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HAPHIM Historia Arte Islâmica Mestrado Integrado de Arquitectura 2º Ano 2º Semestre Turma Noturna HAPHIM Docente: Mestre Valdemar Coutinho Aluno: Fernando Martins 20094719 Portimão, 17/05/2011

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HAPHIM

Historia Arte Islâmica

Mestrado Integrado de Arquitectura 2º Ano – 2º Semestre – Turma Noturna HAPHIM Docente: Mestre Valdemar Coutinho Aluno: Fernando Martins – 20094719 Portimão, 17/05/2011

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Historia de Arte Islâmica

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Introdução

A Historia de Arte Islâmica é a matéria de estudo para este trabalho teórico.

O Islamismo é a religião desenvolvida por Maomé e que se estendeu a partir da Arábia desde o

século VII. Apesar de ter sido considerada uma religião sincrética, formada a partir de elementos

cristãos e judaicos, na verdade temos uma religião singular, que procurou responder aos anseios

dos povos daquela região, incorporando principalmente elementos da cultura dos povos

beduínos e algumas características de outras religiões.

Na arte, percebemos as influências dos povos pré islâmicos, como também de uma nova cultura,

composta com a construção de importantes dinastias, poderosas e vinculadas directamente ao

elemento religioso.

As produções artesanais de tapetes, são uma característica anterior à religião, enquanto que a

construção de grandes templos - Mesquitas - é posterior às conquistas justificadas pela fé.

Neste trabalho, vou tentar retratar na sua plenitude, especialmente e mais aprofundadamente,

dando a sua relação em termos arquitectónicos, desde a sua origem até aos dias de hoje,

evocando os diversos aspectos que a caracterizam e a definem, não só descrevendo-a de uma

forma esclerótica e substanciada mas, também ilustrando-a, exteriormente e interiormente,

desde a sua origem temporal às diversas alterações e adaptações, face às evoluções religiosas

e históricas da época em questão com os diversos slides que, consegui obter através dos

estudos realizados.

Vou ainda descrever esta cultura no nosso pais, em particular a “Igreja de Nossa Senhora da

Assunção de Mértola” conhecida por Igreja Matriz, percebendo onde se situa geograficamente

mas acima de tudo, vou tentar caracterizar, os seus aspectos e, interesses arquitectónicos,

dando o paralelismo com os fundamentos da sua origem, das suas mutações e, da sua

existência até aos dias de hoje. É sem dúvida, no nosso país, uma das obras com bastante

interesse histórico, dentro da sua identidade e tipologia edificada, evidentemente.

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Evolução Histórica - Características Arquitectónicas

Do século VII, de quando datam as primeiras construções, feitas pela dinastia omíada, até ao

século XVIII, início da decadência do império otomano, o Islam, ergueu em várias regiões

compreendidas entre a Espanha e a Índia, um grande número de monumentos.

Na Síria e na Palestina, os principais monumentos foram. a mesquita de Omar, em Jerusalém,

também conhecida como o Domo do Rochedo, de forma octogonal com o exterior decorado em

mosaicos bizantinos, concluída em 691; e a grande mesquita de Damasco (705-715), que

possuía um grande pátio com arcadas em três dos seus lados e uma sala de oração dividida em

três naves, todas elas paralelas ao muro da qibla.

Mesquita de Omar ou Cúpula do Rochedo (691)

Mesquita de Damasco (705-715)

Com a dinastia abássida, instaurada no ano 750, a arte islâmica sofreu a influência da Ásia,

surgiram então os mausoléus, e a decoração estilizou-se. A capital foi transferida para Bagdad,

no Iraque, onde se adoptou um traçado urbano de forma circular, protegido por uma muralha

dupla.

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Mais tarde, em 838, quando o império começava a ser desmembrado em principados autónomos,

a corte estabeleceu-se em Samarra. Na nova capital foi construída uma grande mesquita, com

naves paralelas à qibla, e um minarete semelhante ao zigurate, além de vários palácios.

Samarra - minarete semelhante ao zigurate

Na Espanha, onde se refugiara Abd al-Rahman I, único sobrevivente da dinastia omíada, ocorreu,

paralelamente, um período de grande actividade artística, cujo centro era a cidade de Córdoba, a

mais importante das obras realizadas na época é a mesquita da cidade.

Iniciada a sua construção no século VIII, sofreu diversas ampliações ao longo dos dois séculos

seguintes, a mesquita de Córdoba tem 19 naves perpendiculares à qibla e um sistema de

construção original, no qual se combinam colunas e arcos em ferradura com arcos de meio

ponto, ao que tudo indica, uma influência da arte visigoda, decorados com abóbadas alternadas

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em vermelho e branco. O mihrab é coberto de opulentos azulejos bizantinos, com profusão de

motivos epigráficos e vegetais.

Mesquita de Córdoba

Outro grande exemplo da arte do califado de Córdoba, foi a cidade palaciana de Medina Azahara,

construída por Abd al-Rahman III. No Egipto, que se tornou independente com os tulúnidas, foi

construída no século IX a grande mesquita de Ibn Tulun, no Cairo em Túnis, os aglábidas

ergueram a grande mesquita de al-Qayrawan.

Mesquita de Ibn Tulun no Cairo

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Mesquita de al-Qayrawan

No período que vai do século XI ao XV, as principais concepções estéticas islâmicas tiveram

origem em Isfahan, com os seljúcidas, no norte da África, Egipto e Maghrib, e na península

ibérica, com os fatímidas, os almorávidas e os nazaritas.

Os seljúcidas, povos nómadas das estepes convertidos ao Islão. que reunificaram por algum

tempo o Médio Oriente, estabeleceram os seus centros em Isfahan e Tabriz. Foram os

responsáveis pela divulgação da madrasa (um género de universidade na qual se ensinavam

teologia e ciências), em geral edificada junto a uma mesquita e estruturada em torno de um pátio.

Pátio do madrasa Ben Yussef - Marrakech Masjid-i-Sha, de Isfahan, é uma madrasa

O sistema das madrasas passou a ser empregado em mesquitas como a de Isfahan, concluída

por volta de 1130, com um pátio central e quatro salas contíguas, ou eyvans, cobertas por

abóbadas semicirculares, a sala localizada ao lado da qibla conduz a outra sala com cúpula.

Também surgiu nessa época um novo tipo de minarete, de forma cilíndrica, apoiado sobre uma

base octogonal, como o da mesquita Pa-Minar de Zawara, cujo exterior era decorado com

cerâmica esmaltada em motivos geométricos.

A arquitectura funerária popularizou o mausoléu quadrado coberto com uma cúpula, como o de

Sanyar, do século XII.

No Egipto, a dinastia fatímida, que governou entre os séculos X e XII, construiu importantes

mesquitas, tais como as de al-Azhar e al-Hakim, na cidade do Cairo. Em meados do século XIII,

a dinastia dos mamelucos impôs a influência artística seljúcida.

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Mesquita al-Azhar Mesquita al-Hakim

A forma arquitectónica mais característica foi o mausoléu, cujo melhor exemplo é o monumento

funerário ao sultão Hassan, apresenta uma planta quadrada e cúpula dourada sobre uma base

octogonal. No fim do século XI, após a desintegração do califado de Córdoba numa série de

reinos de taifas, a intervenção dos almorávidas, originários do sul do Maghrib, permitiu um novo

florescimento da arte na península ibérica e no noroeste da África.

Dois tipos de estruturas caracterizaram os períodos almorávida e almôada, do século XI ao XIII,

em Marrocos e em Espanha, um abrange as grandes mesquitas marroquinas, como as de

Tinmel e Hassan, em Rabat, e a de Kutubiya, em Marrakech, todas com sólidos e grandes

minaretes quadrados.

Mesquita de Tinmel em Rabat

Mesquita de Hassan em Rabat

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Mesquita de Kutubiya em Marrakech

Outro tipo de arquitectura nasceu para fins militares, como fortificações e pontes com arcos em

forma de ferradura. Entre estas figuram a ponte Oudaia, em Rabat, e a ponte Rabat, em

Marrakech.

No norte da África, a arte não mudou muito nos séculos XIV e XV, o mesmo estilo de mesquita

continuou a ser construído, como a Grande Mesquita de Argel. A decoração arquitectónica em

estuco ou pedra esculpida ficou limitada geralmente a padrões geométricos elaborados, temas

epigráficos e alguns motivos vegetais.

Grande Mesquita de Argel

O último período da arte islâmica na Espanha data do reino nazarita de Granada, fundado no

século XIII. O seu monumento mais característico é a Alhambra, cidade palaciana que constitui

talvez o mais grandioso monumento do género islâmico para integrar arquitectura e natureza.

Grandioso monumento islâmico - Alhambra - Espanha

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Desde meados do século XIII, quando os mongóis invadiram a Pérsia, registou-se na região um

significativo impulso cultural que se traduziu artisticamente na construção de mesquitas e

madrasas de estilo seljúcida e na utilização de cúpulas afiladas e azulejos decorados.

Madrassas de estilo seljúcida

A conjunção de elementos mongóis e turcomanos foi a característica do período timúrida, que

transcorreu entre os séculos XIV e XVI. A capital do império foi a cidade mítica de Samarkanda,

grande centro político e cultural da Ásia central.

Cidade mítica de Samarkanda

Importantes monumentos foram edificados na época, tais como a mesquita-madrasa de Jargird,

com pátio central e quatro eyvans, e a mesquita azul de Tabriz, Irã, famosa por sua decoração

em azulejos de cerâmica azul.

Mesquita azul de Tabriz Ladrilhado, ornamentos de Isfahan Interior, entrada de luz

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A arquitectura funerária desfrutou de grande prestígio entre os timúridas, que construíram na

própria capital a avenida de Shaji-Zindá, ladeada por vários mausoléus da família imperial e de

membros da nobreza, com suas cúpulas características e decoração em azulejos.

Depois dos mongóis e dos turcomanos, chegaram ao poder na Pérsia os safávidas, que

promoveram a arte popular, proliferaram então as mesquitas e madrasas de quatro eyvans e, na

arquitectura palaciana, destacou-se o palácio Ali Qapu, com um segundo andar repleto de

colunas.

Palácio Ali Qapu

Na mesma época em que ocorria o florescimento da arte entre os safávidas, o império mongol

da Índia construía, no século XII, grandes e luxuosas edificações inspiradas na arte persa, como

o Taj Mahal, de Agra, mausoléu feito para a esposa do imperador, e o forte Vermelho, em Delhi.

Mausoléu Taj Mahal de Agra

Forte Vermelho em Delhi

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A partir de meados do século XV, o império otomano consolidou-se, e o seu poder se propagou

pela Turquia, Síria, Egipto, Iraque e os Balcãs.

Na Europa, o império, só entraria em decadência no século XVIII, difundiram-se as cúpulas e

foram construídas mesquitas tanto em forma rectangular, com pórtico em cúpula, de influência

bizantina, quanto com planta em forma de "T" invertido.

O império atingiu o apogeu nos séculos XV e XVI, quando Istambul se tornou grande centro

político e cultural, tendo a basílica bizantina de Santa Sofia como modelo, proliferaram as

construções monumentais, como as mesquitas de Suleiman II e de Ahmed I, na mesma cidade.

Basílica bizantina de Santa Sofia

Planta da Basílica Santa Sofia

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Mesquita de Suleiman II

Mesquita de Ahmed I

O desaparecimento do império mughal da Índia, que passou ao domínio britânico, e o

progressivo desmembramento do império otomano fizeram com que a arte islâmica sofresse, ao

longo do século XIX, um processo de estagnação durante o qual passou a experimentar uma

crescente influência ocidental.

Essa adaptação às tendências do Ocidente intensificou-se em meados do século XX, quando

novas escolas integraram técnicas ocidentais à arquitectura muçulmana, esse movimento,

iniciado na Turquia por Sedat Hakki Eldhem e no Egipto por Hassan Fathy, disseminou-se por

todo o mundo muçulmano.

Portugal não foi excepção tendo absorvido influencias islâmicas, das quais vou destacar a

mesquita de Mértola, como indiquei na introdução deste trabalho.

Vista geral da Vila de Mértola com a Igreja ao cimo da Vila

Como já vimos, entre os séculos VIII ou IX, o templo primitivo terá sido transformado em

santuário muçulmano embora, pela sua tipologia arquitectónica e, filiação estilística em templos

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marroquinos, a mesquita de Mértola não deverá de ser anterior à segunda metade do século XII,

tendo em conta também que, a presença almóada na Península regista-se a partir de 1150.

Em 1238, a vila foi reconquistada aos mouros por D. Sancho II, que no ano seguinte a entregou

à Ordem de Santiago, vindo esta a proceder à sua fortificação. Terá sido pois no século XIII que

a antiga mesquita de Mértola passaria a ser adaptada a templo cristão, já sob o domínio dos

cavaleiros espatários.

Com a reconquista, a mesquita de Mértola foi adaptada, por mão-de-obra ainda desconhecida, a

templo cristão dedicado à Virgem Maria, sofrendo entretanto, intervenções pouco significativas.

O templo cristão adoptou a evocação de Nossa Senhora da Assunção de entre ambas as águas,

assim designado ainda nas Memórias Paroquias de 1758.

Uma das alterações mais importantes no templo, pelo seu significado simbólico, foi a construção

do altar-mor no alçado nordeste e, da porta principal que lhe ficou defronte, a sudoeste. A nova

igreja manteve, no entanto, a planimetria quadrangular da mesquita, bem como os seus alçados,

a sua divisão interna em cinco naves (com a central mais larga), seis tramos (um deles mais

largo, descrevendo um “T” com a nave central) quatro portas estreitas de arco ultrapassado e a

zona do mihrab ou nicho de oração islâmico, convertido em altar-mor.

Ainda no interior, sobressai o mihrab, por possuir ainda uma decoração em gesso. Este só foi

descoberto no restauro dos anos 40, do século XX, facto que ajudou a conservar o revestimento,

composto por "três arcos cegos polilobados rematados por uma cornija"

Antes e depois das obras de restauro

O mihrab em 1949 O mihrab em 2006

As cinco naves são cobertas por abóbadas de cruzaria de ogivas que descarregam em colunas,

enquanto que o tramo anterior à zona do altar-mor apresenta uma cobertura em abóbada

estrelada exibindo, na chave central, o brasão dos Mascarenhas, por alusão ao comendador da

vila que custeou grande parte da reforma deste templo. O edifício foi representado por Duarte de

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Armas (1506), devidamente identificado enquanto antiga mesquita e, ainda com cinco coberturas

individuais de telhados de madeira à mesma altura.

Abóbadas de cruzaria de ogivas

A antiga mesquita de Mértola, o mais emblemático monumento da cidade, foi construída na

segunda metade do século XII, numa zona onde se pensa ter existido um conjunto palatino

desde a Antiguidade Tardia.

Na edificação, foram vários os elementos reaproveitados de edifícios anteriores, como parte de

uma arquitrave e diversos fragmentos de inscrições romanas, do século II. Para além disso, a

actual igreja ainda conserva dois capitéis coríntios datáveis do século IX e, nas imediações,

identificaram-se peças datáveis da época visigótica, o que reforça o estatuto deste local, como

um dos mais importantes no perímetro citadino ao longo dos tempos.

Capitel Visigótico

A Igreja Matriz de Mértola, apresenta agora, uma expressão Manuelina, resultante da

transformação que sofreu em meados do século XVI. Porém conservou a estrutura do antigo

edifício islâmico, datado da época almóada (século XII), bem como parte do seu mihrab. É ainda

importante referir de novo que, o edifício incorpora vestígios de construções anteriores,

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nomeadamente da época romana, reaproveitados como material de construção (ex: fragmentos

de mármore nos fustes que suportam a abóbada).

Ao nível exterior, o edifício apresenta-se rodeado por contrafortes cilíndricos e coroado por

merlões chanfrados e coruchéus cónicos, ao gosto o tardo-gótico alentejano, visível em

inúmeras igrejas da região. O portal principal apresenta um perfil típico da Renascença, sendo

sobrepujado um óculo. À direita destaca-se a torre sineira. No alçado sudeste destaca-se o perfil

poligonal do antigo mihrab árabe. Ainda no exterior localizava-se o alminar, também desenhado

por Duarte d'Armas, poderosa torre no prolongamento da nave central, elevada a cerca de 15

metros de altura e, que era decorada com duas séries de arcarias cegas.

Vista da fachada, onde se pode observar as características do parágrafo anterior

No plano estrutural, o telhado passou a ser de duas águas e o portal, já renascentista e

executado apenas nos meados do século, foi encomendado a André Pilarte, importante

arquitecto sediado em Tavira e, com ampla obra no Sotavento algarvio.

No interior, contudo, foi ainda o vocabulário manuelino que triunfou, em capitéis e bocetes

vegetalistas de grande qualidade, onde descarregam as abóbadas de cruzaria de ogivas dos

tramos, como atrás ilustrei. Múltiplas obras menores sucederam-se nos séculos seguintes, mas

não foram suficientes para alterar a exótica fisionomia almóada-manuelina do monumento.

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Desde 1238 que a Igreja tem vindo a ser alvo de sucessivas modificações e recuperações. No

século XVII operaram-se diversas reformas no interior da igreja, como o entaipamento do espaço

do mihrab e de portas, apeamento do coro alto de alvenaria e tijolo (que foi transferido para o

alçado Sudoeste, sobre a porta principal e feito em madeira).

A última intervenção, efectuada no século XX, levada, empreendeu um vasto programa de obras

de recuperação do edifício resultando na consolidação do templo, colocação de um telhado novo,

substituição do pavimento degradado de madeira por um de pedra e tijoleira, demolição de

anexos, da capela-mor e sacristia, entaipamento de janelões seiscentistas e setecentistas,

desentaipamento do mihrab e das três portas de arco ultrapassado com alfiz, deslocação do

altar-mor para a parede Sudeste.

O mihrab, conforme refere Cruz, surge no cruzamento da nave central com a transversal

formando um recanto poligonal de cinco panos de excepcional execução técnica, coberto por

uma abóbada em quarto de esfera. Apesar de se encontrar bastante mutilado, apresenta um

alçado dividido em dois andares, sendo o inferior liso e o superior decorado com arcaturas cegas.

A decoração do andar superior é constituída por três arcos cegos polilobados com motivos

serpentiformes que assentam em colunas adossadas ao centro de cada uma das faces, sendo

rematado o nicho por uma cimalha emoldurada pelo “cordão do infinito”. As colunas e os arcos

destacam-se do plano de fundo cerca de 22 a 28 mm.

Ainda no andar superior, surgem apontamentos de cor e, vestígios de pintura a leite de cal. Na

face esquerda, uma “legenda em letra gótica” e linhas de contorno de uma figura (incompleta)

foram executadas sobre uma fina camada de cal (barramento a cal com a execução da legenda

e do desenho a fresco - esgrafitos), enquanto na face direita surge, uma pintura com motivos

geométricos realizada directamente sobre a superfície.

Em ambos os registos pictóricos, são bastante acentuadas as perdas de pigmentos, dificultando

a sua leitura e interpretação, no entanto a estrutura e a decoração do mihrab, segundo os

arabistas Torres Balbás e Christian Ewert, têm paralelismos com o da Mesquita de Almeria e,

sobretudo com os das mesquitas do Norte de África.

A variedade de sobreposições e de composições, motivos geométricos e florais, que revestem o

alçado do mihrab, reflectem a importância que esse espaço teve ao longo do tempo, bem como

as múltiplas empreitadas levadas a cabo no interior da igreja.

A mesquita era ligeiramente maior que a actual igreja, na medida em que possuía seis tramos (e

não os 4 de hoje), suportados por vinte colunas (actualmente existem 12). Planimetricamente,

como já referi, tinha uma estrutura em "T", sendo mais amplas as naves centrais e, a que se

implantava junto da qibla, disposição espacial essa que, foi já entendida como o resultado de

uma inspiração directa em modelos marroquinos contemporâneos, com particular destaque para

a mesquita de Tinmel (1153-54).

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O tecto era de madeira policromada (totalmente suprimido no século XVI) e sobre ele

descarregava uma curiosa cobertura, composta por cinco telhados de duas águas que, cobriam

cada uma das naves, e que foi ainda desenhada por Duarte d'Armas em 1509.

Planta da Mesquita de Mértola

Desconhece-se no entanto a forma e localização do pátio anexo, mas é de presumir que se

situasse a Nordeste, em cuja parede se abrem três portas de arco em ferradura inscrito em alfiz

(descentradas em relação ao ritmo homogéneo dos tramos). No muro da qibla, a nascente do

mihrab, situava-se uma quarta porta, de feição idêntica às anteriores.

Porta lateral da Igreja

A Igreja de Nossa Senhora da Assunção foi classificada de Monumento Nacional por decreto

datado de 16 de Junho de 1910, publicado em Diário de Governo de 23 de Junho do mesmo ano.

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Mapa de acessibilidades a Mértola

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Conclusão

A arquitectura muçulmana é extremamente conceitual, repleta de significados inseridos nos

detalhes, de símbolos evidentes, mas subtis. Talvez por isto mesmo jamais foi uma obra de autor,

mas um concerto de milhares de artesãos anónimos, que tentavam louvar ao seu Deus e, não a

si mesmos. Assim no céu da arquitectura mais cintilante não brilha a estrela de nenhum

arquitecto, mas o esplendor de uma fé.

(http://salmaassalam.blogspot.com/2009/07/blog-post.html)

A sapiência islâmica ou, como alguns preferem, a falsafa, a filosofia produzida em língua árabe,

origina-se na recepção da filosofia grega por parte do mundo islâmico devido ao movimento de

traduções iniciado durante o período abássida (séc. VII), principalmente por cristãos jacobitas e

nestorianos.

Qual é o significado da palavra falsafa?

Falsafa é, simplesmente, a tradução literal do grego para o árabe da palavra filosofia e se refere

àqueles pensadores que discutiam e debatiam os pressupostos gregos da filosofia. No entanto, a

falsafa islâmica, ou filosofia, foi em primeiro lugar “islâmica” e usou conceitos e metodologias

gregos para dar suporte a uma visão de mundo tipicamente islâmica.

Como a falsafa se gerou?

O processo de formação da falsafa foi muito lento e começou com a tradução para o árabe

através do siríaco dos trabalhos e livros gregos da antiguidade sobre astrologia, astronomia,

lógica, metafísica, arte, arquitectura, entre outros.

Bagdad, no Iraque, foi o principal, mas não o único centro de tradução e difusão dos trabalhos

gregos. Frequentemente, filósofos islâmicos (falasifa, plural de faylasuf) actuaram nas cortes sob

protecção dos califas, sultões e emires a deram suas contribuições para a política cultural dos

reis.

Durante muito tempo a sabedoria islâmica foi estudada mais numa visão daquilo que podia

contribuir para a compreensão das fontes de filósofos cristãos, do que por si mesma como

filosofia autónoma e original. Mesmo quando ela mesma era objecto de estudo, o conceito de

que era constituída, por uma contínua preocupação com o embate entre a fé e a razão, levava

os estudiosos a acreditar que seus autores tinham sempre algo a esconder, já que suas

verdadeiras opiniões contradiziam, quer os fundamentos da religião, quer a doutrina dos que

detinham o poder.

Pode-se dizer que nas últimas duas décadas, os estudos sobre a falsafa já não seguem esse

quadro. Atingiram um nível de sofisticação e especialização, tanto metodológica quanto textual,

sem precedentes.

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Diz-se que a arquitectura islâmica é conceptual e pura, talvez as restrições religiosas à

representação de figuras humanas e de animais no Islão, tenham impedido a evolução de

técnicas como a pintura e a escultura, acabando por transformar a arquitectura na modalidade

artística mais desenvolvida na cultura islâmica.

A arquitectura islâmica, em virtude da forte religiosidade, encontra a sua melhor expressão na

mesquita, edifício destinado às orações comunitárias.

A sua origem é a casa de Muhammad (na cidade de Madina), que constava de um pátio cercado

por muros, com diversos aposentos ao redor.

O projecto clássico da mesquita ficou estabelecido já nos primeiros tempos do islamismo, na

dinastia omíada, compõe-se de um minarete, torre muito alta com plataforma da qual o muadhin

chama os fiéis para as cinco orações diárias; um pátio de arcadas que tem, ao centro, a fonte

para as abluções; uma grande sala de orações, dividida em diferentes naves com colunas; e a

qibla, muro ao fundo da sala onde se encontra o mihrab, ou santuário, um nicho que indica ser

aquela a direcção da cidade sagrada de Makka, voltada para a qual os fiéis devem rezar, junto

ao mihrab, está localizado o púlpito, ou nimbar.

Outro aspecto característico da arquitectura islâmica, é a riqueza da decoração, com base em

motivos epigráficos (inscrições com trechos do Alcorão em escritura cúfica ou naskh), vegetais

(palmas, folhas de videira e de acanto) e geométricos (arabescos).

A ornamentação inclui ainda, com frequência, estalactites em gesso, em forma de prisma e com

a face curva, a arquitectura islâmica caracteriza-se também pelo uso do tijolo, muitas vezes

repleto de mosaicos, estuque ou gesso; pela utilização de arcos em forma de ferradura e

multilobulados; e pelo uso da cúpula, quase sempre ornamentada.

Portas e arcos (diversas)

Mesquita do ano de 622, onde o profeta Maomé se exilou

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Historia de Arte Islâmica

Fernando Martins_20094917 21

Bibliografia

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LEITE, Sylvia, Simbolismo dos Padrões Geométricos da Arte Islâmica, editora Atelier Editorial, ano 2007, 1ª edição

Arte Romana . Arte Grega, Arte islâmica, Montijo, data de publicação: Setembro 7,

VASCONCELOS, Rui Ramos e MONTEIRO, Nuno Gonçalo Monteiro, História de

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SERRÃO, Joel Serrão e MARQUES OLIVEIRA, A.H., Nova história de Portugal 1a.

Ed. Publicação 1990, Editorial Presença, Lisboa

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http://www.canstockphoto.com.br/ladrilhado-fundo-oriental-ornamentos-de-5569317.html

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http://pt.scribd.com/doc/43111553/Arquitetura-islamica

http://salmaassalam.blogspot.com/2009/07/blog-post.html

http://www.icarabe.org/entrevistas/falsafa-a-filosofia-islamica-medieval