imprevisto - e tu que novidade trazes?

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E tu, que novidade trazes? PRÉ-MEETING A FORÇA DA GRATUIDADE LANÇAMENTO MLX “A MÍSTICA COM QUE QUEREMOS VIVER O DIA-A-DIA” AURA MIGUEL “A CRIATIVIDADE QUE PODE NASCER QUANDO ARRISCAMOS” 15 DE MARÇO DE 2016 - 1º DIA DO MEETING LISBOA // TENDA DO CENTRO CULTURAL DE BELÉM MILLET “VEJO MUITO MAIS DO QUE ENCANTOS” IMPREVISTO

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Tudo sobre o 1ºdia de Meeting Lisboa

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Page 1: Imprevisto - E tu que novidade trazes?

E tu, que novidade trazes?

PRÉ-MEETING A FORÇA DA

GRATUIDADE

LANÇAMENTO MLX “A MÍSTICA COM QUE

QUEREMOS VIVER O DIA-A-DIA”

AURA MIGUEL “A CRIATIVIDADE QUE PODE

NASCER QUANDO ARRISCAMOS”

15 DE MARÇO DE 2016 - 1º DIA DO MEETING LISBOA // TENDA DO CENTRO CULTURAL DE BELÉM

MILLET “VEJO MUITO MAIS DO QUE

ENCANTOS”

IMPREVISTO

Page 2: Imprevisto - E tu que novidade trazes?

“Posso dizer que o que faz mover a minha arte é o humano, o valor da humanidade” Para fugir a uma epidemia de cólera, Jean-François Millet pintor francês do século XIX, muda-se com a família para Barbizon, no sul de França, estadia que ia ser pro-visória e será definitiva. Atraído pela vida do campo e pela fadiga diária dos camponeses, Milet faz uma viagem ao âmago da experiên-cia humana de quem trabalha, pintada em cores e jogos de luz que revelam o momento do dia, o empenho, o cansaço, o incrível quotidiano dos trabalhadores mais hu-mildes, os do campo. Millet não pinta o trabalho, pinta o homem que trabalha. Não faz retrato, interessa-lhe a posição humana de quem se enfrenta com a inexorável realidade da natureza, com os seus ritmos, que ditam e exigem um trabal-ho a ser feito. Grita em surdina nos seus

quadros a humilde obediência ao que existe, o silencioso e cuidado repetir de gestos poderosamente necessários, pintados com uma delicadeza e uma inteligência do hu-mano, onde se misturam a lucidez e o pudor, a crueza e a ternura. A exposição desenrola-se em três etapas: O lado humano do trabalho Millet dirá sobre o que pinta: “Sob pena de passar ainda mais por socialista, é o lado humano, puramente humano, o que mais me interessa na arte(…) E nunca é o lado alegre que aparece; não sei onde está e nun-ca o vi. Aquilo que conheço de mais alegre é esta calma, este silêncio que nos alegra tão intimamente no interior da floresta ou nos campos lavrados.” Vemos semeadores com os seus braços fortes, mulheres curvadas e decidias sob enormes fardos de lenha e o famoso vin-

hateiro sentado, onde o cansaço e a pergun-ta humana têm uma expressão que quase fala connosco. O drama envolto em esplendor “Dizem-me que não vejo os encantos do campo. Vejo muito mais do que encantos, infinitos esplendores”. Nesta parte da ex-posição, é toda a beleza do trabalho cam-ponês e da terra por ele trabalhada que se nos apresenta. Destaca-se o famoso “An-gelus”, cheio de silêncio e mistério. O trabalho das Mães É o Millet, Pai de nove filhos, que aqui descreve o vigor e a doçura das Mães cam-ponesas. “A beleza não habita no rosto, mas irradia do conjunto da pessoa e da sua ac-tividade (…) Quando pinto uma Mãe, procuro fazê-la bela só pelo olhar que pousa no seu filho”. E são belas e únicas as Mães de Millet, enquanto dão de comer aos seus filhos, vigiam o seu sono ou ensinam a trico-tar. Pai Millet Era assim que Van Gogh chamava a Milet. A exposição termina com um belíssimo diálo-go de quadros entre os dois pintores. No fim percebemos um percurso que re-sponde ao juízo de Charles Péguy, logo no início: “A falta de amor geral pelo trabalho é o defeito mais profundo do mundo moder-no”. Millet faz despertar em nós um princí-pio de afeição pela experiência do trabalho, que sacode essa ferida do mundo moderno. É o êxito desta exposição. Além da compan-hia que a beleza nos faz.

Começa hoje a IV edição do Meeting Lisboa e com ela nasce o Imprevisto, o jornal diário que vai contar o que se passa por estes dias na Tenda do CCB. E de imprevistos está cheia a história do Meeting. No Ano da Fé, Bento XVI lançou à Igreja o desafio de promover iniciativas que manifes-tassem as razões da Fé. Nesse sentido alguns amigos de Comunhão e Libertação começaram a preparar uma exposição sobre a razoabilidade da Fé, para apresentar nas Faculdades de Lisboa. Surgiu a oportu-nidade de lançar a exposição na Arena do Campo Pequeno, durante três dias em No-vembro de 2012. Conseguiu-se assim juntar

à exposição um auditório para encontros e uma pequena esplanada, rodeada de bancas livreiras, de artesanato, vinhos e outros. Nascia o “Meeting pela Fé”. As cerca de 4 mil pessoas que por lá pas-saram puderam percorrer a exposição "Fé: o grande método da Razão.", e assistir a vários encontros. Os visitantes diziam “para o ano podiam fazer isto”, ou “para o ano têm de convidar fulano tal”. Crescia assim expec-tativa de repetir a experiência. Criou-se a “ACML – Associação Cultural Meeting Lis-boa” com o objectivo de promover um even-to semelhante todos os anos. E assim foi: “Sejam realistas. Peçam o impossível”, foi

título que guiou a II edição. No centro estava a redescoberta do desejo que move o coração do Homem. E a III edição, já na tenda do CCB, nasceu com uma pergunta: “Se a felici-dade não existe, então o que é a vida?”. A intuição de quem começou esta história tem sido confirmada e redescoberta através dos voluntários que aumentam a cada ano.

Meeting Lisboa QUATRO ANOS DE HISTÓRIA BERNARDO CARDOSO

Um drama envolto em esplendor “VEJO MUITO MAIS DO QUE ENCANTOS” MADALENA FONTOURA

“A fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo”

Bento XVI, PP., in Porta Fidei

“A beleza não habita no rosto, mas irradia do conjunto da pessoa e da sua actividade”

Page 3: Imprevisto - E tu que novidade trazes?

“Quando estamos muito agradecidos damos. Só sou capaz de trabalhar com gra-tuidade porque uma coisa maior me aconte-ceu. Estou tão cheia de alegria e de coisas para contar que não consigo guardar para mim e tenho de contar aos outros.” As palavras da Catarina, envolvida desde o início do projecto, expressam bem o ambi-ente que encontrei na quarta-feira ao entrar na tenda do Meeting Lisboa. Ouvem-se serras, martelos e brocas. Bar-rotes de madeira são levados de um lado para o outro. Ainda há muito a fazer; na realidade quase tudo ainda está por fazer. O espaço das bancas ainda está por montar, bem como a zona de refeições. As ex-posições ainda são estaleiros. O ambiente é de descontracção e boa disposição, o que poderia ser estranho, tendo em conta que o espaço tem que estar inteiramente montado e limpo até sexta-feira às cinco. O que os leva a abraçar o risco de montarem um acontecimento desta dimensão sem medo? Todos estão ali para responder a um desafio lançado por amigos. O Rodrigo, 22 anos, afirma que ser voluntário no Meeting “é uma coisa bonita de se fazer com os amigos”. A Rita, o Bruno, a Matilde, a Beat-riz e o Ricardo, com idades entre os 15 e os 18 anos, foram desafiados pelo Pe. Paolo e pelo professor Miguel a construir a ex-posição “Katniss”, pensada e idealizada por alguns dos seus amigos, e sentem-se felizes por poder dar forma material a uma ideia que também sentem como deles. A força criadora de uma amizade levada a sério é, de facto, o motor de toda esta exper-iência. A ideia desta exposição nasceu de uma ida ao cinema. Katniss é a personagem principal do filme Hunger Games. Para estes amigos os caminhos para uma vida

levada a sério encontram-se através das experiências banais. A provocação que este filme causou em todos é a origem da ex-posição. “É um trabalho feito por todos” diz o Miguel. “Olhares diferentes que se com-plementam e que permitem ir mais longe. Estes meses de trabalho foram de novidade contínua. O Meeting é “um lugar onde cul-mina um trabalho de busca da verdade das coisas em muitas dimensões”, remata. E acrescenta o Pe. Paolo: “não queremos ser espectadores, queremos ser protagonistas. Dar tempo e energia. Queremos ter a possi-bilidade de encontrar alguém com quem dialogar acerca do trabalho e experiência feitas”.

Pedro, arquitecto do Meeting, trabalhou ao longo de todo o ano na sua preparação. En-quanto falamos vai serrando barrotes de madeira. “O desafio de amigos é o que me faz vir, mas o que acontece aqui tem de-masiado a ver comigo para não colaborar na construção. O Meeting é um ponto de en-contro, como o próprio nome indica; mas é um encontro que extravasa os limites da nossa amizade. Percebe-se que é uma coisa feita por pessoas que têm algo em comum e o querem mostrar à sociedade em geral. É a oportunidade de encontro com outras pes-soas, é um lugar de provocação. A experiên-

cia que estou a ter está a ser totalmente nova relativamente aos anteriores Meetings e portanto é a verificação que de facto há sempre uma novidade. Aquilo que eu exper-imento é a maior novidade que eu trago. Este ano tenho uma maior certeza e confi-ança no trabalho que está a ser feito, fruto da experiência dos anos anteriores. Esta tranquilidade é em si uma novidade. Deus está mesmo metido no meio disto!” Para a Catarina a fidelidade que manteve ao longo do ano nas reuniões de preparação do Meeting justifica-se pela “possibilidade de comunicar alguma coisa que se tem na vida, tão grande e bonita que se consegue ver em todos os aspectos da realidade e que ilumina e inunda a vida toda. O Meeting nasce de um grupo de amigos que leva a vida a sério e que permite descobrir que a violência não tem a última palavra e que a realidade é positiva, mesmo que haja atentados em Paris. Quem visitar o Meeting pode encon-trar alguma coisa da mesma natureza daqui-lo que eu encontrei. Ao longo do ano fomos sendo ajudados por pessoas que não sabem nada do que é o Meeting, que apenas têm um vislumbre daquilo que pode ser”. Foi este vislumbre que levou à Tenda do CCB a centena de voluntários - que con-struíram exposições, que traziam cerveja para aliviar o cansaço, que saíam do es-critório para vir dar uma mão nas pinturas, que vinham trazer o jantar - que durante três dias construíram o Meeting.

Pré-Meeting A FORÇA DA GRATUIDADE JOANA ABECASIS CORREIA

“Aquilo que eu ex-perimento é a maior novidade que trago”

“É um encontro que extravasa os limites da nossa amizade”

Page 4: Imprevisto - E tu que novidade trazes?

Antes da chegada do prato principal, servi-do a partir de hoje na tenda do Centro Cul-tural de Belém, a entrada do Meeting Lisboa 2016 foi servida a 2 de Abril, num jantar-concerto no Vitaminas & Sabores. Mateus Alves, presidente do Conselho de Administração da Uniself, proprietária da-

quele restaurante, disse ao Imprevisto ter aderido “desde a primeira hora à iniciativa do Meeting”, que considera ser fundamental por criar “algo que falta muito na sociedade de hoje: momentos de convívio”. E pergun-tado sobre porque decidiu ajudar não hesi-ta: “esta forma de estar, em que não nos move só o lucro, leva a que o trabalho corra de outra maneira e isso diz muito da mística com que queremos viver o dia-a-dia”. À generosidade de Mateus Alves juntou-se a disponibilidade da Carmo, da Leonor e da Menas – as Tri.Go – que deram o tempo e a voz necessárias para pôr uma sala de 200 pessoas, dos oito aos oitenta, a cantar desde António Zambujo a Mumford & Suns, pas-sando por Da Vinci . Mais do que a pompa do serviço ou o con-forto da sala, a preocupação de quem orga-nizou era só uma. “As pessoas estão conten-tes, não estão?”, pergunta Aura Miguel a outro dos membros da organização, a cami-nho do buffet. Para os convidados é preci-samente a alegria o que mais impressiona: “Elas cantam muito bem, mas o mais giro é que estão mesmo felizes a cantar!”, comenta um dos presentes, que veio pela primeira vez e tinha acabado de conhecer o Meeting.

Minutos antes de entrar para um concerto, à entrada dos jardins da Gulbenkian, a presidente da Associação Cultural Meeting Lisboa falou ao Imprevisto sobre o tema deste ano: “Escolhemos uma pergunta para nos obrigar a pensar, porque temos a tendência de criar o nosso círculo de pro-tecção, de nos darmos só com aqueles que tendencialmente pensam como nós. Este tema é justamente para alargarmos o hori-zonte! Assim, por exemplo, se há um outro que se cruza na minha vida duma maneira inesperada (como está a acontecer com os refugiados, ou mesmo no trabalho, na pes-soa com que embirramos mais!), esse out-ro, se está ao meu lado tem alguma razão de ser!”. E sobre a IV Edição do Meeting acrescenta: “Temos um programa muito diversificado, porque a novidade encontra-se nos mais variados sectores, entre as mais variadas idades!” A disponibilidade de coração para acolher o outro começa na própria equipa que, meses antes, prepara o Meeting Lisboa. Dela fazem parte tanto jovens trabalhadores

como profissionais com carreira feita e nome na praça. São advogados, engen-heiros, arquitectos e professores que, querendo acompanhar o desejo de felici-dade de cada Homem, põem em comum o seu tempo livre, o seu talento e o seu feitio, para construir o Meeting: um lugar de en-contro entre os homens. Para Aura Miguel, “construir o Meeting é uma aventura em companhia. Temos a certeza que o nosso coração pede mais e estamos juntos para levantar esta questão e comunicá-la a todos os que quiserem vir ao Meeting Lisboa”. Sobre a história que o Meeting tem vindo a fazer diz-nos ainda que “é muito fascinante porque começamos a ver os resultados, para além do que podíamos imaginar ou conceber. E tem sido assim nos últimos 4 anos! Este ano ainda é mais evidente porque com um tema destes – E tu, que novidade trazes? – que, de certo modo, é um tema muito actual para o nosso contex-to, no país, na Europa, e até no mundo in-teiro. Temos a tendência para nos fechar-mos e, de repente, aventurarmo-nos num

encontro de 3 dias à volta deste tema é muito gratificante. Fico muito fascinada com a criatividade que pode nascer quando arriscamos.”

Ficha Técnica // Associação Cultural Meeting Lisboa - www.meetinglisboa.org, Redacção: Bernardo Cardoso, Inês Avelar, Joana Abecasis Correia, Madalena Fontoura, Madalena Lage, Manuel M.ª Saraiva, Martim Ferreira, Pedro Marques Abreu. Edição e Grafismo: Manuel M.ª Saraiva. Fotografia: Nicola Clivati. Impressão: Zoomcópia - www.zoomcopia.net

“Construir o Meeting é uma aventura em companhia.” AURA MIGUEL AO IMPREVISTO INÊS AVELAR

“Estão contentes, não estão?” FOI ASSIM O LANÇAMENTO DO MEETING LISBOA 2016 INÊS AVELAR

“A criatividade que pode nascer quando arriscamos.”

“A mística com que queremos viver o dia-a-dia”