galã 200 anos depois

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Entertainment & Humor


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Page 1: Galã 200 anos depois

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12 I O GLOBO I ela I

II1OiM;.·';!;t;"'i Laurence Olivier. naprodução de 1940. e Matthew McFayden. umgalã de estatura (1,91m). em filme de 2005

lijll.i~ni;im.camisa molhadapara viver o personagem emsérie da BBC. de 1995

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N

RENATA lZAAL muito, mas muito [email protected] - Apesar de serpreconceituoso no

início do romance, Darcy sempre foio uando Rita Hayworth surgiu muito educado. Mesmo não sendonas telas de cinema; em 1946, bonito, ele se tornou um galã pelosvestindo um tomara que caia modos e pelo recato. Mr. Darcy erapreto e cantando "Put the bla- um gentleman, e isso é raro hoje. Tal-

• me on Mame" enquanto sen- vez exista alguém parecido com ele,sua mente tirava as luvas, o mundo mas eu não conheço - diz o editoraprendeu que "nunca houve uma mu- Marcos Maynart, que já trouxe aolher como Gilda':Colin Firth não precí- Brasil um galã quase à moda antiga, o dsou cantar na adaptação de "Orgulho e cantor Julio Iglesias. bpreconceito'; feita pela BBCem 1995. O livro de Jane Austen foi bem rece- pUm mergulho no lago e a camisa bran- bido de imediato na Inglaterra. No fca molhada foram suficientes para en- mesmo ano da publicação, ganhou "(

tendermos que, bem, nunca houve um versão para o francês, começando en- Fhomem como Mr. Darcy. Ao contrário tão uma trajetória internacional que pde Gilda, obrigada a disputar terreno resultou na venda, até hoje, de 20 mi- o

• com outras estrelas deslumbrantes lhões de cópias ao redor do mundo. (

(que tal "a garota" de Marilyn Monroe "Orgulho e preconceito" virou peça nem "O pecado mora ao lado"?), Mr. de teatro, musical no West End lon- 1

gDarcysegue arrasando corações, com drino, série de TV;filme de Hollywo- TI'§;ua popularidade até aumentando. E od e ganhou até uma versão em

• ~lha que ele já tem 200 anos. Bollywood ("Bride and prejudíce" b'" Fitzwilliam Darcy nasceu herói do uma brincadeira com o título em in- aromance "Orgulho e preconceito'; de glês "Pride and prejudice"). A célebre 11

1813,o segundo publicado pela íngle- . adaptação da BBCfoi o ponto alto da tisa Iane Austen. Charmoso e muito ri- carreira de Mr. Darcy, que, além de C

• co, ele é inicialmente rejeitado pela Colin Firth, já foi interpretado por IImocinha Blízabeth Bennet, que o crê Laurence Olivier (1940) e Matthew tIarrogante e esnobe. Isso até descobrir McFayden (2005).que Mr. Darcy é generoso, corajoso e O sucesso da série de TV fez a im-

• muito apaixonado. Perto dele, o safa- prensa britânica classificar o mornen- Edinho Chrístían Grey, de "Cínquenta to de "darcymanía" Colin Firth viroutons de cinza'; é um homem absoluta- superstar, e Mr.Darcy virou referênciamente desinteressante. Além de ser pop. Nos últimos 20 anos, uma série e• s

no-e/---- 1E1dTI

Editora: Ana Cristina Reis ([email protected]) IIEditora assistente: Renata Izaal ([email protected]) pCoordenadora de moda: Melina Dalboni ([email protected]) aDiagramação: Leonardo Drummond e Maraca liTelefone/Redação: 2534-5000 Publicidade:2534-4310 IE-Mail: [email protected] p.Correspondência: RtlaIrineuMarinho35 -2 andar.CEP:20233-900 b

·1ANA CRlSTINA REIS VOLTA A ESCREVER A CRÔNICA NO DIA 16 a

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de produtos fez crescer o valor do galãbicentenário como ícone da culturapop. Uma dezena de livros duvidososfoi editada ("O diário de Mr. Darcy" e"Os 50 tons de Mr. Darcy" são alguns).Frases do personagem foram estam-padas em camisetas e louças - a mai-orla das peças à venda no Iane Austen

.Centre, em Bath - em todos os conti-nentes. Durante as Olimpíadas deLondres, no ano passado, a onda dereinterpretações da famosa campanha"Keep calm and carry on" usada pelosbritânicos na Segunda Guerra Mundi-al, viu nascer um "Keep calm and findMr. Darcy" Pode acreditar, muita gentetrocaria o brilhantismo político deChurchill por um refúgio em Pember-ley, a propriedade de Mr. Darcy no in-terior da Inglaterra.

ELAS QUEREM FIDELIDADENo cinema, Mr. Darcy é inspiração

explícita. A comédia romântica "Men-sagem para você'; de Nora Ephron, ho-menageia a obra de Iane Austen, comos personagens de Meg Ryan e TomHanks fazendo referências ao casalElizabeth e Darcy. A escritora inglesaHelen Fielding admitiu ter se inspira-do em Mr. Darcy para criar o parromântico de sua heroína no best -sel-ler "O diário de Bridget Ienes" Sempudor, o chamou de Mark Darcy. Naadaptação para o cinema, o papel foiinterpretado por ... Colin Firth! Mas Mr.Darcy não se tornou um ícone apenaspelos modos refinados ou por ser umhomem imensamente apaixonado.Ele foi também capaz de provar o seuamor fazendo Elizabeth Bennet se

mmadoJaneAustenCentre.reproduz partedadeclaraeão .de amor deMr.Darcv paraElizabethBennet

lij;M1~1;rjcriada tambémpelo JaneAusten Centre:"EusouMr.Darcy"

uma relação é construída verbalmen-te, mas Darcy e Elizabeth se perce-bem desde o primeiro encontro. Umnão consegue tirar os olhos do outro.É uma troca de olhares muito seduto-ra, não é preciso dizer nada. ParaFreud, o estranho tem sempre algo defamiliar. Apesar das diferenças inici-ais, os dois percebem que têm algoem comum, que mais tarde se revela.

BONITO, RICO E HONRADOMr. Darcy. não resiste aos olhos e à

"vivacidade do espírito" de Elizabeth,como ele mesmo afirma no final doromance. E ela não consegue evitaramar o homem que tanto se esforçoupara vê-Ia feliz. Marcella Virzi, desig-ner da dupla Virzi--Del.uca, não con-seguiu resistir ao personagem. É fã as-sumída do Mr. Darcy.

- Li o livro pela primeira vez aos 14anos e já o reli umas 15 vezes. Darcyrepresenta os ideais românticos. Ele ébonito, elegante, muito rico e honra-odo. Mas Iane Austen escreve de formaa nos permitir acompanhar a transfor-mação das idealizações dos persona-gens em paixão real - diz a designer.

Não custa-lembrar que coube a Mr.Darcy uma das mais famosas declara-ções de amor da literatura inglesa:"Em vão tenho lutado comigo mes-mo, mas nada consegui. Meus senti-mentos não podem ser reprimidos;preciso que me permita dizer-lhe queeu a admiro e amo ardentemente':

E se alguém ainda precisa de moti-vo para amar Mr. Darcy, bem, há sem-pre Colin Firth e aquela camisabranca .•

sentir especial. Se no início do roman-ce ele não quis dançar com Elizabethporque a considerava "tolerável, masnão bela o suficiente para me tentar';no decorrer da história Darcy admiteter mudado de visão, pede desculpas etenta corrigir seus erros. Em segredo,ele ajuda a família da heroína. E porfim deixa de lado os próprios precon-ceitos e os da sociedade para ficar comela. A antropóloga Mirian Goldenbergdiz que ser considerada única vira acabeça de qualquer mulher.

- O Mr. Darcy faz de tudo para quea Elizabeth acredite nele, mas sem seexibir. As mulheres' que eu pesquisodizem que desejam essa generosida-de. Mesmo as bem-sucedidas que-rem um ato simbólico, uma demons-tração do quanto são especiais paraaquele homem. Elizabeth não é amais bonita, nem a mais valorizada,mas ele só tem olhos para ela. Umhomem que luta pela mulher amadaé especial - explica Mirian, frisandoque hoje muitas mulheres se senteminvisíveis com tanta concorrência. -O que as mulheres mais me dizem éque querem fidelidade. É quase umaprova de amor. .

Homens como o Darcy até existem,mas são raros. Por isso, essa fantasia étão valorizada. Mas a fantasia começamuito antes da prova de amor. O inte-resse mútuo aparece porque Mr.Darcy e Elizabeth percebem um nooutro algo que não tinham visto atéentão no seu círculo social. Quandose encontram, parecem estar à procu-ra de alguma coisa, mas sem saber oquê, como explica a psicanalista Mô-nica Donetto Guedes.

- Ficamos presos à ideia de que