fernando lorenzetti

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Quem tem medo de Fernando Lorenzetti? Convenhamos, parece até nome de filme. E por que não? Afinal aqui se fala de Fernando Lorenzetti, multimídia que vai do artista plástico para o jornalista num piscar de olhos, num clic de máquina fotográfica (sim, elas continuam fazendo “clic”) ou num texto que pode escandalizar uma cidade e o mundo. Tudo isso bem que mereceria mesmo filme. “Minha vida é o que eu faço, gosto de me comunicar com as pessoas, não tenho barreiras.” http://issuu.com/genteatibaia/docs/lorenzetti

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Quem tem medo

de Fernando

Lorenzetti?

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Convenhamos, parece até nome de filme. E por que não? Afinal aqui se fala de Fernando Lorenzetti, multimídia que vai do artista plástico para o jornalista num

piscar de olhos, num clic de máquina fotográfica (sim, elas continuam fazendo “clic”) ou num texto que pode escandalizar uma cidade e o mundo. Tudo isso bem que mereceria mesmo filme. “Minha vida é o que eu faço, gosto de me comunicar com as pessoas, não tenho barreiras.”

Fernando se declara um nômade. “Sei onde nasci, e sei onde estou no momento, no mais já estive em tudo quanto é lugar. É meu mundo espetar e desper-tar as pessoas com alfinetadas que alguns chamam de fofocas. Não tolero falsidade.” Lorenzetti vive dedando políticos e pessoas que chama de mau ca-ráter. Polêmico, tido como agressivo, é doce e sim-pático no papo do dia-a-dia.

“Fofoqueiro? Eu? Não sei. A não ser que se conside-re a fofoca como um viés do jornalismo. Aquela coisa meio restrita que se usa para falar no ouvido das pes-soas. Como o jornalista não pode ficar repetindo sua história pessoa por pessoa escreve ou conta o que todo mundo gosta de ouvir. Fatos ou atos falhos, que às ve-zes nem são tão falhos assim... Cada um tem um pouco disso e o povo gosta de saber. A fofoca abre uma bre-cha, a reportagem escancara, e o fato por vezes acaba virando manchete”, define. E não é?

Santista, filho da Dona Terezinha e de Francisco, já falecido, diz que tem saudade da velha Estância, “quando tudo aquilo ainda era um mato só. Tinha até sapo chiando à noite.” Todo orgulhoso garante que já

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Lorenzetti?

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trabalhou em todos os jornais da cidade, O Atibaien-se, Atibaia Hoje e Jornal de Atibaia. Só não trabalhou no extinto Imprensa Livre. “Uma pena para os dois la-dos...” E não foi?

“Eu tinha uns vinte anos quando comecei a traba-lhar num jornal que ficava lá perto da Pedra Grande e pertencia ao empresário Jácomo La Selva. Depois o Jesus Chedid me convidou para a Gazeta Bragantina, que hoje é do Paulo Alberti. Também fiquei muitos anos no Bragança Jornal.” Pulou de jornal para jornal, de cidade para cidade. “Gosto de mudanças. Costu-mo dizer que moro na estrada. Tanto que carrego um guarda-roupas no carro, nunca sei onde vou ficar. Saio daqui vou para Campinas, onde trabalho numa revis-ta, passo por Jundiaí, São Paulo. Vivendo e curtindo o meu trabalho.”

Seu blog, fanpage ou que nome tenham têm mais vi-sitas que o Corcovado, por exemplo. “Já atingi marcas incríveis.” Não é para menos, seu nome é conhecido no país por tudo o que já criou, pintou, escreveu, falou, apareceu, jornais, revistas, rádio e televisão, fora obras de arte. “Trabalhei na Band, por exemplo.”

Muitos chamam Lorenzetti de “encrenqueiro”. “Adoro sim, uma encrenca, um rebu, uma discussão. Como disse, a fofoca faz parte do jornalismo. Às vezes pode até ser vista com um viés pejorativo, mas fofoca é a grande sacada. Imagine, por exemplo, a cena de um casal entrando num cinema. Ela pode ser vista de vá-rias maneiras. Para uns o casal vai para ver o filme, cla-ro, para outros só vai dar uns “amassos” no escurinho do cinema. Viu? A cena é a mesma, as interpretações é que são diferentes. Faz parte do espírito humano. A maneira como vai se falar desse encontro pode ou não ser transformada em fofoca.”

Dores de cabeça com seu trabalho? “Muitas.” Pro-

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cessos na Justiça? “Pelas fofocas? Não. Posso ter sido processado por outras coisas. Alguns políticos se incomodam com a minha visão crítica em relação a eles. Quer saber? Políticos são um câncer. Difícil encontrar um que seja honesto, que tenha uma vi-são social. Começam a roubar, a meter a mão, bastou serem eleitos.” Ganhou um apelido quando traba-lhou nos três principais jornais de Campinas: “Pas-sei a ser chamado de Infernando.” Lorenzetti sorri. “Eu infernizava mesmo a vida dos políticos. Foram casos de muito rumor na cidade.”

E não foi só lá, um dia ele publicou em sua coluna num jornal de Bragança que uma socialite da cidade estava pulando o muro e “chifrando” o marido. “Foi a maior confusão num bairro chic lá da cidade...”

“Confusões sim, processos não.” Fernando reco-nhece que já incomodou muito com suas tiradas. “Dois ou três processos aqui em Atibaia. Ganhei to-dos. Devem ter sido notícias picantes. Nem vou lem-brar, não alterou minha vida.” Ele não deixa por me-nos: “Invariavelmente as fofocas envolvem homens e mulheres. Isso vem desde Adão e Eva. Por mais simples que seja, um fato visto como fofoca se trans-forma em notícia excitante. A fofoca é coisa tão pro-curada, tão curtida que até fundei uma “rede de fo-focas” para agradar a um número cada vez maior de curiosos. É a “Rede Fofoca de Comunicação”. São as pessoas que me pedem as fofocas. É necessário que se tenha o Fofocabaia em Atibaia, o Fofocabraga, em Bragança, o FofocaJund, o FofocaCamp. A “Rede Fo-foca de Comunicação” está no ar. E atende não só às onze mil pessoas que seguem a minha coluna, como milhares de pessoas de todos os cantos. Garanto que são pessoas muito bem articuladas, gente que sabe o que quer para a sua vida e sua cidade. E o melhor

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é que um cidadão de outros cantos, Manaus, por exemplo, pode ler tudo isso. O mundo é curioso, não é gostoso isso? As pessoas lá de fora dizem: “Nossa, essa cidade é uma loucura. Acontecem coisas...”

Lorenzetti reconhece que muitas vezes “trabalha a notícia”. “Mas trabalho só diante de fatos reais. Como naquela história do casal que vai ao cinema. Eu dou o tom que chama a atenção. Todo fato corriqueiro pode explodir se for bem tratado. Vira uma grande notícia.” Fernando justifica e dá um exemplo: “dia desses vi um poste dentro da casa de um vereador aqui da cidade. Fotografei e coloquei o poste no meu blog. Não afirmei nada, apenas perguntei: “o que é que um poste, uma coisa pública, paga pelos munícipes estaria fazendo com luz acesa na casa de um vereador? Claro que esse fato real virou notícia. E muitos pensaram que era fo-foca do Lorenzetti...”

Fernando defende a tese de que fofoca é reportagem crítica, “em duas ou três linhas você lança a visão que é clara, direta e objetiva. Fofoca ou não, nem por isso a notícia deixa de ser verdadeira, ao contrário, atrai ain-da mais a atenção, cumpre o objetivo de informar algu-ma coisa que eventualmente pode estar errada”, dis-para. E emenda: “Viu? Vista por esse prisma a fofoca até que é uma coisa sadia. Tem quem não goste de um boa fofoca? Fofoca é como uma caipirinha, ninguém rejeita...” Fernando ri.

Pulando da caipirinha para o café, conta que dia des-tes estava tomando café com amigos na Lege, famosa padaria da cidade. “Passaram duas senhoras e uma de-las me reconheceu, deu meia volta e foi logo dizendo: “Você é o fofoca?” Confirmei. E ela: “Eu moro lá na Vila São Paulo. Adoro quando você fala do bairro do Portão. Agora já não tem nem água por lá. Prometeram, mas não levaram. Não temos água, mas temos o Fofoca...”

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Viu? Ela sentiu que minhas notícias, minhas fofocas eram importantes na defesa do local onde ela mora. Gosto do fato de estar me comunicando.”

Lorenzetti tem certeza de que muita gente da po-lítica tem um pouco de medo do seu trabalho. “Eles sabem que sou desbocado. Muita gente da Prefeitu-ra comenta. Por sinal, é incrível o número de pes-soas que dependem da prefeitura. Parece que tudo e todos da cidade dependem dela. Atibaia não tem indústrias, tem poucas vagas de trabalho, poucas oportunidades, o poder público representa muito. Quando eu falo dos erros da prefeitura a notícia cor-re como rastilho de pólvora.”

“Quer saber? Acho enfadonho tudo isso. As coisas não mudam por aqui. A prefeitura é uma dependên-cia que chega a ser criminosa. O sujeito ganha um emprego e passa a defender valores que não são dele. Isso me incomoda muito. Entendo que as pes-soas tenham necessidade de sobrevivência, mas elas não deveriam mudar seus valores por conveniência. E o que se vê? O ex-prefeito vira amigo do prefeito, a cunhada do prefeito casa com o ex-cunhado... Não dá para entender.”

Atibaia deveria reconhecer os talentos que tem, diz. “Parece que só existem notícias ruins. Juro que eu me sinto viajando num trem fantasma daqueles que a gente andava quando criança. Eu entro naquele am-biente escuro e a cada minuto surge uma novidade, um susto horroroso. O cenário muda a cada noite, e fica pior. Ai eu acordo encabulado: ontem mudaram o estacionamento nas ruas, o que vamos ter hoje? Quem abre as torneiras recebe aquela água marrom-choco-late. Implantaram a taxa de iluminação pública e a ci-dade começou a ficar mais escura. As luzes públicas só acendem durante o dia. É tudo muito insano, inusita-

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do. Engraçado e trágico ao mesmo tempo. Sem que se espere, derrubam uma árvore todos os dias. Não estou culpando ninguém em especial, nem secretário e nem prefeito, estou falando o cotidiano da cidade. E isso já vem de muito tempo, administração após administra-ção, está no espírito da cidade. Ainda temos escola de lata com telhado de lata quase no coração da cidade. Isso é coisa perigosa.”

E nunca tentaram “pegar” o Fernando? “Não, nunca ninguém chegou em mim para um “desforço físico”, uma briga. Até porque eu não sou agressivo. Talvez as notícias sejam agressivas. Sinto um enorme carinho das pessoas em relação a mim. Talvez as notícias até incomodem pelo enfoque que dou. Só que eu não falo de coisas pessoais. Que culpa eu tenho se um político de Perdões é flagrado em uma sauna gay, por exemplo? Isso faz parte do meu caldeirão, o caldeirão do Nandão. Meu enfoque é mais político e social. Falar das pessoas talvez seja a pimenta do prato que sirvo... Cada um faz o que quer da vida.”

Quer saber como as notícias chegam até Fernando? “Ah, o povo fala, as pessoas sempre falam. E gostam de falar. Gente daqui, de Perdões, Jarinu, Nazaré, da re-gião, do Estado, do País. Tudo vira um “muvuco”, vai e vem e não para. A fofoca é o grande “tchans” e nem sempre é mentirosa, jornalismo puro, já disse. O que eu faço é reconhecido aqui e em todos os lugares onde trabalho. A fofoca está no mundo.”

Fernando negocia sua volta à TV com duas emisso-ras. “Não sei se topo. A televisão já ficou antiga. Prefiro a internet. Fazer uma reportagem para a TV exige ci-negrafista, iluminador, produtor e sei lá quantas pes-soas, além do repórter, claro. Hoje esse mesmo repór-ter precisa só de um celular, ele mesmo vai, filma, fala, apresenta. Funciona melhor, acredito.”

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Do que Lorenzetti vive? “Do meu trabalho. Tenho minha empresa de comunicação multimídia. Cuido de vários clientes, nunca estou parado. Não gosto de viver como empregado. Ficar preso em uma redação seria a morte. Preciso de movimento, ficar na rua, olhando.”

Projetos de vida? “Não faço. Aprendi com uma irmã maravilhosa. Tinha lindos projetos para a vida e foi vencida por uma doença. Parei de elaborar pro-jetos pessoais. Vou vivendo. Gosto de rir. Dou mui-ta risada. Estou aqui porque entendo que Atibaia precisava de um veículo que cobrasse mais, ficasse cutucando os políticos. Parece que a cidade pegou o gosto pelo meu trabalho, pois depois do meu blog já vieram outros que também estão fiscalizando, co-brando. Isso é muito bom.”

Fernando anda preocupado com “uma miserável de uma artrite nos dedos...” Fruto de tanto ficar digitan-do, escrevendo o dia inteiro, se relacionando com os leitores. Tranquiliza-se com a notícia de que já existe de um sistema que recebe a fala e transforma em texto. “Ótimo, a Rede Fofoca de Comunicação não vai parar.” Fernando sorri.

Ele diz que não sossega enquanto não acabar com as injustiças do mundo, com problemas de discrimina-ção, com os preconceitos, com o cerceamento da liber-dade, especialmente a liberdade de expressão. “Essas são as coisas que mais me tocam, mais me preocupam. Essas são as minhas lutas.”

Como diria a canção: “Boa palavra rapaz, é assim que um homem faz...”. ■