fernandes, f. fundamentos empíricos da explicação sociológica.parte i

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    ! . : I . '

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    I- Introdufao

    : sabido que 0 cientista nao Ucla diretamente com os fatesou fenomenos que, observa e pretends explicar, mas com -1ns-tandas empiricas, que reproduzern tais fatos au fen6menos.A realidade nao e susceptivel de apreensao imediata,e suareprodw;ao, para, os fins da investigacao cientifica, exige 0concurso de arividades intelecruais deveras cornplexas, Essas ad-vidades silo naturalmente reguladas por norrnas de rrabalhofornecidas pela propria cieoda. Quando desenvolvidas compropriedade, elas conduzem a urn conhecimento objetivo da rea-lidade no qual esta ' e reprcduzida, segundo graus de aproxirria-~ao ernpirica que variant com a natureza e os prop6sitos dasinvestigacoes, nos seus aspectos esseneiais.Isso signifies que a descrirao e a explicacio cientificasda realidade repousam, fundamenta[mente, em certas op~ra-l,7oes elemenrares, atraves das quais as instsncias empiric as,que reproduzem os aspectos essenciais dos fat o s ou Ienomenosinvestigados, sao obtidas, seledonadas e coligidas em totalidadescoerentes, Segundo oconsenw dos especialistas em 16gica ou.na filosofia do conhecimento cientifico,esse seria 0 dominiod a tecnira da investigacao. cientifica, Em terrnos formais, osocedimenros utilizavels para a realizadio dessas operacoesuniversals, aplicando-se, portanto, a todos as objetos pos-. da investigacao cienrifica. As mesrnas regras funda-

    is orienram 0 ajustamento dos investigadores a. diferentesde pesquisa, como as que Sf apresentam na fisica,mica, na biologia, na psicologia ou na sodologia. Emoperacionais, porem, sao variaveis os requisites de

    '~~"'~;_Lunt:J[l:0 objetivo da realidade, As chamadas "ciencias" (1), em contraste com as "ciencias experi-entre "ciencia de observacao" E' "ci @ n d a experimenral" eporque todo conhecimento cienrlfico se f und 8., direra ouobserva~ao. A forma de (",idear . obi.,v"

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    rnentais" (e, em particular, com as ciencias que podern explorarde forma sistematica 0 metoda hipotetico-dedurivo}, com fre-qi.iencia lidarn com fenornenos cuja descricao e explicacaopressupoem a reconsrrucao das unidades investigadas, sejamelas urn orgao au urn organismo, uma pessoa ou um grupode pessoas, uma pequena comunidade ou a socie'dade industrial.Dai a necessidade de dar maior arencso, nessas disciplines,a s quesroes e aos problemas que dizem respeiro a s operacoescognitivas, por meio das quais as aspectos cientificameote reolevantes pata a descrioio ou a explicacao dos fenomenos in-vesrigados sao- docurnenrados e elaborados interpretativamente.Sem a reconstrucao do universo empirico restrito, com quetiver de operar, 0 investigador dificilmente podera por-se emcondicoes de descrever e de explicar os fenornenos submetidosa observacao, Ii atraves da manipulacao das .instancias empi-ricas, consideradas em conjunto, que 0 investigador chega adescobrir :a complexa teia de ramificacdes da realidade, a com-preender a unidade investigada como urna totalidade integrada,a .fcrmular as hip6teses alternatives basicas, e .a isolar as ex-planacoes descritivas e inrerprerativas consistenres, Em surna,embora os dodos de fato -nada ruais sejam que a materia-prima do conhecimento cientifico, nas referidas disciplinas tor-na-se essencial acumula-Ios segundo cerras regras, que assegll~rem ao invescigador a conviccao subjetiva de que, nas diferentesfases da investigacdo, ele sempre tera ' 0 necessario dominiosobre .as instancias ernpiricas cruciais,

    Todavia, gras-as ao desenvolvimento vagaroso e .irregular_da investiga~ao empirica sistematica nas ciencias sociais, poucose progrediu na discussao dos problemasconi:erneritcs it re-construcao ' da realidade e a s suas irnplicacdes 16gicas. Osespecialisras temsc devotado, com maier interesse, a consti-tui~ao dos modelos de explicacao r da realidade social. Comisso, colocararn em primeiro plano os problemas logicos dafo:ma~ao da inferencia nessas ciencias, os quais se irnpuserampnmeiramente aos investigadores por causa de sua arnbicaode transferir os padroes do conhecimento cientifico a expla-avel)~S:~ apresenta cerro interesse essa velha disdn~a(], que lsvou Claude Bernarda afJ.~ma~. que "a ()bJ~vafJo e .3 il)vt:$riga{ao de urn fenornenc natural, e atXper, e n ( ' ~ a ; e a Jnve$tlga~ao de um fenflmeno modificado pe!o invesngador'(/::'TOJu,t;on J l'Slude .d, fa M"d,,;,u Exphimenta/e. Les ~d;tion, du Cheval111ie,. Geo ebra, 1945) .. r;:~ntudo, salienra multo bern que a exper imentacao(:?o-st.!t~l1 UW

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    6' FUN'O.\MENTOS MPjRICOS D.\ EXPLlCA~AO SOCIOL6GICA

    conhecimento do senso comu~, eo, conheciment~ dent.ifi~o,a respeito dos feno.meno~ .so~lals, seria ~~)ll~O prec,ls~ e Insl~-nificante. A p.r6pna leg1t1mlda~l_edas crcncras SOCIalSpoderiaser posta ern duvida: o~ con~ec~mentos que elas no~ ofereces-sem padeceriam de defeicos similares aos - do conhecimento dosense comum. Contudo, desde Tile Polish Peasant in EUr'o~eand - America (3) ficou mais ou menos claro que os dOl.Sripos de .conhecimento se - op6em ta~to em -ter~l1os de ex!!!:-c a r a o , quarito em termos de perceprao da realidade, 0 im-portante, parece, nao e 0 que se "ve", mas 0 qu~ se observacom metodo. Como lembra Madge (4), urn pesquisador socialsem treino adequado pede ver muito e identificar pouco; en-quanto urn pesquisador social com ideias rigidas aca~a ve.ndoapenas os fatos q~e co~lIirmam suas con~ef~oes, Alern disso,e precise nao ne~~ge.nclar o. ~apel da ana~lse com~ recurso deobservacao nas crencias SOCIalS. Concepcdes esrrertas, de na-tur~za pre-cientifica, contrihuem para manter a' ideia de, quea observacao dos fencrnecos socials se confina aos pr?cedunen-t05 pelos quais sao reunidos as dados bruto~" ~odavl~,:a f aseverdadcirarnente crucial da observacfo, lias crencias SOCialS, (eIDinitio quando 0 tratamenro analirico dos dad?s perrnite p~ss.ardas imagens 's,ensiveis dos fen6menos para _Image~ns unrtanasou analiricas de suas propriedades e das condicoes em quesao produzidos.

    Lirnitando-nos a pontos essenciais: a "obse:va!~o" _possui,nas ciencias socia is, os mesmos caracteres e slgOltcalonagraph 0" "" Immigrant Group (Richard G. Badger, TheGorham Press, BaSIOn, 19181920). vol. 1. pp. 1-86_(4) John Madge, The Toars of Sodal Sc;"'-,, (longman" Green, Londr.s,1953), p. 124_

    AI lI!CONSTRU~AO DA REALlDAOE NASCl fNCIAS SOCIAlS 7para a descricao ou a, interpreracao dos fenornenossao obtidas, selecionadas e coligidas. 0 que, sob cerros:;t'SOel:tos;.parece peculiar a s ciencias sociais, e a necessidade de

    " a " , , , , n ' t - T l 1 i : t , empiricamente, 0 objero da investigacao, IS50 faz,'con1 que 0 processo de observacao seja urn pouco rnais cornpli-cado, nessas ciencias, na fase 'de coliga~ao das instancias em-. :piricas, suscep~iveis de conduzir a ~eprodu~ao de elem~n:o~dpicos des -fenornenos, encarados em 51 rnesrnos e nas condicoes'de sua manifestacao. Seria coovenienre, portanto, pOr emrelevo _par que a reconsrrucao ~~a ,realidade e tao importanteno estudo dos fen6menos socials. Ern qualquer setor da in-vestigao;lio cientifica, cabe a o~servao;ao. descobrir .e por em.eyidencia as condicoes de producao dos fen6menos esrudados,As ciencias que podem recorrer 'sistematicamente aexperimen-ta\ao possuem rneios que permitem criar ou :variar, de modo _.artifical, as condicoes de produ\ao de s feri6menos observados.A experirnentacao simplifies a pesquisa dos elementos quesao essendais na rnanifestaciio dos fencmenos e oferece aobservacao _ recursos - que perrnitcm concentrat us pesquisas riatdentifkao;ao e no le,'anrament9' desses' elementos. 0 queimporta norar e que a observacao experimental 'confere aoinvestigador a capacidade de isolar, com relativa eeonomia detrabalho e com precisao, as instancias emplricas que sao cru-dais para cornpreensao das condicoes de producao do fenomeno.Gracas a esras. instancias e que 0 invesdgador pode passar do"caw .concrero" para 0 "caso tipico" e descrever as condicoesde producao do. fenomeno atraves de fatos de significardogeral, Em regr:!:, quando 0 investigador consegue reunir urn,con junto de evidencias, que permita construir o "caso tipico",ele ja dispoe da "explicacao" do fenomeno. Dai a relativafusao de dois momentos disrintos do processo ide investigacdo.A. construcso do caso tipico, que se obrern mediante a obser-va

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    8 fUNDAMENTOS HIPiRICOS DA EXPLlCA~AO SOCJOL6GICA

    tancial e fornlito, mediante a consrrucao analitica de cases,. . 6 entao e que se pode passar ao tratarnento interpre-tlplCOS, s . . ,.' d . ,rativo das instanClas empulcas seleciona as, com 0 proposltode explicar os fenon~enos ob~erva~.o~', .E~ outras palavras:as operacoes intelectuais ~e carate~ teemeo, prec~,d:n~ e" e~ndidonam as opera ~5es lDtelectu~ls de cara te.r I .O g I .C O . ( ) .A consisteneia material das prerrussas de uma I11ferenCl~ mdu-t 'a e os limites dentro dos quais ela pode ser consideradaN . d' .como empiricamente valida dependem_,. diretamente, 0 rigore da precisso alcan

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    10 FUNDAMENTOS EMPj Il lCOS DA rXPLICAC;AQ SOCIOL6GKA

    petwnalidades, de grupos ou de instiruicoes socials), 0 ques-tioniitio e 0 formulsrio. Nas pesquisas que podem realizar-sesob modelos experirnentais, algumas dessas tecnicas de inves-tiga~ao sao asscciadas a observacao controlada e dao margemao recurso 111ai5 amplo da mensuracao de atirudes, de opinioese do comportamento manifesto (8).o segundo grupo de operacdes repOllsa em manipulacdesatraves das quais 0 sujeiro-investigador organiz.a, critica eclassifies a "docurnentacao" levantada. A natureza da pes-quisa apresenta pouca importancia aqui, pais as rnesmas tee-oicas de organizacao, cririca e classificacso dos dados podems e t : aplicadas, indiferentemente, a materials levantados por meiocia pesquisa de reconstrucao hisrorica, da pesquisa de campoou da pesquisa experimental. A {mica diferenca fundamentaldiz respeito a s observacoes quantificaveis, que podem ser sub-metidasa tratamento estatistico, Essas sao, naturalmcnte,manipuladas de acordo com proeedimentos, especiais de ex-.purgo, apuracao e ordenacao dos dados fornecidos peia esta-tistica, 0 investigador consegue dererrninar a sigoificac;aore1ativa dos dados de fato, dentro do conrexto empirico a que. se integrem, mediante a analise da consistencia dos diferenrestipos de i informacoes e do grau de complernenraridade delasno universo empirico observado. Em termos factuais, isso eobtido pela depuracfio cririca das inforrnacoes, par seu rom-bamento sistematico (com freqiiencia pela organizacao de fi-charles), pelo levantarnento e classificacao das instancias em-plricas relevantes. Bste ultimo processo rorna em consideracaoa importancia intrinseca das instancias empiricas selecionadas,suas rela

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    12 FUNDAMENTOS IlMPimcos DA EXPUCA

    questfies marginais se colocan:I aqui. A primeira,usa do terrno "metodo", para descreve: asrealizadas p_elo sujeito-investigador aindaobserva

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    14 FUNDAMEN,OS E~IPjRICOS DA EXl'L!CA

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    16 fUNDAMENiOS E/l ipiRICOS OA EXPLlCA

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    18 FUND ';MENTOS EM?iRJCaS DA IXPLlCA(AO 50CJOL6GICA

    brutes, a elaboracso das instancias empiricas relevances paraa construdio de tipos empiricos e a formulacao de "general]-iac;oes e~piricas" (19) envolvern principios 16gicos, derivadosdo sistema de referenda, implidta au explicirarnente explorado-na pesquisa. Segundo, que rodo projeto de pesqui~.a 'pH:ssup~eum minima de principios 16gicos, que dao ao sujerto-mvesn-gadar a possibilidade de reco?~truir 0 ca;l~reto atraves. decategorias absrratas, mas emplrJC~ment.e vahdas,. produzidaspor meio da analise. Qu~n_do 0 tnve~t1gador omite ,os .dadose as proposic;5es que servirao como sistema de refercn~la, eleapenas subestirna 'certas indicac;~es. que sao fu~da~~nta!s. I:araa derivacao, por outros especialistas, dos pnnClplOs 10glCosseguidos nas atividades cognitivas de cararer anaH.~ico. Nempor isso pode furtar-se a des. 0 que ocorre, frequent:mente,e qU,esemelhante negligencia expoe 0 investigador ao risco deaproveitar mal os resultados da investigacao para 0 progressoda teoria cientifica.Os especialistas em metodologia das ciencias sociais C05-tumarn, ainda hoje, , atribuir pouca atencao a essas questoes.Apenas onde foi possfvel aplicar rnodelos experirnentais depesquisa ou onde a analise esraristica . lcgrou condicoes efeti-vamente favoraveis de aproveitarnento e que elas foram de-vidamente apreciadas. 0 que se explica, naruralmente, peIofato do planejamento da pesquisa exigir, nessas circunstancias,uma definiC;ao precisa dos dados e das proposicces iniciais da'investiga " ' " f a c i l i da dede expre ss ilo , u sa remos 0 conccico de caracte eiaacao ernpi r ica ern sentido inclusive,ab r: angendo r an ro 0 conhecimento anallrico concernenre aos tipos ernp iricos,quanta 0 relativo a uniforrnidades social's. .

    (20) As vezes ' rambem designado como "estudo de case", pr incipalmentepelos especialisrs s norte-americanos e ing leses, Essa expressao parece-nos ade-quada st rnp.re que Sf (lata da coleta de dados ~ no nivel da analise, irnp~e~se 0uso da exprc.5sao "metodo monografico", ji consagrada nas ciencia:s socrars C,dude Le Play, ~ao vincu)ada a

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    20 FUNDAM~NTOS EMPjRICOS DA EXPLlCAQ:O SOCJO) .6G!CA

    t ~o (no qual se trata de descrever e de explica.r os feno-pre aca '. ') "d f ImenO's da forma rnais ahstrata possIvel, ,e gadtantl a, a~t~ae logicamente: a) pelas i.mplica~oes te~rlcas as proposl~oesiniciais, que definem 0 objeto das pesqUlsas; ~) ,Pela n~turez.adas evidencias ernpiricas, que se tornam a~e~slvels ao mvesn-gado! somente a pa~tir dos resultados cogmtlvos da reconstru-\ao analitica da reahdade.

    Quanto a s Implicacoes reoricas, e precise salientar que 0mesmo gtupO deprindpios basicos, as:oda~os ,a?s dados e p~o-posi~6es iniciais do proje~o. de pesqul~3: e ,vabda e. se apb,eaigualmente a to?as as atlvld~de~ do m~es,t1gador,. E r . n conse-qiieneia, nao exrsrern descontinuidades logleas que sepr.n pro-duzidas pela transicao de urna fase a out:a da pesqu;sa .. 0raciodnio do investigador se ajusta, operacionalmenre, .a natu-reza ~'ariave1 das atividacles intelectuais desenvolvidas em cadauma das Fases, mas sempre de acordo com 0 referido grupode principios basicos (cuja rCfotmula~~o,quando ocorre, passaa ter a mesma vigencia gera!). Par' lS50, 110 tratamento ana-lltico. das instancias empiricas cruciais 0 investigador reternos caracteres do Ienorneno observado nos estados em que eleira intere;sar a interpretadio sioteticae generalizadol'a. A ela-bora~ao das instancias empiricas, rnesrno servindo aos pIOp6-sitos espedfieos da reconstrucao analitica da realidade, vincula-se, indiretamente, a alvos logicos rnais amplos, definidos pelosobjetivos reoricos da pesquisa,

    Quanto it . natureza das evidencias, e obvio que a slntesee a explicacao genl-'raliiadoIa seriam totalmente imposslveis semo tratamento analitico previo dos dados de fato e a acumuJ~~.aodos conhecimentos proporcionados pela reconstrucao empmcada realidade. Foi um d9S grandes rneriros de Marx ter postoisso em relevo, ao debater os p:r;oblemasmetodo16gicos da eco-nomia (21). Segundo indica explicimmente, a analis.e prop~r-cionaria a s ciencias sociais urn equivalente da expenmenta

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    if1 fUNDAMENTOS EMPfRICOS DA EXPUCA~AO SOCIOL6GICA22Essa e uma possibilidade caracteristica das ciencias que podempraticar aobservasao em condicoes experimentais, Alias, adiferenca entre as ciencias sociais e as ciencias experirnentais,a esse respeito, e ainda mais profunda. Como ja sugeriaComte (22), elas tambern carecern dos meios de controle dasexplicacdes, forneddos pela experimentacao propriameote dita.,Mesmo a psicologia social, que disp6e de maiores recursos paraa observacao controlada e a exploradio de modelos experimen-tais de pesquisa, nao conta com as facilidades das "ciencias delaborat6rio""nasquais basta repetir artificial mente 'as condi-c;6es de produc;ao do fenomeno para saber-sa se a, explicac,:~oe verdadeira au falsa,

    Pondo-se de lade outros fatores, isso se deve as dificul-dades criadas pelo experimento com sujeitos humanos e ~osobstaculos 11constituicao de situarfies verdadeiramente experi-rnentais para a observarao do cornportamento colerivo, Acresceque a repedcso de certas fases da investigacao, com 0 fito decontrolar as observacoes ou de verificar as inrerpretacoes, sern-pre se .reflete no custo global de uma pesquisa. Dai a preo-cupac,:ao dos especialistas em operar de modo a assegurar amaior exatidao possivel no registro, classificacao e manipula-i.;ao analitica dos dados de fato. Desse prisma, a primeira faseda observacao apresebta interesse particular, pais, como sa-Jienta Lundberg (23), da exa ridao das observacdes originaisvao depender o valor da analise. e a fidedignidade das gene-ralizacoes, Varios exernplos demonstram que e , essencial in-tervir na primeira. fase da observacao, seja para garantir amaior precisao possivel no levantamenro dos dados, seja paraestender a area de aplicac;ao de tecnicas de observacao can-trolada. Urn trabalho tao' famoso como A Crianc e suaFamilia, de Charlotte Buhler e seus colaboradores (24), estasujeito a irnpugnacoes e a duvidas que seriarn evitaveis sep~ocedimentosmais precisos tivessem sido empregados na rea-lizac;ao das observacoes originais. as investigadores pro cede.ram com tamanha subjetividade, no periodo de coleta dos dados,que 0 rigor da analise estatisrica posterior c.hega a parecer su-perfluo , ~.

    (22.) Auguste Com,". Co",., de Pbiloso pbie Positive (Sch le icher Er er esllclj'eurs. Puis. 1908). vel, Ill. p. 225 e segu intcs.(23) George A: Lundberg, Social Research, 0I'. cit., p. 10.(24) Charlotte Buhler, com a col"bora~i() de Edalrrud Baar , Lot'. Danz in-ger.~chenk. Gertrud Falk, Sophi e Gedeon, Gertrud Horrner, Tbe Chjld ami Hi,F"",,/y, Itad\l~ilo de Henry Beaumonr (RourIedge & Kegan Paul. Londrcs, 1940).

    ,I. RECONSTRU~AO DA REALIDADE NAS Cli1;NCIAS SOCIAlS 23

    ,. Entretanto, as outras duas fases da observacfio rambem; pOSSllem interesse especial a, ~sse :espeito.Em prirneiro lugar,.. porque os resilltad~s da .a~ah.se nao ?ependem apenas da exa-tidao das observacoes orrginais. 0 upo de tratamento a quefQrem submetidos os dados brutos n[o s6 pade au men tar acbnfiaoc;a e a seguran\a do investigador na mauipulacso dos,materiais ernplricos, Como e capaz de abrir novas perspectivas

    1'(16 trabalho de analise. Apesar cia relativa negligencia COIn- ~.9i:1eessas questfies tern sido, enfrenradas pel a maioria dos in-".Yestigadores, e possivel exen1plificar os dois pontos. Em 'Coo-- tribuic,:6es de caraterqualitaj1vo, a crt rica da documentacao e.a selecio de instancias emplricas de consist e n cia e significacaoc6mprovadas podem oferecer uma base. segura it analise rno-nografka (25}.Em. invesdgac;6es quantitativas, 0 rratamentocritico dos clad os, tendo-se em vista a equiparac,:ao de deter-m~nados fatores,permite concentrar a analise em grupos res-.tritos de cases homogeneos, com grande vantagem para a obser-yas:[o do comportamento das wariaveis focalizadas (26). Em. :seg~n90 Lugar;, porque a analise representa 0 verdadeiro passocrucial no sentido dos alvos da invesrigacao cientifica, a exita_,his pesquisas, tanto no plano descritivo, quanto no interpre-tativo, relaciona-se e subordina-se, diretamente, aos resultadosf~nais da analise. Com base' nas evidencias empiricas, sele-. ~lO:nadas, compw,:adas e testadas por meios analiticos, e quese,. -pode"descrever" e "explicar" a realidade nas ciencias so-".daJs. Por isso, todo 0 eotusiasmo e esforco criador dos~spedaljstas tend em a concentrar-se, modernarnente, no refi-iia~ento do rigor e da precisao dos meios de analise, quali-tanvos e quantitativos. .~ :". ~omo s.c ' Y e , 0 problema do controle das observacdes, naspeI_lclas socials, apresenta varias facetas. Algumas rem me-r.e~ldo ~ratamento adequado; outras aguardam uma renovacaoc?~nst:urlva d.a cornpreensao das questfies rnetodologicas nessas~lencfas. Acuna de tudo, porern, sobreleva '0 fato de residi-rem nossas possibilidades de conhccimenro objedvo da realidade

    . fl~!ld~~5) .. l: . 0 9~e d:;motl,tra. urn rrab._Iho expI~rali5rio do autor ; d. f. For-,SO'ded;de Tu An.IJSe. h>?Clo'.' ,IfS[a d~, Gucr r a : Possibi.lidad~,,_ de Apl;,~~ao 1\- ; C l ' ol ] i s ra s p _PlOamba. Ensaio ~~. ann l ise crrcrc a da c o n t rihutcao c t u o g r af ica dos

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    24 I .'UNDAMENTOS EMPjRICOS DA EXPLlCA

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    26 FUND.H1ENTOS EMl 'iRICOS DA EXP1ICA\{AO SQCIOL6GlCA

    funde com uma indaga\ao sistematica sabre os caracteres eas condicdes das ocorrencias, Quando ela e bern sucedida,os seus resultados oferecem 0 conhecimento objedvo da reali-da~e, 9ue devera const!tu~r 0 PO?t.o de partida natural e 0 pro-pno sisrema de referencia empmco da exp1ica~ao cientifica,

    Poraq~i se v c qual e a rc~a~ao- essencial entre 0processod.e ob:erva~a? e. 0 processo de ,In. terpret.a~ao na pesquisa ernpf-rrca Slstemattca._ ~ .segunda e impraticavel scm a primeira,mas a observacao e incomplera e destituida de sentido cienti-fico .pleno sem a interpretacao, Como a re1asao delas nos inte-ressa, no m?mento, do angu~o da ~ig~ifica~ao da pr~meirapar~a, ~egvnda, e dela e. d7 sua unportancia para a explicacao den-tIfl~a que devemos cuidar, Apenas tangencialmente serao dis-cutidos alguns problemas concernentes a interpretacao propria-mente dira (29).

    Ja salie~t~mos qu~ ? conhecllller;tto forn~cido pelos -resul-tados .da ~nallse consnnn urn conhecimento particular. Ele sose aplica a recon~tru\ao da re~lidad~, nascondicoes espedficasem que for c?ns,derad~pe!o mvestl$ado::. ,Trata-se, portanto,de ,urn conhec!~ento cuJ,o nivel de abstracao .e determinado pelounrverso emplr~co ~e~tr1to da investigadio, Is50 nao que! di-zer que ele seJil valido somente para as situa~5es observadaspeIo irivestig.a~or. Gra~as ,aos procedimeruos indutivos explo-rados na ianalise (pelos metodos de invesrigacao ja menciona-d_os), :- no\ao de u~iv~rso ernpirico .resrrito compreende aquelas:ltua~?eS : outras similares que ocorrem no rnesmo campo de'1llvest1ga~a? Mas que, do ponto de vista 16gico, a validadedo c?n~ecllnent? obtido e limitada pot um sistema estrito dereferenda emplrlca. Tal conhecimento seria, propriamentef~lando. uma "ca~acteriza\.a? empirica" da realidade, suscep-tivel dc. representa-la analiticamente, segundo. condicoes parti-~lares l1~posta~ pela natureza do objeto, pelos interesses cogni-trvos do investigador 011 pelo concurso de ambos. '. A : caracterizacao ~pirica da realidade proporciona aol~,: ,est lgador da~os. preClsos e manipulaveis peIo raciocinio cien-,tl.flco. El~ proprta resulta da coliga~iio de evidencias ernpl-r~cas previarnente comprovadas e restadas, Assegura uma .vi-sao global dos fenornenos, quanto a sua composicao e a suadU~j~29~. P ,.~to~ ,~;sc(],:e alguns desses problema. em-t "0. Problemas da re-d adianr ocro ogra If! 0 Me.t odo de Interpret acdc Funcionalista na Sociologia";" e, 1 " " " . II e parte III d csre rraba Iho.

    A RECONSTRUo;;XO DA RALlDADE N, IS C !ENCIAS 50c r'A15 27

    ihtera~ao com outras unidades ou subunidades da investiga-. q a6 :,E, acima de tudo, e:imina 0 ci~cuhstancial e.0. cO,n6ngent,eda esfera de representas;ao da realidade: as evidencias empl-..~ lcas coligidas dizem respeiro a propriedades e a regularidadesr essendais a manifestacao dos f'encmenos. Se a realidade so-,.~ial-"pudesse ser reduzida a urn sistema universal de referendaempirica e se fossern univocas as irnplicacoes l6gicas da posi~ao'. de) observadordiante dela, a passagem cia caracterizacao empi-rica',para a explana\ao sintetica seria uma operacso sernantica..J;!astiria admirir-se, com fundamento no dererminismo, que aspropdedades e as regularidades, 'caracterizadas empiricarnente,se. iepetiriam ou variariam uniformemente, sempre que se rca-' (izassein as condicdes observad1l"s de producao dos fenomenos,o nonivel progresso inicial da "fisica -e da quimica, por exem-repousou nessa possihilidade de transicao semantica do co!,ll1t:'--lllH""lJ analirico para 0 conhecimento sintetico.

    Devido ao seu pr6prio objeto, as cicndas sociais nao pucleral11 beneficiar-se dessa possibilidade. De urn lado, porque. fenomenos sociais nao podem serredu:ddos a urn sistemade referencia em p i rica. A realidade social e descon-, e impoe-se considerar que 0nurnero de sistemas inclusi-de referencia ernpirica -e proporcional ao de tipos irredu-d e sistemas sociais globais. 0 principio do determinismoe a: explicacso causal se aplicarn aos fenomenos sociais. Massuas implicacdes 16gicas sao diferentes, porque a descontinuidadesocial limira as probabilidades cia absrracao e da generalizaEm particular, 0 sujeito-investigador precisa deterrninardentro dos quais, certa explicacao positiva podera sercomo possuindo validade universal. De outro lado,. e 0 sujeito-investigador pode escolher, arbitrariamente, acia qual observara a reaJidade, tendo em vista os pro-cognitivos da investigacao. Essa possibilidade se pren-

    C A nume.ro de. variaveis operativas, que intervern na di-. nam;lca.' da VIda social, Em conseqiiencia, a atividade cognitiva" J ? _mv,btil?ador tern de concentrar-se sobre 0 comportarncnto,ae'determwudas variaveis, negIicenciandose as demais, irrele-Xantes para_ a invescigacao. It claro que, em tais circunstancias,explicacoes descobertas valern apenas para 0 estado no qualfen.omenos forem observados e interpretados." ~en:el~antes dificuldades fazem com que a formacao daInfere?cla llld~tiva apresente para os cientistas sociais preble-ainda mars complexes que os da biologia, Spencer, que se

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    preocupou com arnbas as coisas - com aquelas dificuldadese com as paralelos existentes entr.e a explicacao na biologia enas ciencias sociais (30) - niio deixou de ressalrar esse faro,que ainda hoje desafia a argucia dos especialiscas. Em patricular, e impossivel evitar certos riscos e indeterrninacoes napassagem da' caracterizacao empirica para a explicarao sinteticae. generalizadora. Formalmente, a presuncao que fundamentaessa passagem, nas demais ciencias, e posta em prarica pelosiovestigadores. Ela consiste 'em admitir que as propriedadese as regularidades, caracterizadas empiricarnente por via ana-litica, sao propriedades e regularidades essencials dos propriosfen6menos observados. Podem, portanto, ser presumidas comopropriedades e .regularidades gerais, dadas condicoes similaresde producao dos fen6menos, independentemente de qualquerreferenda ao uniuerso empirico restrito, at raves do qual setenbam. euldenciado (31).

    Como se sabe, essa presuncao conta, abjetivamente, comdais fundarnentos a seu favor. 0 primeiro diz respeito apropria natureza do conhecimento obtido par via analitica. Nafase de interpretadio 0 investigador opera, de fato, com propricdades c com regularidades atraves das quais os fenomenospodem ser representados no seu est ado de pureza empIrica.Se as condicoes de manifesracao dos fenomenos se rnantiveremconstantes, 0 referido conhecimento e valido, tanto para as si-ruacfies observadas, quanta para outras siruacoes similares, 0segundo constitui urna implicadio 16gica do postulado do de-terminismo. Desde que cerras propriedades e certas regulari-dades possam ser caracrerizadas empiricarnente, e possivel presumir que elas se repitarn, realizadas as ccndicoes em que osfenomenos tiverem sido observados, Operacionalrnente, porem, nao e tao tadl aproveitar as' perspectivas abertas a ex-plicacao genel'alizadora por tal presuncao. A razjio disso e6bvia. Para que ocorresse 0 conrrario, seria preciso que acaracterizacao ernplrica, 01.1 correspondesse sempre a urn sistemauniversal. de referenda empirica, 01.1 fosse 0 prodnto de umamaneira uniforme de operar com as variaveis observadas.

    As dificuldades dai decorrentes foram resolvidas de duasmaneiras. Urna delas consiste em definir 0 ohjeto da pesquisa(30) 'Cf. Herbert Spencer, lntroduction " /a Science SociQfe (10.' edicjlo,Felix Alcan. Paris, 1891), espccialrnenre caps, III, IV e XIV.(31.) Sobre 0' fundamcnros emplricos e Iogicos desses proccdimerucs deabstra"aQ e de geoer'lj aa ~~o, d. Florian Znaniecki , The Me/bod D f Sociology,op , cU., pp. 219 .331 .

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    e os alvos cognitivos do sujeito-investigador de modo a deter-'. JUina.r'$e, com precisao,. urn sistema fechado .de referencia , ern-pirica. A : o u : !a ,~olUl;:aoe 1_l1:;;iscomplicad~, 'baseando-se nareelabora~ao sintenca das evidencias fornecidas pela caracte-riza~ao ernpirica, e na construcao de tipos esquematicos (32),unico meio capaz deassegurar ao investigador urn sistema urn,'oc~:de referenda empirica; consisrente com a natureza dasvariaveisa ~erem observadas.

    A primeira solurao constitui a alternativa 16gica para a

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    32 FUNDAMENTOS EMPiRICOS DA EXPLlCA

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    34 l'UNDAMENTOS ); ~HjRICOS DA EXPLlCA< ;AO SQCIOLOGlCAmente, a explica~iio generalizadora, e causal na, interp;etaqiiode fen6menos, que podern ser cOllSlderados ,arr~ves de srstemas~6cio.culturais concretos. Ernbora as explicacoes descobertas,ao contrario do _que supunha Durkheim, sejarn e:

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    38 F1JNDAMENTOS HIPiRICOS DJI 'EXPLlCM;;AO SOC[OL6GICA

    ~ases da investigat;ao. . verdade que ainda sao pouc.as asareas em que essas factlidades podem ser exploradas frutife-rame?:e .. Onde elas existern, como 0 demonstra levi-Strauss,as dJflCUI?~des resultam antes da ahundancia que da escassezd,e .materrars, contando os especialistas com recursos metodo-loglcosadequados ao seu aproveitamento interpretativo (46):5.ob out~~s aspectos, pareee evidenre que 0 progresso das den-Gas s~Clals e5t* dependendo, atualmente, das perspectivas quese abru::m a semelhante combinacao entre os rrabalhos de re-co~s.tru~ao e as renrativas mais on menos arnplas de sinteseteonca. -

    Em resume, sao variadas e complexas as relacoes da ca-ract:riza

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