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Um diagnóstico de uma cooperativa de castanha de caju segundo os fatores inibidores de competitividade e do sistema de monitoramento de arranjos produtivos (SIMAP) Danilo Gonçalves Cavalcante (UFERSA) [email protected] Francisco Firmino da Silva Neto (UFERSA) [email protected] Júlia Lorena Marques Gurgel (UFERSA) [email protected] Robson Aécio Pontes Gama () [email protected] Breno Barros Telles do Carmo (UFERSA) [email protected] Resumo O dinamismo na economia, aliado a globalização dos mercados, obriga as empresas a se tornarem cada vez mais competitivas frente a seus concorrentes. O presente artigo tem o objetivo de determinar o posicionamento estratégico de uma empresa produtora de castanha de caju estudadas perante o mercado. Com o mapeamento da cadeia em questão foi possível identificar em qual elo a cooperativa está inserida. A segunda etapa consistiu na análise dos fatores inibidores de competitividade referenciados no livro “Arando o Mar” de Fairbanks e Lindsay. Juntamente com a análise SWOT foi possível observar forças, fraquezas, oportunidades e ameaças da cooperativa em estudo. A Segunda parte da pesquisa teve como foco a identificação de benchmarking no arranjo. Foi realizado uma nova visita em outra cooperativa localizada no município de Apodi-RN, onde foi aplicado o mesmo questionário utilizado no na empresa objeto de estudo, os dados coletados nas duas cooperativas foram compilados pelo SIMAP que gerou gráficos informando a situação competitiva das cooperativas em relação ao setor. Palavras-chave: Cooperativas; cadeia produtiva do caju; Fatores inibidores de competitividade; SIMAP.

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Um diagnóstico de uma cooperativa de castanha de caju segundo os

fatores inibidores de competitividade e do sistema de monitoramento

de arranjos produtivos (SIMAP)

Danilo Gonçalves Cavalcante (UFERSA) [email protected]

Francisco Firmino da Silva Neto (UFERSA) [email protected]

Júlia Lorena Marques Gurgel (UFERSA) [email protected]

Robson Aécio Pontes Gama () [email protected]

Breno Barros Telles do Carmo (UFERSA) [email protected]

Resumo

O dinamismo na economia, aliado a globalização dos mercados, obriga as empresas a se tornarem

cada vez mais competitivas frente a seus concorrentes. O presente artigo tem o objetivo de

determinar o posicionamento estratégico de uma empresa produtora de castanha de caju

estudadas perante o mercado. Com o mapeamento da cadeia em questão foi possível identificar

em qual elo a cooperativa está inserida. A segunda etapa consistiu na análise dos fatores

inibidores de competitividade referenciados no livro “Arando o Mar” de Fairbanks e Lindsay.

Juntamente com a análise SWOT foi possível observar forças, fraquezas, oportunidades e

ameaças da cooperativa em estudo. A Segunda parte da pesquisa teve como foco a identificação

de benchmarking no arranjo. Foi realizado uma nova visita em outra cooperativa localizada no

município de Apodi-RN, onde foi aplicado o mesmo questionário utilizado no na empresa objeto

de estudo, os dados coletados nas duas cooperativas foram compilados pelo SIMAP que gerou

gráficos informando a situação competitiva das cooperativas em relação ao setor.

Palavras-chave: Cooperativas; cadeia produtiva do caju; Fatores inibidores de

competitividade; SIMAP.

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1. Introdução

Uma das atividades mais importantes para a economia da região do semi-árido nordestino é a

produção do caju, podendo ser utilizado como matéria prima em variadas indústria do segmento

alimentício.

Um fato interessante a ser ressaltado neste ponto é que a produção da matéria-prima se dá, em

grande parte, em propriedades de pequenos agricultores. Em muitos casos, como é o que será

estudado no presente artigo, estes produtores se organizam em cooperativas para obter maior

representatividade diante da indústria da qual são fornecedores.

A grande questão que envolve esta cadeia, porém, se refere em como aumentar o valor para estas

pequenas organizações perante as indústrias do ramo alimentício que são os clientes destes

produtores. A fim de avaliar este fenômeno, o presente artigo busca estudar uma cooperativa de

produção de castanha de caju da região do semiárido nordestino a fim de avaliar dois pontos

básicos:

a) Analisar os fatores inibidores de competitividade neste arranjo produtivo, sob a ótica

desta cooperativa;

b) Analisar a aplicação das ferramentas de gestão dentro desta cooperativa por meio do

benchmarking.

Para o primeiro caso, procurou-se observar o padrão dos inibidores de competitividade propostos

por neste arranjo por Fairbanks e Lindsay (2002), relacionando-os em um estudo de caso feito na

cooperativa de beneficiamento artesanal de castanha de caju, localizada em Serra do Mel-RN.

A fim de monitorar e analisar o desempenho da cooperativa frente à cadeia produtiva na qual está

inserida foi adotada a metodologia do Sistema de Monitoramento de Arranjos Produtivos

(SIMAP), que é baseado em uma ferramenta de benchmarking para a gestão de arranjos

produtivos através da internet. Com isso, a metodologia SIMAP foi aplicada na cooperativa da

região de Serra do Mel e em outra cooperativa do mesmo segmento, localizada na cidade de

Apodi-RN.

Na busca por oportunidades de crescimento, elaborou-se uma matriz SWOT, para a identificação

das forças, fraquezas, oportunidades e Ameaças. Com o objetivo geral de reconhecer as

dificuldades enfrentadas pelos produtores e resolver os gargalos que dificultam a eficiência da

produção, bem como diminuir desperdícios e fortalecer o grupo, já que cada produtor trabalha de

forma independente e a melhor integração poderá ser a chave para o desenvolvimento regional.

O presente artigo está estruturado da seguinte forma: primeiro serão apresentados alguns

conceitos referentes a arranjos produtivos, bem como os fatores de competitividade analisados;

em seguida, será contextualizado o sistema utilizado para a realização do estudo de desempenho.

Por último, será apresentado as etapas da pesquisa com seus resultados, finalizando com as

conclusões do estudo.

2. Revisão de Literatura

2.1 Arranjos Produtivos Locais

Carmo et al. (2009) identificam um Arranjo Produtivo (AP) como uma “estrutura intangível”,

onde as empresas interagem entre si e com atores locais na busca de vantagens competitivas e

soluções para problemas comuns. A importância do conceito complementa o enfoque das

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empresas de forma isolada. A expansão dos APs implica uma revisão dos conceitos e formas de

se analisar a competitividade empresarial, surgindo abordagens como competitividade sistêmica

Albertin (2003) e modelos como do diamante Porter (1993) e conceitos como capital social,

sistema de inovação regional, eficiência coletiva, entre outros.

Para chegar à definição de Arranjos Produtivos Locais é necessário ampliar a visão para o

conceito de Sistema de Produção Agroindustrial e sua relação com os arranjos. Batalha & Silva

(2007), definem o Sistema Agroindustrial (SAI) como o “conjunto de atividades que concorrem

para a produção de produtos agroindustriais, desde a produção de insumos (sementes, adubos,

máquinas agrícolas, etc.) até a chegada do produto final (queijo, biscoito, massas, etc.) ao

consumidor final”. Assim, pode-se observar que a estrutura de um APL agroindustrial passa deste

a produção no campo até o beneficiamento na indústria alimentícia.

Mori et al. salienta que:

a noção de sistemas agroindustriais tem suas origens no pensamento sistêmico e

desenvolvimento nas escolas de economia industrial francesa (Analyse de Filière) e

americana (Commodity System Approach) como base para análise dos sistemas

produtivos a partir de um determinado produto final, foco da abordagem francesa, ou

explosão de produtos a partir de uma dada matéria-prima, foco da abordagem americana.

De maneira geral, a abordagem focaliza o fluxo dos processos, estruturas e relações de

produção e distribuição de um determinado produto ou matéria-prima considerando

desde a extração ou produção de matéria-primária até pós-venda e disposição final.

Observa-se que o estudo de sistemas agroindustriais converge para o conceito de Cadeia

Produtiva Agroindustrial no caso de sistemas complexos que envolvam produção,

industrialização e comercialização e incluam todas as atividades de suporte relacionadas sejam

administrativas, financeiras, fiscais, regulamentares, de marketing ou logísticas.

A grande questão por trás dos APLs se dá na forma com que se avalia a competitividade dos

mesmos, sendo necessário definir critérios para se avaliar o desempenho dos mesmos. Para tanto,

deve-se utilizar modelos de avaliação qualitativos e quantitativos. Para o primeiro caso, existem

algumas fatores de avaliação, como os que foram propostos por Fairbanks e Lindsay (2002).

Através da matriz CPC (comprar, produzir ou cooperar), que ajuda os gestores a determinar a

maneira mais adequada de conduzir suas atividades de comprar do mercado, produzir

internamente ou cooperar com um parceiro segundo CHILD et al. (2005) é possível tomar

decisões estratégicas onde uma organização deve investir seus esforços. No segundo caso, uma

análise mais quantitativa existe modelos que avaliam o desempenho das organizações segundo

fatores mais práticos, como o nível de desenvolvimento da empresa segundo a aplicação das

ferramentas de gestão, como é o caso do SIMAP. Para alinhar as vantagens dos dois casos, pode-

se realizar uma análise conjunta, observando estes dois pontos de vista. Em seguida são

apresentados os conceitos referentes aos dois modelos utilizados como ferramenta deste estudo

de caso.

2.2 Fatores de competitividade – visão de Fairbanks e Lindsay

Fairbanks e Lindsay (2002) entendem que existem alguns fatores que devem ser avaliados para

analisar a competitividade de um determinado arranjo produtivo. São eles: tipo de produto

exportado (nível de complexidade do mesmo), nível de conhecimento do mercado, nível de

entendimento do posicionamento competitivo da empresa, nível de entendimento das

oportunidades de integração, nível de cooperação entre as empresas, nível de entendimento do

tipo de raciocínio das empresas e o nível de paternalismo presente na cadeia produtiva.

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Segundo Carmo et al. (2009), estes fatores avaliam em qual nível de desenvolvimento se encontra

um AP, considerando uma série de fatores que indicam a dependência do AP do governo, dos

fatores primários de competitividade, relações de confiança entre as empresas e com o governo,

entre outros. O Quadro 1 explicita cada uma destes fatores que foram ferramenta de análise para

o arranjo em estudo.

Fator inibidor Caracterização

Tipo de produto exportado

Está relacionado com o produto resultante do AP em estudo. São considerados neste fator: abundância de matéria-prima, abundância de mão-de-obra barata, qualidade do solo e clima, e localização geográfica estratégica

(FAIRBANKS et al., 2002). Quando se dispõe de muita matéria-prima e com relativa facilidade de exportação, pode-

se cair em uma grande armadilha que trata da exportação de produtos primários. Isto se dá quando as empresas passam a exportar produtos de baixo valor agregado. Desta maneira, os maiores lucros ficam com as empresas que

beneficiam o produto. Possuir matéria-prima com relativa facilidade, não garante que um arranjo produtivo seja

competitivo se ele não observar qual a necessidade real do mercado. Outro ponto importante é que produtos simples, de baixo valor agregado, são facilmente imitados por outros APs o que deixa os participantes do AP susceptíveis à

concorrência externa. A exportação de produtos de baixo valor agregado transfere as riquezas dos países em

desenvolvimento, a um custo ínfimo, para os países industrializados.

Conhecimento do

mercado

Kaplan et al. (1997) entendem que as empresas devem definir os segmentos de clientes e mercados que desejam

competir. Porém, para a escolha deste mercado, deve-se pensar na expectativa dos clientes têm para este produto de

forma dinâmica, profunda e sem intermediários. Cada segmento do mercado apresenta diferentes exigências e expectativas para os produtos consumidos (OLIVEIRA, 2001). Vale destacar que no mercado existem diferentes

grupos consumidores, e a decisão de qual grupo se deseja ter como clientes está dentre as decisões estratégicas mais

importantes de qualquer negócio. As necessidades do consumidor vão muito além da matéria-prima bruta. Elas são um desejo de uma função, ou seja, a necessidade do consumidor não está no bem em si, mas no quanto ele é

capaz de satisfazer algum valor desejado do cliente. É dessa forma que se entendem as necessidades dos clientes.

Conhecimento da

posição competitiva da empresa

Associado com a identificação dos concorrentes diretos e indiretos dos produtos de um arranjo produtivo, que

compreendem negócios e produtos substitutos (OLIVEIRA, 2001). Este item considera o entendimento de quem são os concorrentes do AP avaliado e suas potencialidades. Vale salientar que o posicionamento competitivo ocorre pelo

AP em si e não pelo posicionamento individual da empresa. Assim, entender este posicionamento está relacionado

com a identificação das pressões por produtos substitutos e avaliação de quanto o consumidor está disposto a pagar pelo produto oferecido.

Entendimento das

oportunidades de agregação de valor

através da integração

Este nível de oportunidade de integração está associado com a capacidade de um elo da CP oferecer produtos com

maior valor agregado. Trata-se de uma característica ligada ao conceito de governança e ganhos de escopo (agregação) obtido através de colaboração e cooperação. Empresas usam o poder coletivo na busca de soluções para

problemas comuns (OECD, 1998). Normalmente, em uma CP, existem elos que são os mais fortes ou influentes que

coordenam os demais. Estes, normalmente, não contribuem para o desenvolvimento de pequenas empresas em seu interesse próprio como desenvolvimento de produtos com maior valor agregado.

Nível de cooperação

entre as empresas do arranjo produtivo

“A concorrência não envolve mais apenas preços e custos, mas abrange a conquista de novas cotas de mercado,

diversificação de produtos, dentre outros” (FEITOSA, 2008). Assim, a competição não se dá de forma mais isolada entre empresas e sim, de forma cooperativa. Busca-se uma vantagem competitiva para o AP como um todo. Estas

mudanças estão promovendo alianças entre empresas, formalizadas contratualmente ou informais. As inter-relações

cooperativas vão assumindo novo papel e adquirindo grande importância no panorama econômico contemporâneo (FEITOSA, 2008). O nível de cooperação e colaboração entre as empresas pode ser de natureza comercial e extra-

comercial como participação em feiras de produtos, em projetos de P&D, compras e consultorias consorciadas, troca

de serviços que busquem a melhoria dos produtos, processos e de gestão, criando um ambiente favorável a inovação.

Tipo de raciocínio presente na cadeia

produtiva

Relacionado com a postura adotada das empresas dentro do arranjo produtivo. Fairbanks et. al. (2002) entendem que existem duas posturas básicas que as empresas podem assumir: uma está relacionada com uma reação de “por a

culpa em alguma coisa” e a outra uma postura mais proativa, que trata de “não encontrar um culpado para o

problema, mas sim encontrar uma solução”, para que o mesmo seja resolvido. O primeiro tipo de postura está relacionado com arranjos produtivos que fornecem produtos primários, com baixo valor agregado, que não possuem

tecnologia para adentrar no mercado internacional e estão susceptíveis a qualquer solavanco do mercado e, sempre a

culpa é do governo, que não ajuda o setor. A segunda postura está associada com a atitude das grandes empresas, que buscam resolver seus problemas tecnológicos, dentre outros, sem esperar por outros, buscando a solução através de

cooperação com universidades e centros de pesquisa, por exemplo.

Paternalismo dentro da cadeia produtiva

Este último fator está muito ligado às relações presente entre as empresas e o governo, onde este último fornece benefícios que prejudicam a competitividade das empresas no mercado internacional. Isto se dá pela adoção de

benefícios, como a isenção de impostos, subsídios a produção, dentre outros, que colocam as empresas do AP em uma

situação bastante confortável, onde as mesmas não sofrem pressão para de inovar, para promover melhorias e reduzir custos. Em longo prazo estas práticas tornam um setor dependente de subsídios e menos competitivos. No futuro o

setor estará despreparado tecnologicamente e seus produtos podem tornar-se obsoletos, sucateando as empresas.

QUADRO 1 – Fatores inibidores de competitividade. Fonte: Fairbanks e Linsay (2002); Carmo et al. (2009)

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2.3 O SIMAP

Carmo et al. (2009) desenvolveram o Sistema de Monitoramento de Arranjos Produtivos –

SIMAP, dentro de um projeto de pesquisa no Observatório Tecnológico (OT), laboratório do

curso de Engenharia de Produção Mecânica da UFC. Ele tem por objetivo avaliar a aplicação das

ferramentas de gestão dentro de empresas e oferece diagnósticos setoriais segundo pesquisas

realizadas junto às empresas. O SIMAP é composto de sete subsistemas de gestão, onde estão

englobadas as ferramentas referentes a cada um deles.

Aragão (2009) entende que esta metodologia visa estabelecer um diálogo mais produtivo entre

agentes, governo e empresas, com base em informações sobre as melhores práticas empresariais e

visualização de gap.

O método utiliza-se 38 (trinta e oito) critérios que, são bastante difundidos na bibliografia

(ARAGÃO, 2009 e CARMO et al., 2009). Assim, o SIMAP avalia as empresas segundo sete

subsistemas de gestão, que foram identificadas com base em entrevistas com profissionais

atuantes no setor, com professores e pesquisa bibliográfica. O Quadro 2 ilustra estes subsistemas.

Subsistema Conceito

Gestão Integrada Compreendem todas as medições necessárias para garantir eficiência e eficácia no alcance

das metas empresariais (HEGERING et al.; 1998)

Gestão da

Produção

Avaliação de layout, operação e implantação de melhorias em sistemas produtivos para

promover a produção e entrega dos produtos aos clientes (CHASE et al., 2006)

Gestão de Produtos Adoção de metodologias para realização de mudanças e melhorias no produto de acordo com

as necessidades do cliente (GRIFFIN, 1997)

Gestão Estratégica Adoção de regras que ajudam as empresas na tomada de decisão (ANSOFF E MCDONNEL,

1993)

Gestão Logística Adoção de metodologias que busquem ações inovadoras para ganhar e manter os clientes

leais (DONATH et al., 2002)

Gestão de Recursos

Humanos

Utilização de ferramentas que envolvam políticas e práticas para recrutamento e

desenvolvimento de capital humano (HUSELID et al., 1997)

Gestão Financeira Utilização de metodologias que visem adicionar valor à empresa e analisar os investimentos

da mesma (SANTOS E PAMPLONA, 2005)

QUADRO 2 – Fatores avaliados pelo SIMAP. Fonte: Carmo et al. (2009).

Cada subsistema é formado por um conjunto de critérios compostos por indicadores,

metodologia, ferramentas e boas práticas. Essas ferramentas foram agrupadas porque possuem

finalidade comum, sendo as mais proeminentes dentro de cada sistema de gestão. O agrupamento

completo está apresentado na Figura 1.

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Figura 1 – Critérios de avaliação do SIMAP. Fonte: Aragão (2009).

Com os critérios de avaliação apresentados, o próximo ponto objetiva apresentar a metodologia

desenvolvida neste estudo de caso.

3. Percurso Metodológico

Para o desenvolvimento deste trabalho, foram seguidos alguns passos que são explicados nos

parágrafos seguintes. Inicialmente, foi realizado um estudo da arte para entendimento do contexto

do arranjo produtivo focado neste artigo. Em seguida, foi escolhida uma organização típica que

representa os produtores, objeto de estudo deste trabalho. Os dados e informações relevantes para

a pesquisa foram levantados através de entrevistas semi-estruturadas com diretores e cooperados,

da cooperativa em estudo.

Estes dados servem de análise para as duas abordagens utilizadas neste estudo:

- Fatores inibidores de competitividade e;

- Sistema de Monitoramento de Arranjos Produtivos.

A metodologia utilizada foi a de estudo de caso, onde foi visitada uma empresa para coleta de

dados necessários à pesquisa. Primeiramente, a cadeia em estudo foi mapeada, elemento deste

estudo de caso. Em seguida foi realizado um estudo bibliográfico e pesquisa de campo para

levantamento de dados para avaliação dos fatores inibidores de competitividade. Posteriormente,

a organização foi visitada para o levantamento dos dados para entrada no sistema. Por último

foram realizadas as análises necessárias com base nos dados levantados e gráficos gerados pelo

sistema. A Figura 2 ilustra estas atividades desenvolvidas.

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Figura 1 – Estrutura Analítica do Projeto – EAP. Desenvolvido pelos autores.

4. Desenvolvimento da Metodologia proposta

4.1 Cadeia Produtiva do Caju

Segundo Mendonça (2008), o cajueiro (Anacardium occidentale L), é originário da América

Tropical, pertence à família Anacardiacea, que inclui árvores e arbustos tropicais e subtropicais,

encontra-se disperso numa extensa faixa compreendida entre os paralelos 27º N, no Sudeste da

Flórida, e 28º S, na África do Sul. No contexto dos fatores sociais e econômicos, o agronegócio

do caju é um segmento de grande importância para o Estado do Rio Grande do Norte, uma vez

que além de propiciar a geração de renda com o desenvolvimento da atividade no campo,

principalmente no período de entressafra das demais culturas agropecuárias, se destaca como um

dos principais produtos da pauta de exportação do estado (GONZAGA, 2009).

A cadeia produtiva do caju comporta cooperativas e mini-fábricas, com bases na agricultura

familiar, que estão inseridas no cultivo e beneficiamento artesanal. As grandes indústrias atuam

principalmente no beneficiamento da castanha do caju, enquanto as médias indústrias se

encarregam da produção de polpas e sucos. O principal e mais rentável produto do caju, a

amêndoa, é bastante apreciada pelo mercado externo movimentando no ano passado cerca de

US$ 105 milhões, considerando-se apenas as exportações dos estados produtores, Ceará, Piauí,

Rio Grande do Norte, Bahia e Maranhão (SECEX, 2004).

A Figura 3 ilustra as relações existentes na cadeia produtiva do caju. A interação entre os elos

resultam na produção de castanha para a extração da amêndoa, destinado ao mercado externo e

interno; o pedúnculo do caju utilizado para produção de polpa e sulcos, além do fruto inteiro a ser

consumido in natura, os dois últimos são comercializados no mercado interno.

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Figura 3: Cadeia Produtiva do Caju no RN. Fonte: SEBRAE RN (2005)

Os retângulos representam os elos da cadeia, as setas mostram a interação entre os elos, às três

linhas pontilhadas dividem a cadeia em: conjunto de elos, que participam da mesma esfera

produtiva. A cadeia produtiva esta dividida em quatro camadas de elos horizontais e duas

camadas verticais. Sendo a primeira camada horizontal o conjunto de elos referente à matéria-

prima e insumos. A segunda representa a produção onde esta inserida as grandes empresas

integradas, assentamentos, cooperativa e agricultores autônomos. O terceiro conjunto de elos é

responsável pelo beneficiamento e distribuição, onde constam os intermediários, grandes e

médias indústrias, cooperativas, mini-fábricas, atacadistas e varejistas. A quarta camada

representa os mercados onde os produtos da cadeia serão comercializados. A camada vertical da

esquerda ilustra a cadeia principal, enquanto do lado direito estão os elos da cadeia auxiliar.

O foco deste trabalho está na produção da matéria prima e seu beneficiamento, com foco nos

produtos da agricultura familiar, onde estes pequenos produtores são organizados em

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cooperativas, como a que será utilizada como estudo de caso.

4.2 Estudo de caso

Foi realizado um estudo em uma cooperativa de comercialização de castanha de caju, localizada

no município de Serra do Mel – RN. Foi fundada em 28 de julho de 1991, por 30 associados.

Hoje conta com 106 unidades familiares de beneficiamento artesanal da castanha de caju,

envolvendo 600 famílias. Sendo que, dessas unidades familiares 70 são de produção orgânica.

A capacidade produtiva da organização em estudo é de 15 toneladas por mês. Possuem

certificação orgânica pelo Instituto Biodinâmico - IBD desde 2003 e exportam para o mercado

europeu a 15 anos.

A produção agrícola se dá por vários produtores que investem isoladamente em cada propriedade

na plantação dos cajueiros, tendo por finalidade a extração da amêndoa, beneficiando-a em

castanha. Essas atividades têm todos os seus custos associados a cada produtor. O trabalho da

cooperativa consiste em três etapas principais:

- Seleção, classificação e embalagem das amêndoas dos cooperados;

- Negociação dos contratos de exportação;

- Comercialização das amêndoas beneficiadas.

O processo de beneficiamento artesanal da castanha vem evoluindo no decorrer do tempo, o que

tem promovido diversos ganhos aos produtores que conseguiram produtos de melhor qualidade

que a indústria por dois fatores: em primeiro lugar pelo aquecimento ser mais brando (70ºC),

gerando castanhas mais brancas, enquanto que na indústria o aquecimento é de 360ºC e feito em

contato com o LCC – Líquido da Castanha de Caju, o que as escurece; e em segundo lugar pelo

corte manual que gera em torno de 90% de amêndoas inteiras, enquanto que o mecanizado

industrial apenas 50%.

O mercado internacional é o que mais valoriza o produto através do “prêmio price” – que

consiste no preço diferenciado cobrado dos consumidores internacionais pela ação social

incorporada aos produtos movimentados pelas ONG’s do comércio justo.

O escoamento da produção se dá para dois públicos distintos: mercado nacional, representado

pela região Sul e Sudeste (maior parcela da compra) e o mercado internacional. As castanhas

saem do município para 19 países. Os principais países para exportação de castanha de caju no

ano de 2006 foram Itália, Áustria, Holanda e Suíça (ENFOCA, 2010).

4.3 Análise dos fatores competitivos

4.3.1 Excesso de dependência dos fatores básicos de vantangem.

Durante a visita técnica à cooperativa foco deste estudo, foi visto algumas potencialidades de

agregação de valor em sua produção. Já existem alguns requisitos para se manter competitivo no

mercado, que é a comercialização de amêndoa de para mercado exterior, na competência de

qualidade, o certificado das amêndoas orgânicas (EcoCert) e o certificado da FairTrade que o

inclui em empresas que prezam o mercado justo e a sustentabilidade. O que pode vim a ser

desenvolvido, pela cooperativa para que ela possa se manter num patamar competitivo, são

metodologias como:

- Inovação tecnológica, com intuito de aumentar a produtividade das amêndoas;

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- Exportar produtos complexos, aumentando o mix de produtos – castanhas com sabores, por

exemplo;

- Investir no conhecimento de clientes mais exigentes e mais sofisticados;

- Desenvolver competências para distribuição (integração vertical, com o mercado nacional e

exterior);

- Criar relacionamento de troca de informações entre instituições de ensino, governamentais e

empresas para fomento a distribuição, dado que na região existe uma universidade reconhecida

nacionalmente nos cursos de ciências agrárias;

- Buscar associados fora da região da Serra do Mel, mostrando que o cooperativismo é um bom

negócio.

4.3.2 Pouca compreensão a respeito da clientela

4.3.2.1 Conhecendo a concorrência

No sentido de conhecer as demandas da clientela, foram observados alguns fatores chave

considerados pelos clientes no momento da compra. São eles: integridade das amêndoas, cor,

sabor, uniformidade, característica do cultivo e custo produtivo.

Para a avalição destas características, os clientes foram subdivididos em três grupos, em função

dos critérios ganhadores e qualificadores de pedidos:

- Público 1: O custo de aquisição do bem é um fator ganhador de pedido, ou seja, esse cliente

preza pelo custo em detrimento da qualidade.

- Publico 2: O cliente passa a buscar um ponto de equilíbrio entre qualidade e custo.

- Público 3: Público onde a dimensão qualidade tem uma maior importância em detrimento ao

valor de obtenção do produto.

Em função das características e dos diferentes públicos existentes, foi desenvolvido um gráfico

relacionando as características mais importantes com cada um dos tipos de clientes a qual a

cooperativa serve. A Figura 4 ilustra o gráfico desenvolvido. A Figura 4 abaixo ilustra a análise

desenvolvida.

Figura 4- Gráfico requisito x Importância Figura 5 – Relação Qualidade x Custo

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Pode-se observar que os clientes possuem necessidades diferentes e é mais vantajoso trabalhar

com o grupo que os quesitos de qualidade são mais importantes que os quesitos custo. Em função

disso, constata-se ser necessário aumentar o valor percebido pelo cliente através da inovação

dentro dos pontos que o consumidor considera importante. Um lado interessante a ser destacado é

que a característica ser produzida de forma orgânica é extremamente valorizado pelo público de

exportação. Assim, desenvolver técnicas para aumentar a eficiência neste tipo de cultivo é de

suma importância para alcançar estes mercados.

Assim, para cada um dos públicos ações devem ser tomadas: No caso do público 1, é necessário

desenvolver o consumidor para um produto mais sofisticado. Para o público 2, deve-se trabalhar

para aumentar a inovação no valor dos produtos e para o público 3, reduzir os custos de produção

para aumentar a margem de lucro.

4.3.2.2 Analisando a qualidade do produto

O processo de transformação (beneficiamento) de produtos em geral, existem 4 causas primárias

que afetam diretamente a qualidade do produto. Essas causas relacionam-se a material, métodos,

máquinas e mão de obra. Dentro desse contexto, desenvolveu-se um diagrama de causa e efeito

objetivando integrar tais variáveis com a qualidade da amêndoa. Este diagrama está ilustrado na

Figura 6.

Figura 6 – Diagrama de causa e efeito para a qualidade da amêndoa. Desenvolvido pelos autores deste.

É importante observar que, se há relações conflituosas entre determinados pares de aspectos de

desempenho, há também pares de aspectos de desempenho que não só não representam conflito

(trade off), mas também podem muito bem auxiliar-se mutuamente.

Qualidade e custo pode ser entendido, neste caso, não como um trade off, e sim como dimensões

que podem ser aliadas na manutenção e adesão de outros mercados. Isso pode ser explicado

tomando como exemplo a implantação de um procedimento executivo. A implementação de um

padrão para beneficiamento da castanha in natura, é algo que teoricamente não acarreta em custo,

mas aumenta sensivelmente a qualidade da amêndoa.

4.3.3 Desconhecimento da posição competitiva relativa

Fazendo uma interface da literatura e o estudo de caso, observamos que a cooperativa de fato

desconhece a sua posição competitiva em relação aos concorrentes, com analogia a dois aspectos:

- Pelo relato da presidente da cooperativa na entrevista, pode-se observar que ela desconhecia se

haveria concorrência. Porém, foi constatado que existem, na região de Apodi - RN e Ceará,

cooperativas que atuam no mesmo segmento de mercado.

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- O segundo aspecto constatado é que, devido a grande demanda por seus produtos, acaba-se

“mascarando” a visão da cooperativa em relação aos seus concorrentes.

Apesar da cooperativa não saber a sua posição na concorrência, ela conhece exatamente seu

mercado de atuação, e como buscar esse mercado, através de participações em exposições,

expandindo sua marca e, consequentemente, fazendo novos contratos, ampliando a sua atuação

dentro do mercado.

Assim, se a base da competição for diferenciação, no caso da venda de castanha orgânica para

países que priorizam a qualidade do produto como, por exemplo, a Itália, a cooperativa está um

passo a frente, atingindo o cliente alvo e atendendo satisfatoriamente os clientes com relação à

concorrência.

4.3.4. Análise da integração vertical com a distribuição

Devido a especificidade dos clientes do mercado interno e externo. A análise sobre a integração

vertical será efetuada separando estes dois mercados. Pois não há uma uniformidade no valor

percebido pelos clientes desses mercados. O Quadro 3 apresenta esta análise.

MERCADO

EXTERNO

A cooperativa exporta sua amêndoa principalmente para a Europa. Através de entrevistas e pesquisa exploratória percebeu-se

que o consumidor europeu valoriza a qualidade em detrimento ao preço. Porém, isso não significa que o custo deva ser

negligenciado, uma vez que isso pode comprometer a margem de contribuição da organização.

Foi verificada a consciência social estimulada pelas organizações de comercio justo (entidades que busca o estabelecimento

de preços justos, bem como de padrões sociais e ambientais equilibrados nas cadeias produtivas), existindo consumidores que

estão dispostos a pagar um valor maior pelo produto produzido através de meios sustentáveis e beneficie o pequeno

agricultor.

Observou-se a preocupação com o uso de agrotóxicos e defensivos agrícolas, o certificado orgânico referente aos produtos

produzidos sem o controle artificial de pragas é requisito para inserção da castanha no mercado Europeu.

Um ponto positivo observado é que a cooperativa possui o certificado de amêndoas orgânicas e todas as características

necessárias para a certificação FAIRTRADE (comercio justo). Pode-se afirmar que a distribuição esta cumprindo seu papel

de agregar valor ao produto, pois esta estimulando e influenciando a demanda para o consumo de produtos que tenham a

certificação descrita acima, desta forma atendendo os requisitos dos clientes. Portanto a Integração vertical com a

distribuição, quanto ao mercado externo, não é a melhor opção. Deve-se alavancar a parceria com a distribuição, mantendo

comunicação e relações de fidelidade.

MERCADO

INTERNO

O mercado interno ao contrário do externo não percebe o valor contido nos produtos orgânicos, esta características assim

como o respeito à natureza e as práticas de produção sustentável, preceitos do comércio justo, não agregam tanto valor para o

consumidor nacional. Ou seja, o produto da cooperativa tem características de qualidade que não são percebidas pelo mercado

interno, ocasionando perda de dividendos, pois se o consumidor final não visualiza o valor do produto, o distribuidor também

não irá, rendendo para a cooperativa menos do que o desejado.

QUADRO 3 – Análise da integração vertical. Fonte: autores.

Para uma análise mais consistente, foi desenvolvida uma matriz CPC para analisar os

componentes do sistema de valor para obtenção de uma conclusão de qual alternativa é mais

viável e lucrativa para a cooperativa. A matriz esta ilustrada na Figura 7. Ela demonstra a cadeia

simplificada dos componentes de valor. No retângulo esta representado o componente de valor e

as setas demonstram a ligação e o sentido das negociações. A cadeia é constituída por 6 elos: a

unidade familiar, a cooperativa, transporte, industria de processamento (intermediários),

atacadista e varejista, cliente final.

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Figura 7 - Elaborado pelos autores deste

Analisando os componentes de valor no sentido do cliente, onde se mantêm as maiores margens

de lucro, tem-se o transporte. A castanha de caju, produto comercializado pela organização, não

necessita de cuidados específicos e rigorosos no transporte para a manutenção das características

de valor do produto, portanto o transporte possui baixa importância estratégica para a empresa.

Os recursos financeiros para compra de automóveis de carga não é abundante e as pessoas

envolvidas com a empresa não tem treinamento nem experiência em transporte de cargas,

portanto a competência da empresa é baixa. Alimentando estas informações na matriz CPC,

conclui-se que a melhor alternativa é comprar o serviço de transporte.

Em seguida, tem-se a análise da indústria de processamento. Este elo apresenta alto valor

estratégico para a empresa, pois, além de obter maior lucro, a cooperativa teria uma maior

estabilidade nos preços de comercialização e um feedback direto com o cliente para melhoria

continua do processo produtivo. No entanto a competência da empresa é baixa, pois não possui a

integração necessária entre os cooperados para manter investimento e matéria-prima estável,

alem da falta de conhecimento das oportunidades de crescimento. Portanto na situação atual a

matriz indica como melhor alternativa a cooperação com os intermediários.

O componente atacado e varejo é de alta importância estratégica, pois a comunicação com o

cliente neste elo é intensa, produzindo informações cruciais para o desenvolvimento da empresa.

No entanto a competência da cooperativa é baixa, pois a mesma não tem experiência

mercadológica nem conhecimento para atuar neste elo. Plotando estas informações na matriz é

possível concluir que a empresa deve cooperar.

Através desta análise é possível afirmar que a integração vertical neta situação não é viável. A

cooperativa deve cooperar com a distribuição, buscando informações sobre seus clientes para

melhoria das estratégias competitivas.

4.3.5 Nível de cooperação entre as empresas do arranjo produtivo

A Figura 8 ilustra os relacionamentos entre a cooperativa e o setor empresarial, institucional e o

governo. Existem três cooperativas na cidade de Serra do Mel, e a cooperativa em estudo alega

não se unirem em uma só cooperativa, porque as outras duas estão praticamente paradas e quase

todos os associados delas, também participavam desta organização.

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Figura 8 – Relacionamentos de cooperação com a Coopercaju. Fonte: Autores.

Observa-se a falta de integração da população produtora da Serra do Mel, visto não conseguirem

sua união numa só cooperativa. Essa falta de cultura de cooperativismo prejudicou-os no sentido

de retardar o desenvolvimento, dificultar a obtenção de financiamentos e dividir as forças para

obtenção de benefícios junto ao governo.

No que diz respeito às empresas fornecedoras de insumos, não se faz necessário, como a

produção é orgânica os defensivos e os fertilizantes são naturais, e as mudas são feitas nas

próprias unidades de beneficiamento da castanha.

É notável que inexiste uma relação com as empresas beneficiadoras do pedúnculo do caju. Uma

cooperação que se mostraria muito eficaz, já que não possuem estrutura e tempo para este

beneficiamento. Tendo em vista a falta de mão-de-obra até para o processamento da castanha.

Com as empresas distribuidoras não há uma fidelização, não são estabelecidos acordos de longo

prazo e a presidente da cooperativa relata que o motivo é a grande oscilação do preço da

castanha.

Quanto ao nível de cooperação institucional, a cooperativa tem o vínculo interrompido com o

Sebrae, da mesma forma com a Fundação Banco do Brasil, apesar de terem sido ótimos

parceiros. O problema é que toda a forma de beneficiamento recomendada pelo Sebrae é

diferente da praticada na cooperativa, que é em unidades familiares. A forma de beneficiamento

recomendada pelo Sebrae é centralizado em mini-fábricas, onde todos os equipamentos ficam em

um local e as pessoas se juntam lá para beneficiar. O sistema da cooperativa, porém, não funciona

deste jeito, e acontece desta forma a quase 20 anos, segundo a presidente da cooperativa.

Com a Universidade federal da região, o relacionamento é bastante restrito. A cooperativa já

procurou a instituição para resolver um problema com uma praga de armazenamento que estava

diminuindo a produção, contudo o professor especialista na área de pragas não pôde resolver o

problema. A presidente da cooperativa anseia uma maior aproximação com a universidade.

E quanto ao governo, a presidente da cooperativa diz não se queixar, porque inclusive o governo

do Estado do Rio Grande do Norte possui a menor alíquota de ICMS entre os estados produtores.

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Esta falta de confiança e de cooperação limita a capacidade de empresas fornecedoras e

compradoras de se especializarem no desenvolvimento de insumos críticos específicos, e, em

última análise, isso impede que o setor inove e se aperfeiçoe (FAIRBANKS e LINDSAY, 2002).

De acordo com o que foi relatado, observa-se que o nível de cooperação da cooperativa com os

outros atores do arranjo e é insuficiente e acontece de forma individualizada. Isso limita a

capacidade da cooperativa de agir de forma inovadora a desafios estratégicos e competitivos.

4.3.6 Padrão: Defensiva

Durante a visita e coleta de dados, pôde-se constatar uma postura defensiva predominante por

parte da cooperativa e o setor publico, ambos defendendo o que para eles era o melhor. A

cooperativa quebrou a parceria com o SEBRAE e a Fundação Banco do Brasil, pois as mesmas

pediram que as unidades de beneficiamento fossem as mini fabricas porém a cooperativa optou

por continuar com as unidades familiares, pois já faz quase 20 anos que a cooperativa trabalha

dessa forma. Isso por consequência terminou gerando a dissolução da parcerias.

4.3.7 Padrão: Paternalismo

Há um grande problema por parte da cooperativa, já que ela não busca uma melhoria tecnológica

de seu produto e processo, como investimento em maquinário, para que possa ser obtida uma

melhor qualidade no beneficiamento da castanha, onde se as unidades de beneficiamento

houvesse uma mudança para mini-fabricas, haveria uma melhor qualidade e também uma melhor

fiscalização.

Finalizada a análise qualitativa por meio dos fatores inibidores de competitividade na

cooperativa, o passo seguinte seguiu a análise mais quantitativa, por meio do SIMAP. O próximo

subitem apresenta esta análise desenvolvida da cooperativa em questão.

4.4 SIMAP

Com o intuito de visualizar o posicionamento estratégico da cooperativa em estudo, usou-se a

metodologia SIMAP a fim de obter as análises da aplicação das ferramentas de gestão na

cooperativa objeto de estudo. A primeira análise, Figura 9, ilustra o desempenho geral da

empresa em estudo.

Pode-se constatar um reduzido desempenho entre a cooperativa e demais empresas que

participam da cadeia alimentícia. A visualização de tais dados indica a necessidade em focalizar

esforços e investimentos, em dimensões cujo desempenho esteja abaixo do padrão de referência.

Logo, a melhoria nos requisitos relacionados ao sistema de gestão integrada, gestão da produção,

gestão do produto e gestão financeira, tornará a cooperativa mais competitiva frente aos seus

concorrentes.

Page 16: Etapas para implantação de controle estatístico do ... · em qual elo a cooperativa está inserida. A segunda etapa consistiu na análise dos fatores ... forma independente e a

Figura 9 – Macro análise da cooperativa. Fonte:

Autores.

Figura 10 – Macro análise da cooperativa concorrente.

Fonte: Autores.

As principais ações que podem ser tomada são relacionadas abaixo:

a) Padronização das atividades a partir da implantação dos procedimentos executivos;

b) Implantação da ferramenta 5S;

c) Utilização de indicadores para acompanhamento e controle das variáveis do processo;

d) Monitorar a satisfação dos clientes;

e) Implantar um plano para auditoria interna do processo.

Foi avaliada outra cooperativa a fim de comparar os resultados com a cooperativa objeto de

estudo deste artigo. A Figura 10 ilustra os resultados obtidos.

A cooperativa concorrente, quando comparada com a que foi objeto de estudo deste artigo,

apresenta um desempenho mais significativo com relação ao padrão de referência. Isso decorre

da natureza do processo de beneficiamento da castanha. As duas cooperativas, apesar de atuarem

no mesmo ramo de atividade, apresentam algumas diferenças com relação ao processo de

produção. A cooperativa deste estudo possui um processo de beneficiamento descentralizado,

onde as diversas unidades de produção atuam separadamente. Tal estrutura dificulta as ações de

padronização e controle do processo, impactando demasiadamente na qualidade do produto final.

Conclusões

Com os dados coletados e analisados, foi desenvolvida uma análise SWOT para resumir a análise

qualitativa desenvolvida por meio dos fatores inibidores de competitividade. O Quadro 4

evidencia as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, detectadas na apreciação da cooperativa

em questão.

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Pontos Fortes A cooperativa em questão apresenta um produto com diferenciais competitivos que não se

focalizam somente em critérios não sustentáveis, mas em vantagens que não são fáceis de serem

copiadas pelos concorrentes. Este fator é obtido em função das seguintes características:

•Castanha orgânica;

• Reconhecimento externo;

• Baixa acidez do pseudofruto;

Pontos Fracos Dentre as fraquezas observadas, a baixa integração dos cooperados entre si e com outros atores

do arranjo é um ponto que precisa ser melhorado significativamente. Este fato é constato pela

falta de comunicação entre as cooperativas, afetando seu desenvolvimento. Não existem ligações

com instituições de pesquisa, o que ode comprometer a inovação em produtos com diferenciais

competitivos.

Outro fator que pode ser prejudicial e comprometer o andamento do negocio é a falta de

padronização do processo produtivo, baixa qualificação dos membros da cooperativa e

inexistência de um sistema para controle da qualidade do processo e produto.

Oportunidades Dentre as oportunidades que podem ser aproveitadas pela cooperativa é a difusão da sua marca a

partir da logística de distribuição. Outro fator que pode significar um ganho financeiro é o

beneficiamento do pseudofruto para a geração de renda extra para investimento na cooperativa.

Outro fator que pode ser considerado como oportunidade é a integração com centros de pesquisa

de ponta que se apresentam na região para o desenvolvimento do cultivo do cajueiro anão. Existe

ainda a possibilidade de extração do óleo da castanha, que possui alto valor agregado.

Ameaças A grande ameaça que se apresenta para a cooperativa em estudo é a falta de conhecimento da

concorrência e de as pragas que atingem as plantações. Mas, para este último ponto, uma

parceria com os institutos de pesquisa podem resolver o problema.

QUADRO 4 – Análise resumida da cooperativa. Fonte: autores.

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