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Vitória da Conquista, 20.02.2012 n. 8 [email protected] http://www.marcadefantasia.com/o-corpo-e-discurso.htm
O corpo é discurso
Em sua oitava edição, O CORPO divulga trabalhos de
pesquisa desenvolvidos dentro da AD e que têm, como corpus,
materialidades fílmicas, trazendo também mais informações acerca
da 2ª Jornada Internacional de Estudos do Discurso – 2ª JIED e
sobre o 1º Encontro Internacional da Imagem em Discurso – EIID.
Ainda neste número, informes a respeito dos cursos oferecidos pelo
Laboratório de Estudos do Discurso e do Corpo - Labedisco, bem
como da retrospectiva do cinema de horror brasileiro promovida
pela Cinemoteca Brasileira, além, claro, de nossas tradicionais dicas.
A materialidade significante de Suzy Lagazzi
Tyrone Chaves
(UESB/Labedisco)
Em seu texto intitulado A materialidade significante em análise, Suzy
Lagazzi, pesquisadora da UNICAMP, empreende uma análise discursiva da
linguagem associada à materialidade fílmica, tomando como corpus quatro
produções cinematográficas brasileiras (Boca de Lixo, Tereza, Tropa de Elite e
Linha de Passe). Lagazzi expõe e esclarece o que ela chama de “materialidade
significante”, destrinchando, em cada um dos filmes, sua teoria que funciona
como um trabalho simbólico que atua como ilustração do significante, cuja
constituição é propugnada pelo próprio material e o sentido que a história
orienta. O trabalho desempenhado pela linguista constitui uma observação do
social e do político aventados nos filmes por meio do que a imagem produz e
do sentido – historicamente construído – que a mesma ventila, isto é, do que o
conjunto de imagens, em sua imbricação com a história e a língua, formula.
EXPEDIENTE DE O CORPO
Coordenação geral – Nilton Milanez Editores responsáveis – Nilton Milanez e Ciro Prates
Revisão – Joseane Bittencourt e Talita Figueredo Editoração eletrônica (MARCA DE FANTASIA) – Henrique Magalhães
ISSN 2236-8221
No Brasil, o mundo é canibal:
o humor negro e o horror na animação
-
Em Boca de Lixo, a materialidade significante que se legitima
por meio da imagem corresponde ao sujeito catador de lixo cuja posição
se significa em meio ao lixo e à memória do trabalho: o corpo curvado,
de modo a se debruçar sobre o lixo, representa a contradição que se
apresenta entre o trabalho e o não-trabalho, refletido no social de modo
a dar vistas a um impasse. Em Tereza, essa contradição é marcada pelo
embate entre criminoso e personagens, verdade e ficções, fatos e
histórias, de modo que, no limiar entre a imagem de um preso e a de
um personagem, na ligação entre um fato e uma história, há um efeito
de equivocidade que é marcado pela intersecção entre rostos e histórias.
Na análise de Tropa de Elite, Suzzy
Lagazzi pontua alguns elementos da
materialidade que marcam aquilo
que ela chama de “textualização da
diferença no social”, levando em
consideração, por exemplo, as
declarações do personagem Capitão
Nascimento (enquanto narrador), a
ausência de trilha sonora e o fato de
haver uma concentração de câmera
nos personagens, fatores que colocam
à risca dois tipos de funcionamentos que marcam uma textualidade: a
dicotomia que se estabelece entre a polícia e a corrupção/tráfico e a
relação entre a polícia e os fatos cotidianos.
Por fim, Lagazzi analisa o trabalho da
imagem em Linha de Passe por meio de
alguns elementos que, para a analista,
funcionam como o que ela chama de
“metonimização de imagens”, pois as
imagens, em detrimento de outras,
possuem um valor de substituição que
marca a presença pela ausência. Para
tanto, ela elenca alguns indícios que
corroboram isso: a chuteira do
personagem Dario, apresentada sem
condição de jogo, o que marca um
trabalho simbólico entre o desejo do personagem e o insucesso de sua
busca; do mesmo modo, a pia entupida na cozinha de Cleuza, que ilustra,
concomitantemente, a dificuldade e a possibilidade de alívio a partir do
escoamento da água; o cachorro, que baliza a presença e a ausência de
Dênis enquanto pai; a Irmã Rosa, que, numa cadeira de rodas, simboliza o
entremeio entre a fé e a descrença, a possibilidade ou não de voltar a
andar, que afeta ela e Dinho e, finalmente, o volante do carro de
Reginaldo, objeto que alegoriza a falta e a procura pelo pai.
TFOUNI, L. V., MONTE-SERRAT, D. M., CHIARETTI, P. (Orgs.) A
Análise do Discurso e suas interfaces. São Carlos: Pedro e João Editores,
2011.
para a formação de objetos do discurso. Sobretudo, ressalto a discussão
sobre o uso das cores nos dois trailers que se deslocam na criação em
branco e preto de Drácula, materializando o lugar do mal e do
demoníaco, para a simbolização do divino e do erótico, marcadamente
nas cores azuladas e avermelhadas, discutidas em detalhes, dos planos do
trailer de Crepúsculo.
O autor destaca a soberania dos
vampiros por meio da
materialidade discursiva que é o
corpo dos personagens. Essa
materialidade corporal apresenta
uma existência histórica, que tem como condições de possibilidade a
política corporal das épocas que representam. A materialidade fílmico-
discursiva revela, portanto, uma política corporal por meio de ordenação
de imagens e memórias nas quais o corpo do vampiro, em um primeiro
momento, é construído como representação diabólica, caracterizado pela
animalização e pela monstruosidade para deslizar, depois, para a
formação de imagens que o colocam dentro da modalidade do super-
herói e do salvador da nação.
Nesse meio tempo é que emerge a ideia sobre a qual gira a noção de
horror, um tabu e pavor da morte, exigindo a vida, a vida eterna, a
qualquer custo. O horror, assim, se desdobra em uma normatização das
regras e regulamentos que exigem que o sujeito se dê a ver sob uma forte
disciplina do gerenciamento de sua força vital. A análise discursivo-
fílmica dos trailers revela, por fim, que tanto o corpo monstruoso
Imagem Em Movimento: corpo, horror e
contradição
Ciro Prates
(UESB/Labedisco)
O livro Discurso e imagem em movimento: o corpo horrorífico do
vampiro no trailer, de Nilton Milanez, problematiza a imagem em
movimento nos domínios do discurso por meio da análise de dois
trailers: Drácula, de Tod Browning (1931) e Crepúsculo de Catherine
Hardwicke (2008). Primeiramente, destaca um arcabouço teórico-
metodológico possível na AD para a análise das imagens em movimento,
considerando uma ordem discursiva para os trailers, na qual os sentidos
se constroem por meio do encadeamento de determinadas imagens, sua
repartição, seus modos de revezamento e justaposições para a
construção do olhar de um sujeito, que toma as materialidades fílmicas
como dispositivo discursivo para se pensar o corpo e horror.
O autor demonstra como a produção de sentidos varia em cada
trailer, mostrando a regularidade de um discurso em torno do vampiro
que, nos anos 1930, se centrava sobre a morte e, nos anos 2000, sobre a
vida. Essa produção discursiva é apresentada por meio da escolha dos
planos, ângulos e movimentos das câmeras, elementos fundamentais
do vampiro, quanto a divindade de sua partitura corporal antes de serem
tomados como lugares de transgressão, produzem discursos de
normalização do sujeito, dizendo como eles devem ou não conduzir suas
vidas.
Visto assim, os discursos produzidos pela
materialidade fílmico-discursiva criam
uma contradição que constitui espaços de
dissenção do sujeito, produzindo ao
mesmo tempo rupturas e imbricamentos
entre a vida e a morte, o normal e o
monstruoso, o divino e o demoníaco , a
disciplina e a intemperança. Sob essa perspectiva, a contradição não é
dicotômica, mas constitutiva do processo de controle e recondução dos
sujeitos sobre eles mesmos durante o exercício de suas materialidades em
movimento ao longo de nossa história.
A criação de um quadro discursivo sobre a imagem em movimento,
o corpo, o horror e suas contradições faz nos debruçar sobre a análise do
discurso e as relações possíveis entre uma série e outra para compreender os
novos acontecimentos que dali saltam, reconfigurando o confronto de novas
formas de materialidade no discurso.
MILANEZ, Nilton. Discurso e imagem em movimento: o corpo horrorífico do vampiro no trailer. São Carlos: Claraluz, 2011.
Dica de O CORPO:
Leitura do livro Discurso e imagem em movimento: o corpo horrorífico do vampiro no trailer, de Nilton Milanez (2011).
2ª Jornada Internacional de Estudos do Discurso – 2ª JIED e
1º Encontro Internacional da Imagem em Discurso
De 28 a 30 de março de 2012, no campus da Universidade
Estadual de Maringá – UEM, estará acontecendo a 2ª Jornada
Internacional de Estudos do Discurso – 2ª JIED e também o 1º Encontro
Internacional da Imagem em Discurso – EIID. No primeiro dia, à noite,
teremos a abertura oficial do evento com a conferência da Dra. Sophie
Moirand.
Sophie Moirand é pesquisadora e professora da
Sorbonne Nouvelle-Paris 3, fundadora do CEDISCOR
(Centre de recherche sur les discours ordinaires et
spécialisés) e teve um de seus textos, Discours,
mémoires et contextes: à propos du fonctionnement
de l’allusion dans la presse (Discurso, memórias e contextos: a
propósito do funcionamento da alusão na imprensa), publicado pelas
Edições UESB, na revista Estudos da Lingua(gem) (2008), cuja
tradução será publicada em breve pela editora Claraluz.
No segundo dia, haverá uma conferência com o
pesquisador e também professor da Sorbonne
Nouvelle-Paris 3, o Dr. Philippe Dubois, diretor da
Unidade de Formação e Pesquisa em Cinema e
Audiovisual e autor do livro Cinema, vídeo, Godard
(2004). Além dessas conferências, nos dias 29 e 30,
O CORPO chama a atenção para as duas mesas que discutirão corpo : a
mesa-redonda 4, cujo tema é O corpo como materialidade discursiva,
com a participação dos pesquisadores Dra. Maria Cristina Leandro
Ferreira (UFRGS) e Dr. Pedro de Souza (UFSC) ; e a mesa-redonda 5,
Imagem em movimento: discurso, corpo e(m) contradição, com o Dr.
Nilton Milanez (UESB) e a Dra. Suzy Lagazzi (UNICAMP).
Mais informações a respeito do evento podem ser encontradas no site:
http://www.jiedimagem.com.br/
CURSO INTRODUÇÃO À ANÁLISE DO DISCURSO FÍLMICO
Nos meses de fevereiro, março e abril de 2012, será realizado, na
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, o curso
Introdução à análise do discurso fílmico, ministrado pelo Prof. Dr.
Nilton Milanez (Labedisco/UESB) e pela Profa. Dnda. Janaina de Jesus
Santos (UNEB/Caetité- Labedisco/UESB). O curso tem como objetivo
discutir noções básicas do discurso aplicadas aos estudos do discurso
fílmico. Para tanto, focaliza a análise de materiais da imagem fílmica,
considerando sua produção de sentidos a partir dos postulados de
Michel Foucault (2000) em A arqueologia do saber e dos postulados de
Jacques Aumont (1994) em A Estética do filme. As discussões
contemplam teoria aliada à prática de análise dos objetos de estudo dos
discentes participantes. Ao todo, serão dez encontros com diferentes
abordagens: 1º) Noção de Discurso na língua e na imagem; 2º) Noção de
Sentido no dispositivo fílmico; 3º) Noção de descontinuidade no
cinema; 4º) Materialidades do discurso fílmico; 5º) Análise linguístico-
discursiva; 6º) Análise audiovisual-discursiva; 7º) Análise do
funcionamento discursivo de estratégias do cinema I; 8º) Análise do
funcionamento discursivo de estratégias do cinema II; 9º) Análise do
funcionamento discursivo de estratégias do cinema III; 10º) Discussões
teóricas e práticas. Na bibliografia básica do curso constam ainda os
livros: O Ato Fotográfico e Outros Ensaios, de Philippe Dubois (2000),
Análise do Discurso: reflexões introdutórias, de Cleudemar Alves
Fernandes (2007), e Discurso e imagem em movimento: o corpo
horrorífico do vampiro no trailer, de Nilton Milanez (2011).
Tópicos Sobre Discurso e Horror
O Laboratório de Estudos do Discurso e
do Corpo – Labedisco também oferece,
durante os meses de fevereiro e março
deste ano, o curso Tópicos Sobre Discurso
e Horror com o objetivo de discutir
tópicos que fazem parte da formação do
discurso sobre o horror. Este curso é
organizado pelos professores Nilton
Milanez (Labedisco/UESB) e Jamille Santos (Labedisco/UESB). As
discussões servirão de alicerce para pesquisas em literatura e cinema de
horror, apresentando elementos problematizados por pesquisadores do
assunto em um sobrevoo acerca das posições de autores do século XVII,
XIX e XX, elencando posicionamentos a respeito do tema que auxiliam a
compreender a noção de horror e seus laços com o discurso.
Você pode conferir o vídeo de divulgação do curso no endereço:
http://www.youtube.com/watch?v=NWWl7t7BA5k
HORROR NO CINEMA BRASILEIRO
A Cinemateca Brasileira e a Heco
Produções promovem, a partir de
fevereiro, uma retrospectiva do cinema
de horror brasileiro. Ao longo do ano,
em sessões mensais aos sábados, e
com reprises durante a semana, serão
apresentados títulos representativos de um gênero narrativo que
dificilmente associamos à história de nosso cinema. Inédita em São
Paulo, a mostra tem curadoria de Eugenio Puppo.
Desconhecido do grande público e ainda timidamente estudado,
o cinema de horror no Brasil tem na figura de Zé do Caixão, e nos
filmes de José Mojica Marins, seu criador, sua mais famosa expressão
artística. No entanto, segundo pesquisas recentes, a cinematografia
brasileira vem flertando com a narrativa fantástica desde meados dos
anos 1930 e 1940, momento em que certos diretores inserem elementos
do gênero ao enredo de comédias musicais como O jovem tataravô
(1936), de Lulu de Barros, ou Fantasma por acaso (1946), de Moacyr
Fenelon. Já na década de 1950, produtores e cineastas paulistas
influenciados pelo clássico de Hitchcock, Rebeca, a mulher
inesquecível (1940) investem por sua vez na criação de melodramas
sombrios, marcados por uma atmosfera sobrenatural e por fortes papéis
femininos como Caiçara (1950), de Adolfo Celi, e Meu destino é
pecar (1952), de Manuel Peluffo. Mas a primeira produção a se declarar
abertamente um “filme de horror brasileiro” foi À meia-noite levarei
sua alma, de José Mojica Marins, lançada em 1964. Nos anos seguintes, o
gênero encontrará espaço para seu desenvolvimento em produções
realizadas na Boca do Lixo, em São Paulo, combinando-se muitas vezes a
outras formas narrativas como o policial, a ficção científica, a comédia
erótica, o suspense e o pornô.
No mês de abertura da mostra, serão exibidos três filmes
representativos do horror brasileiro: O despertar da besta (1969), de José
Mojica Marins, Ninfas diabólicas (1978), de John Doo, e O maníaco do
parque (2002-2009), de Alex Prado.
Texto de divulgação retirado do site: http://www.cinemateca.com.br/
Dica de O CORPO:
Leitura do livro A Caverna de José Saramago: lugar de enfrentamento entre o sujeito e o poder, de Karina Luiza de Freitas Assunção (2011).
“Ao adentrarmos o campo dos estudos linguísticos, encontraremos vários aportes teóricos, cada qual apresentando suas particularidades específicas. Particularidades essas que vão, ao longo dos tempos, sofrendo mudanças de acordo com aspectos que surgem no decorrer das pesquisas realizadas. Tendo em vista esse profícuo campo, elegemos para a realização do presente trabalho a Análise do Discurso de linha francesa (doravante AD), que considera o discurso efeito de uma dada exterioridade sócio-histórica.
Optamos pelo romance A caverna (2000) de José Saramago como objeto de estudo do presente trabalho. Uma vez que a obra em questão apresenta vários aspectos que poderiam ser analisados sob o prisma da AD, elegemos como ponto central o sujeito discursivo Cipriano Algor. Mais especificamente, a constituição de sua subjetividade, instaurada a partir da relação de poder estabelecida entre ele e o “Centro de Compras”.
Foucault (2007a) afirma que o poder não é encontrado em uma posição ou pessoa, ele espraia por toda a sociedade através das microrrelações e em pequenos detalhes para os quais muitas vezes não damos a devida importância. Assim, a partir dessa breve consideração ressaltamos que no romance em questão há outras relações que poderiam ser analisadas, como a estabelecida entre Cipriano, sua filha, seu genro e o cachorro Achado, mas que não serão objetos de investigação tendo em vista o recorte estabelecido.
Escolhemos como corpus de nosso trabalho fragmentos do romance A caverna, pois acreditamos que através da literatura podemos apreender um pouco do que somos, pois o texto literário é um espaço no qual deparamos com a dispersão das subjetividades e a tentativa de reconstrução das mesmas. É um espaço de lutas e embates que trazem à tona, em sua constituição, um pouco do que fomos, somos e ainda seremos” (texto de divulgação).
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