fontes para a história apresentação 2

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Campus Chapecó SC, abril de 2014. Universidade Federal da Fronteira Sul UFFS Disciplina: Metodologia da Pesquisa em História Docente: Vicente Ribeiro Monitora: Geise Targa Teste de Rorschach.

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Page 1: Fontes Para a História Apresentação 2

Campus Chapecó – SC, abril de 2014.

Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS

Disciplina: Metodologia da Pesquisa em História

Docente: Vicente Ribeiro

Monitora: Geise Targa

Tes

te d

e R

ors

chac

h.

Page 2: Fontes Para a História Apresentação 2

a) O QUE SÃO “FONTES PARA A

HISTÓRIA”?

• Os restos, como as fontes, são material

histórico para nós porque fornecem um

conhecimento de tempos passados, ou seja, de

atos de vontade que estiveram uma vez em seu

presente e que atuavam e produziam assim

aquilo que nós queremos voltar a representar

em forma de história. Não dispomos [...] de

outro material que estes restos e estas fontes.

(citação a Topolsky, p. 293)

Page 3: Fontes Para a História Apresentação 2

• A profunda relação entre a história vivida e os

testemunhos que dela sobreviveram – que são

a porta de entrada do historiador para construir

o conhecimento sobre o passado – faz com que

o tema das “fontes para a história” tenha sido

sempre de enorme importância para a

disciplina. (p. 294)

Page 4: Fontes Para a História Apresentação 2

• Assim, uma primeira observação é a diferença entre a ideia que os historiadores tradicionais do século XIX tinham de fonte e a que hoje possuímos, a qual pode ser resumida em três aspectos:

• 1) as fontes não se restringem aos documentos escritos oficiais;

• 2) as fontes não falam por si, as perguntas do historiador é que lhes dão voz;

• 3) as fontes não são vestígios neutros do passado, pois trazem as marcas e intenções das sociedades que as produziram. (p. 294)

Page 5: Fontes Para a História Apresentação 2

• (...) durante o século XIX, ao mesmo tempo em que se desenvolveu o “culto aos fatos”, avançou também o “culto aos documentos”, ou seja, pensava-se que o passado podia ser conhecido a partir da leitura direta dos documentos por historiadores que, por serem capazes de um trabalho neutro com as fontes, podiam realizar uma reconstrução precisa, objetiva do acontecido. Consideravam-se “documentos” via de regra os textos escritos que tratavam dos grandes personagens e de seus feitos políticos e militares e os produtos da arqueologia. Submetidos pelos historiadores aos procedimentos de crítica interna e externa, adiante explicados, e não sendo falsos, estes documentos eram considerados o reflexo verdadeiro dos acontecimentos e, portanto, a matéria-prima da história. Assim a ideia que geralmente presidiu o trabalho dos historiadores tradicionais foi que o conhecimento histórico se fazia com documentos que se impunham por si próprios. (p. 295)

1) as fontes não se restringem aos documentos escritos

oficiais;

Page 6: Fontes Para a História Apresentação 2

• (...) se percebeu que as representações do passado, quer as contidas nos documentos, quer aquelas resultantes do trabalho do historiador com os mesmos, não podiam libertar-se inteiramente dos interesses, desejos ou crenças de quem as produziu e da sociedade a qual pertenciam. Uma posição mais crítica diante do documento histórico gerou uma outra visão não somente sobre sua produção no passado, como também sobre seu emprego pelo historiador, ficando claro o papel ativo que tinham as perguntas por ele formuladas. Desde então, portanto, considera-se em geral que os documentos, ou seja, os materiais empíricos que vão ser a base do trabalho de pesquisa, são testemunhos potenciais da história, que só se convertem em fontes quando um historiador os interroga. (p. 295)

1) as fontes não se restringem aos documentos escritos

oficiais;

Page 7: Fontes Para a História Apresentação 2

1) as fontes não se restringem aos documentos escritos

oficiais;

• Hoje em dia, tudo o que o ser humano produziu ao longo de sua vida pode se transformar em uma fonte para o trabalho do historiador. Assim, o produto das ações humanas, seja na esfera do trabalho ou da família, no âmbito da religião ou do lazer, pode tornar-se fonte para a história. Sob esta perspectiva, ampliaram-se enormemente os espaços de pesquisa: além dos arquivos governamentais e das fontes arqueológicas, os arquivos paroquiais, judiciais, de associações esportivas e recreativas, de síndicos e hospitais, assim como os arquivos pessoais, entre outros, tornam-se possíveis locais de trabalho para o pesquisador da história. (p. 295)

Page 8: Fontes Para a História Apresentação 2

1) as fontes não se restringem aos documentos escritos

oficiais;

• [No século XX] O contato com disciplinas

como a sociologia, a antropologia, a

demografia, a economia, a psicologia social e a

linguística contribuiu para a ampliação do

repertório dos materiais que o historiador pode

empregar como fonte. (p. 295-296)

Page 9: Fontes Para a História Apresentação 2

1) as fontes não se restringem aos documentos escritos

oficiais;

• Cita Messina, R.:

[...] poderíamos dizer, para fechar este tema,

que, quando ao conceito, fonte é todo tipo de

produto da vida humana e não-humana, que

havendo permanecido no tempo, sob a forma

que seja, é capaz de proporcionar dados e/ou

informações a todo aquele que seja capaz de

interrogá-lo. (p. 296)

Page 10: Fontes Para a História Apresentação 2

2) as fontes não falam por si, as perguntas do historiador é

que lhes dão voz;

• Dessa forma, outra transformação profunda que sofreu a noção de fonte histórica foi quanto à idéia de que ela era o próprio documento, que “carregava” o passado. Devemos lembrar que é o historiador, ao pesquisar e ao estabelecer sua narrativa, que seleciona e ordena os documentos que serão apresentados. Assim, um mesmo documento, dependendo da pesquisa que está sendo realizada, poderá revelar diferentes conteúdos. (p. 296)

Page 11: Fontes Para a História Apresentação 2

2) as fontes não falam por si, as perguntas do historiador é

que lhes dão voz;

• (...) as perguntas do historiador também dependem das concepções teóricas e das ferramentas conceituais a partir das quais interroga seus documentos. (p. 297)

• (...) no século XX, ao considerar que “tudo é história”, como preconizavam os Annales, os historiadores ampliaram sua visão e multiplicaram suas abordagens. O surgimento de pesquisas sobre objetos até então praticamente ignorados – a história das mulheres, dos escravos, dos trabalhadores, dos operários, da sexualidade, do amor, da loucura etc. – foi um resultado dessa concepção. (p. 297)

Page 12: Fontes Para a História Apresentação 2

3) as fontes não são vestígios neutros do passado, pois trazem as

marcas e intenções das sociedades que as produziram.

• (...) as fontes, como já observamos, não podem ser consideradas vestígios neutros do passado não apenas porque só “falam” através das perguntas do historiador, mas também porque inevitavelmente carregam as intenções das sociedades que as produziram, segundo as relações de força que aí se davam, segundo aqueles que detinham o poder. Um olhar mais crítico em relação às fontes trouxe à tona a questão de que nem todo documento autêntico – isto é, verdadeiro, no sentido de que não tenha sido falsificado, - pode ser considerado “portador da verdade” sobre o passado.

Page 13: Fontes Para a História Apresentação 2

3) as fontes não são vestígios neutros do passado, pois trazem as

marcas e intenções das sociedades que as produziram.

• Cita Le Goff:

“O documento não é inócuo, é antes que nada, o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da sociedade que o produziram, mas também durante as quais continuou sendo manipulado, ainda que pelo silêncio.” Por isso, esse historiador considera que o documento deve ser visto como um monumento: uma construção elaborada para preservar uma determinada memória e uma certa história – e como tal deve ser criticado e analisado. (p. 298)

Page 14: Fontes Para a História Apresentação 2

• Tendo claro que qualquer documento é produto de uma sociedade que o fabricou segundo relações de força que ali detinham o poder. Le Goff chama atenção à distinção entre codumento e monumento, observando como, nesse sentido, o das relações de força, o documento tornou-se um “monumento”, ou seja, algo que pretende estabelecer fixidez, permanência e delimitação das interpretações possíveis sobre uma época (...) “[...] o que sobrevive não é o conjunto daquilo que existiu no passado, mas uma escolha efetuada quer pelas forças que operam no desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam à ciência do passado e do tempo que passa, os historiadores”. (p. 298)

3) as fontes não são vestígios neutros do passado, pois trazem as

marcas e intenções das sociedades que as produziram.

Page 15: Fontes Para a História Apresentação 2

b) O historiador, seus documentos, suas fontes

• O que foi exposto justifica que se examine mais a relação entre historiador e suas fontes, pois, no trabalho com elas, não há uma verdade dada, prévia, pronta. Daí a importância de se ter presente que o historiador

• [...] não é um arqueólogo da documentação, mediador neutro entre a verdade da fonte e a verdade da história, mas aquele que é capaz de formular uma problemática e de construir uma interpretação em que reconhece o encontro entre duas historicidades: a sua própria e a da documentação que utiliza. (citação a Margarida Neves) (p. 299)

Page 16: Fontes Para a História Apresentação 2

• [...] o pesquisador não precisa esperar um acúmulo infinito de fontes para poder, em um futuro nebuloso, escrever sobre o passado. O historiador deve delimitar a necessidade documental de sua pesquisa e, a partir dela, buscar e construir suas fontes. Isto não significa que saiba de antemão ou que possa controlar o que irá encontrar nas fontes, mas a consciência do que está buscando certamente auxilia a guiar a investigação e a torná-la mais frutífera. (p. 300)

Page 17: Fontes Para a História Apresentação 2

• A relação entre historiador e suas fontes é,

portanto, um constante diálogo, em que a

busca de dados nas fontes é guiada pelo

objetivo da pesquisa, ao mesmo tempo em que

o contato com a documentação pode suscitar

novas perguntas, idéias e hipóteses. (p. 300)

Page 18: Fontes Para a História Apresentação 2

• Trabalhar com fontes não significa, pois, colher dados e alinhá-los em uma ordem “natural” ou cronológica. Significa antes compreendê-los, criticá-los, compará-los. Por vezes, é mesmo na contrastação de versões diferentes sobre um mesmo acontecimento que reside a possibilidade de trabalho e de entendimento do historiador. (p. 300)

• [...] não é demais frisar que é preciso distinguir entre documentos (testemunhos potenciais), suscetíveis de se converterem em fontes, e fontes, que são esses documentos interrogados pelo historiador nos vários sentidos anteriormente mencionados. E é mais correto se dizer “fontes para a história” – ou seja, um material que foi transformado em fonte – do que “fontes da história”, um material que por si mesmo seria a história. (p. 300)

Page 19: Fontes Para a História Apresentação 2

c) Como localizar as fontes?

• Ciro Cardoso, ao tratar dessa questão e considerando apenas o caso mais comum das pesquisas que utilizam fontes escritas, destaca três problemas fundamentais que o historiador enfrenta: localizar os acervos documentais; evitar a dispersão e a perda de tempo; manter um controle permanente e total sobre os materiais acumulados, mediante uma organização eficiente da coleta de informações. (p. 301)

Page 20: Fontes Para a História Apresentação 2

• Há muitos procedimentos para localizar fontes e eles dependem, em boa medida, do grau de conhecimento que o pesquisador possui do tema que deseja investigar. Se ele é iniciante, se tem poucas referências sobre o assunto, um caminho aconselhável é que examine, em obras que tratam do tema ou de temas próximos, a bibliografia consultada pelos respectivos autores, as instituições de pesquisa e arquivos que foram visitados para a pesquisa etc. (p. 301)

Page 21: Fontes Para a História Apresentação 2

• (...) também é de grande utilidade a consulta às chamadas “obras de referência” que podem ser de vários tipos, como as que publicam a relação de teses e dissertações defendidas em uma universidade, bibliografias específicas para determinados temas etc. (p. 302)

• (...) a fim de evitar perda de tempo, é importante que o pesquisador tenha claro não somente o tema como também suas hipóteses de trabalho antes de iniciar a coleta de fontes. Como já dito, assim como o problema de pesquisa guiará a coleta de dados, o trabalho com as fontes ajudará a (re)definir os objetivos da pesquisa permanente entre teoria e dados empíricos que uma pesquisa vai se desenvolvendo. (p. 302)

Page 22: Fontes Para a História Apresentação 2

d) Tipos de fontes ou classificação dos

documentos

• Embora a classificação contribua para que o historiador se localize melhor na extensa documentação que pode transformar em fonte histórica, ela é sempre incompleta e provisória, pois, como vimos, um mesmo documento pode servir de fonte para diferentes temas, dependendo da pergunta que o historiador lhe faça. Também as diferentes classificações muitas vezes superpõem-se. Assim, um mesmo documento pode ser uma fonte primária quanto à sua origem direta em relação ao tema pesquisado, oral quanto à sua forma de apresentação e privada quanto à sua procedência. (p. 302-303)

Page 23: Fontes Para a História Apresentação 2

• A primeira das classificações a que nos referimos é aquela que diferencia as fontes primárias e secundárias, conforme sua originalidade. As fontes primárias são constituídas pelos documentos originais, que surgiram em decorrência direta de um determinado acontecimento. As fontes secundárias, por sua vez, são as que se originaram do tratamento de uma fonte original ou primária, tais como os livros e trabalhos resultantes da pesquisa sobre um determinado tema, comentários sobre a documentação empregada etc. (p. 303)

Page 24: Fontes Para a História Apresentação 2

• (...) a classificação em ‘primária” ou “secundária” não pode ser considerada inerente à fonte, sendo antes definida pelo pesquisador, de acordo com seu objeto de trabalho. Por exemplo, quando a pesquisa é sobre Historiografia, a bibliografia é uma fonte primária. (p. 303)

• As fontes também podem ser classificadas quanto ao seu caráter público ou privado, de acordo com o local em que estejam depositadas. (p. 303)

• Se, por um lado, os arquivos públicos reúnem materiais em geral de livre consulta, por outro lado, há uma série de documentos que pertencem a particulares, em bibliotecas e coleções privadas cujo acesso depende do consentimento do proprietário. (p. 304)

Page 25: Fontes Para a História Apresentação 2

• Outra classificação das fontes refere-se à sua

forma de apresentação ou, poderíamos dizer,

ao seu suporte. Além das fontes escritas, o

historiador conta, por exemplo, com um

enorme repertório documental iconográfico

(gravuras, fotografias, desenhos, pinturas,

etc.), fontes que exigem uma série de métodos

e técnicas específicos, que devem ser

conhecidos por aquele que quiser trabalhar

com estes materiais. (p. 304)

Page 26: Fontes Para a História Apresentação 2

e) A crítica dos documentos

• Desde sua consolidação como disciplina, a

história tem tido como um de seus principais

cuidados a verificação da autenticidade e da

veracidade dos documentos. (p. 305)

Page 27: Fontes Para a História Apresentação 2

• (...) a crítica histórica busca estabelecer a origem, autenticidade e veracidade dos documentos. [citação à Ciro Cardoso, Uma introdução à história] Assim, a crítica externa busca determinar a autenticidade do documento por meio, por exemplo, de sua comparação com outros documentos contemporâneos e com seu contexto sociocultural. Outro procedimento da crítica externa é a crítica da restituição, que procura estabelecer a forma original do documento, através da comparação das cópias, do cotejamento de suas diferenças e do estabelecimento de sua genealogia. A crítica de procedência, por sua vez, investiga a origem dos documentos: por meio da menção de fatos e locais e das especificidades linguísticas do texto, busca-se determinar sua data, seu local e autor. Entretanto, como afirma Cardoso: “Convém, por outro lado, também interpretar a ‘origem’ num sentido social além de geográfico: os centros de interesse revelados pelo texto ‘denunciam’ o grupo social responsável por sua elaboração.” (p. 305-306)

Page 28: Fontes Para a História Apresentação 2

• A crítica interna dos testemunhos preocupa-se em determinar a veracidade do conteúdo de um documento. O primeiro passo é a interpretação ou hermenêutica, que busca apreender o conteúdo e o sentido do texto, levando em conta as diferenças linguísticas e culturais que separam o historiador de seu objeto de pesquisa. (...) estabelecido o sentido do texto, a crítica da sinceridade examina a credibilidade das informações contidas no documento, buscando determinar se o autor tinha interesse em mentir e, por fim, a crítica da exatidão estabelece o grau de conhecimento que o autor do documento poderia ter dos fatos que relata. (p. 306)

Page 29: Fontes Para a História Apresentação 2

• Originalmente, a utilização desses procedimentos esteve

fundada em um entendimento da história atualmente em

desuso, devido, entre outros, à sua visão dos documentos como

“tradutores da verdade” e, como afirma Cardoso, à noção de

um sujeito histórico “transparente”, individual, consciente e

dotado de livre arbítrio. Esta concepção da história e do

historiador hoje em dia está superada e, na medida em que se

entendeu que os documentos não eram “transparentes”, e sim

“opacos”, foram sendo desenvolvidos novos procedimentos,

novas técnicas e novas teorias para o trabalho do historiador.

Portanto, a crítica dos documentos continua a ser

imprescindível no trabalho do historiador, uma vez que a

determinação de sua autenticidade e origem são partes

essenciais da análise dos materiais com que trabalhamos.

Mesmo os documentos falsos podem ser úteis, dependendo das

perguntas que lhes são formuladas. (p. 306-307)

Page 30: Fontes Para a História Apresentação 2

f) As fontes e os recursos técnicos para sua

abordagem, tratamento e preservação.

• (...) as próprias fontes estabelecem certas possibilidades e limites a seu uso. Assim, existem fontes que, pela natureza de seu registro, permitem a construção de séries, pois “[...] se repetem em forma estereotipada segundo um padrão regular”, tais como assentamentos paroquiais de batizados, assentamentos cartoriais de testamentos ou partilhas, formulários de alfândega etc. Outras, como a correspondência pessoal, constituem registros únicos, que, normalmente, não são próprios para quantificação. (p. 307-308)

Page 31: Fontes Para a História Apresentação 2

• O trabalho nos arquivos também está orientado de pesquisa que o historiador está fazendo, o que irá determinar se é preciso reproduzir inteiramente os documentos, apenas trechos do texto ou ainda coletar dados específicos. (p. 308)

• Assim, ao mesmo tempo em que os arquivos devem preservar os documentos, é preciso haver uma preocupação com a disponibilidade e o acesso a esses materiais. (p. 309): microfilme, arquivos digitais, etc.

• A informática, por sua vez, não somente facilita a organização dos acervos, auxiliando na localização dos documentos, como permite que a digitalização dos materiais os torne mais facilmente acessíveis. (p. 310)

Page 32: Fontes Para a História Apresentação 2

g) O silêncio documental

• É preciso fazer a história dos arquivos do

silêncio e fazer a história a partir dos

documentos e das ausências de documentos

[...]. [cita Le Goff]

Page 33: Fontes Para a História Apresentação 2

• (...) a escolha de um objeto de pesquisa e de uma problemática irá se defrontar com um silêncio documental, uma escassez ou ausência de materiais que possam servir de fontes ao trabalho. Em primeiro lugar, deve-se ter em conta que, na maior parte da história e ainda hoje, a maioria da população não teve acesso à escrita, de tal forma que carecemos de documentos escritos por e sobre essas pessoas. Os arquivos “oficiais” em geral informam muito pouco (ou apenas de um ângulo determinado) sobre a vida dos trabalhadores assalariados, dos escravos, dos camponeses e de outros grupos que, via de regra, não encontramos contemplados na escrita da história política tradicional. (p. 310-311)

Page 34: Fontes Para a História Apresentação 2

• O uso das fontes não escritas – como as que procedem da cultura material e da história oral – foi um dos caminhos trilhados para resgatar a história das classes populares. (p. 311)

• (...) dentro deste tema do “silêncio dos documentos”, é preciso observar que ele tem ainda outra face, pois seu próprio silêncio “fala”, ou seja, revela uma ausência, confere um significado a uma determinada narrativa. E o historiador deve estar, como o psicanalista em seu trabalho, atento para o som deste silêncio. (p.312)

Page 35: Fontes Para a História Apresentação 2

h) História e memória

• A memória é uma fonte para a história e, como fonte, também não oferece automaticamente os “dados” do passado. (p. 312)

• No senso comum, “memória”e “história” são frequentemente tratadas como sinônimos, como na conhecida frase “Um país sem memória é um país sem história”. Mas a questão não é tão simples e, para perceber a complexidade da memória, basta a constatação de que além de objeto da reflexão do historiador, ele partilha esse campo com a filosofia, psicologia, antropologia, linguística, entre outros. (p. 312)

Page 36: Fontes Para a História Apresentação 2

• (...) memória e história, embora evoquem o passado, tenham essa matéria-prima em comum, não se confundem. Assim, a memória, por ser um fenômeno que implica uma relação afetiva de quem lembra com aq1uilo que aconteceu, estabelece um sentimento de continuidade que não faz uma ruptura entre o passado e o presente, porque só retém, do passado “[...] aquilo que ainda está vivo ou é capaz de viver na consciência do grupo que a mantém”. A história, ao contrário, produz-se baseada na descontinuidade entre aquele que a escreve e aqueles fatos e personagens que são por ele narrados. (p. 313)

Page 37: Fontes Para a História Apresentação 2

• Márcia d’Alessio, comentando esse tema, reporta-se ao trabalho de Pierre Nora, em que ele destaca que a memória é um processo vivido, conduzido por grupos vivos, portanto, em evolução permanente e “[...] vulnerável a todas as manipulações. A memória é inconsciente dela mesma e por isso mesmo, todo-poderosa, autoritária, absoluta”. A história, em contrapartida, é registro, distanciamento, crítica, reflexão. A história tem consciência da existência do passado e quer conhecê-lo: é, portanto uma representação do passado, e não sua vivência. Como escreve Nora, é “[...] a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais”. Assim, ao contrário da memória, a finalidade do conhecimento histórico é uma reconstrução crítica e objetiva, dentro dos limites possíveis, do passado, com todas as dificuldades que esse propósito possui. (p. 313)

Page 38: Fontes Para a História Apresentação 2

• [...] em uma sociedade a memória é um

fenômeno plural, e não unívoco: existem

sempre diferentes memórias, algumas delas em

disputa pela construção de certas lembranças e

esquecimentos de outras. (...) Há, pois, na

preservação da memória, relações de poder no

sentido do que se deve lembrar e do que se

deve esquecer. (p. 314)

Page 39: Fontes Para a História Apresentação 2

• Eric Hobsbawm analisou outro fenômeno social ligado a memória, observando que muitas vezes tradições que parecem ou são “lembradas” como antigas são bastante recentes, quando não invenções de diferentes grupos sociais. A isso chamou de “tradições inventadas”.

• [...] um conjunto de práticas normalmente reguladas por regras tácita ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado. (p. 315)

Page 40: Fontes Para a História Apresentação 2

• Finalmente, refletindo sobre nossa própria área, é importante notar que existe uma memória elaborada no interior da disciplina histórica, que constrói e reconstrói a sua história. Como observa Manoel salgado Guimarães, perceber a construção de uma memória da disciplina contribui para que se desnaturalize uma concepção “fixa” da profissão e do conhecimento histórico: eles se elaboram em um permanente embate, entre disputas e tensões. (p. 315)

Page 41: Fontes Para a História Apresentação 2

• PETERSEN, Silvia; LOVATO, Bárbara.

Fontes para a história: a opacidade do

transparente. In: Introdução ao estudo da

história: temas e textos. Porto Alegre: Edição

do autor, 2013, p. 293-319.