globalização e seus reflexos na sociedade

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A GLOBALIZAÇÃO E SEUS REFLEXOS NA SOCIEDADE SILVA FILHO, João Bernardo da. Ciências Humanas e suas tecnologias – atualidades. Gráfica Paulinelli Serviços Gráficos: Belo Horizonte, 2014 A descoberta de que a terra se tornou um mundo de territórios nos quais todos estão ligados e ao mesmo tempo distantes surpreende, encanta e atemoriza, pois isso incide sobre nossos modos de ser, sentir, agir e pensar. O mundo não é mais exclusivamente um conglomerado de Estados-nações, sociedades nacionais, com o predomínio de posturas político-econômicas bilaterais e ou multilaterais. As decisões não são mais voltadas para os indivíduos, para as classes, minorias ou maiorias. Esses segmentos, mesmo sendo muito reais, não mais lideram, e pouco pesam nas decisões da sociedade global. Essa sociedade que economicamente se fundamentou no capitalismo desenvolvido na Europa, devido a suas necessidades se internacionalizou por meio do colonialismo do século XVI, do imperialismo do século XIX e da Globalização do século XX. A Globalização do século XX, diferentemente das outras mundializações, baseadas na dinâmica dos transportes otimizados pelo uso da energia eólica, a vapor e, em seguida, pelo motor de combustão interna - esse último ainda presente com avançadas características tecnológicas - conheceu também uma revolução dos meios de comunicação e informação. A eletrônica responsável por essas inovações tem propiciado a fabricação de imagens. A máquina impressora é substituída pelo aparelho de televisão e outras tecnologias eletrônicas, como o DDD, telefone celular e computadores em redes comunicando-se em tempo real. Nesse mundo transformado pelas facilidades de comunicação e interação, podemos nos recordar das palavras do cientista canadense Marshall McLuhan que afirmava: No século XXI, o mundo terá a sua consciência coletiva suspensa sobre a face do planeta, em uma densa sinfonia eletrônica, na qual todas as nações – se ainda existirem como entidades separadas – viverão em uma teia de sinestesiaespontânea, adquirindo penosamente a consciência dos triunfos e mutilações de uns e outros. MCLUAN; POWERS, 1989, p. 95. No passado, as transformações eram fomentadas pelas necessidades do capitalismo, tanto quantitativa quanto qualitativamente, alcançando todas as fronteiras ao refletirem na organização social, no trabalho, na produção e reprodução ampliada do capital nacional.

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A descoberta de que a terra se tornou um mundo de territórios nos quais todos estão ligados e ao mesmo tempo distantes surpreende, encanta e atemoriza, pois isso incide sobre nossos modos de ser, sentir, agir e pensar. E é exatamente sobre isso que este artigo irá discorrer.

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A GLOBALIZAO E SEUS REFLEXOS NA SOCIEDADE

A GLOBALIZAO E SEUS REFLEXOS NA SOCIEDADESILVA FILHO, Joo Bernardo da. Cincias Humanas e suas tecnologias atualidades. Grfica Paulinelli Servios Grficos: Belo Horizonte, 2014

A descoberta de que a terra se tornou um mundo de territrios nos quais todos esto ligados e ao mesmo tempo distantes surpreende, encanta e atemoriza, pois isso incide sobre nossos modos de ser, sentir, agir e pensar.O mundo no mais exclusivamente um conglomerado de Estados-naes, sociedades nacionais, com o predomnio de posturas poltico-econmicas bilaterais e ou multilaterais. As decises no so mais voltadas para os indivduos, para as classes, minorias ou maiorias. Esses segmentos, mesmo sendo muito reais, no mais lideram, e pouco pesam nas decises da sociedade global. Essa sociedade que economicamente se fundamentou no capitalismo desenvolvido na Europa, devido a suas necessidades se internacionalizou por meio do colonialismo do sculo XVI, do imperialismo do sculo XIX e da Globalizao do sculo XX. A Globalizao do sculo XX, diferentemente das outras mundializaes, baseadas na dinmica dos transportes otimizados pelo uso da energia elica, a vapor e, em seguida, pelo motor de combusto interna - esse ltimo ainda presente com avanadas caractersticas tecnolgicas - conheceu tambm uma revoluo dos meios de comunicao e informao. A eletrnica responsvel por essas inovaes tem propiciado a fabricao de imagens. A mquina impressora substituda pelo aparelho de televiso e outras tecnologias eletrnicas, como o DDD, telefone celular e computadores em redes comunicando-se em tempo real.Nesse mundo transformado pelas facilidades de comunicao e interao, podemos nos recordar das palavras do cientista canadense Marshall McLuhan que afirmava:

No sculo XXI, o mundo ter a sua conscincia coletiva suspensa sobre a face do planeta, em uma densa sinfonia eletrnica, na qual todas as naes se ainda existirem como entidades separadas vivero em uma teia de sinestesiaespontnea, adquirindo penosamente a conscincia dos triunfos e mutilaes de uns e outros.

MCLUAN; POWERS, 1989, p. 95.

No passado, as transformaes eram fomentadas pelas necessidades do capitalismo, tanto quantitativa quanto qualitativamente, alcanando todas as fronteiras ao refletirem na organizao social, no trabalho, na produo e reproduo ampliada do capital nacional. Atualmente, a produo, na nova diviso internacional do trabalho, desenvolve-se para servir a um mercado mundial. A fbrica globalinstala-se alm de toda e qualquer fronteira, articulando capital, tecnologia, fora de trabalho, diviso do trabalho social e outras foras produtivas. Para tudo que produzido, desenvolvem-se estratgias para o consumo, envolvendo a publicidade, a mdia impressa e eletrnica, como jornais, revistas, programas de rdio, emisses de televiso, redes sociais, etc. Assim quebram-se as fronteiras, as delimitaes nacionais, e redimensionamse os espaos e tempos. Paralelamente s estratgias de comunicao e informao, agem empresas, mercados, foras produtivas, centros decisrios, alianas e planejamentos de corporaes que avanam sobre municpios, Estados, pases, continentes, ilhas mares e oceanos.

No campo das ideias, o primeiro estmulo para o desenvolvimento da economia de consumo foi dado pelo escocs Adam Smith. Em 1776, o economista publicou o texto A riqueza das naes, no qual defendia que o verdadeiro progresso econmico ocorre quando os indivduos so livres para buscar os prprios interesses. Assim, quando todos agem de forma egosta, a sociedade como um todo se beneficia. Cabe ao Estado interferir o menos possvel nessa dinmica e apenas deixar que as pessoas invistam livremente em seus interesses individuais. Surge ento a teoria que sustenta, at hoje, a essncia do capitalismo.

AZZI, 2013

O mundo Ocidental alcanou esse nvel de complexidade em menos de duzentos e cinquenta anos, quando a tecnologia conquistou o uso do vapor e do ferro para implementar a produo de bens de consumo em 1790. Desde essa data passaram-se vrios ciclos. O ciclo atual da tecnologia dominado pelo uso de transstores, semicondutores, microeletrnica- chip -, robtica, biotecnologia, fibras ticas, etc. As economias nacionais se tornaram interdependentes com seus processos de produo, troca e circulao com a realocao de setores produtivos em regies com estruturas de custos de trabalho mais baixos adquirindo alcance global. Outros aspectos a serem notados so a rpida mudana tecnolgica e a crescente integrao financeira internacional.Culturalmente conhecemos uma sociedade, na qual o pensamento de que uma vida boa e feliz depende inteiramente da quantidade de bens materiais que se podem consumir. Defende-se a ideia de que o bem-estar de uma nao deve ser medido pelos nmeros do Produto Interno Bruto (PIB).

As inovaes tcnicas da Revoluo Industrial permitiram que um grande nmero de pessoas tivesse acesso a bens materiais que estavam nas mos da elite. O princpio de democratizao do consumo foi levado adiante por Henry Ford, um norte-americano que, ao criar sua companhia, em 1901, tinha como objetivo que todas as classes pudessem adquirir um carro, at ento um artigo de luxo. Ford realizou seu desejo em 1908, com o lanamento do primeiro Modelo T, um automvel resistente, barato, simples de dirigir e fcil de consertar.

Com o tempo, as transformaes originadas com a democratizao do consumo levaram as empresas a investirem cada vez mais no aumento da demanda em busca da manuteno de seus lucros. Assim empresas de propaganda precisavam fazer com que as pessoas quisessem comprar coisas novas mesmo que as coisas antigas ainda estivessem funcionando. Acabava a era do consumo que servia para suprir as necessidades e inaugurava-se o constante estmulo aquisio de bens materiais, passando a medir o nvel de desenvolvimento dos pases. Curiosamente, a chave para a prosperidade econmica passou a estar na insatisfao organizada, pois, se todos estivessem satisfeitos, ningum teria interesse em comprar coisas novas. A insatisfao social seria organizada de duas maneiras: a obsolescncia dos produtos e a propaganda.Deparamos, assim, com polticas de Estado que estimulam a populao a consumir, deixando a entender que o sucesso de uma sociedade ou de um indivduo medido simplesmente pela quantidade de produtos consumidos. Esse pensamento tem gerado consequncias mltiplas, como prejuzo sade dos indivduos, o aumento da desigualdade social e a degradao do meio ambiente.

A obsolescncia dos produtos faz parte de uma estratgia de mercado que pretende manter o consumo constante fazendo com que os produtos tenham uma vida til menor. Outra estratgia das empresas o lanamento no mercado de novos modelos com mnimas atualizaes, apenas com o objetivo de tornar obsoletos os produtos anteriores. Assim, os consumidores sentem a necessidade de se manterem sempre atualizados com bens de ltima gerao, descartando produtos antigos, ainda que estejam em funcionamento.

Um exemplo de obsolescncia percebida oIpod:lanado em 2001,o pequeno aparelho j havia passado por seis geraes em 2009, levando-se em conta apenas o modelo clssico. Se incluirmos as variaes do mesmo produto, como o Shuffle, o Nano, o Minie o Touch, so impressionantes 24 modelos de um mesmo produto, tudo isso em apenas 11 anos. A obsolescncia corri o tempo da histria, o tempo dos grandes ciclos e os ciclos da vida humana: foram necessrios 500 mil anos para se passar do fogo arma de fogo e, depois, muito pouco tempo para se passar do automvel ao avio. Essa acelerao do tempo provoca o desaparecimento dos objetos, mesmo no interior de uma vida humana, que vo sendo substitudos por outros.

Amplos so os reflexos desse comportamento tanto das empresas como das pessoas que so induzidas a consumir. As prticas comerciais aumentaram, de forma drstica, a demanda por recursos naturais e aceleraram a produo de lixo. Cada vez mais computadores, celulares e eletrodomsticos, ainda em pleno funcionamento, so descartados.

Referncias

AZZI, Rafael. O que podemos aprender com os hippies e punksOutras Palavras: Comunicao compartilhada e Ps-Capitalismo. Disponvel em: . Acesso em: 20 maio. 2013.

MACLUAN, Marshall ; POWERS, Bruce R.. The Global Village. Nova York: Oxford University Press, 1989.OLIVEIRA, Priscilla. Governo lana nova poltica de tributos sobre a produo automotiva no pas. Disponvel em: . Acesso em: 25 maio 2013.