explora web magazine - ano ii volume ii
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Nesta edição recheada de aventura, fomos até Rapa Nui, a terra dos moais. Ainda: Diário de Campona Amazônia, Encontros comtubarõesna Ilha de Páscoa,e ainda lindas fotografias, crônicas e contribuições de leitoresTRANSCRIPT
An
o II
- V
olu
me
II -
Jan
/Fev
/Mar
- 2
013
Amazônia, embusca dos anuros ameaçados
EncontrosO covil dostubarões
Diário de Campo
PascoaIlha de
do fundo ao cume
J ane i ro/ 2013 - A no 2 - N º 2
Seções
Do Editor 3
Mural 4O local com a sua idéia,
críticas e sugestões
O Foco é seu 5Suas aventuras, suas
fotos, o seu espaço
Crônicas 7Um jeito diferente de
pensar os fatos
Longe de Casa 9Uma experiência ao
redor do mundo
Diário de Campo 11Os bastidores do meu
trabalho
Encontros 26Na hora certa, em
qualquer lugar
CAPA Rano Raraku, o berço da construção dos gigantescos Moais.Foto: Edson Faria Jr.
Explora Web Magazine é uma produção independente de periodicidade trimestral. Diretor Geral: Edson Faria Júnior. Colaboradores: Caroline Oswald, Juliana de Carvalho Gaeta, Maria Eduarda Alves, Matheus H Sovernigo, Paulo Eduardo P Faria, R o d r i g o d e A r a ú j o . S e d e : F l o r i a n ó p o l i s / S CE x p l o r e e m w w w . f a c e b o o k . c o m / e x p l o r a m a g a z i n e .
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Ilha de Páscoa, desvendando os mistérios da terra dos Moais
Amazônia, em busca dos anuros
Edson F
ari
a Jr
Diário de Campo
An
o II
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II -
Jan
/Fev
/Mar
- 2
013
Amazônia, embusca dos anurosameaçados
EncontrosO covio dostubarões
Diário de Campo
PascoaIlha de
do fundo ao cume
Do Editor
Poderia comparar a execução e desenvolvimento de um projeto com a criação de um filho. Tudo parte de uma
vontade inicial de concepção, depois vem um longo processo de gestação, onde começamos a imaginar a forma, corremos muito atrás dos preparat ivos para o nasc imento e preparamos o terreno para recebê-lo. Depois vem o nascimento, vimos finalmente todo aquele esforço de alimentação especial e cuidados com a gravidez, na sua devida forma, e como têm a nossa cara, sempre nos encantamos com o primeiro contato. Depois vêm os cuidados nos meses iniciais, muito trabalho para manter a saúde da pequena criaturinha, levamos para os amigos mais íntimos conhecerem, passeamos na rua, mostramos para o mundo, e sempre esperamos o retorno de que todos achem o nosso filho o bebê mais bonito. Dá muito trabalho, da concepção aos primeiros passos, continua dando cada vez mais trabalho, mas sempre ficamos na expectativa de que eles comecem a caminhar sozinhos, correr, pular, para um dia chegar à sua independência com saúde, vigor e sucesso. Nunca ninguém falou que era fácil, mas todos falam que é recompensador.
Não diferente disso são nossos projetos, nos dedicamos muito no processo de idealização, e estamos sempre nos dedicando para que ele
cresça saudável e se desenvolva para o mundo. Ver a segunda edição da Explora Web Magazine tomar forma, com diversos contribuidores é tão gratificante quanto ver nossos filhos começando a engatinhar. Claro que continuamos tendo muitos degraus para galgar e obstáculos para transpor, mas cada elogio, comentário e reconhecimento que recebo de diferentes pessoas pelos corredores, me ajudam a recarregar as baterias e seguir batalhando pelo projeto.
Permeando as leituras e releituras das seções da revista, hoje o projeto conta com novos contribuidores, apoiadores e incentivadores, novas ideias, novas seções sendo lançadas e novos subprojetos surgindo. Explora já virou o Projeto Explora, um estilo de vida, que têm essa revista como o primogênito, mas muito ainda está por vir, já existem livros planejados, edições especiais, documentários, guias fotográficos, expedições, e sempre de portas abertas para receber mais parceiros, apoiadores, e claro, novas propostas e ideias.
Ainda têm muito por vir, ainda temos muito para contar, e ainda mais para descobrir, para voltarmos a contar depois. Esperamos ansiosamente cada contato de parceria, cada novo apoio, cada nova foto, novos comentários e cada novo leitor. Você costuma indicar uma boa leitura? Então vamos começar um novo ano indicando a revista para pelo menos um amigo, quanto mais leitores, mais motivados estaremos para buscar a próxima história. E temos uma certeza: ainda queremos você como companhia para próxima aventura.
Edson Faria Júnior
Diretor Geral
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Mural
A Explora é uma revista interativa, têm a proposta de interagir com o leitor, e faz isso disponibilizando espaço em suas diferentes seções.
Na seção Mural, você está convidado a enviar críticas e sugestões para a revista, opinar a respeito de alguma matéria lida, ou até mesmo dar o seu ponto de vista sobre algum tema proposto.
Em O foco é seu, você está convidado a tirar do seu hd as fotos de suas grandes aventuras, viagens, trabalho, local para mostrar para todos áquela sua grande fotografia.
Já se sua profissão está relacionada com meio ambiente ou aventura, você pode nos contar os bastidores de algum de seus projetos em Diário de Campo.
Em toda edição, Encontros traz mais de que uma bela fotografia, traz um breve relato de uma experiência singular, um encontro com um grande predador, uma espécie num local inesperado, o avistamento de um animal raro, ou um outro momento que você gostaria de compartilhar.
Lembre-se, as publicações são trimestrais, e você têm até o primeiro dia do mês anterior a publicação para nos enviar sua contribuição.
Envie sua contribuição para o e-mail [email protected], no título escreva o nome da seção na qual deseja contribuir, podendo ser incluída ja na próxima edição.
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VIRE UM PARCEIRO EXPLORA. SOLICITE NOSSOS PLANOS DE PUBLICIDADE PARA [email protected]
O foco é seu
As suas fotos para todos verem! Depois de viver aquele momento inesquecível, conseguir
enquadrar, focar e fazer o registro fotográfico, você pode agora compartilhá-lo com diversos outros aventureiros. Envie sua foto para [email protected] com o assunto “O foco é seu”. Não esqueça ainda de mandar informações básicas sobre a foto, como O que é?, Onde foi tirada?, Quando? e Quem tirou? As melhores fotos selecionadas aparecerão aqui.
São Miguel do Oeste, SC, Brasil Para
quem não conhece o Oeste de Santa Catarina e acha que lá não há nada para fazer, se engana, pelo menos parcialmente. As atrações não são tantas e nem das mais empolgantes, porém um por do sol lindo como esse não é exceção!! Foto em São Miguel do Oeste com gostinho de saudade da combinação: dia tranquilo, sem congestionamento, com tudo
per to ,e o céu ass im! Carolina Erbes Florianópolis, SC
Florianópolis, SC, Brasil Amanhecer no
Morro das Pedras, uma das diversas praia de Florianópolis onde é possível ver o sol nascendo de frente para o mar. Caroline Angri Florianópolis, SC
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O foco é seu
Chapada Diamantina, BA, Brasil O Poço
Encantado é sem dúvida um local de beleza singular, sua água extremamente clara de uma coloração azul intensa, impressiona qualquer visitante. Caio Ambrósio Belo Horizonte, MG
São Miguel do Oeste, SC, Brasil "Ir ao
quintal de casa e descobrir uma visitante linda como essa alegra qualquer biólogo! Foi aí mesmo, nos fundos de minha casa, que provavelmente comecei meu amor à Biologia, entre muitos bichinhos e plantas, que me fascinavam e fascinam.” Carolina Erbes Florianópolis, SC
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Crônicaspor Rodrigo Costa AraújoSenhora
onhecida também por Mãe da Mata ou
CCaipora, ela é o espírito protetor das florestas e de tudo que nelas há. Nunca se
deve chegar à mata sem pedir licença a ela para entrar e, principalmente, o consentimento para sair. Dizem que a Caipora anda montada em catitus (Tayassu pecari), tocando a vara de cima do maior deles, emitindo sons bizarros. Mas também está em todo lugar, protegendo os animais de caçadores e as árvores, de madeireiros. É um mito bem conhecido em nosso país, h e r d a d o d o s n a t i v o s t u p i s - g u a r a n i s e especialmente difundido em sociedades que ainda exploram o ambiente natural e, em grande parte, dele dependem para sobrevivência. Ou seja, geralmente não há supermercados próximos – tampouco educação básica de qualidade. Porém, o lúdico é fértil: proliferam-se religiões (infelizmente ainda se catequiza o povo) e estórias contadas e recontadas à noite, em volta do fogo. Vêm destes exploradores das matas, relatos fantásticos de proezas da Mãe da Mata em sua tarefa de proteger o que resta das florestas e da rica fauna de outrora. Como toda mãe, ela também é justa com o homem. Caçar não é de todo errado para a Caipora. No entanto, ela não gosta de gente que caça por diversão ou além de suas necessidades: estes caem em ciladas ardilosas e, cedo ou tarde, se veem perdidos na floresta. A Senhora desorienta o caçador simulando as vocalizações dos animais, estala galhos e atrai os cães farejadores para lugares remotos. Ou até coisa pior. Só há uma maneira de se libertar dela – fumo de corda ou alho. Quando perdidos, os caçadores oferecem a ela uma casquinha do rolo de fumo ou um dente de alho nalgum pé de árvore e pedem para encontrar a trilha. A Caipora, seduzida pela oferta, deixa que o infeliz encontre o caminho de volta e possa voltar para sua humilde existência. Tiririca, certa vez, saiu para caçar com o irmão que vinha da cidade visitá-lo. Fazia anos que Raimundo não voltava à roça e, para comemorar, saíram para providenciar o churrasco de paca (Cuniculus paca) . Ele viera da c idade acompanhado de um amigo japonês que trazia cães de estirpe caçadora, equipamentos e armamentos
'sofisticados' – coisa que Tiririca nunca tinha precisado. Enfim, pura fanfarronice. Saíram cedo, ainda antes de o sol despontar no horizonte: os 3, os cães e as espingardas. Passaram o dia todo seguindo rastros que não levavam a parte – ou à caça – alguma. Depois de horas na mata, ao final da tarde, o melhor dos cães¹ do japonês farejou uma trilha e nela eles viram o rastro da paca. Raimundo, que era metido a besta, caçador de cidade, quis tomar a frente do grupo para ter a primazia no tiro: se adiantou cem metros, sozinho, enquanto os outros dois vinham atrás com os cachorros. E assim foram seguindo os rastros. Já estava escuro quando Raimundo sentiu uma vontade incontrolável de ir aos pés. Afastou-se alguns metros à direita e, de cócoras, começava a se sentir mais leve enquanto guardava a trilha com os olhos e a espingarda carregada em mãos. Ainda acocado, ele escutou o japonês gritando de longe: “atira que lá vai a paca, Raimundo!!!”. Impossibilitado de se limpar e vestir dada a urgência do momento, não teve dúvidas. Dali mesmo, naquela posição ingrata, apontou para o carreiro, engatilhou e esperou. Quando o vulto passou correndo pela trilha, Raimundo pesou o dedo e acertou em cheio, fazendo o estalo da pólvora e um ganido de morte ecoarem na mata. Feliz com sua pontaria e sorte, já pensando no churrasco, nem se limpou de ansiedade e veio botando as calças enquanto caminhava em direção ao cadáver. Tiririca e o asiático vieram correndo no rastro do som para ver o que sucedia. De repente, os três estavam mirando estáticos, calados e atônitos, o defunto. O melhor cachorro fora fatalmente alvejado por Raimundo e jazia agora sobre uma poça de sangue, cheio de chumbo. E nem sinal da paca, pois não havia nenhuma. Apenas o cachorro morto. O amigo nipônico nada havia gritado; ao contrário, andava no mais completo silêncio possível, utilizando técnicas milenares de deslocamento. Raimundo havia escutado coisas – mas não rasgava dinheiro. “Foi a Mãe da Mata”, concluiu obviamente Tiririca, explicando: “ela simulou o japonês gritando quando o cachorro vinha correndo no rastro de alguma outra ilusão criada por ela”. A
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tristeza do asiático e o sentimento de culpa eram
visíveis no japonês e em Raimundo. Diante da triste
baixa no grupo e da pequenez com quem se viam
perante aos espíritos protetores da mata, pediram
desculpas à Caipora e pegaram o rumo de casa com
um sabor amargo na goela. Sem paca e sem o
melhor dos cães. Naquele dia todos tiveram a
certeza de que estão subordinados a um poder
maior com o qual não se deve mexer sem a devida
cautela. “Poderia ter sido um de nós, ao invés do
cachorro. Tivemos sorte”, concordaram. Mais
tarde, Raimundo tornou à cidade e nunca mais se
atreveu a caçar; volta para visitar a família na roça
eventualmente, meio a contragosto, em ocasiões
festivas. O japonês hoje é vegetariano e monge,
retirado em um mosteiro. Nunca mais pegou em
armas, nem gosta muito de cães. E Tiririca, que
sempre respeitara a Senhora, só entra na mata
pedindo licença e carregando um pedaço de fumo
na capanga.
A mim, não cabe julgamento. Pode ser a
falta de conhecimento que credite ao fantástico
estes eventos ou o medo e a adrenalina combinados,
quem sabe. Apenas para constar: não creio nem em
bruxas, mas que las hay...
Rodrigo Costa de Araújo é gaúcho, Biólogo (PUCRS), Mestre em Ecologia (UFSC) e atualmente reside no interior da Bahia, trabalhando com ecologia e conservação de micos-leões-da-cara-dourada através do Instituto Pri-Matas para a Conservação da Biodiversidade.
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Longe de casapor Juliana Gaeta
Austrália: na terra dos cangurus
oi em abril de 2007 que realizei um grande
Fsonho, conhecer a Austrália, país que possui uma fauna e flora exuberante como o Brasil e
muito se assemelha em diversos aspectos. Estava cursando biologia na Universidade Federal de Santa Catarina e resolvi dar um tempo para pensar nas escolhas que havia feito, então escolhi ir para bem longe a fim de refletir e ao mesmo tempo aprender inglês da melhor forma, falando. Embarquei em São Paulo e depois de algumas dúzias de horas desci em Cairns, cidade litorânea do Nordeste Australiano, um dos pontos de saída para a Grande Barreira de Corais. Estive por lá por quase 6 meses e vivenciei diversas aventuras. Tudo era novidade, a todos os momentos eu me surpreendia. Na primeira vez que vi uma revoada de grandes morcegos no final da tarde fiquei extasiada, primeiramente sem saber o que era de verdade, e logo depois, quando descobri que eram morcegos, fiquei mais impressionada ainda, pois nunca havia visto um grupo tão numeroso. O fato de encontrar com cangurus na beira da estrada, que levava da minha casa até o centro da cidade, era muito intrigante e ao mesmo tempo me deixava muito alegre. Enfim, cada dia era longo e de muito aprendizado, seja na parte linguística (porque o inglês australiano não é o mais fácil de entender), cultural, musical e, principalmente, da natureza. Logo no início de minha estadia percebi que seria fascinante saber mais e mais sobre os animais e plantas que encontrava no dia a dia e que não sabia sequer o nome popular, quanto mais o científico. Em um dia de lazer, fui passear no zoológico da cidade, que me impressionou bastante por ter diversos animais que eu nem imaginava a existência. Aí me surgiu a ideia, que eu acreditava ser quase impossível, de arrumar um estágio por ali. Perguntei para a moça do caixa quem era a pessoa responsável e ela me disse que ela não estava, mas que na segunda–feira eu poderia retornar que ela me receberia. Na segunda-feira à tarde voltei ao zoológico, e a responsável pelos estagiários me recebeu. Disse que estava cursando biologia no Brasil e que muito me interessava trabalhar durante a semana, após o horário das aulas de inglês, ali no próprio zoológico. Ela prontamente me disse: –Ah,
tem vaga na área dos répteis! E eu pensei que havia sido mais fácil do que eu imaginava, mas um segundo depois fiquei um pouco assustada, porque na visita que eu havia feito houve uma palestra na área dos répteis e eu tinha a lembrança do rapaz dizendo que eles trabalhavam com animais muitíssimo venenosos e alguns inclusive peçonhentos. Lembro ainda que já haviam registrado casos de acidentes com estes animais dentro do zoológico, além de ter em mente os imensos crocodilos de água salgada que havia por ali, o maior deles com mais de 6 metros de comprimento, e a ideia de ter que alimentá-lo me deixava um pouco insegura. Após alguns segundos refletindo, disse para ela que me interessava, mas que se tivesse uma vaga para trabalhar com mamíferos eu preferiria. Ela prontamente me respondeu que havia vaga, mas que não poderia me dar muita atenção, estava com muito estagiários no momento e eu mesmo assim topei. No dia seguinte, lá estava eu, pronta pra começar a aprender. Foi então que ela me disse, você é quem faz seus horários e escolhe o que fazer durante o horário de expediente. Pode entrar nas alas dos cangurus e andar pelo zoológico, ler sobre os animais que temos nos recintos e mais pra frente conversamos. Achei um pouco estranho essa forma de ensinar um estagiário, mas me animei e logo fui pra ala dos cangurus. E claro, pode ser que não acreditem, mas na minha primeira semana tomei um soco (foi de raspão, ainda bem!) de um canguru, um desses animaizinhos que são muito carismáticos e que dentro do zoo muito se assemelham a cães de
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estimação, porque tem ração para você alimentá-los, pode fazer carinho, e são muito dóceis (quase sempre). A história é a seguinte: entrei na ala dos cangurus e observei que estava muito bagunçado, então peguei uma vassoura e comecei a limpar a área. Quando percebi, um dos animais estava fazendo graça e querendo se mostrar pra mim, deitou-se sobre a vassoura que eu estava utilizando e de tempo em tempo vinha me cutucar. Então resolvi interagir e dar um pouco de ração para ele, em seguida resolvi tirar uma foto com ele, e depois outra e outra, até que ele por algum motivo não gostou muito. Estávamos “abraçados” e sua primeira reação foi me dar um ponta-pé e um soco
ao mesmo tempo, e eu não esperando por tal reação caí pra trás e ele saiu saltando para o lado oposto. Minha sorte foi que ele não resolveu partir realmente para a briga porque eu perderia facilmente. Neste dia aprendi uma lição, os animais têm instintos selvagens, e mesmo achando que os adestramos, eles sempre podem nos surpreender. Então, não os incomode, porque ele usará de seus instintos para retribuir a incomodação. Essa foi uma das diversas experiências que tive por lá e que me marcaram para o resto da vida e me fizeram ter certeza de que minha escolha pela biologia estava certa, aliás, certíssima, porque ser biólogo mais que tudo significa respeitar a natureza e seus instintos.
Acima, o recinto dos crocodilos, da ala dos répteis.
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Diário de Campopor Caroline Oswald
Amazônia:em busca dos anuros
Sair da zona de conforto dos locais que estamos acostumados a trabalhar, muitas vezes
significa um grande acréscimo na nossa
experiência profissional. Algumas
vezes, surgem oportunidades longe
de casa, e acabamos conhecendo lugares
como a Amazônia, aventura e trabalho
juntos.
epois de poucas experiências na Biologia,
Dtive a oportunidade de participar de um grupo interessado em estudos de anfíbios
e répteis. Com a chegada de um professor da área, vindo do Pará em 2010, os projetos foram ganhando espaço e trabalhos de campo tomando corpo. Com isso, pude participar de várias saídas a campo, principalmente para amostragem e levantamento de anfíbios e répteis no leste de Santa Catarina. Tudo parecia maravilhoso e o aprendizado só aumentava, porém poucas novidades surgiam e os cenários não variavam muito. Até que no final de 2011 recebemos uma solicitação de dados para um projeto em Carajás/PA. Sem muitas informações ainda, fomos providenciando tudo que era necessário, inclusive inúmeros exames de saúde. Já contávamos os dias para no final de Janeiro estar em terras não conhecidas por nós. A surpresa veio pouco antes das festas de fim de ano, e no dia 2 do primeiro mês decolamos de Brasília rumo a Carajás, em um avião que não inspirava muita confiança, carinhosamente apelidado de teco-teco. Depois de uma longa espera, entre atrasos, escalas e aviões com problemas mecânicos, chegamos ao destino final. Nossa primeira parada em terras a m a z ô n i c a s f o i a j o v e m c i d a d e d e
Parauapebas/PA. Lá ficamos uns poucos dias para realizar treinamentos de segurança do trabalho, direção defensiva, manipulação de produtos químicos e primeiros socorros. Depois de todos aprovados nos exames e nos treinamentos e com todas as autorizações necessárias, seguimos viagem de carro em direção a Serra Sul/Carajás, onde seriam realizados os estudos programados. Para chegarmos ao alojamento e às áreas de estudo, atravessamos a que é considerada a maior mina a céu aberto do mundo, localizada no meio de uma floresta nativa. Uma paisagem incrível, difícil de ser esquecida, não pela sua beleza natural, mas pelo gigantismo de tudo que havia ali. Na chegada ao alojamento, fomos muito bem recebidos e apresentados ao pessoal que ali trabalhava e coordenava, Anita, Chui e todos os outros, pessoas especiais, de uma realidade totalmente impensada por nós. Fomos apresentados também a algumas regras básicas de boa convivência e funcionamento do local. As três refeições diárias tinham horário certo de início e fim, o que complicava para herpetólogos que têm o horário de atividade fora do comum. Outro fator importante era a energia e com isso a água quente; o gerador que a mantinha era desligado à meia noite, um horário também não atendido por nós algumas vezes, mas banhos frios
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no inverno (quente) do norte não eram tão maus assim. O período de novembro a maio é chamado de inverno pois é o período com maior concentração de chuvas e quando as temperaturas estão mais amenas. No fim, conseguimos nos adaptar às regras ou adaptá-las a nós e tudo correu normalmente e perfeitamente bem. No primeiro dia de ida a campo, acordamos cedo e estávamos ansiosos para conhecer as áreas de estudo e principalmente nosso objeto de estudo, juntamente com a demais fauna da região. Porém não era tão simples assim sair do alojamento. Antes de tudo tínhamos que cumprir uma série de exigências para garantir a segurança no trabalho, um ponto que dificilmente levamos em conta em outras saídas, mas que é importante em todos os meios e tipos de trabalho. Iniciamos nossa exploração por terras de canga, uma vegetação de savana similar ao Cerrado, cercada por Floresta Amazônica, encontrada apenas onde existe uma grande quantidade de minério de ferro no solo. Nosso objeto de estudo: um pequeno anfíbio (Pseudopaludicola canga - Leiuperidae), endêmico das áreas de savana da Serra de Carajás. O objetivo
foi levantar dados sobre a biologia reprodutiva e ecologia do pequeno e pouco conhecido anuro, para que assim, futuramente, ações de conservação da espécie possam ser tomadas, uma vez que o lugar em que ela se encontra sofre intensa exploração de minérios. Para ajudar no trabalho, improvisamos um laboratório no hall de entrada dos quartos para algumas atividades como a retirada de tecidos para DNA e a contagem de desova, uma vez que o alojamento não possuía infraestrutura para pesquisa em si. Com isso chamávamos a atenção das pessoas que por ali passavam. Em todos os momentos que estávamos no alojamento e não em campo, éramos chamados para ver um animal diferente, muitos desconhecidos para nós também, outros conhecidos por nomes populares diferentes.
Abaixo, o pequeno anuro endêmico da áreas de savana da Serra dos Carajas, Pseudopaludicola canga, nosso
objeto de estudo durante a expedição.
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A cada ida a campo havia uma surpresa
diferente, um animal que víamos na estrada de chão
batido e que nos encantava, uma espécie da flora
diferente, uma árvore caída que tínhamos que
cortar, ou esperar o pessoal com o material
adequado. Cada tarefa de campo tinha sua
peculiaridade, umas eram mais fáceis de serem
cumpridas e outras exigiam um pouco mais de
esforço e paciência. Como, por exemplo, ficar 12
horas diretas em campo para contabilizar
indivíduos vocalizando era extremamente
cansativo, ainda mais quando essas 12 horas eram
no período noturno. Lá pudemos também aprender
uma nova técnica de marcação individual com uma
etiqueta fluorescente, um método aparentemente
menos prejudicial para estudos de população de
vertebrados. Todo o trabalho em campo foi
facilitado por termos um carro apenas para a nossa
equipe, o que nos dava a liberdade de cumprirmos
nosso horário e local escolhido para amostragem.
Nossa única preocupação era com o trabalho em
campo, diferentemente do que acontece muitas
vezes no meio acadêmico, com tanta burocracia e
dificuldades financeiras. Apesar de parecer menos
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Acima, dois anuros marcados com etiquetas fluorescentes. Abaixo, visão geral da atividade de
mineração, no local considerado a maior mina a céu aberto do mundo..
importante fez uma diferença positiva no comportamento da equipe e assim no trabalho final, quando comparado com outras experiências que tive. Após 20 dias de campo, a primeira campanha chegou ao fim e tivemos que voltar para a realidade. Os dias que passamos lá foram de trabalho intenso e incrivelmente enriquecedores. Trabalhamos de dia e à noite, ora debaixo de muita chuva, ora com muito calor, mas sem perder o entusiasmo pela novidade. Em terras longínquas vi o maior sapo da minha vida, as mais lindas cobras e pererecas, veados, invertebrados que andam em bando e assustam, uma vegetação completamente
diferente, uma cachoeira quente, fui atrás de onças (vistas apenas por quem não queria), passamos de carro onde jamais diria que é possível, além de poder ver a imponência da Amazônia e da mina de ferro, definitivamente, uma paisagem incrível. Trouxe de lá novos conhecimentos sobre biologia geral, zoologia, ecologia e vivência pessoal, aprendi como conduzir uma pesquisa e técnicas que utilizo com praticidade hoje em dia. E como qualquer experiência, seja ela boa ou não, me proporcionou um crescimento profissional e pessoal . Aprendi principalmente que oportunidades não devem ser desprezadas, mesmo quando precisamos jogar tudo pro alto para agarrá-las.
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Caroline Oswald é graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina, atualmente desenvolvendo pesquisas relacionadas com ecologia de anfíbios e répteis
Acima, a equipe do projeto, companheiros de trabalho, desafios e boas
histórias durante os dias em terras amazônicas. À esquerda, um grupo de
gafanhotos, em um dos encontros com a fauna da região.
Ilha de Páscoa
fundo ao cumed o
texto e fotospor Edson Faria Jr
e Paulo Faria
Desvendando a ilha mais remota do mundo, território Rapanui
ma ilhota. Pequenina porção de terra, com
Ucerca de 164km² de área, cercada pela
imensidão do oceano Pacífico – um
pequeno ponto perdido para o avião acertar na
mosca. Esta é Rapa Nui, ou simplesmente Ilha de
Páscoa: sem dúvida a ilha mais remota do mundo.
Remota no sentido da distância de outro pedaço de
terra - ela está localizada a aproximadamente 3700
km da costa chilena, ao leste, e cerca de 1900 km das
Ilhas Pitcairn a oeste. Apesar da distância é
relativamente fácil chegar à ilha, pois partem voos
diários saindo de Lima no Peru, ou de Santiago,
capital chilena.
Partimos de São Paulo em Novembro, entre
tempos de espera, tempo de voo e escala em Lima,
demoramos aproximadamente 13 horas para
aterrissar no Aeroporto Internacional Mataveri, o
único da pequena ilha. Aterrissamos as 6:50 da
manhã, horário em que os primeiros raios de sol
recém começavam a aparecer, não nos deixando
perceber se aquilo ao horizonte eram apenas mais
nuvem ou a esperada “terra à vista”.
O local é território chileno, assim
praticamente todos os habitantes falam espanhol,
entretanto o povo original é o rapanui, que mantém
à duras penas sua cultura e idioma vivos. Apesar de
fazer parte do Chile, os povos que primeiro
colonizaram a ilha foram de origem polinésica,
como os povos da Polinésia Francesa, Nova
Zelândia, Ilhas Marquesas, Ilhas Pitcairn e Hawaii,
com os quais os rapanui mantém semelhanças
físicas e culturais. É de se imaginar, assim, conflitos
na relação entre o povo original e sua condição
política recente, o que ficou óbvio quando
avistamos, na rua principal do vilarejo, a placa
escrita: para el conocimiento internacional Rapa
Nui jamas entrego ni cedió La soberania a Chile” –
para conhecimento internacional, Rapa Nui jamais
entregou nem cedeu a soberania ao Chile, em
tradução livre.
Quase sempre quando alguém pensa na Ilha
de Páscoa, a primeira imagem que vem associada à
ilha, são as figuras dos moais, e todo o misticismo
envolvendo aquelas imensas cabeçonas esculpidas
em rocha pelos antigos rapanuis. É claro que toda
essa história também instigava nossa curiosidade,
mas nos próximos dias que ficaríamos por aquelas
terras, tínhamos muito mais mistérios para
desvendar e lugares para desbravar. Precisávamos
conhecer o clássico, mas também queríamos nos
aventurar pelo inusitado e pouco convencional.
Depois de um breve city-tour na vila de
Hanga Roa, onde visualizamos nossos primeiros
moais, pequenos e não tão belos, fomos para nossa
hospedagem. Um “hostel-camping”, com um
quarto compartilhado em duas pessoas, foi a opção
com melhor custo-benefício, sem grandes luxos
mas bem aconchegante. O fator isolamento da ilha
acarreta uma condicionante importante: tudo por lá
é muito caro (uma lata de coca não sai por menos de
R$10, um almoço simples não sai por menos de
R$40), o que leva mochileiros ou turistas “mais
econômicos” a levarem comida industrializada do
continente (in natura é proibida). Foi o que fizemos.
De baixo de chuva espessa, que chegava a
machucar os olhos, rapidamente partimos para
nosso primeiro reconhecimento na ilha – o tempo
chuvoso nos convidava para uma bela pedalada.
Pelas vias tradicionais da ilha, pavimentadas,
partimos de Hanga Roa com nossas bicicletas
alugadas no sentido norte, até a praia de Anakena,
onde visualizamos os primeiros moais inteiros, em
cima de suas plataformas sagradas – os Ahus. A
partir de lá, passamos pela praia de Ovahe e
retornamos sentido sul pela estrada litorânea, que
passa aos pés do Vulcão Rano Kau e de diversos
ahus com moais, todos no chão com exceção do Ahu
Tongariki.
Com diversas paradas para contemplar o
oceano pacífico (nada pacífico naquele dia de
tempestade), extensos desvios lamacentos e de
grande declividade (com pequenas doses de
adrenalina), belos petroglifos e uma mistura de
ansiedade e frustração, pelo impedimento de curtir
devidamente e registrar os lugares por conta da
chuva torrencial, terminamos nossos 51 km de
pedaladas com muita animação para as aventuras
que se seguiriam, e com um novo amigo brasileiro
conhecido no meio do pedal, que acabou por ser
integrado à equipe. Nos dias consecutivos,
retornamos a todos os pontos que foram visitados
tão brevemente neste dia.
Como agora estávamos em três, optamos
por alugar um carro, o que saia em conta (acredite,
saía quase o mesmo preço que 3 bicicletas locadas) e
ainda ganhávamos aquilo que tínhamos de falta -
tempo. Perdemos um pouco na aventura, claro.
Motorizados, o primeiro destino foi o
vulcão Rano Raraku, direto ao berço dos moais. O
local é um dos dois únicos pontos da ilha
(juntamente com Orongo) que têm entrada
controlada, é necessário comprar um ingresso para
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Pôr do Sol
Entrada Paga
Nascer do Sol
Mergulhos
entrar nos dois locais e que pode ser adquirido
ainda no aeroporto, no desembarque – grande parte
da ilha é área do Parque Nacional de Rapa Nui,
(muito bem) administrado pelo serviço de parques
chileno, que faz um manejo mais rigoroso dos dois
pontos supracitados por serem mais sensíveis e
importantes arqueologicamente.
Rano Raraku é, sem dúvida, um dos locais
mais bonitos da Ilha, onde é possível encontrar
centenas de moais em diversos estágios de
finalização: inteiros, danificados, inacabados, ainda
presos à rocha, sentado (o único da ilha na posição).
Ainda, é possível visitar o lago na cratera do vulcão,
e tudo isso através de trilhas fáceis, acessíveis,
inclusive, a pessoas sem muito condicionamento
físico. Sem dúvida um visual inesquecível.
Vamos entender porque Rano Raraku é o
berço dos moais. Os rapanui faziam os moais, essas
grandes esculturas em pedra, somente em um local:
o vulcão Rano Raraku. Eles os esculpiam
m a n u a l m e n t e , u t i l i z a n d o f e r r a m e n t a s
rudimentares, direto na rocha matriz, e iam
talhando a pedra até “desgruda-la” das encostas do
vulcão. Depois, as espalhavam por todo perímetro
da Ilha, organizados enfileirados sobre altares - os
Ahus, sagrados para os rapanui. Não há consenso
sobre como era feito o transporte das estátuas.
Hoje, muito dos moais que se pode ver em
Rapa Nui estão caídos, e os poucos que estão em pé
foram reerguidos no séc XX através de uma
cooperação do Chile com o governo japonês. Eles
haviam sido derrubados no séc XVII durante um
período de lutas entre tribos rivais dos rapanui, e
vinham sofrendo com intempéries ao longo do
tempo, destacando um tsunami ocorrido em 1960.
Saindo de Rano Raraku aproveitamos para
uma breve visita ao Ahu Tongariki, o maior Ahu da
ilha, com 15 moais erguidos e que fica muito
próximo ao vulcão onde os moais eram
construídos. Prosseguimos de carro contornando a
face norte da Ilha, onde no caminho paramos em
outros ahus com moais caídos e sítios de inscrições
rupestres, como o Papavaka, que possui diversas
imagens associadas ao antigo estilo de vida das
tribos originais.
Seguimos de volta a Hanga Roa, o núcleo
“Apesar de fazer parte do Chile, os povos que primeiro colonizaram a ilha foram de origem polinésica, chamados rapanui.”
Exp l o ra We b Magaz i ne 17
Hanga Roa
Rano Raraku
Orongo
Ahu Tongariki
Ahu Akivi
Terevaka
Anakena
Ovahe
PapaVaka
PunaPau
Tahai
Ana Kakenga
“Rano Raraku é, sem dúvida, um dos locais mais bonitos da Ilha, onde é possível encontrar centenas de moais em diversos estágios de finalização”
urbano da ilha, para chegarmos a tempo de
observar o pôr-do-sol no complexo cerimonial
Tahai, localizado em um parque arqueológico bem
perto da cidade, com um grande gramado onde os
turistas costumam ver o sol se pondo por trás dos
moais. Sem dúvida aquele foi um dos pores-do-sol
mais bonitos de nossas vidas!
Fim do primeiro dia, o jeito é comer e
descansar para dar continuidade à aventura –
sabíamos que ainda havia muito o que fazer nos
próximos dias.
Às 5h da manhã já era hora de estar em pé,
juntar os equipamentos fotográficos, vestir um
agasalho, subir no carro e dirigir mais uma vez até o
Ahu Tongariki. O nascer do sol naquele lugar não é
o mais famoso da Ilha por acaso: por trás dos 15
moais o sol aparecia em outro cenário que nos
deixou afônicos e que nos dava a ilusão de
compreender o porquê dos rapanui terem
construído aquela obra. A beleza era tanta, que
acabaríamos por retornar para curtir mais uma vez
aquela paisagem.
Com muito dia pela frente, fomos visitar
Ovahe, a menor das duas praias ilha, que não
Exp l o ra We b Magaz i ne 19
Pôr do Sol no Ahu Tahai. Abaixo, os gigantescos moais de Rano Raraku
oferece condições para um banho de mar, mas
deslumbra com a mistura de paredões à beira-mar,
rochas e areias cor-de-rosa, além de ser o principal
lugar da Ilha que ainda preserva alguns de seus
raros espécimes vegetais nativos.
Entre as aventuras em terra, tiramos um dia
e meio para desbravarmos uma parte da ilha que
nem todos conhecem, o mundo subaquático. Nosso
primeiro mergulho foi no chamado Acantilado,
com profundidade de até 40 metros. O local
surpreende pela quantidade de coral recobrindo o
fundo, e diversos arcos e pequenas cavernas por
onde é possível passar. Os mergulhos seguintes
foram mais rasos, e em locais mais populares, como
o Moai submerso. Por ser muito isolada, a
visibilidade surpreende, pode passar dos 70m, sem
dúvida o maior dos atrativos. Apesar da água fria,
em novembro girando em torno dos 21°C, o fundo é
recoberto por espécies de corais que formam recifes
esplêndidos. Não há grande diversidade marinha,
devido às características ecológicas do lugar, mas é
fácil visualizar diversos peixes multicoloridos e
tartarugas marinhas. Muitas das espécies que
vemos são endêmicas, ou seja, só existem na Ilha.
Exp l o ra We b Magaz i ne 20
A pequena praia de Ovahe, uma das duas da Ilha.
Nascer do Sol em Ahu Tongariki
“Por ser muito isolada, a visibilidade surpreende, pode passar dos 70m, sem dúvida o maior dos atrativos. Apesar da água fria, em novembro girando em torno dos 21°C, o fundo é recoberto por espécies de corais que formam recifes esplêndidos”
Exp l o ra We b Magaz i ne 22
Tangata Manu, o Homem Pássaro. Abaixo, dia de celebração da cultura rapanui.
No dia seguinte, uma feliz coincidência: ao decidir fazer sair para um trekking, passamos pelo centro de Hanga Roa e nos deparamos com o início de uma bela celebração ao idioma e cultura rapanui, que rapidamente nos fez mudar os planos e nos m i s t u r a r m o s c o m o p o v o . Diferente do mundialmente conhecido festival Tapati Rapa Nui, que atrai cerca de 15 mil turistas todos os anos em época próxima ao carnaval brasileiro, a festa que nós presenciamos por acaso não tinha nenhum intuito turístico, mas sim era voltada pro fortalecimento dentro do seu próprio povo de uma cultura que vem agonizando. Comida típica preparada do modo tradicional – como raízes, peixes e aves assados em folhas de bananeira e em cima de pedras aquecidas, obras de artesões locais, música e dança rapanui, representações teatrais das lendas e histórias da ilha, apresentações de outros povos polinésicos, e muito idioma rapanui, com direito à presença do Ariki, o rei Rapa Nui, foram apenas algumas das experiências daquele que foi o dia mais fascinante na ilha, por estar distante de nossas expectativas. Após um dia regado com cultura rapanui, decidimos por um programa distante dos roteiros tradicionais. Próximo ao fim de tarde, caminhamos cerca de uma hora a té Ana Kakenga ,
Exp l o ra We b Magaz i ne 23
Ariki, o Rei Rapanui. No topo, apresentação cultural.
um complexo de cavernas conhecido por “cueva de las dos ventanas – caverna das duas janelas”, de onde também podemos curtir o pôr do sol. De dentro da caverna é possível observar o Motu Tautara, um pequeno ilhote próximo à ilha, através de duas aberturas encravadas na encosta escarpada de frente pro mar. Foi um belo e exclusivo fim de tarde, com o sol emoldurado pela caverna e a pesca tradic ional dos rapanui junto à costa . O roteiro do próximo dia foi longo. Fomos ao Ahu Akivi, uma plataforma com sete moais em pé, na base do vulcão Terevaka, o maior vulcão da Ilha. Logo ao lado, fomos até Ana Te Pahu, um setor de várias cavernas utilizadas pelos povos antigos como abrigo, no interior delas, munidos de lanternas, foi possível encontrar resquícios da utilização do ambiente, como restos fornos e camas feitas de pedras. Seguimos até Puna Pau, na parte sudoeste da ilha, um vulcão com rochas avermelhadas onde eram entalhados os Pukaos, espécie de chapéu colocado sobre alguns moais. Por fim, passamos a tarde na praia de Anakena, a maior praia da ilha, e onde se localiza o Ahu Nau Nau, com alguns dos moais mais preservados e belos de Rapa Nui e águas convidativas para um belo (e gelado) banho de mar. Naquela altura, já conhecíamos praticamente a ilha toda e repetíamos
Exp l o ra We b Magaz i ne 24
alguns programas, mas ainda havia o que conhecer.
Seguimos, em outro dia ensolarado, para o
complexo Orongo, no vulcão Rano Kau, ponta mais
meridional da ilha. Para subir até a imponente
cratera do vulcão pode-se optar por uma trilha em
meio a vegetação, contornar a pé os desfiladeiros do
vulcão à beira mar, ou ainda subir de carro através
de uma estradinha de terra. A cratera é de circular
beleza, e observa-se claramente a forma do cone
vulcânico. No local há um centro de visitantes,
entrada de um complexo cerimonial, onde os
antigos celebravam o famoso ritual do homem
pássaro, uma competição entre clãs que escolhia
anualmente o soberano da ilha.
Aquele era o lugar de origem do moai mais
conservado da ilha, o raro moai entalhado em
basalto chamado Hoa Hakananai'a (amigo
roubado), que fora removido da ilha no séc XIX por
um navio inglês e levado para Europa. Atualmente
é exposto no Museu Britânico, sendo o único moai
encontrado fora da ilha. Do complexo cerimonial
ainda é possível avistar o belo Motu Nui, ilhote no
extremo sul da ilha, local onde o escolhido homem
pássaro coletava ovos de aves para a cerimônia. De
Entardecer dentro da Cueva de las dos ventanas. Abaixo, à esquerda, Ahu Akivi. À direita, Ahu Nau Nau.
volta a Hanga Roa, outro evento cultural. Celebrando um encontro de povos de mesma origem, ficamos deslumbrados ao presenciar uma apresentação de músicas e danças de um grupo das Ilhas Marquesas. Fortes guerreiros tatuados, ritmo fortemente marcado, e tambores maciços entalhados em madeira encerraram mais um inesquecível dia. A última programação da viagem foi a subida do monte Terevaka, o vulcão mais alto de Rapa Nui. Uma bela caminhada panorâmica que começa na região central da ilha e é cercada por pastagens, fazendas, e cavalos asselvajados. A
trilha é bastante fácil, por entre campos, e possui declividade suave, já que o ponto culminante da ilha possui apenas 511 metros de altitude. Na chegada ao cume, várias pedras empilhadas demarcam o objetivo atingido. De lá é possível ter uma visão 360° da ilha, onde vemos todos os vulcões, os maiores ahus, o vilarejo, o aeroporto, e todo o mar em volta. Vimos, assim, o retrato resumido de dias que transbordaram lindas paisagens e experiências incríveis, e nos despedimos, por fim, de uma aventura que deixará saudades e belas lembranças. Que seja um até breve.
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O vulcão Rano Kau, no complexo Orongo. Abaixo, apresentação cultural das Ilhas Marquesas
Encontros
Em um dos primeiros mergulhos dos trinta dias de expedição para Ilha da Trindade, distante 1200 km a leste do continente Sul Americano, encontramos por acaso um sistema de cavernas que se tornou o meu ponto preferido na ilha. Já na primeira vez que eu e meu dupla mergulhamos ali, encontramos uma quantidade de cardumes de xaréus e sargos praticamente impossível de ser observada na costa a t u a l m e n t e , a l é m d e s e i s t u b a r õ e s - l i x a ( G i n g l y m o s t o m a c i r r a t u m ) d e s c a n s a n d o pacificamente em uma caverna a 20 e poucos metros da superfície.
por Maria Eduarda Alves
Acima, o primeiro encontro com cinco tubarões lixa dentro. Abaixo, à direita, um Carcharinus perezi juvenil em um dos encontros em volta do sistema de cavernas.
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Nos mergulhos seguintes, a caverna também foi cenário de encontros com outros tubarões lixas, tubarões bico-fino (Carcharhinus perezi) e um tubarão-martelo. Em certo mergulho, vimos um bico-fino de cerca de 3m descansado sob a caverna, uma fêmea com diversas marcas de mordidas, provavelmente obtidas em interações reprodutivas. Estudos ao redor do mundo apontam um sério declínio das populações de tubarões, com várias espécies altamente ameaçadas de extinção. Com isso, encontrar esses lindos e imponentes animais, e experimentar o fascínio gerado por mergulhar com esses incríveis predadores, têm se tornado cada vez mais raro. Longe da imagem gerada pelos filmes do Spielberg, topar com esses animais em baixo da água está longe de ser assustador, é fascinante.
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