historia do terrorismo no oriente medio[1]

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VII Modelo da Organização das Nações Unidas ® GSPRI 2005 – Grupo de Simulações e Pesquisas em Relações Internacionais 1 LIGA DOS ESTADOS ÀRABES Tema A: Mecanismos para a contenção de grupos terroristas em países árabes Escrito por: Áureo Toledo Vivian Barlach “Nossos criminosos não são mais aquelas crianças desarmadas que invocam a desculpa do amor. São, ao contrário, adultos, e seu álibi é irrefutável: a filosofia pode servir para tudo, até mesmo para transformar assassinos em juízes” 1 Introdução O uso sistemático de práticas terroristas em todo o mundo vem fomentando a discussão de como conter a proliferação de grupos terroristas ao redor do globo. Órgãos multilaterais, como a Organização das Nações Unidas, cada vez mais se debruçam acerca desta temática, procurando encontrar medidas institucionais que proporcionem meios efetivos de combate ao terrorismo. Com o intuito de procurar soluções, o Conselho de Segurança das Nações Unidas, por meio da Resolução 1373 de 28 de setembro de 2001, criou o Comitê de Contra-Terrorismo, o qual tem como principal alvo verificar a implementação das diretrizes da Resolução 1373 pelos Estados e ajudar na capacidade dos países em combater tal prática que vem assolando o mundo. Por sua vez, o Departamento de Estado dos EUA possui um Escritório de Contra- Terrorismo, que apresenta a visão estadunidense do problema, a sua lista das principais organizações e os países que patrocinam estas organizações terroristas. Dentro desse contexto turbulento, o Oriente Médio tem um papel, infelizmente, de destaque. Na região atuam diversos grupos designados terroristas e que vêm se proliferando a cada dia. Hoje, cerca de 95% da população do Oriente Médio é muçulmana e a maior parte dos terroristas atuais são também maometanos e fazem questão de deixar isto explícito. Procuram santificar suas ações através de referências tendenciosas aos textos islâmicos, descartam as passagens que evocam tolerância para com os outros e que contradizem seus atos, buscando assim evidenciar a todos que o islã verdadeiro e autêntico é o praticado por eles. Para que possamos evitar possíveis compreensões errôneas e a confusão entre criminosos, terroristas, radicais e muçulmanos comuns, faz-se necessário uma pequena síntese histórica para ajudar a iluminar um caminho por demais obscuro, desviando-se de uma visão estereotipada de um mundo fascinante, mas, ao mesmo tempo, mal compreendido. É a 1 CAMUS, Albert. O Homem Revoltado. P.13. Rio de Janeiro: Record, 1999.

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VII Modelo da Organização das Nações Unidas

® GSPRI 2005 – Grupo de Simulações e Pesquisas em Relações Internacionais

1

LIGA DOS ESTADOS ÀRABES Tema A: Mecanismos para a contenção de grupos terroristas em países árabes

Escrito por: Áureo Toledo Vivian Barlach

“Nossos criminosos não são mais aquelas crianças desarmadas que invocam a

desculpa do amor. São, ao contrário, adultos, e seu álibi é irrefutável: a filosofia pode servir

para tudo, até mesmo para transformar assassinos em juízes”1

Introdução O uso sistemático de práticas terroristas em todo o mundo vem fomentando a

discussão de como conter a proliferação de grupos terroristas ao redor do globo. Órgãos

multilaterais, como a Organização das Nações Unidas, cada vez mais se debruçam acerca

desta temática, procurando encontrar medidas institucionais que proporcionem meios efetivos

de combate ao terrorismo.

Com o intuito de procurar soluções, o Conselho de Segurança das Nações Unidas,

por meio da Resolução 1373 de 28 de setembro de 2001, criou o Comitê de Contra-Terrorismo,

o qual tem como principal alvo verificar a implementação das diretrizes da Resolução 1373

pelos Estados e ajudar na capacidade dos países em combater tal prática que vem assolando

o mundo. Por sua vez, o Departamento de Estado dos EUA possui um Escritório de Contra-

Terrorismo, que apresenta a visão estadunidense do problema, a sua lista das principais

organizações e os países que patrocinam estas organizações terroristas.

Dentro desse contexto turbulento, o Oriente Médio tem um papel, infelizmente, de

destaque. Na região atuam diversos grupos designados terroristas e que vêm se proliferando a

cada dia. Hoje, cerca de 95% da população do Oriente Médio é muçulmana e a maior parte dos

terroristas atuais são também maometanos e fazem questão de deixar isto explícito. Procuram

santificar suas ações através de referências tendenciosas aos textos islâmicos, descartam as

passagens que evocam tolerância para com os outros e que contradizem seus atos, buscando

assim evidenciar a todos que o islã verdadeiro e autêntico é o praticado por eles.

Para que possamos evitar possíveis compreensões errôneas e a confusão entre

criminosos, terroristas, radicais e muçulmanos comuns, faz-se necessário uma pequena

síntese histórica para ajudar a iluminar um caminho por demais obscuro, desviando-se de uma

visão estereotipada de um mundo fascinante, mas, ao mesmo tempo, mal compreendido. É a

1 CAMUS, Albert. O Homem Revoltado. P.13. Rio de Janeiro: Record, 1999.

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intenção deste trabalho desviar-se de interpretações maniqueístas que tendem a ressaltar bons

e maus, civilizados e bárbaros. Sabemos que, conforme Edward Said:

Não há ponto de observação fora das relações concretas entre culturas, entre

potências imperiais e não imperiais, entre diferentes Outros, uma perspectiva que desse a

alguém o privilégio epistemológico de julgar, avaliar e interpretar livre dos interesses, das

emoções e dos compromissos das relações em andamento2.

Dessa forma, achamos que a atualidade do tema não se deve apenas aos diferentes

atos terroristas perpetrados em todo o mundo e como tais atos afetam a segurança

internacional. Acreditamos que a pertinência do tema também está relacionada à quantidade

de muçulmanos que vem perecendo frente ao terror. Desde os atentados terroristas de 11 de

setembro, de um total de 2838 mortos, cerca de 2210 eram muçulmanos3.

Ademais, muitos dos terroristas não se vêm como tais. Ao cunharmos o termo

“terrorista” a determinado grupo, estamos fazendo uma representação que, conforme a idéia de

Said supracitada evidenciaria uma relação de poder entre os diferentes atores em questão: no

caso, principalmente os EUA e Israel de um lado, e uma pequena parcela da população árabe

que faz uso dessas práticas do outro. Muitos destes grupos acreditam estar agindo para conter

a expansão israelense ou para impedir a dominação norte-americana que tende a degenerar o

Islã. O principal interesse deste trabalho, portanto, não é escolher um lado: é tentar mostrar

quais foram as razões que levaram ao uso sistemático do terrorismo como arma política em

terras árabes e buscar alternativas compatíveis à realidade dos países da região.

O terrorismo no mundo árabe: panorama histórico

Antes de adentrarmos no histórico do terrorismo no mundo árabe, é importante que

alcancemos uma definição, mínima que seja, acerca desse fenômeno que tem assolado não só

o Oriente Médio, mas todo o globo, com atentados que vão desde Bali (12/10/2002) até os

recentes ocorridos em Londres (07/07/2005).

Desse modo, partimos do pressuposto que Terrorismo é todo e qualquer ato,

perpetrado por indivíduos ou grupos políticos, que faz uso da violência, física ou psicológica,

contra a ordem vigente. No entanto, quando a ordem vigente passa a fazer uso desse mesmo

2 SAID, Edward W. “A representação do colonizado: os interlocutores da antropologia”. P.127. In: Reflexões sobre o Exílio e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. 3 Fonte em VEJA, 03 de agosto de 2005.

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tipo de artifício para atingir algum fim específico, podemos dizer que o país começa a utilizar o

chamado Terrorismo de Estado4.

Os primórdios do terrorismo no mundo árabe-muçulmano nos remetem ao ano de 632

d.C., após a morte de Maomé. As disputas acerca do comando do império deixado pelo Profeta

foram marcadas por muitas disputas. Dos quatro primeiros Califas, só Abu Bakr não foi

assassinado, falecendo após dois anos de governo. Sucedido por Umar ibn al-Khattab, este

governou e expandiu o império islâmico, dividindo o mundo em Dar al-Islam (a Casa do Islã) e

Dar al-Harb (a Casa da Guerra), separação esta que consistia em delimitar o império

muçulmano e as terras nas quais estariam os inimigos. Foi um período de bastante

prosperidade, mas interrompido em 644, quando Umar foi apunhalado por um escravo cristão

insatisfeito.

Os dois califas seguintes, Uthman ibn Affasr (644-656 d.C.) e Ali ibn Abi Talib (656-661

d.C.), foram ambos assassinados. O primeiro foi morto após acusações de nepotismo por uma

parcela da população descontente com seu governo. Sua morte iniciou a primeira de uma série

de guerras civis as quais contestavam a sucessão no califado. Ali ibn Abi Talib assumiu o

poder, tendo a seu favor o parentesco com o Profeta (era seu primo e cunhado) e o apoio de

parte considerável dos muçulmanos. No entanto, mais uma revolta, agora liderada por Aisha,

uma das esposas de Maomé, findou seu governo. A rebelião contra Uthman e a ascensão de

Ali é considerada a Fitnah, a divisão da ummah, entre os xiitas, partidários de Ali, e os sunitas,

os quais defendiam que o líder deveria ser alguém da mesma tribo do Profeta. Não existe

grande diferença doutrinária, mas sim política entre xiitas e sunitas.

Além dessas rebeliões contra a ordem vigente, quase concomitantemente surgiu na

região a seita denominada Assassinos, atuante primordialmente no Irã e na Síria entre os

séculos XI e XIII. Tinha como principal objetivo a derrubada de governantes muçulmanos os

quais eram entendidos como usurpadores e detratores do Islã autêntico. Para este grupo, o

assassinato era praticamente um ritual: as vítimas eram indivíduos ligados ao alto escalão

político, militar ou religioso e a adaga era a única arma permitida nas execuções. Ademais,

após o ato, o Assassino nunca cometia suicídio: era preferível ser preso e morrer nas mãos dos

captores a findar com a própria vida5.

4 Esta expressão surgiu com as denúncias de práticas massivas de assassinatos, torturas e censura dos meios de comunicação feitas por alguns países. É nesse sentido que podemos entender as acusações de palestinos afirmando que Israel faz uso sistemático do terrorismo de Estado. 5 O suicídio é considerado um dos grandes pecados dentro do Islã, punido com danação eterna. Segundo uma das tradições de Maomé, “Quem quer que se mate com uma lâmina será atormentado com aquela lâmina nos fogos do inferno”. Tais tradições de Maomé estão recolhidas em Recueil des Traditions Mahométanes, vol. 01, de M. Ludolf Krehl.

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Na lista das vítimas dos Assassinos, encontramos também soldados cruzados. No

entanto, como supracitado, suas vítimas eram, na maioria dos casos, muçulmanos em posição

de destaque. A seita conseguiu sobreviver até meados do século XIII, e durante sua existência

foi vista como uma grande ameaça a ordem vigente, seja ela política, social ou religiosa;

todavia, não conseguiu destituir efetivamente os governantes, mas seu legado serviu de

exemplo para outros grupos que surgiram.

Os ataques terroristas praticados hoje em dia, não são tão similares aos executados

pelos Assassinos. Duas características se destacam no terrorismo atual: a disposição dos

executores em cometer suicídio e a crueldade com que tratam à vida alheia. Os Assassinos de

outrora não tiravam a própria vida e eram extremamente precisos quanto a seus alvos. Hoje em

dia, grupos como a Al-Qaeda tratam a morte de civis, sejam homens, mulheres, crianças ou

idosos, como meros danos colaterais, e muitas vezes fazem questão que se atinja uma maior

número de vítimas possível, para garantindo-lhes assim uma ampla visibilidade internacional.

Esses câmbios, todavia, não foram sumários. Para que possamos entendê-los,

devemos nos focar em alguns acontecimentos que marcaram o século XX e XXI e que

ajudaram a delinear o atual formato do terrorismo em terras árabe-muçulmanas. Assim sendo,

a formação do Estado de Israel, a Guerra Fria, a Revolução Iraniana, a Guerra do Golfo e os

atentados terroristas de 11 de setembro de 20016 tornam-se variáveis importantes para a

compreensão dessa atual vertente terrorista.

01. FORMAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL

A idéia para um lar nacional judaico é antiga, nos remetendo ao século XIX. Seu

principal expoente foi o escritor vienense Theodor Herzl, o qual publicou em 1896 um pequeno

livro chamado Der Judenstaat (traduzido como O Estado Judeu). Nesta obra, Herzl sistematiza

a organização de um lar nacional judaico e teve na Organização Sionista Mundial um de seus

principais patrocinadores.

O Movimento Sionista surgiu com força no seio dos sobreviventes dos pogroms

realizados no Leste Europeu, principalmente na Rússia czarista. Estes pogroms eram

movimentos populares envolvendo pilhagens e assassinatos contra os judeus da região e

fizeram brotar a idéia de que apenas com um estado para si próprios este povo poderia

sobreviver. A obra de Herzl deu impulso à idéia da instauração de um lar judaico em Canaã, a

Palestina dos nossos dias.

Após o final da Primeira Guerra Mundial e com o desmembramento do Império Turco-

Otomano, a região ambicionada pelos judeus ficou sob tutela do Império Britânico, legitimado

6 Esta divisão de eventos segue àquela feita pelo historiador Bernard LEWIS, em seu livro A Crise do Islã: Guerra Santa e Terror Profano, publicado pela Jorge Zahar Editor, 2004.

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pela Liga das Nações em 24 de julho de 1922. Com a Declaração Balfour, de 02 de novembro

de 19227, a Inglaterra se comprometia a apoiar a criação de um Estado independente e judeu

na região, propiciando o início da migração para a Palestina. Além disso, com o Fundo

Nacional Judeu, constituído em 1901, começou uma forte campanha para a compra de terras

na região, mudando drasticamente a demografia da região: em 1882, os judeus eram apenas

4% da população da Palestina; em 1930 eram cerca de 30%8.

Os povos árabes viram-se ameaçados pelo crescimento desproporcional da população

judaica na região. Logo, as manifestações se radicalizaram e desembocaram em violência,

atingindo o montante de 5.000 mortos durante a Rebelião Árabe, entre 1936-1939. Com a

ascensão da Alemanha nazista no cenário internacional e a eclosão da Segunda Guerra

Mundial, os árabes viram em Hitler um possível apoio para a sua causa.

Dentro da comunidade judaica que habitava a região, surgiram grupos terroristas de

extrema-direita, os quais pregavam a independência de Israel e tinham como alvos primordiais

a população árabe e soldados ingleses. Dentre os principais grupos, encontramos o Irgun Zvai

Leumi (Organização do Exército Nacional) e o Lohmey Heruth Israel (Lutadores pela liberdade

de Israel). A explosão do King David Hotel, em julho de 1946, figura entre os grandes

atentados terroristas ocorridos na região9.

Para impedir que a Alemanha conseguisse maior influência na região e ainda

conservar necessidades energéticas - o petróleo da região - e geopolíticas - a rota ao Extremo

Oriente e o Canal de Suez - a Inglaterra, a partir de 1939, sugeriu a criação de dois estados

independentes na região, além de limitar a imigração judaica. No entanto, uma solução

aceitável para ambos os lados nunca foi alcançada, visto que questões envolvendo delimitação

de fronteiras, uso de recursos hídricos e migração nunca chegaram próximos de um acordo.

Com a derrocada do Eixo e a emergência da Organização das Nações Unidas, a

Questão Palestina passou a ser tratada em âmbito multilateral. Em 15 de maio de 1947 foi

criado o United Nations Special Committee on Palestine, UNSCOP. Seu relatório sugeria duas

possibilidades: a criação de um Estado de caráter federativo ou a divisão do território entre

árabes e judeus. Dessa forma, em 29 de novembro de 1947, após votação na Assembléia

7 Para ver a íntegra da Declaração, uma cópia encontra-se disponível em http://www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/balfour.html 8 BREGMAN, Ahron. Israel´s Wars: a History Since 1947. London: Routhledge, 2002. 9 A explosão do hotel matou cerca de 91 pessoas, incluindo ingleses, árabes e até judeus. O Irgun Zvai Leumi, grupo acusado de perpetrar tal ato, argumentou na época que avisou com 25 minutos de antecedência o hotel antes da explosão. In: Helena SALEM, O que é a Questão Palestina. São Paulo: Brasiliense, 1982.

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Geral, foi aprovada a Resolução 18110, a qual previa a partilha da Palestina e colocando sob

tutela da ONU a cidade de Jerusalém.

A divisão da Palestina ocasionou a eclosão de uma guerra civil na região. Entre 29 de

novembro de 1947 e 15 de maio de 1948, forças árabes lideradas pela Liga dos Estados

Árabes e insatisfeitas com a resolução da ONU iniciaram revoltas generalizadas,

desembocando em muitas mortes e dezenas de refugiados palestinos. A Inglaterra, sem

condições de manter a ordem na região, optou por adiantar a retirada de suas tropas.

Aproveitando-se da situação, David Ben-Gurion, líder da comunidade judaica, proclamou a

independência do Estado de Israel, o que foi o estopim para a intervenção dos exércitos do

Egito, Iraque, Líbano, Síria e Transjordânia na região. Apesar da superioridade bélica dos

árabes, Israel possuía um contingente maior de soldados; no entanto, apenas no início de 1949

foram assinados os armistícios que culminaram no término dos conflitos. Após tamanha

turbulência, o Estado de Israel estava formado, porém, com seu território maior do que o

previsto pela Resolução 18111.

Este primeiro episódio foi o primeiro embate dentre vários que até então permeiam a

relação de Israel com seus vizinhos árabes12. O Estado de Israel inserido em uma região na

qual a maioria dos países é subdesenvolvida, possui grandes vantagens frente a seus rivais:

seu contingente de soldados sempre foi superior aos demais, possui grande arsenal bélico e

sempre contou, desde sua independência, com suporte estadunidense. Mesmo quando

atuando de modo coordenado, os países árabes nunca conseguiram vitórias significativas

contra o estado judeu.

A resistência palestina iniciou-se, grosso modo, a partir da década de 50 em diante,

começando com passeatas de estudantes na Universidade Americana de Beirute (1952),

culminando na emergência de organizações políticas que buscavam representar a causa

palestina. É nesse período que temos a criação da Organização para Libertação da Palestina.

Fundada em 1964, a OLP é a mais alta instância política palestina e a única representante

legítima desse povo. Agrupa diversas organizações em seu interior, coexistindo desde

moderados até extremistas13.

10 http://www.state.gov/p/nea/rls/22562.htm 11 Conforme a Resolução 181, o espaço destina a Israel era uma área de 14.942 km2, cerca de 56,47% da região. Ao final dos primeiros embates, contudo, sua área aumentou para 20.673 km2, 78% do total da Palestina; in: Helena SALEM, op.cit. 12 Dentre os principais conflitos entre Israel e os demais países árabes da região, podemos destacar a Crise de Suez em 1956, a Guerra dos Seis Dias (1967), a Guerra do Yom Kippur (1973), Guerra do Sinai (1973), a Invasão do Líbano (1982) e as Intifadas, a primeira iniciada em 1987, e a segunda, cunhada como Intifada de Al-Aqsa, em 2000. 13 Dentre os principais grupos constituintes da OLP, encontramos a Al Fatah, Frente Popular para a Libertação da Palestina, Al Saika, Frente Democrática Popular para a Libertação da Palestina.

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No entanto, devido à morosidade da resolução da questão via meios político-

diplomáticos, surgiram na região grupos com o objetivo de combater em um novo front: dessa

vez, os embates se dariam em locais públicos, onde a possibilidade de se atingir civis era muito

maior e que conjugada com o uso da mídia, poderiam evidenciar à opinião pública mundial a

causa pela qual lutavam.

O período compreendido entre 1969 e 1973 foi de grande atividade terrorista na região.

O seqüestro de três aeronaves em 1970 - uma suíça, uma inglesa e uma norte-america - que

foram levadas para Aman; o assassinato de atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique m

1972; a tomada da embaixada saudita em Cartum quando dois diplomatas norte-americanos e

um diplomata belga foram mortos; e, a tomada do cruzeiro italiano Achille Lauro são exemplos

desse tipo de prática que tinha então apenas um objetivo: ganhar as manchetes e jornais de

todo o mundo, inspirando medo na população. A OLP sempre desaprovou publicamente tais

atos; no entanto, sempre foi acusada de omissão ao não agir de forma eficaz para coibi-los,

principalmente aqueles realizados por facções integrantes da organização.

O que se desprende dessa breve análise histórica é a idéia de que o terrorismo foi

umas das práticas usadas na tentativa de conter a expansão israelense na região. Muitos dos

grupos responsabilizados por tais atos justificam suas ações como estratégia para impedir o

avanço israelense e assim poder constituir um estado palestino independente. Outros grupos,

todavia, tem como meta primordial a eliminação completa do Estado de Israel do mapa14.

Assim sendo, o estopim para o uso sistemático do terror foi uma causa de cunho político, ou

seja, o embate entre dois povos tentando coexistir num mesmo espaço. A priori, a matriz

religiosa não foi a causa fundamental para que se iniciasse tais práticas.

02. GUERRA FRIA

O período compreendido entre o final da Segunda Guerra Mundial e a esfacelamento

do muro de Berlim em 1989 foi marcadamente caracterizado pelas clivagens ideológicas e de

poder existentes entre EUA e URSS. O muro erguido em 1961 foi o símbolo de uma era em

que a bipolaridade vigorava no sistema internacional, além de representar a incompatibilidade

mútua entre os regimes políticos e econômicos presentes não apenas na Europa, mas também

ao redor do globo. A corrida armamentista e a possibilidade do uso de armas nucleares, a

divisão do mundo segundo áreas de influência e a submissão de conflitos de cunho local ao

embate entre as superpotências foram fatos marcantes deste momento histórico.

14 Um exemplo desse tipo de retórica é a do Hamas, o qual já afirmou que mesmo com a retirada dos assentamentos judaicos na Faixa de Gaza, não deporá suas armas e continuará sua luta contra o Estado de Israel.

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Após a queda do Eixo e a vitória dos Aliados, a geometria espacial da Guerra Fria

começou a ser delineada, principalmente com as fronteiras ideológicas e geopolíticas

formatadas em Yalta e Postdam. O Oriente Médio e o Magreb, que durante muito tempo

haviam sido palco exclusivo de atuação de dois estados Europeus - no caso, Inglaterra e

França - se encontravam frente a processos de independência e descolonização, em muito

apoiado pelas grandes potências definidoras da ordem internacional vigente. Tanto EUA

quanto URSS eram favoráveis à independência dos países dessa região, assim como da África

Negra e do Extremo Oriente. Era a falência dos impérios do século XIX e a ascensão dos

Estados Nacionais15.

A idéia dominante durante as décadas de 50 e 60 era representada pelo nacionalismo

árabe, aspirando a independência das superpotências por meio de uma política de neutralidade

e pela busca de reformas econômico-sociais que mudassem as condições de vida da

população. A França ainda tentou manter sua dominação na região, mas o ônus obtido durante

a Segunda Guerra Mundial impediu o país de manter-se hegemônico. A Inglaterra, por sua

vez, adotou uma política de apoio aos países árabes, esperando que com isso eles optassem

pela aliança ocidental e que os interesses britânicos e estadunidenses coincidissem no que

tange a região.

Ao Arabismo popular dominante nas décadas de 50 e 60, constituído pela idéia de não-

alinhamento e de unidade árabe, conjugou-se o pressuposto de que o controle dos recursos

produtivos deveria ficar a cargo do Estado, além da propriedade e direção da produção e a

divisão eqüitativa da renda por meio de impostos e provimento de serviços sociais, eram

diretrizes a serem seguidas pelos governantes. Esta concepção de Estado foi fortemente

influenciada por partidos socialistas e comunistas da Europa, agregando-se a influência

exercida pela URSS em todo mundo.

No Magreb, a revolta popular foi a forma encontrada para as colônias encontrarem sua

independência. Exemplo notório é a Guerra da Argélia (1954-1962), na qual o Front de

Libération Nationale (FLN), liderado em sua maioria por homens de origem humilde, mas com

formação militar, conseguiu angariar apoio de grande parte da sociedade, culminando na saída

dos franceses do território.

No Oriente Médio, a grande maioria dos governos formados após os processos de

independência se sustentava em forças políticas calcadas em famílias dominantes e/ou elites

intelectuais as quais tiveram a capacidade de influenciar a transferência do poder a seu favor.

No entanto, muitos dos governos formados não tinham respaldo popular e em alguns casos

nem estavam interessados em buscá-lo; a principal intenção dessa elite era em manter-se no

15 A Crise de Suez (1956) e a Guerra da Argélia (1954-1962) podem ser entendidas como tentativas tardias da Inglaterra e França em reafirmarem suas posições neste contexto de bipolaridade.

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poder e não mudar a distribuição da riqueza. Em governos que mantinham essa conduta, o

arabismo tornou-se um dos principais opositores, possibilitando a ascensão de movimentos e

ideologias que, ao integrarem nacionalismo, religião e justiça social, contestavam o governo

local.

A emergência do Partido Baath (Ressurreição) na Síria durante as décadas de 50 e 60

foi uma das primeiras tentativas de destronar estas elites. Com uma orientação que levava ao

ideal de uma nação árabe e à reforma do sistema político e social, além de agregar algumas

idéias socialistas, como distribuição eqüitativa da renda, o partido conseguiu expandir-se além

das fronteiras sírias, chegando ao Líbano, Jordânia e Iraque.

O Nasserismo, oriundo da liderança exercida por Nasser no Egito, pode ser entendida,

de acordo com Albert Hourani, como uma prática política que se tornou ideologia16. A unidade

árabe, o não-alinhamento com nenhuma das superpotências, um maior controle estatal sob os

diversos âmbitos produtivos da sociedade e a busca por um Islã reformista, que possibilitasse

práticas secularizantes e modernizantes, foram idéias que Nasser adotou no Egito e somente

depois foram traduzidas como programa ideológico nasserista e espalhadas para os demais

países. No entanto, mesmo estes movimentos tiveram seus opositores. Os Irmãos Muçulmanos

no Egito, Síria e Sudão é um dos maiores expoentes desta contestação, acusando Nasser de

usar uma linguagem islâmica para encobrir seus reais motivos: secularizar toda a sociedade,

exterminando a religião.

Neste período de diversas independências e embates entre uma elite dominante e

movimentos contestadores, práticas terroristas foram utilizadas na tentativa de derrubar a

ordem vigente. Os combatentes da guerra argelina fizeram uso sistemático do terror com o

intuito de extirparem a presença francesa no país; Anwar Sadat, substituto de Nasser, foi morto

por um terrorista principalmente por sua reaproximação a Israel e por suas políticas de cunho

secularizantes; e na Jordânia, a existência de um “poder paralelo” palestino chocando-se com a

autoridade do rei Hussein, culminou no chamado Setembro Negro, resultando em mais de

quatro mil mortos.

Dessa análise, salta aos olhos a idéia de que o uso de práticas terrorista também

esteve ligado principalmente à contestação das elites governantes. Mesmo as mais populares,

como a de Nasser no Egito, tinham suas oposições. O terrorismo foi uma das armas utilizadas

pelas forças contestadoras para derrubarem os regimes vigentes, conseguindo, na grande

maioria das vezes apoio da população, calcando seu discurso em termos de redistribuição de

renda e justiça social. Um discurso pró-Islã é resgatado em alguns casos, para fazer frente aos

governantes que utilizaram medidas secularizantes. É nesse momento que a matriz religiosa

16 HOURANI, Albert H. Uma História dos Povos Árabes. Cap. 24, p. 407. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

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começa a ganhar força como movimento aglutinador, atingindo seu auge com a Revolução

Iraniana de 1979.

03. A REVOLUÇÃO IRANIANA

“A miséria do mundo muçulmano é o resultado dos muçulmanos terem esquecido Deus”17

No decorrer dos anos 60 outro movimento começou a se desenvolver fortemente no

Oriente Médio, disputando com o arabismo simbolizado por Nasser a preferência da população.

O fundamentalismo muçulmano18 pode ser entendido como uma resposta frente ao desafio

colocado pela modernidade aos países da região. Como enfrentar os desafios colocados pelo

Ocidente -exploração econômica, perda de independência política, por exemplo - era um dos

principais objetivos desses movimentos.

As respostas acerca do desafio ocidental oscilaram. Alguns optaram pela

modernização ocidentalizante, como foi o caso da Turquia. Uma segunda opção foram as

experiências nacionais secularistas, comuns nos anos 50 e 60, ilustrada principalmente pela

opção egípcia. Uma terceira vertente era tradicionalista, a qual tinha como pressuposto uma

política antimoderna, anti-secularista e antiocidental. No mundo árabe, a impotência dos

governos frente ao Estado de Israel (principalmente após o malogro de 1967), a falência das

tentativas nacional desenvolvimentista-estadista em buscar uma maior equidade entre a

população e a derrocada do Pan-arabismo criaram uma fenda a qual foi propícia para o

desenvolvimento de movimentos fundamentalistas.

Os movimentos fundamentalistas sunitas tiveram como maior ícone e ideólogo Sayyd

Qutb e sua obra Marcos Milionários. Qutb era membro dos Irmãos Muçulmanos no Egito,

movimento perseguido durante o governo de Nasser; alguns líderes foram executados e boa

parte encarcerada - entre eles Sayyd Qutb. Inicialmente, Qutb era um reformador, procurando

dar uma dimensão islâmica à democracia ocidental. Sua experiência no cárcere e

principalmente seu período de estudos nos EUA fizeram com que ele enveredasse para o

extremismo. A sexualidade aberta da sociedade norte-americana, o racismo, o apoio ao

sionismo, entre outros fatores fizeram com que Qutb rejeitasse totalmente qualquer modo de

vida ocidental.

17 Frase atribuída a Sayd Qutb. In: DEMANT, Peter. O Mundo Muçulmano. P.211. São Paulo: Contexto, 2004. 18 Com relação à nomenclatura, há muitas controvérsias acerca de como cunhar tal fenômeno no mundo muçulmano. Alguns autores optam pela expressão Islamismo, Islã Político ou Revivalismo islâmico. Por estar de certa forma consagrado, doravante utilizaremos a expressão fundamentalismo muçulmano.

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A ideologia fundamentalista formulada por Sayyd Qutb rejeitava não apenas o modo de

vida ocidental, como também sua forma de organização política; ou seja, a democracia era

inadequada, visto que a autoridade não emana do povo, e sim de Deus. Conforme o credo

fundamentalista, por encontrar-se num estado de completa ignorância e descrença frente a fé,

somente existiriam duas alternativas de ação à sociedade árabe: a retirada e posterior

formação de uma nova sociedade19 ou a ação revolucionária. Sayyd Qutb optou pela segunda

alternativa, convocando todos os muçulmanos para uma Jihad20 contra os governos que,

segundo ele, não condiziam com as escrituras sagradas reveladas ao Profeta. Em suma, de

acordo com Karen Armstrong21, o fundamentalismo é uma reação contra a cultura científica e

secular oriunda do Ocidente e que se espalhou pelo globo todo, desencadeando uma reação

religiosa sem precedentes.

No mundo árabe, ecos fundamentalistas sunitas espalharam-se na Síria, devido à

presença dos Irmãos Muçulmanos naquele país desde a década de 40 e 50, além do Magreb,

principalmente na Tunísia, devido à política secularizante empreendida pelo partido Neo-

Destur; e no Sudão, o qual, após uma guerra civil entre cristãos e muçulmanos, deram origem

às primeiras respostas fundamentalistas ao governo central. No entanto, nenhum movimento

sunita conseguiu assumir o poder até então.

A primeira vitória fundamentalista, no entanto, viria num país persa e do ramo xiita do

Islã. Foi apenas com a Revolução Iraniana de 1978-1979 que os fundamentalistas

conseguiram atingir o governo central. A situação pela qual passava o país devido à ditadura

do Xá Reza Pahlevi, descontentando a maior parte da população, conjugada com o programa e

o carisma do Aiatolá Khomeini propiciaram a vitória do movimento.

Com a chegada ao poder de Mohamed Mossadegh na década de 50 o Irã adotou uma

política nacionalista em seu governo. O ato que desencadeou o golpe de estado que derrubou

Mossadegh foi a iniciativa do governo de nacionalizar a Anglo-Iranian Oil Company, a qual era

dominada pela Inglaterra. Influenciado pelos ingleses, a CIA montou a operação Ájax que tinha

como principal intuito retirar Mossadegh do poder e colocar um governante simpático ao

Ocidente. Não obstante, não apenas a conduta nacionalista de Mossadegh foi o estopim para a

19 Referência à Hégira, quando Maomé e os demais muçulmanos migraram de Meca para Medina. Nesse mesmo sentido, a formação do reino da Arábia Saudita pelos wahhabitas pode ser entendida como uma opção pela retirada e formação de uma sociedade islâmica autêntica. 20 Segundo Roger Garaudy, devemos diferenciar a Grande Jihad da Pequena Jihad. O primeiro é entendido como o esforço individual que todo muçulmano deve empreender para se manter dentro dos limites estabelecidos pelo Alcorão. O segundo é interpretado como o direito de defesa empreendido pelo Estado islâmico contra nações que persigam muçulmanos pretendendo impedi-los de praticar e divulgar sua fé. GARAUDY, Roger. Promessas do Islã. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. 21 ARMSTRONG, Karen. Em nome de Deus: : o fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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sua queda: ações contrárias aos líderes religiosos, como dar direito de voto às mulheres

culminou na revolto de diversos ulemás22.

A queda de Mossadegh permitiu que o Xá Reza Pahlevi iniciasse seu governo com

amplos poderes. Assim sendo, o Irã passou a integrar o campo ocidental e foi um dos

representantes dos interesses estadunidenses na região. Nos anos 60, o xá lançou o que ficou

cunhado como Revolução Branca, uma tentativa de modernizar o país, com medidas como

uma reforma agrária, escolarização da população e emancipação das mulheres. No entanto, o

processo beneficiou apenas uma pequena parcela, desagradando a maior parte da população

e o clero do país.

O descontentamento com o governo aumentou durante o decorrer da década de 70. O

Aiatolá Ruhollah Khomeini (1902-1989) foi o principal líder da oposição. Khomeini argumentava

que para ser bem sucedido, o movimento deveria espelhar-se na resistência do imã Hussein,

neto do Profeta, o qual enfrentou forte opressão e morreu em Karbala, no Iraque, pelas mãos

do califa Yazid (680-83). Em segundo lugar, os muçulmanos deveriam formar um Estado

Islâmico, formatado segundo uma estrutura política que se guiasse pelos princípios da

Sharia23.

A revolução propriamente dita começou em meados de 1977, quando diversos

protestos antigoverno e greves universitárias explodiram no país. No início de 1978, conjugou-

se o apoio de diversos ulemás contrários ao governo do xá, ampliando a base de apoio ao

movimento. Sem contar com apoio expressivo da população, o xá ainda tentou apaziguar a

oposição com promessas de reformas governamentais e a redação de uma nova carta

constitucional24. No entanto era tarde demais: no seu exílio na França, Khomeini, então já o

principal líder da oposição, liderou as revoltas que pediam a cabeça de Reza Pahlevi. Em

janeiro de 1979 o xá fugiu do país, deixando o posto de governante aberto para Khomeini.

O impacto internacional da Revolução foi grande: foi a única revolução islâmica dos

tempos modernos, calcada em grande apoio popular, capaz de derrubar um governo

secularista. No mundo árabe, foi vista como um evento antiocidental e como um sinal

encorajador para que demais movimentos contestatórios de cunho religioso em outros países

tentassem a tomada do poder. Ademais, Khomeini e seu movimento foram saudados também

como rivais ao Grande e ao Pequeno Satã: EUA e Israel.

22 Ulemás são os “sábios” ou “preparados”; é a camada de especialistas em questões religiosas e jurídicas. 23 A Sharia consiste no corpo das leis islâmicas sagradas provenientes do Alcorão, da sunnah (hábitos e práticas religiosas do Profeta que foram registrados por amigos e familiares) e dos ahadith (as tradições documentadas dos ensinamentos e ações de Maomé que não se encontram no livro sagrado). 24 Dentre as novas propostas, encontrava-se leis que possibilitavam maior participação feminina na política e na educação, divergindo dos interesses dos líderes religiosos iranianos.

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A Revolução Iraniana tinha um compromisso com a exportação internacional do

movimento. O islã constituía um projeto universal e deveria se propagar pelo globo. Agregando-

se ao antiocidentalismo, Khomeini apoiou diversas causas que considerava justa. Um dos

melhores exemplos foi o apoio iraniano para a Aliaça do Norte no Afeganistão, a qual combatia

o regime sunita extremista do Talibã. O terrorismo foi também praticado por simpatizantes de

Khomeini: a tomada da embaixada norte-americana em Teerã pelo grupo extremista Alunos da

Linha do Imã desencadeou uma crise diplomática de grandes proporções, a qual se alongou

por 444 dias.

Talvez a maior influência que a Revolução Iraniana, assim como os movimentos

fundamentalistas sunitas, deram aos praticantes do terror seja a volta da importância do Mito

na formação ideológica desses grupos. Juntamente com o literalismo, ou seja, a interpretação

ao pé da letra dos textos sagrados, o advento da idéia do Mito, algo atemporal, que remonta às

origens da vida, aos fundamentos da cultura, foi uma das variáveis que propiciou o grande

apoio que tais grupos possuem. O mito de Hussein para os xiitas, por exemplo, não comporta

demonstrações empíricas; no entanto, fornece o contexto que dá sentido e valor às atividades

práticas. Entrementes, o Logos, o pensamento racional, pragmático e científico, característico

do mundo Ocidental, não tem tamanha importância para estes movimentos. Os atos

perpetrados não se justificam e ganham valor na dimensão racional; é na dimensão mitológica

que são ressaltados. Tal influência permanece até os dias de hoje, quando grupos terroristas

justificam e comparam suas ações aos antigos mitos islâmicos.

04. A GUERRA DO GOLFO

O término da Guerra Fria e o esfacelamento da ordem bipolar que vigorara desde o

final da Segunda Guerra Mundial transformou substancialmente a configuração de forças no

sistema internacional. O final dos embates com o bloco soviético legou aos EUA a condição de

única superpotência que reunia, simultaneamente, força militar e hegemonia estratégica global,

o que provocou um debate sobre a configuração de poder que se sucederia à dissolução da

URSS. A questão que se apresentava no início da década de 90 era saber se a hegemonia dos

Estados Unidos se adaptaria e resistiria ao desgaste inevitável ou se recuaria diante das

pressões externas e internas produzidas pelas transformações do cenário pós-Guerra Fria.

Num primeiro momento a comunidade internacional acreditou estar a frente de um

revigoramento da Organização das Nações Unidas, superando assim a paralisia dos anos de

Guerra Fria levando à decisões mais efetivas sobre diferente gama de assuntos, desde

desenvolvimento econômico e social, passando pela proteção dos direitos humanos e a

manutenção da paz e segurança internacional..

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A Guerra do Golfo foi vista como o melhor exemplo dessa nova era. A crise teve como

estopim o pretexto usado por Sadam Hussein, o qual acusava o Kuwait de provocar a baixa no

preço do petróleo ao vender mais que a cota estabelecida pela Organização dos Países

Exportadores de Petróleo (Opep). Hussein exigia, então, que o Kuwait perdoasse a dívida de

US$ 10 bilhões contraída pelo Iraque durante a guerra com o Irã (1980) e também pagasse

uma indenização de US$ 2,4 bilhões, alegando que os kuwaitianos extraíram petróleo de

campos iraquianos na região fronteiriça de Rumaila. Ademais, estavam ainda em jogo antigas

questões de limites, como o controle dos portos de Bubiyan e Uarba, que dariam ao Iraque

novo acesso ao Golfo Pérsico. Tentativas de mediação por parte da Arábia Saudita, Egito e

Liga dos Estados Árabes não surtiram efeito algum: mesmo com a ONU tendo iniciado um

boicote econômico conforme a resolução 66125 do Conselho de Segurança, o ditador iraquiano

anexou o Kuwait, proclamando-o como sua 19ª província.

Com a falência das tentativas de resolução diplomática do impasse, a ONU autorizou

o uso de forças militares contra o Iraque conforme a resolução 67826 do Conselho de

Segurança, caso seu Exército não se retirasse do Kuwait até 15 de janeiro de 1991. Em 16 de

janeiro, as forças coligadas de 28 países liderados pelos EUA deram início ao bombardeio

aéreo de Bagdá, que se rendeu em 27 de fevereiro do mesmo ano. O rápido consenso atingido

pelos membros do Conselho de Segurança frente à decisão unilateral de Saddam Hussein em

invadir o Kuwait foi visto por muitos como o exemplo de uma nova era, calcada no

multilateralismo e na emergência de um suposto direito cosmopolita.

Não obstante, para outros, o que ficou evidenciado foi a pretensão estadunidense de

dominação global. Durante as manobras militares, a Arábia Saudita tornou-se base temporária

para as forças dos EUA, do Reino Unido, da França, do Egito, da Síria e de países que

formaram a coalizão anti - Sadam Hussein. O que era para ser algo temporário acabou

tornando-se permanente: mesmo após o final da Operação Tempestade do Deserto, os EUA

mantiveram suas bases em terras sauditas, provocando a ira de muitos grupos

fundamentalistas, os quais enxergavam tal fato como um grande disparate.

O antiamericanismo que já era grande na região aumentou ainda mais. Ações norte-

americanas como o apoio constante ao Estado de Israel, o golpe contra Mohamed Mossadegh

no Irã e a instauração de um governo opressor mais voltado ao Ocidente, além da idéia de que

o american way of life seria uma das maiores ameaças ao Islã prejudicaram a imagem dos

EUA na região. A idéia de que o Grande Satã explorava economicamente os países do Oriente

Médio e do Magreb e apoiava tiranos ganhou grande força na população, favorecendo os

movimentos fundamentalistas que conseguiram diversos partidários.

25 http://daccessdds.un.org/doc/RESOLUTION/GEN/NR0/575/11/IMG/NR057511.pdf?OpenElement 26 http://daccessdds.un.org/doc/RESOLUTION/GEN/NR0/575/28/IMG/NR057528.pdf?OpenElement

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No pós-Guerra Fria, a política dos EUA para o Oriente Médio esteve direcionada para

o propósito de impedir a emergência de uma hegemonia regional que pudesse dominar a área

e estabelecer forte influência sobre a produção petrolífera. Assim sendo, procurou apoiar

governos que lhe fossem simpáticos, com o Reino Hachemita da Jordânia, Egito e Israel. Este

foi um dos principais motivos que levaram à permanência das tropas norte-americanas após a

Guerra do Golfo27.

Dentro desse contexto, o que se desprende é a idéia de que a atuação dos EUA nos

países árabes, conjugado com o antiamericanismo latente na região, direcionou a atenção dos

grupos terrorista não apenas para o governo de seus países: os EUA passaram a ser

considerados como um dos maiores degeneradores do Islã e deveriam ser expulsos de terras

muçulmanas. Seja por causas seculares, como o suporte estadunidense à Israel, seja por ser o

maior desafio no plano mitológico - os EUA seriam a Dar al-Harb e a sua derrota era a tarefa

primordial de todo muçulmano -, Washington e seus aliados passaram a ser as grandes

batalhas a serem enfrentadas e o terror seria a melhor arma para se realizar esta tarefa.

05. O 11 DE SETEMBRO DE 2001

Grosso modo, podemos dizer que o 11 de setembro foi o resultado do processo

iniciado no pós-Guerra Fria e Guerra do Golfo. Com os EUA representando o principal inimigo

a ser combatido, o terror fundamentalista começou a concentrar e intensificar suas ações

contra alvos primariamente estadunidenses. Tais alvos podiam encontrar-se tanto no mundo

muçulmano quanto em outras regiões.

Dessa forma, a década de 90 se viu frente à internacionalização do terror

fundamentalista muçulmano, o qual buscava seus alvos em quaisquer partes do planeta. Em

1993, houve a primeira tentativa de se explodir o World Trade Center, atribuída à Umar Abdul

Rahman, xeique egípcio antes associado ao Jama’at al-Jihad, grupo que assassinara Anwar

Sadat, sucessor de Nasser. Em 1996, dezenove americanos foram mortos num atentado na

base militar saudita de Dhahran; em 1998, a Al-Qaeda explodiu simultaneamente as

embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia, culminando na morte de 300 pessoas. A Liga

dos Estados Árabes, frente a este evento, mostrou pesar às vítimas dos atentados,

27 Um dos estopins que levaram à formação da Al-Qaeda por Osama Bin Laden foi a permanência dos norte-americanos em terras sauditas. Após diversas críticas abertas à Casa de Saud, Bin Laden foi considerado persona non grata e teve de deixar o país. Refugiando-se no Afeganistão, Bin Laden deu início a formação de seu grupo terrorista, iniciando sua guerra contra os EUA, além de financiar grupos no Egito, Somália e Iêmen.

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denunciando o terrorismo internacional, mas fazendo ressalvas às ações norte-americanas

para combater tal ameaça28.

A Al-Qaeda pode ser considerada uma das principais responsáveis por esta

internacionalização do terror. Além de um forte antiocidentalismo presente em seu programa

ideológico, nos deparamos com uma retórica que ressalta o aspecto global da guerra entre o

Islã e o Ocidente. Numa declaração de 1998, Osama Bin Laden acusa os norte-americanos de

três crimes específicos contra Deus: a ocupação das terras sagradas do Islã; o patrocínio à

causa sionista e ao Estado de Israel; e, o sofrimento imposto aos iraquianos após a Guerra do

Golfo. Logo, seria dever de todo muçulmano combater nessa Jihad global.

Assim sendo, os atentados às Torres Gêmeas e ao Pentágono podem ser

entendidos como a obra-prima de Bin Laden. Na manhã de terça-feira de 11 de setembro de

2001, dezenove membros da Al-Qaeda seqüestraram quatro aviões e os lançaram contra os

principais símbolos do poder econômico, político e militar dos EUA, resultando em mais de

3000 mortos, na sua maioria civis. Em várias declarações gravadas, Bin Laden afirmava que os

atos perpetrados pelos terroristas suicidas eram parte da resposta às ações estadunidenses

outrora declaradas na carta de 199829.

A principal conseqüência deste evento foi evidenciar a todos que o terror não estava

restrito mais às terras árabes e/ou africanas. Os aviões levaram o terror fundamentalista

muçulmano para dentro dos EUA, acabando com o sentimento de segurança que a população

possuía. Juntamente com o colapso das Torres Gêmeas, caiu o mito da inviolabilidade do

território continental norte-americano. A superpotência vencedora da Guerra Fria era vulnerável

como qualquer outro Estado.

Os atentados provocaram um momento de inflexão na política externa norte-

americana. Estava claro que a superpotência solitária30 precisava de um projeto estratégico

para enfrentar as novas ameaças que se colocavam à sua frente. O resultado foi

consubstanciado na dita Doutrina de Prevenção, publicada em 20 de setembro de 2002 sob o

título de “A Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos da América”31. O documento

introduz às relações internacionais o conceito de Guerra Preventiva, ou seja, a partir de agora

os EUA fariam uso da agressão preventiva caso entendessem que estivessem sob ameaça

latente e futura. Ademais, a supremacia militar norte-americana também se torna uma

28 Para ver maiores detalhes da declaração da Liga dos Estados Árabes acerca da questão do terrorismo pós- 11 de setembro, http://www.al-bab.com/arab/docs/league/communique02.htm 29 http://www.ict.org.il/articles/fatwah.htm 30 HUNTINGTON, Samuel P. “A Superpotência solitária”. Foreign Affairs – Edição brasileira. Gazeta Mercantil, 12/03/1999, p.p. 23-28. 31 http://www.whitehouse.gov/nsc/nss.html

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prioridade, impedindo que aliados ou inimigos adquiram capacidades militares comparáveis no

pequeno ou longo prazo.

Esta nova postura da política externa norte-americana, culminando numa lógica

maniqueísta da política internacional produziu controvérsias no mundo. A tentativa

estadunidense em angariar apoio do Conselho de Segurança para invadir o Iraque terminou

com o racha na aliança ocidental, presente desde o início da Guerra Fria. No mundo

muçulmano, que na sua grande maioria rechaçara os atentados terroristas de 11 de setembro,

muitos viram com maus olhos a intensificação do intervencionismo norte-americano, seja por

meio de governo aliados, seja por intervenção militar propriamente dita, conforme visualizada

no Iraque.

Os anos de 2002-2003 foram marcados pela grande emergência de violência

fundamentalista. Em 2002, atentados ocorreram na Tunísia, Indonésia e Filipinas; em 2003, as

atenções ficaram voltadas primordialmente para a intervenção militar no Iraque; 2004 viu o

terror chegar ao Velho Continente, com os atentados na Espanha; e em 2005, a Inglaterra,

principal aliado dos EUA na Guerra ao Terror, sentiu o impacto da ameaça terrorista.

Assim sendo, notamos que o terrorismo fundamentalista islâmico, que outrora esteve

restrito aos territórios árabe-muçulmanos, vem se expandindo cada vez mais. Podendo ser

entendido como uma força transnacional, o terrorismo não é impedido de transitar por fronteiras

delimitadas geograficamente, sendo capaz de atingir os mais distintos países. Se esta é a

maior ameaça para a segurança internacional, de acordo com a concepção norte-americana,

só o tempo dirá se a Doutrina de Prevenção é a ferramenta adequada para a missão. Enquanto

isso, se nada for feito internamente por cada país, o terror só tenderá a aumentar, fortalecendo

a teoria preventiva e as políticas impositivas estadunidenses.

Contexto atual

A constante ameaça terrorista presente não apenas no mundo árabe, mas em todo o

globo, tem como um dos principais motivadores o discurso antiocidental da maior parte dos

extremistas e que foi fortemente intensificado com a intervenção norte-americana no Iraque.

Após 2003, a onda de terror se alastrou por todo o globo, com diversos países temendo novos

atentados. O início da retirada dos colonos judeus da Faixa de Gaza parece ser uma iniciativa

israelense de se avançar nas negociações de paz, principalmente depois da morte de Yasser

Arafat. No entanto, muitos ainda vêem com ressalvas a nova postura de Ariel Sharon,

principalmente grupos como o Hamas e o Hezbollah.

No que tange ao Iraque, a tentativa de aprovação de uma nova Constituição para o

país patrocinada pelos EUA não vem agradando principalmente os sunitas que até a deposição

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de Saddam Hussein estavam no poder. Curdos e xiitas, por sua vez, também têm suas

ressalvas, mas acreditam ser um grande avanço a nova Carta.

Não obstante, o terrorismo internacional continua suas ações. Atentados em países

que apoiaram a intervenção norte-americana já atingiram Londres e Madrid. Na Austrália, país

que deu suporte à ação estadunidense, acredita-se na existência de células terroristas

espalhadas pelo país, o que pode culminar num atentado a qualquer momento. Segundo

afirmou Jean-Louis Bruguière, investigador terrorista francês, ao jornal britânico Financial

Times, “uma ação da Al-Qaeda à um grande centro financeiro em países como Singapura,

Japão e a já citada Austrália é quase certo, com o intuito de minar a confiança de investidores”.

Posição dos principais atores

01. Egito, Jordânia e Países do Golfo

O Egito é um dos principais países da região e o primeiro a realizar um acordo de paz

com Israel, com a assinatura dos Acordos de Camp David em 1978 e a assinatura do Tratado

de Paz em 1979. É um dos principais aliados dos Estados Unidos da América na região,

recebendo assistência militar e financeira da Casa Branca via USAID32 e realiza manobras

militares com os norte-americanos, na chamada Operação Estrela Brilhante. Contribuiu

substancialmente com contingente militar na Guerra do Golfo. Na mesma linha se encontra o

Reino Hachemita da Jordânia, a qual também assinou um Tratado de Paz com Israel em 1995,

sendo um dos grandes aliados dos EUA na região, mesmo tendo apoiado inicialmente o

reclamo iraquiano no Kuwait durante a Guerra do Golfo. Contudo, após o desfecho das

operações, o governo vem restaurando suas relações com o Ocidente, abrindo seu espaço

aéreo aos aviões da coalizão, além de abrigar tropas norte-americanas envolvidas em

operações de busca e resgate no oeste do Iraque e operar um sistema Patriot de defesa

antimísseis.

Os Países do Golfo sempre tiveram uma política de alinhamento aos EUA e à

Inglaterra. Com relação à Israel, estão procurando normalizar suas relações com o país,

atuando sempre a favor da resolução pacífica do conflito árabe-israelense. Com relação à

intervenção dos EUA no Iraque, apoiaram formalmente a coalizão. Bahrein serve como quartel-

general à Quinta Frota dos Estados Unidos; Qatar abriga o quartel-general móvel do Comando

Central norte-americano, e permitiu que Washington ampliasse uma base aérea para operar

mais jatos de combate; Kuwait serviu de base às forças da coalizão concentradas para a

32 http://www.usaid.gov/

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invasão; Emirados Árabes Unidos é base para os aviões de vigilância e reabastecimento aéreo

norte-americanos além de servir de base a um número estimado em 3.000 soldados ocidentais;

Omã foi base para aviões norte-americanos usados no Afeganistão, mas, num primeiro

momento, afirmou que não desempenharia papel algum na intervenção no Iraque; por fim, com

na Arábia Saudita, aviões norte-americanos e britânicos usaram sua base aérea Prince Sultan

para impor a "zona de exclusão de vôo" sobre o sul do Iraque. 02.Países do Maghreb

Mauritânia, Marrocos e Tunísia vêm procurando estreitar suas relações com Israel,

reatando laços diplomáticos por meio da abertura de embaixadas e o estabelecimento de

missões diplomáticas. A União do Maghreb Árabe, formada por Marrocos, Argélia, Tunísia,

Líbia e Mauritânia, visa também uma maior integração com a União Européia e com o

Ocidente, aspirando investimentos na região e um maior incremento no que tange ao comércio

com o bloco europeu. Esta nova perspectiva fez com que países como Argélia e Líbia

deixassem de lado posturas mais extremistas e buscasse maior aproximação com o ocidente.

Não obstante, o conflito pelo domínio da região do Saara Ocidental já dura 30 anos. Nos

últimos anos, o Front Polisário, que é apoiado pela Argélia, já libertou mais de 2.000

prisioneiros marroquinos. A etapa mais violenta do conflito foi encerrada quando a Organização

das Nações Unidas conseguiu promover um cessar-fogo em 1991. Ademais, o terrorismo

internacional já atingiu a região, no qual pelo menos 40 pessoas morreram e cem ficaram

feridas em cinco explosões ocorridas em Casablanca, capital comercial do Marrocos, em

16/05/2003. Marrocos é um dos aliados dos EUA em sua guerra contra o terrorismo, mas

expressou desgosto com o fato de uma solução pacífica não ter sido encontrada para a crise

iraquiana. O rei Mohammed 6º expressou preocupação de que a guerra pudesse despertar o

movimento fundamentalista islâmico do país.

03. Síria, Líbano, Iraque e demais países árabes

A Síria é um dos países, segundo o Departamento de Estado dos EUA, patrocinadores

do terrorismo internacional. Sua relação com os países árabes esteve deteriorada quando

Damasco deu suporte ao Irã durante a Guerra Irã-Iraque, devido a desentendimentos com o

Iraque de Saddam Hussein, sobretudo pelos desejos do ex-líder iraquiano de despontar como

novo símbolo árabe pós-Nasser. Todavia, procurou reverter a situação, apoiando o retorno do

Egito à Liga dos Estados Árabes em 1989 e dando suporte à coalizão internacional durante a

Guerra do Golfo. Não obstante, não normalizou suas relações nem com EUA, tampouco com

Israel.

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O Líbano, por sua vez, está sendo alvo de diversos atentados terroristas,

principalmente depois da ação ocorrida em 14/02/2005, o qual tirou a vida do ex-premiê e líder

da oposição anti-Síria Rafik al Hariri. Desde então, e após a retirada das tropas sírias da

fronteira do país, o Líbano sofre uma série de atentados desde fevereiro, dentre os quais

destacamos o que culminou na morte do ministro libanês da Defesa, Elias Murr,em 12 de junho

de 2005 e os atentados de 02 e 21 de junho de 2005, nos quais morreram o jornalista Samir

Kassir - conhecido por sua militância contra o controle da Síria no Líbano - e o ex-líder

comunista George Hawi.

O Iraque, por sua vez, é o palco do maior número de atentados terroristas no

momento. De março de 2003 a julho de 2005 foram mortas 2200 pessoas, na grande maioria

iraquianos e muçulmanos. A tentativa de aprovação da Carta constitucional vem apresentando

problemas, principalmente entre os sunitas, que eram a elite do governo durante o regime de

Saddam Hussein, os xiitas, maioria da população, e os curdos, os quais buscam o

reconhecimento de um território autônomo, o chamado Curdistão

Outros países, como Iêmen e Sudão mantêm uma política de isolamento à Israel,

sendo que o primeiro prega a destruição do Estado Judeu. Ambos são considerados

patrocinadores do terrorismo pelos EUA e o Sudão vem sendo acusado de desrespeitar os

direitos humanos e as minorias étnicas, principalmente no conflito na região de Darfur.

Ações da Liga e principais organizações terroristas

A ONU lançou no início de 2005, um relatório elaborado pelo Grupo de Alto Nível

criado pelo Secretário-Geral, Kofi Annan, que integra um Painel sobre Ameaças, Desafios e

Mudanças para o século XXI. O relatório intitulado “Um mundo mais seguro: nossa

responsabilidade”33 contém 101 propostas de reforma e recomenda mudanças no tratamento

de ameaças, conflitos entre Estados e intra-estatais, armas nucleares, radiológicas, químicas e

biológicas, crime organizado e terrorismo, dentre outros.

No que diz respeito ao terrorismo, o relatório incentiva os Estados a adotarem uma

definição comum de terrorismo. O documento pressupõe que apenas depois de reconhecerem

a ameaça, os Estados podem se unir para combatê-la. Neste sentido, o relatório define

terrorismo como “qualquer ação, associada a ações já especificadas pelas convenções

existentes no aspecto do terrorismo, as Convenções de Genebra34 e a Resolução 1566 (2004)

33 Para maiores informações acerca das ações da ONU frente a temática do terrorismo, http://www.un.org/terrorism/ 34 Para as principais convenções e tratados contra terrorismo, http://pt.wikipedia.org/wiki/Terrorismo#Conven.C3.A7.C3.B5es_Internacionais_sobre_Terrorismo

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do Conselho de Segurança35, que tem a intenção de causar morte ou ferimentos graves a civis

ou não combatentes, quando o propósito de tal ato, por natureza e contexto, é intimidar a

população, ou compelir o governo ou organização internacional a fazer ou se abster de fazer

algo”. Também no início de 2005, seguindo esta empreitada, a Liga dos Estados Árabes

realizou o Simpósio Regional Árabe de Combate ao Terrorismo, sediado na cidade do Cairo.

As principais medidas e discussões fomentadas no encontro podem ser vistas em

http://www.arableagueonline.org/arableague/english/details_en.jsp?art_id=3664&level_id=219 . Em janeiro de 2002, o presidente norte-americano George W. Bush, em seu discurso

sobre o Estado da União já havia salientado medidas e citado alguns dos principais grupos

terroristas que representariam ameaças para manutenção da paz no Oriente Médio e ao redor

do mundo. Destacamos abaixo, o intuito de exemplificação, os principais grupos terroristas

atuantes levando em conta a amplitude de seus ataques, o número de seus seguidores e a

capacidade para arrecadação dos fundos de financiamento que possibilitam suas ações. Não

obstante, não é objetivo deste manual delimitar o debate apenas nessas organizações, mas

apenas colocar em foco aquelas que vem se destacando frente ao contexto atual.

Al-Qaeda

A Al-Qaeda é uma rede internacional terrorista que acredita na libertação do mundo

árabe da influência dos valores do Ocidente e luta pela instituição de regimes fundamentalistas

islâmicos no Oriente Médio.

A rede nasceu como parte da oposição à invasão soviética ao Afeganistão em 1979. A

partir dos anos 80, sob a tutela de Osama bin Laden e do líder palestino Abdullah Azzam, o

grupo iniciou o recrutamento e treinamento de milhares de mujahadeen, os chamados

‘guerreiros sagrados’, vindos de mais de 50 diferentes países. A operação contou com grande

financiamento e bin Laden queria levar sua luta para além das fronteiras afegãs. A Al-Qaeda foi

formalmente fundada por volta de 1988.

De 1991 até 1996, o grupo executou seus treinamentos ao longo das áreas fronteiriças

montanhosas entre o Paquistão e o Afeganistão e dentro de cidades paquistanesas. Apesar de

não contar com bases fixas de atuação, o grupo parte de um princípio anti-estatal de resgate

das origens islâmicas, fiel às multi-seculares e sagradas leis da hospitalidade. Os simpatizantes

devem acolher outros membros oferecendo-lhes abrigo, como prova de lealdade. Isso facilita a

ação do grupo em países vizinhos, como o próprio Paquistão. Nas áreas fronteiriças do país,

35 http://daccessdds.un.org/doc/UNDOC/GEN/N04/542/82/PDF/N0454282.pdf?OpenElement

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existem zonas tribais pashtun, também conhecidas como "agências" ou "ilaqa ghair", que

significa "país sem lei". Suspeita-se que muitos membros da Al-Qaeda - e talvez o próprio

Osama bin Laden - possam ter encontrado refúgio nessas áreas. Segundo oficiais da inteligência norte-americana, a rede possui células autônomas em

cerca de 100 países, incluindo os EUA. Autoridades já identificaram células do grupo no reino

Unido, Itália, França, Espanha, Alemanha, Albânia e Uganda.

A grande descentralização do grupo dificulta a obtenção de dados quanto à estimativa

de membros e simpatizantes. Especialistas afirmam se tratar de milhares de pessoas ao redor

do mundo, mas apenas algumas centenas participariam ativamente dos atos terroristas, que

seriam discutidos e aprovados por um concílio geral que, ao menos até 2003, seria comandado

diretamente por bin Laden.

Outros nomes são citados como lideranças fundamentais do grupo em diferentes

países, mas desde o início da empreitada norte-americana no combate ao terrorismo, a maioria

deles se refugiou ou foi capturada por agentes da inteligência. A destruição de bases da Al-

Qaeda no Afeganistão fez com que o grupo buscasse cada vez mais o apoio de outros grupos

terroristas atuantes que compartilham de seus ideais. Acredita-se que parte do grande

financiamento obtido pelo grupo sirva também para patrocinar grupos como a Jihad Islâmica, o

Exército Islâmico de Aden, do Yemen, o Movimento Islâmico do Uzbequistão, o Abu Sayyaf da

Malásia e Filipinas e grupos separatistas da Caxemira.

Hamas

O Hamas representa hoje o maior e mais importante grupo fundamentalista mulçumano

atuante na Palestina. O grupo conta com uma extensa rede de serviços sociais que atua junto

à ala terrorista do movimento.

O grupo foi fundado no final da década de 60, como parte do grupo político e religioso

da Irmandade Mulçumana do Egito. Inicialmente, seu fundador e líder espiritual, o Sheikh

Ahmed Yassin e seus seguidores pregavam e realizavam trabalhos de caridade nas regiões da

Cisjordânia e faixa de Gaza.

Com a erupção da primeira Intifada, em 1987, Yassin transformou o Hamas no

representante político local da Irmandade Mulçumana, publicando sua carta oficial em 198836.

A carta prega a destruição de Israel e substituição da Autoridade Palestina por um Estado

Islâmico em Gaza e na Cisjordânia.

36 http://www.yale.edu/lawweb/avalon/mideast/hamas.htm

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Sheik Yassin foi o líder político do grupo até seu assassinato em março de 2004 por

forças de segurança israelenses. Ele foi substituído por Abdel Aziz al-Rantisi, que fora

assassinado um mês depois. Desde então, o Hamas tem mantido ocultas as identidades de

seus principais líderes políticos para protegê-los de possíveis ataques das forças israelenses,

mas acredita-se que a organização seja hoje dirigida por Khalid Meshal, que comandaria

através de uma base em Damasco, na Síria.

Estima-se que o Hamas tenha um orçamento anual de até 70 milhões de dólares que

são empregados em grande parte na sua extensa rede de serviços sociais, que incluem

escolas, orfanatos, mesquitas, hospitais, abrigos e ligas esportivas.

Grande parte do financiamento do Hamas parte de doações de palestinos expatriados

e de colaboradores da Arábia Saudita e outros países do Golfo Pérsico. O Irã também foi

apontado como contribuinte ativo do grupo, com somas de até 30 milhões de dólares por ano,

segundo o Departamento de Estado norte-americano. Além disso, o Hamas ainda conta com

doações de simpatizantes nos EUA, Canadá e Europa.

Acredita-se que apenas a ala militar do Hamas some mais de mil membros ativos e

milhares de simpatizantes. Estimativas do governo israelenses afirmam que o Hamas é

responsável pela morte de mais de 500 pessoas em mais de 350 diferentes ataques terroristas

desde 1993.

Jihad Islâmica

A Jihad Islâmica Palestina é um segmento do Hamas que atua de maneira dispersa e

menos organizada que seu movimento de origem. O grupo foi fundado no final da década de

70 por um grupo radical de ativistas palestinos residentes no Egito. Seguindo o líder Fathi

Shaqaqi, esse grupo de ativistas separou-se da Irmandade Mulçumana, alegando que esta

havia abandonado a causa Palestina, tornando-se moderada demais.

Inspirada na revolução xiita islâmica do Irã, a Jihad Islâmica mescla princípios

nacionalistas Palestinos, fundamentalismo islâmico sunita e o pensamento revolucionário xiita,

formando uma ideologia que prega que a unidade islâmica não pode ser alcançada até a total

destruição de Israel e libertação da Palestina.

Após o assassinato do presidente egípcio Anwar Sadat, em 1981, a liderança do

movimento foi expulsa e instalou-se em Gaza. Durante a primeira Intifada, o grupo foi exilado

no Líbano, onde desenvolveu fortes laços com o Hezbollah e com o Irã.

A coesão do grupo diminuiu consideravelmente desde 1995 após o assassinato de

Fathi Shaqaqi em Malta por agentes israelenses. Shaqaqi foi substituído por Ramadan Shallah,

que mais tarde, em 2003, foi acusado pelo Departamento de Justiça norte-americano de

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assassinato e conspiração terrorista. Assim como o líder do Hamas Khalid Meshal, Shallah vive

atualmente em Damasco, na Síria.

Acredita-se que a Jihad Islâmica seja responsável por mais de 40 ataques terroristas

que já causaram a morte de mais de 100 israelenses.

Brigadas de Mártires da Al-Aqsa

As brigadas são um grupo de milícias da Cisjordânia afiliados a al-Fatah, movimento

secular nacionalista ligado ao ex-líder palestino Yaser Arafat. O grupo é uma das principais e

mais ativas forças da atual Intifada.

O movimento tornou-se atuante a partir de 2000 e inicialmente planejava e executava

atos terroristas somente contra soldados israelenses e assentamentos em Gaza e na

Cisjordânia. No início de 2002, no entanto, o grupo começou a executar ataques contra alvos

civis dentro de cidades israelenses.

As brigadas de mártires realizam o mesmo tipo de atentados suicidas associados a

outros grupos fundamentalistas, mas diferencia-se por remeter suas origens a um forte

nacionalismo Palestino e não ao tradicional islamismo político xiita.

A maioria dos ataques é de bombas suicidas e tiroteios e alguns dos ataques suicidas

envolveram a participação de mulheres. Mesmo assim, o grupo afirma que a morte de

mulheres e crianças nos ataques é meramente acidental e deve ser evitada. Só no início de

2002, os ataques realizados pelos mártires mataram mais israelenses do que o Hamas.

A ligação do grupo com o ex-líder Yaser Arafat permanece incerta. Arafat afirmava que

não controlava nem apoiava as brigadas. Os oficiais de inteligência israelense reportam que

Arafat teria feito pagamentos da ordem de US$ 20.000 para o grupo, fato que teria levado o

presidente Bush a solicitar pelo afastamento de Arafat de seu posto em junho de 2002.

Hezbollah

O Hezbollah é uma organização libanesa de grupos radicais islâmicos xiitas. Ele se

opõe ao modo de vida do Ocidente, busca criar um estado mulçumano fundamentalista no

Líbano e prega pela destruição de Israel.

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Especialistas afirmam que o Hezbollah também é uma importante força política (detém

12 das 128 cadeiras do Parlamento libanês), provedora de diversos serviços sociais, desde

escolas e hospitais até serviços ligados à agricultura local. O grupo também opera a rede de

televisão e rádio al-Manar. Hoje, a organização já conquistou tanta representação no país que

chega a gerar um paradoxo entre o poder civil e poder do Estado soberano, ponto de

discussão entre analistas internacionais na atualidade. Como partido político, o grupo vem

realizando desde 1992 uma série de concessões e alianças na tentativa de legitimar sua

resistência. Assim, o partido conseguiu emergir dentro da arena democrática do Líbano, junto a

grupos de diferentes correntes políticas.

O Hezbollah foi fundado em 1982, em resposta a invasão de Israel ao Líbano e

mantém até hoje fortes elos com o Irã e a Síria.O Sheikh Mohammed Hussein Fadlallah é tido

como o líder espiritual do grupo. Imad Fayez Mugniyah é apontado como o grande chefe das

operações terroristas ao redor do mundo e Hassan Nasrallah, como o principal líder político.

Estimativas do governo norte-americano afirmam que o grupo possui milhares de militantes e

ativistas ao redor do mundo inteiro.

O grupo atua principalmente nas áreas de domínio xiita do Líbano, incluindo algumas

partes de Beirute e também ao sul do país. Fontes de inteligência norte-americanas já

identificaram células do grupo operando ao redor da Europa, na África e nas Américas do Sul e

do Norte.

Apesar da retirada das tropas israelenses do Líbano em 2000, as áreas de fronteira

com o Estado de Israel ainda estão constantemente sujeitas aos ataques do grupo.

Acredita-se que o grupo seja responsável por cerca de 200 atentados desde 1982 que

causaram a morte de mais de 800 pessoas. Alguns de seus principais ataques incluem o

seqüestro de um avião em 1985 e os dois grandes atentados na Argentina, em 1992 à

embaixada de Israel e em 1995, em uma congregação judaica. Juntos, os atentados mataram

122 pessoas.

Especialistas acreditam que o Hezbollah também atue em parcerias com membros do

Hamas e da Jihad Islâmica. Ligações com a rede terrorista Al-Qaeda também já foram

traçadas, apesar de as ideologias xiitas do grupo divergirem daquelas dos líderes sunitas da Al-

Qaeda e do Talibã. O Sheikh Fadlallah, líder espiritual do Hezbollah chegou a condenar os

ataques de 11 de setembro. O líder declarou que os atentados teriam sido incompatíveis com a

lei islâmica e com o real significado da jihad.

Soluções

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A discussão de tema tão controverso é de suma importância para a Liga dos Estados

Árabes, que por ser um órgão de cunho regional, está a par dos principais pormenores

envolvendo seus membros, como diferenças culturais e correntes políticas divergentes entre

seus países. Dessa forma, a Liga poderá colocar frente aos interesses norte-americanos a sua

visão do problema e buscar respostas que se adequem mais diretamente às particularidades

da região. Ademais, a contenção de grupos terroristas na região tenderá também a aumentar a

estabilidade dos governos e garantir a segurança da população, visto que estes grupos, ao

optarem pela violência como forma de contestação, afetam negativamente a governabilidade e

as instituições do país, causando a morte de inocentes e denegrindo cada vez mais a religião

fundada pelo Profeta. Logo, o documento final da Conferência de Cúpula da Liga dos Estados Árabes deve

tomar cuidado para que mecanismos de contenção a grupos terroristas não se tornem práticas

abusivas, desrespeitando minorias e a já frágil liberdade individual em muitos países da região.

Dessa forma, algumas perguntas precisam ser discutidas tais como:

• Existe a possibilidade de promover redes moderadas em detrimento aos

radicais os quais possuem forte influência em grande parte da população?

• Como os países podem atuar de maneira integrada para destruir células

terroristas na região?

• Como impedir que a destruição das células terroristas não impeça as

liberdades individuais, possibilitando que os muçulmanos possam freqüentar

as mesquitas e madrassas que quiserem;

• Como levar oportunidades econômicas para os pobres e necessitados, visto

que são as parcelas mais fáceis para o aliciamento de novos terroristas;

• Existe a possibilidade para maior abertura política nos países, proporcionando

canais para que as pessoas possam contestar o governo sem fazer uso da

violência?

• Aprimorar as forças armadas dos países e prepará-las para as ameaças

terroristas;

• Há a possibilidade para maior vigilância nas fronteiras?

• Qual a postura frente à retirada dos colonos israelenses de territórios

palestinos e a política externa norte-americana para a região?

• Como lidar com a questão da proliferação de armas nas mãos de grupos

terroristas, principalmente as de destruição em massa?

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