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IMPACTOS DO MERGULHO RECREATIVO EM
AMBIENTES RECIFAIS TROPICAIS DO BRASIL
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA
JANAINA FREITAS CALADO
IMPACTOS DO MERGULHO RECREATIVO EM
AMBIENTES RECIFAIS TROPICAIS DO BRASIL
NATAL/RN
Fevereiro, 2018
iii
JANAINA FREITAS CALADO
IMPACTOS DO MERGULHO RECREATIVO EM
AMBIENTES RECIFAIS TROPICAIS DO BRASIL
Tese apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Ecologia da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte como parte
dos requisitos para obtenção do título de
Doutora em Ecologia.
Orientadora:
Drª. Liana de Figueiredo Mendes
NATAL/RN
Fevereiro, 2018
iv
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial
Prof. Leopoldo Nelson - Centro de Biociências - CB
Calado, Janaina Freitas.
Impactos do mergulho recreativo em ambientes recifais
tropicais do Brasil / Janaina Freitas Calado. - Natal, 2018.
162 f.: il.
Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ecologia.
Orientadora: Profa. Dra. Liana de Figueiredo Mendes.
1. Impactos do turismo em recifes - Tese. 2. Turismo de
mergulho sustentável - Tese. 3. Comportamento de mergulhadores -
Tese. 4. Educação ambiental - Tese. I. Mendes, Liana de Figueiredo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
III. Título.
RN/UF/BSE-CB CDU 338.484:502.131.1
Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351
v
FOLHA DE APROVAÇÃO
CALADO, Janaina Freitas
Título: IMPACTOS DO MERGULHO RECREATIVO EM AMBIENTES
RECIFAIS TROPICAIS DO BRASIL
Tese apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Ecologia da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte como parte
dos requisitos para obtenção do título de
Doutora em Ecologia.
Data da aprovação: 26/02/2018
Banca examinadora:
Profª Drª Liana de Figueiredo Mendes
(Orientadora) Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Depto. de Ecologia __________________________________________
Profª Drª Priscila Fabiana Macedo Lopes Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Depto. de Ecologia __________________________________________
Profº Drº Guilherme Ortigara Longo Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Depto. de Oceanografia e Limnologia __________________________________________
Profº Drº José Garcia Júnior Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Norte
Depto. de Recursos Pesqueiros __________________________________________
Profº Drº Alexandre Gusmão Pedrini Universidade do Estado do Rio de Janeiro
IB / Depto. de Biologia Vegetal __________________________________________
vi
Repleto de todo amor que possa ter no mundo...
Esse trabalho é inteiro de duas Marias e dois Césares.
Para vocês...
Maria Lúcia, minha Luz,
Maria Lua, minha Vida,
Théo César, minha Alma,
Bruno César, meu Amor.
vii
Cansada de não ter tempo, ela viajou no tempo,
criou o tele transporte e parou os relógios...
Aí, ela pegou sua família, amigos, bichos e plantas
e se mudou para uma vila na beira da praia
e de costas para uma cachoeira enorme...
Lá tinha água e comida boa sem fim.
Aí, ela vivia da Terra e para Terra...
Aí o tempo parou...
E nesse segundo de devaneio...
Ela entendeu o motivo de estar aqui.
Janaina Freitas C.
(A escritora de histórias fantásticas, quando tem tempo)
“Prefiro faláas coisa certa com as palavra errada
a faláas coisa errada com as palavra certa.”
Patativa do Assaré
viii
AGRADECIMENTOS
Essa tese foi construída por mais de mil mãos...
Como vou agradecer esse povo todo?
Como agradecer um copo de água quando você tá com muita sede? Um ajuda
sincera que veio na hora certa e de todo coração? Como agradecer um ombro amigo?
Uma noite em claro de ouvidos atentos? Ou um email respondido com amor e cheio de
nomes de peixinhos novos? Como agradecer horas de trabalho de campo dentro
d’água? Ou uma mão que te ajuda a subir no barco? Ou a ajuda para que crianças
tenham uma experiência única de visitar o fundo do mar? Como agradecer um almoço
feito com tanto amor? Um café? Uma tapioca? (A melhor tapioca do mundo!) Como
agradecer um sorriso? Um abraço? Um beijo? Um colo? Como agradecer os milhões de
incentivos? As preces? As intenções? As boas ações, bons pensamentos e boas
energias? Como é que eu vou agradecer por uma cama tão gostosa, com lençóis limpos
e uma toalha cheirando a sol? Sei não!
Muito obrigada!!! Muito mesmo! Que toda a luz e amor do mundo chegue a
cada um de vocês. Que toda a gratidão que me habita chegue em você, e que você possa
senti-la, e que isso se transforme em amor! Que você brilhe e irradie o amor... que o
amor se propague!
Peço desculpas com quem faltei... principalmente ao Théo, a Lua e aos meus
mestres/alunos.
Peço desculpas pela minha presença que por vezes se fez ausente, vagando pelo
mundo de resultados e discussões e introduções... principalmente ao Bruno.
Peço desculpas a mim mesma... por ultrapassar meus limites físicos e mentais
tantas vezes... por me perder tantas e tantas vezes!
Eu me perdoo e espero que vocês também possam me perdoar!
Minha família, obrigada!
Maria Lúcia, minha mãe mais linda que a Xuxa (um milhão de vezes).
Bruno César, meu companheiro de jornada materna.
Théo e Lua, meus filhos... que lindo encontro o nosso.
Helena, Juliana e Bartira, minhas irmãs inspiradoras. Juliana, obrigada por
milhares de correções que permitiram uma incrível melhora nesse trabalho.
Lilith Bia, Francisco, Moises, Ester e Raul, meus sobrinhos e afilhado que tanto
amo.
ix
Filipe, meu cunhado, amigo e compadre.
Nazaré, Samara e Orlando, minha tia/mãe, minha prima e meu tio... que bom tê-
los por perto!
Mucio, Andréia e Juninho, meu sogro, sua esposa e cunhado, pelo apoio
incondicional.
Akito, Dico, Aida, D. Vera, Alan e Haroldo. Akito, meu padrinho e incentivador,
você e sua família me ajudaram muito a concluir essa etapa. Serei para sempre
grata!
Lucas, Neto, Telma e Paru, meus primos e tios, pela estadia entre os traslados
Macapá – Natal.
Meus amigos, obrigada!
Fábia, Beatriz, Luisa, Patrícia, Glorinha, Bernardo, Débora, Edmar, Lorena,
Guedes, Marina, Flora, Raquel, Ana Claúdia, Cíntia, Sofia, Gustavo, Walério, Jésssica,
Maurício, Hafael, Haniel, Laura, Andreé, Guido, Juliano, Nat, Mauro, Marina, Garla,
Garcia, Tiego, Fran, Cadu, Stella, July, Geomar, Mariquinha, Damiana, Lourdes,
Francisca, Pedro, Vinicio Coeli, Raoni, Marcela, Virginia, Jonathas, Sarah, Tia Jane,
Reja, D. Auri, Laissa, Vanessa, Bia, ahhhh tem tanta gente.... Amo todos vocês e muito
mais... Desejo o melhor para cada um de vocês!
Em especial a Luli, pelo amor incondicional e pela ajuda na reta final que foi
fantástica!!!
Cadu e Academic consultoria estatística por toda a colaboração e cuidado com
meu trabalho. Sem vocês essa pesquisa não teria ficado tão legal!!! Muito obrigada!
Vinicius Peruzzi, por ser uma das pessoas mais gente boa que eu conheço!!!
Ahhh Vini, obrigada demais pela impressão e entrega da versão final no Rio!
Meus estagiários mais legais do mundo, obrigada!
Isabela, Louize e Daniel, vocês são parte de cada página dessa história. Valeu a
confiança e carinho. Amo vocês! Lou e Dan, muito obrigada pelo gás final com o
abstratct!
Minhas amigas cirandeiras, obrigada!
Camila, Dani, Pryscila, Karen, Rayane, Nat, Adriana, Drica, Kelen, Cassi,
Moara, Ronaldo, Cris, Lilian... Mulheres (menos o Ronaldo...) fortes e lindas que
iluminam meu caminho.
x
De todo meu coração agradeço especialmente a Karen, por com suas lindas
ilustrações, ter captado a essência do meu trabalho, enchendo tudo de beleza e
singularidade. Minha mana, tu tens um dom incrível!
Meus companheiros do PPGEco, obrigada!
Natália, Leonardo, Thaisa, Marina, Patrícia, Ana Helena, Letícia, Carol, Brunno,
Monalisa, Bruno, Felipe, Alan, Paulo, Cintia, Marina, Isabela, Tales, Giesta, João,
Marilia, Bernardo, Gui, Adriana, Maria Clara, Ewaldo, Rosemberg, Mariana, Ludmila,
Kionara. Obrigada pela partilha!
Meus professores, obrigada!
Liana, Priscila, Coca, Luciana, Toti, Gislene, Carlos, Dadão, Adriana Carvalho,
Adriana Monteiro, Márcio, Rosângela, Fúlvio, Ricardo Rosa, Ricardo Amaral, Jorge
Lins, Tatiana, Ierecê, Elinei, Alexandre Pedrini. Muito obrigada pela minha formação.
Cada um de vocês contribuiu de alguma forma para minha qualificação profissional e
sou imensamente grata!
Obrigada aos membros da banca pelas considerações, carinho e cuidado! Priscila
Lopes, Guilherme Longo, José Garcia e Alexandre Pedrini, Muito obrigada!
Especialmente, obrigada Lili. Pela confiança, carinho e uma orientação que já
dura 12 anos cheia de amor. Desculpa por todos meus prazos perdidos e toda a minha
pressa. Obrigada demais. Grande parte de mim, é você, e fico muito feliz pela amizade.
😊
Meus amigos da UEAP, obrigada!
Débora, Luciano, Gerlany, Marcelo, Luana, Rosivaldo, Darlan, Ivan, Sérgio,
Marcela, Dani, Kelly, Led, Gabriel, Luisa, Ângela, Ana Paula. Queridos amigos de
trabalho... tenho aprendido muito com todos você nesses últimos 3 anos, muito
obrigada!
Meus alunos da UEAP, obrigada!
Todos meus alunos (não tenho como escrever o nome de todos), mas sintam-se
abraçados por mim. Vocês me inspiram demais!
Em especial meus orientandos e aos alunos do LABOECO: D. Raimunda,
Tassia, Sâmella, Jaynara, Jeannie, Antônio, Fabrício, Suzy, Thaís, Plúcia, Adriano,
Alessandra e Francisco.
xi
Parceiros do IDEMA, obrigada!
Luisa, Maria José, Tiego, Rafael, muito obrigada por todo o auxílio no trabalho
na APARC, pelas inúmeras solicitações atendidas para uso do Ecoposto e demais
pedidos.
Parceiros do Parrachos Turismo e Maracajaú Divers, obrigada!
Rafael Exel e sua equipe, por toda a logística gratuita dos campos. Pelo carinho
e atenção de sempre. Pela responsabilidade e compreensão. A todos os marinheiros,
staffs e mergulhadores muito obrigada por tudo!!! Obrigada: Branquinho, Francisco,
Neto, Chico, Sandro, André, Emanuel, Dêde, Bruce, Carlinhos, Elder, Beto, Maria,
Zominho, Bidinho,
Zig e sua equipe, Sandra e Estevão, pela atenção, ajuda e prestatividade de
sempre.
Amigos de Caraúbas, obrigada!
Max, Ana Paula, Gato, Assis, Karine, Adelson, Maria Jósé, Zé, Lourdes,
Zominho, Mohamed.
Amigos esquecidos, obrigada!
Se você está lendo esses agradecimentos e não viu seu nome, me perdoe. Eu
agradeço muito a você. Você certamente lembra do quanto bem me fez ou me faz e esse
negócio de nomes é só formalidade. O amor tá aí... Te amo e te agradeço
profundamente!
xii
SUMÁRIO
RESUMO.........................................................................................................................01
ABSTRACT....................................................................................................................02
APRESENTAÇÃO GERAL...........................................................................................03
CAPÍTULO 1 –Impactos do mergulho recreativo em ambientes recifais tropicais do
Brasil: uma análise cienciométrica
Introdução............................................................................................................11
Materiais e Métodos.............................................................................................13
Resultados............................................................................................................14
Discussão.............................................................................................................20
Considerações finais............................................................................................28
Referências...........................................................................................................28
Anexo I ...............................................................................................................38
CAPÍTULO 2 - Comportamento de mergulhadores recreativos e seus impactos em uma
Área de Proteção Ambiental Marinha do Brasil
Introdução............................................................................................................60
Métodos...............................................................................................................62
Resultados............................................................................................................66
Discussão.............................................................................................................73
Considerações finais............................................................................................77
Referências..........................................................................................................79
Apêndice 1...........................................................................................................81
xiii
CAPÍTULO 3 – Impactos do mergulho recreativo na biota recifal em uma Área
Protegida Marinha do Brasil
Introdução............................................................................................................87
Métodos...............................................................................................................89
Resultados............................................................................................................98
Discussão...........................................................................................................107
Sugestões para o manejo do mergulho recreativo.............................................113
Referências.........................................................................................................114
Apêndice I..........................................................................................................123
Apêndice II........................................................................................................124
Apêndice III.......................................................................................................126
Apêndice IV.......................................................................................................129
CAPÍTULO 4 –Os impactos do mergulho recreativo como tema de um projeto de
Educação Ambiental
Introdução..........................................................................................................131
Materiais e Métodos...........................................................................................132
Resultados..........................................................................................................135
Discussão...........................................................................................................138
Considerações finais..........................................................................................140
Referências.........................................................................................................140
Apêndice A........................................................................................................144
Apêndice B........................................................................................................145
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................146
1
RESUMO
O mergulho recreativo (MR) é uma das atividades turísticas que mais cresce no mundo, gerando emprego
e renda, além de poder contribuir com a conservação dos ambientes recifais, impulsionando a criação de
unidades de conservação (UC) e auxiliando com insumos financeiros a manutenção de UCs já existentes.
Apesar das vantagens socioeconômicas, quando realizado sem controle, o MR pode provocar impactos
negativos ao ecossistema recifal, como alterações na estrutura das comunidades, danos físicos aos recifes
e redução na resisliência do recife. Diversos estudos em recifes de corais no mundo têm caracterizado tais
impactos propondo estratégias de manejo e indicadores biológicos para monitoramento. As
peculiaridades dos recifes brasileiros, com baixa cobertura coralínea e elevada cobertura de algas e
esponjas, torna necessário identificar e definir estratégias de manejo próprias para esse tipo de uso. O
presente estudo avaliou o impacto que o mergulho recreativo provoca em ambientes recifais tropicais do
Brasil. O primeiro capítulo é uma análise cienciométrica que indica as tendências dos estudos sobre os
impactos do MR nos ambientes recifais brasileiros. Os resultados mostram o crescimento do número de
publicações com esse tema ao longo do tempo e aponta a carência de uma análise integrada dos impactos
que o MR causa na biota recifal. Além disso, observou-se a necessidade de delineamento do perfil,
preferências e do comportamento dos mergulhadores. Nosso trabalho indica ainda que os recifes do Ceará
e recifes urbanos da Paraíba e Alagoas são áreascom maior carência de estudos no tema. No segundo
capítulo foi caracterizado o comportamento de mergulhadores recreativos em uma Área de Proteção
Ambiental Marinha (AMP) no nordeste brasileiro, quantificando-se a frequência de toques no substrato
recifal relacionado ao perfil do mergulhador e características do tipo de mergulho realizado. A frequência
média de toques (FT) observada foi notadamente inferior no recife estudado, quando comparado a outros
estudos em recifes de corais do mundo. As variáveis que influenciaram na FT foram: tipo de mergulho
(scuba > snorkel), sexo (homens > mulheres) e na faixa etária (acima de 50 anos, maior que nas demais
faixas etárias). A discussão deste capítulo aborda como as características físicas do local de estudo pode
ter influenciado na redução da FT, e também a postura dos profissionais do turismo. O terceiro capítulo
trata dos impactos do MR na ictiofauna e na comunidade bentônica em um ambiente recifal tropical do
Brasil. Nesse capítulo a realização de uma análise integrada de múltiplas variáveis da biota marinha
identificou importantes alterações na estrutura da comunidade recifal em função do MR. Essa abordagem
permitiu a observação de possíveis relações de causa e efeito que a avaliação de apenas um grupo
biológico poderia não detectar. As principais alterações documentadas foram: maior frequência relativa
de areia e cascalho na cobertura do substrato e menores valores das categorias coral duro, coral mole e
algas filamentosas nas áreas de Alto uso. A densidade média de corais não variou entre as áreas, contudo,
a espécie de coral Favia gravida apresentou menor densidade nas áreas turísticas. As áreas de Alto uso
exibiram ainda maior abundância relativa de ouriços pretos e invertebrados sésseis. As áreas de Baixo uso
apresentaram maior cobertura de algas folhosas. Com relação a ictiofauna observou-se maior abundância,
menor diversidade e dominância da espécie Haemulon aurolineatum nas áreas de alto uso. Nessas áreas
destacaram-se as maiores abundâncias dos grupos tróficos invertívoros móveis, onívoros e carnívoros,
com predominância de peixes da categoria de tamanho entre 11 – 20 cm. As áreas Controle apresentaram
um padrão diferente com menor abundância total de peixes, maior diversidade e homogeneidade, com
maior abundância de herbívoros, especialmente os territoriais, e destaque para as categorias de tamanho
de 6 – 10 cm e de 21 – 30 cm. Nas áreas de Baixo uso observou-se valores intermediários e de maior
semelhança com as áreas Controle. Essas alterações podem ser causadas diretamente pelo MR ou por
efeitos indiretos, que é resultado da complexa forma como os diferentes táxons respondem aos danos
oriundos da atividade turística. Apesar disso, essas modificações são espacialmente pontuais e com mais
estudos, monitoramento, fiscalização e manejo adequado, acredita-se que os impactos possam ser
reduzidos nas áreas turísticas. Neste trabalho ainda são sugeridas medidas de manejo para redução do
impacto do MR e indicadores biológicos que podem otimizar o monitoramento de áreas recifais
submetidas a atividade turística O quarto e último capítulo relata como o uso de uma abordagem
metodológica diversificada em um projeto de Educação Ambiental (EA), cujo tema foi “os impactos do
mergulho recreativo”, foi eficaz em uma escola pública do entorno de AMP alvo da especulação turística.
Os resultados indicam que a combinação do conhecimento científico, conhecimento local, uso de mídias e
visitas à ambientes não-formais são fundamentais para a eficácia de um projeto de EA. Esta tese apresenta
dados pioneiros sobre os impactos que o mergulho recreativo gera em ambientes recifais brasileiros,
contribuindo efetivamente para o manejo e desenvolvimento de um turismo sustentável em áreas
protegidas marinhas.
PALAVRAS-CHAVE: Impactos do turismo em recifes; turismo de mergulho sustentável;
comportamento de mergulhadores; educação ambiental.
2
ABSTRACT
Recreational diving (RD) is one of the fastest growing tourist activities in the world, generating
employment, income and contributing with the conservation of reef environments. This boosts the
creation of protected areas (PA) and helps with financial inputs to the maintenance of existing PAs.
Despite the socioeconomic advantages, when carried out uncontrolled RD can cause negative impacts to
reef ecosystems, such as changes in community structure, physical damage and reduction of reef’s
resilience. Several studies on coral reefs worldwide have proposed management strategies and biological
indicators for monitoring RD impacts. The peculiarities of Brazilian reefs, with low coral and high
seaweed and sponge cover, make it necessary to identify and define management strategies appropriate to
this type of use. The present study evaluated the impact of recreational diving on tropical reefs of Brazil.
The first chapter is a scientometric analysis that indicates trends in the impact of RD on Brazilian reefs.
Results show growth of publications over time but a lack of an integrated analysis of the impacts that RD
causes on the reef biota. In addition, it was observed the necessity of delineation of the profile,
preferences and the behavior of the divers. Our work also indicates that Ceará’s reefs and urban reefs of
Paraíba and Alagoas are areas with greater lack of studies. In the second chapter, the behavior of
recreational divers in a Marine Environmental Protection Area (MPA) in the Brazilian northeast was
characterized, quantifying the frequency of touches on the reef substrate related to the profile of the diver
and characteristics of the type of diving performed. The average frequency of touches (FT) observed was
markedly lower in the studied reef when compared to other studies on coral reefs in the world. The
variables that influenced FT were: type of diving (scuba> snorkel), sex (men> women) and in the age
group (above 50 years, higher than in the other age groups). The discussion in this chapter discusses how
the physical characteristics of the place of study may have influenced the reduction of FT, as well as the
posture of tourism professionals. The third chapter deals with the RD impacts on the ichthyofauna and the
benthic community in a Brazilian reef environment. In this chapter, an integrated analysis of multiple
variables of the marine biota revealed important changes in the structure of the reef community as a
function of RD. This approach allowed the observation of possible cause and effect relationships, that the
assessment of only one biological group could not detect. The main changes documented were: higher
relative frequency of sand and gravel in the substrate cover and lower values of hard coral, soft coral and
filamentous algae in High Use areas. The average density of corals did not vary among the areas,
however, the species of coral Favia gravida showed lower density in the tourist areas. Areas of high use
exhibited even greater relative abundance of black urchin and sessile invertebrates. The Low Use areas
presented greater coverage of foliose algae. In relation to ichthyofauna, in High Use areas the species
Haemulon aurolineatum showed greater abundance but lower diversity. In these areas, the highest
abundance of the mobile, omnivorous and carnivorous invertivorous trophic groups was observed,
predominantly fish of the size category between 11 - 20 cm. The Control areas presented a different
pattern with lower total fish abundance, greater diversity and homogeneity, and greater abundance of
herbivores, especially the territorial ones, within the categories of size of 6 - 10 cm and of 21 - 30 cm. In
the Low Use areas, we observed intermediate values and of greater similarity with the Control areas.
These changes can be caused directly by RD or by indirect effects, which is a result of the complex way
in which the different taxa respond to damages from the tourist activity. Despite this, these modifications
are spatially punctual and with more studies, monitoring, supervision and proper management, the
impacts could be reduced in the tourist areas. In this work, we suggest management measures to reduce
the impact of RD and biological indicators that can optimize the monitoring of reef areas under tourism
activity. The fourth and final chapter reports how uses of multiple methodologies in an Environmental
Education (EE) project, whose main theme was "Impacts of recreational diving", was effective on a
public school in the surroundings of MPA, which is a target area for tourism speculation. Results indicate
that combinations of scientific and local knowledge, the use of media and visits to non-formal
environments are fundamental to the effectiveness of an EE project. This thesis presents pioneering data
about impacts that the recreational diving causes to Brazilian’s reefs, effectively contributing to
management actions and development of sustainable tourism in marine protected areas.
KEY WORDS: Impacts of tourism on reefs; Sustainable dive tourism; Behavior of divers;
Environmental Education.
3
APRESENTAÇÃO GERAL
Vivemos em um mundo em crise. A crise emerge da forma como o ser humano
vem se relacionando com a Terra, em uma sociedade baseada no consumo, no lucro e na
exploração, que está exaurindo os recursos naturais existentes. O modo de vida da
sociedade atual é destrutivo, degradante e gera desigualdade. Esse sistema globaliza e
torna uniforme povos e culturas, dizimando tudo o que diz respeito à diversidade, e
sendo regido pela competição, exige pessoas rápidas, produtivas e competitivas.
Vivemos em um mundo em crise. Falta água, falta energia, falta moradia, falta
terra, falta comida, falta saúde, falta educação e sobretudo, falta cuidar do bem-estar
comum. O último ano (2017) se destacou por ter “produzido” o maior número de
bilionários da história (Rossi, 2018), e me pergunto quantos seres vivos e recursos
naturais foram explorados em prol de tão poucos? Não existe riqueza sem pobreza. Não
existem bilionários sem uma massa de explorados (Dierckxsens, 2011).
Vivemos em um mundo triste e quente (NOAA, 2016). Será que ainda podemos
fazer alguma coisa, frente as mudanças climáticas, acidificação dos oceanos, aumento
do nível do mar e eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes? Ainda temos
chance de mudar? Como este trabalho poderia contribuir com essa mudança? Como a
ciência pode melhorar o mundo?
A educação ambiental enxerga nas pessoas as soluções para um mundo melhor.
Para esse campo de pesquisa, apenas o causador do problema pode resolver essa crise,
sendo a formação de sujeitos ecológicos um caminho para transformar a forma como
lidamos com a Terra (Carvalho, 2012). A Permacultura traz técnicas e vivências práticas
que permitem uma existência realmente sustentável considerando aspectos éticos na
relação com a Terra, com as pessoas e com todos os seres vivos (Holmgren, 2013).
A solução para um mundo melhor está nas pessoas. Então como podemos mudá-
las? Como mudar seus comportamentos tornando-as mais colaborativas e cuidadosas
com meio que as cerca? É essa afirmação e indagações que movem esse trabalho!
Com a minha pouca experiência (e decepções) lidando com pessoas, enxerguei
na figura do turista características que poderiam ser potencialmente importantes na
sensibilização para questões socioambientais. Lembrei da curiosidade nata desses
indivíduos sobre os projetos de pesquisa e lembrei do meu próprio comportamento
como turista.
“Turista é bicho leso...
4
Se a gente colocar areia num pote e disser que é dum canto, ele vai e compra...
Turista é bicho aberto...
Cabeça aberta, mente aberta, corpo aberto...
Turista é bicho esperto... doido... livre...
Um bom momento para gente mudar, é quando a gente é turista, né não?”
Os versos que seguiram foram escritos por mim, após uma longa discussão com
meu marido, que trabalhou muitos anos com turistas. Esses versos resumem minhas
impressões e indicam os motivos de ter escolhido trabalhar com esse grupo de pessoas.
Ardoin et al. (2015) revisaram estudos que observaram mudanças de
conhecimento, atitudes e comportamentos pró-ambientais em turistas que tiveram
experiências com turismo de natureza. Os autores notaram as dificuldades de se medir e
identificar se a experiência turística foi realmente o principal promotor dessas
mudanças, mas de modo geral ressaltaram o potencial que o turismo de natureza tem na
sensibilização das pessoas.
Mesmo com os possíveis impactos que o turismo de natureza pode causar ao
ambiente (Bessa et al., 2017), concordo com Heyman et al. (2010) que afirmam no
título do seu artigo que “It is better to be disturbed than to be dead”. E mais ainda,
acredito nos benefícios econômicos, sociais e ambientais que o turismo de natureza,
quando realizado de forma planejada e organizada, pode trazer aos ambientes onde ele
ocorre (Hammerton et al., 2012).
Focada na possibilidade de desenvolver uma nova forma de pensar o turismo, foi
que o objetivo desse trabalho foi desenhado. Busquei compreender os impactos do
mergulho recreativo em ambientes recifais, a fim de contribuir com medidas de
mitigação desse impacto. A ideia inicial da tese era ir mais além. Queria realmente
desenvolver um modelo de turismo de mergulho com baixo impacto e transformador.
Queria testar a eficácia de trilhas subaquáticas. Queria propor um projeto piloto de uma
cooperativa de mergulho, onde os profissionais fossem apaixonados pelo recife, e
mostrassem para os mergulhadores o quão especial era aquele momento de lazer. Queria
compreender o custo de reposição do recife degradado. Queria ter começado a pensar
em estratégias para mudar comportamentos e atitudes.... Queria...
Infelizmente (ou felizmente) a vida não é como a gente quer. Ela simplesmente
é, e cabe a cada um, ser resiliente o bastante para ser feliz. Não pude fazer tudo que
queria nesse trabalho, mas penso que os resultados aqui apresentados e discutidos
podem contribuir de forma prática para o desenvolvimento de um turismo de mergulho
5
que cause menos impactos ambientais negativos e promova mais impactos sociais
positivos.
Os ambientes recifais foram escolhidos por sua importância econômica,
ecológica e social (Morberg & Folke, 1999) e pelo crescimento do turismo de mergulho
em todo mundo (Spalding et al., 2017). Além disso, me apaixonei pelos seres recifais
desde nosso primeiro encontro em meados de 2005.... Me apaixonei tanto, que em 2009
fui morar em Maracajaú, um distrito do município de Maxaranguape, localizado no
litoral norte do estado do Rio Grande do Norte. O recife ou parracho de Maracajaú faz
parte da Área de Proteção Estadual dos Recifes de Corais e é um dos principais destinos
de turismo de mergulho do nordeste do Brasil (IDEMA, 2012; Brasil, 2015). Foi então,
nesse recife, que ao longo de 4 anos empreendi esforços para desenvolver essa tese.
O objetivo do primeiro capítulo foi compreender o que já se sabia sobre os
impactos do mergulho recreativo (MR) em ambientes recifais no Brasil. Através de uma
análise cienciométrica, buscou-se avaliar as tendências dos estudos já realizados e
identificar as variáveis biológicas já analisadas, além de apontar lacunas no
conhecimento desse tema por estado brasileiro. O texto está estruturado para que se
desdobre em duas publicações, uma com enfoque regional, no intuito de contribuir na
gestão da atividade de MR no Brasil; e outra com uma abordagem mais global. As
referências estão padronizadas segundo o Pan-American Journal of Aquatic Sciences.
Os resultados do primeiro capítulo apontam duas lacunas importantes na
pesquisa sobre os impactos do MR no Brasil: a primeira é que apenas um trabalho
analisou as variáveis que podem influenciar no comportamento de mergulhadores no
Brasil (Giglio et al, 2016); e a segunda, é que poucos trabalhos no Brasil incorporaram a
resposta de mais de um grupo biológico em suas análises para compreensão do impacto
do MR. O segundo e terceiro capítulo, buscaram contribuir com o nosso conhecimento
sobre essas lacunas.
No segundo capítulo da tese buscou-se compreender quais variáveis podem
influenciar na frequência de contato do mergulhador com o recife. Nosso trabalho
apresenta a relação de frequência de contato não só para mergulhadores autônomos,
como também para o mergulho livre, além de apontar caraterísticas peculiares da
operação turística na área de estudo, que podem ser benéficas para o desenvolvimento
do MR com menor impacto. As referências estão padronizadas segundo ICES Journal
of Marine Science.
6
O objetivo do terceiro capítulo foi analisar uma série de variáveis biológicas
submetidas a diferentes níveis de uso turístico. Foi observada a assembleia de peixes
recifais, cobertura do substrato, megafauna de invertebrados e saúde da comunidade
coralínea em áreas turísticas muito visitadas (> de 6000 turistas/ano), áreas turísticas de
baixo uso (< 6000 turistas/ano) e áreas sem visitação. Nossos resultados indicam que o
mergulho recreativo causa alterações diretas em todos os grupos biológicos analisados e
discute modificações que podem ocorrer em interações ecológicas em função de
mudanças comportamentais de algumas espécies. Essas alterações são espacialmente
pontuais e com mais estudos, monitoramento, fiscalização e manejo adequado, acredita-
se que os impactos podem ser reduzidos nas áreas turísticas.
O último capítulo se propôs a testar como uma abordagem metodológica
diversificada pode ser eficaz em um projeto de educação ambiental (EA) cujo tema foi
os impactos do mergulho recreativo. Esse trabalho foi realizado no distrito de Caraúbas,
que fica ao lado de Maracajaú, também sob influência da APARC. Os resultados desse
artigo mostram que o projeto foi eficaz e reflete sobre como questões socioeconômicas
podem influenciar no sucesso de um projeto de EA. O artigo está no formato da revista
Investigações em Ensino de Ciências.
Seguindo orientações da minha excelente banca examinadora, gostaria de deixar
claro alguns conceitos que serão utilizados ao longo da tese:
1) Ambientes recifais tropicais do Brasil: São ambientes marinhos de fundo
consolidado que se estendem pela costa do Brasil do Amapá ao Sul da Bahia
(Leão et al., 2003).
2) Mergulho Recreativo (MR): Aqui consideramos o conceito amplo de mergulho
recreativo, compreendendo-o como qualquer atividade de mergulho realizada
com fins recreativos. Alguns autores dividem essa atividade em mergulho
autônomo, mergulho livre, flutuação e apneia (Garrod & Gössling, 2008; Neto,
2012), neste estudo todas essas subdivisões foram consideradas dentro do
escopo de MR.
3) Turismo de mergulho: Alguns autores consideram turismo de mergulho apenas
viagens que tem finalidade clara e própria para realização de mergulho (OMT,
2001; Dimmock, 2007). Em virtude do crescente grupo de turistas de massa que
estão realizando uma viagem de férias e realizam mergulhos estimulados por
pacotes turísticos promocionais (Araújo & Carvalho, 2013), consideramos
7
turismo de mergulho, qualquer atividade turística que tenha, por qualquer razão,
incluído em seu percurso uma operação de mergulho.
4) Turismo de massa: É considerado como o turismo de sol e praia, onde um
grande número de pessoas visita ao mesmo tempo, uma área relativamente
pequena (Butler, 2006). Normalmente, este tipo de turismo gera uma série de
modificações, com consequências negativas muitas vezes irreversíveis, como
desgastes econômico, social, cultural e ambiental nas comunidades onde ocorre
(Zaoual, 2008). Não existe um número especifico de turistas na definição de
turismo de massa, segundo Barretto (1998), o turismo de massa se estabelece em
locais onde existe uma alta demanda.
5) Impactos dos mergulhadores: São impactos causados diretamente pela ação do
mergulhador, seja através de toques com partes do seu corpo ou com partes de
equipamentos de mergulho. Esse tipo de impacto pode ser intencional ou não,
podendo ocasionar danos graves, como quebra e morte e organismos recifais.
Com o esclarecimento desses conceitos e com a tese devidamente apresentada,
convido-@ a enveredar na leitura de cada capítulo. Peço perdão pela forma pouco
formal como essa apresentação foi escrita, mas me foi permitido esse tipo de redação, e
assim a fiz. As ilustrações no início de cada capítulo e na capa da tese foram
encomendadas a uma artista amiga minha. A Karen Pimenta mora aqui em Macapá e
captou a essência do meu pedido. Ela transformou ciência em arte e encheu de beleza e
cores minha tese.
Agradeço imensamente a oportunidade de concluir essa tese. Para construir cada
etapa desse trabalho precisei abrir mão de alguma coisa. Abri mão de brincar com meus
filhos ou de fazer sua comida. Abri mão de fazer aulas melhores ou de participar de
alguma importante comissão que poderia melhorar meu espaço de trabalho. Abri mão
de ficar nas férias com minha mãe e aproveitar meu tempo com minha família. Abri
mão de não fazer nada e ter tempo ocioso.... Por isso, por todo esse esforço e dedicação,
sinto um enorme amor nesse trabalho. Aqui estão minhas esperanças de tempos
melhores. Esperança que eu possa sempre ver o mundo com o olhar de um turista
curioso... e que eu esteja sempre aberta e pronta para promover mudanças na minha
própria vida!
8
REFERÊNCIAS
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sua análise para o planejamento turístico do estado de Alagoas, Brasil. Anais do X
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ARDOIN, N. M.; WHEATON, M.; BOWERS, A. W.; HUNT, C.A.; DURHAM, W.H.
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review and analysis of the literature and potential future research. Journal of
Sustainable Tourism, Volume 23, Issue 6,2015.
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São Paulo: Ed. Papirus,1998.
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Abingdon, Oxon, pp. 161-174. ISBN: 9780415523448.2013.
GARROD, B., and GÖSSLING, S. Introduction. In: Garrod, B., and Gössling, S. (Org.).
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Manejo da Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais: APARC. Natal:
IDEMA. 2012.
9
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https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/17/economia/1516220669_272331.htmlAcesso
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<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=115415175001> Acesso em: 06 de março de
2018.
10
Impactos ambientais do mergulho recreativo em
ambientes recifais tropicais do brasil: uma análise
cienciométrica
11
Impactos ambientais do mergulho recreativo em ambientes recifais tropicais do
Brasil: uma análise cienciométrica
Environmental impacts of recreational dive in tropical reefs of Brazil: a scientometric
analysis
Introdução
Ambientes recifais concentram a maior biodiversidade dos oceanos (Adey 2000)
e também se destacam entre os ecossistemas marinhos que fornecem uma variedade de
bens e serviços à humanidade como: a proteção do litoral contra à ação de ondas,
potencialidade para a descoberta de compostos medicinais, berçário para espécies
marinhas e diversos benefícios econômicos através do uso recreativo, turístico e
pesqueiro (Moberg & Folke 1999). Mesmo com sua importância econômica e
ecológica, áreas recifais em todo o mundo estão sujeitas a uma série de impactos globais
e locais (Hughes et al. 2017) e existe urgência em políticas que promovam a
conservação destes hotspots de vida marinha.
No Brasil os ambientes recifais tropicais se estendem por mais de 3.000 km
entre a costa do Amapá e o Sul da Bahia (Ferreira & Maida 2006; Moura et al. 2016),
com características únicas, como o tipo de crescimento, aspectos morfológicos, fauna
construtora do recife e ambiente deposicional (Leão et al. 2003). Os recifes brasileiros
caracterizam -se pela baixa cobertura coralínea, elevado endemismo de espécies de
corais em zonas com alto aporte de sedimentos, resultantes da desembocadura de
grandes rios e erosão costeira (Castro & Pires 2001). Apesar dessas peculiaridades, os
bens e serviços fornecidos por esses ecossistemas e, consequentemente, sua importância
ecológica e econômica, equivalem aos dos recifes de corais de outras regiões do mundo
(Leão et al. 2016).
Em recente revisão, Tedesco et al. (2017) elencaram as principais ameaças para
a conservação dos recifes brasileiros, sendo elas: o crescimento populacional, a
atividade pesqueira, a poluição da costa, a introdução de espécies exóticas, as mudanças
climáticas e o turismo irregular voltado para prática do mergulho recreativo.
Apesar de já ter sido considerado uma prática de baixo impacto ambiental
(Tilmant 1987, Talge 1991), atualmente diversos estudos apontam que o mergulho
recreativo pode causar danos significativos ao ambiente marinho. Os impactos podem
ser resultantes do contato direto de mergulhadores com o recife (Rouphael & Inglis
12
2001, Zakai & Chadwick-Furman 2002, Luna et al. 2009, Camp & Fraser 2012, Giglio
et al.2016), da sedimentação oriunda da ressuspensão de sedimentos bentônicos (Hasler
& Ott 2008), das injúrias causadas pela ancoragem de embarcações (Creed & Amado-
Filho 1999, Giglio et al. 2017a) e da poluição (Lamb et al. 2014, Downs et al. 2015).
Esses impactos podem resultar em alterações na estrutura da comunidade recifal
(Hawkins & Roberts 1992, Hawkins et al. 1999), modificações comportamentais de
algumas espécies (Di Franco et al. 2013; Titus et al. 2015), diminuição da capacidade
de reprodução dos corais (Kragt et al. 2009), aumento da suscetibilidade a doenças em
corais (Lamb et al. 2014), redução da biodiversidade e resiliência do ecossistema como
um todo (Gladstone et al. 2013).
Estudos com enfoque nos impactos do mergulho recreativo no Brasil foram
iniciados em meados da década de 1990 (Leão et al. 1996, Creed & Amado-Filho 1999,
Augustowski & Francine 2002), mas ainda não há um consenso sobre quais variáveis
biológicas respondem a esse tipo de dano em recifes com as características encontradas
no Brasil (Wedekin 2003, Luiz Júnior 2009).
Em recifes de corais de outras partes do mundo é comum a utilização de
variáveis relacionadas à comunidade coralínea, como riqueza de espécies, porcentagem
de cobertura de corais e de corais quebrados (Hawkins & Roberts 1992, Tratalos &
Austin 2001, Rouphael & Inglis 2002, Polak & Shashar 2012). Estes são considerados
bons indicadores, pois os recifes em questão possuem elevada cobertura de corais
(espécies e abundância), que é susceptível aos impactos causados pela ação da logística
da operação de mergulho e por possíveis danos empregados diretamente por
mergulhadores (Hawkins et al. 1999). No entanto, recifes com baixa cobertura coralínea
e que são submetidos a pressão turística, como é o caso do Brasil, os indicadores
mencionados não se mostram adequados para o diagnóstico de modificações na
comunidade recifal em função da atividade turística (Lima 2016).
Desta forma, o presente estudo buscou mapear as pesquisas já realizadas que
focaram nos impactos do mergulho recreativo em ambientes recifais tropicais do Brasil.
Foram identificados os grupos biológicos, as variáveis ecológicas utilizadas nos
trabalhos e a abrangência geográfica dos estudos através de uma análise cienciométrica
da literatura científica. Utilizou-se desta análise por ela utilizar de técnicas quantitativas
e/ou qualitativas que permitem avaliar a produção científica sobre determinado tema,
buscando identificar padrões e tendências que podem existir nas publicações e
possibilitando a observação da importância dada a determinado assunto ou autor e
13
identificando regiões geográficas onde há carência de determinadas pesquisas (Macias-
Chapula 1998; Barbosa et al. 2012).
O presente estudo evidenciou a amplitude geográfica em que estão concentrados
os esforços de pesquisa sobre o tema no país, assim como a existência de conhecimento
científico em áreas críticas para conservação. Analisou-se ainda os estudos
desenvolvidos em áreas onde a atividade de mergulho é fortemente presente e
consolidada, incentivando a realização de pesquisas em locais com carência de
informações sobre o tema.
O ponto de partida para a gestão do turismo de mergulho em um país com uma
costa tão extensa como a do Brasil é a identificação das áreas onde a atividade ocorre e
os impactos que estão sendo gerados. Este é o mapeamento inicial para o
desenvolvimento posterior de estratégias de manejo que permitam reduzir ou mitigar os
danos e criar propostas de gestão inovadoras com uma abordagem que integre soluções
para sistemas sociais, econômicos e ambientais.
Materiais e Métodos
Análise da literatura
Para o levantamento de estudos realizados nas áreas de mergulho recreativo em
ambientes recifais do Brasil foram examinados textos, documentos e publicações
disponibilizados pelos Ministério do Turismo e Ministério do Meio Ambiente, além de
pesquisa em sites das principais operadoras de mergulho do Brasil, nos estados que
possuem áreas recifais e artigos científicos.
Para a análise cienciométrica, foi conduzido um levantamento sistemático dos
estudos a fim de identificar a literatura relevante sobre os impactos da atividade de
mergulho em ambientes recifais brasileiros. Dois bancos de dados foram acessados:
Web of Science na ISI Web of knowledge e o Google Acadêmico, através de três
momentos de busca, nos quais foram utilizados os seguintes termos: busca 1: ‘Brazil’ e
‘impact’ e ‘dive’; busca 2: ‘nome do estado’ (ex: Ceará) e ‘impact’ e ‘dive’; busca 3:
‘Brazil’ e ‘palavras-chaves identificadas nas buscas 1 e 2’ (coral, pollution, diver, reef,
anchor damage). Não foi definido período de pesquisa específico, sendo contabilizados
todos os artigos encontrados sobre o tema, independente do ano de publicação. Todas
as buscas foram refeitas utilizando os mesmos termos em português, através das
mesmas fontes de dados.
14
Os resultados foram limitados a textos em inglês e português, utilizando-se
periódicos indexados e literatura cinza. As pesquisas foram cruzadas para produzir uma
lista única para cada estado brasileiro. Os resumos de todos os artigos e trabalhos
encontrados na busca foram analisados e incluídos na revisão sempre que se referissem
a impactos ligados à atividade de mergulho recreativo em ambientes recifais do Brasil.
Cada publicação foi analisada de acordo com: (i) ano da publicação, (ii)
periódico da publicação ou universidade, no caso de trabalhos de literatura cinza, (iii)
qualis do periódico, (iv) fator de impacto; (v) número de citações, (vi) área geográfica
de enfoque do estudo (estado brasileiro e, quando foi o caso, a unidade de conservação),
(vii) grupos biológicos estudados (algas, peixes, invertebrados bentônicos, coral duro,
coral mole e outros), (viii) variáveis biológicas estudadas (ex. riqueza, biomassa,
diversidade, dominância, abundância, densidade, classes de tamanho, categorias
tróficas, entre outras), (ix) avaliação do impacto do mergulhador.
O conceito qualis foi obtido através de consulta na plataforma sucupira (CAPES
2017), na avaliação de 2017 para área de avaliação “Biodiversidade”. O fator de
impacto utilizado foi o indicador SJR, na avaliação de 2016 (SCImago 2007). O número
de citações utilizado foi o valor disponibilizado pelo banco de dados do Google
Acadêmico, pois o mesmo inclui o número de citações de publicações da literatura
cinza, o que permite uma comparação deste fator com periódicos indexados. Este
levantamento foi realizado entre abril e junho de 2017.
Resultados
Áreas de Mergulho
Foram identificadas 237 áreas de mergulho recreativo em ambientes recifais, em
sete estados do nordeste brasileiro (Maranhão/MA, Ceará/CE, Rio Grande do Norte/RN,
Paraíba/PB, Pernambuco/PE, Alagoas/AL e Bahia/BA) (ANEXO I).
A maioria das áreas identificadas localiza-se em recifes profundos direcionados
para o scuba dive (70%). As áreas rasas, exclusivas para prática de snorkel, são piscinas
naturais com profundidade entre 0 e 1,5 metros (21%), já as áreas onde ocorrem as duas
modalidades de mergulho concomitantemente, apesar de serem a minoria (9%), são
aquelas que recebem turismo em massa (ANEXO I).
15
Aproximadamente 50% das áreas de mergulho identificadas estão inseridas em
Unidades de Conservação (UC) e possuem algum tipo de regra de uso, como limitação
no número de visitantes ou restrição ao uso de algum artefato (Ferreira & Maida 2006).
No Maranhão, a única área de mergulho encontrada foi o Parque Estadual Marinho
Parcel de Manoel Luís. Esta foi citada em sites especializados de mergulho e por grupos
de mergulhadores, porém algumas peculiaridades do recife, como distância da costa e
forte correnteza, tornam a operação turística regular inviável no local, sendo a visitação
realizada apenas por mergulhadores experientes e com recursos para financiar o
embarque até o local.
No levantamento realizado não foram encontrados pontos de mergulho nos
estados do Amapá, Pará, Piauí e Sergipe.
Análise Cienciométrica
Foram registradas apenas 36 publicações que abordaram algum aspecto do
impacto que o mergulho recreativo causa no ambiente recifal, entre os anos 1999 e
2016, com um crescimento do número de publicações nos últimos cinco anos. Esses
trabalhos estão concentrados em 41 áreas de mergulho, o que representa 17% do total de
áreas de mergulho registradas no presente levantamento. Os estudos foram oriundos da
literatura cinza (44,4%), publicações internacionais (30,6%) e publicações nacionais
(25%) (Figura 1).
Figura 1 - Porcentagem acumulada de estudos enfocando o impacto do mergulho recreativo em
ambientes recifais tropicais do Brasil. N = 36 publicações. O primeiro registro em 1996 e o último em
2016.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
20
13
20
14
20
15
20
16
20
17
% A
cum
ula
da
de
pu
blic
açõ
es
16
As pesquisas analisadas, excetuando-se a literatura cinza, foram publicadas em
17 periódicos, e apenas dois desses tiveram mais de uma publicação com o tema:
Brazilian Journal of Pharmacognosy (2) e Environmental Management (2). O fator de
impacto e categoria de qualis variou entre os periódicos, com destaque para três artigos
de maior impacto: Coral Reefs (1,343), Marine Pollution Bulletin (1,302) e Journal of
Experimental Marine Biology and Ecology (0,937) (Tabela 1).
Tabela 1 –Lista de publicações com enfoque nos impactos do mergulho recreativo em ambientes recifais
tropicais no Brasil. Em cada uma delas é destacada a relação entre o número de citação e a idade do artigo
(número de anos desde que a publicação foi lançada (Nº CIT/IDADE)), o número de citações segundo
Google Acadêmico (Nº CIT), a área de estudo, o periódico em que foi publicado, o conceito qualis e o
fator de impacto (FI), segundo o indicador SJR. NA – Não se aplica.
ESTUDO Nº CIT/
IDADE
Nº
CIT. ÁREA DE ESTUDO PERÍODICO QUALIS F.I. (SJR)
Leão &
Kikuchi 2005 7,4 89
Recifes do Norte da
BA e Abrolhos - BA
MARINE POLLUTION
BULLETIN A1 1,302
Creed &
Amado-Filho
1999
7,1 127 Abrolhos - BA
JOURNAL OF
EXPERIMENTAL MARINE
BIOLOGY AND ECOLOGY
A1 0,937
Giglio et al.
2016 5 10 Abrolhos - BA
ENVIRONMENTAL
MANAGEMENT B1 0,794
Albuquerque
et al. 2014 4 12 Moreré - BA
MARINE AND
FRESHWATER RESEARCH B1 0,711
Santos et al.
2015 4 8
Porto de Galinhas -
PE
ENVIRONMENTAL
MANAGEMENT B1 0,794
Sarmento &
Santos 2012 3,8 19
Porto de Galinhas –
PE CORAL REEFS A1 1,343
Ilarri et al.
2008 3,6 32 Picãozinho - PB
NEOTROPICAL
ICHTHYOLOGY B2 0,657
Pérez et al.
2005 3,1 37
Porto de Galinhas -
PE HYDROBIOLOGIA A1 0,895
Feitosa et al.
2012 2,8 14
Maracajaú - RN;
Maragogi - AL
JOURNAL OF THE
MARINE BIOLOGICAL
ASSOCIATION OF THE
UNITED KINGDOM
B2 0,382
Silva et al.
2012 2,8 14 Maracajaú - RN
BRAZILIAN JOURNAL OF
PHARMACOGNOSY B3 0,418
Medeiros et
al. 2007 2,6 26 Picãozinho - PB
PAN-AMERICAN
JOURNAL OF AQUATIC
SCIENCES
B3 0,207
Azevedo et al.
2011 2,6 13 Pirangi - RN
BRAZILIAN JOURNAL OF
PHARMACOGNOSY B3 0,418
Feitosa et al.
2002 2,3 34 Maracajaú - RN
ARQUIVOS DE CIÊNCIAS
DO MAR C 0
Sarmento et
al. 2011 1,8 11
Porto de Galinhas -
PE SCIENTIA MARINA B1 0,537
Correia &
Sovierzoski
2008
1,2 11 Recifes urbanos de
Maceió - AL
PROCEEDINGS OF THE
11TH INTERNATIONAL
CORAL REEF SYMPOSIUM
NA NA
Spanó et al.
2008 1,2 11 Abrolhos - BA
OLAM - CIÊNCIA E
TECNOLOGIA C 0
Leão et al.
1996 1,1 23 Abrolhos - BA
LIVRO - Global Aspects of
Coral Reefs: health, hazard
and history
NA 0
Batista et al.
2007 1,1 11 Maracajaú - RN
ANUÁRIO DO INSTITUTO
DE GEOCIÊNCIAS - UFRJ B5 0,16
17
Cont. Tabela 1:
ESTUDO Nº CIT/
ANOS Nº CIT.
ÁREA DE
ESTUDO PERÍODICO QUALIS F.I. (SJR)
Melo et al. 2014 0,7 2 Seixas - PB
REDE - REVISTA
ELETRÕNICA DO
PRODEMA
C 0
Silva 2006 0,2 2 Maracajaú -
RN UFRN - DISSERTAÇÃO NA NA
Garcia 2006 0,1 1 Maracajaú -
RN UFC - DISSERTAÇÃO NA NA
Costa & Miranda
2016 0 0
Areia
Vermelha - PB
REVISTA DE ESTUDOS
AMBIENTAIS B4 0
Cavalcante et al.
2014 0 0 Maragogi - AL
TROPICAL
OCEANOGRAPHY C 0
Feitosa 2005 0 0
Maracajaú -
RN
Maragogi - AL
UFC - DISSERTAÇÃO NA NA
Azevedo 2011 0 0 Pirangi - RN UFRN - DISSERTAÇÃO NA NA
Barboza 2014 0 0 Pirangi - RN UFRN - DISSERTAÇÃO NA NA
Maximo 2015 0 0 Picãozinho -
PB UFPB - DISSERTAÇÃO NA NA
Lima 2016 0 0 Porto de
Galinhas - PE
UFRPE -
DISSERTAÇÃO NA NA
Santos 2013 0 0 Porto de
Galinhas - PE UFPE - DISSERTAÇÃO NA NA
Macedo 2014 0 0 Porto de
Galinhas - PE UFPE - DISSERTAÇÃO NA NA
Elliff 2014 0 0 Ilha de Tinharé
e Boipeba - BA UFBA - DISSERTAÇÃO NA NA
Padilha 2015 0 0 Porto de
Galinhas - PE UFPE - DISSERTAÇÃO NA NA
Silva 2015 0 0 Maracajaú -
RN UFRN - TCC NA NA
Torres 2016 0 0 Maracajaú -
RN UFRN - TCC NA NA
Torres et al. 2016 0 0 Seixas - PB
ANAIS DO FÓRUM
INTERNACIONAL DE
TURISMO DE IGUASSU
NA NA
Amaral et al. 2005 0 0 Maracajaú -
RN
RN - RELATÓRIO
TÉCNICO IDEMA NA NA
O artigo mais citado foi o experimento de Creed & Amado-Filho (1999), com
127 citações, que avaliou o impacto da ancoragem de barcos de mergulho recreativo
sobre a comunidade fital de Abrolhos. A relação entre o número de citações e a “idade”
do artigo destacou a relevância de artigos com um número menor de citações, entre eles:
Albuquerque et al. (2014), Santos et al. (2015) e Giglio et al. (2016) (Tabela 1).
O estado brasileiro com maior número de estudos no tema em questão foi o Rio
Grande do Norte, com registro de 13 publicações. As áreas de estudo concentraram-se
nos recifes de Maracajaú e de Pirangi. Apesar da Bahia concentrar o maior número de
áreas de mergulho, foram registradas apenas sete publicações em recifes baianos. No
Amapá, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e Sergipe não foram encontrados trabalhos que
analisassem os impactos do mergulho recreativo em ambientes recifais (Figura 2).
18
Figura 2 - Número de publicações com enfoque nos impactos do mergulho recreativo em ambientes
recifais desenvolvidos nos Estados do Brasil. AM –Número de áreas de mergulho por estado; UC -
Número de áreas de mergulho inseridas em Unidades de Conservação; Nº DE PUB - Número de
publicações.
A maioria dos estudos ocorreram em recifes que estão inseridos em Unidades de
Conservação (UC) (61,1%). Em Alagoas e na Bahia todos as pesquisas ocorreram
dentro de UC, enquanto que no RN, 77% e na PB, 16% foram realizados em áreas
protegidas.
Nas publicações analisadas, identificou-se seis grupos biológicos avaliados em
áreas recifais com uso turístico, nos diferentes estados do Brasil, considerando variáveis
como riqueza, abundância, densidade, dentre outras. São eles: algas (27,8% das
publicações), peixes (25%), invertebrados bentônicos (22,2%), coral duro (16,7%),
coral mole (11,1%) e outros (16,7%). O grupo “outros” inclui estudos que analisaram
impactos ambientais gerais, como alterações em serviços ecossistêmicos, aspectos
qualitativos da cobertura de corais e foraminíferos (Quadro 1).
Com relação aos grupos biológicos avaliados nas publicações, é importante
ressaltar que apenas os trabalhos de Garcia (2006); Sarmento et al. (2011), Sarmento &
Santos (2012), Santos (2013), Santos et al. (2015) e Lima (2016) analisaram mais de um
grupo biológico concomitantemente (algas e invertebrados bentônico). Os demais
focaram em apenas um grupo e não houve registro de trabalhos que realizassem uma
análise integrada dos impactos do MR na biota recifal como um todo.
19
Em geral, todas as variáveis analisadas para os diferentes grupos biológicos
tiveram algum tipo de alteração devido ao impacto do mergulho recreativo, com
exceção da riqueza de peixes e aspectos ecológicos de corais.
Quadro 1–Grupos biológicos avaliados nos estudos com foco nos impactos do mergulho recreativo em
ambientes recifais, por Estado, no Brasil. Quadrados brancos indicam que determinada variável não foi
avaliada; quadrados pretos discriminam que a variável analisada sofreu alteração em função da atividade
de mergulho recreativo; quadrados cinza indicam que a variável foi analisada, mas não sofreu alteração
em função do uso turístico.
Grupo Variável RN PB PE AL BA Referência
Algas
N = 10
Riqueza Creed & Amado-Filho 1999,
Silva 2006, Azevedo 2011,
Sarmento et al. 2011,
Azevedo et al. 2011,
Sarmento & Santos 2012,
Silva et al. 2012, Santos
2013, Maximo 2015; Santos
et al. 2015.
Biomassa
Diversidade
Dominância
Peixes
N = 9
Riqueza
Feitosa et al. 2002, Amaral et
al. 2005, Feitosa 2005,
Medeiros et al. 2007, Ilarri et
al. 2008, Feitosa et al. 2012,
Albuquerque et al. 2014,
Macedo 2014, Silva 2015.
Abundância
Densidade
Diversidade
Equitabilidade
Classes de tamanho
Categorias tróficas
Comportamento
Invert.
bentônicos
N = 8
Riqueza Pérez et al. 2005, Garcia
2006, Correia & Sovierzoski
2008, Sarmento et al. 2011,
Sarmento & Santos 2012,
Santos 2013, Barboza 2014,
Santos et al. 2015.
Abundância
Densidade
Composição
Coral Duro
N = 5
Riqueza
Garcia 2006, Spanó et al.
2008, Cavalcante et al. 2014,
Lima 2016, Torres 2016.
Abundância
Classes de tamanho
Categorias de saúde
Quebra
Mortalidade
Recrutamento
Coral Mole
N = 4
Cobertura Santos 2013, Padilha 2015
, Santos et al. 2015, Lima
2016,
Classes de tamanho
Morfologia
Outros
N = 7
Impactos ambientais Leão et al. 1996, Leão &
Kikuchi 2005, Batista et al.
2007, Elliff 2014, Melo et al.
2014, Costa & Miranda 2016,
Torres et al. 2016.
Serviços Ecossistêmicos
Foraminíferos
Aspectos qualitativos da
cobertura de corais
20
Apenas um trabalho identificou características de mergulhadores associadas ao
impacto nos recifes (Giglio et al. 2016). Este foi realizado nos recifes de Abrolhos e os
resultados apontaram as maiores taxas de contato foram exibidas por fotógrafos
especialistas, por mergulhadores em recifes artificiais e por mergulhadores que
utilizavam sidemount.
É importante ressaltar que o presente trabalho centrou seus esforços em analisar
as pesquisas em ambientes recifais, contudo outros estudos em costões rochosos do
litoral Sul e Sudeste vêm sendo desenvolvidos com abordagens semelhantes (Pedrini
2006, Pedrini et al. 2007, Pedrini et al. 2008, Pedrini et al. 2015, Giglio et al. 2017a, b).
Para gestão integrada do mergulho recreativo no Brasil é importante considerar seus
resultados, ponderando as peculiaridades do tipo de recife e possíveis indicadores que
podem responder de forma diferenciada.
Discussão
Levantamento das áreas de mergulho
O foco principal deste estudo não foi realizar o levantamento das áreas de
mergulho em ambientes recifais tropicais do Brasil, mas esse esforço foi necessário para
compreender a dimensão geográfica das pesquisas realizadas com enfoque no impacto
do mergulho recreativo (MR).
Gerar uma lista completa dessas áreas de mergulho é um objetivo ambicioso e de
difícil alcance, devido às limitações do método empregado e à falta de informações
disponíveis. Assim, é de se esperar que a lista de áreas de mergulho apresentada esteja
subestimada. Contudo, este é o primeiro estudo que revela um panorama geral dos
recifes com identificação de impactos gerados pela atividade de mergulho e onde existe
a demanda deste tipo de estudo no Brasil.
Estudos adicionais devem ser realizados afim de refinar e complementar o
presente estudo, através de uma ampla consulta com pesquisadores e profissionais de
mergulho que frequentem áreas recifais ao longo da costa brasileira. Esse aditivo deve
conter informações relevantes, como as coordenadas geográficas, profundidade, tipos de
atividades desenvolvidas (ex. trilhas subaquáticas e fotografias) e número médio de
visitantes por ano por ponto de mergulho.
21
Análise Cienciométrica
Apesar dos resultados desse estudo indicarem um crescimento no interesse
científico sobre os impactos que o MR pode provocar nos ambientes recifais brasileiros,
o baixo número de publicações encontradas confirma as afirmações de Giglio et al.
(2016) e Tedesco et al. (2017), que evidenciam a escassez de estudos sobre o tema no
Brasil. É provável que o baixo número de estudos nesta área reflita a dificuldade de
estabelecimento de indicadores ambientais consistentes, os quais respondam claramente
à atividade de mergulho recreativo. Além disso, a atividade de pesquisa em ambientes
recifais no Brasil é recente, iniciada por volta da década de 1970, com a descrição dos
recifes brasileiros realizada por Jacques Laborel (Laborel, 1970), e tornando-se mais
forte a partir da década de 1980 e início de 1990. Em recifes coralíneos de outras
regiões do mundo, os impactos do MR são mais evidentes (ex. quebra de corais,
branqueamento frente à ressuspensão) (Roche et al. 2016, Abidin & Mohamed, 2014,
Worachananant et al. 2008), e a atividade de visitação é mais antiga, assim como o
tempo de pesquisas desenvolvidas. Outro fator que pode contribuir com esse cenário é a
dificuldade de coleta de dados em ambientes subaquáticos, que exige uma logística
complexa e a formação de profissionais experientes e capacitados em mergulho
científico.
O atual crescimento do número de publicações no Brasil provavelmente está
relacionado ao aumento do uso turístico desordenado em áreas recifais da costa
brasileira (Rowe & Santos 2016). Esse tipo de turismo pode tornar evidente alterações
na estrutura da comunidade recifal, despertando o interesse da compreensão desses
impactos pelo meio científico (Giglio et al. 2017b). O aumento do uso e a pressão social
advinda da necessidade de ordenação da atividade de MR nos recifes onde ele ocorre,
pode ser outro fator que impulsiona pesquisas com o tema. Empresas, profissionais de
mergulho, pescadores e comunidades que estão intimamente relacionadas com os
recifes, interagindo nesse espaço e exigindo respostas sobre a capacidade de suporte das
áreas de mergulho, possíveis alterações e prejuízos que o MR pode causar (Silva et al
2009, IDEMA 2012). Por fim, o crescimento do número de publicações no Brasil
acompanha o crescente interesse por esse tema no resto do mundo, especialmente em
recifes do Caribe, Mar Vermelho e Grande Barreira de Corais, na Austrália (Lamb et al.
2014).
Quase a metade das publicações encontradas são oriundas da literatura cinza e
poucos estudos estão publicados em revistas de maior impacto. Isso reflete, na maioria
22
das vezes, uma abordagem microregional das pesquisas e possíveis problemas
metodológicos que podem impedir a publicação das dissertações e teses em periódicos
mais acessados. Além disso, a falta de incentivo em pesquisas científicas no Brasil tem
se agravado nos últimos anos, influenciando de forma negativa o desenvolvimento de
projetos e a ampla divulgação de seus resultados. Em 2017, um corte de verbas de mais
de 40% do governo federal neste setor, refletiu o descaso e ganhou notoriedade
mundialmente, exibindo as dificuldades em se realizar pesquisas de qualidade sem
incentivos no Brasil (Angelo 2017).
Os recentes artigos de Sarmento& Santos (2012), Albuquerque et al. (2014),
Santos et al. (2015) e Giglio et al. (2016), publicados em revistas internacionais e
destacados no número relativo de citações, indicam a repercussão positiva dos estudos
realizados no Brasil sobre os impactos do mergulho recreativo (Williamson et al. 2017,
Hammerton 2017, Spalding et al. 2017) e a necessidade urgente da ampliação de
informações sobre o tema.
Outra informação registrada na análise cienciométrica foi a concentração dos
estudos em poucos recifes, com 64% das publicações desenvolvidas nos recifes de
Maracajaú – RN, Porto de Galinhas – PE e Abrolhos – BA. Em Maracajaú, o incentivo
à realização das primeiras pesquisas científicas na área se deu por pressão de
empresários do mergulho, afim de transformar o local em Unidade de Conservação
(UC). Com isso, os empresários puderam regulamentar suas atividades e reduzir
conflitos existentes com pescadores artesanais locais (Silva et al. 2009). Em Porto de
Galinhas, a intensa atividade turística que envolve a prática de pisoteio de áreas recifais
e alimentação de peixes, promoveu nítida alteração na estrutura da comunidade recifal,
o que despertou a necessidade e interesse de pesquisas na área (Barradas et al. 2012).
Além disso, a facilidade do acesso ao recife se torna um atrativo a mais para a
realização de pesquisas neste local. Em Abrolhos, foram desenvolvidos os trabalhos
pioneiros com ambientes recifais no Brasil (Leão 1983) e também com tema do impacto
turismo (Leão et al. 1996, Creed & Amado-Filho 1999) e a maioria das pesquisas estão
associadas a questões do manejo e gestão da UC.
Com relação aos grupos biológicos avaliados, Refron & Chadwick (2017)
ressaltam a necessidade de estudos que incorporem múltiplos níveis de interações
ecológicas nas análises dos impactos do Mergulho Recreativo, destacando em seus
resultados como as espécies podem responder de forma complexa e diferente a danos
em recifes submetidos à intensa visitação. Considerando a composição e construção não
23
coralínea dos recifes brasileiros, a avaliação de multi-indicadores se torna fundamental
para o entendimento dos impactos da atividade de MR, uma vez que as respostas nem
sempre são tão claras para uma única variável ambiental.
Estudos sistemáticos e a longo prazo, que busquem compreender padrões e
processos ecológicos são necessários nos ecossistemas recifais brasileiros como um
todo (Ferreira & Maida 2006). Para avaliação dos efeitos da atividade turística nos
recifes não é diferente. É preciso definir indicadores e monitorá-los a fim de identificar
alterações provocadas pela atividade o mais cedo possível, assim como tomar medidas
para mitigação dos impactos antes que os danos sejam irreversíveis.
Ainda sobre a análise dos grupos biológicos, apesar da comunidade fital ter sido
avaliada em dez das 36 publicações registradas, aspectos de como o MR influencia na
relação de dominância, efeitos da herbívora e competição interespecífica, que são temas
estudados em recifes de corais no resto do mundo, ainda são incipientes para os recifes
do Brasil. Os trabalhos com esse grupo biológico costumam adotar em suas discussões
padrões ecológicos de recifes de corais do Caribe ou Pacífico, desconsiderando
características próprias dos recifes brasileiros que possuem naturalmente uma cobertura
elevada de algas e esponjas, no caso de recifes mais profundos (Grimaldi 2014, Souza
2015).
A ictiofauna foi o único grupo biológico estudado em todos os estados, com
conflitos de resultados especialmente para a variável riqueza de espécies, o que sugere
que tal indicador não seja tão claro e consistente como resposta da atividade de MR. No
Caribe, Hawkins et al. (1999) não observaram mudanças na comunidade de peixes em
recifes com uso turístico. Já outros estudos realizados em Honduras (Titus et al. 2015) e
no Mediterrâneo, descreveram uma série de alterações ecológicas e comportamentais na
ictiofauna, causadas principalmente pela alimentação de peixes (Milazzo et al. 2006; Di
Franco et al, 2013). No Brasil, os esforços de pesquisas avaliando os impactos do MR
para esse grupo também estão focados na relação de alimentação dos peixes. Assim,
considera-se importante analisar os efeitos do MR na ictiofauna de áreas onde a prática
de alimentação não ocorre. Estudos em ambientes ripários alvos do turismo de
mergulho, no Brasil, onde não há alimentação dos peixes, identificaram uma série de
alterações comportamentais na ictiofauna e seus autores questionaram os benefícios
conservacionistas do ecoturismo realizado sem monitoramento e manejo adequado
(Bessa & Gonçalves-de-Freitas 2014, Balduíno et al. 2017).
24
Os invertebrados bentônicos foram estudados com maior detalhe no recife de
Porto de Galinhas (PE), provavelmente pela baixa profundidade em que se encontra o
seu recife, tornando o mesmo ainda mais susceptível à danos em sua fauna bentônica.
Nas demais áreas poucas pesquisas foram empregadas, e quando ocorreram, focaram
essencialmente nos impactos gerados pelo pisoteio de áreas recifais.
Alguns grupos de invertebrados podem desempenhar funções tão importantes no
recife, que sua modificação pode dirigir alterações no ecossistema todo, como é o caso
de ouriços. No Caribe, foi documentado mudanças de fase de recifes com dominância
de corais, para recifes com dominância de macroalgas, em virtude da mortalidade em
massa de ouriços (Miller et al. 2003), e o estudo de Renfro & Chadwick (2017)
relacionou alterações na abundância de ouriços em áreas com diferentes níveis de uso
turístico. Portanto, o MR tem o potencial de modificar o padrão desse grupo e é
importante a compreensão do papel desse táxon na estrutura da comunidade também em
recifes brasileiros e sua sensibilidade aos impactos do MR. O grupo dos Moluscos é
outro que pode sofrer com a presença de mergulhadores e essa relação é pouco
estudada. Esses organismos despertam a atenção dos visitantes e são facilmente
capturados para o registro fotográfico ou usados como souvenir (Dias et al. 2011).
Observou-se um baixo número de publicações que enfocou no grupo dos corais
e as que foram analisadas apresentaram padrões divergentes entre si sobre os impactos
que o MR pode causar nessas espécies. Isso pode ser atribuído a baixa cobertura
coralínea dos recifes brasileiros, com predominância da espécie Siderastrea stellata
(Leão et al. 2003). Essa espécie que por ser resistente a estresses ambientais (Poggio et
al 2009), pode não apresentar variações em sua abundância ou estado de saúde, quando
expostas ao estresse provocado pelo MR (Torres 2016). Os corais moles (zoantídeos)
também foram pouco estudados e, apesar de Lima (2016) ter observado alterações na
abundância desses organismos em função do uso turístico, outros estudos não apontam
consistentemente relações de distúrbios provocados pelo MR nesse táxon (Yang et al.
2013, Santos et al. 2015).
Foi registrado apenas um trabalho que investigou o comportamento dos
mergulhadores e seus impactos diretos no recife, o que revela a deficiência de um
campo de pesquisa fundamental para o desenvolvimento de turismo de mergulho
ordenado e planejado no Brasil. Compreender aspectos comportamentais, preferências e
percepções dos mergulhadores pode orientar a gestão de áreas recifais e colaborar com
o crescimento do mercado de mergulho com foco na sustentabilidade do ecossistema e
25
da atividade (Giglio et al. 2015). Ressalta-se aqui a urgência em estudos dessa natureza
a fim de se estabelecer um perfil de mergulhadores e a relação de suas características
com possíveis danos em ambiente recifais do Brasil.
Lacunas nos estudos sobre os impactos do MR em ambientes recifais no Brasil
Além do pequeno número de publicações sobre o tema, outras lacunas foram
observadas através da análise cienciométrica, no que diz respeito à distribuição dos
estudos na costa recifal brasileira.
O estado do Ceará não apresentou estudos que avaliassem o impacto do MR em
seus recifes, apesar de apresentar importantes áreas de mergulho. Esse estado possui 21
áreas de mergulho, incluindo uma série de naufrágios e um Parque Marinho com
operação turística regular, onde foram realizados estudos que abordaram aspectos da sua
gestão, como a efetividade da UC (Lima-Filho 2006), diagnóstico socioambiental
(Andrade 2015) e valoração ecológica (Carneiro et al. 2017), porém sem abordar sobre
os possíveis impactos da atividade de mergulho recreativo.
Devido a difícil logística de operação de mergulho no Parque Estadual Marinho
Parcel de Manoel Luís, no Maranhão, o turismo é bastante incipiente na área, o que
possivelmente não torna esse recife prioritário para estudos com o tema. É de suma
importância que nos recifes que são utilizados pela atividade turística e que apresentam
carência de informações científicas, sejam feitos levantamentos iniciais e registros do
perfil e preferências dos mergulhadores que utilizam a área, principalmente no caso de
unidades de conservação, que são espaços críticos a serem protegidos, a fim de traçar
estratégias de manejo da atividade.
Um maior número de estudos sobre os impactos do MR foi encontrado para os
recifes de Pernambuco e Rio Grande do Norte, entretanto, os esforços de pesquisa são
pouco empregados nos recifes costeiros profundos e naufrágios, onde há saídas
regulares de operadoras de mergulho. Isso pode se dar pela maior dificuldade logística e
elevados custos para realização de pesquisas em ambientes mais profundos.
É importante destacar que o recife de Maracajaú, localizado no litoral norte do
Rio Grande do Norte, foi a área de mergulho com maior número de publicações
registradas, e tem um baseline de informações que permite a realização de pesquisas
mais complexas no tema, como a compreensão da influência do MR na estrutura da
comunidade recifal incorporando diferentes grupos biológicos e suas relações
ecológicas na análise. Destaca-se ainda que estes recifes estão inseridos em uma Área
26
de Proteção Ambiental Estadual (APA dos Recifes de Corais), e que os estudos
desenvolvidos na área são utilizados como referência para o ordenamento da atividade
de mergulho na área, pelo órgão gestor (por ex. proibição de uso de nadadeiras,
alimentação artificial de organismos, etc).
Estudos em novas áreas de mergulhos que vêm sendo exploradas com maior
intensidade recentemente, como é o caso dos recifes de Seixas, na Paraíba, também são
urgentes, a fim de subsidiar ações de ordenamento da atividade o mais cedo possível, a
fim de minimizar os impactos a serem gerados futuramente. Além disso, são necessários
esforços de pesquisa nos recifes urbanos, como no caso de Maceió e da Baía de Todos
os Santos em Salvador, uma vez que estes possuem um maior potencial de degradação
por estarem localizados muito próximos à praia, sujeitos de forma mais intensiva aos
impactos da poluição e urbanização. Esses fatores podem atuar de forma sinergética
com os danos advindos da atividade turística e devastar essas áreas costeiras (Renfro &
Chadwick 2017).
De maneira geral, há carência de uma análise integrada de como o MR causa
impacto aos ambientes recifais brasileiros, além de aspectos do perfil e comportamento
dos mergulhadores.
As ameaças do turismo em massa
O turismo em massa é uma atividade intensiva e com elevado potencial de
promover impactos socioambientais degradantes nas comunidades onde ocorre (Araújo
& Carvalho 2013). Este tipo de turismo vem acontecendo em ambientes recifais
brasileiros, promovidos por pacotes turísticos, que viabilizam a visita de um grande
número de pessoas em um curto período de tempo.
É de suma importância atenção especial ao grupo de recifes que recebe esse tipo
de visitação no Brasil (ex. Maracajaú/RN, Pirangi/RN, Picãozinho/PB, Areia
Vermelha/PB, Porto de Galinhas/PB, Maragogi/AL, Recife urbanos de Maceió, Recifes
de Fora/BA, Taipu de Fora/BA), sendo estes mais susceptíveis aos impactos pela
própria natureza da atividade. Butler (2006) descreve algumas fases características,
peculiares e previsíveis a que tais destinos turísticos são submetidos, culminando no
domínio de empresas sobre a comunidade local, baixa de preços e atração de turistas
com menor poder aquisitivo, gerando, por fim, um desgaste econômico, social e
ambiental da comunidade alvo.
27
Em situações de turismo de mergulho em massa, o perfil do mergulhador é de
pessoas sem experiência com mergulho, movidas por pacotes promocionais, sem
conhecimento do dano que podem causar e sem noção da qualidade das áreas que estão
visitando (Araújo & Carvalho 2013). Para esse público é necessário buscar alternativas
que protejam áreas recifais com soluções a curto prazo. Treeck & Schuhmacher (1998)
sugerem a construção de recifes artificiais que aliviariam a pressão sobre os recifes
naturais. Estas construções poderiam servir para o treinamento de mergulhadores
inexperientes, educação ambiental e uso recreativo (Polak & Shashar 2012).
Definir a capacidade de suporte (CS) de cada ponto de mergulho também deve
ser uma prioridade. Apesar desse tipo de estudo não indicar necessariamente os danos
causados pelo número de mergulhadores, uma vez que isto dependerá diretamente do
comportamento dos turistas (por exemplo: um grande número de visitantes conscientes
podem causar menos impacto que poucos visitantes desordeiros), a definição da CS de
um ponto de mergulho traz um controle necessário inicial, o qual pode ser adequada ao
longo do tempo com caracterização do perfil do visitante e monitoramento sistemático
da área (Rouphael & Hanafy 2007).
A importância das áreas marinhas protegidas (AMPs) no desenvolvimento de
pesquisas com o impacto do MR
O interesse conservacionista de uma determinada área normalmente é dirigido a
locais com alta biodiversidade e elevada beleza cênica, e/ou habitats de espécies
ameaçadas. Dessa forma, áreas marinhas protegidas (AMPs) costumam possuir
características físicas e biológicas que coincidem com as atrações dos destinos do
turismo de mergulho (Williams & Polunin 2000).
O fato da maioria dos estudos (61%) terem sido desenvolvidos em AMPs é um
padrão esperado, pois a criação e implementação dessas áreas requer a elaboração de
um plano de manejo que, por sua vez, necessita de estudos para definição de programas
e projetos para manejo da área, alguns dos quais são específicos para o uso turístico da
área. Os outros 39% dos estudos ocorreram em áreas não protegidas, onde a atividade
turística é intensa (ex. Porto de Galinhas/PE e Picãozinho/PB).
Em áreas não protegidas, as pesquisas em sua maioria refletiram uma
preocupação quando já havia ocorrido uma alteração notável na estrutura da
comunidade. Nos pontos de mergulho inseridos em AMPs, as pesquisas científicas
nortearam medidas de manejo visando a prevenção ou minimização dos impactos
28
causados pelo MR, como a limitação do número de mergulhadores, proibição do uso de
facas, de luvas e de nadadeiras para snorkelers sem curso de mergulho, incentivo de uso
de boias e proibição da pesca e da alimentação de peixes, como é o caso do Recife de
Maracajaú/RN (inserida na Área de Proteção Ambiental Estadual dos Recifes de Corais)
e do Parque Nacional Marinho de Abrolhos/BA.
Dessa forma, incentiva-se a criação de AMPs em áreas recifais com uso
turístico, mesmo que este seja em pequena escala ou limitado a determinados períodos
do ano, para que ocorra a ordenação precoce da atividade de MR, e esta possa se
desenvolver de forma sustentável.
Considerações finais
O mergulho recreativo (MR) é uma atividade que tem um grande potencial em
conciliar o desenvolvimento econômico, social e ambiental de uma comunidade
(Tapsuwan & Asafu-Adjaye 2008). Ao caracterizar sua dimensão e seus impactos, se
torna possível compreender a melhor maneira de promovê-lo usufruindo ao máximo de
seus benefícios com mínimo impacto socioambiental (Giglio et al. 2015).
Espera-se que a reunião das informações presentes neste trabalho auxilie na
gestão integrada da atividade de MR em ambientes recifais da costa brasileira e salienta-
se que são necessárias medidas de manejo, ordenamento e normas gerais para atividade
em todo território nacional.
Para a compreensão integrada dos impactos do mergulho recreativo em
ambientes recifais do Brasil é necessário utilizar uma abordagem ampla, na qual a
atividade está dentro de um sistema que tem padrões e se modifica ao longo do tempo
(Hillmer-Pegram 2013). Uma vez que se conheça os atores envolvidos, as formas de
atuação destes atores e os impactos positivos e negativos que eles podem produzir, é
possível estabelecer maneiras de gerenciar esta atividade com diretrizes eficazes para as
áreas recifais brasileiras.
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38
ANEXO I:
Tabela I – Pontos de mergulho em áreas recifais do Brasil. MA – Maranhão, CE – Ceará, RN – Rio Grande do Norte, PB – Paraíba, PE – Pernambuco, AL – Alagoas, BA
Bahia. UC - Unidade de Conservação. OP – Operadora de Mergulho (refere-se à áreas de mergulho citados nos sites das empresas que realizam atividade de mergulho
recreativo). ? = Informação não encontrada. * = Áreas de mergulho onde ocorre turismo em massa
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
MA Alto Mar Parcel de Manoel Luiz SCUBA 10 – 30 86,3
Parque Estadual
Marinho Parcel de
Manuel Luiz
Rocha& Rosa 2001
CE Fortaleza
Cabeço do Arrastado SCUBA 23 18,5
Parque Estadual
Marinho da Pedra
da Risca do Meio
(PEMPRM)
Freitas 2009
Cabeço do Balanço SCUBA 18 18,5 PEMPRM Freitas 2009
Cajueiro SCUBA 34 ? - Ferreira 2010
Canal das Arabainas SCUBA 33 – 36 ? - Ferreira 2010
Naufrágio do Avião SCUBA 28 18,8 PEMPRM Freitas 2009
Naufrágio do Aterrinho SCUBA E
SNORKEL 2 – 7 0 - OP - Mar do Ceará
Naufrágio Ipesca (Sal) SCUBA 26 28 - OP - Mar do Ceará
Naufrágio Titanzinho SCUBA 18 – 20 6 - OP - Mar do Ceará
Praia do Aterrinho SCUBA E
SNORKEL 8 0 - OP - Mar do Ceará
Pedra da Botija SCUBA 26 16,5 PEMPRM Ferreira 2010
Pedra da Risca do Meio SCUBA 26 17 PEMPRM Freitas 2009
39
Continuação Tabela I:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
CE
Fortaleza
Pedra do Mar SCUBA 22 18,5 PEMPRM Freitas 2009
Pedra Paraíso SCUBA 21 – 23 18,5 PEMPRM OP - Mar do Ceará
Pedra Nova SCUBA 18 16,5 PEMPRM Freitas 2009
Pedrinha SCUBA 15 18,5 PEMPRM Freitas 2009
Serra Pelada SCUBA 33 9 - OP - Mar do Ceará
Fortim Naufrágio Macau SCUBA 20 150 - Freitas 2009
Itarema Naufrágio Petroleiro do
Acaraú SCUBA 21 40 - OP - Mar do Ceará
Praia do Pécem Naufrágio Navio do
Pécem SCUBA 32 65 - Freitas 2009
Uruaú
Canal do Uruaú SCUBA 32 – 35 20 - OP - Mar do Ceará
Naufrágio dos Remédios SCUBA 16 ? - OP - Mar do Ceará
RN APARC Maracajaú*
SCUBA E
SNORKEL 2 7
Área de Proteção
Ambiental dos
Recifes de Corais
(APARC)
IDEMA 2013
Naufrágio São Luiz SCUBA 20 60 APARC IDEMA 2013
40
Continuação Tabela I:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
RN
APARC Rio do Fogo* SCUBA E
SNORKEL 1,5 5 APARC IDEMA 2013
Ceará Mirim Recifes de Muriú SNORKEL 1 – 4 1 - Campos& Sá-
Oliveira 2011
Natal
Arabaianhinha SCUBA 12 14 - OP - Natal Divers
Batente das Agulhas SCUBA 24 25 - OP - Natal Divers
Cabeço do Marinha SCUBA 25 20 - OP - Natal Divers
Cabeço dos Meros SCUBA 19 ? - OP - Caju Divers
Canal do Cisco SCUBA 40 20 - OP - Natal Divers
Fragoso SCUBA 50 22 - OP - Natal Divers
Guarajuba SCUBA 12 12 - OP - Natal Divers
Laje da Criminosa SCUBA 22 20 - OP - Natal Divers
Laje da Serra SCUBA 27 20 - OP - Natal Divers
Leme e Visgueiro SCUBA 14 16 - OP - Natal Divers
41
Continuação Tabela I:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
RN
Natal
Naufrágio Unidos SCUBA 28 20 - OP - Natal Divers
NaufrágioPanam SCUBA 14 20 - OP - Natal Divers
Paredão da Plataforma SCUBA 55 25 - OP - Natal Divers
Pedra do Chico SCUBA 15 14 - OP - Caju Divers
Serigado SCUBA 25 18 - OP - Natal Divers
Serigado de Fora SCUBA 25 20 - OP - Natal Divers
Tartaruguinha SCUBA 14 14 - OP - Natal Divers
Terra Grossa SCUBA 14 15 - OP - Natal Divers
Nísia Floresta
Pirambúzios SNORKEL 1 200 m - Souza 2015
Ponta de Ilha Verde SNORKEL 1 0 - Souza 2015
Tabatinga SNORKEL 1 0 - Souza et al. 2013
Pirangi
Barrerinha SCUBA 15,6 9 - Grimaldi 2014
Cabeço do Leandro SCUBA 16,8 8,3 - Grimaldi 2014
Mestre Vicente SCUBA 20 9,9 - Grimaldi 2014
Pedra do Lima SCUBA 20 - 32 14 - OP - Caju Divers
42
Continuação Tabela I:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
RN Pirangi
Pedra do Velho SCUBA 28 14,8 - Grimaldi 2014
Pirangi* SCUBA E
SNORKEL 1 1 - Azevedo et al. 2011
PB
Cabedelo
Areia Vermelha* SNORKEL 1 - 4 1
Parque Estadual
Marinho de Areia
Vermelha
(PEMAV)
Lourenço et al.
2015
Pedra de Baixo SCUBA 30 15 - Rocha et al. 1998
Ponta de Mato SNORKEL
400 m - Máximo 2015
Conde
Buraco SCUBA 54 31 - Rocha et al, 1998
Jacumã
SCUBA E
SNORKEL 3 - 6 ? - Brasil Mergulho
João Pessoa
Gramame
SCUBA E
SNORKEL 6 - 12 ? - Brasil Mergulho
Jardim das Esponjas SCUBA 50
- OP - Mar Aberto
Naufrágio Alice SCUBA 12 6 - Rocha et al. 1998
Naufrágio Alvarenga SCUBA
20
- Honório et al. 2010
Naufrágio do Queimado SCUBA
17 8 - Honório et al. 2010
Penha SNORKEL 0,5 - 6 3 - Rocha et al.1998
43
Continuação Tabela I:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
PB João Pessoa
Picão das Agulhas SCUBA 0,5 - 8 3 - Rocha et al. 1998
Picãozinho*
SCUBA E
SNORKEL 6 1,5 -
Debeus & Crispim
2008
Seixas SNORKEL 0,5 - 6 700 m - Melo et al. 2014
PE
Cabo de Santo
Agostinho Enseada dos Corais SNORKEL
0,5 200 m - Lima 2016
Noronha
Atalaia SNORKEL 0,5 0
Parque Nacional
de Fernando de
Noronha
(PARNA/FN)
Luiz Jr 2009
Baia dos Porcos SNORKEL ? 0 PARNA/FN Luiz Jr 2009
Buraco das Cabras SCUBA 16 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Buraco do Inferno SCUBA 16 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Cabeço da Sapata SCUBA 42 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Cabeço das Cordas SCUBA 43 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Cabeço Submarino SCUBA 23 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Cagarras Funda SCUBA 33 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Cagarras Rasa SCUBA 22 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Caieiras SCUBA 17 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Canal da Rata
? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Caverna da Sapata SCUBA 29 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Cordilheira SCUBA 33 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Corveta Ipiranga SCUBA 53 ? PARNA/FN OP – Atlantis
Corveta V17 SCUBA 62 ? PARNA/FN OP –Atlantis
44
Continuação Tabela 1:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
PE
Noronha
Ilha do Frade SCUBA 23 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Ilha do Meio SCUBA 16 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Iuias SCUBA 23 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Laje Dois Irmãos SCUBA 23 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Macaxeira SCUBA 40 ? PARNA/FN Luiz Jr 2010
Morro de Fora SCUBA E
SNORKEL 16 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Pedras Secas SCUBA 17 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Pontal do Norte SCUBA 42 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Praia do Leão SNORKEL ? ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Praia do Porto SCUBA E
SNORKEL 5 100 m APA/FN Ilarri 2008
Praia do Sancho SNORKEL 5 0 PARNA/FN Ilarri 2008
Praia do Sueste SNORKEL 2 0 PARNA/FN Ilarri 2008
Ressurreta SCUBA 7 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Sela Ginete SCUBA 16 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Trinta Réis SCUBA 22 ? PARNA/FN Luiz Jr 2009
Bolo SCUBA
25 ? -
OP - Mergulho
Certo
Pontal de
Maracaípe Boca da Barra SCUBA
12 0,2 -
OP - Mergulho
Certo
Porto de
Galinhas Poço da Paixão SCUBA
12 0,2 - Brasil Mergulho
45
Continuação Tabela 1:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
PE
Porto de
Galinhas
Porto de Galinhas*
SCUBA E
SNORKEL 0 - 1,5 0,2 - Padilha 2015
Tacaíba SCUBA
18 3 - Brasil Mergulho
Ietas SCUBA 12 ? - Brasil Mergulho
Recife
Naufrágio Alvarenga SCUBA 25 14 - Santos et al. 2010
Naufrágio Chata
Noronha SCUBA
31 22 - Santos et al. 2010
Naufrágio Corveta
Camaquã SCUBA
58 54 - Santos et al. 2010
Naufrágio Florida SCUBA
33 22 - Santos et al. 2010
Naufrágio Galeão
Serrambi SCUBA
33 9 - Santos et al. 2010
Naufrágio Gonçalo
Coelho SCUBA
34 14 - Marins et al. 2015
Naufrágio Lupus SCUBA
36 ? - Santos et al. 2010
Naufrágio Marte SCUBA
33 13 - Ribas 2013
Naufrágio Mercurius SCUBA
29 13 - Coxey 2008
Naufrágio Minuano SCUBA 34 ? - Santos et al. 2010
Naufrágio Pirapama SCUBA 23 11 - Lira et al. 2010
46
Continuação Tabela 1:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
PE
Recife
Naufrágio Saveiros SCUBA 29 13 - Coxey 2008
Naufrágio Servemar SCUBA
24 14 - Santos et al. 2010
Naufrágio Trinta Metros SCUBA 30
9 -
OP - Aquáticos
Dive Center
Naufrágio Vapor 48 SCUBA
48 33 - Santos et al. 2010
Naufrágio Vapor Bahia SCUBA
25 14 - Santos et al. 2010
NaufrágioVapor de
Baixo SCUBA
21 15 - Santos et al. 2010
Tamandaré
A Ver o Mar SNORKEL
4
Área de Proteção
Ambiental Costa
dos Corais
(APACC)
Pereira et al. 2014
Caieiras* SNORKEL 4 200 m APACC Pereira et al. 2014
Camurupim SNORKEL
? ? APACC
Carvalho &Maida
2016
Mamucabas SNORKEL
? ? APACC
Carvalho &Maida
2016
Pirambú SNORKEL
3 - 6 0,2 APACC
Carvalho &Maida
2016
Praia dos Carneiros SNORKEL
0 - 1,5 0 APACC
Coelho& Araújo
2011
47
Continuação Tabela 1:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
AL
Cururipe Pontal de Coruripe SNORKEL 1 - 1,5 0 - BRASIL 2012
Maceió
Ariocó SCUBA 17 ? - OP - Let´s dive
Cabeço da Cioba SCUBA 20 - 26 9 - OP - Ecoscuba
Eufrásio SCUBA 18 - 23 12 - Brasil Mergulho
Evilázio SCUBA 18 ? - OP - Let´s dive
Jatiuca
SNORKEL
0 - 2 0
- Correia&Sovierzoski
2008
Morrinho SCUBA 18 ? - OP - Let´s dive
Pajuçara* SNORKEL 0 - 1,5 2 - BRASIL 2012
Piscina dos Amores
SNORKEL
0 - 1,5 0
- Correia
&Sovierzoski 2008
Piscinas Naturais*
SNORKEL
0 - 1,5 0
- Correia &
Sovierzoski 2008
Ponta Verde*
SNORKEL
0 - 1,5 0
- Correia &
Sovierzoski 2008
Poseidon SCUBA 15 ? - OP - Let´s dive
Sonda SCUBA 18 ? - OP - Let´s dive
Tira de Pedra SCUBA 17 ? - OP - Let´s dive
Maragogi
Barra Grande SNORKEL 0 - 1,5 0 APACC ICMBIO 2013
Galés de Maragogi*
SCUBA E
SNORKEL 0 - 4 3,5 APACC ICMBIO 2013
48
Continuação Tabela 1:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
AL
Maragogi Taocas SNORKEL 0 - 1,5 0 APACC ICMBIO2009
Marechal
Deodoro
Naufrágio Dragão SCUBA 25 - 32 16 - OP – Ecoscuba
Naufrágio Draguinha SCUBA 15 - 30 14 - OP – Ecoscuba
Naufrágio Itapajé SCUBA 27 24 - OP – Ecoscuba
Naufrágio Sequipe II SCUBA 30 17 - OP – Ecoscuba
Praia do Frânces* SCUBA 12 300 m - BRASIL 2012
Cabeço da Pequena SCUBA 18 8 - OP – Ecoscuba
Cabeço do Arpão SCUBA 20 8 - OP – Ecoscuba
Canal da Praia do
Frânces SCUBA
8 2 - OP – Ecoscuba
Chico Maneco SCUBA 17 ? - OP - Let´s dive
Paripueira Recifes de Paripueira SNORKEL 4 3 APACC ICMBIO 2009
São Miguel dos
Milagres
Porto de Pedras SNORKEL 0 - 1,5 0 APACC BRASIL 2012
Praia do Toque SNORKEL 0 - 1,5 0 APACC BRASIL 2012
Recanto SCUBA 25 ? APACC Brasil Mergulho
São Miguel dos Milagres SNORKEL 0 - 1,5 0 APACC ICMBIO 2013
BA Abrolhos Caverna da Siriba
SCUBA
14 66
Parque Nacional
Marinho de
Abrolhos
(PARNA/AB)
OP - Abrolhos.net
Chapeirão Jean Pierre SCUBA 3 - 19 66 PARNA/AB OP - Abrolhos.net
Chapeirão Mau Mau SCUBA 10 - 17 66 PARNA/AB OP - Abrolhos.net
Chapeirões de Sueste SCUBA 20 66 PARNA/AB Giglio et al. 2016
49
Continuação Tabela 1:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
BA
Abrolhos
Costão do Farol SCUBA 14 66 PARNA/AB OP - Abrolhos.net
Faca Cega SCUBA 20 66 PARNA/AB Giglio et al. 2016
Ilha de Santa Bárbara SCUBA E
SNORKEL 4 - 10 66 PARNA/AB Kikuchi et al. 2009
Laje do Aquário SCUBA 6 66 PARNA/AB OP - Abrolhos.net
Lingua da Siriba SCUBA 7 66 PARNA/AB Giglio et al. 2016
Mato Verde SCUBA 7 66 PARNA/AB Giglio et al. 2016
Naufrágio Guadiara SCUBA 14 - 27 66 PARNA/AB Abrolhos.net
Naufrágio Rosalinda SCUBA 20 66 PARNA/AB Giglio et al. 2016
Naufrágio Santa Catarina SCUBA 26 66 PARNA/AB Abrolhos.net
Portinho do Norte SNORKEL 5 66 PARNA/AB Spanó et al. 2008
Portinho Sul SCUBA 7 66 PARNA/AB Giglio et al. 2016
Recifes da Redonda SNORKEL 5 66 PARNA/AB Spanó et al. 2008
Baía de Todos
os Santos
Naufrágio Âncoras
SCUBA
12 450 m
APA da Baía de
todos os Santos
(APA BTS)
OP - Dive Bahia
Banco da Panela SCUBA 18 1,5 APA BTS OP - Bahia Scuba
Beirada do Badejo SCUBA 10 - 15 ? APA BTS Brasil Mergulho
Naufrágio Blackdder SCUBA
8 - 12 100 m APA BTS OP - Bahia Scuba
Boião do Farol SCUBA 12 - 18 400 m APA BTS OP - Dive Bahia
Naufrágio Cap Frio SCUBA
8 - 25 450 m APA BTS OP - Bahia Scuba
50
Continuação Tabela 1:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
BA
Salvador
Naufrágio Cavo
Artemidi SCUBA
9 - 30 7,5 APA BTS OP - Bahia Scuba
Chinês SCUBA 39 200 m APA BTS OP - Bahia Scuba
Ferro Velho SCUBA 36 ? APA BTS OP - Dive Bahia
Naufrágio Maraldi SCUBA 4 - 12 200 m APA BTS OP - Bahia Scuba
Naufrágio Galeão
Sacramento SCUBA
32 7,5 APA BTS OP - Bahia Scuba
Naufrágio Germânia SCUBA 32 500 m APA BTS OP - Bahia Scuba
Naufrágio Queen SCUBA 13 500 m APA BTS OP - Dive Bahia
Naufrágio Reliance SCUBA 5 0 APA BTS OP - Bahia Scuba
Naufrágio Vapor da
Jequitaia SCUBA
6 100 m APA BTS OP - Bahia Scuba
Parede das Caranhas SCUBA 28 - 78 ? APA BTS OP - Dive Bahia
Pedra da Caverna SCUBA 18 - 24 ? APA BTS OP - Dive Bahia
Pedra da Enchente SCUBA 27 - 52 ? APA BTS OP - Dive Bahia
Quebra Mar SCUBA E
SNORKEL 2 - 12 0 APA BTS OP - Bahia Scuba
Remanso SCUBA 12 ? APA BTS OP - Dive Bahia
Sala de Aula SCUBA 16 0 APA BTS OP - Bahia Scuba
Ilha de
Boipeba
Bainema SNORKEL 2,46 0
APA de Tinharé e
Boibepa Elliff 2014
Moreré SNORKEL 1 - 5 800 m APA de Tinharé e
Boibepa
Albuquerque et al.
2014
51
Continuação Tabela 1:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
BA
Ilha de
Boipeba
Ponta dos Castelhanos SNORKEL 0 - 1,5 0 APA de Tinharé e
Boibepa Elliff 2014
Recifes de Itatiba SCUBA 16 ? - OP - Cia do
Mergulho
Tassimirim SNORKEL 0 - 2 0 APA de Tinharé e
Boibepa Elliff 2014
Ilha de Tinharé
Garapuá SNORKEL 0 - 2 0 APA de Tinharé e
Boibepa Correa 2006
Ilha de Caitá / Terceira
Praia SNORKEL 0 - 1,5 0
APA de Tinharé e
Boibepa Correa 2006
Paredão Real SCUBA
12 - 45 ? -
OP - Cia do
Mergulho
Paredões da Gamboa SCUBA
12 ? -
OP - Cia do
Mergulho
Ponta Ponã SNORKEL 0 - 1,5 0 APA de Tinharé e
Boibepa Correa 2006
Primeira Praia SNORKEL 0 - 1,5 0
APA de Tinharé e
Boibepa Correa 2006
Quarta Praia SNORKEL 0 - 1,5 0
APA de Tinharé e
Boibepa Correa 2006
Segunda Praia SNORKEL 0 - 1,5 0 APA de Tinharé e
Boibepa Correa 2006
Itacaré
Âncora SCUBA 20 ? - OP – Prodive
Caximbinho SCUBA 20 ? - OP – Prodive
Caximbo SCUBA 20 ? - OP – Prodive
52
Continuação Tabela 1:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
BA
Itacaré Piracanga SCUBA 4 - 10 ? - OP – Prodive
Itaparica
Caramuanas SCUBA E
SNORKEL 2 - 4 1
APA Municipal
Recifes das
Pinaúnas
Cruz et al. 2009
Casco SCUBA 9 - 24 21 - OP - Dive Bahia
Ilha do Frade SNORKEL 5 - 15 0 APA BTS Brasil Mergulho
Naufrágio Utrech SCUBA 22 ? APA BTS OP - Dive Bahia
Naufrágio Piaçava SCUBA 15 ? APA BTS OP - Dive Bahia
Recifes das Pinaúnas SCUBA E
SNORKEL 2 - 8 1
APA Municipal
Recifes das
Pinaúnas
Cruz et al. 2009
Itapuã Cordilheiras SCUBA
8 - 16 ? - OP - Bahia Scuba
Naufrágio Paraná SCUBA 12 ? - Brasil Mergulho
Litoral Norte Praia de Guarajuba
SNORKEL 0 - 1,5 0
APA Litoral Norte Poggio et al. 2009
Praia do Forte SNORKEL 0 - 1,5 0 APA Litoral Norte Silva et al. 2012
Recifes de Itacimirim SCUBA 8 - 23 0 APA Litoral Norte Silva et al. 2012
Maraú Taipu de Fora*
SCUBA E
SNORKEL 0 - 6 0 -
Souza & Santana
2015
Barra Grande SCUBA 8 - 15 ? - Brasil Mergulho
Porto Seguro Caraíva SNORKEL ? ? RESEX de
Corumbau Stori 2005
53
Continuação Tabela 1:
ESTADO LOCAL /
MUNÍCIPIO
ÁREAS DE
MERGULHO
TIPO DE
MERG. PROF. (m)
DIST. DA
COSTA
(Km)
UC REFERÊNCIA
SOBRE O PONTO
BA
Porto Seguro Recifes de Fora* SCUBA E
SNORKEL 6 7,2
Parque Natural
Municipal do
Recife de Fora
Bruno et al. 2009
Prado
Camuruxatiba SNORKEL ? 0 RESEX de
Corumbau Stori 2005
Corumbau SNORKEL ? 0 RESEX de
Corumbau Stori 2005
Santa Cruz de
Cabrália
Alagados SCUBA 10 6 - Brasil Mergulho
Araripe SCUBA 22 8 - OP - Nemo Dive
Coroa Alta SCUBA 18 5
Brasil Mergulho
Recife de Itacepanema SNORKEL 18 5
Brasil Mergulho
Recifes de Coroa
Vermelha SNORKEL 0 - 1,5 0
APA de Coroa
Vermelha Santana 2006
Naufrágio Castor SCUBA 16 ? - OP - Nemo Dive
Motanhinhas SCUBA 16 ? - OP - Nemo Dive
Recife Moréria Verde SCUBA 12 ? - OP - Nemo Dive
54
Referências- Anexo I
Abrolhos.Net. Pontos de mergulho em Abrolhos (Bahia). Disponível em
http://www.abrolhos.net/abrolhos/catamara.htm.(Acesso em 10/05/2017).
Albuquerque, T., Loiola, M., Nunes, J. D. C. C., Reis, J. A., Sampaio, C. L. S. & Leduc,
A. O. H. C. 2014. In situ effects of human disturbances on coral reef-fish assemblage
structure: temporary and persisting changes are reflected as a result of intensive tourism.
Marine and Freshwater Research, 66 (1): 23-32.
Aquáticos Centros de Mergulho. Aquáticos Dive Center, Disponível em
http://www.aquaticos.com.br/. (Acesso em 10/05/2017).
Atlantis. Disponível em http://www.atlantisdivers.com.br. (Acesso em 10/05/2017).
Azevedo, C. A. A., Carneiro, M. A. A., Oliveira, S. R. & Marinho-Soriano, E. 2011.
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do Norte, Brazil.Revista Brasileira de Farmacognosia, 21 (2): 323-328.
Bahia Scuba. Disponível em http://www.bahiascuba.com.br/recreativo/points.html.
(Acesso em 10/05/2017).
Brasil, 2012. Plano de desenvolvimento integrado do turismo sustentável - PDITS
Costa dos Corais. V II. 715p.
Brasil Mergulho. Pontos de mergulho. Disponível em http://www.brasilmergulho.com.
(Acesso em 10/05/2017).
Bruno, R. L. M., Araújo, H. A. B & Machado, A. J. 2009. Análise das assembleias de
foraminíferos no sedimento superficial do Recife de Fora, região sul da Bahia. Revista
Brasileira de Geociências, 4(39): 599-507.
Caju Divers. Disponível em http://www.cajudivers.com/pt/bem-vindo. (Acesso em
10/05/2017).
Campos, C. E. C. & Sa-Oliveira, J. C. 2011. 2011. Cleaning activity and fish clients of
Elacatinus figaro (Pisces: Gobiidae) on coral reefs of Parrachos de Muriu, Northeastern
Brazil. Biota Neotropica, 11: 1-5.
Carvalho, N. F. & Maida, M. 2016. Distribuição espacial de macroalgas e do zoantídeo
Palythoa caribaeorum (Duchassaing e Michelotti, 1860) no nordeste do Brasil.
Tropical Oceanography, 1679-3013.
Cia do Mergulho. Cursos de Mergulho para quem quer ser diferente! Disponível em
http://www.ciadomergulho.com/s2014. (Acesso em 10/05/2017).
55
Coelho, C. F. & Araújo, M. E. 2011. Divulgação de pesquisas científicas como
ferramenta para sensibilização de turistas: o caso da Praia dos Carneiros, Pernambuco,
Brasil. Gestão Costeira Integrada,11(2): 247-255.
Correa, M F. F. 2006. Turismo em Morro de São Paulo: uma análise dos impactos.
Monografia. Universidade de Brasilia, Brasília, Brasil, 80 p.
Correia, M. D. & Sovierzorski, H. H. 2008. Macrobenthic diversity reaction to human
impacts on Maceió coral reefs, Alagoas, Brazil. Proceedings of the 11th International
Coral Reef Smposium, Ft. Lauderdale, Florida, Estados Unidos, 7-11.
Coxey, M. S. G. S. 2008. Biological Diversity and Community Structure of the
Ichthyofauna on Vessel Reefs in the Coast of Recife (PE) - Brazil. Dissertação de
Mestrado, Faculdade de Ciências do Mar e do Ambiente, Universidade do Algarve,
Pernanbuco, Brasil.
Cruz, I. C. S., Kikuchi, R. K. P. & Leão, Z. M. A. N. 2009. Characterization of coral
reefs from Todos os Santos Bay Protected Area for management purpose, Bahia, Brazil.
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Debeus, G., & Crispim, M. C. 2008. O turismo nas piscinas naturais de Picãozinho,
João Pessoa – PB: percepções, conflitos e alternativas. Revistas de estudos
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Dive Bahia. Disponível em http://www.divebahia.com.br/?lingua=3. (Acesso em
10/05/2017).
Ecoscuba. Pontos de mergulho. Disponível em
http://www.ecoscubamaceio.com.br/pontos_mergulho.html. (Acesso em 10/05/2017).
Elliff, C. I. 2014. Serviços ecossistêmicos prestados por recifes de coral nas Ilhas de
Tinharé e Boipeba, baixo sul da Bahia, Brasil. Dissertação de mestrado. Universidade
Federal da Bahia, Salvador, Brasil, 83 p.
Ferreira, E. G. 2010. Avaliação do potencial citotóxico de alcalóides guanidínicos
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59
hjdggjghj
Comportamento de mergulhadores recreativos e seus impactos em uma Área de Proteção Ambiental Marinha
do Brasil
60
Comportamento de mergulhadores recreativos e seus impactos em uma Área de
Proteção Ambiental Marinha do Brasil
Recreational diver behavior and their impacts in a Brazilian Marine Protect Area
INTRODUÇÃO
O mergulho recreativo é uma das atividades turísticas que mais cresce no mundo
(OMT, 2001), destacando-se economicamente na geração de empregos, renda e como
promotor de desenvolvimento nas comunidades onde ele ocorre (Brander et al., 2007;
Musa; Dimmock et al., 2013). Acompanhando o crescimento dessa atividade, em todo o
mundo crescem também as investigações acerca do fenômeno turismo de mergulho
(diving tourism).
Estudos no setor do turismo identificam, categorizam e conceituam as
atividades, atores e ambientes envolvidos (Garrod and Gossling, 2008, Neto, 2012;
Ardoin et al., 2015; Giglio et al., 2015; Rowe and Santos, 2016). Os estudos sociais
buscam compreender os benefícios econômicos (Cesar and Beukering, 2004; Tapsuwan
and Asafu-Adjaye, 2008; Spalding et al., 2017) e como o mergulho recreativo pode
modificar-se frente às mudanças complexas (i.e., que envolvem múltiplas escalas e
setores, como o aquecimento global ou mudança de fase em ecossistemas recifais)
(Hillmer-Pegram, 2013). No setor ambiental, cresce o interesse em entender os impactos
positivos e negativos que o mergulho pode causar ao meio ambiente e seus reflexos no
manejo em busca de um turismo de mergulho sustentável (Hawkins and Roberts, 1992;
Hawkins et al., 1999; Rouphael and Inglis, 2002; Barker and Roberts, 2004; Camp and
Fraser, 2012; Giglio et al., 2016; Giglio et al., 2017a).
Comparado com ameaças globais, como a poluição dos oceanos, sobrepesca,
aquecimento global e, consequentemente, acidificação dos oceanos e branqueamento
dos corais, o mergulho recreativo é espacialmente pontual e, aparentemente, de baixo
impacto (Harriott, 2004). Contudo, o crescimento exponencial desta atividade, traz
consigo um aumento de visitantes aos pontos de mergulho existentes e pressiona a
abertura de novos destinos de mergulho (Garrod and Gossling, 2008), ampliando a
abrangência dos danos que podem ocorrer. Por outro lado, áreas onde ocorre o
mergulho recreativo, normalmente possuem alta biodiversidade e beleza cênica,
coincidindo com áreas de interesse para conservação (Williams and Polunin, 2000;
61
Melo and Crispim, 2005), o que por vezes tem contribuído com recursos para
manutenção das unidades de conservação já existentes, bem como, favorecido a criação
de novas áreas de proteção (Hawkins et al., 2005; Ardoin et al., 2015).
Os impactos gerados pelo mergulho recreativo em ambientes recifais incluem os
danos causados pela a logística da atividade, como tráfico e ancoragem de embarcações
(Creed and Amado-Filho, 1999; Giglio et al., 2017a), instalação de estruturas marinhas,
construções costeiras para hospedagem e lazer dos visitantes, como resorts, hotéis,
pousadas, restaurantes e parques aquáticos (Gladstone et al., 2012). Outro grupo de
danos diz respeito a ação direta dos mergulhadores, como: coleta, toque e quebra de
organismos recifais, ressuspensão de sedimentos, alimentação e perturbação da fauna,
poluição da água com lixo e resíduos de protetor solar (Augustowski and Francine Jr,
2002; Pedrini et al., 2007; Lamb et al., 2014; Downs et al., 2015).
Estudos em diversos recifes do mundo têm buscado compreender as causas dos
danos provocados pela ação dos mergulhadores, afim de desenvolver estratégias
específicas em prol da redução destes (Hammerton, 2017). É documentado que
mergulhadores homens, sem experiência com mergulho, fotógrafos, mergulhadores que
utilizam equipamentos adicionais e mergulhadores com luvas são os maiores causadores
de danos ao recife. Grande parte deste tipo de impacto é causado por um pequeno
número de pessoas, na maioria das vezes acidentalmente e no início do mergulho
(Talge, 1990; Medio et al., 1997; Rouphael and Inglis, 2001; Zakai and Chadwick-
Furman, 2002; Luna et al., 2009; Camp and Fraser, 2012; Giglio et al., 2016).
As principais estratégias de manejo para redução de tais impactos indicam o uso
adequado de briefings educacionais (Medio et al., 1997, Rouphael and Hanafy, 2007;
Luna et al., 2009; Giglio et al., 2017b), acompanhamento e intervenção por
mergulhadores líderes antes da ocorrência do dano (Barker and Roberts, 2004),
estabelecimento de um número limitado de mergulhadores por ponto de mergulho
(Dixon et al., 1993; Hawking and Roberts, 1997), criação de trilhas subaquáticas com
preleções adequadas (Plathong et al., 2000; Berchez et al., 2007; Rhormens et al.2017)
e construção e uso de recifes artificiais (Polak and Shashar, 2012).
Os recifes brasileiros são alvo de especulação do turismo de mergulho uma vez
que exibem a mais extensa e rica área recifal do Atlântico Sul, entretanto, estudos que
busquem entender os efeitos do impacto desta atividade são escassos (Giglio et al.,
2016; Rowe and Santos, 2016; Tedesco et al., 2017). Além disso, considera-se
inadequada a utilização de indicadores ambientais e padrões de comportamentos de
62
mergulhadores de outros recifes do mundo, devido as peculiaridades dos recifes em
questão, como baixa cobertura coralínea, elevado endemismo de espécies de corais e
alto aporte de sedimentos (Castro and Pires, 2001). Desta maneira, torna-se necessário
identificar e redefinir estratégias de manejo próprias para o mergulho recreativo nos
ambientes recifais brasileiros (Tedesco et al., 2017). Analisar e entender o
comportamento dos mergulhadores que impactam os recifes é a chave para uma
discussão focada sobre o tema e elaboração de diretrizes eficazes na prevenção dos
danos (Pedrini et al., 2007; Giglio et al., 2016).
Este estudo adiciona informações acerca das características dos mergulhadores
que podem influenciar na frequência de toque dos mesmos no recife. A análise da
relação entre o comportamento de mergulhadores livres (snorkelers) e o impacto no
recife são resultados pioneiros para ambientes recifais do Brasil.
MÉTODO
Área de estudo
O estudo foi conduzido no recife de Maracajaú que está inserido na Área de
Proteção Ambiental Estadual dos Recifes de Corais (APARC). Esta unidade de
conservação localiza-se no nordeste do Brasil, no Estado do Rio Grande do Norte (05°
38’S 35° 25’W). O complexo recifal de Maracajaú é citado pelo Ministério do Turismo
(Brasil, 2005) como um dos principais destinos de turismo de mergulho do Brasil, e é
explorado por essa atividade desde do início da década de 1990 (Figura 1).
Suas características físico-biológicas são de um ambiente recifal típico da porção
norte da costa brasileira (Tedesco et al., 2017), com dimensões de 9 Km de
comprimento por 2 Km de largura, e crescimento coralíneo-algal sobre uma base
arenítica, cuja principal espécie de coral construtora é Siderastrea stellata (Ferreira and
Maida, 2006).
O turismo ao recife ocorre no período da maré baixa, quando as condições de
visibilidade e profundidade são melhores. Seguindo as diretrizes do plano de manejo da
APARC, a atividade turística é interrompida por 20 dias do mês de junho, para
"descanso" da área. Além desses dias, quinzenalmente as operações turísticas são
suspensas por dois dias, em função das condições da maré. O turismo é intensivo e
ocorre em uma área de apenas 1,11 Km2, distribuído em cinco pontos de mergulho, cuja
soma de visitantes anuais ultrapassa 130.000 pessoas (IDEMA, 2012).
63
Figura 1 –Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais (APARC), com destaque para o recife de
Maracajaú (Fonte: Amaral et al. 2005).
Em relação a operação turística, o recife de Maracajaú está localizado à
aproximadamente 7 Km da costa e os turistas são levados até ele por traslado em
catamarãs pequenos, catamarãs grande, lanchas e, na época da coleta dos dados, por
jangadas de pescadores adaptadas para o transporte de turistas. Atualmente existem seis
empresas e 28 ex-pescadores autorizados a explorar o turismo no local.
Ao chegar ao recife os visitantes podem realizar mergulho livre (snorkel) ou de
cilindro (scuba), sendo o mergulho livre a prática mais comum. A maioria dos turistas
permanece próximo aos flutuantes ou às embarcações que os conduziram durante todo o
passeio. A profundidade da área turística varia de 1 a 3,5 metros, com influência da
variação das marés, e em determinados períodos do mês, é possível ficar de pé sobre o
substrato. Na área é oferecido alimentos aos peixes para que os turistas possam ter uma
maior interação com a vida marinha e para um melhor resultado das fotografias
subaquáticas. Os alimentos são iscas de pequenos peixes de diversas espécies. Apesar
do plano de manejo da APA proibir esta atividade, nenhuma medida educativa, punitiva
ou fiscalizadora foi tomada até o momento e a alimentação dos peixes continua a
ocorrer diariamente nos recifes.
Coleta de dados
A coleta de dados ocorreu em três pontos de mergulho do recife, os quais
apresentam características físicas e biológicas semelhantes. O Quadro 1 caracteriza cada
NATAL
MAXARANGUAPE
RIO DO FOGO
TOUROS
CEARÁ-MIRIM
EXTREMOZ
Municípios costeiros
Municípios que limitam a APARC
Rio Grande do Norte
Oc. A
tlântico
Limites da APARC
Maracajaú
Parracho deMaracajaú
Parracho deRio do Fogo
Parracho deCioba
Sede dos Municípios
Vilas importantes
Parrachos (AES)
64
um dos pontos de mergulho amostrados quanto as principais características da operação,
tipo e número de embarcações, número média de mergulhadores que visitaram o ponto
em um ano e ano de início de uso do ponto de mergulho.
Quadro 1 – Características dos pontos de mergulho amostrados. NMM/Ano – Número Médio de
Mergulhadores /Ano (IDEMA, 2015). ANO – Ano de início de uso do ponto de mergulho. CE –
Capacidade da Embarcação.
PONTO DE
MERGULHO
CARACTERÍSTICAS DA
OPERAÇÃO EMBARCAÇÃO
NMM/
ANO ANO
Ex-Pescadores
CE: 10 turistas.
Briefing: conversa informal durante o
traslado.
Mergulho: guias costumam levar os
mergulhadores em boias e segurar em
suas mãos mostrando o recife.
23 jangadas ou
botes a motor
adaptados.
Atualmente,
foram substituídos
por 23 pequenos
catamarãs.
35.334 2010
Maracajaú Diver
CE: 15 turistas.
Briefing: pequena explicação técnica
padronizada. Ela ocorre na plataforma,
a cada chegada de lancha.
Mergulho: a rotatividade de lanchas
faz com que o ponto de mergulho
nunca fique completamente lotado.
5 Lanchas
+ 1 Plataforma
flutuante fixa
25.112 1994
ParrachosTurismo
CE: Catamarã – 80 turistas, Lancha –
15 turistas.
Briefing: pequena explicação técnica
padronizada. Ela ocorre na plataforma,
a cada chegada de embarcação.
Mergulho: a rotatividade de lanchas
faz com que o ponto de mergulho
nunca fique completamente lotado.
Embarcações: mesmo na baixa
estação se forem apenas 60 pessoas no
dia, estas chegam juntas ao ponto de
mergulho e recebem o briefing de
apenas um funcionário.
2 Catamarãs + 1
lancha + 1
Plataforma
flutuante fixa
30.653 2000
Ao longo de um ano foram observados pelo menos 13 mergulhadores por mês
por ponto de mergulho. O mergulhador, aleatoriamente, foi observado através do
método animal focal (Altmann, 1974), em sessões de amostragens de duração de 10
minutos. Em cada sessão foi registrado o número de vezes que o mergulhador exibiu
contato com o ambiente recifal. Os contatos foram categorizados nos seguintes grupos:
ressuspensão do sedimento marinho, toque em organismos, alimentação de peixes e
danos em organismos (ex. quebra de corais, manipulação e morte de algum ser vivo).
Adicionalmente às sessões de registro de comportamento foram coletados os seguintes
dados: tipo de mergulho (snorkel ou scuba dive), sexo do mergulhador, profundidade do
65
mergulho e informações adicionais relevantes, como uso de câmeras fotográficas. A
profundidade foi medida com uso de uma trena ao término de cada sessão de
observação.
Os mergulhadores submetidos às sessões de observação não foram informados
que estavam fazendo parte do estudo, evitando assim possíveis desvios de conduta em
virtude da presença de um observador. Após a sessão, o turista foi consultado quanto à
sua permissão para fazer parte do estudo e, em seguida, conduzida uma entrevista onde
se registrou a idade do mergulhador, experiência com mergulho, conhecimento
ecológico dos ambientes recifais e postura em relação à conservação ambiental
(Apêndice 1).
As questões sobre conhecimentos e atitudes ambientais foram pontuadas, e para
cada resposta positiva foi atribuído um ponto. Cada mergulhador recebeu uma
pontuação que variou entre 0 e 12. Os mergulhadores que pontuaram entre 0 e 4, foram
considerados com baixo conhecimento e atitude pró-ambiental, mergulhadores com
conhecimento médio, obtiveram pontuação entre 5 e 8; e mergulhadores com alto
conhecimento pontuaram entre 8 - 12 (Apêndice 1).
Relacionou-se a frequência média de toque (FT) com cada um dos seguintes
fatores: (1) tipo de mergulho, (2) sexo, (3) idade, (4) escolaridade, (5) local de
residência, (6) experiência com mergulho, (7) uso ou não de câmera, (8) profundidade
no momento da observação e (9) conhecimentos e atitudes pró-ambientais (Tabela 1).
Tabela 1 - Fatores que podem influenciar o comportamento dos mergulhadores e variáveis avaliadas.
Fator Variável
Tipo de mergulho Mergulho livre / Mergulho de cilindro
Sexo Masculino / Feminino
Idade <18 anos / 19 – 30 anos / 31 - 50 anos / >51 anos
Escolaridade Ensino fundamental ou médio / Superior incompleto ou
completo / Pós-graduação
Local de residência Norte / Nordeste / Centro-Oeste / Sudeste / Sul /Internacional
Experiência com mergulho Nenhuma / 1 - 2 anos / >2 anos
Uso de Câmera Sim ou Não
Profundidade no
momento da observação
<1,70m / 1,71m - 1,99m / >2,00m
Conhecimento e atitude pró-ambiental Baixo / Médio / Alto
66
Análises dos dados
Os fatores que poderiam influenciar o comportamento dos turistas foram
analisados separadamente, através de estatística não-paramétrica. Para comparações
entre dois fatores, usou-se o teste de Mann-Whitney e para comparações entre três ou
mais fatores, o teste de Kruskal-Wallis, e o teste a posteriori de Dunn para identificar as
relações de diferenças entre fatores (Zar, 2010). Estes testes foram realizados no
programa Past versão 2.17 (Hammer et al., 2001).
Para relação entre a frequência média de toques (FT) e o perfil dos
mergulhadores, utilizou-se a análise classification tree. Foi utilizado o pacote Rpart no
programa R para construir um modelo de classificação (R Development Core Team,
2012). Classifications tree representam graficamente as relações entre os fatores
analisados e as variáveis preditoras (De`ath and Fabricius, 2000). Elas exigem menos
pressupostos do que métodos correlacionais, não assumindo uma distribuição específica
dos dados, nem a independência dos dados (Davidson et al., 2009). Neste caso, foi
relacionado a frequência média de toque com fatores relativos ao perfil do mergulho e
do mergulhador, afim de identificar quais destes fatores influenciam na frequência
média de toques no recife.
O gráfico da análise explica a variação de uma única variável resposta dividindo
os dados em grupos mais homogêneos, usando combinações de variáveis explicativas
que podem ser categóricas e/ou numéricas. Cada grupo é caracterizado por um valor
típico da variável de resposta, e é o número de observações no grupo e os valores das
variáveis explicativas que o definem. A árvore é representada graficamente e isso ajuda
a exploração e compreensão (Feldesman, 2002).
RESULTADOS
Perfil dos mergulhadores:
Foram observados e entrevistados 477 mergulhadores entre junho de 2014 e
maio de 2015. Destes, 430 estavam realizando mergulho livre e 47 turistas realizavam
mergulhos de cilindro. O perfil detalhado dos mergulhadores é descrito na tabela 2.
A proporção entre homens e mulheres na amostra foi semelhante (52%
mulheres, 48% homens) e a idade média dos mergulhadores foi de 31 anos. Na época do
estudo, o mergulhador mais novo tinha 11 anos e o mais velho 72 anos. A escolaridade
consultada da maioria dos mergulhadores foi nível superior (66,5%).
67
Quanto ao local de residência, mais de 90% dos entrevistados são brasileiros,
oriundos de todas as regiões do Brasil, mas principalmente dos estados de São Paulo e
Rio de Janeiro (62%). Apenas 4,4% dos mergulhadores são estrangeiros, havendo
representantes da Argentina (9), Chile (4), Finlândia (4), Holanda (2), Croácia (1) e
Noruega (1).
A maioria dos mergulhadores estava tendo sua primeira experiência com
mergulho (85,5%) e 4% exerciam mergulho recreativo há mais de 2 anos. Apenas
15,3% do total de mergulhadores usavam câmera subaquática, não havendo nenhum
fotógrafo profissional entre eles. O conhecimento e atitude pró-ambiental dos
mergulhadores foi considerado baixo, com média de 3,28 pontos obtidos no
questionário aplicado. Nenhum mergulhador obteve pontuação alta (entre 9 -12 pontos).
Tabela 2 - Perfil dos mergulhadores visitantes ao recife de Maracajaú. Porcentagem por variável. FT –
Frequência média de toques por mergulhador /10 minutos.
INFORMAÇÃO VARIÁVEL
TOTAL N = 477
%
Snorkelers Scuba divers
N = 430 N = 47
% FT % FT
SEXO MASCULINO 48,2 46,5 0,720 63,8 2,167
FEMININO 51,8 53,5 0,452 36,1 1,294
IDADE <18 ANOS 5,0 5,1 0,182 4,2 1,000
Mínima - 11 anos 19 - 30 ANOS 49,5 49,1 0,559 53,1 1,840
Máxima - 72 anos 31 - 50 ANOS 38,4 38,1 0,628 40,4 1,947
Média - 31,27 anos >50 ANOS 3,8 4,0 0,824 2,1 2,000
Mediana - 29 anos NÃO RESPONDEU 3,4 3,7 0,563 0,0 0,000
ESCOLARIDADE FUNDAMENTAL E
MÉDIO 23,9 22,1 0,547 40,4 2,263
SUPERIOR INC. E
COMP. 66,5 67,9 0,616 53,1 1,600
PÓS GRADUAÇÃO 6,5 6,5 0,250 6,3 1,333
NÃO RESPONDEU 3,1 3,5 0,600 0,0 0,000
LOCAL DE
RESIDÊNCIA
NORTE 3,1 3,5 0,133 0,0 0,000
NORDESTE 4,2 11,6 0,480 6,3 1,333
CENTRO-OESTE 62,9 4,0 0,882 6,3 3,000
SUDESTE 11,1 62,1 0,603 70,2 1,848
SUL 11,5 11,4 0,510 12,7 1,500
INTERNACIONAL 4,4 4,4 0,684 4,2 2,000
NÃO RESPONDEU 2,7 3,0 0,615 0,0 0,000
68
Cont. Tabela 2:
INFORMAÇÃO VARIÁVEL
TOTAL N = 477
%
Snorkelers Scuba divers
N = 430 N = 47
% FT % FT
Frequência de toque dos mergulhadores no recife:
Scuba divers exibiram uma FT de 1,851±0,30 (média ± erro padrão) em 10
minutos, que foi significativamente maior que a média de toques dos snorkelers, de
0,576 ± 0,07 (p<0,001) (Figura 2). Devido as características peculiares das atividades e
ao número de mergulhadores observados (N snorkel – 430; N scuba – 47), cada fator foi
examinado separadamente para snorkel e scuba dive.
Figura 2 –Frequência média de toques em 10 minutos para snorkelers (0,576 ± 0,07, N = 430) e para
scuba divers (1,851 ±0,30, N = 47) (p<0,001).
TEMPO DE
EXPERIÊNCIA
DE MERGULHO
NENHUMA 85,5 84,7 0,538 93,6 1,864
1 - 2 ANOS 7,5 7,7 0,727 4,2 1,500
> 2 ANOS 4,0 4,4 1,053 2,1 2,000
NÃO RESPONDEU 2,9 3,3 0,571 0,0 0,000
USO DE CÂMERA SIM 15,3 14,9 0,578 19,1 1,778
NÃO 84,7 85,1 0,577 80,8 1,868
PROFUNDIDADE < 1,70m 21,6 22,3 0,781 14,8 2,714
Média - 1,82 1,71 - 1,99m 59,7 58,1 0,532 74,4 1,657
Mín. - 1,40m; Máx. -
2,30m
> 2,00m 18,7 19,5 0,476 10,6 2,000
CONHEC. E
ATITUDE PRÓ-
AMBIENTAL
BAIXA (0 - 4 pontos) 83,6 84,2 0,528 78,7 1,486
MÉDIA (5 - 8 pontos) 16,4 15,8 0,838 21,2 3,200
Média - 3,27 pontos ALTA (9 - 12 pontos) 0,0 0,0 0,000 0,0 0,000
69
Snorkel
Foram registrados 248 toques realizados por snorkelers, sendo a maioria
exercida involuntariamente (p<0,001), com frequência média de toques involuntários de
0,33 ± 0,03, comparada à média de toques voluntários de 0,24 ± 0,05. O maior número
de toques foi realizado com os pés (76%), seguido das mãos (23%) e joelhos (1%). A
maior parte dos toques ocorreu quando o mergulhador se encontrava com problemas na
máscara ou com o uso do snorkel, se posicionando verticalmente sobre o recife ou sobre
a matriz de areia.
As consequências dos toques foram: ressuspensão de sedimento do fundo
marinho (35,8%), toque em algas (20,1%), toque na espécie de zoantídeo Palythoa
caribaeorum (16,1%) e no coral esclarectíneo Siderastrea stelatta (13,7%). Outros seres
que sofreram algum tipo de intervenção de mergulhadores foram os peixes das espécies
Haemulon aurolineatum e Abudefduf saxatilis, tocados ao serem alimentados e o
hidrocoral ramificado Millepora alcicornis (Figura 3).
Figura 3 –Porcentagem de toques e intervenções de mergulhadores recreativos.
Do total de snorkelers observados, 67,2% não tocaram no substrato ou em
qualquer ser marinho, 26,2% dos mergulhadores realizaram apenas um toque e 6,6%
realizaram entre 2 e 14 toques.
Os homens exibiram maior FT que as mulheres (p<0,001). Turistas mais jovens
realizaram menos contatos com o recife que turistas mais velhos (p=0,02) (Figura 4b).
Não houve diferença significativa entre FT associada aos fatores: escolaridade, local de
residência, anos de experiência com mergulho uso de câmera e conhecimento e atitude
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Snorkel Scuba
% o
f co
nta
ct
Contact with M.alcicornis
Fish feed
Contact withSiderastrea spp.
Contact with P.caribaeorum
Contact with algae
Resuspension ofsediment
70
pró-ambiental (Figuras 4c, d, e, f, h). Houve uma tendência da FT diminuir com o
aumento da profundidade (p=0,07) (Figura 4g). Os mergulhadores exibiram um baixo
nível de conhecimento e atitude pró-ambiental, a pontuação média foi de apenas 3,87 e
não houve nenhum mergulhador incluído no grupo de alto conhecimento e atitude pró-
ambiental.
Figura 4 –Frequência média de toque (FT) de acordo com o perfil dos mergulhadores e características do
mergulho livre. As barras indicam o erro padrão da média. a)Sexo/Gender; b) Idade/Age;
c)Escolaridade/Education (E/H – Elementary and High School/Ensino fundamental e médio, GRA –
Graduated/Ensino superior incompleto ou completo, PÓS-G – Pos graduated/Pós-graduação, DA – Didn’t
Answer/Não respondeu); d) Local de residência/Place of residence (N – North/Norte, NE –
Northeast/Nordeste, ME – Midwest/Centro-Oeste, SE – Southeast/Sudeste, S – South/Sul, I –
International/Internacional, DA – Didn’t Answer/Não respondeu); e) Anos de experiência com
mergulho/Diving years; f) Uso de Câmera/Camera; g) Profundidade/Depth (m); h) Nível de
conhecimento e atitudes pró-ambientais/ Environmental knowledge and atitude (Low/Baixo, Medium/Médio).
Female Male
Gender
<18 19 – 30 31 – 50 >51 DA E/H GRA PÓS-G DA
Age Education
N NE ME SE S I DA No 1-2 >2 DA Yes No
Place of residence Diving years Camera
<1,70m 1,71-1,99m >2,00m Low Medium
Depth Environmental knowledge and attitude
a b c
g
d e f
h
71
Scuba
Scuba divers tocaram 87 vezes no substrato, e assim como no mergulho livre, a
maioria dos contatos foi realizado de forma involuntária (1,319 ± 0,22, p<0,001), sendo
registrados toques com as nadadeiras (61%), mãos (37%) e pernas (2%). Dez scuba
divers (21,2%) não realizaram contatos com organismos ou com o fundo oceânico.
As principais consequências dos contatos foram: ressuspensão de sedimento
(36,7%), toque em algas (33,3%), toque no coral mole P. caribaeorum (14,9%) e no
coral duro S. stelatta (12,6%). Também foi registrada a alimentação a peixes da espécie
H. aurolineatum (Figura 3).
Nas comparações par a par nenhum dos fatores analisados foi relacionado à
frequência média de toques dos scuba divers com o ambiente recifal (Figura 5 a-h).
a b c
d e f
g h
Female Male
Gender
<18 19 – 30 31 – 50>51 E/H GRA PÓS-G
Age Education
NE ME SE S I No 1-2 >2 Yes No
Place of residence Diving years Camera
<1,70m 1,71-1,99m >2,00m Low Medium
Depth Environmental knowledge and attitude
72
Figura 5 – Frequência média de toque de acordo com o perfil dos mergulhadores e características scuba
dive. As barras indicam o erro padrão da média. a) Sexo/Gender; b) Idade/Age; c)
Escolaridade/Education (E/H – Elementary and High School/Ensino fundamental e médio, GRA –
Graduated/Ensino superior incompleto ou completo, PÓS-G – Pos graduated/Pós-graduação; d) Local de
residência/Place of residence (N – North/Norte, NE – Northeast/Nordeste, ME – Midwest/Centro-Oeste,
SE – Southeast/Sudeste, S – South/Sul, I – International/Internacional, DA – Didn’t Answer/Não
respondeu); e) Anos de experiência com mergulho/Diving years; f) Uso de Câmera/Camera; g)
Profundidade/Depth (m); h) Nível de conhecimento e atitudes pró-ambientais/ Environmental knowledge
and atitude (Low/Baixo, Medium/Médio).
Classification tree:
Nesta análise houve separação entre os scuba divers e snorkelers, indicando uma
maior frequência de toques pelo primeiro grupo de mergulhadores, como observado na
comparação anterior. Dentre os fatores analisados para cada grupo, houve separação dos
ramos apenas para os fatores sexo no grupo de snorkelers e para o fator conhecimentos
e atitudes pró-ambientais para o grupo de scuba divers (Figura 4).
Figura 4 – Classification tree diferenciando grupos que podem influenciar na frequência média de toques
nos recifes. SCU-Scuba divers, SNO-Snorkelers. KnoAtt-Nível de conhecimentos e atitutes pró-
ambientais, seguindo neste ramo, M-Médio, L-Baixo (referindo-se à categoria de conhecimento e atitutes
pró-ambientais). No ramo da direita: Gen-Sexo, seguindo seu ramo, suas categorias são: M- Masculino e
F- Feminino.
73
DISCUSSÃO
De modo geral, a frequência média de toques (FT) de mergulhadores observada
neste estudo é mais baixa comparada a outros recifes do mundo (Tabela 3). Giglio et al.
(2016) também constataram reduzidas taxas de contato de scuba divers em Abrolhos,
indicando como possível causa a baixa abundância relativa de organismos bentônicos na
cobertura do substrato, característica dos recifes brasileiros (Castro and Pires, 2001). Na
área amostral do presente estudo a profundidade e características do recife parecem
exercer importante papel na frequência média de toques. Nestas áreas, a profundidade
varia entre 1,5 e 3 metros, o recife não é contínuo, e sim, em manchas espaçadas entre
uma matriz de areia, isso permite uma boa visibilidade ao recife, sem necessariamente o
mergulhador ficar sobre o mesmo.
Tabela 3 – Frequência média de toques (FT) em 10 minutos observada em estudos ao redor do mundo.
Nos estudos com valores apresentados em outras escalas (ex. média por 7 minutos ou média por minuto
ou média por 60 minutos), obteve-se o valor médio de toque por minuto e multiplicou-se por 10.
LOCAL FT/10min REFERÊNCIA
Maracajaú (Snorkel) 0.5 Presente estudo
Maracajaú (Scuba) 1.8 Presente estudo
Ras Mohammed (Mar Vermelho) 2.1 Medio et al., 1997
Santa Lucia (Caribe) 2.5 Barker and Roberts, 2004
Abrolhos (Brasil) 2.6 Giglio et al., 2016
German Channel (Palau) 2.9 Poonian et al., 2010
Florida Keys (Caribe) 2.9 Talge, 1991
Florida Keys (Caribe) 3.0 Krieger and Chadwick, 2013
Florida Keys (Caribe) 3.3 Camp and Fraser, 2012
Capo Gallo-Isola delle Femmine (Mediterraneo) 3.6 Di Franco et al., 2009
Agincourt (Grande Barreira, Austrália) 5.4 Rouphael and Inglis, 2001
Surim (Tailândia) 5.5 Worachananant et al., 2008
Eilat (Israel) – Para patch reefs 5.5 Zakai and Chardwick-Furman,
2002
Hong Kong 8.7 Chung et al., 2013
Heron Island (Grande Barreira, Austrália) 10.4 Harriot et al., 1997
Solitary Island (Austrália) 40.4 Harriot et al., 1997
Sierra Helada (Mediterrâneo) 41.2 Luna et al., 2009
Para snorkelers uma profundidade superior a um metro e meio permite a
observação da vida marinha mantendo uma distância adequada do substrato (Talge,
1991), o que evita a maioria dos toques e danos que poderiam ser provocados pelo
74
pisoteio como em áreas rasas (Kay and Liddle, 1989; Allison, 1996; Tratalos and
Austin, 2001). Outro fator positivo é a proibição do uso de nadadeiras para mergulho
livre na APARC desde 2005, medida essa que reduziu drasticamente a ressuspensão de
sedimento e toques nos recifes na área turística (IDEMA, 2012). O incentivo ao uso de
boias de cintura também é uma atitude que vem sendo tomada pelos empresários do
turismo na região, e mesmo não sendo utilizada por todos mergulhadores, auxilia que
visitantes sem experiência se sintam mais seguros e evita sua proximidade com o recife.
Com relação aos scuba divers, era esperado uma elevada frequência de toques
em função da aproximação do fundo mais raso e da maior probabilidade de toques de
equipamentos. Contudo, os valores permaneceram baixos, possivelmente, por dois
fatores: o primeiro, é que em virtude da baixa profundidade, o mergulho é realizado
contornando as manchas recifais pela matriz de areia, o que reduz a probabilidade de
toque ao recife, mas aumenta a possibilidade de ressuspensão de sedimento. O segundo
fator, é a grande quantidade de mergulhadores realizando mergulhos guiados de batismo
(93,6%), os quais ficam sob a assistência de profissionais de mergulho durante toda
experiência subaquática, evitando a maior parte dos contatos com o substrato. Estudos
destacam a importância da intervenção de mergulhadores líderes para redução
significativa de danos causados por scuba diver no Caribe e na Austrália (Barker and
Robert, 2004; Hammerton and Bucher, 2015). Em virtude disso, Camp and Fraser
(2012) ressaltam a necessidade constante de capacitação e conscientização com estes
atores locais.
O toque em organismos vivos foi o principal comportamento registrado, tanto
em snorkelers (53%), quanto em scuba divers (60%), seguido da ressuspensão de
sedimento (36%). Apesar desses comportamentos não serem responsáveis por danos
imediatos ao ambiente recifal, estudos apontam que colônias de corais expostas a toques
frequentes, perdem sua camada protetora de muco e se tornam mais susceptíveis a
doenças (Lamb and Wilis, 2011; Lamb et al., 2014).
A influência do mergulho recreativo na taxa de sedimentação foi observada por
Hasler and Ott (2008) em recifes de Dahab no Egito. No local do presente estudo,
Attayde (2005) observou que a variação nas concentrações de sólidos totais em
suspensão na área turística esteve mais relacionada com a variação temporal, causada
pela amplitude das marés, do que com a ação dos turistas ou das embarcações.
Consideram-se necessários estudos mais aprofundados, contrastando os efeitos da
suspensão natural causada pela dinâmica dos ambientes recifais brasileiros com a
75
suspensão de sedimentos causada pelo comportamento dos mergulhadores. Ressalta se
que Tedesco et al. (2017) observaram que a comunidade coralínea da costa brasileira
possui espécies com pólipos grandes e mecanismos de remoção de sedimento mais
eficazes, o que pode refletir sua habilidade em se adaptar as altas taxas de turbidez que
os recifes do Brasil estão submetidos.
A alimentação de peixes foi responsável por 11% dos toques realizados por
snorkelers e 2% pelos scuba divers. As modificações e desdobramentos negativos na
estrutura da ictiofauna recifal causada pela alimentação suplementar de peixes é bem
documentada no Brasil e no mundo (Medeiros et al., 2007; Illari et al., 2008; Feitosa et
al., 2012). Alguns dos efeitos negativos descritos são: alterações nas densidades de
algumas espécies (Hawkins et al., 1999), aumento da abundância de espécies
dominantes (Milazzo et al., 2005) e alterações comportamentais de outras (Milazzo et
al., 2006). A alimentação de peixes já foi uma prática mais frequente no local de estudo,
porém, desde 2012, com a publicação do plano de manejo da APARC, ela vem sendo
reduzida (IDEMA, 2012), e apesar já ser proibida na área, deveria ser definitivamente
suspensa.
Efeitos do perfil do mergulhador e do mergulho na frequência média de toques no
recife:
Para o mergulho livre, tanto na análise de diferença entre as medianas quanto na
classification tree, o sexo foi um fator que apresentou diferenças. Outros estudos
também demonstraram que homens provocam maiores danos aos recifes que mulheres
(Talge, 1991; Rouphael and Inglis, 2001; Luna et al., 2009), atribuindo tal tendência a
mulheres serem mais cuidadosas, menos aventureiras e seguirem as regras com maior
empenho que homens. Além disso, uma parte das mulheres também tende a permanecer
com boias mais próximas da superfície auxiliando seus familiares e filhos, o que reduz
sua probabilidade de dano.
A idade foi um fator que apresentou diferença significativa na estatística não-
paramétrica. A relação da faixa etária com a FT pode estar relacionada a baixa estatura
de mergulhadores mais jovens (com idades inferiores a 18 anos), que pode reduzir sua
probabilidade de toque ao substrato; e ao menor controle da flutuabilidade de
mergulhadores mais velhos (>50 anos) (Chung et al., 2013).
Dentro da análise de escolaridade, mergulhadores com nível superior exibiram
maiores médias de FT, enquanto pós-graduados apresentaram as menores médias.
76
Chung e colaboradores (2013) observaram uma relação entre dano e escolaridade, mas
não apresentam argumentos conclusivos de que este fator possa realmente influenciar
no comportamento dos mergulhadores. Era esperado que mergulhadores com maior
escolaridade e compreensão da fragilidade dos ambientes recifais, exibissem menores
valores de FT, mas esse padrão não foi observado neste estudo.
Os mergulhadores que visitam os recifes estudados são inexperientes em sua
maioria. O grupo restrito de turistas com mais de dois anos de experiência em mergulho
exibiu uma tendência maior em tocar o recife comparado aos demais grupos. Este
padrão comportamental foi observado por outros pesquisadores, que atribuíram isto ao
fato dos mergulhadores mais experientes terem maior confiança em se aproximar do
substrato e ousar tocar no recife um número maior de vezes (Rouphael and Inglis, 2001;
Giglio et al., 2016). Além disso, mergulhadores que nunca mergulharam antes tendem a
ser mais cautelosos em tocar algo desconhecido e possivelmente nocivo. Já Musa et al.
(2011) e Salim et al. (2013), concluem que mergulhadores qualificados tocam menos
nos recifes e exibem um comportamento mais responsável que mergulhadores
iniciantes.
O uso de câmeras não foi relacionado à frequência média de toques ao recife, em
contraste com muitos estudos que consideraram tal variável (Rouphael and Inglis, 2001;
Barker and Roberts, 2004; Worachananant et al., 2008; Luna et al., 2009). A
popularização de mini câmeras resistentes a água e de fácil manuseio tem permitido a
sua utilização por um maior número de turistas sem necessariamente elevar o dano
causado a vida marinha (Giglio et al., 2016). Muitos mergulhadores portadores de
câmeras as utilizam principalmente para tirar selfs subaquáticas, e nem sempre se
aproximam do substrato para fazer tais registros.
De maneira geral, os mergulhadores entrevistados possuem baixo conhecimento
e atitude pró-ambiental. Isso pode ser causado por briefings pouco explicativos,
ministrados de forma rápida e, simultaneamente, para muitas pessoas. Estudos
demonstram a redução de danos promovidos por mergulhadores submetidos a briefings
eficientes, que detalham a importância dos recifes, o problema dos impactos que os
mergulhadores podem provocar e os esclarecem a respeito das regras de comportamento
durante o mergulho (Medio et al., 1997; Luna et al., 2009, Camp and Fraser, 2012).
Espera-se que mergulhadores com maior conhecimento sobre a ecologia e importância
do recife e engajados em causas socioambientais, exibam comportamento menos
impactante durante os mergulhos (Ong and Musa, 2011).
77
Apenas o fator conhecimento e atitude pró-ambiental foi associada à FT dentre
as variáveis analisadas para scuba divers. Na análise de classification tree, observou se
uma separação nos grupos de mergulhadores das categorias baixo e médio
conhecimento e atitude pró-ambiental. Todos os estudos consultados indicam a
influência de algum fator na taxa de contato dos mergulhadores no recife, seja uma
característica do mergulhador (sexo, experiência com mergulho, uso de equipamentos),
da operação de mergulho (qualidade dos briefings, intervenção do mergulhador líder,
momento do mergulho, turno do mergulho) ou do ponto de mergulho (tipo do recife,
uso de trilha subaquática) (para consultar referências, ver tabela 3). Isso confirma a
necessidade de uma maior atenção em se identificar características próprias dos
mergulhadores visitantes aos recifes brasileiros, em especial os recifes rasos que estão
submetidos à um turismo em massa e são alvos de especulação do turismo de mergulho.
A partir dos resultados deste estudo que indicam as baixas médias de FT e o
baixo conhecimento dos mergulhadores sobre os ambientes recifais, conclui-se que a
operação de mergulho recreativo que ocorre na área de estudo, tem potencial para se
tornar um modelo de turismo de mergulho sustentável no Brasil. Para isso, são
necessários briefings adequados que considerem a logística da operação de mergulho e
investimento em educação ambiental eficaz tanto para o turista, quanto para os
profissionais de mergulho (Pedrini, 2010; Pedrini et al. 2015), com uso de mídias,
metodologias diversas e criativas, que consigam despertar no mergulhador a
importância dos ambientes recifais em suas vidas e seu poder efetivo para manutenção
desses ecossistemas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados apresentados são pioneiros na descrição das características que podem
influenciar no comportamento de snorkelers no Brasil. Estes dados contribuem para
traçar medidas próprias de manejo para o mergulho recreativo nos recifes brasileiros,
pois identificam um perfil de mergulhadores com maior probabilidade de causar danos
aos ambientes recifais.
Uma vez registrado que os mergulhadores exibem pouco conhecimento sobre o
ambiente recifal e baixa atitude pró-ambiental, sugere-se, um esforço em medidas
educativas para divulgação de informações sobre aspectos gerais da ecologia e a
importância dos ambientes recifais para o bem-estar humano. Tais medidas estariam
78
também associadas à capacitação dos profissionais de mergulho aptos a ministrar
briefings mais eficazes e também a intervir de maneira adequada quando deparados à
uma atitude de dano realizada por um mergulhador.
Para promover a sustentabilidade do mergulho recreativo no Brasil, além das
medidas de manejo sugeridas por Giglio et al. (2016) como: o estabelecimento da
capacidade de suporte para o mergulho, considerando as particularidades biofísicas do
recife e o perfil do visitante; aumento do número de intervenções por profissionais do
mergulho; início do mergulho em áreas de areia ou áreas com baixa abundância de
corais. Incluímos ainda (1) a necessidade de estudos que definam indicadores do
impacto do mergulho recreativo próprios as peculiaridades dos recifes brasileiros e (2) a
utilização do manejo baseado em ecossistemas, relacionando os diversos usos, bens e
serviços oferecidos pelos recifes.
Este conjunto de ações promovidas de forma integrada e sob a ótica do manejo
de ecossistemas, permite a gestão de áreas recifais com atividades múltiplas que podem
produzir benefícios econômicos e sociais associados à conservação desse pólo de vida
marinha. Ardoin et al. (2015) revisaram estudos que observaram como uma gama de
atitudes e comportamentos pró-ambientais podem ser modificados pela experiência com
turismo de natureza. O turismo de mergulho pode, portanto, ser uma atividade que
promove ganhos econômicos, com foco conjunto em educação ambiental e
transformação social. Assim, talvez mais importante que a definição do impacto que o
mergulhador causa no ambiente recifal, deve-se estar atento à compreensão da relação
entre ser humano e ambiente com o foco na oportunidade que o ecoturismo tem em
promover mudanças nessa relação.
Compreender a relação de dano dos mergulhadores no ambiente recifal, implica
em compreender formas de mudar um relacionamento negativo em uma ação educativa
transformadora. Implica na busca pelo singular de cada local e em como essa busca
pode resultar em mudanças profundas na forma de gestão das áreas. Implica ainda na
mudança de um paradigma, em mudar a maneira de ver o lugar. Implica em ver o recife
como um lugar que nos pertence e em querer cuidá-lo. A educação ambiental brota da
oportunidade e uma viagem pode mudar uma vida... ou muitas!
79
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Apêndice 1 - Pontuação para indicar conhecimentos e atitudes pró-ambientais dos
mergulhadores.
Os questionamentos realizados estão descritos no quadro abaixo e cada resposta
que indicasse conhecimento sobre a conservação dos ambientes recifais ou uma atitude
pró-ambiental foi pontuada.
Nº Questão Resposta Pontuação
1 Sabe que o recife faz parte de
uma APA?
SIM 1 ponto
2 Qual a importância do recife? Ecológica,
Econômica/turística,
Cênica,
Cultural
1 ponto para cada
item respondido (até
4 pontos)
3 Se o recife acabasse (fosse
completamente degradado), o
que você acha que ocorreria?
Problemas ambientais,
Problemas econômicos,
Problemas sociais,
Problemas cênicos
1 ponto para cada
item respondido (até
4 pontos)
4 Você acha que o turismo causa
impactos negativos ao recife?
SIM 1 ponto
5 Você acha que causou algum
impacto?
SIM 1 ponto
6 Você apoia financeiramente
algum movimento social e/ou
ambiental?
SIM 1 ponto
TOTAL 12 PONTOS
Os mergulhadores foram agrupados em categorias de acordo com a pontuação
obtida da seguinte maneira:
0 - 4 pontos - BAIXO conhecimento e atitude pró-ambiental
5 - 8 pontos - MÉDIOconhecimento e atitude pró-ambiental
9 - 12 pontos - ALTO conhecimento e atitude pró-ambiental
86
Impactos do mergulho recreativo na biota recifal em uma
Área Protegida Marinha do Brasil
87
Impactos do mergulho recreativo na biota recifal em uma Área Marinha Protegida
do Brasil
Impacts of recreational divers in reef’s biota in a Brazilian Marine Protected Area
INTRODUÇÃO
O principal objetivo de Unidades de Conservação (UC) de uso sustentável, como
é o caso da categoria Área de Proteção Ambiental (APA), é “compatibilizar a
conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais”
(MMA, 2000).Geralmente áreas marinhas protegidas (AMP) abrangem ecossistemas
recifais, os quais se destacam pela abundância de seres vivos, diversidade biológica,
beleza cênica e presença de atividades de importância socioeconômica como pesca e
turismo, especialmente o turismo de mergulho (Green & Donnelly, 2003).
O turismo de mergulho é um dos seguimentos do setor socioeconômico que mais
cresce, gerando uma indústria multimilionária e uma cadeia de serviços que emprega
milhares de pessoas ao redor do mundo (Spalding et al., 2017). Esse desenvolvimento
adveio das facilidades promovidas pelos avanços tecnológicos, que baratearam os
custos dos equipamentos de mergulho autônomo e pelo interesse de descoberta do
mundo subaquático, que impulsionou pessoas comuns a desbravarem esse ambiente por
lazer (Garrod & Gössling, 2008). Além disso, o turismo de mergulho recreativo é
incentivado em uma AMP pelo seu potencial de gerar recursos para manutenção das
áreas protegidas (Hammerton et al., 2012) e também pela oportunidade de promover
educação ambiental (Pedrini et al., 2015).
A expansão acelerada do mergulho recreativo (MR) no mundo inteiro,
principalmente a partir da década de 1990, alterou o seu status de uma atividade de
baixo impacto ambiental (Talge, 1991), para uma atividade com potencial destrutivo,
que pode alterar a estrutura da comunidade recifal e causar a perda da resiliência do
recife como um todo (Gladstone et al., 2012). Os danos podem ser oriundos de um
conjunto de ações que incluem: impactos por ancoragem e barulho das embarcações
(Creed & Amado-Filho, 1999; Simpson et al., 2016; Giglio et al., 2017); a ação de
mergulhadores com toques, pisoteio, ressuspensão de sedimento e alimentação de
peixes (Barker; Roberts, 2004; Camp & Fraser, 2012; Giglio et al., 2016); e poluição da
água com lixo, resíduos químicos das embarcações e uso de protetor solar (Downs et al.,
2015). Esses impactos geralmente são associados à falta de ordenamento da atividade
88
(Bessa & Gonçalvez-de-Freitas, 2014) e às situações onde a capacidade de suporte do
ponto de mergulho é ultrapassada (Dixon et al, 1993).
Análises comparativas vêm testando como a biota recifal responde aos diferentes
níveis de uso turístico. Com a evolução das investigações, a abordagem foi se
ampliando de estudos focados em modificações populacionais de espécies-chave, como
corais e algas (Hawkins & Roberts, 1992; Rouphael & Inglis, 1997; Azevedo et al,
2011; Lamb et al., 2014), para pesquisas que consideram a complexa rede de efeitos
secundários provocados pelos impactos do MR. Esses efeitos incluem: alterações
fisiológicas (Geffroy et al., 2018), mudanças comportamentais (Geffroy et al., 2015),
modificações na força de interações ecológicas (Gil et al., 2015; Renfro & Chadwick,
2017) e, consequentemente, favorecimento ou prejuízos de populações ou grupos
tróficos específicos (Medeiros et al., 2007;Ilarri et al., 2008).
Atualmente, pouco se sabe sobre como o MR afeta a comunidade recifal de
forma integrada, incluindo seres que compõem a cobertura do substrato, invertebrados
móveis e a ictiofauna (Hawkins et al., 1999; Gil et al., 2015). E essa compreensão é
extremamente necessária para se definir estratégias eficientes de monitoramento e
manejo, principalmente quando consideradas as tendências atuais que abordam o
manejo de ecossistemas como uma possível solução para o uso sustentável de recursos
naturais em ambientes recifais (Tedesco et al., 2017).
A premissa deste trabalho considera que a amplitude e intensidade do impacto
do mergulho recreativo pode ser identificada através da análise integrada de como a
biota recifal responde a tais impactos. Dessa maneira, o presente estudo teve como
objetivo analisar a variação da composição do substrato, da composição e saúde da
comunidade coralínea, da megafauna de invertebrados e da assembleia de peixes em
áreas turísticas muito visitadas, áreas turísticas de baixo uso e áreas sem visitação. O
estudo foi conduzido no litoral nordeste do Brasil em um recife inserido em uma AMP
alvo da especulação do turismo de mergulho desde a década de 1990.
Espera-se que os resultados desta pesquisa possam contribuir para o manejo de
áreas marinhas alvos do mergulho recreativo, e auxiliem em políticas de gestão que
foquem na redução ou mitigação de impactos que esta atividade possa causar.
89
MÉTODO
Área de Estudo
Os ambientes recifais da costa brasileira se estendem por mais de 3.000 km,
possuindo características únicas, como o tipo de crescimento, fauna construtora do
recife e ambiente deposicional (Leão et al., 2003). Essas áreas apresentam baixa
cobertura coralínea, elevado endemismo de espécies de corais e alto aporte de
sedimentos (Castro & Pires, 2001).
Em virtude dessas peculiaridades e de sua extensão, os recifes brasileiros são
bastante heterogêneos e podem ser agrupados em três regiões que apresentam
características peculiares: Norte, Nordeste e Leste (Leão et al., 2003). O presente estudo
ocorreu no limite da região Norte com a Nordeste, no recife de Maracajaú. Esse local
está inserido na Área de Proteção Ambiental Estadual dos Recifes de Corais (APARC),
no estado do Rio Grande do Norte (05° 38’S 35° 25’W) (Figura 1).
Figura 1 –Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais (APARC), com destaque para o recife
de Maracajaú e a área de uso turístico (Fonte: Amaral et al, 2005).
Este recife apresenta crescimento coralíneo-algal sobre uma base arenítica, cujo
tamanho é de cerca 9 Km de comprimento por 2 Km de largura (Ferreira & Maida,
2006). A atividade turística ocorre desde o início da década de 1990, em uma pequena
porção de 1,11 Km2, onde cinco pontos de mergulho são explorados por seis empresas e
por 28 empreendedores individuais locais (ex-pescadores). A visitação na área é
intensiva (cerca de 130.000 visitantes anuais) (IDEMA, 2012) e promovida por pacotes
promocionais de operadoras de turismo, e por essa razão o recife de Maracajaú é citado
90
pelo Ministério do Turismo (Brasil, 2005) como um dos principais destinos de turismo
de mergulho do Brasil.
Como o recife de Maracajaú está localizado à aproximadamente 7 Km da costa,
os turistas são transportados em catamarãs pequenos, catamarãs grandes e lanchas.
Todas as embarcações possuem poitas para ancoragem das embarcações, não havendo
utilização de âncoras. Os mergulhos são realizados apenas na maré baixa, quando as
condições de visibilidade e profundidade são melhores (entre 1–3 metros de
profundidade). Esta atividade ocorre incessantemente enquanto as condições clima e
maré permitem, com uma interrupção da atividade por 20 dias no mês de junho para
"descanso" da área (IDEMA, 2012).
São oferecidas as opções de mergulho livre (snorkel), de cilindro (scuba),
flutuação, além de serviços de vídeo e fotográficos. A prática de alimentação aos peixes
ocorre para que os turistas possam ter uma maior interação com a vida marinha e para
um melhor resultado das fotografias subaquáticas. Os alimentos são iscas de pequenos
peixes de diversas espécies. Apesar do plano de manejo da APA proibir esta atividade,
nenhuma medida educativa ou punitiva foi tomada até o momento e a alimentação dos
peixes continua a ocorrer nos recifes.
Área amostral
Foram definidas nove áreas retangulares (40 x 50 metros) para realização do
estudo, sendo: três áreas de Alto uso turístico (> de 6000 mergulhadores/ano), três áreas
de Baixo uso turístico (< de 6000 mergulhadores/ano) e três áreas onde não há visitação
(Controle). O valor limite de 6000 mergulhadores/ano por ponto de mergulho foi
estabelecido seguindo a literatura científica que indica esse valor como a capacidade de
suporte de mergulhadores que um ponto de mergulho pode receber. O modelo de
capacidade de suporte é uma função exponencial, no qual o impacto cresce muito pouco
até um número limite de mergulhadores, que quando alcançado provoca um aumento
drástico no impacto causado pela atividade de mergulho (Dixon et al., 1993; Hawkins &
Roberts, 1997).
A coleta de dados ocorreu ao longo de dois anos, em quatro eventos amostrais
nos meses de alta temporada: janeiro/2014, julho/2014, janeiro/2015 e julho/2015. Em
cada evento amostral realizaram-se censos visuais subaquáticos em três transectos em
faixa de 30 x 2 metros por área, totalizando 27 transectos por evento amostral e 108
transectos ao longo de toda a amostragem (Figura 2). Todos os censos foram efetuados
91
com equipamentos básicos de mergulho livre por uma equipe de até cinco
mergulhadores.
Nas áreas de Alto Uso os censos iniciavam sempre na borda mais utilizada das
plataformas flutuantes que servem de apoio na operação turística, estendendo-se 40
metros na direção oposta. As áreas de Baixo Uso se localizavam adjacentes às áreas de
Alto Uso, sendo uma continuidade das mesmas. As áreas Controles (C) estavam
dispostas cerca de 100 metros das áreas turísticas, em uma região sem tráfego de
embarcações e com complexidade estrutural e visibilidade da água semelhantes às
demais áreas. Os transectos foram estendidos paralelos às bordas das plataformas e
disposição sorteada em cada evento amostral.
Figura 2 -Áreas amostrais. C1, C2 e C3 são áreas controle, T1, T2 e T3 áreas turísticas. As áreas de Alto
uso estão em destaque vermelho. a) Localização do flutuante da empresa Maracajaú Divers, b)
Localização do flutuante da empresa Parrachos Turismo, c) Localização do flutuante de apoio de alguns
empreendedores individuais (ex-pescadores). Á esquerda abaixo, esquema da disposição dos transectos
de 30 metros aleatoriamente dispostos. Fonte: Adaptado de Amaral et al, 2005.
Coleta de Dados
Parâmetros Físico-químicos:
Os parâmetros físico-químicos foram aferidos uma vez ao final de cada
transecto. Obteve-se dados de: profundidade (metros), temperatura (ºC), salinidade
(partes por trilhão - ppt), e transparência horizontal da água (metros), medida pela
92
distância máxima que um pesquisador enxerga uma prancheta branca em direção oposta
a ele (Ferreira, 2009).
Cobertura do substrato e índice de vulnerabilidade biológica (IVB):
Para caracterização da cobertura do substrato foi utilizado o método Point
Intercept Transect (PIT) que consiste em identificar e registrar a categoria do substrato
encontrado no ponto logo abaixo do transecto em intervalos de 25 cm (Reef Check
Brasil, 2008). As categorias registradas foram: areia, cascalho, rocha, alga folhosa, alga
filamentosa Turf, alga calcária, coral mole (Palythoa caribaeorum, Protopalythoa
variabilis, espécies do gênero Zoanthus), coral duro (Siderastrea stellata, Favia
gravida, Porites asteroidea, Agaricia humilis e Millepora alcicornis) e esponja.
Seguindo o trabalho de Lloret e colaboradores (2006), foi calculado o índice de
vulnerabilidade biológica (IVB) que utiliza os dados da cobertura do substrato e a
suscetibilidade que cada grupo analisado exibe, ao ser submetido a algum dano advindo
da atividade turística. A vulnerabilidade de cada zona recifal de recreação é calculada
pela seguinte fórmula:
V = [(∑ xi fi)/100]+ k1 + k2
Onde: xi = frequência relativa do grupo funcional i
fi = fragilidade do grupo funcional
k1= coeficiente de correção para o efeito da profundidade do ponto de mergulho
k2= coeficiente de correção para o efeito da inclinação do fundo
Cada grupo funcional é definido baseado em semelhanças de forma e função
ecológicas dos organismos que o compõe. Os grupos funcionais considerados foram:
esponjas, algas folhosas, algas filamentosas, algas calcárias, zoantídeos, corais
ramificados, corais massivos.
A fragilidade do grupo funcional é um peso atribuído a cada grupo em função da
facilidade em sofrer danos e da velocidade de crescimento. É atribuído peso 1 para
organismos difíceis de sofrerem dano e com crescimento rápido (ex. algas); peso 2 para
organismos que podem ser facilmente danificados, mas com crescimento rápido (ex.
93
esponjas e zoantídeos); peso 3 para organismos que podem ser facilmente quebrados e
com crescimento lento (ex. corais ramificados e corais massivos).
O coeficiente de correção k1 é determinado por: + 0,33 em profundidades
inferiores a 10 metros, 0 em profundidades entre 10 e 24 metros e -0,33 em
profundidades superiores a 24 metros. Este coeficiente é proposto com base na
diminuição da probabilidade de dano causado por mergulhadores considerando o
aumento da profundidade.
O coeficiente de correção k2 é determinado em função da inclinação (em graus)
exibida pelo fundo da zona turística de recreação. O valor de k2 é: 0,0 em ângulos de
inclinação do substrato entre 0° e 70° (perfil horizontal); -0,33 em ângulos de inclinação
do substrato entre 70° e 110° (perfil vertical - paredes); +0,33 em ângulos de inclinação
do substrato entre 110° e 180° (inclinação negativa – cavernas e naufrágios) (Lloret et
al., 2006).
Avaliação da Saúde dos Corais:
Em cada transecto foram amostrados 4 quadrantes de 1 x 1 metro, intercalados e
equidistantes entre si. Em cada quadrado as espécies de corais foram identificadas e
contabilizadas por classe de tamanho (<5 cm, 6 – 10 cm, 11 – 20 cm e >21 cm) e por
categoria de saúde (saudáveis, doentes, branqueadas ou mortas) (Ferreira & Maida,
2006).
Foram consideradas colônias saudáveis aquelas que estavam com coloração viva
ou que possuíam mais de 90% da colônia sem manchas. As colônias branqueadas foram
aquelas que possuíam branqueamento em grande parte da colônia ou com avançado
grau de desbotamento. As colônias doentes apresentavam pigmentação alterada, de cor
verde, roxa, marrom ou preta e/ou partes danificadas com crescimento de alga.
Finalmente, as colônias mortas foram aquelas que apresentavam o esqueleto
completamente branco e já coberto por algas (Adaptado de Coralwacth, 2014).
Megafauna de Invertebrados:
Em cada transecto de 30 x 2 metros, os indivíduos da megafauna de
invertebrados foram registrados, contabilizados e agrupados em grupos funcionais.
Foram definidos os grupos: invertebrados sésseis (esponjas, corais, ascídias e poliquetas
tubícolas), invertebrados errantes (poliqueta de fogo, lagostas, tamarutacas, caranguejos,
94
polvos, lebres do mar, ermitões e lulas), ouriços (Echinometra lucunter) e gastrópodes
(incluindo espécies do gênero Cassis, Cypraea, Cerithium, Columbella, Leucozonia,
Thais) (Ferreira & Maida, 2006). Foi registrada a presença ou ausência de organismos
coloniais no transecto, com sua frequência relativa estimada através dos dados de
cobertura de substrato.
Ictiofauna:
Os peixes foram identificados e contabilizados em cada transecto. Nos casos em
que não pôde ser feita a identificação subaquática, os espécimes foram fotografados e
um especialista foi consultado para identificação. Todos os censos foram conduzidos
pelo mesmo mergulhador, que registrou o número de indivíduos de cada espécie da
ictiofauna por classe de tamanho (<5cm; 6 – 10cm; 11 – 20cm; 21 – 30cm; 31 – 40cm;
e >40cm). Posteriormente, as espécies de peixes foram agrupadas em categorias tróficas
segundo Randall (1967) e Ferreira et al. (2004).
O número de pools de recrutamento também foi registrado por transecto. Foram
considerados pools de recrutamento as concentrações de peixes jovens, geralmente
protegidos em buracos no recife.
Análise dos dados
Análise geral para os dados multivariados:
Foram elaboradas seis matrizes de dados: (1) valores dos parâmetros físico-
químicos, (2) frequência relativa das categorias da cobertura do substrato, (3)
abundância média de corais por espécie, (4) abundância total dos grupos funcionais da
megafauna de invertebrados, (5) abundância total das espécies de peixes e (6)
abundância total das categorias tróficas da ictiofauna. Em cada matriz, foram avaliados
a presença de outliers através da inspeção de gráfico de Cleveland (Cleveland, 1993).
Os dados das matrizes dos parâmetros físicos-químicos e da cobertura do
substrato foram testados quanto à multicolinearidade seguindo os procedimentos e
tomadas de decisão descritos em Zuur et al. (2010). Em seguida, esses dados foram
transformados pelo método da padronização (z-score), conservando os dados com o
valor de tendência central e desvio, média 0 (zero) e variância 1 (um).
Para as demais matrizes, os dados foram testados quanto à colinearidade no
conjunto multivariado através do cálculo do fator de variação da inflação (vif –
variation inflation factor). A correlação de Spearman foi preferida pelo fato de
95
desconsiderar as relações lineares entre as variáveis (Zar, 2010). Considerou-se alta
colinearidade para valores de correlação em valor modular maior que 0.7 e com o vif
acima do valor 3 (Zuur, et al. 2010). Em seguida, a variável com o maior valor de vif
(em escala acima de 3) foi retirada do conjunto de variáveis ambientais e o
procedimento de verificação de presença de colinearidade foi repetido, manualmente,
até obtenção de um conjunto multivariado com vif abaixo de 3. As variáveis colineares
(vif> 3) foram retiradas das análises seguintes.
Parâmetros Físico-químicos:
Para investigar a variação dos parâmetros físico-químicos entre as áreas (alto
uso, baixo uso e controle) foi realizada uma análise de componentes principais (PCA)
(Rencher, 2002), considerando as componentes principais que assinalaram uma
variância cumulativa a partir de 70%. Em seguida, foi feita uma análise de variância
multivariada permutacional (PERMANOVA, McArdle & Anderson, 2001), com 999
permutações utilizando o índice de distância euclidiana, realizado como teste de
hipótese de dissimilaridade entre os tratamentos de uso turístico.
Cobertura do substrato e índice de vulnerabilidade biológica (IVB):
A variação da cobertura do substrato entre as áreas também foi obtida através de
uma PCA, seguida de uma PERMANOVA, com os mesmos parâmetros utilizados para
dos dados físico-químicos. Além disso, uma função discriminante linear (LDA,
Rencher, 2002) foi realizada para determinar qual variável de substrato era
discriminatória entre os níveis de uso turístico.
Foi utilizada a Análise de Variância (ANOVA) para avaliar diferenças no índice
de vulnerabilidade biológica entre as áreas. O teste de normalidade de Shapiro-Wilk
(Shapiro & Wilk, 1965) e o teste de homogeneidade de variância de Levene (Sokal &
Rohlf, 1985) foram realizados para observar se o conjunto de dados atendiam às
premissas da ANOVA. Diante da ocorrência de não normalidade e heterocedasticidade,
os dados foram transformados em log e reexaminados quanto à sua normalidade e
homogeneidade. Os dados de IVB foram não-normais e homocedásticos, e de acordo
com Zar (2010), o algoritmo da ANOVA é robusto o suficiente para aceitar a violação
da normalidade se os dados forem homogêneos quanto a sua variância. O teste de
Tukey-Kramer foi utilizado como post-hoc.
Avaliação da Saúde dos Corais:
Os dados de abundância total de corais, densidade por classe de tamanho e
densidade por categorias de saúde entre as áreas de uso turístico, também foram
96
avaliados através de uma ANOVA, seguindo os mesmos procedimentos metodológicos
descritos para o IVB.
Megafauna de invertebrados:
Para observar a similaridade das áreas em função da abundância dos grupos
funcionais da megafauna de invertebrados foi realizada a análise de similaridade e a
escalonamento multidimensional não-métrico (nMDS). Nesse último, utilizou-se o
índice de Bray-Curtis para representar as semelhanças de uso turístico (áreas de alto
uso, baixo uso e controle). Para indicar se o escalonamento foi satisfatório, os valores
do coeficiente de estresse foram inspecionados, e considerou-se satisfatório o
coeficiente de estresse < 0,1, (Warwick & Clarke, 1991). Em seguida, a análise de
similaridade (ANOSIM, Anderson, 2001) unifatorial, com base na distância Bray-
Curtis, foi realizada como teste de hipótese de dissimilaridade nos tratamentos de uso
turístico.
Ictiofauna:
A variação da riqueza de espécies de peixes, abundância total de peixes,
abundância por classe trófica, diversidade, equitabilidade e número de pools de
recrutamento de peixes foram comparados entre as áreas através de análise de variância.
Assim como para o IVB, os dados foram testados, separadamente, quanto a sua
normalidade pelo teste de Shapiro-Wilk (Shapiro & Wilk, 1965) e pelo teste de
homogeneidade de variância de Levene (Sokal & Rohlf, 1985). Diante da ocorrência de
não normalidade e heterocedasticidade os dados foram transformados em log e
reexaminados quanto a sua normalidade e homogeneidade. Em todas as variáveis
mencionadas anteriormente, os dados foram não-normais e homocedásticos exceto para
a variável abundância total de peixes e abundância por categoria trófica (não-normal e
heterocedástico) onde foi aplicado o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis (Zar,
2010). O teste de Tukey-Kramer foi utilizado como post-hoc para as ANOVAs (Zar,
2010), enquanto o teste de Dunn modificado foi utilizado como post-hoc para Krukall-
Wallis (Glantz, 2012).
A riqueza de espécies foi expressa como o número de espécies (S), enquanto a
diversidade e equitabilidade foram estimadas utilizando os índices de Shannon (H’) e
Pielou (J’), usando o software Past versão 2.17 (Hammer et al., 2001). A comparação da
composição da ictiofauna entre as áreas de alto uso, baixo uso e controle foi realizada
também através de uma análise de similaridade e um NMDS, para a matriz de
abundância total por espécie. Os procedimentos da NMDS seguiram o mesmo
97
procedimento metodológico que o descrito para os dados de megafauna de
invertebrados.
Para as análises de similaridade, os dados foram inspecionados quanto a
presença de espécies de ocorrência raras, excluindo-se da matriz de abundância total,
àquelas que apresentaram somente uma ocorrência ao longo do estudo. Após esta etapa,
as matrizes foram inspecionadas através do cálculo do Coeficiente de Aglomeração
(CA) e do Coeficiente de Correlação Cofenético (CPCC) para determinar a mais
eficiente medida de dissimilaridade e função de ligação a serem utilizadas nas análises
multivariadas seguintes. Ambos os coeficientes citados anteriormente variam entre 0 e 1
e, avaliam respectivamente, a qualidade e eficácia dos agrupamentos (Paiva et al.,
2015). Um alto valor do Coeficiente de Correlação Cofenético significa menores
distorções na matriz original de dissimilaridade e, um maior Coeficiente de
Aglomeração além de maior qualidade, representa melhor ajuste dos agrupamentos
(Singh et al., 2011).
A variação da proporção de peixes entre as classes de tamanho em relação aos
tratamentos de uso turístico foi analisada por uma análise de correspondência (AC). A
AC é um método estatístico que demonstra visualmente as associações entre os níveis
da tabela de contingência. As associações observadas das duas variáveis (classes de
tamanho e tratamentos de uso turístico) são sumarizadas pela frequência de cada célula
da tabela (Nenadic & Greenacre, 2007). Foram considerados os eixos significativos da
AC, os que correspondiam a uma variação cumulativa maior do que 80%. Além disso,
permutações (n= 999) foram realizadas para gerar um valor probabilístico de
significância das associações observadas. Em adição, os pontos gráficos relacionados a
classificação de tamanho dos peixes foram dispostos proporcionalmente a sua
abundância da tabela de contingência.
Para todas as variáveis, os grupos de tratamento (Alto Uso, Baixo Uso e
Controle) as médias das réplicas foram comparadas. Como não houve diferenças
significativas entre as mesmas, os dados foram agrupados e analisados como uma área
única. As análises foram desenvolvidas no programa R (R Development Core Team
2012) e Past versão 2.17 (Hammer et al., 2001). No caso do R, utilizou-se os pacotes
estatísticos 'stats' (Teste de Shapiro-Wilk, ANOVA, Kruskal-Wallis, PCA) (R
Development Core Team, 2012), 'car' (Teste de Levene) (Fox & Weisberg, 2011),
‘PMCRM’ (teste post hoc de Dunn) (Pohlert 2014) 'vegan' (ANOSIM, NMDS)
98
(Oksanen et al., 2015), 'cluster' (CA, Agrupamento hierárquico) (Maechler et al., 2017).
O nível de significância adotado foi de 5% (Zar 2010).
RESULTADOS
Parâmetros Físico-químicos:
Não houve diferença significativa nos parâmetros físico-químicos analisados
entre as áreas de Alto uso, Baixo uso e Controle (PERMANOVA, df = 2, F = 1,90, p =
0,10). Na PCA, os três primeiros componentes principais totalizaram 83,81%, sendo o
primeiro componente 37,7%, o segundo 23,1% e o terceiro 22,9%. O biplot do
componente 1 vs. 2 não apresentou uma tendência de agrupamento, de acordo com a
informação classificatória de uso turístico, indicando que não houve variação ambiental
dos parâmetros mensurados em função das zonas turísticas analisadas (Figura 3).
Figura 3 –Diagramadas áreas de Alto uso – High, Baixo uso – Low e Controle – Control em
relação aos parâmetros físico-químicos mensurados no recife de Maracajaú. ‘Depth’ –
Profundidade, ‘Vis’ – Visibilidade, ‘Sal’ – Salinidade e ‘Temp’ – Temperatura.
99
Cobertura do substrato e índice de vulnerabilidade biológica (IVB):
As áreas turísticas de Alto Uso (H) exibiram maiores porcentagens de areia e
cascalho que as demais. Observou-se maior quantidade de algas folhosas nas áreas de
Baixo Uso (L) e as demais categorias obtiveram maiores valores nas áreas Controle
(Figura 4).
Figura 4 - Frequência relativa das categorias de substrato registradas nas áreas estudadas, no recife de
Maracajaú. SAND – Areia, SHE. ALG – Alga folhosa, SOFT COR – Coral mole, FIL. ALG – Alga
filamentosa, HARD COR – Coral duro, CAL. ALG – Alga calcária, GRA – Cascalho, SPON – Esponja,
ROC – Rocha.
Observou-se diferença entre as áreas de uso turístico de acordo com a cobertura
de substrato (PERMANOVA, df = 2, F = 2,94, p < 0,01). Algas filamentosas (Wilk’s
lambda = 0,89, F difference = 6,28) e corais moles (Wilk’s lambda = 0,79, F difference
= 6,12) foram significativamente discriminatórios (p < 0,01) entre as áreas. A área
Controle apresentou os maiores valores de cobertura de algas filamentosas (14,1%) e
coral mole (18,7%) enquanto a área de Baixo uso turístico exibiu 8,1% e 11,6%,
respectivamente, e por fim, área de Alto uso turístico (7,9% e 8,4%) (Figura 5).
A categoria areia possui correlação moderada com a variável coral mole (-0,62,
correlação de Spearman), no entanto considera-se areia uma variável de tendência na
discriminação das áreas (Controle – 50,3%, Baixo – 60%, Alto – 67,4%, valores
médios).
67,42
59,96
50,34
9,62
12,83
8,36
8,49
11,64
18,76
7,90
8,15
14,12
4,22
5,10
6,29
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Alto uso
Baixo uso
Controle
SAND SHE. ALG SOFT COR FIL. ALG HARD COR CAL. ALG GRA SPON ROC
100
Figura 5 - Diagrama da cobertura de substrato em relação às áreas de uso turístico
(Alto uso – High, Baixo uso – Low e Controle – Control) no recife de Maracajaú.
Símbolos maiores representam o centróide da distribuição respectiva de cada grupo.
*Variáveis em negrito de maior poder discriminatório de acordo com o
procedimento stepwise da função discriminante. ‘SheAlg’ – Alga folhosa, ‘FilAlg’ –
Alga Filamentosa, ‘HardCor’ – Coral duro, ‘SoftCor’ – Coral mole.
Os valores de IVB registrados foram: 1,64 (0,164 ± s.d.) na área controle, 1,54
(0,153 ± s.d.) na área de baixo uso e 1,50 (0,128 ± s.d.) na área de alto uso. Houve
diferença significativa das médias de IVB entre as áreas (df = 2, F=8,92, p<0,01). O
teste a posteriori apontou que existe diferença entre as áreas controle e as demais,
indicando que as áreas controle são mais vulneráveis aos impactos do MR. Não existe
diferença entre as áreas de baixo uso e alto uso (Tabela 1).
Tabela 1 - Teste de post-hoc de Tukey-Kramer para o índice de Vulnerabilidade Biológica de acordo
com os níveis de tratamento, p-valor – valor de probabilidade de significância, diferença – diferença de
média, I.C. – Intervalor de confiança. High – Alto uso, Low – Baixo uso, Control – Controle.
Diferença I.C. 25% I.C. 75% p-valor ajustado
High-Control -0.14325 -0.2254 -0.0611 0.000216
Low-Control -0.09435 -0.1765 -0.0122 0.020224
Low-High 0.048898 -0.03325 0.131046 0.335722
101
Avaliação da Saúde dos Corais:
Foram registradas cinco espécies de corais nas áreas estudadas: Siderastrea
stellata, Favia gravida, Porites astreiodes, Millepora alcicornis e Agaricia humilis,
com um total de 5345 colônias contabilizadas. Houve predominância de S. stellata e
baixa representatividade de M. alcicornis e A. humilis para todas as áreas (Figura 6).
A única espécie que apresentou diferença significativa em sua densidade
comparando as áreas estudadas foi F. gravida (df = 3, F = 3,63, p< 0,05), mais
abundante na área Controle.
Figura 6– Variação da densidade média do número de colônias de corais por espécie
entre as áreas de Alto uso turístico, Baixo uso e Controle no recife de Maracajaú.
Destaque para a variação da densidade de F. gravida.
Não houve diferença significativa para a abundância total de corais, nem para a
densidade de corais por classe de tamanho das colônias e por categorias de saúde entre
as áreas (p > 0,05). Em todas as áreas observou-se uma relação entre a abundância de
corais por classe de tamanho, com maior número de colônias pertencentes a classe de
tamanho < 5cm (df = 3, F = 78,84, p < 0,01) e a categoria saudável foi a mais
representativa (df = 3, F = 106,96, p < 0,01) (detalhes no apêndice I, tabelas A, B e C).
Megafauna de Invertebrados:
O Ouriço preto (Echinometra lucunter) foi o mais abundante invertebrado da
megafauna nas áreas de Alto e Baixo uso turístico.
Na área Controle registrou-se a maior ocorrência de gastrópodes (detalhes
Apêndice II, tabela D). A abundância relativa de cada grupo funcional analisado por
área é apresentada na tabela 2.
9,35
1,55
0,13 0,01 0,01
10,02
2,410,21 0,00 0,00
9,81
3,47
0,08 0,02 0,070,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
Siderastrea spp. Favia gravida Poritesastreoides
Milleporaalcicornis
Agaricia humilis
Den
sid
ade
méd
ia d
e co
lôn
ias/
m2
Alto uso Baixo uso Controle
102
Tabela 2 – Variação da abundância relativa da megafauna, por grupo funcional de
invertebrados, entre as áreas de uso turístico e controle, no recife de Maracajaú.
Grupo
funcional N
Abundância rel. %
ALTO USO BAIXO USO CONTROLE
Ouriço 360 53,1 55,7 31,9
Gastrópodes 195 20,8 20,8 40,1
Invertebrados
errantes 132 13,3 14,5 27,5
Invertebrados
sésseis 59 12,8 9 0,5
Houve uma forte sobreposição entre as áreas de Baixo e Alto uso enquanto a
área Controle mostrou uma tendência de estruturação própria quando se observa a
Figura 7 (NMDS utilizando o índice de Bray-Curtis - Stress ≤ 0,1, R2 = 0,99), no
entanto, a tendência visual não é confirmada pela tendência estatística a qual indicou
falta de estruturação entre as áreas (ANOSIM, p > 0,05).
Figura 7 -Megafauna de invertebrados (Escalonamento não-métrico multidimensional)
nas áreas de Alto uso – High, Baixo uso – Low e Controle – Control no recife de
Maracajaú.
103
Em resumo, para comunidade bentônica observou-se áreas de Alto uso (H) com
maior frequência relativa de areia e cascalho na cobertura do substrato e menores
valores das categorias coral duro, coral mole e algas filamentosas. A densidade média
de corais não variou entre as áreas, contudo, a espécie de coral Favia gravida
apresentou menor densidade nas áreas turísticas. As áreas de Alto uso exibiram ainda
maior abundância relativa de ouriços pretos e invertebrados sésseis. As áreas de Baixo
uso apresentaram maior cobertura de algas folhosas. As áreas Controle se destacaram
pela maior frequência relativa de cobertura de coral mole, algas filamentosas e coral
duro, com maior abundância do coral F. gravida e de moluscos gastrópodes.
Ictiofauna:
Ao longo do estudo foram contabilizados 10.459 registros de peixes,
classificados em 61 espécies, distribuídas em 30 famílias (detalhes no Apêndice III,
Tabela E). Não houve diferença significativa para a riqueza de espécies e para o número
de pools de recrutamento entre as áreas de Alto uso, Baixo e Controle. A abundância
média de peixes, foi significativamente maior nas áreas de Alto uso, já a diversidade e
equitabilidade foram superiores nas áreas controle (Tabela 3).
Tabela 3 –Valores das variáveis ecológicas analisadas para ictiofauna nas áreas turísticas de Alto uso,
Baixo uso e Controle (Média ± desvio padrão) no recife de Maracajaú. Em negrito as variáveis com
diferenças significativas de medianas/média entre as áreas (Kruskal-Wallis e ANOVA).
Alto uso Baixo uso Controle
Qui2 ou F -
valor P
Riqueza (S) 48 46 44 - -
Riqueza média 14,02 ± 3,37 13,94 ± 3,89 13,16 ± 3,19 F = 0,7684 0,46
Nº de spp. exclusivas
da área 7 5 5 - -
Abundância média 129,75 ± 81,96 89,25 ± 48,75 71,52 ± 22,26 Qui2 = 10,03 <0,01
Diversidade (H’) 1,68 ± 0,46 1,90 ± 0,37 1,93 ± 0,25 F = 5,103 < 0,01
Equitabilidade (J’) 0,647 ± 0,183 0,735 ±0,13 0,76 ± 0,06 F = 6,975 < 0,01
Nº pools de
recrutamento médio
por censo 1,33 ± 1,97 1,44 ± 2,03 2,02 ± 1,31 F = 19.175 0.15
As 10 espécies mais abundantes foram: Haemulon aurolineatum, Stegastes
fuscus, Acanthurus chirurgus, Abudefduf saxatilis, Sparisoma frondosum, Sparisoma
axillare, Sparisoma radians, Haemulon plumieri, Scarus trispinosus e Anisotremus
104
virginicus. Além dessas espécies, destacam-se os grupos Sparisoma jovens e
hemulídeos jovens. Juntos esses espécimes representaram 91,5% de todos os registros
de peixes (Apêndice III, tabela E).
Ao comparar as abundâncias médias das espécies supracitadas entre as áreas
Turísticas e Controle, observou-se modificações na estrutura da ictiocenose em função
do uso turístico. As áreas de Alto uso e Baixo uso apresentaram dominância da espécie
H. aurolineatum, contudo, na área de alto uso esse padrão foi ainda mais evidente. Na
área controle, a espécie mais abundante foi S. fuscus, seguida de H. aurolineatum, e a
distribuição da abundância das demais espécies foi mais homogênea do que nas demais
áreas (Figura 8).
Figura 8 – Abundância relativa (%) dos 10 táxons de peixes mais representativos nas áreas de Alto e
Baixo uso turísticos e Controle, no recife de Maracajaú. As espécies em negrito, iniciadas com *,
apresentaram diferença significativa quanto à abundância média por área (ANOVA, p<0,05).
Na matriz da ictiofauna avaliada houve tendência de estruturação em relação às
áreas estudadas, com regiões bem delimitadas, mas com zonas de sobreposição
(gráficos de NMDS e índice de Bray-Curtis - Stress ≤ 0,1, R2 = 0,99) (Figura 9). Assim
como para megafauna de invertebrados, a tendência visual não foi confirmada pela
tendência estatística, a qual indicou ausência de estruturação entre as áreas (ANOSIM, p
> 0,05).
105
Figura 9 –Ictiofauna nas áreas de Alto uso – High, Baixo uso – Low e Controle – Control,
no recife de Maracajaú (Escalonamento não-métrico multidimensional - índice de Bray-
Curtis).
A média do número de indivíduos por categoria trófica diferiu entre as áreas. A
área de Alto uso exibiu maiores abundâncias de invertívoros móveis (MIF), onívoros
(OMN) e carnívoros (CAR). Já a área Controle apresentou maiores abundâncias de
herbívoros pastadores (ROVH) e herbívoros territoriais (TERH), apesar de apenas a
última categoria ter apresentado diferença estatística (Tabela 4).
Tabela 4 – Variação da abundância média de peixes por categoria trófica entre as
áreas de Alto e Baixo usos e Controle (Média ± desvio padrão), no recife de
Maracajaú. Em negrito as categorias que apresentaram diferenças significativas de
mediana entre as áreas (Kruskal-Wallis). MIF – Invertívoros móveis, ROVH –
Herbívoros pastadores, TERH – Herbívoros territoriais, OMN – Onívoros, CAR –
Carnívoros, PLA – Planctívoros, PIS – Piscívoros e SIF – Invertívoros Sésseis.
Abundância
média Alto uso Baixo uso Controle
Qui-
quadrado P
MIF 77 ± 72,84 39,92 ± 48,44 19,11 ± 10,56 14,85 < 0,01
ROVH 22,3 ± 10,48 23,44 ± 10,02 25,77 ± 15,33 0,76 0,681
TERH 13,80 ± 9,25 16,80 ± 7,54 20,75 ± 8,55 10,77 < 0,01
OMN 9,33 ± 10,91 4,92 ± 5,6 1,86 ± 2,3 16,46 < 0,01
CAR 4,03 ± 5,30 1,30 ± 1,8 1,36 ± 1,31 13,39 < 0,01
PLA 2,5 ± 7,19 2,64 ± 9,04 2,61 ± 8,01 0,941 0,537
PIS 0,72 ± 3,33 0,08 ± 0,28 0,02 ± 0,16 1,089 0,115
SIF 0,06 ± 0,23 0,14 ± 0,42 0,02 ± 0,17 0,396 0,336
106
Quanto às abundâncias de peixes por classes de tamanho, em relação às áreas
estudadas, foi observado um padrão de correspondência (qui-quadrado = 327,28, p <
0,01, permutações Monte Carlo = 999). Foram obtidas três associações: (1) área de Alto
uso com Classe de tamanho 3 (11-20cm), (2) área Controle com as Classes de tamanho
2 (6-10cm), Classe 4 (21-30cm) e Classe 5 (31-40cm) e, (3) área de Baixo Uso com as
Classes 1 (<5cm). A Classe 6 (>40cm) apresentou baixa associação com as três áreas,
embora o maior registro de abundância tenha ocorrido na área de Baixo uso e este efeito
pode ser observado no gráfico (Figura 10 e Apêndice IV, tabela F).
Figura 10 –Análise de correspondência da relação entre as classes de tamanho
de peixes e as áreas de Alto uso (High), Baixo uso (Low) e Controle (Control),
no recife de Maracajaú. O tamanho dos pontos é proporcional às abundâncias
registradas por área. As classes de tamanho estão representadas pelas siglas: C1 -
<5cm, C2 – 6 – 10cm, C3 – 11 – 20cm, C4 – 21 – 30cm, C5 – 31 – 40cm e C6 -
>40cm.
De maneira geral a estrutura da ictiofauna variou entre as áreas de estudo. As
áreas de Alto uso exibiram maior abundância, menor diversidade e dominância da
espécie H.aurolineatum. Nessa área destacaram-se as maiores abundâncias dos grupos
tróficos invertívoros móveis, onívoros e carnívoros, com predominância de peixes da
107
categoria de tamanho entre 11 – 20 cm. As áreas Controle apresentaram um padrão
diferente com menor abundância total de peixes, maior diversidade e homogeneidade,
com maior abundância de herbívoros, especialmente os territoriais, e destaque para as
categorias de tamanho de 6 – 10 cm e de 21 – 30 cm. Nas áreas de Baixo uso observou-
se valores intermediários e de maior semelhança com as áreas Controle.
DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo apontam que a análise integrada de múltiplas
variáveis da biota recifal identificou importantes alterações na estrutura da comunidade
recifal em função do mergulho recreativo. Essa abordagem permitiu a observação de
possíveis relações de causa e efeito que a avaliação de apenas um grupo biológico
poderia não detectar (Gil et al., 2015; Refron & Chadwick, 2017; Bessa et al, 2017).
A semelhança dos parâmetros físico-químicos mensurados comparando as áreas
estudadas indica que tais variáveis não são responsáveis pelas diferenças dos parâmetros
biológicos encontrados nas áreas. Estudos semelhantes conduzidos em outros recifes do
mundo geralmente não avaliam se modificações da fauna podem estar associadas a
outras causas que não o turismo (Hawkins et al., 1999; Tratalos & Austin, 2001;
Rouphael & Inglis, 2002; Gil et al., 2015; Refron & Chadwick, 2017). Essa análise
preliminar é importante, uma vez que padrões espaciais de distribuição das espécies
podem variar em função do nível de exposição a ondas, fatores físico-químicos e
complexidade estrutural do recife (Gratwicke & Speight, 2005). Silva (2015) realizou
um estudo, o qual foi desdobramento do presente projeto, constatando a semelhança na
complexidade da estrutura recifal, para as mesmas áreas estudadas. Quanto à ação das
ondas, as áreas de estudo distribuem-se em zonas recifais abrigadas do recife, mais
distantes das bordas recifais à barlavento, ou seja, não são submetidas diretamente à
ação das ondas (Amaral et al., 2005). Tais investigações tem o papel fundamental de
descartar possíveis variáveis influentes.
As alterações observadas na composição de cobertura do substrato das áreas de
Alto uso, como maior porcentagem de areia e cascalho, e menor cobertura de corais
duro, corais mole e algas filamentosas, são associadas à ação do MR. As principais
causas são o tráfego e ancoragem de embarcações (Creed & Amado-Filho, 1999; Giglio
et al., 2017), o comportamento de mergulhadores que podem arrancar algas, quebrar
corais e ressuspender sedimentos (Luna et al., 2009; Camp & Fraser, 2012; Giglio et al.,
108
2016) e a exposição da comunidade bentônica a produtos químicos, como excesso de
protetor solar utilizado pelos turistas (Downs et al., 2015).
Além das causas relatadas acima, os resultados desta pesquisa apontam ainda
efeitos indiretos pouco documentados. A abundância de ouriço nas áreas turísticas pode
estar colaborando com a redução da cobertura de corais. A presença de ouriços é por
vezes considerada benéfica para a saúde dos recifes, pois tais invertebrados podem atuar
no controle de macroalgas as quais competem com os corais e, indiretamente,
favorecem as populações de corais (Hughes, 1994). Contudo, altas abundâncias de
ouriço podem ser prejudiciais aos recifes (Bak, 1994; Cabanillas-Terán et al., 2016), o
poder bioerosivo desses animais pode contribuir com a redução da cobertura coralínea
(Tavares, 2004). Dessa forma, o crescimento da população de ouriços deve ser
examinado com cautela.
Associação das áreas de baixo uso com maior porcentagem de cobertura de algas
folhosas pode ser explicada de duas formas. A primeira considera um efeito bottom-up,
em que o MR esteja promovendo o crescimento de algas folhosas devido à maior
quantidade de nutrientes nas áreas turísticas (Smith et al., 2010), oriundos da
alimentação suplementar ofertada aos peixes. Esta ação contribui com maior input de
compostos orgânicos na água, as quais atraem e concentram muitos peixes, aumentando
o volume fecal nas áreas das agregações (Mazzola et al, 1999; Bessa et al, 2017).
Contudo, são necessários estudos mais detalhados a fim de comprovar se os nutrientes
estão concentrados nas áreas turísticas ou se esses compostos são diluídos na massa
d’água. Essa confirmação explicaria a baixa cobertura de algas folhosas nas áreas
Controle.
Adicionalmente, a segunda vertente explicativa considera que o MR
possivelmente atue na redução das populações de algas folhosas, devido ao pisoteio
intensivo, presença de estruturas de apoio e tráfego constante de embarcações,
diminuindo a quantidade de algas do substrato (Giglio et al., 2016; Giglio et al, 2017).
A maior porcentagem de algas folhosas nas áreas de Baixo uso em comparação às de
Alto uso, pode ser explicada pela menor intensidade do MR nestas áreas somado à
atividade de alimentação artificial.
Nas áreas Controle, a abundância de algas filamentosas pode ser associada a
características de um recife saudável. Essas algas, altamente produtivas, são um
importante substrato de forrageio para herbívoros, onívoros e invertívoros (Longo et al.,
2014), e dão suporte à uma grande parte da produção secundária nos recifes (Hatcher et
109
al, 1983; Carpenter, 1986; Moreira, 2012; Kramer et al., 2013). Giglio et al (2017)
observaram que a matriz de algas epífitas, que é composta principalmente por algas
filamentosas, foi um dos grupos biológicos mais afetado pelos danos de ancoragens.
Apesar do presente estudo ter sido conduzido em uma área onde não ocorre ancoragem,
pois há poitas instaladas, outros danos abrasivos (ex. como cordas e correntes que
seguram os flutuantes e toques e pisoteio por mergulhadores) podem estar causando a
redução desse tipo de algas nas áreas turísticas.
Esperava-se encontrar maior cobertura de corais moles nas áreas impactadas,
contudo, os presentes resultados exibiram um padrão contrário, com mais coral mole
nas áreas Controle. Recifes submetidos a estresses antrópicos intensos podem exibir
mudança de fase para um recife dominado por corais moles (zoantídeos) (Cruz et al.,
2015; Cruz et al., 2016; Lima, 2016). No entanto, as áreas Controle estudadas, apesar de
próximas às áreas turísticas (cerca de 100 metros de distância), não estão submetidas a
nenhum impacto direto. Consideram-se duas hipóteses, que a maior cobertura de corais
moles represente um efeito secundário e indireto dos impactos do MR nas áreas de
entorno, ou este cenário represente um padrão normal de distribuição destes
invertebrados para o recife em questão. Tais considerações necessitam de confirmação
por meio de pesquisas específicas.
O índice de vulnerabilidade biológica (IVB) é geralmente utilizado para
caracterizar áreas recifais e indicar as menos vulneráveis para o uso turístico (Lloret et
al., 2006). Nesse estudo observou-se que ele pode ser usado ainda como um indicador
do impacto da atividade de mergulho recreativo. A redução do IVB é associada a menor
representatividade de grupos funcionais que conferem mais peso ao índice, que no caso
foram “coral duro” e “coral mole”, grupos com menor representatividade nas áreas de
visitação, em virtude do impacto do MR.
Sobre a comunidade coralínea, sabe-se que os corais exercem papel chave em
ecossistemas recifais ao promover o aumento da complexidade estrutural e de refúgios
para seres marinhos (Paulay, 1997). A redução na diversidade, abundância e saúde dos
corais é um dos principais indicadores de impacto do MR em todo mundo (Hawkins et
al 1992; Dixon et al., 1993; Hawkins et al., 1999; Tratalos & Austin, 2001; Rouphael &
Inglis, 2002; Haster & Ott, 2008), entretanto, nossos resultados apontam que a riqueza e
saúde dos corais não são afetados pelos impactos do MR no recife estudado.
Essa questão pode ser explicada pelas características naturais dos recifes
brasileiros, que possuem baixa cobertura coralínea, com predominância da espécie
110
Siderastrea stellata (Leão et al, 2003), que por ser resistente a estresses ambientais
(Poggio, 2007), pode não apresentar variações em sua abundância ou estado de saúde
quando expostas ao estresse provocado pelo MR (Torres, 2016).
No entanto, discute-se a maior densidade de colônias de Favia gravida nas áreas
Controle, em uma relação clara de redução com o aumento do nível de uso turístico do
recife. Apesar dessa espécie também apresentar uma certa resistência ao estresse
ambiental (Segal & Castro, 2000; Leão et al., 2003), no presente trabalho F. gravida
aparece como um importante indicador do impacto do MR.
Com relação a megafauna de invertebrados, apesar da análise estatística não ter
detectado diferenças entre as áreas de alto uso, baixo uso e controle, nota-se que os
ouriços são mais abundantes nas áreas turísticas e os gastrópodes nas áreas controle.
Densidades elevadas de ouriços são relatadas em locais onde a pesca é intensa (Hay &
Taylor, 1985; McClanahan et al, 1994; McClanahan et al., 1996; Costa, 2013). No
presente estudo, a redução de peixes herbívoros nas áreas de Alto uso, provavelmente
relacionada a sensibilização aos mergulhadores (Di Franco et al., 2013; Geffroy et al.,
2015; Titus et al., 2015), pode ter influenciado o aumento da abundância de ouriços, a
partir dos mesmos mecanismos de situações onde a ictiofauna é sobre-explorada. Além
disso, a disponibilidade de alimento nas áreas turísticas, oriunda da alimentação
suplementar, talvez alivie a pressão de predação dos peixes sobre os ouriços. Em ambos
os casos, há o favorecimento da população deste equinodermo.
Um estudo realizado em outro recife da costa do Brasil (Tamandaré), indica que
a distribuição de ouriços da espécie E. lucunter é influenciada pelas interações
ecológicas de predação e competição (Kilpp, 1997). Ouriços são predados
principalmente por peixes da família Lutjanidae, Balistidae, Labridae e Diodontidae,
além de lagostas (McClanahan & Muthiga, 2007) e um dos competidores potenciais
deste equinodermo é Scarus trispinosus (Costa, 2013), o que reforça o argumento
exposto. Nossos resultados indicam que o MR pode causar impactos na abundância e
distribuição de E. lucunter semelhantes aos impactos causados pela pesca.
A distribuição de gastrópodes, e de moluscos em geral, apresenta relação com
variações ambientais e tipo de fundo (Augustin et al., 1999) e a abundância da
malacofauna do recife de Maracajaú foi relacionada à presença de corais duros, algas
folhosas e zoantídeos (Martinez et al, 2012). Assim, a maior ocorrência de gastrópodes
nas áreas sem visitação podem refletir as diferenças encontradas na cobertura do
substrato. Além disso, o pisoteio pode influenciar na distribuição dos invertebrados
111
bentônicos (Correia; Sovierzoski, 2008; Barboza, 2014), sendo um fator adicional à
menor ocorrência de gastrópodes nas áreas turísticas.
As diferenças observadas na ictiofauna, especialmente nas áreas de alto uso
foram relacionadas, principalmente à alimentação suplementar ofertada aos peixes. Esta
atividade humana, no recife estudado, consta basicamente de iscas de peixes pequenos,
favorecendo a dominância da espécie Haemulon aurolineatum. A elevada abundância
dessa espécie influenciou os resultados, isolando as áreas de alto uso na avaliação da
abundância total, tamanho dos indivíduos por área e no exame das categorias tróficas.
H. aurolineatum naturalmente forma cardumes que podem ser encontrados
especialmente em recifes mais profundos (Pereira et al, 2011). No entanto, na área de
estudo, o padrão de agregação, além da alimentação artificial, pode ter sido também
influenciado pela presença das plataformas flutuantes, as quais servem de abrigo para os
cardumes (Feitosa et al, 2002). Assim, a alimentação atuaria na atração dos peixes e a
“proteção” dos flutuantes na manutenção dos cardumes mesmo na ausência de turistas.
Outras duas espécies favorecidas pelo turismo no recife foram Abudefduf
saxatilis e Ocyurus chrysurus, com ocorrência relacionada à alimentação suplementar.
Outros recifes do nordeste do Brasil, onde os turistas ofertam pão e ração para peixes, a
espécie dominante é A. saxatilis (Medeiros et al, 2007; Feitosa et al, 2012) e assim,
destaca-se que o tipo de alimento ofertado aos peixes pode moldar um padrão de
dominância (Ilarri et al, 2008). Uma série de problemas que a alimentação suplementar
de peixes pode promover são: habituação e sensibilização das espécies, aumento do
risco de predação, problemas de saúde nos peixes (úlceras, lesões), aumento da
agressividade inter e intraespecífica, propagação de doenças e aumento da abundância
de peixes (Bessa et al 2017).
Dois destaques de espécies que possivelmente tiveram suas populações
reduzidas nas áreas turísticas em virtude do MR foram Stegastes fuscus e o grupo de
Sparisoma jovens. A seguir apresentam-se algumas possibilidades para o entendimento
deste cenário: (1) Esses peixes podem estar perdendo a competição, por espaço, com
peixes atraídos e favorecidos pela alimentação suplementar; (2) as agregações de peixes
podem promover um aumento da pressão predação de recrutas desses peixes (como
descrito para outras espécies, Millazo et al, 2006); e (3) as modificações na composição
do substrato encontradas podem estar influenciando na distribuição destes pequenos
peixes herbívoros (ex. maior ocorrência de algas filamentosas na área controle). Tais
112
fatores podem estar influenciando na menor ocorrência geral de herbívoros observada
nas áreas turísticas, provocando efeitos secundários já descritos.
Um outro aspecto importante foi o maior número de carnívoros nas áreas de alto
uso. Vários estudos documentaram que a agregação de peixes causada pela alimentação
suplementar atrai também peixes carnívoros (Perrine, 1989; Hawkins et al., 1999;
Milazzo et al., 2005). No local de estudos os principais carnívoros observados foram
Ocyurus chrysurus, Carangoides bartholomaei, Lutjanus synagris e Strongylura
timucu, espécies que também possuem importância pesqueira (Carvalho-Filho, 1999).
Embora a pesca seja proibida nas áreas turísticas, sabe-se que a captura de peixes e
polvos é realizada no local, o que desdobra este resultado em uma outra discussão: a
atração e habituação dessas espécies poderia facilitar sua captura por pescadores ilegais
nessa área (Geffroy et al., 2015).
De modo geral, nota-se que o MR associado à atividade de alimentação de
peixes, ocasiona a dominância de uma espécie e, consequentemente, reduz a diversidade
e equitabilidade. Apesar de todas as diferenças encontradas, as análises multivariadas,
não identificaram tendências estatísticas significativas. Este resultado pode ter sido
influenciado pela semelhança da riqueza de espécies das áreas estudadas, com espécies
raras tanto nas áreas turísticas de alto e baixo uso, quanto nas áreas controle (Medeiros
et al, 2007; Ilarri et al, 2008).
Avaliando a série de impactos relatados no presente estudo, pode-se afirmar que
as alterações provocadas pelo mergulho recreativo no recife são complexas e podem
desencadear efeitos em cascata que se desdobram na modificação da estrutura da
comunidade como um todo. No entanto, é importante mencionar que as modificações
mais profundas se restringem a alguns metros no entorno do ponto de mergulho, uma
vez que as áreas Controle utilizadas distam pouco mais de 100 metros das áreas
turísticas e exibiram padrões diferentes das áreas impactadas, de acordo com as
variáveis mensuradas.
Indica-se a necessidade de direcionar maiores esforços em pesquisas para
compreensão de como o impacto do MR se propaga espacialmente, assim como seus
possíveis efeitos secundários que podem atingir todo corpo recifal. Além disso, é
importante compreender um limite aceitável do valor do índice de vulnerabilidade
biológica em áreas de uso turístico e entender quais ações específicas do MR estão
influenciando na redução do coral F. gravida, para utilização das duas variáveis como
indicadoras de impacto.
113
Considerando-se o crescimento do mergulho recreativo (Spalding et al., 2017), a
crise ambiental que afeta os ambientes recifais de todo o planeta e a possibilidade de
alterações drásticas nesses ecossistemas nas próximas décadas (Hughes, 2017), a análise
integrada de variáveis biológicas para os impactos do MR é fundamental para observar
tendências que possam ser refletidas em ações de manejo preventivo à um dano
irreversível.
Sugestões para o manejo do Mergulho Recreativo:
O mergulho recreativo desordenado, intensivo e expansivo tem potencial de
causar uma nítida modificação na estrutura da comunidade recifal que pode desencadear
degradações irreversíveis ao ecossistema. Entretanto, quando realizado de forma
planejada e com manejo adequado, seu impacto pode ser espacialmente limitado e
reduzido, mantendo os benefícios socioeconômicos. Para que isso seja possível é
essencial que algumas práticas sejam banidas e outras incentivadas.
Deve-se desenvolver um projeto de educação ambiental (EA) eficaz e
transformador (Pedrini, 2010; Pedrini et al., 2015), a fim de envolver turistas e,
principalmente, os profissionais de mergulho, utilizando metodologias diversificadas
que valorizem o conhecimento ecológico local das pessoas. Profissionais conscientes,
na área profissional de mergulho, tem o poder de minimizar drasticamente todas as
ações danosas oriundas da atividade turística. Podem intervir junto ao mergulhador e
evitar que este cause danos por meio do pisoteio e toque no substrato (Camp & Fraser,
2012); podem ser cuidadosos no tráfego das embarcações; não jogar produtos químicos
na água e ainda elaborar soluções para redução dos impactos (ex: definição de trilhas
subaquáticas educativas), uma vez que estão diariamente acompanhando as operações
de mergulho e a observando natureza. Para isso, são necessárias campanhas massivas de
EA que gerem o sentimento de dependência e pertencimento ao recife.
A alimentação de peixes recifais deve ser banida. Os benefícios
socioeconômicos continuarão existindo provenientes da própria experiência de
mergulho, que leva o visitante a interagir com o ambiente marinho como espectador. As
alterações na estrutura da comunidade causadas pela prática de alimentação suplementar
são notáveis e ainda não sabemos seus efeitos a longo prazo.
Sugere-se que a atividade de MR seja espacialmente restrita e que o número de
mergulhadores não ultrapasse a capacidade de suporte do ponto de mergulho, que deve
ser calculada e respeitada. A abertura e ampliação de pontos de mergulho deve ser
114
avaliada com cautela, analisando a vulnerabilidade biológica de cada área e a
possibilidade de instalação de trilhas subaquáticas. Além de ser um elemento diferencial
para o turismo local, as trilhas são uma eficiente ferramenta em Educação Ambiental
(Plathong et al., 2000; Berchez et al, 2005), podendo inclusive ser um eixo
transformador que atue propagando informações cientificas relevantes da área,
divulgando a conduta mais adequada que o turista deve ter no ambiente recifal e,
consequentemente, modificando o comportamento impactante que este poderia
apresentar (Pedrini et al, 2007).
O monitoramento sistemático e periódico é essencial para análise espacial e
temporal dos impactos do MR, e a definição de indicadores pode auxiliar gestores a
otimizar esse trabalho. Os resultados do presente estudo sugerem as seguintes variáveis
como indicadores do impacto do MR:
1) variação na cobertura de substrato,
2) índice de vulnerabilidade biológica,
3) densidade média do coral Favia gravida,
4) abundância de ouriços,
5) abundância de gastrópodes e
6) abundância das espécies de peixes invertívoros, herbívoros e carnívoros, que
no caso do presente estudo foram: Haemulon aurolineatum, Abudefduf saxatilis,
Stegastes fuscus, Sparisoma jovem e Ocyurus chrysurus.
Um dos desafios na pesquisa sobre o impacto do MR é, portanto, compreender o
nível de impacto turístico que uma área recifal pode sofrer sem perder sua
funcionalidade. Estudos com multi-indicadores em ambientes recifais devem ser
conduzidos de forma mais detalhada a fim de montar um conjunto de base de
indicadores e se definir limites de uso para o MR.
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123
APÊNDICE I – Resultados da Análise de Variância (ANOVA) para Corais
Tabela A – Análise de variância de dois fatores e teste de post-hoc de Tukey-Kramer para a abundância
de corais de acordo com os níveis de tratamento e Site. G. L – graus de liberdade, SQ – Soma dos
quadrados, MQ – Média dos quadrados, F-valor – Valor da estatística F, p-valor – valor de probabilidade
de significância.
G.L SQ MQ F-valor p-valor
Tratamento 2 1695 847.62 0.6153 0.5428
Site 6 8824 1470.69 1.0675 0.388
Resíduos 90 123991 1377.68
Tabela B - Análise de variância de dois fatores e teste de post-hoc de Tukey-Kramer para classes de
tamanho de colônias de acordo com os níveis de tratamento e Site. G. L – graus de liberdade, SQ – Soma
dos quadrados, MQ – Média dos quadrados, F-valor – Valor da estatística F, p-valor – valor de
probabilidade de significância, diferença – diferença de média, I.C. – Intervalor de confiança. C1 - < 5cm,
C2 – 6-10cm, C3 – 11-20cm, C4 - > 21cm.
G.L SQ MQ F-valor
p-
valor
Tratamento 2 26.5 13.24 1.2536
0.286
5
Classe colônia 3 2499 832.99 78.8455 <0.01
Tratamento vs. Colônia 6 33.4 5.57 0.5268 0.788
Resíduos 420 4437.2 10.56
Testes post-hoc (Classes de colônia)
Diferença I.C. 25% I.C. 75% p-valor ajustado
C2-C1 -2.77083 -3.91172 -1.62994 < 0.01
C3-C1 -5.31944 -6.46033 -4.17856 < 0.01
C4-C1 -6.15741 -7.2983 -5.01652 < 0.01
C3-C2 -2.54861 -3.6895 -1.40772 < 0.01
C4-C2 -3.38657 -4.52746 -2.24569 < 0.01
C4-C3 -0.83796 -1.97885 0.302926 0.23194
Tabela C - Análise de variância de dois fatores e teste de post-hoc de Tukey-Kramer para categorias de
saúde dos corais de acordo com os níveis de tratamento e Site. G. L – graus de liberdade, SQ – Soma dos
quadrados, MQ – Média dos quadrados, F-valor – Valor da estatística F, p-valor – valor de probabilidade
de significância, diferença – diferença de média, I.C. – Intervalor de confiança. DEAD – Morto,
BLEACH – Branqueada, HEAL – Saudável, SICK – Doente.
G.L SQ MQ F-valor p-valor
Tratamento 2 26.5 13.24 0.8462 0.42978
Classe colônia 3 4881.8 1627.26 103.9678 < 0.01
Tratamento vs. Classe de colônia 6 171.6 28.61 1.8278 0.09224
Resíduos 420 6573.7 15.65
Testes post-hoc (Categorias de saúde)
Diferença I.C. 25% I.C. 75% p-valor ajustado
DEAD-BLEAC -2.41435 -3.803 -1.02571 < 0.01
HEAL-BLEAC 6.275463 4.886817 7.664109 < 0.05
SICK-BLEAC -1.28472 -2.67337 0.103924 0.081266
HEAL-DEAD 8.689815 7.301169 10.07846 < 0.05
SICK-DEAD 1.12963 -0.25902 2.518275 0.155334
SICK-HEAL -7.56019 -8.94883 -6.17154 < 0.05
124
APÊNDICE II – Abundância relativa das espécies da megafauna de invertebrados.
Tabela D – Relação de táxons da megafauna de invertebrados e sua respectiva abundância relativa (%) entre as áreas de alto uso turístico, baixo uso e controle. Destaca-se o
filo animal do táxon, o nome comum e o grupo funcional que o táxon foi enquadrado (NA – não se aplica, IS – Invertebrado Séssil, IE – Invertebrado Errante, GAS –
Gastrópodes e OUR – Ouriços). Não foi quantificada a abundância de seres coloniais, apenas sua presença (P – Presente, A – Ausente).
Filo Táxon / Espécie Nome comum Grupo funcional PRESENÇA / AUSÊNCIA
Abundância RELATIVA (%)
Alto uso Baixo uso Controle
Porifera Ircinia sp.
Cliona varians Esponja IS 12,81 6,85 0,41
Amphimedon sp.
Cnidaria
Agaricia humilis Coral cérebro NA P P P
Favia gravida Coral cérebro NA P P P
Millepora alcicornis Coral de fogo NA P P P
Palythoa caribaeorum Coral baba de boi NA P P P
Porites astreiodes Coral cérebro NA P P P
Protopalythoa variabilis Coral mole NA P P P
Siderastrea stellata Coral cérebro NA P P P
Zoanthus spp. Coral mole NA A P A
Ordem Actiniaria Anêmona IS 0,00 0,34 0,00
Ctenophora Bolinopsis vitrea Água viva IE 1,65 1,71 19,67
Annelida Hermodice sp Poliqueta de fogo IE 7,44 3,42 4,92
Ordem Canalipalpata Poliqueta tubícola IS 1,70 4,10 1,20
Mollusca - Cephalopoda Octopus insularis Polvo IE 0,41 0,34 1,23
Ordem Teuthida Lula IE 0,00 2,05 0,41
125
Cont. Tabela 1:
Filo Táxon / Espécie Nome comum Grupo funcional
PRESENÇA / AUSÊNCIA
Abundância RELATIVA (%)
Alto uso Baixo uso Controle
Mollusca – Gastropoda Aplysia dactilomela Lesma do mar IE 4,55 1,37 3,28
Mollusca – Gastropoda
Cassis tuberosa Caracol GAS
16,50 18,00 30,80
Macrocypraea zebra Caracol GAS
Cerithium sp. Caracol GAS
Columbella sp. Caracol GAS
Leucozonia sp. Caracol GAS
Thais sp. Caracol GAS
Arthropoda - Crustacea
Panulirus argus Lagosta vermelha IE 0,00 0,68 0,00
Panulirus laevicauda Lagosta verde IE 0,00 1,03 0,82
Stomatopoda Tamarutaca IE 0,41 0,34 0,41
Paguroidea Paguro IE 0,00 0,68 0,82
Calappa ocellata
Caranguejo IE 1,65 0,34 2,05 Platypodiella spectabilis
Mithraculus sp.
Echinodermata Echinometra lucunter Ouriço-preto OUR 52,9 56,85 34,02
Urochordata Ascidacea Ascídias IS 0,00 2,00 0,00
126
APÊNDICE III – Lista de espécies de peixes com suas respectivas abundâncias nas áreas com diferentes níveis de uso turístico.
Tabela E – Relação de espécies de peixes e sua respectiva abundância relativa (%) entre as áreas de alto uso turístico, baixo uso e controle.
Espécie Grupo trófico Alto uso Baixo uso Controle
N Abun. Rel (%) N Abun. Rel (%) N Abun. Rel (%)
Haemulon aurolineatum Cuvier, 1830 MIF 2568 54,98 1175 36,57 518 20,12
Stegastes fuscus (Cuvier, 1830) TERH 485 10,38 592 18,43 738 28,66
Abudefduf saxatilis (Linnaeus, 1758) OMN 287 6,14 162 5,04 66 2,56
Sparisoma jovem ROVH 197 4,22 295 9,18 311 12,08
Acanthurus chirurgus (Bloch, 1787) ROVH 180 3,85 137 4,26 211 8,19
Sparisoma axillare (Steindachner, 1878) ROVH 140 3,00 116 3,61 121 4,70
Sparisoma frondosum (Agassiz, 1831) ROVH 130 2,78 139 4,33 162 6,29
Ocyurus chrysurus (Bloch, 1791) CAR 92 1,97 11 0,34 7 0,27
Haemulidae jovem PLA 90 1,93 95 2,96 93 3,61
Sparisoma radians (Valenciennes, 1840) ROVH 87 1,86 69 2,15 26 1,01
Haemulon plumieri (Lacepède, 1801) MIF 70 1,50 49 1,53 24 0,93
Hemiramphus spp. OMN 48 1,03 14 0,44 0 0,00
Anisotremus virginicus (Linnaeus, 1758) MIF 28 0,60 49 1,53 43 1,67
Acanthurus coeruleus Bloch & Schneider, 1801 ROVH 26 0,56 28 0,87 13 0,50
Opisthonema oglinum (Lesueur, 1818) PIS 20 0,43 0 0,00 0 0,00
Scarus trispinosus Valenciennes, 1840 ROVH 19 0,41 41 1,28 63 2,45
Pseudupeneus maculatus (Bloch, 1793) MIF 18 0,39 7 0,22 4 0,16
Cephalopholis fulva (Linnaeus, 1758) CAR 18 0,39 10 0,31 12 0,47
Haemulon parra (Desmarest, 1823) MIF 17 0,36 30 0,93 25 0,97
Myripristis jacobus Cuvier, 1829 MIF 14 0,30 6 0,19 12 0,47
Holocentrus adscensionis (Osbeck, 1765) MIF 12 0,26 14 0,44 15 0,58
127
Continuação tabela E:
Espécie Grupo trófico Alto uso Baixo uso Controle
Acanthurus bahianus Castelnau, 1855 ROVH 11 0,24 10 0,31 7 0,27
Eucinostomus lefroyi (Goode, 1874) MIF 11 0,24 4 0,12 7 0,27
Carangoides bartholomaei (Cuvier, 1833) CAR 9 0,19 11 0,34 4 0,16
Epinephelus adscensionis (Osbeck, 1765) CAR 8 0,17 7 0,22 16 0,62
Anisotremus surinamensis (Bloch, 1791) MIF 8 0,17 9 0,28 10 0,39
Scarus zelindae Moura, Figueiredo & Sazima, 2001 ROVH 7 0,15 3 0,09 6 0,23
Ophioblennius trinitatis Miranda Ribeiro, 1919 TERH 7 0,15 13 0,40 5 0,19
Eucinostomus melanopterus (Bleeker, 1863) MIF 7 0,15 8 0,25 3 0,12
Chaetodon striatus Linnaeus, 1758 CAR 7 0,15 3 0,09 5 0,19
Sparisoma amplum (Ranzani, 1842) ROVH 6 0,13 6 0,19 8 0,31
Pareques acuminatus (Bloch & Schneider, 1801) MIF 6 0,13 5 0,16 0 0,00
Bothus ocellatus (Agassiz, 1831) PIS 5 0,11 0 0,00 0 0,00
Serranus flaviventris (Cuvier, 1829) MIF 5 0,11 2 0,06 5 0,19
Lutjanus synagris (Linnaeus, 1758) CAR 4 0,09 1 0,03 1 0,04
Stegastes variabilis (Castelnau, 1855) TERH 3 0,06 0 0,00 4 0,16
Coryphopterus glaucofraenum Gill, 1863 MIF 3 0,06 6 0,19 11 0,43
Alphestes afer (Bloch, 1793) MIF 3 0,06 2 0,06 1 0,04
Gymnothorax vicinus (Castelnau, 1855) CAR 2 0,04 2 0,06 0 0,00
Archosargus rhomboidalis (Linnaeus, 1758) SIF 2 0,04 4 0,12 1 0,04
Microspathodon chrysurus (Cuvier, 1830) TERH 2 0,04 0 0,00 0 0,00
Paralichthys sp. CAR 1 0,02 0 0,00 0 0,00
Muraena pavonina Richardson, 1845 MIF 1 0,02 2 0,06 0 0,00
Sphyraena picudilla Poey, 1860 PIS 1 0,02 2 0,06 0 0,00
128
Continuação tabela E:
Espécie Grupo trófico Alto uso Baixo uso Controle
Sphoeroides testudineus (Linnaeus, 1758) OMN 1 0,02 0 0,00 0 0,00
Scorpaena plumieri Bloch, 1789 CAR 1 0,02 0 0,00 0 0,00
Odontoscion dentex (Cuvier, 1830) MIF 1 0,02 64 1,99 1 0,04
Strongylura timucu (Walbaum, 1792) CAR 1 0,02 0 0,00 0 0,00
Ctenogobius saepepallens (Gilbert & Randall, 1968) MIF 1 0,02 0 0,00 1 0,04
Gymnothorax miliaris (Kaup, 1859) CAR 1 0,02 0 0,00 2 0,08
Labrisomus nuchipinnis (Quoy & Gaimard, 1824) MIF 0 0,00 1 0,03 0 0,00
Halichoeres brasiliensis (Bloch, 1791) MIF 0 0,00 1 0,03 3 0,12
Chaetodon ocellatus Bloch, 1787 SIF 0 0,00 1 0,03 0 0,00
Diodon holocanthus Linnaeus, 1758 MIF 0 0,00 2 0,06 0 0,00
Mulloidichthys martinicus (Cuvier, 1829) MIF 0 0,00 0 0,00 2 0,08
Myrichthys ocellatus (Lesueur, 1825) MIF 0 0,00 1 0,03 3 0,12
Pomacanthus paru (Bloch, 1787) OMN 0 0,00 1 0,03 1 0,04
Halichoeres poeyi (Steindachner, 1867) MIF 0 0,00 2 0,06 0 0,00
Mycteroperca bonaci (Poey, 1860) PIS 0 0,00 1 0,03 0 0,00
Sinodus spp. PIS 0 0,00 0 0,00 1 0,04
Gymnothorax moringa (Curvier, 1829) CAR 0 0,00 0 0,00 1 0,04
Lutjanus alexandrei Moura & Lindeman, 2007 CAR 0 0,00 0 0,00 1 0,04
Gramma brasiliensis Sazima, Gasparini & Moura, 1998 PLA 0 0,00 0 0,00 1 0,04
129
APÊNDICE IV – Abundância relativa por classe de tamanho da ictiofauna
Tabela F – Variação da abundância média por classe de tamanho dos peixes entre as áreas turísticas de
Alto uso, Baixo uso e Controle.
Abundância média Alto uso Baixo uso Controle
< 5cm 29,16 ± 31,53 26,97 ± 24,58 18,41 ± 13,02
6 - 10 cm 44,38 ± 31,73 30,28 ± 8,89 31,16 ± 7,9
11 - 20 cm 50,19 ± 42 26,61 ± 31,62 16,55 ± 9,43
21 - 30 cm 4,44 ± 3,81 3,44 ± 3,22 3,41 ± 3,79
31 - 40 cm 1,08 ± 1,76 1,11 ± 2,3 1,5 ± 3,81
> 40 cm 0,47 ± 1,12 0,83 ± 2,02 0,47 ± 0,88
130
Os impactos do mergulho recreativo como tema de um
projeto de Educação Ambiental
131
OS IMPACTOS DO MERGULHO RECREATIVO EM AMBIENTES RECIFAIS COMO TEMA
DE UM PROJETO DE EDUCAÇÂO AMBIENTAL
The impacts of recreational divers in reefs as a theme in an environmental education project
1 INTRODUÇÃO
Na tentativa de auxiliar a resolução das problemáticas socioambientais que o planeta enfrenta, a Educação Ambiental (EA) se mostra uma ferramenta eficaz (Dias, 2010). A EA almeja despertar sujeitos ecológicos críticos e ativos, que compreendam a dimensão global da crise ambiental e que busquem soluções simples e criativas para problemas locais. A base metodológica da EA é a interdisciplinaridade, buscando retirar o véu que separa seres humanos do meio ambiente e indicar que o caminho para solução da crise está centrado na relação humano-cultura-ambiente (Pedrini, 2007; Carvalho, 2012).
Dentre as diferentes formas de se trabalhar a EA, as diretrizes curriculares nacionais afirmam que ela deve ser tratada em todas as modalidades de ensino formal, de maneira interdisciplinar e transversal (Brasil, 2002). Uma das alternativas para o desenvolvimento de metodologias que atendam a essas diretrizes no contexto escolar é a aprendizagem através de projetos (Brasil, 1998). Esta é uma proposta alinhada com o atual processo de ensino-aprendizagem, que sugere novas estratégias adequadas a um currículo integrado, e que busca valorizar o contexto de várias disciplinas (Capra, 2003; Narcizo, 2009).
Apesar de serem considerados como potenciais solucionadores dos problemas socioambientais, na prática, diversos projetos de EA parecem “reinventar a roda”, em que os mesmos são elaborados, executados e finalizados, sem necessariamente passarem por uma avaliação de seus resultados. Podem-se destacar como principais dificuldades dos projetos de EA: (1) descontinuidade dos projetos; (2) desqualificação e desmotivação dos educadores (Dias, 2010); (3) frequente confusão do ensino de biologia/ecologia com EA e (4) limitação dos conteúdos nos recorrentes conceitos de poluição, desmatamento, camada de ozônio e reciclagem (Tanner, 1978; Pedrini, 2010; Pedrini et al., 2011). Os últimos problemas apontados foram amplamente difundidos no início do movimento de EA institucional no Brasil, reforçando a visão naturalista do meio ambiente e deixando de lado as relações existentes entre humanos/natureza e a possibilidade de resolução da crise socioambiental (Carvalho, 2012; Dias, 2010; Reigota, 1994).
A eficácia dos projetos de EA pode ser analisada de acordo com as mudanças comportamentais que provoca nas pessoas. Indica-se, portanto, afastar-se da “ingenuidade ambiental” e partir para uma educação questionadora, que estimule o aluno a pensar, refletir e ousar (Demo, 2003; Gadotti, 2005; Pedrini, 2006; Padua, 2001). Abordagens que tratam de medir a eficácia de projetos em EA vêm sendo testadas no Brasil desde o início da década de 1990 (Padua, 1991), e os resultados destes estudos mostram que a presença de áreas naturais dos ambientes informais é uma grande oportunidade de aprendizado. Além disso, a forma de trabalhar a EA não deve ser unicamente de um ambiente, sendo a combinação correta de EA formal e informal o segredo para se alcançar os resultados (Padua, 1997).
Considerando as dificuldades e os problemas supracitados na elaboração e execução de projetos de Educação Ambiental, o presente estudo utilizou uma temática socioambiental regional para trabalhar em uma pequena comunidade litorânea do nordeste brasileiro. Os impactos que o mergulho recreativo gera nas zonas recifais foi o tema explorado, questionando o uso de recursos naturais e sua relação com a comunidade como principal fonte de renda.
Partindo desse contexto, o projeto de EA teve uma abordagem metodológica diversificada, utilizando saberes locais dos participantes e seus familiares, vídeos, aulas expositivas, mapa conceitual, pesquisa como instrumento de ensino e vivência em ambientes recifais. Por fim, foi averiguada a eficácia do projeto com o uso de pré-testes e pós-testes.Este estudo de caso teve como meta gerar conhecimento científico sistematizado sobre metodologias eficazes em EA, contribuindo para que as transformações socioambientais
132
ocorram efetivamente no nosso meio, formando sujeitos ecológicos capazes de operar tais transformações (Carvalho, 2012).
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Área de Estudo
O desenvolvimento deste projeto de EA ocorreu na Escola Municipal Professor Esmerino Gomes localizada no distrito de Caraúbas, município de Maxaranguape – Rio Grande do Norte (RN), Brasil. O município de Maxaranguape está localizado no litoral oriental do Rio Grande do Norte a 54 quilômetros de distância da capital Natal (Figura 1). Em 2010, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população estimada município foi de 10.441 habitantes, sendo 3.889 habitantes da zona urbana e 6.552 habitantes na zona rural, com uma área territorial de 131,7 km2 (Silva, 2009).
Figura 1 - Localização do município de Maxaranguape e faixada da
escola alvo do estudo (Fonte: Jodson Almeida/UEAP)
A escola foi selecionada por se localizar nos limites de influência da Área de Proteção
Ambiental Estadual Marinha dos Recifes de Corais (APARC) e por grande parte dos familiares dos alunos atuarem direta ou indiretamente com atividades econômicas nos recifes da APARC, seja como pescadores ou como profissionais do turismo (IDEMA, 2012). Além disso, esta é a única escola da comunidade de Caraúbas e atende aproximadamente 240 alunos dos anos iniciais e finais do ensino fundamental (Figura 2). No turno matutino ocorrem as aulas do 1º ao 5º ano e no turno vespertino do 6º ao 9º ano. A infraestrutura da escola é precária, possuindo cinco salas de aula, uma cozinha e dois banheiros. Existe ainda uma única sala que é utilizada como sala dos professores, diretoria, secretaria e depósito de materiais.
133
Figura 2 - Turma-alvo das ações do projeto (Foto: Tássia Almeida).
Figura 3 - Escola Municipal Prof. Esmerino Gomes
(Foto: Tássia Almeida)
2.2 Coleta de dados
A pesquisa realizada foi quali-quantitativa a fim de obter uma compreensão e explicação mais ampla do tema estudado (Minayo, 1993). Optou-se por utilizar o estudo de caso em virtude da possibilidade de compreensão de um fenômeno que pode ser amplo, em um contexto específico (Yin, 2010).
Esse estudo de caso foi realizado no período de junho de 2014 a abril de 2016, através da realização e avaliação de um projeto de Educação Ambiental. O tema do projeto foi “os impactos do mergulho recreativo”. Esse tema permitiu a discussão de como os alunos e seus familiares se relacionam com o recife, bem como exigiu o exercício do pensamento crítico sobre o custo-benefício da atividade turística na área.
134
Os objetivos do projeto foram: 1) problematizar as formas de uso atuais do ambiente recifal, 2) promover um aumento do conhecimento dos alunos sobre esse ecossistema e 3) modificar a visão de como se relacionar com o mesmo, seguindo as diretrizes da campanha de "Conduta consciente em ambientes recifais" lançada pelo do Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2011).
A expectativa ao final do projeto era de despertar o interesse dos alunos para áreas de ciências do mar, através da valorização da região onde eles vivem, valorização do conhecimento dos próprios alunos e familiares e apresentar profissões ligadas com a formação acadêmica em ciências do mar.
A logística do projeto permitiu sua execução envolvendo no máximo 40 alunos, com 8 encontros. No primeiro encontro foi realizada a apresentação do projeto para a equipe pedagógica da escola e decidido foco de trabalho com o 7º ano, considerando o currículo dessa série como o mais adequado às questões que foram tratadas no projeto (seres vivos, pesquisa científica, história regional). Também se optou por esta turma por ser a maior da escola, com 35 alunos. Os encontros e metodologia executada são descritos a seguir:
Encontro 1: apresentação do projeto à equipe pedagógica da escola. Foram apresentados os motivos pelos quais a escola foi escolhida e a necessidade de discutir com os alunos as formas de uso do recife e sua importância ecológica, econômica e cultural.
Encontro 2: apresentação do projeto aos alunos e familiarização com o ambiente recifal. Antes do início do projeto foram realizadas entrevistas (pré-teste) com o intuito de avaliar previamente os conhecimentos e atitude dos alunos sobre os recifes. Após esse momento, ocorreu a apresentação da equipe do projeto e aula expositiva, com uso de Datashow, sobre os ambientes recifais, a importância dos recifes da APARC e seus diversos usos.
Encontro 3: foi realizada uma conversa informal entre os alunos-alvo do projeto e seus familiares, a fim de adquirir mais conhecimento sobre os recifes da APARC. Essa conversa foi sistematizada e as informações obtidas inseridas no encontro seguinte.
Encontro 4: foi construído um mapa conceitual reunindo as informações adquiridas com os familiares e adicionando o conhecimento científico, para compreender a história e a biodiversidade do recife.
Encontro 5: abordou-se o papel do biólogo marinho e a função de uma pesquisa científica. Foi apresentado um curta metragem sobre a vida de um cientista e discutiu-se como essa profissão pode se enquadrar com os interesses profissionais dos alunos.
Encontro 6: neste encontro ocorreu a vivência ao recife de Maracajaú, a principal área de visitação turística da APARC. Os alunos realizaram práticas científicas, aplicaram questionários com turistas e contabilizaram colônias de corais, a fim de compreender como se estima os impactos causados pela atividade turística.
Encontro 7: construção de um painel fotográfico e fechamento do projeto, após esse momento aplicou-se o segundo teste (pós-teste1), consistindo das mesmas questões abordadas no pré-teste.
Encontro 8: em 2016 houve o reencontro com os alunos, depois de 18 meses aplicou-se o segundo pós-teste (pós-teste2) com as mesmas questões anteriores e realizada uma entrevista sobre a percepção do projeto.
135
2.3 Testando a eficácia do projeto
Para se testar a eficácia do projeto foi utilizada a metodologia de planejamento/processo/produto, adaptado de Jacobson (1991). Foram utilizados recursos audiovisuais simples (data show, computador, mapas conceituais, fotografias) e a vivência na APA dos Recifes de Corais. Como produto de avaliação foi realizada uma entrevista sobre o tema desenvolvido. Esta entrevista foi aplicada três vezes: antes da execução do projeto de EA (pré-teste), outra logo após a realização do projeto (pós-teste 1) e, novamente, um ano e meio após a sua conclusão (pós-teste 2). Apesar de não ser um teste absoluto do grau de modificação que os alunos sofreram, a comparação entre médias das notas das entrevistas pré/pós-projeto permitiu obter uma percepção fiel do quanto os alunos assimilaram os temas que foram trabalhados.
A avaliação prévia dos conhecimentos e atitudes dos alunos sobre o tema ambientes recifais e impacto do mergulho recifal (pré-teste) foi realizada no segundo encontro na escola, com perguntas realizadas individualmente para os alunos da turma selecionada. A entrevista foi interativa, com uso de recursos digital, realizado em computadores levados pela equipe do projeto. As questões aplicadas eram abertas e fechadas, com 10 questões que envolviam conhecimentos prévios sobre o recife e 10 questões sobre postura e comportamento no ambiente marinho. Para cada questão respondida corretamente, o aluno recebeu um ponto, com a nota final podendo chegar a 20 pontos (Apêndice A).
As questões sobre a postura no ambiente marinho foram extraídas da campanha do MMA "Conduta consciente em ambientes recifais", que indica dez maneiras de nos comportarmos no ambiente recifal. As ilustrações da cartilha da campanha (MMA, 2011) foram utilizadas na entrevista, onde as mesmas eram exibidas e se questionava se aquele comportamento da imagem era correto ou errado.
No pós-teste 1 foi realizada a mesma entrevista do pré-teste. O pós-teste 2 foi realizado em abril de 2016 e também consistiu na aplicação da mesma entrevista. Além disso, no encontro de 2016 foi realizado um pequeno levantamento da percepção do projeto, para se compreender aspectos qualitativos da importância que o projeto exerceu nas vidas dos alunos.
Visando diminuir a possibilidade de não encontrar os alunos que foram entrevistados em 2014, foi criada uma lista com informações sobre suas famílias e outros contatos, como redes sociais, telefones e endereços de familiares. Esta lista foi utilizada para localizar alunos entrevistados em 2014 e que não estivessem mais na escola e realizar a entrevista.
Os dados das entrevistas foram tabulados e resumidos em tabelas e gráficos utilizando o programa Excel 2007 (Software, Inc. 2007), os valores apresentados consistem na pontuação média da turma por questão.
As médias da pontuação da turma nos momentos: pré-teste, pós-teste 1 e pós-teste 2 foram submetidas ao teste de normalidade de Shapiro-Wilk. Uma vez constatada a normalidade dos dados foi realizada uma comparação das médias através de uma análise de variância (ANOVA). Todos os testes estatísticos foram realizados no programa Past versão 2.17 (Hammer et al., 2001).
3 RESULTADOS
3.1 Perfil dos participantes:
Dos 35 alunos participantes da pesquisa, a proporção de gênero foi semelhante, com idade média dos participantes de 13 anos (em 2014), a maioria nasceu em Natal (80%) e aproximadamente 77% dos alunos residem de 9 a 15 anos na localidade (Tabela 1).
136
Tabela 1- Perfil dos participantes do projeto de Educação Ambiental
N TOTAL =35 CATEGORIAS N %
SEXO MASCULINO 17 49
FEMININO 18 51
IDADE
12 ANOS 11 31,4
13 ANOS 16 45,7
14 ANOS 3 8,6
15 ANOS 5 14,3
NATURALIDADE
NATAL 28 80
MAXARANGUAPE 3 8,6
OUTROS MUNÍCIPIOS 3 8,6
OUTRO ESTADO 1 2,9
TEMPO DE RESIDÊNCIA EM
CARAÚBAS
10 - 15 ANOS 27 77,1
5 - 9 ANOS 1 2,8
1 - 4 ANOS 7 20
3.2 A eficácia do projeto de EA:
O conhecimento dos alunos sobre o tema discutido aumentou após a realização do projeto. As questões mais acertadas foram referentes à visita ao recife, o conceito de APA, o entendimento de que o recife de Maracajaú faz parte de uma APA e a função de um biólogo. Não houve redução na pontuação média entre as questões após a execução do projeto (Tabela 2).
Tabela 2-Variação da pontuação média por questão de conhecimento sobre ambientes recifais
entre o pré-teste, pós-teste 1 (2014) e pós-teste 2 (2016) e desvio padrão.
QUESTÃO Média pré-teste
± DP
Média pós-teste 2014
± DP
Média pós-teste 2016
± DP
1. O que é isso? (Foto do recife de Maracajaú) 0,8 ± 0,38 1 ± 0,00 1 ± 0,00
2. Você já visitou esse lugar? 0,3 ± 0,48 0,7 ± 0,46 0,71 ± 0,45
3. Escolha cinco animais que moram nos recifes (Fotos de vários animais, que pertenciam ou não ao ambiente marinho)
0,8 ± 0,16 0,98 ± 0,05 0,95 ± 0,09
4. Você acha que o recife é importante? Por quê?
0,8 ± 0,20 0,91 ± 0,18 0,92 ± 0,18
5. O que é uma Área de Proteção Ambiental? 0,4 ± 0,50 0,7 ± 0,46 0,75 ± 0,43
6. O recife de Maracajaú faz parte de uma APA?
0,3 ± 0,49 1 ± 0,00 1 ± 0,00
7. O que um biólogo faz? 0,4 ± 0,50 0,79 ± 0,46 0,81 ± 0,39
8. O que é uma pesquisa? 0,9 ± 0,28 0,7 ± 0,46 0,9 ± 0,29
9. Para que serve uma pesquisa? 0,8 ± 0,36 0,8 ± 0,4 0,9 ± 0,29
10. Diga o nome desses animais? (Fotos dos animais marinhos) 0,7 ± 0,19 0,81 ± 0,14 0,77 ± 0,17
137
A segunda etapa da entrevista, que se baseou na campanha de conduta consciente nos ambientes recifais, versou sobre o entendimento de atitudes certas ou erradas que poderiam ocorrer em ambientes recifais, utilizando como exemplo os recifes de Maracajaú.
Aqui, o principal aumento se deu na visão benefício/malefício que a atitude de alimentar os animais poderia causar. Essa questão apresentou o maior aumento de médias (Tabela 3).
Tabela 3-Variação da pontuação média por questão de postura e comportamento em ambientes recifais entre o pré-teste, pós-teste 1 (2014) e pós-teste 2 (2016) e desvio padrão. Os alunos deveriam responder se a atitude da ilustração era correta ou errada. Questões baseadas na campanha “Conduta consciente nos ambientes recifais”.
QUESTÃO (Ilustrações com exemplos da ação)
Média pré-teste ± DP
Média pós-teste 2014
± DP
Média pós-teste 2016
± DP
11. Tocar nos animais? 0,8 ± 0,32 0,93 ± 0,25 0,96 ±0,17
12. Juntar o lixo? 1 ± 0,00 1 ± 0,00 1 ± 0,00
13. Alimentar os animais? 0,3 ± 0,49 0,86 ± 0,34 0,84 ± 0,36
14. Pisar no recife? 0,8 ± 0,38 1 ± 0,00 0,96 ± 0,17
15. Levar conchas e animais para casa?
0,9 ± 0,24 1 ± 0,00 0,9 ± 0,29
16. Nadar muito rápido? 0,9 ± 0,28 0,96 ± 0,18 1 ± 0,00
17. Prestar atenção nas palavras dos profissionais?
1 ± 0,00 1 ± 0,00 1 ± 0,00
18. Levantar areia ao nadar? 0,9 ± 0,17 1 ± 0,00 0,96 ± 0,17
19. Levar do recife apenas fotos 1 ± 0,00 1 ± 0,00 0,93 ±0,24
20. Procurar saber as regras da área que você está visitando?
1 ± 0,00 1 ± 0,00 1 ± 0,00
Uma vez somados os valores, a pontuação média total da turma cresceu significativamente entre os eventos analisados (ANOVA p<0,01; F=20,8), com a média se elevando de 15,53 pontos no pré-teste, para 18,17 no pós-teste1 (logo após o projeto) e 18,34 no pós-teste 2, um ano e meio após a conclusão do projeto de EA. Não houve diferença significativa entre os pós-testes de 2014 e 2016 (Figura 4).
Figura 4 - Pontuação média total da turma antes da realização do projeto,
logo após a execução do projeto de EA e um ano e meio depois.
138
A percepção dos alunos sobre a eficácia do projeto foi positiva. Em 2016, durante a aplicação do segundo pós-teste, 93% dos alunos recordaram imediatamente do projeto de EA que foi desenvolvido na escola. Para a maioria deles, a etapa mais importante do projeto foi a visita ao recife (50%). Quase 80% deles mencionaram que o projeto foi importante para sua vida, citando aquisição de conhecimento (53%) e a modificação de suas atitudes (34%) como os principais aspectos de sua vida que foram alterados devido o contato com o projeto. Para 84% dos alunos o objetivo do projeto foi alcançado, e 60% considerou que projetos de EA desenvolvidos na escola, incluindo o presente, foram os que mais marcaram suas vidas até o momento.
4 DISCUSSÃO
Utilizar “os impactos do mergulho recreativo” como tema de projeto de educação ambiental (EA) despertou o interesse dos alunos em conhecer e vivenciar na prática as ciências do mar. O tema permitiu a discussão de como uma questão socioeconômica positiva, que gera emprego e renda com a atividade turística, pode ser também negativa e comprometer o futuro dos próprios alunos.
Para a comunidade em questão, o turismo ao recife é uma atividade tão cotidiana que a reflexão sobre seus impactos ambientais e consequências na vida dos alunos é, muitas vezes negligenciada. Desenvolver a habilidade da observação, identificação de um problema e como resolver o mesmo é um desafio na formação de cidadãos críticos, ativos e com capacidade transformadora (Demo, 2003; Pedrini et al., 2015), e este início de processo foi observado com o projeto.
O perfil dos participantes do projeto de EA foi de adolescentes de baixa renda, em sua maioria não repetentes do 7º ano e residentes por toda sua vida na localidade de Caraúbas. Apesar de na entrevista não se tratado a renda mensal familiar sabe-se que todos os alunos em questão são de famílias com baixa renda pois os poucos moradores com renda mais elevada levam seus filhos para estudarem na capital em escolas particulares. Os estudantes que participaram do projeto de EA pertenciam, na sua maioria, a classe média baixa e alguns no grupo de extrema pobreza (Kamakura e Mazzon, 2013), como o caso de quatro alunos residentes em um assentamento rural próximo ao distrito (observação pessoal).
De maneira geral, os alunos possuíam conhecimento inicial considerável sobre os assuntos abordados, conseguindo explicar os conceitos abordados no projeto. O fato de serem empregadas entrevistas com uso de ferramentas digitais e com imagens locais, pode ter colaborado para as médias obtidas no pré-teste. Vasconcellos-Guedes e Guedes (2007) apontam as vantagens do uso de entrevistas no controle da amostra, na quantidade de dados possíveis de serem coletados, no índice de respostas e na confiabilidade dos dados. Além disso, o elevado conhecimento empírico dos alunos sobre os temas analisados era esperado, uma vez que os mesmos têm contato direto com animais marinhos advindos da pesca e turismo, além do recife de Maracajaú ser alvo constante de discussões na comunidade (Tribuna do Norte, 2007; 2012).
O aumento das pontuações médias nas questões sobre visita ao recife, conceito de APA, entendimento que o recife de Maracajaú faz parte de uma APA e função de um biólogo, foi associado diretamente à realização do projeto de EA por serem questões muito específicas. Apesar de nem todos os alunos terem participado da atividade de vivência ao recife, os encontros em sala discutiram de forma lúdica conceitos de APA, biodiversidade e importância ecológica de ambientes recifais e o papel da pesquisa científica neste ecossistema. O desconhecimento de que sua localidade faz parte de uma Unidade de Conservação (UC) é algo comum no Brasil, principalmente onde a implementação dessas UCs ocorre de forma impositiva e sem discussão social abrangente (Gerhardinger et al., 2007; Lima e Cascon, 2008; Torres et al., 2009; Pedrini et al., 2013), como foi o caso da APARC.
O principal aumento da pontuação média nas questões de atitudes foi a inversão da percepção equivocada de que alimentar os animais era uma ação correta. O contato com a
139
campanha do MMA de "Conduta consciente dos ambientes recifais" foi esclarecedor para associar o bem-estar recifal à menor interferência possível de visitantes aos recifes. Os principais efeitos da ação da alimentação de animais silvestres por turistas incluem alterações dos padrões ecológicos e comportamentais das populações, dependência e habituação, aumento da agressividade e aumento na taxa de doenças e injúrias nos animais (Orams, 2002).
A manutenção das respostas corretas após 18 meses da finalização do projeto indica a eficácia do mesmo segundo os parâmetros analisados nas entrevistas. Parte da eficácia de projetos de EA deve-se à associação de ações em ambientes formais e informais (Padua ,1997), como foi o caso do presente trabalho que realizou vivência com mergulho livre e aplicação de técnicas de coleta de dados científicos. Além disso, as visitas às residências de alunos e valorização do conhecimento local na construção dos temas trabalhados auxiliou na sua eficácia, uma vez que esta ferramenta é mencionada como sendo importante em abordagens de trabalhos etnocientíficos (Costa-Neto e Marques, 2001; Diegues, 2001; Begossi, 2008). Deve-se considerar também que o tema abordado no projeto trata de uma problemática presente no cotidiano destes alunos, o que influenciou nos resultados, pois trabalhar com assuntos longe da realidade do aluno pode não causar tanto impacto na vida dele quanto um tema próximo de sua vivência (Freire, 1996).
Durante a execução do projeto e nas entrevistas de percepção foi constatada a existência de outros projetos que ocorreram na escola, dentre eles: uma visita ao Rio Potengi, um projeto sobre dengue executado pelos próprios alunos e projetos esportivos e culturais. Todos esses foram citados como importantes na vida dos alunos, o que indica a relevância dos mesmos na vida dos participantes. Aqui levanta-se a questão se a eficácia do projeto de EA pode estar relacionada a fatores socioeconômicos como renda e a estrutura da escola-alvo do projeto. Será que se o mesmo projeto tivesse sido aplicado em uma escola em que uma gama de ações ocorre frequentemente, para alunos com melhores condições financeiras, a experiência teria sido tão intensa de forma que transformações efetivas pudessem ser mantidas ao longo do tempo?
Outro fator decisivo na compreensão dos resultados apresentados é com relação à forma de medir a eficácia do projeto de EA. Apesar de compreender as limitações do método e que uma entrevista sobre conhecimentos e atitudes pontuais não seja um fator definitivo na transformação social dos participantes, foram registradas mudanças na concepção dos alunos sobre conceitos trabalhados no projeto, atingindo um dos objetivos esperados que foi despertar o interesse dos alunos em ciências do mar, evidenciando questões sobre a conservação recifal. As possíveis transformações sociais poderão ocorrer a longo prazo, com alunos que possam enveredar nos caminhos científicos e atuar na sua própria localidade. Dois alunos descreveram vontade em cursar ciências biológicas e que, após a realização do projeto, iniciaram um trabalho voluntário com um recém-fundado grupo de proteção às tartarugas marinhas na comunidade.
A deficiência na presente pesquisa realizada foi a falta de um grupo controle para elucidar se apenas o projeto de EA contribuiu para a manutenção dos resultados do pós-teste 2 ou houve outro fator influente. A inclusão de um grupo controle permite inferir de maneira mais precisa e acurada as questões relativas à eficácia de um projeto (Padua, 1997). No entanto, em 2016 foi questionado aos alunos participantes do projeto de EA, se outras ações ou campanhas sobre a APA ocorreram durante o período intervalar à pesquisa e a resposta foi negativa. A partir dessas informações e de observações diretas ao longo do tempo na escola, credita-se ao projeto de EA o principal responsável pelas mudanças nas médias de acertos das respostas dos alunos.
A principal contribuição do presente artigo é elucidar que para a eficácia de projetos de EA deve-se considerar fatores como a realidade social em que as pessoas estão inseridas, condição socioeconômica de um determinado grupo, metodologias utilizadas e continuidade do projeto. A abordagem trabalhada neste projeto pode ser ampliada, por meio de projetos comparativos, e avaliações de resultados buscando estabelecer um modelo de projeto em EA eficaz, com baixo custo e que possa ser replicado de forma sistemática na educação formal e não-formal.
140
Considerando a realidade social e econômica brasileira, com falta de investimentos em políticas voltadas à EA, encontra-se um cenário onde a teoria é muito discutida (Kawasaki e Carvalho, 2009) e a prática é realizada, ou por grupos sociais em ambientes não-formais de maneira pontual, ou em ambientes formais por professores pouco capacitados a desenvolverem projetos (Marsulo e Silva, 2005). A capacitação docente em EA é necessária e isto implica em dar-lhes os instrumentos mínimos para que sejam agentes de sua própria formação (Medina, 2001). Ainda sobre pontos essenciais no processo de capacitação do educador ambiental, destaca-se a estimulação do educador a acreditar na sua capacidade de atuação, contato com métodos e técnicas de EA que possam ser interpretados e apropriados para as práticas cotidianas, e fomentar a compreensão de que o educador ambiental atua como pesquisador visando a solução de problemas e incorporação de valores voltados à sustentabilidade (Sorrentino, 2001).
O Estado deve ter papel central na fomentação de melhoria de programas de EA, no qual a responsabilidade do processo recairia sobre os diversos setores sociais, atuando em conjunto pela implementação de uma EA real e transformadora, até que pequenas iniciativas pontuais que necessitem de poucos recursos, se tornem contínuas e amplas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo de caso apresentado indica que o projeto de Educação Ambiental com a
abordagem metodológica utilizada foi eficaz na promoção de transformações focadas no tema trabalhado. Esta eficácia pode estar relacionada com o contexto socioeconômico e cultural que os alunos estão inseridos, visto que o tema abordado no projeto foi uma problemática local e de extrema importância econômica para a comunidade. Outro fator que pode ter se relacionado a essa eficácia, foi a baixa frequência de outros projetos na escola, que pode ter sido um fator decisivo na intensidade com que as questões trabalhadas no projeto marcassem a vida dos participantes.
Este estudo levanta a problemática da falta de investimentos em políticas que promovam projetos em EA e as implicações que este déficit causa na elevada frequência de projetos com limitações de recursos, muitas vezes associados a profissionais sem capacitação. Indica-se ainda o papel do Estado e dos setores sociais pela implementação de metodologias eficazes em EA.
Sugere-se o uso de metodologias que incluam os saberes locais dos sujeitos-alvo dos projetos de EA, bem como vivências em ambientes informais que possibilitem o estreitamento da relação de pertencimento à sua localidade. A partir deste trabalho espera-se que seja gerado conhecimento metodológico e sistemático na prática da EA, e que maiores números de projetos sejam observados e avaliados a fim de que se desenvolva um modelo eficiente e prático que opere efetivamente pelas transformações socioambientais que o planeta necessita.
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144
APÊNDICES
APÊNDICE A – Roteiro da entrevista do pré/pós-teste projeto de educação ambiental
ENTREVISTA - PRÉ/PÓS-TESTE PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Dados gerais:
ID: Nome: Idade:
Sexo: Local de nascimento:
Tempo de residência em Caraúbas:
1. O que é isso? (FOTOS DO RECIFE DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
MARINHA, CONHECIDO LOCALMENTE COMO PARRACHO* DE
MARACAJAÚ)
2. Você já visitou esse lugar?
3. Escolha 5 animais que moram no Parracho. (FOTO DE 10 ANIMAIS, 5
MARINHOS)
4. a) Você acha que o Parracho é importante?
b) Por quê?
5. O que uma Área de Proteção Ambiental?
6. O Parracho de Maracajaú faz parte de uma APA?
7. O que um biólogo faz?
8. O que é uma pesquisa?
9. Para que serve uma pesquisa?
10. Diga os nomes desses animais. (FOTOS DE DEZ ANIMAIS HABITANTES
DOS PARRACHOS)
*VEJA AS FIGURAS E DIGA SE A ATITUDE É CERTA OU ERRADA DE
SE FAZER QUANDO SE ESTIVER VISITANDO O PARRACHO:
11. Tocar nos animais
12. Juntar o lixo
13. Alimentar os animais
14. Pisar no recife
15. Levar conchas e animais pra casa
16. Nadar muito rápido
145
17. Prestar atenção nas palavras dos profissionais
18. Levantar areia ao nadar
19. Levar apenas fotos de recordação do recife
20. Procurar saber as regras da área que você está visitando
APÊNDICE B – Entrevista de percepção dos alunos
QUESTIONÁRIO DE PERCEPÇÃO DOS ALUNOS
1- Você lembra do projeto Biomar?
2- Qual a etapa do projeto você acha que foi mais importante?
3- Você acha que o projeto foi importante para a sua vida?
4- Se sim, cite um aspecto da sua vida que foi modificada pelo projeto?
5- O projeto Biomar teve como objetivo despertar em vocês o interesse por
ciências do mar, você acha que ele cumpriu com seu objetivo?
6- Qual atividade que ocorreu na sua vida que mais marcou você? Algum
projeto cultural, de educação ambiental, de dança...Qualquer um!
146
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho reúne informações e acrescenta dados que auxiliam na
compreensão de como o mergulho recreativo pode causar impactos nos ambientes
recifais tropicais do Brasil. As considerações apresentadas poderão auxiliar na gestão
integrada da atividade no Brasil e contribuem no entendimento de como estes impactos
agem em ambientes recifais com baixa cobertura coralínea.
Observou-se o crescimento ao longo do tempo de trabalhos científicos com o
tema, contudo ainda é necessário um maior número de estudos que identifiquem o perfil
dos mergulhadores e relacionem seu comportamento com possíveis danos gerados aos
ambientes recifais. Além disso, a análise da literatura indicou a carência de indicadores
próprios para os recifes do Brasil, que possuem carcateristicas peculiares. No
levantamento realizado notou-se o uso e a resposta de variáveis e grupos biológicos
diversos (em estudos diferentes), mas não se observou uma abordagem que analisasse
no mesmo estudo vários grupos biológicos de forma integrada.
O segundo e terceiro capítulo desta tese buscaram auxiliar a responder demandas
observadas no levantamento realizado no primeiro capítulo. As conclusões do segundo
capítulo são que, de maneira geral, os mergulhadores causam poucos impactos físicos
diretos aos recifes e isso pode estar associado a carcaterísticas do local de estudo e a
forma como a operação de mergulho é realizada na área. A avaliação da frequência de
toque com o perfil do mergulho e do mergulhador, identificou que scuba divers
provocam mais danos que snorkelers e que dentro do grupo de snorkelers homens
tocam mais o substrato recifal que mulheres. Destacou-se ainda a importância de
melhores preleções e da capacitação de profissionais de mergulho que podem atuar na
redução dos danos causados pelos mergulhadores.
Na terceira parte de trabalho é realizada uma análise integrada com diferentes
grupos biológicos e variáveis que podem responder aos impactos do mergulho
recreativo. A interpretação dos resultados obtidos foi que a atividade de mergulho
reacreativo pode provocar modificações profundas na comunidade recifal, contudo essas
alterações são espacialmente pontuais e com possibilidades de se estabelecer medidas
de manejo para redução desses danos.
A logística da operação de mergulho em áreas intensamente visitadas, causa:
danos causados pela alimentação de peixes, danos causados pelo tráfego de
embarcações, danos causados por estruturas fixas de apoio (ex. flutuantes e cordas de
147
apoio para o mergulho de cilindro), danos causados por mergulhadores (em menor
escala, ver capítulo 2) e danos causados por produtos químicos usados na limpeza e
manutenção das embarcações. Tais aspectos parecem atuar sobre a estrutura da
comunidade recifal como apresentado na Figura A. Essas alterações possivelmente
refletem o impacto direto do mergulho recreativo ou são causadas por desdobramentos
secundários, como por exemplo: a redução da cobertura de corais relacionada a maior
abundância de ouriços, que pode estar relacionada também à menor abundância de
peixes herbívoros.
Figura A- Esquema ilustrativo indicando os principais efeitos observados nas áreas submetidas ao
mergulho recreativo.
A finalização deste trabalho inclui o planejamento, execução e avaliação de um
projeto de educação ambiental cujo tema central foi os impactos do mergulho
recreativo. Concluiu-se que o uso de uma abordagem metodológica diversificada e
valorização do conhecimento ecológico local dos atores envolvidos no projeto foram
fundamentais para o sucesso do mesmo.
Assim, esta tese inicia sua construção com o levantamento de lacunas (capítulo
1), busca preencher parte dessas lacunas (capítulos 2 e 3) e procura soluções para
resolver um problema socioambiental utilizando princípios da educação ambiental como
norteadores (capítulo 4).
148
MINHAS ÚLTIMAS PALAVRAS
Finalizo minha tese com minhas primeiras palavras da defesa... e que assim seja, pois,
esse trabalho é inteiro o mais puro amor!!!!
“Antes de começar minha apresentação, queria me apresentar com um pequeno
protesto...
Eu protesto pelo direito de ter tempo!
Sou mulher, filha de uma mulher branca de família que veio de Vera Cruz (interior
daqui). Meu pai é filho de português com uma filha de índios. Sou cabocla. Parda. Sou
mãe de dois filhos que na pele são brancos, mas no sangue corre sangue de todas as
raças possíveis... (como bem disse Pedro Cardoso, outro dia).
Meu nome é Janaina. Tenho 33 anos e desde que entrei no jardim de infância aos 4
anos, só parei de estudar por 1 ano no nascimento de Théo e por 4 meses no nascimento
da Lua.
Hoje tenho 4 trabalhos, em cada um deles me esforço profundamente, mas parece que
nunca consigo atuar no nível ótimo em nenhum deles.... mas faço o que posso! Minha
família precisa da minha dedicação... Eu preciso!
No meu primeiro trabalho, que desprendo mais energia amorosa e pouco tempo (cerca
de 2 horas diárias), sou mãe. Não sou excelente como meus filhos mereciam. Na
verdade, às vezes, sou péssima! Théo insiste em dizer que sou a melhor mamãe do
mundo... Eu sei das minhas limitações!!! O que me falta na maternidade? Tempo!
No meu segundo trabalho sou doméstica/do lar. Trabalho em casa junto com meu
companheiro. Nós limpamos, lavamos, arrumamos, cozinhamos, varremos e tudo mais
que é necessário para uma casa se manter com o mínimo de higiene e energia...
Moramos longe da cidade e ter uma diarista implica em ter que levar e trazer a pessoa,
implica em gastar tempo... Não tenho muito tempo, sabe?
No meu terceiro trabalho sou professora. Trabalho em uma universidade estadual
classificada como uma das piores instituições públicas de ensino superior do Brasil. Lá
só não falta boa vontade e empenho... Falta muito... E sinto que não sou digna do posto
que ocupo... Sinto-me muito pouco capacitada para falar sobre ecologia geral... ou
educação ambiental... ou zoologia... ou mesmo paleontologia (que preciso ministrar...).
Ainda assim, me esforço para, pelo menos, atender dignamente as necessidades dos
alunos!!! O perfil dos meus alunos é de pessoas de classe baixa, que estudaram em
escolas públicas a vida inteira... Muitos são pais e mães. A maioria das mães....
solteiras...sem tempo... e buscado uma vida um pouco melhor! Queria poder ministrar
aulas super mega.... queria ter tempo de preparar as melhores aulas do mundo! Queria
poder transformar a realidade dos meus alunos! Sabe o que me falta? Tempo!
Meu quarto e último trabalho, na verdade não é trabalho.... veja que doidice... sou aluna
de pós-graduação. Estou trabalhando em uma pesquisa inédita no Brasil e contribuindo
para responder questões relevantes para o turismo de mergulho do Brasil... e veja... Não
149
é um trabalho oficial! Nesse trabalho depositei sonhos, esperanças e amor... Queria
tanto ter feito um trabalho melhor! Queria tanto ter estudado mais! Queria tanto poder
escrever de forma mais clara o que acredito! Me faltou.... Me desculpem! Mas me faltou
tempo!
Por isso, eu protesto!
Protesto pelo direito de ter menos obrigações. Pelo direito de ter mais tempo para mim.
Pelo direito do meu crescer individual.
Protesto por poder ter esse tempo e não prejudicar ninguém... nem meus filhos, nem
meus alunos, nem meu companheiro, nem o programa de ecologia (que pode perder
pontos, por defesas tardias....).
Protesto por relações mais gentis, mais acolhedoras, mais amorosas. Por relações reais e
que precisam de tempo!
Por isso, aqui, perante todos vocês, eu me comprometo!
Eu me comprometo a não me comprometer!
Prometo que ao terminar completamente este trabalho acadêmico, e submeter todos os
artigos possíveis, irei usar todo esse tempo economizado em mim mesma.
Prometo me organizar melhor e poder empregar uma pessoa, com condições justas e
dignas de trabalho para cuidar da minha casa, e usar todo esse tempo economizado em
mim mesma!
Prometo exercitar meu corpo, meu espírito e minha maternidade. Prometo melhorar
todas as minhas aulas. Prometo ter pelo menos 6 horas do meu dia só para ficar com
minha família... para fazer dever de casa juntos, andar de bicicleta no jardim, tomar
banho de chuva, pintar, cantar, desenhar, ler, assistir tv e me atualizar sobre o mundo do
jiu-jitsu, minecraft e da peppa...
Eu reforço uma promessa que fiz há quase um ano para minha linda mãe: Eu prometo,
de todo meu coração, Ser feliz todos os dias da minha vida!”