Colégio MagnoGramática/Redação – 1.o ano – 2.o bimestreProfa. Renata Godoy

Funções da Linguagem

Oi, Fernando.O relatório tá quase pronto; te mando amanhã.BjsLucinha

Quem escreve: LucinhaQuem lê: FernandoMensagem: O relatório tá quase pronto; te mando amanhã. Bjs.Código: língua portuguesa escritaCanal (suporte): computador/internetReferente: informações a respeito da preparação de um relatório

O ato de comunicação se realiza pela articulação de seis elementos básicos.

Elemento do ato de comunicação Papel no ato de comunicação

emissor Quem fala (ou escreve, desenha, faz os gestos etc)

receptor ou destinatário Quem ouve (ou lê, interpreta os gestos etc)

mensagem O conteúdo daquilo que o emissor comunica

código Sistema utilizado pelo emissor para compor a mensagem (ex.: língua oral/escrita, língua de sinais, pintura, placas de trânsito)

canal Meio ou veículo pelo qual a mensagem é transmitida (ex.: ar, papel, telefone, TV, internet

referente Assunto ao qual a mensagem se refere

Em nossas relações na sociedade, utilizamos a linguagem para as mais diferentes finalidades. Nós a usamos, por exemplo, para transmitir/receber informações, construir representações mentais do mundo, convencer outras pessoas, expressar nossos sentimentos, estabelecer/manter relações sociais etc. Dizemos, por isso, que a linguagem tem diferentes funções.

As funções da linguagem, dependendo do elemento de comunicação no qual a mensagem está predominantemente centrada, subdividem-se em seis tipos: emotiva (expressiva), conativa (apelativa), poética, metalinguística, fática e referencial (denotativa).

Exemplos

A)

Por que terremotos 'mais fracos' podem causar mais destruição?DA BBC BRASIL

Um terremoto de magnitude 7,8 atingiu o Equador na noite deste sábado, matando até agora mais de 272 pessoas e ferindo pelo menos 2.068. O total de vítimas surpreende em uma comparação com o sismo que há dois anos atingiu o Chile: apesar da magnitude de 8,2, apenas seis pessoas morreram.

Como podem terremotos de forças similares ter consequências tão diferentes? Parte da resposta, obviamente, tem a ver com o diferente nível de riqueza dos países e os

padrões usados na construção civil – o que ajuda a explicar, por exemplo, como os terremotos de magnitude 7,3 e 7,7 que atingiram o Nepal no ano passado resultaram em mais de 8 mil mortos e arrasaram cidades inteiras, algo bem diferente do que ocorreu no Chile.

CONSTRUÇÃO

Os chilenos, porém, tomaram medidas rigorosas para futuras tragédias depois que um tremor de magnitude 9,5 matou mais de 5 mil pessoas, em 1960. A reconstrução levou em conta uma arquitetura que permitisse edifícios mais resistentes a tremores. No Equador e no Nepal, poucas construções levam isso em conta.

O terremoto que atingiu o Equador foi o maior desde 1979 e ocorreu perto da cidade de Muisne, no norte do país. Segundo as autoridades, o total de mortos e feridos deve aumentar. O presidente do país, Rafael Correa, decretou estado de emergência.

Mas dinheiro e códigos de construção são apenas parte da história. A geologia também é um fator. O Nepal, por exemplo, está localizado em uma chamada zona de colisão continental, em que a Índia se choca com a Ásia.

E essa falha geológica está bem escondida: a maior parte dela está enterrada em grande profundidade e as rupturas superficiais se veem rapidamente cobertas pela floresta e sedimentos dedeslizamentos de terra provocados pelas chuvas de monção que caem na região.

As placas tectônicas avançam a uma velocidade de 4,5 cm por ano, o que separa os grandesterremotos no Nepal por décadas.

A falha chilena, em contraste, é bastante evidente: uma impressionante e gigantesca fossa que faz o solo do Oceano Pacífico entrar embaixo da América do Sul a uma velocidade de quase 10 cm por ano.

Isso faz com que grandes sismos se produzam quase todos os anos e torna a capacidade de enfrentá-los uma prioridade, o que não parece ocorrer no Equador, onde, desde 1900, houve pelo menos sete terremotos de magnitude 7 ou maior a pelo menos 250 km da região do tremor de sábado.

Associated Press

Equipes de resgate trabalham na cidade de Manta

PREPARAÇÃO

Outros países vivem em zonas marcadas por numerosas falhas, dispersas ao longo de milhares de quilômetros.

Entre o Mediterrâneo e a Indonésia, por exemplo, há uma extensa rede de fissuras criadas pela pressão das placas tectônicas africana, indiana e árabe sobre a placa euro-asiática. Cidades como Istambul e Teerã, por exemplo, estão em algumas das zonas mais perigosas do planeta.

"Como essas falhas continentais estão menos contidas, elas se rompem com menos frequência e algumas só são ativadas depois de milhares de anos, superando a memória humana e os registros históricos", explica James Jackson, geólogo da Universidade de Cambridge.

Desde 1900, terremotos em falhas continentais mataram o dobro de pessoas do que sismos registrados em regiões onde oceanos e continentes se conectam.

A ciência hoje está mais preparada para detectar tremores, mais especialistas como Jackson afirmam que a comunidade internacional precisa investir mais para melhorar a capacidade de proteção da população em áreas de risco.

"Gastamos cinco vezes mais dinheiro em socorro às vítimas do que na preparação para terremotos", diz Kate Peters, da ONG britânica Instituto para o Desenvolvimento Internacional.

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/ - publicado em 18/04/16

Função referencial ou denotativa: tem a finalidade de informar o leitor a respeito de um determinado assunto. A linguagem transmite uma mensagem direta, objetiva, que só pode ser entendida pelo leitor em um sentido específico, único. A função referencial tem como foco o próprio assunto, o que faz dela a função predominante nos noticiários (de TV, rádio e internet), nosjornais, nas revistas de informação, nos livros instrucionais, nas biografias, nos textos técnicos, nas sentenças judiciais, nos contratos etc.

B)

Exemplo 1

Paty,arrependi de ter ido na festa!Credo! Que chatice, hein? Que som mais sem graça aquela galera curte, né? Mico geral!Na próxima (se tiver!), tô fora!!BeijãoRê

Exemplo 2

Ando devagarPorque já tive pressaE levo esse sorrisoPorque já chorei demais

Hoje me sinto mais forteMais feliz quem sabeSó levo a certezaDe que muito pouco seiOu nada sei[…]

Almir Sater e Renato Teixeira. “Tocando em frente”. Almir Sater ao vivo. Sony Music, 1992.

Função emotiva (ou expressiva): a mensagem é centrada no próprio emissor, que, por meio de pronomes (eu, me) e de verbos na primeira pessoa do singular evidencia seu mundo interior, sua subjetividade, seus sentimentos e emoções. É comum o uso de interjeições – palavras e expressões que exprimem estados de espírito – e de reticências e pontos de exclamação (na linguagem escrita) como recursos para enfatizar os sentimentos do emissor.

C)

https://queminova.catracalivre.com.br/

Função apelativa (ou conativa): mensagem que procura “falar diretamente” com o leitor, ou seja, é centrada no destinatário e busca interferir no comportamento dele. Essa função da linguagem caracteriza-se pela presença das formas tu, você, vocês (explícitas ou subentendidas no texto), por vocativos (chamamentos) e por formas verbais no imperativo (que expressam pedido, sugestão, ordem etc). É a função predominante nos textos publicitários, placas de advertência e horóscopos, por exemplo.

D)

http://arthistory.about.com/od/from_exhibitions/ig/american_chronicles/aonr_dia_09_18.htm

Assim como um poema que trata da poesia é um texto metalinguístico, a pintura que mostra a execução de um quadro ou um filme que narra uma produção cinematográfica são exemplos de metalinguagem.

Nesta tela, Triple Self-Portrait, de Norman Rockwell, o pintor se retratou enquanto confeccionava seu quadro, produzindo uma obra metalinguística.

Função metalinguística: a linguagem está centrada no código linguístico, por exemplo, quando um poeta utiliza a linguagem para fazer uma reflexão sobre o próprio ato de escrever.

E)

– Alô!– Alô… Pois não… Quem fala?– Desculpa… A ligação tá ruim…– Alô! Alô! Tá cortando…– Melhorou? Tá me ouvindo agora? Alô…– Com quem você quer falar?– Por favor, aqui é a Cris. Quero falar…– Quem? Desculpa… Não consigo te ouvir…– Caiu! Ô porcaria de celular!

Função fática: a linguagem é empregada apenas para tentar estabelecer e manter o contato entre os interlocutores, não há efetivamente nenhuma comunicação. A linguagem é usada para verificar se a via de comunicação entre ambos está ou não estabelecida. A função fática é centrada no canal (meio de contato entre os falantes) e evidencia-se quando a linguagem serve para iniciar, manter, retomar ou concluir o ato de comunicação. Palavras e expressões como alô!, oi!, tudo bem?, certo?, claro!, né?, tá ligado?, fui!, até mais e tchau caracterizam essa função da linguagem.

F)

Exemplo 1

Morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canelaSerá que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela?

Chico Buarque. “Morena de Angola”. In: Chico Buarque, 1980.

Exemplo 2

Quem com ferro ferecom ferro será ferido.

Ditado popular

Função poética: a linguagem é utilizada para produzir determinados efeitos expressivos e, assim, despertar um maior interesse do leitor. Há uma preocupação em trabalhar as palavras de maneira pouco comum, organizando a sonoridade e o ritmo das frases para que a própria mensagemganhe destaque. Essa função é centrada na mensagem. Evidencia-se na poesia, nos slogans publicitários e também nos textos de origem popular (ditados, cantigas etc).

Fonte: Mauro Ferreira. 360o: aprender e praticar gramática. São Paulo, FTD, 2015 – adaptado

Funções da linguagem – exercícios extras

01. Leia este texto transcrito de uma revista:

Polvo planador do Pacífico no Mediterrâneo

Os biólogos italianos Orsi Relini e Andréa Belluscio quase não acreditaram quando, ao mergulhar no Mar Tirreno, entre Nápoles e a Sicília, deram de cara com um exemplar de Tremoctopus gracilis, conhecido como “polvo planador”. Único problema: esse cefalópode vive emáguas profundas, mas não as do Mediterrâneo e, sim, as do Índico e do Pacífico. Trata-se de mais uma espécie “estrangeira” que passou pelo Canal de Suez e se instalou no Mediterrâneo – hoje maisquente por conta do aquecimento global. […]

Planeta. São Paulo: Ed. Três, ed. 407, p. 13, ago. 2006.

Considerando as características da linguagem desse texto, identifique como C (certa) ou E (errada) cada uma das afirmações a seguir.

I. Nesse texto, o assunto, a seleção lexical e a presença de termos técnicos possibilitam concluir quea revista Planeta tem como principal público leitor os cientistas especializados em biologia marinha. ( )

II. Embora no texto haja termos da linguagem científica, as expressões “quase não acreditaram”, “deram de cara” e “único problema”, típicas na variedade coloquial, indicam que ele é destinado a leitores “comuns”, e não somente a especialistas no assunto abordado. ( )

III. Predominam no texto palavras e expressões do campo semântico da biologia marinha. ( )

IV. Nesse texto, evidencia-se a função referencial da linguagem, por meio da qual o autor transmite aos leitores informações objetivas sobre um fato ocorrido em um determinado lugar. ( )

02. Leia o texto:

Entalhe do verso

Artesão e cascadura,moldo a palavra a machadoe para tanto usoa palavra madeira,o pau-verbo lascado.

Escavo palavras nas raízes,nas cascas moles ou duras,nos cernes teimososdos galhos desfolhados,mortos, deflorados.

Artesão da palavra,faço versos em talhe profundona plasticidadeda palavra mundo.

Agitador – ou louco,transformo em vida o lenho mortoe em expressão do belo o pau torto.

Artesão, cascadura, agitador e louco:poeta, de tudo sou um pouco.

Osmar Casagrande Campos. A casa: [in]cômodos [di]versos, Palmas: Kelps, 2009, p. 48.

Evidencia-se, nesse poema de Osmar Casagrande, a seguinte função da linguagem:

a. Referencial, pois ele apresenta fatos e informações a respeito de um determinado acontecimento do mundo real.b. Metalinguística, pois seu objetivo principal é explicar o significado de determinadas palavras e expressões empregadas pelo autor.c. Conativa, pois busca motivar o leitor a agir, a fazer algo, a tomar uma atitude em relação a determinado fato.d. Fática, porque seu objetivo principal é testar o canal de comunicação entre o emissor e o receptor.e. Poética, pois põe em evidência a construção artística do texto.

03. Leia este trecho de texto e responda aos itens a e b.

Conveniência

Olhai, oh Senhor, os jovens nos postos de gasolina. Apiedai-Vos dessas pobres criaturas a desperdiçar as mais belas noites de suas juventudes sentadas no chão, tomando Smirnoff Ice, entre bombas de combustível e pães de queijo adormecidos. Ajudai-os, meu Pai: eles não sabem o que fazem.

São Paulo não tem praças, eu sei. As ruas são violentas, é verdade, mas nem tudo está perdido. […]

Encaminhai-os para um boliche, que seja, mas afastai suas bochechas rosadas dos vapores corrosivos dos metanóis. Pois nem toda a melancolia de um playground, nem todo o tédio de um salão de festas ou, vá lá, a pindaíba do espaço público simbolizada pelo churrasco na laje justifica a eleição de um posto de gasolina como ponto de encontro. Tudo, menos essa oficina dentária de automóveis, taba de plástico e alumínio, neon e graxa, túmulo do samba e impossível novo quilombo de Zumbi. Que futuro pode ter um amor que brota sob a placa “troca de óleo, ducha grátisacima de 100 reais”? […]

É só o que Vos peço, humildemente, no ano que acaba de nascer. Obrigado, Senhor.

Antonio Prata. Disponível em: http://blogs.estadao.com.br – acessado em 21/03/14.

a. Das seis funções da linguagem – referencial, conativa/apelativa, emotiva, metalinguística, poética, fática –, duas se evidenciam nesse texto. Quais são elas? Justifique.

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b. É possível afirmar que o objetivo do texto é exclusivamente criticar os jovens que se reúnem nas lojas de conveniência dos postos de combustível? Justifique.

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04. Diversas funções da linguagem podem estar associadas em um único texto. Mas é comum que se possa identificar uma ou mais funções predominantes. Identifique a função da linguagem que predomina nos textos a seguir.

a.

Prosódia

As folhas enchem de ff as vogais do vento.

Mário Quintana. In 80 anos de poesia, by Elena Quintana, São Paulo, Globo.

b.

Não ao anão

Uma pesquisa feita pela rede inglesa BBC com mais de 7.800 donos de imóveis mostrou que a presença de um anão de jardim é suficiente para baixar o preço de uma casa em 500 libras, ou 2.500 reais. Segundo os consultores da empresa, detalhes como esse têm um profundo impacto psicológico nos compradores e podem tirar valor de uma propriedade.

Rafael Kenski. Revista Superinteressante, no 196, São Paulo, Abril, janeiro de 2004, p. 22.

c.

Sonho

Quantas vezes, em sonho, as asas da saudadeSolto para onde estás, e fico de ti perto!Como, depois do sonho, é triste a realidade!Como tudo, sem ti, fica depois deserto! […]

Olavo Bilac. In Obra reunida, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1996, p. 168

d.

Meu povo, meu poema

Meu povo e meu poema crescem juntoscomo cresce no frutoa árvore nova

No povo meu poema vai nascendocomo no canavialnasce verde o açúcar

No povo meu poema está madurocomo o solna garganta do futuro

Meu povo em meu poemase refletecomo a espiga se funde em terra fértil

Ao povo seu poema aqui devolvomenos como quem cantado que planta

Ferreira Gullar. Toda poesia, Rio de Janeiro, José Olympio, 1991. p. 152

05. O objetivo do texto a seguir é divulgar informações sobre o combate à dengue, no Rio de Janeiro. No entanto, para isso, o autor não se vale somente da linguagem referencial, denotativa.

Olha o Aedes aí, geeeeeeente!

O mosquito da dengue também gosta de samba. Foram localizados focos de Aedes aegypti nos barracões das escolas de samba Acadêmicos da Rocinha, Império Serrano e Caprichosos de Pilares. São 22 agentes de saúde da Prefeitura do Rio de Janeiro que estão inspecionando e pulverizando 689 depósitos de fantasias e carros alegóricos para matar o Aedes folião.

a. Transcreva uma expressão que mescla linguagem denotativa e conotativa.

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b. Indique uma razão que justifique, nesse texto informativo, a mescla de linguagem denotativa e

conotativa.

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c. Por que se pode afirmar que o título revela cuidado na seleção e organização das palavras, como

requer a função poética da linguagem?

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Mauro Ferreira. 360O: aprender e praticar gramática, FTD, 2015.

Izete F. Torralvo e Carlos C. Minchillo. Linguagem em movimento 1, FTD, 2008.