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1 FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA UEPA: UM ESTUDO SOBRE A INTERFACE ENTRE O CONHECIMENTO TRATADO NA FORMAÇÃO ACADÊMICA E ATUAÇÃO PROFISSIONAL Letícia Santiago Amaral Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Física UEPA [email protected] Zaira Valeska Dantas da Fonseca Docente do Curso de Licenciatura em Educação Física UEPA [email protected] RESUMO O estudo aborda a interface entre o conhecimento tratado na formação acadêmica e os conhecimentos presentes na organização teórico-metodológica dos egressos em seu espaço de atuação profissional. Apresenta como objeto de estudo os conhecimentos da formação dos egressos do Curso de Educação Física da UEPA e sua relação com a atuação profissional. Objetiva analisar as implicações e contribuições da formação profissional ensejada no PPP 2008 do CEDF/UEPA no processo de atuação profissional dos egressos. Para isso, realizada uma pesquisa de campo tendo como referência teórico-metodológicas o Materialismo Histórico Dialético, utilizando-se de questionário semiestruturado aos egressos do PPP 2008. Os principais resultados encontrados indicam que existe uma carência de conhecimentos na formação dos egressos, e este fato decorre de uma posição política dos docentes em relação ao novo PPP que gera negação de conhecimento específico na formação do CEDF/UEPA e também em virtude da organização, disposição e/ou ausência de disciplinas na matriz curricular. Palavras chave: Educação Física. Formação. Mundo do Trabalho. INTRODUÇÃO Trata-se de uma análise sobre a interface presente entre os conhecimentos tratados na formação profissional proposta pelo Curso de Educação Física (CEDF) da Universidade do Estado do Pará (UEPA) e os conhecimentos presentes na organização teórico-metodológica dos egressos em seu espaço de atuação profissional. Sabe-se que atualmente, “a formação profissional em Educação Física é permeada por embates de projetos de formação de acordo com as diferentes concepções dos grupos” (SANTOS JÚNIOR, 2013, p. 39). No CEDF/UEPA existe uma enorme dúvida entre os alunos sobre a importância dos conhecimentos que são adquiridos na graduação e a sua utilização durante o trabalho docente, isto ocorre, principalmente, devido à perspectiva de fragmentação da formação na área, a qual o curso não aderiu, (Licenciatura x Bacharelado).

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FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA UEPA: UM ESTUDO SOBRE A INTERFACE ENTRE O CONHECIMENTO TRATADO NA FORMAÇÃO

ACADÊMICA E ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Letícia Santiago Amaral Acadêmica do Curso de Licenciatura em Educação Física – UEPA

[email protected] Zaira Valeska Dantas da Fonseca

Docente do Curso de Licenciatura em Educação Física – UEPA [email protected]

RESUMO O estudo aborda a interface entre o conhecimento tratado na formação acadêmica e os conhecimentos presentes na organização teórico-metodológica dos egressos em seu espaço de atuação profissional. Apresenta como objeto de estudo os conhecimentos da formação dos egressos do Curso de Educação Física da UEPA e sua relação com a atuação profissional. Objetiva analisar as implicações e contribuições da formação profissional ensejada no PPP 2008 do CEDF/UEPA no processo de atuação profissional dos egressos. Para isso, realizada uma pesquisa de campo tendo como referência teórico-metodológicas o Materialismo Histórico Dialético, utilizando-se de questionário semiestruturado aos egressos do PPP 2008. Os principais resultados encontrados indicam que existe uma carência de conhecimentos na formação dos egressos, e este fato decorre de uma posição política dos docentes em relação ao novo PPP que gera negação de conhecimento específico na formação do CEDF/UEPA e também em virtude da organização, disposição e/ou ausência de disciplinas na matriz curricular. Palavras chave: Educação Física. Formação. Mundo do Trabalho.

INTRODUÇÃO

Trata-se de uma análise sobre a interface presente entre os conhecimentos

tratados na formação profissional proposta pelo Curso de Educação Física (CEDF) da

Universidade do Estado do Pará (UEPA) e os conhecimentos presentes na

organização teórico-metodológica dos egressos em seu espaço de atuação

profissional.

Sabe-se que atualmente, “a formação profissional em Educação Física é

permeada por embates de projetos de formação de acordo com as diferentes

concepções dos grupos” (SANTOS JÚNIOR, 2013, p. 39). No CEDF/UEPA existe uma

enorme dúvida entre os alunos sobre a importância dos conhecimentos que são

adquiridos na graduação e a sua utilização durante o trabalho docente, isto ocorre,

principalmente, devido à perspectiva de fragmentação da formação na área, a qual o

curso não aderiu, (Licenciatura x Bacharelado).

2

Segundo os autores Taffarel e Santos Júnior (2010, p.35), inúmeros

argumentos são utilizados para sustentar a proposta de divisão da área, entre eles

encontramos os de que os locais de atuação profissional se diferenciam e, portanto,

a formação profissional deve ser necessariamente, diferenciada. Porém, para a autora

o que deve ser levado em consideração não é o local de atuação profissional, e sim,

o objeto da prática (docência) que será a mesma em todos os campos de intervenção

profissional (escolar e não escolar). Dessa maneira, este estudo teve como tema de

pesquisa os conhecimentos da formação dos egressos do Curso de Educação Física

da UEPA e sua relação com a atuação profissional.

O interesse pelo tema surgiu após inúmeros debates acerca da nossa formação

entre a comunidade acadêmica do CEDF/UEPA, onde há várias controvérsias a

respeito da atuação de professores de Educação Física, principalmente, nos

ambientes não escolares. Existem discursos de alguns professores que afirmam “não

estarmos aptos” para atuar nas áreas não escolares, gerando por meio desses

comentários, várias dúvidas entre os acadêmicos, especialmente, entre aqueles que

não acompanham o debate existente no âmbito acadêmico acerca da formação

unificada (Licenciatura Ampliada) e da formação fragmentada em Bacharelado e

Licenciatura.

Nosso envolvimento tem haver com o fato de estarmos inseridosno movimento

estudantil e acompanharmos ativamente as discussões do movimento acerca da

formação profissional. O tema também se tornou interessante, pois o CEDF/UEPA

estará passando por um processo de Reformulação do PPP do curso, mas antes

disso, torna-se necessário um estudo sobre a formação atual e de que maneira ela

contribui na atuação dos egressos do curso.

Quando nos perguntamos sobre o rumo de formação de professores em

Educação Física, percebemos que após a definição das Diretrizes Curriculares

Nacionais (DCN) para a Formação em Educação Física no ano de 2004, como explica

Brito Neto (2009, p.17), “não alcançou consubstancialmente os principais

interessados, as agências formadoras e a própria comunidade acadêmica”.

A partir de interpretações e expectativas diversas na leitura das DCN, adotou-

se uma perspectiva fragmentada (artificialmente) entre Licenciatura e Bacharelado,

gerando um questionamento: Por que não defender uma Licenciatura Ampliada?

Inúmeros equívocos continuam permeando o espaço acadêmico. Ainda se tem

muitas dúvidas, “onde poderemos atuar?”, “E quando a turma de bacharelado se

3

formar, o que vai acontecer?”, “O PPP está dando suporte tanto às áreas escolares

quanto nas não escolares?”. E é por meio desses questionamentos que surgiu a

problemática da pesquisa: Quais as implicações entre a formação profissional

desenvolvida no CEDF/UEPA e a atuação profissional dos egressos dos últimos

quatro anos do curso?

A fim de compreender alguns aspectos básicos da relação entre formação x

atuação profissional no mercado de trabalho, também levantamos as seguintes

questões: A) Quais os campos de atuação dos egressos do CEDF/UEPA e em que

condições de trabalho se encontram inseridos nesses campos? B) Quais os

conhecimentos tratados no curso de licenciatura em Educação Física da UEPA são

desenvolvidos pelos egressos em sua atuação profissional? ; C) Qual a percepção

que os egressos do curso de Educação Física da UEPA têm sobre os conteúdos e o

trato com os conhecimentos durante o período da sua formação acadêmica em

relação a sua atuação profissional?

Este artigo é estruturado por cinco seções, iniciando pelo percurso

metodológico utilizado para o desenvolvimento do estudo, seguido de duas seções

referentes ao acúmulo teórico construído após a leitura dos referenciais, finalizando

com duas seções referentes à análise e interpretação dos dados coletados no

decorrer da pesquisa.

1 METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada tomando como referência o Materialismo Histórico

Dialético, enquanto teoria do conhecimento e concepção de mundo e práxis

(FRIGOTTO, 2006). Tal perspectiva faz com que possamos entender a pesquisa

como processo de conhecimento e intervenção na realidade concreta e contraditória

na qual nos encontramos, tendo como enfoque neste estudo, a formação e atuação

de professores egressos do CEDF/UEPA. Segundo Minayo (2000, p.65), “o

Materialismo Histórico Dialético representa o caminho teórico que aponta a dinâmica

do real na sociedade, a dialética refere-se ao método de abordagem deste real”.

O estudo se caracterizou por uma pesquisa de campo, pois foi considerada a

área de atuação dos sujeitos, as condições de trabalho, material didático, etc e

permitiu o contato direto com os sujeitos envolvidos, buscando compreender suas

percepções da realidade vivenciada por eles.

4

Na pesquisa sobre formação e atuação profissional dos egressos do

CEDF/UEPA, foram aplicados questionários aos alunos formados pelo PPP 2008,

ou seja, desde o ano de 2012.1 até 2014.1. O lócus da pesquisa envolveu as áreas

de atuação dos egressos, a pesquisa considerou tanto a atuação nas áreas

escolares quanto nas não-escolares (academias, hospitais, clubes, etc).

A coleta de dados foi feita por meio de 200 (duzentos) questionários semi-

estruturados os quais foram enviados através de e-mail, com base em registro de

informações do CRCA (Centro de Registro e Controle Acadêmico). Segundo Moroz e

Gianfaldoni (2006, p.78), o questionário se caracteriza por ser “um instrumento de

coleta de dados com questões a serem respondidas por escrito sem a intervenção

direta do pesquisador”.

Foi realizada a análise documental do Projeto Político Pedagógico do

CEDF/UEPA, e análise de conteúdo dos questionários aplicados, que para Severino

(2007, p.121) se caracteriza por ser uma “metodologia de tratamento e análise de

informações constantes de um documento”, tendo por objetivo “compreender

criticamente o sentido manifesto ou oculto das comunicações”.

Foram analisados todos os questionários que foram devolvidos à pesquisadora,

totalizando 31 questionários devidamente respondidos.

2 FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA E MUNDO DO TRABALHO

Nesta sessão é abordada a formação em Educação Física desde as

mudanças sofridas pelas crises das reformas educacionais no Brasil, até o cenário

atual nas Instituições de Ensino Superior (IES), dialogando de forma concreta, com a

realidade enfrentada pelos professores de Educação Física inseridos no Mundo de

Trabalho.

Para compreender melhor o objeto de estudo, buscou-se entender os

pressupostos que influenciam o cenário de reformas na educação brasileira e como

tais reformas estão diretamente ligadas a suprir as demandas do mercado de trabalho,

não atendendo aos anseios dos estudantes e da classe trabalhadora, que deveriam

ser os principais beneficiados. Para uma melhor compreensão, alguns autores são de

fundamental importância, como Bastos (2013), Brito Neto (2009), Santos Junior

(2013), Arroyo (1985), Taffarel (2012), Nozaki (2004), estudos estes que auxiliam na

compreensão da totalidade que tange a formação de professores no cenário nacional.

5

Com o perfil atual de governo, caracterizado pelas políticas neoliberais, em

que o Estado se exime de suas funções de garantir direitos sociais, tornando-se um

Estado mínimo para as políticas sociais e máximo para o capital, sem condições de

impor sua autonomia frente às imposições neoliberais, percebemos, o sucateamento

das esferas públicas da sociedade, como na saúde, transporte, e principalmente na

educação, conjuntura em que as escolas públicas não possuem investimentos

necessários a uma educação inicial de qualidade.

Essa problemática perpassa a educação básica e no ensino superior ocorre o

sucateamento das universidades públicas de todo o país, interferindo diretamente, na

formação profissional dos estudantes. Para exemplificar, podemos mencionar a área

de formação de professores em Educação Física, em que as políticas para formação

vêm se caracterizando pela fragmentação do curso.

Conforme explica Arroyo (1985),

a persistência e o agravamento de determinadas problemáticas no processo de formação de professores- como o são a fragmentação do processo de trabalho pedagógico, a desqualificação profissional já no processo de qualificação, a fragmentação do conhecimento, as antinomias entre as áreas do conhecimento específico e pedagógico, os anacronismos ante os avanços das forças produtivas e das exigências do modo de produção capitalista, entre outros- fazem parte “de uma política global de negação do saber às camadas populares (p.7).

Evidencia-se, atualmente, nas políticas de formação de professores

existentes no Brasil, um processo de flexibilização curricular pelo qual passam os

cursos de graduação, com o objetivo de adequar o ensino universitário às novas

demandas do processo de estruturação produtivas com implicações nos diferentes

países, sobretudo, nos países da América Latina, objetivando submeter os currículos

aos novos perfis profissionais resultantes dessas modificações (FREITAS apud

SANTOS JUNIOR, 2002).

O processo de reformulação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN)

ocorreu sob muitas críticas em relação proposta, não houve um diálogo com os

setores base, sejam eles estudantes, as universidades e a comunidade acadêmica

(BRITO NETO, 2009). Taffarel (2001, p.151) também aponta que “sua formação está

sob os auspícios de Diretrizes centralizadoras e orientadas ideologicamente pelo

Estado Capitalista que desqualificam a formação emancipatória, desalienadora [...]”.

Em 2004, através do Parecer CNE/CES 058/2004 e pela Resolução nº7, são

aprovadas as “Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em

6

Educação Física” (BRASIL, 2002), estabelecendo as novas Diretrizes a serem

seguidas no Ensino Superior. De acordo com Taffarel e Lacks (2005), o Parecer faz

um retrocesso a posições seriamente criticadas na área, como a fragmentação da

formação em licenciatura e bacharelado, a Educação Física no campo restrito a área

da saúde, a confirmação da lógica mercadológica nas terminologias utilizadas, e à

vinculação da área ao paradigma da aptidão física.

Segundo Cattani, Oliveira e Dourado (2001), as reformas realizadas nos

currículos dos cursos superiores estão intimamente ligadas aos novos perfis

profissionais e modelos de formações estabelecidas na lógica da empregabilidade, a

polivalência e a flexibilidade profissionais são características fundamentais nesse

novo profissional. Como ressalta Nozaki (2004, p.4) “os anseios do capital no que diz

respeito à formação humana para o trabalho, serve de análise para as mudanças

ocorridas na educação brasileira”.

Vivemos em uma conjuntura onde, segundo Taffarel e Santos Júnior (2005,

p.14) os cursos de formação, em geral, e os de formação de professores, em especial,

são impelidos a um processo de reordenamento visando à devida adequação e

ajustes necessários à manutenção e sobrevida do modo [capitalista] de organizar a

vida.

Sabemos também, que o modo de produção vigente no país irá determinar de

forma decisiva como o campo educacional estará estruturado, como já nos apontava

Marx e Engels, na obra Ideologia Alemã (2007).

os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes; em outras palavras, a classe que é o poder material dominante numa determinada sociedade, é também o poder espiritual dominante. A classe que dispõe dos meios da produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles aos quais são negados os meios de produção intelectual está submetido também à classe dominante (p. 47).

Nozaki (2004, p.7), entende que “o reordenamento do trabalho, causado pela

introdução de novas tecnologias operacionais, altera a base técnica da produção,

modifica a organização do trabalho e traz a demanda de formação de um trabalhador

de novo tipo”, que tem como principal característica, capacitar este “novo profissional”

com competências para solucionar empecilhos do dia a dia desse trabalhador,

(COELHO, 2010, p.12).

Sendo assim, a política de formação de professores segue no sentido de

manter a ordem social vigente, ou seja, continuar com o modo capitalista de ensino, e

7

posteriormente, com uma formação que consiga suprir as demandas do mundo do

trabalho. Coelho (2010) apud Fensterseifer (1986) nos apontam esse

processo de desqualificação a partir de críticas às características dominantes dos currículos de formação de professores de educação física a saber: a) o processo de formação profissional acrítico; b) o currículo desportivizado; c) a desconsideração do contexto de inserção social; d) o saber é tratado de forma fragmentada; e) o processo de formação está voltado à estabilidade do sistema vigente; f) a importância e aceitação acrítica de modelos teóricos; g) a orientação na formação voltada para atender às classes favorecidas socialmente; h) a ênfase no paradigma da aptidão física com influência biológica; i) o esporte interpretado como estabilizador do sistema de condicionamento, rendimento, aptidão física, importação cultural, alienador e pautador do modelo de auto rendimento e; j) a dicotomia entre teoria e prática (p. 12-13)

Na década de 1990, com a ampliação do mercado de trabalho, sendo uma

opção de reconfiguração do professor de educação física, surge um novo segmento

a ser explorado: o mundo fitness. Vários problemas eram encontrados durante a

inserção do professor de educação física no mundo do trabalho: a desvalorização do

magistério, o aumento da empregabilidade e empreendedorismo, e com isso, o

aumento das academias de ginástica como forma de promoção de saúde e bem estar

(QUELHAS, 2012).

Seguindo essa lógica do empreendedorismo, do crescimento do

neoliberalismo, e com a leitura equivocada das Diretrizes, reforçou a criação dos

cursos de bacharelado em educação física,

uma formação paralela à tradicional licenciatura, a graduação (bacharelado), que vem corroborar com os interesses do capital, viabilizando um “exército de reserva”, para o apologizado mercado do fitness, ratificando assim, a desqualificação na matriz da formação profissional, ou seja, a formação inicial, inviabilizando dessa forma a garantia da qualidade necessária e uma formação que se quer pautada na busca da emancipação humana (UEPA, 2008, p.18)

Os argumentos que são usados a favor da divisão entre Licenciatura e

Bacharelado são utilizados a partir de uma concepção limitada de mercado de

trabalho e compreensão equivocada sobre a essência do trabalho docente, em

qualquer campo de trabalho, a ação pedagógica é a base da atuação (TAFFAREL E

SANTOS JUNIOR, 2005). Portanto, a identidade profissional está sendo utilizada em

todos os campos, “tanto na atividade de personal trainning, quanto na de treinador

desportivo ou, seja lá qual for a atividade do professor de educação física, ele estará

no serviço da docência, inclusive na atividade investigadora” (MOLINA NETO E

MOLINA, 2003, p. 271).

8

Vários questionamentos, dúvidas e críticas surgiram após a elaboração das

DCN’s, mesmo após onze anos, ainda percebemos inúmeras ambiguidades e dúvidas

no espaço acadêmico e até mesmo na atuação profissional. Várias interpretações

apareceram principalmente entre os dois parágrafos do Art. 4º a seguir:

§ 1º O graduado em Educação Física deverá estar qualificado para analisar criticamente a realidade social, para nela intervir acadêmica e profissionalmente por meio das diferentes manifestações e expressões do movimento humano, visando a formação, a ampliação e enriquecimento cultural das pessoas, para aumentar as possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e saudável. § 2º O Professor de Educação Básica, licenciatura plena em educação física, deverá estar qualificado para a docência deste componente curricular na educação básica, tendo como referência a legislação própria do Conselho Nacional de Educação, bem como as orientações específicas para esta formação tratadas nesta Resolução. (BRASIL, 2004)

Ao verificarmos a quantidade de cursos nas IES no Brasil, nota-se que há um

crescimento tanto nos cursos de licenciatura quanto no de bacharelado, entretanto,

no setor privado a oferta dos dois cursos é mais notória, prevalecendo à licenciatura.

Um fator que influência o distanciamento do curso de bacharelado nas IES públicas é

a visão distorcida que acredita que o curso de bacharelado precisa de investimentos

mais altos, devido aos equipamentos, materiais e aparelhos, como se na licenciatura

tais investimentos fossem desnecessários a uma formação de qualidade.

Entre as IES que oferecem somente o curso de licenciatura, existem as que o

apresentam como licenciatura de caráter ampliado, avanço que foi conquistado graças

aos setores representativos de professores e estudantes, como o MNCR (Movimento

Nacional Contra a Regulamentação da Profissão), o MEEF (Movimento Estudantil de

Educação Física), o LEPEL (Linha de Estudo e Pesquisa em Educação, Esporte e

Lazer), entre outros, que travam uma intensa e incansável batalha a favor de uma

educação de qualidade à classe trabalhadora.

O Movimento Estudantil, que além de participar ativamente no debate sobre

formação e esteve presente na construção das críticas relacionadas às Diretrizes,

possui como uma de suas bandeiras de luta “Educação Física é uma só: formação

unificada, já!”, entende que a fragmentação da área, antes de qualquer coisa,

representa um retrocesso aos avanços históricos já conquistados. É necessário

compreender que para o MEEF,

a Licenciatura Ampliada propõe a formação a partir dos conhecimentos das várias ciências (humanas, sociais, da saúde, da terra, exatas, da arte e da filosofia) e, através da articulação entre conhecimentos ampliados,

9

específicos e de aprofundamento dar condições para que o sujeito em formação consiga apreender de forma articulada e através de sucessivas aproximações os complexos fenômenos da realidade (2013, p. 12)

Portanto o que a Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física

(ExNEEF) traz em si, é a proposta da defesa de outra formação. Vale ressaltar que a

Executiva, recusou-se a participar dos falsos consensos1, não permitindo sua

cooptação pelos grupos corporativistas da Educação Física ao longo da formulação

do DCN, e mesmo já se passado, aproximadamente, onze anos desde a sua criação,

reivindica a revogação destas referências curriculares a partir do esclarecimento da

comunidade acadêmica em espaços construídos para este fim.

A perspectiva de Licenciatura Ampliada foi elaborada pelo grupo de pesquisa

LEPEL em conjunto com a ExNEEF, surgiu como resposta contrária as atuais

Diretrizes, se apresenta como proposta de formação que atenda aos interesses e

necessidades da classe trabalhadora, por ter uma concepção pautada no pleno

desenvolvimento humano, tanto no sentido de formação humana, política, ética,

quanto na formação acadêmica em si, e, além disso, busca a superação da realidade

que está posta.

3 FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA CEDF/UEPA

O projeto em si não transforma a realidade; não adianta ter planos bonitos, se não tivermos bonitos compromissos, bonitas condições de trabalho sendo conquistadas, e bonitas práticas realizadas (VASCONCELLOS, 2007, p.46).

A formação em Educação Física desenvolvida no CEDF (Curso de Educação

Física) da UEPA (Universidade do Estado do Pará) está sendo orientada conforme o

PPP (Projeto Político Pedagógico) do curso reformulado no ano de 2008. A formação

intencionalizada e defendida pelo Projeto é de um perfil de caráter ampliado em

Educação Física,

com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva pautada em princípios éticos, políticos, pedagógicos e com base no rigor científico, cuja intervenção profissional seja qualificada para o exercício

1Falsos consensos: a ExNEEF foi convidada a compor da Comissão que reformularia as atuais DCN’s,

mas se retira ao perceber em que estava se forjando um verdadeiro falso consenso que conciliava os interesses de vários setores e desconsiderava todo o acúmulo de críticas e proposições construídas pelo MEEF, fóruns e intelectuais críticos da área.

10

de atividades profissionais nos diversos ambientes educacionais da Educação Física com base na atividade docente expressa no trabalho pedagógico em diferentes campos de trabalho, mediado pelo objeto-

práticas corporais, esportivas e do lazer. (UEPA, 2008, p. 28) Sendo assim, o currículo prescrito na realidade do CEDF/UEPA direciona no

sentido em formar um novo homem, crítico, reflexivo e transformador de suas

realidades, tendência essa que se evidencia cada vez mais nas reformulações

curriculares, o que motiva e mobiliza o sentido de definir o caráter político das mesmas

(COELHO, 2010, p.63).

A perspectiva de caráter ampliado concorda com que, seja qual for o espaço

de atuação do professor de educação física, o que o caracteriza a sua intervenção é

a docência, “em qualquer campo de trabalho, a ação pedagógica é a base da

formação acadêmica e do trabalho. Isso nos aponta a necessidade de considerarmos

o princípio de estruturação do conhecimento científico no currículo” (TAFFAREL &

SANTOS JR., 2005, p. 127).

Portanto, a formação prevista no PPP propõe garantir uma sólida formação

inicial aos graduandos, não seguindo na problemática que ocorre no cenário da

formação de professores, como o aligeiramento da formação inicial, a desqualificação

profissional já durante seu processo de qualificação, a fragmentação (e negação) do

conhecimento, antinomias entre as áreas do conhecimento específico e pedagógico,

fragmentação do processo de trabalho pedagógico (TAFFAREL E SANTOS JR, 2010).

Essas e outras formas são exemplos “de uma política global de negação do saber às

camadas populares” (ARROYO, 1985, p.7).

Portanto, o currículo proposto visa um modelo de formação que garanta aos

estudantes

uma sólida formação teórico-prática, de base interdisciplinar, com a finalidade de, ao final do curso, nossos egressos compreenderem o seu campo de intervenção em suas múltiplas inter-relações com o mundo do trabalho para, a partir daí, consolidar em uma formação continuada o domínio da especificidade dos diversos campos de atuação da área (UEPA, 2008, p. 29)

O perfil profissional ensejado tem o objetivo de formar professores

qualificados para atuar, desenvolver, agir e implementar as ações docentes que

compõem o trabalho pedagógico em diferentes espaços de atuação, mediado pelo

objeto das práticas corporais, esportivas e do lazer (UEPA, 2OO8). E para, além disso,

11

professores capazes de intervir na superação de sua realidade, e que enfrentem as

questões referentes ao trabalho alienado capitalista, a fim de sua superação por um

trabalho de base emancipatória (UEPA. Ibidem).

4 FORMAÇÃO ACADÊMICA E ATUAÇÃO PROFISSIONAL DOS EGRESSOS DO

CEDF/UEPA

A amostra foi composta por 31 egressos recém formados (02 anos a 06 meses

de conclusão de curso), formados a partir do atual PPP do CEDF/UEPA entre os anos

de 2011 a 2014.1, que responderam devidamente o questionário utilizado como coleta

de dados desta pesquisa, enviado via e-mail.

4.1 CAMPOS DE ATUAÇÃO E CONDIÇÕES DE INSERÇÃO NO AMBIENTE

PROFISSIONAL

Tabela 1- Campos de atuação dos egressos do CEDF/ UEPA

Um primeiro aspecto a ser observado nos resultados obtidos é a quantidade de

professores inseridos na esfera privada com fins lucrativos, este fato torna-se cada

vez mais frequente devido a ampliação crescente da mercantilização das práticas

corporais, que expandiram a inserção destes trabalhadores no chamado campo não

escolar, que inclui, escolinhas de esporte, recreação, e principalmente no segmento

fitness (QUELHAS, 2011).

Quando perguntados em quais campos de atuação já estiveram inseridos, (07)

professores responderam que trabalharam em apenas Área Escolar, outros (07)

docentes informaram que trabalharam somente na Área Não Escolar, e (14)

02468

101214161820

Esfera Privadacom finslucrativos

PúblicoMunicipal

Desempregado Público Estadual Público Federal

12

professores já tiveram sua atuação tanto nas áreas escolar quanto não escolar.

Respostas residuais somaram (03).

Em relação a sua satisfação na atividade profissional atual, (14) se posicionaram

satisfeitos, (12) professores responderam estar insatisfeitos, e (5) por se encontrarem

em situação de desemprego não responderam a esta pergunta. A resposta mais

encontrada em meio aos professores que alegaram a insatisfação na área, foi em

relação à desvalorização do professor de educação física, como encontramos na fala

do E18 (informação por escrito),

a insatisfação por não ‘poder’ atuar nas diversas áreas da E.F, por não sentir-me preparada para tal, uma vez que tive diversos conhecimentos negados durante a graduação, e a segunda questão é sobre um dos trabalhos, onde o salário do professor é baixíssimo R$ 9,00 h/aula, além disso pontuo a falta de infraestrutura e materiais adequados para a prática da Educação Física.

Quanto às horas de trabalho que exercem por dia, (13) professores

responderam que menos de 6h/diária, 06 professores trabalham durante 6h/diária, e

somente (05) egressos nos afirmaram que sua carga horária chega a 8 horas/diárias,

somente (01) professora alegou trabalhar mais de 12 h/dia.

Em sua obra “O capital” (2001), Marx aponta alguns dos elementos

determinantes à acumulação do capital por parte dos capitalistas,

a troca é apenas aparente: a parte do capital que se troca por forças de trabalho é uma parte do produto do trabalho alheio ao qual o capitalista se apropriou sem compensar com um equivalente [...] O conteúdo é o capitalista trocar sempre por quantidade maior de trabalho vivo uma parte do trabalho alheio já materializado, do qual se apropria ininterruptamente, sem dar a contrapartida de um equivalente (p.681)

Com isso podemos afirmar que, a regulamentação da profissão sustentada pelo

Sistema CREF/CONFEF, não trouxe a tal valorização da profissão tão apregoada pelo

Conselho. Ao contrário disso, os baixíssimos salários devido o contrato horista, a

exploração da força de trabalho, a negação de direitos historicamente conquistados

pela classe trabalhadora, continuam sendo realidade destes trabalhadores que estão

inseridos nos espaços não escolares.

Quanto à atuação na área de maior interesse, 17 professores responderam que

atuam no campo de intervenção que possuem maior afinidade, 10 responderam que

13

não atuam, e nas respostas o ponto mais evidenciado devido a não inserção desses

professores no campo de maior interesse, foi devido falta de concurso público na área.

Em uma das perguntas, também foi questionado quais direitos conquistados

historicamente pela classe trabalhadora e garantidos pela Lei 5452 (Lei do Trabalho),

estes professores têm acesso. Percebemos que apenas (09) possuem Carteira

Assinada, (06) tem direito ao Vale Transporte, e apenas 05 professores tem acesso

ao Vale Alimentação, (1) professor tem pagamento combinado, e chegando até

mesmo (1) egresso não ter acesso a nenhum desses direitos, comprovando que estão

cada vez mais precarizados os espaços de intervenção do professor de Educação

Física no Mundo do Trabalho.

Segundo Both (2011), várias alternativas o capital encontra para manter sua

estrutura, a ampliação de trabalhadores em situação de desemprego ou subemprego,

forjando aqueles que se mantêm empregados a aceitarem as condições de trabalho,

fatores que influenciam no aumento da exploração da força de trabalho.

4.2 CEDF/UEPA: PELA VISÃO DOS EGRESSOS

Nesta seção encontramos os elementos principais em relação à visão do

egresso durante o período de sua formação, detalhando qual sua percepção em

relação ao curso, quais disciplinas contribuíram com sua fundamentação teórica e

com sua prática profissional, e também quais foram as matérias em que houve uma

maior carência com o trato do conhecimento.

Tabela 3: O que influenciou na mudança de percepção no decorrer do curso

14

Percebemos nas falas dos egressos, que a visão da formação de caráter

generalista foi o que mais mudou no decorrer de sua formação acadêmica, como

podemos analisar na fala do E5 (informação por escrito)

Entramos [na universidade] com um pensamento um tanto fragmentado e estereotipado sobre este saber, no entanto com as inúmeras vivencias, fomos aprofundando questões sociais e políticas que envolvem a educação física.

Também podemos observar o envolvimento com as questões políticas ou com

o Movimento Estudantil, sendo vivências importantes para a formação acadêmica do

egresso, como podemos verificar pela fala do E14: “minha inserção no movimento

estudantil possibilitou uma visão mais ampliada sobre a realidade como um todo, a

universidade, logo, sobre o curso também”.

Segundo Lênin (2005, p.07) “[...] a juventude tem papel fundamental na

formação do homem novo”, portanto torna-se tarefa do Movimento Estudantil, um dos

primeiros espaços de formação política, construir o processo de conscientização

política, visão da totalidade e Humanização dos estudantes durante o período da

Universidade. E também para, além disso, poder intervir futuramente na realidade

concreta em que estará inserido como trabalhador, conforme nos explica Mészáros

(2008, p. 79), que

o papel da educação não poderia ser maior na tarefa de assegurar uma transformação socialista plenamente sustentável. A concepção de educação aqui referida- considerada não como um período estritamente limitado da vida dos indivíduos, mas como um todo – assinala um afastamento radical das práticas educacionais dominantes sob o capitalismo avançado.

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Um primeiro aspecto a ser observado sobre a avaliação do quadro de

professores que compõe o CEDF/UEPA, diz respeito ao compromisso docente com a

formação acadêmico dentro da Universidade. Fato este que vem atrelado a outro

ponto bastante ressaltado na fala dos egressos: a negação de conhecimento

específico.

Tabela 4: Avaliação do corpo docente no CEDF/UEPA

Como podemos verificar na fala dos egressos: E20: “Depende da área,

infelizmente os professores do departamento do desporto e área mais biológica

deixaram a desejar. Negaram conhecimento, se fecharam ao debate e se negavam

atualizar-se”. E 23:

O corpo docente do curso, em sua maioria, é de qualidade, o que falta é o comprometimento com a formação acadêmica dos alunos, portanto, eles oscilam de acordo com a turma e o momento histórico do qual vive. Até porque os mesmos professores, que para mim e os meus colegas de turma eram péssimos, sem comprometimento, não davam aula, para uma instituição particular eram exemplares [...].

Quando questionados sobre a formação recebida no CEDF/UEPA apenas 08

egressos responderam que, apesar de inúmeras falhas, foi satisfatória. Já o restante

dos entrevistados (23), nos apontou que a formação não foi satisfatória, expuseram

vários fatores que influenciaram essa percepção negativa do Ensino Superior. Entre

as respostas mais enfatizadas foram a organização e disposição dos conhecimentos

na Matriz curricular (6), a ementa versus a prática docente (6), a falta de compromisso

docente (5), a negação do conhecimento específico (3), problemas de cunho

ideológico entre os professores (2), a problemas infra estruturais (1), a necessidade

da Reformulação do PPP (1), e a dissociação entre teoria e prática (1). Porém é válido

ressaltar, a forma como o PPP vem sido conduzido ao longo dos anos, sob muita

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16

resistência de alguns professores, que desconstroem a proposta de formação

defendida pelo Projeto.

Tabela 5: Disciplinas do currículo que mais contribuíram na formação do

egresso

A tabela demonstra que, mesmo existindo uma grande polêmica em torno da

carga horária da disciplina Pesquisa e Prática Pedagógica, ela está presente como a

área do conhecimento que mais contribuiu com a formação do egresso. Em segundo

aparece a Fisiologia2, disciplina que se encontra como optativa no atual Projeto

Político Pedagógico do Curso, e é motivo de muitas críticas no espaço acadêmico.

Quando perguntado sobre o desenho curricular com disciplinas obrigatórias,

eletivas e as atividades complementares, (23) egressos responderam que

contribuíram parcialmente, (7) apontaram que contribuíram e apenas um professor

afirmou que o desenho curricular é insuficiente para proporcionar uma formação de

qualidade aos acadêmicos do CEDF/UEPA.

É necessário um cuidado e estudos cada vez maiores na área de formação de

professores, pois, como explica Bastos (2013, p.17),

as demandas que emergem desse setor, sobretudo dos docentes e discentes, além dos demais sujeitos que estão nas instituições de ensino, anseiam por uma política de Formação de Professores de caráter ampliado, que não esteja voltada à mera certificação, ou apenas ao atendimento às demandas do mercado de trabalho.

2 Na grande maioria das respostas não vinha diferenciando de qual Fisiologia os egressos faziam

referência. Tratavam-se da Disciplina regular (Fisiologia aplicada à Educação Física) ou da optativa (Fisiologia do Exercício), então é válido mencionar que estamos levando em consideração ambas as disciplinas.

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Tabela 6: A área do conhecimento que possui maior carência

Quando questionados sobre a área do conhecimento em que se possui maior

fragilidade, nota-se em que há uma ênfase maior nas Modalidades Esportivas (05),

Primeiros Socorros (04) e Saúde Coletiva (04). Sendo que dessas disciplinas,

somente a Saúde Coletiva é obrigatória na matriz curricular, gerando assim um

possível conflito entre as concretas necessidades dos estudantes frente ao que está

sendo oferecido pelo PPP.

É válido considerar também, que vários egressos relataram que não havia uma

relação interdisciplinar, e até mesmo com a área (Educação Física), ou que os

professores não seguiam o que estava sendo propostos nas ementas das disciplinas,

fatos que colaboram com o enfraquecimento do conhecimento com os estudantes.

Quanto aos conhecimentos mais relevantes em sua atuação profissional

encontramos PPP (8), Ginástica (8), Esporte (8) e Didática (7), considerados como

maior grau de importância, tal análise nos permite ratificar a importância de acesso a

tais conhecimentos aos estudantes independentemente do seu futuro campo de

atuação. Essa perspectiva demonstra que na atuação profissional estes

conhecimentos são relevantes e contradiz a noção disseminada no curso pela grande

maioria dos acadêmicos do curso que ainda discorrem com falas prontas de que o

“curso está pedagógico demais”, visão restrita em que não compreende os espaços

não escolares como áreas educativas, local onde conhecimento é sistematizado, indo

além das técnicas relacionadas ao campo de atuação específico.

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Tabela 6: Conhecimentos adquiridos durante a formação mais relevantes na

atuação profissional

Em relação à identificação dos elementos do trabalho pedagógico/ prática

docente em seus determinados campos de atuação, (18) dos egressos apontou que

sim, (5) responderam que não, (3) não responderam a essa pergunta, e (5) encontram-

se em situação de desemprego. Entre as respostas dos que afirmaram encontrar

elementos da ação docente em sua prática cotidiana profissional, encontramos que

“em qualquer campo de atuação da Educação Física o trabalho pedagógico está

presente e baliza a atuação do professor, dentro da escola (...)” (EGRESSO 18,

informação por escrito).

CONSIDERAÇÕES

Esta pesquisa procurou realizar uma análise sobre realidade da atuação dos

egressos e as possíveis relações com a perspectiva de formação adotada no CEDF-

UEPA, podendo assim, contribuir para futuras alterações do PPP do curso. Além

disso, também esclarecer algumas questões inquietantes em relação à formação em

Educação Física, e o porquê continuarmos na luta em defesa de uma licenciatura de

caráter ampliado que atenda os interesses dos estudantes e da classe trabalhadora.

O primeiro aspecto importante encontrado é que a maioria dos egressos

encontra-se atuando em área privada com fins lucrativos, com direitos trabalhistas

sendo negados, como Carteira de Trabalho assinada, 8 horas diárias, décimo terceiro,

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Vale Transporte, entre outros. Todos esses fatores colaboram com a não satisfação

desses trabalhadores em sua atividade profissional.

Outro aspecto importante é a mudança de percepção dos egressos, onde a

maioria afirma ter formado uma visão mais generalista da educação física, com

possibilidades de intervenção/ atuação profissional em várias áreas. A maioria

significativa também atribuiu sua transformação ao movimento estudantil, ratificando

em que os movimentos sociais não estão desatrelados da Universidade.

Ressalta-se também o trato com o conhecimento relatado pelos egressos, onde

a maioria do corpo docente não estava comprometida com a formação, ou não

relacionava a ementa da disciplina com sua prática docente, gerando um baixo

aproveitamento da disciplina, influenciando diretamente nas carências de

determinadas áreas do conhecimento, haja vista que elas são negadas aos

estudantes pelos próprios professores.

Outro aspecto importante a ser destacado é a relação dos conhecimentos

desenvolvidos pelos egressos durante sua atuação profissional e como eles estão

organizados na matriz curricular. Observou-se que os conhecimentos mais relevantes

fazem parte das disciplinas regulares. Em contrapartida quando se relaciona com a

área do conhecimento em que eles sentem carência, aparecem várias disciplinas que

se encontram atualmente como optativas.

Quanto ao objetivo central do estudo, conclui-se que as áreas do

conhecimento em que os egressos mais tiveram contribuições estão localizadas nos

Departamentos de Artes Corporais (DAC), Educação Geral (DEDG), Morfologia e

Ciências Fisiológicas (DMCF). Percebe-se que as maiores carências estão

relacionadas com os Departamentos de Desporto (DEDES), de Saúde Comunitária

(DSCM), de Ciências do Movimento Humano (DCMH), onde também foram

encontrados nas respostas dos egressos, de maneira direta, que existe uma negação

do conhecimento por parte dos professores destas disciplinas.

Em meio a este cenário de precarização da formação inicial dos professores,

onde todos os ajustes na educação são feitos em prol do capital, este estudo se torna

fundamental no processo de instrumentalizar os professores e acadêmicos para

atuação profissional e enfrentamento das dificuldades encontradas, não somente no

âmbito da atuação profissional, mas, sobretudo nas problemáticas que tange a

formação acadêmica.

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VOCATIONAL TRAINING IN PHYSICAL EDUCATION IN UEPA: A STUDY ON THE INTERFACE BETWEEN THE TREATY KNOWLEDGE IN EDUCATION AND

PROFESSIONAL PRACTICE

ABSTRACT

The study addresses the interface between knowledge treated in academic training and knowledge present in the theoretical and methodological organization of the graduates in their professional performance space. It presented as the subject matter expertise of the training course graduates of Physical Education UEPA and its relation to professional performance. It aims to analyze the implications and contributions of vocational training is vested in PPP 2008 CEDF / UEPA the professional practice process of graduates. For this, one having performed field research as theoretical and methodological reference the Historical Dialectical Materialism, using semi-structured questionnaire to the graduates PPP 2008. The main results indicate a lack of knowledge in the training of graduates, and this fact It stems from a political position of teachers for the new PPP that generates specific knowledge of denial in the formation of CEDF / UEPA and also due to the organization, provision and / or absence of disciplines in the curriculum. Key words: Physical Education. Formation. World of Work

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