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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLSSICAS E VERNCULAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM FILOLOGIA E LNGUA
PORTUGUESA
Vanderlei Gianastacio
A presena do sufixoismonas gramticas da lngua portuguesa e sua abrangncia dos
valores semnticos,a partir doDicionrio de Lngua Portuguesa Antnio Houaiss.
So Paulo
2009
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2 UNIVERSIDADE DE SO PAULOFACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANASDEPARTAMENTO DE LETRAS CLSSICAS E VERNCULAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM FILOLOGIA E LNGUA
PORTUGUESA
A presena do sufixoismonas gramticas da lngua portuguesa e sua abrangncia dos
valores semnticos,a partir doDicionrio de Lngua Portuguesa Antnio Houaiss.
Vanderlei Gianastacio
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
graduao em Filologia e Lngua Portuguesa doDepartamento de Letras Clssicas e Vernculas
da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias
Humanas da Universidade de So Paulo, para
obteno do ttulo de Mestre em Letras.
Orientadora:
Prof. Dra. Valria Gil Cond
So Paulo
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3 DEDICATRIA
minha filha Beatriz Yurie Kakugawa Gianastacio e
minha esposa Harumi Kakugawa Gianastacio que, com
pacincia, permitiram que eu tivesse tempo para esta pesquisa.
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4 AGRADECIMENTOS condescendncia daqueles que contriburam para a consolidao desta pesquisa:
A Deus, pela vida, sade e oportunidade de estudar.
A minha orientadora e amiga, Dra. Valria Gil Cond que, com pacincia e sabedoria,
apontou as direes para que esta pesquisa fosse realizada.
Ao Grupo de Pesquisa Morfologia Histrica do Portugus, cuja existncia proporcionou o
contato com a lista de palavras e suas acepes do sufixo ismo, em especial, ao Dr. Zwinglio
O. Guimares Filho, do Instituto de Fsica da Universidade de So Paulo, pela elaborao da
planilha e do grfico que serviram de instrumentos para este estudo.
Aos docentes, Profa. Dra. Clarice Assalim e Prof. Dr. Mrio Eduardo Viaro, cuja participao
no exame de qualificao trouxe sugestes relevantes e importantes para essa pesquisa.
Ao Prof. Dr. Mrio Eduardo Viaro por seu auxlio e indicaes de obras.
amiga Nilsa Aren-Garcia por suas informaes e indicaes de obras para esta pesquisa.
Ao professor de lnguas grega e hebraica, Jos Furtado Fernandes Filho, que me auxiliou na
pesquisa das palavras de lngua grega.
Aos meus pais, sogros e familiares que sempre me apoiaram nestes estudos.
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5 RESUMOEsta pesquisa tem o objetivo de entender os valores semnticos do sufixo ismo, num
estudo diacrnico, trabalhando com dados etimolgicos encontrados noDicionrio Houaisse
avaliando a formao de vocbulos nas diversas categorias. Para uma melhor compreenso do
sufixo ismo, observou-se sua origem, bem como sua produtividade, na lngua grega.
Atentou-se para a sua transio do grego para o latim e para o processo de formao de
palavras nesse idioma. Considerou-se a presena de vocbulos de origem grega, no latim, ora
transliterados, ora formados no latim, mesmo sem encontrar nas gramticas desse idioma o ismoclassificado como sufixo.
A passagem desse sufixo para a lngua portuguesa um fato constatado, porm o
estudo do ismo no aparece nas primeiras gramticas de lngua portuguesa. Para isso,
analisaram-se as gramticas portuguesas, iniciando por Ferno de Oliveira e, assim, percebeu-
se que o primeiro gramtico de lngua portuguesa a estudar o sufixo ismofoi Julio Ribeiro.
Uma vez que esta obra produzida antes da data que marca o incio do estruturalismo,
verificaram-se as afirmaes de Humboldt percebendo que, mesmo antes da obra de
Ferdinand de Saussure, Curso de lingustica geral, j havia pensamentos voltados para o
estruturalismo, algo que influenciou Julio Ribeiro.
Com base em um corpus de duas mil, trezentas e quarenta e trs palavras (2.343),
analisou-se a etimologia desses vocbulos, recorrendo aos dicionrios de grego, latim,
espanhol, ingls, italiano e francs, confrontando com as informaes encontradas em
Houaiss. Alm disso, contrastou-se a datao das palavras formadas com o sufixo ismo,
apresentadas em Houaiss, com o stio na internet denominado Corpus do Portugus. Dessa
forma, concluiu-se que o sufixo ismo apresenta uma diversidade de valores semnticos
adquiridos em sua trajetria diacrnica formando, assim, substantivo de substantivo,
substantivo de adjetivo e substantivo de verbo.
Palavras-chave: gramtica, derivao, semntica, morfologia histrica, sufixos derivativos
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6 ABSTRACTThe objective of this research is to understand, by means of a diachronic study, the
semantic diversity of the suffix ismand to evaluate the formation of various types of words,working with the etymological information found in the Houaiss dictionary. In order to
understand better the suffix ism, its origin and uses in Greek were observed. Attention was
given to the transition from Greek to Latin and the process by which words in these languages
were formed. The presence of Latin words of Greek origin, either transliterated or of Latin
formation, were considered, even if the ism suffix was not found in the grammars of these
languages.
The transfer of the ism suffix to the Portuguese language is an established fact.
However, the study of the suffix ism does not appear in the first Portuguese languagegrammars. For this reason, Portuguese grammars, starting with Ferno de Oliveira, were
analyzed. It was shown that the first Portuguese grammar to study the suffix ismwas that of
Julio Ribeiro. Noting that this grammar was produced before the beginning date of
structuralism, the affirmations of Humboldt were verified, showing that even before
Ferdinand de Saussures work, Curso de lingstica geral, there were already structuralist
ideas which influenced Julio Ribeiro.
Using a group of two thousand, three hundred and forty-three (2,343) words, the
etymology of each was analyzed, consulting dictionaries in Greek, Latin, Spanish, English,Italian and French, and comparing them with the information found in Houaiss. In addition,
the date of the words formed with the suffix ism, presented inHouaiss, was contrasted with
words found on the site O Corpus do Portugus. It was concluded that the suffix ismpresents
a semantic diversity acquired in its diachronic trajectory, forming nouns from nouns, nouns
from adjectives and nouns from verbs.
Key words: grammar, derivation, semantics, historical morphology, derivative suffixes
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7 LISTA DE ABREVIATURASBDELE - SILVA, Guido Gmez.Breve Diccionario Etimolgico de La Lengua Espaola.
CdP - Davies, Mark and Michael Ferreira. (2006-) Corpus do Portugus (45 milhes de
palavras, scs. XIV-XX). Disponvel em http://www.corpusdoportugues.org.
DAALF REY-DEBOVE, Josette & REY, Alain. Le nouveau Petit Robert: Dictionnaire
Alphabtique et Analogique de la Langue Franaise.
DCELC-Corominas, Joan.Diccionario crtico etimolgico de la lengua castellana.
DCIPPI SPINELLI, Vincenzo & CASASANTA, Mario. Dicionrio completo Italiano-
Portugus (Brasileiro) e Portugus (Brasileiro)- Italiano: com a etimologia das vozes
italianas e portuguesas (brasileiras).
DEI BATTISTI,Carlo &ALESSIO,Giovanni.Dizionario etimologico italiano.
DELI- CORTELAZZO, Manlio.Dizionario etimologico della lingua italiana.
DGF BAILLY, M. A.Dictionnaire Grec-Franais.
DGPPG ISIDRO PEREIRA, S. J.Dicionrio grego-portugus e portugus-grego.
DPEALMOYNA, Julio Martnez.Dicionrio de Portugus-Espanhol.
DPIIP PARLAGREGO, Carlo & CATTARINI, Maria. Dizionario Portoghese Italiano,
ItalianoPortoghese.
DUPB - BORBA, Francisco S.Dicionrio de usos Portugus do Brasil.
GDPFAZEVEDO, Domingos de. Grande Dicionrio Portugus / Francs.
http://www.corpusdoportugues.org/ -
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8 GLL - SOUTER, Alexander.A glossary of later Latin to 600 A.D.NMDI WIMMER, Franz.Novo Michaelis: dicionrio ilustrado portugus-ingls.
ODEE - ONIONS, C. T. The Oxford Dictionary of English Etymology.
OED-SIMPSON, J. A. & WEINER, E. S. C. The Oxford English Dictionary.
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9 S U M R I OIntroduo.....................................................................................................................10
1. Osufixoismo: sua formao dogrego ao latim e a sua
presenanas gramticas de lngua portuguesa..............................................13
1.1Sufixao e prefixao.................................................................................13
1.2A lngua grega..............................................................................................20
1.3 O sufixomsna lngua grega e sua transio para o latim.......................21
1.4 O sufixoismo: do latim para o portugus.................................................291.5A presena do sufixoismonas gramticas de lngua portuguesa..............35
1.6Agramtica de Jlio Ribeiro.......................................................................39
1.7A produo gramatical e o sufixoismoaps Jlio Ribeiro........................44
2. Sufixoismo: anlise semntico-categorial...................................................69
2.1 Classe relacional..........................................................................................71
2.1.1 Classe relacional TIP (tipicidade)................................................75
2.1.2 Classe relacional SEM (semelhana)...........................................762.1.3 Classe relacional ATV (atividade)................................................77
2.1.4 Classe relacional QNT (quantidade).............................................77
2.1.5 Classe relacional DOE (doena)....................................................78
2.1.6 A classe relacional FIL (filiao)..................................................78
2.2 Classe de ao..............................................................................................79
2.2.1 A classe de ao TRS (transitivo).................................................80
2.2.2 Classe de ao INS (instrumento).................................................80
2.2.3 A classe RES (resultado)..............................................................81
2.3 Valores Avaliativos........................................................................................81
2.3.1 Valores Avaliativos RES+............................................................81
2.3.2 Valores avaliativos PSS+..............................................................82
3. Discusso acerca de supostos neologismos no portugus,
segundo Houaiss...............................................................................................83
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10 4. Vocbulos com sufixo -ismoe suas dataes em Houaiss...........................108Consideraes Finais............................................................................................125
Bibliografia...........................................................................................................135
Apndice A Os objetivos das gramticas de lngua portuguesa
produzidas entre 1536 e 1881 e a ausncia do sufixoismo............................149
ApndiceB- A produtividade e a classificao dos vocbulos com o
sufixoismona histria, segundo Houaiss, a partir da anlisesemntico-categorial..........................................................................................163
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11 IntroduoO Grupo de Pesquisa Morfologia Histrica do Portugus, coordenado pelo professor
Dr. Mrio Eduardo Viaro, da Universidade de So Paulo, observou que houve uma evoluodos verbetes criados com o sufixoismona histria da lngua portuguesa percebendo que, no
sculo XVI, no passava de dez mil vocbulos com ismono lxico portugus, segundo a
datao de Antonio Houaiss. O Dr. Zwinglio O. Guimares Filho e o graduando Leandro
Mariano, participante do Grupo de Pesquisa de Morfologia Histrica (GPMH),utilizando o
DicionrioHouaiss de Lngua Portuguesacomo corpus, selecionouos verbetes terminados
em ismo e produziu grficos que demonstraram, de forma cronolgica, as datas que os
vocbulos com esse sufixo entraram para o lxico portugus (Figuras 1 e 2).
Segundo Said Ali (1971, p. 243), vrios vocbulos formados com ismo tm suaorigem na Idade Mdia. Destes, alguns tiveram origem na lngua grega e foram vulgarizados
por meio da Igreja Crist. Nos sculos XVIII e XIX, o movimento intelectual que ocorreu em
Frana influenciou a lngua portuguesa, a qual, alm de receber vocbulos com esse sufixo,
formados em outros idiomas, tambm passou a produzir novas palavras com o -ismo, a partir
do seus derivantes nacionais. O fato de existirem, em grande quantidade, vocbulos que
terminam com -ismo nos dicionrios de lngua portuguesa e, tambm, percepo a sua
produtividade da atual, despertou-se o interesse por entender qual a origem desse sufixo,
como e quando ele surgiu nas gramticas de lngua portuguesa e qual a sua abrangnciasemntica na atualidade.
Para tal pesquisa trabalhou-se, no primeiro captulo, a etimologia do sufixo. Houve
dificuldade para entender a sua origem, visto que as gramticas de lngua portuguesa afirmam
que o sufixo ismo teve origem na lngua grega, ou no sufixo grego ismos, ou isms. A
dificuldade surgiu por no encontrar esse sufixo, tal como mencionado nas gramticas de
lngua portuguesa, nas gramticas gregas. Percebeu-se, ento, que o sufixo no grego no
ismo,ouismos, e sim,ms.
No segundo captulo, entendendo que a lngua portuguesa tem sua origem na lngua
latina, a pesquisa consistiu, obrigatoriamente, em observar a transio desse sufixo do grego
para o latim. Notou-se que, na lngua latina, esse sufixo apareceu de forma diferente nas
terminaes de palavras. Dada a sua produtividade na lngua portuguesa, fez-se necessrio
observar as gramticas latinas, para entender se ismusfoi um sufixo na lngua latina. Aps
essa fase, a pesquisa voltou-se para a transio do sufixo ismus, em latim, para a lngua
portuguesa, -ismo, considerando-se o contexto sociocultural de Portugal e do Brasil, no
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12 momento da produo das gramticas. Ao perceber que o sufixo ismo no aparece nasgramticas de lngua portuguesa, antes de Jlio Ribeiro, e que os estudos morfolgicos daspalavras tm sua origem no estruturalismo, entendeu-se a necessidade de estudar o contexto
sociocultural tanto de Portugal como do Brasil, no momento em que a gramtica de JlioRibeiro foi produzida. O objetivo da pesquisa da sociedade brasileira e portuguesa, no perodo
de produo gramatical, tem a finalidade de analisar como os elementos culturais e filosficos
influenciaram os autores e sua percepo da lngua portuguesa e da gramtica.
Para compreender essa influncia, trabalhou-se com o linguista alemo Wilhelm von
Humboldt, cujas ideias influenciaram muitos escritores da poca, motivando neles o estudo
morfolgico das palavras. Notou-se que Humboldt escreveu suas teorias na rea da
lingustica,antes de Jlio Ribeiro, o qual, por sua vez, escreveu antes de surgir a obra Curso
de lingustica geral, de Ferdinand de Saussure, marco do estruturalismo. Constatou-se que ainfluncia do estruturalismo encontrada na obra de Jlio Ribeiro no tem sua base em
Saussure. Para poder entender as ideias do alemo Humboldt, recorreu-se tese de doutorado
de Sebastio Elias Milani, Humboldt, Whitney e Saussure: Romantismo e Cientificismo-
Simbolismo na histria da Lingustica,apresentada Universidade de So Paulo em2000.
Uma vez que esse sufixo no aparece nas primeiras gramticas de lngua portuguesa,
fez-se uma averiguao nas gramticas produzidas na histria da lngua portuguesa .
Considerou-se o prefcio de cada gramtica e os captulos que tratavam de etimologia, para
encontrar algum estudo morfolgico. Ao analisar as gramticas produzidas na histria dalngua portuguesa, notou-se que os objetivos dos autores estavam relacionados tanto com o
pblico alvo, como tambm com os aspectos poltico, religioso e, at mesmo, comercial. Foi
possvel perceber, neste captulo que, nem sempre, o interesse da produo de uma gramtica
consistia somente no aprendizado da lngua.
No terceiro captulo, privilegiou-se a anlise semntico categorial do sufixo ismo,
luz da classificao semntica dos significados encontrados nos sufixos, organizada pelo
Grupo de Pesquisa Morfologia Histrica do Portugus (GMHP), que cadastrado no
Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPQ) e coordenado pelo
professor Dr. Mrio Eduardo Viaro. Sem recorrer a um fundamento terico singular, o GMHP
considerou a obra deGraa Maria Oliveira Silva Rio-Torto,Morfologia derivacional: teoria e
aplicao ao portugus(1998), visto que esta apresenta informaes de anlise semntica na
formao de palavras. Desta forma, ao perceber o significado do sufixo, o GMHP classificou
as duas mil, trezentas e quarenta e trs (2.343) palavras com o sufixo ismo, encontradas no
Houaiss (2007), segundo a datao, relacionando-as com a classificao sufixal. Isto
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13 objetivou o entendimento de como ocorreu a produo de vocbulos com o sufixo ismo esuas classificaes e, tambm, como esse processo ocorreu na histria.No captulo quatro, a ateno voltou-se para exemplos de palavras com etimologia
opaca, encontradas no dicionrio Houaiss. Ao comparar o vocbulo correspondente em outrosidiomas, foi possvel perceber, por meio de datao, a possibilidade de alguns vocbulos
terem surgido, na lngua portuguesa, como emprstimo de outros idiomas, principalmente, as
lnguas romnicas. Durante a pesquisa, consultando outros corporano foi difcil encontrar
dataes diferentes do Houaiss em vocbulos formados com o sufixo ismo. Por esse
motivo, optou-se por trabalhar o captulo cinco, comparando as datas do dicionrio Houaiss
com a do Corpus de Lngua Portuguesa(CdP). Notou-se, ento, a diferena de corpusa que
ambos recorreram e os resultados para as datas dos vocbulos.
Entendendo que esse sufixo continua sendo produtivo, na atualidade, ana lisaram-sestios da internet para perceber a sua presena, em que contexto e em que rea ele utilizado.
Assim detectou-se que vrios neologismos so formados ainda hoje, apesar da pouca
produtividade, mas em relao ao sculo XIX, o sufixoismotem produtividade considervel,
merecendo pesquisa.
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14 1. O sufixoismo: sua formao do grego ao latim e a sua presena nas gramticas delngua portuguesaPara pesquisa do sufixo ismo, faz-se necessrio o estudo da morfologia que aborde a
sufixao, com o objetivo de analisar as palavras separadas, no abrangendo a sua funo na
orao. Dessa forma, o estudo morfolgico analisa as classes de palavras. Alm disso, no
estudo, pode-se optar por entender os morfemas e o seu valor como a menor unidade
gramatical a ser identificada.
1.1Sufixao e prefixao
O homem vive em um mundo que sofre mudanas constantes, as quais so percebidaspelas alteraes na sociedade com a formao de novas realidades, forando-o a flexibilizar-
se na sua lngua. Como consequncia dessas adaptaes, novas palavras so formadas e a
forma de entender esse processo se d na descrio e na anlise da estrutura externa da
palavra, o fracionamento da mesma em morfemas e a observao de quais so os modelos
ativos e disponveis, para que novos vocbulos sejam formados (VILELA, 1994, p. 55). No
se pode dissociar cultura, sociedade e lngua, afinal, elas interagem a todo tempo, produzindo
um processo complexo e nico(BARBOSA, 1981, p. 158).
Na constituio do lxico, a formao de palavras um processo relevante. Talprocesso ocorre, quando h uma relao entre o lxico e as propriedades de natureza
referencial, ou entre o lxico e as propriedades afetivas ligadas s palavras e aos seus aspectos
referentes como marcas diatpicas, diastrticas e diafsicas. A complexidade que aparece na
formao de palavras, seja na constituio denotacional ou conotacional, tambm est
presente no aspecto terico. As entidades lexicais denominadas por Vilela, tais como as bases,
os afixos e as palavras, compem os elementos principais para a formao de novos
vocbulos. Dessa forma, a morfologia trabalha com a estrutura interna das palavras. Segundo
o autor, a formao de palavras est relacionada com o resultado das transformaes
semnticas (VILELA, 1994, p. 51).
O fato de os nomes representarem coisas ou seres, e os verbos, processos, no tem sido
aceito pelo argumento filosfico, pois na filosofia, diferente do argumento lingustico,
entende-se que impossvel separar os processos e os seres no universo biossocial. A posio
lingustica defendeu a tese de que nomes como julgamento, viagem ou consolao, por
exemplo, so atividades, entendidas como processos. Para Cmara Jr., essas palavras so
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15 consideradas, na lngua, nomes e, por sua vez, associados s coisas (CAMARA JR., 2004, p.78).Vilela (1994, p. 52) entende que o estudo de formao de palavras pertence ao campo
da lingustica que identifica, descreve e analisa as combinaes de morfemas. Essascombinaes no so apenas livres de construes sintticas, pois elas conceituam o que a
palavra. Entendida como produto global, a palavra abrange o nvel fontico-grfico, o
morfolgico, o sinttico, o semntico lexical e o enunciativo-pragmtico. Como exemplo,
Vilela apresenta a recategorizao do gnero de algumas palavras, como cigarroque, sendo
do gnero masculino, passa para o feminino no vocbulo derivado, cigarrilha. O mesmo
ocorre com o vocbulo mulher, pois passa para o masculino em mulhero.
Para o estudo de formao de palavras o autor tem, como pressuposto, o conceito de
palavra conforme a unidade semntico lexical. Alm disso, ele faz uma distino entre lexemade morfemas lexicais e gramaticais. Esse axioma fundamentado no significado lexical do
vocbulo, como consequncia dos elementos que o formam, destacando a base, os afixos e o
paradigma formativo. Na sua compreenso do significado lexical da palavra derivada, entende
que esta pode ter os significados literal, figurativo, contextual e enunciativo-pragmtico
(VILELA, 1994, p. 53).
No incio da sua obra, Vilela (1994, p. 54) afirma que o estudo de formao de
palavras pode ser realizado a partir de uma perspectiva diacrnica. Desta forma, a palavra
seria analisada juntamente com os elementos que a constituem em sua trajetria na histria.Para tal anlise, seriam considerados a forma e o contedo. Outra maneira de se estudar a
formao de palavras, explica, seria analisar em todas as palavras do lxico portugus, quais
so as suas bases e os seus afixos. Com esse mtodo, observar-se-ia a evoluo e a semntica
da palavra na histria da lngua na qual est sendo utilizada.
Apresentadas estas formas de estudar a formao de palavras, para a sua pesquisa,
Vilela opta por fazer uma seleo de vocbulos pertencentes denominada classe aberta.
Estes so os que apresentam significao objetiva. So eles: substantivos, adjetivos, verbos e
advrbios. Tal escolha consiste no fato de essas palavras admitirem mobilidade formativa,
algo contrrio das demais. Alm disso, o autor entende a formao delas como um processo
de sistematizao e motivao (diria mesmo, transparentizao) semntica (VILELA, 1994,
p. 54) que trabalha com categorias e estruturas semelhantes s das gramaticais.
Feitas essas observaes, Vilela conceitua morfema como a unidade mnima
portadora de significado, identificvel pela comparao e possibilidade de comutao com os
morfemas constitutivos de outras palavras (1994, p. 55). H morfemas lexicais, gramaticais e
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16 derivativos. Os lexicais so os que pertencem classe aberta, restringindo-se s reas sintticae semntica. Os gramaticais expressam funes gerais como masculino e feminino, singular eplural, alm da concordncia e colocao. Os derivativos so os que apresentam valores
sintticos, significao objetiva e relacional. Dessa forma, um afixo pode possuir valoresdiferentes, dependendo da base em que ele for utilizado para formar nova palavra.
Na formao de palavras, h alguns elementos que so fundamentais, como os
morfemas lexicais, que so considerados bsicos. Outros morfemas so os derivativos, que se
juntam a uma base e operam alterao de categoria gramatical. O exemplo sugerido por Vilela
o vocbulo trabalharque, de verbo, pode assumir a funo de substantivo ou adjetivo, no
caso de trabalhador.Alteraes semnticas tambm ocorrem com os termos derivacionais.
Isso pode ser notado em outro exemplo apresentado pelo mesmo autor, como em escrever,
que tambm de verbo forma a pessoa que atua conforme o verbo. Dessas derivaesmencionadas, a sufixal um processo que enriquece o lxico portugus (VILELA, 1994, p.
59).
Para Sandmann, a prefixao e a sufixao no se limitam apenas a ser elementos que
formam novas palavras, sejam eles antepostos, como o caso de prefixo, ou pospostos, no
caso de sufixo a um radical. Essa diferena , no entanto, uma diferena apenas superficial
(SANDMANN, 1989, p. 11). A diferena principal, prope Sandmann, se d pela funo
desses elementos ou pelo resultado que apresentam. Os prefixos, juntando-se a um radical,
no mudam a classe das palavras. J, os sufixos mudam. Essa mudana de classe gramaticalna sufixao no ocorre apenas com os sufixos aumentativos e diminutivos. O exemplo
apresentado por Sandmann o adjetivo belo que, acrescentando o sufixo eza, forma o
substantivo beleza. Com sufixos tambm possvel formar substantivo de substantivo. Outro
exemplo do autor o substantivo matriz + sufixo aria se forma um outro substantivo
(matrizaria) (SANDMANN, 1989, p. 11).
A posio de dois autores acerca do valor dos sufixos refutada por Sandmann. Este
entende que, na gramaticologia portuguesa, os afixos, dando nfase nos sufixos, so
elementos com menos expresso semntica do que os radicais. A origem dessa postura,
Sandmann encontra em Bechara e em Rocha Lima. Os textos de ambos os autores,
selecionados por Sandmann, mostram que para Bechara ao contrrio dos sufixos, que
assumem um valor morfolgico, os prefixos tm mais fora significativa... (BECHARA,
1989, p. 206) e para Lima ao contrrio dos prefixos, que, como vimos, guardam certo
sentido, com o qual modificam, de maneira mais ou menos clara, o sentido da palavra
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17 primitiva, os sufixos, vazios de significao, tm por finalidade formar sries de palavras damesma classe gramatical (LIMA, 1972, p. 180).Na evoluo da lngua, os fatos ocorridos na sociedade, como fenmenos,
pensamentos, progresso na cincia, entre outros, colaboram para o surgimento de novasexpresses por meio dos substantivos. Sobre esse fato, Fleischer afirma: o domnio
lingustico do meio em contnua mudana requer do homem um desenvolvimento incessante
do vocabulrio. Novos objetos ou fenmenos da vida diria tm de ser designados, novos
pensamentos precisam receber sua roupagem lingustica; novos termos tornam-se necessrios
com o desenvolvimento das cincias (FLEISHER, 1982, p. 09 apudSANDMANN, 1989, p.
33).
Ao observar os estudos de Vilela (1994) e de Sandmann (1989), percebe-se que essas
duas abordagens sobre derivao sufixal so importantes para o estudo acerca do sufixo ismo. No caso do primeiro, alm de ele apresentar a importncia dos afixos na formao das
palavras e as influncias das transformaes semnticas na formao das palavras, Vilela
tambm valoriza o aspecto diacrnico na formao dos vocbulos, visto que as palavras
podem ser analisadas, a partir dos elementos que colaboraram para a sua formao, ao longo
de sua histria. J a abordagem de Sandmann, acerca da sufixao, relevante para a pesquisa
sobre o sufixo ismo, pois esse autor apresenta as mudanas gramaticais provocadas pela
sufixao. Tambm enfatiza que elementos como fenmenos, pensamentos e progresso da
cincia influenciam a sociedade e geram novas expresses por meio dos substantivos. A partirdessa observao, possvel entender a produo de novos vocbulos com o sufixoismopor
causa do progresso da cincia. Esse fato comprovado no Iluminismo e os vocbulos que
surgiram num perodo de novas descobertas na histria da humanidade.
Basilio (1987, p. 26) resume a formao de palavras apenas em derivao e
composio. Explica que a derivao consiste na juno de um afixo, que pode ser um prefixo
ou um sufixo, a uma base. Dessa maneira, Basilio conceitua palavra derivada, quando esta
constituda por uma base e por um afixo. Na derivao, a autora tambm faz meno dos dois
aspectos das palavras derivadas: a forma livre, denominada por ela de forma comum, ou seja,
uma forma que posa por si s constituir um enunciado, como acontece com verbos,
substantivos, adjetivos e advrbios (BASILIO 1987:26), e a forma que ocorre nas derivaes
a partir de bases presas. O exemplo apresentado por ela o vocbulopsicolgico. Nesse caso,
h o acrscimo do sufixoico, que forma adjetivos, basepsicolog-considerada presa.
Baslio (1987:26) entende, ainda, que a derivao est sujeita necessidade de novas
expresses, conforme as categorias nocionais. As funes sinttico-semnticas dos afixos
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18 podem delimitar os usos e significados das palavras que so formadas por meio do processoderivacional, conforme a diversidade de afixos. Por esse motivo, a prpria disponibilidade deum afixo ou de um correspondente processo de adio define a funo correspondente como
sendo uma funo comum dentro da estrutura derivacional da lngua (BASILIO, 1987, p.28).
Hafixos que apresentam ampla produtividade na lngua portuguesa, como no caso da
nominalizao de verbos, ocorrendo a transformao de verbos em substantivos. Em outros
afixos, a produtividade bem restrita, como por exemplo, a funo particular do sufixo ada
no substantivo feijo, formandofeijoada. Neste caso, o sufixo indica o prato preparado com
base no cereal utilizado no prprio prato. Percebe-se que a diferena entre a produtividade de
afixos est relacionada com a classe das palavras e a abrangncia da generalidade. Os sufixos
que apresentam noes como a negao, o grau, a designao de indivduos ou entidadesabstratas so noes bastante comuns e de grande generalidade; conquentemente, esperamos
que processo que incluam tais noes em sua funo sejam altamente produtivos (BASILIO,
1987, p. 29). Com essa anlise de Basilio, nota-se que o sufixo ismo um afixo altamente
produtivo pela sua generalidade.
Para Kehdi (1990, p. 26), o elemento comum s palavras de uma mesma famlia e, por
sua vez, irredutvel, denominado radical. O exemplo apresentado por esse autor o
segmento ferr-. Deste, podem ser construdos vrios vocbulos, tais como, ferro / ferreiro /
ferradura e ferramenta. Nesse caso, o autor evita e designao raiz, pois entende que estmais voltada para uma perspectiva diacrnica. Ao afirmar que nem sempre h uma
coincidncia entre os enfoques sincrnicos e diacrnicos, explica que no exemplo do verbo
comer, o radical com-, assim como nos vocbulos comida e comilo, porm a raiz de comer
ed-(KEHDI, 1990, p. 26)
Antes de tratar dos prefixos e sufixos, Kehdi (op. cit.) expe o seu conceito de afixo.
Este, afirma o autor, o que se anexa ao radical e muda seu sentido. Para esta afirmao,
exemplifica com o verbofazer. Acrescentando-lhe o prefixo des-, forma-se um novo sentido,
desfazer. No exemplo de livroe livreco, tambm apresentado pelo autor, no muda o sentido
da palavra inicial e, sim, acrescenta-lhe uma ideia secundria. Alm desses dois exemplos,
Kehdi justifica que os afixos tambm podem provocar alterao na classe gramatical. O
exemplo para esse caso o adjetivo leal. Acrescentando-lhe o afixo dade, obtm-se um
substantivo, lealdade. H vocbulos que o sufixo no altera a classe gramatical do radical, por
exemplo o substantivo ferreiroderivado de outro substantivo, ferro. Assim como os demais
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19 autores, Kehdi tambm afirma que os afixos utilizados antes do radical so denominados deprefixos e os utilizados depois do radical, de sufixos.Os sufixos nominais podem construir nomes. Os exemplos apresentados por Kehdi so
os sufixosmentoeal. Esses dois sufixos so capazes de formar armamento e mortal. Almda formao de substantivos e adjetivos, o autor tambm lembra que na lngua portuguesa h
vrios sufixos considerados verbais. Os exemplos so: -ejar, -ear, -izar, -e(s)cer, -itar
(purpurejar, galantear, civilizar, florescer, saltitar). Acrescenta ainda que para advrbio
existe apenas o sufixo mente. Este se prende forma feminina do adjetivo: lindamente,
firmemente (KEHDI, 1990, p. 27).
Camara Jr. (2004, p. 82) faz uma distino entre sufixos flexionais, ou desinncias e os
sufixos derivacionais, os quais tm objetivo de formar novos vocbulos. Na derivao, nota-se
que nas palavras no h uma sistematizao obrigatria para uma classe homognea dolxico. O fato de uma derivao aparecer para um dado vocbulo, no significa que ela
aparece para um vocbulo congnere. O exemplo do autor o verbo cantar. Deste, pode-se
construir cantarolar, j com verbos anlogos, falar e gritar, isso no ocorre, visto que so
outros tipos de atividades da voz humana. Entende-se assim, que os processos de derivaes
so variados e desconexos, pois nem todos os verbos apresentam nomes derivados deles.
Algo diferente ocorre na flexo. Para que esta ocorra, existe uma sistematizao e at
uma obrigatoriedade. Esses dois aspectos so impostos pela prpria natureza da frase, pois
ela que obriga o uso de um substantivo no plural ou de um verbo em seu determinado modo,tempo e pessoa. Alm disso, outro fator presente na lngua portuguesa a concordncia, que
abrange o nmero, singular e plural; o gnero, masculino e feminino. Com essa explicao
acerca da flexo e da derivao, esta, afirma Cmara Jr. (2004, p. 82), pode formar um novo
vocbulo. Para os vocbulos derivados, existe o que ele denomina de relaes abertas, o
contrrio das relaes fechadasque tm sua base na gramtica.
Depois de explicar como os estruturalistas conceituaram morfema, uma unidade
mnima significativa, e como os gerativistas reagiram a esse conceito, uma unidade mnima
sem significado, Baslio (1980, p. 41) faz a seguinte abordagem acerca dos sufixos: eles so
marcadores de categorias lexicais maiores, mas isto no incompatvel com a afirmao de
que sufixos podem adicionar significados especficos a suas bases (BASILIO, 1980, p. 41).
Alm disso, a autora esclarece que em alguns casos os sufixos aparecem como marcadores
sintticos e desempenham uma funo secundria. Baslio exemplifica esse caso com o sufixo
diminutivoinho. Adicionado a uma base, ele comunica o sentido diminutivo. Sendo assim,
tanto o vocbulo que recebe o sufixo, como a palavra que resultado desse acrscimo sufixal
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20 so nomes. Por mais que o inhose apresente como um marcador sinttico, afirma a autora,esta no a sua funo primria.Com essa anlise, Baslio (1980, p. 41) conclui que os morfemas no so
caracterizados pela presena de um ou outro significado, e sim, que a maior parte dosmorfemas apresenta significados especficos. Segundo a autora, o erro dos estruturalistas foi
dizer que os morfemas sempre tm significado, uma posio extremada. Tal postura provocou
a reao oposta dos gerativistas que, tambm, segundo Baslio, fadada ao fracasso. A teoria
da morfologia derivacional enfrenta o problema relacionado aos fatores de semntica. Isso
significa que no se pode atribuir significado especfico para cada componente morfolgico,
num grande nmero de construes. Para Baslio, esta no uma questo de fcil resoluo.
O que se pode afirmar, no momento, que uma posio extremada bloqueia as pesquisas que
podem fazer novas descobertas em relao a esse problema. Sabe-se que o estudo de mudanado significado das palavras algo estudado pelos linguistas e, at mesmo, pelos antigos.
Desde que haja busca de significado real das palavras, pressupe-se que elas sofram
alteraes nos seus significados.
At mesmo na estilstica os sufixos apresentam seus valores, pois alm dos conceitos e
funes mencionados pelos autores, Lapa (1973, p. 83) afirma que os sufixos so mais
relevantes que os prefixos em estilstica. Defende esta posio, ao afirmar que eles
acrescentam quase sempre palavra simples uma ideia puramente intelectual. Ele entende
que as expresses afetivas so mais presentes nos sufixos. Os sentimentos que vulgarmenteagitam a nossa alma e que se resumem, afina, no amor e na averso que manifestamos de
ordinrio pelas coisas e pelas pessoas, refletem-se perfeitamente em alguns sufixos (LAPA,
1973, p. 83).
O exemplo escolhido pelo autor o vocbulo livro. Em seis frases, Lapa demonstra
como alguns sufixos, acrescentados base, livro, modificam-na sentimentalmente. O seu
primeiro exemplo com o sufixo inho: l este livrinho: contm preciosas lies; o
segundo exemplo com o sufixo ito. Assim escreve: deu-lhe um livritopara ler nas suas
horas vagas; o terceiro exemplo com o sufixoeco: o pai repreendeu o filho por ler aquele
livreco; o quarto exemplo, com o sufixo rio: na mesa, estava um livrrioque ningum
lia; o quinto exemplo com o sufixoada: havia por toda a sala livralhadasem fim e por
ltimo, apresentou o sufixoesco: o seu saber para nada servia, era todo livresco.
Na sua explicao para os sufixos utilizados como recurso na estilstica afirma que, no
primeiro exemplo, o sufixo inho trouxe ao vocbulo no um significado voltado para
pequenez, mas mais para a ternura, simpatia, graciosidade, ou seja, algo querido, apreciado.
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21 Esse aspecto do sufixoinho mais notvel em vocbulos comopaizinho, mezinha, que nosignificampai pequenoou me pequena. No segundo exemplo, o vocbulo livritoapresenta osignificado de livro pequeno. um sufixo que no tem o mesmo valor afetivo de inho,
podendo introduzir sentimento de brandura ou depreciao.J, o sufixoeco, caso do terceiroexemplo, demonstra a qualidade do livro, com desprezo ou antipatia. Tal sufixo abrange,
tambm, o sentido pejorativo, como em padreco. No quarto exemplo, em livrrio, o
significado de um livro grande, mas de pouco valor. No quinto exemplo, o sufixo ada
suscita a ideia de coletivo, mas o morfema alho, a ideia de depreciao. Por isso, na palavra
livralhadaencontram-se as seguintes unidades semnticas: conceito de livro + de mau livro +
de muitos livros. E o sufixo esco, no ltimo exemplo, sugere uma ideia desvalorativa.
Percebe-se esse significado, quando o mesmo sufixo utilizado em palavras como grotesco,
soldadesca, fradescoepedantesco(LAPA, 1973, p. 85).
1.2 A lngua grega
No estudo do sufixo ismo, encontrado nas gramticas atuais de lngua portuguesa,
observou-se que na lngua grega era utilizado o sufixoms, em grego , e no o prprio
ismo ou isms, como encontrado nas gramticas atuais de lngua portuguesa. Na lngua
grega, esse sufixo formava substantivos deverbais de ao que, na histria dos povos, passou
para a lngua latina em forma de ismus. Nesta, encontraram-se vocbulos com a terminaoem ismus, mas no foi encontrado esse sufixo nas gramticas de lngua latina, como
elemento produtivo.
de conhecimento geral que o sufixoismoteve origem no idioma grego. O idioma
a modalidade da linguagem, privativa de um determinado grupo social, para servir
intercomunicao dos indivduos que o compem, mas que tambm o veculo de expresso
das vivncias prprias e unvocas de cada pessoa, em seu relacionamento com o mundo
exterior. Pesquisas realizadas a respeito da lngua grega, demonstram que sua origem deu-se
no indo-europeu. Incomodado com esse assunto, Horta (1978, p. 13)perquire a origem dos
idiomas, considerando as diferenas da lngua grega. Suas observaes so a respeito da
uniformidade do grego que no aparece em nenhum momento da histria, a no ser nos
perodos mais tardios. Outro detalhe de sua pesquisa a relao existente entre o grego e o
latim, uma vez que os idiomas neolatinos apresentam formaes cunhadas no grego. A sua
ateno volta-se para a possibilidade do contato entre os dois povos, grego e romano, e o
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22 porqu de ambos os idiomas apresentarem aspectos lingusticos, como se a origem dessesidiomas fosse deuma mesma raiz, alngua indo-europeia.Do ponto de vista lingustico, a relevncia deste assunto para esta pesquisa a origem
do sufixo ismo, mesmo que no grego, ainda como sufixo -ms, faa-se necessrio entendercomo o sufixo ismo foi utilizado na formao das palavras. O grego, assim como muitas
outras lnguas extintas e vivas, da Europa e da sia Ocidental, faz parte da grande famlia
das lnguas indo-europeias (RIBEIRO JR., 1998, p. 60). As populaes conhecidas hoje
como indo-europeias chegaram sia Ocidental e ao sudeste europeu no final do Neoltico,
que abrangeu do ano 6000 a 2900 a.C., ou no incio do Bronze Antigo, do ano 2900 a 2000
a.C. A mistura entre o indo-europeu primitivo, e a lngua falada pelas populaes locais
originou diversos idiomas. Alguns deles existiram somente na Antiguidade; outros existem
at hoje. (RIBEIRO JR., 1998, p. 60).Ainda em relao lngua grega,considerar as palavras de Horta(1978, p. 26):
To poderoso foi o carter de originalidade dessa lngua, que logroupreservar-se quase por completo de influncias estranhas. Seu lxico, especialmentemostra-se dos mais isentos de contaminao estrangeira, pois alguns poucoselementos, recebidos de populaes pr-helnicas, ou de emprstimos resultantes decontatos comerciais, logo cedo foram assimilados.
Esta posio de Horta diferente de outros estudiosos que entendem que, em torno de
2200 a.C., existiu apenas um dialeto, o grego comum. Desta lngua surgiram os demaisdialetos. H outros pesquisadores que sustentam a posio de que nunca existiu um nico
dialeto grego pois, historicamente, entende-se que a cultura grega foi o resultado de uma
diversidade de culturas, principalmente do perodo Neoltico Idade do Bronze (RIBEIRO
JR., 1998, p. 60).
Como outras lnguas e dialetos que existiram no passado, o grego foi muito utilizado e
passou por diversos perodos. Novos dialetos surgiam, dependendo da cultura e da poca.
Independentemente destas questes, o sufixo ismo, objeto de estudo nesta pesquisa,
colaborou para a formao de novas palavras.
1.3 O sufixomsna lngua grega e sua transio para o latim
Ao observar a lngua grega e seus dialetos, faz-se necessrio entender como o sufixo
ms passou para o latim emismus. Para isto, uma breve abordagem da influncia da cultura
grega na cultura romana auxilia na compreenso desta transio e do uso do sufixo ismono
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23 passado. Florenzano lembra que tal como a histria dos gregos, tambm a dos romanoscomeou pelo desenvolvimento de instituies polticas assentadas na cidade e elaboradas embenefcio de uma comunidade de homens livres - os cidados - proprietrios de terras e que
reivindicavam a descendncia direta dos fundadores de sua ptria (1982, p. 56). Estespovos,por vrios motivos, mantiveram contato entre si. No sculo II a.C., alguns negociantes
italianos, romanos e no-romanos, estabeleceram-se em Delos e em outros emprios
comerciais do Mundo Helnico. Algumas colnias romanas foram plantadas no Sul da Grcia,
na Macednia e na Trade por Jlio Csar e Augusto. Mas todos esses intrusos foram
exterminados, expulsos ou absorvidos (TOYNBEE, 1981, p. 52).
Afinal, quando Roma foi fundada, a pennsula Itlica era ocupada pelos gregos, na
regio sul, pela conhecida Magna Grcia, pelos gauleses ao norte e pelos estrucos-latinos ao
centro.No passado, a relao entre romanos e gregos sempre existiu, como afirma Bunse:desde os comeos de Roma existiram relaes culturais entre os romanos e os gregos do sul
da Itlia (1943, p. 50). Esse contato entre eles nem sempre foi de bom relacionamento, pois
no ano 275 a.C., iniciou-se, em Roma, o perodo das conquistas. Pelos meados do sculo IV
a.C., os romanos no estavam contentes com o espao geogrfico onde viviam. At mesmo as
colnias gregas localizadas na Itlia aceitaram a dominao romana. Foi, assim, que o
helenismo, j conhecido em Roma, por causa do seu prestgio e da sua difuso, quase
comprometeu o futuro do latim (FARIA, 1955, p. 15).
Os romanos dominaram as cidades gregas que estavam localizadas ao sul da Itlia. Jno ano 149 a.C., eles tinham ocupado a Espanha e partiram para destruir Cartago e, nesse
mesmo perodo, as tropas romanas conquistaram a Grcia. Mas, incapazes de oferecer
cultura fundo e forma nacionais, os romanos viram-se obrigados a recorrer cultura grega,
cuja influncia venceu a resistncia mesmo dos crculos conservadores que temendo uma
perda de prestgio - no queriam, exteriormente, deixar-se influenciar. E a esta influncia
grega, que se firmou e conquistou o ambiente cultural em Roma, costumamos chamar
helenizao (BUNSE, 1943, p. 51). No ano 133 a.C., Roma assumiu o total controle do
mar Mediterrneo. Em meio a essas guerras e conquistas no deixou de existir a produo
literria.
Faria (1955, p. 15) intensifica esta posio, quando afirma que o grego representa, na
formao da literatura latina, um papel importante, devido ao aperfeioamento do latim, seja
na civilizao, seja na lngua literria. Este tambm o pensamento de Bunse (1943, p. 50),
quando prope que a cultura grega exerce influncia na antiga Itlia e, como consequncia, na
lngua e na cultura latinas. Esse fato pode ser destacado na linguagem do povo, permanecendo
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24 a influncia grega dissimulada em atitudes e costumes tradicionais entre os patrcios. Defato, o latim no tinha necessidade de copiar elementos estruturais do grego. Nenhuma lnguaimita to servilmente a outra, a no ser que chegue a tal estado de dependncia cultural, que
perca toda a sua individualidade, o que s acontece quando ela est em vias de serinteiramente absorvida por uma lngua de maior prestgio (MAURER JR.,1962, p. 159).
Para Hooker (1996, p. 14), antes mesmo dos romanos serem influenciados pelos
gregos, os etruscos escreveram sua prpria lngua, que no se parecia nem com o grego, nem
com o latim. Seu alfabeto foi adaptado ao modelo grego no sculo VII a.C., o que ocorreu
com o alfabeto grego, que tinha sido adaptado do alfabeto fencio. O autor continua:
A lngua etrusca, at oincio o Imprio Romano (27 a.C.), era grafada em seuprprio sistema de escrita; porm, muito antes disso, havia sido eclipsada em
importncia pelo latim, a fala do Lcio usada na Itlia central. opinio geral que oalfabeto latino era, por sua vez, uma adaptao direta do etrusco; mas outros alfabetositlicos, tambm baseados no grego, podem ter propiciado alguma ajuda no processo(HOOKER, 1996, p. 14).
No latim, a diferena entre a lngua clssica e a vulgar ocorreu pelo fato que aquela
conservou, em grande quantidade, as antigas formas. J, esta, substituiu tais formas por outras
mais novas que, s vezes, eram derivadas daquelas, ou ento, eram termos novos de diversas
origens. Por esse motivo, no necessrio investigar ou at mesmo reportar-se ao grego para
demonstrar a influncia de diversas origens no latim vulgar e a diferena deste em relao ao
latim clssico (MAURER JR., 1962, p. 169).
Com essa leitura da histria da escrita grega e latina, no difcil de perceber a
possibilidade de o sufixo ms,em grego, e o sufixo ismus,em latim, terem transitado por
esses idiomas, como resultado dos contatos entre as culturas desses dois povos. A posio em
relao origem desse sufixo no parece ser diferente entre os autores que escrevem a
respeito desse assunto. fato que a lngua grega apresenta vrios sufixos. Robertson (1919, p.
146) entende que o grego rico nestes sufixos formativos, que so mais ou mais menos
populares em vrios perodos da lngua. Os sufixos no grego so bem semelhantes queles no
Snscrito antigo1. Segundo esse autor, os vocbulos na lngua grega que terminam em -ms
expressam ao. Por esse motivo, ele faz meno de alguns nomes que terminam com esse
sufixo na lngua grega:
1the Greek is rich in these formative suffixes, which are more or less popular at various periods of thelanguage. The suffixes in the Greek are quite similar to those in the older Sanskrit.(traduo nossa)
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26 J, o verboapt imerjo, mergulho, tem como raizapt d-. Na lngua grega, paraa formao do futuro de um verbo, conforme as terminaes da raiz, transformam-se emsigma s . Por exemplo: as lnguo-dentais t, d, + s = s (TAYLOR, 1986, p. 76). Por esse
motivo o verboapt , no futuro, torna-seapt s . Quando esse verbo transformado emsubstantivo, o s(sigma) permanece antes do sufixo - , por exemplo,apt s , que o ato
da imerso.Visto que o vocbulo batismo uma das primeiras palavras que aparece na lngua
portuguesa com a terminao ismo, convm atentar para a afirmao de Magne (1953, p.
179) ao tratar do verbo batizar em grego:
Deste verbo, que o latim eclesistico tomou do grego, so variantes 1. Emportugus: o deverbal pop. baptizo, equivalente do m. baptizado; baptizamnto,baptizante; baptista,adj. e subst., seita protestante que administra o baptismo s aosadultos; baptistino, relativo s festas joaninas ou e S. Joo Baptista; anabaptista,adj.
e subst., letra "rebaptizador". Com o verbo grego 2, imergir, mergulhar, de quederiva 3, se relaciona o f. baptsia, gnero de plantas leguminosas. Representam avocalizao normal do -p-os arcasmos portugueses bautismo, boutismo, boutizar.
Alm de Robertson e Taylor, outras informaes acerca do sufixo ismo so
encontradas em Pharies. Explica que o sufixoismotambm produtivo na lngua espanhola,
com sua origem no grego e, por emprstimo, passou a ser utilizado na lngua latina. Tambm
lembra de que a terminao isms, em grego, existe entre outros sufixos relacionados a
nomina actionis, os quais so formados com a terminao ms. Os exemplos apresentados
so:
(kelems), que significa feitio, do verbo (kelo), com o significado
de enfeitiar; o substantivo eas
(theiasms) e o verbo e (theizo) que significam
inspirao e estar inspirado respectivamnte (PHARIES, 2002, p. 356).
Pharies (2002, p. 356) afirma que a lngua latina aceitou, em seu lxico, mais trinta
vocbulos oriundos da lngua grega, terminados por -isms. Esses vocbulos, em geral,
passaram para o latim com os seus verbos correspondentes -izo, por exemplo, catechismusi /
catechizos, christianismus i / christianizo, exorcismusi / exorcizo. Em alguns vocbulos
que passaram do grego para o latim, formados com a terminao ms, nem sempre o verbo
correspondente ao substatnivo na lngua grega tambm entrou para o lxico latino. Comoexemplo, o caso de barbarismus, pois o latim no recebeu do grego o verbo barbarizo,
(comportar-se como um brbaro). Em outras palavras, o latim absorve o sufixo s , mas
no adota a regra gramatical que regia seu uso no grego3(PHARIES, 2002, p. 356).
3 En otras palabras, el latn absorbe el sufijo s pero no adopta la regla gramatical que rige su uso engriego Traduo nossa.
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27 Pharies alerta, ainda, para a necessidade de obervar que, na lngua espanhola, h doisgrupos de palavras formadas com o sufixo ismo: as de origem helenista, que so vocbulosmais antigos e chegaram lingua espanhola, por meio do latim; e os vocbulos que nela se
formaram (PHARIES, 2002, p. 357).Esse fato ocorre, tambm, na lnga portuguesa. Algumas palavras no lxico portugus
so formadas na lngua grega, outras, na lngua portuguesa. o caso de epilogismo
apresentado por Houaiss com a seguinte acepo: raciocnio que conduz de um fato
conhecido a outro, desconhecido ou oculto. A etimologia desse vocbulo apresentada pelo
mesmo dicionrio afirma que a palavra de origem grega epilogisms, que significa
concluso a que se chega por reflexo, raciocnio lgico. No dicionrio DGPPG a palavra
epilogismstem a seguinte acepo exame, averiguao. uma palavra composta, formada
com a preposio epi, antes do verbo logizomai que significa calcular, contar, tomar emconta, na linguagem figurativa, refletir, considerar, formando o verbo epilogizomai. a
partir desse verbo que a terminao ms acrescentada para a formao do substantivo,
epilogisms. O mesmo vocbulo entra para o lxico portugus, apenas transliterado.
No o caso de gamacismo, que Houaiss apresenta a acepo vcio de pronncia que
consiste na impossibilidade ou dificuldade de articular a consoante g. Pela etimologia desta
palavra, descrita pelo mesmo dicionrio, percebe-se que a formao se d pelo radical do
gregogmma+-c- + -ismo. Houaiss acrescenta que esse processo de formao o mesmo
padro de lambdacismo, iotacismo; alguns autores derivam do it. gammacismo. Mesmocom essa explicao de Houaiss, no se encontrou nos dicionrios grego-portugus e grego
francs, DGPPG e DGF, respectivamente, a palavra gamacismo. Com base nesses dois
dicionrios, entende-se que gamacismo no existiu no lxico grego e o sufixo ismo foi
acrescentado j em alguma lngua romnica, possivelmente, como sugere Houaiss, na italiana.
O mesmo ocorre com a palavra micterismo. Segundo Houaiss, o significado desse
vocbulo manifestao malvola, irnica ou maliciosa. Na etimologia, apresentada pelo
mesmo dicionrio, o vocbulo de origem grega muktrisms que significa troa, caoada,
zombaria. No foi encontrada nos dicionrios de lngua grega, DGPPG eDGF, a palavra
muktrisms, e sim, o verbomuktrizo, que significa zombar, escarnecer.
Heterismo outra palavra encontrada no Houaiss com a acepo de sistema de
prostituio na Grcia antiga, exercido tanto por escravas como por mulheres livres, entre as
quais algumas se tornaram clebres por sua cultura e erudio, ou concubinato; amor livre.
Na antropologia, entende-se como modelo de sociedade primitiva em que as relaes sexuais
so praticadas comunitariamente. A etimologia desse vocbulo fornecida por Houaiss
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28 como de origem grega, hetairisms, que significavida ou condio de cortes. A palavragrega hetairismsno foi encontrada nos dicionrios DGPPG eDGF. Desta forma, percebe-se o cuidado de investigar se uma palavra formada com o sufixo ismo, nas lnguas
romnicas, j fora ou no formada na lngua grega. Percebe-se que, em alguns casos, utiliza-se apenas o verbo na lngua grega e depois se acrescenta o ismo, j na lngua romnica,
formando um substantivo.
A partir desses dados, ou seja, do uso do sufixo -ms na lngua grega, torna-se
discutvel como ele foi transportado para a lngua latina em sufixo -ismus.Nota-se que o
iota e s sigma do grego podem ter sido utilizados para formao do mesmo sufixo no
latim, adaptando-se o iota para a letra i e o sigma para a letra s. Se este processo de
transio do sufixoms, para o latim, ocorreu desta maneira, ento o sufixo transportado do
grego para o latim foi -sms, ocorrendo a prtese com o acrscimo do fonema i no latim, oujuntando o iota antes do ssigma, ainda no grego. Contudo, no h nas gramticas4 da
lngua latina, no estudo sobre derivao de palavras, o sufixo ismus. Furlan, ao tratar dos
substantivos que so derivados de verbos ou nomes que trazem sufixos com o valor semntico
portadores de ideia, apresenta os sufixos -io, -tio, -or, -us, -ium, -ido, -ura, -men, os quais
formam palavras com sentido de resultado, ao, estado. Alguns exemplos destas palavras em
latim so: certamen combate; figura figura; cupido cobia; studium estado; opinio
opinio;fulgorfulgor, chaga esforo. Os sufixos que apresentam a ideia de qualidade so:
-edo, -itus, -tus, -itudoitas, -ities, -tas, -itia, -ies, -tudo, -ia. Segundo Furlan, esses sufixosformam as seguintes palavras no latim: dulcedo, doura, servitus, servido, snectus,
velhice, altitudo altura, dignitas, dignidade, mollities, moleza, tempestas,
tempestade, iustitia, justia, pauperies, pobreza, fortitudo, fortaleza, audcia,
audcia. Alm desses, ele acrescenta os sufixos de instrumento, meio e lugar. So eles: -
trum, -culum, -mentum, -bulum. Esses sufixos formam palavras como: instrumentum,
instrumento, vinculum, vnculo, tintinnabulum, campainha, aratrum, arado. H
tambm sufixos relacionados religio, -io, e tio, actio e vocatio, ao e vocao
(FURLAN, 2006, p. 153).
4 Esse, entre outros sufixos apresentados por Furlan, no se encontra nestas pginas o sufixoismus. O mesmoacontece com a gramtica da lngua latina de NBREGA, Vandick L. A presena do latim. Rio de Janeiro:Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais. 1962. Nos dicionrios desse mesmo idioma tambm no foiencontrado o sufixo ismus. Alguns deles so: o de Manuel Bernardes Branco, Portuguez-Latino. Lisboa:Livraria Ferreira. 1879, o de Jacques Andr,Dictionnaire tymologique de la Langue Latine. Paris: ditionsKlincksieck 1994 e o de LEWIS, Charlton T. & SHORT, Charles. A Latin Dictionary. London: OxfordUniversity Press. 1879.
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29 Na gramtica de Nbrega percebe-se, tambm, a ausncia do sufixo ismus. Nocaptulo com o ttulo Composio e Derivao: Prefixos e Sufixos, o autor inicia estemomento da sua obra conceituando etimologia; depois, raiz, tema, radical ou base e, por
ltimo, sufixo. Afirma que sufixo um elemento posposto raiz com a finalidade de tornarmais explcita a ideia contida na raiz. H trs tipos de sufixos: - os de flexo; os sufixos-
radicais e os sufixos derivados (NBREGA, 1962, p. 199). Ainda, acerca desse assunto,
Nbrega aborda a formao dos substantivos com as seguintes palavras: encontramos
substantivos derivados de verbos, adjetivos e de outros substantivos (NBREGA, 1962, p.
201). Ao explicar os substantivos derivados de verbos, partindo do pressuposto de que o
sufixo ismus tem sua origem na lngua grega em ms, percebe-se que o autor no faz
meno desse sufixo em sua obra. Os sufixos mencionados por ele so: or, io, us, tor, trum,
culum, crum, men, go (NBREGA, 1962, p. 201). O mesmo ocorre nas demais listas, ouseja, na lista dos substantivos derivados de adjetivos e na dos substantivos derivados de outros
substantivos. Na formao de adjetivos, tambm no encontrado ali o sufixo ismus, seja
nos adjetivos derivados de substantivos, adjetivos derivados de verbos, adjetivos derivados de
advrbios e adjetivos derivados de adjetivos (NBREGA, 1962, p. 202). Com essas
informaes, percebe-se que o sufixoismono era utilizado como sufixo na lngua latina, no
caso oismus. O mesmo fato, a ausncia desse sufixo, ocorre na gramtica latina de Almeida
(1968:326).
Destarte, entende-se que o sufixoismusno era classificado e utilizado como sufixo,por mais que haja, no latim, palavras terminadas emismus.Alm disso, a transio do sufixo
grego
para o latimismusnecessitaria de uma epntese da letra ie s,para transformar o
em -ismus, como j fora mencionado acima.
Essa posio, ou seja, o acrscimo do i antes do s, tambm um fator questionado por
Vnnen. A diferena que esse autor no est tratando de sufixos ao fazer essa afirmao,
mas entende que o desenvolvimento de uma vogal proporciona a chamada prottica i-, mais
tarde e-, diante do grupo inicial s (y z nas pertencentes fontica sinttica. O primeiro
exemplo temos registrado em Pompia, 7221Ismurna = Smyrna, depois CIL VI 156 (Roma,
ano 105)Izmara(g)dus; explicam-se pelo grupo sm-que estranho no latim5(VNNEN,
1985, p. 98, traduo nossa). O sufixo ismus em latim tambm pode ser classificado no
5 El desarrollo de una vocal adventicia llamada prottica i-, ms tarde e-, delante del grupo inicial s (y z en lasperteneciente a la fontica sintctica. El primer ejemplo lo tenemos registrado en Pompeya, 7221Ismurna =Smyrna, despus CIL VI 156 (Roma, ao 105)Izmara(g)dus; se explican por el grupo sm-que s extrao enlatn.
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30 grupo sm-, mas Vnnen traz a informao sobre um vocbulo e o acrscimo, nestevocbulo, apenas de uma letra, a i. J, no sufixo, precisou haver o acrscimo do i e do s.Outra hiptese a respeito dessa adaptao do sufixo ismus partir do pressuposto de
que, quando houve a importao do sufixo s
(isms) para a lngua latina, esta ocorreu
com base em vocbulos que utilizaram o iota e s sigma antes do sufixo ms ( ).
Um exemplo a palavra apt s
- batismo. Segundo essa hiptese, isso teria ocorrido na
seleo de alguns textos que, no grego, apresentavam vocbulos que terminavam em s
(isms) e, por emprstimo, foram para a lngua latina. No caso da palavra apt s
batismo, por exemplo, provavelmente tenham sido usados textos de origem eclesistica, como
a Vulgata. Por esse motivo, afirmar que o sufixo ismo teve origem na lngua grega, no
estar atento a essas mudanas e a qual foi o critrio utilizado para transformar o sufixo ms
emismo. Coutinho (1958, p. 208) lembra que as palavras gregas penetraram no latim porduas vias: a popular e a literria. (...) Com o advento do cristianismo, inmeros foram os
vocbulos gregos que penetraram no latim e se difundiram por influncia da Igreja pelos
povos catlicos. Houve certa influncia do grego na lngua culta romana porm, nessa rea, o
que possvel encontrar so emprstimos semnticos (MAURER JR., 1962, p. 159).
1.4 O sufixoismo: do latim para o portugus
O sufixo ismus no latim passou para a lngua portuguesa em ismo. fato de
destaque neste captulo, como esse sufixo passou a ser to produtivo na lngua portuguesa,
principalmente nos sculos XVIII e XIX, j que ele no era reconhecido como sufixo no
latim, conforme as gramticas latinas. Alm disso, raramente aparece nas primeiras
gramticas de lngua portuguesa, algo que corrobora o questionamento a respeito de quando o
sufixoismo passou a ser compreendido, como sufixo, na lngua portuguesa. Neste momento
ser observada sua transio do latim para o portugus.
Antes do sufixoismoser utilizado na lngua portuguesa, houve no latim palavras que
terminavam em -ismus. Inicialmente falado em Roma, o latim estendeu-se por toda a Itlia,
alcanando, depois, a Europa ocidental. Vrias so as datas que marcaram a expanso de
Roma e o seu idioma. Os romanos no eram um povo de artistas como os gregos; nada
existiu entre eles de uma cultura do esprito, nada de filosofia e de literatura; eram eles um
povo poltico por excelncia. A ideia do estado era a preocupao dominante, e na realizao
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31 desta ideia, cuja consequncia lgica era a tendncia para o domnio do mundo... (BUNSE,1943, p. 50).Para Maurer Jr. (1951, p. 09), a semelhana das lnguas romnicas do Ocidente no
uma questo apenas de sua origem, no latim vulgar do Imprio Romano e, sim, o resultadodeuma unidade contnua de contato ininterrupto entre todas as lnguas da famlia, de modo
que muitas inovaes posteriores destruio do Imprio pela invaso dos brbaros se
disseminaram por toda a Romnia ocidental, enriquecendo o seu lxico e alterando a cultura
e, s vezes, a prpria morfologia das lnguas que a constituem. Na lngua portuguesa, os
primeiros textos escritos, que so de origem jurdica, aparecem no final do sculo XII e no
incio do XIII, fato que na Frana diferente, pois os textos mais antigos ali so de origem
eclesistica. No caso de Portugal, os textos consistem em cartas de doao, escrituras de
compra e outros semelhantes, que continuaram a ser produzidos mesmo depois do sculoXIV.
O perodo histrico da lngua portuguesa pode ser dividido, segundo Coutinho (1958,
p. 61), em duas fases e uma delas a que abrange o sculo XII at o XVI, denominada
arcaica. A outra fase a do sculo XVI at os dias atuais, conhecida como moderna. nesta
ltima que possvel perceber que, tanto no vocabulrio, como na fontica, na morfologia e
na sintaxe, evidenciam-se diferenas entre o portugus arcaico e o moderno, afirma Coutinho
(1958, p. 71). Esse perodo, ou essa segunda fase, como classificou Maurer Jr., o que
permanece at o presente. O lxico do portugus atual o resultado de um fio condutoressencial, o que provm do latim, e de vrios elementos, onde h emprstimos mltiplos e
variados condicionamentos scios-culturais (VILELA 1994:12).
Mesmo assim, com todo esse histrico da trajetria da lngua latina, o sufixo ismo,
independentemente de ele ser compreendido como sufixo, ou no, na lngua latina, chegou at
a lngua portuguesa. Furlan afirma que quase todos os sufixos latinos derivaram para o
portugus, embora com alteraes. O registro da incidncia da tnica serve de parmetro para
os vocbulos congneres (FURLAN, 2006, p. 152). Inicialmente, o sufixo ismus, lembra
Maurer Jr. (1951, p. 09), foi introduzido no latim cristo, como christianismus
( s t a s ) e Iudaismus. Cedo, o sufixo ismus aparece no latim, como paganismus.
Desta forma, tanto o sufixo -ismo como istaforam bem utilizados no latim medieval, para
designar sistemas doutrinrios e seus seguidores: sabbatismus, legalista. Percebe-se, ento,
que o sufixo ismo, com sua origem na lngua grega, sobreviveu s tradues dos textos
gregos para o latim, mesmo quando este entrou em contato com outras lnguas e foi
transformado em lnguas romnicas.
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32 Com a inveno do prelo Guttenberg, em 1440, houve maior propagao das novasideias. Com a imprensa, era possvel a reproduo do mesmo texto em vrios nmeros decpias, algo que resultou o preo mais baixo do que era produzido e, como consequncia, as
pessoas passaram a ter acesso mais rpido ao contedo textual. Um Dicionrio de OitoLnguas (grego, latim, flamengo, francs, espanhol, italiano, ingls e alemo) foi publicado
em 1550 e em 1596; a obra do italiano Dante Alighieri, aDivina Comdia, foi traduzida pelo
abade francs Balthazar Grangier (CAMPOS, 2004, p. 18). Com o surgimento da imprensa, o
sufixo -ismopassou a ser divulgado de uma forma mais intensa. Qualquer lngua est sujeita
a uma tripla diferenciao: no tempo, nas diferentes camadas sociais e estilsticas, e no
espao (MEIER, 1964, p. 10). Mas, mesmo que o sufixoismotenha permanecido nas fases
de mudanas mencionadas por Meier, Said Ali faz um comentrio a respeito das palavras que
foram formadas com este sufixo. Escreve que, graas Igreja Crist, algumas dessas palavraspuderam ser vulgarizadas rapidamente. Isso no significa que elas perderam o seu aspecto
erudito, pois mesmo sendo utilizadas pela linguagem popular e, com frequncia, no houve,
por parte do povo, iniciativa para que elas se tornassem produtoras de novos vocbulos com
ismo. As transformaes ocorridas deram-se na lngua culta, influenciada pelo movimento
intelectual francs que ocorreu nos sculo XVIII e XIX. Dessa forma, o sufixoismopassou a
ser produtivo a partir de palavras nacionais (SAID ALI, 1964, p. 243).
Ao apresentar a etimologia dos vocbulos, nota-se a presena de palavras que
terminam em -ismo na lngua grega. Para Houaiss, as palavras que apresentavam esta
terminao eram da mesma carga semntica, notada em alguns vocbulos da lngua
portuguesa. Exemplo: a palavra lambdacismo de origem grega lambdakisms, o, que
significa o emprego frequente do lambda. O mesmo ocorre com a palavra mitacismo, do
grego mutakisms, que significa o uso excessivo ou errneo do , m no grego. Outro
vocbulo semelhante o metacismo, do latim metacismus, que significa repetio muito
frequente da letra m. por isso que, para Houaiss, o sufixoismotem sua origem no grego -
isms,o, formador de nome de ao de verbos em -ze, s vezes, em -i, pelo lat. -ismus,i
(HOUAISS, 2001).
As duas ltimas palavras, mencionadas por Houaiss, demonstram como o sufixoismo
foi utilizado, tanto no grego em , como no latim emismus. Apenas por uma questo de
adaptao, observa-se a palavra crocidismo, do latim crocidsmus, adaptado do grego
krokudismsque significa a ao de juntar, reunir pequenos pedaos de fio ou flocos de l. A
palavra exorcismo, do grego eksorkisms,que significa a ao de prestar juramento, tambm
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33 confirma o uso do sufixo ismonessas duas lnguas. A palavra eksorkismsfoi utilizada nogrego cristo e, depois, no latim eclesistico exorcismus. Essa a mesma posio de Said Ali(1971:243), com as seguintes palavras: os termos catecismo (catechismo), cristianismo,
paganismo, aforismo, exorcismo e vrios outros se devem ao latim da Idade Mdia, sendo unstomados diretamente ao grego, outros formados analogicamente. Para entender essa
influncia helnica no latim, faz-se necessrio lembrar que, enquanto o grego era uma lngua
rica, o latim era muito pobre. Por esse motivo, o latim recorreu ao grego para encontrar
vocbulos que os romanos pudessem utilizar em seu cotidiano, principalmente, aqueles de
fcil analogia na lngua latina (MAURER JR., 1962, p. 171).
Na lngua portuguesa, o sufixo ismotem como base, na maioria de suas formaes,
um substantivo. H formaes tambm de bases adjetivas, como por exemplo causal que
forma causalismo. Entre as palavras formadas pelo sufixo ismo, na lngua portuguesa,prevalecem as abstratas adjetivas e substantivas. Os significados, segundo Sandmann, so dos
mais diversos: doutrinas e teorias filosficas e religiosa, polticas, orientaes polticas,
sociais e artsticas, maneiras de comportamento etc. (SANDMANN, 1989, p. 42). Esses
significados so explorados no captulo cinco desta pesquisa, tendo como corpus os
vocbulos terminados emismodoDicionrio de Lngua Portuguesade Antnio Houaiss.
Oismotem uma estreita relao com o sufixoistae, tambm, comico, o caso de
paternalismo, paternalista, paternalstico. O sufixo ismo pode ser utilizado como palavra
independente, com uma carga semntica de depreciao. Entre as suas diversas funes, o ismo pode formar vocbulos de orientao poltica, a partir de nomes prprios, como
montorismo. Determinado tipo de comportamento tambm pode ser elaborado com esse
sufixo, como exemplo encontra-se a palavra corujismo. Segundo Sandmann, como doutrina
filosfica, sociolgica e poltica encontra-se grevismo, assemblesmo, irrealismo, estatismo e
prorrogacionismo. O aspecto depreciativo no ismo percebe-se nos seguintes vocbulos:
clientelismo, golpismo, visionarismo, entreguismo, aventureirismo, assistencialismo entre
outros (SANDMANN, 1989, p. 42).
Sandmann (1989, p. 42) ainda lembra que, enquanto o vocbulo assistencialismo
apresenta um significado depreciativo, pois seria um paternalismo exagerado, o vocbulo
entreguismo tem o significado pejorativo. O autor ainda destaca que o mesmo vocbulo
assistencialismo tem a possibilidade de apresentar outro sentido em contexto diferente, ou
seja, direcionamento poltico voltado para o auxlio pessoal. Assim demonstra Sandmann o
resultado de sua pesquisa. O vocbulo assemblismo entendido como crena na eficincia das
assembleias, com o objetivo de solucionar problemas de ordem trabalhista. J, o vocbulo
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34 assistencialismo apresenta um significado de paternalismo exagerado do Estado. Outrapalavra por Sandmann aventureirismo, tambm ocorre no meio poltico, com o sentido detratar as coisas pblicas as ou as prprias no meio poltico. Causalismo outro vocbulo que
entra para esta lista de Sandmann, atitude dos que procuram pelas causas dosacontecimentos (SANDMANN, 1989, p. 42).
O mesmo autor lembra, tambm, a palavra cientificismo que traz o significado de
depositar excessiva confiana na cincia. Clientelismo, um vocbulo voltado para o
comportamento, est relacionado com pessoas que procuram se proteger, aproveitando da sua
funo no meio poltico, obtendo vantagens para si e para seus amigos. Com significado de
liquidao, Sandmann apresenta golpismo; grevismo; imobiliarismo; irrealismo;
isolacionismo; jurisdicismo; liquidacionismo. Acrescenta tambm natalismo, como o sentido
de posio para combater a natalidade. Com o significado de partido poltico dominante, oautor encontrou o vocbulo oficialismo. Relacionado poltica, o vocbulo patrulhismo
demonstra a postura de um poltico que procura observar e controlar as atitudes de seu
adversrio. No mandato do Presidente Joo Figueiredo, encontrou-se o vocbulo
prorrogacionismo, que defendia o prolongamento do mandato do prprio presidente. Por
ltimo, em sua pesquisa, Sandmann menciona recreativismo, relacionado recreao aos
cidados que deve ser uma oportunidade oferecida pelo poder pblico (SANDMANN, 1989 ,
p. 43).
Em sua outra obra, escreve que no possvel mensurar a produtividade de formaode palavras, segundo uma regra, por meio dos novos vocbulos que aparecem no lxico de
uma lngua. Alm das palavras que h nos dicionrios, devem ser consideradas aquelas que
possuem um potencial ativo pelos usurios da lngua. Na ilustrao apresentada por
Sandmann acerca desse assunto, percebe-se que novamente ele recorre ao sufixo ismopara
explicar como o nome de alguns lderes polticos foram transformados em substantivos
abstratos, como por exemplo: getulismoejanguismo(SANDMANN, 1991, p. 29).
Outro aspecto da produtividade lexical, mencionada por Sandmann, ao analisar o
vocbulopriorizar, entende queizaruniu-se aoprior-, o qual ele denomina de radical preso.
No caso do vocbulo monotematismo, o autor verificou o Dicionrio Aurlio de 1986 e
encontrou ali os vocbulos temtico e monotemtico. J a palavra tematismo no foi
encontrada no mesmo dicionrio. Por esse motivo, ele concluiu que monotematismono foi
resultado de mono + tematismo. A formao de monotematismo se deu pela relao
paradigmtica como monotemtico. Sendo assim, partiu-se da base monotemat-, o que
Sandmann denomina de palavras livres (SANDMANN 1991:44). Nota-se que a produo
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35 sufixal pode ter sua base, a partir de vocbulos que no constam no dicionrio de umadeterminada lngua.Alves tambm entende que, entre os sufixos formadores de substantivos e adjetivos, o
ismo e o istaso os mais produtivos. O sufixo ismoforma novos vocbulos, a partir debase substantivas e adjetivas. Ele forma substantivos designativos da filosofia pregada por
tais personalidades, tais associaes ou doutrinas (...) adeso filosofia de uma personalidade,
de uma doutrina lexicalizada por intermdio de uma base acrescida do sufixo ismo
(ALVES, 1990, p. 29). A autora tambm lembra que o sufixo ismo raramente aparece na
formao a partir de bases verbais. Diferente das gramticas, percebe-se que, ao tratarem de
morfologia, esses autores demonstram a produtividade do sufixoismopor meio de corpus.
Para Williams (1961, p. 138), o sufixoismo classificado nas formas semi-eruditas
(WILLIAMS1961, p. 138). Para Vilela (1994, p. 74), alguns sufixos aparecem em bases quepodem construir adjetivos ou substantivos. Esses sufixos so -ismo, -ado / -ato. A
correspondncia que Vilela apresenta relacionada ao afixoismo so os sufixosico / -ismo.
Nessa relao, esse autor exemplifica com seguintes exemplos: herico / herosmo,
romntico / romantismo. J na relao do sufixo -ista com o ismo, os exemplos so:
comunista / comunismo, socialista / socialismo, classicista / classicismo, arcasta / arcasmo,
alpinista / alpinismo eindividualista / individualismo. J, se para o vocbulo cristianismo,
seu correspondente cristo, para oprotestantismo,seu correspondente protestante, para o
maometismoe omaometano, para ofavoritismo favorito, para opatriotismo patriota.Na obra de Huber (1933), na parte trs, intitulada Formao de palavras: formao
nominal, no subttulo Derivao por meio de sufixos, encontra-se uma subdiviso: Sufixos
tonos e sufixos acentuados.Num estudo profundo, Huber lembra que os sufixos acentuados
so usados para a formao de palavras novas. No mesmo pargrafo, o autor apresenta o seu
critrio para os sufixos que vai trabalhar. Assim ele diz: aqui s se indicam os mais
importantes e em primeiro lugar aqueles que apenas contm vogais, e depois, por ordem
alfabtica, os que contm consoantes (HUBER, 1933, p. 272 -278). De origem grega, Huber
apresenta o sufixoa. J, o sufixo -ismono mencionado nesse seu estudo.
Maurer Jr., em sua explicao a respeito da influncia da lngua grega na lngua latina,
afirma que a lngua vulgar (e mesmo a familiar), menos purista, era na realidade mais aberta
invaso de helenismos do que a literria, pelo menos na medida em que se punha em
contacto com eles (MAURER JR., 1962, p. 170), ou seja, em contato com os gregos. Ainda
tratando sobre o lxico latino, Maurer Jr. compreende que h uma independncia em relao
ao lxico grego. Os sufixos de uma lngua so transferveis, para outra, sem dificuldades. A
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36 sua base para essa afirmao a importao dos sufixos gregos para o latim, por meio daigreja. Tais sufixos no foram introduzidos na lngua clssica, por mais que alguns delestenham sido empregados em derivados gregos utilizados em Roma (MAURER JR., 1962, p.
170). Esse autor tambm no menciona o sufixo -ismo, quando trabalha com sufixos gregosque influenciaram a lngua latina.
Ao expor as suas pesquisas sobre derivao no latim vulgar, mais especificamente,
sufixao, Vnnen (1985, p. 168) no traz em seus estudos uma pesquisa a respeito do
sufixo -ismo. Mas, quando faz aluso aos sufixos verbais, o autor escreve sobre o sufixo -
idiare (< -izare). Segundo ele, foi com esse sufixo que, por meio da Igreja, originou- se
baptizare (-idiare). interessante observar que a palavra batismo, a qual utiliza o sufixo -
ismo, e que tambm reconhecida na histria da Igreja, no mencionada por Vnnen. Pela
obra desse autor, entende-se que, ou o vocbulo batismo no era utilizado no latim vulgar, ouo sufixo -ismono exercia a funo de sufixo no latim.
Numa abordagem gerativa das estruturas lexicais do portugus, referindo-se relao
paradigmtica geral, como a de adjetivo / nome abstrato, Basilio (1980, p. 61) lembra que
com a presena dos sufixos altamente produtivos para criarem novas palavras, a produo
com outros sufixos limitada ou, at mesmo, bloqueada. Os falantes, em geral, fazem uso dos
sufixos produtivos disponveis, raramente utilizarando sufixos que so usados de forma
restrita para a formao de novos vocbulos. Por isso, ela afirma que numa situao bem
definida como a da relao Adjetivo / Nome Abstrato, podemos prever que a RAE Regra deAnlise Estrutural correspondente ao sufixo -ido nunca se tornar uma RFP Regras de
Formao das Palavras, dada a existncia de sufixos como -idade, -ia, -ismo etc.6
(BASILIO, 1980, p. 61).
1.5 A presena do sufixoismonas gramticas de lngua portuguesa
Analisar o surgimento do sufixo ismo, na histria das gramticas de lnguaportuguesa, algo que pode ajudar a esclarecer como foi o processo de insero, a
abrangncia semntica e as transformaes que esse sufixo sofreu, at as gramticas dos dias
atuais. possvel encontrar, nas gramticas de lngua portuguesa, a afirmao de que o sufixo
ismoteve origem na lngua grega. Esse fato pode ser notado na gramtica dos autores Kury,
Bueno e Oliveira (1976, p. 82). Ao estudar derivao sufixal, num subttulo Sufixos de origem
6Grifo nosso
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37 grega, os autores apresentam o sufixoismoe afirmam que ele forma ao, estado, qualidade,sistema e doutrina. Pereira (1957, p. 186) tambm afirma que o sufixo ismoteve origem nogrego e passou para o latim por meio dos autores cristos. Dessa forma, entende-se pelas
gramticas de lngua portuguesa que esse sufixo nasceu na lngua grega, porm no seencontram nessas obras uma abordagem acerca do ms e do -ismos ainda nessa lngua.
Algumas acrescentam que ele sobreviveu lngua latina comoismuse, depois, passou para a
lngua portuguesa, denominado ismo. O ismo foi encontrado em alguns vocbulos nas
diversas gramticas, no estudo da morfologia que, dependendo da poca, os autores
nomeavam como etimologia. O objetivo da morfologia estudar a estrutura e os processos de
flexo e formao dos vocbulos, como tambm a classificao deles. Para tanto, convm
atentar para a observao de Laroca (2003, p. 12).
Somente no sculo XIX, por volta de 1860, a palavra morfologia foi utilizadacomo termo lingustico, englobando a flexo e a derivao. Surgiu primeiramentecomo termo biolgico, em 1830, criado por Goethe para designar o estudo das formasdos organismos vivos. O seu uso em lingustica se deve influncia do modeloevolucionista de Darwin sobre os estudos da linguagem. Os gramticos e fillogosalimentavam o sonho de descobrir a origem da linguagem atravs do estudo daevoluo das palavras em indo-europeu. Houve, ento, um interesse crescente peloestudo sistemtico dos processos de formao de palavras, numa perspectiva histrica,pois os gramticos consideravam as formas mnimas constituintes das palavras comoelementos originrios.
Para os estudos morfolgicos, muito contribuiu tambm a gramtica dePanini (sc. VI a.C. (?) a qual ps os filsofos em contato com a tradio gramaticalhindu. A descoberta do snscrito (antiga lngua sagrada da ndia), no fim do sculo
XVIII, permitiu aos estudiosos em exame dessa gramtica que, ao contrrio da greco-romana, reconhecia a estrutura interna das palavras, depreendendo unidades mnimascomo razes e afixos.
Com o surgimento da imprensa, o sufixo -ismopassou a ser divulgado de uma forma
mais intensa. Qualquer lngua est sujeita a uma tripla diferenciao: no tempo, nas
diferentes camadas sociais e estilsticas, e no espao (MEIER, 1964, p. 10), mas mesmo que
o sufixo ismotenha permanecido nas fases de mudanas mencionadas por Meier, Said Ali
(1964, p. 243) faz um comentrio a respeito destas palavras que foram formadas com estesufixo. Escreve:
Algumas destas palavras puderam, graas Igreja Crist, vulgarizar-sefacilmente; mas nem por isso perderam o seu carter erudito, e a linguagem popular,usando-as, embora com frequncia, no manifestou a menor disposio para torn-lastipo produtor de novos derivados em -ismo. A tarefa de mudar a situao coube lngua culta, influenciada pelo movimento intelectual que se operou em Frana nossculos XVIII e XIX. No adotou grande nmero de vocbulos creado no estrangeiro
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38 e que se internacionalizaram, mas ainda tornou o sufixo -ismo apto a produzir palavrastiradas de derivantes nacionais.Segundo o Dicionrio de Lngua Portuguesa Houaiss, entende-se que outros vocbulos
gregos tambm colaboraram para a formao de palavras com terminao em ismus nolatim. Um exemplo disso palavra ss
abismo.Esse vocbulo teve origem na lngua
grega e, para o autor citado, essa palavra passou para as lnguas romnicas por intermdio da
Igreja. Isso ocorreu por meio da forma culta e de um dobrete popular *abismus.Nesse caso, a
palavra grega ss
abismo no tem uma terminao com o sufixo ms e, mesmo
assim, ela foi transportada para o latim com a terminaoismuspara depois surgir o abismo
em portugus. Enquanto se encontram muitos substantivos gregos no latim, os verbos e
principalmente os adjetivos so excepcionais (MAURER JR., 1962, p. 169).
Outra abrangncia semntica do sufixo ismo o significado de sistema que pode
gerar em uma palavra. O sistema, diferente da doutrina, no tem como objetivo trabalhar
com verdades absolutas e, sim, organizar intelectualmente um conjunto de elementos,
concretos ou abstratos. Opta pela teoria, ideologia, que se sustenta numa convico
organizada com base em um fundamento (HOUAISS, 2001). Este o caso de monasticismo,
congregacionalismoe de eclesiasticismo.Na formao de sistemas, o substantivo continua
substantivo com o acrscimo doismo.
Neste momento apresentar-se- o registro e a ausncia do sufixo ismo, nas diversas
gramticas, na histria da lngua portuguesa. Para isso, observou-se o objetivo dos autores ao
escreverem essas obras, bem como o conceito de morfologia, afixos e sufixos. As gramticas
observadas foram as que esto registradas na obra de Simo Cardoso, Historiografia
Gramatical (1500 1920). No foi possvel ter acesso a todas elas, apenas s que estavam
disponveis nas bibliotecas e na internet. Aps 1920, optou-se por apresentar exemplos de
gramticas atuais, visto que o sufixoismoj algo comum nas gramticas da atualidade.
Percebeu-se, nas gramticas consultadas anteriores a Julio Ribeiro, que o objetivo dos
seus autores variou conforme a influncia sociocultural da poca em que foram escritas; ora
prevalecia o objetivo filosfico, ora o normativo. Nas gramticas de lngua portuguesa,
produzidas depois de Ferno de Oliveira e antes de Jlio Ribeiro, no foi encontrado o sufixo
ismo. A lista de ano, autor e ttulo destas gramticas, em ordem cronolgica, apresentada
nesse momento, porm outras informaes acerca delas podem ser encontradas no apndice
A. Foram consultadas as seguintes gramticas:
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39 Ano 1536OLIVEIRA, Ferno de. Gramtica da Lingoagem Portuguesa.Ano 1540BARROS, Joo de.Nova gramtica da lngua portuguesa.
Ano 1592
ANCHIETA, Pe. Jos de.Arte de gramtica.
Ano 1606
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5/25/2018 GiaD
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