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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Psicologia Kelly Daniela Ladeia Maria Lucia Bergami Antunes Soares ESTUDO ANALÍTICO-COMPARATIVO: PSICOTERAPIA DE GRUPO E PSICOTERAPIA INDIVIDUAL A PARTIR DA PERSPECTIVA DO SUJEITO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Lins/SP LINS - SP 2013

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UNISALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Psicologia

Kelly Daniela Ladeia

Maria Lucia Bergami Antunes Soares

ESTUDO ANALÍTICO-COMPARATIVO:

PSICOTERAPIA DE GRUPO E PSICOTERAPIA

INDIVIDUAL A PARTIR DA PERSPECTIVA DO

SUJEITO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium –

Lins/SP

LINS - SP 2013

KELLY DANIELA LADEIA

MARIA LUCIA BERGAMI ANTUNES SOARES

ESTUDO ANALÍTICO-COMPARATIVO: PSICOTERAPIA DE GRUPO E

PSICOTERAPIA INDIVIDUAL A PARTIR DA PERSPECTIVA DO SUJEITO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Banca Examinadora do Centro Universitário

Católico Salesiano Auxilium, do curso de

Psicologia, sob a orientação do Prof. Me.

Oscar Xavier de Aguiar e orientação técnica

da Profª Ma. Jovira Maria Sarraceni.

LINS – SP

2013

KELLY DANIELA LADEIA

MARIA LUCIA BERGAMI ANTUNES SOARES

ESTUDO ANALÍTICO-COMPARATIVO: PSICOTERAPIA DE GRUPO E

PSICOTERAPIA INDIVIDUAL A PARTIR DA PERSPECTIVA DO SUJEITO

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,

para obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Aprovado em ________/________/________

Banca Examinadora:

Prof. Orientador: Oscar Xavier de Aguiar

Titulação: Mestre em Psicologia Clínica pela PUC de Campinas

Assinatura: _________________________________

1º Prof. (a): ______________________________________________________

Titulação: _______________________________________________________

Assinatura: _________________________________

2º Prof. (a): ______________________________________________________

Titulação: _______________________________________________________

Assinatura: _________________________________

Aos meus pais que me ensinaram a vida,

dizendo: O tempo passa, então passe o seu

tempo estudando.

Ao meu esposo que sempre me incentivou e me

substituiu em casa para que eu pudesse fazer

outra faculdade.

A minha filha Natália por confiar sempre em mim.

Maria Lucia

Ao meu filho Pietro, por tornar os meus dias

repletos de esperança e alegria.

Aos meus pais e meu esposo, por serem os

pilares que sustentam os meus sonhos, sem eles

minhas realizações não seriam possíveis.

Kelly Daniela

AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus pela força, proteção e iluminação

recebida no decorrer desta caminhada, dando-nos coragem para continuar. Por

nos manter unidas em todos os momentos, fáceis e difíceis, nos ensinando que

somente através do companheirismo e empatia é possível chegar ao fim da

jornada.

A Unisalesiano – Lins/SP pela credibilidade e por, além de nos oferecer

uma formação de qualidade, possibilitar a realização da pesquisa.

Aos alunos, cujas adesões foram imprescindíveis para a realização da

pesquisa, por confiarem e participarem prontamente.

À coordenadora Ana Elisa Silva Barbosa de Carvalho, aos mestres José

Rogério Machado de Paula, José Ricardo Lopes Garcia, Maurício Ribeiro de

Almeida, Danielle Barboza, Gislaine Lima Silva e Paulo Sergio Fernandes que

compartilharam seus conhecimentos e pelo exemplo de ética e

profissionalismo.

Ao nosso orientador Oscar Xavier de Aguiar que se disponibilizou em

nos orientar, com confiança em nosso trabalho.

À professora Jovira Maria Sarraceni, exemplo de profissional e ser

humano, que além da orientação técnica nos ofereceu suporte emocional nos

momentos necessários, nos incentivando incansavelmente.

À professora Elizeth Germano Mattos que apesar de não ser nossa

orientadora, nos auxiliou e apoiou com dedicação e carinho. Sua contribuição é

incontestável para a realização do presente trabalho.

Ao professor Marcos José Ardenghi que apesar dos compromissos

diários, se dispôs a auxiliar nos ajustes necessários para alcançarmos a

qualidade na pesquisa.

Aos nossos pais por todos os ensinamentos, pelos valores e dedicação.

Se hoje acreditamos em nossa capacidade, devemos isso a eles.

Aos nossos esposos e filhos pelo apoio incondicional, dedicação,

compreensão e paciência. Por abdicarem momentos de atenção e nos suprir

em ocasiões de ausência, superando todas as dificuldades no decorrer deste

caminho.

Aos colegas que hoje se tornaram amigos.

RESUMO

O presente trabalho buscou analisar os processos psicoterapêuticos, individual e grupal, a partir da perspectiva dos sujeitos, esses enquanto clientes de um serviço prestado e como futuros profissionais atuantes na promoção de saúde. Realizou-se a pesquisa qualitativa no Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Lins/SP, utilizando-se o método de estudo de caso, por meio do instrumento questionário, que foi aplicado nos alunos dos últimos semestres dos cursos de graduação na área da saúde. Os resultados foram analisados através do método estatístico. As categorias analisadas foram: as concepções dos sujeitos a cerca da psicoterapia de grupo e a psicoterapia individual, as condições facilitadoras e as condições inibidoras nas duas modalidades psicoterápicas e a motivação dos sujeitos na escolha de um atendimento. A pesquisa teve ainda seu referencial teórico embasado na pesquisa bibliográfica, onde se abordou os processos históricos das modalidades de psicoterapias, individual e grupal respectivamente, bem como as abordagens, métodos e técnicas de trabalho clínico de cada modalidade. Constatou-se que, embora seja reconhecida a importância da socialização, das trocas de experiências, do compartilhamento dos problemas, das emoções e dos sentimentos similares, bem como suas soluções, os sujeitos da pesquisa preferem resguardar-se da comunidade para então buscar a solução de seus problemas na relação singular do atendimento particular. Buscou-se, com o presente trabalho, proporcionar uma maior compreensão do indivíduo enquanto agente ativo nos processos psicoterapêuticos. A identificação dos problemas e dificuldades que permeiam o imaginário do sujeito sobre as modalidades de psicoterapia possibilitará novas formas de ação e poderá contribuir para uma intervenção efetiva e eficaz que alcance bons resultados. Palavras-chaves: Psicoterapia individual. Psicoterapia de grupo. Perspectiva.

Sujeitos.

ABSTRACT

The college labor searched analyze the psychotherapy processes, individually and in groups, from the perspective of the subject while patients of a service and future professionals in health promotion. The qualitative research was realized in the University Center Catholic Salesian Auxilium in Lins, SP, method using the case study, by means of a questionnaire applied in the last semester students of courses in health. The results were analyzed using the statistical method. The analyzed categories were: the subjects conceptions about a psychotherapy group and an individually psychotherapy, the facilitating and inhibitory conditions in both psychotherapeutic modalities and the subjects motivation in choosing an attendance. The research also had a theoretical background grounded by bibliographical survey, where was broached the historical processes of the modalities of and individual and a group psychotherapy and respectively, methods and techniques of clinical work of each modality. It was found that , although it is recognized the importance of socialization , the exchanging experience ,the sharing of problems , emotions and similar feelings, as well as their solutions , the subjects prefer to protect itself from the community to look for the solution of their problems in a singular relation of a particular attendance . It was pursued, with this work, providing a better comprehension of the individual while as an active agent in psychotherapeutic processes. The identification of the problems and difficulties that permeate the imagination of the subject on the modalities of psychotherapy will enable new forms of action and may contribute to an effective and efficient intervention that achieves good results. Keywords: Individual psychotherapy. Group psychotherapy. Perspective. Subject.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Participantes por curso – Área da Saúde .......................................... 33

Figura 2: Utilização de serviços psicológicos .................................................... 36

Figura 3: Tempo de tratamento ......................................................................... 36

Figura 4: Preferência pela modalidade individual ou em grupo ........................ 37

Figura 5: Pergunta 1 ......................................................................................... 54

Figura 6: Pergunta 2 ......................................................................................... 55

Figura 7: Pergunta 3 ......................................................................................... 55

Figura 8: Pergunta 3.1 ...................................................................................... 56

Figura 9: Pergunta 4 ......................................................................................... 56

Figura 10: Pergunta 4-a .................................................................................... 57

Figura 11: Pergunta 4-b .................................................................................... 57

Figura 12: Pergunta 5.1 .................................................................................... 58

Figura 13: Pergunta 5.2 .................................................................................... 58

Figura 14: Pergunta 6.1 .................................................................................... 59

Figura 15: Pergunta 6.2 .................................................................................... 59

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Relação entre os tipos de intervenção individual e grupal quanto ao

contexto, relação terapêutica e enfoque ........................................................... 29

Tabela 2 – Relação entre os tipos de intervenção individual e grupal quanto

método, objetivos e conceitos ........................................................................... 30

Tabela 1 - Conceito de Psicoterapia Individual ................................................. 33

Tabela 2 - Conceito de Psicoterapia em Grupo ................................................ 35

Tabela 3 - Justificativas para a escolha da modalidade individual .................... 38

Tabela 4 - Justificativas para a escolha da modalidade grupal ......................... 39

Tabela 5 - Condições facilitadoras e condições inibidoras na psicoterapia

individual ........................................................................................................... 42

Tabela 6 - Condições facilitadoras e condições inibidoras na psicoterapia em

grupo ................................................................................................................. 43

Tabela 7 - Participantes por curso .................................................................... 60

Tabela 8 - Utilização de serviços psicológicos ................................................ 600

Tabela 9 - Tempo de tratamento ..................................................................... 600

Tabela 10 - Preferência pela modalidade individual ou em grupo .................. 600

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11

CAPÍTULO I - PSICOTERAPIA INDIVIDUAL .................................................. 13

1 PSICOLOGIA CLÍNICA ......................................................................... 13

1.1 História e evolução da Psicologia Clínica ............................................... 13

1.2 Métodos de trabalho clínico na Psicoterapia Individual .......................... 15

1.2.1 A Gestalt – Psicologia da Forma ............................................................ 15

1.2.2 Terapia Reichiana - Energia Orgônica ................................................... 16

1.3 Os motivos que levam a procura pelo serviço de psicoterapia e as

vantagens da clínica individual ......................................................................... 18

CAPÍTULO II - PSICOTERAPIA DE GRUPO ................................................... 23

2 GRUPOS PSICOTERAPÊUTICOS ........................................................ 23

2.1 Visão histórica da Psicoterapia de Grupo............................................... 23

2.2 Vantagens e desvantagens das psicoterapias grupais .......................... 26

2.3 O grupo e o terapeuta: o manejo dos climas inibidores e dos climas

facilitadores ....................................................................................................... 27

2.4 Terapia Cognitiva Grupal X Terapia Cognitiva Individual ....................... 28

CAPÍTULO III - PESQUISA .............................................................................. 31

3 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 31

3.1 Metodologia e Método de Pesquisa ....................................................... 31

3.2 Apresentação e análise dos resultados .................................................. 32

3.2.1 Conceito: Psicoterapia Individual e Psicoterapia em grupo .................... 33

3.2.2 Utilização dos serviços psicológicos ...................................................... 35

3.2.3 Justificativa para a escolha da modalidade: Psicoterapia individual e

psicoterapia em grupo. ..................................................................................... 37

3.2.4 Condições facilitadoras e inibidoras: Psicoterapia individual e

Psicoterapia em grupo ...................................................................................... 40

3.3 Parecer Final .......................................................................................... 45

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ..................................................................... 46

CONCLUSÃO ................................................................................................... 47

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 49

APÊNDICES ..................................................................................................... 52

ANEXOS ........................................................................................................... 61

11

INTRODUÇÃO

Em meados do século XIX, a Psicologia surgiu formalmente como

ciência. Já no século XX, surgiu o Behaviorismo com Watson, a Gestalt com

Perls e a Psicanálise com Freud, que acabou por caracterizar a atuação clínica

do psicólogo com a relação “analista/analisando”. (DOMINGUES, 2012)

Freud trouxe para a clínica psicológica, diferentemente do modelo da

clínica médica, a importância da escuta, da resistência e visão de sujeito

enquanto parte integrante de sua história de adoecimento, não apenas objeto

passível de observação. Do mesmo modo, a questão do segredo passou a ser

uma força primordial no processo terapêutico, o que levou a clínica

psicanalítica se enquadrar nos moldes do individualismo. “O paradigma da

psicoterapia como espaço do segredo fortalece o imaginário de que a clínica

mais efetiva para tratar os sofrimentos psíquicos seja a clínica individual”.

(MOREIRA; ROMAGNOLI; NEVES, 2007, p.613)

Nesse contexto, tem-se a relação terapêutica terapeuta/cliente, onde

esse vínculo permite que o sujeito exerça sua individualidade de forma sigilosa,

revelando seus conflitos, medos, desejos e fantasias a alguém que o aceita e

compreende, resguardando-se da exposição pública.

Para Semprebom (2007), a situação de grupo configura um ambiente

fértil para a ressignificação de experiências emocionais vividas, proporcionado

pela presença do “outro”, este visto como agente de apoio e auxílio.

Atualmente, as políticas públicas voltadas para a área da Saúde Mental,

buscando atender a alta demanda pela procura dos serviços psicológicos,

utilizam os grupos psicoterapêuticos, visto que estes se constituem conduta

privilegiada no atendimento à Atenção Psicossocial, pois possibilita atender

altas demandas e reduzir custos operacionais.

Diante desse quadro, emergiu a necessidade de questionar, junto aos

sujeitos, a hipótese de que a psicoterapia individual se sobressai à psicoterapia

em grupo. Acredita-se que na situação de grupo, a autocensura e a vergonha

sejam eventos emocionais que impedem a exposição pública dos problemas

centrais e dificuldades dos sujeitos, o que não ocorreria nas psicoterapias

individuais. Desse modo, os sujeitos teriam mais aceitação e adesão à

12

psicoterapia individual. Para demonstrar, na prática, a veracidade da hipótese,

foi realizada a pesquisa no Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium –

Lins/SP, cujos métodos e técnicas estão descritos no Capítulo 3.

A pesquisa voltou seu olhar para o sujeito investigando suas

expectativas, receios e fantasias. Com os resultados aferidos, pretendeu-se

proporcionar maior compreensão do indivíduo enquanto agente ativo nos

processos psicoterapêuticos, visto que este ocupa o espaço da identificação

dos problemas e dificuldades que permeiam o seu imaginário sobre as

modalidades de psicoterapia, buscando compreendê-los e assim possibilitar

novas formas de ação, o que poderá proporcionar uma intervenção efetiva e

eficaz que alcance bons resultados.

O presente trabalho buscou analisar os processos psicoterapêuticos,

individual e grupal, a partir da perspectiva dos sujeitos, enquanto clientes de

um serviço prestado e futuros profissionais atuantes na promoção de saúde. A

partir da compreensão do sujeito em sua gama de sensações e sentimentos,

comparando-se as expectativas dos sujeitos em relação ao atendimento

psicoterápico em grupo e individual, verificou-se a concepção dos sujeitos

quanto às psicoterapias individual e grupal, elencaram-se as condições

facilitadoras e condições inibidoras que os sujeitos veem nas duas

modalidades psicoterápicas, sendo possível averiguar qual a melhor

modalidade psicoterápica para os sujeitos e os motivos para a escolha

indicadas.

No primeiro capítulo, aborda-se a história da Psicologia Clínica e suas

implicações no individualismo, os métodos de trabalho clínico na psicoterapia

individual, as diferentes abordagens, bem como as motivações e as vantagens

na procura pela psicoterapia individual.

No segundo capítulo, descreve-se a definição de grupo, o processo

histórico da psicoterapia grupal, as vantagens e desvantagens das

psicoterapias grupais e o papel do terapeuta enquanto facilitador nas

intervenções em grupo.

No terceiro capítulo, é realizada a descrição e análise da pesquisa

aplicada com os alunos dos últimos semestres dos cursos da área da saúde do

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Lins/SP. Finalizando, é

apresentada a proposta de intervenção e conclusão do presente trabalho.

13

CAPÍTULO I

PSICOTERAPIA INDIVIDUAL

1 PSICOLOGIA CLÍNICA

Segundo uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Psicologia

(WHO, 2001), a atuação dos psicólogos em sua maioria, 54,9% dos

profissionais que estavam exercendo a profissão, se concentrava na Psicologia

Clínica.

Uma das possíveis explicações para a escolha da clínica como espaço

profissional possa ser de que a gênese da psicologia está na Medicina.

Hipócrates, na Grécia, há 2.500 anos inaugurou a observação clínica e criou a

anamnese, definindo-a como a primeira etapa do exame médico. O próprio

exame médico foi por ele introduzido na clínica, objetivando a obtenção de

dados para a elaboração do diagnóstico e do prognóstico. (MOREIRA;

ROMAGNOLI; NEVES, 2007)

1.1 História e evolução da Psicologia Clínica

De acordo com Moreira, Romagnoli e Neves (2007), tem-se um enorme

salto histórico que vai da Grécia até o século XVIII, período onde muitas

doenças foram descritas, porém, com poucos avanços científicos em relação

aos tratamentos. Somente a partir do século XIX a clínica médica teve o seu

período áureo, enriquecendo a Medicina com numerosas descobertas, fruto de

observações cuidadosas e da instrumentalização do médico.

Como citado anteriormente, a mãe da psicologia é a Medicina que, na

utilização de método científico em contexto inter-relacional médico/paciente, a

medicina legitimou a psicologia como ciência. Para a Psicologia, embora ocorra

a imaterialidade e a subjetividade dos problemas psicológicos, é através da fala

que acontece a descrição dos sintomas sobre a qual o analista pode traçar o

plano de tratamento: diagnóstico, prescrição e prognóstico.

14

O modelo médico propõe que o médico fale por seu paciente, é o

médico que define qual doença o paciente apresenta. Embora esse paradigma

mantenha-se até os dias atuais, surge no início do século XIX, um novo

paradigma dentro da medicina, Freud, o pai da psicanálise, que inverte o lugar

do paciente com o médico, quem fala agora é o paciente, é ele que vai dizer o

que tem, porém, dada à condição inconsciente desse saber, o analista ocupa o

lugar de facilitador entre o saber inconsciente do paciente e o saber profissional

do analista.

Concomitantemente, enquanto a medicina clínica aprimora seus

métodos diagnósticos, por via da observação e de complexas tecnologias que

sustentam múltiplas possibilidades de intervenção na direção da cura orgânica,

e do holos, onde o ser humano é visto em sua totalidade, a clínica freudiana,

também se foca sobre o cliente na busca diagnóstica, enfatiza mais a escuta

do sofrimento do que a visão do mesmo, e propõe, como método de

intervenção, a psicoterapia/análise. (COSTA, 2003)

Muitos são os avanços introduzidos por Freud na clínica psicológica, tais

como: a mudança do paradigma da observação para o da escuta, a

importância da resistência e, em última instância, a perspectiva de tratar o

cliente como um sujeito de sua história de adoecimento, e não como mero

objeto.

Desde a Grécia antiga, os fenômenos psicológicos eram deuses que

representavam arquétipos individuais, tal como o sujeito moderno se percebe

como um ser singular, um ser que conquistou o direito de exercer sua

individualidade de maneira sigilosa, a fim de resguardar-se da exposição

pública, logo, a prática clínica era, portanto, descomprometida com o contexto

social.

No entanto, a clínica psicanalítica freudiana introduz a questão do

segredo como força motriz do processo terapêutico, assim, essa clínica se

enquadra em moldes individualistas. O paradigma da psicoterapia como

espaço do segredo fortalece o imaginário de que a clínica mais efetiva para

tratar os sofrimentos psíquicos seja a clínica individual.

É compreensível que a tendência seja individualista, haja vista que é na

inter-relação que ocorre o processo de constituição da subjetividade e do

intersubjetivo, é o outro que possibilita ao “eu” o ingresso no mundo social.

15

1.2 Métodos de trabalho clínico na Psicoterapia Individual

Para Scarpato (2010), a terapia individual é o encontro de duas pessoas,

terapeuta e paciente, cada um com sua visão de mundo e ambos respeitando

seu espaço. De um lado, o terapeuta com neutralidade ouve e procura

compreender a história do outro, que por sua vez, está em busca de

acolhimento, segurança e alivio para suas queixas. A aliança terapêutica é

importante no sentido de que o cliente deve estar à vontade para se entregar

ao processo terapêutico. A terapia ocorre em um espaço próprio, o que é

falado ali tem garantia de sigilo absoluto.

Teorias não faltam, a cada dia emergem-se novas hipóteses a serem

testadas e aferidas, porém, o modo de operar continua sendo, com ampla

margem de utilização e aceitação, a clínica individual.

Segundo Scarpato (2010), não existe um tratamento padronizado na

psicologia clínica, as diversidades clínicas ocorrem na escolha do terapeuta ao

utilizar o corpo de conhecimento de uma abordagem teórica. Essas orientações

teórico-práticas dividem-se a partir da perspectiva e da concepção do homem

psíquico. As principais orientações teórico-práticas são: Psicodinâmica, entre

essas, a Psicanálise e Psicologia Analítica; Humanista, representada dentre

outras, pela Gestalt; Corporal, tais como a Reichiana e a Bioenergética;

Cognitivo-Comportamental e Sistêmica.

Em um voo panorâmico pode-se constatar as diferentes concepções do

homem psíquico dentro da diversidade de abordagens, tal como segue.

1.2.1 A Gestalt – Psicologia da Forma

Esta abordagem tem como foco em seu bojo teórico, a percepção, ou

seja, o que o sujeito percebe, como percebe e qual significado dá ao percebido.

Entre o sujeito e o meio existe o processo de percepção que resulta daí o

comportamento emocional.

A Gestalt tem sua base teórica na psicofísica, quando Ernest March e

Christian von Ehrenfels, entre o final séculos XIX e meados do século XX,

pesquisaram sobre as sensações físicas em relação às sensações emocionais,

16

e depois, Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt Koffka relacionaram forma e

percepção que resultam em ilusão de ótica, grosso modo, ver o que não é.

Como explica Bock, Furtado e Teixeira (1994), na visão dos gestaltistas,

o comportamento deveria ser estudado nos seus aspectos mais globais.

Levando em consideração as condições que alteram a percepção do estímulo.

E mais adiante, os mesmos autores citam o fechamento, simetria e

regularidade como elementos que norteiam a percepção. Outro aspecto

considerado na Gestalt é o Campo Psicológico que preconiza a busca do

entendimento da situação pelo agrupamento, semelhança e fechamento que

resulta no insight como aprendizagem na relação do todo e suas partes.

De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (1994), Kurt Lewin, considerado

por alguns autores como Gestaltista e por outros não, sua noção de Campo é o

espaço vital, sendo que este determina o comportamento através da percepção

da totalidade dos fatos em um dado momento, na inter-relação dinâmica do

sujeito, meio, fatos relacionados e interdependentes.

1.2.2 Terapia Reichiana - Energia Orgônica

Em uma explicação sucinta, Ballone (2008) fala das Teorias de Reich e

sobre o bloqueio da Energia Orgônica, através do seguinte texto:

Reich dava grande ênfase à importância de desenvolver uma livre expressão de sentimentos sexuais e emocionais dentro do relacionamento amoroso maduro. Reich enfatizou a natureza essencialmente sexual das energias com as quais lidava e descobriu que a bioenergia era bloqueada de forma mais intensa na área pélvica de seus pacientes. ... meta da terapia deveria ser a libertação dos bloqueios do corpo e a obtenção de plena capacidade para o orgasmo sexual, o qual sentia estar bloqueado na maioria dos homens e das mulheres. Couraça Muscular, Reich descobriu que a perda da rigidez crônica dos músculos resultava frequentemente em sensações físicas particulares, em sentimentos de calor e frio, formigamento, coceira e uma espécie de despertar emocional. Ele concluiu que essas sensações eram devidas a movimentos de uma energia vegetativa ou biológica liberada. ([s.p.])

Como visto anteriormente, qual uma mapa urbano, pode-se chegar ao

mesmo destino por diversos caminhos e, embora a psicologia seja única, seu

corpo de conhecimento é amplo quando consideradas as diversas abordagens

e, ainda que se observe a orientação teórica-prática matriz existe diversidade

17

intrínseca na unidade teórica, poderia até se dizer que - As psicologias só se

igualam em uma coisa: na clínica individual – haja visto que todas as

abordagens utilizam essa práxis clínica.

Como exemplo, citam-se a psicanálise e o comportamentalismo, ambas

antagônicas na compreensão da psique humana. Se por um lado a psicanálise

concebe o homem psíquico a partir do Complexo de Édipo na formação das

instâncias emocionais do aparelho psíquico (id, ego e superego) como o centro

dos conteúdos que falam de si inconscientemente, o comportamentalismo vê

na aprendizagem e na percepção do ambiente, o resultado de seus

comportamentos.

Conforme citação abaixo, podemos observar que os próprios autores

utilizam termos e conceitos que se misturam a diferentes abordagens.

A função primordial da clínica psicanalítica – a análise - é buscar a origem do sintoma, do comportamento manifesto, ou seja, do que é verbalizado, isto é integrar os conteúdos inconscientes na consciência com objetivo de curar ou de autoconhecimento. Para isso é necessário vencer as resistências do indivíduo, que impedem o acesso ao inconsciente. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1994, p.75)

Dentro de uma mesma orientação teórico-prática, no caso, a psicanálise,

ocorre interpretações do homem psíquico de maneira diferente, a exemplo,

Freud e seu contemporâneo, Jung, ainda que mantivesse o conceito do

aparelho psíquico, fala de um inconsciente coletivo, cujo conteúdo é controlado

por arquétipos anima/animus. Para Grinberg (1997), de acordo com Jung, a

análise é relação dialética estabelecida entre duas pessoas – cliente e analista

- com objetivo de investigar o inconsciente do cliente”, vindo a confirmar o

individualismo clínico.

Por outro lado, o behaviorismo, com Watson, em 1913, dedicou-se ao

estudo do comportamento, questionando a cientificidade que deve acompanhar

as pesquisas, ou seja, o comportamentalismo coloca como objeto de estudo o

comportamento, dada a possibilidade de se ver.

Ainda na mão do comportamentalismo, Skinner (1974, p.8) o criador da

Análise do Comportamento, diz que “os principais problemas enfrentados hoje

pelo mundo só poderão ser resolvidos se melhorarmos nossa compreensão do

comportamento humano”, que sob interação e controle do ambiente, explicitam

como se dá o comportamento. Para Teoria Congnitivo-comportamental, o

18

comportamento é fruto de como se deu a aprendizagem que resultou em

percepções próprias de cada um.

Como as pessoas se sentem está associado ao modo como elas interpretam e pensam em uma situação. A situação em si não determina diretamente como elas se sentem; sua resposta emocional é intermediada por sua percepção da situação. (BECK, 1997, p. 29)

Mais adiante, a autora ensina como conduzir a clínica individual através

de uma sessão estruturada com um protocolo único de atendimento, desde o

segundo encontro até a sessão final, quando o paciente se apropria do controle

da crença central:

1. Breve atualização e verificação do humor (e de medicação, uso

de álcool e/ou drogas, quando aplicável). 2. Ponte com a sessão anterior. 3. Estabelecer roteiro. 4. Revisar tarefa de casa. 5. Discussão de tópicos dos roteiros, estabelecimento de novas

tarefas de casa e resumos periódicos. 6. Resumo final e feedback. (BECK, 1997, P.60).

1.3 Os motivos que levam à procura pelo serviço de psicoterapia e as

vantagens da clínica individual

São vários os motivos que levam uma pessoa a procurar o apoio de um

psicólogo: desejo de autoconhecimento, de compreender e aprender a lidar de

maneira mais satisfatória consigo, com seus incômodos e com alguns aspectos

seus, tais como, questões relacionais – com familiares, amigos, parceiros,

situações de trabalho etc. – e até os quadros geradores de maiores

sofrimentos, como: depressão, síndrome do pânico e outros transtornos que

envolvem sintomas físicos – nesses últimos casos muitas vezes é necessário o

acompanhamento médico paralelo com um psiquiatra. De uma forma geral, o

que se pode observar é que muitos dos problemas apontados pelos pacientes,

está na tendência “cristalizada” de ver e viver a vida. Faz parte de uma boa

psicoterapia auxiliar o sujeito a vislumbrar maneiras novas e mais saudáveis de

estar no mundo, consigo e com suas relações.

Não são poucos os problemas de adequação que muitos apresentam no

decorrer de sua existência. De forma encoberta, as pessoas passam suas

vidas carregando fardos de psicopatologias e nem sequer sabem que as

19

possuem, apenas conhecendo o sofrimento resultante. São diversos os

sofrimentos psíquicos e somente um especialista pode diagnosticá-lo. Scarpato

(2010) elenca algumas das diferentes psicopatologias das quais a clínica tem

como demanda:

Tratamento de transtornos psicológicos como transtorno do

pânico, fobias, transtorno dissociativo, depressão, anorexia, estresse pós traumático etc.

Tratamento de transtornos de personalidade como transtorno borderline, transtorno esquizóide, transtorno paranóide, etc.

Trabalho sobre conflitos pessoais, conjugais, familiares, interpessoais e grupais que podem produzir ou contribuir para o sofrimento psicológico.

Elaboração de crises existenciais, de transições difíceis (luto, crises profissionais, etc) e dificuldades nas mudanças de fases de vida (puberdade, adolescência, vida adulta, menopausa, envelhecimento, etc.). ([s.p.])

A psicoterapia é a aplicação do corpo de conhecimento da psicologia e

da psicopatologia que, na união destas duas ciências, resulta na psicologia

clínica, sendo este o local para lidar com os sofrimentos, e que estes podem se

apresentar através de crises existenciais, transtornos de personalidade,

distúrbios psicossomáticos, conflitos interpessoais e estados sintomáticos

focais.

A clínica psicológica é um espaço privilegiado de amadurecimento e

resignificação de conteúdos, conceitos e crenças que estão embutidos na

história de vida de cada sujeito. O setting terapêutico é local de aprendizagem,

visto que oferece a oportunidade de compreender para mudar padrões de

relacionamentos interpessoais e desenvolver habilidades sociais.

Ao iniciar um processo terapêutico é muito importante que a pessoa que

o busca tenha consciência das suas motivações para estar ali. Cliente e

terapeuta construirão um vínculo de intimidade e confiança, e quem dará o

rumo do processo será o cliente, contando com o auxílio do seu terapeuta, que

lhe ajudará a ver-se com mais clareza e objetividade até que se alcance a

autonomia do paciente.

Os primeiros passos nessa caminhada, cliente e terapeuta, em conjunto,

definem o que é mais adequado como continuidade do tratamento e, tendo o

indivíduo encontrado o que buscava, conseguindo caminhar sozinho, finaliza-

se o tratamento ou opta-se pelo encaminhamento para uma nova fase, a da

20

psicoterapia de grupo, onde outros recursos estão disponíveis para auxiliá-lo

em seu crescimento.

Para Scarpato (2010), os motivos que a psicoterapia funciona são:

1. Ao dividir um problema você passa a ter "meio" problema.

Compartilhar ajuda a aliviar a carga emocional e o sofrimento 2. Os vínculos de ajuda têm um poder curativo. É mais fácil

superar as dores através de uma relação autêntica de respeito mútuo do que sozinho. A relação terapêutica é uma relação de ajuda, de compreensão e apoio.

3. O psicólogo clínico (psicoterapeuta) é um outro , com o olhar e a perspectiva de um outro, o que lhe ajudará ver a sua vida de um modo diferente, lhe fazer perguntas diferentes, ajudá-lo a perceber as coisas de um ângulo que você não tinha visto antes e nem suspeitava ser possível. Assim, a psicoterapia faz você parar para refletir sobre a própria vida. Parar, observar e refletir permite muitas mudanças de orientação, sentido, rumo e aprofundamento da experiência de vida.

4. O psicoterapeuta conhece teorias psicológicas que ajudam na compreensão do que ocorre com você, auxiliam a identificar o que pode estar errado em sua vida, a direção que você está seguindo e as mudanças de rumo necessárias. A partir de seu conhecimento, o psicólogo pode apontar o que olhar, como olhar e o que fazer com o que se descobre, para que estas descobertas possam ser construtivas em sua vida.

5. O psicoterapeuta conhece métodos de investigação que tornam possível descobrir aspectos da sua personalidade que seriam inacessíveis a uma observação não treinada ou a uma conversa comum. Há um amplo espectro de técnicas de investigação psicológica que permitem esclarecer problemas de modo extremamente eficaz.

6. O psicoterapeuta domina técnicas terapêuticas que ajudam a realizar mudanças psicológicas profundas.

7. O psicoterapeuta está preparado para te compreender a partir do vínculo que você estabelece com ele, das respostas emocionais que você suscita nele. Em seu treinamento ele afinou a si mesmo como instrumento de trabalho para reconhecer pequenas nuances do que você mostra na relação com ele (e consequentemente com "os outros") e assim poder compreender seus modos de vinculação e suas dificuldades nos relacionamentos.

8. O psicoterapeuta é capaz de oferecer presença autêntica no vínculo com você. Esta relação funciona como catalisador de processos de mudança necessários em sua vida, incluindo a superação dos efeitos de traumas de relacionamentos anteriores.

9. O psicoterapeuta passou por todos estes passos anteriores, tendo estado em todos os papéis, como cliente, como profissional e como observador, o que o habilita a "sentir-se em casa" em situações difíceis, poder caminhar por terrenos inóspitos, cheios de sofrimento e problemas emocionais e saber ajudar seu cliente a encontrar um caminho de melhora.

10. O psicoterapeuta inicia seu cliente num caminho de transformação pessoal. Isto é possível porque o psicoterapeuta tem um know-how, um saber fazer que vai além do conhecimento formal, da teoria e da técnica. É um saber

21

baseado na experiência, experiência de vida e experiência da clínica. ([s.p.])

O autor ainda elenca os benefícios que a psicoterapia pode trazer como:

Desenvolvimento da capacidade de autogerenciamento aprendendo a dialogar com os estados internos, a regular os estados emocionais e adquirir autonomia.

Desenvolvimento da capacidade de auto-observação e auto-reflexão.

Sair dos padrões estereotipados e criar novas narrativas de si, novos modos de compreender e conduzir a própria vida.

Desenvolver habilidades interpessoais como capacidade empática - saber se colocar no lugar do outro -, capacidade de comunicação, assertividade, resolução de conflitos, etc.

Fortalecimento psicológico - ampliação da resiliência - para aumentar a tolerância e a capacidade de crescer com as dificuldades que a vida apresenta.

Favorecer a saúde integral, física e psicológica.

Busca de sentido existencial.

Amadurecimento psicológico. (SCARPATO, 2010, [s.p.])

A partir do exposto acima, entende-se como psicoterapia individual um

encontro profissional empático entre dois indivíduos, onde ambos, através da

palavra, colaboram-se entre si na busca de ajustes para os problemas

emocionais, sendo que um detém um corpo de conhecimento que possa

atender a necessidades do outro e este outro, o paciente, detém problema a

ser administrado.

Em relação à modalidade grupal, o método individual, oferece

características que são vistas como vantagens e acabam por sobrepor-se à

modalidade grupal, sendo:

a) Flexibilidade de horário.

b) Sessões de 50 minutos.

c) Atenção centrada no paciente.

d) Atenção centrada no psicólogo.

e) Garantia incondicional de sigilo.

f) Exposição particular de problemas pessoais.

g) Relação empática por parte do psicólogo.

h) Opção de silêncio.

22

A psicoterapia individual não é a única modalidade clínica, como

citado acima, o método grupal também é adotado e cada vez mais utilizado,

como demonstra o seu processo histórico descrito no capítulo a seguir.

23

CAPÍTULO II

PSICOTERAPIA DE GRUPO

2 GRUPOS PSICOTERAPÊUTICOS

Ao procurar os serviços psicológicos, especialmente no que concerne a

prestação particular, as pessoas esperam um atendimento individualizado e

não consideram a possibilidade de um acompanhamento em grupo, dando a

impressão que a psicoterapia individual se sobressai de alguma forma à

psicoterapia em grupo, como se o atendimento grupal fosse uma alternativa

para quem não tem condições financeiras para arcar com os custos de uma

psicoterapia individual. (DOMINGUES, 2012)

Mas a ciência avança e o singular já não responde às tantas perguntas e

o ambiente passa a ter notoriedade dentro dos contextos individuais, não se

pode mais conceber o ser humano como unidade fora da história, da

sociedade, da política, enfim, fora de seu entorno. Da mesma maneira que o

paciente sai de si para o mundo, o psicólogo sai do consultório para o contexto

social na busca de respostas às novas formas de subjetivação e de

adoecimento psíquico, devendo compreender a realidade local, a psicologia

torna-se mais crítica e engajada socialmente.

2.1 Visão histórica da Psicoterapia de Grupo

De acordo com Moreira, Romagnoli e Neves (2007), a partir da década

de 80 os profissionais da psicologia passam a atender a clientela das classes

populares, cuja dimensão social impõe outra escuta e outra intervenção. A

Psicologia é entendida como um compromisso social, pois o eu não se constitui

sem o outro, ou seja, não há individualismo que se sustente na ausência do

social. Então, a psicologia passa a frequentar cada vez mais os sistemas de

saúde pública em centros de reabilitação, asilos, hospitais psiquiátricos e

gerais, sistema judiciário, creches, penitenciárias e nas comunidades. O

profissional sai do seu habitat natural, a clínica individual, e vai para escolas e

24

empresas, ampliando seu campo social. Porém, ainda que o lócus mude, o

modus operanti individualizado se mantém.

Mas o mundo não para, a sociedade gera novas condições, novas

necessidades e cabe a cada corpo de conhecimento pesquisar novas

hipóteses para responder às necessidades e se adequar. A Psicologia precisa

rever seu papel social e a Psicologia Clínica necessitou expandir a concepção

do fato clínico quando admitiu que, em determinados fatos sociais, entre eles a

desigualdade social, a liberdade sexual, a intolerância com as diferenças, o

racismo, a corrupção, o tráfico de drogas, o trabalho escravo, o desemprego, a

fome, a miséria, a violência, o terrorismo e as guerras para a manutenção do

capitalismo desumano, e em fatos naturais, as catástrofes ecológicas, estão

presentes sofrimentos humanos individuais e grupais que exigem intervenções

terapêuticas cada vez mais inovadoras. (NERY; COSTA, 2008)

Ainda segundo as autoras,

No atual momento sócio-cultural, início do século XXI, os estudos e as práticas clínicas derivadas da subjetividade e do sujeito que adoece começam a enfrentar novos limites. A realidade socioeconômica mundial, a globalização e o avanço tecnológico renovaram as questões da psicologia clínica, entre elas: o que é normal e o que é patológico, como as articulações entre o indivíduo e a sociedade interferem na prática psicoterápica, como a cultura e psicopatologia se conjugam na área clínica, qual a atual especificidade da relação paciente/psicoterapeuta e qual o papel do psicólogo na sociedade. (NERY; COSTA, 2008, p. 242)

Em face das políticas públicas voltadas para a Saúde Mental e,

concomitante à alta demanda pela procura do serviço, os grupos

psicoterapêuticos constituem-se hoje a conduta privilegiada no atendimento à

Atenção Psicossocial devido possibilidade de atender altas demandas com

limitado número de profissionais e reduzir custos operacionais.

A questão de custos está na gênese do método, pois, como cita Rosa

(2011), o uso de grupos terapêuticos teve início nos Estados Unidos com

Joseph H. Pratt, no Ambulatório do Massachussetts General Hospital (Boston),

em julho de 1905 para doentes de tuberculose incapazes de arcar com os

custos de internação. Alguns anos depois, o modelo de Pratt foi adotado em

diversas localidades dos Estados Unidos da América para tratamento não só

de pacientes com tuberculose, como também de doentes mentais.

25

Entre 1909 e 1912, Marsh, ainda sacerdote de hospital psiquiátrico

utilizou o método com pacientes denominados "psiconeuróticos".

Posteriormente, depois de ter completado o curso de medicina, deu

prosseguimento a este método de tratamento com doentes psicóticos

internados. Inspirou-se em fontes diversas: o modelo de grupo adotado no

Sanatório de Tuberculose Trudeau, o trabalho de Lazell, conceitos derivados

do campo da psicologia de massas, métodos do Exército da Salvação.

Para Lazell (1921 apud BECHELLI; SANTOS, 2004), na Washington

Society for Nervousand Mental Disease, o método de grupo que vinha

empregando em esquizofrênicos internados, adotava o sistema de aula e

discutia assuntos diversos (medo de morte, conflito, amor-próprio, sentimentos

de inferioridade, homossexualidade, alucinações, delírios, fantasias e outros)

numa abordagem psicanalítica. Entre as diversas vantagens desta forma de

trabalho, ressaltou que determinados pacientes, que se apresentavam calados

e aparentemente inacessíveis, prestavam atenção, retinham o material da

reunião. Em 1925, Burrow adotou pela primeira vez o termo análise de grupo.

Difundido o método na América Latina, Moreno veio a reconhecer o início do

psicodrama no ano de 1921. Em 1925 foi residir e trabalhar em Nova York e,

em 1932, introduziu o termo psicoterapia de grupo numa reunião da American

Psychiatric Association. Paralelamente, em Viena, Adler e colaboradores

fundaram, em 1921, o Centro de Aconselhamento para Pais e Filhos, onde

formavam grupos. Tratavam o paciente e, concomitantemente, a família.

Moreno começou seu trabalho com grupos de atores em 1921 e

posteriormente ampliou seu campo de ação para pacientes psiconeuróticos.

Foi o responsável por cunhar o termo “psicoterapia de grupo”. Acreditava que a

psicoterapia de grupo precisava penetrar em dimensões da existência as quais

a psicoterapia pela fala não podia alcançar. Então converteu o trabalho com

grupos em psicoterapia da ação utilizando as técnicas do psicodrama.

Esperava conseguir um grande benefício terapêutico através da representação,

na vivência ativa e estruturada de situações psíquicas conflituosas, levando a

implicações de eventos da própria vida. (MORENO, 1974 apud BECHELLI;

SANTOS, 2004)

Kurt Lewin foi o responsável pelo conceito de “campo grupal” onde são

considerados dinamicamente, tanto as questões relativas à pessoa quanto ao

26

meio onde esta se insere. Foi o grande responsável por integrar as ciências

sociais ao estudo dos grupos. (BECHELLI; SANTOS, 2004)

O quadro da Psicoterapia de Grupo irá modificar drasticamente com o

fim da Segunda Guerra Mundial, pois afluem para os consultórios dos

psicólogos um enorme contingente de pessoas com os chamados “traumas de

guerra”. Devido à grande demanda por terapia, a saída encontrada foi a

“psicoterapia de grupo” ou “grupoterapia”. As abordagens que obtiveram

sucesso em adaptar sua técnica para a dinâmica grupal foram a psicanálise, a

gestalt e o psicodrama. A essa época surge a primeira revista especializada em

Psicoterapia de Grupo, criada por Slavson no final da década de quarenta, ele

também foi o primeiro presidente da Associação de Psicoterapia de Grupo

(BECHELLI; SANTOS, 2004). No campo psicanalítico do pós-guerra destacam-

se os trabalhos de autores das escolas inglesa e francesa.

O período de expansão, consolidação e amadurecimento está

compreendido entre 1951 e 2000. Pesquisadores se dedicaram ao tema nas

décadas de 50 e 60, tendo a consolidação do método, nas décadas de 80 e 90.

Podemos constatar que a psicoterapia de grupo nasce na instituição pública.

Lembrando que nesse período histórico, a psicanálise foi a vertente teórico-

prática mais utilizada.

2.2 Vantagens e desvantagens das psicoterapias grupais

Uma diferença marcante entre a clínica individual e a psicoterapia de

grupo trata da necessidade de compromisso e fala por parte dos pacientes. Em

uma sessão individual o paciente pode ficar em silêncio o tempo todo e por

vários encontros, resta ao analista a opção de pontuar ou não este silêncio,

esta escolha dependendo de muitas questões relativas à subjetividade e à

transferência. Em um grupo essa postura não é aceitável, pois todos os

membros estão ali “expostos” compartilhando suas questões pessoais. Caso

um integrante se negue a falar durante várias sessões os demais se sentirão

desfavorecidos ou ameaçados e exigirão a participação ou exclusão daquele

participante. Colocou-se esta questão para demonstrar que a psicoterapia de

grupo guarda diferenças marcantes em relação ao modo de se lidar com as

27

demandas e desejos dos pacientes. Não podendo ser comparada à clínica

individual, mas apresentando-se como outra opção de escuta e tratamento.

No tocante às vantagens e desvantagens quando comparado à

individualização do trabalho, os grupos possuem as seguintes vantagens:

(...) segurança (mais apoio e menos ameaça ou falta de proteção); sentido de pertencimento, de afiliação (interligação social; reduz o sentimento de isolamento e de abandono); poder (maior capacidade de enfrentar adversidades e consciência sobre união de vontades e interesses); possibilidade de concretizar (maior possibilidade de atingir resultados pela força coletiva). (PEREIRA; SIQUEIRA, 2009, p.595)

Segundo Bechelli e Santos (2005), o clima criado pela situação

psicoterápica favorece a auto-revelação. A ansiedade, desconforto,

constrangimento, pressão, medo de rejeição, culpa, desaprovação, isolamento

são sentimentos e situações que surgem em um primeiro momento, mas

gradualmente o paciente se sente seguro para explorar, enfrentar e refletir

sobre seus aspectos íntimos que até então eram ameaçadores ou muito

vergonhosos. Sob determinadas condições do grupo o participante pode se

comportar ou se expressar de uma forma que habitualmente evitaria devido à

censura que impunha a si próprio.

As psicoterapias grupais favorecem a sentido de pertencimento social,

cujas identificações projetivas e introjetivas colaboram, no ato de refletir e ser

refletido, resignificar o seu papel social, identificar suas dificuldades e comparar

comportamentos como normais e patológicos.

2.3 O grupo e o terapeuta: o manejo dos climas inibidores e facilitadores

A palavra colaborar é derivada do latim que significa trabalhar junto e

aliança terapêutica também é condição básica para grupos.

Para White e Freeman (2003), os participantes do grupo precisam se

sentir ouvidos e entendidos, além de sentir que o terapeuta está

verdadeiramente interessado em ajudá-lo.

Apesar das sensações e sentimentos de ansiedade, desconforto,

constrangimento e pressão para que o participante possa sentir-se o mais

próximo do ideal para comunicar seus pensamentos, o recurso que o terapeuta

dispõe para facilitar essa tarefa do grupo é a associação livre, sem censura das

28

ideias verbalizadas ou das atitudes dos integrantes para que o participante

possa desenvolver a compreensão de si e dos outros. Por serem assuntos

confidenciais, os participantes desenvolvem respeito e confiança mútua,

começam a assumir riscos nos temas examinados e na interação estabelecida.

(BECHELLI; SANTOS, 2005)

Alguns participantes passam por um processo de adesão ao grupo,

iniciando a terapia de forma cautelosa, permanecendo em silêncio, depois

participando de comentários a respeito do outro, mas mantêm-se evitando

entrar em sua intimidade até assumir-se perante o grupo, quando o terapeuta

deverá assinalar ao participante que este foi o momento que este entrou em

terapia.

Os autores consideram importante e indispensável na psicoterapia de

grupo é a igualdade de status dos membros. Todos são tratados do mesmo

modo, com respeito e dignidade, independentemente da idade, do nível

socioeconômico e cultural, talento e capacidade individual. A motivação e a

psicoterapia grupal devem estar no centro da vida, pois essa condição reflete o

desejo de se envolver no processo terapêutico e exerce importante papel no

resultado a ser obtido.

Sob determinadas condições do grupo o participante pode se comportar

ou se expressar de uma forma que habitualmente evitaria devido à censura que

impunha a si próprio. Ao tomar conhecimento de que os outros colegas

também admitem sentimentos e impulsos similares, é possível que possa sentir

alívio ou redução da sensação de culpa que acarretava, inclusive, inibição em

muitos aspectos de sua vida.

2.4 Terapia Cognitiva Grupal X Terapia Cognitiva Individual: Comparação

como exemplo

Desde a introdução da terapia de grupo, tem se debatido a respeito da

eficácia deste tratamento com relação à atenção individual dada um a um na

terapia. A terapia de grupo, realmente, trabalha para tratar a depressão, mas

como é eficaz em comparação com a terapia individual?

Estudos mostraram que tanto Grupo Terapêutico Cognitivo - CGT como

a Terapia Individual Cognitiva - TIC foram eficazes na redução dos escores da

29

depressão no pós-tratamento e acompanhamento quando comparado com

escores pré-tratamento. Em uma comparação da eficácia dos dois tratamentos

para reduzir escores de depressão, os estudos não encontraram significativa

diferenças entre os dois tratamentos. Ao examinar o número de pacientes que

obteve escores normais de depressão após o tratamento, constatou-se que os

tratamentos foram igualmente eficazes. Tem sido sugerido que, em uma era de

corte de custos, há uma utilidade aparente de terapia de grupo e sua

substancial economia poderia ser usada com confiança para pacientes com

depressão.

Nery e Costa (2008), através de seu estudo, demonstraram as relações

entre as intervenções individuais e grupais, conforme tabela abaixo:

Tabela 1 – Relação entre os tipos de intervenção individual e grupal quanto ao

contexto, relação terapêutica e enfoque

Tipo Setting e instrumental

Relação terapêutica e estética

Enfoque clínico e tipo de contrato

Psicanálise/ psicoterapia psicodinâmica

Consultório Bipessoal; monólogo Conflitos psíquicos; transferência

Terapia centrada na pessoa, Gestalt terapia

Consultório Bipessoal; diálogo Centrado na pessoa

Psicodrama bipessoal

Consultório; tablado Relação humana; ação dramática

Criação conjunta de resoluções

Psicodrama em grupo

Consultório; tablado Fenômenos grupais e ação dramática

Criação conjunta de resoluções

Terapia conjugal e familiar

Consultório; espaço grupal

Interação familiar; fala; ação

Vínculos familiares: criação conjunta de resoluções

Intervenção psicossocial

Instituições de serviço social/justiça; espaço grupal

Relações pessoais, grupais e comunitárias; fala; ação

Resolução pontual de conflitos e encaminhamento

Socioterapia/ Sociodrama

Comunidade; instituições; espaço grupal

Relações grupais e intergrupais; fala; ação

Conflitos intergrupais; criação conjunta de soluções

Grupos multifamiliares

Comunidades; espaço grupal

Relações familiares e comunitárias; fala; ação

Criação conjunta de resoluções

Fonte: NERY, COSTA, 2008, p. 245.

30

Tabela 2 – Relação entre os tipos de intervenção individual e grupal quanto

método, objetivos e conceitos

Tipo Métodos e técnicas

Objetivos Conceitos fundamentais

Referências

Psicanálise/ psicoterapia psicodinâmica

Associação livre; interpretação de significados

Catarse de ab-reação, auto-responsabilização

Inconsciente, complexo de Édipo

Brenner, 1975; Dewald, 1973

Terapia centrada na pessoa, Gestalt terapia

Interação centrada na pessoa

Auto-responsabilização

Aqui e agora Rogers, 1985; Pearls, 1977

Psicodrama bipessoal

Ação terapêutica Catarse de integração

Co-inconsciente Moreno, 1975

Psicodrama em grupo

Ação do indivíduo no grupo

Catarse de integração

Sóciodinâmica Moreno, 1974

Terapia conjugal e familiar

Questionamento circular

Conscientização da interação

Leitura sistêmica Boscolo et al., 1993

Terapia comunitária

Participação ativa

Conscientização em conflitos grupais

Identificações Barreto, 1990

Intervenção psicossocial

Mediação Mediação de conflitos

Compromisso mútuo

Cirillo, 2000

Socioterapia/ sociodrama

Ação intergrupal Catarse de integração

Sociometria Moreno, 1974

Grupos multifamiliares

Estratégias de ação

Mediação da interação familiar

Identificações Costa, 1999; Holzmann & Grassano, 2002

Fonte: NERY, COSTA, 2008, p. 245.

A tabela 1 mostra que na operacionalização das modalidades

psicoterápicas, a psicanálise, embora bipessoal, é o sujeito que conduz a

análise, diferentemente de outras orientações téorico-prática que utiliza a troca

entre paciente e terapeuta como forma de tratamento. O psicodrama faz da

clínica individual ou grupal, um palco de vivências compartilhadas entre

terapeuta x paciente e/ou x participantes, assim como as psicoterapias

familiares abordam os conflitos intra-familiares e o terapeuta ocupa o lugar de

agente interventivo nas auto reflexões do paciente.

31

CAPÍTULO III

PESQUISA

3 INTRODUÇÃO

Para demonstrar que, na situação de grupo, a autocensura e a vergonha

são eventos emocionais que impedem a exposição pública dos problemas

centrais e dificuldades dos sujeitos, o que não ocorreria nas terapias individuais

e em face dessa premissa, após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa do

Unisalesiano – Parecer nº 318.904 em 27/06/2013 (Anexo A), foi realizada uma

pesquisa de campo no Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de

Lins/SP, no período de setembro a outubro de 2013.

Iniciou-se a comprovação da hipótese através de pesquisa bibliográfica

sobre a evolução histórica da psicoterapia individual e da psicoterapia em

grupo nas diversas orientações téorico-prática e buscando material bibliográfico

que abordasse sobre estratégias, manejos e operacionalizações nas

modalidades individual e grupal, facilidades e dificuldades, motivadores e

inibidores utilizados e percebidos nas intervenções individuais e em grupo.

Para a pesquisa de campo, utilizou-se o método de estudo de caso e,

como instrumento de coleta de dados, questionário (Apêndice A) que foi

aplicado nos alunos dos últimos semestres dos cursos de graduação do

Unisalesiano na área da Saúde, sendo: Terapia Ocupacional, Fisioterapia,

Educação Física e Enfermagem, após assinatura do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (Anexo B).

3.1 Metodologia e Método de Pesquisa

De caráter analítico e comparativo, a pesquisa foi fundamentada na

pesquisa bibliográfica e na pesquisa descritiva, tendo como métodos o estudo

de caso e o estatístico. Os dados foram coletados por meio de questionário

estruturado com perguntas abertas e de múltipla escolha. Esse instrumento foi

elaborado especialmente para essa pesquisa, sendo realizado o pré-teste que

32

confirmou ser eficaz para que se pudesse aferir a hipótese, mas notou-se a

necessidade de modificar a proposta inicial de aproximadamente 40 sujeitos,

quando seriam selecionados 1/3 de modo aleatório e por meio de sorteio,

porém, essa representação não seria suficiente para obter uma conclusão que

confirmasse ou negasse a hipótese, em vista de que as respostas, nas

perguntas abertas, apresentaram respostas qualitativamente diversificadas.

Portanto, o questionário foi aplicado em todos os alunos que estavam

presentes no dia de sua aplicação e cursando último semestre dos cursos de

graduação da área da Saúde do Unisalesiano – Centro Universitário Católico

Salesiano Auxilium, Unidade - Lins/SP.

No momento da aplicação foram esclarecidos os motivos e objetivos da

pesquisa e os benefícios que esta poderá trazer para a sociedade e para a

Psicologia, em seguida foram explicados sobre o termo de consentimento livre

e esclarecido, solicitando o seu preenchimento e ao devolver o termo, o

questionário e instruções de preenchimento.

A análise dos resultados se deu de modo qualitativo, apresentados na

forma de tabelas e gráficos, a partir da análise das respostas.

3.2 Apresentação e análise dos resultados

Para a coleta de dados, a pesquisa baseou-se em um questionário com

seis perguntas, abertas e de múltipla escolha. Os questionários foram

aplicados em 71 participantes, do sexo feminino e masculino, na faixa etária

entre 20 e 38 anos, em sala de aula.

Por ser o instrumento de coleta de dados um questionário com

pluralidade de respostas, foi realizada a análise a partir de uma

subcategorização das respostas obtidas, de critério léxico sendo uma

“classificação das palavras segundo o seu sentido, com emparelhamento dos

sinônimos e dos sentidos próximos” (BARDIN, 2000, p. 118). Com os

conceitos obtidos na subcategorização, estabeleceram-se categorias mais

amplas, nas quais as subcategorias foram classificadas utilizando o critério

temático, de acordo com Bardin (2000).

Os gráficos e tabelas a seguir, após coleta e organização dos dados a

partir da categorização estabelecida, mostram os resultados obtidos.

33

Figura 1: Participantes por curso – Área da Saúde

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

3.2.1 Conceito: Psicoterapia Individual e Psicoterapia em grupo

Para o conceito de psicoterapia individual, os grupos de categorização

foram divididos em:

a) Condição Situacional: refere-se às conceituações que expressam

as possibilidades que o ambiente terapêutico individualizado

oferece.

b) Técnica e operacionalização: refere-se às conceituações que

expressam as estratégias utilizadas.

c) Finalidades e objetivos: refere-se às conceituações que

expressam os objetivos da psicoterapia individual.

O total de respostas é superior ao total de participantes porque algumas

respostas foram enquadradas em duas categorias.

A Tabela 1 mostra os conceitos conforme as categorizações e a

quantidade de respostas para o conceito de psicoterapia individual.

Tabela 1 - Conceito de Psicoterapia Individual

(continua)

Categorização Quantidade Conceitos

Condição Situacional 51 Autonomia, atenção focada, inter-relação com o terapeuta, comunicação diádica e divã.

Técnica e operacionalização

2 Atividades manuais e laborais e psicologia baseada na terapia ocupacional.

34

(conclusão)

Categorização Quantidade Conceitos

Finalidade e objetivos 42 Expor sentimentos e pensamentos, terapia da mente, autoajuda, autoconhecimento, resolução/alívio de problemas pessoais e espaço de confidências.

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Quanto ao conceito de psicoterapia individual, a tabela 1 mostra que as

respostas dos sujeitos da pesquisa focam-se na comunicação diádica, ou seja,

na relação bilateral entre paciente e terapeuta, ou refere-se às finalidades e

objetivos que a psicoterapia pode oferecer no campo da saúde mental.

Interessante perceber que em duas respostas, o conceito de psicoterapia

individual está associado à terapia ocupacional, demonstrando a influência do

curso de Terapia Ocupacional na compreensão do conceito.

O conceito de psicoterapia individual, embora senso comum, na

perspectiva do sujeito da pesquisa é bem compreendido por outras profissões

da área da saúde quando comparado à conceituação de Scarpato (2010) que

afirma:

(...) a terapia individual é o encontro de duas pessoas, terapeuta e paciente, onde o terapeuta ouve e procura compreender a história do outro, que por sua vez, está em busca de acolhimento, segurança e alivio para suas queixas. A aliança terapêutica é importante no sentido de que o cliente deve estar à vontade para se entregar ao processo terapêutico. A terapia ocorre em um espaço próprio, o que é falado ali tem garantia de sigilo absoluto.([s.p.])

Para o conceito de psicoterapia em grupo, as categorizações foram

divididas em:

a) Condição situacional: refere-se às conceituações que expressam as

possibilidades oferecidas pelo ambiente grupal.

b) Técnica e operacionalização: refere-se às conceituações que

expressam às estratégias utilizadas.

c) Ambiente Grupal: refere-se às conceituações que expressam as

condições emocionais subjetivas oferecidas pela situação de grupo

que eliciam sentimentos e emoções.

d) Não responderam

A tabela 2 mostra os conceitos conforme as categorizações e a

quantidade de resposta para o conceito de psicoterapia em grupo.

35

O total de respostas é superior ao total de participantes porque algumas

respostas foram enquadradas em duas categorias.

Tabela 2 - Conceito de Psicoterapia em Grupo

Categorização Quantidade Conceitos

Condição situacional 87 Coletividade, socialização, integração, compartilhar experiências, exposição dos problemas e vivenciar os mesmos problemas.

Técnica e operacionalização

5 Grupos de atividades artesanais, grupos de autoajuda e atendimento familiar.

Ambiente grupal 13 Compreensão, empatia, respeito, apoio, união, timidez e descontração.

Não responderam 1

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Observa-se na tabela 2 que os conceitos obtidos na pesquisa referem-se

às condições de convívio, inter-relação e vivências compartilhadas ou refere-se

às diferentes possibilidades de acolhimento que encerra as relações sociais,

demonstrando que o conceito de psicoterapia de grupo é bem compreendido

pela área da Saúde na amostra pesquisada quando comparado à explanação

de Bechelli e Santos (2005), quando falam sobre a psicoterapia em grupo:

(...) o paciente confronta-se não só com situações de sua vida real, mas também com as dos outros membros. Dependendo da composição, o grupo pode ter um participante que tenha um significado especial ou particular para outro membro, que lhe traga recordações de experiências passadas ou de situações atuais ou que evoque seus conflitos. Nesse caso, o paciente pode passar a assumir certos riscos que normalmente evitaria: tentar novos comportamentos, compartilhar experiências, vivenciar sentimentos que normalmente procura manter à distância. (p.121)

3.2.2 Utilização dos serviços psicológicos

Outros dados foram norteadores para a comprovação da hipótese desta

pesquisa sendo: a utilização dos serviços psicológicos, o tempo de tratamento

e com larga vantagem, a preferência pela modalidade psicoterápica.

Os gráficos a seguir demonstram os percentuais de resposta quanto à

utilização dos serviços psicológicos e o período de utilização

36

Figura 2: Utilização de serviços psicológicos

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Figura 3: Tempo de tratamento

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Quanto à utilização dos serviços psicoterápicos, independente das

modalidades individual ou grupal, os resultados percentuais foram:

17% utilizam ou utilizaram os serviços psicoterápicos, em

períodos de um mês e mais de um ano;

82% ainda não tiveram acesso aos serviços psicoterápicos e;

37

1% não faria atendimento psicológico enquanto estivesse em

condições de resolver seus problemas emocionais sozinho.

A análise quantitativa para a escolha das modalidades de psicoterapia

individual e em grupo apresentaram os seguintes percentuais:

72% individual

28% em grupo

Figura 4: Preferência pela modalidade individual ou em grupo

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

3.2.3 Justificativa para a escolha da modalidade: Psicoterapia individual e

psicoterapia em grupo.

As razões apontadas pelos participantes da pesquisa na escolha da

modalidade individual ou em grupo foram agrupadas em categorias e

subcategorias seguindo o mesmo critério estabelecido, sendo:

Psicoterapia individual:

a) Atendimento personalizado: refere-se às peculiaridades de cada

situação-problema, convergindo o foco do terapeuta nas

características individuais do paciente e de seu contexto vivencial.

b) Confidencialidade: refere-se ao sigilo e privacidade oferecida pela

terapia individual, evitando a exposição pública.

38

c) Condições emocionais e habilidades pessoais: refere-se às

características pessoais que limitam a relação diádica, ou seja, a

inter-relação e a proximidade entre o terapeuta e o paciente.

d) Outros: Nesta categoria se encontram as respostas que não se

enquadram nas categorias acima.

e) Não responderam

Psicoterapia em grupo:

a) Integração e socialização: refere-se às condições facilitadoras

oferecidas pelo ambiente grupal.

b) Limitações pessoais: refere-se às características pessoais que a

situação grupo agiria como motivador e facilitador do processo

terapêutico.

c) Não responderam

A tabela 3 apresenta as justificativas dadas pelos participantes das

pesquisas quanto à escolha da modalidade terapêutica individual.

O total de respostas é superior ao total de participantes porque algumas

respostas foram enquadradas em duas categorias.

Tabela 3 - Justificativas para a escolha da modalidade individual

Categorização Quantidade Conceitos

Atendimento personalizado

12 Atendimento individualizado e individualidade.

Confidencialidade 29 Sigilo, privacidade, exposição sem constrangimento/julgamento e não querer se expor publicamente.

Condições emocionais e habilidades pessoais

5 Timidez e despreparo para grupos.

Outros 2 Não preferência por grupos

Não responderam 3

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

A tabela 4 apresenta as justificativas dadas pelos participantes das

pesquisas quanto à escolha da modalidade terapêutica grupal.

39

O total de respostas é superior ao total de participantes porque algumas

respostas foram enquadradas em duas categorias.

Tabela 4 - Justificativas para a escolha da modalidade grupal

Categorização Quantidade Conceitos

Integração e socialização

13 Troca de experiências, apoio do outro, melhor interação e dinamismo.

Limitações pessoais 4 Vergonha de expor-se sozinho

Não responderam 2

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Como mostra a figura 4, 72% escolheram psicoterapia individual

justificando sua escolha pela garantia de confidencialidade e sigilo ou porque

sente receio, medo e/ou vergonha de expor-se em público, como mostra a

tabela 3, confirmando a hipótese de que a autocensura e a vergonha sejam

elementos inibidores das participações nos grupos psicoterápicos, como

mostra a tabela 3.

Outra justificativa apontada pela escolha da psicoterapia individual

refere-se às peculiaridades, individualidades e particularidades dos problemas,

e que a atenção do terapeuta está focada em um único paciente. As

observações feitas pelos participantes da pesquisa vêm de encontro às

observações feitas por Budman (1988 apud PELUSO; BARUZZI; BLAY, 2001,

p. 346) quando afirma que “os pacientes de terapia breve de grupo teriam o

sentimento de não receber atenção individual suficiente”.

Ou ainda, que “o paradigma da psicoterapia como espaço do segredo

fortalece o imaginário de que a clínica mais efetiva para tratar os sofrimentos

psíquicos seja a clínica individual”. (MOREIRA; ROMAGNOLI; NEVES, 2007,

p.613).

Na figura 4, para psicoterapia em grupo a escolha apresentou percentual

de 28%, tendo como justificativa o valor da troca de experiência, a integração,

compartilhamento de problemas e soluções e o dinamismo, como mostra a

tabela 4.

(...) segurança (mais apoio e menos ameaça ou falta de proteção);

sentido de pertencimento, de afiliação (interligação social; reduz o

sentimento de isolamento e de abandono); poder (maior capacidade

40

de enfrentar adversidades e consciência sobre união de vontades e

interesses); possibilidade de concretizar (maior possibilidade de

atingir resultados pela força coletiva). (PEREIRA; SIQUEIRA, 2009, p.

595)

O percentual de 28% pela escolha da modalidade psicoterapia em grupo

apresentou-se como uma surpresa, visto que a hipótese no início dos trabalhos

era de que a escolha pela psicoterapia individual fosse massiva, mas diante

desse resultado em que aproximadamente três em cada dez pessoas,

potencialmente, escolheriam a psicoterapia em grupo alegando que a troca de

experiências é o fator preponderante na escolha da modalidade grupal, o que

induz a considerar como sinalizador e indicativo de que a psicoterapia em

grupo é bem aceita.

3.2.4 Condições facilitadoras e inibidoras: Psicoterapia individual e Psicoterapia

em grupo

As condições facilitadoras e inibidoras em cada modalidade de

psicoterapia se mostraram atreladas às escolhas dos sujeitos entre

psicoterapia individual e psicoterapia em grupo. Esses dados tiveram por

objetivo aprofundar as respostas e sua relação com a hipótese, tendo sido a

questão formulada a fim de confirmar a coerência da escolha da modalidade

psicoterápica, confirmando ou negando a hipótese.

Os mesmo critérios para subcategorização e categorização foram

utilizados para analisar as vantagens e desvantagens apresentadas nas

modalidades de psicoterapia.

Psicoterapia Individual:

Condições facilitadoras:

a) Confidencialidade: Refere-se às condições que garantam o sigilo.

b) Relação terapêutica: Refere-se ao espaço terapêutico como forma

possibilitar a livre expressão e a construção da relação terapêutica.

c) Finalidades e objetivos: refere-se ao alcance interventivo da

psicoterapia.

d) Não responderam

41

Condições Inibidoras:

a) Isolacionismo: Refere-se à falta de socialização e trocas de

vivências.

b) Medos: Refere-se à proximidade e individualidade que causam

constrangimentos.

c) Condições situacionais: referem-se às condições financeiras e de

horário.

d) Outros: Nesta categoria se encontram as resposta que não se

enquadram nas categorias acima.

e) Não responderam

Psicoterapia em grupo

Condições facilitadoras:

a) Socialização e troca: refere-se às facilidades encontradas na

situação de grupo.

b) Condições Facilitadoras: referem-se às condições que facilitam e

motivam a participação dos membros do grupo.

c) Outros: Nesta categoria se encontram as resposta que não se

enquadram nas categorias acima.

d) Não responderam

Condições inibidoras:

a) Confidencialidade: Refere-se às condições que expressam falta de

privacidade e sigilo.

b) Perda de qualidade: Refere-se à atenção do terapeuta dispersa e

diluída entre os membros do grupo.

c) Conflitos internos ao grupo: refere-se às condições de convívio

sociais que coloca o participante vulneráveis a conflitos.

d) Outros: Nesta categoria se encontram as resposta que não se

enquadram nas categorias acima.

e) Não responderam

42

A tabela 5 apresenta as vantagens e desvantagens apresentadas pelos

participantes das pesquisas quanto à modalidade terapêutica individual.

O total de respostas é superior ao total de participantes porque algumas

respostas foram enquadradas em duas categorias.

Tabela 5 - Condições facilitadoras e condições inibidoras na psicoterapia

individual

Condições Categorização Quantidade Conceitos

Facilitadoras Confidencialidade 57 Exposição sem constrangimento e privacidade.

Relação terapêutica

37 Vínculo mais estreito, maior produtividade, compreensão, maior possibilidade de diálogo, relação de confiança e atenção focada.

Finalidades e objetivos

3 Autoconhecimento.

Não responderam

2

Inibidoras Isolacionismo 36 Não compartilhar problemas e soluções, não há troca de experiências, não há socialização, caracteriza o indivíduo inseguro, unilateralidade de opinião e tédio.

Medos 15 Receio de estar com o terapeuta, timidez, risco de assédio, exposição e omissão

Condições situacionais

4 Alto custo e disponibilidade de horário do terapeuta.

Outros 10 Não há desvantagens.

Não responderam 13

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Em relação às vantagens da psicoterapia individual, como mostra a

tabela 5, a confidencialidade, o sigilo e a relação terapêutica mais estreita

foram as causas apontadas como vantagens. As desvantagens citadas

convergiram para as perdas na troca de experiência e a impossibilidade do

convívio social.

Para Semprebom (2007),

A interação entre os participantes tem um papel crucial, é unicamente possível na configuração de grupo, e um importante reforço ao sucesso da terapia individual, uma vez que em qualquer abordagem

43

terapêutica individual, o padrão de relacionamento paciente e terapeuta está configurado na forma de díade, deste modo há uma perda das possibilidades que a interação grupal traz em seu bojo. (p.21)

Percebe-se que na situação de grupo, os participantes apresentam

ambiguidade quanto à confidencialidade e o sigilo, pois da mesma maneira que

apontam como vantagem a troca de experiência, temem exporem-se, como se

o mesmo que acolhe e compartilha experiência seja, potencialmente, o agente

da quebra de sigilo.

Uma vantagem da terapia individual é o elevado grau de intimidade,

discrição e privacidade, o que facilita a confissão por parte do paciente.

Uma das respostas que se destacou em relação à desvantagem da

terapia individual foi o medo de assédio por parte do terapeuta, o que arremete

à hipótese de que sejam conflitos pessoais a serem trabalhados na

psicoterapia.

A tabela 6 apresenta as vantagens e desvantagens apresentadas pelos

participantes das pesquisas quanto à modalidade terapêutica grupal.

O total de respostas é superior ao total de participantes porque algumas

respostas foram enquadradas em duas categorias.

Tabela 6 - Condições facilitadoras e condições inibidoras na psicoterapia em

grupo

(continua)

Condições Categorização Quantidade Conceitos

Facilitadoras Socialização e troca

91 Socialização, troca de experiências, compartilhar problemas/sentimentos similares, compromisso e respeito com o outro, interação apoio do outro, cooperação, facilidade em solucionar problemas, empatia, identificação com o outro e novas amizades.

Condições facilitadoras

7 Mais dinâmico, otimização do tempo e custo acessível.

Outros 4 Não há vantagens.

Não responderam

4

Inibidoras Autocensura 49 Exposição pública, excesso de intimidade, dificuldade em compartilhar problemas, medo de quebra de sigilo e ética, falta de privacidade, receio e medo.

44

(conclusão)

Condições Categorização Quantidade Conceitos

Perda de qualidade

16 Impessoalidade, trabalho pouco elaborado e superficial, falta de atenção exclusiva e ouvir a todos.

Conflitos internos ao grupo

7 Conflito de opiniões, falta de habilidade na interação com o outro e tomar o problema do outro para si.

Outros 3 Não há vantagens

Não responderam

8

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Em relação às vantagens da psicoterapia em grupo, a tabela 6 mostra

que a cooperação, a troca de experiência e as identificações pessoais e dos

problemas foram apontadas com benéficas. Esta mesmas vantagens são

apontadas por Peluso, Baruzzi e Blay (2001, p. 345) “a interação com os

colegas também parece ser importante fator para o estabelecimento de novas

relações interpessoais e sociais, diminuindo o isolamento social”.

Quanto às desvantagens, a exposição pública de questões pessoais e

consequentemente o risco da perda do sigilo e da privacidade que, agregado

ao medo da exposição públicas dos problemas e da possibilidade de críticas

foram as causas mais apontadas com sinalizadoras de desconforto, seguindo-

se de perda de qualidade na oferta do serviço.

As desvantagens apontadas pela pesquisa também foram observadas

por Padilha e Oliveira (2012),

E, num grupo que se propõe a acolher sofrimentos e dificuldades a expectativa por atendimento individual faz-se ainda mais notável já que os usuários têm receio de expor suas fragilidades e vulnerabilidades no contexto coletivo, diante de pessoas conhecidas. (p. 1076)

Ou ainda, os pacientes mencionaram que tinham vontade de falar, mas

tinham receio de "chocar", de ser criticados e de haver comentários de colegas.

Sentiam vergonha por estar no meio de muita gente.

Para Bechelli e Santos (2005) o terapeuta deve criar um clima com o

grupo que favoreça a auto-revelação, porém, em nenhuma das respostas,

embora se tenha apontado como vantagem a troca de experiência e o convívio,

a figura do terapeuta como agente facilitador dos intercâmbios não foi

45

considerada, a ênfase voltou-se para as características individuais e condições

emocionais que cada participante do grupo tenha a oferecer, descartando que

o terapeuta tenha estratégias que facilitem essa exposição pública.

Como aponta Domingues (2012), a busca pela psicoterapia foca-se no

atendimento individual e as pessoas veem o atendimento grupal como perda

de qualidade e uma oferta de serviço menos qualificada.

3.3 Parecer Final

Na população pesquisada, a hipótese foi comprovada, pois a

autocensura e a vergonha são os principais fatores que embasam a escolha da

psicoterapia individual em detrimento da escolha por psicoterapia em grupo.

46

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Como proposta de intervenção, sugere-se que o curso de graduação em

Psicologia do Unisalesiano de Lins, amplie a oferta de psicoterapia em grupo

nas diversas orientações teórico-prática, favorecendo a aprendizagem do aluno

nessa prática interventiva que, inclusive, é amplamente utilizada pelas políticas

públicas para atender à alta demanda pela procura dos serviços psicológicos e

também, como um espaço que favoreça a mudança de preconceitos,

paradigmas e receios.

A presente pesquisa não pretende apresentar validade conclusiva e

considera-se necessário que novos estudos e novas pesquisas avancem para

amostragens com públicos diversos e em outros contextos sociais.

47

CONCLUSÃO

Embora as pessoas reconheçam a importância da socialização; das

trocas de experiências; do compartilhamento dos problemas, das emoções e

dos sentimentos similares; do compromisso e respeito com o outro; da

interação, do apoio do outro; da cooperação e da maior facilidade em

solucionar os problemas, essas vantagens apontadas não configuram

facilitadores quando se fala em questões emocionais, haja vista que são

exatamente essas condições que as fragilizam e impedem a escolha da

modalidade psicoterapia de grupo em detrimento da psicoterapia individual.

Ao contrário de se desejar o intercâmbio plural e a coletividade para a

busca de solução de problemas similares, as pessoas preferem resguardar-se

da comunidade para então buscar a solução de seus problemas na relação

singular do atendimento particular.

Os sujeitos da pesquisa pressupõem que a produtividade fique

comprometida no ambiente grupal por hipotetizar que a atenção do terapeuta

não esteja focada nas questões e características pessoais de cada participante

do grupo e que somente o atendimento personalizado tenha como potencial, o

atendimento focado e centrado nas questões individuais.

Sobre a questão do sigilo e o valor da confidencialidade, vale ressaltar a

ambiguidade de que as mesmas condições apontadas como facilitadoras, são

as mesmas condições que se configuram como inibidoras da psicoterapia em

grupo, pois os fatores que auxiliam e corroboram com tratamento, tem

potencial para transformar-se em entrave, ou seja, embora o outro seja

potencialmente um colaborador, também é potencialmente o mesmo que pode

quebrar o pacto de sigilo e confidencialidade.

O medo de crítica é outra questão que se mostra ambígua, pois se o

enfrentamento grupal dos problemas pessoais tem como premissa a troca de

experiência, o sujeitar-se ao erro perante o grupo é punitivo e não uma

oportunidade de repensar e modelar comportamentos disfuncionais a partir de

um novo olhar e de revisão de si mesmo, ou ainda, a possibilidade de

apreensão de novos comportamentos que surgem por imitação e

aprendizagem social.

48

O terapeuta, independente de modalidade individual ou grupal, não se

configura, potencialmente, como elemento que possa quebrar o sigilo ou que

faça críticas, mas para a situação de grupo, sua intervenção não é considerada

como agente colaborador na ressignificação das queixas, transferindo esta

função para a troca de experiências para os membros do grupo, como também,

o terapeuta não foi considerado como agente interventor para os entraves que

possam surgir no grupo.

49

REFERÊNCIAS

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05 de maio de 2013.

52

APÊNDICES

53

APÊNDICE A ROTEIRO DE QUESTIONÁRIO PARA OS PARTICIPANTES

1. Identificação

Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Idade: ____________________

Curso: ____________________________ Semestre: _________________

2. Questionário

1. Quando se fala em psicoterapia individual, quais os principais pensamentos

que lhe vem à mente?

2. Quando se fala em psicoterapia em grupo, quais os principais pensamentos

que lhe vem à mente?

3 Você faz ou fez atendimento psicológico?

( ) Sim. Por quanto tempo? ______

( ) Não

( ) Não faria. Por que?

4 Qual tipo de atendimento psicoterapêutico você faria?

( ) Terapia individual ( ) Terapia em grupo

4.1 Explique sua escolha?

5. Cite vantagens e desvantagens que você acredita existir na terapia

individual.

5.1 Vantagens:

5.2 Desvantagens:

6 Cite vantagens e desvantagens que você acredita existir na terapia de

grupo.

6.1 Vantagens:

6.2 Desvantagens:

54

APÊNDICE B

GRÁFICOS DAS SUBCATEGORIZAÇÕES DAS RESPOSTAS DO

QUESTIONÁRIO

As porcentagens estão acima do número de participantes porque foram

consideradas todas as respostas dadas pelo mesmo sujeito da pesquisa.

Figura 5: Pergunta 1

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

55

Figura 6: Pergunta 2

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Figura 7: Pergunta 3

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

56

Figura 8: Pergunta 3.1

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Figura 9: Pergunta 4

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

57

Figura 10: Pergunta 4-a

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Figura 11: Pergunta 4-b

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

58

Figura 12: Pergunta 5.1

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Figura 13: Pergunta 5.2

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

59

Figura 14: Pergunta 6.1

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Figura 15: Pergunta 6.2

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

60

APÊNDICE C

TABELAS DA PESQUISA DE CAMPO

Tabela 7 - Participantes por curso

Curso Quantidade %

Enfermagem

18 25

Educação Física

23 33

Fisioterapia

18 25

Terapia Ocupacional

12 17

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Tabela 8 - Utilização de serviços psicológicos

Utilização Quantidade %

Sim

12 17

Não

58 82

Não faria

1 1

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Tabela 9 - Tempo de tratamento

Período Quantidade %

De um a seis meses

7 58

De sete a doze meses

1 8

Mais de um ano

2 17

Não responderam

2 17

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

Tabela 10 - Preferência pela modalidade individual ou em grupo

Modalidade Quantidade %

Terapia individual 51 72

Terapia em grupo

20 28

Fonte: elaborado pelas autoras, 2013

61

ANEXOS

62

ANEXO A PARECER DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

63

64

ANEXO B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

65

66

67