evidŒncias científicas da açªo da acupuntura

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CorrespondŒncia: Rua Salvador Correa, 139 - Centro 28035-310 - Campos dos Goytacazes - RJ Telefone:+55 (22) 2733.1414 Fax: +55 (22) 2722.9677 e-mail: [email protected] Resumo Palavras-chave EvidŒncias cientficas da aªo da Acupuntura Francisco Antonio de Oliveira Pereira MØdico, Fisioterapeuta, Doutor em Acupuntura A acupuntura é um recurso terapêutico de um sistema médico conhecido no ocidente como Medicina Tradiconal Chinesa. Esta forma de tratamento vem sendo objeto de estudo científico tanto no ocidente quanto no oriente. Através de uma revisão bibliográfica, o presente trabalho visa apresentar uma visão sintética de alguns dados objetivos das ações terapêuticas, dos mecanismos de ação e das principais teorias que orientam a pesquisa. O efeito terapêutico da acupuntura que tem sido mais estudado é o efeito analgésico. Isto se dá porque é seu efeito mais fácil de mensurar, tanto em humanos, através de uma resposta voluntária, quanto em animais, através de uma resposta reflexa. O estudo deste efeito resultou num dos principais modelos usados para se interpretar o mecanismo de ação da acupuntura, o modelo neurohumoral. As observações das propriedades bioelétricas da pele, posteriormente associada ao estudo da reprodução celular, da reparação tecidual e da morfogênese são responsáveis por outro modelo, o bioelétrico. A dificuldade de se explicar as ações da acupuntura através da bioquímica ou da biofísica faz surgir um novo modelo baseado na teoria da informação e na teoria dos sistemas, é o modelo do sinal X. No campo dos ensaios clínicos, o estudo científico da acupuntura apresenta duas grandes dificuldades: a acupuntura placebo e o estabelecimento de protocolo de tratamento. acupuntura, endorfinas, sinal X. PERSPECTIVAS, Campos dos Goytacazes, v.4, n.7, p. 88-105 janeiro/julho 2005

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Page 1: EvidŒncias científicas da açªo da Acupuntura

Correspondência:Rua Salvador Correa, 139 - Centro28035-310 - Campos dos Goytacazes - RJTelefone:+55 (22) 2733.1414Fax: +55 (22) 2722.9677e-mail: [email protected]

Resumo

Palavras-chave

Evidências científicas da ação da AcupunturaFrancisco Antonio de Oliveira PereiraMédico, Fisioterapeuta, Doutor em Acupuntura

A acupuntura é um recurso terapêutico de um sistemamédico conhecido no ocidente como Medicina Tradiconal Chinesa.Esta forma de tratamento vem sendo objeto de estudo científicotanto no ocidente quanto no oriente. Através de uma revisãobibliográfica, o presente trabalho visa apresentar uma visão sintéticade alguns dados objetivos das ações terapêuticas, dos mecanismosde ação e das principais teorias que orientam a pesquisa. O efeitoterapêutico da acupuntura que tem sido mais estudado é o efeitoanalgésico. Isto se dá porque é seu efeito mais fácil de mensurar,tanto em humanos, através de uma resposta voluntária, quanto emanimais, através de uma resposta reflexa. O estudo deste efeitoresultou num dos principais modelos usados para se interpretar omecanismo de ação da acupuntura, o modelo neurohumoral. Asobservações das propriedades bioelétricas da pele, posteriormenteassociada ao estudo da reprodução celular, da reparação teciduale da morfogênese são responsáveis por outro modelo, o bioelétrico.A dificuldade de se explicar as ações da acupuntura através dabioquímica ou da biofísica faz surgir um novo modelo baseado nateoria da informação e na teoria dos sistemas, é o modelo do sinalX. No campo dos ensaios clínicos, o estudo científico da acupunturaapresenta duas grandes dificuldades: a acupuntura placebo e oestabelecimento de protocolo de tratamento.

acupuntura, endorfinas, sinal X.

PERSPECTIVAS, Campos dos Goytacazes, v.4, n.7, p. 88-105 janeiro/julho 2005

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Correspondence:Rua Salvador Correa, 139 - Centro28035-310 - Campos dos Goytacazes - RJPhone number:+55 (22) 2733.1414Fax: +55 (22) 2722.9677e-mail: [email protected]

AbstractAcupuncture is a form of treatment used by a medical

system known in the west as Traditional Chinese Medicine. Thisform of treatment has been the object of scientific study in thewestern world as wel as in the east. Through a bibliographicalreview, the present work tries to give a synthetic view of objectivedata as to the effects of acupuncture, of its mechanisms of actionand the main theories that guide research. The therapeutic effectof acupuncture that has been most studied is its analgesic effect.This is due to the fact that it is very easy to measure in humans, byvoluntary response, as well as in animals, by reflex response. Thestudy of this effect resulted in one of the main models used tointerpret the mechanism of action of acupuncture, the neurohumoralmodel. The observation of the bioelectrical properties of the skin,later associated with the study of cellular reproduction, tissue repairand morphogenesis are responsible for another model, thebioelectrical model. Emerging from the difficulties in explainingthe actions of acupuncture through biochemistry and biophysicsarises a new model based on information theory and system theory,it is the X signal model. In the field of clinical trials, the scientificstudy of acupuncture presents two great obstacles: placeboacupuncture and the determination of treatment protocol.

Key works:

Scientific evidence of the effects of Acupuncture

acupuncture, endorphins, X signal

Francisco Antonio de Oliveira PereiraGraduated in Medicine, Physiotherapist, D.Sc. in Acupuncture

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I. Acupuntura, um recurso terapêutico

A acupuntura é um recursoterapêutico do sistema médico conhecido nomundo ocidental como Medicina TradicionalChinesa (MTC)1 . A medicina é uma sóquando a consideramos um misto de arte, poisenvolve julgamento e sensibilidade, e ciência,para evitar a subjetividade excessiva e acredulidade. Neste sentido genérico, amedicina visa a manutenção da saúde,definida pela Organização Mundial de Saúde(OMS) como o bem estar físico, psíquico esocial. Para alcançar tal objetivo, sãonecessárias ações preventivas, curativas ereabilitacionais, o que envolve todos osprofissionais de saúde e mesmo de outrasáreas, como no caso do saneamento.

Segundo o conceito de racionalidadesmédicas (Luz, 1996), no entanto, temos umsistema médico quando este apresentacaracterísticas próprias e originais quanto asseguintes dimensões fundamentais:morfologia, dinâmica vital, diagnose, doutrinae terapêutica. A Medicina TradicionalChinesa atende a todos estes quesitos,apresentando, por exemplo: na morfologia, osistema de canais e colaterais (jingluo); nadinâmica vital, os sistemas internos (zangfu);na diagnose, a Pulsologia Chinesa; nadoutrina, os Oito Princípios (ba gang) e osCinco Elementos (wu xing), e na terapêutica,a acupuntura e a moxabustão (zhenjiu),dentre outros recursos. Portanto, podemosconsiderar a MTC um verdadeiro sistemamédico. Já a acupuntura é um recursoterapêutico ao alcance dos profissionais desaúde de formação variada, de acordo comsua área de atuação profissional.

O sistema de canais e colaterais(jingluo) consiste numa rede de pontos elinhas que ligam estes pontos, distribuída tãoamplamente pelo nosso corpo quanto osistema nervoso ou o sistema circulatório. Seupapel é de interligar e integrar todas as partesde nosso organismo permitindo que funcionecomo um todo.

O sistema dos órgãos internos(zangfu) é o equivalente a fisiologia humana,na medicina ocidental contemporânea.Embora os órgãos recebam os mesmosnomes, o que eles fazem é muito diferente.Na medicina ocidental, as funções dos órgãossão definidas em termos bioquímicos ebiofísicos. Na medicina chinesa, estasfunções são definidas em termos dassubstâncias vitais e das relações dos CincoElementos. Isso resulta em descrições muitodiferentes da dinâmica funcional.

Na diagnose, a medicina chinesapossui apenas o exame clínico, pois não haviaexames laboratoriais ou exames por imagem.O exame clínico se assemelha ao da medicinaocidental, constituído de anamnese e examefísico. A diferença reside na forma deinterpretar os dados obtidos e também naforma de executar alguns aspectos do examefísico, como a apalpação da artéria radial,feita em três posições e em dois níveis e emambos os pulsos para revelar informaçõessobre os 12 órgãos internos do sistemazangfu. Este exame foi estudadoexperimentalmente através da AnáliseEspectral da Pulsação na Artéria Radial(CHOW 1984), mostrando a possibilidade dehaver pulsações diferentes em locaisadjacentes de uma mesma artéria, baseadona teoria dos fenômenos ondulatórios, ecorrelacionando as alterações do pulso adeterminadas afecções.

A doutrina envolve as teorias atravésdas quais se faz o raciocínio clínico. Os OitoPrincípios são o ponto de partida para adiferenciação dos quadros clínicos, enquantoos Cinco Elementos, dentre outras coisas,mostra que a medicina chinesa tinha a visãode um mecanismo de auto regulação nofuncionamento de nosso organismo.

Quanto aos recursos terapêuticos sãovários, dentre eles destacam-se: acupuntura,eletroacupuntura, moxabustão,farmacoterapia tradicional, dietética,massagens, manipulações e exercícios. Aacupuntura emprega a estimulação através

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da punção com agulhas filiformes de açoinoxidável, de vários comprimentos e devários diâmetros, em torno de 2 a 3 décimosde milímetro. Na técnica clássica daacupuntura chinesa, a manipulação dasagulhas é feita para se obter um estímulo, oqual se traduz por sensações características,denominadas deqi,2 em chinês. No Japão,uniu-se ao estímulo da agulha, um estímuloelétrico originando a eletroacupuntura. Estase destacou em vários tipos de tratamento,principalmente na analgesia cirúrgica.

A história da acupuntura se perde nahistória da humanidade. Embora haja relatosde sua existência em várias culturas, suaorigem parece ter sido a China e seu registroescrito mais antigo é O Clássico de MedicinaInterna do Imperador Amarelo (Nei Jing SuWen). Apesar de ser atribuído ao lendárioImperador Amarelo, trata-se de obra escritapor vários autores e compilada por volta doséculo II a.C.

A medicina praticada na China até operíodo conhecido como Período dos ReinosCombatentes (século IV e V a.C.) era umamedicina xamanística. Considerava que asdoenças eram provocadas pelos mausespíritos e o tratamento, ministrado por umxamã, consistia de rituais, encantamentos,simpatias, rezas e também envolvia o uso deervas e de agulhas. Nesta época, surge umaescola de pensamento, influenciada pelafilosofia taoísta, conhecida como EscolaNaturalista.

O taoísmo é uma doutrina mística efilosófica formulada no século VI a.C. porLao Tse. Enfatiza a integração do ser humanoà realidade cósmica primordial, o tao, pormeio de uma existência natural, espontâneae serena. Seu caráter contemplativo o tornao principal rival do racionalismo pragmáticodo confucionismo, na cultura chinesa. AEscola Naturalista propunha a observação danatureza e a sua descrição, empregando duas

teorias já existentes: Yin/Yang e CincoElementos. Segundo esta escola, para oindivíduo alcançar a saúde, bastava seguir anatureza. Isto é um marco na evolução dopensamento médico da antiga China, quedeixa de atribuir as doenças ao sobrenaturale passa a descrever padrões fisiológicos epatológicos, empregando métodos dedutivose indutivos, a partir de teorias básicas. Numsentido amplo, pode-se dizer que, desta épocaem diante, a Medicina Tradicional Chinesapassa de uma medicina mágica à umamedicina científica, pois baseia-se naobservação e na descrição do que eraobservado.

II. Abordagem Científica da Acupuntura

À medida que a acupuntura vaiconquistando espaço como uma opçãoterapêutica, cresce o interesse em seu estudocientífico. A ciência é o conjunto deconhecimentos socialmente adquiridos ouproduzidos, historicamente acumulados,dotados de universalidade e objetividade quepermitem sua transmissão, e estruturadoscom métodos, teorias e linguagens própriasque visam compreender e, possivelmente,orientar a natureza e as atividades humanas.

O método científico visa darobjetividade a nossas observações,empregando a experimentação com controlede alguns parâmetros, enquanto se investigamdeterminadas variáveis. Nas ciências dasaúde a investigação da terapêutica seguebasicamente duas direções: o estudo dosmecanismos de ação e a eficácia terapêutica.

Os estudos que investigam osmecanismos de ação da acupuntura revelam,hoje, os seguintes modelos: bioelétrico,neuroquímico, do sinal X, dos camposeletromagnéticos e dos camposmorfogenéticos.

1 Em inglês, Traditional Chinese Medicine (TCM)2 Pronuncia-se detchi.

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O modelo bioelétrico revelou que asáreas cutâneas onde se situam os pontos deacupuntura, assim como a trajetória doscanais energéticos, apresentam maiorcondutividade elétrica. Tais propriedades, porum lado, davam maior objetividade àexistência dos pontos e meridianos daacupuntura, e, por outro, resultavam emaplicações práticas como a eletroacupunturae métodos de avaliação como o Ryodoraku.

Já o modelo neuroquímico surgiu dademonstração da mediação neuroquímica doefeito analgésico da acupuntura feita peloProf. Han Jisheng, através de sua celebreexperiência da transfusão do líquor entre doiscoelhos. Posteriormente, o estudo daparticipação de diversas substâncias, comoas endorfinas e a serotonina, tem sido feitomodificando o metabolismo destassubstâncias ou da ligação com seusreceptores.

Ainda neste modelo, os estudos daaferência sensorial na estimulação poracupuntura investigou as fibras aferentesresponsáveis pela sensação característicadesta estimulação, chamada de deqi ouhibiki. Estes estudos indicaram aparticipação das fibras aferentes muscularestipo II e III, assim como uma via medularascendente, já que a ação da acupuntura nãoé apenas segmentar, identificando sualocalização no funículo lateral da medula ,através da experiência da transeção dosfunículos.

No entanto, apesar de estesmecanismos evidenciarem algumas daspropriedades terapêuticas da acupuntura,longe estão de substanciar muitos dosresultados obtidos pelos acupunturistas.Observando a discrepância entre alguns dosefeitos imediatos da acupuntura e as ciênciasbásicas da saúde foi que o Dr. YoshioManaka, médico e pesquisador japonês,propôs o estudo da acupuntura com base nateoria da informação e na teoria geral dossistemas. Segundo a teoria do Dr. Manaka,as substâncias vitais traduziriam um conteúdo

de informação carreada por um sinal denatureza ainda desconhecida, o Sinal X,pertencente a um sistema integradorfilogeneticamente mais antigo que ossistemas nervosos, endócrino ou imunológico.Este sistema mais antigo trabalharia com umnível energético muito discreto, ficandoencoberto pelos outros sistemas maismodernos que trabalhariam com níveis deenergia mais altos. Portanto, as ações destesistema seriam difíceis de mensurar.

Segundo esta teoria, as substânciasvitais seriam o conteúdo de informaçãocarreado pelo sinal X, os zangfurepresentariam as estações processadoras dosinal X e as teorias da acupuntura como oitoprincípios, cinco elementos ou yin-yang,descreveriam o modus operandi destesistema.

Por sua vez, a aplicação dos conceitose propriedades dos camposeletromagnéticos e morfogenéticos temsido empregada nos estudos dos canais epontos da acupuntura (CHANG, 2002).Anteriormente, os estudos que investigavama natureza destes fenômenos procuravamidentificar estruturas físicas quecorrespondessem a estes pontos e canais, noentanto, nada foi evidenciado neste sentido.Passou-se, então, a pensar nestes fenômenoscomo projeções das linhas de força de umcampo eletromagnético, já que nossoorganismo, através do funcionamento dosistema nervoso, cria um campoeletromagnético, pois a condução dosimpulsos nervosos envolve uma grandemovimentação de íons a pequenas distânciase cargas elétricas oscilando que geram umcampo eletromagnético. Isto também ocorrenos canais juncionais, que fazem aintercomunicação entre células e apresentammaior condutividade elétrica, uma propriedadedas regiões onde se situam os pontos deacupuntura.

As áreas de isopontencial de umcampo eletromagnético são delimitadas porlinhas chamadas separatrizes, que na

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acupuntura corresponderiam aos canaisenergéticos, e aquelas regiões onde aspropriedades do campo se modificamradicalmente são conhecidas comosingularidades, descontinuidades no campo,e corresponderiam aos pontos de acupuntura.

III. Ensaios Laboratoriais

Investigação da existência dos pontos deacupuntura

A investigação da existência dospontos de acupuntura é uma questão que, hámuito, tem despertado o interesse dospesquisadores. Buscou-se estudar a anatomialocal, tanto macroscópica quantomicroscópica à procura de estruturas quecorrespondessem aos meridianos e aospontos da acupuntura. No entanto, nada foiencontrado que correspondesse a estesistema. Apenas um histologista coreano, KimBong Han, comunicou ter encontrado todoum sistema de corpúsculos e de condutos quecorresponderia ao sistema de canais damedicina chinesa. Ele o denominou Sistemade Kyungrak, enquanto aos condutos ecorpúsculos denominou-os com seu próprionome: corpúsculos e condutos de Bong Han.Outros pesquisadores, contudo, nãoconfirmaram seus achados, que mais tardese revelaram um erro grosseiro de pesquisa,sendo as estruturas simplesmentecomponentes do sistema linfático.

O estudo dos pontos de acupunturasegue hoje as seguintes linhas:

Comparação dos efeitos da punçãoem pontos verdadeiros e em pontosfalsos.

Estudo da anatomia regional da áreaonde o ponto está localizado.

Estudo das propriedades elétricas dospontos de acupuntura.

Estudo dos nervos ativados pelaestimulação da acupuntura.

Estruturas anatômicas encontradas nospontos de acupuntura (JAYASURIYA, 1995)

O levantamento das estruturasanatômicas nos sítios dos pontos deacupuntura mostrou áreas ricamenteinervadas ou de passagem de algum nervo.As estruturas mais encontradas foram:

Nervos periféricos calibrosos.Quanto maior o nervo mais fácilevocar uma resposta.

Nervos emergindo de uma posiçãomais profunda para uma maissuperficial.

Nervos cutâneos que emergem parauma situação mais superficialoriundos de uma fáscia profunda.

Nervos emergindo de um forameósseo.

Pontos motores nas placasneuromusculares.

Vasos sangüíneos próximos a placasneuromusculares.

Ao longo de nervos compostos defibras de diversos diâmetros, o queocorre mais em nervos muscularesdo que em cutâneos.

Nas bifurcações dos nervosperiféricos.

Ligamento, tendões, cápsulasarticulares e fáscias, por seremricamente inervados.

Linhas de sutura do crânio.(os números 5,6 e 9 sãoconsiderados pontos gatilho)

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Este fato, associado à necessidade dese obter a sensação do estímulo daacupuntura, deqi, aponta para o próximopasso nesta linha de pesquisa. Se o estímulonecessário para que acupuntura funcione écaracterizado por uma sensação, ele envolvea estimulação de fibras aferentes, uma viamedular ascendente que leve o impulso aotálamo e ao córtex sensorial, de outra formanão seria uma sensação.

O primeiro passo nesta direção foramos estudos dos nervos ativados pela punçãoda acupuntura. As fibras nervosas estudadasforam os aferentes musculares, pois a maioriadas inserções são intramusculares.Lembrando a classificação destas fibras,temos:

Classificação dos Aferentes Musculares

CLASSE

Tipo I

Tipo II

Tipo III

Tipo IV

DIÂMETRO

13 - 20 mm

6 - 12 mm

1 - 5 mm

1 mm ou menos

VELC. CONDUÇÃO

70 - 110 m/s

25 - 70 m/s

3,5 - 20 m/s

menos de 1 m/s

MIELINA

Sim

Sim

Sim

Não

FUNÇÃO

Comprimento muscular

Receptores tendinosos e táteis

Tato e dor rápida; frio

Dor lenta; prurido; temperatura

Tabela 1. Classificação dos Aferentes Musculares. (MACHADO, 1979)

Dados Experimentais da AferênciaSensorial na Estimulação por Acupuntura(JAYASURIYA, 1995)

Remoção do nervo ciático e dofemoral impede analgesia em coelhos(Nanjing).

Efeito antiflamatório na apendiciteexperimental em cães eliminado pelaseção dos gânglios simpáticos e dasraízes nervosas de T5 e T12. (Shangai).

Pomeranz e Paley descobriram que osaferentes musculares do Tipo IIconduziam o impulso da acupunturapara provocar analgesia, através do

registro da atividade dos aferentes doponto IG 4 Hegu (m. 1o interósseodorsal), em camundongos. Evitaram aativação das fibras álgicas Tipo III eIV no camundongo em vigília para nãoprovocar indução analgesia porestresse álgico.

Toda e Ishioka acrescentaram aativação das fibras Tipo IV mas nãohouve acentuação do efeitoanalgésico.

Chiang, do Instituto de Fisiologia deShangai, em 1973, mostrou que ainfiltração de procaína a 2% nos pontos

IG 4 e IG 10, em nível muscular aboliaa sensação do deqi e impedia aindução analgésica por acupuntura.

Chiang mostrou, através do empregode um torniquete, que o efeitoanalgésico não era devido a liberaçãode substâncias para a correntesangüínea pela acupuntura.

Lu demostrou, em coelhos e gatos, queos aferentes musculares Tipo II e IIIeram importantes para a analgesia poracupuntura. O bloqueio das fibras TipoIV com 0,1% de procaína nãoinfluenciava a analgesia poracupuntura, enquanto que o bloqueioisquêmico ou anódico das fibras Tipo

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o estímulo da acupuntura ascende pelamedula espinhal até centrossuprasegmentares consistiu na transeção dosfunículos dorsal e lateral da medula espinhalem gatos e foi realizado na Faculdade deMedicina de Nanjing. Este estudo mostrouque a transeção do funículo dorsal, por ondepassam os fascículos grácil e cuneiforme,associados à propriocepção, não impede aindução analgésica por acupuntura, enquantoa transeção do funículo lateral impede aindução analgésica pela acupuntura.Acredita-se, mais especificamente, que oimpulso aferente da acupuntura siga pelotracto espino-talâmico e pelas fibras espino-reticulares.

Portanto, temos um impulso aferenteprovocado pela estimulação da acupunturaque segue da periferia até a medula espinhal,ascende pela medula chegando ao encéfalode onde se originam os impulsos efetoresresponsáveis pelos efeitos terapêuticos daacupuntura. Neste caso, então, podemosconsiderar a acupuntura um tratamentoreflexo, envolvendo um reflexo complexo,denominado somatotrófico, a partir de umaestimulação nociceptiva, com o intuito deotimizar a capacidade adaptativa doorganismo aos fatores estressantes.

Ao longo da via aferente e eferente,este impulso pode ser modificado, permitindoa auto-regulação através de mecanismos demodulação aferente e eferente, comoevidenciam as seguintes teorias:

Teoria do Portão da Dor(Melzack e Wall, 1965)localização unicamente na medulaespinhal

Teoria do Portão Múltiplo(Chang Hsiangtung, 1970;Man e Chen, 1972;)localizados em vários locais do SNC:medula espinhal

. formação reticular

. substância cinzenta periaquedutal

II e III (verificado através do registrodireto da atividade) aboliam o efeitoanalgésico.

O registro da atividade elétrica donervo em humanos durante a aplicação daacupuntura revelou que, ao se obter o deqi,cada tipo de fibra nervosa era responsávelpor determinado tipo de sensação:

Tipo II dormência

Tipo III distensão e relaxamento

Tipo IV dolorimento

Os dados eletrofisiológicos indicamque a estimulação das fibras aferentesmusculares do Tipo II e III produz assensações do deqi e envia mensagens aoSNC para que libere substânciasneuroquímicas, como endorfinas,monoaminas ou cortisol, que seriamresponsáveis pelos efeitos clínicos daacupuntura, tanto em nível segmentar quantointersegmentar.

Durante algum tempo, a comunidadecientífica no ocidente acreditava que a açãoda acupuntura era segmentar, atuando a partirde um estímulo cutâneo associado a umdermátomo. Mas a ação da acupuntura nãoé apenas segmentar, como pode serevidenciado pelo emprego de pontos como:VB37 (Guangming), que fica no membroinferior, para doenças oculares; ID 3(Houxi), situado nas mãos, para dor lombar:ou Pulmão e Shenmenn (auriculares) paraanalgesia torácica. Por outro lado, se a ligaçãoentre áreas cutâneas e órgãos pode serevidenciada pela dor referida, existência depontos gatilho e dos reflexos somatoviscerais,o Tracto de Lissauer e os reflexosintersegmentares mostram que osdermátomos não têm limites tão precisos.

Vias Medulares do Estímulo da Acupuntura

O estudo que fez a constatação de que

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. tálamo

. córtex cerebral

Alça Mesolímbica(Han Jisheng, 1984)circuito neural entre o troncocerebral, o mesencéfalo e o sistemalímbico, que procura explicar a açãoanalgésica de longo prazo notratamento de dores provocadas porprocesso como metástase múltiplas

Teoria do Portão do PortãoMotor(Jayasuriya, Fernando 1977)constituído por dois neurôniosinternunciais, a célula de Cajal e acélula de Renshaw, que fazemsinapse inibitória com o neurôniomotor inferior, controlandolocalmente a excitabilidade deste.

IV. Modelos Teóricos

MODELO NEUROQUÍMICO

Um dos efeitos mais estudados daacupuntura é o seu efeito analgésico. Emborase possa fazer cirurgias a partir deste efeitoda acupuntura, é importante notar que aacupuntura não faz anestesia, abolição de todae qualquer sensação e, sim, analgesia,abolição apenas da sensação álgica.

A possibilidade de a analgesia poracupuntura ser mediada por um fator humoralsurgiu após o comunicado de um trabalho doProf. Han Jisheng, médico de formaçãoocidental e oriental e então chefe doDepartamento de Fisiologia da Faculdade deMedicina da Universidade de Pequim,revelando que a transfusão do líquor decoelhos que haviam recebido acupuntura paraoutros que não a haviam recebido produziaanalgesia nos animais receptores.

A idéia de realizar tal experimentosurgiu em 1965, após Prof. Jisheng ter

observado o surgimento de um padrãotemporal, enquanto pesquisava o efeitoanalgésico provocado pela estimulação poracupuntura. Após o início da estimulação, oefeito analgésico vai se instalandoprogressivamente por 20 a 30 minutos, quandochega a seu máximo. Mesmo continuando aestimulação o efeito não ultrapassa este limiar.Este efeito máximo pode ser mantido porcerca de duas horas, decaindo em seguidaaté desaparecer, mesmo continuando aestimulação. Após o cessar do efeitoanalgésico há um período refratário de váriashoras, durante o qual não se consegue evocaro efeito analgésico novamente. Este padrãotemporal fez Prof. Jisheng pensar que oestímulo da acupuntura liberava algumasubstância no sistema nervoso central e daía idéia da experiência da transfusão do líquor.

O padrão temporal desta indução daanalgesia é semelhante quer se trate daacupuntura ou da estimulação da substânciacinzenta periaquedutal do tronco encefálico,ambas com início e término graduais e períodorefratário Sabia-se, então, que a analgesiainduzida pela estimulação dos neurônios dasubstância cinzenta periaquedutal eramediada por peptídeos endógenossemelhantes aos opiáceos; portanto é possívelque a analgesia por acupuntura também sejaproduzida pela liberação de substânciasendógenas similares.

Os peptídeos endógenos com efeitosanalgésicos semelhantes aos dos opiáceosrecebem a denominação genérica de opióidesendógenos: encefalinas, endorfinas edinorfinas. As encefalinas foram as primeirasdestas substâncias a serem descobertas porJohn Hughes e Hans Kosterlitz, em 1975, naEscócia. As pesquisas sobre o papel destesopióides na analgesia por acupuntura dividem-se principalmente em dois tipos: o uso dedrogas que modificam a ação dos opiáceos ea medição da concentração de peptídeosopióides no sangue e no líquidoencefalorraquidiano. A naloxona, umasubstância que bloqueia especificamente os

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receptores opióides, reduz ou abole aanalgesia por eletroacupuntura de baixafreqüência (2-6 Hz) em vários animaissubmetidos à dor experimental. No entanto,a naloxona não produz qualquer efeito sobrea analgesia induzida por eletroacupuntura dealta freqüência (200 Hz) em camundongos.O grau de analgesia nestes estudos foiavaliado por medidas comportamentais, pelaredução da atividade dos neurônios espinhaisque carreiam impulsos álgicos (nociceptivos),ou por mudanças nos potenciais corticaisevocados induzidos pela dor. Empregando analoxona em seres humanos com dor crônicaou experimental, apenas um grupo não relatoua redução do efeito analgésico da acupunturamanual ou da eletroacupuntura de baixafreqüência, via agulhas ou via eletrodos desuperfície(acutens).

As peptidases degradam rapidamenteas endorfinas, encurtando, assim, a duraçãode seus efeitos Alguns D-aminoácidos inibemas peptidases acentuando os efeitos daeletroacupuntura de baixa freqüência emcamundongos, sendo o efeito analgésicoresultante reversível pela naloxona.Camundongos da linhagem CXBK têm umabaixa densidade de receptores opióides nocérebro e apresentam analgesia apenasdiscreta seja com morfina ou com acupuntura.Por outro lado os da linhagem C57BL, quepossuem uma densidade normal dereceptores opióides, apresentam umaresposta analgésica normal tanto à induçãopor morfina quanto por acupuntura. Estesdados falam a favor da participação dosopióides endógenos na analgesia poracupuntura.

Durante algum tempo, no ocidente,acreditou-se que o efeito da acupuntura sedava por um mecanismo de sugestão gerandoum efeito placebo. Clement-Jones et alrealizaram um experimento mostrando que amudança na forma de estimulação poracupuntura modifica os efeitos terapêuticose o mecanismo de ação. Eles mediram aconcentração liquórica de beta-endorfina e

de met-encefalina por radioimuninsaio emdois grupos de pacientes antes e após 30minutos de eletroacupuntura. Empregaramum ensaio altamente específico para met-encefalina que apresentava um nívelinsignificante de reação cruzada com outrospeptídeos. Um grupo de pacientes com dorrecorrente recebeu eletroacupuntura, o quenão alterou o nível de met-encefalina no líquormas elevou o de beta-endorfina. Em outroestudo, a eletroacupuntura com altafreqüência foi administrada a pacientesdependentes de heroína para controlar asmanifestações clínicas da síndrome deabstinência. O tratamento foi clinicamentemuito eficaz provocando um aumento daconcentração de met-encefalina que erabaixo antes do tratamento; a concentraçãode beta-endorfina, inicialmente aumentada,não se alterou após a eletroacupuntura. Adiferença entre os efeitos sobre a beta-endorfina e a met-encefalina pode ser devidaàs diferentes condições clínicas sendotratadas mas é mais provável que sejadecorrente da diferença na freqüência deestimulação. Portanto, a eletroacupuntura debaixa freqüência libera beta-endorfina, cujosefeitos podem ser bloqueados, pelo menosem parte, pela naloxona, enquanto que aeletroacupuntura de alta freqüência liberamet-encefalina, cujos efeitos não sãobloqueados pelas doses convencionais denaloxona.

Os dados sobre a alteração daconcentração de opióides no sangue durantea acupuntura são mais confusos(SCHNEIDEMAN, 1988). Os resultados dedois estudos sugerem que há elevação dastaxas de beta-endorfina imunoreativacirculante durante a eletroacupuntura, masnão ficou excluída a participação do fatorestresse como causa da alteração. A beta-endorfina é liberada pela hipófise juntamentecom o hôrmonio adrenocorticotrófico(ACTH) e com as lipotrofinas durante oestresse, e mesmo com qualquer outro tipode estímulo. Outros pesquisadores relataram

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uma queda de ACTH, assim como de beta-endorfina e cortisol, durante aeletroacupuntura, um efeito compatível coma liberação de encefalina no sistema nervosocentral. De qualquer forma, é pouco provávelque a beta-endorfina liberada na correntesangüínea seja responsável pela mediação doefeito analgésico central induzido pelaacupuntura, uma vez que este peptídeo temdificuldade em atravessar a barreirahematoencefálica. Pomeranz et alconstataram que a hipofisectomia reduziadrasticamente a resposta analgésica daeletroacupuntura de baixa freqüência, fatoainda não confirmado por outrospesquisadores. No ser humano, a hipófiseprovavelmente não é uma fonte importantede beta-endorfina encefálica, uma vez que aconcentração liquórica é normal empacientes com panhipopituitarismo e queapresentam uma quantidade indetectável debeta-endorfina plasmática.

A 5-hidroxitriptamina (serotonina)parece também desempenhar um papelimportante na mediação do efeito analgésicoda acupuntura. Um inibidor da triptofanohidroxilase, a paraclorofenilalanina, reduz asconcentrações de 5-hidroxitriptaminaencefálica mas, diversamente da naloxona,reduz o efeito analgésico da eletroacupunturade alta freqüência no camundongo enquantonão interfere na analgesia poreletroacupuntura de baixa freqüência. Outrossistemas de neurotransmissores podemmediar alguns dos efeitos da acupuntura mas,até hoje, seu papel é incerto.

Os efeitos da eletroacupuntura debaixa freqüência e da acupuntura manualpodem ser mediados, pelo menosparcialmente, pela estimulação dos neurônioscontendo beta-endorfina situados nasubstância cinzenta periaquedutal, ativando,assim, as vias de controle endógeno da dor.Uma via importante na inibição da sensaçãoálgica contém 5-hidroxitriptamina e se iniciano núcleo rafe magnus na medula e se projetapara os cornos posteriores do H medular. A

estimulação deste sistema serotoninérgicoativa interneurônios encefalinérgicosinibitórios situados no corno posterior damedula os quais, por sua vez, inibem aatividade dos neurônios da via álgica.

MODELO BIOELÉTRICO E A MORFOGÊNESE

Uma explicação científica modernapara os pontos de acupuntura e o sistemados canais (jigluo) é muito importante paraa evolução terapêutica e diagnóstica. Amaioria dos pontos e canais de acupunturasão regiões de alta condutância elétrica nasuperfície do corpo e vice-versa. Foi propostoum modelo que considera os pontos deacupuntura como centros organizadores namorfogênese. No nível macroscópico elessão pontos singulares (ex. sumidouros, fontes)no gradiente morfogênico, no gradiente defase e no campo eletromagnético, enquantoos canais são separatrizes. Este padrão éconsistente com o padrão de distribuição dosistema de canais , mas difere daquele dosnervos e dos vasos sangüíneos ou linfáticos.

A modificação da atividade elétrica secorrelaciona com a transdução de sinal e podepreceder mudanças morfológicas. Porexemplo, no axolotl e na rã, uma correnteelétrica pode ser detectada no broto de umfuturo membro vários dias antes do primeirocrescimento celular. Isto indica que acondutância elétrica do epitélio no futurobroto do membro, um centro organizador,aumenta antes do surgimento do broto.

No desenvolvimento, freqüentementeo destino de uma região mais ampla édeterminado por um pequeno grupo decélulas. Esta pequena área é denominada umcentro organizador. Os centros organizadorestendem a ser os pontos de alta condutânciana superfície do corpo: os tecidos epiteliaisparecem apresentar seu ponto de maioratividade de crescimento e de morfogênesenas regiões de alta condutância. Este dado é

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apoiado pelo fato de ser encontrada uma altadensidade de canais juncionais nos sítios doscentros organizadores. Pontos de altacondutância local sobre a pele também sãopontos extremos de densidade de correntes– sumidouros ou fontes - da corrente desuperfície. Estes pontos singulares sãoimportantes no controle do crescimento e,muito provavelmente, constituem centrosorganizadores.

A importância do campo elétricogerado pelo epitélio foi indicada naregeneração de membros. Após a amputaçãode um membro, as salamandras podemregenerá-lo (regeneradores), enquanto as rãsnão o conseguem (não regeneradores). Osregeneradores e os não regeneradoresapresentam diferentes mudanças no campoelétrico após a amputação. Ao se aplicar umcampo elétrico dos regeneradores no coto deamputação dos não-regeneradores, pode serinduzida uma regeneração parcial. Por outrolado, ao se aplicar um campo elétrico dos não-regeneradores no coto de amputação dosregeneradores, pode inibir a regeneração.

Estes dados apóiam a idéia de que amudança no campo elétrico, geralmente,precede a mudança morfológica e secorrelaciona com a transdução do sinal.Alguns pontos singulares são conectados porseparatrizes que servem como viasimportantes de correntes elétricas intrínsecase dividem o corpo em domínios de sentido decorrente diverso. Separatrizes podem serdobras em superfícies estendidas, limitesentre estruturas diferentes ou mudançasabruptas na taxa de variação de um gradiente.

A distribuição de centrosorganizadores, de pontos de acupuntura e depontos singulares num campo elétrico estáintimamente relacionada à morfologia doorganismo. Por exemplo, o pavilhão auricular,que não possui nervos ou vasos sangüíneosimportantes mas tem uma morfologia desuperfície complexa, também possui a maisalta densidade de pontos de acupuntura.

A condutância dos centros

organizadores varia com a morfogênese. Damesma forma, a condutância dos pontos deacupuntura também varia de acordo commudanças fisiológicas e se correlaciona coma patogenesia. O fato de as mudanças nocampo elétrico ocorrerem antes dasalterações morfológicas e de a manipulaçãodo campo elétrico poder afetar a alteração,pode ajudar a esclarecer o diagnóstico e otratamento de muitas doenças. De acordocom o modelo, a rede de centrosorganizadores mantém suas funções decontrole sobre o crescimento após amorfogênese e se intercomunicam paramanter as funções e formas adequadas.Portanto, uma anormalidade no interior darede pode ser detectada ao se medir osparâmetros elétricos de alguns pontos em suasuperfície. O mau funcionamento de algunsórgãos pode ser precedido por uma mudançanos parâmetros elétricos além da faixa normalde variação e pode ser tratado pelamanipulação dos pontos singularesinterconectados.

A singularidade é um tipo dedescontinuidade e, freqüentemente, indicauma transição abrupta de estado. Pequenasperturbações ao redor de pontos singularespodem ter um efeito decisivo sobre umsistema. Nestes pontos, uma influência deuma magnitude física insignificante podeproduzir resultados da maior importância.Como uma técnica de perturbação dos pontossingulares, a acupuntura pode ser capaz detratar várias doenças como o resfriado,doenças pulmonares obstrutivas crônicas,asma, miopia, diarréia, constipação intestinal,diabetes, vômitos, enurese, síndrome pós-menopausa, obesidade, acidente vascularcerebral, ou hipertensão (LEWITH, 1985).

Um mecanismo de otimização podeentrar em ação na acupuntura e em outrastécnicas a ela relacionadas. Pequenasperturbações em pontos singulares provocamum “choque” no sistema, direcionando osistema biológico para sair de seu estado defuncionamento anormal e instável. Após a

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ativação, o sistema tem melhores chancesde se estabilizar dentro de parâmetros maispróximos da normalidade. Isto explica a baixaincidência de efeitos colaterais indesejáveisquando as técnicas são usadasadequadamente e, também, explica o fato deo efeito terapêutico poder ser obtido atravésde uma variedade de estímulos incluindo aeletricidade, a punção, as variações detemperatura, o laser e a pressão.

TEORIA DOS SISTEMASPara melhor compreender o mundo que o

cerca e a si mesmo, o homem empregou de formaalternada a análise e a síntese, enquadrando osfenômenos em grupos e subgrupos hojeconhecidos como sistemas.

Um sistema é qualquer agregadoreconhecível e limitado de elementosdinâmicos que estejam de alguma formainterligados e interdependentes e quecontinuem a operar juntos de acordo comcertas leis de tal forma a produzir algum efeitototal característico.

Um sistema, em outras palavras, é algorelacionado com algum tipo de atividade edotado de uma certa integração ou unidade.Um sistema particular pode ser reconhecidocomo distinto de outros sistemas com os quais,no entanto, ele pode estar dinamicamenterelacionado. Os sistemas podem sercomplexos, podem estar formados porsubsistemas interdependentes, osquais, por sua vez, embora commenor autonomia que o agregadototal, podem ser claramentedistinguidos durante a operação.

Consideramos comometassistema maior, o Universo.Para o planeta, um metassistemapoderia ser o ecossistema ouambiente. Dentro destemetassistema podemos identificarquatro linhas de sistemas que seriamsuficientes para abarcar todos osdemais sistemas menores. Estão

ligadas ao mundo físico, biológico, sociológicoe tecnológico.

Os sistemas podem ser fechados ouabertos segundo apresentem intercâmbiocom o ambiente ou não. Também apresentamduas tendências universais: para estados demaior entropia, para a desorganização oupara o caos, no mundo físico, e para osestados de menor entropia, para aorganização ou para a ordem, no mundobiológico e social.

Portanto, os sistemas apresentam umcaráter dinâmico e sua regulação pode serde dois tipos: mecanismo de relojoaria e detipo termostato. No primeiro caso, o sistemaé programado para agir sempre da mesmaforma quando acionado, sendo incapaz dealterar sua “performance”. No segundo, osistema ajusta sua “performance” segundodeterminadas variáveis para as quais ésensível. Neste caso temos um sistemacibernético, o qual é controlado por umdispositivo de “feedback” (retroalimentação)ou alça cibernética.

Quanto a seu comportamento ossistemas fechados do mundo físico, tendentesà catamorfose (morte entrópica), não revelampropósito definido. Podem ser passivos ouativos, neste caso por casualidade. Já ossistemas abertos, freqüentemente,apresentam um propósito.

Podemos esquematizar ocomportamento dos sistemas da seguinteforma:

Comportamento

Não ativo Ativo

Sem propósito(ao acaso)

Com propósito

Não teleológico Teleológico(com feedback)

Imprevisível Previsível(extrapolativo)

COMPORTAMENTO DOS SISTEMAS

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Comportamento teleológico é aqueleem que há uma orientação nítida para umfim determinado e a ação é, constantemente,ajustada para se atingir o objetivo por ummecanismo de retroalimentação (feedback).

O comportamento de sistemasteleológicos é previsível ou extrapolativoquando as circunstâncias ambientais, ouparâmetros, são conhecidos, bem como ascircunstâncias internas do sistema, suasvariáveis, seu programa, seu fim, meta ou“telos”. É imprevisível quando os parâmetrosnão podem ser definidos com precisão, sãocambiantes, e quando o sistema temcapacidade de mudar seu programa.

Um sistema aberto, na forma maissimples pode ser descrito como sendoconstituído de três partes: entrada (insumoou input), processo e saída (produto ououtput). Podemos esquematizar um sistemaaberto da seguinte forma:

Entrada SaídaProcesso

O bem-estar e a saúde do homemdependem do seu funcionamento harmoniosoenquanto ser vivo, um sistema biológico, ede sua integração com sistemas maiores, porexemplo, a sociedade ou o ecossistema. Naépoca atual em que o homem é capaz deinfluenciar tanto o seu ecossistema, se faznecessário uma maior compreensão do inter-relacionamento entre sistemas e subsistemaspara não apressarmos, com o nosso“progresso”, a nossa morte entrópica.

TEORIA DO SINAL X (MANAKA, 1995)A teoria do sinal X foi proposta por

um médico japonês, já falecido, o Dr. YoshioManaka, a partir da constatação daimpossibilidade de se traduzir os conceitosda medicina chinesa em termos de ciênciamoderna. Apesar de a tentativa de se

interpretar estes conceitos através dabioquímica e da biofísica trazer umacompreensão de alguns aspectos daacupuntura, como revelam o modelobioelétrico e o modelo neurohumoral, estatentativa também revela a impossibilidade defundir estes dois paradigmas, da medicinaocidental e da medicina oriental.

No entanto, a evolução paradigmáticaocorre quando as limitações de um modelolevam a problemas insolúveis, não porque osejam em si mesmos mas, sim, dentro daquelavisão. A busca por soluções acaba levandoao desenvolvimento de um novo modelo, oqual se apóia em modelos anteriores eapresenta as seguintes característicasoriginais:

a síntese de tendências aparentementeantagônicas

uma compreensão mais abrangente defenômenos até então restritos a umadimensão menor

A partir de sua experiência clínica ede seus experimentos chegou à conclusão deque para serem explicados alguns dos efeitosda acupuntura seria necessário pressupor aexistência de um sistema integrado,filogeneticamnte mais antigo que os sistemasnervoso, endócrino e imunológico. Dr.Manaka sugeriu, então, a existência umsistema primitivo de sinais de informação nocorpo humano que tem raízes embriológicas,mas que está encoberto pelos sistemas decontrole (regulação) mais modernos e maiscomplexos. Desta forma este sistema maisantigo é difícil de se avaliar ou perceber .Este sistema primitivo é capaz de detectar ediscriminar mudanças externas e internas,assim como atua na regulação da transmissãodesta informação pelo corpo. Este sistemadeve ser o modus operandi da acupuntura.

Este sistema funcionaria carreandoinformação e mantendo a integridadefuncional e estrutural do organismo. Estainformação seria carreada por um sinal de

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natureza desconhecida, o Sinal X. Estadenominação decorre de um processosemelhante ao que ocorreu quando dadescoberta dos raios X, que hoje sabemosser um fenômeno eleletromagnético.

No lugar de usar a biofísica e abioquímica para tentarmos entender ofuncionamento da acupuntura, ele sugeriu queusássemos a Teoria da Informação e a Teoriados Sistemas. Neste caso qualquer nível deorganização do caos constitui algum grau deinformação e também um sistema constituídode várias partes integradas. Assim, porexemplo, na medicina chinesa, as substânciasvitais constituiriam um conteúdo deinformação e, não, uma substância físicapropriamente dita, os sistemas internos(zangfu), estações processadoras dainformação, o sistema dos canais e colaterais(jingluo), as vias de circulação do sinal Xcarreando a informação, e as teorias comoYin/Yang, Cinco Elementos ou Oito Princípios,a forma de funcionamento do sistema. Porsua vez, os estímulos provocados pelainserção e manipulação das agulhas deacupuntura nos pontos provocam alteraçõesprecisas no fluxo de informações nos canais.

Alguns elementos desse sistema são:QiDifícil de definir e medir

Realiza trabalho e modificaçõesfuncionais

Qi informaçãoFlui pelo corpo em padrãoorganizado pelos canais e colaterais

Jing luo permite a interpretação dainformação nos níveis Alto/Baixo;Ant/Post; Int/Ext;

Permite a distribuição da informaçãopor todo o corpo

Processado pelos zangfu

Influenciado pela punção dos pontosde acupuntura

Jingluo

Estruturas ou sistemas desenvolvidosprimitivamente no períodoembriológico

Obedece a regras simples Yin/Yange 5 elementos

Atua na distribuição da informaçãopara regulação funcional

Zangfu

Estações processadoras dainformação carreadas pelo sinal X

Sistema adaptativo auto-regulador

Yin/Yang e 5 Elementos

Definidos operacionalmente porsinais

Baixa energia/ Alta informação

Sinais são modificados por outrosaplicados nos pontos de acupuntura

Pontos específicos de acupunturasão entradas de sinais específicas:yin/yang; 5 elementos

Sistemas de informação

Mantém os sistemas fisiológicoscomo um sistema regulador maisprimitivo que mantém homeostasia

IV. Ensaios Clínicos

O estudo da eficácia terapêutica daacupuntura encontra uma barreira importante:a impossibilidade de se aplicar o método duplocego à acupuntura (CARNEIRO, 2001). Oobjetivo de tal procedimento visa eliminar oefeito placebo do tratamento para avaliar oefeito terapêutico de forma objetiva. Ospesquisadores têm tentado contornar esta

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limitação fazendo a falsa acupuntura ou,apenas, colando as agulhas nos pacientes dogrupo de controle. Os seguintes tipos deensaios clínicos têm sido encontrados naliteratura especializada:

Tipo IEstudos sem grupo de controle ouem que o grupo de controle apenasnão recebia nenhum tratamento.

Tipo IIEstudos em que o grupo de controlerecebia uma “falsa acupuntura”(sham), em que as agulhas eraminseridas em pontos quaisquer desdeque não fossem pontos deacupuntura. Os resultados eramcomparados com o grupo que fazia“acupuntura verdadeira” (true),onde as agulhas eram colocadas nospontos de acupuntura adequados.

Tipo IIIEstudos empregando grupo decontrole placebo, geralmenteutilizando um aparelho deestimulação transcutânea (TENS)desligado, ou acupuntura apenascoladas na pele. Os resultados dosgrupos de controle eram comparadoscom os do grupo que fazia a“acupuntura verdadeira”.

Tipo IVEstudos empregando a nova agulhaplacebo de Fink e colaboradores

Tipo VEstudos comparativos comoutras formas de tratamentoDificuldade acupuntura placebo;duplo cego; protocolo

Os estudos do tipo I não oferecem umcontrole real do efeito placebo, indicandoapenas resultados positivos no tratamento poracupuntura de forma episódica. Trata-se de

relatos de casos que podem indicar bonsresultados, mas não demonstram a eficáciada acupuntura. Já os estudos tipo II e tipo IIIprocuram usar um grupo de controle, masesbarram na dificuldade de se realizar umaacupuntura placebo. Isso é muito fácil defazer quando o tratamento consiste naadministração de um medicamento. Nestecaso, tanto o grupo sendo tratado, quanto ogrupo que não está sendo tratado (controle)e os profissionais que administram otratamento e avaliam os resultados achamque todos os pacientes estão sendo tratados.Desta forma o efeito psicológico que envolveo tratamento é o mesmo para os dois grupose a diferença, se houver, no resultado dotratamento irá se dever à ação domedicamento sento testado. Até mesmo aequipe que administra o tratamento e avaliaos resultados tem que estar “cega” emrelação ao experimento para garantir suaobjetividade, daí a expressão duplo cego paradesignar este método: tanto os pacientesquanto a equipe acham que todos estão sendotratados e estão “cegos” quanto aoexperimento. Apenas o grupo que controla aexperiência é que sabe, primeiro, que se tratade um experimento em que alguns vão sertratados e outros não e, segundo, quem estárecebendo o medicamento e quem estárecebendo o placebo.

Mas a acupuntura é um procedimentoque envolve a inserção de agulhas emdeterminados pontos e a manipulação destasagulhas para provocar uma sensação, o deqi,que caracteriza o estímulo da acupuntura.Então como pode ser possível fazer umaacupuntura placebo? As experiências tipo II,envolvendo a falsa acupuntura, que consistena inserção fora dos pontos de acupunturapoderia ser a solução pois a agulha é de fatoinserida e manipulada, só que fora do pontode acupuntura. No entanto, não podemos tercerteza que a agulha inserida fora do pontode acupuntura não tenha algum efeitoterapêutico, o que faria com influenciasse noresultado do tratamento. Por outro lado, a

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pessoa que vai administrar o tratamento temque conhecer a acupuntura para fazer ainserção e a manipulação corretas e, portanto,vai saber se o paciente está sendo tratadoadequadamente ou não, o que impede o duplocego. Nas experiências tipo III, aestimulação da falsa acupuntura é evitada,mas a agulha colada pode ser percebida tantopelo paciente quanto pela equipe que executae avalia o tratamento.

Para contornar este impasse, um novométodo de acupuntura placebo vem sendodesenvolvido por um grupo de pesquisadoresalemães (FINK, 2001). A agulha placeboconsiste em uma agulha de acupuntura (#16,30 x 0,3 mm) tendo sua ponta modificada paraser arredondada. Esta apenas toca mas nãoperfura a pele. Esta agulha é aplicada atravésde um bloco de espuma esterilizada com umanel adesivo em sua parte inferior parafixação na pele. O bloco sustenta a agulha,que apenas toca a pele, e esconde o corpoda agulha da vista do paciente, que não podever se a agulha foi inserida ou não. Parte docabo da agulha fica para fora do blocopermitindo que o acupunturista manipule aagulha, aumentando, assim, para o paciente,a impressão de uma sessão real daacupuntura. Num ensaio com 68 pacientesdivididos em dois grupos, 87% dos indivíduosdo grupo placebo reportaram ter a sensaçãoda inserção da agulha.

Uma das limitações deste método énão permitir duplo cego, apenas simples cego,pois a equipe que trata e que avalia percebea diferença entre a acupuntura verdadeira ea placebo. Outra limitação se relaciona como fato de alguns pacientes do grupo placebo(34%) referirem a sensação de deqi. Existemtécnicas associadas à acupuntura em que aestimulação é apenas superficial, sobre aepiderme e sem perfuração. Questiona-se,portanto, se esta agulha placebo poderia, emalguns pacientes, ter efeito terapêutico o quelimitaria seu uso como placebo.

Como podemos observar os estudosque procuram determinar a eficácia daacupuntura ainda apresentam dificuldadesque não foram contornadas, principalmentepela dificuldade em se fazer uma acupunturaplacebo. Outro obstáculo que deve ser levadoem consideração é a questão dos protocolosde tratamento. A acupuntura requer umtratamento que é individualizado e pode diferirpara pacientes com uma mesma afecção.Portanto, ao estabelecermos o mesmoconjunto de pontos e a mesma técnica deestimulação para um grupo com, por exemplo,síndrome do túnel do carpo, é possível quealguns indivíduos do grupo não obtenhammelhora pois seu tratamento deveria serdiferente, levando em consideração aidentificação do padrão sindrômico daMedicina Tradicional Chinesa.

O tipo de estudos que mostraresultados de grande utilidade em demonstrara eficácia e contornam a questão daacupuntura placebo são os estudoscomparativos. Estes oferecem trêspossibilidades básicas:

comparar os resultados de um gruposubmetido a um tratamentoconvencional e outro submetido àacupuntura

comparar os resultados de um gruposubmetido a um tratamentoconvencional e outro submetido aotratamento convencional maisacupuntura

comparar os resultados entre os trêsgrupos: tratamento convencional,tratamento por acupuntura etratamento convencional maisacupuntura

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