homens e caraguejos artigo

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Oliveira, Thiago Azevedo Sá de. O romance 'Homens e caranguejos' de Josué Castro: A contemporaneidade no tempo narrativo da memória. Brasiliana – Journal for Brazilian Studies. Vol. 3, n.1 (Jul. 2014). ISSN 2245-4373. 413 O romance 'Homens e caranguejos' de Josué Castro: A contemporaneidade no tempo narrativo da memória Thiago Azevedo Sá de Oliveira 1 O ‘marco-multidimensional’ do contemporâneo: as imagens simultâneas da narrativa “Banguê” “Claro canário canta o amarelo dos cajás. O canto ácido (o trino de ágata) corta a tarde e martiriza as cajazeiras com seus frutos de tempo. O tempo corrompido. E a ferrugem nos dentes das moendas lança um grito. As moendas revivem e seus dentes mordem (cana sobrevivente) a terra. O tempo corrompendo. E as lembranças reacesas nas fornalhas e revivas ruínas. Melões-de-são-caetano sobem a vertical tristeza dos boeiros. O tempo corrompido e corrompendo. O tempo antitempo renascendo.” (Garibaldi Otávio) 2 1 Mestrando em Estudos Literários pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Pará (UFPA). Bolsista CAPES. 2 Otávio, 2009, p. 16.

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Claro canário canta o amarelodos cajás. O canto ácido (o trinode ágata) corta a tarde e martiriza ascajazeiras com seus frutos de tempo.O tempo corrompido. E a ferrugemnos dentes das moendas lança um grito.As moendas revivem e seus dentesmordem (cana sobrevivente) a terra.O tempo corrompendo. E as lembrançasreacesas nas fornalhas e revivasruínas. Melões-de-são-caetano sobema vertical tristeza dos boeiros.O tempo corrompido e corrompendo.O tempo antitempo renascendo.”

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  • Oliveira, Thiago Azevedo S de. O romance 'Homens e caranguejos' de Josu Castro: A contemporaneidade no

    tempo narrativo da memria.

    Brasiliana Journal for Brazilian Studies. Vol. 3, n.1 (Jul. 2014). ISSN 2245-4373. 413

    O romance 'Homens e caranguejos' de Josu Castro: A contemporaneidade no tempo

    narrativo da memria

    Thiago Azevedo S de Oliveira1

    O marco-multidimensional do contemporneo: as imagens simultneas da narrativa

    Bangu

    Claro canrio canta o amarelo

    dos cajs. O canto cido (o trino

    de gata) corta a tarde e martiriza as

    cajazeiras com seus frutos de tempo.

    O tempo corrompido. E a ferrugem

    nos dentes das moendas lana um grito.

    As moendas revivem e seus dentes

    mordem (cana sobrevivente) a terra.

    O tempo corrompendo. E as lembranas

    reacesas nas fornalhas e revivas

    runas. Meles-de-so-caetano sobem

    a vertical tristeza dos boeiros.

    O tempo corrompido e corrompendo.

    O tempo antitempo renascendo.

    (Garibaldi Otvio) 2

    1 Mestrando em Estudos Literrios pelo Programa de Ps-Graduao em Letras da Universidade Federal do Par

    (UFPA). Bolsista CAPES.

    2 Otvio, 2009, p. 16.

  • Oliveira, Thiago Azevedo S de. O romance 'Homens e caranguejos' de Josu Castro: A contemporaneidade no

    tempo narrativo da memria.

    Brasiliana Journal for Brazilian Studies. Vol. 3, n.1 (Jul. 2014). ISSN 2245-4373. 414

    Na contemporaneidade, perodo s avessas cuja marca identitria se constitui no

    abalo das formas estveis de ao e de interpretao do homem no mundo, abre-se, com

    efeito, a ideia da brevidade e de fragmentao da memria como fissuras que

    incomodam e acomodam, ao menos momentaneamente, a configurao esttica do

    cronos. No entorno dos romances afinados com a dimenso transitria do real se dando

    e se esvaindo sempre novo no espao figurado da linguagem, o texto de Homens e

    caranguejos, escrito originalmente em francs, no ano de 1966, por Josu de Castro,

    durante o exlio em Paris e, traduzido no ano seguinte para o portugus, emerge na

    tentativa de dar conta da metfora que transforma o topos do mangue em elemento

    espcio-temporal simblico do devir.

    Ao desenvolver o enredo no argumento dramtico do sujeito excludo, margem

    do progresso da cidade, a trama josueniana convida os leitores reflexo sobre as fomes

    no saciadas de igualdade, de justia e de liberdade, encenadas nas provocaes e

    desejos do menino Joo Paulo. Escrita nos anos de chumbo do golpe militar brasileiro,

    a fico eleva transversalidade do artstico, o propsito de recompor, tais quais suas

    intenes, o mosaico figurado entre a histria e o imaginado, de vontade e de silncio,

    nos borres de lama, de onde trabalham e sonham os homens-caranguejos da Aldeia

    Teimosa (microcosmo do Recife).

    Repercutindo o que Zygmunt Bauman, em Modernidade lquida(2001)3, insinua

    como a dinmica de uma modernidade slida que tornada fluda para erigir uma

    transio, a modernidade lquida4, o romance, com a boca apontada para

    3Compatvel noo apresentada por Marx e Engels desde o sculo XIX por intermdio da frase Tudo que slido

    se desmancha no ar. Cf. Berman, 1986. 4Sobre a modernidade lquida, fluida, Bauman (2001, p. 13) atina: O que est acontecendo hoje , por assim dizer, uma redistribuio e realocao dos poderes do derretimento da modernidade. Primeiro, eles afetaram as instituies existentes, as molduras que circunscreviam o domnio das aes escolhas possveis, como em estamentos hereditrios com sua alocao por atribuio, sem chance de apelao. Configuraes, constelaes,

  • Oliveira, Thiago Azevedo S de. O romance 'Homens e caranguejos' de Josu Castro: A contemporaneidade no

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    Pernambuco e com os dentes afiados para o mundo, expande vicariamente o instvel

    de forma ldica, mltipla e refratora, onde os elementos estruturais do tempo e do

    espao se articulam, formando junto aos demais o todo lingustico, significativo e

    coerente da obra literria.

    Fraturando, a priori, as caractersticas da brevidade e da conciso da linguagem

    entre gneros distintos, isto , do conto O ciclo do caranguejo (1935)5 para o prefcio

    que articula os possveis insumos do romance Homens e Caranguejos (1967), esta

    composio escrita pelo autor pernambucano do mundo6, aqui tomada para apreciao

    crtica, empenha-se em mediar o espectro de imagens do tempo-espao sedimentadas no

    entorno de duas hipteses metodolgicas mais salientes: o olhar difuso e efmero do

    contemporneo, sobre o elemento fragmentado das memrias dos personagens, e a

    relao de interdependncia constituda na conceituao bakhtiniana do cronotopo.

    Ao compor a matria narrativa, espacialidade e temporalidade, signicamente

    unidas e em movimento, repercutem na obra josueniana um efeito sine qua non de

    deslocamento e de simultaneidade entre o real orgnico e biolgico do mangue em

    transformao e a fico do ser-no-mundo de metamorfose imaginada. Grard Genette

    em Discurso da Narrativa (1995, p. 34), aponta para o aspecto da anacronia, isto , de

    discordncia entre a ordem da histria e a da narrativa, corroborando para o

    padres de independncia e de interao, tudo isso foi posto a derreter no cadinho, para ser depois novamente

    moldado e refeito; essa foi a fase de quebrar a forma na histria da modernidade inerentemente transgressora, rompedora de fronteiras e capaz de tudo desmoronar. 5A fim de realar os traos que pem em lados opostos o conto e o romance, Cortzar compara-os,

    concomitantemente fotografia e ao cinema. Assim mensura o carter restrito no conto e focaliza o zoom no

    romance. Cf. Cortzar, 1993, p. 151-2.

    6De Josu de Castro e sua obra de escritor e cientista (...) ouvi falar, tanto em Paris como em Moscou, tanto em Viena e Berlim quanto em Pequim e Ulam Bator, cidade encravada nas montanhas da Monglia. Por toda a parte

    onde se l e o trabalho da inteligncia respeitado e amado. (Amado, 1958, p. 347-349).

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    pensamento da contemporaneidade s voltas com a imagem de celeridade, mutao e

    descompasso.

    Entre a terra e a gua, os homens e os bichos, sucedem e se antecipam ao nvel linear do

    discursivo, sobremaneira irritado pelo cruzamento de dilogos em tempos e espaos

    distintos da memria, discursos diretos e digresses da personagem e do narrador,

    encadeando uma focalizao temporal explicitamente traduzvel pelas lentes de zoom

    das narrativas cinematogrficas. O tempo lacunar e progressivo. Preenche um

    intervalo, pois aproxima, ao invs de distanciar, a vida da arte. Flagra-se o presente

    projetando o futuro, ciente de que o agora j se faz passado.

    Neste vazio aparente, o leitor, apoiado pelas concesses do narrador onisciente

    em terceira pessoa, toca os personagens do menino Joo Paulo, Cosme o paraltico,

    Z Lus, Padre Aristides, Seu Maneca, Negra Idalina, Mateus o vermelho, dentre

    outros. O narratrio recua e progride com as figuras narradas na Aldeia Teimosa, no

    Recife, no serto, na Amaznia e nos espaos rememorados ou imaginados no espao-

    tempo da conscincia interior, dividindo a impresso, tal pondera Abdala Jnior, de que

    essa(s) personagem(ns) estivesse(m) falando oralmente (1995, p. 58).

    Na minha arrogncia que me fazia sentir dono do mundo, eu nunca

    esperara ser derrubado pelo beribri, embora tivesse notcia que

    milhares de outros seringueiros tinham sido atacados dessa estranha

    doena que, naquela poca, ningum sabia o que era e que, hoje, se sabe

    ser uma doena da fome. (Castro, 1967, p. 65).7

    7 Discurso de rememorao do personagem Cosme o paraltico, No captulo IV De como o cho fugiu debaixo

    dos ps dos milionrios da borracha.

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    No terreno movedio e tangente do mangue, partem os fios do tempo cronolgico,

    acenando para o contexto instintivo de bilhes de famintos homens-caranguejo e, o

    rudo do tempo da narrao, enriquecido formalmente pela instabilidade deslocadora

    da memria. Supe-se realimentar de esperana a vida da humanidade, desatando-a do

    ostracismo natural e a pondo no universo igualmente humano do esttico. Procurando

    ver nas fomes de justia a liberdade das personagens, o romance expande o cenrio de

    opresses ticas e existenciais que parecem incorruptveis na cena real. Como adendo,

    Ricur refora que ...no temos nada melhor que a memria para significar que algo

    aconteceu, ocorreu, se passou antes que declarssemos nos lembrar dela (2007, p. 40).8

    O tempo nesse sentido ocupa a funo de sustentar os gestos de vergonha da

    fome, catstrofe capaz de silenciar como um tabu. Nesse sentido, Salgueiro, ecoa a

    impossibilidade radical de re-apresentao do vivido/sofrido (2012, p. 289), de narrar

    o que Estve esclarece como sendo pour le Brsilien est une honte nationale (1972,

    s/n). Desajeitado e lutando com as palavras, a personagem de Z Lus escava nas

    lembranas que preserva dos anos da grande seca de 1877, data cronolgica de uma das

    mais alarmantes tragdias vivenciada pela gente do nordeste brasileiro, aqui

    desdobrada no signo da diegese como um dos pontos de contato entre a factualidade e a

    imaginao:

    Histria de fome no histria que se conte comeou Z Lus ,

    s tristeza. Tristeza e vergonha. Histria feia. Mas, se vocs querem, eu

    conto assim mesmo. Conto a tristeza e a vergonha que a gente passou na

    8 Candido apud Bady (1985, p.18) acrescenta: A propsito, e para evitar equvocos, mencionemos um trecho de

    Sainte-Beuve, que parece exprimir exatamente as relaes entre o artista e o meio: O poeta no uma resultante, nem mesmo um simples foco refletor; possui o seu prprio espelho, a sua mnada individual e nica. Tem o seu

    ncleo e o seu rgo, atravs do qual tudo o que passa se transforma, porque ele combina e cria ao devolver

    realidade.

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    seca de 1877. [...] At ento, a gente vivia feliz no serto de Cabaceiras.

    (Castro, 1967, p. 72).

    Ajustada a meditao de Eric Auerbach sobre a fisionomia concedida ao tempo nas

    narrativas contemporneas, em Homens e caranguejos o tempo da narrao no

    empregado para o processo em si este reproduzido com bastante brevidade , mas

    para as interrupes (2002, p. 484). Os eventos da seca, do movimento migratrio das

    pessoas, do burburinho dos mocambos do Recife irrompem no tecido incompleto da

    fabulao como pontes de tenso.

    Dando acesso para que a narrativa apanhe os fatos de forma anloga ao que

    discute Eliana Calado, em estudo sobre a fico As pessoas dos livros (2000), de Fernanda

    Young, isto , como uma sequncia de acontecimentos prticos servindo de pretexto ao

    desencadeamento de pensamentos, lembranas e sensaes, que ocupam a maior parte

    do romance (2004, p.46), a obra escrita por Josu de Castro partilha do raciocnio atual

    que elege, no trao opaco da multiplicidade, uma das marcas indelveis que responde

    organizao do mundo de modo sinttico e indireto, j que hoje em dia no mais

    pensvel uma totalidade que no seja potencial, conjectural, multplice, resume

    Calvino (1990, p. 131).

    Cronotopia-mangue: alm do circuito do enunciado, o tempo-espao da enunciao

    Com a publicao dos ensaios remotos, compilados postumamente na coletnea de

    Questes de Literatura e de Esttica (1975), Mikhail Milkhilovitch Bakhtin (1895-1975),

    contempla seus direcionamentos acerca dos efeitos da indissociabilidadedas

    categoriastempo-espao. Na avaliao que processa, da atuao conjunta dos elementos

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    arquitetnicos e compositivos9 e, das vozes discursivas igualmente integradas na

    estrutura global do romance, o historiador da literatura e fillogo sovitico, desenvolve

    a construo do sujeito enquanto experincia viva da linguagem. Dela, o outro ressoa no

    dilogo com o eu.

    O quesito da enunciao, ponto-chave da filosofia bakhtiniana, concretiza no

    espao romanesco, uma perspectiva formal e uma viso de mundo, do sujeito que na

    linguagem toma conscincia de si. Bakhtin acresce, pela nomenclatura de cronotopo10

    situado na obra de Rabelais, a especulao estratgica da qual, o cronos e o topos

    cooperam dialogicamente, reorientando a discusso sobre literatura e sociedade o

    contexto exterior e a sua expresso reordenada no tecido discursivo.

    O autor esboa na experincia do cronotopo uma nova inferncia, a de que, no

    interior do gnero romanesco, ndices espaciais e temporais demarcam, ao menos por

    um instante, a dinmica que desenha a cronotopia como ferramenta aglutinadora do

    real (distinto da realidade descritivista dos textos realistas e naturalistas), linguagem

    enquanto ato, logo, ao.

    Ocorre a fuso dos indcios espaciais e temporais num todo

    compreensivo e concreto. [...] O tempo condensa-se, comprime-se, toma-

    se artisticamente visvel; o prprio espao intensifica-se, penetra no

    movimento do tempo, do enredo e da historia. (Bakhtin, 2010, p. 211).

    9 Na anlise do contedo corporal que sustenta a arte e a linguagem, Bakhtin identificou dois aspectos essenciais

    compreenso dos elementos estticos: as formas arquitetnicas e as composicionais. Se aquelas podem ser

    conhecidas como as peculiaridades que caracterizam o contedo e a temtica de uma obra, estas so sua prpria

    estrutura, o modo como ela se organiza atravs dos gneros e estilos. As arquitetnicas, para Bakhtin, so as que

    conduzem os valores do homem esttico, da natureza e dos fatos. J as composicionais, por sua vez, carregam em si

    a impresso artstica por meio da organizao de seu conjunto verbal (Melo, 2013, p. 49). 10

    O tempo se derrama no espao e flui por ele (Bakhtin, 2010, p. 350).

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    Preservando a relao de mo dupla que se assinala na referncia espacial e temporal da

    linguagem espacializada e temporalizada ficcionalmente, em Que a literatura? Sartre

    adverte que existe a palavra vivida e a palavra encontrada (1989, p. 19), encontrando o

    que Bakhtin sustenta-se no plano de uma ubiquidade social das palavras (1995, p. 41),

    uma formao que apoia o cronotopo no terreno hbrido e complementar do tico-

    esttico, em planos do passado-presente-futuro.

    Em Homens e caranguejos, a mudana que se d nos espaos alusivos a

    Pernambuco (serto, zona da mata, litoral) e Amaznia tempo histrico, para a faixa

    insular do mangue tempo em mutao, dialogicamente confere a cronotopia um dos

    papis de destaque na arquitetura formal e simblica deste romance.

    Como se extrasse das imagens do espao os planos da recordao e do avano do

    tempo, Bosi, em O ser e o tempo da poesia, localiza o lugar como um topos negativo [...]

    uma stira que no se compadece com as mazelas do presente (1977, p. 163). Alocam-

    se, sobretudo neste subsdio o mangue, o serto e Amaznia enquanto referenciais

    cronotpicos capazes de friccionar imagens alegricas oriundas das inventivas

    dimenses poltico-filosficas a que o romance insinua pela rememorao narrativa das

    personagens.

    [...] o menino via refletir, com uma nitidez impressionante, as imagens

    de seu prprio ser tomando conscincia do mundo. Joo Paulo,

    desencantado como se uma onda de tristeza sbita lhe afogasse a alma,

    suspira forte. E o ar que lhe entra agora pelas narinas j no aquele ar

    impregnado dos cheiros clidos e excitantes do serto cheiro de

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    transpirao do gado [...] O que agora sente um cheiro forte de lama

    podre, de terra morta em decomposio. (Castro, 1967, p. 44).

    O heri-menino reabrena narrativa presente do pai Z Luis e dos demais personagens, o

    ba de depauperamento e de silncio do passado, aqui transformando em mote de

    resistncia e de liberdade. Exala no romance um apelo centrfugo de esperana e de

    aventura. As memrias de outridade se deslocam do passado-presente, ofertando ao

    protagonista lampejos de libertao aparente morbidez do charco. As inmeras

    fabulaes das personagens, pelas quais distorcem seus dramas de origem, ocupam o

    mesmo brao do mar, o de fuga de suas fomes, fome de gua para Z Lus, Maria, Joo

    Paulo e o menino; de oportunidades para Cosme o paraltico, de justia e igualdade

    para Mateus o vermelho e Chico o Leproso, de moral para Negra Idalina, dentre

    outros personagens e suas fomes diversas.

    Evocando o passado de origem, o presente paradisaco e o futuro incerto e,

    portanto, em devir, o mangue invoca um tempo de possibilidades em intercesso: da

    utopia sonhadora, que exige do protagonista Joo Paulo aventurar-se pelo mundo afora

    das memrias compartilhadas, a partir da experincia exotpica do amigo Cosme11, ou

    de resignao, caso siga o curso dos homens-caranguejo, sujeitados vida montona e

    gratuita do mangue, em um ciclo onde possivelmente [...] o corpo de Joo Paulo que,

    com sua carne em decomposio, ir alimentar a lama que alimenta o ciclo do

    caranguejo, Castro (1967, p.177).

    Yves Reuter, na Introduo anlise do romance (2004) entender que o tempo no

    mais vivido como cclico, visto que h uma constncia do tempo-espao, Para o crtico

    11Sobre a exotopia, explica Bakhtin (1992, p. 45): O excedente da minha viso contem em germe a forma acabada do outro, cujo desabrochar requer que eu lhe complete o horizonte sem lhe tirar a originalidade.

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    tempo narrativo da memria.

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    (2004, p. 16), Abandonam-se a repetio para se integrar categorias como a evoluo, o

    progresso, o sentido da histria. O heri constri sua existncia de sua predestinao.

    Logo, ganha o tempo no romance pelo efeito da cronotopia inserida formal e

    contextualmente em Homens e caranguejos.

    Modificam-se nos espaos-tempos-personagens, a todo instante novos, a ao

    memorativa do infantil protagonista, ao longo do jogo recproco entre o olhar cheio de

    expectativas da criana e o olhar posterior do adulto que sabe da derrota destas

    expectativas, ilustra Silva (2010, p. 33), flui a memria como as guas do tempo e do

    antitempo, renascendo, avanando, sempre novo, conforme sugere o poema-epgrafe

    aqui anunciado.

    O plurilinguismo: traos do gnero romanesco e da estilizao discursiva da

    personagem

    Anloga ao norte lingustico de Mikhail Bakhtin, que caracteriza o romance, como um

    fenmeno pluriestilistico, plurilngue e plurivocal12, (2010, p. 73), so as unidades

    heterogneas repousadas na tessitura josueniana. Resultante da elaborao literria que

    hibridiza diversas formas discursivas (canes populares, memrias do autor, poemas,

    contos e aluses histricas), o plurilinguismo desta fico, ao passo que a alarga em

    elasticidade estrutural, propicia, ao nvel da estilizao do discurso, o perfil polifnico13

    12

    Sobre as principais unidades estilsticas de composio do conjunto romanesco, Bakhtin destaca: 1. A unidade direta e literria do autor (em todas as suas variedades multiformes); 2. A estilizao de diversas formas da narrativa

    tradicional oral (skaz); 3. A estilizao de diversas formas da narrativa (escrita) semiliterria tradicional (cartas,

    dirios, etc.); 4. Diversas formas literrias, mas que esto fora do discurso literrio do autor: escritos morais,

    filosficos, cientficos, declamao retrica, descries etnogrficas, informaes protocolares, etc.; 5. Os discursos

    dos personagens estilisticamente individualizados, (Bakhtin, 2010, p. 73-4). 13

    Para Stam (1993, p. 164), O conceito de polifonia chama ateno para a coexistncia, em qualquer situao textual ou extratextual, de uma pluralidade de vozes que no se fundem numa conscincia nica, mas existem em

  • Oliveira, Thiago Azevedo S de. O romance 'Homens e caranguejos' de Josu Castro: A contemporaneidade no

    tempo narrativo da memria.

    Brasiliana Journal for Brazilian Studies. Vol. 3, n.1 (Jul. 2014). ISSN 2245-4373. 423

    das personagens, desse modo mesclado pela transio tico-esttica da palavra do

    autor14.

    Sinalizando para o que Hutcheon (1991, p. 142) vislumbra no conceito de

    metafico historiogrfica, isto , como romance que desperta uma autorreflexo

    histrica dos eventos assimilados como verdadeiros, Homens e caranguejos traa na

    experincia memorial de seguidos xodos, o registro multiforme da fome, episdio que

    irmana as personagens, cada qual presa em seu propsito, no mesmo brao do rio onde

    a marginalidade multiplamente aflorada na sinergia polifnica das vozes em dilogo.

    Unindo as pontas de uma carreira literria que tem incio no ano de 1935, com o livro O

    ciclo do caranguejo, no qual so publicados os contos A cidade, O despertar dos

    mocambos, Solidariedade humana, A seca, Joo Paulo, Ilha do Leite,

    Assistncia social, Ciclo do caranguejo, dentre outros, Josu de Castro adensa em

    Homens e caranguejos, o dilogo de toda sua primeira matria escritural, agora

    rearranjada no interior de uma composio mais robusta, um romance.

    Com o auxlio de uma sinopse predecessora da personagem, no conto Joo

    Paulo15, publicado anos antes do romance, o protagonista uma criana dotada de

    espirito empreendedor para o trabalho. No levantar sonolento aps o alarde fabril que o

    registros diferentes, gerando entre si um dinamismo dialgico. 14

    Para Bakhtin (2010, p. 119-120), As palavras dos personagens, possuindo no romance, de uma forma ou de outra, autonomia semntico-verbal, perspectiva prpria, sendo palavras de outrem numa linguagem, tambm podem

    refratar as intenes do autor e, consequentemente, podem ser, em certa medida, a segunda linguagem do autor. 15

    Ver Castro (1959, p. 29-30), Joo Paulo era o filho mais novo do caboclo Z Lus. E o mais trabalhador. [...] Menino bom e de juzo. No comeo do ano passado, com nove anos apenas, o diabinho arranjou um emprego para

    ganhar dinheiro, servindo assim de adjutrio para a famlia. Foi o padre Aristides passeando por afogados numa tarde

    de calor, viu a habilidade do menino para pegar caranguejo e contratou-o, logo, ali mesmo na beira do mangue, para

    ajud-lo a pegar goiamum.. A cena, extrada do conto Joo Paulo, indicial para a composio ideolgica da personagem romanesca. Em Homens e caranguejos, a mesma figurao narrativa reorganizada sob a forma de

    captulo, cap. III Da estranha maneira do padre Aristides fabricar tempestades para pegar guaiamu. Dos ingredientes utilizados e das consequncias..

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    acorda, tal qual a um trabalhador adulto, o menino, como num jogo de perguntas e

    respostas, indaga ao pai Z Luis, a questo que encerra o silncio das vozes alheias,

    os motivos que a levaram para o mangue, Pai, por que a gente veio morar aqui no

    mangue?, Castro (1967, p. 28).

    Reinterpretando Walter Benjamin (1892-1940), para quem a criana no brinca

    apenas de ser comerciante ou professor, mas tambm moinho de vento ou trem, (1985,

    p. 108), mergulha-se a fundo na natureza desbravadora do heri. Reluz na figura do

    narrador a tarefa de recuperar o que parece perdido. No plano dos recursos metafricos

    da linguagem, a conscincia da personagem vem tona por palavras que remetem ao

    pensamento de evadir;

    [...] sair vagando pelo mundo afora como os navios que passam ao largo

    da costa, soltando com indiferena um arrogante penacho de fumo por

    suas longas e grossas chamins, que aos olhos de Joo Paulo pareciam

    ser a marca inconfundvel do sexo desses navios: navios machos, de

    coragem indiscutvel. [...] Para o menino precoce, no qual a puberdade

    comeava a intumescer a carne e as ideias, um homem de verdade devia

    ser sempre assim, como um navio em alto-mar. No se colar a nenhum

    porto. Apenas sentir o contato gostoso com a terra, apenas roar as

    bordas do cais e partir de novo pelo mundo afora, em busca de novos

    cheiros, novos contatos com outras terras. (Castro, 1967, p. 44-5).

    Adorno, apud Vaz (2005, p. 54), aborda o fragmento do romance pelo carter adjacente

    da lembrana que ilumina, com a violncia da dor da impossibilidade de trazer de

    novo aquilo que uma vez foi perdido, a alegoria coagulada do prprio declnio

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    (Untergang) [do narrador]. Como precedente irrecusvel ao recobramento da

    experincia rememorada, o narrador afere, em discurso indireto livre, o que Benjamin

    (1977, p. 44), menciona em ensaio aplicado a Nikolai Leskov, da impossibilidade de

    voltar ao que j acabou, mas da necessidade de reelaborar (perlaborar) a memria na

    experincia atualizada, mesmo que seja ela resultado de um naufrgio, de um declnio.

    Em causa pela decadente exposio pobreza do submundo da lama16, o priplo

    do heri tem comeo como o de um viajante pueril, vagando nos meandros da memria

    e da vida. Como quem nunca migrou do lugar de onde est para o qual deseja, o

    outro lado do mangue [...] to bonito, to diferente [...] como se fosse um outro

    mundo17, seno pelas estrias que imagina ou ouve dizer, o menino reler nos

    vestgios de outrem, o substrato de liberdade que procura. A isto, Bakhtin posiciona,

    A ao do heri do romance sempre sublinhada pela sua ideologia: ele

    vive e age em seu prprio mundo ideolgico (no apenas num mundo

    pico), ele tem sua prpria concepo de mundo, personificada em sua

    ao e em sua palavra. (Bakhtin, 2010, p. 137).

    No mundo diegtico onde a ao ideolgica da personagem a palavra ouvida ou

    imaginada, o narrador constri a imagem derradeira da protagonista e dos seres que a

    ela se interpe, como um arteso cuja matria a vida humana, diz Benjamin (1987, p.

    409). Em categoria narrativa de cmera, descrita na leitura de Abdala Junior, sobre a

    16

    No prefcio do romance, o autor se reporta pobreza pela mimetizao do xodo rural, evento realizado por

    algumas das personagens formadoras do ncleo central da Aldeia Teimosa. O movimento migratrio para uma

    comunidade urbana, perifrica, localizada nos recnditos do mangue, margem do progresso da cidade, consolida a

    metfora da lama, (n)as negras manchas demogrficas da geografia da fome, (Castro, 1967, p. 24). 17

    Castro, 1967, p. 32.

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    tipologia de Norman Friedman (1995, p. 32) pelo efeito cinematogrfico das narrativas

    [..] que tentam transmitir flashes da realidade como se apanhados por uma cmera,

    arbitrrio e mecanicamente, cada personagem rememorada pelo narrador ou por

    outra personagem.

    Alm do heri, reduzindo o leque quantitativo das personagens s figuras

    centrais, fundadoras do exlio da Aldeia Teimosa, apresentam-se na ordem da narrao,

    o Padre Aristides, Cosme o paraltico, Z Luis, Seu Maneca. Dos espelhos de Cosme18,

    aparecem Mateus o vermelho, a Negra Idalina e Chico o leproso.

    Em conotao circunstancial, contgua literatura de cordel19, o romancista marca

    de coralidade20 o esprito popular atribudo s personagens. Nas feiras, nas rodas de

    conversa, a caminho do trabalho, nas festas, os sujeitos figurados entoam suas

    fabulaes do mundo. Logo, as personagens de Homens e caranguejos so seres que

    contam e ouvem histrias. So sensveis s expectativas criadas no juzo e na experincia

    legados pelo outro.

    Perifricas trajetria de Joo Paulo, o narrador nos cede a pintura de Z Lus e

    Maria (pais de Joo Paulo), retirantes do serto e sem maiores ambies da vida, Padre

    Aristides, o sacerdote cujo pecado confesso a gula por guaiamu, Seu Maneca quem

    por medo de morrer de fome no trabalho do canavial, emigra e, Cosme o paraltico,

    18

    No Cap. IX De como Joo Paulo ficou conhecendo melhor os seus vizinhos atravs do espelhinho de Cosme, o paraltico engendra a caracterizao de trs personagens: Mateus o vermelho, Negra Idalina e Chico o leproso. (Castro, 1967, pp. 109-121).

    19

    Grande parte dos captulos iniciada pela expresso De como. Como exemplo, temos: I De como o corpo e a alma de Joo Paulo se foram impregnando do suco dos caranguejos.V De como Z Luis falou com Deus sem antes se benzer. A forma circunstancial se altera em apenas um caso, III Da estranha maneira do Padre Aristides fabricar tempestades para pegar guaiamu. Dos ingredientes utilizados e das conseqncias.

    20

    Ler Mgevand, Martin. Coralidade. In: Urdimento. N 20, Set de 2013. Disponvel em:

    http://www.ceart.udesc.br/ppgt/urdimento/2013/Urdimento%2020/coralidade.pdf. Acesso: 26/02/2014.

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    de quem os espelhos de mo com que se comunica com o mundo, servem de alegoria

    para o pensamento do heri.

    Consistindo em liderana cerebral de toda a comunidade da Aldeia Teimosa,

    Cosme traz, em sua intuio crtica, as cicatrizes da experincia da vida e dos livros que

    j leu. A maturidade adquirida nas viagens que fez e, sobretudo, das adversidades e

    alegrias que viveu faz de Cosme um lder, consultado por todos. com os olhos

    aguados do mundo l de fora que Cosme transmite a Joo Paulo suas frustraes e

    seus conhecimentos.

    tambm atravs de Cosme21 e de seus tempos ureos que Joo Paulo tem

    contato com a esperana da vida que no a de misria, da qual nasceu e dela no

    consegue escapar. Reside nas prosas do amigo Cosme uma situao propiciadora de

    fuga.

    Em primeiro grau, a importncia da personagem Cosme o coloca no patamar de,

    dividir, junto ao narrador, a funo de apresentar as personagens. Mateus o

    Vermelho, o operrio elevado comunista, no engano decorrente da cor de seus cabelos,

    Chico o leproso, preso ao seu mocambo na clausura de sua doena, e Negra

    Idalina, envergonhada pelo desvirtuamento da sua filha Zefinha, so confiados pelos

    crditos individualizados, estilisticamente dedutveis do discurso cogitado por este ator

    lingustico.

    No modo como a personagem encara a realidade, isto , no subsolo das

    figuraes estticas, nota-se a afinidade discursiva de Cosme ao discurso cientfico

    21

    Quando Joo Paulo ficou conhecendo, em todos os detalhes, a odisseia de Cosme em sua fracassada aventura para conquistar o mundo, cresceu ainda mais a sua admirao pelo amigo, e a sua curiosidade em ouvi-lo contar

    mais coisas de sua vida. E Cosme sempre satisfez esta curiosidade do menino. Sempre contou-lhe, no s as coisas

    maravilhosas do mundo que ele percorrera com suas pernas a Amaznia mas, tambm, as do mundo que percorrera com a cabea, nos livros: todas as lembranas de suas leituras na mocidade. (Castro, 1967, p. 67).

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    defendido pelo autor em suas obras de teor engajado s aspiraes econmicas, polticas

    e sociais.

    Ultimamente, Cosme procura explicar a Chico que a situao do povo

    est ficando cada vez mais difcil, que a fome aumenta cada dia e que o

    governo no toma a menor providncia. Que os polticos montados no

    poder s pensam mesmo em encher a pana. Mas isto tudo vai acabar.

    Cosme informa que est a par da tempestade que a indiferena dos

    potentados est semeando na terra. Muito em breve a tempestade vai

    estalar por culpa deles. Por culpa dos donos da terra que no deixam os

    moradores cultiv-la para matarem sua fome. Por culpa dos donos da

    fbrica que pagam aos operrios um salrio de fome para que possam

    manter seus filhos viajando pela Europa e sustentar uma penca de

    mulheres nos apartamentos de luxo da cidade. E por culpa

    principalmente do governo, que v tudo isto toda a pouca vergonha

    dos ricos e toda a misria do povo e finge que no v. (Castro, 1967,

    p. 120).

    Virando a luminosidade de focalizao para o protagonismo da criana, o romance

    fraciona o falso engajamento cientfico-poltico em linguagem de evocao. Ao lado

    disso, as reflexes de Maurice Habwachs (1877-1945), em A memria coletiva (1950),

    esteiam a configurao do romance e, da personagem, na circunstncia arbitrria com

    que a memria perpassa os sentidos do discurso de carter poltico pela assonncia da

    abstrao individualizada e de durao exgua.

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    Como a criana seria capaz de atribuir valores diferentes s partes

    sucessivas do quadro que a vida lhe apresenta e, principalmente, por

    que se espantaria com os fatos ou os episdios que retm a ateno dos

    adultos porque estes dispem, no tempo e no espao, de muitos termos

    de comparao? Uma guerra, um tumulto, uma cerimnia nacional,

    uma festa popular, um novo modo de locomoo as obras que

    transformam as ruas de uma cidade podem ser pensadas de dois pontos

    de vista diferentes. So fatos singulares em seu gnero, que modificam a

    existncia de um grupo. Entretanto, por outro lado, esses fatos

    transformam em uma srie de imagens que trespassam as conscincias

    individuais. Quando se retm apenas essas imagens, no esprito de uma

    criana elas podero se destacar das outras por sua singularidade, seu

    fragor, sua intensidade; mas o mesmo no acontece com muitas imagens

    que no correspondem a acontecimentos de semelhante alcance. Uma

    criana chega noite em uma estao de trens cheia de soldados. O fato

    de estarem retornando das trincheiras ou voltando para l, ou

    simplesmente estejam em manobras, no impressionaro nem mais,

    nem menos. O que era de longe o canho de Waterloo, se no um

    ribombar confuso de trovo? Um ser como a criancinha, reduzido a suas

    percepes, guardar de tais espetculos apenas uma lembrana frgil

    de pouca durao. (Halbwachs, 2003, p. 79).

    A maneira ldica do brincar de menino faz de Joo Paulo, o arquiteto de um mundo

    cuja paisagem montada como se fossem as peas de um jogo de quebra-cabeas. Feita

    a ressalva de que, no contato com o amigo Cosme e, na leitura das vivncias dos

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    outros22 personagens, o protagonista sucedido do universo das preocupaes adultas,

    altura da delimitao do narrador, para o heri, a imagem que v, sinnima das

    profundas comparaes pontuadas nas linhas figurativas de paralelos de semelhana, se

    no vejamos;

    [...] Joo Paulo d um salto imprevisto das margens do mangue e de p

    divisa certa distncia um grupo de pescadores de caranguejos que

    avanam, atolados at as coxas, na lama do mangue. So trs homens

    jovens e morenos com o corpo todo coberto duma carapaa espessa de

    lama como se fosse uma verdadeira armadura. Aos olhos de Joo Paulo,

    estas figuras humanas aparecem como se fossem figuras de heris das

    antigas histrias de cavaleiros armados que lhe contou Cosme. Como se

    fossem gigantes com o corpo fabricado com grandes blocos de barro,

    retirados do prprio mangue. Formados ali mesmo na lama como se

    formam e se criam os caranguejos na fermentao do charco. Para Joo

    Paulo, estes homens, cavaleiros da misria, com suas armaduras de

    barro, e os caranguejos, com suas duras carapaas, so os heris de um

    mundo parte, so membros de uma mesma famlia, de uma mesma

    nao, de uma mesma classe: a dos heris do mangue. E Joo Paulo se

    sente como se fosse um filho dessa famlia. Sente-se inconscientemente

    identificado com estes seres, fraternalmente ligado aos homens e aos

    caranguejos, conquistadores do mangue. (Castro, 1967, p. 45-6).

    22

    Para que atinja a realidade histrica atrs da imagem, ela ter de sair de si mesma, ter de ser posta no ponto de vista do grupo, para que possa ver como tal fato marca uma data porque entrou no crculo das preocupaes, dos interesses e das paixes nacionais. (Halbachs, 2003, p. 80).

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    A viso que esta personagem almeja a vida seduz a pedida de ouvir a voz do infante e

    dialogar com ele, conforme prev Mrcia Cabral da Silva (2010, p. 27), em Infncia e

    Literatura (2010). Neste volume, que reala a apreenso da criana no domnio literrio

    ouve-se bastante da substncia composicional da personagem Joo Paulo.Com a ateno

    julgada, a priori, por desajeitada, a natureza do sujeito infantil especificada pela

    estudiosa em harmonia s probabilidades predominantemente amarradas aos

    fundamentos tericos de Walter Benjamin.

    Repelindo-se da noo de infncia datada da ideologia burguesa do sculo XVIII,

    perodo do qual, adverte Silva (2010, p. 37) todos os esforos se concentram para

    conformar a natureza considerada ingnua, deformada e incompleta da criana, a

    autora extrai da reflexo benjaminiana o atalho conceitual inverso. Da observao que

    grafa sobre a brincadeira, depois de reportados os trechos de Benjamin, As cores e O

    jogo das letras, presentes em Infncia em Berlim por volta de 1900, tem-se;

    Esses trechos sugerem inmeras possibilidades de leitura. Em As

    cores e O jogo das letras, por exemplo, compreende-se que as

    crianas so as coisas que tocam. Brincar para elas adquire um

    significado essencial. No se trata de pura imitao, nem apenas de

    contribuir para amadurecer e desenvolver faculdades mentais. Durante

    a brincadeira, a criana tem a possibilidade de tirar os objetos de sua

    funo reificada, to prpria das sociedades de consumo. Agindo sobre

    aqueles objetos no ato de brincar, a criana imprime-lhes,

    fundamentalmente, um novo significado, que contribui para afirmar o

    lugar de quem produz e no somente reproduz cultura. (Silva, 2010,

    p. 35).

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    Na epgrafe derradeira de Benjamin (1984, p. 64), para quem, sem dvida, brincar

    significa sempre libertao. Rodeadas por um mundo de gigantes, as crianas criam

    para si, brincando, o pequeno mundo prprio, a tratativa da infncia no heri

    josueniano cria um mundo particular no interior do universo discursivo do romance,

    sendo este, por si s, singular e diverso da referncia da fome que toma emprestada e,

    reoxigena como linguagem.

    Se levado a cabo atuante participao do mdico e poltico ativista do combate

    fome, o romancista, esfora-se, portanto, para o papel consciente de quem sabe das

    artimanhas do ficcionista23. Para que o drama da fome seja validado, no na perspectiva

    do acadmico que senhor da questo, mas no subterfgio de reelaborao das

    memrias de criana, a composio estilistica da protagonista-criana, alude a

    incompetncia infantil reveladora de uma verdade que os adultos no podem nem

    querem ouvir, corrobora Gagnebin (1994, pp- 92-3).

    Pelo processo de intertextualidade explcito desde o prefcio, o romancista figura

    na arte que imprime a fisionomia de uma obra hbrida, que se mantm prxima da

    sociedade, sendo, contudo uma sublimao, estilisticamente livre e, por isso,

    formalmente autorreflexiva e contempornea. Pesados os efeitos da dinmica entre

    23

    [...] no acredito em literatura neutra, literatura sem tendncias, enquistada no absoluto dos cnones da arte. Sem contactos estranhos, sem razes, sem ligaes com os outros aspectos sociais que definem uma cultura. E, no entanto,

    o que curioso, eu sou daqueles que creem na arte pela arte, enquanto criao consciente, individual do artista. No

    vejo necessidade para o poeta, de andar metrificando sua ideologia, nem para o romancista, de jogar nas suas estrias

    os argumentos filosficos de suas atitudes polticas. Sou contra os romances de tese. O artista verdadeiro no

    obrigado a ser conscientemente um libelista, porta-voz dos sentimentos recalcados de angstia e de revolta dos

    oprimidos de uma determinada situao histrico-social. Exigir isto dele seria acabar com a arte como expresso de

    espontaneidade. O artista pode ver e sentir o mundo livremente, sem compromissos diretos com quaisquer princpios

    filosficos. Na ignorncia absoluta de todos os sistemas de interpretao das verdades csmicas. Um nico

    compromisso, e este de vida ou de morte, o que deve manter o artista para consigo mesmo, para com suas prprias

    impresses sensoriais, para com sua experincia sensvel. (Castro, 1959, p. 59-60).

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    escrituras de composies distintas, modula-se pelas memrias um universo diegtico

    indicialmente sugestivo de tempos e espaos onde as personagens transitam famintas,

    receosas no silncio que, segundo Salgueiro (2012, p. 289) ecoa a impossibilidade

    radical de re-apresentao do vivido/sofrido.

    Sentindo que a histria que vou contar uma histria magra, seca, com

    pouca carne de romance, resolvi servi-la com uma introduo

    explicativa que engordasse um pouco o livro e pudesse, talvez, enganar

    a fome do leitor - a sua insaciavl fome de romance. Foi no fundo uma

    espcie de sublimao deste complexo de um povo inteiro de famintos,

    sempre preocupado em esconder ou, pelo menos, em disfarar a sua

    fome eterna, que acabei fazendo uma copiosa introduo a este magro

    romance que tem, como personagem central, o drama da fome. Assim,

    por fora das circunstncias, encontrar o leitor, neste livro, muita

    explicao e pouco romance. Pouco, mas o suficiente para dar ao livro o

    gosto e o cheiro fortes do drama da fome que , no fundo, a carne desta

    obra. (Castro, 1967, p. 11).

    Em face do relevo temporal, Homens e caranguejos ambienta-se em meados do sculo

    XIX, a partir da grande seca de 1877, como uma fico mimtica da fome. O contexto

    histrico da obra (1966), do Brasil no ps-Golpe de 64 clama, contudo, ao resguardo, de

    Adorno (1980, p. 270), que v na obra de arte um espao mpar, onde na transcendncia

    esttica reflete-se o desencantamento do mundo. Pretende ele, com esta posio, ir

    alm das teses que determinariam o grau de singularidade de uma composio pelo

    quo a lrica representasse somente as fontes externas que lhe seriam agregadas. Adorno

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    (2003, p. 67) sugere a hiptese de pensar em que a obra de arte lhe (a) obedece

    (sociedade) e em que a ultrapassa, assumindo uma mediao, a de pensar como a obra

    de arte capaz de aprofundar no interior do organismo universal da linguagem o todo

    de uma sociedade.

    Por palatvel que seja a crtica endossada por Jameson (1992, p. 15), em favor da

    prioridade da interpretao poltica dos textos literrios, a construo do romance

    josueniano se afina com a leitura simblica e social da realidade. Watt (2007, p.13)

    permeia esta aproximao no momento em que compara a prosa de Defoe, Richardson e

    Fielding e a produo que os antecede, afirmando que realismo destes no est na

    espcie de vida apresentada, e sim na maneira como a apresenta.

    Sintomtico da cooperao do contexto aplicado ao texto, Tnia Pellegrini

    explana, no ensaio Realismo: postura e mtodo (2007), para que se perceba como

    postura e no como reconstruo descritivista intrnseca do legado realista do sculo

    XVIII, o realismo presente na prosa contempornea.

    Como bem se coaduna ao nexo da contemporaneidade, o romance Homens e

    caranguejos foi duramente censurado pelo regime ditatorial, uma vez queprovocou, luz

    de Pellegrini (2007, p. 138), uma forma particular de captar a relao entre os

    indivduos e a sociedade. Na fico contempornea, o plurilinguismo miscigena a

    linguagem da fome como um universo refratado de questes estticas, mas tambm

    tenras ao envolvimento do homem em suas urgncias sociais e afetivas. No contato

    entre histria, o narrar e a memria, a lembrana confere ao heri, reaver o passado

    problemtico de seus prximos.

    O resgate de um acontecimento feito atravs da obra de arte sempre

    gera polmica, pois nessa visita ao passado podem-se descobrir

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    verdades at ento no reveladas, devido s relaes de interesse e

    poder de grupos conservadores. Durante muito tempo, precisamente

    todo o sculo XIX, a literatura produziu o romance realista que, em

    geral, no partia do pressuposto de que a realidade social vivida fosse

    ambgua ou mltipla, ou seja, a partir de uma reflexo cotidiana focada

    na sensibilidade humana, o sujeito aceitava essa realidade como algo

    natural e invarivel, a natureza precria do indivduo como herana

    intransponvel. Entretanto, a Histria da Literatura contempornea,

    aliada aos modelos progressistas de retratar a arte pelas diferenas,

    como o caso da literatura ps-colonialista, verificou que era necessrio

    problematizar, a sua maneira, seu contexto social. Por motivos como

    esse, o final do sculo XX foi marcado por uma atomizao das camadas

    eruditas da arte e firmou-se a conscincia de que a histria vinha sendo

    contada de cima, sob um misto de interesses e ideologia dos

    historiadores. (Jacomel; Silva, 2007, p. 740).

    Redirecionada a arte sob o ngulo que tenta resguardar o elo de lucidez e ateno para

    com a sociedade, de interesse avaliar em que medida os elementos materiais se

    mantm coerentes e expressivos quando interpenetrados junto aos elementos formais.

    Ao seguir esta direo, articula-se a possibilidade de enxergar a arte literria movendo-

    se, a priori, no mais puro processo de individuao da realidade a fim de atingir no

    apenas um dado prximo ao social que lhe seja referncia e reconhecimento, mas indo

    alm, uma vez que revela valores e emoes da sociedade no universo de signos e de

    imagens.

  • Oliveira, Thiago Azevedo S de. O romance 'Homens e caranguejos' de Josu Castro: A contemporaneidade no

    tempo narrativo da memria.

    Brasiliana Journal for Brazilian Studies. Vol. 3, n.1 (Jul. 2014). ISSN 2245-4373. 436

    Concluso

    O estado efmero comum s memrias das personagens em Homens e caranguejos atua

    nos componentes textuais da narrativa, conferindo a esta produo literria um perfil

    contemporneo, pautado na ideia de que a fico recria o universo catico da fome em

    sua forma constante, todavia, notavelmente descompassada em face lingustica.

    Verifica-se uma escritura que, em termos sintticos e semnticos, acena para o horizonte

    aberto de uma fabulao recordativa fragmentada. H, assim, a falsa impresso de que,

    em termos de estruturao escritural, a lacuna de que algo se perde no caminho,

    palavras se repetem, entretanto, tal sensao efeito do disforme

    consciente/inconsciente, do real/ficcional, do eu/outro, do autor/narrador, em suma, das

    lembranas transpostas do cenrio de sangue e lama para o palco multidimensional da

    linguagem enlameada.

    As imagens simblicas das fomes, em trnsito, simulam tempos-espaos

    sinestsicos situados no limite fronteirio e acolhedor do cronotopo mangue. Balbucia

    no clamor ldico do protagonista-menino, sedento por aventuras e brincadeiras, uma

    relao intempestiva em que o recordar configurador da catarse, do sujo e desumano

    passado, do outro, como catalisador de um romance que alimenta o futuro de nostalgia,

    de esperana e de humanidade. Na posio do narrador onisciente, que se esfora para

    preencher os vazios que a memria das personagens tenha sido falha, alterna

    discursivamente na figura de um eu-protagonista coletivizado, a natureza

    questionadora e inquietante que nutre o exerccio da vida e da fico, na travessia

    faminta de seus inerentes porqus.

    Referncias:

  • Oliveira, Thiago Azevedo S de. O romance 'Homens e caranguejos' de Josu Castro: A contemporaneidade no

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