estrutura populacional da floresta de mangue e do caranguejo-uÇÁ, ucides cordatus (linnaeus,...

90
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BRAGANÇA INSTITUTO DE ESTUDOS COSTEIROS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA AMBIENTAL MESTRADO EM RECURSOS BIOLÓGICOS DA ZONA COSTEIRA AMAZÔNICA ESTRUTURA POPULACIONAL DA FLORESTA DE MANGUE E DO CARANGUEJO-UÇÁ, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), NA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA MÃE GRANDEDE CURUÇÁ, CURUÇÁ-PA SUELEN MARIA OLIVEIRA PEROTE Prof. Dr. MARCUS EMANUEL BARRONCAS FERNANDES (ORIENTADOR)

Upload: jeronimo-amaral-de-carvalho

Post on 08-Sep-2015

10 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

Tese de doutorado

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR CAMPUS UNIVERSITRIO DE BRAGANA

    INSTITUTO DE ESTUDOS COSTEIROS PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM BIOLOGIA AMBIENTAL MESTRADO EM RECURSOS BIOLGICOS DA ZONA COSTEIRA

    AMAZNICA

    ESTRUTURA POPULACIONAL DA FLORESTA DE MANGUE E DO

    CARANGUEJO-U, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), NA RESERVA

    EXTRATIVISTA MARINHA ME GRANDE DE CURU, CURU-PA

    SUELEN MARIA OLIVEIRA PEROTE

    Prof. Dr. MARCUS EMANUEL BARRONCAS FERNANDES

    (ORIENTADOR)

  • 34

    BRAGANA-PA

    2010

    SUELEN MARIA OLIVEIRA PEROTE

    ESTRUTURA POPULACIONAL DA FLORESTA DE MANGUE E DO

    CARANGUEJO-U, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), NA RESERVA

    EXTRATIVISTA MARINHA ME GRANDE DE CURU, CURU-PA

    Dissertao de Mestrado apresentada ao

    Programa de Ps-Graduao em Biologia

    Ambiental: Mestrado em Recursos

    Biolgicos da Zona Costeira Amaznica,

    da Universidade Federal do Par,

    Campus Universitrio de Bragana, como

    parte dos requisitos necessrios

    obteno do grau de Mestre em Biologia

    Ambiental.

    Orientador: Prof. Dr. Marcus E. B.

    Fernandes

  • 35

    BRAGANA-PA

    2010

    SUELEN MARIA OLIVEIRA PEROTE

    ESTRUTURA POPULACIONAL DA FLORESTA DE MANGUE E DO

    CARANGUEJO-U, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), NA RESERVA

    EXTRATIVISTA MARINHA ME GRANDE DE CURU, CURU-PA

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Biologia Ambiental: Mestrado em Recursos Biolgicos da Zona Costeira Amaznica, da Universidade Federal do Par, Campus Universitrio de Bragana, como parte dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Biologia Ambiental. Orientador: Prof. Dr. Marcus E. B. Fernandes

    Data de aprovao:____/____/ 2010

    Banca examinadora:

    __________________________________________________

    Dr. Marcus Emanuel Barroncas Fernandes (Orientador) Universidade Federal do Par, Campus de Bragana - UFPA __________________________________________________

    Dr. Joo Marcos Ges (Titular) Universidade Federal do Piau, Campus de Parnaba - UFPI __________________________________________________

    Dra. Cludia Nunes-Santos (Titular) Universidade Federal do Par, Campus de Bragana - UFPA

  • 36

    __________________________________________________

    Dra. Marivana Borges (Titular) Universidade Federal do Par, Campus de Bragana - UFPA

    BRAGANA-PA

    2010

    ...

    Eu amo voc terra minha amada

    Minha oca meu iglu, minha casa

    Eu amo voc prola azulada conta

    No colar de Deus, pendurada

    A beno minha me

    J aprendi nadar em seu mar

    azul

    Adorar a gua, homem peixe,

    gua

    Fonte iluminada

  • 37

    J aprendi a ser parte de voc

    Respeitar a vida em sua barriga

    Quantos mais vo aprender

    ...

    Z Miguel e Joozinho Gomes

    A toda minha famlia,

    composta por meus verdadeiros

    mestres, modelos reais de

    perseverana, parceria,

    dedicao e pacincia.

    Ao meu namorado,

    por ter permanecido ao meu lado

    compartilhando angstias e dvidas,

  • 38

    estendendo sua mo amiga em

    momentos difceis, por cada palavra

    de incentivo e pela ternura de cada

    abrao.

    Dedico

    AGRADECIMENTOS

    Sem dvidas, escrev-los so mais difceis do que redigir a dissertao.

    Diversas pessoas colaboraram direta ou indiretamente para a realizao deste

    trabalho, com sugestes, idias, crticas e opinies. Outros contriburam com

    amizade, carinho e afeto, provavelmente os ingredientes mais importantes para

    um bom trabalho. Temendo esquecer algum, agradeo a todos que

    conviveram comigo nesses ltimos dois anos. Porm, gostaria de destacar

    algumas pessoas e entidades que foram especialmente importantes.

    Ao Programa de Ps-Graduao em Biologia Ambiental pela

    oportunidade.

    Ao Professor Dr. Marcus Fernandes pela orientao, incentivo,

    compreenso e amizade.

    CAPES pelo suporte financeiro, atravs da concesso de bolsa de

    estudo, que foi indispensvel execuo deste trabalho.

  • 39

    minha famlia pelo apoio incondicional, pelos dias de trabalho e

    descanso que abdicaram para me ajudar em todas as minhas coletas de

    dados no manguezal. Obrigada por depositarem em mim a confiana

    para todas as horas! Obrigada por vocs existirem!

    Ao meu namorado, Marcelo Morita, que por vezes deve ter detestado a

    mim e a esse trabalho, pois ele sacrificou muitos momentos que

    poderamos ter desfrutado juntos, mas sempre incentivou, sempre

    apoiou e, o melhor de tudo, sempre cobrou para que eu continuasse e

    conclusse mais esta etapa de nossas vidas que vamos construindo

    juntos. Amo-te!

    Ao Sr. Messias Sousa (Bolor), catador de caranguejo que me

    acompanhou em todas as minhas idas ao manguezal, e a sua famlia de

    me acolheu de braos abertos. Obrigada pelo carinho, pela amizade e,

    acima de tudo, pelas lies de vida.

    turma de Mestrado/2008 com quem convivi boa parte desses ltimos

    dois anos, pela diverso, pelo aprendizado e pela amizade. Em especial,

    a Adriana Pedale, Andreza Sombra, Ftima Gomes, Milene Tavares e

    Renata Barros que se tornaram muito mais que companheiras de curso

    e de casa. Tornaram-se amigas pra todo o sempre!

    Aos meus amigos que no entendem absolutamente nada (ou quase

    nada) de biologia, manguezal e caranguejo. Mas que estiveram

    presentes nos momentos de diverso ao longo desses ltimos anos.

    Valeu galera!

    SUMRIO

    CAPTULO 1 - INTRODUO GERAL..........................................................

    8

    1 INTRODUO.............................................................................................

    9

    1.1 MANGUEZAL............................................................................................

    9

    1.2 VEGETAO............................................................................................

    11

    1.3 CARANGUEJO-U, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763).........................

    14

    1.3.1 IMPORTNCIA 2

  • 40

    ECOLGICA......................................................... 0

    1.3.2 IMPORTNCIA ECONMICA........................................................

    21

    1.4 ESCOPO DA DISSERTAO..................................................................

    22

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................

    24

    CAPTULO 2 - ATRIBUTOS ESTRUTURAIS DAS FLORESTAS DE

    MANGUE DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA ME GRANDE

    DE CURU, CURU-PA

    RESUMO.........................................................................................................

    34

    INTRODUO.................................................................................................

    35

    MATERIAIS E MTODOS...............................................................................

    36

    RESULTADOS.................................................................................................

    40

    DISCUSSO....................................................................................................

    50

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................

    54

    CAPTULO 3 - BIOMETRIA E ESTRUTURA POPULACIONAL DO

    CARANGUEJO-U, Ucides cordatus (LINNAEUS, 1763)

    (CRUSTACEA, BRACHYURA) NOS MANGUEZAIS DA RESERVA

    EXTRATIVISTA MARINHA ME GRANDE DE CURU, CURU-

  • 41

    PA

    RESUMO.........................................................................................................

    60

    INTRODUO.................................................................................................

    61

    MATERIAIS E MTODOS...............................................................................

    65

    RESULTADOS.................................................................................................

    69

    DISCUSSO....................................................................................................

    73

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................

    77

    CAPTULO 4 - DISCUSSO

    GERAL.............................................................

    84

    ANEXO

    ...........................................................................................................

    89

  • 42

    CAPTULO 1 INTRODUO GERAL

  • 43

    1 INTRODUO

    1.1 MANGUEZAL

    O manguezal um ecossistema onde ocorre o encontro de gua doce

    dos rios com a gua salina do mar (TOMLINSON, 1986). Est localizado em

    reas costeiras nas regies tropicais e subtropicais ao redor do mundo e

    desenvolve-se preferencialmente em deltas, enseadas e baas, locais que

    favorecem a deposio de sedimentos (ADAIME, 1987).

    As florestas de mangue apresentam maior desenvolvimento nas faixas

    entre os trpicos de Cncer e Capricrnio (23o30'N 23o30'S), podendo

    estender-se at latitudes superiores (30oN e 30oS), mas, no entanto, seu timo

    desenvolvimento estrutural associado linha do Equador (QUIONES,

    2000). Assim, a ocorrncia dos manguezais est relacionada s temperaturas

    constantes (< 5C de variao) e acima de 20C (WALSH, 1974).

    O desenvolvimento destas florestas tambm associada baixa

    energia das ondas, s linhas de costa protegidas, ao aporte de gua doce

    abundante, salinidade entre 5 e 30 e deposio e acmulo de sedimentos

    finos. Alm destas condies, a grande amplitude de mar e a precipitao

    pluvial anual acima de 1.500 mm.ano-1 proporcionam o crescimento de florestas

    de mangue em direo ao interior, formando cintures que podem se estender

    por mais de 60 km continente adentro. Diversos autores apontam para o fato

    de que variveis abiticas, como as supracitadas, esto diretamente

    relacionadas biodiversidade do ecossistema de manguezal (LUGO &

    SNEDAKER, 1974; WALSH, 1974; TOMLINSON, 1986; HUTCHINGS &

    SAENGER, 1987; SCHAEFFER-NOVELLI, 1995).

    Esse ecossistema representa cerca de 8% de toda linha costeira do

    planeta e 25% da costa tropical, abrangendo um total de 181.077 km2. O Brasil

    o segundo maior pas em rea de manguezais (13.400 km2), perdendo apenas

    para a Indonsia, que apresenta 42.550 km2 distribudos ao longo de seus

    arquiplagos. Os manguezais brasileiros esto distribudos do rio Oiapoque, no

  • 44

    Estado do Amap (430N), Praia do Sonho, no Estado de Santa Catarina

    (latitude 2853S) (SPALDING, BLASCO & FIELD, 1997).

    A costa amaznica brasileira, por sua vez, apresenta cerca de 2.250 km

    de extenso e localiza-se entre a Ponta do Tubaro, no Estado do Maranho e

    o Cabo Orange, no Estado do Amap, compreendendo os estados do Amap,

    Par e Maranho. A rea ocupada pelos manguezais no Estado do Amap

    corresponde a 2.300 km2, no Par representa 2.117 km2 e no Maranho 5.414

    km2. Em conjunto, os dois ltimos estados abrigam 57% dos manguezais do

    Brasil, totalizando uma rea de 7.591 km2 (MENDES, 2005; SOUZA FILHO,

    2005).

    Os manguezais representam uma parcela relevante dos esturios com

    substrato lamoso, destacando-se como um sistema-chave no litoral do ponto

    de vista biolgico, ecolgico e econmico (ALCNTARA-FILHO, 1978). Esse

    ecossistema promove a estabilidade da linha de costa contra eroso (CINTRN-

    MOLERO & SCHAEFFER-NOVELLI, 1981; SAENGER, HEGERL & DAVIES, 1983;

    ALONGI, TIRENDI & CLOUGH, 2000; SZLAFSZTEIN, 2003), cria diversos micro-

    hbitats para a fauna associada (AUGUSTINUS, 1995), exporta nutrientes para os

    ambientes aquticos adjacentes (GOLLEY, ODUM & WILSON, 1962; ALONGI,

    1996), favorece uma intensa atividade pesqueira (CINTRN-MOLERO &

    SCHAEFFER-NOVELLI, 1983; NEIMAN, 1989; MANESCHY, 1993; MANESCHY,

    2005), alimenta a cadeia trfica costeira (DITTMAR, LARA & KATTNER, 2001),

    serve como berrio e local de desova para diferentes espcies de peixe, crustceo

    e molusco (NEIMAN, 1989; PRIMAVERA, 1998; PROST & LOUBRY, 2000), bem

    como fornece refgio, alimento e local de procriao para uma grande variedade de

    vertebrados, como: anfbios, rpteis, aves e mamferos (SAENGER, HEGERL &

    DAVIES, 1983; FERNANDES, 2000; ANDRADE & FERNANDES, 2005).

    Alm de sua importncia ecolgica, os manguezais tm grande relevncia

    do ponto de vista econmico por: i) apresentarem uma diversidade faunstica

    utilizada como recurso alimentar; ii) promoverem a produo de bens e servios

    capazes de atrair e manter populaes humanas em suas proximidades

    (SNEDAKER, 1978; NASCIMENTO, 1995; RIBEIRO et al., 1995; MASCARENHAS

  • 45

    & GAMA, 1999); iii) fornecerem recursos vegetais para produo de lenha, carvo,

    medicamentos, construo de casas e currais para a pesca (HAMILTON &

    SNEDAKER, 1984; ABUODHA & KAIRO, 2001) e iv) auxiliarem na produo de

    mel de abelha (DAQUINO & SANTANA, 1995; ALMEIDA, 1996).

    1.2 VEGETAO

    As florestas de mangue apresentam baixa diversidade florstica quando

    comparadas s outras florestas tropicais. Isto porque o ambiente onde ocorrem

    oferece condies peculiares, como alta salinidade da gua intersticial, baixa

    concentrao de oxignio do substrato lamoso e regime de inundaes dirias, o

    que permite o desenvolvimento apenas de espcies com adaptaes especficas ao

    meio (TOMLINSON,1986).

    As principais caractersticas adaptativas das rvores de mangue so as

    razes areas, a presena de lenticelas e pneumatforos, disperso de propgulos

    pelas mars, rpido desenvolvimento da copa, eficiente mecanismo de reteno de

    gua e nutrientes e excreo de sal (TOMLINSON, 1986). Essas plantas servem de

    substrato para moluscos e crustceos, obstculo energia das mars e ao fluxo de

    gua doce e abrigo s espcies de peixe no perodo da desova. Essa vegetao

    contribui para a fixao do substrato, alm de ser a maior responsvel pela maior

    produo primria na zona costeira (ALCNTARA-FILHO, 1978).

    A paisagem do manguezal composta por espcies botnicas lenhosas,

    chamadas de mangue, acompanhadas por espcies herbceas, epfitas,

    hemiparasitas e aquticas tpicas (HERZ, 1991). Botnicos e ecologistas brasileiros

    utilizam o termo manguezal para o bosque, a floresta; e mangue para as

    espcies vegetais arbreas (MACIEL, 1991).

    As espcies vegetais das florestas de mangue, segundo Duke (1992), so

    classificadas em dois tipos:

    i) espcies tpicas espcies vegetais arbreas que dominam a

    paisagem em reas caractersticas do sistema e,

  • 46

    ii) espcies associadas espcies pertencentes flora de outros

    sistemas, como: terra firme, vrzea estuarina e igap, que ocorrem associadas s

    espcies tpicas do manguezal.

    medida que se distanciam das margens dgua, os manguezais vo

    ocupando nveis topogrficos mais elevados, onde h maior consistncia do solo,

    facilitando o estabelecimento e o desenvolvimento de outras espcies vegetais

    precursoras, provenientes de ambientes adjacentes s espcies associadas (LIMA,

    PAOLI & GIRNOS, 2005).

    Tomlinson (1986) descreve que a composio florstica considerada tpica

    para os manguezais, ao redor do mundo, representada por 16 famlias, 20

    gneros e 54 espcies. As famlias Avicenniaceae e Rhizophoraceae, com 25

    espcies dominam as florestas de mangue do planeta. Nos manguezais brasileiros

    ocorrem seis espcies tpicas de mangue (Avicennia germinans (L.) Stearn,

    Avicennia schaueriana Stapf, Rhizophora mangle L., Rhizophora racemosa G.F.W.

    Meyer, Rhizophora harrisonii Leechman e Laguncularia racemosa (L.) Gaertn f.),

    todas associadas a vrias outras espcies botnicas.

    Segundo ABREU et al., 2006 todas essas seis espcies tpicas ocorrem nos

    manguezais do litoral paraense, ao longo da costa amaznica brasileira, alm das

    plantas associadas de hbito arbreo ou arbustivo: Conocarpus erectus L., ou de

    vegetao baixa que so atingidos somente pelas mars de sizgia: Acrostichum

    aureum L., Hibiscus tiliaceus L., Rhabdadenia biflora (Jacq.) M. Arg. etc. Nas

    margens de acumulao de meandros de rios, predominam as espcies tpicas da

    vrzea estuarina: Euterpe oleracea, Montrichardia arborescens (L.) Schott,

    Montrichardia lunatum, dentre outras (PROST & RABELO, 1996).

    Para Tomlinson (1986), o nmero reduzido de espcies vegetais tpicas nos

    manguezais neotropicais parece estar relacionado recente formao desse

    ecossistema, bem como aos processos geolgicos histricos, os quais podem estar

    determinando a distribuio e abundncia atuais dessas espcies. As florestas de

    mangue tm suas caractersticas estruturais e funcionais determinadas pela

    interao de caractersticas ambientais que atuam em escalas global, regional

    e local (BROWN & LUGO, 1982).

  • 47

    A estrutura dos bosques de mangue pode incluir: composio e

    diversidade de espcies, rea basal, densidade, distribuio dos indivduos por

    meio das classes de altura e dimetro e padres de distribuio dos

    componentes florestais (SMITH III, 1992). Todos esses atributos estruturais so

    importantes, pois fornecem uma idia do grau de desenvolvimento da floresta,

    o que possibilita a identificao e delimitao das florestas com caractersticas

    semelhantes, permitindo comparaes entre as diferentes reas

    (SCHAEFFER-NOVELLI & CINTRN-MOLERO, 1986).

    Os manguezais brasileiros apresentam grande variabilidade estrutural,

    fato intimamente relacionado s condies ambientais particulares encontradas

    ao longo de uma grande extenso latitudinal (SCHAEFFER-NOVELLI &

    CINTRN-MOLERO, 1988). Assim, considerando as caractersticas

    ambientais, espera-se que o maior desenvolvimento estrutural das florestas de

    mangue, ao longo da costa brasileira, seja encontrado na regio amaznica,

    onde o complexo hidrobiolgico e o clima equatorial tm favorecido o

    estabelecimento de manguezais bem desenvolvidos (SEIXAS, FERNANDES &

    SILVA, 2006).

    Os fatores econmicos e sociais tm levado os manguezais a um

    crescente processo de degradao (CINTRN-MOLERO & SCHAEFFER-

    NOVELLI, 1992). De fato, a forte presso antrpica nos manguezais um dos

    principais responsveis pelo aumento da vulnerabilidade dos ambientes

    litorneos, em geral, podendo ocasionar um processo de degradao

    irreversvel do meio (CRUZ, 1995). Assim, considerando o efeito antrpico nos

    manguezais, Cintrn-Molero & Schaeffer-Novelli (1992) apontaram para o fato

    de que quando as perturbaes antrpicas se assemelham a um fenmeno

    natural, a restaurao ocorre rapidamente. Porm, a maior parte das

    perturbaes causadas pelo homem transforma drasticamente os fluxos de

    energia e matrias, ou ainda, deixa resduos txicos, que impedem a

    regenerao e o desenvolvimento das plantas.

    Impactos naturais e impactos antrpicos compem os agentes

    causadores de degradao das florestas de mangue. Na regio nordeste do

  • 48

    Estado do Par, o assoreamento tem causado a morte da vegetao

    caracterstica dos manguezais. Tais impactos naturais so causados,

    principalmente, por ao de correntes, ondas e mars, alm de migrao das

    dunas sobre os manguezais por processos elicos (SENNA, MELLO &

    FURTADO, 2002). Includos dentre os impactos antrpicos mais danosos na

    regio esto: construo de estradas, bloqueio de canais e barragens, turismo

    predatrio, extrao de madeira, produo de carvo e lenha, intensificao da

    especulao imobiliria, exposio do solo para prticas agrcolas, sobrepesca

    de crustceos para a comercializao (BASTOS & LOBATO, 1996).

    1.3 O CARANGUEJO-U, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763)

    O caranguejo-u, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) umas das

    espcies mais importantes que compem a fauna dos manguezais brasileiros,

    ocorrendo em maior ou menor abundncia em toda a extenso da costa do

    Brasil, desde o estado do Amap at o estado de Santa Catarina (COSTA,

    1972). Essa espcie a nica espcie do gnero Ucides com registro de

    ocorrncia no Brasil e segundo Bowman & Abele (1982), Melo (1996) e Ng,

    Guinot & Davie (2008), possui o seguinte registro taxonmico:

    Reino: Animalia

    Filo: Arthropoda

    Subfilo: Mandibulata

    Classe: Crustacea

    Subclasse: Malacostraca

    Ordem: Decapoda

    Infraordem: Brachyura

    Super-Famlia: Ocypodoidea Rafinesque (1815)

    Famlia: Ucididae tevi (2005)

  • 49

    Gnero: Ucides Rathbun (1897)

    Espcie: Ucides cordatus Linnaeus (1763)

    Subespcie: Ucides cordatus cordatus

    Por ser a nica subespcie do gnero Ucides presente no Brasil, no

    presente trabalho ser utilizada a nomenclatura Ucides cordatus em

    substituio a Ucides cordatus cordatus.

    O caranguejo-u uma espcie semiterrestre que habita as pores

    altas dos manguezais. Ocorre principalmente nas zonas entremars e vive em

    galerias ou galerias escavadas no substrato lamoso (PAIVA, BEZERRA &

    FONTELES-FILHO, 1971; ALCNTARA-FILHO, 1978; COSTA, 1972; COSTA,

    1979; CASTRO, 1986; NASCIMENTO, 1993). Segundo Lutz (1912), as galerias

    onde os caranguejos-u habitam so profundas, tortuosas e ficam submersas

    durante a preamar, perodo em que os caranguejos permanecem no interior

    das galerias, saindo destas somente na baixamar. As primeiras sadas so

    destinadas limpeza das galerias, quando os indivduos retiram todo o

    excesso de substrato introduzido em seu interior durante a mar enchente,

    sendo as sadas seguintes para a procura de alimento (COSTA, 1979;

    NASCIMENTO, 1993).

    Cada indivduo ocupa uma nica galeria, caracterstica acentuada de

    territorialismo na espcie, no entanto, durante o perodo de acasalamento

    possvel encontrar mais de um caranguejo por galeria (BLANKENSTEYN,

    CUNHA-FILHO & FREIRE, 1997). Os caranguejos adultos habitam galerias

    com uma nica abertura, enquanto os jovens podem habitar galerias

    escavadas no sentido horizontal, com at cinco aberturas que se comunicam

    entre si. As dimenses da abertura das galerias do caranguejo-u possuem

    correlao positiva com o tamanho do seu habitante (ALCNTARA-FILHO,

    1978; COSTA, 1979; BLANKENSTEYN, CUNHA-FILHO & FREIRE, 1997).

    Este fato, associado s marcas deixadas pelos machos na lama, que so

    facilmente diferenciadas das marcas deixadas pelas fmeas (COSTA, 1979),

  • 50

    torna a coleta desse caranguejo bastante seletiva quanto sexo e tamanho dos

    indivduos.

    A obteno de alimentos realizada durante a baixamar nas

    proximidades da galeria, sendo o alimento levado para o interior da mesma. O

    caranguejo-u alimenta-se principalmente de vegetais e restos de matria

    orgnica em decomposio (PAIVA, BEZERRA & FONTELES-FILHO, 1971;

    CASTRO, 1986), por isso, considerado por Costa (1979) uma espcie

    onvora.

    Como todos os crustceos, o caranguejo-u tambm passa pelo

    processo de muda ou ecdise, que a troca do exoesqueleto decorrente do seu

    crescimento. A classificao dos estgios de muda do caranguejo-u baseia-

    se no trabalho de Drach publicado em 1939 (IVO & GESTEIRA, 1999). O

    estudo de Drach relevante pela nfase dada ao aspecto biolgico que a

    muda envolve. A muda no um ato restrito que interrompe o curso da vida do

    caranguejo, mas todos os aspectos da fisiologia desse indivduo esto

    mudando continuamente, junto com os estgios do ciclo de muda

    (NASCIMENTO, 1993). No final da dcada de 30, Drach descreve o ciclo das

    mudas em quatro perodos:

    A o perodo que se d imediatamente aps a muda. O exoesqueleto

    ainda est muito mole e deforma facilmente quando pressionado, mesmo que

    levemente. Tambm chamado de Ps-Muda.

    B o perodo em que o exoesqueleto j est mais rgido, porm ainda

    deforma se pressionado. Tambm chamado de Ps-Muda.

    C o perodo mais longo que compreende a maior parte da vida do

    animal, e nele o exoesqueleto j est totalmente rgido. Tambm chamado de

    Inter-Muda.

    D o perodo preparatrio para a muda, em que o exoesqueleto

    antigo comea a se desprender do corpo, sendo facilmente quebrado com as

    mos. Segundo Pinheiro & Fiscarelli (2001), o corpo fica preenchido por uma

    substncia leitosa rica em clcio, magnsio e carbonatos e qualquer injria de

  • 51

    apndices locomotores permite o extravasamento de hemolinfa. Por isso, os

    caranguejos neste perodo so chamados popularmente de caranguejos-de-

    leite. Este perodo tambm chamado de Pr-Muda.

    Durante o perodo de muda os caranguejos adultos costumam manter a

    abertura de suas galerias fechada, permanecendo em no seu interior, ao passo

    que os indivduos jovens a mantm tapada durante o ano todo, sugerindo a

    existncia de sucessivas mudas, sem perodo definido (COSTA, 1972).

    Os caranguejos apresentam morfologia externa bastante diferenciada, o

    que permite a fcil caracterizao sexual dos indivduos. O abdome do macho

    longo, estreito, triangular e, geralmente, com o quinto e sexto segmentos

    soldados num segmento longo, articulando-se com o telson, enquanto nas

    fmeas o abdome semicircular, largo, com todos os segmentos visveis e no

    fusionados (NASCIMENTO, 1993).

    No perodo reprodutivo do caranguejo-u (meses de maior fotoperodo,

    temperatura e precipitao), machos e fmeas saem de suas galerias para o

    acasalamento em um fenmeno denominado pelas comunidades litorneas de

    andada, andana, soat, corrida ou carnaval (PINHEIRO &

    FISCARELLI, 2001). Existem relatos de ocorrncia de andadas tanto no

    perodo das luas cheias (GES et al., 2000; PINHEIRO & FISCARELLI, 2001)

    quanto no das luas novas (GES et al., 2000; DIELE, 2000; PINHEIRO &

    FISCARELLI, 2001; WUNDERLICH et al., 2002).

    Segundo Ges et al. (2000), de trs a nove dias antes da andada os

    machos liberam uma espuma branca, possivelmente para atrao sexual

    atravs de feromnios. A andada comea com um comportamento pr-

    copulatrio, que envolve um grande deslocamento e troca de golpes com

    quelpodos entre indivduos (GES et al., 2000; WUNDERLICH et al., 2002).

    Neste momento, h uma intensificao da explorao comercial deste recurso

    pela maior facilidade de captura, como tambm pelo aumento de sua procura

    para o consumo humano, particularmente nos meses de vero (GLASER &

    DIELE, 2004).

  • 52

    O acasalamento do caranguejo-u ocorre com a fmea em decbito

    dorsal, ocasio em que o macho a cobre e deposita o lquido seminal nas

    aberturas existentes na base do terceiro par de patas, com o auxlio do pnis.

    Os espermatozides transferidos para os receptculos seminais da fmea

    ficam armazenados at o momento da desova, que pode ser total, quando

    vulos e lquido espermtico so simultaneamente liberados, evidenciando a

    fecundao externa (MOTA-ALVES, 1975). Por outro lado, Nascimento (1993)

    ainda discute se a fecundao do caranguejo-u externa ou interna.

    Mota-Alves (1975) define a desova de U. cordatus como sendo total,

    porm, Ges et al. (2000) sugerem que a desova desta espcie do tipo

    parcelada, j que observou ovrios com caractersticas dos estgios maduro e

    em recuperao, simultaneamente. Diele (2000) apresenta evidncias de que

    algumas fmeas podem liberar larvas mais de uma vez no mesmo perodo

    reprodutivo. Segundo Dalabona & Silva (2005), a anlise histolgica das

    gnadas das fmeas confirmou que no ocorrem desovas mltiplas em um

    mesmo ciclo reprodutivo anual, uma vez que ovrios desovados no

    apresentam ovcitos em maturao.

    O ciclo de vida do caranguejo-u apresenta sete estgios larvais antes

    de adquirir morfologia similar a do adulto, por isso dita como de

    desenvolvimento indireto (PINHEIRO & FISCARELLI, 2001). O

    desenvolvimento larval constitudo por cinco ou seis estdios zoea e um de

    megalopa, no sendo observado estdio pr-zoea (RODRIGUES, 1982;

    RODRIGUES & HEBLING, 1989). Aps a ecdise da megalopa, origina-se o

    primeiro estdio juvenil do caranguejo-u. Neste estdio os exemplares tm

    tamanho reduzido, aproximadamente 1,5 mm de largura de cefalotrax (DIELE,

    2000). Em laboratrio, experimentos realizados por Abrunhosa et al. (2002)

    indicam que as larvas zoea de Ucides cordatus, embora lecitotrficas, pois

    possuem reservas nutricionais, precisam capturar alimento para suprir todas as

    suas necessidades e ter xito na realizao das mudas. Aps chegarem

    costa, as larvas megalopas assentam-se e metamorfoseiam-se em pequenos

    caranguejos terrestres. Estes so raramente vistos e pouco se sabe sobre seu

    hbitat e ecologia (WOLCOT, 1988).

  • 53

    U. cordatus apresenta crescimento lento, sendo variadas as estimativas

    de idade em que os machos atingem o tamanho comercial de 6 cm de largura

    do cefalotrax, segundo Portaria IBAMA n 34/03-N, de 24 de junho de 2003

    para as regies Norte e Nordeste do Brasil. Estudos realizados em diferentes

    regies brasileiras revelam que, devido a esse crescimento reduzido, os

    indivduos levam de 3,8 a 11 anos para atingir o tamanho comercial

    (NASCIMENTO, 1993; OSTRENSKY et al., 1995; IVO et al., 2000; DIELE,

    2000; PINHEIRO, FISCARELLI & HATTORI, 2005). De acordo com DIELE

    (2000); PINHEIRO, FISCARELLI & HATTORI (2005), os machos atingem uma

    largura mxima de carapaa entre 8,3 e 9,1 cm, ao passo que as fmeas entre

    7,3 e 7,8 cm. No entanto, FERNANDES & CARVALHO (2006) j registraram

    indivduos, na Ilha de Marac, Amap, maiores do que 10 cm de largura de

    carapaa. A longevidade dessa espcie de caranguejo para alguns autores

    ultrapassa um pouco os dez anos de idade (DIELE, 2000; PINHEIRO,

    FISCARELLI & HATTORI, 2005).

    A atividade de catao do caranguejo-u nos manguezais brasileiros

    constitui uma das mais importantes atividades para a subsistncia das

    populaes humanas tradicionais que vivem no entorno desse ecossistema. De

    acordo com Nordi (1994a), durante todo o ciclo anual, o caranguejo-u vive

    em galerias individuais construdas sob as rvores de mangue. Sua captura ou

    "catao" acontece no perodo da baixamar e feita com as mos, ou auxiliada

    por instrumentos adaptados pelo prprio catador. A experincia dos catadores

    de caranguejo-u lhes permite identificar, com certa facilidade, as galerias

    habitadas, o sexo e a faixa de comprimento aproximado do indivduo no interior

    da galeria (COSTA, 1972). Abaixo esto descritos os mtodos de captura do

    caranguejo-u utilizados nas regies Norte e Nordeste do pas:

    i) Braceamento - consiste na coleta dos indivduos pela introduo do

    brao nas galerias para a retirada dos caranguejos (NORDI, 1992);

    ii) Tapamento - consiste na obstruo da sada das diversas galerias

    com pedaos de plantas e/ou sedimentos do prprio mangue, fazendo com que

    os caranguejos movam-se em direo superfcie (NORDI, 1992);

  • 54

    iii) Ratoeira - uma armadilha construda a partir de latas vazias, onde

    iscas so utilizadas para atrair e aprisionar o caranguejo quando ele,

    acidentalmente, aciona o mecanismo de fechamento da mesma (NORDI,

    1992);

    iv) Raminho - consiste na introduo de um ramo de planta na galeria

    para atiar o caranguejo, que ao agarr-lo puxado para fora mesma (NORDI,

    1992);

    v) Redinha - uma armadilha de rede armada na sada da galeria onde

    o caranguejo imobilizado na medida em que tenta desprender-se da mesma

    (NORDI, 1992);

    vi) Lao - uma armadilha construda com um pedao de bambu, sendo

    uma extremidades introduzida no sedimento e na outra amarrado um fio de

    seda feito um lao de forca (MANESCHY, 1993);

    vii) Gancho ou Cambito consiste na introduo de uma vara com um

    gancho na ponta para a remoo do caranguejo (LEGAT & PUCHNICK, 2003).

    A Portaria do IBAMA N 034/03-N de junho de 2003 permite nos Estados

    do Norte e Nordeste a captura de caranguejo-u apenas atravs do mtodo

    de braceamento com o auxlio de gancho, ou cambito, com proteo na

    extremidade. Contudo, os catadores ainda continuam utilizando todas essas

    tcnicas de captura acima descritas.

    A densidade um parmetro imprescindvel para o manejo do

    caranguejo-u (BRANCO, 1993; BLANKENSTEYN, CUNHA-FILHO &

    FREIRE, 1997; IVO et al., 2000; ALVES & NISHIDA, 2004; ALVES, NISHIDA &

    HERNANDEZ, 2005; DIELE, KOCK & SAINT-PAUL, 2005). A estimativa da

    densidade de caranguejos semiterrestres tem sido um tpico relativamente

    bem abordado na literatura (WARREN, 1990; LOURENO, PAULA &

    HENRIQUE, 2000; FLORES, ABRANTES & PAULA, 2005). No entanto, a

    escolha do mtodo ideal para se obter uma estimativa mais confivel um dos

    maiores entraves para esse tipo de estudo, particularmente para braquiros

    semiterrestres que habitam costes rochosos (FLORES & PAULA, 2002) e

  • 55

    manguezais (NOBBS & MCGUINESS, 1999; MACIA, QUINCARDETE &

    PAULA, 2001; SKOV et al., 2002). A quantificao direta do nmero de

    galerias/rea tem sido um dos mtodos mais utilizados para a estimativa da

    densidade populacional de braquiros semiterrestres (LOURENO PAULA &

    HENRIQUE, 2000; SKOV et al., 2002).

    Estimativas que utilizam a morfologia da abertura das galerias de U.

    cordatus, bem como sua inclinao de 45 em relao ao sedimento (COSTA,

    1979; GERALDES & CALVENTI, 1983) possibilitam seu fcil reconhecimento

    em relao s demais espcies escavadoras, especialmente das espcies do

    gnero Uca. Tais mtodos para o caranguejo-u ganham ainda maior

    robustez quando: i) as galerias abandonadas (sem atividade biognica) e ii)

    aquelas com dupla abertura, contadas como uma nica galeria, so ambas

    desconsideradas durante as estimativas (HATTORI, 2002). Utilizando-se tal

    refinamento, os valores estimados tm sido mais prximos aos reais

    (BREITFUSS, 2003), trazendo grande aceitao da comunidade cientfica ao

    mtodo de estimativa indireta da densidade por quantificao das galerias/rea

    (SKOV et al., 2002; JORDO & OLIVEIRA, 2003).

    1.3.1 IMPORTNCIA ECOLGICA

    Nos manguezais, a interao planta-animal de fundamental

    importncia na distribuio, estrutura e ciclagem de nutrientes. Isto pode ser

    atribudo presena de insetos e de caranguejos no sistema, haja vista esses

    animais serem os principais predadores de sementes e propgulos, alm de

    interferirem no processo de ciclagem da matria vegetal do sistema

    (ROBERTSON, 1991). De fato, o caranguejo-u possui importante funo

    ecolgica dentro das florestas de mangue. De hbito basicamente herbvoro,

    essa espcie de caranguejo alimenta-se de folhas senescentes que caem das

    rvores de mangue, armazenando-as em sua galeria. Devido ao baixo valor

    nutricional e difcil ingesto, esses animais precisam ingerir uma quantidade

    excessiva de folhas senescentes de Rhizophora mangle, pois assimilam

    apenas 7,2% da energia orgnica, sendo o restante excretado de volta ao

  • 56

    ambiente (KOCH, 1999; KOCH & WOLF, 2002; NORDHAUS, 2004;

    NORDHAUS, WOLFF & DIELE, 2006).

    A quantidade elevada de folhas que os caranguejos-u ingerem e

    entocam em suas galerias, contribuem para diminuir a exportao de matria

    orgnica dos manguezais, pelas mars vazantes (KOCH, 1999; KOCH &

    WOLF, 2002; SCHORIES et al., 2003). A anlise do processo de exportao de

    matria orgnica dos manguezais para as guas costeiras evidencia que cerca

    de 30% da produo fica retida dentro do prprio manguezal, sendo consumida

    pela fauna local, enquanto que o restante exportado para os sistemas

    aquticos adjacentes (BOTO & BUNT, 1981; ALONGI et al., 1998; DITTMAR,

    1999; KOCH, 1999). O simples ato de entocar material nas galerias

    subterrneas do manguezal revela o importante papel do caranguejo-u no

    aproveitamento da matria orgnica produzida e na ciclagem de nutrientes,

    alm de aumentar o fluxo de energia na cadeia alimentar nesse ecossistema

    (KOCH, 1999; SCHORIES et al., 2003).

    O caranguejo-u, segundo Koch (1999), est em segundo lugar no

    fluxo energtico em funo de apresentar maior biomassa e ao seu

    comportamento no processamento do material orgnico no manguezal. Alm

    do mais, sua presena nos manguezais tambm importante para a

    manuteno desse ecossistema por devolver ao substrato, em forma de

    partculas, cerca de 70% das folhas consumidas, facilitando assim a ao e a

    eficincia de bactrias decompositoras e de outros organismos saprfitos.

    1.3.2 IMPORTNCIA ECONMICA

    U. cordatus constitui um importante recurso pesqueiro, por ser um

    alimento rico em protenas, vitaminas e sais minerais (FISCARELLI, 2004) e

    constar da alimentao bsica das comunidades litorneas tradicionais

    (GLASER & GRASSO, 1998). Alm disso, a pesca desse caranguejo constitui

    a principal fonte de renda de muitas comunidades que vivem s margens dos

    manguezais (GLASER & DIELE, 2004). Assim, o caranguejo-u assume

  • 57

    caractersticas de recurso pesqueiro de elevado valor socioeconmico nas

    regies Norte e Nordeste do Brasil, contribuindo para a gerao de emprego e

    renda nas comunidades pesqueiras que vivem nas zonas de esturio. Sua

    comercializao atinge altos valores em funo da sua elevada procura na

    gastronomia das grandes cidades (NASCIMENTO, 1993), o que certamente

    tem auxiliado no impacto sobre suas populaes naturais. Embora conste na

    Lista Nacional das Espcies de Invertebrados Aquticos e Peixes

    Sobreexplotadas ou Ameaadas de Sobreexplotao (Anexo II da Instruo

    Normativa N 5 de 21 de maio de 2004 do MMA), U. cordatus uma espcie

    de caranguejo de grande interesse comercial.

    A criao desse caranguejo em cativeiro ainda apresenta vrias

    dificuldades tcnicas, as quais promovem: i) elevada taxa de mortalidade na

    fase larval (RODRIGUES & HEBLING, 1989) e ii) reduzida taxa de crescimento

    (DIELE, KOCH & SAINT-PAUL, 2005; PINHEIRO, FISCARELLI & HATTORI,

    2005), maximizando os gastos para a larvicultura e evitando o crescimento

    adequado para a comercializao (HATTORI, 2002). Por fim, segundo

    OSTRENSKY et al. (1995), importante ressaltar que a viabilidade da criao

    em cativeiro do caranguejo-u tambm est atrelada alimentao dos

    indivduos, ou seja, depende da formulao de uma rao que permita o

    aumento da taxa de crescimento dos indivduos.

    A notvel diminuio do caranguejo-u nos manguezais do Norte e

    Nordeste do pas tem sido a principal preocupao dos rgos gestores,

    indicando a premncia de estudos sobre a viabilidade tcnico-econmica de

    seu cultivo e quantificao de seus estoques pesqueiros (OSTRENSKY et al.,

    1995; BLANKENSTEYN, CUNHA-FILHO & FREIRE, 1997; BOTELHO, DIAS &

    IVO, 1999; IVO & GESTEIRA, 1999; IVO et al., 1999; VASCONCELOS,

    VASCONCELOS & IVO, 1999; SOUZA, 1999; DIELE, 2000; GES et al., 2000;

    RODRIGUES et al., 2000). Portanto, mesmo com os estudos disponveis na

    literatura, evidente a escassez de informaes sobre as interaes biolgicas

    que influenciam a abundncia e/ou densidade desta espcie nas florestas de

    mangue. Assim, o presente trabalho apresenta-se com o propsito de gerar

  • 58

    informaes que contribuam para o preenchimento dessa lacuna nos estudos

    sobre o caranguejo-u.

    1.4 ESCOPO DA DISSERTAO

    A presente dissertao possui quatro captulos. O CAPTULO 1 uma

    introduo geral sobre o ecossistema manguezal, enfatizando as florestas de

    mangue e o caranguejo-u, cujo objetivo apresentar informaes

    importantes, as quais ressaltem as principais caractersticas e relevncia de

    ambos. Os outros trs captulos apresentam os resultados e discusses acerca

    da estrutura populacional das espcies arbreas de mangue e do caranguejo-

    u, Ucides cordatus, bem como sua interao ao longo da Reserva

    Extrativista Marinha Me Grande de Curu, Curu-PA.

    CAPTULO 2 - Atributos estruturais das florestas de mangue da Reserva

    Extrativista Marinha Me Grande de Curu, Curu-PA contribui para

    o conhecimento dos manguezais da costa paraense, enfatizando a composio

    e distribuio espacial dos mangues nos limites da Reserva Extrativista

    Marinha Me Grande de Curu, Curu, Par

    CAPTULO 3 Biometria e estrutura populacional do caranguejo-

    U, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Brachyura) nos

    manguezais da Reserva Extrativista Marinha Me Grande de Curu,

    Curu-Pa - analisa comparativamente a eficincia de duas tcnicas de

    estimativa de densidade usadas para o caranguejo-u, alm de verificar a

    relao entre variveis biomtricas e populacionais desse caranguejo e os

    atributos estruturais dos manguezais onde vivem na Reserva Extrativista

    Marinha Me Grande de Curu, Curu-PA

    O CAPTULO 4 uma discusso geral abrangendo os aspectos da

    estrutura das florestas de mangue e das populaes do caranguejo-u, no

    intuito de melhor entender suas caractersticas individuais e suas interaes.

  • 59

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ABREU, M. M. O.; MEHLIG. U.; NASCIMENTO, R. E. S. A. & MENEZES, M. P. M. Anlise de composio florstica e estrutura de um fragmento de bosque de terra firme e de um manguezal vizinhos na Pennsula de Ajuruteua, Bragana-Par. Boletim do Museu Paraense Emlio Goeldi. Cincias Naturais, Belm. v. 1, n. 3: 27-34, 2006.

    ABRUNHOSA, F. A.; SILVA NETO, A. A.; MELO, M. A. & CARVALHO, L. O. Importncia da alimentao e do alimento no primeiro estgio larval de Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763) (Decapoda: Ocypodidae). Revista Cincia Agronmica. v. 33, n. 2, p. 5-12, 2002.

    ABUODHA, P. A. W. & KAIRO, J. G. Human-induced stresses on mangrove swamps. Hydrobiologia. 458: 255-265, 2001.

    ADAIME, R. R. Estrutura, produo e transporte em um manguezal. In: Simpsio Sobre Ecossistemas da Costa Sul e Sudeste Brasileira: Sntese dos Conhecimentos. Academia de Cincias do Estado de So Paulo, Canania, So Paulo: Aciesp, p. 80-99, 1987.

    ALCNTARA-FILHO, P. Contribuio ao Estudo da Biologia e Ecologia do Caranguejo-u, Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Decapada, Brachyura), no Manguezal do Rio Cear. (Brasil). Arquivos de Cincia do Mar, Fortaleza, 18(1/2), p. 1 42, 1978.

    ALMEIDA, S. S. Identificao, avaliao de impactos ambientais e uso da flora em manguezais paraenses. Boletim do Museu Paraense Emlio Goeldi, Srie Cincias da Terra, Belm, Par, Brasil, 8: 31-47, 1996.

    ALONGI, D. M. The dynamics of bentic nutrient pools and fluxes in tropical mangrove forests. Journal Marine Research. 54: 123-148, 1996.

    ALONGI, D. M.; SASEKUMAR, A.; TIRENDI, F. & DIXON, P. The influence of stand age on benthic decomposition and recycling of organic matter in managed mangrove forests of Malaysia. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, v. 225, p. 197218, 1998.

  • 60

    ALONGI, D. M.; TIRENDI, F. & CLOUGH, B. F. Below-ground decomposition of organic matter in forests of the mangroves Rhizophora stylosa and Avicennia marina along the arid coast of Western Australia. Aquatic Botany. 68: 97-122, 2000.

    ALVES, R. R. N. & NISHIDA, A. K. Population structure of the mangrove crab Ucides cordatus (Crustacea: Decapoda: Brachyura) in the estuary of the mamanguape river, Norhteast Brazil. Tropical Oceanography, v. 32, p. 23-37, 2004.

    ALVES, R. R. N.; NISHIDA, A. K. & HERNNDEZ, M. I. M.. Environmental perception of gatherers of the crab caranguejo-u (Ucides cordatus, Decapoda, Brachyura) affecting their collection attitudes. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 1: 10, 2005.

    ANDRADE, F. A. G. & FERNANDES, M. E. B. Mamferos. In: FERNANDES, M. E. B (Org.). Os manguezais da costa norte brasileira. Fundao Rio Bacanga, Maranho, Brasil, v. II, p. 105-134, 2005.

    AUGUSTINUS, P. G. E. F. Geomorphology and Sedimentology of Mangroves. In: PERILLO, G. M. E. (Ed.). Geomorphology and Sedimentology of Estuaries. Amsterdam, Elsevier., p. 333-357, 1995.

    BASTOS, M. N. C. & LOBATO, L. C. B. Estudos fitossociolgicos em reas de bosque de mangue na Praia do Crispim e Ilha de Algodoal, Par. Boletim do Museu Paraense Emlio Goeldi, Srie Cincias da Terra. Belm, Par, Brasil, 8: 157-167, 1996.

    BLANKENSTEYN, A.; CUNHA-FILHO, D. & FREIRE, A. S. Distribuio, estoques pesqueiros e contedo protico do caranguejo do mangue Ucides cordatus (L. 1763) (Brachyura, Ocypodidae) nos manguezais da Baa das Laranjeiras e adjacncias.Paran. Brasil. Arquivos de Biologia e Tecnologia, 40 (2): 331-339, 1997.

    BOTELHO, E. R. O.; DIAS, A. F. & IVO, C. T. C. Estudo sobre a biologia do caranguejo-u Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763), capturado nos esturios dos Rios Formoso (Rio Formoso) e Ilhetas (Tamandar), no estado de Pernambuco. Boletim Tcnico Cientfico do CEPENE, v. 7, n. 1, p. 117-145, 1999.

    BOTO, K. G. & BUNT, J. S. Tidal export of particulate organic matter from a Northern Australian mangrove system. Estuarine, Coastal and Shelf Science, vol. 13, p. 247-255, 1981.

    BOWMAN, T. E. & ABELE, L. G. Classification of the recent Crustacea. In: Abele, L.G. (ed.), The bology of Crustacea, vol 1; Systematcs, the Fossl Record and Biogeography. New York: Academic Press. p.1-27, 1982.

    BRANCO, J. O. Aspectos ecolgicos do caranguejo Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Decapoda) do manguezal do Itacorubi, Santa Catarina, Brasil. Arquivos de Biologia e Tecnologia, v. 36, n. 1, p. 133-148, 1993.

  • 61

    BREITFUSS. M. J. Defining the characteristics of burrow to better estimate abundance of the grapsid crab, Helograpsus haswellianus (Decapoda, Grapsidae), on east Australian saltmarsh. Crustaceana, v. 76, n. 4, p. 499-507, 2003.

    BROWN, S. & LUGO, A. E. The storage and production of organic matter in tropical forests and their role in the global carbon cycle. Biotropica, 14: 161-187, 1982.

    CASTRO, A. C. L. Aspectos Bioecolgicos do caranguejo-u, Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763) no esturio do rio dos Cachorros e estreito do Coqueiro, So Lus do Maranho. Boletim do Laboratrio de Hidrobiologia. V. 7, p.7-26, 1986.

    CINTRN-MOLERO G. & SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Ecology and Management of New World Mangroves. In: SEELIGER, U. (ed.). Coastal Plant Communities of Latin America. San Diego: Academic Press. p. 157-193, 1992.

    CINTRN-MOLERO, G. & SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Caracteristicas y desarrollo estructural de los manglares de Norte y Sur America. Ciencia interamericana, 25: 4-15, 1985.

    CINTRN-MOLERO, G. & SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Introduccin a la ecologa del manglar. Montevideo. UNESCO/ROSTLAC, 1983.

    CINTRN-MOLERO, G. & SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Proposta para estudo dos recursos de marismas e manguezais. Relatatrio Interno do Instituto Oceanogrfico, Universidade de So Paulo, 10: 1-13, 1981.

    COSTA, R. S. Biologia do caranguejo-u, Ucides cordatus (Linnaeus), 1763) Crustceo, decpode no Nordeste brasileiro. Boletim Cearense Agronmico, Fortaleza, v. 20, p. 1 74, 1979.

    COSTA, R. S. Fisiologia do caranguejo-u, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) Crustceo, Decpodo do Nordeste Brasileiro. 1972. 121 f. Tese (Doutorado em Oceanografia) Instituto de Biocincias, Universidade de So Paulo, So Paulo, 1972.

    CRUZ, R. C. A.. Turismo e impacto em ambientes costeiros: Projeto Parque das Dunas - Via Costeira, Natal (RN). 1995. Dissertao (Mestrado). Universidade de So Paulo, 1995.

    DAQUINO, G. & SANTANA, G. Ontem manguezais, hoje bairro do Agreste. In: III Workshop ECOLAB. Resumos Belm, Par, Brasil, p. 139-140, 1995.

    DALABONA, G. & SILVA, J. L. Perodo reprodutivo de Ucides cordatus (Linnaeus) (Brachyura, Ocypodidae) na Baa das Laranjeiras, sul do Brasil. Acta Biolgica Paranaense, 34 (1,2,3,4): 115-126, 2005.

    DIELE, K. Life history and population structure of the exploited mangrove crab Ucides cordatus (L.) (Decapoda: Brachyura) in the Caet estuary, North Brazil. Bremen, 2000. 103 f. Tese (Doutorado na rea de especialidade

  • 62

    2 Biologia/Qumica) - Zentrum fr Marine Tropenkologie, Universitt Bremen. 2000.

    DIELE, K.; KOCK, V. & SAINT-PAUL, U. Population structure, catch composition and CPUE of the artisanally harvest mangrove crab Ucides cordatus (Ocypodidae) in the Caet estuary, North Brazil: Indications for overfishing? Aquatic Living Resources, vol. 18, p. 169-178, 2005.

    DITTMAR, T. Outwelling of organic matter and nutrients from a mangrove in North Brazil: Evidence from organic tracers and flux measurements. Center for Tropical Marine Ecology, Bremen, ZMT-Contributions 5, 1999.

    DITTMAR, T.; LARA, R. J. & KATTNER, G. River or mangrove? Tracing major organic matter sources in tropical Brazilian coastal waters. Marine Chemistry, 73: 253-271, 2001.

    DRACH, P. Meu Et Cycle D`Intermute Chez Les Crustacs Dcapodes. Ann. Inst. Oceanog. Paris (NIS), 19: 103-391, 1939.

    DUKE, N. C. Mangrove floristics and biogeography. In: ROBERTSON, A.I.; ALONGI, D.M. Tropical mangrove ecosystems. Washington D.C.: American Geophysical Union, p. 63-100, 1992.

    FERNANDES, M. E. B. Association of mammals with mangrove forests: a world wide review. Boletim do Laboratrio de Hidrobiologia, 13: 83-108, 2000.

    FISCARELLI, A. G. Rendimento, Anlise Qumico-Bromatolgica da carne e fator de condio do caranguejo-u Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Brachyura, Ocypodidae). 2004. 92 f. Dissertao (Mestrado em Zootecnia rea de Produo Animal) Faculdade de Cincia Agrrias e Veterinrias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2004.

    FLORES, A. A. V. & PAULA, J. Population dynamics of the shore crab Pachygrapsus marmoratus (Brachyura: Grapsidae) in the Central Portuguese coast. Journal of Marine Biology. Assoc. U.K., v. 82, n. 2, p. 229-241, 2002.

    FLORES, A. A. V.; ABRANTES, K. G. & PAULA, J. Estimating abundance and spatial distribution patterns in the bubble crab Dotilla fenestrata (Crustacea, Brachyura). Austral Ecology, v. 30, n. 1, p. 14-23, 2005.

    GERALDES, M. G. & CALVENTI, I. B. Estudios experimentales para el mantenimiento em cautiverio del cangrejo Ucides cordatus. Cincia Interamericana, v. 23, n. 4, p. 41-53, 1983.

    GLASER, M. & DIELE, K. Asymetric outcomes: assessing central aspects of the biological, economic and social sustainability of a mangrove crab fishery, Ucides cordatus (Ocypodidae), in North Brazil. Ecological Economics, 49: 361-373, 2004.

    GLASER, M. & GRASSO, M. Fisheries of a mangrove estuary: Dynamic and interrelationships between economy and ecosystem in Caet Bay, Notheastern Par, Brazil. Boletim do Museu Paraense Emlio Goeldi, Srie Zoologia, v. 14, p. 95-125, 1998.

  • 63

    GES, P.; SAMPAIO, F. D. F; CARMO, T. M. S; TSO, G. C. & LEAL, M. S. Comportamento e perodos reprodutivos do caranguejo do mangue Ucides cordatus. In: Simpsio de Ecossistemas Brasileiros: Conservao, 5. 2000, Vitria, ES. Academia de Cincias do Estado de So Paulo, p. 335-348, 2000. (Publicaes ACIESP, n. 109, v. 2).

    GOLLEY, F.; ODUM, H. T. & WILSON, R. The structure and metabolism of a Puerto Rican red mangrove forest in May. Ecology, 43: 9-19, 1962.

    HAMILTON, L. S. & SNEDAKER, S. C. Handbook for mangrove area management. East West Centre, International Union for the conservation of nature and natural resources & UNESCO, 123 p. 1984.

    HATTORI, G. Y. Biologia populacional do caranguejo de mangue Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Brachyura, Ocypodidae) em Iguape (SP). 2002. 82 f. Dissertao (Mestrado em Zootecnia rea de Produo Animal) Faculdade de Cincia Agrrias e Veterinrias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2002.

    HERZ, R. Manguezais do Brasil. Instituto Oceanogrfico. Universidade de So Paulo, 223 p. 1991.

    HUTCHINGS, P. A. & SAENGER, P. Ecology of mangroves. University of Queensland Press. First Edition St. Lcia. Brisbane. Australia, 388 p. 1987.

    IVO, C. T. C. & GESTEIRA, T. C. V. Sinopse das observaes sobre a bioecologia e pesca do caranguejo-u, Ucides cordatus cordatus (Linnaeus,1763), capturado em esturios de sua rea de ocorrncia no Brasil. Boletim Tcnico-Cientfico do CEPENE, v. 7, n. 1, p. 9-52, 1999.

    IVO, C. T. C.; DIAS, A. F.; BOTELHO, E. R. O.; MOTA, R. I.; VASCONCELOS, J. A. & VASCONCELOS, E. M. S. Caracterizao das populaes de caranguejo-u, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), capturadas em esturios do nordeste do Brasil. Boletim Tcnico-Cientfico do CEPENE, v. 8, n. 1, p. 9-43, 2000.

    JORDO, J. M. & OLIVEIRA, R.F. Comparsion of non-invasive methods for quantifying population density of the fiddler crab Uca tangeri. Journal of Marine Biology. Assoc. U.K., v. 83, n. 5, p. 981-982, 2003.

    KOCH, V. & WOLFF, M. Energy budget and ecological role of mangrove epibenthos in the Caet estuary, North Brazil. Marine Ecology Progress Series (in press). Marine Ecology Progress Series 228: 119-130, 2002.

    KOCH, V. Epibenthic production and energy flow in the Caet mangrove estuary, North Brazil. 1999. 97 f. Tese (Doutorado em Ecologia). Center for Tropical Marine Ecology, University Bremen, Bremen, 1999.

    LEGAT, J. F. A & PUCHNICK, A. Sustentabilidade da pesca do caranguejo-u, Ucides cordatus, nos Estados do Piau e Maranho: Uma Viso da Cadeia Produtiva do Caranguejo a partir de Fruns Participativos de Discusso. EMBRAPA Meio-Norte, Parnaba, Brasil, 25 p. 2003.

  • 64

    LIMA, T. C. M.; PAOLI, A. A. S. & GIRNOS, E. C. Morfo-anatomia foliar do gnero Rhizophora L. In: FERNANDES, M. E. B. (org.). Os manguezais da costa norte brasileira II. Fundao Rio Bacanga, Maranho, Brasil, p. 33-52, 2005.

    LOURENO, R.; PAULA, J. & HENRIQUE, M. Estimating the size of Uca tangeri (Crustacea, Ocypodidae) without massive crab capture. Marine Science, v. 64, n. 4, p. 437-439, 2000.

    LUGO, A. E. & SNEDAKER, S. C. The ecology of mangroves. Annual Review of Ecology and Systematic, 5: 39-64, 1974.

    LUTZ, A. Contribuio para o Estudo das Ceratopogoninas Hematfagas Encontradas no Brasil. Memrias do Instituto Oswaldo Cruz, 6 (1): 133, 1912.

    MACIA, A.; QUINCARDETE, I. & PAULA, J. A comparison of alternative methods for estimating population density of the fiddler crab Uca annulipes at Saco Mangrove, Inhaca Island (Mozambique). Hydrobiologia, v. 449, n. 1-3, p. 213-219, 2001.

    MACIEL, N. C. Alguns Aspectos da Ecologia da Manguezal. In. Alternativas de Uso e Proteo dos Manguezais do Nordeste. CPRH, Srie Publicaes Tcnicas, Recife. p. 9-37, 1991.

    MANESCHY, M. C. Pescadores nos manguezais: estratgias tcnicas e relaes sociais de produo na captura de caranguejo. In: Furtado, L.; LEITO, W. & MELLO, A. F. (Orgs.). Os povos das guas. Belm, CNPq/Museu Paraense Emlio Goeldi, Belm, Par, Brasil, p. 19-62, 1993.

    MANESCHY, M. C. Scio-economia: Trabalhadores e Trabalhadoras nos Manguezais. In: FERNANDES. M. E. B. (org.). Os Manguezais da Costa Norte Brasileira. Maranho: Fundao Rio Bacanga, v. 2, p.135-165, 2005.

    MASCARENHAS, R. E. B. & GAMA, J. R. N. F. Extenso e caracterstica das reas de mangue do litoral paraense. Embrapa Amaznica Oriental, Belm, Par, Brasil, 20 p. 1999.

    MELO, G. A. Manual de identificao dos Brachyura (caranguejos e siris) do Litoral Brasileiro, So Paulo: Ed.Pliade/FAPESP. 603 p. 1996.

    MENDES, A. C. Geomorfologia e Sedimentologia. In: FERNANDES. M. E. B. (org.). Os Manguezais da Costa Norte Brasileira. Maranho: Fundao Rio Bacanga, v. 2, p. 13-30, 2005.

    MOTA-ALVES, M. I. Sobre a reproduo do caranguejo-u, Ucides cordatus (Linnaeus), em mangues do Estado do Cear (Brasil). Arquivos de Cincias do Mar, v. 15, n. 2, p. 81-95, 1975.

    NASCIMENTO, I. Projeto: formas de utilizao social dos manguezais - coletores e extratores do litoral do Par. In: III Workshop ECOLAB. Resumos... Belm, Par, Brasil. p. 143-144, 1995.

  • 65

    NASCIMENTO, S. A. Biologia do caranguejo-u (Ucides cordatus). Aracaj: ADEMA (Administrao Estadual do Meio Ambiente), p.13-45, 1993.

    NEIMAN, Z. Era verde?: ecossistemas brasileiros ameaados. So Paulo: Editora Atual, 1989.

    NG, P. K. L.; GUINOT, D. & DAVIE, P. J. F. Systema Brachyurorum: Part I - An annotated checklist of extant brachyuran crabs of the world. Raffles Bulletin of Zoology, Singapore, n. 17, p. 1-286, 2008.

    NOBBS, M. & MCGUINESS, K. Developing methods for quantifying the apparent abundance of fiddler crabs (Ocypodidae: Uca) in mangrove habitats. Australian Journal of Ecology, v. 24, p. 43-49, 1999.

    NORDHAUS, I. Feeding Ecology of the semi-terrestrial crab Ucides cordatus cordatus (Decapoda: Brachyura) in a mangrove forest in northern Brazil. PhD. Thesis. University of Bremen, 2004.

    NORDHAUS, I.; WOLFF, M. & DIELE, K. Litter processing and population food intake of the mangrove crab Ucides cordatus in a high intertidal forest in northern Brazil. Estuarine, Coastal and Shelf Science, 67: 239-250, 2006.

    NORDI, N. A captura do caranguejo-u (Ucides cordatus) durante o evento reprodutivo da espcie: o ponto de vista dos caranguejeiros. Revista Nordestina de Biologia. v, 9: 41-47, 1994.

    NORDI, N. Os catadores de caranguejo-u (Ucides cordatus) da regio de Vrzea Nova (PB): Uma abordagem ecolgica e social. Tese de doutorado, UFSCar. So Carlos. 107 pp. 1992.

    OSTRENSKY, A.; STERNHAIN, U. S.; BRUN, E.; WEGBECHER, F. X. & PESTANA, D. Anlise da viabilidade tcnico-econmica dos cultivos do caranguejo -u Ucides cordatus (LINNAEUS, 1763) no litoral paranaense. Arquivos de Biologia e Tecnologia, 38 (3): 939 947, 1995.

    PAIVA, M. P.; BEZERRA, R. C. & FONTELES-FILHO, A. A. Tentativa de avaliao dos recursos pesqueiros do nordeste brasileiro. Arquivos de Cincias do Mar, Fortaleza, 11(1): 1-43, 1971.

    PINHEIRO, M. A. & FISCARELLI, A. G. Manual de Apoio Fiscalizao do Caranguejo-u (Ucides cordatus). CEPSUL. Itaja (Santa Catarina). 43p. 2001.

    PINHEIRO, M. A.; FISCARELLI, A. G. & HATTORI, G. Y. Growth Of The Mangrove Crab Ucides cordatus (Brachyura, Ocypodidae). Journal of Crustacean Biology, 25(2): 293301, 2005.

    PRIMAVERA, J. H. Tropical shrimp farming and its sustainability. In: De Silva, S. (ed.) Tropical Mariculture. London: Academic Press, p. 257-289, 1998.

    PROST, M. T. & LOUBRY, D. Estrutura de espcies de manguezais e processos geomorfolgicos: interesse da abordagem integrada. V Workshop ECOLAB. Macap, Amap, Brazil. p. 147-151, 2000.

  • 66

    PROST, M. T. R. & RABELO, B. V. Variabilidade fito-espacial de manguezais litorneos e dinmica costeira: exemplos da Guiana Francesa, Amap e Par. Boletim do Museu Paraense Emlio Goeldi, Srie Cincias da Terra. Belm, Par, Brasil, 8: 101-121, 1996.

    QUIONES, E. M. Relaes gua-solo no sistema ambiental do esturio

    de Itanham (SP). Tese de Doutorado. Faculdade de Engenharia Agrcola,

    Universidade de Estadual de Campinas, p. 07, 2000.

    RIBEIRO, T. E.; SILVA, J. M. L.; OLIVEIRA JNIOR, R. C. & VALENTE, M. A. Homem-meio: stios arqueolgicos do litoral do Salgado, Pa. In: III Workshop ECOLAB. Resumos... Belm, Par, Brasil, p.135-137, 1995.

    ROBERTSON, A. I. Plant-animal interactions and the structure and function of mangrove Forest ecosystems. Australian Journal of Ecology, 16: 433- 443, 1991.

    RODRIGUES, A. M. T.; BRANCO, E. J.; SACCARDO, S. A. & BLANKENSTEYN, A. A. explorao do caranguejo Ucides cordatus (Decapoda: Ocypodidae) e o processo de gesto participativa para normatizao da atividade na regio sudeste-sul do Brasil. Boletim do Instituto de Pesca, v. 26, n. 1, p. 63-78, 2000.

    RODRIGUES, M. D. & HEBLING, N. J. Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustacea, Decapoda). Complete larval development under laboratory conditions and its systematic position. Revista Brasileira de Zoologia, v. 6, n. 1, p. 147-166, 1989.

    RODRIGUES, M. D. Desenvolvimento ps-embrionrio de Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (Crustcea, Decapoda, Gecarcinidae). So Paulo, 1982. 101f. Dissertao (Mestrado), Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho, 1982.

    SAENGER, P.; HEGERL, E. & DAVIES, J. D. S. Global Status of Mangroves Ecosystems. The Environmentalist, 3(3): 1-88, 1983.

    SCHAEFFER-NOVELLI, Y. & CINTRN-MOLERO, G. Expedio Nacional aos Manguezais do Amap, Ilha de Marac. Relatrio tcnico. Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), p. 99, 1988.

    SCHAEFFER-NOVELLI, Y. & CINTRN-MOLERO, G. Guia para estudo de reas de manguezal: estrutura, funo e flora. Caribbean Ecological Research, So Paulo, Brasil, 150 p. 1986.

    SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Manguezal: Ecossistema entre a Terra e o Mar. Caribbean Ecological Research. So Paulo, Brasil, 64 p. 1995.

    SCHORIES, D.; BARLETTA-BERGAN, A.; BARLETTA, M.; KRUMME, U.; MEHLIG, U. & RADEMAKER, V. The keystone role of leaf-removing crabs in mangrove forests of North Brazil. Wetlands Ecology and Management, vol. 11, p. 243-255, 2003.

  • 67

    SEIXAS, J. A. S.; FERNANDES, M. E. B. & SILVA, E. S. Anlise estrutural da vegetao arbrea dos bosques no Furo Grande, Bragana, Par. Boletim do Museu Paraense Emlio Goeldi, Srie Cincias Naturais, Belm, Par, Brasil, 2(3): 35-43, 2006.

    SENNA, C.; MELLO, C. F. & FURTADO, L. G. Impactos naturais e antrpicos em manguezais do litoral nordeste do estado do Par. In: FURTADO, L. G. & QUARESMA, H. D. A. B. (Orgs.). Gente e ambiente no mundo da pesca artesanal. Boletim do Museu Paraense Emlio Goeldi, Belm, Par, Brasil, p. 209-238, 2002.

    SKOV, M. W.; VANNINI, M.; SHUNULA, J. P. & HARTNOLL, R. G. Quantifying the density of mangrove crabs: Ocypodidae and Grapsidae. Marine Biology, v. 141, n. 4, p. 725-732, 2002.

    SMITH III, T. J. Forest structure. In: ROBERTSON, A. I. & ALONGI, D. M. (Eds.). Tropical mangrove ecosystems. Coastal and estuarine series. American Geophysical Union, Washington, USA, p. 101-136, 1992.

    SNEDAKER, S. C. Mangroves: Their value and perpetuation. Nature and Resources. UNESCO, 14(3): 6-13, 1978.

    SOUZA FILHO, P. W. M. Costa de Manguezais de Macromar da Amaznia: Cenrios Mofolgicos, Mapeamento e Quantificao de reas Usando Dados de Sensores Remotos. Revista Brasileira de Geofsica, 23(4): 427-435, 2005.

    SOUZA, E. P. Distribuio, aspectos reprodutivos e morfomtricos do caranguejo-u, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) no Manguezal de Itacurua-Coroa Grande, Baa de Sepetiba, RJ. 1999. 47 f. Dissertao (Mestrado em Zoologia) - Instituto de Biocincias, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropdica/Rio de Janeiro, 1999.

    SPALDING, M. D.; BLASCO, F. & FIELD, C. D. World mangrove atlas. The International Society for mangrove Ecosystems, Okinawa, Japan, 178 p. 1997.

    SZLAFSZTEIN, C. F. Vulnerability and response measures to natural hazards and sea level rise impacts: long-term coastal zone management, NE of the state of Par, Brazil. ZMT Contributions 17. Center for Marine Tropical Ecology (ZMT). Bremen, Germany. 192 p. 2003.

    TOMLINSON, P. B. The Botany of Mangroves. Cambridge: Cambridge University Press. 419 p, 1986.

    VASCONCELOS, E. M. S.; VASCONCELOS, J. A. & IVO, C. T. C. Estudo sobre a biologia do caranguejo-u Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), capturado no esturio do Rio Curimatau (Canguaretama) no Estado do Rio Grande do Norte. Boletim Tcnico-Cientfico do CEPENE, v. 7, n. 1, p. 85-116, 1999.

    WALSH, G. E. Mangrove forests: a review. In: R.J. REINOLD & W.H. QUEEN (Eds.). Ecology of Halophytes. Academic Press. New York, 1974.

  • 68

    WARREN, J. H. The use of open burrows to estimate abundance of intertidal estuarine crabs. Australian Journal of Ecology, v.15, p.277-280, 1990.

    WOLCOTT, T. G. Ecology. In: Burggren, W. W. & B. R. McMahon, eds. Biology of the Land Crabs. Cambridge University Press, USA, p. 55 96, 1988.

    WUNDERLICH, A. C.; RODRIGUES, A. M. T.; LIN, C. F. & PINHEIRO, M. A. A.. Etograma da andada de Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) (BRACHYURA, OCYPODIDAE) na Baa da Babitonga, SC. In: Livro de resumos do II Congresso Brasileiro sobre Crustceos / Ed. Fernando Luis Mantelatto. So Pedro: Sociedade Brasileira de Carcinologia, p. 237, 2002.

  • 69

    CAPTULO 2

    ATRIBUTOS ESTRUTURAIS DAS FLORESTAS DE MANGUE DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA ME GRANDE DE CURU,

    CURU-PA

  • 70

    RESUMO

    O presente trabalho visa contribuir para o melhor conhecimento dos

    manguezais da costa paraense, enfatizando a composio e distribuio

    espacial dos mangues nos limites da Reserva Extrativista Marinha Me

    Grande de Curu, Curu-PA. O trabalho de campo investigou cinco stios de

    trabalho de forma a cobrir a maior parte da RESEX. As espcies de mangue

    foram identificadas e seus atributos estruturais mensurados. Os resultados

    apontam a ocorrncia de trs espcies tpicas: Rhizophora mangle, Avicennia

    germinans e Laguncularia racemosa. R. mangle foi a espcie mais abundante e

    dominou a paisagem da RESEX. Nos stios localizados nas ilhas (3, 4 e 5) foi

    registrada a presena de indivduos de diferentes portes, indicando um

    processo constante de renovao dos bosques, enquanto nos stios 1 e 2 a alta

    densidade de indivduos de portes menores sugere a presena de bosques

    jovens ou em regenerao. Todos os stios apresentaram rvores mortas,

    evidenciando um processo de mortalidade natural associada competio

    interindividual. Contudo, somente o Stio 1 apresentou indivduos mortos por

    ao antrpica, o que explica o alto ndice de indivduos jovens, ou seja, o seu

    processo de regenerao acentuada, resultado da sua localizao prximo s

    vilas e assentamentos humanos.

    Palavras-chave: Manguezal, estrutura de bosque, Curu.

  • 71

    INTRODUO

    O manguezal apresenta grande variao dos fatores ambientais e

    reduzida diversidade florstica, com espcies herbceas e arbreas adaptadas

    morfofisiologicamente a sobreviver em guas salobras e substratos

    inconsolidados, com baixa concentrao de oxignio (NAIDOO 1985;

    TOMLINSON 1986). As relaes trficas entre as florestas de mangue e os

    ecossistemas marinhos podem ser caracterizadas pela biomassa e

    produtividade dos manguezais, apresentando ambos relaes estreitas com a

    estrutura das florestas de mangue (FROMARD et al. 1999).

    A estrutura dos bosques de mangue refere-se composio das

    espcies e s principais caractersticas dos espcimes, como: altura, dimetro,

    rea basal, densidade, etc., alm da distribuio desses componentes na

    paisagem vegetacional (SMITH III 1992), refletindo as caractersticas e hbitos

    de crescimento das espcies vegetais (CINTRN-MOLERO & SCHAEFFER-

    NOVELLI 1985).

    A estrutura da vegetao fornece idia do grau de desenvolvimento das

    florestas de mangue, possibilitando a identificao e a delimitao dessa

    vegetao entre diferentes paisagens (SCHAEFFER-NOVELLI & CINTRN-

    MOLERO 1986). De fato, a caracterizao estrutural dos manguezais constitui

    valiosa ferramenta no que concerne resposta desse ecossistema s

    condies ambientais existentes, bem como aos processos de alterao do

  • 72

    meio, auxiliando, assim, nos estudos e aes que objetivam a conservao

    desse ecossistema (SOARES 1999).

    O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renovveis

    (IBAMA) tem adotado uma poltica de implantao de Reservas Extrativistas

    Marinhas - RESEXM (GLASER & OLIVEIRA 2004) ao longo da costa

    paraense, que envolve diretamente as reas de manguezais. Aliado a essa

    poltica, encontra-se a gerao de informaes sobre a estrutura e a

    distribuio da vegetao dos manguezais nessas reas de reserva, o que se

    torna fundamental para efetivar o processo de implantao e implementao

    das mesmas.

    Na costa norte brasileira poucos so os estudos que enfocam a estrutura

    e a dinmica das maiores e mais desenvolvidas florestas de mangue do mundo

    (DAMSIO 1980a, 1980b; SCHAEFFER-NOVELLI & CINTRN-MOLERO

    1988; ALMEIDA 1996; PROST & RABELO 1996; BASTOS & LOBATO 1996;

    FERNANDES 1997; MENEZES, BERGER & WORBES 2003; MENEZES,

    BERGER & MEHLIG 2008). Portanto, o presente trabalho vem contribuir para o

    conhecimento dos manguezais da costa paraense, enfatizando a composio e

    distribuio espacial dos mangues nos limites da Reserva Extrativista Marinha

    Me Grande de Curu, Curu, Par

    MATERIAIS E MTODOS

    REA DE ESTUDO

  • 73

    O presente trabalho foi realizado no municpio de Curu-PA, nordeste

    paraense, entre as coordenadas 0030S, 0045S e 4800W, 4730W, dentro

    dos limites da Reserva Extrativista Marinha Me Grande de Curu (Figura

    1).

    Figura 1. Mapa ilustrando os stios de trabalho na Reserva

    Extrativista Marinha Me Grande de Curu, Curu-PA. Stio 1

    Vila de Curuper; Stio 2 Fazenda So Paulo; Stio 3 Ilha

    Mutucal; Stio 4 Ilha Ipomonga e Stio 5 Ilha Mariteua.

    O municpio de Curu apresenta um patrimnio natural composto por

    vrias ilhas de considervel extenso e de formao recente: Ilha Mutucal, Ilha

    Ipomonga, Ilha Mariteua ou Ilha dos Guars, Ilha Pacamorema, Ilha Cipoteua e

    Ilha Santa Rosa. O clima do municpio fica inserido na categoria Equatorial

    Amaznico, do tipo Am da classificao de Kppen. Caracteriza-se pelas

  • 74

    temperaturas elevadas, com mdia de 27C, pequena amplitude trmica, e

    precipitaes abundantes que ultrapassam os 2000 mm anuais, sendo os

    meses mais chuvosos de janeiro a junho, e os menos chuvosos, de julho a

    dezembro (FIGUEIREDO et al. 2009).

    A Reserva Extrativista Marinha Me Grande de Curu, criada em

    2002, considerada uma das mais importantes Unidades de Conservao

    (UC) localizadas na costa amaznica. Sua rea abrange 37.062 hectares de

    esturio, povoada por 6000 pescadores e suas famlias, instaladas em

    comunidades localizadas nas ilhas prximo aos furos, rios, praias e

    manguezais da regio (FIGUEIREDO et al. 2009).

    As Reservas Extrativistas Marinhas so UC (Unidades de Conservao)

    nacionais que se inserem na classificao do Governo Federal como de uso

    sustentvel cujo objetivo legal conciliar manuteno dos meios de vida da

    populao tradicional que vive em sua rea conservao de recursos naturais

    renovveis locais (FIGUEIREDO et al. 2009).

    O trabalho de campo foi realizado em cinco stios de trabalho: Stio 1

    Vila de Curuper; Stio 2 Fazenda So Paulo; Stio 3 Ilha Mutucal; Stio 4

    Ilha Ipomonga e Stio 5 Ilha Mariteua, distribudos de forma a cobrir a maior

    parte do esturio de Curu (Figura 1). O acesso aos stios de trabalho foi

    realizado atravs de canoa ou embarcao motorizada, exceto no Stio 1, pois

    o mesmo localiza-se no continente.

    PROCEDIMENTO DE CAMPO

  • 75

    O trabalho de campo foi realizado durante o perodo de junho a

    setembro de 2009. Em cada stio de trabalho foram abertas oito parcelas de

    25x25 m, perfazendo um total de meio hectare (5000 m2), sendo medidos ao

    final do trabalho 2,5 ha. Em cada parcela as rvores foram identificadas e

    mensuradas. A altura total (AT) foi estimada considerando da base

    extremidade superior da copa. As rvores com altura superior a 1 m tiveram a

    circunferncia do tronco medida com fita mtrica, a aproximadamente 1,30 m

    (circunferncia altura do peito - CAP), com posterior converso para dimetro

    altura do peito (DAP), inclusive os troncos das rvores mortas.

    Os indivduos registrados foram divididos em seis classes de DAP e

    Altura, com o objetivo de analisar o desenvolvimento das florestas estudadas

    (Tabela 1).

    Tabela 1. Classes de DAP (cm) e Altura (m)

    utilizadas para anlise da estrutura das

    florestas de mangue em todos os stios de

    trabalho na Reserva Extrativista Marinha

    Me Grande de Curu, Curu-PA.

    DAP (cm) ALTURA (m)

    1 9,9 1 4,9

    10 19,9 5 9,9

    20 29,9 10 14,9

    30 39,9 15 19,9

    40 49,9 20 24,9

    > 50 > 25

  • 76

    Os dados obtidos serviram como base para a estimativa dos seguintes

    atributos estruturais: Frequncia Relativa (FR), Densidade Relativa (DeR),

    Dominncia Relativa (DoR) e Valor de Importncia (VI) = FR + DeR + DoR.

    ANLISE DE DADOS

    Os dados brutos foram testados quanto sua normalidade atravs do

    teste de Lilliefors. Os valores de cada atributo estrutural das rvores vivas e

    mortas para cada espcies de mangue foram comparados entre os stios de

    trabalho atravs da anlise de varincia (ANOVA - um fator). A regresso linear

    foi utilizada para analisar a arquitetura dos das rvores (todas as espcies

    juntas) registradas nos stios de trabalho atravs da relao entre os valores de

    (DAP), altura total (AT) e densidade. Todas as anlises foram realizadas

    atravs do programa BioEstat 5.0 (AYRES et al. 2007).

    RESULTADOS

    Nas reas de manguezal estudadas ocorreram trs espcies arbreas

    tpicas de mangue: Rhizophora mangle L. (Rhizophoraceae), Avicennia

    germinans (L.) Stearn (Acanthaceae) e Laguncularia racemosa (L.) Gaertn f.

    (Combretaceae). Nos cinco stios foram medidas 1981 rvores, sendo 1836 de

    R. mangle (92,68%), 89 de L. racemosa (4,49%) e apenas 56 de A. germinans

    (2,83%).

    A espcie A. germinans apresentou os maiores valores de DAP em

    todos os stios de estudo, seguido por R. mangle e L. racemosa. Sendo no

    stio 4 registrado o maior valor de DAP (32,39 cm) para A. germinans. A altura

  • 77

    mdia geral foi mais elevada para a espcie R. mangle (13,68 m). A maior

    altura das rvores de R. mangle foi registrada no stio 4 (17,80 m), sendo que

    essa espcie s perde em altura para A. germinans no stio 3. L. racemosa

    maior apenas que A. germinans no stio 1 (Tabela 2).

    Em geral, a Frequncia Relativa (FR) das espcies botnicas em todos

    os stios apresentou valores semelhantes, ou seja, R. mangle e A. germinans

    foram registradas pelo menos uma vez em cada stio, porm L. racemosa s foi

    registrada nos Stios 1 e 2 (Tabela 2).

    R. mangle foi a espcie mais abundante em todos os stios (densidade

    relativa: Stio 1 - 89,67%, Stio 2 - 98,31%, Stio 3 - 91,85%, Stio 4 92,11% e

    Stio 5 97,26%), A. germinans a segunda mais abundante (densidade

    relativa: Stio 1 0,23%, Stio 2 1,27%, Stio 3 8,15%, Stio 4 7,89% e

    Stio 5 2,79%), e L. racemosa foi a menos freqente, presente em apenas

    dois stios (densidade relativa: Stio 1 10,10% e Stio 2 0,42%), aparecendo

    principalmente em reas de recolonizao (clareiras e reas com corte). R.

    mangle apresentou Valor de Importncia (VI) mais elevado em todos os stios

    estudados (Tabela 2).

  • 78

    Tabela 2. Dados estruturais dos bosques de manguezais dos cinco stios estudados da Reserva Extrativista

    Marinha Me Grande de Curu, Curu-PA. Espcie: Rh - Rhizophora mangle; Av Avicennia germinans;

    Lg Laguncularia racemosa. DAP (dimetro a altura do peito) mdio; Altura mdia; FR freqncia relativa;

    DeR densidade relativa; DoR dominncia relativa e VI valor de importncia.

    Local DAP (cm) Altura (m) FR (%) DeR (%) DoR (%) VI

    Rh Av Lg Rh Av Lg Rh Av Lg Rh Av Lg Rh Av Lg Rh Av Lg

    Stio 1 7,08 8,96 6,47 12,30 9,50 10,20 33,33 33,33 33,33 89,67 0,23 10,10 82,11 0,22 17,66 205,11 33,79 61,10

    Stio 2 13,43 20,64 11,94 17,00 14,00 12,00 33,33 33,33 33,33 98,31 1,27 0,42 97,71 2,07 0,23 229,35 36,67 33,98

    Stio 3 10,15 13,36 - 6,20 7,50 - 50,00 50,00 - 91,85 8,15 - 84,69 15,31 - 226,55 73,45 -

    Stio 4 19,14 32,39 - 17,80 14,90 - 50,00 50,00 - 92,11 7,89 - 71,14 28,86 - 312,25 86,75 -

    Stio 5 17,28 25,46 - 15,10 10,40 - 50,00 50,00 - 97,26 2,74 - 89,73 10,27 - 236,99 63,01 -

    Mdia geral 13,41 20,16 9,20 13,68 11,26 11,10 - - - - - - - - - 242,05 58,73 47,54

    42

  • 79

    Analisando a distribuio das classes de altura no Stio 1, R. mangle e A.

    germinans concentram maior quantidade de indivduos na classe de at 19,9 m, ao

    passo que L. racemosa apresenta rvores de altura mais elevada. Nos stios 2 e 4

    os indivduos de R. mangle esto distribudos de forma mais equilibrada em todas as

    classes. No entanto, ocorrem poucos indivduos nas classes de altura inferiores e

    uma leve tendncia para a presena de indivduos mais altos. O stio 3 dominado

    por rvores baixas de at 9,9 m, enquanto no stio 5 a espcie R. mangle est

    presente em todas as classes, muito embora os indivduos tenham se concentrado

    nas classes intermedirias. A. germinans apresenta uma distribuio de altura mais

    uniforme, embora no tenham sido registrados indivduos na ltima classe (> 25)

    (Figura 2).

    Considerando as classes de DAP, os indivduos de R. mangle e L. racemosa

    esto distribudos nas classes de dimetro menores em todos os stios estudados,

    isto , entre 1 e 19,9 cm. A. germinans apresenta indivduos de elevado dimetro

    nos stios 3, 4 e 5. Mas, em geral, as classes de dimetro com indivduos at 29,9

    cm so as que predominam em todos os stios (Figura 3).

  • 80

    Figura 2. Distribuio das classes de altura (m) das rvores em todos os stios

    estudados na Reserva Extrativista Marinha Me Grande de Curu, Curu-PA.

    %

  • 81

    Figura 3. Distribuio das classes de DAP (cm) das rvores de mangue em todos os

    stios estudados na Reserva Extrativista Marinha Me Grande de Curu, Curu-

    PA.

    %

  • 82

    A anlise de regresso entre os valores mdios de altura e DAP para os cinco

    stios de trabalho mostra uma correlao positiva e significativa entre essas duas

    variveis (R2=0,74; F=8,96; gl=4; p0,05). Esse mesmo

    resultado fio encontrado na regresso entre altura e densidade (R2=0,57; F=3,77;

    gl=4; p>0,05) .

    Figura 4. Regresso linear entre a altura e o DAP das

    rvores registradas nos cinco stios de trabalho

    estudados na Reserva Extrativista Marinha Me

    Grande de Curu, Curu-PA.

  • 83

    Dentre os cinco stios de trabalho, o Stio 1 apresentou mais rvores mortas

    por ao antrpica, isto , por corte, ao passo que o Stio 3 apresentou o maior

    nmero por ao no-antrpica (Figura 5). Das rvores mortas registradas em todos

    os stios, somente o Stio 1 apresentou rvores mortas por ao antrpica. As

    rvores cortadas desse stio pertencem s espcies R. mangle e L. racemosa que

    apresentaram percentual de corte similares. No entanto, a maioria das rvores

    cortadas da espcie R. mangle pertencem a menor classe de dimetro (1 9,9 cm)

    e as rvores de L. racemosa cortadas foram as que apresentaram o maior DAP

    (classe de dimetro 10 -19,9 cm) (Figura 6).

    A Figura 7 estabelece a relao entre o nmero de indivduos mortos por

    ao no antrpica e as classes de dimetro para cada stio. Os stios 3 e 5

    apresentaram os maiores dimetros (39,9 cm), nos demais stios o dimetro mximo

    foi de 29,9 cm.

  • 84

    Figura 5. Distribuio do nmero de rvores mortas por ao

    antrpica e no-antrpica nos cinco stios de trabalho, na Reserva

    Extrativista Marinha Me Grande de Curu, Curu-PA.

    Figura 6. Percentual de rvores mortas por ao antrpica nas classes

    de DAP (cm) do Stio 1, na Reserva Extrativista Marinha Me Grande

    de Curu, Curu-PA.

  • 85

    Figura 7. Distribuio das classes de

    DAP (cm) das rvores mortas por ao

    no-antrpica nos cinco stios de

    trabalho, na Reserva Extrativista

    Marinha Me Grande de Curu,

    Curu-PA.

    DISCUSSO

  • 86

    As florestas de mangue estudadas na RESEX Marinha Me Grande de

    Curu, Curu-PA apresentam em sua composio florstica as espcies R.

    mangle, A. germinans e L. racemosa, que so as mesmas registradas em outros

    estudos sobre os manguezais ao longo da costa nordeste do Par: em Curu

    (FERREIRA et al. 1992; ALMEIDA 1996), na praia do Crispim, em Marud e Ilha de

    Algodoal, em Maracan (BASTOS & LOBATO 1996), na pennsula de Ajuruteua, em

    Bragana (MENEZES, BERGER & WORBES 2003; MATNI, MENEZES & MEHLIG

    2006; SEIXAS et al. 2006; ABREU et al. 2006), na Ilha de Canela (AMARAL et al.

    2001) e em Marapanim (COSTA-NETO, SENNA & LOBATO 2000). No presente

    trabalho no foi registrada a presena de Avicennia schaueriana Stapf and

    Leechman ex Moldenke nos manguezais de Curu.

    A anlise dos atributos estruturais mostrou que R. mangle a espcie mais

    dominante nos manguezais de Curu, corroborando a reviso realizada por

    Menezes, Berger & Mehlig (2008) sobre os atributos estruturais dos manguezais da

    Amaznia brasileira. A. germinans e L. racemosa aparecem como a segunda e

    terceira espcies com ocorrncia em todos os stios estudados, respectivamente,

    porm com valores de Vl muito baixos quando comparados aos de R. mangle.

    A distribuio das espcies de mangue est relacionada a diferentes fatores

    abiticos. No presente estudo de caso, R. mangle desenvolve-se ao longo de toda a

    regio da reserva, sendo A. germinans mais ocorrente nos sitos 3 e 4. Isto implica

    que, a distribuio, principalmente, de R. mangle no est associada aos diferentes

    fatores abiticos (salinidade, inundao, etc.). J A. germinans parece estar quase

    restrita a dois stios, sendo os indivduos registrados quase todos adultos. Este fato

    pode estar indicando que, ao longo da reserva, esta espcie pode estar em

    processo de substituio por R. mangle. A paisagem local no registra a presena

  • 87

    de bosques dominados por A. germinans, o que corrobora com o fato de que essa

    espcie no est se expandindo na regio. L. racemosa, por sua vez, foi apenas

    registrada nos stios 1 e 2. Os registros de indivduos dessa espcie foram

    realizados em clareiras e nas bordas dos canais-de-mar, o que confirma a

    tendncia dessa espcie ser helifila e mais pioneira do que as outras duas na

    colonizao de reas abertas (ELLISON & FARNSWORTH 1993). L. racemosa

    tambm citada colonizando bancos de lama na Guiana Francesa (FORMARD et

    al. 1998) e reas degradadas no Estado do Maranho (REBELO-MOCHEL et al.

    2001). Em geral, a variao estrutural nas florestas de mangue e a dominncia de

    cada espcie arbrea nesse ecossistema esto relacionadas tanto s caractersticas

    ambientais regionais quanto aos fatores de carter local (SCHAEFFER-NOVELLI et

    al. 1990). Dentre esses fatores podem ser citados a frequncia de inundao

    (MENEZES, BERGER & WORBES 2003), o aporte de nutriente (FELLER et al.

    2003) e a salinidade (JIMENEZ 1991; SANTOS, ZIEMAN & COHEN 1997; REISE

    2003).

    Os dados de altura e dimetro mostram que os stios estudados no presente

    trabalho apresentam rvores de mangue de grande porte. Pois, segundo Matni,

    Menezes & Mehlig (2006), enquanto as rvores crescem em dimetro, a altura

    eleva-se at assumirem o ponto em que as rvores cessam o crescimento em altura

    atingindo a idade madura, enquanto o dimetro apresenta crescimento contnuo.

    Em geral, mais de 50% das rvores de mangue da RESEXM Me Grande

    de Curu possuem DAP reduzido, atingindo at a segunda classe de dimetro aqui

    estabelecida (10 a 19,9 cm), mostrando que os bosques possuem uma alta

    densidade de indivduos de pouco dimetro. No entanto, considerando a presena

    de rvores adultas, com porte superior a 25 m de altura e DAP em torno de 40 a 50

  • 88

    cm ou maior, estes registros podem indicar a presena de um bosque adulto, mas

    em processo de substituio de indivduos senescentes por indivduos jovens. Da

    mesma forma, a presena de indivduos mortos nas primeiras classes de dimetro,

    tambm sugere que a maioria dos bosques est em processo de substituio

    desses indivduos. Segundo Schaeffer-Novelli e Cintrn-Molero (1986), os bosques

    passam, durante seu desenvolvimento, por uma fase em que a rea est ocupada

    por uma grande densidade de rvores de dimetros reduzidos e, posteriormente, a

    uma fase de maior amadurecimento, quando o domnio feito por poucas rvores

    de grande porte.

    A distribuio dos valores de dimetro evidencia a diferena estrutural dos

    bosques. Em todos os stios de estudo somente A. germinans, nos stios 3, 4 e 5,

    apresentou dimetro maior que 50 cm, evidenciando que as rvores desta espcie

    so mais antigas do que aquelas de R. mangle e que esto, provavelmente, sendo

    substitudas no bosque. A substituio de A. germinans parece ser um processo

    natural, j que nenhum indcio de alterao antrpica foi encontrado nesses stios.

    Nos stios 3, 4 e 5, localizados nas ilhas, foi registrada a presena de vrios

    indivduos de todos os portes, indicando um processo de constante renovao. Os

    stios 1 e 2, localizadas no continente, j apresentam maior nmero de indivduos de

    menor porte, indicando que essas reas podem ser ou mais jovens ou estar em fase

    de regenerao mais acentuada. O stio 1, por exemplo, alm do dimetro reduzido,

    tambm apresentou a maior densidade (n=871), reforando o fato de que essa

    mancha de manguezal composta predominantemente por rvores jovens. Os stios

    de trabalho, pela distribuio espacial, no apresentam gradiente das variveis DAP

    e altura, sendo estas variveis distribudas de forma equivalente nos stios

    continentais e nas ilhas.

  • 89

    Apesar do razovel estado de conservao dos manguezais estudados,

    existem reas de manguezal com manchas de corte produzidas por ao antrpica.

    rvores de mangue mortas por corte foram encontradas apenas no stio 1. Este stio,

    que est localizado nas proximidades da Vila de Curuper, de fcil acesso, ao

    passo que para alcanar as reas de manguezal das ilhas necessrio o uso de

    embarcaes. Portanto, a alta densidade de indivduos jovens nesse stio pode ser

    explicada pela intensa atividade de corte das rvores de mangue para a produo

    de carvo, lenha e para a confeco de currais de pesca. De acordo com os

    moradores locais, essa rea , h muito, utilizada para o corte de madeira de

    mangue. Moradores relatam que, depois da instalao Reserva Extrativista Marinha

    Me Grande de Curu, reas de corte de manguezais so raras na regio por

    causa da intensa vigilncia feita pelos prprios ribeirinhos e tambm pelos

    trabalhadores da Reserva Extrativista Marinha Me Grande de Curu.

    Por fim, importante ressaltar que rvores mortas por ao no-antrpica

    foram r