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6 Flexibilização curricular: cenários e desafios Coleção Pedagógica Antônio Cabral Neto (organizador)) edição PRO PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

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Introdução a administração.Os empresários de micro e pequenas empresas têm um trunfo que deve ser utilizado com muita freqüência na administração de suas empresas: a flexibilidade para mudanças rápidas nas estratégias de suas empresas.Pode parecer simplório, mas a agilidade na tomada de decisões é, sim, uma enorme vantagem competitiva.

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Flexibilizaçãocurricular:

cenários e desafios

Coleção Pedagógica

Antônio Cabral Neto(organizador))

2ªedição

PROPRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

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Flexibilização curricular:cenários e desafios

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Coleção Pedagógica n. 6

Antônio Cabral Netoorganizador

Natal, 2004

Flexibilização curricular:cenários e desafios

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Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”Divisão de Serviços Técnicos

Flexibilização curricular: cenários e desafios / Antônio Cabral Neto(organizador). – Natal, RN: EDUFRN – Editora da UFRN, 2004.

122 p. – (Coleção Pedagógica; n. 6)

1. Ensino superior. 2. Extensão universitária. 3. Currículo. 4. Projetopolítico-pedagógico. I. Cabral Neto, Antônio. II. Título.

ISBN CDD 378RN/UF/BCZM 2004/31 CDU 378

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

Reitor: José Ivonildo do Rêgo

Vice-Reitor: Nilsen Carvalho F. de Oliveira Filho

Diretor da EDUFRN: Enilson Medeiros dos Santos

Editor: Francisco Alves da Costa Sobrinho

Capa: Olavo Oliva

Coordenação de revisão: Risoleide Rosa

Editoração eletrônica: Marcus Vinícius Devito Martines

Supervisão editorial: Alva Medeiros da Costa

Supervisão gráfica: Francisco Guilherme de Santana

Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRNCampus Universitário, s/n – Lagoa Nova – 59.078-970 – Natal/RN – Brasil

e-mail: [email protected] – www.editora.ufrn.brTelefone: 84 215-3236 – Fax: 84 215-3206

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SUMÁRIO

Apresentação, 7Antônio Cabral Neto

A Universidade e a flexibilização curricular:dilemas e desafios a enfrentar, 19Rosalba Pessoa de Souza Timoteo

A importância da extensão universitária na estruturaçãodos novos currículos, 31Ilza Araújo Leão de Andrade

Atividades curriculares de extensão em comunidades:uma estratégia de flexibilização, 41Francisca Nazaré Liberalino

Flexibilização curricular na graduação: uma experiênciade interação entre a universidade e a comunidade, 57Maria Dalva Araújo

Projeto Político-Pedagógico do Curso de Farmácia:os caminhos da mudança, 71Maria Cleide Ribeiro Dantas de CarvalhoMirza Medeiros dos Santos

Projeto Político-Pedagógico de História:breve relato e reflexão, 95Raimundo Arrais

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APRESENTAÇÃO

A flexibilização curricular é considerada, no atual contexto,como um componente essencial na organização dos projetospedagógicos dos cursos de graduação. Essa centralidade doaspecto da flexibilidade curricular decorre das exigências criadasface às transformações que vêm se processando, no âmbito dasociedade, nas últimas décadas e que vão influenciar no perfil dosprofissionais demandados pela sociedade.

O sistema de automação industrial organizado com base naeletromecânica e que operava à base da divisão do trabalho comtarefas simplificadas e rotineiras começa a apresentar sinais de criseno cenário dos anos 1970. Esse sistema de automação tinha porobjetivo promover a produção em massa (produção padronizada)para o consumo em massa. Essa forma de organização da produçãoestava assentada em três pilares: a busca de custos baixos edecrescentes de produção; a oferta de produtos de forma ampla eilimitada; o uso universal dos produtos (todos devem usar osbenefícios das inovações tecnológicas).

Nesse momento, verificam-se avanços tecnológicosconsideráveis tanto no que concerne aos processos quanto aosprodutos. Podemos lembrar como marcas desse período os avançosnas indústrias química, metalúrgica, mecânica, automobilística,petroquímica e siderúrgica.

No que concerne à organização do processo de trabalho naindústria, podemos destacar que foi nesse período que, de formamais sistemática, foram introduzidos na linha de montagem osprincípios gerenciais do taylorismo e do fordismo.

Com essas mudanças, a força de trabalho foi submetida aosprincípios gerenciais acima referidos e passou por um intensodisciplinamento, assim como o aprimoramento tecnológico eorganizacional do trabalho levou a uma expansão intensiva daindústria.

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Uma das marcas da referida forma de organização daprodução, como assinala Harvey (1993)1, era a rigidez. Ela se faziapresente nos investimentos em capital fixo de larga escala e delongo prazo, em sistemas de produção em massa que impediam aflexibilidade de planejamento e presumiam crescimento estável emmercados de consumo invariantes. Estava presente, também, naorganização dos mercados, na alocação e nos contratos de trabalhoe na formação profissional.

São ingredientes concernentes à crise do citado padrão deacumulação o início da escassez de mão-de-obra qualificada, oaumento dos salários médios da mão-de-obra, o aumento dos custosda produção (custos ascendentes) e o começo da deterioração daprodutividade. A referida forma de organização da produção nãoconsegue mais ampliar os níveis de produtividade e a produçãoindustrial começa a ter sinais visíveis de ineficiência econômica.Começa a se antever a crise de energia principalmente do petróleo.As matérias-primas tornam-se escassas ao redor do mundo. Eraportanto necessário criar novas condições de produção e deacumulação. As bases anteriores estavam em processo crescentede esgotamento.

A resposta à crise do padrão de acumulação capitalista,delineada nesse momento, incluiu investimentos consideráveis nasinovações tecnológicas, nos materiais e nas formas gerenciais. Amicroeletrônica, e principalmente a informática, é a base de todasas descobertas importantes desse momento. Ela potencializa demodo substancial a utilização da informação porque permite oarmazenamento de informações em larga escala. A biotecnologiase desenvolve de forma intensiva, o que permite o incremento daprodutividade agrícola. Os materiais são também modernizados.Nesse campo se processam novas combinações de fibras sintéticasque propiciam as condições para ultrapassar as limitações impostas

1 HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1993.

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pelos recursos naturais e ampliar a utilização desses recursos(PELIANO, 19902; HARVEY, 1993).

A modernização propiciada pela incorporação de novastecnologias e novos materiais ao processo de trabalho vai produzirresultados quantitativos e qualitativos em relação à mão-de-obra.Há uma redução substancial na mão-de-obra ocupada e porconseguinte na massa salarial paga aos trabalhadores. A robotizaçãoda produção reduz significativamente o uso de mão-de-obra de formaextensiva. As novas tecnologias, ao substituí-la, criam as condiçõesobjetivas para a economia de tempo, energia e do próprio trabalho.

O novo padrão de acumulação engendra também uma novaforma de organização do trabalho, ou seja, um novo modelogerencial. As características da automação fundada na baseeletroeletrônica não exigem mais uma linha de montagem tradicionalcomo a requerida na automação baseada nos princípios daeletromecânica. Os novos modelos gerenciais organizam o trabalhopor ilhas de produção. Não é mais necessário adotar a divisão dotrabalho fundada nos princípios do taylorismo /fordismo. Nessalógica, não há mais lugar para o trabalhador que executa apenasuma única tarefa na feitura de um produto. O trabalho individual ésubstituído pelo trabalho em grupo, de modo que o trabalhador podedesempenhar várias atividades conexas ou correlatas.

Ocorre dessa forma uma flexibilização da produção. Aautomação com base na eletroeletrônica cria as condiçõesnecessárias para a flexibilização e integração da produção. Os váriossetores são integrados nas chamadas ilhas de produção. Procura-se, no âmbito das empresas, conforme realça Machado (1994)3,formas para reduzir os custos de capital e as necessidades do capital

2 PELIANO, José Carlos. Automação e trabalho. Conferência proferida no Programade Pós-Graduação em Educação da UFRN em abril de 1990 (texto mimeografado).

3 MACHADO, Lucília Regina de Souza. Educação e os desafios das novastecnologias. In: FERRETI, Celso et al. (Orgs.). Tecnologias, trabalho e educação:um debate multidisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

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circulante. Dentre as principais iniciativas podem ser citadas: adiminuição de estoques; a redução dos tempos gastos com afabricação e comercialização de produtos; a melhoria na qualidadeda produção; a flexibilização da produção para atender, ao mesmotempo, mercados distintos e a montagem de uma organização maisleve e ágil nas respostas às necessidades emergentes.

Dessa forma, a flexibilização tecnológica permite a organi-zação do trabalho em equipes que executam um conjunto de funçõesintegradas na busca de reunificar o trabalho antes parcelado e di-versificado. Os novos instrumentos se caracterizam pela flexibilidadee capacidade de múltiplas combinações, dando origem a diferentesopções integradas e passam a responder por funções novas comomonitoramento, controle e operações lógicas (MACHADO, 1994).

As inovações organizacionais trazem formas maisparticipativas, integradas, grupais, descentralizadas, autônomas,envolventes e flexíveis, chegando a constituir patamares superioresque favoreçam o aperfeiçoamento do trabalho humano. Entretanto,a autora realça que isso não significa, necessariamente, que elassejam, por isso mesmo, democráticas.

As mudanças em curso, no âmbito da produção, criam novasnecessidades no que concerne ao perfil do trabalhador. Nessecenário, surgem novas necessidades e desafios pertinentes aoaperfeiçoamento profissional, ao domínio de novas especialidades,à mudança nas atividades, à requalificação dos trabalhadores e àredistribuição da força de trabalho pelos ramos de atividades daeconomia (MACHADO, 1994; ANTUNES, 19994).

Temos, conforme nos lembra Machado (1994), uma novaforma de integração social no trabalho que traz em si um tipo deracionalidade de caráter sistêmico denominado pela autora comosistemofatura. O núcleo central e irradiador desse sistema é oprocessamento rápido, intenso e confiável da informação e o

4 ANTUNES, Ricardo. Reestruturação produtiva e mudanças no mundo do trabalhonuma ordem neoliberal. Anais da XXII Reunião Anual da ANPED. Caxambu, MG,1999.

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elemento integrador é o próprio tempo exigido pelos equipamentosque processam as informações, com a tendência de se definir otempo real para todas as operações, o que significa garantir aimediata resposta às demandas apresentadas e simultaneidade decondutas.

Para atender às demandas do citado modelo é necessárioter abertura, criatividade, motivação, iniciativa, curiosidade, vontadede aprender e de buscar soluções, mas também deve-se demonstrarcooperação, responsabilidade, organização, equilíbrio, disciplina,concentração e assiduidade.

É preciso demarcar que no atual momento as informaçõestêm assumido cada vez mais um papel estratégico. Todas asatividades humanas necessitam se apoiar em uma base deinformações confiável e, se possível, cada vez mais completa.

Como assinala Machado (1994), não se trata de desenvolverapenas a capacidade de usar as informações e de com elas produzirmelhor. Não basta saber aplicar conhecimentos, dominarpraticamente procedimentos, empregar habilidades específicas einstrumentais, encontrar soluções tecnológicas disponíveis paraobjetivos determinados.

A formação do trabalhador, nesse cenário, tende a exigirníveis mais aprofundados de formação geral. Trata-se dedesenvolver capacidades de inovar, de produzir novos conhe-cimentos e soluções tecnológicas adequadas às necessidadessociais, o que exige muito mais do sistema educacional. O processoformativo passa a exigir o desenvolvimento de habilidadesintelectuais gerais e fundamentais ao emprego de estruturas lógicasinerentes a métodos e teorias. Requer o domínio prático deprocedimentos que permitam, além do uso, a produção deinstrumentos necessários à realização de fins previamente definidos,segundo as cadeias causais objetivas, das quais é expressão oconhecimento científico (MACHADO, 1994).

Nessas circunstâncias, a capacidade de inovar sintetizacompetências desenvolvidas pelo domínio de conhecimentos e

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habilidades científico-técnicas, sociais e metodológicas, dentro deum sistema de relações sociais e técnicas, que favoreça o despertarda consciência e dos valores emancipatórios do ser humano, taiscomo autonomia e liberdade.

A universidade, nesse contexto, como agência formadorade recursos humanos para atuar em todos os níveis da sociedade,deve enfrentar os desafios postos pelas atuais transformaçõesoperadas no âmbito da sociedade. Conforme explicita o FORGRAD5

(2004, p. 12), o papel da universidade no que concerne à formaçãodo aluno, visando à sua inserção no mundo do trabalho, necessitade uma redefinição que possibilite acompanhar a evoluçãotecnológica que determine os contornos do exercício profissionalcontemporâneo.

O FORGRAD realça, ainda, que, em um contexto deprofundas, rápidas e constantes mudanças, já não mais se concebeum exercício profissional homogêneo ao longo do período deinserção no mundo do trabalho. A graduação, portanto, não devevoltar-se à perspectiva de uma profissionalização restrita e técnica,mas propiciar o desenvolvimento de competências a longo prazo ea construção de uma relação com o conhecimento que leve à efetivaleitura e ação críticas sobre seus fundamentos.

Nas atuais circunstâncias, trata-se de propiciar, ao futuroprofissional, o domínio sobre os modos de produção do saber eestabelecer uma base sólida para a aquisição contínua deconhecimentos específicos, desenvolvendo, ao mesmo tempo, ahabilidade de aprender e recriar permanentemente.

Nessa realidade recortada por complexas relações e pelanecessidade de redimensionar o papel da formação no âmbito dasuniversidades é que se coloca a tarefa inadiável de se conceber umProjeto Político-Pedagógico para os cursos de graduação. Aqui maisuma vez cabe reforçar o posicionamento, já assumido no âmbito da

5 FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE GRADUAÇÃO DAS UNIVERSIDADESBRASILEIRAS. Política Nacional de Graduação. Manaus: EDUA, 2004.

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política nacional de graduação definida pelo FORGRAD, que realçaa necessidade de uma articulação entre o Projeto Pedagógico doscursos e o Projeto Institucional.

Com relação ao Projeto Pedagógico dos cursos, chama-sea atenção para a necessidade da adoção de valores que se sintoni-zem com as dimensões científicas (epistêmicas), pedagógicas, bemcomo com aquelas que se relacionam com o respectivo exercícioprofissional no contexto das complexas demandas da sociedade.Nessa lógica, os cursos de graduação, em seu projeto, como bemdestaca o FORGRAD, devem contemplar a especificidade das áre-as do conhecimento no contexto da respectiva evolução históricapeculiar às diferenças culturais e os valores regionais produzidospor ele, sempre no amplo contexto da Instituição de Ensino Superi-or (IES) que lhe confere identidade.

A organização curricular como um aspecto basilar do ProjetoPedagógico deve possibilitar uma dinâmica curricular ancorada emuma relativa liberdade e flexibilidade. Essa organização, como realçao FORGRAD, inclui a permeabilidade em relação às transformaçõesque ocorrem no mundo científico e nos processos sociais, ainterdisciplinaridade, a formação sintonizada com a realidade social,a perspectiva de uma formação continuada ao longo da vida, aarticulação teoria-prática presente na indissociabilidade entre ensino,pesquisa e extensão.

Sob essa lógica, a flexibilização curricular assume, no ProjetoPolítico-Pedagógico, uma importância central. Ela é parte inerenteà proposta de reforma curricular.

A flexibilização curricular não tem uma justificação em simesma. O seu significado está na relação que estabelece com oProjeto Político-Pedagógico do Curso. Sob esse ponto de vista, oprocesso de flexibilização não pode ser entendido como uma meramodificação ou acréscimo de atividades complementares naestrutura curricular. Ele exige que as mudanças na estrutura docurrículo e na prática pedagógica estejam em consonância com osprincípios e com as diretrizes do Projeto Político-Pedagógico, naperspectiva de um ensino de graduação de qualidade.

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Na flexibilização dos currículos, evidencia-se a importânciade se buscar e de se construir uma estrutura curricular que permitaincorporar outras formas de aprendizagem e formação presentesna realidade social. Isso não significa, no entanto, que deva sersubtraída à instituição formadora sua responsabilidade quanto aosignificado que essas experiências incorporadas devam ter para oprocesso formativo (FORGRAD, 2004).

Com essa abordagem, a flexibilização curricular substitui omodelo de grade por uma nova estrutura que possibilita ao alunoparticipar do processo de formação profissional; rompe com oenfoque unicamente disciplinar e seqüenciado a partir de umahierarquização artificial de conteúdos; cria novos espaços deaprendizagem; busca a articulação teoria e prática como princípiointegrador (conectar o pensar ao fazer); possibilita ao aluno ampliaros horizontes do conhecimento e a aquisição de uma visão críticaque lhe permita extrapolar a aptidão específica de seu campo deatuação profissional e propicia a diversidade de experiências aosalunos.

Não se trata, todavia, de formar profissionais dóceis paraum mercado de trabalho incerto. Mas, como diz Marilena Chauí(1999)6, é necessário formar profissionais críticos para compreenderas novas relações de produção e de trabalho e as exigências porelas colocadas.

Dentre os princípios já discutidos e consensuais nos debatesrealizados no âmbito do FORGRAD sobre a flexibilização curricular,podemos destacar os seguintes:

a) A organização da estrutura curricular deve ser resultadoda discussão coletiva desenvolvida no âmbito do ProjetoPolítico-Pedagógico e deverá contemplar um núcleo quecaracterize a identidade do curso e em torno do qual se

6 CHAUÍ, Marilena. A universidade operacional; a atual reforma de Estado ameaçaesvaziar a instituição universitária com a lógica de mercado. Caderno Mais, Folhade S. Paulo, set. 1999.

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construa uma estrutura que viabilize uma formação maisgeneralista e que aproveite todas as possibilidades etodos os espaços de aprendizado possíveis;

b) O Projeto Político-Pedagógico deve fornecer as basespara a flexibilização curricular do curso;

c) Disciplinas e atividades complementares devemexpressar a articulação das concepções político-pedagógicas que orientam a flexibilização curricular;

d) As atividades complementares devem contribuir para aflexibilização curricular, mas não devem ser consideradaso único meio para realizá-la;

e) Desenvolvimento de ações pedagógicas ao longo docurso que permitam a interface real entre ensino, pesquisae extensão, a fim de que se possam produzir novosconhecimentos, a partir de processos investigativosdemandados pelas necessidades sociais;

f) O colegiado do curso é o fórum privilegiado de concepçãoe implementação da flexibilização;

g) Implantação de uma sistemática de orientação acadêmica(tutoria);

h) Definir e regular formas para a avaliação de saberesprévios adquiridos em outros espaços de aprendizagem,além do espaço da academia, conforme os princípios daflexibilização.

Como uma resposta às demandas colocadas pelo atualcontexto são, também, criados os delineamentos legais pararespaldar juridicamente a implementação da flexibilização curricular.Dentre as principais orientações podemos realçar aquelas previstasnos seguintes instrumentos:

a) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB9.394/96) em seu Capítulo IV, que trata da educação

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superior, deixa antever a necessidade de a universidadeestar articulada com as novas demandas da sociedade.No Art. 53 fica estabelecido que as universidades terãoautonomia para fixar os currículos de seus cursos,considerando as particularidades das instituições e asdiretrizes gerais pertinentes. Portanto, a flexibilizaçãocurricular decorre do exercício concreto da autonomiauniversitária;

b) Plano Nacional de Educação (regulado pela Lei 10.172de janeiro de 2001). Esse plano define em seus objetivose metas que se devem estabelecer, em nível nacional,diretrizes curriculares que assegurem a necessáriaflexibilidade e diversidade nos programas oferecidos pelasdiferentes instituições de ensino superior, de forma amelhor atender às necessidades diferenciais de suasclientelas e às peculiaridades das regiões nas quais seinserem;

c) Os Pareceres do CNE 776/97 e 583/2001 ressaltam, entreoutros aspectos, a necessidade de: assegurar maior fle-xibilidade na organização de cursos e carreiras, atenden-do à crescente heterogeneidade tanto da formação pré-via como das expectativas e dos interesses dos alunos;os cursos de graduação serem desenvolvidos, por meiode diretrizes curriculares que se afastem da idéia de for-mação como mero instrumento de transmissão do co-nhecimento; uma profunda revisão de toda a tradição queburocratiza os cursos e se revela incongruente com astendências contemporâneas de considerar a boa forma-ção no nível de graduação como uma etapa inicial daformação continuada.

Os delineamentos apresentados trazem implícita uma novavisão de formação profissional que rompe com a perspectivaformativa requerida pelas demandas próprias do modelo fordistade organização da produção, no qual a formação profissional

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centrava-se na especificidade e na delimitação de competências ehabilidades. Formava-se um profissional para operacionalizar umtipo de atividade particular. Hoje, exige-se que o profissional tenhaampla competência e domine um variado leque de habilidades. Énecessário desenvolver a capacidade do aluno de buscar,problematizar e criar novos conhecimentos. Isso implica a construçãode uma nova relação com o conhecimento expressa na tríade ação-reflexão-ação.

Em acordo com essa visão formativa, a Pró-Reitoria deGraduação – PROGRAD – define, em seu Plano de Gestão para operíodo 2003-2007, como um de seus objetivos, “criar as condiçõespara promover um ensino de graduação de qualidade, que possibilitea formação de profissionais com competências e habilidadesnecessárias ao atendimento das demandas do processo dedesenvolvimento científico e tecnológico e da área de trabalho e àparticipação cidadã na construção de uma sociedade democrática”(Plano de Gestão, p. 7).

No que concerne especificamente à organização curricular,propõe-se intensificar o assessoramento na elaboração dos ProjetosPolítico-Pedagógicos dos cursos de graduação, adotando os novosmarcos norteadores que incluem, necessariamente, a flexibilizaçãocomo um de seus princípios.

A PROGRAD, para cumprir o seu papel de articuladora dessemovimento de atualização pedagógica dos cursos de graduação,busca fornecer elementos teóricos e práticos para subsidiar osprofissionais envolvidos na complexa função de adequar oscurrículos de graduação às novas demandas formativas.

É nesse cenário, portanto, que se insere o volume VI daColeção Pedagógica da UFRN. Os textos publicados neste volumebuscam sistematizar subsídios basilares para orientar o debate dotema relativo à flexibilização curricular. Os textos contemplam umareflexão em dois níveis. Um, mais geral, discute os princípios, osignificado e a importância da flexibilização curricular; o outro, maisespecífico, relata resultados de experiências particulares de

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reformulação curricular e de atividades específicas vivenciadas emdisciplina ministrada em cursos de graduação.

Pela pertinência do tema abordado, este volume da ColeçãoPedagógica se constitui em uma contribuição para todos aquelesatores que estão envolvidos na desafiadora função de coordenar epromover a reformulação curricular dos cursos de graduação, paraadequá-los às novas demandas contextuais.

Natal, julho de 2004

Antônio Cabral NetoPró-Reitor de Graduação

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A UNIVERSIDADE E A FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR:DILEMAS E DESAFIOS A ENFRENTAR

Rosalba Pessoa de Souza Timoteo*

As reformas educacionais brasileiras, ocasionadas pelaaprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB9394/96, tomaram como exigência o estabelecimento de algunsprincípios voltados ao ensino superior, mais especificamente àsreformas curriculares e à construção dos Projetos Político-Pedagógicos dos cursos de graduação das universidades brasileiras.

Dentre esses princípios, encontra-se o da autonomiauniversitária que possibilita a adoção de alternativas acadêmicasflexíveis, diferentes das praticadas até então, bem como a decisãopolítico-institucional de optar por um projeto que venha a atenderos anseios e as expectativas da comunidade acadêmica e dasociedade em geral. Lê-se, no documento do FORGRAD, quequalificar a autonomia, nesses termos, é “contrapor-se tanto àtradição normativa e autoritária do Estado brasileiro em relação aoensino superior, quanto à percepção tecnocrática e corporativa dasociedade, para a qual a realidade social se segmenta segundo aótica dos interesses de corporações profissionais” (COUTINHO;MARINO, 2003, p. 106).

A universidade, enquanto espaço de produção e reproduçãodo conhecimento, assume a missão transecular de conservar,regenerar e gerar novos saberes, idéias e valores, a partir doreexame, atualização e transmissão dos mesmos, disso residindoa necessidade de manter a autonomia e exercer a sua missão, semque se submeta à ameaça de adaptação à sociedade ou querer

* Professora do Departamento de Enfermagem da UFRN; Doutora em Educação;Membro da Base de Pesquisa Educação em Enfermagem.

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que a sociedade se adapte a ela. Nesse sentido, deve estar atentatanto à adoção de posturas rígidas e inflexíveis, que desconhecendoa cultura da sociedade passa a impor a sua cultura como alegitimamente verdadeira, quanto à posição antagônica, que atransforma apenas em um dispositivo institucional para o ensinodas profissões e transmissão/aperfeiçoamento dos conhecimentos,dada a incorporação que assume das demandas e requerências domundo técnico-científico e da sociedade em geral.

Edgar Morin, em seu livro Complexidade e transdisciplinari-dade (1999, p. 11), adverte para a “forte pressão sobreadaptativaque pretende conformar o ensino e a pesquisa às demandas eco-nômicas, técnicas e administrativas do momento, aos últimosmétodos, às últimas receitas do mercado”, a qual ocasiona a sepa-ração/fragmentação do conhecimento e do próprio homem,relegando, a segundo plano, a cultura humanista e o ensino geral.Para ele, essa sobreadaptação nunca representou sinal de vitalida-de da universidade, ao contrário, simboliza o anúncio de “senilidadee morte”, pela perda da sua capacidade de inventar e criar o novo.

Corroborando com esse pensamento, Almeida (2002) afirmaque a universidade tem sido concebida como produtora deconhecimento e formadora de especialistas, e que talvez tenhachegado o momento de se refletir sobre esta concepção, pois sãoreflexões deste tipo que farão a diferença no projeto de universidade.

Ainda a esse respeito, Boaventura de Sousa Santos,analisando sobre a missão da universidade e suas principaisfinalidades – a investigação, o ensino e a prestação de serviço –,alerta para o caráter contraditório que existe entre elas, considerandoque as mesmas, explodindo numa multiplicidade de outras funções,requerem condições que se colidem ou se contrapõem, dificultandoas suas realizações e gerando crises internas à academia. Nessesentido afirma Santos (1997, p. 189):

A função de investigação colide freqüentemente com afunção de ensino, uma vez que a criação do conheci-mento implica a mobilização de recursos financeiros,

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humanos e institucionais dificilmente transferíveis paraas tarefas de transmissão e utilização do conhecimen-to [...] No domínio do ensino, os objetivos da educaçãogeral e da preparação cultural colidem, no interior damesma instituição, com os da formação profissional ouda educação especializada, uma contradição detectávelna formulação dos planos de estudos da graduação ena tensão entre esta e a pós-graduação. O acionamentode mecanismos de seleção socialmente legitimadostende a colidir com a mobilidade social dos filhos e fi-lhas de famílias operárias tal como a formação dedirigentes nacionais pode colidir com a ênfase na pres-tação de serviços à comunidade local. Qualquer destascontradições e quaisquer outras facilmente imagináveiscriam pontos de tensão, tanto no relacionamento dasuniversidades com o Estado e a sociedade, como nointerior das próprias universidades enquanto institui-ções e organizações.

Assim, a investigação e a pesquisa, na maior parte das vezesdesarticuladas do ensino, visam a atender, prevalentemente, asnormas e prioridades estabelecidas pelos órgãos de fomento ouagências financiadoras estatais ou não, vinculando a produção doconhecimento aos interesses da ordem vigente. De outra forma,devido a essas mesmas normas e padrões de avaliação, orientadospela lógica da produtividade e do custo-benefício, a investigaçãona universidade sofre a emblemática distinção entre a validação dainvestigação básica e a validação da investigação aplicada, bemcomo a classificação das universidades em centros de investigaçãoem graus diferenciados, para a destinação de recursos financeirostambém diferenciados. Isso implica menor oportunidade aosestudantes que pleiteiam experiências nas atividades de iniciaçãocientífica, decorrentes do menor número de bolsas e de recursosdestinados aos estudos e pesquisas, assim como às bases e núcleosque lhes dão sustentação.

Por sua vez, o ensino centrado em conhecimentos enciclo-pédicos e científicos privilegia a disciplinaridade, o pragmatismo, a

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fragmentação e a superespecialização do saber, que sobrepuja àcapacidade autônoma, reflexiva e criativa do estudante, tornando-omero receptor da ação transmissora do professor. Essa relaçãoautoritária, longe de representar uma condição propícia ao aprendi-zado, reproduz a dominação e reprime a competência do estudantede construir o próprio conhecimento em bases interdisciplinares,problematizadoras e resolutivas, que o capacite a fazer a leitura davida e do mundo e a promover mudanças em sua cotidianeidade.

E, mesmo quando a universidade faz opção por programasou atividades de extensão, muitas vezes, estas são reduzidas aações assistencialistas, prestação de serviços ou ligações com osetor produtivo, gerando muito mais uma relação de concessão doque de troca e parceria. Essas se transformaram em ações deaplicação técnica, antes de serem aplicações edificadoras do sabercientífico, pois se configuraram como prestação de serviço a outrem,a despeito da prestação que traria ao ensino e à própria universidade.

Dessa forma, a despeito do aparente mobilismo demonstradona realização das diversas atividades – ensino, pesquisa e extensão– desenvolvidas na universidade, esta, a rigor, capitula de suaautonomia para tornar-se subserviente, passiva e dependente dosinteresses individuais e coletivos originados no interior da própriauniversidade, ou advindos de grupos sociais que detêm o poderpolítico sobre os recursos financeiros.

Essa discussão torna-se de extrema importância para opresente texto, principalmente quando se tenta estabelecer umdebate acerca dos temas indispensáveis à renovação/atualizaçãoda vida acadêmica, por entender que ele poderá ser objeto de novasreflexões sobre a missão da universidade que reconheça a produçãodo conhecimento, a transmissão da cultura e a formação profissional,movidas não só pelo desejo de atender ao mundo acadêmico-científico, mas orientadas pela (re)ligação e pela lógica das relaçõesindissociáveis entre a academia e o mundo social-real. Dessa forma,e somente a partir desta perspectiva, se admite refletir sobre aflexibilização curricular, como estratégia que possibilita a(re)organização e a relação dialógica entre os diversos saberes.

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A FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR:CAMINHO PARA REPENSAR A UNIVERSIDADE

Nos últimos anos, a universidade vem sofrendo contínuascríticas, ora derivadas da sua pouca atuação na resolução dosproblemas da sociedade e na mobilização dos seus conhecimentosem favor de classes menos favorecidas, ora pelo distanciamento,isolamento ou omissão de suas responsabilidades sociais,traduzidos, via de regra, pela opção em favor dos interesses dasclasses dominantes ou de uma prática excludente e elitista.

A proposta, que hoje se requer da formação universitária,corresponde à de um ensino de graduação voltado para a construçãodo conhecimento radicalmente direcionado pela crítica e pelacriatividade, o qual não pode orientar-se apenas por uma estruturacurricular fixa, disciplinar, seqüenciada e conteudista, que freia aspossibilidades da ação, reflexão e interação do estudante, mas deum ensino que prevê a permanente intermediação com a realidade,a contínua e profunda articulação da teoria com a prática e aoportunização e valorização de experiências e vivências socioculturale científica dos discentes, em situações reais, de forma a prepará-los dentro de múltiplas competências1 que os capacitem areconhecer, interpretar e resolver os problemas específicos de suaárea de atuação, mas também as situações gerais inerentes aocontexto global/local.

Tal pressuposto corresponde ao que vem sendo propostopelo FORGRAD (COUTINHO; MARINO, 2003, p. 106), em suaorientação à construção dos projetos pedagógicos dos cursossuperiores, os quais deverão contemplar: “a permeabilidade àstransformações, a interdisciplinaridade, a formação integrada àrealidade social, a necessidade da educação continuada, aarticulação teoria-prática e a indissociabilidade entre ensino,

1 As competências aqui referidas reportam-se às discussões efetivadas por NÚÑEZ;RAMALHO (2002).

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pesquisa e extensão”, como dimensões articuladas entre si ereunidas em um projeto pedagógico, que traduz as concepções emúltiplas dimensões de cada curso a partir do projeto institucionalglobal.

Essa atitude apóia-se na perspectiva de projetar auniversidade em outras bases paradigmáticas que se posicionefrente às soluções dos problemas de forma crítica, que religue opensamento simplificador ao complexo e articule o conhecimentocompartimentalizado ao contexto, às múltiplas dimensões e àinterdisciplinaridade.

Consiste, inclusive, questionar-se sobre a própria vitalidadee potencialidade que alguns mecanismos possam exercer nomovimento reformador da universidade, como é o caso da autonomiae da flexibilização curricular. É interrogar-se sobre que força é capazde mobilizar a ação transformadora nas mentes, nas intenções enos gestos dos que fazem a academia, quando estes alicerçam osseus trabalhos em bases inflexíveis, rígidas e cristalizadas? Comoassegurar a realização do movimento de flexibilização de modo aimpulsionar a adoção de uma nova cultura universitária que valorizenovas práticas e novos saberes no interior dos cursos?

Pois, antes de constituir-se em dispositivo legal quenormatiza ou possibilita o aproveitamento do esforço do estudante,em atividades eletivas, implica também um processo educativo, cujasações de ensino, pesquisa e extensão promovam a perspectiva darenovação no interior da instituição, mediante a cultura da avaliaçãopermanente e da crítica à própria instituição e à sociedade. E quepossa, ao mesmo tempo, acompanhar as constantes transformaçõesda realidade e assegurar a construção de alternativas e novos atorescomprometidos com a missão institucional, mas também com arealidade mundial, nacional e local.

Nesse quadro de rupturas, a flexibilização curricular, aliadaao respeito à diversidade de sujeitos e práticas, é decorrente doexercício concreto da autonomia universitária, da flexibilização doseu espaço/tempo físico e pedagógico, da re-organização da gestão

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pedagógica e administrativa, da re-orientação da produção doconhecimento, da melhoria das condições de trabalho e infra-estrutura destinada aos seus professores, funcionários e estudantes(COUTINHO; MARINO, 2003).

Torna-se, portanto, indispensável à construção curricular apartir de uma nova filosofia institucional, que atenda não só àsdemandas da sociedade tecnológica moderna, mas também àquelasque estimulam o exercício da dimensão criativa e emancipadora daexistência humana, o que se concretiza a partir da compreensão eda ligação entre os princípios filosóficos e os operacionais, quenortearão a elaboração e a implementação dos projetos político-pedagógicos da universidade e dos seus respectivos cursos.

Nesse sentido, o grande desafio a ser enfrentado écompreender a “flexibilização curricular”, o que consiste noestabelecimento de amplo debate acerca do tema, considerandoas suas implicações dentro e fora da academia. Sendo uma iniciativainstitucional, esta deverá agregar as atividades constituintes dauniversidade, e contar com a participação de diversos atores sociais,conformando uma prática de criação coletiva, na qual todosexercitem a sua capacidade de negociação, articulação esolidariedade. Tal debate deverá prever desdobramentos no âmbitode cada curso, cuja adesão de professores, alunos, funcionários erepresentações de segmentos sociais o consolidará não só enquantoespaço privilegiado de elaboração, avaliação e reorientação deprojetos pedagógicos específicos, mas também de discussão acercadas políticas e diretrizes voltadas à formação profissional.

Tal perspectiva supera a condição de “currículo comoartefato”2 meramente técnico e burocrático, para reconhecê-lo comoproduto moldado pelos condicionantes políticos, históricos e sociaisvinculados às formas de organização e relações de poder existentes

2 O termo toma como referência as discussões desenvolvidas na coleção pedagó-gica, n. 2 da EDUFRN, organizada por ALMEIDA, 2000.

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na sociedade. E, por ser resultante da construção coletiva, revelacontradições e conflitos decorrentes das concepções e interessesdiversos que movem a subjetividade humana. Daí por que deve sercompreendido como um processo político e pedagógico, pois indica,a um só tempo, a intenção explícita de qual projeto educacional sequer para a formação universitária e a opção consciente de que osseus elementos não são neutros, e que, enquanto tal, exige dosatores envolvidos o entendimento e a decisão de enxergá-lo dessaforma.

É preciso, portanto, que os atores, quer institucionais, quercoletivos ou individuais, se despojem das estruturas preconcebidas,das relações de poder e das disputas ideológicas, para promoveremuma cultura coletiva interpretativa da realidade na construção deuma nova postura mais humilde, mais eqüitativa e mais humana.

No interior da universidade isso só será possível peloexercício cotidiano do diálogo entre gestores, professores,funcionários e alunos, superando as barreiras hierárquicasadministrativas e científicas, as relações de dominação e poder nofazer pedagógico, a omissão ou cinismo do burocratismo e oceticismo/maniqueísmo juvenil, o que leva à reavaliação do papel eda identidade institucional de cada um desses atores na construçãode um novo conhecimento.

Nessa perspectiva, a flexibilização acadêmica reveste-se devalor estratégico que pode estar direcionado a pelo menos doismomentos da ação: um voltado à gestão acadêmica e outro aoprojeto pedagógico do curso, o que implica, para o primeiro, a adoçãode um conjunto de mecanismos de gestão, capazes de romper aprática dissociativa existente, na construção de novas relaçõesinstitucionais, na qual se destacam:

• A revisão da legislação acadêmica vigente, com vistas agarantir a flexibilização institucional, bem como a atuali-zação da mesma considerando os novos paradigmasnorteadores da ação acadêmica;

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• A avaliação da estrutura organizacional da universidade,visando a sanear algumas instâncias centralizadoras derecursos e poder, e oportunizar a autonomia e democrati-zação das relações administrativas e pedagógicas nainstituição;

• A valorização e o apoio às iniciativas que promovam ainterface entre as diversas áreas do conhecimento, bus-cando aproximar experiências e sujeitos oriundos dosdiversos espaços intra e interinstitucionais;

• A busca de estratégias de articulação e interação entreas atividades fins da universidade, fortalecendo aindissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a exten-são;

• O resgate do papel do colegiado do curso, enquanto fórumlegítimo de discussão e instância de deliberação eimplementação da flexibilização curricular e do ProjetoPolítico-Pedagógico do curso;

• A garantia das condições e recursos necessários para queos cursos possam desenvolver uma formação social eprofissional diversificada, em todos os turnos de funcio-namento;

• A adoção da política de “tutoria acadêmica” destinada atodos os colaboradores do ensino superior, pertencentesou não aos quadros funcionais da universidade, comoestratégia de interação educação-trabalho.

Quanto à flexibilização curricular, esta exige, antes de tudo,a compreensão do currículo como o conjunto de princípios ediretrizes intencionalmente traçados, os quais levam emconsideração as conjunturas gerais e locais, as relações sociaisexistentes, as possibilidades e estratégias que asseguram ao

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processo de formação a sua finalidade esperada. Dessa forma,flexibilizar o currículo ou o Projeto Político-Pedagógico pressupõe:

• Permanente avaliação e atualização do Projeto Político-Pedagógico a partir de referências e conceitos que lhedão sustentabilidade, bem como respeitando as diretri-zes nacionais que fortalecem a adoção de um novoparadigma educacional;

• Respeito à diversidade de conhecimentos e experiências,embora se explicitem as opções epistemológica,metodológica ou ideológica do Projeto Político-Pedagógico, o qual orientará a escolha das atividadesrealizadas dentro e fora da instituição de ensino;

• Superação do pensamento cindido entre ciência, arte,humanidades e conhecimento, pela revalorização dossaberes não científicos e rejeição do caráter excludentedo cientificismo;

• Concepção de aprendizagem para além dos espaços etempos formais, considerando as idiossincrasias, interes-ses específicos e capacidades intelectuais e sociais doestudante, o que lhe oportuniza direcionar o seu proces-so formativo, dentro das possibilidades e ritmo que sejapossível;

• Reconhecimento de que o aprendizado não ocorre deforma linear e nem está centrado exclusivamente na ca-pacidade cognitiva do professor, mas constitui umprocesso de colaboração, interação e aquisição/produ-ção/troca de conhecimento entre os envolvidos noprocesso;

• Implementação de uma política de qualificação perma-nente dos professores e funcionários técnico-administra-tivos, com vistas ao cumprimento da missão institucionale da viabilização dos propósitos do Projeto Político-Pe-dagógico do curso;

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• Adoção de um comportamento investigativo e crítico porparte de professores e estudantes que estimule a atitudereflexiva, questionadora, problematizadora e analítica doconhecimento e do próprio mundo;

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme apresentamos anteriormente, a flexibilização nãosofreria a ameaça reducionista de ser entendida apenas como umamodificação de uma ou outra ação isolada; ou da adoção doaproveitamento de atividades, hoje consideradas “extracurriculares”;ou ainda na alteração dos dispositivos legais/operacionais que asreferenda. Certamente, esses elementos são importantes, mas nãoconstituem tudo.

A flexibilização curricular, muita mais do que isso, deveapontar para o processo de ruptura e superação da lógicatradicionalmente residente nas instituições de ensino superior,tornando-se, assim, o eixo impulsionador de um outro cenárioinstitucional, traduzido pela associação da qualificação acadêmicacom o compromisso ético-profissional, e de novas posturas dosatores que a compõem – professores, funcionários, gestores eestudantes. Uma nova realidade que acena para a qualidadeinstitucional orientada pelo projeto de construção da cidadania, davalorização social e da reconstrução do ideário de universidade quetodos esperam.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Maria da Conceição Xavier de. Reforma do pensamento eextensão universitária. In: LIBERALINO, Francisca Nazaré (Org.). XXVIFórum de pró-reitores de extensão das universidades públicas brasileiras– regional Nordeste: Reforma do pensamento, extensão universitária ecidadania. Natal: EDUFRN, 2002. p. 13-36.

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ALMEIDA, Maria Doninha de (Org.). Currículo como artefato social. Natal:EDUFRN, 2000. (Coleção pedagógica, n. 02).

COUTINHO, Roberto Quental; MARINO, Jacira Guiro (Orgs.). Fórum depró-reitores de graduação das universidades brasileiras: Resgatandoespaços e construindo idéias: de 1997 a 2003. Recife: Editora Universitária/UFPE, 2003.

MORIN, Edgar. Complexidade e transdisciplinaridade: a reforma dauniversidade e do ensino fundamental. Natal: EDUFRN, 1999.

NÚÑEZ, Isauro Beltrán; RAMALHO, Betânia Leite. Competência: umareflexão sobre o seu sentido. In: OLIVEIRA, Vilma Q. Sampaio de (Org.).O sentido das competências no Projeto Político-Pedagógico. Natal:EDUFRN, 2002. p. 12-32. (Coleção pedagógica, n. 03).

SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice: o social e o políticona pós-modernidade. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1997.

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A IMPORTÂNCIA DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NAESTRUTURAÇÃO DOS NOVOS CURRÍCULOS

Ilza Araújo Leão de Andrade*

A FORMAÇÃO DO CIDADÃO

A universidade sempre foi uma instituição chave para odesenvolvimento da sociedade. Como instituição produtora deconhecimento é a partir das pesquisas que se desenvolvem emseu interior que são criadas novas tecnologias e novos instrumentosde atendimento às necessidade fundamentais da vida social. Éatravés de sua atividade educacional que se prepara a mão-de-obra necessária ao desenvolvimento da sociedade mas, sobretudo,que são formados cidadãos.

A formação da cidadania é, cada vez mais, uma missão dauniversidade, principalmente em sociedades onde a cultura societale política tem a marca da desigualdade, da dependência e da não-participação, da maioria da população, nas decisões que orientamo seu futuro. Assim, cabe à universidade a tarefa de transmitir osensinamentos necessários mas também os valores formadores denovas atitudes diante da vida coletiva. Valores que se baseiem naresponsabilidade e no compromisso com a sociedade, noengajamento e na busca da liberdade e da justiça social.

A formação integral que a universidade pode e deve ofereceràqueles que nela ingressam deve ser capaz de transformar osindivíduos em homens novos, comprometidos com o seu tempo ecom aqueles que lhes rodeiam. No entanto, a responsabilidade dauniversidade com a formação cidadã não se esgota no trabalhorealizado nos bancos universitários. O caráter elitista do acesso à

*Pró-Reitora de Extensão Universitária da UFRN.

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universidade deve ter como contraponto uma ação multiplicadoraque estenda a sua influência e seus ensinamentos até os limites darealidade social que lhe serve de cenário.

É justamente isso que garante a dimensão da universalidadeda instituição, que a diferencia de outras instituições de ensinosuperior cujo papel se encerra na formação de profissionais para omercado de trabalho. A tríade ensino-pesquisa-extensão, que servede sustentação ao fazer universitário, guarda em sua plenitude aresponsabilidade da formação integral.

A extensão universitária é hoje concebida como o “processoeducativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa deforma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre auniversidade e a sociedade” (Plano Nacional de Extensão 2000-2001).

Esta atual concepção da extensão universitária é resultadode um longo processo de discussão sobre o fazer universitário e foisendo construída através dos tempos, na medida em que auniversidade ampliava o seu raio de ação, em virtude do crescimentodas áreas demandantes do seu trabalho.

No Brasil a extensão universitária aparece atrelada à idéiade serviço e tem uma concepção essencialmente assistencialista.Nem todas as áreas da universidade faziam extensão, uma vezque esta restringia-se aos cursos da área da saúde, pelapossibilidade da prestação de serviço à população mais carente, eao curso de Serviço Social, naturalmente voltado para as questõesda comunidade. Através das atividades da prática forense, noscursos de Direito, pouco a pouco a extensão vai se incorporandocomo necessidade nessa área, pela dificuldade de acesso dapopulação mais carente às instituições do poder judiciário.

Nesse quadro, as áreas de formação tecnológica estavamnaturalmente fora da atividade extensionista, assim como os cursosdas áreas biológicas. Uma certa cisão se fazia entre os queproduziam ciência e tecnologia (pesquisa) e os que prestavam

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serviços de natureza social (extensão). Mundos mutuamenteexcludentes e sem possibilidade de conexão.

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte foi uma dasinstituições pioneiras da extensão universitária em nosso país. Oseu pioneirismo esteve diretamente vinculado à criação de umaestrutura de prestação de serviços na área de saúde – o CentroUniversitário de Treinamento e Ação Comunitária – CRUTAC.Localizado numa região do estado com frágil estrutura sanitária, oCRUTAC contava com um complexo de serviços que incluíahospitais regionais que serviam de campo de estágio obrigatóriopara os alunos de alguns cursos da área da saúde.

Dentro dessa mesma filosofia foram implementados osprimeiros projetos de ação comunitária universitária em diferentesregiões do Brasil. Projetos como o RONDON levavam ao interior dopaís milhares de jovens universitários que deveriam prestar serviçosàs comunidades carentes, o que lhes garantiria um aprendizado amais em sua formação. A extensão vai pouco a pouco aparecendocomo um recurso importante da formação, gerando uma certaconfusão entre as idéias de extensão e estágio.

Dessa forma, a extensão vai cada vez mais se afirmandocomo prestação de serviços e/ou estágio, numa perspectiva de açãocomplementar às atividades de ensino totalmente descolada dasatividades de pesquisa. Essa realidade tornava a extensão umaatividade menor, menos qualificada, e o professor que fazia extensãorealizava uma atividade de nível acadêmico inferior. Caricaturandoa situação, o pensamento dominante era de que “quem sabe,pesquisa, quem não sabe, ensina e faz extensão”.

Os anos 1990 foram fundamentais para a redefinição daextensão universitária no Brasil. O avanço de algumas áreas deconhecimento, a ampliação da intervenção da universidade nas maisdiferentes direções, e a crescente consciência política daresponsabilidade social das universidades, principalmente dasinstituições públicas, foi pouco a pouco requalificando a extensãouniversitária.

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Hoje, a extensão é vista como uma atividade universitáriaessencialmente acadêmica, diferenciando-se das práticasassistencialistas que deram origem à atividade na universidadebrasileira. Concebida como o conjunto de ações que estabelecema relação da universidade com a sociedade, a extensão deve servista como a síntese entre o fazer universitário e a realidade social,interligando processos educativos, produção e aplicação deconhecimentos, numa dinâmica que interliga ensino e pesquisa deuma forma engajada socialmente.

A extensão é o mecanismo mais eficiente de aproximar ainstituição universitária da sociedade ao seu redor, funcionandocomo o meio mais eficiente de ampliar o acesso à universidade, demilhares de cidadãos que a ela não têm acesso pela via do ensinoformal. Mas a extensão é também a possibilidade da síntese teoriae prática, da experimentação social, elementos fundamentais parauma formação acadêmica referenciada na realidade social, nas suasnecessidades, na sua singularidade. À formação teórica, essencialpara dar fundamentos sólidos ao fazer universitário, deve seradicionada à possibilidade da prática social que se realiza atravésda extensão.

Essa relação teoria e prática viabilizada pela extensãopossibilita uma troca de saberes que tem como conseqüência aprodução de um conhecimento de novo tipo, resultante do confrontoteoria/realidade, conhecimento científico/saber popular, que éapropriado pelo estudante universitário de uma forma crítica eengajada socialmente, enriquecendo a sua formação.

Entendida dessa forma a extensão deixa de ser vista comoa terceira função da universidade (junto com o ensino e a pesquisa)para tornar-se o “cimento” que deve unir, de maneira consistente,aquelas duas outras funções, num fazer universitário marcado pelodiálogo com a realidade social.

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A IMPORTÂNCIA DA EXTENSÃO NOPROCESSO DE FORMAÇÃO

Na medida em que a extensão deixa de ser uma funçãocomplementar na dinâmica da vida universitária e passa a ser umelo significante das demais funções (ensino e pesquisa), ela se inserecomo atividade necessária na formação universitária. No entanto,esta ainda não é uma realidade observável na grande maioria dasinstituições de ensino superior. Mesmo nas universidades, é grandeo número de alunos que passa pela instituição sem qualquer contatocom a atividade extensionista e muito pouco contato com a atividadede pesquisa, a não ser de forma indireta. Dessa maneira, auniversidade não garante aos seus alunos a formação universitáriana concepção exata da palavra. Reproduz o velho modelo dasfaculdades isoladas, voltadas unicamente para as atividades deensino, numa reprodução um pouco mais qualificada da experiênciado Ensino Médio.

É preciso pensar a formação universitária numa concepçãode universalidade e amplitude, que deve ultrapassar a meratransmissão formal de conhecimentos teóricos. A universidade deveser capaz de capacitar os indivíduos para produzirem conhecimentonovo e colocarem esse conhecimento à disposição da sociedade.Para isso deve ir além dos espaços formais da sala de aula e doslaboratórios para experimentar e testar o conhecimento produzidono laboratório da sociedade, aprendendo com ela num processodialógico de troca de saberes e de sentidos.

Entretanto, instituições universitárias brasileiras ainda nãoestão preparadas para trabalhar com essa nova concepção deformação. A estrutura curricular dos cursos, na sua maioria, aindareflete a rigidez da visão tradicional do ensino universitário, queconcebe o processo de formação como o encadeamento dedisciplinas (com conteúdos fechados e preestabelecidos),distribuídas em uma carga horária obrigatória que deve ser totalizadanum período também definido a priori. Em alguns casos, o excesso

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de disciplinas e a quantidade de horas a elas destinada impedem oaluno de ter uma verdadeira vivência universitária.

A URGÊNCIA DA FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR

Os anos 1990 foram marcados, no meio educacional, pelodebate acerca da busca de um modelo de estruturação da educaçãobrasileira que fosse mais adequado às tendências de uma sociedadeem transformação e que possibilitasse uma educação maiscondizente com as questões de nosso tempo. Durante alguns anos,especialistas, professores em geral, políticos, debruçaram-se naformulação de uma nova lei que servisse de base para as mudançasque o ensino brasileiro, nos diferentes níveis, demandava. A Lei deDiretrizes e Bases para a educação, em sua versão definitiva, foipromulgada em 1996.

Uma das grandes novidades da nova LDB foi justamente aquebra da estrutura fechada e pesada dos currículos tradicionais, apossibilidade de introdução de novas matérias e conteúdos e oaproveitamento, na contabilidade da carga horária obrigatória, deatividades de diferentes naturezas, realizadas durante o processoformativo.

Na universidade essa novidade possibilitou a validação, emtermos de créditos/carga horária, de atividades externas à sala deaula, como atividades de pesquisa, produção científica e extensãouniversitária, num reconhecimento da importância desse tipo de tra-balho para a formação integral do aluno. Hoje é impossível nãoreconhecer que o aluno que tem vivências extraclasses, principal-mente na pesquisa ou na extensão, é um aluno diferente: maismaduro, mais seguro, mais apto para o desempenho das futurasfunções profissionais.

Um currículo que tenha essa abertura possibilitará nãosomente a incorporação da participação dos estudantes em projetosde extensão, mas também fará com que as disciplinas assumamuma nova concepção.

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[...] o ensinar e o aprender estarão interligados, tendocomo ponto de partida a análise de situações existen-tes no cotidiano da sociedade, ou no interior deinstituições públicas ou privadas. Os alunos confronta-rão tais situações com os conhecimentos científicosque favoreçam a compreensão daquele cotidiano, dan-do base para o traçar de alternativas de atuação quecontribuam com aquelas realidades, possibilitando o ire vir da teoria e criando novas oportunidades de for-mação acadêmica cidadã (Documento da ComissãoEspecial do Fórum de Pró-Reitores de Extensão dasUniversidades Públicas Brasileiras).

A despeito dessa nova possibilidade contida na LDB, no âm-bito das universidades as mudanças ainda ocorrem em um ritmomuito lento. A flexibilização curricular depende da formulação deum Projeto Político-Pedagógico que sirva de base e fundamentopara as mudanças e esse processo tem tido dificuldades de opera-cionalização, pela ausência de um debate criativo que seja capazde apontar caminhos. Afinal pensar um currículo flexibilizado impli-ca (re)pensar a própria universidade e sua política educacional.Supõe uma mudança nas concepções rígidas e tradicionais queestruturam o ensino universitário e no perfil do profissional que sequer formar.

Concretamente, a inserção da extensão universitária nosnovos projetos de curso passa por pelo menos duas possibilidades.A primeira delas diz respeito à criação de “disciplinas de extensão”e a segunda, à contabilidade do tempo despendido em atividadesde extensão, na carga horária do curso, segundo procedimentosdefinidos em cada Projeto Político-Pedagógico.

No primeiro caso, temos em algumas universidades brasi-leiras, experiências pioneiras, como a desenvolvida na UniversidadeFederal da Bahia através da criação do componente curricular de-nominado Atividade Curricular em Comunidade – ACC, extensivo atodos os alunos da UFBA, ingressos a partir de 2001, com no míni-

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mo 60 horas e 04 créditos. As ACCs consistem em propostas detrabalho na comunidade, nas mais diferentes áreas, podendo en-volver, ao mesmo tempo, atividades de pesquisa e extensão, sob aorientação e o acompanhamento direto de um professor.

A ACC tem características comuns às demaisdisciplinas: obrigatoriedade, carga horária, creditaçãoe propósito acadêmico. Diferencia-se, entretanto, pelaliberdade na escolha das temáticas, na definição deprograma e na experimentação de procedimentosmetodológicos, bem como pela possibilidade deassumir um caráter renovável a cada semestre ou decomportar a continuidade da experiência por mais deum semestre (Proposta de criação da atividadecurricular em comunidade – UFBA).

Os conteúdos da ACC abrangem todas as áreas deconhecimento cobertas pelos cursos de graduação da UFBA e sãotrabalhados numa perspectiva inter e transdisciplinar, focalizandotemas que vão da melhoria da saúde ao resgate da preservação eidentidade cultural, passando pelo combate ao trabalho infantil e àviolência, geração de emprego e renda, preservação do meioambiente, melhoria da educação básica, dentre outros temas.

Na UFRN a primeira experiência nessa direção foi concebidana área da saúde. Sob a denominação Saúde e Cidadania, o projetoSACI é hoje uma realidade no currículo dos cursos de: Medicina,Odontologia, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição eBiologia, na área da saúde; e Psicologia, na área humanística. Essadisciplina é oferecida todos os semestres e o engajamento dosalunos é resultante de uma escolha. A observação dos dadosrelativos à sua evolução no tempo, a partir de sua criação, em 1999,demonstra o aumento significativo da procura da mesma, por partedos alunos. Atualmente ela se desenvolve na zona oeste da cidade,uma área que abrange 05 bairros incluídos em uma situação depobreza, violência e marginalidade. As atividades são desenvolvidas

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nos postos de saúde, nas escolas, nas associações, nas igrejas, esão planejadas segundo as necessidades de cada localidade.

A segunda possibilidade é ainda mais flexível que a primeira.Consiste no aproveitamento da carga horária utilizada pararealização de atividades extraclasses, na integralização dos créditosexigidos em cada curso. A participação em projetos de extensãouniversitária, eventos, cursos extracurriculares, projetos de açãovoluntária, empresas-júnior, e outras atividades dessa natureza,realizadas pelo aluno na condição de bolsista ou voluntário, podemagora integrar o currículo dos alunos, desde que o Projeto Político-Pedagógico do curso assim estabeleça.

Essas novas possibilidades abrem espaço para que aextensão universitária ganhe uma nova condição, na formação dosalunos. A atividade extensionista passa a ser considerada comouma possibilidade importante e o incentivo do seu aproveitamentono currículo do curso criará a possibilidade de um número bem maiorde alunos adquirir experiência de extensão, ampliando a sua vivênciauniversitária.

REFERÊNCIAS

FÓRUM DE PRO-REITORES DE EXTENSÃO DAS UNIVERSIDADESPÚBLICAS BRASILEIRAS. Comissão Especial. Indissociabilidade entreEnsino-Pesquisa-Extensão e a flexibilização curricular: uma visão daextensão.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA. Pró-Reitoria de Extensão. Propostade criação da Atividade Curricular em Comunidade. Salvador, 2000.

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ATIVIDADES CURRICULARES DE EXTENSÃO EMCOMUNIDADES: UMA ESTRATÉGIA DE

FLEXIBILIZAÇÃO

Francisca Nazaré Liberalino*

As constantes mudanças econômicas, sociais e políticas,que consubstanciaram o modelo produtivo atual, impõemmecanismos de organização flexível, aperfeiçoamento da basetécnico/tecnológica e aprimoramento dos objetos e instrumentosno mundo do trabalho, fato que tem desafiado o campo da formaçãoprofissional a dar respostas. Nesse sentido, buscam-se outros eixose estratégias que conduzam a prática pedagógica ao atendimentode demandas requeridas pelo atual contexto mundial e nacional.

Não podemos, contudo, interpretar tais questões apenas pelavia da adequação à exigência de mercado, sob a ameaça de tor-narmos o processo de formação profissional refém da racionalidadeeconômica. Esse “novo” diz respeito também a um diálogo, a umapolifonia de idéias e a uma nova forma de pensar a produção edifusão do conhecimento e da cultura. É necessário transcenderessa tendência economicista e mercantilista da educação e assu-mir uma postura de ousadia no sentido da formulação de projetospolíticos e pedagógicos transformadores, os quais devem transpora noção empresarial do alcance de metas e idealização de produ-tos para obtenção de lucros. Como afirma Ferreira (2000, p. 27)“definir-se, por um ou outro significado, é uma opção política. Cabeà comunidade universitária buscar clareza suficiente para o enca-minhamento político a ser dado ao seu projeto pedagógico”.

* Francisca Nazaré Liberalino é Enfermeira, Professora do Departamento deEnfermagem da UFRN, ex-Pró-Reitora Adjunta de Extensão Universitária daUFRN, na gestão 1999-2003, e, atualmente, aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação (Doutorado), na UFRN.

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A esse respeito Maturana (1998, p. 16) nos provoca: “O quequeremos com a educação? O que é educar? Para que queremosa educação? [...] Que país queremos?” Trata-se, portanto, de buscaras conexões existentes entre o fenômeno que queremoscompreender e o seu ambiente. Abdicar da ortodoxia, das fáceisrespostas finalistas e completas.

Estas perguntas geradoras de preocupações e desafios nosremetem a tentar descobrir respostas acerca do papel social daação educativa universitária. Dentre elas, as que mais nos inquietam:o que estamos fazendo para garantir a vivência dos estudantes emrelação aos problemas e prioridades das populações que circundama universidade? Como disseminar a idéia de que, sendo parte dasociedade, eles têm o dever de refletir sobre ela, implicar-se ecomprometer-se? Como potencializar a energia dos estudantes eprofessores e fortalecer a auto-estima da comunidade universitária?Como fazer para que o estudante viva o seu tempo de formaçãonão apenas como objeto, paciente e passivo, da exposição ao saberacadêmico, mas que possa recontextualizá-lo e dar-lhe significado?

Como fazer para que a sociedade reconheça na universidadeuma instituição indispensável ao seu desenvolvimento, responsável,não só para lhe devolver bons profissionais, mas também pelaprodução de conhecimentos voltados para a solução de muitos dosseus cruciais problemas?

A situação e as preocupações dos estudantes de hojemudaram. Hoje, os estudantes se encontram no dilemade escolher entre o que deles se pede, que é preparar-se para competir no mercado profissional, e o ímpetode sua empatia social, que os leva a desejar mudaruma ordem político-cultural geradora de excessivasdesigualdades, que trazem pobreza e sofrimentomaterial e espiritual. A diferença entre preparar-se paradevolver ao país o que se recebeu dele [...] e preparar-se para competir no mercado de trabalho é enorme(MATURANA, 1998, p.13).

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É em tom de pesar que Maturana descreve essa situação.Essa coincidência de propósitos individual e social, para ele, nãopode existir porque a competição, como fenômeno humano, é umprocesso de negação do outro. É preciso que a educaçãouniversitária possibilite uma formação que comprometa o futuroprofissional com uma inserção na sociedade de forma dialógica,não apenas como um bom técnico, mas como um cidadão, capazde associar-se ao outro e posicionar-se de forma crítica, o que secontrapõe a esta atual tendência.

No período em que estivemos colaborando na gestão daPró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Rio Grandedo Norte-UFRN, de maio de 1999 a maio de 2003, pudemosconstatar, nas reuniões formais e informais com coordenadores,professores e estudantes integrantes das equipes de trabalho dosgrandes programas de extensão existentes na época, que essasinquietações eram lugar-comum. O mesmo se verificava nasreuniões do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das UniversidadesPúblicas Brasileiras1, realizadas, anualmente, em nível nacional e,semestralmente, na Região Nordeste. Esta preocupação básica,focalizada com muita freqüência e pertinência ao longo dessesquatro anos, nos incentivou a propor algumas possibilidades desuperação.

O primeiro desafio a enfrentar é no campo das concepçõessobre o papel social da universidade pública. Como fazer para quea instituição universitária ou de ensino superior passe a considerara extensão não como uma terceira função, como algo à parte(quando não se está fazendo ensino e pesquisa), ou apenas comouma prestação de serviços à comunidade, uma mera transferência

1 O Fórum de Pró-Reitores das Universidades Públicas Brasileiras foi criado em1986, como uma instância articuladora de uma política nacional para a extensãouniversitária, por iniciativa dos próprios gestores universitários. Participam dessefórum os Pró-Reitores, Diretores, Coordenadores e demais dirigentes deDepartamentos de Extensão das Universidades e Instituições de Ensino Superiorpúblicas brasileiras.

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de tecnologia ou difusão do saber acadêmico para a comunidade,considerada sempre como um elemento externo? Como levar auniversidade a experimentar o seu poder de envolver professores eestudantes no desejo de conhecer, descobrir, criar, refletir,compartilhar, produzir e avaliar resultados, numa efetiva interaçãocom o mundo que a cerca? Desvendá-la com possibilidade real deinteragir? Como viver, academicamente, uma experiência práticade indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a produçãocultural, junto aos outros setores da sociedade, sem perder a suaidentidade de instituição produtora de ciência, da alta cultura?

A idéia que nos parece extremamente pertinente é a daimplementação de uma proposta de atividade curricular que sejadesenvolvida em comunidades. Isso implicaria, de imediato, aignição de uma oficina de novos formatos acadêmicos e, a médioprazo, a obrigatoriedade de um (re)planejamento de cada cursosuperior, em direção a estabelecer prioridades acadêmicas e sociais,além de uma saudável imersão dos estudantes nas respectivasrealidades de suas futuras áreas de atuação.

Um processo dinâmico, um movimento ao qual Almeida(2002, p. 7) denomina de “campo de respiração da academia, lugarde diálogo entre o saber científico, e os conhecimentos não-científicos, fatos portadores de sentido de futuro”, correspondenteà inovação ou reforma do pensamento na universidade.

A utilização de novos espaços de ensino e aprendizagemnão é apenas uma questão de missão social, mas uma atitudeestratégica para a abordagem de temáticas emergentes das culturase identidades locais, uma orientação pedagógica já demandadadesde os primórdios da educação universitária, no mundo e no Brasil.Hoje, elas são requeridas muito mais como necessidades de estudostransversais e interdisciplinares, para fazer face à demasiadafragmentação do conhecimento e ao distanciamento do processoensino-aprendizagem da realidade social concreta.

Propostas do gênero podem vir a representar uma mudançasignificativa para a universidade como um todo, inclusive para a

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elevação da auto-estima de professores e alunos, mesmo levandoem conta o período atribulado que a instituição atravessa, face àsexigências de projetos dominantes que se voltam para as demandase iniciativas do mercado.

De acordo com Lima (2002), não é incomum que docentesqualificados, que dedicam boa parcela de suas carreiras a trabalhosjunto a lideranças populares, em favelas, em bairros periféricos ouáreas de invasões, vejam seus feitos julgados como de validadecientífica, no mínimo, duvidosa, por parte de comitês acostumadosà contabilidade de um determinado padrão de excelência.

O que se propõe, portanto, é a criação do componentereferencial que mobilize a flexíbilização na estrutura dos ProjetosPolítico-Pedagógicos dos cursos de graduação. Tal componentepode configurar-se como um núcleo, área, programa, projeto ouqualquer outra denominação que se pretenda em cada curso, aoqual vamos nos referir, a título de identificação neste texto, comoAtividade Curricular de Extensão em Comunidades, em que osestudantes, orientados por professores da universidade, pudessemdesenvolver experiências de extensão, promovendo o intercâmbio,a re-elaboração e a produção de conhecimentos sobre a realidadee sobre alternativas de transformação desta, numa relação dialógicae de parceria com profissionais, líderes ou grupos dessacomunidade.

Uma atividade pedagógica que articule o ensino, a pesquisae a produção cultural, através da extensão universitária, com outrossetores da sociedade, num movimento ao qual Germano (1999, p.4) denomina de “qualificação acadêmica e social dos estudantes”.

Do ponto de vista da comunidade não universitária, aointeragir em parceria com os cursos da universidade, esta teria aoportunidade de ampliar seu acesso aos produtos e serviços geradosna academia, ou seja, usufruir da contribuição que a troca entre osaber acadêmico e o conhecimento da tradição tem a oferecer naidentificação, análise e enfrentamento dos seus problemas.

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Do ponto de vista da academia, esse movimento de “idas evindas” resultaria em oportunidades de conhecimento da realidadea ser enfrentada pelos futuros profissionais: a descoberta de novossaberes que podem estabelecer diálogos com a prática empírica ea ciência; a compreensão do caráter multidisciplinar e omnilateraldos problemas ou situações da realidade, superando a visãotradicional – unilateral, fragmentada e fragmentária –, das disciplinasfechadas em “grades curriculares”; e finalmente, a compreensãodo conhecimento como ferramenta de transformação.

Trata-se, portanto, de uma prática que pretende a construçãoda cidadania do estudante e a sua implicação com o compromissosocial de uma universidade pública: colocar o conhecimento aserviço das parcelas da população que dele são privadas.

A referida Atividade Curricular de Extensão em Comunida-des viria ainda a cumprir, de forma responsável, com a necessáriaflexibilização dos Projetos Político-Pedagógicos dos cursos univer-sitários. Nesse sentido, além dos objetivos acadêmicos, específicos,de cada área de formação profissional, os cursos passariam a in-cluir nos seus objetivos, principalmente:

• Intensificar o contato da universidade com os demais se-tores da sociedade na busca do cumprimento do seucompromisso social.

• Promover maior aproximação entre os currículos e a vidareal da sociedade

• Contribuir para a formação ética do profissional, favore-cendo o desenvolvimento de uma atitude, tanto questio-nadora como proativa, diante dos desafios e limitesimpostos pela nossa realidade social.

• Fortalecer a indissociabilidade entre as funções essenci-ais da universidade (o ensino, a pesquisa e a extensão),contribuindo para a melhoria da qualidade, acadêmica esocial, dos alunos e egressos dos cursos de graduação

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• Propiciar a descoberta de novos objetos de investigaçãoem contextos diversos, diferentes do meio acadêmico, ea experimentação de alternativas metodológicas de tra-balho comunitário e de ensino-aprendizagem.

• Promover, de forma compartilhada, a avaliação de situa-ções, a reflexão sobre problemas, a busca criativa desoluções e a implementação de ações, estimulando aproblematização como atitude de interação com a reali-dade.

QUE FORMATO ESSA ATIVIDADE PODERIAASSUMIR NA UNIVERSIDADE?

Ao se inserir como um componente da estrutura curricular,nos Projetos Político-Pedagógicos dos cursos de graduação, aAtividade Curricular de Extensão em Comunidades atenderia aosprincípios e pressupostos por eles estabelecidos e estaria orientadapor sua intencionalidade, organicidade e propósito acadêmico –exigiria planejamento, definição de carga horária e fluxos, corpodocente, avaliação etc. –, semelhante a qualquer outra atividadeneles previstas. Diferenciar-se-ia, entretanto, de disciplinas, pelaliberdade na escolha de temáticas; pela definição de programasdiversificados; pela interação efetiva com outros setores dasociedade; pela oportunidade de experimentação de procedimentosmetodológicos inovadores; ou pela possibilidade de assumir umcaráter renovável a cada semestre, podendo ainda comportar acontinuidade da experiência por mais de um semestre. Teria umacertificação, como atividade de extensão universitária e, ao mesmotempo, poderia ser creditada no histórico escolar, como qualqueroutra atividade de ensino.

Distinguir-se-ia do estágio curricular obrigatório (atividadevinculada academicamente à universidade) ou do estágio não-obrigatório (atividade, opcional, vinculada a um contratante/

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conveniado, externo), pois, essa experiência não objetivaria nem oexercício pré-profissional num campo específico de trabalho, nemo desenvolvimento de competências específicas, obtidas noprocesso de formação, oportunidade que é comumente viabilizadasó ao final dos cursos. Em sendo um componente flexível, a AtividadeCurricular de Extensão em Comunidades estaria aberta até aosalunos recém-ingressantes nos cursos. Aliás, o ingresso de alunos,precocemente, na área prática, tem-se revelado uma fortecontribuição ao desenvolvimento da consciência crítica e aocompromisso ético de solidariedade.

Não deverá ser confundida com o trabalho final de curso degraduação ou com a coleta de dados em pesquisas de campo,tampouco ser confundida com prestação de serviços ou mesmoser caracterizada como atividade assistencialista. Porquanto, visaa promover de forma compartilhada, essencialmente, a avaliaçãodiagnóstica sobre situações; a reflexão sobre problemas; a buscacriativa de soluções; e a implementação de ações, acompanhadas,sempre, de avaliação (de processos e de resultados), inclusive, doseu impacto sobre a realidade e sobre o próprio processo ensino-aprendizagem.

Sua natureza deve ser teórico-prática, interdisciplinar etransdisciplinar, um trabalho de campo a ser desenvolvido de formacontínua, sistemática, reflexiva, no contexto real de vida dascomunidades. Uma “práxis”, nos moldes aos quais se reporta PauloFreire em suas diversas obras. Portanto, não poderá ser reduzida àcategoria de uma disciplina que tenha um momento de aplicaçãoprática.

Além disso, essa natureza peculiar exigirá uma cooperaçãoentre docentes, técnicos e estudantes de diferentes cursos numainteração, efetiva, com grupos das comunidades. Dessa forma osestudantes, com a orientação de um professor, poderiam:

a) Desenvolver atividades pedagógicas de intercâmbio deconhecimentos entre a universidade e a população local:ministrar cursos, promover eventos, ciclos de estudos e

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debates, oficinas, seminários, exposições, concertos, es-petáculos, mostras, feiras, campanhas, formação deagentes multiplicadores ou promoção de grupos artísti-cos, entre outras;

b) Conhecer realidades específicas, a partir de levantamen-tos, pesquisas de campo, diagnósticos e projetos comuns,colaborando no encaminhamento de soluções de proble-mas;

c) Vivenciar práticas profissionais de forma cooperativa,multissetorial e interdisciplinar, em situações concretas, de-mandadas pela população, acompanhando, apoiando eassessorando projetos comunitários em desenvolvimento;

d) Desenvolver atividades artísticas ou de resgate da me-mória cultural e da história das comunidades;

e) Agregar aspectos qualitativos de interesse ou necessida-de da população nas ações promovidas pelo poderpúblico, ou por organizações da sociedade civil, que ve-nham a fortalecer as capacidades dos atores sociais paraum protagonismo ativo na comunidade.

f) Aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser,aprender a conviver.

A continuidade permitida pela inserção dessa atividade noscurrículos irá preparar o caminho para que a realidade dascomunidades se transforme em realidade acadêmica, promovendo,simultaneamente, um permanente processo de experimentaçãometodológica na universidade, em direção à oxigenação do próprioProjeto Político-Pedagógico. Representará, pois, na prática, umespaço dialógico para a permanente reconstrução dos saberes

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O CAMPO DA AÇÃO, AS BASES DA AÇÃO,OS CONTEÚDOS E A RELAÇÃO TEORIA/PRÁTICA

Para a realização de Atividades Curriculares de Extensãoem Comunidades poderiam ser utilizados espaços disponíveis naspróprias comunidades (escolas, igrejas, associações, sindicatos,unidades de saúde, centros sociais, clubes, cooperativas, espaçosculturais, domicílios e outros) ou espaços (locais, horários e turnos)na própria universidade, diferentes dos que já são utilizadosformalmente, ou habitualmente, pelos cursos.

Os conteúdos abrangeriam as diversas áreas de conheci-mento dos cursos de graduação e seriam trabalhados, preferenci-almente, de forma multissetorial, interdisciplinar e transdisciplinar.

Devem ser considerados, na seleção desses conteúdos, osperfis delineados nos Projetos Políticos-Pedagógicos dos cursos,as políticas e as experiências da própria universidade em atividadesde extensão, as grandes áreas temáticas e linhas programáticaspropostas no Plano Nacional/Regional de Extensão2, e as demandasoriúndas de setores emergenciais da comunidade. Esses elementosforneceriam as bases sobre as quais os cursos poderiam privilegiar,inicialmente, os conteúdos, os focos ou temas específicosestruturantes, ou seja, geradores ou portadores de mudanças.

2 O Plano Nacional de Extensão Universitária é o documento base que orienta eestabelece as referências e diretrizes gerais, para a formulação da política deextensão universitária em todas as Instituições de Ensino Superior públicasbrasileiras. Foi formulado pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão dasUniversidades Públicas Brasileiras e aprovado em sua reunião anual, realizadaem Natal, RN, em 1998, e lançado, nacionalmente, em sessão solene realizadaem Brasília, em dezembro de 1999, ocasião em que foi publicado em sua primeiraedição, com o apoio da SESU/MEC.

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AS BASES LEGAIS

No tocante aos aspectos legais, esta proposta está ancoradanos estatutos e legislações pertinentes que apontam para talpossibilidade, restando apenas sua adequação às peculiaridadeslocais/regionais e a sua implementação na prática acadêmicacotidiana.

Art. 207 da Constituição Federal:

As Universidades gozam de autonomia didático-cien-tífica, administrativa e de gestão financeira epatrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabi-lidade entre ensino, pesquisa e extensão.

Art. 43 da Lei 9.394 de 20.12.96 – Lei de Diretrizes e Basesda Educação Nacional:

A educação superior tem por finalidade:

VI – estimular o conhecimento dos problemas do mundopresente, em particular os nacionais e regionais, prestarserviços especializados à comunidade e estabelecercom esta uma relação de reciprocidade;

VII – promover a extensão, aberta à participação dapopulação, visando à difusão das conquistas ebenefícios resultantes da criação cultural e da pesquisacientifica e tecnológica geradas na instituição.

Plano Nacional de Extensão Universitária, do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras,lançado no Ministério da Educação em dezembro de 1999:

A extensão universitária é o processo educativo, cultu-ral e científico que articula o ensino e a pesquisa deforma indissociável e viabiliza a relação transformadora

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entre Universidade e Sociedade. [...] é uma via de mãodupla, com trânsito assegurado à comunidade acadê-mica, que encontrará, na sociedade, a oportunidadeda elaboração da práxis de um conhecimento acadê-mico. No retorno à Universidade, docentes e discentestrarão um aprendizado que, submetido à reflexão teó-rica, será acrescido àquele conhecimento. Este fluxo,que estabelece a troca de saberes sistematizados,acadêmico e popular, terá como conseqüência: a pro-dução do conhecimento acadêmico e a participaçãoefetiva da comunidade na atuação da universidade.

Plano de Desenvolvimento Institucional da UFRN, 1999-2007:

Ampliar o acesso da população às suas atividades [...]Ampliar o leque de parceiros na busca de soluções paraos problemas e demandas cruciais da sociedade.Desenvolver a formação acadêmica associando omáximo de qualificação técnica e o máximo decompromisso social.

E, finalmente, a política de reestruturação dos ProjetosPolítico-Pedagógicos definida pela Pró-Reitoria de Graduação queprioriza, entre outras dimensões, a flexibilização curricular.

VALIDAÇÃO E CERTIFICAÇÃO

Existem algumas possibilidades de validação como atividadecurricular que devem ser consideradas, conforme o processohistórico e grau de flexibilidade que os diferentes cursos apresentam.Aqui elas estão sugeridas numa seqüência que considera ospossíveis limites institucionais, deslocando-se do menor para o maiorgrau de autonomia ou flexibilidade acadêmica que os cursos possamapresentar:

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a) Matrícula, por opção individual ou por demanda de orien-tação acadêmica, em “disciplina flexível”, ou seja, com ascaracterísticas anteriormente mencionadas. Nesse caso,teria que haver a oferta da atividade por algum Departa-mento, como complementar ou obrigatória, a ser aprovei-tada conforme a dinâmica interna do curso de origem dosalunos que nela se matriculem;

b) Atuação de alunos em projetos de extensão existentes eaproveitamento como atividade complementar, registra-do no histórico escolar, sem exigência de matrícula emdisciplina específica. Nessa hipótese, o Colegiado do Cur-so constituiria uma comissão para avaliar o projeto deatividades e posteriormente validar e reconhecer a expe-riência realizada, mediante análise do relatório correspon-dente. Cabe a cada Colegiado de Curso regulamentarsobre critérios e formas de aproveitamento das ativida-des de ensino, pesquisa ou extensão, realizadas pelosalunos, como crédito equivalente junto à Pró-Reitoria deGraduação;

c) Programa ou Projeto de Atividade Curricular de Extensãoem Comunidades, específico, criado pela Pró-Reitoria deExtensão e apoiado pela Pró-Reitoria de Graduação que,embora não conste dos Projetos Político-Pedagógicos,possa ser normatizado pelos colegiados dos cursos, comoatividade de natureza complementar ou obrigatória. A di-ferença em relação à modalidade anterior é que este pro-grama representaria a materialidade da intençãoinstitucional em induzir políticas e práticas de extensão,privilegiando determinadas demandas ou necessidadessociais, porém, articulando-as internamente à formaçãouniversitária;

d) Como Atividade Curricular de Extensão em Comunida-des prevista na própria estrutura do Projeto Político-Pe-dagógico do Curso. Essa seria a forma desejável, no

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sentido de provocar mudanças efetivas na formação, dadaa intencionalidade que lhe seria subjacente. Nesse casoela comporia o núcleo das atividades ditas flexíveis,interativas ou interdisciplinares, integrando ensino-pes-quisa-extensão em comunidades, e, estaria aberta a qual-quer aluno que atendesse aos requisitos previstos em suaementa (esta teria que ser, necessariamente, muito am-pla). Nesse caso, haveria uma organicidade e dinâmicapróprias, exigência de carga horária pré-fixada, docentesresponsáveis pela coordenação/orientação/tutoria da ati-vidade, e constaria do histórico escolar do aluno, confor-me o previsto em sua resolução de implantação curricular.Os cursos podem prever mais de uma dessas atividadesao longo do seu fluxograma de integralização curricular.

Em qualquer uma das proposições, a atividade só poderáser reconhecida como Atividade Curricular de Extensão em Comu-nidades se for realizada sob a responsabilidade de, pelo menos,um professor, o qual terá o papel de coordenar o projeto e orientarsua execução, assim como acompanhar e avaliar o desempenhodos alunos junto à comunidade e apresentar relatório às instânciaspertinentes, especialmente ao Colegiado do Curso ou comissão porele designada.

Com exceção da primeira das modalidades, o aluno e demaisparticipantes teriam direito à certificação como Atividade de Extensão(Programa, Projeto, Curso ou Evento), mediante o cadastro e registroda atividade na Pró-Reitoria de Extensão e posterior apresentaçãode relatório.

O aluno participante poderá receber certificado comocolaborador, monitor, bolsista ou voluntário, conforme sua inserçãona atividade. O professor, por sua vez, poderá receber a certificaçãocomo coordenador, instrutor, supervisor, orientador ou tutor, deacordo com o registro de sua inserção no projeto.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existem diversos entendimentos acerca da flexibilizaçãocurricular. É uma questão atual que, via de regra, é orientada porvisões de mundo que conduzem a ação pedagógica em sentidosque podem estar pautados em uma outra concepção, qual seja, adimensão técnico-especializada que aplica, com rigor, as regras quederivam do conhecimento científico às do mercado (haja vista asrecentes experiências desenvolvidas nos chamados cursosseqüenciais ou de formação de tecnólogos), ou, de outra ordem, asque se limitam a viabilizar projetos e políticas governamentais, estas,nem sempre voltadas aos interesses sociais, reduzindo a ação críticade uma Instituição produtora do conhecimento à mera oferta dosprodutos da tecnologia desenvolvida, à prestação de serviços dediagnóstico ou de assistência.

O que propomos é uma ação baseada na dimensãoacadêmica, crítica e criativa, que toma decisões e constrói situaçõesde aprendizagem a partir da práxis, ou seja, uma ação pedagógicaque promova a articulação do pensar com o fazer, da universidadecom os outros setores da sociedade, e, mais que isso, queestabeleça vínculos de partilha de saberes e promoção de alianças,na perspectiva de elaboração de projetos comuns.

A extensão nessa dimensão configura-se como um espaçolegítimo de elaboração da crítica e transformação da cultura. Umaformação desenvolvida com rigor técnico e científico, porém,comprometida com a transformação da prática acadêmicafragmentada, rejuntando saberes que potencializem a participaçãoda universidade no processo das necessárias mudanças sociais.

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REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Maria da Conceição de. Reforma do Pensamento e ExtensãoUniversitária. In: FÓRUM DE PRÓ-REITORES DAS UNIVERSIDADESPÚBLICAS BRASILEIRAS, REGIÃO NORDESTE. 26, 2002, Natal, Anais[...] Natal: EDUFRN, 2002.

BUARQUE, Cristovam. A aventura da universidade.São Paulo.Editora daUEP: Paz e Terra,1994.

CORREIA, Ovídio Valois. 1927-1984. A extensão universitária no Brasil:um resgate histórico; In: CRUZ, Marta Viera (Org.), São Cristóvão: EditoraUFS, Fund. Oviêdo Teixeira, 2000.

FERREIRA, Maria Salonilde. A díade político-pedagógica. In: ALMEIDA,Maria Doninha (Org.) Projeto Político-Pedagógico. Natal: EDUFRN, 2000.p. 25-28. (Coleção Pedagógica).

FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo. Cortez, 1999.

FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO DAS UNIVERSIDADESPÚBLICAS BRASILEIRAS. Plano Nacional de Extensão Universitária.Ilhéus: EDITUS, 2001, 1993.

GERMANO, José Willington. Isto é Extensão da UFRN. Natal: UFRN, 1999.(texto de referência apresentado na Oficina de Planejamento e DiretrizesPolíticas da Extensão – gestão 1999-2003, realizada em junho de 1999).

LIMA, Paulo Costa. ACC – Atividades Curriculares em Comunidades. In:FÓRUM DE PRÓ-REITORES DAS UNIVERSIDADES PÚBLICASBRASILEIRAS, REGIÃO NORDESTE. 26., 2002, Natal, Anais [...] Natal:EDUFRN, 2002.

MATURANA, R. Humberto. Emoções e linguagens na educação e napolítica. Trad: José Fernando Campos Fortes. Belo Horizonte: Ed. UFMG,1998.

UIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE. Plano deDesenvolvimento Institucional, PDI, 1999-2008. Natal: EDUFRN, 1999.

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FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR NA GRADUAÇÃO:UMA EXPERIÊNCIA DE INTERAÇÃO ENTRE

A UNIVERSIDADE E A COMUNIDADE

Maria Dalva Araújo*

Inicio este artigo, resgatando os antecedentes da experiênciainstitucional de flexibilização curricular na área da saúde naUniversidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), utilizando aestratégia de inserção dos alunos em atividades de extensão.

Nesse sentido realço uma experiência desenvolvida noâmbito do Projeto UNI-Natal1, uma ação no campo da formação deprofissionais de saúde, iniciada no ano de 1995 com a missão de:efetivar mudança no ensino da saúde na UFRN; construir mudançasno modelo de assistência e na prática dos profissionais dassecretarias estadual e municipal de saúde; e promover odesenvolvimento comunitário para o autocuidado e o controle socialsobre os serviços e políticas públicas de saúde.

O projeto, portanto, antecedeu a instituição da Lei deDiretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96) que, noCapítulo IV – Da Educação Superior2 –, previa como sua finalidadeo estímulo ao conhecimento dos problemas da comunidade, com

* Médica, Mestre em Saúde Comunitária pela UFBA, Professora Adjunta e Chefedo Departamento de Saúde Coletiva da UFRN, Coordenadora do PESC –Programa de Extensão em Educação, Saúde e Cidadania, Tutora da SACI.

1 Iniciativa financiada pela Fundação W. K. Kellogg, em seis universidades brasi-leiras, que compunham uma rede de vinte e três universidades latino-america-nas, denominada Programa UNI.

2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE. Lei de Diretrizes eBases da Educação Nacional – LDB, Estatuto e Regimento Geral da UFRN.EDUFRN, 1998.

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vistas à construção de uma consciência social e a prestação deserviços mais qualificados, como também a promoção de ações deextensão com a participação da população, “visando à difusão dasconquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisacientífica e tecnológica geradas na instituição”.

O UNI-Natal desenvolveu uma programação em torno dealguns dos problemas que comprometiam a qualidade de vida daspessoas, tendo como público-alvo prioritário crianças e adolescentes.Numa ação conjunta, que envolveu os três segmentos –Universidade, Serviços de Saúde e Comunidade, identificaram-seproblemas e trabalharam-se formas de encaminhamentos desolução, cujo processo promoveu mudanças no modelo assistencial,no Distrito Sanitário Oeste, fez a comunidade se reconhecer comosujeito ativo na promoção da saúde e a academia repensar suaspráticas na área de ensino e extensão, sobretudo.

As Unidades de Saúde, as Escolas, os ConselhosComunitários, e outros equipamentos sociais e comunitários nosbairros de Cidade da Esperança, Felipe Camarão, Cidade Nova,Bom Pastor e Guarapes foram o lócus de sua atuação.

Como resultado do trabalho efetivado no período dedesenvolvimento do Projeto UNI-Natal (1995-2002) – tempo ricoem idéias, problematizações, discussões, aprendizado, umverdadeiro laboratório social de inovações –, teve lugar, em cadasegmento que o integrou, uma forma distinta e singular deinstitucionalização.

Nos Serviços de Saúde a contribuição se deu na organizaçãodos Sistemas Locais de Atenção, levando a Secretaria Municipalde Saúde a priorizar para aquela área a implantação do Programade Saúde da Família.

Na Comunidade, a participação popular, no controle social,assegurou a atuação marcante na criação de duas iniciativas deintersetorialidade: Fórum de Promoção da Saúde pela Qualidadede Vida (articulação entre a comunidade, equipamentos sociaislocais e UFRN) e o Fórum Engenho de Sonhos de Combate aPobreza (articulação ONGs, jovens das comunidades e UFRN).

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Na UFRN, a atuação na formação/capacitação de profissio-nais de saúde deu lugar ao Projeto Educação Saúde e Cidadania(PESC), que viabilizou a experiência de flexibilização curricular,através de uma atividade complementar, cadastrada como disciplina– Saúde e Cidadania (SACI) – no Departamento de Saúde Coletiva,e a implementação do Laboratório Multiprofissional de HabilidadesClínicas para o ensino da saúde, que teve parte de seu financiamentoassumida pelo Ministério de Educação.

A reflexão desenvolvida neste artigo centra-se na experiên-cia, acima referida, apresentando a dinâmica e desdobramentodesse processo para as instituições envolvidas.

A SACI COMO COMPONENTE DE FLEXIBILIDADE CURRICULAR

A SACI, como parte da estrutura curricular, assume aconfiguração de um processo ensino-aprendizagem voltado para oestímulo às práticas interdisciplinares, ao trabalho em equipe e aarticulação ensino-serviço-comunidade, com características muitopróprias das ações de extensão.

Para viabilizar a experiência como um componente curricular,o Departamento de Saúde Coletiva cadastrou-a como disciplinacomplementar, com quatro créditos e oferta semestral aos alunosdos primeiros semestres dos Cursos de Enfermagem, Farmácia,Fisioterapia, Medicina, Nutrição e Odontologia, além de Psicologia.

Apoiada na Pedagogia da Problematização3, que cria ascondições favoráveis para promover, ao mesmo tempo, atransformação individual e social, em situação grupal, a SACI temfavorecido o aumento da capacidade do aluno como participante eagente de transformação social, levando-o a reconhecer problemas,a fazer perguntas relevantes que o conduzam a uma busca desoluções adequadas.

3 BORDENAVE, Juan E. Dias. Alguns fatores pedagógicos. Revista Interamericanade Educação de Adultos, v. 3. n. 1-2, Brasília: OPS, 1983. p.145-163.

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Seguindo os pressupostos da Pedagogia da Problematiza-ção, a SACI embasou as suas ações nos seguintes princípiosbásicos: articulação teoria/prática; interdisciplinaridade e multipro-fissionalidade; formação orientada para a ruptura e saída doparadigma cartesiano para o da complexidade4.

Essa pedagogia propicia o aprendizado da ética do gênerohumano como uma ciência com consciência, uma consciênciaplanetária que considera a vida como fundamental; a convivênciana diversidade, desenvolvendo condutas de solidariedade; o diálogodos saberes entre o científico, o empírico, o da tradição, o docotidiano; a abertura para o novo, utilizando idéias para a críticadas idéias; enfim, uma nova universidade com o fortalecimento doespaço público e da democracia.

Participam, no desenvolvimento da SACI, os tutores econsultores, que são professores da UFRN e técnicos dos Serviçosde Saúde, tendo como colaboradores os agentes comunitários desaúde, lideranças comunitárias e gestores dos serviços e, comoparceiros, em diferentes momentos, a Pró-Reitoria de ExtensãoUniversitária, Núcleo de Arte e Cultura, Fórum Engenho de Sonhos,ONGs, Igrejas, Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, SecretariaMunicipal de Saúde do Natal, Centro de Controle de Zoonoses,Escolas locais e outros.

As atividades didáticas da SACI ocorrem fora do campus,nas comunidades e bairros periféricos de Natal, que compõem oDistrito Sanitário Oeste (Figura 1), tendo como ponto de apoio oserviço de saúde.

4 MORIN, Edgar; ALMEIDA, Maria da Conceição de; CARVALHO, Edgard de Assis(Orgs.). Educação e Complexidade: os sete saberes e outros ensaios. São Paulo:Cortez, 2002.

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Região Oeste

Bairros de atuaçãodo UNI-Natal

Nordeste

Quintas

G u a r a p e s

R i o P o t e n g i

R i oJ u n d i a

í

D ix -septRosado

N. S . deNazaré

BomPastor

F e l i p e

C a m a r ã o Cidade daEsperança

C i d a d eN o v a

Natal

ZonaLESTE

ZonaSul

ZonaOeste

SalinasRio Potengi

Praia daRedinha

Praia doMeio

Parque

das

DunasO

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Praia dePonta Negra

Forte dosReis Magos

Área de atuaçãodo UNI-Natal

ZonaNorte

Figura 1 – Áreas e bairros de atuação do Uni-Natal

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Os alunos são matriculados na disciplina SACI em seuscursos de origem, mas para a realização das ações eles se integramem grupos interdisciplinares e multiprofissionais (GIMs), sob aorientação de dois profissionais (tutores), um docente e um técnicodo serviço de saúde.

A pedagogia da problematização, representada esque-maticamente, no Método do Arco5 (Figura 2) – adotada nodesenvolvimento da disciplina –, permite estabelecer contatosinterpares, conhecer a realidade sanitária local e os equipamentossociais disponíveis, e, partindo da observação da realidade, destacar“pontos-chaves” para a discussão e negociação com a comunidade,o serviço de saúde, a escola do bairro, dentre outros, dando-se,então, a escolha do problema a ser enfrentado.

Figura 2 – Pedagogia da problematização

5 BORDENAVE, id., p. 149

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A utilização desse método possibilita uma investigaçãoteórica sobre os determinantes e condicionantes do problemaescolhido, o que gera o estabelecimento de hipóteses de solução,de onde advém o planejamento da intervenção, em uma açãoconjunta da Universidade, Serviços de Saúde e Comunidade, naperspectiva de uma prática transformadora da realidade.

Ao trabalhar com essa abordagem, a SACI conseguiu atingiros objetivos da experiência de flexibilização: debater as diferentesconcepções de saúde, construindo o conceito de promoção evigilância à saúde; aprender a identificar e priorizar problemas dacomunidade, propondo alternativas de solução; desenvolverhabilidades de comunicação e relações interpessoais no trabalhoem equipe, interdisciplinar e multiprofissional, aprimorando ocomportamento ético; e trabalhar com a comunidade em uma relaçãode autonomia e emancipação.

A execução das atividades planejadas, que, em geral, sãoas mais variadas possíveis, tem propiciado aos alunos, em parceriacom instituições (Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria deServiços Urbanos, Secretaria Municipal de Educação), igrejas, eONGs, o conhecimento de realidades, o encaminhamento depropostas de soluções, a promoção de eventos e, sobretudo, oreconhecimento do valor do “aprender a aprender”, “aprender afazer”, “aprender a ser” e “aprender a conviver”.

Percebe-se, a partir de alguns indícios, que esta propostatem sido desencadeadora de algumas mudanças no pensar e noagir de importantes atores responsáveis pela atenção à saúde dapopulação no Distrito Oeste, assim como tem influenciado, de formasignificativa, na reformulação curricular dos cursos do Centro deCiências da Saúde da UFRN, que, em seus Projetos Político-Pedagógicos, têm reservado espaço para experiências deflexibilização curricular. Destacamos alguns pontos em que avançose dificuldades foram observados na evolução dos acontecimentose nos resultados obtidos, até o momento, com relação ao planoinstitucional, ao campo da ação pedagógica, às bases de ação eaos papéis dos sujeitos.

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NO PLANO INSTITUCIONAL

Coloca-se como uma proposta pertinente para formação decompetências transversais e práticas interdisciplinares. Já é credi-tada como atividade curricular, flexível (complementar, emboraalguns cursos a queiram como obrigatória). Favorece o exercícioda práxis, a integração teoria/prática. Promove a integração ensi-no-serviço-comunidade e rompe com o individualismo e ocorporativismo, incentivando o diálogo e a cooperação.

É crescente o número de alunos que se inscrevem nadisciplina SACI. De 57 alunos, em 2000.2, chegou-se a duplicar em2002.2 e tem se mantido em número superior a 100 alunos porsemestre, sendo, infelizmente, também crescente a demandareprimida, pois o número de tutores não é suficiente para atender atodos que solicitam matrícula.

NO CAMPO DA AÇÃO PEDAGÓGICA

Considera-se avanço o fato desse espaço não ser entendidoapenas como geográfico, mas como um conjunto de relações deforças (pessoas e instituições) que se aliam para uma açãotransformadora da realidade.

Os alunos que participam são, preferencialmente, os queestão nos primeiros períodos dos cursos e essa inserção precocetem se revelado como promotora de uma base ética, diferente datradicional, na relação do futuro profissional-comunidade.

NAS BASES DA AÇÃO

São explicitados referenciais teóricos, interdisciplinares etransdisciplinares. Os conteúdos são selecionados a partir da análiseda realidade. Os textos são recontextualizados nos espaçossingulares de atuação prática.

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Fez-se opção por metodologias ativas de ensino-aprendiza-gem. Dessa forma, os saberes são compartilhados e começam aser valorizados igualmente: os científicos, os empíricos e os do co-tidiano.

Entretanto, constatam-se algumas lacunas, tais como: acontinuidade dos conteúdos e subtemas decorrentes, que deveriamser trabalhados por outros professores e outras disciplinas ao longodos cursos e, até o momento, não se tem a certeza da consideraçãodesses pontos. Os tutores precisam ter contatos mais intensos coma pedagogia problematizadora em seu cotidiano, o que não temocorrido, pela não-utilização do método em outras disciplinas quelecionam.

Diante dessas dificuldades, se faz necessário estabelecerum suporte de orientação a distância, interagir em rede deinformática, como forma de superar a carência de maior socializaçãodas experiências, em outros espaços, dentro e fora da academia.

NOS PAPÉIS DOS SUJEITOS

É uma proposta de educação dialógica que se fundamentanum processo coletivo de trabalho, sendo forte a interação entre ossujeitos (tutores, alunos, técnicos dos serviços e comunidade).

As relações entre tutores, alunos, profissionais e comunida-des são horizontais e democráticas, plurais e criativas.

Contudo, em se tratando de uma proposta em construção,algumas dificuldades precisam ser superadas, como, por exemplo,no campo da ação pedagógica e na constituição da identidade einteração entre SACI e os Projetos Político-Pedagógicos de algunscursos. A opção metodológica problematizadora requer estruturase normas mais flexíveis que as existentes, uma vez que estas últimasestão adequadas ao ensino tradicional (matrícula por disciplinas,cronogramas, horários, sistema de avaliação etc).

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A redução progressiva do número de professores nauniversidade concorre para uma sobrecarga no trabalho dos tutorese para a existência de demanda reprimida, constituída pelos alunosque buscam matrícula e não conseguem pela falta de tutores. Ealguns técnicos dos serviços resistem ao trabalho de tutoria,principalmente os médicos.

Nos papéis dos sujeitos, as dificuldades se fazem presentes:alunos se ressentem de falta de tempo para cumprir com suastarefas, pela sobrecarga de horas-aula na universidade. Algunstutores têm atitudes diferenciadas na relação teoria-prática e naavaliação do desempenho do aluno. Falta maior envolvimento doscoordenadores para assumir a motivação do aluno. Ainda não seestruturou uma equipe de suporte pedagógico para tutores e técnicose um suporte gerencial para facilitar a solução de problemas deinfra-estrutura.

Durante os sete semestres (2000.2 a 2003.2) concluídos,nos quais a disciplina foi oferecida, o número total de alunosmatriculados foi de 633 com uma taxa de evasão de 9,6%. Esta sedeve, sobretudo, à evasão dos alunos dos cursos de Nutrição eOdontologia, que, segundo se avalia, enfrentam maiores dificuldadesem virtude de, ainda, não terem reformulado os Projetos Político-Pedagógicos, não contando, por conseguinte, com respaldo para acriação de componentes curriculares flexíveis.

Nesse período (2000.2 a 2003.2), eventos de extensão como:o VI Congresso Ibero-Americano de Extensão (2001), o FórumNacional de Pró-Reitores de Extensão (2003), o V Seminário paraProjetos de Extensão (2003) e o CIENTEC-UFRN (2002, 2003)contaram com a apresentação de trabalhos realizados por alunos etutores da SACI nas suas atividades realizadas em diferentes bairrosdo Distrito Oeste.

De igual modo, trabalhos apresentados por professores emeventos internacionais, como: Encuentro por la Unidad de losEducadores Latinoamericanos – Havan-Cuba (2002), InternacionalConference on challenges of promary care-oriented health systems(2002), foram frutos das experiências vividas na SACI.

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CONTRIBUIÇÃO DO PESC/SACI PARA A FORMAÇÃOPROFISSIONAL E ENSINO DA SAÚDE

Semestralmente, têm sido realizadas avaliações, internas eexternas, questionando alunos, tutores-docentes, profissionais dosServiços de Saúde e agentes comunitários de saúde acerca da açãodesenvolvida, e os resultados obtidos são indicativos de que aexperiência de flexibilização vivenciada pela disciplina SACI tembom êxito.

Na avaliação dos alunos, a SACI é considerada importanteporque favorece: a discussão e o conhecimento do conceitoampliado de saúde (Qualidade de Vida), o trabalho multiprofissionale interdisciplinar, a aproximação com a realidade, a visão críticadas políticas de saúde (organização dos serviços, acesso,resolutividade, necessidades de mudança), a construção de vínculosafetivos, o trabalho em grupo (horizontalidade, respeito às diferençasentre pares e com a comunidade), uma nova visão da práticaprofissional (compromisso com mudanças, objeto de trabalhoampliado, protagonismo na construção do conhecimento, articulaçãosaber acadêmico/popular, profissional cidadão e não só técnico), apercepção da necessidade de se trabalhar uma formaçãoprofissional integral (técnica, política, ética, humana), a integraçãoda universidade à realidade social, participando da busca dealternativas.

Os tutores-docentes também avaliam a SACI ressaltandoaspectos relativos à metodologia, ao planejamento, ao processo dedesenvolvimento da disciplina e à avaliação.

Com relação à metodologia, enfatizam: o desenvolvimentode mecanismos de capacitação permanente dos tutores, a neces-sidade de maior domínio da pedagogia da problematização, poisse trata de uma metodologia que foge do modelo tradicional utiliza-do no sistema acadêmico atual, levando em consideração a opiniãoe leitura que a comunidade faz de seus problemas e formas deenfrentamento, a compreensão da necessidade de incorporação

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de novas habilidades e conteúdos para o trabalho nas comunida-des, além de vivenciar o cotidiano da comunidade com suaspotencialidades e necessidades.

No que concerne ao planejamento, consideram relevantes:a construção coletiva com a participação de profissionais de diver-sos campos do saber e diferentes inserções institucionais(multiprofissionalidade e interdisciplinaridade), o planejamento con-tínuo e simultâneo.

No processo de desenvolvimento da disciplina, realçam osseguintes procedimentos: flexibilidade para incorporação das de-mandas dos serviços e da comunidade na operacionalização dadisciplina, produção teórica com base nas experiências desenvolvi-das para subsidiar a realização de ações de forma contextualizadae o processo de elaboração e/ou aperfeiçoamento dos ProjetosPolíticos-Pedagógicos para os cursos de Saúde na UFRN.

No que diz respeito à avaliação, os tutores-docentes dãoênfase ao desenvolvimento de mecanismos e critérios de avaliação,referentes ao desempenho do aluno, do tutor e do conteúdoprogramático compatível com a opção pedagógica.

O PESC/SACI, sob a avaliação dos profissionais dosServiços de Saúde, é identificado como um elo entre o órgãoformador e o serviço de saúde, possibilitando: a integração entre aequipe multiprofissional, a aproximação dos futuros profissionaiscom a realidade, uma vez que trabalham a partir de problemasidentificados na comunidade, e as discussões na equipe sobre osproblemas de saúde da comunidade induzem a Unidade de Saúdea participar do debate na saúde pública em conjunto com acomunidade.

Os Agentes Comunitários de Saúde avaliam positivamentea SACI, destacando os aspectos: troca de experiência entre a uni-versidade e o serviço de saúde, diminuindo a distância entre asinstituições; possibilidade de propiciar uma visão crítica da realida-de (desnaturalizar o cotidiano); contribuição da disciplina para aabertura de discussões na comunidade sobre a articulação saúdee cidadania.

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De um modo geral, as avaliações realizadas até o momentosobre a SACI permitem mencionar como avanços: o rompimentocom a hierarquia e a verticalidade presentes nos modelos tradicio-nais de ensino-aprendizagem, sendo o aluno considerado sujeitoativo no processo de construção do conhecimento, passando a ocu-par uma posição mais crítica diante das metodologias utilizadas naacademia, desenvolvendo habilidades para trabalhar em grupo comrespeito às diferenças, partilhando emoções, construindo vínculosafetivos, transformando a disciplina em um espaço prazeroso detrabalho; a contribuição para a revitalização dos serviços de saúde,pela constituição de um espaço para o debate, convivência comalunos e a desnaturalização do cotidiano e de práticas já cristaliza-das, enfim, a participação na construção de uma nova subjetividadeentre orientadores, alunos, profissionais do serviço, mediada porum compromisso ético de transformação social.

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PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DO CURSO DEFARMÁCIA: OS CAMINHOS DA MUDANÇA

Maria Cleide Ribeiro Dantas de Carvalho*Mirza Medeiros dos Santos*

BREVE HISTÓRICO DO CURSO DE FARMÁCIA DA UFRN

A criação dos cursos de Farmácia no Brasil foi conseqüênciada Lei 520 de 03 de outubro de 1832, da Regência, em nome doImperador D. Pedro II, que os instalou para funcionar nas Faculdadesde Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro. No entanto, somente em1839 surgiu a primeira escola para o ensino exclusivo da farmáciano Brasil através da Escola de Farmácia de Ouro Preto, criada pelogoverno provincial de Minas Gerais (AGUIAR, 1992).

No Estado do Rio Grande do Norte, a história do ensinofarmacêutico está dividida em duas etapas: a primeira abrange operíodo que vai de 1920 a 1925 com a ESCOLA DE PHARMACIADE NATAL, e a segunda de 1947 e até os dias atuais (AGUIAR,1992).

A criação da ESCOLA DE PHARMACIA DE NATAL, instituídapela Lei Estadual 497 de 02/12/1920, e efetivada em 1923 atravésdo Decreto 192 de 08/01//1923, instituiu um Curso de Farmáciacom duração de três anos, cuja primeira turma colou grau em 1925.Saliente-se que esse foi o primeiro curso de ensino superior noEstado do Rio Grande do Norte (AGUIAR, 1992).

Em observação à Lei 570 de 01/12/1923, o curso deOdontologia foi anexado à ESCOLA DE PHARMACIA DE NATAL.

* Professoras do Departamento de Farmácia da UFRN.

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Apesar da vontade e determinação dos seus idealizadores, aESCOLA DE PHARMACIA DE NATAL enfrentou uma série dedificuldades, e em conseqüência desses obstáculos teve que fecharsuas portas por cerca de 22 anos, terminando dessa forma a primeiraetapa do sonho acalentado por um grupo de obstinados idealistasque tudo fizeram para manter viva a chama da Farmácia em solopotiguar (AGUIAR, 1992).

Em 1947 o ensino da Farmácia no RN foi reativado com acriação da Faculdade de Farmácia e Odontologia de Natal, atravésdo Decreto-Lei 682 de 03/02/1947 (AGUIAR, 1992).

A cronologia estabelecida em seguida demonstra aseqüência de acontecimentos pertinentes à evolução histórica doensino farmacêutico no RN (AGUIAR, 1992).

1948 – Decreto-Lei 25.973 de 05/12/1948 – autorização parafuncionamento dos cursos de Farmácia e Odontologia;

1949 – Aprovação do Regimento Interno e realização doprimeiro vestibular;

1951 – Colação de grau da primeira turma;

1952 – Reconhecimento dos cursos de Farmácia e Odonto-logia pelo Decreto Federal 31.209 de 29/07/1952;

1958 – Criação da UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIOGRANDE DO NORTE, que absorveu a FACULDADE DEFARMÁCIA E ODONTOLOGIA DE NATAL;

1960 – Lei 3.829 de 18/12/1960 – federalização da Univer-sidade Estadual do Rio Grande do Norte, com desdobra-mento dos cursos de Farmácia e Odontologia e mudançado nome do estabelecimento de ensino para FACULDADEDE FARMÁCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIOGRANDE DO NORTE, através da Lei 3.727/1960;

1963 – Mudança Curricular;

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1966 – Decreto 313 de 28/09/1966 – mudança do nome paraFACULDADE DE FARMÁCIA E BIOQUÍMICA DA UNIVER-SIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE,pertencendo ao Centro de Ciências Aplicadas;

1970 – Mudança Curricular. Resolução 111/70 – CONSEPEde 18/10/70;

1974 – Decreto 74.211 – Reforma Cêntrica na UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte e nova mudança na deno-minação para CURSO DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS;

1982 – Mudança Curricular. Resolução 207/82 – CONSEPEde 05/10/82;

1986 – Mudança Curricular. Currículo A4 Resolução 037/86– CONSEPE de 18/02/86;

1991 – Resolução n. 04 do Conselho Federal de Educação –mudança do nome do curso para CURSO DE FARMÁCIA DAUNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE;

2000 – O Curso de Farmácia é avaliado pela primeira vezno ENC e recebe conceito A, sendo o único curso do Nortee Nordeste do Brasil a obter tal conceito;

2001 – O Curso de Farmácia é avaliado pela segunda vezno ENC e recebe conceito A, sendo o único curso do Nortee Nordeste do Brasil a obter tal conceito;

2002 – Mudança Curricular. Currículo 001/2002 – Resolu-ção 017/2002 – CONSEPE, de 19/03/2002. FarmacêuticoGeneralista;

2002 – O Curso de Farmácia é avaliado pela terceira vez noENC e recebe conceito A, sendo o único curso do Norte eNordeste do Brasil a obter três conceitos A.

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A REFORMA CURRICULAR 2002: UMA LONGA JORNADA

Ao longo da sua história, o Curso de Farmácia da UFRNrealizou várias mudanças em seus currículos (1963, 1970, 1982 e1986 e mais recentemente em 2002), visando fornecer ao alunouma maior abrangência de conhecimentos inerentes ao desempe-nho do Farmacêutico nos mais variados campos de atuação noâmbito das suas habilitações.

Em 1990, iniciou-se o processo de discussão sobre o novoperfil para o profissional farmacêutico, antecedendo a Lei de Diretrizese Bases da Educação – Lei 9.394/96 (BRASIL, 1996) e a formulaçãodas Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação em Farmáciaestabelecidos na Resolução CNE/CES n. 02 de 19/02/2002 (MEC,2002). Após a implantação do Currículo aprovado em 1986 (CurrículoA4, Resolução 037/86 – CONSEPE), observou-se que as mudançasocorridas na sociedade, nas relações de produção e de trabalho e ogrande avanço da ciência e da tecnologia exigiam um novo profissionalfarmacêutico.

A mobilização para uma nova reforma curricular, quecontemplasse as mudanças necessárias para se formar umfarmacêutico com um perfil mais adequado e preparado para osdesafios e as incertezas que o novo contexto social lhe oferecia,teve início em 1990, logo após a conclusão da primeira turmaformada pelo currículo implantado em 1986, quando foramconstatados vários problemas e se chegou à conclusão de que asmudanças necessárias para solucionar essas dificuldades erambastante profundas e envolviam muito mais do que um simples ajustede carga horária ou inclusão ou exclusão de disciplinas.

O currículo aprovado em 1986 se distinguia pelo carátertecnicista, especialista, desvinculado das questões sociais, alémde ser extremamente rígido na proposta didático-pedagógica, naqual o conhecimento era centrado e veiculado através do professore a seqüência cronológica das disciplinas não permitia a mínimaflexibilização.

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As mudanças vislumbradas estavam relacionadas àaceitação de um novo paradigma educacional que incluía:humanização da saúde, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade,complexidade, flexibilização curricular e aprendizado compartilhado,ou seja, o aluno é co-partícipe na construção do seu saber, e oprofessor deixa de ser uma fonte inesgotável de saberes e passa aser um orientador experiente para seus alunos, um facilitador queaponta os caminhos para a aquisição de novos conhecimentos. Comisso, estimula-se um aprendizado centrado no aluno, sendo oprofessor mediador e facilitador desse processo.

Na UFRN, as discussões em torno dessa reforma curricularse arrastaram por 12 anos, com períodos de intenso trabalho e outrosde espera. A maior dificuldade talvez tenha sido sair da etapa dodiagnóstico para a etapa de sistematização de uma nova proposta.Foi necessário vencer a inércia que remetia às mesmas discussões,o medo de errar, a resistência às mudanças, o descrédito de algunse a apatia de outros.

O ponto máximo dessa reflexão coletiva coincidiu com aelaboração da proposta para as Diretrizes Curriculares para osCursos de Graduação em Farmácia, consolidada em vários eventosdentre os quais a I e II Conferência Nacional de EducaçãoFarmacêutica e o Fórum Nacional de Diretrizes Curriculares,promovidos pelo Conselho Federal de Farmácia. A proposta deDiretrizes Curriculares foi encaminhada ao Conselho Nacional deEducação, cujo conteúdo foi integralmente acatado e aprovado,consubstanciando-se na Resolução CNE/CES n. 02 de 19/02/2002que criou as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduaçãoem Farmácia. Em virtude da participação efetiva de vários docentesdo Curso de Farmácia da UFRN nesses eventos, as discussões ereflexões sobre esse tema foram bastante enriquecidas efundamentadas, embasando e subsidiando ainda mais as decisõesa serem tomadas. Como as discussões sobre esse tema já eramuma constante na UFRN, os docentes do Curso de Farmácia deramuma forte contribuição nesses eventos, em decorrência do

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amadurecimento de muitas idéias já buriladas ao longo dos anosque antecederam esses debates.

As mudanças que a classe farmacêutica desejava e que asDiretrizes Curriculares propuseram não poderiam ser ignoradas, poisalteram profundamente o perfil profissional a ser formado. Saem decena as habilitações, cujo enfoque no medicamento, na análise dealimentos e no diagnóstico laboratorial era por demais tecnicista.Entra em cena o farmacêutico generalista, com formação voltadapara a assistência farmacêutica, cujo âmbito abrange todas as áreasda atuação da Farmácia.

O atual currículo do Curso de Farmácia, implantado em 2002(Currículo 001/2002 – Resolução 017/2002 – CONSEPE), teve seuProjeto Político-Pedagógico (PPP) elaborado em consonância comas Diretrizes Curriculares aprovadas em fevereiro de 2002.Entretanto, a construção dessa nova concepção de formação foifruto de uma longa reflexão, amadurecida nas discussões, naconsciência das dificuldades a serem enfrentadas, mas animada enutrida pela certeza de que os caminhos escolhidos eram os maisviáveis para a formação de um profissional preparado para enfrentaros desafios e incertezas de um mundo globalizado.

Esse Projeto Político-Pedagógico é, portanto, o resultadode todos esses anos de reflexão e trabalho, bem como doenvolvimento dos professores que integram o Curso de Farmáciada UFRN, especialmente dos componentes da Comissão deReforma Curricular que coordenou sua elaboração.

O grande desafio que instiga presentemente a comunidadeacadêmica do Curso de Farmácia é a implantação desse ProjetoPolítico-Pedagógico, é fazê-lo funcionar da maneira como se haviaplanejado e sonhado; é vê-lo concretizado a despeito de todas asdificuldades encontradas, sejam elas ideológicas, estruturais,administrativas ou pedagógicas, corrigindo-se os desvios de rumosque porventura ocorram durante a sua implantação.

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PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICODO CURSO DE FARMÁCIA

Segundo André (2001, p. 188) o projeto pedagógico deve“expressar a reflexão e o trabalho realizado em conjunto por todosos profissionais da escola, no sentido de atender as diretrizescurriculares do sistema nacional de educação, bem como asnecessidades locais específicas da clientela da escola”, Além disso,ele deve ser compreendido como a “concretização da identidadeda escola e do oferecimento de garantias para um ensino dequalidade”.

O Projeto Político-Pedagógico dos cursos de graduação naUFRN deve ter como respaldo pressupostos teóricos e metodológi-cos que realcem tanto a formação ética quanto a competênciatécnica para enfrentar os desafios postos pelo mundo do trabalho,no contexto atual (CABRAL NETO, 2000).

A formação generalista do profissional estabelecida noProjeto Político-Pedagógico ressalta, como atribuições essenciais,a promoção e a proteção da saúde humana, desenvolvendoatividades associadas ao fármaco, ao medicamento e aoscosméticos, às análises clínicas e toxicológicas e ao controle,produção e análise de alimentos.

Além disso, o egresso do Curso de Farmácia da UFRNdeverá ser um profissional com amplo conhecimento científico,capacitação técnica e habilidades para definição, promoção eaplicação de políticas de saúde, atuando como partícipe de equipemultiprofissional em todos os níveis de atenção à saúde, respeitandoa legislação vigente e os princípios éticos da profissão.

A capacitação profissional do egresso deverá estar alicerçadano desenvolvimento de competências e habilidades para atuar comcompreensão da realidade social, cultural, ambiental e econômicado seu meio. Esta atuação se fará através do exercício dopensamento crítico e juízo profissional; do gerenciamento; da análisede dados; da tomada de decisões e solução de problemas; da

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comunicação oral e escrita; da construção do conhecimento edesenvolvimento profissional e da interação social. O farmacêuticodeverá, portanto, compreender as diferentes concepções do processosaúde-doença, os princípios psicossociais e éticos das relaçõeshumanas e os fundamentos dos métodos científicos, atuando nosentido da transformação de realidades e benefício da sociedade,com a conseqüente melhoria da qualidade de vida da população.

O processo ensino-aprendizaem contido no PPP do Cursode Farmácia da UFRN tem como princípios norteadores: aconstrução da cidadania; a compreensão do processo saúde-doença; a reflexão sobre um modelo assistencial adequado àsnecessidades regionais; a integração entre ensino, serviço ecomunidade; a integração entre teoria e prática; a ação e reflexão;a qualidade da assistência e o raciocínio investigativo.

É vital que o farmacêutico, seja qual for seu campo de atua-ção, tenha consciência do seu papel na sociedade como profissionale cidadão, que exerça suas funções com responsabilidade, ética ecriatividade e que seja participante, e não somente observador, dastransformações políticas e sociais que ocorrem de forma cada vezmais rápida no mundo globalizado. Para tanto, seu espírito crítico,sua capacidade de buscar informações e de se relacionar com ou-tras pessoas deverá ser plenamente desenvolvida. Somente assim,ele estará sincronizado com as demandas da sociedade e do mer-cado e apto a realizar eficientemente as atividades inerentes à suaprofissão.

O farmacêutico, como profissional da saúde, deve participarde equipes multidisciplinares, envolver-se na solução dos problemase no desenvolvimento da sua comunidade, prestando umaassistência farmacêutica de qualidade e exercendo seu papel demultiplicador.

A flexibilidade curricular, a interdisciplinaridade, asmetodologias ativas de aprendizagem, a prática como base daconstrução do conhecimento e as novas modalidades de avaliaçãosão alguns dos recursos indispensáveis para a nova orientação daorganização curricular.

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ESTRUTURA CURRICULAR

Disciplinas

A organização da estrutura curricular contempla, inicialmente,47 disciplinas obrigatórias e 16 complementares, com um mínimode pré-requisitos exigidos, mas organizadas de tal forma a permitiruma integração vertical e horizontal entre elas (Estrutura Curricularem anexo). Essa organização poderá sofrer alterações à medidaque as avaliações do projeto detectem pontos fracos ou que o corpodocente/discente evolua no sentido de aceitar outras formas deorganização dos conteúdos.

As disciplinas obrigatórias somam 3.600 horas (240 créditos),representando 71,2% da carga horária total. Carga horária por nósconsiderada excessiva para disciplinas obrigatórias, porémnecessária, uma vez que se está iniciando a formação generalista,e em se adotando uma carga horária menor poder-se-ia correr orisco de se ter uma diminuição na abrangência dos conteúdos daárea farmacêutica. Serão destinadas 240 horas (16 créditos) paraas disciplinas complementares, escolhidas pelo aluno, de acordocom seu interesse e formação desejada. Além das disciplinascomplementares elencadas na estrutura curricular do Curso, o alunopoderá cursar outras disciplinas oferecidas pelos DepartamentosAcadêmicos da UFRN.

O PPP do Curso de Farmácia enfoca a disciplina como um“meio” para se atingir os objetivos fins do currículo, contrariando oscurrículos anteriores, em que o professor, alçado da autoridade de“dono da disciplina”, criava um descompasso entre os objetivos doCurso e os objetivos da “sua” disciplina.

Estágios

O Estágio está dividido em sete etapas ao longo do Curso,constituindo-se em 20,4% de sua carga horária total. A vivênciaprática de situações reais propicia ao aluno momentos ricos para

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aprendizagem por meio da integração dos conteúdos. Emdecorrência desse fato, esses Estágios são distribuídos em grausde complexidade crescente, ao longo da estrutura curricular.

Como atividade curricular, os Estágios são desenvolvidosao longo da formação acadêmica, destinando-se a essa atividadeuma carga horária de 1.035 horas. Há que se dar condições paraque o aluno, o mais cedo possível, possa entrar em contato com arealidade, tanto pela observação quanto pelo desenvolvimento deatividades em níveis crescentes de complexidade. Dessa forma,por força da realidade, o aluno é gradativamente desafiado aposicionar-se como profissional e a confrontar criticamente o que éensinado com o que é praticado, seja do ponto de vista técnicocientífico, seja em termos éticos.

Os Estágios integram áreas temáticas propostas, desenvol-vendo-se nas disciplinas práticas, farmácias hospitalares, demanipulação e comunitárias, nos laboratórios de análises clínicasdos hospitais e clínicas particulares, indústrias farmacêuticas e dealimentos, dentre outros.

No 1º período do Curso se desenvolve o Estágio I, com cargahorária de 45 horas, cujo objetivo é permitir ao aluno uma visãopanorâmica do âmbito profissional farmacêutico. As atividades sedesenvolvem no campo de atuação do farmacêutico, através devisitas agendadas sob a coordenação de um docente, onde o alunoé levado a observar as atividades exercidas pelo profissional noquotidiano do seu exercício profissional. Como a profissãofarmacêutica é multifacetada, há muito se vinha detectando anecessidade de, desde cedo, o aluno ter essa visão global do âmbitoprofissional, no intuito de permitir que as suas escolhas, no tocanteàs atividades complementares, fossem realizadas com mais critérioe fundamento.

O Estágio II também tem carga horária de 45 horas e sedesenvolve no 3º período do Curso. Tem como objetivo odesenvolvimento de atividades básicas integradas às rotinas defarmácias e laboratórios.

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O Estágio III tem carga horária de 45 horas e se desenrolano 4º período do Curso. Esse Estágio permite inserir o aluno emprojetos de extensão, desenvolvendo atividades junto a conselhoscomunitários e escolas, visando a informação e discussão dosproblemas da comunidade.

No 6º período do Curso se desenvolve o Estágio IV, tambémcom 45 horas de carga horária. Os objetivos propostos para esseEstágio são a participação em projetos comunitários, desenvolvendoatividades de prevenção e educação para a melhoria das condiçõesde saúde da população, prestando informações quanto ao usoadequado de plantas medicinais e alimentos, de doençastransmitidas por alimentos, como também orientação quanto àprevenção de doenças sexualmente transmitidas (DSTs), infecçõesparasitárias e câncer.

O Estágio V tem 45 horas de carga horária e acontece no 8ºperíodo do Curso. Esse Estágio objetiva a valorização da atençãofarmacêutica em atividades da farmácia comunitária e hospitalar,bem como em laboratório de análises clínicas.

No 9º período do Curso ocorre o Estágio VI, com cargahorária de 90 horas, cujo objetivo é desenvolver atividades emdiversos setores, envolvendo o medicamento, o alimento e asanálises clínicas e visando a integração de conhecimentosadquiridos em várias disciplinas.

No 10º período do Curso se desenvolve o último Estágio, oqual recebe o nome especial de Estágio SupervisionadoFarmacêutico. Esse Estágio tem 720 horas, das quais 360 horassão obrigatoriamente cumpridas em serviços de farmácia, enquantoque as 360 horas restantes são desenvolvidas em qualquer áreaescolhida pelo aluno, no âmbito das análises clínicas e toxicológicas,indústria farmacêutica, indústria de alimentos ou na própria área deserviços de farmácia onde foram desenvolvidas as 360 horasobrigatórias.

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Conteúdos Transversais

Muitos conteúdos, como, por exemplo, os relacionados àsCiências Humanas e Sociais, o Inglês Instrumental, a Matemática,a Língua Portuguesa, a Informática e a Legislação Farmacêuticasão abordados transversalmente para não sobrecarregarem nem ocurrículo, nem o aluno, com informações compartimentalizadas esem vínculo com as matérias para as quais esses conteúdos sãonecessários. É o caso da Matemática, que tradicionalmente eraestudada em disciplinas básicas em todos os Cursos de Farmácia.

Os conteúdos de Matemática são requisitos básicos emmuitas áreas das Ciências Farmacêuticas, o que torna difícil reunirtodos os elementos em um só momento do Curso, sem exemplospráticos. Assim, ao invés de uma nova disciplina, os elementos dematemática indispensáveis ao bom desenvolvimento da aprendiza-gem são introduzidos dentro do contexto para o qual sua aplicaçãoé necessária. Na Disciplina de Farmacotécnica, por exemplo, amatemática é vista através de operações com decimais e regras detrês. Na Tecnologia Farmacêutica, há a necessidade de se introdu-zir as operações com integrais e derivadas.

O mesmo é aplicável à maior parte dos conteúdos relacio-nados às Ciências Humanas e Sociais, os quais são abordadostransversalmente nas atividades e disciplinas de cunho essencial-mente prático, como os Estágios (principalmente os realizados naprimeira metade do curso), atividades complementares, etc. Alémdisso, de acordo com o perfil do profissional delineado, o caráterhumanístico deve ser referencial teórico-metodológico para todasas disciplinas do Curso. Esses conteúdos, portanto, permeiam cadaárea de Farmácia.

No caso de Língua Portuguesa, especialmente no que serefere à expressão escrita, o uso correto da língua é estimuladodurante todo o Curso, com maior ênfase nos primeiros semestres,em que, a partir de trabalhos escritos pelos alunos, os professorestêm condições de reforçar pontos problemáticos ou orientar aquelesque apresentem maior dificuldade. Do mesmo modo, é enfatizada

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a importância da Língua Inglesa, como ferramenta necessária aomaior acesso às informações. Durante o curso, a Língua Inglesa étrabalhada através de leitura e análise de trabalhos científicospublicados em periódicos internacionais e através de pesquisa emsites da Internet. As disciplinas que utilizam esses recursos sãoescolhidas nas reuniões de planejamento.

O uso da Internet é estimulado em todas as disciplinas desdeo início do Curso. A informática constitui-se, hoje, em uma ferramentaindispensável ao aprendizado e também em qualquer setor da vidaprofissional. Portanto, o aluno é incentivado desde o início do Cursoa conhecê-la e aplicá-la.

Em relação à Legislação Farmacêutica, que nos currículosanteriores constituía-se em uma árida disciplina, abominada por to-dos os alunos em decorrência da falta de contextualização de seuconteúdo, agora é integralmente aplicada, paulatinamente, perpas-sando várias disciplinas. Exemplos disso podem ser constatadosna Farmacognosia, em que é estudada a legislação sobrefitoterápicos; na Farmacotécnica, as Boas Práticas de Manipula-ção; na Tecnologia Farmacêutica e no Controle de Qualidade, asBoas Práticas de Fabricação, e assim sucessivamente.

O Colegiado do Curso de Farmácia tem papel fundamentalno planejamento das estratégias utilizadas para a implementaçãodesses conteúdos transversais, através de reuniões que antecedemos semestres letivos, estabelecendo as disciplinas em que taisconteúdos devem ser ministrados. Esse planejamento requertambém a colaboração efetiva dos Orientadores Acadêmicos decada turma, os quais ao final de cada semestre realizam a avaliaçãosistemática das disciplinas cursadas no período, identificandopossíveis distorções, deficiências ou desvios de metas, as quaismediante planejamento estratégico devem ser prontamentecorrigidas no semestre seguinte.

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Atividades Complementares

A carga horária complementar das atividades de formaçãoacadêmica do Curso de Farmácia compreende disciplinas comple-mentares e atividades complementares, estando normalizadas naResolução 01/2002 – CCF.

Essas atividades complementares são obrigatórias para aintegralização curricular e perfazem um total de 180 horasdistribuídas nas áreas de ensino, pesquisa e extensão.

São consideradas atividades de formação acadêmica deensino a participação em projetos de monitoria de disciplinas queintegram o elenco do Curso e a participação em seminários deintegração, em que temas relevantes para a área de Farmácia sãoabordados, utilizando-se a interdisciplinaridade.

As atividades de formação acadêmica de pesquisacontemplam a participação em projetos de iniciação científica e apublicação de trabalhos em periódicos ou em anais de congressos.

É considerada como atividade de formação acadêmica deextensão a participação em seminários, palestras, congressos,conferências, encontros, cursos de atualização e similares. Alémdisso, a participação em estágios extracurriculares e a repre-sentação estudantil em colegiados de cursos, plenário dedepartamento e colegiados superiores são contabilizadas comoatividades complementares.

Entende-se que a participação do aluno no fazer universitárioé de grande importância para a sua formação. Os cursos degraduação têm como responsabilidade, além da formaçãoprofissional, a formação de cidadãos.

O Colegiado do Curso de Farmácia tem a função de avaliar,validar e registrar as atividades complementares comprovadas pelosalunos.

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PESQUISA E EXTENSÃO

Um dos objetivos do Projeto Político-Pedagógico do Cursode Farmácia é proporcionar o envolvimento crescente dos discen-tes nos programas de pesquisa e extensão, sincronizados com apolítica geral da universidade para essas atividades, visando aindissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão.

Na prática, está sendo utilizado o imenso potencial doslaboratórios dos Departamentos de Farmácia e de Análises Clínicas,onde são desenvolvidos inúmeros projetos de extensão e deprestação de serviços, além dos projetos de pesquisa referentes àsbases de Pesquisa de Desenvolvimento de Medicamentos eBioanálises.

A cada período, o aluno tem oportunidade de colaborar emalguma dessas atividades, de acordo com a necessidade do projetoe sua afinidade pelo tema do trabalho. Com isso, obtém a cargahorária complementar em atividades de formação acadêmica, o quepossibilita um melhor conhecimento em uma determinada área eaquisição de algumas habilidades específicas.

A inserção de um grande número de alunos nesses projetosleva a um maior dinamismo nessas atividades. Nesse sentido, estásendo criado um ciclo virtuoso, com um aumento significativo daprodução científica, o que poderá contribuir para a melhoria da infra-estrutura e a ampliação das atividades acadêmicas, possibilitandoa exploração de espaços pouco ocupados pelos discentes edocentes do Curso de Farmácia.

A FLEXIBILIZAÇÃO CURRICULAR NO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DO CURSO DE FARMÁCIA

A flexibilização curricular tem constituído, nos últimos tempos,um desafio na forma de conceber e desenvolver o currículo. SegundoLeite (1999), o princípio da realização pessoal como o direitoinalienável de todo o indivíduo para escolher livremente diversas

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trajetórias educativas implica o reconhecimento da existência deexperiências de vida diversificadas, afastando-se da idéia de umúnico caminho para a formação.

A flexibilização curricular permite substituir o modelo de gradecurricular por uma nova estrutura em que o aluno participa doprocesso de formação profissional de maneira que o ensino não sedê apenas na sala de aula, mas tendo a comunidade comocolaboradora eficaz desse processo. A teoria e a prática não podemaparecer como princípios dicotômicos, além do que o ensino nãopode ficar submisso a conteúdos descritivos, uma vez que aaquisição de novos conhecimentos contribui para uma visão críticaque permite ao aluno extrapolar a aptidão específica de seu campode atuação profissional.

Ao se fazer uma análise comparativa entre o Currículoaprovado em 1986 (Currículo A4, Resolução 037/1986 – CONSEPE)e o atual Currículo do Curso de Farmácia (Currículo 001/2002,Resolução 017/2002 – CONSEPE), pode-se observar claramenteuma significativa evolução no sentido da flexibilização curricular.

A flexibilização curricular concretizada no Currículo 001/2002é evidenciada com mais ênfase nos seguintes aspectos:

1. Diminuição de pré-requisitos;

2. Diminuição de Disciplinas Obrigatórias;

3. Introdução de Disciplinas Complementares;

4. Introdução de Atividades Complementares;

5. Conteúdos Transversais;

6. Estágios Curriculares em níveis crescentesde complexidade.

Essa flexibilização tem importância fundamental no novoconceito de formação estabelecido como meta no PPP do Curso,permitindo que o aluno construa seu conhecimento de maneira mais

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responsável, aprofundando áreas que lhe são afeitas, sem descuidardaquelas imprescindíveis ao conhecimento global da profissãofarmacêutica.

Além disso, a flexibilização permite correções de distorçõesde ordem administrativa da burocracia acadêmica, muito freqüentesno currículo anterior, em que o estabelecimento de pré-requisitos,sem uma justificativa plausível, criava sérios obstáculos àintegralização curricular.

DIMINUIÇÃO DE PRÉ-REQUISITOS

O Currículo aprovado em 1986 (Currículo A4, Resolução037/1986 – CONSEPE) é o que se poderia chamar de currículoinflexível, engessado, porque todas as suas disciplinas, com exceçãodas do 1º período, possuíam pré-requisitos, muitos dos quaistotalmente descabidos. Só para exemplificar, a disciplina FísicaIndustrial oferecida no 9º período tinha como pré-requisito a disciplinaElementos de Matemática e Estatística oferecida no 1º período doCurso.

No Currículo 001/2002, buscou-se uma maior racionalidadena determinação dos pré-requisitos, de maneira que a estruturacurricular ficasse mais livre e que, dessa forma, possíveis desnive-lamentos pelos alunos pudessem ser melhor resolvidos.

DIMINUIÇÃO DE DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS

De acordo com Húsen (1988), é pertinente se estar alertapara os perigos de uma escola que “obriga” todos ao mesmo, istoé, de uma formação acadêmica que trata os alunos, em si diferentes,como se todos fossem iguais.

A experiência tem demonstrado que atitudes como essapenaliza alunos pertencentes a grupos sociais e culturais maisafastados.

No Currículo aprovado em 1986, todas as disciplinas, semexceção, eram obrigatórias. Nas discussões que precederam a

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reforma desse currículo, partiu-se da suposição de que o aluno nãosaberia escolher que disciplinas eram mais adequadas à suaformação.

No Currículo 001/2002, tentou-se ao máximo minimizar asdisciplinas obrigatórias presentes na estrutura curricular. No entanto,elas ainda representam 71,2% da carga horária total do currículo.Essa carga horária foi considerada excessiva pela própria Comissãode Reforma Curricular, porém as incertezas quanto à nova formaçãodo farmacêutico generalista impeliram a Comissão a tomar essadecisão em nome da cautela, como foi referido anteriormente. Noentanto, essa decisão poderá ser revista posteriormente, diante dasavaliações que serão executadas durante a implantação do ProjetoPolítico-Pedagógico.

INTRODUÇÃO DE DISCIPLINAS COMPLEMENTARES

Diferente do Currículo aprovado em 1986, no qual não existiauma única disciplina complementar, o Currículo 001/2002 ofereceuma série de disciplinas complementares, além da possibilidade deserem inseridas outras de acordo com as necessidades verificadaspelo Colegiado do Curso.

O recurso das disciplinas complementares utilizado no novoPPP facilitará a introdução de conteúdos que venham reforçardeterminadas áreas da abrangência curricular, sem aumentar acarga horária total do Curso e nem penalizar aqueles alunos quenão tiverem interesse nesses conteúdos.

INTRODUÇÃO DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES

As Atividades Complementares, inexistentes no Currículoaprovado em 1986, são um outro recurso no âmbito da flexibilizaçãocurricular que visa incentivar os alunos na participação de eventos,ensino, pesquisa e extensão, desenvolvendo habilidades geraiscomo a comunicação, liderança, tomada de decisões, além de seruma excelente estratégia para se estimular uma educaçãopermanente e atualizada.

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CONTEÚDOS TRANSVERSAIS

No Currículo aprovado em 1986 tudo que se imaginava deconteúdos necessários ao aluno lhe era oferecido sob a forma dedisciplinas obrigatórias.

O atual PPP do Curso de Farmácia vislumbrou umaalternativa inovadora para suprir determinadas carênciasespecíficas: a transversalidade de conteúdos. O Inglês Instrumental,a Matemática, a Língua Portuguesa, a Informática, a LegislaçãoFarmacêutica e os conteúdos relacionados às Ciências Humanas eSociais passaram a ser abordados transversalmente, nãosobrecarregando o currículo, nem o aluno, com informaçõescompartimentalizadas e sem vínculo com as matérias para as quaisesses conteúdos são necessários.

ESTÁGIOS CURRICULARES EM NÍVEIS CRESCENTESDE COMPLEXIDADE

No Currículo aprovado em 1986, existia apenas um únicoEstágio de 360 horas no final de cada habilitação.

O novo PPP estabeleceu níveis crescentes de complexidadepara 07 Estágios que são desenvolvidos, a partir do 1º período,durante todo o Curso.

Essa estratégia permite que o aluno comece desde o iníciodo Curso a desenvolver habilidades gerais (comunicação, tomadade decisões, gerenciamento e administração, atenção à saúde,dentre outras) inerentes à profissão farmacêutica, assim como lhedá oportunidade de entrar o mais cedo possível em contato com arealidade, pela observação ou pelo desenvolvimento de atividadesque, por força da situação vivenciada, ele seja gradativamentedesafiado a se posicionar como profissional.

A flexibilização estabelecida no atual PPP do Curso deFarmácia permite formar profissionais críticos que compreendamas novas relações de produção e de trabalho, que compreendam anecessidade contínua de buscar novos conhecimentos, além deconhecerem os caminhos pelos quais essa busca pode ser efetivada.

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REFERÊNCIAS

AGUIAR, M. C. R. D. História do Ensino Farmacêutico no RN. Natal: Ed.Universitária, 1992, 202p.

ANDRÉ, M. E. D. O projeto pedagógico como suporte para novas formasde avaliação. In: A D. CASTRO; A. M. P. de CARVALHO (Orgs). Ensinar aensinar. São Paulo, 2001.

BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizese bases da educação nacional. Disponível em: <www.mec.gov.br/legis/default.shtm>. Acesso em: 12 mai. 2004.

CABRAL NETO, A. Notas para uma discussão contextualizada sobre oProjeto Político-Pedagógico. In: M. D. ALMEIDA (Org.) et al. Projeto Político-Pedagógico. Natal: EDUFRN, 2000, 40p. (Coleção pedagógica n. 1).

HÚSEN, T. Nuévo análisis de la sociedade del aprendizage, Barcelona:Paidós, MEC, 1988.

LEITE, C. A flexibilização curricular na construção de uma escola maisdemocrática e mais inclusiva. Território Educativo, n. 7 mai. Porto: DireçãoRegional de Educação do Norte. p. 20-26, 2000. Disponível em: <http://www.fpce.up.pt/~ciie/publs/artigos/dren.doc>. Acesso em 10 mai. 2004.

MEC. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. CÂMARA DE EDUCA-ÇÃO SUPERIOR. Resolução CNE/CES n. 2, de 19 de fevereiro de 2002.Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Far-mácia. Disponível em: <http://www.mec.gov.br/sesu/ftp/resolucao/0202Farmacia.doc>. Acesso em: 12. mai. 2004.

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO CURSO DE FARMÁCIA, marçode 2002, Resolução n.017/2002-CONSEPE de 19/03/2002.

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PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DE HISTÓRIA:BREVE RELATO E REFLEXÃO*

Raimundo Arrais**

Não fosse isso e era menosNão fosse tanto e era quase

(Paulo Leminski, 1980)

MUDA O MUNDO, MUDA O CURSO DE HISTÓRIA

O Projeto Político-Pedagógico do curso de História da UFRN,que entrou em vigor no primeiro semestre de 2004, resultou da ne-cessidade imposta por um conjunto de mudanças que têm afetadoo mundo contemporâneo, sob a forma de redefinição da ordempolítica em escala mundial, das bases da organização econômica edos parâmetros das ciências, as quais têm sido levadas ao reexamena relação com o mundo e nas responsabilidades que lhes cabemem relação à sociedade humana. Desse modo, mudanças teóricase mudanças nos métodos da História, como campo de conheci-mento, têm acompanhado as novas demandas que a sociedadecria para o historiador, seja na pesquisa propriamente dita, seja noensino.

Diferente do século XIX, quando, partindo de um arcabouçocientífico fundado na crítica documental, os historiadoresacreditavam poder reconstruir uma Verdade, engajando sua ciência

* O Projeto Político-Pedagógico do curso de História decorreu de estudos e decisõescoletivas. Contudo, como se é de esperar, não houve unanimidade de opiniõessobre todos os pontos tratados aqui. Alguns dos pontos que estão mencionadosneste artigo transcendem o que foi estabelecido nesse projeto. São idéias cujaresponsabilidade cabe a mim.

** Coordenador do curso de História – UFRN – Doutor em História Social (USP).

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na tarefa de reconstrução da memória das grandes entidades (entreelas a Nação), nos dias de hoje o historiador, como se sabe, não émais o monopolizador da memória da sociedade. No interior daprópria disciplina desencadeou-se uma operação crítica,descontínua mas persistente, voltada para o exame da metodologiae das implicações políticas do ofício do historiador. O edifício rígidodo cientificismo histórico do século XIX foi sendo corroído, no ritmodas transformações que iriam afetar, no século XX, todas as formasde conhecimento, organizando-as sob novos parâmetros1. Nessequadro de grandes unidades políticas desfeitas, utopiasdesacreditadas, certezas científicas relativizadas, como se situa oofício do historiador?

Os historiadores, localizados no presente, têm procuradorespostas para as perguntas que irrompem da sociedadecontemporânea, tanto que se tornou quase um senso comum opostulado presentista de que o historiador leva para o passado asindagações do tempo e do mundo que o cerca. A sociedade mesmatem solicitado que ele desempenhe sua função. No Brasil, é inegávelo interesse que, nos últimos anos, tem sido dedicado a assuntosligados à História, o que se reflete numa indagação permanentesobre o passado do país, em domínios como os costumes, a política,a vida íntima, a mentalidade, a tecnologia, as instituições.

O enfoque do passado, por meio dos registros deixados pelasociedade, continua sendo o traço que distingue o objeto dohistoriador. Contudo, esse trabalho sofreu grandes mudanças nasúltimas décadas. Os historiadores tendem a levar em conta, cadavez mais, as situações de instabilidade, e não só da ordem; astensões, e não só a harmonia. Do mesmo modo, vão colocando em

1 Para uma visão rápida da disciplina no século XIX, veja-se, por exemplo,CARBONELL, Charles-Olivier. Historiografia. Lisboa: Teorema, 1992, cap. IX “Oséculo da História”. A visão crítica do estado da história hoje, com o abandonodos grandes parâmetros, pode ser vista em DOSSE, François. A história emmigalhas. Bauru, SP: EDUSC, 2003.

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cena os diversos grupos sociais, ampliando seu interesse na direçãodos indivíduos comuns, as diversas etnias, os grupos minoritários.

Modificou também, entre os historiadores, o modo defocalizar certos objetos inscritos tradicionalmente em seu campode trabalho: o patrimônio, os bens materiais, por exemplo.Abandonando o culto ao documento e ao monumento, erguendo-os como repositórios de uma memória do passado, que deveria serguardada em templos chamados museus ou institutos históricos,os historiadores passam a concebê-los como resultado de umaprodução material e simbólica da sociedade.

Muitas aproximações têm sido feitas, desde pelo menos asegunda década do século XX, entre a História e as metodologias etécnicas empregadas por outras disciplinas, propiciando a formaçãode áreas que têm conquistado foros de cidadania plena na História,como a história serial e a história oral. Por outro lado, gênerosclássicos da historiografia, como a biografia, têm sido reabilitados,mas deixando de lado a exaltação dos indivíduos excepcionais, avida dos “grandes homens”. Do mesmo modo, os historiadores têm-se dedicado à exploração de imagens (fotografia, cinema, vídeo,pintura etc.), e ao uso da computação – tudo isso refletindo-seinclusive no ensino de História, seja na introdução de novasexperiências de pesquisa, seja no surgimento de novos materiaisdidáticos. Outras áreas da História foram consideravelmentereformuladas, em face da informatização generalizada e daspossibilidades que se abrem hoje com os arquivos públicos eprivados e, por outro lado, absorvendo conceituação mais refinada,operando com técnicas novas, como a arquivística histórica2.

2 Essas perspectivas da História podem ser acompanhadas por meio de publicaçõesespecializadas, como a Revista Brasileira de História, publicada pela Associaçãodos Professores de História (ANPUH), Revista Projeto História (PUC/SP), entreoutras, além das publicações dos museus, arquivos públicos e instituições diversasconsagradas ao trabalho com documentos. Para uma perspectiva atual dosestudos sobre museus, memória e patrimônio, ver Arquivos, patrimônio e memória:trajetórias e perspectivas. (Org. Zélia Lopes da Silva). São Paulo: UNESP:FAPESP, 1999.

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DA SITUAÇÃO ATUAL AO NOVO PROJETOPOLÍTICO-PEDAGÓGICO

Essa proposta curricular, na forma final que tomou, reproduzas vicissitudes de três anos de atividade da equipe de elaboraçãodo Projeto Político-Pedagógico e, especificamente, do colegiadodo curso de História: as mudanças conjunturais ocorridas no quadrodocente, com a entrada de novos professores e o retorno de outros,afastados para qualificação – cada um desses fatos novos ia levandoà retomada de caminhos, à abertura de novas perspectivas,introduzindo, às vezes, mais trabalho pelo acréscimo de novospontos de vista e impondo de forma salutar a revisão de assuntosque pareciam solucionados3. As dificuldades não foram poucas:havia muitos pontos nos documentos oficiais do MEC que nospareciam obscuros, havia indefinições na legislação, de modo quefreqüentemente nos sentimos pisando em falso.

O senso de realismo que nos impusemos durante todo otempo, no que diz respeito às condições específicas do curso deHistória da UFRN, exigia que tivéssemos, claro, respostas à per-gunta: “Por que mudar?” As respostas, encontramos num conjuntoarticulado de razões que implicavam considerar a especificidadedo aluno do curso de História da UFRN e as especificidades dadisciplina História no mundo hoje. Para nós, professores, e, acredi-to, parte dos alunos, é impossível evitar a sensação de que alguma

3 Nesse quadro, deu-se o afastamento da então coordenadora, professora FátimaMartins, para cursar pós-graduação, seguindo-se a eleição de novo coordenador.Ela comandou a fase inicial, discutindo, com o colegiado, e com a comissãoespecífica de elaboração, escolhida no colegiado. Na segunda fase, essacomissão foi constituída pelos professores Raimundo Arrais (coordenador),Aurinete Girão (vice-coordenadora), Wicliffe Costa e Almir Bueno. Fomosassessorados muito de perto, em todas as etapas, pela equipe pedagógica daPró-Reitoria de Graduação, formada, primeiramente, pelas professoras VilmaSampaio e Heloísa Henê Marinho da Silva e, numa segunda fase, pelosprofessores Maria Lúcia Santos Ferreira da Silva, Nostradamus Medeiros e MariaCarmosi de Souza Gomes.

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coisa não caminha bem. E as causas dessa situação não podemmais ser remetidas unicamente ao surrado argumento de que de-clina a cada ano a formação intelectual dos estudantes que ingres-sam na universidade. Esse assunto precisa ser examinado com ograu de complexidade que ele exige. A vivência do dia-a-dia emsala de aula e nos corredores, as reuniões dos docentes, nos forosde coordenadores, nas plenárias de departamento, enfim, nas di-versas instâncias administrativas, não deixam dúvida que estamosmergulhados numa rede de erros que tem contribuído muito paracomprometer o desempenho do aluno: erros na estrutura curricular,erros na burocracia, erros na relação entre coordenações de cursoe departamentos e, muito especialmente, erros na nossa práticadocente.

A elaboração desse Projeto Político-Pedagógico foi prece-dido e acompanhado por duas ações, que nos auxiliaram noconhecimento da realidade sobre a qual desejávamos atuar. O pri-meiro foi a participação no Plano de Avaliação Institucional daUniversidade Brasileira (PAIUB), que, em atividades de reuniõesseparadas com professores e alunos, e oficinas reunindo os doissegmentos, forneceu um diagnóstico de vários aspectos do curso,identificando problemas e colhendo sugestões. O segundo, umasérie de questionários aplicados pela coordenação entre os alunosque acabavam de ingressar no curso, com a finalidade de conhecerseu perfil e suas expectativas. Esses questionários visaram a com-parar os perfis dos alunos do turno matutino e noturno, permitindoque formulássemos conclusões sobre itens como “quem trabalha”,“onde”, e, ainda, se é professor, se não é, se atua em atividadediferente daquela para a qual está sendo formado e se deseja serprofessor ou pesquisador. A partir desses diagnósticos podemosafirmar que, de algum tempo para cá, tem ocorrido alterações noperfil do aluno matriculado no curso de História.

Outra ação digna de nota consistiu na tentativa de retomar oconhecimento, e algum controle, por parte da coordenação do curso,dos estágios, identificando os locais, os alunos e as atividades que

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eles desenvolviam nesses estágios, pois na atual situação nem todasas formas de estágio são levadas ao conhecimento da coordenação.

Por fim, direcionando a atenção para aqueles que seencontram na reta final do curso, procuramos submeter a umaanálise qualitativa as monografias que o aluno realiza no últimosemestre do currículo. No conjunto, elas revelaram os temas deinteresse predominante, as abordagens, as modalidades de fontesutilizadas. A pesquisa nos levou à conclusão de que houve umasubstancial melhoria da qualidade das monografias, o que decorreude várias medidas implantadas recentemente, entre elas oestabelecimento das orientações individuais e de bancasexaminadoras. Serviu também para – na medida em que evidenciouuma demanda crescente dos alunos por fontes documentais, queesbarra no estado precário dos documentos da história do RioGrande do Norte – chamar a nossa atenção para a responsabilidadeda UFRN no que diz respeito à conservação e organização dosacervos que estão sob a guarda de instituições como Arquivo PúblicoEstadual e Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

Esse Projeto Político-Pedagógico separa as duas modali-dades (Licenciatura e Bacharelado), nos dois turnos, matutino enoturno, mantendo a oferta atual de 100 vagas no Vestibular (des-tinando 20 vagas para o Bacharelado e 80 para a Licenciatura). Poroutro lado, praticamente permanece a carga horária do curso atual:de 2.830 horas passamos para 2.835 horas na Licenciatura e 2.580no Bacharelado, o que equivale dizer que o tempo médio de dura-ção do curso permanece o mesmo do currículo atual, ou seja, dezsemestres.

Ele define como objetivo a formação de profissionais paraatuar no campo do ensino (fundamental e médio) e da pesquisahistórica, entendendo esses dois campos segundo as exigênciasespecíficas do mundo contemporâneo, ou seja, pretendendopreparar o aluno para agir sobre uma realidade dinâmica,multifacetada, que passa a exigir uma postura aberta, interdisciplinar,guiando-se o profissional pelo entendimento da complexidade domundo, dos limites do conhecimento, da necessidade do diálogo

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do saber científico com outros saberes. Tanto no âmbito do ensinocomo da pesquisa, o curso visa a propiciar ao aluno os fundamentosteóricos da História, na qualidade de campo de conhecimentoespecífico dentro das Ciências Humanas, as técnicas necessáriasà atividade de pesquisa e o conhecimento pedagógico necessárioà construção desse conhecimento com os educandos.

DE RITO DE INICIAÇÃO A CURSO VIVENCIADO

A composição curricular foi alterada. Tendo em vista asperspectivas de novas frentes de atuação, foram introduzidas naestrutura curricular disciplinas com a finalidade de fornecer osfundamentos teóricos e as bases metodológicas para a formaçãodos profissionais: a história oral, o patrimônio, a memória, aarquivística histórica, a historiografia, a conservação de documentos.Essas disciplinas darão condições ao profissional de história deatender a essa ampliação do campo de atuação do historiador nasociedade contemporânea. Elas fornecerão fecundos instrumentosna pesquisa histórica, e, igualmente, importantes instrumentos paraas experiências com o ensino de história, no ensino formal ou foradele. Elas permitem, por meio da extensão, a articulação comentidades, organizações e instituições diversas. Para mencionarmosum exemplo dessa possibilidade de integrar ações de pesquisa,ensino e extensão, lembraríamos os prontuários dos presos políticosda ditadura, guardados nos órgãos de repressão (DOPS – Delegaciada Ordem Política e Social).

Nessa estrutura curricular aprovada, o que esteve em causa,portanto, não foi, simplesmente, a substituição de umas disciplinaspor outras. Nas inúmeras reuniões de colegiado, e nas ocasiõesem que as discussões foram levadas para a plenária dodepartamento, parece ter ficado claro para a maioria dos docentesque não havia fundamentos para se defenderem direitos deprecedência de uma disciplina sobre outra. Nesse ponto, cabemencionar a indagação fundamental que atravessa esse Projeto

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Político-Pedagógico: Afinal de contas, por que um conteúdo, porque tal ou qual ponto, seria mais relevante do que outro?

O que nos permite afirmar que devemos considerar maisrelevante estudar História do Brasil do que História Medieval? Ouque a abordagem econômica é mais importante que a cultural?Considerando que os professores de História têm, tradicionalmen-te, fora e dentro da UFRN, colocado o peso de suas disciplinas nosconteúdos factuais, mesmo que imprimam em suas disciplinas umenfoque que designam de “crítico”, o que tem diferenciado essasdisciplinas não são peculiaridades teóricas, mas o teor dos assun-tos tratados em cada uma delas, os acontecimentos localizadosdentro do corte cronológico. A verdade é que temos atuado a partirde uma divisão de trabalho fundada numa separação entre camposdistintos: o das disciplinas “teóricas” e o das disciplinas “práticas”.Segundo essa divisão, no caso do Bacharelado caberia às discipli-nas de caráter teórico ensinar os fatos, e ensinar alguma coisa demetodologia; já as disciplinas de caráter prático deveriam levar oaluno ao exercício de pesquisa. No caso da Licenciatura se dá amesma coisa: por um lado se colocam os conteúdos “factuais” e asdisciplinas teóricas; por outro, o conteúdo “como ensinar” trata-sede assunto, literalmente, “de outro departamento” (mais precisa-mente, o Departamento de Educação).

Não se sustenta uma tal divisão. Toda aula, a rigor, deveriaser uma distribuição em que entra um pouco de todos essescomponentes: deve ser uma aula do que é comumente chamado“conteúdo”, uma aula de teoria, de historiografia, de como pesquisare de como ensinar. Não podemos fundamentar a defesa daproeminência de disciplinas em função da suposta relevância dosconteúdos. Nenhum conteúdo é, em si mesmo, mais ou menosrelevante e, por outro lado, não podemos acreditar que a formaçãodo aluno dependerá da quantidade de conteúdo que lhe seráministrada. Lembre-se, a propósito, que a carga inesgotável deeventos sobrepuja em muito a capacidade humana de absorvê-los.

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É preciso associar o conteúdo ao “como pensar” teorica-mente, e ao “como fazer”, procedimento que deve ligar-se àqueleprincípio que tem sido chamado de “flexibilização curricular”, quepercorre esse Projeto Político-Pedagógico, visível na composiçãodas cargas horárias. Em termos de estrutura de horas-aula, se tra-duz no que se chama Prática Como Componente Curricular,Atividades Acadêmico-Científico-Culturais e Estágio Curricular Su-pervisionado. Dentro de um certo número de disciplinas obrigatóriasforam introduzidos créditos que devem ser ocupados, na Licencia-tura, com atividades práticas associadas à experiência do ensino ea novas formas de atuação do professor de História, e, no Bachare-lado, com atividades de prática de pesquisa. Desse modo,estimula-se que a aprendizagem do aluno se enriqueça com expe-riências desenvolvidas no contato com a profissão e, na medida dopossível, em contato com a realidade fora da sala de aula, propor-cionando-lhe uma aprendizagem em contato permanente com arealidade sobre a qual irá atuar.

A orientação do atual currículo está fundamentada numaseparação que contraria esse espírito: o bacharel absorve conteúdosao longo do curso e, para a grande maioria dos alunos, somente noúltimo semestre, aplica-os em sua monografia. Somente no final dequatro anos e meio ou cinco anos o aluno experimentará aoportunidade de despertar o gosto pela pesquisa. Temos aí um finalde curso penoso, angustiante e pouco proveitoso para o aluno. Seesses alunos tivessem experimentado a pesquisa e o ensino aolongo do curso, quanto entusiasmo não o teria acompanhado noseu itinerário de cinco anos de curso!

O mesmo se dá com a licenciatura. Depois de cumprir, aolongo do curso, as disciplinas teóricas, e, separadamente, as deconteúdo, o futuro professor se dirige para realizar seu estágio finalnas escolas. O resultado é o choque. Passado o choque, quandosucede de o aluno tomar gosto pelo ofício de ensinar, já é tarde, éhora de sair da universidade. A vocação, quando é descoberta, o étardiamente.

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A CADEIA DOS PRÉ-REQUISITOS

A atual estrutura curricular do curso de História está amarradano sistema de pré-requisitos, do primeiro semestre até o último.Fixemo-nos no exemplo de uma dessas linhas, a das histórias gerais:no primeiro semestre, o aluno começa com História Antiga I, seguidada História Antiga II, História Medieval I, História Medieval II, HistóriaModerna, História Contemporânea I, História Contemporânea II.Como vemos, 7 semestres encadeados, portanto, em que seráconsumida somente essa linha das histórias gerais. (Ver Anexo 1)

Submetemos à revisão esses pré-requisitos nas linhas deHistória Geral e de História do Brasil e História do Rio Grande doNorte (excetuando-se as disciplinas de natureza teórica, comoprojeto de pesquisa e monografia de final de curso) e eliminamostodos eles, apoiando-nos em argumentos de natureza teórica,metodológica e prática. (Ver Anexo 2)

De um lado, no âmbito das discussões teóricas travadaspor historiadores hoje, e das pesquisas históricas, não há nada quesustente que a explicação do presente está situada no passado. Oponto de vista de que o único, ou mesmo o grande, sustentáculo daHistória como disciplina é o fato de que o hoje está contido no onteme que a explicação do ontem está contida no anteontem e assim,até o início dos tempos, funda-se numa lógica rudimentar que seexpressa pedagogicamente na memorização de datas e fatosdispostos numa seqüência cronológica. Esse ponto de vistatransmite, ainda, a idéia de que haveria uma versão objetiva, dadapara todos, que só resta ao historiador extrair e depositar nos livros,para que os estudantes assimilem. Inútil como instrumento depesquisa, duramente criticado há décadas, ele revela, contudo, umaimpressionante persistência.4

4 A crítica a essa arraigada visão do senso comum não é nova. Para nos limitarmosa uma referência da década de 1970, veja-se CERTEAU, Michel de. A operaçãohistórica. In: LE GOFF, Jacques (Org.) História: novas abordagens. Rio de Janeiro:Francisco Alves, 1988.

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A história narra, é verdade, mas a narrativa hoje é entendidae praticada de modo distinto do modelo do século XIX. A pesquisahistórica opera com recortes teóricos precisos e se funda emconceitos, muitos dos quais transitam por outras ciências humanas.Os historiadores lidam não apenas com a narrativa dos eventospolíticos, mas examinam, numa perspectiva diacrônica, fenômenosdiversos relacionados às práticas sociais, às formas de sociabilidade,à memória, à religião, à natureza.

Se, por um lado, a manutenção dos pré-requisitos nãoencontra fundamentos sob o ponto de vista teórico, também não sejustifica por argumentos de ordem prática, pois esse sistema temsido um dos grandes responsáveis pela retenção dos alunos nocurso. Como no departamento de História a oferta de disciplinas éreduzida, devido a fatores como encolhimento numérico do corpodocente e limitação de espaço físico, durante um semestre só éoferecida uma disciplina de cada um desses elos. Ou seja, se noprimeiro semestre é oferecida a disciplina História Antiga I, nosegundo será oferecida somente História Antiga II. Portanto, bastaque o aluno sofra uma reprovação, ou “tranque” uma disciplina, paraatrasar seu curso em dois semestres. Esse tem sido um fator quecontribui consideravelmente para a retenção dos alunos no cursopor um ano, às vezes mais.

ALÉM DA UNIVERSIDADE, A VIDA:O APROVEITAMENTO DE ATIVIDADES EXTRACLASSE

O Projeto Político-Pedagógico de História estimula oaproveitamento, nos itens Prática Como Componente Curricular eAtividades Acadêmico-Científico-Culturais, das experiências que oaluno pode trazer em ações de fora da universidade, o que nãoocorre no atual currículo. A validação dessas atividades como cargahorária se dará mediante critérios definidos claramente peloColegiado do curso, que deverá reunir muito mais tarefas do quena atual situação. (Ver Anexo 3)

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Algumas medidas, entretanto, transcendem a capacidadedo colegiado ou do curso. Os estágios, por exemplo, precisam serdinamizados, tanto na licenciatura como no bacharelado. Deveexpandir-se a relação da universidade com a sociedade, incluindoaí instituições diversas e associações, abrindo campos da atuaçãopara os alunos, com benefícios mútuos, para a sociedade e para auniversidade. É preciso que se imprima mais agilidade nessasrelações, de modo que as ações não sejam interrompidas ou nãose arrastem, indefinidamente, sem resultados claros. A situação dosconvênios da universidade com a rede pública de ensino é o tristeexemplo dessas dificuldades, figurando, talvez, como o ponto maisdelicado das licenciaturas da UFRN. A relação entre a universidadee as secretarias de educação, sujeitas a inúmeras dificuldadesimpostas pela burocracia, se nos períodos de normalidade apenaspermitem uma atividade precária dos estágios nas escolas, o quenão se dirá dos períodos freqüentes em que irrompem as greves dedocentes e funcionários, levando à suspensão desses estágios efazendo prolongar-se a dificuldade de conciliar o calendáriouniversitário com o calendário da rede pública municipal e estadual?

MUDAR O CURRÍCULO. CONSERVAR AS PRÁTICAS?

Sabemos que as mudanças estabelecidas nesse ProjetoPolítico-Pedagógico exigem mudança de atitudes, modificação dehábitos arraigados e fortemente protegidos pela rotina institucionale corporativa. Essa reforma curricular resultou de decisões coleti-vas e é compreensível que muitos de seus pontos tenham obtidoaceitação fácil, enquanto outros geraram discussões mais acalora-das; uns tenham sido recebidos com simpatia, outros foramaprovados sem contar com a convicção de todos. Não podemosdeixar de observar que, no decorrer das discussões, em torno decertos pontos, alguns membros do colegiado pouco se manifesta-ram. Algumas vezes o silêncio de um professor pode ter significadoa falta de convicção, mas outras vezes pode ter significado a rejei-

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ção muda, acompanhada da esperança de que um novo currículonão traga, na prática, o desconforto de mudanças no mundo de suasala de aula, em seus métodos de ensino, sua forma de avaliação,sua relação pedagógica com os alunos.

A constatação, já antiga, se impõe: é preciso colocar emdiscussão nossa atuação pedagógica. No que toca à prática doprofessor, muita coisa precisa ser modificada. É preciso aceitar nossaprática pedagógica como algo que diz respeito ao conjunto do curso;é preciso aceitar que realizamos um planejamento em função doqual todos devem atuar, e cujo objetivo final é a formação do aluno.

Os princípios desse Projeto Político-Pedagógico sãoincompatíveis com uma prática docente exercida a portas fechadas,que freqüentemente se fundamenta numa certa imagem de que osalunos são imaturos e que, por conseguinte, devem serpermanentemente tutelados, pois não têm capacidade de fazerescolhas, não têm discernimento para emitir julgamentos, nemparticipar das decisões ligadas ao curso.

Maturidade, entretanto, o aluno não recebe como um kit nofinal de curso. Ela tem de ser cultivada no cotidiano da universidade,estimulando no aluno as responsabilidades, desafiando-o a participarde discussões ligadas ao ensino e à avaliação, instigando-o acontribuir com os rumos das políticas do curso – tudo isso atua nosentido do seu amadurecimento profissional, preparando-o para assituações que deverá enfrentar ao deixar a universidade.

NÃO UMA FÓRMULA, MAS UM MAPA E UMA APOSTA

Como se afirmou antes, essa reforma curricular consumiumuito trabalho em estudos, redação, reuniões na equipe deelaboração, em operações aritméticas com as cargas horárias. Suaconcepção foi coletiva, e sua execução, do mesmo modo, precisater o envolvimento de todos.

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E, no final de tudo, o que temos é apenas um ponto departida. Sua direção vai depender de como professores e alunosavançam, das direções que serão tomadas nas discussões teóricase metodológicas, na nossa prática profissional, na política que devenortear a prática docente. Se o Projeto Político-Pedagógico não étudo, ele pode, com certeza, ajudar a desencadear ações, promoverdiscussões que inspiram mudanças de atitude, não apenas nosalunos, mas também nos professores. Diga-se de passagem que,ao cabo desse período de envolvimento na elaboração dessaproposta curricular, remexendo e pesando tantos elementos danossa prática de ensino e avaliação, chegamos ao final com asensação de que nosso problema não é somente a formação doaluno, mas a nossa própria formação de professores.

Muitos dos pontos de partida dessa reforma curricular, fixadosnos documentos do MEC, nós julgamos como necessários paraenfrentar os problemas atuais da nossa graduação. Mas nãoesquecemos de assinalar, no texto desse Projeto Político-Pedagógico, a nossa ênfase na imperiosa necessidade dacontrapartida de uma política educacional, incluindo o fornecimentode recursos humanos e materiais. Por vezes não pudemos deixarde esfriar o entusiasmo de nossos planos quando nos ocorria àmente o quadro das limitações relacionadas ao pessoal, àprecariedade dos laboratórios, aos embaraços burocráticos queaprisionam o ato de ensinar, às dificuldades em que esbarramosquando projetamos construir uma cultura de avaliação e de auto-avaliação.

Que esse Projeto Político-Pedagógico será datado, forçosa-mente o será. Seria incompreensível que aqueles que estudam históriae produzem conhecimento histórico desconhecessem essa marcainscrita nas coisas, nas instituições, na sociedade e no indivíduo: amudança. Assim como a História, esse Projeto Político-Pedagógicoé filho de seu tempo. Ele resultou daquilo em que acreditamos numadada conjuntura, e partiu dos erros e problemas que conseguimosidentificar. Por outro lado, ele é a materialização das melhores res-

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postas que fomos capazes de dar a esses problemas, com basenuma avaliação realista da situação em que se encontra o curso deHistória da UFRN hoje, propondo mudanças que acreditamos poderassimilar. Trata-se, em conclusão, de um documento que testemu-nha o ponto até onde nossa esperança e nossa vontade puderamflorescer, sob o peso das rotinas opressoras, num cenário de dificul-dades desanimadoras.

REFERÊNCIAS

ARQUIVOS, patrimônio e memória: trajetórias e perspectivas. (Org. ZéliaLopes da Silva). São Paulo: UNESP: FAPESP, 1999.

CARBONELL, Charles-Olivier. Historiografia. Lisboa: Teorema, 1992.

DOSSE, François. A história em migalhas. Bauru, SP: EDUSC, 2003.

LE GOFF, Jacques (Org.) História: novas abordagens. Rio de Janeiro:Francisco Alves, 1988.

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ANEXO 1ESTRUTURA CURRICULAR HISTÓRIA (1988)

BACHARELADO/LICENCIATURA – MATUTINO/NOTURNO

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ANEXO 2-AESTRUTURA CURRICULAR HISTÓRIA (2003)

LICENCIATURA – MATUTINO/NOTURNO

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ANEXO 2-BESTRUTURA CURRICULAR HISTÓRIA (2003)

BACHARELADO – MATUTINO

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ANEXO 3UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTESCOORDENAÇÃO DO CURSO DE HISTÓRIA

RESOLUÇÃO n. 01/2004 – Colegiado do curso de História,de 05 de fevereiro de 2004.

Dispõe sobre normas para aferição das 210 (duzentase dez) horas obrigatórias de Atividades Acadêmico-Científico-Culturais (ACC) para os alunos do curso deHistória Licenciatura e Bacharelado.

O COORDENADOR DO CURSO DE HISTÓRIA DAUNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE.

Faço saber que o Colegiado do curso de História, usandode atribuições e,

CONSIDERANDO a implementação do novo currículo docurso, que exige o cumprimento por parte dos discentes de 120horas de Atividades Acadêmico-Científico-Culturais (ACC);

CONSIDERANDO as diretrizes estabelecidas pelo novoprojeto pedagógico do curso, que busca formar um historiador quearticule a sua profissão às demandas sociais e culturais dasociedade;

CONSIDERANDO a necessidade de padronização dasregras de contabilização da ACC, bem como a sua divulgação paraprofessores e alunos do curso de História;

RESOLVE:

I. Aprovar os critérios para aferição das 210 (duzentas e dez)horas obrigatórias de Atividades Acadêmico-Científico-Culturais

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(ACC) para os alunos do curso de História Licenciatura eBacharelado que ingressarem no Curso a partir do 1o semestre de2004.

II. A presente Resolução entra em vigor na data de suapublicação.

Coordenação do Curso de História

Natal, 05 de fevereiro de 2004.

Professor Raimundo Pereira de Alencar ArraisCoordenador do Curso de História

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RESOLUÇÃO N. 01/2004 – CRITÉRIOS PARA AFERIÇÃODAS ATIVIDADES ACADÊMICO-CIENTÍFICO-CULTURAIS

Capítulo 1Disposições preliminares

Art. 1 – Esta Resolução estabelece os critérios para aferiçãodas 210 (duzentas e dez) horas obrigatórias de AtividadesAcadêmico-Científico-Culturais (ACC) para os alunos do curso deHistória, Licenciatura e Bacharelado.

Capítulo 2Aferição das horas de ACC

Art. 1 – o aluno poderá cumprir sua carga horária de ACCrealizando atividades de ensino, pesquisa e extensão. As atividadesque serão computadas, bem como suas respectivas pontuações,são as seguintes:

I. ATIVIDADES DE ENSINO:Atividade

1. Projeto de bolsa de monitora em dis-ciplina ligada ao Departamento deHistória da UFRN

2. Projeto de monitoria em outro Depar-tamento da UFRN

3. Projeto de monitoria voluntária no De-partamento de História

4. Participação como docente em proje-tos de natureza educacional, taiscomo: redução do analfabetismo, edu-cação de adultos, educação inclusiva,nas seguintes modalidades:

4.1. Curso de aperfeiçoamento (apartir de 180 h/a).

4.3. Curso de atualização (a partirde 40 h/a).

Pontuação(valores expressos em horas)

60 horas pela atividade e mais10 horas por cada semestre

30 horas pela atividade e mais10 a cada semestre

30 horas pela atividade e mais10 a cada semestre

180 horas

40 horas

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4.4. Divulgação (a partir de 20 ha).

4.5. Oficinas e minicursos (a partirde 3 h/a).

5. Participação como auxiliar, assistenteou monitor em projetos de naturezaeducacional:

5.1.Curso de aperfeiçoamento (a par-tir de 180 horas).

5.2.Curso de atualização (a partir de40 horas).

5.3. Divulgação (a partir de 20 horas).

6. Produção de material didático-peda-gógico, resultante de projeto ligado auma instituição educacional públicaou privada:

6.1. Livro, vídeo ou disco.

6.2. Texto ou artigo.

Obs.: as atividades de monitoria poderão totalizarno máximo 100 (cem) horas de ACC.

20 horas

3 horas

90 horas

20 horas

10 horas

60 horas

30 horas

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II. ATIVIDADES DE PESQUISA:

Atividade

1. Bolsista de iniciação científica atu-ando em projeto de pesquisa registradona UFRN.

2. Voluntário em projeto de iniciaçãocientífica atuando em projeto de pes-quisa registrado na UFRN.

3. Participante em projeto de pesquisa,credenciado por órgão de fomento, vin-culado a outras instituições.

4. Trabalhos acadêmicos na área deHistória ou em área correlata, inéditos,publicados em

4.1. Periódico indexado internacio-nalmente.

4.2. Periódico indexado nacional-mente.

4.3. Periódico de circulação regio-nal ou local.

4.4. Livro (co-autoria) que tenhasido aprovado por comissãoeditorial.

5. Produção de livro técnico, publicadona área de História ou correlata (auto-ria), que tenha sido aprovado porcomissão editorial.

6. Apresentação de trabalho em con-gressos ou atividades semelhantes.

6.1. de âmbito internacional;

6.2. de âmbito nacional;

6.3. de âmbito regional ou local.

7. Trabalhos completos publicados emAnais de congressos

Pontuação(valores expressos em horas)

30 horas pela atividade emais 10 horas por cada semestre.

15 horas pela atividade emais 5 horas por cada semestre.

10 horas pela atividade emais 4 horas por cada semestre.

40 horas

30 horas

20 horas

40 horas

60 horas

20 horas

15 horas

10 horas

20 horas

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8. Monografia premiada em concursopúblico

8.1. em âmbito internacional;

8.2. em âmbito nacional;

8.3. em âmbito regional ou local.

III. ATIVIDADES DE EXTENSÃO:

Atividade

1. Participação em eventos acadêmicosna área de História ou em áreacorrelata, tais como cursos, congres-sos, seminários, conferências

1.1. de âmbito internacional ou na-cional;

1.2. de âmbito regional ou local.

2. Estágio na área de História ou corre-lata, realizado em instituição públicaou privada

2.1. de 60 a 120 horas;

2.2. acima de 120 horas.

3. Representação estudantil

3.1. nos colegiados superiores daUFRN;

3.2. na Plenária Departamental e noColegiado do Curso de Histó-ria;

3.3. membro eleito para o DCE daUFRN;

3.4. membro eleito para o CA deHistória.

60 horas

40 horas

20 horas

Pontuação(valores expressos em horas)

10 horas

5 horas

40 horas

20 horas

4 horas por plenária

2 horas por plenária

4 horas por semestre

4 horas por semestre

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4. Trabalhos específicos do profissionalde História realizados em museus,arquivos, centros de documentaçãoe semelhantes

5. Participação em apresentações artís-ticas em instituições públicas ouprivadas, tais como espetáculo deteatro, música, poesia, dança, expo-sição de pinturas e fotografias. Asapresentações devem estar vincula-das a projetos acadêmicos ou sociais

6. Promoção e/ou participação em ati-vidades culturais regulares, tais comogrupo de cinema e outros, em insti-tuições públicas e privadas

Capítulo 3Computação das horas de ACC nos registros

individuais dos alunos

Art. 1 – Para obterem o registro das horas de ACC, os alunosdo curso de História deverão entregar à Coordenação do Curso, noprazo legalmente fixado a cada semestre, um relatório das ativida-des desenvolvidas com os respectivos documentos comprobatórios.Ressalta-se que cada documento só poderá ser contabilizado umaúnica vez, ainda que possa ser abrigado em mais de um critério.

Art. 2 – A cada semestre letivo o coordenador do Curso deHistória determinará, em consonância com o Colegiado do Curso,o período para entrega dos relatórios de ACC e a data da divulga-ção dos resultados.

Art. 3 – O Coordenador do Curso nomeará comissões paraanálise dos relatórios e os pareceres dos trabalhos das comissõesserão votados no Colegiado do Curso.

1 hora de ACC por cadahora de trabalho

20 horas por montagem

10 horas por semestre

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Art. 4 – Após aprovada a computação das horas de ACC, oCoordenador do Curso fará as devidas anotações na Ficha Indivi-dual do Aluno e, em seguida, enviará os dados à Pró-Reitoria deGraduação para fins de registro no histórico escolar.

Art. 5 – O Colegiado do Curso de História poderá definirnormas complementares para cada tipo de atividade, bem comoexigir documentos que julgar necessários para computar horas deACC.

Art. 6 – Só serão contabilizadas as atividades realizadasdurante o período em que o aluno estiver vinculado ao curso deHistória.

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IMPRESSÃO E ACABAMENTOOficinas Gráficas da EDUFRNEditora da UFRN, em novembro de 2004.