MÓDULO 4:

ESTRUTURAS EM MADEIRA EDIFÍCIOS HISTÓRICOS

ARQ. MARCOS RECO BORGES

A MADEIRA A madeira sempre acompanhou o homem na construção do seu abrigo, mesmo quando nômades, a estrutura das tendas eram trazidas pelos animais de carga, junto com outros utensilhos. Desde que mudou seu modo de vida, fixando-se em um local e desenvolvendo a agricultura, na construção de seus abrigos, continuaram usando a madeira, associadas a outros materiais locais. Material natural de fonte renovável, estrutural, leve, resistente e de boa trabalhabilidade, acompanhou a evolução do homem, se mostrando versátil. Permite reaproveitamento e trabalha como um pré fabricado, pois a cadeia de fornecimento está montada e voce recebe no local desejado para ajustes e utilização, já vem quase pronta pra uso. É uma materia prima com grande utilização, in natura, com pequeno beneficiamento e até com alta tecnologia, na sua industrialização, que permitiu a ampliação das possilidades na utilização e reduziu o desperdicio de materia prima. Comparado com outras materiais que desenvolvem o mesmo trabalho, é a de produção de menor impacto no meio ambiente, é fonte renovável e no crescimento, as arvores capturam o CO2 da atmosfera, transformam em madeira e oxigenio. Temos conhecimento para uma utilização racional dos recursos das matas nativas, remanejando, planejando e convivendo com a vida. No nosso caso específico, monumentos de valor histórico, a madeira abundante e de ótima qualidade, foi usada como estrutura autônoma em todo território brasileiro, construção rapida, comparada a outros sistemas, permitia paredes estreitas usadas como vedação, sem função estrutural. Assimilando as particularidades da região e do ”saber fazer” do branco, do negro e do nativo, que já utilizava as firas vegetais para confeccionar seu abrigo, sempre construidas com fibras e em alguns casos associadas ao barro.

Estrutura Autônoma A estrutura em madeira juntamente com o pau-apique, foi o sistema mais difundido no Brasil, não só no casario civil, como nos edifícios publicos de grande porte.

A obtenção da madeira seguia um rigoroso método, para qualilificar o produto. Desde sua retirada da mata nas épocas mais secas, na fase certa da lua e aguardar o tempo suficiente para a secagem do tronco, antes da serragem e utilização. As seções das peças variam em torno de palmos, até a instalação das serrrarias mecânicas, quando se começou a utilizar a polegada como unidade de medida. O Esquema Estrutural, é o pilar/viga empregado até hoje, sendo o fechamento, como já descrito anteriormnente, vedação sem função estrutural.O Esteio (pilar), de seção quadrada é enterrado ou apoiado sobre alicerces. Se forem enterrados, essa parte permanecerá cilindrica, comumente, são levemente carbonizadas, para proteção contra a umidade do cerne. No nível do piso, o esteio recebe o Baldrame, onde se apoia os barrotes do piso e a vedação e na parte superior, através de espiga, o frechal que faz o fechamento e cintamento, onde são apoiados o telhado e o forro.

Além dessas peças horizontais e verticais, em quadros de grandes dimensões, eram usados em alguns casos, peças diagonais chamadas de Aspas Francesas ou Cruz de Santo André, para estabilizar os quadros e direcionar os esforços direto para o esteio.

As estruturas podeiam ter como resultado quadros de angulos retos, onde a alvenaria fica recuada, valorizando a estrutura autonoma aparente e tambem associadas a tábuas recortadas, formando arcos que ornamentavam as varandas de importantes edifícios da época.

Com a chegada dos imigrantes, incrementou-se ainda mais o conhecimento e o uso de sistemas construtivos, relacionado à carpintaria e marcenaria, trouxeram conhecimentos, ferramentas para a região sul do Brasil onde encontra-se concentrada uma produção de extrema qualidade e diversidade.

estruturas tipo enxaimel

A produção construtiva do imigrante, levou a madeira em forma de tábuas para as vedações das construções, foi usada como solução rápida para responder a necessidade imediata com o material do local e dominio da técnica. Se mostrou eficiente e continuou sendo difundida.

Itaiópolis-sc Estruturas de coberturas As edificações que não apresentam a madeira como estrutura autonoma, apresentam a madeira como estrutura da cobertura. A telha do tipo Capa e canal, comumente utilizada na península hibérica, foi a mais utilizada até o séc. XIX, quando iniciou-se a utilização tambem das Francesas, vindas do comércio com a Europa, antes de se fabricarem no Brasil. Veio tambem nessa época, o Pinho de Riga, madeira muito presente nas estruturas das construções das cidades de zonas portuárias. - Caibro Armado Sistema estrutural para telhados, muito usado no Brasil colonia, compostas de caibros ou pernas, encaixadas na parte superior em meia madeira, na parte inferior, se apoiam nos frechais através do encaixe em boca de lobo. A altura desse elemento, é dividido em três partes e no terço superior encaixa-se uma peça horizontal, chamada linha alta, especialmente encaixada no caibro em rabo de andorinha, possibilitando a melhor absorção dos empuxos laterais. São dispostas sucessivamente sobre os frechais laterais, que são ligados por uma peça de madeira ou metálica, chamada tirante onde parte dos esforços são absorvidos, no fechamento do quadro.

rabo de andorinha meia madeira boca de lobo - Cangalha Na cangalha, as peças inclinadas se chamam pernas ou empenas, são encaixadas no cruzamento superior em meia madeira, sendo que se deixa as peças passarem do encaixe para que ali se apoie a cumeeira, em diamante. A linha alta se encontra a meia altura, sob as terças e as extremidades das pernas se encaixam nos frechais em boca de lobo. Linhas de madeira ou vergalhões metalicos contribuem para a estabilização do conjunto.

Cumeeira em diamante

meia madeira entre pernas meia madeira l. alta/perna boca de lobo caibro/frechal

- Tesoura de Palladio Pouco usada nas construções mais antigas do Brasil,este tipo foi usado e divulgado pelo arq. Andréa Palladio (1508-1580). Constituida de linha alta e linha baixa e entre elas dois pontaletes. Sob a cumeeira e até encontrar a linha alta, um terceiro pontalete.

- Asna com pendural e escoras Muito eficiente, largamente utilizada até os dias de hoje, considerada tipo classico de asna de madeira, sendo tambem conhecida como asna de Palladio. Consta de duas pernas com as extremidades superiores se encaixando no topo do pendural e as inferiores na linha baixa. Possuem duas escoras que unem as pernas a extremidade inferior do pendural, constituindo um quadro rígido, podendo o pendural sustentar a linha baixa no seu ponto mais desfavorável.

Beirais As extremidades dos telhados, chamados de beirais, apresentam soluções variadas de acordo com a técnica construtiva do edifício e do tipo de telhado. Sua função é o afastamento das águas das paredes e evitar seu refluxo para o interior do edifício. - Beiral de cachorrada Peças aparente de madeira, chamadas de cachorro, geralmente com seu topo perfilado, sacada do paramento das paredes, sobre as quais são pregadas as tábuas que constituem o guarda pó, onde assentam-se as primeiras fiadas de telhas. Uma das maneiras de engastar os cachorros no frechal, é usando um encaixe em ganzepe, sobre esse se descarrega o caibro, que faz seu travamento. Outra é travá-los no prolongamento interno com o caibro, com uma peça no sentido cointrário chamada retranca. A concordância entre o plano inclinado do telhado e o plano horizontal do beiral se faz com uma peça chamada contrafeito, que suavisa e dá um elegante perfil aos telhados antigos, denominado galbo do telhado.

- Beira seveira Executado com telhas em balanço que podem se simples, duplas ou triplas, característicos das construções com paredes espessas, como a taipa de pilão e a pedra, muito usado no Brasil colonia pelo baixo custo.

- Beiral de Cimalha Podem se constituidos de diferentes materiais, como pedra, argamassa, madeira e estuque e são caracterizados pelo perfil que apresentam. Cantaria:

executada em pedra lavrada na sua face externa aparente, com balanço de pouca dimensão. Empregadas em edifícios mais apurados, principalmente no litoral. Alvenaria:

o perfil bruto é executado em tijolos desbastados, onde é lançada a argamassa e através de moldes recortados com perfil desejado, se conforma o desenho. Madeira:

Em suporte executado em sarrafos de madeira entre a face da parede e o final o beiral, conforme desenho pretendido, é fixada tabuas que formarão uma moldura.

- Lambrequin:

Com a chegada de D. João VI no Brasil, vários elementos de origem francesas começam a ser usados na colonia, sendo que nos beirais, aparecem as mãos francesas e os lambrequins. Suportando os balanços mais ousados e enfeitando com madeiras recortadas e vasadas, colocadas a prumo na extremidade dos beirais. Estrutura de forro Cumprem um papel importante no condicionamento térmico do edifício, e tambem no fator estético e decorativo, sendo suporte para pinturas de grandes artistas. Nas construções tradicioinais eram executados em madeira, em sua maioria e em argamassa (estuque), sempre usando a madeira como elemento estrutural. - Horizontais:

Barrotes geralmente apoiados nos frechais e nas linhas sobre as paredes internas. Podem ser de vários materiais e acabamentos, entre eles:

Tabuado liso

Saia e camisa

- Mistos:

Comumente associados ao caibro Armado, apresentam tres planos, dois acompanham os caibros na inclinação do telhado e um sob a linha alta, comum nas igrejas.

Gamela, quando são compostos de cinco planos, quatro inclinados e um plano. - Abobadados:

Caracteristico da arquitetura religiosa, tambem chamado aboboda de berço, associado ao Caibro armado e a Cangalha, que pelos seus desenhos, permitem e oferecem apoios as cambotas, que seriam os barrotes em forma de arcos, que podem ser fixados ou não nas linhas.

Telhado : Na colonização do Brasil, as construções, exceto as provisórias, cobertas com fibras vegetais, são sempre cobertas por telhas capa e canal. As mais antigas são de grande tamanho e bem cozidas, de cor clara e tem seu afunilamento bem reduzido, sem distinção entre capa e canal, sendo que as peças serviam para as duas funções.

A harmonia dos conjunto de telhados é a marca da ambiência dos núcleos históricos, elegantes, com detalhes construtivos que resultaram de um longo processo de aperfeiçoamento, no qual os fatores eficiência e racionalidade se sobrepõe ao estético, sem impedir que lhes confiram beleza. Detalhes de suma importancia dentro do processo construtivo brasileiro, não está sendo difundido e valorizado. Galbo do telhado:

Caracteriza-se pela mudança de inclinação do telhado nas suas extremidades, usando uma peça de madeira chamada contrafeito, apoiada no beiraln e no caibro. Assim propicia o lançamento das águas pluviais afastada das paredes.

Inversão das telhas da primeira fiada:

A preocupação está nas infiltrações das águas pluviais nos frechais, importante peça da estrutura da cobertura, local de grande incidência de patologia. Rodo ou Rotação dos cunhais:

proximo aos cunhais, a partir da terceira ou quinta fileira, as telhas dos beirais vão se afastando da posição perpendicular à parede, tornando-se paralelas ao espigão, conseguindo a concordância entre as águas correspondentes às paredes que se encontram. Fixação das telhas: Emboçado:

argamassamento apenas das telhas do beiral, da fiada sob a cummeira, a cumeeira e os espigões. Grampeado:

a fixação é feita entre as telhas através de grampos metálicos de cobre e galvanizados ou através de fio de cobre fixando-as nas ripas.

Bebedouros:

Sob as telhas de cumeeira e espigões, inseren-se pedaços de telhas no espaço correspondente ao canal, com o nome de bebedouro, recebe argamassa na parte superior onde se fixa a cumeeira, na inferior onde encontra o canal, não leva massa ficando atuando como respiradouro do telhado, evitando a condensação da umidade e seus efeitos danosos no madeiramento e na pintura decorativa do forro. Bibliografia Consultada: La Pastina filho, José. Manual de conservação de telhados, iphan, programa monumenta, 2005. Vasconcellos, Sylvio. Arquitetura no Brasil : Sistemas Construtivos, UFMG/IPHAN/Seplan-PR/Fundep, 1979. Rodrigues, Raymundo. Caderno de Conservação Preventiva e Preservação Arquitetônica, Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba Fluminense - Inepac/Secretária da Cultura RJ, 2008.