etnopsiquiatria - george devereux

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  • 8/2/2019 Etnopsiquiatria - George Devereux

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    R. Fac. Educ., Sao Paulo14(1) :23-34, jan./iun. 1988

    GEORGES DEVEREux, 0 PROJEro ETNOPSIQUIATRlOOE ALGUMAS ILA~oES EDUCATIVO-ORGANIZACIONAIS

    Jose Carlos de PAULA CARVALHO"Ao Dr. Rene Ribeiro corn admiracao e respeito

    RESUMO: 0 texto visa destacar as incidencias educativas e organizacionaisda etnopsicanalise de Georges Devereux, evidenciando qual 0 sentido de urn "pro-[eto'' de intervencao desde as consideracdes etnopsiquiatricas, delineando, pois, ostraces de urna "praxiatria".PALAVRAS-CHAVES: Antropologia psicanalltica, Etnopsiquiatria e Etnopsi-canalise. Contra-transterencia e Psiquiatria Metacultural. Homem e Cultura em si.Logica da diferenca e Trabalho da AIteridade. Terapia, Educacao e Organizacao,Sociatria e Praxiatria.

    "A. Wlica ponte que ainda une 0homem moderno ao hornem"a.rcaico" e 0psiquismo humane: 56 as exterioridades mudam; 0substrate rantasmatico - 0 Inconsciente - e Intemporal", (Baubo,la vulve mythique, P 12)"0 pslcanalista deve compreender pereitamente a natureza e afungij,o da cultura considerada ern si mesma - a despeito de tal ouqual cultura particular -, nAo s6 porqus Udamos com urn fenomenouniversal, exclusivamente caracteristico ,do homem, mas tambemporque as ca.tegorias gerais da. cultura - que nao devemos confundircom 0 conteUdo eventual de tals ca.tegorias numa cultura determi-nad.a - sAo fenOmenos universals". (Essais d'ethnopsychtatrie gene-raJe, p. 337-338)". .. 0 termo "transcultural" indica s6 0 que lhe permite indicaro prlmeiro senti do de "trans"; aquilo que esta. aIem (de quaIquer)eultura: a Cultura em 8i, a Cultum como fen6meno humane universale como experiencia. A psiquiatria transcultural estuda a reia!Jiloentre a Cultura em 81 e toda e qualquer pslcopatologia: a psicoterapia"transcultural" explora a compreensao que 0pslcoterapeuta tern da

    cultura em si. A psiquiatria "transcultural" opoe-se, assirn, a psi-quiatria e a psicoterapia "interculturais" ("cross-culturai") "(Realit: et ~; psychotherapre d'un indian des plaines, p.18).. . .. os dados nas cifutcias do comportamento suseltam uma8Jlg1lstia contra a quai nOli defendemos por meio de urns, pseudo-metodologia inspirada pela contra-transrerencta: tal subterftigio eresponsavel por quase todas as falhas das ciencia.s do comporta-mento, Toda metodOilogia eficaz nas cienclas do comportamentodevers. tratar as perturbaeoes contra-transferenciais como sendo osdadoa mats signlficativos e caraetertsttcos de sua 6rbita de pasqulsa".

    ([)Ie l'angoiBse a la methode dans les sciences du comportement,p.16-17) PrOfI!SSQf Assilltente Doutor do Departamento de AdrnlnlstracAo Escolar e Econornla dalIId~ d& FB.culdade de mdu08.lllo de. USP.

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    24 JOSE CARLOS DE PAULA CARVALHOGeoges Devereux, psicanalista e etn6logo, constantemente preo-cupado comas quest6es epistemol6gicas e com as pesquisas em histo-ria das religioes e mitologia comparada, sobremaneira nutrido pelohelenismo,nasceu na Hungria, em 1908. Foi discipulodeMarcelMauss

    e rumou para os EUA, para estudar, num sentido muito especial, avida dos indiosMohave, da California, seguindo depois para 0Vietna,onde estudaria os Sedang-Moi. Tendo lecionado em Harvard, e recon-duzido a Franca, graeas a Roger Bastide e a Claude Levi-Strauss, quelhe apreciaram a etica inovadora e, ao mesmo tempo, inc6moda paraas viseiras academicas, lecionando na Ecole des Hautes Etudes enSciences Sociales, de Paris, ate sua morte, em maio de 1985. Le-gou-nos0projeto etnopsiquiatrico e suas cinzas que, segundo seu dese-jo, foram espalhadas na reserva Mohave,uma patria que 0 reconheceu.Vejamos os traces do projeto etnopsiquiatrico.Quando falamos em "projeto", estamos a pensar que, desde asinvestigacoes e a pratica etnopsiquiatricas, uma intervencao de cara-ter "sociatrico" - melbor mesmo seria, perdendo-se as inflexoescomteanas, dizer "praxlatrico" - pode-se dar, mediando-se, para tal,uma acfio "terapeutica" de carater educativo e organizacional, Anosso ver sera esta uma das inumeras desembocaduras do "campo" daetnopsiquiatria, :I t nesse sentido que procuraremos vetorializar a obrade G. Devereux cujo exame perfunctorio, alias, demandaria todo urntrabalho analitico ainda inexistente 1. De certo modo, pols, pressu-poremos algrun conhecimento do leitor, ou teremos de nos contentarcomas indispensaveis remlssees, Nossa taref'a e , entretanto, facilitadaem parte pelo que poderiamos chamar de "manifesto etnopsiquiatrico",ou seja, as consideracoes introdutcrias e programaticas feitas por G.Devereux a "Ethnopsychiatrica" 2."A etnopsiquiatria - necessariamente concebida como etnopsica-nalise - e uma ciencia pluridisciplinar e nao interdisciplinar. Pareeeser a mais compreensiva dentre as ciencias do Homem, sejam puras,sejam aplicadas, tanto do ponto de vista diacronicc quanto sincronico.Reconhecidaau nao comotal, seu problema debase e aquele que subiaz

    a todas as ciencias do Homem: a relacao de complementaridade en-tre a compreensao do individuo e a compreensao da sociedade e desua cultura" 3.A etnopsiquiatria situa-se nos quadros da etnopsicologia de ori-entaeao psicanalitica, ou da antropologia pslcanalitiea que, relendorigorosarnente Freud e, assim, criticando os descamtnhos do funcio-nalismo e do culturalismo 4, rnarcou, com a obra monumental de GezaR6heim, tambem hungaro 5, as novas pistas da etnopsiquiatria psi-canaUtica. Remetemos 0 leitor aos sugestivos textos de FrancoisLaplantine 6 pelo que toea ao situcionamento de que falamos. Deve-

    mo-nos explicar porque etnopsiquiatria e porque 0 privllegio dado avetorlalizacao psicanalitica; emsuma, em queconsistea etnopsicanalise,R. Fac. Educ., 14(1) :23-34, 1988

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    GEORGES DEVEREUX, 0 PROJETO ETNOPSIQUIATRICO ... 25Por esse caminho engatamos, necessariamente, com a problema-tica epistemol6gica das ciencias do Homem, magnificamente explora-da par Devereux em "Da angustia ao metoda nas ciencias do compor-tamento" 7, Devereux atirmara, no referido "manifesto" - e isso

    constituira toda a trama do Iivro acima mencionado -, que a reflexacmetodol6gica sobre os caminhos especificos da etnopsiquiatria levara"1 \ radical revisao dos fundamentos epistemologicos da totalidade dasciencias do Homern". E isso sera intimamente ligado a opcao psica-nalitica do enfoque, po is as inrormacoes que permitiriam estruturar aetnopsiquiatria como uma investigacao do pressuposto de base de todasas ciencias do Hornem, qual seja, a relacao de complementaridade en-tre as compreensoes do indlviduo, da sociedade e da eultura, em suma,"a noefio de condicao humana", apontavam no sentido de que a (micapsicologia conveniente para 0 proposito etnopsiquiatrtco deveriaser aquela exclusivamente aplicavel ao Homem, de modo que s6 a psi-cologla psicanaUtica de Freud, na sua formulacao classica, pareciapreencher tal requisito'". Isto porque nas ciencias do Homem, oueiencia do comportamento, 0 problema do recobrimento entre 0 su-jeito e 0 objeto de conhecimento dimensiona de modo muito especificotal problema gnoseologico e a antropologia pslcanallttca, com as no-cOes de transferencia mas, para Devereux, sobretudo de contra-trans-ferencia, suscita candente linha de pesquisa,

    Em "Da angustia ao metodo", atraves de "treze teses escalona-das", que sao exatamente a condensaeao do conteudo do Iivro, Gear-Devereux procura mostrar que "0 estudo cientifico do homem" devese haver, inicialmente (proposicoes 1 a 4), com a questao da partici-r x u ; o o gu,jeito-objeto da pesquisa: tal participacao e eplstemologtca-mente constituttva da "objetidade" nas ciencias do comportamentrhumano, Em outras palavras, 0 objeto e 0 proprio sujeito e a difi-culdade de uma c1ivagem, como nas ciencias "exatas" - mas aquio universo da microfisica tambem estaria a desmentir uma neutrali-dade e objetividade totals, , .-, dAorigem a uma angustia (em rigorososentido freudokleiniano) que se move entre a exigencia tranquiliza-dora de urn rlgor/partilhade mundos/obiettvtdade/objetivacao - quefaz, entretanto, "perder a vida", nao captar a vida do objeto, redu-zindo-o segundo 0 "Abtotungsprlnztp" de Schrodinger-Bohr-Devereux- e a fantasmatlca de uma compensacao pela "participacao mistica"com 0 objeto. Em surna: a angilstia do pesquisar envolve-se gnoseologicamente e assistimos a uma oscilat;tlo pendular entre objet iva-r;;aa/fantasrnatiza.o e, portanto, a uma dupla tendencia reificadora, sejapelo lado da cristallzacao objetal, seja pelo lado da fusao objetal. Aprimeira tendeneia evidencia a dimensao eg6ica da ccnsciencia, a esqui-zomorfia do pesquisador: a segunda tendencia, a dimensao do "id", agliscromorfia do pesquisador. Por isso que a "justa medida" estara najusta concientlzacao de urn justo meio, que e a media{iio simbQlica comocO'J1..8titutiva do sujeito.-objeto (como diria Husserl), Isso implica, en-R. Far. Educ., 14( 1) :23-34, 1988

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    26 JOSE CARLOS DE PAULA CARVALHOtretanto, 0 tomar-se consclencia e a "perlaborw;ao" das deformat,;6esadvindas dessa oscilaeao entre "parcialidade da comunlcaeao" e "ple-nitude da comunicacao", 0 que envolve cuidar (proposicoes 5 a 7) dasprojeeoes e das Identificaeoes, das traneierencia, '11Ul8 sooretudo da8contratransierencias. E, uma vez que e incontornavel a participacaodeformante do pesquisador em sua angustia de saber (proposicoes 8 a11) "toda metodologia eficaz em ciencia do comportamento deve tra-tar tais perturbacoes como constituindo os dados mais significatrvose caracteristicos da pesquisa nessa ciencia", diz Devereux. E. "explo-rando a subjetividade inerente a toda observacao como via regia parauma autentica objetividade" (que e da ordem do que e possivel, naoda ordem do que deveria ser possivel. .. ), Devereux adverte para 0perigo de um deeoonnecanento desso pertUbarOes gnoseol6gica, epis-ternol6gica e ontolcgicamente constitutivas do pr6prio objeto das cien-cias do comportamento do homem: "Negligenciadas, ou embelezadasde modo defensivo pelas reslstencias de contratransrerencia, vestidascomo metodologia, tais "perturbaeoes" tornam-se a fonte de errosincontralados e incontrolaveis, ao passo que, quando sao consideradascomo dados fundamentais e caracteristicos das ciencias do comporta-mento, sao mats validos e aptos a produzirem tomadas de conscienciado que qualquer outro tipo de dados." 9. (proposicoes 12 e 13).

    Nesse sentido, como ciencia do comportamento e de seus fatoresconstitutivamente anxlogenos, como analise portanto nao s6 das pro-jeQoes como das contra-transferenclas camufladas pelas metodclogias,"e a etnopsiquiatria - a etnopsicanalise - fundamentalmente pluri-disciplinar - ate mesmo metadisciplinar... - e, assim, aquilo que,"do ponto de vista metodo16gico aplica-se a uma ciencia cujos dadossao uma complexa trama de variaveis biologicas, economicas, histo-ricas, socia is e culturais, cujo sistema de referencia abrange, simul-taneamente, 0 individuo e 0 grupo, aplica-se tambem necessariamen-te a cada urna das ciencias particulares do comportamento, conside-rada como urn "caso limite", .. 10

    Por que etnopsiquiatria?Vlmos 0porque da orientacao psicanalitica e, pais, etnopsicanaltse.Precisamos, agora, detectar 0 significado da cultura. Se 0 campo daetnopsiquiatria se define como "a relacao de complementaridade entrea compreensiio do individuo e a compreensao da sociedade e de suacultura", G. Devereux foi 0 primeiro elentista social a utilizar 0 "prin-

    cipio de complementaridade" 11 de Bohr no campo das ciencias do Ho-mem ao propor, sem as facilidades de uma superficial pslco-soclologla,e definir as exatas condicoes de uma complementaridade entre ascompreens6es psico16gica e sociologica POl' onde, ao mesmo tempo,desenvolvia sistematica critica - POI' uma recondueao aos limites devalidade da explicacao, atraves de "Abtotungsprtnztp" - ao "relati-vismo cultural", ao "redueionismo do materialismo historico e da cul-R. Pae. Educ., 14(1) :23-34, 1988

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    GEORGES DEVEREUX, 0 PROJETO ETNOPSIQUIATRICO ... 27turologia", ao "irracionalismo regressive" da modemidade e ao "or-ganicismo prlmario" do behaviorismo 12. Desde esse foeo critico podeo autor situar 0 no das significacoes interattvas complementares en-tre indlvlduo/sociedade/cultura no importante conceito de "personali-dades modais" 13, rigorosa recondueao do descaracterizado tema dapersonalidade basica", A importancia da noeao de cultura como media-~o simbolica emerge quando G. Devereux, no referido "manifesto",estabelece que "todo conhecimento sobre a sociedade e a culturarepausa sabre dois principios: 10 patrim6nio genetico de "homosapiens" nao e 0 de uma especie dita "social" (abelhas, termites, etc.),mas 0 de uma especie gregaria, .. 0 patrtmonio genetico e a "Anla-ge" de "homo sapiens" permitiram-lhe constituir sociedades cuja es-trutura e regras de funcionamento, no indicativo ou no imperative,podem ser enunciadas. 2Q E inadmisslvel atribuir 0 equivalente de urnpsiquismo a sociedade" 14. No capitulo XV dos "Ensaios de etnopsi-quiatria geral" - exatamente 0 artigo ."Os fatores culturais em tera-peutlca psicanalitica" -, ao explanar sobre "a cultura como caracte-ristica hurnana", G. Devereux estabelece uma "axiomatiea", cuja de-monstracao fora objet a dos anteriores capitulos. Distinguindo entreo "homo sapiens" ("genus homo"), organismo biologico, e 0 "homem",ser humano, Georges Devereux elenca dezessete proposicoes-conclusoes.As proposlcdes 1 e 2 estabeleeem que 0 proeesso evolutivo de homi-nizacfio (0 "genus homo") e urn proeesso de diferenciacao e de mdivi-duacao, por onde se delineiarn as "constancias da natureza humana"ou os traeos do "genus homo": diferenciaeao, Indivlduacao, plastlcl-dade e variabilidade de comportamento; em suma, 0 processo da neo-tenia hurnana, em termos etologicos. Entretanto (proposicoes 3 a 5),tal "potencial biologico unificado e coerente" manifesta-se atraves deuma aquisiCao dupla, que 0 cristaliza como "ato": 0 psiquismo huma-no e a cultura.

    Assim, tais invariancias au universais do comportamento humanosao, entrernentes, criacoes da natureza socto-cultural do "homem", ouseja, com os etologos, 0 homem e urn ser naturalrnente cultural. Es a o portanto correlatas, em termos funcionais e metodol6gicos, asnoeoes de psiquismo humano e cultura; assim, a cultura e , em pro-fundidade, como 0 mostrara ROheim 5, urn processo de sublimacao: porurn lado, urn camutador libidinal, por outro lado, urna ampliftcacao dopotencial bioI6gico do "genus homo" como regressao da programacaogenetica e complexlficacao das competencies organizacionais. Por issoa eultura majora, e nfio "restringe" (tal e 0desenvolvimento das pro-posi~s 6 a 8), 0 comportamento humano 0 que SUPDe, entretanto,que se trace uma distin~iio - ja trabalhada em Roheim 5 - entreneurose e subllmaeao e, portanto, entre "sociedade sadia" e "soeieda-de doente".

    Por urn lado, com R6heim, nao s6 a "neurose isola e a sublimaeaoune" - 0 que marea a "vccacao cultural" e "vincular" da sublima-R. Pac. Educ., 14(1):23-34, 1988

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    28 JOSE CARLOS DE PAULA CARVALHO~ao -, mas, com Devereux, a sociedade "sadia" favorece "a atuali-za~ao mais completa do potencial de indivlduacao e diferenciacao",enquanto a sociedade "doente" nao pode tolerar a "individuacao e assublimaeoes individualizadoras", sendo uma empresa da "desdiferen-ciaeao, da desindividuacao, da supressao, do recalcamento e das for-maeoes reativas sobretudo". 0 comportamento dos individuos normaise "estruturado", para 0 observador, pelo sistema de referenda cultu-ral, enquanto 0 sistema de referencia psicanalitieo permite a estrutu-racao do cornportamento de individuos "anormais", As "desordens dapersonalidade" sao uma "regressao da condicao de "hornern" it de"homo sapiens" e eis porque as diferencas remetem ao sistema cultu-ral, ao "hornem", e as similaridades ao "genus homo"; por onde, nasocio-pslco-patologia, a "anormalidade" e mais "compreensivel" emtermos de referenciacao biologica do que s6cio-cultural (proposicoes9 a 15). Assirn 0"modo pelo qual 0individuo vive e manipula osmateriais culturais" e de imenso valor diagnostico e, segundo as pro-posieoes 16 e 17, "0 pslcanalista deve cornpreender perfeitamente anatureza e a fun~ao da cultura considerada em si mesma - a despeitode tal ou qual cultura particulares -, nfio s6 porque llda com urnfen6meno universal, exclusivarnente caracteristico do homem, mastambem porque as categorias gerais da cultura - que nao se deveconfundir com conteuio eventual de tais categorias numa cultura de-terminada - sao fenomenos universals" 15.

    Apes a citacao desse "programa" etnopsiquiatrico, vemos que 0homem e, como dizem OS etologos, urn ser "naturalmente cultural" eque a cultura "an sich" e urn universo de regras (no sentido levis-traussiano) ; que, em ultima instancia, 0 "homem" e 0 cenario, 0 agen-te e 0 observador dos embates entre as matrizes universais do espiritohumano - a cultura "em si", seus "transcendentais" e 0 psiquismo,alias esse definido por G.Devereux nfio so em termos de sistema cons-ciente, mas de urn inconsciente "idiosslncrasico" e de urn inconsciente"etnico" 16 - e aquilo que, com os et61ogos - e Devereux deve aRoheim, que deve a Bolk -, chamariamos de "neotenia". Nesse ern-bate entre as "categorias do Spirito humano" e a plasticidade ne6tena,entre as invarfancias e as combinatorias, desponta a criatividade, quee exatamente funeao das interrelaeoes cultura-psiquismo, E exata-mente aqul se poe a releitura das relaeoes entre sublimacao e patolo-gia, no sentido de uma redefinieao de "etnopsiquiatria".

    Devereux observa, no referido "manifesto", que 0 "negativismosistematico, que se pretende critica social cientifica", ao denegrir acultura "em si", nao consegue explicar, segundo essa teoria da mal-dade da sociedade, porque os seres humanos nao sao constantementedestrutivos mas tambem criativos, sobretudo atraves das obras de civi-lizaQao. Nem porque toda sociedade nao acua 'todos seus membros itloucura e ao suicidio - em posiCao contraposta a toda facil anti-psi-R. Fac. Educ., 14(1) :23-34, 1988

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    GEORGES DEVEREUX, 0 PROJETO ETNOPSIQUIATRICO ... 29quiatria - e nem porque a eclosao da individualidade nao significa,"per 00", uma elisao da socialidade. Assim, "0 conceito de base daetnopsiquiatrla deve ser 0 concerto de sublimacao, nao 0 conceito depatologia. Ora, 0 processo de sublimacao e especifico ao ser humano.Somente ele disp5e da capacidade de explorar urn material psiquicoarcaico - freqilentemente neurotico - de modo criador, Alem dissoele 0 faz sem a menor diminuieao - quantitativa au qualitativa -da capacidade de desfrutar, especifica do carater vgenltal, maduro,Essa ausencia de qualquer perda do prazer e devida ao fato de Eros,ao inves de dispender sua energia na sublimacao, desempenhar em talprocesso uma funeao meramente cibernetica" 17. Alem disso, observaDevereux nessa valorlzacao da polesls cultural, devemos distingutrentre "a analise do material sublimado e do processo de sublimacao"e a "analise dos produtos da sublimacao": a etnopsiquiatria deve se-guir os passos do "Moises" de Michelangelo, nao de "Uma lembraneade intancla de Leonardo da Vinci", ambos de Freud. Par isso aetnopsiquiatria - no sentido das tres raizes gregas: "tratamento vi-sando it cura" agenciando as personalidades modais - reorientadaconserva, ainda, 0 legado positive Inicial da patologia social. Eviden-temente nao sera 0 referencial basico da elaboradio - e nisso incor-reu grande parte da psicanalise, exatamente por problemas contra--transferenciais nao assumidos: a analise do "canibalismo dos pais"e da anterioridade causativa do "complexo de Laio-Jocasta" e eon-tundente para 0 "establishment" psicanalitico e tambem exemplar,como a analise das fabricacdes da alteridade 19 pelo psicanalista, quenao tematiza suas contratransferencias par sob teoria e pratica eli-nica -; nao obstante, conserva urn significado reconduzido de modoaltamente criativo, seja em termos de individuo ou de grupo comoreferenciais, no caso da nocao "stress" 20 au no caso de uma "tipologiaetnopsiquiatrica" 21 (0 revelho e atuallssimo problema posto por Freudde se deserever a patologia dos grupos socials, as "sociedade ensande-cidas", como POl' essas bandas de atual Brasil estamos aver ... e aesperar uma analise etnopslquiatrica).

    Em ambos as casos, a recondueao da positividade de uma preble-matica pato16gica e assim posta por Devereux: "0 termo "iatreia"Implica as nocoes de "doenca" e "saude", e pressupoe que 0 tratamen-to de uma doenca pode substitui-la pela saude, Par sua vez a ideiado tratamento implica que a doenea e urn mal, a saude urn bern e 0tratamento da doenea urn bern incondlcional. Tais suposicoes levamdiretamente ao problema focal de uma teoria moral segundo a qual eimposslvel ligar, de modo logieamente inquestionavel, "aquilo que e"ao "que deveria ser"; a nocao de "valor", e mais ainda a noeao de uma"hlerarquia dos valores", sao inseparaveis dessa problematica, Ora,desde 1941 C'Curso de patologia 'Social"), formulei urn metoda bas-tante simples, excludente de todo juizo de valor aprioristico, e possi-bilitando desvendar, par rneios identfdos, a patologia, tanto a nivel de

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    30 JOSE CARLOS DE PAULA CARVALHOindividuo como a nivel socio-cultural. Seja urn individuo - ou urngrupo - que visa urn alvo de sua propria escolha, de modo que naocabe ao etnopsiquiatra formular urn juizo de valor. Se a consecucaodesse objetivo produz uma situacao de "stress", que e apresentada pelo"sujeito" (individuo ou grupo) como tal, e se todos os esforcos paraatenuar tal "stress", recorrendo a novas contramedldas que, reforean-do, s6 fazem aumentar 0 "stress", 0 "sujeito" e captado na engrena-gem de urn circulo vici080. A presenea de tal circulo vicioso caraete-riza toda psicopatologia individual e toda patologia social. ." 22,

    Impossivel aqui detalhar 0 famoso texto "Normal e Anormal" 2ae 0nao menos denso ensaio "A etnopsiquiatria como referencial napesquisa e pratica clinicas" 24: G. Devereux, considerando as nocoesde adaptacao/subltmaeao, os tipos de inconsciente, os traumatismos esistemas reativos, por urn lado e, por outro lado, as eixos do compor-tamento (bioIOgicos,experieneiais, culturais e neuroticos) estabelece,para diferentes culturas it base da nocao de eultura em si, os meea-nismos dos conflitos e solucoes tipicos. Isto e , desenvolve tanto umatipologia etnopslquiatrica das desordens de personalidade (desordens"sagradas", desordens etnicas, desordens-tipos e desordens idiossin-crasicas) como dos rnodos de viver e manipular as traces culturais(normalidade, imaturidade, neurose, psicose e psicopatia), tendo porreferenciais seja 0 individuo seia 0 grupo, 0 sentido da mtervencaopsicanalitica e dado, em termos genericos, pelo proprio escopo da tera-pia analitica.

    Em se tratando da etnopsicanalise, conquanto persistam 0 escopoe os mecanismos processuais da intervencao, caberia distinguir, comDevereux 25, tres tipos de psicoterapias de tipo etnopsiquiatrlco: 19Intracu1tural: 0 exemplo classico e 0 texto de Tobie Nathan, "Sexua-lidade ideologica e neurose" 26. Aqui 0 terapeuta e 0 paciente perten-cern ao mesmo universo cultural e ao primeiro cabe reter as inciden-cias s6cio-culturais no trabalho de elaboracao, seja na 6tica etiol6gicada perturbacao, seia no evolver do quadro analitico. 2~Intercultural:o exemplo classico e 0 texto de G.Devereux, "Realidade e Sonho" ~/.Conquanto pertencendo a distintos universos culturais, 0 terapeutaconhece em profundidade a cultura-referente do paciente, usando-acomo alavanca terapeutica visando, entretanto, it "auto-abollcao final"da alavanea cultural. 3 Transcultural ou Metacultural: terapeuta epaciente pertencem a universos culturais distintos; 0 terapeuta naoconhece a cultura etnica do paciente compreendendo, entretanto, emprofundidade, 0 conceito de Cultura em si, cuja dinamlca (exposta nasdezessete teses da "axiomatica") e utilizada de modo diagnostico evetorial. Temos aqui 0 alvo da meta etnopsiquiatrica na sua Ultimaelaboraeao: uma mtervencao passiva que enseia a autonomia e a cria-tividade, individual e/ou grupaI. Devereux afirma: "... a elaboraeaode uma psiqulatria autenticamente metacuZtural e meta/etnograflcaesta fundamentada na real compreensao da natureza e da fun~ao gene-R. Fac. Educ., 14(1) :23-34, 1988

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    GEORGES DEVEREUX, 0 PROjETO ETNOPSIQUIATRICO ... 31ralizada da cultura em si, tal como e vividaem toda parte pelos mdi-viduos normais e por diferentes tipos de pacientes psiqufatricos, Apratica da psicoterapia meta cultural exige uma neutralidade culturaldo analista analoga a neutralidade afetiva que dele se espera .na situa-~ao analitica com relaeao a s suas proprias necessidades infantise neu-roticas residuais" 28. E, por fim, "0 fim ultimo da pesquisa etnopsi-quiatrica deveria ser a exploracao e compreensao da sublimacao: danatureza da eriatividade e do clima socio-cultural que a favorece" 2 1 1 .Engatamos aqui diretamente com as ilacOes educo-organizacionais do"proieto'' etnopsiquiittrico.

    Muitas sao as ilacoes, de carater generico, e mais ainda os estu-dos especificos esperando por serem feitos. Por isso preferimos, aqui,levantar as linhas de pesquisa e conslderacoes temattcas,As proposicoes 39 e 59 do aeima referido capitulo XV dos "En-saios de etnopsiquiatria geral", ao conectar, em termos de essencialeorrelacao constitutiva, 0 psiquismo e a cultura atraves do "substra-to rantasmatico" como dominio do Inconsciente atemporal, permiterepensar a nocao de "natureza humana" - como a antropologia psi-canalitica de G. R6heim ja estabelecera, assim renovando a preble-matlca antropo16gica basal da diversidade cultural e da unidade dohomem, a questiio candente de como pensar a "unitas multlplexv w- e, ao mesmo tempo, do "inconsciente etnico", por onde teriamos,seja com referencia ao individuo, seja com referencia aos grupos, a

    possibilidade de se pensar nos universals do comportamento humane,fundamentalmente produtor de cultura e, pois, de simbolismo. Assimpoderiamos pensar a eficacia e os parametres de uma a~ao terapeuticae, na medida em que, em profundidade, para 0 solo psicanalitico comopara a etnopsicanalise, lidamos com processo de transformacao daspersonalidades modais, a ac;:ao terapeutiea e uma aeao educativa eorganizatoria, e vice-versa, pois sao modos ou formas de organizaeao,e orientacao, da energia libidinal atraves dos processos de sublima-Qao e suas Meoras institucionais.Poderiamos retomar a problematica dos fundamentos da acao edu-cativa que, fundamentalmente repensados em termos da cultura em sie suas categorias, passariam a ser imantados pelas noeao de neoteniaque, ao mesmo tempo, forneceria, em termos de orientacao da acaosocio-cultural, 0 referencial para se pensar as formas e 0 curso dapatogenia social (na medida exata em que for evidenciado 0 "stress"e seus indutores). 0 estudo dos etnogrupos 31 permitiria nao so evi-denciar a importancia, pelo lado da diversidade, do levantamento dosmapas de realidade, das "cartas conscienciais" dos grupos - e daquiemergiu, por exemplo, a importante teoria da "aculturacao antagonls-

    ta" 3 :1, sobretudo para 0 prop6sito educativo-terapeutico-organizacional-, evitando as proj~6es e contratransterencias etnocentricas do edu-R. Fac. Educ., 14(1):23-34, 1988

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    32 Jose CARLOS DE PAULA CARVALHOcador-terapeuta 33, como tambem, pelo lado da unidade do homem,possibilitaria 0 levantamento de series criticas a base dos universaisdo comportamento.

    Em suma, quer consideremos os individuos, quer 0 grupo, quersuas interacoes, a etnopslcanalise encaminha proposicoes no sentidode urn centramento da a!;aOterapeutica e, pois, educativo-organizacio-naI, no problema da diferenca e da unidade e no trabalho da alterida-de, cujo desconhecimento e de tao nefastas consequenctas para a a!;aoeducativo-organizacional. Agora, se educadores e gestores nao se con-formam com 0 "valor' , neotenia, sendo portanto eltciados pelo cursopatogenlco da organizacao libidinal segundo a tipologia etnopsiquia-trica das desordens de personalidade ... e 0 curso da civilizaeao urba-no-industrial e seu colonialismo endossam, infelizmente, tal "deso-rientacao" ... bern, esse e urn problema sem duvida politico, mas comque deve se haver, mas nao so de modo "teenico", mas tambem naoso de modo "politico", a construcao de urn projeto etnopsicanaliticoque sera, no fundo, e em ultima instancia, tambem uma "praxeolo-gia", conquanto "cOncava".

    Poderiamos, desde entao, pensar a sentido da Intervencao educa-tiva, como ilacao do projeto etnopsiquiatrico, Como sugerimos, emtermos etnopsicanaliticos, a acao terapeutica, a acao educativa e aaCao organizacional se recobrem exatamente na medida em que saoformas de organizacao da energia libidinal e de suas ccnfiguracoes.Poderiamos captar, de modo menos "tecnico", mas infelizmente menosrigoroso, tal disposicao, no sentido em que inspirados pelo projeto psi-canalitico restrito, Lyotard, Lapassade e Lourau 0 fazem. 34 Entre-tanto a projeto etnopsicanalitico nos brinda nao so com maior rigornesse senti do, e com amplificacoes de otica, mas sobretudo com 0 tra-tamento do campo que lhe e especiflco, a par de precisas tecnicas e deprecisas terapias. Portanto, devem estar articuladas terapia, educa-cao e organizacao, orientadas pelc "valor" (na realidade, fundamento)neotenia, pela poiesis cultural e processos de sublimaeao, pelos mva-riantes do comportamento (0 "homem" e 0 inconsciente") e pela abor-dagem dinamica da patogenia socio-cultural. Nesse senti do e da maiorimportancia 0 ate de a educador ser educado e perceber sua implica-~o no processo - par isso R. Hess viria a desenvolver uma "peda-gogia implicativa'' as - que 0 torna freqiientemente vitima e tantomais quanto menos consciencia tiver de si e da axiologica de seu gru-po e de sua cultura; seriamos levados a desejar uma "supervlsao" daaeao educativa no sentido em que, obrigatoriamente, deve haver, paraanalistas, uma analise didatica - de suas projecoes e contratransferen-cias, nao so como toda e qualquer pessoa a elas esta sujeito, mas comopesquisador e sobretudo como educador .. Assim, a problematica epistemologica, pela qual comecamos essetexto, nao e mera questao gnoseologica no caso do educador, e sobre-

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    GEORGES DEVEREUX, 0 PROjETO ETNOPSIQUIATRICO ... 33tudo aqui porque 0 educador sofre a compulsao do "dever ser", do"gerir psiquismos" ... cotsa da mais alta responsabilidade, e do maiorperigo, se ele verdadeiramente nao sabe quem ele e na profundidade desuas mascaras "humanitarias". Nesse sentido Devereux lembra: "Todaobra sobre 0 Homem importa ao hornem de tal mane ira que tsso deveser evidenciado sem meandros, Creio que 0Homem nao tern necessi-dade de ser salvo de si mesmo; basta deixa-lo ser 0 que e . 0 mundoprecisa mais de homens do que de "humanistas", A Grecia do sec. Vera simplesrnente humana; tornou-se "humanista" reagindo aos horro-res da guerra do Peloponeso. Combatendo em Maratona, Esquilo, au-tor das "Eumenides", nao era urn humanista. SOCrates, figura de tran-sicao, ainda era mais hornem que humanista. Platao era urn hurna-nista porque, em nome da humanidade, tentou salvar a humanidadede si mesma. Toda filosofia da opressao esta arraigada na filosofiade Platao (Popper), cuja filantropia era desprezivel porque tratava 0hornem como objeto de contemplacao e de manipulacao. Nesse sentido,o analista do comportamento que se diz "sobrio" e urn desprezivel fi-lantropo - um simulacro de "humanista". Uma ciencia do compor-tamento autentica existira quando aqueles que a praticam se deremconta que uma ciencia realista da humanidade nao pode ser criadasenao por hornens que sejam os mais conscientes da propria humani-dade, 0 que acontecera precisamente quando dela lancarem mao total-mente na elaboracao do proprio trabalho cientffico" ~ti.

    SUMMARY: In quest of the sense a "praxiatry", the texte shows up theeducational and organizational implications of G. Devereux' ethnopsychiatric project.KEY-WORDS: Psychoanalytic anthropology. Ethnopsychiatry and Ethnopsy-choanalysis. Counter-transference and Metacultural Psychiatry. Man and "Kulturand sich". Difference and "alterite", Therapeutic Education and Organization."Sociatrie" and "Praxiatry",

    REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS1. As pgS. 376-380 de Essais d'etnopsychiatrie generale - trad, T. 301as e ll. Gobard.

    Paris, Ga.llimard Tel, 1977. 0 leltor encontrar:l. extenso levantamento btbliogn\!icode G. Devereux.

    2. Ethnopsyllhlatrlca.: revue semesk':ielle bilinglie (quatro numeros) e Nouvelle Revued'EthnoPlychldl'ie (cinco mlmeros), Gre.noble, Jl:d. La pensee sauvage ou JIld. deIa Maison des Sciences de I'Bomme.

    3. L'EthnopsychJa.trle - G. Devereux. In: Ethnopsychiatriea 1.1. 1978, p. 7. Grenobk>,lld. La. pensee sauvage, 1978.

    4. ROHEIM, ~za. l'sycha.n.alyile et Anthropologie: culture-personnaUteincol18Clent.Trad. M. Moscovlci. Paris, GalIlmard, 1967.

    5. DADOUN, Roger. Geza lUihelm et I'eIIsor de l'anthropoloaie psychanBlytique. Paris.Payot, 1972.

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    34 Jose CARLOS DE PAULA CARVALHO6. LAPLANTINE, Francois. L'ethnD{lsych1a.trI.e. Paris, l!:ditions Universttaires, 1973.

    L'antiu'opologie. Paris, Seghers, 1987.7. DEVEREUX, Georges. De I'llnllloi..se it la methode! dans los sciences du cOlliporiOlnent.

    Trad. H. Slna.ceur. Paris, F1arnmarion, IIffiO.8. Ethnopsychiatriea 1.1. p. 7.9. DEVEREUX, Georges. De Pangolsse .. p. 16-17.10. Idem p. 30-31.11. DEVEREUX, Georges. EthnoplJychanaJyse eompIementariste. Trad. T. Jolas e H.

    Gobard. Paria, Flarnmarion, 1 985 . (Argument, Chap. I).12. Ethnopsychiatria 1.1. p. 11.13. DEVEREUX, Georges. EthnopsycbanAlyse oompit'lmentari8te. .. (Chap. III-lV-V).14. Ethnopsyehiatriea 1.1. p. 8-9.15. DEVEREUX. Georges. Essais d'ethnopsychiatrie g(m6rale. .. p. 333-338.16. Idem, p. 4 seg.17. Ethnopsychiatrica 1.1. p. 10.18. DEVEREUX, Georges. Essais d' ethnopsychiatrie generale... Chap. IV e V: Ethno-

    psyehanalyse CQmpJementariste... Chap. VII.19. Idem, p. 139-142.20 . DEVEREUX, Georges.21. DEVEREUX, Georges.

    Ethnopsychanalyse compI6mentatiste... Chap. II.Essais d'cthnopsychlatrle g6~rale. .. p. 13 sell'.

    22. Ethnopsychiatrica 1.1. p. 9.23. DEVEREUX, Georges. Essais d'ethnopsychiatrie generale. .. Chap. 1.24. Idem, Chap. II.25 . Ethnopsychiatriea 1.1. p. 11-12.26. NATHAN, Tobie. Sexualite ideologiqu.e et nevrose. Grenoble.ll:d. La pensee sauvage,

    1977.27. DEVEREUX, Georges. Reality and Dream: the psycbotherapy of a Plains indian.

    N. York, Harpel', 1969.28. DEVEREUX, Georges. Essais d'ethnopsychiatrie generale... p. 6.29. Ethnopsychiatrica 1.1. p. 12.30. ROHEIM, Geza. Op, cit. Chap. x.31. DEVEREUX, Georges. Ethnopsychanalyse complementariste... Chap. VI.32. Idem, Chap. VUI.33. DEVEREux, Georges. Therapeutfe EdWlaUOD. Harper Brothel's, N. York, 1958.34. LYOTARD. Jean. L'ooonomie libidinale. Paris, Ed. Minuit, 1974.

    LAPASBADE, Georges. Reeherches institutionnelles ; 4. Sooia.naly..., et Porenilelhnmain. Paris, Gauthier/Villars, 1976.

    LOURAU, Rene. El anAlisis instltucioIUiJ.. Trad. N. Labrune. B. Aires, Amort-or tu,1975.

    35. HESS, Remy, La pedagogie insiituUonnelle. Paris. J.P. Delarge, 1975.36. DEVEREUX, Georges. De l'angoUlse iO III metbode. .. p. 20-21.

    (Recebido em 26-68-87e liberado para publiClll!8.o em 18-03-88)

    R. Fac. Educ., 14(0 :23-34, 1988