história da educação

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Contexto histórico da educação - Mundo e Brasil

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Page 1: História Da Educação
Page 2: História Da Educação

 

Page 3: História Da Educação

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO  

 

Page 4: História Da Educação

 

 

 

Conselho Editorial EAD 

Dóris Cristina Gedrat (coordenadora) 

Mara Lúcia Machado 

José Édil de Lima Alves 

Astomiro Romais 

Andrea Eick 

 

 

Obra  organizada  pela  Universidade  Luterana  do 

Brasil.  Informamos que  é de  inteira  responsabilidade 

dos autores a emissão de conceitos. 

A violação dos direitos  autorais  é  crime  estabelecido 

na Lei nº  .610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código 

Penal. 

 

 

 

Page 5: História Da Educação

 

APRESENTAÇÃO

Cursávamos o ensino médio em um colégio da Rede de Ensino Públi‐

co, no Centro‐Sul do Chile, no início da década de 1970, quando tive‐

mos a oportunidade de participar do curso “Programa de Educación 

de  los Trabajadores para el Cambio”. O Curso era  inspirado nos con‐

ceitos  pedagógicos  e  metodológicos  dos    brasileiros  Paulo  Freire  e 

Ernani Maria  Fiori. Nesse  curso,  aprendemos  os  princípios  de  uma 

educação  que  na  prática  do  exercício  da  liberdade  constrói  justiça  e 

solidariedade: a) Ninguém educa ninguém, pois a educação é a ação 

da pessoa ou do grupo que se educa. A educação é uma ação intransfe‐

rível que ninguém pode fazer por ninguém, cada pessoa ou grupo faz 

por si e para si, e o educando é o sujeito da sua educação sendo uma 

tarefa de  toda a vida. b) Ninguém se educa sozinho, pois a educação 

supõe a alteridade, precisamos do outro para educar‐nos. c) A educa‐

ção tem como ponto de partida a própria realidade pessoal e sociocul‐

tural do educando ou do grupo de educandos e, nesse sentido, a reali‐

dade constitui a mediação do ato educativo. Os três princípios se arti‐

culam  –  ninguém  educa  ninguém  e  ninguém  se  educa  sozinho  são 

mediados pela realidade a ser transformada, transformando‐se um ao 

outro e a  si mesmo através de uma  relação dialógica. Esses  têm sido 

meus referenciais pedagógicos em todas as minhas experiências educa‐

tivas,  sejam  elas  na  educação  formal  em  colégios  e  universidades, 

sejam em processos de educação de jovens e adultos em comunidades 

da periferia, sejam na capacitação de líderes comunitários e operadores 

de segurança pública e justiça criminal. 

Esses conceitos constrastam com o referencial pedagógico que configu‐

ra o exercício da nossa prática docente. Isso porque escrever um livro 

como suporte para o estudo de graduação sem a presença do educador 

subtrairia a possibilidade de diálogo. Entretanto, tomamos essa carac‐

terística como um desafio a ser superado na alocação dos conteúdos, 

na descrição e na explicação dos temas e, principalmente, na sugestão 

das atividades a serem realizadas, bem como nas leituras complemen‐

tares a serem feitas. A articulação interna dos capítulos objetiva susci‐

tar a reflexão individual, aquela que ninguém pode fazer por ninguém, 

Page 6: História Da Educação

 

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sobre a realidade histórica que faz a mediação dialógica com a autoria 

do livro que expressa suas idéias ao longo dos dez temas investigados, 

preparados e apresentados. Não  realizar as atividades propostas e as 

leituras sugeridas em cada capítulo significará inviabilizar esse diálogo 

entre  as  idéias mais  relevantes  e  os  autores mais  representativos de 

cada recorte histórico e temático presentes em cada capítulo. 

A  história da  educação  que  apresentamos  a  seguir  tem  três  recortes 

temáticos: a história da educação nas civilizações antigas (Egito, Grécia 

e Roma); a história da educação na Idade Média e na Idade Moderna e 

a história da educação brasileira (HEB). Privilegiamos, em referências 

bibliográficas, atividades de aprofundamento, leituras sugeridas, apre‐

ciação de documentos  e  estudo de  legislação, a história da  educação 

brasileira. Se os motivos não parecem óbvios, optamos por privilegiar 

esse  recorte, pois nos seis últimos anos em que  trabalhamos HEB  I e 

HEB II, no Curso de Pedagogia, percebemos que os estudantes chegam 

à universidade com uma percepção fragmentada da história da socie‐

dade  brasileira. Não  tem  uma  visão  do  processo  de  construção  dos 

fatores nacionais e internacionais que se conjugaram para produzirem 

determinados modelos sociais e econômicos e ignoram a formação e a 

atuação  das  elites  nacionais  na  formulação  de  renovadas  estratégias 

para  a manutenção  da  hegemonia  política  e  econômica.  Da mesma 

maneira, não apresentam um conhecimento apropriado sobre as  fina‐

lidades da educação no processo histórico de  formação da  sociedade 

brasileira.  

Para  nossa  satisfação,  um  crescimento  significativo  na  compreensão 

dos aspectos apontados anteriormente  tem sido alcançado através de 

pesquisas temáticas orientadas individuais e em grupos, de seminários 

sobre temas específicos de responsabilidade individual e coletiva, além 

de discussões e debates que objetivam a construção de uma visão de 

conjunto sobre o processo social e histórico brasileiro e o papel atribuí‐

do  à  educação. Os  conteúdos  alocados,  as  atividades de  aprofunda‐

mento e as sugestões de leituras que têm contribuído para esse cresci‐

mento  pessoal  e  de  grupo  são  aqueles  que  são  apresentados  neste 

livro.  

Gostaríamos  de  terminar  essa  apresentação  parafraseando  Zeldin, 

citado  por Callage Netoa,  quando  afirma  que  a  nossa  imaginação  é 

habitada por fantasmas de um passado que nos assombra, mas que as 

pessoas podem mudar de  opinião  a  seu  respeito. Ele  acredita  que  é 

possível  aos  indivíduos  formarem uma nova opinião de  sua própria 

                                                                  a CALLAGE NETO, R. A cidadania sempre adiada: da crise de Vargas em 54 à era Fernando Henrique 

Cardoso. Ijuí: Unijuí, 2002. p. 13. 

Page 7: História Da Educação

 

7

crônica pessoal e de todo o registro da crueldade humana seus equívo‐

cos e alegrias. É consenso que, para que tenhamos uma visão nova do 

futuro, sempre foi necessário, antes, adquirir uma visão nova do pas‐

sado. 

 

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SOBRE O AUTOR

Julio Alejandro Quezada Jélvez

O professor Julio Alejandro Quezada Jélvez é graduado com  licencia‐

tura plena  em Filosofia na Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da 

Imaculada Conceição/ RS, mestre em Educação na Pontifícia Universi‐

dade Católica do Rio Grande  do  Sul  (PUCRS)  e  atualmente  cursa  o 

doutorado em Gerontologia Biomédica na PUCRS.  Realizou Cursos de 

extensão  e  qualificação  em  Psicanálise  e  Educação  na Universidade 

Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

Sua experiência profissional contempla a docência nas seguintes insti‐

tuições: Universidade  Luterana  do  Brasil  no Campi  de Canoas/RS  e 

Campi São  Jerônimo/RS;PUCRS; Universidade Estadual do Rio Gran‐

de  do  Sul  (UERGS)  e  nas  Faculdades  Cenecistas  de Osório  (Facos). 

Nesta última, é professor de História da Educação e Ética e Cidadania 

nos cursos de Pedagogia e Computação, respectivamente, e coordena‐

dor  do  curso  de  pós‐graduação  e  especialização  em  Psicopedagogia 

Social.  Também  é  con  sultor  da União  Européia  e  do  Programa  de 

Desenvolvimento das Nações Unidas/Pnud  e do Centro de Assesso‐

ramento a Programas de Educação para a Cidadania / Capec com atu‐

ação  em  25  Estados  da  Federação.  Tem  co‐autoria  em  “Arquitetura 

Institucional  do  Sistema Único  de  Segurança  Pública  –  SUSP”  –  Se‐

nasp/MJ/PNUD, 2003; “Matriz Curricular Nacional – para a formação 

dos operadores de segurança pública e  justiça criminal” – Senasp/MJ, 

2004. Foi  indicado para o Prêmio Nacional de Direitos Humanos da 

Universidade de São Paulo (USP), em 2007. 

 

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SUMÁRIO

1 A EDUCAÇÃO NAS CIVILIZAÇÕES ANTIGAS ...................................................... 13

1.1 Educação no Egito ................................................................................... 13

1.2 Educação na Grécia ................................................................................ 14

1.3 Educação em Roma ................................................................................. 17

Atividades .................................................................................................... 20

2 A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA ....................................................................... 21

Atividades .................................................................................................... 26

3 A EDUCAÇÃO NA IDADE MODERNA ................................................................. 27

3.1 Absolutismo ............................................................................................ 27

3.2 A Revolução Industrial ............................................................................. 31

Atividades .................................................................................................... 33

4 A EDUCAÇÃO NO BRASIL COLÔNIA .................................................................. 34

Atividades .................................................................................................... 39

5 A EDUCAÇÃO NO BRASIL IMPÉRIO .................................................................. 40

5.1 A Proclamação da Independência do Brasil .............................................. 41

5.2 A Abolição da Escravatura ....................................................................... 41

5.3 A cultura no Brasil Império ...................................................................... 42

5.4 O ensino superior no Brasil Império .......................................................... 42

5.5 O ensino primário, secundário e técnico-profissional ................................ 43

5.6 A formação dos professores e as Escolas Normais ..................................... 45

Page 12: História Da Educação

 

 12

5.7 Rui Barbosa e a reforma de ensino no Brasil ............................................. 46

Atividades .................................................................................................... 47

6 A EDUCAÇÃO NO PERÍODO REPUBLICANO ....................................................... 49

Ponto final .................................................................................................... 54

Atividades .................................................................................................... 55

7 A EDUCAÇÃO NA ERA VARGAS ........................................................................ 56

Atividades .................................................................................................... 66

8 A EDUCAÇÃO NO PERÍODO DESENVOLVIMENTISTA .......................................... 67

8.1 O governo de Juscelino Kubitschek ........................................................... 67

8.2 O governo de Jânio Quadros ..................................................................... 68

8.3 Contramarcha ......................................................................................... 69

8.4 A educação nos anos desenvolvimentistas ................................................ 70

Atividades .................................................................................................... 72

9 A EDUCAÇÃO NO PERÍODO DA DITADURA MILITAR ........................................... 73

9.1 Aspectos econômicos .............................................................................. 73

9.2 Aspectos políticos e (i)legais no período da Ditadura Militar ..................... 75

9.3 Educação x Ditadura Militar..................................................................... 77

Atividades .................................................................................................... 81

10 A EDUCAÇÃO NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO .................................... 83

Atividades .................................................................................................... 91

REFERÊNCIAS .................................................................................................. 92

 

Page 13: História Da Educação

  

1A EDUCAÇÃO NAS CIVILIZAÇÕES ANTIGAS

Julio Alejandro Quezada Jélvez

O presente capítulo apresenta uma síntese sobre como era a educação 

nas civilizações antigas. O objetivo é trazer os aspectos mais importan‐

tes  dos  diferentes  contextos  históricos  para  possibilitar  uma melhor 

compreensão dos métodos de  ensino  e dos  conteúdos  enfocados  em 

cada período. A partir desse entendimento, é possível pensar sobre as 

transformações do mundo da educação e sobre o desenvolvimento do 

conceito de  ensino. Além disso, o  texto  traz, de modo discreto, uma 

reflexão sobre o surgimento do pedagogo como profissional.  

1.1 Educação no Egito

Os registros históricos significativos mais remotos acerca da educação 

são da civilização egípcia, por volta de 2200 a.C. Esses registros consis‐

tem  em  ensinamentos  que  nos  trazem  uma  idéia  geral  de  como  se 

davam as relações de  instrução naquele período e espaço histórico. É 

importante saber que o Estado controlava a economia em quase todas 

as escalas e tinha como propriedade todos os templos, minas, pedrei‐

ras e obras públicas. O sustento do Faraó e de sua corte era o objetivo 

central da organização estatal no Egito. 

A civilização egípcia era muito desenvolvida no que se refere às ciên‐

cias em geral. A matemática, a astronomia e a medicina eram expoen‐

tes dessa cultura, porém todo esse avanço era explicado pela religião e 

pela magia, além de ser monopolizado pelos pequenos grupos da elite 

política e religiosa.  

A  educação no Egito  era dirigida  à  classe dominante; os mestres ou 

escribas ensinavam aos  filhos dos dirigentes e escolhidos as artes da 

política  e da  administração pública. A  capacidade da  fala, ou  seja,  a 

oratória, era um valor central naquela educação, pois o bom dirigente 

deveria ser capaz de se comunicar com facilidade sem o uso da escrita. 

Page 14: História Da Educação

 

 14

A transmissão de ensinamentos de geração para geração era rigorosa‐

mente respeitada, e a autoridade dos adultos era característica marcan‐

te no Egito. Em seus aspectos metodológicos, a educação era embasada 

na repetição de normas morais, e os alunos recitavam  juntos os textos 

trabalhados. 

No Médio Império, começou a aparecer a necessidade de sistematizar 

essa formação do homem político. 

Os primeiros modelos de escola que surgiram seguiam o modelo tradi‐

cional,  com  os mestres  sentados  em  destaque  e  rodeados  por  seus 

discípulos, formando a base. Nesse período, o escriba, que é o respon‐

sável pelos trabalhos administrativos do Estado por ser perito na escri‐

ta, passa a exercer o papel de responsável pela educação dos jovens. 

Esses ensinamentos não tinham como intenção desenvolver a literatura 

artística nos alunos, mas, sim, prepará‐los para administrar a socieda‐

de. As letras serviam para o exercício do poder, até porque a classe que 

recebia essas instruções era a dominante. Outra característica pedagó‐

gica  importante é a prática da educação física; os egípcios tinham ati‐

vidades relacionadas principalmente à natação. 

Já  no Novo  Império,  existiu  a  educação  relacionada  com  o  preparo 

físico‐militar e a educação das grandes literaturas, ensinadas por meio 

ainda de repetição e de fortes castigos físicos, outro aspecto como co‐

mum nessa época. O viés da prática como repetição de procedimentos 

matemáticos também ganhou importância nesse tempo. 

O conceito de educação desenvolvido no Egito tinha como base a idéia 

de que a instrução diferenciava os indivíduos, pois aqueles que domi‐

nam as  letras e as ciências não praticavam os  trabalhos pesados, que 

deveriam ser  feitos por quem não  tinha acesso à educação. A escrita, 

como era dominada por poucos, não teve um papel central na educa‐

ção  egípcia, mas,  no  que  tange  à  religiosidade,  ela  foi  fundamental 

para a conservação da história desse povo. 

1.2 Educação na Grécia

A Grécia é tida, quase unanimemente, como a mãe da civilização oci‐

dental por  ter  sido onde  se desenvolveram os valores  e os  conceitos 

básicos da nossa cultura. As idéias de liberdade política, de cidadania, 

de  desenvolvimento  intelectual  da  individualidade,  da  filosofia,  da 

poesia,  da  racionalidade,  os  conceitos  de  arte  e  de  lei  são  temáticas 

que, embrionariamente, se manifestaram nas sociedades gregas. Estas 

eram  sustentadas por um  sistema escravocrata, contendo, na maioria 

Page 15: História Da Educação

 

15

de sua população, escravos, os quais, nesse período, eram pessoas de 

outros povos, vencidos em guerras e colonizados, ou ainda, devedores 

de relações comerciais. 

As  principais  cidades‐Estado  da Grécia  foram  Esparta  e Atenas. No 

decorrer da história,  cada uma  teve  seu período de hegemonia, dei‐

xando  seus  legados  culturais. No  que  se  refere  à  educação,  existem 

diferenças essenciais entre elas.  

Costuma‐se dividir a história da Grécia clássica em três períodos: Ar‐

caico,  Clássico  e  Helenístico.  Essa  divisão  permite  uma  abordagem 

mais didática a respeito da educação.  

Com Homero  (século VIII  a.C.),  autor  de  Ilíada  e Odisséia,  temos  a 

primeira contribuição significativa para a educação, que, nesse perío‐

do, era essencialmente prática. O autor trata, em seus poemas, de um 

duplo ideal de homem, o do fazer e o do saber, e essa idéia se estendeu 

por toda a história da educação grega. Tornar‐se esse homem ”comple‐

to” deveria ser o objetivo de todos os homens livres. 

O Período Arcaico (de 700 a.C até 500 a.C.) caracteriza‐se pelas guerras 

provocadas por invasões persas, justificando, portanto, que a educação 

(principalmente em Esparta) fosse estritamente vinculada à preparação 

física dos  indivíduos e tornando a questão militar central na vida da‐

queles povos. Mesmo que durante esse período já existissem a literatu‐

ra, a filosofia e a cunhagem de moedas, a prioridade da educação era o 

desenvolvimento de aspectos disciplinares de obediência às  leis e dos 

valores relacionados à coragem nos indivíduos. 

A música e a ginástica são elementos encontrados na educação desse 

tempo,  sendo que  a música  figurava  como  elemento de  aculturação, 

obtida por meio de cantos religiosos e de guerra, e a ginástica consistia 

no modo de treinamento do guerreiro. Os aspectos democráticos, ain‐

da não muito vivos na sociedade, também não estão presentes no pro‐

cesso educativo nessa época, porém isso muda nos períodos seguintes. 

Até  os  sete  anos,  a  criança  ficava  com  a  família,  que  a  iniciava  nos 

exercícios físicos e disciplinares, para que depois pudesse ser encami‐

nhada a uma espécie de escola mantida pelo Estado, onde, no decorrer 

de sua adolescência, daria início aos estudos de estratégias de guerra e 

treinamentos militares. Somente com trinta anos se atingia a maiorida‐

de, mas isso não desvinculava o homem do Estado, pelo contrário, este 

seguia  trabalhando  em  tempo  integral  em  funções  estatais.  Surgem, 

nesse período, os  sofistas, uma classe de professores ambulantes que 

Page 16: História Da Educação

 

 16

viajavam pelas grandes cidades, oferecendo uma  instrução que,  inici‐

almente, era superficial, em troca de finanças.  

É no Período Clássico  (500 até 336 a.C.) que os sofistas ganham mais 

espaço,  revolucionando a maneira de pensar dos gregos, problemati‐

zando os valores maniqueístas,  como bem e mal, verdade e mentira, 

justiça e injustiça. 

Eram avançados para a sua época, criticavam a escravidão, a discrimi‐

nação racial perante outros povos e defendiam a liberdade e os direitos 

individuais, o que causou uma resistência nas parcelas conservadoras 

da sociedade grega.  

Acrescentemos que os sofistas transferiram o caráter  inicial da educa‐

ção, que era de certa estima mútua entre mestre e discípulo, para uma 

relação econômica. 

Em Atenas, por exemplo, começam a aparecer as primeiras leis sobre a 

educação e a escola, nas quais já eram tratados temas como os deveres 

educativos dos pais, a necessidade do ensinamento de um ofício para 

os pobres e da educação completa para os ricos, a quantidade de alu‐

nos  por  turma  e  a  formação  que  deveriam  ter  os  professores.  É  em 

meio a essas questões que nasce a escola da escrita, ou seja, uma escola 

que, além de ensinar a música e a ginástica, passa a ensinar o alfabeto, 

a leitura e a escrita.  

Os  registros mais  precisos  sobre  a  existência  dessa  escola  datam  do 

século V  a.C.  Surge  então  um meio democrático de  comunicação,  já 

que os homens  livres passaram a  ter acesso a esse  tipo de escola. Os 

conservadores não apoiaram a criação dessas instituições educacionais, 

pois acreditavam ser perigoso difundir a escrita ilimitadamente. Entre‐

tanto, o que mudou foram os meios da educação e não seu conteúdo. 

Mesmo assim, podemos afirmar que essa escola do alfabeto é a primei‐

ra a existir com as características da escola formal que temos em nossos 

dias. 

Com  a  evolução dessa  escola,  que, primeiramente,  era mantida  com 

contribuições de soberanos, doações de particulares e, mais  tarde,  foi 

assumindo um caráter de instituição de Estado, formou‐se um quadro 

educacional bem desenvolvido. A maioria das crianças  (filhos de ho‐

mens livres) freqüentava a escola, e os líderes políticos  já davam uma 

atenção diferente aos meios de instrução da população. 

Page 17: História Da Educação

 

17

Confirma‐se  então  a  estatização das  escolas,  e  o  ginásio  é  o modelo 

educacional da época, uma espécie de centro de cultura física e intelec‐

tual para os adultos e os adolescentes. 

Outro aspecto importante é o ensino profissional, que também aparece 

nesse período, embora ainda não tenha uma grande sistematização por 

ser essencialmente prático. A área que mais relacionou teoria e prática 

foi, sem dúvida, a medicina, seguida da arquitetura, mas, na evolução 

da cultura, a investigação teórica se sobressaiu à aplicação técnica. 

A democratização da escola intelectual e da escrita fez com que o exer‐

cício de educar se transformasse em uma profissão pública e conquis‐

tasse uma aceitabilidade social maior. 

Não podemos falar de educação sem mencionar os principais filósofos 

da civilização grega. Heráclito de Éfeso, Sócrates, Platão e Aristóteles 

são as grandes referências do pensamento ocidental. Eles consubstan‐

ciaram  em  suas obras,  além de  abordagens  acerca da  realidade  e de 

categorias políticas e ontológicas, questões educacionais extremamente 

importantes ainda em nossos dias. 

1.3 Educação em Roma

A sociedade  romana se caracteriza por  ter experimentado vários mo‐

delos  de  administração  política  e  por  ter  sido  constituída,  já  no  seu 

período imperial, pela união cultural de vários povos. A monarquia, a 

república e o  império são as etapas que servem como referência para 

contextualizar o processo de construção de Roma como centro econô‐

mico, social e político. 

A monarquia  romana  (753 a.C. a 509 a.C.) coincidiu com um notável 

progresso econômico e cultural, porém as relações com outras culturas 

ainda não eram muito desenvolvidas. Antes mesmo do estabelecimen‐

to do império romano (período que serviu de cenário para as grandes 

conquistas  romanas,  ocasionando  a  assimilação  da  cultura  do  povo 

vencido  –  helenística  –  pelo  povo  vencedor),  os  etruscos  já  haviam 

adotado o alfabeto grego, modificando‐o até criar o latino. A educação, 

nesse período,  era um  tanto  quanto primitiva,  e  a  aprendizagem de 

valores morais e disciplinares era essencial. O método de ensino era o 

da imitação, ou seja, a educação era centralizada na formação do cará‐

ter do indivíduo e quem desempenhava essa função pedagógica era a 

família, sendo o pai o maior exemplo. 

 

Page 18: História Da Educação

 

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A criança era posta sob tutela do pai a partir dos sete anos para prati‐

car exercícios físicos e, caso a mãe – que, diferente da mãe grega, tinha 

um papel  fundamental na educação prática do  filho – não  lhe  tivesse 

ensinado os costumes utilitários básicos, o pai o faria. Era fundamental 

que o jovem romano observasse seu pai e os outros homens agindo de 

acordo com as normas morais, pois os meninos deveriam, ao longo de 

seu aprendizado, desenvolver em suas personalidades valores como a 

piedade, a honestidade e a prudência. 

No início, a escola do lar era a única. Um pouco mais tarde, mas antes 

da  fusão  cultural  greco‐romana,  já  era  possível  verificar  uma  escola 

elementar em Roma, que era chamada de  ludi, do  latim  ludus (diver‐

são), visto que, quando estudavam as artes e a escrita, os alunos senti‐

am prazer, como se fosse um jogo, ao contrário do ensino disciplinar e 

rígido da educação do lar, proporcionado pela família. 

Quando  incorporada a Roma, a Grécia passou a  influenciar decisiva‐

mente a cultura da província conquistadora. 

As  relações  comerciais  fizeram  com que  se  tornasse vital para a eco‐

nomia romana o estudo da nova língua – a grega (essa prática é atribu‐

ída às escolas do gramático, em que se ensinavam o grego e o latim). 

O ensino nessas escolas era ministrado por escravos pedagogos gregos, 

que podiam falar ou não o latim e que tinham a função de transmitir a 

cultura grega e ensinar a própria língua. Vários historiadores afirmam 

que, naquele tempo, algumas famílias se negavam a entregar a educa‐

ção dos filhos a esses escravos gregos, preferindo retroceder aos tem‐

pos da escola do lar. 

No ensino romano aparece a idéia de educador como sujeito histórico, 

com sua origem ligada a um trabalho discriminado e servil. Os profes‐

sores  das  escolas  consolidadas  eram,  primeiramente,  escravos  e,  de‐

pois, homens que recebiam quantias miseráveis para ensinar. Todavia, 

os mestres  estrangeiros  que  se  tornavam  escravos  gozavam de  certo 

prestígio  juntamente  com os médicos por  representarem  ferramentas 

culturais importantes para o desenvolvimento. Com as reorganizações 

do  império, os mestres  tornaram‐se assalariados  (mal pagos), a  insti‐

tuição  escolar  se generalizou,e  se  consolidou  como órgão do Estado, 

carregando todas as influências helenísticas. 

Portanto,  podemos  afirmar  que  o  sistema  educacional  romano  foi  o 

primeiro  a  ter  uma  organização  comum  que  funcionava  nas  várias 

cidades do império. O caráter oficial das escolas e a sua estrita depen‐

dência ao Estado constituem não apenas uma diferença  relevante em 

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relação ao modelo de ensino da Grécia, como também uma novidade 

fundamental para a educação. Nesse tempo, encontramos na oratória a 

grande virtude intelectual, razão pela qual se fazia necessário priorizar 

essa  temática, o que  era  feito nas  escolas do  tipo grega de  retórica  e 

gramática. 

Assim como a escola dos sofistas, a escola do retórico, em Roma, valia‐

se de um treino unicamente em oratória. 

 Essa  escola  só  estava  ao  alcance  daqueles  que  seguiriam  carreiras 

públicas, ou seja, a classe dominante. A oratória passou a ser  tão  im‐

portante na vida romana que a um guerreiro só era atribuída a quali‐

dade de bom líder se ele fosse bom orador. 

Com  a  invasão  dos  povos  bárbaros,  o  império  enfrenta  problemas 

graves  e  vai  se  diluindo  por  partes. O  sistema  educacional  romano 

acompanha esse desmantelamento do império, desorganiza‐se em seu 

aspecto  formal, e a educação se  torna, paulatinamente, um privilégio 

de  poucos. Assim,  o  que  faz  com  que  a  educação  romana  entre  em 

declínio é o fato de o ensino ser cada vez mais direcionado somente à 

classe mais elevada da sociedade, deixando de ser vinculada aos pro‐

blemas práticos da população. 

Ponto final

Existem características comuns entre os períodos que aqui estudamos e 

inovações pedagógicas. A educação egípcia se deteve na oratória e nas 

ciências exatas, a Grécia desenvolveu a filosofia, e os romanos beberam 

da cultura grega, mas desenvolveram o papel profissional do educador 

e o estudo da jurisprudência. 

As três civilizações enfocadas recorreram à educação como recurso de 

formação dos seus filhos e cidadãos, considerando a família e o Estado 

como os responsáveis pelo desempenho da instrução e as tradições, as 

crenças, os valores e as atividades domésticas e produtivas como fon‐

tes dos conteúdos para essa atividade. 

Indicação cultural

Sugerimos a leitura dos capítulos “A educação no Egito”, ”na Grécia” e 

“em Roma” do livro: 

MONROE,  P.  História  da  Educação.  6.  ed.  São  Paulo:  Nacional,  1976.  e  incluir  essas  informações  e 

abordagens na elaboração do texto da atividade 3. 

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Atividades

1) Selecione  todas  as  informações  sobre  a  educação nas  sociedades 

Egípcia, Grega e Romana contidas neste capítulo e organize‐as em 

três colunas, sendo uma coluna para cada sociedade. 

 

2) A seguir, estabeleça uma comparação desses conceitos de educa‐

ção estabelecendo uma  comparação objetivando  responder quais 

as diferenças e quais as semelhanças entre elas. 

 

 

3) Elabore  um  texto  sobre:  “A  educação  nas  civilizações  Egípcia, 

Grega e Romana e a presença delas na atual educação”, conside‐

rando as duas atividades anteriores e as informações e as aborda‐

gens que se encontram na obra de Monroe.  

 

 

Page 21: História Da Educação

  

2 A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA

Julio Alejandro Quezada Jélvez

A idade média compreende o período entre o fim do império romano, 

no  século V,  e  a  invasão de Constantinopla,  no  século XV. O  longo 

período medieval é marcado pela forte influência da Igreja Católica na 

cultura  ocidental,  dos  valores  hebraico‐cristãos  que  se  difundiram 

entre os bárbaros, os quais invadiram e dominaram o império romano 

do Ocidente, formando vários reinos.  

Para  tratar da  Idade Média,  os historiadores  costumam dividi‐la  em 

Alta Idade Média (séculos V ao XII) e Baixa Idade Média (séculos XII 

ao XV). No decorrer do capítulo, não vamos nos utilizar dessa divisão, 

mas é importante constar aqui essa abordagem, para ficar clara a cro‐

nologia histórica. Os principais impérios da Idade Média foram o caro‐

língio, o bizantino e o muçulmano, cada um com suas particularidades 

e contribuições que não poderemos esmiuçar detalhadamente. 

O feudalismo na Idade Média caracteriza‐se por ser um modelo essen‐

cialmente  agrário, ou  seja, dependente da  agricultura voltada para  a 

subsistência, pois havia grandes latifúndios dominados pelos senhores 

feudais  (estes  recebiam  terras doadas  pelos  reis  ou  por  nobres mais 

ricos), onde os servos (camponeses que pagavam tributos pelo uso da 

terra) sofriam intensa exploração, sendo obrigados a prestar serviços à 

nobreza em troca de proteção. O controle político era todo dos senho‐

res feudais, que exerciam, muitas vezes, o papel de Estado, tendo em 

vista a  fragmentação e a desestruturação do poder  institucionalizado 

nesse tempo. 

No início da era medieval, houve uma aguda diminuição da densidade 

populacional dos  grandes  centros  urbanos  da Europa,  o  que  se  deu 

pelas  inúmeras  guerras  (invasões  bárbaras)  que  provocaram mortes 

ilimitadas,  pela  disseminação  de  várias  epidemias  que  assolaram, 

principalmente,  as  camadas  pobres  da  população  e  pela  mudança 

gradativa da matriz produtiva da sociedade, que deixa de ser centrali‐

Page 22: História Da Educação

 

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zada nas cidades e no comércio para se tornar agrária e de pouca circu‐

lação monetária. 

Com esse quadro de retrocesso cultural, social e econômico, começa a 

moldar‐se o pensamento medieval de mundo e de ser humano.  

Segundo  o  autor Florival Cáceres, O grande  sentimento  que dominou  o homem 

medieval foi o da insegurança, o do medo. Acossado pela fome, epidemias, guerras 

e  pela  morte  sempre  próxima,  o  homem  medieval  tinha  uma  preocupação 

fundamental com a salvação da alma, com o pecado, com o inferno, o Purgatório e 

o Paraíso. Ele  temia  a noite, que  imaginava  ser um  símbolo das  trevas,  onde  se 

encontravam  todos os seres demoníacos, que podiam  tentar  levá‐lo à perdição da 

alma.a 

Santo Agostinho  (354‐430), um dos mais destacados padres da  Igreja, 

tem em Platão sua base teórica para escrever sua obra denominada De 

magistro, uma interessante contribuição pedagógica. 

Por  longo  tempo,  temos os mosteiros  como quase os únicos  espaços 

educativos da  época. Os  homens  que  optavam por  seguir uma  vida 

religiosa  iam  para  essas  instituições,  onde  ficavam  sujeitos  a  regras 

rígidas de conduta.  

Leigos  também  freqüentavam os mosteiros e recebiam a mesma edu‐

cação dos futuros padres, mas, aos dezoito anos, poderiam optar entre 

o sacerdócio e o matrimônio. Esses mosteiros tiveram um papel impor‐

tante  no  que  tange  à  cópia  e  à  conservação  de manuscritos  e  livros 

antigos. 

Nesse período, a  Igreja  também se ocupava da educação das crianças 

em  geral,  já  que  a  diminuição  do  preconceito  contra  a  instrução  do 

povo  era  uma marca  do  cristianismo. Havia,  nas  paróquias  ou  nos 

mosteiros, um tratamento diferenciado para crianças; as regras,  inclu‐

sive, previam uma abordagem afetuosa com elas. No entanto, o sadis‐

mo pedagógico era o método mais comum, isto é, a aplicação de casti‐

gos físicos perante os erros dos pequenos, como nos mostra Manacor‐

da, ao interpretar os relatos históricos: “Perante a idade adulta, que é a 

intelligibilis  aetas  (44),a  idade  infantil apresenta‐se  como  incapacidade 

de entender; portanto, o castigo é mais eficaz do que a persuasão.”b 

Chega o momento em que a cultura escolástica confirma‐se como do‐

minante no Ocidente europeu, podendo‐se afirmar que o conteúdo da 

                                                                  a PEDRO; CÁCERES, 1996. 

 

b MANACORDA, 1989. 

Page 23: História Da Educação

 

23

educação  já  estava  significativamente  transformado  por  essa  nova 

cultura. Sobre a escolástica, partilhamos do conceito de Nelson e Clau‐

dino  Piletti  de  que  “é  um movimento  intelectual  oriundo  da  Idade 

Média preocupado em demonstrar e ensinar as concordâncias da razão 

com a fé pelo método de analise lógica.”c 

São Tomás de Aquino  (1225‐1274) é o  representante mais  importante 

do pensamento  escolástico. Ele  escreveu  sobre  a  educação  como  for‐

mação física e espiritual e refletiu sobre o papel do mestre como pro‐

pulsor dos conhecimentos já existentes em potencial nos alunos. 

Com o aparecimento de um número maior de escolas paroquiais urba‐

nas, houve uma certa universalização da educação, e as classes subal‐

ternas, historicamente excluídas, passaram a ter acesso a essas escolas. 

Essa foi a nova ação da Igreja para fortalecer um processo muito mais 

de  aculturação do  que de  instrução, porém  isso  representa um  salto 

relevante, se comparado à situação de não haver nenhum tipo de sis‐

tematização da cultura e nenhum meio formal de convívio e participa‐

ção nas vivências nas escolas,. Essas eram escolas  canônicas do  clero 

secular das cidades, regidas por regras administrativas bem organiza‐

das e que marcaram a entrada da época carolíngia. 

Foi no  século VIII, na dinastia  carolíngia, que houve uma espécie de 

mescla, no que se refere à educação, entre o clero e o Estado. A respon‐

sabilidade pela instrução, embora confiada à Igreja, foi absorvida como 

sua  pelo  poder  político  institucionalizado.  Essa medida  é  atribuída, 

principalmente, a Carlos Magno, quando a cultura clássica começou a 

ser revalorizada, desde que seu uso  fosse para aprimorar os conheci‐

mentos do cristianismo. Mais tarde, houve divergências entre o Estado 

e a Igreja sobre quem seria o responsável pela instrução do povo. 

Então, nesse momento, a educação cristã, embora atendendo a toda a 

população,  direcionou  seus  ensinamentos  à  formação  dos  clérigos, 

deixando de lado a dos leigos. 

Isso fez com que surgissem algumas  instituições de ensino diferentes, 

escolas  que  eram  do  Estado,  nas  grandes  cidades  e  para  leigos. As 

paróquias eclesiásticas continuaram  recebendo  leigos, mas se concen‐

traram na formação religiosa dos clérigos. 

                                                                  c PILETTI; PILETTI, 1997. 

 

Page 24: História Da Educação

 

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No início, quem dava as aulas nessas escolas eram os bispos, mas logo 

esse papel foi passado a um professor chamado scholasticus, cargo que 

foi ganhando credibilidade.  

Esse educador passou a dar aulas particulares, cobrando certa quantia 

para  fazê‐lo, o que provocou  revolta em alguns setores da  Igreja que 

afirmavam ser a ciência um dom divino que não poderia ser vendido. 

Com o passar do ano 1000, os conflitos com os bárbaros já eram meno‐

res,  ocorreu  uma  gradativa  abertura  do  tráfego  no Mediterrâneo,  e 

houve,  também, o  aparecimento de novos  centros urbanos, que  fize‐

ram diminuir o poder político feudal. Assistiu‐se então a uma grande 

retomada das atividades culturais e pedagógicas. 

No âmbito educacional, essas mudanças se fizeram presentes com uma 

nova abertura das escolas cristãs para a população leiga e pobre. Outra 

novidade foi a introdução das artes liberais como conteúdo a ser traba‐

lhado nessas escolas. Em 1179, o papa Alexandre III, em uma surpre‐

endente decisão, fez com que todas as igrejas e mosteiros estendessem 

a educação para as camadas populares e, ainda, criou uma espécie de 

benefício financeiro para os mestres ensinarem a todos. 

Tendo em vista que a economia de mercado havia surgido nas grandes 

cidades,  agora  com  populações  bem maiores,  com  uma  organização 

em comunas, isto é, formando grandes povoados que se emancipavam, 

de certa forma, do feudalismo e que tinham um governo autônomo, o 

desenho  da  sociedade  modificou‐se  significativamente.  E  foi  nesse 

cenário que apareceram os primeiros mestres  livres, religiosos ou  lei‐

gos assalariados, que ensinavam as artes liberais (gramática, dialética, 

retórica, aritmética, geometria, música e astronomia). 

O desenvolvimento do  trabalho desses professores  livres,  somado às 

novas conjunturas da ciência e da política, deu origem às universida‐

des medievais. As primeiras grandes universidades foram as de Bolo‐

nha  (1088), Paris  (1150) e Oxford  (1167). Os conteúdos contemplados 

eram  as  artes  liberais,  a medicina  e  o  direito.  Inicialmente,  a  Igreja 

ainda  exercia  um  poder  de  supervisão  sobre  as  universidades  dos 

professores  livres, pois era ela quem dava a  liberação para ensinar e 

examinava os títulos de todo estudo. 

Em torno de 1230, havia poucas universidades ainda, mas  já se podia 

notar um reconhecimento para com essas instituições, que, com o pas‐

sar  do  tempo,  foram  se  tornado  cada  vez mais  complexas  em  seus 

regimentos organizacionais e em suas sistematizações científicas. Nes‐

sa época de consolidação das academias, surgiram duas novas ordens 

Page 25: História Da Educação

 

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religiosas importantes na renovação de várias escolas, os dominicanos 

e os  franciscanos. Os primeiros priorizaram o estudo da  teologia, en‐

quanto os outros se dedicaram particularmente às artes liberais, tendo 

como expoente uma das mais lidas gramáticas da Idade Média, escrita 

pelo franciscano Alexandre de Villadei. 

Com o  surgimento de novas universidades, o Estado, que  sempre as 

apoiara,  começou a  interessar‐se mais pelo  controle delas, pois,  cada 

vez mais,  era necessária  a  formação de  intelectuais  capacitados para 

gerenciar  as  grandes  cidades  e  as  organizações  públicas. Em  alguns 

casos, o poder político chegou a sufocar a autonomia das instituições, 

como em Paris, onde a universidade resistia a  intervenções mais agu‐

das.  Já  em  várias  outras  experiências,  em  troca  de  apoio  político  e 

financeiro, as novas universidades adotavam as medidas determinadas 

dos  principados  e  formavam  as  elites  para  se manterem  no  poder. 

Desses movimentos advém, aos poucos, o Estado moderno. 

A  fim de contextualizar esse período, observemos que  foi a partir do 

século XI que começaram a ocorrer as Cruzadas – diversos movimen‐

tos militares e  religiosos  contra os povos da Europa oriental ou para 

expulsar  os muçulmanos  da  Península  Ibérica  e  de  Jerusalém  –,  as 

quais contribuíram enormemente para o gradativo renascimento mer‐

cantil e a generalização de uma cultura de comércio. Isso atingiu uma 

maturidade maior com o desenvolvimento urbano e do artesanato do 

início do século XIV, período em que estamos nos iniciando em nossos 

estudos.  

Aí nasce a burguesia urbana, protagonizando as atividades das novas 

relações de trabalho da sociedade. A abordagem de Manacorda sobre 

esse período que reproduzimos a seguir facilita a compreensão acerca 

de como essas mudanças da conjuntura histórica se entrelaçam com os 

processos educativos e seus meios. 

Tanto nos ofícios mais CALLAGE NETO, R. A cidadania sempre adiada: da crise 

de Vargas  em  54  à  era  Fernando Henrique Cardoso.  Ijuí: Unijuí,  2002.  p.  13.  

manuais,  quanto  naqueles mais  intelectuais,  é  exigida  uma  formação  que  pode 

parecer mais próxima da escola, embora continue a se distinguir da escola pelo fato 

de não se realizar em um  ‘lugar destinado a adolescentes’, mas no  trabalho, pela 

convivência de adultos e adolescentes. [...] Aqui, não há separação, o trabalho e o 

aprender; uma coisa é também a outra, de acordo com as características imutáveis 

de toda formação através da aprendizagem, própria, em todos os tempos e lugares, 

a quaisquer atividades imediatamente produtivas.d 

                                                                  d MANACORDA, op cit. 

 

Page 26: História Da Educação

 

 26

Como  podemos  ver,  com  a  aprendizagem  do  trabalho,  as  relações 

pedagógicas se modificam, e os aspectos práticos das profissões são o 

grande conteúdo aí enfocado. Sobre esse método estritamente didático 

adeja um problema relacionado à sistematização da esfera científica da 

aprendizagem,  ou  seja,  os  processos  instrumentais,  o  conhecimento 

das matérias‐primas,  resumidos à praticidade da arte, não  foram ela‐

borados e  registrados  como  ciência e muito menos  relacionados  com 

um saber mais geral. Portanto, esses ofícios nunca se  tornaram passí‐

veis de estudos teóricos, e muitas dessas profissões se desvalorizaram 

devido a esse fenômeno. 

Ponto final

Um  dos  aspectos  centrais  da  educação  na  Idade Média  refere‐se  ao 

conteúdo  essencialmente  religioso  que  ela  adquiriu  por  tratar‐se  de 

uma atividade que ficou sob a responsabilidade da Igreja. Entretanto, 

foi um período em que se procurou um conteúdo de cunho simbólico, 

uma  estruturação  da  educação  em  seus  aspectos  metodológicos,  a 

ampliação  do  alcance  da  educação  para  as  crianças  e  os  jovens  e  o 

surgimento das universidades como centros de acúmulo e manutenção 

dos saberes e de estudo superiores. 

Indicação cultural

Sugerimos a leitura dos capítulos: “A educação na Alta Idade Média”, 

“A educação na Baixa Idade Média” e “A educação no Trezentos e no 

Quatrocentos”, do livro: 

MANACORDA, M. História  da  educação:  da Antigüidade  aos  nossos  dias.  São  Paulo: Cortez/Autores 

Associados, 1989. 

Atividades

1) Caracterize  a  sociedade  medieval  nos  seus  aspectos  políticos, 

econômicos, sociais e religiosos, objetivando identificar os elemen‐

tos constitutivos da sociedade medieval. 

 

2) Estabeleça as diferenças  socioeconômicas  e políticas entre a Alta 

Idade Média  e  a Baixa  Idade Média  e  identifique  as  respectivas 

mudanças e avanços da educação nesses períodos. 3) Explicite os conteúdos religiosos da educação na sociedade medi‐

eval. 

 

Page 27: História Da Educação

  

3A EDUCAÇÃO NA IDADE MODERNA

Julio Alejandro Quezada Jélvez

O processo de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna ocorre 

nos séculos XV e XVI e  tem como características  fundamentais o sur‐

gimento do Movimento Renascentista, a Reforma religiosa e a consoli‐

dação  da  economia  burguesa.  A  Europa  passa  por  um  período  de 

organização política dos Estados e dá  início à época das Grandes Na‐

vegações, que buscam novas relações comerciais e terras a serem con‐

quistadas e exploradas. 

A preparação do Renascimento, feita pelos humanistas italianos, estu‐

diosos dos modelos da Antigüidade, propagou idéias que modificaram 

o modo de pensar de sua época e desenvolveram o espírito crítico da 

sociedade. 

Apontam‐se como causas desse movimento a descoberta de manuscri‐

tos antigos esquecidos, a invenção da imprensa, que auxiliou na divul‐

gação dessas novas idéias, o desenvolvimento das riquezas provenien‐

tes  das  descobertas marítimas  e  a  influência  dos  sábios  gregos  que 

fugiam de Constantinopla, tomada pelos turcos. 

3.1 Absolutismo

Regime político no qual o poder de decisão sobre  todas as esferas da 

sociedade é centralizado nas mãos dos reis e de seus ministros, o abso‐

lutismo predominou nos Estados europeus do  século XIII ao XVIII e 

marcou  a  passagem  do  feudalismo  ao  capitalismo,  pois  a  burguesia 

teve sustentação do Estado absolutista para acumular capital, aprimo‐

rar a sociedade mercantil e logo desenvolver a capitalista. 

O Estado moderno absolutista era legitimado por um pretenso direito 

divino da realeza de exercer total poder sobre a população, sendo o rei 

Page 28: História Da Educação

 

 28

um escolhido de Deus. A nobreza, como classe dominante, tinha, por‐

tanto, forte ligação com o clero. Porém, a abordagem religiosa não era 

a  única  que  sustentava  o  Estado moderno,  pois  vários  pensadores, 

como Maquiavel e Thomas Hobbes,  também  justificavam a existência 

desse  Estado  e  defendiam  a  permanência  dele  em  suas  obras  sobre 

política. 

As monarquias nacionais  intervinham constantemente na economia a 

fim de  fortalecer o Estado,  sendo que a disputa pelo  controle do  co‐

mércio mundial  e por  colônias  é uma das  características dessa  etapa 

mercantilista da história. Outro aspecto relevante é que o mercantilis‐

mo significava uma união entre os reis e a burguesia, que tinha como 

objetivo básico desenvolver o poderio nacional. Não podemos chamar 

o mercantilismo de sistema econômico ou de modo de produção por‐

que ele representou uma organização econômica de  transição do  feu‐

dalismo para o capitalismo.  

No  que  se  refere  a  questões  religiosas,  para  entender melhor  o  que 

significou a Reforma protestante, podemos dizer que,  em oposição à 

moral católica, o protestantismo pregava o trabalho, a competitividade 

e a busca pelo lucro, o que aproximou a filosofia protestante dos ideais 

burgueses. A demanda de uma ética  religiosa que  sustentasse a bur‐

guesia em ascensão, portanto, é uma razão do surgimento da Reforma 

religiosa,  já  que  os  católicos  condenavam  valores  como  a  cobiça  e  a 

avareza.  

Com a Reforma protestante, a  Igreja Católica viu‐se obrigada a  tam‐

bém  se  reformar,  e  esse movimento  ficou  conhecido  como  Contra‐

Reforma, que, basicamente,  foi a promoção de algumas mudanças na 

tentativa de manter fiéis que estariam convertendo‐se ao protestantis‐

mo. Entre essas mudanças, destaca‐se a fundação da Companhia de 

Jesus  por  Inácio  de  Loyola,  uma  ordem  religiosa  que  trabalhava  a 

pregação religiosa aos jovens por meio da educação. Ordens religiosas 

como esta controlaram a educação nos países católicos até o começo do 

século XIX. 

Analisando esse contexto mais detidamente no que se refere à educa‐

ção,  identificamos aqui um ensino  tradicional muito enraizado ainda, 

em que a relação professor‐aluno é extremamente hierarquizada, o que 

provoca, em muitos casos, total passividade dos educandos. Os conte‐

údos são transmitidos a fim de que os alunos adquiram noções gerais 

sobre o conhecimento intelectual, por meio de aulas basicamente expo‐

sitivas e exercícios de repetição e fixação. A rigidez em termos de horá‐

Page 29: História Da Educação

 

29

rios e disciplina é muito grande, e a avaliação está centrada nos aspec‐

tos da memória e da assimilação quantitativa dos conteúdos. 

É nesse cenário educativo que se deu o Renascimento. Como vimos no 

capítulo anterior, a educação  formal na  Idade Média  foi basicamente 

controlada pela Igreja Católica;  já na Modernidade, a Reforma protes‐

tante  trouxe novas  idéias e valores, que orientaram a organização de 

alguns sistemas de ensino, como, por exemplo, o dos Estados alemães. 

Com  isso, a escola, de um modo geral,  institucionalizou‐se de  forma 

mais elaborada, visto que, nessa época, surgiram os currículos, as gra‐

duações em séries e a separação dos alunos por idade. A superação da 

escola medieval também pode ser observada quando o ensino deixa de 

ser ligado a temáticas contemplativas e passa a ter um teor mais realis‐

ta, vinculado à sociedade moderna em desenvolvimento.  

A burguesia em ascensão, com seu novo sentido de família,de infância, 

com outros padrões econômicos e  sociais, exigiu essa nova educação 

mais voltada para a vida.  

É importante destacar que a ciência como um todo tem na Modernida‐

de um período riquíssimo, pois com todo o desenvolvimento urbano e 

tecnológico,  acompanhado  pelas  mudanças  religiosas,  ocorre  uma 

transformação  dos  instrumentos  de  pesquisa  nas  ciências  naturais  e 

das  temáticas  abordadas  nas  ciências  humanas.  Os  intelectuais  que 

mais  se destacam  nesse período  são  Francis Bacon, Galileu Galilei  e 

René Descartes.  

Um dos valores da cultura renascentista que influenciaram ativamente 

a ciência, a  filosofia e a educação é o  racionalismo, que podemos en‐

tender, em linhas gerais, como pensamento que rejeitava as explicações 

mistificadas e religiosas da realidade e tinha a razão com fonte de  todo 

conhecimento, sendo Descartes seu maior expoente.  

O  primeiro  pensador moderno  a  sistematizar,  de  forma  rigorosa,  a 

questão educacional foi João Amós Comênio (1592‐1670), que, em seus 

tratados e livros, começou a elaborar o que podemos chamar de méto‐

do moderno.  Suas  principais  idéias  estão  na  Didactica Magna,  sua 

maior  obra,  que  trata  sobre  diversos  aspectos  educacionais,  como  a 

finalidade da educação, a organização escolar, os conteúdos e o méto‐

do  de  ensino.  Influenciado  por  Bacon,  Comênio  transpôs  as  idéias 

científicas desse pensador para o âmbito educacional e criou um méto‐

do que chamou de ”arte de ensinar tudo a todos”. 

Page 30: História Da Educação

 

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A grande contribuição de Comênio, para muitos revolucionária,  foi a 

de defender a democratização do ensino, isto é, era uma proposta que 

dava acesso a jovens e velhos, ricos e pobres, nobres e plebeus, homens 

e mulheres a um ensino organizado. Seu método estava embasado na 

observação da natureza, na racionalidade e tinha como pré‐requisito o 

respeito aos conhecimentos do educando e a aceitação de sua constante 

participação no processo de ensino.  

Outro autor da época que refletiu acerca dos problemas e do significa‐

do da educação  foi  John Locke  (1632‐1704), um empirista  (acreditava 

que o conhecimento humano advinha das percepções sensoriais) que, 

em coincidência com as mudanças de mentalidade do período moder‐

no,  considerava  a  educação  como  o  fator  que  estabelece  a  diferença 

entre os homens. Com  a  sua  concepção  fundamentada na percepção 

concreta  das  condições  humanas,  desmistificou  a  visão  de  mundo 

segundo a qual o destino humano é decidido em um plano superior.  

Esse pensador propôs que nossa  consciência nasce  como uma  tábula 

rasa ou uma  folha em branco e que é por meio da experiência que a 

preenchemos com o que compõe nossas  idéias. Por  ser  representante 

do pensamento burguês, Locke defendia o estudo de contabilidade e 

de escrituração  comercial para a preparação dos  sujeitos para a vida 

prática, perspectiva que influenciou toda a pedagogia que viria a partir 

de então. 

Ainda sob o regime absolutista, a Europa foi palco de diferentes con‐

textos, como  já mencionamos: de um  lado, os Estados alemães desen‐

volveram um sistema educacional bem organizado e plural já no sécu‐

lo XVII; de outro, a França – que viveu o apogeu absolutista com Luís 

XIV  ‐  ,  por  ser  um  Estado  católico,  teve  a  educação  controlada  por 

jesuítas, os quais a direcionavam aos nobres e aos burgueses ricos. As 

classes populares  francesas  viviam,  em  sua maioria, na  zona  rural  e 

não tinham acesso à escola.  

Percebemos que, apesar dos avanços teóricos sobre a educação, ainda 

se via um ensino elementar bastante precário em muitas monarquias 

nacionais e que os métodos de ensino também não acompanhavam tais 

avanços. 

Chegamos  ao  século XVIII, que  é  conhecido  como  Século das Luzes 

por ter ocorrido nesse período o apogeu do Iluminismo – movimento 

cultural e intelectual de oposição ao absolutismo e que tinha na razão e 

na ciência suas formas de explicar a realidade. Portanto, essa época foi 

marcada por um  grande progresso  intelectual, por  aperfeiçoamentos 

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da filosofia e pela revitalização da educação como formação cultural e 

científica do ser humano.  

Foi na conjugação do empirismo científico com o racionalismo cartesi‐

ano que  se  fundou  a  filosofia  iluminista,  a qual,  com  suas múltiplas 

dimensões,  influenciou  a  formulação  dos  currículos  de  disciplinas, 

tanto na área das humanas como na das ciências naturais. O iluminis‐

mo foi essencial, como concepção política e artística de mundo, para o 

declínio do absolutismo e do mercantilismo, principalmente na França. 

Foi nesse século que se testemunhou a consagração do poder de uma 

nova classe social, a burguesia, que, com a queda da nobreza, passou a 

controlar  também a sociedade política, pois a economia  já estava sob 

seu domínio  anteriormente. A  teoria política  e  econômica do  capita‐

lismo nascente é o  liberalismo, doutrina que defende a  sociedade da 

livre iniciativa e a liberdade individual como princípios fundamentais, 

que prevê o direito à propriedade, um grande respeito às leis e a livre 

concorrência econômica.  

Jean‐Jacques Rousseau  (1712‐1778) pertenceu ao movimento  iluminis‐

ta, embora  tenha sido crítico do puro  racionalismo, e produziu, além 

de  obras  importantes  acerca  das  relações  entre  natureza,  cultura  e 

sociedade, uma  importante  contribuição para  as  idéias  educacionais. 

Em O Emílio, Rousseau traz uma descrição de como seria a educação 

ideal desde a infância até a idade adulta, sendo que suas idéias afirma‐

vam o quanto era  importante a  infância no processo de  formação do 

ser humano e que a educação deveria seguir o  livre desenvolvimento 

natural dos sujeitos.  

Foi a partir das idéias de uma educação voltada para o desenvolvimen‐

to da autonomia individual, com a qual esse sujeito conseguisse viver 

em uma  sociedade degenerada  sem  se  corromper, que  se  intensifica‐

ram  as  abordagens  psicológicas  na  educação,  em  que  se  procurava 

respeitar  os  instintos  e  as  capacidades  das  crianças,  ao  invés  de  se 

imporem padrões existentes na sociedade.  

Essa passagem nos mostra que as idéias de Rousseau foram importan‐

tes para uma mudança de paradigma no campo educacional.  

3.2 A Revolução Industrial

A transformação social e técnica marcada pela transição da manufatu‐

ra,  produzida  pela  energia  humana,  para  a máquino‐fatura, movida 

por energia a vapor, mecânica, eletricidade ou motor à explosão, bem 

como  o  fim  do  absolutismo  afirmam  o  capitalismo  como modo  de 

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produção vigente, que se caracteriza tanto por mudanças das relações 

de  trabalho,  substituindo  a  servidão  pela  mão‐de‐obra  assalariada, 

quanto  pela  implantação  de  uma  economia  de mercado,  em  que  o 

direito à propriedade privada dos meios de produção e a mínima  in‐

tervenção do Estado são condição necessária para o bom desenvolvi‐

mento da sociedade.  

Com  a Revolução  Industrial, os  complexos  escolares  aumentaram,  já 

que o operariado, diferentemente do campesinato, precisava minima‐

mente saber contar,  ler e escrever. Com esse aumento,  já se percebia, 

na  legislação de vários países,  a vontade de  tornar  a  educação,  cada 

vez mais,  leiga,  gratuita  e  oferecida  estritamente pelo Estado. E  isso 

ocorreu à medida que a educação foi se tornando cada vez mais uma 

reivindicação primeira de quem a ela não tinha acesso, que, em geral, 

eram os próprios operários e os membros das classes populares. Então, 

antes de se construir um sistema educacional público unificado, houve 

um quadro de ensino em que uma escola era feita para as elites e outra 

para  os  segmentos mais  pobres,  o  que,  logicamente,  determinava  a 

adoção de conteúdos diferentes. No entanto, logo se constituiu um só 

sistema. O êxito do processo de  industrialização e o desenvolvimento 

acelerado das ciências afloraram a necessidade de que a escola deixas‐

se de trabalhar somente com temas morais e humanistas e acrescentas‐

se os aspectos científicos ao conteúdo do ensino. 

Nesse contexto, o positivismo teve papel  importante, pois seus repre‐

sentantes preconizavam a formação do espírito científico nos estudan‐

tes. Auguste  Comte  (1798‐1857),  fundador  dessa  corrente  de  pensa‐

mento, entendia que o ser humano tem uma ética própria e que a ciên‐

cia  deveria  chegar  a  ela  de maneira  neutra.  Ele  nega  as  causas  dos 

fatos, pretendendo estudar apenas suas leis isoladas e observáveis.  

A tendência positivista é o conteúdo base do cientificismo que marcou, 

por muito tempo, a escolha dos currículos escolares em todo o Ociden‐

te, e seus resquícios podem ainda ser notados em nossos dias, se não 

objetivamente, de maneira suave ou disfarçada. Ao negar a teologia e 

interpretações místicas da realidade, o positivismo tornou‐se um mar‐

co científico da Modernidade. 

O  sistema  de  ensino  era  freqüentado  por  classes  sociais  diferentes, 

entretanto, para seguir para a próxima etapa da sua instrução, os alu‐

nos deveriam passar por  testes em que os melhores eram escolhidos 

para continuar seus estudos, e estes, majoritariamente, eram filhos da 

burguesia, que podia pagar estudo particular. 

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33

Os historiadores apontam as revoluções burguesas do  final do século 

XVIII como marco de passagem da Idade Moderna para a Idade Con‐

temporânea.  No  entanto,  sabemos  que  os  movimentos  culturais, 

econômicos e sociais que as tornaram possíveis constituem‐se na Mo‐

dernidade. O século XIX chega repleto de estudos cada vez mais espe‐

cializados  sobre  a  educação  e  cheio  de  conflitos  políticos  de  classe, 

entre trabalhadores e a burguesia. Isso faz com que surjam produções 

científicas e filosóficas muito influentes até nossos dias, como podere‐

mos compreender no capítulo sobre a Idade Contemporânea.  

Ponto final

Destacamos  as  principais  correntes  de  pensamento  que marcaram  a 

Idade Moderna e suas influências sobre o conceito de educação, tanto 

no que se  refere ao seu conteúdo quanto no que diz  respeito às suas 

formas  e metodologias  daí  decorrentes. Dessa maneira,  visitamos  o 

Renascimento, o  Iluminismo, o  industrialismo e o positivismo, apon‐

tando para a incidência que esses movimentos tiveram nas mudanças 

políticas e econômicas e os desafios que colocaram à educação. 

Indicação cultural

Sugerimos a  leitura dos capítulos “A educação no  século XVII” e “A 

educação no século XVIII” do livro: 

ROSA, Maria da Glória de. A história da educação através dos textos. São Paulo: Cultrix, 2004. 

Atividades

1) Aponte  as  características  principais  do  Renascimento,  do  Ilumi‐

nismo e da Revolução Industrial, especificando as mudanças ocor‐

ridas na concepção de educação nesses três momentos relevantes 

da Idade Moderna. 

2) Destaque as idéias sobre educação em Comênio, Descartes, Locke 

e Rousseau, considerando a atividade 1. 

 

3) Retome  as  idéias  sobre  o  positivismo  e  faça  uma  relação  entre 

essas  idéias, as práticas práticas pedagógicas e as práticas da ad‐

ministração escolar na atualidade brasileira. 

Page 34: História Da Educação

  

4A EDUCAÇÃO NO BRASIL COLÔNIA

Julio Alejandro Quezada Jélvez

Uma grande esquadra, de 13 embarcações e, aproximadamente, 1.500 

homens, comandada por Pedro Álvares Cabral, parte de Portugal, em 

9 de março de 1500, com o objetivo de conquistar poder político e eco‐

nômico  no Oriente. Hoje,  acredita‐se  que Cabral  desviou‐se  da  rota 

original por ordem direta do rei português, pois já se sabia da existên‐

cia de terras à Oeste, e o Tratado de Tordesilhas (acordo entre Espanha 

e Portugal que dividia as terras recém‐descobertas, em 1494), estabele‐

cia o direito dessas terras a Portugal. O papel estratégico dessas expe‐

dições é extremamente  relevante à medida que o econhecimento dos 

territórios, assim como do relevo das possíveis riquezas, permite que 

Portugal organize melhor seu processo colonizador. Esse planejamento 

se  refere  à delimitação das  etapas  a  serem  seguidas  e dos  espaços  a 

serem priorizados para que se desse, aos poucos, a  total ocupação da 

região. 

Portugal  encontra‐se  em  grandes  dificuldades  financeiras,  incapaci‐

tando a coroa de investir na colonização do Brasil. A solução para não 

perder o poder nos territórios tupiniquins, já que os franceses estavam 

perigosamente  ocupando  o  litoral  brasileiro,  foi  aplicar o  sistema de 

“donatários”.  Implementa‐se, portanto, o  conhecido  sistema de Capi‐

tanias  Hereditárias,  que  se  resume  em  uma  distribuição  de  vastas 

faixas de terra para membros da corte lusa,que têm todo o poder polí‐

tico de determinado espaço e podem usufruir de  todos os benefícios 

econômicos advindos dessa terra. Esses donatários, para virem investir 

e administrar  terras brasileiras, são agraciados com várias vantagens, 

tais  como:  a  doação  de  sesmarias  (lotes  de  terra  que  os  donatários 

recebem como propriedade particular e que, historicamente, represen‐

tam o início do latifúndio tão marcante no Brasil), privilégios fiscais da 

coroa, comando militar, entre outras. O engenho determina o compor‐

Page 35: História Da Educação

 

35

tamento da vila e da sociedade e desponta, então, como classe domi‐

nante da colônia, o senhor de engenho. 

A sociedade desse período é patriarcal, visto que o senhor do engenho 

possui um considerável poder social, e as mulheres se ocupam apenas 

com a criação dos filhos e os afazeres do lar, sem contar com nenhuma 

participação política. Sobre essas múltiplas relações sociais que se dão 

em torno do engenho, Aquino nos diz que:  

A  montagem  do  engenho  permitiu  que  os  portugueses  e  seus  descendentes 

ocupassem militarmente a maior parte do litoral brasileiro, sobretudo o nordestino, 

pois os senhores de engenho eram obrigados a construir  fortificações e a  fornecer 

armas para a defesa das colônias. Some‐se a  isso o papel religioso, na medida em 

que  a  capela do  engenho  tendia  a  se  tornar um pólo  de  atração para  os  fiéis da 

região,  ao  mesmo  tempo  em  que  o  senhor  de  engenho  se  encarregava  da 

sustentação econômica do pároco.a  

É no governo Tomé de Souza que chegam os primeiros jesuítas, chefi‐

ados por Manoel de Nóbrega. Seis padres  jesuítas marcam o início da 

história da educação no Brasil (nos moldes europeus). É preciso ressal‐

tar que  

os portugueses  trouxeram um padrão de  educação próprio da Europa, o que não 

quer dizer que as populações que por aqui viviam já não possuíam características 

próprias de se fazer educação. E convém ressaltar que a educação que se praticava 

entre  as  populações  indígenas  não  tinha  as  marcas  repressivas  do  modelo 

educacional europeu.b 

Quinze dias após a chegada do grupo jesuíta, é fundada, na cidade de 

Salvador, a primeira escola elementar. Em 1554, são fundadas as esco‐

las jesuítas de São Paulo de Piratininga, tendo como seu primeiro pro‐

fessor o padre  José de Anchieta, e a da Bahia. Dois anos depois,  fun‐

dam  o Colégio  Jesuíta  de  Todos  os  Santos  e  começam  a  vigorar  as 

“Constituições da Companhia de Jesus”, incluindo a aprendizagem do 

canto, da música instrumental e o estudo profissional agrícola. No ano 

de 1567, é criado o Colégio  Jesuíta do Rio de  Janeiro e, um ano mais 

tarde, o Colégio Jesuíta de Olinda.c 

Os jesuítas se dedicam, a fim de aculturação, ao trabalho educacional e 

à pregação da fé, nesse exercício, os padres nem sempre são recebidos 

com  total  cordialidade  pelos  nativos,  que  resistem  em  certos  pontos 

localizados, resistência essa que não dura muito. Nos primeiros conta‐

                                                                  a AQUINO, 2000b. b BELLO, 2001. c LIMA, 1969. 

Page 36: História Da Educação

 

 36

tos, os jesuítas já percebem que não seria possível converter os índios à 

fé católica sem que antes os ensinassem a ler e a escrever.  

Durante o governo Duarte da Costa, os conflitos entre colonos e jesuí‐

tas,  frente  ao problema da  escravidão  indígena,  acentuam‐se. Os  ín‐

dios, durante todo esse período, ficaram à mercê dos europeus. Portu‐

gal desejava integrálos ao processo de colonização; os colonos estavam 

interes‐ sados em usá‐los como escravos, e os  jesuítas desejavam con‐

vertê‐los ao cristianismo e aos valores europeus. Para alcançarem seus 

objetivos, os  jesuítas afastam os  índios dos  interesses dos colonizado‐

res e criam as reduções, ou missões, no interior do território brasileiro.d 

O objetivo  inicial dessas organizações  é o de  criar  comunidades que 

carregassem as qualidades da sociedade cristã européia, mas que fos‐

sem  imunes dos vícios e valores maldosos. Nessas missões, os  índios, 

além de serem catequizados (educação da alma), também praticavam o 

trabalho agrícola que garante a fonte de renda dos jesuítas. Uma curio‐

sidade sobre esse processo é que, até em momentos de descontração, 

os padres praticavam a catequese, principalmente com a música, que é 

um elemento fundamental da pedagogia jesuítica. Os cantos gregoria‐

nos  e os  instrumentos de  sopro  são  introduzidos pelos  religiosos do 

antigo continente na cultura de percussão dos índios. 

As missões acabam por converter os  índios de nômades em sedentá‐

rios, o que contribui, decisivamente, para facilitar a captura deles pelos 

colonos. Sobre o que significou para o povo indígena a construção das 

missões, Xavier, Ribeiro  e Noronha,  afirmam, na passagem  a  seguir, 

que as relações sociais desses espaços representam uma revisão subs‐

tancial da cultura e da vida dos nativos. 

Os indígenas não aprendiam apenas uma nova língua, uma nova interpretação da 

vida e da morte; não ganhavam apenas um novo deus, trazido de longe para reinar 

com  a  pompa  típica  do  mundo  de  onde  vinha.  Pelo  sacramento  do  batismo, 

operava‐se um renascer que alterava pela base a vida cotidiana daquela população e 

a sua própria compreensão do significado da existência. Era quando descobriram o 

“mal”  em  que  haviam  estado mergulhados  antes  da  salvação  providencial  por 

aqueles que, em troca dessa redenção, ocupavam todos os seus espaços materiais e 

espirituais.e 

 

 

                                                                  d Id. e XAVIER; RIBEIRO; NORONHA, 1994. 

Page 37: História Da Educação

 

37

Em 1570, vinte e um anos após a chegada dos jesuítas, o Brasil já conta 

com  cinco  escolas  de  instrução  elementar  (Porto  Seguro,  Ilhéus,  São 

Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga) e três colégios (Rio 

de Janeiro, Pernambuco e Bahia). O ensino elementar que tem a dura‐

bilidade  de  seis  anos  fornece  ensinamentos  de  Retórica,  Gramática 

Portuguesa, Latim e Grego. Mais tarde, a duração passou a ser de três 

anos, e as disciplinas administradas eram Matemática, Física, Filosofia 

(lógica, moral, metafísica), Gramática, Latim e Grego.f 

Em 1575, no colégio da Bahia, já se colava grau de Bacharel em Artes e, 

em 1599, todas as escolas jesuítas estavam sujeitas à regulamentação de 

um documento, escrito por Inácio de Loiola – fundador da Companhia 

de  Jesus em Paris, em 1534 – o Ratio atque  Instituto Studiorum, cha‐

mado, abreviadamente, de Ratio Studiorum, que, em síntese, é o mé‐

todo administrativo, pedagógico e curricular dos  jesuítas. O  teor  ins‐

trumental desse método é embasado na disciplina rigorosa e na incan‐

sável repetição dos conteúdos.g 

Com o aumento da população urbana, das relações comerciais internas 

e da organização administrativa da colônia, o anseio da classe proprie‐

tária pela educação dos seus filhos também cresce. Isso faz com que as 

escolas  elementares  das missões  já  não  dêem  conta  da  demanda  de 

ensino  posta  naquela  realidade,  então,  as  elites  passam  a  freqüentar 

esses colégios seminários. É nesse momento que se concretiza no Brasil 

Colônia,  de  forma  efetiva  e marcada  culturalmente,  a  educação  dos 

jesuítas, porque a partir daí os padres passam a  instruir  e  formar as 

elites e as lideranças do País.  

Portanto, universaliza‐se o sistema de ensino do Ratio Studiorum, que 

abrange disciplinas de Filosofia, Humanidades e Teologia e que abarca 

desde a educação inicial, a secundária, chegando até ao ensino superi‐

or. Essa  instrução dura, em geral, dez anos, mas não oferece diploma 

porque isso é privilégio da metrópole. Não se pode esquecer que essa 

universalização é do sistema de ensino e não do acesso, pois os alunos 

são  filhos de  proprietários  e  não  trabalhadores  braçais. A  influência 

dessa  concepção de educação  segue até mesmo depois do desmante‐

lamento do sistema jesuítico.  

Esse método  jesuíta‐europeu perdura  absoluto durante  210  anos  (de 

1549 a 1759) até que um novo rompimento ocorre: a expulsão dos  je‐

suítas por Marquês de Pombal (primeiro‐ministro de Portugal de 1751 

a  1777). Essa  retirada  dos  jesuítas  dos  territórios  portugueses marca 

                                                                  f BELLO, 2001. g LIMA, 1969. 

Page 38: História Da Educação

 

 38

um dos momentos violentos da história, pois, principalmente na região 

Sul do Brasil, os jesuítas resistem, com massivo apoio dos índios, e por 

isso foi necessário um contingente militar significativo para concretizar 

as ordens vindas da metrópole. Kenneth Maxwell  insiste que  “Foi o 

conflito com Pombal que deu início ao processo que levaria ao fim dos 

jesuítas. Eles  encontraram uma pessoa  capaz de  lhes  fazer  frente  em 

um ministro poderoso e implacável, que não tolerava dissidências [...] 

e que não hesitou em agir quando foi desafiado.”h 

A preocupação de Pombal é reerguer Portugal da decadência em que 

se encontrava diante de outras potências européias da época. “A edu‐

cação  jesuítica não  convinha aos  interesses  comerciais  emanados por 

Pombal. Ou  seja,  se  as  escolas  da  Companhia  de  Jesus  tinham  por 

objetivo  servir  aos  interesses  da  fé,  Pombal  pensou  em  organizar  a 

escola para servir aos interesses do Estado.”i Portugal, quando percebe 

que a educação no Brasil está paralisada, oferece uma solução: institui 

o  subsídio  literário  para manutenção dos  ensinos  primário  e médio. 

Criado  em 1772,  é uma  espécie de  imposto que  incide  sobre a  carne 

verde, o vinho, o vinagre e a aguardente e que seria revertido para as 

instituições  educativas. Além  de  insuficiente,  essa  taxação  nunca  foi 

cobrada com regularidade, e os professores ficam longos períodos sem 

receber vencimentos.  

Esses  educadores  são,  geralmente, mal preparados para  a  função  (já 

que eram improvisados e mal pagos) e nomeados por indicação ou sob 

concordância de bispos, tornando‐se “proprietários” vitalícios de suas 

aulas‐régias. Sobre esse quadro, Chagas aponta que: 

Pior é que para substituir a monolítica organização da Companhia de Jesus, algo 

tão  fluido  se concebeu que,  em última análise, nenhum  sistema passou a  existir. 

[...]  Não  havia  currículo,  no  sentido  de  um  conjunto  de  estudos  ordenados  e 

alterados,  nem  a  duração  prefixada  se  condicionava  ao  desenvolvimento  de 

qualquer matéria.j 

Ainda em 1772, Marquês de Pombal implanta o ensino público oficial 

através das aulas‐régias de Latim, Grego e Retórica. Cria,  também, a 

Diretoria de Estudos, que só passa a funcionar após o seu afastamento. 

Cada aula‐régia é autônoma e isolada, com professor único e uma não 

se articulava com as outras. Essas aulas deveriam dar conta das disci‐

plinas oferecidas nos já extintos colégios jesuítas, e os educandos, me‐

nos numerosos que antes, são um pequeno grupo que se prepara para 

estudar na Europa.  

                                                                  h MAXWELL, 1996. i BELLO, 2001. j SECO; AMARAL, 2007 

Page 39: História Da Educação

 

39

De todo esse período colonial, sobressae‐se a criação, no Rio de Janeiro, 

de um curso de estudos literários e teológicos – destinado à formação 

de sacerdotes – em julho de 1776, e do Seminário de Olinda, em 1798, 

por Dom Azeredo Coutinho, governador e bispo de Pernambuco. É só 

com  a  criação  desse  seminário  que  se  pode  observar  uma  estrutura 

escolar propriamente dita, em que há uma  seqüência  lógica na apre‐

sentação das matérias, uma duração precisa dos cursos e a organização 

dos  estudantes  em  classe,  trabalhando  de  acordo  com  um  plano  de 

ensino previamente estabelecido. Além do Seminário de Olinda, Dom 

Azeredo Coutinho  funda, em 1802  (cinco anos antes de a  família real 

refugiar‐se no Brasil), o Recolhimento de Nossa Senhora da Glória, só 

para meninas da nascente nobreza e  fidalguia brasileira, em Pernam‐

buco.k   

Ponto final

Durante  os  primeiros  séculos  de  colonização,  a  atividade  educativa 

esteve atrelada à atividade catequética, especialmente dos índios, cuja 

importância da  leitura  foi utilizada como recurso de aculturação e de 

pacificação.  

Indicação cultural

Sugerimos a  leitura do capítulo “Os  jesuítas e a Educação da Alma”, 

que consta no livro: 

PILETTI, N; PILETTI, C. História da educação. São Paulo: Ática, 1997. 

Atividades

1) Destaque  os  principais  aspectos  políticos,  econômicos,  sociais  e 

culturais que constituíram a sociedade colonial no Brasil. 

 

2) Aponte  as  finalidades  da  educação  no  processo  de  colonização 

portuguesa no Brasil.  

 

 

3) Estabeleça as diferenças conceituais e estratégicas da educação dos 

padres Jesuítas e a educação proposta pelo Marquês do Pombal. 

 

 

                                                                  k LIMA, 1969. 

Page 40: História Da Educação

  

5A EDUCAÇÃO NO BRASIL IMPÉRIO

Julio Alejandro Quezada Jélvez

Coagida pela  Inglaterra, principal parceria  comercial,  e ameaçada de 

invasão pelas tropas napoleônicas que queriam varrê‐la do mapa polí‐

tico da Europa, a Corte dos Bragança dá início à sua retirada de terras 

portuguesas rumo às terras além‐mar, o Brasil, sua colônia, sua propri‐

edade  havia mais  de  300  anos. Com  uma  esquadra  de  50  navios,  a 

Corte  inicia sua viagem em 27 de novembro de 1807, auxiliados pela 

Inglaterra que colocaram a disposição 15 mil funcionários para auxilia‐

rem na mudança da Família Real de Portugal para o Brasil.  

A Inglaterra liderava a Revolução Industrial e necessitava de matérias‐

primas  baratas  para  transformá‐las  em  produtos  industrializados  e 

precisava,  também, de mercados  consumidores para onde pudessem 

ser  escoados  e  vendidos  objetivando  a  obtenção  de  lucros.  Por  essa 

razão,  interessava‐se nas colônias portuguesas e espanholas, pois elas 

poderiam vir a responder a essas duas necessidades. De fato, dois anos 

após a chegada ao Brasil (1810), ambos assinaram um tratado, no qual 

ficou estabelecido que os produtos vindos da Inglaterra pagassem 15% 

de  taxas  alfandegárias, quando os produtos  fossem para Portugal  as 

taxas seriam de 16% e para os demais países atingiriam um patamar de 

24%, instituindo‐se uma diferença de 9% em favor da Inglaterra.  

Muitos  acontecimentos  políticos,  culturais,  administrativos,  sociais  e 

econômicos caracterizaram o período imperial, considerado como tal a 

partir da proclamação da Independência do Brasil de Portugal em 1822 

e juridicamente institucionalizado com a promulgação da Constituição, 

outorgada pelo imperador em 1824 até a proclamação da República em 

1889.  Destacaremos  alguns  acontecimentos  mais  marcantes  daquele 

período para atermo‐nos de maneira detalhada à questão educacional. 

Page 41: História Da Educação

 

41

5.1 A Proclamação da Independência do Brasil

A  posição  política  de  Portugal  consistia  na  rearticulação  e  fortaleci‐

mento da monarquia e na recolonização do Brasil. Ambas as posições 

apontavam para a necessidade estratégica do  retorno do príncipe  re‐

gente, Dom Pedro (I), a Portugal. Os grupos políticos organizados no 

Brasil  fizeram  um  grande  abaixo‐assinado,  no  qual  solicitavam  ao 

Dom  Pedro  que  não  abandonasse  o  Brasil. O  príncipe  sensibilizado 

com o pedido decidiu: “Como é para o bem de todos e felicidade geral 

da Nação, estou pronto: diga ao povo que eu fico.” A partir desse dia, 

conhecido como o “Dia do Fico”, estabeleceu‐se a ruptura das relações 

do  Brasil  com  Portugal. A  ameaça  de  Portugal  de  enviar  tropas  ao 

Brasil, se houvesse adiamento ou recusa de Dom Pedro de retornar a 

Portugal, desde que seu governo  tinha sido declarado  ilegal pela Co‐

roa Portuguesa, precipitou a decisão de Dom Pedro, que se encontran‐

do às margens do  riacho do  Ipiranga, no dia 7 de  setembro de 1822, 

diante de uma pequena comitiva, erguendo sua espada, gritou: “Inde‐

pendência ou morte.” Declarava‐se com essa sentença a Independência 

do  Brasil,  estabelecendo  o  fim  de  uma  relação  colonial  de  trezentos 

anos.  À  diferença  dos  países  latino‐americanos,  que,  ao  declararem 

independência da Coroa da Espanha, passaram para o sistema político 

republicano, no Brasil, passamos de Colônia para Império. A Repúbli‐

ca será adiada por mais de sessenta anos.  

5.2 A Abolição da Escravatura

Com  a  recusa  do  exército  de  continuar  prendendo  os  escravos  que 

fugiam das fazendas por todo o País; com a divulgação de manifestos 

públicos na capital do governo central e nas demais capitais das pro‐

víncias; com as manifestações públicas realizadas nas ruas da capital e 

nas grandes cidades do País, exigindo o fim da escravidão; com a pres‐

são  internacional de  interditar os navios negreiros que transportavam 

os negros pilhados na África para realimentarem o comércio de vender 

e comprar gente para submetê‐los à escravidão, em 1888, promulgou‐

se a Lei Áurea, declarando o fim da escravidão em território nacional. 

O  sistema  escravocrata  que  consistia  na  utilização  de  mão‐de‐obra 

escrava para a produção monocultural e agro‐exportadora e constituía 

o  suporte  laboral do  sistema monárquico, entre outros  fatores nacio‐

nais e internacionais, ao ser abolido acabou contribuindo para o fim do 

Império. 

Page 42: História Da Educação

 

 42

5.3 A cultura no Brasil Império

A chegada da Família Real ao Brasil incrementou e expandiu as ativi‐

dades  culturais no Brasil. Dom  João VI  tomou muitas  iniciativas que 

acabaram  estimulando  o  desenvolvimento  da  cultura,  notadamente 

erudita e direcionada aos membros da corte e às elites  locais. Surge a 

Imprensa Régia, criada em 1808. Com proteção oficial, surgem ainda a 

Gazeta do Rio de Janeiro em 1808 e na Bahia a Idade de Ouro no Brasil em 

1811. Funda‐se a Biblioteca em 1810, que depois passou a  se  chamar 

Biblioteca Nacional; o  Jardim Botânico do Rio de  Janeiro em 1810, ao 

lado de onde depois viria o Museu Real, que passou a  incentivar os 

estudos em botânica e zoologia; o Museu Real em 1818, depois chama‐

do de Museu Nacional; Missão Cultural Francesa em 1816, que trazia 

artistas franceses e que influenciaram a criação da Escola Nacional der 

Belas Artes. 

Na música erudita, o destaque fica por conta de Carlos Gomes, especi‐

alista  em música dramática,  foi  fortemente  influenciado pela música 

italiana, compôs operas inspiradas em temas como o índio (O Guarani) 

e  a  escravidão  (O Escravo). Na pintura, destacam‐se Vitor Meireles  e 

Pedro Américo, cujos temas retratavam as cenas da vida popular brasi‐

leira e fatos históricos. O movimento literário do Império foi o Roman‐

tismo, e nele coube a vida brasileira expressa em poesias e romances. 

Joaquim Manuel Macedo com A Moreninha e Manuel Antonio de Al‐

meida  com Memórias  de  um  Sargento  de Milícias  foram  os  destaques 

principais da época. Castro Alves registrava na sua  literatura as suas 

críticas ao sistema de escravidão, exigindo o seu fim. 

Já na corrente literária chamada de Romantismo, José de Alencar foi o 

mais destacado escritor. Seus temas versaram sobre o  índio, os costu‐

mes e a vida nas cidades, bem como sobre os costumes regionais. 

5.4 O ensino superior no Brasil Império

A  finalidade principal da educação no Brasil  Império consiste na  for‐

mação das elites dirigentes do País, que a partir de 1808 será adminis‐

trado diretamente pelos funcionários da Corte. Fundaram‐se com esse 

fim  somente  escolas  superiores,  cujo  ingresso  era  obtido  através  da 

realização de provas  seletivas. Os  alunos que  estavam  em  condições 

serem aprovados nesses mecanismos seletivos eram aqueles que  fazi‐

am parte da corte e das elites econômicas e políticas nacionais. 

Os cursos superiores criados por Dom João VI para dar conta das elites 

dirigentes do seu reinado foram: 

Page 43: História Da Educação

 

43

No Rio de  Janeiro – Academia de Marinha; Anatomia e Cirurgia 

em 1808; Academia Real Militar em 1810; Laboratório de Química 

em 1812; Curso de Agricultura em 1814; Escola Real de Ciências, 

Artes e Ofícios em 1817.  

Na  Bahia  –  Curso  de  Cirurgia;  Cadeira  de  Economia  em  1808; 

Curso de Agricultura em 1812; Curso de Química e Curso de De‐

senho Técnico em 1817. 

5.5 O ensino primário, secundário e técnico-profissional

O  ensino primário  não  constava  nas preocupações da  administração 

imperial  nem  o  estimulava  na  capital  ou  províncias.  Entretanto,  em 

1823, por meio de um Ato Administrativo, que ficou conhecido como 

Decreto 1º de Março, foi criada uma escola que desenvolveria o méto‐

do  criado  Joseph  Lancaster.  Esse método monitoral  funcionava  com 

um  professor  por  escola. Os  alunos  se  dividiam  em  grupos  de  dez, 

chamados de decúria, entre os quais o menos ignorantes ou com mais 

informações, chamados de decurião, ensinaria aos demais e  foi esten‐

dido até 1838.  

Em 1832, o ministro Lino Coutinho fez uma avaliação sobre a qualida‐

de  e  a  funcionalidade desse método,  concluindo que,  após  três  anos 

nesse método de ensino, os alunos não ficavam preparados para pro‐

gredirem a outros  níveis de ensino. No Brasil esse método não produ‐

ziu as vantagens que tinha proporcionado em outros países.  

Em 1827, foi promulgada uma lei que determinava a criação de escolas 

de primeiras letras em todas as cidades, as vilas e os lugarejos, além de 

escolas de meninas nas cidades mais populosas. No ensino primário, 

que a partir de 1854 passou a ser nomeado de elementar, as disciplinas 

que compunham o currículo eram: Instrução Moral e Religiosa, Leitura 

e  Escrita,  Noções  Básicas  de  Gramática,  Princípios  Elementares  de 

Aritmética e o Sistema de Pesos e Medidas.  

Mas, a legislação promulgada e a definição de currículo não saíram do 

papel. A criação de um sistema nacional de ensino primário demanda‐

va administração,  formação de professores, construção de escolas etc. 

Todas  essas  condições,  necessárias  ao  funcionamento  de  uma  rede 

nacional de ensino primário, requeriam investimentos que a Coroa não 

cogitava realizar, pois a finalidade do ensino estava focada na forma‐

ção superior.  

O ensino secundário, assim como o ensino superior, tinha como gran‐

de objetivo o de atender a formação das elites dirigentes do país e era 

Page 44: História Da Educação

 

 44

nesses dois níveis que o governo  central  concentrava  seus esforços e 

investimentos.  

A função específica do ensino secundário está orientada a preparar os 

estudantes para o  ingresso nos  cursos  superiores e para  ingressar ao 

ensino secundário não precisava ter cursado o primário. Ficou a cargo 

das províncias o ensino primário. O acesso a essas escolas fica vetado 

para os escravos. Em 1834, um Ato Adicional outorgou às províncias o 

direito de  legislar  e promover  a  instrução pública  e  a  ter  estabeleci‐

mentos  próprios  para  essa  atividade.  Entretanto,  as  faculdades  de 

medicina,  os  cursos  jurídicos  e  as  academias  ficam  excluídos  dessa 

competência.  

Em 02 de dezembro de 1837, o Seminário São Joaquim  foi transforma‐

do em estabelecimento de ensino secundário e nomeado de Colégio de 

Pedro II, o qual serviu como a primeira expressão do poder central de 

organizar o  ensino  secundário  regular no país  e deveria  servir  como 

referência para as demais escolas de ensino secundário.  

O  ensino  técnico‐profissional  foi  tangenciado  ao  longo  do  período 

imperial  no  Brasil.  Dados  sobre  o  número  de  alunos  matriculados 

ilustram  o descaso  oficial  com  essa modalidade  ensino. Em  1864,  53 

alunos estavam matriculados no Instituto Comercial do Rio de Janeiro; 

25,  no  Curso  Comercial  de  Pernambuco;  14,  na  Escola Agrícola  do 

Pará, e 14, na Escola Agrícola do Maranhão. Além do descaso com a 

oferta e com a acessibilidade ao ensino técnico profissional, aos alunos 

que  concluíam  esse  tipo  de  ensino  não  era  facultado  o  ingresso  ao 

ensino superior.  

Com o surgimento da urbanização das cidades e dos lugarejos, com a 

ampliação e a diversificação das vias de comunicação das estradas de 

ferro, com a navegação a vapor e com a instalação de cabos telegráficos 

e iluminação pública, surge também a demanda por formação técnica. 

Temos que destacar que esse acontecimento ocorre na segunda metade 

de 1800, quando a atividade comercial de compra e venda de escravos 

torna‐se difícil e pouco rentável e quando as capitais passam a investir 

nesses processos de urbanização e abertura e ampliação das comunica‐

ções da época. Para as elites ilustradas, a defesa da educação do povo 

passa  a  ter  injunções  eleitorais  e de preparação de mão‐de‐obra  que 

seja capaz de substituir, e não sem vantagens, o trabalho escravocrata e 

servil. Essas mudanças também chegam a regiões rurais, nas quais as 

novas  técnicas de produção  agrícola  e  a  substituição  “dos pés  e dos 

braços dos escravos” por mão‐de‐obra assalariada, além de ensejarem 

a imigração, remeteram às questões educacionais.  

Page 45: História Da Educação

 

45

5.6 A formação dos professores e as Escolas Normais

A  regulamentação  sobre a  formação  e o  exercício da docência  foram 

definidos na Lei de 15 de outubro de 1827, na qual se estipulava que o 

cargo de professores  e mestres  era  vitalício  e  os  que não  estivessem 

suficientemente  capacitados deveriam  em pouco  tempo  adquirir  ins‐

trução necessária, podendo  contar  somente  com  seus próprios  recur‐

sos. a 

Essas medidas demonstram uma despreocupação  com  a qualificação 

profissional dos professores que resultava num baixo desempenho na 

pratica docente. Como não havia concursos, o processo de seleção dos 

professores  passava  pela  verificação  de  três  requisitos: maioridade, 

moralidade e capacidade. 

Em 1830, foram criadas Escolas Normais nas províncias da Bahia e do 

Rio de janeiro e em 1875 instituíram‐se dois tipos de Escolas Normais, 

uma para o sexo feminino e outra para o sexo masculino, as quais em 

1880  foram unificadas na  capital do  Império. Foi  esse  tipo de  escola 

normal a que começou a espalhar‐se por todo o Brasil. 

Quadro 1 – Características principais da Escola Normal

MODALIDADE DE ENSINO  ESCOLA NORMAL 

Idade mínima para o ingresso 

no curso 16 anos 

Exame de admissão Mesmos  níveis  da  escola 

primária elementar. 

Duração do curso 

Seis  séries anuais  em 1880 

que passou para quatro em 

1881 e para três em 1888. 

Turno  Noturno 

Freqüência  Nominalmente obrigatória 

Componentes  curriculares  do 

Curso Normal 

Economia  doméstica, 

agricultura,  pedagogia, 

caligrafia,  música  vocal, 

trabalho de costura para as 

alunas e ginástica e prática 

manual para os alunos. 

                                                                  a BRASIL, 1827, p. 71. 

Page 46: História Da Educação

 

 46

5.7 Rui Barbosa e a reforma de ensino no Brasil

O  alto  índice de  analfabetismo, o descaso do governo  central  com o 

ensino primário  e  a  completa  ausência de políticas  educacionais que 

viessem a atender ao conjunto da população mantida em condições de 

analfabetismo fizeram com que o conselheiro, Carlos Leôncio de Car‐

valho, destacado professor de São Paulo, enviasse ao Parlamento um 

decreto executivo objetivando reformar o ensino primário e secundário 

na sede da Corte e o ensino superior em todo o Império. 

Rui Barbosab foi nomeado relator do decreto. Abstendo‐se de elaborar 

um parecer tecnocrático, resolveu estudar a fundo a situação educaci‐

onal e a partir desse estudo propôs mudanças num escrito que  ficou 

conhecido como Reforma do ensino primário.  

dedicou quatro anos para estudar a situação do ensino no país; 

contatou professores que exerciam as atividades de ensino; 

assistiu às aulas nos estabelecimentos de formação; 

estudou  a  bibliografia  disponível  sobre  a  educação  norte‐

americana; 

convocou conservadores e  liberais no Brasil para se reunirem em 

torno das reformas necessárias do ensino, considerando‐a “a pri‐

meira de todas as necessidades da pátria”; 

propôs  uma  recriação  do  ensino  no  Brasil,  pois  “o  que  aí  está, 

salvo raríssimas exceções, e quase todas no ensino superior, cons‐

titui uma perfeita humilhação nacional”. 

conceituou  a  educação  da  população  como  suporte  para  o  pro‐

gresso econômico do país, sem a qual não poderá haver desenvol‐

vimento.  “Todas  as  leis  protetoras  são  ineficazes,  para  gerar  a 

grandeza  econômica do país;  todos  os melhoramentos materiais 

são incapazes de determinar a riqueza, se não partirem da educa‐

ção popular, a mais criadora de todas as fontes econômicas, a mais 

fecunda de todas as medidas financeira [...]”. 

criticou o método pedagógico vigente, ou melhor, propôs a criação 

de  um  método  de  ensino.  “Porquanto  o  que  existe  entre  nós, 

usurpou um nome, pois não é um método de ensinar; é, pelo con‐

trario, o método de inabilitar para aprender”; 

                                                                  b BARBOSA, 1947. 

Page 47: História Da Educação

 

47

criticou  a prática pedagógica que não  considera  as necessidades 

concretas do aluno. “O primeiro atentado contra a criança, contra 

sua  existência normal,  contra  seus direitos  indefesos  cometem  o 

mestre e o método é esquecerem no aluno a existência de um cor‐

po com as mais impiedosas de todas as necessidades”; 

incluiu a educação física, o ensino musical, o ensino de desenho e 

de trabalhos manuais no currículo escolar; 

previu a criação de um Conselho Superior de Ensino Nacional e a 

criação de um ministério dedicado exclusivamente à educação. 

A análise sobre a situação do ensino no Brasil e o conjunto de propos‐

tas na área pedagógica, curricular, administrativa e política constituem 

uma verdadeira  lei de educação nacional. O  caráter avançado para a 

racionalidade monárquica  faz  com  que  essa  proposta  se  perca  nos 

gabinetes  e  nas  mentalidades  administrativas  do  Império.  Em  seu 

último discurso,  feito desde  o  trono  imperial,  sua Majestade  solicita 

que se façam esforços para criar um Ministério que trate dos “negócios 

da instrução pública”. 

Imediatamente  após  a  Proclamação da República  (1889),  o Marechal 

Deodoro da Fonseca cria o Ministério da Instrução Pública, Correios e 

Telégrafos. O  titular desse Ministério passa  a  ser Benjamin Constant 

Botelho de Magalhães, que passa administrar o primeiro grande desa‐

fio – tornar pública a educação num país onde apenas 12% da popula‐

ção em idade escolar estão matriculados nas escolas. 

Indicação cultural

Sugerimos a leitura do livro: 

STEPHANOU, M.; BASTOS, M. H. C. (Org.). Histórias e memórias, da educação no Brasil. v. 02: SÉCULO 

IX. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. 

Atividades

1) Indique os motivos principais que  fizeram com que a Corte Real 

Portuguesa viesse para o Brasil e quais os  interesses econômicos 

da Inglaterra ao fazer o suporte logístico da viagem da família dos 

Bragança. 

 

2) Descreva as características do ensino primário, do ensino secundá‐

rio e do ensino superior durante o Brasil Império.  

Page 48: História Da Educação

 

 48

3) Explique as motivações sobre a importância dada pela administra‐

ção do Império ao ensino superior e o aparente descaso com o en‐

sino primário e secundário. 

 

 

Page 49: História Da Educação

  

6A EDUCAÇÃO NO PERÍODO REPUBLICANO

Julio Alejandro Quezada Jélvez

Não é por acaso que a chamada Primeira República é conhecida, tam‐

bém, como República Oligárquica, pois os grandes produtores, princi‐

palmente os de  café, administram o Estado, direta ou  indiretamente, 

de acordo com seus  interesses. Esse governo de poucos se  reflete em 

uma educação para poucos,  já que não existe ainda uma rede escolar 

pública que atenda ao conjunto da população brasileira. Com a concen‐

tração do poder econômico e político no eixo Rio de Janeiro, São Paulo 

e Minas Gerais, os modelos educacionais  implantados nesses estados 

atingem certo   senso de organização, essencialmente, o ensino superi‐

or. Entretanto, deve‐se  ter  claro que  a  educação brasileira  é bastante 

regionalizada,  isto  é,  com  a  autonomia  de  que  gozavam  os  estados 

para  legislar  sobre a educação, a qualidade e as  condições do ensino 

são muito particulares. 

No  presente  capítulo,  abordaremos  a  conjuntura  que  prepara  e  que 

sucede a Proclamação da República, assim como sobre as heranças do 

período imperial e as reformas educacionais que passaram a ocorrer no 

novo regime. Discutiremos, como fatores fundamentais para a forma‐

ção da  sociedade brasileira do  século XX, a emergência da  sociedade 

industrial e o aparecimento do operariado, composto, majoritariamen‐

te, por imigrantes.  

Durante uma das viagens de Dom Pedro II, as críticas ao regime cres‐

cem, animadas por uma imprensa livre o suficiente a ponto de mostrar 

que  o  regime  imperial  chegara  ao  fim. A  delicada  situação  imperial 

acentua‐se quando Dom Pedro  II, ao se ver encurralado, permite que 

os conservadores assumam o poder político. O Partido Liberal, insatis‐

feito com a decisão do imperador, cria o Centro Liberal, caracterizado 

por  uma  postura  contrária  à Monarquia,  composto  pelos  principais 

formadores do Partido Republicano. 

Page 50: História Da Educação

 

 50

Com  a  fundação do Partido Republicano,  em  1870, uma nova opção 

política  surge, além do Partido Brasileiro  (conservador)  e do Partido 

Liberal. O movimento, antes relacionado à periferia, atinge o Sudeste, 

paralelamente ao desenvolvimento da economia cafeeira e à formação 

de uma nova elite agrária que passa a ver a Monarquia como um atra‐

so  para  as  necessidades  do  setor  exportador. As  idéias  eruditas  do 

imperador acabam atravancando os interesses da nova elite, que exigia 

a construção de novas ferrovias, créditos agrícolas e a implantação do 

Federalismo  (maior autonomia das províncias, ao contrário do  rígido 

centralismo imperial). 

A presença dos  ideais  republicanos se  faz mais  freqUente entre estu‐

dantes, militares e, como  já foi dito, em setores da burguesia cafeeira. 

O pequeno número de  representantes  republicanos que consegue  ser 

eleito em órgãos  legislativos contrapõe‐se ao grande número de pro‐

pagandas veiculadas pela imprensa (peça fundamental para a Revolu‐

ção Republicana) a favor do novo regime. As críticas aos políticos e ao 

governo, muitas vezes, resultam em execuções no anonimato.  

O exército brasileiro, até ausente desse processo, alcança, após a Guer‐

ra do Paraguai, perspectivas mais amplas. Influenciado pelo positivis‐

mo, torna‐se a instituição mais consciente e exigente em relação ao seu 

papel na condução dos problemas nacionais, ao mesmo tempo em que 

começa a se simpatizar com a idéia de romper com as bases do Império 

deferidas pelo Partido Republicano.  

As constantes fugas de escravos, muitas vezes com o auxílio de grupos 

republicanos, e o debate acalorado na imprensa a favor da abolição da 

escravatura  fazem  com  que  a  Lei Áurea  seja  assinada  pela  Princesa 

Isabel,  na  tentativa  de  canalizar  para  o  regime  imperial  a  vibração 

abolicionista. Praticamente um tiro no pé: os Barões do café do Vale da 

Paraíba deixam de se interessar por compor a última base de sustenta‐

ção  do  Império.  Alguns  desses  fazendeiros  aliam‐se  ao movimento 

republicano. São os conhecidos republicanos do dia 14 de maio.  

Os negros libertos, a partir da Abolição, passam a apoiar o regime que 

estava por cair. A popularidade da Monarquia entre as camadas mais 

pobres  tem  seu  apogeu  nesses  últimos  momentos.  Não  por  acaso, 

quando o governo precisou criar uma  força paralela ao Exército  (que 

simpatiza mais  com  o modelo  republicano),  convocou  somente  ex‐

escravos, formando‐se, então, a Guarda Negra. 

Essa é a conjuntura social e política da Proclamação da República, em 

1889, que, embora conte com o apoio de parcelas das camadas popula‐

res e dos intelectuais progressistas, não passa de uma reorganização do 

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51

poder, que não muda em nada a ordem econômica nacional. Implanta‐

se de vez o monopólio dos cafeicultores no poder estatal,  já que esses 

não dividem mais o bolo com a oligarquia açucareira.  

A primeira Constituição Republicana, de 1891, tem um caráter federa‐

lista, pois determina que os estados podem ter constituições próprias, 

assim  como  códigos  judiciais,  eleitorais  e  forças  militares  públicas. 

Instauram‐se  o  governo  representativo  e  o  sistema  presidencialista. 

Outra novidade trazida por ela é a eliminação do critério de renda para 

votar, no entanto, ela mantém a proibição do voto para os analfabetos.  

Essa proibição tem reflexos fortes na configuração dos valores morais 

da sociedade brasileira e, principalmente, na educação, pois a exclusão 

dos  iletrados da  esfera  eleitoral  cria uma  aura de discriminação  que 

reconhece somente como capaz aquele que domina as letras. Por con‐

seguinte, a instrução é um elemento um elemento de diferenciação de 

classe  social,  assim  como o  corpo  eleitoral  é de uma  classe,  somente 

chega ao poder membros da mesma classe. Dentro desse montante de 

pessoas  analfabetas, estavam ex‐escravos, que se diluem em busca de 

trabalhos braçais e informais.  

Portanto,  a  educação  elementar,  até  o  País  sentir  a  necessidade  de 

aumentar o número de eleitores na década de 1910, é esquecida pelo 

governo republicano, já que não interessava que as camadas populares 

se  alfabetizassem.  Nessa  nova  Constituição,  reafirma‐se,  também,  a 

descentralização  do  ensino.  São  os  estados,  agora,  os  responsáveis  

pela  educação  elementar  e  secundária,  e  a União  não  auxilia  nessa 

empreitada.  

Esse procedimento histórico de delegar aos poderes locais a educação, 

prática existente até hoje, só faz com que as disparidades educacionais 

entre as regiões, herdadas do Império, aumentem e se agravem e que 

as escolas primárias, em sua grande maioria, sigam frágeis e desquali‐

ficadas. Esse período, que compreende 1889 a 1930, é rico em reformas 

educacionais, como se vê a seguir, e o ensino secundário é tema central 

dessas revisões. Benjamin Constant promove uma reforma no currícu‐

lo da escola secundária e acrescenta o estudo das Ciências, através de 

disciplinas  como  Sociologia, Moral,  Direito  e  Econômica  Política.  É 

importante constar que a precária formação dos professores para esses 

cursos secundários é um problema que não é solucionado nessa época, 

pois esse tema só será debatido com afinco pelos escolanovistas a par‐

tir de 1932.  

Com essas ações, começa a vigorar no ensino brasileiro uma mescla de 

temáticas  humanísticas  com  um  enciclopedismo  inspirado  no  Ilumi‐

Page 52: História Da Educação

 

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nismo  e, principalmente, no Positivismo. A  laicização da  educação  é 

um grande  avanço do período  republicano, haja vista que  essas  ten‐

dências, como já vimos no capítulo sobre a educação na modernidade, 

rompem com a religiosidade e se embasam na cientificidade do conhe‐

cimento.  

A reforma de Constant atende a  interesses de modernização e expan‐

são do ensino da elite brasileira que deseja as configurações educacio‐

nais importadas da Europa. Então, por um lado, temos a imensa maio‐

ria da população analfabeta ou semi‐analfabeta, arraigada ao atrasado 

processo produtivo brasileiro da  agroexportação  e que não necessita 

de  uma  formação  vinculada  ao  desenvolvimento  da  racionalidade, 

como  traz o modelo europeu. Por outro  lado,  tem‐se, a elite nacional 

sedenta por uma formação ligada à investigação e ao invólucro cienti‐

ficista vindo do velho mundo.  

Então,  o  começo da modernização do  ensino  brasileiro  se dá  com  o 

ingresso das Ciências Positivas nos currículos das escolas  superiores. 

Mas foi com a Lei Orgânica Rivadávia Corrêa, de 1911, que os anseios 

positivistas são atendidos de maneira mais direta, pois essa  lei acaba 

com o controle do Estado sobre a concessão de diplomas, volta com os 

exames de admissão nas faculdades e desqualifica o ensino secundário. 

A sociedade senhorial brasileira oferece limites a todo esse anseio por 

modernização  educativa,  e  essa  resistência  logo  se  nota  através  da 

Reforma Carlos Maximiliano, em 1915. Essa reforma retoma a tradici‐

onal  educação  elitista  brasileira  e  apresenta  algumas  alternativas  à 

necessidade  de  expansão  do  ensino. Além  disso,  cria  o  exame  para 

ingressar no ensino superior, assim como aplica a obrigatoriedade da 

apresentação do diploma da escola secundária para fazê‐lo. 

Em meio  a  um  processo de  transição do modelo  agrário‐exportador 

para o urbano‐industrial, a sociedade brasileira resiste às mudanças da 

esfera econômica e política, pois o poder das oligarquias rurais ainda é 

muito grande.  

É nessa esteira que ocorre a última reforma educacional da República, 

a  Rocha Vaz,  em  1925,  que,  bastante  conservadora,  carrega  ainda  o 

caráter elitista da sociedade agro‐exportadora. 

As principais medidas dessa reforma são: aplicação dos currículos do 

ensino superior, criação da disciplina de Instrução Moral e Cívica nas 

escolas elementares, acréscimo de elementos ao processo do vestibular 

e o estabelecimento de uma espécie de comando ideológico do Estado 

sobre o sistema educativo.  

Page 53: História Da Educação

 

53

Feito o registro das principais reformas que ocorrem no período repu‐

blicano, tomaremos, agora, a educação  imersa nas mudanças políticas 

e  estruturais  pelas  quais  o  Brasil  passa,  principalmente,  a  partir  da 

década  de  1910. A  queda  dos  preços  do  café  brasileiro  no mercado 

internacional  enfraquece  politicamente  os  grandes  fazendeiros,  e  os 

industriais passam a ocupar espaço como classe emergente, essencial‐

mente, no centro do País. 

Com uma maior quantidade de projetos de urbanização, o Brasil anda 

com velocidade, através de acordos internos e externos, rumo à indus‐

trialização economicamente dependente. Empresas e fábricas se multi‐

plicam nessa época, o que acarreta a criação de um grande contingente 

de operários assalariados que passam a constituir o mercado consumi‐

dor interno brasileiro. 

A  Primeira Guerra Mundial,  que  ocorre de  1914  a  1918,  incentiva  o 

processo de  industrialização no Brasil,  tendo  em vista que os preços 

dos produtos  importados aumentam. Outro  fator  importante é que o 

café,  acessório  que  mantinha  o  Brasil  relacionado  economicamente 

com os outros países, deixa de ser procurado pelos países em guerra, 

por  considerá‐lo  supérfluo,  em  contrapartida,  outros  artigos,  como 

carne, banha e borracha, tornam‐se prioridade.  

Um  fator  importante  para  a  história do  nosso  país  é  a  chegada dos 

imigrantes no final do século XIX e começo do século XX. Sabe‐se que, 

nesse período, chegam em  torno de um milhão e meio de  imigrantes 

europeus no Brasil. Inicialmente, os imigrantes passam a trabalhar nas 

fazendas de  café  e depois grande parte  se  torna operário nas  indús‐

trias. O Estado brasileiro oferece certas garantias aos imigrantes, como 

o direito de criarem suas colônias e de negociar perante algumas rela‐

ções de trabalho. 

Entretanto,  imensa parcela do povo  brasileiro,  ex‐escravos  e descen‐

dentes, não obtém nenhuma proteção do Estado, muito menos é  foco 

de algum projeto político que pense na readaptação ou na  integração 

do negro no mercado de trabalho e na sociedade como um todo. Cons‐

truindo esse diagnóstico, Aquino argumenta, corretamente, na asserti‐

va a seguir: 

Pode‐se afirmar que os ex‐escravos passaram a constituir o exército industrial de 

reserva,  assim  facilitando  a  manutenção  do  pagamento  de  baixos  salários  aos 

trabalhadores empregados. O próprio fato de os antigos escravos não constituírem 

mão‐de‐obra  técnica  especializada  contribuiu para que  fossem usados nas  tarefas 

menos qualificadas nos centros urbanos  e na agricultura  em  expansão. Assim, o 

negro que fora as mãos e os pés dos senhores de engenho e o gerador de produção 

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brasileira durante séculos, ao se tornar livre ficou reduzido a condições de mão‐de‐

obra excedente e de não ter uma ocupação regular.a 

A  conjuntura  aí  colocada denuncia  a  constituição de momentos  que 

são  essenciais  para  a  configuração  da  sociedade  que  temos  hoje.  É 

nesse  período  que  aparecem  as  primeiras  organizações  operárias  ou 

sindicatos, que, coordenados principalmente por imigrantes e embasa‐

dos na  corrente anarquista de pensamento e no  socialismo,  fazem os 

primeiros congressos e as primeiras greves no centro do País. 

Em relação à educação, essas organizações travam lutas com o governo 

republicano  pela  construção  de  escolas  públicas  e  entram  em  atrito 

com  a  Igreja  pela  laicização  da  educação. Dessas  batalhas  políticas, 

nasceram escolas operárias e bibliotecas populares em quase todos os 

estados do País. Esses estabelecimentos funcionavam, muitas vezes, de 

modo informal e com condições precárias, além de sofrer grande per‐

seguição política. Com a eclosão da Revolução Russa em 1917 e a con‐

seqüente  difusão  das  idéias  de  esquerda  pelo mundo,  o  operariado 

passa a se  inspirar em  tais  idéias. O  tenentismo  (movimento político‐

militar de jovens oficiais do exército brasileiro contra a estrutura políti‐

ca do País), que mais tarde  irá desencadear a Coluna Prestes (marcha 

que percorre o território nacional sob o comando de Luís Carlos Pres‐

tes), é influenciado pelos ideais dessa revolução comunista.  

Nos  início dos  anos  1920,  também  se  organiza  o Partido Comunista 

Brasileiro,  que,  no  processo  de  planejamento  de  um  projeto  político 

amplo,  traça  alguns princípios  educacionais. Dentre  esses princípios, 

destacam‐se: a ampliação da escola pública e  leiga, multiplicação das 

escolas profissionais para ambos os sexos, melhorias nas condições de 

vida dos educadores e auxílio financeiro para crianças pobres em ida‐

de escolar. O Partido ainda é uma ferramenta educacional muito eficaz 

para seus membros, pois, internamente, há cursos e aulas de formação 

política muito disciplinadas e densas. 

Ponto final

A República brasileira é uma época em que o Estado é o meio de con‐

cretização de  interesses particulares de classe, ou seja, a estrutura ad‐

ministrativa e  jurídica do País é controlada pelos grandes produtores 

rurais e, mais  tarde,  também, pela burguesia  industrial em ascensão. 

Podemos notar isso na própria legislação educacional do período, que 

advém muito mais de questões políticas e  ideológicas do que de um 

debate pedagógico mais aprofundado.  

                                                                  a AQUINO, 2000b, p. 178. 

Page 55: História Da Educação

 

55

A educação  republicana é marcada pela  continuidade da valorização 

do ensino  superior  (já que esse é o espaço  reservado a  instrução das 

elites), pelo aparecimento da discussão mais acirrada acerca da demo‐

cratização  do  ensino,  que  surge  junto  às  reivindicações  das  classes 

médias progressistas e com o aparecimento das associações operárias. 

O desenvolvimento da Escola Nova,  como  corrente pedagógica  com 

invólucro inovador, é um momento importante para a educação do fim 

da Primeira República.  

Indicação cultural

Sugerimos a leitura dos capítulos “Constituição do Ministério da Edu‐

cação e articulações entre os níveis Federal, Estadual e Municipal da 

educação”, “Educação Brasileira: Dilemas Republicanos Entrelinhas de 

seus Manifestos” e “A Educação Infantil no Século XX”, do livro: 

STEPHANOU, M.  BASTOS, M. H.  C. Histórias  e memórias  da  educação  no  Brasil,  v.  03:  Século  XX. 

Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. 

Atividades

1) Recapitule os fatores propiciadores do fim do Império no Brasil e 

identificar  as  formas  de  produção  econômica  e  governabilidade 

política que se deslocaram para o regime republicano. 

 

2) Aponte as mudanças na educação ocorridas no período republica‐

no e relacioná‐las com a situação da educação no período do Im‐

pério. 

 

 

3) Elabore  um  texto  com  as  características  do  ensino  primário  no 

Brasil, considerando as questões elaboradas nas atividades 01 e 02 

e a leitura complementar sugerida neste capitulo. 

Page 56: História Da Educação

 

  

7 A EDUCAÇÃO NA ERA VARGAS

Julio Alejandro Quezada Jélvez

A  Revolução  de  1930  possibilita  o  surgimento  de  um  novo modelo 

estatal, mais complexo, mais heterogêneo com relação aos seus objeti‐

vos,  o  que  representa  a descaracterização do  sistema monolítico  oli‐

gárquico que  rege o Brasil ate  então. A origem  e o desenvolvimento 

desse novo cenário nacional ocupam‐nos bastante no início deste capi‐

tulo, pois,  a partir de Vargas,  é que o Brasil  realmente nasce para  a 

modernidade capitalista e supera seu estado neocolonial. Ao nos apro‐

fundarmos nesse importante episódio de nossa história, protagonizado 

por Getúlio Vargas, procuramos salientar a trajetória do homem políti‐

co através do relato da explicação crítica dos projetos de nação que são 

implementados no seu tempo. Dentro desses projetos, está a educação, 

que é  tema de grande reformulação  legislativa. Sua qualificação e ex‐

pansão  estão  na  pauta  de  todas  as  reivindicações  promovidas  pelos 

mais distintos grupos sociais. 

A política do café com  leite,  implementada na República Velha, é um 

programa de  revezamento do poder nacional entre São Paulo, maior 

potência  econômica  nacional,  devido  à  produção  de  café,  e  Minas 

Gerais, maior centro eleitoral, produtor de leite.  

Em 1929, Washington Luís  (presidente paulista)  indica  como  seu  su‐

cessor, o também paulista, Julio Prestes, rompendo com o acordo café 

com leite. É apoiado por 17 estados, sendo que apenas Rio Grande do 

Sul, Minas Gerais é Paraíba não aceitam essa  indicação. Assim, chega 

ao fim tal política e se inicia uma articulação de frente contrária à deci‐

são do presidente. Lideranças dos  três  estados  opositores  aliam‐se  a 

políticos  contrários  ao  governo  (inclusive,  o  Partido Democrático de 

São Paulo) e fundam a Aliança Liberal em agosto de 1929. As eleições 

do dia 1º de março de 1930 dão a vitória a Julio Prestes, porém a Alian‐

ça  Liberal  denuncia  a  fraude  eleitoral  e  não  reconhece  a  vitória  do 

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57

candidato eleito. As acusações de fraude, o assassinato de João Pessoa 

(líder paraibano da bancada de aliança liberal) e a grande crise econô‐

mica gerada pela Quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929, são con‐

dições  favoráveis para  a  concretização de uma  revolução,  conhecida 

como Revolução  de  30,  que,  embora  tenha  tido  repercussão  no  país 

inteiro, não é uma revolução nacional, mas, sim, um movimento regio‐

nal. 

Iniciada no dia três de outubro no Rio Grande do Sul e liderada prin‐

cipalmente  por  jovens  políticos  e  oficiais  do  exército  (que  por  não 

vislumbrarem  ascensão política na  atual  conjetura  e  serem  rotulados 

como revolucionários, nada tinham a perder), alastrou‐se, rapidamen‐

te, por todo o país.  

O  presidente Washington  Luís  é  deposto  e  exilado  juntamente  com 

Julio Prestes e outros magnatas da República Velha. O exército, às três 

horas da tarde de três de novembro de 1930, passa o poder, no palácio 

do Catete, a Getúlio Vargas, que assumiria o governo provisório com 

plenos poderes. Suas primeiras medidas, como chefe de Estado, são:  

o fechamento do Congresso Nacional; 

das Assembléias Estaduais; 

das Câmaras municipais; 

a  criação  dos Ministérios  da  Educação  e  da  Saúde  Pública;  da 

Indústria e Comércio e do Trabalho; 

a nomeação de interventores para todos os governos estaduais; 

e a revogação da Constituição vigente. 

Devido  a  forte  pressão  popular,  Vargas  aprova  a  promulgação  da 

Constituição de 1934, que tem como um fator progressista a incorpora‐

ção da ainda incipiente legislação trabalhista e sindical. Todavia, man‐

tém os privilégios das oligarquias latifundiárias do país, pois não suge‐

re distribuição de terras, o que deixa os tenentistas mais progressistas 

desgostosos. 

A nova magna carta é a primeira a ter um capítulo inteiro sobre educa‐

ção e cultura. Estabelece a educação como direto de todos, a gratuida‐

de do ensino primário, a obrigatoriedade da escola primária integral e 

a assistência a estudantes necessitados.  

Page 58: História Da Educação

 

 58

Passam a ser competência da União fixar um plano nacional de educa‐

ção,  fiscalizar a execução desse plano e  traçar as diretrizes da educa‐

ção. Mesmo que alguns autores  critiquem a educação no período  re‐

publicano, por haver uma descentralização, Piletti destaca que  

Se,  por  um  lado,  tais  atribuições  constituíram  o  início  da  construção  de  um 

sistema  nacional  de  educação,  por  outro  lado,  assinalaram  uma  profunda 

centralização das competências. A autonomia dos Estados e dos diversos sistemas 

educacionais foi limitada, quase tudo passou a depender da autoridade superior.a 

Apesar das novidades mencionadas, a Constituição de 1934 não obtém 

grande efeito no sentido de solucionar ou amenizar os conflitos políti‐

cos da época. As  superficialidades  jurídicas de  seu  conteúdo e o  seu 

descolamento  da  realidade  deixam  brechas  para  a  continuação  de 

várias reivindicações políticas e para uma criação de um sentimento de 

descaso com o texto constitucional. 

Essa frustração em relação às medidas legais de políticas do governo e 

a  difusão,  cada  vez maior,  de  idéias  comunistas  fazem  com  que  as 

alternativas revolucionárias ganhem força. É dessa efervescência que o 

Partido Comunista,  juntamente com membros do diluído  tenentismo, 

cria a Aliança Nacional Libertadora (ANL), que vai promover em 1935, 

liderada por Prestes, o  levante Comunista (pejorativamente chamado, 

pelas cúpulas militares, de intentona comunista; Intento como “plano de 

loucos”). 

O objetivo maior do levante é o de implantar um governo de passagem 

para o socialismo, através da tomada do poder de Estado pelas armas, 

mas,  como não  conta  com  o  apoio das massas,  resume‐se  a  revoltas 

localizadas.  Ainda  que  tenha  finalidades  populares  e  progressistas, 

esse movimento  é progressista;  esse movimento  é  feito, basicamente, 

por militantes políticos e  intelectuais. Após esse conjunto de ações, a 

perseguição aos comunistas torna‐se prática comum do Estado, e todo 

esse  alvoroço  político  e  social  provocado  pela  Intentona  Comunista 

cria o desejo, na elite conservadora, de um regime que fosse rígido com 

os contraventores. Abrem‐se, então, as portas para o estabelecimento, 

através de um golpe de Estado, do Estado Novo, em 1937. 

O  integralismo – movimento nacional de época, de  inclinações  fascis‐

tas,  influenciado  pelo modelo  europeu  (principalmente, Alemanha  e 

Itália) – destaca‐se como representante maior da camada conservadora 

que apóia, ideologicamente, o golpe de Vargas. O Brasil passa, portan‐

to, por um momento de  implantação de um  regime  autoritário  com 

fortes vínculos com a extrema direita.  

                                                                  a PILETTI, 1997. 

Page 59: História Da Educação

 

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Instituído  o  Estado  Novo,  instaura‐se  uma  organização  burocrática 

cada vez mais densa. A centralização política no executivo e a personi‐

ficação  do  poder  na  figura  do  presidente  são  características  que  se 

notam, veladamente ou não, na Constituição de 1937.  

No  que  refere  à  economia,  o Estado Novo  é marcado pelo  contínuo 

crescimento da  industrialização brasileira e pela política de substitui‐

ção da exportação pela produção interna. Há, então, certa variação nos 

setores que despontam, por exemplo, as áreas de metalúrgica e  side‐

rúrgica, que não  tinham  tido muito espaço, desenvolvem‐se bastante, 

mas, por outro lado, o setor de automóveis e eletrodomésticos estacio‐

na nesse período. 

No campo social, o elo entre o governo e as classes trabalhadoras dá‐se 

permeado por inovações na legislação que irão reformular as relações 

de trabalho. Primeiramente, em 1940, é criado o imposto sindical para 

propiciar a manutenção dos sindicatos, independentemente da quanti‐

dade de  associados  que  esse  possua. Também,  nesse  ano,  aparece  o 

salário mínimo regional. 

Porém,  os  aspectos  legais mais  relevantes  surgidos  no  Estado Novo 

estão expostos na precisa descrição a seguir, elaborada por Lopez: 

[...]  em  1943,  codificou‐se  toda  a  legislação  trabalhista  na  chamada  CLT  ou 

Consolidação  das  Leis  do  Trabalho,  documento  onde  se  nota  claramente  uma 

combinação de paternalismo estatal e fascismo, simbiose que foi a própria essência 

do Estado Novo. Criou‐se então a Carteira Profissional para o trabalhador, a qual 

servia,  entre  outras  coisas,  para  os  patrões  informarem‐se  uns  aos  outros  sobre 

seus  empregados, visto  que  o  interesse de  classe deveria prevalecer  sobre  tudo  o 

mais.  Através  desse  instrumento,  o  capitalismo  poderia  exercer  uma  função 

policial em relação aos trabalhadores, notificando‐se do comportamento e maneira 

de pensar deles.b 

Com a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, por pressão 

externa estadunidense e interna dos democratas antifascistas, já no fim 

do Estado Novo, vê‐se, novamente, um campo fértil, o retorno de rei‐

vindicações sociais e das lutas por mais liberdade e democracia.  

As ações da administração de Vargas viam‐se em uma enorme contra‐

dição,  pois  soldados  brasileiros  morrem  na  guerra  ao  combater  as 

ditaduras fascistas de Hitler e Mussolini, enquanto o Brasil vive em um 

regime autoritário bastante influenciado pelas idéias fascistas.  

                                                                  b LOPEZ, 1991. 

Page 60: História Da Educação

 

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Então, na tentativa de melhorar sua imagem perante a população, em 

1945, Vargas concede a anistia aos comunistas e a censura  já é quase 

inexistente. O golpe de outubro desse ano tira‐o do poder, e o governo 

que se  instaura não marca uma redemocratização progressista repleta 

de idéias transformadoras, pelo contrário, pode‐se afirmar que se pre‐

serva o que há de mais conservador e se dá continuidade ao modelo 

burocrático getulista. 

Com o fim do Estado Novo, Vargas retira‐se por um tempo de cenário 

político e volta para São Borja, no Rio Grande do Sul, sua cidade natal. 

Nesse seu exílio voluntário, o ex‐presidente, ao fazer suas análises de 

conjuntura, percebe o prestígio que as correntes de esquerda ganham 

com as massas em todo mundo e ensaia certa aproximação com essas 

teses. Essa aproximação, certamente  tem como objetivo a tentativa de 

retornar ao poder.  

A educação com Vargas se viu valorizada, há muito tempo que não se 

tinha  dado  tanta  atenção  a  ela. Era  responsabilidade  do  governo. O 

aluno podia ser pobre ou rico, a idéia era que todos tivessem acesso à 

escola.  Ter  educação  era  poder  vislumbrar  um  futuro melhor,  pois 

nessa época o Brasil se encontrava em desenvolvimento. Era o desen‐

volvimento  industrial. Nesse  tempo  “não  havia diferença  entre  clas‐

ses”,  a  educação  só  queria  reajustar  o  aluno  que  era  indisciplinado, 

desajustado. Queria corrigi‐lo. Ser aluno era se sentir fazer parte de um 

grupo,  era aprender a viver, aprender a aprender,  era poder  esperar 

uma outra vida, era sair da marginalidade. 

Através das  eleições presidenciais,  em  1950, Getúlio Vargas volta  ao 

poder e começa um governo eminentemente populista, marcado pelas 

constantes tentativas do presidente de se aproximar das camadas tra‐

balhadoras. O grande desafio econômico dessa nova etapa varguista é 

manter o crescimento aliado à diversificação produtiva,  isto é, conse‐

guir fazer com que outros setores se desenvolvam sem permitir a des‐

medida entrada de capital estrangeiro no País, para não criar um atrito 

com  suas  bases  populares  e  sindicais. Nessa  gestão, Vargas  procura 

harmonizar  seu viés populista  com o atendimento de alguns anseios 

dos setores conservadores da sociedade. No entanto, as críticas recebi‐

das pelo governo  são oriundas muito mais da direita  elitista do que 

das  camadas  populares,  porque  as  ações  estatais  desse  período  são 

bem mais progressistas do que as anteriores. Dentre as medidas popu‐

listas, é interessante ressaltar a criação da Petrobrás, e os aumentos no 

salário mínimo, que em 1954, por exemplo chegou a subir 100%.  

 

Page 61: História Da Educação

 

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Frente a essas condições, a oposição, comandada pela União Democrá‐

tica Nacional (UDN), partido conservador, passa a atacar violentamen‐

te o governo e a própria pessoa do presidente. O mais veemente critico 

de Vargas é o  jornalista do Jornal Tribuna da Imprensa, Carlos Lacer‐

da, que, ao sofrer um atentado, relaciona‐o à figura do presidente e ao 

chefe de sua guarda pessoal, Gregório Fortunato. Como o atentado na 

Rua Toneleiros resulta na morte de um major, quem preside o inquéri‐

to é a Aeronáutica. 

Os interesses dos opositores do governo unem‐se às pressões militares 

das  forças  armadas,  visto  do  presidente.  Getúlio,  então,  imerso  na 

pressão para deixar o cargo e vinculado ao atentado a Carlos Lacerda, 

suicida‐se em 24 de agosto de 1954, deixando sua carta testamento por 

ser  esta  um  documento  histórico,  reproduziremos  alguns  trechos  a 

seguir: 

Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram‐se novamente e 

se  desencadeiam  sobre  mim.  Não  me  acusam,  insultam,  não  me  combatem, 

caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir 

a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e, 

principalmente, os humildes. [...] Depois de decênios de domínio e espoliação dos 

grupos  econômicos  e  financeiros  internacionais,  fiz‐me chefe de uma  revolução  e 

venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive 

de renunciar. Voltei ao  governo nos braços do povo. (...) Lutei contra a espoliação 

do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram 

meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. 

Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para 

entrar na história. Getúlio Vargas.c  

Para alguns historiadores, o suicídio de Getúlio significou uma grande 

jogada política, visto que a comoção nacional gerada pela publicação 

do testamento manuscrito impede a candidatura de Lacerda e atrasa a 

tomada do poder pelos militares em dez anos. Porém, é nas palavras 

de  Lopez  que  vislumbramos  uma  coerente  interpretação  acerca  da 

morte de Vargas: “Na verdade, ela revelou os limites de classes de um 

reformista que, ante a perspectiva de ser derrubado, não teve como se 

transformar  em  revolucionário,  ativando  o  povo  para  se 

der.”dCom isso o então vive‐presidente, Café Filho, assume o governo 

do Brasil.  

Feita essa retrospectiva histórica, social, política e econômica a respeito 

dos primeiros quinze anos da administração de Getúlio Vargas, trata‐

remos, agora, mais detidamente, da educação, analisaremos aqui todo 

                                                                  c HISTÓRIA DO BRASIL.NET, 2007. d LOPEZ, op cit. 

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período que compreende a Era Vargas, com intuito de relacionar criti‐

camente os aspectos legais e pedagógicos com os referidos contextos. 

São promovidas as Constituições de 1934, 1937 e 1946 durante o tempo 

em que Getúlio governa o país. Para ser ter uma noção geral de como é 

tratada a educação e de quais são as influências desses textos constitu‐

cionais, cabe uma rápida comparação entre eles.  

A  constituição  de  1934  é  de  tendência  democratizante,  pressupõe  a 

gratuidade e a obrigatoriedade de  todos os níveis de ensino e afirma 

que o Estado deve garantir a expansão educacional. 

A de 1937 é produzida por tecnocratas e tem abordagem antidemocrá‐

tica, pois desobriga o Estado de seu papel de responsável pela manu‐

tenção e expansão do ensino e prevê um ensino público pago, que é a 

cobrança de taxas desde o ensino elementar. 

Já a Carta Magna de 1946, que tem uma perspectiva  liberal, retoma o 

papel do Estado como responsável pela educação e afirma a gratuida‐

de do ensino primário.  

Os  elementos  que  trazem  os  conteúdos  constitucionais  analisados 

acima, sem duvida, são reflexos de um conjunto de questões históricas 

que demandam uma formatação jurídica especifica. por isso, é preciso 

considerar que,  segundo Xavier, Ribeiro e Noronha: “Se as  constitui‐

ções de 1934 e 1946 trazem um conteúdo de tendências democratizan‐

tes, quando comparadas á de 1937, é certo,  também, afirmar que boa 

parte  desse  conteúdo  é  apenas  afirmado  em  palavras,  Isso  porque 

existe na lei, mas não chega a ser totalmente cumprido.”e 

O início da Era Vargas é marcado por uma disputa ideológica no cam‐

po da educação Nova, abarca tanto intelectuais elitistas (como Fernan‐

do de Azevedo), quanto liberais igualitaristas (como Anísio Teixeira) é 

portanto, bastante heterogênea. A avaliação que  faz o professor Ghi‐

raldelli. “O governo Vargas assistiu a  tudo  isso, procurando  fornecer 

uma  imagem de mediador  imparcial. Todavia, as preferências do go‐

verno  pelas  opções  políticas  de  direita  não  puderam  ser  dissimula‐

das.”f 

Ele prossegue quando afirma que o governo  tem de  lidar com habili‐

dade com essa controvérsia, pois é impossível negar o apoio dos católi‐

cos e, ao mesmo tempo, era necessário manter‐se aliado aos educado‐

res liberais e suas  propostas pedagógicas inovadoras.  

                                                                  e XAVIER; RIBEIRO; NORONHA, 1994. f GHIRALDELLI JR., 2001. 

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É  importante  ressaltar  que,  apesar  da  primeira  constituição  da  Era 

Vargas ter sido promulgada em 1934, a primeira lei do ensino primário 

só é aprovada em dois de  janeiro de 1946. É a única  regulamentação 

nacional  do  ensino  primário  desde  1827.  Essa  lei  tem  três  objetivos 

principais: 

desenvolver a personalidade do aluno, 

prepará‐lo à vida cultural e familiar, 

e iniciá‐lo ao trabalho. 

O ensino primário passa a ser dividido em fundamental (destinado às 

crianças de 7 a 12 anos, que compreendia 4 anos do curso elementar) e 

supletivo (voltando aos adultos e adolescentes maiores de 13 anos).  

Em  relação  ao  ensino  secundário,  a  regulamento  se  fez  logo  após  a 

tomada do poder por Vargas e sofre a primeira  reforma em 1931 e a 

segunda, em 1942. Tanto na primeira (realizada pelo ministro da edu‐

cação Francisco Campos), quanto na segunda (feita pelo, também mi‐

nistro, Gustavo Capanema), o objetivo é a formação geral e a prepara‐

ção para  o  ensino  superior. Nas duas  leis,  a  consciência patriótica  é 

acentuada, bem como a formação do homem para todos os grandes de 

atividade nacional. 

Tanto em 1931, quanto em 1942, o ensino secundário e divido em dois 

graus (curso fundamental e curso complementar ou pré‐universitário). 

Contudo, a duração desses cursos varia em cada uma das reformas: em 

1931, o curso fundamental dura cinco anos e o complementar dois;  já 

em 1942, há um  curso ginasial de quatro anos que  sucede um  curso 

colegial de três anos. Mais tarde este perde seu caráter de preparação 

para o ensino superior e passa a preocupar‐se somente com a formação 

geral.  

Alguns  autores  criticam  essas  duas  reformas,  afirmando  que  uma 

rígida e exagerada estrutura de avaliação é criada, além disso, as  leis 

não  visam  a  articular  o  ensino  primário  com  os  diversos  ramos  do 

ensino médio, que corresponde ao secundário. Na reforma de Francis‐

co Campos, é criado o cargo de inspetor escolar, com a idéia de melhor 

organizar  a  rede  pública,  porém  tal  sistema  caracteriza‐se  por  um 

legalismo de extrema rigidez. 

A Reforma Capanema,  no  que  se  refere  ao  ensino profissionalizante 

não é suficiente para atender à demanda de mão‐de‐obra que advém 

da acelerada  industrialização do período. Portanto, pelo setor público 

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não suprir as necessidades postas, através de legislação complementar, 

são criadas outras entidades vinculadas ao ensino profissional. Pode‐

mos destacar, dentre  esses  estabelecimentos,  o  Instituto Nacional de 

Estudos  Pedagógicos  (Inep),  o  Serviço  Nacional  de  Aprendizagem 

Industrial  (Senai)  e  o  Serviço Nacional  de Aprendizagem Comercial 

(Senac).  

Um dos aspectos mais  importantes para a pedagogia, que envolve tal 

reforma,  é  a  valorização das  escolas normais  (o magistério),  que, no 

período, chega a quinhentas e quarenta e nove  instituições. Além das 

escolas normais, surgem os Institutos de Educação, que oferecem cur‐

sos de  especialização para professores  em  geral  e de  habilitação  aos 

diretores,  inspetores  e  orientadores  escolares  (administradores  das 

instituições de ensino).  

Embora o  texto  constitucional de  1934  (em  seu  art.  129) garantisse o 

ensino técnico‐profissional ás classes menos favorecidas, a Reforma de 

1942 possibilita o direcionamento desse ensino a  todos os brasileiros. 

Dessa maneira,  é  regulamentado o  ensino  industrial  (1942); o  ensino 

comercial  (1943)  e  o  ensino  técnico  desenvolvem‐se  como  o  ensino 

secundário, em dois  ciclos. Na  tentativa de atender às  reivindicações 

dos educadores, que ressaltam a necessidade de esse instituir o ensino 

universitário no país, é decretado o Estatuto das Universidades Brasi‐

leiras, em 1931.  

Esse estatuto irá possibilitar a criação da primeira Universidade, situa‐

da  em  São  Paulo  (USP  –  1934), modificando  a  estrutura  do  ensino 

superior,  até  então,  caracterizado  por  escolas  superiores  isoladas  de 

caráter marcadamente  profissional. Nos  anos  seguintes  á  criação  da 

Universidade de São Paulo, nasce, no Rio de  Janeiro, a Universidade 

do Distrito Federal. O referido estatuto vigora, com poucas modifica‐

ções, ate 1968, quando é feita a reforma universitária.  

Como  já vimos, a Constituição de 1946 carrega consigo o processo de 

redemocratização que vive o País. Consta nela que a União deve elabo‐

rar um projeto de  lei  sobre as bases  e as diretrizes da  educação. Em 

1947, período em que Vargas não estava no poder, um grupo de inte‐

lectuais, organizado pelo Ministério da Educação, elabora esse projeto 

e,  no  ano  seguinte,    ncaminha‐o,  pelas mãos  do ministro  Clemente 

Mariani, ao Congresso Nacional. O primeiro projeto da LDB é, então, 

arquivado, logo passa por algumas rediscussões, mas só é promulgado 

em 1961. 

Com essa retomada dos principais fatos que envolvem a educação nas 

administrações de Getúlio Vargas, esperamos ter esclarecido a impor‐

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tância desse período para o devir da pedagogia brasileira. É visível que 

Vargas, na  totalidade de  sua gestão,  teve muita habilidade para con‐

quistar os mais diversos setores sociais. Com uma estratégia dialética 

de, ora se utilizar da repressão, ora da cooptação, o governo, de estilo 

paternalista, controla os trabalhadores. 

Esse é o desenho mais típico do populismo que tem em Vargas a maior 

referência em toda história do Brasil. 

A  estrutura  tática  administrativa descrita  acima,  estende‐se  à  educa‐

ção,  pois  o  governo  se  põe  sempre  dúbio,  no  sentido  de  apoiar  em 

alguns momentos as  camadas  conservadoras e, em outros, os  setores 

liberais. A  centralidade burocrática, principalmente, da primeira ges‐

tão getulista, representa um delineamento de regularidade ao sistema 

escolar brasileiro, ou  seja, uma organização mais madura  e ma  certa 

continuidade das ações educativas. A reforma Capanema tem, portan‐

to, como legado essencial, o pioneirismo na natividade de estruturação 

no ensino nacional. 

Podemos afirmar, portanto, que a Era Vargas é o verdadeiro início do 

século XX, no que se refere ao aparecimento dos diferentes projetos de 

sociedade  para  o  Brasil.  Depois  dos  anos  de  1930,  as  organizações 

populares participam mais intensamente da política nacional, o que se 

reflete na educação, pois essa se sistematiza mais definitivamente. 

Ponto final

Neste capítulo, vimos a educação na Era Vargas. Fizemos uma breve 

contextualização de  todo o período e por  fim  falamos sobre a educa‐

ção: como Vargas a tratou durante seus dois mandatos. Com as Consti‐

tuições de 1934, 1937 e 1946, pudemos entender o contexto da educa‐

ção no cenário brasileiro. 

Indicações culturais

Sugerimos a leitura dos capítulos “O populismo Getulista: tentativa de 

interpretação”, “O Estado Novo:uma avaliação” e “A evolução econô‐

mica pós 45”, do livro: LOPES, L. R. História do Brasil Contemporâneo. 6. 

ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1991. 

Sugerimos ainda a leitura dos capítulos “O Estado Novo” e “A quarta 

república”, do livro: 

GHIRARDELLI JR., P. História da educação. São Paulo: Cortez, 2001. 

 

Page 66: História Da Educação

 

 66

Atividades

1) Elabore uma síntese da participação de Getúlio Vargas na Revolu‐

ção de 1930, explicitando em que, exatamente, consistiu essa parti‐

cipação. 

 

2) Contextualize  o  surgimento  do  Estado  Novo  e  suas  principais 

medidas de centralização política. 

 

 

3) Estabeleça os postulados políticos de Getúlio Vargas nas eleições 

de  1951  para  presidente  e  a  intencionalidade  criada  entre  sua 

aproximação com as bases populares e com os  sindicatos de um 

lado, e os esforços de controle sobre a entrada do capital estran‐

geiro ao Brasil, apontando para o desenlace desse conflito. 

 

4) Elabore um texto com o tema: “A educação no período Vargas”. Já 

considerando as leituras sugeridas. 

Page 67: História Da Educação

 

  

8A EDUCAÇÃO NO PERÍODO

DESENVOLVIMENTISTA

Julio Alejandro Quezada Jélvez

João César de Oliveira, em 1902, na cidade de Diamantina, Minas Ge‐

rais, escreve uma carta ao seu primo contando que acabara de nascer o 

futuro presidente do Brasil. Ele  se  referia ao  seu  filho:  Juscelino Ku‐

bitschek de Oliveira. Essa previsão vai se cumprir em 1955, quando JK 

assume a presidência da República e dá início a um acelerado processo 

de desenvolvimento na área econômica, da construção e da aproxima‐

ção  com  a  sociedade  e  ancorou  seu  desenvolvimentismo  no  capital 

estrangeiro. A educação, embora  fosse uma das suas metas, não  teve 

grandes transformações estruturais.  

8.1 O governo de Juscelino Kubitschek

A  gestão de  JK  foi  caracterizada  principalmente  por  um  período de 

grande  desenvolvimento  econômico. O  PIB  brasileiro  cresceu  7%  ao 

ano. Parte desse  sucesso econômico deveu‐se ao Plano de Metas que 

ele estabeleceu como objetivo central do seu governo para transformar 

o  Brasil  em  uma  potência. O  lema  que  representa  todo  esse  esforço 

ficou conhecido como “50 anos em 5”. A intenção era o fortalecimento 

da indústria de bens de consumo duráveis: automóveis e eletrodomés‐

ticos. Todo o desenvolvimento econômico do governo de JK foi basea‐

do no modelo de  industrialização em substituição ao de  importações. 

O modelo econômico e a  industrialização tinham como base o capital 

estrangeiro. 

Os  principais  objetivos  do  Plano  de Metas  estavam  agrupados  em 

cinco setores: energia, transporte, indústria,educação e alimentação. 

As metas não foram atingidas somente na área de educação e alimen‐

tação, o que passou despercebido, porque se deu um grande destaque 

às primeiras metas. Por conta das empresas multinacionais e do capital 

Page 68: História Da Educação

 

 68

estrangeiro,  aumentou  e muito  a dívida  externa  brasileira,  já  que  JK 

tomava constantes empréstimos do exterior. Além disso, houve a que‐

da do preço do café no mercado internacional, produto que ainda era a 

principal fonte de captação de recursos na economia internacional. 

Em 1958, é lançado um plano de estabilização econômica para conter a 

inflação, o que obrigou o governo a  fazer um empréstimo de 300 mi‐

lhões de dólares. O governo dos EUA condicionou esse empréstimo à 

aprovação do Fundo Monetário Internacional (FMI), que estava vincu‐

lado às Nações Unidas. O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) fez opo‐

sição a esse plano proposto por JK. 

Em 1959,  JK rompe com o FMI e demite o diretor do Banco Nacional 

de Desenvolvimento Econômico (BNDE), Roberto Campos, acusado de 

entreguismo e submissão ao capital estrangeiro, mas essa ruptura  foi 

considerada  um  ato  simbólico,  já  que  JK  estava  no  fim do mandato 

político.  

Durante o governo JK, destacaram‐se as seguintes obras: a construção 

de Brasília, a ampliação da indústria automobilística (criação do Fusca) 

e a construção de uma malha rodoviária. 

8.2 O governo de Jânio Quadros

Em 1960, realizam‐se eleições presidenciais, cujo resultado indica Jânio 

Quadros,  apoiado  pela  União  Democrática  Nacional  (UDN),  para 

presidente  e  João  Goulart,  do  PTB,  para  vice‐presidente.  Em  31  de 

janeiro de 1961, Jânio da Silva Quadros assume a presidência do Brasil 

e fica marcado como o primeiro presidente a assumir o poder em Bra‐

sília. As medidas  econômicas  adotadas  por  Jânio Quadros,  especial‐

mente  as de  combate  à  inflação,  não  tiveram  grande  sucesso,  o  que 

provocou uma grande  recessão e um descontentamento generalizado 

da população, especialmente os desempregados e a classe média, que 

viu frustradas as suas expectativas depositadas no novo presidente. 

 Além disso, Jânio Quadros cortou os incentivos para a importação de 

trigo e petróleo, fazendo com que aumentasse o preço desses produtos. 

Tais medidas provocaram uma diminuição da sua popularidade. Para 

encobrir essas dificuldades, passou a tomar medidas de impacto mora‐

lizante, como a proibição de brigas de galo, a limitação das corridas de 

cavalos e uma preocupação com os biquínis usados na época, para que 

eles não deixassem à mostra os seios, o umbigo e os quadris. 

Outros atos que provocaram descontentamento dos setores conserva‐

dores  foram  os  de,  em  plena Guerra  Fria,  dar  uma  condecoração  a 

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69

Ernesto Chê Guevara  e  ao  astronauta  soviético Gagarin. Houve pro‐

nunciamentos violentos por parte dos militares e da Igreja, e acendeu‐

se  uma  cruzada  anticomunista.  Essa  série  de  acontecimentos  levou 

Jânio Quadros, segundo os historiadores, a uma  renúncia estratégica. 

Nesse momento o vice  João Goulart  (Jango) se encontrava em missão 

oficial na China  (a China do comunista Mao Tse‐Tung). Os ministros 

militares  lançaram um manifesto à nação no qual  insistiam na  incon‐

veniência na  tomada de posse de  João Goulart, por  considerá‐lo um 

agitador e comprometido com os interesses comunistas internacionais. 

Houve  então  o  anúncio  do  sistema  parlamentarista  como  forma  de 

impedir a tomada de posse de João Goulart (Tancredo Neves). O par‐

lamentarismo durou até 1963, em  caráter experimental. Para  torná‐lo 

permanente, deveria passar por plebiscito popular., que foi antecipado 

por conta do fracasso do sistema parlamentarista. Resultado do plebis‐

cito: 9 milhões de brasileiros contrários ao parlamentarista e 2 milhões 

favoráveis. 

No dia 13 de março de 1964, com o seu mandato corroborado e legiti‐

mado pelo resultado do plebiscito, Jango realiza um comício de 150 mil 

pessoas na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, e reafirma o seu pro‐

grama político‐econômico chamado Reformas de Base  (agrária,  tribu‐

tária, financeira e administrativa). 

Essas reformas  tinham como objetivo central promover a distribuição 

de  renda  no  Brasil  com  o  corte  das  remessas  do  lucro  da  indústria 

estrangeira e aumentar os  impostos  taxando os  lucros dos mais ricos, 

antecipando a futura reforma urbana. 

8.3 Contramarcha

Essas medidas assustaram a classe média, agitaram a  indústria  inter‐

nacional e as Forças Armadas. O golpe militar começou a ser articula‐

do  na  Escola  Superior  de Guerra,  que  tinha  como  chefe  do  Estado‐

Maior do Exército o marechal Castelo Branco. O apoio cívico veio de 

São Paulo com a marcha da família com Deus e pela liberdade, na qual 

participaram 500 mil pessoas. Pode‐se considerar esse episódio como 

uma resposta conservadora à marcha na Central do Brasil.  

À  época  havia  um  conjunto  de  atores  sociais  que mantinham  uma 

destacada atuação na esfera política e serviam de referência e  interlo‐

cução para o respaldo popular das reformas propostas por João Gou‐

lart. Esses atores sociais eram:  

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 70

Ligas camponesas: trabalhadores rurais, que apoiavam Jango pela 

reforma agrária;  

União Nacional dos Estudantes  (UNE):  apoiava  as propostas de 

transformações sociais e as mudanças na educação;  

Frente Parlamentar Nacionalista: agrupava os apoiadores políticos 

de Jango que passaram a constituir o apoio político e social do go‐

verno em crise. 

Em  31 de março,  o  general Olímpio de Mourão  Filho  comandou  os 

tanques  do  Exército  de Minas Gerais  em  direção  ao Rio  de  Janeiro, 

onde se encontrava o presidente  João Goulart. Os governadores Ade‐

mar de Barros, de São Paulo, Carlos Lacerda, do Rio de Janeiro, e Ma‐

galhães  Pinto, de Minas Gerais,  apoiaram  a movimentação militar  e 

decretaram  a  intervenção  política.  Em  48  horas,  todas  as  unidades 

militares do Brasil passaram a aderir ao golpe militar. 

No âmbito cultural, esse período dos anos 1950 ficou conhecido como 

os anos dourados. Em parte, porque os avanços tecnológicos contribuí‐

ram para destacar, promover e divulgar uma série de atividades soci‐

ais e pela emergência de valores artísticos que colaboraram com pro‐

duções que encontravam ressonância na cultura nacional. Assim, por 

exemplo, na música,  João Gilberto, Tom  Jobim  e Vinícius de Moraes 

criaram  um  estilo musical  denominado  de  Bossa Nova.  Esse  tipo  de 

música  teve grande  apoio de  JK, o que  ajudou  em  sua divulgação  e 

expansão  nacional  e  internacional.  Na  literatura,  foram  publicadas 

duas obras‐primas: Morte e vida severina e Grande sertão: veredas. No 

cinema,  o  filme Rio  40º,  de Nelson  Pereira  dos  Santos,  balizou  uma 

maneira de  fazer cinema que passaria a ser chamada de Cinema Novo, 

cuja expressão mais significativa foi Glauber 

Rocha. Nos esportes, o fato mais marcante ficou por conta do “Mara‐

canazo”, expressão com a qual ficou conhecida a derrota do Brasil para 

o Uruguai na Copa de 1950, muito embora a revanche tenha aconteci‐

do na Suécia, em 1958.  

8.4 A educação nos anos desenvolvimentistas

A primeira lei brasileira sobre diretrizes e bases da educação nacionala 

foi promulgada em 1961, apesar de ter estado no Congresso Nacional 

desde 1948. 

Essa lei define os fins da educação: 

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71

 Art. 1º A educação nacional,  inspirada nos princípios de  liberdade e 

nos ideais de solidariedade humana, tem por fim:  

a) a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, do Estado, 

da família e dos demais grupos que compõem a comunidade; 

b) o respeito à dignidade e às liberdades fundamentais do homem;  

[...] 

Art.  25. O  ensino  primário  tem  por  fim  o  desenvolvimento  do  raciocínio  e  das 

atividades de expressão da criança, e a sua integração no meio físico e social. 

Art. 26. O ensino primário será ministrado, no mínimo, em quatro séries anuais.  

[...] 

Art.  33. A  educação  de  grau médio,  em  prosseguimento  à ministrada na  escola 

primária, destina‐se à formação do adolescente. 

Art. 34. O ensino médio será ministrado em dois ciclos, o ginasial e o colegial, e 

abrangerá,  entre  outros,  os  cursos  secundários,  técnicos  e  de  formação  de 

professôres para o ensino primário e pré‐primário. 

[...] 

Art.  69.  Nos  estabelecimentos  de  ensino  superior  podem  ser  ministrados  os 

seguintes cursos:  

a) de graduação,  abertos  à matrícula de  candidatos  que hajam  concluído  o  ciclo 

colegial ou equivalente, e obtido classificação em concurso de habilitação;  

b)  de  pós‐graduação,  abertos  a matrícula  de  candidatos  que  hajam  concluído  o 

curso de graduação e obtido o respectivo diploma; 

c) de  especialização, aperfeiçoamento  e  extensão, ou quaisquer outros, a  juízo do 

respectivo  instituto de ensino abertos a candidatos com o preparo e os requisitos 

que vierem a ser exigidos. 

Nesse  contexto  educacional,  devemos  destacar  a  atuação  de  Paulo 

Freire,  que  fez  parte  do Movimento  de Cultura  Popular  e  espalhou 

como  experiência  significativa  o  seu  método  de  alfabetização  para 

adultos. Trouxe também ao campo pedagógico a concepção problema‐

tizadora da educação. 

Outra grande discussão  travada na época se referiu à coexistência da 

escola pública e da escola privada. Os  temas centrais diziam respeito 

aos riscos de laicização que as escolas públicas corriam ao ser o Estado 

leigo o responsável pela educação, e não a Igreja, que de várias formas 

Page 72: História Da Educação

 

 72

tinha influenciado o pensamento educacional e a hegemonia das esco‐

las primárias e secundárias. 

Ainda,  outra  questão  de  fundo  dizia  respeito  ao  financiamento  da 

educação. Se o Estado se tornasse o único responsável pelo oferecimen‐

to da educação gratuita, deixaria em situação de precariedade a susten‐

tação das instituições privadas, o que as obrigaria a cobrar pela presta‐

ção desse tipo de serviço, tornando‐as elitistas. 

Ponto final

Os anos de JK foram marcados por um sentimento desenvolvimentista. 

Foram  construídas  novas  estradas,  novas  indústrias  e  até  uma  nova 

capital. Os  custos  do  atrelamento  desse  desenvolvimento  ao  capital 

estrangeiro acirraram as disputas entre, de um lado, as correntes naci‐

onalistas  e  reformistas,  os  sindicatos  e  as  organizações  sociais  e,  de 

outro, os conservadores, aliados do capital estrangeiro, o que conduziu 

às tensões social e política que desembocaram na intervenção militaris‐

ta.  A  educação  adquiriu  alguns  contornos  legais mais  estáveis  que 

definiram as finalidades, as modalidades e as competências do ensino 

no Brasil.  

Indicação cultural

Sugerimos a leitura dos textos da segunda parte, Letra B – A luta pela 

ampliação das oportunidades escolares (950‐ 1990), nº. 1. Introduzindo 

o tema: Brasil Anos Dourados e o nº. 2 – A defesa da escola pública, do 

livro: 

XAVIER, M. E. História da educação. São Paulo: FTD, 1994.  

Atividades

1) Descreva as características principais do período desenvolvimen‐

tista de JK nos seus aspectos econômicos e políticos. 

 

2) Explique as dificuldades que João Goulart encontrou para exercer 

o seu mandato de presidente, apontando os interesses econômicos 

e políticos que justificam essas dificuldades.  

 

 

3) Aponte os argumentos usados na discussão sobre o ensino público 

e o ensino privado travada na década de 1950 no âmbito social e 

educacional. 

 

Page 73: História Da Educação

 

73

 

 

  

9A EDUCAÇÃO NO PERÍODO DA DITADURA MILITAR

Julio Alejandro Quezada Jélvez

Abordaremos neste capítuloUm conjunto de aspectos e circunstâncias 

políticas que foram produzidas para dar condições objetivas à  instau‐

ração do modelo econômico hegemônico naquele período histórico. 

Em  função  das  novas  condições  econômicas  e  políticas  colocadas  à 

educação também passa a ter finalidades especificas que são criadas a 

partir das mudanças operadas nos  aspectos  estruturais, de  funciona‐

mento e de legislação que serão fartamente explicadas a seguir.  

9.1 Aspectos econômicos

A instauração da ditadura militar no Brasil teve como objetivo central 

o de estabelecer as condições políticas e sociais para o desenvolvimen‐

to do  capitalismo  associado  e dependente das grandes  aglomerações 

econômicas. Desde 1964 a 1985 sucederam‐se os governos do Marechal 

Castelo  Branco  (1964‐1967); Marechal Artur  da  Costa  e  Silva  (1967‐

1969); General Emílio Garrastazu Médici  (1969‐1974); general Ernesto 

Geisel (1974‐1979) e o General João Batista Figueiredo (1979‐1985). 

No período de 1964 a 1966, foi elaborado no governo Castelo Branco o 

Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), que, entre outras me‐

didas de cunho monetarista, estabeleceu: 

retomar  o  crescimento  econômico,  em  níveis  de  6%  ao  ano,  aberto  aos 

investimentos externos;  

estimular  as  exportações  e  reduzir  as  importações,  resultando  numa  forte 

desvalorização cambial;  

Page 74: História Da Educação

 

 74

controlar  o  déficit  público,  através  de  reforma  fiscal,  que  na  prática  significou 

elevação da carga tributaria; 

controlar  os  índices  inflacionários,  administrados  através  da  restrição  da 

acessibilidade ao crédito e do arrocho dos salários dos trabalhadores; 

Já o governo do General Costa e Silva (1967 a 1969) encontrou as con‐

dições  da  economia  favorecendo  o  seu  desenvolvimento,  ancorado 

principalmente nas exportações agrícolas e nos manufaturados. Costa 

e Silva, no seu Plano Estratégico de Desenvolvimento  (PED), elencou 

seus objetivos na área:  

acelerar o crescimento econômico, expandindo os mercados interno e externo; 

ampliar as áreas de atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, 

diversificando  seus  programas  de  financiamento  e  agilizar  a  atuação  do  Fundo 

Nacional de Máquinas e Equipamentos (Fename); 

aumentar o volume de crédito e os investimentos públicos. 

Essas medidas, em parte, contribuíram na produção do chamado mila‐

gre econômico, que  consistiu em ajustar os  interesses dominantes do 

grande capital nacional associado ao capital multinacional. Esse perío‐

do é observado entre 1964 e 1974, no qual o Brasil alcançou um cresci‐

mento do PIB que atingiu índices de 11% ao ano, o setor industrial, um 

crescimento médio de  12 %  ao  ano,  e  a  agricultura, um  crescimento 

médio de 5 % a 6% ano, embora tenha sido o setor que teve mais osci‐

lações no seu crescimento. Segundo Ivoni Nor Paz, o “Milagre econô‐

mico  caracterizou‐se por um  intenso  crescimento  econômico  e  rígido 

controle de salários, quando os maiores beneficiados  foram as classes 

media e alta. Período em que surgiam os  ‘templos de consumo’”  (hi‐

permercados).  Instituiu‐se  o  crédito  ao  consumidor,  o  financiamento 

habitacional  (BNH).  Cresceram  os  setores  dominados  por  empresas 

estrangeiras: indústria automobilística, químico‐farmacêutica, têxtil, de 

equipamentos pesados  etc.,  além dos programas  estatais  (siderurgia, 

telecomunicações, combustíveis etc.). 

Já  na  primeira metade  dos  anos  1970,  o  crescimento  econômico  do 

capitalismo mundial começou a dar demonstrações de esgotamento na 

sua  capacidade  de  investimento  e  expansão.  O  milagre  econômico 

brasileiro foi alcançado com base nos investimentos do capital estran‐

geiro e, dada a disponibilidade desses capitais nos Estados Unidos e na 

Europa, o Brasil pegou e se endividou. A dívida externa em 1961 esta‐

va em US$ 2 bilhões e 700 milhões de dólares, 18 anos mais  tarde  já 

atingia os US$ 112 bilhões de dólares. Na segunda metade dos anos 70, 

os banqueiros começaram a passar a conta. Caso o Brasil não cumpris‐

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75

se os seus compromissos de pagamento dos juros da dívida e da dívida 

contraída seria declarada sua insolvência. Como o crescimento econô‐

mico  acelerado  dependia  diretamente  da  capacidade  de  concessão 

desse crédito externo e de insumos e equipamentos industriais básicos, 

iniciada a crise no econômico sistema internacional o Brasil foi enceta‐

do no centro do seu dispositivo de crescimento entra em crise. A infla‐

ção saltou de 15% para 34% em 1874, e os índices do PIB baixaram para 

6%. 

9.2 Aspectos políticos e (i)legais no período da Ditadura Militar

Em 31 de março de 1964, as tropas do exército de Minas Gerais e São 

Paulo  tomam as ruas sob pretexto de evitar uma guerra civil, dada a 

agitação social e a instabilidade política vistas anteriormente. Inicia‐se 

assim a fase conhecida como Ditadura Militar no Brasil. Em 02 de abril 

de 1964, uma junta militar autodenominada de Comando Supremo da 

Revolução,  formada  pelos ministros General Artur  da Costa  e  Silva 

(Exército), tenente‐Brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo (Ae‐

ronáutica)  e  o  Almirante  Augusto  Radewald  (Marinha),  assume  o 

comando político do Brasil. Desde  1964  a  1985,  sucederam‐se os go‐

vernos  do Marechal  Castelo  Branco  (1964‐1967, Marechal  Artur  da 

Costa  e  Silva  (1967‐1969),  General  Emílio  Garrastazu Médici  (1969‐

1974), general Ernesto Geisel  (1974‐1979) e o General  João Batista Fi‐

gueiredo (1979‐1985). 

Em  substituição  à  Constituição  de  1946,  o Marechal  Castelo  Branco 

(1964‐1967), promulgou a Constituição de 1967, elaborada pelo  jurista 

Carlos Medeiros da Silva. Junto com a instituição da Lei de Segurança 

Nacional, fica estabelecido que o presidente da república não será mais 

eleito através do voto direto pelo povo brasileiro, e sim pelo Congresso 

Nacional. Os governadores de Estado passam  a  ser  eleitos pelas As‐

sembléias Legislativas, e os prefeitos das capitais dos estados nomea‐

dos pelo governador. Os partidos políticos já haviam sido extintos pelo 

AI nº. 2/65 e substituídos pela Aliança Renovadora Nacional (Arena) e 

pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). A Arena era o partido 

que apoiava e aprovava incondicionalmente os projetos encaminhados 

pelos governos militares e defendia todos os seus postulados, receben‐

do, em contrapartida, todas as atenções e os suplementos às emendas 

econômicas  e  sociais  que  favoreciam  os  seus  integrantes. No MDB, 

congregavam‐se  todos os partidos de esquerda e  centro‐esquerda, os 

quais faziam a oposição aos encaminhamentos realizados pelos gover‐

nos militares, recebendo toda sorte de perseguição, censura, cassação, 

prisão e expulsão do País. 

Page 76: História Da Educação

 

 76

Um dos  objetivos do Comando  Supremo da Revolução  consistia  em 

desarticular  todas  as  organizações  sociais  que  se  mobilizavam  em 

torno das reformas de base (reforma política, tributária, educacional e 

agrária) que beneficiariam os menos favorecidos, ampliariam as  liber‐

dades  e  a  justiça. As  ações dos militares  consistiram  em  interditar o 

processo de democratização que vinha sendo ampliado e desenvolvido 

pela sociedade brasileira.  

Para alcançar esse objetivo, os sindicatos de trabalhadores foram colo‐

cados sob intervenção; as ligas camponesas nordestinas foram disper‐

sadas;  a  sede  da União Nacional  dos  Estudantes  foi  incendiada  e  a 

UNE  posta  na  ilegalidade;  a  imprensa  e  os meios  de  comunicação 

foram enquadrados em  suas atividades através de departamentos de 

censura;  os militares  que  tinham  sido  leias  ao  governo  democrático 

foram  perseguidos  e  punidos  pelos  seus  colegas  agora  no  poder;  o 

exercício de direitos de representação política, adquiridos em eleições 

livres,  foram  cassados  (João Goulart  ,  Jânio Quadros, Leonel Brizola, 

Brizola, Darcy Ribeiro, Miguel Arraes, Luis Carlos Prestes,  entre ou‐

tros). Ocorreram prisões arbitrárias de militantes políticos  líderes sin‐

dicalistas e de organizações sociais, grupos de esquerda, professores e 

estudantes  e  religiosos. Essas  lideranças nacionais  e  regionais, políti‐

cas,  sociais e  religiosas passaram por  situações de humilhação e  sub‐

metidos a sessões cruéis de tortura e abusos desumanos e degradantes 

(“telefone”,  “pau‐de‐arara”,  “banho  chinês”,  “geladeira”)  e  outras 

tecnologias violentas utilizadas como recursos de interrogatório para a 

obtenção de informações sobre as atividades articulações políticas.  

O respaldo  legal para exercer  toda essa sorte de arbítrios  foi buscado 

primeiramente na própria  justificativa da  intervenção pela  força  que 

Comando Supremo da Revolução  tinha realizado. Os Atos  Institucio‐

nais  (AI)  foram  criados  como  dispositivos  legais  que  justificassem 

(tornassem  justas)  o  conjunto  de  ações  de  intervenção  e  interdição 

orientadas ao controle social e político da sociedade brasileira. Nessa 

racionalidade, os advogados Francisco Campos e Carlos Medeiros da 

Silva redigiram o AI nº. 1, no qual estabeleciam que tanto “a Revolução 

vitoriosa, como o Poder Constituinte, se legitima por si mesma.”a Um 

detalhe  interessante,  Francisco Campos  foi  o mesmo  que  elaborou  a 

Constituição Ditatorial, de recorte  fascista, de 1937. O AI nº. 1 conce‐

deu  ao  Executivo  poderes  para  cassar mandatos  e  suprimir  direitos 

políticos por até dez anos; decretar estado de sítio sem necessidade de 

ser aprovado pelo parlamento do país; obrigar o parlamento a aprovar 

as  emendas  constitucionais  enviadas pelo  executivo,  isto  é, pelo Co‐

mando  Supremo  da  Revolução,  transformando  o  Poder  Legislativo 

                                                                  a BRASIL, 1964. 

Page 77: História Da Educação

 

77

num poder de  fachada democrática, mas na prática servia apenas co‐

mo carimbador dos decretos‐leis indispensáveis à construção da arqui‐

tetura jurídica da ditadura. 

Em 13 de dezembro de 1968 promulga‐se o AI nº. 5, que concede ao 

Executivo poderes políticos sobre os demais poderes. É a concentração 

do poder nas mãos do executivo, beirando a obtenção absoluta desse 

poder por parte dos militares. Baseado no AI.  5, o  executivo poderá 

decretar o  fechamento do congresso; realizar cassação de mandatos e 

intervir  em  estados  e municípios;  suspender  os  direitos  políticos  e 

civis, incluindo o habeas‐corpus; censurar previamente as publicações 

de jornais, revistas, filmes, peças de teatro etc. 

9.3 Educação x Ditadura Militar

O Ministério da Educação e Cultura reorganizou o sistema educacional 

brasileiro a partir dos conceitos trazidos pelos técnicos da AID, pagos 

pelo governo brasileiro.  

Esse  acordo  de  cooperação  se  traduziu  numa  série  de  projetos  que 

foram  sendo  desenvolvidos  entre  o MEC/Usaid/  Contap,  dos  quais 

destacaremos somente alguns: 

Acordo MEC/Usaid  (Ministério da Educação e Cultura – United States Agency 

for International Development) acertado em 26 de junho de 1964, que consistiu na 

contratação de seis assessores americanos por dois anos para o aperfeiçoamento do 

ensino primário.  

Acordo MEC/Contap/Usaid  (Ministério  da  Educação  e  Cultura  –  Conselho  de 

Cooperação  Técnica  da  Aliança  para  o  Progresso/United  States  Agency  for 

International  Development)  acertado  em  31  de  março  de  1965.  Esse  acordo 

consistia na contratação de assessoria  técnica americana para o planejamento do 

ensino médio  com  vistas  à  sua melhoria  e  contemplava  treinamento  de  técnicos 

brasileiros nos Estados Unidos. 

Acordo MA/Contap/Usaid (Ministério da Agricultura – Conselho de Cooperação 

Técnica  da Aliança  para  o Progresso  – United States Agency  for  International 

Development)  feito  em  05  de  maio  de  1966  que  tinha  como  objetivo  treinar 

técnicos rurais. 

Acordo MA/Contap/Usaid (Ministério da Agricultura – Conselho de Cooperação 

técnica  da Aliança  para  o  Progresso  – United  States Agency  for  International 

Development), de 24 de  junho de 1966. Com  esse  acordo,  o governo  contratava 

assessoria americana para a expansão e o aperfeiçoamento do quadro de professores 

de  ensino médio  no  Brasil  e  o  treinamento  de  técnicos  brasileiros  nos  estados 

Unidos.  Esse  acordo  contemplava,  ainda,  a  elaboração  de  uma  proposta  para 

reformular as faculdades de Filosofia no Brasil. 

Page 78: História Da Educação

 

 78

Acordo  MEC//Inep/Contap/Usaid  (Ministério  da  Agricultura  –  Instituto 

Nacional de Educação Pública – Conselho de Cooperação Técnica da Aliança para 

o  Progresso  – United  States Agency  for  International Development),  de  30  de 

junho  de  1966,  contratava  assessoria  americana  e  treinamento  de  técnicos  e 

professores  brasileiros  e  visava  ao  aperfeiçoamento  do  ensino  primário  com  o 

objetivo  de  elaborar  planos  para  estabelecer  um  entrosamento  entre  a  educação 

primária com a secundária e superior. 

Acordo  MEC/SNEL/Usaid  (Ministério  da  Educação  e  Cultura  –  Sindicato 

Nacional  dos  Editores  de  Livros  –  United  States  Agency  for  International 

Development),  de  6  de  janeiro  de  1967.  Esse  acordo  de  cooperação  delimitou 

responsabilidades  e  competências  legais  às  instituições  cooperantes  para 

publicações técnicas, científicas e educacionais que colocariam 51 milhões de livros 

nas escolas, no prazo de 03 anos, a partir de 1967. As respectivas das competências 

ficaram assim distribuídas: os técnicos da Usaid ficaram com todo o controle sobre 

a  produção  dos  livros  –  desde  os  detalhes  técnicos  de  fabricação  do  livro  até  a 

ilustração, editoração, distribuição e sobre a orientação quanto à compra de direitos 

autorais de editores não‐brasileiros (ou seja, americanos). 

Acordo MEC/Usaid  (Ministério da Educação e Cultura – United States Agency 

for International Development), de 30 de junho de 1966, consistiu na contratação 

de assessoria técnica e de técnicos da Usaid para a modernização da administração 

universitária. 

Apontamos alguns, entre outros, dos acordos de cooperação realizados 

entre o MEC e a Usaid e explicamos, brevemente, o conteúdo de cada 

um deles para evidenciar que, a partir de  junho de 1964, o sistema de 

ensino brasileiro, em todos os seus níveis e modalidades, foi objeto de 

transformações e mudanças tendo como referência os aspectos concei‐

tuais, metodológicos  e  administrativos das  tecnologias    educacionais 

trazidas pelos técnicos da Usaid ou pelos técnicos e professores brasi‐

leiros na volta ao Brasil após o treinamento nos Estados Unidos. Vale 

dizer que o ensino primário, secundário, universitário, técnico e agríco‐

la foi editado e formatado pelas tecnologias educacionais trazidas pela 

Usaid e aplicadas pelos seus técnicos, bem como a elaboração, a publi‐

cação  e  a  distribuição  dos  livros  didáticos.  Esses  vinham  com  seus 

respectivos  procedimentos,  tais  como  estudos  dirigidos,  reforços  de 

aprendizagem, preenchimento de  lacunas,  relação  entre  colunas  com 

informações fragmentadas etc. 

Foram  excluídos  dessas  tecnologias  educacionais  os  procedimentos 

metodológicos e didáticos que favorecem a reflexão crítica e a constru‐

ção do conhecimento que fosse fruto de situações de pesquisa sobre a 

realidade  circundante  e  grupalmente  produzida. Não  é mera  coinci‐

dência que o pedagogo Paulo Freire naquele período tenha sido preso 

e, posteriormente, expulso do Brasil e exilado no Chile. 

Page 79: História Da Educação

 

79

A  partir  dos  produtos  desses  acordos de  cooperação  será  elaborado 

um  conjunto  de  leis,  objetivando  estabelecer  o  caráter  legal  dessas 

mudanças e  transformações, conhecido mais  tarde como “estrutura e 

funcionamento do ensino”.  

Na seção que segue, estudaremos algumas dessas leis e decretos e atos 

normativos. 

 A Lei nº 5.540/68 tratou da reforma do ensino superior. Para elaborar 

essa  reforma,  formou‐se  uma  comissão  de  cinco  americanos  e  dois 

brasileiros,  dentro  do  acordo  de  cooperação MEC/USaid,  que  traba‐

lhou durante dois anos, mas não divulgou os resultados dos seus estu‐

dos  nem  das  recomendações  sugeridas  para  as  reformas  do  ensino 

universitário. O Marechal Artur da Costa  e  Silva  nomeou, mediante 

decreto, um grupo de trabalho de dez componentes, que no prazo de 

um mês  deveriam  apresentar  um  projeto‐de‐lei  sobre  a  reforma  do 

ensino  superior. A  comissão  demorou  pouco mais  de  um mês,  e  o 

projeto  foi  aprovado  rapidamente pela Câmara  e pelo Senado. A  re‐

forma sugerida e aprovada teve como referência o modelo universitá‐

rio americano. Alguns aspectos dessa reforma foram:  

determinar dois níveis para a pós‐graduação, mestrado  e doutorado; 

adotar o sistema de créditos, isto é, matrícula por disciplina; 

dissolver as cátedras e introduzir a modalidade de departamentalização (art. 33 § 

1º; art. 11), os cursos de pequena duração, 2 anos, a licenciatura de 4 anos e a pós‐

graduação de 2 a 4 anos (art. 23, § 1º), além da obrigatoriedade de freqüência do 

ensino para professores e alunos (art.19); 

introduzir o vestibular unificado e classificatório. 

A  institucionalização do Mobral  sob o decreto nº 5.379/67. Com  essa  

lei se pretendia realizar uma alfabetização funcional de  jovens e adul‐

tos. Embora promulgada  em 1967, a  lei  começou a  funcionar apenas 

em 1970 quando foi arranjada uma fórmula que lhe desse sustentação 

para o seu funcionamento. A fórmula para o financiamento do Mobral 

foi a seguinte: 

6,75% da receita líquida da loteria esportiva;   

1% de deduções voluntárias do Imposto de Renda devido pelas pessoas jurídicas.  

O Mobral foi organizado em quatro níveis de organização  administra‐

tivos: 1° Nível – Mobral Central; 2° Nível – Coordenações Regionais; 3º 

Nível  –  Coordenações  Estaduais;  4º  Nível  –  Comissões Municipais. 

Contemplava, ainda, as gerências pedagógicas, de mobilização comu‐

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nitária, de  assuntos  financeiros,  atividades de  apoio  e  assessorias de 

supervisão, planejamento e métodos. 

A Lei nº 5.962/71 tratou da reforma do ensino de 1º e 2º graus. Seme‐

lhante  aos  procedimentos  que  levaram  à  formulação  da  reforma  do 

ensino  superior,  o  ministro  da  Educação  do  governo  do  Marechal 

Artur  da Costa  Silva,  em  1969,  nomeou  um  grupo  de  trabalho  com 

trinta  e  dois  participantes  que  passou  para  dez membros  após  uma 

crise  interna. Com  a  chegada  de  Jarbas  Passarinho  ao Ministério  da 

Educação e Cultura, o grupo dos dez recebeu a missão de apresentar 

um projeto‐de‐lei que atualizasse e expan disse a lei de ensino de 1º e 

2º graus, no prazo de 60 dias. 

Veremos a seguir alguns dos pontos  relevantes da  lei, que veio a ser 

aprovada em agosto de 1972: 

extensão  do  ensino  primário  obrigatório  de  4  para  8  anos  (art.  8)  gratuito  em 

escolas públicas (art.20) e ensino médio para 3 anos; 

definição  de  um  núcleo  comum  de  matérias  obrigatórias  em  todo  o  território 

nacional e um  leque de matérias optativas de escolha dos alunos  (definidas pelas 

escolas); 

profissionalização  do  ensino  médio,  possibilitando  que  a  qualificação  para  o 

trabalho  se  torne  uma  meta  e  não  apenas  um  ramo  da  escolaridade,  com  o 

declarado  objetivo  de  beneficiar  a  economia  nacional,  propiciando  um  fluxo 

contínuo  de  profissionais  qualificados,  preparando  em  número  suficiente  e  em 

espécie necessária o quadro de recursos humanos de nível intermediário. 

Com esse objetivo, a Lei nº 5.962 traz a tentativa de resolver dois pro‐

blemas que tencionavam a discussão educacional, de um lado, a fazer 

com que os alunos que egressam do ensino médio entrem no mercado 

de trabalho com qualificação técnica, num mundo laboral que deman‐

da essa preparação para a absorção pelo mercado, e do outro  lado, o 

ensino  superior deixa de  ser pressionado por  expansão. Reprisando, 

com  essas  estratégias  de  contenção  do  acesso  ao  ensino  superior,  a 

histórica medida de reservá‐lo a uma minoria de estudantes, não casu‐

almente advindos das classes media e alta da sociedade brasileira. 

O Decreto‐Lei nº 71.737 sobre a  institucionalização do ensino spletivo 

contemplado na Lei nº 5.692 § 81; 5.692 § 91; 5.692 § 99. O ensino suple‐

tivo estava abordado na Lei nº 5.692/71, sobre o ensino de 1º e 2º graus, 

cujas finalidades principais são: 

suprir  a  escolarização  regular  para  os  adolescentes  e  adultos  que  não  tenham 

seguido ou concluído na idade própria; 

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proporcionar,  mediante  repetida  volta  à  escola,  estudos  de  aperfeiçoamento  ou 

atualização para os que tenham seguido o ensino regular no todo ou em parte. 

 

Curiosamente, não foi regulamentado o ensino supletivo, ficando para 

o Estado apenas o direito de aplicar os exames finais e expedir os di‐

plomas. Dessa maneira, abriram‐se as portas para que o setor privado 

assumisse essa “fatia de mercado” para preparar os jovens e os adultos 

para  os  exames  aplicados  pelas  Secretarias  Estaduais  de  Educação. 

Elogiável, senão  irônica,  foi a expressão do relator perante o MEC ao 

referir‐se ensino supletivo: essa modalidade de ensino não haveria de 

ser um “ensino regular de segunda classe”. 

Ponto final

Neste capítulo, observamos as diversas medidas políticas propiciadas 

pelos  governos militares,  objetivando mudar  os  rumos  que  vinham 

sendo construídos no início dos anos 1960 por vários atores sociais de 

caráter nacionalista e de ampliação da participação social na definição 

dos  rumos da  economia  nacional. O modelo  econômico  identificado 

como “milagre brasileiro” altera esses rumos e estabelece novas bases 

para a atividade produtiva no Brasil. A educação não fica de fora des‐

sas mudanças e é objeto de alterações conceituais e estruturais  como 

foi abordado anteriormente. 

Indicações culturais

Sugere‐se a leitura do livro: 

VIEIRA, E. República Brasileira: 1964 – 1984. São Paulo: Moderna, 1985. 

Nesse  livro,  o  autor  faz  uma  exposição  sobre  a República  Brasileira 

durante o período militar e descreve a arquitetura econômica e política 

desse período com concisão e  lucidez. É um  livro  indispensável para 

balizar a introdução a esse tema nos cursos de graduação. 

Sugere‐se também a leitura de capítulos de um clássico sobre a educa‐

ção no período militar de 1964 a 1984, citados em trabalhos sobre esse 

tema e de circulação freqüente nas universidades do País nos cursos de 

graduação e pós‐graduação nas áreas de educação e de serviço social. 

FREITAG, B. Escola, Estado e Sociedade. São Paulo: Moraes 1980, Capítulo – A Política Educacional de 1964 – 

1975. 

Atividades

Page 82: História Da Educação

 

 82

1) Identifique as principais medidas políticas definidas pelos gover‐

nos militares que resultaram na centralização e controle dos pode‐

res  legislativo  e  judiciário  por  parte  do  executivo  e  destacar  as 

medidas  econômicas  que  resultaram  na  internacionalização  das 

atividades produtivas brasileiras e o seu atrelamento ao capital e à 

tecnologia estrangeiros. 

 

2) Cite reformas educacionais operadas pela Lei de Diretrizes e Bases 

da Educação Nacional nº. 5692/71, explicando em que consistiram 

essas mudanças.  

 

 

3) Elabore  um  texto  sobre  “A Educação  no Brasil  nos  anos  1960  – 

mudanças na  legislação como dispositivo de disciplinamento dos 

corpos e esvaziamento das mentes”. 

 

Page 83: História Da Educação

  

10A EDUCAÇÃO NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

Julio Alejandro Quezada Jélvez

No presente capítulo, trataremos da transição política pela qual passou 

o Brasil no período de redemocratização após o regime militar. Emba‐

lados por esse contexto, veremos o processo que sustentou a elabora‐

ção da Constituição de 1988 e as características desta no que se refere à 

educação. Faremos,  também, uma breve  reflexão acerca das políticas 

neoliberais que marcaram esse período no Brasil. Logo, examinaremos 

mais detidamente a  legislação educacional brasileira e, ainda,  iremos 

enfocar  um  dos  principais  debates  contemporâneos  no  contexto  do 

ensino superior, que é a  implantação de ações afirmativas  relativas à 

adoção de cotas sociais étnicas. 

Em  1984,  políticos  de  partidos  distintos,  intelectuais,  movimentos 

operários, estudantes e milhões de brasileiros participaram do movi‐

mento  intitulado Diretas  Já. O movimento  desejava  a  aprovação  da 

Emenda Dante de Oliveira, que previa eleições diretas para presidente 

naquele ano. 

O projeto, porém, não passou na Câmara dos Deputados, para decep‐

ção de grande parte da população. No ano seguinte, por via de eleição 

indireta,  o Colégio Eleitoral  elege Tancredo Neves  (representante de 

uma ampla aliança que abrangia o PMDB e a Frente Liberal) para pre‐

sidente do Brasil, derrotando Paulo Maluf. 

Por problemas de saúde, Tancredo nem chegou a tomar posse e, então, 

seu  vice,  José  Sarney,  assumiu  a presidência  no dia  15 de março de 

1985. Com a morte de Tancredo, semanas depois, Sarney, que advinha 

de uma coligação necessária para a vitória de Tancredo, foi confirmado 

como  real presidente da Nação. Então, por  ironia,  após uma  grande 

luta popular por mudanças sociais e democracia, o primeiro presidente 

civil pós‐ditadura é um ex‐deputado da UDN (partido que protagoni‐

zou o golpe de 1964), ex‐integrante da Arena e do PDS  (partidos que 

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sustentaram a ditadura); inclusive, em 1984, Sarney havia votado con‐

tra a emenda que implantaria as eleições diretas.  

Portanto, essa mudança política de gestão não significou uma mudan‐

ça política de projeto de sociedade para o País. Esse novo governo era 

composto por várias  frentes  ideológicas, que contemplava desde con‐

servadores, ligados ao latifúndio e ao capital monopolista, até políticos 

de centro esquerda, que são reconhecidos pela  luta contra o autorita‐

rismo do regime militar. 

Frente a  essa  configuração, por um  lado, o novo governo  adotou al‐

gumas  ações  que  agradaram,  timidamente,  os  setores  populares. As 

principais medidas foram o término da censura, o financiamento para 

compra da  casa própria para  a  classe média  e o  aumento do  salário 

mínimo. Por outro  lado, houve  a garantia de privilégios  e  interesses 

das oligarquias que permaneciam na estrutura estatal, o que se deu por 

meio de  velhas  práticas  políticas  conservadoras  que  se  fazem muito 

vivas no Brasil. 

Em uma interessante descrição sobre a conjuntura política e econômica 

desse período, Aquino nos diz que a ambiguidade caracterizou o go‐

verno de José Sarney, uma vez que se situou entre medidas progressis‐

tas e conservadoras. De um lado, com o Plano Cruzado, buscou redu‐

zir  a  inflação,  que  infligia  grande  sofrimento  à  população  de  baixa 

renda; de outro, mostrou‐se muito  ineficaz no  tocante ao boicote das 

elites ao Plano, quando estas procuraram provocar a escassez de pro‐

dutos no mercado com o objetivo de  forçar o aumento dos preços. O 

resultado era o aumento da  inflação na prática, a corroer os  salários, 

contrariando  as  estimativas  oficiais.  A  inoperância  do  governo  na 

imputação  de  penalidades  a  essas  elites  constituiu‐se  em  incentivo 

ainda maior à continuidade dessa ação.a  

Assim, as camadas conservadoras passaram a ocupar mais espaço no 

governo  federal, além de chegarem com grande  força política às elei‐

ções estaduais e à Constituinte, que ocorreu em 1986. O resultado das 

eleições  confirmou a vitória do  conservadorismo de um modo geral; 

entretanto, nas atividades constituintes, que tiveram início em feverei‐

ro de  1987,  fez‐se presente um  grande  grupo de políticos de  centro, 

ligados  a  alguns  setores  progressistas,  liderados  pelo  presidente  da 

Constituinte, Ulysses Guimarães.  

Então, em cinco de outubro de 1988, é promulgada a Constituição da 

República  Federativa  do  Brasil,  que  afirma  o  país  como  um  Estado 

                                                                  a AQUINO, 2000. 

Page 85: História Da Educação

 

85

democrático de direito. Essa constituição é considerada bastante com‐

pleta  por  vários  especialistas  e  analistas  internacionais,  tanto  que, 

devido aos avanços na área social e política que ela carrega, é chama‐

da, em um discurso  feito por Ulysses Guimarães, de Constituição Ci‐

dadã. 

Entretanto,  é  importante  frisar  que,  em  algumas dimensões,  a Carta 

Magna segue atendendo aos interesses das classes dominantes do País, 

na medida em que obstrui certas mudanças estruturais que poderiam 

ser feitas. Isso se refere, principalmente, à legislação que trata da pro‐

priedade privada da terra. 

No que se refere à educação, são incorporados à Constituição de 1988b 

os objetivos relativos ao primeiro e ao segundo graus presentes na Lei 

de Diretrizes e Bases (LDB) de 1971c (revogada pela Lei nº 9.394, de 20 

de dezembro de 1996). Além disso, quanto ao  texto que  trata dos as‐

pectos gerais e conceituais da educação, do art. 205 ao 214, é notável o 

avanço  em  relação  às  outras  constituições.  Destacamos  aqui  alguns 

pontos relevantes da nova Constituição: 

valorização dos profissionais da educação, com planos de carreira para o magistério 

público; 

determinação  do  ensino  fundamental  obrigatório  e  gratuito  e  da  extensão  da 

obrigatoriedade e da gratuidade ao ensino médio; 

distribuição  dos  recursos  públicos,  assegurando  prioridade  ao  atendimento  das 

necessidades do ensino obrigatório; 

afirmação dos deveres do Estado para com a educação, incluindo o atendimento em 

creche e pré‐escola para crianças de zero a seis anos; 

oferta de ensino noturno regular, para se ajustar às condições de vida do educando. 

Esses  são  alguns  dos  vários  pontos  que  demonstram  os  avanços  da 

nova Constituição, e é a partir desse  texto que  se constitui a LDB de 

1996, da qual iremos tratar mais adiante. 

No  final da década de  1980  e  primeira metade da de  1990,  o Brasil 

passa  por  algumas  situações  significativas,  como  as  eleições  diretas 

para  presidente  e  a  eleição  de  Fernando Collor  de Mello,  que mais 

tarde sofre o impeachment. Esse fato, bem como a troca da moeda e de 

governos  aprofundam  o projeto de políticas  neoliberais  em  todas  as 

esferas do poder público. Pelo  fato de  nosso país  viver  esse  tipo de 

                                                                  b BRASIL, 1988. c BRASIL, 1971. 

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gestão  e  ser palco para  experiências do grande  capital, na  sua busca 

insaciável pelo lucro, faz‐se necessário analisarmos um pouco melhor o 

conceito de neoliberalismo.  

Podemos afirmar que o neoliberalismo é o conjunto de idéias econômi‐

cas  e  políticas  que,  retomando  os  antigos  conceitos  do  liberalismo 

clássico,  propõe  a mínima  participação  do  Estado  na  economia  e  a 

constituição de um livre mercado, baseado na iniciativa privada como 

condição para o desenvolvimento econômico e social de uma nação.  

Apesar de ter, no liberalismo clássico, a fonte conceitual de seu conte‐

údo, o neoliberalismo representa um retrocesso muito grande no que 

tange aos aspectos sociais, pois, enquanto o liberalismo, em sua gênese, 

procurou pensar em diretos do ser humano como cidadão, a concepção 

neoliberal  preocupa‐se muito mais  com  os  direitos  do  sujeito  como 

consumidor  e  não  trata  dos  valores  públicos  e  democráticos,  já  que 

nega a presença do Estado  como  responsável pela garantia de  certos 

direitos. 

As principais características desse modelo de gestão são a abertura da 

economia para a entrada de multinacionais, a criação de um mercado o 

mais competitivo possível e a adoção de uma política de privatizações 

de órgãos e  instituições públicas. Essa doutrina  representa, em nosso 

tempo, uma espécie de rearranjo do modo de produção capitalista, no 

sentido de buscar alternativas não só para ter um maior controle social 

e ideológico, mas também para multiplicar as fontes de lucro das elites 

nacionais  e  internacionais. É nas democracias  contemporâneas que o 

neoliberalismo ganha suas facetas mais diversas, sendo que, em algu‐

mas  nações,  podemos  perceber  uma  tendência mais  conservadora  e, 

em outras, um trabalhismo mais avançado. 

As medidas neoliberais implantadas desde a década de 1970, na Amé‐

rica Latina, nas áreas econômicas e políticas refletem‐se nas mais vari‐

adas esferas da vida social. Os valores de uma sociedade, como sabe‐

mos,  constituem‐se através de  suas  condições materiais de vida e de 

como produz e se organiza  tal sociedade. Logo,  tais medidas chegam 

até  a  questão  cultural,  principalmente  a  educação.  A macropolítica 

adotada por um país orienta e influencia as ações concretas realizadas 

de maneira específica e regionalizada.  

O ensino público, por ser afetado direta ou indiretamente em todas as 

suas  etapas,  acompanha  as modificações  que  as  políticas  neoliberais 

vão promovendo. Portanto, já podemos caracterizar alguns conceitos e 

medidas  que  representam  essas políticas no  campo  educacional.  São 

eles:  produtividade,  competitividade,  qualidade  total,  abertura  do 

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ensino  superior para a  iniciativa privada, ampliação de uma aborda‐

gem utilitária de pesquisa  científica,  entre  outros. Com  essa  aborda‐

gem, a educação, gradativamente, deixa de  fazer parte de um espaço 

público como um direito e ingressa na esfera do mercado e dos servi‐

ços.  

Esse breve esclarecimento, de forma alguma, encerra a  discussão acer‐

ca do  tema, muito menos pretende  explicar, de modo  totalizante,  as 

políticas  implementadas  em  nosso  país  durante  o  período  do  qual 

estamos  tratando.  Pelo  contrário,  ao  trazermos  essas  idéias  gerais, 

pensamos em dar início a um debate bem mais amplo, tendo em vista 

a complexidade e a densidade do tema, assim como a vasta bibliogra‐

fia que dele  trata. Sugerimos a  consulta a alguns autores que desen‐

volvem estudos nessa área: Pablo Gentili, Octávio Ianni, Michel Apple, 

Mariano Fernández Enguita, entre outros. 

Como mencionado,  trataremos  agora do  fato  jurídico mais  relevante 

para a educação na década de 1990, a nova LDB4 

, de 20 de dezembro de 1996. Nosso exercício será o de   comentar al‐

guns pontos da lei que acreditamos serem fundamentais para conhecer 

e entender a legislação que estabelece os princípios e os parâmetros da 

educação brasileira.  

Em seu primeiro artigo, a LDB afirma que a educação ocorre em todos 

os espaços sociais e culturais e que a educação escolar deve estar ciente 

dessa  concepção,  bem  como  vinculada  ao mundo  do  trabalho  e  da 

prática  social. No art. 4º,  fica claro que o Estado é o  responsável por 

garantir, além do ensino  fundamental obrigatório e gratuito, a  contí‐

nua extensão da obrigatoriedade e da gratuidade do ensino médio. 

É no título V da lei que se começa a tratar dos níveis e das modalida‐

des de educação e ensino de maneira mais detalhada. Nos arts. 22 e 23, 

ao se  tratar das disposições gerais da educação básica, vemos que os 

objetivos desse nível de ensino são preparar o educando para o exercí‐

cio da cidadania e dar‐lhe meios para progredir em  suas atividade e 

estudos  posteriores. Consta  a  flexibilidade  da  lei  no  que  se  refere  à 

organização da estrutura da educação básica, que pode ser por séries, 

períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos 

ou outras formas diversas que atendam às necessidades de aprendiza‐

gem.  

Ainda  sobre a educação básica, encontramos, no art.24, as  regras  co‐

muns desse nível de ensino, a regulamentação da carga horária míni‐

ma anual de oitocentas horas e a obrigatoriedade de essas horas serem 

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distribuídas, em, no mínimo, duzentos dias letivos, sem contar os dias 

de provas  finais, quando estes existirem. Sobre os critérios estabeleci‐

dos  para  avaliação  dos  alunos,  vemos  que  esta  deve  ser  contínua  e 

acompanhar o desenvolvimento do educando, privilegiando os aspec‐

tos qualitativos em detrimento dos quantitativos. 

Já no art. 26 da LDB, consta que os currículos da educação básica de‐

vem ser compostos por uma base nacional comum, mas que cada esco‐

la ou rede deve complementá‐lo,  levando em conta as peculiaridades 

econômicas,  sociais,  culturais da  região  e  localidade dos  alunos. Em 

seu parágrafo 4º, o presente artigo ainda prevê que, ao se  trabalhar a 

História do Brasil, deve‐se levar em conta a formação do povo brasilei‐

ro,  totalmente  permeada  por  diferentes  culturas  e  etnias,  devendo, 

portanto,  as  culturas  indígenas,  africanas  e  européias  ser  parte  do 

ensino de História. 

A primeira etapa da educação básica é a educação infantil, e é dela que 

trata o art. 29, que afirma o desenvolvimento  integral da  criança  em 

todos os seus aspectos como grande finalidade dessa educação. No art. 

30, há a garantia de que a educação infantil será oferecida, em creches 

ou  entidades  equivalentes, para  crianças de  até  três  anos  e, nas pré‐

escolas, para as de quatro a seis anos. 

No ensino fundamental, como podemos perceber no art. 32, deve ocor‐

rer a formação básica do cidadão, que deve ter uma noção geral acerca 

do seu ambiente social e natural, dos valores da sociedade, da organi‐

zação política, da  tecnologia e das artes.  Já o ensino médio  tem como 

finalidades básicas, como consta no art. 35, habilitar os indivíduos para 

a cidadania e para o trabalho, fazer com que eles se adaptem com fle‐

xibilidade às condições que virão e, ainda, desenvolver a compreensão 

científico‐tecnológica dos processos produtivos ao relacionar, constan‐

temente, a teoria com a prática.  

Dos dispositivos relativos à educação profissional, destaca‐se, nos arts. 

39  e  40,  a  necessidade da  integração da  educação  com  o  trabalho,  a 

ciência e a tecnologia para que se desenvolva a capacidade para a vida 

produtiva. Ainda é afirmado que a educação profissional deve se dar 

em articulação com o ensino regular ou por distintas maneiras de edu‐

cação continuada no trabalho ou em instituições especializadas. 

Sobre o ensino superior, temos, no art. 43, os principais objetivos desse 

nível, que se resumem a formar diplomados nas mais diversas esferas 

do conhecimento, preparados para se inserir na área profissional e na 

sociedade  como  um  todo,  a  fim  de  qualificá‐la.  Outra  finalidade  é 

promover o trabalho de pesquisa científica, no intuito de desenvolver a 

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tecnologia e de construir e difundir a cultura. No art. 44, consta que a 

educação  superior  é  composta  por  cursos  e  programas  de  pós‐

graduação  que  abrangem  especialização,  mestrado  e  doutorado  e, 

ainda,  cursos de extensão disponíveis a  candidatos que atendam aos 

requisitos exigidos em cada caso pelas instituições de ensino. 

É  evidente  que,  se  fizermos  uma  análise  crítica,  relacionando  o  que 

prevê a legislação e o que ocorre nas mais variadas práticas de ensino, 

teremos  que  nos  aprofundar  no  grande  hiato  que  existe  entre  essas 

duas dimensões. 

Entretanto, o nosso objetivo, com esses últimos parágrafos sobre a LDB 

(9.394/96), é trazer a lei tal como ela é, já que, apesar das regulamenta‐

ções posteriores, essa é a  legislação vigente sobre educação em nosso 

país. 

Na esteira dessa análise contemporânea sobre o ensino e suas dimen‐

sões, trataremos de um tema que vem provocando um acalorado deba‐

te nas universidades e no conjunto da sociedade que é a implantação, 

por parte de algumas instituições de ensino superior, de ações afirma‐

tivas relativas à adoção de cotas para negros. Apresentaremos as idéias 

mais relevantes, de maneira bem sucinta, dos grupos que são contrá‐

rios a essas ações e dos que são favoráveis a elas.  

Primeiramente, vamos destacar a visão daqueles que não concordam 

com a implantação das cotas nas universidades. O principal argumen‐

to desses grupos é que as cotas agridem o princípio da  igualdade, tal 

como definido no art. 5º da Constituição, pelo qual “todos são  iguais 

perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”; argumentam, tam‐

bém, que as cotas rechaçam o princípio do mérito acadêmico e que as 

cotas  constituem uma medida  inócua, porque o grande  e verdadeiro 

problema é a pífia qualidade do ensino público no País. 

Afirmam  ainda  que  as  cotas  não  podem  incluir  critérios  raciais  ou 

étnicos devido ao alto grau de miscigenação da sociedade brasileira e 

que estas favorecem somente aos negros e discriminam ainda mais os 

brancos  das  camadas  pobres. Um  argumento  dos  poucos  setores  de 

centro esquerda que são contrários às cotas é que elas desarticulam as 

reivindicações unitárias e gerais dos movimentos populares, permitin‐

do, assim, que os recursos públicos não sejam  investidos nas necessi‐

dades da população, e sim cooptados pela iniciativa privada. 

Já  os  defensores  dessa  ação  afirmativa  alegam,  em  resposta  a  essas 

questões  colocadas  anteriormente,  que  o  sistema de  cotas não  fere  a 

Constituição, porque  a  igualdade  à  qual  se  refere  o  art.  5º  é  formal, 

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enquanto  a  igualdade de  fato  é  tão‐somente um  alvo  a  ser  atingido, 

devendo  ser  promovida,  garantindo  a  igualdade  de  oportunidades, 

como manda o art. 3º da mesma Constituição Federal. Sobre o mérito 

acadêmico,  esse  grupo  acredita  que  o  vestibular  está distante de  ser 

uma prova equânime, que classifique os candidatos segundo sua inte‐

ligência,  pois  é  uma  avaliação  objetiva  contaminada  pela  profunda 

desigualdade social existente. 

Em relação à necessidade de se priorizar o ensino básico, os pró‐cotas 

alegam que é um grande erro pensar que, no campo das políticas pú‐

blicas democráticas, os avanços  se produzem por etapas  seqüenciais: 

primeiro se melhora a educação básica e depois se democratiza a uni‐

versidade.  

Ambos  os desafios  são  urgentes  e  precisam  ser  assumidos,  enfatica‐

mente, de maneira concomitante. 

Quanto  ao grau de miscigenação dos brasileiros,  coloca‐se que,  real‐

mente, ele existe, porém é extremamente retórico, pois, no cotidiano, as 

pessoas são discriminadas pela sua cor, sua condição social, sua opção 

sexual,  e  é  somente  na  hora  de  se  pensar  políticas  de  afirmação  de 

direitos que a  cor e os outros  itens  se diluem. Além disso, no Brasil, 

quase a metade da população é negra e grande parte dela é pobre e 

discriminada, o que não seria uma mera coincidência. Por fim, enfati‐

zam que as cotas, além de  terem o  recorte étnico, em quase  todos os 

seus projetos abraçam a questão social, pois reservam vagas para alu‐

nos oriundos de escola pública.  

A primeira universidade brasileira a estabelecer a política de cotas foi a 

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em 2002, que estabe‐

leceu cotas para estudantes egressos de escolas públicas e para negros. 

Já a primeira  instituição  federal  foi a Universidade de Brasília  (UnB), 

que, em 6 de junho de 2003, quando o Conselho de Ensino, Pesquisa e 

Extensão  (Cepe)  aprovou  o  projeto,  reservou  20%  de  suas  vagas  a 

estudantes autodeclarados negros ou pardos.  

Hoje  várias  universidades  públicas  implantaram  o  sistema  de  cotas, 

entre as quais destacamos, as seguintes:  

Universidade Federal de Alagoas  (UFAL), Universidade Estadual da 

Bahia  (UNEB), Universidade Federal de São Paulo  (Unifesp), Univer‐

sidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Universidade Estadu‐

al  do  Norte  Fluminense  (UENF),  Universidade  Federal  do  Paraná 

(UFPR) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul  (UFRGS). Esse 

debate  nacional  sobre  as  cotas  está mais  presente do  que  nunca  em 

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nossos dias e é papel do educador estar a par de temáticas como essa, 

porque elas refletem os problemas e os valores que constituem a socie‐

dade na qual estamos inseridos. 

Ponto final

Neste capítulo,  foram contextualizados os cenários sociais, políticos e 

econômicos que propiciaram a transição do regime autoritário e milita‐

rista para o Estado Democrático de Direito definido pela Constituição 

Cidadã  de  1988. No  lastro  dessa  Constituição,  foi  elaborada  a  LDB 

9.394/96,  que  retoma  alguns  aspectos  das  constituições  anteriores, 

porém  detalha  as  novas  finalidades  e  a  estrutura  organizacional  da 

educação no País.  

Indicação cultural

Sugerimos a leitura do capítulo XX do livro: 

ARRUDA, M. L. História da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996. 

Atividades

1) Descreva o processo de  transição do período militar  (1964‐1984) 

para  a  redemocratização  e quais os  fundamentos do Estado De‐

mocrático de Direito da Constituição Cidadã de 1988. 

 

2) Explique  os  aspectos  relevantes  sobre  a  educação  incluídos  na 

Constituição Cidadã de 1988. 

 

 

3) Indique e explique as principais mudanças propiciadas pela LDB 

9.394/96 referentes à educação básica, ao ensino médio e ao ensino 

superior. 

 

 

 

Page 92: História Da Educação

 

REFERÊNCIAS

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ao apogeu do neoliberalismo. Rio de Janeiro: Record, 2000b. 

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