historia1 2012 final

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Maria Manuela Quintáns Alvarenga Alessandra Carvalho Mônica Lima e Souza EDIÇÃO Revisada e ampliada Módulo 1 2012 História Fundação Cecierj P-VESTIBULAR SOCIAL historia1-2012.pdf 1 historia1-2012.pdf 1 01/02/2012 11:30:19 01/02/2012 11:30:19

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apostila de estudo de historia para vestibular

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  • Maria Manuela Quintns AlvarengaAlessandra CarvalhoMnica Lima e Souza

    5 EDIORevisada e ampliada

    Mdulo 12012

    Histria

    Fundao Cecierj

    PR-VESTIBULAR SOCIAL

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  • Governo do Estado do Rio de Janeiro

    GovernadorSrgio Cabral

    Secretrio de Estado de Cincia e TecnologiaAlexandre Cardoso

    Fundao Cecierj

    PresidenteCarlos Eduardo Bielschowsky

    Vice-Presidente de Educao Superior a DistnciaMasako Oya Masuda

    Vice-Presidente Cientfi caMnica Damouche

    Pr-Vestibular Social

    Rua da Ajuda 5 - 16 andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - 20040-000Site: www.pvs.cederj.edu.br

    DiretoraMaria D. F. Bastos

    Coordenadoras de HistriaMaria Manuela Quintns Alvarenga

    Alessandra CarvalhoMnica Lima e Souza

    Material Didtico

    Elaborao de ContedoMaria Manuela Quintns AlvarengaAlessandra CarvalhoMnica Lima e Souza

    RevisoPatrcia Sotello Soares

    Capa, Projeto Grfi co, Manipulao de Imagens e Editorao EletrnicaRenata Vidal da Cunha

    Foto de CapaRodolfo Clix

    Copyright 2012, Fundao Cecierj Nenhuma parte deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrnico, mecnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, da Fundao.

    A473pAlvarenga, Maria Manuela Quintns.

    Pr-vestibular social : histria. v. 1 / Maria Manuela Quintns Alvarenga, Alessandra Carvalho, Mnica Lima e Souza 5. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro : Fundao CECIERJ, 2012.

    120 p. ; 20,5 x 27,5 cm.

    ISBN: 978-85-7648-818-7

    1. Histria. 2. Europa Ocidental. 3. Sociedades asiticas e africanas. 4. Expanso martima europeia. 5. Conquista da Amrica. 6. Colonizao portuguesa. 7. Imperialismo. I. Carvalho, Alessandra. II. Souza, Mnica Lima e. III. Ttulo.

    CDD: 909

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    Sumrio

    Captulo 1Como se escreve a Histria

    Captulo 2Sociedades indgenas americanas, africanas e asiticas entre os sculos XIV-XV

    Captulo 3As transformaes da Europa ocidental entre os sculos XIV e XVI

    Captulo 4A expanso martima europeia:

    os contatos com africanos e asiticos e a conquista da Amrica

    Captulo 5As relaes entre Europa e Amricas nos sculos XVI e XVII

    Captulo 6A colonizao portuguesa na Amrica nos sculos XVI e XVII

    Captulo 7As transformaes na Europa nos sculos XVIII e XIX:

    o surgimento do mundo contemporneo

    Captulo 8Contestao dominao europeia na Amrica nos sculos XVIII e XIX

    Captulo 9Lutas operrias, capitalismo e imperialismo nos sculos XIX e XX

    Captulo 10Brasil e Amricas independentes: sculo XIX

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  • [ ][...] o pensamento parece uma coisa toa, mas como que a gente voa quando comea a pensar [...]

    Escolhemos comear nosso contato com esse conhecido verso da msica popular brasileira, por acreditarmos que o melhor que podemos oferecer a voc o estmulo refl exo sobre a Histria da nossa sociedade, do mundo em que vivemos e do qual somos parte integrante como agentes histricos. Que essa refl exo seja o ponto de partida para que voc possa voar cada vez mais e mais alto.

    Vamos agora apresentar para voc o material didtico que preparamos. Este o 1 volume dos dois que compem o material de Histria.

    importante esclarecer que nessas aulas, bem como naquelas que compem o outro mdulo, procuramos fazer uma sntese dos contedos selecionados, uma vez que no poderamos ter a pretenso de abranger toda a Histria da humanidade em to poucas pginas...

    Optamos por incluir, ainda que tambm de forma resumida, as histrias indgena, africana e asiti-ca, em razo de sua reconhecida importncia na compreenso da Histria da sociedade brasileira.

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    Como se escreve a Histria

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  • 6 :: HISTRIA :: MDULO 1

    documentos escritos, como certides, cartas, contratos, jornais, revistas, livros, ou seja, textos escritos em diferentes materiais (papel, pedra, argila etc.);

    documentos visuais, como desenhos, esculturas, pinturas, fotografi as, que so outra forma de registro feita pelo homem;

    documentos orais, como o relato de experincias vividas registradas na memria dos que as viveram. Nas sociedades sem escrita, essa histria recriada atravs de relatos orais, onde os mais velhos transmitem as tradies e os costumes de seus antepassados aos mais jovens. Esses relatos so fontes fundamentais para o estudo dessas sociedades, como tambm para o estudo das sociedades em geral;

    documentos sonoros, como msicas e ritmos, discos e discursos tambm so fontes de estudo das sociedades;

    documentos materiais como roupas, utenslios domsticos, ferramentas, mveis, objetos e construes constituem a chamada cultura material e podem fornecer valiosas informaes sobre a vida das sociedades em determinada poca.

    Mas, esses documentos histricos no falam por si mesmos e no constituem, em si, o que chamamos de Histria. Os historiadores, quando pesquisam determinado assunto, buscam dar um signifi cado s fontes. O trabalho do historiador comea sempre com uma pergunta: um por que, um como. A partir deste questionamento, ele seleciona os documentos histricos que possam responder s perguntas formuladas, analisando-os e interpretando-os cuidadosamente. aps todo esse trabalho que se constri o conhecimento histrico que encontramos, por exemplo, neste material didtico. Sem esquecer que, em suas pesquisas, o historiador recorre tambm a outras reas do conhecimento, como a Antropologia, a Geografi a, a Economia, a Psicologia e a Arqueologia.

    Temos ainda um ltimo aspecto na construo do conhecimento histrico: a influncia do prprio indivduo e do tempo. O historiador tambm um indivduo com sua histria, seus valores e crenas e, desta forma, suas concluses sobre fatos e processos histricos refletem sua interpretao e seu entendimento sobre a realidade. Por isso, a Histria tambm fruto da mentalidade e dos pontos de vista dos historiadores, que se relacionam com a poca em que eles vivem. Em outras palavras, o trabalho dos historiadores deve ser considerado no contexto dos valores e ideias em que foi desenvolvido.

    Com isso, estamos dizendo que atravs dos tempos escreveu-se a Histria que se estava em condies objetivas de escrever, de acordo com as ideias e valores mais importantes de cada tempo. Assim sendo, possvel compreender que as vises de Histria variam no tempo e no espao: so dinmicas, como as sociedades. Por isso, diz-se que em Histria no existem verdades absolutas. Tratando-se de interpretaes, possvel, utilizando-se os mesmos documentos, chegar a concluses diferentes sobre determinado fato histrico.

    Histria :: Para qu? Por qu?

    Voc capaz de pensar, falar e escrever sobre uma poro de coisas que aprendeu pela vida afora. Nem tudo o que voc sabe foi aprendido na escola. A cada dia, na escola ou fora dela, voc vai adquirindo novos conhecimentos e seu mundo vai se tornando cada vez maior.

    A histria de cada um de ns vai se construindo a partir da nossa vida em casa, na rua, na escola, no trabalho. E assim, a Histria , dia aps dia, construda por todos ns.

    A Histria tambm um importante instrumento para a construo de nossas prprias identidades a individual (somos indivduos nicos, com nossa prpria histria pessoal e familiar) e a coletiva (somos parte de um grupo, de uma sociedade, de uma nao). Alm disso, a Histria nos ensina com as experincias do passado a prever possibilidades e tendncias e, desta forma, tentar construir um futuro melhor.

    Histria e memria

    Vivemos uma poca em que temos acesso a uma quantidade enorme de informaes cotidianas trazidas, principalmente, pelos meios de comunicao de massas e pela internet. Atravs desses meios, notcias locais, regionais, nacionais e internacionais nos chegam rapidamente, no importando a distncia espacial que nos separe dos lugares onde ocorreram. Conhecemos lugares onde nunca fomos, hbitos e costumes por vezes to diferentes dos nossos.

    Tantas informaes nos trazem tambm um problema: nossa capacidade de armazen-las, porque nossa memria limitada. Nem sempre conseguimos lembrar de tudo aquilo que lemos, ouvimos e vemos.

    No entanto, a memria de cada um de ns importante na construo de nossa identidade: as lembranas de nossa infncia, as boas e ms experincias que vivemos ao longo de nossas vidas, as paisagens que conhecemos, os cheiros e os sabores que nos lembram situaes que vivemos ou pessoas que conhecemos... tudo isso nos diz um pouco do que somos. Como impossvel lembrar de tudo, nossa memria seleciona as informaes necessrias ou desejadas. Quanto mais recuamos no tempo, mais nossa memria insufi ciente para reconstruir aquela poca de nossas vidas. Se quisssemos conhecer toda a nossa histria pessoal, certamente a nossa memria seria insufi ciente.

    Quando falamos da histria das diferentes sociedades, as coisas se tornam ainda mais difceis... A memria sozinha no nos permite conhecer a histria de uma sociedade sem que precisemos recorrer a outras fontes de informao.

    As fontes histricas e a construo do conhecimento histrico

    Para construir o conhecimento histrico, os pesquisadores se valem das chamadas fontes histricas ou documentos histricos. E, quando falamos de fontes ou documentos histricos, estamos falando de muitas coisas diferentes, como voc pode ver a seguir:

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  • CAPTULO 1 :: 7

    As ferramentas bsicas da Histria

    Tempo Os homens parecem mais com o seu tempo que com os seus pais

    (Provrbio rabe)

    Todos ns sabemos que a maneira como as pessoas pensam, agem e se relacionam tem a ver com o tempo em que elas vivem. Muitas vezes percebemos isso ao confrontarmos nossas ideias com as ideias de pessoas mais velhas ou mais novas que ns. Isso quer dizer que, com o passar do tempo, as pessoas mudam seu modo de pensar, de agir, de se relacionar umas com as outras.

    Isso parece evidente, mas vamos nos fazer uma pergunta: por qu? Por que ser que as pessoas e as sociedades mudam com o passar do tempo?

    Cada acontecimento ou conjunto de acontecimentos traz consequncias para a maneira de ser das pessoas e da sociedade. Em outras palavras: o contexto de um determinado tempo infl uencia a viso de mundo e o comportamento de um indivduo ou de um grupo.

    Voltemos ao provrbio rabe. Vamos pensar em alguns exemplos que o justifi quem.

    Para entendermos a atitude de alguma pessoa ou de um conjunto de pessoas necessitamos saber, entre outras coisas, em que perodo da Histria elas viveram. Ou seja: precisamos conhecer o seu contexto histrico. Assim, uma pergunta torna-se essencial no estudo da Histria: quando isso aconteceu?

    E em seguida: como viviam as pessoas nesse momento? Ao responder a essas perguntas em relao a diferentes pocas, poderemos perceber as mudanas no modo de vida dos grupos humanos. Uma sociedade, assim como uma pessoa, no esttica, imutvel. Ao contrrio, ela se transforma com o passar do tempo.

    Muitas vezes, as mudanas ocorrem vagarosamente. Em outros momentos, parece que se aceleram, fi cam mais rpidas e, ento, ocorrem mudanas bruscas. So as rupturas, ocasies em que as transformaes so tantas que criam um novo tipo de sociedade, um outro tipo de vida. As rupturas em geral so resultado da soma de mudanas lentas e rpidas que, articuladas, criam o novo.

    No fi ca difcil entender o que acontece com as sociedades humanas se pensarmos nas nossas vidas. Certamente todos ns tivemos momentos de ruptura em nossa histria. E, da mesma forma, tivemos continuidades caractersticas nossas que permanecem ao longo do tempo. E, em meio a rupturas e continuidades, segue a nossa histria e a Histria da humanidade.

    EspaoAs diferenas entre as pessoas e as sociedades no se explicam somente pelo

    tempo em que vivem ou viveram. Alm de saber o seu contexto histrico, outro fator fundamental conhecer seu contexto espacial. Ou seja: alm de saber a poca, importante saber o lugar onde determinado grupo ou indivduo vive ou viveu.

    Vamos pensar em um exemplo. Uma pessoa que nasceu e cresceu na rea rural no Brasil e uma pessoa que nasceu e cresceu numa cidade grande no litoral, ainda que vivam numa mesma poca, esto em contextos espaciais muito diferentes. Esse contexto, portanto, infl uencia seu modo de ser e agir. Da mesma maneira, podemos pensar as sociedades humanas o lugar em que elas vivem tem importncia para suas caractersticas.

    Isso no quer dizer que o lugar determine o modo de ser de uma sociedade. As pessoas recebem infl uncias externas, e elas prprias mudam com o passar do tempo, provocando transformaes no mesmo espao em que vivem. O espao muda e as pessoas mudam com ele.

    Muitas vezes, estar em algum lugar, num determinado espao, signifi ca estar em um tempo diferente daquele de outras pessoas em outro lugar. Como se explica isso? Vamos pensar.

    Uma vida mais agitada, mais acelerada, mais cheia de acontecimentos, parece passar mais rpido, no verdade? Quando temos o dia lotado de afazeres, o tempo parece passar mais rpido, no assim?

    A mesma coisa ocorre com as sociedades humanas. Em lugares onde h menor diversidade de atividades acontecendo, o tempo parece passar mais devagar, as mudanas parecem ser mais lentas e as permanncias mais resistentes. H pessoas que vivem numa mesma poca, mas por viverem em lugares diferentes, parecem viver em tempos diferentes.

    Em outras palavras: o espao se relaciona com o tempo. E vice-versa. Portanto, as perguntas sobre o quando e sobre o onde caminham juntas, seja para entendermos uma pessoa ou uma sociedade.

    Os diferentes nveis da vida socialSabemos que a Histria se interessa por todas as atividades humanas,

    estudando o homem e sua vida em sociedade nas diferentes pocas e lugares. A vida do homem em sociedade est ligada a fatores econmicos, polticos, sociais e culturais.

    Os fatores econmicos referem-se s atividades humanas de produo, comrcio e consumo. Para sobreviver, em qualquer local e poca, os homens precisam de alimentos, abrigo, vesturio, ferramentas e utenslios. Em qualquer sociedade, pelo menos uma parte da populao fi ca responsvel pela produo desses bens. A troca de bens entre os homens chama-se comrcio e a realizao de atividades comerciais implica em consumo de bens por parte dos membros das sociedades.

    Os fatores polticos referem-se s diferentes formas de governo e maneira como funcionam. Ao longo da Histria tem havido diferentes formas de governar. A origem do poder pode ser encontrada na autoridade, na riqueza ou na fora. Em algumas sociedades, o governo est centralizado em uma nica pessoa, com poderes absolutos; em outros casos, o governo compartilhado por algumas pessoas que constituem apenas uma minoria na sociedade; e, em outros, a populao em geral tem uma participao maior nas decises, geralmente atravs de seus representantes eleitos.

    Os fatores sociais e culturais so representados pelo conjunto de manifestaes do homem que, vivendo em grupo, trabalhando, lutando, resolvendo problemas, cria, em cada sociedade, maneiras de pensar, de sentir e de agir. Assim, a religio, os costumes, as artes, a cincia, as leis, as prticas esportivas, entre outras, so manifestaes socioculturais importantes das sociedades.

    importante que voc entenda que os fatores econmicos, polticos, sociais e culturais encontram-se interligados e interferem uns nos outros. Assim, o governo de um pas toma decises sobre a economia; e o artista, por exemplo, expressa problemas polticos em sua arte. fundamental que voc perceba as relaes existentes entre os diferentes fatores encontrados em cada uma delas.

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  • 8 :: HISTRIA :: MDULO 1

    Tambm sugerimos a leitura de bons livros (clssicos da literatura nacionais ou estrangeiros). Documentrios e fi lmes nacionais de carter histrico tambm so uma boa escolha!

    Vo aqui outras dicas bem econmicas: 1. Procure relacionar tudo aquilo que oua ou veja sobre a realidade brasileira

    e internacional com o que est aprendendo ou aprendeu.2. Discuta e converse sobre Histria com os colegas, com a famlia, com os

    amigos (a Histria viva, a Histria vida e est na vida).Finalmente, desejamos a voc sucesso no estudo que se inicia e aguardamos

    suas crticas e sugestes para que possamos aperfeioar sempre o material que, no se esquea, produzido para voc!

    Exerccio

    1) (Enem/2007) No s de aspectos fsicos se constitui a cultura de um povo. H muito mais, contido nas tradies, no folclore, nos saberes, nas lnguas, nas festas e em diversos outros aspectos e manifestaes transmitidos oral ou gestualmente, recriados coletivamente e modifi cados ao longo do tempo. A essa poro intangvel da herana cultural dos povos d-se o nome de patrimnio cultural imaterial. Internet:

    Qual das fi guras abaixo retrata patrimnio imaterial da cultura de um povo?(A) (B)

    (C) (D)

    (E)

    Gabarito

    1) C

    Conceitos: fato histrico, conjuntura e estruturaNo trabalho de investigao histrica, bem como na construo desse

    conhecimento, existem alguns conceitos especialmente importantes, como o de fato histrico, de conjuntura e de estrutura.

    A primeira observao que precisamos fazer que esses trs conceitos referem-se a tempos e duraes histricas diferentes.

    Vamos tentar entender melhor... Para isso, vamos tomar como exemplo a proclamao da Repblica no Brasil.

    O fato histrico um acontecimento singular, nico, que no se repete de forma idntica. A proclamao da Repblica um fato histrico que ocorreu em determinada data e local (tempo e espao) e teve uma durao limitada no tempo.

    A conjuntura o conjunto de condies relacionadas e articuladas entre si que caracterizam o cenrio onde ocorrem os fatos. Voltando ao nosso exemplo: para que ocorresse a proclamao da Repblica (fato), foram necessrias uma srie de condies de natureza poltica, social, econmica e cultural (conjuntura). As conjunturas tm uma durao mais ampla do que os fatos e, por isso, se modifi cam de forma mais lenta. Numa mesma conjuntura, ocorrem fatos variados e diferentes, mas que se relacionam entre si.

    E a estrutura? Podemos dizer que ela o conjunto das partes que compem uma determinada sociedade: a economia, a poltica, as relaes sociais, os valores, as ideias e as crenas. Esta, em termos de durao, a maior. As estruturas modifi cam-se com muita lentido. Considerando nosso exemplo, podemos dizer que a conjuntura favorvel ao fato encontrava-se inserida numa base maior, as estruturas de um Brasil Imprio centralizado, de base agrria, escravista, onde as elites rurais controlavam a poltica e a economia. Mesmo depois do fato ocorrido e com a mudana de conjunturas, as estruturas permanecem.

    As grandes mudanas estruturais so fruto de processos longos e, portanto, levam muito tempo para ocorrer.

    Como usar este material? Como estudar histria?

    Voc pode exercitar-se na construo da Histria que aprende, procurando refl etir sobre o que l, analisar de forma crtica o que l e o que ouve.

    Aqui vo algumas sugestes do que deve ser feito com este material:1. Leia cada texto uma vez com ateno para tomar contato com o assunto.2. Releia o texto com ateno e sublinhe, faa anotaes e resumos do que

    achou importante, do que no entendeu, das ideias principais.3. Leia com ateno as caixas de texto contendo as snteses e recapitule o

    que j sabe e o que precisa ser relido.4. No deixe de fazer os exerccios, quando houver, e de responder s

    perguntas que so feitas ao longo dos textos. Elas ajudam voc a raciocinar sobre o que est estudando.

    5. No caso de dvidas, procure esclarec-las nas aulas, consultando o seu tutor. No acumule dvidas! Procure se livrar delas logo! Voc tambm pode (e deve) utilizar o telefone 0800 282 0636 onde h tutores sua disposio.

    6. Dentro das possibilidades de cada um, possvel complementar o estudo da Histria acompanhando o noticirio (no jornal, na TV e no rdio).

    Esfi nge de Giz

    Pelourinho

    Bumba meu boi

    Cristo Redentor

    Cataratas do Iguau

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    Sociedades indgenas americanas, africanas e asiticas entre os

    sculos XIV e XV

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  • 10 :: HISTRIA :: MDULO 1

    Introduo

    Mundo, mundo, vasto mundo um verso de Carlos Drummond de Andrade em um de seus belos poemas. Ele pode nos fazer pensar na imensido deste planeta, nos seus muitos grupos humanos, nas muitas paisagens e histrias.

    E o que sabemos sobre este grande mundo em que vivemos? Em geral, vamos pouco alm das nossas fronteiras mais prximas, da nossa vizinhana, por assim dizer. E s vezes nem isso. Quando assistimos televiso, e ouvimos falar de cidades, lugares e pases distantes, parece que nem no nosso planeta. Ser?

    A histria que estudamos, na maioria das vezes, no contempla algumas regies do nosso vasto mundo. E, entre essas regies, algumas em especial que tm muito a ver com a maneira como nosso pas se formou. A frica, a sia e o continente do qual fazemos parte a Amrica vm ocupando um lugar pequeno nos nossos estudos de Histria at hoje.

    Os estudos que vamos iniciar agora vo justamente dar destaque a sociedades que viveram em reas do mundo em geral pouco conhecidas e que foram fundamentais para nossa Histria e este nossa compreende no apenas a humanidade da qual fazemos parte, mas o Brasil em especial.

    O perodo que vamos abordar o momento em que os grupos humanos dessas partes do mundo estreitaram seus contatos com os europeus e, pela primeira vez, at onde se sabe, entre africanos e asiticos e os indgenas das Amricas. Vamos focalizar os sculos XIV a XVI, uma fase de muitas mudanas na histria da humanidade. As relaes entre grupos humanos que pouco se conheciam tornaram-se mais prximas, ocorreram novas e intensas migraes e um longo processo de infl uncias recprocas se iniciou.

    Algum pode estar pensando: mas o que isso tem a ver com as nossas questes de hoje? O que ser que a histria da China ou da ndia tem a ver com a histria do Brasil? Ou, lembrando de um contedo de Histria estudado no ensino fundamental: o que havia nas chamadas ndias de to precioso que levava navegantes e comerciantes da Europa a arriscarem-se em viagens longas e perigosas naquela poca? Ou mesmo: por que era to importante para aqueles navegantes europeus se conectarem com essa parte do mundo o Oriente?

    Quanto histria indgena do Brasil, fi ca difcil imaginar algum que no veja a sua conexo conosco. Mas como teria sido a relao dos habitantes do nosso territrio com os seus vizinhos os moradores de territrios que hoje fazem parte de outros pases da Amrica --- antes da chegada dos europeus? Se o Brasil com essas fronteiras atuais no existia, no era toda a Amrica do Sul, toda a Amrica, um grande territrio indgena?

    J vimos no captulo 1 que a Histria se constri com base em perguntas, em questionamentos. Portanto, esse o nosso caminho. Esperamos que ao final do captulo possamos responder a essas e a outras questes. E, se no chegarmos a uma resposta exata, teremos ao menos uma base para traar possibilidades de respostas. E tambm para dar chance a que novas perguntas surjam.

    Povos indgenas da Amrica (sculos XIV e XV)

    A Amrica antes da conquista europeia (que se deu a partir do sculo XV) era um grande territrio indgena. Isto , povos nativos habitavam de norte a sul o continente, com suas fl orestas, plancies e montanhas. O Brasil era parte disso tudo. Mas nem o Brasil como pas existia, nem a Amrica tinha este nome nem era dividida em norte, centro e sul, como hoje.

    Havia uma enorme diversidade no modo de vida e na cultura dos povos indgenas da Amrica. Havia aqueles que viviam da pesca, da caa e da coleta de frutos silvestres, tirando diretamente da natureza sua subsistncia; havia os que conheciam uma agricultura simples, e se serviam dela como complemento alimentar; e havia ainda aqueles com agricultura desenvolvida, que produziam at mesmo alm de suas necessidades e faziam comrcio com a produo excedente.

    A guerra era parte da vida de muitos grupos, que disputavam territrios e bens. Do norte ao sul da Amrica as sociedades indgenas viviam perodos de confl itos e de paz, de prosperidade e penria. Desde os apaches, sioux e comanches da Amrica do Norte aos carabas das ilhas da Amrica Central, chegando aos patages no extremo sul da Amrica do Sul, grupos indgenas lutavam e se aliavam a povos vizinhos. As suas religies eram extremamente ligadas s foras naturais e aos espritos dos antepassados.

    A diversidade no se encontrava apenas na produo da sobrevivncia. Havia grupos nmades, que iam de lugar em lugar, buscando fontes de alimentos e clima favorveis; havia os seminmades, que, periodicamente, mudavam seu local de moradia, dentro de uma determinada rea; e havia ainda aqueles sedentrios, que tinham local fi xo para viver e, entre estes, alguns construram cidades, grandes templos, pirmides, observatrios astronmicos, e muitas obras grandiosas.

    Nos sculos XIV e XV na Amrica, entre esses ltimos grupos citados, destacavam-se os astecas e os maias, cujo territrio fi cava no que hoje o Mxico, e os incas, na Amrica do Sul, na regio andina (Peru, Equador, Chile). No caso dos maias, que habitavam o sul do Mxico, suas fronteiras iam at a Guatemala atual. Veja em um mapa geogrfi co onde fi cam esses pases atualmente (Peru, Equador e Chile para os incas; Mxico e Guatemala para os maias).

    Os maias tinham uma civilizao de muitos sculos, desde aproximadamente o sculo IV, com cidades-Estado construdas em torno de templos. Desenvolveram a astronomia e a matemtica, entre outros saberes, e deixaram muitos textos escritos. Na sua longa histria, enfrentaram confl itos internos e externos, o que fi nalmente os levou a uma grave crise interna entre os sculos XIII e XV, desestruturando a sociedade maia. No entanto, os maias no se extinguiram: sua lngua e seus costumes permaneceram, mesmo frente conquista e colonizao, e at hoje resistem.

    J os astecas, que habitavam o centro do Mxico nesse mesmo perodo, viviam uma fase de expanso sobre outros grupos indgenas. A grande extenso do Imprio obrigou-os a criar formas de participao poltica dos chefes dos grupos dominados, alm disso, passaram a ter um numeroso exrcito e um grande nmero de funcionrios. A grandeza do Imprio asteca aparecia nas suas cerimnias religiosas e polticas, realizadas nos templos e pirmides grandiosos da sua capital, Tenochtitln, atual Cidade do Mxico. Esta cidade foi construda sobre um sistema de lagos e canais, que faziam dela uma obra admirvel de arquitetura urbana.

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  • CAPTULO 2 :: 11

    Povos indgenas da Amrica na poca da conquista

    Fonte: PEREGALLI, Enrique. A Amrica que os europeus encontraram. So Paulo: Atual, 1986, p. 5. (adaptado)

    :: Sntese ::Entre as caractersticas da vida dos povos indgenas da Amrica nesse perodo, encontramos : diversidade entre as formas de produo da sobrevivncia, cultura e costumes; presena da guerra e de alianas polticas entre povos; existncia de sociedades com organizao social complexa, com tecnologias, produo cultural e artstica sofi sticadas para os padres de outras

    sociedades na mesma poca (inclusive europeias); declnio do poder dos maias e expanso dos astecas e incas; descontentamento de grupos dominados face ao domnio de grandes imprios e de grupos militarmente mais fortes.

    Nessa mesma poca, a cobrana de tributos e a retirada da autonomia das comunidades devido ao crescimento e centralizao do Imprio asteca causavam grandes descontentamentos. Os funcionrios do Imprio encontravam cada vez mais resistncia para receber os impostos cobrados das aldeias e de grupos que eram sditos do grande tlatoani (ttulo dado ao imperador) asteca.

    Na Amrica do Sul, os incas vinham se afirmando militarmente sobre grupos vizinhos desde princpios do sculo XIV. No sculo XIII haviam conquistado a cidade de Cuzco, nos Andes, ento controlada por trs tribos que se haviam unido e falavam um mesmo idioma: o quchua. Os incas lutaram contra esses grupos at conseguirem se impor, o que se deu finalmente no sculo XIV. Na vitria final, eram comandados pelo sinchi (chefe) Inka Roka, cujo nome passou a designar este grupo vitorioso e conquistador. Os vencedores ento adotaram a lngua local, o quchua, que at hoje falada por povos da regio dos Andes.

    Quando os europeus chegaram s Amricas, os incas estavam em plena expanso. Estavam montando seu Imprio, e tinham um sistema de aldeias

    AtabascosAlgonquinos

    ComanchesApaches

    Pueblos Musgoguis

    TenochtitlanConfederao Asteca

    Ocea

    no Pa

    cfico

    Sioux

    Seminolas

    Maias

    Aruaques

    Aruaques

    Aruaques

    Carabas

    Carabas

    Palos

    ChibchasCaras

    Tupis

    Tupis

    CuzcoGs

    QuchuasImprio Inca

    Aimars

    Araucanos Oceano

    Atlnt

    ico

    Patagnia

    1 Viagem de

    Colombo

    1492

    EsquimsEsquims Povos indgenas na poca da conquista

    migrao em curso no sc. XV

    Povos agricultores

    Zona de forte densidade (at 50h/km2)

    Zona de fraca densidade (de 1 a 5h/km2)

    Tribos nmades

    (menos de 10h/km2)

    comunitrias que produziam coletivamente e pagavam impostos. Essas aldeias eram os ayllus e seu chefe, o kuraka responsvel pelo recolhimento de impostos e redistribuio interna da riqueza produzida na aldeia. Esses chefes foram ganhando poder e muitas vezes exploravam os camponeses dessas aldeias comunitrias.

    Um breve intervalo, para uma pergunta: esses nomes diferentes (sinchi, ayllu, kuraka) so para serem memorizados? Para que saber sobre eles? Ora, so ttulos, to importantes para a histria das sociedades indgenas da Amrica como o de fara para o Egito Antigo ou o de csar para Roma, ou mesmo de rei para as monarquias europeias... claro que no precisamos decorar esses nomes estranhos... mas sempre bom saber! Assim estamos conhecendo os povos vizinhos do Brasil e aprendendo algo sobre eles.

    claro que o Brasil e seus povos indgenas faziam parte das Amricas. Mas como se trata de uma histria ainda mais prxima a ns, um espao especial foi a eles reservado no nosso estudo. A histria dos diversos grupos indgenas no Brasil faz parte da histria do povo brasileiro nunca demais lembr-la.

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  • 12 :: HISTRIA :: MDULO 1

    Povos indgenas do Brasil (sculos XIV XV)

    Fonte: AGUILAR, Maria Lidia. Trabalhando com mapas de Histria do Brasil. So Paulo: tica

    Comparativo entre estimativas da populao indgena moderna e da existente no Sculo XVI

    Grupos indgenas selecionados e localizao

    Estimativas da populao indgenaPopulao indgena moderna Sculo XVI

    Acre (Rio Purs) No menos de 16 grupos

    3.000-5.000 30.000

    Amazonas (Rio Branco) 9 grupos

    11.000-16.000 33.000

    Tocantins 19 grupos 5.000-5.600 101.000Nordeste - litoral 7 grupos 1.000 208.000Nordeste - interior No menos de 13 grupos

    85.000

    Maranho 14 grupos 2.000-6.000 109.000Bahia 8 grupos 149.000Minas Gerais 11 grupos 0-200 91.000Esprito Santo (Ilhus) 9 grupos 160.000Rio de Janeiro 7 grupos 97.000So Paulo 8 grupos 146.000Paran e Santa Catarina 9 grupos

    3.200-4.200 152.000

    Rio Grande do Sul 5 grupos 95.000Mato Grosso do Sul 7 grupos 6.200-8.200 118.000Mato Grosso Central No menos de 13 grupos

    1.900-2.900 71.000

    Outros ... 786.000Total ... 2.431.000

    Fonte: Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2000

    Carij: ocupavam o litoral de So Paulo at a lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul. Os Carij que habitavam a capitania de So Vicente foram escravizados. Eram cerca de 100 mil.

    Goitac: eram cerca de 12 mil e ocupavam a foz do rio Paraba.Temimin: eram cerca de 18 mil e ocupavam a ilha do Governador, na baa

    de Guanabara, e o sul do Esprito Santo.Tupiniquim: pertenciam ao tronco Tupi e ocupavam o sul da Bahia e So

    Paulo, entre Santos e Bertioga. Calcula-se que eram cerca de 85 mil.Aimor: grupo no Tupi, eram conhecidos como Botocudos. Viviam no sul

    da Bahia e norte do Esprito Santo. Eram cerca de 30 mil indgenas.Caet: viviam na ilha de Itamarac at as margens do rio So Francisco.

    Eram cerca de 62 mil indgenas quando foram escravizados a partir de 1562.Tabajara: habitavam desde a foz do rio Paraba at a ilha de Itamarac.

    Foram aliados dos portugueses e eram cerca de 40 mil.Potiguara: ocupavam o litoral do Maranho, do Cear e da Paraba e eram

    inimigos dos portugueses. Eram cerca de 90 mil.Trememb: grupo no Tupi que ocupava o territrio entre o sul do Maranho

    e o norte do Cear. Eram cerca de 20 mil.Tupinamb: pertenciam ao tronco lingustico Tupi e ocupavam grande parte

    do litoral brasileiro, principalmente o recncavo baiano e a baa de Guanabara. Calcula-se que eram cerca de 100 mil indgenas. Foram aliados dos franceses e lutaram contra os portugueses no Rio de Janeiro.

    No Brasil, quando ainda o Brasil no existia...Este mapa pode no ser exato, mas traz uma ideia aproximada dos diferentes

    grupos indgenas que habitavam o que veio mais tarde a ser o territrio brasileiro, em torno dos sculos XIV-XVI.

    Vamos observ-lo atentamente. A partir dessa observao, j poderemos tirar as primeiras concluses sobre o assunto.

    A primeira poderia ser a quantidade de grupos indgenas diferentes, ou seja, a diversidade de povos existentes. Os povos nomeados no mapa poderiam, cada um ou alguns deles, dividir-se em outros subgrupos, falar uma lngua diferente, ter religies diferentes, produzir sua sobrevivncia de um modo prprio e distinto uns dos outros.

    Devemos destacar que as fronteiras dos territrios que esses povos habitavam no se restringiam ao que temos hoje como limites do territrio brasileiro. Sua rea de ocupao e de trnsito era muito mais ampla. E certamente, dentro do que o territrio nacional, muito maior do que reconhecido hoje como rea indgena.

    No que era o territrio brasileiro desse perodo, muitos grupos indgenas viviam em constante movimento, seja em processos de busca por melhores fontes de alimento, ou melhores terras, ou na disputa por rotas de contato com outros grupos e no acesso a produtos cobiados.

    Havia disputas, guerras e alianas entre esses povos. Neste aspecto, a histria dos ndios do Brasil no se diferencia da histria de outras sociedades. A guerra era parte de sua vida, mas a poltica de boa vizinhana tambm. Nas guerras faziam prisioneiros, capturavam mulheres e conquistavam territrios. Com as alianas, garantiam apoio nas suas disputas, ampliavam sua rea de infl uncia e tornavam possveis as trocas comerciais e o aprendizado com outros grupos.

    Cada uma das regies do que era o Brasil indgena tinha suas caractersticas prprias, ambientais e sociais. Os recursos naturais poderiam, segundo a regio,

    Grupos indgenasTupi-guaraniJAruaqueCaribe

    Outros

    Oceano Atlntico

    PanoTucanoCharrua

    Cariri

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  • CAPTULO 2 :: 13

    favorecer mais a atividade agrcola ou menos, assim como a pesca, a caa e a coleta de frutos silvestres ou mesmo o artesanato. Mas no era o meio ambiente que defi nia os padres de vida. Havia muitos outros fatores. Um deles era a relao que esses grupos tinham com outros grupos indgenas ao seu redor. Vamos a um exemplo. Os povos indgenas que habitavam a Amaznia em regies prximas ao Alto Peru, e que tinham contatos com povos do antigo Imprio Inca, alm de produzirem excedente agrcola em suas plantaes de milho, dominavam o artesanato com a utilizao de metais preciosos. Nesses grupos havia sociedades com uma organizao social com certo grau de hierarquia maior que a de grupos moradores da regio mais central do que o territrio brasileiro hoje.

    A expanso dos incas sobre povos vizinhos atingiu diretamente a vida desses povos indgenas. Alguns grupos migraram para fugir do domnio dos incas e outros passaram a estabelecer contatos para a realizao de trocas e alianas polticas e comerciais. Ou seja: nesse contexto, houve mudanas na vida desses ndios da Amaznia.

    Os habitantes nativos do Brasil dos sculos XIV e XV conheciam em grande parte a agricultura, ainda que a maioria a praticasse de forma muito simples. Dominavam recursos naturais para construir suas casas (exemplo: paredes de barro, telhados de palha), para fabricar seus instrumentos de trabalho, de lazer e meios de locomoo (canoas, jangadas).

    Quase todos os grupos acreditavam que espritos e seres divinos infl uenciavam em cada acontecimento do seu cotidiano. Se por acaso chovia, se fazia sol, se uma estrela parecia ter mudado de lugar no cu, se encontravam uma boa caa para se alimentar ou se a pesca no era boa tudo poderia ser explicado por suas crenas religiosas. Acreditavam que tambm era possvel mudar o rumo dos acontecimentos se conseguissem aprender a se comunicar e a agradar os seres desse mundo espiritual.

    Havia uma produo artesanal que variava de grupo para grupo, de acordo com os recursos disponveis e os conhecimentos tcnicos. Objetos de cermica, de palha de folha de palmeira ou de casca de frutos serviam para uso e muitas vezes recebiam pinturas e adornos, transformando-se em arte.

    :: Sntese ::Os grupos indgenas do Brasil, antes do contato com os

    portugueses, apresentavam algumas caractersticas importantes, entre as quais podemos destacar:

    diversidade cultural, lingustica, tecnolgica ou seja, havia diferentes grupos, com hbitos e costumes diferentes, falando diversos idiomas e com formas de desenvolvimento distintas;

    presena da guerra como meio de incorporar territrios e pessoas ao universo do grupo;

    mobilidade espacial, pois mudavam de rea de moradia e/ou de produo de alimentos de tempos em tempos;

    prtica de diferentes atividades econmicas, como a caa, a pesca e a coleta de frutos, juntamente com a agricultura e o artesanato, e as trocas comerciais em alguns casos;

    estreita relao do mundo material com o espiritual, levando a uma importncia da religiosidade no dia a dia das pessoas.

    E chegaram os portugueses...Datam do sculo XV as primeiras notcias da presena portuguesa no que veio

    mais tarde a ser o territrio brasileiro. Certamente j ouvimos falar de Pedro lvares Cabral e da chegada da frota portuguesa que ele comandava, em 22 de abril de 1500. Era, portanto, o ltimo ano do sculo XV.

    Vejamos um relato de um historiador indgena, Kak Wer Jecup, no seu livro A Terra dos Mil Povos Histria Indgena Contada por um ndio:

    Na poca da chegada de Pedro lvares Cabral, a viso de mundo predominante nestas terras era tupi. Todos os outros povos no tupis eram chamados por eles de Tapuia, o que signifi ca brbaros. Os Tupy dividiam ento esta terra em Tapuiretama e Tupiretama: lugar dos Tapuia e lugar dos Tupy.

    Os primeiros contatos com os indgenas deste grupo tupi (ou Tupy, segundo o autor) parecem ter sido amistosos, segundo relatam as fontes. Sobre este fato, temos o testemunho dos portugueses apenas. A carta do escrivo da frota de Cabral, Pero Vaz de Caminha, um dos documentos que nos traz informaes a respeito.

    [...] Assim, quando o batel (barco) chegou foz do rio estavam ali 18 ou 20 homens, pardos, todos nus, sem nenhuma roupa que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mos e suas setas. [...]

    E, logo adiante na mesma carta, contando de um momento no fi nal do primeiro dia de contato entre portugueses e ndios:

    Nesse dia, quando ali andavam, danaram, cantaram, e bailaram sempre com os nossos, ao som de um tamboril nosso, como se fossem mais amigos nossos do que ns seus.

    Os indgenas que fi zeram contato com os portugueses da esquadra de Cabral eram os tupiniquins. Os relatos contam de um encontro quase amistoso com os portugueses. Mas, seguramente os nativos se surpreenderam e se assustaram com a apario daqueles homens to diferentes, estranhamente vestidos e com tantos objetos desconhecidos. E com certeza as tentativas de comunicao esbarraram em medos, em mal-entendidos e em incompreenses. Podemos tentar imaginar: o que ser que os ndios pensaram naqueles tempos?

    Os portugueses consideravam estar tomando posse de uma terra sem dono para o rei de Portugal. Claro que tal ideia no poderia ser compreendida da mesma forma nem aceita pelos indgenas. Mas, as primeiras investidas dos portugueses no demonstraram todas as suas intenes e a receptividade dos nativos realizao de trocas de produtos locais por mercadorias que os estrangeiros traziam foi inicialmente boa.

    As trocas comerciais, por produto e por trabalho, faziam parte do universo indgena e, ainda que pudessem estranhar os interesses portugueses em obter tanta madeira (pau-brasil), podiam realizar a tarefa de retir-la em forma de escambo por alguns produtos que lhes interessavam. Facas, machadinhas, enfeites, objetos diferentes, como espelhos, interessavam aos nativos. No eram considerados como quinquilharias nem eram inteis para os ndios. Esses objetos tinham um valor, o

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    alda gomesSticky Notemudanas na vida dos ndios da Amaznia por influncia dos Incas

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    alda gomesSticky Note

    alda gomesSticky NoteAgricultura simples e domnio dos recursos naturais

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    alda gomesSticky NoteViviam sobre nas crenas religiosas, sobe influencia de espritos e seres divinos

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    alda gomesSticky NoteImportatnte

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  • 14 :: HISTRIA :: MDULO 1

    Dessas viagens, percorridas por terra, em milhares de quilmetros, atravessando desertos, montanhas e campos que pareciam interminveis, no s chegavam notcias, mas tambm novidades em produtos, tecnologias e conhecimentos. Assim, da China vieram a imprensa, o papel e a tinta, a plvora, a bssola, a seda e a porcelana produtos de luxo na poca. Da ndia foram trazidos os nmeros que utilizamos no cotidiano, muito mais prticos para os clculos que os algarismos romanos. De l tambm saram as especiarias temperos e perfumes que causaram tantas disputas e que deram importantes razes para a expanso martima.

    Alm dos produtos e tecnologias, outros conhecimentos como a medicina chinesa, utilizando a acupuntura, a fi losofi a e os conhecimentos cientfi cos dos indianos cruzavam montanhas, desertos e vales at a Europa, nas caravanas do comrcio de longa distncia. Grande parte desse comrcio era feita por mercadores de origem rabe, muitos deles muulmanos.

    Mas no s o comrcio levou produtos do Oriente para a Europa. As guerras e a expanso de alguns povos tambm levaram. Foi o caso da expanso mongol, com os exrcitos de Genghis Khan, no sculo XIII, que criou a base para o grande Imprio Mongol. Foram os exrcitos mongis que levaram para a Europa as armas de fogo e a plvora.

    A ChinaNa China, o sculo XIV foi marcado pela ascenso de um governo centralizado

    na Dinastia Ming. De origem camponesa, o primeiro soberano Ming era um militar. O incio do governo da dinastia foi dedicado defesa(trmino da construo da Grande Muralha com seus 5.000km) e retomada de territrios chineses no norte do pas.

    Esses governantes implementaram, tambm, uma poltica de expanso comercial e poltica, alcanando, por meio de viagens ocenicas, a frica, a Arbia, a ndia, o Ceilo (atual Sri-Lanka), o Sudeste asitico e o Vietn. As viagens eram grandes expedies, com at mais de cinquenta barcos cada uma. Essas aes da Dinastia Ming trouxeram prosperidade China e atraram comerciantes e navegantes de outras partes do mundo, em especial os europeus.

    Alm de expanso comercial, os governantes chineses desse perodo realizaram uma poltica de recuperao da agricultura (irrigao, drenagem, refl orestamento sobretudo no norte) e introduo de novos cultivos. A China era um pas essencialmente agrcola e a prosperidade da sua rea rural garantia o fornecimento de produtos para o comrcio e a alimentao de sua gente. O trabalho dos camponeses e dos artesos era a base da produo de riqueza na China nessa poca. Mercadorias como as fi nssimas sedas e a porcelana saam dessas mos.

    O JapoO Japo vivia sob muita infl uncia cultural e mesmo poltica da China. Entre

    os sculos XIII e XVI ocorreram vrias guerras internas. Os shoguns chefes da guerra e senhores da terra e os samurais os guerreiros faziam parte de uma estrutura de poder que se impunha sobre os camponeses e disputava o domnio sobre territrios. No havia um rei que dominasse tudo e todos, pois o poder era descentralizado. A aristocracia japonesa era poderosa e reinava sobre as suas parcelas de domnio, sem permitir um poder externo superior.

    mesmo valor que podemos atribuir hoje a um produto estrangeiro, raro e original. E os portugueses queriam o pau-brasil no s por ser uma madeira resistente, mas tambm para extrair da madeira uma substncia da qual fabricavam tinta para tecidos.

    :: Sntese ::O que podemos reter desse encontro entre portugueses e ndios

    do Brasil, como suas caractersticas mais gerais: o estranhamento para portugueses e indgenas ao se

    encontrarem pela primeira vez, tendo em vista jamais terem visto pessoas to diferentes;

    a realizao das primeiras trocas comerciais, chamadas de escambo, em especial do pau-brasil trocado por objetos trazidos pelos europeus;

    o clima inicial amistoso, ainda que os portugueses acreditassem que estariam tomando posse de uma terra sem dono para o rei de seu pas.

    Um dos barcos da frota de Cabral voltou para Lisboa para relatar o descobrimento da nova terra. Seu comandante levou, alm de papagaios, macacos e amostras minerais, um ndio capturado por Gaspar de Lemos, e, segundo consta, contra as ordens do comandante.

    A esquadra de Cabral deixou no territrio brasileiro dois degredados (indivduos condenados a serem expulsos de Portugal), e dois aprendizes de marinheiro que abandonaram a esquadra. Foram estes os primeiros portugueses que fi caram no Brasil. Em 2 de maio de 1500, Cabral seguiu com seus barcos para a ndia, lugar que era objeto de muito interesse por parte dos europeus.

    Por que ser que a ndia era uma terra to cobiada? Vamos pensar: o interesse em chegar ao Oriente era to grande que os portugueses e espanhis enfrentaram mares desconhecidos, em viagens muito perigosas... E mais: ao chegar Amrica pela primeira vez, os espanhis acreditaram fi nalmente ter chegando ndia por um outro caminho e por isso chamaram seus habitantes de... ndios. Da vem este nome.

    Vamos conhecer um pouco mais sobre os povos do chamado Oriente, terra de riquezas cobiadas naqueles tempos...

    Os povos do oriente (China, ndia e Japo) nos sculos XIV e XV

    As notcias sobre as terras a leste da Europa percorriam cidades e castelos do continente desde muitos sculos. Durante a chamada Idade Mdia europeia (sculos V ao XV), estiveram por l viajantes clebres e quase lendrios, como Marco Polo. Esses viajantes trouxeram informaes sobre riquezas e reinos poderosos nas terras ento distantes do Oriente, de onde vinham produtos muito desejados, especialmente pelos ricos comerciantes e pela nobreza europeia.

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  • CAPTULO 2 :: 15

    Na verdade, a ndia no era produtora de todas as especiarias, mas centralizava boa parte do comrcio desses produtos na regio, incluindo os que vinham das ilhas do sul da sia. Os comerciantes indianos tinham seus contatos para trazer a canela do Ceilo e a noz-moscada das ilhas da Indonsia, ambos importantes produtos. No entanto, havia uma especiaria cobiada que era de origem indiana: a pimenta-do-reino, que assim fi cou conhecida no Brasil por ser vendida pelos portugueses.

    Ento, vamos tentar responder pergunta que fi zemos na Introduo deste captulo. Voltemos a ela: o que havia nas chamadas ndias de to precioso que levava navegantes e comerciantes da Europa a arriscarem-se em viagens longas e perigosas naquela poca? Acreditamos que voc, aps a leitura deste captulo, j possa elaborar sua resposta.

    :: Sntese ::As sociedades do Oriente, incluindo a China, a ndia e o Japo, tinham como caractersticas nesse perodo: presena de religies desde h muito enraizadas nas culturas locais como o hindusmo e o budismo, convivendo com a religio muulmana; existncia de diferentes sistemas polticos, centralizados em monarquias ou marcados pela convivncia entre poderes locais; produo de variadas mercadorias, de corantes e temperos a tecidos de luxo e joias, e a articulao entre as diferentes regies atravs de rotas comerciais. Havia, tambm, conexes comerciais entre estas e outras reas da sia e mesmo da frica oriental, pelas vias do comrcio martimo, assim como com a Europa mediterrnea, pelo comrcio caravaneiro; importncia do comrcio de longa distncia para a riqueza de soberanos locais e comerciantes.

    Um imprio se forma no Oriente prximo :: os otomanos

    Observe o mapa do Imprio turco-otomano e localize as cidades de Ankara, Constantinopla, Bursa. Nessa regio, durante o sculo XIII, vrios pequenos Estados de maioria turca disputavam o domnio poltico. Esses Estados se afirmaram pela atividade guerreira e pela f muulmana, declarando-se sempre guerreiros da f soldados do Isl no mundo.

    A Turquia era e ainda uma regio muito importante na geopoltica da Europa e da sia. o limite entre os dois continentes, o pas que divide e que une, pelas rotas terrestres, Ocidente e Oriente. Vale a pena olhar um mapa e localizar a Turquia nele. E mais: hoje o Parlamento Europeu est discutindo se aceita a Turquia na Unio Europeia. Alguns pases temem que seja uma porta aberta aos imigrantes de origem rabe, o que torna a deciso difcil devido ao grande medo de setores da sociedade europeia.

    Os produtos do Japo em grande parte estavam associados s atividades econmicas chinesas. Os japoneses desenvolveram a delicada pintura sobre seda, tornando esse produto ainda mais especial e cobiado. Alm de atividades artesanais, nesse perodo praticavam a pirataria, principalmente sobre embarcaes chinesas. Os japoneses, vivendo num conjunto de ilhas (num arquiplago, portanto), desenvolveram uma forte atividade naval.

    Os europeus chegaram s costas japonesas no sculo XVI, mas, desde antes, comerciantes japoneses negociavam com mercadores das rotas de longa distncia, que cruzavam toda a sia, vindos desde o Mar Mediterrneo.

    A ndiaA ndia no sculo XV estava dividida em sultanatos, territrios independentes

    cujos governantes cheios de poder eram chamados sultes. Diferentes religies conviviam na ndia. As mais expressivas eram o islamismo, o hindusmo e o budismo. Na poca havia uma tolerncia entre as diferentes religies.

    Na regio sul da ndia, nessa mesma poca, surgiram muitas cidades de arquitetura luxuosa. A capital dessa parte do pas era a cidade de Vijayanagar, com diversos templos e palcios. Hoje, as runas dessa cidade-templo cobrem mais de 25km quadrados. Nas cidades reuniam-se as cortes ligadas aos grandes sacerdotes e sultes, formadas por muitos estudiosos, fi lsofos, historiadores. Um verdadeiro grupo de intelectuais e escritores, que deixaram registradas suas ideias e obras.

    Uma das atividades que sustentava toda essa riqueza era a coleta e a produo de gneros alimentcios (temperos e outros produtos) comerciados por grandes mercadores e colocados no mercado de longa distncia. Temperos picantes, ervas de cheiro para as comidas, corantes alimentcios que alm de dar sabor, serviam como estimulantes e remdios naturais eram produtos de muito valor. Pensemos: era um tempo sem geladeira, o sal era um produto difcil de se conseguir como ento conservar e dar sabor aos alimentos?

    Especialmente no caso da Europa, onde o clima no favorecia o cultivo desses temperos, sua presena na mesa e no preparo de chs e infuses medicinais era muito importante. O sabor e as propriedades das chamadas especiarias tornavam-nas valorizadas. A ndia fi cava longe da Europa, era um longo caminho por terra, nas rotas das caravanas, o que encarecia os produtos. Os comerciantes de longa distncia, muitos deles muulmanos, de acordo com a instabilidade da regio (guerras, confl itos) podiam ter difi culdades no seu caminho. Isso encarecia ainda mais as cobiadas especiarias.

    Em 1498, o navegador portugus Vasco da Gama chegou cidade de Calicute, no litoral ocidental da ndia. Logo os portugueses travaram alianas com o soberano local para obter especiarias e lev-las Europa pela via martima, contornando a frica. Depois de trs meses de negociao com o samorim, soberano de Calicute, e muitos presentes ofertados, os portugueses conseguiram ser aceitos como parceiros no rico comrcio at ento controlado em grande parte por comerciantes rabes estabelecidos na ndia. Os comerciantes da expedio de Vasco da Gama, ao retornarem depois de sua bem-sucedida viagem ndia, venderam as especiarias que l compraram com lucros de at 6.000%!

    Foi o incio de uma longa presena portuguesa nessa rea, sempre ligada ao comrcio de especiarias. Outros tratados comerciais foram feitos entre portugueses e soberanos indianos das cidades costeiras de Diu, Damo, Goa e Cochim, entre outras.

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  • 16 :: HISTRIA :: MDULO 1

    mediterrnea e um smbolo do limite entre a cristandade e o mundo muulmano. A partir da, invadiram e conquistaram tambm a Srvia (na regio dos Blcs) e a Grcia. Assim, todas as vias de contato terrestre da Europa com o Oriente estavam em mos islmicas isto , muulmanas. A secular rivalidade entre grupos das duas grandes religies monotestas mais uma vez crescia frente ao que os europeus viam como uma ameaa ao cristianismo e ao modo de vida europeu.

    Vamos pensar no mundo de hoje. Ser que essas questes esto to distantes de ns? Se pesquisarmos nas manchetes internacionais dos jornais de hoje, que notcias podemos encontrar que se relacionem ou que lembrem os conflitos e temores do sculo XV entre a Europa e a sia Ocidental?

    Confi ra no mapa as fases da expanso turco-otomana.

    L no sculo XIV, um desses Estados alcanou a supremacia sobre os outros e deu incio a um forte processo expansionista. Seu governante, chamado Osman (Uthman, em rabe), deu nome ao reino que se formou a partir dessa expanso militar: reino otomano. Os otomanos conquistaram terras e cidades, a leste e a oeste, e fi zeram alianas. Sua fama de valentes soldados fazia com que os reis de pases vizinhos contratassem seus guerreiros para garantir ou tomar o poder. E assim, o apoio mtuo era estabelecido.

    A nobreza otomana (sultes) desenvolvia no s a guerra, mas as artes e a cincia, formando e contratando arquitetos e mestres de obras renomados para suas cidades, bem como gegrafos, tcnicos em estudos nuticos e cartgrafos para orientar na atividade martima e de conquista terrestre.

    Em 1453, os otomanos tomaram a importante cidade de Constantinopla, capital do Imprio Bizantino, a cidade mais importante da Europa oriental

    Oceano Atlntico

    Mar MediterrneoArgel

    Fronteira do Imprio Otomano por volta de 1395

    Fronteira do Imprio Otomano por volta de 1520

    Fronteira do Imprio Otomano por volta de 1683

    Trpoli

    Konya

    Ankhara Tabris

    ThilisiAmasyn

    Bursa

    EdirneConstantinoplaConstantinopla

    Tnez

    Veneza

    Viena

    Batalha junto a Mohcs, 1526

    Batalha junto a Petrovaraon, 1716Batalha junto a Petrovaraon, 1716

    Batalha junto a Ninpolis, 1396Batalha junto a Ninpolis, 1396

    Batalha junto a Caldiran, 1514Batalha junto a Caldiran, 1514

    Batalha junto a Varna, 1444

    Batalha de Lepanto, 1571Batalha de Lepanto, 1571

    Batalha em Kosovo,1396/1448

    Batalha em Kosovo,1396/1448

    Mar Negro

    Cairo

    FRICAPENNSULAARBICA

    SIA

    SIAEUROPA

    Meca

    Bagd

    Mar Vermelho

    Mar Cspio

    Istambul

    Estreito de Bsforo

    Imprio turco-otomano

    :: Sntese ::Estas so algumas das caractersticas da expanso otomana (e, portanto, da formao do Imprio Otomano): presena da religio muulmana como fator de unio entre povos turcos antes dispersos e nmades; desenvolvimento de uma produo artstica e cultural nas cidades conquistadas, com fl orescimento da cincia e das tcnicas; grande expanso para o leste encontrou resistncia mongol (tambm muulmanos) e para o oeste ganhou territrios do Imprio Bizantino e diversas

    reas da Europa mediterrnea e Blcs; a tomada de Constantinopla (1453) provocou onda de medo na Europa; o comrcio com o Oriente passou a ser controlado em boa parte pelos otomanos, que no impediram sua continuidade, mas criaram barreiras e impostos,

    levando mercadores e soberanos europeus a buscarem novas rotas para chegar s desejadas especiarias.

    historia1-2012.pdf 16historia1-2012.pdf 16 01/02/2012 11:30:2701/02/2012 11:30:27

  • CAPTULO 2 :: 17

    Povos da frica (sculos XIV e XV)

    alm da agricultura e do comrcio, praticavam a minerao e extraam ouro das ricas minas da frica.

    Entre esses ltimos, havia sociedades africanas com antiga e importante atividade comercial com a Europa, com o mundo rabe, com a ndia, e mesmo com a China. As caravanas de comrcio percorriam longas distncias, levando mercadorias africanas (ouro, marfi m, sal do deserto africano, pimentas, peles de animais) e trazendo produtos de diversas partes do mundo para serem vendidos na frica, principalmente para os nobres locais. Era o chamado comrcio de longa distncia.

    Houve sociedades africanas que nesse perodo enriqueceram com esse tipo de comrcio. Algumas delas criaram reinos que se tornaram verdadeiros imprios grandes e poderosos. Um desses reinos foi o reino do Mali, na frica Ocidental.

    O reino do Mali surgiu por volta do sculo XIII, numa regio no alto do rio Nger, na fronteira entre a Guin e o atual Mali, sob o comando do povo malinqu

    MarrakechMARROCOS

    Fez

    Tanger Argel Tunes

    Mar Mediterrneo

    Trpolis

    CairoEGITO

    DESERTO DA LBIA

    DESERTO DA NBIA Mar Vermelho

    Massawa

    Gondar

    ETIPIA

    Mogadoxo

    Mombaa

    Zanzibar

    Quiloa

    QuehmaneIMPRIO ROZVI Grande Zimbabwe

    Oceano ndico

    Oceano Atlntico

    DESERTO DO CALARI

    DESERTO DA NAMBIA

    Cidade do Cabo

    Boa Esperana

    Luanda

    CONGO

    BACIA DO CONGO IMPRIO DO BUNYORO

    IMPRIO DO BUGANDA

    IMPRIO DO BENIM

    Agades

    DESERTO DO SAARA

    BORNU

    ESTADOS YORUB

    ESTADOS HAUSACano

    OYO

    DAOME

    IMPRIOACHANTI

    ESTADOS MOSSI

    GaoTombuctu

    IMPRIO SONGAIIMPRIO DO GANA

    DjennSgouIMPRIO DO MALI

    St. Louis

    Taghaza

    Ruanda

    POVOS MASAI

    MADAGASCAR

    A frica est em ns. Em ns, brasileiros, pelas origens de uma parte considervel de nossos

    antepassados. E mesmo que no sejam nossos antepassados biolgicos, os africanos so culturalmente parte inseparvel da Histria de todos ns, brasileiros. Alm disso, a frica o lugar onde a humanidade teve sua origem.

    Assim como no continente americano, na frica havia, entre os sculos XIV e XV, populaes muito diversas na sua organizao social, poltica e econmica. Havia alguns poucos grupos humanos vivendo apenas da caa, da pesca e da coleta de frutos silvestres. Havia grupos de pastores nmades, que subiam e desciam ao longo do leito de rios, e que tinham uma agricultura simples. Outros grupos tambm praticavam uma agricultura simples para sobrevivncia, mas eram sedentrios. Tambm havia povos que realizavam uma agricultura geradora de excedente, o que criava condies para o comrcio. E havia ainda aqueles que,

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  • 18 :: HISTRIA :: MDULO 1

    conhecido tambm como povo mandinga. Eles eram famosos porque, alm de valentes guerreiros, conheciam as artes mgicas da feitiaria. Mas os soberanos do reino do Mali no se diziam feiticeiros, e eram muulmanos. E, como bons muulmanos que queriam ser, tinham que viajar pelo menos uma vez na vida at a cidade sagrada de sua f: Meca, na Pennsula Arbica (veja no mapa).

    Um desses reis, Kankan Mussa, fez uma peregrinao a Meca que impressionou a todos pelo luxo de sua comitiva. Levava muito ouro e uma Corte de pessoas ricamente vestidas, alm de escravos. Toda essa riqueza atraiu para o reino do Mali muitos comerciantes, alm de artistas e estudiosos do mundo rabe. Gegrafos, escritores, estudiosos da religio muulmana foram conhecer e ganhar a vida em Tombuctu, uma das mais importantes cidades daquele reino e um dos grandes centros de produo de conhecimento daquele tempo. Em Tombuctu havia vrias escolas cornicas (escolas religiosas da religio muulmana, o Islamismo) e centros de estudos religiosos. Os livros eram uma das mercadorias mais valorizadas no local.

    Toda essa riqueza se sustentava nos tributos (impostos) pagos pelas aldeias submetidas ao reino, na explorao das minas de ouro e no comrcio de longa distncia. Mas o reino do Mali acabou se desagregando no sculo XV, justamente por no conseguir manter o controle sobre suas fronteiras. Atingido pelas consequncias da presena portuguesa a oeste e da presso de um novo reino africano que se fortalecia a leste, o reino perdeu sua fora.

    O novo reino que se formava acabou conquistando boa parte do antigo Mali. Era o reino de Songhai, que tambm cresceu e formou um imprio, ainda maior que o reino do Mali. Seus governantes eram do povo sonink. O territrio de Songhai era dividido em vice-reinados e provncias, e tinha um exrcito profi ssional para garantir sua estabilidade e dar segurana ao comrcio. Os soberanos desse reino, entre muitas outras iniciativas, investiram em melhorias na agricultura, trazendo tcnicos judeus conhecedores do assunto, e unifi caram pesos e medidas dentro das fronteiras do reino.

    Enquanto isso acontecia na frica Ocidental (onde fi cavam Mali e Songhai), no sul da frica Oriental, s margens do Oceano ndico, crescia e tomava fora um outro reino igualmente rico e poderoso. Tratava-se do reino de Muene Mutapa, o qual existia desde sculos anteriores mas que alcanou especial esplendor no sculo XV. O povo shona, que fundou esse reino, ergueu naquela poca impressionantes construes de pedra que existem at hoje no atual Zimbbue. A riqueza do reino vinha do comrcio de objetos feitos de ferro, fabricados a partir de matrias-primas de suas minas e de uma tcnica sofi sticada de metalurgia. Esse reino comerciava pelo porto de Sofala (em Moambique atual) os seus produtos e os escravos que capturava nas guerras que promovia. A ndia era um de seus principais compradores.

    Vejamos ento: reinos ricos e poderosos na frica, em permanente contato com o Oriente e a Europa. Muito diferente da ideia que se tem da histria dos povos desse continente, no verdade? Vamos pensar nessas diferenas e tentar entend-las.

    Esse era o mundo africano nos sculos XIV e XV, to diverso, to atraente para os olhos cheios de interesse dos europeus, em especial os portugueses to prximos da frica pela geografi a e pela histria de seu pas. Ouro da frica, riquezas, terras sem fi m. No sem razo os portugueses iniciaram a expanso martima pelo norte da frica. No ano de 1415, tomaram a cidade de Ceuta,

    antigo porto do norte-africano. Dali, comearam a contornar o litoral africano em direo ao Oceano Atlntico, deram nomes aos acidentes geogrfi cos que percebiam, marcando caminhos.

    Aos poucos, conseguiram chegar at alguns pontos do litoral africano, fazer alianas com os povos do lugar e comear a comerciar com eles por esta via o Oceano Atlntico. Cada vez as expedies iam mais longe... Chegaram ao Golfo da Guin, onde vieram a fundar o forte de So Jorge da Mina, e tambm desembocadura do rio Zaire, que os levou ao poderoso reino do Kongo, no interior. Esse reino, que tinha o tamanho de um quarto do territrio francs de hoje, era governado pelo manikongo (ttulo de seus reis), e o povo bakongo era a sua base. Esses reis ampliaram no sculo XV as fronteiras de seu reino atravs de guerras e alianas matrimoniais casavam-se com as fi lhas de chefes de povos vizinhos e recebiam o domnio de novas reas.

    A riqueza do reino do Congo era obtida de diferentes formas. Primeiramente, atravs do trabalho agrcola, o qual, apesar da terra pouco frtil, era muito desenvolvido em termos de tecnologias para aproveitamento do solo. Outra forma de riqueza era o comrcio de ferro e de sal. Comerciava-se tambm objetos de cobre, joias, objetos de marfi m antes mesmo da chegada dos portugueses em 1483. Quando estes chegaram, o comrcio se intensifi cou e passou a ter como mercadoria algo muito precioso para os portugueses na poca: os escravos.

    Finalmente, em 1488, os navegantes portugueses deram a volta ao sul do continente e chegaram ao Oceano ndico. Estava descoberto o caminho martimo para as ndias, como fi cou registrado. Mas, alm da ndia e suas riquezas, essas navegaes colocaram os portugueses em contato com sociedades do litoral da frica Oriental e com todo o ativo comrcio dessa regio. Imaginem quantas possibilidades eles viram!

    Novas rotas se criaram, novos caminhos... Esses caminhos acabaram por conectar a frica ao Brasil e foi o comeo de uma nova fase da nossa Histria.

    :: Sntese ::Algumas das caractersticas que podemos assinalar sobre os povos

    africanos entre os sculos XIV e XV so: diversidade de povos, idiomas, culturas, religies; a produo da sobrevivncia e das riquezas era realizada

    de diferentes formas, entre os diferentes grupos e nas diferentes regies;

    havia ativo e permanente contato comercial dentro do continente (sobretudo nas rotas de caravanas pelo deserto do Saara) e para fora do continente, com o mundo rabe-muulmano, com a Europa e com o Oriente;

    a chegada dos portugueses pelo litoral Atlntico e ndico trouxe uma ampliao desses contatos e uma nova insero dos africanos no comrcio martimo nem sempre favorvel aos povos do continente.

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  • CAPTULO 2 :: 19

    (A) pessoas de diferentes lugares, por fazerem uso de tecnologias de vanguarda, desfrutam da mesma realidade cultural.

    (B) o ndio assiste ao futebol e ao show, mas no capaz de entend-los, porque no pertencem sua cultura.

    (C) pessoas com culturas, valores e relaes diversas tm, hoje em dia, acesso s mesmas informaes.

    (D) os moradores do Harlem e de Hong Kong, devido riqueza de sua Histria, tm uma viso mais aprimorada da reallidade.

    (E) a crena em Tup revela um povo atrasado, enquanto os moradores do Harlem e de Hong Kong, mais ricos, vivem de acordo com o presente.

    3) (Enem/2010) O Imprio Inca, que corresponde principalmente aos territrios da Bolvia e do Peru, chegou a englobar enorme contingente populacional. Cuzco, a cidade sagrada, era o centro administrativo, com uma sociedade fortemente estratifi cada e composta por imperadores, nobres, sacerdotes, funcionrios do governo, artesos, camponeses, escravos e soldados. A religio contava com vrios deuses, e a base da economia era a agricultura, principalmente o cultivo da batata e do milho. A principal caractersitica da sociedade inca era a:

    (A) ditadura teocrtica, que igualava a todos.(B) existncia da igualdade social e da coletivizao da terra.(C) estrutura social desigual compensada pela coletivizao de todos os bens.(D) existncia de mobilidade social, o que levou composio da elite pelo

    mrito.(E) impossibilidade de se mudar de extrato social e a existncia de uma

    aristocracia hereditria.

    4) (Enem/2010) Os vestgios dos povos tupi-guarani encontram-se desde as Misses e o rio da Prata, ao sul, at o Nordeste, com algumas ocorrncias ainda mal conhecidas no sul da Amaznia. A leste, ocupavam toda a faixa litornea, desde o Rio Grande do Sul at o Maranho. A oeste, aparecem (no rio da Prata) no Paraguai e nas terras baixas da Bolvia. Evitam as terras inundveis do Pantanal e marcam sua presena discretamente nos cerrados do Brasil central. De fato, ocuparam, de preferncia, as regies de fl oresta tropical e subtropical.

    PROUS, A. O Brasil antes dos brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.

    Os povos indgenas citados possuam tradies culturais especfi cas que os distinguiam de outras sociedades indgenas e dos colonizadores europeus. Entre as tradies tupi-guarani, destacava-se:

    (A) a organizao em aldeias politicamente independentes, dirigidas por um chefe, eleito pelos indivduos mais velhos da tribo.

    (B) a ritualizao da guerra entre as tribos e o carter semissedentrio de sua organizao social.

    (C) a conquista de terras mediante operaes militares, o que permitiu seu domnio sobre vasto territrio.

    (D) o carter pastoril de sua economia, que prescindia da agricultura para investir na criao de animais.

    (E) o desprezo pelos rituais antropofgicos praticados em outras sociedades indgenas.

    Vamos pensar nesse ltimo item da sntese e tentar explicar por que teria sido desfavorvel a maneira como os povos africanos se inseriram no novo comrcio que se abria por vias ocenicas a partir do sculo XV.

    Voc tem ideias sobre isso? Com certeza, sim. Pense a respeito.Aqui terminamos este captulo. Faa uma reviso do que estudou, procure

    anotar as principais ideias e informaes. E, como exerccio, responda s perguntas formuladas ao longo do texto. Para aprender ainda mais, elabore e responda perguntas com base nos quadros de sntese. Isso pode ser feito em dupla, em grupo ou individualmente.

    E ateno: o prximo captulo tem estreita relao com o que acabamos de ver. Perceber essas ligaes fundamental no seu estudo. Retorne ao texto do captulo sempre que tiver dvidas.

    Vamos l?

    Exerccios

    1) (Enem/2009) Os Yanomami constituem uma sociedade indgena do norte da Amaznia e formam um amplo conjunto lingustico e cultural. Para os Yanomami, urihi, a terrafl oresta, no um mero cenrio inerte, objeto de explorao econmica, e sim uma entidade viva, animada por uma dinmica de trocas entre os diversos seres que a povoam. A fl oresta possui um sopro vital, wixia, que muito longo. Se no a desmatarmos, ela no morrer. Ela no se decompe, isto , no se desfaz. graas ao seu sopro mido que as plantas crescem. A fl oresta no est morta pois, se fosse assim, as fl orestas no teriam folhas. Tampouco se veria gua. Segundo os Yanomami, se os brancos os fi zerem desaparecer para desmat-la e morar no seu lugar, fi caro pobres e acabaro tendo fome e sede.

    ALBERT, B. Yanomami, o esprito da fl oresta. Almanaque Brasil Socioambiental.

    So Paulo: ISA, 2007 (adaptado).

    De acordo com o texto, os Yanomami acreditam que: (A) a fl oresta no possui organismos decompositores. (B) o potencial econmico da fl oresta deve ser explorado.(C) o homem branco convive harmonicamente com urihi.(D) as folhas e a gua so menos importantes para a fl oresta que seu

    sopro vital.(E) Wixia a capacidade que tem a fl oresta de se sustentar por meio de

    processos vitais.

    2) (Enem/2009) O ndio do Xingu, que ainda acredita em Tup, assiste pela televiso a uma partida de futebol que acontece em Barcelona ou a um show dos Rolling Stones na praia de Copacabana. No obstante, no h que se iludir: o ndio no vive na mesma realidade em que um morador do Harlem ou de Hong Kong, uma vez que so distintas as relaes dessas diferentes pessoas coma realidade do mundo moderno; isso porque o homem um ser cultural, que se apoia nos valores da sua comunidade, que, de fato, so os seus.

    GULLAR, F. Folha de S. Paulo. So Paulo, 19 out. 2009. (adaptado)

    Ao comparar essas diferentes sociedades em seu contexto histrico, verifi ca-se que:

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  • 20 :: HISTRIA :: MDULO 1

    5) (UFSCar/2004) Observe as imagens, que pertencem ao manuscrito de um cronista inca, Guaman Poma de Ayala (15261614).

    Leia as afi rmaes seguintes, a respeito dos incas.I. Praticavam a agricultura da batata.II. Utilizavam arado de trao animal.III. Homens e mulheres trabalhavam nas atividades agrcolas.IV. Tinham calendrio agrcola, respeitando pocas de plantar e colher.V. Tinham uma escrita prpria, desenvolvida desde o sculo XIV.Esto corretas as afi rmaes:(A) I, II e III, apenas.(B) I, III e IV, apenas.(C) II, IV e V, apenas.(D) I, III, IV e V, apenas.(E) I, II, III, IV e V.

    6) (PVSCederj/2007) O continente americano, quando da chegada de Colombo em 1492, possua uma populao hoje estimada entre 80 e 100 milhes de habitantes. Sobre essa populao, so corretas as alternativas abaixo, COM EXCEO DE:

    (A) a grande diversidade lingustica e cultural encontrada entre as sociedades nativas;

    (B) a concentrao da maioria da populao em uma pequena percentagem da superfcie do continente;

    (C) a pluralidade de formas de organizao poltico-sociais encontradas entre as sociedades;

    (D) a variedade de formas de organizao da economia existentes;(E) o baixo desenvolvimento cultural desses povos em relao aos

    conquistadores europeus.

    7) (PVSCederj/2007) El-Rei Dom Joo II, querendo descobrir as ndias Orientais, mandou diversos navios pela costa da frica a reconhecerem esta navegao; os quais, havendo j achado as Ilhas de Cabo Verde e a Ilha de So Tom, correndo a costa, viram o rio Zaire [...] e tiveram ali boa prtica com aquelas gentes e as souberam corteses e amorveis. Depois expediu para o mesmo efeito outros navios a buscarem este comrcio de Congo; os quais, vendo livre o trato e o

    proveito e a gente amigvel, deixaram l alguns Portugueses para aprenderem a lngua e negociarem com elas, entre os quais fi cou tambm Padre de Missa [...] (Relao do Reino do Congo e das Serras circunvizinhas, de Fillippo Pigafetta e Duarte Lopez, 1591)

    Em 1493, os portugueses chegaram foz do rio Zaire, entrando em contato com o poderoso reino do Congo. Tratava-se de um reino forte e estruturado, dividido em vrias provncias incluindo diferentes povos. Leia as seguintes afi rmativas sobre o reino do Congo e em seguida marque a alternativa correta.

    I O reino do Congo se localizava na regio conhecida hoje como frica centro-ocidental, incluindo uma rea ao norte de Angola e um parte dos pases que se chamam Congo atualmente.

    II O territrio do reino do Congo foi ampliado no sculo XV por meio de alianas matrimoniais e guerras de conquista.

    III A expanso muulmana alcanou o Congo no sculo XV e este se tornou o primeiro reino africano islamizado ao sul do Equador.

    IV No reino do Congo se comerciava objetos de cobre e marfi m antes da chegada dos portugueses.

    Assinale:(A) Se as afi rmativas I, II e III esto corretas.(B) Se as afi rmativas II, III e IV esto corretas.(C) Se as afi rmativas I, II e IV esto corretas.(D) Se as afi rmativas I, III e IV esto corretas.(E) Se todas as afi rmativas esto corretas.

    8) (UFMG/2007) No fi nal do sculo XV e incio do XVI, quando os europeus conquistaram o continente americano, este era habitado por inmeros grupos tnicos, com diferentes formas de organizao econmica e poltico-social. Considerando-se o Imprio Inca, INCORRETO afi rmar que:

    (A) a agricultura, base da sua economia, era praticada nas montanhas andinas, por meio de um sofi sticado sistema de produo, que inclua a irrigao e a adubao.

    (B) o Estado era centralizado, com o poder poltico concentrado nas mos do Inca, o imperador, e sua sociedade era rigidamente hierarquizada.

    (C) seu domnio se estendia ao longo da Cordilheira dos Andes, ocupando parte dos atuais territrios da Colmbia, Equador, Peru, Bolvia, Chile e noroeste da Argentina.

    (D) um deus criador e protetor da vida e da natureza era cultuado segundo uma doutrina monotesta e, para ele, foram construdos diversos templos.

    Gabarito

    1) E 2) C 3) E 4) B 5) B 6) E 7) C 8) D

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  • 3

    As transformaes da Europa ocidental entre os sculos xiv e xvi

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  • 22 :: HISTRIA :: MDULO 1

    Introduo

    No captulo anterior, vimos como viviam e se organizavam povos que habitavam diferentes continentes entre os sculos XIV e XVI. Da diversidade de culturas encontrada entre as sociedades nativas do continente que veio a ser conhecido como Amrica at os grandes imprios do Oriente, com seus lucrativos circuitos comerciais e tradies milenares, o vasto mundo do poeta se aproximou um pouco mais de ns. muito importante que voc tenha em mente essa aproximao, porque a histria que enfocamos neste mdulo tem como uma de suas principais caractersticas a intensifi cao das relaes culturais, polticas, sociais e econmicas entre as sociedades dos vrios continentes. Relaes que fi zeram do mundo, vasto mundo um lugar mais conhecido e integrado.

    No toa que alguns autores chegam a afi rmar que a globalizao, fenmeno sobre o qual tanto ouvimos falar nos nossos dias, teve incio no sculo XV, quando os contatos e as trocas entre os continentes se fortaleceram. Nesse processo, os europeus desempenharam um papel preponderante e para eles que nos voltamos agora. Nosso objeto de estudo, neste captulo, a sociedade europeia ocidental entre os sculos XIV e XVI.

    Estudar a histria da Europa nesse perodo tratar de uma srie de processos que produziram importantes transformaes. Entre elas, podemos citar o desenvolvimento da atividade comercial e da burguesia, a centralizao poltica que propiciou o surgimento das monarquias nacionais, o movimento renascentista e as reformas religiosas.

    Finalmente, podemos registrar o surgimento da sociedade do Antigo Regime, que substituiu a organizao feudal medieval, reunindo aspectos tradicionais e modernos. Foram os homens e as mulheres dessa sociedade que estiveram frente das caravelas que aportaram na Amrica, frica e sia e dos primeiros ncleos de povoamento estabelecidos fora da Europa. Quem eram essas pessoas? Em que tipo de sociedade viviam e quais eram seus valores? O que os levou a querer ocupar e dominar territrios to distantes? Essas so algumas das perguntas que pretendemos responder no decorrer do captulo.

    As mudanas na sociedade feudal europeia

    No incio do sculo XI, grande parte dos habitantes da Europa ocidental era composta de camponeses que viviam em propriedades rurais, ao redor da liderana e da autoridade de um nobre, um aristocrata. Essas propriedades rurais, que chamamos de feudos, eram o universo conhecido desses camponeses. E, mesmo os nobres, donos das terras e detentores do poder econmico e poltico, no iam muito mais longe em seu conhecimento do mundo que os cercava.

    Vivendo em torno da terra dos nobres feudais, os camponeses praticavam a agricultura e a criao de animais, lutando com esforo por sua sobrevivncia e fazendo pequenas trocas nas feiras que se realizavam dentro dos feudos. Muitas vezes, as colheitas mal davam para alimentar suas famlias e pagar os impostos, o que provocava uma permanente subnutrio, deixando as pessoas frgeis diante das doenas e colaborando para os altos ndices de mortalidade.

    O comrcio de longa distncia nunca desapareceu na Europa, mas podemos dizer que durante a Idade Mdia (sculos V-XV) concentrava-se em produtos de luxo direcionados a uma minoria da populao. Os centros urbanos tambm perderam muito em habitantes e importncia, mas permaneceram existindo como locais para atividades artesanais, administrativas e religiosas.

    Os laos entre camponeses e nobres se organizavam atravs da servido, relao de trabalho que estabelecia obrigaes entre ambos. Tornando-se servo de um nobre, o campons conseguia o direito de cultivar uma poro de terra, que seria utilizada por seus fi lhos aps sua morte, alm da garantia de proteo. Em troca, o servo deveria trabalhar alguns dias da semana nas terras do senhor feudal e dar-lhe uma parte de sua colheita. Havia o compromisso de que o servo no abandonaria a terra. Desta forma, o senhor feudal garantia um fl uxo de riquezas para suas mos, fortalecendo sua posio de domnio na sociedade.

    Esses senhores eram responsveis pela administrao da justia e pela proteo militar das pessoas que moravam em sua propriedade, arcando com o custo da manuteno de exrcitos particulares. Muitos deles tambm podiam cobrar taxas extras dos moradores do feudo ou de viajantes que atravessassem determinada regio.

    O cenrio europeu que acabamos de descrever brevemente comeou a apresentar algumas alteraes. Uma das razes foi o fi m das invases de povos estrangeiros, o que provocou a diminuio das guerras e do nmero de mortos entre os europeus. Por outro lado, os camponeses adotaram novas tecnologias agrcolas que permitiram o aumento da produtividade e proporcionaram uma melhor alimentao, resultando tambm em menos mortes. Assim, a populao europeia apresentou um crescimento a partir do ano 1000.

    O aumento da produtividade dos servos tambm fez surgir um excedente, ou seja, uma parte da colheita que sobrava aps o pagamento dos impostos e dos gastos com alimentao. Para aqueles camponeses que conseguiam obter esse excedente, uma boa alternativa era tentar vend-lo no mercado, dentro do feudo ou em reas prximas. Com isso, as trocas comerciais comearam a se intensifi car e alguns camponeses aumentaram suas rendas.

    Por outro lado, o comrcio de longa distncia se intensifi cou a partir dos contatos comerciais feitos em torno do Mar Mediterrneo com mercadores da frica e sia. Para isso, o movimento religioso das Cruzadas, ocorrido entre os sculos XI e XIII, foi fundamental. As expedies europeias reuniram milhares de homens que, em seu caminho para a Palestina, conheceram e levaram para a Europa uma infi nidade de produtos de luxo vindos de diferentes e distantes lugares e a se incluem os temperos, perfumes, tecidos e joias das ndias, alm de ouro e pimenta da frica. Observe no mapa o caminho percorrido pelas Cruzadas.

    Em fi ns do sculo XIII, vamos encontrar uma Europa bem mais agitada. Rotas comerciais cortavam todo o continente, levando diferentes produtos. Os comerciantes italianos, principalmente das cidades de Veneza e Gnova, eram os responsveis pelos contatos com o Oriente e obtinham enormes lucros revendendo na Europa as mercadorias orientais. Ao mesmo tempo, na regio norte, uma intensa atividade comercial distribua alimentos e matrias-primas pela Europa. Outras reas centrais, localizadas onde hoje a Frana, se especializaram na produo e distribuio de alimentos e tecidos.

    Observe atentamente as rotas das Cruzadas e veja como elas conectam a Europa com a frica e sia.

    historia1-2012.pdf 22historia1-2012.pdf 22 01/02/2012 11:30:2801/02/2012 11:30:28

  • CAPTULO 3 :: 23

    As Cruzadas

    Fonte: PEDRO, Antonio. Histria em mapas. So Paulo: Moderna, 1983. (adaptado)

    Comrcio europeu no fi m da Idade Mdia

    SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. So Paulo: Atual, 1985. (adaptado)

    Mar Mediterrneo

    OceanoAtlntico

    Alexandria

    Constantinopla

    Tnis

    Marselha

    Nuremberg

    Bordus

    BarcelonaLisboa

    Tnger

    Paris

    Londres

    Creta

    Belgrado

    Tripoli

    Lyon

    EstrasburgoSpire

    Novgorod

    Mar B

    ltico

    Mar do Norte

    DantzigLeipzig

    Frankfurt

    Ceuta

    Gnova

    Veneza

    Champagne

    LbeckBrmen

    Bruges

    Hamburgo

    AlexandriaJerusalm

    Antiquia

    ConstantinoplaTessalnica

    Npoles

    Roma

    Tnis

    Marselha GnovaVenezaMilo

    VienaClermont

    Toulouse

    Lisboa

    Tnger

    Paris MetzEUROPA

    FRICA

    SIA

    RuoCanturia

    Primeira Cruzada 1096 a 1099Segunda Cruzada 1147 a 1149Terceira Cruzada 1189 a 1192Quarta Cruzada 1202 a 1204Cruzada de So Lus 1248 a 1254

    Londres

    Mar Mediterrneo

    OceanoAtlntico

    Mar B

    lticoMar do Norte

    historia1-2012.pdf 23historia1-2012.pdf 23 01/02/2012 11:30:2801/02/2012 11:30:28

  • 24 :: HISTRIA :: MDULO 1

    O desenvolvimento do comrcio teve duas consequncias importantes para a sociedade feudal. A primeira delas foi o crescimento dos centros urbanos, onde se realizavam no s as trocas comerciais como tambm as atividades bancrias emprstimo de dinheiro e troca de moedas diferentes, por exemplo. Era nas cidades que moravam os comerciantes e banqueiros enriquecidos e surgiam ou se multiplicavam as universidades e escolas.

    Assim, a vida urbana ganhou importncia e abriu novas perspectivas para as pessoas. No caso de um campons, por exemplo, morar na cidade podia signifi car a conquista de um emprego numa ofi cina, numa loja ou na casa de um comerciante, levando-o a fugir da explorao do senhor feudal e melhorar suas condies de vida. Por isso, as cidades atraram um grande nmero de servos. Observe no mapa como cidades e rotas comerciais se cruzavam na Europa.

    A segunda consequncia importante do crescimento do comrcio foi o surgimento de um novo grupo social, formado pelos comerciantes enriquecidos e que chamamos de burguesia. Moradores das cidades, os burgueses construram suas fortunas atravs do grande comrcio e das atividades bancrias, baseados na ideia de lucro e na posse de uma riqueza que no consistia em propriedades rurais. Ou seja, estamos falando de um grupo social em ascenso cujo estilo de vida era muito diferente daquele que caracterizava o nobre feudal senhor da guerra e proprietrio rural.

    Isto, porm, no nos permite afi rmar que nobres e burgueses eram inimigos e no estabeleciam relaes entre si. Muito pelo contrrio. Apesar de serem muitas vezes mais ricos, os burgueses invejavam o prestgio social dos nobres. Por sua vez, a fortuna burguesa era objeto de cobia dos aristocratas. Assim, estabeleceram-se entre esses dois grupos sociais relaes sociais e econmicas, como o casamento entre fi lhos de nobres e burgueses, que reuniam numa famlia s a riqueza e o prestgio. Na nova sociedade que ia surgindo, os dois caminhariam juntos.

    :: Sntese ::A sociedade europeia a partir do sculo XI se caracteriza pelo: aumento da populao europeia, resultante do fi m das guerras

    contra povos estrangeiros e do aumento da produtividade agrcola; desenvolvimento do comrcio de produtos europeus e orientais,

    estabelecendo circuitos comerciais importantes; crescimento dos centros urbanos, que passaram a concentrar

    importantes atividades econmicas e atrair a populao rural; surgimento de um novo grupo social, a burguesia, com um novo

    estilo de vida.

    O sculo XIV e a crise da sociedade feudal

    Em fi ns do sculo XIII, j era possvel perceber alguns sinais de que uma poca de crise se aproximava da Europa. O aumento do nmero de mendigos e de epidemias e a falta de alimentos indicavam que a situao dos camponeses tinha piorado. Vamos entender como isso aconteceu.

    Como vimos no item anterior, a partir do sculo XI registrou-se o crescimento da populao