final de análise - aula 14

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51 Estudos de Psicanálise – Aracaju – n. 32 – p.51-70 – Novembro. 2009 Final de análise: uma revisão sistemática da literatura 1 End of analysis: a systematic revision of literature Déborah Pimentel 2 Maria das Graças Araújo 3 Maria Jésia Vieira 4 Palavras-chave Final de análise, Cura, Psicanálise, Psicanalistas. Resumo O objetivo do estudo foi identificar as idéias dos psicanalistas do Círculo Brasileiro de Psicanálise – CBP sobre o tema final de análise. O método utilizado foi revisão sistemática de literatura, tendo como banco de dados a Revista Estudos de Psicanálise, publicação oficial do CBP, indexada no Indexpsi Periódicos, Biblioteca Virtual em Saúde –Psicologia (BVS- Psi). A seleção dos artigos foi feita através de doze palavras-chave: análise terminável/interminável, cura, destituição subjetiva, direção da cura, desenlace, efeitos terapêuticos, esperança de cura, fim de análise, final de análise, finalidade da psicanálise, saída e travessia da fantasia. Encontraram-se vinte e cinco artigos, dos quais sete se repetiam entre os descritores; um, após leitura do resumo, não tratava do assunto em questão; restaram, então, dezessete. Como resultados, encontrou-se que os autores questionam se há um final de análise, a eficácia da psicanálise, falam sobre os destinos da pulsão, sobre o rochedo da castração e a travessia do fantasma, a ética do desejo, o passe e as demandas de felicidade. 1 Trabalho produzido na disciplina Metodologia da Investigação do Curso de Doutorado em Ciências da Saúde, sob a coordenação da Profa. Dra. Maria Jésia Vieira. 2 Presidente do Círculo Brasileiro de Psicanálise no biênio 2008-2010 e editora da Revista Estudos de Psica- nálise para o mesmo período. Presidente da Academia Sergipana de Medicina. Fundadora e presidente do Círculo Psicanalítico de Sergipe. Doutoranda e Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Sergipe. Professora do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Sergipe. 3 Psicanalista do Círculo Psicanalítico de Sergipe e membro da diretoria do Círculo Brasileiro de Psicanálise no biênio 2008-2010. Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Sergipe. 4 Enfermeira. Professora doutora do Núcleo de Pós-Graduação de Medicina da Universidade Federal de Sergipe. INTRODUÇÃO Freud, no final dos Estudos sobre a Histeria (1893-1895), diz que o objetivo da Psicanálise, promovendo a suspensão do sintoma, é transformar o sofrimento histé- rico em infelicidade comum. Sabe-se que a medida da eficácia terapêutica é o efeito da linguagem sobre o gozo sexual do sin- toma e a constituição de um saber sobre o sujeito. Lacan, citado por Nasio (1987), em contrapartida, nos disse que o sintoma sig- nifica essencialmente o retorno da verdade na falha do saber. Verdade de que o sujeito inquestionavelmente nada quer saber. Só quando o sintoma fracassa, o sujeito percebe, através do seu desamparo e desconhecimen- to, que nada lhe resta senão a possibilidade de dirigir-se ao saber, que equivale a procurar uma resposta ao enigma deste sintoma que aí é capturado pela transferência. Uma análise não deve ser forçada até muito longe. Quando o analisando pen- sa que está feliz na vida, é o bastante. Lacan

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  • 51Estudos de Psicanlise Aracaju n. 32 p.51-70 Novembro. 2009

    Final de anlise:uma reviso sistemtica da literatura1

    End of analysis: a systematic revision of literature

    Dborah Pimentel2Maria das Graas Arajo3

    Maria Jsia Vieira4Palavras-chaveFinal de anlise, Cura, Psicanlise, Psicanalistas.

    ResumoO objetivo do estudo foi identificar as idias dos psicanalistas do Crculo Brasileiro de Psicanlise CBP sobre o tema final de anlise. O mtodo utilizado foi reviso sistemtica de literatura, tendo como banco de dados a Revista Estudos de Psicanlise, publicao oficial do CBP, indexada no Indexpsi Peridicos, Biblioteca Virtual em Sade Psicologia (BVS- Psi). A seleo dos artigos foi feita atravs de doze palavras-chave: anlise terminvel/interminvel, cura, destituio subjetiva, direo da cura, desenlace, efeitos teraputicos, esperana de cura, fim de anlise, final de anlise, finalidade da psicanlise, sada e travessia da fantasia. Encontraram-se vinte e cinco artigos, dos quais sete se repetiam entre os descritores; um, aps leitura do resumo, no tratava do assunto em questo; restaram, ento, dezessete. Como resultados, encontrou-se que os autores questionam se h um final de anlise, a eficcia da psicanlise, falam sobre os destinos da pulso, sobre o rochedo da castrao e a travessia do fantasma, a tica do desejo, o passe e as demandas de felicidade.

    1 Trabalho produzido na disciplina Metodologia da Investigao do Curso de Doutorado em Cincias da Sade, sob a coordenao da Profa. Dra. Maria Jsia Vieira.

    2 Presidente do Crculo Brasileiro de Psicanlise no binio 2008-2010 e editora da Revista Estudos de Psica-nlise para o mesmo perodo. Presidente da Academia Sergipana de Medicina. Fundadora e presidente do Crculo Psicanaltico de Sergipe. Doutoranda e Mestre em Cincias da Sade pela Universidade Federal de Sergipe. Professora do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Sergipe.

    3 Psicanalista do Crculo Psicanaltico de Sergipe e membro da diretoria do Crculo Brasileiro de Psicanlise no binio 2008-2010. Mestre em Cincias da Sade pela Universidade Federal de Sergipe.

    4 Enfermeira. Professora doutora do Ncleo de Ps-Graduao de Medicina da Universidade Federal de Sergipe.

    INTRODUO

    Freud, no final dos Estudos sobre a Histeria (1893-1895), diz que o objetivo da Psicanlise, promovendo a suspenso do sintoma, transformar o sofrimento hist-rico em infelicidade comum. Sabe-se que a medida da eficcia teraputica o efeito da linguagem sobre o gozo sexual do sin-toma e a constituio de um saber sobre o sujeito.

    Lacan, citado por Nasio (1987), em contrapartida, nos disse que o sintoma sig-nifica essencialmente o retorno da verdade na falha do saber. Verdade de que o sujeito inquestionavelmente nada quer saber. S quando o sintoma fracassa, o sujeito percebe, atravs do seu desamparo e desconhecimen-to, que nada lhe resta seno a possibilidade de dirigir-se ao saber, que equivale a procurar uma resposta ao enigma deste sintoma que a capturado pela transferncia.

    Uma anlise no deve ser forada at muito longe. Quando o analisando pen-sa que est feliz na vida, o bastante.

    Lacan

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    Final de anlise: uma reviso sistemtica da literatura

    A Psicanlise serve, portanto, para quem deseja confrontar-se com a sua ver-dade, questionando o sintoma, trocando o gozo pelo saber, numa articulao entre o saber e a verdade, na medida mesmo em que o sintoma analtico, como enigma, se dirige ao sujeito suposto saber, de quem se espera receber significaes.

    Considera-se tambm que a psicanli-se uma prxis regida pela tica do incons-ciente e pelo compromisso que se estabelece entre o sujeito e o seu desejo, permitindo o acesso a uma verdade sempre escondida no enigma do sintoma.

    Perante essa riqueza e profundidade epistemolgica das ideias de Freud e dos seus seguidores, como Lacan, em especial, prope-se uma reviso sistemtica da litera-tura com o objetivo de identificar as ideias dos psicanalistas do Crculo Brasileiro de Psicanlise sobre o tema final de anlise.

    METODOLOGIA

    Trata-se de uma reviso sistemtica da literatura, ou seja, um estudo descritivo, bibliogrfico, documental. A metodologia de reviso sistemtica pode ser encontrada nas publicaes Cochrane Handbook e no CRD Report produzido pela NHS Centre for Reviews and Dissemination (KHAN et al., 2000; CLARKE; OXMAN, 2000) .

    A realizao desta reviso iniciou-se com a formulao de uma pergunta que de-finiu qual material seria usado pelo presente artigo e onde localiz-lo. O levantamento de dados considerou apenas a publicao oficial do Crculo Brasileiro de Psicanlise, Revista Estudos de Psicanlise, indexada no IndexPsi Peridicos, Biblioteca Virtual em Sade Psicologia (BVS-Psi), nico banco de dados relevante para nossos objetivos que consistiam em descobrir como pensavam os psicanalistas dessa instituio sobre o final de um processo psicanaltico.

    A avaliao crtica permitiu deter-minar quais estudos iriam ser utilizados

    na reviso, utilizando, para tal, doze des-critores: anlise terminvel/interminvel; cura; destituio subjetiva; direo da cura, desenlace, efeitos teraputicos, esperana de cura; fim de anlise, final de anlise; fina-lidade da psicanlise; sada e travessia da fantasia (Quadro 01).

    O peridico analisado teve seu primeiro nmero publicado em 1969 em Belo Horizonte, e o ltimo nmero este de outubro de 2009, que no traz, alm deste trabalho, nenhum ar-tigo sobre o tema. Foram localizados, portanto, 25 textos, quando considerado separadamente cada um dos descritores, entretanto, em sete deles havia mais de um dos descritores selecio-nados, tendo, portanto, sido considerados, para efeito da reviso, uma nica vez. Encontramos em quarenta anos de publicao da revista, de-zoito artigos que contemplam os descritores acima citados.

    De posse dos dezoitos estudos identi-ficados, procedeu-se leitura dos ttulos e, em seguida, leitura dos resumos (quando havia) para que houvesse a garantia de que se tratava de textos objeto deste estudo. Ex-cluiu-se o texto de 1969, localizado inicial-mente com a palavra chave cura, mas cujo ttulo revelava tratar-se de um artigo sobre psicoterapia de grupo, fugindo do escopo aqui proposto. Restaram, assim, dezessete artigos para serem analisados.

    Por se tratar de reviso sistemtica da literatura produzida no veculo e tempo ex-plicitados, os autores das fontes originais so citados como fontes secundrias, uma vez que a base de construo do texto o conjunto dos artigos selecionados.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Se forem consideradas as datas de publicao como fio condutor na evoluo do pensamento dos psicanalistas do Crcu-lo Brasileiro de Psicanlise, percebe-se no haver essa configurao, pois usam como re-ferncias 260, no total quase sempre, os mesmos autores, quais sejam os principais

    Estudos de Psicanlise Aracaju n. 32 p.51-70 Novembro. 2009

  • Final de anlise: uma reviso sistemtica da literatura

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    DESCRITORES

    Ano de publicao

    1971

    1989

    1990

    1992

    1993

    1994

    1995

    1997

    1999

    2003

    2004

    2006

    Tota

    l de

    artig

    os

    Anlise terminvel / interminvel 01* 01

    Cura 01 01 01 01 01 06Destituio subjetiva 01* 01Direo da cura 01 01Desenlace 01* 01Efeitos teraputicos 01 01Esperana de cura 01 01Fim de anlise 01 01Final de anlise 01 01 01 01* 01 02 01 01 09Finalidade da Psicanlise 01* 01Sada 01* 01Travessia do fantasma 01* 01Total de artigos / ano 01 01 01 01 03 02 01 01 02 02 01 01 25**

    Quadro 1 Distribuio do total dos artigos identificados por descritores e por ano de publicaoFonte: Revista Estudos de psicanlise (1971 / 2006)* Artigos nos quais constava mais de um descritor, e que, portanto, foram considerados uma nica

    vez para efeito da reviso.** Dos 25 artigos anteriormente identificados, foram considerados dezessete para a reviso siste-

    mtica da literatura.

    responsveis pelas obras viscerais fundantes da Psicanlise, a comear por Freud, citado 62 vezes, e os autores ps-freudianos como Ferenczi (cinco vezes), Melanie Klein (trs vezes), Winnicott (quatro vezes), Bion (trs vezes) e Lacan (27 vezes). Os autores tambm se aproximam dos ps-lacanianos como Co-lette Soller (quatro vezes), Juan David Nasio (trs vezes), Jacques Alain Miller (sete vezes) e Gerard Pommier (quatro vezes). Tambm so citados com destaque Kemper (trs vezes) e Joel Birman (seis vezes).

    Entre os autores mais citados, as obras que mais vezes foram usadas como referncia nos textos estudados constam do quadro 2.

    Para analisar os dados obtidos atravs dos fichamentos dos dezessete artigos consultados, utilizou-se a tcnica de anlise de contedo na modalidade categorial (BARDIN, 2006) e elen-

    caram-se algumas categorias que se repe-tiam entre os autores: o que um final de anlise e se h um final; o n do sintoma e o destino pulsional; o rochedo da castrao e a travessia do fantasma; a transferncia, o amor de transferncia e a tica do desejo; a criao, o cmico e a arte no final de uma anlise; eficcia da psicanlise; pacientes graves; o passe e a demanda da felicidade.

    H um final de anlise?

    Arajo (1995) questiona se h um fi-nal de anlise e como se d isso, aventando a questo da anlise pessoal do terapeuta como vis para uma aguada percepo do final de anlise do seu cliente. Lembra que a capacidade de amar, assim como a de trabalhar, so os critrios freudianos

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    para o final de uma anlise e traz a fala do fundador da Psicanlise, Freud, quando conclua a Conferncia XXXI dizendo que a inteno da Psicanlise fortalecer o ego, ampliar seu campo de percepo e aumen-tar sua organizao, de maneira que possa apropriar-se de novas partes do id. Onde era o id, ficar o ego (p.99).

    Questiona, ainda, qual o momento e quais os determinantes do trmino de uma anlise. Busca Freud, de 1937, para res-ponder, mostrando a questo da castrao e a aceitao dos limites como terapeuta e analisandos.

    Sobre a dificuldade de se escrever so-bre o fim de anlise, Siqueira (1997) remete a Freud em A Questo da Anlise Leiga, de 1926. Ele acreditava, naquele momento, que o objetivo dessa deveria ser o fortalecimento do ego, destacando a importncia do estabe-lecimento dos processos adaptativos, tradu-zidos na capacidade de trabalhar e amar.

    Para Ferenczi (1932 citado por ARAJO, 1995), existe um final de anli-se desde que o analista tenha competncia e pacincia para finaliz-la; ltimo privile-gia a questo da fantasia e a sua necessria distino da realidade e a importncia de o analisando conseguir fazer associaes real-mente livres.

    Em O Problema do Fim da Anlise, Ferenczi, em 1932, argumenta que s pos-svel chegar ao final de uma anlise quando os sintomas se esgotam, assim como todas as formaes fantasmticas (apud SIQUEI-

    AUTOR TTULO DO ARTIGO

    BION Ateno e interpretao uma aproximao cientfica compreenso interna na psicanlise e nos grupos (1995)FERENCZI O problema do fim da anlise (1927)FREUD Anlise Terminvel e Interminvel (1937)KLEIN Inveja e gratido (1946-1960)LACAN Os quatros conceitos fundamentais da psicanlise (1963-1964) POMMIER O desenlace de uma anlise (1990)

    SOLER Finales de anlisis (1988)Variveis do fim da anlise (1991)

    Quadro 2 Obras mais citadas como referncia nos textos estudados.Fonte: Revista Estudos de psicanlise (1971 / 2006).

    RA, 1997). Chagas (1992) tambm traz as ideias de Ferenczi de 1927 para discutir que o sucesso de uma anlise acontece quando se vence a compulso repetio graas a uma postura mais ativa do terapeuta e com a possibilidade de se dar um fim absoluto angstia de castrao. Suas ideias se opem s de Freud.

    Chagas (1992) discute que Freud, em resposta a Ferenczi, retoma ao tema dez anos depois em Anlise terminvel e interminvel (1937) e com base em seus escritos afirma que toda anlise termina ao esbarrar no impasse da castrao, e esse impasse uma questo de estrutura, o que leva a supor o final de anlise como uma renncia do ana-lista frente a esta impossibilidade, pois no se pode curar o incurvel ou mudar o imu-tvel (p. 55). Essa mesma questo tambm discutida por Siqueira (1997).

    Klein, citada por Siqueira (1997, p. 94), advoga que, no final de anlise no h mais necessidade de idealizao do analista por parte do analisando para as suas boas relaes com o objeto.

    Para os Kleinianos, diz Arajo (1995), as neuroses infantis so uma defesa contra as ansiedades paranoides e depressivas sub-jacentes. Atravs da transferncia com o terapeuta, o analisando pode lidar melhor com perdas, trabalhando com elementos como reparao, sublimao e criativida-de. O trabalho analtico pode ser encerrado quando se criam condies para a gratido e se estabelece um objeto bom.

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    Winicott, em 1969 (apud SIQUEIRA, 1997, p. 95), compara o momento de fim de anlise, denominado por ele de estado de separao ao estado de individuao se-parao de Mahler, na qual verifica-se uma confrontao entre os sentimentos de luto, de perda, de separao com a perda da oni-potncia e com os limites: do analisando, do analista, da anlise.

    Para Winnicott, em 1975, o papel do analista permitir que o analisando o use como objeto transicional sem se deixar mo-bilizar pela destrutividade do seu paciente (ARAJO, 1995). Para Bion, em 1995, cita-do por Siqueira (1997, p.94), quanto mais profunda a investigao, mais claro fica que uma anlise, por mais prolongada que ela seja, s pode ser o comeo de uma busca.

    Green, em 1990, escreve: O resultado de uma anlise no concluir sobre a inco-erncia ou a inexistncia da histria, mas, antes, sobre a descoberta de uma outra co-erncia histrica que essa, na qual se acre-ditava antes da anlise (apud SIQUEIRA, 1997, p.94-5).

    Lebovici, em 1980, acredita que a concluso de uma anlise se d quando a neurose de transferncia suficientemente analisada e a neurose infantil reconstituda. (LEBOVICI, apud SIQUEIRA, 1997).

    O tema de final de anlise continua, principalmente nas discusses que se esta-belecem sobre morte e luto, conforme visto nos trabalhos de Hausson e Didier-Weill, de 1993, uma vez que a morte simblica vivenciada no final de anlise (SIQUEIRA, 1997).

    Para os autores, Se a transferncia a repetio, a derradeira repetio justa-mente a separao. Isso faz parte das vicis-situdes do trmino da anlise (SIQUEIRA, 1997, p.94).

    Calligaris (citado por SIQUEIRA, 1997) entende que o final de anlise diz mais respeito ao analisando do que ao analista, na medida em que o primeiro, ao achar que resolveu seus sintomas, pode

    decidir sobre o momento do trmino, ca-bendo ao analista intervir, quando, de al-gum modo, esse trmino considerado prematuro por ser desencadeado pela si-tuao transferencial.

    Nasio, ainda conforme Siqueira (1997), entende a transferncia como neu-rose de transferncia. Assim, acredita que o final da anlise pode ser compreendido ao ser comparado com o trmino de uma neurose, quando o analista deixa de ocupar para o analisando o lugar do Outro. Nesse momento, que no coincide com o da lti-ma sesso, a transferncia, deixando de ser vivenciada como uma neurose, passa para outro registro necessrio ao trmino da anlise, constituindo-se em transferncia simblica. Nessa perspectiva, Nasio conclui que a anlise interminvel, porm o trata-mento tem um trmino. Assim, Nasio desta-ca dois modos de separao: o objetivo, que corresponde ao ltimo dia do tratamento, e outro, que se d no espao intrapsquico do analisando, de modo lento e gradual, muito aps a ltima sesso. E mais: O fim da an-lise ocorrer quando a demanda de amor no mais se dirigir ao analista, mas para fora da anlise (p.94).

    J para Corra (1989), o caminho da clnica em direo cura, sugere uma ex-perincia do real. A clnica revela um difcil processo em que a prevalncia dos dados inconscientes estabelecem a forma sui gene-ris de tratamento, no qual ficam alheios s queixas imediatas e prpria formulao do desejo de cura.

    Uma vez iniciado o tratamento, a questo clnica objetiva ser deslocada para o estabelecimento da relao entre o psicanalista e analisando. Em seguida, o sintoma, razo inicial do encontro, ser deixado de lado, por ficar reduzido sua condio simblica. A cura pretendida, razo maior do encontro entre aqueles sujeitos, ficar dissolvida no subjetivismo da relao que emerge e se estreita (COR-RA, 1989).

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    O n do sintoma e o destino pulsional

    No sintoma, o Eu est sempre conten-do uma possibilidade de gozo, recalcando, controlando a pulso, ou ainda o sintoma a defesa do EU com o qual se identifica, contra uma invaso pulsional (DAYRELL, 2003).

    A partir do texto Inibio, sintoma e angstia (FREUD, 1926 apud DAYRELL, 2003), percebe-se que o Eu invadido, na inibio, pela pulso, e isso o gozo. A ini-bio, portanto, um efeito da erotizao de uma funo do Eu ao responder falta dos pais, erotizao narcsica de poder ser o falo materno ou o eu ideal.

    A inibio uma defesa dessa situao ertica. Lacan (citado por DAYRELL, 2003) completa dizendo que a problemtica anal-tica a mesma da soluo da alienao; que se espera que a anlise produza a separao da falta materna e da positivao do objeto, ou ainda, a separao do narcisismo prim-rio, da miragem fetichista, isto , separao entre a falta imaginria no outro e a possi-bilidade de o sujeito se propor como fetiche que poderia vir a satisfazer e preencher essa falta. Isso nada mais nada menos que a tra-vessia do fantasma.

    A anlise devolve o paciente sua his-tria, reinserindo-o l onde ele deveria dese-jar, no lugar ao qual ele pertence, a sua estru-tura inconsciente (DAYRELL,2003, p. 83).

    O fim da anlise aparece como uma ruptura desse encadeamento fantasmtico que desnuda o no subjetivvel e isso uma desco-berta que equivalente a uma destituio do sujeito, ou seja, a travessia do fantasma (MIL-LER, 1996, apud DAYRELL, 2003, p. 84).

    O sujeito, no final da anlise, constri o seu fantasma e pode experimentar o encontro com o real da pulso e o desamparo em face das exigncias pulsionais promovendo uma redistribuio do gozo (DAYRELL, 2003).

    Lacan, em 1992, a respeito dos destinos do gozo, diz que a elaborao o trabalho sim-blico sobre o real do gozo que no impede

    ... a repetio que a mesma e ao mesmo tem-po distinta daquela antes do encontro com o real pulsional. Essa repetio diferenciada so-bre o fundo de uma antiga repetio perde vi-rulncia visto que, fundamentalmente, uma repetio que no sustenta uma demanda. A demanda do Outro cessa (apud DAYRELL, 2003, p. 84).O inconsciente detm o sonho do gozo narc-sico, sendo a travessia do fantasma fundamen-tal ser o falo imaginrio materno, ou seja, ser o objeto que pode responder adequadamente castrao materna uma caracterstica do fim de anlise (DAYRELL, 2003, p. 84).

    Vale a pena lembrar, ainda que parea bvio, que o sintoma em Psicanlise mais do que um distrbio, mas um mal-estar que se impe, cobra e interpela em um ato invo-luntrio que se repete sem que nenhum con-trole se tenha sobre ele, informando sobre fatos ignorados de uma histria, dizendo o que no se sabia antes e o que muitas vezes no se quer saber (CORDEIRO, 2006).

    O paciente movido pelo sofrimento gerado pelo sintoma procura, na fala, uma explicao para isso e encontra um destina-trio para o mesmo: o analista (CORDEIRO, 2006). Para que a dade funcione, o psicana-lista precisa ocupar esse lugar do Outro do saber e

    ... quanto mais o paciente fala do seu sofri-mento, mais aquele que escuta torna-se o Ou-tro do seu sintoma, e o sintoma passa a incluir a presena do analista, sujeito suposto saber. De incio, o analista destinatrio do sinto-ma, passando a ser posteriormente sua causa (CORDEIRO, 2006, p.68).

    Ao analista, segundo Cordeiro (2006) cabe aceitar esse lugar de amado que o pa-ciente lhe atribui para que uma anlise possa se desenvolver, sem, no entanto, esquecer da origem desse amor, que nada mais do que uma expresso do sintoma ligado a fantasias inconscientes e renuncie ao gozo do amor que o analisando lhe oferece.

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    Para Cordeiro (2006), o efeito tera-putico de uma anlise est ligado direta-mente transferncia que utiliza a lingua-gem como instrumento, reinstalando a ca-pacidade de o sujeito se questionar e sair da sua certeza. Cabe assim, ao analista, reen-derear ao analisando os questionamentos dirigidos a ele, ao suposto saber, para que o sujeito possa confrontar-se com aquilo que o ps em anlise e encontre as suas pr-prias respostas e sadas para seus conflitos, uma vez que h uma impossibilidade de o Eu sustentar certezas inquestionveis em uma abertura do Eu para alm das certezas narcsicas.

    Na teoria freudiana, a pulso a ener-gia e fora fundamental do sujeito, e as suas caractersticas so a fonte, a presso, o obje-to e a finalidade, que iro determinar a sua natureza de ser essencialmente parcial, as-sim como as suas transformaes e diferen-tes destinos (DAYRELL, 2003).

    Freud, em 1914, no artigo Sobre o nar-cisismo: uma introduo, tinha apresentado dois outros destinos da pulso em relao psicose: a introverso e as regresses libidi-nais narcsicas. J Lacan, em 1985, ao desta-car o carter parcial da pulso, seu fracasso e o inacabamento, reala que o objeto pulsio-nal nunca est altura da expectativa (refe-ridos por DAYRELL, 2003).

    Freud (apud DAYRELL, 2003), em texto de 1915, Pulses e suas vicissitudes, diz que esses destinos no so felizes e que so apenas cinco as formas com que a pulso organiza o fracasso da satisfao, quais se-jam: o recalcamento, a sublimao, a inver-so em seu contedo, o retorno sobre a pr-pria pessoa e a passagem da atividade para a passividade.

    Dayrell (2003) lana mo de um so-nho de uma paciente para lembrar que a re-petio denuncia o que h de mais radical na pulso. O analista escuta os tropeos do discurso porque ali est um sujeito. O ana-lisando no se reconhece nos seus tropeos, que aparentam ser um saber sem sujeito,

    mas, medida que ele fala, vai surgindo um sujeito para essa formao.

    Fres (2003) faz uma anlise do tex-to de Dayrell (2003) Pulses, seus destinos e final de anlise e grifa a diferena entre es-crever e ouvir, a respeito de um fragmento clnico, fazendo sua inscrio no simbli-co, inserido no texto da ltima autora. Pro-pe-se analisar a frase tica freudiana Wo es War, soll Ich Werden (L onde o Isso estava, Eu devo advir), presente nos mate-mas de final de anlise e que foi traduzida, trabalhada e repetida exaustivamente por Lacan e que teve novas leituras ao longo de sua obra (FRES, 2003). Resgata os trs momentos lgicos no conceito de pulso em Freud (p.92):

    1. Dualismo entre pulses do eu ou de auto-preservao e pulses sexuais, at 1914.

    2. Com o texto Sobre o narcisismo: uma in-troduo postula uma nica energia, a Li-bido, circulando entre o EU e o objeto.

    3. Volta ao dualismo entre pulso de vida e pulso de morte, a partir do texto Alm do princpio do prazer. A unificao das duas pulses o que Lacan chama o gozo, que a satisfao tambm com o desprazer, a dor e que corresponderia ao que Freud chamou de contradio interna da vida pulsional.

    Freud coloca que o que h de mais va-rivel na pulso seu objeto; j Lacan, em contrapartida, diz que a verdadeira finalida-de da pulso a satisfao, sendo a insatis-fao seu objeto. A isso Lacan deu o nome de objeto a, que a satisfao da pulso concebida como objeto. Objeto que um dejeto, um resto, o que sobrou da operao simblica e que, para Lacan, estar sempre conectado com a castrao (FRES, 2003).

    A proposta da Psicanlise chega como uma possibilidade de remanejar o destino pulsional dando a essa pulso chances de es-coamentos mais livres at ali impedidas pelo n do sintoma (CORDEIRO, 2006).

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    Lacan dizia que o texto de 1937, An-lise terminvel e interminvel, era o testa-mento de Freud e que foi ali que o funda-dor da Psicanlise exps suas ideias sobre o desenlace do tratamento, destino da pulso e suas vicissitudes. Para Freud, o destino da cura depende do destino da pulso. Cordei-ro (2006) lembra que no eixo entre o eu e a pulso que se articula a durao de uma anlise e reafirma que no final h um res-to que resiste, um pouco de sofrimento que insiste.

    Rochedo da castrao e travessia do fantasma

    Cordeiro (2006) aborda a impossibili-dade de sustentar a iluso de uma cura total em Psicanlise e apresenta a perspectiva de que a anlise no est necessariamente vol-tada para a cura, mas para uma abordagem do inconsciente atravs da transferncia. Refora a ideia de que a elaborao desses restos transferenciais entre analisando e psicanalista responsvel pela criatividade, sada possvel da anlise, apontando para o relanamento infinito da pulso diante do rochedo da castrao aliado ao conceito freudiano de 1937 de feminilidade.

    Freud, em 1937, quando traz o con-ceito de feminilidade no texto Anlise ter-minvel e interminvel, o faz associado ao impasse do rochedo da castrao com que se esbarra o sujeito no final da anlise. Para Cordeiro (2006), medida que o analisando elabora a rivalidade flica com o seu analis-ta, estaria postulando a feminilidade como constructo que sustenta essa incessante bus-ca, uma obra sempre passvel de aperfeio-amento diante da elaborao dos restos de uma anlise em uma eterna abertura com o novo e para aceitao das diferenas.

    Considerando a necessidade advo-gada por Freud de o analista retomar seu processo analtico com intervalos de cinco anos, a tarefa de analisar-se torna-se inter-minvel para um terapeuta. Um processo de

    anlise no se esgota, na medida em que h um ponto estrutural, sem retorno de onde a anlise prossegue. Tanto o homem como a mulher mantm a referncia flica, e o rep-dio feminilidade se constitui no obstculo intransponvel universal. Lacan se ope a essa lgica e remete a um outro saber, onde o elemento que falta justamente aquele que permite dizer algo sobre um elemento no mais universal, mas particular: s se pode saber um a um, pois falta o elemento, em relao ao qual se pode fazer referncia (CHAGAS, 1992, p. 56).

    Segundo o mesmo autor, enquanto Freud diz que o fantasma subsiste parte do resto do contedo de uma neurose, para La-can, o final de anlise a travessia desse fan-tasma e Jacques Alain Miller afirma que isso no significa que o sujeito no o tenha mais, pois o fantasma inacessvel na sua dimen-so real, com significao de verdade, pois nele que o sujeito tem, ao fazer uma articu-lao simblica, uma resposta ao desejo do Outro, por uma falta no campo do signifi-cante do Outro, e que leva a uma estrutura do inconsciente. Da os axiomas centrais do pensamento lacaniano: no existe metalin-guagem, nada todo, nenhuma linguagem esgota a totalidade do ser. A satisfao bus-cada no coincide com a satisfao obtida, a representao consciente no coincide com a representao inconsciente, a palavra no coincide com a coisa (p. 57).

    com essa estrutura de inadequao e falta que o analista tem que lidar. O saber que o fantasma garante o saber flico, no qual o sujeito tambm se garante a partir de referentes (CHAGAS, 1992).

    No fim de uma anlise, o sujeito ter que se haver com o real, com o impossvel de dizer, ou seja, confrontar-se com a im-possibilidade que o recalque primrio ins-taura, que aquilo que nunca teve ou ter acesso ao simblico (DAYRELL,2003).

    Porto (1994) descreve o processo de anlise de uma criana de nove anos. De incio, esclarece que a Psicanlise uma s,

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    estando interessada no sujeito dividido es-truturalmente, de modo que o analista deve dirigir a cura nesse sentido, isto , o da es-trutura. No discorrer do seu relato, mostra como esse objetivo perseguido durante a experincia analtica. Sobre o final da an-lise, apresenta o momento em que apare-ce o furo no suposto saber do analista, o momento em que este cai e como o peque-no paciente se dispe a caminhar sozinho. Mostra como ele suporta a castrao, a sua dor, o seu buraco, valendo-se de algo da or-dem do pai. A autora finaliza dizendo que trabalha-se com os restos. No se pode jo-gar fora. Algumas coisas podem se enter-rar, recalcar mesmo, mas justamente por isso algo sobra e retorna e repete de novo, ainda( p.62).

    A travessia do fantasma no a cura, mas o momento especial do se haver com o gozo. Para que haja sintoma, necessrio um conflito prvio e uma erotizao desse sintoma ligada a uma posio masoquista do Eu, ou seja, h um gozo relacionado a esse sintoma. O que fixa esse sintoma tem a ver com a funo do supereu, numa dimenso do pai, por um lado e por outro, um supereu materno que empurra o sujeito para o gozo, numa dimenso narcsica de entrega como objeto falta materna (DAYRELL,2003).

    Dayrell (2003) conclui que o fim de uma anlise a liquidao de ambos os su-pereus e com a consequente deserotizao do sintoma, pois s quando o sintoma de-serotizado que se pode fazer algo por ele. A autora lembra que a proposio no dis-solver o sintoma, mas fazer a passagem do sintoma para sinthoma aquilo que no cai, mas modifica-se, transforma-se para que continue sendo possvel o gozo e o desejo.

    A teoria lacaniana acerca de final de anlise vai alm do rochedo da castrao proposto por Freud. Fres (2003, p. 92-93) aponta as trs posies postuladas por La-can sobre o final de anlise, seguindo o mo-vimento dos trs registros, imaginrio, sim-blico e real (ISR):

    1. Tudo significante e o final de anlise dissolve o sintoma. Nesse momento pri-vilegia o aspecto significante do sintoma, reduzindo-o ao simblico, dizendo que seria toda significao, verdade. O final da anlise seria o desaparecimento do sinto-ma, surgindo a fala verdadeira.

    2. Nem tudo significante, algo fica fora do sintoma, o indizvel. Construo do obje-to a. H um deslocamento do simblico para o real, nem tudo significante, em toda operao fica um resto que jamais ser dito. O ponto de partida seria o sin-toma, h a travessia da fantasia e o su-jeito no tem mais vontade, no seu final, de confirmar a opo, isto , o resto que como determinante de sua diviso, o faz decair de sua fantasia e o destitui como su-jeito. Travessia do fantasma e destituio subjetiva.

    3. Saber haver-se com seu Sinthoma.

    No final de anlise, aps o atravessa-mento do fantasma, haver uma mudana da posio do sujeito perante o gozo e sua redistribuio com um trabalho que vai alm do fantasma, e o cliente j no mais demanda principalmente porque tambm j no existe mais esse Outro que foi destitudo (FRES, 2003).

    A tarefa do analista tem um fim, mas o que no tem um fim o desejo. Para compro-var sua tese, Moreira (1992, p.93) discorre sobre as articulaes entre desejo e fantasia, a formao da estruturao do desejo inicial que precisa de um outro desejante, desejo narcsico, fundado na falta. A esse desejo a autora nomeia de desejo caroneiro. O outro desejo, que denomina desejo ps-edpico, fundado no dipo, se mostra como a porta [...] pela qual o sujeito caminha ao encon-tro da cultura, do seu destino como homem, baseado na identificao estruturante com a imagem do pai, portador da lei e agente da castrao.

    Para a autora, a conquista do de-sejo ps-edpico que ir apontar para o

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    final da tarefa do analista (MOREIRA, 1992).

    Permanecer no desejo caroneiro cair no Pntano da Tristeza, deixar o nada tomar conta, destruir o Reino da Fantasia, entrar no espelho, ser engolido por ele e desaparecer...(MOREIRA, 1992, p. 94).

    Acrescenta que preciso acreditar na estria de cada cliente e na magia, para que esses encontrem um lugar, onde dese-jar possvel... e a histria de cada um ser uma Histria sem Fim... (MOREIRA, 1992, p.94-5).

    Transferncia, amor de transferncia e tica do desejo

    Se, para Lacan, em dado momento, o trmino da anlise remete ao passe, em outro, remete-o idia de felicidade, escla-recendo que essa da ordem do desejo e, portanto, da tica da Psicanlise (LACAN, 1960, apud GORENDER, 1999).

    Furtado (1994) traz o filme ingls de 1986, do diretor Stephen Frears, Prick up your ears, aqui traduzido como O amor no tem sexo, no qual se revela a evoluo do encontro amoroso ao dio at o clmax do sexo na sua violncia de assassinato e sui-cdio final. Dentro desse contexto, a autora trabalha, entre outros aspectos, a questo do amor de transferncia na direo da cura e os impasses de sua operao naquilo que ela resiste interpretao.

    A direo da cura exige preciso acerca do amor e seu objeto, que no pode confundir-se com a dimenso do objeto da pulso, nem com o objeto em relao ao desejo, se se con-sidera que a cura pelo amor foi sempre, para Freud, uma via fechada psicanlise (FUR-TADO, 1994, p.7).

    Freud (apud FURTADO, 1994) obser-va que quando o analisando silencia por-que ele pensa no analista que lhe obstrui o inconsciente, e isso amor de transferncia,

    que aparece como resistncia cura. Resis-tncia, segundo Furtado (1994), entendida como aquilo que impossvel dizer, ncleo esvaziado de representaes que o designem e que, se no h palavras, pode-se dizer que justamente a onde est a pulso.

    Quando Furtado (1994, p.8) toma em-prestado do filme a frase O amor no tem sexo e com Lacan diz quando se ama, no se trata de sexo pretende apontar dois cam-pos distintos, o amor e o sexo, e dizer que no conceito de objeto, que ele assexuado e que no h representao possvel, no in-consciente, da relao sexual.

    Furtado (1994) conclui que o amor sempre diz no sexualidade, enquanto de-terminada pelo sentido sexual inconsciente e seguindo Freud, que supondo a resoluo e liquidao da resistncia, tenta reduzir o amor de transferncia, pela interpretao, sua expresso do desejo sexual recalcado e com ele sintetiza que o amor no redutvel interpretao.

    Lacan, em 1985, diz que a zona da ex-perincia da anlise, em um trocadilho que remete ao amor e ao, da enamorao e que o gozo um limite, pois ele s se evoca a partir de um semblante e ainda que, mesmo o amor se dirige aparncia de ser, agarrada ao objeto a que causa o desejo, pela interposi-o da fantasia (apud FURTADO, 1994).

    O analista no de modo algum o semblante. Pode ser o que ocasionalmente ocupa o lugar do semblante e vem fazer rei-nar o objeto a(LACAN, 1985, apud FUR-TADO, 1994, p.11).

    A anlise se constitui interminvel se o analista se imbui do papel daquele que ocupa o lugar da verdade e a questo da anlise s se resolve se se considerar, em um mais alm do amor e das identificaes, a face real do objeto, no fracasso de a como sustentao dessa aparncia de ser, quando, desse lugar, o analista est melhor posicionado para in-terrogar a verdade sem distanciar-se de que sempre se estar privados do todo da verda-de (FURTADO, 1994).

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    Freud jamais negou, nem subtraiu crtica, o fenmeno da sugesto, os obstculos ofere-cidos psicanlise pelo amor de transfern-cia, o risco do brilho narcsico da idealizao e de mgica das palavras, nem a tentao da ambio teraputica como o desejo de curar (FURTADO, 1993, p. 39).

    Pommier, apud Furtado (1993, p.41), em O desenlace de uma anlise, em 1990, diz:

    Uma psicanlise leva aquele que se entrega a ela at um ponto em que pode reconhecer um impasse essencial de seu desejo. Este impasse permanece irredutvel; ele que condicionava a captura do sintoma e ainda dele que se trata no momento de concluir, quando nada mais no passado, do presente ou do futuro pode servir de libi e quando o analisando reconhece em suas desordens o que sempre o assegurou de sua existncia. Discernir este impasse por ou-tras vias que as do sintoma, defrontar-se com o paradoxo do desejo, depende de uma tica par-ticular, porque todos os atos que ela comanda permanecem pela contradio que a revela.

    Rodrigues (1990), em Amor de Trans-ferncia, escreve que Freud explicitou um fundamento tico, quando diz que o traba-lho, mais do que o amor, deve ser estimado pelo analista. Ao no responder s demandas de amor do paciente, permite que as portas do seu desejo se abram. Isso s possvel por meio da abstinncia, que, no sendo absolu-ta, exige um manejo na transferncia. Para o autor, o trabalho analtico propicia o advir do sujeito, l onde o isso era. Wo es war, soll ich werden (RODRIGUES, 1990, p. 44).

    Lacan, em 1989, afirmou que o sui-cdio o nico ato bem sucedido uma vez que ele vem adequar o vazio do Outro ao seu ser, ou seja, no instante em que aquele que age se iguala falta, ele tem sucesso. Furtado (1993) vai alm e diz que h ou-tros atos bem sucedidos, e em que as suas consequncias transcenderiam o sujeito e permaneceriam nos efeitos de sua obra,

    quais sejam: a sublimao, a arte e o ato analtico.

    comum comparar o final de anlise e a sua finalidade com a sublimao, que um dos destinos que Freud confere pulso. O final de anlise diz respeito constru-o da fantasia fundamental. Pode-se dizer tambm que um final de anlise conduz renncia do gozo (FURTADO, 1993).

    Por outro lado, tambm, implica uma operao tica em que, ao trmino de uma anlise, um analista no poder dese-jar imortalizar-se pelas vias da idealizao, da identificao, ou do reconhecimento. Ter sucesso como analista oferecer-se ao sacrifcio de desaparecer na e da sua obra, a incapacidade de assin-la, diferentemen-te do que ainda seria possvel aos artistas, com relao sua criao (FURTADO, 1993).

    O psicanalista no pode ter a preten-so da cura ou de ser eternamente o Outro do analisando (ARAJO, 1995, p.104) e tem como propsito ajudar seu paciente a aceitar a castrao, eliminar a neurose de transferncia e trazer o apaziguamento das pulses. A autora resgata Freud, de 1937, para lembrar que o analista retoma a sua anlise a cada novo processo teraputico que venha a testemunhar, nica possibilida-de de levar seus clientes a um final de anlise (ARAJO, 1995).

    Para Chagas (1992) final de anli-se no nem identificao com o analista, nem resoluo de sintomas, nem tampouco resoluo de conflitos atravs de referentes garantidores de uma posterior normalidade psquica.

    No final de uma anlise, o analisando se sabe pura falta (CARDOSO, 2004).

    Atravs da transferncia, o analista ser descoberto como iluso, por no cor-responder aos anseios reais do analisando. Escuta e resposta do analista possibilitaro ao paciente instituir um fantasma, constru-do segundo suas necessidades (CORRA, 1989, p. 41).

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    Corra (1989) retoma Caruso, que por muitas vezes denunciou a formulao de uma ideologia psicanaltica e a tentativa de criar uma utopia como meta para o processo psicanaltico e revelou que o trabalho de de-purao do homem resultava em uma nova alienao ainda mais perigosa que a prpria neurose.

    Desmitificada a pureza absoluta do in-consciente analisado ou da neutralidade tica desejvel, o analista, alm de suas questes in-conscientes, traz para o seu trabalho os vcios determinados por um conhecimento terico que sempre parcial e mais, a parcializao do conhecimento psicanaltico est expressa nas divergncias tericas, que por sua vez se tornam responsveis pelo desejo do psicana-lista (CORRA, 1989, p. 44).

    Uma anlise termina para um psica-nalista quando a sua capacidade de escutar aquele cliente esgotou-se e quando o clien-te, desmitificando o saber do outro sobre si mesmo, entende que no tem mais o que ouvir tampouco, ou ainda, que ele aprendeu a ouvir seu interior sem precisar de um re-transmissor (CORRA, 1989)

    O ato analtico deve implicar o cliente nas prprias coisas de suas queixas (MILLER apud CORRA, 1989, p.45). O ato analtico precisa ser o reintegrador do sujeito. Lacan ensina que um equvoco pensar, em anlise, que o inconsciente responsvel por aquilo que faz sofrer, pois, assim sendo, haveria des-truio da responsabilidade do sujeito por si mesmo e pelo que lhe acontece. Outrossim, a autorresponsabilidade implica uma recusa de compromissos e ideologias aceitas ou alie-naes praticadas com a constatao da im-possibilidade final de abarcar a totalidade do existir (apud CORRA, 1989).

    No final de uma anlise, espera-se que o sujeito do desejo advenha, incurvel e destitudo, onde no a posse do objeto o que conta, mas a prpria realidade do desejo (CHAGAS, 1992).

    pela via do discurso que o desejo ad-vm e , no dizer de Lacan, que a experin-

    cia analtica uma experincia de discurso, lembrando que, quando se fala em discurso, no se pode ignorar o papel das relaes e posies dos elementos que o compem, em funo dos quais um sentido se produz (SI-QUEIRA; FONTE, 1993).

    Uma leitura comporta infinitas pos-sibilidades de interpretao, e a clnica lacaniana privilegia unicamente o texto produzido pelo sujeito pelo vis da insis-tncia do significante (SIQUEIRA; FON-TE, 1993).

    Lacan, em um texto de 1954, As rela-es de objeto e estruturas freudianas, apon-tava desvios na direo da cura e em texto de 1958, A direo da cura e os princpios do seu poder, traz a afirmao de que sob o nome da psicanlise muita coisa feita em uma mera reeducao emocional do pacien-te (SIQUEIRA; FONTE, 1993).

    Ainda conforme as autoras, Lacan em Os escritos, de 1985, comunica os princpios que definem a direo da cura e a questo da tica, que integra as conquistas freudia-nas tendo como pice o estatuto do desejo: no se pe nenhum obstculo confisso do desejo, para isso, para onde o sujeito dirigido e inclusive canalizado (p.21). E Lacan continua dizendo, conforme citam as mesmas autoras que o desejo, se Freud dis-se a verdade do inconsciente, no se capta seno na interpretao, pois ele a meto-nmia da falta a ser (SIQUEIRA; FONTE, 1993, p.21-22).

    O desejo o mago do empreendimento ana-ltico, perpassando-o ao longo do seu trajeto, uma vez que o trajeto o espao que se tem a percorrer para se passar de um lugar a outro. Passagem da impotncia/onipotncia imagin-ria ao impossvel do Real, condio de sujeito barrado (SIQUEIRA; FONTE, 1993, p.22).

    As autoras questionam qual o dis-curso que possibilita o advento do desejo seno o discurso do analista que permite a colocao em cena do desejo e do sujeito

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    do inconsciente distanciando a psicanlise das prticas de reeducao emocional que se apresentam em nome da psicanlise (SI-QUEIRA; FONTE, 1993).

    O discurso do analista tem como agente no um objeto capaz de preencher a demanda, mas um objeto causa do desejo, objeto a, por que o desejo sempre desejo de outra coisa. Para Lacan, em 1985, o de-sejo, por mais transparente que seja diante da demanda, estar sempre mais alm dela e mais aqum de uma nova demanda, uma vez que ele nada mais seno a impossibili-dade de uma palavra, que, ao tentar respon-der a uma demanda, revela mais uma vez a diviso do sujeito, que s tem este estatuto de sujeito enquanto fala (SIQUEIRA; FON-TE, 1993, p.22).

    a posio de semblante do analista no discurso que assegura a primazia do de-sejo na clnica. O analista, fazendo-se causa do desejo para o analisando, desencadeia o movimento de investimento do sujeito suposto saber, causa estrutural da transfe-rncia, o que eleva seu dizer condio de interpretao, posio do saber no lugar da verdade (SIQUEIRA; FONTE, 1993).

    O saber que aparece do lado do analista no lugar da verdade aparece como barrado. Isso significa que no h saber totalizante ou pr-concebido do qual possa fazer uso. O nico saber pr-adquirido, localizvel, que pode levar para o espao da anlise um savoir-faire produto de uma anlise anterior, onde experimentou que se h algum elemento que pode ocupar o lugar da verdade, na anlise o significante. O saber analtico um saber que se produz exclusivamente no ato, a partir da escuta de seu analisante. O analista sem-blante do objeto a produz em ato o relana-mento do discurso (...). Seu saber um saber executante, porque incapaz de prever todos os efeitos possveis de produzir, mas mesmo assim responsvel pelos efeitos que produz (SIQUEIRA; FONTE, 1993, p.22-23).

    Se a estrutura da verdade o semidito e ela perseguida na anlise, eis a a estrutu-ra da palavra do analista, que palavra enig-mtica que reenvia o analisante citao co-lhida do seu dito como um dizer enigmtico que intriga e o instiga a produzir significan-tes (SIQUEIRA; FONTE, 1993).

    O analista um trabalhador que tra-balha sem pretender ter a verdade do saber e nem tampouco o saber da verdade. Ele no se toma como medida do Outro. O analista, produto de sua prpria anlise, se sabe um sujeito advertido de sua ciso e que est ra-dicalmente distante da iluso de completu-de por estar implicado no Real (SIQUEIRA; FONTE, 1993).

    A direo da cura, a qual conduz sus-tentada pelo matema do Discurso do Analista, no direo enquanto ato de dirigir exercen-do autoridade, mas uma direo equivalente rota apontada pelo dedo de So Joo Batista, de Leonardo da Vinci: o horizonte desabita-do do ser impossvel do Real (SIQUEIRA; FONTE, 1993).

    Final de anlise: a criao, o cmico e a arte

    Para Conrad Stein (apud CORDEIRO, 2006), no seu texto Fim de uma anlise, fina-lidade da psicanlise, o sujeito, para chegar a bom termo em sua anlise, talvez precise ser criativo, lanando mo da sublimao, um dos destinos da pulso e fazer algo qualitati-vamente novo em sua vida, tornando-se ar-tista e construtor do seu destino, aceitando a condio de desamparo fundamental.

    Essas ideias so ratificadas por Maria Rita Kehl (apud CORDEIRO, 2006, p. 70) em Sobre tica e psicanlise: o artista no se torna pleno de ser ao afirmar-se como au-tor de suas obras. Mas a funo autor, como uma das funes do sujeito, segundo a de-finio de Foucault, intensifica a relao do artista com o Nome do Pai, que ele transfor-ma em nome seu ao imprimi-lo junto obra que nomeia seu desejo.

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    A dimenso trgica tem a ver com o fracasso da relao do desejo com a ao diante da impossibilidade de se dizer tudo, em uma recusa de sntese e cuja sada, para Lacan, a dimenso cmica: o heri cmi-co tropea, cai no melao, mas o sujeitinho continua vivo (LACAN, 1960, apud GO-RENDER, 1999, p. 53).

    Corra (1999) aponta os diferentes ca-minhos da criao estudando artistas como Van Gogh, Bosch, Dali, Picasso, Kafka e ain-da recorre a Lacan, que fala sobre suplncia na obra literria de Joyce, com o objetivo de confrontar questes importantes entre cria-o artstica e a sade mental e de trazer a questo do final de anlise e a direo da cura como outra forma de criao.

    Tomemos o msico instrumentista que tem, na posio de intrprete, uma relao com um duplo Outro. De um lado, necessita atender ao compositor e, de outro, ao ouvinte. Basculando entre as duas posies deve fazer uma escolha de fidelidade. Ou se rende ao esprito da par-titura ou ao prazer da plateia. A sujeio in-sustentvel. Sabemos que este sujeito pode ser tomado como metonmia do desejo e, como tal, reviver na sua criao os paradoxos dos encontros com o desejo do Outro. Mas como intermedirio no pode abdicar de si, do ser sujeito da recriao interpretativa. por esta via que surge a improvisao, na qual o intr-prete se liberta em parte de um outro (autor) que apenas fornece um tema para sua recria-o espontnea. Esta experincia vai lev-lo ao desejo de libertar-se do olho de seu ouvinte. Neste caso rompe-se a suplncia e abre-se um espao para um desempenho supostamente autnomo (CORRA, 1999, p.108-109).

    Freud e a eficcia da psicanlise

    Na Conferncia XXXIV (1933-1932), Freud se revela mais pessimista acerca da eficcia da Psicanlise e do poder de cura do

    mtodo por ele criado, recomendando o re-torno anlise, alguns anos depois (ARA-JO, 1995).

    Alguns anos depois, no texto Anlise terminvel e interminvel, de 1937, segundo James Strachey, seu editor, Freud novamente se mantm pessimista quanto eficcia da Psicanlise, por tratar das limitaes do pro-cesso. Soller, em 1995, citada por Gorender (1999), lembra que, quando Freud o escre-veu, estava velho, doente e sabia que ia mor-rer; e ali, naquele texto testamento, ele aler-tou aos seus discpulos, para as expectativas e verdadeiras perspectivas dos resultados de um tratamento psicanaltico.

    No incio, os analistas tinham pers-pectivas apenas da supresso dos sintomas e, portanto, estavam mais prximos do ideal de cura e medida que se elasteceu a com-preenso sobre o inconsciente, a cura no mais se viabiliza como algo possvel. O final de anlise saiu de um modelo romntico e, portanto, pensado em termos de aptido do sujeito de levar uma vida mais satisfat-ria depois de alguns anos de anlise sem ga-rantias quanto ao reaparecimento de novos sintomas (GORENDER, 1999).

    Para Corra (1996 apud GOREN-DER, 1999), desde a colocao de Freud, terminvel ou interminvel, passando pela de Lacan, finita ou infinita, as anlises, por mais que se estendam, jamais levaro mor-te um dos participantes da trama, que a transferncia.

    Corra escreve que Freud, ao romper com o modelo mdico e com a norma, im-pede que se fale de cura. No se pode dar nenhuma garantia de que o sintoma desa-pareceu por completo ou que novos apare-am. O trmino admissvel se faz pela via da autoavaliao do cliente quanto ao reco-nhecimento de seu inconsciente e do valor da anlise, e isso implica em algum tipo de soluo para a relao transferencial: nem

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    o idealizado nem o rebotalho (CORRA, 1996, apud GORENDER, 1999).

    Para Freud, existem trs variveis importantes para levar uma anlise a bom termo, quais sejam: a influncia dos trau-mas; as alteraes do ego e, como elemento principal, a fora constitucional das pulses, sabendo que a pulso de morte e a luta com Eros o que sustenta uma anlise como in-terminvel. Para Freud, a misso da anli-se garantir as melhores condies psico-lgicas possveis para as funes do ego; com isso ela se desincumbiu de sua tarefa (FREUD,1937 apud ARAJO, 1995, p.101).

    Freud, em 1937, ao falar de trmino de anlise, talvez estivesse se referindo a que a anlise didtica, mais do que as anlises di-tas teraputicas, era inacabada, advogando ao analista a necessidade de sucessivas rea-nlises (GORENDER, 1999).

    Gorender (1999), a despeito da evolu-o terica da Psicanlise e de algumas ide-alizaes feitas com a proposio do passe, interroga se seria possvel fazer desaparecer a expectativa de cura pela anlise e mais: o que quer o analista do seu cliente? A essa pergunta responde com Leguil: se a psica-nlise no propusesse um alvio, no have-ria interesse algum em se fazer psicanlise (LEGUIL, 1993, apud GORENDER, 1999).

    Pacientes graves e a psicanlise

    Gallego (1971) prope algumas orien-taes quanto ao trabalho psicanaltico com pacientes gravemente enfermos. Considera que suas dificuldades de estabelecer relaes com a realidade, de ter insights e fazer elabo-raes, exigem aes teraputicas que vo alm do trabalho meramente interpretativo. Para tanto, sustenta a necessidade de o pa-ciente desenvolver uma esperana de cura, que o far permanecer no tratamento, a des-peito da frustrao da situao atual.

    Ao entender a Psicanlise como m-todo de tratamento, aponta a necessidade de avaliao correta dos fatores curativos implcitos na situao teraputica (GALLE-GO, 1971). Em seguida, desenvolve aspectos tericos referentes ao narcisismo com base em Kohut (1969) e Grumberger (1957) para mostrar como esses pacientes se encontram aprisionados numa relao narcsica e de como, na clnica, sua relao com a realida-de precria e deformada, como resultado de contnua identificao projetiva (GAL-LEGO, 1971).

    Traz, para sedimentar sua proposta, estudo de Alexander com o qual concorda ao afirmar que a recuperao das lembran-as no a causa, seno a consequncia da anlise (ALEXANDER apud GALLEGO, 1971, p.94).

    De May, em 1967, segundo Gallego (1971), incorpora a noo de poder, no sen-tido de que s quando o paciente pode con-ceber o Eu-posso, ele pode experimentar o Eu-quero e o Eu-sou (p. 94-95).

    Gallego (1971) ainda esclarece que a passagem de uma situao de narcisismo para uma relao de objeto se opera nos se-guintes nveis:

    Bom investimento pr-perceptivo (unio 1. anacltica satisfatria com a me)Segurana de no abandono (suficiente 2. tolerncia frustrao)Possibilidade de espera (sentimento de 3. esperana de cura)Percepo da realidade e aprendizagem 4. (experincia corretora das vivncias inter-nas (p. 96).

    Em seguida, apresenta os fatores que, em sua opinio, podem influenciar terapeu-ticamente nessa sucesso, para conseguir que o paciente abandone o mundo da fan-tasia, e se mantenha em contato com a ex-perincia retificadora da realidade. Isso s

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    possvel, acrescenta, se o paciente conseguir desenvolver uma possibilidade de espera, ou seja, de tolerncia em relao ao estado atual de frustrao, o que s ser possvel se coe-xistir com a esperana de que essa demora tem um limite e uma compensao (GAL-LEGO, 1971, p. 96).

    Conclui que a esperana de cura re-sulta de uma aproximao entre analista e pa-ciente, desenvolvida na relao teraputica. Tal proximidade ir permitir que o paciente se sinta seguro para estabelecer uma relao pessoal e fazer identificaes adequadas, de modo que seja capaz de esperar e de ter uma experincia prpria. Para que essa situao seja alcanada, alguns fatores precisam estar presentes no processo teraputico:

    Resoluo no terapeuta de sua 1. prpria situao narcisista, o que far com que no tema estabele-cer a distncia adequada s ne-cessidades de dependncia do paciente. Considera importante, tambm, que o terapeuta tenha alcanado o estgio genital do desenvolvimento;Semelhana de personalidade en-2. tre o terapeuta e o paciente, que facilitar os processos de identi-ficao e no simplesmente uma imitao;O prprio processo de anlise, que 3. envolve no s o conhecimento das fantasias inconscientes, mas a ca-pacidade de empatia, assim como o grau de esperana de cura que o te-rapeuta abriga a respeito do seu pa-ciente. A esperana de cura nutrida pelo terapeuta de alguma forma comunicada ao paciente (GALLE-GO, 1971).

    Finaliza afirmando que se o terapeuta capaz de sentir sua identidade sem medo, o paciente poder correr o risco de desej-

    la e, em ltimo caso, de t-la (GALLEGO, 1971, p. 103).

    Um analista ao final de uma anlise e o passe

    Cardoso (2004) aborda o tema da transmisso da Psicanlise e a formao do psicanalista. Trata da questo do passe e da lgica do surgimento de um analista ao final de uma anlise, a partir do texto de Lacan Proposio de 9 de outubro de 1967.

    Lacan se refere ao final de anlise como a travessia da fantasia e a destituio subjetiva do sujeito suposto saber, ou seja, momento em que o analista no se encontra mais no lugar do Outro. A tese fundamental de Lacan que o final de anlise produz um analista (ARAJO, 1995).

    O final de anlise marcado por essa passagem de analisando a analista, uma vez que, para Lacan, em 1967, toda anlise di-dtica. O analista advindo desta passagem a queda, o dejeto, mas no qualquer um. Da ser somente o analista, no qualquer um, que se autoriza por si mesmo (CARDOSO, 2004, p.96).

    Quanto aos candidatos a psicanalistas, Lacan trouxe, a princpio, na obra A tica da psicanlise, a proposta do passe que supe uma liquidao da transferncia e a obteno do agalma. O dispositivo do passe levanta a questo de quem poderia ser o fiador desse desenlace, aventando duas possibilidades: a instituio poderia dar uma sustentao a esse sujeito, ou a ideia do impossvel que a cura. Mais adiante, ao se referir tica da psicanlise, diz que a demanda de felicidade est comprometida com a questo do desejo e a dimenso trgica do sujeito (GOREN-DER, 1999).

    Sabe-se que a verdade no toda, res-tando sempre algo a ser dito por no se poder dizer. com esse indizvel que se trabalha

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    no final de anlise sob pena de transform-la em interminvel (CARDOSO, 2004).

    O final de anlise e a demanda da felicidade

    Toda anlise, no seu bojo, traz uma de-manda de resgate de felicidade perdida em al-gum momento, como se o sujeito tivesse per-dido o prazer nas atividades rotineiras mais simples, graas aos limites impostos pelo sin-toma, que gera gozo e dor; e que ele conquiste ou reconquiste a autonomia para administrar a prpria vida (CORDEIRO, 2006).

    Para Balint, apud Corra (1989), o tr-mino de uma anlise est na superao da-quilo que no se pode superar.

    Um final de anlise surge quando o paciente capaz de sentir prazer, liberdade de realizar suas inclinaes e de reaprender a se entregar ao amor, ao gozo, sem medo, inocentemente, como na sua tenra infn-cia (BALINT, 1932, apud ARAJO, 1995, p.103).

    Para Lacan, em 1975, na conferncia feita em Yale, uma anlise no para ser estendida indefinidamente. Quando o ana-lisando acha que est feliz na vida, o sufi-ciente (CHAGAS, 1992, p. 58).

    Corra (1989) teme que o psicana-lista, ao compartilhar do devaneio sobre a mudana de vida ou a felicidade pretendida por alguns clientes que por sua vez passam a ser devotados anlise, favorece a que estes possam fazer do processo analtico um sin-toma de uma nova doena crnica e incur-vel, alimentada por uma anlise intermin-vel. Terminar uma anlise um processo to absurdo como come-la, pois ela termina porque chegou ao fim e no por ter curado ou por ter o paciente atingido a tal felicida-de. Para Corra (1989), portanto, chegar ao fim no significa concluir, mas apenas no d mais para continuar.

    O fim da anlise uma consequncia do amadurecimento das diversas etapas do processo da anlise que levaram constru-o no analisando de uma capacidade de su-portar a frustrao e a perda de uma iluso transferencial (SIQUEIRA, 1997).

    E mais: O tratamento analtico acaba quando o analisando tiver condies de es-tabelecer consigo uma anlise sem fim, tor-nando-se sempre disponvel ao surgimento de novos enigmas, que propiciaro novas indagaes (SIQUEIRA, 1997, p.97). Para a autora, talvez esse objetivo se constitua numa idealizao, pois em uma anlise, por mais bem sucedida que possa ter sido, esse nem sempre alcanado.

    Para Chagas (1992), concordando com Lacan, uma anlise tem seu ponto de basta e esse ponto inadivel. No Seminrio VII: a tica da psicanlise, de 1960, Lacan fala que, o que nos demandam a felicidade, entretanto no se trata de uma felicidade sem sombras. A felicidade com a qual o analista se comprome-te no est a servio dos bens, sejam pessoais, profissionais, econmicos, sociais mas a ser-vio da lei do desejo (CHAGAS, 1992, p. 59).

    CONSIDERAES FINAIS

    Depreende-se que todos os autores citados so unnimes nos principais con-ceitos abaixo enumerados acerca do final de anlise:

    1. A Psicanlise no faz falsas promes-sas, no visa busca da felicidade, ainda que a felicidade seja aquilo que os analisandos demandam, mas que seria a obteno de um impossvel. Se a felicidade chega, se que chega, ela vem por acrscimo. Esta, sem d-vida, uma perspectiva tica, que permite ao sujeito uma escolha.

    2. A tica psicanaltica surge no cerne da relao entre psicanalista e analisando. no ato psicanaltico que o sujeito questio-

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    nado sobre o seu desejo e da sua responsa-bilidade acerca dos seus sintomas e do gozo ali contido, ou seja, acerca de sua posio subjetiva que traduz uma escolha, escolha inconsciente, uma eleio. S confrontando o sujeito com sua eleio, o ato psicanaltico pode lev-lo a uma nova posio, uma reti-ficao subjetiva.

    3. o sujeito suposto saber que per-meia as possibilidades de resolues do enigma do sintoma, posio imputada ao analista transferencialmente pelo analisan-do. Essa transferncia que cria uma pro-messa de cura e define os prprios critrios de analisabilidade e de resistncias. No se pode perder de vista que a transferncia uma incalculvel fonte de resistncia ao tratamento.

    4. A destituio subjetiva vivida no trmino de sua prpria anlise o que pos-sibilita ao analista abrir mo de sua condi-o de sujeito no percurso analtico de seu analisando. A destituio subjetiva o advir do sujeito que se confronta com a castrao, com a falta-a-ser.

    5. Para o analisando, a destituio sub-jetiva implica tambm desalojar o analista do lugar de sujeito suposto saber e o deixar reduzido condio de resto do processo analtico, quando nenhum significante vem a represent-lo (des-ser do analista).

    6. No final de anlise, espera-se que o analisando saiba haver-se com seu sintoma, tal qual props Lacan a propsito do carter irredutvel da neurose.

    7. Ao final de uma anlise, subenten-de-se a destituio subjetiva e a travessia da fantasia correspondente, que a despeito da liberdade da escolha em relao ao gozo que ela favorece ao sujeito, encontra seu limite no rochedo da castrao.

    8. O rochedo da castrao diz da falha de um saber inconsciente, uma vez que ne-nhuma elaborao de saber suficiente.

    9. Atravessar a fantasia confrontar-se com a castrao escondida l. confrontar-se com a revelao de que no existe um sig-nificante sexual para um outro significante sexual: no h relao sexual.

    10. No final de uma anlise, o sujeito se defronta com o irremedivel, o incurvel, que equivale falta do Outro e prpria di-viso subjetiva. O sujeito no se cura de sua diviso.

    No final da anlise, pode-se falar de uma tica da sublimao, que aquela que se ope s ticas do gozo. Esse movimento s possvel se o analisando renunciar ao que ele supunha em sua fantasia ser complemento, renunciar ao gozo e se permitir satisfaes substitutivas.

    Conclui-se, conclamando Gorender (1999) e a metfora por ela realizada entre o final de anlise e uma viagem que s se com-pleta quando ela chega ao fim, por mais que haja um valor inequvoco na prpria tra-vessia. Importante que no se transforme essa viagem em algo interminvel, como a maldio que faz recordar o Holands voa-dor, capito condenado a vagar pelos mares sem possibilidade de parada, at que algum se disponha a segui-lo, por amor, uma vez que este o melhor porto e que oferece an-coragem, sob pena de errncia e perda de esperana. Ou se enfrenta o abismo da falta e o rochedo da castrao, tal qual o artista que se confronta com a insuficincia de uma obra sempre por ser concluda, ou a nau vai a pique.

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    KeywordsEnd of analysis; curing; psychoanalysis; psychoanalysts.

    AbstractThe goal of the study was to identify the ideas of psychoanalysts of Crculo Brasileiro de Psicanlise CBP on the subject final analysis. The method used was systematic review of literature, having as database the Revista Estudos de Psicanlise, of-ficial publication of the CBP, indexed in Indexpsi Peridicos Biblioteca Virtual em Sade Psico-logia (BVS- Psi). The articles selection was made through 12 keywords: analysis with end / endless analysis, curing, subjective destitution, direction of cure, upshot, therapeutic effects outcome, cur-ing hope, end of analysis, the final analysis, the purpose of psychoanalysis, output and crossing the fantasy. That was found 25 articles, of which 07 was repeating the descriptors, and 1, which af-ter reading a summary, was discarded because it wasnt identified by the subject in question, re-mained only 17. As results authors found question if there is a final analysis, the effectiveness of psy-choanalysis, they talk about drive targets, about the castration rock and crossing of fantasy, the desire ethics, and the demands of happiness.

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    Tramitao

    Recebido : 24/09/2009Aprovado : 19/10//2009Nome do autor principal:Dborah PimentelEndereo : Praa Tobias Barreto, 510-1212Bairro So JosCEP : 49015 130, Aracaju/SeFone : (79) 3214 1948E-mail : [email protected]