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Importância das Atividades Práticas – Vieira, Oliveira, Silva, Vieira e
Araújo
89 Revista Diálogos – mr./abr. – 2017 – n.° 17
Importância das Atividades Práticas Simples no Ensino de
Ciências Naturais: Estudo de Caso em Escola de Lajedo/Pe d.o.i. 10.13115/2236-1499.v1n17p89
Leandro da Rocha Vieira- UPE1
Rogério Ferreira de Oliveira - UPE2
Josefa Inayara dos Santos Silva - UPE3
Alexandre Gomes Teixeira Vieira - UPE4
Marina de Sá Leitão Câmara de Araújo - UPE5
Resumo: A relação teoria-prática é fundamental no ensino de
Ciências Naturais. Esta pesquisa tem como objetivo sugerir
práticas simples, que poderão ser utilizadas por professores mesmo
em escolas onde não há laboratório de Ciências, além de avaliar a
importância do uso dessas atividades no processo de ensino-
aprendizagem. A pesquisa foi feita no Ensino Fundamental II (6º
ao 9º ano) da Escola Cinderela, na rede particular do município de
1 Licenciado em Ciências Biológicas, especialista em Gestão Ambiental, pós-
graduando em Ensino da Biologia- UPE, Campus Garanhuns. e-mail:
2 Licenciado em Ciências Biológicas, especialista em Gestão Ambiental- UPE,
Campus Garanhuns. e-mail: [email protected]
3 Estudante de Licenciatura em Ciências Biológicas- UPE, Campus Garanhuns.
e-mail: [email protected]
4 Laboratório de Zoologia - UPE, Campus Garanhuns. e-mail:
5 Professora do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas - UPE, Campus
Garanhuns. e-mail: [email protected]
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Lajedo-PE, entre os meses de fevereiro a setembro de 2013. Ao
término da realização de oito atividades práticas, sendo duas em
cada turma, os estudantes responderam a formulários, onde foi
possível fazer uma análise quantitativa, ficando em evidência a
contribuição positiva de tais atividades para o aprendizado em
Ciências Naturais. Os alunos demonstram a dificuldade em
aprender ciências apenas de forma teórica, sendo que para eles,
esse tipo de atividade faz com que as aulas fiquem mais
interessantes. No que diz respeito à contribuição das atividades
práticas no aprendizado em ciências, 98,7% dos alunos
responderam que esse tipo de atividade facilita a aprendizagem da
disciplina, o que confirma as teorias de especialistas em Ensino de
Ciências, que julgam que as aulas práticas favorecem o
desenvolvimento de conceitos científicos. Palavras-chave: Aprendizagem; Ciências Naturais; ensino; estudante;
práticas.
Abstract: The relationship between theory and practice is essential
in the teaching of Natural Sciences. Despite being consensus
among teachers the importance of practical activities such as
teaching methodology, many report the difficulties in carrying out
such activities, such as lack of materials or the small hours of the
discipline of science. However, many practical activities can be
done in the classroom itself, with low-cost materials. Thus, this
research aims to suggest simple practices that can be used by
teachers even in schools where there is no science lab, and to
evaluate the importance of using these activities in the teaching-
learning process to develop the critical skills and investigative to
help students understand the reality. The research was done in
Elementary Education II (6th to 9th grade) School of Cinderella, in
particular network Lajedo-PE district, between the months of
February to September 2013. At the end of the day eight practical
activities, two in each class, students answered forms, where it was
possible to make a quantitative analysis, getting highlighted the
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positive contribution of such activities for learning in Natural
Sciences. Especially in the early Teaching Elementary II series,
students demonstrate the difficulty in
Keywords: Learning; Natural Sciences; teaching; student;
practices.
1.Introdução
No ensino de Ciências Naturais, é preciso que haja uma
relação entre a teoria e a prática, entre o conhecimento científico e
o senso comum. Atividades práticas podem ser grandes aliadas no
momento de apresentar um assunto, reforçá-lo ou torná-lo mais
significativo. Ela pode ser uma prática investigativa ou dirigida,
ambas apresentam contribuição à aprendizagem (CARDOSO,
2013). Para Oliveira et al. (2015), as atividades práticas são
essenciais na relação ensino aprendizagem, principalmente em
disciplinas como as Ciências, Química e Biologia.
Isto torna-se importante, pois a disciplina de Ciências
Naturais é vista pelos estudantes como uma ciência experimental,
articulada a pressupostos teóricos e a realização de experimentos é
vista como um método de ensino-aprendizagem muito eficaz
(KOVALICZN, 1999). Portanto é de grande necessidade a
utilização de variados métodos para o bom desenvolvimento do
processo ensino-aprendizagem, fazendo uma interação de
conteúdos teóricos estudados em sala de aula, os pré-existentes
trazidos da vivência do aluno e na formulação de novos
conhecimentos, notando assim que as atividades práticas são
excelentes alternativas.
É inquestionável a contribuição das atividades
práticas no ensino de Ciências Naturais (SMITH, 1998). No
entanto, o aspecto formativo dessas atividades tem sido
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negligenciado, muitas vezes, ao caráter superficial, mecânico e
repetitivo em detrimento aos aprendizados teórico-práticos que se
mostrem dinâmicos, processuais e significativos (SILVA;
ZANON, 2000). Leite (2014) afirma que “o aprendizado deve ter
algum sentido prático para o aluno e não ser apenas repasse de
informações sem sentido para o educando.” O que verdadeiramente
se busca com o ensino de Ciências é um aluno sendo
convenientemente iniciado no mundo das ciências de forma que
este produza saber científico voltado para a busca de melhoria de
vida neste planeta (LUZ; MARQUES, 1989).
Ter um aluno com consciência crítica só é possível quando
ele tem oportunidade de pensar, questionar, criar, formular
hipóteses obtendo as respostas dessas hipóteses. Para que isso
ocorra, é necessário que o educador saiba ministrar aulas práticas
com seus alunos. A ciência é uma troca irredutível entre o
experimento e a teoria, e assim, a separação total entre experimento
e teoria não é desejável nem possível (MILLAR, 1987). Desta
forma, a função do experimento é complementar a teoria científica,
tornando-a um aprendizado significativo para o estudante.
Sabendo-se da importância do uso de atividades
experimentais para uma melhor compreensão dos fenômenos da
natureza, que constituem o foco do ensino da disciplina de
Ciências Naturais, este trabalho tem como objetivo, na Escola
Cinderela, Lajedo-PE: (1) Sugerir práticas simples, muitas delas
com materiais de baixo custo, que possam ser utilizadas por
professores mesmo em escolas onde não exista laboratório; (2)
Avaliar a importância do uso dessas atividades no processo de
ensino-aprendizagem desenvolvendo a capacidade crítica e
investigativa e (3) Avaliar se o experimento realizado em sala de
aula desperta o interesse do aluno pela disciplina de Ciências
Naturais.
2. Metodologia - Área de Estudo
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Para execução desse trabalho foi realizada uma
pesquisa com as turmas do Ensino Fundamental II (6º ao 9º Ano)
da Escola Cinderela, na rede particular de ensino do município de
Lajedo-PE, o qual tem sua sede sob coordenadas
08º39'49" S e 36º19'12" O, localizado na mesorregião do Agreste
pernambucano. De acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, 2010), Lajedo possui uma população de 33.628
habitantes, abrangendo uma área de 189,09 km², clima semiárido e
temperatura média anual em torno dos 25°C.
Lajedo fica distante 196 km de Recife, capital
pernambucana, está inserido na unidade geoambiental do Planalto
da Borborema, com relevo suave e ondulado. É a cidade mais
jovem da região Agreste e seu nome se deriva dos lajeiros
existentes nas suas proximidades, medindo uma área de dois
hectares, chamados “Caldeirões”, servindo para abastecer de água
temporariamente à população (IBGE, 2010).
Figura 1 – Localização da Escola Cinderela no município de Lajedo, Agreste de
Pernambuco.
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Fonte: VIEIRA, A. G. T. V.
A Escola Cinderela está situada na Avenida João Paulo
II, nº 216. Pertencente à rede privada, a instituição apresenta um
corpo docente de 42 professores e 788 estudantes, sendo 140 na
Educação Infantil, 604 no Ensino Fundamental e 44 no Ensino
Médio. No que diz respeito à estrutura física, a escola possui 24
salas de aula, biblioteca, auditório, cantina, sala de professores,
secretaria, sala de direção, pátio, piscina, entre outros.
Figura 2 - Escola Cinderela. Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio.
Fonte: VIEIRA, L. R.
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3.Materiais e Métodos
Para execução desse trabalho foram realizadas oito
atividades práticas simples, sendo duas em cada turma do Ensino
Fundamental II: 6º Ano (28 estudantes, dos quais 24 participaram
das atividades), 7º Ano (21 estudantes, dos quais 19 participaram
das atividades), 8º Ano (20 estudantes- todos participaram das
atividades) e 9º Ano (21 estudantes, dos quais 20 participaram das
atividades). Estas atividades ocorreram entre os meses de fevereiro
a setembro de 2013, no período vespertino, quinzenalmente, de
forma que a cada mês uma turma vivenciava tais atividades. Ao
término das atividades, os estudantes responderam aos formulários.
Tabela 1 - Tabela com descrição das atividades práticas realizadas em cada
turma:
Série Atividade
prática
realizada
Conteúdo/
Objetivos
Materiais/
Procedimentos
Resultados
esperados
6º Ano-1 Observação
dos tipos de
solo
Tipos de solo
-Diferenciar os
tipos de solo;
-Reconhecer a
composição do
solo arenoso e do
solo argiloso.
2 funis;
Areia;
Argila;
Água;
-Colocar a areia em
um funil e a argila
no outro e, aos
poucos, ir
colocando água nos
funis.
Espera-se que os
estudantes
percebam a
diferença na
velocidade em
que a água passa
pelos diferentes
tipos de solo
(arenoso e
argiloso).
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6º Ano-2 Observação
da
existência
do ar
Ar
-Entender a
existência do ar,
bem como sua
importância para
a manutenção da
vida na Terra;
-Reconhecer que
o ar é matéria e
ocupa lugar no
espaço.
Copo;
Folha de papel;
Bacia ou outro
recipiente similar;
Água.
-Amassar a folha
de papel e colocá-la
no fundo do copo,
tendo certeza de
que ao virar o copo
dentro da bacia, o
papel não cairá e
encher a bacia com
água; Pegar o copo
com o papel dentro
e virá-lo de cabeça
para baixo,
mergulhando-o
dentro da bacia
com água,
mantendo o copo
sempre na vertical.
Espera-se que
através desta
atividade, os
estudantes
percebam que a
água não chega
a molhar o
papel, pois o
copo está cheio
de ar.
7º Ano-1 Observação
da
existência
dos fungos
Reino dos fungos
-Reconhecer a
existência dos
fungos;
-Identificar as
Pedaço de pão;
Água.
-Umedecer um
pedaço de pão e
colocá-lo em um
Pretende-se
despertar a
curiosidade do
estudante acerca
da existência de
seres vivos
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melhores
condições de
desenvolvimento
dos fungos;
-Observar
alimentos
contaminados por
fungos.
local quente e
úmido. Com o
passar de uma
semana, observar o
aparecimento do
mofo.
microscópicos,
sendo possível
compreender a
importância de
microrganismos
como os fungos
para reciclagem
da matéria.
*7º Ano-2 Observação
da anatomia
dos peixes
osteíctes
Peixes
-Diferenciar
corretamente
peixes ósseos
(osteíctes) de
peixes
cartilaginosos
(condrictes);
-Identificar
algumas
estruturas
externas e
internas dos
osteíctes, como
brânquias,
nadadeiras,
coração, etc.
Peixe ósseo;
Bisturi;
Luvas;
Jaleco.
-Cuidadosamente,
ir observando a
anatomia externa e
interna do peixe,
enfatizando a
função e
localização de cada
órgão ou estrutura
no corpo do animal.
Espera-se que,
com a
visualização real
do animal, o
estudante se
motive a estudar
o conteúdo,
além de ter uma
noção mais
realista da
anatomia do
peixe.
8º Ano-1 Descalcifica
ção do osso
Os ossos
-Reconhecer a
importância dos
Osso de galinha
Vinagre (ácido
acético);
Recipiente com
É possível
observar que
depois de uma
semana, o osso
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ossos para o
corpo, como a
sustentação e
proteção de
órgãos e
estruturas;
-Identificar os
principais
componentes dos
ossos;
-Entender a
função do cálcio
no tecido ósseo.
tampa.
-Colocar o osso
dentro do recipiente
e em seguida
adicionar o vinagre,
até que o osso fique
totalmente
mergulhado.
Tampar o
recipiente e esperar
por uma semana.
fica com aspecto
mole, devido a
descalcificação
ocorrida pela
ação do vinagre.
Desta forma,
espera-se que o
estudante
compreenda o
papel do cálcio
na resistência
dos ossos.
*8º Ano-2 Observação
da anatomia
do coração
Sistema
cardiovascular
humano
-Identificar as
partes que
constituem o
coração humano
e dos demais
mamíferos;
-Reconhecer a
importância do
coração para o
funcionamento do
organismo;
-Entender o papel
Coração de
mamífero
(preferencialmente
o boi, por ser
grande)
Bisturi;
Luvas;
Jaleco.
-Identificar as
regiões externas e
internas do
coração,
enfatizando o
miocárdio como o
músculo que
Espera-se que, a
partir da
observação do
órgão, os
estudantes
vejam o
conteúdo de
forma mais
significativa, a
partir da prática.
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das válvulas
cardíacas para a
circulação
sanguínea.
bombeia o sangue;
Mostrar a
localização dos
ventrículos.
9º Ano-1 Eletrizando
um pente
por atrito
Eletrização
-Entender as
diferentes formas
de eletrização dos
corpos;
-Diferenciar
eletrização por
atrito, contato e
indução;
Pente;
Pedaços de papel
picado.
-Esfregar o pente
no cabelo e depois
aproximá-lo do
papel.
Espera-se que os
estudantes
observem que os
pedaços de papel
picado são
atraídos pelo
pente, que ficou
eletrizado por
atrito com o
cabelo.
9º Ano-2 Análise de
soluções e
misturas
heterogênea
s
Sustâncias puras
e misturas
-Diferenciar
substâncias puras
e misturas;
-Identificar as
diferentes fases
de um sistema
polifásico;
-Reconhecer o
poder de
dissolução da
água.
Água;
Areia;
Copo de vidro
transparente;
Óleo;
Açúcar;
Sal;
Colher.
-Encher o copo
com água e depois
ir adicionando os
demais
componentes ao
Espera-se que o
estudante
compreenda a
propriedade da
dissolução da
água, além de
conceituar
soluções e
misturas
heterogêneas.
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sistema (a areia, o
sal, o açúcar e o
óleo), mexendo
sempre com a
colher, observando
o número de fases.
*Essa atividade prática deve ser realizada em sala de aula, pelo professor,
havendo apenas a observação pelos estudantes, visto que só um profissional da
área está capacitado para fazer este tipo de atividade, onde se utiliza
instrumentos altamente cortantes.
4.Resultados e Discussões
A partir dos formulários aplicados aos estudantes, foi
realizada uma análise das respostas entre as turmas do 6º ao 9º ano
do Ensino Fundamental, com relação às diversas questões
apresentadas referentes à importância das atividades práticas nas
aulas de Ciências Naturais, explicitada nos gráficos a seguir:
Figura 3. Respostas em relação à Questão 1: “Você acha necessário a utilização
de um laboratório totalmente equipado para a realização de atividades práticas
nas aulas de Ciências Naturais?”, por série e sexo do Ensino Fundamental II,
Escola Cinderela, Lajedo, Pernambuco.
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Fonte: VIEIRA, L.R.
Observa-se na figura I, que no 6º Ano nenhum aluno
acha ser tão importante haver um laboratório totalmente equipado
para que as atividades práticas possam ser realizadas. Segundo
dados dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998), o eixo
temático nessa série se fundamenta no estudo do meio ambiente.
Nesta série, conteúdos como ar, água e solo permitem ao professor
aproximar o aluno do objeto de conhecimento por meio de
atividades como a observação da ação da pressão da água em uma
garrafa PET ou a comprovação de que o ar é matéria ao encher
uma bexiga e ver que ele tem massa, ocupando lugar no espaço.
No 7º Ano, a maioria dos estudantes acha necessária a
utilização de um laboratório equipado nas aulas de Ciências
Naturais. O foco dos estudos são os seres vivos e a classificação
taxonômica de cada grupo (PCN, 1998). No entanto, Segundo
Lima, Aguiar-Junior e Braga (1999) e Leite (2014), é difícil para o
estudante se apropriar de tais conhecimentos apenas utilizando o
apoio do livro didático. Existe uma fundamentação psicológica e
pedagógica que sustenta a oportunidade de exercitar habilidades
como cooperação, concentração, organização, manipulação de
equipamentos e, por outro, vivenciar o método científico, o registro
sistematizado de dados, a formulação e o teste de hipóteses e a
inferência de conclusões.
No 8º Ano, há um consenso entre os meninos da
necessidade de um laboratório de Ciências Naturais, uma vez que
toda a anatomia e fisiologia do corpo humano são abordadas (PCN,
1998), de fato, um laboratório poderia ajudar no aprendizado
significativo, atuando como um agente motivador nessa área do
conhecimento. Por outro lado, quase 50% das meninas acham que
muitas atividades práticas poderiam ser realizadas sem que haja um
laboratório totalmente equipado, a exemplo, a observação da
anatomia do coração. Para Ataíde e Silva (2011), para que uma
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atividade prática seja realizada não é preciso a utilização de um
laboratório completo, pois a atividade se torna mais significativa
quando o aluno a desenvolve utilizando materiais que estão ao seu
alcance no seu cotidiano.
Em relação ao 9º Ano, a maioria dos meninos acha que
a utilização de um laboratório totalmente equipado é em parte,
necessário, enfatizando a importância da relação teoria/prática,
fundamental para a apreensão dos conhecimentos em Ciências
Naturais. Já entre as meninas, a maior parte acredita que sim,
embora uma parte ache ser essencial um laboratório para fazer
atividades nas aulas de Ciências Naturais. Nesta série, os
conhecimentos são voltados para as áreas de Química e Física
(PCN, 1998).
Figura 4 - Respostas em relação à questão 2: “As atividades práticas facilitaram
o aprendizado na disciplina de Ciências Naturais?”, por série e sexo do Ensino
Fundamental II, Escola Cinderela, Lajedo, Pernambuco.
Fonte: VIEIRA, L.R.
A partir da figura II, observa-se que quase 100% dos
alunos entrevistados acham que as atividades práticas são um
importante método para aprender ciências. As aulas práticas podem
ajudar no desenvolvimento de conceitos científicos, além de
permitir que os estudantes aprendam como abordar objetivamente
o seu mundo e como desenvolver soluções para problemas
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complexos (LUNETTA, 1991). O uso das atividades práticas
promove uma maior interação entre o professor e o aluno e,
consequentemente o aprendizado torna-se mais significativo,
estimulando a aprendizagem (CARDOSO, 2013). Na aplicação dos
conteúdos da disciplina Ciências Naturais, a teoria não deveria ser
desvinculada da prática, pois esta metodologia é imprescindível
para construção do conhecimento científico dos alunos (SILVA et
al., 2015).
Figura 5 - Respostas em relação à questão 3: “Você acha que é possível aprender
Ciências Naturais apenas de forma teórica, com a leitura de conteúdos e
realização de atividades escritas?”, por série e sexo do Ensino Fundamental II,
Escola Cinderela, Lajedo, Pernambuco.
Fonte: VIEIRA, L.R.
No 6º e 7º Ano percebe-se que os alunos acreditam não
ser possível aprender Ciências Naturais apenas de forma teórica.
Um dos fatores que faz com que isso aconteça é que quanto mais
baixa a faixa etária, mais importante é a utilização de materiais
concretos na sala de aula. Isto acontece em qualquer disciplina,
principalmente no estudo da natureza, onde a criança está em
contato no seu dia a dia.
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O uso de material concreto propicia aulas mais
dinâmicas e amplia o pensamento abstrato por um processo de
retificações sucessivas que possibilita a construção de diferentes
níveis de elaboração do conceito (PAIS, 2006). Entre os alunos
mais velhos, do 4º ciclo do Ensino Fundamental (8º e 9º anos), já é
observável que a maior parte acredita ser em parte possível
aprender ciências de forma teórica, evidenciando a necessidade da
prática para a total apreensão dos conteúdos.
Figura 6 - Respostas em relação à questão 4:“Seu interesse pela disciplina de
Ciências Naturais mudou depois dos experimentos?” por série e sexo do Ensino
Fundamental II, Escola Cinderela, Lajedo, Pernambuco.
Fonte: VIEIRA, L.R.
Em todas as turmas entrevistadas, é possível analisar
que a maioria dos estudantes afirma que seu interesse mudou pela
disciplina de Ciências Naturais após as aulas práticas, confirmando
a hipótese de que esse tipo de atividade estimula os alunos e
instiga-os a aprender Ciências. Cardoso (2013) defende que ao
contrário da aprendizagem mecânica, as atividades práticas,
quando bem aplicadas, utilizam a problematização e o raciocínio
como estratégias, formando sujeitos motivados, com competências
éticas, políticas e sociais, dotados de raciocínio crítico e
responsabilidade.
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Resultados similares foram observados por Favoretto,
Marega e Schiel (2000), que defendem o uso de experimentos e
projetos no ensino das ciências, e afirmam ser necessário uma
reestruturação por parte do professor e da escola no que tange ao
objetivo de ensinar. O uso de experiências como estratégia de
ensino pode por fim ao desinteresse tão comum entre os alunos nas
escolas de hoje.
Figura 7 - Respostas em relação à questão 5:“Com que frequência essas
atividades práticas deveriam ocorrer nas aulas de Ciências Naturais?”, por série e
sexo do Ensino Fundamental II, Escola Cinderela, Lajedo, Pernambuco.
Fonte: VIEIRA, L.R.
Em relação à figura 8, percebe-se que 100% dos
estudantes entrevistados concordam que as atividades práticas
devem acontecer sempre ou pelo menos às vezes durante as aulas
de Ciências Naturais, o que mostra que para eles, essas atividades
são de suma importância para o processo de aprendizagem.
Nenhum aluno respondeu raramente ou nunca. Para Piaget (1972),
os estudantes adquirem muito mais conhecimento através de
situações concretas, e as experimentações constituem um grande
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instrumento de aprendizagem, pois através delas os alunos
observam, pensam e agem. Figura 8 - Atividades práticas realizadas na Escola Cinderela- Rede Particular de
Ensino do município de Lajedo-PE.
Figura A: Professor mostrando o coração de bovino. Figura B: Observação da
anatomia do coração de bovino. Figura C: Prática de observação da existência
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do ar. Figura D: Estudantes fazendo experimento para diferenciação dos tipos
de solo. Figura E: Estudante realizando experimento sobre a permeabilidade do
solo. Figura F: Atividade de observação da densidade da água utilizando ovo.
Fonte: BEZERRA, A.; VIEIRA, L.R.
Muitos especialistas em Metodologia e Ensino de
Ciências e Biologia fazem críticas ao trabalho experimental
realizado nas escolas. Porém, todos acreditam que as atividades
experimentais não devem ser utilizadas apenas para ilustrar ou
comprovar teorias anteriormente estudadas, pois isso limitaria a
construção do conhecimento pelo aluno, o que ocorre em várias
escolas. Para Bizzo (2002), o experimento, por si só não garante
um bom aprendizado, pois não é suficiente para modificar a forma
de pensar dos alunos, o que exige acompanhamento constante do
professor.
Esse tipo de atividade deve levar o aluno a levantar e
testar suas ideias e suposições sobre os fenômenos que ocorrem a
sua volta (BIZZO, 2002). Segundo Rosito (2008), o ensino de
Ciências tem sempre considerado a utilização de atividades
experimentais, na sala de aula ou no laboratório, como essencial
para a aprendizagem científica. Para Carvalho et al. (2010), entre a
pesquisa científica e a prática escolar não deveria haver senão
aliança, acordo, cumplicidade, coordenação, nunca um vazio e
muito menos oposição.
É importante destacar que muitas escolas não tem
laboratório de Ciências Naturais, isso acaba dificultando o trabalho
do professor, que muitas vezes não pode realizar as atividades
práticas na sala de aula. Outra questão a ser lembrada é a falta de
conhecimentos técnicos prévios de muitos professores, que
precisam manipular vidrarias, equipamentos, reagentes, etc., e por
vezes não foram bem preparados no curso universitário. De acordo
com Vasconcelos et al.(s/d.), a formação científica de nossos
futuros professores tem deixado muito a desejar: seja por falta de
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conteúdo teórico, ou por absoluta falta de preparo científico
prático.
5.Considerações Finais
Os resultados da pesquisa realizada na Escola
Cinderela, ratificam a importância da realização de atividades
práticas nas aulas de Ciências Naturais, como ferramenta essencial
para alcançar êxito no processo de ensino/aprendizagem. Sabendo-
se da necessidade pedagógica de se trabalhar a realidade do
estudante, aproximando o aluno do objeto de conhecimento, além
de possibilitar a aprendizagem significativa, constata-se que nessas
atividades esses objetivos são alcançados. Foi possível observar
que as aulas práticas funcionam como uma ótima ferramenta para
despertar o interesse dos alunos em aprender, desenvolvendo a
capacidade de concentração e cognição além de promover seu
envolvimento. Durante a realização dessas atividades, houve uma
grande motivação e cooperação dos alunos.
6. Referências
ATAIDE, M. C. E. S.; SILVA, B. V. C. As metodologias de ensino
de ciências: contribuições da experimentação e da história e
filosofia da ciência. HOLOS, Ano 27, vol.4.p.171-178, 2011.
BIZZO, Nélio. Ciências: Fácil ou Difícil. São Paulo: Ática, 2002.
BRASIL- SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL.
Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais. Brasília:
MEC/SEF,1998.
CARDOSO, F. S. O uso de atividades práticas no ensino de
ciências: Na busca de melhores resultados no processo de ensino-
Importância das Atividades Práticas – Vieira, Oliveira, Silva, Vieira e
Araújo
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