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Extratos

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  • Guia PARA A PRODUO DE PLANTAS AROMTICAS E MEDICINAIS em Portugal

    A. Cristina Figueiredo, Jos G. Barroso, Luis G. Pedro UNIVERSIDADE DE LISBOA, FACULDADE DE CINCIAS DE LISBOA, DBV, CENTRO DE BIOTECNOLOGIA VEGETAL

    ExTRACTOS DE PAM

    Independentemente da forma de utilizao, frescas, refrigeradas ou secas, para serem consumidas como tal, para fins ornamentais, ou para extraco de substncias bioactivas (aromticas ou outras), o valor das plantas aromti-cas, medicinais e condimentares (PAM) devido quer ao seu aspecto visual, quer ao seu perfil aromtico, quer ainda ao seu contedo em princpios activos.

    Os princpios activos produzidos pelas plantas, comumente designados produtos naturais, so, regra geral, meta-bolitos secundrios, produzidos em clulas ou estruturas secretoras diferenciadas (glndulas), que ocorrem interna ou externamente, nos rgos vegetativos ou florais (Ascenso 2007, Figueiredo et al. 2012). Estas substncias so de enorme importncia para as plantas, actuando quer na atraco de polinizadores e dispersores de sementes, quer na defesa contra infeces e a fitofagia. O Homem aprendeu a reconhecer e a explorar, em benefcio prprio e sob as mais diversas formas, estas e outras propriedades biolgicas, caractersticas das PAM. O quotidiano po-pular regista a expresso disso mesmo atravs, designadamente, da utilizao das PAM como condimento, pelas suas propriedades aromticas e conservantes de alimentos, em leos ou azeite aromatizado1, em licores ou vinhos tnicos, ou sob a forma de tisanas2, tinturas3, xaropes4 ou frmacos vegetais5 para fins medicinais, de uso interno, ou externo. Licores, tisanas, tinturas ou xaropes, entre outros, constituem as formas mais simples, ditas caseiras, de extraco dos princpios activos das plantas, Figura 1.

    Seguidamente, descrevem-se, de forma resumida, alguns dos processos de extraco de produtos naturais de plan-tas, com particular nfase no processo de obteno de leos essenciais.

    ExTRACO DE PRINCPIOS ACTIVOS VEGETAIS

    Os princpios activos podem ser extrados de diversos rgos de plantas, como a casca, caules ou pecolos, flores, folhas, frutos, sementes, razes ou rizomas. Nesse sentido, a metodologia a adoptar para a obteno dos princpios activos pode ser determinada quer pelas caractersticas qumicas especficas dos constituintes, quer pela localizao das glndulas que os produzem, isto , em alguns casos pode, por exemplo, haver necessidade de seccionamento, ou macerao prvia do material antes da extraco.

    A nvel industrial, ou laboratorial, a obteno dos princpios activos de plantas pode realizar-se de formas diversas, consoante o objectivo final, recorrendo, entre outros, a processos de extraco: I) com solventes orgnicos, II) com fludos supercrticos, III) com gorduras, IV) por meios mecnicos, com ou sem temperatura e solventes, V) por meios selectivos especficos, e por VI) destilao ou expresso, seguidamente detalhados.

    I) Nas indstrias alimentar ou de cosmtica, entre outras, frequente recorrer-se a processos de extraco de matria-prima vegetal com solventes orgnicos, adequados ao uso humano, obtendo-se resinides (ou oleorresi-nas), concretos, ou absolutos.

    1 leo ou azeite macerado: os princpios activos das plantas podem ser extrados para um leo ou azeite, para uso externo em massa-gem, pomadas e unguentos, ou para consumo alimentar (ex. o piso).2 Tisana (ou ch medicinal): Preparado aquoso que consiste no lquido resultante da mistura da gua com a planta (frmaco vegetal), por infuso, decoco (cozimento) ou macerao.3 Tintura: Preparado que se obtm pela macerao alcolica (etanol, bebida alcolica) da planta, por perodo de tempo varivel. A tintura filtrada, sempre que necessrio.4 xarope: Preparado filtrado de infuso, decoco, macerado (com gua ou bebida alcolica), entre outros, aos quais se adiciona a-car, ou mel, a quente, ou a frio.5 Frmacos vegetais: plantas inteiras, ou fragmentadas, normalmente secas, mas, por vezes tambm frescas, utilizadas na obteno de preparados de aplicao medicinal. Alguns exsudados vegetais, como a resina, podem tambm ser considerados frmacos vegetais. Por norma, os frmacos vegetais devem ser definidos com preciso, pelo seu nome cientfico binomial (gnero, espcie, variedade e autor).

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    1 Piso: pasta feita base das folhas frescas e jovens de poejo (Mentha pulegium), ou poejo-fino (M. cervina), esmagadas com alhos e sal, e depois cobertas com azeite. Pode ser utilizada de imediato ou mantida em conserva. Existem referncias utilizao de coentros (Coriandrum sativum L.) em alternativa ao poejo.

    FIG. 1_ A) LICOR DE POEJO (Mentha pulegium) E PISO1 DE HORTEL-DA-RIBEIRA OU POEJO-FINO (M. cervina) B) LEO DE MASSAGEM DE ALFAzEMA (Lavandula angustifolia) E ALECRIM (Rosmarinus officinalis) C) CREME DE CORPO, BASE DE CERA DE ABELHA E LEO ESSENCIAL DE NEROLI [FLOR DA LARANJEIRA, BERGAMOTA (Citrus aurantium VAR. amara OU BERGAMIA)] D) TINTURA ME DE PERPTUAS-ROxAS (Gomphrena globosa )

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    As oleorresinas ocorrem naturalmente sob a forma de gomas ou exsudados. So extradas com solventes, como etanol ou mais raramente benzeno, embora s sejam parcialmente solveis. Aps agitao, por tempo varivel, e filtrao, o solvente evaporado, obtendo-se o resinide. O benjoim (Styrax benzoin), a mirra (Commiphora myrrha), o olbano (Boswellia car teri ou B. thurifera) e o blsamo de copaia (Copaifera officinalis ou C. reticulata) so exemplos de exsudados dos quais se obtm oleorresinas.

    O concreto, semelhana das oleorresinas, obtido por extraco, com solventes, de gomas, exsudados naturais ou de material vegetal, apresentando-se normalmente mais lmpido que as oleorresinas. A temperatura, a durao e o nmero de extraes so determinadas em funo do material a extrair. Ao contrrio das tinturas, o solven-te removido no caso dos concretos e de oleorresinas. Alm de substncias aromticas, o concreto contm ceras e pigmentos naturais. O concreto apresenta consistncia diversa, quase lquido, como no caso da alfazema (Lavandula angustifolia) e lavandin (L. angustifolia x L. latifolia), viscoso no caso da cera de abelha, ou quase slido como o da slvia (Salvia sclarea).

    O absoluto um extracto alcolico que considerado o corao do aroma. Pode ser obtido por a) extraco directa do material com lcool e ulterior evaporao, b) extraco da oleoresina com um solvente apropriado, evaporao do solvente e nova extraco com lcool ou c) extrado com CO2 supercrtico.

    A gua tambm, frequentemente, empregue na extraco de compostos naturais, como no caso dos actualmente em voga, stevisidos. Os stevisidos so glucsidos diterpnicos isolados das folhas de stvia (Stevia rebaudiana), com gua quente, seguida de purificao e cristalizao, utilizando etanol ou metanol.

    II) Uma substncia atinge o estado supercrtico quando simultaneamente a presso e a temperatura igualam ou excedem o ponto crtico, isto , o momento em que deixa de haver distino entre a fase lquida e a de vapor. No caso do CO2, o ponto crtico corresponde, a 31C e 73 bar. No estado supercrtico o CO2 no um gs, nem um lqui-do; encontra-se num estado fsico intermdio. Esta caracterstica torna os fludos supercrticos ideais para extrair eficazmente compostos num curto intervalo de tempo. H algumas vantagens na utilizao de CO2 supercrtico, comparativamente com outros solventes convencionais, como o baixo custo, no ser inflamvel e apresentar menor reactividade, menor viscosidade, e portanto maior difusibilidade, o que aumenta a capacidade extractiva, e evita a decomposio de compostos termolbeis. Devido s altas presses necessrias para a extraco com CO2 supercr-tico, o equipamento dispendioso e requer cuidados especiais de manuseio.

    A extraco supercrtica, em larga escala, correntemente empregue para descafeinar os gros de caf (Coffea arabica) e na extraco de lpulo (Humulus lupulus), para a indstria cervejeira. A extraco com CO2 supercrtico tambm comum na obteno de extractos aromticos.

    III) A extraco de compostos lipfilos pode ser tambm efectuada com gorduras, como o caso da conhecida tcnica de enfleurage, com a qual se obtm misturas de consistncia untuosa e intensamente aromticas, Figura 2. Por este processo, a planta aromtica, usualmente flores, extrada, a frio ou a quente, numa gordura que fica impregnada de aroma. A gordura aromtica pode ser assim usada ou ser submetida a um processo de extraco subsequente. Actualmente, em substituio da gordura de origem animal, normalmente a banha, utiliza-se um leo vegetal, ou azeite, em que o material vegetal deixado a macerar. Estes leos aromticos so muito utilizados em massagens. O mtodo tradicional de enfleurage cedeu o lugar a processos modernos de extrao, com recurso a solventes orgnicos como o caso da obteno de extracto de jasmim, Figura 2.

    IV) So vrios os frutos e/ou sementes que fornecem leos comestveis. A extraco de azeite e de leos vegetais recorre a processos mecnicos, ou de variao de temperatura e/ou de presso e a solventes. No caso particular do azeite, o fruto da oliveira (Olea europea), a azeitona, submetida moenda, termobatedura e centrifugao para originar um produto final de qualidade. O produto final pode ser purificado e, se necessrio, refinado ou modifi-cado quimicamente.

    A aromatizao do azeite com plantas aromticas e/ou especiarias uma prtica ancestral que voltou a tornar-se moda. Os azeites aromatizados so considerados temperos, e podem incluir alho, cebola, pimenta-malagueta, pimento, tomate seco, alm de plantas aromticas (alecrim, orgos, manjerico, slvia, tomilho, funcho, zimbro, estrago), especiarias (cravo-da-ndia, noz-moscada, gengibre, pimenta-preta, louro), cogumelos (trufas), frutos (limo, laranja, tangerina, ma, banana), frutos secos (amndoa, avel, pinho), algas, ouro e aromas (baunilha) (Baiano et al. 2010).

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    FIG. 2_ A-B) ASPECTO DE ExTRACO DE AROMA DE JASMIM POR ENFLEURAGE, A FRIO (A) E A qUENTE (B). C-F) ASPECTO DO PROCESSO DE ExTRACO INDUSTRIAL DE AROMA JASMIM, COM SOLVENTES ORGNICOS.

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    V) Em determinadas circunstncias necessrio recorrer a metodologias selectivas especficas, umas de cariz mais industrial, como destilao sob vcuo, outras de cariz mais laboratorial, como, entre outras, a destilao-extraco, headspace ou microextraco em fase slida (SPME), Figura 3.

    Em diversas circunstncias necessrio acentuar uma caracterstica aromtica, ou eliminar alguns constituintes, casos em que a destilao sob vcuo com gradiente controlado de temperatura, pode auxiliar na separao de fraces de interesse.

    A destilao-extraco um processo combinado de destilao em gua e extraco por solvente orgnico. Neste processo, o vapor gerado na destilao, que arrasta os constituintes volteis, sujeito a extraco pelo vapor do solvente orgnico apolar, como o pentano, menos denso e imiscvel com a gua. Os volteis ficam assim retidos na fase orgnica e no retornam ao recipiente de destilao, nem cristalizam no condensador.

    A extraco por headspace e a microextraco em fase slida (SPME), so tcnicas expeditas, para fins analticos, que permitem extrair, em fase gasosa, os volteis de reduzidas quantidades de material e disponibiliz-los, imediatamente, para anlise instrumental.

    VI) A designao de leo essencial est reservada aos produtos obtidos por destilao ou expresso, isto , leo essencial o produto obtido por (1) destilao, hidrodestilao ou destilao por arrastamento de vapor, de uma planta ou das suas partes, ou por (2) um processo mecnico a frio, designado expresso (prensagem ou picotagem), no caso do epicarpo de frutos de espcies de Citrus (laranjeira, limoeiro, tangerineira, toranjeira, entre outros). O leo essencial separado da fase aquosa por decantao ou centrifugao (Figueiredo et al. 2014).

    (1) A preparao de material para extraco, por qualquer dos processos que envolva destilao, varia con-soante o tipo de material a destilar. H material que deve ser extrado de imediato aps colheita, como o caso de muitas flores. Outros h que podem, e devem, ser armazenados, por perodos curtos, como algum material herbceo, e outros ainda, suportam armazenamento prolongado, sem perda de qualidade e/ou rendimento. Material lenhoso pode requerer seccionamento, ou macerao prvia destilao.

    A tcnica de destilao um processo de extrao que utiliza gua, e/ou vapor de gua, para promover a libertao dos compostos volteis das clulas onde se acumulam. Sob a forma de vapor, a gua arrasta estes compostos que, aps condensao, constituem, em regra, uma fase menos densa e portanto sobrenadante, e imiscvel na gua, o leo essencial.

    Consideram-se trs tipos bsicos de destilao (FAO 1992): a) hidrodestilao, ou destilao em gua, b) destilao em gua, com arrastamento de vapor e c) destilao com arrastamento de vapor, Figura 4.

    a) Hidrodestilao, ou destilao em gua. Com este processo o material vegetal totalmente imerso em gua que levada ebulio. Trata-se de um processo simples e verstil. Contudo, o aquecimento directo pode ser de difcil controlo e estabilizao, pelo que o rendimento da destilao pode ser varivel. O sobre-aquecimento pode ainda levar a que o material fique esturrado o que diminui a qualidade do produto, ou inviabiliza mesmo a recuperao do leo essencial. O contacto do material com a gua de destilao favo-rece a ocorrncia de hidrlises, oxidaes, hidrataes e outras reaces geradoras de artefactos. Alguns compostos volteis mais solveis em gua podem permanecer na gua de decoco e no serem recupera-dos no leo essencial. O processo requer ainda o aquecimento de grande quantidade de gua, para alm do tempo, e da energia, necessrias a esse aquecimento. Para diminuir o problema de volume insuficiente de gua para conduzir a destilao, na hidrodestilao e na destilao em gua, com arrastamento de vapor, recorre-se coobao. A coobao consiste no retorno ao destilador, da fase aquosa destilada (hidrola-to). A coobao pode aumentar as perdas dos compostos mais hidrossolveis. Todavia, a hidrodestilao o processo indicado para a obteno do leo essencial de algumas flores e de algum material lenhoso. escala laboratorial, a hidrodestilao com coobao o processo normalizado de isolamento de leos essenciais. De acordo com a Farmacopeia Portuguesa VIII (2005), e em consonncia com outras Farmaco-peias, o aparelho de Clevenger o destilador adoptado para este fim, Figura 5, permitindo o isolamento e a determinao do rendimento6 em leo essencial.

    6 Rendimento: Volume de leo essencial produzido por peso seco, ou fresco, de matria prima.

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    FIG.3_ A) ASPETO DO SISTEMA DE DESTILAO-ExTRACO LABORATORIAL, COM O APARELHO DE LIkENS-NIkERSON. B) PORMENOR DO BALO DE DESTILAO (DIREITA) E DO BALO DE ExTRACO, COM O SOLVENTE ORGNICO (ESqUERDA). C) ASPECTO DA RECOLHA DE VOLTEIS POR MICROExTRACO EM FASE SLIDA (SPME). D) PORMENOR DOS SUPORTES qUE CONTM AS FIBRAS PARA RECOLHA DE VOLTEIS. E) PORMENOR DO SUPORTE COM FRASCOS CONTENDO MATERIAL A ANALISAR.

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    FIG. 4_ A-D) ASPECTO GERAL E PORMENORES DE DESTILADORES INDUSTRIAIS (A-C) E PILOTO (D).

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    b) Destilao em gua, com arrastamento de vapor. Distingue-se do anterior, por o material estar acima da gua, separado por uma grelha. Por este processo a gua em ebulio gera vapor, que atravessa, e ex-trai, o material vegetal. O material est desta forma protegido do contacto directo com a fonte de calor, mas importante que o material vegetal seja distribudo de forma homognea, sem grande compactao, para que ocorra uma extraco completa e eficiente. Embora com menor impacto, este processo apresenta algumas das desvantagens apontadas para a hidrodestilao.

    c) Destilao com arrastamento de vapor. Neste caso gerado vapor de gua numa caldeira, o qual injectado, a presso controlada, no destilador que contm o material vegetal. Trata-se de um processo com menor consumo de energia, e mais rpido em termos operativos e de extraco. Por no haver contacto directo com o material, e por o destilador no sobreaquecer, a degradao dos constituintes do leo es-sencial reduzida. Este um mtodo por excelncia para destilaes em larga escala, porque permite obter leos essenciais de melhor qualidade.

    Como regra, todos os destiladores devem estar preparados para que a carga, descarga e limpeza sejam fceis, e devem estar devidamente isolados para evitar perdas, e/ou uma distribuio desigual, de calor. Na sequncia da destilao, a fase de vapor contendo os compostos volteis atravessa um condensador, onde arrefece e condensa. importante que a condensao seja completa, sob risco de perda do leo essencial por evaporao. Ao liquefazerem-se, o leo essencial e a gua separam-se em duas fases. Os leos essenciais so, em regra, menos densos do que a gua, pelo que se acumulam na fase superior. H, no entanto, alguns leos essenciais mais densos do que a gua. Assim, o recipiente de recolha deve, ideal-mente, estar adaptado s duas situaes. O recipiente de recolha deve ainda ter o volume adequado para permitir uma separao eficaz das duas fases, ou parte do leo essencial pode perder-se, por separao incompleta da gua, e retornar ao destilador.

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    (2) No caso particular dos citrinos, o leo essencial extrado a frio por um processo mecnico, designado expresso. A expresso, isto , a pren-sagem ou picotagem do epicarpo dos frutos, leva ao rebentamento das estruturas glandulares (bolsas) que, dessa forma, libertam o secretado. O leo essencial e a fraco aquosa so depois separados por centrifugao.

    Por este processo so igualmente extradas furanocumarinas que, pela sua fototoxicidade, devem ser re-movidas, por exemplo com recurso a hidrodestilao.

    Independentemente da forma de extrao, as instalaes e equipamento devem ser adequadamente higienizados, e os princ-pios activos extrados das plantas devem ser mantidos em local fresco, seco e ao abrigo da luz e do ar. O acondicionamento deve ser feito em recipientes limpos, lavveis e de material inerte que no absorva odores, isto , que no reajam com os extractos, como acontece com a borracha ou plstico. Para pequenos volumes, utilizam-se normal-mente recipientes de vidro escuro, e gran-des contentores metlicos para produo a larga escala.

    Sendo produtos naturais, os princpios ac-tivos produzidos pelas plantas esto sujei-tos a variabilidade qumica, mais ou menos acentuada, decorrente de um conjunto di-verso de factores ambientais, fisiolgicos ou

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    FIG.5_ A) ASPECTO DO SISTEMA DE HIDRODESTILAO LABORATORIAL, COM O APARELHO DE CLEVENGER, PARA ISOLAMENTO DO LEO ESSENCIAL DE CAMOMILA ALEM (Matricaria chamomilla L.).

    B) PORMENOR DA AMPOLA DE RECOLHA DO LEO ESSENCIAL DO APARELHO DE CLEVENGER. C) PORMENOR DE UM FRASCO DE LABORATRIO CONTENDO O LEO ESSENCIAL DE CAMOMILA ALEM, COM A CARACTERSTICA COR AzUL.

    A B

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    genticos (Figueiredo et al. 2007, Figueiredo et al. 2014). Esta composio qumica distinta, em indivduos de uma mesma espcie, que se caracterizam pela semelhana fenotpica, permite caracteriz-los como variedades qumicas, ou quimiotipos. A existncia de quimiotipos particularmente frequente em diversas espcies de PAM, e tem gran-de relevncia a nvel industrial dado que propriedades biolgicas diversas esto associadas a quimiotipos distintos.

    Ainda que nem sempre exista uma regulamentao especfica que padronize as caractersticas finais do extracto que contm os princpios activos, importante garantir a melhor qualidade do produto final, bem como o maior rendimento e a homogeneidade entre extraces. No menos importante definir correctamente a sua origem botnica, evitando equvocos baseados apenas nas designaes comuns, muito variveis com a regio de colheita.

    Dada a complexidade da maioria dos extractos vegetais, a sua caracterizao qumica, qualitativa e quantitativa, por metodologias analticas adequadas, reveste-se da maior importncia, uma vez que quer compostos maiori-trios, quer os minoritrios podem ser responsveis por caractersticas organolpticas e propriedades biolgicas particulares.

    No caso dos leos essenciais, pelo seu reconhecido valor comercial, existem normas nacionais e internacionais, dis-ponveis nas Farmacopeias (como a Portuguesa e a Europeia) e em entidades como a International Organization for Standardization (ISO, seco de leos Essenciais), a Association Franaise de Normalisation (AFNOR), a Fragrance

  • financiamento

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    TTULOS DISPONVEIS 1. Tipos e Espcies de PAM (F. Delgado, O. Pvoa) | 2. Propagao de PAM (F. Delgado, O. Pvoa) | 3. Instalao das Culturas de PAM (J. Morgado) 4. Proteco das Culturas de PAM (M. C. Godinho) | 5. Colheita de PAM (E. Ferreira e M. Costa) | 6. Secagem e Acondicionamento de PAM (A. Ferreira) 7. Processamento de PAM Secas (L. Alves) | 8. Extractos de PAM (A. C. Figueiredo, J. G. Barroso e L. G. Pedro) | 9. Mercados e Organizaes no Sector das PAM (A. Barata e V. Lopes)DISPONVEIS EM EPAM.PT/GUIA

    FICHA TCNICA

    GUIA PARA A PRODUO DE PLANTAS AROMTICAS E MEDICINAIS: UMA RECOLHA DE INFORMAO E BOAS PRTICAS PARA A PRODUO DE PLANTAS AROMTICAS E MEDICINAIS EM PORTUGAL | dezembro 2014Esta ficha resulta de um trabalho colectivo realizado no ambito do projecto Formar para a Producao de Plantas Aromaticas e Medicinais em Portugal promovido pela ADCMoura, coordenado por Joaquim Cunha, e foi realizado por Ana Barata, Ana Cristina Figueiredo, Armando Ferreira, Fernanda Delgado, Isabel Mourao, Joaquim Cunha, Joaquim Morgado, Jose G. Barroso, Luis Alves, Luis G. Pedro, Margarida Costa, Maria do Ceu Godinho, Maria Elvira Ferreira, Noemia Farinha, Orlanda Povoa

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    Materials Association (FMA) e a USA Food Chemical Codex (FCC), que definem as caractersticas padro de um leo essencial de qualidade. Portugal integra a ISO, atravs do Instituto Portugus da qualidade (IPq), e da sua Comisso Tcnica CT 5 - leos Essenciais, que visa a normalizao dos mtodos de anlise e especificaes dos leos essenciais. Ao respeitar as exigncias tcnicas e os padres de qualidade dos produtos, contribui-se para o reforo da credibilidade da produo nacional em qualquer mercado.

    AGRADECIMENTOS

    Fundao para a Cincia e a Tecnologia (FCT) no mbito do PEst-OE/EqB/LA0023/2011.

    REFERNCIAS

    Ascenso L. (2007) Estruturas secretoras em plantas. Uma abordagem morfo-anatmica. In: Potencialidades e Aplicaes das Plantas Aromticas e Medicinais. Curso Terico-Prtico, [Eds. A. C. Figueiredo, J. G. Barroso, L. G. Pedro], Edio Centro de Biotecnologia Vegetal Faculdade de Cincias da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal (3 Edio), pp. 19-28.

    Baiano A., G. Gambacorta, E. La Notte (2010). Aromatization of olive oil. Transworld Research Network 661: 1-29.

    FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) (1992) Minor oil crops. FAO Agricultural Services Bulletin No.94. Rome.Farmacopeia Portuguesa VIII (2005) INFARMED, Lisboa, Portugal.

    Figueiredo A. C., J. G. Barroso, L. G. Pedro (2007) Plantas Aromticas e Medicinais. Factores que afectam a produo. In: Figueiredo A. C., J. G. Barroso, L. G. Pedro (Eds), Potencialidades e Aplicaes das Plantas Aromticas e Medicinais. Curso Terico-Prtico, pp. 1-18, Edio Centro de Biotecnologia Vegetal Faculdade de Cincias da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal (3 Edio ISBN: 978-972-9348-16-7).

    Figueiredo A. C., L. G. Pedro, J. G. Barroso (2014) Plantas aromticas e medicinais - leos essenciais e volteis. Revista da APH 114: 29-33.

    Figueiredo A. C., L. G. Pedro, J. G. Barroso, H. Trindade, J. Sanches, C. Oliveira, M. Correia (2012) O Campo de Tiro e a Mata Experimental do Escaroupim. A biodiversidade da flora autctone - Plantas aromticas e medicinais. Mais Alto 398: 47-49.

    OUTRA BIBLIOGRAFIA DE APOIO E PGINAS DA INTERNET A CONSULTAR

    Figueiredo A. C., J. G. Barroso, L. G. Pedro (Eds) (2007) Potencialidades e Aplicaes das Plantas Aromticas e Medicinais. Curso Terico-Prtico, Edio Centro de Biotecnologia Vegetal Faculdade de Cincias da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal (3 Edio ISBN: 978-972-9348-16-7) (http://cbv.fc.ul.pt/PAM/PAM3_PAM1_Indice_Pagina_CBV.pdf).

    Proena da Cunha A., A. P. da Silva, O. R. Roque (2003) Plantas e produtos vegetais em fitoterapia. Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal.

    Proena da Cunha A., A. P. da Silva, O. R. Roque, E. Cunha (2004) Plantas e produtos vegetais em cosmtica e dermatologia. Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal.

    Proena da Cunha A., F. Teixeira, A. P. da Silva, O. R. Roque (2007) Plantas na teraputica farmacologia e ensaios clnicos. Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal.

    Proena da Cunha A., J. A. Ribeiro, O. R. Roque (2007) Plantas aromticas em Portugal. Caracterizao e utilizaes. Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal.

    Proena da Cunha A., O. R. Roque, M. T. Nogueira (2012) Plantas aromticas e leos essenciais, composio e aplicaes. Fundao Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal.

    6th Edition of Food Chemical Codex (http://www.usp.org/fcc)

    Association Franaise de Normalisation (AFNOR) (http://www.afnor.org)

    European Cooperative Programme for Plant Genetic Resources (ECPGR) (http://www.ecpgr.cgiar.org)

    European Medicines Agency (http://www.ema.europa.eu)

    European Scientific Cooperative on Phytotherapy (http://www.escop.com)

    Flavor and Extract Manufacturers Association (FEMA) (http://www.femaflavor.org)

    Instituto Portugus da qualidade (IPq) (http://www.ipq.pt)

    International Organization for Standardization (ISO) (http://www.iso.org)

    World Health Organization (http://www.who.int/en)

    ExTRACTOS DE PAM