hierofanias... joalharia e couros dourados e lavrados... quando o sagrado se manifesta

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Hierofanias Joalharia e couros dourados e lavrados …quando o sagrado se manifesta… Ana Caldas e Franklin Pereira Fundação Dionísio Pinheiro e Alice Cardoso Pinheiro Salas do Museu 28 de Março a 23 de Abril de 2015

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Ana Caldas e Franklin Pereira

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Hierofanias

Joalharia e couros dourados e lavrados

…quando o sagrado se manifesta…

Ana Caldas e Franklin Pereira

Fundação Dionísio Pinheiro e Alice Cardoso Pinheiro

Salas do Museu

28 de Março a 23 de Abril de 2015

Ficha Técnica:

Edição: Fundação Dionísio Pinheiro e Alice Cardoso Pinheiro / António Santos

Design: Fundação Dionísio Pinheiro e Alice Cardoso Pinheiro / António Santos

Fotografias: Ana Caldas e Franklin Pereira

Textos: Vieira Duque, Ana Caldas e Franklin Pereira

Curadoria: Vieira Duque

Em Franklin e Ana apreciamos o Objecto que encerra a crença e que experi-encia materiais, tal o sagrado e a beleza na arte contemporânea que revisita

estilos e estéticas e que nos dá o Hoje.

Vieira Duque

As peças de Ana Caldas nascem a partir de um diálogo introspectivo e sensí-

vel. Há uma espécie de rigor e de método que exigem auto-conhecimento,

flexibilidade e reverência, num interesse em combinar estética, poesia e de-

voção.

Nas obras de Franklin Pereira, a matéria viva e ancestral condensa-se nas

metáforas, nas memórias, nos arquétipos, entrançando-se em viagens oníri-

cas.

As Hierofanias, isto é, as manifestações do sagrado expressas em símbolos,

mitos e outras estruturas religiosas, pagãs ou naturalistas resultam aqui num

considerável enriquecimento quer para o artista, quer para o observador. Em

todas as obras aqui expostas existe um sentimento de pertença e de identi-

dade a algo que ainda desconhecemos, anunciando um tipo de religião cós-

mica (Mircea Eliade) ou um tipo de consciência nova que é urgente existir na

nossa sociedade. A experiência do sagrado, ao desvendar o ser, o sentido e

a verdade, conjuga aspectos e fenómenos da história da humanidade, recu-

perando dimensões da nossa existência religiosa e existência humana no

cosmos.

Ana Caldas e Franklin Pereira

Baraka – a Bênção, 2005 Franklin Pereira Folha de prata e de ouro, couro de carneiro; amonite, cristais de quartzo, latão e madeira. 440x600

Vaso das delícias, 1992

Franklin Pereira

Couro bovino, pele de coelho, pintura a óleo, folha de prata; cristal de quartzo, chifres de cabra. 280x280x400

Dentro e fora do magma, 2012

Franklin Pereira

Couro, folha de ouro, arame de latão, ferro; quartzo, olho-de-tigre, turquesa, lápis-lazúli, coral, amonite

500x1400

Muhammad ibn Abbad al-Mutamid foi o terceiro rei da “taifa” de Sevilha, da dinastia dos Abbadies. Ocupou o trono devido à morte do seu pai, em 1069, onde permaneceu até 1091, data em que foi derrotado pelos Al-morávidas, vindos do norte de África para o al-Andalus. Além de rei, al-Mutamid foi poeta; rodeou-se de grandes literatos e deu à corte de Sevi-lha um esplendor cultural, colocando a cidade como uma das mais im-portantes da época medieval. Morreu quatro anos depois de ter sido destronado e desterrado para o Atlas de Marrocos.

Crescem devagar, as árvores Esguias ou frondosas, guardam No seu corpo sussurros de namorados, estendendo os braços para abri-gar Os pássaros de todos os tempos

Poema de Maria Armandina Maia; caligrafia em árabe (estilo cúfico) de Mamoun Sakkal.

Homenagem a al-Mutamid (Beja, 1040 / Agmat, 1095), 2006 Franklin Pereira Couro de carneiro, folha de prata, pintura a óleo. 720x500

As fontes visuais, mentais e espirituais foram-se alargando e manifes-tando de uma forma contemplativa e intensa: a geometria, os pássaros, a Árvore da Vida, a poesia e o pensamento materializaram-se na minha joalharia.

Ana Caldas

Hom, Árvore da Vida II, 2007

Ana Caldas

Prata e couro.

5x20

Árvore da Vida IV (colar caixa relicário), 2010

Ana Caldas

Prata, lava, turquesas.

90x360

O cruzamento de experiências e a riqueza da abundante criação da Ín-dia – que também emana da fusão indo-muçulmana – permitiu-me tra-balhar uma rede de relações estéticas e simbólicas, fazendo emergir universos e formas carregadas de significado: os colares relicário e os colares caixa-relicário tornaram-se os condensadores de metáforas de espaços sagrados.

Ana Caldas

Palácio dos pássaros (colar caixa relicário), 2010

Ana Caldas

Prata, labradorite e rudraksha

67x530

Deus é belo e ama a Beleza (colar relicário), 2010

Ana Caldas

Prata, labradorite e rudraksha

400 mm

Invocar a Luz apela a um sentido de transcendência, de elevação e as-censão da alma. Dá clareza, ilumina, atrai os vários planos da criação.

Ana Caldas

Portais de Luz I, 2014

Ana Caldas

Prata, zircónias

17x55

Portais de Luz II, 2014

Ana Caldas

Prata, zircónias

20x40

Portais de luz III, 2014

Ana Caldas

Prata, zircónias

15x55

Fonte radiante, 2014

Ana Caldas

Prata, zircónias

20x30

Os anéis absorveram espaços de fruição, convívio, contemplação amo-

rosa e poética dos “Diwans” – espaços devotados à leitura, declamação

e recitais, presentes nas culturas mediterrânicas e orientais e uma ho-

menagem ao Imperador Akbar que governou na Índia Mogol, Séc XVI –

XVII, promovendo encontros de diversas religiões e um florescimento

das artes, nos largos decénios em que governou, sendo esta época con-

siderada uma época de ouro.

Ana Caldas

Diwan I, 2010

Ana Caldas

Prata, brocado de seda e labradorite

35x40

Diwan II, 2010

Ana Caldas

Prata e labradorite

35x40

Akbar, 2010

Ana Caldas

Prata e brocado de seda

35x40

Do abraço afectuoso entre a memória e o movimento renovador do cos-mos eleva-se a celebração da Vida!

Ana Caldas

Celebrar a vida, 2013

Ana Caldas

Prata, fragmento de cerâmica e zircónias

80x90x10

Utilizo o couro que serve de base e de suporte, numa articulação com a seda e a prata.

Esta peça/escultura pretende valorizar espaços amplos, abertos e re-ceptivos, mas, ao mesmo tempo, espaços íntimos.

Estes traços são visíveis na cor radiosa das sedas que viajaram e conti-nuam a viajar no nosso mundo imaginário, mas também nas relações comerciais, humanas e artísticas que existiram e que persistem em exis-tir entre povos.

A ancestralidade do couro reforça a ideia de passado e memória, trans-mitida por esta matéria orgânica e moldável, valorizada pelos ornamen-tos em prata: o pássaro, e a folhagem que o rodeia.

O lugar íntimo, de congeminações mentais e criativas, que permite ver do interior para fora, sem ser visto, é representado pela gelosia em prata – que enfatiza a intimidade da criação como busca individual e, ao mes-mo tempo, de si para o Outro.

Ana Caldas

Na Rota do Amor, 2011

Ana Caldas

Prata, latão, seda, labradorite e ferro

400x150x1350

Esta peça foi inspirada na linhagem dos Morábitos existentes em Por-tugal.

No topo da caixa ergue-se um Morábito construído sobre um polígono estrelado de doze pontas; sobre a porta de entrada principal encontra-se o primeiro verso, em árabe, de um poema de Ibn al Arabi, místico sufi, nascido em Múrcia / al-Andalus em 1165 e falecido em Damasco em 1240; sobre a outra porta está a tradução do verso: “O meu cora-ção abriu-se a todas as formas”.

A caixa em couro funciona como se de um relicário se tratasse, cujas aplicações em prata se inspiram na arquitectura islâmica. A palavra Morábito deriva do árabe morabit, que designa ermitão. A pe-quena construção de forma geralmente cúbica (embora por vezes pos-sa surgir de uma planta redonda, octogonal ou hexagonal, mas sempre centralizada), tem cobertura em meia-esfera, muitas vezes designada por cuba (Kuba).

Os morábitos destinavam-se à morada de um ermitão, enquanto por definição, as cubas constituíam lugares de veneração dos restos mor-tais de um santo (o marabu ou marabuto). Os marabus, a maior parte das vezes, foram eremitas ou mestres sufis, ascetas e místicos que se dedicaram à meditação e à doutrina esotérica e gnóstica do Islão.

Ana Caldas

Tesouro ibérico, 2008

Ana Caldas

Prata, couro e ágata

101x140x140

Franklin Pereira

[email protected]

www.frankleather.com

Franklin Pereira (Porto, 1957) é professor de Educação Visual desde

1986; dedica-se ao estudo das artes do couro, com artigos e livros pu-

blicados no país e no estrangeiro. Inicialmente autodidacta, em1988 co-

meçou a aprender técnicas de lavrar o couro da tradição portuguesa;

em 1992 e 93 aprendeu também técnicas medievais do couro dourado/

guadameci em Córdova. Participa em exposições individuais e colecti-

vas desde 1988; entre 1989 e 1994 recebeu 15 prémios (menções hon-

rosas, 1ºs, 2ºs e 3ºs prémios) nos EUA, nas maiores exposições anuais

de couros artísticos. Além de palestras sobre a história dos couros ar-

tísticos, tem dirigido ateliers, salientando-se os dedicados ao guadame-

ci, que tiveram lugar n’A Oficina/Guimarães e no Museu Nacional de Ar-

te Antiga/Lisboa, ambos em 2013. Realizou com Ana Caldas a exposi-

ção itinerante “Pele com Pele - Transfiguração e Transcendên-

cia” (Guimarães, Viana do Castelo e Allariz) em 2014.

Ana Caldas

[email protected]

www.facebook.com/ana.caldas.joalharia

www.anamoraiscaldas.com

Nasci em Luanda, em 1965.

Vivo e trabalho em Braga desde 2004.

Desde a minha formação em Joalharia no Ar.Co e Contacto Directo

(Lisboa, 1989 – 1992) que realizo exposições individuais e colectivas.

Em 2007, inicio o projecto Manufacturas do al-Andalus (jóias de inspira-

ção ibero-muçulmana) com carácter poético e universal.

Em 2008 ganho uma bolsa de estudo da Fundação Oriente e vou para a

Índia estudar Joalharia durante três meses.

Em Março de 2010 fui seleccionada com o alfinete “Em nome do Amor”

para integrar o projecto itinerante I care a Lot, uma exposição internacio-

nal sobre os conflitos no Médio Oriente.

Em Outubro desse ano, o Museu Oriente organiza a exposição individu-

al “Do al-Andalus à Índia”, uma mostra com 50 peças únicas, da minha

autoria.

Em 2014 realizei com Franklin Perira a exposição itinerante “Pele com

Pele - Transfiguração e Transcendência” (Guimarães, Viana do Castelo

e Allariz).

Entre 2012 a 2015 tenho participado nas edições colectivas e itinerantes

da VACCEARTE /Arte Contemporânea de inspiração Vaccea.

Para além de realizar exposições, apresento o meu trabalho em feiras

de artesanato, galerias e recebo encomendas individuais.

Fundação Dionísio Pinheiro e Alice Cardoso Pinheiro

Praça Dr. António Breda, 4

3750-106 Águeda

Tel.: 234 623 720

Tlm.: 913 333 000

Www.fundacaodionisiopinheiro.pt