evangélico norman geisler - teologia sistemática - vol 1 - introdução à teologia cpad

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T eologia S istemática

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  • 1. T e o l o g ia Sist e m t ic a

2. Te o lo g ia Sistem tica INTRODUO TtOLOGIA A Bblia Deu s >A C riao 3. T rad u zid o p o r M arcelo G onalves e Lu s A r o n d e M acedo I a Edio Rio de Janeiro - 2010 Te o l o g ia Sist em t ic a I n t r o d u o Teo lo g ia A Bblia De u s > A C ria o 4. Todos os direitos reservados. Copyright 2010 para a lngua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. T tu lo do original em ingls: Systematic Theology, Volume One and Two Bethany House Publishers, Grand Rapids, M ichigan, EUA Prim eira edio em ingls: 2003 Preparao dos originais: Alexandre Coelho e Cesar Moiss Carvalho Reviso: Anderson G rangeo e G unar Berg Tradutores: M arcelo Gonalves e Lus Aron de M acedo Capa: Alexander Diniz Adaptao de projeto grfico e Editorao: Osas F. M aciel CDD: 230-Teologia Sistem tica ISBN: 978-85-263-0980-7 As citaes bblicas foram extradas da verso Alm eida Revista e Corrigida, edio de 1995, da Sociedade Bblica do Brasil, salvo indicao em contrrio. As citaes bblicas assinaladas pela sigla AEC referem -se a Almeida Edio Contempornea (So Paulo: Sociedade Bblica do Brasil/Vida, 1990). As citaes bblicas assinaladas pela sigla BJ referem -se a A Bblia deJerusalm, Nova Edio, Revista e Ampliada (So Paulo: Paulus, 2010; Terceira Im presso, 2004). As citaes bblicas assinaladas pela sigla NTLH referem -se a Nova Traduo na Linguagem de Hoje (Barueri: Sociedade Bblica do Brasil, 2000). As citaes bblicas assinaladas pela sigla NVI referem -se a Nova Verso Internacional (So Paulo: Vida, 2001). As citaes bblicas assinaladas pela sigla RA referem -se a Almeida Revista e Atualizada (Barueri: Sociedade Bblica do Brasil, 2002). Para maiores inform aes sobre livros, revistas, peridicos e os ltim os lanam entos da CPAD, visite nosso site: http:www.cpad.com.br. SAC Servio de Atendim ento ao Cliente: 0800-701-7373 Casa Publicadora das Assembleias de Deus Caixa Postal 331 20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil Ia edio: 2010 5. RECONHECIMENTO Por ocasio da finalizao deste volum e, trs pessoas m erecem reconhecim ento especial. Em prim eiro lugar, m inha esposa, Brbara, que preparou a prova detalhada e m eticulosa de todo o m anuscrito. D o m esm o m odo, m eu assistente, Jason Reed, que em preendeu vastssima pesquisa por citaes dos grandes m estres da Igreja. Finalm ente, C hristopher Soderstrom , da Bethany House, que executou, de m aneira dedicada, atenciosa e extensiva, a edio de cada pgina deste livro. A cada um deles, desejo expressar m inha sincera e profunda gratido. 6. SUMRIO VOLUME UM: INTRODUO E BBLIA P arte U m : In tro d u o (P rolegm enos) Captulo Um: Introduo.................................................................................................................. 11 Captulo Dois: Deus: O Pressuposto M etafsico........................................................................ 15 Captulo Trs: Milagres: O Pressuposto Sobrenatural............................................................ 39 Captulo Quatro: A Revelao: 0 Pressuposto Revelacional.............................................. 59 Captulo Cinco: Lgica: O Pressuposto Racional..................................................................... 75 Captulo Seis: Significado: O Pressuposto Sem ntico............................................................. 91 Captulo Sete: Verdade: O Pressuposto Epistemolgico...........................................................101 Captulo Oito: Exclusivismo: O Pressuposto Oposicional......................................................117 Captulo Nove: Linguagem: O Pressuposto Lingstico......................................................... 127 Captulo Dez: Interpretao: O Pressuposto Herm enutico.................................................149 Captulo Onze: Historiografia: O Pressuposto H istrico........................................................169 Captulo Doze: Mtodo: O Pressuposto M etodolgico...........................................................191 Parte D ois: B blia (B ibliolog ia) I. Seo Um: Bblica Captulo Treze: A Origem e a Inspirao da Bblia....................................................................213 Captulo Quatorze: A Natureza Divina da Bblia......................................................................227 Captulo Quinze: A Natureza Humana da Bblia...................................................................... 235 Captulo Dezesseis: Jesus e a Bblia..................................................................................................247 II. Seo Dois: Histrica Captulo Dezessete: Os Pais da Igreja sobre a Bblia...................................................................261 captulo Dezoito: A Igreja Histrica sobre a Bblia.................................................................. 275 laptulo Dezenove: A Histria da Crtica Bblica Destrutiva................................................291 Captulo Vinte: O Liberalismo sobre a B blia..............................................................................323 Captulo Vinte e Um: A Neo-Ortodoxia sobre a Bblia........................................................... 339 7. 8 # TEOLOGIA SISTEM TICA Captulo Vinte e Dois: O Neo-Evangelicalismo sobre a Bblia............................................... 357 Captulo Vinte e Trs: O Evangelicalismo sobre a Bblia..........................................................377 Captulo Vinte e Quatro: O Fundamentalismo sobre a Bblia............................................... 397 III. Seo Trs: Teolgica Captulo Vinte e Cinco: A Historicidade do Antigo Testam ento......................................... 405 Captulo Vinte e Seis: A Historicidade do Novo Testam ento................................................ 427 Captulo Vinte e Sete: A Inerrncia da Bblia................................................................................457 Captulo Vinte e Oito: A Canonicidade da B blia....................................................................... 475 Captulo Vinte e Nove: Resumo das Evidncias a favor da Bblia......................................... 499 Apndices Apndice Um: Objees contra os Argumentos Testas..........................................................519 Apndice Dois: Ser que os Fatos Histricos no Falam por si M esm os?......................... 537 B ibliografia............................................................................................................................................... 541 8. P A R T E UM INTRODUO (PROLEGMENOS) 9. C A P T U L O U M INTRODUO DEFINIES TEOLGICAS P rolegmenos (gr. prolegomena, lit. pro, antes, e lego, falar) a introduo Teologia. Eles tratam dos pressupostos necessrios para estudar a teologia sistemtica. Teologia (lit. theos, Deus, e logos, razo ou discurso) um discurso racional a respeito de Deus. A Teologia evanglica definida aqui como um discurso a respeito de Deus que enfatiza a existnciade certas crenas cristsessenciais1,queincluem a,mas no selimitam2,infalibilidadee inerrncia daBbliasomente3, a tri-unidade de Deus, o nascimento virginal de Cristo, a divindade de Cristo, a total suficincia do sacrifcio expiatrio de Cristo pelos pecados, a ressurreio fisica e miraculosa de Cristo, a necessidade da salvao somente pela fsomente atravs da graa de Deus, baseada somente na obra de Cristo , o retomo corporal fsico de Cristo a este mundo, a felicidade eterna e consciente dos salvos, e o castigo eterno e consciente dos no-salvos4. A Teologia dividida em vrias categorias: (1) Teologia Bblica, que o estudo da base bblica da Teologia. (2) Teologia Histrica, que o debate teolgico dos grandes expoentes da igreja crist. (3) Teologia Sistemtica, que a tentativa de construir um corpo consistente e com preensvel a partir do co n ju n to completo da revelao de Deus, seja ela a revelao especial (bblica) ou geral (natural) (veja captulo 4). A Apologtica (gr. apologia, defesa) trata da proteo da Teologia crist contra os ataques externos. A Polmica atua na defesa do Cristianismo ortodoxo contra ameaas doutrinrias internas, tal com o um a heresia ou um ensino absurdo. Nem todos esses quesitos representam necessariam ente a ortodoxia tradicional, entretanto so necessrios para um a ortodoxia consistente. A inerrncia, por exem plo, no um teste para a autenticidade evanglica, mas para a consistncia evanglica. 2A crena em um Deus testa e em milagres tam bm fundam ental, bem com o a criao ex nihilo ( a partir do nada). 3O Catolicism o Rom ano tradicional nega o som ente destas afirmativas. 1Recentem ente, um certo nm ero de indivduos e grupos que se identificam com o evanglicos negaram o castigo eterno consciente ;* mpios em favor do aniquilacionismo. H istoricam ente, entretanto, o castigo eterno consciente tem sido aum ad o pela teologia ortodoxa, desde os tempos mais rem otos, passando pela poca da Reform a, at os nossos itis veja W. G. T. Shedd, Eternal Punishment). 10. 12 # TEOLOGIA SISTEM TICA AS DIVISES BSICAS DA TEOLOGIA SISTEMTICA A Teologia Sistemtica geralmente dividida nas seguintes categoriks: (1) Prolegmenos (Introduo); (2) Bibliologia (gr. plural biblia, Bblia); (3) Teologia Prpria, o estudo de Deus; (4) Antropologia (gr. plural, anthropoi, seres humanos); (5) Hamartiologia (gr. hamarta, pecado); (6) Soteriologia (gr. soteria, salvao); (7) Eclesiologia (gr. ekklesia, [a] igreja); (8) Escatologia (gr. eschatos, as ltimas coisas). Alm disso, o estudo do Esprito Santo (um a subdiviso da Teologia Prpria) denominado Pneumatologia (gr. pneuma, esprito), e os discursos sobre Cristo so chamados de Cristologia. Os debates teolgicos a respeito dos demnios so designados Demonologia, os especficos sobre Satans recebem o nome de Satanologia, e o estudo dos anjos so chamados de Angelologia5. OS PRESSUPOSTOS DA TEOLOGIA EVANGLICA Os telogos evanglicos crem que a Bblia corresponde a um comunicado infalvel e absolutamente verdadeiro, feito em linguagem hum ana, que se originou de um Deus infinito, pessoal e m oralm ente perfeito. Esta f pressupe que muitas coisas so verdadeiras a maioria delas vista com animosidade pela nossa cultura atual. O Evangelicalismo pressupe a existncia de um Deus testa (o pressuposto metafsico captulo 2) que criou o m undo e que pode intervir miraculosamente nele (o pressuposto sobrenatural captulo 3); um Deus que se revelou tanto na forma geral quanto na especial (o pressuposto revelacional captulo 4); esta ultima sujeita s leis da lgica (o pressuposto racional captulo 5) e contendo afirmaes com significado objetivo (o pressuposto semntico captulo 6) que so objetivamente verdadeiras (o pressuposto epistemolgico captulo 7) e exclusivamente verdadeiras (o pressuposto oposicional captulo 8); estas afirmaes, por sua vez, podem ser apropriadamente compreendidas em linguagem anloga (o pressuposto lingstico captulo 9), sendo que a sua verdade e sentido podem ser objetivamente compreendidos (o pressuposto herm enutico captulo 10), inclusive os elementos relacionados aos eventos histricos (o pressuposto histrico captulo 11); que esta revelao pode ser sistematizada por um mtodo teolgico completo e compreensivo (o pressuposto metodolgico captulo 12). E, mesmo que esse projeto possa nos parecer um tanto complicado, estes so os pressupostos necessrios para que a Teologia evanglica se torne possvel. Nos captulos que se seguiro, trataremos cada um deles de maneira seqencial. A IMPORTNCIA DOS PRESSUPOSTOS Um pressuposto torna possvel o que nele se baseia. Por exemplo, as condies para que dois seres humanos se comuniquem entre si, minimamente falando, incluem: (1) A existncia de uma mente capaz de enviar uma mensagem. (2) A existncia de outra mente capaz de receber esta mensagem. (3) A existncia de um meio comum de comunicao (por exemplo, um idioma) compartilhado por ambos. 3As subdivises (3) (8), bem como todos os tpicos corolrios, sero publicados nos volumes subseqentes. 11. Sem estes pressupostos necessrios, a comunicao no poder ocorrer. De maneira similar, a ausncia dos pressupostos acima citados torna impossvel construo de um a teologia sistemtica evanglica. Dentre eles, um dos mais importante o pressuposto metafsico, o Tesmo, que ser discutido no captulo seguinte. 12. C A P T U L O D O I S DEUS: O PRESSUPOSTO METAFSICO A N A TU REZA E A IMPORTNCIA DA METAFSICA A existncia de um Deus testa o alicerce da Teologia crist. Se o Deus do Tesm cristo tradicional no existe, a Teologia evanglica, logicamente, desmoron; Tentar construir uma teologia sistemtica evanglica sem o fundamento do Tesm- tradicional o mesmo que querer levantar uma casa sem um a estrutura, O Significado da M etafsica O Tesmo o pressuposto metafsico da Teologia evanglica. Ele fundamental par; todo o restante do desenvolvimento do nosso pensamento, com o estrutura que conferi significado para tudo o mais. No faz sentido falar da Bblia com o Palavra de Deus, s< esse Deus no existe. Semelhantemente, no faz sentido falar de Cristo com o o Filhe de Deus, sem que haja um Deus que possa ter gerado um Filho. Da mesma forma, o: milagres, como atos especiais de Deus, no so possveis sem que exista um Deus capa; de realizar estes atos especiais. De fato, toda a Teologia evanglica est baseada neste alicerce metafsico chamado Tesmo. A Definio da M etafsica A metafsica (lit. meta, alm d e-,fsica, as coisas fsicas) o estudo do ser ou da realidade. E o estudo do ser com o ente, no sentido de algo oposto ao estudo do ser como sico (que seria o campo da Fsica), ou do ser com o matemtico (que seria o campo da Matemtica). O termo metafsica normalmente utilizado de forma intercambivel com ontologia (lit. ontos, ser; logos, "estudo do). A T eologia Evanglica Im plica o Tesm o M etafsico A Teologia evanglica implica um a com preenso especfica da realidade, e existem muitas vises a respeito do m undo que se apresentam incompatveis com as reivindicaes do pensam ento evanglico. Por exem plo, o Evangelicalismo cr que Deus existe alm deste mundo ( m undo, neste caso, significando todo o universo :r:ad o ) e que foi Ele que trouxe esse universo existncia. Ela tam bm abarca a :rena de que este Deus um ser eterno, infinito, absolutamente perfeito, e pessoal. J nom e dado a esta viso, de que Deus criou tudo que existe, Tesmo (Deus criou 13. 16 # TEOLOGIA SISTEMTICA tudo), em oposio ao Atesm o (Deus no existe em absoluto) e ao Pantesmo (Deus tudo). Todas as outras cosmovises (incluindo o Pantesmo, o Desmo, o Desmo Finito, e o Politesmo) so incompatveis com o Tesmo. Se o Tesmo verdadeiro, todos os no-Tesmos so falsos, j que o contrrio do verdadeiro o falso (veja captulo 8). O TESMO E AS COSMOVISES CONTRRIAS Existem sete cosmovises que se destacam, sendo uma diferente da outra. Com uma exceo (Pantesmo/Politesmo), no possvel crer de maneira consistente em mais de uma delas, pois as premissas bsicas de cada uma so opostas entre si. Logicamente, somente uma destas cosmovises pode ser verdadeira; e as outras precisam necessariamente ser falsas. As sete cosmovises mais importantes so as seguintes: Tesmo, Atesmo, Pantesmo, Pan-en- tesmo, Desmo, Desmo Finito, e Politesmo1. Tesmo: Um Deus Pessoal e Infinito que Existe tanto dentro como alm do Universo O Tesmo a cosmoviso que preconiza um universo que vai alm das coisas que existem. Existe um Deus infinito e pessoal que vai alm do universo que o seu criador, o seu sustentador, e que pode agir dentro deste universo de m aneira sobrenatural. Este Deus est tanto l fora com o aqui dentro, pois Ele transcendente e im anente2. Esta viso representa a postura tradicional do Judasmo, do Cristianismo e do Islamismo. Atesmo: No Existe Deus algum, nem dentro nem alm do Universo O Atesmo advoga que somente o universo fsico existe; no existe nenhum Deus, emporte alguma. O universo (ou o cosmos) tudo o que existe e tudo o que existir, e ele auto-sustentado. Alguns dos nomes mais famosos do Atesmo so Karl Marx, Friedrich Nietzsche e Jean-Paul Sartre. Pantesmo: Deus E o Prprio Universo (Ele E Tudo) Para o pantesta, no existe um Criador alm do universo; antes, tanto o Criador quanto a criao so duas maneiras diferentes de perceber a mesma realidade. Deus o prprio universo (ou Ele est em todas as coisas), e o universo Deus; existe, em ltima anlise, somente um a realidade. O Pantesmo representado por certas formas de Hindusmo, pelo Zen Budismo, pela Cincia Crist, e pela maioria das religies derivadas da Nova Era. Antes de descrever as outras cosmovises, nos ser til contrastar estas trs acima mencionadas: o Pantesmo afirma que Deus tudo, o Atesmo alega que no existe Deus algum, e o Tesmo declara que Deus criou tudo. No Pantesmo, tudo mente. De acordo com o Atesmo, tudo matria. S o Tesmo afirma que tanto a mente quanto a matria existem. Na verdade, enquanto o ateu acredita que a matria produziu a mente, o testa acredita que a Mente (Deus) produziu a matria. ' Para maiores informaes sobre cada uma destas cosmovises, veja Norman Geisler, Baker Encyclopedia of Christian Apologetics (.BECA), de Normal Geisler. 2A transcedncia aqui definida como a presena de Deus alm do universo; a imanncia, como a presena de Deus dentro do universo criado. 14. DEUS: O PRESSUPOSTO METAFSICO # 17 Pan-en-tesm o: Deus Est no U niverso O Pan-en-tesmo afirma que Deus habita o universo da mesma forma que uma mente habita um corpo; o universo o corpo de Deus. Entretanto, alm do universo fsico real, existe uma outra pilastra de sustentao para Deus. (Por esta razo, o Panentesmo tambm chamado de Tesmo Bipolar.) Esta outra pilastra o potencial eterno e infinito de Deus, o qual vai alm do universo fsico real. E como o Pan-en-tesmo sustenta que Deus est em um processo constante de mudana, ele tambm chamado de Teologia do Processo. Este ponto de vista representado por Alfred North Whitehead, Charles Flartsborne e Schubert Ogden. Desm o: D eus Est alm do U niverso, mas n o d entro dele O Desmo semelhante ao Tesmo, excluindo-se os milagres. Ele afirma que Deus transcendente acima do universo, mas no imanente neste mundo, seguramente no de maneira sobrenatural. Semelhantemente ao Atesmo, o Desmo sustenta uma viso naturalista a respeito do funcionamento deste mundo, mas, da mesma forma que o Tesmo, cr que o mundo teve sua origem em um Criador. Em suma, Deus criou o mundo, mas Ele no mais se envolve com o mundo criado. O Criador deu cordas na criao, com o se faz com um relgio, e desde ento o mundo segue o seu curso de maneira independente. Em oposio ao Pantesmo, que nega a transcendncia de Deus em favor da sua imanncia, o Desmo nega a imanncia de Deus em favor da sua transcendncia. O Desmo representado por pensadores com o Franois Voltaire, Thomas Jefferson e Thomas Paine. D esm o F in ito : U m D eus F in ito Existe ta n to alm q u an to d en tro dos Lim ites do U n iverso O Desmo Finito semelhante ao Tesmo, salvo o fato de ele sustentar que o deus que transcende o universo e est ativo nele no um ser infinito, mas limitado na sua natureza e poder. Como o desta, o desta finito geralmente concorda que o universo foi criado, mas nega qualquer interveno milagrosa no seu mbito. Um argumento comumente levantado a favor da limitao do poder de Deus a aparente incapacidade ie Deus de impedir o mal. John Stuart Mill, William James e Peter Bertocci so exemplos de aderentes a esta cosmoviso. Politesmo: Existem m uitos Deuses alm deste M undo, com o tam bm dentro dele O Politesmo a crena de que existem muitos deuses finitos. O politesta nega qualquer Deus infinito que transcenda este mundo, da forma como sustenta o Tesmo; no entanto, :r que estes deuses finitos esto ativos neste mundo, em oposio ao Desmo. Tambm em : ^ntraste com o Desmo Finito, o politesta acredita em uma pluralidade de deuses finitos, rendo cada um normalmente o seu prprio domnio de atuao. A crena de que um deus ^nto detm a liderana sobre todos os demais (tal como Jpiter era para os romanos) e uma derivao do Politesmo chamada de Henotesmo. Os principais representantes do Pc itesmo so os gregos antigos, os mrmons e os neo-pagos (tais como os wiccas). Obviamente, se o Tesmo verdadeiro, todas as outras seis formas de no-Tesmo so falsas. Deus no pode ser, por exemplo, ao mesmo tempo finito e infinito, pessoal e inpessoal, estar alm do universo e no estar alm do universo, ser imutvel e mutvel, : ao mesmo tempo, ter capacidade de fazer milagres e no poder realiz-los. 15. 18 # TEOLOGIA SISTEMTICA PLURALISMO VS. MONISMO O Pluralismo3, em oposio ao Monismo, sustenta que existe mais de um ser (por exemplo, Deus e suas criaturas). Enquanto o Monismo afirma que toda a realidade constitui um s todo que s existe um ser , o Pluralismo, em contraste, cr que existe uma variedade de seres: Deus um ser infinito, e criou muitos seres finitos que no se assemelham a Ele, embora eles dependam dele. Assim, para obter xito, a Teologia evanglica precisa defender o Pluralismo filosfico (ou ontolgico), em contraposio ao Monismo. E como o Tesmo afirma que h pelo menos um ser finito que existe junto com somente um Ser infinito, segue-se que, se o Tesmo verdadeiro, ento o Pluralismo tambm o . Entretanto, no correto afirmar que o Tesmo verdadeiro somente porque o Pluralismo verdadeiro, j que existem outras formas de Pluralismo (por exemplo, o Desmo, o Desmo Finito e o Politesmo). O A rgum ento a favor do M onism o Se quisermos defender o Pluralismo, deixando de lado o Tesmo, existe um argumento fundamental a favor do Monismo que precisar ser enfrentado. Esta objeo foi levantada pelo antigo filsofo grego Parmnides (nascido 515 a.C.), e segue a seguinte linha (Parmnides, P): No podeihaver mais de uma s coisa (o Monismo absoluto), pois, se houvessem duas, ambas teriam que ser diferentes. Para que as coisas sejam diferentes, elas precisam diferirpelo seu ser ou pelo seu no-ser. Mas como o ser o que as torna idnticas, elas no podem diferir pelo ser. Por outro lado, elas tambm no poderiam se diferenciar pelo no-ser, pois o no-ser significanada, e diferenciar-se por nada, na verdade, significa no diferenciar-se. Portanto, no pode haver pluralidade de seres, mas somente um ser nico e indivisvelo Monismo rgido. As A lternativas ao M onism o As alternativas a Parmnides so poucas e dispersas para os pluralistas que desejam escapar do controle do Monismo. Basicamente, existem outras quatro opinies. As; primeiras duas formas de Pluralismo, s quais chamamos de Atomismo e Platonismo, afirmam que a variedade dos seres difere por um estado de no-ser. Os dois ltimos pontos de vista, chamados de Aristotelianismo e Tomismo, sustentam que a variedade dos seres diferepor suaforma de ser. Atomismo: As Coisas Diferem pelo No-Ser Absoluto Os antigos atomistas, tais com o Leucipo (final c. sculo V a.C.) e Demcrito (c. 460- 370 a.C.), contendiam que o princpio que separava um ser (um tom o) de outro era absolutamente nada (isto , o no-ser). Eles chamavam isto de Vcuo. Para eles, o ser era cheio e o no-ser era vazio. Os tomos, que no apresentavam qualquer diferena essencial entre si, eram separados pelo espao diferente que ocupavam no Vcuo (espao vazio). Esta diferena, portanto, era meramente extrnseca; no havia diferena intrnseca nos tomos (seres)4. 3Na verdade, existem dois pressupostos metafsicos bsicos assumidos pela Teologia evanglica: o Tesmo e o Pluralismo. 4Para nossos propsitos aqui, extrinseco significa encontrar-se do lado de fora, no propriamente pertencer Mnatureza de uma coisa, ao passo que intrnseco definido como pertencente constituio interna ou natureza essencial de uma coisa (Websters Third New International Dictionary [Novo Dicionrio Internacional Webster, Terceira Edio]). 16. DEUS: O PRESSUPOSTO METAFSICO # 19 Em suma, a resposta dos atomistas a Parmnides era que existem muitos seres (tom os) que se diferenciam pelo no-ser. Cada ser ocupa um espao diferente no Vcuo, que constitudo de absolutamente na (espao vazio). Obviamente, esta resposta bastante, deficiente para Parmnides, que redargiria, simplesmente, apontando que diferenciar-se pelo nada no ter diferena nenhuma, em absoluto. E no ter diferena nenhum a significa ser absolutamente a mesma coisa. O Monismo parece ter prevalecido sobre o Atomismo. Platonismo: As Coisas se Dijerenciam pelo No-Ser Relativo Plato (c. 427-347 a.C.), com o auxlio de Parmnides, contendeu a respeito de como as Formas poderiam se diferenciar, um a vez que eram absolutamente simples5. Plato cria que todas as coisas tinham um arqutipo ideal por detrs delas. Esta Idia (ou Form a) seria o mundo real. Todas as coisas neste mundo de experincias seriam somente sombras do mundo real, em virtude da sua participao nesta Form a verdadeira. Por exemplo, cada ser hum ano especfico deste nosso mundo participa de uma form a universal de humanidade no mundo das idias. Plato, posteriorm ente, adotou a viso de que as Formas (ou Idias) guardavam um a co-relao e no eram separadas de form a indivisvel pelo no-ser absoluto, mas, em vez disso, se relacionavam pelo princpio do no-ser relativo. Por intermdio deste princpio do no-ser relativo, tambm chamado de outro, Plato acreditava que poderia chegar a muitas formas (ou seres) diferentes e, assim, fugir do Monismo. Cada form a se diferenciava das outras, no sentido de que ela no era a outra forma. Toda determinao, neste caso, residia na negao. Por exemplo, o escultor determina o que uma esttua , em relao ao bloco de pedra original, ao retirar as lascas de pedra (negando) que ele no quer. Da mesma maneira, cada forma se diferencia de todas as demais pelo princpio da negao o que ela , fica determinado pelo que ela no . Como outro exemplo que poderia ser apresentado, a cadeira se distingue de todas as outras peas de moblia em uma sala, no sentido em que ela no uma mesa, no o piso, no -a parede etc. Isto no significa que a cadeira no seja absolutamente nada. Ela algo em si, mas ela no nada em relao s outras coisas. Ou seja, ela no as outras coisas. Mesmo assim, Parmnides no teria se impressionado pela tentativa feita por Plato para se livrar do Monismo. Ele poderiam simplesmente perguntar se havia alguma diferena nos prprios seres. Caso no houvesse, ele, ento, insistiria que todos estes seres .formas) seriam, necessariamente, idnticos. Para um monista, no existe multiplicidade de seres, mas somente um. nstotelianismo: As Coisas se Diferenciam como Seres Simples Tanto Plato com o os atom istas seguiram um a vertente (a m esm a vertente) do dilem a de Parm nides: Eles tentaram diferenciar as coisas pelo no-ser. Mas, :om o j vim os, diferenciar-se pelo nada no diferenciar-se por coisa algum a. Aristteles (384-322 a.C .) e Tom s de A quino (1225-1274) assum iram a outra ertente do dilem a: Eles buscaram encontrar diferenas entre os prprios seres. >: rre toda esta questo da viso posterior de Plato sobre as Formas (Tesk, PLD), suas obras Parmenides e Theaeteusparecem, urres. representar uma fuga de sua teoria inicial. Ele aparentemente percebe a falcia da posio atomstica (com que sua r r : t na e mais antiga viso das formas indivisveis [idias] por trs de todas as coisas era parecida). 17. 20 # TEOLOGIA SISTEMTICA Ambos contendem a respeito da existncia de um a m ultiplicidade de seres que so essencialm ente diferentes. Aristteles sustentou que estes seres so m etafisicam ente simples, e Toms de Aquino (veja tpico seguinte) os visualizou com o m etafisicam ente com postos, apresentando um a distino ato/potncia no nvel das form as puras ou dos seres. Aristteles argumentava a respeito da existncia de um a pluralidade de quarenta e sete ou cinqenta e cinco seres, ou movedores no-movidos, que esto separados entre si pelo seu prprio ser (Aristteles, M, XII). Estes seres (m ovedores) eram a causa de todo o m ovim ento no mundo, cada um operando no seu domnio csmico separado. Cada um destes seria um a form a pura (um ser) no-m aterial (que Aristteles utilizava para diferenciar as coisas neste m undo). Esta pluralidade de formas substanciais totalm ente separadas no apresenta qualquer form a de com unho ou comunidade. Eles no podem ser relacionados entre si (Eslick, RD, 152-53), e so completamente diversos um do outro. Obviamente, Parmnides simplesmente perguntaria a Aristteles com o seres simples poderiam se diferenciar no seu prprio ser. As coisas que so compostas de forma e matria podem se diferenciar medida que um tipo especfico de matria pode ser diferente de outro tipo de matria, mesmo apresentando a mesma forma. Mas, como seria possvel s formas puras (os seres) se diferenciarem entre si? Eles no apresentam nenhum princpio de diferenciao. E, se no h diferena no seu ser, conclui-se que o seu ser deve ser idntico. Assim, a soluo de Aristteles tambm no aniquilaria o Monismo. Tomismo: As Coisas se Diferenciam como Seres Complexos A quarta alternativa pluralista ao Monismo parmenideano representada por Toms de Aquino, que, em com um com Aristteles, buscava encontrar diferenas entre os prprios seres. Mas, ao contrrio daquele, que sustentava somente a existncia de seres simples, Toms de Aquino acreditava que todos os seres finitos eram, no ntimo do seu ser, compostos. Somente Deus um Ser simples absoluto, e possvel que exista somente um ser (Deus) assim. Entretanto, pode haver outras formas de seres, a saber, seres compostos. Os seres podem se diferenciar na essncia do seu ser porque pode haver diferentes formas de seres (Toms de Aquin, ST, la.4.1, 3). Deus, por exemplo, um tipo de Ser infinito; todas as criaturas so tipos finitos de seres. Deus Pura Atualidade (Ato)*; todas as criaturas so compostas de atualidade (ato) e potencialidade (potncia). Portanto, os seres finitos diferem de Deus medida que eles possuem um a potencialidade limitada e Ele no. Os seres finitos podem se diferenciar uns dos outros medida que a sua potencialidade plenamente atualizada (com o no caso dos anjos), ou medida que ela est sendo progressivamente atualizada (com o no caso dos seres humanos). Em todas as criaturas, a sua essncia , de fato, distinta da sua existncia. Em Deus, por outro lado, tanto a sua essncia quanto a sua existncia so idnticas. Embora Toms * N. do T .: A partir deste ponto, necessrio atentar para o sentido das palavras ato, atual, atualidade, ou outras formas cognatas, empregadas pelo autor em sua acepo filosfica. No campo da Filosofia, ato se refere ao estado presente e real do ser (em oposio a potncia, o que pode ser produzido); atual se refere ao que est em ato, ao (em oposio a potencial, o que est em potncia), e tambm significa real; atualidade se refere qualidade de atual (em oposio a potencialidade, qualidade de potencial), e tambm significa "realidade. 18. DEUS: O PRESSUPOSTO METAFSICO # 21 de Aquino no tenha sido o primeiro a fazer esta distino, ele foi o primeiro a fazer um uso extensivo dela. No seu livro On Being.and Essence (Sobre Ser e Essncia), Toms de Aquino argumenta que a existncia diferente da essncia, salvo no caso de Deus, para quem a essncia coincide com a existncia. Um ser desta categoria somente poderia ser singular e nico, j que a multiplicao de qualquer coisa somente possvel quando h algum tipo de diferena. Entretanto, em um ser com o Deus, no existe diferena. Da, necessariamente, se conclui que em tudo o mais, exceto no caso dessa existncia singular, a existncia um a coisa e a essncia outra. Assim, Toms de Aquino apresentou uma soluo satisfatria para o velho questionamento proposto pelo Monismo. As coisas se diferenciam no seu ser por haver diferentes formas de seres. Parmnides estava errado porque considerou que o ser deve ser sempre considerado de forma unvoca (da mesma forma). J Toms de Aquino, por outro lado, percebeu que o ser anlogo (veja captulo 9), e deve ser compreendido de maneira similar, mas ao mesmo tempo diferente. Todos os seres so os mesmos medida que todos so atuais (detm a capacidade de agir); entretanto, os seres finitos diferem do Ser infinito medida que so detentores de potencialidades diferentes, que foram atualizadas (colocadas em ao). A SUPERIORIDADE DO TESMO TOM STICO6 O valor da viso de Toms de Aquino se torna manifesto tanto pela sua prpria racionalidade quanto pela no-plausibilidade das outras vises alternativas. A posio de Parmnides, ao contrrio, violenta a observao experimental na qual vemos uma multiplicidade de seres tanto diferentes quanto inter-relacionados. Mas, novamente, se o Monismo rgido inaceitvel, parece haver somente quatro alternativas pluralsticas bsicas. O atomista procura explicar a multiplicidade afirmando que o no ser absoluto o Vcuo o espao que separa um ser do outro. Mas esta resposta , seguramente, insuficiente, pois, com o Parmnides meticulosamente demonstrou, a diferena que advm daquilo que no existe no diferena, em absoluto. E, se no houver nenhum a distino real, tambm no haver nenhum tipo de distino na realidade. Tudo se compe de uma grande unidade. Os platonistas tentaram utilizar o no-ser relativo como o princpio de diferenciao. Isto , mesmo admitindo que as coisas se diferenciem pelo no-ser, argumentavam que o no-ser, de alguma forma, existia, mesmo sendo algo diferente do ser. Ou seja, a diferenciao era feita pela negao: Um ser distinto do outro no pelo que ele , mas pelo que ele no ele se diferencia no pelo ser, mas pelo no-ser. Em outras palavras, o fator de diferenciao no est dentro do ser, mas fora dele no um fator real ou existente. Entretanto, nada que seja exterior a um ser pode ser considerado o princpio de diferenciao dentro dele. E, se no houver nenhuma diferena real dentro ia natureza das coisas, conclui-se que no h, na verdade, nenhuma diferena entre elas simplesmente chegamos ao velho dilema parmenideano, s que agora com outra roupagem. j . esmo Tomstico, tambm chamado de Tesmo Clssico, um ponto de vista compartilhado por Agostinho, Anselmo, re. :s Reformadores, e muitos outros pensadores da nossa poca, incluindo-se aqui C. S. Lewis. 19. 22 TEOLOGIA SISTEMTICA A multiplicidade aristotlica das substncias simples e separadas no apresenta qualquer princpio de individualizaro7. Aristteles no apela nem para o no-ser absoluto, nem para o no-ser relativo, para explicar com o pode haver muitos seres simples coexistindo de forma separada. Este ponto de vista no apresenta deficincia somente no seu princpio de diferenciao, mas, com o bem notou Plotino (E, VI.5.9), tambm no seu princpio de unificao. Ou seja, no existe nada para coordenar as operaes separadas dos vrios motores primevos. Por fim, a posio tomstica (isto , conforme Toms de Aquino) a respeito da pluralidade que a multiplicidade possvel em funo da existncia de diferentes tipos de seres. Isto possvel porque os seres apresentam dentro de si um a distino real entre a sua existncia e a sua essncia. Isto eqivale a dizer que o ser no homogneo, nem um todo sem diferenciao. Em vez disso, o ser criado um a composio dinmica e complexa de essncia e existncia. Ele apresenta os princpios correlacionados de potncia e de ato. A questo no ser ou no ser, mas que tipo de ser?. Para Toms de Aquino, as coisas se diferenciam umas das outras pelo tipo de ser ou realidade que apresentam. O ser no uma caracterstica unvoca8 das coisas, pois, se fosse assim, tudo seria uma grande unidade. O ser tambm no um a caracterstica equvoca9, pois, se fosse assim, todas as coisas seriam totalmente diferentes e isoladas. O ser, ao contrrio, predicado das outras coisas de forma analgica cada essncia apresenta o seu ser de maneira prpria e distinta e se relaciona com os outros seres por analogia. Cada coisa apresenta a sua prpria maneira de ser. Em outras palavras, a essncia, o princpio de diferenciao, real; faz parte do prprio ser das coisas; um princpio co-constituinte delas10. Em suma, a distino real que existe dento de um ser (lat. ens) entre essncia (essentia) e existncia (esse') parece ser a nica resposta satisfatria ao dilema parmenideano da unidade e da pluralidade. Sem um a analogia do ser (veja captulo 9), no h como explicar a multiplicidade. Na univocalidade do ser, temos duas alternativas: ou as coisas so idnticas, ou no apresentam qualquer relao entre si. Conforme vimos, se o ser for tomado de forma unvoca (em lugar da forma analgica), s poder haver um ser, pois, onde quer que o ser for encontrado, ele significar exatamente a mesma coisa, de modo que toda espcie de ser idntica (coincidncia total no deixa espao para qualquer tipo de diferena nos seres). Alm disso, se o ser for tomado de forma equvoca (com o sendo completamente diferente), no poder haver mais de um ser, pois, se isto o ser e tudo o mais difere totalmente dele, conclui-se que tudo o mais se trata de no-ser. (Isto verdade porque o que difere totalmente dele seria o no-ser.) Aparentemente, a nica form a de fugir da concluso monstica que se segue a uma viso equvoca ou unvoca do ser levar em conta a viso analgica. E a nica form a de um ser ser analgico se dentro dele houver tanto o princpio de unificao quando o de diferenciao. Toms de Aquino 7 No mundo fsico, Aristteles utilizou a matria como princpio de individualizaro, porm estas Formas puras no continham matria. Portanto, no seu domnio metafsico, Aristteles no tinha como fazer a distino entre um ser e outro. 8 Neste caso, univoco significa uma caracterstica peculiar a, ou restrita a, coisas da mesma natureza (Websters Third New International Dictionary). 9Equvoco (como adjetivo) aqui significa chamado pelo mesmo nome, mas apresentando diferena em natureza ou em funo (Websters Third New International Dictionary). 10Isto no signfica dizer que a essncia real antes da sua conexo com a existncia ou independentemente dela (esta posio no foi defendida por Toms de Aquino, mas por Giles de Roma). A realidade da essncia est na sua correlao com a existncia. Assim, uma essncia que existe real. 20. DEUS: O PRESSUPOSTO METAFSICO # 23 chamou a ambos de, respectivamente, esse e essentia: A existncia (unificao) para a essncia (diferenciao) o que a atualidade para a potencialidade. Com o os seres finitos apresentam diferentes potencialidades (essncias), estes seres finitos podem ser diferenciados, na realidade, quando estas potencialidades so atualizadas (ou trazidas existncia) nos diferentes tipos de seres. O que um ser? Um ser algo que existe. Quantos seres existem? Os seres podem ser simples (Pura Atualidade Deus) ou complexos (que contm tanto a atualidade quanto a potencialidade). No pode haver dois seres simples absolutos, j que no h nada em um Ser puro que o pudesse tornar diferente de outro Ser puro. E bvio que um Ser simples pode (e, na verdade, deve) se diferenciar dos seres complexos, j que ele no apresenta a potencialidade que estes tm . Portanto, pode haver som ente um ser puro e simples, ao passo que existe um a variedade de seres com um a mistura de ato e potncia. S um deles o Ser; todos os demais tm o ser. Dessa form a, Tom s de Aquino parece oferecer a nica resposta racional ao M onism o. Plotino bem tentou resolver o problem a postulando um a U nicidade absoluta que vai alm da razo e alm do ser, mas o que arrazoa alm d razo est fadado ao fracasso. A BASE RACIONAL PARA O TESMO: A ALTERNATIVA AO MONISMO A resposta de Toms de Aquino ao Pluralismo torna o Tesmo plausvel, porm somente argumentos consistentes a favor da existncia de Deus tornam o Tesmo vivel. Muitos argumentos nesta linha foram propostos, enquanto som ente quatro dentre todos conseguiram dominar os debates ao longo dos sculos: o argumento cosmolgico, o teleolgico, o ontolgico, e o moral. O A rgum ento C osm olgico a favor da Existncia de Deus O argum ento cosm olgico existe em duas form as bsicas: a horizontal e a vertical. O argum ento horizontal, conhecido com o argum ento kalam (palavra rabe com significado de etern o), defende a existncia de um Iniciador para o universo. O argum ento vertical prope que h um Sustentador do universo. Um pressupe um a Causa original e o outro um a Causa atual. O argum ento horizontal foi assumido por Boaventura (c. 1217-1274), que seguiu a linha de raciocnio de certos filsofos rabes. E ntretanto, o argum ento vertical encontra a sua expresso m xim a em Tom s de Aquino. A Forma Horizontal do Argumento Cosmolgico A essncia deste argumento a seguinte: (1) Tudo que teve um comeo, teve tambm uma causa. (2) O universo teve um comeo. (3) Portanto, o universo teve uma causa. A primeira premissa ( Tudo que teve um com eo, teve tambm um a causa) - norm alm ente considerada auto-explicativa, j que admitir algo diferente seria 21. 24 0 TEOLOGIA SISTEMTICA equivalente alegao ridcula de que o nada capaz de produzir alguma coisa. At mesmo Davd Hume (1711-1776), um ctico infame, confessou: Jamais partiu de mim um a proposio to absurda com o a de que algo possa surgir sem um a causa efetiva. (LDH, 1:187). A segunda premissa (O universo teve um com eo) defendida tanto filosfica quanto cientificamente. Filosoficamente, argumenta-se que: (1) Um nmero infinito de momentos no pode ser transposto. (2) Se houvesse um nmero infinito de momentos antes de hoje, o hoje jamais teria chegado, j que um nmero infinito de momentos no pode ser transposto. (3) Mas o hoje chegou. (4) Portanto, houve somente um nmero finito de momentos antes do hoje (isto , um incio dos tempos). E tudo que tem um incio, tem, necessariamente, um Iniciador. Portanto, o mundo temporal teve um Iniciador (Causa). A evidncia cientfica para um mundo com um incio vem da chamada teoria do Big Bang, defendida pela maior parte dos astrnomos contemporneos. Existem vrias linhas de evidncias convergentes a respeito do universo de tempo-espao ter tido um incio. Primeiro, o universo est perdendo sua energia til (A segunda lei da Termodinmica), e o que est perdendo a fora no pode ser eterno (de outra forma, ele j teria entrado em colapso neste momento). Uma entidade no pode perder uma quantidade de energia que infinita. Segundo, considera-se que o universo se encontra em expanso. Portanto, quando o quadro de movimento do universo feito de forma reversa, tanto de forma lgica quanto matemtica, chegamos a um ponto onde ele se torna um nada (isto , um ponto onde no existe nem espao, nem tempo, nem matria). Portanto, o universo literalmente veio existncia a partir do nada. Mas o nada incapaz de produzir alguma coisa. Terceiro, o eco de radiao devolvido pelo universo, que foi descoberto por dois cientistas vencedores do prmio Nobel Arno Allan Penzias e Robert Woodrow Wilson (veja Jastrow, GA, 14-15) , tem o cumprimento de onda idntico ao que liberado por um a exploso gigantesca. Quarto, a grande massa de energia resultante de tamanha exploso que predita pelos proponentes do Big Battgfoi, na verdade, descoberta pelo Telescpio Espacial Hubble, em 1992. Quinto, a prpria Teoria Geral da Relatividade de Einstein exigia um comeo para o tempo, um ponto de vista ao qual ele resistiu por anos, e at chegou a defender com um fator atenuante que ele mesmo introduziu no seu argumento, a fim de evitar sua contestao, e pelo qual, mais tarde, ele mesmo viria a se sentir constrangido (veja Heeren e Smoot, SMG, 109). As evidncias filosficas e cientficas cumulativas a favor da origem do universo material proporcionam uma forte razo para concluir que precisa haver uma Causa no-fsica para a origem do universo fsico. O astrnomo agnstico Robert Jastrow admite que esta uma concluso que claramente favorece o Tesmo (SCBTF, in: CT, 17). Depois de revisar as evidncias de que o cosmos teria um comeo, o fsico britnico Edmund Whittaker concordou: E mais simples postular a criao ex nihilo a vontade divina constituindo a natureza a partir do nada (citado por Jastrow, GA, 111). Jastrow conclui: Que existem o que eu ou outra pessoa qualquer chamaria de foras sobrenaturais em ao, , no mom ento, no meu modo de ver, um fato cientificamente comprovado (Jastrow, SCBTF, in: CT, 15,18, grifo adicionado). 22. DEUS: O PRESSUPOSTO METAFSICO # 25 A Forma Vertical do Argumento Cosmolgico A form a horizontal do argumento cosmolgico argumenta a partir da origem passada do universo at um a Causa Original (Primeira) para ele. Em contraste, a form a vertical do argumento cosmolgico inicia com a contingncia presente existente do cosmos e insiste que precisa haver um Ser atualmente Necessrio com o causa de tudo. Ambos so argumentos causais e ambos pressupem um cosmos preexistente. Contudo, o argumento horizontal parte de um universo que teve um comeo (h muito tempo atrs), e o segundo considera que o universo tem um ser (neste exato m om ento). O primeiro enfatiza a causalidade na origem, o segundo se concentra na causalidade de conservao. O primeiro sustenta um a Causa Primeira (no passado), e o segundo, um a Causa Necessria (no presente). O argumento cosmolgico vertical foi apresentado de vrias maneiras por Toms de Aquino (ST, 1.2.3). Duas formas principais servem de exemplo do uso que Aquino fez: o argumento a partir da contingncia e o argumento a partir da mudana. 0 argumento apartirda contingnciainicia. com o fato de que, pelo menos, um ser contingente existe; ou seja, um ser que existe, mas pode no existir. Um ser Necessrio aquele que existe, mas no pode no existir. O argumento se desdobra da seguinte maneira: (1) Q ualquer coisa que existe, m as que pode/pudesse no existir, precisa necessariam en te de u m a causa para a sua existncia, j que a m era possibilidade da existncia no explica a existncia de algo. A m era possibilidade de algo existir no significa nada. (2) Porm , o nada no tem a capacidade de produzir alguma coisa. (3) Portanto, algo necessariam ente existe com o base para tudo que existe e que poderia no existir. Em sum a, um a violao do princpio da causalidade dizer que um ser contingente capaz de explicar a sua prpria existncia. Outra maneira de colocar esta form a do argumento vertical perceber que se algo contingente (acidental) existe, logo um Ser Necessrio precisa existir: (1) Se tudo fosse acidental, haveria a possibilidade de nada ter existido. (2) S que algum as coisas existem (por exem plo, eu existo), e a existncia delas inegvel, pois necessrio que eu exista para ser capaz de afirm ar que no existo. (3) Assim, se algum ser contingente (acidental) agora existe, um Ser Necessrio precisa existir, pois, de outra form a, no haveria base para a existncia desse ser acidental. 0 argumento a partir da mudana, outra form a do argumento cosmolgico vertical, inicia : :m o fato de que seres mutveis existem: i i )Tudo que m uda passa de um estado de potencialidade (potncia) m udana para um estado de ser atualizado (ato). Isto , todos os seres m utveis tm ato (atualidade) e potncia na essncia do seu prprio ser. Se no fosse assim, toda m udana envolveria a aniquilao e a re-criao, a qual impossvel sem um a Causa, j que o nada incapaz de produzir algum a coisa. 23. 26 # TEOLOGIA SISTEMTICA (2) Mas nenhuma potencialidade capaz de atualizar-se por siprpria, damesma forma que o cimento no capaz de atualizar-se e colocar a siprprio na forma de um arranha-cu. (3) E, se nenhuma potncia capaz de atualizar a siprpria, e contudo se sabe que, pelo menos, um serfoiatualizado (por exemplo, euprprio), temos que, em ltimaanlise, precisahaver algo que Pura Atualidade (sem nenhuma potencialidade), do contrrio no haveria base paraexplicar como alguma coisa hoje que no tem o potencial de existir esteja existindo. Estaforma do argumento vertical cosmolgico aborda aimpossibilidade de uma regresso infinita dos seres que so compostos de ato e potncia. Ela indica que o prprio Ser que jaz por detrs de um ser mutvel (aquele portador de ato e potncia) nopode ser outro ser com ato e potncia, pois o que no capaz de explicar a sua prpria existncia, certamente, tambm no ser capaz de explicar a existncia de outro ser. Afirmar que isto possvel seria equivalente a afirmar que um pra-quedista cujo pra-quedas no abriu teria a capacidade de segurar outro pra-quedista igualmente desafortunado, cujo pra-quedas tambm no abriu. E aumentar o nmero de pra-quedistas com o mesmo tipo de defeito no equipamento no ajuda na soluo do nosso problema; ao contrrio, somente o potencializa. Outra maneira de expor a impossibilidade de um a regresso infinita das causas da existncia presente de um ser mutvel (com ato e potncia) indicando que em uma regresso infinita destas causas pelo menos um a delas deve estar causando, j que se admite que as causas estejam ocorrendo. Contudo, em um a srie infinita, cada causa est sendo causada, pois se um a delas no estivesse sendo causada, teramos chegado a um a Causa No-Causada (que os cientistas desejam evitar). Um a causa precisa ser no-causada, pois se cada causa, em um a srie infinita, estiver sendo causada, e se pelo menos uma causa estiver causando as demais, temos que esta causa auto-causada. Entretanto, um ser auto- causado algo impossvel, j que uma causa ontologicamente (veja pgina 30), se no cronologicamente, anterior ao seu efeito, e algo no pode ser anterior a si prprio. Outra forma, ainda, do argumento cosmolgico vertical com ea com a presente dependncia de cada parte do universo. Sucintamente, teramos: (1) Cada parte do universo , neste exato momento, dependente da outra para a sua existncia. (2) Se cada parte , neste exato momento, dependente da outra para a sua existncia, temos que o universo todo deve ser, neste exato momento, tambm dependente para a manuteno da sua prpria existncia. (3) Portanto, o universo todo, neste exato momento, depende de algum Ser Independente para a sua existncia, o qual transcende a esse prprio universo. Em resposta, os crticos argumentam que a segunda premissa comete a falcia da composio: o fato de todas as peas de um mosaico serem quadradas no gerar necessariamente uma figura final de formato quadrado. Ou a juno de dois tringulos no formar necessariamente outro tringulo; um quadrado poder ser formado. O todo pode (e s vezes isso acontece mesmo) ter uma caracterstica no apresentada pelas partes. Os defensores da forma vertical do argumento cosmolgico so rpidos em perceber que, s vezes, existe um a conexo necessria entre as partes e o todo. Por exemplo, se cada tbua do assoalho for de carvalho, o assoalho com o um todo ser de carvalho. Se cada pea de piso na cozinha for amarela, o cho todo ser amarelo. Isto verdadeiro em funo da prpria natureza das peas de piso amarelo que, quando agrupadas, formam outra 24. DEUS: O PRESSUPOSTO METAFSICO # 27 pea maior de piso amarelo. E mesmo que a juno de dois tringulos no forme necessariamente outro tringulo, a juno deles form ar necessariamente outra figura geomtrica. Por qu? Porque da prpria natureza das figuras geomtricas, quando combinadas, continuarem formando um a figura geomtrica. Da mesm a forma, da prpria natureza dos seres dependentes, ao serem agrupados, continuarem a ser seres dependentes. Se um a coisa dependente para o seu prprio ser, temos que outro ser dependente ser incapaz se sustentar, da m esma form a com o ser intil acrescentar elos a um a corrente que no tenha um a trava para fechar o conjunto. Em resposta, alguns crticos argumentam que o todo maior do que as partes. Portanto, m esm o que as partes sejam dependentes, o universo com o um todo no o . Entretanto, ou a soma das partes igual ao todo, ou maior do que o todo. Se o universo todo igual s suas partes, temos que o todo deve ser dependente, da m esma form a que as suas partes so11. Se, por outro lado, o universo inteiro maior do que as partes e no se aniquilaria caso as suas partes fossem destrudas, temos que o universo com o um todo equivalente a Deus, pois se trata de um ser no-causado, independente, eterno e necessrio, do qual todas as coisas, no universo inteiro, dependem para a sua existncia. O A rgum ento T eleolgico a favor da Existncia de Deus H diversas variaes deste argumento, sendo que a mais famosa delas deriva de William Paley (1743-1805), que utilizou a analogia do construtor de relgios. Da mesma form a que cada relgio construdo por algum, e com o o funcionam ento do universo muitssimo mais com plexo do que o de um relgio, tem os que deve haver um Construtor do Universo. Em suma, o argumento teleolgico argumenta a partir do projeto (design) a favor de um Projetista (Designer) Inteligente: (1) Todos os projetos im plicam um projetista. (2) Existe um grande p rojeto para o universo. (3) Portanto, tam bm deve haver um Grande Projetista na origem do universo. A primeira premissa conhecida a partir da nossa prpria experincia; em todas as ocasies nas quais vemos um projeto com plexo, sabemos pela nossa experincia prvia que ele surgiu da m ente de um projetista. Relgios implicam construtores de relgio; edifcios implicam arquitetos; quadros implicam pintores; e mensagens codificadas implicam um rem etente inteligente. Sabemos que isto verdade porque observamos isto ocorrer o tempo todo. Da mesma forma, quanto mais fascinante o projeto, tanto mais fascinante ser o projetista12. Mil macacos sentados em mquinas de escrever, ao longo de milhes de anos, jamais produziriam um a pea do porte de Hamlet. S que Shakespeare escreveu esta obra magnfica na primeira tentativa. Quanto mais com plexo o projeto, tanto maior ser a inteligncia necessria para desenvolv-lo. - Prova disso que, se todas as partes so retiradas, o universo todo tambm se extingue. Dessa forma, o universo todo ^m bm necessariamente acidental. 12Supe-se, tambm, como verdadeiro o fato de que os castores tm a habilidade de construir represas, j que isto tido, pelos criacionistas, como evidncia de que um Criador inteligente os programou cran esta capacidade. Os computadores so capazes de produzir ordenaes e projetos incrveis, mas somente porque rzram programados por um ser inteligente. 25. 28 # TEOLOGIA SISTEMTICA importante notar aqui que por projeto com plexo referimo-nos a uma complexidade especfica. Um cristal, por exemplo, tem especificidade, mas no complexidade; a exemplo de um floco de neve, ele apresenta os mesmos modelos bsicos especficos que se repetem indefinidamente. Os polmeros aleatrios13, por outro lado, apresentam complexidade, mas no especificidade. Uma clula viva, entretanto, apresenta tanto especificidade quanto complexidade. O tipo de complexidade encontrada em uma clula viva o mesmo tipo de complexidade que encontramos na linguagem humana; isto significa que a seqncia de letras no alfabeto gentico de quatro letras idntica que sepode observar na linguagem escrita. E a quantidade de informao complexa especificada em um ser unicelular maior do que a encontrada em um dicionrio do porte do Websters Umbridge Dictionary. Como resultado, acreditar que a vida ocorreu sem uma causa inteligente o mesmo que acreditar que um dicionrio como o Websters Unabriged o resultado de uma exploso ocorrida em uma oficina grfica. O excelente livro de Michael Behe, intitulado Darrnns Bla Box (A Caixa Preta de Darwin), a partir da anlise da natureza de uma clula viva, proporciona fortes evidncias a favor de que ela jamais poderia ter surgido sem que houvesse um projeto inteligente por detrs de tudo. A clula representa uma complexidade irredutvel, que no pode ser explicada por intermdio das mutaes progressivas alegadas pelos adeptos da teoria da Evoluo (Behe, DBB, obra completa). At mesmo Charles Darwin (1809-1882) admitiu: Se algum pudesse demonstrar que qualquer um dos rgos complexos que existem no pode ser formado por uma enorme srie de mutaes sucessivas e graduais, a minha teoria estaria completamente arruinada (Darwin, 00S, 6.aedio, p. 154). At mesmo o evoludonista Richard Dawkins concorda: A evoluo muito possivelmente, na realidade, no sempre gradual. Ela, porm, precisa ser gradual quando usada para explicar a apario de objetos complicados e aparentemente projetados, como os olhos. Pois, seno for gradual, nestes casos, eladeixadeapresentar qualquer poderpersuasivo. Sem agradualidade, nestescasos, estaremos devoltaao tempo dos milagres, o que sinnimo da total faltade qualquer tipo deexplicao [naturalista] (Dawkins, BW, 83). Mas Behe apresenta vrios exemplos de complexidade irredutvel que no poderiam ser fruto da evoluo em passos gradativos. Eis a sua concluso: Ningum na Universidade de Harvard, ningum nos Institutos Nacionais de Sade Pblica, nenhum membro da Academia Nacional de Cincias, nenhum vencedor do Prmio Nobel ningum em absoluto capaz de fornecer um relato detalhado sobre como um clio, a viso, a coagulao sangnea, ou qualquer outro processo bioqumico complexo, possa ter ocorrido nos moldes da teoria proposta por Darwin. S que aqui estamos ns. Todas estas coisas chegaram at aqui de alguma maneira; se no foi nos moldes propostos por Darwin, como foi? (Behe, DBB, 187). So numerosos os outros exemplos de complexidade irredutvel, incluindo aspectos da reduplicao do DNA, do transporte de eltrons, da sntese dos telmeros, da fotossntese, da regulao da transcrio, e mais [...] [Portanto,] a vida na terra no seu nvel mais fundamental, nos seus componentes mais crticos, o produto de uma atividade inteligente (ibid., 160,193). 13 Polmeros so compostos qumicos ou misturas de compostos que, geralmente, so constitudos por unidades estruturais que se repetem. 26. DEUS: O PRESSUPOSTO METAFSICO # 29 Behe acrescenta: A concluso do projeto inteligente flui naturalm ente dos prprios dados apresentadosno dos livros sagrados ou de crendices sectrias. A inferncia de que os sistemas bioqumicos foram desenvolvidos por um agente inteligente um processo enfadonho que no requer quaisquer tipos de novos princpios de lgica ou cincia [...] [Portanto,] o resultado destes esforos cum ulativos para a investigao celular para a investigao da vida a nvel m olecular um grito alto, claro e direto de projeto!. O resultado to objetivo e to significativo que precisa ser considerado com o um a das m aiores conquistas da histria da cincia. U m a descoberta que rivaliza com as de Newton e Einstein (ibid, 232-33). O falecido astrnomo agnstico Carl Sagan (1934-1996) inconscientem ente proporcionou um forte exemplo do incrvel projeto inerente natureza. Ele nota que a informao gentica no crebro hum ano expressa em bits , provavelmente, comparvel ao nm ero total de conexes entre os neurnios por volta dos cem trilhes, 10Hbits. Se forem escritas em ingls, digamos, estas inform aes preencheriam algo em torn o de vinte m ilhes de volum es, suficientes para encher as m aiores bibliotecas do m undo. O equivalente a vinte m ilhes de livros est contido na cabea de cada um de ns. O crebro um lugar m uito grande que se localiza em um espao m uito pequeno. Sagan prossegue afirmando que a neuroqum ica do crebro incrivelmente complexa, com uma rede de circuitos mais maravilhosa do que a de qualquer mquina criada pelos seres hum anos (Sagan, C, 278). Mas, se for assim, ento por que o crebro hum ano no precisa de um Criador inteligente, da mesma form a que aquelas maravilhosas mquinas (com o os com putadores) desenvolvidas pelos seres humanos? Outro apoio para o argumento teleolgico vem do princpio antrpico, que prope que, a partir da sua prpria gnese, o universo foi detalhadamente afinado para proporcionar o surgimento da vida hum ana (veja Barrow, ACP). Ou seja, o universo foi intrinsecam ente pr-adaptado para a chegada da vida humana. Se este delicado equilbrio fosse m inim am ente alterado, a vida jamais teria sido possvel. Por exem plo, o oxignio representa 21 por cento da atm osfera. Se o seu nvel fosse de 25 por cento, haveria grandes queimadas no planeta, e se fosse de 15 por cento, os seres hum anos m orreriam sufocados. Se a fora gravitacional fosse alterada som ente em um a parte em dez elevado quadragsima potncia (dez seguido de quarenta zeros), o sol no existiria e a lua colidiria com a terra ou se desprenderia em direo ao espao (H eeren, SM G, 196). Se a fora centrfuga do m ovim ento planetrio no se equilibrasse perfeitam ente com as foras gravitacionais, nada poderia se m anter em rbita ao redor do sol. Se o universo estivesse se expandindo a um a taxa de um m ilionsim o m enor do que a atual, a tem peratura na terra seria de 10.000 graus Celsius. Se Jpiter no estivesse com a sua form ao atual, a terra estaria sendo bom bardeada com m atria espacial. Se a crosta terrestre fosse mais espessa, haveria um a transm isso excessiva de oxignio, o que inviabilizaria a vida. Se ela fosse mais una, a atividade vulcnica e tectnica tornariam a vida, igualm ente, impossvel. E se a rotao da terra levasse mais de 24 horas, as diferenas de tem peratura entre a noite e o dia seriam dem asiadam ente grandes (veja Ross, FG). 27. # TEOLOGIA SISTEMTICA Robert Jastrow, novamente, resume as implicaes disto: O principio antrpico [...] parece nos informar que a prpria cincia nos prova um fato importante: este universo foi feito, projetado, para que o hom em nele habitasse. 0 resultado impressionantemente tastico (Jastrow, SCBTF, grifo adicionado). O astrnomo ex-atesta Alan Sandage chegou mesma concluso: O mundo demasiadamente complicado em todos os seus detalhes para que a sua existncia seja atribuda simplesmente ao acaso. Estou convencido de que a existncia de vida sobre este planeta, com toda a ordenao que vemos em cada um dos organismos, simplesmente muito boa, vista como um todo [...] Quanto mais se aprende debioqumica, mais inacreditvel se torna, a no ser que se tenha algum tipo de princpio organizador um arquiteto, para os que crem [...] (Sandage, SRRB, in: T, 54). O grande Albert Einstein (1879-1955), da mesma forma, declarou que a harmonia da lei natural [...] revela uma inteligncia com tamanha superioridade que, comparada a ela, todo pensamento sistemtico e toda atividade humana no passam de um reflexo completamente insignificante (Einstein, IOWISI, 40, grifo adicionado). O Argumento Ontolgico a favor da Existncia de Deus A palavra ontolgico deriva do term o grego ontos, que significa ser. Este o argumento que compreende desde a idia de um Ser Perfeito ou Necessrio at a existncia real de um Ser nestes moldes. Pelo que se sabe, o primeiro filsofo a desenvolver o argumento ontolgico (embora Immanuel Kant [1724-1804] tenha sido o primeiro a cunhar este term o) foi Anselmo (1033-1109). Existem duas formas deste argumento. Uma deriva da idia de um Ser Perfeito e a outra de um Ser Necessrio. Estas duas formas so, muitas vezes, chamadas de Anselmo A e Anselmo B, respectivamente. A Primeira Forma do Argumento Ontolgico De acordo com esta forma de expor o argumento, o simples conceito de Deus como um Ser absolutamente perfeito exige que creiamos na sua existncia. Colocando de forma simples: (1) Deus , por definio, um Ser absolutamente perfeito. (2) A existncia uma perfeio. (3) Portanto, Deus precisa existir. Se Deus no existisse, Ele deixaria de ter uma das perfeies, a saber, a existncia. E se Deus no tivesse uma das perfeies, Ele no seria absolutamente perfeito. Mas Deus , por definio, um Ser absolutamente perfeito. Portanto, um Ser absolutamente perfeito (Deus) precisa existir. Desde a poca de Immanuel Kant, tem sido largamente aceito que esta forma de argumento ontolgico invlida, porque a existncia no umaperfeio. O contra-argumento que a existncia no acrescenta nada ao conceito de uma coisa; ela somente lhe serve de exemplo concreto. A nota de dinheiro na minha mente pode ter exatamente as mesmas propriedades ou caractersticas que aquela que est na minha carteira. A nica diferena que eu tenho um exemplo concreto da segunda. 28. DEUS: O PRESSUPOSTO METAFSICO # 31 A crtica que K ant fez p rim eira fo rm a do arg u m en to on tolg ico profu nd a e largam ente aceita. Existe, en tretan to , u m a segunda fo rm a que n o est su jeita a esta crtica. A Segunda Forma do Argumento Ontolgico N a sua resp o sta ao m o n g e G a u n ilo (c. fin al scu lo X I), qu e se op s a este a rg u m en to , A n selm o in sistiu q u e o sim p les co n ceito de u m S er N ecessrio exige qu e cre ia m o s n a sua existn cia. P od e-se ex p o r este a rg u m e n to da seg u in te fo rm a: (1) Se Deus existe, precisam os conceb-lo com o um Ser Necessrio; (2) Mas, por definio, um Ser Necessrio no pode no existir; (3) Portanto, se um Ser Necessrio pode existir, Ele ento precisa existir. C o m o p arece n o h av er co n tra d i o n a idia de u m S er N ecessrio , p a re ce bvio qu e E le deva m e sm o existir, pois a sim ples idia de u m S er N ecessrio exige a sua ex istn cia se E le n o existisse, su a existncia n o seria necessria. O s c rtic o s in d ica m u m p ro b le m a d iferen te c o m esta fo rm a de silo g ism o o n to l g ic o 14. E c o m o d iz erm o s: Se ex iste m tri n g u lo s, eles p re cisa m , n e ce ssa ria m e n te , te r trs la d o . E cla ro qu e p o d e n o h av er n e n h u m tri n g u lo . L ogo, o a rg u m e n to iam ais p assaria d esta co n d icio n a l se in icia l; ele ja m a is p ro v a a g ran d e q u est o a q u e se p ro p e reso lv er. E le supe, m as n o prova, a ex ist n cia de u m S e r N ecessrio , m e ra m e n te afirm a n d o q u e se u m S er N ecessrio ex istir e essa a p e rg u n ta em a b e rto este ser p recisa, n e ce ssa ria m e n te , ex istir, p o is esta a n ic a fo rm a de a ex ist n cia desse S e r N ecessrio to rn a r-s e p o ssvel. A lg u m as pessoas, m ais tard e, refin a ra m este a rg u m e n to a cre scen ta n d o q u e u m estad o de c o m p le ta n o -e x ist n cia n o lo g ica m e n te possvel, j q u e a n o ssa p r p ria existn cia in eg vel. E se algo existe, alg o d iferen te ta m b m p recisa existir (isto , o Ser N ecessrio). E n tre ta n to , n e ste fo rm a to , n o se tra ta m ais do a rg u m e n to o n to l g ico , pois este p a rte de algo q u e j existe e a rg u m e n ta a favor de algo q u e deve existir. A m a io r p a rte dos testas n o a cred ita qu e o a rg u m e n to o n to l g ico , assim ap resen tad o, seja su ficien te p ara p ro v ar a existn cia de D eu s. Isto n o sig nifica qu e ele n o seja til. M esm o q u e o a rg u m e n to o n to l g ico n o co n sig a p ro v ar a existncia de D eu s, ele co n seg u e rro v a r alg u m as coisas qu e se re fe re m sua natureza, se D eu s existe. P or e x e m p lo , ele d em o n stra qu e se D eu s existe m e sm o , E le p recisa existir n e cessa ria m en te. E le n o pod e deixar de existir, n e m p o d e existir de fo rm a acid en tal. O A rgum ento M oral a favor da Existncia de Deus As razes do a rg u m e n to m o ra l a fav or da ex istn cia de D eu s so en co n trad as em R o m a n o s 2.12-15, on d e o A p sto lo P aulo fala qu e a h u m an id ad e in d escu lp v el p o rq u e :e m a lei escrita n o co ra o . N os ltim o s 250 anos, este a rg u m e n to te m sido p ro p o sto l e diversas fo rm as, sen d o qu e sua fo rm a m ais p o p u la r v em de C . S. Lewis (1898-1963), n a r rim eira p a rte d o seu co n h e cid o liv ro Mere Christianity (C ristia n ism o S im p les). O ce rn e : : a rg u m en to segu e a seg u in te e stru tu ra bsica: rxpidtamente falando, um silogismo um esquema dedutivo (veja captulo 5) construdo a partir de um arranjo : ~ = i composto por uma premissa maior e uma menor, seguidas de uma concluso ( Websters Third New International I*axm 2ry). 29. 32 # TEOLOGIA SISTEMTICA (1) A Lei Moral implica um Legislador Moral. (2) Existe uma lei moral objetiva. (3) Portanto, existe tambm um Legislador Moral objetivo. A primeira premissa auto-evidente. Um a lei moral um preceito, e preceitos so passados porpreceptores. Ao contrrio das leis da natureza (que so somente descritivas), as leis morais so preceptivas: Elas no descrevem o que as coisas so; elas prescrevem com o elas deveriam ser. Elas no so somente um a descrio da maneira com o as pessoas se comportam, mas imperativos de com o deveriam se comportar. A fora do argumento moral a favor da existncia deDeus est na segundapremissaaquela que afirma a existnciade uma leimoral objetiva. Ou seja, existe uma leimoral que no somente prescritapefosseres humanos, mas tambm para os seres humanos. A questo se existe alguma evidncia a favor de um preceito objetivo e universal que englobe todos os seres humanos. A evidncia a favor de um a lei moral objetiva forte; ela ficaimplcita nos julgamentos morais que fazemos: O mundo est ficando melhor (ou pior). Com o podemos saber disso, se no h algum tipo de parmetro atravs do qual possamos medir o grau de melhora no mundo? Da mesma forma, frases com o Hitler estava errado perdem o seu significado quando se tratam de simples questo de opinio ou so culturalmente relativizadas. S que se Hitler estava realmente (e objetivamente) errado, precisa haver uma lei moral por detrs de todos ns, e qual todos precisamos nos subordinar. E, se existe esta lei moral objetiva que nos prende a todos, ento existe tambm, necessariamente, um Legislador Moral (Deus). C. S. Lewis responde de forma efetiva s objees tpicas a este argumento moral, conforme parafraseado no texto a seguir (veja Lewis, CPS, parte 1). Esta Lei Moral no E um Mero Instinto Coletivo O que chamamos de lei moral no pode ser o resultado de um a espcie de instinto coletivo15, seno o impulso mais forte em ns sempre sairia vitorioso. Ele no . Alm disso, ns sempre agiramos a partir dos nossos instintos, para refor-los, e no em direo a eles, a fim de domin-los (por exemplo, para ajudar uma pessoa em perigo), com o fazemos poucas vezes. Por fim, se a lei moral fosse somente um instinto coletivo, concluiramos que os instintos sempre esto certos, mas sabemos que as coisas no so assim. At mesmo o amor e o patriotismo so, s vezes, errados. Esta Lei Moral no Pode Ser uma Conveno Social Nem tudo o que se aprendepor intermdio da sociedade estbaseado em convenes sociais (por exemplo, a m atemtica ou a lgica), da mesma forma que a lei moral tambm no meramente um a norm a social. Evidncias a favor deste argumento podem ser vistas em todas as sociedades, j que praticamente todas apresentam as mesmas leis morais, sejam estas civilizaes presentes ou passadas. Alm disso, juzos sobre o progresso social no seriam possveis se a sociedade fosse a base para os julgamentos. Esta Lei Moral E Diferente das Leis da Natureza A lei moral no deve ser identificada com as leis da natureza, porque estas ltimas so descritivas (so), e no prescritivas (deveriam), com o as leis morais o so. Na 15Instinto coletivo (em ingls, herd instinct) uma tendncia inerente de congregar ou reagir de forma uniforme; um instinto humano terico em direo ao comportamento gregrio (de rebanho) e conformidade (webster's Third New International Dictionary). 30. DEUS: O PRESSUPOSTO METAFSICO # 33 verdade, situaes factualm ente diferentes (o m odo com o as coisas so) podem ser m oralm ente erradas e vice-versa. Por exemplo, se algum tenta passar por cima de mim e no consegue, esta pessoa com eteu um erro e culpada, enquanto que algum que acidentalmente tropea por cima de m im no pode ser considerada culpada por isso. -J. Lei Moral no E simplesmente um Capricho Humano A lei m oral tam bm no pode ser simplesmente um capricho hum ano, porque no podemos nos livrar dela, mesmo em situaes em que isto seria interessante para ns. Ns no a criamos; ela foi claramente impressa em ns, a partir do nosso exterior. E se ela no passasse de fantasia, todos os juzos de valores perderiam o seu significado, inclusive afirmativas com o o assassinato errado, ou o racismo errado. Mas, se a lei m oral no nem um a descrio nem um a prescrio m eram ente humana, ela passa a ser um a prescrio m oral vinda de um Preceptor Moral que transcende a humanidade. Com o notou Lewis, este Legislador M oral est mais para uma m ente do que para a natureza. Ele to parte da natureza quanto um arquiteto parte de um prdio que ele projeta. A Injustia no Desabona o Legislador Moral A principal objeo a um Legislador M oral perfeito o argumento a partir do mal ;u e existe no mundo. Nenhum a pessoa sria pode fechar os olhos e deixar de reconhecer ;u e todos os assassinatos, os estupros, o dio e a crueldade tornam o mundo um lugar muito longe da perfeio. Mas, se o mundo imperfeito, com o poderia existir um Deus absolutamente perfeito? A resposta de Lewis simples e vai direto ao ponto: A nica form a pela qual poderamos saber que o mundo imperfeito ter um padro iosolutam ente perfeito de justia com o qual possamos com par-lo, a fim de saber se ele no justo. E a injustia absoluta somente possvel se houver um padro absoluto de ustia. Lewis esclarece, nas suas prprias palavras: O meu argumento contra Deus era que o universo me parecia demasiadamente cruel e injusto. Mas de onde foi que tirei esta idia de justo e injusto? Um homem jamais pode afirmar que uma linha torta se no tiver algum tipo de noo do que uma linha reta [...] Assim, na minha prpria tentativa de provar a inexistncia de Deus em outras palavras, que a realidade como um todo era sem sentido , descobri que eu era forado a considerar que uma parte da realidade ou seja, a minha idia de justia estava cheia de sentido. Conseqentemente, o Atesmo passou a ser demasiadamente simplista para mim (Lewis, CPS, 45-46). Em vez de tentar provar a inexistncia de um Ser m oralm ente perfeito, na verdade, : mal que existe no mundo pressupe um padro absolutamente perfeito. Algum pc ieria levantar a objeo de que o Legislador Mximo no m esm o todo-poderoso, mas jamais a de que Ele no perfeito. CONCLUSO SOBRE OS ARGUM EN TO S A FAVOR DO TESMO A maior parte dos testas no deposita todas as suas fichas a favor da existncia de Deus um nico argumento. Na verdade, cada argumento parece demonstrar um atributo 31. 34 # TEOLOGIA SISTEMTICA diferente de Deus, junto com a sua existncia. Por exemplo, o argumento cosmolgico demonstra que um Ser infinitamente poderoso existe; o teleolgico revela que este Ser tambm superinteligente; o argumento moral estabelece que Ele moralmente perfeito. E, uma vez que Algo existe, o argumento ontolgico demonstra que Ele um Ser Necessrio. Alguns testas apresentam outros argumentos a favor da existncia de Deus, tal como o argumento a partir da necessidade de religio (veja Geisler, CG,EF, in: BECA), ou o argumento a partir da experincia religiosa (veja Trueblood, PR). Entretanto, os argumentos acima descritos so os clssicos ou padres neste tema. Levanta-se a objeo de que o argumento cosmolgico no prova um Deus testa, tal como defende o Cristianismo evanglico. Existem muitos outros conceitos a respeito de Deus, ao lado do Tesmo, mas estes conceitos no podem ser identificados com um Deus testa. Tesm o vs. D esm o Finito Deus precisa ser infinito (em contraste com o Desmo Finito), j que pelo argumento cosmolgico cada um dos seres finitos precisa ter um a causa. Portanto, a Causa de todas as coisas finitas no pode ser finita. Alm disso, o universo finito composto de partes, e no pode haver um nmero infinito de partes, pois, no importando quantas partes haja, sempre se pode acrescentar mais uma. E a Primeira Causa No-Causada do universo no pode ser uma parte ou ter partes, pois, se fosse assim, Ele tambm teria sido causado. Portanto, Ele precisa ser infinito, j que somente os seres finitos apresentam partes. E como nada pode ser acrescentado quilo que j infinito, e com o todas as partes podem ser acrescentadas s outras partes, o Criador do universo infinito (e sem partes). Tesm o vs. Politesm o A Causa No-Causada do Tesmo distinta dos muitos deuses do Politesmo, pois no pode haver mais de uma existncia assim ilimitada. No possvel haver nada alm do Mximo. Esta causa Pura Atualidade, e a Atualidade ilimitada e nica. Somente o ato que combinado com a potncia se torna limitado, tal com o vemos nos seres contingentes (os quais existem, mas apresentam a possibilidade de no existir). Alm disso, para que possa se diferenciar, um ser precisa ser desprovido de alguma caracterstica que o outro tenha. S que um ser que seja desprovido de alguma caracterstica de existncia no pode ser uma existncia perfeita e ilimitada. Em outras palavras, dois Seres infinitos no podem se diferenciar na sua potencialidade, j que no tm potencialidade; eles so Pura Atualidade. E no podem se diferenciar na sua atualidade, j que Atualidade com o tal no se diferencia de Atualidade como tal. Dessa forma, eles precisam ser idnticos. Portanto, existe somente uma Causa Ilimitada para todas as existncias limitadas. Tesm o vs. Pantesm o Avanando mais um pouco, a Causa No-Causada do Tesmo no o Deus do Pantesmo. O Pantesmo afirma que um ser ilimitado e necessrio existe, porm nega a realidade de seres finitos e limitados. O Tesmo comea com o(s) ser(es) mutvel(is), aleatrio(s), finito(s) e real(is), e a partir dele(s) argumenta a favor de um ser imutvel, necessrio, infinito e real. Portanto, o Deus testa no o mesmo Deus do Pantesmo. 32. DEUS: O PRESSUPOSTO METAFSICO # 35 N egar q u e u m ser h u m a n o fin ito e m u t v el a u to d estru tiv o . O p an testa n o e stru tu ra a sua cre n a sem p re d esta m an eira ; ele passa a crer d esta fo rm a p o r u m p ro cesso de 'ilu m in a o . M as, se ele passa p o r alg u m p ro cesso de m u d an a, en to ele n o u m ser im u t v el, de fo rm a alg u m a. Tesmo vs. Atesm o A C au sa N o -C au sad a do T esm o ta m b m n o p o d e ser id n tica ao universo material, c o m o a cre d ita m m u ito s atestas. D a fo rm a co m o n o rm a lm e n te co n ceb id o , o co sm o s o u o u n iv erso m a te ria l u m sistem a esp a o -te m p o ra l lim itad o . E le est, p o r ex em p lo , su je ito seg u n d a lei da T e rm o d in m ica e, p o rta n to , est e m p ro cesso de d ecad n cia en erg tica. S qu e u m a C au sa N o -C au sad a algo ilim itad o e n o est em d ecad n cia. O esp ao e o tem p o im p lica m lim ita es a u m tip o de ex istn cia aq u i-e-ag o ra. M as u m a C au sa N o -C au sad a n o te m lim ites, sen d o, p o rta n to , d iferen te do u n iv erso de esp a o -tem p o . O D eu s testa est dentro do m u n d o te m p o ra l co m o sen d o sua base de existn cia co n tn u a, m as E le n o do m u n d o , m ed id a q u e este lim itad o e E le n o . M as se, e m resp osta, alegssem os qu e o u n iv erso m a te ria l co m o u m to d o n o tem p o ra l e lim itad o , c o m o so as suas p artes, estaram o s so m e n te d em o n stra n d o a reivin d icao dos testas, pois a n o ssa co n clu so seria a de q u e existe, a lm d este m u n d o :o n tin g e n te lim itad o p ela esp ao -tem p o ralid ad e, u m a realid ad e c o m p le ta qu e etern a , ilim ita d a e necessria. E m o u tras palavras, co n co rd a ra m o s c o m o T esm o n o sen tid o de qu e existe u m D eu s qu e vai a l m d este n o sso m u n d o lim itad o e m u t v el qu e ex p e rim en ta m o s. E sta id ia serve co m o u m a esp cie de su b stitu to p ara a realid ad e de u m D eu s e ad m ite qu e existe u m a realid ad e co m p le ta q u e vai alm da p a rte ex p erim en tad a i a realidad e e qu e te m to d o s os atrib u to s m etafsico s do D eu s testa. Tesmo vs. Panentesm o A C au sa N o -C au sad a do T esm o ta m b m n o p o d e ser id n tica ao deus do Panentesmo, :a m b m co n h e cid o c o m o T esm o B ip o lar ou T eo lo g ia do P rocesso. O P an en tesm o , co m o ~_mos, afirm a q u e D eu s te m dois p lo s: u m p lo atu al (q u e id en tificad o c o m o m u n d o Trm poral m u t v e l) e o u tro p lo p o te n cia l (q u e e te rn o e im u t v el). E sta co n cep o de ^ eus deve ser rejeita d a pelas seg u in tes razes: P or u m a sim p les razo, a co n clu so do a rg u m e n to co sm o l g ico d e m o n stra a necessidade de u m D eu s q u e seja p u ra atu alid ad e sem q u alq u er tip o de p o ten cialid ad e (o _ :ro p lo aqu i aleg a d o ). A lm disso, D eu s n o p o d e ser su je ito a lim ita es, co m p o si es : 11 esp ao -tem p o ralid ad es, j q u e E le ilim itad o n o seu ser. A d em ais, o D eu s testa n o r-:-ie ter p lo s o u asp ecto s, j qu e E le a b so lu ta m e n te sim p les (isto , n o -c o m p o s to ) e n I :> ap resen ta q u alq u er tip o de d ualidade. C o m o P u ra A tu alid ad e, E le u m a existn cia pies e ilim itad a co m o tal, e n o ap resen ta p lo s o u lim ites. U m a ex istn cia ilim itad a t o m esm o te m p o , p a rc ia lm e n te lim ita d a u m a co n trad io . A lm do m ais, D eu s n o p o d e estar su je ito a m u d an as, pois algo qu e se tra n sfo rm a :z isso p o r ser co m p o sto de atu alid ad e e p o ten cialid ad e p a ra a m u d an a. A m u d a n a - a passagem da p o ten cialid ad e p ara a atu alid ad e, d aqu ilo qu e se p o d e ser p ara aqu ilo : - e re a lm e n te se to rn a . M as co m o a existn cia n o te m p o ten cialid ad e, tem o s q u e ela ~ : ro d e m u d ar. Se alg o m u d a, te m o s a p ro v a de q u e este algo n o era P u ra A tualid ad e, " -i possua alg u m a m ed id a de p o ten cialid ad e e m fu n o da m u d an a q u e o c o rre u , atu alid ad e p u ra e ilim itad a n o p o d e m u d ar. 33. 36 # TEOLOGIA SISTEMTICA Tesm o vs. Desm o Por fim, a concluso do argumento cosmolgico, pelo menos da sua forma vertical, no pode ser de um Deus deista, pois o Deus do Desmo no a causa aqui-e-agora do universo, como o Deus do Tesmo. Como o universo dependente no seu ser, ele precisa de algo independente sobre o qual depender o tempo inteiro. O universo jamais cessa de ser dependente ou contingente. Um a vez contingente (acidental), sempre contingente; um ser contingente no pode se tornar um Ser Necessrio, pois um Ser Necessrio no pode se tornar, nem deixar de ser, com o um ser contingente pode. Assim, o Deus do Tesmo diferente da concepo deista de Deus. Isso tudo sem falar que o Deus do Tesmo capaz de realizar, e realiza, milagres, e o Deus do Desmo no (veja captulo 3). Alm disso, o Desmo nega que os milagres podem ocorrer ou mesmo que seja possvel a sua ocorrncia. S que o Deus que criou o universo a partir do nada j realizou o maior de todos os milagres. Portanto, um Deus assim no pode ser o Deus do Desmo. CONCLUSO O Deus do Tesmo pode ser conhecido pela argumentao clara. Alm do mais, Ele distinto de todas as outras concepes de Deus, j que somente pode haver um a Causa No-Causada indivisvel, infinita, necessria e absolutamente perfeita para tudo o mais que existe. E com o o Tesmo metafsico um pressuposto para a Teologia evanglica, a viabilidade deste pressuposto de Evangelicalismo est bem apoiada nestas numerosas linhas de evidncias. E certo que objees podem e tm sido levantadas, mas nenhuma foi capaz de se sustentar (veja apndice 1). FONTES Anselmo, Basic Writings. Aristteles. Metaphysics, XII. Barrow, J. D. The Anthropic Cosmological Principie. Behe, Michael. Darwins Black Box. Craig, William. The Kalam Cosmological Argument. Darwin, Charles. On the Origin o f Species. Dawkins, Richard. The Blind Watchmaker. Einstein, Albert. Ideais and Opinions The World as I see it. Eslick, L. J. The Real Distinction, Modem Schoolman, 38 (janeiro de 1961). Findlay, J. N. Can Gods Existence Be Disproved?, in: The Ontological Argument, Alvin Plantinga, ed. Flint, Robert. Agnosticism. Garrigou-LaGrange, Reginald. God: His Existence and His Nature. Geisler, Norman. Anthropic Principie, The, in: BECA. ________ . Baker Encyclopedia of Christian Apologetics (BECA). ________. God, Evidence for, in: BECA. ________. Worldviews, in: BECA. Heeren, Fred, and George Smoot. Show me God. Hume, David. Dialogues Concerning Natural Religion. ________. The Letters of David Hume. 34. DEUS: O PRESSUPOSTO METAFSICO 37 Hoyle, Fred, Sir, et al. Evolutionfrotn Space. Jastrow, Robert. A Scientist Caught Between Two Faiths: Interview with Robert Jastrow, Christianity Today (6 de agosto de 1982). ______ . God and the Astronomers. Kant, Im m anuel. A Critique o f Pure Reason. Kenny, Anthony, Five Ways. Lewis, C. S. Mere Christianity. Parmnides, Proem. Plato. Parmenides. ______ .Sophists. ______ . Theaeteus. Plotino, Enneads. Ross, Hugh. The Fingerprints o f God. Russell, Bertrand. Why I Am Not a Christian. Sagan, Carl. Cosmos. Sandage, Alan. A Scientist Reflects on Religious Belief, in: Truth (1985). Sproul, R. C. Not a Chance: The Mith of Chance in Modem Science and Cosmology. Teske, R. J. Platos Later Dialectic, Modem Schoolman 38 (m aro de 1961). Toms de Aquino. On Being and Essence. ______ . Summa Theologica. Trueblood, Elton. Philosophy of Religwn. 35. MILAGRES: O PRESSUPOSTO SOBRENATURAL IN TRO DUO AOS MILAGRES A Teologia evanglica est edificada sobre o sobrenatural. O nascimento virginal de Cristo, o seu ministrio cheio de milagres, a sua ressurreio fsica dos m ortos e a sua ascenso corprea ao cu so apenas alguns dos numerosos milagres essenciais para o Cristianismo bblico. O sobrenatural um pressuposto to im portante para a teologia ortodoxa que, sem ele, o Cristianismo histrico ruiria. Para citar o apstolo Paulo: E, se Cristo no ressuscitou, logo v a nossa pregao, e tambm v a vossa f. E assim somos tambm considerados com o falsas testem unhas de Deus [...] E, se Cristo no ressuscitou, v a vossa f, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E tambm os que dorm iram em Cristo esto perdidos (1 Co 15.14-18). Antes que um milagre possa ser identificado, sem entrarm os no m rito da verificao da veracidade deste milagre o que, obviamente, deve ser feito , ele precisa ser definido; no existe modo de descobrir um milagre a menos que saibamos o que procuramos. Os telogos tm definido os milagres de duas maneiras diferentes. DUAS DEFINIES PARA MILAGRE Historicamente, os milagres tm sido definidos em sentido rgido ou moderado. Seguindo a linha de Agostinho (354-430), alguns descrevem o milagre com o sendo um prodgio [que] no contrrio natureza, mas contrrio ao nosso conhecim ento da natureza (CG, 21.8). O problema com esta viso moderada dos milagres que o evento pode no ser, de form a alguma, sobrenatural; ele pode simplesmente se tratar de um evento natural para o qual o observador, at aquele instante, desconhece qualquer tipo de explicao natural. Isto significa que todas as anomalias naturais, incluindo-se aqui os meteoros, os terrem otos, os vulces e os eclipses, foram , em alguma poca, considerados milagres relas pessoas e continuam a ser para algumas. Seguramente, este tipo de milagre no irresenta qualquer valor apologtico, do tipo que se atribui aos milagres bblicos (M t 12.39,40; Mc 2.10,11; Jo 3.2; At 2.22; Hb 2.3,4; 2 Co 12.12). Outros, seguindo a linha de Toms de Aquino, definem o milagre no sentido rgido, : : mo sendo um evento que vai alm dos poderes da natureza e que somente poderia ser r rzduzido por um a fora sobrenatural (Deus) (SGG, Livro 3). Com o vimos, os milagres 5podem ser identificados com atos de Deus se utilizarmos esta definio rgida, j que no 36. 40 # TEOLOGIA SISTEMTICA sentido moderado no h com o distingu-Ios dos acontecimentos incom uns da natureza. Alm disso, os milagres somente apresentam valor apologtico quando os vemos no sentido rgido, j que, nesta definio, eles ocorrem por interveno sobrenatural direta. Neste sentido, o milagre uma interveno divina no mundo natural. Com o disse o atesta Antony Flew: Um milagre algo que jamais teria acontecido se a natureza, por si s, fosse deixada para operar pelos seus prprios mecanism os (Flew, M , in: Edwards, ed., EP, 346). A lei natural descreve as regularidades causadas de form a natural; um milagre se trata de um a singularidade causada de form a sobrenatural. A DISTINO ENTRE MILAGRE E A LEI NATURAL A fim de explicar o que se quer dizer com um ato sobrenatural, precisamos de uma compreenso inicial do que significa a lei natural. A lei natural entendida com o a form a norm al, ordenada e geral atravs da qual o mundo opera. Em contraste, um milagre na sua definio mais bsica um a form a incom um , irregular e especfica atravs da qual Deus age nos limites deste nosso mundo. Os milagres so sobrenaturais, mas no antinaturais. Com o declarou o famoso fsico Sir George Stokes: Pode ser que o evento ao qual chamamos de milagre tenha ocorrido no pela suspenso das leis da operao norm al, mas pela superadio de algo que, norm alm ente, no entra em operao (ISBE, 2063). Em outras palavras, quando um milagre ocorre, no se trata de um a violao ou contradio das leis naturais de causa e efeito, mas sim de um novo efeito produzido pela introduo de um a causa sobrenatural. Neste ponto, precisamos de um a descrio bblica do que um milagre. A Bblia utiliza trs palavras bsicas para esta descrio: sinal, maravilha e poder. Um estudo do uso de cada um a delas nos ajudar a compreender o que se quer dizer com a palavra milagre. O USO VETEROTESTAMENTRIO DAS PALAVRAS SINAL, M ARAVILHA E PODER Cada um a das palavras utilizadas para descrever um milagre carrega consigo um a conotao peculiar. Quando o significado de cada um a delas combinado, vislumbramos um quadro com pleto dos milagres bblicos. O Uso Veterotestamentrio da Palavra Sinal Embora a palavra hebraica para sinal (otti) seja, s vezes, utilizada para se referir a coisas naturais, tais com o as estrelas (G n 1.14), ou o dia de sbado (Ex 31.13), ela norm alm ente leva consigo um significado sobrenatural, ou seja, algo que foi designado por Deus que tem um significado especial atribudo. O primeiro uso da palavra sinal pode ser encontrado na previso divina entregue a Moiss a respeito da libertao de Israel do jugo egpcio, para que este servisse a Deus, a qual ocorreu no m onte Horebe. Deus prom eteu: Certam ente eu serei contigo; e isto te ser por sinal de que eu te enviei (Ex 3.12). Quando Moiss perguntou a Deus: Mas eis que me no crero, nem ouviro a m inha voz, porque diro: O SENHOR no te apareceu (Ex 4.1), o Senhor concedeu a Moiss dois sinais: a sua vara se transformou em um a serpente (Ex 4.3), e a sua mo contraiu lepra, de form a instantnea (Ex 4.6,7). 37. MILAGRES: O PRESSUPOSTO SOBRENATURAL 41 Estes sinais foram dados para que creiam que te apareceu o SENHOR, o Deus de seus pais (Ex 4.5). Deus disse: se eles te no crerem, nem ouvirem a voz do primeiro sinal, crero a voz do derradeiro [segundo] sinal (Ex 4.8). Moiss fez os sinais perante os olhos do povo. E o povo creu; e ou