons do segmento lento (A = ) e os nº
s 17 a 32 referem-se aos sons do segmento rápido (B = ).
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 5_90bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 5_90bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 5_105bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 5_105bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 5_120bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Exercício nº 5_120bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
248
Exercício nº 6
Conforme mencionado no item 5.4 Tarefas: exercícios, o Exercício nº 6
lidou com a restrição de assimetria bimanual dos movimentos dos dedos causada
pela imposição de um dedo pivô da mão esquerda mantido em posição fixa numa
nota, enquanto seus dedos adjacentes se alternavam na ação de preparar135 os
sons a serem tocados em outras cordas. Este exercício, além de envolver o uso
dos dedos indicador e médio da mão direita, também fez uso do dedo anular
dessa mão em concomitância à mudança de corda na ação da mão esquerda
(conforme Figura 12, no item 5.4.2 - Partituras musicais dos exercícios).
Para além da grande disparidade de desempenho entre os participantes
quanto ao desvio temporal ocorrido no ataque dos sons do Exercício nº 6 (Gráfico
12), também se tornou evidente a significativa diferença de desvio temporal que
estes desempenharam entre as fases inicial e final do treinamento. Na fase inicial
do treinamento (Gráfico 12, quadros à esquerda da página), a comparação do
desempenho entre os participantes demonstrou enorme “disparidade” de
resultados quanto à precisão temporal no ataque dos sons do violão, enquanto
que na fase final, a comparação interparticipantes apresentou uma maior
homogeneidade no desempenho alcançado pelos participantes. Para conhecer os
valores de desvio temporal ocorrido no ataque dos sons a partir dos quais os
gráficos foram gerados, estes se encontram nas Tabelas 43 a 45, do Apêndice D.
No Exercício nº 6, a média geral de desvio no ataque dos sons do violão,
extraída a partir do desempenho comparado entre todos os participantes, durante
a fase inicial do treinamento foi de 140 ms, enquanto que na fase final a média
geral de desvio foi de 67 ms (Tabela 20). Estas médias de desempenho geral,
calculadas pelo desempenho ocorrido entre todos os violonistas participantes,
indicam que o efeito do treinamento foi bastante significativo para a melhoria da
precisão temporal no ataque dos sons deste exercício. Este exercício envolveu o
uso de um dedo pivô na mão esquerda (fixo sobre uma nota), enquanto seus
adjacentes se alternavam em diferentes notas de outras duas cordas vizinhas.
135 A “preparação” do som no violão - realizada pelo posicionamento da ponta do dedo da mão
esquerda sobre uma corda em uma determinada “casa” ou nota musical - geralmente ocorre num brevissimo instante que antecede o ataque do som realizado pela mão direita.
249
Possivelmente devido a maior complexidade de execução do Exercício nº
6, os valores de desvio temporal no ataque dos sons do violão foram bastante
altos no desempenho de todos os participantes. Especialmente na fase inicial do
treinamento, quando o exercício foi tocado pelo Participante nº 4 na velocidade de
andamento mais alta (120 bpm), os valores de desvio temporal no ataque dos
sons ultrapassaram a marca dos 900 ms nos últimos sons do exercício. Estes
valores mais altos de desvio temporal ocorridos neste exercício, somente foram
ultrapassados por aquele desempenhado por alguns participantes durante a
execução do Exercício nº 2 a 120 bpm durante a mesma fase inicial do
treinamento.
Pela observação do Gráfico 12, relativo ao desempenho de precisão
temporal no ataque dos sons do Exercício nº 6, percebe-se em todas as situações
da fase inicial do treinamento [Gráfico 12(a, c, e)] que houve uma grande
disparidade de desempenho entre os participantes, enquanto que no desempenho
ocorrido na fase final do treinamento [Gráfico 12(b, d, f)] essa disparidade
interparticipantes se tornou sensivelmente menor.
EXERCÍCIO Nº 6 - Médias de desvio temporal no ataque dos sons (valores absolutos)
BPM Fase INICIAL do treinamento Fase FINAL do treinamento
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
090 0,072 0,173 0,127 0,238 0,048 0,036 0,057 0,038 0,020 0,028
105 0,187 0,164 0,114 0,100 0,042 0,062 0,090 0,041 0,102 0,059
120 0,158 0,194 0,147 0,269 0,074 0,109 0,073 0,076 0,111 0,103
Méd
ia
0,139 0,177 0,129 0,202 0,055 0,069 0,073 0,051 0,078 0,064
Média geral interparticipantes (INICIAL) 0,140
Média geral interparticipantes (FINAL) 0,067
Tabela 20: Média geral interparticipantes – desvio no ataque dos sons do Exercício nº 6.
No Exercício nº 6, outro padrão de desempenho comum aos participantes
foi a tendência de maior atraso no ataque dos sons ocorrendo no segmento
rápido do exercício (17º ao 32º som, no Gráfico 12), em contraposição ao menor
atraso no segmento lento (1º ao 16º som, no Gráfico 12). Esta tendência se
repetiu com maior intensidade na velocidade mais elevada (120 bpm) e também
na fase inicial do treinamento (Gráfico 12).
Gráfico 12: Exercício nº 6. Análise interparticipantes: desvio temporal no ataque dos sons. No eixo horizontal, os nº
s de 1 a 16 referem-se aos sons do segmento lento (A, ) e os nº
s de 17 a 32 referem-se aos sons do segmento rápido (B, ).
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
GRÁFICO 31 (a) - Exercício nº 6_90bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
GRÁFICO 31 (b) - Exercício nº 6_90bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
GRÁFICO 31 (c) - Exercício nº 6_105bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
GRÁFICO 31 (d) - Exercício nº 6_105bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
GRÁFICO 31 (e) - Exercício nº 6_120bpm_inicial
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
-1,000
-0,800
-0,600
-0,400
-0,200
0,000
0,200
0,400
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
GRÁFICO 31 (f) - Exercício nº 6_120bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
251
6.2.1 Considerações gerais a partir da comparação interparticipantes
Através dos gráficos inseridos nesta sessão, os quais apresentam a
amplitude do desvio temporal ocorrido no ataque dos sons do violão em relação
ao tempo do metrônomo, pudemos identificar os níveis de precisão temporal no
ataque dos sons alcançados pelos violonistas em cada exercício. A partir de uma
consideração macroestrutural dos gráficos pode-se notar que na fase final do
treinamento, em todos os exercícios e velocidades de andamento, a maioria dos
participantes obteve um incremento na precisão temporal do ataque dos sons do
violão em comparação àquela alcançada na fase inicial do treinamento. Este
resultado também pode ser visualizado de modo resumido na Tabela 21.
Em contrapartida, a despeito de ter havido uma tendência geral dos
participantes melhorarem a precisão temporal no ataque dos sons em todos os
exercícios, no caso do Participante nº 4 ocorreu uma exceção. No caso deste
violonista, a melhoria de seu desempenho registrada na fase final do treinamento
foi insignificante quando comparada ao desempenho por ele alcançado na fase
inicial do treinamento, especialmente nos exercícios envolvendo restrições
biomecânicas mais severas.
Média geral interparticipantes - desvio temporal em cada exercício EXERCÍCIO Fase INICIAL do treinamento Fase FINAL do treinamento
Nº 1 0,043 0,029
Nº 2 0,172 0,094
Nº 3 0,056 0,049
Nº 4 0,082 0,052
Nº 5 0,091 0,056
Nº 6 0,140 0,067
Tabela 21: Média geral de desvio temporal no ataque dos sons de cada exercício. Os valores após a vírgula (milissegundos) se referem ao tempo de desvio temporal
ocorrido no ataque dos sons. Estes valores correspondem à média geral de desvio calculada entre todos os participantes em todas as velocidades de andamento nas quais o exercício foi tocado em cada uma das fases de registro do treinamento (inicial e final).
Os valores a partir dos quais foram extraídas estas médias gerais de
desvio (Tabela 21), encontram-se nas tabelas apresentadas para cada
exercício/velocidade no Apêndice D (Tabelas 28 a 45), os quais foram antes
transformados em números absolutos para evitar o achatamento excessivo da
amplitude dos desvios temporais quando da geração das médias. Para
252
entendimento da geração dos valores das médias de desvio temporal
apresentados na Tabela 21 é importante considerar a justificativa de uso de
valores absolutos. O seu uso em nossa análise se destinou a evitar a sublimação
da amplitude do desvio que ocorreria com valores relativos/reais (positivos e
negativos) dos desvios no ataque dos sons, caso estes não fossem
transformados em números absolutos136 (somente positivos) antes da realização
do cálculo das médias de desvio temporal.
Alguns efeitos da imposição de restrições biomecânicas nos exercícios
Pelos resultados de desvio temporal, desempenhados pelos violonistas
participantes deste estudo, pudemos observar alguns efeitos da imposição de
restrições biomecânicas típicas da ação de tocar o violão sobre a conciliação de
velocidade-precisão.
No desempenho da maioria dos violonistas participantes, a habilidade para
conciliar velocidade-precisão durante a fase final do treinamento, foi maior do que
a observada na fase inicial. Este efeito da prática ocorrido na fase final do
treinamento se traduziu em menor desvio temporal no ataque dos sons do violão
em relação ao tempo exigido pela marcação dada pelo metrônomo.
De acordo com os resultados de desempenho alcançados por todos os
violonistas participantes, quanto à precisão temporal no ataque dos sons do violão
num mesmo exercício – resumidos na Tabela 21 – a tarefa-exercício em que
houve maior desvio temporal entre o ataque dos sons e a indicação metronômica,
foi a do Exercício nº 2, o qual envolveu a restrição de aumento súbito de força no
movimento de toque dos dedos da mão direita.
Considerando-se que a maior amplitude de desvio temporal tenha ocorrido
no exercício que envolveu o fator aumento de força no toque dos dedos da mão
direita, este resultado endossa a posição de Neuhaus (1973) de que o incremento
de força no toque dos dedos para aumentar a intensidade dos sons é uma das
restrições mais impactantes que se impõe contra a manutenção da velocidade
dos movimentos e da sua precisão temporal.
136 No item 5.7.5 foram apresentadas as razões para o uso de números absolutos ou relativos para
o cálculo de médias contendo valores de desvio temporal.
253
O maior nível de desvio temporal no ataque dos sons do violão, ocorrido na
execução do Exercício nº 2 (durante a fase inicial do treinamento), foi seguido
pelo nível de desvio ocorrido no Exercício nº 6 (durante a fase inicial do
treinamento), o qual lidou com a restrição de assimetria e assincronia dos
movimentos bimanuais137.
Em contrapartida, considerado o desempenho alcançado por todos os
violonistas participantes, o menor efeito de desvio temporal no ataque dos sons
do violão, ocorreu na execução do Exercício nº 1, seguido de perto pelo que
ocorreu no Exercício nº 3. O Exercício nº 1 envolveu apenas o fator aumento
súbito de velocidade no movimento de toque dos dedos, sendo a tarefa do
treinamento que envolveu menor nível de complexidade e de dificuldade em sua
execução. Já o Exercício nº 3, para além do fator aumento súbito de velocidade
nos toques de dedos de ambas as mãos, foi acrescida a restrição de alternância
de movimentos entre dedos não adjacentes da mão esquerda. Esta restrição é
menos severa daquela imposta no Exercício nº 4 no qual foi imposta a restrição
derivada do uso de dedos adjacentes da mão esquerda tocados num mesma
corda.
Estes resultados dão uma ideia preliminar dos possíveis efeitos da
imposição de restrições biomecânicas em exercícios violonísticos sobre a
velocidade e precisão dos movimentos demandados na execução do violão.
No próximo capítulo, passamos a analisar o desempenho de cada
violonista quanto ao controle da velocidade-precisão na ação bimanual
demandada na produção dos sons do violão, os quais demandam uma sincronia
intermanual bastante peculiar.
137 O Exercício nº 6 envolveu simultaneamente a ação de um dedo fixo (pivô), posicionado numa
corda/casa do violão, alternada com a ação dos outros dedos (a ele adjacentes) deslocando-se em diferentes cordas e casas do violão.
254
6.3 Análise da sincronia bimanual
Para produzir um som no violão usualmente é exigida uma ação
coordenada de ambas as mãos. Esta coordenação bimanual presente na
performance do violão exige que um dedo da mão esquerda esteja previamente
“preparado” sobre uma corda/casa correspondente à nota musical, para que um
dedo da mão direita possa atacar a corda correspondente à nota musical
previamente definida. Nesta ação conjugada das mãos para produzir um som no
violão, geralmente há uma lacuna de tempo (defasagem temporal) entre o
instante que começa a preensão do dedo da mão esquerda sobre a corda/casa e
o momento de ataque desta corda pela ação de um dedo da mão direita. Esta
defasagem temporal existente na ação conjugada entre as mãos para produzir um
som no violão, é caracterizada por uma assincronia bimanual, isto é, os tempos
dos movimentos de uma mão em relação à outra não coincidem. A este hiato
temporal ocorrido na coordenação bimanual demandada pela performance do
violão nos referimos como defasagem temporal intermanual ou simplesmente por
defasagem intermanual.
Os Exercícios nº 3 a nº 6 do treinamento, levado a cabo em nosso
experimento, foram delineados para conter uma ação motora tipicamente
bimanual em sua realização e por isso são aqui utilizados para analisar o nível de
sincronia entre as mãos envolvido na performance do violão. Portanto, esta
sessão trata dos resultados referentes à sincronia bimanual desempenhada pelos
violonistas participantes quando da execução ao violão dos Exercícios n.º 3 a 6.
Para viabilizar a análise dos resultados sobre a sincronia entre as mãos foram
levados em consideração dois momentos da ação para produzir os sons no
violão:
1) o instante em que a ponta do dedo da mão esquerda (LH) pousa sobre a
corda (ou alternativamente, o instante em que a ponta do dedo se afasta da
corda para dar lugar à ação de outro dedo já posicionado numa nota mais
grave da mesma corda);
2) o instante do ataque do som produzido pela “liberação” da vibração da
corda por ação da mão direita (RH) ao realizar um movimento tangencial
da ponta da unha do dedo desta mão sobre a corda.
255
Nas tabelas que seguem, aparecem representadas as médias de
defasagem temporal intermanual, isto é, de diferença de tempo existente entre o
instante de pouso do dedo da mão esquerda sobre a corda do violão e o instante
de ataque do som realizado pelo dedo da mão direita para produzir os sons do
exercício no violão.
A apresentação (através de tabelas e gráficos) das médias de tempo de
defasagem intermanual está organizada por diferentes tarefas (Exercícios n.º 3 a
6), por diferentes velocidades de andamento musical (90, 105, 120 bpm) e por
diferentes fases do treinamento (inicial e final).
Para auxiliar na compreensão dos resultados aqui apresentados, repor-
tamos em detalhe alguns procedimentos adotados para detectar e organizar os
valores de defasagem intermanual aqui analisados.
Uma vez já detectado – através do uso de algoritmo computacional – o
instante em que ocorreu o toque do dedo de cada mão que produziu o ataque de
cada um dos 32 sons que constituem o exercício, foi então calculada a diferença
entre o momento dos toques de dedos de uma mão em relação à outra. Com os
dados de tempo da ação dos dedos de cada mão já detectados, foi possível
calcular a amplitude da defasagem temporal da ação intermanual para cada som.
Posteriormente foi calculada a média de defasagem temporal intermanual para os
16 sons que constituem cada segmento do exercício (partes A e B), o qual é
tomado como unidade de análise. As médias da amplitude de defasagem
intermanual originadas a partir de cada unidade de análise (segmento de 16 sons
do exercício) estão representadas nas tabelas do Apêndice C sobre a sincronia
bimanual desempenhada por cada violonista participante.
Para além das tabelas contendo os resultados da sincronia bimanual
alcançados pelo violonista ao tocar os exercícios, foi também acrescido aqui um
conjunto de gráficos que possibilitam uma compreensão mais intuitiva e imediata
destes resultados num nível macroestrutural. As diferenças de tempo ocorridas
entre as ações de cada mão desempenhadas pelo participante foram apresen-
tadas em elementos gráficos individuais de acordo com as três velocidades de
andamento musical (90, 105, 120 bpm) em que os Exercícios nº 3 a nº 6 foram
tocados. Neste conjunto de gráficos, aqueles que aparecem ao lado esquerdo da
256
página (gráficos a, c, e) referem-se à defasagem intermanual registrada durante a
fase inicial do treinamento, enquanto que os gráficos situados ao lado direito da
página (gráficos b, d, f) referem-se à defasagem intermanual registrada na fase
final do treinamento.
Tal como observado nas tabelas, também nos gráficos que representam a
amplitude da defasagem temporal intermanual da ação do violonista, não há
valores correspondentes aos Exercícios n.º 1 e 2, pois pela sua extrema
simplicidade estes não demandaram sincronia bimanual em sentido estrito138 e por
esse motivo, não aparecem nesta sessão de análise da sincronia bimanual
violonística.
138 Nos Exercícios nºs 1 e 2, a mão esquerda não utiliza mudança de nota, corda, casa ou dedo e
por isso estes exercícios não se caracterizam como uma ação de sincronia bimanual típica, na qual ambas as mãos envolvem estas mudanças para tocar uma sequência de sons.
257
6.3.1 Defasagem temporal intermanual e efeito do treinamento
Através dos dados coletados nas fases inicial e final do treinamento, esta
sessão analisa o efeito da prática sistematizada pelo treinamento sobre a
defasagem temporal intermanual ocorrida ao produzir os sons dos Exercícios nº 3
ao nº 6 treinados no violão. Os valores numéricos (em milissegundos), que
indicam a defasagem temporal intermanual, referem-se à quantidade de tempo
em que a ação da ponta do dedo da mão esquerda – destinada a “preparar” a
nota musical na escala do violão – foi antecipada em relação à ação do dedo da
mão direita para “atacar” a corda em que esta nota era produzida.
Na comparação dos tempos de ação decorridos entre uma mão e outra, os
quais foram detectados a partir dos dados de vídeo e áudio, somente aparecem
valores positivos (que significam uma antecipação do toque), pois nos exercícios
propostos neste estudo a ação da mão esquerda ocorreu de maneira sempre
antecipada em relação à ação da mão direita.
No treinamento levado a cabo no experimento de nossa investigação,
ações tipicamente bimanuais139 foram delineadas para ocorrer apenas nos
Exercícios nº 3 a nº 6, e por isso a presente análise da defasagem intermanual é
realizada com os dados obtidos somente a partir destes exercícios, conforme
justificativa apresentada no item 5.4.4.
Para dar suporte à análise da ação intermanual, levada a cabo neste item,
foram inseridas no Apêndice C as tabelas de dados de tempo contendo as médias
de defasagem temporal intermanual desempenhada por cada violonista
participante em cada segmento (A/B) do exercício.
Para representar o desempenho bimanual de cada violonista participante
foi inserido aqui um conjunto de gráficos ordenados pelas letras a, b, c, d, e, f,
para representar visualmente os níveis de defasagem temporal intermanual
ocorrida na execução de cada exercício.
No conjunto de gráficos correspondente ao desempenho bimanual de cada
participante, o segmento de sons lentos (A / ) do exercício é apresentado
separadamente do segmento de sons rápidos (B / ). Desse modo, aqueles
139 Refere-se à ação coordenada simultaneamente entre as duas mãos para tocar o violão, a qual
envolve toques das cordas com uso alternado dos dedos de ambas as mãos do violonista.
258
gráficos localizados no lado esquerdo da página (a, c, e) referem-se aos dados de
defasagem intermanual ocorrida no segmento de sons lentos do exercício,
enquanto que os gráficos situados no lado direito da página (b, d, f) referem-se
aos dados de defasagem intermanual ocorrida no segmento de sons rápidos do
exercício.
O procedimento de divisão do exercício em dois segmentos – os quais
provocam mudança súbita de velocidade na passagem da parte lenta para a
rápida – foi utilizado para viabilizar a análise do desempenho do violonista na
velocidade específica de um segmento do exercício, onde A ()corresponde à
velocidade lenta do exercício e B () corresponde à rápida. Desse modo, a
divisão do exercício em segmentos também permitiu comparar o efeito da
mudança súbita de velocidade ocorrida na passagem do segmento lento para o
rápido do exercício. Ademais, a divisão do exercício em dois segmentos de
diferentes velocidades possibilitou analisar o desempenho alcançado pelo
violonista na velocidade de cada segmento do exercício para compará-la entre as
fases inicial e final do treinamento.
Este conjunto de gráficos separa o desempenho do violonista participante
ocorrido entre as fases inicial e final do treinamento e entre as diferentes
velocidades de andamento musical (90, 105, 120 bpm) nas quais os exercícios
foram treinados. Nesta sessão de análise da sincronia bimanual, a defasagem
temporal bimanual detectada no desempenho do violonista em cada um dos
segmentos (A ou B) do exercício é também comparado entre as três diferentes
velocidades de andamento musical nas quais cada exercício foi treinado (90, 105,
120 bpm).
Na interpretação dos resultados representados nos gráficos, devem-se
considerar os rótulos do eixo horizontal (y) que aparece em cada gráfico como
sendo os números dos exercícios, enquanto que os valores no eixo vertical (x)
representam a escala de tempo (em milissegundos) que indica a média de
defasagem temporal da ação intermanual ocorrida ao tocar os sons dos
exercícios. O tempo zero (0,000) que aparece no eixo vertical (x) coincide com o
tempo indicado pelo metrônomo, em relação ao qual foi proposto ao violonista
259
que devesse se referenciar temporalmente durante o treinamento e as sessões de
registros para que atacasse os sons do violão sem antecipá-los nem atrasá-los.
Conforme anteriormente referido nos itens 5.4 e 6.2, também nos gráficos
desta sessão, destinados à representação da defasagem intermanual ocorrida na
ação bimanual do violonista, observa-se que não há valores que correspondam
aos Exercícios nºs 1 e 2, pois estes não envolveram sincronia bimanual em
sentido estrito e por isso não se encontram inclusos na presente análise da ação
bimanual.
A seguir, apresentamos os gráficos indicadores do desempenho de cada
violonista participante quanto à defasagem temporal ocorrida na ação bimanual
demandada na execução dos exercícios. A análise das linhas de desempenho
representadas nos gráficos deste item compara o efeito do treinamento sobre a
sincronia bimanual demandada na execução dos Exercícios nº 3 a nº 6 do
treinamento, cujo procedimento contrapõe os resultados alcançados na fase
inicial do treinamento com aqueles alcançados na fase final.
260
Participante nº 1 (GUIT04):
Defasagem temporal bimanual da parte A () nas fases inicial e final do treinamento.
Defasagem temporal bimanual da parte B () nas fases inicial e final do treinamento.
Gráfico 13 (a) Gráfico 13 (b)
Gráfico 13 © Gráfico 13 (d)
Gráfico 13 (e) Gráfico 13 (f)
Gráfico 13 (a, b, c, d, e, f): Participante nº 1. Efeito do treino na defasagem intermanual.
Considerando as diferentes fases do treinamento e as diferentes
velocidades de execução dos exercícios, podemos observar no Gráfico 13 que de
modo geral o Participante nº 1 incorreu numa defasagem temporal intermanual
mais acentuada na execução dos Exercícios n.º 5 e 6, independentemente da fase
do treinamento e do segmento (lento ou rápido) do exercício. Estes exercícios
envolveram ação assimétrica bimanual com uso de um dedo pivô na mão
esquerda e mudança dos toques entre duas cordas no Exercício nº 5 e em três
cordas no Exercício nº 6 – condição que exigiu mudança de corda
simultaneamente na ação de ambas as mãos. Observa-se também que no
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_090bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_090bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_105bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_105bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_120bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT04_120bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
261
Exercício nº 6, este violonista tendeu a diminuir a defasagem temporal
intermanual na fase final do treinamento (linha de desempenho na cor azul) em
quase todas as velocidades propostas. Em termos de efeito do treinamento, de
modo geral o Participante nº 1 tendeu a uma diminuição da defasagem temporal
intermanual na fase final do treinamento o que pode ser desejável para o
refinamento da habilidade de controle motor bimanual necessária à performance
violonística.
262
Participante nº 2 [GUIT05]:
Defasagem temporal bimanual da parte A () nas fases inicial e final do treinamento.
Defasagem temporal bimanual da parte B () nas fases inicial e final do treinamento.
Gráfico 14 (a) Gráfico 14 (b)
Gráfico 14 © Gráfico 14 (d)
Gráfico 14 (e) Gráfico 14 (f)
Gráfico 14 (a, b, c, d, e, f): Participante nº 2. Efeito do treino na defasagem intermanual.
De acordo com o Gráfico 14, o Participante nº 2 tendeu a aumentar a
defasagem temporal intermanual na execução dos Exercícios nº 5 e nº 6, os quais
demandaram mudança de corda no toque dos dedos de ambas as mãos e uso de
dedo pivô na mão esquerda, enquanto que tendeu a diminuir a defasagem nos
Exercícios nº 3 e nº 4 que envolveram alternância de toques em apenas uma
corda. Este participante teve um desempenho similar ao do Participante nº 1
quanto à tendência de ocorrer maior defasagem temporal intermanual na
execução dos Exercícios nº 5 e nº 6.
Exceto na velocidade de andamento mais baixa (90 bpm), durante a fase
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT05_090bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT05_090bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT05_105bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
0,000
0,050
0,100
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0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT05_105bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT05_120bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT05_120bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
263
final do treinamento este participante tendeu a aumentar a defasagem temporal
intermanual nas velocidades mais altas (105 e 120 bpm). No Exercício nº 5 tocado
à velocidade de 90 bpm foi a única ocasião em que este participante teve uma
diminuição significativa da defasagem temporal intermanual. No segmento lento
(A) do Exercício nº 5 a 90 bpm, este participante que tinha apresentado uma
defasagem de 124 ms no registro da fase inicial do treinamento, diminuiu sua
defasagem intermanual para 92 ms no registro da fase final. Além dessa
diminuição da defasagem intermanual apresentada no segmento lento do
Exercício nº 5 a 90 bpm, este participante também diminuiu sua defasagem
intermanual de 116 ms ocorridos na fase inicial do treinamento, para 85 ms na
fase final.
264
Participante nº 3 [GUIT06]
Defasagem temporal bimanual da parte A () nas fases inicial e final do treinamento.
Defasagem temporal bimanual da parte B () nas fases inicial e final do treinamento.
Gráfico 15 (a) Gráfico 15 (b)
Gráfico 15 © Gráfico 15 (d)
Gráfico 15 (e) Gráfico 15 (f)
Gráfico 15 (a, b, c, d, e, f): Participante nº 3. Efeito do treino na defasagem intermanual.
Na fase final do treinamento o Participante nº 3 apresentou menor
defasagem temporal intermanual no segmento rápido (parte B / ) do Exercício nº
6 quando tocado nas velocidades de andamento mais altas (105 e 120 bpm)
[Gráfico 15 (d, f)], no entanto, apresentou maior defasagem quando tocou o
mesmo segmento rápido deste exercício na velocidade mais baixa (90 bpm)
[Gráfico 15,(b)].Tal desempenho evidenciou que após o treinamento somente no
segmento rápido (B) do Exercício nº 6 tocado nas velocidades mais rápidas (105
e 120 bpm) houve significativa diminuição da defasagem intermanual no ataque
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT06_090bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT06_090bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
0,000
0,050
0,100
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1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT06_105bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
0,000
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0,100
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1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT06_105bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT06_120bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT06_120bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
265
dos sons. Nos restantes exercícios do treinamento, em alguns não houve
mudança de desempenho intermanual com o treinamento ou a mudança foi
insignificante e em outros (contrariamente ao esperado) houve até aumento da
defasagem intermanual ao final do treinamento.
Apesar de suas particularidades, tal como ocorreu com os outros
participantes o desempenho do Participante nº 3, também manteve um nível mais
elevado de defasagem intermanual nos exercícios mais complexos (n.º 5 e 6) os
quais envolveram mudança de corda em ambas as mãos e uso do dedo pivô na
mão esquerda.
266
Participante nº 4 [GUIT07]:
Defasagem temporal bimanual da parte A () nas fases inicial e final do treinamento.
Defasagem temporal bimanual da parte B () nas fases inicial e final do treinamento.
Gráfico 16 (a) Gráfico 16 (b)
Gráfico 16 (c) Gráfico 16 (d)
Gráfico 16 (e) Gráfico 16 (f)
Gráfico 16 (a, b, c, d, e, f): Participante nº 4. Efeito do treino na defasagem intermanual.
No desempenho deste violonista, o Exercício nº 5 foi o único no qual ele
alcançou diminuição da defasagem temporal intermanual em todas as
velocidades treinadas, apesar de ter alcançado resultado similar no Exercício nº 6
não fosse a exceção ocorrida no segmento lento (A) do exercício tocado a
velocidade de 105 bpm.
Conforme representado no Gráfico 16, em seu desempenho de sincronia
bimanual, o Participante nº 4 teve os maiores índices de defasagem temporal
intermanual ocorridos nos Exercícios nº 5 e 6 enquanto que os menores índices
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT07_090bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
0,000
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(x)
(y)
GUIT07_090bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
0,000
0,050
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(x)
(y)
GUIT07_105bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
0,000
0,050
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(x)
(y)
GUIT07_105bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
0,000
0,050
0,100
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1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT07_120bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
0,000
0,050
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0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT07_120bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
267
de defasagem ocorreram nos Exercícios nº 3 e 4. Digno de nota foi a ocorrência
durante a fase inicial do treinamento na qual este violonista teve uma média de
defasagem intermanual fora do comum (superior a 200 ms) no segmento rápido
(B / ) do Exercício nº 5 executado a 90 bpm. Contrariamente ao desempenho
dos outros participantes, de modo geral este violonista diminuiu o nível de
defasagem temporal intermanual em todos os exercícios durante os registros
ocorridos na fase final do treinamento.
268
Participante nº 5 [GUIT08]:
Defasagem temporal bimanual da parte A () nas fases inicial e final do treinamento.
Defasagem temporal bimanual da parte B () nas fases inicial e final do treinamento.
Gráfico 17 (a) Gráfico 17 (b)
Gráfico 17 (c) Gráfico 17 (d)
Gráfico 17 (e) Gráfico 17 (f)
Gráfico 17 (a, b, c, d, e, f): Participante nº 5. Efeito do treino na defasagem intermanual.
Na comparação entre os exercícios envolvendo sincronia bimanual –
independentemente da fase do treinamento – o Participante nº 5 apresentou
maior índice de defasagem intermanual nos Exercícios nº 5 e 6 (mais complexos)
do que nos Exercícios nº 3 e 4 (menos complexos). Em todas as velocidades de
andamento, o desempenho do Participante nº 5 ainda apresentou tendência a
aumentar a defasagem temporal intermanual durante a fase final do treinamento
para os mesmos Exercícios nº 5 e nº 6 – similarmente ao que ocorreu com os
outros violonistas participantes. Ainda cabe destacar que dentre todos os
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT08_090bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
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0,050
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0,200
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(x)
(y)
GUIT08_090bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
0,000
0,050
0,100
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1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT08_105bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
0,000
0,050
0,100
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1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT08_105bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
0,000
0,050
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0,150
0,200
1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT08_120bpm_A()_ini/fin
A-ini
A-fin
0,000
0,050
0,100
0,150
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1 2 3 4 5 6
(x)
(y)
GUIT08_120bpm_B()_ini/fin
B-ini
B-fin
269
exercícios tocados nas diferentes velocidades, foi justamente no Exercício nº 6
que este violonista aumentou mais significativamente a defasagem temporal
intermanual na fase final do treinamento. Em contrapartida, durante a fase final do
treinamento dos Exercícios nº 3 e 4 e em todas as velocidades praticadas este
violonista diminuiu a defasagem temporal intermanual.
Considerando os resultados de defasagem intermanual que este violonista
apresentou nos exercícios que envolveram assimetria bimanual com uso de dedo
pivô e mudança de cordas em ambas as mãos (Exercícios nº 5 e 6) pode-se
observar que houve tendência para aumentar a defasagem temporal intermanual
ao final do treinamento. Entretanto, com o treinamento nos exercícios envolvendo
apenas o uso da alternância de toques de dedos adjacentes (ou não) da mão
esquerda em uma única corda (Exercícios nº 3 e 4), foi constatada tendência para
diminuir a defasagem intermanual durante a fase final do treinamento.
Como causa do aumento da defasagem temporal intermanual ocorrida com
este participante (e repetida pelos outros), deduzimos que pelo fato deste
violonista dispor de maior tempo para realizar a mudança de dedos da mão
esquerda de uma corda para outra, ele se utilizou da disponibilidade do maior
tempo existente – encontrado na mudança de um som para outro situados em
cordas diferentes – para antecipar a “preparação” do dedo da mão esquerda
como estratégia para não atrasar a velocidade do andamento musical e a
velocidade do ataque dos sons do exercício. Tal suposição acerca do uso da
estratégia de antecipação dos dedos da mão esquerda para não diminuir a
velocidade pode ser corroborada pelo fato de que justamente na velocidade de
andamento mais alta do segmento rápido (B/ ) do exercício ele apresentou uma
defasagem intermanual mais elevada, ultrapassando a média de 200 ms [Gráfico
17(f)], enquanto que no segmento lento a defasagem intermanual foi menor
[Gráfico 17(e)].
Discussão geral dos resultados sobre sincronia bimanual no violão
Primeiramente trazemos à tona um importante aspecto acerca da natureza
da defasagem temporal intermanual que ocorre na performance violonística, para
que o mesmo fique suficientemente claro ao leitor. A ocorrência da defasagem
270
temporal entre as mãos na performance do violão, se dá porque os dedos da mão
esquerda, ao “prepararem” as notas na escala do violão, se “antecipam” em
relação à ação de ataque dos sons realizada pelos dedos da mão direita ao
tangerem as cordas do violão.
Na comparação das diferenças de tempo ocorridas na ação entre as mãos
– detectadas a partir dos dados de vídeo da mão esquerda e dos dados de áudio
contendo os tempos de ação da mão direita – somente apareceram valores
positivos, pois nos exercícios treinados a ação da mão esquerda ocorreu sempre
antecipadamente em relação à ação da mão direita.
Na análise da sincronia bimanual observada no treinamento levado a cabo
em nosso experimento, a comparação do desempenho de cada violonista nos
exercícios tipicamente bimanuais (Exercícios nº 3 a 6) mostrou que nas tarefas
cuja realização envolveu restrições biomecânicas mais severas, ocorreu maior
amplitude da defasagem temporal intermanual. Este é o caso ocorrido nos
Exercícios nº 5 e 6, nos quais, o desempenho dos violonistas apresentou um
aumento significativo na média de defasagem temporal intermanual quando
comparado ao dos Exercícios nº 3 e 4 (conforme tabelas sobre os dados de
defasagem temporal intermanual apresentadas no Apêndice C).
A principal causa do aumento da defasagem intermanual ocorrida nos
Exercícios nº 5 e 6, em nosso experimento pode ter sido pelo fato destes
exercícios envolverem uso de dedo fixo (pivô) na mão esquerda, em
concomitância à mudança de corda na ação dos dedos de ambas as mãos.
Enquanto a execução dos Exercícios de nº 1 a 4 demandou o uso de apenas uma
corda para serem tocados, os Exercícios nº 5 e 6 se diferenciam pela sua
execução demandar uma ação bimanual com os dedos mudando entre duas
cordas no Exercício nº 5 e entre três cordas no Exercício nº 6 (conforme item
5.4.2).
Considerando-se que o ataque de cada som realizado pelos dedos da mão
direita nos Exercícios nº 5 e 6 foi alternado entre as cordas, em tal condição,
teoricamente, os dedos adjacentes ao dedo pivô na mão esquerda teriam mais
tempo disponível para se anteciparem na preparação da nota que seria tocada
em outra corda. Tal condição significa que enquanto a mão esquerda, de antemão
271
já tenha “preparado” o som com a fixação do dedo pivô numa das cordas, esta
condição permitiu maior tempo de “antecipação” do movimento dos seus dedos
adjacentes, sem comprometer a sustentação da vibração do som anterior, pois
este já estava sendo tocado em outra corda.
Em suma, por causa da ação dos dedos da mão esquerda envolver
alternância de ação em duas cordas no Exercício nº 5 e três cordas no Exercício
nº 6, havia a possibilidade dos violonistas disporem de maior tempo para poderem
antecipar a colocação dos dedos da mão esquerda sobre as cordas. Tal
disponibilidade de maior tempo pode justificar a “antecipação” como recurso ou
estratégia para prevenir possíveis erros ou deslizes e tentar assegurar a
manutenção da velocidade dos movimentos e maior precisão temporal no ataque
dos sons.
Em contrapartida, a ação com maior antecipação no posicionamento dos
dedos da mão esquerda, consequentemente gera maior defasagem temporal na
sincronia intermanual. Assim, de acordo com os resultados obtidos, temos uma
condição em que a estrutura da tarefa (exercício em formato de sequência de
sons) tocada no violão por ambas as mãos, tem consequências ou efeitos sobre a
defasagem temporal intermanual na ação bimanual da performance violonística.
Considerando que mesmo a despeito do treinamento que realizaram, os
violonistas usaram a antecipação do toque do dedo da mão esquerda sobre a
corda possivelmente como estratégia para tentar assegurar maior precisão
temporal dos movimentos dos dedos no ataque dos sons. Estes resultados têm
implicações para a elaboração e estruturação de exercícios de treinamento para
melhorar a sincronia bimanual dos violonistas.
Conforme apontado no começo desta sessão, no desempenho individual
de cada violonista participante foi verificado que a média de defasagem temporal
intermanual foi diferente entre os exercícios do treinamento. Portanto, pelos
resultados alcançados através do treinamento, podemos inferir que os exercícios
de sincronia bimanual, estruturados em apenas uma corda, podem ter efeitos
diferentes daqueles estruturados com toques de dedos se alternando entre duas
ou mais cordas. A diferença de efeito do treinamento também ocorreu entre
exercícios envolvendo independência de movimento no toque alternado de dedos
272
adjacentes e exercícios entre dedos não adjacentes, e especialmente entre
exercícios com o uso de dedo pivô e sem o seu uso. Em suma, em nosso
experimento, cada exercício envolvendo sincronia bimanual no violão tendeu a
efeitos diferentes sobre o nível de precisão temporal no ataque dos sons.
273
6.3.2 Defasagem temporal intermanual e mudança súbita de velocidade
Nesta sessão os resultados de defasagem intermanual ocorridos nos
Exercícios nº 3 a nº 6 são apresentados por participante, por grupo de exercícios
com e sem mudança de corda e por segmentos lento/rápido (A/B) do exercício de
treinamento (Tabela 22). Para execução dos exercícios, a passagem do
segmento lento (A) ao rápido (B) impôs uma limitação à precisão do movimento
dos dedos para realizarem o ataque das cordas – esta limitação foi provocada
pelo aumento súbito da velocidade. Devido à estrutura do segmento B do
exercício, demandar ação motora mais rápida do que a do segmento A, esta
situação demanda maior gasto de energia (Missenard & Fernandez, 2011) e
maior controle motor para a realização da mesma tarefa no dobro da velocidade,
pois está sujeita ao princípio da relação inversa velocidade-precisão.
Médias de defasagem temporal intermanual - Exercícios nº 3-4 x nº 5-6 Participantes Segmentos Inicial/Final Exercícios 3+4 Médias Exercícios 5+6 Médias
Nº 1 (GUIT04)
A = Inicial 3+4/A 0,063 5+6/A 0,134
Final 3+4/A 0,071 5+6/A 0,122
B = Inicial 3+4/B 0,059 5+6/B 0,093
Final 3+4/B 0,052 5+6/B 0,080
Nº 2 (GUIT05)
A = Inicial 3+4/A 0,060 5+6/A 0,091
Final 3+4/A 0,072 5+6/A 0,102
B = Inicial 3+4/B 0,059 5+6/B 0,080
Final 3+4/B 0,065 5+6/B 0,092
Nº 3 (GUIT06)
A = Inicial 3+4/A 0,049 5+6/A 0,086
Final 3+4/A 0,060 5+6/A 0,096
B = Inicial 3+4/B 0,044 5+6/B 0,092
Final 3+4/B 0,050 5+6/B 0,089
Nº 4 (GUIT07)
A = Inicial 3+4/A 0,090 5+6/A 0,140
Final 3+4/A 0,092 5+6/A 0,124
B = Inicial 3+4/B 0,065 5+6/B 0,150
Final 3+4/B 0,065 5+6/B 0,108
Nº 5 (GUIT08)
A = Inicial 3+4/A 0,066 5+6/A 0,118
Final 3+4/A 0,055 5+6/A 0,147
B = Inicial 3+4/B 0,071 5+6/B 0,133
Final 3+4/B 0,048 5+6/B 0,164
Média geral INICIAL: A+B Nºs 3 e 4 0,062 Nºs 5 e 6 0,112
Média geral FINAL: A+B Nºs 3 e 4 0,063 Nºs 5 e 6 0,112
Tabela 22: Médias de defasagem intermanual: comparação entre exercícios e violonistas. As linhas inferiores apresentam as médias gerais de defasagem por grupo de exercícios. Os Exer-cícios nº
s 3 e 4 formam o grupo tocado em apenas uma corda, enquanto que os Exercícios nº
s 5 e
6 formam o grupo cuja execução envolve mudança de corda.
A Tabela 22 apresenta as médias de defasagem intermanual decorrentes
274
da assincronia dos toques de dedos existente na ação coordenada entre as mãos
esquerda e direita do violonista ao produzir o som no violão. Os valores das
médias de defasagem, apresentados até a terceira casa decimal (em
milissegundos), referem-se à quantidade média de desvio ocorrido no ataque dos
sons em relação ao tempo marcado pelo metrônomo. Na Tabela 17 são
apresentadas as médias de defasagem temporal intermanual para cada segmento
lento/rápido (A/B) do exercício, as quais aparecem agrupadas de acordo com o
tipo de estrutura do exercício, a saber: um grupo de exercícios contendo toques
alternados de dedos numa única corda do violão (Exercícios nº 3 e 4), e outro
grupo contendo toques de dedos realizados em duas e três cordas (Exercícios nº
5 e 6).
As tabelas de dados de tempo – de onde foram extraídas as médias de
defasagem intermanual desempenhada por cada violonista nos Exercícios nº 3 a
6 – estão disponibilizadas no Apêndice C, as quais dão suporte à análise da ação
intermanual levada a cabo nesta sessão.
A presente análise comparativa do desempenho nos diferentes exercícios
que envolveram ação tipicamente bimanual, almejou verificar se a presença de
maior grau de severidade da restrição imposta no exercício provocaria aumento
da defasagem temporal da ação intermanual ao tocar os sons no violão.
Complementarmente, através das tabelas de defasagem intermanual disponibili-
zadas no Apêndice C, estes dados permitem verificar se a defasagem temporal
intermanual diminuiu ou não diante da condição de menor tempo disponível para
o ataque do som (realizado pela ação da mão direita) em comparação ao tempo
demandado na preparação da altura deste som (realizada pela ação mão
esquerda). A Tabela 22 também permitiu verificar se nas velocidades mais
elevadas140 em que os exercícios foram tocados, a defasagem temporal da ação
intermanual diminuiu em função de haver menor intervalo de tempo para produzir
cada som.
140 As velocidades mais elevadas do treinamento foram provocadas, ora pelo aumento de
velocidade do andamento musical proposto para tocar toda a sequência de sons do exercício, ora pelo aumento súbito de velocidade implementado na passagem do segmento A (de sons lentos) para o segmento B (de sons rápidos) do exercício.
275
Defasagem temporal intermanual e velocidade dos toques de dedos.
Pelo resultado do treinamento com os Exercícios nº 3 a 6, os quais
envolveram ações bimanuais típicas da performance do violão, ficou evidenciado
que as médias mais baixas de defasagem temporal intermanual (Tabela 22),
incidiram nos Exercícios nº 3 e 4, cuja produção dos sons envolveu alternância de
toques de dedos realizados somente numa corda. Em contrapartida, as médias de
defasagem intermanual mais altas incidiram nos Exercícios nº 5 e 6, os quais
demandaram mudança de corda141 na alternância dos toques de dedos.
Pela análise das médias de defasagem temporal intermanual ocorrida nos
exercícios que propomos, podem ser inferidos alguns elementos peculiares no
comportamento da sincronia bimanual apresentado pelos violonistas participantes
de nosso estudo. Através das médias gerais de defasagem intermanual
apresentadas nas linhas inferiores da Tabela 22 (Média geral INICIAL: A+B e
Média geral FINAL: A+B)142 pode-se depreender que a defasagem temporal
intermanual ocorrida nos exercícios envolvendo mudança de corda e uso
simultâneo de dedo pivô (Exercícios nº 5 e 6), foi maior (112 ms) do que naqueles
que demandaram alternância de toques entre dedos numa única corda
(Exercícios nº 3 e 4), cuja média geral de defasagem intermanual foi
aproximadamente a metade desse tempo (62 ms).
Ao analisar os valores referentes à defasagem temporal intermanual
apontados na Tabela 22, percebe-se que os violonistas participantes
apresentaram diferenças substanciais de acordo com o tipo de restrição implícita
no exercício, no entanto, não apresentaram diferenças relevantes entre as fases
inicial e final do treinamento e pouca diferença na comparação entre os
segmentos lento-rápido (A - B) dos exercícios.
141 No delineamento da demanda por mudança de corda nos exercícios com dedo pivô, foram
utilizados sons localizados em duas cordas no Exercício nº 5 e em três cordas no Exercício nº 6. 142
Complementarmente, podem ser consultadas as tabelas de médias de defasagem intermanual contidas no Apêndice C, as quais apresentam as médias de defasagem intermanual agrupadas também por diferentes velocidades de andamento musical desempenhadas por cada participante.
276
277
7 - CONCLUSÃO
O presente estudo buscou aprofundar a compreensão acerca do
incremento da habilidade em conciliar movimentos bimanuais rápidos com sua
precisão temporal na ação de tocar o violão. Conforme referido ao longo do
estudo, tal habilidade está atrelada ao princípio da lei de Fitts, isto é, à relação
inversamente proporcional existente entre velocidade dos movimentos corporais e
sua precisão temporal e espacial (Hancock & Newell, 1985; Zelaznik, Mone,
McCabe, & Thaman, 1988).
Na performance do violão, assim como na performance de instrumentos
musicais que se utilizam da ação manual, há a frequente exigência – e mesmo o
desafio – de tocar com movimentos rápidos dos dedos parte das obras, sem que
com tal exigência se comprometa a “beleza” da expressão destas por causa de
erros, imprecisões ou deslizes que podem ocorrer nos movimentos manuais.
Através da literatura consultada tomamos conhecimento de que
desenvolver a habilidade em conciliar velocidade e precisão dos movimentos
manuais na performance de instrumentos musicais de teclas ou cordas, e
particularmente na performance do violão, envolve determinadas restrições
biomecânicas, as quais devem ser levadas em consideração num treinamento
para incrementar tal habilidade. Tais restrições, típicas da ação de tocar o
instrumento, interagem na exequibilidade dos movimentos manuais, e
consequentemente influenciam as condições de exercitabilidade da mão num
contexto de treinamento com o instrumento.
A estratégia central mais imprescindível e considerada mais efetiva para
adquirir, manter e incrementar uma habilidade para tocar instrumentos musicais
tem sido a prática sistematizada através do treinamento específico. Por isso, a
prática sistemática foi a estratégia que adotamos em nossa investigação para
alcançar o objetivo de incrementar a habilidade em conciliar aumento de
velocidade no ataque dos sons com a manutenção da precisão dos movimentos
demandados pela ação de tocar o violão.
Na ação física necessária para tocar o violão, a habilidade do violonista
para conciliar o aumento da velocidade dos movimentos manuais com a
manutenção da sua precisão temporal no ataque dos sons, depende de três
278
elementos motores básicos: 1) controlar a velocidade dos movimentos dos dedos
da mão direita para atacar as cordas do violão; 2) controlar a velocidade dos
movimentos dos dedos da mão esquerda para comprimir (ou descomprimir) a
corda na “preparação” da nota musical sobre a escala do violão; 3) controlar a
assimetria e assincronia dos movimentos bimanuais demandados na produção do
som no violão.
Numa perspectiva macroestrutural, os resultados do experimento
conduzido neste estudo corroboraram a pressuposição de que a habilidade para
conciliar velocidade com precisão demandada na performance do violão, melhora
com a prática de exercícios estruturados a partir das especificidades
biomecânicas da ação de tocar o violão. Ou seja, tocar no violão sequências de
sons em alta velocidade e conciliá-las com a manutenção da sua precisão
temporal definida por metrônomo, implica em lidar com restrições biomecânicas
específicas inerentes à ação de tocar o instrumento.
Tais restrições típicas da ação de tocar o violão (detalhadas no capítulo 4 -
Biomecânica da performance do violão) foram implementadas nas tarefas do
treinamento levado a cabo em nosso experimento. Sua implementação nos
exercícios incluiu: 1) individuação do movimento em toques alternados entre
dedos adjacentes da mão esquerda, 2) individuação do movimento em toques
alternados entre dedos adjacentes da mão direita, 3) mudança de corda no
posicionamento dos dedos para produzir os sons, 4) mudança de casa na escala
do violão realizada pelos dedos da mão esquerda para “preparar” a nota musical,
5) aumento súbito de velocidade na execução de sequências de sons com
mudança rítmica e/ou de andamento musical, 6) aumento súbito de força (ou sua
diminuição) aplicada ao toque dos dedos da mão direita para regular a
intensidade do som, e 7) assimetria e assincronia intermanual nos movimentos
bimanuais envolvendo uso de dedo fixo (pivô) com toques alternados de seus
dedos adjacentes na mão esquerda e mudança de corda nos toques de ambas as
mãos.
Através da “superação”, mesmo que parcial, das restrições biomecânicas
impostas à ação de tocar o violão, os resultados da presente investigação
evidenciaram que treinar exercícios envolvendo movimentos que contemplem tais
279
restrições na execução da estrutura rítmico-temporal da música, conduz à
melhora da habilidade do violonista para conciliar velocidade e precisão no ataque
dos sons (itens, 6.1.1, 6.2 e 6.3).
Conforme detalhado no item 5.4, a estruturação dos exercícios propostos
para o treinamento levado a cabo em nosso experimento envolveu os seguintes
elementos: a) mudança de andamento musical para um limiar elevado de
velocidade, b) mudança súbita na velocidade de toque dos dedos, por causa da
alteração rítmica da sequência de sons, c) mudança súbita de força aplicada ao
toque dos dedos da mão direita para aumento da intensidade sonora, d)
assimetria e/ou assincronia da movimentação dos dedos demandada com o uso
de dedo pivô e da mudança de corda, e) uso sistemático do metrônomo para
controlar a precisão temporal do ataque dos sons.
A literatura sobre técnica violonística juntamente com a literatura
especializada em comportamento motor, biomecânica da mão humana, fisiologia
do exercício e preparação de atletas de alta performance (apontadas no capítulo
4), serviu de fundamento teórico na elaboração dos exercícios de velocidade e
precisão utilizados no treinamento levado a cabo em nosso experimento. Este
conjunto de informação teórica e sistematizada nos permitiu observar que
algumas das características dos exercícios de treinamento propostos para a
superação, ou minimização, das restrições biomecânicas típicas da ação de tocar
o violão, encontram-se nos princípios da pliometria, apontados nos itens 4.5.1 O
exercício pliométrico e 4.5.2 A natureza dos exercícios de treinamento. A
adaptação dos movimentos de toque dos dedos às restrições biomecânicas
implícitas nos exercícios e aos princípios pliométricos têm potencial para, através
do treinamento, incrementar a habilidade em conciliar velocidade e precisão
demandada na performance do violão.
Contribuições ao problema da conciliação velocidade-precisão no violão
O problema de conciliar a velocidade dos movimentos corporais com a
manutenção de sua precisão tem sido investigado especialmente na área do
comportamento motor e na psicologia comportamental. Entretanto, no campo da
performance de instrumentos musicais, este problema ainda se encontra pouco
280
estudado e raramente foi investigado em tarefas que envolvem coordenação
bimanual. Nosso estudo, ao tratar do problema da conciliação velocidade-
precisão na performance do violão, realizou um experimento envolvendo tarefas
de diferentes níveis de complexidade e movimentos bimanuais típicos da ação de
tocar o violão. Por ter investigado a ação simultânea de ambas as mãos na
performance do violão, nosso estudo se diferenciou dos trabalhos anteriores a
que tivemos acesso, considerando que estes investigaram a ação de somente
uma das mãos a cada vez na performance de instrumentos. Por estas razões,
nossa investigação abre um novo caminho para abordar o efeito da relação
inversa velocidade-precisão num contexto bimanual e na performance do violão.
Outras contribuições trazidas por nossa investigação sobre o problema de
que tratamos – isto é, conciliar o aumento de velocidade dos movimentos
bimanuais com manutenção de sua precisão temporal na performance do violão –
são resumidas a seguir.
No delineamento dos exercícios de treinamento, os princípios pliométricos
da “explosividade” de velocidade e de força nos movimentos e a “especificidade
da tarefa” tornaram-se determinantes para a escolha das estruturas envolvidas
em cada exercício proposto para nosso experimento. De acordo com os
resultados analisados nos itens 6.1.1 e 6.2, estes indicaram que o treinamento
(mesmo de curta duração) com exercícios envolvendo diferentes restrições
biomecânicas resultou no efeito de diferentes níveis de precisão temporal no
ataque dos sons conforme o tipo de restrição imposta pela tarefa. Neste sentido, o
Exercício nº 6 (envolvendo restrições derivadas do uso de dedo fixo ou pivô) e o
Exercício nº 2 (envolvendo restrições derivadas da aplicação de força súbita no
toque dos dedos da mão direita) foram as tarefas cujas restrições provocaram o
efeito de maior desvio temporal no ataque dos sons do violão.
No contexto da produção do som do violão, a sincronia bimanual denotou
ser um elemento importante para conciliar velocidade-precisão no ataque de sons
que envolvessem coordenação intermanual. Os resultados relativos à defasagem
temporal intermanual na performance do violão, analisados no item 6.3, apontam
para a necessidade de o violonista dedicar maior atenção e energia para controlar
a velocidade e a precisão dos movimentos quando da presença de movimentos
281
assimétricos e assíncronos na ação bimanual. Os resultados sobre o grau de
sincronia bimanual ocorrido em cada tipo de exercício sugerem que há
necessidade de se aprofundar as investigações sobre este aspecto na técnica
violonística e de se considerar a assimetria e assincronia intermanuais para
melhorar a coordenação bimanual demandada na ação de tocar o violão.
A presença de diferentes graus de defasagem temporal intermanual no
desempenho da ação de tocar sequências de sons ao violão denotou a tendência
do violonista em evitar atrasos no ataque dos sons utilizando-se da antecipação
da ação da mão esquerda para conseguir manter a sua precisão temporal no
ataque do som realizado pela mão direita. Em nosso experimento, essa tendência
ocorreu especialmente na execução da sequência de sons em velocidades mais
elevadas e demandando o uso de dedo pivô e/ou mudança de corda, tal como
ocorreu no Exercício nº 6 do treinamento.
No âmbito da produção do som ao violão, a antecipação da ação dos
dedos da mão esquerda em relação à ação dos dedos da mão direita, se
manifestou como uma estratégia comum a todos os casos replicados no presente
experimento. Tal estratégia de antecipação da ação da mão esquerda denotou ter
sido utilizada pelo violonista para evitar o comprometimento da precisão temporal
no ataque dos sons, mesmo quando houvesse exigência de aumento da
velocidade nos toques dos dedos. Ademais, diante da adoção generalizada da
estratégia de antecipação na ação da mão esquerda por parte de todos os
violonistas participantes, podemos inferir que tal estratégia poderia estar sendo
utilizada como um procedimento para assegurar a conciliação entre velocidade
dos movimentos e manutenção de sua precisão temporal (Costalonga, 2009).
Partindo de fundamentos biomecânicos e do princípio da relação inversa
velocidade-precisão, nesta investigação buscamos aprofundar e ampliar a
compreensão da questão da conciliação (regulação) entre velocidade-precisão
nos movimentos bimanuais demandados na execução do violão.
As contribuições desta investigação tornaram-se possíveis, em boa parte,
pela abordagem multidisciplinar do problema nela investigado. Tal abordagem do
problema nos permitiu compreender de um modo mais abrangente que a
habilidade para controlar/regular a relação velocidade-precisão encontra-se
282
dependente de vários fatores, dentre os quais a literatura tem apontado a
predominância de determinados tipos de fibra muscular (Tipo I, lenta ou Tipo II,
rápida) presentes no segmento corporal envolvido no movimento, o uso da co-
contração muscular como estratégia para estabilizar o segmento corporal
envolvido na ação de tocar o instrumento e a adaptação às restrições
biomecânicas (através do treinamento) envolvidas na ação de tocar o violão.
Dentre as possíveis implicações quanto à existência de diversos fatores influenci-
adores da relação velocidade-precisão na performance do violão, não poderíamos
deixar de ainda citar a emergência da importante tarefa relacionada à escolha da
digitação violonística moldada à velocidade demandada pela obra musical (item
4.7.4).
Em nossa abordagem multidisciplinar do problema foram utilizados os
fundamentos da biomecânica para avaliar o treinamento de velocidade na
performance do violão, o que também possibilitou uma compreensão mais
pormenorizada dos elementos físicos da performance instrumental – dentre eles a
assimetria intermanual presente na ação de tocar o violão. Através dos
fundamentos biomecânicos da assimetria bimanual no violão (itens 4.10.1 e
4.10.2), foi possível compreender que a ação individualizada de cada mão e seus
dedos se encontra caracterizada pela presença de diferentes padrões de
movimento – tal como se fossem algoritmos motores independentes agindo em
cada uma das mãos.
Restrições biomecânicas e conciliação velocidade-precisão no violão
Ao analisar os resultados comparativamente entre os casos participantes
do experimento (item 6.2), pudemos observar que diferentes tipos de restrições
implícitas a cada tarefa-exercício, resultaram em diferentes graus de desempenho
na conciliação entre velocidade do ataque dos sons e sua precisão temporal.
Os resultados de desempenho da maioria dos violonistas participantes de
nosso experimento mostraram que, em relação ao tempo metronômico, os níveis
de desvio temporal no ataque dos sons tocados ao violão ocorreram em
amplitudes menores na fase final do treinamento do que na fase inicial (6.1.1 e
6.2). Tal diminuição dos níveis de desvio temporal no ataque dos sons significa
283
que de modo geral houve um efeito positivo do treinamento quanto ao incremento
da precisão temporal no ataque dos sons dos exercícios treinados.
Na execução dos exercícios que propusemos para nosso experimento, a
menor amplitude de desvio temporal no ataque dos sons do violão, foi
desempenhada pelos violonistas na execução do Exercício nº 1, o qual envolveu
apenas o fator aumento súbito de velocidade no movimento de toque dos dedos,
seguida pela amplitude de desvio que ocorreu no Exercício nº 3, ao qual foi
acrescida a restrição de alternância de movimentos entre dedos não adjacentes
da mão esquerda.
Em contrapartida, comparando-se os resultados de desempenho de cada
violonista participante (item 6.1.1) e dos resultados interparticipantes (item 6.2), os
maiores níveis de desvio temporal no ataque dos sons do violão (sempre em
relação à indicação metronômica) ocorreram na execução do Exercício nº 2
(durante a fase inicial do treinamento), o qual envolveu a restrição provocada pelo
aumento súbito de força aplicada ao toque dos dedos da mão direita, e na
execução do Exercício nº 6, o qual envolveu a restrição motora provocada pela
assimetria e assincronia nos movimentos bimanuais.
Apesar do Exercício nº 2 possuir uma estrutura musical menos complexa
do que a do Exercício nº 6, o que prevaleceu com o resultado geral de seu maior
desvio temporal no ataque dos sons foi o efeito restritivo do aumento de aplicação
de força ao toque dos dedos sobre a resultante velocidade do movimento. Neste
caso, confirma-se a regra de que ao ser aplicada maior força ao movimento,
consequentemente gera-se maior grau de dificuldade em sua execução,
independentemente da complexidade estrutural da tarefa. Quando na execução
de instrumentos musicais é envolvido aumento de força muscular no toque dos
dedos para aumentar a intensidade do som, esta é uma das condições mais
difíceis para se manter a velocidade (Neuhaus, 1973). Ademais, a execução da
música envolve limite de tempo para sua correta execução, o que significa um
fator incrementador da dificuldade para conciliar a precisão temporal com a
velocidade.
Considerando-se que no violão o incremento de força aplicada ao
movimento de toque dos dedos da mão direita – necessário para produzir
284
aumento na intensidade dos sons – e que tal aplicação de força coincide com o
instante do ataque da corda para produzir o som, a partir dos resultados
desempenhados pelos participantes na execução do Exercício nº 2 pode-se inferir
que há uma forte correlação entre aumento de velocidade, aumento da
intensidade sonora, e aumento de desvio temporal no ataque do som (Pfordresher
et al., 2007). A ocorrência de níveis mais elevados de desvio temporal no ataque
dos sons se deu de maneira ainda mais acentuada no segmento rápido do
exercício (parte B, em ) e na velocidade de andamento mais alta do treinamento
(120 bpm).
Estes resultados desempenhados pelos violonistas nos Exercícios nº 2 e 6
sugerem que a maior severidade das restrições impostas nestes exercícios pode
ser o fator causador do desvio temporal mais intenso ocorrido no ataque dos
sons. Nesta condição, a maior intensidade de desvio temporal no ataque dos sons
resultou justamente nos exercícios em que houve a imposição de restrições
motoras mais severas do que nos demais exercícios.
Ademais, o fato dos desvios temporais no ataque dos sons terem sido
maiores no segmento mais rápido do exercício e ainda mais na velocidade mais
alta de andamento em que exercício foi tocado, confirma o princípio da relação
inversa velocidade-precisão pelo qual o aumento de velocidade tem um efeito
negativo sobre a precisão temporal dos movimentos corporais, e vice-versa.
Sincronia Bimanual
Os resultados relacionados à defasagem temporal intermanual (item 6.3.2)
apontaram diferenças substanciais no desempenho dos violonistas de acordo
com o tipo de exercício (tipo de restrição implícita na tarefa), mas não
apresentaram diferenças relevantes entre as fases inicial e final do treinamento.
Com o resultado similar ocorrido nos níveis da defasagem temporal intermanual
em ambas as fases do treinamento, podemos inferir que a duração do
treinamento e/ou a intensidade da prática proposta, não foram suficientes para
alcançar um efeito relevante sobre os níveis de sincronia bimanual.
Os resultados relacionados à velocidade e sincronia bimanual (item 6.3.2)
ainda mostraram que nas sequências de sons envolvendo ação alternada de
285
toques de dedos da mão esquerda em apenas uma corda (Exercícios nº 3 e 4), a
média geral de defasagem intermanual para produzir um som foi
aproximadamente metade do tempo (62 ms) daquela ocorrida nas sequências de
sons (Exercícios nº 5 e 6) que envolveram alternância de toques de dedos com
mudança de corda (112 ms).
Estes resultados apontam para a relevância da seleção do tipo de restrição
implícita na tarefa para operar mudanças sobre a defasagem temporal
intermanual na execução do violão. Com estes resultados, podemos inferir que a
presença de diferentes restrições à tarefa pode provocar diferentes níveis de
defasagem temporal intermanual, possivelmente mais do que o efeito provocado
pela duração do treinamento ou de sua intensidade de prática implementada no
mesmo.
Considerando que em nosso experimento os menores índices de
defasagem intermanual ocorreram nos exercícios que demandaram toques de
dedos alternados em apenas uma corda, podemos inferir que estes podem ter
maior potencial para melhorar a sincronia bimanual no violão, pois impõe tempos
menores para a ação da mão esquerda na preparação das notas musicais e não
permitem tão facilmente a antecipação do movimento dos dedos (da mão
esquerda) para “preparação” das notas musicais, tal como ocorre em sequências
de sons que demandem mudança de corda.
Com os achados da diminuição da assincronia bimanual em sequências de
toques de dedos alternados em uma única corda do violão, pode-se cogitar uma
proposta de treinamento com tarefas/exercícios bimanuais envolvendo toques em
alta velocidade em apenas uma corda com objetivo de desenvolver no violonista a
habilidade motora em controlar o sincronismo bimanual na execução do violão.
Contribuições metodológicas desta investigação
Na presente investigação foi utilizado o método experimental de sujeito
único com a replicação de casos. Uma das principais vantagens na utilização
deste desenho metodológico é permitir uma análise detalhada das peculiaridades
do desempenho ou comportamento do indivíduo em menor tempo do que o
demandado por grandes amostras de sujeitos participantes. Entretanto, sua maior
286
desvantagem é a limitação quanto a possíveis generalizações dos resultados. A
replicação do experimento de participante único com mais casos, permite um
meio-termo em que é possível detectar diferenças (e/ou similaridades) quanto a
determinados elementos do comportamento ou desempenho alcançado diante de
uma mesma tarefa. Através da realização do nosso experimento de sujeito único
com adoção de sua replicação com participantes de perfil similar, confirmamos a
viabilidade desse tipo de desenho metodológico aplicado à investigação em
performance de instrumentos musicais.
Dentre as contribuições metodológicas trazidas por esta investigação
também merece destaque a que se refere aos procedimentos de captura da
imagem do movimento de toque dos dedos da mão direita, conforme descritos no
item 5.5 Procedimentos. Considerando-se que a oclusão da visualização durante
a captura da imagem dos movimentos da ponta dos dedos/unhas da mão direita
durante a ação de tanger as cordas do violão é um problema recorrente em
sistemas estroboscópicos de captura de movimento via infravermelho, em nosso
experimento foi implementado o uso de uma mini câmera de ação143 para recolha
dos dados de imagem em movimento da mão direita. Este recurso metodológico,
além de ser de baixo custo, contribuiu para a solução do dilema da oclusão da
visualização recorrente na captura do movimento dos dedos da mão direita
reportado por diversos estudos anteriores (Scherrer, 2013). Em nossa
investigação, o uso da mini “câmera de ação” acoplada sobre o tampo do violão,
numa região posterior ao cavalete, confirmou a confiabilidade de seu uso ao evitar
as frequentes oclusões de visualização do movimento da ponta do dedo/unha da
mão direita quando “cruza” (tange) a corda no momento de ataque do som.
Embora não utilizadas em nossos registros de dados para o movimento da ponta
dos dedos da mão esquerda, estas “câmeras de ação”, pela sua versatilidade no
posicionamento podem ter seu uso recomendado para facilitarem a captura dos
movimentos da ponta dos dedos desta mão, podendo ser sugerido seu uso para
futuros estudos envolvendo captura de movimentos bimanuais na performance
violonística.
143 Este tipo de câmera de vídeo (p. ex. modelo GoPro ) é dedicada a esportes de alta velocidade.
287
A sustentação do violão com uso do Ergoplay para elevação do violão por
sobre a perna esquerda, ao invés do pé esquerdo sobre um apoio, também
contribuiu para melhorar a visualização da face frontal da ponta das unhas/dedos
da mão direita.
Em nosso experimento também foi utilizada uma interface digital de áudio
dotada de recurso de “retorno interno” do sinal de áudio para diminuir o nível de
latência na transmissão do sinal do metrônomo aos alto falantes e seu “retorno”
simultâneo à pista de gravação do software rodado no computador. Tal recurso
contribuiu para fornecer adequadamente o som da marcação de metrônomo ao
violonista sem aumentar a latência na sincronização do sinal de áudio com o
vídeo, além de não interferir na qualidade do registro do som do violão.
Nosso experimento ainda contribuiu para aperfeiçoar os procedimentos de
uso do transdutor de áudio como recurso útil para a captura do sinal de áudio
vindo do violão. Conforme reportado no item 5.7.2, diferentemente do uso de
microfones tradicionais (dinâmico ou a condensador), o uso do transdutor de
áudio melhorou a “pureza” dos sons do violão que chegavam ao computador via
interface de áudio, pois evitou que ruídos e reverberações vindas do ambiente
circundante fossem misturados ao som do violão por ocasião do seu registro.
Ademais, o sinal do som do violão registrado à maneira mais “pura” possível,
favoreceu a detecção automática (via software) do instante do começo do som,
facilidade que se repetiu também com a pureza do som do metrônomo digital
gravado internamente no computador.
O procedimento de recolha dos dados de vídeo realizado em nosso
experimento trouxe um contributo metodológico importante para o aprimoramento
no registro da informação do instante de ataque dos sons do violão tocados pela
ponta dos dedos/unhas da mão direita. Usando uma mini câmera de vídeo (tipo
“câmera de ação”, marca GoPro), nosso experimento aperfeiçoou o procedimento
de registro da informação de movimento da ponta dos dedos da mão direita, [é
redundância – já relatado na p. 286] cuja captura do movimento tem sido tão
problemática em sistemas com câmeras estroboscópicas de sinal infravermelho.
Através do uso deste tipo de mini câmera de vídeo em um novo posicionamento
sobre a borda superior do tampo do violão, atrás do cavalete, foi possível registrar
288
com considerável precisão: 1) o instante em que a ponta do dedo/unha tange a
corda, 2) qual dedo realizou o ataque da corda e 3) qual a corda do violão foi
tangida. Este tipo de câmera portátil dispõe de recurso suficiente para registrar o
movimento dos dedos da mão direita, em vídeo com velocidade de até 240
quadros por segundo enquanto mantém a resolução da imagem a 1080 pixels.
Lacunas que permanecem na solução do problema
A falta de recursos computacionais que permitam detectar automaticamen-
te os movimentos dos dedos da mão esquerda registrados em vídeo, faz demorar
muito o processo de extração manual dos dados de tempo de movimento dos
dedos desta mão. Atualmente existem disponíveis alguns programas de detecção
automática do movimento em vídeo, porém ainda não têm desenvolvimento
suficiente para realizarem satisfatoriamente a detecção automática desse tipo de
movimento da ponta do dedo da mão esquerda. Seria de grande utilidade o
desenvolvimento de um programa que realizasse eficazmente a detecção
automática dos movimentos sutis como os da ponta dos dedos da mão esquerda
e ponta das unhas da mão direita capturados em vídeo.
Em nosso experimento, os dados de movimento em vídeo foram
registrados a uma taxa de 50 fps o que possibilitou a incidência de um novo
quadro de imagem a cada 20 ms. Este valor da repetição de cada quadro, embora
útil para nosso objetivo, não é ideal para a detecção precisa da defasagem
temporal intermanual ocorrida nos movimentos bimanuais demandados na
performance do violão. A taxa ideal na repetição dos quadros de imagem do
movimento em performance de instrumentos musicais seria a de pelo menos um
quadro a cada 10 ms. As tecnologias das câmeras de ação estão evoluindo em
suas capacidades e podem suprir também o quesito da taxa de quadros mínima
necessária aos estudos do movimento em performance de instrumentos musicais.
Dificuldades enfrentadas na realização da investigação
Dentre as dificuldades enfrentadas na realização do experimento de nossa
investigação, destacamos as que tiveram maior impacto. Uma delas foi a da baixa
disponibilidade de violonistas voluntários com perfil adequado para participarem
289
do experimento e/ou com tempo livre para participarem do treinamento e do
registro dos dados.
Na fase de registro dos dados do treinamento, as informações destinadas a
orientar os participantes somente puderam ser viabilizadas através dos seus
professores de violão, os quais as retransmitiram pessoalmente aos violonistas
voluntários. Ademais, pela falta de tempo livre dos participantes não foi possível
um horário prévio comum para a reunião de trabalho prevista para sanar suas
eventuais dúvidas.
Outra dificuldade na realização dos registros de dados foi um incidente de
inundação ocorrido no laboratório, o qual provocou danos a alguns equipamentos
sensíveis deste, os quais tiveram que ser substituídos e/ou reparados,
provocando atraso na disponibilidade do local e consequentemente na realização
das fases de testes e registro dos dados. Por algum motivo que não pôde ser
conhecido pela assistência técnica autorizada, após o incidente da inundação o
sistema VICON de captura de movimento não sincronizou com a interface de
áudio, fato que nos obrigou a usar câmeras de vídeo tradicionais (com baixa taxa
de quadros) para sincronização com o áudio.
Outra dificuldade enfrentada foi a enorme quantidade de dados brutos a
serem preparados manualmente para a análise estatística. Foram pelo menos
1.052 toques de dedos computados para cada participante, o que totalizou 5.260
toques a serem analisados com a replicação dos cinco casos válidos registrados.
Na preparação manual dos dados brutos para posterior análise estatística,
as dificuldades foram acentuadas pela precariedade dos atuais softwares em
detectar com eficácia o tempo de movimento registrado em vídeo. A detecção do
instante inicial do toque dos dedos da mão esquerda somente pode ser realizada
via imagem do movimento (vídeo) – pois os registros de áudio somente permitem
detectar o instante do movimento de ataque do som realizado pela mão direita.
Esta limitação significou que a detecção dos dados de movimento disponíveis em
vídeo teve que ser realizada manualmente.
O sincronismo no registro dos dados envolvendo vídeo e áudio com
latência próxima de zero, somente pôde ser realizado com interface de áudio de
padrão profissional, a qual dispusesse de sincronizador embutido para código de
290
tempo (time code) e retorno interno do sinal de áudio para transmissão do sinal de
metrônomo digital. Como nenhum laboratório pertencente à universidade,
dispunha de interface de áudio neste padrão, o equipamento teve que ser provido
pelo próprio pesquisador, onerando os custos pessoais no projeto da pesquisa.
Os atuais sistemas estroboscópicos de captura de movimento por via
infravermelho apresentam considerável perda de dados (por oclusão da
visualização) na detecção dos dados de movimento da ponta dos dedos/unhas da
mão direita na performance real do violão. Em nosso experimento esta condição
exigiu o uso de dispositivos de captura de imagem em tamanho mini ou micro que
permitissem um posicionamento da câmera adequado à captura dos movimentos
das unhas/dedos (ou sensores refletivos sobre estes) sem perda da visualização.
A nossa opção pelo registro dos dados em uma condição a mais próxima
possível da performance violonística real – para evitar qualquer dispositivo
invasivo ou restritivo dos movimentos dos dedos e mãos – restringiu as opções de
captura dos dados de tempo dos movimentos bimanuais. Esta condição nos
obrigou ao uso de sistemas multimodais (vídeo e áudio) para captura sincronizada
dos movimentos bimanuais.
Estratégias para a conciliação velocidade-precisão no violão
Ao concluirmos este trabalho gostaríamos de sugerir algumas estratégias
para incrementar a habilidade em conciliar velocidade no ataque dos sons do
violão com a manutenção de sua precisão temporal. Embora existam diversos
fatores que possam ser considerados no desenvolvimento desta habilidade, aqui
iremos nos ater apenas aos que foram por nós testados e suportados pelos
resultados do presente experimento.
As estratégias que sugerimos para o incremento da habilidade em conciliar
velocidade-precisão na execução do violão são apresentadas em duas catego-
rias: 1) quanto à estruturação dos exercícios, e 2) quanto ao modo de praticá-los.
Quanto à estruturação dos exercícios a serem treinados no violão,
sugerimos que estes devam conter: a) sequências de toques dos dedos que
envolvam em ambas as mãos aumento súbito de velocidade (velocidade
explosiva); b) sequências de toques dos dedos apenas da mão direita, as quais
291
envolvam aumento súbito de força (força explosiva) para contrastar a intensidade
dos sons; c) assimetria da ação bimanual numa sequência de sons que contenha
toques de dedo fixo (pivô) alternados com toques de seus adjacentes; d)
sequência de sons dividida em segmento contendo apenas sons lentos contra
segmento contendo apenas sons rápidos. Para incrementar a independência de
movimento entre os dedos – necessária à velocidade e regularidade dos
movimentos dos dedos – a estrutura do exercício deve conter toques alternados
entre dedos adjacentes de cada mão.
Quanto ao modo de praticar os exercícios, sugerimos que sejam: 1)
treinados à maneira de bloco (repetição de um único exercício por várias vezes);
2) treinados em modo sequencial (praticar um exercício após outro numa ordem
sucessiva determinada previamente); 3) treinados à maneira randômica (praticar
vários exercícios numa ordem aleatória). Para o violonista adquirir ou desenvolver
o discernimento quanto à precisão temporal dos sons/toques de dedos, sugerimos
praticar os exercícios simultaneamente à marcação do metrônomo, buscando
sincronizar o mais que possível o instante do toque de cada dedo/som com o
tempo referenciado pelas pulsações do metrônomo. Na repetição da execução do
exercício com mudanças bruscas de velocidade, recomenda-se ao violonista ser
sempre rigoroso na manutenção da proporção rítmica e da precisão temporal dos
sons. Para auxiliar no desenvolvimento do discernimento perceptivo
(incorporação) da precisão temporal dos sons musicais é importante que
imediatamente após a prática dos exercícios referenciados pela velocidade do
metrônomo seja alternada a prática sem o referencial externo de tempo indicado
pelo metrônomo. Por fim, mas não menos importante, é recomendável que o
violonista pratique os exercícios em seu limiar pessoal máximo de velocidade, o
que potencializa sua capacidade neuromuscular para a velocidade. Ademais, de
acordo com os fundamentos pliométricos, ao praticar uma tarefa em alta
velocidade, a rapidez dos movimentos passa a se constituir na especificidade da
tarefa, a qual é um fator imprescindível para incrementar a habilidade em
movimentos rápidos.
292
Considerações gerais
Considerando que em nosso experimento diferentes restrições implemen-
tadas nos exercícios de treinamento, impactaram de modo diverso sobre a
habilidade de conciliar velocidade-precisão na execução do violão, então o
delineamento das especificidades do exercício e sua estruturação – para além do
modo de praticá-lo – adquirem importância crucial no incremento e manutenção
das habilidades motoras necessárias para tocar o instrumento.
Estes pressupostos têm implicações importantes para o incremento da
habilidade motora necessária para conciliar velocidade-precisão na performance
de um instrumento de tocabilidade extremamente complexa como é o caso do
violão. A identificação das restrições motoras em cada exercício de treinamento e
sua pertinência às demandas da execução do repertório do instrumento é um
trabalho que necessita ser planejado pelo músico instrumentista e pedagogo
musical para que o incremento das habilidades demandadas no tocar o
instrumento seja mais facilmente alcançado.
Para a maioria dos violonistas participantes do presente estudo, o
treinamento com exercícios em formato de sequência de sons tocados ao violão –
cada um envolvendo diferentes restrições motoras e complexidades – resultou em
aumento da capacidade para conciliar velocidade dos toques dos dedos sobre as
cordas do violão enquanto mantendo sua precisão temporal. Embora o
treinamento com exercícios tenha sido proposto para um período de curta
duração, o mesmo resultou num incremento efetivo da precisão temporal dos
movimentos a despeito do aumento da velocidade da tarefa.
No treinamento levado a cabo nesta investigação, a ação dos dedos da
mão esquerda se limitou a tocar sons em apenas uma posição constante (5ª
posição) na escala do violão. Considerada esta limitação, sugerimos para futuros
estudos que os mesmos possam investigar o efeito da mudança de posição da
mão esquerda sobre a regulação da velocidade-precisão na execução de
sequências de sons ao violão.
Nosso estudo mensurou o instante em que começou cada som tocado no
violão (instante do ataque) por ser o momento mais decisivo na produção do som
violonístico. Futuros estudos complementares poderiam mensurar a duração
293
integral de cada som e os níveis de silêncio que porventura existirem entre o
instante do término da duração do som antecedente e o instante do começo do
som subsequente numa sequência de diferentes notas musicais tocadas ao
violão. Assim, pode ser identificado o tempo de “preparação” do toque dos dedos
na produção do som e sua implicação para a articulação em legato e stacatto em
alta velocidade. Tais estudos poderiam contribuir para melhor conhecimento dos
padrões de comportamento da sincronia bimanual num contexto da relação
velocidade-precisão durante a ação de tocar o violão.
Pela importância que a conciliação entre velocidade e precisão detém no
ataque e produção do som violonístico, recomendamos a realização de novos
estudos envolvendo treinamento com períodos de prática mais prolongados do
que aquele com que realizamos nosso experimento, podendo ser testadas
diferentes intensidades de prática das tarefas e outros tipos de exercícios
envolvendo diferentes restrições motoras. Para a proposta de estudos mais
longos e com intensidades de prática maiores do que as adotadas em nosso
experimento deve-se redobrar o cuidado com a possibilidade de lesões por
sobrecarga de prática ou por esforço repetitivo.
Pelo impacto que a aplicação do aumento súbito de força no toque dos
dedos sobre o controle da velocidade e a precisão temporal no ataque dos sons
teve nos resultados de nosso experimento, recomendamos aprofundar seu estudo
envolvendo conciliação velocidade-precisão em outras velocidades e outros níveis
de complexidade das tarefas.
Pela importância de alguns elementos ergonômicos, apontados no item
4.8, sobre a performance do violão, sugerimos que o nível de conforto no tocar o
instrumento possa também ser investigado como fator relevante para a
conciliação da relação velocidade-precisão no ataque dos sons do violão.
Pela relevância da especificidade da tarefa na escolha apropriada dos
exercícios de treinamento destinados ao incremento das habilidades físicas e
mentais, esta torna-se também um elemento necessário e relevante para o
desenvolvimento da performance violonística de excelência.
Os resultados de nossa investigação reforçam estas necessidades para o
aprimoramento da performance do violão.
294
295
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305
GLOSSÁRIO
Termo: Definição:
Acurácia O alcance em que uma medida está próxima do “valor verdadeiro” ou tem pequenos desvios do valor avaliado (Freivalds, 2004, p. 541).
Altura do som A propriedade de altura do som refere-se à frequência da vibração sonora medida em hertz (Hz), a qual é a “unidade de frequência de um fenômeno periódico cujo período tem a duração de um segundo” (Instituto Antônio Houaiss, 2009).
Andamento musical É o padrão de velocidade com que uma peça musical deve ser tocada no seu todo ou em parte. Em geral, é estabelecido pelo compositor e indicado na partitura musical usando geralmente nomenclatura de termos derivados do idioma italiano e por vezes indicado pela quantidade de pulsações por minuto controladas por metrônomo.
Assimetria bimanual Discrepância ou diferença no padrão de movimento com que cada mão contribui para realizar uma tarefa.
Assincronia bimanual Ação não simultânea de uma mão em relação à outra na realização de uma tarefa que demande o uso coordenado das duas mãos.
Bimanual Que se refere à ação das duas mãos.
Biomecânica “O estudo da mecânica de um corpo vivo, especialmente das forças exercidas pelos músculos e pela gravidade na estrutura do esqueleto" (https://www.thefreedictionary.com/biomechanics).
Cinemática O estudo da descrição do movimento incluindo considerações de espaço e tempo.
Co-contração Refere-se a uma leve contração que ocorre nos músculos antagonistas, cuja função é a de dar estabilidade ao movimento.
Concêntrica Refere-se a forças ou movimentos que tendem ou convergem para um centro ou ponto comum.
Destreza manual Controle refinado e habilidoso das mãos.
Efeito quadriga Fenômeno provocado pela estrutura anatômica do músculo flexor profundo dos dedos que leva à interdependência dos tendões dos dedos médio, anular e mínimo (Schreuders, 2012).
Especificidade da tarefa Princípio consistindo de prática em um padrão de movimento específico adaptado as demandas de uma tarefa, a qual inclui força e velocidade especificas do movimento corporal.
Excêntrica Refere-se a forças ou movimentos que se afastam de um centro ou ponto comum.
Fibras musculares Estruturas cilíndricas alongadas contendo células que constituem os elementos contráteis do tecido muscular.
Força (muscular) Tensão desenvolvida no músculo devido a seu encurtamento ou alongamento.
Isócrono Referente a elementos ou eventos que têm duração igual.
Mecânica Ramo da física que compreende o estudo e análise do movimento e repouso dos corpos, sua evolução no tempo, seus deslocamentos, sob a ação de forças, e seus efeitos subsequentes sobre seu ambiente
144.
Monofônicos Ocorrência de um som a cada vez. Metacarpofalângica Referente à articulação entre a falange proximal e o osso
metacarpiano.
Motoneurônio Refere-se àquele neurônio que transmite o sinal para mover o músculo. Neurônio motor.
144 https://pt.wikipedia.org/wiki/Mecânica
306
Pliometria Forma de exercício que busca a máxima utilização dos músculos em movimentos rápidos e de explosão, a qual se baseia na exploração do músculo em sequências de contrações excêntricas e concêntricas buscando a otimização do mesmo
145. Baseia-se na “ideia de
especificidade do treinamento, pela qual um músculo treinado a altas velocidades funcionará melhor nessas velocidades” (Hamill & Knutzen, 2009, p. 124).
Potência (muscular) A quantidade máxima de força produzida por um músculo ou grupo muscular em um local de fixação no esqueleto; o esforço máximo que um músculo pode exercer em função de suas condições contráteis.
Prática deliberada Treinamento estruturado, atento, com o máximo esforço e sujeito a feedback imediato de um treinador (Lombardo & Deaner, 2014).
Qualidade sonora Consiste na clareza e definição com que o músico produz os sons no instrumento musical.
Restrição biomecânica Limitação imposta aos movimentos corporais humanos, determinada por elementos físicos relacionados à interação indivíduo-instrumento (Burns, 2007, p 15), e influencia sua velocidade e precisão espacial e temporal. Pode ser imposta pela tarefa, pela constituição do sujeito ou dada pelo ambiente circundante.
Sincronia bimanual Ação coordenada de ambas as mãos para realização de uma tarefa na qual o movimento de uma mão ocorre simultaneamente ao da outra.
Sinergia
Em fisiologia trata-se de ação associada de dois ou mais órgãos, sistemas ou elementos anatômicos ou biológicos, cujo resultado seja a realização de um movimento ou de uma função orgânica.
Variável dependente Fator que depende de outro para ocorrer. Normalmente é identificada como sendo o efeito de uma manipulação/intervenção.
Variável independente Fator manipulável ou controlável destinado a causar algum efeito sobre uma variável dependente.
145 https://pt.wikipedia.org/wiki/Pliometria
307
Apêndice A
O texto a seguir, intitulado “Instruções de Treinamento”, foi elaborado em
linguagem coloquial para facilitar sua compreensão e foi entregue em material
impresso aos participantes para que pudessem se orientar na execução das
tarefas do treinamento. Para evitar a repetição de conteúdo, aqui foram excluídas
as figuras das partituras musicais dos exercícios já apresentadas no item 5.4.2.
Instruções de Treinamento
1 - Esclarecimentos preliminares
A seguir propomos seis exercícios para auxiliar na otimização de diferentes tipos de “restrições” biomecânicas, todos os quais almejam melhorar a habilidade em conciliar velocidade com precisão. A dificuldade de execução do conjunto dos exercícios apresenta uma natureza progressiva, a qual aumenta na ordem do primeiro ao último.
Todos os seis exercícios propostos deverão ser praticados numa sessão diária única durante os cinco dias consecutivos do treino. Se porventura o violonista tiver que interromper momentaneamente a sessão diária de treino, é preferível que não o faça durante a execução de um exercício, mas sim após sua finalização. Nesse caso deverá retomar o mais brevemente possível à sessão de treino a partir do ponto em que foi interrompida.
Devem ser seguidas rigorosamente as indicações de quantidade de repetições para cada exercício, nunca excedendo o seu número indicado e realizá-los de acordo com as indicações de dedos a serem usados em cada mão. O tipo de toque dos dedos da mão direita deve ser “livre” (sem o “apoiando”).
É normal nas primeiras execuções dos exercícios, o violonista não conseguir realizar com precisão e regularidade as partes mais rápidas e complexas dos exercícios. Caso isso ocorra, o praticante deve continuar o exercício sem interrupção, tentando seguir a velocidade dos pulsos marcados pelo metrônomo, mesmo com incorreções iniciais que se espera, irão diminuir com o tempo de prática durante o treinamento. Nesse caso, o praticante deve sempre procurar manter o relaxamento muscular o melhor possível.
A soma da duração de todos os exercícios com as repetições nos três andamentos solicitados é de 14 minutos e 36 segundos, podendo o total da sessão diária de treino durar em torno de 17 a 20 minutos.
Cada violonista poderá opcionalmente fazer uma gravação doméstica em áudio de cada sessão de treino – pode fazê-la utilizando um telemóvel, smartphone ou computador. Esse registo é o comprovativo de que o violonista realizou integralmente todas as sessões de treino, o qual ficará de posse do participante, podendo servir de feedback para o mesmo analisar seu progresso alcançado ao final.
2 - Equipamentos necessários
Antes de iniciar cada sessão diária do treinamento, recomenda-se verificar se estão ao alcance da mão todos os itens indicados a seguir.
- violão erudito; - metrônomo digital (pode ser usado software no telemóvel ou no computador); - apoio para o pé (tipo tradicional) ou Ergoplay; - partitura impressa dos exercícios para fácil visualização; - estante para partituras; - (opcional) gravador de áudio para registo pessoal de cada sessão de treino (item 1, 7º
parágrafo).
3 - Roteiro da prática diária
A) Iniciar a prática diária dos exercícios no andamento do metrônomo a marcar (= 90). Começar pela execução do Exercício 1 repetindo-o por 5 vezes consecutivas e assim fazendo
308
com os outros exercícios, repetindo cada exercício por cinco vezes até chegar ao Exercício 6. Após isto realizado, executar apenas mais uma última vez cada exercício (sem repeti-lo) na ordem do nº 1 ao nº 6, aguardando apenas um intervalo de 4 (quatro) compassos binários de metrônomo entre a execução de um e outro. Esse modo da última repetição será também a ordem em que os exercícios terão que ser registados no laboratório.
B) Continuar a sessão diária dos exercícios, agora com o andamento do metrônomo a marcar (= 105). Siga praticando a mesma ordem de execução dos exercícios com igual quantidade de repetições conforme indicado acima no item 3-A.
C) Finalizar a prática diária dos exercícios na velocidade do metrônomo a marcar (= 120). Mantenha ainda a mesma ordem de execução dos exercícios com igual quantidade de repetições conforme indicado anteriormente no item 3-A.
4 - Recomendações sobre velocidade do metrônomo e de intensidade dos sons.
A) Antes de iniciar a execução de cada exercício, o violonista deverá ouvir previamente os batimentos do metrônomo por 4 (quatro) compassos binários consecutivos e só então começar a execução no quinto compasso, buscando tocar rigorosamente em sincronia com a mesma velocidade de andamento marcada pelo metrônomo. Assim, deverá proceder na execução dos exercícios em cada andamento solicitado (=90, =105 e =120), interrompendo entre um andamento e outro, apenas para ajustar a velocidade do metrônomo.
B) A intensidade do ataque dos sons – determinada pela ação da mão direita – deverá ser rigorosamente seguida conforme está indicada na partitura musical. Ou seja, em todos os Exercícios cada toque da mão direita deverá manter a mesma intensidade entre as notas da sequência de sons, cuja intensidade entre toques de dedos deverá ser igualada o mais que possível. Atenção particular deve ser dada à diferenciação do Exercício 2, cuja representação na partitura inclui um sinal de ritornello, significando que se deve retornar ao começo da sequência de sons sem interrupção. Ainda no Exercício 2, a execução da 1º vez da sequência deve começar e terminar com a intensidade muito fraca (p), mantendo a intensidade entre toques de dedos o mais
uniforme possível; ao retomar ao começo para executar a 2º vez – em obediência à indicação do ritornello – os toques de dedos da mão direita devem ser subitamente (!) muito fortes (ff) e
mantidos assim até completar pela segunda vez a execução desta sequência de sons. C) A sessão diária de prática deverá ser repetida nos 5 (cinco) dias do treinamento, sem
interrupção de nenhum dia e de nenhum dos exercícios. A gravação dos dados ocorrerá após as sessões de prática do primeiro e do quinto dia do treinamento. As gravações serão feitas no Laboratório do Movimento Humano da ESSUA (Universidade de Aveiro), para onde os violonistas devem se dirigir no horário acertado previamente entre os violonistas participantes e o pesquisador. Não há necessidade dos violonistas levarem consigo o instrumento e acessórios, pois os mesmos estarão disponíveis no laboratório para todos participantes.
5 - Exercícios de velocidade e precisão
Durante a sessão de prática diária deverá seguir exatamente todas as indicações da partitura (dedos, intensidades, andamentos, etc.) procurando memorizá-los o quanto antes possível. Antes de iniciar a execução com a guitarra recomenda-se fazer uma leitura visual da partitura musical, examinando cada detalhe.
Ao final da partitura do Exercício 2, lembramos novamente que é necessário estar atento à execução do símbolo de ritornello, pois dentre os exercícios que propomos, este é o único que apresenta referido sinal. Deve-se também não descuidar de retornar ao início do Exercício nº 2
com uma mudança súbita para um nível de volume sonoro muito forte (ff) conforme indicado na
partitura musical, evitando-se a mudança progressiva de volume ou a antecipação da aplicação de força.
6 - Recomendações adicionais
Durante o período de treinamento, recomenda-se para melhor eficácia nos resultados da prática:
a) praticar moderadamente o seu repertório pessoal diário (aproximadamente de 2 a 3 horas
309
diárias); b) durante o treinamento, praticar apenas os tipos de exercícios propostos pelo pesquisador; c) dormir normalmente em torno de 8 horas diárias e alimentar-se de modo saudável; d) evitar bebidas alcoólicas pelo menos 6 horas antes da realização dos registos dos
resultados; e) manter a temperatura normal dos dedos durante a prática dos exercícios: evitar o frio.
***** O texto que segue, intitulado “Esclarecimentos para o dia anterior ao início
do treinamento” contém informações complementares fornecidas aos
participantes em substituição às informações que seriam fornecidas previamente
em uma reunião de trabalho com os participantes, a qual não pode ser viabilizada,
e por isso lhes foram fornecidas em material impresso.
ESCLARECIMENTOS PARA O DIA ANTERIOR AO INÍCIO DO TREINAMENTO
Embora pudesse estar clara a orientação contida no texto “Instruções de Treinamento” (recebido pelos violonistas), ainda assim poderia ocorrer de cada participante interpretar de modo diferente o sentido do texto recebido. Para garantir o rigor e clareza com que uma pesquisa científica necessita seguir em seus procedimentos, abordamos aqui alguns esclarecimentos adicionais os quais podem sanar eventuais dúvidas dos participantes quanto aos procedimentos do treinamento a serem seguidos.
As explicações e orientações seguintes podem não dizer respeito a alguns participantes e, no entanto, serem pertinentes a outros, pois cada indivíduo é peculiar em suas habilidades e dificuldades. Por isso, algumas explicações podem parecer óbvias ou desnecessárias para alguns, enquanto que para outros são necessárias ou mesmo fundamentais.
Sobre a prática com metrônomo durante o treinamento:
1 - É necessário o uso do metrônomo durante a prática do treinamento. Este deverá ser do tipo eletrônico. Para que não haja interpretação equivocada, repetimos que neste treinamento a execução dos exercícios deve ser OBRIGATORIAMENTE em conjunto com o metrônomo. Em nenhum momento o treinamento na guitarra deve ser executado sem o uso do mesmo. Para esse treinamento, não se deve usar um metrônomo do tipo mecânico, porque em geral não é muito preciso.
2 - Antes de começar a primeira execução dos exercícios em cada andamento musical indicado na partitura, o metrônomo tem de ser PROGRAMADO em compasso binário com uma batida para cada um dos dois pulsos, pois todos os exercícios do treinamento estão estruturados em compasso de tipo binário. A “programação” do metrônomo deve contemplar a velocidade do andamento musical e a fórmula de compasso, conforme está indicado na partitura dos exercícios. O metrônomo não deve ser programado em compasso ternário, quaternário ou qualquer outra fórmula de compasso e nem em outro andamento que não sejam os três indicados na partitura.
3 - Fica implícito que o momento de atacar a primeira nota de cada exercício deve coincidir com o momento do primeiro pulso do compasso binário marcado inequivocamente pelo metrônomo. Deve-se cuidar de não começar a primeira nota na segunda batida do compasso! Fica implícita na programação do metrônomo, que o compasso deve ser binário, no qual o som da primeira batida do metrônomo deve ser programado mais forte que a da segunda ou que pelo menos o som da primeira batida tenha um som diferençável da segunda. Ou seja, as batidas dos tempos do compasso têm que ter sons e/ou intensidades diferentes para que dentro de cada compasso o guitarrista possa distinguir auditivamente o som do pulso 1 daquele do pulso 2. Atenção! Não confundir a intensidade programada dos sons dos pulsos do metrônomo, com o volume dos sons da guitarra os quais têm que ser todos executados com a mesma intensidade aplicada pelo toque dos dedos da mão direita conforme indicado na partitura de cada exercício.
4 - Ao final de cada repetição do exercício, devem-se aguardar pelo menos dois a quatro compassos de escuta do metrônomo antes de iniciar uma nova repetição. Isto melhora a
310
percepção da velocidade exigida para a próxima repetição e permite respirar e compenetrar-se melhor na tarefa a ser realizada.
Sobre o controlo na quantidade de repetições:
Se o participante acredita que pode confundir-se ou esquecer momentaneamente quantas repetições realizou num determinado exercício, isto pode ser evitado com a realização de simples anotação de um sinal numa folha de papel a cada repetição do exercício executado na guitarra. Assim, pode-se controlar visualmente a quantidade de repetições realizadas e/ou ainda necessárias, sem depender da memória para tal controlo.
Da memorização e compreensão das tarefas:
No dia anterior à primeira sessão de treinamento os participantes devem ler COMPLETAMENTE o texto “Instruções de Treinamento” que devem tê-lo já recebido. Deve-se dar especial atenção à leitura visual das partituras e analisar e compreender todos os seus símbolos.
A observação atenta da estrutura da sequência de sons dos exercícios poderá auxiliar bastante a memorização de cada exercício. Deve-se levar em conta que cada um dos exercícios apresenta uma parte inicial da sua estrutura representada em figuras rítmicas de 16 colcheias, a qual a seguir é representada com os mesmos sons em 16 semicolcheias – o que implica tocar estas últimas na velocidade duplamente mais rápida do que os primeiros 16 sons. Essa constatação facilita a memorização dos movimentos mais rápidos dos dedos nas 16 semicolcheias, pois contêm a mesma sequência de movimentos contidos nas primeiras 16 colcheias do exercício.
É fundamental memorizar desde o começo quais são os dedos OBRIGATORIAMENTE utilizados para a execução de cada um dos exercícios. Não deverá utilizar um dedilhado ou digitação diferente da que está expressamente indicada na partitura de cada exercício. Pode-se usar a imaginação para auxiliar no processo de memorizar a sequência de movimentos dos dedos, fazendo algumas vezes o movimento “no ar” separadamente em cada mão, sem a guitarra. O movimento imaginário deve manter a correção do ritmo musical do exercício.
Somente no dia do primeiro registo, mais especificamente algumas horas antes do mesmo, é que o participante iniciará a praticar os já memorizados exercícios, diretamente na guitarra. Atenção especial deve ser dada à digitação da mão esquerda nos Exercícios 5 e 6 pela sua maior dificuldade em controlar de modo “independente” os movimentos assimétricos dos dedos dessa mão.
Sobre os horários, a atenção e a concentração durante os registos:
Devido às condições técnicas sensíveis ao manuseio dos equipamentos do laboratório, eventualmente podem acontecer pequenas alterações no horário da sessão de registo. Por isso recomenda-se aos participantes que procurem chegar 15 minutos antes da hora marcada e evitem marcar compromissos em horário imediatamente subsequente à sessão de gravação no laboratório. Assim evita-se perder a necessária atenção por preocupações externas às tarefas do registo.
Sobre a quantidade de repetições:
Na sessão diária de prática, deve-se seguir EXATAMENTE a quantidade de repetições de cada exercício em cada um dos três andamentos, conforme indicado no texto “Instruções de Treinamento”. Em hipótese alguma essa quantidade de repetições deve ser alterada na prática do treinamento, pois isso poderia comprometer os resultados obtidos na investigação.
A colaboração séria de cada participante com a investigação é muito importante para o avanço do conhecimento musical. Sem a participação voluntária de cada guitarrista, isso não seria possível. Por isso, o reconhecimento ao esforço de cada um é inegável e permanece no tempo.
O pesquisador
*****
311
Apêndice B
Universidade de Aveiro
Conselho de Ética e Deontologia
TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO DE PARTICIPAÇÃO
Este é um convite especial para participar voluntariamente do estudo “Incremento da habilidade bimanual em movimentos rápidos e precisos demandados na performance da guitarra”. Por favor, leia com atenção as informações abaixo antes de dar seu consentimento para participar do estudo. Se tiveres qualquer dúvida sobre os procedimentos do estudo ou sobre este documento, pergunte diretamente ao pesquisador Inácio Rabaioli ou entre em contato através do telefone +351xxxxxxxxx.
OBJETIVO DO ESTUDO
Este projeto de pesquisa é dedicado ao estudo de ações motoras com a guitarra requisitando a conciliação simultânea de grande velocidade e precisão de movimento na realização de exercícios de desenvolvimento de habilidade motora. O desempenho nessa tarefa será investigado por meio de movimentos dos dedos de ambas as mãos na execução de pequenas sequências de sons selecionadas especificamente para o treinamento em movimentos rápidos e precisos. Durante cinco dias o estudo será conduzido ao longo das tarefas propostas, analisando-se ao final o efeito das seguintes variáveis sobre o desempenho motor: 1) aumento súbito da velocidade do movimento, 2) aumento súbito da força aplicada ao movimento necessária à produção de aumento do volume de som, e 3) restrições biomecânicas e sincronia intermanual envolvida na coordenação bimanual. Em seu conjunto, os resultados desse projeto têm potencial de preencher uma lacuna importante no conhecimento sobre fatores biomecânicos envolvidos nos movimentos rápidos e precisos requeridos na execução de repertório da guitarra.
PROCEDIMENTOS
Um dia antes de iniciar a fase de treinamento, cada voluntário participante receberá todas as instruções em material impresso para orientar os procedimentos do treinamento.
As instruções do material impresso devem ser lidas atentamente e se ainda persistirem dúvidas deverão ser sanadas em contato com seus professores de guitarra ou o pesquisador antes de iniciar o treinamento.
Na guitarra o participante realizará os exercícios musicais propostos no anexo “Instruções de Treinamento” conforme orientação recebida e repetirá os mesmos enquanto realizando os registos. A sessão de registo terá aproximadamente 10 minutos de gravações e o tempo de permanência no local de registo poderá ser de até 30 minutos para cada participante.
Serão realizados registos em dois momentos, a saber, no primeiro e no último dia da fase de treinamento. O registo do desempenho será realizado por meio de áudio digital e vídeo com captura da imagem exclusivamente dos movimentos dos dedos de ambas as mãos, vistos pela face dorsal e com foco na altura das unhas.
O local dos registos será o Laboratório do Movimento Humano da ESSUA localizado no Campus do Crasto da Universidade de Aveiro. Cada participante deverá chegar ao local, 15 minutos antes do horário previamente marcado para a sessão de registo.
Durante os registos não será necessário o participante levar seu instrumento, equipamentos ou partituras, pois todo material será fornecido pelo pesquisador e pela Universidade de Aveiro.
Os registos de vídeo e áudio coletados serão componentes exclusivos da análise da pesquisa, não podendo ser disponibilizados para quaisquer outros fins.
Todos os procedimentos estão otimizados para não apresentarem grande desconforto ou risco para o guitarrista participante quando seguidos corretamente de acordo com as instruções e quantidade de prática indicadas (ver anexo Instruções de Treinamento).
Após concluir a fase de treinamento, cada participante deverá responder anonimamente um
312
breve questionário sobre sua experiência musical anterior (veja anexo Questionário).
BENEFÍCIOS
Os resultados conseguidos nesta investigação possibilitarão analisar a maneira pela qual diferentes fatores associados ao desenvolvimento de habilidades motoras atuam na melhoria da ação bimanual em movimentos rápidos e precisos demandados na performance da guitarra.
À medida que este é um tema original de pesquisa, fica aparente que estes resultados possuem grande potencial em contribuir substancialmente para o avanço do conhecimento sobre a melhoria de habilidades motoras para a performance e aprendizado da guitarra.
Caso seja de interesse do participante acompanhar os resultados desta pesquisa, um relatório com os achados mais importantes poderá ser solicitado diretamente ao pesquisador, além de consultar a própria tese integral que estará disponível no sistema de bibliotecas da Universidade de Aveiro após ter sido defendida e aprovada.
CUSTOS E DESPESAS DO PARTICIPANTE
Todos os sujeitos envolvidos nesta pesquisa estão isentos de custos. No entanto o deslocamento até o local dos registos será de responsabilidade pessoal. Para sua maior comodidade, a Universidade de Aveiro possui controle de segurança e assistência local em caso de necessidade durante o momento dos registos de dados.
PARTICIPAÇÃO VOLUNTÁRIA
A participação neste estudo é voluntária e o participante terá plena e total liberdade para desistir do estudo a qualquer momento, sem que isso acarrete qualquer prejuízo para si.
GARANTIA DE SIGILO E PRIVACIDADE
As informações relacionadas ao estudo são confidenciais e a informação de desempenho divulgada em relatório no formato de tese será feita sob a forma codificada e sempre garantindo o anonimato dos participantes.
ESCLARECIMENTO DE DÚVIDAS
Cada participante pode e deve fazer todas as perguntas que julgar necessárias antes de concordar com a sua participação no estudo.
PESQUISADORES RESPONSÁVEIS
Dr. José Paulo Torres Vaz de Carvalho (orientador) Dr. António José Monteiro Amaro (coorientador) Ms. Inácio Rabaioli (doutorando) (telefone para contato: +(351)xxxxxxxxx
Diante do exposto acima eu, ____________________________________________, declaro que fui esclarecido sobre os objetivos, procedimentos e benefícios do presente estudo. Participo de livre e espontânea vontade do estudo em questão, para o qual me foi assegurado o direito de abandoná-lo a qualquer momento, se eu assim o desejar. Declaro também não possuir nenhum grau de dependência profissional ou educacional com os pesquisadores envolvidos nesse projeto, significando que os pesquisadores desse projeto não podem me prejudicar de modo algum no trabalho ou nos estudos, não me sentindo pressionado de nenhum modo a participar do mesmo.
Aveiro, _____ de _______________ 2017.
________________________________ ___________________________________ Participante Pesquisador responsável: Inácio Rabaioli ______________________________________ Responsável pelo participante (se < de 18 anos)
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Universidade de Aveiro
Conselho de Ética e Deontologia
QUESTIONÁRIO
Caro(a) guitarrista.
O presente questionário destina-se a conhecer o perfil musical dos participantes da
pesquisa de doutoramento intitulada "Incremento da habilidade em conciliar movimentos
bimanuais rápidos e precisos demandados na performance da guitarra". As questões
remetem para aspectos da sua experiência prévia em execução musical e também sobre sua
preferência estética em relação ao tocar com rapidez e/ou com precisão.
Indique sua idade na tabela e em seguida responda as perguntas abaixo formuladas.
Procure ser o mais fiel possível nas respostas, de modo que estas efetivamente representem a
realidade do seu perfil musical individual. Desde já agradecemos sua valiosa colaboração nesse
empreendimento para o avanço do conhecimento musical.
Com os melhores cumprimentos do pesquisador.
*****
Nº do questionário Idade
Questões sobre experiência prévia em performance musical
1 - Há quanto tempo tocas a guitarra? [ ] menos de 6 meses; [ ] entre 6 e 12 meses; [ ] entre 1 e 2 anos; [ ] entre 2 e 4 anos; [ ] mais de 4 anos.
2 - a) Atualmente tocas outro instrumento musical além da guitarra? [ ] Sim. [ ] Não. b) Em caso afirmativo, qual é o tipo de instrumento? (Cite apenas o que costuma tocar mais). [ ] instrumento de cordas [ ] instrumento de teclado [ ] instrumento de sopro [ ] instrumento de percussão c) Há quanto tempo tocas esse outro instrumento? [ ] há menos de 6 meses; [ ] entre 6 e 12 meses; [ ] entre 1 e 2 anos; [ ] entre 2 e 4 anos; [ ] há mais de 4 anos.
3 - a) Já tocaste outro instrumento musical que atualmente não continuas a tocar?
314
[ ] Sim. [ ] Não. b) Em caso afirmativo, qual foi o tipo de instrumento que já tocaste? Podes citar mais de um. [ ] instrumento de cordas [ ] instrumento de teclado [ ] instrumento de sopro [ ] instrumento de percussão c) Por quanto tempo tocaste outro instrumento que não mais tocas? [ ] menos de 6 meses; [ ] entre 6 e 12 meses; [ ] entre 1 e 2 anos; [ ] entre 2 e 4 anos; [ ] mais de 4 anos. d) Quanto tempo já decorreu que deixaste de tocá-lo? [ ] menos de 6 meses; [ ] entre 6 e 12 meses; [ ] entre 1 e 2 anos; [ ] entre 2 e 4 anos; [ ] mais de 4 anos.
4 - a) Já realizaste prática de solfejo? [ ] Sim. [ ] Não. b) Em caso afirmativo, indique o tempo de sua prática de solfejo realizada: [ ] menos de 6 meses; [ ] entre 6 e 12 meses; [ ] entre 1 e 2 anos; [ ] entre 2 e 4 anos; [ ] mais de 4 anos.
5 - a) Atualmente realizas uma prática musical coletiva de execução instrumental? [ ] Sim. [ ] Não. b) Em caso afirmativo, indique o tempo já decorrido de sua prática musical coletiva: [ ] menos de 6 meses; [ ] entre 6 e 12 meses; [ ] entre 1 e 2 anos; [ ] entre 2 e 4 anos; [ ] mais de 4 anos.
Questão sobre preferências relacionadas a tocar música com rapidez e/ou precisão.
6 - No contexto da execução de um trecho musical contendo uma sequência de sons rápidos, qual das três seguintes alternativas costumas priorizar mais frequentemente? Assinale apenas uma alternativa: a) [ ] opta por realizar a sequência musical o mais rapidamente possível mesmo que o nível de precisão não seja tão alto o quanto pudesse ser; b) [ ] opta por realizar a sequência musical o mais precisamente possível mesmo que o nível de velocidade não seja tão alto o quanto pudesse ser; c) [ ] opta por equilibrar o mais que possível a velocidade com a precisão na realização da sequência musical, mesmo que seu desempenho não seja tão veloz ou tão preciso o quanto pudesse ser isoladamente num destes dois itens.
*****
Parecer favorável por unanimidade acerca dos aspectos éticos, emitido pelo
315
Conselho de Ética e Deontologia da Universidade de Aveiro
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318
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Apêndice C
Tabelas das médias de defasagem temporal intermanual
Nas tabelas apresentadas neste adendo estão representados os valores
PARTICIPANTE 1 - Médias de defasagem temporal intermanual desempenhada nas fases inicial e final do treinamento e nos segmentos lento (A) e rápido (B) de cada exercício.
Exercícios Inicial: 090bpm_Diferença RH-LH Final: 090bpm_Diferença RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,065 0,078
Nº 3_B 0,058 0,057
Nº 4_A 0,072 0,073
Nº 4_B 0,045 0,052
Nº 5_A 0,104 0,127
Nº 5_B 0,086 0,092
Nº 6_A 0,173 0,144
Nº 6_B 0,133 0,077
Exercícios Inicial: 105bpm_Diferença RH-LH Final: 105bpm_Diferença RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,062 0,066
Nº 3_B 0,055 0,061
Nº 4_A 0,074 0,078
Nº 4_B 0,042 0,043
Nº 5_A 0,135 0,118
Nº 5_B 0,066 0,061
Nº 6_A 0,160 0,133
Nº 6_B 0,099 0,083
Exercícios Inicial: 120bpm_Diferença RH-LH Final: 120bpm_Difererença RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,046 0,063
Nº 3_B 0,068 0,049
Nº 4_A 0,060 0,070
Nº 4_B 0,083 0,048
Nº 5_A 0,116 0,089
Nº 5_B 0,066 0,055
Nº 6_A 0,113 0,122
Nº 6_B 0,107 0,111
Tabela 23: Participante nº 1. Defasagem intermanual por exercício e por fase de treino.
320
(em milissegundos) das médias de defasagem temporal intermanual desempe-
nhadas pelo violonista participante em cada segmento (A/B) do exercício.
PARTICIPANTE 2 - Médias de defasagem temporal intermanual desempenhada nas fases inicial e final do treinamento e nos segmentos lento (A) e rápido (B) de cada exercício.
Exercícios Inicial: 090bpm_Diferença RH-LH Final: 090bpm_Diferença RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,065 0,071
Nº 3_B 0,067 0,058
Nº 4_A 0,079 0,080
Nº 4_B 0,080 0,076
Nº 5_A 0,124 0,092
Nº 5_B 0,116 0,085
Nº 6_A 0,119 0,120
Nº 6_B 0,099 0,104
Exercícios Inicial: 105bpm_Difer. RH-LH Final: 105bpm_Difer. RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,064 0,073
Nº 3_B 0,065 0,076
Nº 4_A 0,050 0,077
Nº 4_B 0,036 0,049
Nº 5_A 0,080 0,096
Nº 5_B 0,072 0,102
Nº 6_A 0,081 0,104
Nº 6_B 0,072 0,088
Exercícios Inicial: 120bpm_Difer. RH-LH Final: 120bpm_Difer. RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,039 0,063
Nº 3_B 0,043 0,076
Nº 4_A 0,061 0,067
Nº 4_B 0,061 0,051
Nº 5_A 0,076 0,097
Nº 5_B 0,059 0,079
Nº 6_A 0,068 0,103
Nº 6_B 0,059 0,093
Tabela 24: Participante nº 2. Defasagem intermanual por exercício e por fase de treino.
321
PARTICIPANTE 3 - Médias de defasagem temporal intermanual desempenhada nas fases inicial e final do treinamento e nos segmentos lento (A) e rápido (B) de cada exercício.
Exercícios Inicial: 090bpm_Diferença RH-LH Final: 090bpm_Diferença RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,068 0,063
Nº 3_B 0,063 0,055
Nº 4_A 0,043 0,053
Nº 4_B 0,039 0,047
Nº 5_A 0,081 0,118
Nº 5_B 0,086 0,096
Nº 6_A 0,127 0,116
Nº 6_B 0,070 0,106
Exercícios Inicial: 105bpm_Difer. RH-LH Final: 105bpm_Difer. RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,040 0,063
Nº 3_B 0,031 0,048
Nº 4_A 0,044 0,060
Nº 4_B 0,049 0,049
Nº 5_A 0,067 0,083
Nº 5_B 0,072 0,080
Nº 6_A 0,099 0,081
Nº 6_B 0,134 0,088
Exercícios Inicial: 120bpm_Difer. RH-LH Final: 120bpm_Difer. RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,043 0,057
Nº 3_B 0,046 0,069
Nº 4_A 0,060 0,065
Nº 4_B 0,036 0,031
Nº 5_A 0,054 0,084
Nº 5_B 0,077 0,077
Nº 6_A 0,090 0,093
Nº 6_B 0,112 0,086 Tabela 25: Participante nº 3. Defasagem intermanual por exercício e por fase de treino.
322
PARTICIPANTE 4 - Médias de defasagem temporal intermanual desempenhada nas fases inicial e final do treinamento e nos segmentos lento (A) e rápido (B) de cada exercício.
Exercícios Inicial: 090bpm_Diferença RH-LH Final: 090bpm_Diferença RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,089 0,095
Nº 3_B 0,063 0,075
Nº 4_A 0,116 0,112
Nº 4_B 0,071 0,068
Nº 5_A 0,142 0,119
Nº 5_B 0,207 0,079
Nº 6_A 0,164 0,148
Nº 6_B 0,135 0,121
Exercícios Inicial: 105bpm_Difer. RH-LH Final: 105bpm_Difer. RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,086 0,087
Nº 3_B 0,073 0,060
Nº 4_A 0,092 0,086
Nº 4_B 0,077 0,063
Nº 5_A 0,155 0,112
Nº 5_B 0,124 0,112
Nº 6_A 0,117 0,130
Nº 6_B 0,109 0,096
Exercícios Inicial: 120bpm_Difer. RH-LH Final: 120bpm_Difer. RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,067 0,076
Nº 3_B 0,051 0,061
Nº 4_A 0,086 0,093
Nº 4_B 0,054 0,065
Nº 5_A 0,122 0,110
Nº 5_B 0,145 0,113
Nº 6_A 0,143 0,122
Nº 6_B 0,184 0,124
Tabela 26: Participante nº 4. Defasagem intermanual por exercício e por fase de treino.
323
PARTICIPANTE 5 - Médias de defasagem temporal intermanual desempenhada nas fases inicial e final do treinamento e nos segmentos lento (A) e rápido (B) de cada exercício.
Exercícios Inicial: 090bpm_Diferença RH-LH Final: 090bpm_Diferença RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,068 0,061
Nº 3_B 0,055 0,044
Nº 4_A 0,084 0,061
Nº 4_B 0,067 0,048
Nº 5_A 0,128 0,161
Nº 5_B 0,121 0,113
Nº 6_A 0,116 0,162
Nº 6_B 0,148 0,189
Exercícios Inicial: 105bpm_Difer. RH-LH Final: 105bpm_Difer. RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,056 0,051
Nº 3_B 0,067 0,046
Nº 4_A 0,065 0,062
Nº 4_B 0,069 0,050
Nº 5_A 0,104 0,122
Nº 5_B 0,146 0,159
Nº 6_A 0,137 0,182
Nº 6_B 0,149 0,179
Exercícios Inicial: 120bpm_Difer. RH-LH Final: 120bpm_Difer. RH-LH
Nº 1_A
Nº 1_B
Nº 2_A(1ªx)
Nº 2_B(1ªx)
Nº 2_A(2ªx)
Nº 2_B(2ªx)
Nº 3_A 0,048 0,051
Nº 3_B 0,104 0,055
Nº 4_A 0,075 0,044
Nº 4_B 0,064 0,045
Nº 5_A 0,081 0,074
Nº 5_B 0,106 0,134
Nº 6_A 0,140 0,182
Nº 6_B 0,129 0,210
Tabela 27: Participante nº 5. Defasagem intermanual por exercício e por fase de treino.
324
325
Apêndice D
As tabelas deste adendo apresentam para cada exercício os valores de
desvio temporal (em milissegundos) ocorrido no ataque dos sons do violão – em
referência ao tempo marcado pelo metrônomo (bpm), os quais foram registrados
durante as fases inicial e final do treinamento.
Exercício nº 1
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 1_90bpm_inicial Exercício nº 1_90bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 0,040 -0,075 0,019 0,075 0,032 -0,011 -0,011 0,049 0,005 -0,054
2 0,026 -0,056 0,010 0,077 0,029 -0,022 -0,003 0,007 -0,008 -0,019
3 0,058 -0,048 -0,018 0,048 0,016 -0,005 0,000 -0,016 -0,026 -0,005
4 0,077 -0,029 -0,016 0,055 -0,014 0,013 0,013 -0,003 -0,003 0,013
5 0,011 -0,011 -0,018 0,064 0,011 0,022 0,016 0,000 0,005 0,032
6 0,003 0,007 -0,026 0,061 -0,003 0,013 0,003 0,003 -0,008 0,002
7 0,022 0,027 -0,013 0,054 -0,016 0,021 0,000 0,001 -0,026 -0,005
8 0,019 0,029 -0,016 0,045 -0,035 0,045 -0,014 0,008 -0,003 -0,024
9 0,016 0,043 -0,003 0,090 0,005 0,048 -0,027 0,016 0,000 0,000
10 0,029 0,040 -0,001 0,045 -0,003 0,061 -0,030 0,034 -0,003 -0,008
11 0,021 0,053 -0,004 0,069 -0,025 0,032 0,000 0,022 -0,016 0,016
12 0,045 0,050 -0,012 0,034 -0,013 0,040 0,019 0,035 -0,024 0,023
13 0,048 0,037 -0,005 0,091 -0,026 0,048 0,016 0,033 -0,016 0,011
14 0,013 0,024 -0,018 0,067 -0,024 0,013 0,013 0,035 -0,019 -0,008
15 0,005 0,016 -0,037 0,101 -0,032 0,027 0,021 0,027 -0,016 0,000
16 0,023 0,003 -0,014 0,093 -0,003 0,018 0,024 0,034 -0,003 0,003
17 0,048 -0,016 0,041 0,117 0,011 0,016 0,011 0,022 0,075 0,021
18 0,018 -0,057 0,036 0,108 0,018 -0,030 0,029 0,034 0,066 -0,009
19 0,035 -0,046 0,031 0,114 0,035 -0,035 0,029 0,029 0,061 -0,009
20 0,041 -0,055 0,011 0,111 0,031 -0,033 0,042 0,058 0,089 -0,018
21 0,070 -0,053 -0,006 0,086 0,044 -0,027 0,026 0,053 0,096 -0,021
22 0,065 -0,084 -0,010 0,093 0,021 -0,028 0,012 0,044 0,087 -0,009
23 0,072 -0,094 -0,008 0,088 0,023 -0,030 0,018 0,050 0,067 -0,008
24 0,048 -0,103 -0,014 0,100 0,014 -0,039 0,014 0,030 0,074 -0,001
25 0,053 -0,122 0,000 0,096 0,027 -0,032 0,011 0,016 0,058 -0,005
26 0,034 -0,147 0,017 0,108 0,001 -0,036 -0,004 0,066 0,055 0,004
27 0,034 -0,147 0,028 0,093 -0,003 -0,019 -0,003 0,034 0,045 -0,008
28 0,004 -0,156 0,045 0,089 -0,007 -0,017 0,004 0,015 0,046 0,010
29 0,004 -0,144 0,043 0,085 0,006 -0,010 -0,005 0,011 0,037 0,005
30 -0,004 -0,137 0,054 0,087 0,014 -0,009 0,002 0,013 0,023 0,007
31 0,002 -0,121 0,039 0,086 0,029 0,013 0,008 0,003 0,018 0,018
32 -0,012 -0,124 0,055 0,086 0,040 0,007 0,015 0,020 0,021 0,036
Tabela 28: Exercício nº 1- 90bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. Para geração das médias de desvio temporal ocorrido no ataque dos sons do violão, estes
valores foram previamente transformados em números absolutos (apenas números positivos).
326
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 1_105bpm_inicial Exercício nº 1_105bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 0,005 -0,006 -0,005 -0,043 0,006 0,005 0,049 0,027 -0,021 -0,006
2 -0,013 0,003 -0,007 0,003 0,020 -0,002 0,003 -0,002 -0,007 0,014
3 0,000 0,016 -0,032 -0,011 0,010 -0,016 -0,016 -0,032 -0,016 0,011
4 -0,007 0,030 -0,034 -0,007 0,003 -0,007 -0,018 -0,034 -0,028 0,012
5 0,000 0,027 -0,027 0,016 -0,011 0,006 -0,021 -0,032 -0,021 0,035
6 -0,004 0,020 -0,008 -0,002 -0,018 0,004 -0,039 -0,018 -0,007 0,041
7 0,000 0,038 -0,021 0,005 0,021 0,000 -0,042 -0,022 -0,016 0,022
8 -0,002 0,041 0,003 -0,002 0,022 0,003 -0,023 -0,008 -0,028 0,036
9 0,016 0,037 0,022 0,021 0,010 -0,011 -0,027 0,000 -0,011 0,032
10 0,019 0,056 0,025 -0,002 0,014 -0,007 -0,024 0,003 -0,040 0,025
11 0,006 0,059 0,032 0,005 0,016 -0,005 -0,011 -0,005 -0,037 0,005
12 0,004 0,051 0,035 -0,007 0,014 0,003 -0,018 -0,012 -0,066 0,009
13 0,005 0,038 0,027 0,016 -0,005 0,006 -0,021 -0,006 -0,053 0,006
14 0,019 0,030 0,041 -0,018 0,018 0,014 -0,018 0,003 -0,055 0,004
15 0,000 0,026 0,043 0,016 -0,016 0,010 -0,016 -0,005 -0,048 0,016
16 0,003 0,024 0,046 -0,013 -0,007 0,014 -0,023 0,009 -0,050 0,014
17 0,027 0,011 0,016 0,011 -0,006 0,064 -0,032 0,011 -0,006 0,027
18 0,019 -0,033 -0,012 -0,001 -0,017 0,038 -0,028 -0,001 -0,001 0,061
19 0,020 -0,029 -0,056 -0,023 -0,024 0,051 -0,034 -0,002 -0,013 0,046
20 -0,002 -0,062 -0,046 -0,040 -0,012 0,029 -0,030 0,003 0,002 0,056
21 0,006 -0,043 -0,048 -0,048 -0,016 0,043 -0,027 0,011 -0,021 0,048
22 -0,003 -0,065 -0,033 -0,065 0,009 0,021 -0,033 0,010 -0,028 0,058
23 -0,012 -0,061 -0,040 -0,076 -0,002 0,014 -0,018 0,009 -0,045 0,057
24 -0,045 -0,099 -0,035 -0,093 0,009 0,013 -0,030 0,008 -0,051 0,077
25 -0,070 -0,091 -0,043 -0,096 0,000 0,032 -0,032 0,000 -0,069 0,016
26 -0,087 -0,103 -0,033 -0,103 0,019 0,015 -0,038 0,004 -0,086 -0,006
27 -0,098 -0,120 -0,045 -0,120 0,004 0,019 -0,055 -0,018 -0,103 -0,018
28 -0,116 -0,121 -0,051 -0,137 -0,003 0,002 -0,045 -0,019 -0,120 -0,014
29 -0,128 -0,128 -0,058 -0,149 -0,005 0,000 -0,048 -0,027 -0,144 -0,022
30 -0,159 -0,124 -0,049 -0,166 0,010 -0,007 -0,055 -0,022 -0,145 -0,023
31 -0,173 -0,136 -0,055 -0,157 0,025 0,003 -0,061 -0,018 -0,162 -0,018
32 -0,187 -0,126 -0,045 -0,157 0,012 -0,003 -0,067 0,008 -0,158 -0,003
Tabela 29: Exercício nº 1- 105bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão.
327
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 1_120bpm_inicial Exercício nº 1_120bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 0,016 -0,005 -0,048 -0,016 0,014 -0,006 0,058 -0,032 0,000 0,025
2 0,015 -0,038 -0,070 0,005 0,004 -0,006 0,005 -0,043 0,021 -0,001
3 0,000 -0,053 -0,096 0,016 -0,010 -0,010 -0,038 -0,048 0,021 0,006
4 0,004 -0,059 -0,091 0,010 -0,011 -0,025 -0,054 -0,032 0,020 -0,011
5 -0,016 -0,054 -0,123 0,011 -0,021 -0,021 -0,048 -0,032 0,000 -0,032
6 -0,011 -0,044 -0,086 -0,006 -0,032 -0,022 -0,054 0,005 0,021 -0,043
7 -0,016 -0,042 -0,059 0,011 -0,022 -0,027 -0,048 -0,006 0,021 -0,032
8 -0,017 -0,027 -0,022 -0,027 -0,009 -0,017 -0,038 0,010 0,020 -0,033
9 -0,016 -0,032 -0,010 -0,011 -0,016 -0,006 -0,027 0,006 0,027 -0,038
10 -0,006 -0,027 0,010 -0,022 -0,033 -0,017 -0,027 0,016 0,010 -0,028
11 0,016 -0,021 0,016 -0,022 -0,037 -0,010 -0,022 0,005 0,011 -0,037
12 0,032 -0,022 0,031 -0,012 -0,027 -0,006 -0,022 0,015 0,010 -0,027
13 0,022 -0,022 0,011 0,000 -0,016 0,000 -0,021 0,027 0,005 -0,037
14 0,026 -0,022 0,026 -0,011 -0,038 -0,006 -0,032 0,021 -0,006 -0,027
15 0,026 0,000 0,010 0,011 -0,016 -0,006 -0,011 0,016 -0,022 -0,016
16 0,031 0,000 0,010 -0,001 -0,028 -0,012 -0,027 0,015 -0,022 -0,021
17 0,064 0,022 -0,005 0,021 -0,006 0,024 -0,016 0,011 0,006 0,000
18 0,040 0,003 -0,003 0,008 -0,016 0,008 -0,014 -0,003 0,008 0,007
19 0,036 -0,006 -0,038 -0,033 -0,022 0,010 -0,022 -0,011 -0,027 -0,006
20 -0,004 0,007 -0,030 -0,041 -0,038 -0,020 -0,030 -0,035 -0,046 -0,002
21 -0,016 -0,011 -0,027 -0,059 -0,026 -0,010 -0,038 -0,037 -0,059 0,006
22 -0,045 -0,019 -0,040 -0,062 -0,034 -0,040 -0,025 -0,062 -0,067 0,006
23 -0,059 -0,034 -0,033 -0,076 0,005 -0,038 -0,044 -0,049 -0,086 0,000
24 -0,089 -0,014 -0,020 -0,089 -0,041 -0,062 -0,036 -0,041 -0,100 -0,009
25 -0,122 -0,027 -0,016 -0,085 -0,043 -0,064 -0,042 -0,032 -0,117 -0,027
26 -0,141 -0,030 -0,024 -0,099 -0,072 -0,099 -0,056 -0,040 -0,115 0,000
27 -0,160 -0,038 -0,022 -0,112 -0,066 -0,107 -0,064 -0,017 -0,145 -0,045
28 -0,185 -0,047 -0,036 -0,131 -0,083 -0,136 -0,083 -0,030 -0,153 -0,041
29 -0,192 -0,053 -0,054 -0,128 -0,080 -0,144 -0,059 0,000 -0,166 -0,064
30 -0,224 -0,056 -0,057 -0,136 -0,119 -0,179 -0,062 -0,003 -0,179 -0,007
31 -0,246 -0,075 -0,049 -0,132 -0,140 -0,188 -0,070 -0,028 -0,198 -0,028
32 -0,269 -0,073 -0,057 -0,132 -0,160 -0,188 -0,084 -0,015 -0,196 -0,041
Tabela 30: Exercício nº 1 - 120bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão.
328
Exercício nº 2
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 2 ff_90bpm_inicial Exercício nº 2 ff_90bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 -0,005 0,043 0,027 -0,101 -0,006 -0,016 0,000 0,005 -0,102 0,022
2 -0,006 0,013 0,024 -0,088 -0,009 -0,030 0,002 0,008 -0,067 -0,003
3 0,011 0,005 0,005 -0,075 -0,010 -0,053 0,006 -0,005 -0,053 0,000
4 0,013 -0,041 -0,019 -0,078 -0,019 -0,051 0,003 0,003 -0,056 -0,003
5 0,021 -0,037 -0,016 -0,053 -0,021 -0,043 -0,022 -0,011 -0,102 0,011
6 0,023 -0,051 -0,008 -0,051 -0,003 -0,014 -0,025 0,013 -0,067 0,013
7 0,026 -0,037 -0,021 -0,032 -0,016 -0,032 -0,037 0,016 -0,053 0,011
8 0,045 -0,067 -0,035 -0,040 0,008 -0,024 -0,030 0,008 -0,056 0,008
9 0,059 -0,070 0,000 0,016 0,016 -0,032 -0,032 0,016 -0,069 0,000
10 0,056 -0,062 -0,013 0,013 0,013 -0,035 -0,024 0,024 -0,077 -0,019
11 0,064 -0,043 -0,022 0,027 0,000 -0,022 0,000 0,042 -0,070 -0,016
12 0,093 -0,056 -0,025 0,013 0,007 -0,025 0,007 0,039 -0,115 -0,008
13 0,043 -0,069 0,000 0,054 0,005 0,011 0,005 0,064 -0,091 -0,016
14 0,061 -0,088 0,013 0,029 0,045 0,013 -0,014 0,066 -0,083 0,003
15 0,048 -0,064 -0,005 0,085 0,022 0,027 0,006 0,048 -0,085 -0,022
16 0,050 -0,073 -0,014 0,082 0,019 0,035 0,003 0,051 -0,067 -0,019
17 0,032 -0,069 0,005 0,128 0,016 0,069 0,005 0,069 -0,038 -0,011
18 0,012 -0,095 -0,005 0,091 0,046 0,055 -0,016 0,080 -0,069 -0,009
19 0,013 -0,079 -0,020 0,097 0,035 0,077 -0,020 0,086 -0,074 -0,013
20 0,020 -0,115 -0,020 0,098 0,058 0,078 -0,025 0,098 -0,057 -0,001
21 0,032 -0,080 -0,021 0,112 0,064 0,085 -0,021 0,080 -0,053 -0,021
22 0,030 -0,090 0,001 0,118 0,108 0,082 -0,026 0,086 -0,063 0,013
23 0,045 -0,089 0,012 0,119 0,072 0,088 -0,020 0,087 -0,057 0,000
24 0,042 -0,099 0,023 0,146 0,073 0,079 -0,025 0,093 -0,062 0,015
25 0,043 -0,091 0,027 0,149 0,059 0,059 -0,026 0,102 -0,064 -0,006
26 0,027 -0,101 0,028 0,144 0,061 0,018 -0,042 0,049 -0,063 0,028
27 0,024 -0,095 0,044 0,150 0,056 0,003 -0,025 0,018 -0,068 0,000
28 0,006 -0,073 0,040 0,162 0,057 -0,006 -0,030 -0,003 -0,067 -0,002
29 0,016 -0,085 0,032 0,165 0,053 0,005 -0,032 0,005 -0,086 -0,025
30 0,025 -0,074 0,054 0,182 0,071 -0,004 -0,032 -0,032 -0,080 -0,020
31 0,035 -0,084 0,055 0,173 0,066 0,013 -0,026 -0,042 -0,074 -0,030
32 0,031 -0,078 0,072 0,173 0,068 0,014 -0,046 -0,030 -0,084 -0,028
Tabela 31: Exercício nº 2 ff - 90bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão.
Para geração das médias de desvio temporal ocorrido no ataque dos sons do violão, estes valores foram previamente transformados em números absolutos (apenas números positivos).
329
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 2 ff_105bpm_inicial Exercício nº 2 ff_105bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 -0,117 -0,011 -0,070 -0,192 -0,048 0,005 -0,011 -0,026 -0,197 -0,150
2 -0,082 -0,013 -0,066 -0,231 -0,061 -0,008 -0,029 -0,023 -0,194 -0,139
3 -0,080 -0,021 -0,069 -0,187 -0,054 -0,005 -0,022 -0,022 -0,224 -0,112
4 -0,082 -0,039 -0,077 -0,264 -0,034 -0,029 -0,034 -0,029 -0,247 -0,087
5 -0,059 -0,032 -0,069 -0,240 -0,037 -0,032 -0,041 -0,021 -0,197 -0,064
6 -0,066 -0,044 -0,060 -0,247 -0,023 -0,018 -0,039 -0,013 -0,194 -0,066
7 -0,054 -0,037 -0,048 -0,192 -0,016 -0,032 -0,048 -0,016 -0,224 -0,042
8 -0,045 -0,050 -0,045 -0,199 -0,002 -0,018 -0,060 0,009 -0,247 -0,034
9 -0,032 -0,054 -0,016 -0,128 -0,006 -0,027 -0,059 0,010 -0,262 0,016
10 -0,029 -0,066 0,003 -0,140 0,003 -0,023 -0,066 0,003 -0,296 0,025
11 0,016 -0,043 0,000 -0,139 -0,011 -0,005 -0,048 0,021 -0,277 0,016
12 -0,028 -0,050 -0,013 -0,136 -0,002 -0,013 -0,050 0,008 -0,290 0,009
13 -0,006 -0,037 0,000 -0,117 0,006 -0,005 -0,053 0,021 -0,250 0,075
14 0,003 -0,044 -0,008 -0,109 0,025 -0,018 -0,055 0,009 -0,268 0,062
15 0,000 -0,032 0,005 -0,064 -0,005 -0,016 -0,037 0,016 -0,202 0,048
16 0,014 -0,050 -0,002 -0,023 0,009 -0,018 -0,028 0,020 -0,215 0,024
17 0,032 -0,043 0,011 0,010 0,038 -0,016 -0,037 0,037 -0,192 0,005
18 0,006 -0,060 -0,028 -0,023 0,028 -0,028 -0,044 0,041 -0,204 -0,022
19 0,009 -0,066 -0,061 -0,013 0,019 -0,045 -0,050 0,040 -0,200 -0,028
20 0,004 -0,062 -0,083 -0,025 0,029 -0,051 -0,030 0,029 -0,217 -0,046
21 0,006 -0,069 -0,090 -0,016 0,021 0,006 -0,043 0,011 -0,219 -0,016
22 -0,011 -0,070 -0,091 -0,012 0,047 -0,043 -0,060 0,010 -0,209 -0,030
23 -0,012 -0,077 -0,082 -0,018 0,041 -0,034 -0,045 0,019 -0,221 -0,018
24 -0,026 -0,078 -0,072 -0,008 0,050 -0,029 -0,030 -0,014 -0,206 -0,035
25 0,005 -0,091 -0,080 0,006 0,032 0,000 -0,021 -0,010 -0,234 -0,016
26 -0,027 -0,108 -0,087 0,010 0,037 -0,012 -0,043 -0,033 -0,230 -0,028
27 -0,045 -0,104 -0,093 -0,007 0,025 0,008 -0,044 -0,023 -0,247 -0,008
28 -0,073 -0,105 -0,094 -0,003 0,034 -0,003 -0,045 -0,035 -0,216 -0,019
29 -0,091 -0,107 -0,091 0,016 0,021 0,007 -0,038 -0,026 -0,251 0,005
30 -0,108 -0,124 -0,081 0,026 0,031 -0,007 -0,060 -0,022 -0,247 -0,012
31 -0,125 -0,109 -0,098 0,020 0,019 0,008 -0,072 -0,018 -0,249 0,003
32 -0,152 -0,137 -0,099 0,020 -0,009 -0,009 -0,083 -0,019 -0,248 0,002
Tabela 32: Exercício nº 2 ff - 105bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão.
330
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 2 ff_120bpm_inicial Exercício nº 2 ff_120bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 -0,448 -0,160 -0,293 -0,331 -0,107 -0,128 -0,085 -0,064 -0,395 -0,086
2 -0,486 -0,187 -0,267 -0,379 -0,075 -0,124 -0,097 -0,022 -0,395 -0,086
3 -0,496 -0,187 -0,235 -0,406 -0,042 -0,085 -0,086 -0,016 -0,395 -0,058
4 -0,518 -0,214 -0,241 -0,454 -0,075 -0,075 -0,076 -0,038 -0,395 -0,091
5 -0,523 -0,214 -0,240 -0,496 -0,074 -0,053 -0,069 -0,032 -0,448 -0,064
6 -0,545 -0,230 -0,278 -0,571 -0,054 -0,054 -0,064 -0,038 -0,497 -0,059
7 -0,544 -0,234 -0,197 -0,576 -0,038 -0,043 -0,059 -0,032 -0,549 -0,048
8 -0,555 -0,246 -0,176 -0,582 -0,028 -0,049 -0,049 -0,022 -0,587 -0,038
9 -0,549 -0,234 -0,117 -0,597 -0,006 -0,027 -0,037 -0,032 -0,587 -0,011
10 -0,544 -0,267 -0,070 -0,651 -0,001 -0,033 -0,038 -0,027 -0,603 -0,017
11 -0,539 -0,272 -0,011 -0,630 -0,005 -0,026 -0,048 -0,011 -0,608 -0,021
12 -0,550 -0,310 0,021 -0,668 0,000 -0,011 -0,049 -0,028 -0,662 -0,027
13 -0,544 -0,539 0,048 -0,656 -0,021 0,005 -0,058 -0,021 -0,662 -0,021
14 -0,518 -0,588 0,063 -0,672 -0,011 -0,001 -0,048 -0,032 -0,678 -0,022
15 -0,512 -0,597 0,064 -0,699 -0,011 0,010 -0,027 -0,027 -0,640 -0,043
16 -0,507 -0,603 0,069 -0,726 -0,006 0,026 -0,017 -0,027 -0,651 -0,038
17 -0,491 -0,602 0,070 -0,704 -0,011 0,016 -0,021 0,005 -0,624 -0,048
18 -0,526 -0,637 0,045 -0,744 -0,013 -0,014 -0,030 0,008 -0,632 -0,030
19 -0,534 -0,662 0,042 -0,753 -0,017 -0,017 -0,043 0,015 -0,622 -0,044
20 -0,557 -0,686 0,023 -0,772 -0,002 -0,041 -0,041 0,007 -0,654 -0,034
21 -0,539 -0,725 0,032 -0,779 -0,010 -0,053 -0,059 0,021 -0,704 -0,043
22 -0,585 -0,734 -0,008 -0,782 0,018 -0,088 -0,067 0,007 -0,691 0,000
23 -0,641 -0,763 -0,011 -0,801 0,032 -0,102 -0,076 0,010 -0,726 -0,022
24 -0,692 -0,782 -0,094 -0,793 0,082 -0,126 -0,117 -0,009 -0,745 -0,014
25 -0,714 -0,811 -0,080 -0,832 0,125 -0,123 -0,069 -0,010 -0,768 -0,046
26 -0,713 -0,819 -0,142 -0,851 0,136 -0,168 -0,115 -0,019 -0,777 -0,046
27 -0,731 -0,854 -0,172 -0,891 0,122 -0,155 -0,112 -0,016 -0,812 -0,080
28 -0,761 -0,864 -0,201 -0,905 0,103 -0,156 -0,115 -0,035 -0,820 -0,052
29 -0,773 -0,896 -0,208 -0,933 0,106 -0,160 -0,123 -0,021 -0,864 -0,064
30 -0,803 -0,904 -0,221 -0,928 0,098 -0,174 -0,126 -0,040 -0,893 -0,051
31 -0,827 -0,934 -0,251 -0,923 0,095 -0,197 -0,139 -0,038 -0,923 -0,060
32 -0,855 -0,963 -0,275 -0,964 0,087 -0,224 -0,158 -0,041 -0,947 -0,052
Tabela 33: Exercício nº 2 ff - 120bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão.
331
Exercício nº 3
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 3_90bpm_inicial Exercício nº 3_90bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 -0,005 -0,070 0,053 0,022 -0,069 -0,002 -0,042 0,017 -0,006 -0,026
2 -0,029 -0,057 0,071 0,019 -0,051 -0,013 -0,008 0,029 -0,009 -0,014
3 0,006 -0,027 0,059 0,021 -0,064 -0,032 -0,011 0,037 -0,032 0,000
4 -0,003 -0,030 0,072 0,007 -0,025 -0,030 0,007 0,055 -0,035 -0,014
5 0,016 0,006 0,075 0,011 -0,053 -0,021 0,016 0,032 -0,048 -0,021
6 0,008 0,008 0,120 0,018 -0,019 -0,024 0,024 0,045 -0,051 -0,008
7 0,027 0,032 0,107 0,027 -0,010 -0,026 0,027 0,016 -0,038 0,000
8 0,050 0,018 0,115 0,008 -0,003 -0,016 0,035 0,035 -0,030 -0,009
9 0,053 0,048 0,101 0,032 -0,021 -0,015 0,032 0,032 -0,021 0,005
10 0,013 0,024 0,136 0,007 -0,003 -0,012 0,034 0,071 -0,014 -0,014
11 0,032 0,064 0,123 0,037 0,000 -0,016 0,032 0,069 -0,010 0,000
12 0,029 0,072 0,114 0,013 0,008 -0,024 0,018 0,061 -0,003 -0,024
13 0,011 0,074 0,096 0,038 -0,016 -0,016 -0,005 0,043 0,000 -0,038
14 0,019 0,066 0,115 0,029 0,007 0,008 -0,008 0,029 0,007 -0,025
15 0,027 0,085 0,096 0,064 -0,022 -0,006 -0,011 0,032 -0,005 -0,027
16 0,029 0,066 0,114 0,077 0,002 0,002 -0,014 0,034 0,002 -0,056
17 0,053 0,059 0,064 0,101 -0,010 0,011 -0,059 0,027 0,016 -0,048
18 0,018 0,022 0,044 0,092 -0,009 -0,014 -0,069 0,022 -0,019 -0,057
19 0,002 0,028 0,055 0,077 -0,003 -0,019 -0,068 0,007 -0,029 -0,040
20 -0,017 0,008 0,061 0,068 -0,001 -0,023 -0,078 0,007 -0,044 -0,038
21 -0,032 0,005 0,054 0,075 0,000 -0,026 -0,080 0,000 -0,059 -0,038
22 -0,046 -0,037 0,049 0,055 0,002 -0,046 -0,100 -0,004 -0,079 -0,009
23 -0,035 -0,063 0,050 0,056 0,013 -0,040 -0,089 0,002 -0,099 -0,009
24 -0,055 -0,094 0,034 0,042 0,004 -0,038 -0,104 0,002 -0,114 0,014
25 -0,054 -0,107 0,011 0,037 -0,016 -0,038 -0,096 -0,022 -0,112 0,011
26 -0,057 -0,143 -0,010 0,017 -0,020 -0,052 -0,101 -0,021 -0,132 -0,025
27 -0,062 -0,143 -0,015 -0,003 -0,030 -0,046 -0,106 -0,015 -0,152 -0,024
28 -0,071 -0,158 -0,014 -0,012 -0,028 -0,060 -0,105 0,002 -0,167 -0,028
29 -0,059 -0,160 -0,021 -0,027 -0,043 -0,037 -0,101 0,011 -0,176 -0,037
30 -0,057 -0,186 -0,031 -0,046 -0,036 -0,041 -0,117 0,017 -0,206 -0,046
31 -0,067 -0,201 -0,009 -0,062 -0,035 -0,024 -0,100 0,017 -0,211 -0,051
32 -0,082 -0,259 0,007 -0,071 -0,012 -0,026 -0,137 0,029 -0,214 -0,022
Tabela 34: Exercício nº 3 - 90bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. Para geração das médias de desvio temporal ocorrido no ataque dos sons do violão, estes
valores foram previamente transformados em números absolutos (apenas números positivos).
332
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 3_105bpm_inicial Exercício nº 3_105bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 -0,006 -0,010 0,064 0,032 -0,049 -0,003 -0,027 -0,025 -0,011 -0,017
2 0,003 -0,034 0,024 0,019 -0,029 -0,023 -0,039 -0,013 -0,034 0,004
3 -0,027 -0,010 -0,022 0,011 -0,032 -0,048 -0,026 -0,022 -0,059 0,000
4 -0,013 -0,028 -0,024 -0,002 -0,039 -0,050 -0,023 -0,008 -0,077 0,004
5 -0,016 -0,027 -0,037 -0,032 -0,026 -0,048 -0,011 -0,021 -0,069 -0,005
6 -0,018 -0,013 -0,007 -0,034 -0,018 -0,013 -0,008 -0,007 -0,082 -0,002
7 -0,026 -0,016 -0,010 -0,021 -0,006 -0,016 0,011 -0,032 -0,058 0,011
8 -0,002 -0,029 0,014 -0,034 -0,002 -0,018 0,003 -0,023 -0,098 0,009
9 -0,006 -0,016 0,005 -0,021 -0,027 -0,005 0,016 0,005 -0,064 0,027
10 -0,002 -0,018 0,024 -0,044 -0,034 -0,012 -0,012 0,008 -0,056 0,025
11 0,005 0,010 0,048 -0,021 0,016 0,010 -0,010 0,016 -0,032 0,042
12 -0,002 -0,002 0,046 -0,055 0,025 0,008 -0,007 0,025 -0,039 0,008
13 -0,021 0,005 0,032 -0,022 0,026 -0,005 -0,011 0,006 -0,032 0,021
14 0,009 0,003 0,036 -0,034 0,014 -0,002 -0,013 0,020 -0,023 0,009
15 0,022 0,027 0,038 -0,016 0,010 -0,016 0,005 0,011 -0,011 -0,005
16 0,030 0,009 0,057 -0,018 0,014 -0,018 -0,007 0,025 -0,008 0,004
17 0,037 0,026 0,080 0,032 0,043 0,005 -0,016 0,021 0,011 0,016
18 -0,001 -0,007 0,063 0,005 0,036 -0,028 -0,038 -0,006 -0,017 0,004
19 -0,029 0,003 0,056 -0,018 0,014 -0,034 -0,044 -0,007 -0,039 0,014
20 -0,035 -0,019 0,034 -0,035 0,018 -0,051 -0,061 -0,024 -0,035 0,018
21 -0,043 -0,016 0,011 -0,054 0,006 -0,054 -0,054 -0,043 -0,059 0,021
22 -0,065 -0,055 -0,012 -0,081 0,010 -0,065 -0,092 -0,065 -0,081 0,025
23 -0,071 -0,029 -0,029 -0,098 0,004 -0,061 -0,088 -0,082 -0,103 0,019
24 -0,083 -0,067 -0,056 -0,121 -0,019 -0,073 -0,083 -0,104 -0,131 0,034
25 -0,080 -0,048 -0,069 -0,139 -0,027 -0,080 -0,075 -0,101 -0,144 0,021
26 -0,113 -0,070 -0,081 -0,156 -0,044 -0,102 -0,102 -0,102 -0,167 0,010
27 -0,114 -0,071 -0,082 -0,167 -0,040 -0,098 -0,077 -0,082 -0,205 0,009
28 -0,131 -0,067 -0,088 -0,190 -0,048 -0,104 -0,072 -0,093 -0,206 0,004
29 -0,134 -0,080 -0,080 -0,203 -0,059 -0,101 -0,074 -0,086 -0,240 -0,015
30 -0,161 -0,091 -0,076 -0,214 -0,054 -0,118 -0,075 -0,097 -0,289 -0,027
31 -0,157 -0,087 -0,072 -0,237 -0,130 -0,114 -0,076 -0,093 -0,328 -0,001
32 -0,185 -0,109 -0,067 -0,243 -0,040 -0,120 -0,170 -0,099 -0,334 -0,014
Tabela 35: Exercício nº 3 - 105bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão.
333
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 3_120bpm_inicial Exercício nº 3_120bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 0,039 0,010 -0,071 0,000 -0,032 -0,013 -0,014 0,016 0,000 0,024
2 0,031 -0,001 -0,070 -0,022 -0,032 -0,035 -0,033 0,010 0,005 0,010
3 0,027 -0,026 -0,069 -0,027 0,016 -0,042 -0,006 -0,011 -0,027 -0,016
4 0,021 -0,032 -0,038 -0,054 -0,001 -0,032 -0,006 -0,006 -0,022 -0,017
5 0,022 -0,037 -0,037 -0,048 -0,011 -0,037 -0,010 -0,027 -0,005 -0,038
6 0,016 -0,027 -0,017 -0,064 -0,017 -0,022 -0,032 -0,006 -0,016 -0,022
7 0,010 -0,021 -0,005 -0,037 0,000 -0,016 -0,005 0,005 0,005 -0,021
8 0,020 -0,022 -0,016 -0,054 0,021 -0,017 -0,006 0,026 0,010 -0,011
9 0,026 -0,016 0,006 -0,043 0,000 -0,016 -0,011 0,027 0,016 0,005
10 0,020 -0,028 0,042 -0,022 -0,032 -0,017 -0,017 0,037 -0,001 -0,006
11 0,027 0,000 0,027 0,000 -0,011 -0,024 -0,006 0,043 0,016 0,005
12 0,026 0,021 0,037 -0,006 0,021 0,000 -0,012 0,058 0,015 0,020
13 0,016 0,006 0,026 0,000 0,000 0,005 -0,016 0,043 0,038 0,000
14 0,005 0,000 0,031 0,000 0,015 -0,001 -0,006 0,053 0,026 0,004
15 0,026 0,011 0,032 0,011 0,022 0,010 0,021 0,037 0,048 -0,005
16 0,042 -0,017 0,042 0,037 0,032 0,020 0,010 0,042 0,058 0,010
17 0,058 0,005 0,054 0,091 0,032 0,042 0,059 0,016 0,091 0,016
18 0,013 -0,035 0,040 0,056 0,008 0,007 0,045 0,003 0,045 0,029
19 -0,017 -0,049 0,016 0,042 0,010 -0,028 0,042 -0,016 -0,001 0,021
20 -0,036 -0,063 -0,003 0,012 0,002 -0,059 0,028 -0,041 -0,025 0,028
21 -0,042 -0,074 -0,032 0,010 -0,011 -0,058 0,021 -0,048 -0,054 0,010
22 -0,072 -0,112 -0,067 -0,014 -0,035 -0,072 -0,003 -0,056 -0,083 0,006
23 -0,075 -0,107 -0,081 -0,038 -0,038 -0,075 -0,022 -0,054 -0,108 -0,006
24 -0,110 -0,147 -0,094 -0,073 -0,063 -0,099 -0,024 -0,062 -0,148 -0,025
25 -0,133 -0,160 -0,112 -0,064 -0,075 -0,101 -0,026 -0,064 -0,165 -0,048
26 -0,157 -0,184 -0,110 -0,120 -0,115 -0,126 -0,072 -0,083 -0,189 -0,059
27 -0,171 -0,198 -0,161 -0,134 -0,134 -0,150 -0,080 -0,091 -0,224 -0,076
28 -0,201 -0,227 -0,148 -0,169 -0,159 -0,177 -0,083 -0,116 -0,259 -0,100
29 -0,224 -0,240 -0,186 -0,176 -0,186 -0,208 -0,091 -0,112 -0,277 -0,101
30 -0,254 -0,275 -0,195 -0,195 -0,212 -0,254 -0,131 -0,137 -0,307 -0,099
31 -0,273 -0,294 -0,246 -0,209 -0,251 -0,278 -0,145 -0,140 -0,331 -0,107
32 -0,324 -0,372 -0,265 -0,238 -0,231 -0,297 -0,138 -0,143 -0,334 -0,099
Tabela 36: Exercício nº 3 - 120bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão.
334
Exercício nº 4
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 4_90bpm_inicial Exercício nº 4_90bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 0,048 0,000 0,079 -0,005 -0,051 -0,012 -0,032 0,006 0,016 0,002
2 0,034 -0,008 0,058 0,002 -0,009 -0,003 -0,035 0,019 -0,003 -0,003
3 0,026 0,006 0,022 0,022 -0,011 -0,005 -0,027 0,005 -0,016 0,000
4 0,050 -0,019 0,005 0,024 0,002 -0,008 -0,014 0,007 0,002 -0,008
5 0,043 -0,006 -0,026 0,064 -0,005 0,000 -0,005 0,000 0,000 -0,011
6 0,040 -0,009 0,000 0,061 0,008 0,019 -0,008 0,013 0,003 0,023
7 0,054 0,000 -0,011 0,000 0,016 -0,006 0,021 0,032 0,010 -0,005
8 0,061 -0,003 0,021 0,072 0,019 -0,003 0,023 0,045 0,013 -0,008
9 0,053 0,000 0,016 0,112 0,011 0,016 0,021 0,026 0,011 -0,010
10 0,024 -0,019 0,047 0,104 0,040 -0,019 0,040 0,045 0,013 0,013
11 0,021 0,010 0,022 0,122 0,032 0,006 0,054 0,043 0,000 0,010
12 0,008 0,002 0,037 0,125 0,056 0,008 0,035 0,050 -0,003 0,013
13 0,026 0,021 0,022 0,123 0,026 0,021 0,042 0,048 -0,011 0,005
14 -0,019 0,002 0,058 0,045 0,002 -0,003 0,023 0,051 -0,025 0,013
15 -0,006 0,016 0,048 0,080 0,000 0,032 0,016 0,058 0,000 0,011
16 0,002 0,019 0,079 0,109 0,018 0,024 -0,030 0,066 0,018 -0,003
17 0,043 0,032 0,069 0,154 0,038 0,059 -0,032 0,085 0,011 -0,006
18 0,007 -0,016 0,082 0,124 0,025 0,029 -0,047 0,091 -0,019 0,001
19 0,008 -0,020 0,058 0,125 0,029 0,029 -0,046 0,151 -0,035 0,013
20 -0,006 -0,046 0,065 0,126 0,031 0,042 -0,040 0,087 -0,044 0,014
21 0,000 -0,016 0,032 0,128 0,027 0,026 -0,038 0,048 -0,059 0,043
22 -0,014 -0,037 0,029 0,108 0,013 0,023 -0,042 0,065 -0,079 0,018
23 -0,019 -0,031 -0,011 0,104 0,019 0,018 -0,052 0,060 -0,083 0,013
24 -0,017 -0,025 -0,025 0,084 0,017 0,025 -0,057 0,066 -0,092 0,020
25 -0,048 -0,016 -0,080 0,080 0,016 0,011 -0,075 0,053 -0,112 0,011
26 -0,073 -0,031 -0,093 0,061 0,023 -0,009 -0,101 0,048 -0,142 0,002
27 -0,062 -0,030 -0,139 0,045 0,045 -0,014 -0,095 0,017 -0,152 0,003
28 -0,065 -0,040 -0,158 0,026 -0,031 -0,012 -0,110 0,012 -0,183 -0,006
29 -0,069 -0,054 -0,181 0,021 -0,005 -0,016 -0,122 -0,048 -0,213 -0,022
30 -0,084 -0,069 -0,184 0,007 -0,020 -0,030 -0,143 -0,058 -0,222 -0,020
31 -0,083 -0,100 -0,198 0,002 -0,030 -0,029 -0,180 -0,079 -0,248 -0,009
32 -0,103 -0,116 -0,185 -0,012 -0,039 -0,038 -0,190 -0,057 -0,252 -0,012
Tabela 37: Exercício nº 4 - 90bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. Para geração das médias de desvio temporal ocorrido no ataque dos sons do violão, estes
valores foram previamente transformados em números absolutos (apenas números positivos).
335
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 4_105bpm_inicial Exercício nº 4_105bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 0,009 -0,006 -0,042 0,016 -0,078 -0,010 -0,006 0,037 0,012 -0,029
2 0,014 -0,024 -0,034 -0,007 -0,061 -0,007 -0,018 0,041 0,004 -0,013
3 -0,016 -0,011 -0,038 0,000 -0,070 -0,021 -0,005 0,006 -0,022 -0,011
4 -0,002 -0,023 -0,045 -0,002 -0,056 -0,023 0,009 -0,002 -0,029 0,009
5 -0,006 -0,005 -0,037 0,011 -0,027 -0,010 0,011 -0,006 -0,016 0,032
6 -0,013 -0,002 -0,013 -0,023 -0,045 0,009 0,014 0,014 -0,002 0,036
7 -0,005 0,010 -0,005 0,000 -0,026 0,000 0,027 -0,005 -0,011 0,048
8 0,003 0,019 0,041 -0,023 -0,012 -0,002 0,030 0,009 -0,002 0,040
9 0,006 0,043 0,037 0,010 0,032 0,011 0,000 0,000 -0,006 0,043
10 0,009 0,051 0,046 -0,008 0,024 -0,002 -0,013 0,004 -0,008 0,003
11 0,011 0,048 0,053 0,005 0,032 0,000 -0,005 0,006 0,000 0,000
12 -0,028 0,019 0,067 -0,002 0,003 0,004 -0,013 0,030 0,008 0,009
13 -0,011 0,010 0,080 0,027 0,016 0,026 -0,005 -0,005 0,005 0,032
14 -0,008 0,008 0,078 0,009 -0,002 0,019 -0,012 0,025 0,014 0,019
15 -0,005 0,000 0,059 0,027 0,011 0,010 -0,032 0,032 0,022 0,005
16 -0,007 -0,008 0,062 0,020 0,004 -0,018 -0,045 0,051 0,057 0,024
17 0,022 -0,005 -0,091 0,058 0,016 0,011 -0,027 0,043 0,074 0,053
18 -0,011 -0,049 -0,135 0,009 -0,012 -0,022 -0,060 0,021 0,041 0,036
19 -0,039 -0,055 -0,136 -0,018 -0,013 -0,023 -0,055 0,004 0,008 0,046
20 -0,056 -0,056 -0,142 -0,041 -0,035 -0,035 -0,072 -0,003 0,002 0,026
21 -0,075 -0,064 -0,149 -0,064 -0,027 -0,042 -0,069 -0,022 -0,027 0,016
22 -0,092 -0,086 -0,140 -0,102 -0,033 -0,054 -0,075 -0,028 -0,049 0,037
23 -0,088 -0,060 -0,157 -0,135 -0,039 -0,055 -0,076 -0,024 -0,061 0,046
24 -0,105 -0,072 -0,152 -0,158 -0,035 -0,072 -0,077 -0,041 -0,083 0,019
25 -0,123 -0,070 -0,192 -0,176 -0,064 -0,091 -0,075 -0,048 -0,122 0,010
26 -0,145 -0,103 -0,187 -0,214 -0,067 -0,108 -0,092 -0,054 -0,171 -0,007
27 -0,173 -0,114 -0,231 -0,242 -0,124 -0,093 -0,088 -0,047 -0,188 -0,013
28 -0,195 -0,142 -0,243 -0,269 -0,116 -0,115 -0,089 -0,040 -0,205 -0,025
29 -0,224 -0,165 -0,288 -0,294 -0,118 -0,117 -0,086 -0,085 -0,234 -0,053
30 -0,262 -0,173 -0,321 -0,327 -0,127 -0,141 -0,070 -0,107 -0,251 -0,060
31 -0,279 -0,199 -0,343 -0,354 -0,130 -0,157 -0,093 -0,114 -0,284 -0,066
32 -0,307 -0,227 -0,360 -0,371 -0,110 -0,187 -0,126 -0,104 -0,285 -0,051
Tabela 38: Exercício nº 4 - 105bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão.
336
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 4_120bpm_inicial Exercício nº 4_120bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 -0,004 0,026 0,079 0,032 -0,006 0,026 0,002 0,014 -0,032 -0,039
2 -0,006 -0,001 0,058 -0,054 -0,028 0,026 -0,027 0,021 -0,049 -0,060
3 0,006 -0,016 0,022 -0,069 -0,026 0,027 -0,022 -0,006 -0,043 -0,048
4 0,016 -0,016 0,005 -0,097 0,000 0,032 -0,012 -0,001 -0,076 -0,033
5 0,016 -0,016 -0,026 -0,107 -0,016 0,011 -0,010 0,000 -0,074 -0,048
6 0,026 -0,022 0,000 -0,118 -0,011 -0,014 -0,006 0,000 -0,064 -0,043
7 0,032 -0,032 -0,011 -0,112 0,000 0,000 -0,005 0,000 -0,053 -0,016
8 0,042 -0,033 0,021 -0,097 -0,001 0,015 -0,001 0,015 -0,038 -0,001
9 0,010 -0,048 0,016 -0,096 -0,016 -0,006 0,000 -0,005 -0,037 0,016
10 0,004 -0,033 0,047 -0,070 -0,001 -0,012 0,005 0,005 -0,043 0,031
11 0,016 -0,010 0,022 -0,048 0,011 -0,016 0,010 0,016 -0,038 0,032
12 0,016 -0,006 0,037 -0,059 0,021 -0,016 -0,006 0,036 -0,033 0,047
13 0,027 0,000 0,022 -0,048 0,022 0,005 -0,010 0,022 -0,026 0,043
14 0,021 -0,011 0,058 -0,027 0,010 -0,017 -0,016 0,010 -0,011 0,048
15 0,016 -0,011 0,048 -0,006 0,021 -0,006 -0,021 0,016 0,005 0,037
16 0,010 -0,022 0,079 0,036 0,010 0,004 -0,033 0,037 0,037 0,053
17 0,032 -0,011 0,069 0,070 0,016 0,037 -0,016 0,037 0,043 0,058
18 -0,041 -0,035 0,082 0,040 0,002 0,007 -0,035 0,018 -0,008 0,045
19 -0,124 -0,060 0,058 0,010 -0,001 -0,025 -0,059 0,026 -0,043 0,036
20 -0,185 -0,089 0,065 -0,030 -0,041 -0,036 -0,073 -0,004 -0,078 0,039
21 -0,224 -0,128 0,032 -0,059 -0,048 -0,048 -0,080 -0,016 -0,107 0,026
22 -0,259 -0,179 0,029 -0,099 -0,077 -0,067 -0,072 -0,025 -0,153 0,015
23 -0,299 -0,198 -0,011 -0,139 -0,102 -0,087 -0,097 -0,028 -0,182 -0,001
24 -0,339 -0,217 -0,025 -0,174 -0,138 -0,099 -0,116 -0,052 -0,217 -0,002
25 -0,368 -0,256 -0,080 -0,208 -0,181 -0,144 -0,128 -0,042 -0,250 -0,055
26 -0,413 -0,296 -0,093 -0,254 -0,204 -0,168 -0,179 -0,045 -0,296 -0,046
27 -0,432 -0,310 -0,139 -0,299 -0,235 -0,187 -0,171 -0,038 -0,326 -0,064
28 -0,473 -0,350 -0,158 -0,340 -0,241 -0,212 -0,185 -0,041 -0,361 -0,067
29 -0,502 -0,400 -0,181 -0,379 -0,262 -0,235 -0,187 -0,053 -0,400 -0,075
30 -0,542 -0,440 -0,184 -0,414 -0,271 -0,254 -0,206 -0,078 -0,430 -0,077
31 -0,577 -0,486 -0,198 -0,454 -0,294 -0,297 -0,230 -0,097 -0,465 -0,091
32 -0,623 -0,521 -0,185 -0,500 -0,292 -0,340 -0,244 -0,089 -0,484 -0,088
Tabela 39: Exercício nº 4 - 120bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão.
337
Exercício nº 5
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 5_90bpm_inicial Exercício nº 5_90bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 0,011 -0,010 0,053 0,021 -0,022 -0,005 0,032 -0,005 -0,006 -0,029
2 0,002 -0,024 0,050 0,008 -0,003 -0,006 0,018 0,008 -0,014 -0,013
3 0,021 -0,038 0,080 0,032 -0,026 -0,005 0,011 0,000 0,016 -0,032
4 0,008 -0,030 0,088 0,035 -0,003 -0,024 0,019 0,013 0,018 0,002
5 -0,006 -0,043 0,106 0,048 0,000 -0,027 0,016 0,005 0,011 -0,011
6 -0,003 -0,030 0,119 0,055 -0,013 -0,030 0,002 0,018 0,029 0,008
7 0,010 -0,010 0,101 0,069 0,000 -0,016 0,000 0,048 0,048 -0,016
8 0,029 -0,003 0,114 0,125 0,002 -0,014 0,002 0,040 0,061 0,003
9 -0,048 -0,022 0,107 0,134 0,016 -0,042 -0,005 0,032 0,053 0,032
10 0,035 0,018 0,125 0,157 0,008 -0,003 0,008 0,051 0,077 -0,014
11 0,027 -0,016 0,059 0,122 0,010 -0,027 0,010 0,032 0,064 -0,021
12 0,056 -0,003 0,088 0,151 0,055 -0,014 -0,025 0,045 0,072 -0,008
13 0,043 -0,010 0,123 0,165 0,042 -0,011 0,000 0,064 0,058 -0,010
14 0,061 0,019 0,152 0,162 0,055 -0,035 0,002 0,056 0,061 0,008
15 0,027 -0,006 0,187 0,192 0,038 -0,026 0,000 0,064 0,064 0,010
16 0,024 0,007 0,200 0,237 0,019 -0,060 0,013 0,083 0,077 -0,003
17 0,048 -0,032 0,176 0,282 0,022 -0,016 0,021 0,101 0,112 -0,011
18 0,023 -0,037 0,166 0,273 0,023 -0,025 0,011 0,075 0,093 0,002
19 -0,009 -0,052 0,161 0,269 0,029 -0,030 0,001 0,081 0,109 -0,024
20 -0,018 -0,057 0,135 0,276 0,036 -0,007 -0,025 0,082 0,106 -0,033
21 -0,032 -0,058 0,144 0,288 0,037 -0,011 -0,048 0,064 0,117 -0,042
22 -0,041 -0,063 0,128 0,295 0,055 -0,004 -0,053 0,054 0,108 -0,051
23 -0,046 -0,062 0,118 0,301 0,018 0,002 -0,063 0,055 0,114 -0,061
24 -0,039 -0,056 0,087 0,308 0,020 0,015 -0,057 0,066 0,110 -0,054
25 -0,090 -0,096 0,080 0,320 -0,005 -0,005 -0,096 0,064 0,112 -0,080
26 -0,131 -0,096 0,054 0,301 -0,004 -0,014 -0,106 0,012 0,076 -0,089
27 -0,157 -0,122 0,050 0,301 -0,008 -0,040 -0,132 0,002 0,056 -0,105
28 -0,262 -0,142 0,040 0,308 -0,001 -0,033 -0,152 -0,003 0,052 -0,098
29 -0,352 -0,165 0,048 0,298 0,000 -0,028 -0,187 0,010 0,043 -0,096
30 -0,409 -0,175 0,022 0,273 0,001 -0,031 -0,213 -0,005 0,029 -0,100
31 -0,477 -0,201 -0,004 0,274 -0,003 -0,062 -0,239 -0,004 0,035 -0,083
32 -0,572 -0,211 -0,009 0,286 0,036 -0,092 -0,260 -0,004 0,026 -0,087
Tabela 40: Exercício nº 5 - 90bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. Para geração das médias de desvio temporal ocorrido no ataque dos sons do violão, estes
valores foram previamente transformados em números absolutos (apenas números positivos).
338
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 5_105bpm_inicial Exercício nº 5_105bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 0,065 -0,005 0,032 0,023 0,032 0,027 -0,096 -0,014 0,016 -0,021
2 0,068 -0,034 0,019 0,014 -0,007 0,009 -0,103 0,003 0,003 0,009
3 0,070 -0,032 0,022 0,016 0,006 0,016 -0,107 0,016 -0,005 -0,011
4 0,046 -0,029 -0,018 -0,002 0,025 0,014 -0,098 0,004 -0,028 0,008
5 0,064 -0,043 0,021 -0,032 0,032 0,000 -0,101 0,016 -0,027 0,005
6 0,019 -0,050 0,008 -0,018 0,040 0,003 -0,076 0,014 -0,045 0,003
7 0,011 -0,027 0,021 -0,021 0,037 -0,005 -0,064 0,042 -0,037 0,011
8 0,041 -0,013 0,025 0,019 0,073 -0,002 -0,029 0,035 -0,023 0,030
9 0,006 -0,011 0,037 0,022 0,054 -0,002 -0,016 0,016 -0,042 0,048
10 0,020 -0,002 0,041 0,036 0,046 -0,018 -0,002 0,009 -0,023 0,019
11 0,010 -0,006 0,038 0,016 0,000 -0,016 0,006 -0,005 -0,042 0,016
12 0,014 -0,002 0,036 0,030 0,009 -0,018 0,004 -0,012 -0,044 0,014
13 0,000 -0,016 0,037 0,037 -0,011 -0,016 -0,011 0,005 -0,038 -0,011
14 -0,007 -0,007 0,014 0,041 -0,002 -0,023 -0,013 0,019 -0,029 -0,002
15 -0,032 -0,016 0,038 0,075 -0,016 -0,026 -0,022 0,037 -0,016 -0,016
16 -0,029 0,004 0,062 0,131 0,019 -0,002 -0,008 0,014 -0,007 -0,002
17 -0,022 0,005 0,102 0,176 0,022 0,032 -0,043 0,022 0,027 -0,016
18 -0,023 0,004 0,079 0,154 0,031 0,025 -0,065 -0,011 0,005 -0,017
19 -0,050 -0,002 0,073 0,142 0,025 0,014 -0,082 -0,012 0,004 -0,024
20 -0,035 -0,003 0,051 0,120 0,008 0,018 -0,099 -0,024 -0,013 -0,035
21 -0,054 -0,016 0,016 0,112 0,000 0,011 -0,101 -0,037 -0,038 -0,043
22 -0,055 -0,017 -0,001 0,084 -0,017 0,015 -0,113 -0,022 -0,065 -0,054
23 -0,056 -0,034 -0,034 0,078 -0,019 -0,023 -0,124 -0,039 -0,082 -0,066
24 -0,062 -0,024 -0,072 0,055 -0,041 -0,024 -0,125 -0,040 -0,115 -0,088
25 -0,155 -0,074 -0,107 0,048 -0,053 -0,048 -0,155 -0,048 -0,128 -0,096
26 -0,209 -0,097 -0,118 0,004 -0,065 -0,038 -0,167 -0,038 -0,172 -0,113
27 -0,269 -0,151 -0,162 -0,018 -0,061 -0,060 -0,189 -0,039 -0,183 -0,130
28 -0,318 -0,157 -0,158 -0,024 -0,078 -0,077 -0,217 -0,024 -0,206 -0,131
29 -0,357 -0,186 -0,155 -0,048 -0,075 -0,091 -0,256 0,000 -0,219 -0,122
30 -0,390 -0,219 -0,140 -0,075 -0,070 -0,097 -0,262 0,004 -0,236 -0,107
31 -0,450 -0,284 -0,183 -0,103 -0,098 -0,120 -0,311 0,003 -0,237 -0,114
32 -0,504 -0,312 -0,179 -0,072 -0,078 -0,158 -0,328 -0,003 -0,291 -0,083
Tabela 41: Exercício nº 5 - 105bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão.
339
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 5_120bpm_inicial Exercício nº 5_120bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 0,064 0,059 0,034 0,032 -0,048 0,027 0,043 0,015 -0,005 -0,004
2 0,037 0,010 -0,006 -0,011 -0,038 0,005 0,015 0,015 -0,022 -0,012
3 0,038 -0,021 0,027 0,021 -0,027 -0,006 -0,006 -0,043 -0,021 -0,011
4 0,005 -0,033 0,010 -0,022 -0,033 -0,012 -0,006 -0,049 -0,038 -0,017
5 0,000 -0,054 0,022 0,000 -0,022 -0,054 -0,021 -0,058 -0,043 -0,010
6 -0,012 -0,060 0,010 -0,011 -0,022 -0,038 -0,022 -0,032 -0,049 0,000
7 -0,006 -0,064 0,005 -0,005 0,016 -0,037 -0,021 -0,011 -0,043 0,016
8 0,020 -0,064 0,021 0,021 0,048 -0,022 -0,017 0,021 -0,022 0,042
9 0,022 -0,090 0,026 0,043 0,027 0,000 -0,037 0,021 -0,026 0,058
10 0,016 -0,070 0,031 0,047 0,005 -0,006 -0,022 0,021 -0,011 0,026
11 0,016 -0,096 0,038 0,042 -0,027 0,005 -0,038 0,010 -0,027 0,032
12 0,000 -0,081 0,042 0,036 0,010 0,004 -0,038 0,004 0,005 0,026
13 0,000 -0,096 0,048 0,070 -0,016 0,010 -0,042 0,006 -0,011 0,032
14 0,010 -0,081 0,037 0,074 -0,012 -0,012 -0,027 -0,006 -0,001 0,032
15 -0,016 -0,080 0,059 0,107 0,000 0,000 -0,037 -0,005 0,000 0,037
16 -0,012 -0,075 0,063 0,159 0,021 0,000 -0,038 -0,011 0,036 0,058
17 0,000 -0,106 0,069 0,197 -0,010 0,043 -0,027 0,000 0,064 0,010
18 -0,024 -0,120 0,023 0,189 -0,035 0,040 -0,035 -0,051 0,056 -0,009
19 -0,065 -0,155 0,004 0,159 -0,032 0,015 -0,065 -0,065 0,053 -0,001
20 -0,089 -0,169 -0,025 0,119 -0,051 0,023 -0,068 -0,078 0,039 -0,004
21 -0,122 -0,208 -0,048 0,096 -0,054 -0,015 -0,099 -0,102 0,011 -0,043
22 -0,136 -0,225 -0,056 0,077 -0,073 -0,003 -0,089 -0,089 -0,014 -0,067
23 -0,176 -0,246 -0,070 0,047 -0,086 -0,022 -0,113 -0,118 -0,054 -0,073
24 -0,190 -0,260 -0,067 0,012 -0,105 -0,029 -0,127 -0,084 -0,078 -0,092
25 -0,283 -0,320 -0,085 -0,021 -0,123 -0,047 -0,154 -0,117 -0,117 -0,098
26 -0,329 -0,345 -0,088 -0,061 -0,147 -0,067 -0,179 -0,099 -0,158 -0,125
27 -0,390 -0,401 -0,118 -0,091 -0,177 -0,118 -0,192 -0,134 -0,198 -0,150
28 -0,436 -0,415 -0,142 -0,126 -0,191 -0,127 -0,217 -0,110 -0,217 -0,147
29 -0,477 -0,458 -0,155 -0,155 -0,213 -0,138 -0,235 -0,107 -0,246 -0,165
30 -0,510 -0,493 -0,195 -0,184 -0,232 -0,147 -0,270 -0,094 -0,281 -0,179
31 -0,572 -0,555 -0,246 -0,241 -0,251 -0,177 -0,287 -0,097 -0,294 -0,187
32 -0,623 -0,598 -0,265 -0,270 -0,241 -0,211 -0,297 -0,089 -0,324 -0,164
Tabela 42: Exercício nº 5 - 120bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão.
340
Exercício nº 6
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 6_90bpm_inicial Exercício nº 6_90bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 0,010 -0,096 0,069 0,064 -0,006 0,032 -0,010 -0,023 -0,043 -0,007
2 0,007 -0,062 0,072 0,066 -0,019 0,013 -0,029 0,008 0,002 -0,009
3 0,005 -0,069 0,101 0,053 -0,005 0,000 -0,032 0,022 0,000 -0,037
4 0,018 -0,067 0,098 0,077 0,029 0,007 -0,035 0,045 -0,008 -0,030
5 0,043 -0,096 0,144 0,102 -0,011 -0,085 -0,043 0,048 -0,026 -0,032
6 0,019 -0,072 0,125 0,115 -0,041 -0,046 -0,019 0,066 -0,024 -0,003
7 0,011 -0,080 0,160 0,128 -0,027 -0,058 -0,010 0,080 -0,027 0,010
8 0,024 -0,057 0,173 0,162 -0,014 -0,067 -0,003 0,098 0,002 0,013
9 0,021 -0,064 0,128 0,160 -0,026 -0,070 -0,016 0,080 -0,027 0,021
10 0,008 -0,040 0,184 0,184 -0,008 -0,033 0,013 0,088 0,008 0,040
11 0,011 -0,042 0,181 0,176 0,006 -0,053 0,011 0,058 -0,010 0,022
12 0,040 -0,035 0,119 0,211 0,008 -0,030 0,029 0,055 0,003 0,035
13 0,042 -0,048 0,192 0,250 0,032 -0,021 0,022 0,043 -0,011 0,021
14 0,029 -0,019 0,205 0,237 -0,003 0,008 0,035 0,056 -0,019 0,029
15 0,048 -0,016 0,149 0,293 0,059 -0,022 0,042 0,070 -0,011 0,011
16 0,045 -0,008 0,152 0,365 0,034 -0,025 0,039 0,067 0,008 0,024
17 0,086 -0,032 0,133 0,427 0,026 0,011 0,032 0,037 0,027 0,027
18 0,071 -0,042 0,139 0,418 0,039 -0,004 0,033 0,032 0,018 0,023
19 0,035 -0,073 0,113 0,408 0,018 0,008 0,012 0,033 0,029 0,008
20 0,031 -0,094 0,098 0,410 -0,002 0,036 -0,014 0,039 0,042 0,020
21 0,006 -0,123 0,085 0,389 -0,011 0,022 -0,032 0,011 0,048 0,000
22 -0,025 -0,133 0,075 0,380 -0,052 0,013 -0,047 0,027 0,028 -0,020
23 -0,035 -0,186 0,082 0,359 -0,073 -0,003 -0,062 0,017 0,034 -0,019
24 -0,051 -0,212 -0,110 0,350 -0,098 -0,017 -0,078 -0,003 0,041 -0,023
25 -0,112 -0,261 -0,080 0,261 -0,122 -0,043 -0,102 -0,010 0,020 -0,037
26 -0,121 -0,293 -0,079 0,247 -0,147 -0,052 -0,106 -0,010 0,018 -0,036
27 -0,147 -0,361 -0,105 0,232 -0,136 -0,051 -0,122 -0,020 0,002 -0,051
28 -0,156 -0,419 -0,110 0,217 -0,113 -0,039 -0,121 -0,014 -0,007 -0,039
29 -0,171 -0,501 -0,139 0,224 -0,101 -0,037 -0,149 -0,011 0,006 -0,053
30 -0,212 -0,591 -0,149 0,210 -0,115 -0,057 -0,154 -0,005 -0,019 -0,062
31 -0,259 -0,649 -0,154 0,216 -0,104 -0,083 -0,164 -0,020 -0,029 -0,067
32 -0,401 -0,691 -0,153 0,212 -0,060 -0,119 -0,211 -0,004 -0,049 -0,076
Tabela 43: Exercício nº 6 - 90bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão. Para gerar as médias de desvio temporal ocorrido no ataque dos sons do violão, estes
valores foram previamente transformados em números absolutos (apenas números positivos).
341
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 6_105bpm_inicial Exercício nº 6_105bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 -0,003 0,022 -0,034 -0,106 -0,035 -0,005 -0,043 0,011 0,016 -0,021
2 -0,002 -0,002 -0,007 -0,130 -0,055 -0,018 -0,071 -0,002 0,020 -0,045
3 0,016 -0,005 0,016 -0,101 -0,037 -0,021 -0,080 -0,011 0,016 -0,043
4 0,009 -0,023 0,040 -0,124 -0,002 -0,018 -0,071 -0,013 0,009 -0,050
5 0,021 -0,043 0,064 -0,123 -0,016 -0,016 -0,054 -0,016 -0,027 -0,053
6 0,035 -0,034 0,056 -0,109 0,009 -0,018 -0,045 -0,018 -0,040 -0,050
7 0,027 -0,053 0,053 -0,101 0,011 -0,032 -0,032 -0,010 -0,043 -0,037
8 0,035 -0,045 0,067 -0,093 0,025 -0,008 -0,013 0,020 -0,018 -0,018
9 -0,021 -0,042 0,064 -0,122 0,016 -0,016 -0,032 0,010 -0,042 -0,043
10 0,009 -0,023 0,099 -0,092 0,041 -0,034 -0,007 0,024 -0,023 -0,039
11 0,000 -0,048 0,107 -0,102 0,021 -0,026 -0,010 0,026 -0,043 -0,016
12 0,040 -0,018 0,116 -0,077 0,056 -0,023 -0,018 0,040 -0,040 0,003
13 -0,037 -0,021 0,160 -0,053 0,069 -0,011 -0,011 0,043 -0,053 0,032
14 0,025 -0,013 0,174 -0,029 0,046 -0,002 -0,008 0,041 -0,055 0,030
15 0,011 -0,021 0,181 0,011 0,069 -0,006 -0,011 0,054 -0,048 0,016
16 0,009 -0,007 0,195 0,067 0,073 -0,008 -0,023 0,036 -0,023 0,040
17 0,026 -0,006 0,219 0,102 0,048 0,022 -0,048 0,048 -0,043 0,032
18 -0,012 -0,023 0,239 0,101 0,047 -0,011 -0,049 0,015 -0,071 0,026
19 -0,045 -0,061 0,206 0,089 0,040 -0,018 -0,050 0,008 -0,061 0,009
20 -0,062 -0,062 0,195 0,077 0,023 -0,013 -0,077 0,007 -0,078 0,002
21 -0,166 -0,080 0,160 0,048 0,032 -0,037 -0,069 -0,021 -0,086 -0,016
22 -0,204 -0,108 0,137 0,031 0,009 -0,054 -0,107 -0,054 -0,113 -0,001
23 -0,248 -0,210 0,110 0,008 0,003 -0,060 -0,103 -0,061 -0,130 -0,055
24 -0,286 -0,249 0,087 0,007 -0,051 -0,077 -0,120 -0,072 -0,147 -0,088
25 -0,368 -0,325 0,064 -0,032 -0,048 -0,091 -0,149 -0,058 -0,181 -0,102
26 -0,428 -0,358 0,041 -0,049 -0,054 -0,113 -0,150 -0,059 -0,204 -0,119
27 -0,498 -0,434 0,024 -0,109 -0,061 -0,125 -0,189 -0,066 -0,221 -0,120
28 -0,552 -0,462 0,013 -0,163 -0,043 -0,142 -0,195 -0,056 -0,227 -0,131
29 -0,597 -0,533 -0,016 -0,197 -0,053 -0,171 -0,219 -0,080 -0,256 -0,118
30 -0,630 -0,561 -0,209 -0,230 -0,081 -0,198 -0,252 -0,081 -0,299 -0,151
31 -0,716 -0,642 -0,253 -0,242 -0,066 -0,237 -0,253 -0,108 -0,316 -0,178
32 -0,851 -0,707 -0,243 -0,275 -0,104 -0,334 -0,302 -0,131 -0,323 -0,201
Tabela 44: Exercício nº 6 - 105bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão.
342
S o n s
DESVIO TEMPORAL NO ATAQUE DOS SONS (ação da mão direita)
Exercício nº 6_120bpm_inicial Exercício nº 6_120bpm_final
GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08 GUIT04 GUIT05 GUIT06 GUIT07 GUIT08
1 0,027 -0,016 0,034 -0,021 -0,009 0,005 0,048 0,015 0,006 0,042
2 0,005 -0,022 -0,016 -0,059 -0,006 -0,006 0,037 0,005 0,010 0,015
3 0,005 -0,058 0,016 -0,054 -0,016 0,005 0,032 -0,022 0,021 0,011
4 -0,001 -0,064 0,026 -0,076 0,005 -0,001 0,015 -0,017 -0,001 0,010
5 -0,016 -0,074 0,016 -0,058 0,000 -0,006 -0,005 -0,010 0,005 0,032
6 -0,017 -0,064 -0,001 -0,054 -0,027 -0,022 -0,011 0,005 -0,006 0,026
7 -0,021 -0,069 0,022 -0,053 -0,006 -0,032 -0,016 0,011 0,005 0,032
8 -0,016 -0,054 0,032 -0,063 0,015 -0,016 -0,022 0,021 -0,006 0,026
9 -0,053 -0,075 0,027 -0,192 -0,006 -0,011 -0,053 0,021 -0,010 0,032
10 -0,027 -0,038 0,042 -0,150 0,004 -0,011 -0,022 0,015 0,032 0,031
11 0,000 -0,074 0,032 -0,144 0,022 -0,016 -0,016 0,021 0,016 0,038
12 0,042 -0,054 0,042 -0,161 0,026 -0,006 -0,033 0,031 0,026 0,053
13 0,021 -0,058 0,064 -0,149 0,043 -0,022 -0,032 0,038 0,037 0,053
14 0,015 -0,054 0,036 -0,144 0,037 -0,022 0,000 0,037 0,042 0,042
15 0,006 -0,037 0,048 -0,123 0,021 -0,016 0,016 0,037 0,058 0,034
16 0,021 -0,027 0,053 -0,097 0,028 -0,027 0,015 0,031 0,079 0,020
17 0,016 -0,032 0,096 -0,107 0,032 -0,010 -0,016 0,048 0,080 0,021
18 -0,013 -0,062 0,077 -0,131 0,034 -0,035 -0,008 0,024 0,061 -0,014
19 -0,048 -0,108 0,037 -0,155 0,020 -0,049 -0,026 0,010 0,037 -0,001
20 -0,051 -0,132 -0,025 -0,185 0,007 -0,046 -0,041 -0,009 0,013 -0,031
21 -0,096 -0,167 -0,096 -0,214 -0,026 -0,086 -0,048 -0,063 -0,011 -0,048
22 -0,126 -0,205 -0,136 -0,249 -0,045 -0,115 -0,089 -0,091 -0,062 -0,093
23 -0,166 -0,224 -0,177 -0,289 -0,059 -0,145 -0,086 -0,092 -0,091 -0,107
24 -0,201 -0,276 -0,222 -0,335 -0,121 -0,196 -0,116 -0,132 -0,137 -0,153
25 -0,288 -0,349 -0,283 -0,389 -0,138 -0,226 -0,133 -0,144 -0,192 -0,187
26 -0,350 -0,387 -0,318 -0,419 -0,179 -0,213 -0,141 -0,131 -0,232 -0,232
27 -0,422 -0,459 -0,353 -0,512 -0,187 -0,273 -0,160 -0,166 -0,278 -0,251
28 -0,447 -0,473 -0,388 -0,649 -0,195 -0,281 -0,174 -0,163 -0,308 -0,270
29 -0,512 -0,533 -0,437 -0,763 -0,203 -0,320 -0,194 -0,181 -0,347 -0,278
30 -0,568 -0,590 -0,486 -0,824 -0,254 -0,360 -0,227 -0,227 -0,414 -0,339
31 -0,656 -0,651 -0,507 -0,870 -0,273 -0,395 -0,235 -0,289 -0,438 -0,380
32 -0,798 -0,713 -0,569 -0,905 -0,329 -0,499 -0,265 -0,324 -0,505 -0,409
Tabela 45: Exercício nº 6 - 120bpm. Grau de desvio temporal no ataque dos sons do violão.