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Economia Criativa de modismo a estratégia de desenvolvimento
Ana Carla Fonseca Reis
Objetivos
• Favorecer a compreensão do contexto que levou à eclosão da economia criativa no mundo.
• Esclarecer as diferenças conceituais entre economia da cultura, indústrias criativas e economia criativa.
• Situar o aluno quanto ao estado da arte da economia criativa no Brasil. • Apresentar estudos e dados estatísticos que substanciem a economia criativa
no Brasil e no mundo. • Analisar os desafios e as potencialidades da economia criativa. • Propor exemplos, casos e ilustrações de empreendimentos criativos.
CONTEUDISTA
Ana Carla Fonseca Reis -‐ Administradora Pública (FGV); Economista, Mestre em Administração e Doutora em Urbanismo (USP), gerenciou projetos de inovação na América Latina, em Londres e Milão. É diretora da Garimpo de Soluções, empresa pioneira em economia criativa e cidades criativas. Conferencista em cinco línguas e 25 países, é assessora para a ONU, curadora de congressos, consultora internacional e autora de livros pioneiros, como Marketing Cultural e Financiamento da Cultura, Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável (Prêmio Jabuti 2007) e Cidades Criativas. Editou vários livros digitais, como Economia Criativa como Estratégia de Desenvolvimento, Creative City Perspectives e Cidades Criativas, Soluções Inventivas e foi consultora do Creative Economy Report da ONU. É professora da FGV e das Universidades Nacional de Córdoba (Argentina) e Rey Juan Carlos (Espanha), Diretora de Conteúdo da ExpoGestão e membro da Associação Internacional de Economia da Cultura, do Corpo Mundial de Peritos em Políticas Públicas, da rede de Repensadores, do Conselho Editorial da Página 22 e dos Conselhos Consultivos da Virada Sustentável, da New Ventures Brasil, da Minha Sampa, da Creative Industries Development Agency (Inglaterra) e da Creative Business Cup (Dinamarca). É finalista do Prêmio Claudia, na categoria Negócios e do Prêmio Jabuti, em Arquitetura e Urbanismo.
Conceitos-‐chave da disciplina
Commodities -‐ mercadorias com características uniformes, não diferenciais, produzidas em larga escala e negociadas no mercado global (e.g. minérios, gêneros agrícolas, carne).
Desenvolvimento -‐ expansão de liberdade de escolhas (conforme o economista Amartya Sen).
Propriedade Intelectual -‐ segundo definição da Biblioteca Nacional, "Propriedade Intelectual protege as criações intelectuais, facultando aos seus titulares direitos econômicos os quais ditam a forma de comercialização, circulação, utilização e produção dos bens intelectuais ou dos produtos e serviços que incorporam tais criações intelectuais. A Propriedade Intelectual lida com os direitos de propriedade das coisas intangíveis oriundas das inovações e criações da mente humana. Ela engloba os Direitos Autorais os Cultivares (obtenções vegetais ou variedades vegetais) e a Propriedade Industrial (patentes, desenhos e modelos industriais, marcas, nomes e designações empresarias, indicações geográficas, proteção contra a concorrência desleal)." (www.bn.br)
Economia -‐ ciência que estuda os processos de produção, distribuição e consumo de bens e serviços, com vistas à qualidade de vida da sociedade.
Economia da cultura -‐ disciplina da economia voltada às relações de produção, distribuição e consumo de bens e serviços culturais.
Estudo de cadeia -‐ estudo que relaciona (ou seja, encadeia) o produto ou serviço final às várias etapas de sua produção, incluindo as diretamente relacionadas e as de apoio (indiretamente relacionadas).
Indústrias criativas -‐ setores da economia que mais se distinguem pela carga de criatividade.
Inovação -‐ criatividade posta em prática, gerando produtos, serviços e propostas entendidas como de valor.
Valor agregado -‐ diferença entre o valor do produto ou serviço final e o valor de seus insumos utilizados para sua produção.
Contexto de eclosão da economia criativa no mundo
A economia criativa está na moda, tendo ganho a mídia e um sem-‐fim de referências em políticas, artigos e conferências. É no entendimento desse conceito em sua profundidade, bem como de seu potencial como alavanca de desenvolvimento, que repousa a diferença entre tornar a economia criativa um modismo ou, ao contrário, reconhecer nela uma abordagem transformadora das relações sociais, culturais e econômicas.
Para abordar o assunto em sua complexidade, propõe-‐se neste bloco uma sequência de três seções: primeiramente, o esclarecimento do que é economia, tendo em vista que a economia criativa traz um olhar da economia sobre a criatividade; a seguir, será apresentado um breve fio histórico das relações entre cultura, economia, tecnologia e sociedade, de modo a favorecer a percepção de que essas dimensões sempre estiveram entremeadas e reforçar a necessidade de considerar a economia criativa de maneira transversal; por fim, será delineado o quadro de fundo que permitiu a eclosão da economia criativa, com seus elementos mais salientes, no local e no momento em que ocorreu.
Para países de passado inflacionário e de grandes instabilidades econômicas, como é o caso do nosso, a "economia" é tida por muitos como sinônimo de investimentos financeiros, de taxa de inflação ou de desigualdades sociais. Atribuir à economia a culpa pelas mazelas sociais e pelas injustiças com as quais nos deparamos no país transformou-‐se em esporte nacional. Para surpresa de muitos, porém, a economia é uma ciência humana, que nasce da filosofia -‐ e, como se não bastasse, da filosofia moral, que abarca questões ligadas ao que é justo em e por uma sociedade. Sob esse ângulo, a economia surge com uma preocupação de fundo: a busca da felicidade e do bem-‐estar. Para entender essa abordagem, basta considerar a seguinte situação: dados recursos limitados (terra, dinheiro, trabalhadores) e necessidades e desejos ilimitados da sociedade, qual seria o modo mais justo de alocar esses recursos? Seria mais justo dividir o resultado entre todos, de modo igualitário, uma vez que todos são filhos de uma mesma comunidade e teriam direitos iguais? Ou seria mais justo recompensar quem mais se aplica e trabalha, como no célebre dilema da fábula da cigarra e da formiga?
Via de regra, um modelo econômico pautado por políticas definidas por uma ideologia de direita favorece o empreendedorismo, desonera investimentos, estimula o risco e a inovação; um modelo econômico associado a uma ideologia de esquerda defende a maior presença do Estado da economia e prioriza investimentos coletivos, ainda que sobretaxando o empreendedorismo individual. O que se nota, portanto, é que a economia não é "boa" ou "ruim"; a economia simplesmente oferece o corpo de instrumentos mais adequado para atingir determinada diretriz, como no caso das políticas públicas. Nos dizeres do célebre economista Lionel Robbins (1932), "Economia é a ciência que estuda o comportamento humano como uma relação entre objetivos definidos e recursos escassos, com usos alternativos". Nesse sentido, todos nós somos um pouco economistas no dia a dia. Em função do que definimos como importante, como dividimos os dois recursos mais escassos do ser humano: tempo e dinheiro? Portanto, para sermos felizes com os recursos de que dispomos, precisamos ser capazes de definir o que consideramos mais importante na vida.
É assim que funciona a economia. Imaginem um barco no meio do oceano. A economia (mais especificamente, no nosso caso, a macroeconomia) não define para onde o barco irá, esse é o papel dos dirigentes públicos; a partir do momento porém em que o governo define a que porto quer chegar, a economia poderá apresentar opções de rotas, mais ou menos seguras, longas ou caras. A economia não se dedica ao "que" se pretende atingir; e sim ao "como" atingi-‐lo. Por decorrência e parafraseando o poeta Sêneca: "Se o homem não souber a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável". Discutir economia da cultura sem haver uma política cultural clara é inútil; defender a economia criativa como se fosse uma panaceia, tampouco é real. Para a economia criativa se concretizar como base de desenvolvimento, devem ser criadas condições muito claras, a exemplo de ser integrada à pauta das várias pastas públicas, em uma estratégia transversal.
Tendo isso em mente, cabe entender o contexto no qual surgiu a economia criativa. Afinal, a criatividade sempre foi importante -‐ graças a ela descobrimos o fogo, inventamos a roda e chegamos, como espécie humana, a um nível de conforto e possibilidades muito maior do que tínhamos há 1.000 ou há 100 anos. Como porém dividimos ou compartilhamos esse conforto e essas possibilidades é outra história... Parte dessa falta de nexo entre o que produzimos, distribuímos e consumimos enquanto sociedade tem raízes fincadas e traz ecos profundos da Revolução Industrial. Em meados do século XVIII, uma convergência de fatores levou à eclosão do que viria a ser a ruptura mais drástica que vivemos nos últimos séculos, tendo resultado na fragmentação de processos de produção e, mais profundamente, da cisão entre o pensar, o agir e o sentir.
Dentre esses fatores, temos as descobertas tecnológicas (mecanização da produção têxtil, máquinas a vapor, locomotivas, fragmentação da produção), a concentração de capital em busca de novos investimentos, a abundância de matérias-‐primas (ferro, carvão etc.), a existência de mercados (na Europa, nas colônias e ex-‐colônias) e o cercamento dos campos na Inglaterra. O cercamento dos campos provocou um forte êxodo da população rural para as cidades, em levas de centenas de milhares de pessoas, que passaram a formar um exército industrial de reserva de mão de obra. O termo "mão de obra", em si, já é flagrante: o ser humano deixa de valer pelo que sabe, cria e sente e passa a contar simplesmente pelo que é capaz de produzir; pelo que seu corpo pode oferecer de trabalho; pelo que sua mão consegue trabalhar, "obrar". O ser humano passa a ser reduzido a mão de obra. É curioso observar que esse período ainda é tão flagrantemente presente, que ainda hoje muitos se referem ao trabalhador como "mão de obra". E não é raro ouvir o que à época era corriqueiro: "Você é pago para fazer, não para pensar". Quando pedimos a uma pessoa que se atenha ao tamanho de sua caixinha, que as fronteiras de suas funções limitem seus pensamentos e ações, que seu horizonte de visão se atenha a seu cargo ou a seu departamento, estamos reproduzindo essa lógica aniquiladora da expansão das possibilidades humanas.
Nesse momento tão crítico da humanidade, como foi a Revolução Industrial, o que se pedia ao trabalhador era, de fato, que pensasse o menos possível. O senso comum em vigor pressupunha que o pensar demandava tempo e energia, que seriam desviados da tarefa produtiva. Eram usuais as jornadas de 16 ou 18 horas, sem nenhum benefício trabalhista, em condições de higiene de extrema precariedade e nas quais a lógica era pagar o mínimo por
peça produzida, de modo que a quantidade fosse a maior possível, o produto resultante tivesse preços tão baixos quanto viável, com isso, mesmo um trabalhador em situação de penúria conseguisse comprar o indispensável para a sua sobrevivência naquele dia. Os insatisfeitos, sem ter opção de trabalho e diante do excesso de pessoas em busca de um emprego qualquer, faziam melhor em se calar, até que o contexto no qual sobreviviam ceifassem suas vidas, aos 25 ou 30 anos de idade.
Esse foi o pedágio que a humanidade pagou (e, em algumas circunstâncias e lugares do mundo, ainda paga) para que o conforto que temos hoje fosse atingido. Ao longo do século seguinte as condições trabalhistas, sociais e urbanas foram paulatinamente suavizando-‐se, em parte devido à concorrência gerada pelo fato de outros países passarem a adotar as tecnologias da industrialização em suas próprias economias -‐ incluindo nesse leque os Estados Unidos, independentes desde 1776 e, entre 1808 e 1829, os latino-‐americanos. Com essa redução do gap tecnológico1, a competitividade entre os países que disputavam mercados de bens e serviços massificados foi acirrada e o trabalhador passou a ter mais opções.
Ocorreu então o que normalmente acontece quando tecnologia e acesso a capital (ou dinheiro) não são mais diferenciais na concorrência: a criação humana voltou a ser valorizada por sua capacidade de diferenciar bens e serviços, agregando-‐lhes valor. Afinal, quando a concorrência é muito acirrada e outros fatores (como dinheiro e tecnologia) estão disponíveis, há duas formas de competir: por preço ou por diferenciação. Concorrer por preço, porém, nem sempre é uma opção viável, como bem sabe quem trabalha com projetos esporádicos, especialmente como free lance. Quando o projeto é muito mal remunerado, assumi-‐lo pode simplesmente não compensar. Em termos macroeconômicos, como bem percebemos no mundo contemporâneo, a concorrência da China, cujo trabalho é desenvolvido em condições sub-‐humanas, faz com que para a indústria nacional seja muito difícil concorrer por preço com os produtos por ela fabricados (em especial quando se somam a isso os altos impostos pagos no Brasil e as péssimas condições de infraestrutura que temos, elevando o chamado "custo Brasil")2. A situação deve se tornar ainda mais periclitante até 2016, na probabilidade de a China ser reconhecido como de economia de mercado (ou seja, onde produtores e consumidores são livres para tomar suas decisões econômicas) -‐ ou antes disso, se o Brasil honrar o Memorando de Entendimento firmado com o país em 2004. Na prática, isso significará a virtual impossibilidade de os demais países
1 Ao assumir a dianteira dos processos de inovação tecnológica, a Grã-‐Bretanha gozou durante décadas de vantagem competitiva na produção e na exportação de produtos e serviços. A adoção das tecnologias industriais por outros países possibilitou a concorrência por preço e desempenho, reduzindo assim o gap (ou distância) entre suas economias. 2 A rigor, o Protocolo de Acessão da China à Organização Mundial do Comércio faculta aos demais membros da OMC não a tratarem como tal, até 2016. O Brasil, porém, firmou um Memorando de Entendimento bilateral com o país, em 2004, concedendo à China status de economia de mercado. Veja mais em http://ictsd.org/i/news/4416/
aplicarem medidas antidumping (ou seja, rechaço à produção em condições não validadas pela Organização Mundial de Comércio) contra a China.
A história sempre segue em ciclos. A necessidade de diferenciação de bens e serviços, tão patente hoje no Brasil, ocorria também na Europa de fins do século XIX. Começaram a surgir então reações emblemáticas à produção em massa, demandando que o trabalhador voltasse a ter visão do processo de produção, a exemplo do movimento "Arts and Crafts" (artes e ofícios). Este defendia a reunião entre artistas e artesãos, na fusão do trabalho que viria a ser conhecido como "design". A iniciativa teve grande influência sobre o movimento francês da Art Nouveau e, posteriormente, da alemã Bauhaus.
Formada em 1919, a Bauhaus foi a primeira escola de design do mundo, resultado da fusão de artes e ofícios, a exemplo da arquitetura de vanguarda. Ela defendia que o artista-‐artesão voltasse a ter consciência social, criando objetos que conciliassem funcionalidade e estética. Rompendo com os cânones da época, trabalhando com formas simples e cores básicas, a Bauhaus promovia a criação de produtos com diferencial e valor agregado, ao mesmo tempo em que exercia forte influência sobre questionamentos sociais. Não é de surpreender, portanto, que tenha sido perseguida pelo governo alemão nazista, que inicialmente o apoiara, e fechada em 1933. A maioria de seus grandes expoentes exilaram-‐se na Suíça e especialmente nos Estados Unidos, dois países que já à época investiam em inovação como forma de impulsionar a vantagem competitiva de seus produtos e serviços.
A partir da década de 1930, de fato, cultura e tecnologia -‐ visceralmente dependentes da criatividade -‐ passaram a restabelecer com nova ênfase a união que havia sido cindida durante a Revolução Industrial. Duas facetas da mesma moeda, ambas objetos que dão origem aos Direitos de Propriedade Intelectual, como veremos adiante. Datam desses anos os primeiros registros de patente de sonorização, realizados por Alemanha e Estados Unidos, duas potências em disputa geoeconômica já à época. Não por coincidência, esses dois países abrigaram o nascedouro de duas escolas que se dedicariam ao estudo e à crítica das novas relações estabelecidas entre cultura, tecnologia, sociedade e economia. A Escola de Chicago, que iniciou na década de 1920 e tomou corpo especialmente na de 1930, analisava a interação e o impacto das mídias de comunicação de massa com o comportamento e no pensamento humanos, em seus aspectos técnicos e físicos. Já na década de 1940 a Escola de Frankfurt, com expoentes como Horkheimer, Adorno e Benjamin dedicava-‐se a analisar o impacto sobre o conteúdo do que viria a cunhar "indústrias culturais", tecendo-‐lhes ácidas críticas3.
Ao apagar das luzes da Segunda Guerra Mundial, a humanidade entrou em um período acelerado de consumo de massa, com todas as consequências econômicas, sociais, culturais
3 Dois textos são fundamentais para os que buscam melhor compreender as relações entre cultura, mídias, controle social e expansão econômica. No primeiro deles, "Dialética do Iluminismo", de 1947, Adorno e Horkheimer abordam os modos como as indústrias culturais constituíam um sistema político e social, engendrando a manipulação do consumo e o controle social, a partir da conversão das indústrias culturais (filmes, livros, músicas gravadas) em mercadorias. Em "A Obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica" (1955), Benjamin questionava e a extirpação da aura artística, da autenticidade e da unicidade da obra de arte transformada em mercadoria serializada.
e ambientais geradas, especialmente as que hoje se revelam a antítese da sustentabilidade4. Na esfera econômica, o período também foi marcado pela criação do cálculo do PIB -‐ Produto Interno Bruto, em 1948. Embora tenha sido adaptado ao longo das décadas (alguns setores foram incorporados nos cálculos, outros tiveram seu peso expandido -‐ a exemplo de consultoria de software, rádio e TV, atividades de cinema ou serviços financeiros)5, a lógica que o embasa é reflexo de sua época e vem sendo alvo de várias críticas. Dentre outras, sua metodologia não analisa como a riqueza é gerada (e.g. o PIB da Amazônia pode crescer por desmatamento ou por manejo sustentável e resultar na mesma conta) e não permite computar trabalhos voluntários (dado que estes não envolvem transações monetárias).
Para complementar a análise do PIB com um índice capaz de lançar olhares mais sensíveis ao desenvolvimento e não somente ao crescimento econômico, foi criado em 1990 o IDH -‐ Índice de Desenvolvimento Humano. O IDH revela as condições que determinam possibilidades básicas das pessoas, tais como saúde, padrão de vida e educação. Ele dialoga com a noção de desenvolvimento cunhada por um de seus criadores, o economista indiano Amartya Sen. Para ele, desenvolvimento é a ampliação das liberdades de escolha6 -‐ o que significa que, para ser desenvolvida, uma nação deve ser formada por pessoas autônomas em seu modo de pensar e com acesso a informações que lhes permitam tomar decisões por conta própria. Prenuncia-‐se aqui, portanto, uma questão básica da economia criativa, que será abordada na última seção desta disciplina: a criatividade é condição necessária mas não suficiente para garantir o desenvolvimento da economia criativa como estratégia de desenvolvimento.
Ainda na década de 1990, outras mudanças de grande envergadura ganharam o mundo e enredaram os fios que levariam à eclosão da economia criativa. Em primeiro lugar, a globalização favoreceu uma padronização acelerada de produtos e serviços. As tecnologias passaram a ser muito mais facilmente transferíveis no mundo, reduzindo o gap tecnológico apontado anteriormente, entre países de um mesmo nível de desenvolvimento. Essa padronização é facilmente notada em nosso dia a dia. Quem de nós não recebeu proposta de banco, empresa de telefonia celular ou de cartão de crédito, concorrente aos serviços que já temos, oferecendo exatamente a mesma coisa? Sendo propostas tão parecidas (ou com pouca diferenciação), a alternativa, como já mencionado, é disputar os clientes com base no preço. E, de fato, somos levados a mudar de provedor de qualquer desses serviços apenas quando nos é oferecida uma redução de preços ou promoção afim. Reiterando o já apresentado: quando a concorrência é acirrada, ou se disputa o cliente com base em produtos e serviços diferenciais, ou com base no preço. Com a globalização reforçou-‐se o grau de concorrência no mundo.
Por outro lado, a globalização gerou a valorização flagrante de produtos, serviços e propostas consideradas únicas (o que se convencionou chamar de "paradoxo da
4 Aos interessados no tema recomenda-‐se que assistam ao vídeo "A História das Coisas", nesta versão legendado em português: http://youtu.be/3c88_Z0FF4k 5 O PIB contempla a produção na indústria, na agropecuária, no setor de serviços, o consumo das famílias, os gastos do governo, o investimento das empresas e a balança comercial (ou seja, exportação e importação). 6 Professor em Harvard, foi com essa tese que Amartya Sen ganhou, em 1988, o Prêmio Nobel da Economia.
globalização"). O valor agregado daquilo que é vivencial, que oferece uma experiência, que não pode ser copiado, passou a ser catapultado. Exemplos disso são o ressurgimento de dialetos que estavam em vias de extinção ou o resgate de receitas e demais pérolas da gastronomia e da produção artesanal locais. Em um mundo onde tudo é muito parecido, buscam-‐se crescentemente alternativas ao lugar comum; procuram-‐se cada vez bens e serviços que permitam ao consumidor não se sentir um número, uma estatística, uma pessoa sem identidade, perdida em uma massa global. Haja vista o aumento impressionante de praticantes de esportes radicais, de turistas voltados à experiência, de frequentadores de cursos de degustação os mais diversos. Com isso, abriu-‐se também a possibilidade para que as culturas associadas a contextos locais passassem a ter maior nível de consideração.
Outro fenômeno interessante, que se soma e alavanca o impacto da globalização em escala planetária, são as mídias digitais. Se até seu advento e sua difusão para a grande massa a busca de produtos ou serviços exigia um longo trabalho de levantamento de mercado, hoje uma rápida pesquisa pelo Google e a disponibilidade de imagens e vídeos em tempo real possibilitam que um produto ou serviço lançado em um canto do mundo apareça em um lado oposto, poucos meses após sua estreia no mercado.
O recrudescimento da concorrência mundial, favorecido pelo binômio globalização & mídias digitais, promoveu também a fragmentação das cadeias de produção. Há 20 ou 15 anos, uma roupa "Made in Brazil" significava que era de fato feita no Brasil -‐ de sua criação à sua finalização. Um sapato italiano era italiano, um pulôver inglês era inglês. Hoje, não nos surpreende encontrar roupas cujo forro é feito na Indonésia, o exterior na Turquia, com desenho francês, montada em Honduras, distribuída por uma empresa espanhola, de marca estadunidense e comprada no Brasil. Da mesma forma como, ao abrirmos um computador ou telefone celular, percebemos que a soma das várias nacionalidades responsáveis pelos seus componentes seria digna de um encontro das Nações Unidas.
O que isso significa é que com o acirramento da concorrência, concretizar a venda de um produto ou serviço -‐ inclusive os culturais ou criativos de modo geral -‐ exige muita diferenciação e singularidade, se não quiser ser condenado a disputar espaço por preço7.
Foi esse o contexto que, em 1994, levou o então Primeiro-‐Ministro da Austrália, Paul Keating, a realizar um discurso referencial, intitulado "Creative Nation" (Nação Criativa). Neste, que talvez tenha sido a certidão de nascimento da economia criativa no mundo, a tônica recaía sobre os riscos que a aliança entre globalização e mídias digitais poderiam representar à identidade australiana e à capacidade de expressão e de crescimento intelectual e artístico de seus cidadãos. Por outro lado, defendia Keating, haveria uma forma de utilizar a globalização e as mídias digitais a favor justamente da ampliação de possibilidades das quais dispunham os australianos. Em um breve extrato desse longo discurso, o Primeiro-‐Ministro também salientava a importância econômica da cultura:
7 Para uma abordagem colorida do tema, a série de documentários Criaticidades, produzida por Garimpo de Soluções e Umana e veiculada oito vezes no Canal Futura, desenha esse pano de fundo por meio de entrevistas com profissionais de vários países. De especial interesse para esta sessão são O Que É Economia Criativa? e Economia Criativa e Empreendedorismo
Esta política cultural também é uma política econômica. A cultura cria riqueza. Definidas de forma ampla, as indústrias culturais geram 13 bilhões de dólares por ano. A cultura gera empregos. Cerca de 336.000 australianos são empregados em indústrias relacionadas com cultura. A cultura agrega valor, ela dá uma contribuição à inovação, ao marketing e ao design. É um crachá da nossa indústria. O nível de nossa criatividade determina substancialmente nossa habilidade de adaptação aos novos imperativos econômicos. É uma exportação cheia de valor por si e uma complementação essencial à exportação de outras commodities. Ela atrai turistas e estudantes. É essencial para nosso sucesso econômico. (Keating, 2004)
Quem porém ouviu essa mensagem de modo muito claro e a colheu no ar foi o Reino Unido, país também membro da Commonwealth8, que passaria em 1997 por eleições para Primeiro-‐Ministro. Esse momento histórico marcou a adoção da economia criativa como base de política de Estado, por um país de economia forte9, padrão desenvolvido e onde a cultura e a criatividade têm papel de destaque, conforme veremos a seguir.
8 Grupo de países que reúne o Reino Unido e as ex-‐colônias do país. 9 Em 2012 o Reino Unido encerrou o ano como sexta maior economia do mundo (o Brasil figurou em sétimo lugar, em termos absolutos. Já em termos relativos, nosso PIB per capita foi de US$11.395, o do Reino Unido de US$38.514 e o mundial de US$10.170.
Características essenciais e diferenciações conceituais frente a outras propostas.
Após 18 anos no poder, o Partido Conservador do Reino Unido enfrentou em 1997 acirrada disputa com o Partido Trabalhista, para as eleições do novo Primeiro-‐Ministro do país. Como vimos, as circunstâncias econômicas que marcavam o mundo estavam em plena efervescência. A concorrência se fazia sentir em intensa profundidade. A economia britânica temia pela concorrência dos produtos e serviços chineses, cujos preços baixos eram virtualmente imbatíveis; pela expatriação dos serviços de software, mídias digitais e mesmo de serviços de atendimento ao consumidor para países como a Índia (onde o trabalhador, de fala inglesa, recebia uma fração do salário do trabalhador britânico); pela mudança de parques industriais para países da Europa Oriental e outros, onde os custos trabalhistas são mais baixos; pela unificação europeia, que proporcionaria a um trabalhador grego, espanhol e dos demais países-‐membros os mesmos direitos gozados por um trabalhador britânico.
Como candidato do Partido Trabalhista, de oposição, Tony Blair trazia em si um frescor de forma (tinha 44 anos à época) e também de conteúdo, desfraldado sob a bandeira de uma "Creative Britain" (Grã-‐Bretanha criativa). A plataforma política de seu partido preconizava que a estratégia do país deveria se pautar por sua criatividade, tendo em vista o nível de concorrência estabelecido no mundo e a capacidade do país de inventar e inovar, desde os tempos das grandes navegações e então da Revolução Industrial, até os efervescentes anos 1960 (com os Beatles, o pop, o design, a minissaia, a modelo Twiggy e tantos outros símbolos de arrojo que tornaram o país um dos maiores epicentros da criatividade mundial).
Foi com essa proposta que Blair se tornou Primeiro-‐Ministro. Fazendo jus a essa promessa, uma de suas primeiras ações foi a formação de uma força-‐tarefa, com duas características principais. A primeira era reunir os dirigentes das mais variadas pastas públicas, que deveriam adotar a promoção da criatividade como base de suas políticas. Afinal, como já defendido, a criatividade não se atém a um setor, mas deve integrar todos -‐ da educação ao turismo, da cultura à ciência e tecnologia. A segunda era a participação de expoentes do setor privado nessa força-‐tarefa, tendo em vista o reconhecimento de que quem gera inovação e riqueza na sociedade é o setor privado -‐ o governo, na melhor das hipóteses, gerencia essa riqueza de uma forma tida como justa e prioritária pela sociedade. E, de fato, a formação de uma parceria realmente público-‐privado, com objetivos convergentes e benefícios complementares, é considerada crucial para a formulação de uma nova estratégia para o país e foi nesse momento um dos pontos considerados mais relevantes na condução de uma política de Estado.
Outro aspecto fundamental na condução do primeiro processo de adoção da economia criativa como pauta estratégica do país foi a realização de um mapeamento, publicado em 1998, contemplando as chamadas "indústrias criativas". Considerando-‐se que "indústria", no jargão econômico, significa um setor econômico específico (daí os termos "indústria financeira", "indústria do turismo" ou "indústria do entretenimento"), as "indústrias criativas" seriam conformadas pelos setores econômicos que se caracterizam, diferenciam-‐se e sobrevivem graças à carga de criatividade que trazem embutida. Nesse leque e
conforme alinhavado na primeira seção desta disciplina, dois eixos de setores se destacam: os baseados em cultura e os pautados por ciência e tecnologia.
Originalmente, portanto, as indústrias criativas britânicas (e que vieram a direcionar os olhares lançados por outros países entusiasmados com o tema -‐ do Líbano a Cingapura, do Canadá à Colômbia) compreendiam propaganda, arquitetura, artes, artesanato, design, audiovisual, música, artes do espetáculo, edição, pesquisa e desenvolvimento, jogos, brinquedos, rádio e televisão. Como se vê, as indústrias criativas abrangem as relacionadas à cultura, mas não se restringem a elas, de modo que a economia criativa abrange a economia da cultura, mas também setores ligados a comunicação, ciência e tecnologia.
O próprio exercício de definição das indústrias criativas engendrou uma reflexão relevante, que deixou um marco e inspirou o desenvolvimento do conceito e de sua adoção em várias partes do mundo. Como lembra Reis (2008):
O exemplo do Reino Unido tornou-‐se paradigmático por quatro razões:
1) contextualizar o programa de indústrias criativas como resposta a um quadro socioeconômico global em transformação;
2) privilegiar os setores de maior vantagem competitiva para o país e reordenar as prioridades públicas para fomentá-‐los;
3) divulgar estatísticas reveladoras da representatividade das indústrias criativas na riqueza nacional (7,3% do PIB, em 2005) e com crescimento recorrentemente significativo (6% ao ano, no período 1997-‐2005, frente a 3% do total);
4) reconhecer o potencial da produção criativa para projetar uma nova imagem do país, interna e externamente, sob os slogans “Creative Britain” e “Cool Brittania”, com a decorrente atratividade de turismo, investimentos externos e talentos que sustentassem um programa de ações complexo.
Inicialmente baseada portanto em uma lógica setorial (a das indústrias criativas), a abordagem evoluiu ao longo dos anos seguintes para uma abordagem mais sistêmica, analisando as relações entre as indústrias criativas, os encadeamentos dos elos de uma mesma indústria criativa (da capacitação ao desenho da ideia, do acesso ao financiamento, à distribuição ou ao consumo), bem como o potencial impacto das indústrias criativas na dinamização e na competitividade de setores tradicionais (basta pensar na alavancada de inovação que a indústria criativa da moda suscita no setor têxtil ou que a indústria criativa da arquitetura tem sobre a construção civil). A economia criativa tem portanto as indústrias criativas em seu cerne, mas vai muito além destas. Ela contribui para a dinamização também dos setores tradicionais de uma economia -‐ uma excelente notícia para um país como o Brasil, que tem o privilégio de possuir recursos naturais em abundância e setores de base muito competitivos (como o agronegócio), mas no qual os setores de maior valor agregado vêm perdendo espaço nos últimos anos.
A escolha dos setores que são considerados por um país ou região os mais criativos e capazes de impulsionar uma política socioeconômica estruturante levou à necessidade de
criar um marco divisor de águas que definisse e priorizasse as indústrias criativas. Na Grã-‐Bretanha de fins da década de 1990 o critério em questão foi a potencial geração de direitos de propriedade intelectual, que abrange tanto os direitos autorais quanto os industriais (patentes, marcas registradas, indicações de origem, desenho industrial). A lógica desse critério é que ideias e criações devem ser protegidas, para reconhecer e remunerar quem as teve ou fez. Afinal, se o criador não tiver a retribuição financeira que lhe caberia, eventualmente terá de se dedicar a outra profissão, que lhe remunere condignamente.
Embora o raciocínio seja coerente, a inadequação da atual legislação mundial de Direitos de Propriedade Intelectual é alvo de inúmeras críticas, a exemplo de desfavorecer registros coletivos e de comunidades tradicionais.
Estudos e estatísticas das indústrias e da economia criativa, no Brasil e no mundo
Um salto qualitativo no entendimento da economia criativa no mundo foi dado em 2008, com a publicação do "Creative Economy Report" (Relatório de Economia Criativa). O estudo foi fruto de um trabalho integrado por cinco instituições da Organização das Nações Unidas, que aportaram olhares e experiências complementares -‐ UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento), ILO (Organização Internacional do Trabalho), OMPI (Organização Mundial de Propriedade Intelectual), PNUD (Cooperação Sul-‐Sul do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) -‐, capitaneadas pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), tendo à sua frente a brasileira Edna dos Santos-‐Duisenberg e contando com Ana Carla Fonseca como consultora para a América Latina e o Caribe.
O relatório contempla um aprofundamento do conceito de economia criativa, os diferentes modelos de economia criativa desenhados por uma miríade de instituições (Figura 1), casos práticos, recomendações para formuladores de políticas e as estatísticas então disponíveis. Reeditado em 201010, com atualização de números e complementação de casos, uma terceira edição deverá ser publicada em fins de 2013 ou início de 2014. Tendo em vista ser um estudo referencial, vale atentar à definição que faz de indústrias criativas:
As indústrias criativas são definidas pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD) como os ciclos de criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam a criatividade e o capital intelectual como principais insumos. Elas compreendem um conjunto de atividades baseadas no conhecimento que produzem bens tangíveis e intangíveis, intelectuais e artísticos, com conteúdo criativo e valor econômico.
10 O relatório foi traduzido para o português em 2013, pela Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura, em parceria com o Itaú Cultural.
Figura 1 -‐ Comparativo de modelos de economia criativa adotados por distintas organizações. Fonte: Relatório de Economia Criativa. Fonte: UNCTAD, 2010
No âmbito nacional, há uma enorme carência de estudos aprofundados sobre a economia criativa. "A Cadeia da indústria criativa no Brasil", editado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) em 2008, lançou luz sobre o impacto econômico das indústrias criativas no país e em um conjunto de estados brasileiros. Na ausência de dados oficiais do Governo Federal e de uma definição do mesmo quanto às indústrias criativas mais pertinentes ao contexto nacional, a FIRJAN tomou por base o conjunto de indústrias criativas definidas pelo Reino Unido (em seu exercício inicial de 1998) e construiu o que se consolidou como o principal estudo de referência sobre o tema no Brasil. Complementarmente, a publicação apresenta o encadeamento das indústrias criativas às atividades relacionadas (produtos e serviços diretamente provedores das indústrias criativas, a exemplo de cosméticos, instrumentos musicais, serviços de impressão de livros e periódicos) e às atividades de apoio (produtos e serviços indiretamente utilizados nas indústrias criativas, como limpeza pública, gestão de espaços, serviços de contabilidade ou de advocacia).
A necessidade de dar maior reconhecimento à participação da ciência e da tecnologia, enfatizando, como já estudado na seção 1, que as indústrias criativas não se restringem às que integram o universo da cultura, levou a FIRJAN a incorporar dois novos setores na reedição de seu estudo. Assim, o "Mapeamento da Indústria Criativa 2012" (ano-‐base 2011) elenca as indústrias contempladas na publicação anterior e a elas acrescenta "pesquisa e desenvolvimento" (desenvolvimento experimental e pesquisa em geral, exceto em biologia) e "biotecnologia" (bioengenharia, pesquisa em biologia, atividades laboratoriais). (Figura 2)
Figura 2 -‐ Fluxograma do mapeamento da cadeia das indústrias criativas no Brasil. Fonte: Mapeamento da Indústria Criativa. Fonte: FIRJAN, 2012
A segunda edição do estudo da FIRJAN também adotou uma mudança metodológica relevante, como descrito no próprio mapeamento.
Em sintonia com a literatura internacional, esta edição inova ao somar uma nova abordagem ao método das edições anteriores. Além da visão sobre cadeia produtiva, cujo foco são as empresas e o valor de produção gerado por elas, foi construída uma análise sobre os profissionais criativos. Isso é fundamental uma vez que estes não trabalham exclusivamente nas empresas que produzem bens e serviços criativos. Por exemplo, um designer não está empregado apenas nas empresas criativas, ele pode trabalhar na indústria automotiva, siderúrgica ou de máquinas e equipamentos. Em outras palavras, enquanto as edições anteriores se restringiam à análise dos dados da Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE), a atual também utiliza a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO).
Como resultados gerais relativos ao Brasil, constatou-‐se que 243 mil empresas constituíam o núcleo das indústrias criativas no país11, respondendo por 2,7% do Produto Interno Bruto
11 Atenção seja dada ao fato de que, salvo menção em contrário, os estudos oficiais referem-‐se apenas à economia formal. Embora não haja como precisar o grau de informalidade dos setores, é admissível que haja grande variabilidade do nível de formalização entre esses setores. Estudo realizado pela FUNDAP (detalhado a seguir) estima que a economia informal represente 60% do total da economia criativa no Brasil. Ser criativo é requisito necessário mas não suficiente para garantir a inclusão do trabalhador no mercado movido pela economia criativa.
brasileiro. O mercado formal de trabalho do núcleo criativo (ou seja, da riqueza gerada diretamente pelas indústria criativas, excluindo-‐se aqui as atividades relacionadas e as de apoio) representou 1,7% dos trabalhadores brasileiros. Mereceram destaque, segundo o estudo, os setores de arquitetura e engenharia; publicidade; e design, que em conjunto abrangiam metade dos trabalhadores criativos brasileiros.
O estudo também divulgou que a remuneração mensal média do trabalhador de profissões inseridas nas indústrias criativas era quase três vezes superior ao salário médio da economia formal (R$4.693 contra R$1.733). No caso do Estado do Rio de Janeiro, a remuneração média mensal dos trabalhadores formais do núcleo criativo é de R$7.275 (ante R$4.693).
Cabe porém considerar este tópico com a devida cautela. Tendo em vista que a economia criativa compreende um vasto leque de setores e profissões, das mais qualificadas às menos, o fato de a remuneração média nos setores criativos ser superior à da média dos salários da economia não significa que os trabalhadores com baixa qualificação sejam bem remunerados. Afinal, também na economia criativa quão maior for a qualificação do trabalhador, mais bem remunerado ele tenderá a ser. De fato, estudos empíricos realizados em especial no Reino Unido revelam que uma estratégia de economia criativa desenvolvida sem a devida consideração à qualificação pode sobrevalorizar o trabalhador especialmente qualificado (que já teria maiores chances de inserção no mercado) -‐ e pode não beneficiar o trabalhador sem qualificação.
Outro indicador importante a ser considerado é a geração de postos de trabalho, sobretudo em um país, como o nosso, no qual a população continua crescendo. As indústrias que compõem o núcleo criativo absorvem 1,7% do total do mercado de trabalho nacional, percentual este apenas superado pelos Estados de São Paulo (2,3%), Rio de Janeiro (2,2%) e Santa Catarina (1,9%). Rio Grande do Sul, Paraná e Distrito Federal apresentam percentual igual ao da média nacional, enquanto em Alagoas a participação dos trabalhadores do núcleo criativo atinge apenas 0,7% e, no Amapá, 0,8%. (Figura 3)
Figura 3 -‐ Participação dos empregados no núcleo criativo, como percentual do total de empregados do Estado (2011). Fonte: FIRJAN, 2012
Um segundo estudo digno de nota foi realizado pela Fundação do Desenvolvimento Administrativo (FUNDAP), por encomenda da Prefeitura de São Paulo. Intitulado "Economia Criativa no Município de São Paulo -‐ diagnóstico e potencialidade", o trabalho seguiu metodologia distinta da adotada pela FIRJAN (apresentando portanto dados não comparáveis), tendo se valido de dados do Ministério do Trabalho e Emprego (relativos apenas ao mercado formal) e da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD -‐ o que lhe permitiu estimar também o mercado informal da economia criativa).
Publicado em 2011 (tomando 2009 por ano base de dados), o trabalho abrange dez indústrias criativas12 e apresenta alguns dados especialmente didáticos. Dentre eles, uma tabela de grande utilidade aos pesquisadores e interessados no tema, ao comparar as indústrias criativas (e suas categorias) contempladas tanto no conceito como nos estudos desenvolvidos por um leque de fontes (UNESCO, UNCTAD, IBGE, DMCS, FIRJAN, e OIC).
Além de apresentar dados acerca da ocupação formal e informal nos setores criativos, nível de rendimento, taxa de crescimento de postos de trabalho e a distribuição espacial das indústrias criativas (por emprego e por unidade econômica), tendo por foco o Município de São Paulo, sua região metropolitana e o estado paulista, o estudo da FUNDAP oferece dados da distribuição do emprego formal e/ou informal nos setores criativos também para o contexto brasileiro. Como se observa na Figura 4, nota-‐se uma concentração significativa de empregos nas capitais e nos estados de maior pujança econômica, tendo à sua frente São Paulo e, em um segundo bloco, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Bahia.
12 Arquitetura e design; artes performáticas; artes visuais, plásticas e escrita; audiovisual; edição e impressão; ensino e cultura; informática; patrimônio; pesquisa e desenvolvimento; publicidade e propaganda.
Esse mapa nos traz alguns alertas. O primeiro deles é que se não forem criadas as condições para que os trabalhadores das indústrias criativas possam atuar em pequenos e médios centros urbanos, tenderemos a manter e lógica de migração interna, esvaziando as áreas de menor porte dos talentos que poderiam justamente ajudar suas pequenas cidades a se desenvolverem.
Figura 4 -‐ Distribuição do emprego formal em atividades da economia criativa (2009). Fonte: FUNDAP, 2011
O segundo ponto, correlacionado ao primeiro, é que a economia criativa formal, ao se valer de profissionais com maior qualificação e possibilidades de inserção no mercado de trabalho, tende a reproduzir a lógica de concentração da economia tradicional. Para que a economia criativa possa de fato ser utilizada como alavanca estratégica de inclusão e desenvolvimento de regiões menos favorecidas -‐ de nossas cidades, de nossos estados e do país como um todo -‐, é preciso que sejam criadas condições para que o ativo econômico que é a criatividade se converta em inovação. Mais uma vez, explicita-‐se que a criatividade é condição fundamental mas não suficiente para que a economia criativa se consolide. É a discutir os desafios que devem ser vencidos nessa pauta e o estágio em que o Brasil se encontra hoje, que se dedica a próxima sessão.
Surgimento, estado da arte e desafios da economia criativa em nosso país
O embrião das discussões acerca da economia criativa no Brasil foi gerado em 2004 (REIS, 2008), com a realização, durante o encontro quadrienal da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento -‐ UNCTAD, em São Paulo, da sessão temática “High Level Panel on Creative Industries and Development” (Painel de Alto Nível das Indústrias Criativas e do Desenvolvimento). Ao analisar os desdobramentos desse evento, o então Ministro da Cultura, Gilberto Gil, fez uma defesa entusiasmada da diversidade brasileira como substrato da criatividade no país:
Estamos conscientes de que a maior garantia das vantagens mútuas que possamos ter advém da natureza da matéria-‐prima que está em jogo: a criatividade das pessoas, comunidades e povos do mundo, a essência do nosso patrimônio imaterial, expressando-‐se a partir do precioso lastro da nossa diversidade cultural.
Como resultado concreto das ações seguintes, foi organizado em 2005, sob a liderança do Embaixador Rubens Ricupero (então Secretário-‐Geral da UNCTAD) e do Ministro Gil, o Fórum Internacional de Indústrias Criativas, em Salvador. Durante o evento o ministro ratificou a proposta de criação do Centro Internacional das Indústrias Criativas, cuja missão seria constituir um banco de conhecimento e espaço para as atividades e programas sobre o tema.
Embora o centro não tenha se concretizado, o debate acerca da economia criativa teve algum prosseguimento no país, sobretudo movido por instituições e pesquisadores que buscavam difundir o conceito. Assim, em 2006, o Fórum Cultural Mundial, que se desenrolou no Rio de Janeiro, inseriu um módulo paralelo de três dias sobre o tema. O ano de 2007 viu o desabrochar de iniciativas estaduais, com a organização de eventos específicos no Ceará (por iniciativa privada), em São Paulo (liderada pelas Secretarias de Cultura e Desenvolvimento) e no Espírito Santo (realizada por aliança entre o SEBRAE e a Secretaria da Cultura). Outros encontros e conferências específicas surgiram, congregando as maiores referências nacionais em internacionais no conceito e na prática da economia criativa.
Em termos institucionais, o Governo Federal optou, após a gestão do Ministro Gil, por privilegiar as discussões sobre economia da cultura (embora pouco tenha avançado nessa área), em detrimento da economia criativa. Essa situação perdurou até 2011, com a criação da Secretaria de Economia Criativa, no âmbito do Ministério da Cultura. A Secretaria surgiu em um momento no qual o Ministério não contava com o capital simbólico ou político que tivera sob a gestão do Ministro Gil e trazia em si a missão ambiciosa de articular um programa transversal à política dos outros Ministérios.
O "Plano da Secretaria da Economia Criativa -‐ Políticas, diretrizes e ações 2011-‐2014", publicado em 2011, sob a gestão da então Secretária Cláudia Leitão, apresentava e priorizava cinco desafios para a propulsão da economia criativa como estratégia de desenvolvimento no país: 1) levantamento de informações e dados da economia criativa; 2) articulação e estímulo ao fomento de empreendimentos criativos; 3) educação para
competências criativas; 4) infraestrutura de criação, produção, distribuição/circulação e consumo/fruição de bens e serviços criativos; e, por fim, 5) criação/adequação de marcos legais para os setores criativos.
Em setembro de 2013 a gestão da Secretaria foi assumida por Marcos André Carvalho, que havia liderado em 2009 a Coordenadoria de Economia Criativa da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro. A escolha foi sensata, dado que o programa desenvolvido pela secretaria consolidou-‐se nos últimos anos como o mais consistente em nosso país -‐ não apenas pelo trabalho da Secretaria em si, mas pela articulação com instituições governamentais, empresariais e acadêmicas, no chamado programa Rio Criativo.
Talvez o maior desafio que enfrentaremos no âmbito nacional será o de desenvolver uma estratégia de economia criativa e implementá-‐la com marcos de curto, médio e longo prazos, antes que o conceito se esvazie no modismo que vem assumindo, no qual tudo (e, portanto, nada) passa a ser entendido como economia criativa.
Em termos concretos, é possível elencar seis desafios primordiais que a Secretaria de Economia Criativa terá pela frente:
1) Definição e lógica -‐ como visto nas primeiras seções, é importante definir não apenas o leque das indústrias criativas prioritárias para o Brasil e para suas várias regiões, como também enfatizar que a economia criativa abrange mais do que cultura, não obstante o fato de a Secretaria de Economia Criativa integrar a estrutura do Ministério da Cultura.
2) Estudos e estatísticas -‐ levantar dados e estudos é fundamental para desenvolver diagnósticos, embasar o delineamento de uma estratégia, monitorar o sucesso de políticas e ações e constituir uma série histórica que permita estabelecer novas conexões entre fatos.
3) Educação -‐ conforme enfatizado nas seções precedentes, para converter criatividade em inovação e embasar de fato uma estratégia de desenvolvimento socioeconômico e inclusão, é fundamental investir em educação. Essa não se restringe à formação ou à capacitação para as profissões criativas, mas abrange desde a pré-‐escola à pós-‐graduação. Como a economia criativa não é constituída apenas pelos trabalhadores das indústrias criativas, é preciso fortalecer a capacidade criativa, de análise crítica e de implementação de inovações em brasileiros de todas as profissões. Investir em nossos estudantes, indepedentemente do caminho que vierem a seguir, é a única forma de formar trabalhadores inclusive para indústrias criativas que estão surgindo agora e nem possuem nome ainda (basta pensar que, há vinte anos, não existia a indústria criativa dos games como a entendemos hoje).
4) Ciência e tecnologia -‐ da mesma forma, em um mundo globalizado é fundamental expandir o acesso a informações acerca do que ocorre em todos os países e dentro deles. Informação, em uma economia baseada na criatividade, é ingrediente, é repertório para que cada pessoa possa criar conexões improváveis, ver o que outros não enxergam, superar barreiras antes vistas como intransponíveis. Além disso, dado que um dos grandes entraves
à concretização da economia criativa é a distribuição dos bens e serviços criativos, os meios digitais constituem um canal privilegiado para sua difusão. Investir em alfabetização digital e ampliar o acesso a equipamentos e banda larga são questões cruciais.
5) Empreendedorismo -‐ assim como em todos os demais setores da economia, estimular o empreendedorismo é essencial para impulsionar a inovação. Empreender implica inclusive reconhecer que uma boa ideia deve ser complementada com boa gestão de negócios; aceitar que toda inovação encerra em si o risco do fracasso; e que fracassar é um modo de aprender com os erros para, a partir deles, fortalecer a concretização de uma ideia.
6) Articulação de políticas entre os ministérios; entre o governo federal e as demais esferas de governo; e entre governo e o setor privado -‐ como vimos, a economia criativa não é atribuição exclusiva de uma pasta pública e sim transversal a todas elas. É fato que em se tratando de um leque de 39 ministérios, como o que temos hoje no Brasil, qualquer articulação entre políticas assume complexidade majorada. Entretanto, caso a economia criativa seja reconhecida de fato como alavanca de desenvolvimento socioeconômico, é de se esperar que ela seja respaldada por vontade política e orçamento suficientes para ser levada a termo.
Em síntese: a economia criativa é um tema contemporâneo, urgente e repleto de desafios -‐ mas com oportunidades em magnitude ainda maior. Cabe a nós aproveitar essa nova abordagem a nosso favor ou encará-‐la como panaceia e relegá-‐la a um modismo transitório.
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