estudo de caso da ecoterra

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Julian Perez Cassarino Daniela Oliveira Articulação Nacional de Agroecologia – ANA Grupo de Trabalho em Soberania e Segurança Alimentar – GT SSA RELATORIO 2 Estudo de caso da Ecoterra, Alto Uruguai – Rio Grande do Sul. Relatório técnico referente à prestação de serviço em sistematização de experiência para o GT SSA/ANA. Tema: Estudo de caso da Ecoterra, Alto Uruguai – Rio Grande do Sul. Curitiba – Paraná Setembro/2010

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Relatório técnico referente à prestação de serviço em sistematização de experiência para o GT SSA/ANA. Tema: Estudo de caso da Ecoterra, Alto Uruguai – Rio Grande do Sul.

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Page 1: Estudo de Caso da ECOTERRA

Julian Perez CassarinoDaniela Oliveira

Articulação Nacional de Agroecologia – ANA

Grupo de Trabalho em Soberania e Segurança Alimentar – GT SSA

RELATORIO 2

Estudo de caso da Ecoterra, Alto Uruguai – Rio Grande do Sul.

Relatório técnico referente à prestação de 

serviço  em sistematização  de  experiência 

para o GT SSA/ANA. Tema: Estudo de caso  

da Ecoterra, Alto Uruguai – Rio Grande do  

Sul.

Curitiba – ParanáSetembro/2010

Page 2: Estudo de Caso da ECOTERRA

Sumário

1 – INTRODUÇÃO.............................................................................................................................3

2 ­ DESCRIÇÃO, OBJETIVOS, ESTRUTURA E CONTEXTO EM QUE A ECOTERRA EMERGE.............4

3 ­ SOBRE A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: HISTÓRIA, 

CARACTERÍSTICAS ATUAIS, DESAFIOS E INTERFACES...................................................................7

4 ­ ANÁLISE DOS RESULTADOS......................................................................................................16

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................19

ANEXO I......................................................................................................................................... 22

ANEXO II........................................................................................................................................ 23

Page 3: Estudo de Caso da ECOTERRA

1 – INTRODUÇÃO

O   objetivo   deste   produto   é   apresentar   o   estudo   de   caso   realizado   junto   a   Associação 

Regional de Cooperação e Agroecologia ­ ECOTERRA, Alto Uruguai – Rio Grande do Sul. 

A coleta das informações aqui apresentadas foi realizada durante os dias 2, 3 e 4 de agosto. 

As unidades analisadas foram à associação ECOTERRA, através de uma oficina de sistematização, e 

algumas famílias entrevistadas individualmente (4 entrevistas individuais). As técnicas utilizadas na 

oficina de sistematização são apresentadas no quadro a seguir. Nas entrevistas individuais a técnica 

foi a entrevista semi­estruturada. 

Quadro 1: Técnicas utilizadas na oficina de sistematização da ECOTERRA. Agosto de 2010.

OFICINA DE 

SISTEMATIZAÇÃO

ECOTERRA

Técnicas ParticipantesLinha do Tempo Equipe de sistematização

Técnicos da equipe local

Sócios da ECOTERRA 

Desenho   do   Fluxograma   de 

comercializaçãoDiagrama   de   Venn  (mapeamento 

das   entidades   parceiras   e   sua 

importância no processo).

Previamente à   realização da oficina de sistematização,   foi  realizada uma reunião com a 

equipe técnica de assessoria e com membros da direção da ECOTERRA, a fim de expor e debater a 

metodologia   e   adequá­la   à   realidade   e   às   possibilidades   do   grupo.   Também   foi   objetivo 

contextualizar as organizações a respeito do processo de sistematização e o contexto em que se 

encontra   inserido,   em  diálogo   com o  GT  de  Soberania   e   Segurança  Alimentar   da  Articulação 

Nacional de Agroecologia (GT SSA/ANA).

No   segundo  dia  de   trabalho   realizamos  a   oficina  de   sistematização  que   contou   com a 

participação de representantes dos grupos que compõem a ECOTERRA. Um maior detalhamento da 

metodologia  assim como  uma  descrição  dos  objetivos  de   cada  uma  das  dinâmicas  podem ser 

encontrado no Produto 2 desta consultoria.

No terceiro dia, e após a realização das dinâmicas coletivas,  foram aplicadas entrevistas 

individuais   (semi­estruturadas)   com   técnicos,   dirigentes   e   agricultores   da   ECOTERRA.   As 

entrevistas foram realizadas nas próprias unidades de produção, de forma a permitir um maior 

conhecimento da realidade das famílias da ECOTERRA.

Este relatório está estruturado nas seguintes partes: Na primeira parte apresentamos uma 

breve descrição da ECOTERRA, de seus objetivos, estrutura e do contexto em que a associação 

emerge; Na segunda parte apresentamos uma série de informações relacionadas ao processo de 

comercialização que vem sendo construído pelo grupo. Na terceira parte o objetivo é relacionar as 

3

Page 4: Estudo de Caso da ECOTERRA

informações coletadas e apresentar algumas conclusões a respeito do processo de construção de 

mercados e da relação deste com os governos e com as políticas públicas. Por fim, são apresentadas 

as considerações finais sobre o processo de sistematização realizado.

Compõe este informe a (i) descrição e análise dos dados coletados, (ii) listas de presença das 

atividades realizadas, (iii) íntegra das entrevistas realizadas em arquivos de áudio e (iv) imagens do 

processo de sistematização realizado.

2 ­ DESCRIÇÃO, OBJETIVOS, ESTRUTURA E CONTEXTO EM QUE A ECOTERRA EMERGE

A   região   Alto   Uruguai   é   uma   região   formada   por   32   municípios   localizados   nas 

proximidades  do Rio  Uruguai,  ao  norte  do Rio  Grande do  Sul,  divisa   com o  estado  de  Santa 

Catarina, e tem Erexim como cidade­pólo. Nestes municípios a agricultura é a principal atividade 

econômica e as unidades de produção familiares predominam como forma de divisão e uso da terra.

Figura 1: Mapa da região Alto Uruguai/RS. 

4

Page 5: Estudo de Caso da ECOTERRA

Dentre   as   características   da   região   Alto   Uruguai   destaca­se   a   intensa   capacidade   de 

mobilização social por parte da agricultura familiar. Já nos anos 1980 agricultores da região passam 

a se organizar e se mobilizar em sindicatos da agricultura familiar e em movimentos de oposição à 

implantação de  barragens  no Rio  Uruguai.  Juntamente  à  mobilização e contestação através  de 

organizações coletivas que reivindicavam direitos sociais e o direito ao uso da terra, um movimento 

paralelo surge na região com o objetivo de crítica às tecnologias e aos pacotes tecnológicos da 

modernização. Além da crítica as famílias engajadas propunham o resgate e o desenvolvimento de 

tecnologias baseadas em princípios da agroecologia. Neste movimento nasce, em 1989, o primeiro 

grupo de agricultores agroecologistas da região Alto Uruguai, o grupo da Vaca Morta. 

Durante os anos 1990, outros grupos emergem e em 2001 o CETAP (Centro de Tecnologias 

Alternativas), organização não governamental de assessoria que acompanha o processo de formação 

de grupos, de desenvolvimento de tecnologias agroecológicas e de comercialização, juntamente com 

o CICDA (Centro Internacional para a Cooperação e Desenvolvimento Agrícola) e com sindicatos de 

trabalhadores rurais dos municípios de Aratiba, Itatiba do Sul e Três Arroios, iniciam um projeto 

conjunto  –  Projeto  Alto  Uruguai   ­   com o propósito  de   fortalecer  e  ampliar  as  experiências  de 

produção agroecológica na região. Para administrar e coordenar o projeto Alto Uruguai foi criada a 

ADATABI (Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia nos municípios Três Arroios, Aratiba, 

Barra do Rio Azul e Itatiba do SUL – ADATABI) que mantém uma equipe técnica para acompanhar 

os grupos e famílias agroecologistas desses municípios. 

Em janeiro de 2001 tem início, através dos grupos de agricultores, da ADATABI e do CETAP, 

uma discussão a respeito da necessidade de uma organização para a comercialização de produtos 

ecológicos de forma direta. Como resultado deste debate nasce a ECOTERRA. 

A ECOTERRA ­ Associação Regional de Cooperação e Agroecologia ­ é uma associação de 

agricultores ecologistas que abrange 51 famílias de cinco municípios da região Alto Uruguai: Itatiba 

do Sul, Aratiba, Três Arroios, Barra do Rio Azul e Jacutinga. Foi criada oficialmente em 2001, com o 

objetivo de facilitar e viabilizar a comercialização de produtos agroecológicos produzidos por 

famílias que já faziam parte de grupos de agricultores agroecologistas, algumas desde o final dos 

anos 1980. No entanto não são somente objetivos relacionados à comercialização que orientam o 

trabalho da associação. Para além daqueles, os membros citam: promover a cooperação e trabalhos 

em   grupo,   promover   sistemas   sustentáveis   de   produção   agrícola,   divulgar   a   agroecologia   e 

promover ações educativas no meio rural e urbano. No que se refere à comercialização os objetivos 

são:   estimular   a   comercialização   direta   e   a   integração   entre   agricultores   e   consumidores,   apoiar  

processos de comercialização, principalmente no âmbito regional, garantir a credibilidade da produção 

das famílias, conforme os princípios e regras da Rede ECOVIDA de Agroecologia. 

5

Page 6: Estudo de Caso da ECOTERRA

No quadro 2, a seguir, apresentamos algumas informações a respeito da ECOTERRA.

Quadro 2: Algumas informações a respeito da ECOTERRA. Setembro de 2010.

Estado RS

Região Alto Uruguai

Municípios 5 Itatiba do Sul, Aratiba, Três Arroios, Barra do Rio Azul, Jacutinga

Associações que compõem a orga­nização atualmente 4

 Associação Alternativa de agricultores da comunidade da Vaca Morta

Associação Agroecológica Vale Lajeado An­tas

Associação das famílias Agroecológica da Linha Liso (não faz mais parte)

Associação agroecológica de Derrubadas

Fundação Junho de 2001

Número de famílias 51

Número de famílias que comercia­lizam pela entidade 32

Valores aproximados de comercia­lização atualizados/mês R$ 24.000,00

Valor médio aproximado comer­cializado/família R$ 750,00

Volume de produtos/mês? 20 ton

Principais produtos comercializa­dos

Frutas e verduras em geral

Acreditação/Certificação Rede Ecovida de Agroecologia

6

Page 7: Estudo de Caso da ECOTERRA

3 ­ SOBRE A CONSTRUÇÃO SOCIAL DOS CANAIS DE COMERCIALIZAÇÃO: HISTÓRIA, CARACTERÍSTICAS ATUAIS, DESAFIOS E INTERFACES

Tendo sido criada com o objetivo, entre outros, de promover a comercialização dos produtos 

das famílias, a primeira ação de comercialização da ECOTERRA foi a implantação de uma feira de 

produtos agroecológicos da região Alto Uruguai em Erexim, município pólo da região. A partir da 

feira, em 2001, outras iniciativas de comercialização são criadas, algumas que permanecem até 

hoje, e outras que foram infrutíferas e deixaram de existir. No diagrama 1, a seguir, mostramos, de 

forma   sintética,   a   construção  das   estratégias  de   comercialização  por  parte   da  ECOTERRA.  No 

diagrama 2 apresentamos os canais de comercialização atualmente utilizados pelas famílias.

Quadro 3: Síntese da construção de canais de comercialização pela ECOTERRA. Agosto de 2010.

2001 2003 2005 2006 2007 2010

Criação da ECOTERRA em Erexim

A ECOTERRA assume a comercialização na feira da COONALTER1 em Passo Fundo

Abertura de novos espaços de comercialização em bairros de Erexim em parceria com moradores urbanos (Bonato, Progresso, Piovesan)

Início das rotas do Circuito Sul de Comercialização

2º projeto CONAB/PAA

Primeira operação com a alimentação escolar (Três Arroios)

Criação do Núcleo Alto Uruguai da REDE ECOVIDA

Comercialização em pequenos supermercados em Passo Fundo 

1º projeto CONAB/PAA

ECOTERRA repassa gestão do Circuito Sul para uma família da cooperativa

Início da feira em Erexim

Abertura do ponto fixo em Erexim

Café e Natal Ecológico

Entrega de sacolas de produtos ecológicos

1 Cooperativa Mista de Consumo Alternativo LTDA.

7

Page 8: Estudo de Caso da ECOTERRA

Figura 2: Fluxograma de comercialização da ECOTERRA: principais canais de comercialização e estrutura. Agosto de 2010.

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PRODUÇÃO COLHEITACLASSIFICAÇÃO

SECAGEMBENEFICIAMENTO

EMBALAGEM

FEIRAS

ENTREGA RESIDÊNCIAS

MERENDA ESCOLAR

PAA

PONTO FIXO EM EREXIM

CIRCUITO SUL DE COMERCIALIZAÇÃO

FEIRA EM PASSO FUNDO

P.A.A.

REDE DE MERCADOS EM PASSO FUNDO

FEIRA EM EREXIM

LAZZARETI

ALIMENTAÇÃO ESCOLAR

PONTO ECOLÓGICOEM PASSO FUNDO

EVENTOS

RESTAURANTES

CONSUMIDORES

FEIRAS PR/SC

MERENDA PR/SC

PAA PR/SC

LOJAS PR/SC/SP/RJ

RESTAURANTES ESTRADAS

CONSUMIDORES

RESTAURANTES

FAMÍLIAS CARENTES

EREXIM

CONSUMIDORES

CONSUMIDORES

CONSUMIDORES

RESTAURANTES

CONSUMIDORES

RESTAURANTES

ALUNOS

PÚBLICO EM GERAL

ESTRUTURA:

CAMINHÃO

CAMINHONETE

BALANÇAS

ESTRUTURA PARA FEIRAS

ESTRUTURA:

CAMINHÃO

CAMINHONETE

BALANÇAS

ESTRUTURA PARA FEIRAS

ESTRUTURA:

GALPÃO

CAIXAS

BALANÇAS

Espaço fixo para vendas, balanças, balcões, freezer, etc

2 funcionários

ITATIBA DO SUL

EVENTOS COMUNITÁRIOS

VENDAS NA UP

ECOTERRAEREXIM

Recepção e controle da qualidade

Equipamentos e meios de transporte utilizados na comercialização

Canais de venda através

da ECOTERRA

Consumidores dos produtos da ECOTERRA

Vendas individuais ou não realizadas através da ECOTERRA

Comercialização em EVENTOS COMUNITÁRIOS

Comercialização individual na UP

LEGENDA:

Page 9: Estudo de Caso da ECOTERRA

Figura 3: Estrutura de comercialização utilizada pela ECOTERRA. Agosto de 2010.

9

Page 10: Estudo de Caso da ECOTERRA

Figura 4: Valores comercializados pela ECOTERRA durante os anos de 2005, 2006, 2009 e 2010. 

Fonte: ECOTERRA, 2010

10

Page 11: Estudo de Caso da ECOTERRA

Quadro 4: Dificuldades relacionadas ao processo de comercialização na ECOTERRA. Agosto, 2010. 

Tipo de dificuldades

1. Técnicos­produtivas 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Falta de sementes e insumos 

Reorganização/redesenho das Ups

Baixa escala de produção

Baixa padronização dos produtos

Falta de produtos devido à seca

Perda da produção devido à falta de acompanhamento técnico2. Organização do grupo Organização das famílias (união) ainda frágil Incertezas e riscos

Desistência de famílias em função de problemas com a comercialização

3. Na interface com a comunidade/sociedade

Descrença da vizinhança e técnicos e in­terferência negativa da EMATER

Redução do trabalho de assessoria técni­ca ­ ADATABI

4. Na interface com EstadoPressão da vigilância sanitária com fre­qüente apreensão de produtos na feira de EreximPrefeitura de Erexim quer devolução do terreno onde a feira e o ponto fixo estão localizadosIndefinição em relação ao terreno da sede da Ecoterra5. Na comercialização

Transporte de produtos: custo elevado (grande distância entre as comunidades) 

Acúmulo de prejuízo em função dos al­tos custos de comercializaçãoDesvio de recursos por parte de funcio­nário da ECOTERRACalotes por parte dos compradores ­ pe­quenos supermercadosRedução nas vendas devido à retirada de produtos pela vigilância sanitáriaRedução do número de consumidores: local da feira é destinado para um esta­cionamentoCusto elevado torna o circuito Sul inviá­vel para a ECOTERRACusto elevado torna o circuito Sul inviá­vel para a família que assumeEntregas de sacolas tornam­se inviável devido aos custos de comercializaçãoCusto elevado e falta de estrutura na feira de Passo FundoCONAB/PAA: atraso na liberação dos projetosPrecariedade da estrutura do ponto fixo em Erexim

11

Page 12: Estudo de Caso da ECOTERRA

Quadro 5: Prioridades na solução dos problemas relacionados á comercialização

Dificuldades Soluções Responsáveis Prioridade

Indefinições em relação ao uso e posse do Terreno da ECOTERRA em Erexim

Solução para permanência (comodato?)

Coordenação: ECOTERRA0

Estruturas para a feira de Passo Fundo 

Estruturas fixas para co­bertura e mesas

Coordenação: ECOTERRAFinanciamento: MDA/SDT e/ou prefeitura municipal de Passo FundoApoio: Assessoria

1

Estrutura Ponto fixo em Erexim

Estrutura (galpão, câmara fria, gôndolas, resfriado­res, balanças, estantes)Orçamento previsto: R$ 320.000,00

Coordenação: ECOTERRAFinanciamento: MDA/SDT e/ou prefeitura municipal de Erexim Apoio: Assessoria

1

Transporte dos produtos Veículos de pequeno e mé­dio porte

Coordenação: ECOTERRAFinanciamento: MDA/SDT e/ou prefeitura municipal de Erexim Apoio: Assessoria

2

Falta de assessoria Constância na assessoria Coordenação: ECOTERRAFinanciamento: MDA/ATER e/ou prefeituras municipais Apoio: Assessoria

3

Figura 5: Fortalezas/aspectos positivos da ECOTERRA, segundo os associados. Agosto, 2010.

12

Page 13: Estudo de Caso da ECOTERRA

Quadro 6: Relação com governos e políticas públicas

Política/ProgramaNível 

federação Descrição 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Prefeitura Erexim Municipal Disputas em relação ao terreno

Prefeitura 3 Arroios Municipal Apoio no transporte de produtos

Vigilância sanitária  Municipal Retirada de produtos das feiras

RS Rural ­ PAMPA  EstadualCaminhão e 

equipamentos para comercialização

PAA Federal Doação SimultâneaATER­MDA Federal Formação

PNAE Federal Fornecimento para alimentação escolar

     Legenda:

Relação negativa   Relação positiva

13

Page 14: Estudo de Caso da ECOTERRA

Figura  6:  Sugestões  de   políticas   públicas/atuação  dos   governos   pelas   famílias   entrevistadas. Agosto, 2010

Quadro 7. Distribuição da atividades na família.

Atividades Homens Mulheres Filhos Filhas

Atividades domésticas(limpeza, alimentação, comida...)

*** * *

Cuidado com filhos *** ***

Produção no geral lavouras, hortas, frutas...

*** ***

Auto­consumo/Alimentos * *** *

Venda *** **

Comercialização, que vai comercializar

*** **

Colheita *** *** ** *

Preparação dos produtos * *** * *

Transporte/entrega ***

Negociação ***

Controle da renda *** ** * *

14

Page 15: Estudo de Caso da ECOTERRA

Figura 7: Relações e parcerias da ECOTERRA. Agosto de 2010.

15

ECOTERRA30 famílias

REDE ECOVIDA

LAZZARETTI

Ponto Ecológico

COONALTER

CETAPCAPA

EREXIM

SUTRAF3 ARROIOS

Prefeituras:3 Arroios,

ItatibaErexim,

Cáritas

CRESOLAOPA

AFRUTA

COOPERFLORESTA

ECOSERRA

COOPVIDA

Circuito de comercialização

Page 16: Estudo de Caso da ECOTERRA

4 ­ ANÁLISE DOS RESULTADOS

Conforme descrito anteriormente a ECOTERRA é uma associação que surge com o objetivo, 

entre outros, de promover e estimular a comercialização de produtos agroecológicos produzidos 

pelas famílias associadas. Tem o início do trabalho no ano de 2001. Neste momento as famílias 

associadas   já   tinham experiência  com a  produção agroecológica  e  com a  comercialização em 

feiras. Daí pra frente os novos canais foram construídos pela associação. 

Pelo   que   podemos   ver   na   figura   2   o   processo   de   comercialização   de   produtos   na 

ECOTERRA   destaca­se   pela  grande   diversidade  de   canais   de   comercialização   acessados,   a 

maioria destes construídos pela própria organização. Ao todo são 10 tipos diferentes de canais de 

venda através da ECOTERRA (em verde), que vão de feiras em Erexim e Passo Fundo, a entregas 

para pequenos supermercados nestes municípios,  entregas em restaurantes,  vendas através  do 

Circuito Sul de Comercialização, CONAB/PAA e alimentação escolar. Além da venda através da 

ECOTERRA as famílias da associação continuam comercializando através de canais tradicionais, 

tais como vendas nas unidades de produção e para eventos nas comunidades.

Na figura 4 podemos observar informações relacionadas aos números da comercialização. 

De forma geram a comercialização através da ECOTERRA cresceu durante o período de 2005 a 

2010 (de R$ 12.407,00 a R$ 22.256,00/mês) e tem se mantido ao redor de 22 a 24 mil reais por 

mês.

Apesar  de  que as   famílias  da  associação consideram que a  comercialização através  da 

ECOTERRA atualmente possui  uma relativa estabilidade e que está  bem estruturada (ou seja, 

manifestam  satisfação  com o momento  e  as  opções  atuais)  o   caminho  até   aqui  não   foi   sem 

percalços   e   sem   dificuldades.  Observando   o   Quadro  4   podemos   concluir   que  os  problemas 

relacionados à comercialização na ECOTERRA podem ser assim sintetizados: 

✓ Problemas técnico­produtivos, que parecem ter sido resolvidos, a partir do ano 2005, já que 

a maioria das famílias já possuíam experiência em produção agroecológica.

✓ Problemas relacionados à formação do grupo, que aparecem na fase inicial do trabalho (até 

2002).   No   entanto,   pelo   que   parece,   questões   relacionadas   à   comercialização   tem 

influenciado   a   formação,   a   manutenção   e   a   ampliação   do   número   de   famílias   na 

ECOTERRA. Segundo relatos dos entrevistados isto ocorreu devido (a) aos altos de custos 

da comercialização, que reduzia a receita líquida das famílias, tornando para algumas o 

negócio inviável e (b) às dívidas acumuladas pela ECOTERRA para com as famílias (não 

repasse dos valores das vendas), também em função dos gastos com comercialização. Mais 

tarde as desistências são provocadas (c) pelas incertezas e riscos gerados pelo movimento 

da prefeitura municipal de Erexim de retirar o direito de uso do terreno no qual a feira e o 

ponto fixo da ECOTERRA são instalados. 

✓ Na interface com o Estado ganha destaque duas questões principais: a atuação da vigilância 

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Page 17: Estudo de Caso da ECOTERRA

sanitária,  por  um lado,  retirando produtos  das  feiras  e  do ponto  fixo,  e  por  outro,  as 

disputas com a prefeitura de Erexim pelo uso do terreno onde a feira e o ponto fixo da 

ECOTERRA estão instalados. 

✓ Em relação à  comercialização,  propriamente dita, os principais problemas enfrentados ao 

longo do tempo foram/são: (a) custos elevados, em função da distância entre as unidades 

de produção dos membros da ECOTERRA; (b) problemas devidos à atuação da vigilância 

sanitária: redução da oferta de produtos nas feiras. Para algumas famílias a impossibilidade 

de   comercializar   queijos   e   embutidos   (salame,   principalmente)   torna   a   feira   inviável, 

devido ao elevado valor agregado neste tipo de produto; e (c) disputas com a prefeitura 

municipal de Erexim pelo uso e posse do terreno no qual a ECOTERRA está instalada. Os 

riscos   e   incertezas  que  esta  disputa  gerou  na  ECOTERRA causaram o  afastamento  de 

algumas famílias.

Entre   as  fortalezas/aspectos  positivos  (Figura   5)   destacam­se   o   papel   da   assessoria 

técnica, o processo de formação inicial das famílias e a diversificação das unidades de produção. 

As famílias entrevistadas também ressaltam como positivo a diversidade de canais de venda que a 

ECOTERRA gerencia. Em relação ao Circuito Sul de comercialização, que é apontado como um dos 

principais   canais  de  venda,   é   unanimidade  entre  os   entrevistados  que  este   canal   apesar  dos 

volumes elevados e da diversidade que comercializa gerava prejuízo para a ECOTERRA, em função 

do elevado custo do transporte. Quando o Circuito Sul passa para a responsabilidade de apenas 

uma   família   os   prejuízos   para   a   ECOTERRA   diminuem   e   a   ECOTERRA   reduz   as   dívidas 

acumuladas com as famílias. Durante uma ano a família que assume o Circuito Sul trabalha com 

prejuízos, para a partir daí obter lucros. De acordo com os entrevistados esta mudança de prejuízo 

para lucro é devido a um processo mais dinâmico que se estabelece na tomada de decisões. Por 

exemplo: entre as primeiras medidas da família   foi  a troca do veículo de transporte (por um 

veículo mais econômico) e o estímulo para aumento de produção pelas famílias, a fim de baratear 

o custo de deslocamento para recolhimento dos produtos. 

No que se refere às relações com governos e com as políticas públicas (Quadro 6) pode­

mos observar que relações negativas, ou seja, nas quais os governos influenciam negativamente 

sobre os processos de comercialização, têm predominado ao longo do tempo, entre as quais: a 

atuação da vigilância sanitária sobre produtos com elevado valor agregado, tais como queijos e 

embutidos; e a disputa entre a ECOTERRA e  prefeitura municipal de Erexim pelo uso e posso do 

terreno da sede da associação.

Além desta atuação negativa, três foram os programas/políticas governamentais que atua­

ram de forma positiva na construção dos mercados da ECOTERRA: o RS Rural/Pampa, em nível de 

Estado do RS, através dos quais foram adquiridos balanças, caixas plásticas e equipamentos para o 

ponto fixo, o PAA, nos anos de 2005 a 2007, e as vendas para a alimentação escolar, a partir de 

2010.

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Page 18: Estudo de Caso da ECOTERRA

No tocante a estes dois últimos programas, ressalta­se que há uma avaliação positiva no 

que se refere à abertura dos mercados institucionais para as compras da agricultura familiar. Ini ­

cialmente via Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), notadamente na linha de doação simul­

tânea, o qual a associação já vem acessando e executando projetos desde o ano de 2005. Os ali­

mentos são doados à famílias carentes e instituições de caridade na região. O programa cumpre 

importante papel na estruturação da comercialização como um todo, uma vez que, segundo as fa­

mílias:

Previsão segura dos volumes de produtos a serem comercializados;

Favorece o planejamento de produção,

Permite uma segurança de renda às famílias, dando maior estabilidade para realizar inves­

timentos;

Redução dos custos do transporte de produtos, em função dos maiores volumes de comer­

cialização;

Pode fortalecer a diversificação dos sistemas de produção, por aceitar uma boa diversidade 

de produtos.

Por outro lado registram­se também muitas ressalvas em relação à burocratização do pro­

cesso de elaboração dos projetos, à demora na liberação dos recursos (este item principalmente) e 

às dificuldades na prestação de contas pelo excesso de papéis necessários ao processo.

Apesar de ainda ser incipiente, em função do pouco período de implementação, outra ação 

observada com destaque pelos representantes da experiência é o do acesso ao Programa Nacional 

de Alimentação Escolar (PNAE). As famílias ainda manifestam muitas dúvidas sobre os mecanis­

mos de acesso às aquisições via PNAE, a partir da aprovação da Lei da Alimentação Escolar, que 

obriga a aquisição de no mínimo 30% dos produtos da agricultura familiar.

A associação visualiza um importante potencial no acesso ao PNAE, realizando algumas ex­

periências locais e regionais, via circuito sul de comercialização. No entanto ainda há dificuldades 

no tratamento do processo (chamadas públicas, prestação de contas, recebimentos, etc...), bem 

como na negociação de perfil de produtos e entregas de produtos. 

No entanto, de uma forma geral, pode­se falar em uma quase ausência na participação do 

Estado na construção social dos mercados da ECOTERRA, o que pode ser visualizada no diagrama 

de Venn (Figura 7). Este objetiva identificar/mapear a rede de relações em que ECOTERRA está 

inserida, quem são os parceiros e qual a proximidade destes com o grupo. Aqui podemos ver que 

os principais parceiros da ECOTERRA têm sido entidades também organizadas por agricultores fa­

miliares (ECOVIDA, COONALTER, SUTRAF, CRESOL), ou entidades de apoio e assessoria a proje­

tos alternativos, tais como o CETAP e a Cáritas Diocesana. Tratando­se da parceria com o Estado as 

parcerias restringem­se às prefeituras municipais de alguns municípios da região Altos Uruguai.

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Page 19: Estudo de Caso da ECOTERRA

No âmbito das relações de gênero, a realidade descrita no Quadro 7 demonstra ainda um 

predomínio da figura masculina na maioria das atividades desenvolvidas pelas famílias da Ecoter­

ra no âmbito da comercialização. Se bem ,nas entrevistas e depoimentos homens e mulheres des­

tacavam, que o trabalho com agroecologia contribuiu para redesenhar as relações nas famílias, 

onde as atividades produtivas tipicamente desenvolvidas pelas mulheres passam a ser mais valori­

zadas. Nesse sentido,  gestão e trabalho nessas áreas passou a ser conjunta do casal, se bem ainda 

se observam muitos aspectos para evoluir na questão, há um consenso entre as famílias de que no 

âmbito das famílias agroecologistas, está se construindo uma maior equidade nas relações.

O Quadro 7 foi elaborado a partir de uma atividade coletiva em grupo, feita pelas 

próprias mulheres da Ecoterra, que em entrevistas afirmam que ainda há o que evoluir na discus­

são de gênero, mas que há um processo permanente de reconstrução das relações na família dado 

pela maior integração das atividades na propriedade pelos processos de formação que vêm se dan­

do no âmbito das famílias.

Por fim, como sugestões de políticas (Figura 6) as famílias apontam: (a) programas mais 

fáceis de acesso por parte de agricultores familiares; (b) subsídios ao transporte, o que não pode­

ria ser diferente, já que os custos de transporte têm sido um dos principais problemas da ECOTER­

RA ao longo dos anos e atividades; (c) a possibilidade de capital de giro, principalmente para que 

as organizações mantenham seus compromissos com as famílias associadas; e por último sugerem 

mudanças na legislação a fim de facilitar a comercialização de alimentos processados.

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência desenvolvida pela Associação ECOTERRA caracteriza de forma exemplar as 

iniciativas de construção de mecanismos alternativos de mercados no âmbito da agroecologia. 

Focada  na  diversificação  de   estratégias   de  mercado,   a   ação  da  ECOTERRA  tem  sua  história 

caracterizada pela construção de caminhos próprios no acesso à mercados.

Do caso aqui sistematizado, para além das deficiências que possa apresentar, podem­se 

extrair importantes características do processo de comercialização desenvolvido, dentre as quais 

podem­se destacar:

O caráter  endógeno  da  proposta,  oriunda dos  esforços  e   iniciativa  das  organizações 

locais de agricultores e de assessoria;

O formato participativo do processo de construção dos novos mecanismos de mercado 

propostos;

A centralidade na valorização e garantia de autonomia dos grupos locais de agricultores, 

dada   pela   menor   dependência   dos   agricultores   a   fatores   de   mercados   alheios   à   sua 

realidade, pela eliminação da intermediação e pela capacidade de gestão e negociação nas 

estratégias de mercado estabelecidas;19

Page 20: Estudo de Caso da ECOTERRA

O enfoque na dimensão do abastecimento de alimentos ecológicos, promovendo grande 

diversidade de estratégias de mercado;

A relação positiva e interdependente entre mecanismos de mercado desenvolvidos e a 

sustentabilidade dos sistemas de produção, notadamente no que se refere à diversificação 

das propriedades;

A  quase   ausência   do   Estado  na   construção  das   estratégias   (nos   âmbitos  municipal, 

estadual   ou   federal)   evidenciando   um   vazio   de   ações   de   governos   que   permitam   a 

viabilização de estratégias diferenciadas de comercialização para a agricultura familiar. O 

que foi  possível observar  de participação do Estado foi  em momentos e ações pontuais. 

Somente mais recentemente a ação do Estado estrutura­se para ser mais continua através do 

PAA e compras para a alimentação escolar.

A relação conflitiva com o Estado, notadamente no que se refere a adequação às normas 

da vigilância sanitária e à instabilidade da postura da prefeitura municipal de Erexim no que 

se   refere  à   cessão do  terreno onde  a  ECOTERRA  tem sua  estrutura  de  comercialização 

montada;

A   relevância   do   papel   da   assistência   técnica   no   processo   de   construção   de   novos 

mecanismos de mercado,  caracterizada por uma assessoria  de caráter  participativo,  com 

intensidade de presença nos grupos acompanhados, promovida por ONG's e organizações 

locais;

Especificamente no que tange ao acesso e participação das políticas públicas no processo 

de constituição da experiência da Ecoterra podem­se destacar algumas dimensões de políticas que 

parecem ser centrais no desenho de mercados locais para comercialização de alimentos ecológicos. 

Esta   leitura   parte   da   extrapolação   das   demandas   por   políticas   levantadas   pelos   agricultores 

integrantes da ECOTERRA, mas que permite ampliar a leitura e as proposições, conforme descrito 

no quadro à seguir: 

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Page 21: Estudo de Caso da ECOTERRA

Quadro 8: Proposições de ações/políticas públicas a partir da ECOTERRA.

Dimensão Demanda

Assistência Técnica e Extensão Rural

Apoio à programas de organizações locais de ATER, Fomento à processos de formação em gestão, beneficiamento da 

produção, elaboração de projetos, etc;

Logística e Estrutura de comercialização

Cessão e financiamento de infra­estrutura e insumos para processamento mínimo de produtos (limpeza, seleção, embalagem, ...);

Viabilização estruturas para espaços de venda (barracas, estruturas fixas, pontos de venda, ...);

­ Capital de giro para aquisição de insumos necessário à comercialização e para garantia de pagamentos regulares aos agricultores;

Transporte Subsídios ao transporte de produtos, pela dispersão das unidades de produção e pelos volumes ainda pequenos;

Viabilização da aquisição de veículos; Facilitação de estruturas de comunicação (internet, rádios, etc...)

Vigilância sanitária Adequação da legislação à realidade de unidades de produção familiares;

Viabilização de estruturas adequadas à legislação;

Operacionalização de projetos

Redução de burocracia na elaboração de projetos e prestação de contas para o mercado institucional;

Desburocratização no acesso aos recursos públicos para projetos de ATER.

No que se refere aos processos internos à experiência ficam evidentes deficiências de ges­

tão no processo de comercialização, bem como as dificuldades de absorção de um maior número 

de famílias ao processo, notadamente, pela falta de condições para realização do trabalho de as­

sessoria (ATER). Notam­se também perspectivas diferenciadas entre as famílias no que se refere 

aos processos futuros e projetos para a comercialização, algumas mais voltadas para uma preocu­

pação com a melhoria de sua renda, outras levando esta dimensão em conta, porém ampliando a 

visão para dimensões políticas da comercialização alternativa de produtos agroecológicos.

Tais diferenças são geradoras de conflitos e divergências dentro da Associação, que já leva­

ram inclusive a desfiliação de membros, mas que, de forma geral, parecem estar sendo tratadas de 

forma consensual. Tal aspecto é possível ser verificado quando observamos a importância que to­

dos dão a associação e ao cumprimento das decisões tomadas pelo coletivo. 

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Page 22: Estudo de Caso da ECOTERRA

ANEXO I

­ Listas de presença das atividades ­ 

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Page 23: Estudo de Caso da ECOTERRA

ANEXO II

­ Imagens das atividades ­ 

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