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FACULDADE ESTADUAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIAS E

LETRAS DE PARANAVAÍ PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL

ARTIGO

A INFLUÊNCIA DOS JOGOS COOPERATIVOS NA 6ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL

Orientador IES: Sérgio Roberto Adriano Prati Orientando PDE: José Reinaldo Mendonça Faria

UMUARAMA - PR 2012

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José Reinaldo Mendonça Faria

A INFLUÊNCIA DOS JOGOS COOPERATIVOS NA 6ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL

Unidade Didática apresentada ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – Governo do Estado do Paraná – SEED – Turma de 2010 – Disciplina de Educação Física.

Orientador na FAFIPA: Prof. Sérgio Roberto Adriano Prati

Professor PDE: José Reinaldo Mendonça Faria

UMUARAMA - PR 2011

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A INFLUÊNCIA DOS JOGOS COOPERATIVOS NA 6ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL

Autor: José Reinaldo Mendonça Faria1

Orientador IES: Sérgio Roberto Adriano Prati2

Resumo

O artigo teve como objetivo investigar a importância dos jogos cooperativos como proposta de ensino e aprendizagem em Educação Física escolar. A pesquisa é de abordagem qualitativa caracterizada de pesquisa-ação. A proposta de intervenção foi realizada no contexto do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE na disciplina de Educação Física escolar, envolvendo 30 (trinta) alunos da 6ª série do Colégio Estadual Pedro II – EFM. As estratégias de ação contemplaram subsídios teórico-práticos, visando auxiliar a aprendizagem e o desenvolvimento das habilidades em um processo de ação e reflexão, envolvendo explicitação oral, debates, exposição de vídeos e textos fotocopiados, vivências e exploração dos jogos cooperativos na prática. Foram propiciadas situações em que alunos e alunas eram levados a aprender com o outro, estabelecendo relações entre as situações de jogo e o contexto da aula, instruindo-os a aplicar as situações dos jogos no cotidiano escolar. Por tudo o que vivenciado no espaço escolar, observou-se que os jogos cooperativos oferecem a possibilidade de desenvolvimento da autonomia, conferindo a possibilidade de integração ao grupo, dando vida às aulas de Educação Física escolar. Tais jogos articulam atividades lúdicas compreendidas como práticas reais das relações sociais, como produto coletivo da vida humana, podendo ser utilizadas nas aulas por suas características que revelam interesse, seriedade, prazer, organização, espontaneidade, dando vida à dimensão corporal que é fundamental na compreensão de uma atividade lúdica na escola.

Palavras-chave: Educação Física, jogos cooperativos, ensino, aprendizagem.

1 Introdução

Em sua trajetória, a Educação Física escolar passou por várias

transformações e os objetivos da área vão desde o desenvolvimento do físico,

1 Graduado em Educação Física Escolar. Professor da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná.

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passando pelo fortalecimento do sentimento de patriotismo e nacionalismo, pela

eugenia, até atingir a busca do desenvolvimento da integralidade do indivíduo,

contrapondo-se ao individualismo corpo versus espírito (CAPARROZ, 2005).

Soares, Taffarel e Varjal et al. (1992, p. 36) afirmam que a visão da

Educação Física escolar voltada para o estudo da aptidão física do homem, “tem

contribuído historicamente para a defesa dos interesses da classe no poder,

mantendo a estrutura capitalista”.

Contrariamente à visão tradicional conservadora, na contemporaneidade, o

ensino e aprendizagem da Educação Física escolar, busca reverter o quadro

histórico de seleção entre indivíduos aptos e inaptos para as práticas corporais,

resultante da ampla valorização do desempenho e da eficiência (BRASIL, 1998). Na

perspectiva atual, “[...] a sistematização dos objetivos, conteúdos, processos de

ensino e aprendizagem e avaliação tem como meta a inclusão do aluno na cultura

corporal de movimentos, por meio da participação e reflexão concretas e efetivas”

(BRASIL, 1998, p.19).

A cultura do movimento configura-se por temas ou formas de atividades,

especialmente, corporais bastante diferenciadas envolvendo, jogos, esporte,

ginástica, dança ou outras que constituam seu conteúdo. O estudo desse

conhecimento visa apreender a expressão corporal como uma linguagem,

possibilitadora do desenvolvimento integral dos alunos.

Com esse entendimento, Hildebrant e Laging (1986), Caparroz (2005), Soler

(2008), Civitati (2008), DCEs – Paraná (2008) expõem que o trabalho pedagógico na

Educação Física escolar precisa ser construído de forma a possibilitar o

desenvolvimento integral do aluno, fazendo menção aos fatores importantes que

devem ser considerados na prática, no sentido de garantir o papel da disciplina no

processo de escolarização.

Assim discute-se que a prática da Educação Física escolar precisa ser

entendida pelos educadores e repensada como uma forma de contribuir para o

desenvolvimento integral dos alunos, uma atividade compartilhada por professores e

alunos. Nesse sentido os jogos como conteúdo da Educação física seriam

importantes auxiliares no processo educacional.

Os jogos são entendidos como instrumento complementar para as aulas de

Educação Física, contribuindo para o desenvolvimento da autonomia, pois estes

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envolvem a construção de regras e negociações por parte dos participantes

(SOLER; 2008).

Contudo, a experiência como docente da escola pública mostra que a prática

predominante na disciplina está voltada para a competitividade. Por isso, defende-se

uma prática diferenciada em Educação Física escolar tendo os jogos cooperativos

como conteúdo de ensino e aprendizagem, sobretudo, frente a uma realidade que

tem como o esporte como princípio norteador na prática cotidiana.

Aos professores da disciplina de Educação Física escolar cabe a

responsabilidade de buscar alternativas metodológicas que deem suporte para

superar o ensino que contribui para reprodução e reforço das desigualdades

arraigadas no âmbito escolar.

Uma das principais referências para o debate sobre o jogo no contexto

escolar é de Huizinga (2000) considerando-o como uma atividade livre, não séria,

mas atraente para o jogador, desligada de interesses materiais e praticada de

acordo com regras de ordem, tempo e espaço, e cuja essência repousa no

divertimento.

Para Civati (2008), como atividade lúdica, os jogos cooperativos são

importantes, pois transcendem as necessidades imediatas da vida social,

apresentando um significado em si mesmo, na medida em que constitui uma

realidade autônoma. Acredita-se que o jogo ultrapassa a dimensão humana, pois a

cultura não é exclusiva às condutas, produções e comportamentos humanos. Os

jogos cooperativos como parte integrante da vida em geral possui caráter

desinteressado, gratuito, provocando a evasão do real.

Como cultura corporal do movimento, os jogos cooperativos são recursos

importantes que precisam ser explorados de maneira a possibilitar o envolvimento

dos alunos. Os jogos cooperativos são entendidos como recursos significativos, no

sentido de possibilitar o desenvolvimento e a aprendizagem na disciplina de

Educação Física escolar de maneira prazerosa (CIVATI, 2008).

A área da Educação Física faz parte do projeto geral da escolarização que

precisa estar articulada com os projetos pedagógicos da escola, atuando como

objeto de ensino e aprendizagem escolar. Nessa perspectiva, os jogos cooperativos

têm como fundamento permitir o desenvolvimento de diferentes dimensões sociais,

motrizes, cognitivas, expressivas e afetivas, permitindo, também, de forma objetiva

agir sobre a formação da conduta humana.

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Para Correia (2006), quando a cooperação é enfatizada nas atividades

lúdicas, evitando a ênfase na competitividade, é possível contribuir com atividades

significativas e possibilitar o acesso das crianças a novas aprendizagens. O autor

citado evidencia que embora a Educação Física tenha avançado teoricamente para

a superação do modelo conservador dominante, não se pode deixar de observar

que, na prática cotidiana da escola, o mito da competição ainda se manifesta.

Nas aulas de Educação Física, os jogos cooperativos constituem-se em uma

ferramenta valiosa para a formação a integral dos alunos. Soler (2008) relata que os

jogos cooperativos, ao contrário de favorecer a competitividade e o individualismo,

ajudam os alunos a desenvolverem relações saudáveis com o outro, em razão do se

caráter lúdico e coletivo. Desse modo, está a relevância de pensar em uma prática

contextualizada, tendo os jogos cooperativos como proposta de ensino e

aprendizagem na Educação Física escolar. Assim, o presente artigo teve como

objetivo investigar a importância dos jogos cooperativos como proposta de ensino e

aprendizagem em Educação Física escolar.

A pesquisa é fruto da implementação pedagógica desenvolvida no Programa

de Desenvolvimento Educacional, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná

(PDE/PR). As ações apresentadas foram implementadas junto aos alunos da 6ª do

Colégio Estadual Pedro II de Umuarama, tendo os jogos cooperativos como

proposta de ensino e aprendizagem em Educação Física escolar.

2 Estratégias de Intervenção

O artigo é de abordagem qualitativa, com características de pesquisa-ação.

A abordagem qualitativa em educação, conforme o entendimento de André (1995)

busca entender o universo cultural da sala de aula e caracteriza-se pelo contato

direto do pesquisador com a realidade pesquisada, com o objetivo de descrever uma

situação, desvendando seus significados.

A pesquisa-ação delimita um plano de ação baseado em objetivos,

envolvendo um processo de acompanhamento da ação planejada e no relato do

processo. Este tipo de pesquisa pode receber o nome de intervenção (ANDRÉ,

1995).

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Com parte da pesquisa-ação, as estratégias de ação contemplaram os

subsídios teórico-práticos necessárias à compreensão da temática proposta, tendo

os jogos cooperativos como ferramenta de ensino e aprendizagem na Educação

Física escolar, no contexto do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE na

disciplina de Educação Física escolar, envolvendo 30 (trinta) alunos da 6 ª série do

Colégio Estadual Pedro II – EFM.

O papel do professor na prática de intervenção foi o de provocador e

desafiador da participação coletiva, contribuindo com o conhecimento dos alunos.

Foram desenvolvidas atividades diferenciadas no sentido de auxiliar o

desenvolvimento e aprendizagem dos alunos num processo de ação e reflexão.

A proposta do programa de atividades com jogos cooperativos que foram

previstas no projeto de implementação. Primeiramente, solicitou-se a autorização da

direção do Colégio Estadual Pedro II – EFM para o trabalho com os alunos da 6ª

série. Paralelamente foi solicitada autorização aos pais e/ou responsáveis dos

alunos para participarem. Na sequência, o projeto de implementação foi apresentado

aos gestores e alunos da escola, com a devida explicitação dos objetivos e demais

informações.

A proposta se desenvolveu em oito encontros perfazendo um total de 32

horas, tendo início com a apresentação à direção, equipe pedagógica, professores e

alunos da escola. Os encontros foram desenvolvidos utilizando-se estratégias

diferenciadas, por meio de explicitação oral, debates, exposição de vídeos e textos

fotocopiados para o trabalho com a importância dos jogos cooperativos como

manifestação da cultura corporal; vivências e exploração dos jogos cooperativos na

prática, envolvendo situações em que alunos e alunas foram levados a aprender

com o outro, estabelecendo relações entre as situações de jogo e o contexto da

aula, instruindo-os a aplicar as situações dos jogos no cotidiano escolar.

As atividades práticas foram desenvolvidas em conformidade com os

materiais à disposição e preparadas pelo professor antecipadamente, tais como

bolas de plástico, cadeiras, vendas para olhos, recortes de jornais e revistas,

bambolês e aparelho de som (CD), cordas finas, cones (para construir a pista de

obstáculos).

Todas as atividades foram desenvolvidas com música, por considerar que

este recurso favorece as condições de aprendizagem entre os participantes. Antes

da realização de cada atividade, os jogos foram explicados de forma clara e objetiva,

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com demonstrações pelo professor dos objetivos pretendidos, de como se joga, por

considerar que os alunos entendem muito mais vendo que ouvindo.

Durante os encontros, o professor pesquisador fez registros das

observações em uma ficha, apontando os pontos favoráveis e/ou desfavoráveis da

participação dos alunos em aula; avaliação subjetiva acerca do envolvimento dos

alunos com os jogos cooperativos em aula. Esse tratamento singular permitiu que o

docente avaliasse os alunos, permitindo interação e trocas de experiências diversas.

4 Resultados e Discussão

Neste item são apresentados os resultados e discussões da proposta de

implementação realizada. Primeiramente, trabalhou-se os resultados relativos às

atividades desenvolvidas em sala, ou seja, a mediação para a compreensão do real

sentido da cooperação, a importância dos jogos cooperativos. Na sequência,

aborda-se as atividades práticas realizadas, tendo os jogos cooperativos como

instrumento de aprendizagem nas aulas de educação Física escolar. .

4.1 O Sentido da Cooperação

Primeiramente, discutiu-se o que os alunos entendem por competição e

cooperação. Os alunos pesquisarão o significado das palavras no dicionário,

compartilhando a sua compreensão com os colegas.

Após discutimos sobre o sentido da cooperação e competição, com

questionamentos acerca do seu real significado. O conteúdo foi abordado por meio

de uma aula expositiva que versou, sobretudo, acerca da importância dos jogos

cooperativos como instrumento de aprendizagem em Educação Física escolar.

Os alunos foram levados a compreender que a cooperação exige confiança

porque, quando alguém escolhe cooperar, conscientemente coloca seu destino

parcialmente nas mãos de outros. Já a competição assume um papel exclusivista,

onde somente alguns têm o direito à vitória e as honras.

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Por isso, segundo Orlick (1989), a cooperação através dos jogos

cooperativos vem assumindo um papel importante na mudança da Educação Física

Escolar, a fim de contribuir para uma visão não excludente, onde todos possam

participar e ganhar. Brotto (1999) afirma que ao modificar o comportamento no jogo,

os sujeitos estarão criando possibilidades para transformar atitudes cotidianas além

do jogo.

Com base nisso, o professor explicou que os jogos cooperativos têm como

característica integrar a todos na sociedade, sem discriminar ninguém. Para ilustrar

as explicações, o professor utilizou o quadro explicativo em Power Point, proposto

por Amaral (2007), no qual o autor descreve os valores educativos dos jogos

cooperativos:

QUADRO I - VALORES EDUCATIVOS DOS JOGOS COOPERATIVOS

Construção de uma Realidade Social Positiva

Os Jogos Cooperativos mudam as atitudes das pessoas para o jogo e para elas mesmas, favorecendo a criação de um ambiente de apreço.

A empatia A capacidade para situar-se na posição do outro e compreender seu ponto de vista, suas preocupações, suas expectativas, suas necessidades e sua realidade.

A cooperação

Valor e destreza necessários para resolver tarefas e problemas juntos, através de relações baseadas na reciprocidade e não no poder e controle. As experiências cooperativas é a melhor maneira de aprender a compartir, a socializar-se e a preocupar-se pelos demais.

A comunicação

Desenvolvimento da capacidade para expressar, deliberada e autenticamente, nosso estado de ânimo, nossas percepções, nossos conhecimentos, nossas emoções e nossas perspectivas.

A participação Gera um clima de confiança e de implicação comum.

O apreço e autoconceito positivo

Desenvolver uma opinião positiva de si mesmo, reconhecer e apreciar a importância do outro. A autoestima, confiança e segurança em si mesmo é um elemento de identidade vital que joga um importante papel na determinação de nossa conduta comunicativa. O jogo cooperativo oferece ao jogador a ocasião de apreciar-se, de valorizar-se, sentir-se respeitado em sua totalidade. Pouco importam as suas aptidões físicas, é sempre ganhador e nunca eliminado. Respeitar-se envolve o respeito aos outros. Respeitar-se, traz a aceitação e o melhor de si. Quando alguém se ama, se transforma e melhora.

A alegria Uma das metas do ensino-aprendizagem deve ser a formação de pessoas felizes e o desaparecimento do medo do fracasso e do rechaço.

Fonte: Amaral (2007, p. 29).

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Como conteúdo complementar, o professor provocou outras reflexões a

respeito das diferenças entre as situações de cooperação e de competição, a partir

das considerações propostas no Quadro II.

QUADRO II- SITUAÇÃO COOPERATIVA E COMPETITIVA

Situação Cooperativa Situação competitiva

Percebem que o atingimento de seus objetivos é, em parte, consequência da ação dos outros membros.

Percebem que o atingimento de seus objetivos é incompatível com a obtenção dos objetivos dos demais.

São mais sensíveis às solicitações dos outros.

São menos sensíveis às solicitações dos outros.

Ajudam-se mutuamente com frequência. Ajudam-se mutuamente com menor frequência.

Há maior homogeneidade na quantidade de contribuições e participações.

Há menor homogeneidade na quantidade de contribuições e participações.

A produtividade em termos qualitativos é maior.

A produtividade em termos qualitativos é menor.

A especialização de atividades é maior. A especialização de atividades é menor.

Fonte (SOLER, 2006).

Após as explicações e socialização em grupos, os alunos identificaram as

principais diferenças entre a cooperação e a competição, socializando com os

colegas as suas considerações.

Com a intenção de despertar o interesse pelos jogos cooperativos, como

atividade complementar foram apresentados dois vídeos: Jogos Cooperativos,

disponível em http://www.youtube.com/watch?v=mxIjk2YNG_Q; “A União faz a

Força”, disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=k6QefepQSs4&feature=relatedA.; “ Trabalho em

equipe”; disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=C6x6IqB_GHY&feature=fvwrel.

A intenção foi despertar o interesse, levando os alunos a perceberem que,

independente da idade das pessoas, os jogos são recursos que favorecem o

relacionamento com os outros e consigo mesmo de maneira mais efetiva. Os jogos

cooperativos são jogos flexíveis que podem ser jogados livremente sem receio de

ser retirado do jogo em razão de insucesso

Os alunos dramatizaram as atividades ilustradas nos vídeos, com a

mediação do professor. Algumas questões serviram de embasamento para o debate

após o desenvolvimento da atividade: O que você sentiu? Achou interessante?

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Justifique. Por que utilizar esses jogos nas aulas de Educação física? Será que

somos capazes de participar do mesmo jogo, respeitando as diferenças e

individualidades de cada um? Você conhece algum jogo cooperativo?

Algumas falas ilustram a compreensão dos alunos participantes:

Eu pensei que ia sentir vergonha, mas depois que comecei eu esqueci e participei (Aluno 1 do 6º Ano). Eu acho que as aulas poderiam ser sempre assim, é muito bom participar e ver que todo mundo está gostando da atividade (Aluno 2 do 6º Ano). Nas aulas de educação física como o professor falou a gente pode aprender brincando, a aula deveria ser sempre assim. O jogo ajuda na relação entre as pessoas, na atividade motora e muito mais (Aluno 4 do 6º Ano). Não conheço nenhum jogo cooperativo, acho que até já participei, mas não falaram do objetivo (Aluno 5 do 6º Ano). No jogo podemos exercitar a nossa criatividade e aprender a cooperar com os colegas. Tem aluno bagunceiro e que pode melhorar na aula e participar mais (Aluno 6 do 6º Ano).

Os alunos foram levados a perceber que, ao fazer parte de uma grande

equipe, podem deixar fluir a sua criatividade, liberdade e cooperação. Ao se referir a

pensar que sentiria vergonha em participar da dramatização (Aluno 1) pode-se inferir

que tal sentimento tenha relação com práticas voltadas para a seletividade ao invés

da cooperativa. Os alunos referem que as aulas poderiam ser sempre assim, que

gostaram de participar, que aprendem brincando (Aluno 2 e 3), exercitar a

criatividade e aprender a cooperar (Aluno 6). Isto mostra que os jogos contribuíram

para despertar o interesse dos alunos em participar.

Para Orlick (1989, p. 110), os jogos cooperativos têm um significado muito

especial, “para os alunos mais tímidos, com baixa autoestima, inseguros, que não se

sentem amadas, que têm habilidades sociais inadequadas, que não sabem reagir de

uma maneira amistosa ou que relutam em abordar problemas ou pessoas”.

Grando (2000, p. 37) afirma que “[...] é a partir da cooperação que se corrige

a atitude de respeito unilateral, exercendo o papel libertador e construtivo, tanto no

domínio moral como nas coisas relativas à inteligência”.

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Por isso, os jogos cooperativos são interessantes para serem trabalhados

nas aulas de Educação Física escolar, pois ao contrário de estimular a

competitividade, estes apresentam valores específicos que podem e devem ser

compartilhados com os alunos com finalidade essencialmente pedagógica,

contribuindo para o desenvolvimento do potencial cognitivo, afetivo, psicomotor

social, e cultural dos alunos.

Os jogos cooperativos, quando utilizados no processo de ensino e

aprendizagem da Educação Física escolar contribui para potencializas ações

compartilhadas, em que o corpo e a mente ficam livres dos conflitos desencadeados

pela competição, contribuindo para o processo criativo e a participação efetiva dos

alunos na ação educativa da disciplina.

4.2 Os jogos Cooperativos na Prática

As atividades práticas envolveram tipos diferenciados de jogos tais como:

jogos cooperativos para apresentação; jogos cooperativos para aproximação; jogos

cooperativos para afirmação; jogos cooperativos plenamente cooperativos e jogos

cooperativos para descontrair.

O trabalho com os jogos de apresentação permitiram um primeiro contato

entre os alunos. Eles foram utilizados para os alunos aprenderem os nomes dos

colegas e algumas características dos participantes. Mais especificamente,

objetivou-se possibilitar o conhecimento do grupo; trabalhar habilidades motoras,

tais como: andar, correr, desviar etc e, sobretudo, aprimorar a relação interpessoal.

Foram realizadas três atividades envolvendo os jogos de apresentação: Algo de ti,

Entre joelhos e Eu estou aqui, porque. . .

Para o desenvolvimento da atividade intitulada “Algo de ti”, não foi utilizado

nenhum material específico. Assim, cada membro do grupo escreveu seu nome em

uma folha de papel, trocando os papeis com o seu respectivo par. Na sequência, os

alunos formularam perguntas com as letras do seu nome, desde a primeira até a

última. Como exemplos: Reinaldo, você gosta de rã? O que acha de estátua? Fala

outro idioma? Gosta de navegar? Quer sentir meu aroma? Que acha do técnico da

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seleção? Já sentiu dor? Leu a Odisséia? Ao terminarem os questionamentos, as

respostas foram apresentadas para a turma.

A atividade “Entre Joelhos” teve como objetivo conhecer o grupo; aprimorar

a relação interpessoal; e exercitar o riso e a descontração. Para tal, utilizou-se uma

grande bola de plástico, como os alunos dispostos em um grande círculo. O

professor iniciou o jogo, colocando a bola entre os joelhos, e escolhendo alguém do

círculo para entregá-la. Ao entregar a bola, disse o seu nome e uma qualidade.

Depois de entregar a bola ocupou o lugar do aluno escolhido para passar a bola.

Cada membro que recebia a bola deveria passá-la somente com os joelhos, sem

ajuda das mãos. E assim sucessivamente, até o último participante do círculo.

A atividade denominada “Bola Imaginária’ foi iniciada com o professor

dizendo que tinha uma bolinha nas mãos. Mostrou o tamanho, o peso, atirando-a no

chão; uma bola imaginária. Após lançou a bolinha imaginária para alguém do círculo,

dizendo o nome do aluno escolhido para lançar a bola. Ao receber a bola, o aluno

mencionava outro nome e assim sucessivamente. Caso não soubesse o nome

deveriam perguntar. O aluno que recebia a bola imaginária poderia mudar o nome,

dizendo, por exemplo, que estava lançando uma galinha, um ovo, uma bola de ferro

etc. Quem recebia deveria fazer todos os gestos respectivos ao objeto.

Para o desenvolvimento do jogo ‘Eu estou aqui, porque. . .”foram utilizadas

apenas algumas cadeiras como materiais. Os alunos foram dispostos sentados em

círculo, menos um, que ficou no centro, em pé. Em pé o alunos deveria apresentar-

se, dizendo algumas qualidades , ou fazendo menções a respeito de seus atributos

físicos, como por exemplo: “Eu estou aqui, por que tenho duas mãos.” E assim,

todos os que possuíam duas mãos deveriam mudar de lugar, e o que estava no

centro, nesse momento, tentava sentar. A pessoa que ficava sem cadeira reiniciava

o jogo de apresentação.

Após as práticas, os alunos discutiram os sentimentos envolvidos, dando

respostas para as seguintes questões: Listem os pontos positivos do jogo. O que

vocês aprenderam com os jogos? Estabeleçam um comparativo entre as atividades

realizadas e o seu ambiente escolar e familiar.

O jogo foi importante porque todos participaram. Eu nem sabia o nome do meu colega. A gente chama pelo apelido, mas cada pessoa tem uma identidade. E isso é legal (Aluno 4 do 6º Ano).

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Seria legal se fosse assim em casa também. Todo mundo participando e ajudando o outro. Tinha coisa do meu colega que eu não sabia e hoje a gente conversou legal (Aluno 8 do 6º Ano). O jogo ajuda a gente fazer amigos, ficamos amigos do professor também. O professor é bem legal. A aula de Educação Física ficou melhor com os jogos (Aluno 9 do 6º Ano).

Pelas falas, é possível constatar que os alunos demonstraram interesse pela

atividade realizada. A atividade motivou os alunos a aprenderem o nome do colega

(Aluno 4), possibilitou a participação e ajuda ao outro (Aluno 8), fazer amigos e

gostar das aulas de educação física (Aluno 9). Observa-se nas falas que os jogos

cooperativos é uma prática não excludente, possibilitadora de relações solidárias, de

aquisição de atitudes de solidariedade, respeito mútuo e aceitação, excluindo

qualquer tipo de preconceito entre os pares.

Baliulevicius e Macário (2006) defendem que as manifestações lúdicas são

caracterizadas como elemento de expressão de cultura corporal na escola, sendo

permeada de significados quando inseridas no espaço escolar. Complementa o

autor que nestas atividades os alunos operam com o significado das ações

compartilhadas, o que faz desenvolver sua vontade e ao mesmo tempo torna-se

consciente das suas escolhas e decisões. Assim sendo, o jogo cooperativo

apresenta-se como elemento básico para a mudança das necessidades e da

consciência.

De acordo com Civitati (2008, p. 05), “[...] no jogo externam componentes do

temperamento vinculados a fatores genéticos, e os da existência, influenciados por

elementos ambientais”. Para este autor, as características da personalidade

aparecem com muita clareza nas experiências vivenciadas, ajudando o profissional

em seu trabalho no cotidiano da sala de aula.

A modalidade de jogos cooperativos por aproximação objetivou propiciar um

conhecimento mais profundo dos participantes. Foram realizadas quatro atividades

práticas: Máquina humana, Salve-se com um abraço, Semente e a Galinha Cega.

Para o desenvolvimento da atividade “Máquina Humana”, não foi utilizado

nenhum material. Para tal, os alunos foram colocados em pé, em uma grande roda.

Cada pessoa deveria pensar em um barulho e em um movimento. O professor ou

um aluno dava início e gradualmente todos juntos faziam a mesma atividade, até

que uma máquina fosse criada.

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A atividade “Salve-se com um abraço” utilizou-se de bexigas. Assim sendo,

todos os alunos ficaram à vontade no espaço destinado para o jogo. O professor

explicou que se tratava de um jogo de pega-pega, no qual o objetivo é que todos se

salvassem. O pegador, com uma bexiga, tentava tocar o peito de alguém. Se

conseguisse, ele passava a bexiga e invertiam-se os papéis. Para não serem pegos,

os participantes tinham que se abraçar aos pares, encostando o peito um no outro,

salvando-se mutuamente. O professor ia aumentando o número de pegadores, e

propondo abraços em trios, em quartetos ou em grupos maiores.

Para o desenvolvimento da atividade prática intitulada “Semente” utilizou-se

como materiais algumas vendas de olhos. Na oportunidade, os alunos ficaram à

vontade no espaço destinado ao jogo. Todos fecharam os olhos e o professor falou

baixinho nos ouvidos de um aluno: “Você é a semente.” Todos começam a se

misturar. Cada um deveria encontrar e apertar as mãos da outra pessoa e perguntar:

“Semente?” Se a resposta fosse: “Semente”, ambos desfaziam-se as mãos e

continuavam à procura pela semente. A semente deveria permanecer silenciosa

durante o tempo todo. Caso um participante não obtivesse a resposta para a

pergunta “Semente?”, então era porque havia encontrado a semente. Neste caso,

deveria, então, segurar a mão da “semente” e fazer parte da árvore, permanecendo

em silêncio.

Para o trabalho com o jogo “Galinha Cega” utilizou-se de vendas para os

olhos. Os alunos foram dispostos em um círculo dando as mãos, menos um, que

representaria a galinha cega. No centro do círculo foi colocado um participante

vendado: a galinha cega. Depois de dar três voltas sobre si mesmo, este aluno

dirigia-se a qualquer pessoa do círculo e apalpava seu rosto para tentar reconhecê-

la. Caso conseguisse, trocava de lugar com ela.

As atividades contribuíram para estimular a cooperação; propiciar a relação

interpessoal e permitir uma maior aproximação do grupo. Logo após a prática,

sentados em círculo, professor e alunos socializaram as experiências vivenciadas e

os sentimentos envolvidos, a partir de algumas questões que foram colocadas para

debate: Quais as sensações envolvidas nas atividades? Você conhece algum outro

jogo desse tipo? Já vivenciou esse tipo de jogo nas aulas de Educação Física?

Eu senti muito bem em todas as atividades realizadas. A atividade da máquina humana é bem legal, mas eu gostei de todas. A gente sente muita cooperação. Igual o professor falou, precisamos ajudar os colegas,

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participar mais das aulas, mas seria bom se as aulas fossem sempre assim (Aluno 9 do 6º Ano). Eu não conhecia nenhum jogo deste tipo que o professor ensinou, mas eu gostei de tudo. Tive uma sensação boa, gostosa de participar da aula. Mas os professores não dão estas atividades sempre (Aluno 9 do 6º Ano). Eu nunca tinha participado desse jogo na educação física. Os professores não dão aula assim é difícil de acontecer. Mas é muito bom mesmo, deveria ser sempre assim (Aluno 9 do 6º Ano).

Os alunos demonstraram interesse pelas atividades realizadas, comentando

a respeito da importância de participar deste tipo de jogos nas aulas de Educação

Física. Os alunos sentiram-se bem com a atividade, gostaram, cooperaram com os

colegas (Aluno 9 e 10). Apesar de nunca ter participado deste tipo de jogo na

Educação Física, gostou muito e acha que deveria ser sempre assim (Aluno 11).

Isso mostra que o docente precisa trazer o jogo cooperativo para a prática da sala

de aula. A escola precisa valorizar uma aprendizagem compartilhada, baseada na

dinâmica de co-educação e cooperação. Nesse sentido, os jogos cooperativos

auxiliam os alunos a aprender a vivenciar experiências diferenciadas como as

relatadas, ao contrário de suscitar a individualidade tão presente nos jogos

competitivos.

Conforme Soares, Taffarel e Varjal et al. (1992), na Educação Física escolar,

a ação pedagógica precisa estimular a reflexão acerca das formas e representações

do mundo que os alunos têm produzido. Com esse propósito, os jogos cooperativos

podem ser utilizados como forma de representação simbólica das realidades

vivenciadas pelos alunos na escola.

Em busca de superar a visão excessivamente competitiva e esportivizada da

Educação Física escolar, autores como Hildebrant e Laging (1986), Caparroz (2005),

Soler (2008), Civitati (2008), DCEs – Paraná (2008) entendem os jogos cooperativos

como instrumentos relevantes para a prática da Educação Física escolar.

Os jogos cooperativos para ligação objetivaram estimular a comunicação

entre os grupos, reforçar o trabalho em equipe; desenvolver habilidades motoras,

tais como: andar, correr, desviar etc.. Assim sendo, buscou-se facilitar a

comunicação verbal e não-verbal; estimular a expressão gestual. Por meio deles,

procurou-se criar novas formas de comunicação. Foram trabalhadas três atividades

práticas: Representando imagens; Continue a história; Vamos vender?.

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Para a prática da atividade intitulada “Representando Imagens” foram

utilizados recortes de jornais e revistas. Os alunos foram divididos em grupos, e em

vários subgrupos. A cada subgrupo foram entregues alguns recortes de jornais e

revistas. A missão de cada grupo era representar, a partir das imagens daquelas

fotografias, uma situação “congelada” e dar-lhe vida, sob forma de dramatização.

Numa segunda fase do jogo, o professor solicitou para os grupos representarem o

tempo anterior àquela imagem, num exercício de criatividade, até “congelar” na

imagem da fotografia.

A atividade denominada “Continue a História” não exigiu nenhum material

específico para o seu desenvolvimento. Na oportunidade, os alunos foram dispostos

em círculo. Na sequência, o professor escolheu um aluno para iniciar uma história,

que teve um minuto para contá-la. O participante à sua direita seguiu contando a

história do ponto em que o primeiro parou. Assim sucessivamente, até que todos os

membros dos círculos tivessem contado a sua parte da história. O último aluno ficou

incumbido de fechar a história.

Para o trabalho com a atividade prática “Vamos Vender?” foram utilizadas

cadeiras. Os alunos sentaram em cadeiras, formando um círculo. O professor

explicou que o jogo teria início com alguém do círculo que seria escolhido para

iniciar o jogo. Este deveria tentar vender um produto para a pessoa do lado direito.

Ele deveria demonstrar quais as qualidades do produto, seu funcionamento e uso,

utilizando para isso o seu próprio corpo. Assim que um aluno terminava de vender o

produto para um determinado aluno, este deveria vender um novo produto para a

pessoa que estava à sua direita, e assim sucessivamente. Foram vendidos produtos

específicos, como, por exemplo, eletrodomésticos, brinquedos, livros, revistas, bolas

etc.

Ao final das atividades propostas, professor e alunos refletiram sobre as

suas diferentes habilidades. As falas a seguir ilustram a opinião da maioria:

Eu gostei porque corri, andei, desviei e conversei. Não gosto de aula de Educação Física que a gente não entende para que serve. O professor explicou para nós o objetivo, sentou com a gente e conversou sobre tudo (Aluno 5 do 6º Ano).

Eu me senti muito bem na aula. Fiz todas as atividades e nem sempre sou assim, costumo desistir quando fica difícil, mas o professor conversou comigo e eu fui até o fim (Aluno 7 do 6º Ano).

18

Socializar é importante porque a gente aprende a conviver com os colegas (Aluno 10 do 6º Ano).

Da próxima vez eu gostaria que a aula fosse assim. Muito bom trabalhar em equipe (Aluno 12 do 6º Ano). Penso que eu poderia fazer essas atividades de novo. Foi bom trabalhar em equipe (Aluno 13 do 6º Ano).

Foi possível observar o interesse e envolvimento dos alunos com as

atividades desenvolvidas. A maioria demonstrou satisfação em participar. A

comunicação entre os grupos foi estimulada e o trabalho em equipe reforçado Como

se observa nos relatos, alguns alunos ainda não conheciam o objetivo das aulas de

Educação Física (Aluno 5 e 7), gostou porque correu, conversou, aprendeu para que

serve a aula (Aluno 5), acha que socializar é importante, que ajuda a aprender a

conviver com os colegas (Aluno 10), gostaria que a aula fosse sempre assim (aluno

12), gostou de trabalhar em equipe ( Aluno 13).

Isto faz pensar que diferente dos jogos competitivos, os jogos cooperativos

favorecem a interação social, em que os objetivos são comuns, as ações são

compartilhadas e os benefícios são distribuídos para todos. Correia (2006, p.160)

entende os jogos cooperativos “[...] como um exercício de oposição à competição, à

dominação, às injustiças e às desigualdades nas relações sociais”.

Brotto (1999) trata do ciclo de ensinagem que para ele se divide em:

vivência, reflexão e transformação. Para o autor, a pedagogia dos jogos

cooperativos é apoiada nessas três dimensões de ensino e aprendizagem.

Vivência: Incentivando e valorizando a inclusão de todos, respeitando as diferentes possibilidades de participação; Reflexão: Criando um clima de cumplicidade entre os praticantes, incentivando-os refletirem sobre as possibilidades de modificar o jogo, na perspectiva de melhorar a participação, o prazer e a aprendizagem de todos. Transformação: Ajudando a sustentar a disposição para dialogar, decidir em consenso, experimentar as mudanças propostas e integrar, no jogo, as transformações desejadas (BROTTO, 1999, p. 20).

19

Portanto, os jogos cooperativos possibilitam diversas manifestações

corporais, ampliando as atividades escolares, com base em possibilidades

concretas, ajudando os alunos a desenvolver-se de maneira integral. Nesse tipo de

jogos, a finalidade educativa torna-se viável, por não reduzir o corpo a uma de suas

dimensões apenas, abarcando as dimensões física, mental, espiritual e emocional

dos alunos, dentro de sua unidade e totalidade.

A modalidade de jogos cooperativos para descontrair teve como objetivo

liberar energia, tendo fator relevante a diversão do grupo; estimular a cooperação;

aprimorar o equilíbrio; propiciar descontração e alegria. Foram desenvolvidas três

atividades práticas: Bambolê musical, A ameba, O abraço robô e Fila.

Para o trabalho com a atividade prática intitulada “Bambolê musical” foram

utilizados bambolês e aparelho de som (CD) como materiais. Os alunos foram

divididos em pares, cada par com um bambolê na altura da cintura (dentro dele).

Com o toque da música eles deveriam dançar sem deixar cair o bambolê. Quando a

música parava, outro aluno deveria entrar dentro de um bambolê que ficava agora

quatro pessoas e dois bambolês juntos. A música parava novamente e outro par se

juntava a eles. E assim sucessivamente, até quantos coubessem dentro dos

bambolês.

O jogo cooperativo “Duas pessoas, uma bexiga” necessitou apenas de

bexigas, com os alunos formando pares (cada par com uma bexiga). Dois alunos

deveriam segurar a bexiga sem o auxílio das mãos e, para isso, deveriam criar

formas divertidas e criativas. O professor sugeriu que utilizassem as partes do corpo

onde a bexiga deveria estar como, por exemplo: cabeças, barriga, de lado, nos pés,

joelhos etc., e também solicitou formas diferentes de deslocamentos, como: andar

de quatro, olhos fechados, dançando, correndo etc.

Para o desenvolvimento do jogo “A ameba” não foi utilizado nenhum material

específico. Para tal, o grupo foi dividido, com a escolha de uma pessoa que ficava

encarregada de ser “o pegador”, o restante deveria fugir. O pegador e o fugitivo

deveriam mover-se lentamente. Caso o pegador conseguisse apanhar sua presa, os

dois passariam a formar uma ameba, que continuava a se movimentar o mais

devagar possível. Caso o par capturasse uma terceira pessoa, esta se agregava à

ameba quase adulta. Quando uma quarta pessoa se juntava ao grupo, a ameba

virava adulta e se dividiria em duas amebas adolescentes. As duas amebas

20

continuavam a caçada. O jogo terminou quando todos os alunos fizeram parte da

ameba, cantando e dançando no espaço do jogo.

O “Abraço Robô” não exigiu nenhum material. Os alunos foram colocados

em trios, sendo que um ficou encarregado de ser o condutor dos robôs. O jogo teve

início com os dois robôs, de costas um para o outro, tendo que andar em direções

opostas, numa linha reta. Ao encontrar um obstáculo, o robô deveria fazer um

barulho (alarme), até que fosse colocado de novo para andar pelo condutor. O

objetivo do condutor era fazer com que os dois robôs dessem um grande abraço.

Após as atividades práticas, professor e alunos fizeram um feedback, a partir

de algumas reflexões: Que habilidades físicas vocês utilizaram? Por quê? Quais

tipos de pensamento diferentes vocês usaram? O que vocês fizeram para se ajudar

mutuamente? Como vocês chegaram a um acordo? Qual qualidade ou atitude foi

útil? Em que situação isso será útil para vocês? Como os outros membros apoiaram

você? Quais sentimentos o jogo despertou em você?

Nós usamos muitas habilidades físicas, corremos, saltamos e brincamos. Nós tivemos que pensar em muitas coisas e se ajudar para conseguir o nosso objetivo (Aluno 13 do 6º Ano). No jogo a gente se ajudou, não ficamos parados, eu corri, brinquei o professor colaborou também para que tudo desse certo. A maior qualidade que eu achei foi a cooperação, a amizade entre os alunos que foi muito bem (Aluno 14 do 6º Ano). O que a gente aprende no jogo a gente leva para a nossa vida. Isso é muito bom, é cooperação (Aluno 15 do 6º Ano).

Os alunos se referiram à possibilidade de ajuda e cooperação entre os

grupos. Observou-se que a prática possibilitou aos alunos correr, saltar, brincar, usar

muitas habilidades, teve que pensar muito para atingir o objetivo (Aluno 13 e 14), o

professor foi um colaborador, a cooperação foi muito importante (Aluno 13 e 15).

Observa-se que o convívio com os jogos cooperativos nas aulas de Educação Física

escolar favorece ações agradáveis, reforça os laços de amizade e respeito entre os

colegas e o docente. Sabe-se que o trabalho conjunto não objetiva a vitória ou a

derrota, mas o exercício da convivência mútua, levando os alunos a compartilhar e

somar junto com o outro, isto é, jogar cooperativamente. O jogo exerce influência

na vida dentro e fora da escola.

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Brotto (2001) entende que o jogo e a vida exercem e sofrem influências um

do outro. Por meio da convivência e da cooperação, o alunos aprendem a se

preparar para novos desafios, a superar dificuldades, sendo encorajados a

aprendizagens inéditas que lhes servirão de bases sólidas para o futuro, tanto na

escola como na vida. Confirmando a importância dos jogos cooperativos Brotto

(2001, p.46) afirma que:

[...] são jogos de compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para assumir riscos, tendo pouca preocupação com o fracasso e o sucesso em si mesmos. Eles reforçam a confiança pessoal e interpessoal, uma vez que, ganhar e perder são apenas referências para o contínuo aperfeiçoamento de todos (BROTTO, 2001, p. 46).

Portanto, os jogos cooperativos objetivam a inclusão e a participação do

grupo, incentivando resultados coletivos e individuais, excluindo a competitividade

exagerada e contribuindo para dirimir as manifestações de agressividade.

Para Soler (2006, p. 15), ao jogar cooperativamente, os alunos passam a

ser responsáveis para “contribuir com o resultado bem sucedido do jogo e assim

cada um se sente co-responsável e co-participante.” Assim sendo, deixa de

predominar um líder ou um liderado, pois todos desempenham o mesmo papel,

exercem a mesma influência, compartilhando objetivos comuns.

Os jogos plenamente cooperativos tiveram como objetivo a socialização de

todos os alunos em suas diferentes habilidades. Mais especificamente, buscou-se

estimular a cooperação; aprimorar o trabalho em equipe; desenvolver habilidades

motoras, tais como: andar, correr, equilibrar, levantar e transportar; desenvolver

habilidade interpessoal; e exercitar a criatividade e imaginação

Foram desenvolvidas quatro atividades diferenciadas, envolvendo a Dança

das Cadeiras Cooperativas, Ponte de braços, Pulo gigante, bote salva-vidas.

Para a “Dança das Cadeiras Cooperativas” foram utilizados materiais como

aparelho de som e cadeiras. Os alunos foram colocados em volta das cadeiras,

dançando ao som da música. Quando a música cessava, todos deviam sentar, sem

que ninguém fosse eliminado, apenas a cadeira era retirada. os alunos deveriam

sentar sobre os elementos existentes: cadeiras e colos. Cada vez que a música

parava, uma cadeira era eliminada. Então, à medida que o número de cadeiras

22

diminuía, os jogadores eram levados a cooperar entre si, para que nenhum ficasse

em pé.

O jogo cooperativo “Ponte de braços” não exigiu nenhum material

específico. Os alunos foram dispostos em duas filas frente a frente. Cada um

segurou os braços do companheiro da frente, formando uma espécie de ponte

(unidos). O professor escolheu uma pessoa para iniciar a atividade, esta subia sobre

os braços dos dois últimos da fila, e caminhava para frente, equilibrando-se sobre os

braços unidos dos demais. À medida que se deslocava sobre a ponte, os pares

pelos quais ele passava, corriam para frente da fila, continuando a estender o tapete

enquanto o outro avançava. O jogo continuou até que todos tivessem passado pela

ponte de braços.

Para o desenvolvimento do jogo “Pulo gigante” utilizou-se cadeiras (uma

para cada participante), que foram colocadas em fileiras. Cada aluno deveria sentar-

se na sua cadeira, e o objetivo do jogo foi levar as cadeiras até uma linha

demarcada no solo. O jogo contou com algumas regras, tais como: os alunos não

poderiam colocar as mãos nem os pés no solo. Para que o objetivo fosse alcançado

seria necessário que o grupo descobrisse uma estratégia cooperativa.

O jogo “Bote Salva-vidas” exigiu materiais como folhas de jornais e aparelho

de som (cd). Para o desenvolvimento, os alunos foram dispostos à vontade no

espaço destinado para o jogo, dançando em volta das folhas de jornais colocadas no

solo pelo professor. Cada vez que a música parasse, deveriam se colocar sobre as

folhas de jornais que representavam os botes salva-vidas. A cada parada, o

professor retirava uma folha de jornal, até que restou uma. Todo o grupo teve que

inventar uma solução criativa para abrigá-los. Após a realização das atividades,

todos os alunos receberam uma medalha pela cooperação.

A respeito das atividades desenvolvidas os alunos se manifestaram da

seguinte forma:

Eu fiquei feliz de ter ganho uma medalha e os meus colegas também. Essa aula foi muito boa porque a gente se ajudou nas tarefas e todos brincaram e estudaram ao mesmo tempo. Foi muito bom (Aluno 10 do 6º Ano). Foi legal toque todo mundo foi presenteado com uma medalha. EU nunca ganhei uma medalha então fiquei feliz (Aluno 12 do 6º Ano).

23

Vou contar em casa que ganhei uma medalha no jogo de Educação Física. A aula foi muito boa, não teve ganhador e nem perdedor e todos gostaram, a gente colaborou para que tudo desse certo no final (Aluno 13 do 6º Ano).

Os alunos perceberam a importância da alegria, do trabalho mútuo e da

descontração que costuma prevalecer em um ambiente onde todos fazem parte, e

em que não houve perdedores e nem vencedores, vez que todos foram premiados

pela participação e envolvimento. Os alunos gostaram de ganhar a sua primeira

medalha (Aluno 10, 12, 13), conforme relatos, todos brincaram e estudaram ao

mesmo tempo (Aluno!), a aula foi boa porque não teve nem perdedor Enem

ganhador (Aluno 12). Isso é relevante, pois demonstra a relevância dos jogos

cooperativos como prática de ensino e aprendizagem escolar. Os alunos se sentem

valorizados em um ambiente não seletivo, onde não há perdedores nem

vencedores, mas todos são tratados respeitados.

Ao tratar da importância dos jogos Freire (1989) relata que na escola é

comum a supervalorização do vencedor em detrimento dos perdedores. A começar

pela discriminação que sofrem os alunos que são incapazes de vencer, quando se

trata de selecionar elementos para representar a instituição em eventos esportivos.

Depois, durante os encontros competitivos, internos ou intercolegiais, premiam-se

apenas os vencedores, ignorando-se a existência dos que obtêm colações

inferiores.

Segundo Civiati (2008), os jogos cooperativos evitam o confronto ao não

provocar a existência de vencedores e perdedores, exaltando os benefícios da

cooperação e fortalecendo a capacidade de compreender e adotar formas de ajuda

mútua e de complementação, que colaborem para criar conceitos positivos sobre a

vida cooperativa dos grupos humanos.

Ao tratar dos jogos cooperativos Murcia (2005, p. 130) afirma que:

A ausência de eliminação ou exclusão, a possibilidade de desenvolver a autonomia na tomada de decisões, a possibilidade de viver a falha como arte do processo e não como fracasso, a diversidade de soluções para o mesmo problema ou a necessidade de integrar o próprio papel do jogo com os demais são alguns dos principais traços afetivos desses jogos (MURCIA, 2005, p. 130).

24

Portanto, é dever da escola incentivar as crianças à cultura corporal, no

sentido de romper com os modelos que têm na esportivização o foco central. As

DCEs - Paraná (2008) apresentam os fundamentos teórico-metodológicos que

norteiam as práticas no universo escolar, elencando a necessidade de superar

práticas descontextualizadas, focadas no dualismo “corpo e mente”.

O jogo é uma manifestação abrangente, contando que provoque prazer e

não tenha um caráter produtivo em termos materiais. A esse conceito soma-se o de

Werneck (2003), para quem o lúdico “[...] é uma das essências da vida humana que

instaura e constitui novas formas de fruir a vida social, marcadas pela exaltação dos

sentidos e das emoções”, propondo, assim. Os jogos valorizam a estética e a

apropriação expressiva do corpo vivido e não apenas “do produto alcançado” (p.37).

Quando os jogos são pensados na sua dimensão lúdica, apresentam uma

variedade de situações de ensino e aprendizagem, tanto no que se refere ao campo

da construção e utilização de conceitos, como na aquisição de valores

comportamentais.

Conclusão

Por tudo o que foi exposto, os jogos cooperativos oferecem a possibilidade

de desenvolvimento da autonomia, conferindo a possibilidade de integração ao

grupo, dando vida às aulas de Educação Física escolar. Por isso, articulam-se às

atividades lúdicas compreendidas como práticas reais das relações sociais, como

produto coletivo da vida humana, podendo ser utilizadas nas aulas por suas

características que revelam interesse, seriedade, prazer, organização,

espontaneidade, dando vida à dimensão corporal que é fundamental na

compreensão de uma atividade lúdica.

Os jogos cooperativos permitem criar consciência acerca das limitações

individuais e/ou grupais que originam diferentes graus de habilidade e que tipificam a

característica humana da diversidade, ajudando os participantes a compreenderem

que a harmonia não será prejudicada pela diversidade, ao contrário, é incrementada

através da compreensão de sua natural existência.

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O trabalho com os jogos cooperativos contribuiu para auxiliar os alunos a

aprenderem e vivenciar experiências compartilhadas ao contrário de suscitar a

individualidade tão presente nos jogos competitivos. A experiência vivenciada

cooperou para refletir sobre a importância dos jogos cooperativos que, ao contrário

dos jogos competitivos, favorecem a inclusão, aumentando o interesse

desencadeando ações compartilhadas.

Algumas limitações foram encontradas em relação aos materiais a serem

utilizados. Neste tipo de atividade não é raro necessitar de materiais como cordas,

bexigas, barbantes, cartolinas e outros recursos que nem sempre a escola oferece.

Isso exigiu que o pesquisador buscasse por parecerias no sentido de adquirir o

material necessário para a implementação. O estudo ficou limitado aos alunos de

uma escola. Sugere-se que a proposta seja estendida a outros espaços escolares.

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