império bizantino

109
Império Bizantino O Império Bizantino (em grego Βασιλεία Ῥωμαίων), inicialmente conhecido como Império Romano do Oriente ou Reinado Romano do Oriente, sucedeu o Império Romano (cerca de 395 ) como o império e reinado dominante do Mar Mediterrâneo . Sob Justiniano I , considerado o último grande imperador romano, albergava Cartago e áreas nos atuais Marrocos , sul da península Ibérica , sul da França , Itália , bem como suas ilhas, península Balcânica , Anatólia , Egito , Oriente Próximo e a Crimeia , no Mar Negro . Sob a perspectiva ocidental, não é errado inserir o Império Bizantino no estudo da Idade Média , mas, a rigor, ele viveu uma extensão da Idade Antiga . Os historiadores especializados em Bizâncio em geral concordam que seu apogeu se deu com o grande imperador da dinastia Macedônica , Basílio II Bulgaroctonos (Mata-Búlgaros), no início do século IX . A sua regressão territorial gradual delineou a história da Europa medieval, e sua queda , em 1453 , frente aos turcos otomanos , marcou o fim da Idade Média. Índice [esconder ] 1 Origem 2 Identidade, continuidade e consciência 3 História o 3.1 Constantino o 3.2 Dinastias latinas 3.2.1 Dinastia Teodosiana (379 – 457) 3.2.2 Dinastia Leonina (457–518) 3.2.3 Dinastia Justiniana (518-602) 3.2.4 Sem dinastia (602-610) o 3.3 Dinastias gregas 3.3.1 Dinastia Heracliana (610–711) 3.3.2 Sem dinastia (711-717) 3.3.3 Dinastia Isáurica (717-802) 3.3.4 Dinastia Fócida (802 - 820) 3.3.5 Dinastia Amoriana (820 - 867) 3.3.6 Dinastia Macedônica (867 - 1057) 3.3.7 Dinastia Comneno (1057 – 1059) 3.3.8 Dinastia dos Ducas (1059 – 1078) 3.3.9 Sem dinastia (1078 – 1081) 3.3.10 Dinastia Comneno (1081 - 1185) 3.3.11 Dinastia Angelos (1185 - 1204) 3.3.12 Reinos sucessores bizantinos 3.3.13 Dinastia Paleóloga (1261 - 1453)

Upload: uilson-nunes-de-oliveira

Post on 26-Jun-2015

505 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Império Bizantino

Império Bizantino

O Império Bizantino (em grego Βασιλεία Ῥωμαίων), inicialmente conhecido como Império Romano do Oriente ou Reinado Romano do Oriente, sucedeu o Império Romano (cerca de 395) como o império e reinado dominante do Mar Mediterrâneo. Sob Justiniano I, considerado o último grande imperador romano, albergava Cartago e áreas nos atuais Marrocos, sul da península Ibérica, sul da França, Itália, bem como suas ilhas, península Balcânica, Anatólia, Egito, Oriente Próximo e a Crimeia, no Mar Negro.

Sob a perspectiva ocidental, não é errado inserir o Império Bizantino no estudo da Idade Média, mas, a rigor, ele viveu uma extensão da Idade Antiga. Os historiadores especializados em Bizâncio em geral concordam que seu apogeu se deu com o grande imperador da dinastia Macedônica, Basílio II Bulgaroctonos (Mata-Búlgaros), no início do século IX. A sua regressão territorial gradual delineou a história da Europa medieval, e sua queda, em 1453, frente aos turcos otomanos, marcou o fim da Idade Média.

Índice

[esconder]

1 Origem 2 Identidade, continuidade e consciência 3 História

o 3.1 Constantino o 3.2 Dinastias latinas

3.2.1 Dinastia Teodosiana (379 – 457) 3.2.2 Dinastia Leonina (457–518) 3.2.3 Dinastia Justiniana (518-602) 3.2.4 Sem dinastia (602-610)

o 3.3 Dinastias gregas 3.3.1 Dinastia Heracliana (610–711) 3.3.2 Sem dinastia (711-717) 3.3.3 Dinastia Isáurica (717-802) 3.3.4 Dinastia Fócida (802 - 820) 3.3.5 Dinastia Amoriana (820 - 867) 3.3.6 Dinastia Macedônica (867 - 1057) 3.3.7 Dinastia Comneno (1057 – 1059) 3.3.8 Dinastia dos Ducas (1059 – 1078) 3.3.9 Sem dinastia (1078 – 1081) 3.3.10 Dinastia Comneno (1081 - 1185) 3.3.11 Dinastia Angelos (1185 - 1204) 3.3.12 Reinos sucessores bizantinos 3.3.13 Dinastia Paleóloga (1261 - 1453)

o 3.4 A queda de Constantinopla 3.4.1 Consequências

4 Arte do Império Bizantino 5 Notas e referências 6 Ver também 7 Ligações externas

[editar] Origem

O embrião do Império Bizantino surgiu quando o imperador romano Constantino I decidiu construir sobre a antiga cidade grega de Bizâncio uma nova capital para o Império Romano, mais próxima às rotas

Page 2: Império Bizantino

comerciais que ligavam o Mar Mediterrâneo ao Mar Negro, e a Europa à Ásia. Além disso, já havia algum tempo que Roma era preterida por seus imperadores que optavam por outras sedes de governo, em especial cidades mais próximas das fronteiras ou onde a pressão política fosse menor. Em geral, eles tendiam a escolher Milão, mas as fronteiras que estavam em perigo na época de Constantino eram as da Pérsia ao Leste e as do Danúbio ao norte, muito mais próximas da região dos Estreitos Turcos.

A nova capital, batizada de Constantinopla em homenagem ao imperador, unia a organização urbana de Roma à arquitetura e arte gregas, com claras influências orientais. É uma cidade estrategicamente muito bem localizada, e sua resistência a dezenas de cercos prova a boa escolha de Constantino. Em pouco tempo, a cidade renovada tornar-se-ia uma das mais movimentadas e cosmopolitas de sua época.

Sua religião, língua e cultura, eram essencialmente gregas, e não romanas, mas para os bizantinos a palavra "grego" significava, de maneira injuriosa, "pagão". Os persas e os árabes também chamavam os bizantinos de "romanos". Preferiram chamar a si mesmos, em grego, de romioi (povo grego cristão com cidadania romana), ao mesmo tempo em que desenvolveram uma consciência nacional como residentes da Romania (é como o estado bizantino e seu mundo foram chamados em sua época).

Seu nacionalismo se refletia na literatura, particularmente nas canções e em poemas como o Akritias, em que as populações fronteiriças (de combatentes chamados akritas) se orgulhavam de defender seu país contra os invasores.

Os bizantinos usavam romano como sinônimo de heleno. Um substituto comum do termo "heleno" (que tinha conotações pagãs) tanto como o de romioi, foi o termo graekos (grego). Este termo foi usado junto à romioi para sua auto-identificação étnica.

A palavra bizantino vem de Bizâncio, o antigo nome da capital do Império Romano do Oriente, Constantinopla. O termo bizantino começou a ser utilizado por historiadores do século XVII para se criar uma distinção entre o Império da Idade Média e o da Antiguidade. O Tradicionalmente, era conhecido apenas como Império Romano do Oriente (devido à divisão do Império feita pelo imperador romano Teodósio I, no século IV da Era Cristã).

[editar] Identidade, continuidade e consciência

O Império Bizantino pode ser definido como um império formado por várias nações da Eurásia que emergiu como império cristão e terminou seus mais de mil anos de história em 1453 como um estado grego ortodoxo: o império se tornou nação.

Nos séculos que seguiram às conquistas árabes e lombardas do século VII, esta natureza inter-cultural (assinalamos: não multinacional) permaneceu ainda nos Bálcãs e Ásia Menor, onde residia uma poderosa e superior população grega.

Bandeira atribuída ao Império Bizantino, que de fato é um popular desenho moderno, uma vez que o uso da águia de dupla cabeça não foi atestada por historiadores contemporâneos e nunca foi apresentada em um campo dourado (amarelo). Atualmente é com mais frequência associada à Igreja Ortodoxa Grega.

Os bizantinos identificavam a si mesmos como romanos, e continuaram usando o termo quando converteu-se em sinônimo de helênico. Preferiram chamar a si mesmos, em grego, romioi (quer dizer

Page 3: Império Bizantino

povo grego cristão com cidadania romana), ao mesmo tempo que desenvolviam uma consciência nacional como residentes de Romania (Romania é como o estado bizantino e seu mundo foram chamados na sua época). O nacionalismo se refletia na literatura, particularmente nas canções e em poemas como o Akritias, em que as populações fronteiriças (de combatentes chamados akritas) se orgulhavam de defender seu país contra os invasores.

Ainda que os antigos gregos não fossem cristãos, os bizantinos os reclamavam como seus ancestrais. De fato, os bizantinos se referiam a eles mesmos como romioi por ser uma forma de reter tanto sua cidadania romana quanto sua herança ancestral grega. Um substituto comum do termo "heleno" (que tinha conotações pagãs) tanto como o de romioi, foi o termo graekos (grego). Este termo foi usado frequentemente pelos bizantinos (tanto como romioi) para sua auto-identificação étnica.

A dissolução do estado bizantino no século XV não desfez imediatamente a sociedade bizantina. Durante a ocupação otomana, os gregos continuaram identificando-se como romanos e helenos, identificação que sobreviveu até princípios do século XX e que ainda persiste na moderna Grécia.

[editar] História

[editar] Constantino

Entre o século III e o século V, o Império Romano viveu uma desastrosa crise nas suas estruturas. A parte ocidental do Império, onde se localizava a capital, Roma, teve que lidar com massivas imigrações de povos do norte e do leste, fenômeno conhecido como invasões bárbaras. Enquanto isso, a parte oriental do Império Romano, que sofria menos com essas invasões, se achava numa situação mais estável, tanto econômica como politicamente.

Já fazia alguns anos que os imperadores romanos evitavam governar a partir de Roma, escolhendo cidades como Milão ou Ravenna para morar. A antiga capital, Roma, estava decadente e a elite senatorial era imprevisível quanto à sua fidelidade. Então não foi nenhuma surpresa quando Constantino ordenou, em 324, a construção de uma nova capital no lado europeu do Bósforo. A cidade foi erguida no local da antiga Bizâncio, colônia fundada por gregos de Mégara em 657 a.C..

Constantino pretendia que a nova capital se chamasse Nova Roma, mas o nome de Constantinopla prevaleceu.

Constantino I

Em seis anos (324 – 330), os arquitetos e construtores de Constantino restauraram a cidade construindo novas estradas, casas, igrejas e muitas outras edificações. Fizeram uma muralha tripla de 20 km, 50

Page 4: Império Bizantino

portões fortificados e decoraram a cidade com ricos objetos de artes vindos de todas as partes do Império Romano.

Para atrair habitantes para a nova capital, o imperador ofereceu às camadas superiores casas construídas seguindo o modelo das de Roma e às camadas inferiores, pão e circo, em grande quantidade.

Constantinopla tinha uma posição privilegiada. Entre os mares de Mármara, Negro e Egeu, constituiu, ao longo de sua história, um verdadeiro entreposto comercial entre o Ocidente e o Oriente.

[editar] Dinastias latinas

Nesse período, os imperadores buscaram combater o helenismo, predominando as instituições latinas. O latim também foi mantido como língua predominante.

[editar] Dinastia Teodosiana (379 – 457)

Ver artigos principais: Dinastia Teodosiana e Bizâncio sob a Dinastia Teodosiana.

A divisão do Império Romano após a morte de Teodósio I: ██ ao primogênito Arcádio, o Império Romano do Oriente██ ao segundo filho Honório, o Império Romano do Ocidente

O último imperador do Império Romano unificado, Teodósio, dividiu o império em duas partes dando a parte Ocidental para seu filho Honório e a parte Oriental para Arcádio. Era o inicio definitivo do Império Bizantino.

O primeiro imperador independente do Império Romano do Ocidente foi Arcádio (395-408), filho de Teodósio.

Os visigodos que anteriormente receberam o título de confederados da Mésia inferior, sob seu rei Alarico I, estimulados pelos hunos de Átila, começaram a movimentar-se pelas províncias romanas vizinhas, que começaram a ser saqueadas.

Como meio de apaziguar os visigodos, Arcádio concedeu a Alarico o título de prefeito da província da Ilíria, vindo desta forma a legalizar institucionalmente a presença visigoda dentro do Império Oriental. Em 401 os visigodos abandonaram o Império Oriental e penetraram na Itália, possivelmente instigados desde Constantinopla. sucessor de Arcádio foi Teodósio II.

De fraco caráter, deixou-se influenciar por aqueles que o rodeavam, nomeadamente a sua irmã e a sua esposa. Desenvolveu uma política externa pouco brilhante e deixou os monofisitas triunfarem no Concílio de Éfeso (431).

Page 5: Império Bizantino

Após o papa Celestino I ter excomungado, em 430, Nestório, o patriarca de Constantinopla cujas teses foram derrotadas no Concílio de Éfeso, Teodósio ordenou que toda a vasta obra do patriarca fosse queimada.

O seu reinado foi marcado pelo alargamento das fronteiras do Império (apesar de algumas derrotas pesadas, como contra as forças hunas de Átila) e pela controvérsia religiosa. Mandou redigir o Código Teodosiano.

Com a morte de Teodósio II, Marciano foi escolhido para consorte pela irmã e sucessora de Teodósio, Pulquéria, e incumbido de governar um Império humilhado e empobrecido pelas incursões dos hunos.

Ao tornar-se imperador, Marciano repudiou os constrangedores pagamentos de tributo a Átila, o Huno, que este costumava receber de Teodósio em troca de não atacar o Império do Oriente. Ciente de que jamais conseguiria tomar Constantinopla, Átila voltou-se para o ocidente e liderou as suas famosas campanhas na Gália em 451 e na Itália em 452, sem molestar o território bizantino.

Marciano reformou as finanças, controlou as extravagâncias e re-colonizou os distritos devastados. Repeliu ataques contra a Síria e o Egito (452) e reprimiu distúrbios na fronteira com a Armênia (456). O fato marcante de seu reinado é o Concílio de Calcedônia (451), no qual Marciano procurou mediar os desentendimentos entre as escolas rivais de teologia.

Marciano evitou envolver-se nos destinos do Império do Ocidente, nem mesmo com as incursões de Átila e o saque de Roma pelos vândalos (455).

Pouco antes da morte de Átila, em 453, este voltava a entrar em conflito com Marciano. O chefe huno viria a falecer antes que uma guerra aberta começasse.

Marciano morreu em 457 de uma doença, possivelmente gangrena contraída durante longa uma peregrinação religiosa. Apesar de seu reinado breve e de sua aversão a envolver-se com o ocidente, Marciano é considerado um dos melhores dentre os primeiros imperadores bizantinos A Igreja Ortodoxa considera-o e a sua mulher Pulquéria como santos, celebrados em 17 de fevereiro.

Série História da Grécia

Civilização Egeia

antes de 1600 a.C.

Grécia Micênica

c. 1600-1200 a.C.

Idade das Trevas

c. 1200-800 a.C.

Grécia Antiga776-323 a.C.

Page 6: Império Bizantino

Período Helenístico

323 a.C.-146 a.C.

Período Greco-Romano

146 a.C.-330 AD

Império Bizantino

330 AD-1453 AD

Período Otomano

1453-1832

Grécia Moderna

depois de 1832

Tópicos

Língua GregaLiteratura Grega

História militar

O grego em termos

[editar] Dinastia Leonina (457–518)

Ver artigos principais: Dinastia leonina e Bizâncio sob a Dinastia Leonina.

O imperador seguinte foi Leão I. Durante o reinado de Leão, os Bálcãs foram devastados seguidamente pelos ostrogodos e pelos hunos, os quais, entretanto, não conseguiram tomar Constantinopla, devido às muralhas que haviam sido re-construídas e reforçadas por Teodósio II. Procurou influenciar os desdobramentos no Império Romano do Ocidente, ao nomear Antêmio como Imperador do Ocidente em 467.

Sua expedição contra os vândalos em 468 foi derrotada, devido à traição e incompetência de seu cunhado Basilisco, um desastre que subtraiu ao império recursos financeiros e humanos. Leão morreu de disenteria aos 73 anos de idade, em 18 de janeiro de 474.

O sucessor de Leão I era seu neto Leão II, filho de Zenão I com Ariadne, que por sua vez era filha de Leão I e Verina.

Devido à minoridade do jovem Leão, Ariadne e sua mãe Verina convenceram Leão I a nomear Zenão como co-imperador, o que ocorreu em 9 de fevereiro de 474. Quando Leão II caiu doente e faleceu em 17 de novembro, Zenão tornou-se imperador único.

Zenão era tido como impopular, em virtude de sua origem "estrangeira", e teve que fugir da capital para Antioquia devido a uma revolta arquitetada por Verina em favor de Basilisco (irmão de Verina), em janeiro de 475.

Durante seu pequeno mandato, Basilisco ganhou a antipatia dos apoios fundamentais da Igreja e do povo de Constantinopla, exaltando o Cristianismo em oposição à fé da Calcedônia, que recebia maior aceitação. Além disso, sua política de assegurar seu poder diante da nomeação para cargos importantes de homens leais a si o tornou inimigo de figuras influentes da corte imperial, incluindo sua irmã Verina. Então, quando Zenão tentou recuperar seu império, praticamente não encontrou oposição, entrando em Constantinopla triunfalmente, capturando e matando Basilisco e sua família.

Dois meses após reassumir o trono, Zenão assistiu à derrocada da parte ocidental do império, quando Odoacro depôs o último Imperador Romano do Ocidente, Rômulo Augustulo. Odoacro solicitou ser

Page 7: Império Bizantino

reconhecido por Zenão como um oficial patrício da corte oriental, o que Zenão terminou por conceder, tornando-se assim, em teoria, imperador sobre um Império Romano unificado (o primeiro desde 395). Na prática, o ocidente foi praticamente abandonado por Constantinopla.

Zenão forjou um acordo de paz com Genserico, reconhecendo-o como rei dos vândalos e com direito aos territórios então conquistados. Também teve que lidar com os ostrogodos sob Teodorico, com algum sucesso. Em 478 e 484, Zenão enfrentou rebeliões, a primeira mais uma vez inspirada por Verina.

Em 481, Teodorico tornou-se rei de todos os ostrogodos e começou a causar problemas para os bizantinos nos Bálcãs. Zenão logrou induzi-los a invadir a Península Itálica para combater Odoacro.

Zenão promulgou em 482 o Henotikon ("ato de união"), assinado por todos os bispos orientais, um documento que tentava resolver a controvérsia monofisita.

Após a morte de Zenão em 491, a viúva Ariadne permitiu a Anastácio (alto oficial do palácio) ascender à dignidade imperial. Pouco depois, casou-se com Ariadne.

Seu reinado foi marcado por guerras externas (Pérsia, a leste; eslavos e búlgaros a oeste) e internas (contestação de Longino, irmão de Zenão) e por controvérsias religiosas (monofisismo).

[editar] Dinastia Justiniana (518-602)

Ver artigo principal: Dinastia justiniana

O sucessor de Anastácio foi Justino I, um ex-soldado do exército bizantino e ex-comandante da guarda palaciana em Constantinopla durante o reinado de Anastácio. Justino I recebeu a dignidade imperial mesmo sendo analfabeto e contando com quase 70 anos. Seu reinado é significativo por haver fundado uma dinastia que incluiu seu ilustre sobrinho Justiniano I e leis que reduziram a influência da antiga nobreza bizantina.

O imperador Justiniano I.Mosaico na Basílica de São Vital em Ravenna.

Justiniano I (527–565) buscou restaurar e dispor sob sua inteira autoridade a vastidão típica do império dos Antoninos (96–192) perdida para os bárbaros germânicos no Ocidente, fez uma aliança com o papa perseguindo judeus e filósofos pagãos e, além disso, construiu numerosas fortalezas, estradas, pontes, hospitais e centenas de igrejas. Em 534, sob o comando do general Belisário, o exército de Justiniano conquistou o reino dos vândalos. Em 554, com a conclusão das Guerras Góticas, na península Itálica, o Império abraçava também o reino dos ostrogodos.

Page 8: Império Bizantino

As guerras de expansão transformaram o exército bizantino em uma instituição de grande prestígio e enorme poder político. Colaborou para isso também a necessidade de defender o território das invasões de povos inimigos. As tropas eram mantidas com a doação de terras para os soldados, principalmente em áreas pouco povoadas. Além de motivar os exércitos, a medida garantia a ocupação do território. Com o tempo, entretanto, essa política acabou restringida aos oficiais. O resultado foi uma concentração de terras nas mão desses grupo social, apesar da existência das pequenas propriedades.

Ao mesmo tempo, o governo de Justiniano estabeleceu acordos com os governantes do Império persa sassânida, aos quais passou a pagar impostos para que as tropas persas não atacassem Constantinopla.

Apesar de se considerar um porta-voz de Deus, Justiniano procurou dar ao seu governo uma base legal. Para tanto encarregou eminentes juristas de atualizar e revisar o antigo Direito Romano. Esse trabalho resultou no Corpus Juris Civilis, base, ainda hoje, da maioria dos códigos legislativos do mundo. O Corpus Juris Civili era dividido em quatro partes:

Código de Justiniano – coletânea de toda a legislação romana revisada; Digesto – conjunto de pareceres dos magistrados romanos; Institutas – livro para estudantes de Direito; Novelas – novas leis elaboradas por Justiniano.

O Império Bizantino no seu apogeu sob Justiniano I.As conquistas de Justiniano aparecem em laranja.

As conquistas externas, a construção e manutenção de grandes edifícios, além da manutenção da estrutura burocrática e dos exércitos acarretaram em altíssimos gastos que não eram, de certa forma, investimentos produtivos. Os impostos estavam se tornando intoleráveis, e o preço dos alimentos subia. A população temia as ideias religiosas de Justiniano, que queria agradar aos cristãos do Ocidente. Como o imperador tinha poderes absolutos, inclusive em matéria religiosa, podia tomar medidas que contrariassem a religiosidade popular.

No século VI, para combater a heresia do nestorianismo, o patriarca de Alexandria, Dioscoro, desenvolveu o monofisismo, formulação teológica também condenada pela Igreja Católica e muito ligada a ideias de emancipação política no Egito e na Síria. Desencadearam-se então movimentos de perseguição aos monofisistas, protegidos, no entanto, pela esposa de Justiniano, a imperatriz Teodora. Buscando manter a unidade do império, Justiniano desenvolveu a heresia do monotelismo, uma tentativa de conciliação entre o monofisismo e o nestorianismo.

Até no século XII, havia no Império Bizantino grande número de escravos, que eram principalmente os prisioneiros de guerra. Os pobres recebiam alimentos gratuitamente e se divertiam, por exemplo, assistindo às corridas de cavalo do Hipódromo de Constantinopla. Restituía-se assim, a política do "pão e circo", que havia sido adotada no Império Romano. Com isso, esperava-se controlar o descontentamento da população. Os trabalhadores livres eram mal-remunerados, e a moradia e as roupas tinham preços elevados. Por isso, muitas pessoas viviam desabrigadas nas ruas da cidade, embora as condições de vida em Constantinopla fossem consideradas melhores do que em outras partes do império.

Page 9: Império Bizantino

Imperatriz Teodora e sua corte.Mosaico na Basílica de São Vital, século VI.

No segundo domingo de janeiro de 532, o hipódromo de Constantinopla estava lotado. Sua capacidade era para 60 mil pessoas. O público acompanhava a corrida, dividido em duas grandes torcidas: uma apoiava os Verdes e a outra, os Azuis. Estes eram os nomes dos principais partidos políticos da cidade. Ambos exibiam suas bandeiras e ensaiavam seus hinos. O imperador também estava presente. Ele e a imperatriz Teodora eram torcedores dos Azuis.

Torcer contra o time do imperador era uma forma de oposição política. Não se sabe bem por que, ao final de uma das corridas, os Verdes aproveitaram para fazer uma série de reclamações ao imperador. Reclamavam, sobretudo, o abuso de autoridade por parte dos funcionários do governo e dos impostos elevados.

O imperador tentou contornar a situação, mas não foi feliz: a população aos gritos de Nika! Nika! (Vitória! Vitória!), marchou sobre o palácio imperial. Travaram-se então combates sangrentos entre os soldados e as forças populares, e vários edifícios foram queimados e depredados.

Vendo-se ameaçado, Justiniano decidiu fugir levando consigo as riquezas do tesouro imperial. Contam que, naquele momento, Teodora convenceu-o a voltar. Justiniano voltou e ordenou ao general Belisário que reprimisse o movimento. A repressão foi brutal: milhares de rebeldes alojados no hipódromo foram cercados e mortos. Era o fim da revolta de Nika.

Durante a revolta de Nika (532) a primeira grande igreja de Constantinopla (Santa Sofia) construída pelo imperador Constâncio II, filho de Constantino I, foi destruída. O edifício foi reconstruído em sua forma atual entre 532 e 537 sob a supervisão pessoal do imperador Justiniano. É considerada o exemplo principal da arquitetura bizantina. De grande importância artística, seu interior foi decorado com mosaicos, colunas e esculturas de mármore. A riqueza e o nível artístico da basílica teriam levado Justiniano a dizer Νενίκηκά σε Σολομών ("Salomão, eu te superei!").

Page 10: Império Bizantino

Basílica de Santa Sofia,reconstruída sob supervisão pessoal de Justiniano I.

Uma característica do governo de Justiniano que evidentemente causou a grande revolta de Nika, foi seu cesaropapismo.

Justiniano ainda se viu às voltas com terremotos, fome e a grande peste de 544. Após sua morte, subiu ao trono seu sobrinho e sucessor Justino (565–578). Os lombardos, até então estabelecidos na Panônia como aliados, invadiram, em 568, a Itália setentrional. Os bizantinos mantiveram ainda o Exarcado de Ravenna, os ducados de Roma e Nápoles, a Ístria, a Itália Meridional e a Sicília.

Durante seu reinado Justino teve de combater os ávaros no norte, sem muito sucesso, após recusar-lhes tributo. Em 572, seu contato com os turcos causou uma guerra com a Pérsia, com duas desastrosas campanhas nas quais os persas invadiram a Síria. A paz, precária, foi comprada por meio de um tributo anual.

Preocupado com seu estado de insanidade, Justino elevou Tibério II Constantino à dignidade de César em dezembro de 574, por sugestão de sua mulher Sofia, retirando-se da vida pública.

Tibério assumiu o controle do Império quando Justino enlouqueceu em 574 e, de modo a aumentar sua popularidade, começou imediatamente a gastar os recursos do tesouro. Com Justino ainda vivo, o general Maurício derrotou, a mando de Tibério, os persas na Armênia.

Com a morte de Justino em 578, Tibério ascendeu plenamente à dignidade imperial e desencadeou ações militares no território do antigo Império Romano do Ocidente, onde negociou a paz com os visigodos na Hispânia e derrotou os mouros na África do Norte. Os eslavos começaram a migrar para os Bálcãs em 579, mas o exército bizantino estava ocupado com os persas e não pôde impedir as migrações eslavas.

Em 582, Tibério adoeceu e Maurício foi nomeado seu herdeiro. Tibério morreu em agosto de 582, entre rumores de envenenamento.

Maurício é considerado o autor do Strategikon, um tratado de estratégia considerado a primeira e única teoria de emprego de armas combinadas até a Segunda Guerra Mundial.

Durante seu reinado, Maurício teve que lidar com guerras intermináveis em todas as fronteiras e, apesar de suas excelentes qualidades como governante, logrou apenas adiar a desintegração do grande império de Justiniano I.

Page 11: Império Bizantino

Império Bizantino em 600 d.C.

Logo após a sua coroação, Maurício interferiu, em 590, numa guerra de sucessão na Pérsia, ao auxiliar um dos pretendentes a conquistar o trono persa. Em troca, a Mesopotâmia oriental e a Armênia voltaram ao controle do Império Bizantino.

As províncias dos Bálcãs (Panônia, Dácia, Mésia, Dalmácia, Trácia, Macedônia,Épiro e Aqueia) haviam sido devastadas pelos eslavos e somente se recuperariam séculos mais tarde. Os eslavos avançaram até o Peloponeso, de modo que diversas campanhas - vitoriosas mas exaustivas - tiveram que ser empreendidas para contê-los. No ocidente, Maurício organizou em exarcados os territórios bizantinos ameaçados na Itália e na África, agora sujeitos a governadores militares (exarcas).

Em 602, Maurício, sempre às voltas com a falta de recursos financeiros, decidiu que o exército deveria invernar além do Danúbio, o que se mostraria um equívoco sério. As tropas, exaustas, amotinaram-se e proclamaram um certo Focas como seu líder, exigindo que Maurício abdicasse em favor de seu filho Teodósio ou do general Germano, sogro de Teodósio.

Ambos foram acusados de traição, mas o imperador e sua família tiveram que refugiar-se em Nicomédia, devido a distúrbios em Constantinopla. Teodósio, por sua vez, dirigiu-se para a Pérsia. Focas entrou em Constantinopla e foi coroado imperador. Maurício e sua família foram capturados. Ele e seus filhos varões foram executados; Constantina e suas filhas foram poupadas e enviadas a um mosteiro. Maurício é venerado como um santo da Igreja Ortodoxa.

[editar] Sem dinastia (602-610)

Page 12: Império Bizantino

A Coluna de Focas, o último monumento a ser erigido no Fórum Romano.

O governo de Focas foi bem vindo, para muitos, uma vez que o imperador começou por reduzir os impostos, que eram altos durante o reinado de Maurício. O próprio papa Gregório I demonstrou apreço pelo imperador nas cartas que lhe dirigiu, em particular a reforma agrária das terras da Igreja em Itália e na Sicília, que veio a ser seguida pelos patriarcas ortodoxos do Egito. Esta consistia em nomear "reitores" como administradores dos latifúndios e em eliminar toda a espécie de intermediários que exploravam os lavradores, reduzindo estes à miséria ao mesmo tempo em que limitavam os lucros do proprietário.

Focas, no entanto, viu-se confrontado com bastante oposição, e era visto por muitos como um "populista"; o seu golpe de Estado fora à primeira mudança de governo violenta desde a fundação da cidade por Constantino I. As crônicas registraram a sua reação à oposição como sendo cruel, assassinando milhares de pessoas no esforço de conservar o poder. Isto é, provavelmente, um exagero: não chegaram até nós quaisquer registros coevos de Focas, e por isso dependemos dos relatos dos cronistas pagos pelos sucessores de Focas, os quais tinham interesse em denegrir a sua memória.

Focas é o homenageado pelo último monumento a ser erigido no Fórum Romano. A soberania sobre a cidade de Roma ainda pertencia aos bizantinos no reinado de Focas, muito embora fosse o papa a figura mais importante da cidade. Focas apoiou os papas em muitas das controvérsias teológicas do seu tempo, e por conseguinte sempre teve boas relações com a Santa Sé. Focas ofereceu o Panteão ao papa Bonifácio IV para que este o transformasse em igreja; o imperador também interveio para repôr Esmaragdo (exarca) no Exarcado de Ravenna, e em agradecimento Esmaragdo fez erguer no Fórum uma estátua dourada sobre a re-dedicada "Coluna de Focas", com uma nova inscrição em honra do imperador.

Foi durante o reinado de Focas que as fronteiras tradicionais do Império Romano do Oriente começaram a ceder. Os Bálcãs tinham sido vítimas de incursões dos ávaros e dos eslavos; com a retirada do exército do Danúbio estes ataques ganharam em intensidade, e os bárbaros chegaram até Atenas. Também a Oriente a situação era grave. O rei persa Cosroes II recebera auxílio de Maurício numa guerra civil no Império Sassânida; a morte do seu antigo aliado serviu-lhe de pretexto para atacar o Império. Acolheu na sua corte um indivíduo que se fazia passar por Teodósio, filho de Maurício; organizou a coroação desse

Page 13: Império Bizantino

pretendente e exigiu que os bizantinos o acolhessem como seu imperador. Cosroes também se aproveitou da fragilidade militar do Império Bizantino: prestou auxílio à Narses, um general que se recusara a aceitar a autoridade de Focas e que fora cercado em Edessa por tropas leais a Focas. Esta expedição fez parte da guerra de desgaste que Cosroes conduziu contra as fortalezas bizantinas no norte da Mesopotâmia, e por volta de 607 os persas já controlavam o curso do Eufrates.

fronteiras imperiais sassânidas em 610

Em 608 o Exarca da África e o seu filho, ambos chamados Heráclio, deram início a uma revolta contra Focas, cunhando moedas que os representavam com as insígnias consulares (mas não imperiais). Focas respondeu mandando executar a ex-imperatriz Constantina e as suas três filhas. Nicetas, sobrinho de Heráclio o Velho, comandou uma invasão terrestre do Egito; o Heráclio mais novo embarcou rumo a leste com outro exército através da Sicília e de Chipre. Com o início da guerra civil registraram-se graves distúrbios na Síria e na Palestina; Focas enviou o seu general Bonosus para pôr fim aos motins e reconquistar o Egito. Bonosus afogou as revoltas com tamanha violência que as suas atrocidades eram ainda lembradas séculos mais tarde; depois trouxe quase todo o exército do Oriente na sua campanha do Egito, na qual foi derrotado por Nicetas. Os persas aproveitaram-se desta situação e ocuparam territórios significativos nas províncias orientais, chegando mesmo a penetrar na Anatólia.

Em 610 Heráclio o Jovem alcançara Constantinopla, e a maior parte dos militares leais a Focas ou tinham sido derrotados ou tinham mudado de lado. Alguns aristocratas bizantinos vieram ao encontro de Heráclio nas proximidades da capital e aclamaram-no imperador. Ao entrar em Constantinopla os Excubitores, uma unidade de elite da guarda imperial comandada por Prisco, genro de Focas, desertou em massa para Heráclio, que se conseguiu apoderar da cidade sem grande resistência. Focas foi capturado e trazido perante Heráclio, que lhe perguntou: "É assim que tens governado, infeliz?" Focas replicou, "E tu, governarás melhor?" Furioso, Heráclio matou e decapitou Focas, cujo corpo foi mutilado, arrastado pelas ruas de Constantinopla e em seguida queimado.

[editar] Dinastias gregas

Deste momento até o fim da história do Império Bizantino, ocorreu uma crescente valorização da cultura grega, tendo um desligamento das instituições latinas. O latim deixa de ser a língua predominante sendo substituído pelo grego.

[editar] Dinastia Heracliana (610–711)

Ver artigo principal: Dinastia heracliana

Durante o século VII, sob o governo de Heráclio (610–641), o latim foi oficialmente substituído pelo grego como língua oficial do império romano do Oriente em 630.

O novo imperador enfrentou sérios problemas nas fronteiras, com os ávaros ao longo do Danúbio e a Pérsia a leste. O exército persa tomou Damasco, Jerusalém e o Egito e chegou até Calcedônia, à margem do Bósforo.

Page 14: Império Bizantino

Heráclio dedicou-se então a reorganizar o exército bizantino. Desenvolveu o conceito de outorgar terras a indivíduos em troca de serviço militar hereditário. As terras concedidas foram organizadas em themata (thema, no singular), palavra grega aplicada a unidades de terra agrícola pertencentes ao Estado, entregues a soldados, administradas por governadores militares (strategos) e fornecedores de recrutas por meio do serviço militar hereditário. Este sistema garantiu a sobrevivência do Império Bizantino por séculos e permitiu a Heráclio reconquistar o território tomado pelos persas.

Heráclio abandonou o uso do vetusto título de "Augusto", adotando o de "Rei dos Reis", à moda persa. Mais tarde, passou a empregar o título de Basileus, termo grego que significa "rei" e que foi aplicado aos imperadores bizantinos por 800 anos.

No final de seu reinado, as províncias da Síria, Palestina e Egito foram perdidas para os árabes, unificados por Maomé.

Após a morte de Heráclio subiu ao trono imperial seus dois filhos: Constantino III e Heraclonas. Constantino III chegou há morrer quatro meses após o inicio de seu reinado (maio de 641) por tuberculose deixando Heraclonas como imperador único. Contudo, a mãe de Heraclonas, Martina (segunda mulher de Heráclio) foi acusada de envenenar Constantino III levando a deposição de Heraclonas em setembro de 641. Subiu ao trono o filho de Constantino III, Constante II.

O reinado de Constante II é geralmente considerado como a transição entre a Antiguidade Tardia e a Idade Média no âmbito bizantino; assim como um período da história bizantina onde o império viu suas fronteiras retrocederem em todas as frentes.

Constante II ascendeu ao trono em 641, após um breve período de turbulência e de lutas de poder dentro da família imperial. Constante II sucedeu ao trono com apenas 11 anos de idade. No âmbito exterior do Império Bizantino, estava suportando as ofensivas do califado árabe que tinha tomado em alguns anos as províncias da Síria, Palestina e Mesopotâmia além de ameaçar o Egito.

Durante os primeiros anos de reinado de Constante II, parece que o poder esteve na mão do Senado, que teve pela última vez em sua história poder política real. Esta fase histórica se finalizou em 648 quando o imperador alcançou a maior idade. Constante II fez um grande esforço para defender um império ameaçado que poderia sucumbir às mãos dos exércitos árabes. Os árabes conquistaram o Egito entre 641 e 642, durante os tumultuosos anos que seguiram a morte de Heráclio e as lutas pelo trono entre seus filhos.

Império Bizantino no ano 650.

Durante os primeiros anos do reinado de Constante II, os árabes asseguraram suas conquistas da Armênia e Egito e construíram uma frota naval para enfrentar os bizantinos. A partir de 649 os árabes começaram a atacar as ilhas bizantinas do Mediterrâneo tendo assumindo o controle do Chipre.

Em 655 a frota bizantina, comandada pessoalmente por Constante II, foi derrotada na recém criada força naval árabe na Batalha de Finike, que acabou com o mito da invulnerabilidade da frota bizantina. No

Page 15: Império Bizantino

entanto, a ofensiva muçulmana foi interrompida com a morte do califa Uthman em 656, que abriu um período de guerra civil dentro do Califado.

Estabilizada sua fronteira Oriental, Constante II voltou seu olhar para o Ocidente, fazendo uma expedição militar no ano de 658 contra as tribos eslavas que tentaram infiltrar-se na Península Balcânica chegando a derrotá-las no Danúbio. Esta vitória permitiu retardar a infiltração eslava no território balcânico.

Na política religiosa Constante II entrou em conflito direto com o papado. Seu avô Heráclio havia imposto a doutrina do monotelismo, como uma forma de compromisso entre o monofisismo e a ortodoxia cristã. No entanto, o monotelismo havia causado uma rejeição total no ocidente que dominava a ortodoxia liderada pelo papa. O imperador manteve a validade da doutrina monotelista e para por fim as discussões sobre o assunto em 648 emitiu o Édito de Typos, que proibia qualquer discussão sobre a natureza de Cristo. A promulgação do édito causou rebeliões nas províncias bizantinas da Itália e da África, que foram reprimidas pelo imperador. A ultima delas contou com o apoio direto do papa Martinho I

Entre 661 e 662, o imperador se mudou para a Itália. Existem varias especulações sobre os reais motivos de tal mudança. Parece que o imperador queria redirecionar o centro de seu império em províncias ocidentais diante a ameaça muçulmana. Outros consideram que o imperador havia adquirido muitos inimigos em Constantinopla, buscando alojar-se longe deles. Constante II havia se tornado o primeiro imperador a visitar Roma desde Focas no inicio do século VII. Na Itália, Constante II se confrontou com os lombardos que haviam dominado o norte da Península Itálica. Terminou por ser derrotado por eles, deixando a Itália e se estabelecendo em Siracusa (Sicília), onde este mudou a capital imperial, uma decisão que se transformou em uma decisão extremamente impopular.

Constantino IV e sua corte, mosaico na Basílica de Santo Apolinário em Ravenna.

Para evitar problemas sucessórios, Constante II assassinou seu irmão Teodósio e nomeou seus filhos Constantino, Heráclio e Tibério como co-imperadores. Em 15 de setembro do ano 668 foi assassinado em Siracusa por um servente enquanto estava no banho. Constante II foi sucedido por seu filho Constantino IV que voltou a capital imperial para Constantinopla.

A primeira tarefa que coube ao novo imperador foi à repressão da revolta militar na Sicília que fora a causa da morte do seu pai. Sete meses depois da sua subida ao trono, Constantino IV tinha lidado com a insurreição com o apoio do papa Vitaliano. Este sucesso foi, no entanto, ensombrado por problemas mais graves na parte asiática do império.

Já desde 668 o Califa Muawiyah I enviara um exército comandando pelo seu filho Yazid contra o Império Bizantino. Yazid alcançou a Calcedônia e tomou a importante cidade bizantina de Amorium. Embora os bizantinos tivessem recuperado rapidamente a cidade, os árabes atacaram em seguida Cartago e a Sicília em 669. Em 670, os árabes capturaram Cízico e aí estabeleceram uma base a partir da qual lançaram ataques posteriores ao coração do Império. A sua armada capturou Esmirna e outras cidades costeiras em 672. Por fim, nesse mesmo ano, os árabes enviaram uma grande armada para atacar Constantinopla.

Page 16: Império Bizantino

Enquanto o imperador Constantino se ocupava desta invasão, os eslavos tentaram atacar Tessalônica, embora sem sucesso.

Constantinopla suportou o cerco dos árabes até 678, quando os bizantinos empregaram fogo grego pela primeira vez na história para destruir a frota árabe na Batalha de Silaeum, na Panfília. Os árabes retiraram-se, e foram derrotados quase ao mesmo tempo em terra, na Lícia, uma região da Anatólia. O califa aceitou então, como condições da paz, abandonar as ilhas do mar Egeu recentemente conquistadas e pagar ao imperador o tributo anual de cinquenta escravos, cinquenta cavalos e 3.000 libras de ouro.

Uso do fogo grego, de acordo com um manuscrito Bizantino.

Com o afastamento, pelo menos temporário, da ameaça árabe, Constantino também teve de dedicar a sua atenção às questões eclesiásticas, uma vez que a Igreja estava dividida entre o monotelismo e a ortodoxia. Em novembro de 680, Constantino convocou o Terceiro Concílio de Constantinopla (o sexto concílio ecumênico), no qual se reafirmaram as doutrinas ortodoxas do Concílio de Calcedônia de 451. O concílio resolveu assim a questão do monotelismo, até porque, convenientemente para a paz interna do império, a maior parte dos monotelistas encontrava-se em território agora governado pelo califado omíada. O concílio foi dado por encerrado em setembro de 681.

Em 680, os búlgaros comandados por Asparukh atravessaram o Danúbio, invadindo o território do império, e imediatamente começaram a submeter às populações locais e as tribos eslavas. Constantino IV comandou uma operação naval e terrestre contra os novos invasores e cercou-os no seu acampamento fortificado na Dobruja. Sofrendo de problemas de saúde, o imperador teve de abandonar o exército, o qual, em consequência do espalhar do boato da morte do imperador, foi derrotado pelos búlgaros. A grande expedição de Constantino teve portanto o efeito exatamente inverso daquilo que fora planejado: em vez de fazer recuar os invasores, aumentou-lhes a confiança para penetrar mais profundamente no império. Assim, em 681, Constantino foi forçado a reconhecer a constituição de um Estado búlgaro na Mésia e a pagar um tributo para evitar mais incursões na Trácia bizantina.

Os seus irmãos Heráclio e Tibério tinham sido coroados, juntamente com Constantino, augustos a pedido das multidões, mas Constantino mandou que os mutilassem em 681 para que desta forma não pudessem ascender ao trono. Ao mesmo tempo, Constantino associou ao trono o seu jovem filho Justiniano II. Constantino morreu de disenteria em setembro de 685. Em 685, Justiniano II sucedeu ao seu pai, como único imperador, com 16 anos de idade.

Graças às vitórias de Constantino IV, a situação nas províncias orientais quando Justiniano II subiu ao trono era estável. Depois de um ataque preliminar contra os árabes na Armênia, Justiniano conseguiu aumentar a quantia paga pelos Califas Omíadas como tributo anual, e ainda recuperou o controlo de parte do Chipre. Em 687, como parte dos seus acordos com o califado, Justiniano deslocou do Líbano, 12.000 cristãos maronitas, que resistiam permanentemente ao domínio muçulmano.

Justiniano aproveitou a paz a Oriente para reconquistar territórios nos Bálcãs, então quase inteiramente dominados pelas tribos eslavas. Em 687 Justiniano transferiu tropas de cavalaria da Anatólia para a

Page 17: Império Bizantino

Trácia. Numa grande campanha militar entre 688 e 689 derrotou os búlgaros na Macedônia e conseguiu finalmente tomar Tessalônica, a segunda maior cidade bizantina na Europa.

Os eslavos subjugados foram reinstalados na Anatólia, onde deveriam constituir um exército de 30.000 homens. Encorajado pelo aumento das suas tropas na Anatólia, Justiniano decidiu lançar uma nova guerra contra os árabes. Justiniano venceu uma batalha na Armênia em 693, mas as suas novas tropas foram subornadas pelos árabes e revoltaram-se. O imperador derrotou os revoltosos eslavos, mas a guerra contra os árabes estava perdida, e aqueles conquistaram a Armênia entre 694 e 695.

Entretanto, a feroz perseguição que o imperador movia ao maniqueísmo e a supressão das tradições populares de origem não-Ortodoxa causaram cisões dentro da Igreja. Em 692, Justiniano convocou o chamado Concílio Quinisexto em Constantinopla para consubstanciar a sua política, com a qual comprometeu as relações com a Igreja Católica. O imperador ordenou a prisão do papa Sérgio I; o seu exército de Ravenna revoltou-se e passou para o lado do papa.

As exigências econômicas e o descontentamento religioso provocaram uma revolta comandada por Leôncio em 695 e, depois de cortarem o nariz do imperador (o que lhe deu o cognome de Justiniano II Rinotmetos, o de nariz cortado), baniram-no para Quersoneso na Criméia.

Durante o seu impopular reinado, Leôncio evitou qualquer atividade militar, tentando reorganizar o império; esta inatividade e a postura defensiva levaram a que Abd al-Malik enviasse uma expedição para tomar Cartago, que caiu em 697. Leôncio enviou então o almirante João o Patrício para reconquistar Cartago; embora tivesse conseguido conquistar o porto e a maior parte da cidade, reforços árabes repeliram as suas forças até Creta. Receosos do castigo que Leôncio lhes infligiria, os soldados se revoltaram contra João e aclamaram Tibério Apsimar, o drungário dos cibireotas, e declararam-se contra Leôncio em 698; tiveram êxito em tomar Constantinopla uma vez que a cidade varrida pela peste lhes abriu as portas. O imperador foi deposto, mutilado por Tibério III, e aprisionado no mosteiro de Psamátion em Constantinopla. Leôncio veio a ser exibido pelas ruas da cidade e executado quando Justiniano II foi restaurado em 705.

Enquanto foi imperador, Tibério III ignorou a África, onde Cartago estava agora irremediavelmente perdida, mas atacou o califado omíada de Abd al-Malik no Oriente, obtendo pequenas vitórias em incursões na Síria em 701. As represálias árabes em 703 e 704 a partir da Cilícia foram repelidas. Entretanto, em 704, Justiniano II fugiu do seu exílio e conseguiu regressar a Constantinopla com a ajuda de Tervel da Bulgária em 705. Justiniano, depois de ter entrado na cidade, recuperou as rédeas do poder rapidamente e mandou executar Tibério. Pouco depois a mesma pena foi aplicada a Heráclio, irmão do imperador, o qual tinha sido nomeado strategos do thema Anatólico.

O segundo reinado de Justiniano foi marcado por uma guerra desastrosa contra os búlgaros e contra o califado árabe, e ainda pela cruel repressão da oposição interna. Em 708, Justiniano virou-se contra o seu César Tervel e invadiu a Bulgária, com o objetivo de recuperar os territórios cedidos em 705. Os bizantinos foram derrotados, bloqueados em Anquíalo, e obrigados a retirar-se. A esta derrota seguiram-se vitórias dos árabes na Ásia Menor, onde as cidades da Cilícia caíram nas mãos dos califas, que atingiram a Capadócia em 709–711.

Page 18: Império Bizantino

expansão muçulmana as custas bizantinas.

Justiniano estava mais preocupado em castigar os seus súditos de Ravenna e de Quersoneso. Ordenou ao papa João VII que reconhecesse as decisões do Concílio Quinisexto e ao mesmo tempo mandou equipar uma expedição punitiva contra Ravenna em 709. A repressão teve êxito, e o novo papa Constantino deslocou-se a Constantinopla em 710, cedendo a algumas das exigências do imperador e restabelecendo as relações entre o Império e a Santa Sé. Esta seria a última visita de um papa à cidade até a visita de Paulo VI em 1967.

Há indicações de que Justiniano contribuiu para o desenvolvimento da organização do império em themata e que procurou proteger os camponeses livres, que constituíam a principal reserva de recrutamento do Império.

A tirania de Justiniano provocou mais uma revolta contra ele. Quersoneso revoltou-se e, comandada pelo general exilado Bardanes, a cidade aguentou o contra-ataque das forças leais ao imperador e estas até se passaram para o lado dos revoltosos. Os rebeldes conseguiram então o controlo da capital e proclamaram Bardanes imperador com o nome de Filípico; Justiniano estava nessa altura a caminho da Armênia e não pudera regressar a Constantinopla a tempo de defender a cidade. Foi detido e executado fora da cidade em Dezembro de 711, e a sua cabeça foi enviada a Bardanes como um troféu.

Ao saber da morte de Justiniano II, a mãe do imperador levou Tibério, co-imperador e filho de Justiniano II, com seis anos de idade, para a igreja de Santa Maria em Blaquernas, mas foi perseguida pelos sicários de Filípico, os quais, tendo arrastado a criança para fora da igreja, mataram-na, extinguindo assim a linhagem de Heráclio.

[editar] Sem dinastia (711-717)

Um dos seus primeiros atos de Filípico como imperador foi depor o patriarca ortodoxo Ciro, a favor de João VI, membro da sua seita, e convocar um conciliábulo de bispos orientais, o qual aboliu os cânones do Terceiro Concílio de Constantinopla (sexto concílio ecumênico). Em reação, a Igreja Católica recusou-se a reconhecer a legitimidade do imperador e do seu patriarca.

Tervel da Bulgária saqueou a Trácia até as portas de Constantinopla em 712. Quando Filípico transferiu um exército do thema de Opsikion para defender os Bálcãs, o califa omíada Al-Walid I começou a fazer incursões através das defesas enfraquecidas da Ásia Menor.

Em finais de maio de 713 as tropas do Opsikion revoltaram-se. Alguns dos seus oficiais penetraram no palácio imperial e cegaram Filípico a 3 de Junho de 713. Foi sucedido pelo seu secretário Antêmio, que reinou como Anastácio II.

Pouco depois da sua subida ao trono Anastásio II tomou medidas para restaurar a disciplina do exército e executou os oficiais que tinham estado diretamente envolvidos na conspiração que depôs Filípico.

Anastácio repôs em vigor as deliberações do Terceiro Concílio de Constantinopla (sexto concílio ecumênico), revogando para isso os decretos monotelistas editados por Filípico, e depôs o monotelista João VI, patriarca de Constantinopla, substituindo-o pelo ortodoxo Germano I em 715. Estas ações puseram termo ao curto cisma entre a Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica.

O império, livre, por algum tempo, da ameaça dos búlgaros na Trácia, era agora ameaçado pelos árabes tanto por mar como por terra, e as incursões daqueles chegaram a penetrar na Galácia em 714. Anastácio tentou re-estabelecer a paz pela via diplomática. Perante o fracasso dos seus emissários em Damasco, Anastácio mandou reforçar as muralhas de Constantinopla e ordenou a construção de uma nova frota. No entanto, a morte do califa Al-Walid I em 715 deu a oportunidade a Anastásio de atacar os Omíadas: a frota foi enviada para se concentrar em Rodes, com ordens não apenas para resistir a qualquer avanço muçulmano por mar como também para atacar e destruir as instalações de apoio à navegação que os árabes lá tinham instalado, e um exército foi enviado, por terra, pela Anatólia em direção à Síria, sob o comando de Leão, o Isáurico, que viria mais tarde a ser o imperador Leão III e o fundador da dinastia Isáurica.

Page 19: Império Bizantino

As tropas do thema do Opsikion, descontentes com as medidas disciplinadoras do imperador, e tendo ganho, ao que parece, um claro gosto pela rebelião, amotinaram-se, assassinaram o Grande Logoteta (almirante) João e proclamaram imperador Teodósio, um cobrador de impostos de baixa condição que encontraram e que, por razões que são ainda inteiramente claras, decidiram aclamar. Depois de um cerco de seis meses, Teodósio entrou em Constantinopla; Anastácio, que se refugiara em Nicéia, foi obrigado a submeter-se ao novo imperador em 716 e retirou-se para um mosteiro em Tessalônica.

Pouco se sabe do curto reinado de Teodósio. Viu-se imediatamente confrontado com uma invasão árabe da Anatólia e com o avanço das armadas árabes. Em 716, assinou um tratado com Kormesi da Bulgária que era mais favorável aquele, num esforço para obter o seu apoio contra a invasão árabe. Esta política teve êxito em 719, quando os búlgaros ajudaram a levantar o segundo cerco árabe a Constantinopla.

Império Bizantino em 717.

Em 717, o strategos do thema Anatólico, Leão, o Isáurico (o futuro Leão III, revoltou-se contra Teodósio em conjura com Artabasdo, o strategos do thema Armênio. O filho de Teodósio foi capturado por Leão em Nicomédia, e o imperador preferiu abdicar do trono a 25 de março de 717. Quer ele quer o filho tomaram então votos monásticos.

[editar] Dinastia Isáurica (717-802)

Ver artigo principal: Dinastia Isáurica

Leão III foi denominado "Salvador do Império" por ter salvado Constantinopla quando esta foi assediada pelos árabes. Intolerante em termos religiosos, Leão III combateu o culto às imagens (movimento iconoclasta), procurando enfraquecer o poder dos mosteiros. Leão e seu filho Constantino V fecharam conventos, confiscaram bens do clero e realizaram desfiles de monges no hipódromo.

A iconoclastia de Leão III se misturava com as suas tendências antimonásticas. As terras e demais propriedades eclesiásticas tinham isenção de impostos e a multidão de monges significava, para o imperador, diminuição de soldados e de camponeses. O interesse político e o interesse econômico do imperador era diminuir o poder dos monges e aumentar a renda do Estado. Além disso, o imperador era contra o culto às imagens religiosas. Dessa forma, os monges começaram a ser tratados como inimigos do Estado.

Em 726 ocorreu uma erupção vulcânica, a qual foi interpretada como castigo do divino devido à idolatria. Baseado nisso, o imperador fez uma lei contra as imagens, que passaram a ser destruídas. Teve inicio a denominada política eclesiástica.

Este imperador, que defendeu tão bem as fronteiras do império e foi tão cruel nas perseguições religiosas, foi exatamente tolerante em termos legislativos. O Código de Écloga (seleção de leis), atribuído a Leão III, simplificou e abandou o Código de Justiniano, substituindo a pena de morte por toda uma série de castigos corporais e instituindo verdadeira proteção à família, à mulher e às crianças.

Page 20: Império Bizantino

O sucessor de Leão III foi eu filho Constantino V. Sua sucessão foi calma, mas logo sua autoridade foi posta em cheque.

Constantino cruzava a Ásia Menor para lutar contra o califa Hisham ibn Abd al-Malik, em 741 ou 742 quando foi atacado pelas forças de seu cunhado, Artabasdo. Derrotado, Constantino buscou refúgio em Amorium, enquanto o vitorioso chegava a Constantinopla e era coroado novo imperador.

Artabasdo abandonou a política de iconoclastia do seu antecessor e restaurou a ortodoxia com o apoio do papa Zacarias. Pouco depois da sua subida ao trono, Artabasdo nomeou sua esposa Ana Augusta e o seu filho Nicéforo co-imperadores, enquanto atribuía o comando do thema armênio ao seu filho mais novo Nicetas. Mas enquanto Artabasdo podia contar com o apoio dos themata da Trácia e do Opsikion, Constantino obteve o apoio dos thema Anatólico e Tracésio.

O choque inevitável ocorreu em maio de 743, quando Artabasdo lançou uma ofensiva contra Constantino mas foi derrotado. Mais tarde, nesse mesmo ano, Constantino derrotou Nicetas e a 2 de novembro de 743 Artabasdo foi aprisionado quando Constantino V entrou de novo na sua capital. Artabasdo e os seus filhos foram cegados em público e postos em reclusão no mosteiro de Cora nos arredores de Constantinopla.

Em 754, Constantino reuniu um sínodo em Hieria, que era formado basicamente de bispos iconoclastas. O sínodo aprovou as novas leis religiosas e um novo patriarca, também iconoclasta. Seguiu-se uma campanha para remover imagens de igrejas e uma perseguição a monges, que, em sua maioria, eram iconófilos. Muitos monges fugiram para a Itália e para a Sicília. A repressão aos ícones chegou ao limite quando as imagens começaram a ser consideradas heresia. Constantino, um hábil general, reorganizou o império e também seu exército para que não acontecessem mais revoltas. Desse modo, partiu para novas conquistas.

Em 746, Constantino invadiu a Síria e realocou os cristãos nos Bálcãs. Em 745, entrou em guerra com o Império Búlgaro e venceu várias batalhas. No último desses ataques, morreu em 14 de setembro de 775. Os iconófilos consideraram sua morte uma bênção divina. No século IX, seus restos mortais foram desenterrados e jogados ao mar. Seu filho Leão IV o sucedeu.

Durante o seu curto reinado Leão combateu o califado abássida de Al-Mahdi. O imperador enviou tropas para a Síria sob o comando de Miguel Lacanodrácon em 776 e 778. No entanto, as forças abássidas conseguiram fazer incursões na Anatólia em 776, 779 e 780.

Ao contrário dos seus pai e avô, Leão mostrou-se bastante tolerante para com os iconódulos e colocou no Patriarcado de Constantinopla um iconófilo. Só no final do seu reinado, em 780, é que mandou torturar e executar uma série de oficiais iconódulos. Seguindo o exemplo do seu pai, preparou uma expedição contra os búlgaros de Kardam, mas morreu antes de obter quaisquer resultados.

Leão foi muito influenciado pela sua mulher a imperatriz Irene, e quando morreu subitamente em 780 foi a ela que coube a guarda do seu filho e sucessor, Constantino VI.

Constantino foi coroado co-imperador pelo seu pai em 776, e sucedeu-lhe aos nove anos de idade sob a regência de Irene em 780.

Em 782, foi prometido a Rotrude, filha de Carlos Magno, rei dos francos, e da sua terceira mulher Hildegarda de Saboia. Irene rompeu o noivado em 788. Em 787, Constantino assinara os decretos do Segundo Concílio de Nicéia, mas parece ter-se inclinado mais para a iconoclastia. Por esta altura Constantino já cumprira 16 anos de idade, mas a sua mãe não lhe entregou o poder.

Depois de uma rebelião contra Irene ter fracassado na Primavera de 790, a imperatriz tentou obter o trono para si mesma. O plano não resultou e Constantino, à frente de tropas leais, assumiu o governo em 790, depois de as tropas armênias se terem revoltado contra Irene. Ainda assim Irene pôde conservar o título de imperatriz, que lhe foi confirmado em 792.

Page 21: Império Bizantino

A fraqueza de Constantino provocou o descontentamento dos seus partidários. Revelou covardia depois das derrotas perante Kardam da Bulgária em 791 e 792. Criou-se uma facção de apoiantes do seu tio, o césar Nicéforo. Constantino mandou vazar os olhos do tio e rasgar as línguas dos outros quatro irmãos do seu pai. Quando mandou cegar Aleixo Mosele, o comandante dos armênios, as tropas sob o seu comando revoltaram-se contra ele. Conseguiu suprimir esta revolta com enorme crueldade em 793.

Papa Leão III coroando Carlos Magno, durante a ausência de um imperador no trono bizantino.

Divorciou-se da sua esposa Maria, que não conseguira dar-lhe um herdeiro varão, e casou-se com a sua amante Teódota, numa decisão impopular e provavelmente ilegal, embora o patriarca Tarásio de Constantinopla a tivesse deixado passar em claro. Com esta atuação, Constantino perdeu todos os apoios que ainda tinha quer entre os ortodoxos quer entre os iconoclastas.

Em 797, Constantino foi aprisionado e cegado pelos apoiantes da sua mãe. Segundo alguns historiadores o imperador morreu dos ferimentos infligidos, deixando Irene como única governante do império.

Page 22: Império Bizantino

Imperatriz Irene.

Após a derrocada de Constantino, Irene se converteu na primeira imperatriz na história do Império Bizantino a ocupar o trono como consorte ou governante. No ano 800, na ausência de um imperador do sexo masculino sobre o trono de Constantinopla, e por razões de conveniência, o papa Leão III coroou Carlos Magno como imperador do Ocidente. Em Constantinopla isto foi visto como sacrilégio. No entanto, no verão de 802, o novo imperador enviou embaixadores a Constantinopla, propondo casamento à imperatriz Irene, para Irene pode ter sido um oportunidade de consolidar a sua posição instável sobre o trono de Constantinopla.

Em outubro de 802, uma conspiração depois Irene e colocou no trono Nicéforo I, que havia sido ministro de finanças. A imperatriz foi exilada na ilha de Lesbos, onde morreu um ano depois. Por sua decisão de restaurar o culto as imagens, é considerada uma santa pela Igreja Ortodoxa.

[editar] Dinastia Fócida (802 - 820)

Para perpetuar a sua dinastia no trono imperial de Bizâncio, Nicéforo associou ao seu trono o seu filho Estaurácio em 803.

O seu governo foi ameaçado por Bardanes Turcos, um de seus melhores generais, que se revoltou e foi apoiado por outros oficiais superiores, em especial pelos mais tarde imperadores Leão V, o Armênio , e Miguel II, em 803.

Nicéforo conseguiu vencer os opositores e, tendo logrado dispersar o exército inimigo, obteve a submissão de Bardanes, que foi enviado para um mosteiro. Uma conspiração encabeçada pelo patrício Arsaber teve um final semelhante.

Nicéforo empreendeu uma reorganização geral do império, criando novos themas nos Bálcãs (onde reiniciou a re-helenização da região através da deslocação para a península, de populações anatólicas) e fortalecendo as regiões fronteiriças. Carecendo de enormes quantias de dinheiro para os seus projetos militares, Nicéforo dedicou-se ativamente a reestruturar as fontes de receita do império. Granjeou o desfavor dos seus súbditos (e em especial do clero, que tentou controlar mais firmemente) através da sua rigorosa e exigente política fiscal. Embora tivesse nomeado o iconódulo Nicéforo I para patriarca de

Page 23: Império Bizantino

Constantinopla, o imperador Nicéforo I foi retratado na historiografia eclesiástica como um vilão por Teófanes o Confessor.

Em 803, Nicéforo concluiu um tratado intitulado a "paz de Nicéforo" (Pax Nicephori), com Carlos Magno, mas recusou-se a reconhecê-lo como imperador. As relações externas deterioraram-se e conduziram à guerra por causa de Veneza no período 806–810. Neste processo, Nicéforo esmagou uma revolta na cidade em 807, mas sofreu pesadas baixas infligidas pelos francos. O conflito foi sanado depois da morte de Nicéforo, e Veneza, a Ístria, a costa da Dalmácia e o sul de península Itálica foram atribuídos ao Oriente, enquanto que Roma, Ravenna e a Pentápole foram incluídas no império do Ocidente.

Krum da Bulgária.

Tendo deixado de pagar o tributo que a imperatriz Irene se sujeitava a pagar ao califa Harun al-Rachid, Nicéforo despoletou uma guerra contra os árabes. Forçado a tomar o comando pessoal dos seus exércitos pela deslealdade de Bardanes, Nicéforo foi severamente derrotado na Batalha de Crassos, na Frígia, em 805, e as subsequentes incursões árabes na Ásia Menor compeliram-no a pedir a paz oferecendo um tributo anual de 30.000 moedas de ouro. O califado abássida viu-se envolvido em lutas de sucessão dinástica depois da morte de Harun al-Rachid em 809, e Nicéforo pôde dedicar-se a lidar com Krum da Bulgária, que incessantemente assaltava as fronteiras norte do Império e que tomara Serdica (a atual Sófia).

Nicéforo invadiu a Bulgária em 811, derrotou Krum por duas vezes e saqueou sua capital Pliska. No entanto, enquanto Nicéforo retornava da campanha, o exército bizantino caiu numa emboscada e foi destruído nos desfiladeiros das montanhas na Batalha de Pliska, a 26 de Julho de 811. Nicéforo morreu nessa batalha, tendo sido o segundo imperador romano a sofrer essa sorte desde Valente, morto na Batalha de Adrianópolis em 9 de agosto de 378. O filho do imperador, Estaurácio, conseguiu reunir os sobreviventes do exército imperial e conduziu a retirada até Andrinopla, muito embora estivesse ele próprio gravemente ferido.

A derrota de Plisca foi um golpe duríssimo para o império e diz-se que Krum fez do crânio de Nicéforo uma taça, com a qual brindou à vitória obtida, antes de se preparar para pôr cerco à própria cidade de Constantinopla.

Estaurácio ficou paralisado por um golpe de espada no pescoço, e foi salvo pela guarda imperial em retirada. Por causa da incerteza quanto ao seu estado de saúde foi coroado formalmente em Andrinopla, na primeira coroação a ter lugar fora de Constantinopla desde a queda do Império Romano do Ocidente em 476.

Page 24: Império Bizantino

Por causa da sua ferida debilitante, Estaurácio nunca pôde exercer de fato o poder. À medida que a sua saúde se degradava, a corte dividiu-se entre as facções da sua mulher Teófano e da sua irmã Procópia, a qual esperava que o seu marido Miguel viesse a ser escolhido como sucessor de Estaurácio. Quando se tornou evidente que Estaurácio queria designar como sua sucessora Teófano (ou então abolir o império e proclamar a república), os partidários de Miguel obrigaram o imperador a abdicar a 2 de Outubro de 811. Estaurácio foi viver em um mosteiro, onde morreu a 11 de Janeiro de 812.

Miguel I tentou pôr em prática uma política de reconciliação, reduzindo a pesada tributação fiscal imposta por Nicéforo I. Ao mesmo tempo em que reduzia as receitas do império, Miguel distribuía dinheiro generosamente ao exército, à administração pública e à Igreja. Eleito com o apoio do partido Ortodoxo no seio da Igreja, Miguel perseguiu os iconoclastas e obrigou o patriarca Niceforo a recuar na sua disputa com Teodoro de Studion, o influente abade do mosteiro de Studion. A piedade de Miguel valeu-lhe uma apreciação muito positiva da parte de Teófanes o Confessor.

Em 812, Miguel I reiniciou conversações com os francos e reconheceu Carlos Magno como "basileus (imperador) dos francos", em troca da devolução de Veneza e da Ístria ao Império Bizantino. No entanto, influenciado por Teodoro, Miguel rejeitou as pazes com Krum, o que provocou a tomada de Mesembria (Nesebar) pelos búlgaros. Depois de alguns êxitos iniciais na Primavera de 813, o exército de Miguel preparou-se para uma grande batalha em Versinikia, perto de Andrinopla, em Junho desse ano.

Os bizantinos foram postos em fuga e a posição do imperador ficou seriamente comprometida. Evitando conspirações contra a sua vida, Miguel atalhou a questão abdicando a favor do general Leão o Armênio e tomando em seguida votos eclesiásticos (sob o nome de Atanásio). Os seus filhos foram castrados e encerrados em mosteiros, e um deles, Nicetas (com o novo nome de Inácio), chegou a tornar-se patriarca de Constantinopla. Miguel morreu pacificamente em janeiro de 844.

Com Constantinopla sujeita a cerco terrestre por Krum, Leão V tornou-se imperador numa situação precária para o império. Propôs negociar em pessoa com o invasor e tentou fazê-lo cair numa emboscada. O estratagema falhou, e embora Krum tivesse abandonado o cerco da cidade, capturou e despovoou Andrinopla e Arcadiópolis (Lüleburgaz). Quando Krum morreu na Primavera de 814, Leão V derrotou os búlgaros nos arredores de Nesebar e os dois Estados firmaram pazes para 30 anos em 815.

Como a política iconódula dos seus antecessores estava associada com as derrotas às mãos dos búlgaros e dos árabes, Leão V reinstituiu a iconoclastia depois de depor o patriarca de Constantinopla Nicéforo I e de convocar um sínodo para Constantinopla em 815. O imperador utilizou a sua política iconoclasta para confiscar os bens de iconódulos e de mosteiros, tais como o rico mosteiro de Studion, cujo influente abade iconódulo, Teodoro de Studion mandou para o exílio.

Leão V nomeou comandantes militares competentes de entre os seus próprios antigos camaradas de armas, incluindo Miguel, o Amoriano e Tomás, o Eslavo. Também perseguiu os paulicianos. Quando Leão mandou encarcerar Miguel por suspeitas de conspiração, este último fugiu da prisão e organizou o assassinato do imperador na catedral de Santa Sofia no dia de 25 de dezembro de 820.

Leão estava a rezar sozinho diante do altar, com guardas no exterior da igreja. Os conspiradores disfarçaram-se de padres e de monges, comandados por Miguel, que tinha sido libertado pelos seus partidários apenas horas antes dos acontecimentos. Leão ainda tentou defender-se dos atacantes com uma grande cruz de madeira numa mão e um turíbulo na outra, mas o imperador acabou por sucumbir aos ferimentos. Miguel foi imediatamente aclamado imperador, enquanto as grilhetas ainda pendiam dos seus pulsos.

[editar] Dinastia Amoriana (820 - 867)

No capítulo da política interna, Miguel II apoiou a iconoclastia, mas encorajou tacitamente a reconciliação com os iconódulos, os quais deixou gradualmente de perseguir e permitiu que regressassem do exílio. Entre os regressados contavam-se o antigo patriarca Nicéforo I e Teodoro de Studion, os quais não conseguiram, no entanto, convencer o imperador a abandonar a iconoclastia. Uma das poucas vítimas desta política do imperador foi o futuro patriarca Metódio I.

Page 25: Império Bizantino

A subida ao trono de Miguel despertou o apetite do seu antigo camarada de armas Tomás, o Eslavo, que se proclamou imperador na Anatólia e pôs cerco a Constantinopla em dezembro de 821. Embora Tomás não tenha conseguido obter o apoio de alguns dos themes anatólios, obteve o apoio do theme naval e dos seus navios, o que lhe permitiu apertar o cerco à cidade. Em busca de apoios, Tomás fez-se passar pelo campeão dos pobres; reduziu a carga fiscal e selou uma aliança com o califa abássida Al-Ma'mun, além de fazer-se coroar pelo patriarca Job de Antioquia.

Foi nesta altura que Omurtag da Bulgária veio em auxílio de Miguel II e forçou Tomás a levantar o cerco na primavera de 823. Cercado por sua vez em Arcadiópolis (Lüleburgaz), Tomás foi entregue ao imperador e executado em outubro. Apesar de ter suportado a crise, Miguel deparou-se com um grande enfraquecimento das defesas do império, e não conseguiu impedir a conquista de Creta pelos árabes em 824, nem logrou reconquistar a ilha através de uma expedição lançada em 826. Os árabes invadiram a Sicília em 827, tirando partido das lutas internas locais, e sitiaram Siracusa. Em 829 tinham, no entanto já sido expulsos da ilha.

Imperador Teófilo.

Depois da morte de Tecla, Miguel II casou-se, por volta de 823, com Eufrósine, a filha de Constantino VI. O propósito deste casamento era provavelmente o de fortalecer a posição de Miguel no trono, mas defrontou-se com a oposição do clero, uma vez que Eufrósine tinha sido freira. Miguel II faleceu a 2 de outubro de 829. O sucessor de Miguel II foi seu filho de primeiro casamento Teófilo.

Teófilo demonstrou ser um iconoclasta fervoroso. Em 832, fez publicar um édito proibindo terminantemente a veneração dos ícones; porem as histórias sobre o seu tratamento cruel dos iconódulos recalcitrantes são tão radicais que levam alguns a pensar que são exageros. Teófilo também se via a si próprio como um campeão da justiça, que dispensava ostentosamente, mandando executar os co-conspiradores do seu pai pouco depois da sua subida ao trono. A sua reputação como juiz perdurou, e Teófilo é representado como um dos juízes do outro mundo na obra literária Timarion.

Na altura da sua subida ao trono Teófilo viu-se obrigado a combater os árabes em duas frentes diferentes. A Sicília fora mais uma vez invadida pelos árabes, que tomaram Palermo em 831, depois de um ano de assédio. Estabeleceram o Emirado da Sicília e continuaram a expandir-se gradualmente pela ilha. No outro extremo do império, a fronteira da Anatólia era ameaçada pelo califa Abássida Al-Ma'mun e o imperador acorreu em pessoa, mas os bizantinos foram derrotados e perderam o controlo de várias fortalezas. Em 831, Teófilo conduziu um grande exército numa invasão da Cilícia e capturou Tarso. O imperador regressou a Constantinopla em triunfo, mas no outono desse ano o inimigo derrotou-o na Capadócia. Novas derrotas nessa província em 833 obrigaram Teófilo a oferecer condições de paz, as quais foram aceites no ano seguinte, depois da morte de Al-Ma'mun.

Page 26: Império Bizantino

Durante o período de calma na guerra contra os abássidas, Teófilo planeou o resgate dos cativos bizantinos levados para norte do Danúbio por Krum, rei dos búlgaros. As operações de resgate foram levadas a cabo com sucesso em 836, e a paz entre a Bulgária e o Império Bizantino foi rapidamente restabelecida. Uma situação, no entanto, impossível de replicar a Oriente: Teófilo concedera asilo a um grupo de refugiados persas em 834, entre os quais se contava Nasr, batizado Teófobo, que se casara com Irene, tia do imperador, e se tornara general no exército. Com as relações com os abássidas em nítida deterioração, Teófilo preparou-se uma vez mais para a guerra.

Em 837, Teófilo liderou uma campanha contra a Mesopotâmia, e tomou Melitene e Samosata. O imperador tomou também Zapetra, terra natal do califa Al-Mu'tasim, e destruiu a localidade, o que lhe valeu novo triunfo no regresso a Constantinopla. Ansioso por se vingar, Al-Mu'tasim reuniu um grande exército e invadiu a Anatólia em 838. Uma das alas do exército derrotou Teófilo em Dazimon, que comandava pessoalmente o exército, e o imperador escapou por pouco com vida, salvo apenas graças aos esforços de Teófobo. Outra ala do exército abássida avançou contra Amorium (Amorion), cidade berço da dinastia bizantina reinante. Depois de resistir durante 55 dias, à cidade caiu nas mãos de Al-Mu'tasim por traição em 23 de Setembro de 838. 30.000 habitantes foram massacrados, o restante foi vendido como escravo e a cidade foi arrasada.

Miguel III.

Teófilo nunca se recuperou do golpe; a sua saúde foi-se deteriorando gradualmente, e o imperador morreu a 20 de Janeiro de 842. O seu caráter tem sido o objeto de muitas discussões, com alguns a considerá-lo um dos melhores imperadores bizantinos, outros a vê-lo como um simples déspota oriental e um governante sobreestimado e insignificante. Não há dúvidas de que fez todos os possíveis para contrariar práticas de corrupção e de abuso de poder por parte dos funcionários da coroa, e que tratou dos assuntos da justiça com imparcialidade, embora os castigos aplicados por vezes não se adequassem ao crime cometido.

O sucessor de Teófilo foi seu filho Miguel que já era co-imperador desde 840. Durante a menoridade de Miguel, o império foi governado pela sua mãe Teodora, pelo seu tio Sérgio e pelo ministro Teoctisto. A imperatriz tinha simpatias iconódulas e depôs o patriarca João VII, substituindo-o pelo iconódulo Metódio I em 843. Este fato pôs fim à segunda era de Iconoclastia. A estabilização interna do estado não teve reflexo, porém, nas suas fronteiras. As forças bizantinas foram derrotadas na Panfília, em Creta e na fronteira da Síria pelos abássidas, embora a marinha bizantina tenha conseguido uma vitória contra os árabes em 853. O governo imperial empreendeu o estabelecimento dos paulicianos das fronteiras orientais na Trácia (afastando-os assim dos seus correligionários e povoando outra região de fronteira) e lançou uma expedição contra os eslavos do Peloponeso.

À medida que o imperador crescia, os cortesãos em seu redor lutavam por exercer influência sobre ele. Cada vez mais próximo do seu tio Bardas, Miguel nomeou-o César e autorizou-o a matar Teoctisto em novembro de 855. Com a ajuda de Bardas, Miguel III derrubou a regência em 15 de Março de 856 e mandou a sua mãe e as suas irmãs para um mosteiro em 857.

Page 27: Império Bizantino

Fócio.

Bardas justificou a usurpação introduzindo várias reformas; Miguel III tomou parte ativa na guerra contra os abássidas e os seus vassalos na fronteira leste do império (856–863). Em 859 cercou pessoalmente Samosata, mas em 860 teve de interromper essa campanha para enfrentar um ataque dos russos a Constantinopla. Miguel foi derrotado pelo califa Al-Mutawakkil em Dazimon em 860, mas em 863 o seu outro tio Petronas derrotou o emir de Melitene e celebrou um triunfo na capital.

Sob a influência de Bardas e de Fócio, Miguel presidiu à reconstrução de cidades e de infra-estruturas arruinadas, à reabertura de mosteiros encerrados, e à reorganização da universidade imperial no palácio de Magnaura. Fócio, que começara a carreira como leigo, tomara ordens e fora promovido a patriarca depois da expulsão do problemático Inácio em 858. Esta situação criou um cisma dentro da Igreja e, embora um sínodo em Constantinopla tivesse confirmado Fócio com patriarca em 861, Inácio recorreu para o papa Nicolau I, que declarou Fócio patriarca ilegítimo em 863. O conflito por causa do trono patriarcal e da suprema autoridade eclesiástica foi ainda exacerbado pelos ativos esforços de evangelização iniciados por Fócio.

Guiado pelo patriarca Fócio, Miguel patrocinou a missão dos santos Cirilo e Metódio ao Khagan dos Khazares, num esforço para deter a expansão do Judaísmo entre aquele povo. Embora a missão tenha fracassado, a sua missão seguinte, em 863, conseguiu a conversão da Moravia e concebeu o alfabeto glagolítico para transcrever o Eslavônico. Receando a possível conversão de Boris I da Bulgária ao cristianismo de matriz ocidental, Miguel III e Bardas invadiram a Bulgária e impuseram a Boris a conversão ao´Cristianismo ortodoxo como parte do tratado de paz em 864.

O Império Bizantino quando morreu Miguel III. Nota: O mapa não mostra que Veneza e uma parte da Ístria pertenciam, ao menos formalmente, ao Império Bizantino.

O casamento de Miguel III com Eudóxia Decapolitisa não gerou filhos, mas o imperador quis evitar um escândalo tentando casar com a sua amante de longa data Eudóxia Ingerina. A sua solução para o problema foi casar Eudóxia Ingerina com o seu favorito e camareiro Basílio. Basílio foi ganhando cada vez mais influência sobre Miguel, e conseguiu convencer o imperador que o seu tio Bardas estava envolvido numa conspiração contra ele, o que lhe permitiu assassinar Bardas. Agora sem rivais diretos,

Page 28: Império Bizantino

Basílio foi coroado co-imperador em maio de 867 e foi adotado por Miguel III, bem mais novo do que ele. Esta curiosa iniciativa pode ter tido como objetivo legitimar a sucessão ao trono por Leão, filho de Eudóxia Ingerina e de Miguel, apesar de Leão ser oficialmente filho de Basílio.

Basílio mandou assassinar Miguel III enquanto este dormia em setembro de 867, e sucedeu-lhe como único imperador. A má reputação e o cognome com que Miguel III passou à História devem-se sobretudo à propaganda de Basílio I, como forma de justificar a sua usurpação do poder.

[editar] Dinastia Macedônica (867 - 1057)

Com a dinastia macedônica, ocorreram reforma políticas e campanhas militares que devolveram ao Império Bizantino o status de potência após a expansão muçulmana do século anterior.

Basílio I e o seu filho Leão.

Basílio I deu início a uma nova era na história do império, associada à dinastia da qual foi o fundador. Foi um período de expansão territorial, durante o qual o império se tornou no estado mais poderoso da Europa.

Para reforçar a sua posição e a da sua família no trono, Basílio associou ao trono o seu filho mais velho Constantino (em 869) e o seu segundo filho Leão (em 870).

Por causa do grande trabalho legislativo que Basílio empreendeu, e que pode ser descrito como um ressuscitar da legislação de Justiniano I, este imperador é muitas vezes chamado "o segundo Justiniano". As leis de Basílio foram compiladas na Basilika, que consistia em sessenta livros, e em manuais jurídicos mais curtos conhecidos como os Prochiron e os Eisagoge. Leão VI completou estas obras jurídicas. A política financeira de Basílio foi prudente.

A sua política eclesiástica ficou marcada pelas boas relações com Roma. Um dos seus primeiros atos como imperador foi exilar o patriarca Fócio e repor no seu o lugar o rival daquele, Inácio, cujas pretensões eram apoiadas pelo papa Adriano II. As boas relações com Roma iam, porém, só até certo ponto: a decisão de Boris I da Bulgária de sujeitar a nova igreja búlgara ao patriarcado de Constantinopla foi um grande golpe para Roma, que ambicionava ela própria essa posição. Com a morte, porém, de Inácio em 877, Fócio retomou o lugar de patriarca e verificou-se um corte material, embora nunca formal, com Roma. Este foi um acontecimento decisivo nos conflitos que levariam ao Grande Cisma cujos resultados seriam a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa como entidades separadas.

Page 29: Império Bizantino

Miniatura representando uma cena da vida de Basílio.

Havia tempos, os patriarcas do império já se consideravam dirigentes supremos da cristandade sendo proclamados pela Igreja bizantina, estimulada pelo governo. Os papas, por sua vez, não abriam mão de seu poder. Conforme o cristianismo bizantino foi se expandindo, o patriarca de Constantinopla foi ganhando prestígio e força.

O choque dos interesses entre a Igreja e Constantinopla, dominada pelo imperador, e a Igreja de Roma, poderosa e independente, levou a primeira a não mais reconhecer a autoridade da segunda, em 867, enquanto Fócio era patriarca, sendo intensificada em 877 quando Fócio retornou ao posto de patriarca.

O reinado de Basílio ficou também marcado por uma guerra com os paulicianos da zona de Tephrike no alto Eufrates, os quais, aliados aos árabes, fizeram razzias até Niceia e saquearam o Éfeso. Cristóvão, general de Basílio, derrotou-os em 872, e a morte do seu líder Crisóquero ditou a sujeição definitiva do seu estado. A fronteira oriental de Bizâncio foi reforçada, apesar da costumeira guerra fronteiriça com os árabes na Ásia Menor. Chipre foi reconquistado, mas conservada durante apenas sete anos.

A Ocidente, Basílio aliou-se ao imperador Luís II contra os árabes e a sua frota acabou com as incursões daqueles no mar Adriático. Com o auxílio dos bizantinos, Luís II capturou Bari dos árabes em 871. A cidade viria a tornar-se território bizantino em 876. No entanto, a posição bizantina na Sicília deteriorou-se e Siracusa foi tomada pelo Emirado da Sicília em 878. Embora a maior parte da Sicília tivesse sido perdida, o general Nicéforo Focas (o Velho) conseguiu tomar Tarento e boa parte da Calábria em 880. Os êxitos na península Itálica deram início a um novo período de domínio bizantino na região. Mais significativamente, os bizantinos começaram a estabelecer uma forte presença no mar Mediterrâneo e em especial no mar Adriático.

Leão VI pagando homenagem a Cristo.

Basílio abateu-se quando o seu filho mais velho e favorito Constantino morreu em 879. Basílio associou então ao trono o seu filho mais novo Alexandre, por não se dar bem com Leão. O imperador morreu a 29 de Agosto de 886 num estranho acidente de caça em que o seu cinto ficou preso nas hastes de um veado e Basílio foi derrubado do seu cavalo.

Page 30: Império Bizantino

O sucessor de Basílio acabou por ser seu filho Leão VI, o Sábio . Leão terminou a compilação de Basilika, a tradução grega e atualização do código jurídico de Justiniano I, que havia sido iniciado durante o reinado de Basílio I.

Leão não obteve tantos êxitos militares como Basílio, que nunca havia sido derrotado pelos búlgaros; Leão foi derrotado por estes em 894. Em 895 teve mais êxito, após a primeira aliança com os magiares (húngaros); sem o apoio magiar de 896, os bizantinos seriam derrotados novamente.

Leão se envolveu em um escândalo que remetia seu gosto exagerado por casamentos. O imperador acabou por casar-se quatro vezes ao longo de seu reinado, tendo criado um titulo político após um deles, basileopator (pai do imperador), para seu pai político.

Alexandre III.

Em 907, Constantinopla sofreu um ataques dos russos que tentavam conseguir direitos comerciais mais vantajosos com o império. O imperador pagou a eles para conseguir a paz, mas estes atacaram novamente o império em 911 conseguindo um tratado comercial com o império. Por outro lado, Leão não teve tanto êxito contra os árabes que derrotaram a frota bizantina quando esta tentava recuperar Creta em 912. Após essa derrota, Leão adoeceu e terminou por morrer pouco tempo depois. Como seu filho era menor de idade, seu irmão e co-imperador nominal Alexandre III tornou-se o novo imperador.

Alexandre demitiu rapidamente a maior parte dos conselheiros e partidários de Leão, incluindo o almirante Himério, o patrício Eutímio e a imperatriz Zoé Carbonopsina. Durante o seu curto reinado, Alexandre foi atacado pelas forças de Al-Muqtadir, do califado abássidas a Oriente, e provocou uma guerra com Simão da Bulgária por se ter recusado a mandar o tradicional tributo quando da subida daquele ao trono. Alexandre morreu de exaustão depois de um jogo de pólo a 6 de Junho de 913, cumprindo, diz-se, a profecia do seu irmão de que reinaria apenas durante 13 meses. Seu sucessor foi Constantino VII (filho de Leão).

As fontes são uniformemente hostis a Alexandre, que é retratado como sendo preguiçoso, insidioso e malevolente, chegando até a falar de um rumor que corria de que o imperador pretendia castrar o jovem Constantino VII para afastá-lo do poder.

Constantino VII ascendeu à dignidade imperial aos 7 anos em 913, baixo a regência do patriarca Nicolas, o Místico. Nicolas se viu obrigado a firmar a paz com o rei da Bulgária Simão I, ao que teve que reconhecer como imperador da Bulgária. Por causa disso, Nicolas perdeu a regência de Constantino para a mãe dele, Zoe Karvounopsina.

Page 31: Império Bizantino

Zoe tampouco conseguiu êxito algum com os búlgaros e em 919 foi substituída por Romano Lecapeno, que casou sua filha Helena com Constantino, por onde recebeu o titulo de basileopator (pai do imperador). Em setembro de 920 Romano foi designado César e em 17 de dezembro do mesmo ano foi nomeado co-imperador coroado, tornando-se o verdadeiro líder do Império Bizantino.

Nos anos seguintes Romano I nomeou seus filhos como co-imperadores, casou suas filhas com membros poderosos de famílias aristocráticas para reforçar sua posição e depôs Nicolas, o Místico acabando com o conflito com o papado sobre os quatro matrimônios de Leão VI.

Constantino e Simeão jantando.

O primeiro desafio do novo imperador foi o conflito com a Bulgária. A subida de Romano ao poder acabou com os projetos de Simão de casar sua filha com Constantino VII, além do que Romano negou a concessão impopular de reconhecimento imperial de Simão I, que havia sido derrubado dos poderes imperiais. Posteriormente, os primeiros quatro anos do reinado de Romano se caracterizaram com a guerra contra a Bulgária.

Apesar de Simão ter sido mais poderoso e possuir um número maior de soldados, ele foi incapaz de ganhar vantagem por causa da força das muralhas de Constantinopla. Em 924, quando Simão havia bloqueado novamente a capital por terra, Romano foi capaz de abrir negociações com os búlgaros. Encontrando-se com Simão na pessoa de Kosmidion, Romano criticou a indiferença de Simão para a tradição e a fraternidade cristã ortodoxa; supostamente Simão ficou tão envergonhado que chegou em um acordo com o império e levantou cerco.

Em realidade a paz foi alcançada pelo reconhecimento tácito de Romano a Simão como Imperador da Bulgária. As relações posteriores foram marcadas pela continua discussão por títulos (Simão se autoproclamava imperador dos romanos, um titulo igual ao dos imperadores bizantinos), contudo, a paz foi estabelecida eficazmente.

Depois da morte de Simão em 927, o novo imperador búlgaro Pedro I fez um espetáculo de força ao invadir a Trácia, porem se mostrou disposto a negociar por uma paz mais permanente. Romano aproveitou a oportunidade e propôs a aliança matrimonial entre as famílias imperiais de Constantinopla e Bulgária. Em setembro de 927, Pedro se casou com Maria, a filha com co-imperador Cristovão Lecapeno e neta de Romano I. Sobre esta ocasião Cristóbal recebeu a preferência na linha de sucessão sobre seu cunhado Constantino VII, o que causou ressentimento a Constantino VII em relação aos Lecapeno, os búlgaros e os matrimônios imperiais com forasteiros.

A partir desse acordo de paz, o governo de Romano I havia conseguido libertar-se da ameaça de confrontação direta com a Bulgária. Embora o império tenha apoiado tacitamente uma rebelião sérvia contra a Bulgária em 931, e os búlgaros permitiram que incursões magiares cruzassem seu território até as possessões bizantinas, o império e a Bulgária permaneceram em paz durante quarenta anos.

Romano designou o brilhante general João Curcuas comandante dos exércitos da campanha do leste. Curcuas passou por uma rebelião no thema de Chaldia e interveio na Armênia em 924. Em 926 Curcuas realizou uma campanha através da fronteira leste contra os abássidas e seus vassalos, conseguindo uma

Page 32: Império Bizantino

importante vitória em Melitene em 934. A captura desta cidade é considerada como a primeira recuperação principal do território por parte do Império Bizantino para os muçulmanos.

A frota bizantina repele os russos em 941.

Em 941 uma frota de 15 navios liderados por João Curcuas teve que defender Constantinopla de uma incursão russa, e derrotou os invasores tanto em terra como em mar. Em 944, Romano I realizou um acordo com o príncipe Igor de Kiev. Depois do problema solucionado, Curcuas voltou sua atenção novamente para o leste. Em 943 Curcuas invadiu o norte da Mesopotâmia e sitiou a importante cidade de Edessa em 944. João Curcuas foi considerado como um segundo "Trajano ou Belisário"; foi despedido depois da caída de Romano I Lecapeno em 945. No entanto, suas campanhas no leste prepararam terreno para as reconquistas mais dramáticas durante a segunda metade do século X.

Romano I Lecapeno tentou reforçar o Império Bizantino buscando paz em todas as fronteiras do Império onde era possível. Para proteger a Trácia das incursões magiares, Romano lhes pagou um tributo e perseguiu lugares diplomáticos.

Os cazares eram aliados do império até o reinado de Romano, quando ele começou a perseguir os judeus do império. Segundo a Carta Schechter, o governador dos cazares Joseph ben Aaron respondeu a perseguição dos judeus "se livrar de muitos cristãos" e Romano I tomou represálias ao incitar a Oleg de Kiev (chamado Helgu na Carta) contra o Estado Khazar.

Além disso, ele havia restaurado a paz dentro da Igreja e tinha acabado com o novo conflito entre Roma e Constantinopla ao promulgar os Tomos da União. Em 933, Romano aproveitou uma vaga no trono patriarcal para denotar seu filho mais novo, Teofilacto, patriarca de Constantinopla. O novo patriarca não alcançou renome por sua piedade e espiritualidade, mas adicionou elementos teatrais à liturgia bizantina, e foi um criador de cavalos ávido, alegadamente deixando a massa para atender a uma de suas éguas favoritas que estava dando a luz.

O palacio de Myrelaion.

Page 33: Império Bizantino

Romano era ativo como legislador, ao promulgar uma série de leis para proteger as terras dos pequenos proprietários de serem engolidos pelos estados da nobreza (dynatoi). A reforma legislativa pode ter sida parcialmente inspirada pelas dificuldades causadas pela fome de 927. O imperador conseguiu aumentar os impostos, estabelecendo o Estado em um equilíbrio financeiro mais seguro. Romano também foi capaz de terminar com eficazmente diversas rebeliões em varias províncias do Império.

Em Constantinopla construiu seu palácio em um lugar chamado Myrelaion, próximo do Mar de Mármara. Ao lado do palácio construiu um lugar santo que seria a primeira igreja de enterro privada de um imperador bizantino.

O reinado posterior de Romano I foi marcado pelo aumento do interesse no velho imperador no juízo divino e pelo crescente sentimento de culpa pelo seu papel na usurpação do trono de Constantino VII. Depois da morte de Cristovão, seu filho mais competente, em 931, Romano não colocou seus filhos mais novos na frente de Constantino VII. Temendo que Romano permitisse a Constantino VII após sua morte, seus filhos mais jovens Estêvão e Constantino se rebelaram contra seu pai em 944 colocando-o em exílio. Quando ameaçaram Constantino VII, este incitou uma rebelião popular em Constantinopla em favor de Constantino VII; Estêvão e Constantino foram banidos na cidade e postos no exílio com seu pai.

Olga de Kiev.

Em 949 Constantino realizou uma nova expedição contra os corsários árabes escondidos em Creta, porem fracassou. Isto deu lugar a um ataque árabe por terra sobre as possessões bizantinas da Síria, Armênia e Itália, contudo, os territórios perdidos seriam logo recuperados por João I Tzimisces. Em 957 graças ao fogo grego se conseguiu destruir uma frota árabe.

Constantino manteve intensas relações diplomáticas com os reinos estrangeiros, incluindo com o califa de Córdova Abd al-Rahman III. No outono de 957, Constantino recebeu a visita de Olga, princesa do principado de Kiev. Olga foi batizada com o nome de Elena, iniciando assim a conversão de seu povo ao cristianismo.

Embora em conjunto a valorização de seu reinado é positiva, porem foi mais conhecido como escritor e erudito. Escreveu obras como De ceremoniis (sobre as cerimônias), que descreve todas as cerimônias da corte, que também seria incluído, embora com animo critico, na obra de Liutprando de Cremona; De administrando imperio (sobre a administração do império) que oferece conselhos sobre como governar o império e sobre como lutar com seus inimigos externos; e uma história do império que reflete os eventos ocorridos após a morte do cronógrafo Teófanes em 817. Estes livros são uma fonte importante de informações para conhecer o período de Constantino e seu reinado. Constantino era também um grande colecionador de livros, manuscritos e obras de arte em geral, assim como um bom pintor. Constantino morreu em 959 sendo sucedido por Romano II.

Page 34: Império Bizantino

Captura de Alepo pelas tropas de Nicéforo.

Romano II subiu ao trono, por entre rumores de que ou ele ou a sua esposa tinha envenenado Constantino VII. Romano levou a cabo uma autêntica purga dos cortesãos do seu pai e substituiu-os pelos seus próprios amigos e pelos da sua mulher. Entre os banidos da corte encontrava-se a imperatriz-mãe, Helena, e as suas filhas, todas elas enviadas para conventos. Não obstante, muitas das novas nomeações de Romano II foram para homens competentes, tais como o seu conselheiro principal, o eunuco José Bringas.

O imperador, mais preocupado com desfrutar a vida, pôde também deixar os assuntos militares nas mãos dos seus generais, em especial nas dos irmãos Leão e Nicéforo Focas. Em 960, Nicéforo Focas foi encarregado de reconquistar Creta dos muçulmanos. Depois de uma difícil campanha e de 9 meses de cerco a Cândia, Nicéforo conseguiu colocar toda a ilha sob o controlo dos bizantinos em 961. Agraciado com um triunfo em Constantinopla, Nicéforo foi enviado para a fronteira oriental, onde reconquistou a Cilícia e Alepo em 962. Entretanto Leão Focas e Mariano Argiro derrotaram incursões dos magiares na península dos Bálcãs.

Romano II adoeceu depois de uma longa expedição de caça e morreu a 15 de março de 963. Correram rumores de que a sua esposa Teófano o envenenara. A confiança depositada por Romano II na sua mulher e em burocratas como José Bringas resultaram numa administração competente, mas provocou ao mesmo tempo a insatisfação dos nobres, uma classe predominantemente militar.

Morte de Romano II.

Após a morte de Romano II, Nicéforo voltou para Constantinopla para se defender das intrigas do ministro José Bringas. Com a ajuda da regente, a imperatriz Teófano, e do patriarca, obteve o comando supremo das forças de oriente, e foi proclamado imperador por estas, na sua marcha sobre a capital, na qual, entretanto, os seus partidários destronaram o seu inimigo Bringas. Graças à sua popularidade no exército, Nicéforo foi coroado imperador junto aos filhos menores de Romano, e apesar da oposição do patriarca, casou-se com a mãe destes, a regente Teófano.

Nicéforo entrando em Constantinopla em 963.

Durante o seu reinado continuou envolvido em várias guerras. Entre 964 e 966, conquistou definitivamente a Cilícia, e de novo entrou na Mesopotâmia e Síria, enquanto o patrício Nicetas reconquistava Chipre. Em 968 tomou a maioria das fortalezas da Síria, e após a queda de Antioquia e Alepo (969), que tomaram os seus generais, foram asseguradas as conquistas por meio de uma paz. Na

Page 35: Império Bizantino

fronteira do norte, começou uma guerra contra os búlgaros, aos quais os bizantinos estiveram pagando tributo (967), e distraiu a sua atenção pelo procedimento de instigar um ataque dos Rus (russos) de Kiev.

Contudo, Nicéforo teve menos sucesso nas suas guerras no ocidente. Após renunciar a pagar tributo aos califas fatímidas, enviou uma expedição para a Sicília sob o comando de Nicetas (964—965), mas viu-se obrigado a abandonar totalmente a ilha depois das derrotas no mar e em terra. Em 967, fez as pazes com os muçulmanos de Cairuão e voltou-se contra o inimigo comum de ambos, o imperador do Sacro Império Romano-Germânico Otão I, que atacara as posses bizantinas na Itália; mas após alguns sucessos iniciais, os seus generais foram derrotados e retornaram à costa meridional.

Nicéforo II.

Devido ao cuidado que prestou à perfeita manutenção do exército, Nicéforo viu-se obrigado a economizar em outros departamentos. Reduziu consideravelmente a munificência imperial e recortou as isenções do clero, além de proibir a fundação de novos mosteiros, apesar de que ele próprio era uma pessoa de caráter muito religioso. Devido ao aumento dos impostos e à depreciação da moeda, a sua popularidade ficou seriamente minguada, e produziram-se várias revoltas. Finalmente, foi abandonado pela sua esposa Teófano e assassinado na sua própria estância por uma conspiração urdida pela sua esposa e por seu sobrinho João Tzimisces.

Nicéforo foi o autor de um tratado sobre tática militar, que é conservado e que contém informação muito rica em relação à "arte" da guerra na sua época.

Elegido governante, João Tzimisces, para justificar a sua usurpação concentrou todas as suas forças na luta contra os invasores estrangeiros do Império. Numa série de campanhas contra a recentemente estabelecida potência russa de Kiev (970-973), expulsou os russos da Trácia, atravessou o monte Hemo e assediou a fortaleza de Dorystolon no Danúbio. Após várias batalhas derrotou os russos de tal maneira que o consideraram senhor dos búlgaros orientais.

Além disso, reforçou a sua fronteira setentrional levando para a Trácia algumas colônias de bogomilos deportados da Capadócia, suspeitos de proximidade aos sarracenos do leste. Em 974 virou-se contra o Império abássida e recuperou com facilidade alguns territórios do interior da Síria e um trecho meio do Eufrates.

Morreu repentinamente em 976, retornando da sua segunda campanha contra os sarracenos. Seu apelido parece derivar-se do armênio tshemshkik, que significa "bota vermelha".

Durante seu reinado colocou como co-imperadores os dois filhos de Romano II, Basílio II e Constantino VIII. João Tzimisces, que não teve filhos faleceu em 976, deixando o trono aos jovens, que ficaram sob tutela de um tio-avô, Basílio. Contudo, a autoridade deste foi posta em causa por dois generais que ambicionavam a posição de imperador. Como Basílio era o irmão mais velho ele subiu ao trono imperial.

Page 36: Império Bizantino

Logo no começo de seu reinado Basílio se encontrou com problemas. Os grandes latifundiários da Ásia Menor, Bardas Scleros e Bardas Focas, que forneciam muitos dos soldados do império e grande parte dos impostos, se encontravam em revolta aberta contra seu poder.

Basílio, fazendo mostrar a severidade que caracterizou seu reinado, reprimiu a rebelião destes em 979 e 989 respectivamente. Para este fim, aliou-se com Vladimir I de Kiev que ofereceu 6.000 homens de seu exército como reforços para as tropas imperiais e a retirada da base bizantina de Quersoneso na Criméia em troca da mão da irmã mais nova do imperador, Ana (963 – 1011). A princípio, Basílio hesitou porque os bizantinos consideravam bárbaros os russos de Kiev e a própria Ana se opôs ao matrimonio com um bárbaro.

Basílio II.

No entanto, Vladimir foi batizado e prometeu converter seu povo ao cristianismo; Basílio finalmente aceitou. O matrimonio foi celebrado em 989. Os reforços russos seriam fundamentais para acabar com a rebelião e se tornou o ponto de partida para a posterior guarda varegue. A queda de Basílio Lecapeno seguiu as rebeliões. Foi acusado de conspirar com os rebeldes e foi condenado ao exílio e a confiscação de enormes propriedades. Tentando proteger a pequena propriedade camponesa, Basílio II fez uma reforma no sistema fiscal impiedoso ao tributar pesadamente a vasta propriedade que tinha se expandido para a Ásia Menor.

Após as revoltas internas, Basílio voltou sua atenção para os inimigos do império. As guerras civis haviam debilitado sua posição no leste e as conquistas de Nicéforo e João se tornaram perigosas, sendo Antioquia e Alepo sitiadas. Em 995, Basílio lançou uma campanha contra os árabes com um exercito de 40.000 homens. Derrotou os árabes em varias batalhas na Síria, libertou Alepo, assegurou o estratégico vale de Orontes e conquistou todas as cidades desde Emesa até Trípoli. Apesar de não ter forças suficientes para entrar na Palestina e tomar Jerusalém, suas vitórias permitiram recuperar grande parte da Síria para o império.

Porem Basílio não havia acabado com suas ações, tendo como intenção recuperar os territórios perdidos pelo Império Bizantino ao longo do tempo. Em começos do século X, iniciou as hostilidades contra quem seria seu grande adversário, Samuel da Bulgária.

Page 37: Império Bizantino

A Bulgária havia sido parcialmente conquistada pelo imperador João I Tzimisces, porem parte havia conseguido manter sua independência, baixo o reinado de Samuel e seus irmãos. Os búlgaros realizaram incursões em terras bizantinas desde 976 e o governo bizantino tratou de provocar sem êxito dissensões permitindo a fuga do imperador cativo Bóris II da Bulgária.

Foi à invasão da Tessália e a tomada de Larissa em 985 por parte de Samuel I que fez Basílio II começar as ofensivas. Aproveitando um respiro no conflito com a nobreza, Basílio guiou um exercito de 30.000 homens a Bulgária, decidido a tomar por surpresa Sófia, em 986, porem não conseguiu penetrar na cidade. Basílio decidiu regressar, quando todavia não havia sofrido muitas baixas; com a retirada o exército búlgaro o alcançou e lhe infringiu uma grave derrota na Batalha das Portas de Trajano em agosto de 986, colocando o poder e o prestígio de de Basilio em xeque no império.

Quando a guerra eclodiu em 1002, Samuel tinha estendido o reino búlgaro desde o Danúbio, ao Norte, até Atenas. Seus domínios se estenderam do Adriático ao Mar Negro, e todos estes territórios haviam sido conquistados durante os 300 anos anteriores a expansão dos bizantinos. Basílio estava decidido a inverter a destino do império.

A guerra assolou os Bálcãs por 12 anos, durante tanto Basílio como Samuel conseguiram vitórias surpreendentes. As forças de Samuel eram consideravelmente menores, porem estas foram capazes de evitar o enfrentamento total, ao fazer ataques menores no exército de Basílio em seu avanço pelo território búlgaro. Samuel esperava corroer as tropas bizantinas, forçando-nos a rendição ou ao menos firmar uma paz.

Finalmente, em 29 de julho de 1014 Basílio encurralou o exercito búlgaro e o obrigou a lutar a Batalha de Kleidion, porem, Samuel se encontrava a vários quilômetros dali. Basílio arrasou os búlgaros e fez 14.000 prisioneiros: mandou cegar 99 de cada 100 desses, deixando o restante com um olho para poder guiar os demais de volta. Embora seja provavelmente um exagero, esse fato deu a Basílio o sobrenome Bulgaróctones (matados de búlgaros).

Quando Samuel viu voltar suas tropas cegas, segundo a lenda morreu de tristeza. A Bulgária seguiu lutando por quatro anos, terminando por submeter-se em 1018. A vitória sobre os búlgaros e a posterior submissão da Sérvia significou a realização de um dos objetivos de Basílio: a recuperação para o império da antiga fronteira do Danúbio pela primeira vez em 400 anos.

Mapa do império após as conquistas de Basílio.

Enquanto isso, o exercito bizantino, aliado com o príncipe de Kiev, atacou a Criméia, grande parte da qual havia caído sobre a égide do reino de Georgius Tzul, estado sucessor do reino dos cazares centrado em Kerch. Segundo o historiador Cedreno, Georgius foi capturado e seu reino destruído.

Basílio voltou triunfante a Constantinopla, para sair novamente, desta vez para o Oriente, para atacar o domínio persa sobre a Armênia. Este reino havia se convertido em um Estado tributário bizantino quando morreu seu rei no ano 1000. Aqui também se sucederam vitórias, e a Armênia se reincorporou ao Império Bizantino de onde havia se separado há 200 anos.

Page 38: Império Bizantino

Ao mesmo tempo, outras forças bizantinas recuperaram grande parte da Itália Meridional cujo domínio havia perdido para os lombardos e árabes há 150 anos antes. Reorganizou os themas italianos, combinando a Lombardia com a Calábria sob um comando comum, o Catapán da Itália, com capital em Bari, para formar o Catapanato da Itália. Em 15 de dezembro de 1025, Basílio morreu em meio a preparativos para recuperar a ilha da Sicília das mãos árabes.

Em sua ultima vontade pediu para ser enterrado ao lado do campo de treinamento de sua cavalaria, em vez do espaço reservado aos imperadores de sua família. Seu sucessor foi o já co-imperador e irmão Constantino VIII, já que Basílio não teve filhos.

Quando Basílio II faleceu a 15 de dezembro de 1025, Constantino passou a ser o único imperador, embora somente reinasse durante menos de três anos, até a sua morte a 15 de novembro de 1028. Assumiu o poder aos 65 anos idade, e ao encontrar-se cheio de dinheiro, o tesouro imperial, abandonou-se aos seus prazeres. Sabendo-se incapaz de consumir o seu tempo em preocupações, delegou as responsabilidades em homens com uma grande formação, enquanto ele se encarregava de todo o relacionado às audiências aos embaixadores ou do restante dos pequenos assuntos administrativos.

Nunca se mostrou excessivamente preocupado pelo poder; ainda que de constituição forte, era débil de espírito; ao envelhecer e não poder já combater, exasperava-se com qualquer notícia de mau augúrio. Seu reinado foi desastroso pela sua falta de coragem. Reagia perante a qualquer menor suspeita com grande crueldade: assim, ordenou a execução ou mutilação de centos de homens inocentes. Em poucos meses do começo do seu reinado, as leis sobre a terra ditadas por Basílio foram derrogadas pela pressão da aristocracia da Anatólia.

Embora não tivesse muitos estudos, e os seus conhecimentos fossem muito limitados, estava dotado de uma destreza e graça inatas e tinha a fortuna de possuir uma língua delicada e elegante à hora de falar. As suas maiores paixões eram as corridas de carros e os espetáculos públicos, e a sua afeição pelos dados e os jogos de tabuleiro era tal que desatendia os mais graves assuntos de Estado. Era também um magnífico ginete, mas quando chegou a ser imperador único, sofria de gota crônica e apenas podia andar.

Constantino VIII tomou como mulher uma das mais nobres patrícias, chamada Helena, filha de Alípio, formosa de aparência e nobre de espírito. Tiveram três filhas, passando o império à sua filha Zoé e aos maridos e filhos desta.

Durante seu reinado, Constantino VIII ordenou que Romano III divorcia-se de sua esposa e casa-se com Zoé, filha do imperador. Quando Constantino morreu, Romano III tornou-se imperador.

O novo imperador demonstrou vontade de deixar a sua marca como governante, mas sofreu grandes reveses nos seus projetos. Gastou avultadas quantias em novas edificações e doações aos mosteiros, ao mesmo tempo em que desorganizava a estrutura fiscal do império por querer reduzir a carga tributária. Idealizando Marco Aurélio, Romano aspirava a ser o novo "rei filósofo", e ao mesmo tempo queria imitar os feitos militares de Trajano.

Romano III Argiro - gravemente doente - morre no palácio em 1034. Na imagem, Romano está no banho quando morre da Crónica de João Esquilitzes.

Em 1030 decidiu retaliar contra as incursões dos muçulmanos na fronteira oriental comandando um grande exército e conduzindo-o até Alepo, mas sofreu uma pesada derrota por se ter deixado surpreender em Azaz, perto de Antioquia. Embora este desastre tenha sido compensado pela conquista e posterior defesa de Edessa por Jorge Maniace em 1032 e pela derrota de uma armada muçulmana no mar Adriático, Romano nunca recuperou a popularidade.

Enquanto membro da aristocracia, Romano III suspendeu a prática dos seus antecessores de redução dos privilégios da classe e reduziu-lhes os impostos, permitindo ao mesmo tempo em que os lavradores livres fossem reduzidos à condição de servos. Numa tentativa vã de reduzir as despesas, Romano impôs limites às despesas da imperatriz, o que só veio aprofundar as divergências entre os cônjuges.

Page 39: Império Bizantino

Internamente Romano III viu-se confrontado com diversas conspirações, a maior parte delas tendo como origem a sua cunhada Teodora, como as de 1029 e 1030. Embora tenha sobrevivido a estas conjuras, a sua morte prematura em 1034 é atribuída ao envenenamento pela sua esposa, embora também se creia que foi afogado enquanto se banhava, por ordem de Zoé.

O sucessor de Romano III foi Miguel, o camareiro da imperatriz que havia se apaixonado por ele. Miguel ao subir ao trono foi nomeado Miguel IV.

Miguel IV era bem inteligente e generoso, mas não tinha instrução e sofria de epilepsia. Deixou por isso as responsabilidades governativas ao seu irmão João, que já era um ministro influente desde os tempos de Constantino VIII e de Romano III. As reformas que João efetuou no exército e no sistema financeiro fortaleceram sensivelmente o império, que suportou bem os ataques dos seus inimigos estrangeiros. Mas os aumentos nos impostos causaram descontentamento quer entre os nobres quer entre o povo. O governo de João enfrentou diversas conspirações (em 1034, 1037, 1038 e 1040), uma das quais era liderada pela própria imperatriz Zoé. A última das conspirações envolveu o patrício Miguel Cerulário, que se tornou monge para salvar a vida e veio mais tarde a ser patriarca de Constantinopla.

Na fronteira oriental a importante fortaleza de Edessa foi libertada de um cerco prolongado. No frente ocidental os muçulmanos foram expulsos da Sicília por Jorge Maniace (que conduziu campanhas na ilha entre 1037 e 1040); mas uma expedição contra os normandos na Itália foi derrotada e depois do regresso a Constantinopla de Maniaces a maior parte das conquistas na Sicília foram perdidas (1041).

No norte, os sérvios revoltaram-se em 1040, assim como os búlgaros na Bulgária Ocidental e na Macedônia nesse mesmo ano. Estas revoltas tiveram na sua origem a pesada tributação em moeda, mas também tinham como objetivo restaurar o Estado búlgaro sob o comando de Pedro Delian. Embora Miguel IV tivesse sido expulso da região de Tessalónica pelos rebeldes, regressou em 1041 ajudado por mercenários nórdicos, entre os quais o futuro rei Harald III da Noruega. Os sucessos militares dos bizantinos foram aumentados pela dissidência interna dos búlgaros e os comandantes da revolta acabaram por serem capturados e executados. Miguel IV regressou triunfalmente a Constantinopla mas encontrava-se já muito doente e faleceu a 10 de Dezembro de 1041.

Seu sucessor foi seu sobrinho Miguel que já havia recebido o titulo de Kaisar (César).

Decidido a governar sozinho, Miguel V entrou em conflito com o seu tio João o Eunuco, que foi imediatamente banido para um mosteiro. Miguel revogou as medidas tomadas pelo seu tio e absolveu os nobres e os cortesãos que tinham sido exilados durante o reinado anterior, incluindo o futuro patriarca Miguel Cerulário e o general Jorge Maniace. Maniace foi rapidamente despachado para o sul de Itália para conter o avanço dos normandos.

Constantino XI, Jesus e Zoé.

Page 40: Império Bizantino

Na noite de 18 para 19 de Abril de 1042, Miguel V desterrou a sua mãe adotiva e co-imperatriz Zoé, tornando-se imperador único. O anúncio deste fato despoletou uma revolta popular; o palácio imperial foi cercado pela multidão que exigia a restauração de Zoé. A exigência foi satisfeita, e Zoé juntou-se Teodora, sua meia-irmã, como co-imperatriz. Em 20 de Abril de 1042, Teodora depôs o imperador, o qual se refugiou no mosteiro de Studio. Embora se tivesse tornado monge, Miguel V foi cegado e castrado, tendo morrido em 24 de Agosto de 1042.

Além dos maus tratos a Zoé, a impopularidade de Miguel V também se deveu às suas tentativas de reforma da administração, às quais se opunham fortemente as classes dominantes, enquanto que as classes mais baixas o consideravam um usurpador.

Zoé partilhou o poder com Teodora durante dois meses até conseguir encontrar um novo marido, o terceiro e último de acordo com as regras da Igreja. Escolheu Constantino IX (reinou entre 1042 e 1055), que lhe sobreviveu apenas quatro anos. Zoé morreu em 1050.

Em 1043, Constantino IX relevou ao general Jorge Maniace do seu comando militar na Itália, e em consequência Maniace declarou a si mesmo imperador. Quando as suas tropas estavam a pique de derrotar a Constantino numa batalha, Maniace foi ferido e morreu no campo de batalha, dando fim à crise. Logo após a vitória, Constantino foi atacado por uma frota dos Rus de Kiev, que seguramente fora contratada por Maniace. Também essa frota foi derrotada graças ao uso do fogo grego.

Em 1046, os bizantinos tiveram um primeiro contato com os turcos seljúcidas. Lutaram numa batalha na Armênia em 1048 e estabeleceram uma trégua para o ano seguinte. Contudo, em 1053 Constantino viu-se obrigado a licenciar as suas tropas armênias por razões econômicas, deixando a fronteira oriental do Império mal defendida.

Em 1054, as diferenças seculares entre a Igreja ortodoxa grega e a Igreja católica romana deram lugar à sua separação definitiva. Os legados do papa Leão IX excomungaram ao patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário, ao não estar este de acordo com a adoção de certas práticas eclesiais ocidentais; e Cerulário replicou, excomungando aos legados. Esse feito anulou as possibilidades de uma aliança entre Constantino e o Papa contra os normandos do sul da Itália.

Este episódio de ruptura definitiva foi conhecido como Cisma do Oriente, onde por meio a Igreja bizantina passou a ser conhecida como Igreja Ortodoxa grega, mantendo dogmas e rituais próprios, diferentemente da Igreja Ocidental, a Igreja Católica Apostólica Romana, que manteve seus dogmas tradicionais e não reconheceu a Igreja Oriental.

Constantino quis intervir, mas caiu enfermo e morreu em 11 de janeiro do ano seguinte. Teodora, a filha mais velha de Constantino VIII, que já reinara junto com a sua irmã Zoé, foi nomeada imperatriz.

Depois da morte de Constantino IX, apesar de ter mais de setenta anos de idade, fez valer vigorosamente seus direitos ao trono, frustrando uma tentativa de golpe contra seu governo em favor do general Nicéforo Brienio.

Graças a sua administração firme, controlou os nobres rebeldes e acabou com muitos abusos, porem prejudicou sua reputação de rigor excessivo para com seus inimigos e pelo indevido uso de seus servos como conselheiros. Morreu repentinamente em 31 de agosto de 1056. Por não ter filhos e ser a última de sua dinastia, escolheu um de seus favoritos como sucessor: Miguel VI. Porem, este não tinha nenhuma relação que governou o império durante os últimos 189 anos (867 – 1056) e, portanto, não foi considerado como possuidor de direito ao trono. Esta situação resultou em uma série de lutas pelo trono pelas diversas famílias nobres, que durou até 1081.

Durante o seu breve mandato, favoreceu a burocracia em detrimento da aristocracia militar. Após desairar os principais chefes militares do Império na Primavera de 1057, houve uma conspiração para derrocar, e a 8 de junho de 1057 foi proclamado imperador o comandante e chefe do exército bizantino, Isaac Comneno. O exército rebelde derrotou os partidários de Miguel VI a 20 de agosto desse mesmo ano, entre as cidades de Niceia e Nicomédia. O imperador enviou uma embaixada a Isaac Comneno, encabeçada pelo historiador Miguel Psellos, propondo a coroação de Isaac como César e futuro sucessor. Embora

Page 41: Império Bizantino

Isaac aceitasse, o patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário instigou um golpe de estado que depôs Miguel VI. A 1 de setembro, Isaac Comneno entrou triunfalmente em Constantinopla. Ao contrário do que costumava ocorrer com os imperadores bizantinos depostos, Miguel não foi assassinado nem cegado, nem teve de exilar-se. Continuou vivendo como cidadão particular, e faleceu pouco depois, por volta de 1059.

[editar] Dinastia Comneno (1057 – 1059)

A primeira preocupação do imperador foi recompensar os seus apoiantes aristocratas com nomeações que os afastavam de Constantinopla, e em seguida tentar restabelecer as depauperadas finanças imperiais. Revogou prebendas e concessões atribuídas pelos seus antecessores a cortesãos ociosos e, respondendo às acusações de sacrilégio ditas por Miguel Cerulário com um decreto de desterro em 1058, apropriou-se de parte dos rendimentos eclesiásticos. A única expedição militar de Isaac foi contra o rei André I da Hungria e os pechenegues, que ameaçavam as fronteiras norte do império em 1059.

Pouco depois da campanha vitoriosa concluiu a paz com a Hungria e regressou a Constantinopla. Aqui foi acometido por uma doença e convenceu-se de que esta era mortal. Os cortesãos tiraram partido da situação, liderados por Miguel Psellos, que influenciou Isaac para que este nomeasse Constantino Ducas seu sucessor e não o seu irmão João Comneno. Isaac abdicou a 22 de Novembro de 1059, contra a vontade do seu irmão e da sua esposa Catarina. Tal como Isaac, tanto Catarina quanto a filha de ambos tomaram votos religiosos.

Embora tenha se recuperado, Isaac Comneno não reassumiu o cargo de imperador, vivendo como um monge no mosteiro de Studios, alternando trabalhos braçais com estudos literários. Os seus Scolia sobre a Ilíada e outros trabalhos sobre os poemas Homéricos chegaram até aos nossos dias. Morreu em finais de 1060 ou em inícios de 1061. O grande objetivo de Isaac era devolver ao império a apertada organização de que em tempos desfrutara, e as suas reformas, embora impopulares entre todas as camadas da população, forma mais tarde reconhecidas como importantes para atrasar, pelo menos, a derrocada final do Império Bizantino.

[editar] Dinastia dos Ducas (1059 – 1078)

O novo imperador associou ao trono dois dos seus filhos, nomeou Kaisar (César) o seu irmão João Ducas, e iniciou uma política favorável aos interesses da burocracia da corte e da Igreja Ortodoxa. Ao cortar radicalmente nas despesas com o treino e aprovisionamento do exército, Constantino X enfraqueceu dramaticamente a defesa bizantina num momento crucial da história, quando o império enfrentava o avanço para Ocidente dos turcos seljúcidas e dos seus aliados turcomanos.

Constantino tornou-se impopular junto dos apoiantes de Isaac na aristocracia militar, que tentou assassiná-lo em 1061; também não era bem visto pela população em geral, depois de ter aumentado os impostos na tentativa de pagar ao exército. Constantino perdeu a maior parte da Itália bizantina para os normandos de Roberto Guiscardo, com exceção dos arredores de Bari, e sofreu repetidas invasões de Alp Arslan na Ásia Menor em 1064 e dos Uzes nos Bálcãs em 1065. Já velho e doente, faleceu a 22 de Maio de 1067 e sucederam-lhe os seus filhos mais novos sob a regência da mãe, Eudóxia Macrembolitissa.

A imperatriz terminou por casar com um oficial do exercito chamado Romano Diógenes. Com este casamento Romano tornou-se co-imperador, lado a lado com Miguel VII, Constâncio Ducas e Andrónico Ducas, embora fosse o imperador sênior. Conduziu com êxito três campanhas contra os turcos seljúcidas, repelindo-os para além do Eufrates nos anos de 1068–1069. Em 1071 Romano preparou uma expedição em larga escala contra a fortaleza seljúcida de Manziquerta. Apesar de numerosas, as suas forças não tinham todas, o mesmo grau de preparação e incluíam uma grande quantidade de mercenários.

Page 42: Império Bizantino

Alp Arslan humilhando Romano.

Ao cabo de alguns sucessos iniciais na campanha, Romano travou a Batalha de Manziquerta a 26 de Agosto de 1071. Ficou isolado do corpo principal do seu exército, o qual se pôs em fuga julgando morto o imperador. A retirada desordenada do exército bizantino deu azo a que o sultão seljúcida Alp Arslan capturasse Romano e infligisse uma derrota desastrosa ao exército deste.

Enquanto o imperador estava em cativeiro, a oposição decidira aproveitar a situação ao máximo. O César João Ducas e Miguel Psellos confinaram Eudóxia num mosteiro e levaram facilmente Miguel VII a declarar a deposição de Romano. Antes que Romano conseguisse reunir apoio foi atacado e derrotado pelo general Andrónico Ducas. Cercado por Andrónico Ducas numa fortaleza da Cilícia, Romano rendeu-se depois de prometer abdicar de todas as suas pretensões ao trono e de se retirar para um mosteiro. Enquanto estava a ser levado para Constantinopla, Romano foi ainda assim cegado (29 de Junho de 1072) e exilado na Ilha de Prote. Os seus olhos foram tão brutalmente vazados que Romano morreu pouco depois da infecção dos ferimentos que lhe foram infligidos.

Embora ainda tendo João Ducas e Miguel Psellos como conselheiros, Miguel VII passou a depender crescentemente de Niceforitzes, o seu ministro das finanças. Os interesses do imperador, essencialmente por direção de Miguel Psellos, eram de natureza acadêmica, e o imperador foi permitindo a Niceforitzes aumentar a carga fiscal e as despesas sumptuárias sem financiar devidamente o exército. Em situações cada vez mais complicadas, os oficiais e funcionários do exército recorreram a confiscos e expropriações de propriedades da Igreja. O exército mal pago revelava tendência para se amotinar, e os bizantinos perderam Bari, a sua última possessão na Itália, para os normandos de Roberto Guiscardo, em 1071. Ao mesmo tempo, tiveram de enfrentar uma revolta de grandes proporções nos Bálcãs, onde se tentava restabelecer a Bulgária, nesse mesmo ano. Embora a revolta tenha sido sufocada pelo general Nicéforo Brienio, o império não conseguiu recuperar das suas perdas na Ásia Menor, tendo ficado sob a ocupação dos turcos os extensos planaltos da Capadócia e da Galácia.

Depois de Manziquerta o governo bizantino enviou um novo exército para travar o passo dos turcos seljúcidas, comandado por Isaac Comneno, irmão do futuro imperador Aleixo I Comneno, mas também este exército foi derrotado e o seu comandante capturado em 1073. A situação agravou-se ainda mais com a deserção dos mercenários ocidentais contratados pelos bizantinos, contra os quais foi preciso organizar uma campanha em 1074, sob o comando do César João Ducas. Esta campanha saldou-se por um novo fracasso e João Ducas, também capturado, foi obrigado pelos mercenários a se proclamar imperador.

Page 43: Império Bizantino

Miguel VII, perante esta situação, viu-se forçado a reconhecer as conquistas dos turcos na Ásia Menor a troco do seu auxílio, e por fim um novo exército bizantino comandado por Aleixo Comneno e reforçado por contingentes turcos enviados por Malik Shah I derrotou os mercenários em 1074.

Estes desaires provocaram descontentamento generalizado, apenas aumentado pela desvalorização da moeda, o que granjeou ao imperador o cognome ‘’Parapinakēs’’, "menos um quarto". Em 1078 dois generais, Nicéforo Brienio e Nicéforo Botaneiates revoltaram-se ao mesmo tempo nos Bálcãs e na Anatólia, respectivamente. Nicéforo Botaneiates foi apoiado pelos turcos seljúcidas e chegou primeiro a Constantinopla. Miguel VII abdicou do trono quase sem resistência e retirou-se para o mosteiro de Studios a 31 de Março de 1078. Tornou-se mais tarde bispo metropolita de Éfeso e faleceu em Constantinopla em 1090.

[editar] Sem dinastia (1078 – 1081)

Nicéforo Botaneiates.

Em Março ou Junho de 1078 Nicéforo Botaneiates entrou triunfalmente em Constantinopla e foi coroado pelo patriarca Cosme I. Com o auxílio do general Aleixo Comneno, derrotou Brienio e outros rivais, mas não conseguiu deter a invasão turca da Ásia Menor.

Com o propósito de consolidar a sua posição, Nicéforo III procurou casar-se com Eudóxia Macrembolitissa, mãe de Miguel VII e viúva dos imperadores Constantino X e Romano IV. O seu plano foi empecido pelo César João Ducas, e Nicéforo casou-se com Maria de Alânia, a viúva de Miguel VII, em violação dos cânones da Igreja. No entanto, Nicéforo recusou-se a reconhecer os direitos sucessórios dos filhos de Maria, Constantino Ducas, o que fez do imperador o alvo das conspirações e suspeitas da facção dos Ducas na corte. A administração de Nicéforo também se deparou com obstáculos, uma vez que os cortesãos por ele nomeados se incompatibilizaram com os funcionários permanentes e não conseguiram impedir a continuada desvalorização da moeda bizantina.

Page 44: Império Bizantino

Império Bizantino em 1081.

Nicéforo tornou-se cada vez mais dependente do apoio de Aleixo Comneno, que derrotou a rebelião de Nicéforo Basilaques nos Bálcãs e de Nicéforo Melisseno na Anatólia (1080). O império bizantino também enfrentava ameaças externas, tais como o duque normando Roberto Guiscardo da Apúlia, que declarou guerra sob o pretexto de defender os direitos do jovem Constantino Ducas, prometido à sua filha Helena. Com Aleixo à frente de um numeroso contingente reunido para enfrentar a invasão normanda, a facção dos Ducas, liderada pelo césar João, conspirou para derrubar Nicéforo e substituí-lo por Aleixo. Não tendo conseguido o apoio nem dos turcos seljúcidas nem de Nicéforo Melisseno (sendo que quer uns quer outro eram seus inimigos declarados), Nicéforo III viu-se forçado a abdicar depois de um golpe sem violência em 1081. O imperador deposto retirou-se para um mosteiro que ele próprio instituíra e aí morreu nesse mesmo ano.

[editar] Dinastia Comneno (1081 - 1185)

O sucesso dos Comneno causou a inveja dos Botaneiates e de seus ministros, e por pouco a família não teve que pegar em armas para defender-se. Botaneiates foi forçado a abdicar e retirar-se para um mosteiro, e Issac recusou a coroa em favor de seu irmão mais novo Aleixo, que se tornou imperador aos 33 anos de idade, reconhecidamente o mais hábil de ambos.

Aleixo I Comneno.

Dono de um inegável talento para a intriga, soube açular seus inimigos uns contra os outros, usando para isso da inveja e desconfiança que eles sentiam uns dos outros. Diante de uma corte incapaz e conspiradora, e de uma maquina de estado falida ele impôs uma nova administração, lidando com as conspirações com relativo desembaraço.

Page 45: Império Bizantino

Aleixo iniciou o restabelecimento de um exército com base no direito feudal (pronoia). Aleixo tentou reformar a aristocracia e pacificar o império distribuindo o território entre os nobres. Assim conseguia ademais afastá-los de Constantinopla, o que reduzia a capacidade de intrigar e protagonizar conjuras palacianas. A maioria das pronoiai (plural de pronoia) outorgadas por Aleixo foram outorgadas a membros da sua própria família, os Comneno. De fato, a medida implicou a legalização da propriedade da terra pelos grandes oligarcas no quadro de um estado centralizado.

Aleixo adotou Constantino, filho da Imperatriz Maria de Alânia, que havia sido casada com Miguel VII e com Nicéforo III, e que era amante do novo imperador. Após o casamento de Aleixo com Irene Ducaena e o nascimento de seu filho João Comneno, Maria foi mandada para um convento e Constantino morreu.

O longo reinado de Aleixo (quase 37 anos) foi cheio de dificuldades. Logo no início, teve que enfrentar o formidável ataque dos normandos (Roberto Guiscardo e seu filho Boemundo), que tomou Dyrrhachium (hoje Durrës, na Albânia) e Corfu, e sitiou Larissa na Tessália. Este episódio do perigo normando passou com a morte de Roberto em 1085, e o território perdido foi então reconquistado.

Em seguida, Aleixo repeliu a invasão dos pechenegues e cumanos na Trácia, com os quais a seita maniqueísta dos bogomilos se havia aliado. Também precisou lidar com o crescente poder dos turcos seljúcidas na Ásia Menor.

Aleixo I Comneno e Pedro, o Eremita.

O grande desafio de seu reinado foi enfrentar as dificuldades causadas pela chegada dos cavaleiros da Primeira Cruzada, que havia sido provocada, em grande medida, a seu próprio pedido, por intermédio de embaixadores enviados ao Papa Urbano II no Concílio de Piacenza de 1095. Aleixo esperava ajuda do Ocidente na forma de mercenários e não previa as imensas hostes recrutadas pela Cruzada, o que o deixou consternado e constrangido. O primeiro contingente, chefiado por Pedro, o Eremita, foi logo despachado pelo imperador para a Ásia Menor, onde foi massacrado pelos turcos em 1096.

Aleixo I Comneno e Godofredo de Bulhão.

Page 46: Império Bizantino

O segundo e mais sério contingente de cavaleiros, comandado por Godofredo de Bulhão, também foi encaminhado por Aleixo para a Ásia, com a promessa de fornecer-lhes provisões em troca de um juramento de homenagem. As vitórias destas tropas recuperaram para Bizâncio algumas cidades e territórios importantes, como Nicéia, Quíos, Rodes, Esmirna, Éfeso, Filadélfia, Sardes e, na verdade, a maior parte da Ásia Menor (1097 - 1099).

Sua filha, Ana, descreve estes fatos como resultantes da política e da diplomacia do pai, mas os cronistas latinos da Cruzada fizeram apenas sinal de sua atuação traiçoeira e desonesta. Os cruzados entenderam que o juramento que prestaram havia sido cancelado quando Aleixo deixou de ajudá-los durante o cerco de Antioquia; Boemundo, que se havia proclamado príncipe de Antioquia, esteve até mesmo em guerra com o imperador, até que concordou em tornar-se vassalo de Aleixo nos termos do Tratado de Devol de 1108.

As cidades-estado italianas, que tinham direitos comerciais garantidos na Constantinopla de Aleixo, tornaram-se objeto de sentimentos antiocidentais, apontadas como francos ou latinos. Os venezianos eram particularmente mal-vistos, mesmo sendo suas naves a base da marinha bizantina.

Nos vinte anos finais de sua vida, perdeu grande parte de sua popularidade. Este período foi marcado pela perseguição dos seguidores das heresias paulicianas e bogomilas; pelo recomeço dos combates com os turcos (1110 - 1117); e pela ansiedade com respeito à sucessão, com que sua mulher Irene tentou beneficiar o marido de sua filha Ana, Nicéforo Brienio. Seu sucessor acabou sendo seu filho João Comneno.

João II Comneno.

Após a sua adesão, João II recusou-se a confirmar o tratado de 1082 de seu pai com a República de Veneza, tratado que concedeu a república italiana os direitos comerciais do Império Bizantino. No entanto, a mudança na política não foi motivada por preocupações financeiras. Um incidente envolvendo o abuso de um membro da família imperial pelos venezianos levou a um conflito perigoso, especialmente como Bizâncio dependia de Veneza por sua força naval. Depois de um ataque de represália em Corfu, João exilou os mercadores venezianos de Constantinopla. Isso gerou retaliação posterior, e uma frota de 72 navios venezianos saquearam Rodes, Quios, Samos, Lesbos, Andros e Cefalônia capturados no Mar Jônico.[3] Eventualmente João foi forçado a chegar a um acordo; a guerra lhe custou mais do que valeu a pena, e ele não estava preparado para transferência de fundos por parte das forças imperiais em terra para com a marinha para a construção de novos navios. João re-confirmou o tratado de 1082. No entanto, este constrangimento não foi totalmente esquecido, e parece provável que desempenhou um papel no sucessor de João para re-estabelecer uma poderosa frota bizantina, alguns anos depois.

Page 47: Império Bizantino

Entre 1119-1121 João derrotou os turcos seljúcidas, estabelecendo seu controle sobre o sudoeste da Anatólia. No entanto, logo depois, em 1122, João rapidamente transferiu suas tropas para a Europa para lutar contra uma invasão dos pechenegues em Mésia. Esses invasores foram auxiliares do príncipe de Kiev. João cercou os pechenegues quando eles invadiram a Trácia, enganando-os fazendo-os acreditar que ele iria dar-lhes um tratado favorável, e, em seguida, lançou um ataque surpresa devastador sobre seu maior acampamento. A Batalha de Beroia foi renhida, mas até o final do dia, o exército de João teve uma vitória esmagadora. Isso colocou um fim às incursões pechenegues em território bizantino, e muitos dos cativos foram assentados como foederati na fronteira bizantina.

Imperatriz Irene.

João, em seguida, lançou um ataque punitivo contra os sérvios, muitos dos quais foram mandados para a Nicomédia, na Ásia Menor para servirem como colonos militares. Isso foi feito, em parte, para intimidar os sérvios em sua submissão (a Sérvia foi, pelo menos nominalmente, um protetorado bizantino) e em parte para fortalecer a fronteira bizantina no Oriente contra os turcos. No entanto, o casamento de João com a princesa húngara Piroska envolveu-o em lutas de sucessão dinástica no Reino da Hungria. Dando asilo a um requerente cego ao trono húngaro (chamado Álmos), João despertou a suspeita dos húngaros, e deparou-se com uma invasão em 1128. Os húngaros atacaram Belgrado, Braničevo, Niš, Sófia, e penetrou o sul quanto na periferia de Plovdiv.[4] Depois de uma campanha desafiadora que durou dois anos, o imperador conseguiu derrotar os húngaros e seus aliados sérvios na fortaleza de Haram restaurando a paz.

João então foi capaz de concentrar-se na Ásia Menor, que se tornou o foco de sua atenção para boa parte de seus anos restantes. Os turcos estavam avançando contra a fronteira bizantina na parte ocidental da Ásia Menor, e João estava determinado a expulsa-los. Em 1119, os seljúcidas haviam retirado Antália do império; João levou um exército para capturar Laodiceia e Sozopolis, restabelecendo, por conseguinte, as ligações terrestres para a cidade.[5] Ele empreendeu uma campanha contra o emirado Danismendidas em Malatya, no Eufrates superior entre 1130-1135. Graças à campanha do enérgico João, as tentativas de expansão turca na Ásia Menor, foram interrompidas, e João preparou-se para levar a luta ao inimigo.

A fim de restaurar a região de controle bizantino, João executou uma série de campanhas bem planejadas contra os turcos, uma das quais resultou na reconquista do lar ancestral dos Comneno em Kastamonu, e em seguida, deixou uma guarnição de 2.000 homens em Gangra.[6] João rapidamente ganhou uma reputação formidável como um muro separador. Regiões que haviam sido perdidas, desde a Batalha de Manzikert foram recuperadas e guarnecidas. No entanto, a resistência, especialmente dos danismendidas no nordeste, era forte, e a dificuldade de segurar as novas conquistas é ilustrada pelo fato de Kastamonu ser reconquistada pelos turcos, assim como João estava em Constantinopla celebrando seu retorno ao domínio bizantino.

Page 48: Império Bizantino

João perseverou, contudo, Kastamonu logo mudou de mãos mais uma vez. João avançou pelo nordeste da Anatólia, provocando os turcos para atacar seu exército. No entanto, mais uma vez as forças de João foram capazes de manter sua coesão, bem como a tentativa dos turcos de infligir uma segunda Manzikert, contudo, as tropas do imperador sairam pela culatra. O sultão, desacreditado por seu fracasso em derrotar João, foi assassinado por seu próprio povo. Em 1139, o imperador marchou pela última vez contra os turcos Danismendidas, seu exército marchou ao longo da costa sul do Mar Negro através da Bitínia, e Paflagónia. Voltando ao sul de Trebizonda, cercou, mas não conseguiu tomar a cidade de Niksar.[7]

Estados Cruzados no Oriente Próximo.

O imperador então dirigiu sua atenção para o Levante, onde procurou reforçar sua suserania no Império Bizantino sobre os Estados Cruzados. Em 1137 ele conquistou Tarso, Adana, e Mopsuestia do Reino Arménio da Cilícia, e em 1138 o principe Leão I e a maioria de sua família foram levados como prisioneiros para Constantinopla.[8] Isto abriu o caminho para o Principado de Antioquia, onde o príncipe Raimundo reconheceu-se vassalo do imperador em 1137, e João chegou em triunfo em 1138. Seguiu-se uma campanha conjunta onde João levou os exércitos de Bizâncio, Antioquia e Edessa contra os muçulmanos na Síria. Embora João tenha lutado muito pela causa cristã na campanha, na Síria, seus aliados, o principe Raimundo de Antioquia e Joscelino II sentaram em torno de dados jogando ao invés de ajudar João a pressionar o cerco de Shaizar.

Estes príncipes cruzados eram suspeitos e não queriam que João vencesse em sua campanha, quando Raimundo também queria segurar Antioquia, que ele havia concordado em entregar a João se a campanha fosse bem sucedida em capturar Alepo, Shaizar, Homs, e Hama. Quando o imperador estava distraído com as suas tentativas para garantir uma aliança com os Sacro Império Romano-Germânicogermânicos contra os normandos da Sicília, Joscelino e Raimundo conspiraram para atrasar a entrega prometida da cidadela de Antioquia para o imperador.

John planejada uma nova expedição ao Oriente, incluindo uma peregrinação a Jerusalém na qual ele planejava levar seu exército consigo. O rei Fulque de Jerusalém, temendo uma invasão, pediu ao imperador para trazer apenas um exército de 10.000 homens com ele.[9] João II decidiu então não ir. No Monte Taurus na Cilícia, em 8 de abril de 1143, ele foi infectado acidentalmente por uma flecha envenenada esquanto estava caçando. Logo depois ele morreu. Seu sucessor foi Manuel.

Page 49: Império Bizantino

Morte de João II Comneno e coroação de Manuel I Comneno (do Manuscrito de Guilherme de Tiro Historia e Old French Continuation). Iluminura feita em Acre século XIII, Biblioteca Nacional da França.

O neto de Aleixo, Manuel I Comneno, continuou as doações de terra aos aristocratas, mas também estendeu a pronoia aos oficiais do exército em substituição de um salário regular. A pronoia desenvolveu-se como uma forma de impor impostos aos cidadãos do território doado (paroikoi). Os pronoários tornaram-se uma espécie de coletores de impostos aos que era permitido ficar com uma percentagem. Não era uma ideia nova, já que na época de Heráclio reorganizara-se o império em distritos militares chamados themas, nos quais um strategos arrecadava os impostos dos agricultores e governava a província. Contudo, os paroikoi guardam diferenças com os servos do feudalismo ocidental. Não deviam lealdade ou serviço nem a strategos nem a pronoários e o imperador retivo sempre a propriedade jurídica da terra. O pronoário costumava ser, além disso, alheio à terra que lhe tinha sido doada.

O tamanho da pronoia, o número dos paroikoi e os deveres destes eram registrados num documento chamado praktika. Um pronoário poderia arrecadar impostos sobre o comércio e uma parte da colheita, bem como os direitos de caça e vários pedágios. A praktika também registrava os deveres do pronoário com o imperador, que, de precisá-lo, costumava poder pedir auxílio militar. Contudo, o pronoário não podia recrutar forçosamente os seus paroikoi ,e a maioria costumavam ser remanentes das campanhas militares, vivendo uma vida confortável na sua terra. Poder negar-se ao serviço militar era um dos exemplos da autonomia que chegaram a ter, que podia induzi-los a rebeliões regionais se contavam com o apoio da população local. Estas, porém, eram menos perigosas para o imperador do que as conjuras palacianas da corte na capital imperial, que o sistema de Aleixo evitava. Nem Aleixo nem Manuel nem outro imperador do século XII supervalorizaram estas revoltas, assumindo que uma doação de uma nova pronoia bastaria para as pacificar.

O império que Manuel herdou continuava a sofrer imensos desafios no que dizia respeito ao seu regime político. Ao final do século XI, os normandos da Sicília libertaram a Itália do controle do imperador bizantino. Os turcos seljúcidas fizeram o mesmo com a Anatólia central e, no Levante, uma nova força aparecera - os estados dos Cruzados - os quais desafiaram o Império Bizantino. Neste momento, mais do que em qualquer outro durante os séculos precedentes, a tarefa que o imperador encarava era assombrosa.[10]

A primeira prova pela qual Manuel passou em seu reinado deu-se em 1144, quando o príncipe Raimundo de Antioquia reivindicou os territórios da Cilícia. Contudo, ainda naquele mesmo ano, o Condado de Edessa estava assolado por uma guerra santa islâmica, iniciada por Imad ad-Din Atabeg Zengi. Raimundo percebeu que qualquer ajuda imediata do ocidente estava inteiramente fora de questão. Com o seu flanco oriental perigosamente ameaçado por esta nova guerra, não havia muitas opções a não ser uma humilhante visita a Constantinopla. Engolindo a seco seu orgulho ferido, dirigiu-se ao norte a fim de dialogar a respeito da proteção do imperador. Após seu pedido a Manuel, foi-lhe prometido o apoio requisitado e sua lealdade a Bizâncio estava garantida.[11]

No ano de 1146, Manuel iniciou uma expedição punitiva contra o sultão de Rum, Masud, o qual violava repetidamente as fronteiras do Império em Anatólia e Cilícia.[12] Não houve qualquer tentativa de se conquistar sistematicamente o território, entretanto as forças bizantinas atingiram a capital de Rum,

Page 50: Império Bizantino

Konya, destruíram a área em torno da cidade, porém não conseguiram transpor seus muros. Manuel destruiu a cidade fortificada de Philomelion, retirando de lá a população cristã ainda existente.[12] Um de seus motivos para elaborar esse ataque era o desejo de ser visto, no oeste, como alguém que verdadeiramente abraçou o ideal das cruzadas. Durante essa campanha, Manuel recebeu uma carta de Luís VII de França, a qual anunciava a intenção deste de liderar um exército para socorrer os estados dos cruzados.

Manuel foi impedido de seguir com suas sucessivas vitórias no leste por conta de outros eventos que ocorriam no oeste e, por isso, deveria seguir para os Bálcãs imediatamente, onde sua presença era importante. Em 1147, Manuel concedeu uma passagem através de seus domínios a dois exércitos da Segunda Cruzada, sob o comando de Conrado III da Germânia e Luís VII de França. Naquela época, ainda existiam membros da corte bizantina que relembraram a passagem da Primeira Cruzada, a qual foi um momento determinante na memória coletiva da história e que fascinou Ana Comnena, tia de Manuel.[13]

Chegada da Segunda Cruzada a Constantinopla, conforme retratado por Jean Fouquet, 1455-1460

Muitos bizantinos tinham medo das cruzadas por causa de seu vandalismo e dos roubos praticados pelo exército sem lei, conforme marchavam através do território bizantino. Tropas bizantinas seguiam os cruzados com o intuito de policiar seu comportamento e outras tropas eram formadas em Constantinopla e estavam preparadas para defender a capital de qualquer ato violento. Esta medida de segurança foi amplamente difundida, porém os numerosos incidentes por conta do abrigo oferecido pelos bizantinos e a profunda hostilidade entre os francos e os gregos quase principiaram um um conflito entre Manuel e seus convidados, neste caso, os Cruzados que atravessavam seu território. Manuel tomou suas precauções - as quais seu avô não tinha tomado - reparando as muralhas da cidade, e pressionando os dois reis por garantias com relação à segurança de seu território. O exército de Conrado III foi o primeiro a entrar no território bizantino no verão de 1147, o qual aparece mais proeminentemente nas fontes bizantinas, sendo, portanto, o que ofereceu mais problemas dentre os dois que penetraram esse território.

Entretanto, após 1147, as relações entre os dois líderes tornaram-se mais amigáveis. Por volta de 1148, Manuel percebeu que poderia obter uma aliança com Conrado, cuja cunhada, Berta de Sulzbach, ele esposara; na verdade, ele persuadira o rei alemão a renovar sua aliança contra Rogério II da Sicília.[14] Para a infelicidade do imperador bizantino, Conrado morreu em 1152 e, apesar de todas as tentativas, Manuel não conseguiu alcançar um acordo com seu sucessor, Frederico I Barbarossa.

Em 1156, Manuel voltou sua atenção novamente para Antioquia, quando Reinaldo de Châtillon, o príncipe de Antioquia, afirmou que o imperador bizantino não cumpriu sua promessa de pagá-lo uma importância em dinheiro, e prometeu atacar a província bizantina de Chipre.[15] Ele mandou prender o governador da ilha e sobrinho do imperador, João Comneno, e o general Michael Branas.[16] O historiador latino Guilherme de Tiro lamentou a guerra contra os cristãos e descreveu detalhadamente as atrocidades cometidas pelos homens de Raynald..[17] Tendo sido a ilha saqueada e todos os seus bens pilhados, o exército de Reinaldo de Châtillon mutilou os sobreviventes antes de forçá-los a comprar seus próprios produtos a preços altíssimos com apenas com o dinheiro que lhes havia restado. Enriquecidos com o espólio que faria a Antioquia rica por muitos anos, os invasores embarcaram em seus navios e partiram para sua pátria..[18] Raynald enviou, ainda, alguns dos refens mutilados a Constantinopla como uma demonstração de sua desobediência e seu desprezo pelo imperador bizantino.[16]

Page 51: Império Bizantino

Manuel I Comneno.

Manuel respondeu a este ultraje de uma forma muito enérgica. No inverno de 1158-1159, ele marchou para Cilícia, à frente de um numeroso exército; a velocidade em que seu exército caminhava (Manuel acelerou o passo com 500 cavaleiros à frente do exército principal) era tão grande que conseguiu surpreender o Teodoro II da Armênia, o qual participou do ataque a Chipre.[19] Todas as cidades e vilas renderam-se imediatamente a Manuel, sendo Toros forçado a fugir para as montanhas; diz-se que sobreviveu abrigando-se sozinho sob as pedras das colinas, onde um pastor lhe trazia comida para mantê-lo vivo.

Enquanto isso, as notícias do avanço do exército bizantino chegaram rapidamente a Antioquia. Percebendo que não teria como derrotar Manuel, Reinaldo de Châtillon sabia que não poderia contar com qualquer ajuda de rei Balduíno III de Jerusalém. Balduíno não aprovava o ataque de Reinaldo a Chipre e, de qualquer forma, já tinha feito um acordo com Manuel. Então, isolado e abandonado por seu aliados, Reinaldo decidiu que a submissão seria a sua única saída. Ele apresentou-se diante do imperador, vestido em um saco e com uma corda amarrada em seu pescoço e clamou por perdão. Manuel, em um primeiro momento, ignorou o pedido de Reinaldo, enquanto conversava com seus cortesãos; Guilherme de Tiro diz que essa cena deprimente continuou por um bom tempo, fazendo com que todos os presentes ficassem "enojados".[20] Finalmente, Manuel perdoou Reinaldo com a condição que se tornasse um vassalo do Império, fazendo com que a Antioquia se rendesse a Bizâncio.[21]

Com a paz restabelecida, uma grande celebração foi organizada no dia 12 de abril de 1159 para receber triunfalmente o exército bizantino na cidade, com Manuel montado em seu cavalo, enquanto o príncipe da Antioquia e o rei de Jerusalém seguiam-no a pé. Manuel mostrou justiça aos cidadãos e presidiu jogos e torneios para a população. Em maio, reuniu um exército cristão e partiu para Edessa, porém abandonou a campanha, quando Nur ad-Din libertou 6.000 prisioneiros cristãos, capturados em várias batalhas desde a

Page 52: Império Bizantino

segunda cruzada.[22] Mesmo com o glorioso fim da expedição, pesquisadores dizem que Manuel recebeu muito menos do que esperava em termos de compensação imperial.

Satisfeito com seus sucessos, Manuel retornou a Constantinopla; entretanto, no caminho de volta, suas tropas foram surpreendidas pelos turcos. Apesar disso, Manuel e seu exército venceram a batalha, derrotando o inimigo, causando-lhe imensas perdas. No ano seguinte, Manuel expulsou os turcos seljúcidas de Isauria.[23]

No ano de 1147, Manuel travou uma guerra com Rogério II da Sicília, cuja frota capturou a ilha bizantina de Corfu e saqueou as cidades gregas. Entretanto, apesar de ter sido distraído por um ataque cumanos nos Bálcãs, Manuel conseguiu uma aliança com Conrado e o auxílio dos venezianos, conseguindo derrotar Rogério e sua poderosa esquadra. Em 1149, Manuel, contando com 500 navios, 1.000 navios de transporte de soldados e em torno de 30.000 homens, recuperou a ilha de Corfu e preparou-se para a ofensiva contra os normandos.[24] Ele já havia concordado com Conrado em realizar uma invasão conjunta e com a divisão do sul da Itália e Sicília. A renovação da aliança germânica foi o ponto principal da política de relações exteriores de Manuel por todo seu reinado, apesar da divergência gradual de interesses entre os dois impérios, após a morte de Conrado.[14]

Com a morte de Rogério em fevereiro de 1154 e a sua sucessão por Guilherme I da Sicília, bem como as rebeliões espalhadas contra as leis do novo rei na Sicília e Apúlia, a presença dos refugiados apulianos na corte bizantina e o erro cometido por Frederico Barbarossa (sucessor de Conrado) ao lidar com os normandos encorajaram Manuel a tirar vantagem das várias instabilidades existentes na península Itálica.[25] Ele enviou Miguel Paleólogo e João Ducas, os quais possuíam o alto cargo de sebastos, com as tropas bizantinas, 10 navios e uma grande quantidade de ouro para invadir a Apúlia (1155).[26] Os dois generais receberam instruções para apoiar Frederico Barbarossa, uma vez que era hostil aos normandos da Sicília e estava ao sul dos Alpes naquele momento, porém ele recusou o apoio porque seu exércio desmoralizado desejava chegar ao norte dos Alpes o mais rápido possível. No entanto, com a ajuda dos barões menos afeiçoados a ele, incluindo-se o conde Roberto de Loritello, a expedição de Manuel obteve um progresso bastante rápido no momento em que todo o sul da Itália rebelou-se contra a coroa siciliana e o rei Guilherme I.[14] Houve uma sucessão de eventos espetaculares conforme muitas fortalezas rendiam-se ou por força ou pela sedução do ouro.[22]

A cidade de Bari, que foi a capital por séculos da Catapan bizantina do sudoeste da Itália antes da chegada dos Normandos, abriu seus portões ao exército do imperador e os cidadãos conseguiram destruir a cidadela normanda. Com a queda de Bari, as cidades de Trani, Giovinazzo, Andria, Taranto e Brindisi também foram capturadas e Guilherme, que chegou com seu exército para combatê-las (seu exército possuía 2.000 cavaleiros), foi derrotado.[27]

Papa Adriano IV, aquele que negociou com Manuel contra o rei normando Guilherme I da Sicília

Encorajado pelo sucesso, Manuel sonhou com a restauração do Império Romano através da restauração entre a Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica, uma perspectiva que seria frequentemente oferecida ao Papa durante negociações e planos de aliança.[28] Caso houvesse uma oportunidade de reunir as igrejas

Page 53: Império Bizantino

ocidental e oriental, e reconciliar-se com o Papa de forma permanente, este seria, provavelmente, o momento mais favorável. O Papado nunca se deu a bons termos com os normandos, exceto quando sob a coação estabelecida pela ameaça da ação militar direta. Ter o "civilizado" Império Romano do Oriente em sua fronteira do sul era infinitamente preferível ao papado do que ter de lidar constantemente com os incômodos normandos da Sicília. Era do interesse do Papa Adriano IV alcançar um acordo de qualquer forma, uma vez que, caso ocorresse o acordo, aumentaria substancialmente sua influência sobre todos os seguidores cristãos ortodoxos. Manuel ofereceu uma imensa quantia em dinheiro ao Papa a fim de provisionar as tropas, com o pedido ao Papa que garantisse ao imperador bizantino poder sobre três cidades costeiras em troca de assistência na expulsão de Guilherme da ilha da Sicília. Manuel também prometeu pagar 5.000 libras de ouro ao Papa e à Cúria.[29] Negociações foram apressadamente feitas, e uma aliança foi formada entre Manuel e Adriano.[25]

Uma derrota em Brindisi em 1156 terminou com a restauração bizantina na Itália e em 1158 as tropas orientais já haviam deixado a Itália. Após a morte de Manuel, os normandos da Sicilia novamente invadiram o território bizantino em 1185, saqueando Tessalônica.

Para enfraquecer o poder de Veneza sobre o comércio imperial, Manuel assinou acordos com Pisa e Gênova. Para contrariar as aspirações de Frederico Barbarossa, apoiou as cidades livres da Itália. Porém não conseguiu que os italianos apoiassem seus interesses; em uma breve guerra com os venezianos, conseguiu expulsa-los do mar Egeu.

Os resultados finais de sua campanha na Itália foram muito limitados. A cidade de Ancona passou a ser uma base bizantina na Itália. Os normandos da Sicilia, enfraquecidos, aceitaram a paz para o resto do reinado de Manuel. A campanha havia tido um enorme custo em dinheiro, para produzir apenas resultados limitados.

Em sua fronteira setentrional, Manuel fez um grande esforço para conservar as conquistas de Basílio II.

Obrigou os sérvios rebeldes a vassalagem (1150 – 1152) e lançou ataques constantes a Hungria com intenção de anexar seu território até o rio Sava. Nas guerras de 1151–1153, e 1163–1168, Manuel levou suas tropas até a Hungria, penetrando muito em seu território e obtendo um considerável espólio de guerra, porem, ao mesmo tempo, foi contido pelo rei Geza II da Hungria durantes varias batalhas. Em 1155 o rei húngaro e Manuel firmaram a paz. No entanto, em 1156, Manuel sugeriu ao sacro imperador romano germânico Frederico Barbarossa, que juntos, os impérios venceriam o reino da Hungria. O imperador rejeitou o plano, e em 1158 decidiu atenuar suas hostilidades contra Geza II.

Em 1162 morreu Geza II da Hungria e seu filho Estêvão III herdou de imediato o trono. Depois de ter centrado seu olhar para o oriente e cansado de tantas guerras, Manuel I decidiu que deveria retomar sua guerra contra o reino húngaro e assim, enviou uma embaixada a Hungria, para que fosse aceita a coroação do príncipe Estêvão IV, que até este momento havia estado vivendo em Constantinopla a seu lado. Igualmente mobilizou seus exércitos até a fronteira do reino magiar e antes disso, os senhores húngaros por outro lado aceitaram como rei Ladislau II que se encontrava em uma posição mais independente. Ladislau II de Hungria havia sido coroado em 1162, mas seria envenenado em janeiro de 1163.

Em seguida, o famoso imperador Estêvão IV subiu ao trono e serviu os interesses do imperador Manuel: cortou todos os laços com o papado, e inclusive confiou a produção de dinheiro a Constantinopla. Posteriormente, Estêvão III sobrinho de Estêvão IV, encabeçaria uma rebelião e em 19 de junho de 1163 venceria o rei com laços bizantinos, a quem permitiria fugir até o imperador Manuel I. No entanto, o imperador bizantino deixou a cidade de Sófia, jurando a Estêvão IV que resolveria o assunto. Desta forma, ele ofereceu a mão de sua filha Maria, a Bela III da Hungria, o irmão de Estêvão III, nomeado herdeiro do trono húngaro. Em troca da paz, Manuel perdeu os territórios da Croácia e Dalmácia, e da presença de Bela em Constantinopla. O acordo se consumou e em 1163, Bela retornou a Constantinopla, sendo educado de acordo com a fé ortodoxa, adotando o nome de Alexios.

No entanto, Estêvão III não entregaria os territórios exigidos e perante isso, Manuel mobilizou seus exércitos em 1164 com Estêvão IV em seu comando. O imperador avançou até o coração da Hungria, até Bács, logo que Estêvão III continuava negando a entrega dos territórios, protegidos por tropas germânicas

Page 54: Império Bizantino

e checas. No entanto, Manuel utilizaria o rei checo Ladislau II, quando Estêvão III renunciaria à Dalmácia e à Croácia inclusive até à Sírmia, e Manuel renunciaria seu apoio a Estêvão IV.

Em 1165, os húngaros atacaram o território de Estêvão IV e posteriormente o envenenaram em Zimony. Depois disso, em junho Manuel lançou um ataque contra os húngaros e Estêvão III novamente renunciou os territórios da Dalmácia e da Croácia, e o imperador os ocupou com ajuda de tropas venezianas. Na primavera de 1165, Estêvão III ocupou os territórios de Sírmia e para expulsa-lo, Manuel enviou três exércitos contra ele: um com Bela encabeçando-o e outros dois saindo da Galícia (Europa Central) e Moldávia. Com as intervenções do sogro de Estêvão III, o duque austríaco Henrique Jasomirgott foi firmada novamente a paz, e no fim do ano, os exércitos húngaros ocuparam parte da Dalmácia e capturaram o regente bizantino.

Em 1167 ocorreu a Batalha de Zimony, onde o general bizantino Andronikos Kontostephanos a serviço de Manuel, comandou e venceu as forças húngaras, recuperando os territórios de Sírmia, vitória com a qual se contentaria. Após a morte de Estêvão III em 1172, Manuel enviou a Hungria Bela III, que seria coroada de imediato como Bela III da Hungria e manteria uma política orientada a Constantinopla durante todo seu reinado.

Os benefícios da paz: uma igreja rura bizantina. Durante o reinado de Manuel I se edificaram numerosas igrejas.

Nos Bálcãs, Manuel alcançou êxitos importantes o que lhe permitiu reforçar a segurança da Grécia e da Bulgária. Essas províncias experimentaram um período de brilhantismo que duraria até o final do século. De fato, estima-se que o império no século XII era mais rico e mais prospero do que nunca, desde a invasão persa na época de Heráclio, cerca de quinhentos anos antes.

As cidades imperiais haviam começado um tímida recuperação desde fins do século IX, a derrota de Manzikert (1071), contudo, as guerras civis antes de Aleixo I interromperam o processo. Apenas os êxitos dos Comnenos detiveram o colapso final do império, e graças a eles se recuperou a vida urbana. A população de Constantinopla chegava a meio milhão de habitantes no período de Manuel, o que a converteu na maior cidade da Europa e com diferença, seguia crescendo. O caráter cosmopolita da capital se viu reforçado pela chegada de mercadores italianos e cruzados a caminho da Terra Santa.

Os venezianos e outros italianos abriram as portas do Egeu ao comércio com os reinos cruzados de Ultramar e com o Egito fatímida. Esses comerciantes demandaram produtos em toda a Grécia, Macedônia e as ilhas. Tessalônica, a segunda cidade do império, celebrava uma famosa feira de comerciantes de todo o Bálcãs. Em Corinto, a produção de seda animou a economia local. Tudo isto era devido aos imperadores Comnenos e a "Pax Byzantina" firmemente estabelecida no núcleo de seu império.

Page 55: Império Bizantino

Em 1169, Manuel enviou uma expedição conjunta com o rei Amalrico I de Jerusalém contra o Egito. A expedição forneceu uma extraordinária demonstração de poder por parte do império, por causa do grande exército e frotas enviados, que também significaram um custo enorme para os bizantinos.

Apesar de um ataque a uma tão larga distancia do centro do império podia parecer algo extraordinário, pode ser entendida pela política de Manuel que buscava aproveitar-se dos latinos para assegurar a sobrevivência do império. Uma invasão bem sucedida do Egito oferecia muitas vantagens para o império. Primeiro, evitaria uma aliança islâmica para expulsar os cruzados. Segundo, a riqueza do Egito era tão que os ingressos a obter (inclusive partilhado com os cruzados) compensavam o esforço realizado. Alem disso, a aliança uniria ainda mais os cruzados ao império.

A invasão do Egito esperava contar com certo apoio da população local copta que vivia a mais de quinhentos anos baixo o poder muçulmano. Porem o fracasso na cooperação plena entre cruzados e bizantinos fez com a operação falha-se. Os bizantinos só levaram provisões para três meses; porem enquanto os cruzados estavam preparados, já se estavam acabando a dos bizantinos. A aliança se manteve e se fizeram novos planos porem não foram realizados.

O Império Bizantino sob Manuel I Comneno em 1180.

Em geral, as relações de reinado de Manuel Comneno deram pouca atenção à expedição do Egito, devido a seu fracasso e a importância de outros assuntos, como a ascensão de Veneza e dos turcos seljúcidas. No entanto, as consequências do fracasso foram muito sérias. Manuel havia investido muito tempo, dinheiro e homens neste ataque, recursos que poderiam ter tido melhor aproveitamento contra os turcos na Anatólia.

O sultão seljúcida Kilij Arslan II aproveitou a ocasião para eliminar seus rivais e reforçar seu poder na Ásia Menor. Pouco depois, a ascensão de um jovem general curdo, Saladino, só seria possível graças ao controle do Egito, o que permitiria expulsar os cruzados de Jerusalém, mudando o equilíbrio de poder no Mediterrâneo Oriental para sempre.

Em 17 de setembro de 1176, Manuel foi derrotado por Kilij Arslan II na Batalha de Miriocéfalo. Este desastre foi um sério revés pessoal, desde então, debilitando a saúde de Manuel até este morrer em 1180. O sucessor de Manuel foi seu filho Aleixo II.

Page 56: Império Bizantino

Imperatriz Maria de Antióquia.

Pela morte de Manuel, em 1180, Maria de Antióquia (mulher de Manuel), que se tornara freira sob o nome de Xene ("estrangeira"), assumiu o cargo de regente (segundo alguns historiadores). Afastou o seu jovem filho do poder, empossando antes o prōtosebastos Aleixo (primo de Aleixo II), que se acreditava ser amante da regente. Os amigos do jovem Aleixo II tentaram criar um partido contra a imperatriz-mãe e o prōtosebastos; a irmã de Aleixo II, Maria, mulher do César João, provocou desordens e motins nas ruas da capital.

Com a desorganização ocorrida pelos motins, Bela III da Hungria tomou a Dalmácia, a Bósnia e a Sirmia, e com elas todas as conquistas das tão custosas guerras húngaras de Manuel se podiam dar por perdidas. Os frutos de largas lutas contra os ´sérvios se perderam com a mesma rapidez, pois o príncipe sérvio Estêvão Nemanja repudiou sem dificuldade a soberania bizantina. Por sua vez, os turcos conquistaram uma ampla porção da Ásia Menor, cortando em dois o norte e o sul bizantinos da Anatólia. Além disso, o rei armênio Ruben atacou a Cilícia.

A revolta foi derrotada a 2 de Maio de 1182; Andrónico Comneno, primo direito do falecido imperador Manuel, tirou partido da desordem para tentar usurpar a coroa, entrando em Constantinopla, onde foi recebido quase com honras divinas, e derrubou o governo. A sua chegada foi assinalada por um massacre dos latinos na cidade, em especial dos mercadores venezianos, que Andrónico nada fez por evitar ou deter. Permitiu a coroação de Aleixo II, mas foi responsável pela morte da maior parte dos atuais e eventuais apoiantes daquele, incluindo a sua mãe, meia-irmã e do césar, e recusou-lhe qualquer intervenção nos assuntos públicos.

Andrónico foi formalmente elevado a co-imperador e pouco tempo depois, com o pretexto de que a governação dividida era nociva para o império, mandou estrangular Aleixo II com uma corda de arco, em Outubro de 1183.

Andrónico I Comneno foi provavelmente o membro mais brilhante e fascinante de sua inteligente dinastia. Sua turbulenta e trágica vida destaca por seus aspectos novelescos de entre todos os imperadores

Page 57: Império Bizantino

bizantinos. Levou uma vida aventureira e foi proscrito, encarcerado e exilado em diversas ocasiões. Homem belo e eloquente, bem como forte e corajoso, destacou-se como grande general e hábil político.

Após estrangular seu sobrinho e se tornar imperador, Andrónico se casou com a noiva de Aleixo II, [[Inês de Borgonha|Inês, filha de Luís VII da França.

Assim começou o curto e enérgico reinado de Andrónico I Comneno, o ultimo e o mais odiado de sua casa. Duas de suas tarefas essenciais na política interna eram: estabelecer um governo nacional e livrar o império da preponderância latina e limitar o poder da aristocracia dos altos funcionários e de grandes latifundiários, cuja supremacia provocava a ruína de camponeses modestos.

Em 1183 os húngaros aliados com os sérvios invadiram o império. Belgrado, Branicervo, Nis e Sófia foram devastadas de tal forma que seis anos mais tarde os cruzados encontraram estas cidades desabitadas e em parte destruídas. Em sua luta contra os bizantinos, Estêvão Nemanja logo assegurou a independência de seu país e aumentou sua extensão, à custa do Império Bizantino, para o leste e sul.

O exercito imperial da zona, a mando de Andrónico Lapardas e Aleixo Branas, se dividiu entre os partidários do novo imperador, dirigidos por Brasa, e os sediciosos de Lapardas, que temia por sua vida baixo um novo regime, de modo que tomou caminho de Adramyttium para adquirir armas, porem foi capturado por homens do imperador e cegado.

Pronto, Andrónico tomou medidas contra os inimigos externos: depois de firmar uma paz vantajosa com os seljúcidas, lançou um rápido contra-ataque contra os húngaros em 1184, tomando Serdica e Nis e, aliado dos sérvios de Estêvão Nemanja, chegou ao Danúbio por Belgrado. Bela teve que firmar a paz, pois estava em plena luta por Zadar com Veneza.

Enquanto isso,genoveses e pisanos se vingavam da cruel matança mediante a pirataria. Para combatê-los, firmou um tratado com a Senhoria de Veneza na primavera de 1185, pelo qual Andrónico consentia em libertar os venezianos presos em Constantinopla desde a matança de 1182 e se comprometia a pagar certa soma todos os anos, em compensação pelos danos sofridos, abandonando a primeira anualidade em 1185. Isto manteve a distancia as outras repúblicas italianas.

Ele também retomou as relações com Roma. O papa Lúcio III enviou em finais de 1182, um legado a Constantinopla. Para congraçar-se com o pontífice, Andrónico permitiu que se abriria uma nova igreja latina em Constantinopla apesar da oposição do patriarca.

Para combater as mas relações com os turcos, enviou emissários ao sultão Saladino, tentando assim contrapesar a hostilidade manifestada pelos seljúcidas de Iconio com uma aliança com o sultanato da Síria e Egito, situado na retaguarda deste. Pouco antes de sua morte, Andrónico fez uma aliança formal com o sultão do Egito. A aliança estipulava que se Saladino, com o aconselhamento e apoio do império, pudesse ocupar Jerusalém, reteria para si qualquer outro território que ambos pudessem ganhar, porem possuiriam suas aquisições sob a soberania de Andrónico. O imperador tomaria posse de todos os territórios conquistados ao sultão de Iconio até Antioquia e a Armênia Menor, em caso de que novos aliados pudessem apoderar-se de tais regiões. A morte impediu Andrónico de realizar esse plano.

Andrónico, inimigo da nobreza latifundiária, decidiu acabar com seus muitos abusos, e, antes de tudo, lutar para limitar o crescente feudalismo que minava o poder absoluto do imperador, e arrancar da raiz a prepotência da aristocracia. Andrónico acometeu suas tarefas com ardor, iniciando um amplo programa para frear a expansão nobiliária e restaurar a administração central com base do poder imperial, tal e como foi à dinastia macedônica. Posto que não reconhecia outro método de governo que a brutal aplicação da violência, seu governo se converteu em uma cadeia de atos de terror, conspirações e atrocidades. Não cabe duvida, tendo até seus detratores reconhecendo isto, que suas medidas levaram nas províncias do império uma rápida e muito sensível melhora.

Com mãos de ferro, colocou fim a corrupção imperante na administração. Ele pois fim a venda de cargos públicos; nomeou como juízes pessoas honradas e incorruptíveis, e os funcionários passaram a ser elegidos por sua capacidade e remunerados suficientemente para que assim fossem menos inclinados ao suborno.

Page 58: Império Bizantino

A prática mais frequente dos corruptos, a cobrança abusiva de impostos foi erradicada. Foi submetido severas penas aos cobradores de impostos e se adotaram medidas implacáveis contra os grandes latifundiários, executando a numerosos aristocratas. Isto acarretou em uma melhora substancial da situação dos camponeses das províncias, tendo ele respirado aliviado, sabendo pela primeira vez o que era a segurança legal perante os abusos do governo.

Foi o administrador mais capaz de toda a sua dinastia. Graças ao aumento dos ingressos do tesouro, pode satisfazer as muitas dificuldades encontradas em seu breve reinado. Ele também produziu uma grande impressão sobre seus contemporâneos suprimindo o costume amplamente difundido de saquear barcos naufragados. A este péssimo habito, Andrónico ordenou que os culpados fossem pendurados nos mastros dos barcos saqueados.

O Comneno não só estava em mas relações com a nobreza provincial, mas também tampouco suportava seus parentes imperiais. Eles odiavam seu estilo autocrático e invejavam a sua posição. O imperador só poderia contar com um circulo de agentes e conselheiros, embora ele tentou criar um partido favorável entre o proletariado da capital praticando a demagogia, o populismo e as vantagens de uma honesta administração.

Assim tentou melhorar as condições de vida dos pobres mandando construir uma nova instalação de condução de água a capital, procedente do rio Hydrales. Esta medida, contudo, foi recebida com frieza, pois os latinófobos constantinopolitanos não o perdoavam por ter se aliado com Veneza novamente nem que sua injustificada caça as bruxas castigava tanto os nobres como a simples comerciantes e tendeiros.

As revoltas internas e a perda do apoio familiar causaram a Andrónico um estado de paranóia agudo, arremetendo-se contra todos os seus inimigos reais ou supostos. A luta contra a aristocracia degenerou em uma terrível brutalidade. Os métodos que ele utilizou privavam de base, por si só, impor as suas aspirações de justiça. A violência respondeu com mais violência. Houve uma interminável sucessão de conspirações. Irritado com a resistência, o imperador, cuja irritabilidade e desconfiança tinham chegado a dimensões verdadeiramente patológicas, intensificaram suas ações, que, no entanto, só conseguiu ganhar novos inimigos.

Vendo traições e conspirações em todo lugar, incapaz de distinguir os culpados dos inocentes, Andrónico introduziu um regime de terror. Todo aquele que fosse minimamente suspeito poderia temer por sua vida e ou de sua família; era rara a semana que não havia detenções arbitrarias, condenações injustas e execuções cruéis em Constantinopla, o que levou ao ódio e ao descontentamento. O império se encontrava em um estado de guerra civil latente. A aristocracia feudal durante muito tempo tornou-se o verdadeiro apoio do Estado e do poder militar. Ela não poderia ser eliminada, mas a sua aniquilação através de execuções maciças fez os fundamentos de força militar do imperio desse tempo cambalear.

Além disso, acompanhado de seus guarda costas bárbaros, o imperador passou mais tempo em seu palácio de verão fora da cidade, na companhia de meretrizes, músicos e concubinas.

Em 1185, [[Isaac Comneno do Chipre|Issac Comneno, governador do Chipre, proclamou a independência da ilha. Andrónico, carente de uma frota capaz de fazer frente a Isaac, não pode dominar a rebelião. A perda de Chipre foi um duro golpe para o império, devido a sua importância estratégica e mercantil, e as grandes somas que ingressava ao tesouro imperial.

Porem o golpe maior e decisivo veio do Ocidente. Aleixo Comneno, sobrinho e copeiro do defunto imperador Manuel, foi exilado por Andrónico em Cumania, refugiando-se na corte de um antigo inimigo do império, Guilherme II, governante normando da Sicília. Aproveitando dos problemas internos bizantinos, preparou uma grande expedição para vingar a matança de 1182 e para tomar o trono do império. Guilherme reuniu 80.000 homens em junho de 1185, incluindo um corpo de cavalaria seleta de 5.000 ginetes, que embarcaram em uma frota de 200 unidades, levando-as aos Bálcãs.

Pronto as tropas puseram sitio em Dyrrhachium (atual Durrës), que caiu em 24 de junho pela traição de um comandante, que formava parte da nobreza afetada no regime. Depois os normandos seguiram para Tessalônica. Pelo caminho encontraram pouca resistência chegando na cidade em 6 de agosto. Enquanto isso, sua armada ocupava as ilhas de Corfu, Cefalônia e Zane, alcançando a cidade em 15 de agosto. Os

Page 59: Império Bizantino

normandos minaram suas muralhas sem problemas e Tessalônica foi tomada em assalto em 24 de agosto e saqueada com atrocidade.

Deixando em Tessalônica uma parte de suas tropas, um segundo corpo seguiu para Serres e o grosso de suas tropas marchou sobre Constantinopla, acabando em Mosynopolis. Ao saber da tomada de Tessalônica e da aproximação dos normandos, a população da capital se inquietou, acusando a Andrónico de indeciso e debilitado.

Andrónico enviou mensageiros as guarnições da Ásia Menor, Bulgária e Peloponeso para iniciar uma contra-ofensiva contra os normandos. Andrónico conseguiu formar quatro divisões. O único que se atreveu a atacar os normandos foi o general Teodoro Cumno, que se retirou após umas poucas escaramuças.

Morte de Andrónico I Comneno.

A tenção afetou ainda mais o estado paranóico do imperador, que se afanou a procurar mais traidores. Um funesto oráculo lhe revelou que o imperador estava com seu poder em perigo pois alguém com as iniciais Is, usurparia o trono. Andrónico ordenou que procurassem por todos com essas iniciais chegando a encontrar Isaac Angelo (neto de Aleixo I Comneno) que já havia se amotinado contra o imperador, mas atualmente vivia tranquilamente na cidade.

Quando tentaram prender Isaac, este fugiu e foi para Santa Sofia onde incitou os cidadãos da cidade a se amotinarem contra o imperador Andrónico. Com o motim, Isaac foi coroado imperador pelo patriarca. Contudo, o predecessor, recém chegado à capital quando começou a revolta, só pode trinchar-se no palácio e tentar uma desesperada resistência, porem teve de ceder ao ímpeto furioso de seus súditos.

Andrónico tentou fugir para a Criméia com sua mulher e sua concubina mas acabou sendo capturado, extremamente torturado e morto por um soldado italiano. A multidão também atacou seu filho Manuel que foi cegado. Seu outro filho, o co-imperador João acabou morto por suas tropas na Trácia quando chegou a noticia da morte de seu pai. O resto da família Comneno conseguiu salvar-se.

[editar] Dinastia Angelos (1185 - 1204)

Isaac II Ângelo reforçou a sua posição enquanto imperador através de casamentos dinásticos em 1185 e 1186. A sua sobrinha, Eudóxia Angelina, casou-se com Estêvão, filho de Estêvão Nemanja. A irmã de Isaac, Teodora, casou-se com o marquês italiano Conrado de Montferrat. Em Janeiro de 1186 o próprio Isaac contraiu matrimônio com Margarida da Hungria (rebatizada Maria), irmã do rei Bela III da Hungria. A Hungria era um dos maiores e maios poderosos vizinhos do império, além do que Margarida tinha a

Page 60: Império Bizantino

vantagem de ter uma linhagem da mais alta aristocracia, sendo aparentada com famílias reais da Rússia de Kiev, do Sacro Império Romano-Germânico, da Itália, do Condado de Provença e com dinastias bizantinas anteriores.

Isaac iniciou o seu reinado com uma vitória decisiva sobre o rei normando da Sicília Guilherme II nas margens do rio Estrímon, a 7 de Setembro de 1185, que invadira o império no final do reinado de Andrónico I. Noutros capítulos a sua política não logrou obter tanto êxito. A sua tentativa de recuperar Chipre das mãos do nobre rebelde Isaac Comneno fracassou devido à ingerência normanda.

A pesadíssima carga fiscal que impôs para poder custear as guerras e os casamentos da sua família resultou na revolta da Valáquia e da Bulgária, em finais de 1185. Esta revolta conduziu à criação do Segundo Império Búlgaro sob a dinastia dos Asen. Em 1187, Aleixo Branas, o vencedor dos normandos, foi enviado contra os rebeldes mas voltou-se contra o imperador e tentou por sua vez conquistar Constantinopla.

Frederico Barbarossa.

A atenção do imperador foi posteriormente exigida a oriente, de onde surgiram e foram sendo derrotados diversos pretendentes ao trono. Em 1189 o imperador romano-germânico Frederico I obteve autorização para atravessar o império com as suas tropas durante a Terceira Cruzada; mas Isaac, que tinha concluído havia pouco tempo uma aliança com Saladino, colocou-se no caminho, cumprindo somente em 1190 sob ameaça de ataque o acordado.

Os cinco anos seguintes foram perturbados pela guerra constante com a Bulgária, contra a qual Isaac comandou em pessoa diversas campanhas. Apesar de terem começado bem, estas iniciativas não tiveram efeitos duradouros e numa ocasião em 1190, Isaac escapou com vida por pouco. Enquanto se preparava para uma nova campanha, Aleixo Ângelo, o irmão mais velho do imperador, aproveitando-se da ausência deste numa caçada, fez-se proclamar imperador e foi rapidamente reconhecido pelos soldados como o imperador Aleixo III. Isaac foi cegado e preso em Constantinopla.

Para redimir-se deste crime e ao mesmo tempo consolidar a sua posição no trono, Aleixo teve de distribuir dinheiro tão generosamente que deixou o tesouro vazio, e tratou os oficiais do exército tão benevolentemente que o império ficou praticamente sem defesa. A imperatriz Eufrósine Ducaina Camaterina, competente e enérgica, tentou em vão suster a sangria financeira; Vatatzes, o seu homem de mão favorito na tentativa de reformar o império, acabou por ser assassinado por ordem do imperador.

No Oriente o império estava a ser avassalado pelos seljúcidas; a norte os búlgaros e os valáquios abatiam-se sobre as planícies da Macedônia e da Trácia sem que ninguém se lhes opusesse, e Kaloyan da Bulgária tomou várias cidades importantes, enquanto Aleixo gastava somas astronômicas em palácios e jardins e tentava resolver a crise por via diplomática. A tentativa do imperador de fortalecer as defesas do império

Page 61: Império Bizantino

através de concessões a aristocratas bizantinos e búlgaros nas regiões fronteiriças deu maus resultados, uma vez que aqueles aproveitaram para se estabelecerem como senhorios independentes. A autoridade bizantina sobreviveu, mas num enquadramento muitíssimo enfraquecido.

Pouco depois Aleixo viria a defrontar-se com uma ameaça ainda mais impressionante. Em 1202 os príncipes ocidentais reunidos em Veneza lançaram a Quarta Cruzada. Aleixo Ângelo, filho do deposto Isaac II, fugira havia pouco de Constantinopla e apelara para os Cruzados, prometendo-lhes o fim do Grande Cisma do Oriente, o custo do seu transporte e apoio militar aos Cruzados, se estes o ajudassem a depor o tio e colocassem a ele no trono que fora de seu pai.

Os cruzados, cujo objetivo inicial era o Egito, deixaram-se convencer a desviar o rumo para Constantinopla, diante da qual surgiram em Junho de 1203, proclamando Aleixo como imperador e incitando a população da capital a derrubar Aleixo III. O imperador não tomou medidas para resistir, e as suas tentativas para subornar os cruzados fracassaram. O seu cunhado, Teodoro Lascaris, o único a esboçar um movimento de resistência, foi derrotado em Scutari, e teve início o cerco de Constantinopla.

Aleixo IV.

A 17/18 de Julho os cruzados, comandados pelo idoso Doge Henrique Dandolo, escalaram as muralhas e tomaram a cidade de assalto. Durante os combates no interior das muralhas Aleixo III escondeu-se no palácio e, por fim, meteu-se num barco e fugiu com uma das suas filhas, Irene, com todos os tesouros que conseguiu juntar, rumo a Develton na Trácia, deixando para trás a sua mulher e demais filhas. Isaac II, tirado da prisão e envergando novamente a púrpura imperial, recebeu apoteoticamente o seu filho.

Apesar das grandiosas promessas de Aleixo, Isaac, com maior experiência e sentido prático, sabia que a dívida dos Cruzados não poderia ser paga com fundos do tesouro imperial. Aleixo, no entanto, parecia não estar plenamente inteirado do estado calamitoso a que tinham chegado às finanças imperiais nos cinquenta anos anteriores. Conseguiu, ainda assim, reunir metade da quantia prometida, apropriando-se de bens da igreja e confiscando as propriedades de opositores. Dirigiu-se então contra o seu tio Aleixo III, que ainda controlava a Trácia. O saque de algumas cidades trácias ajudou a aumentar o tesouro de guerra, mas entretanto a tensão crescia entre os cruzados cada vez mais inquietos e os cidadãos de Constantinopla.

Em Dezembro de 1203 a violência explodiu entre os constantinopolitanos e os cruzados. Multidões enraivecidas linchavam qualquer estrangeiro que encontrassem, e os cruzados, perante isto, voltaram-se para Aleixo, acusando-o de quebrar as promessas feitas. Aleixo recusou-se a fazer mais do que aquilo que já fizera. Enquanto as relações com os cruzados pioravam, por outro lado não estavam a melhorar com a população grega e com o seu próprio pai. Cego e quase totalmente incapaz, Isaac II não gostava de partilhar o trono com o filho; começou a espalhar rumores das alegadas perversões sexuais de Aleixo, dizendo que este se fazia acompanhar por "homens depravados".

Page 62: Império Bizantino

Queda em 1204 de Constantinopla frente aos cruzados.

No final de Janeiro de 1204 a população de Constantinopla revoltou-se e tentou proclamar imperador Nicolás Kanabos na catedral de Hagia Sofia. Aleixo IV tentou a reconciliação com os cruzados, confiando ao antiocidental Aleixo Ducas "Murzuflus" uma missão que recuperaria o apoio dos cruzados. No entanto, Aleixo Ducas aprisionou tanto Aleixo IV quanto o seu pai Isaac II na noite de 27 de Janeiro de 1204. Isaac veio a falecer pouco depois, talvez de choque ou por envenenamento, e Aleixo IV foi estrangulado a 8 de Fevereiro. Aleixo Ducas foi proclamado imperado com o nome de Aleixo V.

Após sua coroação, Aleixo V começou a reforçar as defesas de Constantinopla e pois fim as negociações com os latinos. Porem era tarde demais, não houve tempo para o novo imperador: durante a batalha que se seguiu, defendeu a cidade com coragem e tenacidade. Os cruzados demonstraram serem muito fortes e Aleixo foi obrigado a fugir para a Trácia logo após a cidade cair.

Então, Aleixo V tentou aliar-se com Aleixo III contra os latinos mas foi cegado por ele e colocado a mão dos cruzados, que o condenaram como assassino de Aleixo IV. Foi o ultimo imperador bizantino antes do estabelecimento dos reinos cruzados que durariam alguns anos até o restabelecimento do Império Bizantino.

[editar] Reinos sucessores bizantinos

A fragmentação do Império Bizantino depois de 1204.

Depois da Quarta Cruzada os territórios do Império Bizantino foram divididos em vários estados, iniciando-se o chamado período da Francocracia (em grego Φραγκοκρατία):

Estados Cruzados

Império Latino (1204-1261) Reino de Tessalónica (1205-1224)

o Marquesado de Bodonitsa (1204-1414) Principado da Acaia (1205-1432)

Page 63: Império Bizantino

o Senhorio de Argos e Nauplia (1205-1388) Ducado de Atenas (1205–1458)

o Marquesado de Bodonitsa (1204-1414) Ducado de Naxos (1207–1579) Ducado de Filipópolis (1204-1261) Senhorio de Negroponte (1204-1470)

Sucessores diretos

Império de Niceia (1204-1261) Império de Trebizonda (1204-1461) Despotado do Épiro (1205-1479)

Entre os sucessores bizantinos, o império de Niceia sem duvida era o mais forte. É deste império que surgiu a última dinastia do império bizantino, a Paleóloga. No ano de 1261 Miguel VIII Paleólogo conquistou a cidade de Constantinopla e assim reestruturou o antigo império bizantino.

[editar] Dinastia Paleóloga (1261 - 1453)

Império Bizantino em 1265.

A sua principal ambição era retornar o Império Bizantino à sua glória de outrora. Aboliu todos os costumes introduzidos pelos conquistadores latinos e, restabeleceu muitas das antigas instituições e cerimônias bizantinas de antigamente. Estabeleceu acordos de paz com o Principado de Acaia (1263) (que havia sido incitado pelo papa romano a atacar Niceia) que lhe cedeu terrenos na Despotado da Moreia, e com o Despotado do Épiro (1264). No entanto, Miguel falhou em trazer o império até as fronteiras do início do século XIII: o norte dos Bálcãs foi tomado pelos búlgaros e sérvios, o império de Trebizonda permanecerá independente até a conquista otomana, Creta continuará sob controlo francês até 1489, altura em que tiveram de ceder aos venezianos, o Despotado do Épiro, o Reino de Tessalônica, o Principado da Moreia e o Ducado de Atenas, na posse dos francos.

Para separar o papa dos seus antigos aliados, Miguel decidiu unir a Igreja Católica à Igreja Ortodoxa, e efetivamente em 1274, no Segundo Concílio de Lyon forma-se uma tênue aliança entre as duas igrejas. Esta aliança veio com um preço, todavia, as cadeias de Constantinopla, encheram-se de gente descontente com a união. Essa união seria efêmera: o papa Martinho IV, com uma pequena ajuda de Carlos de Anjou, rei da Sicília, excomungou Miguel. Como vingança, o basileus bizantino manipulou a Companhia Catalã de modo a que atacassem a Sicília, o que cortou o reino de Carlos pela metade.

Page 64: Império Bizantino

Miguel VIII Paleólogo.

Ao reconstruir o Império Bizantino, Miguel restaurou a velha administração, porém sem se esforçar por corrigir os seus abusos, e ao reduzir a cunhagem de moeda apressou a decadência do comércio bizantino. A retirada de tropas da Ásia para a defesa e reconquista da Europa abriu caminho para os vários emirados turcos, inclusive aquele dos Otomanos, se instalarem em antigos territórios do Império de Niceia. Miguel morreu na Trácia em Dezembro de 1282, mas a sua dinastia continuou durante quase dois séculos, mais do que qualquer outra dinastia romana. Seu sucessor foi seu filho mais velho Andrónico II Paleólogo.

Andrónico II tornou-se imperador em 1282 e repudiou imediatamente a união - extremamente impopular - da Igreja Ortodoxa com a Santa Sé de Roma, que o seu pai promovera, mas mostrou-se incapaz de resolver o cisma daí decorrente no seio do próprio clero ortodoxo até 1310. Andrónico II foi também atormentado por dificuldades econômicas, e durante o seu reinado o valor do hyperpyron bizantino caiu catastroficamente enquanto a fazenda imperial cobrava até sete vezes menos receita fiscal (em numerário) do que anteriormente. Lutando para reduzir as despesas e aumentar as receitas, Andrónico II aumentou os impostos e cortou as isenções fiscais, ao mesmo em tempo que desmobilizava a armada bizantina, deixando assim o império cada vez mais dependente das repúblicas rivais de Veneza e de Gênova.

Andrónico II procurou resolver alguns dos problemas do Império Bizantino através da diplomacia. Depois da morte da sua primeira mulher, o imperador casou-se com Irene de Montferrat (originalmente batizada Iolanda), pondo assim um termo às pretensões dos Montferrat ao trono do reino de Tessalônica. Andrónico II tentou também casar o seu filho mais velho e co-imperador Miguel IX Paleólogo com a imperatriz latina Catarina I de Courteney, procurando desta forma, reduzir ou mesmo acabar com as movimentações ocidentais para restaurar o Império Latino. Outra aliança matrimonial destinava-se a acabar com os conflitos territoriais com a Sérvia na região da Macedônia, com o imperador a casar a sua filha de cinco anos de idade Simonis com o rei Estêvão Milutin em 1298.

Page 65: Império Bizantino

Andrónico II.

Apesar da solução dos problemas na Europa, Andrónico II enfrentava a oriente o colapso da fronteira bizantina na Ásia Menor. Depois do fracasso do co-imperador Miguel IX em travar o avanço dos turcos na Anatólia em 1300, o governo bizantino contratou a Companhia Catalã dos Almogávares de Roger de Flor (aventureiros oriundos de Aragão e da Catalunha) para combaterem os inimigos do Império na Ásia Menor. Apesar de alguns êxitos iniciais, os catalães não conseguiram consolidar as suas conquistas. Envolveram-se em conflitos com Miguel IX e acabaram por se voltar contra os seus patrões bizantinos depois do assassinato de Roger de Flor em 1305. Devastaram a Trácia, a Macedônia e a Tessália, à medida que avançavam para a Grécia latina. Ali conquistaram o ducado de Atenas e Tebas. Os turcos continuaram a avançar e a tomar territórios e praças bizantinas, e Bursa caiu em 1326. No final do reinado de Andrónico II a maior parte da Bitínia já estava nas mãos dos otomanos de Osman I e do seu filho Orhan.

Quem tirou partido dos problemas do império foi Teodoro Svetoslav da Bulgária, que derrotou Miguel IX e conquistou uma parte significativa do nordeste da Trácia entre 1305 e 1307. O conflito acabou com mais um casamento dinástico, desta vez entre Teodora, filha do imperador Miguel IX, e Teodoro. O comportamento dissoluto do filho de Miguel IX, Andrónico III, levou a uma cisão interna na família, e depois da morte de Miguel IX em 1320, Andrónico II afastou o seu neto da sucessão ao trono imperial, iniciando deste modo uma guerra civil que duraria, mesmo com interrupções, até 1328. O conflito propiciou a ingerência búlgara através de Miguel Asen III da Bulgária, que tentou capturar Andrónico II sob a artimanha de lhe enviar auxílio militar. Andrónico III entrou em triunfo em Constantinopla em 1328 e Andrónico II foi obrigado a abdicar e a confinar-se num mosteiro.

Andrónico III Paleólogo.

A verdadeira autoridade administrativa durante o reinado de Andrónico III foi exercida pelo seu "Grande Doméstico" (megas domestikos) João Cantacuzeno, enquanto o imperador passava o tempo ou a caçar ou na guerra. A aliança estabelecida com o seu cunhado Miguel Asen III da Bulgária contra Estêvão III Uroš Dečanski da Sérvia não produziu quaisquer efeitos, uma vez que os sérvios derrotaram os búlgaros antes que estes conseguissem unir-se aos bizantinos na Batalha de Velbăžd em 1330. A tentativa de Andrónico III de compensar este revés anexando a Trácia, ocupada pelos búlgaros, fracassou em 1331, quando o imperador foi derrotado pelo novo imperador búlgaro Ivan Aleksandăr em Rousokastron. A paz com a Bulgária foi obtida pelo preço de concessões territoriais e pelo casamento diplomático dos filhos dos dois imperadores.

Os anos seguintes assistiram ao desaparecimento do poderio bizantino na Ásia Menor, à medida que Orhan dos turcos otomanos, que já derrotara Andrónico III na Batalha de Plekanos em 1329, conquistou

Page 66: Império Bizantino

Niceia em 1331 e Nicomédia em 1337. Depois destas derrotas, só restavam Filadélfia e mais alguns pequenos portos sob a autoridade bizantina na Ásia. Anteriormente, Andrónico III conseguira recuperar a Fócida e as ilhas de Lesbos e de Quios de Benedetto Zaccaria em 1329, mas estes êxitos de pouco serviram para conter o avanço dos turcos.

Sob o reinado de Estêvão Uroš IV Dušan, a Sérvia expandira-se à custa do Império Bizantino para a Macedônia, conquistando Ohrid, Prilep, Kastoria, Strumica e Voden, em 1334. Ainda assim, Andrónico III conseguiu conservar o controlo da Tessália em 1333 e do Épiro em 1337, aproveitando-se da sucessão de crises que afetaram estes principados.

Andrónico III reorganizou a marinha bizantina e reformou o sistema judicial criando um painel de quatro juízes universais. Analisado em retrospectiva, o seu reinado é entendido como tendo terminado antes de a situação do Império se tornar insustentável perante o crescimento do Império Búlgaro. Apesar de diversos reveses nada despiciendos perante sérvios, búlgaros e otomanos, Andrónico III foi para o Império um líder enérgico, cooperando com administradores competentes, e fez mais que qualquer dos seus antecessores para reinstalaram o domínio bizantino na península helênica.

Andrónico III morreu aos 44 anos de idade em 1341 e foi sucedido pelo seu filho, João V Paleólogo.

João VI Cantacuzeno, amigo do seu pai, foi regente em seu nome e co-imperador (1347–1354), depois de ter travado uma guerra civil (1342–1347) contra a regência de Ana de Sabóia.

João V Paleólogo.

Durante este período o império, já de si reduzido a estreitas faixas de território, viu-se atacado por todos os lados. Houve guerras contra os genoveses, que detinham uma colônia em Gálata e controlavam numerosas operações financeiras na corte imperial; guerras contra os sérvios, que nessa altura se expandiam para criar um império ao longo da fronteira norte de Bizâncio; e havia ainda a perigosa aliança com os otomanos, que fundaram o seu primeiro estabelecimento estável na Europa em Gallipoli na Trácia, em finais dos seu reinado.

Cantacuzeno demonstrou-se sempre demasiado pronto a invocar o auxílio de estrangeiros nas suas disputas europeias; e uma vez que não dispunha de meios para lhes pagar, este era um pretexto para que atacassem uma cidade. A carga financeira e fiscal imposta por João VI desde há muito o afastara dos seus súbditos, e João V Paleólogo dispunha de um forte partido de apoiantes. Assim, quando João V entrou em Constantinopla em 1354, o seu êxito estava garantido de antemão.

O seu longo reinado ficou marcado pela dissolução gradual do poder imperial. Os turcos otomanos, comandados por Salomão Paxá, filho de Orhan, sultão otomano, conquistou Andrinopla (atual Edirne) e Filipópolis (atual Plovdiv), e para mais passou a exigir o pagamento de tributo por parte do imperador.

Page 67: Império Bizantino

Depois de os otomanos terem conquistado Galípoli e ameaçado Constantinopla, João V apelou ao Ocidente por auxílio, oferecendo o fim do Grande Cisma entre a Ortodoxia e o Catolicismo, submetendo-se à supremacia do Papa. Empobrecido pela guerra, foi detido por dívidas quando se encontrava em Veneza em 1369.

Manuel II Paleólogo.

Em 1371 reconheceu a suserania do sultão otomano Murad I, o qual viria mais tarde a ajudá-lo a recuperar o seu trono (1379) depois de João V ter sido deposto pelo seu filho Andrónico IV em 1376.

Em 1376 os genoveses ajudaram Andrónico a fugir da prisão e a tomar o controlo de Constantinopla. No entanto, foi imediatamente atacado pelos inimigos dos genoveses, os venezianos, e foram estes que o derrubaram em 1379, repondo João V no trono. Andrónico IV foi autorizado a conservar o título de co-imperador e foi-lhe atribuída à cidade de Selímbria (Silivri) como senhorio pessoal, onde veio a morrer em 1385.

Quando Andrónico IV morreu em 1385, João VII Paleólogo (seu filho) sucedeu-lhe, provavelmente, na mesma posição, mas a verdadeira sucessão ao trono imperial foi atribuída ao seu tio Manuel II Paleólogo. A 14 de Abril de 1390, João VII derrubou o seu avô João V e deteve o trono durante cinco meses. João V, no entanto, foi reposto no trono pelo seu filho Manuel II com o auxílio da República de Veneza, enquanto João VII pedia asilo junto de Bayezid I, sultão otomano, a 17 de setembro de 1390.

No final do seu reinado, em 1390, João ordenou o reforço do Portão Dourado das muralhas de Constantinopla, utilizando nas obras, mármore das igrejas em ruínas de Constantinopla. Com a conclusão da obra, Bayezid I, o ameaçando com guerra, exigiu que João desfizesse a construção. João V obedeceu às ordens do sultão, mas diz-se que ficou de tal modo afetado com esta humilhação que morreu de choque a 16 de Fevereiro de 1391 sendo sucedido por seu segundo filho Manuel II Paleólogo.

Tendo tido notícia da morte do seu pai em Fevereiro de 1391, Manuel II evadiu-se da corte turca e reentrou em Constantinopla a fim de precaver-se contra qualquer golpe ou pretensão do seu sobrinho João VII. Apesar da melhoria das relações entre Manuel II e João VII, o sultão Bayezid I montou cerco a Constantinopla de 1394 a 1402. Depois de cinco anos de cerco, Manuel II confiou à regência a João VII e partiu para uma longa viagem pelas cortes ocidentais, tendo visitado Inglaterra, França, o Sacro Império Romano-Germânico e Aragão, procurando auxílio contra o Império Otomano.

Page 68: Império Bizantino

Império Bizantino em 1403.

A cruzada antiotomana sob a liderança do rei da Hungria Sigismundo fracassou na Batalha de Nicópolis, em 25 de Setembro de 1396, mas os otomanos foram em seguida eles próprios esmagados pelos timúridas de Tamerlão na Batalha de Ancara em 1402. Enquanto os filhos de Bayezid I guerreavam entre si durante o Interregno Otomano, João VII conseguiu recuperar para o Império a margem européia do Mar de Mármara e Tessalónica. Quando Manuel II regressou da sua viagem em 1403, João VII entregou o poder ao imperador e foi recompensado com o governo da recém-recuperada Tessalónica.

Manuel II aproveitou este período de calma para melhorar as defesas do Despotado da Moreia, onde o Império Bizantino estava a conseguir expandir-se à custa dos resquícios do Império Latino. Aqui Manuel II supervisionou a construção do Hexamilion, uma muralha que atravessava o Istmo de Corinto, destinada a defender o Peloponeso dos otomanos.

João VIII Paleólogo.

Manuel II desenvolveu relações amigáveis com o vencedor da guerra civil otomana, o sultão Mehmed I (1402–1421), mas as suas tentativas de ingerir-se na sucessão deste levaram a que Murad II (1421–1451) atacasse Constantinopla em 1422. Nos últimos anos da sua vida Manuel II delegou quase todos os deveres oficiais no seu filho e herdeiro João VIII e em 1424 foram obrigados a assinar um tratado de paz com os otomanos, pelo qual o Império Bizantino se tornava um tributário do sultão. Manuel II faleceu em 21 de Julho de 1425.

Em Junho de 1422, João VIII Paleólogo comandara a defesa de Constantinopla durante um cerco que lhe foi posto pelo Sultão Murad II, mas teve de admitir a perda de Tessalónica para os otomanos em 1430. Com o propósito de assegurar alguma defesa contra os otomanos, João visitou o Papa Eugênio IV e aceitou a união entre as igrejas Católica Romana e Ortodoxa, ratificada pelo Concílio de Florença em 1439. Estava acompanhado pelo patriarca de Constantinopla José II e por Jorge Gemistos Pléton, um filósofo neoplatonista que gozava de grande influência junto dos acadêmicos italianos e que marcou parte do Renascimento então nascente. A união proposta entre as duas igrejas fracassou devido à oposição dos

Page 69: Império Bizantino

Bizantinos, que se recusaram a sujeitar-se ao Papa; João, no entanto, e graças à condução de uma política prudente em relação ao Império Otomano, conseguiu conservar Constantinopla em suas mãos.

Império Bizantino em 1422.

João VIII Paleólogo designou o seu irmão Constantino XI, que desempenhara o cargo de regente em Constantinopla entre 1437 e 1439, como seu sucessor. Apesar das maquinações do seu irmão mais novo Demétrio Paleólogo, a sua mãe Helena conseguiu garantir a sucessão de Constantino XI em 1448.

Em 12 de dezembro de 1452, a União de Florença foi proclamada solenemente na igreja de Santa Sofia, perante Constantino XI, o representante do Papa Nicolau V e o Patriarca Gregório.

Tal união havia sido discutida e decretada no Concílio de Florença, nos anos 1438 e 1439, com representantes tanto dos católicos romanos quanto dos ortodoxos. Os ortodoxos voltavam atrás em suas diferenças com os católicos romanos em troca de apoio militar contra os otomanos. Mesmo questões delicadas como o filioque, a doutrina do purgatório, o uso do pão ázimo na eucaristia e o reconhecimento da autoridade do Papa foram admitidas pelos ortodoxos orientais. Em 1452, com a missa solene e conjunta em Constantinopla, tentou-se selar, por fim, a união. No entanto, esta cerimônia provocou uma reação contrária dos não-unionistas, que eram a maioria. Com tamanha oposição e, mais tarde, com a Queda de Constantinopla (1453) em mãos dos otomanos, esta união católico-ortodoxa acabou por não se tornar realidade.

[editar] A queda de Constantinopla

Ver artigo principal: A queda de Constantinopla

Em fevereiro de 1451, com a morte de Murad II, assumiu o comando dos otomanos o sultão Mehmed II, seu filho. Seu objetivo claro era a tomada de Constantinopla. Para isto, fez tratados diplomáticos com possíveis aliados de Constantino XI (como a República de Veneza), além de incursões militares contra cidades que pudessem enviar socorro a Constantinopla.

Com a construção da fortaleza Rumeli-Hissar, ao norte de Constantinopla, em agosto de 1452, Mehmed II – munido de artilharia pesada – passou a impedir a navegação da cidade. Abandonada pelo Ocidente, sem contato com seus aliados e sob o peso da poderosa artilharia turca, coube a Constantino XI sozinho organizar a resistência. No entanto, contra os 60.000 combatentes de Mehmed II, o imperador conseguiu reunir apenas oito mil soldados (sendo quase à metade deste contingente composta por estrangeiros).

Page 70: Império Bizantino

Cerco de Constantinopla

Constantinopla foi em princípio poupada devido às suas potentes defesas, porém com o advento dos canhões os muros, que foram impenetráveis por mil anos, não ofereceram proteção adequada à nova tecnologia. No mês de abril de 1453, começaram os bombardeios e as tentativas de assalto contra a cidade. Em 23 de abril, Constantino XI ofereceu desesperadamente a paz ao sultão, mas este, recusou.

Na madrugada de quarta-feira, 29 de maio, a lenta agonia cessou. Sob o ataque de três frentes, a cidade de Constantinopla caiu sob o domínio do império turco otomano. Constantino XI Paleólogo, embora fosse aconselhado a fugir para Morea, quis permanecer na cidade fundada por seu homônimo Constantino I e foi visto pela última vez quando entrava em combate contra os janízaros otomanos, que avançavam perigosamente, perdendo além do império a vida em campo de batalha. Maomé II conquistou também Mistra em 1460 e Trebizonda, pondo fim ao estado grego.

[editar] Consequências

Entre as principais consequências da conquista de Constantinopla pelos turcos destaca-se a migração de intelectuais bizantinos para a Península Itálica, levando consigo muitos conhecimentos da cultura clássica preservada pelos bizantinos. Esse fato teve influência no movimento cultural conhecido como Renascimento.

A queda de Constantinopla significou a perda de um posto estratégico do cristianismo, que assegurava o acesso de comerciantes europeus em direção às rotas comerciais para a Índia e a China, sobretudo para os comerciantes venezianos e genoveses. Com a dominação turca, a rota entre o Mediterrâneo e o Mar Negro ficou, senão bloqueada aos navios cristãos, ao menos dificultada. Além disso, com o domínio turco sobre Constantinopla, houve um aumento nos preços e nos impostos cobrados dos comerciantes europeus que compravam ali as mercadorias provenientes da Ásia.

A aquisição de alguns produtos originários da Ásia, especialmente das Índias, que eram muito procurados pelos europeus, começaram a ficarem mais escassos. Esse foi um dos fatores que levaram os comerciantes e os governos europeus a tentarem descobrir outros caminhos para se chegar à Ásia partindo do Oceano Atlântico, contornando a África, sem temer passar pelo Mediterrâneo e por Constantinopla.

Portugal e Espanha rapidamente tiraram vantagem da posição geográfica para dominar as novas rotas, causando o declínio das repúblicas marítimas de Veneza e Gênova.

No final do século XV, financiado pelos reis de Espanha, Cristóvão Colombo partiu para uma ousada tentativa de alcançar a Ásia em uma nova rota através do oceano, para oeste, descobrindo um novo continente, a América, descortinando um novo mundo para os europeus.

Page 71: Império Bizantino

Este mesmo processo de fechamento do comércio no mar mediterrâneo, no qual os turcos otomanos impediram o avanço europeu, fez com que toda a região balcânica se tornasse mais dependente da produção própria, juntamente com a península Itálica.

As diversas transformações econômicas e políticas que se seguiram à queda do Império Romano do Oriente levaram os historiadores a convencionarem o ano de 1453 como o marco do fim da Idade Média e do fim do feudalismo na Europa, fazendo do Império Bizantino um grande marco para as descobertas de novas terras, e para o desenvolvimento do capitalismo no mundo.

História do IslamismoMaomé , História da religião islâmica, doutrinas , Alcorão, Expansão do Império

Islâmico, preceitos religiosos, Festas e lugares sagrados , Divisões do Islamismo, império árabe.

Caaba na cidade de Meca: local sagrado dos muçulmanos

Introdução

A religião muçulmana tem crescido nos últimos anos (atualmente é a segunda maior do mundo) e está presente em todos os continentes. Porém, a maior parte de seguidores do islamismo encontra-se nos países árabes do Oriente Médio e do norte da África. A religião muçulmana é monoteísta, ou seja, tem apenas um Deus: Alá.Criada pelo profeta Maomé, a doutrina muçulmana encontra-se no livro sagrado, o Alcorão ou Corão. Foi fundada na região da atual Arábia Saudita.

Vida do profeta Maomé

Muhammad (Maomé) nasceu na cidade de Meca no ano de 570. Filho de uma família de comerciantes, passou parte da juventude viajando com os pais e conhecendo diferentes culturas e religiões. Aos 40 anos de idade, de acordo com a tradição, recebeu a visita do anjo Gabriel que lhe transmitiu a existência de um único Deus. A partir deste momento, começa sua fase de pregação da doutrina monoteísta, porém encontra grande resistência e oposição. As tribos árabes seguiam até então uma religião politeísta, com a existência de vários deuses tribais.Maomé começou a ser perseguido e teve que emigrar para a cidade de Medina no ano de 622. Este acontecimento é conhecido como Hégira e marca o início do calendário muçulmano.Em Medina, Maomé é bem acolhido e reconhecido como líder religioso. Consegue unificar e estabelecer a paz entre as tribos árabes e implanta a religião monoteísta. Ao retornar para Meca, consegue implantar a religião muçulmana que passa a ser aceita e começa a se expandir pela península Arábica.Reconhecido como líder religioso e profeta, faleceu no ano de 632. Porém, a religião continuou crescendo após sua morte.

Page 72: Império Bizantino

Livros Sagrados e doutrinas religiosas

O Alcorão ou Corão é um livro sagrado que reúne as revelações que o profeta Maomé recebeu do anjo Gabriel. Este livro é dividido em 114 capítulos (suras). Entre tantos ensinamentos contidos, destacam-se: onipotência de Deus (Alá), importância de praticar a bondade, generosidade e justiça no relacionamento social. O Alcorão também registra tradições religiosas, passagens do Antigo Testamento judaico e cristão.Os muçulmanos acreditam na vida após a morte e no Juízo Final, com a ressurreição de todos os mortos.A outra fonte religiosa dos muçulmanos é a Suna que reúne os dizeres e feitos do profeta Maomé.

Preceitos religiosos

A Sharia define as práticas de vida dos muçulmanos, com relação ao comportamento, atitudes e alimentação. De acordo com a Sharia, todo muçulmano deve seguir cinco princípios:

- Aceitar Deus como único e Muhammad (Maomé) como seu profeta;- Dar esmola (Zakat) de no mínimo 2,5% de seus rendimentos para os necessitados;- Fazer a peregrinação à cidade de Meca pelo menos uma vez na vida, desde que para isso possua recursos;- Realização diária das orações;- Jejuar no mês de Ramadã com objetivo de desenvolver a paciência e a reflexão.

Locais sagrados

Para os muçulmanos, existem três locais sagrados: A cidade de Meca, onde fica a pedra negra, também conhecida como Caaba. A cidade de Medina, local onde Maomé construiu a primeira Mesquita (templo religioso dos muçulmanos). A cidade de Jerusalém, cidade onde o profeta subiu ao céu e foi ao paraíso para encontrar com Moises e Jesus.

Divisões do Islamismo

Os seguidores da religião muçulmana se dividem em dois grupos principais : sunitas e xiitas. Aproximadamente 85% dos muçulmanos do mundo fazem parte do grupo sunita. De acordo com os sunitas, a autoridade espiritual pertence a toda comunidade. Os xiitas também possuem sua própria interpretação da Sharia.

O Império Árabe teve sua formação a partir da origem do islamismo, religião fundada pelo profeta Maomé. Antes disso, a Arábia era composta por povos semitas que, até o século VII, viviam em diferentes tribos. Apesar de falarem a mesma língua, estes povos possuíam diferentes estilos de vida e de crenças.

Arabia pré-islâmica

Os beduínos eram nômades e levavam uma vida difícil no deserto, utilizando como meio de sobrevivência o camelo, animal do qual retiravam seu alimento (leite e

Page 73: Império Bizantino

carne) e vestimentas (feitas com o pêlo). Com suas caravanas, praticavam o comércio de vários produtos pelas cidades da região. Já as tribos coraixitas, habitavam a região litorânea e viviam do comércio fixo.

Expansão do islamismo e a formação do império

Foi após a morte do profeta, em 632, que a Arábia foi unificada. A partir desta união, impulsionada pela doutrina religiosa islamita, foi iniciada a expansão do império árabe. Os árabes foram liderados por um califa, espécie de chefe político, militar e religioso.

Os seguidores do alcorão, livro sagrado, acreditavam que deveriam converter todos ao islamismo através da Guerra Santa. Firmes nesta crença, eles expandiram sua religião ao Iêmen, Pérsia, Síria, Omã, Egito e Palestina. Em 711, dominaram grande parte da península ibérica, espalhando sua cultura pela região da Espanha e Portugal. Em 732, foram vencidos pelos francos, que barraram a expansão deste povo pelo norte da Europa. Aos poucos, novas dinastias foram surgindo e o império foi perdendo grande parte de seu poder e força.

Expansão da cultura árabe

Durante o período de conquistas, ampliaram seu conhecimento através da absorção das culturas de outros povos, levando-as adiante a cada nova conquista. Foram eles que espalharam pela Europa grandes nomes como o de Aristóteles e também outros nomes da antiguidade grega. Eles fizeram ainda importantes avanços e descobertas médicas e cientificas que contribuíram com o desenvolvimento do mundo ocidental.

No campo cultural, artístico e literário deixaram grandes contribuições. A cultura árabe caracterizou-se pela construção de maravilhosos palácios e mesquitas. Destacam-se, nestas construções, os arabescos para ilustração e decoração. A literatura também teve um grande valor, com obras até hoje conhecidas no Ocidente, tais como: As mil e uma noites, As minas do rei Salomão e Ali Babá e os quarenta ladrões.

Denomina-se queda de Constantinopla a conquista da capital bizantina pelo Império Otomano sob o comando do sultão Maomé II, na terça-feira, 29 de maio de 1453. Isto marcou não apenas a destruição final do Império Romano do Oriente, e a morte de Constantino XI, o último imperador bizantino, mas também a estratégica conquista crucial para o domínio otomano sobre o Mediterrâneo oriental e os Bálcãs. A cidade de Constantinopla permaneceu capital do Império Otomano até a dissolução do império em 1922, e foi oficialmente renomeada Istambul pela República da Turquia em 1930.

Page 74: Império Bizantino

A queda de Constantinopla para os turcos otomanos foi um evento histórico que segundo alguns historiadores marcou o fim da Idade Média na Europa, e também decretou o fim do último vestígio do Império Bizantino.

Constantinopla (em latim: Constantinopolis; em grego: Κωνσταντινούπολη) é o antigo nome da cidade de Istambul, na atual Turquia. O nome original era Bizâncio (do grego Bυζαντιον, transliterado em Bizâncio). O nome da cidade era uma referência ao imperador romano Constantino I, que tornou esta cidade a capital do Império Romano em 11 de Maio de 330.

1. Contexto

Constantinopla era, até o momento de sua queda, uma das cidades mais importantes no mundo. Localizada numa projeção de terra sobre o estreito de Bósforo em direção à Anatólia, funcionava como uma ponte para as rotas comerciais que ligavam a Europa à Ásia por terra. Também era o principal porto nas rotas que iam e vinham entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo. Para explicar como uma cidade deste porte caiu em mãos estrangeiras, é preciso voltar a séculos antes de 1453 e detalhar os eventos que enfraqueceram o Império Bizantino.

A partir do século III, o centro administrativo do Império Romano tendia a voltar-se mais para o Oriente, por múltiplas razões. Primeiro pela necessidade de defesa das fronteiras orientais; depois porque o oriente havia se tornado a parte econômica mais vital do domínio romano; por fim Roma era uma cidade rica de vestígios pagãos, o que agora era inconveniente num império cristão: seus edifícios, sua nobreza senatorial, apegada à religião tradicional. Assim Constantino decretou a construção de uma nova capital, nas margens do Bósforo, onde havia a antiga fortaleza grega de Bizâncio, num ponto de grande importância estratégica, nas proximidades de dois importantes setores da limes: a região do baixo Danúbio e a fronteira do Império Sassânida. A nova cidade, que recebeu o nome de Constantinopla, isto é, "cidade de Constantino", foi concebida como uma "nova Roma" e rapidamente tornou-se o centro político e econômico do Império. Sua criação teve repercussões também no plano eclesiástico: enquanto em Roma a Igreja Católica adquiriu mais autoridade, em Constantinopla o poder civil controlou a Igreja. O bispo de Roma pôde assim consolidar a influência que já possuía, enquanto em Constantinopla o bispo baseava seu poder no fato de ser bispo da capital e no fato de ser um homem de confiança do Imperador.[9]

Durante a Quarta Cruzada em 1204, foi capturada pelos cruzados. Em 1261, foi recapturada pelas forças do Império de Niceia, sob o comando de Miguel VIII Paleólogo. Porém Constantinopla não recuperou o antigo esplendor e iniciou a decadência que quase dois séculos depois levaria ao fim definitivo do império.

1. 1. O saque a Constantinopla e o Império Latino

Ver artigo principal: Império Latino

Page 75: Império Bizantino

O Império Bizantino por volta de 1400

Constantinopla e suas muralhas

Page 76: Império Bizantino

O Império Bizantino depois da Quarta Cruzada. O mapa mostra o Império Latino, o Império de Niceia, Império de Trebizonda e Despotado de Epiro. As fronteiras são muito incertas.

O declínio do Império Bizantino decorre principalmente da expansão dos turcos seljúcidas e dos conflitos com os húngaros. Porém, a primeira vez que Constantinopla foi saqueada o foi pelos cristãos ocidentais, e não por seus inimigos tradicionais.[10] A capital do Império Romano do Oriente foi tomada pela Quarta Cruzada em 1204.[11] O ataque foi feito pelo mar, e a cidade foi saqueada e incendiada por três dias, e nem tesouros da Igreja Ortodoxa e supostas relíquias cristãs, riquezas acumuladas por quase 1000 anos, foram poupados.

As razões da tomada de Constantinopla são variadas e complexas. Em 1190, a Terceira Cruzada, formada por contingentes das potências ocidentais, não recebeu dos bizantinos o apoio esperado quando se dirigia à Terra Santa, o que levou a um forte ressentimento.[12] Tal fato se deu porque os bizantinos, acreditando que o líder dos turcos, Saladino, principal inimigo dos cruzados, fosse invencível, preferiram manter a maior neutralidade possível a fim de evitar um futuro ataque aos seus territórios. Outro fator a ser levado em conta é o cisma religioso existente, o qual não foi aplacado pelos esforços da Igreja Católica Romana (latina) e da Igreja Católica Ortodoxa (grega). Também deve ser considerado o costume de se distribuir entre os generais e seus soldados o butim de guerra, neste caso formado pelos lendários tesouros e famosas relíquias. Por outro lado, os venezianos exigiam um preço pela sua participação nas cruzadas, e os cruzados viram na capital bizantina a única fonte de recursos disponível para satisfazer os venezianos.

Além disso, existia um crise sucessória no trono bizantino, que facilitou a investida cruzada.[12] Depois de uma revolta bizantina, em 1204 os cruzados novamente tomaram a cidade. Inaugurou-se assim o chamado Império Latino (1204-1261) com o reinado de Balduíno I (Balduíno IX, Conde da Flandres). Parte dos territórios bizantinos foram então divididos entre os chefes da cruzada, formando-se na região os reinos independentes católicos de Tessalônica, Principado de Acaia, e Ducado de Atenas. Os bizantinos reuniram forças, e em 1261 retomaram Constantinopla e restabeleceram seu

Page 77: Império Bizantino

domínio sobre a Península Balcânica. Mas agora governavam um império depauperado economicamente e sem o apoio da Igreja, império este que perdurou até 1453.[13]

1. 2. Fortalecimento das defesas

O ataque dos cruzados revelou um ponto fraco nas defesas da cidade. As poderosas muralhas a oeste da cidade repeliram invasores de persas, germânicos, hunos, ávaros, búlgaros e russos[4][14][15][16] (um total de 22 sítios) durante séculos, mas as muralhas ao longo do litoral, sobretudo ao longo do Corno de Ouro (um canal que separava Constantinopla da vila de Pera, ao norte) revelaram-se frágeis. Após recuperarem a cidade, os bizantinos reforçaram as muralhas litorais e as defesas nos pontos onde precisavam ser abertas para a entrada de navios nos portos. Para se assegurarem de que não precisariam se preocupar com as defesas no Corno de Ouro, uma pesada corrente de ferro foi erguida sobre o canal, impedindo qualquer navio de passar sem a autorização da guarda bizantina.

1. 3. O advento dos turcos

Mesmo antes da Quarta Cruzada, o Império Bizantino vinha, havia muitos séculos, perdendo territórios para muçulmanos no Oriente Médio e na África. No início do século XI, uma tribo turca vinda da Ásia Central, os seljúcidas, começou a atacar e ganhar territórios bizantinos na Anatólia. No final do século XIII, os seljúcidas já haviam tomado quase todas as cidades gregas da Anatólia, à exceção de um punhado de cidades no noroeste da península.[17]

Nesta época, um clã semi-nômade turco teria migrado do norte da Pérsia para o oeste, e se defrontado com uma batalha entre turcos e mongóis na Anatólia. O clã entrou na batalha ao lado dos turcos e venceu. O sultão seljúcida, em agradecimento, ter-lhes-ia concedido um pequeno território montanhoso no noroeste do Império, nas proximidades do território bizantino. A forma como isto ocorreu exatamente se perdeu no folclore subsequente, mas sabe-se que, sob o comando de um líder chamado Osman I (ou Othman), estes turcos ficaram conhecidos como "otomanos".

1. 4. Invasão otomana na Europa

Os otomanos já haviam imposto sua força ao combalido Império Bizantino, tomando suas últimas cidades asiáticas de Bursa, Nicéia e Nicomédia. Em 1341, quando da morte do imperador Andrônico III, o o trono ficou nas mãos de sua esposa Ana dos bizantinos, com Cantacuzeno como protetor de seu filho João V Paleólogo e co-regente de Ana. Em 1343, Cantacuzeno declarou-se regente único, e pediu ajuda militar aos otomanos para impor seu controle sobre o remanescente do Império Bizantino. Ana, então, determinou que João e Cantacuzeno seriam co-imperadores, o segundo mantendo a autoridade sobre o primeiro por 10 anos, quando então governariam como iguais.

Quando o Reino da Sérvia atacou Salônica, em 1349, Cantacuzeno pediu auxílio aos otomanos pela segunda vez. Em 1351, Cantacuzeno fez uma terceira aliança com os turcos para ajudá-lo na guerra civil provocada entre seus partidários e os seguidores do príncipe João. Neste último acordo, Cantacuzeno prometeu aos otomanos a posse de uma fortaleza do lado europeu do estreito de Dardanelos - a primeira ocupação de uma

Page 78: Império Bizantino

civilização asiática na Europa desde o assédio persa à Grécia, mais de 2000 anos antes. Entretanto, o príncipe otomano Suleiman decidiu reforçar sua posição tomando a cidade de Gallipoli, estabelecendo o controle sobre toda a península e uma base estratégica para a expansão do Império Otomano na Europa. Quando Cantacuzeno exigiu a devolução da cidade, os otomanos voltaram-se para Constantinopla.

Durante o governo de João V Paleólogo, Bizâncio se tornara um estado vassalo dos otomanos, oferecendo soldados para as campanhas dos turcos na Europa e pagando um tributo anual para manter os turcos longe de Constantinopla. As exigências turcas se agravaram quando João morreu, em 1391, e seu filho Manuel II Paleólogo subiu ao trono, à revelia do sultão otomano Bayazid.

1. 5. Os cercos de 1391, 1396 e 1422

Muralhas de Constantinopla

Entre as novas exigências do sultão Bayezid I estava o estabelecimento de um distrito em Constantinopla para mercadores turcos. Como Manuel II Paleólogo se recusara, Bayazid cercou a cidade por terra. Após sete meses de cerco, Manuel Paleólogo cedeu, e os turcos se retiraram para campanhas ao norte contra Sérvia e Hungria.

Bayazid convocou Manuel e outros reis cristãos do leste europeu para uma audiência, onde demonstraria as consequências a qualquer um que resistisse ao sultão. Paleólogo pressentiu que seria assassinado, e recusou o convite. Após uma segunda recusa, em 1396, Bayazid enviou novamente seu exército para Constantinopla, saqueando e destruindo os campos à volta da cidade, impedindo que qualquer um entrasse ou saísse vivo de lá. Constantinopla ainda podia contar com suprimentos vindos do mar, já que os turcos não se apoiaram em um cerco marítimo à cidade. Assim, Constantinopla resistiu por seis anos, até que, em 1402, o temível exército de Tamerlão invadiu o Império Otomano pelo leste, e Bayazid se viu obrigado a mobilizar suas tropas para esta nova frente, salvando Constantinopla no último momento.

Page 79: Império Bizantino

Nas duas décadas seguintes, Constantinopla viu-se livre do jugo otomano, e pôde até recuperar alguns territórios na Grécia. Mas em 1422, Manuel Paleólogo resolveu apoiar um príncipe otomano ao trono, visando uma duradoura trégua no futuro. Mas o sultão Murad II enviou em resposta um contingente de 10 mil soldados para cercar Constantinopla mais uma vez. Naquele ano, em 24 de agosto, o sultão ordenou um ataque maciço às muralhas, e após várias horas de batalha, ordenou a sua retirada, e mais uma vez Constantinopla conseguiu uma sobrevida.

2. A queda de Constantinopla

2. 1. Busca de apoio no ocidente

O cisma entre Igrejas Católica e Ortodoxa manteve Constantinopla distante das nações ocidentais, e mesmo durante os cercos de turcos muçulmanos, não conseguira mais do que indiferença de Roma e seus aliados.

Em uma última tentativa de aproximação, tendo em vista a constante ameaça turca, o Imperador João VIII Paleólogo promoveu um concílio em Ferrara, na Itália, onde as diferenças entre as duas fés foram rapidamente resolvidas. Entretanto, a aproximação provocou tumultos entre a população bizantina, dividida entre os que rejeitavam a igreja romana e os que apoiavam a manobra política de João VIII.[18]

2. 2. Constantino XI e Maomé II

Page 80: Império Bizantino

Retrato de Maomé II, por Paolo Veronese

João VIII morrera em 1448, e seu filho Constantino assumiu o trono no ano seguinte. Era uma figura popular, tendo lutado na resistência bizantina no Peloponeso frente ao exército otomano, mas seguia a linha de seu pai na conciliação das igrejas oriental e ocidental, o que causava desconfiança não só entre o clero bizantino como também no Sultão Murad II, que via esta aliança como um ameaça de intervenção das potências ocidentais na resistência à sua expansão na Europa.[19]

Em 1451, Murad II morreu, sendo sucedido por seu jovem filho Maomé II (ou Mahmed II). Inicialmente, Maomé prometera não violar o território bizantino. Isto aumentou a confiança de Constantino que, no mesmo ano se sentiu seguro o suficiente para exigir o pagamento de uma anuidade para a manutenção de um obscuro príncipe otomano, mantido como refém, em Constantinopla. Furioso mais pelo ultraje do que pela ameaça a seu parente em si, Maomé II ordenou os preparativos para um cerco total à capital bizantina.