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Governo Federal Luiz Inácio Lula da Silva Presidente Ministério da Educação Fernando Haddad Ministro Secretaria de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Secretário Diretor do Departamento de Políticas em Educação a Distância Hélio Chaves Filho CAPES Jorge Almeida Guimarães Presidente Diretor de Educação a Distância Celso Costa Diretor de Educação Básica João Carlos Teatini Governo do Estado José Targino Maranhão Governador UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA Marlene Alves Sousa Luna Reitora Aldo Bezerra Maciel Vice-Reitor Pró-Reitora de Ensino de Graduação Eliana Maia Vieira Coordenação Institucional de Programas Especiais – CIPE Secretaria de Educação a Distância – SEAD Eliane de Moura Silva Cecília Queiroz Assessora de EAD

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Governo FederalLuiz Inácio Lula da Silva

Presidente

Ministério da EducaçãoFernando Haddad

Ministro

Secretaria de Educação a DistânciaCarlos Eduardo Bielschowsky

Secretário

Diretor do Departamento de Políticas em Educação a DistânciaHélio Chaves Filho

CAPESJorge Almeida Guimarães

Presidente

Diretor de Educação a DistânciaCelso Costa

Diretor de Educação BásicaJoão Carlos Teatini

Governo do EstadoJosé Targino Maranhão

Governador

UnivErSiDADE EStADUAl DA PArAíBAMarlene Alves Sousa Luna

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Aldo Bezerra Macielvice-reitor

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Coordenação institucional de Programas Especiais – CiPESecretaria de Educação a Distância – SEAD

Eliane de Moura Silva

Cecília QueirozAssessora de EAD

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL - UEPB

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Fone/Fax: (83) 3315-3381 - http://eduepb.uepb.edu.br - email: [email protected]

Editora da Universidade Estadual da Paraíba

DiretorCidoval Morais de Sousa

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Projeto GráficoArão de Azevêdo Souza

Revisora de Linguagem em EADRossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)

Revisão LinguísticaMaria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)

Diagramação Arão de Azevêdo SouzaGabriel Granja

Língua Latina I

Ricardo Soares da Silva Hermes Orígenes Duarte Vieira

Campina Grande-PB2010

478S586l Silva, Ricardo Soares da.

Língua latina I / Ricardo Soares da Silva, Hermes Orígenes Duarte Vieira. – Campina Grande: EDUEPB, 2011.

183 p.: il.

ISBN 1. Língua Latina - Educação. 2. Língua Latina - Ensino 3. Gramática.

4. Educação à Distância. 5. Latim. I. Titulo.

21. ed. CDD

Sumário

I UnidadeA importância de estudar Latim.......................................................7

II UnidadeOs nomes de tema em “a”: a 1ª declinação.................................27

III UnidadeMorfologia Verbal: os tempos do “Infectum”..................................43

IV UnidadeA organização da Frase Latina......................................................57

V UnidadeAlgumas particularidades da Frase Latina.....................................73

VI UnidadeOs nomes de tema em “o”: a 2ª declinação.................................89

VII UnidadeMorfologia Verbal: os tempos do “perfectum”..............................107

VIII UnidadeA morfossintaxe das preposições e adjuntos adverbiais latinos.......133

IX UnidadeA morfossintaxe da voz passiva e os verbos compostos de “sum”...149

X UnidadeA função pronominal e os adjetivos de 1ª Classe........................165

A importância de estudar Latim

A importância de estudar Latim

I UNIDADE

8 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 9

Apresentação

Até o aluno que nunca estudou o latim já teve contato com a língua, seja por meio de expressões usadas em docu-mentos seja através do discurso jurídico ou, mesmo, na litur-gia eclesiástica. Apesar disso, ele não conheceu os concei-tos, porque lhe faltou disciplina e orientação na abordagem dos conteúdos linguísticos e históricos, capazes de preen-cher as lacunas dessa compreensão. Essa primeira unidade tem, portanto, o objetivo de oferecer condições preliminares para que você situe no tempo e espaço o alcance do latim, sobretudo no Ocidente, de modo a conferir a importância da matéria para a formação da língua portuguesa; também, para principiar as lições de prosódia1, visando ao reconhe-cimento e diferenciação das três tradições existentes quanto à pronúncia: a eclesiástica, a nacional e a reconstituída. En-tretanto, para que você consiga obter um bom desempenho, será preciso que estude de forma disciplinada e tire as dú-vidas com os tutores quando necessário. Tais medidas são imprescindíveis para o alcance dos conteúdos abordados na disciplina.

Objetivos

Saber a importância de estudar a língua latina para a formação •profissional;

Identificar o alcance histórico da língua Latina no Ocidente;•

Reconhecer os elementos fonéticos mais significativos do Latim;•

1 Prosódia: área de conhecimento que es-tuda a pronúncia correta das palavras; se-gundo a boa ou má pronúncia, pode receber respectivamente o nome de ortoepia ou cacoepia. (cf. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio, 2004).

10 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 11

A importância de estudar o latim

Com alguma desconfiança, o leigo se aproxima do latim com res-salvas, já que supõe se tratar de uma língua que não diz respeito a âmbito algum de sua vida. As motivações são quase sempre a de que a língua é morta, muito antiga, e a de que ninguém mais fala o latim hoje em dia, salvo, quando da necessidade técnica ou do mero exibi-cionismo. Nesse caso, a primeira noção convém ao discurso do espe-cialista e a segunda ao do “metido a besta”, de modo que ambas as motivações terminam por causar mais a rejeição do que a aceitação da língua. Outro fator da rejeição é o próprio desprezo pela memória das línguas, pelos fatos históricos e pela própria tradição.

O enraizamento do problema consiste na ideia barata de que ape-nas o que é “imediato” se reverte em prazer ou vantagem. Tal ideia é premissa de mercado, tem a ver com o excesso de consumo na atuali-dade, com a insatisfação de não poder ter bens materiais, com a capi-talização do desejo, com a coisificação do homem entre outros fatores conseguintes ao abandono da memória e ao gosto pelo descartável. Todavia, nada disso suprirá o espírito e a sede de conhecimento que a humanidade edificou desde tempos imemoriais. Com efeito, o conhe-cimento é a única via de acesso à reflexão: autoconsciência de si em relação ao mundo.

O primeiro questionamento deve surgir, então, quando o aluno do “Curso de Licenciatura em Letras a Distância” indaga os horizontes de atuação profissional da área. Logo em seguida, deve perceber que a “língua” em sua mais variada perspectiva é o tema principal e essencial na maioria das disciplinas do curso. Os conteúdos interrelacionam-se numa ação em cadeia, através da qual se concatenam as experiên-cias.

Dessa forma, comecemos pela assertiva: há uma relação histórica en-tre o latim e o português que não devemos prescindir. Além disso, a língua latina é uma das mais influentes e estudadas nos centros de educação de ensino superior. Assim, é importantíssimo que o profissional da área de letras construa uma base sólida sobre heranças culturais e linguís-ticas da língua portuguesa para a sedimentação de um conhecimento bem fundamentado.

Do latim, originaram-se as chamadas línguas “neolatinas” ou “no-vilatinas”, como o italiano, o espanhol, o francês, o romeno e o por-tuguês, para considerar apenas os idiomas mais conhecidos. Nesse sentido, a língua portuguesa é uma das derivações imediatas do latim. As mudanças ocorreram, sobretudo, devido a fatores socioculturais e históricos que consignaram estrutura e prestígio linguístico ao nosso

idioma. Logo, a língua portuguesa pode ser considerada o latim, “um pouco modificado”. Por isso, o estudo da língua latina oferece sub-sídios para uma visão histórico-evolutiva das mudanças das línguas, sendo o latim nosso ponto de ancoragem.

Em “Diretrizes para o aperfeiçoamento do Ensino / Aprendizagem da Língua Portuguesa”, documento de 1986, o MEC assegura a per-manência do “estudo das estruturas do Latim, com vistas à compreen-são mais lúcida da própria língua portuguesa, em sua história interna e seus recursos mórficos e semânticos”. A orientação evidencia o caráter propedêutico2 do estudo do latim, pois que nos serve de base para o aprimoramento linguístico de nossa língua materna.

Para além da importância do estudo do latim com vistas à com-preensão das estruturas da língua portuguesa, há também a literatura latina, concebida à luz dos gregos e retomada por diversos escritores da Modernidade, de Luís de Camões a Bento Teixeira, de Molière a Ariano Suassuna. Também, outros legados romanos foram reativados na contemporaneidade com bastante influência: a retórica, a oratória, o direito, o teatro, a arquitetura e as artes plásticas fixaram-se na me-mória ocidental através de tendências classicizantes ou utilitárias.

Realmente, são inúmeros os legados que os romanos nos deixaram. Porém, essa abundante riqueza cultural nos escapa à visão quando só lemos o mundo através de lentes mundanas, incapazes de dar conta de algo a mais que não seja o senso comum. O latim, mais do que erudição, pode proporcionar disciplina, concentração e discernimento lógico ao aluno que queira, verdadeiramente, se aventurar no exu-berante mundo das letras, em considerando a língua o nosso maior patrimônio cultural.

Em “Diretrizes para o aperfeiçoamento do Ensino / Aprendizagem da Língua Portuguesa” (1986), o MEC assegura a permanência do estudo do Latim. Qual a finalidade? Justifique.

2 Propedêutico: que prepara para receber ensino mais completo. (cf. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio, 2004).

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

Atividade I

12 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 13

A origem do latim

Inicialmente, a língua latina foi falada na região do Lácio, numa lo-calização central da península itálica, à margem esquerda do rio Tibre. Roma floresceu como principal cidade dessa pequena região que não fica muito distante do mar Tirreno. Por tradição, consta que Roma foi fundada supostamente em 753 a.C., por Rômulo3.

Segundo a classificação genealógica das línguas, agrupadas em família por relação de parentesco, o latim pertence ao tronco comum de diversas línguas que derivaram de uma mesma e hipotética língua primordial: o Indo-europeu (30.000 a.C.). Se considerarmos as lín-guas oficiais dos países da Europa Ocidental, perceberemos que elas pertencem a quatro ramos provenientes da família indo-europeia: o helênico (grego), o românico (português, italiano, francês, castelhano, etc.), o germânico (inglês e alemão) e o Céltico (Irlandês e Gaélico). O grupo românico, especificamente, deriva do latim que, por sua vez, pertence ao ramo itálico, a que também faz parte o úmbrio, o osco e o sabélico.

Os primeiros vestígios de inscrições do dialeto falado pela tribo latina datam do século VI a.C. e são considerados a documentação mais antiga da língua. A cada conquista do exército romano, o latim se expandia juntamente, contudo, nossa herança mais elaborada da língua pertence ao segundo quartel do século III a.C., quando o la-tim começou a adquirir características literárias. A carência de textos em latim, fez com que o escravo grego Lívio Andrônico compusesse a Odusia, uma tradução adaptada da Odisséia, de Homero, e marco literário da língua latina. A finalidade era, no entanto, mais didática do que literária.

A disseminação do latim, para além da Península Itálica, atingiu as regiões circunscritas ao mediterrâneo. Entre outros alcances, abrangeu a costa norte da África, a Ibéria, a Helvécia, as Gáleas e a Grã-bre-tanha, ao Oeste; os Bálcãs, a Mesopotâmia e a Arábia, ao Leste. Foi, sobretudo, através de soldados e comerciantes, principalmente, que a língua latina se expandiu ao mesmo tempo em que o império romano ia se consolidando. Assim, não é do latim erudito que as línguas româ-nicas derivam, mas do latim levado por soldados e comerciantes que, com o anexo de outras regiões ao controle imperial e à necessidade de vínculos mercantis e culturais, foram produzidas características regio-nais no latim falado em cada ponto do império, porque havia línguas anteriores ao latim que o marcaram substancialmente.

Historicamente, a língua latina se subdivide em cinco momentos:

a) O período primitivo (século VII a.C. – 250 [?] a.C.), em que incidem os cantos heróicos, religiosos e fesceninos4, inseridos na literatura oral, e textos escritos, sobretudo, inscrições epigráficas, arquivos, anais, leis e sentenças em versos;

b) O período arcaico (250 [?] a.C. – 81 a.C), no qual se destacam os primeiros autores do latim, tais como Lívio Andrônico, Névio, Ênio, Catão, Plauto, Terêncio e Lucíolo;

c) O período clássico (81 a.C. – 68 d.C.), quando a poesia e prosa latinas conquistam um elevado grau de maturidade e expressão po-ética, em que se sobressaíram autores como Cícero, na oratória e em tratados filosóficos; César, Salústio e Tito Lívio, na historiografia; Lucrécio, na poesia didática de cunho filosófico; Vergílio, na poesia épica; e, na poesia lírica, Catulo, Horácio e Ovídio;

d) O período pós-clássico (68 d.C. – 192 d.C.), em cuja época poetas e pensadores provenientes de outros recantos do império romano vigoram na arte literária sem, no entanto, modelar-se no estilo pre-valecente do período clássico, como: Fedro, em fábulas; Petrônio, com o romance Satyricon; Plínio, na epistolografia de cunho cientí-fico; Marcial, com epigramas; Sêneca, na epistolografia filosófica e na tragédia; Quintiliano, na retórica e gramática;

e) O período cristão (192 d.C. - ao século V), especialmente a partir do século III d.C, em que textos apologéticos, biográficos, historio-gráficos, filosóficos, dentre outros, são redigidos no espírito do latim eclesiástico, momento de Tertuliano, São Cipriano, Santo Ambró-sio, São Jerônimo e Santo Agostinho.

Comba, Julio. GRAMÁTICA LATINA: Para seminários e faculdades. 4ª ed. revisada e adapatada. São Paulo: editora Salesiana Dom Bosco, 1991.

3 Embora cogitada em diversas fontes, a re-ferência supracitada trata-se de suposição, uma vez que mitos, lendas e fatos excepcio-nais foram incorporados ao relato, que per-deu em fidedignidade.

4 Cantos fesceninos: certo gênero de versos licenciosos da Antiga Roma, dos quais se acredita ter surgido a sátira (cf. Novo Dicio-nário Eletrônico Aurélio, 2004).

14 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 15

Mesmo com o declínio do império romano, o latim ainda se impôs como língua de cultura da civilização ocidental por muitos séculos, so-bretudo, como língua franca5, chegando ao Iluminismo francês do iní-cio do século XVIII. Impondo-se como língua de cultura, o latim legou uma experiência de comunicação prática e precisa.

Entre suas modalidades, destaca-se a divisão latim clássico e la-tim vulgar. Essa, da qual deriva as línguas românicas, segundo Furlan (2006, p. 31), é a

variante que foi correntemente falada pelo povo romano no Império e que, tendo evoluído de mo-dos diferentes nas diversas províncias, com influên-cia do substrato étnico-linguístico nelas encontrado pelos conquistadores, deu origem, desde o fim do século V d.C., aos falares neolatinos regionais, chamados romances ou romanços6, dos quais deri-varam até o final do 1º. milênio, as atuais línguas neolatinas ou românicas

Desse modo, o latim vulgar era língua de comunicação, corrente e dinâmica, falada pela população, inclusive pela aristocracia, consti-tuindo-se por força da oralidade e obedecendo a tendências espontâ-neas em viva transformação. O latim clássico, por sua vez, é a língua em sua variante erudita e gramaticalizada. Foi modelo oficial e polido pela escrita literária, sob a influência grega. É, com efeito, a língua literária e de situações formais com atributos estéticos e didáticos. De acordo com Furlan (2006, p. 32) “esteve longe do padrão da língua falada pelo povo (inclusive pela elite romana), que apresentava muitas variantes, por efeito da diversidade de etnias e de culturas que compu-nham o Império”.

Hoje, o latim não é mais falado como língua nativa, embora sobre-viva nas línguas neolatinas. Apesar disso, é a língua oficial do Estado do Vaticano, sendo estudada em quase toda nação do mundo. No nos-so caso especificamente, a importância e o prestígio do latim se une à necessidade de uma sistematização de atividades que possa dar conta de um aparato linguístico, de forma agradável e eficiente.

Ao estudar a origem da língua latina, sua evolução e legado, você entrou em contato com uma série de situações que diz respeito à matéria. Com base no texto e sugestões de leitura ao final da unidade, responda:

1. Onde era falado o latim e a que tronco linguístico pertence?

2. Quem foi Lívio Andrônico e qual sua contribuição para a literatura latina?

3. Quais são as fases do latim e suas características?

4. O que fez o latim se expandir através de soldados e comerciantes?

5. Que vem a ser “romanço”?

6. Comente as diferenças entre o latim clássico e o latim vulgar.

7. Por que o latim não é mais falado como língua nativa?

5 Língua franca: língua auxiliar para comu-nicação, especialmente, em tratados filosó-ficos, científicos ou documentos e delibera-ções importantes pactuadas entre nações.

6 Romance ou romanço: diz-se ao modo ro-mano, referindo-se às línguas que, segundo as variantes regionais do latim vulgar, não eram mais o latim e tampouco as línguas neolatinas, assim, como fase intermediária na evolução do latim vulgar para as línguas neolatinas, constitui-se também na fase preliminar de uma língua românica.

Atividade II

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

16 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 17

Elementos de fonética: o alfabeto, o acento e a pronúncia

a. O alfabeto latino deriva do etrusco, que se originou do alfabeto grego. O grego, por sua vez, derivou do alfabeto fenício, criado no 2º. milênio a.C.. A princípio, o alfabeto latino possuía apenas as letras maiúsculas (capitales), mas ao final da República, no século I a.C., fo-ram desenvolvidas as letras minúsculas (cursivae). Primitivamente, pos-suía apenas 21 letras:

Aa, Bb, Cc, Dd, Ee, Ff, Gg, Hh, Ii, Kk, Ll, Mm, Nn, Oo, Pp, Qq, Rr, Ss, Tt, Vu, Xx.

Embora rara, a letra k compõe o alfabeto latino, mas pode ser substituída pela letra c. Assim, a cidade histórica Cartago, localizada ao norte da África, pode ser escrita em latim Karthago ou Carthago.

As letras y e z foram incorporadas ao alfabeto latino no I século a.C., para transliterar fonemas que os gregos grafavam com u (upsílon) e z (dzeta).

Como também, para transcrever os fonemas gregos produzidos pe-las letras q (theta), r (rho), f (phi) e c (chi), através dos dígrafos respec-tivos: th (theatrum), rh (rhetorica), ph (philosophia) e ch (chirurgia).

O alfabeto latino carece do j e do v, pois o i servia tanto para vogal quanto para consoante, assim escrevia-se iam (= já) e não jam; da mesma forma o v, pois que se escrevia uinum (= vinho) e não vinum7.

O x é consoante dupla equivalente a cs, assim a palavra latina dux (= comandante) se pronuncia ducs.

Reconheça e circule o i e o u consonantais das seguintes palavras:

iurare – riuus – fluuius – coniugare – iuuenis – inuidia – uia – uua – auidus – aduersarius –auarus – uictoria – iuridicus – Iesus – adiuro – finitiuus – Iupter – uariatio – uetusto – iucundus.

b. O acento latino se difere do acento português, pois enquanto as vogais e sílabas da língua portuguesa se destacam pelo acento de to-nicidade, a língua latina possui o acento de quantidade para a dife-renciação das vogais e sílabas. O sistema de acentuação da língua portuguesa divide as vogais e sílabas em tônicas e átonas, conforme a sua intensidade, diferentemente da língua latina que as distingue pela duração, conforme a quantidade silábica seja longa ou breve, indica-das respectivamente pelo mácron ( ¯ ) e pela braquia(˘).Deacordocom Furlan (2006, p. 56), “São breves aquelas vogais e sílabas cuja prolação requer uma só unidade de tempo; são longas aquelas cuja prolação8 requer duas unidades”. Portanto, a noção de quantidade si-lábica consiste na diferenciação entre sílabas longas e breves9:

O sistema vocálico latino possui 10 vogais entre longas e breves: Āā, Ăă, Ēē, Ĕĕ, Ī ī, Ĭ ĭ, Ōō, Ŏŏ, Ūū, Ŭŭ; e quatro ditongos principais: Æ-æ, Œ-œ, Au-au e Eu-eu.

A sílaba longa é por natureza a que contém ditongo: iu-dae-us (= judeu), ob-oe-di-o (= obedeço), the-sau-rus (= tesouro), ae-qu-us (= imparcial); ou vogal derivada de ditongo in-i-qu-us (= parcial, injus-to, inimigo), da formação da preposição in + aequus; também a que contém vogal resultante da contração de duas vogais: a-mo (a-ma-o); ou a que possui vogal longa por natureza: a-ma-re (= amar), vi-de-re (= ver), au-di-re (= ouvir), le-git (= leu) etc.

Por posição, a sílaba longa pode ser a que precede duas consoantes: est, trans, nunc, ex10, etc.; a que termina com consoante e a sílaba se-guinte inicia com consoante [stel-la (= estrela), ar-ma (= armas), ip-se (= o próprio), il-le (= aquele), ius-tus (justo)] mesmo que a próxima sílaba esteja na palavra seguinte: passus dum conderet urbem (Virgílio, Eneida, Canto I, v. 5) – “sofreu enquanto fundava a cidade de Roma”.

A sílaba breve não cumpre tais condições: a-ni-mus (= espírito), fa-ce-re (= fazer), ge-re-re (= levar, usar, produzir, administrar) etc.; ge-

7 O j (i consoante) e o v (u consoante) foram acrescentados ao alfabeto latino no século XVI, pelo humanista francês Pierre de la Rammée; como acontece na tradição bra-sileira, escreveremos o v como u consoante: uva e não uua. Reparem que os dicionários e alguns livros didáticos costumam apresen-tar o i/I consonantal por j/J, assim como o u/U consonantal por v/V.

Atividade III

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

8 Prolação: prolongamento do som.

9 Neste livro, os sinais diacríticos mácron ( ¯ ) e braquia ( ˘ ) só serão apresentados na apreciação fonética de vocábulos ou na diferenciação de cognatos com quantidade silábica diferente, para uma clara identifi-cação de sentido.

10 Lembre-se de que o x tem a pronúncia dupla cs.

18 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 19

ralmente, a vogal é breve quando seguida de outra vogal, mesmo que haja um h intercalado: arduus (= difícil), attraho (= atraio), idoneus (= idôneo), dubius (= duvidoso) etc.

Algumas regras de acentuação são fundamentais: a) não há pa-lavras oxítonas em latim, os monossílabos são oxítonos por possuírem apenas uma sílaba: rĕs (= coisa), mōns (= monte, montanha); b) a maioria das palavras latinas é paroxítona, assim os dissílabos são sem-pre paroxítonos indiferentemente da sílaba ser longa ou breve: cŏlor (= cor), nūdē (= simplesmente); c) os polissílabos, no entanto, podem ser paroxítonos ou proparoxítonos: ărēnă (= praia), fēmĭnă (= fêmea, mulher), hăbĭtāns (= habitante).

Para identificar se os polissílabos são paroxítonos ou proparoxíto-nos, o aluno deve observar a quantidade da penúltima sílaba do vo-cábulo, pois se a vogal for longa, a acentuação recai nela mesma e a palavra é paroxítona; mas, se a vogal for breve, a acentuação recai na sílaba anterior e a palavra, assim, é proparoxítona.

Então, como devemos marcar a tonicidade na pronúncia?

A palavra latina amor (= amor, afeição, amizade), por exemplo, deve ser pronunciada ámor. E, seguindo as regras de acentuação, a palavra amabāmus (= amávamos) pronuncia-se amabámus; a palavra oceănus (= oceano) pronuncia-se océanus e a palavra dŏmĭni (= do-nos, senhores, patrões) deve ser pronunciada dómini.

Atividade IVAplicando as regras de acentuação, coloque acento agudo nas palavras como se fossem palavras do português:

aquĭla – celĕbro – corpŏris – desidĕro – erudītus – hiĕmis – superīor –w ve-lox – Afrĭca – aqua – collāre – dēcrētus – ērēctē – formōsus – intĭmus – locus – līlĭum – monotŏnus – maior – nūllū – poena – oblīvĭum – parō – Perĭcles – rabĭēs – rēgŭlo – satisfactĭō – tumŭlus – Xerxēs.

Tū rĕgĕre īmpĕrĭō pŏpŭlōs, Rōmānĕ, mĕmēntō

“Tu, ó romano, lembra-te de comandar os povos com o teu poder”.

(Virgílio, Eneida, Canto VI, v. 851).

c. Na atualidade, não há povo cuja língua materna seja o latim, no entanto, a pronúncia latina construiu ao longo do tempo normas de prosódia alinhadas à tradição a que pertence. Historicamente, há três tradições de pronúncia que se diferenciam estruturalmente: a pronúncia Reconstituída, a Eclesiástica e a Tradicional:

A pronúncia Reconstituída da língua latina é também designada como restaurada, clássica ou científica, porque consiste na reconstrução da pronúncia provável do período clássico. A base da argumentação de lingüistas e historiadores da língua reporta às gramáticas latinas Ars Grammatica Minor e Ars Grammatica Maior, escritas por Donatus (Sé-culo IV d.C.), Institutiones Grammaticae, escrita por Priscianus (século VI d.C.). Para a rigorosa reconstrução da pronúncia latina, houve a necessidade do cruzamento de fontes, através da comparação e exa-me pormenorizado de inscrições e manuscritos latinos, bem como pelo contraste da derivação românica do latim. Tal pronúncia é mais adota-da nas universidades, sobretudo, nos cursos de Letras;

A pronúncia Eclesiástica da língua latina é também conhecida como romana ou italiana, porque foi e é a pronúncia empregada pela Igreja Católica Apostólica Romana. Tal pronúncia possui tratamento singular quanto às vogais, pois não apresentam som fechado, nasal e mudo, seguindo a tradição medieval da pronúncia da língua que foi influen-ciada, sobremaneira, por sua derivação regional na península itálica;

A pronúncia Tradicional da língua latina é também conhecida como nacional, porque se convencionou pelo uso dado ao sistema fonético em cada nação. Assim, as nações – Portugal, Inglaterra, Alemanha, França, Espanha e Itália – construíram cada qual uma escola que res-tringia as particularidades prosódicas, pois que eram influenciadas pelo arcabouço fônico da língua materna. O resultado disso foi uma varie-dade de pronúncia. Cada nação estruturou uma pronúncia com suas singularidades. Como característica geral da pronúncia Tradicional11, destacamos: 1) a quantidade das vogais não influencia a pronúncia e tampouco os timbres, uma vez que a abertura e o fechamento do som da língua portuguesa influenciam a pronúncia do latim; 2) pelo mesmo motivo, há um processo de nazalização das vogais, fato inexistente nas pronúncias anteriores; 3) a distinção medieval do i e j é, então, con-siderada. Cheia de expressões, citações e máximas em latim, a área jurídica comumente adota tal pronúncia.

Apesar da variedade de pronúncia da língua latina, o aluno deve entender que cada uma delas segue o padrão aceito em sua área de pertencimento e, por isso mesmo, não podemos apontar o erro de uma ou de outra pronúncia, baseando-nos em especulações infundadas. É certo, pois, seguir um padrão de pronúncia para não incorrer em con-fusão, já que todas as pronúncias fundamentam-se em tempo e espaço distintos daqueles do Latim Clássico e, como ainda não existia o apa-rato audiovisual, jamais saberemos ao certo como o latim era falado pelos antigos romanos. Além disso, a noção que temos de quantidade silábica é mais histórica do que prática, haja vista a inexistência dessa particularidade em nosso idioma.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

11 As características referem-se à pronúncia portuguesa da língua latina.

20 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 21

Com isso, queremos destacar o uso que faremos da pronúncia Re-constituída por seguir o padrão mais aceito pelas universidades estran-geiras e nacionais, dados os critérios anteriormente vistos:

A pronúncia Reconstituída:

Grafemas Representação figurativa

Exemplo Tradução Pronúncia

Ae ai rosae = rosas rósai

Oe oi poena = pena póina

C k Cicĕro = Cícero kíkero

G guê(i) regina = rainha reguina

J i jurare = jurar iuráre

S ss rosa = rosa róssa

T t Petrus = Pedro Pétrus

V u (ou w da palavra inglesa window)

vinum = vinho uinum

X ks uxor = esposa úksor

U o u é sempre pronunciado

anguis = cobra ángüis

Y soa como o u francês de purée

lyra = lira lüra

Z dz zelus = zelo dzelus

H soa aspirado como hot do inglês

homo = homem rhomo

Obs.: todos os sons devem ser pronunciados, inclusive as consoantes geminadas: stella (= estrela) deve ser pronunciada stél-la e não stela; o aluno deve evitar o e e o o mudos, assim como todo som nasal, de modo que as palavras latinas mare (= mar), dono (= doo) e amamus (= amamos) pronunciam-se exatamente como estão escritas e não: mari, dónu e amâmus.

Atividade VLeia atentamente o diálogo (Virgílio, in: Bucólicas, I) entre Melibeu e Títero para, em seguida, transcrevê-lo em seu caderno, valendo-se da representação figurativa da pronúncia reconstituída.

Moliboeus:Tityre, tu patulae recubans sub tegmine fagiSilvestrem tenui musam meditaris avena;nos patriae finis et dulcia linquimus arva;nos patriam fugimus; tu, Tityre, lentus in umbra,formosam resonare doces Amaryllida silvas.

Tityrus:O Meliboee, deus nobis haec otia fecit:namque erit ille mihi semper deus; illius aramsaepe tener nostris ab ovilibus imbuet agnus.Ille meas errare boves, ut cernis, et ipsumludere quae vellam calamo permisit agresti.

Melibeu:Títero, tu, sentado embaixo da ampla faia,tocas na tênue flauta uma canção silvestre;nós deixamos a pátria e estas doces pastagens;nós fugimos, e tu, tranqüilo à sombra, Títero,levas selva a ecoar Amarílis formosa.

Títiro:Ó Melibeu, um deus, a nós este ócio fez:ele sempre será meu deus; que o altar dele,tenra ovelha de nosso aprisco sempre embeba.Bem vês, ele deixou meu rebanho pastare eu tocar o que bem quiser em flauta agreste.

Atividade VIAgora, também colocando o acento agudo para indicar a sílaba tônica, transcreva a representação figurativa da pronúncia reconstituída das palavras abaixo:

ālĕă – Căĕsăr – ăŭtūmnŭs – Bācchŭs – cănĭs – māchĭnă – dĕcŭs – ĕpĭtăphĭŭm – ērŭdītŭs – fĕbrŭārĭŭs – gēns – cōgnĭtŭs – hārmŏnĭă – ăhēnŭs – jūcūndŭs – kŏĕnōsĭs – lăĕtĭtĭă – cārmĕn – nāsŭs – ŏpĕră – ōccāsĭŏ – cŏĕtŭs – pāctŭm – phăĕnŏmĕnŏn – qŭăĕsĭtĭō – rīsŭm – rŏsă – scĭēntĭă – vĭtĭŭm.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Aqui, chegamos ao fim da primeira unidade. O conteúdo apreciado contemplou a importância do estudo da língua latina para a formação do profissional em Letras. Além disso, você estudou a origem e difusão da língua latina no Ocidente, com a finalidade de destacar a derivação portu-guesa da língua latina. Ao final, você estudou o alfabeto latino, a prosódia latina em suas três tradições: a eclesiástica, a nacional e a reconstituída, bem como o acento e características de pronúncia dessas três tradições.

Para o aprofundamento dos conteúdos da primeira unidade, você precisa manter uma disciplina de leitura que não se deve encerrar neste material. Portanto, os assuntos aqui vistos demandam um exame minucio-so por parte do aluno aplicado, especialmente porque o estudo da língua latina é acumulativo. Isso significa que o percurso trilhado será sempre re-cobrado. O que implica dizer que sempre retornaremos conteúdos já vis-tos para nos situarmos no conteúdo que está sendo estudado no presente momento. Por isso, é imprescindível que nos dediquemos a um estudo contínuo, haja vista que percurso trilhado será sempre recobrado.

Como proposta para o aprofundamento de leitura, indicamos:

Leituras recomendadas

a. Para A importância de estudar o latim: ler o Prefácio de Gramática Latina: curso único e completo, de Napoleão Mendes de Almeida (2000, p. 7-11);

b. Para A origem do latim: ler “A língua latina e sua formação histórica”, in: Iniciação ao La-tim, de Zelia de Almeida Cardoso (2003, p. 5-10); “A Língua Latina”, in: Gramática Latina para Seminários e Faculdades, de Júlio Com-ba (1991, p. 13-4); “Cultura Latina”, in: Lín-

gua e Literatura Latina e sua derivação Portuguesa, de Oswaldo Antônio Furlan (2006, p. 21-48);

c. Para Elementos de fonética: o alfabeto, o acento e a pronúncia: ler “Sistema fônico e sis-tema ortográfico”, in: Língua e Literatura La-tina e sua derivação Portuguesa, de Oswaldo Antônio Furlan (2006, p. 52-9); “Elementos de fonética”, in: Gramática Latina para Semi-

nários e Faculdades, de Júlio Comba (1991, p. 15-8).

ResumoNesta unidade, consideramos a importância de estudar a língua la-

tina, especialmente, para o aluno do “Curso de Licenciatura em Letras a Distância”, a partir do momento em que ele questiona os horizontes de sua atuação profissional. Vimos também que existe uma rejeição em relação ao estudo do latim proveniente do desprezo para com a memória, a história e a tradição. É fundamental, pois, saber da rela-ção entre o latim e o português e, ademais, a língua latina é uma das mais influentes nos centros de educação de ensino superior. Do latim, originaram-se as chamadas línguas neolatinas, como o português e o espanhol. Além da influência da literatura latina, os romanos transmi-tiram a retórica, a oratória, o direito, o teatro, a arquitetura e as artes plásticas ao Ocidente. O latim é, contudo, mais do que erudição, por-que proporciona disciplina, concentração e discernimento lógico ao aluno aplicado.

Num segundo momento, estudamos que a língua latina foi falada na região do Lácio. Por tradição, consta que Roma foi fundada em 753 a.C., por Rômulo. O latim pertence ao tronco comum de diversas línguas que derivaram do Indo-europeu. Os primeiros vestígios de ins-crições do dialeto falado pela tribo latina datam do século VI a.C.. A carência de textos em latim, fez com que Lívio Andrônico compusesse a Odusia, tradução adaptada da Odisséia, de Homero. Entre outros alcances, o latim abrangeu a costa norte da África e a Ibéria, onde hoje se localizam Portugal e Espanha. Historicamente, a língua latina se subdivide em cinco momentos: o período primitivo, o arcaico, o clássico, o pós-clássico e o cristão. Entre suas modalidades, destaca-se a divisão latim clássico e latim vulgar. O latim vulgar era a língua da população, falada inclusive pela aristocracia, pois se constituiu na oralidade seguindo tendências espontâneas; o latim clássico, por sua vez, é gramaticalizado e serviu de modelo para a escrita literária. Hoje, o latim é a língua oficial do Estado do Vaticano;

Por fim, vimos que o alfabeto latino deriva do alfabeto estrusco, embora tenha sofrido enorme influência do alfabeto grego. A princípio, o alfabeto latino possuía 21 letras e era escrito apenas com letras mai-úsculas. As letras y e z foram incorporadas ao alfabeto para transliterar fonemas gregos, bem como alguns dígrafos (th, rh, ph e ch). O j e o v só foram incorporados tardiamente para substituir o i e u consonantais. O acento latino é marcado pela quantidade, assim os sinais diacríticos mácron ( ¯ ) e braquia ( ˘ )distinguemaduração silábica,ou seja,se as vogais e as sílabas são longas ou breves. Algumas regras de acentuação são fundamentais: a) não há palavras oxítonas em latim, os monossílabos são oxítonos por possuírem apenas uma sílaba; b) a maioria das palavras latinas é paroxítona, assim os dissílabos são sem-pre paroxítonos indiferentemente da sílaba ser longa ou breve; c) os po-

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lissílabos, no entanto, podem ser paroxítonos ou proparoxítonos. Para a identificação, o aluno deve observar a quantidade da penúltima sílaba do vocábulo. Assim, se a vogal for longa, a acentuação recai nela mesma e a palavra é paroxítona, mas, se a vogal for breve, a acentu-ação recai na sílaba anterior e a palavra é proparoxítona. Existem três tradições para a pronúncia do latim: a Reconstituída, a Eclesiástica e a Tradicional. O aluno deve compreender a pronúncia latina em sua área de pertencimento, para não incorrer em comparações infundadas. A pronúncia reconstituída é a que adotaremos nesta apostila, pois ela é fundamentada com base em gramáticos latinos e sob procedimento lingüístico-científico.

Com base no que foi escrito, construa um texto orientado pelo tema: “A importância do latim para minha formação como profissional de Letras”. Atente para as sugestões de leitura colocadas.

Referências

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Latina: curso único e completo. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

CARDOSO, Zélia Almeida. Iniciação ao Latim. 5 ed. São Paulo: Ática, 2003. (Série Princípios).

COMBA, Júlio. Gramática Latina para Seminários e Faculdades. 4 ed. rev. e adap. São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco, 1991.

FURLAN, Oswaldo Antônio. Língua e literatura latina e sua derivação portuguesa. Petrópolis: Vozes, 2006.

VIRGÍLIO. Bucólicas: edição bilíngue. Tradução e comentário de Raimundo Carvalho. Belo Horizonte: Crisálida, 2005 .

_______. Eneida. Tradução de David Jardim Júnior. Rio de Janeiro: Ediouro, 1993.

Autovaliação

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Os nomes de tema em “a”: a 1ª declinação

Os nomes de tema em “a”: a 1ª declinação

II UNIDADE

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Apresentação

Na primeira Unidade, dedicamo-nos à origem da língua latina e à importância de sua derivação na România. Em seguida, apresentamos as peculiaridades do sistema vocáli-co e consonantal latino, observando respectivamente grafia e pronúncia. Agora, começamos nova etapa na aprendiza-gem do latim. Nesse momento, damos início aos aspectos morfossintáticos da língua latina em comparação com os da língua portuguesa. Objetivamos, pois, que você identifique ao final da unidade características relevantes do sintetismo latino e da analiticidade própria da língua portuguesa. Esse requisito é fundamental para que você relacione e caracte-rize alguns aspectos estruturantes em ambas as línguas, tais como gênero, número, função, flexão e ordem das pala-vras.

Objetivos

Diferenciar as características sintéticas da Língua Latina em co-•tejo com as características analíticas da Língua Portuguesa;

Aprender os primeiros conceitos de morfossintaxe da Língua La-•tina, bem como os nomes da 1ª declinação de tema em –a;

Reconhecer os 6 casos latinos quanto ao desempenho da fun-•ção e à flexão desinencial.

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radical e desinência específica para a função de sujeito da oração em latim; a palavra servam (= a escrava) é composta pelo radical serv mais a desinência –am característica do complemento verbal que, em português, chamamos de objeto direto.

Mas como fica a tradução, se alternarmos as desinências?

Dominam vocat serva. •

Dominam serva vocat. •

Serva dominam vocat.•

Observamos, então, o predicador com a forma preservada, porém, atribuímos a desinência –am, típica do objeto direto, ao radical domin e a desinência –a, típica do sujeito da oração, ao radical serv, de modo que a tradução agora se torna: A escrava chama a senhora.

Tais alterações desempenham papel fundamental na morfossintaxe latina. Enquanto o português exprime suas funções sintáticas de forma analítica, através da colocação dos termos no enunciado e pelo uso de preposições e artigos, o latim exprime as mesmas funções de forma sintética, através de modificações formais ocasionadas no aspecto final das palavras.

Outra característica do latim é a ausência de artigos. Assim, quan-do sujeito singular, as expressões a rosa e uma rosa traduz-se de uma única forma: rosa (ros + a); quando sujeito plural, as expressões as rosas e umas rosas traduzem-se: rosae (ros + ae). Sem que haja altera-ção, as mesmas expressões podem ser o objeto direto de uma frase da língua portuguesa, daí a necessidade de compreendê-las analiticamen-te. Todavia, em latim isso não acontece, porque o objeto direto também possui desinência específica.

Nas frases abaixo, a palavra rosa assume função sintática diferen-te e, consequentemente, correspondência desinencial específica para cada função expressa nas traduções em latim:

Frase em Português Função Tradução em latim

A rosa é bela. Suj. sing. Rosa est pulchra

Belas são as rosas. Suj. pl. Rosae sunt pulchrae

A professora recebe uma rosa. O.D. sing. Magistra rosam accipit.

A aluna dá rosas à professora. O.D. pl. Discipula rosas magistrae dat.

Se já sabemos que a palavra rosa possui o radical ros- em latim, isso significa que devemos identificar a função de cada situação da palavra rosa pela desinência final apresentada. Portanto, escrever em latim rosa (= a rosa), rosae (= as rosas), rosam (= uma rosa) ou rosas (= rosas) designa estabelecer situação morfossintática específica para o seu emprego:

O latim é uma língua sintética...

Uma das principais diferenças entre o latim e o português consiste na estrutura morfossintática das palavras em situação textual. Para tan-to, costuma-se apontar que o latim é uma língua sintética e o português uma língua analítica. Muitas línguas clássicas indo-européias – como o sânscrito, o grego ou o latim – e algumas modernas – como as línguas eslavas – são línguas sintéticas. O principal indicativo de que a língua é de fato sintética reside no corpo da palavra. Assim, os nomes substan-tivos e adjetivos trazem, em sua estrutura, alterações especiais no final que ocasionam função específica para cada um deles.

Por outro lado, as línguas neolatinas, como o português, são cha-madas analíticas, porque trazem poucas ou pequenas modificações formais e, sobretudo, porque exprimem as funções sintáticas por meio de artigos, preposições e pela ordem ou distribuição dos termos sintáti-cos na oração. Ou seja: a colocação das palavras na frase ou a forma como elas são arranjadas exprimem funções que são a expressão ana-lítica da combinação entre elas.

Por exemplo, a frase

A senhora chama a escrava.sujeito predicado

confirma a ordem “direta” dos termos da oração: sujeito + predica-do. A palavra senhora, sendo sujeito, inicia a oração. O predicado, por sua vez, subdivide-se em predicador (chama) e complemento verbal (a escrava) e, juntas, as palavras compreendem uma sequência a que chamamos: ordem direta da frase. Essa é uma característica das línguas analíticas como a portuguesa1.

Sem alterar o sentido, a mesma frase em latim pode ter as seguintes formas:

Domina vocat servam. •

Domina servam vocat. •

Servam domina vocat. •

Apesar das formas diversas em que a expressão é vista, temos o mesmo significado2: A senhora chama a escrava. Isso ocorre porque o latim é uma língua sintética, ou seja, possui alterações especiais ao final de cada palavra que lhe designam a função. Portanto, a palavra domina (= a senhora) é composta por domin + a, respectivamente,

1 Isso não quer dizer, porém, que a ordem das frases em língua portuguesa seja tão ele-mentar. Pelo contrário, o processo analítico visa justamente ao reconhecimento dos ter-mos da oração em nível mais complexo; um bom exemplo disso é o exercício recorrente, em escolas e cursinhos preparatórios, de estabelecer uma ordem direta para o Hino Nacional com o propósito de identificar as funções que cada termo desempenha.

2 O verbo é identificado na frase pela desi-nência númeo-pessoal -t, indicando a ter-ceira pessoa do singular (ele / ela) da voz ativa; sua posição não tem influência sobre a mensagem, embora seja preferencial que se localize ao final da frase.

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a. À desinência -a [de ros-a],corresponde o sujeito singular;

b. À desinência -ae [de ros-ae], corresponde o sujeito plural;

c. À desinência -am [de ros-am], corresponde o objeto direto singular;

d. À desinência -as [de ros-as], corresponde o objeto direto plural.

De forma sucinta, indique a diferença entre língua sintética e língua analítica para, em seguida, destacar a função das palavras sublinhadas nas orações latinas, conforme sejam “sujeito” ou “objeto direto”, e circule os verbos:

1. Aquilae volant; zebrae volare non possunt (= as águias voam; as zebras não podem voar);

2. Arana muscam capit. (= a aranha pega a mosca);

3. Puella saltat cum laetitia. (= a moça está dançando com alegria);

4. Ancillis domina pecuniam non dedit (= a patroa não deu o dinheiro às empregadas);

5. Magistra monet discipulas (= a professora adverte as alunas);

6. Nautae vitas filiarum reginae servabunt (= os marinheiros salvarão as vidas das filhas da rainha);

7. Homicida culpam non negabit (= o assassino não negará a culpa);

8. Sedulas3 discipulas magistra laudat. (= a professora elogia as alunas aplicadas);

9. Epulas convivis paravimus (= preparamos um banquete para os convidados);

10. Poetae amant naturam (= os poetas amam a natureza).

Morfologia nominalflexão, gênero, número e casos latinos

É justamente por se tratar de uma língua sintética que o latim possui um sistema morfológico complexo. De acordo com a flexão, as palavras podem ser variáveis ou invariávies, quais sejam capazes de modificar a sua estrutura. As classes gramaticais variáveis no latim são os nomes4 (substantivos, adjetivos, numerais e pronomes) e os verbos. As classes gramaticais invariáveis são os advérbios, as preposições, as conjun-ções, as interjeições e as partículas, em especial, as interrogativas.

É com base em suas especificidades que Zélia de Almeida Cardoso (2003: 18) observa que a língua latina possui nomes que “se flexionam assumindo formas diferentes conforme o caso gramatical em que este-jam sendo empregados, o número e, na maioria das vezes, o gênero”. Mas, o que vem a ser flexão? Flexão corresponde, pois, à propriedade que certas palavras possuem de sofrer alterações em sua parte final - terminações, sufixos, desinências - originando, portanto, novas formas/possibilidades para uma mesma palavra.

Assim,

a) A flexão do substantivo se dá através de raízes, prefixos, sufixos, vogais temáticas, vogais de ligação e desinências, de modo que se à raiz –am juntarmos o sufixo –or (formador de substantivos abstratos), teremos a palavra latina amor (= amor), mas se unirmos o sufixo –ica ou sua oposição em gênero -icus, teremos respectivamente as palavras amica (= amiga) e amicus (= amigo). Se ao contrário quisermos indicar negação ou ausência, anexaremos o prefixo –in aos mesmo vocábulos: inimica e inimicus.

b) O gênero do substantivo latino pode ser três: o masculino, o femi-nino e, em oposição a esses, o neutro. O gênero neutro, que vem de neutrum (< ne uter = nenhum dos dois), existe como contraposição aos dois gêneros anteriores, seguindo em parte a noção de correspondên-cia a seres assexuados: aurum (= ouro), poema (= poema), caput (= cabeça), gymnasium (= ginásio). São masculinos nomes que indicam seres do sexo masculino e atividades típicas aos homens, como com-preendiam os latinos, como o nome próprio Augustus ou o ofício de poeta. Desse modo, a palavra nauta (= marinheiro), embora possua a vogal temática –a, é do gênero masculino; também, os nomes de povos: Romani (= os romanos), rios: Vistula (= o rio Vístula, que fica na Polônia) e meses: Februarius (= fevereiro). O gênero feminino, por sua vez, é indicado pelos nomes do sexo feminino: Silvia, Clodia, Drusila, bem como por árvores: pinus (= pinheiro), ficus (= figueira), malus (= macieira); por cidades: Roma, Corinthus, Athenae; por ilha: Euboea, Sicilia, Sardinia; e por países: Aegyptus, Graecia.

Atividade I

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3 O adjetivo sedulas (= aplicadas) deve con-cordar em gênero, número e função com o substantivo que qualifica, no caso com dis-cipulas (= alunas).

4 Como vimos, não há artigos em latim mas, no momento em que traduzimos para a lín-gua portuguesa, não devemos esquecê-los.

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c) O número dos substantivos é dividido em dois grupos: o singular e o plural5. É para tanto que há flexão distintiva de número. Por isso, grafar corona (= a coroa), no singular, não é a mesma coisa que grafar coronae (= as coroas), no plural. Houve aí uma alteração desinencial no final da palavra de –a para –ae que indica com precisão o número a que se refere. Contudo, como no vernáculo, há nomes que só existem no singular, chamados de singularia tantum, como Roma ou Iesus, e outros nomes que só existem no plural, chamados de pluralia tantum, como Athenae (= Atenas), divitiae (= riqueza), bracae (= calça), thermae (= termas, sauna), tenebrae (= escuridão, trevas), Venetiae (Veneza), etc. Há ainda os substantivos que possuem um significado quando no singular e outro quando flexionados no plural. Por exemplo, o vocábulo latino copia, que significa em português a abundância de ou uma quan-tidade de, no plural significa a tropa, uma tropa: copiae. Assim também são littera (= letra, alfabeto) – litterae (= carta, literatura, documento) e angustia (= angústia, aflição) – angustiae (= desfiladeiro).

d) Os casos do substantivo são seis: nominativo, genitivo, acusativo, dativo, ablativo e vocativo. Mas o que vem a ser caso? Caso é uma palavra de origem latina que vem de casus e quer dizer: queda, quebra, daí tratar-se especificamente da quebra da forma (flexão) na parte final do vocábulo, pelo uso da desinência apropriada para indicar a função sintática que exerce na oração. De modo geral, os substantivos latinos apresentam seis (6) formas para o singular e outras seis para o plural, caracterizando os seis casos existentes. Por exemplo, a palavra ira (= ira, cólera) pode apresentar-se das seguintes formas: ira, irae, iram, irarum, iras, iris (cada qual exercendo função sintática e número espe-cífico). As diversas formas finais da mesma palavra ira são conhecidas como desinências. Como se percebe, elas são a parte final “quebradi-ça” das palavras. Portanto, para cada função sintática – como sujeito, predicativo do sujeito, complemento nominal, complemento verbal, ad-junto adnominal, adverbial enfim –, há os casos6.

Contudo, tal aspecto não nos é familiar no português, haja vista o latim se caracterizar como língua sintética e os casos traduzirem exa-tamente tal aspecto. Para não comprimir abusivamente o conteúdo, apreciaremos logo após a atividade caso a caso.

a. Indique com a letra “s” se a palavra estiver no singular e com “p” se estiver no plural:

Bestiae, scientiam, gratia, laetitia, gallinas, araneas, muscam, pilae, umbram, ethica, Britannia, Hispaniam, Brasilia, comoedia, maritas, tibiae, vita, culinam, mensa, sellae, tabernas, rota, aras, silvam, vaccae, pluvia, ripas, sagittae, alam, viam, scholas, pecunia, pug-nae, aquilae, cena, famulas, filia, servae, vicinas, turbae, nautae, equas, domina, personae, femina, agricolae, deas, incolam, regina, puellae, discipulas, ranae, lunam, poetas.

b. Agora use o caderno e divida as mesmas palavras em dois grupos, o primeiro se chamará “nominativo” e a ele pertencem palavras cujas desinências indiquem a função de sujeito da oração; o segundo grupo se chamará “acusativo” e a ele pertencem palavras cujas desinências indiquem a função de complemento verbal (objeto direto).

A sintaxe dos casos

Como já vimos, o latim expressa as funções sintáticas por meio de casos. Logo, uma palavra flexionável que não seja o verbo apresen-ta seu caso de acordo com a desinência disposta no fim da palavra. Essa desinência corresponde sintaticamente a uma função articulada na frase. Portanto, é imediato o reconhecimento do binômio “caso” e “função” em latim, porque sempre que pensarmos nesse associaremos àquele imediatamente.

Vimos que existem seis casos em latim (o nominativo, o genitivo, o acusativo, o dativo, o ablativo e o vocativo), agora veremos um por um.

1. O Nominativo: é o caso do sujeito e do complemento do sujeito, o

5 No Indo-Europeu havia o dual, número remanescente no grego, que servia para in-dicar a dupla ou o par; porém, o aluno não deve se preocupar com esse aspecto uma vez que a língua portuguesa apresenta de igual modo os dois grupos que apresenta o latim.

6 Desde já, é importante que o aluno perce-ba que a morfologia (a forma) das palavras latinas aponta para a sintaxe, ou seja, para a função que certa palavra experimenta em contexto frasal. Já a sintaxe determina a relação que as palavras estabelecem umas com as outras e, consequentemente, deter-minando o sentido do enunciado.

Atividade II

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predicativo. Assim, na frase A águia é grande, o termo “águia” é o sujeito da frase e “grande” é o predicativo do sujeito, já que se trata de um atributo do primeiro termo, relacionando-se a ele por meio do verbo de ligação “é”. Em latim, ambas as funções se expressam através do caso nominativo e, desse modo, virão na frase latina com desinência apropriada do caso nominativo. Em latim, a frase traduz-se: Aquila mag-na est. As desinências de aquil-a e de magn-a são próprias do caso nominativo e indicam que as palavras estão exercendo respectivamente a função de sujeito e predicativo do sujeito;

2. O Genitivo: é o caso do adjunto adnominal restritivo, indicando sobretudo posse. Na frase As asas da águia são grandes, a expressão “da águia”, que aqui restringe o sentido da palavra “asas” com idéia de posse (o quê a águia possui? Asas, respondemos), expressa-se em latim através do caso genitivo. Em latim, a frase traduz-se: Aquilae alae mag-nae sunt e a palavra aquil-ae possui desinência específica de genitivo7;

3. O Acusativo: é o caso do complemento verbal, do objeto direto. Na frase vejo uma águia, a palavra “uma águia” é o objeto direto ou o complemento do verbo ver, flexionado na primeira pessoa do singular: (eu) vejo o quê? Uma águia, respondemos. Em latim, traduzimos aqui-lam video, em que o termo aquil-am possui desinência especial para o acusativo;

4. O Dativo: é o caso que indica o complemento verbal com prepo-sição, ou seja, o objeto indireto. Assim, na frase Não damos moscas às águias, o termo “às águias” corresponde ao objeto indireto que, em latim, traduz-se: Muscas aquilis non damus. Portanto, o vocábulo aquil-is possui desinência apropriada para o caso dativo que, em português, terá preposição indicativa de complemento indireto, mas em latim é a própria terminação que designa o sentido gramatical;

5. O Ablativo: é o caso do adjunto adverbial. Sempre que pensarmos numa circunstância adverbial, como modo, meio, lugar, causa, instru-mento, tempo, companhia etc., tal aspecto será expresso através de de-sinência apropriada para o ablativo. Na frase O pirata matará o agricultor por dinheiro, a expressão “por dinheiro” caracteriza bem a circunstância “causa” pela qual o pirata matará o agricultor. Em latim, temos: Pirata agricolam pecunia necabit, em que a palavra “pecuni-a” indica o motivo (causa) da circunstância adverbial8;

6. O Vocativo: é o caso do chamamento, que se separa do restante da frase por vírgula. Por isso, não devemos confundir o vocativo com o sujeito da oração, pois na frase Menina, ama os poetas! o termo “meni-na” é o vocativo da oração, já que se trata de um chamamento seguido de uma ordem. O pronome oculto “tu” subtendido no imperativo (tu)

“ama os poetas!” é que possui a função de sujeito da oração. Em latim, temos: Puella, ama poetas! em que “puell-a” é o vocativo da oração com desinência igual a do nominativo.

Para melhor fixar o conjunto de terminações que compõe as desi-nências da 1ª. Declinação9, examine as terminações dos seis casos no singular e plural e depois verifique como se declina uma palavra em latim:

Singular: A, AE, AM, AE, A, A

Plural: AE, ARUM, AS, IS, IS, AE

Agora é só juntar as desinências de cada caso a um radical. Assim, declinar uma palavra em latim é flexioná-la de acordo com as termina-ções existentes na declinação a que pertence o vocábulo.

Por exemplo:

Caso Singular Plural

Nom. Puella Puellae

Gen. Puellae Puellarum

Acu. Puellam Puellas

Dat. Puellae Puellis

Abl. Puella Puellis

Voc. Puella Puellae

De forma geral, os casos latinos traduzem-se assim:

O caso nominativo: Puella, puellae = a(s), uma(s) menina(s) – Sujeito e predicativo;

O caso genitivo: Puellae, puellarum = da(s) menina(s) – Adjunto Adno-minal restritivo;

O caso acusativo: Puellam, Puellas = a(s), uma(s) menina(s) – Objeto direto sem preposição;

O caso dativo: Puellae, Puellis = à(s), para a(s) menina(s) – Objeto in-direto com preposição;

O caso ablativo: Puella, puellis = Pela(s), por causa da(s) menina(s) – Adjunto Adverbial;

O caso vocativo: Puella, puellae = Ó menina(s)! – vocativo, interpela-ção;

8 Os alunos mais atentos perceberão que a desinência de ablativo singular é idêntica a de nominativo singular, salvo a exceção de que a desinência final daquela é longa e a dessa é breve, aspecto que não identi-ficamos sem o uso dos sinais diacríticos de quantidade. Contudo, os alunos devem ficar atentos às questões desinenciais para não se confundirem.

7 O aluno deve estar atento ao fato de que a desinência do genitivo singular é igual a do nominativo plural, portanto não devendo confundi-las quando for traduzir uma frase para o vernáculo. A frase latina costuma ser bastante precisa quanto ao sentido, por isso, não encontraremos problemas.

9 Em latim, ocorre 5 (cinco) declinações, cada uma delas possui um conjunto para-digmático de terminações chamadas de desinências. O conjunto de desinências que agora vemos pertence à 1ª. Declinação, cuja grande maioria de palavras é do gênero feminino, embora haja algumas palavras do gênero masculino.

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a. Decline em seu caderno as seguintes palavras, traduzindo-as para o português de acordo com o caso e o número:

Aqua, ora, ripa, pluvia, insula, advena, pirata, pugna, procella, ec-clesia, schola, ancilla.

b. Observe nas frases a seguir as palavras sublinhadas e identifique em qual caso elas viriam se fossem traduzidas para o latim:

1. O vinho de Nápoles era conhecido em toda Roma.

2. O soldado leva o ladrão para a prisão.

3. Enéias fundou uma cidade para os seus filhos.

4. As uvas eram muito apreciadas em Roma.

5. A Sicília trouxe azeite aos romanos.

6. Baco, deus do vinho, tu és formidável

7. O camponês vai para o campo e retorna triste.

8. De onde vem esta mulher?

9. A quem pertence esta cabana?

10. O avô conta histórias aos netos.

11. De repente surgiu um lobo!

12. O pródigo dissipará a riqueza do pai.

13. A casa do pai estará sempre aberta.

14. O trabalho é o destino dos homens.

15. De quem é este discurso? De Cícero ou de Catão?

16. A circunstância faz o ladrão.

17. O menino se machucou com a foice.

18. As árvores se agitam com o vento.

19. Os discípulos ouviam sérios.

20. Quem está aí?

21. Enéias matou Turno, herói do Lácio.

22. Soldado, sê corajoso!

23. Ó Penates, deus de meus pais, ajuda-me.

24. Democracia e ditadura são inimigas por natureza.

25. De onde vens, Marco?

26. Tu, que és meu amigo, ajuda-me.

27. A Sicília está no Mediterrânio.

28. Presentes agradam aos deuses.

29. Não é fácil ser agradável aos inimigos.

30. A fala é prata, o silêncio é ouro.

Neste momento, você chega ao final da segunda unidade. Isso sig-nifica que: se procurou tirar todas as dúvidas com o professor e com o tutor, além de fazer e corrigir os exercícios, você agora sabe distinguir características básicas da língua sintética latina e da língua analítica portuguesa. Também, sabe os casos latinos, suas flexões e funções de-sinenciais, próprias à 1ª declinação.

Como na primeira unidade, segue a recomendação: para o apro-fundamento dos conteúdos estudados na segunda unidade, você deve manter a disciplina de leitura. Para a complementação dos estudos, sugerimos as seguintes leituras:

Atividade III

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Leituras recomendadas

a. Para O latim é uma língua sintética: ler “Do analítico português ao sintético latim”, in: Língua e Literatura Latina e sua derivação Portugue-sa, de Oswaldo Antônio Furlan (2006: 51);

b. Para Morfologia nominal: flexão, gênero, número e casos latinos: ler “Morfologia nomi-nal”, in: Iniciação ao Latim, de Zelia de Almei-da Cardoso (2003, p. 18-27); “Introdução às declinações”, in: Programa de latim: 1º. Volu-

me – introdução à língua latina, de Júlio Comba (2000, p. 30-3); “As flexões e as classes de palavras”, in: Compêndio de Gramática Latina, de Maria Ana Almendra e José Nunes de Figueiredo (2003, p. 26-30);

c. Para A sintaxe dos casos: ler lição 1, 2, 3, 4 e 5, in: Gramática Latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000, p. 13-27); Capítulo I, in: Língua Latina: a teoria sintática na prática dos textos, de Janete Melasso Garcia (1997, p.

17-24).

ResumoNo primeiro tópico, apreciamos as diferenças da língua portuguesa

em relação à língua latina para distinguir os aspectos sintéticos desta e os aspectos analíticos da outra. Para tanto, vimos que o principal indi-cativo para que a língua seja de fato sintética reside no corpo da pala-vra. Assim, os nomes substantivos e adjetivos trazem, em sua estrutura, alterações especiais no final que ocasionam função específica para cada um deles. Por outro lado, as línguas neolatinas são chamadas analíticas, porque trazem poucas ou pequenas modificações formais e, sobretudo, porque exprimem as funções sintáticas por meio de artigos, preposições e pela ordem ou distribuição dos termos sintáticos na ora-ção, de modo que a colocação das palavras na frase ou a forma como elas são arranjadas exprimem funções que são a expressão analítica da combinação entre elas. Em latim, devemos identificar a função de cada vocábulo pela desinência final apresentada.

No segundo tópico, consideramos a morfologia nominal e estuda-mos que as palavras latinas, assim como na língua portuguesa, pos-suem classes gramaticais que flexionam (variáveis) e as que não flexio-nam (invariáveis), de acordo com a capacidade de alterar a estrutura da palavra. As formas diferentes assumidas pela flexão dão-se pelo caso, número e, na maioria das vezes, pelo gênero.

No terceiro tópico, estudamos que existem seis casos em latim e cada um deles possui terminação específica para o seu estabelecimen-to morfossintático. Nesse sentido, ao caso chamado nominativo corres-ponde em português o sujeito e o predicativo; ao caso genitivo corres-ponde o adjunto adnominal restritivo com sentido de posse; ao caso acusativo corresponde o complemento verbal chamado objeto direto, sem preposição; ao caso dativo corresponde o complemento verbal chamado objeto indireto, com preposição; ao caso ablativo correspon-de o adjunto adverbial, expressando circunstância: modo, meio, lugar, companhia etc.; e, por fim, ao caso vocativo corresponde o vocativo, função típica de apelo e interpelação que, por vezes, faz uso exclamati-vo. Portanto, o conjunto de terminações que compõe as desinências da 1ª. declinação tem o total de doze, seis para cada caso no singular e outras seis para cada caso no plural, de modo que declinar uma pala-vra latina é flexioná-la em todos os casos no singular e no plural, com atenção redobrada às desinências que se repetem.

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Morfologia Verbal: os tempos do “Infectum”

Morfologia Verbal: os tempos do “Infectum”

III UNIDADE

A língua latina possui características sintéticas e a língua portugue-sa, características analíticas. Com base nessa afirmação, compare as línguas levando em consideração a classe gramatical “substantivo”, bem como a organização da frase portuguesa e latina.

Referências

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Latina: curso único e completo. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

ALMENDRA, Maria Ana; FIGUEIREDO, José Nunes de. Compêndio de Gramática Latina. Porto: Porto editora, 2003.

CARDOSO, Zélia Almeida. Iniciação ao Latim. 5 ed. São Paulo: Ática, 2003. (Série Princípios).

COMBA, Júlio. Programa de Latim: 1º. Volume – introdução à língua latina. 16 ed. São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco, 2000.

FURLAN, Oswaldo Antônio. Língua e literatura latina e sua derivação portuguesa. Petrópolis: Vozes, 2006.

GARCIA, Janete Melasso. Língua Latina: a teoria sintática na prática dos textos. Brasília: Unb, 1997.

Autovaliação

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Apresentação

Com as lições anteriores, você compreendeu que há grandes diferenças nas estruturas das palavras latinas e que essas estruturas correspondem a uma função específica na frase seja a de sujeito, seja a de complemento verbal e, ain-da, as de adjuntos. Na terceira unidade, trabalharemos a morfologia verbal. Portanto, ao final desta unidade, espe-ramos que você aprenda como se forma a voz ativa dos verbos regulares latinos de 1ª e 2ª conjugações, bem como a formação de dois verbos irregulares importantes: o verbo sum e o possum.

Objetivos

Iniciação à morfologia verbal: compor os tempos do • Infectum – presente, imperfeito e futuro do indicativo;

Reconhecer e saber aplicar os infixos modo-temporais e as de-•sinências número-pessoais dos verbos regulares de 1ª e 2ª con-jugações;

Aprender dois verbos irregulares importantes: • Sum e Possum;

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Os tempos do “infectum”

O verbo é uma palavra flexionável tanto em português quanto em latim, ou seja, traz alterações na estrutura da palavra, caracterizando o processo temporal e modal da ação do sujeito, com o qual estabelece relação de concordância. Algumas características constituem o verbo: a) quanto à voz, pode ser “ativa” ou “passiva”; b) quanto à flexão, pode ser “regular”, “irregular” ou “defectiva”; c) quanto à função, pode ser “principal” ou “auxiliar”; d) quanto à predicação, pode ser de “liga-ção”, pedir complemento “acusativo” ou “dativo” ou, ainda, dispensar o complemento; e) e quanto às conjugações, o latim possui quatro: 1ª. ama-re (= amar), 2ª mone-re (= admoestar, advertir); 3ª. em consoan-te1, reg-(e)-re (= reger); 3ª em “-i” cap-(e)-re > cap-i-o (= caber); 4ª. audi-re (= ouvir).

O verbo precisa de recursos morfológicos para expressar as catego-rias gramaticais como conjugações, modos, tempos, formas nominais, bem como aspectos da ação verbal, a exemplo da duração: se contí-nua, interrompida ou concluída. Para tanto, os recursos morfológicos do verbo são: o radical, a vogal temática, os infixos modo-temporais, as desinências número-pessoais entre outros recursos eventuais para a formação verbal.

Tomemos os exemplos abaixo:

a) A 1ª conjugação possui a vogal temática “-a” = ama-re;

b) A 2ª conjugação possui a vogal temática “-e” = mone-re;

Chamamos de radical o que vem antes da vogal temática, porque é a raiz do verbo, que se apresenta em todas as pessoas e tempos: am no primeiro exemplo e mon no segundo.

Assim:

Radical + Vogal temática (VT) + desinência número-pessoal = pre-sente do infectum2 de amo, are:

Pessoa Radical e VT = TEMA Desinência número-pessoal

O presente do Infectum

1ª pessoa do singular

am -o amo (= amo)

2ª pessoa do singular

am + a -s amas (= amas)

3ª pessoa do singular

am + a -t amat (= ama)

1ª pessoa do plural

am + a -mus amamus (= amamos)

2ª pessoa do plural

am + a -tis amatis (= amais)

3ª pessoa do plural

am + a -nt amant (= amam)

Radical + Vogal temática (VT) + desinência número-pessoal = pre-sente do infectum de moneo, ere:

Pessoa Radical e VT = TEMA Desinência número-pessoal

O presente do Infectum

1ª pessoa do singular

mon + e -o moneo (= advirto)

2ª pessoa do singular

mon + e -s mones (= advertes)

3ª pessoa do singular

mon + e -t monet (= adverte)

1ª pessoa do plural

mon + e -mus monemus (= advertimos)

2ª pessoa do plural

mon + e -tis monetis (= advertis)

3ª pessoa do plural

mon + e -nt monent (= advertem)

Notas:

1) À junção do radical mais a vogal temática, chamamos de tema, assim o tema de amare é ama e o de monere é mone (basta retirar o –re final do infinitivo). O tema é importante, pois é dele que se derivam as formas verbais. Assim, o infinitivo é uma formação verbal primitiva, cujo tema desenrolará todos os tempos do infectum;

2) O nome do verbo latino não é o infinitivo, como no português, de modo que: se você for procurar um verbo num dicionário latino, deve ficar atento à flexão da primeira pessoa do presente do indicativo. Assim, as formas acima em negrito amo, are (eu amo) e moneo, ere (eu advirto) correspondem ao nome do verbo e, respectivamente, à entra-da do verbete no dicionário e logo em seguida, após a vírgula, é que temos a terminação da conjugação –are, para a primeira, e –ere, para a segunda conjugação;

1 A 3ª conjugação latina possui uma variante sem vogal temática que tem o seu tema em consoante, como no exemplo, e outra em vogal, que pode ser em –i ou em –u, como em minu-o (= diminuir). Contudo, essas são variações da mesma conjugação e, desse modo, o latim possui apenas quatro conju-gações e não seis.

2 Infectum é o termo que usamos para em-pregar o presente, o imperfeito e o futuro do modo indicativo, pois que esses tempos ver-bais possuem um aspecto inacabado quan-to à ação verbal, como se fora interrompido ou ainda não realizado, (in)feito: não-feito, não-completado.

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3) A flexão dos verbos da primeira conjugação não traz na primeira pessoa do singular a vogal temática, apenas acrescentamos a desinên-cia –o ao final do radical –am, resultando, então, amo;

Todos os verbos regulares da 1ª e 2ª conjugação manterão esse padrão. Mas, em se tratando dos tempos do infectum, precisamos co-nhecer a formação do imperfeito e do futuro do modo indicativo que, junto com o presente, formam os três tempos possíveis dessa categoria. Não há nenhum problema para reconhecermos esses tempos, pois só precisamos saber que a eles são incorporados infixos modo-temporais, assim:

a) O infixo modo-temporal do imperfeito é ba;

b) O infixo modo-temporal do futuro é bi.

Tema + infixo BA + desinência número-pessoal = imperfeito do infectum de amo, are:

Pessoa TEMA e infixo Desinência número-pessoal

O imperfeito do Infectum

1ª pessoa do singular

ama +BA -m amabam (= amava)

2ª pessoa do singular

ama + BA -s amabas (= amavas)

3ª pessoa do singular

ama + BA -t amabat (= amava)

1ª pessoa do plural

ama + BA -mus amabamus (= amávamos)

2ª pessoa do plural

ama + BA -tis amabatis (= amáveis)

3ª pessoa do plural

ama + BA -nt amabant (= amavam)

Tema + infixo BA + desinência número-pessoal = imperfeito do infectum de moneo, ere:

Pessoa TEMA e infixo Desinência número-pessoal

O imperfeito do Infectum

1ª pessoa do singular

mone + ba -m monebam (= advertia)

2ª pessoa do singular

mone + ba -s monebas (= advertias)

3ª pessoa do singular

mone + ba -t monebat (= advertia)

1ª pessoa do plural

mone + ba -mus monebamus (= advertíamos)

2ª pessoa do plural

mone + ba -tis monebatis (= advertíeis)

3ª pessoa do plural

mone + ba -nt monebant (= advertiam)

Notas:

1) O infixo modo-temporal deve ficar entre o tema (radical + VT) e as desinências número-pessoais;

2) As desinências número-pessoais são basicamente as mesmas para os três tempos do infectum, com exceção da primeira pessoa do imperfeito que terá –m em vez de –o;

3) A vogal temática aparece na composição do tema de todas as pessoas do imperfeito.

Agora, não teremos dificuldade para a composição do futuro do infectum, basta conferir os quadros abaixo:

Tema + infixo BI + desinência número-pessoal = futuro do infec-tum de amo, are:

Pessoa TEMA e infixo Desinência número-pessoal

O futuro do Infectum

1ª pessoa do singular

ama + b -o amabo (= amarei)

2ª pessoa do singular

ama + bi -s amabis (= amarás)

3ª pessoa do singular

ama + bi -t amabit (= amará)

1ª pessoa do plural

ama + bi -mus amabimus (= amaremos)

2ª pessoa do plural

ama + bi -tis amabitis (= amareis)

3ª pessoa do plural

ama + bu -nt amabunt (= amarão)

Tema + infixo BI + desinência número-pessoal = futuro do infec-tum de moneo, ere:

Pessoa TEMA e infixo Desinência número-pessoal

O imperfeito do Infectum

1ª pessoa do singular

mone + b -o monebo (= advertirei)

2ª pessoa do singular

mone + bi -s monebis (= advertirás)

3ª pessoa do singular

mone + bi -t monebit (= advertirá)

1ª pessoa do plural

mone + bi -mus monebimus (= advertiremos)

2ª pessoa do plural

mone + bi -tis monebitis (= advertireis)

3ª pessoa do plural

mone + bu -nt monebunt (= advertirão)

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Notas:

1) O infixo da primeira pessoa do singular perde o –i em sua com-posição e muda para –u na terceira pessoa do plural;

2) A desinência número-pessoal da primeira pessoa do plural volta a ser –o, de modo que só o acréscimo da letra “b” muda a expressão temporal em relação ao presente do infectum.

Atividade ICom relação aos quadros acima estudados e lendo com atenção suas notas explicativas, identifique na relação de verbos abaixo se eles pertencem à primeira ou segunda conjugação e, em seguida, conjugue pelo menos três de cada conjugação nos tempos (presente, imperfeito, futuro) do infectum, dando as traduções devidas em língua portuguesa:

Accenseo, ere = juntar, associar; Marceo, ere = murchar;

Canto, are = cantar; Mordeo, ere = morder;

Doceo, ere = ensinar, instruir Narro, are = narrar;

Educo, are = educar; Nato, are = are;

Habeo, ere = ter, possuir; Paro, are = preparar, proporcionar;

Ignoro, are = desconhecer, ignorar; Pugno, are = lutar, brigar;

Impleo, ere = encher, completar; Regno, are = reinar;

Invito, are = convidar; Salto, are = dançar;

Irrideo, ere = escarnecer; Sileo, ere = calar-se, descansar;

Laudo, are = louvar, elogiar; Timeo, ere = temer, recear;

Ludo, are = jogar; Vasto, are = destruir, devastar.

Dois verbos irregulares: “sum” e “possum”

Assim como na língua portuguesa, o latim também possui irregu-laridades quanto à flexão dos verbos. Diz-se de irregularidade tudo o que não segue um padrão ou uma norma e, por isso, apresenta-se de forma inconstante. Agora, é preciso você prestar atenção a essa varia-ção, para poder reconhecer quando um verbo não é regular. O aspec-to principal a ser considerado é a alteração parcial ou total do radical na conjugação de algumas pessoas e tempos verbais, que apresentam desigualdade quanto à estrutura original.

Assim:

a) O verbo sum (= eu sou, estou) tem como infinitivo a forma esse, que significa ser, estar, haver, existir etc.;

b) O verbo possum (= eu posso) tem como infinitivo a forma posse, que significa poder;

Se você observar bem a conjugação dos dois verbos nos tempos do infectum, perceberá que eles não respeitam o padrão de sua forma primitiva, que é o infinitvo:

O verbo sum, esse, nos tempos do infectum:

Pessoa Presente Imperfeito Futuro

1ª pessoa do singular

sum eram ero

2ª pessoa do singular

es eras eris

3ª pessoa do singular

est erat erit

1ª pessoa do plural

sumus eramus erimus

2ª pessoa do plural

estis eratis eritis

3ª pessoa do pulral

sunt erant erunt

Nota:

1) Compare a forma do infinitivo esse com as formas finitas da con-jugação do verbo sum e perceba que não há um padrão estabelecendo um radical comum às pessoas e, tampouco, infixos modo-temporais em relação aos tempos.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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O verbo possum, posse, nos tempos do infectum:

Pessoa Presente Imperfeito Futuro

1ª pessoa do singular

Possum poteram potero

2ª pessoa do singular

Potes poteras poteris

3ª pessoa do singular

Potest poterat poterit

1ª pessoa do plural

possumus poteramus poterimus

2ª pessoa do plural

Potestis poteratis poteritis

3ª pessoa do plural

Possunt poterant poterunt

Nota:

1) Observando bem, você notará que para a conjugação do verbo possum nos tempos do infectum basta acrescentar o prefixo pos- antes de –s e pot- antes de –e, conforme a conjugação do verbo sum. Assim, “eles são” em latim é “sunt”; para se conseguir “eles podem” em latim, basta acrescentar pos- à forma sunt que teremos, então, possunt. Da mesma forma, acrescentando pot- à forma eris, temos poteris; em por-tuguês, tu poderás.

Atividade IIa. Exercitatio Verborum:

Dê as formas correspondentes em latim:

Sou, eu era, serei, és, eras, serás, ele está, estava, estará, nós exis-timos, existíamos, existiremos, sois, éreis, sereis, eles existem, exis-tiam, existirão;

Posso, podia, poderei, pode, ela podia, ele poderá, podem, po-diam, poderão, podemos, podíamos, poderemos, podes, podias, poderás, podeis, podíeis, podereis.

b. Lusitane Reddere:

01- Hic et nunc.02- Nunc et semper.03- Sumus nautae, non agricolae.

04- Homicida erat nequam.05- Regina femina est, non dea.06- Semper esse nequam est perfidia.07- Cur es hic? Hic sum quia incola sum.08- Ubi sunt poetae? Ibi sunt.09- Esse frugi necesse est.10- Puellae nequam non erunt frugi feminae.11- Ubi eratis? Ibi eramus.12- Nequam numquam ero.13- Necesse non est esse poeta.14- Nunc estis discipulae sed eritis magistrae.15- Esse frugi necesse esse poterit.16- Magistrae ibi esse possunt.17- Scribarum filiae nunc sunt discipulae sed magistrae esse poterunt.

VOCABULÁRIO:

Agricola, ae = agricultor, lavrador;

Magistra, ae = professora;

Cur = por que? Nauta, ae = marinheiro;Dea, ae = deusa; Necesse = necessário, preciso;Discipula, ae = aluna, discípula; Nequam (subst. invariável) =

malvado, perverso;Et = e; Non = não;Femina, ae = mulher; Numquam = nunca, jamais;Filia, ae = filha; Nunc = agora;Frugi (subst. invariável) = honesto, frugal;

Perfidia = perfídia;

Hic = aqui; Poeta, ae = poeta;Homicida, ae = assassino, homicida;

Possum, posse = poder;

Ibi = ali, lá, aí; Puella, ae = menina, moça, garota;

Incola, ae = habitante; Quia = porque;Regina, ae = rainha; Semper = sempre;Scriba, ae = escrivão; Sum, esse = ser, estar, existir;Sed = mas; Ubi = onde;

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Leituras recomendadasPara o aprofundamento da 3ª unidade, o aluno deve aprofundar as leituras. Para a eficácia dos estudos, sugerimos as seguintes leituras:

a. Para Os tempos do infectum, ler o capítulo XIV “Morfologia dos Verbos”, in: Gramática Latina: para seminários e faculdades, de Júlio Comba (1991: 77-8; 80; 86-9); “Categorias, classes e conjugações”, in: Língua e Literatura Latina e sua Derivação Portuguesa, de Oswaldo Antônio Furlan (2006: 102-13); “1ª Conjugação Ativa”, in: Gramática Latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: 37-8);

b. Para Dois verbos irregulares: “sum” e “possum”, ler “sum – predica-tivo”, in: Gramática Latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: 53-5).

ResumoNo primeiro tópico, você aprendeu que os verbos regulares da 1ª

e 2ª conjugações são flexionáveis como os verbos na língua portugue-sa, pois apresentam alterações no corpo da palavra que expressam as categorias gramaticais, tais como conjugação, modo, tempo, número, formas nominais e aspecto. No entanto, para expressá-las, o verbo precisa de recursos morfológicos que compõe cada sentido gramatical, como raiz, vogal temática, desinência número-pessoal e infixo modo-temporal. Você também viu que os tempos do infectum são três: presen-te, imperfeito e futuro e que esses tempos correspondem a um sentido incompleto quanto ao aspecto da ação verbal. Os exemplos foram apreciados com os verbos amo, are e moneo, ere, respectivamente.

No segundo tópico, você viu que a irregularidade dos verbos, assim como na língua portuguesa, é considerada pela alteração parcial ou total do radical na conjugação de algumas pessoas e tempos verbais, apresentando um desvio em relação à estrutura originária. Os tempos do infectum possuem o infinitivo como forma primitiva, mas para os verbos sum e possum, o padrão reconhecido no primeiro tópico não servirá, haja vista reconhecermos as irregularidades de flexão desses verbos que sequer possuem os infixos modo-temporais para lhes de-signar o imperfeito e o futuro do indicativo. O aluno atento, precisa aprender cada forma verbal desses irregulares para não se confundir.

AutovaliaçãoCom base nos estudos desta unidade, redija um texto que justifique

a importância dos recursos morfológicos para as expressões gramati-cais dos verbos latinos.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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A organização da Frase Latina

A organização da Frase Latina

IV UNIDADEReferências

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Latina: curso único e completo. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

BOYES, Francis Xavier. Língua Latina I. Recife: Fasa Editora, 1989.

COMBA, Júlio. Gramática Latina: para seminários e faculdades. 4ª ed. Ver. E adpt. À nomenclatura gramatical brasileira. São Paulo: São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco, 1991.

FURLAN, Oswaldo Antônio. Língua e literatura latina e sua derivação portuguesa. Petrópolis: Vozes, 2006.

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Apresentação

Tendo aprendido corretamente como identificar as pes-soas e tempos verbais do infectum, você agora precisa com-preender algumas regras de organização da frase latina. Conhecendo algumas palavras de tema em –a, da 1ª de-clinação, e alguns verbos, você pode, desde já, formar fra-ses. Ao final da 4ª unidade, esperamos que você aprenda a organizar a frase em latim para identificação e uso dos casos latinos dos substantivos e dos tempos verbais. Nessa unidade, esperamos também que você compare a formação do modo imperativo na língua latina e na língua portuguesa, bem como a sua associação com o caso vocativo;

Objetivos

Organização da frase latina: reconhecer o lugar dos verbos na •frase latina;

Colocar de forma adequada o caso genitivo nas frases latinas;•

Conhecer as estruturas do modo imperativo, bem como a sua •sintaxe e associação com o caso vocativo;

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O lugar dos verbosna frase latina

Como vimos na 2ª Unidade, os vocábulos latinos possuem uma flexibilidade maior quanto à colocação na frase se comparados aos da língua portuguesa. A característica sintética desses vocábulos permite uma variação maior no latim, daí nem sempre se apresentarem numa ordem direta. Em latim, a frase pode ter seus termos trocados de ordem que não afetará o entendimento da mensagem, mas, se alterarmos as desinências dos casos, encontraremos outros sentidos.

Apesar da flexibilidade, existem algumas regras para a colocação de vocábulos na organização da frase. Quando nos deparamos com uma frase latina, a primeira coisa que devemos fazer é encontrar o ver-bo. Então, se o verbo expressa ação, comumente é localizado ao final da frase, com todos os outros elementos lhe antecedendo, inclusive advérbios, adjuntos e complementos1.

Assim, o objeto direto, por exemplo, que em latim chamamos acu-sativo, deve vir antes do verbo. Fato que acontece na língua portuguesa com ênfase dada ao complemento verbal, especialmente, quando usa-do de forma poética, porque o termo é estilisticamente reforçado. Em português de forma geral, o complemento verbal é posposto.

Sobre esse aspecto, Napoleão Mendes de Almeida (2000: 38) lem-bra-nos que, “em latim, precisamos colocar o objeto direto antes do verbo transitivo direto”. Assim, a frase “A lua ilumina a terra” fica nesta ordem:

Luna terram illustrat Suj. Obj. dir. Verbo trans. dir.

E da mesma forma, a tradução para o português da frase latina não deve ser “A lua a terra ilumina”, pois devemos transferir o objeto dire-to para depois do verbo, como é o costume na língua portuguesa. A anteposição do complemento acontece em latim porque é próprio das línguas sintéticas, como o grego, o alemão ou o russo. O autor enfatiza que as línguas sintéticas possuem flexão de caso e essa característica faz com que exista um padrão que fixa “o complemento antes da pala-vra completada”. Seja o objeto direto (acusativo) seja o objeto indireto (dativo); os complementos verbais, grosso modo, devem vir antes do predicador (verbo).

Ainda com relação à regra de ordem na colocação do verbo, você deve saber que o verbo sum, que é verbo de ligação, tem localização

mais livre na frase latina, bem como as formas nominais do verbo. O infinitivo, por exemplo, não precisa vir ao final da frase, como vemos a seguir:

Ancilla tunicas lavare non potest.A empregada não pode lavar as túnicas.

Discipulas magistra vocabit.A professora chamará as alunas.

Esse magistrae post instructas puellae poterunt.Depois de formadas, as moças poderão ser professoras.

No primeiro exemplo, podemos verificar que a forma nominal do verbo no infinitivo “lavare” (= lavar), tanto em português quanto em latim, está no meio da frase. Contudo, o verbo finito “pode”, corres-pondendo a terceira pessoa do singular, vem ao final da frase latina como “potest”. O mesmo acontece no segundo exemplo, em que não há correspondência de colocação entre o verbo “vocabit” e “chamará”. No terceiro exemplo, porém, o infinitivo “esse” topicaliza a frase e o verbo “poterunt” encerra; a tradução, em português, só permite que o infinitivo seja posposto ao verbo flexionado: “poderão ser”.

Mesmo flexionado, o verbo sum pode vir em qualquer parte da frase:

Via est angusta.

Est angusta via.

Angusta via est.

As três frases acima podem ser traduzidas como “A rua é estreita”. Em português, podemos inverter o sujeito e seu atributo, de modo que a frase pode ser “Estreita é a rua”. Com a inversão, incide uma carga enfática sobre o predicativo, que se realça com a topicalização. Porém, o verbo de ligação continua no meio da sentença. A segunda frase latina “Est angusta via”, por causa da topicalização do verbo “est”, pode também ser traduzida “Há uma rua apertada” ou “existe uma rua apertada”, assim, a topicalização do verbo “sum” exige uma acuida-de na hora da tradução, pois est pode significar “é”, “está”, “há” ou “existe”.

1 Isso não quer dizer que seja uma regra rí-gida, mas que freqüentemente o verbo em latim vem ao final da frase; as exceções consistem no uso de recursos estilístico-prosódicos que, na maioria das vezes, não são evidentes aos nossos ouvidos. Por isso, não estranhe encontrar em outras fontes e até mesmo neste curso de Língua Latina um verbo de ação no meio da frase.

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a. De acordo com as possibilidades de uso do verbo sum, aplique a flexão verbal concordante com o sujeito e, em seguida, traduza para o português de forma adequada:

01. Vaca no caminho (= vacca in via)02. Rosas na mesa (= rosae in mensa)03. Menina doente (= puella aegrota)04. Aluna aplicada (= discipula sedula)05. Marinheiros no bar (= nautae in taberna)06. Professora severa (= magistra severa)

b. Latine vertere:

01. Lúcia é filha de um lavrador honesto.02. A patroa chamará as empregadas e criadas.03. O escrivão demonstrará a culpa do homicida04. Por que existe falta d’água aqui?05. Estávamos mostrando o caminho aos estrangeiros2.06. As lágrimas não evitarão o castigo.07. Não será preciso viajar de navio.08. Contei uma fábula às filhas da empregada.

Vocabulário:

A colocação do genitivo na frase

O caso genitivo requer um cuidado especial, pois ele traduz a fun-ção do adjunto adnominal restritivo, e como em latim não existe a pre-posição para indicar o sentido de posse, a desinência e sua disposição na frase devem indicar com precisão essa relação. Assim, o genitivo possui o substantivo mais próximo de si na oração.

Vamos lembrar as terminações do genitivo:

A terminação do genitivo singular é –ae;

A terminação do genitivo plural é –arum;

Quanto à função, o genitivo pode ser possessivo ou partitivo, assim:

Onde está a harpa de Maria?

Ubi esta harpa Mariae?

A frase acima traduz um sentido de posse completa da coisa pos-suída, no caso uma harpa. Portanto, Maria possui a harpa toda e não uma parte dela.

O genitivo partitivo indica também a posse e traz no próprio nome a indicação que temos com este genitivo uma parte da coisa possuída e não a sua totatilidade. Assim:

Uma grande quantidade de rosas.Copia rosarum.

Uma falta de modéstia.Inopia modestiae.

Uma multidão de piratas.Turba piratarum.

Uma concha d’água.Concha aquae.

Logo, uma parte das rosas, um pouco de modéstia, muitos piratas e uma quantidade de água indicam, em todos os casos, uma relação

Atividade I

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

1 Isso não quer dizer que seja uma regra rí-gida, mas que freqüentemente o verbo em latim vem ao final da frase; as exceções consistem no uso de recursos estilístico-prosódicos que, na maioria das vezes, não são evidentes aos nossos ouvidos. Por isso, não estranhe encontrar em outras fontes e até mesmo neste curso de Língua Latina um verbo de ação no meio da frase.

Água = aqua, ae; Escrivão = scriba, ae; Lavrador = agricola, ae;

Aqui = hic; Estrangeiro = advena, ae; Lúcia = Lucia,ae;

Caminho = via, ae; Evitar = vito, are; Mostrar = monstro, are;

Castigo = poena, ae; Existir = sum, esse; Não = non;

Chamar = voco, are; Fábula = fabula, ae; Patroa = domina, ae;

Contar = narro, are; Falta = inópia, ae; Por que = cur;

Criada = famula, ae; Filha = filia, ae; Preciso = necesse;

Culpa = culpa, ae; Honesto = frugi (subst. invariável); Ser = sum, esse;

Demonstrar = demonstro, are; Homicida = homicida, ae; Viajar de navio = navigo, are;

Empregada = ancilla, ae; Lágrima = lacrima, ae;

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partitiva da coisa possuída. Porém, para termos certeza da relação de posse na oração latina, não podemos colocar um genitivo entre dois substantivos, porque isso pode causar confusão na hora de traduzir. Observe a frase abaixo:

Ancilla dominae filiam castigabit.

Na frase, o genitivo dominae está entre a palavra ancilla e filiam, de modo que há duas possibilidades de tradução: “A empregada castigará a filha da patroa” ou “A empregada da patroa castigará a filha”. Por isso, devemos evitar colocar o genitivo entre dois substantivos para não ocorrer esse tipo de confusão. Há outras maneiras mais adequadas de formular a frase com precisão. Partindo da idéia de que a filha a ser castigada é a da patroa, teremos:

Dominae filiam ancilla castigabit.

Ancilla filiam dominae castigabit.

Ancilla filiam castigabit dominae.

A tradução nas três frases é a mesma: “A empregada castigará a fi-lha da patroa”. Desse modo, não há como confundir a noção de posse nos três exemplos, porque o substantivo mais próximo do genitivo domi-nae é filiam em todos os exemplos, ou seja, a patroa possui uma filha e não a empregada. Na primeira frase, o genitivo é topicalizado, carac-terizando a posse do substantivo subseqüente; na segunda, o genitivo só pode se relacionar com o termo antecessor, pois que o seguinte é o verbo; no terceiro exemplo, vemos a possibilidade de interposição do verbo, ao deslocar o genitivo para o final da frase evitando, assim, a dubiedade na tradução.

Atividade IIa. Forme estruturas nominais de posse com as palavras dadas:

As asas (ala,ae) da galinha (gallina, ae);

Os altares (ara, ae) das igrejas (ecclesia, ae);

A audácia (audacia, ae) dos piratas (pirata, ae);

A culpa (culpa, ae) do assassino (homicida, ae);

Uma carência (inopia, ae) de alimento (esca, ae);

As garras (ungula, ae) das águias (aquila, ae).

b. Latine vertere:

01. Os convidados da patroa estão aqui.

02. Os piratas devastarão as terras dos agricultores.

03. A professora ensina as filhas do poeta.

04. Recentemente, narramos uma fábula para as alunas da profes-sora Júlia.

Vocabulário:

Agricultor = agricola, ae; Júlia = Iulia, ae;

Aluna = duiscipula, ae; Narrar = narro, are;

Aqui = hic; Patroa = domina, ae;

Convidado = conviva, ae; Pirata = pirata, ae;

Devastar = vasto, are; Poeta = poeta, ae;

Ensinar = educo, are; Professora = magistra, ae;

Estar = sum, esse; Recentemente = nuper;

Fábula = fabula, ae; Terras = terra, ae;

Filha = filia, ae;

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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O caso vocativo e o modo imperativo

Como já estudamos, o vocativo é o caso do chamamento e vem separado do restante da frase por vírgula, de modo que não devemos confundi-lo com o sujeito da oração, embora tenha as mesmas desi-nências do nominativo3. Assim, o vocativo indica uma interpelação ou uma injunção dirigida a um (tu) ou vários (vós) interlocutores. Sintatica-mente, ele não exerce uma função, tanto é que vem isolado no enun-ciado. Ele é apenas um chamamento para a abertura do canal, para manter o interlocutor atento à mensagem, como no exemplo: Pedro, vem aqui agora! Nele, o sujeito é o pronome tu oculto e não Pedro, que é o vocativo.

O caso vocativo não possui desinências próprias. Ele, na 1ª decli-nação, adota as desinências do nominativo, singular e plural:

Vocativo singular: -a

Vocativo plural: -ae

Quando usamos o vocativo, é bastante comum empregarmos os verbos no modo imperativo, porque expressa uma ordem ou um apelo, através de um comando ou de um simples pedido. Em latim, o impe-rativo presente ativo é bem simples. Basicamente, possui duas pessoas verbais usualmente empregadas nos enunciados: a 2ª pessoa do sin-gular e do plural.

A formação do imperativo na 2ª pessoa do singular é o próprio tema da palavra ou, como na língua portuguesa, basta retirar o “s” característico da desinência número-pessoal do presente do indicativo. Note como se forma o vocativo na primeira e na segunda conjuga-ção:

1ª conjugação verbal, amo: (tu) amas; retira-se o s = ama (tu)4;

2ª conjugação verbal, video: (tu) vides; retira-se o s = vê (tu);

Já para formar o imperativo na 2ª pessoa do plural é necessário anexar ao tema do verbo a desinência –te. Desse modo, você não encontrará dificuldade, pois só precisa acrescentar a desinência às formas já obtidas no exemplo anterior. Então,

1ª conjugação verbal, amo: ama + te = amate (vós) – amai5; 2ª conjugação verbal, video: vide + te = videte (vós) – vede;

Agora, observe como são colocados o vocativo e o verbo no modo imperativo na organização da frase latina:

Poetae, narrate fabullam! (Poetas, narrai uma fábula!)Agricola, vide magnam silvam! (Agricultor, vê a grande mata!)Puellae, amate poetas! (meninas, amai os poetas!)

Perceba que todas as frases são exclamativas, porquanto expressam uma ordem ou um apelo. Também, os vocábulos poetae, agricola e puellae não são os sujeitos da oração, embora tragam as terminações do caso nominativo: –a e –ae. Necessariamente, o sujeito das orações são os pronomes TU e VÓS ocultos nas frases. Outra característica im-portante é que o vocativo topicaliza a frase, uma vez que tem a função comunicativa de abrir o canal, e o verbo, nesse caso, é colocado logo após a vírgula, de modo que seu complemento – o acusativo nos três exemplos – vem depois.

Atividade IIIa. Com base na aula, encontre as formas do imperativo, em português6 e em latim, da 2ª pessoa do singular e do plural dos verbos arrolados:

Impleo, ere = encher;Laudo, are = louvar;Curo, are = cuidar;Habeo, ere = ter;Manduco, are = comer;Remeo, are = voltar;Gaudeo, ere = alegrar-se;

b. Lusitane reddere:

Discipula, recita fabulam!Servae, ornate mensam deae et aram!.Mea filia, voca servas! Agricolae, irrigate terram!Aurigae, indicate poetae villae viam advenis!

3 Para recobrar o assunto, ver “A sintaxe dos casos”, na Unidade II.

4 Lembre-se de que no português também é só retirar o “s” da segunda pessoa de tu amas: retira-se o “s” e temos ama tu; da mesma forma tu vês, retira-se o “s” e temos vê tu. Ainda, é preciso lembrar que em português temos a forma pronominal “você” que – embora exija concordância com a terceira pessoa – é um tratamento de interlocução. Os mesmo verbos usados no imperativo, dirigindo-se a “você”, fica: ame você e veja você.

5 Observe que para formar o imperativo da 2ª pessoa do plural em português, também basta retirar o “s”característico. Assim, vós amais sem o “s” resulta no imperativo amai vós; da mesma forma, vós vedes sem o “s” resulta no imperativo vede vós.

6 Quando for colocar o imperativo em Por-tuguês, procure manter um padrão ao se reportar ao pronome “tu” ou “você”; melhor será se você apresentar as duas possibilida-des, pois não deixaremos de observar a sua habilidade.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Vocabulário

Advena, ae = estrangeiro; Mea = minha;

Agricola, ae = agricultor; Mensa, ae = mesa;

Ara, ae = altar; Orno, are = enfeitar, ornar;

Auriga, ae = condutor; Poeta, ae = poeta;

Dea, ae = deusa; Recito, are = recitar;

Discipula, ae = aluna; Serva, ae = escrava;

Et = e; Terra, ae = terra;

Fabula, ae = fábula; Via, ae = caminho;

Filia, ae = filha; Villa, ae = casa de campo;

Indico, are = indicar; Voco, are = chamar;

Irrigo, are = regar, irrigar;

Leituras recomendadas

Para o melhor entendimento dos conteúdos estudados nesta Unidade, você deve procurar ler:

a. Para “O lugar dos verbos na frase”, ver “1ª conjugação ativa”, in: Gramática Latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: 38); e “Regra de ordem de palavra n. 2”, in: Língua Latina I, de Francis Xavier Boyes (1989: 19);

b. Para “A colocação do genitivo na frase” ver Regra de ordem de palavra n. 1”, in: Língua Lati-na I, de Francis Xavier Boyes (1989: 17); e “nor-mas para tradução”, in: Gramática Latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: 34-6);

c. Para “O caso vocativo e o modo imperativo, ver: “Vocativo”, in: Programa de Latim, de Júlio Comba (2000: 20-1); e “Lição 57: o impera-tivo”, in: Gramática Latina, de Napoleão Men-des de Almeida (2000: 246-7).

ResumoNo primeiro tópico, você viu que o verbo latino, embora mais fle-

xível quanto à colocação do que na língua portuguesa, comumente vem ao final da frase quando expressa ação. Apesar da flexibilidade, existem regras para a colocação dos verbos na organização da frase. A primeira coisa que devemos fazer ao considerar uma frase em latim é identificar o verbo. Então, se o verbo expressa ação, facilmente será localizado ao final da frase, com todos os outros elementos lhe antece-dendo, inclusive advérbios, adjuntos e complementos. O objeto direto, por exemplo, que em latim chama-se acusativo, deve vir antes do ver-bo. Contudo, Quando se trata do verbo de ligação, a colocação pode variar. Então, o verbo sum, que é verbo de ligação, tem localização mais livre na frase latina, bem como as formas nominais do verbo. O infinitivo, por exemplo, não precisa vir ao final da frase.

No segundo tópico, vimos que o caso genitivo requer um cuidado especial, pois traduz a função do adjunto adnominal restritivo, e como em latim não existe a preposição para indicar o sentido de posse, a desinência e sua disposição na frase devem indicar com precisão essa relação. Assim, o genitivo possui o substantivo mais próximo de si na oração. Há duas formas de genitivo: o possessivo, que indica uma pos-se total da coisa possuída, e o partitivo indicando uma posse parcial. Outra consideração importante é saber que devemos evitar colocar o genitivo entre dois substantivos para não ocorrer dubiedade quanto à tradução, pois existem outras maneiras adequadas de formular a frase com precisão.

No terceiro tópico, vimos que o vocativo é o caso do chamamento e vem separado do restante da frase por vírgula, de modo que não deve ser confundido com o sujeito da oração, apesar de possuir as mesmas desinências do nominativo. O vocativo indica uma interpela-ção ou uma injunção dirigida a um (tu) ou vários (vós) interlocutores. Sintaticamente, ele não exerce uma função, por isso vem isolado no enunciado. Ele é um chamamento para a abertura do canal, para manter o interlocutor atento à mensagem, como no exemplo: Pedro, vem aqui agora! Nele, o sujeito é o pronome tu oculto e não Pedro, que é o vocativo. O caso vocativo não possui desinências próprias, posto que adota as desinências do caso nominativo. Quando usamos o vocativo, é bastante comum empregarmos os verbos no modo im-perativo, porque expressa uma ordem ou um apelo, através de um co-mando ou de um simples pedido. Em latim, a formação do imperativo presente ativo é bem simples, já que ele possui duas pessoas verbais usualmente empregadas nos enunciados: a 2ª pessoa do singular e a do plural. Para formar o imperativo da 2ª pessoa do singular basta encontrar o tema do verbo ou, como na língua portuguesa, basta reti-rar o “s” característico da desinência número-pessoal. Já para formar o imperativo na 2ª pessoa do plural é necessário anexar ao tema do

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verbo a desinência –te. Outra característica importante é que o vo-cativo topicaliza a frase, uma vez que tem a função comunicativa de abrir o canal, e o verbo, nesse caso, é colocado logo após a vírgula, de modo que seu complemento – o acusativo e/ou o dativo – vem depois. Lembre-se de que no português também é só retirar o “s” da segunda pessoa, como em tu amas: retira-se o “s” e temos ama tu; da mesma forma, tu vês: retira-se o “s” e temos vê tu. Também, é preciso lembrar que em português temos a forma pronominal “você” que – embora exija concordância com a terceira pessoa – é um tratamento de interlocução. Os mesmo verbos usados no imperativo, dirigindo-se a “você”, fica: ame você e veja você. Para a segunda pessoa do Plural em português, também basta retirar o “s”característico, como em vós amais: sem o “s” resulta no imperativo amai vós; da mesma forma, vós vedes: sem o “s” resulta no imperativo vede vós.

AutovaliaçãoRecapitulando a Unidade e com base no conhecimento sobre as

características sintéticas da língua latina e as características analíticas da língua portuguesa, compare as duas línguas explicando as ordens de colocação do verbo e do substantivo na organização de frases.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

Referências

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Latina: curso único e completo. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

BOYES, Francis Xavier. Língua Latina I. Recife: Fasa Editora, 1989.

COMBA, Júlio. COMBA, Júlio. Programa de Latim: 1º. Volume – introdução à língua latina. 16 ed. São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco, 2000.

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Algumas particularidades

da Frase Latina

Algumas particularidades

da Frase Latina

V UNIDADE

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Apresentação

A frase latina é diferente da frase em língua portuguesa pela natureza de seus atributos morfossintáticos. Não temos um vasto repertório de desinências para indicar a função sintática em português. Não obstante essa diferença, exis-tem semelhanças entre as línguas, a exemplo dos “pluralí-cios”: os substantivos que só se empregam no plural. Outras vezes, existem características próprias da língua que devem ser adaptadas na hora de uma tradução. Por exemplo, em latim existem verbos que pedem um duplo acusativo; seria o caso de, em português, termos um duplo objeto direto, em vez de uma bitransitividade, ou seja, um objeto direto e um indireto.

Ao final desta unidade, esperamos que você conheça aessas especificidades do latim, além de conhecer os princi-pais advérbios e de saber formar frases interrogativas.

Objetivos

Algumas particularidades da frase latina: identificar os subs-•tantivos que só se flexionam conforme as desinências de plural, bem como a sua concordância;

Reconhecer a regência dos verbos que pedem um duplo acusa-•tivo e a morfossintaxe dos advérbios latinos;

Formar as primeiras frases interrogativas;•

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Substantivos que só existem no plural

A língua portuguesa possui substantivos que só existem no plural, como: exéquias, férias, óculos, Estados Unidos, etc. Esses substantivos exigem concordância no plural, justamente por carecerem da forma singular. Assim, façamos a análise das frases a seguir:

Os Estados Unidos são ricos e, por isso, politicamente fortes.Os óculos ficaram muito bons em mim.As tuas férias foram adiadas para o próximo mês.As exéquias de meu avô ainda não foram celebradas.

Nelas, os verbos concordam com os substantivos em número, fle-xionando no plural juntamente com os atributos do sujeito pluralício: ricos, fortes, bons, adiadas, celebradas, porque devem concordar com aquele em gênero e número.

Da mesma forma, o latim possui seus pluralícios e os verbos tam-bém devem ir para o plural quando o nominativo for um substantivo que só existe no plural. Desse modo, o termo “Pluralício”, ou a locução substantiva “Pluralia Tantum” como também é conhecido, designa tanto em português quanto em latim a relação desses nomes só existentes no plural.

Portanto, um pluralício é um substantivo que não encontramos no singular, pois só se declina no plural:

Nauta est in thermis. = O marinheiro está na sauna.Athenae sunt in Graecia. = Atenas fica na Grécia.

Veja que os pluralícios sublinhados acima não correspondem a plu-ralícios em português – e o inverso também pode acontecer. A palavra sauna e a cidade de Atenas1 não são pluralícios em português. Na primeira frase, o caso ablativo está expresso com a desinência de plural –is; na segunda, o nominativo possui a desinência –ae, única possibili-dade para os pluralícios da primeira declinação. O segundo exemplo deixa isso mais evidente, pois o verbo sunt, indicativo da terceira pessoa do plural, é traduzido em português para o singular: fica. Se a tradução do verbo corresponde à sua forma original de plural, a frase ficaria sem sentido. Por isso, é imprescindível a sua perspicácia para perceber algu-mas destas peculiariedades apresentadas na estrutura frasal latina.

Agora, aprecie a relação de alguns pluralícios da primeira declinação:

Pluralícios ou Pluralia Tantum:

Athenae, arum = Atenas;Bracae, arum = calça;Deliciae, arum = prazer, encanto, delícias;Divitiae, arum = riqueza;Epulae, arum = banquete;Exsequiae, arum = cortejo fúnebre, funeral, enterro, exéquias;Indutiae, arum = trégua;Insidiae, arum = emboscada, cilada;Minae, arum = ameaça;Nuptiae, arum = casamento, bodas, núpcias;Reliquiae, arum = resto, restos;Scalae, arum = escada, escadaria;Scopae, arum = vassoura;Sinae, arum = China;Syracusae, arum = Siracusa;Tenebrae, arum = escuridão, trevas;Thermae, arum = banhos quentes, sauna, termas;Thermopylae, arum = Termópilas;Venetiae, arum = Veneza.

Repare que após a vírgula, todos os indicativos do genitivo também estão no plural –arum da primeira declinação, uma vez que esses no-mes substantivos carecem da forma singular e, dessa forma, só flexio-nam no plural em todos os casos.

Atividade IDecline apenas os nomes próprios da relação de pluralícios acima, traduzindo os casos para o português, conforme o estudo relalizado na segunda unidade.

1 O “s” da palavra Atenas não é indicativo de plural em português, mas resquício do caso acusativo desta palavra, que era pluralício em latim.

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Verbos que regem um duplo acusativo

Certos verbos em latim, em vez de serem bitransitivos, são dupla-mente transitivos, isto é, em vez de terem um objeto direto e um indire-to, têm dois objetos diretos. O latim possui poucos verbos que regem o duplo acusativo, mas precisamos conhecê-los. São apenas quatro verbos da primeira conjugação que regem um duplo acusativo:

CELO, ARE (= esconder, ocultar);

OBSECRO, ARE (= suplicar);

ORO, ARE (= pedir);

ROGO, ARE (= pedir, rogar, perguntar).

Assim, na frase “Ancilla pecuniam scribam rogasvit” (= A empre-gada pediu dinheiro ao escrivão), temos um duplo acusativo, porque o verbo rogo rege de maniera exepcional os seus complementos. Em português, o objeto direto “dinheiro” tem correspondência com acu-sativo “pecuniam”, e, nisso, a analogia da tradução segue o padrão. Entretanto, o segundo complemento “ao escrivão”, que é objeto in-direto em português, não corresponde ao dativo em latim, e, sim, ao acusativo novamente. Isso acontece porque o verbo rogo não rege em nehuma circunstância o dativo e, dessa maneira, possui sempre um duplo acusativo.

Latine vertere:

01. Minerva era a deusa da sabedoria; logo os habitantes gregos suplicavam frequentemente sabedoria à deusa Minerva.

Vocabulário

Deusa = dea, ae; Minerva = Minerva, ae;

frequentemente = saepe; Sabedoria = sapientia, ae;

Habitantes gregos = [incolae Graeciae];

Ser = sum, esse;

Logo = itaque; suplicar = obsecro, are;

Os principais advérbios latinos

A classe gramatical dos advérbios tem características muito seme-lhantes em português e em latim. A princípio, o advérbio corresponde àquela palavra que é colocada junta ao verbo com a função de modi-ficá-lo, podendo, ainda, modificar um adjetivo ou o próprio advérbio. A idéia de “modificar” uma classe de palavra é compreendida grama-ticalmente pelo acréscimo de uma idéia. Por exemplo, no caso de “Rua estreita”, a palavra “rua” está sendo modificada pelo adjetivo “estreita”, que imprime uma caracterísitica particular ao vocábulo rua: a de ser estreita e não larga. Contudo, se à frase for acrescentado o advérbio “muito” – “rua muito estreita”, esse modifica o adjetivo.

Então, a palavra que modifica o substantivo chama-se adjetivo, mas a que modifica o verbo, o adjetivo ou o próprio advérbio chama-se advérbio. Por exemplo, “O palestrante discursou admiravelmente”. No exemplo, a palavra admiravelmente é o advérbio, pois é ela que adiciona uma idéia a ação de discursar, indicando a forma admirável pela qual o palestrante discursou.

Os advérbios são divididos em grupos segundo as circunstâncias que indicam. Segundo Napoleão Mendes de Almeida (2000: 142-3), as principais circunstâncias que um advérbio pode indicar são “lugar”, “tempo” e “modo”:

Lugar

Ubi = onde;Quo = aonde, para onde;Unde = donde, de onde;

Qua = por onde;Hic = aqui;

Ibi = ali, lá, aí;

Atividade II

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

NOTA - Rogasvit traduz-se par ao perfeito, pois traz o -v, desinência modo-temporal do perfectum, tempo verbal que veremos na unidade VII.

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Tempo

Cotidie = diariamente, todos os dias;Cras = amanhã;

Deinde = depois, em seguida;Diu = por muito tempo;

Dum = enquanto (durante o tempo em que);Heri = ontem;Hodie = hoje;Nunc = agora;

Postridie = no dia seguinte;Pridie = na véspera;

Saepe = frequentemete, muitas vezes;Semper = sempre;

Simul = ao mesmo tempo, simultaneamente;

ModoBene = bem;Male = mal;

Facile = facilmente; Difficile = dificilmente;

Fortiter = fortemente, corajosamente;Feliciter = felizmente;

Prudenter = prudentemente;Quoque = também;

Assim como no português, o advérbio latino é invariável, ou seja, não flexiona em nehuma circunstância, quanto ao número, quanto ao gênero e, tampouco, quanto aos casos.

Alguns advérbios são derivações de adjetivos, isso implica dizer que a formação desses advérbios comporta uma alteração mínima em rela-ção à palavra primitiva da qual se origina. Então, para formar um ad-vérbio, tomamos o genitivo singular masculino do adjetivo e mudamos a terminação “i” para “e”, como no exemplo:

Adj. fem. nominativo

Adj. fem.

genitivo

Adj. masc.nominativo

Adj. asc. genitivo

Advérbio latino2

Tradução

Laet-a -ae Laet-us -i Laet-e Alegremente

Ver-a -ae Ver-us -i Ver-e Verdadeiramente

Modic-a -ae Modic-us -i Modic-e Moderadamente

Mal-a -ae Mal-us -i Mal-e Mal

Miser-a -ae Mis-er -i Miser-e Miseravelmente

Pigr-a -ae Pig-er -i Pigr-e Preguiçosamente

Pulchr-a -ae Pulch-er -i Pulchr-e Lindamente

Evidentemente, há exceções para essa regra: o advérbio do adjetivo bonus (= bom) é bene (= bem) e o do adjetivo multus (= muito) é valde ( = muito), de modo que não podemos aplicar a regra anteriormente vista em todos os casos.

Atividade IIICom base nos advérbios latinos, construa 3 frases usando advérbios de lugar, 3 frases usando advérbios de tempo e 3 frases usando advérbios de modo (o vocabulário é o conhecido nos estudos até agora realizados3).

As frases interrogativasEm português, quando a frase interrogativa começa com um pro-

nome interrogativo – que, qual, quem, quanto, quando, etc. – é fácil identificar que se trata de uma pergunta.

Que horas são?Quem disse?Quem mandou?Quanto custa?Quantas peças vieram?Qual o preço?Qual o nome do candidato?

Entretanto, quando a pergunta não possui esses indicativos e, por se tratar de uma comunicação oral, também não possui o sinal de inter-rogação, a entonação interrogativa deve dar ênfase à sentença. Desse modo, a entonação interrogativa distingue a sentença das outras clas-ses existentes: a afirmativa ou negativa, a exclamativa e a de comando, que possuem outras entonações.

Em latim não existe uma entonação interrogativa. Todavia, quando queremos perguntar alguma coisa sem o uso de pronome interrogativo, devemos usar nonne, num ou a partícula interrogativa enclítica –ne. Embora não tenham uma tradução específica na língua portuguesa, essas palavras atuam semanticamente nas frases interrogativas:

a. Usa-se Nonne quando se cria uma expecativa para uma resposta afirmativa.

Nonne Mariam invitavisti?Convidaste maria, não foi?

2 Perceba que os radicais das palavras con-tinuam os mesmos para os adjetivos mascu-linos e femininos como para os advérbios, o que muda são as desinências.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

3 Quanto à colocação do advérbio latino, lembre-se de que ele modifica a palavra subsequente, isto é, o advérbio deve vir ime-diatamente antes da palavra que ele modivi-fica, no caso, antes do verbo.

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b. Usa-se Num quando se cria uma expectativa para uma resposta negativa.

Num Mariam Invitavisti?Não convidaste Maria, convidaste?

c. Usa-se –Ne quando não se sabe se a resposta será afirmativa ou negativa.

Invitavistine Mariam?Convidaste Maria?

Notas:

a. Perceba você que em português não possuímos partículas para expressar uma expectativa com relação à resposta a ser dada. Todavia, podemos enfatizar o final da pergunta. Vejamos:

1. Para a expectativa afirmativa, colocamos o advérbio de nega-ção “não” mais o uso enfático do verbo “ser” flexionado no mesmo tempo do verbo expresso na oração interrogativa; como “colocaste” é perfeito, o verbo “ser” também deve vir no perfeito, caracterizando a expectativa: “não foi?”.

2. Para a expectativa negativa, basta colocar o advérbio “não” an-tes do verbo na oração interrogativa e, na parte enfática da frase, após a vírgula, repitimos o verbo da mesma forma que foi conjugado na sentença: “convidaste?”.

b. Nonne ou Num é sempre a primeira palavra da oração.

c. A partícula interrogativa enclítica –ne não expressa expectativa alguma e sequer tem traduçào, pois é apenas sinal de uma pergunta. Quando a oração não começa com pronome interrogativo (cur, quan-do, quid, quo, quomodo, quot, ubi, unde, etc.), devemos colocar -ne no fim da primeira palavra da oração que frequentemente é o verbo, mas que pode ser qualquer outra palavra importante (BOYES, 1989: 25).

Contudo, a resposta não precisa confirmar a expectativa lançada na pergunta, pois, segundo Boyes (1989:31), “A maneira de formular a per-gunta nada tem a ver com a resposta, isto é, pode-se esperar uma resposta afirmativa e receber uma resposta negativa”. Temos, assim, as respsotas:

Pergunta:

Nonne Mariam Invitavisti?Convidaste Maria, não foi?

Resposta:

Non invitavi.Não convidei.

1) Para respostas afirmativas, basta repetir o verbo, às vezes com vero ou sane, ou usar simplesmente: Ita, ita est, sic, etiam, sane, utique. Assim,

Pergunta:

Invitavistine Mariam?Convidaste Maria?

Resposta:

Invitavi (= convidei);Etiam (= sim);Utique (= é claro que sim);Sane [invitavi] (= certamente [convidei]);

2) Para respostas negativas, basta repetir o verbo com non, ou usar simplesmente non ou minime. Assim,

Pergunta:

Invitavistine Mariam?Convidaste maria?

Resposta:

Non invitavi (= não convidei);Non (= não);Minime (= de jeito nenhum).

Alguns Pronomes interrogativos:

Cur = por que;Qualis = qual, de que espécie;Quam = quanto (sing.);Quamdiu = há quanto tempo;Quamobrem = por que razão;Quando = quando, em que tempo;Quid = o que;Quis (m.) Quae (f.) = quem;Quomodo = como, de que modo;Quonam = aonde, para onde;Quot = quantos (pl.);Uter = qual dos dois;

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Atividade IVa. Formule duas frases interrogativas sem pronome interrogativo e dê-lhes respostas. Em seguida, formule duas frases interrogativas com o uso de pronome interrogativo.

b. Lusitane Reddere:

01. Syracusae sunt in insula Sicilia.02. Nonne luna viam nautis indicat? 03. Post pugnam Israelitas indutias Persae rogabunt. 04. Mendicas vel medicinis vel eleemosynis iuvare poteritis. 05. Num sunt scalae in agricolarum taberna? 06. Nonne magistra Martha est valde bona et Iusta? 07. Bracae aurigam Galbam valde delectabunt. 08. Sapientiam et scientiam desidero, non divitias. 09. Scopis areneas quinque ancilla nuper necabat. 10. Licentiam reginam Iuliam scriba Seneca nunc orat. 11. Num Luciae ancilla mendicis reliquias escae dat? 12. Tenebris et procellae angustias intrare non potueramus. 13. Sunt angustiae prope Thermopylas in Graecia.

Vocabulário Leituras recomendadas

Para o aprofundamento desta Unidade, você deve procurar ler o ma-terial sugerido.

a. Para o primeiro tópico “Substantivos que só existem no plural”, ler “Lectio XIII - pluralícios”, Língua Latina I, de Francis Xavier Boyes (1989: 28); “1a declinação”, in: Gramática Latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: 33).

b. Para segundo tópico “Verbos que regem um duplo acusativo”, ler “Verbos que regem um duplo acusativo”, in: Língua Latina I, de Francis Xavier Boyes (1989: 28); “Duplo Acusativo”, in: Gramática Latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: 424-5).

c. Para o terceiro tópico “Os principais advérbios latinos”, ler “Lectio XXXVIII – Formação de Advérbios”, in: Língua Latina I v.II, de Francis Xavier Boyes (1989); “Principais advérbios e preposições”, in: Gra-

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

Ver correção do professor

Agricola, ae = agricultor; Nauta, ae = marinheiro;Ancilla, ae = empregada; Neco, are = matar;Angustiae, arum [pl.] = desfila-deiro;

Non = não;

Aranea, ae = aranha; Nunc = agora;Auriga, ae = cocheiro; Nuper = há pouco tempo, recen-

temente;Bona = boa; Oro, are = pedir;Bracae, arum = calça; Persa, ae = persa;Delecto, are = agradar; Possum, posse = poder;Desidero, are = desejar; Post = depois de;Divitiae, arum = riqueza; Procella, ae = tempestade;Do, are = dar; Prope = perto de;Eleemosyna, ae = esmola; Pugna, ae = luta, briga;Esca, ae = comida; Quinque = cinco;

Et = e; Regina, ae = rainha;Galba, ae = Galba; Reliquiae, arum = resto;Graecia, ae = Grécia Rogo, ae = pedirGraecia, ae = Grécia; Sapientia, ae = sabedoria;in = em, no(a); Scalae, arum = escada;Indico, ae = indicar Scalae, arum = escada;Indutiae, arum = trégua; Scientia, ae = ciência;Instraelita, ae = istraelita; Scopae, arum = vassoura;Insula, ael = ilha; Scriba, ae = escrivão, secretário;Intro, are = entrar Seneca, ae = Sêneca;Iulia, ae = Júlia Sicilia, ae = Sicília;Iusta, ae = justa Sum,esse = ser, estar, haver, exis-

tir; Iuvo, are = ajudar; Syracusae, arum = Siracusa; Licentia, ae = licença; Taberna, ae = loja;Lucia, ae = Lúcia; Tenebrae, arum = escuridão;Luna, ae = lua; Thermopylae, arum = Termópila;Magistra, ae = professora; Valde = muito;Martha, ae = Marta Vel = ou;Medicina, ae = remédio; Via, ae = Caminho;Mendica, ae = mendiga; Nauta, ae = marinheiro;

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mática Latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: 142-3); “Capítulo VII – Advérbios”, in: Compêndio de Gramática Latina, de Maria Ana Almendra e José Nunes de Figueiredo (2003: 118-24); “As classe não flexionáveis – advérbios”, in: Língua Latina, de Janete Melasso Garcia (1997: 21).

d. Para o quarto tópico “As frases interrogativas”, ler “Lectio XIII – Per-guntas com NONNE e NUM”, in: Língua Latina I, de Francis Xavier Boyes (1989: 28); “Lição 87 – interrogatvas”, in: Gramática Latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: 3916); “Anexo 2”, in: Compêndio de Gramática Latina, de Maria Ana Almendra e José Nunes de Figueiredo (2003: 125).

ResumoNum primeiro momento, estudamos que o protuguês e o latim pos-

suem substantivos que só existem no plural, como: exéquias, férias, óculos, Estados Unidos, etc. Esses substantivos exigem concordância no plural por carecerem da forma singular. Nas frases cujo sujeito é um pluralício, os verbos concordam com ele em número, flexionando no plural. Quando o verbo for de ligação, o predicativo adjetivo deve também estabelecer concordância em gênero e número. O termo “Plu-ralício”, também conhecido pela locução substantiva “Pluralia Tantum”, designa que esses nomes substantivos só existentes no plural. Portanto, um pluralício é um substantivo que não tem forma no singular e só se declina no plural. Lembre-se que os pluralícios latinos não corres-pondem necessariamente a pluralícios em português. Por exemplo, a palavra sauna e a cidade de Atenas não são pluralícios em português, mas são em latim Thermae, arum e Athenae, arum. Lembre-se também que, após a vírgula, todos os indicativos do genitivo também estão no plural –arum, uma vez que esses nomes substantivos carecem da forma singular e, dessa forma, só flexionam no plural em todos os casos.

Num segundo momento, vimos que alguns verbos latinos – CELO, OBSECRO, ORO, ROGO –, em vez de serem bitransitivos, são du-plamente transitivos, porque têm dois objetos diretos. Assim, na frase “Ancilla pecuniam scribam rogavit” (= A empregada pediu dinehiro ao escrivão), temos um duplo acusativo, pois o verbo rogo rege de ma-niera exepcional os seus complementos. Em português, o objeto direto “dinheiro” tem correspondência com o acusativo “pecuniam”, e, nisso, por analogia, segue o padrão. Entretanto, o segundo complemento “ao escrivão”, que é objeto indireto em português, não corresponde ao dativo em latim, e, sim, ao acusativo novamente. Isso acontece porque o verbo rogo não rege em nehuma circunstância o dativo e, dessa ma-neira, possui sempre um duplo acusativo.

Numa terceira instância, apreciamos a classe gramatical dos advér-bios latinos, suas características e semelhanças com o português. Vimos que o advérbio é aqulea palavra que é colocada junta ao verbo com a função de modificá-lo, mas podendo, também modificar um adjetivo ou o próprio advérbio. A idéia de “modificar” uma classe de palavra é compreendida gramaticalmente pelo acréscimo de uma idéia. Por exemplo, a palavra que modifica o substantivo chama-se adjetivo, mas a que modifica o verbo, o adjetivo ou o próprio advérbio chama-se ad-vérbio. Os advérbios são divididos em grupos segundo as circusntân-cias que indicam. Para Napoleão Mendes de Almeida (2000: 142-3), as principais circusntâncias que um advérbio pode indicar são “lugar”, “tempo” e “modo”. O advérbio é invariável em portugês e em la-tim, ou seja, não flexiona em nehuma circustância, quanto ao número, quanto ao gênero e, tampouco, quanto aos casos. Alguns advérbios latinos são derivações de adjetivos, isso implica dizer que a formação desses advérbios comporta uma alteração mínima em relação à palavra primitiva da qual se origina. Então, para formar um advérbio, tomamos o genitivo singular masculino do adjetivo e mudamos a terminação “i” para “e”. Todavia, há exceções para essa regra: o advérbio do adjetivo bonus (= bom) é bene (= bem) e o do adjetivo multus (= muito) é valde ( = muito), de modo que não podemos aplicar a regra anterormente vista em todos os casos.

Por fim, estudamos a formação de frases interrogativas. Vimos que, em português, quando a frase interrogativa começa com um pronome interrogativo – que, qual, quem, quanto, quando, etc. – é fácil identificar que se trata de uma pergunta. Entretanto, quando a pergunta não possui esses indicativos e, por se tratar de uma comunicação oral, também não possui o sinal de interrogação, a entonação interrogativa deve dar ênfase à sentença. A entonação interrogativa distingue a senteça das outras classes existentes: a afirmativa ou negativa, a exclamativa e a de comando, que possuem outras entonações. Em latim não existe uma entonação interro-gativa. Todavia, quando queremos perguntar alguma coisa sem o uso de pronome interrogativo, devemos usar nonne, num ou a partícula interroga-tiva enclítica –ne. Embora não tenham uma tradução específica na língua portuguesa, essas palavras atuam semanticamente nas frases interroga-tivas: usa-se Nonne quando se cria uma expecativa para uma resposta afirmativa; usa-se Num quando se cria uma expectativa para uma resposta negativa; e usa-se –Ne quando não se sabe se a resposta será afirmativa ou negativa. Contudo, a resposta não precisa confirmar a expectativa lançada na pergunta, pois de acordo com Boyes (1989:31) “A maneira de formular a pergunta nada tem a ver com a resposta, isto é, pode-se espe-rar uma resposta afirmativa e receber uma resposta negativa”. Para respos-tas afirmativas, basta repetir o verbo, às vezes com vero ou sane, ou usar simplesmente Ita, ita est, sic, etiam, sane, utique. Para respostas negativas, basta repetir o verbo com non, ou usar simplesmente non ou minime.

Sugerimos que você, aluno (a), adquira e leia na integra o livro Análise do poema, da Norma Godstein. Afim de que você possa ter conhecimento, de maneira mais aprofunda-da, dos recursos expressivos do poema.

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Os nomes de tema em “o”:a 2ª declinação

Os nomes de tema em “o”:a 2ª declinação

VI UNIDADE

AutovaliaçãoCom base nesta unidade, redija um texto fazendo um levantamento

de aspectos que distinguem a composição de frases latinas em relação às frases feitas em língua portuguesa.

Referências

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Latina: curso único e completo. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

ALMENDRA, Maria Ana; FIGUEIREDO, José Nunes de. Compêndio de Gramática Latina. Porto: Porto editora, 2003.

BOYES, Francis Xavier. Língua Latina I. Recife: Fasa Editora, 1989.

GARCIA, Janete Melasso. Língua Latina: a teoria sintática na prática dos textos. Brasília: Unb, 1997.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Apresentação

Até o momento, os estudos de língua latina, bem como as atividades realizadas a cada tópico, contaram apenas com nomes de tema em –a, pertencentes à primeira decli-nação. A partir dessa unidade, incorporamos nomes da se-gunda declinação, de tema em –o. Portanto, ao cabo desta unidade, esperamos que você identifique as diferenças que consignam particularidade aos substantivos da segunda de-clinação quando contrastados com os da primeira, além de conhecer o gênero neutro.

Objetivos

Substantivos de tema em –o: Estudar e identificar as estruturas •que permitem a composição dos nomes da 2ª declinação;

Saber usar os substantivos cognatos masculinos e femininos •quando empregados com desinência especial de gênero;

Identificar o gênero neutro da 2ª declinação e as suas particu-•laridades desinenciais;

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2. Veja que Dominus é do gênero masculino e Humus do gênero feminino, mas ambos os vocábulos possuem as mesmas terminações em todos os casos, no singular e no plural.

3. Os nomes em –US da segunda declinação, salvo as exceções, possuem o vocativo em –e, configurando o único grupo das cinco de-clinações que não tem o caso vocativo igual ao nominativo.

4. As exceções acima aludidas são a nomes em –us da segunda declinação, cuja última letra do radical é –i ou –e como filius (= filho), o nome próprio Orbilius (= Orbílio) e o pronome possessivo meus (= meu) que farão o vocativo singular em –i; respectivamente: Fili, Orbili e mi. O vocativo plural desses nomes volta a ser igual ao nominativo.

Nomes de tema em –o, terminados em –ER:

cancer, cri m. (= caranguejo); socer, i m. (= sogro).

Caso singular plural singular pluralNominativo Cancer Cancr-i Socer Socer-i

Genitivo Cancr-i Cancr-orum Socer-i Socer-orum

Acusativo Cancr-um Cancr-os Socer-um Socer-os

Dativo Cancr-o Cancr-is Socer-o Socer-is

Ablativo Cancr-o Cancer-is Socer-o Socer-is

Vocativo Cancer Cancer- Socer Socer-i

Notas:

1. Para encontrar o radical de qualquer substantivo latino, você só precisa retirar a desinência do genitivo singular. Essa medida é impor-tante porque, nem sempre, o radical do vocábulo, existente na maioria dos casos, coincide com o nominativo singular, que dá nome ao subs-tantivo. Dessa forma, a palavra cancer pertence ao grupo de nomes da segunda declinação que perdem o –e na passagem para o genitivo, forma que servirá para compor os demais casos no singular e no plural. A palavra socer, por sua vez, pertence ao grupo que conserva o –e:

Grupo que perde o –e no genitivo: arbiter, tri (= árbi-tro, juiz); ager, gri (= campo, lavoura); faber, bri (= operário, artífice, marceneiro); magister, tri (= professor); coluber, bri (= cobra); minister, tri (= ajudante, servente, ministro); aper, pri (= javali); caper, pri (= bode); Auster, tri (vento do sul, o sul); liber, bri (= livro)3.

Nomes de tema em –O Para você saber qual o tema dos substantivos latinos, basta retirar o

RUM do genitivo plural das declinações. O genitivo plural da primeira declinação é –arum, o da segunda declinação é –orum; retirando-lhes o rum da desinência, encontramos o tema dos nomes pertencentes às declinações. Portanto, dizemos que a primeira declinação possui subs-tantivos de tema em –a e a segunda declinação possui substantivos de tema em –o. É importante conhecer os temas das declinações, porque eles constituem morfemas1 históricos para a língua portuguesa.

A segunda declinação possui nomes de gênero masculino em sua maioria, uma pequena parcela de nomes de gênero feminino e, ainda, nomes de gênero neutro. Alguns nomes femininos terminados em –us – ficus (= figueria), malus (= macieira), pirus (= pereira), lauros (=lou-reiro) – são nomes de árvores; outros – Aegyptus (= Egito), Cyprus (= Chipre) – são nomes de países2; e há alguns outros que são femininos em latim, mas com a derivação para a língua portuguesa, perderam a noção histórica primitiva de gênero, adotando o gênero masculino em sua evolução por causa do tema, assim como: methodus (= o método), periodus (= o período), dialectus (= o dialeto).

Se a primeira declinação possui uma entrada para o nominativo singular em -a, a segunda declinação fixa quatro desinências para o nominativo singular. Assim, a segunda declinação possui nomes em –us, –er, –ir e –um.

Nomes de tema em –o, terminados em –US:

dominus, i m. (= senhor, patrão); humus, i f. (= terra, chão, solo)

Caso singular plural singular plural

Nominativo Domin-us Domin-i Hum-us Hum-i

Genitivo Domin-i Domin-orum Hum-i Hum-orum

Acusativo Domin-um Domin-os Hum-um Hum-os

Dativo Domin-o Domin-is Hum-o Hum-is

Ablativo Domin-o Domin-is Hum-o Hum-is

Vocativo Domin-e Domin-i Hum-e Hum-i

Notas:

1. Todos os nomes cujo genitivo singular é –i pertencem à segunda declinação, assim você não tem como confundi-los com os nomes da primeira declinação, que têm o genitivo singular em –ae, ou com qual-quer outro nome das três declinações ainda não vistas.

1 Morfema é o elemento linguistico mínimo significativo ou dotado de significado para a formação das palavras, como o morfema de número –s, para o plural, ou -0 (zero), para o singular.

2 Em latim, todos os nomes de países são do gênero feminino, a exemplo de Brasilia, nome latino do Brasil.

3 O substantivo liberi, liberorum só existe no plural e significa filhos; além dessa particu-laridade ele conserva o –e em todos casos, por isso não se confunde com liber, bri (= livro).

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Grupo que conserva o –e no genitivo: puer, i (= rapaz, menino, garoto); adulter, i (=adúltero); armiger, i (= escudeiro); gener, i (= genro); presbyter, i (= ancião, presbítero, sacerdote); signifer, i (= porta-bandeira, porta-estandarte); vesper, i (= tardinha, noitinha, o Oeste).

2. Perceba que todas as palavras em –ER que perdem o –e no ge-nitivo e demais casos geram um encontro consonantal. É por isso que após a vírgula, além da desinência –i do genitivo singular, é preciso destacar que há uma alteração fonemática nessa passagem que pre-cisa vir caracterizado no verbete Ex: Cancer, cri – com a queda do –e, gerou-se o encontro consonantal “cr”.

3. Para os dois grupos, o vocativo singular é sempre igual ao nomi-nativo, independente da queda característica do –e no primeiro grupo.

4. É muito importante saber o genitivo desses substantivos junta-mente com o nominativo, pois se a vogal “-e” desaparece no genitivo, ela também desaparece em toda a declinação; se ela é mantida no genitivo, é também mantida em toda a declinação.

Nome de tema em –o, terminado em –IR:

Vir, i (= homem, varão)

Caso Singular pluralNominativo Vir Vir-i

Genitivo Vir-i Vir-orum

Acusativo Vir-um Vir-os

Dativo Vir-o Vir-is

Ablativo Vir-o Vir-is

Vocativo Vir Vir-i

Nota:

1. Existe apenas um nome na segunda declinação que termina em –IR: VIR, VIRI.

2. Perceba que o vocativo é igual ao nominativo e que, apesar das particularidades de cada grupo, as desinências mantêm-se em todos os casos para os nomes terminados em –us, –er e –ir.

Existem substantivos importantes que não possuem uma regularidade na declinação dos casos. Um exemplo é o substantivo Deus. Este substan-tivo declina-se regularmente no singular, mas no plural é irregular4.

Singular Plural

Nom. deus di (dii; dei)*

Gen. dei deorum (deum)*

Acu. deum deos

Dat. deo dis (diis; deis)*

Abl. deo dis (diis; deis)*

Voc. deus di (dii; dei)*

Atividade Ia. Exercitatio Declinationis;

Gladius, ii (= espada); filius, ii (= filhos) equus, i (= cavalo); vicus, i m. (= aldeia); fluvius, ii (= rio); faber, bri (= operário); puer, i (= menino); gener, i (= genro); culter, tri (= faca).

b. Latine Vertere:

01. Amanhã, os homens da aldeia sacrificarão quatro touros e oito bodes a Baco.

02. Eu voltava da escola todos os dias com os filhos do professor de retórica.

03. Meu filho, escuta a boa música das flautas!

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

4 Com relação aos asteriscos (*): você deve preferir a primeira forma (di, deorum, deos, dis, dis, di), pois as outras formas são me-nos comuns.

96 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 97

Vocabulário:

Aldeia = vicus, i; Homem = vir, i;

Amanhã = cras; Meu = meus;

Baco = Bachus, i; Música = musica, ae;

Boa = bona; Oito = octo

Bode = caper, pri; Professor = magister, tri;

Com = cum (prep. rege o ablat.); Quatro = quattuor;

E = et; Retórica = rhetorica;

Escola = schola, ae; Sacrificar = immolo, are;

Escutar = ausculto, are Todos os dias = cotidie;

Filho = filius, ii; Touro = taurus, i;

Flauta = tibia, ae; Voltar = Remeo, ere;

Substantivos cognatos masculinos e femininos

Em latim, existem muitos substantivos que possuem cognatos noutra declinação, com raiz idêntica. Assim, a primeira declinação possui um número considerável de substantivos femininos correlatos a cognatos masculinos da segunda declinação. Como a maioria das desinências da primeira e da segunda declinação não coincide, fica fácil diferenciar o substantivo masculino do feminino apesar do mesmo radical.

Entretanto, as desinência dos casos dativo e ablativo plural nas duas declinações são idênticas: –is. Então, como fazer para saber se um substantivo cognato é masculino ou feminino, quando estão flexio-nados em um desses casos? Quando isso ocorre, há uma alteração de-sinencial especial para o nome de gênero feminino, que será em –abus. Napoleão Mendes de Almeida (2000, p. 47) explica que “o latim adota para a 1ª declinação a desinência abus para o dativo e ablativo plural”. Então, para evitar confusão é que existe essa desinência diferencial de gênero.

Apesar disso, o autor exibe uma relação de substantivos femininos da primeira declinação que sempre terão a terminação em –abus em vez de –is no dativo e ablativo plural. Assim acontece com os seguintes casos:

1ª declinação Dat. e Ablat. Plural

Anima, ae (f.) = alma;Dea, ae (f.) = deusa;Filia, ae (f.) = filha;

Liberta, ae (f.) = livre;Famula, ae (f.) = criada;

Nata, ae (f.) = filha, nascida;Mula, ae (f.) = mula;Equa, ae (f.) = égua;

Asina, ae (f.) = jumenta, burra;

AnimabusDeabusFiliabus

LibertabusFamulabusNatabusMulabusEquabusAsinabus

Então:

1) Os substantivos, acima da primeira declinação, sempre têm a terminação –abus no dativo e no ablativo plural.

2) Os outros substantivos femininos que têm um substantivo mas-culino idêntico têm a terminação –abus no dativo e no ablativo plural obrigatoriamente quando eles vêm na mesma oração com tal subs-tantivo masculino, mesmo que os dois substantivos estejam em casos diferentes.

Exemplo:

Magistram merendam discipulis et discipulabus dedit.A professora deu merenda aos alunos e às alunas.

Famuli in culina cum famulabus cantant.Os criados estão cantando com as criadas na cozinha.

Atividade IICom base no estudo sobre cognatos da primeira e da segunda declinação, traduza para o português as seguintes frases:

a. Lusitane reddere:

01. Sane columbi cum columbabus circum lacunam saepe volant.02. Vitulos et agnos dis et deabus pagani olim immolabant.03. Cum pluvit, sponsi cum suis sponsabus ecclesiam velociter intraverunt.04. Catulis et catulabus cibum alumni vidui nuper dederunt.05. Agos ab agnabus mihi vetula cras separabit.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

98 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 99

Vocabulário:

Agna, ae = cordeira; Lacuna, ae = lagoa;

Agnus, i = cordeiro; Mihi = para mim;

Alumnus, i = filho de criação, filho adotivo;

Nuper = recentemente;

Catula, ae = filhote, cadelinha; Olim = antigamente;

Catulus, i = filhote, cachorrinho; Paganus, i = pagão;

Circum = em volta de (rege acus.); Pluvit (perf.) = [choveu]*;

Columba, ae = pomba; Saepe = frequentemente;

Columbus, i = pombo; Sane = realmente;

Cras = amanhã Separo, are = separar;

Cum = com (rege ablat.); Sponsa, ae = noiva;

Cum = quando; Sponsus, i = noivo;

Dea, ae = deusa; Suis = suas;

Dederunt cibum (perf.) = [alimentaram]*;

Velociter = depressa;

Deus, i = deus; Vetula = velhinha;

Ecclesia, ae = igreja; Viduus, i = viúvo;

Et = e; Vitulus, i = bezerro, novilho;

Intraverunt (perf.) = [entraram]*; Volo, are = voar;

Nota:

Os verbetes que estão com asterisco (*) são verbos flexionados no perfeito do indicativo, tempo verbal ainda não estudado. Para esses casos, você só precisa usar os verbos, transcrevendo-os como estão.

Nomes de tema em –o terminados em UM

Os nomes terminados em –um da segunda declinação são os de gênero neutro. A 1ª declinação não possui o gênero neutro e a maioria de seus vocábulos é do gênero feminino. Embora possua resíduos do neutro, na língua portuguesa só há o masculino e o feminino na divisão dos gêneros gramaticais, muito embora possua neutros restados na de-rivação dos pronomes: isto, isso, aquilo, em oposição a este/esta, esse/essa, aquele/aquela, que possuem gênero preciso – ou é masculino ou é feminino. Assim, a língua portuguesa conservou nomes masculinos e femininos, mas os nomes de gênero neutro, segundo Furlan (2006, p. 323), “assumiram em geral o gênero masculino.”

Por sua vez, o latim contrapõe masculino e feminino ao neutro. A própria origem do termo “neutro” explica a oposição: vem de “ne-utrum”, que significa nenhum dos dois. O pronome interrogativo Uter, utra, utrum (= qual dos dois), do qual o nome “neutro” se origina, exige uma definição entre um ou outro elemento, daí a indeterminação da palavra neutrum, que designa nem um e nem outro, ou seja, nem masculino nem feminino.

É comum pensarmos que, originariamente, o latim, assim como as demais línguas que possuem o gênero neutro, aplicava-o em relação a seres entendidos como não animados em contraposição aos animados, que seriam masculinos ou femininos. Todavia, o latim não obedece a esse padrão, ainda que o neutro seja o gênero de muitos conceitos abstratos, como peccatum, i (= pecado, erro, crime), que pode sig-nificar muitas coisas. Entretanto, pode ser como bellum, i (= guerra), que tem sentido mais preciso ou oppidum, i (= cidade) que, apesar de significar cidade, não obsta os nomes das cidades que são todos femininos. O iumentum, i (= animal de carga), por exemplo, não é um conceito abstrato e tampouco um ser inanimado, daí que não poderia se enquadrar em nenhuma das duas prerrogativas.

São neutros da segunda declinação as seguintes palavras:

argentum, i (= prata); institutum, i (= costume);

bellum, i (= guerra); iumentum, i (= animal de carga);

bracchium, i (= braço); lignum, i (= madeira, pau, lenha; árvore);

colloquium, i (= conversa); officium, i (= dever, cargo);

concilium, i (= reunião, assembléia); oppidum, i (= cidade);

consilium, i (= plano, projeto, conselho); periculum, i (= perigo);

100 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 101

damnum, i (= prejuízo, dano); pilum, i (= dardo);

deversorium, i (= hospedaria, hotel) plubum, i (= chumbo, bala de chumbo);

factum, i (= fato, feito, façanha); regnum, i (= poder real, poder absoluto, reino);

fatum, i (= destino, fado); saxum, i (= pedra)

frumentum, i (= cereal, cereais; trigo, milho);

telum,i (= arma ofensiva);

imperium, i (= comando, governo, império);

verbum, i (= palavra);

Obs.: Veja que todos os verbetes de vocábulos de gênero neutro possuem as mesmas características: todos os neutro da segunda decli-nação terminam em –UM, que será sempre a desinência do nominativo singular. Você deve ter muito cuidado para não confundir o nominativo singular neutro com o acusativo singular dos outros nomes masculinos e femininos da segunda declinação, porque eles têm a desinência –um para esse caso, embora sua função sintática seja completamente dife-rente daquela. Note também que a desinência após a vírgula é –i, que é o genitivo singular de todos os nomes da segunda declinação, sem exceção.

Os nomes neutros da segunda declinação mantêm o seguinte pa-drão flexional:

Bellum, i (= guerra); donum, i (= presente)

Caso singular plural singular pluralNominativo Bell-um Bell-a Don-um Don-a

Genitivo Bell-i Bell-orum Don-i Don-orum

Acusativo Bell-um Bell-a Don-um Don-a

Dativo Bell-o Bell -is Don-o Don-is

Ablativo Bell-o Bell -is Don-o Don-is

Vocativo Bell-um Bell-a Don-um Don-a

Nota:

1. O aspecto mais significativo da flexão dos neutros da segunda declinação é o fato dele possuir três casos idênticos. Desse modo, os casos nominativo, acusativo e vocativo terão SEMPRE as mesmas desi-nências, independente de serem da segunda, terceira ou quarta decli-nação. No momento, o que importa saber é que a segunda declinação tem para os casos iguais: –um, no singular, e –a, no plural.

2. Não confunda a terminação (–a) do plural dos neutros com um nome singular da primeira declinação.

3. As desinências dos demais casos – genitivo, dativo e ablativo – serão as mesmas dos outros nomes da 2ª declinação.

Contudo, pertence à segunda declinação três vocábulos neutros ir-regulares, ou seja, que não se flexionam da forma padrão apresentada. São eles vulgus, i (= povo, vulgo), virus, i (= peçonha, veneno) e pelagus, i (= mar, alto mar, mar profundo).

Caso Singular Singular SingularNominativo Vulg-us Vir-us Pelag-us

Genitivo Vulg-i Vir-i Pelag-i

Acusativo Vulg-us Vir-us Pelag-us

Dativo Vulg-o Vir-o Pelag-o

Ablativo Vulg-o Vir-o Pelag-o

Vocativo Vulg-us Vir-us Pelag-us

Notas:

1. Os três vocábulos só se empregam no singular. Esses casos são conhecidos pelo termo “singularia tantum”, grupo de substantivos que não possuem plural.

2. Os casos acusativo e vocativo também são obtidos com a de-sinência –us, uma vez que todos os neutros possuem três casos iguais. Então, você mantenha uma atenção especial para esses vocábulos, para não confundir as funções de seu emprego.

Quadro comparativo de desinências da 1ª e 2ª declinaçãoCasos 1ª Declinação 2ª Declinação

Singular:

Nominativo -a -us, -er, -ir e -um

Genitivo -ae -i

Acusativo -am -um

Dativo -ae -o

Ablativo -a -o

Vocativo -a -e, -i e igual ao nominativo

Plural:

Nominativo -ae -i -a

Genitivo -arum -orum

Acusativo -as -os -a

Dativo -is (-abus) Is

Ablativo -is (-abus) Is

Vocativo -ae -i -a

102 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 103

Atividade IIIa. Quais as características fundamentais que distinguem os vocábulos da 1ª e 2ª declinações? Compare e Justifique.

b. Reflita sobre o que pode fundamentar a existência do gênero neutro enquanto categoria gramatical na língua latina; podemos afirma que não há “neutro” em nenhuma hipótese na língua portuguesa?

c. Latine Vertere:

01- Mundus est Dei templum.

02- Amicus est donum Dei.

03- Bella quidem vulgo damna semper parant.

04- Nuntii verba in concilio legatos valde turbaverunt.

05- Cur vicinorum colloquia semper auscultas?

06- Virorum fatum sane ignoramus.

07- Erant septem statuae ex plumbo in platea.

08- Gladius hastaque* et pilum sunt tela.

09- In principio erat Verbum, et Verbum erat apud Deum, et Deus erat Verbum.

(*) A particular enclítica –que ao final da palavra tem o mesmo sig-nificado da conjunção et.

Vocabulário:

Amicus, i = amigo; Paro, are = proporcionar;

Apud = junto a, em (rege o acus.); Pilum, i (n.) = dardo;

Ausculto, are = escultar; Platea, ae = praça;

Bellum, i (n.) = guerra; Plumbum, i = chumbo;

Colloquium, ii (n.) = conversa; Pricipium, ii (n.) = princípio;

Concilium, i (n.) = reunião; -que (enclítico) = e;

Cur = por que; Quidem = na verdade;

Damnum, i (n.) = prejuízo; Sane = sem dúvida;

Deus, i = Deus; Semper = sempre;

Donum, i (n.) = presente; Septem = sete;

Et = e; Statua, ae = estátua;

Ex = de (rege o abl. de matéria); Sum, esse = ser, estar, haver;

Fatum, i (n.) = destino Telum, i (n.) = arma ofensiva;

Gladius, i = espada; Templum, i (n.) = templo;

Hasta, ae = lança; Turbaverunt (perf.) = [incomodaram];

Ignoro, are = desconhecer; Valde = muito;

In = em (rege ablativo) Verbum, i = palavra, verbo;

Legatus, i = embaixador; Vicinus, i = vizinho;

Mundus, i = mundo; Vir, i = homem;

Nuntius, ii = mensageiro; Vugus, i (n.) = povo;

Chegamos ao final de mais uma unidade. Você está de parabéns, pois se manteve concentrado e venceu mais um desafio! Especialmente, nesta unidade, você entrou em contato com novos padrões flexionais característicos da 2ª declinação. Conheceu um grande número de vocábulos masculinos e viu que o gênero neutro é uma categoria gra-matical do Latim que não existe na língua portuguesa, muito embora existam resíduos pronominais que podemos considerar neutros, como isto, isso, aquilo.

É sempre muito bom manter o nível de compreensão! Para tanto, a matéria aqui vista deve ser aprofundada com a leitura regular dos textos sugeridos. Por isso, organize a sua agenda de leituras com as indicações, para isentar qualquer dúvida existente, e não deixe de pro-curar os tutores para os esclarecimentos.

Leituras recomendadasPara ler Nomes de tema em –o, ler: “Temas em o - 2ª declinação – Genit.

do sing.: I”, in: Compendio de Gramática Latina, de Maria Ana Almendra e José Nunes de Figueiredo (2003, p. 30-4); “Lição 11 – 2ª declinação”, in: Gramática Latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000, p. 44-6).

Para ler Substantivos Cognatos Masculinos e Femininos, ler: “Lição 12 – 2ª declinação: algumas observações”, in: Gramática Latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000, p. 46-8); “Substantivos que terminam em –ABUS em vez de IS no Dativo e Ablativo Plural”, in: Literatura Latina I, de Francis Xavier Boyes (1989); “Terminações”, in: Não Perca o seu Latim, de Paulo Rónai (2002, p. 193).

Para ler Nomes de Tema em –o Terminados em –UM, ler: “Gêneros: resíduos do neutro”, in: Língua e Literatura Latina e sua Derivação Portugue-sa, de Oswaldo Antônio Furlan (2006, p. 323-4); “Morfologia dos substantivos: introdução às declinações”, in: Gramática Latina para Seminários e Faculdades, de Júlio Comba (1991, p. 19-21).

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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ResumoNo primeiro tópico, você viu que para saber qual o tema dos subs-

tantivos latinos, basta retirar o RUM do genitivo plural das declinações. Assim, retiramos o rum respectivamente de –arum e –orum e encontramos o tema –a, da primeira declinação, e o tema –o, da segunda declina-ção. A segunda declinação possui nomes de gênero masculino em sua maioria, uma parcela de nomes de gênero feminino e, ainda, nomes de gênero neutro. Se a primeira declinação possui uma entrada para o nominativo singular em -a, a segunda declinação fixa quatro desinên-cias para o nominativo singular: –us, –er, –ir e –um. Todos os nomes cujo genitivo singular é –i pertencem à segunda declinação, assim você não tem como confundi-los com os nomes da primeira declinação, que têm o genitivo singular em –ae. Para encontrar o radical de qualquer substan-tivo latino, você só precisa retirar a desinência do genitivo singular. Essa medida é importante porque, nem sempre, o radical do vocábulo coin-cide com o nominativo singular, que dá nome ao substantivo. Todas as palavras em –ER que perdem o –e no genitivo e demais casos geram um encontro consonantal. Existe apenas um nome na segunda declinação que termina em –IR: VIR, VIRI. E, finalmente, você viu que o substantivo Deus declina-se regularmente no singular, mas no plural é irregular.

No segundo tópico, você conheceu que a 1ª e a 2ª declinações possuem substantivos cognatos, com raiz idêntica. Assim, a primeira de-clinação possui um número considerável de substantivos femininos cor-relatos a cognatos masculinos da segunda declinação. Como a maioria das desinências da primeira e da segunda declinação não coincide, fica fácil diferenciar o substantivo masculino do feminino apesar do mesmo radical. Entretanto, as desinência dos casos dativo e ablativo plural nas duas declinações são idênticas: –is. Então, como fazer para saber se um substantivo cognato é masculino ou feminino, quando estão flexionados em um desses casos? Quando isso ocorre, há uma alteração desinencial especial para o nome de gênero feminino, que será em –abus. Napoleão Mendes de Almeida (2000, p. 47) explica que “o latim adota para a 1ª declinação a desinência abus para o dativo e ablativo plural”. Então, para evitar confusão é que existe essa desinência diferencial de gênero.

No último tópico, você aprendeu que os nomes terminados em –um da segunda declinação são os de gênero neutro e que, embora possua resíduos do neutro, a língua portuguesa só possui o masculino e o femi-nino como gêneros gramaticais. Ainda assim, podemos considerar neu-tros alguns pronomes, como isto, isso, aquilo, em oposição a este/esta, esse/essa, aquele/aquela, que possuem gênero preciso – ou é mascu-lino ou é feminino. A língua portuguesa conservou nomes masculinos e femininos, mas os nomes de gênero neutro, segundo Furlan (2006, p. 323), “assumiram em geral o gênero masculino.” Por sua vez, o latim contrapõe masculino e feminino ao neutro. A própria origem do termo

“neutro” explica a oposição: vem de “ne-utrum”, que significa nenhum dos dois. O pronome interrogativo Uter, utra, utrum (= qual dos dois), do qual o nome “neutro” se origina, exige uma definição entre um ou outro elemento, daí a indeterminação da palavra neutrum, que designa “nem um e nem outro”, ou seja, nem masculino nem feminino. É comum pensarmos que, originariamente, o latim, assim como as demais línguas que possuem o gênero neutro, aplicava-o em relação a seres entendi-dos como não animados em contraposição aos animados, que seriam masculinos ou femininos. Todavia, o latim não obedece a esse padrão, ainda que o neutro seja o gênero de muitos conceitos abstratos, como peccatum, i (= pecado, erro, crime), que pode significar muitas coisas. Entretanto, iumentum, i (= animal de carga) não é um conceito abstrato e tampouco um ser inanimado, daí que não poderia se enquadrar em nenhuma das duas prerrogativas. Você aprendeu ainda que todos os ver-betes de vocábulos de gênero neutro possuem as mesmas características: terminam em –UM e têm três casos iguais: o nominativo, o acusativo e o vocativo, ou seja, –um, no singular, e –a, no plural. As desinências dos demais casos – genitivo, dativo e ablativo – serão as mesmas dos outros nomes da 2ª declinação. Ainda assim, existem três neutros irregulares: vulgus, i (= povo, vulgo), virus, i (= peçonha, veneno) e pelagus, i (= mar, alto mar, mar profundo). Os três vocábulos só se empregam no singular e são conhecidos pelo termo “singularia tantum”, grupo de substantivos que não possuem plural. Para esses, os casos acusativo e vocativo tam-bém são obtidos com a desinência –us, uma vez que todos os neutros possuem três casos iguais.

AutovaliaçãoA língua portuguesa não possui o gênero neutro, mas tem resíduos

do neutro restados nos pronomes. Além disso, o conceito de neutro ultrapassa os limites gramaticais, sobretudo, quando abrange um sen-tido de indeterminação ou abstração. Termos genéricos como “coisa”, “negócio” ou “isso” muitas vezes referem-se a um conceito que encerra uma “incerteza” quanto ao gênero. Ao refletir sobre tais considerações, compare a língua portuguesa ao latim, tendo como parâmetro o con-ceito de gênero.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Morfologia Verbal: os tempos do “perfectum”

Morfologia Verbal: os tempos do “perfectum”

VII UNIDADEReferências

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Latina: curso único e completo. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

ALMENDRA, Maria Ana; FIGUEIREDO, José Nunes de. Compêndio de Gramática Latina. Porto: Porto editora, 2003.

BOYES, Francis Xavier. Língua Latina I. Recife: Fasa Editora, 1989.

CARDOSO, Zélia Almeida. Iniciação ao Latim. 5 ed. São Paulo: Ática, 2003. (Série Princípios).

COMBA, Júlio. Gramática Latina para Seminários e Faculdades. 4 ed. rev. e adpt. São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco, 1991.

FURLAN, Oswaldo Antônio. Língua e literatura latina e sua derivação portuguesa. Petrópolis: Vozes, 2006.

RÓNAI, Paulo. Não Perca o seu Latim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

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Apresentação

Com relação à morfologia verbal, você viu a 1ª e 2ª conjugações na Unidade III, sob os padrões flexionais dos tempos do infectum: presente, imperfeito e futuro. Também, você aprendeu a reconhecer os verbos na flexão do modo imperativo, bem como sua colocação na frase. Viu que exis-tem formas irregulares de flexão verbal, assim como na lín-gua portuguesa. Nesta unidade, você verá a continuação dos estudos relativos à morfologia verbal: a 3ª e 4ª con-jugações nos tempos do infectum. Além disso, estudará o tema de cada conjugação para não restar dúvidas quanto aos padrões flexionais de cada conjugação. Ainda, saberá consultar um verbo no dicionário e identificar no verbete as formações primitivas nele contidas, das quais derivam as de-mais formações verbais.

É condição básica dessa Unidade que, ao seu término, você possa conjugar os verbos latinos em todos os tempos do modo indicativo, do infectum (presente, imperfeito e futu-ro) e do perfectum (perfeito, mais-que-perfeito e futuro ante-rior), para compreender os aspectos verbais latinos na mais variada implicação que nos permite conferir os exercícios de tradução. Portanto, tenha um bom estudo e não deixe de procurar os tutores na hora da dúvida. Lembre-se de que aprender o latim em parceria pode ser bem mais proveito-so.

Objetivos

Esperamos que nesta Unidade você aprenda a:

Complementar o conhecimento sobre morfologia verbal, aten-•tando agora para o presente do infectum da 3ª e 4ª conjuga-ções;

Considerar os paradigmas da 3ª e 4ª conjugações também nos •tempos imperfeito e futuro do infectum;

Identificar o tema das quatro conjugações latinas;•

Compreender a formação dos tempos do • perfectum nos tempos do pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito e futuro ante-rior, para arrematar o estudo sobre morfologia verbal,

Reconhecer as formas primitivas dos verbos latinos.•

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A 3ª e 4ª conjugações latinas da voz ativa

O aluno que estudou bem a Unidade III não sentirá grandes proble-mas em concluir os estudos sobre morfologia verbal. Naquela Unidade, você teve oportunidade de estudar a formação dos tempos do infectum latinos – presente, imperfeito e futuro – com exemplos respeitantes a 1ª e 2ª conjugações. Agora, você pode concluir o assunto através dos padrões flexionais da 3ª e 4ª conjugações para os mesmos tempos an-teriormente vistos. Assim, para o devido entendimento da formação dos verbos da 3ª e 4ª conjugações, considere: o radical, a vogal temática ou o tema verbal, os infixos modo-temporais, as desinências número-pessoais entre outros recursos eventuais para a formação verbal.

Então, tomemos as indicações a seguir:

A 3ª conjugação possui uma variante de tema em consoante (ou tema zero), que não apresenta vogal temática. A forma do infinitivo também é em -re, mas a vogal existente (o e breve) é tema apenas do infinitivo, uma vez que o verbo flexionado apresen-ta o -i- apenas como vogal de ligação, que liga o radical às desinências variadas.

Vejamos:

Radical + Vogal de Ligação (VL) + desinência número-pessoal = presente do infectum de Lego, is, (e)re – tema zero:

Pessoa O Radical já é o tema + VL

Desinência número-pessoal

O presente do infectum

1ª pessoa do singular

leg -o lego (= leio)

2ª pessoa do singular

leg + i -s legis (= lês)

3ª pessoa do singular

leg + i -t legit (= lê)

1ª pessoa do plural

leg + i -mus legimus (= lemos)

2ª pessoa do plural

leg + i -tis legitis (= ledes)

3ª pessoa do plural

leg + u -nt legunt (= leem)

Notas:

1) Note que as desinências número-pessoias da 3ª conjugação são as mesmas já conhecidas da 1ª e 2ª conjugações;

2) A 3ª conjugação apresenta o tema com apenas o radical, por isso se diz que ela possui tema zero ou apresenta tema em consoante, quando consideramos a última letra do radical, que sempre é uma consoante, aqui, a letra -g.

3) A flexão da 1ª pessoa do singular é formada com a junção do tema mais a desinência -o, típica dessa flexão; da 2ª pessoa do singu-lar até a 2ª pessoa do plural, apresenta-se a vogal -i-, que é vogal de ligação; a vogal -u- da 3ª pessoa do plural também possui a função de ligar o tema à desinência número-pessoal.

4) A variação da vogal de ligação pode ser dada com -i- ou com -u-, de modo que a vogal de ligação responde aos tipos de consoante que ligam, no caso: o -i- diante de desinências verbais iniciadas por consoantes sonoras e o -u- diante de desinências verbais iniciadas por consoante nasal, que é o caso da 3ª pessoa do plural em -nt.

Outro fato curioso é que a 3ª conjugação, e exclusivamente ela, apresenta duas variantes de temas diferentes. Você acabou de conhe-cer a variante de tema zero, também conhecida pelo tema consonantal, mas falta conhecer a de tema em semivogal, que apresenta sub-varian-te em -i ou em -u.

Vejamos, então, o exemplo abaixo:

Radical + Semivogal Temática (ST) + desinência número-pessoal = presente do infectum de capio, is, ere:

Pessoa Radical e VT = TEMA Desinência número-pessoal

O presente do infectum

1ª pessoa do singular

cap + i -o capio (= tomo)

2ª pessoa do singular

cap + i -s capis (= tomas)

3ª pessoa do singular

cap + i -t capit (= toma)

1ª pessoa do plural

cap + i -mus capimus (= tomamos)

2ª pessoa do plural

cap + i -tis capitis (= tomais)

3ª pessoa do plural

cap + i (u) -nt capiunt (= tomam)

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Notas:

1) Note que nessa variante a VT é o “-e” (breve) para o infinitivo, mas para as formas finitas (flexionadas), há uma mudança para a ST -i;

2) As desinências número-pessoais não mudam e o -u aparece como vogal de ligação na 3ª pessoa do plural;

3) O modelo de flexão apresentado serve para os verbos da 3ª con-jugação de tema em semivogal (-i ou -u) no presente do infectum, muito embora a flexão dos verbos em ST -u acrescente a ligação da vogal -i da 2ª pessoa do singular a segunda do plural:

A sub-variante de tema em semivogal -u para a 3ª conjugação segue o modelo de minuo, is, ere (= diminuir), apresentando as formas finitas da seguinte maneira: munuo, minuis, minuit, minuimus, minuitis, minuunt.

Agora, resta-nos conhecer a 4ª e última das conjugações latinas. O aluno que considerou todas as minúcias das conjugações vistas, não tardará em conhecer esta que encerra os paradigmas de conjugação ativa regular:

Radical + Vogal Temática (VT) + desinência número-pessoal = pre-sente do infectum de audio, is, ire:

Pessoa Radical e VT = TEMA Desinência número-pessoal

O presente do infectum

1ª pessoa do singular

aud + i -o audio (= ouço)

2ª pessoa do singular

aud + i -s audis (= ouves)

3ª pessoa do singular

aud + i -t audit (= ouve)

1ª pessoa do plural

aud + i -mus audimus (= ouvimos)

2ª pessoa do plural

aud + i -tis auditis (= ouvis)

3ª pessoa do plural

aud + i (u) -nt audiunt (= ouvem)

Notas:

1) O -i tem valor vocálico e, portanto, trata-se de VT, que é inserida entre o radical aud- e as desinências número-pessoais, com as quais você já lida desde a 1ª conjugação;

2) A 3ª pessoa do plural possui VL -u para unir o tema audi à desi-nência número-pessoal -nt iniciada por consoante nasal;

3) O tema do infinitivo é em -ire.

Falamos tanto em TEMA que talvez você se pergunte, como descu-bro o tema de um verbo latino? Para se descobrir o tema de um verbo latino, basta retirar a desinência número-pessoal característica da 2ª pessoa do singular da voz ativa. Assim, o que resta é o tema:

1ª conjugação: o verbo amar é em latim amo, o infinitivo é amare; retirando-se o -re final, temos o tema da 1ª conjugação que coincide com a retirada do -s característico da 2ª pessoa do singular, restando ama – radical + VT = TEMA em –a;

2ª conjugação: o verbo advertir é em latim moneo, o infinitivo é monere; retirando-se o -re final, temos o tema da 2ª conjugação que coincide com a retirada do -s característico da 2ª pessoa do singular, restando mone – radical + VT = TEMA em –e;

3ª conjugação: o verbo ler é em latim lego, o infinitivo é legere; retirando-se o -re final, temos o tema do infinitivo em lege, mas as for-mas finitas (flexionadas) apresentam vogal de ligação (-i da 2ª pessoa do singular a 2ª do plural e -u para a 3ª pessoa do plural), de modo que o radical torna-se um tema em consoante, restando leg – radical = TEMA em consoante –g;

3ª conjugação: o verbo tomar é em latim capio, o infinitivo é capere; retirando-se o -re final, temos o tema do infinitivo em cape, todavia as formas finitas não conservam o -e característico do infinitivo, ora substituindo-o pela semivogal -i, que encontramos na 2ª pessoa do singular capis, cuja retirada do -s característico, permite-nos encontrar capi – radical + ST = TEMA em semivogal –i;

3ª conjugação: o verbo diminuir é em latim minuo, o infinitivo é mi-nuere; retirando-se o -re final, temos o tema do infinitivo em minue, contudo as formas finitas não conservam o -e dessa estrutura, substi-tuindo-o pelo -i- de ligação nas formas convencionadas da 2ª pessoa

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do singular a 2ª do plural; e pelo -u- de ligação para a 3ª pessoa do plural em -nt. A 2ª pessoa do singular é minuis que, sem a desinência número-pessoal e sem a vogal de ligação, permite-nos encontrar minu – radical + ST = TEMA em semivogal –u;

4ª conjugação: o verbo ouvir é em latim audio, o infinitivo é audire; retirando-se o -re final, temos o tema da 4ª conjugação que coincide com a retirada do -s característico da 2ª pessoa do singular que é, en-tão, audi – radical + VT = TEMA em vogal -i.

Atividade IConsiderando as quatro conjugações latinas, bem como as variantes da 3ª conjugação, indique em seu caderno qual o tema e a que conjugação pertence os verbos abaixo; em seguida, conjugue-os conforme os paradigmas estudados no presente do infectum1.

a) Metuo, is, ere (= temer);b) Gemino, as, are (= duplicar);c) Erigo, is, ere (= erguer)d) Ignio, is, ire (= incendiar, queimar);e) Maneo, es, ere (= permanecer);f) Ravio, is, ire (= enrouquecer);g) Imbuo, is, ere (= embeber, ensopar);h) Possideo, es, ere (= possuir);i) Rapio, is, ere (= agarrar, roubar, ocupar);j) Invito, as, are (= convidar);k) Accipio, is, ere ( = aceitar);l) Mingo, is, ere (= urinar).

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

O Imperfeito e o Futuro do infectum para a 3ª e 4ª conjugações

Você deve lembrar bem que o termo infectum designa, sob efeito do aspecto verbal, uma ação não realizada e, portanto, não concluída, ainda por se fazer. Para essa condição, os tempos do presente, imper-feito e futuro conservam tal aspecto, conforme a irrealização de uma ação, que é inacabada ou que está por se concluir.

No capítulo anterior, vimos o presente do infectum, agora, resta-nos conhecer o “imperfeito” e o “futuro”. Você recorda que, para a com-posição de tais tempos, lançamos mão de infixos modo-temporais, de acordo com a composição verbal adequada ao modo e ao tempo, ou seja: precisamos de morfemas que são colocados entre o TEMA verbal e as desinências número-pessoais para indicar com precisão as formas finitas em relação à ação considerada.

Tais considerações foram vistas na Unidade III, mas, para refrescar a memória, vamos recobrar que o imperfeito possui o infixo “BA” e o fu-turo (1ª e 2ª conjugações) possui o infixo “BI”. Agora, vamos conhecer como funcionam os mesmos tempos na 3ª e 4ª conjugações regulares da voz ativa do infectum.

Então, vejamos:

Tema + Vogal de Ligação (VL) + infixo BA + desinência número-pessoal = imperfeito do infectum de lego, is, (e)re:

Pessoa O Radical já é o tema + VL + BA

Desinência número-pessoal

O Imperfeito do infectum

1ª pessoa do singular Leg(e) + ba -m legebam (= lia)

2ª pessoa do singular Leg(e) + ba -s legebas (= lias)

3ª pessoa do singular Leg(e) + ba -t legebat (= lia)

1ª pessoa do plural Leg(e) + ba -mus legebamus (= líamos)

2ª pessoa do plural Leg(e) + ba -tis legebatis (= líeis)

3ª pessoa do plural Leg(e) + ba -nt legebant (= liam)

Notas:1) Perceba que a letra “e” entre parênteses é uma vogal de ligação,

pois que este verbo é de tema consonantal (ou Tema Zero);

2 Assim, não há grande novidade para essa formação, basta lem-brar que para o imperfeito a desinência número-pessoal “-o” da 1ª pessoa do singular muda para “-m”; nos demais casos tudo continua semelhante às flexões de 1ª e 2ª conjugações.

1 O verbo será dado conforme sua entrada em dicionário, com a 1ª pessoa do presente do indicativo topicalizada; logo após, temos a desinência característica da 2ª pessoa do presente do indicativo e, por fim, a desinên-cia do infinitivo latino, como no exemplo: Regno, as, are – verbo que pertence a 1ª conjugação e possui tema em -a.

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– E o futuro de lego, is, ere também será igual? – Não!

Assim, você deve tomar muito cuidado com esta formação de futu-ro, uma vez que ela não se vale do infixo “bi”, como nas conjugações anteriores. O artifício gramatical consiste nas seguintes considerações:

Tema + Vogal de Ligação (VL) do infinitivo + desinência número-pessoal = imperfeito do infectum de rego, is, ere:

Pessoa O Radical já é o tema + VL

Desinência número-pessoal

O futuro do infectum

1ª pessoa do singular Leg + a -m legam (= lerei)

2ª pessoa do singular Leg + e -s leges (= lerás)

3ª pessoa do singular Leg + e -t leget (= lerá)

1ª pessoa do plural Leg + e -mus legemus (= leremos)

2ª pessoa do plural Leg + e -tis legetis (= lereis)

3ª pessoa do plural Leg + e -nt legent (= lerão)

Notas:

1) Só a 1ª pessoa do singular conserva um resíduo do infixo do imperfeito para compor o futuro do infectum, no caso a estrutura “-am”, sem a vogal de ligação “-e-” e sem a letra “-b” em situação medial, típica de infixo, assim temos: legam;

2) As demais pessoas fazem o futuro do infectum sem as estruturas de imperfeito, então, basta retirar o infixo do imperfeito e teremos o futuro do infectum de Lego, is, ere, ou a junção de TEMA + VL + De-sinência número-pessoal. Portanto, Legebas sem o “ba” forma o futuro e assim por diante.

Essas regras são, no entanto, para a 3ª conjugação de Tema Zero (em consoante), pois, para obtermos as regras da 3ª conjugação em sua variação em semivogal, devemos proceder conforme o quadro abaixo:

Tema + Semivogal de Ligação (SL) + infixo BA + desinência núme-ro-pessoal = imperfeito do infectum de Capio, is, ere:

Pessoa Tema + VL + BA Desinência número-pessoal

O Imperfeito do infectum

1ª pessoa do singular Capi + e + ba -m capiebam (= tomava)

2ª pessoa do singular Capi + e + ba -s capiebas (= tomavas)

3ª pessoa do singular Capi + e + ba -t capiebat (=tomava)

1ª pessoa do plural Capi + e + ba -mus capiebamus (= tomávamos)

2ª pessoa do plural Capi + e + ba -tis capiebatis (= tomáveis)

3ª pessoa do plural Capi + e + ba -nt capiebant (= tomavam)

Notas:

1) Para a variante da 3ª conjugação de tema em semivogal “-i”, consideramos apenas esse acréscimo (a semivogal), uma vez que o restante da estrutura coincide com a de Tema Zero;

2) A variante da 3ª conjugação de tema em semivogal “-u” flexiona-se no imperfeito do infectum da seguinte forma: minuebam, minuebas, minuebat, minuebamus, minuebatis, minuebant. Portanto, conserva o mesmo padrão da formação temática em semivogal “-i”.

Para a formação do futuro, não encontraremos grandes problemas, uma vez que já aprendemos a formação do futuro do infectum de Tema Zero. Agora, basta ficar atento aos detalhes:

Tema + Vogal de Ligação (VL) do infinitivo + desinência número-pessoal = Futuro do infectum de Capio, is, ere:

Pessoa Tema + VL Desinência número-pessoal

O futuro do infectum

1ª pessoa do singular Capi + a -m capiam (= tomarei)

2ª pessoa do singular Capi + e -s capies (= tomarás)

3ª pessoa do singular Capi + e -t capiet (= tomará)

1ª pessoa do plural Capi + e -mus capiemus (= tomaremos)

2ª pessoa do plural Capi + e -tis capietis (= tomareis)

3ª pessoa do plural Capi + e -nt capient (= tomarão)

Notas:

1) Mais uma vez, apenas a 1ª pessoa do singular conserva um resíduo do infixo do imperfeito para compor o futuro do infectum, no caso a estrutura “-am”, com a semivogal “-i-” agregada ao radical para formar o TEMA capi-; também, sem o “b” em situação medial, típico de infixo, e assim temos: capiam;

2) As demais pessoas fazem o futuro do infectum sem as estruturas de imperfeito, então, basta retirar o infixo do imperfeito e teremos o futuro do infectum de capio, is, ere (TEMA + ST + Desinência número-pessoal), de modo que Capiebas sem o “ba” forma o futuro de capio, e assim por diante;

118 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 119

3) A variante da 3ª conjugação de tema em semivogal “-u” flexiona-se no futuro do infectum da seguinte forma: minuam, minues, minuet, minuemus, minuetis, minuent. Portanto, conserva o mesmo padrão da formação em semivogal, mudando apenas o tema de semivogal “-i” para “-u”.

Considerando que você fez a atividade 1 desta Unidade e sabe diferenciar os TEMAS de cada conjugação, bem como conjugá-los no presente do indicativo, agora não encontrará problemas para identifi-car as formações verbais de “imperfeito” e “futuro” da 4ª e última conju-gação latina. O modelo é o verbo regular audio, is, ire (= ouvir), que se flexiona no imperfeito como no quadro é demonstrado:

Tema + Vogal de Ligação (VL) + infixo BA + desinência número-pessoal = imperfeito do infectum de audio, is, ire:

Pessoa Tema + VL + BA Desinência número-pessoal

O Imperfeito do infectum

1ª pessoa do singular

audi + e + ba -m audiebam (= ouvia)

2ª pessoa do singular

audi + e + ba -s capiebas (= ouvias)

3ª pessoa do singular

audi + e + ba -t capiebat (= ouvia)

1ª pessoa do plural audi + e + ba -mus capiebamus (= ouvíamos)

2ª pessoa do plural audi + e + ba -tis capiebatis (= ouvíeis)

3ª pessoa do plural audi + e + ba -nt capiebant (= ouviam)

Nota:

1) Agora, não há mais que fazer, uma vez que todos os verbos que têm o infinitivo em -ire pertencem à 4ª conjugação e se flexionam conforme audio, is, ire; a vogal temática é em “-i” e os demais recursos como, por exemplo, o infixo “BA” e as desinências número-pessoais (m, s, t, mus, tis, nt) são as mesmas apresentadas na Unidade III.

– E o futuro do Infectum de audio,is, ire também manterá o padrão da 1ª e 2ª conjugações ou o da 3ª?

– O padrão da 4ª conjugação seguirá o modelo da 3ª para o futuro do infectum.

Então, vejamos como isso ocorre:

Tema + Vogal de Ligação (VL) + desinência número-pessoal = Futuro do infectum de audio,is, ire:

Pessoa Tema + VL Desinência número-pessoal

O futuro do infectum

1ª pessoa do singular audi + a -m audiam (= ouvirei)

2ª pessoa do singular audi + e -s audies (= ouvirás)

3ª pessoa do singular audi + e -t audiet (= ouvirá)

1ª pessoa do plural audi + e -mus audiemus (= ouviremos)

2ª pessoa do plural audi + e -tis caudietis (= ouvireis)

3ª pessoa do plural audi + e -nt audient (= ouvirão)

Notas:

1) Conforme as variantes em semivogal (-i e -u) da 3ª conjugação, o modelo audio, is, ire da 4ª conjugação formará a 1ª pessoa do futuro com o resíduo -am do imperfeito, mas sem o uso do “-b” medial, típico de infixo: audiam.

2) As demais pessoas seguem o paradigma anteriormente visto na 3ª conjugação, sem as estruturas do imperfeito, e seguindo o esquema: audi + am (1ª pessoa do singular) e o restante (2ª e 3ª pessoa do singu-lar e 1ª, 2ª e 3ª pessoas do plural): audi + e + s, t, mus, tis ou nt. Assim, audiebas sem o infixo “BA”, confere a 2ª pessoa do futuro do infectum: audies (= tomarás).

Atividade IIa. Latine Vertere:

01. Recentemente, eu estava ouvindo a música de flautas e violões2.02. Amanhã, leremos um livro.03. Tomaste o dinheiro dos mercenários, não foi?04. Antigamente, temíamos os monstros e animais da floresta.05. Frequentemente, roubávamos comida para os nossos filhos e filhas.06. Ficarei contigo para sempre!07. Antigamente, aceitávamos as ordens do embaixador, mas agora não

temos sequer patrão para obedecer3.

2 A locução verbal que a frase apresenta não é usual ao latim, então, você procederá da seguinte forma: tome o verbo principal no gerúndio e empregue-o em latim de acordo com o tempo flexionado pelo verbo auxiliar.

3 Em latim, esta formação verbal é sintética e chama-se SUPINO; o supino é uma for-mação primitiva de verbo que dela deriva outras formações verbo-nominais. Dizemos: “para cantar” – cantatum; “para caminhar” - ambulatum; para permanecer – monitum; e, da mesma forma, “para obedecer” – ob-temperatum. ‘

120 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 121

Vocabulário:

A(b) = de [ablativo de separação]; Mercenário = mercenarius, i

Aceitar = accipio, is, ere; Monstro = monstrum, i;

Agora = nunc; Música = musica, ae;

Amanhã = cras; Não = non;

Animal = bestia, ae; Ordem = mandatum, i;

Antigamente = olim; Ouvir = audio, is, ire;

Comida = cibus, i; Para obedecer = obtemperatum;

E = et; Para os nossos = nostris;

Embaixador = legatus, i; Para sempre = ad aeternum;

Ficar = sum, es, esse; Patrão = dominus, i;

Filha = Filia, ae; Recentemente = nuper;

Filho = filius, ii; Roubar = rapio, is, ere;

Flauta = tibia, ae; Sequer (adv.) = saltem;

Floresta = silva, ae; Temer = metuo, is, ere;

Frequentemente = saepe; Ter (possuir) = possideo, es, ere;

Ler = lego, is, ere; Tomar = capio, is, ere;

Livro = liber, bri; Violão = chitara, ae.

Mas = sed;

Os Tempos do PerfectumSe os tempos do infectum têm aspecto verbal inacabado, os tempos

do perfectum comportam, a seu turno, uma ação completa (realizada ou feita) quanto à natureza aspectual do verbo.

1. Tempos do infectum: presente, imperfeito e futuro;

2. Tempos do perectum: perfeito, mais-que-perfeito, futuro anterior;

Dois dos tempos do perfectum são bastante conhecidos pelos na-tivos de língua portuguesa, porque são formações verbais que existem no vernáculo: o “perfeito” e o “mais-que-perfeito”. Porém, o termo aci-ma sublinhado – “futuro anterior” – não existe em composição sintética na língua portuguesa, apenas em locução verbal. Então, considere as seguintes frases:

Quando eu voltar da praia, a minha família já terá jantado.(Cum ego ex ora remeabo, mea familia iam cenaverit.)

Assim, as formas sublinhadas em latim são os verbos que se apre-sentam sintéticos nas duas orações. Porém, para traduzirmos certas for-mações, precisamos conhecer muito bem como funcionam as flexões verbais para expressá-las com seu aspecto preciso.

Na primeira frase, a oração subordinada [quando eu voltar...] apre-senta o verbo no futuro do subjuntivo. Em latim, esta formação deve ser traduzida para o futuro simples do infectum [Cum... remeabo], que todos conhecemos desde a III Unidade. No entanto, a oração principal [terá começado] é uma locução verbal que não possibilita uma composição sintética em português; em latim, sim! Para efeito aspectual, o “futuro anterior” significa uma ação que antecede outra, que ainda não acon-teceu, porque se trata de uma projeção de ações em sequência que acontecerão – de fato – no futuro. Esta solução é sintética em latim: cenaverit.

Tomando o Futuro Anterior, temos:

CENA + ERIT Tema Desinência

Desse modo, em português, as seguintes locuções verbais possuem respectivos sintéticos em latim: terei jantado, terás jantado, terá jantado, teremos jantado, tereis jantado, terão jantado. Tanto em português quanto em latim, elas possuem o mesmo aspecto, mas em latim sua composi-ção é sintética.

Pessoa Radical + VT = TEMA - infectum

Desinência modo-temporal

TEMA -perfectum

Desinência número-pessoais do

futuro anterior do perfectum

1ª pessoa do singular Cen + a -V -ero (cenavero)

2ª pessoa do singular Cen + a -V -eris (cenaveris)

3ª pessoa do singular Cen + a -V -erit (cenaverit)

1ª pessoa do plural Cen + a -V -erimus (cenaverimus)

2ª pessoa do plural Cen + a -V -eritis (cenaveritis)

3ª pessoa do plural Cen + a -V erint (cenaverint) Notas:

1) Note que as desinências número-pessoais coincidem com a for-mação do futuro do infectum do verbo sum, es, esse; apenas a 3ª pes-soa do plural é que se distingue em erint para não se confundir com a 3ª do perfeito, que veremos a seguir;

2) Se o tema do infectum permite-nos encontrar cena, o perfectum, por sua vez, também possui um tema em V que – para os verbos regu-lares da 1ª, 2ª e 4ª conjugação – permite essa configuração:

cena + V = cenav- [tema do perfectum de jantar];ama + V = amav- [tema do perfectum de amar];dele + V = delev- [tema do perfectum de destruir];

122 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 123

audi + V = audiv- [tema do perfectum de ouvir];igni + V = igniv- [tema do perfectum de queimar].

Contudo, o tema regular do perfectum é uma extensão dos temas do infectum, através de V- e, também, através de U-. Os temas do per-fectum de jantar, amar, destruir, ouvir e queimar são, respectivamente, cenav-, amav-, delev-, audiv-, igniv-; todavia, os temas de advertir, ter e poder são: monu, habu e potu. De qualquer forma, tomando os temas regulares do perfectum dessas formações verbais em V- ou em U- e a eles acrescentamos as desinências número-pessoais de perfectum, te-mos o seguinte:

Primeiramente, você precisa conhecer as desinências número-pes-soais do perfeito, porque elas não são as mesmas dos tempos do infec-tum, assim considere:

i imusisti istisit erunt

Agora, se você unir o tema do perfectum em V- dos verbos vistos às desinências número-pessoais, certamente encontrará as seguintes formações:

Pessoa Jantar Amar Destruir Ouvir Queimar

1ª pessoa do singular

cenavi amavi delevi audivi ignivi

2ª pessoa do singular

cenavisti amavisti delevisti audivisti ignivisti

3ª pessoa do singular

cenavit amavit delevit audivit ignivit

1ª pessoa do plural

cenavimus amavimus delevimus audivimus ignivimus

2ª pessoa do plural

cenavistis amavistis delevistis audivistis ignivistis

3ª pessoa do plural

cenaverunt amaverunt deleverunt audiverunt igniverunt

Da mesma forma, se você unir o tema do perfectum em U- dos verbos já vistos às desinências número-pessoais, certamente encontrará as seguintes formações:

Pessoa Advertir Ter / haver Poder

1ª pessoa do singular

monui habui potui

2ª pessoa do singular

monuisti habuisti potuisti

3ª pessoa do singular

monuit habuit potuit

1ª pessoa do plural

monuimus habuimus potuimus

2ª pessoa do plural

monuistis habuistis potuistis

3ª pessoa do plural

monuerunt habuerunt potuerunt

Note que as desinências são as mesmas para os dois grupos, entre-tanto o que muda é o tema do perfectum. Por isso, você precisa conhe-cer a maior quantidade possível de variações do tema do perfectum, para poder identificar as formas finitas (pessoais) sem cometer erro de conjugação.

Nessa perspectiva, você deve conhecer alguns verbos importantes, irregulares quanto à formação do perfetcum. Arrolamos trinta desses verbos para você compreender que o tema do perfectum varia, quando não há a regularidade em V- ou em U- anteriormente vista. Todavia, as desinências número-pessoais do perfeito continuarão sendo sempre as mesmas.

Antes de você conferir alguns temas irregulares do perfectum, dis-postos na 4ª coluna em cinza, é preciso saber que todos os verbos possuem a entrada em dicionário de forma peculiar. Assim, todos os dicionários de língua latina apresentam os verbetes de verbos com as seguintes flexões:

Amo, as are, avi, atum(forma abreviada)

Ou

Amo, amas, amare, amavi, amatum(forma desdobrada)

O verbete garante aos que consultam o dicionário conhecer as for-mas primitivas (Tempos Primitivos ou Tempos Fundamentais) dos verbos latinos das quais se derivam todas as outras formações verbais da lín-gua. Assim:

1. A primeira forma (amo – que dá o nome ao verbo) é a flexão da 1ª pessoa do singular do presente do indicativo do infectum;

2. A segunda forma (amas) designa a 2ª pessoa do singular do pre-sente do indicativo do infectum;

3. A terceira forma é a do infinitivo (amare);

4. A quarta considera a formação primitiva do perfectum (amavi) e dela deriva o pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito e o futuro anterior;

5. E, finalmente, a quinta forma registra a composição primitiva do supino (amatum), que se traduz na locução: para amar.

Com base nessa ordem, agora fica mais fácil para você reconhe-cer como é a entrada de um verbo latino no dicionário. Então, analise o quadro abaixo e considere a sequência de formações verbais, com especial atenção para a formação do perfeito, que se forma através do TEMA do perfectum mais a desinência número-pessoal da 1ª pessoa desse tempo:

124 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 125

1ª pessoa do presente do

infectum

2ª pessoa do presente do

infectum

Infinitivo TEMA do perfectum + desinência

número-pessoal

Supino (na trad. =

prep. para + infinitivo)

Tradução

Adveni-o Adveni-is Adven-ire Adven-i Adven-tum Chegar

Caed-o Caed-is Caed-ere Cecid-i Cae-sum Cortar

Circund-o Circund-as Circund-are Circunded-i Circunda-tum

Rodear

Cog-o Cog-is Cog-ere Coeg-i Coac-tum Reunir

Cond-o Cond-is Cond-ire Condid-i Condi-tum Fundar

Cred-o Cred-is Cred-ere Creded-i Credi-tum Crer

Deflu-o Deflu-is Deflu-ere Deflux-i Deflu-xum Cair

Depon-o Depon-is Depn-ere Deposu-i Deposi-tum Pousar

Deprom-o Deprom-is Deprom-ere Depromps-i Depromp-tum

Tirar

Dic-o Dic-is Dic-ere Dix-i Dic-tum Dizer

D-o D-as D-are Ded-i Da-tum Dar

Ed-o Ed-is Ed-ere Ed-i E-sum Comer

Faci-o Fac-is Fac-ere Fec-i Fac-tum Fazer

Ignosc-o Ignosc-is Ignosc-ere Ignot-i Igno-tum Perdoar

Incipi-o Incip-is Incip-ere Incep-i Incep-tum Começar

Leg-o Leg-is Leg-ere Leg-i Lec-tum Ler

Mitt-o Mitt-is Mitt-ere Mis-i Mis-sum Enviar

Pon-o Pon-is Pon-ere Posu-i Posi-tum Pôr

Prospici-o Prospic-is Prospi-ere Prospex-i Prospec-tum Ver

Recipi-o Recip-is Recip-ere Recep-i Recep-tum Receber

Rede-o Red-is Red-ire Red-i Red-itum Voltar

Scrib-o Scrib-is Scrib-ere Scrips-i Scrip-tum Escrever

Sede-o Sed-es Sed-ere Sed-i Ses-sum Sentar-se

Senti-o Sent-is Sent-ire Sens-i Sem-sum Sentir

Toll-o Toll-is Toll-ere Sustul-i Subla-tum Erguer

Transe-o Trans-is Trans-ire Transi-i Transi-tum Passar

Ung-o Ung-is Ung-ere Unx-i Unc-tum Ungir

Veni-o Ven-is Ven-ire Ven-i Ven-tum Vir

Vide-o Vid-es Vid-ere Vid-i Vi-sum Ver

Vort-o Vort-is Vort-ere Vort-i Vor-sum Verter

Veja que é preciso saber examinar o verbete dos verbos num dicio-nário latino para conhecer os tempos primitivos, seu radical, suas desinências e variações!

Então, vamos tomar como exemplo dois verbos irregulares vistos na Unidade III: o verbo sum (= ser, estar, haver) e o verbo possum (= poder):

Sum, es esse, fu-i(não há supino)

Possum, potes, posse, potu-i(não há supino)

Tomando a última formação em negrito, apreciamos a 1ª pessoa do pretérito perfeito do perfectum latino. Essa formação é composta de TEMA, no caso fu- e potu-, mais a desinência número-pessoal “-i”, da 1ª pessoa do singular, de modo que: se trocarmos a desinência por outra, podemos encontrar qualquer pessoa do pretérito perfeito (-i, -isti, -it, -imus, -istis, -erunt).

Já sabemos que o futuro anterior possui as desinências número-pessoais iguais às flexões do futuro simples do verbo sum (-ero, -eris, -erit, erimus, eritis, erint). Agora, para completar o assunto desta Uni-dade, você precisa saber que o tempo mais-que-perfeito do perfectum latino também se forma com o tema do perfeito, mas as desinências número-pessoais desse tempo correspondem à flexão do imperfeito do verbo sum, que são estas:

eram eramuseras eratiserat erant

As desinências do mais-que-perfeito são a conjugação do imperfei-to do verbo sum, es, esse, fui, porquanto quem soube-las, saberá for-mar o mais-que-perfeito. Assim, para se conseguir o mais-que-perfeito do verbo Sum,ou de qualquer outro verbo, basta acrescentar as desi-nências ao tema do perfeito. Assim:

1. O verbo jantar é em latim ceno; o tema do perfectum é cenav;

2. O verbo amar é em latim amo; o tema do perfectum é amav;

3. O verbo destruir é em latim deleo; o tema do perfectum é delev;

4. O verbo ouvir é em latim audio; o tema do perfectum é audiv;

5. O verbo queimar é em latim ignio; o tema do perfectum é igniv;

6. O verbo advertir é em latim moneo; o tema do perfectum é monu;

7. O verbo ter é em latim habeo; o tema do perfectum é habu;

8. O verbo ser é em latim sum; o tema do perfectum é fu;

9. O verbo poder é em latim possum; o tema do perfectum é potu;

126 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 127

10. O verbo chegar é em latim advenio; o tema do perfectum é adven;

11. O verbo dar é em latim do; o tema do perfectum é ded;

12. O verbo escrever é em latim scribo; o tema do perfectum é scrips;

13. O verbo ver é em latim video; o tema do perfectum é vid;

14. O verbo perdoar é em latim ignosco; o tema do perfectum é ignot;

15. O verbo comer é em latim edo; o tema do perfectum é ed;

De fato, se a qualquer um TEMA do perfectum acrescentarmos as desinências número-pessoais:

I. -i, -isti, -it, -imus, -istis, -erunt, obteremos o pretérito perfeito;

II. -eram, -eras, -erat, -eramus, -eratis, -erant, obteremos o mais-que-perfeito;

III. -ero, -eris, -erit, -erimus, -eritis, -erint, obteremos o futuro anterior.

Atividade IIIa. Encontre o tema do perfectum dos verbos dados e conjugue-os em latim no perfeito, no mais-que-perfeito e no futuro anterior, traduzindo-os para o português:

– sum – possum – laudo – canto – amo – moneo – sentio – tollo - redeo – scribo – sedeo – dico – edo – transeo.

b. Lusitane Reddere:

1. Non erunt nuptiae cras, quia sponsi convivis valde pugnant.

2. Tibiarum musicam et chitararum in scholae theatro nuper auscultabam.

3. Num mala et persica quod erant super culinae mensam occultavisti?

4. Mi clare amice, fabulas in viae medio mendicis vici et mendicabus tu narrare non potes, nam illi non te auscultabunt.

Vocabulário:

Amicus, i = amigo; Nuper = recentemente;

Ausculto, as, are, avi = escutar; Nuptiae, arum = casamento;

Chitara, ae = violão; Occulto, as, are, avi = esconder;

Clarus, a, um = ilustre; Persicum, i (n.) = pêssego;

Conviva, ae = convidado; Possum, potes, posse, potui = poder;

Cras = amanhã; Pugno, as, are, avi = brigar;

Culina, ae = cozinha; Quia = porque;

Et = e; Quod (n.) = que;

Fabula, ae = fábula; Schola, ae = escola;

Illi = eles; Sponsus, i = noivo;

In = em, na; Sum, es, esse, fui = ser, haver;

Malum, i (n.) = maçã; Super = sobre;

Medium, i (n.) = meio; Te = te;

Mendica, ae = mendiga; Theatrum, i (n.) = auditório;

Mendicus, i = mendigo; Tibia, ae = flauta;

Mensa, ae = mesa; Tu = tu;

Meus, mea, meum = meu; Valde = muito;

Musica, ae = música; Via, ae = rua;

Nam = pois; Vicus, i = aldeia;

Narro, as, are, avi = narrar, contar;

Non = não;

Num (part. enclit.) = não;

c. Latine vertere:

1. Muitas vezes, a escuridão e a tempestade do grande mar confun-dem os marinheiros ao longo da viagem, mas os deuses das águas os protegem de todo malefício.

Vocabulário:

Água = aqua, ae; Marinheiro = nauta, ae;

Ao longo de = propter; Mas = sed;

Confundir = conturbo, as, are, avi; Muitas vezes = saepe;

De = ab (abl. de sep.); Os (pron. od.) = eos;

Deus = deus, i; Proteger = adjuvo, as, are, avi;

Escuridão = tenebrae, arum; Tempestade = procela, ae;

Grande = magni; Todo = omne;

Malefício = maleficium, ii (n.); Viagem = iter maritimum;

Mar = pelagus, i (n.);dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

128 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 129

Finalmente, chegamos ao término de mais uma Unidade. Agora, cada vez mais, você aprofunda o seu conhecimento em língua latina. Nesta Unidade, vimos os aspectos que ainda faltavam para comple-mentar o aprendizado de morfologia verbal. Além da formação dos tempos do infectum e do perfectum, você viu a terceira conjugação latina, bem como as suas variantes em tema consonantal e em semi-vogal; também viu o paradigma dos verbos da 4ª conjugação. Agora, você sabe identificar os TEMAS de todas as conjugações e, também, reconhecer a importância dos Tempos Primitivos dos verbos latinos para a consulta do verbete, para reconhecer a derivação de todas as outras formas verbais.

De agora em diante, você não sentirá tanta dificuldade para identi-ficar os tempos verbais quando for consultar um dicionário. Na dúvida, peça aos tutores que lhe auxiliem com os exercícios e quanto ao proce-dimento de pesquisa de verbetes. Além disso, fique atento às sugestões de leitura.

Leituras recomendadas

Para o melhor entendimento dos conteúdos estudados nesta Unidade, você deve procurar ler:

a. Para “A 3ª e 4ª conjugações latinas da voz ativa”, ver “3ª 4ª conjugações regular”, in: Gramática Latina, de Napoleão Mendes de Al-meida (2000: 222-29); e “Morfologia dos Ver-bos”, in: Gramática Latina: para seminários e

faculdades, de Júlio Comba (1991: 77; 82-5); “Categorias, classes e conjugações”, in: Língua e Literatura Latina e sua Derivação Portu-guesa, de Oswaldo Antônio Furlan (2006: 102-13);

b. Para “O Imperfeito e o Futuro do infectum para a 3ª e 4ª conjugações” ver Gramática La-tina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: 222-29);

c. Para “Os tempos do Perfectum”, ver: “Verbos: que é conjugar”, “Ver-bos: como decorar um verbo” e “Curiosidades e cuidados de con-jugação” in: Gramática Latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: 203-15); e “Modos e Tempos” in: Gramática Latina: para seminários e faculdades, de Júlio Comba (1991: 86-9).

ResumoNo primeiro tópico, você teve oportunidade de estudar os padrões

flexionais da 3ª e 4ª conjugações para o presente do indicativo do infectum. Assim, você conheceu que as desinências número-pessoias da 3ª conjugação são as mesmas já conhecidas da 1ª e 2ª conjuga-ções. Viu também que a 3ª conjugação apresenta o tema com apenas o radical, por isso se diz que ela possui Tema Zero ou apresenta Tema em Consoante, quando consideramos a última letra do radical, que é sempre uma consoante. Especificamente, você viu que ao Tema verbal agregamos desinências número-pessoais que, para unirmos aos temas, precisamos também de uma vogal de ligação. A variação da vogal de ligação pode ser dada com -i- ou com -u-, mediante os tipos de conso-ante a que se liga, no caso: o -i- diante de desinências verbais iniciadas por consoantes sonoras e o -u- diante de desinências verbais iniciadas por consoante nasal, que é o caso da 3ª pessoa do plural em -nt. Outro fato curioso é que a 3ª conjugação apresenta duas variantes de temas diferentes: a de Tema Zero (também conhecida pelo tema consonantal) e a de Tema em Semivogal, que apresenta sub-variante em -i ou em -u. A forma do infinitivo também é em –(e)re, mas a vogal existente (o e breve) é tema apenas do infinitivo, uma vez que o verbo flexionado apresenta uma outra vogal, o -i-, apenas como vogal de ligação, por-que liga o radical às desinências variadas. A 4ª conjugação, por sua vez, apresenta o -i com valor vocálico e, portanto, possui VT, que é inserida entre o radical e as desinências número-pessoais. A 3ª pessoa do plural possui VL -u para unir o tema à desinência número-pessoal -nt, iniciada por consoante nasal; o Tema do infinitivo é em -ire. Para se descobrir o tema de um verbo latino, basta retirar a desinência número-pessoal característica da 2ª pessoa do singular da voz ativa. Assim, o que resta é o tema: a 1ª conjugação possui TEMA em -a; a 2ª conjugação possui TEMA em -e; a 3ª conjugação possui TEMA em Consoante ou Zero e, ainda, TEMA em semivogal -i e em semivogal -u; a 4ª conjugação possui TEMA em vogal -i.

No segundo tópico, você estudou os tempos verbais do “imperfeito” e do “futuro” da 3ª e 4ª conjugações. Os tempos do presente, imperfei-to e futuro conservam um aspecto de ação não realizada, porque é ina-cabada ou simplesmente está por se concluir. Você recordou que, para a composição de tais tempos, precisamos de infixos modo-temporais para a composição verbal mais adequada. Para refrescar a memória, recobramos que o imperfeito possui o infixo “BA” e o futuro da 1ª e 2ª conjugações possui o infixo “BI”. No segundo capítulo desta Unidade, você conheceu como funcionam os mesmos tempos na 3ª e 4ª con-jugações regulares da voz ativa do infectum. Viu que não há grande novidade para essa formação, basta lembrar que para o imperfeito a desinência número-pessoal “-o” da 1ª pessoa do singular muda para

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“-m”; nos demais casos tudo continua semelhante às flexões de 1ª e 2ª conjugações. No entanto, para o futuro não! Assim, você deve tomar muito cuidado com a formação de futuro, uma vez que ela não se vale do infixo “bi”, como nas conjugações anteriores. O artifício gramati-cal consiste nas seguintes considerações: só a 1ª pessoa do singular conserva um resíduo do infixo do imperfeito para compor o futuro do infectum, no caso a estrutura “-am”, sem a vogal de ligação “-e-” e sem a letra “-b” em situação medial, típica de infixo, como no exemplo: legam. As demais pessoas fazem o futuro do infectum sem as estrutu-ras de imperfeito, então, basta retirar o infixo do imperfeito e teremos o futuro do infectum de Lego, is, ere. Portanto, Legebas sem o “ba” forma o futuro do infectum – Leges – e assim por diante. Essas regras são, no entanto, para a 3ª conjugação de Tema Zero (em consoante), pois, para obtermos as regras da 3ª conjugação em sua variação em semivogal, percebemos que elas mudam um pouco. Para a variante da 3ª conjugação de tema em semivogal “-i”, consideramos apenas esse acréscimo (a semivogal), uma vez que o restante da estrutura coin-cide com a de Tema Zero; A variante da 3ª conjugação de tema em semivogal “-u” conserva o mesmo padrão da formação temática em semivogal “-i” para o imperfeito. Para a formação do futuro, você não encontrou dificuldade, uma vez que já aprendeu a formação do futuro do infectum de Tema Zero: mais uma vez, apenas a 1ª pessoa do sin-gular conserva um resíduo do infixo do imperfeito para compor o futuro do infectum, no caso a estrutura “-am”, com a semivogal “-i-” agregada ao radical para formar o TEMA capi-, que é, então, capiam; As demais pessoas fazem o futuro do infectum sem as estruturas de imperfeito, então, basta retirar o infixo do imperfeito e teremos o futuro do infectum de capio, is, ere, de modo que Capiebas sem o “ba” forma o futuro de capio, que é, então, capies. A variante da 3ª conjugação de tema em semivogal “-u” flexiona-se no futuro do infectum com o mesmo padrão da formação em semivogal, mudando apenas o tema de semivogal “-i” para “-u”. A 4ª conjugação segue o modelo de audio, is, ire (= ouvir), que se flexiona no imperfeito conforme as variantes em semivogal (-i e -u) da 3ª conjugação; para a 1ª pessoa do futuro, com o resíduo -am do imperfeito, mas sem o uso do “-b” medial, que é, então, audiam. As demais pessoas (2ª e 3ª pessoas do singular e 1ª, 2ª e 3ª pessoas do plural): audi + e + s, t, mus, tis ou nt. Assim, audiebas sem o infixo “BA”, confere a 2ª pessoa do futuro do infectum: audies.

No terceiro tópico, você viu que os tempos do perfectum compor-tam uma ação completa (realizada ou feita) quanto à natureza as-pectual do verbo. Viu que os tempos do infectum são três: presente, imperfeito e futuro; e que os tempos do perfectum também são três: perfeito, mais-que-perfeito e futuro anterior. Dois dos tempos do per-fectum são bastante conhecidos pelos nativos de língua portuguesa, porque são formações verbais que existem no vernáculo: o “perfeito” e o “mais-que-perfeito”. Porém, o tempo “futuro anterior” não existe em composição sintética na língua portuguesa, apenas em locução verbal. Para traduzirmos esta formação, precisamos conhecer muito bem como funcionam as flexões verbais para precisá-las. Para efeito aspectual, o “futuro anterior” significa uma ação que antecede outra, que ainda não

aconteceu, porque se trata de uma projeção de ações em sequência que só acontecerão no futuro. Tanto em português quanto em latim, o futuro anterior possui o mesmo aspecto, mas em latim sua composição é sintética. Se o tema do infectum permite-nos encontrar, por exemplo, cena; o perfectum, por sua vez, também possui um tema, que é em V para os verbos regulares da 1ª, 2ª e 4ª conjugação. Contudo, o tema regular do perfectum é uma extensão dos temas do infectum, através de V- ou U-. Os temas do perfectum de jantar, amar, destruir, ouvir e quei-mar são, respectivamente, cenav-, amav-, delev-, audiv-, igniv-; todavia, os temas de advertir, ter e poder são: monu, habu e potu. Se acrescentar-mos a estes temas as desinências número-pessoais: -i, -isti, -it, -imus, -istis, -erunt, obteremos o pretérito perfeito; -eram, -eras, -erat, -eramus, -eratis, -erant, obteremos o mais-que-perfeito; e -ero, -eris, -erit, -erimus, -eritis, -erint, obteremos o futuro anterior. Também, você conheceu que o verbete garante aos que consultam o dicionário conhecer as formas primitivas (Tempos Primitivos ou Tempos Fundamentais) dos verbos la-tinos das quais derivam todas as outras formações verbais da língua. Assim, a primeira forma (amo) é a flexão da 1ª pessoa do singular do presente do indicativo do infectum; a segunda forma (amas) designa a 2ª pessoa do singular do presente do indicativo do infectum; a terceira forma é a do infinitivo (amare); a quarta considera a formação primitiva do perfectum (amavi) e dela deriva o pretérito perfeito, pretérito mais-que-perfeito e o futuro anterior; e, finalmente, a quinta forma registra a composição primitiva do supino (amatum), que se traduz para o portu-guês através da locução: para amar.

AutovaliaçãoCom base nesta Unidade VII, justifique as entradas dos verbos nos

dicionários, explicando as características básicas das quatro conjuga-ções existentes na língua latina, bem como os Tempos Fundamentais, também conhecidos como Primitivos.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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A morfossintaxe das preposições e adjuntos

adverbiais latinos

A morfossintaxe das preposições e adjuntos

adverbiais latinos

VIII UNIDADEReferências

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Latina: curso único e completo. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

BOYES, Francis Xavier. Língua Latina I. Recife: Fasa Editora, 1989.

COMBA, Júlio. Programa de Latim: 1º. Volume – introdução à língua latina. 16 ed. São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco, 2000.

__________. Gramática Latina: para seminários e faculdades. 4ª ed. rev. e adpt. À nomenclatura gramatical brasileira. São Paulo: São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco, 1991.

FURLAN, Oswaldo Antônio. Língua e literatura latina e sua derivação portuguesa. Petrópolis: Vozes, 2006.

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Apresentação

Uma vez tendo assimilado a estrutura morfológica, espe-cialmente no que se refere à flexão dos nomes e dos verbos em latim, bem como as noções básicas que envolvem a or-ganização frasal, você agora precisa conhecer as preposi-ções latinas, que, assim como em Português, são palavras invariáveis que regem substantivos, palavras substantivas ou pronomes, estabelecendo uma relação de dependên-cia entre estes e outros elementos da oração. Todavia, vale salientar que, em latim, as preposições ou regem o caso ablativo ou o caso acusativo. Assim, no Capítulo 2 você poderá aprender como se formam os adjuntos adnominais mais comuns em latim, que, via de regra, constituem-se de preposição seguida de acusativo ou preposição seguida de ablativo; quais as proposições que regem apenas o acusa-tivo, quais regem apenas o ablativo, e quais podem reger os dois casos. E, ainda nesse capítulo, você conhecerá os adjuntos adverbiais de lugar - subclasse que porta uma série de minúcias merecedoras de nosso olhar atento - compreen-dendo as especificidades espaciais que as preposições sina-lizam nos contextos frasais que remetem a lugares. Ao final, você terá aprendido a reconhecer, por meio da preposição empregada, a que caso corresponde o adjunto adverbial, e, ainda, a empregar a preposição adequada a cada circuns-tância, especialmente no tocante a adjuntos adverbiais de lugar. Bons estudos!

Objetivos

Ao final desta Unidade, esperamos que você:

Compreenda a morfossintaxe das preposições latinas, atentan-•do para as especificidades de regência quanto ao caso e ao uso;

Conheça a morfossintaxe dos adjuntos adverbiais em latim, ar-•ticulando com o conhecimento acerca das preposições latinas e observando as especificidades de cada circunstância no que se refere ao caso regido;

Conheça especialmente as peculiaridades dos adjuntos adver-•biais de lugar, correlacionado-as com o entendimento sobre a morfossintaxe das preposições e dos adjuntos adverbiais de modo geral.

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As preposições latinas

Antes de adentrarmos nas especificidades de cada caso quanto às preposições que venham a exigi-los, vejamos algumas notas sobre essa categoria gramatical. Segundo Furlan (2006, p. 128), preposições ou “anteposições”

são conectivos gramaticais invariáveis prepostos ao termo regido, que subordinam [grifo do autor] no-mes, locuções (sintagmas) nominais ou pronomes a outros termos da oração, criando, entre eles, rela-ções de lugar, tempo, causa, modo, especificação, etc. e podendo designar mais de um significado.

Apenas dois dos seis casos latinos são regidos por preposições: o acusativo e o ablativo. Vinte e oito delas regem apenas o acusativo; catorze, o ablativo; e quatro (in, sub, subter, super), ora o acusativo, ora o ablativo. São antigos advérbios e partículas independentes, oriundas de antigas formas nominais flexionadas.

Pelo fato de o Português ser derivação do Latim, você perceberá que muitas preposições latinas serão familiares, o que facilita a com-preensão dos sentidos que encerram na oração.

a. Preposições que regem o acusativo

Conforme vimos na 2ª Unidade, o acusativo latino corresponde ao chamado objeto direto da oração, o qual, de modo geral, não vem regido de preposição. Como explicar, então, que o acusativo possa ser regido por preposição? Uma especificidade da língua latina é o fato de a preposição exigir a palavra a ser regida, e, curiosamente, o acusa-tivo é um dos casos exigidos pela maioria das preposições. Assim, se faz necessário que você conheça essa mobilidade do acusativo. Nesse caso, ele funciona como um adjunto adverbial que exprime circuns-tância, e não como objeto direito. A diferença reside no emprego da preposição.

Vejamos, então, as vinte e oito preposições que exigem o acusativo:

Ad: para; Ob: por causa de;

Adversus: contra; Penes: entre,em, em poder de;

Ante: perante; Per: através de, por meio de;

Apud: junto a, em casa de, na presença de;

Post: depois de;

Circa / Circum: ao redor de; Praeter: diante de, ao longo de;

Cis: aquém de,do lado de cá de; Prope: perto de;

Citra: aquém de; Propter: por causa;

Contra: contra; Secundum: ao longo de , ao lada de;

Erga: para com; Supra: sobre, por cima;

Extra: fora de; Trans: além de;

Infra: abaixo; Ultra: além de, do outro lado de;

Inter: entre; Usque: até, até a;

Intra: dentro de; Versum / Versus: na direção de,

Iuxta: perto de;

b. Preposições que regem o ablativo

O ablativo, ainda conforme vimos na Unidade II, é o caso corres-pondente ao adjunto abverbial da oração, ou seja, ao termo que fun-ciona como um circunstancializador da ação verbal, ativa ou passiva.

Algumas preposições, nesse caso, funcionam em conformidade com sua origem, que, como sabemos, é, também, de antigos advér-bios. Logo, ocorrem mais como advérbios do que como preposições, como é o caso de palam, “em presença de” e de clam, “às escondidas, clandestinamente”. É notório o caráter adverbial completo dessas duas preposições, posto que possuem significação nocional própria. Ainda assim, os nomes que vêm regidos por cada uma são flexionados no ablativo.

A / ab1: por; E / ex: de do lado de;

Absque: sem, fora de, longe de; Palam: em presença de;

Clam: às escondidas, clandestinamente; Prae: por causa de

Coram: diante de Pro: em favor de, diante de;

Cum: com; Sine: sem;

De: a respeito; Tenus: até, até a.

1 Essas duas formas da mesma preposição estão em função da palavra regida: se come-çada por consoante, usa-se A; se começada por vogal ou h, usa-se Ab.

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c. Preposições que regem o ablativo ou o acusativo

Embora determinadas preposições exijam que os termos regidos sejam flexionados apenas no acusativo, e outras, apenas no ablativo, existem algumas que admitem ser o termo regido ora acusativo, ora ablativo. Entretanto, há determinadas razões para que isto ocorra, que serão melhor explicitadas no tópico 3 da presente unidade. Por en-quanto, é bom que você conheça quais são essas preposições e quan-do elas exigem cada caso:

In: em, para, dentro de, sobre;

Sub: sob;

Subter: abaixo de, debaixo de;

Super: sobre, em cima de.

As preposições IN, SUB, SUPTER e SUPER regem o acusativo quan-do indicam “lugar para onde” e regem o ablativo quando indicam “Lu-gar onde”.

Exemplos:

1. Aranea supra2 fenestram habitat.A aranha habita sobre a janela.

2. E via musca per fenestram advolat.Do lado da rua a mosca voa para dentro através da janela.

3. Puella sub aquam saltavit.A menina pulou para baixo da água.

4. Puella sub aqua natat. A menina nada em baixo da água.

Atividade Ia. Lusitane reddere

1. Macedonia est inter Thessaliam et Thraciam. (Acu)

2. Advena vaccam pro panthera vulnerat. (Abl)

3. Apud Senecam saepe cenabamus. (Acu)

4. Pro patria in advenas pugnabimus. (Abl/ Acu)

5. Cis Celtarum terras est província. (Acu)

6. Aurigae filia a schola ad poetae villam properavit. (Abl/ acu)

7. Mosa est in Gallia, sed Vistula est in Polonia. (Abl)

Vocabulário

Advena, ae: estrangeiro; Província, ae: província, cargo;

Auriga, ae: condutor, cocheiro; Pugno, as, are: combater, lutar,

Celtae, arum: Celtas; Saepe (adv): muitas vezes, frequentemente;

Ceno, as, are: jantar Schola, ae: escola;

Filia, ae: filha; Sed: mas;

Gália, ae: França; Seneca, ae: Sêneca (filosofo);

Madedonia, ae: Macedônia Terra, ae: terra, região;

Mosa, ae: Mosa (rio); Thessalia, ae: Tessália

Panthera, ae: pantera; Thracia, ae: Trácia

Patria, ae: pátria, país de origem; Vacca, ae: vaca

Poeta, ae: poeta; Villa, ae: casa de campo, fazenda;

Polonia, ae: Polônia; Vistula, ae: Vistula (rio);

Propero, are: correr; Vulnero, as,are: ferir, ofender;

Os Adjuntos adverbiaisOs advérbios são palavras de natureza nominal ou pronominal que

se juntam a verbos, adjetivos, advérbios ou enunciados inteiros para modificar-lhes ou precisar-lhes o sentido. Quando falamos em modi-ficar ou precisar sentido, falamos em circunstanciar, tarefa precípua desses termos. Indicam, assim, circunstâncias de tempo, lugar, modo, causa, intensidade, interrogação, afirmação, negação e outras.

2 Supra significa, assim como super, acima de ou sobre, no entanto, tem caráter mais abstrato, distante do objeto referenciado. Ex.: Super mensam (sobre a mesa – em cima dela); Supra omnis homines (sobre todos os homens – acima deles).

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Adjunto adverbial (note-se a referência explícita ao verbo = junto ao verbo, em função do verbo) é a expressão que designa o advérbio ou locução adverbial no contexto oracional, ou seja, quando procede-mos à análise sintática.

Algumas preposições “abrem alas” para termos circunstanciais que não são essencialmente advérbios – além de elas mesmas serem oriun-das de advérbios -, formando o que chamamos de locução adverbial. Perceba a pertinência de tratarmos de adjuntos adverbiais neste capítu-lo: os nomes em latim, especialmente no ablativo, regidos por preposi-ção, possuem a função sintática de adjuntos adverbiais.

Na parte inicial deste curso, quando da apresentação da língua latina e seus casos (p. 6 e 7), você viu que o caso ablativo em latim in-dica as mais diversas circunstâncias adverbiais, tais como, causa, pro-veniência, espaço, tempo, modo, instrumento, companhia, etc. Como todo caso latino, a depender da declinação, o ablativo possui suas desinências específicas.

Dessa maneira, voltemos, pois, a tratar do ablativo.

Na 1ª declinação, o ablativo é marcado na frase pelas seguintes desinências:

Ablativo singular: -a

Ablativo plural: -is (-abus)

Na 2ª declinação, o ablativo é marcado na frase pelas seguintes desinências:

Ablativo singular: -o

Ablativo plural: -is

Vale salientar que o ablativo singular da 1ª declinação possui a mesma desinência do nominativo singular. No entanto, como toda e qualquer coincidência formal de termos, em qualquer língua, tal confu-são é desfeita pelo contexto frasal.

Sabemos, então, que muitas são as circunstâncias expressas pelos adjuntos adverbiais. Vejamos, agora, algumas das mais recorren-tes, traduzidas pelos adjuntos adverbiais mais comuns:

Adjunto de modo – derivam em sua maioria de adjetivos qualifica-tivos - indica a maneira segundo a qual se faz alguma ação. Responde à pergunta quomŏdo, “de que modo, como?” – traduz-se pelo ablativo precedido da preposição cum:

Veterani patriam cum curā defenduntOs veteranos defendem a pátria com cuidado

Adjunto de meio – indica a pessoa, o animal ou a coisa, pela qual (por meio da qual) se faz alguma ação. Geralmente, traduz-se pelo ablativo simples, isto é, com o ablativo sem preposição:

a. Scribo calamo / b. Concordiā patriam servabĭmusEscrevo com (por meio da) canetaPela concórdia salvaremos a pátria

Adjunto de causa – indica o motivo pelo qual se faz alguma ação. Traduz-se pelo ablativo simples ou pelo acusativo precedido pelas pre-posições ob ou propter:

Puĕri officia desĕrunt pigritia (Abl.) ou ob pigritiam (Acu.) ou propter pigritiam (Acu.)

Os meninos descuidam dos deveres por preguiça

Adjunto de companhia - indica a pessoa, o animal ou a coisa jun-tamente com a qual se faz alguma ação. Responde às perguntas com quem? Com quê? Traduz-se com o ablativo precedido pela preposição cum4:

Ego cum Antonio ambŭloEu passeio com Antônio

Adjunto de instrumento – indica o objeto com que se faz alguma ação. Traduz-se pelo ablativo simples.

Nautae hastis (Abl. pl.)pugnantOs marinheiros lutam com lanças

Adjunto de separação – emprega-se depois dos verbos que indicam separação ou afastamento e alguns outros. Traduz-se pelo ablativo pre-cedido pelas preposições a(ab), de e e(ex)5. Estes são alguns verbos que frequentemente admitem o ablativo de separação: SEPARO, SERVO, SALVO, LIBERO e POSTULO.

Agricola equas a capris separabitO agricultor separara as éguas das cabras

Nauta Joannam a piratis servavitO marinheiro salvou Joana dos piratas

4 Note a semelhança deste com o advérbio de modo. No entanto, só o adjunto de modo pode, por regra, ser transformado num ad-vérbio: Defendem com cuidado ou cuida-dosamente; brincam com muita alegria ou muito alegremente.

5 As preposições “e” e “a” são usadas quan-do as palavras seguintes começam com consoante, ex.: E schola remeavi (eu voltei da escola); A taberna redii (voltei da loja); e ex e ab são usadas quando a palavra se-guinte começa com vogal ou com h, ex.: Ex ora (do litoral), e Ab horto ( do jardim), mas tratam-se das mesmas preposições, no caso a-ab e e-ex.

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Conforme dissemos anteriormente, esses são os adjuntos mais co-muns. Além desses, há outros adjuntos adverbiais expressos pelo abla-tivo para tantas quantas circunstâncias houver: segundo Rónai (1980, p. 247-9), há, ainda, adjuntos que encerram as ideias de origem, ca-rência ou abundância, limitação, preço, qualidade, etc.

Quanto aos adjuntos de lugar, pela natureza pormenorizada deste subtema, optamos por apresentá-lo em capítulo à parte.

2.1. Adjuntos adverbiais de lugar

Como o próprio nome sinaliza, os advérbios de lugar precisam o lugar onde a ação se faz. Os nomes que encerram lugares admitem variadas noções circunstanciais, e, para tanto, precisam de preposições próprias para cada uma delas, como, por exemplo, casa:

podemos ir para a casa (para onde);

voltar da casa (de onde/donde);

morar na casa (onde);

pela casa chegar a outro ponto (por onde).

Em latim não é diferente. Contudo, não há apenas a mudança da preposição, há também a flexão casual, que, como vimos, em se tratan-do de regência por preposição, convida os casos acusativo e ablativo.

Peguemos os exemplos apresentados em português como parâme-tros.

LUGAR ONDE – depois da preposição in, o adjunto vai para o ablativo:

Puella in silva properavitA moça correu na floresta

Acerca das preposições que regem tanto o acusativo quanto o ablativo, quando indicam lugar onde, as preposições IN, SUB, SUPTER e SUPER regem o ablativo:

Puella sub aqua natat. A menina nada em baixo da água.

LUGAR DONDE – depois das preposições a(ab), de e e(ex), o adjunto vai para o ablativo:

Puella a silva properavit A moça correu da floresta (= da orla da floresta)6

Puella e silva properavit A moça correu da floresta (= de dentro da floresta)

Puella de montanis properavit A moça correu das montanhas (= de cima das montanhas)

LUGAR PARA ONDE - depois das preposições ad e in, o adjunto vai para o acusativo:

Puella ad silvam properavitA moça correu para a floresta (mas não entrou.)7

Puella in silvam properavit A moça correu para a floresta (e entrou.)

Quando indicando lugar para onde, as preposições IN, SUB, SUPTER e SUPER regem o acusativo:

Puella sub aquam saltavit.A menina pulou para baixo da água.

LUGAR POR ONDE - depois da preposição per, o adjunto vai para o acusativo:

Puella per silvam properavitA moça correu pela floresta

Para uma melhor visualização dos sentidos indicados por cada pre-posição acima apontada, vejamos um gráfico desenvolvido por Francis Xavier Boyes (1989: 24), que transmite essas noções espaciais de forma mnemônica:

Suponha que esta imagem demarque os limites da floresta, lugar que serve de exemplo para a explicação acima.

6 Percebam nesses três exemplos a carga semântica que as preposições possuem, fato que justifica seu surgimento a partir de advérbios e palavras independentes an-tigas.

7 Observe que as preposições, nesse caso, se comportam como orações: Ad = não inva-de o perímetro; In: invade o perímetro.

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Circule o caso ablativo nas frases abaixo, quando houver, e ao lado indique se sua circunstância expressa: causa, meio, lugar, instrumento, companhia, separação ou modo.

a) Bone Deus, da longam vitam et sapientiam filio meo et filiae. ( )Bom Deus, dá longa vida e sabedoria a meu filho e filha.

b) Philosophi nuper erant in bibliotheca. ( )

Recentemente, os filósofos estavam na biblioteca.

c) Reginam audacia servabimus. ( ) Salvaremos a rainha pela audácia.

d) Piratae colonos pecunia necabant. ( )Os piratas estavam matando os colonos por dinheiro.

e) Sponsus cum sponsabus ante ecclesiam saltabant. ( )Os noivos estavam dançando com as noivas diante da igreja.

f) In silva properavi. ( )Eu corri na floresta.

g) Agricola equos a capris mihi separaverat. ( )O agricultor tinha separado para mim os cavalos das cabras.

h) Medici medicinam cum cura parant. ( )Os médicos estão preparando o remédio com cuidado.

i) Advenae citharis cantant. ( )Os estrangeiros estão tocando violões.

j) Ancillae mensam et sellas in culina collocaverunt nam domina sic imperavit. ( ) As empregadas tinham colocado a mesa e as cadeiras na cozinha, pois a senhora assim ordenou.

Mais uma unidade finalizada! Você venceu mais este desafio, mos-trando dedicação e concentração, e agora está preparado para identi-ficar as preposições latinas e que adjuntos adverbiais elas introduzem. Além de tê-las conhecido em grande maioria, você viu que, quando introduzem adjuntos de lugar, elas podem significar algo mais do que em outras situações.

Mas isso, conforme sabemos, não é o bastante! Para aprofundar e de fato aprender bem os temas apresentados nesta Unidade, uma leitura regular dos textos sugeridos, para isentar qualquer dúvida exis-tente, se faz necessária. E não deixe de procurar os tutores para os esclarecimentos.

In silva properavi x>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>Ad silvam properavi

x>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

A silva properavix>>>>>>>>>

E silva properavix>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

In silvam properavix>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

Per silvam properavit x>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

Atividade II

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Leituras recomendadas

Para o melhor entendimento dos conteúdos estudados nesta Unidade, você deve procurar ler:

a. Para “As preposições latinas”, ver “Principais advérbios e preposições”, in: Gramática Lati-na, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: p. 142-149); “Preposições”, in: Iniciação ao

Latim, de Zelia de Almeida Cardoso (2003, p. 100); “Sintaxe das preposições”, in: Gramática latina, de Júlio Comba (1991, p. 202-210); “Preposições, conectivos entre termos frasais”, in: Língua e Literatura Latina e sua derivação Portuguesa, de Oswaldo Antônio Furlan (2006: p.128-132); e “Preposições”, in: Programa de Latim: introdução à Língua Latina. V.1, de Júlio Comba.

b. Para “Adjuntos adverbiais” ver “Principais advérbios e preposições”, in: Gramática Lati-na, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: p. 142-149); “Capítulo XVI - Advérbios” e

“Capítulo XVIII – Ablativo”, in: Gramática lati-na, de Júlio Comba (1991, p. 123; 133); e “Advérbios, adjuntos modificativos”, in: Língua e Literatura Latina e sua derivação Portu-guesa, de Oswaldo Antônio Furlan (2006: p.124-128)

ResumoNo primeiro tópico desta unidade, você viu que preposições ou

“anteposições” são conectivos gramaticais invariáveis prepostos ao ter-mo regido, que subordinam nomes, locuções (sintagmas) nominais ou pronomes a outros termos da oração, criando, entre eles, relações de lugar, tempo, causa, modo, especificação, etc. e podendo denotar mais de um significado, e que penas dois dos seis casos latinos são regidos por preposições: o acusativo e o ablativo, sendo vinte e oito próprias para o acusativo, catorze para o ablativo, e quatro que podem reger tanto um como o outro. Ficou sabendo que essa classe de palavras tem origem em antigos advérbios e partículas independentes, oriundas de antigas formas nominais flexionadas. O acusativo latino corresponde ao chamado objeto direto da oração, o qual, de modo geral, não vem regido de preposição, mas que, pelo fato de na língua latina a prepo-sição exigir a palavra a ser regida, o acusativo figura como exigência de muitas dessas preposições, funcionando, nesse caso, como um ad-vérbio circunstancial, e não como objeto direito, sendo determinante para a distinção o emprego ou não da preposição. Algumas preposi-ções exigem que o termo regido seja flexionado no ablativo, que é o caso próprio dos adjuntos abverbiais da oração. Mesmo que algumas preposições funcionem independentemente como advérbios, caso de palam e clam, os advérbios que vêm regidos por elas são flexionados no ablativo. Existem, ainda, preposições que admitem ser o termo regido ora acusativo, ora ablativo, a depender dos sentidos encerrados pelo adjunto adverbial de lugar, se onde ou para onde.

No segundo tópico, você viu que os advérbios são palavras de natureza nominal ou pronominal que se juntam a verbos, adjetivos, advérbios ou enunciados inteiros para modificar-lhes ou precisar-lhes o sentido. Indicam, assim, circunstâncias de tempo, lugar, modo, cau-sa, intensidade, interrogação, afirmação, negação e outras. Algumas preposições “abrem alas” para termos circunstanciais que não são es-sencialmente advérbios – além de elas mesmas serem oriundas de ad-vérbios -, formando o que chamamos de locução adverbial. Perceba a pertinência de tratarmos de adjuntos adverbiais neste capítulo: os nomes em latim, especialmente no ablativo, regidos por preposição, possuem a função sintática de adjuntos adverbiais. Como todo caso latino, a depender da declinação, o ablativo possui suas desinências específicas. Vale salientar que o ablativo singular da 1ª declinação possui a mesma desinência do nominativo singular. No entanto, como toda e qualquer coincidência formal de termos, em qualquer língua, tal confusão é desfeita pelo contexto frasal.

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A morfossintaxe da voz passiva e os verbos

compostos de “sum”

A morfossintaxe da voz passiva e os verbos

compostos de “sum”

IX UNIDADE

AutovaliaçãoCom base nos estudos desta unidade, elabore um quadro com-

parativo contendo semelhanças e diferenças entre as preposições em Português e em Latim, atentando principalmente para o sentido que encerram e para o comportamento dos demais termos oracionais, com atenção especial para as possibilidades de caso para uma mesma pre-posição.

Referências

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Latina: curso único e completo. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

BOYES, Francis Xavier. Língua Latina I. Recife: Fasa Editora, 1989.

CARDOSO, Zélia Almeida. Iniciação ao Latim. 5 ed. São Paulo: Ática, 2003. (Série Princípios).

COMBA, Júlio. Programa de Latim: introdução à Língua Latina. V.1. 16.ed. São Paulo: Salesianas Dom Bosco, 2000.

FURLAN, Oswaldo Antônio. Língua e literatura latina e sua derivação portuguesa. Petrópolis: Vozes, 2006.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Apresentação

Agora que você conhece grande número de preposições latinas, bem como suas especificidades e exigências, poderá adentrar no universo da morfologia verbal da voz passiva. Você viu que a voz ativa do verbo se dá quando o sujeito pratica a ação verbal. Na voz passiva, por outro lado, ocor-re o inverso: o sujeito sofre a ação verbal, que, para tanto, deve ter sido praticada por algo ou alguém. Aquilo ou aque-le que pratica a ação verbal na voz ativa recebe o nome de agente da passiva. Dessa maneira, você verá que o verbo na voz passiva recebe uma marca flexional distinta daquela que configura a voz ativa, além de o agente da passiva tam-bém ser flexionado de acordo com as categorias animado ou inanimado, precedido, ou não, de preposição. Verá tam-bém que, para cada conjugação verbal (1ª, 2ª, 3ª e 4ª), as-sim como na voz ativa, haverá desinências específicas para cada pessoa, tempo e modo. Antes de começarmos os es-tudos desta nova Unidade, é aconselhável que você retome os apontamentos da Unidade III, que trata das preliminares da morfologia verbal em latim, para que haja facilidade na assimilação do conteúdo. Em seguida, você conhecerá os compostos de “sum”, verbo irregular que também foi tema da Unidade III, sendo que, agora, você terá conhecimento de suas formas compostas por algumas preposições, encer-rando significados diversos. A você, nossos votos de bons estudos e ótimos resultados!

Objetivos

Esperamos que, com o estudo desta Unidade, você consiga:

Compreender a morfossintaxe verbal da voz passiva em latim, •assimilando as desinências que a sinalizam para cada pessoa no presente e no imperfeito do Infectum de verbos regulares de 1ª e 2ª conjugações;

Conhecer como se comporta o agente da passiva nas orações •latinas, atentando para os atributos “ser animado” e “ser inani-mado”, que determinarão a regência ou não por preposição;

Aprofundar os conhecimentos acerca do verbo • sum, compreen-dendo que, ao lado de determinadas preposições, dão origem a formas compostas, com significados diversos uns dos outros.

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A Morfossintaxe da voz passiva

O paradigma da flexão verbal da voz passiva em latim conserva, para os verbos regulares, a exemplo de amare (1ª conjugação) e mo-nere (2ª conjugação), o tema do verbo, assim como na voz ativa. En-tretanto, a voz passiva apresenta desinências pessoais distintas da voz ativa.

Para facilitar o reconhecimento dessas diferenças, optamos por re-produzir os quadros que ilustram os paradigmas flexionais do presente do Infectum dos verbos acima citados, apresentados originalmente na Unidade III, e, logo em seguida, como cada um se flexiona na voz passiva.

Presente do Infectum de amo, -are – Voz ativa

Pessoa Radical e VT = TEMA Desinência número-pessoal

O presente do Infectum

1ª pessoa do singular am -o amo (= amo)

2ª pessoa do singular am + a -s amas (= amas)

3ª pessoa do singular am + a -t amat (= ama)

1ª pessoa do plural am + a -mus amamus (= amamos)

2ª pessoa do plural am + a -tis amatis (= amais)

3ª pessoa do plural am + a -nt amant (= amam)

Presente do Infectum de amo, -are – Voz passiva

Pessoa Radical e VT = TEMA Desinência número-pessoal

O presente do Infectum

1ª pessoa do singular am -or amor (= sou amado)

2ª pessoa do singular am + a -ris amaris (= és amado)

3ª pessoa do singular am + a -tur amatur (= é amado)

1ª pessoa do plural am + a -mur amamur (= somos amados)

2ª pessoa do plural am + a -mini amamini (= sois amados)

3ª pessoa do plural am + a -ntur amantur (= são amados)

Presente do Infectum de moneo, -ere – Voz ativa

Pessoa Radical e VT = TEMA Desinência número-pessoal

O presente do Infectum

1ª pessoa do singular mon + e -o moneo (= advirto)

2ª pessoa do singular mon + e -s mones (= advertes)

3ª pessoa do singular mon + e -t monet (= adverte)

1ª pessoa do plural mon + e -mus monemus (= advertimos)

2ª pessoa do plural mon + e -tis monetis (= advertis)

3ª pessoa do plural mon + e -nt monent (= advertem)

Presente do Infectum de moneo, -ere – Voz passiva

Pessoa Radical e VT = TEMA

Desinência número-pessoal

O presente do Infectum

1ª pessoa do singular mon + e -or moneor (= sou advertido)

2ª pessoa do singular mon + e -ris moneris (= és advertido)

3ª pessoa do singular mon + e -tur monetur (= é advertido)

1ª pessoa do plural mon + e -mur monemur (= somos advertidos)

2ª pessoa do plural mon + e -mini monemini (= sois advertidos)

3ª pessoa do plural mon + e -ntur monentur (= são advertidos)

Agora, observe como fica a flexão verbal da voz passiva no imper-feito do Infectum desses mesmos verbos:

Imperfeito do Infectum de amo, -are – Voz ativa

Pessoa TEMA e infixo Desinência número-pessoal

O imperfeito do Infectum

1ª pessoa do singular ama +BA -m amabam (= amava)

2ª pessoa do singular ama + BA -s amabas (= amavas)

3ª pessoa do singular ama + BA -t amabat (= amava)

1ª pessoa do plural ama + BA -mus amabamus (= amávamos)

2ª pessoa do plural ama + BA -tis amabatis (= amáveis)

3ª pessoa do plural ama + BA -nt amabant (= amavam)

154 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 155

Imperfeito do Infectum de amo, -are – Voz passiva

Pessoa TEMA e infixo Desinência número-pessoal

O imperfeito do Infectum

1ª pessoa do singular ama +BA -r amabar (= era amado)

2ª pessoa do singular ama + BA -ris amabaris (= eras amado)

3ª pessoa do singular ama + BA -tur amabatur (= era amado)

1ª pessoa do plural ama + BA -mur amabamur (= éramos amados)

2ª pessoa do plural ama + BA -mini amabamini (= éreis amados)

3ª pessoa do plural ama + BA -ntur amabantur (= eram amados)

Imprefeito do Infectum de moneo, -ere – Voz ativa

Pessoa TEMA e infixo Desinência número-pessoal

O imperfeito do Infectum

1ª pessoa do singular mone + ba -m monebam (= advertia)

2ª pessoa do singular mone + ba -s monebas (= advertias)

3ª pessoa do singular mone + ba -t monebat (= advertia)

1ª pessoa do plural mone + ba -mus monebamus (= advertíamos)

2ª pessoa do plural mone + ba -tis monebatis (= advertíeis)

3ª pessoa do plural mone + ba -nt monebant (= advertiam)

Imprefeito do Infectum de moneo, -ere – Voz passiva

Pessoa TEMA e infixo Desinência número-pessoal

O imperfeito do Infectum

1ª pessoa do singular mone + ba -r monebar (= era advertido)

2ª pessoa do singular mone + ba -ris monebaris (= eras advertido)

3ª pessoa do singular mone + ba -tur monebatur (= era advertido)

1ª pessoa do plural mone + ba -mur Monebamur (= éramos advertidos)

2ª pessoa do plural mone + ba -mini monebamini (= éreis advertidos)

3ª pessoa do plural mone + ba -ntur monebantur (= eram advertidos)

Olhando atentamente, você perceberá que há mais semelhanças que diferenças. Além do mais, as diferenças apresentam uma regulari-dade, merecendo, todavia, especial atenção às flexões da:

1ª pessoa do presente: na ativa terminada em • o, acrescente, na passiva, -r;

1ª pessoa do imperfeito: na ativa terminada em • m, troque, na passiva, por r, ficando as demais terminações sem mais novi-dades.

É válido salientar que todas as formas passivas apresentadas corres-pondem às chamadas passivas sintéticas, isto é, expressas por só uma palavra, como amor, indicando, em todo caso, tanto o masculino (sou amado) como o feminino (sou amada).

a. O agente da passiva - caso ablativo

Agora que você já sabe como são flexionados os verbos regulares de 1ª e 2º conjugação no presente e no imperfeito do Infectum na voz passiva, lancemos um olhar mais atento ao termo oracional que aponta para quem ou o quê pratica a ação do verbo nesse caso, que não é, como na voz ativa, o sujeito da oração, mas o agente da passiva.

O agente da passiva em latim traduz-se pelo caso ablativo, ora com, ora sem preposição. Acrescente que a preposição que rege o ablativo enquanto agente da passiva é A e sua variante Ab1. Assim, você deve estar se perguntando: se o ablativo corresponde ao agente da passiva, ainda mais regido pela preposição A/Ab (que pode indicar, também, um adjunto adverbial), como saber se se trata de agente da passiva ou de adjunto adverbial? A resposta é muito simples: basta olhar primeiramente para a forma verbal da oração, requisito essen-cial para a análise e tradução de frases latinas. Se estiver na voz ativa, trata-se de um adjunto adverbial; estando na voz passiva, teremos um agente da passiva.

No entanto, não é sempre que o agente da passiva vem regido por preposição. Há casos em que ele virá traduzido pelo ablativo simples, que, já sabemos, não acompanha preposição. Ainda assim, a flexão verbal é o indício de que dispomos para saber se se trata de um adjunto adverbial ou de um agente da passiva. Os critérios que definem se virá com ou sem preposição são o de ser animado ou o de ser inanimado (ou considerado inanimado), conforme veremos a seguir.

1 A respeito dos usos de cada forma, ver “Preposições que regem o ablativo”, Uni-dade VIII.

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b. Ser animado - com preposição A/Ab

Quando o agente da passiva é um ser animado ou personificado, o ablativo vem regido pela preposição A, quando iniciado por consoante; e pela derivada Ab, quando iniciado por vogal ou por h. Você já deve saber das especificidades que envolvem vogais e consoantes em fim e começo de palavras, mas, se não as assimilou bem, não custa nada revisar as unidades pertinentes.

Vejamos, agora, alguns exemplos de ser animado sendo agente da passiva:

Orphanus a mendica amaturO órfão é amado pela mendiga

Cervus a lupis capĭturO veado é apanhado pelos lobos

Oppĭda abIsraelita delēnturA cidade foi destruída pelo povo israelita

Há o caso de se considerarem animados seres inanimados, ocorrendo o que chamamos de personificação. A flexão casual e sua regência preposicional não são alheias a esse fenômeno e figuram como se o agente da passiva fosse, de fato, animado:

Inimica novicula a amicis ventis verberabatur.A embarcação inimiga era fustigada pelos ventos amigos

(observe “ventos amigos” como seres animados)

Quando com o verbo probari (ser louvado, ser aprovado) e com os verbos formados pelo particípio perfeito, o agente da passiva pode encontrar-se no dativo:

Pompeius iudicat2 ea mihi probariPompeu julga que aqueles casos são aprovados por mim

Omnes consulares, qui tibi persaepe ad caedem constituti fuerunt...Todos os ex-cônsules, que foram por ti muitas vezes destinados à morte...

c. Ser inanimado ou considerado inanimado - sem preposição

Por outro lado, se o agente da passiva corresponde a ser inanimado ou assim considerado, vem traduzido pelo ablativo simples, isto é, sem preposição, sendo determinante para seu reconhecimento perceber se o verbo está ou não na voz passiva. Exemplos:

Bella tubis copiaruam quondam nuntiabantur.Outrora, as guerras eram anunciadas pelas trombetas das tropas

Anima amicitia novatur.A alma é revigorada com a amizade

Atividade Ia. Analise sintaticamente as orações abaixo:

Aegroti medicinis curantur.Terra luna illuminatur.Cogitatum animo illustratur.Fabulae a poetis in platea publica olim recitabantur.

1. Indique o agente da passiva de cada oração, apontando caso e número.

2. Passe as orações dos enunciados para a voz ativa.

b. Lusitane Reddere:

Traduza as frases acima colocadas na voz passiva e ativa:

2 Você deve estar estranhando o verbo de ação no meio da oração. Dissemos em ou-tro ponto que, geralmente, o verbo vem no final da oração, nada impedindo, pois, que surjam no meio, formato que muitos poetas adotavam para que seus versos tivessem rit-mo e melodia.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

158 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 159

Vocabulário:

A(b) = pelo(a); In = em; na;

Aegrotus, i = o doente; Medicina, ae = remédio;

Animus, i = espírito; Olim = antigamente;

Cogitatum, i = pensamento; Platea, ae = praça;

Curo, as, avi, are = curar, cuidar Poeta, ae = poeta;

Fabula, ae = fábula; Publicus, a, um = público, pública;

Illumino, as, avi, are = iluminar; Recito, as, avi, are;

Illustro, as, avi, are = ilustrar, iluminar Terra, ae = Terra;

Os Verbos Compostos de “sum”

Na Unidade III, no Capítulo 2 “Dois verbos irregulares: ‘sum’ e ‘possum’”, falamos que o latim, assim como a língua portuguesa, pos-sui irregularidades quando à flexão dos verbos, isto é, apresenta in-constâncias. Você viu também que, para reconhecer que um verbo é irregular, o aspecto principal a ser considerado é a alteração parcial ou total do radical na conjugação de algumas pessoas e tempos ver-bais, que apresentam desigualdade quanto à estrutura original, como é o caso do verbo “sum” (= eu sou, estou), que tem como infinitivo a forma esse, que significa ser, estar, haver, existir etc. – a depender do contexto.

Para facilitar a compreensão do tema ora apresentado, vimos por bem reproduzir a tabela de flexão do verbo “sum”, que fora apresenta-da inicialmente na Unidade supracitada:

Pessoa Presente Imperfeito Futuro

1ª pessoa do singular Sum eram ero

2ª pessoa do singular Es eras eris

3ª pessoa do singular Est erat erit

1ª pessoa do plural Sumus eramus erimus

2ª pessoa do plural Estis eratis eritis

3ª pessoa do pulral Sunt erant erunt

Não constitui novidade o que dissemos até agora quanto a esse verbo. Entretanto, ele possui uma característica especial: pode se unir a determinadas preposições, formando novos verbos, com significados diversos entre si. Você já conhece a maioria das preposições latinas e irá reconhecer aquelas que, ao lado de sum, formam seus compostos. Contudo, observe bem a flexão de sum nos tempos do Infectum acima reproduzida, seus compostos obedecem a esse mesmo paradigma.

São composto de sum (esse):

Abesse (estar ausente) Obesse (opor-se a)

Adesse (estar presente) Praeesse (comandar)

Deesse (faltar) Prodesse (ser últil a, servir a)

Inesse (estar em) Superesse (sobreviver a)

Interesse (participar de)

Tomemos como exemplo o composto adesse e vejamos como fica a sua flexão nos tempos do Infectum:

Presente Imperfeito Futuro Perfeito Mais-que-perfeito

adsum aderam adero adfui adfueram

ades aderas aderis adfuisti adfueras

adest aderat aderit adfuit adfuerat

adsumus aderamus aderimus adfuimus adfueramus

adestis aderatis aderitis adfuistis adfueratis

adsunt aderant aderunt adfuerunt adfuerant

Nota:

1) As preposições, agora prefixos verbais, devem ser escritas por in-teiro, não podendo ficar truncadas. Ex.: é supēreram, e não “superam”. Contudo, no verbo absum, a preposição ab muda-se em a antes de f (letra com que se iniciam as flexões do perfeito e do mais-que-perfeito): afui e afueram, por exemplo; e no verbo prosum, o prefixo pro torna-se prod antes de e (letra com que se iniciam as flexões do presente, do imperfeito e do futuro): proderam e prodero, por exemplo.

160 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 161

2.1. Regência dos compostos de “sum”

Todos os compostos do verbo sum regem o dativo, a exceção do verbo absum, que rege o ablativo de separação3. E insum pode cons-truir-se também com in e o ablativo.

Vejamos alguns exemplos:

Inĕrat populo (= Estava entre o povo);

Inest in vultu superbus (= A serenidade está gravada no rosto);

Defŭit officio (= Faltou ao dever);

Absum a (ou e) schola (= Estou ausente da escola).

Atividade IIConjugue, em todos os tempos do infectum, os seguintes compostos de sum:

Abesse (estar ausente)

Deesse (faltar)

Inesse (estar em)

Interesse (participar de)

Prodesse (ser últil a, servir a)

Superesse (sobreviver a)

Chega ao fim mais uma unidade de estudos de Latim I. Se você não percebeu, só nos falta uma unidade para o encerramento da disciplina. Assim, procure mostrar ainda mais dedicação e concentração, falta pouco para você vencer a primeira grande etapa deste maravilhoso desafio, que é conhecer a língua-mãe de nossa língua vernácula em muitos de seus aspectos!

Então, agora você conhece como se flexiona a voz passiva em la-tim, dos verbos regulares de 1ª e 2ª conjugações do Infectum; o agente da passiva, os casos que podem sê-lo e as preposições que podem regê-lo; e uma especialidade do verbo sum, que é permitir a prefixa-

ção de certas preposições, formando compostos que possuem sentidos diversos entre si. Em outras palavras, somando o conhecimento obtido por meio das unidades anteriores a este, você está pronto para proce-der a uma análise sintática da oração sem maiores preocupações. Mas isso nunca será o bastante:

Para aprofundar e de fato aprender bem os temas apresentados nessa Unidade, uma leitura regular dos textos sugeridos, para isentar qualquer dúvida existente, se faz necessária. E não deixe de procurar os tutores para os esclarecimentos.

Leituras recomendadasPara o melhor entendimento dos conteúdos estudados nesta Unidade, você deve procurar ler:

a. Para “Morfossintaxe da voz passiva”, ver “Voz ativa – agente da passiva”, in: Gramá-tica Latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: p. 59 - 61); “O sistema verbal latino”, in: Iniciação ao Latim, de Zelia de Almeida

Cardoso (2003, p. 65 - 96); “Sintaxe das preposições”, in: Gramá-tica latina, de Júlio Comba (1991, p. 202-10); “Preposições, co-nectivos entre termos frasais”, in: Língua e Literatura Latina e sua de-rivação Portuguesa, de Oswaldo Antônio Furlan (2006: p.128-32); “Agente da passiva”, in Gramática latina, de Júlio Comba (1991, p. 145 – 6); e “O agente da passiva”, in Compêndio de gramática latina, de Almendra e Figueiredo (2003, p. 155-156).

b. Para “Compostos de sum” ver “Compostos de sum”, in: Gramática Latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: p. 233-34); “Os compostos do verbo sum”, in: Língua latina I, de Francis Boyes (1989, p. 32); e “Verbos

irregulares – sum e seus compostos”, in: Não perca o seu latim, de Paulo Rónai (1980, p. 222 – 23).

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

3 Lembre-se que o ablativo de separação ocorre com as preposições a (ab) e e (ex), a depender da letra inicial da palavra regida.

162 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 163

ResumoNesta unidade, você viu que o paradigma da flexão verbal da voz

passiva em latim conserva, para os verbos regulares, a exemplo de amare (1ª conjugação) e monere (2ª conjugação), o tema do verbo, as-sim como na voz ativa. Entretanto, a voz passiva apresenta desinências pessoais distintas da voz ativa. Olhando atentamente, você perceberá que há mais semelhanças que diferenças. Além do mais, as diferenças apresentam uma regularidade, merecendo, todavia, especial atenção as flexões da: 1ª pessoa do presente: na ativa terminada em -o, acres-cente-se, na passiva, -r; 1ª pessoa do imperfeito: na ativa terminada em -m, troque-se, na passiva, por -r, ficando as demais terminações sem mais novidades. Todas as formas passivas apresentadas correspondem às chamadas passivas sintéticas, isto é, expressas por só uma palavra.

Percebeu que o agente da passiva em latim merece especial aten-ção, pois é o termo oracional que aponta para quem ou o quê pratica a ação do verbo na voz passiva, não se confundindo com o sujeito. O agente da passiva em latim traduz-se pelo caso ablativo, ora com, ora sem preposição. Acrescente-se que a preposição que rege o ablativo enquanto agente da passiva é A e sua variante Ab. Olhando primeira-mente para a forma verbal da oração, requisito essencial para a análise e tradução de frases latinas, você saberá se se trata de agente da passi-va ou de adjunto adverbial, devido às semelhanças (ablativo regido por preposição): se estiver na voz ativa, trata-se de um adjunto adverbial; estando na voz passiva, teremos um agente da passiva. Não é sempre, no entanto, que o agente da passiva vem regido por preposição. Há casos em que ele virá traduzido pelo ablativo simples, que, já sabemos, não acompanha preposição. Os critérios que definem se virá com ou sem preposição são o de ser animado ou o de ser inanimado (ou con-siderado inanimado).

Quando o agente da passiva é um ser animado ou personificado, o ablativo vem regido pela preposição A, quando iniciado por consoante; e pela derivada Ab, quando iniciado por vogal ou por h. Há o caso, no entanto, de se considerarem animados seres inanimados, ocorrendo o que chamamos de personificação. A flexão casual e sua regência preposicional não são alheias a esse fenômeno e figuram como se o agente da passiva fosse, de fato, animado. Quando com o verbo probari (ser louvado, ser aprovado) e com os verbos formados pelo particípio perfeito, o agente da passiva pode-se encontrar no dativo. Por outro lado, se o agente da passiva corresponde a ser inanimado ou assim considerado, vem traduzido pelo ablativo simples, isto é, sem preposição, sendo determinante para seu reconhecimento perceber se o verbo está ou não na voz passiva.

Você viu, ainda, que o verbo sum possui uma derivação prefixal,

cujos diferentes prefixos são algumas das preposições estudadas, origi-nando novos verbos, com significados distintos entre si, sendo conheci-dos como os compostos de sum. Assim, as preposições, agora prefixos verbais, devem ser escritas por inteiro, não podendo ficar truncadas. Contudo, no verbo absum, a preposição ab muda-se em a antes de f (letra com que se iniciam as flexões do perfeito e do mais-que-perfeito): afui e afueram, por exemplo; e no verbo prosum, o prefixo pro torna-se prod antes de e (letra com que se iniciam as flexões do presente, do imperfeito e do futuro): proderam e prodero, por exemplo. Todos os com-postos do verbo sum regem o dativo, a exceção do verbo absum, que rege o ablativo de separação. E insum pode construir-se também com in e o ablativo.

AutovaliaçãoHá muitas semelhanças entre a voz ativa e a voz passiva dos ver-

bos regulares nos tempos do infectum. Com base nisso, elabore uma consideração sobre as diferenças entre a voz ativa e a voz passiva dos verbos regulares de 1ª e 2ª conjugações, aduzindo ao texto as princi-pais informações acerca do agente da passiva.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

164 SEAD/UEPB I Língua Latina I Língua Latina I I SEAD/UEPB 165

A função pronominal e os adjetivos de 1ª Classe

A função pronominal e os adjetivos de 1ª Classe

X UNIDADEReferências

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Latina: curso único e completo. 29 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

ALMENDRA, Maria Ana; FIGUEIREDO, José Nunes de. Compêndio de Gramática Latina. Porto: Porto editora, 2003.

BOYES, Francis Xavier. Língua Latina I. Recife: Fasa Editora, 1989.

CARDOSO, Zélia Almeida. Iniciação ao Latim. 5 ed. São Paulo: Ática, 2003. (Série Princípios).

COMBA, Júlio. Gramática Latina para Seminários e Faculdades. 4 ed. rev. e adpt. São Paulo: Editora Salesiana Dom Bosco, 1991.

FURLAN, Oswaldo Antônio. Língua e literatura latina e sua derivação portuguesa. Petrópolis: Vozes, 2006.

RÓNAI, Paulo. Não Perca o seu Latim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

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Apresentação

Você já vem conhecendo muitos nomes em latim, e, como sabemos, um dado universal a respeito das línguas é que os nomes surgem para nomear coisas, seres, fenômenos, sentimentos, etc., e também para predicá-los, com carac-terísticas ora em conformidade com que se nos apresentam (objetivo), ora conforme os consideramos (subjetivo). Na própria fala, nos cansaríamos de repetir o nome daquilo so-bre o que falamos, e também cansaríamos o nosso ouvinte com uma redundância suportável por pouco tempo. Assim, as línguas naturais, devido a sua dinamicidade, trataram de fazer aparecer termos que, na fala e no registro escrito, se remetessem a palavras já citadas, evitando as repetições, atribuindo-lhes posses, qualidades (boas ou más), situando-as no espaço geográfico e na interlocução. A tudo isso que falamos correspondem os pronomes e os adjetivos. Vale sa-lientar que os adjetivos se confundiam com os pronomes jus-tamente por sua capacidade de estar em função do nome. Assim como em Português, em Latim há pronomes pessoais, possessivos, demonstrativos, reflexivos, relativos, interrogati-vos e indefinidos, cujas funções precípuas são referir-se aos nomes em torno dos quais orbitam, nas mais diversas rela-ções (de posse, posição espacial, etc.). Dessa maneira, nes-ta unidade, você conhecerá os pronomes pessoais do caso reto (ou pronomes-sujeitos), os adjetivos de 1ª classe e os pronomes possessivos, por possuírem caráter propedêutico, ou seja, necessário ao entendimento dos demais pronomes e adjetivos. Bons estudos!

Objetivos

Esperamos que nesta Unidade, você consiga:

Entender a função pronominal, especialmente dos pronomes •pessoais do caso reto (ou pronomes-sujeitos) em latim, procu-rando assimilar suas regularidades e especificidades;

Conhecer os adjetivos de primeira classe, compreendendo sua •morfossintaxe e peculiaridades;

Aprender os pronomes possessivos latinos, buscando entender a •morfossintaxe que se mostra quando dos usos dessa subclasse.

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Os pronomes pessoais do caso reto

Os pronomes pessoais não substituem propriamente o nome; indi-cam a pessoa do discurso: a pessoa que fala ou a com quem se fala. Em latim, o seu emprego é, muitas vezes desnecessário. No entanto, existem e são enfáticos, expressivos. Possuem, por outro lado, na sua forma objectual, papel gramatical. Abaixo, quadro dos pronomes pes-soais nas 1ª, 2ª e 3ª pessoas, nos casos latinos em que existam:

SINGULARCaso 1ª pessoa 2ª pessoa 3ª pessoa

Nom.Gen.Ac.Dat.Abl.Voc.

ego “eu”mei “de mim”me “me”mihi “me” “a mim”me “por mim”-

tu “tu”tui “de ti”te “te”tibi “te”, “a ti”te “por ti”tu “tu”

-sui “de si”se “se”sibi “se”, “a si”se “por si”-

PLURAL

Nom.Gen.Ac.Dat.Abl.Voc.

nos “nós”nostri (poss.)“de nós”nos “nos”nostrum (part.)“dentre nós”,nobis “por nós”-

vos “vós”vestri (poss.)“de vós”vos “vos”vestrum (part.)“dentre vós”vobis “vos”, “a vós”vos “vós”

-sui “de si”se “se”sibi “se”, “a si”se “por si”-

Segundo Cardoso (2003, p. 57), não há pronome pessoal de ter-ceira pessoa. Para designar aquele de quem se fala usa-se o demons-trativo, que, para Rónai (1980, p. 205), é de sentido reflexivo e não tem nominativo. Em outras palavras, os pronomes pessoais da terceira pessoa existem em função de um pronome reflexivo que obviamente não atende ao nominativo, mas se flexiona de acordo com os prono-mes pessoais da segunda pessoa (observe as semelhanças entre os pronomes pessoas de segunda pessoa do singular e os de terceira do singular e do plural, destacados na tabela).

Pronomes pessoais como os que temos em português não se origi-nam necessariamente dos pronomes pessoais latinos, são correspon-dências aos pronomes demonstrativos latinos: “ele”, “ela” e suas fle-xões (“o”, “a”, “lhe”, etc.) correspondem em latim aos demonstrativos is, ea, id e ille, illa, illud.

É válido salientar que o genitivo do pronome pessoal não se empre-ga nunca com sentido possessivo, uma vez que a tradução do genitivo para português está atrelada à preposição “de”, que pode, também, indicar posse, e, nesse caso, pode estar adjunto a um verbo, ou a um substantivo ou adjetivo verbal. Como exemplos deste último, amor mei,

“o amor de mim”, isto é, “o amor que se sente por mim”, e memor mei, “lembrado de mim”. Os genitivos em –um (nostrum e vestrum) empre-gam-se exclusivamente em sentido partitivo: unus nostrum, “um dentre nós”, ou “um de nós” (uma parte de nós – por isso partitivo).

Não se confunda pelas formas: mei, tui, sui, nostri, nostrum, vestri, vestrum, que são genitivos de pronomes pessoais, não são adjetivos possessivos.

Quando acompanhados pela preposição cum, especificidade do ablativo, fundem-se com esta: ao invés de cum me, temos mecum. Da mesma forma: tecum, secum, nobiscum, vobiscum. Quando o pronome te recebe a preposição a (ab), esta frequentemente toma a forma abs:

Abs te diu afuiEstive distante de ti por muito tempo

Atividade Ia. Circule todos os pronomes nas frases dadas:

01. Dominus vobiscum! Et etiam tecum!02. Et me sicut et te Deus creavit.03. Ego te amo; tune me amas?04. Deus te sine te creavit; sed te sine te non salvabit.05. Tibi vero semper profui; cur ergo mihi obesse desideras?06. Vos vero ab insidiis diaboli Deus liberabit.07. Horatii germanus quidem se novacula vulneraverat.08. Abs te diu abero; itaque te valde desiderabo.09. Mene vocavisti? Te non vocavi.10. Sibi vilicus sic oberit.11. Et in Dei ecclesia estis vos et Dei ecclesia estis vos.12. Cura absque modis tibi oberit.13. Sicarius autem me vel te sica vulnerare temptabit.14. Nos vestri memoria delectabit nobisque proderit.15. Tibi nos magister commendabit.16. Cicero a me laudatur.17. Cras tecum coenabo18. Improbi sibi semper obtemperant

b. Lusitane Reddere: Agora traduza as frases acima, conforme o vocabulário dado: dica. utilize o bloco

de anotações para responder as atividades!

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Vocabulário:

A(b) = de(a/o); Nobis = a nós, para nós;

Absque = sem; Nos = nos

Absum, abesse, afui = estar ausente, estar distante;

Novacula, ae = navalha;

Amo, as, avi, are = amar; Obsum, obesse, obfui = opor-se, prejudicar, fazer mal;

Cicero = Cícero; Obtempero, as, avi, are [ rege o dat.] = obedecer;

Coeno, as, avi, are = jantar; Prossum, prodesse, profui = ser útil, fazer bem;

Commendo, as, avi, are = recomendar; Que [enclítico] = e;

Cras = amanhã; Quidem = de fato, certamente;

Creo, as, avi, are = criar; Salvo, as, avi, are = salvar;

Cur = por que; Se = se;

Cura, ae = preocupação; tratamento; Sed = mas;

Delecto, as, avi, are; agradar(-se); deleitar-se;

Semper = sempre;

Desidero, as, avi, are = desejar; sentir falta;

Sibi = a si, para si;

Deus, i = Deus; Sic = assim; deste modo;

Diabolus, i = diabo; Sica, ae = adaga, punhal;

Diu = por muito tempo; há muito tempo;

Sicarius, i = assassino;

Dominus, i = o Senhor; Sicut = assim como;

Ecclesia, ae = igreja; Sine = sem;

Ego = eu; Sum, es, fui, esse = ser, estar, haver;

Ergo = logo, portanto; Te = te;

Et etiam = e também; Tecum = contigo;

Et...et = Assim... como; Tecum = contigo;

Germanus, i = irmão; Tempto, as, avi, are = tentar

Horatius, i = Horácio; Tibi = a ti, para ti;

Improbus, i = o mau Tu = Tu;

In = em; Valde = muito;

Insidiae, arum = emboscada, cilada; Vel = ou;

Itaque = logo, portanto; Vero = na verdade;

Laudo, as, avi, are = elogiar, louvar; Vestri = de vós [vossa];

Libero, as, avi, are = livrar; Villicus, i = caseiro;

Magister, tri = professor; Vobiscum = comvosco;

Me = me; Voco, as, avi, are = chamar;

Memoria, ae = memória, lembrança; Vos = vós (vocês); vos

Mihi = a mim, para mim; Vulnero, as, avi, are = ferir;

Modus, i = medida, regra;

Os Adjetivos de Primeira Classe

Adjetivos são palavras que se referem a substantivos ou palavras substantivadas, indicando-lhe um atributo. Para efeito de declinação, em latim os adjetivos são divididos em: adjetivos de 1ª classe e adjeti-vos de 2ª classe. Fiquemos, por enquanto, com a definição dos primei-ros. São denominados adjetivos de primeira classe aqueles que deter-minam, modificam, qualificam os substantivos, obedecendo às regras de flexão da 1ª classe e 2ª declinações. Portanto, um adjetivo concorda com um substantivo em gênero, número e caso, usando as desinências da 1ª declinação para exercer a concordância com substantivos femi-ninos; usando as desinências da 2ª declinação para exercer a concor-dância com substantivos masculinos e neutros.

São considerados adjetivos triformes, por apresentarem três formas, uma para cada gênero, sendo:

uma para o masculino, em us bonus (2ª declinação)

uma para o feminino, em a bona (1ª declinação)

uma para o neutro, em um bonum (2ª declinação)

Quando, portanto, o dicionário apresentar um nome da seguinte forma:

bonus, a, um dignus, a, um parvus, a, um

citando três formas, uma por extenso em –us, seguida de duas abre-viadas, em a e em um, estará nos indicando um adjetivo de 1ª classe.

Contudo, há substantivos masculinos da segunda declinação que têm o nominativo singular em –er (liber, magister, puer etc.). Nesse caso, o adjetivo de primeira classe, que confere atributos a estes nomes, não fica indiferente a esta mudança flexional, e em vez da forma –us para o masculino, têm a forma –er. A maioria de tais adjetivos segue no mas-culino a declinação do substantivo líber, perdendo no genitivo singular o e da terminação er:

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SINGULARCaso Masculino Feminino Neutro

Nom.Voc.Gen.Dat.Abl.Ac.

pulcher (= lindo)pulchr-ipulchr-umpulchr-opulchr-opulcher

pulchrapulchr-aepulchr-ampulchr-aepulchr-apulchra

pulchrumpulchr-ipulchr-umpulchr-opulchr-opulchrum

PLURAL

Nom.Voc.Gen.Dat.Abl.Ac.

pulchr-ipulchr-ipulchr-orumpulchr-ispulchr-ispulchr-os

pulchr-aepulchr-arumpulchr-aspulchr-ispulchr-ispulchr-ae

pulchr-apulchr-orumpulchr-apulchr-ispulchr-ispulchr-a

Alguns seguem no masculino a declinação de puer, isto é, conser-vam sempre o e dessa terminação:

SINGULARCaso Masculino Feminino Neutro

Nom.Gen.Ac.Dat.Abl.Voc.

miser (= infeliz)misermisĕr-imisĕr-omisĕr-omisĕr-um

misĕramisĕramisĕr-aemisĕr-aemisĕr-amisĕr-am

misĕrummisĕrummisĕr-imisĕr-omisĕr-omisĕrum

PLURAL

Nom.Gen.Ac.Dat.Abl.Voc.

misĕr-imiser-orummisĕr-osmisĕr-ismisĕr-ismisĕr-i

misĕr-aemiser-arummisĕr-asmisĕr-ismisĕr-ismisĕr-ae

misĕr-amiser-orummisĕr-amisĕr-ismisĕr-ismisĕr-a

Existe entre os adjetivos de 1ª classe apenas um cuja terminação se dá em -ur: satur, satŭra, satŭrum (= farto, saciado), cujo vocativo é igual ao nominativo.

Nota: Alguns adjetivos raramente são empregados no nominativo masculino singular, como é o caso de:

(cetĕrus), cetĕra, cetĕrum (= restante)(extĕrus), extĕra, extĕrum (= exterior, externo)(postĕrus), postĕra, postĕrum (= seguinte)

Além disso, existe um adjetivo (plerīque, pleraēque, plerăque = a maior parte, o maior número, quase todos) declinável somente no plural, fi-cando sempre o –que final inalterável; não tem vocativo e no genitivo é substituído por plurimorum, plurimarum, plurimorum:

SINGULARCaso Masculino Feminino Neutro

Nom.Gen.Ac.Dat.Abl.

plerīqueplurimorumplerosqueplerīsqueplerīsque

pleraēqueplurimarumplerasqueplerīsqueplerīsque

plerăqueplurimorumplerăqueplerīsqueplerīsque

Atividade IIa. Decline em seu caderno as seguintes expressões, em todos os casos:

01. Malus florida = macieira florida;02. Magnus Poeta = um grande poeta;03. Praemium pretiosum = um prêmio precioso;

b. Lusitane Reddere:

01. Viri improbi liberi non sunt, autem miseri02. Dextra Graecorum ala sinistram Persarum alam fugat03. Deus virum ac feminam bestiasque terrae cuntas creavit;04. Simii vitam longam habent05. Equi legati non sunt nigri, sed albi et rubri06. Mater mea aegra erat et miser eram

Vocabulário:

Ac = e; Legatus, i = Embaixador;

Aeger, gra, grum = doente Liber, ĕra, ĕrum = livre;

Ala, ae = ala, fila, lado; Mater, matris [3ª Decl.] = mãe;

Albus, a, um = branco Meus, mea, meum = meu;

Autem = porém; Miser, ĕra, ĕrum = infeliz, desgraçado

Bestia, ae = animal; Niger, gra, grum = negro, preto

Creo, as, avi, are = criar; Non = não;

Cuntus, a, um = junto, unido; Persae, arum = Persas;

Deus, i = Deus; Que [enclítico] = e;

Dexter, tra, trum (ou tĕra, tĕrum) = direito Ruber, bra, brum = vermelho, castanho;

Equus, i = cavalo Sed = mas (conjugação)

Et = e; Simius, i = símio, macaco;

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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Femina, ae = mulher; Sinister, tra, trum = esquerdo;

Fugo, as, avi, are = afugentar, afastar, por em fuga

Sum, es, esse, fui = ser, estar, haver;

Graeci, orum = Gregos; Terra, ae = Terra;

Habeo, es, ui, ere = Ter Vir, i = varão, homem;

Improbus, a, um = mau; Vita, ae = vida;

Os pronomes possessivosOs pronomes possessivos podem ser ora adjetivos, ora pronomes.

São chamados também de adjetivos possessivos. Vejamos a tabela dos possessivos latinos:

PESSOA SINGULAR TRADUÇÃO1ª2ª3ª

meus, mea, meumtuus, tua, tuumsuus, sua, suum

“meu”, “minha”“teu”, ”tua” “seu”, “sua”

PLURAL

TRADUÇÃO

1ª2ª3ª

noster, nostra, nostrumvester, vestra, vestrumsuus, sua, suum

“nosso”, “nossa”“vosso”, “vossa”“seu”, “sua”

Os adjetivos possessivos declinam-se como qualquer adjetivo de 1ª classe, apresentando apenas uma irregularidade: meus tem por vocati-vo singular mi. O adjetivo possessivo de 3ª pessoa emprega-se somen-te no sentido de “seu próprio”. Quando em português empregamos “seu”, em latim ou não há adjetivo possessivo, ou, às vezes, se usa o genitivo do pronome demonstrativo (como em português “dele” em vez de “seu”), etc.

Às vezes encontram-se na mesma oração o adjetivo possessivo da 3ª pessoa e o genitivo do pronome demonstrativo; os dois se referem, então, a pessoas diferentes. Por exemplo: Heuvetii cum Germanis con-tendunt, eos suis finĭbus prohibent aut ipse in eorum finĭbus bellum ge-runt, “Os helvécios lutam com os germanos, repelem-nos de suas pró-prias fronteiras ou fazem a guerra dentro das fronteiras deles”. (Como quase sempre acontece, suus refere-se ao sujeito da oração).

Tuus, tua, tuum e suus, sua, suum seguem, de princípio afim, bonus, bona, bonum, observando que não possuem vocativo. Noster, nostra, nos-trum e vester, vestra, vestrum seguem pulcher, pulchra, pulchrum, obser-vando que vester não tem vocativo. Suus, a, um serve para o singular e para o plural, isto é, pode referir-se a uma só pessoa ou a várias.

Os possessivos latinos só se empregam para reforço ou por neces-sidade de clareza ou de especificação, e costumam pospor-se, em re-gra geral, aos substantivos: pater meus (e não: meus pater). A presença, portanto, de um possessivo numa frase latina exige muitas vezes um acréscimo na tradução, que indique esse reforço: manu suā = com sua própria mão.

Não se devem confundir nostri e vestri (=de nós, de vós), genitivo dos pronomes pessoais nos e vos, com nostri e vestri, genitivo singular ou nominativo plural dos possessivos noster e vester (= de nosso, de vosso ou os nossos, os vossos). A mesma observação se deve fazer com relação a tui (genitivo de tu) e tui (de tuus, a, um), sui (genitivo da 3ª pessoa) e sui (de suus, a, um); a própria oração indica se essas formas são de pronomes pessoais ou de possessivos.

De noster deriva o adjetivo nostras, ātis (= de nosso país) e de vester deriva o adjetivo vestras, ātis (= de vosso país).O ablativo dessas pala-vras pode ser em e ou em i.

Atividade IIIa. Lusitane Reddere:

01. Magister ego vester eram02. Boni non sibi, sed omnibus vivunt03. Puella epistolam manu sua scribit04. Tu quoque, Brute, fili mi?

Vocabulário:Boni, orum = os bons, as pessoas de bem;

Omnibus = para todos;

Magister, tri = professor; Puēlla, ae = moça;

Brutus, i = Bruto; Quoque (adv.) = também;

Ego = eu; Scrībo, is, scripsi, ĕre = escrever;

Manus, us [4ª decl.] = mão; Sed (conj.) = mas;

Filius, ii = filho; Sum, es, esse, fui = ser, estar, haver;

Epistula, ae = carta, epístola; Vester, tra, trum = de vós, os vossos;

Meus, mea, meum = meu; Vivo, is, vixi, ĕre = viver

b. Latine Vertere:

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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01. Nós estamos contentes porque vós e vossa filha passais bem.02. Carrego comigo todas as minhas coisas.03. Sábio professor, nós vos confiamos nossos filhos.04. Ilustre amigo, estarei sempre lembrando de ti05. Raramente os heróis geram filhos semelhantes a si.

Vocabulário:

A si = sibi; Nós = Nos;

Amigo = amicus, i; Nosso = noster, tra, trum;

Carregar = porto, as, avi, are; Passar bem =valĕo, es, ui, ēre;

Comigo = mecum; Porque = quia;

Confiar = commendo, as, avi, are; Professor = Magister, tri;

Contente = contentus, a um; Raramente = raro

De ti = tui; Sábio = doctus, a, um

Estar = sum, es, esse, fui; Semelhante = simĭles [rege dativo]

Estarei lembrando = memor ero [rege genitivo]

Sempre = semper;

Filha = filia, ae; Todas as minhas coisas = omnia mea;

Filhos = libĕri, orum Vós = vos;

Gerar = genĕro, as, avi, are; Vos = vos;

Heróis = heroes; Vosso = Vester, tra, trum;

Ilustre = Clarus, a, um;

Fim dos módulos correspondentes à disciplina Latim I! Você venceu este primeiro grande desafio! Agora, está preparado para identificar os pronomes pessoais, os adjetivos de 1ª classe e os pronomes possessi-vos nas orações latinas, sabendo também distingui-los uns dos outros, uma vez que apresentam uma série de semelhanças que só são resol-vidas pela análise do contexto frasal. De modo geral, você, se estudou conforme o indicado, resolvendo as atividades e procurando leitura mais aprofundada, já sabe como se estrutura a língua latina e quais as peculiaridades inerentes à morfossintaxe nominal, verbal e de algumas palavras que orbitam em torno dos núcleos da oração.

Mas esse é o primeiro grande passo dos restantes e não menos importantes neste terreno que ainda tem muito a ser conhecido. Refor-çando o que temos dito ao final de cada unidade, contentar-se não é o bastante! Para aprofundar e de fato aprender bem os temas apresenta-dos nessa Unidade, uma leitura regular dos textos sugeridos, para isen-tar qualquer dúvida existente, se faz necessária. E não deixe de procurar os tutores para os esclarecimentos.

Leituras recomendadasPara o melhor entendimento dos conteúdos estudados nesta Unidade, você deve procurar ler:

a. Para “Os pronomes pessoais”, ver “Pronomes pessoais”, in: Iniciação ao Latim, de Zelia de Almeida Cardoso (2003, p. 56-8); “Pronomes pessoais”, in: Não perca o seu latim, de Paulo Rónai (1980, p. 205-206); “Pronomes pessoais”, in: Compêndio de Gramática Latina, de Maria Ana Almendra e José Nunes de Figueiredo (2003, p. 64, 69

e 74); “Pronomes, pessoas do discurso”, in: Língua e Literatura Lati-na e sua derivação Portuguesa, de Oswaldo Antônio Furlan (2006: p.185-186); “Os pronomes pessoais da primeira e da segunda pes-soas e o pronome reflexivo”, in: Língua latina I, de Francis Boyes (1989, p. 33);

b. Para os “Adjetivos de primeira classe”, ver “Bonus, bona, bonum” e “Os adjetivos de primeira classe”, in: Gramática latina, de Napo-

leão Mendes de Almeida (2000: p. 49 e 95); “Sintaxe dos adjetivos”, in: Gramática latina, de Júlio Comba (1991, p. 173); “Declinação dos adjetivos qualificativos”, in: Não perca o seu latim, de Paulo Rónai (1980, p. 199-200);

e “Adjetivos da primeira classe”, in: Compêndio de Gramática Lati-na, de Maria Ana Almendra e José Nunes de Figueiredo (2003, p. 49-51);

c. Para “Os pronomes possessivos”, ver “Adjetivos e pronomes posses-sivos”, in: Não perca o seu latim, de Paulo Ró-nai (1980, p. 206); “Pronomes possessivos”, in: Compêndio de Gramática Latina, de Maria Ana Almendra e José Nunes de Figueiredo (2003, p. 65 e 74); “Sintaxe dos pronomes – pessoais e possessivos”, in: Gramática latina,

de Júlio Comba (1991, p. 181); “Pronomes, pessoas do discurso”, in: Língua e Literatura Latina e sua derivação Portuguesa, de Oswal-do Antônio Furlan (2006: p.185-186); “Pronomes possessivos”, in: Gramática latina, de Napoleão Mendes de Almeida (2000: p. 158); e “Morfologia dos pronomes – pronomes pessoais/ pronomes pos-sessivos”, in: Programa de Latim: introdução à Língua Latina. V.1, de Júlio Comba (p. 90-93).

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

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ResumoNo capítulo 1 da presente unidade, você viu que os pronomes pes-

soais não substituem propriamente o nome; indicam a pessoa do dis-curso: a pessoa que fala ou a com quem se fala. Além disso, não há pronome pessoal de terceira pessoa. Para designar aquele de quem se fala usa-se o demonstrativo, que, para Rónai (1980, p. 205), é de sen-tido reflexivo e não tem nominativo. Em outras palavras, os pronomes pessoais da terceira pessoa existem em função de um pronome reflexivo que obviamente não atende ao nominativo, mas se flexiona de acor-do com os pronomes pessoais da segunda pessoa; pronomes pessoais como os que temos em português não se originam necessariamente dos pronomes pessoais latinos, são correspondências aos pronomes demonstrativos latinos: “ele”, “ela” e suas flexões (“o”, “a”, “lhe”, etc.) correspondem em latim aos demonstrativos is, ea, id e ille, illa, illud. É vá-lido salientar que o genitivo do pronome pessoal não se emprega nun-ca com sentido possessivo, uma vez que a tradução do genitivo para português está atrelada à preposição “de”, que pode, também, indicar posse, e, nesse caso, pode ser adjunto a um verbo, ou a um substantivo ou adjetivo verbal. Como exemplos deste último, amor mei, “o amor de mim”, isto é, “o amor que se sente por mim”, e memor mei, “lembrado de mim”. Os genitivos em –um (nostrum e vestrum) empregam-se exclu-sivamente em sentido partitivo: unus nostrum, “um dentre nós”, ou “um de nós” (uma parte de nós – por isso partitivo). Não se confunda pelas formas: mei, tui, sui, nostri, nostrum, vestri, vestrum, genitivos de prono-mes pessoais, não são adjetivos possessivos. Quando acompanhados pela preposição cum, especificidade do ablativo, fundem-se com esta: ao invés de cum me, temos mecum. Da mesma forma: tecum, secum, nobiscum, vobiscum. Quando o pronome te recebe a preposição a (ab), esta frequentemente toma a forma abs.

Adjetivos são palavras que se referem a substantivos ou palavras substantivadas, indicando-lhe um atributo. Para efeito de declinação, em latim os adjetivos são divididos em: adjetivos de 1ª classe e ad-jetivos de 2ª classe. Fiquemos, por enquanto, com a definição dos primeiros. São denominados adjetivos de primeira classe aqueles que determinam, modificam, qualificam nomes da primeira (feminino) e da segunda (masculino e neutro) declinações, obedecendo, portanto, em termos de declinação, às mesmas regras de flexão desses nomes. São considerados adjetivos triformes, por apresentarem três formas, uma para cada gênero, sendo uma para o masculino, em us (bonus - 2ª declinação), uma para o feminino, em a (bona - 1ª declinação) e uma para o neutro, em um (bonum - 2ª declinação). Quando, portanto, o dicionário apresentar um nome citando três formas, uma por extenso em –us, seguida de duas abreviadas, em a e em um, estará nos indican-do um adjetivo de 1ª classe. Contudo, há substantivos masculinos da segunda declinação que têm o nominativo singular em –er (liber, ma-gister, puer etc.). Nesse caso, o adjetivo de primeira classe, que confere atributos a estes nomes, não fica indiferente a esta mudança flexional,

e em vez da forma –us para o masculino, têm a forma –er. A maioria de tais adjetivos segue no masculino a declinação do substantivo líber, perdendo no genitivo singular o e da terminação er. Alguns seguem no masculino a declinação de puer, isto é, conservam sempre o e des-sa terminação. Existe entre os adjetivos de 1ª classe apenas um cuja terminação se dá em -ur: satur, satŭra, satŭrum (= farto, saciado), cujo vocativo é igual ao nominativo. Alguns adjetivos raramente são empre-gados no nominativo masculino singular, como é o caso de (cetĕrus), cetĕra, cetĕrum (= restante), (extĕrus), extĕra, extĕrum (= exterior, externo) e (postĕrus), postĕra, postĕrum (= seguinte). Além disso, existe um adjeti-vo (plerīque, pleraēque, plerăque = a maior parte, o maior número, quase todos) declinável somente no plural, ficando sempre o –que final inal-terável; não tem vocativo e no genitivo é substituído por plurimorum, plurimarum, plurimorum.

Os pronomes possessivos podem ser ora adjetivos, ora pronomes. São chamados também de adjetivos possessivos. Vejamos a tabela dos possessivos latinos: Os adjetivos possessivos declinam-se como qualquer adjetivo de 1ª classe, apresentando apenas uma irregularidade: meus tem por vocativo singular mi. O adjetivo possessivo de 3ª pessoa emprega-se somente no sentido de “seu próprio”. Quando em português emprega-mos “seu”, em latim ou não há adjetivo possessivo, ou, às vezes, se usa o genitivo do pronome demonstrativo (como em português “dele” em vez de “seu”), etc. Às vezes encontram-se na mesma oração o adjetivo pos-sessivo da 3ª pessoa e o genitivo do pronome demonstrativo; os dois se referem, então, a pessoas diferentes. Por exemplo: Heuvetĭi cum Germa-nis contendunt, eos suis finĭbus prohibent aut ipse in eorum finĭbus bellum gerunt, “Os heuvécios lutam com os germanos, repelem-nos de suas próprias fronteiras ou fazem a guerra dentro das fronteiras deles”. (Como quase sempre acontece, suus refere-se ao sujeito da oração). Tuus, tua, tuum e suus, sua, suum seguem, de princípio a fim, bonus, bona, bonum, ob-servando que não possuem vocativo. Noster, nostra, nostrum e vester, ves-tra, vestrum seguem pulcher, pulchra, pulchrum, observando-se que vester não tem vocativo. Suus, a, um serve para o singular e para o plural, isto é, pode referir-se a uma só pessoa ou a várias. Os possessivos latinos só se empregam para reforço ou por necessidade de clareza ou de especifica-ção, e costumam pospor-se, em regra geral, aos substantivos: pater meus (e não: meus pater). A presença, portanto, de um possessivo numa frase latina exige muitas vezes um acréscimo na tradução, que indique esse reforço: manu suā = com sua própria mão. Não se devem confundir nos-tri e vestri (=de nós, de vós), genitivo dos pronomes pessoais nos e vos, com nostri e vestri, genitivo singular ou nominativo plural dos possessivos noster e vester (= de nosso, de vosso ou os nossos, os vossos). A mesma observação se deve fazer com relação a tui (genitivo de tu) e tui (de tuus, a, um), sui (genitivo da 3ª pessoa) e sui (de suus, a, um); a própria oração indica se essas formas são de pronomes pessoais ou de possessivos. De noster deriva o adjetivo nostras, ātis (= de nosso país) e de vester deriva o adjetivo vestras, ātis (= de vosso país).O ablativo dessas palavras pode ser em e ou em i.

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AutovaliaçãoAtravés de um texto, compare o comportamento morfossintático dos

pronomes do caso reto, adjetivos e possessivos do português e do la-tim, levando em consideração as semelhanças e as diferenças.

dica. utilize o bloco de anotações para responder as atividades!

Referências

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