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A estação arqueológica da antiga Banza Quibaxe: Dembos - Angola

Autor(es): Martins, Rui de Sousa

Publicado por: Universidade de Coimbra. Instituto de Antropologia

URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/35248

Accessed : 21-Apr-2022 21:54:03

digitalis.uc.ptimpactum.uc.pt

A estaca oda antiga

arqueo16gicaBanza Quibaxe

DEMBOS - ANGOLA

pOl'

RUI DE S OUSA MARTINS

SUMARIO

O. INTRODU~AO

1. GENERALIDA DE S1.1. Localizacao e breves notas sobre a regiao1.2. Desc ober ta da estacao arqueol6gica da antiga Bauza. Quibaxe

2. DESCRI~AO E ESTUDO DOS ELEMENTOS ENOONTRADOS

2.1. In dustri a Iittca - Classificagao tipo16gica2.1.1. Classlfica cao cultural - Hip6teses e conclusoes

2.2 . Industria ceramlca2.2.1. Analise da ceramtca

2.2.1.1. Formas de vasos e suas partes essenctais2.2.1.2. A ornamentacao2.2.1.3. Tecnicas de ornamentacao2.2.1.4. A pasta - Materiais nao plasttcos e cotoraeao2.2.1.5. Tentativa de analise funcional

2.2.2. Comparacoes morfol6gicas da ceramica - 0 problemacronol6g1co

3. ALGUMAS QUESTOES LEVANTADAS PELOS ELEMENTOSCULTURAIS DA ANTIGA BANZA QUIBAXE

O. INTRODUQAO

Com este trabalho prosseguimos a publicacao dos resul­tados das pesquisas antropologicas e arqueologicas que rea­lizamos durante os anos de 1972-73 na area do Goncelhodos Dembos. ,Trata-se de mais uma estacao arqueologicacom importantes elementos da Pre-historia e da Idade doFerro inicial da Africa subsaariana.

o local da antiga Banza Quibaxe mostra uma sequenciade ocupacoes humanas desde epocas muito recuadas 0 quese reveste de particular interesse e levanta algumas ques­toes relevantes para a compreensao das migracfies de povosno Noroeste de Angola.

Relativamente aos instrumentos pre-historicos e, paraalem das descrieoes e classificacdes feitas , tentamos dar,ainda que muito sucintamente, um painel do contexto arqueo­logico em que se inserem, acrescentando alguns dados sobreos povos que os utilizariam.

A olaria recolhida tern grande importancia, nao so pelavariedade da ornamentaeao e ate beleza de algumas pecas, masprincipalmente por que veio trazer elementos de valor paraa definicao, cada vez mais nitida, de urn grupo ceramico da ,Idade de Ferro inicial, para 0 qual propomos a designaeao deQuibaxe. De salientar 0 aparecimsnto de urna belissima tacacujo fundo apresenta uma depressao digital. A presenca deceramica caracteristica do grupo Dimple-Base da regiao dosGrandes Lagos, em estacoes arqueologicas situadas a menosde 200 quilornetros do oceano Atlantico, nao deixa de levan­tar questfies, cujo alcance ainda estamos longe de prever,Alem do mais, as recentes datacoes por C. 14 obtidas paraa ceramica dos concheiros de Benfica-Luanda, A. D. 140 epara um instrumento de pedra polida, associado com olaria,

246 Contribuir;oes para 0 Estudo da Antropologia Portupuesa

da gruta Ngovo (Ba ixo Zaire), 390-160 B. C. levam-nos apensar que 0 conhecimento do passado na Africa Australesta em vias de sofrer urn forte impulso, acompanhado tal ­vez de significativas alteracoes no quadro das teorias esta­belecidas .

No dominio da ceramica, mereceu-nos ainda especial aten­Qao 0 est udo das tecnicas decorativas, assunto que te rn sidorarament e tratado.

Nas comparacoes morfol6gicas, procuramos deteetar aexpressao dos elementos disponiveis, nomeadamente os moti­vos ornamentais , nos grupos de ceramica arqueo16gica jaconhecidos, com idades diversas e, simultaneamente, des­cobrir a sua sobrevivencia nos padrfies ceramicos re centes.Os diversos horizontes de ceramica explieam-se mutuamente,Torna-se, pois, neeessario traear a ceramografia da regiaodos Dembos assim como de outras areas de Angola. Nestecampo, uma das lacunas mais crueis e a falta de corpus daceramica das diversas etnias e grupos etnico-linguisticos dovasto territ6rio africano.

Procuramos chamar a atencao para 0 provavel caractersimb6lico, ritual ou magico-religioso de certos temas deco­rativos, estabelecendo analogias com motivos semelhantesentalhados na madeira ou tatuados no corpo humano. Naose trata, evidentemente, de uma decifracao absoluta doselementos em questao, Estamos, porem, no dominio daceramica africana e a Africa e, por excelencia, a terra dossinais, dos simbolos e dos rituais. Limitamo-nos, ao fim eao cabo, a trilhar caminhos que outros tern aberto.

Nao se esperem conclusoes definitivas do nosso trabalho,pois pret endemos unicamente levantar algumas hip6teses.Temos ainda mais materiais em estudo e muitos aspectosdos nossos anteriores apontamentos sobre a Etno-hist6riade Quib axe carecem de revisao.

Adiamos assim, para mais tarde 0 debate de muitasquestfies que nos surgiram.

Tambem e faeil de verificaI' que se notam algumaslacunas graves no campo da bibliografia, inteiramenteimpossiveis de suprir ate ao momento.

Resta esclarecer que 0 mimero de ordem das pecas cor­responde ao seu numero de inventario. E que 0 mater ial

A esiactio ar queo loq ica da antiga Banza QUiibaxe 247

ceramico ago ra est udado, assim como 0 da estacao Dl-Qui­baxe, foi oferecido ao Museu de Angola (Luanda) , em cujascoleccfies se acha integrado.

As pecas liticas foram depos it adas na Seccao de Pr e­-hist6ria e Arqueologia da Junta de Investigacoes do Ultra­mar (Lisboa ) .

AGRADECIMENTOS

Desejo exprimir 0 meu reconhecimento a todos os quetornaram possivel a realizaeao deste trabalho. Os meusamigos Jose Borges e Fernando Bota auxiliaram-me precio­sament e nos trabalhos de campo. 0 meu amigo Jose Antunesfez alguns desenhos da ceramica recolhida. A Sociedade deGeografia de Lisboa facultou-me varias vezes 0 acesso asua riquissima biblioteca e forneceu-me numerosa biblio­grafia em condicoes muito especiais. A Seccao de Pre-His­toria e Arqueologia da Junta de Investigacao do Ultramare ao seu director, Dr. Miguel Ramos, devo valiosos ele­mentos, sem os quais nao teria sido possivel realizar estetrabalho. A minha amiga escultora Conceieao Rodrigues,da mesma Seccao, ajudou-me a resolver diversos problemasda parte respeitante a ceramica e fez os belos desenhosdas pecas liticas. 0 Museu Monografico de Conimbriga,muito gentilment e, fez os 6ptimos desenhos da maior partedas ceramicas. Os mapas que acompanham 0 te xto foramamavelments executados por Victor Torres, desenhador daFaculdade de Letras de Coimbra.

1. GENERALIDADES

1.1. LOCALIZA9XO E BREVES NOTASSOBRE A REGIKO

A estacao arqueologica de que nos vamos ocupar situa-sea Leste da progressiva Vila de Quibaxe, sede do Concelhodos Dembos, Distrito do Quanza Norte, no local onde exis­tiu a Banza Quibaxe que, a partir de 1967, foi reconstruidacom casas definitivas, noutro lugar proximo da Vila (Fig. 1e mapa 1).

A Banza foi fundada pelo chefe Kikonqo, Kibao» KiaMub emba Lukem, «filho» do Rei do Congo que, por deter­minadas desinteligencias, se dirigiu para 0 Sill, atravessouo rio Dange e impos a sua lei sobre alguns grupos de Ambun­dos. Para estabelecer a sua banza, 0 Kibaxe escolheu umavertente do monte Kiamulumba (cota 899 m) , recortado devales, onde nascem sete cursos de agua: Kijinji) Nzamba,Benge, Kineende, Kapioto, Gongo e Angengo (1).

o local, pela abundancia de agua proxima, era parti­cularmente propicio a fixacao de populacoes, 0 que se veri­ficou desde data muito recuada (2) .

A area abrangida pelo Concelho dos Dembos esta situadana Regiao Subplanaltica. Orograficamente e bastante aci­dentada, com altitudes entre os quatrocentos e os mil metros.Vales irregulares e estreitos. Encostas ingremes.

(1) Elementos recolhidos jun t o dos velhos da Banza Quibaxe.(2) Na con cep cao dos povos da area, a agua dos r ios nasce de

urn ente sobrenatural cuja designacao genertca e Kianda, embora cadauma tivesse 0 seu nome proprio do qual deriva 0 nome do rio. Aoinstalar a sanzala. d'ibata, em novo sitto, sempre perto de um cursode agua, 0 sob a pfumu iembu, fa junto das aguas , punha urn joelhoem terra e implorava a Kianda para que a agua fosse sempre abun­dante, r ecitando uma prece adequada.

250 Gontribui /(oes pam 0 Estudo da Antropo logia Po rtuguesa

o clima e sub-humido, humido, mesotermico , com duasestacoes definidas, a das chuvas (Outubro-Abril) e a doCaeimbo (Julho-Agosto). A temperatura media anual ede 22° a 25°C.

A humidade media e superior a 83 % e a media das pre­cipit acoes nao excede os 1100 mm.

Hidrograficament e pertence a bacia do rio Dange. Sobo ponto de vista geologico inclui-se no Sistema do CongoOcident al. Os solos sao paraferraliticos a rgila eeos, pOI'vezes com grande quantidade de mica associada. Nos morrossurgem afloramentos de quartzo e de xisto.

o povoamento vegetal e constituido pOI' uma formacaoflorestal humida de nevoeiros semidecidua, poliestrata, gui­neense-zambeziaca , mesoplanaltica ( floresta cafeeira) ( 3 ) ,onde ap arecem savanas arbost ivo-arborias de grande exten­sao (zonas de floresta degradada) .

1.2. DESCOBERTA DA ESTA<:;AO ARQUEOL6GICADA ANTIGA BANZA ~UIBAXE

Durant e 0 ano de 1973, a Vila de Quibaxe experimentouurn grande surto de desenvolvimento, tendo as autoridadescamarari as levado a efeito extensas obras de urbanizacaoque obrigaram a numerosas remocoes de t erras no localda antiga Banza, a direit a da estrada que sobe para a Capelado Morro (Fis. 1 e 2).

Desde 0 inicio dos trabalhos, fizemos sisternaticas visitasao loca l, a fim de recolher dados sobre a cultura e a vida naantiga aldeia. Apareceu grande quantidade de ceramicaidentica a utilizada actualmente pelos Quibaxes e aindanumerosas contas de colares, uma pulseira de cobre, urninteress ante molde para brincos, algumas moedas antigase t res s ine tas . A partir de uma certa altura, com 0 apro-

(3) G . B ARBOSA, 1970; LAINS E SILVA, 1956 , pp. 4 9 e segs, Afirmaeste autor que «devem t el' s ido, pols, a agricultu ra rtinerante e asqu eima das os ractorss antropocoricos que deram origem aos capin­zais nas regtoes angolana s em que 0 cli max sao as f lorestas pluvilsllvae Laurisilva », p. 54.

A estactio arque otoqica da antioa Bamea Qwibo.xe 251

fundamento das remocoes, comecaram a surgir fragment osde vasos totalmente diferentes, aparentando uma maiorant iguidade e ostentando ornamentacao caracteri st ica daIdade do Ferro inicial da Africa a SuI do E quador . E sobreeste tipo de olaria que nos iremos debruear, deixando asoutros elementos para futuras consideracoes.

Na mesma area e no terrene pedregoso, onde existiamnumerosos calhaus rolados de pequeno tamanho, foram reco­lh idos quatro instrumentos liticos pre-historicos.

Os bifaces n .v 1 e n .> 2 foram encontrados no mesmolocal, parte oeste do terreno removido, e 0 n .v 3 relat iva­mente proximo. 0 biface n ." 4 estava num corte de cas­calheira na extremidade leste da estacao,

2. DESCRIQAO E ESTUDO DOS ELEMENTOSENCONTRADOS

2.1. INDUSTRIA LITICA - CLASSIFICACAOTIPOLdGICA

1 - Biface foliforme de quartzo leitoso; uma das facese ligeiramente concavada na parte media; arest as s inuosas,cortant es ; extremidades em ponta afilada e cortante; seceaobiconvexa espessa ; manchas de patina amarela dourada emambas as faces (Fig. 3) .

Dimensoes: comprimento, 100 mm; largura max., 52 mm ;espessura maxima, 28 mm ; indice de robus ­tez (relacao centesimal entre a espessura ea largura maximas) , 53,8 .

2 - Biface foliforme de quartzo leitoso; arestas sinuo­sas, cortantes ; uma extremidade e levemente arredondada,a extremidade distal e truncada; se ccao biconvexa simetricae espessa; uma das faces tem ligeira patina amarela dou­rada (Fig. 4) .

Dimensoes : largo max., 45 mm; esp. max., 27 mm ; indorob., 60.

252 Contribuil}oes para 0 Bstudo da Antropologia Portuguesa

3 - Biface foliaceo de quartzo leitoso ; uma das faces .apresenta duas acentuadas cristas; arestas sinuosas e imper­feitas ; extremidades afiladas e cortantes ; seccao irregulare espessa (Fig. 5).

Dimens6es : comp., 85 rom; largo max., 38 mm; esp.max., 25 mm; ind orob., 65,7.

4 - Biface de quartzo leit oso ; faces concavadas na partemedia ; arestas irregulares, uma mais arqueada que a outrae com entalhes; uma extremidade e em ponta grosseira ecortante, a extremidade dis tal e romba e triangular; seccaoirregular e espessa (Fig. 6).

Dimens6es : comp., 128 mm; largo max., 63 rom ; esp.max., 35 mm; indorob., 55,6 mm .

2.1.1. Olassiflcaeao cultural - Hlpoteses e eonclusfies

Grandes blocos de numerosos calhaus de quartzo abun­davam na area da antiga banza, de molde que os artefactosdeviam ter sido feitos no local, podendo-se mesmo levantara hip6tese de ai ter existido uma oficina de preparacao.

Atendendo a. relativa fragilidade do materia l empregue,a. elegancia dos bifaces 1 e 2 de seccao biconvexa, ao t ipode fracturas observado e aos sobreviventes processos delascagem usados no Nordeste de Angola para fazer «peder­neiras» (4), podemos defender a seguinte hip6tese quantoas t ecnicas de talhe utilizadas . 0 quartzo foi lascado dasarestas para 0 centro. Podiam-se ter utilizado dois meto­dos: a percussao indirecta com urn cinzel de madeira ouosso e a percussao directa com urn percutor «brando», demadeir a, osso au como (5) .

Apesar de serem em ntimero reduzido, as pecas encon­tradas sao tipologicamente bastante caracteristicas 0 quepermitira uma classificacao cultural relati vamente segura .

As silhuetas foliformes, as tecnicas de talhe e compara­~6es com muitos artefactos paleoliticos da bacia do Congo,

(4) D . CLARK, 1963, pp. 171 e segs.(5) Idem , p. 183.

A estactio arqueotoaica da antuia B anea. Qu.ibax e 253

levam-nos a classificar os bifaces da antiga banza Quibaxenum ample complexo cultural Lupembo-Tshitolense (SecondIntermediate) .

No t errit6rio angolano abrangido pela Regiiio de Culturapre-hist orica Conguesa, que se estende par toda a bacia dorio Zaire ou Congo, mui tas outras estacoes se integramno complexo cultural Lupembo-Tshitolense que reflecte aevolucao de uma disseminada tradicao lupembense, de baseSangoense (Lupembense 'inferior) . No entanto, uma visao deconjunto reveste-se de certas dificuldades devido ao mimeroreduzido de estaedes conhecidas e devidamente estudadas,relativamente a vastidiio do territorio em causa, ao polimor­fismo regional da mesma cultura paleolitica e ainda a «ques­tao terminologtca» que tern envolvido a class ificacao daspecas ja estudadas (6) .

A facies Lunda foi notavelmente estudada por Janmart,Redinha, Breuil, Leakey e D. Clark. Na regiiio costeira des­taca-se a sstacao de Palmeirinhas, descoberta e estudada porClark (7) e a de Benfica da qual ja. possuimos uma magni­fica monografia devida a Santos Junior e a Carlos E rve­dosa (Fig. 2).

No Noroeste de Angola, em cujo contexto se integra 0

paleolitico de Quibaxe, foram est udadas estacoes no SuIde Ambriz, em Kasango-Lunda, Nzongolo-Malange, Mavoio,Banza Lambo e outras perto de S. Salvador . Tern sido encon­trados inst ru mentos Uti-cos isolados em Quifangondo, Tom­boco, Emilio de Carvalho, (Pedra do Feitico) , S. Antonio doZaire (8), et c. Durante 0 levantamento das cartas geol6­gicas das r egioes de Maquela do Zombo-Damba, Bembe,Noqui-Tomboco e S. Salvador foram descobertas numerosasestacoes pre-historicas de superficie, situadas no cimo dosmontes (91) (Fig. 2) .

(6 ) Sobre a evolucao da t ermlnologt a dos ma teri a ls li ticos dabacia do Congo ve ja-se 0 exposto por D. CLARK, op, cit., pp . 45 a 47.

(7) D . CLARK, 1966, pp. 48 e segs.(8) Idem, p. 39.(9) W. S TANTON , H. KORPERSHOEK e L. SCHERMERHORN , 1962,

pp. 18-19 ; W. S TANTON , 1963,' pp, 84-85 ; L . SC HER MERHORN e W. STAN­

TON , 1963, p . 10; H . KORPERSHOEK, 1964, pp. 17-18.

254 Gon t ri bu iqoes para 0 Estudo da Antropologia Portiurueso.

Dez quil6metros a SuI de Ambriz, Davies descobriuuma estacao atribuida ao Sangoense / Lupembense Infe­rior (10) (Fig. 2).

A estacao de Nzongolo Malange, uma oficina de prepa­racao onde predominam os bifaces, foi descoberta e pri­meiramente estudada por Fernando Mouta, urn dos grandespioneiros da pre-historia angolana que atribuiu 0 sitio auma «civilizacao anterior a da Tumba» (11) . Veiga Fer­reira e Camarate Franca debrucaram-se igualmente sobrea coleccao, com outra metodologia, tendo considerado 0

conjunto dos bifaces como pertencente ao Caliniano (San­goan) (12). Clark refere-se a esta estacao e a de Marimha(Norte de Malange, ainda inedita) , integrando-as no Lupem­bense Superior (Middle Stone Age) (13). Pudemos obser­val' na Seccao de Pre-Historia da Junta de InvestigaccesCientificas do Ultramar alguns bifaces de Marimba queapresentam flagrantes semelhancas com os de Quibaxe.

A estaeao arqueol6gica de Kasango-Lunda foi descobertaem 1925 pelo Rev." Padre Plancquaert que recolheu a super­ficie do solo uma seria de 41 instrumentos liticos. Bequaerteneontrou-lhes caracteristicas marcadamente kalinianas itexcepcao de uma ponta lanceolada que the sugere a passa­gem do Kaliniano para 0 Djocociano.

Refere ainda que Mortelmans estabeleceu a sinonimiaentre os termos Sangoense e Kaliniano, e entre 0 Lupem­bense leo Djocociano (14).

Servindo-nos da terminologia proposta por Mortelmansdepois de 1957 e por Clark , podemos classificar a estacaode Kasango-Lunda no Lupembense e Lupembo-Tshitolense.

As industrias de Mavoio, perto de Maquela do Zombo,integram-se numa sequencia que vai do Lupembense Supe­rior ao Lupembo-Tshitolense e ao Tshitolense (15)

o esp6lio da Banza Lambo, estacao de superficie pertode S. Salvador, foi separado em tres series, uma das

(10) D. CLARK, 1966 , p. 35.(11) F . MOUTA, 1934, p. 58 .(12) V. FERREIRA e C. FRANQA, 1953-54, p. 18I.(13) D. CLARK, 1966, pp . 38-39.(14) M . BEQUAERT, 1955, pp. 233-239.(15) D . CLARK, 1966, p. 38 e segs,

A estaciio arqueoloqica da anti,ga B anza Qu,ibaxe 255

quais (III) agrupa exemplares qu e Camarate Franca, nota­vel geologico e antropologo, integra no Kaliniano (16) quedesignariamos actualmente de Sangoense / Lupembense In­ferior (First Intermediate) com uma desenvolvida faciesLupembense. A serie I foi classificada como Acheulense(Earlier Stone Age) .

Talvez com estes topicos, fique mais clara a problema­tica contextual em que esta inserido 0 paleolitico de Qui­baxe.

As industrias liticas do Lupembense e do Lupembo-Tshi­tolense que se caracterizam por uma grande variabilidadee especializacao regionais (17) acentuadas no Tshitolense,foram criadas por soeiedades especializadas de cacadoresrecolectores de am biente florestal.

Traces ja mitificados de sociedades recolectoras perma­necem vivos na literatura oral dos povos actuais.

Na regiao de Quibaxe recolhemos uma tradicao oralsobre um povo mitico-lendario, os Aze Kia Mb,inda (sing.Mze Kia Mb,inda) , constituido por homens muito pequenos quedormiam em cabacas e se alimentavam de mel e salale (18).E por toda a bacia do Congo tern sido ouvidos mites rela­cionados com um substracto etnico de pigmoides ou bos­quimanoides, habitantes da floresta e recolectores.

2.2. INDUSTRIA CERAMICA

1 - Fragmento de colo convexo, esvasado (lados diver­gentes), bordo convexo com inflexao interna, pasta castanhaavermelhada com reduzido numero de fragmentos feldspa­ticos de pequeno tamanho. Ornamentacao: axadrezado dia­gonal, «virgulas» impressas ao longo do bordo, as duasfaces cobertas de engobe negro (Fig. 46) .

Dimensoes: espessura do bordo, 10 mm; espessura doslados, 8 mm; altura do colo, 35 mm; diame­tro da boca (aproximado), 190 mm.

(16) C. FRANQA, 1964 a), p. 76.(17) D. CLARK, 1973 p. 134; BAYLE DES HERMENS, 1975, p. 157.(18) R. MARTINS, 1973, pp. 96-98.

256 Contribuit;oes para 0 Estudo da Antropologia Portuguesa

2 - Fragmento de colo , convexo, esvasado, bordo con­vexo com inflexao interna, negro embora superficialmenteavermelhado pelo demorado contacto com 0 terreno argile­-ferruginoso, pasta com fragmentos de feldspato, mica equartzo. Ornamentacao: axadrezado diagonal, impressoescuneiformes ao longo do bordo (Fig. 8).

Dimensoes: esp. do bordo, 12 mm; esp. dos lados, 10 mm;alt. do colo, 35 mm.

3 - Fragmento de colo, direito, bordo convexo com in­flexao interna, castanho terroso com sinais de enegreei­mento na face interna, pasta com numerosos fragmentosde mica e quartzo, alguns de grande tamanho. Ornamen­tacao: axadrezado diagonal, impressfies obliquas ao longodo bordo (Fig. 9) .

Dimensfies : esp. do bordo, 10 mm; esp. dos lados, 8/9 mm;alt. do fragmento, 39 mm .

4 - Fragmento de colo, direito, bordo em bisel para 0 in­terior, castanho terroso com as faces enegrecidas, pasta comimimeros fragmentos de mica. Ornamentacao: axadrezadodiagonal, impressfies obliquas ao longo do bordo (Fig. 10).

Dimensoes: esp. do bordo, 7 mm ; esp. dos lados, 8 mm;alt. do colo, 29 mm .

5 - Fragmento de colo, direito, bordo convexo com infle­xao interna, castanho terroso. Ornamentacao: axadrezadodiagonal, arcaturas impressas ao longo do bordo, engobenegro nas duas faces (Fig. 11).

Dimensoes: esp. do bordo, 8 mm ;esp. dos lados, 7/8 mm.

6 - Fragmento de colo, direito, bordo convexo, negro,muito liso. Ornamentacao: axadrezado diagonal, impressoescuneiformes ao longo do bordo (Fig. 12).

Dimensfies ; esp. do bordo, 8 mm; esp. dos lados, 8,5 mm;alt. do fragmento, 35 mm.

A esiactio arqueo16gica da antiga B anea Qu.ib axe 257

7 - F ragmento de colo, direito, bordo convexo com infle­xao interna, negro, pasta com fragmentos de quartzo e mica .Ornam entacao : axadrezado diagonal, pequenas impress6esobliquas ao longo do bordo (Fig. 13) .

Dimens6es: esp. do bordo, 13 mm; esp. dos lados, 10 mm;alt. do colo, 47 mm .

8 - Fragmento de colo, direito, bordo convexo , castanhoavermelhado. Ornamentacao : axadrezado diagonal irregular,impress6es obliquas ao longo do bordo, engobe negro nafac e externa (F ig. 14).

Dimens6es : esp. do bordo, 7 mm; esp. dos lados, 7(11 mm;alt. do colo, 41 mm.

9 - Fragmento de colo, direito, bordo convexo com li­geira inflexao interna, pasta castanha avermelhada com 0

cerne enegrecido, abundantes fragmentos de mica e quartzo.Ornamentacao : axadrezado diagonal grosseiro, impress6esobliquas ao longo do bordo (Fig. 15) .

Dimens6es: esp. do bordo, 11 mm; esp. dos lados, 10// 11 mm ; alt. do fragmento, 46 mm,

10-11 - Dais fragmentos de vaso, pasta castanha aver­melh ada com 0 cerne enegrecido, abundantes fragment os dequartzo e feldspato. Ornamentacao: uma faixa de axedre­zado diagonal muito miudo e seis caneluras paralelas leve­mente incisas (Fig. 16).

Dimens6es: esp . do n." 10, 11 mm; esp. do n.v 11, 10 mm.

12 - Fragmento de vaso negro, muito liso. Ornamenta­~ao : duas faixas de axadrezado diagonal finissimo, separa­das par tres caneluras levemente incisas (Fig. 17).

Dimens6es : esp., 7 mm,

258 Contribuigoes para 0 Bstudo da Antropologia Portuquesa.

13 - Fragmento de vaso, castanho avermelhado, pastacom numerosos fragmentos de quartzo e feldspato. Orna­mentacao : uma faixa de axadrezado diagonal entre cane­luras paralelas levemente incisas, engobe negro na faceinterna (Fig. 18) .

Dimensoes: esp., 9 mm.

14-15 - Partes fragmentadas de uma beliss.ma taca es­feroidal , conservando duas respigas verticais de seccaoarredondada, bordo dlreito espessado na face interna, fundoconvexo com delicada depressao digitallevemente ovalada naface externa e correspondente ressalto na face interna, sinaisde alisamento, pasta castanha amarelada com interior cin­zent o enegrecido, fundo negro com indicios de forte accao defogo, fragmentos de quartzo de tamanho variado. Orna­mentaeao : ao longo do bordo duas caneluras paralelas leve­mente incisas, outran duas caneluras paralelas do mesmotipo foram tracadas em linha quebrada, formando urnaornamentacao em estrela, em torno da parte superior dovaso, a primeira destas duas caneluras foi preenchida comgolpes muito finos. De cada ponta da estrela formada par­tem duas caneluras paralelas que se prolongam em direccaoit depressao basal, dividindo 0 vasa em espacos totalmentepreenchidos por delicado chamejado vertical obtido por im­pressao rodante de urn carimbo dentado. Das respigas fixa­das junto ao bordo e da depressao basal tirarn-se igualmenteefeitos decorativos (Figs. 19 , 20,47).

Dimens6es: esp. do bordo, 10 mm; esp. no lugar da res­piga, 19 mm; esp. dos lados, 4/11 mm; diam.da boca (aproximado), 110 rom; diam. dadepressao, 25 rom.

16 - Fragmento de colo direito, bordo em bisel, castanhoterroso, pasta com abundantes fragmentos de quartzo e felds­pato, alguns de grande tamanho. Ornamentacao: incis6esem zig-zag (Fig. 21).

Dimens6es: esp. do bordo, 6 rom; esp . dos lados, 12 rnrri;alt. do colo, 55 rom.

A estaciio arqueotoaica da antiga Banza Qu.ibaxe 259

17 - Fragmento de colo direito, bordo convexo, acinzen­tado com partes acastanhadas na face externa, pasta comabundantes fragmentos de quartzo e mica. Ornamentacao:incisoes em zig-zag ja muito apagadas, impressfies cunei­formes ao longo do bordo, indicios de induto negro na faceinterna (Fig. 22) .

Dimensoes: esp, do bordo, 10 mm ; esp. dos lados, 10//11 mm; alt. do colo, 51 mm.

18 - Fragmento de colo, direito, bordo em bisel, negro,past a com abundantes fragmentos de quartzo e feldspato.Ornament acao : tripla serie de «folhas compostas» (folhade palmeira) ja bastante apagada (Fig. 48) .

Dimensoes: esp. do bordo, 8 mm; esp. dos lados, 10 mm;alt. do colo, 52 mm.

19 - Fragmento de colo, direito, bordo convexo, castanhoter roso, pasta com fragmentos de quartzo e feldspato. Orna­mentacao: incisoes em espinha com 0 vertice voltado paraa diroita (Fig. 23).

Dimensfies: esp, do bordo, 12 mm; esp. dos lados, 10 mill.

20 - Fragmento de colo, direito, bordo convexo com in­flexao interna, castanho avermelhado com 0 cerne enegre­cido, pasta com fragmentos de quartzo e feldspato. Orna­mentaeao : incisfies em zig-zag, impressoes cuneiformes aolongo do bordo (Fig. 24).

Dimensoes: esp. do bordo, 12 mm; esp. dos lados, 9// 11 mm; alt. do colo, 50 mm,

21 - Fragmento de colo, direito, bordo em bisel, cas­tanho amarelado, pasta com fragmentos de quartzo e felds­pato, Ornamentacao: series verticals de impressoes ovala­das (Fig. 49) .

Dimensoes: esp. do bordo, 11 mill; esp. dos lados, 10 mm;alt. do colo, 50 mm .

260 ContribuiQoes para 0 E stu do da Antropologia Portuguesa

22 - Fragmento de colo, direito, bordo em bisel, negro,pasta com fragmentos de feldspato, quartzo e mica. Orna­mentagao : duas caneluras paralelas ao bordo e incisoes obli­quas (Fig. 25) .

Dimensdes ; esp . do bordo, 8 mm; esp. dos lados, 12 mm;alt. do colo, 57 mm.

23 - Fragmento de vaso, bordo revirado para fora comlabio direito, castanho amarelado, numerosos fragmentos defeldspato (Fig. 50).

Dimensoes: esp, do bordo, 7 mm.

24 - Fragmento de colo, convexo, bordo em bisel espes­sado na face interna, castanho terroso, pasta com fragmen­tos de quartza e feldspato. Ornamentaeao : cinco eanelurasa que se sobrepuseram incisoes em espinha (Fig. 51) .

Dimensfies : esp. do bordo, 9 mm; esp . dos lados, 8 mm;alto do colo, 40 mm .

25-26-27-28-Fragmentos de vaso, castanho terroso, pastacom fragmentos de fedspato. Ornamentacao: caneluras para­lelas muito leves e incisoes em espinha (Fig. 26) .

Dimensoes: esp. , 8 mm.

29 - Fragmento de vaso, castanho terroso, pasta comfragmentos de quartzo. Ornamentacao: canelura larga e an­gular com ineisfies em espinha sobrepostas (Fig. 27).

Dimensoes: esp., 9/11 mm .

30 - Fragmento de colo, direito, bordo em bisel, amare­lado, pasta com numerosos fragmentos de quartzo e feids­pate (Fig. 28).

Dimensfies : esp. do bordo, 7 mm; esp. dos lados, 11 mm;alt. do colo, 50 mm.

A estaciio arqueo16gica da antiga Banea Qu,ibaxe 261

31 - Fragmento de colo, direito, bordo em bisel, castanhoamarelado, pasta com abundantes fragmentos de feldspato.Ornamentacao: duas caneluras largas (Fig. 29) .

Dimensfies : esp. do bordo, 7 mm; esp, dos lados, 7// 10 nun; alt. do fragmento, 36 mm.

32 - Fragmento de colo, direito, bordo em bisel, castanhoamarelado com sinais de enegrecimento na face externa, pastacom abundantes fragmentos de feldspato. Ornamentacao :duas caneluras largas (Fig. 30) .

Dimensoes: esp. do bordo, 9 mm; esp. dos lados, 10// 11 mm; alt. do fragmenta, 35 mm; diam,da boca (aproximado) , 120 mm.

33 - Fragmento de colo, direito, bordo em bisel, castanhoamarelado, pasta com fragmentos de feldspato e quartzo,Ornamentacao: tres caneluras (Fig. 31).

Drmensoes: esp. do bordo, 8 mm; esp. dos lados, 11 mm;alt. do colo , 35 mm.

34 - Fragmento de colo, direito, bordo em bisel, castanhoterroso, sinais de energrecimento na face externa, pasta comabundantes fragmentos de feldspato e quartzo. Ornamenta­Qao: tres caneluras (Fig. 32).

Dimensoes: esp, do bordo, 10 mm; esp. dos lados, 10// 11 mm; alt. do colo, 43 mm.

35 - Fragmento de colo, direito, bordo em bisel, cinzentoescuro. Ornamentaeao: cinco caneluras estreitas (Fig. 33).

Dimenades : esp. do bordo, 4 mm; esp. dos lados, 9 mm;alt. do colo , 27 mm.

36 - Fragmento de colo, direito, bordo em blsel, ama­relado, pasta com fragmentos de quartzo. Ornamentacao:quatro caneluras estreitas e interrompidas (Fig. 52).

Dimensoes : esp. do bordo, 6 mm; esp. dos lados, 9 rum;alt. do colo, 26 mm.

262 Oontribuigoes para 0 Estudo da A nt ropologia Portuouesa

37 - Fragmento de tigelinha, bordo convexo, negro, muitoliso, pasta fina. Ornamentacao: duas caneluras paralelas aobordo e tres series paralelas de granulas em relevo (Fig. 53) .

Dimensoes: esp. do bordo, 5 mm; esp. dos lados , 7 mm;alt. do fragment o, 28 mm.

38 - Pequeno fragmento de tigelinha, bordo em bise l, cas­tanho terroso, pasta com pequenos fragmentos de feldspato.Ornament acao : impressoes obliquas juntas , muito f inas decarimbo dentado, coloraeao negra nas duas faces (Fig. 34).

Dimensoes: esp, do bordo, 5 mm ; esp. dos lados, 6 mm .

39 - Fragmento de colo, di re ito, bordo em bisel espes­sado na face interna, castanho terroso, pasta com pequenosfragmentos de feldspato, Ornament aeao: impressoes irregu­lares (Fig. 35).

Dimensoes: esp. do bordo, 11 mm; esp. dos lados, 9 mm.

40 - Fragmento de colo, direito, bordo convexo, castanhoterroso, pasta com fragmentos de quartzo e feldspato. Orna­mentacao: quatro ser.es paralelas de covi nhas hemisferoi­dais (Fig. 36,).

Dimensoes: esp. do bordo, 5 mm; esp. dos lados , 11 mm;alt. do fragmento, 30 mm.

41 - Fragmento de vasa (colo ?) , castanho terroso. Orna­mentacao : tres covinhas hemisf'ero idais dispostas em trian­gulo, leves caneluras paralelas, outras rncisoes muit o apa­gadas (axadrezado?) , indicios de engobe negro nas duasfaces (Fig. 37).

Dimensoes : esp. 8 mm .

42 - Fragmento de colo, direit o, bordo convexo, cinzentoescuro. Ornamentacao: entre duas caneluras paralelas umalinha de pontilhado (Fig. 38) .

Dimensoes: esp. do bordo, 5 mm ; esp. dos lados, 8 mm.

A es iac tio arque oloq ioa. da an tiga Banza Qwibaxe 263

43 - Fragmento de vaso, colo convexo, esvasado, bordoem bisel, castanho avermelhado, pasta fina. Ornamentacao :no colo, duas caneluras paralelas ao bordo e impress5es obli ­quas separadas, muito finas de carimbo dentado; em tornodos ombros uma leve canelura em linha quebrada. formandouma decoracao em est rela . 0 interior de cada angulo epreen­chido por pequenos circulos impressos e 0 espaco entre osangulos e ocupado pelo mesmo tipo de impress6es de carimbodentado qu e se ap licou no colo (Est. 54) .

Dimens6es : esp . do bordo, 4 mm ; esp. do colo, 10 mm;diam, da boca (aproximado), 125 mm; esp,do boj o, 9 mm; alt. do colo , 25 mm.

44 - Fragmento de boj o globular, negro e castanho es­curo, pasta com pequenos fragment os de quartzo. Orna­mentacao: totalmente onnamentado com caneluras paralelaslevemente inc isas e im press5es muito finas de carimbo den­tado (Fig. 39).

Dime ns6es: esp., 6/8 mm.

45 - F ragmento de taca, bordo direito com espessamentointerno, acas t anhado, pasta com fragmentos de quartzo.Ornamentacao : duas leves caneluras paralelas que provavel­mente continuariam em linha quebrada em torno do bordo.o espaco entre as caneluras e 0 bordo e preenchido por gra­nulos em relevo, a restante parte do vasa e ocupada parimpressoes em «ninho de abelhas» (Fig. 40).

Dimens6es: esp. de bordo, 7 mm ; esp. dos lados, 5 mm .

46 - F ragmento de bojo globular, acastanhado, pastacom fragmentos de feldspato. Ornamentacao: pequenos cir­culos impressos, duas series de duplas caneluras arqueadas,levemente incis as , separadas por impress6es em «ninho deabelhas» (Fig. 41).

Dimens6es: esp., 8/10 mm.

264 Contribuir;oes pam 0 Es tu do da Ant r opo logia Portuguesa

47 - Fragmento de vasa (ombro), negro, pasta fina ,Ornamentacao : duas caneluras paralelas, levemente incisas,formando arcos sucessivos e delimitando um espaco preen­ch ido por circulos impr essos (Fig. 42 ).

Dimensoes : esp. , 5 mm.

48 - Fragmento de vasa (ombro), castanho amarelado,pasta com fragmentos de quartzo. Ornamerrtacao : duas le­yes can eluras paralelas , em linha quebrada , formando suces­sivos angulos preenchidos por circulos impressos e separa­dos por impressfies em «n inho de ab elhas». Junto do ver­tice superior fo rmado pelas caneluras, um botao cilindricocom covinha (Fig . 43) .

Dimenso es : esp., 6/9 mm.

49 - Fragmento de bojo globular , negro, face internaavermelhada, past a com fr agmentos de qua rt zo e feldspato.Ornament a.ao : dupla canelura , levemente incisa, separandocirculos impressos de uma superficie cober t a por-Jmpres­sees juntas de ca rimbo dent ado. Um bot ao cilindri co comcovinha (Fig. 44) .

Dimensfies : esp ., 4/6 mm; esp. no lugar do botao, 9 rom.

50 - Fragmento de vaso, negro, pasta com pequenosfragmentos de quartzo e feldspato . Ornamentacao : duptacanelur a em linha quebrada, levemente incisa, delimitandocirculos impressos. Um botao cilindrico liso no vertice dascanelur as (F ig . 45) .

Dimens6es : esp., 5 mm; esp. no lugar do botao, 10 mm.

51 - F r agmento de vaso, colo direito, esvasado, bordoem bisel, acastanhado com partes mais ac inzent adas ou ne­gras, pasta com eleva do nume ro de fragmentos de feldspato.Ornament acao : colo dividido em partes t otalmente preen­chidas por ondulados ir regulares incisos , separadas porespacos lisos, delimitados per cane lur as. A separar 0 colo.dos ombros, um a leve canelura . Num dos espacos lisos e

A estacao arqueotoaica da antiga Banza Qu.ibaxe 265

possivel distinguir-se uma pictografia (?) incisa represen­tando um reptil ou ser antrop6ide (Fig. 55) .

Dimens6es: esp. do bordo, 6 mm; esp. do colo, 10 mm;esp. do bojo, 11 mm; alt. do colo, 50 mm ;diam. da boca (aproxirnado) , 240 mm .

52 - Fragmento de colo, convexo, esvasado, bordo con­vexocom inflexao interna, negro, pasta com fragmentos dequartzo. Ornamentacao: incisoes em zig-zag, arqueado in­eiso ao longo do bordo (Fig. 56) .

Dimens6es: esp. do bordo, 8 mm; esp. dos lados, 7 mm;alt. do colo, 37 mm ; diam. da boca (apro­mado) , 190 mm.

53 - Fragmento de vaso, colo direito, esvasado, bordoem bisel, acastanhado, ligeiramente enegrecido na face ex­terna, pasta com abundantes fragmentos de feldspato. Orna­mentacao: tres caneluras paralelas (Fig. 57).

Dimens6es: esp. do bordo, 8 mm; esp. do colo, 12 rnm;esp. dos ombros, 11 mm; alt. do colo, 25 mm;diam, da boca (aproximado), 210 mm.

2.2.1. Analise da eeramica

2.2.1.1. Formas de oasos e suas partes essencuiis

Como nao recolhemos nenhum exemplar intacto, uma clas­sificacao tipol6gica, de caracter essencialmente formal, enecessariamente hipotetica e carece de futuras correccoes.A partir dos elementos disponiveis consideramos seis formasde vasos.

A - 'raga esferoidal de abertura estreita, bordo direitoespessado na face interna, provida de respigas, fundo ex­terno com depressao digital, totalmente ornamentada. Alemdo fragmentado exemplar 14-15 podemos considerar comopertencente a um vasa deste tipo 0 fragmento n." 45. A pastanos dois casos tem fragmentos de quartzo.

266 Contribuigoes pam 0 Esiudo da Antropologia Portuguesa

B - Vaso globular (?) com colo direito ou convexo, dealtura variavel, bordo bise lado sempre para ° int er ior dovas o. Ornamentacao : predominantemente canelada (7 exem­plares) au com outros motivos: axadrezado com engobe ne­gro, zig-zag, folhas compostas, impressoes ovaladas, incisoesirregulares, motivos sobrepostos, impressfies irregulares ,meandros , impress6es de carimbo dentado, representadospor um so exemplar. Integram-se nesta forma, 17 pecas(n .os 4, 16, 18, 21, 22, 24, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 39, 43,51 e 53). A excepcao do n." 35 de pasta relativamente finae do n.v 4 micacea, a pasta dos vasos deste t ipo tem abun­dantes fragmentos de quartzo e feldspato.

C - Vaso globular (?) com colo convexo ou acen­tuadament e direito, bordo convexo com inflexao in t erna.A ornamentacao predominante e 0 axadrezado obliquo(5 exemplares) em dois casos coberto de engobe negro;o motivo em zig-zag ornamenta dais fragmentos. 0 exem­plar tipo e 0 n." 1, entrando tambem neste grupo os exem­plares n.OS 2, 3, 5, 7, 9, 20, 52. Na maior parte dos vasosdeste tipo, a pasta contem mica associada ao qu artzo,havendo um s6 caso com fel dspato e outro com quartzo efeldspato. 0 elemento definidor deste grupo e 0 caracte­ristico bordo.

D - Vaso globular (?) com colo direito e bordo convexo.A ornamentacao pode ser em axadrezado com ou sem engobenegro (3 exempla res ) , zig-zag, covinhas hemisferoida is epontilhado. Incluem-se neste grupo seis exemplares (n.os 6,8, 17, 19, 40, 42) .

E - Vaso globular (?) com bordo revirado para fora(n.v 23) .

F - Tigelinha ornamentada com bordo convexo (n.v 37)ou em bisel (n .v 38). Pasta negra fina ou castanha t errosacom pequenos fragmentos de feldspato. Ornamentaeao muitodelicada em caneluras, granulos em relevo ou carimbo comdent ado finissimo e coloraeao negra.

A estaciio ar queo ioqica da antiga Banza ousbtuoe 267

COLOS E BORDOS (19)

A altura dos colos varia entre as 25 e os 55 milimetros.Sao convexos em cinco casos e acentuadamente direitos nosrestant es. A exemplo dos fragmentos mais completos seriamesvasados por terem as lados divergentes relativamente aoeixo vertical do vaso. a diametro da boca andaria mu ito pro­vavelmente ent re as 110 e as 240 milimetros.

as bordos bis elados sao mais estreitos do que as paredesdo colo, a excepcao de dois casos - 24 e 39 em que sao maisespessos. Nas t aeas os bordos tern uma espessura maiordo que as pa redes, 0 mesmo acontecendo, como e evidente,com as colas de bordo convexo com inflexao interna. as bor­dos convexos sao mais estreitos que 0 colo, excepto 0 don.v 19 que e mais espesso.

Encontram-se as seguintes tipos de colos e bordos :

1 - Colo direito com bordo em bisel ou bis elado,15 exemplares .

2 - Colo convexo com bordo em bis el ou biselado,2 exemplares.

3 - Colo direito com bordo convexo, 6 exemplares.4 - Colo direito de bordo com inflexao interna,

5 exemplares .5 _ .Colo convexo e bordo com inflexao interna,

3 exemplares .6 - Bordo revirado para fora com labia direito,

1 exemplar.7 - Bordo direito com espessamento na face interna ,

2 exemplares.

A. excepcao dos exemplares nao decorados, a bordo distin­gue-se relativamente do colo ou do ombro par um friso deco­rativo distinto que 0 acentua au por uma faixa nao orna­mentada .

A ligacao entre a colo e a ombro e feita par angulo bemmareado.

(19) 0 bordo e a parte do vaso que limita a boca . A parte dobor do onde a face interna se junta com a face ex terna recebe a desig­nacao do labio. AUMASSTP, 1975 , nota 51, p. 309.

268 Contribuic;oes para 0 Estudo da Antropologia Port uouesa

BOJOS

Numerosos fragmentos recolhidos permitem afirmar aexistencia de bojos de caracter esfe roidal.

roNDOS

o fundo convexo com depressao digital foi 0 unico tipoque conseguimos reeolher.

SISTEMAS DE PREENsA.o

- Respigas vertieais (orelhas de preensao). Dois exem­plares no mesmo vaso.

2.2.1.2. A ornameniaoio

A - A lis a men to e polimento

Apesar do grande numero de fragmentos se apresentar,devido a erosao, com superficies asperas e deixando ver osmateriais nao plasticos, e possivel encontrar indicios segu­ros de qu e a maior parte dos vasos t eriam sofrido eu idadosoalisament o que, sendo uma tecnica de acabamento, obedeceigualmente a uma incontestavel intencionalidade estetica.

Quanto ao polimento que se obtem depois da pasta jaendurecida pela secagem , nao podemos afirmar , segura­mente, a sua aplicacao na cer a-mica em estudo.

B - Ornamen tacao marcada na paata

1. INCISA

1 - Bandas de caneluras paralelas (7 exemplares, n, > 31a 36 e 53).

2a - Duplas caneluras levemente incisas em linha que­brada, (1 exemplar, 14) .

2b - 2a delimitando decoracao impressa ou em relevo(3 exemplares , 45, 48, 50) .

A esiaciio arqueo loqico. da antiga Banza Qu,ibaxe 269

3 - Duplas eaneluras levemente ineisas em areos suces­sivos delimitando decoracao impressa (1 exemplar, 47) .

4 - Banda de ondulados (Wavy line) irregulares(1 exemplar, 51).

5 - Arqueado inciso ao lange do bordo (1 exemplar, 52).6 - Bandas de axadreza do diagonal (13 exemplares, 1

a 13) .7 - Bandas de zig-zag (4 exemplares, 16 , 17 , 20, 52) .8a - Banda de incisoes em espinh a com 0 vertice vol­

tado para a direita (1 exemplar, 19).8b - Bandas paralelas de incisoes em espinha (3 exem­

plares, 25, 26, 27).9 - Incisfies obliquas preenchendo 0 colo (1 exemplar, 22).

10 - Pictografia (?) incisa (1 exemplar , 51) .

2. ESTAMPADA

11- Linha de pontilhado impressa (1 exemplar, 42).12 - Series paralelas de covinhas hem isferoidais (1 exem­

plar, 40).13 - Covinhas hemisferoidais disp ostas em triangulo

(1 exemplar, 41) .14 - «Virgulas» impressas ao lange do bordo (1 exem­

plar, 1) .15 - Arcaturas impressas ao lange do bordo (1 exem­

plar, 5) .16 - Impressfies obliquas ao longo do bordo (5 exem­

plares, 3, 4, 7, 8, 9) .17 - Impressoes irregulares preenchendo 0 colo (1 exem­

plar, 39) .18 - Impress6es cuneiformes ao lange do bordo (4 exem­

plares, 2, 6, 17,20).19 - Series vertica is de impressoes ovaladas (1 exem­

plar' 21) .20 - Folhas compostas (1 exemplar, 18 ).21- Circulos impressos (6 ex:emplares, 43, 46, 47, 48 ,

49, 50).22 - Series obliquas, separadas, de impressfies muito

finas de carimbo dentado (1 exemplar, 43 ) .

270 Contribuic;o6S para 0 Estudo da A nt ropo logia Portuouesa

23 - Series obliquas, juntas de impress6es muito finasde car imbo dentado (1 exemplar , 38).

24 - Superficie coberta de impress6es juntas de carimbodentado (1 exemplar, 49).

25 - Superfic:ie coberta de impress6es obtidas par ca­rimb o com dentado muito fino (1 exemplar, 44) .

26 - Motivo em «ninho de abelhas» (3 exemplares , 45,46, 48).

27 - Series verticais de chamejado muito fino obtido porcar imbo de bordo arredondado e dentado (1 exemplar , 14-15).

28 - Impressao basal digit ada (1 exem plar , 15) .

C - Motivos sobrepostos

29 - Bandas de caneluras paralelas com incis6es em es­pinha sobrepostas (3 exemp lares , 24, 25, 29) .

30 - Canelura preenc h ida por golpes muito finos(1 exemplar, 14) .

D - Ornamentaeao em relevo

31- Botao cilindrico com covinha (2 exemplares, 48, 49) .32 - Batao cilindrico lisa (1-50) .33 - Granules em relevo (2-37, 45) .34 - Re spigas f ixadas junto ao bordo (2-14 ) .

E -Engobe

o engobe tern uma funcao estetica e utilitaria (imper­miabilizaeao) .

Quatro exemplares (1, 5, 38, 41) , de past a castanha, ternas duas faces coloridas de negro. No exemplar n." 8, 0 in­duto negro foi da do apenas na face externa. Em tres exem­plares (3, 13 , 17) e apenas visivel na face interna. Note-seque, a. excepcao dos exemplares (17, 38, 41), 0 englobe negrofoi aplicado sobre vasas com axadrezado diagonal previa­mente inciso.

A esi actio arqueotoa ica da antiga B amea Qu,ibax 6 271

2.2.1.3 - 'I' ecnicas de ornameniaciio

Para 0 estudo das tecnicas decorativas, baseamo-nos naos6 em estudos publicados como em obs ervacfies directas dosdive rs os processos de ornamentacao ainda utilizados pelosoleiros da actual Banza Qu.baxe, Cons ideraremos, sempreque possivel, 0 momento da aplicacao do elemento decora­tivo, 0 tipo de instrumento uti lizado e 0 gesto que 0 aplica .

o alisamento~ com que se procura eliminar pequenas irre­gular idades das paredes da vasilha, diss.mular melhor osmat er iais na o plasticos e, enf im, t orna-la mais bela, apli­ca-se enquanto a pasta se encontra maleavel. Durante amontagem de uma vasilha, constatamos que 0 oleiro con­segu ia 0 alisamento passando mais do que uma vez, sobreas paredes , um pano embebido em agua, os dedos, uma facadelgada, estreita e ponteaguda de folha de pa lmeira e porfim as maos molhadas.

Durante muito tempo, pensou-se que as caneluras eramobtidas por excisao, utilizando-se uma especie de golva,Actualment e, admite-se, no ambito da olaria africana, quea maier parte das caneluras seriam facilmente obtidas porinc isao (20), empregando-se para 0 efeito um caule com aextremidade romba ou arredondada, uma cana com a extr e­midade romba , a face vegetal ja referida ou mesmo um dedo.

o oleiro conduzia 0 marcador mais ou menos obliqua­mente as paredes do vaso (excepeao provavel do exemplo 35),num movimento continuo, com mais ou menos pressao rela­tivamente ao ti po de canelura pre t endida e ao endurecimentoda pasta.

A canelura larga e angular do fragmento n.v 29 podiater sido incisa com urn: objecto rectangular, aplicado obli­quament e sobre um dos angulos. As caneluras mais leves(exemplo 10 a 14, 25, 43 e 50) deviam ter sido feitas sobrepasta ja endurecida pela secagem. As caneluras largas emais profundas pressupfiem uma pasta bastante maleavel,

(20) H. CAMPS-FABRER. 1966, 'P. 43 4 ; P HILLIPSON. 1968 , p . 207 ;H UFFMAN, 1970, p. 5.

272 Oon t r ibuig5es para 0 Estudo da Antropologia Portugu esa

Para fazer 0 axadrezado bern como os motivos em zig­-zag e em espinha, e provavel que se tenha utilizado urn tipode faca vegetal muit o delgada ou mesmo urna lamina deferro, no caso do axadrezado finissimo, sobre uma pastaendurecida pela secagem .

No zig-zag, 0 gesto inicia-se da esquerda para a direita,mas no colo n ." 16, 0 oleiro procedeu de maneira inversa ,

Na decoracao estampada utilizaram-se carimbos diversos,naturais , de origem vegetal (caules variados) e animal (ossos),ou fabricados como 0 carimbo dentado (pente de oleiro) quese pode ser frontal ou lateral, conforme os dentes sao talha­dos na aresta menor ou maior.

Para obter 0 pontilhado empregar-se-ia urn caule afiladoque se aplicava repetidamente sobre a pasta. As covinhashemisferoidais conseguem-se facilmente com urn caule auosso boleados.

As «virgulas» podem ser impressas com urn simplescaule oco, fendido longitudinalmente, e aplicado mais sobreurn angulo.

As arcaturas podem ser im,pressas com urn carimbo dearestas arredondadas na pasta ainda maleavel.

Quanto as impressoes obliquas, que sublinham 0 bordo,conseguem-se ou com a aplicaeao simples na pasta dumafaca veget a l (frag . n. s 7) ou entao com 0 mesmo objecto,mas usando a t ecnica «st ab and drag» que consiste nurnmovimento vertical de impressao do carimbo que se retiracom urn ligeiro movimento lateral (21).

Esta te cnica que se socor re s imultaneamente da impres­sao e de urn comec o de inc isao, ter ia sido utilizada nosfragmentos n.OS 3, 4, 8, 9 e provav elm ent e, na obtencao domotivo em folhas compostas.

Com a faca vegetal citada, conseguem-se facilmente asimpressoes irregulares do exemplar n." 39.

As impressoes ovaladas (exemplar 21) obtiveram-se comurn ca rimbo de seccao ovalada.

As impressoes cuneiformes podem ser feitas com urncarimbo de seccao t riangular ou quadrangular, aplicado,em qu alquer dos casos, obliquamente sobre urn dos vertices.

(21 ) H . CAMPS-F ABRER, 1966, p. 435.

A estaciio arqueoloqica da antiga Banza Qu.ibaxe 273

As series de cir culos imprimem-se com urn caule oco degraminia aplica do sucessivamente antes da secagem .

Urn carimbo dent ado, frontal, com dentes finos, foi uti­lizado na obtencao das impress fies de pente de ole iro, obli­quas, separadas ou juntas, pressupondo-se, nest e ultimocaso, urn ges t o paciente e cuidado. 0 carimbo dentado apli­ca-se sempre molhado e a perfectabilidade da impressaodepende bastante do grau de secagem da pasta.

Um problema interessant e e levantado pelas largas super ­ficies cobertas por impressfies muito juntas de carimbo den­tado. Teria s ido este tipo de ornamentacao cons eguido comurn obj ecto semelhant e a urn rodizio dentado (carretilha ) ?Nao ha dirvida que seria facil obter essa decoracao com umacarretilha, mas e a inda muito problematico afirmar a exis­tencia de urn carimbo tao aperfeicoado tanto no neoliticocomo nas culturas da Idade do Ferro inicial da Africa Negra .Inclinamo-nos , na esteira de outros estudiosos da ceramicaafricana, para a utilizacao de urn carimbo dentado latera lou , como nos pare ce muito provavel, de urn pente arredon­dado .(22) , 0 que nao deixa de ser urn sector de carretilha .Urn carimbo deste tipo , obtem-se facilment e dum fragmentode cabaea.

Ques t ao semelhante se poe relativamente ao belissimochamejado impressa no vas a n .v 14. As diversas variant esdeste mot ivo ornament a l dependem do genero de car imboutiliza do , do mo do como se aplica a tecnica de impressaor odante e da moleza da pas ta.

Podem-se ut ilizar ca r imbos naturais como por exemplouma concha (cardium ) ou ° aguilhao serrilhado da barba­tana peitoral do siluro (23) ou entao urn carimbo fabricadoque pode ser urn pente de oleir o com 0 bor do dentado rna isou menos convexo. Quanto mais arredondado for 0 carimboma is acentuado sera 0 curvamento do chamejado. Tambem

(22) Dist inguim os urn carirnbo dentado arredondado, que tern 0

dorso direito e 0 la do onde fora rn talhados os dentes convexo, de urnca r irnbo dentado curvo que t ern 0 dorso arqueado.

(23) T rata-se de urn peixe das regi5es quentes tambem conhe­cido por epetxe-ga tos (silu re , cypriniforrnes).

274 Oontribuir;6es para 0 Estudo da Antropologia Portuguesa

se poderia utilizar uma carretilha, mas a sua aplicaeao realnao esta, como dissemos, comprovada.

Note-se ainda que se se empregar urn carimbo de bordodireito nao se obtera urn chamejado mas urn denteado.Os dois motivos distinguem-se facilmente, pois enquanto 0

chamejado e mais ou menos curvo, a denteado e direito.A tecnica de impressao rodante (impression pivotante)

consis te em imprimir alternadamente urn angulo e depoisoutro, rodando 0 carimbo sabre ele proprio num gesto con­t inuo ou seja, sem retirar 0 carimbo das paredes do vasa (24).

o tipo de chamejado pode variar com a amplitude e arapidez do movimento de rotaeao.

o eixo do chamejado, aplicado horizontalmente, curvar­-se-a para a esquerda, no sentido da progressao da estam­pagem aplicada com a mao direita (25). No chamejado ver­tical, aplicado num vaso, de cima para baixo, 0 eixo curva-separa 0 fundo.

A moleza da pasta tern grande importancia no modo rnaisou menos perfecto como sao impressos os angulos. Urn certograu de secagem impede 0 empastamento.

A partir destes dados, podemos dizer que 0 flamejadovertical do vasa n." 14 teria side obtido com urn carimbo dedentado fino, ligeiramente arredondado sobre a pasta. endu­recida, utilizando-se a tecnica de impressao rodante, rapida,com pequeno angulo de rotacao, e progredindo no vaso decima Ipa ra baixo.

o motivo em «ninho de abelhas» parece ter sido obtidopor meio de urn carimbo dentado que se aplicaria sucessi ­vamente sobre a pasta bastante mole.

A covinha basal, teria sido conseguida por pressao dopolegar.

Processo diverse foi utilizado para obter as depress5escirculares e maiores da olaria recolhida na estacao Dl-Qui­baxe que exigiram, com certeza, urn carimbo adequado.

A ornamentacao em relevo aparece-nos associada a du­plas caneluras incisas em linha quebrada. Qualquer dos

(24) H. CAMl'S-FABRER, 1966, p . 439.

(25) Idem, p . 443.

A estaciio arqueol6gica da antiga Banza Qu,ibaxe 275

motivos foi colocado sobre ou junto de urn dos angu lossuper ior es formados pelas ca nelur as.

a modo como uma respiga se separ ou do vasa faz-nossupor que t er ia s ido aplicada e nao moldada . as bot6est er iam sido igualmente fixados.

as granulos em r elevo pode m ser executados segundoduas teen.cas, tal como explica Schofield a proposito domesmo motivo presente na ceramica Zu lu (26) .

A pratica mai s recent e consiste em fazer pequenas bo­linhas de barre e pressiona-Ias contra as paredes do vas aant es da cozedura.

No pr ocesso primitivo, os granules eram fixados em finosgravetos que s e espetavam nas paredes da vasilha, sendoesta, segu.damente, alisada por dentro.

A tecnica utilizada na ceramica em estudo foi a primi­tiva , pois no inter ior da ceramica ainda e possivel observaras mar cas deixadas pelos gravetos .

a engobe e uma refinada te cn. ca decorativa que me lh or aou alt era a cor superficial e aperfeicoa 0 tacto das cera­micas . Simultaneamente, const it ui uma tecnica de imper­meabilizacao que pr ocura suprir a porosidade das vasilhasnomeadamente das que se dest.n am a transportar e guar­dar Iiquidos.

a induto negro foi aplicado numa pelicula muito f ina ,homogenea e cromaticamente unif or me, 0 que nos permit esupor qu e 0 pigment o (27) seria insohivel e, portanto, a pli­cado numa suspensao (28) bastante concentrada e com altograu de aderencia,

(26) J . SCHOFIELD, 1948, p . 188.(27) 0 pigmento pode ser de origem vegetal (p6 de carvao j ,

mneral (oxido de fe rro negro) ou uma m istura de substancias dosdois tipos, como e 0 caso de composto corante utilizado pelas oleirasmacondes . Consis te esse composto numa mistura de terra (gres ricoem mica bi6t ica alterada) com p6 de earvao de madeira da arvore,nvphelo, qu e e raspada e mi sturada em agua, MARGOT DIAS, 1964, p . 83.

(28 ) Ao contrarto, os pigmentos soluveis (extraetos de plantas )sao absorvidos pela pasta e aplicados como solucoes. Estas po demser obtidas per infusao quando se emprega agua fervente ou po rmacera ca o quando a agua esta a temperatura ambiente.

276 Oontribukoes para 0 Estudo da Antropologia Portuguesa

Desmond Clark ao estudar dois fragmentos da ceramicaDundo (B ), com engobe negro, poe a hipotese deste tel' sidoconseguido com uma tinta vegetal (29).

Na realidade, em diversas etnias de Angola, 0 indutonegro obtem-se por aspersao ou indumento das vasilhas,depois da cozedura, com uma solucao de entrecascas ou rai­zes. A impermsabilizacao parece dever-se a resinas contidasnesses elementos vegetais qti.e se derretem em contacto como barre quent e, fechando-lhe os poros, ou entao aos acidostanicos que «exercern urn efeito prendente sobre 0 barro» (30).

No Alto Zambeze utiliza-ss uma maeeracao da entrecascada arvore mussombo (Syzigium guineense D. C.)) sendo aaspersao feita com ramos verdes da mesma arvore, e naLunda, uma variedade de Syz:gium benquellenese Engl. igual­mente macerada (31 ) . Em C'abinda faz-se uma infusao coma entrecasca do arbusto kimbanzi) muito rica em tanino eque se aplica, embebida num pano, sobre a peca aindaquente (32) . Os oleiros de Cangamba us am as raizes mace­radas de uma planta designada mutipa (33) e os Mussuron­gos uma infusao das raizes de uige (Hydnora longicol­lis?) (34).

Na louca actual da Banza Quibaxe pudemos observar 0

uso generalizado da coloraeao vermelha obtida com a solu­~ao de urn pigmento de origem vegetal. So encontramos acoloracao negra nalguns moringues (do Kimbundo: mudinge)bastante antigos. 0 engobe negro era feito com um pigmentode origem mineral, utilizando-se para 0 efeito urn mineriode ferro (?) designado ukusu que se raspava numa pedracom agua. A suspensao era aplicada, apes a secagem,.sobre a vasilha que depois se polia com uma pedra lisapara «a tinta entrar bern» (informe do oleiro CustodioMiguel-Aldeia) Teria sido esta a teenica utilizada na 'ola­ria em estudo?

(29) D. CLARK, 1968, p. 193.(30) MARGOT DIAS, 1964, pp. 101, 102.(31) JOSE REDINHA, 1967, p . 11.(31) JOSE REDINHA, 1967, p. 11; Idem, 1971 a), p. 22.(32) JOAQUIM MARTINS, 1968, pp. 19, 20.(33) A . DE MACEDO , 1968-69, p. 40 .(34) L. SALDANHA, 1968, p . 76.

A estaciio arqueoloqioa da antiga Banza Qu,ibaxe 277

A coloracao negra com funQoes impermeabilizantes podeigualment e ser obtida por polimento. as Zulus, por exemplo,esfregam as vasilhas, depois da cozedura, com uma mis­tura de folhas pisadas de U Vemvane (Sida rhombiioiu»).e fuligem peneirada. 'I'ecnica semelhante teria sido prova­velmente utilizada no enegrecimento da olaria M1 de Mapun­gue (35).

A grafitagem deixa nas paredes das vasilhas um lustronegr o de brilho prateado (ceramicas de Ingombe Ilede) (36).

Uma outra tecnica consiste na fumigacao dos vasos quese expoem ao fumo espesso (Quiocos, Angola) ou pousam,a aaida da cozedura, numa massa de folhagem, 0 que pro­voca a libertacao de fumos densos, ficando os recipientesem qualquer caso, com um sedimento de alcatrao deposi­tado (37).

2.2.1.4. A pasta - Materiais niio pkieticos e coloraciio

A maioria dos fragmentos de olaria tem adicionada apasta substancias nao plasticas (tempera, desengordurante,«opener») que sao claramente visiveis nalguns pedacos maiserodidos.

a quartzo e 0 feldspato apareceram associados na maio­ria dos casos - 13.

Mas, se por um lado ha predominancia de feldspato emonze fragmentos, de quartzo em oito e da mica num s6, poroutro, surgem claramente associados em dois exempla res 0

feldspato, a mica e 0 quartzo, enquanto que quatro deles s6associam a mica e 0 quartzo.

.Por vezes, os pedacos de quartzo e feldspato sao degrande tamanho. Em oito casos, os materia ls nao plast icossao insigniflcantes. Em tres casos a pasta e muito fina.

as elementos desengordurantes que 0 oleiro adicionoua argila para a «corregir» ou ja estavam nela contidos,abrem-lhe a textura, facilitam a montagem, proporcionam

(35) L. FOUCHE, 1937, p. 51; J. SCHOFIELD, 1948, pp. 19, 185 e 188.(36) B . FAGAN, 1970, p. 98.(37) J . SCHOFIEW, 1948, pp. 19, 20; J . REDINHA, 1966, p. 126.

278 Contribuil{oes pa,ra 0 Estudo da Antropologia Portuguesa

uma vaporizacao ma.s uniforme da «agua livre» durantea secagem e da «agua combinada» no decorrer da cozedura .Simultaneamente impedem ou atenuam as contraccces exces­sivas dos vasos e, portanto, as possibilidades de fenderem.

A elevada percentagem da tempera que na maioria doscas os se juntou a pasta, sugere-nos que esta seria dema­siado gorda, de secagem dificil e com tendencias a fender .A nat ureza da pasta e a montagem manual determinarama maior espessura de alguns fragmentos.

As cores que atribuimos as pastas atraves da observa­gao das respectivas superficies e secedes, nao sao absoluta­mente seguras , na medida em que nao nos foi possiveldispor dum ccdigo de cores.

A coloracao da olaria e funcao do tipa de argila ondevaria a quantidade de oxide de ferro e podem estar presen­tes mater ias organicas: das condicoes de cozedura (at mos­fera, tipo de combustivel, temperatura, duracao) e, comoja vimos, da aplicacao pelo oleiro de eoloracoes antes dasecagem ou depois da cozedura. Temos ainda a cons .deraralteracoes posterior es devidas a sua utilizaeao, aos solos comque esteve em contacto por longos periodos e a erosao pro­vocada por chuvas e queimadas.

A ceramica em estudo apresenta-se superficialmente al­t erada pelo demorado contacto com 0 solo argilo-ferrugi­noso e, alguns exemplares foram bastante erodidos 0 quemotivou 0 desgaste da ornamentacao e 0 aparecimento dosmat er ia ls nao plasticos.

A cor predominante na pasta e a castanho com t onsterrosos amarelados ou avermelhados (26 exemplares) . Dozeexemplares, incluindo os f ragmentos ma is finos (12, 37,47, 50) , tern a pasta negra. Dais (30, 36) apresentam apasta amarelada e ha dois (34-42) que sao cinzentos escuros.

Na generalidade dos casos , a cor distribui-se uniforme­mente por toda a espessura dos vasos .

Tres exemplares, porem, t em a pasta cas tanha averme­Ihada com 0 ceme enegrecido, 0 que pode significar queo carbona so foi queimado a superficie devido as deficien­cias do combustivel, da temperatura ou do tempo de coze­dura.

A estactio arqueotoaica da antiga Banza Qu,ibaxe 279

A presenca de olaria negra indica um coz.rnento em fogoredutor (p ouca oxigenaeao) 0 que depende do t ipo de com­bustivel utilizado e da t emper atura alcancada,

2.2.1.5 Tentativa de analise funcional

Se exceptuarm os casos relativamente raros de modela­gao desint eressada de certas imagens , a olaria africana servepro p6sit os utilitarios especificos.

Constata-se, porem, facilmente, que dentro do mesmogrupo cultural urn determinado tipo de vasa pode ter variasutilidades e que uma tarefa e frequentemente executada comvasos de form as difer entes , Se a este fa ct o juntarmos 0

estado f ragmentario da ceramica de que nos ocupamos, ve-seque e praticamente impossivel uma determinacao correct ados modos de utilizacao dos diversos tipos de vasos con­sider ados. Mas a disparidade de caracteristicas encontra ­das, a existencia de formas especializadas e a comparacaocom vasos recentes cuja funcao e conhecida, sugere-nos al ­gumas hip6teses class ifi cativas.

A taca esferoidal pod.a ter side utilizada para cozinharvegetais ou mol hos, nao sendo de excluir urn us o cerimo­nial. A maior parte dos vasos do grupo B serviria paraprepar ar alimentos ao fogo. As ceramicas com engobe negr odos grupos C e D poderia m ser incluidos na categoria dosvasos destinados a liquidos . As tigelinhas (grupo F) ser­vlr iam para condimentos ou remedios, As ceramicas combot des e tripla covinha hemisferoidal estariam relaciona­das com a terapio-magia ou mesmo com fungoes magico­-religiosas.

2.2.2. Compar acoes morfolegicas da ceramlca - 0 problemacronologico

N ao ha duvida que procurar t irar conclusoes baseando­-nos unicamente em comparacoes morfo16gicas e bastant eperigoso, E m Africa, 0 problema acentua-se, po is existe umalonga sobrevivencia e uma vasta difusao de certos padroes

280 Gontribuiqoes pam 0 Estudo da Antropologia Portuguesa

antigos , aliados a uma enorme var iedade de t ipos, que sedeve as facilidades plasticas oferecidas pelas argi las. Pro­curaremos, sempre que possivel, t er em conta relativamentea cada peca todas as suas caracteristicas. Comecemos pelabela taca esferoidal que e 0 exemplar melhor definido peloconjunt o de elementos que .dele possuimos.

Ignoramos ate agora 0 aparecimentno de qualquer vasadeste modelo noutras estacoes arqueol6gicas da Idade doFerro na Africa Austral. Ele oferece, porem, urn conjuntode element os bastante caracteristicos dos estilos ceramicosde tradicao dimple based (38) .

o sis tema de preensao por respigas verticais nao perfura­das apa rece na ceramica neolitica da Africa Oriental (NjoroRiver Cave) (39), onde ha t ambem exemp lares perfurados ,e na olaria dos Hotentotes (40), que tern grande semelhancacom aquela (41) . No ambito da Idade do Ferro, conhecemosurn exemplar de respiga vertical nao perfurada, da ceramicado . Grupo ill, recolhida na Gruta Dimba, regi ao de 'I'hys­ville (Baixo Congo) (42) (Fig. 7).- - Bequaer t recolheu em Tschienda Cave (Bushimaie; Kasai)

fragment os de vasos, provavelmente nao muito ant igos, ondefigura urn tipo de respiga nao perfurada, mais ou menos ver­tical e que parece nao t er qualquer finalidade de preensao; 'servindo apenas como elemento decorativo (43).

, A cuidada dep ressao basal (25 mm -diametro) , levementeovalada, difere . muito dos tipos de depressao recolhidos

(38) Est e termo «dimp le base> t em s ldo encarado com reservaspor. a lgunsautores qu e nao 0 a ch am inteiramente satisfat6rio. Argu­m entam que apesar do rundo com depressao digital '(dimple base) e~is - ­

til' em muitos dos vasos classificados como tal, ele nao e de maneiranenhurna universal pols ha vasos «dim ple base» sem 0 caracteristi cofun do. Criticam a inda a utilizacao de maslado la rg a do term o paraclass ifi car grupos de ceramica da Idade do F erro Inicial que, a pesar :de relacionados com 0 grupo Dimple Based (Grandes L ag os ) , sao,no en tanto, diferentes. J. SU'l"l'ON, 1971, pp. 152, 153.

(39) N eolitico de Njoro River Cave: 980-970 B. C.(40) J . SCHOFIELD, 1948, pp . 56 a 70 .

. (41) B . FAGAN, 1970, p. 48.(42) G. MORTELMANS, 1962, p . 415 , P I. IV, p. 424.(43) J . NENQUIN, 1971, p . 190.

A estaQcio arqueoloqica da antiga Banza Qu,ibax e 281

na estacao arqueol6gi ca DI-Quibaxe. Ai, a covinha basalestampada em va sos com pa re des par ticular mente espessas(10-19 mm) , apresenta-ss for t emente impressa, sendo cir­cular e maior nos exemplares 18, 19 e 21 (30-40 mm ) , poucomarcada e mal dis tinta no fragmento 20 (44).

A depressao basa l da taca em estud o tern 0 mesmo dia­metro e e ident ica a do vasa n .v 4 encontrado no Lupemba­-Kasai (Tshikapa) , Republica do Zair e que, apesar de serdum tipo comp let ament e diverso, ap resent a uma espessura delados muito aproximada (3-5 mm) . a vasa n." 1 de Lupemba­-Kasai tern paredes com esp esu ra de 7-8 rom e uma covinhabasal (40 mm) semelhante a dos fundos 18, 19, 21 da esta­~ao Dl-Q uibaxe (45) .

_Numa das fossas do cemiterio proto-hist6 r ico de Katoto(Vale de Lualaba), Republica do Zai r e, apa receu uma t acade abertura larga e bordo biselado com uma depressao basalde 26 rom de diametro (46) . Mortelmans incluiu na Cera­mica do Grupo I , recolhida na gruta Dimba , urn t ipo de vasaconico, de fundo pontiagudo qu e termina pOI' uma covinhacom 35 mm de diamet ro e qu e se pode considerar mais pro­xima das depress6es basais da cera-mica Dl-Quibaxe (47) .No entanto, uma t aca classificada no mesmo grupo apre­senta, no fundo, uma dep ressao qu e nos parece semelhante3:-do vasa em estudo (48).

No Leste Af'ricano, as depressoes mais del icadas sao fre­quentes no grupo Dimple-based (Lago Vit6ria), enquanto asmais descuidadas aparecem vu lgarmente no grupo Kwale(sudeste do Quen ia e nordeste da Tanzania) (49) .

- No Museu Etno16gico do Ult ramar pudemos observar,gracas a gentileza do etn6logo Benjamim P ereira, umapanela negra , polida, dos Songos (Grupo Kimbundo) queostenta no fundo convexo uma covinha digital bem-mar­cada (peea AM-223) .

(44) R. MARTINS, 1973, p. 135 , f ig s. 60, 61.

(45) J. NENQUIN, 1959; R. M ARTINS, 1973, p . 135.(46) J. H IERNAUX, E . MAQUET e J . DE B UYST, 1967, pp _ 155, 156.

(47) G. MORTELMAN S, 1962, pp. 411 , PI. II, p. 42 2.

(48 ) Idem, PI. III, p . 424.(49 ) J . S UTTON, 1971 , p . 154

282 Contribui/}oes pam 0 E studo da Antropo logia Po r tuouesa

A covinha digital, no fundo dos vasos, deve simboliza ralgo provavelmente relacionado com 0 caract er antropo­morfico implicit o as vasilhas de barre dos povos bantos eclaramente explicitado nas designacoes atribu:idas as suaspartes essenciais.

A dupla canelura incisa em linha quebrada, motive queaparece em torno da parte superior dest a t aca e nos exem­plares 45, 48, 50, encontra paralelo na decoracao dum vasado Grupo NI da gruta Dimba (50) e noutros encont radosem tumulos do cemiterio de Katoto (tripla canelura ) (51).

o chamejado obtido por impressao rodante que cobrepraticamente todo 0 vaso, e um motive decorativo, genera­lizado na ceramica neolitica do Saara, nomeadamente nasregiOes oriental e central (Sudao, Tibesti, Tassili, AjjersAhaggar ) (52). A bibliografia consultada nao nos assina­lou 0 ap areciment o deste tipo de impressao em estacoes daIdade do Ferro da Africa Austral.

E de salientar que a maier parte dos vasos de fundocom depressao (Grupo I), da gruta Dimba, sao preliminar ­mente decorados com penteado que cobre toda a superficiee rel eva a covinha basal (53) .

Na ceramica Quioca do Tchiboco sao frequentes um den­teado e um chamejado (?) obtidos por impressao de umpente de oleiro ou, mais frequentemente, dum car imbo dearesta f'ina elisa. Nao nos podemos pronunciar segura­mente sobre a tecnica utilizada, mas a observacao de umapanela do Museu Etnologico do Ultramar (peca AE-628),faz-nos supor que se empregou a impressao ro dant e (54) .

Podemos concluir que na taca em questao participamelementos caract eri st icos da Idade do Ferro inici al da Africa

(50 ) G. MOl(TFLMANS, 1962, pp. 414 e 424, P I. IV no a lt o a direita.(51 ) J . HrERNAux, E . MAQUET e J. DE BUYST, 1967, pp . 14 9 (P I. I),

p . 150 e Fig. 3 (15).(52 ) H. CAMPS-FAHRER, 1966, p. 443.(53) G. MORTELMANS, 1962, p . 410, PI. III, p. 424.(5 4 ) 0 denteado representa 0 rasto deixado pelo m irlapode Con­

golo ( lwano wa Oonqolo) , Marie-Louise Bastin des gna este m otive po r«s inuosidades». J . REDINHA, 1955 (2. - parte), p . 193; BASTIN, 1961,T a blea u I, pp. 127, 275 (n. o 8), PI. 8.

A est aciio arqueoloqica da antiga Banza Qu,ibaxe 283

subsaar iana, como sejam a depressao basal e as canelurasincisas e ainda elementos de tradicao neolitica: as r espi­gas verticais e 0 chamejado obtido por impressao rodante.A pr6pr ia forma geral do vasa e de raiz neolitica .

Debrucemo-nos agora sabre 0 conjunto de olarias queintegramos no Grupo B e ja definimos atras,

a s fragmentos de colos n.OS 31, 32, 33, 34, 53, total­mente preenchidos com caneluras largas sao muito seme­lhant es a outros que aparereram associados a bases comdepressao no sitio arqueol6gico Dl-Quibaxe (n.o. 5, 10, 13 ,14, 15) , (Figs. 50, 45, 57, 64).

Ceramica canelada com bordos em bisel e covinha digitalno fundo fo i recolhida no Lupemba-Kasai, nas regioes det radicao ceramica dimple-bas ed (Cavirondo, Quenia) e emCalambo (Zambia) (55) (56). De notal', porem, que nos gru­pos ceramicos citados , alem das caneluras t ere m sido inei­sas principa lmente nos ombros, aparecem bordos estreadosmult ibiselados ou biselados para 0 exterior, enquanto quenos exemplares ceramicos de que nos ocupamos, as cane­luras aparecem no colo e os bordos sao todos biselados parao inter ior .

A estacao arqueol6gica de Benf ica-Luanda deu ceramicacanelada, nao aparecendo, porem, fundos com depressao digi­tal (57) . Na olaria dos tumulos de Katoto urn dos motivosdecorat ivos mais frequentes sao as caneluras paralelas maisou menos largas (58) .

Curiosamente, os colos tot almente canelados encont ramestreito paralelismo na ceramica dos Hotent otes (59), 0 quenao signif ica , evidentemente, qualquer grau de parentesco.

(55) Apen a s do is exemplares de base com d epressao, B. F AGAN ,1970 , pp. 56, 57.

(56) Nas estacoes zarnbianas de Gokornere, Ziwa e Dambwa t arn­bern a pareceu ceramica canelada mas com ausencia absoluta de fun doscom dep r es sa o, HuFFMAN, 1970, p . 5; B , FAGAN, 197 0, pp. 55 , 56.

(57 ) S . J UNIOR e C . E RVEDOSA, 1970, F ig . 46, E st . XXIV ; F igs. 51 ,52, Est. XXVII; Fig . 53, E st. XXVIII.

(58) J . HIERNAUX, E . MAQUET e J. DE BUYST, 1967, p . 150,Fig. 3 (10) .

(59) J , SCHOFIELD, 1948, p. 62 (Pi. I, 4 , 13 , 14), p, 6,7.

2134 Gon trybuiqoes para 0 Estudo da Antropo logia Portiuniesa

as Quissamas, a 'SuI do rio Cuanza decoram com' cane;luras largas e fu ndas, incisas digitadamente, os colos degrandes va sos para agua (60) .

a colo ornamentado com folhas compostas tern afinida­des com .outros da estacao Dl-Quibaxe (Figs. 45, 48, 5<1,6!3)e 0 mesmo tema aparece num colo de tumulo n.s 1 de Qui­muquiama (Figs. 21 e 40) (61). Est e motivo nao surgenos grupos de ceramica onde predominam os vas es comdecoracao canelada e depressao no fundo externo.

as oleiros Amboins (Mbui-Grupo Kimbundo) da Gabelafazem vasos de fundo plano, ornamentados com este tipode folhas compostas (62) . Na estacao DI-Quibaxe recolhe­mosfundos planos, mas os actuais oleiros des ta regiao mode­l~rmas 'suas panelas e sangas (cantaros) com fundos con:vexes.

as pequenos circulos, impresses n os fragmentos de vasos(ombros) n.OS 43, 46, 47, 48, 49 e 50, nao foram aplicadost anto quanto podemos saber, na ola r ia de Tshikapa , Katoto,Dimple-base ou Calambo.

as actuaia oleiros da Banza Quibaxe fazem larga utili­zacfio deste motive que e tambem estampado pelos d is­tantes oleiros de Cangamba (Ngangela) (63) .

No fragmento de vas ilha n." 43 assim como nos exempla­res, 38, 44, 45, 46, 49, vamos encontrar impressoes muito fi­nas de carimbo dentado (pente de oleiro) (64) . Este tipodeimpressao e desconhecido na ceramic a Dl-Quibaxe, Lupemba­-Kasai, Katoto, Dimple-based. Exist e, porem, na olaria deTshienda Cave (Bush.maie, Cas ai) (65 ), em vasos dos Gru­pos I, ITI, IV, V das grutas Dimba-Ngovo (66) e nos gruposceramicos Kwale e Calambo (67 ) (F ig. 7).

(60) J. REDINHA, 1967, p , 2l.(61) .. R. .MARTINS, 1973.

(62) C. SERRAO e L . SALDANHA, 1967, p. 36.(63) A . DE MACEDO, 1968-69, p. 4l.(64) Na r eg lao de Quibaxe, os tumulos com m amoas de p edras

tern dado cera-m ica exube rantemen te orna me n ta da com marcas depente com dentes largos m ul to diferentes de olaria de qu e nos temosvindo a ocupar e cuja disc ussao i jcara para mais tarde.

(65) J . N ENQUIN, 1971, p . 190 .(66 ) Idem, pp. 191 e 193 .(67) HUFFMAN, 1970, p, 7.

A est aciio arqueol6gica da antiga Banea: Quibax e 285

Podemos afirma r que, na decoracao da cera-mica do GrupoQuibaxe, se aplicaram simultaneamente as tecnicas da inci­sao e da impressao, ambas faceis e naturais. As impressoesde car imbo dentado e que sao muito mais raras, Teria sidoeste tipo de carimbo adquirido posteriormente (68)? Umarespost a ab soluta e dificil, mas a taca 14-15 mostra clara­m ent e que os oleiros que faziam vasilhas com depressaobasa l ja usavam 0 pente e de forma sofist 'cada, pois atecnica de impressao rodante, alem de nao ser utilizadacorrentemente, e acompanhada de moviment os complexos damao, 0 que exige grande habilidade e mestria.

Tambern se constata que as impressoes, obtidas compente de dentes fines , aparecem, predominantemente, emvasos com fungoes especializadas, de paredes delgadas edecor acao em relevo.

Os ondulados incisos (Wavy line) (69) do vasa 51 exis­tern numa taca da cera-mica do Grupo IV da gruta Dimba (70) .Quant o a pictografia incisa no mesmo vaso, trata-se de urnmot ivo decorative, de caracter geometrico que representara,de fo rma muito estilizada, urn ser antrop6ide ou mais pro­vavelmente urn rept il, devendo t er urn significado simbolico.

.. Consideremos seguidamente os vasos incluidos no grupo Cpor terem 0 ca racteristico bordo convexo com inflexao in­t erna.

No tumulo n .> 1 de -Quimuquiama encontramos urn colocom este tipo de bordo, mas de inflexao mais ac entuada;

(68) 0 problema foi po sta r elativamente a s cerarruc as proto­-historicas d a Zambia e da Rodesia r esp ect .vamen te por BRIAN F AGANe ROGER SUMMERS. FAGAN informa que a grossei ra ceramica primi­tiva de Ingombe Il ed e, dec orada com motivos basea dos em leves cane­luras, decaiu com a pas sagem do t empo, sendo a decora cao m cisasubstituida por belas e delicadas Impressoes de carimbo dent a do,N a Rodesia, a ceramica canelada, caracteristica da :Idade do Ferroinic ia l. (Iron Age I) , seguiu-se, cerca de A . D . 400, urn novo tnp ode oJa ri a que nao e somente caneJada m as tambern tern Impressoesde carimbo com dentes quadrados (Gokomere, M ashonaland, Leopard's,Kop j e, Hillside, Northern 'I'ransval } , B. F AGAN, 1963 , p. 170 ; B. SUM­MERS, 1961, pp. 2, 3.

(69) 0 ondulado Incise (Wavy line) e caracteristsco do grandecomplexo neolitico saar o-su da nes. H . CAM,PS-FABRER, 1966, p . 520 .

(70) G. MORTE~MANS, 1962, PI. V. p . 425.

286 Contribui90es para 0 Estudo da Antropologia Portuquesti

decor acao em espinha, impressoes ova ladas ao longo dobordo e folhas compostas entre 0 colo e 0 bo jo (n.v 3,F ig. 40).

E st e tipo de bordo nao apareceu na estacao Dl-Quibaxee nao 0 conhecemos nos grupos ceramicos que incluernvasos com depressao basal.

o motivo decorativo prevalecente nos colos dos vasosdest e grupo e 0 axadrezado oblique que se encontra igua l­mente em colos com bordo convexo (n .os 6 e 8) e com bordoem bisel (n.v 4) . Este tema decorativo, caracteristico daceramica do grupo Dimple-based (71), foi inciso nos colosde 3 dos 4 vasos do Lupemba-Kasai e abunda na olaria deKatoto. Na estacao arqueol6gica de Benfica (Luanda) fo ­ram recolhidos colos preenchidos com axadredado irregulare obliquo (72).

Nos fragmentos 10-11, 12 e 13, aparecem faixas de axa­drezado, muito fino, delimitadas por caneluras paralelaslevement e incisas e estreitas. 0 tipo de axadrezado finissimodo exemplar n.s 12 tambem foi inciso num bojo da estacaoarqueol6gi ca de Benfica (73).

Nao encontramos olaria com axadrezado nem na est a­Qao Dl-Quibaxe nem mesmo nos tumulos com mamoas depedras.

As incisfies em zig-zag (ex. 20 e 52) aparecem iguai ­mente num colo com bordo convexo (n.v 17) e num out r ocom bor do biselado (n.s 16) . E ste motivo preenche urn colo(bordo convexo) recolhido no tumulo n.v 1 do Quimuquia na(Figs. 19 e 38) e urn fragmento ceramico da Estacao Arque o­l6gica de Benfica (Est. XXIV, Fig. 47) . Aparece frequen­temente na olaria dos tumulos do Katoto (74) e, segundo

(71) No Leste Af'ricano 0 axadrezado apareceu em fragmen to sde ce ramica Gumba A (cultura neolitica, 3.000-1.000 B . C .) . M. P OS­NANSKY, 196,1 a) , p. 183 .

(72) S. JUNIOR e C. ERVEDOSA, 1970, Fig. 54, Est. XXVIII; F ig. 56 ,E st . XXIX.

(73) Idem, Fig. 47, Est. XXIV.(74) 0 zig-zag desta estacao foi designado por «aretes de p ois­

son». J. HIERNAUX, E. MAQUET et S. DE BUYST, 1967, pp. 150 , 151.Fig . 3 (16).

A estaciio arqueo l oqica da antiga Banza Qu,ibaxe 287

Hiernaux - Maquel - Buyst , existe na olaria Dimple-basedda regiao dos Grandes Lagos (75).

Nos vasos do grupo D alem de motivos decorativos coin­cident es com os do grupo anterior, depara-se-nos agoraurn colo (n.s 40) com quat ro series paralelas de eovinhashemisfer oidais impressas. No fragment o n." 41 encontram-setres covinnhas hemisferoi dais dispostas em triangulo e rele­vadas por incisoes circundantes.

Urn pedaco de colo com faixa decorativa semelhante ado n.v 40 foi re colhida, it superf icie, perto do Dundo (76) .No concheiro de Benf'ica-Luanda fo i encontrado urn frag­mento de bojo com duas covinhas juntas, de onde irradiam,em sent idos opostos, dois pares de leves caneluras arci­formes. 0 espaco entre os sulcos de cada par de canelurase preenchido com ax adrezado finamente inciso (E st. XXIV,F ig. 47).

Na ceramica do grupo Dimple-based (Nsongezi Rock Shel­t er e Waiya Bay) aparecem covinh as hemisferoidas simples,realcadas por caneluras est r eitas e associadas com axadre­zado fino (77).

Os Lundas decoram frequentemente os seus vasos comtres ou quatro grup os equidistantes de tres pequenas covi­nh as (78).

Cremes que este tipo de impressao-ornamento se revestede caracter simb6lico, com uma possivel funcao magico­-religi osa .

o tema em esp inha (n.v 19) que tambem aparece sobre­post a a canelur as (n.v 24, 25, 26, 27 e 29) foi incise em colosdo concheiro de Benf ica-Luanda (Fig. 52, C, Est. XXVII ;Fig. 58, Est. XXIX) . Apesar de desconheeido na estacaoDl-Quibaxe, existe num colo do tumulo n.s 1 de Quimuquiama(F igs . 21 e 40) .

Na olaria dos grupos C e D grande numero de potestern coloraeao negra, associada geralmente a axadrezadoinciso.

( 75) Idem, p. 156.(76) D. CLARK, 1968, p . 205, Pi. 4, n. s 1.(77) M. POSNANSKY, 196 1 a) , p . 184, Fig. 2, n.s 10 ; I dem, 1961 b ),

p. 141, Fig. 2, n.v 4.(78) D . PIDLLIPSON, 1974, p. 11.

288 Cont r -ibu il(oes par a 0 E studo da Antropologia P ortuguesa

Desmond Clark inclu iu na ceramica Dundo t res frag­ment os coloridos ext eriorment e de negro (79) .

A ceramica de Nsongezi Rock Shelter (grupo Dimple­-ba sed onde predomina 0 axadrezado inciso, exibe enbobesnegros (80), 0 que levou Posnansky a sugerir que a olariaDimple based deste sitio seria uma variedade relativamentetardia (81) .

o tipo de pote com bordo revirado para fora, e do qualpossuimos urn unico e diminuto fragmento (n .> 13 ), e bas­tante raro, pois nao 0 encont r amos na estacao Dl -Quibaxee podemos adiantar que nao apareceu noutros locais arqueo­Icgicos cujo material temos em estudo. Nos tumulos commamoas de pedras, apareceram vasos de pasta fina , comcolos altos, bordo revirado para fora e belissima ornamen­t ac ao , Mas 0 fragmento de bordo em questao t em urn t ipode pasta muito identico, em todos aspectos, a certos exem­plares de ceramica canelada e bordos em bisel, recolhidosconjuntament e.

As delicadas t igelinhas (n.> 37, 38) sao urn tipo de vasi ­ilia ja conhecida da estacao Dl-Quibaxe onde recolhemosurn fragmento (n .v 8) com bordo de inflexao interna.

Os caracterist icos granulos, aplicados em relevo, queembelezam a tigelinha n.v 73 e a taca n.> 45, aparecem naolaria dos t umulos de Katoto (82) e em varies sitios doUganda da t ados dos seculos XVII-XVIII (niveis super ioresde kibiro, Entebbe, Ntusi) (83.). Em Kibiro, tal como emQuibaxe, os granujos em r elevo estao associados com bandasde decorac ao diferent e.

(79) Dois exemplares p er t encem a col eceao reun ida por J ose

Redinha. Outro foi r ecolh ido no m esmo loca l por Clark em 1963 edatado de A. D. 760. D . CLARK, 1968, p . 193, PI. 1 , 2,

(80) M. POSNANSKY, 1961 a) , p . 183.

(81) M. P OSNANSKY, The I r on Ag e in East Africa. in W . B ISHOP

e D . CLARK. (eds.) , BACKAROUND to evolu t ion in Africa, 1967, p . 630 .Cit . Apud, J . SUTTQN, 19 71, p. 160, nota n .v 1) .

(82) J. HIERNAUX, E . MAQUET et J. DE B UYST, 1967, p. 150,Fig. 3 (20) .

(83) M. P OSNANSKY, 19 61 a), pp. 192, 195.

A estaciio ar que oloq ic o. da antiga Banza Qu.ibaxe 289

No horizonte seguinte a ocupacao mais ant iga de Ma­pungue, obteve-se ceramica (M, ou R 2 ) ornada com gra­nulos em relevo e que fo i datada de 1380 e 1420 (84).

No recinto amuralhado do Songo (Mocambique) foi des­cobert o um fragmento de olaria com granules em relevofixados pela tecnica primitiva (85) .

A olaria Zulu e feita pelas mulheres que, como ja tive­mos oportunidade de referir, adornam usualmente 0 seu vasi­lhame com granules em relevo. Estes foram adoptados direc­tamente de motivos decorativos presentes em utensilios demadeira, entalhados pelos homens. Os granulos represen­tariam flores (86) .

Entre os Tchokwe, este tema decorative, que inclusiva­mente existe no corpo sob a forma de uma tatuagem decicatrizes em grao (Jico) pl. ma-), evoca as fogueiras deuma aldeia acesas na noite ou 0 ceu estrelado (87).

Consideramos, por fim, os bot6es com covinha (n .os 48, 49)e 0 lisa (n.> 40) que foram aplicados sob re os ombros devasos com paredes f inas, juntamente com caneluras levese estreitas, impressoes circulares e de cari mbo dentado.

Um fragmento ceramico do tumulo n,> 1 de Quimuquiamatem moldada uma protuberancia oval com impress6es decarimbo dentado (Fig. 27, 10).

Olaria com protuberancias foi descoberta por Jose Redi­nha em despojos proto-historicos dos vales do Nordeste daLunda. Trata-se de vasos com seios para refeicfies priva­das, curativas de mulheres em periodo de lactancia e de

(84) J. SCHOFIELD, 1948, pp. 102 a 108 ; B. FAGAN, 1970 , pp. 119a 123.

(85) I rifor macao da es cultora Conceicao R odrigues. FoNSE CARAMOS, 1973, pp. 45 , 46 .

(86) Os Zulus (grupo Ngoni ) sao um po vo de a gricultores -pa s­tores . Os t r a balhos agricolas sao f e ,tos p elas m ulheres enq uan to oshornens se dedicam exclusivam en te a. pastoricia. J . SCHOFIELD, 1948 .p. 189.

(87) As duas coisas est ao relacionadas, pois segundo E . dos Santos«a s estrelas (tutongonochi) sao fogueiras de D eu s ( majiku Ii Nzam bi)pa ra se a que cerem os qu e deste mundo partem e estao com Ele»,E . DOS SANTOS, 1962, p . 59 ; BASTIN, 1961, pp. 175 a 178.

290 Contribuic;;oes para a Estudo da Antropologia Portuguesa

potes para bebidas fermentadas, corn formas ventrudas erelevo do umbigo (88).

Pudemos observar dois pares de bossas c6nicas, de ta­manho razoavel, num vasa do Luia pertencente as riquis­simas coleccoes do museu do Dundo. Urn outro vasa doLuia-Cassai ostentava urn mamilo grande de cada lado que,alem de terem efeitos decorativos, serviriam como elementosde preensao (89).

Na olaria dos Ovimbundos (90) e em vasos antropo­morfos dos Ambaquistas (91) tambern se encontram repre­sentacoes de seios. Trata-se de urn elemento decorativo,relacionado corn a fertilidade e muito divulgado em gruposde ceramica africana. Encontramo-los por exemplo na olariaOtentote e na de Mapungue (92).

Os Cabindas cravam tachas de latao nas suas ceramicasde luxe e os seus moringues exibem protuberancias corn aforma das ditas tachas apIicadas nos vertices de canelurasem linha quebrada.

Os botoes sao de caracter cilindrico e nao de seceaoc6nica ou ovalada. Distinguimo-los, portanto, dos mamilosou bossas.

Na gruta Dimba, a eeramica do Grupo III inclui umataca com botfies de superficie pontilhada, aplicados alterna­damente (tres em cima e tres em baixo), nos vertices dumacanelura em linha quebrada (93).

(88) J. REDINHA, 1966, p. 127; Idem, 1971 a), pp. 9, 20 a 23.(89) Estes vasos estao referenciados respectivamente por A-44

e A-42.(90) Os Ovlmbundos sao uma antiga tribo de cacadores forte­

mente mesticados com tribes de pastores do SuI de Angola. A . HAUENS­

TEIN , 1964, p. 50 .(91) Povos e CuIturas, 1972, p. 377 .(92) L. FOUCHE, 1937, p. 51, (Classe M

2) -PI. XXVI. 3; XXIX, 5;

J. SCHOFIELD, 1948, p. 62 , PI. 1. 2 e 4 (Otentote j ; p . 104, PI. IV, 11

e 17 (Mapungue) , Este autor prop6e para a Classe M2

de Foucheo simbolo NT1 (op. cit. p. 132). Referindo-se as bossas smples afirmaque tiveram origem no «um bigo saliente, ainda admirado entre muitastriboss e a decoracao em torno foi inspirada nos padr6es de tatua­gem tribal (p. 136).

(93) G. MARTELMANS, 1962, p . 414, PI. IV.

A estaciio arqueoloqica da antiga Banza Qu.i baxe 291

De maneira semelhante, os botfies da nossa ceramica foramaplicados no vertice de duplas caneluras em linha quebrada.

A planicie de Ngombela (Kinshasa) revelou, no segundoestrato (seculo XV?), olaria decorada com incisfies, motivosderivados do caurim e botfies aplicados (94).

Nas margens do lago Kisale (Republica do Zaire) , ternsido efectuados notaveis trabalhos arqueo16gicos, nomeada­mente na necr6pole de Sanga, e que forneceram belissimaceramica onde foi possivel distinguir tres grupos em sequen­cia crono16gica: Kisalian (sec . VII-IX, A. D.) , Mulongo eCeramica com Engobe vermelho (Red Slip). De Sanga ,onde estao representados os tres grupos, conhece-se pelomenos urn vasa com 5 botoes em relevo (95) . Provenientede Katongo (Kisalian) , urn pote globular exibe quatro bo­toes (96). Do material de Mwanza (Kisalian), faz parte urnvasa com quatro grupos de dois botfies (97 ).

Na estacao de Nabombe (Zambia) , considerada de datarecente, foi encont rado urn vasa ostentando urn par de bo­toes (98).

Em Mapungue a olaria da Classe M2 inclui urn fragment ocom urn botao e no abrigo de Riane (Mocambique) foi reco­lhida uma peca ceramica com dois botdes (99).

No Museu do Dundo constatamos a exist encia de variespotes com botoes. Urn deles apresentava urn s6 botao deco­rado com uma cruz incisa. Outros ostentavam botoes duplos(urn ou dois pares) , lisos ou decorados uns com cruzes eoutros com duas incisoes paralelas.

Obs ervamos tambem urn vasa com dois botfies grandescom cruz incisa, dispostos assimetricamente (100).

Informaram-nos no Museu do Dundo que os bot fi es repre­sentavam uma tatuagem incisa por escarif icacao (tipo Cato) ,

(9 4) H . MOORSEL, 1968, p. 239.(95) J . NE NQUIN. 1963, p. 252.(96 ) Idem, pp. 263 , 264 .(97) I dem, p. 270.(98 ) B. F AGAN e D. PHILLI PSON, 1965, pp . 269, 283 .(99) L. FOUCHE, 1937, p . 51, PI. XXX, 10. Inf'ormaea o da escu l­

tora Conceica o Rodrigues.(100) Refer encias das peeas A-32, A-33, A-34, A -35, A-36, A -37,

A-39, A -41, A- 43 , A-1583. A maior parte foi recolhida no L ua-Matap a,

292 ContribuiQoes para 0 Estudo da Antropologia Portuquesa

por eima do osso malar das mulheres e de alguns homens.Esta tatuagem que tem a forma de uma circunferencia orna­mentada no interior (circunferencias concentricas, axadre­zado, cruzes, etc.), e conhecida, entre os Tchokwe, Lwenae Ngangela, por c2gingo e no Dundo por Iumba, nome de ori­gem Luba conhecido atraves dos Lundas (101).

Entre os Bakuba, certas tacas cefalomorfas de. madeiraostentam, nas maeas do rosto, a tipica tatuagem em re ­levo (102).

Alguns investigadores opinam que ela representaria 0

sol (103). Diversamente, porem, Eduardo dos Santos afirmaque a tatuagem lumba proveio de «t chi lum ba» (edestrezapara mexer 0 pirao») e que a mulher que a ostenta seramuito pretendida (104).

Depois de tudo 0 que dissemos no dominio das compa­racoes morfo16gicas, pensamos poder relevar alguns aspectos.

Relativamente ao contexto ceramo16gico de Quibaxe, aantiga Banza forneceu elementos comuns a estacao Dl: coloscom bordo biselado para 0 interior e preenchidos com cane­luras ou folhas compostas, depressao basal e tigelinhas.Trouxe tambern elementos novos: taca com respigas e cha­mejado, colos de bordo convexo com inflexao interna, bordorevirado para fora, bot6es, granules em relevo, circulosimpressos, impress6es de carimbo dentado, axadrezado, zig­-zag, covinhas hemisferoidais, espinha.

Alguns dos temas decorativos estao presentes noutrosgrupos de ceramica proto-hist6rica. Benfica (axadrezadofinissimo, zig-zag, espinha, covinhas hemisferoidais) ; Dundo

(101) BASTIN, 1961, p . 158, IV, C. 7, n.v 9.(102) R. GAFFE, 1945. «Sucede rrequentemennte que os motives

tatuados sobre a cara ou sobre 0 corpo sejam tomadas pelo escultorcomo elemento decorativo». D. PAULME, 1956, p. 11.

Outras fontes ornamentais tanto do escultor como do oleiro saoos temas utilizados na decoracao de cestos e tecidos (Bakuba) ,Muitos element os ornamentas da ceramica parecem ter origem nasdecoracoes dos obj ectos de madeira (Ceriimica Dundo) .

(103) BASTIN, 1961, p. 158; M. LIMA, 1956. Fig. 30.(104) E . SANTOS, 1960, p. 86. Este autor designa, genericamente,

a tatuagem por Lumba. Quando formada per duas circunf'erenclasconcentrteas, recebe 0 nome de «T chi jingu> ou «T'cli: jingululu>.

A estaciio arqueoloqica da antiga Banza Qu.ibaxe 293

(covinhas hemisferoidais e engobe negro); Dimba-Ngovo(respigas verticais, botfies, depressao basal, Impressoes decarimbo dentado, caneluras em linha quebrada, ondulados) ;Katoto (granules em relevo, covinha basal, caneluras emlinha quebrada, axadrezado, zig-zag); Grupo Dimple-Based(bordos em bisel, covinhas hemisferoidais, axadrezado, zig­-zag); Sanga (botoes) ,

Sera possivel esbocar, na bacia do Congo, com a ola ria deQuibaxe, Benfica, Dundo, Lupemba-Kassai e Dimba-Ngovo,uma nova area de ceramica ?

Reveste-se de certo interesse constatar que alguns temasdecorativos (botces e granulos em relevo), de larguissimadifusao, teriam sido inspirados na escultura do corpo hu­rnano e que a decoracao entalhada em vasos de madeirainfluenciou a ornamentacao da olaria.

Alguns elementos decorativos (botdes, granules em 1'e­levo , depressao digital e covinhas hemisferoidais) teriamuma significacao simb6lica e pertenceriam a vasos comfuncfies especializadas.

Grande mimero de temas ornamentais sobrevive aindana ceramica actual de alguns povos de Angola, nomeada­mente nos do grupo Kimbundo (covinha basal, caneluras,folhas compostas, circulos impressos, carimbo dentado, en­gobe negro) e nos do grupo Lunda-Tchokwe (botfies, covi­nhas hemisferoidais, chamejado, engobe negro).

o problema que se poe agora e saber que data havemosde atribu ir a. olaria, ou seja, conhecer a epoca da introducaoda metalurgia do ferro nesta regiao de Africa, admitindoque, aqui t al como no Leste africano, a ceramica com covinhabasal acompanhou a chegada dos primeiros bantos e daIdade do Ferro.

A primeira dificuldade com que deparamos e saberse de facto, toda a ceramica pertence ao mesmo estrato.As analises e comparacoes que efectuamos, levam-nos acrer que sim, mas a questao s6 podera ser resolvida difi­nitivamente com futuras escavacoes no local. Tambem naoresultar am ate agora as diversas tentativas que fizemospara obter datacoes absolutas da ceramica.

No Leste africano, sitios da Idade do Ferro inicial noRuanda e no Quenia (Kivu) (grupo Dimple-based), foram

294 Contribui,,6es para 0 E siudo da Antropologia Portuguesa

datados da primeira metade do primeiro milenio A. D. (105) .As ceramicas Dimple-based de Nzongezi Rock shelter foramdatadas, embora duvidosamente, do inicio do segundo mile­nio A. D. (106).

as fragmentos com depressao basal de Kalambo Fallsforam datados do seculo quarto (107).

A taga dimple das fossas de Kat oto foi datada de A. D.1.190 -+- 60 (108) .

Para a olaria das Grutas Dimba e Ngovo foram pro­postas por Mortelmans as seguint es datas: Grupo I (tradi­gao «dimple-based») , segunda metade do primeiro milenio.Grupo II, do fim do seculo XIII a. primeira metade do se­culo XVI. Grupo III meio do seculo XVI. Grupo IV, contem­poraneo ou posterior aos anteriores. Grupo V, seculo XVII.Grupo VI , entre a segunda metade do seculo XVII e 1877 (109').Mas, como veremos mais adiante, novos trabalhos levarama. revisao dos materiais desta estacao e as datas, pelo menosem parte, tern de ser alteradas.

A ceramica de Benfica, que apresent a temas decorativoscaracteristicos da Idade do Ferro ini cia l (axadrezado, cane­luras e covinhas) foi datada de A. D. 140 (110). No casode se tratar de ceramica banta, est a remos perants a maisantiga olaria proto-hist6rica da Africa Austral.

Para 0 grupo Dundo determinou-se a data de A. D. 760 (111).

(105) NDORA (Ruanda), B. 755 , A. D. 250 ± 100; CYAMAKUZA(Ruanda), B. 758 , A . D. 300 ± 80; UREWE (Q uenia ) , Gx -1186, A. D .390 ± 95 ; N-436 , A. D. 320 ± 110 ; N-435, A . D . 270 ± 110; YALAMEGO (Quenia.) , N -437 ; A. D. 400 ± 235 .

Quant o it cer arnica do grup o Kwale conhec emos data coes dossitios Bomba K a bur i (T anzania), N-347, A . D . 220 ± 115 e Kwale(Tanzania) , N-291 , A . D . 270 ± 110 e N-292, A. D. 260 ± 110 .H UFFMAN, 1970, p. 5.

(106) J . SUTTON, 1971, pp. 159" 160.(107 ) SfTIO C (Zambia), Gr. N-4646, A. D. 345 ± 40. Gr. N -4647,

A . D . 430 ± 40. HUFFMAN, 1970, p . 5.(108) J . HIERNAUX, E . MAQUET et J . DE B UYST, 1967, p . 148.(10 9 ) G. MORTELMANS, 1962, pp. 419 , 420.(110 ) S. JUNIOR e C. ERVEDOSA, 19 70, aditamento. 1810 ± 50 B. P.

- A . D . 140.(lU) 1.190 ± 80 B. P.-A. D. 760 (UCLA -716). D. CLAUK,

1968, P 192.

A estaciio arqueoloqica. da aniioa Banza Qu,ib= e 295

Podemos provisoriamente incluir a ceramica da antigaBanza Quibaxe na segunda metade do primeiro milenio,embora alguns padroes revelem uma maior antiguidade.

3. ALGUMAS QUESTOES LEVANTADASPELOS ELEMENTOS CULTURAISDA ANTIGA BANZA QUIBAXE

Um dos problemas levantados pelos materiais recolhi­dos diz respeito as populaeoes que os utilizaram. Relativa­mente aos instrumentos liticos, temos a questao dos pigmeus,pigmoides ou bosquimnoides que povoam ainda a memoriados povos actuais da bacia do Congo. E quanto a ceramieao confuso problema dos Ambundos, muito justamennte desig­nado: «complexo ambundu» (112).

Vma questao especifica deste sitio e a relaeao de sequen­cia ent re os povos do Paleolitico e os grupos introdutoresda olaria com vasos dimple-based e da metalurgia do ferro.Esta questao nao se pode dissociar da presenca, na baciado Congo, de povos conhecedores da tecnica neolitica e pro­vaveis utilizadores da ceramica.

No contexto arqueologico da regiao dos Dembos, um dosproblemas a analisar diz respeito a conexao entre a cera­mica do grupo Quibaxe e a olaria dos tumulos com mamoasde pedras que e bastante dife.rente e mais evoluida.

'I'ambem se reveste de grande interesse um aprofunda­mento dos estudos comparativos entre a ceramica antigados Dembos e ados Concheiros do litoral, 0 que podera con­duzir a resultados frutuosos.

E de primordial importancia para a compreensao da Idadedo Ferro Angolana, 0 correlacionamento das olarias reco­lhidas a Norte do rio Quanza com ados povos construtoresde recintos muralhados e sepulcros com cupulas aparentesde ench imento (classificacao de Antonio Carreira) a SuIdo mesmo rio.

(112) J. REDINHA, 1964.

296 Contribuit;oes para 0 Estudo da Antropologia Portuguesa

Olhando agora para a gigantesca area arqueologica daAfrica Austral, deparamos com 0 controverso entrancadode problemas que engloba a origem e expansao dos Bantos,a introdueao do trabalho do ferro e as tradicoes ceramicascorrelacionadas (Dimple-based, Kwale, Kalambo, Kapwirim­bwe Kalundu e Gokomere. Uma datacao absoluta da cera­mica do grupo Quibaxe poderia ser uma achega importantepara esses problemas.

Neste trabalho, debruear-nos-emos apenas sobre a segundaquestao ou seja, a relacao de sequencia entre os povos paleo­liticos e os grupos da Idade do Ferro inicial portadores daolaria com covinha basal.

Na regiao dos Grandes Lagos, os introdutores da meta­lurgia do ferro sao igualmente os autores da ceramicadimple-based. No Quenia, (Cavirondo Central), este tipo deceramica e intrusive, nao tendo quaisquer afinidades coma ceramica neolitica nem aparecendo associado a quaisquerobjectos de pedra talhada.

No Uganda (Nsongezi), a olaria dimple-based (tipo A)aparece associada a fragmentos de vasilhas mais grosseirasnao decorados, a objectos de ferro e a uma industria micro­Iitica Wilton. Para Hiernaux, e possivel que a ceramica gros­seira pertenca a cultura Wilton (113).

No Ruanda, 0 neolitico e muito raro, nenhuma olaria foiidentificada com a cultura Wilton e a ceramica de tipo .Aaparece juntamente com esc6rias e bocas de forja. Cera­mica dimple-based coexiste com industrias Wilton na grutaRuchimangyargya e no sitio de Masangano. No abrigo deMukinanira as culturas pre e proto-historicas aparecem so­brepostas (114).

Em Angola, na regiao a Norte do rio Quanza (115), doissitios sao susceptiveis de dizer alguma coisa sobre 0 pro-

(113) J . HIERNAUX, 1962, p. 383 .( 114) Idem , pp. 381 , 382 .(115 ) A SuI deste rio, no «a br igo b da Ganda (SE d e Ben­

guela), Oliveira Jorg e est udou «. .. uma oficina de f'undicao de ferro,estratigraficamente a ssociada ao talhe de pecas de quartzo de tomgera' microlitico, em bora atipcas». V . JORGE, 1974, p. 167.

A estaciio arqueoloq ica da antiga B anea Quibax e 297

blema em questao. Trata-se de Marrhura, no Nordeste eBenfica, perto de Luanda.

o sitio de Marrhura, na margem direita do rio Tshikapa,foi escavado em 1942 por Redinha e, provavelmente no anaseguinte, por Redinha e J anmart. Revelou a cerca de metroe meio de profundidade urn horizonte com diversas arte­factos do Tshitolense superior e, juntamente t res pedacosde materia corante (hematite) e varias centenas de frag­mentos ceramicos erodidos pela accao da agua, Pertence­ram a vasos bern cozidos, com paredes espessas e pasta f ina ,apresentando-se dois fragmentos decorados. Clark sugereque est a olaria devia ser contemporanea da ceramica cane­lada daZambezia (116). Atendendo a que nenhum machadoou enxada polida apareceu no Nordeste de Angola, opinaigualmente qu e, com 0 Tshitolense superior (<< mesolit hic'I'shitolien»), a cultura humana na regiao a SuI do Congopassa gradualmente da Idade da Pedra para a Idade doFerro e que , alguns grupos contemporaneos dos povos intro­dutores do ferro continuariam a usar a pedra (117) .

Na estacao de Benfica, Desmond Clark estudou uma sec­~ao de concheiro com 60 centimetros de espessura. Os pri­mei ros 45 centimetros continham fragmentos cerarnicos comdecoracao incisa e estampada e urn fornilho de cachimbode barro. Os 15 centimetros inferiores revelaram umaesparsa e empobrecida industria litica (Lat er Stone Age) ,em quartzo, de proporeoes microliticas, associada com con­chas (118) .

Santos Junior e Carlos Ervedosa basea ram-se em tra­balhos mais extensos e completos pa ra afirmar que estesit io tern duas culturas bern distintas : a do paleolit ico(<<Lupembiana» e ate «Lupembo-Tshit oliana ») e a do con­chei ro. 0 facto do paleolitico nao ter sido encontrado in situdeixa por esclarecer se ambas as culturas coexist ir am ausimplesmente se sobrepuseram sem qualquer relacao entresi (119) .

(H6) D. CLARK, 1963, pp. 167, 168.(11 7 ) I dem , pp . 169, 170; D . CLARK, 1966 , p . ss.(118) Idem , p. 58.(119) S. J UNlOR e C. ERVEDOSA, 1970, p . 50.

298 Con tr ibuigoes pa ra 0 E studo da Antropologia Portugu esa

o problema, alias, poe-se em termos analogos para aestacao da anti ga Banza Quibaxe: teriam os grupos quefaziam vasos com depressao e que foram, provavelmente,as introdutores da metalurgia na regiao, contactado compovos de cultura Tshitolense ou Lupembo-Tshitolense ?

A questao aqui e um pouco mais complexa, pa is noBaixo Zaire e no Noroeste de Angola tern sido det ectadosvaries si tios com industrias neoliticas (120 ) . Senao vejamos :

Durante a mssao de 1947, Mortelmans descobriu emKongo dia Vanga (Montes Cristal) , perto da fronteira de

(120) PIERRE DE MARET afirma qu e a existen cta de cu ltu ra s neo­Iitt cas na Africa subsaarana e ainda mutto qu es tionavel . M. MARET,1975, p . 133; MOORSEL suger e que, no baixo Con go, cult ivadores neo­Htlcos t eri am sido r esp onsaveis pela degradacao da floresta nos come­cos do primeiiro mil enio, Cit, por B. FAGAN e D. CLARK, 1965, p. 365.Esta hip6tese e compartilhada por D. CLARK, 1973, pp. 213, 222.

Os a r te ractos em hematit e, af ia dos e po lidos da bacia do rio Uele(Nordeste do Za ire ) devem pe rtencer a Idade do F er ro. Mas a s «a chasspolidas do U ban gui (Nor deste do Zaire ) po dem ser Incluidas no neo­htico. M. MARET, 1975, p. 133.

Na Republica Centrafricana, e a in da de nt ro da Ba cia do Congo,BAYLE DES HERMENS escavou em 1967 uma estacao neolrt ica ext re­mamente r ica e original no lugar de Batalim o, Loba ye. A indust ri aIitdca e constitusda essencialmente por achas (haches ) talhadas. en treas quais uma com 0 g ume cu idadosamente pol ido especialmente sa breuma fa ce . Os 287 uten sil tos liticos encont ram -se intimamente mistu ­rados com 922 rragmentos de ceramica, num estrato se m qualqucrcontam.nacao. A ceramica inclui vasos g lobulares com colos cilin­drtcos e tronconicos de bordo r evirado pa ra fo ra e fundos planes .A ornamenta cao utiliza p redominantem en te canel uras , axadrezado,espmha e impressoes de ca rimbo dentado. U m rragrnento ap resen taum batao de preensao. Fo l datada pelo m etodo da t ermoluminis­cencia de 380 ± 220 depois J . C. BAYLE DES HERMENS, 19,715, pp. 206e segs., 285. AUMASSIP, 1975, pp. 221 a 234. Note-se que para Hermens,o tshttolen se «est en fait un neolithtque> (op, cit., p. 157 ) .

Levanta-se ai n da 0 problema da defini~ao do termo «neoli t ico».Segundo um crtter io puramente econom rco, sem qu a isquer impllca­~oes de ordem crono l6gica ou t ecnolog ica , desi gnam-se por n eoHticasas comunidades se dentarizadas qu e pratiquem a agr icultura e a cria­~ao de gada (d omestloacao de plantas e antmais ). Desta forma emAfrica, s6 teri a existi do neoli t ico no vale do Nilo, nas costas do Medi­terraneo e em T ichit W alata (SuI da Mauritania ) .

Numa perspectiva tecn ol6gica considerar-se-ao neoli ticos os povos

A eetactio arqueol6gica da antiga Banza Qu,ibaxe 299

Angola , uma estacao de superficie com instrumentos poli ­dos e alguns fragmentos de ceramica muito grosseira, for­temente erodida, pertencendo a urn vasa de fundo plano.Mortelmans acha provavel que a ceramica pertenca ao neo­litico, pois difere consideravelmente da ceramica banto an­t iga, embora nada se possa afirmar, visto tratar-se de umaestacao de superficie (121).

Dos elementos neoliticos recolhidos no Baixo Zaire, fazemparte segundo 0 mesmo investigador, uma bola de pedraperfurada e raras machadinhas minusculas, espessas e par­cialmente polidas, recolhidas em sitios lupembenses outshitolenses.

Para. Mortelmans, este neolitico tern caraeter intrusivoe urn sabor nitidamente Sudanes. Colette designou-o de Leo­poldiano.

Recentemente, as grutas Dimba e Ngovo vieram trazerimportantes achegas para a questao em debate.

Varies .nst rument os Iiticos com gumes e arestas poli­das foram recolhidas na Gruta Dimba e urn em Ngovo (122) .Em 1957 e 19:59 Mortelmans fez uma escavacao de reconhe­cimento na gruta Ngovo que deu numerosos fragmentos deolaria, incluidos no Grupo VI de Dimba, tendo recolhidotambem, na mesma gruta, dois grandes vasos inteiros defundo plano que foram integrados no mesmo grupo cera­mo16gico (123).

Pierre Maret em 1972 e 1973 retomou, com grande feli­cidade, a exploracao das famosas grutas. As escavacoesem Ngovo revelaram urn estrato, a cinco centimetres deprofundidade, com grandes pedaeos de carvao, fragmentosde ceramica, ossos de animais e urn instrumento de pedra

que manufacturem arteractos polildos, cerarmca e moinhos de 1'0'10 .

Um criter.o deste tipo e manifestamente impreclso e insufictente.o problema no que respeita ao Saara e a Africa Subsaartana con­

tinua de pe : 0 cultivo de alimentos e a crracao de gada teriam sldointroduzidos per grupos tecnologicamente neolittcos OU, mais tardia ­mente, por' povos conhecedores da metalurgia?

A questao fo i Iargaments debatida por D . CLARK, 1967.(121) G. MORTELMANS, 1959. p . 336.(122) Idem, 1962, p. 409.(123) Idem, p. 408 .

300 Contribuigoes para 0 Estudo da Antropologia Portuquesa

polida (xisto ou gneisse) . A ceramica e semelhante a queja tinha sido recolhida per Mortelmans na mesma gruta(Grupo VI ). Os carv6es foram datados pelo C. 14 de 2.145 -1- 45 BP / 390 a 160 BC. Na gruta Dimba uma escava­Qao revelou igualment e urn instrumento de pedra polidaentre fragment os ceramicos do Grupo VI. Porem P. Maretnao esta ainda certo se se trata ainda de urn contexto pre­-hist6rico muito tardio ou de urn contexto da Idade doFerro (124).

Vej amos agora os achados provenientes do Noroeste deAngola . Camarate Franca estudou quatro pecas liticas,talhadas em rocha xist osa e intencionalmente polidas nogums proven.entes das vizinhancas de S. Salvador do Congo.o talhe elip tico de uma das pecas sugeriu ao autor urnNeolitico de t radicao Caliniana (lupembense) (125).

Na regiao de Noqui-Tomboco, perto do rio Luf ico, foramrecolhidos cerca de vinte machados com 10 a 20 centime­tros de compr iment o, com os gumes polidos. A maier partee de met arhyolite, r ocha que abunda na regiao e alguns dequartzite. Perto do rio M'Pozo, apareceram mais a lgunsdesses machados de metarhyolite (126) .

Na regiao de Bembe, entre Toto e 0 rio Lubemba apa­receu uma duzia de machados com lOa 16 centimetros decompriment o. Metade sao de rocha porfirica importada eos r est antes de uma pedra arenosa com origem local. Osmachados sao, na sua maior parte, polidos nos gumes ealguns junto da extremidade (127). Tanto os artefactos daregiao No qui-Tomboco como os da regiao de Bembe apare­ceram a superficie e no cimo de montes.

Nao podemos deixar de referir os dois instrumentoscilindricos de pedra polida, encontrados numa escavacao dovale do r io Quanza e estudados por Ricardo Severo, no pri­meiro trabalho de arqueologia angolense (128) .

(1 24 ) M . DE MARET, 1975, p. 136 .(1 25 ) C. FRANQA, 1964 b) .(126) H . K ORPERSHOEK, 1964, pp . 17,18.('127 ) L . S CHE RMERHORN e W . STANTON, 1964, p. 10.(128) R ICAR DO SEVERO, 1890 .

A estaciio arqueolopica. da antiga Banza Qu.ibaxe 301

Parece estarmos perante traces evidentes de comunida­des portadoras da tecnica neolitica, muito provavelmenteassociada a utilizacao de ceramica e ao cultivo de al'imentos.A conexidade entre os fabricantes de artefactos polidos eos grupos tshitolenses ou Lupembo-Tshitolenses por urn lado,e os primeiros metalurgistas de ferro por outro, e urn pro­blema extremamente complexo que s6 futuros trabalhos decampo irao resolver.

:ill muito verosimel que 0 facies neolitico tenha feitosentir a sua influencia na regiao dos Dembos, mesmo asso­ciado a cultura tshitolense, e que os vasos com depressaobasal estejam inseridos num complexo ceramico de raizneolitica.

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ALMEIDA, Carlos Alberto F . de, 1974 - Ceramica castreja, R evista deGuimariies, 84, 1-4, pp . 171-197, Ou imaraes.

CARNEIRO, Eugenio Lapa, 1968-69 - Breves notas sobre tecnicas deImpermeabtltzacao ceramtca, Oiaria, 1, pp. 57-86, Barcelos.

,. LEENHARDT, Marie, 1964 - Code pour Ie classement et I,etude des pote­ries medievales (Nord et Nord - Ouest de I'Europe), Caen.

LLANOS, Armando e VEGAS, Jose Ignacio, 1974 - Ensayo de urn metodopara el estudio y classificacion tipoJogica de la ceramica, Bstu»

dios de Arqueologia Alavesa, 6, Vit6ria.SHEPARD, Ana 0., 1965 - Ceramics for the a r cheolog is t , Washington.

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Fig. 1 - Vista aerea da Vila de Quibaxe. 0 local da estaca o arqueol6gicada antiga Banza esta indicado por um re ctangulo (foto Cunha & Gomes).

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